capítulo 3 capítulo 3 sumário

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capítulo 3 capítulo 3 sumário
CAPÍTULO 3
SUMÁRIO
3 O ESPIRITISMO E OUTRAS DOUTRINAS
ESPIRIRUALISTAS
3.1
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA
DOUTRINA ESPIRÍRITA
3.2 O CARÁCTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA
3.3 O ESPIRITISMO E OUTRAS DOUTRINAS
ESPIRITUALISTAS
3.3.1 Rosacruz
3.3.2 Teosofia
3.3.3 Cabala
3.3.4 Umbanda
3.4 O ESPIRITISMO E AS RELIGIÕES
3.4.1 Fase da magia
3.4.2 Fase religiosa
3.4.3 Espiritismo
3.5
O ESPIRITISMO É UMA RELIGIÃO?
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Curso Básico de Espiritismo
O Espiritismo e outras doutrinas espiritualistas
3. O ESPIRITISMO E OUTRAS
DOUTRINAS ESPIRITUALIS
ESPIRITUALISTAS
3.1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA DOUTRINA
ESPÍRITA
Para que possa ser feita
uma comparação entre a Doutrina Espírita e as demais doutrinas espiritualistas, primeiro, é
necessário o perfeito conhecimento dos princípios básicos
que a caracterizam.
Já foram abordados, nos
primeiro e segundo cadernos,
diversos aspectos da Doutrina
Espírita. Agora, iremos relembrar alguns desses aspectos e
acrescentar outros directamente
relacionados com o assunto que
estamos a tratar.
O conhecimento do Espiritismo começa com um passeio ao longo da história
da humanidade e, nomeadamente, através dos seus precursores. Ao chegarmos a
Allan Kardec – o notável codificador da Doutrina Espírita, é imprescindível conhecermos com alguma profundidade a sua vida, pois a sua personalidade reflecte-se e
identifica-se com a verdadeira e única essência do Espiritismo. As obras fundamentais
e que se podem considerar de leitura obrigatória para o espírita, já foram referenciadas no primeiro caderno. A seguir, apenas as listamos:
O Livro dos Espíritos - 1857;
O Livro dos Médiuns - 1861;
O Evangelho Segundo o Espiritismo - 1864;
O Céu e o Inferno - 1865;
A Génese - 1868;
O Que é o Espiritismo - 1868;
Obras Póstumas - 1890 - Leymarie, biógrafo de Allan Kardec;
Revue Spirite (revista mensal) - Janeiro 1858 a Junho 1869.
O Espiritismo é uma filosofia com bases científicas (método experimental –
indutivo e dedutivo) e consequências éticoético- morais tem um objectivo bem definido –
estudar a natureza,
natureza, ori
origem e destino dos espíritos, bem como as suas relações com
o mundo cor
cor póreo.
póreo
A vertente filosófica está particularmente expressa no Livro dos Espíritos, a c ientífica em O Livro dos Médiuns e a moral em O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Estas três vertentes, fundamentais e indissociáveis, são imprescindíveis para a abordagem ou análise completa de qualquer assunto, à luz da Doutrina Espírita.
O desconhecimento e a ausência de estudo da Doutrina Espírita e dos seus
princípios básicos tem levado a que estes sejam assimilados empiricamente e pratica-
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dos de improviso, criando sistemas próprios que cada vez mais se distanciam da sua
fonte original. Os verdadeiros inimigos da Doutrina Espírita, não são os seus críticos,
pois, por vezes, a publicidade negativa é a melhor. Aqueles que mais a prejudicam
são os que se identificam como espíritas ou como pertencentes a grupos ou associações espíritas, que de espiritismo têm muito pouco.
Esta falta de estudo e
conhecimento leva a confusões mais frequentes do que
seria de desejar. São-no, por
exemplo: confundir espiritismo com mediunismo; com
mediunidade; com religião;
com movimentos espíritas;
associar ao Espiritismo, como
suas, todas as práticas das
associações.
A verdadeira e única
Doutrina Espírita está na Codificação Espírita. Os conhecimentos que comporta são por demais profundos e extensos para serem adquiridos
de qualquer modo ou da noite para o dia, a não ser por um estudo perseverante, feito no silêncio e no recolhimento.(2) (*)
Muito poderia ser dito sobre os princípios fundamentais da Doutrina Espírita, no
entanto poderão ser resumidos como se segue, tendo como base a Introdução (que
é por si só, um tratado de filosofia) de O Livro dos Espíritos, devendo, no entanto, o
espírita aprofundar cada conceito para melhor entendimento:
Deus é eterno, imutável, imaterial, único, omnipotente, soberanamente justo e
bom.
Criou o Universo que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e
imateriais.
Os seres materiais constituem o mundo invisível ou espiritual, isto é dos espíritos.
O mundo espiritual é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.
O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou jamais ter existido,
sem que por isso se alterasse a essência do mundo espiritual.
Os espíritos revestem temporariamente um invólucro material perecível, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade. Entre as diferentes espécies de seres corpóreos, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos espíritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual
sobre as outras.
A alma é um espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.
Há no homem três coisas:
1.º O corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2.º A alma ou ser imaterial, espírito encarnado no corpo;
3.º O laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o espírito. Tem, assim, o homem duas naturezas;
1.º Pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns;
(*) Os algarismos colocados entre parênteses correspondem, na bibliografia,
bibliografia no final dos resumos de
cada capítulo, aos mesmos algarismos com que estão assinaladas as fontes que serviram de base ao
texto, ou extraídas as citações.
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2.º Pela alma, participa da natureza dos espíritos.
O laço ou perispírito, que prende ao corpo o espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial.
A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no
fenómeno das aparições.
O espírito não é, pois, um ser abstracto, indefinido, só possível de conceber-se
pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tacto.
Os espíritos pertencem a
diferentes classes e não são iguais
nem em poder, nem em inteligência,
nem em saber, nem em moralidade.
Os da primeira ordem são os espíritos
superiores, que se distingem dos
outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus,
pela pureza dos seus sentimentos e
pelo seu amor ao bem: são os
espíritos puros. Os das outras classes
acham-se cada vez mais distanciados
dessa perfeição, mostrando-se, os das
categorias inferiores, na sua maioria,
eivados das nossas paixões: o ódio, a
inveja, o ciúme, o orgulho, etc..
Comprazem-se no mal. Há também,
entre os inferiores, os que não são
nem muito bons nem muito maus,
antes perturbadores e enredadores,
do que perversos. A malícia e as inconsequências parecem ser o que
neles predomina. São os espíritos
estúrdios ou levianos.
Os espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta melhoria efectua-se
por meio da encarnação, que para uns é prova e/ou expiação, para outros missão. A
vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam
atingido a absoluta perfeição intelectual e moral.
Deixando o corpo, a alma volta ao mundo dos espíritos, donde saíra, para
passar por nova existência material, após um período de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de espírito errante. Tendo o espírito que
passar por muitas encarnações, segue-se que todos nós já tivemos muitas existências
e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na Terra, quer em
outros mundos.
A encarnação dos espíritos dá-se sempre na espécie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou espírito possa encarnar no corpo de um animal.
As diferentes existências corpóreas do espírito são sempre progressivas e
nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça
para chegar à perfeição.
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As qualidades da alma são as do espírito que está encarnado em nós; assim o
homem de bem é a encarnação de um bom espírito, o homem perverso a de um espírito impuro.
A alma possuía a sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de
se separar do corpo.
Na sua volta ao mundo dos
espíritos, ela encontra todos
aqueles que conhecera na Terra, e
todas as suas existências anteriores
se lhe desenham na memória, com
a lembrança de todo o bem e de
todo o mal que fez.
O espírito encarnado achase sob a influência da matéria; o
homem que vence esta influência,
pela elevação e depuração de sua
alma, aproxima-se dos bons espíritos, em cuja companhia um dia
estará. Aquele que se deixa
dominar pelas más paixões, e põe
todas as suas alegrias na satisfação
dos apetites grosseiros, aproximase dos espíritos impuros, dando
preponderância à sua natureza
animal.
Os espíritos encarnados
habitam os diferentes globos do
Universo. Os não encarnados, ou
errantes, não ocupam uma região
determinada e circunscrita; estão por toda a parte, no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo. É toda uma população invisível, a mover-se
em torno de nós.
Os espíritos exercem incessante acção sobre o mundo moral e mesmo sobre o
mundo físico. Actuam sobre a matéria e sobre o pensamento. Constituem uma das
potências da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenómenos até então
inexplicados, ou mal explicados, que não encontram explicação racional senão no Espiritismo.
As relações dos espíritos com os homens são constantes. Os bons espíritos
atraem-nos para o bem, sustentam-nos nas provas da vida e ajudam-nos a suportá-las
com coragem e resignação. Os maus impelem-nos para o mal: para eles é um gozo
ver-nos sucumbir e assemelharmo-nos a eles.
As comunicações dos espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As
ocultas verificam-se pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia. Cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações. As comunicações ostensivas dão-se por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais,
quase sempre pelos médiuns que lhes servem de instrumentos.
Os espíritos manifestam-se espontaneamente, ou mediante evocação. Podem
evocar-se todos os espíritos: os que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os dos nossos parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou verbais,
conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no além, sobre o que
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pensam a nosso respeito, assim como as revelações que lhes seja permitido fazernos.
Os espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os espíritos superiores comprazem-se nas reuniões sérias,
onde predomina o amor ao bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem,
de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os espíritos inferiores que,
inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre
pessoas frívolas ou impelidas, unicamente, pela curiosidade e onde quer que existam
maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só
se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois
muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro.
Distinguir os bons dos maus espíritos é extremamente fácil. Os espíritos superiores usam constantemente linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, isenta de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria transparece-lhes dos
conselhos, que objectivam sempre o nosso melhoramento e o bem da humanidade.
A dos espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância. Gozam da credulidade dos homens e
divertem-se à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentandolhes os desejos com falazes esperanças.
Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo, só são
dadas nos centros sérios, onde reine a íntima comunhão de pensamentos, tendo em
vista o bem.
A moral dos espíritos superiores resume-se, como a do Cristo, nesta máxima
evangélica: Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é,
fazer o bem e não o mal. Neste princípio, o homem encontra uma regra universal de
proceder, mesmo para as suas menores acções.
Ensinam-nos
que
o
egoísmo, o orgulho, a sensualidade
são paixões que nos aproximam da
natureza animal, prendendo-nos à
matéria; que o homem que, já neste mundo, se desliga da matéria,
desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se
avizinha da natureza espiritual; que
cada um deve tornar-se útil, de
acordo com as faculdades e os
meios que Deus lhe pôs nas mãos
para experimentá-lo; que o forte e
o poderoso devem amparo e
protecção ao fraco, porque
transgride a lei de Deus aquele que
abusa da força e do poder para
oprimir o seu semelhante.
Ensinam, finalmente, que,
no mundo dos espíritos, nada
podendo estar oculto, o hipócrita
será desmascarado e patenteadas
todas as suas torpezas; que a presença inevitável, e de todos os
instantes, daqueles para com quem
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procedemos mal, constitui um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado
de inferioridade e superioridade dos espíritos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra.
Mas ensinam, também, não haver faltas irremissíveis que a expiação não possa apagar. O homem encontra meios de consegui-lo nas diferentes existências que
lhe permitem avançar, conforme os seus desejos e esforços, na senda do progresso,
para a perfeição, que é o seu destino final. (2)
3.2. O CARÁRACTER DA REVELAÇÃO ESPÍ
ESPÍRITA
Revelar, do latim revelare, cuja raiz, velum, véu, significa literalmente sair de
sob o véu e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer um coisa secreta, ou desconhecida. Ser verdadeira é uma característica essencial.
No sentido especial da fé religiosa, a revelação refere-se mais particularmente
aos assuntos de ordem espiritual que o homem, no momento, não descobriu por
meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos e cujo conhecimento lhe vem
de Deus, ou dos seus mensageiros, quer por meio da palavra directa, quer pela
inspiração.
Pelo grande impacto que provocaram, e pelo empurrão que deram na evolução da humanidade, assistimos, até aos nossos dias, a três grandes revelações: (3)
1.ª Revelação – MOISÉS
Profeta.
1. Revelou aos homens a existência
de um Deus único, soberano e orientador de todas as coisas;
2. Promulgou a Lei do Sinai;
3. Lançou as bases da verdadeira fé;
imposição ao povo pela força (olho
por olho, dente por dente).
Ocorreu dezoito séculos antes de Cristo. (3)
2.ª Revelação – JESUS
Tomou da antiga lei (Sinai) o que é
eterno e divino e, rejeitando o que era transitório e puramente disciplinar e de concepção
humana, acrescentou a revelação da vida futura, de que Moisés não falara.
Falou nas penas e recompensas que
aguardam o homem, depois da morte.
A sua doutrina funda-se no carácter
que ele atribui à Divindade. Revela um Deus imparcial, soberanamente justo, bom e
misericordioso.
Fez do amor de Deus e da caridade para com o próximo a condição indeclinável da salvação.
É uma doutrina essencialmente conselheira e aceite livremente. (3)
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3.ª Revelação – O ESPIRITIS
ESPIRITIS MO
Assenta nas palavras de Jesus.
Revela o mundo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo.
Levanta o véu dos mistérios do nascimento e da morte; o espírita sabe donde
vem, porque está na Terra, porque sofre, para onde vai.
Vê por toda a parte a justiça de Deus; sabe que a alma progride incessantemente pela pluralidade das existências, até atingir o grau de perfeição que o aproxima de Deus.
O espírita toma conhecimento da pluralidade dos mundos habitados.
Descobre o livre arbítrio.
É demonstrada a existência do perispírito, bem como do princípio vital. São
estudadas as propriedades de vários outros fluidos.
Longe de negar ou destruir o Evangelho, vem, ao contrário, confirmar, explicar e desenvolver, pelas novas leis da Natureza, tudo quanto o Cristo disse e fez.
A revelação espírita tem duplo carácter: Divino e científico.
Divino
O seu aparecimento não resultou da iniciativa do homem, mas de cálculos Divinos. A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés; a segunda no Cristo; a terceira não a tem em indivíduo algum. As duas primeiras foram individuais; a
terceira colectiva.
Científico
Os seus ensinos não são privilégio de ninguém; são fruto do trabalho da
observação e da pesquisa. Têem por base o raciocínio, o exame e o livre arbítrio. Não
foram ditados completos, nem impostos à crença cega.
3.3. O ESPIRITISMO E OUTRAS DOUTRINAS
ESPIRITUALISTAS
Depois de termos efectuado um estudo sintético dos princípios básicos da
Doutrina Espírita e do carácter da Terceira Revelação, pode fazer-se uma comparação com outras doutrinas espiritualistas e proceder à respectiva distinção.
Um dos aspectos que caracterizam bem a doutrina codificada por Allan Kardec, precisamente porque estabelece a diferença entre o Espiritismo e as outras doutrinas espiritualistas, é a sua organização, a sua contextura de princípios. Sem se desviar, jamais, da sua invariável posição de respeito e tolerância em relação a todos os
cultos religiosos, o Espiritismo é, no entanto, um corpo de doutrina que não se acomoda ao sincretismo religioso, tenha este a forma que tiver, nem se despersonaliza
pela diluição de sua unidade doutrinária.
Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos espíritos, ou nas suas comunicações com o mundo visível.
As doutrinas espiritualistas (teses opostas ao materialismo) têm dois pontos
chave em comum: a existência de Deus e a imortalidade da alma. A partir daí, sur-
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gem concepções e conceitos divergentes, consoante as suas interpretações, investigações ou, simplesmente, os seus dogmas.
Assim, a título de curiosidade, já que o assunto é demasiado extenso para
que possa ser apresentado com minúcia num trabalho deste género, a seguir, passamos a apresentar alguns pontos defendidos, ou utilizados, por algumas correntes
espiritualistas.
3.3.1. ROSACRUZ
É, ainda hoje, uma das mais antigas correntes orientalistas. São reencarnacionistas.
Entretanto, a Doutrina Rosacruz, que é uma doutrina
secreta e das mais recuadas na história do Espiritualismo, tem
os seus símbolos, as suas cerimónias, os seus conceitos, a sua
maneira, enfim, de explicar o infinito imanifesto, os sete planos da consciência, a alma do mundo, e assim por diante. Os
rosacrucianos têm uma série de aforismos pelos quais a sua
doutrina chega aos estudiosos sob forma subtil e velada.
Embora as ideias reencarnacionistas da Rosacruz concordem com a interpretação espírita, o seu método é diferente. A doutrina dos rosacruzes utiliza o simbolismo para explicar os problemas que dizem respeito à alma e à reencarnação, enquanto o Espiritismo, aproximando-se mais da mentalidade ocidental, procura
sempre desvendar os mistérios no espírito humano. Os seus ensinos, por isso mesmo,
não têm simbolismo. Sem ideias preconcebidas, sem o bafejo de nenhuma ordem ou
fraternidade secreta, nem de nenhuma fé, o Espiritismo partiu da observação dos
factos. O método que mais se enquadraria às solicitações do raciocínio teria de ser,
forçosamente, o método indutivo, apropriado às exigências experimentais. (1)
3.3.2. TEOSOFIA
A Teosofia, que também é uma doutrina espiritualista, tem pontos que se relacionam com os princípios da
Doutrina Espírita:
1. Deus;
2. Sobrevivência da alma depois da morte do
corpo físico;
3. Reencarnação;
4. Existência do corpo espiritual.
Para o perispírito, por exemplo, que é um elemento já demonstrado objectivamente pela Doutrina Espírita,
a Teosofia tem uma classificação complexa, com divisões
entre corpo astral, corpo mental e corpo causal, em virtude das quais a definição do corpo fluídico, ou corpo intermediário, toma feição muito diferente da que é apresentada no Espiritismo.
A explicação teosófica está muito bem fundamentada nas bases da sua doutrina, mas não se entrosa com a classificação espírita. O princípio é o mesmo tanto
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para o Espiritismo, como para a Teosofia e outras escolas: a existência de um corpo
que se interpõe entre o espírito e a matéria.
Naturalmente, a divisão do corpo fluídico em três partes - astral, mental e
causal - ou em corpo superior e corpo inferior tem valor na classificação teosófica,
mas não se enquadra no contexto espirita.
Segundo a concepção teosófica o homem tem seis corpos: físico, etérico, astral, mental, causal e búdico. (1)
A Teosofia diverge fundamentalmente do Espiritismo também no que toca à
reencarnação.
O pensamento teosófico afirma: Existem diversos tipos de almas, cujas reencarnações obedecem à seguinte escala:
Os adeptos, que já não reencarnam mais;
As almas do caminho, aquelas que reencarnam imediatamente, sob a direcção do seu mestre e renunciam ao seu período de vida no mundo celeste;
As almas cultivadas, precisamente as que reencarnam DUAS VEZES em cada
sub-raça e passam, em média, 700 anos no mundo celeste;
As almas simples, finalmente, aquelas que, não estando desenvolvidas, passam por diversas reencarnações em cada sub-raça, antes de passar à segunda. (1)
3.3.3. CABALA
A palavra cabala (kabala) significa simplesmente
doutrina recebida. Mais tarde, porém, dizem os entendidos, passou a significar a tradição oculta dos hebreus.
Segundo indicações ocultistas, Cabala é o conjunto dos ensinos secretos que Enock transmitiu ao patriarca Abraão. É o resumo das interpretações secretas
dos judeus.
Para os egípcios, no entanto, a Cabala seria da
autoria de Hermes Trimegisto, enquanto que para os
gregos o seu autor seria Cadmo.
A linguagem da Cabala, que é outra fonte das
doutrinas secretas, também não coincide com os termos espíritas. A concepção cabalística, em consonância
com o pensamento de outras escolas ocultistas, admite
a existência de espíritos elementais, isto é, uma categoria diferente, porque é formada de espíritos que habitam os quatro elementos: fogo,
ar, terra e água. Os espíritos que habitam o fogo chamam-se salamandras; os que vivem no ar, na água e na terra são designados respectivamente pelos nomes de silfos,
ninfas, gnomos ou pigmeus. Segundo a Cabala. “ainda depois da morte, o corpo,
como a forma mais material, fica no mundo Apiah, no túmulo, com o espírito dos
ossos, que constitui o corpo da ressurreição.” (1)
O espírito dos ossos, pode ser perturbado pela aproximação de outro morto,
que lhe é antipático, ou pela evocação necromática; por isso, Moisés proíbe a evocação dos mortos.
Concepção trinária da Cabala:
Nephesh (corpo);
Ruach (alma);
Neshamah (espirito, centelha divina).
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O corpo, pela explicação cabalística, compreende também o corpo fluídico, ou
perispírito, enquanto a alma e o espírito são elementos distintos. O Espiritismo simplifica o problema, racionalmente, uma vez que o homem é um conjunto de corpo, perispírito e alma.
A Cabala diz: “cada mundo tem o seu Gan Eden (paraíso), seu Nahar Dinus
(rio de fogo para a purificação da alma) e seu Gei Hinam (geena, lugar de castigo infernal).” (1)
A Cabala crê na reencarnação, mas admite uma teoria segundo a qual Deus
pode unir duas almas no mesmo corpo, para que as tarefas se completem, como no
caso das compensações entre um coxo e um cego.
3.3.4. UMBAN
UMBAN DA
Doutrina com culto material e rituais.
Tem pais de terreiro com vestimenta e prerrogativas equivalentes ao exercício de funções
sacerdotais. Tem imagens e altares, usando,
ainda, o sacrifício de animais, nos casos em
que as suas crenças permitem tal prática. Utiliza sinais - pontos riscados. Tem uma nomenclatura muito diferente, ex.: chama cavalos aos
médiuns; emprega termos de várias procedências como, mironga, marafo, ogun, etc. (4 e 5)
3.4. O ESPIRITISMO E AS RELIGI
RELIGIÕES
A Antropologia concluiu, há muito, que a humanidade evoluiu da magia para
a religião. A espiritualização, segundo diversos autores que defendem este parecer,
obedece a três grandes fases: Magia, Religião e Espiritismo.
TEMPO
àààààààààààààààà
MAGIA...RELIGIÃO...ESPIRITISMO
3.4.1. FASE DA MAGIA
Religiões animais ou primitivas. Surgem nas relações tribais. O homem tem a
intuição do mundo espiritual; o sobrenatural atemoriza-o. As práticas religiosas têm
um forte carácter exterior. Sacrifícios violentos; apego aos objectos materiais e aos
objectos de culto. Teme-se mais a Deus do que propriamente se lhe nutre respeito.
Não compreendem a vida futura; vida essencialmente material.
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3.4.2. FASE RE
RELIGIOSA
O homem tem consciência da Divindade. Caminha-se do politeísmo, para o
monoteísmo; personaliza Deus – Antropomorfismo. Acredita em seres privilegiados.
Dá explicações dogmáticas para os mistérios. Forte presença de superstição. Predominância das práticas exteriores. O misticismo esconde a espiritualidade. Impera a
ideia do bem.
3.4.3. ESPIRI
ESPIRI TISMO
A fase antropomórfica acabou. Substituem-se os dogmas pela experimentação. Morre o sobrenatural. Práticas iminentemente interiores; não põe a espiritualidade ao seu serviço, mas abraçaa e
faz dela sua companheira de viagem.
3.5. ESPIRITISMO É UMA RELIGI
RELIGIÃO?
Religião é o culto
prestado às divindades e os
deveres dos crentes para com
elas. A ela estão associados
elementos essenciais, que não
fazem parte da Doutrina
Espírita, como os exemplos
abaixo indicados: o Espiritismo
não tem estrutura hierárquica,
nem
clerical;
não
tem
sacerdotes,
nem
chefes
religiosos; não tem templos
sumptuosos;
não
adopta
cerimónias de espécie alguma;
não tem rituais; não usa vestes
especiais; não tem qualquer
simbologia; não utiliza ornamentações associadas a práticas
exteriores; não tem gestos de
reverência, sinais cabalísticos,
benzimentos; não tem talismãs,
defumadouros; não usa cânticos
nem danças cerimoniosas; não
utiliza bebidas, oferendas; não tem dogmas; não fazem parte do seu vocabulário as
palavras: misticismo, sobrenatural, milagre, entre outras.
Algumas razões pelas quais o Espiritismo vem sendo confundido como mais
uma religião: ignorância nesta matéria; desconhecimento doutrinário; hábitos pretéritos, enraizados no ser; movimentos espíritas internacionais e locais, que adoptaram o
termo religião e que, por desconhecimento, são tidos como exemplo/modelo; a fonte moral sendo Jesus, é indevidamente associada às religiões.
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O Espiritismo não diz que fora dele não encontramos a salvação. Afirma, sim,
e faz dessa máxima sua divisa: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO. Portanto,
não se encontra na Doutrina Espírita o proselitismo das religiões, a ânsia na obtenção
de adeptos. O respeito para com todas as práticas religiosas é uma característica do
espírita.
O Espírito da Verdade avança com outra máxima: ESPíRITAS AMAI-VOS; ESPíRITAS INSTRUÍ-VOS, sublinhando, desta forma, e mais uma vez, as fortes vertentes
morais e culturais da Doutrina Espírita.
Depois deste breve estudo, a Doutrina Espírita pode ser apreendida, na sua
verdadeira essência, como uma doutrina de aperfeiçoamento moral, ético - ciência
do bem, do comportamento e do procedimento, decorrente, ou consequência, da
sua filosofia de vida, solidamente apoiada na sua base científica.
Allan Kardec, o codificador, prevendo os rumos para que o Espiritismo tenderia no futuro, profere um discurso, um belo texto, na abertura da Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, da Sociedade de Paris no dia 1 de Novembro de 1868. A
seguir e em jeito de conclusão desta matéria, transcrevemos partes desse elucidativo
e eloquente discurso:
“Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; é aí, com efeito, que esta deve exercer toda a
sua força, porque o objectivo deve ser o desprendimento do pensamento das garras
da matéria. Infelizmente, na sua maioria, afastam-na desse principio, à medida que
faziam da religião uma questão de forma.”
(...)
“O isolamento religioso, como o isolamento social, conduz o homem ao egoísmo.”
(...)
“Religião, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de
princípios e de crenças.” (...) “O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o
seu objectivo, é, pois, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o facto de compromissos materiais, que se rompem, à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos
olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer, entre os que
ele une, como consequência da comunidade de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. Se assim é, perguntarão: o Espiritismo é uma religião?”
(...)
“Ora sim, sem dúvida, senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e
nos glorificamos por isso, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da
comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases
mais sólidas: as mesmas leis da natureza.”
(...)
“Porque, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião?”
(...)
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“Porque não há uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na
opinião geral, a palavra religião é inseparável de culto; desperta exclusivamente uma
ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião,
o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiser, dos princípios
absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de
cerimónias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos
contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública.”
(...)
“Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual
do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis porque simplesmente se diz: Doutrina filosófica e
moral...” (7)
Kardec, no livro O que é o Espiritismo define o Espiritismo assim: “O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como
ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os espíritos;
como filosofia, ele compreende todas as consequências morais que decorrem dessas
relações.”
É evidente que o significado do vocábulo religião, na sua origem, serviria para
codificar a nossa ideia (mental) do Espiritismo. Mas, a linguagem constitui um movimento vivo, que ao longo da história e dos tempos os diversos vocábulos vão adquirindo uma carga, que lhe vão modificando o seu significado original. Assim, às religiões, como atrás foi apresentado, estão agora, associadas variadas práticas e elementos essenciais, que não se encontram no Espiritismo, pelo que afasta qualquer hipótese de o catalogarmos como mais uma religião.
O assunto tratado deverá servir, não para desunir os espíritas em discussões
inúteis ou debates injustificáveis, mas para situar o Espiritismo no contexto universal
das ideologias que vão interpretando a vida. (6)
RESUMO
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA DOUTRINA ESPÍRITA
O desconhecimento dos princípios doutrinários levam a distorções da prática
espírita, mesclando-a com condicionamentos e exterioridades.
A sua organização, a sua contextura de princípios, diferencia o Espiritismo das demais doutrinas espiritualistas.
O Espiritismo é um corpo de doutrina que não se acomoda ao sincretismo religioso.
A verdadeira Doutrina Espírita está no ensino que os espíritos deram, que
deve ser alvo de estudos sérios, perseverantes, feitos no silêncio e no recolhimento.
Resumo dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita: Deus; criação do Universo
e dos seres; seres materiais do mundo corpóreo e seres imateriais do mundo espiritual; o mundo
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normal primitivo é o mundo espiritual; os espíritos revestem-se temporariamente de
matéria; o homem possui: o corpo físico, a alma e o perispírito; os espíritos pertencem a diferentes classes, embora tenham sido criados simples e ignorantes; os espíritos evoluem, não ocupam perpetuamente a mesma categoria; deixando o corpo, a
alma volta ao mundo dos espíritos, para passar, depois, por nova existência material,
após um lapso variável de tempo; os espíritos não reencarnam em corpos de animais,
não retrogradam; as diferentes existências corpóreas do espírito são sempre progressivas; os espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo; os espíritos
exercem, incessantemente, acção sobre o mundo moral e, mesmo, o mundo físico.
O CARÁCTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA
Revelação - do latim revelare, tirar de sob o véu, isto é, dar a conhecer.
A característica essencial da revelação é ser verdadeira.
Do ponto de vista religioso, é a revelação de coisas que o homem não pode
atingir pela inteligência, nem com o auxílio dos sentidos. A importante revelação da
época actual é a comunicação com os seres do mundo espiritual. O Espiritismo deunos a conhecer o mundo invisível que nos cerca e o qual nem suspeitávamos. A revelação espirita tem duplo carácter: é divina e é cientifica. É divina, porque é da iniciativa dos espíritos; é cientifica, pois a sua elaboração é fruto do trabalho do homem. O
objecto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual. Todo
um mundo novo se revela, por ter o Espiritismo demonstrado a comunicação com os
seres do mundo espiritual, pois profunda modificação nos costumes, carácter, hábitos, assim como na crença, se estabelecerá. O Espiritismo é considerado a terceira
das grandes revelações. A primeira foi Moisés, com o Deus único. A segunda foi o
Cristo, com a lei
do amor, a revelação da vida futura e das penas e recompensas que aguardam o
homem depois da morte. O Espiritismo, partindo das outras duas, revela a existência
do mundo espiritual; define os laços que unem a alma ao corpo; levanta, aos homens, o véu que ocultava os mistérios do nascimento e da morte; apresenta a justiça
de Deus, presidindo a todos os acontecimentos do mundo; estabelece a pluralidade
das existências; difunde o conhecimento dos fluidos espirituais e sua acção sobre a
matéria; demonstra a existência do perispírito; realiza todas as promessas do Cristo
com respeito ao Consolador anunciado.
O Espiritismo, apoiando-se nos factos, é essencialmente progressivo, como
todas as ciências de observação.
O ESPIRITISMO E AS OUTRAS DOUTRINAS ESPIRITUALIS
ESPIRITUALIS TAS
Há três pontos em que o Espiritismo e as doutrinas espiritualistas se encontram: a imortalidade do espírito, a reencarnação, e a existência de Deus.
Os rosacrucianos são reencarnacionistas, porém, têm seus símbolos, cerimónias, conceitos próprios, maneiras particulares de explicação dos pontos da sua doutrina, é uma doutrina hermética, secreta.
A Teosofia fala do corpo espiritual e define o homem com seis corpos. Divide
o corpo espiritual em três corpos diferentes. E, conforme o tipo de alma , variará o
tipo e o prazo para as reencarnações.
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A Cabala (doutrina recebida) teria provindo das orientações secretas que
Enock transmitiu a Abraão. Para outros seria originária de Hermes Trimegisto ou de
Cadmo.
A Cabala crê nos espíritos elementais e na ressurreição, quando o espírito dos
ossos, parte mais grosseira, aviventaria novamente o corpo.
A Cabala apresenta o homem trino na sua origem, com corpo, alma e espírito.
Para a Cabala, existiriam em cada mundo: paraíso, rio de fogo, para a purificação das almas e geena, lugar de castigos infernais.
A Cabala admite a reencarnação, mas Deus teria condições de reencarnar duas almas num só corpo, para haver
uma complementação dos defeitos de uma com a outra.
Não existe baixo nem alto espiritismo; existe somente Espiritismo, doutrina
codificada por Allan Kardec.
Rituais, incensos, imagens e outros objectos materiais a título de crença, na
Doutrina Espírita correm, por conta da ignorância de quem as pratica, pois a doutrina
não acomoda tais práticas.
Geralmente, pessoas advindas de outras religiões, e que ainda continuem
presas a certas atracções do culto antigo, preferem usar defumadouros, velas, charutos, bebidas, nas experiências mediúnicas. Todavia, isso fica por conta da responsabilidade de quem assim procede, não sendo lícito introduzir tais objectos e práticas nas
sociedades espíritas.
ESPIRITISMO E UMBANDA
O Espiritismo tem alguns pontos de contacto com a Umbanda como, tem
com todas as doutrinas espiritualistas, mas os pontos de divergência demonstram,
claramente, tratarem-se de duas doutrinas completamente independentes. Somente
a ignorância, ou a má fé, poderão confundir uma com a outra.
O ESPIRITISMO É UMA RELIGI
RELIGI ÃO?
Religião é o culto prestado às divindades. A elas estão associados elementos
que não fazem parte do Espiritismo.
O Espiritismo não tem estrutura hierarquica, sacerdotes, cerimónias, rituais, vestes especiais, simbologia, ornamentações, práticas exteriores, gestos de
reverência, benzimentos, talismãs, defumadouros, dogmas. Não utiliza bebidas, nem
fazem parte do seu vocabulário palavras como misticismo, sobrenatural ou milagre.
Assim, o Espiritismo não pode ser confundido com religião porque, neste
momento, essa palavra é inseparável de toda a estrutura atrás referida. Ela desperta,
exclusivamente, uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem.
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BIBLIOGRAFIA
(1) Deolindo Amorim, O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas, Caps. I e III, 3.ª Edição, Livraria Ghignone Editora
(2) Allan Kardec, O Livros dos Espíritos, Introdução, 42.ª Edição (Popular), Federação
Espírita Brasileira
(3) Allan Kardec, A Génese, Cap. I, 19.ª Edição, Federação Espírita Brasileira
(4) Deolindo Amorim, Africanismo e Espiritismo, 1.ª Edição, 1947, Gráfica Mundo Espírita
(5) Allan Kardec, Obras Póstumas, “Manifestação dos Espíritos” - VII - 16ª. Edição (Popular) - Federação Espírita Brasileira
(6) Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, Allan Kardec
(7) Allan Kardec, Révue Spirite, Discurso de Abertura da Sessão Anual Comemorativa
dos Mortos, da Sociedade de Paris no dia 1 de Novembro de 1868
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