3 Criação integrada dos peixes e das aves

Transcrição

3 Criação integrada dos peixes e das aves
 Česká zemědělská univerzita v Praze
(Universidade Checa de Agricultura em Praga)
Institut tropů a subtropů
(Instituto dos Trópicos e Subtrópicos)
Metodologia da criação integrada dos peixes e das aves
Angola, província do Bié
A Metodologia da criação integrada dos peixes e das aves Angola, província do Bié foi
impressa em Praga, República Checa em 2009 no âmbito do projecto de desenvolvimento
intitulado Consultoria na área da criação dos peixes e das aves na província do Bié em
Angola. O realizador do projecto é Česká zemědělská univerzita v Praze (Universidade Checa
de Agricultura em Praga). Trata-se dum projecto de cooperação oficial de desenvolvimento da
República Checa apoiado por Ministerstvo zemědělství České republiky (Ministério da
Agricultura da República Checa).
Os autores:
Enga. Petra Chaloupková (Holíková), Ph.D. – directora do projecto
Engo. Lukáš Kalous, Ph.D. – especialista na produção dos peixes
Engo. Pavel Trefil, DrSc. – especialista na produção das aves
Engo. Miloslav Petrtýl, Ph.D. – especialista na produção dos peixes
Tradução: Dra. Marie Havlíková
Gráfico: Engo Miloslav Petrtýl, Ph.D.
Imprimido na República Checa em 2009.
ISBN: 978-80-213-1997-4
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Agradecimentos Gostaríamos de agradecer, por esta via, a todos aqueles que têm dado maior ou menor
contributo para a criação desta metodologia e têm apoiado a realização do projecto de
desenvolvimento para ser atingido o objectivo acima citado. Acreditamos que esta publicação
será um contributo para o desenvolvimento do sector de produção agrícola na determinada
região.
E em particular à equipa dos realizadores do projecto entitulado “Centro de Educação
Agrícola na província do Bié“ em Kuito, aos estudantes do Instituto Médio Agrário em Kuito,
às organizações AFRICARE, CONCERN e People in Need, ao Governo da província do Bié
e MINADER da província do Bié.
Por fim, um agradecimento especial aos fazendeiros pelo tempo dedicado a cooperação.
Desejamo-lhes muito sucesso na implementação do sistema integrado!
A equipa realizadora do projecto
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Projecto Consultoria no sector da criação dos peixes e das aves Dados de identificação do projecto
Nome do projecto: Consultoria na área da criação dos peixes e das aves
Número do projecto: MZe/B/2
Principal objectivo do projecto: Criação dos métodos pormenorizados e localmente
específicos da produção dos peixes, das aves e do seu sistema integrado, assim como a criação
das condições a uma bem sucedida implementação destes.
Lugar da realização do projecto: Província do Bié, Angola
Periodo da realização do projecto: 2006 - 2009
Ministério gestor do ramo: Ministério da Agricultura da República Checa
Realizador do projecto: Česká zemědělská univerzita v Praze (Universidade Checa de
Agricultura), Institut tropů a subtropů (Instituto dos trópicos e subtrópicos)
Equipa realizadora do projecto:
Enga. Petra Chaloupková (Holíková), Ph.D. – directora do projecto
Engo. Lukáš Kalous, Ph.D. – especialista na produção dos peixes
Engo. Pavel Trefil, DrSc. – especialista na produção das aves
Cooperantes do projecto:
Eng.o Miloslav Petrtýl, Ph.D. – especialista na criação dos peixes
Zuzana Musilová, MA – especialista na criação dos peixes
Eng.o Martin Lošťák – coordenador das atividades do projecto em Angola (2007)
Eng.a Zdenka Horajsová – coordenadora das atividades do projecto em Angola (2008-2009)
Luis Kavikolo – técnico da província do Bié, extencionista
Ariclene Joaquim Ferreira Bernardo – técnico do projecto
Martinho Paulo Eiala Candoca – técnico do projecto
Alfredo Sahunjo Ahave – técnico do projecto
Almeida Chipilica Chitieñeña Salucamba – técnico do projecto
Vasco Valério Chassusso Chiteculo – técnico do projecto
Edmárcia Leonor Capata Lumbo – técnica do projecto
Zacarias Savita Tchiyassua – técnico do projecto
José Victorinho Cristiano Rosário – técnico do projecto
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O Conteúdo da Metologia O Conteúdo da Metologia .......................................................................................................... 1 Introdução................................................................................................................................... 2 1 Principal característica do sector de finalidade ....................................................................... 4 2 Aspectos sócio-culturais e económicos da implementação da criação integrada ................. 11 3 Criação integrada dos peixes e das aves................................................................................ 16 3.1 Projecto do sistema da criação dos peixes ..................................................................... 16 3.2 Projecto do sistema da criação das aves domésticas ...................................................... 38 Criação dos patos ............................................................................................................. 38 Criação da galinha doméstica ........................................................................................... 42 3.3 Recomendações comuns a seguir durante a criação dos peixes e das aves.................... 54 Referências ............................................................................................................................... 55 www.angola.czu.cz
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Introdução A agricultura integrada significa, no fundo, uma interligação energética e especial das
diferentes atividades relativas à produção dos alimentos num sistema funcional, sendo a
criação integrada dos peixes e das aves um dos exemplos desta. Deveria ser sempre uma
vantagem de qualquer integração uma redução dos custos energéticos por unidade de
produção, que pode ser, duma maneira geral, atingida, graças ao aproveitamento dos detritos
duma parte da produção na segunda parte. A agricultura integrada em pequenas fazendas tem
ficado, na agricultura global, fora da atenção, embora se trate dum dos sistemas mais
equilibrados - tanto do ponto de vista económico, como ecológico - da produção dos
alimentos. Teoricamente pode ser aproveitada em vários lugares do país nos quais existe uma
possessão das terras muito desintegrada, ficando por este motivo a população desprovida de
maiores meios de investimento. Pode ser citado como exemplo dum centro de agricultura
integrada a Ásia, continente no qual esses sistemas, altamente sofisticados, mas facilmente
viáveis, foram concebidos de maneira empírica. Trata-se geralmente duma combinação de
produção vegetal com uma produção animal integrada, ocorrendo a criação dos peixes com a
das aves ou dos suínos: detritos provenientes da produção das aves ou dos porcos são
aproveitados para uma intensificação da produção primária do meio aquático dos tanques,
ocorrendo nestes, graças a isto, formação da biomassa (plâncton) que serve como alimento
para os peixes. Uma vez vazados os tanques, o sedimento do fundo, rico em matérias
nutritivas, pode ser, por sua vez, aproveitado na produção vegetal como um fertilizante de boa
qualidade. Existe, porém, uma grande quantidade dos diferentes sistemas.
O objectivo desta metodologia é resumir os dados acessíveis e adquiridos, relativos à criação
integrada dos peixes e das aves e apresentar instruções e recomendações específicas válidas
para a província do Bié em Angola. Baseiam-se nesta metodologia também manuais e
folhetos relativos à criação dos peixes e das aves, destinados a uma aplicação prática deste
método por entre fazendeiros locais. Esta metodologia é resultado dos trabalhos que
decorreram nos anos 2006-2009 no âmbito do projecto de desenvolvimento intitulado
Consultoria na área da criação dos peixes e das aves na província do Bié em Angola. O
realizador do projecto é Česká zemědělská univerzita v Praze (Universidade Checa de
Agicultura em Praga). Trata-se dum projecto de cooperação oficial de desenvolvimento da
República Checa, sendo apoiado pelo Ministério da Agricultura da República Checa.
O método da criação integrada visa o objectivo do projecto que é o de intensificar a produção
agrícola e a produtividade na província do Bié. O presente estudo integra, em primeiro lugar,
os aspectos sócio-culturais do determinado meio que desempenham uma influência
fundamental no sucesso da própria implementação duma criação integrada. A seguir
descrevem-se os diferentes passos e condições indispensáveis para a introdução duma criação
integrada nas condições existentes.
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Esta publicação é destinada principalmente para o Governo da Província do Bié,
especialmente para a Direção provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Pescas e
Ambietne, assim como para organizações não governamentais que atuam na província do Bié.
As organizações que aproveitarão os resultados desta metodologia ou implementá-los-ão na
prática comprometem-se a citar esta publicação e o nome do projecto.
A equipa realizadora do projecto
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1 Principal característica do sector de finalidade É certo que actualmente Angola continua a encarar uma crise de pobreza contínua e dum
atraso das zonas rurais. A guerra civil, que terminou em 2002, durou quase trinta anos durante
os quais ocorreu, entre outros danos, a destruição da tradicional entrega dos conhecimentos e
experiências de agricultura duma geração a outra. Durante a guerra não funcionavam as
escolas de agricultura e iam desaparecendo fazendas comerciais assim como familiares. Uma
escassez de informações e os sistemas extensivos de exploração mantêm os atuais
rendimentos da produção agrícola num nível baixo. A produção agrícola não participa na
produção nacional bruta senão com 9 %; por outro lado, estão empregados na produção
agrícola 42 % da população e ela está a desempenhar o papel-chave na alimentação da
população local.
A província do Bié
A província do Bié estende-se no Planalto central de Angola, ficando exatamente no centro
geográfico do país entre 10o34´´ - 14o18´´ da latitude sul e 15o42´´- 19o13´´ da longitude este.
A sua extensão é de 71 mil km2, sendo comparável com a da República Checa ou ainda a de
Portugal. A capital da província do Bié – Kuito – fica a uma altitude mais de 1600 m. No
norte Bié faz fronteira com as províncias de Malanje, Lunda Norte e Lunda Sul, e Moxico; no
Sul com Cuando-Cubango; a Oeste com Huambo, Kwanza Sul e Huíla (mapa n. 1.).
Devido ao seu clima húmido e quente com as isotermas anuais entre 19 – 21 oC, o seu
território tem condições extremamente propícias para agricultura e a criação do gado. A
temperatura anual média oscila, segundo os valores adquiridos na capital da província, à volta
de 26oC. As características das temperaturas nos diferentes meses do ano encontram-se
disponíveis na tabela n. 1.
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Mapa n. 1. Angola.
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Tabela n. 1. Temperatura média na Kuito, 2007 (Horajsová 2007).
Mês
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Média anual
Temperatura T (°C)
T media
T max.
T min.
24,41
27,18
26,11
25,79
26,97
25,6
25,62
28,57
26,89
25,29
25,66
25,83
26,16
27,69
29,85
29,08
28,76
28,48
27,35
26,72
29,89
29,43
28,05
28,67
28,16
14,97
15,65
15,58
14,96
12,28
9,8
8,09
10,56
12
13,57
15,11
15,21
Na província do Bié encontram-se as nascentes da maioria dos rios angolanos, inclusive o
maior – o Kwanza, cuja nascente fica perto da comuna de Mumbué. Os rios Luando e
Kuemba correm na parte oriental da província. Todo o Planalto central, no qual se estende a
província do Bié, é um importante lugar de nascentes de toda a África subsariana. Entre os
importantes rios de África nascem nele ou correm importantes afluentes dos rios: Kongo
(Zaire), Zambeze, Kwanza, Cubango, Cunene (mapa n. 2).
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Mapa n. 2. Rios na província do Bié.
Na província vivem aproximadamente 2 milhões de habitantes, quase metade dos quais nas
quatro maiores cidades, entre as quais a capital Kuito (aproxim. 500 mil habitantes). Do ponto
de vista administrativo a província está dividida em 9 municípios: Kuito, Katabola,
Kamacupa, Nharea, Andulo, Kunhinga, Chinguar, Chitembo e Kuemba. Cada município
divide-se, por sua vez, em comunas (sing. comuna) que incluem várias aldeias. As diferentes
aldeias são chamadas comunidades (sing. comunidade).
A população pertence a quatro de etnias bantus: os Kibalos (Ngaios) provêm dos Kimbundu
em Calussinga; os Songos vivem no Norte; os Bailundos vivem em Andulo e Nharea; os
Bienos em Chinguar, Kunhinga, Katabola e Kamacupa. As margens do rio Kwanza são
habitadas pelas tribos Nganguela e Luimbis (Luenas). Em Chitembo vivem os Ambuílas
enquanto que a faixa oriental da província é povoada do norte para o sul pelos Kiokos.
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A população local, nomeadamente nas comunidades, comunica entretanto na língua da sua
etnia. Na província do Bié prevalece a tribo Ovimbundu que fala umbundu. Por isso é
necessário conhecer bem a determinada localidade e, caso seja necessário, recorrer a um
intérprete.
A produção agrícola provém nomeadamente dos pequenos fazendeiros (fazendas familiares)
que aproveitam áreas duma extensão de aproximadamente 1,5 ha. No caso de famílias
numerosas nas quais há filhos que podem ajudar a trabalhar na fazenda, a extensão das terras
cultivadas oscila à volta de 2 ha. Nas zonas rurais da província do Bié, o método aplicado com
a maior frequência é o de uma combinação de produção animal e vegetal, sendo utilizados os
excrementos dos animais como adubo para os vegetais, enquanto que os restos da produção
vegetal como alimento para os animais. Neste sistema extensivo perde-se quase metade do
azoto ainda antes de ocorrer a oxidação nos nitratos que servem como matéria nutritiva para
os vegetais. Por isso, são aproveitados com o fim de intensificar a produção dos
adubos/fertilizantes químicos, que são porém caros. O trabalho nas fazendas faz-se
manualmente, havendo falta de mecanização.
A produção vegetal
Figuram entre os mais importantes produtos que servem tanto para o consumo à população
local, como artigos comerciais nos mercados: o milho, o feijão e a mandioca. As verduras, os
legumes e as frutas cultivam-se nomeadamente para o consumo pessoal, chegando aos
mercados eventualmente também o excedente da produção das fazendas familiares.
Igualmente o café e o tabaco são cultivados para o consumo pessoal. Depois da partida dos
Portugueses tem havido nesta região falta de escoamento de produtos agricolas. Outros
vegetais são cultivados tradicionalmente em determinadas zonas, como por exemplo: arroz
(Kamacupa, Nharea, Kuito, Kuemba); trigo (Nharea, Kuito, Katabola, Kamacupa); batatas
(Chinguar); jinguba (Kamacupa, Katabola, Andulo, Nharea); café (Kuito, Andulo, Nharea,
Katabola, Kamacupa).
Para a região de Chitembo é característico o cultivo do sorgo, mandioca, milho, verduras e
legumes assim como a caça. Em Kamacupa e Katabola cultiva-se o milho, o feijão, a
mandioca, frutas (laranja, manga, tangerina, papaia, abacate, maracujá). É típica da zona de
Kamacupa também a pesca nos rios Kwanza, Kukema, Kuemba, Luando, Cuchi e Kutato. A
zona de Nharea é típica para o cultivo do feijão. Os rendimentos dos vegetais diferem
segundo as localidades: no milho oscilam na média entre 300 – 800 kg/ha; no caso de uso dos
fertilizantes aumentam na média para 500 – 1.000 kg/ha. Os rendimentos do feijão atingem
aproximadamente 300 kg/ha.
Os preços dos produtos variam durante o ano: aumentam no período mais distante da colheita,
quando os agricultores já não têm mais senão uma pequena reserva para o consumo pessoal,
aumentando assim a procura no mercado. Na época da colheita são, pelo contrário, os mais
baixos.
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Muitos agricultores locais não dispõem de espaços para armazenar os produtos. O preço do
produto aumenta caso este seja tratado, p.ex. a farinha do milho, ovo cozido etc.
O preço por 1 kg do milho varia entre 30 – 50 Kwz, 1 kg do feijão entre 60 – 100 Kwz e do
arroz entre 70 – 100 Kwz.
Figuram entre os principais factores que influem no preço dos produtos:
- A distância do mercado: nas próprias comunidades a oferta dos produtos agrícolas é
maior, sendo por esta razão o preço mais baixo. O preço aumenta caso seja
indispensável transportar os produtos para zonas mais distantes.
- O transporte: os factores que desempenham um papel decisivo são a acessibilidade e
o terreno. No caso de existir uma possibilidade de transporte para a cidade, o preço
dos produtos aumenta. O transporte decorre frequentemente por meio das bicicletas,
de maneira que a viagem para o mercado pode demorar um ou até dois dias. No caso
de maiores distâncias costuma ser aproveitado o transporte local por meio do assim
chamado candongeiro (transporte coletivo por minibus).
- Estação do ano: no período que segue à colheita (Abril, Maio) os preços são baixos,
sendo suficientes as reservas dos agricultores. Em Junho e Julho os preços vão
aumentando, devido à redução das reservas.
Os terrenos cultivados podem ser divididos em dois tipos principais:
Lavra – terrenos por cima das aluviões do rio, irrigados pela chuva. O lar costuma dispor de
duas até cinco lavras, cada de uma extensão de 1 ha, não sendo necessariamente cultivada
toda a área. A estrutura do solo costuma ser arenosa, sendo o principal problema a fertilidade.
Sem um suplemento de fertilizante artificial não há praticamente produção. A lavra deveria
ser aproveitada durante 2 – 4 anos e depois deixada sem cultivo durante 1 – 2 anos. Os
vegetais cultivados com a maior frequência nas lavras são milho, feijão, batata, jinguba e
mandioca.
Nacas – terrenos nas aluviões dos rios. Um lar costuma possuir geralmente 1 – 3 nacas, cada
uma com extensão de 1/3 de ha. O solo costuma ser mais húmido e fértil, frequentemente
irrigado por fontes subterrâneas naturais. Distiguem-se ainda dois tipos de nacas: os ongondo
nas encostas dos vales são aproveitados no período de chuva, e os katoko – nos fundos dos
vales que podem ser cultivados durante todo o ano. O problema que as nacas apresentam é
que exigem um duro trabalho manual para tirar os excessos de água e para poderem ser
cultivados os seus solos pesados. Cultivam-se nelas: o alho, a cebola, a couve, o feijão, as
bananas, a cana-de-açúcar, o tomate e o milho.
As lavras e as nacas são frequentemente pouco férteis e, em certos casos encontram-se a uma
distância de 2 – 3 horas de marcha a pé da comunidade.
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Os jovens, cujas famílias não dispõem de terra para cultivar, compram as lavras por um preço
médio de 2.000 Kwz, o que equivale aproximadamente a 27 USD. A acessibilidade de solo
fértil depende também da acessibilidade da mão-de-obra.
Um homem de boa saúde e que tem bastantes forças físicas é capaz de limpar o terreno
recentemente adquirido, ganhando desta maneira terra fértil, enquanto que a sua esposa dirige
o lar. As famílias nas quais o homem não têm forças físicas suficientes, devem, contudo,
cultivar solos menos férteis.
A produção animal
No âmbito da produção animal prevalece a criação livre das aves. As fazendas familiares
posssuem habitualmente algumas galinhas, aproveitadas tanto para a carne como para a
produção dos ovos. A seguir, as galinhas são vendidas no mercado, oscilando os seus preços
entre 500 Kwz e 1.000 Kwz (um galo). O principal problema é a ocorrêencia de doenças e
uma alta taxa de mortalidade, pois faltam principais conhecimentos relativos aos princípios de
zoohigiene e a prevenção das doenças. Os patos são criados com menor frequência, sendo
entretando muito procurados do ponto de vista gastronómico. O preço dos patos no mercado
varia entre 1.000 – 1.500 Kwz por uma ave.
São criados ainda porcos (na média 4 animais por uma fazenda familiar). As famílias
enfrentam vários problemas, entre os quais falta de alimento, utilizando por esta razão restos
do milho moído e restos dos vegetais. Os suínos são criados numa criação livre nas
comunidades. Os preços dos porcos oscilam entre 6.000 – 7.000 Kwz por um leitão, 12.000
Kwz por um porco adulto.
É também comum a criação das cabras, sendo, porém, mais exigente e exigindo ser controlada
a sua deslocação. Num pastoreio livre elas vão destruindo a colheita. Caso estejam atadas e
pastam sob os cuidados dos filhos dos proprietários, isto tem, por sua vez, influências
negativas na escolaridade das crianças. As vacas são criadas raramente, devido à ocorrência
de minas na maior parte do território da província em consequência da guerra civil, sendo por
esta razão reduzido o espaço de pastagem. Atualmente está contudo a crescer a criação dos
bovinos graças a fazendas recém-fundadas com o apoio do Governo Angolano ou
eventualmente às receitas provenientes de outras atividades, p.ex. dos rendimentos das firmas
de construção ou das atividades comerciais. Existem até rebanhos com 200 cabeças. O preço
do gado bovino é alto: 7.000 Kwz por uma vaca adulta, 25.000 – 30.000 Kwz por um vitelo.
Os bovinos são trazidos (importados) das províncias Huíla e Cunene.
Existem igualmente grandes fazendas de produção, dotadas com as receitas de outras
atividades, p.ex. dos rendimentos das firmas de construção ou atividades comerciais, ou ainda
dos salários dos trabalhadores no sector de administração.
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2 Aspectos sócio­culturais e económicos da implementação da criação integrada Aspectos sócio-culturais da implementação da criação integrada
Antes da própria implementação da criação integrada é preciso ter em conta as condições
naturais, mas também sócio-culturais e económicas, existentes no lugar da realização. No
decorrer da introdução de novas tecnologias deve ser verificada regularmente a influência da
implementação nos agricultores locais.
Antes da própria implementação da criação integrada é preciso ter igualmente em conta a
estrutura da fazenda familiar, ou seja, a quem é que cabe tomar as decisões fundamentais e
quem é que tem a maior autoridade. As comunidades de pequenos fazendeiros são bastante
interligadas, sendo às vezes difícil descobrir certas suas decisões, cujo fundo das suas mútuas
ligações é complicado. É preciso respeitar essas decisões. A rede social entre os membros das
tribos é, para a maioria dos pequenos fazendeiros, única maneira de se precaver das
calamidades (seca, inundações, doenças). Esta pode ser igualmente uma das razões da
importância de manter relações mútuas (casamentos, óbitos, visitas, festas etc.).
É insustentável impor um modelo fixo de criação integrada dos peixes e das aves a longo
prazo: é necessário reagir de maneira flexível, de acordo com as determinadas condições, à
situação dos diferentes pequenos fazendeiros, de maneira a serem respeitados os pontos de
vista, os desejos e as necessidades destes.
A comunidade
As diferentes comunidades representam a unidade organizadora fundamental. É dada a
estrutura assim como delimitada a zona explorada pela comunidade. Uma comunidade
compõe-se dum número diferente de famílias (em média 50 famílias), cujas habitações são
construídas uma próxima de outra. Junto delas cultivam-se árvores de fruta, verduras e
legumes e correm livremente de um lado para outro aves, eventualmente porcos. Os terrenos
de cultivo encontram-se a uma distância das habitações que pode ser percorrida a pé. Faz
parte da comunidade geralmente a igreja, escola e um pequeno mercado.
O soba é o supremo representante da comunidade, eleito por toda a comunidade durante uma
reunião dos representantes das famílias. Ele desempenha o seu cargo geralmente até à morte,
podendo ser, porém, substituído, caso os membros das comunidades não estejam contentes
com as suas decisões. Intervém nas decisões ainda o conselho dos velhos, assim chamado(s)
seculos, que se compõe geralmente de 5 – 7 pessoas.
Nas comunidades há falta de emprego, e a maioria das pessoas trabalham no sector da
agricultura. Cultivam-se planta agrícolas que servem primeiro para o consumo pessoal da
família e, no caso dum excedente de produção, são vendidas pelas mulheres no mercado.
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A receita média proveniente da venda no mercado oscila entre 1.500 – 2.000 Kwz por semana
no caso dum bom negócio, e 600 Kwz por semana caso a venda não seja bem sucedida.
O ensino
Durante a guerra, o processo de ensino foi interrompido. A partir de 2002, a situação vai
melhorando, pois o Governo da província tem apoiado a fundação e renovação das escolas. 70
% dos habitantes têm instrução primária (1o – 4o ano). Alguns dos habitantes mais idosos
frequentam atualmente o segundo nível (5 o – 8 o ano). A escolaridade obrigatória começa com
6 anos de idade. As crianças vêem-se frequentemente obrigadas a irem à escola na
comunidade vizinha, nomeadamente para a frequência das classes superiores. A maior parte
dos conhecimentos relativos à agricultura costumam a ser entregues de uma geração a outra.
Na escola, os alunos aprendem nomeadamente a ler e a escrever, sendo as principais
disciplinas a matemática, o português etc. A formação no sector de agricultura é apoiada por
várias organizações, a saber organizações governamentais (IDA, MINADER) assim como
não-governamentais (Africare, Care, Cruz vermelha, People in Need). No ano de 2003 foi
fundada, no âmbito do projecto de desenvolvimento „Centro de Educação Agrícola na
província do Bié“ (CEAB) no Kuito, sob a orientação dos especialistas da República Checa,
O Instituto Médio Agrário.
Segundo revelou a pesquisa relativa ao nível dos conhecimentos adquiridos no Instituto
Médio Agrário, os estudantes têm conhecimentos básicos ou errados dos peixes: sabem que os
peixes vivem na água, dividem-se nas espécies de água doce e nas do mar, que precisam de se
alimentar, não crescem sem alimento, precisam de água limpa, etc. Supõem que na província
do Bié vivem 2 – 4 espécies de peixes, conhecendo entre elas: o bagre (Claridae), o cacusso –
(Cichlidae, geralmente a tilapia). Os estudantes conhecem as seguintes especies do mar: a
sardinha (Clupeidae), o carapau (Trachurus sp.), o bacalhau (Gadidae), e a corvina
(Scianidae). A população usa nomes locais que são difíceis de serem identificados. Quanto às
aves, faltam conhecimentos gerais sobre a sua criação, a prevenção das doenças e a sua
reprodução. Os habitantes nas comunidades têm ainda poucos conhecimentos.
Hábitos alimentares
Em relação aos hábitos alimentares na província do Bié é preciso sublinhar as diferenças nas
preferências alimentares, diferentes nas comunidades e nas cidades e que divergem ainda
segundo as etnias. As exigências alimentares entre as tribos são de tal maneira diferentes que
os membros das diferentes tribos geralmente não casam com os membros de outra tribo.
Podem servir de exemplo os membros da tribo Ngangela que vivem frequentemente nas
proximidades dos rios, sendo acostumados a consumir peixe. A tribo dos Ovimbundu orientase, por sua vez, tradicionalmente para o cultivo de milho, mandioca e feijão, sendo a sua
alimentação diária composta de funje de milho ou de mandioca, que se comem com um
molho de feijão, com peixe ou galinha.
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Segundo a pesquisa realizada no sector das preferências alimentares pelo Instituto Médio
Agrário em Kuito os estudantes preferem a carne de vaca, o peixe e as aves, alimentando-se,
porém, com a maior frequência com aves, seguidas da carne de vaca e peixes. Comem o peixe
várias vezes por semana, gostando tanto do peixe da água doce como peixe do mar. A
população nas comunidades prefere, contudo, o peixe da água doce. As espécies de peixes
mais frequentemente mencionados pelos estudantes são: o cacusso, o carapau, o bagre , a
sardinha e o bacalhau. A população adquire os peixes no mercado, parcialmente também nas
lojas e, raras vezes diretamente comprados aos pescadores. Prefere o peixe fresco ou seco,
comprando-o raramente congelado ou defumado.
Quanto às aves, são preferidas galinhas, frangos, patos e pombos. Costumam ser aproveitados
também os miúdos como o fígado, as gargantas, os corações e os estômagos. As aves
compram-se vivas. A parte predilecta é a coxa, seguida pelo peito e, com menor frequência,
também as asas. As aves são consumidas várias vezes por semana. Quanto aos ovos, são
consumidos com a maior frequência os de galinha, seguidos pelos de pato. De costume
consomem-se ovos mexidos ou cozidos, na média 2 – 4 vezes por semana.
Aspectos económicos da implementação da criação integrada dos peixes e das aves
Outro aspecto importante da implementação da criação integrada dos peixes e das aves é a
análise económica. Como foi acima alegado, os preços dos diferentes produtos variam nas
diferentes zonas, havendo diferenças nomeadamente entre as comunidades e as cidades.
Nas seguintes tabelas figuram os preços dos produtos relacionados com a implementação das
criações integradas, sendo vendidos igualmente no mercado de Kuito (táb.2). Apresentamos
ainda uma lista dos produtos e dos seus preços, vendidos congelados nas lojas (táb.3).
Tabela n. 2. Lista dos preços dos produtos (Kuito, 2008).
Produto
Peixes secos 5 peças, tamanho de 20-30 cm
Peixes secos 3 peças
Pequeno peixe seco de 5-10 cm
Galinha 1 peça
Pato 1 peça
Ovo 1 peça
Milho 1 kg
Restos do milho triturado (farelho) 1 kg
Semente do repolho 1 kg
Feijão 1 kg
Soja 1 kg
Nota: Câmbio 75 Kwz – 1 USD
Preço em Kwz Preço em USD
200
2,67
100
1,33
5
0,07
500 - 1000
6,67 - 13,34
1000 - 1500
13,34 - 20
20 - 30
0,27 - 0,4
30-60
0,4 - 0,8
20 - 30
0,27 - 0,4
100
1,33
80
1,07
60 - 100
0,8 - 1,34
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13
Tabela n. 3. Lista dos preços de produtos congelados nas lojas (Kuito, 2007).
Produto
Preço em Kwz
Garopa (Serranidae)
1800
Cherne (Serranidae)
1000
Pungo (Scianidae)
900
Corvina (Scianidae)
1200
Carapau (Carangidae)
300
Sardinha (Clupeidae)
200
Bacalhau (Gadidae)
500
Cachucho (Sparidae)
800
Calafate (Scianidae)
500
Pargo (Sparidae)
800
Filetes da garopa
900
Liro (Schedophilus sp)
800
Atun (Thunnus sp)
800
Choco (Sepia sp.)
1000
Caranqueijo (Crustacea)
1500
Nota: O câmbio 75 Kwz = 1 USD
Preço em USD
24,00
13,33
12,00
16,00
4,00
2,67
6,67
10,67
6,67
10,67
12,00
10,67
10,67
13,33
20,00
Motivação dos grupos dos destinatários
Durante a introdução da criação integrada dos peixes e das aves nos sistemas económicos dos
pequenos fazendeiros, a condição importante do sucesso é uma cooperação destes. É certo que
o fazendeiro é o autor definitivo assim como o gerente de toda a sua fazenda. Pequenas
fazendas familiares são, com frequência, uma mistura complexa de produção vegetal
(mandioca, milho), das árvores e plantas (abacate, ananás) e da produção animal (aves,
porcos, cabras, patos).
Uma considerável variabilidade do carácter das famílias e das comunidades como lares
individuais ou, pelo contrário, lares unidos, a alfabetização e a instrução, atividades existentes
dos fazendeiros, as preferências na alimentação, costumes locais e vários tabus sociais, torna
o trabalho dos visitantes ocasionais das comunidades bastante complicado.
Tem uma importância fundamental a comunicação com pequenos fazendeiros. É importante
escolher bem os cooperantes que tenham o conhecimento do determinado meio, conhecendo,
para além disso, a língua local. Nesse caso, a comunicação decorre em vários níveis. No caso
da participação de toda a comunidade é bom primeiro combinar com o soba a data do
encontro. Mesmo depois é sempre bom discutir o determinado assunto primeiro com ele e, a
seguir, com toda a comunidade. Durante o encontro com a comunidade o soba e o conselho
dos velhos estão sentados na frente, na segunda fila os homens, aparecendo a seguir mulheres
e crianças.
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É conveniente combinar os encontros nas horas da manhã, quando a temperatura ainda não
está alta e antes de os membros da comunidades partirem trabalhar nas lavras e nacas.
Uma propriedade colectiva, em forma duma cooperativa, parece, segundo as nossas
experiências, extremamente problemática. A população rural não tem experiência com tal
forma de produção colectiva. No trabalho com as diferentes famílias é possível penetrar mais
facilmente nas relações sociais e nos papéis dos diferentes membros. A implementação da
nova tecnologia e a distribuição do trabalho é, assim, muito mais fácil. A principal vantagem
da implementação de novas tecnologias nas fazendas familiares é um lucro imediato, ganho
pela família em questão.
É muito importante também o sistema de controlo que deveria ter igualmente vários níveis. A
confiança da parte da população local vai aumentando à medida que ela constata que o
sistema proposto funciona. Recomendamos introduzir primeiro, na determinada zona, uma
criação do modelo, aproveitando-se dele durante a formação e aulas práticas. A população
local têm conhecimentos mínimos sobre o sistema integrado, por isso recomendamos antes
aulas práticas e uma instrução realizada diretamente no terreno do que uma preparação
teórica. Folhetos com desenhos completam as aulas de maneira adequada.
As relações
É importante verificar primeiro, antes da própria implementação da nova tecnologia no
sistema existente de pequenos produtores e fazendeiros locais, como eles consideram o seu
meio e os processos que nele decorrem. A implementação da criação dos peixes e das aves
deve corresponder ao interesse do fazendeiro e harmonizar-se com os seus valores e
convicções. Cada caso deveria ser ponderado, avaliado e também planificado de maneira
individual.
A implementação da criação dos peixes na atual produção agrícola contribui para o aumento
da segurança alimentar pela diversificação das fontes. É importante identificar as
possibilidades da implementação da nova tecnologia da criação integrada dos peixes e das
aves e propor, em colaboração com fazendeiros locais, a sua futura concepção. Os fazendeiros
devem sentir que eles têm uma participação importante neste assunto. Os diferentes passos da
implementação da criação integrada dos peixes e das aves são descritos nos capítulos
seguintes.
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3 Criação integrada dos peixes e das aves 3.1 Projecto do sistema da criação dos peixes
O principal elemento da criação integrada dos peixes e das aves é um sistema de pelo menos
três tanques, cujo tamanho é, de preferência, de 20 x 10 m (sendo, porém, suficiente 15 x 10
m) com um conduto de entrada e um conduto de escoamento. Outro equipamento na proposta
criação integrada são abrigos dos patos (aviário), uma cerca, a parte de serviço (armazém,
intrumentos) e campos com verduras e legumes ou outra produção vegetal.
A escolha do lugar
A principal condição para a realização da criação integrada dos peixes e das aves é uma fonte
de água. Sem ser considerada a origem da fonte, a qualidade da água deve corresponder às
condições exigidas para a criação dos peixes. Cuidado com água que atravessa uma zona de
alta densidade populacional, na qual existem manufaturas, zonas de extração dos recursos
minerais ou na qual os carros costumam ser lavados no rio. As matérias que se escapam na
água podem seja diretamente matar os peixes, seja acumular-se nos seus corpos, podendo
ocorrer uma intoxicação do consumidor final. Tais fontes de água não deviam ser
aproveitadas para os fins de criação integrada. A água de esgoto, proveniente das empresas de
tratamento dos alimentos, como matadouros ou moinhos, pode ser aproveitada para a criação
integrada, podendo ser até vantajosa graças a um alto teor das matérias orgânicas. O
aproveitamento de tal água exige, porém, um controlo maior da qualidade e um nível superior
dos conhecimentos relativos aos processos biológicos que decorrem na água.
A água subterrânea contém com frequência uma maior quantidade do óxido de carbono,
sendo quase desprovida do oxigénio. Também a sua temperatura costuma ser baixa. A água
subterrânea pode ser aproveitada, mas deve ser exposta a atmosfera, de preferência num
tanque pelo qual a água corre e que corresponde com as suas dimensões ao acesso de água
subterrânea. O tempo necessário para a retenção depende do teor do O2 e CO2 no escoamento.
A qualidade da água
A característica química da água
Ao verificar a qualidade da água, é preciso ter em conta a altura durante a qual são tomadas e
analisadas as amostras. Na época das chuvas (Novembro – Abril) todas as matérias nas águas
superficiais serão menos concentradas; na época seca estas serão, pelo contrário, mais
concentradas.
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Tabela n. 4. Valores ideais das principais características físicas e químicas da fonte de água.
Característica
Temperatura
Transparência
pH
Condutividade
Teor de oxigénio
N-NH3
N-NH4
N-NO3
P-total
Valor ideal
24°C
30 -50 cm
6,5-8,5
cca 200-500 µ S.cm-1
(no Bié)
min 5,0 mg.l-1
≤0,025 mg.l-1
≤0,5 mg.l-1
≤1,0 mg.l-1
Valor habitual nas águas do Bié
18-28°C
≥1m
7,0
≤0,15 mg.l-1
0,0mg.l-1
20 µ S.cm-1
10,0 mg.l-1
0,0 mg.l-1
0,0 mg.l-1
0,0 mg.l-1
Duma maneira geral, a água na província do Bié pode ser caraterizada como oligotrophica –
extremamente pobre em matérias nutritivas. Sendo aproveitada a água no sistema integrado, é
preciso ter em conta:
 O baixo teor das matérias nutritivas = necessidade de fertilizar
 Oscilações do pH causadas por uma baixa capacidade de soluções de cobertura da
água
Características biológicas da água
Os organismos de plâncton são o principal alimento dos peixes na criação integrada. Caso
haja na água uma quantidade suficiente das matérias nutritivas, desenvolvem-se as algas e
outros organismos vegetais, que são os produtores primários da biomassa no tanque. Esta é
aproveitada na produção secundária pela biomassa do zooplâncton que serve como alimento
dos peixes. Até agora foi avaliado o zooplâncton de duas tomadas nos tanques na localidade
de Nequilo. Foi constatada ocorrência de seis espécies ou grupos de organismos de
zooplâncton (Rotatoria, Cladocera e Copepoda), sendo a espécies dominante a Moina
macrocopa, que ocupava 93 – 95 % de todos os indivíduos verificados. Entre oscladoceras
foram ainda verificadas as espécies Ceriodaphnia setosa e Chydorus sphaericus. Os
rotatoriosforam representados pelas espécies Brachionus falcatus e Asplanchna priodonta. As
copepodas presentes não foram determinadas detalhadamente. Como espécie dominante
prevalece Moina macropoda. É notório que esta espécie é um alimento adequado dos peixes.
Outros organismos que fazem parte do alimento dos peixes são representantes de zoobentos.
Nomeadamente as larvas dos insetos (Odonata, Zygoptera, Coleoptera, Heteroptera, Diptera)
servem também como alimento dos peixes e dos patos.
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A acessibilidade das fontes de água e a sua capacidade
A fonte de água deve ter uma capacidade suficiente e ser relativamente estável para chegar a
encher os tanques em qualquer altura do ano. É por isso muito importante adquirir
informações verificadas, relativas à potência da fonte de água durante o ano inteiro: qual é a
flutuação durante o ano, quais são outras exigências relativas à fonte de água, p.ex. a
irrigação, utilização da água técnica, etc. A acessibilidade das fontes de água é o principal
factor na planificação da capacidade da criação integrada dos peixes e das aves, visto que um
défice da fonte de água influi diretamente no potencial de produção pela limitação da
superfície da água utilizável. Caso a fazenda seja construída junto a um rio ou um lago,
devem ser consideradas informações relativas ao estado máximo de água na época da chuva.
Devem ser preferidas localidades nas quais a oscilação do nível de água durante o ano é a
mais fraca. A província do Bié é uma zona de nascentes de numerosos rios maiores, sendo
alta a densidade da rede aquática, proporcionando a abundância das fontes de água um
aproveitamento das ribeiras e dos riachos para a implantação da criação integrada.
A qualidade do solo
A qualidade do solo influi, de maneira considerável, na construção dos tanques, tendo
influência nos rendimentos da produção vegetal assim como dos peixes. Por isso, a qualidade
do solo é um factor muito importante que influi na produção total e no funcionamento do
sistema integrado. Ao verificar a qualidade do solo é preciso considerar a qualidade do solo
igualmente nas camadas inferiores (aproxim. em 1,0 – 1,5 m de profundidade), nas quais será
situado o fundo do tanque. O solo tem que ter uma coerência suficiente, para impedir que a
água passe e para assegurar a estabilidade das margens do tanque assim como do dique. Por
isso é mais conveniente, para a construção do tanque, um solo com um teor mais elevado dos
elementos barrosos do que um solo arenoso que, devido a um baixo poder de coerência, não
corresponde às condições acima referidas. Um solo arenoso-barroso mantém a água, não
sendo, contudo, conveniente para a construção das barragens. Um solo com um alto teor de
barro é conveniente para o fundo dos lagos, mantendo bem a água, mas não é conveniente
para a construção dos barragens, porque caso secar podem surgir nela gretas, causando assim
a destruição do dique. Caso o solo arenoso-barroso ou barroso seja utilizado para a construção
do dique, é preciso alargar o dique e amenizar a inclinação. Um solo pedregulhento ou
arenoso é muito poroso, retém mal a água, sendo por isso inconveniente para a construção dos
tanques.
Deveria ser dada atenção igualmente ao teor de ferro no solo: caso seja demasiado alto, no
meio aquático formar-se-á um hidróxido de ferro colóide que acaba por formar um sedimento
no fundo do tanque. Esses sedimentos ferrosos podem pegar-se nas guelras dos peixes,
impedindo a sua respiração, influindo assim negativamente no crescimento dos peixes. A
presença destes sedimentos pode ser perigosa nomedamante para as ovas e as larvas dos
peixes. Os solos ricos em ferro podem ser muito bem identificados: têm a cor ruiva-castanha
ou verdejante.
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Tabela n. 5. Análise dos solos em quatro localidades características da província do Bié
(Galušková 2006).
Característica
P (ppm)
K (ppm)
Mg (ppm)
Cox (%)
Teor
2-74
5-74
31-100
0,4-5,9
Húmus (%)
0,7-10,2
Condutividade
(µS.cm-1)
7,2-37,2
Avaliação
até 50 baixo / 51-80suficiente / 81-115 bom
até 100 baixo / 101-106 suficiente / 161-275 bom
até 80 baixo / 81-135 suficiente / 136-200 bom
até 0,6 muito baixo / 0,6-1,1 baixo / 1,1-1,7 médio / 1,72,9 alto / mais que 5 muito alto
até 1 muito baixo / 1-2 baixo / 2-3 médio / 3-5 alto /
superior a 5 muito alto
até 30 carga mínima dos solos pelos sais / 30-60 solo menos ricos em minerais / acima de
120 alta carga dos sais
Deduz-se dos resultados das análises que o solo é geralmente muito pobre em matérias
nutritivas, sendo uma exeção os solos nas aluviões dos rios, nas quais existe uma quantidade
maior de húmus e do carbono total Cox. Todos os solos analisados por Iva Galušková 2006
foram classificados como leves.
Características topográficas
O mais conveniente é construir uma fazenda integrada num terreno plano. Um terreno
ligeiramente inclinado não apresenta um problema muito grande, sendo, porém, em tal caso
necessário, avaliar - na fase de planificação da colocação dos tanques - a inclinação
gravitacional e a exigência energética durante a escavação do tanque assim como a deslocação
da terra escavada. É preciso começar a escavação do tanque na parte superior do declive e
utilizar a terra escavada na construção do dique na parte inferior do declive.
A preparação e o plano
Antes do próprio início dos trabalhos no terreno é necessário desenhar o plano do sistema
proposto da criação integrada dos peixes e das aves. O plano deveria incluir todas as partes do
sistema, inclusive a indicação das dimensões. Depois da elaboração dum plano detalhado é
preciso traçar as diferentes partes do terreno para ser possível avaliar o plano teórico
(escabrosidades do terreno, vegetação, largura dos caminhos planificados, declive
gravitacional, etc.) no meio real.
Localização das diferentes partes da criação integrada dos peixes e das aves
O seguinte esquema da organização total do sistema integrado serve só de orientação geral,
pois cada localidade individual apresenta condições únicas, sendo por isso conveninte adaptar
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o sistema integrado e o terreno às necessidades do fazendeiro. O sistema dos tanques deveria
estar situado na parte central da fazenda proposta. O conduto de escoamento da água deveria
ser aproveitado para os fins de irrigação das plantas cultivadas nos terrenos adjacentes.
Esquema n. 1. Uma proposta geral da criação integrada nas condições da comunidade
Nequilo.
Esquema n. 2. Desenho detalhado dos tanques propostos.
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Projecto da construção dos tanques
Os tanques deveriam ter uma base quadrada ou retangular e ser orientados, pelo seu lado mais
largo, para o eixo oriente-ocidente, por ser uma orientação que proporciona uma maior
quantidade da luz de sol, intensificando desta maneira a fotossíntese e a produção do
oxigénio. A proporção geral dos lados é 1:1, 2:1 ou 3:2. As dimensões de todos os tanques no
sistema devem ser iguais, pois desta maneira pode ser economizado o tempo necessário para a
instalação prévia das redes de pesca utilizados. A unicidade leva a economizar o tempo e a
mão de obra. As dimensões recomendadas são de 10 x 10, 15 x 10 ou 20 x 10 m. O fundo do
tanque deve ter, da entrada ao escoamento da água, um declive com um gradiente de
aproximadamente 5 por mil. A profundidade do tanque no sistema integrado proposto não
deveria ultrapassar 1,5 m. Esta profundidade propiciona máximo aproveitamento da luz
penetrante, um aquecimento suficiente da água e nomeadamente uma manipulação simples
com a rede no tanque, mesmo no caso de o nível da água atingir o valor máximo.
Canal de acesso, canal de escoamento da água
Na construção do canal de acesso deveria ser aplicado o sistema „bypass“ com entrada e saída
independentes da água em cada tanque. Se se impedir o contato de água entre os diferentes
tanques, facilitar-se-á desta maneira o esvaziamento, impedindo-se ainda ao mesmo tempo a
propagação das doenças, parasitas e dos peixes indesejáveis de um tanque para o outro. É
importante respeitar o declive gravitacional (ver o esquema n. 3).
Esquema n. 3. Corte longitudinal do lado mais curto do tanque.
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Controlo da permeabilidade do fundo do tanque
Antes de ser tomada qualquer medida, é preciso primeiro identificar o ponto de fuga da água.
Caso as barrajens ou o fundo do tanque contenham solo arenoso ou pedregulhento, cubram o
fundo, assim como as barrajens, com o barro. É também possível deixar dissolver partículas
de barro na água que chega no tanque. É possível utilizar o estrume dos estábulos (na
quantidade de 1m3/100 m2 antes de o tanque ser enchido de água), fechando-se assim os poros
no solo do fundo. Caso a água passe pela barrajem, introduzir o barro pesado e calcar a terra
do dique ajuda geralmente a impedir a permeabilidade.
Dispositivo de esvaziamento
Um dispositivo simples de esvaziamento da água compõe-se de um tubo de escoamento de 10
– 15 cm de diâmetro, embutido no fundo do tanque, seguido de um cotovelo que serve para
ligar outro tubo de escoamento que chega aproximadamente a 1,5 m acima do fundo do
tanque. O tubo de escoamento passa pelo corpo da barrejem (digue). É conveniente colocar ao
redor do tubo no corpo do dique uma maior quantidade de barro, de maneira a ficar o tubo
bem obturado. As possíveis fugas de água em volta do tubo podem danificar todo o dique.
Esquema n. 4. Corte do dique com o sistema de escoamento.
Fazem uma parte muito importante do sistema integrado da criação dos peixes e das aves as
assim chamadas covas de fermentação das matérias orgânicas. Trata-se dum bioreator natural
no qual ocorre a decomposição dos restos orgânicos sem maiores perdas das matérias
nutritivas. Trata-se nomeadamente da transformação do azote em NO3 que é utilizável para a
fertilizar os tanques, sendo assim intensificada a produção primária.
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Esquema n. 5. Principais parâmetros duma cova de fermentação.
É importante que as covas de fermentação sejam sempre mantidas aguadas. Nas covas
preparadas na proximidade dos diferentes tanques concentra-se o material orgânico (ver o
capítulo sobre a fertilização).
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23
Espécies comuns dos peixes na província Bié
Baseando-nos nas experiências e exemplares pescados durante a pesca no terreno, nós
estimamos em 24 o número das espécies comuns dos peixes na província do Bié (tabela n. 6,
fotografías n. 1).
Tabela n. 6. Géneros dos peixes com o número das espécies e nomes locais.
Classificação
Nome local
Género
(espécies)
Portugues
Osteoglissiformes
Siluriformes
Gonorynchyformes
Cypriniformes
Marcusenius (1)
Doumea (1)
Schilbe (1)
Synodontis (1)
Chiloglanis (1)
Parauchenoglanis
(1)
Umbundu
Chilepwe
Olusí
Vambi
Chingolo
Chingolo
Chingolo
Bagre
Clarias (1)
Parakneria (1)
Labeo (1)
Ngangela
Dembe
Chiwende
Ondombe/
Eponde
Piangu
Mutika
Sambuenha Chisunsa
Barbus (6)
Hepsetus (1)
Brycinus (1)
Characiformes
Hemigrammocharax
(1)
Tilapia (2)
Perciformes
Serranochromis (2)
Ctenopoma (1)
Cyprinidontiformes Aplocheilichthys (1)
Tamanho
habitual
dos
exemplares
pescados
10 cm
8 cm
15 cm
4 - 6 cm
Chindumba
Nuhuho
Mukunga
Kakeya
Cacuso
Chásua
Chinganda
Cafundji
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Bundu
20 - 60 cm
4 - 12 cm
10 - 20 cm
2 - 20 cm
15 - 20 cm
5 - 8 cm
6 - 20 cm
10 - 35 cm
5 cm
3 cm
24
Fotografías n. 1. As imagens dos peixes comuns.
Marcusenius cf. angolensis (Mormyridae, Osteoglossifomes)
Doumea cf. angolensis (Amphiliidae, Siluriformes)
Schilbe intermedius (Schilbeidae, Siluriformes)
Synodontis sp. (Mochokidae, Siluriformes)
Chiloglanis sp. (Mochokidae, Siluriformes)
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25
Parauchenoglanis cf. ngamensis (Claroteidae, Siluriformes)
Clarias cf. theodorae (Clariidae, Siluriformes)
Parakneria sp. (Kneriidae, Gonorynchiformes)
Labeo cf. ansorgii (Cyprinidae, Cypriniformes)
Barbus sp. 1 (Cyprinidae, Cypriniformes)
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26
Barbus sp. 2 (Cyprinidae, Cypriniformes)
Barbus sp.3 (Cyprinidae, Cypriniformes)
Barbus sp. 4 (Cyprinidae, Cypriniformes)
Barbus sp. 5 (Cyprinidae, Cypriniformes)
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27
Barbus sp. 6 (Cyprinidae, Cypriniformes)
Hepsetus odoe (Hepsetidae, Characiformes)
Brycinus cf. lateralis (Alestidae, Characiformes)
Hemigrammocharax cf. lineostriatus (Citharinidae, Characiformes)
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28
Tilapia cf. sparrmanii (Cichlidae, Perciformes)
Tilapia rendalli (Cichlidae, Perciformes)
Serranochromis macrocephalus (Cichlidae, Perciformes)
Serranochromis sp. (Cichlidae, Perciformes)
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29
Ctenopoma multispine (Anabantidae, Perciformes)
Aplocheilichthys cf. myaposae (Poeciliidae, Cyprinodontiformes)
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30
Espécies próprias para a aquacultura
Foi selecionada das espécies locais, como uma espécies própria para a criação integrada,
Tilapia rendalli por melhor corresponder às condições do sistema integrado (alimento,
crescimento, reprodução). A tilápia classifica-se entre as Cichlidae que se distinguem por
cuidados dedicados à sua descendência. A Tilapia rendalli atinge um tamanho de 45 cm e a
idade de 6 – 7 anos. O seu corpo e a cabeça têm habitualmente a cor verde-azeitona com
riscas transversais escuras. A barbatana dorsal tem uma borda avermelhada e pequenas
manchas brancas e cinzentas alternadas. Esta espécie tropical prefere a temperatura da água
entre 24 – 28oC, sendo, porém, muito tolerante e suportando bem até oscilações extremas da
temperatura da água. São os mais adequados, para acriação deste deixe, tanques pouco
profundos com uma vegetação moderada. Os jovens indivíduos consomem
predominantemente o plâncton, as tilápias mais velhas alimentam-se igualmente com plantas
aquáticas superiores e pequenos animais invertebrados aquáticos.
A própria criação dos peixes
Os peixes miúdos que servem para povoar o tanque podem ser adquiridos da criação já
existente (no período 1-10/2009 trata-se por exemplo da fazenda-modelo na localidade
Nequilo), podem ser pescados nos rios. Recomenda-se efetuar a pesca dos indivíduos jovens
no litoral – ou seja, na faixa ao longo da margem com uma vegetação suficiente. A pesca com
uma rede de arrastamento é uma maneira mais eficiente e mais delicada. Depois de pescados e
antes de serem transportados até aos tanques preparados, os peixes devem ser guardados
numa quantidade suficiente de água fresca (um indivíduo de tamanho de 6 cm por 1 l de
água). Convém mudar a água de 15 em 15 minutos. Os peixes devem ser colocados na sombra
e a partes superior do recipiente deve estar coberta por um tecido reticulado para impedir o
peixe saltar para fora.
O transporte deve ser efetuado em dois sacos de plástico de maior tamanho, postos um no
outro, de preferência de 20 – 50 l, sendo um dos sacos enchido a 1/3 de água, de maneira que
água fique bem oxigenada quando vertida. O resto do saco fica cheio de ar. É conveniente
utilizar para isso uma simples bomba de bicicleta. O saco deve ser bem fechado e manter a
sua forma. Trata-se de um sistema fechado de transporte, no qual os peixes aproveitam o
oxigénio, que passa para a água do ar inchado, suportando assim até um transporte mais
prolongado.
Nas condições existentes no Bié, o transporte não devia ultrapassar 3 horas; no caso de
demorar mais tempo seria necessário mudar a água e o ar no saco de transporte. Após o
transporte no local de destino é necessário aclimatar o peixe miúdo ao meio diferente: o saco
de transporte fechado coloca-se na água do tanque de maneira a chegarem a equilibrar-se
pouco a pouco as temperaturas da água no interior e fora. 10 – 15 minutos mais tarde abre-se
o saco e muda-se uma parte da água, não se deixando ainda os peixes sair. É só outros 10 – 15
minutos mais tarde que os peixes se deixam sair livremente do saco para o novo meio.
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31
Os peixes não podem ser introduzidos senão nos tanques que lhes garantem uma quantidade
suficiente de alimento. O índice da transparência da água é aproximadamente de 30 cm e a cor
deve ser verde (o que corresponde a uma quantidade suficiente de fitoplâncton). A introdução
dos peixes numa água limpa, com um índice de transparência mais alto, significa uma
insuficiência do alimento natural e a fome, sendo indispensável, em tal caso, fornecer aos
peixes todos os dias um suplemento de alimento (ver a alimentação dos peixes). A quantidade
recomendada dos indivíduos da Tilapia rendalli introduzidos nos tanques é de 2 peixes (no
mínimo de 2 cm)/m2. Num tanque dum tamanho de 10 m x 20 m devem ser, então,
introduzidos 400 peixes. É bom proceder, no dia a seguir à introdução, a uma cuidadosa
inspeção do nível do tanque, contar os peixes que não sobreviveram ao transporte, tirá-los do
tanque e notar o seu número.
Num sistema de criação integrada com patos é conveniente introduzir os peixes pelo menos
uma semana antes de introduzir os patos. Os peixes têm mais tempo para se aclimatarem,
podendo assim evitar mais facilmente os possíveis ataques da parte dos patos, aos quais
estarão expostos até atingirem o tamanho de aproximadamente 10 cm.
Alimentação / não alimentação
A melhor solução para criações extensivas não é alimentar as tilápias diretamente, mas sim
melhorar, mediante a fertilização, o desenvolvimento do alimento natural existente na água. A
recepção do alimento depende da temperatura da água. No caso das temperaturas inferiores a
20oC, a atividade das tilápias fica limitada ao mínimo, o que significa que ela deixam de
receber o alimento e não crescem. Uma temperatura ideal da água é de 25-30oC. A
composição geral da alimentação das tilápias é a seguinte: semente de soja, milho cozido,
detritos provenientes da criação das galinhas, dicálcio de fosfato, farelo, farinha, uma mistura
das vitaminas, microelementos, óleo. Depende, porém, sempre das possibilidades existentes
na determinada localidade. Tilapia rendalli se pode alimentar com os pedaços vegetais.
As instruções relativas à alimentação
No caso da falta dos alimentos naturais nos tanques de criação ou durante a intensificação da
criação é possível aceder, nas condições da província do Bié, a uma alimentação direta dos
peixes. Os peixes alimentam-se geralmente uma ou duas vezes por dia. Após a distribuição do
alimento sobre o nível da água, os peixes deveriam consumi-lo todo em 20 minutos. Por isso é
importante verificar qual é a quantidade necessária do alimento para um tanque povoado, para
impedir que o alimento não consumido caia nos sedimentos. Os peixes devem ser alimentados
no momento da atividade mais forte, o que costume ser 5 horas após o nascer do sol, podendo
ser aplicada a segunda dose alimentar 4 – 8 horas mais tarde, não, porém, exatamente antes do
pôr do sol, ou seja, de preferência de manhã e no início da tarde. Peixes pequenos devem ser
alimentados com maior frequência e, no caso dos menores (peixe miúdo destinado para
povoar o tanque) o melhor é só aplicar a fertilização, reforçando assim a base alimentar
natural.
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32
Um bom sinal de orientação, que é a prova de o peixe miúdo ter bastante alimento em forma
de fitoplâncton, é a cor verde da água.
Dosagem (estimação aproximada)
A seguinte Tabela n. 7 mostra na coluna esquerda o peso do peixe em gramas e na coluna
direita a percentagem do seu peso que deveria correponder ao peso previsto do alimento. A
fórmula geral para o cálculo da quantidade necessária do alimento:
O número dos peixes x peso médio por um indivíduo x coeficiente do peso do alimento
(ver a Tabela n. 7)
Caso tenhamos no tanque 400 peixes que pesam 5 g cada um, o peso do alimento será: 400 x
5 x 0,65. Isto é 130 g por dia. O consumo, contudo, calcula-se desta maneira caso os peixes
não tenham à disposição nenhum alimento natural. É necessário adaptar a quantidade do
alimento oferecido à acessibilidade do alimento natural. Isto pode ser melhor verificado de
maneira empírica, sebendo-se que a quantidade do alimento foi consumida 20 minutos mais
tarde, como já foi mencionado. Podemos supor que no mínimo 30 % do alimento dos peixes
provém da oferta natural. A dose diária para os 400 peixes, sendo o peso de cada um de 5 g,
deveria ser aproximadamente de 90 g de alimento.
Tabela n. 7. O coeficiente diário recomendado, exprimido em por cento do peso por indivíduo
da tilápia de vários tamanhos.
Peso por um
peixe (g)
1
2
5
10
15
20
Coeficiente
alimentar (%)
11,0
9,0
6,5
5,2
4,6
4,2
Peso por um
peixe (g)
30
60
100
175
300
400 +
Coeficiente
alimentar (%)
3,6
3,0
2,5
2,5
2,1
1,5
O sistema da criação integrada dos peixes e das aves supõe que os peixes não sejam
alimentados e o seu crescimento será assegurado exclusivamemente pela otimização da
produção natural pela fertilização.
Fertilização
O material mais adequado para a fertilização dos tanques são os excrementos dos porcos ou
das aves. Menos adequado é o esterco das vacas e das ovelhas. É melhor utilizar o esterco
fresco do que seco.
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Na nossa proposta do sistema integrado recomendamos o fertilizante constituído pelo
processo de fermentação nas covas de fermentação.
A preparação do fertilizante: a base é um material orgânico de origem vegetal, cortado em
pedaços pequenos, misturado com excrementos frescos das aves. Estes devem ser retirados.do
baixo dos abrigos do patos e dos galinheiros todos os dias de maneira a ser reduzida a sua
degradação pela secagem. O material nas covas de fermentação deve ser mantido sempre
húmido, ou de preferência afundado debaixo do o nível da água. O tempo de fermentação nas
condições do Bié é de 2 semanas. É preciso começar a preparação com uma antecedência
suficiente. Após. a fermentação inicial é possível continuar sempre a juntar material nas covas
já existentes e ir retirando a camada inferior fermentada.
A dosagem do fertilizante que nos parece adequada é um balde (dum volume de 5 l) três vezes
por semana. Pouco tempo depois de encher o tanque com água, é conveniente aumentar a
dose de fertilização para um balde por dia, até a água ficar verde, ou seja, até aumentar a
quantidade do fitoplâncton e o índice de transparência da água reduzir-se-á para
aproximadamente 30 cm. Caso apareçam no tanque, depois de enchido, as macrófita – plantas
aquáticas superiores, é preciso tirá-las da água, cortar em pedaços pequenos e pôr nas covas
de fermentação.
A pesca/o rendimento
Segundo os primeiros cálculos baseados nos resultados prévios do primeiro ano durante a
criação é possível atingir, no sistema integrado proposto por nós, em pequenos tanques
isolados, uma produção de 810 kg/ha de peixes em 5 meses. Num tanque de 20 m x 10 m (200
m2), no qual foram introduzidos 400 peixes de um peso de aproximadamente 5 g cada um
podemos supor, no início, perdas estimadas em 10 % ( i.é. 40 peixes), restando, então, 360
peixes = 1,8 kg. Cinco meses mais tarde são pescados 360 peixes de um peso de 50 g cada
um, ou seja no total 18 kg.
18 kg – 1,8 kg = 16,2 kg x 50 (para obtermos o rendimento por 1 ha) = 810 kg
Após um ano, na altura em que o os peixes poderiam atingir um peso de aproximadamente
250 g.
A tilápia (Tilapia rendalli) na criação nos tanques tem a tendência para uma demasiada
proliferação que tem como resultado a biomassa dos peixes constituída por um grande
números de indivíduos pequenos. Recomendamos por isso o conceito duma pesca contínua no
estado de água cheia. Durante este tipo de pesca não ocorrem perdas de matérias nutritivas,
causadas pela saída da água durante o esvaziamento, sendo as pescas permanentes mais
delicadas para com os peixes que povoam o tanque, e podem ser aproveitadas para a redução
das categorias de tamanho indesejável. De ponto de vista económico esta maneira é mais
adequada, pois os peixes podem ser pescados na altura quando há maior necessidade deles.
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Caso o povoamento no tanque com peixes seja maior, ocorre uma considerável turvação da
água em consequência da escavação dos peixes no fundo. Neste caso foi observada uma
redução da reprodução, devida provavelmente à diminuição da transparência da água para
aproximadamente 10 cm. Uma maior turvação, que se manifesta por coloração castanha clara
da água, tem por consequência uma redução da produção primária, devida à menor penetração
da coluna aquática pela luz. Ocorre, contudo, também um maior aquecimento da água em
consequência da absorção da luz nas partículas anorgânicas dispersas na coluna aquática.
O ciclo de rotação entre os tanques
Todos os 4 tanques no sistema serão povoados ao mesmo tempo, ou seja por 4 x 400 peixes =
1600 peixes. Um ano mais tarde começarão as primeiras pescas, sendo o rendimento estimado
em aproximadamente 800 kg/ha. Isto significa que, no caso de 4 x 200 m2 = 800 m2 a
produção dos peixes seria de 640 kg por ano. Nas pescas permanenentes, o número dos peixes
será reduzido ao estado original 400 (supõe-se uma proliferação dos peixes e um crescimento
da biomassa em forma de aumento do número dos peixes de menor tamanho).
No segundo ano, o tanque será vazado, o sedimento será tirado do fundo e utilizado como
fertilizante para a produção vegetal adjacente. Depois o tanque deixar-se-á durante 15 dias
desaguado (até secar), o que assegurará o seu saneamento (uma redução dos organismos
patogênicos em consequência da seca e da radiação solar). A seguir será novamente enchido
de água e inoculado pelo plâncton proveniente dos outros tanques. Aproximadamente 3
semanas mais tarde (quando o desenvolvimento do plâncton for suficiente) podem ser nele
introduzidos peixes provenientes dos outros tanques. Seis meses mais tarde será vazado o
tanque 2, outros seis meses mais tarde o tanque 3 e outros seis meses mais tarde o tanque 4.
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Fotografia n. 1. Conduto de água para o próprio tanque de criação.
Fotografía n. 2. O tanque realizado na fazenda do modelo no Nequilo.
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Fotografía n. 3. Pesca na fazenda do modelo no Nequilo.
Fotografía n. 4. Tilapia rendalli – espécie própria para a aquacultura.
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37
3.2 Projecto do sistema da criação das aves domésticas
Criação dos patos
Motivos para uma criação comum dos peixes e das aves
Os patos, tendo acesso à água, ajudam pelos seus movimentos a oxigenar a água, reforçando
ao mesmo tempo o seu poder alimentador graças ao alto teor de matérias de azoto e fósforo
nos excrementos (PO4, NO3, NO2, NH4). Essas matérias nutritivas fornecidas sustentam um
mais intensivo desenvolvimento do plâncton que é o alimento dos peixes. Em consequência
deste processo aparecerá na água também um maior número de animais invertebrais
(inclusive peixes miúdos) que podem, por sua vez, servir de alimento aos patos. Para um bom
funcionamento deste sistema é indispensável uma renovação de todos os diferentes
componentes do sistema. No nosso caso dos patos funcionaria o sistema rotativo que
proporcione, nos intervalos de tempo adequados, a recolha de uma quantidade de ovos ou
aves adultas necessárias para a alimentação dos fazendeiros e eventuais excessos para a
venda.
A seleção do genótipo
No processo da seleção dum genótipo adequado optámos pelo pato doméstico (Cairina
moschata f. domestica), proveniente da América do Sul. Este pato tem sido, desde há muito,
apreciado em Angola, devido ao facto de exigir poucos cuidados e acusar poucos problemas
durante a reprodução, destacando-se ainda por cuidados exemplares pela cria que é capaz de
defender de maneira muito eficiente. Este pato não perdeu a capacidade de voo, é muito
resistente e próprio para uma criação extensiva no lugar da realização do projecto.
A reprodução do pato-do-mato
No caso dos patos a reprodução é natural, o que não acusa os habituais problemas da
fecundação dos ovos. Caso ocorra uma redução da percentagem dos ovos fecundados, é
necessário substituir o pato macho. Para que ocorra a fecundação dos ovos, é preciso manter a
relação do número dos patos machos e das patas 1 : 4 ou até 1 : 5. No caso dos patos, o ciclo
de reprodução ocorre habitualmente duas vezes por ano – na primavera e no verão (o
acasalamento ocorre várias vezes por dia). Uma pata põe geralmente aproximadamente 20
ovos. A incubação dura à volta de 35 dias, mas as experiências práticas levam a observar que,
no caso duma criação extensiva no tanque, o número real dos patinhos criados por uma pata é
de aproximadamente 10.
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38
Capacidades de crescimento
Durante a criação extensiva com uma necessidade mínima de alimentação sumplementar, os
patinhos crescem mais lentamente em comparação com os híbridos selecionados, alimentados
com uma mistura alimentar especial. Durante o processo de alimentação extensiva no sistema
proposto por nós, as aves atingirão em 4 – 5 meses o peso seguinte: a pata 2,5 kg; o pato
macho 3,5 kg. Devido ao facto dos patos, na criação extensita, predominantemente pastarem,
o seu crescimento lento fica compensado por uma poupança no alimento.
O alimento
Das fontes naturais acessíveis trata-se nomeadamente de pequenas plantas, o zooplâncton,
peixes pequenos, moluscos, batráquios e insetos. Na alimentação complementar utiliza-se
nomeadamente milho triturado, arroz triturado, soja triturada, capim, ad libitum, e grit (as
pedrinhas pequenas) que, com a sua estrutura grossa, ajuda à trituração do alimento. No caso
de alimentação sumplementar, é conveniente na determinada zona, uma mistura de milho e
soja, sendo conveniente manter nesta a seguinte relação: 70 % de milho + 23 % de soja +
pedra calcária moída. Segundo os nossos resultados, a quantidade suficiente da mistura é 50
g/dia/uma ave. Pode porém ser um problema conseguir pedra calcária moída. Constatámos
que o espaço mais adequado para a criação do pato é um espaço livre com capim, no qual os
patos podem apanhar insetos, vermes, batráquios etc. Caso não se disponha de tal espaço, é
necessário colocar todos os dias no espaço de criação dos patos uma quantidade suficiente de
capim cortado ou apanhado.
Produção anual dos ovos
Uma pata põe aproximadamente 40 ovos em duas posturas, o que correponde, nas condições
locais, a aproximadamente 20 – 30 patinhos criados. Relativamente à postura dos ovos existe,
para o futuro, um potencial considerável, visto que já se conseguiu atingir, pela seleção deste
pato, um número de até 200 ovos por ano. Assim, numa criação mais intensiva no tanque com
alimentação suplementar e, recorrendo à alteração do genótipo, será possível, nas condições
existentes em Angola, atingir uma produção várias vezes maior do que a atual.
A postura dos ovos nos ninhos
É importante não susestimar a postura, uma vez que se trata da parte fundamental duma
criação bem sucedida dos patos. Depois de pôr os ovos, os patos procuram um lugar tranquilo
e escuro que lhes proporcione, de preferência, de se poderem defender eventualmente pelas
suas próprias forças. Por isso é necessário criar condições adequedas. Os ninhos com um
buraco estreito (aproxim. 1 ninho para 2 – 3 patas) devem estar situados numa parte escura do
abrigo dos patos. Constatámos, baseando-nos em nossas experiências, que as patas gostam de
se esconder debaixo do abrigo.
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39
Por isso é conveniente cercar o espaço debaixo dos abrigos, para impedir que as aves
construam lá os seus ninhos. Podem ser aproveitados, para a construção dos ninhos, as
termiteiras.
A rotação do bando dos patos
Ao considerarmos a produção real de 30 patinhos por ano e num tanque desenhado pela
metodologia habitado por 10 patos, este sistema produz anualmente aproximadamente 300
patinhos por um tanque. No caso de tal produção parece ser ideal a seguinte rotação:
O primeiro ano: 10 patas + 2 patos machos. Durante a primeira postura chega-se a um
número de 150 patinhos que podem ser vendidos aproximadamente 3 semanas mais tarde ou
podem ser deslocados para outra área com uma alimentação mais intensiva e vendidos como
patos de criação. No caso de uma alimentação suplementar mais intensiva é possível engordar
até o peso de matança. Os cálculos repetem-se para as posturas seguintes. Nesse ano
recomendamos criar no tanque de produção um novo bando de criação, ou seja deixar lá no
mínimo outras 12 patas e 3 patos machos até à maturidade sexual (6 – 7 meses).
O segundo ano: assegurar um novo bando de criação
O terceiro ano: o bando parental original será vendido para o consumo da sua carne inclusive
os patos machos e, com o fim de ser renovado, será substituído pelo mesmo número dos
indivíduos.
A produção dos excrementos
É notório que os excrementos dos patos são uma fonte de matérias nutritivas. Cada pato
produz anualmente aproximadamente 30 kg de excrementos. No sistema integrado proposto
por nós 70 – 80 % destes excrementos vão enriquecendo a água com os principais
componentes de azoto e fósforo (PO4, NO3, NO2, NH4) e sustentam o desenvolvimento do
alimento para os peixes.
A concentração recomendada dos patos
Numa superfície de água de 20 x 10 m de 1,5 m profundidade é possível criar no sistema
extensivo no máximo 20 patos.
A instalação dos patos
É melhor situar os abrigos dos patos o mais perto possível do tanque, mas de maneira a não
impedirem a pesca. Mais vantajosa é a sua localização perto do afluente. Nos esquemas
seguintes é desenhada a construção dos abrigos dos patos para aproximadamente 20 patos.
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40
São utilizados, para a construção do abrigo dos patos, somente materiais locais – ramos das
árvores, o líber das árvores.para a ligação e o capim atado para a cobertura do telhado.
Esquema n. 6. Desenho da planta e a construção geral do abrigo dos patos.
Esquema n. 7. Construção portante do abrigo dos patos.
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Criação da galinha doméstica
A escolha do genótipo adequado
Durante a escolha optámos pelas espécies locais da galinha doméstica (Gallus domesticus).
As aves domésticas na província do Bié são relativamente variadas e foi provada ali, para
além de uma série de outros alelos estandardizados, ocorrência de alelos de gene riscado de
prata /de ouro, utilizáveis para o autosexing na determinação do sexo dos pintos de um dia.
De maneira acentuada é aqui evidente de maneira expressiva a importação e o cruzamento de
toda série de espécies da galinha doméstica, inclusive raças europeias, chinesas e outros.
Trata-se aqui provavelmente de uma grande mistura de importações no passado. Do ponto de
vista de produção industrial dos ovos seria bom, num futuro próximo, realizar uma
importação sistemática de genótipos adequados que se assemelham, pela coloração dos traços,
às aves locais. Desta maneira seria possível selecionar uma raça adaptada às condições locais
que acuse propriedades de melhor utilidade assim como maior resistência. Seria o mais
adequado fundar, com este fim, uma criação local de seleção inclusive uma incubadora com a
posterior venda das aves criadas para toda a província. Por esta medida seria possível manter e até ir melhorando - a qualidade dum tipo nacional local de galinha doméstica e a sua
acessibilidade no interesse dos habitantes de toda a província.
As razões duma criação comum dos peixes e da galinha doméstica
A união da criação das aves e dos peixes baseia-se nos mesmos princípios da circulação das
matérias nutritivas, como está descrito na parte anterior sobre os patos. O pequeno galinheiro
reservado para a criação das aves está situado numa proximidade imediata do tanque de água
e, desta maneira, é extremamente fácil a manipulação com os excrementos das aves. A cova
de fermentação, na qual os excrementos das aves perdem a sua agressividade química, está
situada na proximidade do lugar de criação. Os bebedouros estão situados no chão de grelha,
construído parcialmente por cima do nível de água com o fim de os excrementos poderem cair
diretamente na água.
A reprodução da galinha doméstica
As aves reproduzem-se no sistema de seleção natural durante no qual não costuma haver
maiores problemas com a fecundação dos ovos. Caso tais problemas ocorram, é necessário
substituir o galo por um outro. A relação ideal do sexo das aves na criação é 10 galinhas por
um galo. No caso das galinhas, o acasalamento ocorre incessantemente, mesmo várias vezes
por dia. No caso destes tipos primitivos das galinhas, uma galinha é capaz de pôr à volta de
140 ovos por ano. A incubação do ovo fecundado dura aproximadamente 21 dias. A galinha
chega à maturidade sexual em 21 semanas, quando ela pôe os primeiros ovos. O peso dos
ovos postos é inferior ao dos atuais híbridos das galinhas poedeiras individual segundo o tipo
dos indivíduos cruzados e oscilando entre 40 – 60 g.
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Capacidades de crescimento
Na criação extensiva as galinhas atingirão durante 21 semanas na média um peso de 1,2 kg,
tratando-se, na maioria dos casos, de criação extensiva das galinhas e galos novos com
crescimento natural sucessivo, dependentemente da acessibilidade do alimento.
A alimentação
Na criação de pastoreio trata-se nomeadamente das fontes naturais acessíveis, como sementes
das plantas e insetos, sendo conveniente utilizar na alimentação complementar também
térmites. Na alimentação complementar trata-se nomeadamente do milho triturado, arroz
titurado, soja triturada, ervas ad libitum a o grit. Como exemplo propomos misturas
alimentares complementares, destinadas para as galinhas que põem ovos: milho triturado 38
%, soja triturada 19 %, pedra calcária 8 %, mandioca 10 %, sendo os restantes 25 % do
volume da mistura substituídos pelo alimento segundo possibilidades atuais existentes nas
determinadas condições (arroz, feijão). A mistura alimentar acima mencionada deveria estar
disponível numa quantidade de, no mínimo 100 g/dia/1 ave. A água deveria estar limpa,
regularmente substituída e à disposicao ad libitum.
A solução ideal é, como no caso dos patos, um espaço livre com de capim no qual as aves,
para além de pastar, apanham livremente insetos, vermes, batráquios etc. Trata-se dum
sistema de recinto, no qual as galinhas têm, durante mais ou menos 1 hora por dia, acesso a
um espaço livre. Todos o espaço está dividido em 4 sectores, substituídos depois de
desprovidos de capim.
A produção dos ovos
Na prática é muito difícil verificar o número exato dos ovos postos, sendo estes
incessantemente colhidos para os fins de consumo dos homens; e até as próprias galinhas
podem aprender a comer mutuamente os seus ovos, assegurando desta maneira a dose
indispensável das matérias nutritivas no caso de falta de outra alimentação de boa qualidade.
Segundo as experiências que temos adquirido até agora, o número dos ovos postos por uma
galinha não ultrapassa, no caso das raças locais, 140 ovos por ano por uma galinha. Caso as
galinhas põem ovos em condições normais, é possível falar, na média, em 130 ovos
postos/uma galinha/ por ano.
A postura dos ovos nos ninhos
Trata-se novamente duma parte importante do ciclo de criação. A galinha procura e prefere,
assim como o pato, um lugar tranquilo e escuro. Por isso é necessário assegurar condições
propícias. O ninho (aproximadamente 1 ninho por 5 galinhas) deve estar colocado na parte
escura do galinheiro. Baseando-se nas experiências positivas é possível recomendar ninhos
feitos de capim (ver fotografías).
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A colheita dos ovos será realizada várias vezes por dia para impedir que os ovos sejam
comidos pela galinhas poedeiras, sendo a primeira colheita realizada 6 horas após o nascer do
sol.
Caso exista uma possibilidade de utilizar a madeira numa quantidade suficiente, é possível
construir o ninho segundo o seguinte projecto.
Esquema n. 8. Construção dos ninhos de postura de madeira.
Esquema n. 9. Pormenor dum ninho de postura para as aves.
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A rotação do bando
Considerando uma produção real de 100 pintos por uma galinha por ano e a capacidade dum
galinheiro de 100 galinhas + 20 galos, aproximadamente 300 pintos incubados são suficientes
para a renovação do bando. O melhor é que os pintos tenham a mesma idade, por isso é
preferível que 15 – 20 galinhas ponham ovos ao mesmo tempo. É recomendável o isolamento,
durante o tempo indispensável das galinhas no choco nos asssim chamados incubadores dos
pintos.
As galinhas poedeiras deveriam ser substituídas por aves novas 24 meses depois de terem
posto ovos. É preciso contar com uma criação de 5 meses.
A produção dos ovos
100 galinhas deveriam produzir por um ano aproximadamente 130 mil ovos.
A produção de frango: uma maior produção de frango neste sistema não é viável, pois
exigiria uma maneira mais intensiva de criação com mais trabalho e outras atividades.
A produção dos excrementos
Voltamos a sublinhar a função positiva dos excrementos na intensificação do poder de
alimentação da água nos tanques, o que leva, por sua vez, a um aumento da produção dos
peixes. No caso das galinhas é porém preciso - devido a agressividade química dos seus
excrementos – preparar as assim chamadas covas de fermentação na quais os excrementos das
galinhas são armazenados, juntamente com restos da produção vegetal, numa solução de água
durante pelo menos 20 dias, podendo só depois aplicada no tanque.
A concentração recomendada
No nosso sistema extensivo com 4 tanques com nível de água de 20 x 10 m e de 1,5 m de
profundidade é possível criar no máximo 100 galinhas. No galinheiro, as galinhas poedeiras
têm à sua diposição poleiros, mais ou menos 15 cm por uma ave.
A instalação das galinhas
O galinheiro deve estar instalado sempre num lugar seco, geralmente numa parte elevada da
fazenda. Nas seguintes imagens é desenhada a construção dum galinheiro que pode servir
para 100 galinhas. São utilizados, para o fabrico do galinheiro, materiais locais, ramos das
árvores, o líber das árvores, capim atado para o telhado. Faz parte do galinheiro um espaço
livre para as galinhas poderem pastar e destinado também para a estadia das aves fora das
grelhas.
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Esquema n. 10 a. Construção portante do galinheiro.
Esquema n. 10 b. Construção portante do galinheiro.
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Esquema n. 10 c. Construção portante do galinheiro.
Esquema n. 10 d. Construção portante do galinheiro.
Este esqueleto serve de base para a construção dum galinheiro, entrançando-se, na medida do
possível, por ramos, cana, bambu ou outro material acessível que se pode encontrar no lugar
da construção. As fotografias mostram o procedimento da construção do galinheiro na
comunidade Nequilo.
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Fotografia n. 5. Preparação da ligação.
Fotografia n. 6. Construção das principais junções.
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Fotografia n. 7. Poleiro para as galinhas.
Fotografia n. 8. Telhado de capim.
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Fotografia n. 9. Acesso no abrigo dos patos.
Fotografia n. 10. Num canto do tanque de criação preparado há lugar para o armazenamento
dos restos biológicos que enriquecem a água com elementos importantes para o
desenvolvimento do fito e zooplâncton. Ponte destinada para facilitar a subida e a descida dos
patos sobre o nível da água.
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Fotografia n. 11. Construção dos pilares portantes dum galinheiro.
Fotografia n. 12: Construção da parte fundamental dum galinheiro.
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Fotografia n. 13. Galinheiro com recinto.
Fotografia n. 14. Ninhos de postura feitos das termiteiras.
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Fotografia n 15. Ninhos de postura feitos de capim.
Fotografia n. 16. Chão de grelha de paus no abrigo dos patos: os excrementos caem para o
espaço debaixo da grelha, sendo a seguir tirados de lá a utilizados para outras atividades
agrícolas.
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53
3.3 Recomendações comuns a seguir durante a criação dos peixes e das aves
Criação integrada dos patos e dos peixes
Baseando-nos nas experiências práticas, consideramos a criação comum dos patos (Cairina
moschata f. domestica) e da espécie local tilápia (Tilpaia redalli) próprios para a determinada
zona. A criação dos patos pode ser muito bem combinada com a dos patos, sendo seguintes as
vantagens:
-
-
Os patos fertilizam o tanque com os seus excrementos durante todo o dia.
Os patos vão liquidando plantas aquáticas superiores que são indesejáveis do ponto de
vista da produção do tanque.
Cavando no fundo do tanque contribuem para soltar matérias nutritivas do fundo da
coluna de água, ajudando desta maneira a intensificar a produção do tanque.
Movimentando-se sobre o nível de água, os patos ajudam a oxigenar a água,
intensificando o teor do oxigénio nela.
Os patos que têm acesso à água, não precisam de muito lugar para outras atividades; a
ideal situação do abrigo dos patos na margem do tanque economiza o espaço de que a
fazenda dispõe.
Os patos adquirem do tanque a quantidade suficiente do alimento, sendo por isso
possível complementar a alimentação por forragem de qualidade inferior.
Os patos são capazes de pescar peixes de pequeno tamanho, por isso é melhor povoar
o tanque com peixes dum tamanho mínimo de 6 cm. Não é, contudo, nociva a pesca
dos peixes miúdos que apareceram no tanque pela desova, reduzindo-se desta maneira
a concorrência na procura do alimento para peixes de maior tamanho. O mesmo é
válido acerca a procura dos anfíbios ou batráquios aquáticos de maior tamanho.
Do ponto de vista da produção dos proteinas animais, a maneira proposta é adequada, pois
leva a uma superprodução que pode ser aproveitada para a venda dos peixes, patos, galinhas
ou ovos. Do ponto de vista económico são necessários as seguintes fases:
-
Construção dos tanques de criação e abrigos de patos.
Compra dos patos e dos peixes (os peixes podem provir da pesca nos rios ou do lado
do projecto)
Alimentação contínua dos patos das fontes acessíveis.
Controlo regular do estado e do equilíbrio de todo o sistema.
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Referências CAADP (2005). Comprehensive Africa Agriculture Development Programme, NEPAD and
FAO, Investment Centre Division, TCP/ANG/2908 (I), NEPAD Ref. O5/15 E.
http://www.bc.edu/bc org/avp/soe/cihe/inhea/profiles/Angola.htm
Country Studies (online). (cit. 8 de março de 2009). Acessível de ...http://www.countrystudies.com/angola/
Fermin A.C. (1991). Freshwater cladoceran Moina macrocopa (Strauss) as an alternative live
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Volume 7, Issue 1, Pages 8 – 14, Blackwell Wissenschafts-Verlag, berlin
FAO (2006). FAO/WFP Crop and Food Supply Assessment Mission to Angola, Special
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Galušková I. (2006). Zpráva z pracovní cesty do Angoly, Česká zemědělská univerzita v
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Visit the EDIS Web Site at http://edis.ifas.ufl.edu.
Witheside, Marin et al. Care International. Household Livelihood Assessment in five
Communities in Bie Province, Angola. Setembro 2004 – maio 2005.
Sites de internet:
Froese, R. and D. Pauly. Editors. 2009.FishBase, World Wide Web electronic publication,
www.fishbase.org, version (08/2009).
OECD (2005). African Economic Outlook 2004/2005, Angola
http://www.oecd.org/dev/aeo
www.angola.czu.cz
55
ISBN: 978-80-213-1997-4
2009

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