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FISIOLOGIA NASAL NO ESPORTE
| PRO-ORL | Ciclo 10 | Volume 2 |
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BRUNO DE REZENDE PINNA
EDUARDO MACOTO KOSUGI
■■ INTRODUÇÃO
O nariz é o início do sistema respiratório – trata-se da região de maior resistência à passagem
de ar. Suas funções de aquecimento, umidificação e filtração do ar influenciam diretamente na
qualidade do ar que chega aos pulmões.
Na relação entre respiração nasal e práticas esportivas, duas questões são importantes: qual a
influência da respiração nasal na vida de atletas? Atletas que respiram melhor pelo nariz podem
render mais em suas atividades?
A literatura esportiva sempre trouxe mais ênfase às vias aéreas inferiores e a seus respectivos
distúrbios respiratórios obstrutivos. Entretanto, sabe-se que as vias aéreas inferior e superior são
uma única via, e que uma influencia diretamente a outra.
Neste artigo, será abordado como a fisiologia nasal interfere na prática de atividades físicas,
discutindo doenças da via aérea superior, como a rinite, além de tentar elucidar o real efeito de
equipamentos que melhoram o volume da cavidade nasal, como o dilatador nasal. Por fim, será
discutido como a fisiologia nasal pode interferir na imunidade do atleta.
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■■ OBJETIVOS
Ao final da leitura desse artigo, o leitor deverá ser capaz de:
■■
■■
■■
■■
compreender como a fisiologia nasal pode interferir na atividade física;
reconhecer as alterações e adaptações que ocorrem no nariz para suportar o crescente
aumento da demanda ventilatória durante a atividade física;
identificar as situações de obstrução nasal bastante estudadas em atletas – rinite alérgica e
dilatador nasal;
compreender como a fisiologia nasal pode interferir e ajudar na imunidade dos atletas.
■■ ESQUEMA CONCEITUAL
A importância do nariz para o
sistema respiratório e a função
pulmonar
Função nasal, função pulmonar
e exercício
Rinites e atletas
Respiração nasal e exercício
físico
Dilatador nasal e desempenho
do atleta
Imunidade das vias aéreas
superiores e exercício
Caso clínico
Conclusão
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A função básica do nariz é levar o ar em condições apropriadas para que o alvéolo
pulmonar realize a hematose adequadamente. Assim, o nariz é uma estrutura respiratória
importante, pois não atua somente como passagem de ar, mas modula o fluxo aéreo.
A respiração nasal permite mais tempo para a difusão máxima dos gases nos alvéolos, em
relação à respiração oral, porque é mais lenta e profunda. Entre as funções das fossas nasais, a
respiração é a mais predisposta a disfunção, sendo causa comum de procura a especialistas.
O indivíduo adulto, hígido e em repouso, realiza 12 a 24 movimentos respiratórios por minuto,
o que corresponde à circulação de aproximadamente 30 litros de ar. As fossas nasais auxiliam
a respiração porque promovem a purificação, o aquecimento e a umidificação do ar inspirado e
ainda regulam o fluxo aéreo e a resistência nasal.
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■■ A IMPORTÂNCIA DO NARIZ PARA O SISTEMA RESPIRATÓRIO
E A FUNÇÃO PULMONAR
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LEMBRAR
Com a obstrução nasal, o indivíduo é obrigado a realizar respiração bucal, que não
é fisiológica, mas adquirida. Essa alteração do fluxo aéreo faz com que se despenda
mais energia para respirar, ocasionando a sensação de desconforto respiratório.1
A filtragem do ar é realizada pelas vibrissas (pelos localizados no vestíbulo das fossas nasais)
pela ação de adesão do muco e pelos cílios do epitélio de revestimento da mucosa nasal. A ação
desses elementos tem por objetivo purificar o ar inspirado e, dessa forma, proteger as vias aéreas.1
A umidificação do ar é outra importante função do nariz, permitindo, inclusive, maior eficiência
na oxigenação pulmonar. Uma ótima taxa de troca gasosa ocorre a 85% de umidade relativa, e a
umidificação somente nas cavidades nasais atingirá 75 a 95%, dependendo da umidade ambiente,
assegurando não somente hematose eficiente, mas também prevenindo a desidratação das vias
aéreas inferiores.1
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■■ FUNÇÃO NASAL, FUNÇÃO PULMONAR E EXERCÍCIO
O transporte de gases durante o exercício físico depende da integração dos sistemas
cardiovascular, respiratório e musculoesquelético, similar a um sistema de engrenagens.2
Um sistema depende do outro, e alterações ou disfunções de um sistema irão certamente
atrapalhar o bom funcionamento das outras engrenagens (Figura 1).
CO2
O2
2
Hb + 4O2 → HbO8
11
1
3
4
10
CO2 dissolvido
Bicarbonato
HbCO2
5
O2 dissolvido
HbO8
9
6
CO2
O2
7
CO2
8
Hb + CO2 → HbCO2
O2
Respiração
dos tecidos
HbO8 → Hb + 4O2
Figura 1 – Integração cardiovascular-respiratória-muscular na
troca gasosa.
Fonte:Guyton e Hall (1997).3
Na maioria dos atletas, os principais fatores de limitação do exercício são o sistema esquelético e
o sistema cardiovascular. Excluindo-se doenças ventilatórias obstrutivas, como estridor laríngeo
induzido por exercício ou doenças pulmonares obstrutivas, o sistema respiratório apenas se torna
limitante da atividade física em indivíduos extremamente bem treinados que atingem o auge do
sistema muscular e cardíaco.
Na literatura esportiva, sempre houve grande ênfase aos estudos sobre distúrbios das vias
aéreas inferiores, considerando-se sempre as doenças pulmonares como limitador respiratório.
Entretanto, existe uma correlação entre a fisiologia das vias aéreas superiores e inferiores.
Alguns autores consideram o sistema respiratório, desde a mucosa nasal até os alvéolos, como uma
única unidade. Dessa forma, alterações fisiológicas que afetam uma área invariavelmente afetarão
as demais.2 Essa correlação foi primeiramente demonstrada há quase um século. Em 1920, Keller
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Com base nas recomendações do estudo Allergic Rhinitis and its Impact on Asthma (ARIA), todo
paciente com rinite deve ser avaliado para asma, e isso também deve se aplicar para atletas.4
Diversos estudos foram realizados, a fim de observar a coexistência de asma e rinite. Em 1999,
Huovinen e colaboradores realizaram um estudo prospectivo com 11 mil pacientes que foram
acompanhados durante 15 anos. Nesse período, concluiu-se que pacientes com rinite tiveram a
chance de desenvolver asma quatro vezes maior do que a população controle, sendo que a rinite
esteve presente em 80% dos pacientes com asma.5
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observou que 86% dos pacientes que apresentavam doenças das vias aéreas inferiores também
relatavam sintomas nasais.4 Em 2002, foi proposto que sempre que o diagnóstico de rinite ou
asma for feito, deverá ser feita uma avaliação complementar da via aérea inferior ou superior,
respectivamente.4
Algumas hipóteses foram feitas a fim de explicar essa correlação. Em 1970, Kaufman e
colaboradores aplicaram partículas de sílica diretamente na mucosa nasal de pacientes hígidos.6
Medidas da função pulmonar realizadas 30 minutos depois demonstraram aumento da resistência
pulmonar. Os autores propuseram a existência de um reflexo entre o nariz e o pulmão, o reflexo
nasopulmonar, cujo objetivo seria a proteção das vias aéreas inferiores.
De acordo com Kaufman e colaboradores, a obstrução nasal de uma fossa nasal acarretaria
aumento da resistência pulmonar do mesmo lado. Os mesmos autores concluíram, um ano depois,
que esse reflexo era extinto após a secção do nervo trigêmeo e que as alterações pulmonares
podem demorar de 30 minutos a 4 horas para serem observadas após o estímulo nasal.7
A relação entre a melhora da função nasal e a melhora da função pulmonar é bem estabelecida
na literatura. Em 2000, Bulcun e colaboradores observaram melhora nos padrões de prova de
função pulmonar em pacientes submetidos à septoplastia.8 Ehnhage e colaboradores, em 2009,
observaram melhora em provas de função pulmonar em pacientes asmáticos com sinusite crônica
submetidos a tratamento cirúrgico.9
LEMBRAR
Diversos estudos demonstram que o tratamento da rinite alérgica com corticosteroide
intranasal melhora os sintomas da asma.10,11 O tratamento adequado de doenças
nasais crônicas demonstrou reduzir a medicação para o tratamento de asma e
melhorar a função pulmonar.12,13
Pacientes submetidos à cirurgia nasal necessitam, eventualmente, de tamponamento nasal
para evitar sangramentos. Durante o uso do tampão nasal, que pode variar de 24 a 72 horas, os
pacientes permanecem com a respiração nasal completamente obstruída. Diversos estudos foram
realizados a fim de estabelecer o efeito cardiopulmonar dessa obstrução.
Slocum e colaboradores14 observaram redução da saturação de oxigênio com o uso do tampão
nasal. Os níveis de pressão parcial de oxigênio (pO2) voltaram ao normal após 24 horas da remoção
do tampão. Em um estudo realizado com 21 pacientes hígidos submetidos à cirurgia nasal e que
permaneceram com tampão nasal, o uso de Holter no período do uso do tampão não mostrou
nenhuma alteração. Entretanto, os autores encontraram aumento da frequência cardíaca basal e
média e diminuição da saturação de oxigênio quando comparados aos achados pré-operatórios.15
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Desta forma, parece que existe uma melhora da função respiratória relacionada com a melhora
da função nasal. Entretanto, não existem trabalhos na literatura que investiguem essa relação em
atletas.
Se a melhora da respiração nasal pode melhorar as funções pulmonares em indivíduos não
atletas, questiona-se o motivo dessa melhora não ser constatada na prática de atividades físicas.
Na prática clínica pessoal e no dia a dia com pacientes, observa-se que atletas sentem melhora e
alcançam rendimento melhor na atividade física quando submetidos a algum tratamento nasal. O
quanto dessa percepção é subjetivo e difícil afirmar.
ATIVIDADE
1. Quanto às principais vantagens da respiração nasal em relação à oral, analise as
afirmativas a seguir.
I – As fossas nasais auxiliam a respiração porque promovem a purificação, o
aquecimento e a umidificação do ar inspirado.
II – A alteração do fluxo aéreo, realizando respiração bucal, faz com que se despenda
mais energia para respirar, ocasionando a sensação de desconforto respiratório.
III – A umidificação do ar é uma importante função do nariz, permitindo, inclusive, maior
eficiência na oxigenação pulmonar.
Estão corretas:
A)
B)
C)
D)
apenas a I e a II.
apenas a I e a III.
apenas a II e a III
a I, a II e a III.
Resposta no final do artigo
2. Sobre a influência da respiração na prática da atividade física, assinale a alternativa
correta.
A)
B)
C)
D)
O sistema respiratório é o principal limitador na atividade física.
O nariz é o principal ponto de limitação do sistema respiratório.
O sistema respiratório é limitante somente em atletas de alto rendimento.
O sistema respiratório torna-se limitante da atividade física apenas em indivíduos
pouco treinados.
Resposta no final do artigo
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( ) Com base nas recomendações do estudo ARIA, todo paciente com rinite deve ser
avaliado para asma, mas isso não se aplica para atletas.
( ) Em 2002, foi proposto que sempre que o diagnóstico de rinite ou asma for feito,
uma avaliação complementar da via aérea inferior ou superior, respectivamente,
deverá ser feita.
( ) Em 1970, Kaufman e Wright concluíram que as alterações pulmonares podem
demorar de 30 minutos até 2 horas para serem observadas após o estímulo nasal.
( ) Parece que existe melhora da função respiratória relacionada com a melhora da
função nasal.
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3. Com relação à função nasal e exercício, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
Assinale a alternativa com a sequência correta dos parênteses.
A)
B)
C)
D)
V–F–V–F
F–V–F–V
V–F–F–V
F–V–V–F
Resposta no final do artigo
4. Qual a correlação entre a fisiologia das vias aéreas superiores e inferiores?
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
■■ RESPIRAÇÃO NASAL E EXERCÍCIO FÍSICO
Acredita-se que 80% dos indivíduos apresentam respiração oronasal durante o exercício físico
e que a mudança da respiração nasal para a oronasal ocorre quando é atingido o consumo de
oxigênio de 35L/minuto.16,17 Da mesma forma, alguns estudos demonstraram que, durante o
exercício físico, 27 a 40% da ventilação é proveniente do nariz.18 Mesmo que grande parte da
respiração durante a atividade física seja proveniente da boca, a respiração nasal mantém um
papel importante.
As estruturas nasais geram uma resistência ao fluxo aéreo que pode representar de
50 a 60% da resistência respiratória total. Sabe-se que vários fatores podem alterar a
resistência nasal, como idade, temperatura ambiente, postura corporal, medicamentos,
hiperventilação, processo inflamatório da mucosa nasal, fatores hormonais, ingestão de
álcool e exercício físico.19
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Estudos mostram significativa redução da resistência nasal total durante o exercício e a existência
de uma relação linear entre a magnitude da redução e a intensidade da carga. Acredita-se também
que a maior parte da diminuição da resistência ocorra 30 segundos após o início do exercício,
continuando a cair lentamente até os cinco minutos seguintes de exercício. Esse efeito pode se
prolongar até 30 minutos após o término da atividade física.
LEMBRAR
O principal mecanismo para o aumento da patência nasal durante o exercício físico
seria em função de descarga do sistema nervoso simpático.
A resistência nasal cai 39% com uma carga de 75W e 50% com a carga de trabalho de 100W.19
Estudos demonstram que somente a hiperventilação não consegue reduzir a resistência nasal
e é necessária alguma atividade física. Os neurotransmissores da cadeia simpática do sistema
arteriovenoso nasal são a norepinefrina e o neuropeptídio Y. Ambos são vasoconstritores,
porém o último possui um tempo de ação mais prolongado.19
Entre os fatores que estariam envolvidos na ação do exercício físico sobre a redução da resistência
nasal, podem ser destacados:
■■
■■
■■
■■
■■
vasoconstrição da mucosa nasal;
aumento da atividade do músculo nasal alar;
redistribuição passiva do sangue para os músculos ativos distantes da mucosa nasal;
aumento do fluxo aéreo nasal;
hiperventilação.
Fonseca e colaboradores, em 2006, observaram aumento significante do volume da cavidade nasal
com o exercício físico quando comparado aos níveis pré-atividade física. Utilizando a rinometria
acústica, os autores concluíram também que os valores voltavam ao normal 20 minutos após o
término da atividade física.20
Estudos prévios demonstraram a associação, tanto em animais quanto em humanos, da obstrução
nasal com aumento da resistência pulmonar, hipercapnia e hipóxia.21 O papel da obstrução nasal,
na prática da atividade física, ainda é controverso. Não se sabe ao certo o quanto as alterações
nasais podem interferir no rendimento do atleta.
RINITES E ATLETAS
Apesar de o exercício físico diminuir a resistência nasal, provocada por uma descarga
simpática, existem diversos fatores que podem fazer com que a obstrução nasal interfira
no desempenho físico dos atletas. As queixas de rinite, principalmente a obstrução
nasal, pode levar a alterações de sono, fadiga, cansaço e até depressão. Todos esses
fatores somados podem levar a alterações no rendimento do atleta.22
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Helbling e Muller observaram que 16,8% dos 2.060 atletas suíços (de 68 esportes diferentes)
apresentavam queixas de rinite e que 59% precisavam de algum tipo de tratamento.24 Já em um
estudo desenvolvido por Katelaris e colaboradores, 56% dos atletas australianos apresentavam
queixas de rinite alérgica. Esses atletas, quando submetidos ao tratamento clínico com
corticosteroide tópico, relataram, de forma subjetiva, por meio de um diário de desempenho,
melhora na qualidade de vida e na prática de atividade física.25
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A prevalência de rinite na população geral é muito variada. Dados brasileiros do International
Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC)23 mostraram uma prevalência de rinite em
adolescentes de 24,1% em Recife e de 46,0% em Salvador. Em atletas, essas estatísticas podem
ser ainda maiores.
Quando se considera a incidência de rinite em atletas olímpicos, os números chamam a atenção
– nas olimpíadas de Sidney e Atenas, 18 e 13% de todos os atletas reportaram rinite.26 Nos atletas
praticantes de natação e ciclismo, esses números são mais altos – 19,3 e 17,3%, respectivamente,
nas olimpíadas de Pequim. Avaliando-se os atletas dessas modalidades ganhadores de medalhas
olímpicas em Pequim, as estatísticas são ainda mais surpreendentes – 32,9% dos nadadores e
28,9% dos ciclistas medalhistas notificaram previamente o uso de corticosteroide tópico nasal para
tratamento de rinite.
Assim como a prevalência da rinite alérgica na população, tem havido aumento na prevalência de
atletas com rinite – houve aumento de 9,7% nas olimpíadas de 1976 para 21,9% nas de 1996, na
delegação australiana. Considerando-se apenas os nadadores, esses números variaram de 15,7
para 25,9%. No time americano, esse número, entre os nadadores, variou de 4,3%, em 1984,
para 15,3%, em 1996.26 Acredita-se que as estatísticas de atletas brasileiros sejam semelhantes;
entretanto, não existem dados oficiais.
Nas olimpíadas de Pequim, 36,9% dos atletas relataram início dos sintomas após os 20 anos de
idade.27 Esses dados levam a pensar que há outros fatores diferentes da população não atleta que
acarretariam os distúrbios de via aérea. Não seria o treino intenso e prolongado por vários anos
o responsável pelo início dos sintomas nasais? Alguns mecanismos fisiopatológicos poderiam
explicar isso, como a hiperventilação, o resfriamento e a alteração osmótica das vias aéreas, e a
exposição a fatores ambientais.27
Nadadores e atletas praticantes de atividades de resistência (endurance), como ciclistas
e corredores, sofrem muito mais de queixas respiratórias quando comparados com atletas
praticantes de outras modalidades. Nos atletas de endurance, isso pode ser explicado pelo
aumento da ventilação e maior exposição a aeroalérgenos.27 Já nos nadadores, parece haver
outro mecanismo relacionado – o cloro presente na piscina reage com uma ampla gama de
substâncias químicas do suor, da urina, do cabelo e, até mesmo da pele, criando subprodutos.
Entre esses subprodutos, a clorina é a que mais está relacionada à rinite.28
Durante a prática de atividade física, a ventilação, no atleta, pode chegar até 200L/min,
um valor quase seis vezes maior do que o normal. Esse aumento da ventilação por
minuto coloca a mucosa nasal em maior contato com aeroalérgenos. Na primavera e no
verão, é comum o treinamento em parques, pistas e áreas abertas, locais onde o atleta
tem facilmente contato com pólen e grama. No inverno, é comum o treinamento com
exposição ao ar frio e seco, além da prática esportiva em academias ou áreas indoor.
Nesses locais, o contato com o ar condicionado ajuda no ressecamento da mucosa das
vias aéreas superiores.27
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Os atletas, muitas vezes, treinam em grandes centros urbanos, com a presença de poluição, além
de muitos viverem em países com inverno rigoroso. Esses fatores levam a uma perda da umidade
do ar inspirado. Com isso, há aumento da osmolaridade das secreções, que leva à desidratação
epitelial, gerando um maior grau de lesão epitelial com aumento de mediadores inflamatórios, que,
em último estágio, leva a distúrbios de via aérea (Figura 2).
Perda de umidade
do ar inspirado
Desidratação das vias aéreas
Perda de calor
Resfriamento das vias aéreas
↑ osmolaridade
Secreção glandular
Desidratação epitelial
Muco
Lesão epitelial
Tosse/dispneia
Lesão epitelial
Mediadores inflamatórios
RINITE
Figura 2 – Efeito do ar seco.
Fonte:Adaptada de Daigle e colaboradores (2003);29 Anderson e colaboradores (1999).30
Além da rinite, existe um termo denominado nariz do corredor, ou rinite do atleta, que pode
acarretar obstrução nasal durante a atividade física. O exercício físico é, por si só, um potente
vasoconstritor. A resistência nasal decresce gradualmente com o aumento do ritmo cardíaco, em
virtude, principalmente, da liberação de noradrenalina. Em circunstâncias normais, não ocorre
efeito rebote, e a vasoconstrição tem duração de cerca de 30 minutos após o fim do exercício.
Em alguns atletas, como corredores de longas distâncias ou ciclistas, o efeito rebote pode ocorrer
após um curto período de aumento da patência nasal. O nariz, então, fica congestionado por um
considerável período de tempo, o que pode afetar o desempenho do atleta no esporte.31
Em 2007, foi elaborado o primeiro questionário sobre sintomas de alergia em atletas – o Allergy
Questionnaire for Athletes (AQUA). A ideia seria elaborar um questionário que substituísse
a necessidade de exames laboratoriais. Hoje, o AQUA é traduzido e validado em mais de 10
línguas diferentes. Trata-se de um questionário com 25 perguntas, e a nota maior ou igual a cinco
apresenta especificidade de 97,1%.26
O tratamento da rinite em atletas não difere do tratamento da rinite da população.
Cuidado especial deve ser dado às medicações proibidas da lista da World Anti-doping
Agency (WADA). Corticosteroides nasais tópicos são liberados da mesma forma que
anti-histamínicos, porém devem ser reportados. Vasoconstritores devem ser evitados,
tanto pelo risco de rinite medicamentosa como pelo risco de doping.32
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Dilatadores nasais são muito usados por atletas com a finalidade de melhorar o desempenho
esportivo. Seu uso data do início dos anos 1990 e foi muito utilizado pelos atletas americanos
nas olimpíadas de Atlanta, em 1996. Em 1997, o maratonista espanhol Marin Fiz, então campeão
mundial da modalidade, atribuiu, junto com especialistas da área, grande parte do feito à influência
do dilatador nasal.33
Os estudos sobre o dilatador nasal não são muito conclusivos em relação ao desempenho
de atletas. Alguns autores concluíram que o uso de dilatador nasal não traz nenhum efeito no
exercício físico quando variáveis, como volume de oxigênio (VO2) máximo, frequência cardíaca
máxima e limiares anaeróbios, foram avaliados.33-35
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DILATADOR NASAL E DESEMPENHO DO ATLETA
121
O’Kroy e colaboradores, em 2000, observaram que não houve alteração do trabalho respiratório
em indivíduos que usaram dilatador nasal.36 Entretanto, outros autores sugerem que o uso de
dilatador nasal pode proporcionar uma melhora no desempenho de atletas. Griffin, em 2000,
concluiu que o uso do dilatador nasal reduz a frequência cardíaca máxima quando comparado ao
grupo placebo.37
Em 2002, Bourdin e colaboradores38 estudaram 10 homens triatletas com idade média de 23,4
anos e realizaram testes com 80% do VO2 máximo em cinco minutos na esteira em três situações
diferentes – respiração oronasal, respiração exclusivamente oral (com clip nasal) e respiração
oronasal com dilatador nasal. Não houve diferença estatística quando comparados valores de
frequência cardíaca máxima, percepção de esforço ou formação de lactato. Entretanto, um ano
antes, Tong e colaboradores39 realizaram estudo muito semelhante, só que os atletas corriam a
70% do seu VO2 máximo. Para esses atletas, a percepção de esforço foi menor, e a frequência
cardíaca necessária para tingir essa ventilação foi menor do que sem o dilatador.39
Em 1998, Deyak colaboradores40 analisaram o uso do dilatador em atletas de hockey com idade
entre 19 e 23 anos. Os atletas foram testados em dois dias diferentes com rotinas de treino bem
semelhantes. No primeiro dia, com o uso de dilatador, e no outro, sem. A rinometria acústica
mostrou aumento da área nasal, e, ao final do dia, com o uso de dilatador, a frequência cardíaca e o
lactato sanguíneo eram mais baixos, e o tempo de patinação foi maior. Os autores concluíram que
o dilatador não apenas melhora o desempenho como também melhora o tempo de recuperação.
Os trabalhos encontrados na literatura com uso de dilatador nasal não foram realizados com
pacientes com queixas obstrutivas nasais. Com a grande variedade de medidas e modalidades
esportivas analisadas, torna-se muito difícil concluir o real efeito do dilatador nasal. Aparentemente,
em atividades com maior variação da frequência com sprints e desacelerações há maior benefício
do que atividades de endurance, em que não há grandes variações de ritmo e frequência cardíaca.
Quando as atividades são realizadas em uma intensidade mais moderada, o efeito do dilatador
parece ser mais pronunciado. Interessantemente, não foram encontrados estudos específicos
com atletas de boxe e de futebol americano que usassem protetor bucal durante a atividade física.
Acredita-se que, nesses atletas, pelo fato de a respiração oral ser mais difícil, o uso do dilatador
pode ser muito benéfico.
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Recentemente, um novo tipo de dilatador nasal tornou-se popular entre atletas, principalmente
entre ciclistas, pelo fato de ser usado pelo bicampeão do Tour de France, Chris Froome (Figura 3).
Figura 3 – Dilatador nasal.
Fonte:Rhinomed (2016).41
O dilatador chamado Turbine é colocado dentro do nariz e, segundo o fabricante, o produto
aumenta em 37,6% o volume da cavidade nasal.42
O dilatador nasal, sem dúvida, traz a sensação de melhor respiração nasal, por atuar exatamente
na válvula nasal, área de maior resistência. Se o seu uso pode melhorar o desempenho dos
atletas, isso ainda não se sabe ao certo. Acredita-se que seu efeito seja mais na percepção de
maior fluxo nasal do que em parâmetros objetivos. Entretanto, para muitos esportistas, essa
simples percepção de melhora da respiração já pode contribuir muito.
IMUNIDADE DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES E EXERCÍCIO
Em condições normais, a mucosa das vias aéreas superiores e as estruturas do anel
linfático de Waldeyer são capazes de evitarem a entrada de todas as substâncias que
penetram a via aerodigestiva, além de destruir e eliminar patógenos sem necessidade
de envolver o sistema imune adaptativo.43
O conceito de que existe conexão entre os diferentes folículos linfoides associados às mucosas e
os grandes agregados foliculares presentes em órgãos solitários foi inicialmente reconhecido em
estudos de camundongos. A população de linfócitos B obtidos de tecidos linfoides associados aos
brônquios originou o conhecimento da existência do mucosal-associated lymphoid tissue (MALT),
que hoje é subdividido em vários compartimentos, de acordo com a região anatômica envolvida.
O gut-associated lymphoid tissue (GALT) representa o maior e melhor sítio indutor estudado das
respostas de linfócitos B do MALT. Contudo, o nasal-associated lymphoid tissue (NALT) pode ser
considerado o mais importante nas vias aéreas. A função básica dos tecidos do NALT é permitir
a interação eficiente entre antígenos, células apresentadoras de antígenos, linfócitos e outras
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A prática regular de exercícios físicos tem-se mostrado eficaz em reduzir os níveis
circulantes de mediadores pró-inflamatórios – interleucina 6 (IL-6) e fator de necrose
tumoral alfa (TNF-alfa) e em aumentar a liberação daqueles com atividades antiinflamatórias – IL-4, IL-10 e fator de transformação do crescimento beta (TGF-beta)
(Figura 4).
IL-4, IL-10
TGF-β
IL-6
TNF-α
Mecanismos
pró-inflamatórios
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células reguladoras e, também, favorecer o desenvolvimento e a maturação do sistema imune
local pela interação controlada com estímulo e/ou antígenos ambientais.43
Situação
habitual
Mecanismos
anti-inflamatórios
IL-6
TNF-α
Mecanismos
pró-inflamatórios
Exercício
físico
IL-4, IL-10
TGF-β
Mecanismos
anti-inflamatórios
Figura 4 – Mudança de equilíbrio imunológico desencadeado pelo exercício físico.
Fonte:Arquivo de imagens dos autores.
Alguns autores demonstram que a prática de atividade física em alta intensidade reduz os níveis
salivares de imunoglobulina A (IgA), enquanto a prática de atividade física moderada favorece o
aumento dos títulos de IgA na saliva.43
Um importante marco que aumentou o interesse pelos efeitos do exercício físico sobre o sistema
imune foi o estudo de David Nieman e colaboradores. Os autores observaram que atletas que
praticavam atividade física com maior regularidade (atletas que corriam mais do que 15 milhas
por semana) apresentavam menos infecções de vias aéreas superiores (IVAS) do que atletas que
praticavam atividade física com menor regularidade. Da mesma forma, os autores observaram
que, mesmo após um evento extenuante como uma prova de maratona, esses atletas não
apresentavam maior número de infecções.44
Alguns estudos tentaram estabelecer a relação de carga de treinamento com aumento de IVAS.
Em 2009, Moreira e colaboradores realizaram revisão sistemática sobre o assunto. Selecionaram
30 estudos com 8.595 atletas (incluindo 5.471 corredores e 2.803 nadadores) e concluíram que a
atividade moderada aumenta a imunidade das vias aéreas superiores. Por outro lado, a atividade
de alta intensidade e por período prolongado pode diminuir a imunidade local.45
Muito se fala sobre o aumento de IVAS em atletas e overtraining, que é caracterizado
pelo estado de fadiga crônica, queda no rendimento, alterações neuroendócrinas e
IVAS de repetição. Na verdade, essa síndrome nada mais é do que a inabilidade de o
organismo de se adaptar à fadiga crônica causada pelo excesso de treinamento sem o
repouso adequado.46
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Poucos estudos tentaram estabelecer se as IVAS de repetição seriam um sinal dessa síndrome ou
uma consequência. No final, acredita-se que são situações diferentes, mas com o fato em comum
de serem resultantes de excesso de treinamento, sem o repouso adequado, ou seja, as IVAS de
repetição não seriam um sinal preditor da síndrome.
O Quadro 1, a seguir, mostra alguns marcadores imunológicos na ausência e na presença de
overtraining.
Quadro 1
PARÂMETROS IMUNOLÓGICOS
Valores de repouso
em altletas*
Após treinamento intenso sem overtraining**
Após treinamento
intenso com
overtraining
Leucócitos
Normal
Sem alterações
Diminuído
Granulócitos
Normal
Sem Alterações
Aumentado
Marcadores
imunológicos
Linfócitos
Normal
Sem Alterações
Diminuído
Células NK
Aumentado
Diminuído
Diminuído
Função de neutrófilos
Diminuído
Diminuído
Não disponível
Concentração de IgA
salivar
Normal
Diminuído
Sem Alterações
Atividade citotóxica de
Células NK
Normal
Diminuído
Não disponível
* Valores quando comparados com sedentários.
** Após treinamento intenso do ciclo normal do atleta.
Fonte:Kreider e colaboradores (1998).46
LEMBRAR
Com o intuito de se prevenir IVAS de repetição em atletas, muitos fatores devem
ser considerados, como sono adequado, principalmente no período pós-competição,
nutrição, dieta e, eventualmente, suplementação com vitamina C nos períodos de
maior carga de treinamento.
A vitamina C sempre foi muito usada por atletas com a finalidade de diminuir IVAS de repetição.
Uma metanálise avaliou seu efeito em atletas e concluiu que seu uso pode ser benéfico em
períodos de alta carga de treinamento.47 Da mesma forma, probióticos também parecem ajudar a
diminuir o número de IVAS em atletas.48
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ATIVIDADE
5. Durante a atividade física, o que ocorre com o volume da cavidade nasal?
A)
B)
C)
D)
Aumenta.
Diminui.
Permanece o mesmo.
Depende do tipo de atividade física.
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Resposta no final do artigo
6. Analise as afirmativas a seguir em relação aos mecanismos envolvidos no
aparecimento de rinite no atleta.
I – Hiperventilação.
II – Ressecamento da via aérea.
III – Maior exposição a alergênicos.
Estão corretas:
A) apenas a I e a II.
B) apenas a I e a III.
C) apenas a II e a III.
D) a I, a II e a III.
Resposta no final do artigo
7. Sobre a rinite em atletas, é correto afirmar que
A)
B)
C)
D)
é mais comum em lutadores de boxe.
é mais comum em ginastas.
é mais comum em nadadores, ciclistas e corredores.
é mais comum em jogadores de futebol.
Resposta no final do artigo
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8. Muito se fala sobre o aumento de IVAS em atletas em overtraining, que é caracterizado
pelo estado de fadiga crônica, queda no rendimento, alterações neuroendócrinas e
IVAS de repetição. Na verdade, essa síndrome nada mais é do que
A) a diminuição da imunidade local em função da atividade de alta intensidade e por
período prolongado.
B) a inabilidade do organismo em se adaptar à fadiga crônica causada pelo excesso de
treinamento sem o repouso adequado.
C) a probabilidade de atletas que praticam atividade física com maior regularidade
apresentarem menos IVAS do que atletas que praticam atividade física com menor
regularidade.
D) a redução dos níveis circulantes de mediadores pró-inflamatórios (IL-6, TNF-alfa)
e o aumento da liberação daquelas com atividades anti-inflamatórias (IL-4, IL-10,
TGF-beta).
Resposta no final do artigo
9. Sobre o tratamento de distúrbios de via aérea em atletas, analise as afirmativas a
seguir.
I – Descongestionantes tópicos devem ser evitados.
II – O uso de vitamina C é contraindicado.
III – Corticosteroides tópicos são liberados.
IV– O uso de probióticos pode ser útil.
Estão corretas:
A)
B)
C)
D)
apenas a I e a II.
apenas a I e a III.
apenas a II, a III e a IV.
apenas I, a III e a IV.
Resposta no final do artigo
10.Quanto à respiração nasal e exercício físico, assinale a alternativa correta.
A) Corticosteroides nasais tópicos podem ser prescritos para atletas.
B) Durante a atividade física, toda a respiração mesmo perto de frequências cardíacas
máximas, é realizada pela boca.
C) Descongestionantes nasais tópicos com efedrina podem ser usados em atletas.
D) Estudos demonstraram que, durante o exercício físico, 60 a 80% da ventilação é
proveniente do nariz.
Resposta no final do artigo
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Paciente do sexo feminino, 27 anos, nadadora profissional. Refere queixa de obstrução
nasal, cefaleia e tosse há três dias. Relata, ainda, coriza e pouca facialgia. Acha que
teve febre no primeiro dia, porém não mediu. Tem dificuldade para dormir por conta
da obstrução nasal. Em sete dias, a paciente participará de competição para tentar
índice olímpico e está muito ansiosa com a competição. Não nota cansaço ou queda de
rendimento nos treinamentos.
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■■ CASO CLÍNICO
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A partir do que foi visto neste artigo e das informações descritas no caso clínico, responda à
questão a seguir.
ATIVIDADE
11. Qual seria a melhor opção para esse caso?
A)
B)
C)
D)
Orientar a paciente a não participar da competição.
Iniciar tratamento com descongestionantes orais e tópicos.
Iniciar tratamento com analgésicos, soro fisiológico e corticosteroide oral.
Iniciar tratamento com corticosteroide nasal tópico, lavagem nasal com solução salina
e uso de analgésicos, se necessário.
Resposta no final do artigo
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■■ CONCLUSÃO
A fisiologia nasal apresenta um papel muito importante na vida de atletas. Muito do que foi discutido
ainda precisa ser mais bem estudado e desenvolvido. Qual a verdadeira importância da respiração
nasal pra o rendimento de atletas? Alguns pacientes atletas procuram o tratamento nasal com
a finalidade de melhorar o rendimento. Como visto, pouco se sabe em relação à influência da
respiração nasal sobre parâmetros fisiológicos objetivos, como VO2 maxima, limiares e frequência
cardíaca.
Curiosamente, muito do que foi falado e muito da literatura referida à fisiologia nasal no esporte foi
desenvolvido por médicos não otorrinolaringologistas. São médicos do esporte, pneumologistas,
alergistas ou imunologistas. O conhecimento do otorrinolaringologista e sua visão clínica na prática
diária nasal, com certeza, trarão valiosas informações a esse assunto tão interessante.
■■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS
Atividade 1
Resposta: D
Comentário: As fossas nasais auxiliam a respiração porque promovem a purificação, o aquecimento e a umidificação do ar inspirado. As fossas nasais ainda regulam o fluxo aéreo e a resistência
nasal. Com a obstrução nasal, o indivíduo é obrigado a realizar respiração bucal, que não é
fisiológica, mas adquirida. Essa alteração do fluxo aéreo faz com que se despenda mais energia
para respirar, ocasionando a sensação de desconforto respiratório. A filtragem do ar é realizada
pelas vibrissas, pela ação de adesão e ação bactericida do muco e pelos cílios do epitélio de
revestimento da mucosa nasal. A ação desses elementos tem por objetivo purificar o ar inspirado
e, dessa forma, proteger as vias aéreas. A umidificação do ar é outra importante função do nariz,
permitindo, inclusive, maior eficiência na oxigenação pulmonar. Uma ótima taxa de troca gasosa
ocorre a 85% de umidade relativa, e a umidificação somente nas cavidades nasais atingirá 75
a 95%, dependendo da umidade ambiente, assegurando não somente hematose eficiente, mas
também prevenindo a desidratação das vias aéreas inferiores.
Atividade 2
Resposta: C
Comentário: O transporte de gases durante o exercício físico depende da integração dos sistemas
cardiovascular, respiratório e musculoesquelético, como se fosse um sistema de engrenagem. Um
sistema depende do outro, e alterações ou disfunções de um sistema irão certamente atrapalhar
o bom funcionamento das outras engrenagens. Na maioria dos atletas, os principais fatores
de limitação do exercício são o sistema esquelético e o sistema cardiovascular. Excluindo-se
doenças ventilatórias obstrutivas, como estridor laríngeo induzido por exercício e doenças pulmonares obstrutivas, o sistema respiratório apenas se torna limitante da atividade física em indivíduos
extremamente bem treinados que atingem o auge do sistema muscular e cardíaco.
Atividade 3
Resposta: B
Comentário: A primeira afirmativa é falsa, pois, com base nas recomendações do estudo ARIA,
todo paciente com rinite deve ser avaliado para asma, e isso também deve se aplicar para atletas.
A terceira afirmativa é falsa, pois, em 1970, Kaufman e Wright concluíram que as alterações pulmonares podem demorar de 30 minutos até 4 horas para serem observadas após o estímulo nasal.
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Atividade 5
Resposta: A
Comentário: Estudos mostram redução significativa da resistência nasal total durante o exercício
e a existência de uma relação linear entre a magnitude da redução e a intensidade da carga.
Acredita-se também que a maior parte da diminuição da resistência ocorra trinta segundos após
o início do exercício, continuando depois a cair lentamente até os cinco minutos seguintes de
exercício. Esse efeito pode se prolongar por até 30 minutos após o término da atividade física.
O principal mecanismo para o aumento do volume nasal durante o exercício físico seria por uma
descarga do sistema nervoso simpático.
Atividade 6
Resposta: D
Comentário: Todas as afirmativas estão corretas em relação aos mecanismos envolvidos no
aparecimento de rinite no atleta.
Atividade 7
Resposta: C
Comentário: Nadadores e atletas praticantes de atividades de resistência (endurance), como
ciclistas e corredores, sofrem muito mais de queixas respiratórias quando comparados com
atletas praticantes de outras modalidades. Nos atletas de endurance, isso pode ser explicado pelo
aumento da ventilação e maior exposição a aeroalérgenos. Nos nadadores, a clorina é o grande
responsável pelo aparecimento de queixas alérgicas.
Atividade 8
Resposta: B
Comentário: Muito se fala sobre o aumento de IVAS em atletas em overtraining, que é caracterizado pelo estado de fadiga crônica, queda no rendimento, alterações neuroendócrinas e IVAS
de repetição. Na verdade, essa síndrome nada mais é do que a inabilidade do organismo em se
adaptar à fadiga crônica causada pelo excesso de treinamento sem o repouso adequado.
Atividade 9
Resposta: D
Comentário: O tratamento dos distúrbios de vias aéreas em atletas deve ser feito com cuidado
pelo risco de doping. O uso de probióticos e vitamina C possuem recomendação pelo European
Position Paper on Nasal Polyps and Chronic Rhinosinusitis (EPOS) e são amplamente utilizados
por atletas. Os corticosteroides tópicos são liberados e devem ser usados com cautela pelo
eventual risco de absorção sistêmica.
Atividade 10
Resposta: A
Comentário: Mesmo perto de frequências cardíacas altas, ainda há um pouco de respiração nasal.
Acredita-se que 80% dos indivíduos apresentam respiração oronasal durante o exercício físico
e que a mudança da respiração nasal para a oronasal ocorre quando é atingido o consumo de
oxigênio de 35L/minuto. Da mesma forma, outros estudos demonstraram que, durante o exercício
físico, cerca de 27 a 40% da ventilação é proveniente do nariz. Descongestionantes tópicos com
efedrina devem ser evitados pelo risco de doping. Corticosteroides nasais tópicos são liberados.
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Atividade 11
Resposta: O caso clínico ilustra uma situação comum. Atletas profissionais normalmente reagem
às doenças de maneira distinta às da população em geral. Raramente, podem ficar sem competir
ou treinar. Como descrito no texto, a melhor alternativa seria a D. Entretanto, uma questão deve
ser colocada. Como se trata de uma atleta de nível olímpico, existe a chance de ela ser submetida
a testes antidoping. Nesses testes, caso seja detectado o uso de corticosteroides, não é possível
determinar se o uso foi oral, nasal, inalatório ou endovenoso. Deve-se dar preferência aos
corticosteroides nasais de baixa absorção (mometasona ou fluticasona). Dessa forma, quando
os atletas são submetidos aos testes, os corticosteroides não são detectados, e, por isso, são
liberados. O único efeito dessa medicação é realmente o efeito tópico sem afetar no rendimento
da atleta. Entretanto, o médico deve orientar a atleta sobre a medicação e preencher a guia de
autorização de utilização terapêutica (AUT) disponível no site da WADA. Atletas podem ficar
doentes e necessitar de substâncias que constem na lista de medicamentos proibidos. Apesar de
os corticosteroides tópicos serem liberados, há relatos de atletas que são flagrados em exames
antidoping com uso da medicação nasal. Para a atleta não correr o risco de perder uma vaga
olímpica, e pela própria preservação da imagem do médico e da atleta, vale fazer a notificação por
meio da AUT. A guia deve ser encaminhada diretamente para a federação responsável.
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Como citar este documento
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Neto SS, organizadores. PRO-ORL Programa de Atualização em Otorrinolaringologia: Ciclo
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