Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR

Transcrição

Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR
Interdisciplinar: Revista Eletrônica da UNIVAR
http://revista.univar.edu.br
Ano de publicação: 2015
N°.:13 Vol.1 Págs.123 -128
ISSN 1984-431X
FLUORETAÇÃO NA ÁGUA DE ABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE BARRA DO
GARÇAS - MT
Sérgio Luís Prampero1 e Ana Cristina Coelho Magrini Prampero2
RESUMO: A fluoretação da água de abastecimento público vem auxiliando as ações de prevenção da doença cárie em
muitos municípios, sendo um método de baixo custo e que abrange a população coletivamente. Os teores de flúor
devem estar de acordo com parâmetros de adequação para que seja uma medida segura e confiável, com maior impacto
no controle da cárie e menor prevalência da fluorose dentária. O município de Barra do Garças possui fluoretação na
água de abastecimento com valores entre 0,6 e 0,8 mgF/L estando dentro dos padrões estabelecidos de acordo com a
temperatura do município.
Palavras chave: Fluoretação; Água de Abastecimento; Saúde Bucal.
ABSTRACT: The fluoridation of public water supply is also helping the prevention of caries disease in many
municipalities, being a low-cost method of covering people collectively. The objective of this study was to identify,
gather and organize information about the coverage of fluoridation in the water supply of the Barra do Garças city and
verified that it has fluoridation in the water supply with values of 0.61 mg/L in ETA River Garças and 0, 65 mg/L in
ETA Monjolo being within the standard established by the Ministry of Health in accordance with maximum
temperature of the municipality.
Keywords: Fluoridation; Water Supply; Oral Health.
1
Mestando em Saúde Pública pela FATEFFIR/FUUSA. E-mail: [email protected]
Mestre em Ciências Ambientais e Saúde da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. E-mail: [email protected]
2
1 INTRODUÇÃO
Em relação à saúde bucal, a cárie dentária no
Brasil vem se constituindo no principal agravo em
saúde pública, de forma injusta e desigual, atingindo
indivíduos de todas as faixas etárias e níveis
socioeconômicos (ALVES et al., 2012).
Os fluoretos, forma iônica do elemento
químico flúor (F), são os principais responsáveis pelo
declínio da cárie dentária em países desenvolvidos.
Além da redução da prevalência da cárie, o flúor age
reduzindo a velocidade de progressão de novas lesões
(BRASIL, 2009).
O uso dos fluoretos para reduzir a prevalência
de cárie foi descoberta indiretamente através da
fluorose dental, quando se relacionou a concentração
de fluoreto natural na água utilizada por crianças e a
ocorrência de fluorose e cárie nos seus dentes. A
concentração chamada de ‘ótima’ produzia o máximo
de redução de cárie (benefício) com o mínimo de efeito
colateral (fluorose dental esteticamente aceitável).
Somente após ter sido comprovado que a fluorose
dental era o único efeito colateral da utilização de água
otimamente fluoretada, não estando envolvido nenhum
outro efeito de saúde geral, se iniciou a agregação de
flúor- ao tratamento das águas de abastecimento
público (CURY, TENUTA, 2010).
Portanto, a fluoretação da água é a adição do
elemento natural flúor na água de abastecimento
público, de acordo com padrões técnicos e
recomendações científicas (ALVES et al., 2012).
Sendo assim, é uma importante estratégia da política
nacional para intervenção sobre as desigualdades em
saúde bucal. No entanto, exige medidas de
planejamento e constante aperfeiçoamento tanto por
parte do setor saúde, quanto pelo setor ambiental
(FRAZÃO et al., 2013).
De acordo com Mario Jr. e Narvai (2011) a
fluoretação da água de abastecimento vem sendo uma
das medidas de saúde pública de maior alcance social,
pois atinge todas as idades e classes sociais, além de ter
a melhor relação custo benefício.
Segundo Ferreira et al. (2014), o risco desta
medida é a fluorose dentária em graus muito leve e
leve, em cerca de 20% da população, mesmo em
localidades em que o controle operacional seja
adequado e se faça vigilância sanitária sobre as ações.
Embora sem significado estético ou clínico relevantes,
esse risco pode e deve ser minimizado pelo
123
aprimoramento dos procedimentos operacionais e
qualificação das ações de vigilância.
O primeiro programa coletivo de fluoretação
da água de abastecimento foi instituído nos Estados
Unidos em 1945. Este foi o método de escolha devido à
água de abastecimento atingir grande parte da
população, com engenheiros hídricos treinados e
opinião pública favorecida, sendo a concentração de
flúor ideal entre 0,5 a 1mg/L (JONES et al., 2005).
O Brasil dispõe do segundo maior sistema de
fluoretação de águas de abastecimento público de todo
o mundo (BRASIL, 2009), sendo o custo por
habitante/ano da fluoretação das águas de
abastecimento entre R$1,00 e R$1,50 (CASCAES et
al., 2012) e tem como princípio constitucional a
universalização das ações (ANTUNES; NARVAI,
2010).
A fluoretação das águas no Brasil é regida
pela Lei Federal nº 6.050, de 24 de maio de 1974, e
regulamentada pelo Decreto nº 76.872, de 22 de
dezembro de 1975, que torna obrigatório o
planejamento sobre a necessidade de fluoretação do
sistema de abastecimento. Os órgãos responsáveis pelo
abastecimento público são responsáveis pelos
processos de instalação, operação e manutenção do
sistema de fluoretação das águas (BRASIL, 1975a).
Desse modo, a Portaria MS nº 518/2004 que
atualmente regulamenta a potabilidade da água de
consumo humano recomenda o valor máximo
permitido (VMP) de 1,5 mg/L para os íons fluoreto
(BRASIL, 2004), mas a legislação específica que
regulamenta a fluoretação da água de abastecimento, a
Portaria 635/Bsb de 1975 tem seus valores
intrinsecamente relacionados à média da temperatura
anual de cada região (BRASIL, 1975b), principalmente
em regiões com alta temperatura onde o consumo de
água é maior e a concentração de flúor na água deve
ser menor.
No entanto, águas provenientes de rios, lagos,
poços superficiais e poços profundos podem apresentar
diferentes concentrações de flúor (MOIMAZ et al.,
2012). A manutenção adequada e permanente dos
teores do íon flúor nas águas de abastecimento público
garante a eficácia da fluoretação para a população
(MOTTER et al., 2011) e torna-se indispensável para
que a medida exerça maior impacto na prevenção e no
controle da cárie, sem aumentar a prevalência de
fluorose dentária (MOIMAZ et al., 2011).
De acordo com Cesa, Abegg, Aerts (2011) as
secretarias municipais de saúde, responsáveis pela
vigilância da água para consumo humano, devem
monitorar a ampliação da cobertura da fluoretação de
águas no país, a fim de orientar as estratégias adotadas
pelos programas de saúde bucal nos municípios.
O presente estudo tem como objetivo
identificar, reunir e sistematizar informações
disponíveis sobre a cobertura de fluoretação na água de
abastecimento do município de Barra do Garças - MT.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa foi baseada em dados
secundários disponibilizados pela empresa Águas de
Barra do Garças sobre a fluoretação da água de
abastecimento público no município abrangendo o
período de janeiro a dezembro de 2014.
A média anual das temperaturas máximas
diárias para o município foi obtida mediante solicitação
formal à INFRAERO1 de Barra do Garças e o resultado
obtido para o ano de 2014 foi 32,4°C.
Os resultados obtidos da concentração de flúor
nas águas de abastecimento serão comparados com os
valores da Portaria 635/Bsb de 1975 (BRASIL, 1975b),
que apresenta os limites para a concentração do íon
fluoreto recomendados em função da média das
temperaturas máximas diárias e também com os
valores de orientação para a classificação das águas de
abastecimento, levando-se em conta, simultaneamente,
os riscos e benefícios, de acordo com a temperatura de
cada região, elaborado pelo Centro Colaborador do
Ministério da Saúde em Vigilância da Saúde Bucal da
Universidade de São Paulo (CECOL/USP).
O abastecimento de água municipal é operado
por Águas de Barra do Garças Ltda., uma empresa do
grupo Aegea Saneamento, concessionária da
distribuição de água potável, coleta e tratamento de
esgoto doméstico na cidade de Barra do Garças/MT.
Os responsáveis legais pela empresa são o Eng.º José
João e Oswaldo Cruz e o responsável técnico é a Eng.ª
Taína Patrícia B. Dias da Silva.
Os mananciais que abastecem o município
são: o Rio Garças, normalmente com aspecto límpido
em épocas de estiagem e barrenta em épocas de chuvas
e, com grande quantidade de matéria orgânica
dissolvida, devido à decomposição de vegetais diversos
(folhas, galhos, etc.), sendo, considerado pela SEMA
(Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Mato
Grosso) um rio em boas condições dentro de sua
classe; e a Mina do Monjolo, água subterrânea captada
e tratada no mesmo local, situada na Av. Salomé
Rodrigues, Setor Alto da Boa Vista. A Mina abastece
os Bairros Centro e São Benedito.
De acordo com o Plano de Amostragem da
Empresa Águas de Barra do Garças (2014) o
monitoramento da qualidade da água é um dos
instrumentos de verificação de sua potabilidade e
avaliação dos riscos que os sistemas de abastecimento
possam representar para a saúde humana, abrangendo
algumas atividades como: a definição dos pontos de
coleta de amostras, do número e frequência de
amostras, dos parâmetros a serem analisados e a
identificação de laboratórios de referência para
encaminhamento de amostras (ÁGUAS DE BARRA
DO GARÇAS, 2014).
INFRAERO – Barra do Garças. Média da temperatura
máxima registrada em Barra do Garças no ano de 2014.
Mensagem recebida por [email protected] em
10 mar. 2015.
1
124
Barra do Garças, segundo último censo
(BRASIL, 2010), tem uma população de 54.761
habitantes, no entanto, a Estação de Tratamento de
Água - ETA Rio Garças atende uma população de
aproximadamente 44.000; a ETA Mina do Monjolo
abastece em torno de 9.300 habitantes, e o restante são
os distritos (ÁGUAS DE BARRA DO GARÇAS,
2014).
Os locais de onde são coletadas as amostras de
água para análise estão distribuídos por toda a região
como a seguir, segundo a empresa Águas de Barra do
Garças (2014):
Acácias (Rua dos Cravos, 97); 13- Dermat (Rua Irmã
Maria Facundini, 1.380); 14- São Benedito (Rua Pio
XII); 15- Jardim Piracema (Rua 02, s/n); 16- Jardim
Ouro Fino (Av. Alameda, s/n); 17- Jardim Nova Barra
(Rua São Salvador, 2.740); 18- Abel Lira (Rua 33, 98).
2.2 ETA Mina do Monjolo
a)
Coleta de água “In Natura” da mina;
b)
Entrada no tanque de contato;
c)
Saída do Tratamento – água potável a ser
distribuída;
d)
Distribuição – 04 pontos fixos de coleta: 01Centro (Rua Bandeirantes, 380); 02- Centro (Rua
Antônio Cristino Cortes, 217); 03- Centro (Unimed –
Clínica Diálise); 04- São Benedito (Rua Pio XII).
Os exames diários e mensais são realizados no
laboratório da Águas de Barra do Garças, e os
trimestrais e semestrais são terceirizados para o
Laboratório Hidro Análise, situado na Rua Antônio
Batista Belém, 213, Cuiabá/MT. Possui registro no
Conselho Regional de Biologia sob nº 809/01, Cadastro
Técnico Estadual de Serviços e Consultorias
Ambientais da SEMA sob nº 3.395 (ÁGUAS DE
BARRA DO GARÇAS, 2014).
Os parâmetros e frequência de amostragem
das informações coletadas a serem analisadas são
apresentados na Tabela 1.
2.1 ETA Rio Garças
a)
Calha Parshall – coleta de água “In Natura”;
b)
Saída dos filtros – água filtrada;
c)
Saída do Tratamento – água potável a ser
distribuída;
d)
Distribuição – 18 pontos fixos de coleta: 1Jardim Pitaluga (Rua José Rodrigues, 572); 2- Vila
Varjão (Rua Maria Olímpio, s/n); 3- Jardim Mariano
(Rua do Roncador, 40); 4- Jardim Planalto (Rua
Manoel Pereira Brito, 3.201); 5- São Paulo (Rua 08,
s/n); 6- Anchieta (Rua das Hortência, 1.108); 7- Vila
Maria (Rua Frei Felipe, s/n); 8- Palmares (Rua General
Carneiro, s/n); 9- Zeca Ribeiro (Av. Brasília, s/n); 10BNH (Rua das Trombetas, 2.229); 11- Alto da Boa
Vista (Rua Campo Grande, 116); 12- Recanto das
Tabela 1. Resumo do quantitativo das análises ETA Rio Garças (G) e ETA Monjolo (M)
Parâmetros
Diário
Semanal
Mensal
Trimestral
Semestral
Anual
G
M
G
M
G
M
G
M
G
M
G
M
C. totais
-
-
4
04
69
36
207
108
414
216
828
432
Escherichia coli
-
-
4
04
70
37
210
111
420
222
840
444
Bact heterotróf.
-
-
-
-
11
-
33
05
66
10
132
20
Cianobactérias
-
-
-
-
-
-
-
-
01
-
02
-
Cianotoxinas
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Cryptosporidium
-
-
-
-
-
-
-
-
01
-
02
-
Giardia
-
-
-
-
-
-
-
-
01
-
02
-
Cor
12
-
81
01
332
09
996
27
1992
54
3984
108
Turbidez
116
01
806
11
3273
64
9819
192
19638
384
39276
768
Cloro r. l..
pH
12
12
-
81
81
04
04
375
322
36
16
1125
966
108
48
2250
1932
216
96
4500
3864
432
192
Fluoreto
12
-
81
04
322
16
966
48
1932
96
3864
192
-
-
-
-
-
-
01
-
02
01
04
02
Prod. Sec.
Outros
Fonte: ÁGUAS DE BARRA DO GARÇAS (2014)
-
02
-
-
04
01
01
08
02
02
Gosto e odor
A utilização do critério de média mensal (mg
F/L) para aferir o teor de fluoreto é adequada para a
vigilância quando as amostras representam um
território abastecido por uma Estação de Tratamento de
125
Água (ETA), e há distinção entre amostras de água
coletada na Saída do Tratamento, e de água obtida no
Sistema de Distribuição. Entretanto, para municípios
com mais de uma Estação de Tratamento, o registro de
um único valor médio mensal é inapropriado
(FRAZÃO et al., 2013).
Contudo, levando-se em conta a conveniência
de não depender de uma única amostra, recomenda-se a
obtenção de pelo menos três amostras por mês de cada
sistema ou Estação de Tratamento, obtidas no mesmo
dia em diferentes pontos do território abastecido pelo
respectivo sistema. Dessa forma, no período de um ano
devem ser obtidas pelo menos 36 amostras de um
determinado sistema (CECOL/USP, 2011).
0,85 a 1,14
Máximo
Moderado
1,15 a 1,44
Questionável
Alto
1,45 ou mais
Malefício
Muito Alto
Fonte: CECOL/USP (2011)
(*) Observa-se que a melhor combinação benefíciorisco ocorre na faixa de 0,55 a 0,84 mg F/L.
Na Tabela 4 são apresentados os valores das
concentrações de flúor na água de abastecimento do
município no período de janeiro a dezembro de 2014.
O fluoreto adicionado à água é o Ácido Fluossílicico
(H2SiF6) e as análises realizadas na ETA Rio Garças
são diárias, enquanto na ETA Monjolo semanais.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a Portaria 635/Bsb de 1975, a
Tabela 2 apresenta os limites para a concentração do
íon fluoreto recomendados em função da média das
temperaturas máximas diárias.
Tabela 2. Limites recomendados para a
concentração do íon fluoreto em função da
média das temperaturas máximas diárias
Médias das temperaturas
máximas diárias do ar
(°C)
a
Tabela 4. Concentração de flúor (mg/L) na
saída dos reservatórios ETA Rio Garças
(G) e ETA Mina Monjolo (M) no período
de janeiro a dezembro de 2014
Flúor (mg/L)
Mínimo
Máximo
Média
G
M
G
M
G
M
Janeiro
0,50
0,53
0,68
0,77
0,60
0,63
Fevereiro
0,47
0,10
0,77
0,69
0,62
0,51
Limites recomendados
concentração do íon
fluoreto em mg/L
Mínimo
Máximo
para
Ótimo
Março
0,33
0,20
0,94
0,65
0,61
0,50
10,0 - 12,1
0,9
1,7
1,2
Abril
0,48
0,38
0,96
0,86
0,70
0,53
12,2 - 14,6
0,8
1,5
1,1
Maio
0,57
0,50
0,85
0,78
0,72
0,62
14,7 - 17,7
0,8
1,3
1,0
Junho
0,53
0,51
0,72
0,86
0,64
0,66
17,8 - 21,4
0,7
1,2
0,9
Julho
0,51
0,53
0,86
0,70
0,63
0,61
21,5 - 26,3
0,7
1,0
0,8
Agosto
0,51
0,55
0,77
0,75
0,64
0,66
26,7 - 32,5
0,6
0,8
0,7
Setembro
0,56
0,50
0,80
0,84
0,67
0,63
Outubro
0,53
0,54
0,76
0,85
0,65
0,66
Novembro
0,51
0,53
0,82
0,81
0,65
0,67
Dezembro
0,55
0,55
0,79
0,80
0,66
0,66
Média anual
0,50
0,45
0,81
0,78
0,65
0,61
Fonte: BRASIL, 1975b
A Tabela 3 dispõe sobre a orientação para a
classificação das águas de abastecimento, levando-se
em conta, simultaneamente, os riscos e benefícios, de
acordo com a temperatura de cada região. Como no
município de Barra do Garças a média da temperatura
máxima anual é 32,4° C apresentaremos a tabela
abaixo.
Tabela 3 – Teor de flúor para localidades onde as
médias das temperaturas máximas anuais se situam
entre 26,3° C e 32,5°C
TEOR DE FLÚOR
NA ÁGUA
(ppm ou mg F/L)
0,00 a 0,44
BENEFÍCIO
(prevenir
cárie)
Insignificante
RISCO
(produzir
fluorose
dentária)
Insignificante
0,45 a 0,54
Mínimo
Baixo
0,55 a 0,84 (*)
Máximo
Baixo
Fonte: ÁGUAS DE BARRA DO GARÇAS (2014)
Ao comparar a média da concentração de flúor
na água de abastecimento do município de Barra do
Garças, 0,65 mg/L na ETA Rio Garças e 0,61 na ETA
Monjolo, observa-se que o valor está de acordo com o
determinado pelo Ministério da Saúde apresentado na
Tabela 1 (BRASIL, 1975b), que é de 0,6 a 0,8 mg/L,
para temperaturas entre 26,7º C e 32,5º C. Quando
comparados com a Tabela 2 (CECOL/USP, 2011)
observa-se que os valores estão dentro da faixa da
melhor combinação benefício-risco que é de 0,55 a
0,84 mgF/L. Os valores encontrados vão de encontro
aos achados de outros autores, como Carvalho et al.
(2011) que encontraram em São Roque do Canaã
126
valores que variaram entre 0,6 a 1,0 mgF/L para a
fluoretação das águas de abastecimento público de
acordo com a temperatura local.
Moimaz et al. (2011) também realizaram um
estudo em Birigui/SP no período de janeiro a dezembro
de 2009 e o valor encontrado na ETA foi de 0,76 mg/L.
Em Curitiba os níveis de fluoreto nas águas de
abastecimento público obtiveram a média geral no
valor de 0,7 mg/L entre 2000 a 2008 (MOTTER et al.,
2011), se aproximando dos resultados obtidos em Barra
do Garças.
Silva et al. (2011) avaliaram as concentrações
de íons fluoreto em amostras de água destinada ao
consumo humano em um município com diferentes
sistemas de abastecimento público no período de 2003
a 2007 e as concentrações em conformidade com o
padrão estadual (0,6 a 0,8 mg/L) foram detectadas em
62,6% amostras.
Não obstante se observa a importância do
monitoramento da fluoretação, pois na zona rural de
Catolé do Rocha-PB o mapeamento dos teores
residuais de fluoretos in natura nas águas consumidas
apresentaram valores de amostras que podem ser
classificadas, do ponto de vista da presença de flúor,
como inaceitáveis para consumo humano, por ser
considerado um fator de risco para a fluorose
(MARTINS; FORTE; SAMPAIO, 2012).
Segundo a FUNASA (2012) estima-se que a
fluoretação da água de abastecimento reduz a
prevalência de cárie em torno de 50% a 65% em
populações sob exposição contínua desde o
nascimento, por um período de aproximadamente dez
anos de ingestão da dose ótima.
Para analisar a eficácia quanto à fluoretação
nas águas de abastecimento alguns trabalhos foram
realizados comparando os índices CPO-D antes e após
a fluoretação. O índice CPO-D é um estudo
epidemiológico utilizado na odontologia para avaliar a
prevalência de cárie em determinadas faixas etárias,
tendo como principal indicador a soma dos dentes
cariados, perdidos e obturados.
Ramirez e Buzalaf (2007) analisaram alguns
trabalhos que apontavam a porcentagem da redução do
índice CPO-D após a fluoretação da água de
abastecimento e obtiveram valores que variaram de
41,88% a 84,19%. Em Campinas o declínio variou
desde 57% para a dentição permanente e 49% para a
dentição decídua em 14 anos de implantação da
fluoretação. Já em Barretos a redução foi de 89% em
crianças de 3 a 5 anos de idade, após dez anos de
implantação da medida. Ainda em Barretos um estudo
analisando os resultados de dezesseis anos de acesso à
água fluoretada indicou que houve 59% de aumento de
jovens de 15 a 19 anos sem experiência de cárie,
enquanto Piracicaba obteve redução de 79% do
percentual de cárie dentária entre escolares de 6 a 12
anos, após 25 anos de implementação da medida.
Além da prevalência de cárie alguns estudos
relacionam a fluoretação na água de abastecimento
com a incidência de fluorose dentária.
No estudo de Carvalho et al. (2011) foi
avaliada a concentração de flúor em três localidades
diferentes e estas comparadas ao índice CPO-D e à
fluorose dentária. Na área sem fluoretação artificial o
CPO-D foi (5,32) e 16% de fluorose; na área com
fluoretação artificial de 0,8 mg/L o CPO-D foi (1,88) e
94% de fluorose e na área com fluoretação natural de
2,54 mg/L, CPO-D (3,96) e 100% de fluorose.
Segundo os autores os achados sugerem que os
indicadores epidemiológicos de saúde/doença bucais
estudados são influenciados pela presença de fluoreto
na água de consumo e que a supervisão e orientação
são fundamentais na correta utilização dos compostos
fluoretados.
De acordo com Narvai (2014), num contexto
socioeconômico marcado por desigualdades, como é o
caso do Brasil, é relevante constatar que, com
fundamento no princípio da precaução, a fluoretação
das águas não apenas deve ter continuidade, mas ser
ampliada no Brasil, como parte de políticas públicas
orientadas pela busca da equidade em saúde,
combinando-se com medidas de combate às
desigualdades iníquas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da concentração do íon Flúor na
água de abastecimento do município de Barra do
Garças encontram-se dentro dos valores considerados
ideias para as temperaturas entre 26,7º C e 32,5º C.
Sugere-se realizar levantamento epidemiológico (CPOD) no município para averiguar o possível efeito
preventivo ou fluorose, já que ao procurar a Secretaria
Municipal de Saúde a mesma informou não ter dados
de levantamentos anteriores.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁGUAS DE BARRA DO GARÇAS, Plano de
amostragem 2014, Rio Garças e Mina Monjolo:
Relatório Técnico. Barra do Garças, 2014.
ALVES, R. X. et al. Evolução do acesso à água
fluoretada no Estado de São Paulo, Brasil: dos anos
1950 à primeira década do século XXI. Cad. Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 28, p. S69-S80, 2012.
Suplemento.
ANTUNES, J. L. F.; NARVAI, P. C. Políticas de saúde
bucal no Brasil e seu impacto sobre as desigualdades
em saúde. Rev Saúde Pública, v. 44, n. 2, p. 360-5,
2010.
BRASIL. Decreto nº 76.872, de 22 de dezembro de
1975. Regulamenta a Lei nº 6.050 de 24 de maio de
1974, que dispõe sobre a fluoretação da água em
sistemas públicos e abastecimento. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 23 out.1975a.
127
______. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. Dados do censo 2010. Disponível
em:<http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulga
dos/index.php?uf=51>. Acesso em: 10 jan. 2012.
FERREIRA R. G. L. A. et al. Fluoretação das águas de
abastecimento público no Brasil: o olhar de lideranças
de saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 30,
n. 9, p. 1884-1890, set. 2014.
______. Ministério da Saúde. Portaria nº. 635, de 26 de
dezembro de 1975. Aprova normas e padrões sobre
fluoretação da água dos sistemas públicos de
abastecimento, destinada ao consumo humano. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder
Executivo, Brasília, DF, 26 dez. 1975b.
FUNASA. Fundação Nacional de Saúde. Manual de
fluoretação da água para consumo humano,
Brasília: Funasa, 2012. 72 p.
______. Ministério da Saúde. Portaria n.º 518, de 25 de
março de 2004. Estabelece os procedimentos e
responsabilidades relativas ao controle e vigilância da
qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade, e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, p. 266, 26 mar.2004.
Seção 1.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia de
recomendações para o uso de fluoretos no Brasil.
Brasília, 2009. 56 p.: il.– (Série A. Normas e Manuais
Técnicos).
CARVALHO R. B. et al. Influência de diferentes
concentrações de flúor na água em indicadores
epidemiológicos de saúde/doença bucal. Ciência &
Saúde Coletiva, v. 16, n. 8, p. 3509-3518, 2011.
CASCAES, A. M. et al. Conhecimento sobre uso de
fluoretos em saúde bucal coletiva entre coordenadores
municipais de saúde bucal do Estado de Santa Catarina,
Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 21, n.1, p.
89-98, jan./mar. 2012.
CECOL/USP - Centro Colaborador do Ministério da
Saúde em Vigilância da Saúde Bucal. Consenso
técnico sobre classificação de águas de
abastecimento público segundo o teor de flúor. São
Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São
Paulo;
2011.
Disponível
em:
http://www.cecol.fsp.usp.br/. Acesso: 01 mar. 2015.
CESA, K.; ABEGG, C.; AERTS, D. A Vigilância da
fluoretação de águas nas capitais brasileiras.
Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 20, n.4, p. 547555, out./dez. 2011.
CURY, J. A.; TENUTA, L. M. A. Evidências para o
uso de fluoretos em odontologia. Odontologia
baseada em evidências. Ano 02, n. 4, jan. 2010.
FRAZÃO P. et al. Fluoretação da água e insuficiências
no sistema de informação da política de vigilância à
saúde. Rev assoc paul cir dent v. 67, n. 2, p. 94-100,
2013.
JONES, S. et al. The effective use of fluorides in public
health. Bulletin of the World Health Organization,
v. 83, n. 9, sept. 2005.
MARIO JR. R. J.; NARVAI, P. C. Aspectos históricos
e perspectivas da fluoretação de águas de
abastecimento público no Estado de São Paulo. Bepa,
v. 8, n. 90, p. 24-29, 2011.
MARTINS, E. T. L.; FORTE, F. D. L.; SAMPAIO, F.
C. Mapeamento dos teores residuais de flúor de águas
da zona rural do sertão nordestino do Brasil. Rev
Odontol UNESP, Araraquara, v. 41, n. 3, p. 147-153,
2012.
MOIMAZ, S. A. S. et al. Heterocontrole dos teores de
flúor nas águas de abastecimento em um município
com diferentes fontes de captação. Rev Odontol
UNESP, Araraquara, v. 41, n. esp., p. 191, jul. 2012.
MOIMAZ, S. A. S. et al. Fluoretação das águas de
abastecimento público em um município com
diferentes fontes de captação. Rev Odontol UNESP,
Araraquara, v. 40, n. 5, p. 203-207, set./out., 2011.
MOTTER, J. et al. Análise da concentração de flúor na
água em Curitiba, Brasil: comparação entre técnicas.
Rev Panam Salud Publica, v. 29, n. 2, p. 120-125,
2011.
NARVAI. P. C. et al. Fluoretação da água em capitais
brasileiras no início do século XXI: a efetividade em
questão. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 38, n. 102,
p. 562-571, jul./set. 2014.
RAMIREZ, I.; BUZALAF, M. A. R. A fluoretação da
água de abastecimento público e seus benefícios no
controle da cárie dentária – cinquenta anos no Brasil.
Ciência & Saúde Coletiva, v. 12, n. 4, p. 1057-1065,
2007.
SILVA, R. A. et al. Monitoramento da concentração de
íons fluoreto na água destinada ao consumo humano
proveniente de um município com diferentes sistemas
de abastecimento público. Rev Inst Adolfo Lutz, v.
70, n. 2, p. 220-224, 2011.
128

Documentos relacionados

conhecimento sobre fluoretação da água de

conhecimento sobre fluoretação da água de temperaturas máximas locais (GALANGAN, 1957). A Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1958, reconheceu a importância da fluoretação e deu parecer favorável a esse meio indicando-o como uma medida ...

Leia mais

Fluoretação das Águas de Abastecimento Público no

Fluoretação das Águas de Abastecimento Público no representa uma das principais e mais importantes medidas de saúde pública, podendo see considerada como método de controle da cárie dentária mais efetivo, quando considerada a abrangência coletiva ...

Leia mais