Serra do Mar: Uma viagem à Mata Atlântica

Transcrição

Serra do Mar: Uma viagem à Mata Atlântica
Governo do Estado de São Paulo
Geraldo Alckmim/Governador
Secretaria de Estado do Meio Ambiente
José Goldemberg/Secretário
Serra do Mar: Uma viagem à Mata Atlântica
(2ª edição) - São Paulo, 2001
1
Ficha técnica 2ª edição
Ficha Técnica da 1ª edição
Preparação e revisão de textos
Maria Julieta A.C.Penteado
Revisão técnica e novos textos
Sueli Angelo Furlan
Série Educação Ambiental ISSN 0103-2658
© Secretaria do Meio Ambiente
Coordenação da Publicação
Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer
Apoio técnico
Sonally R. Paulino da Costa Pelizon
Sandra N.S. Almeida
Pesquisa e redação
Wanda Teresinha Passos de Vasconcellos
Maldonado
Maria Beatriz Santos Grellet
Maria Julieta de Alcântara Carreira Penteado
Projeto gráfico
Letra e Imagem
Apoio à pesquisa
Eliana de Cássia Berte (estagiária)
Márcia Cristina de Paula Soares (estagiária)
Patrícia Bardawil Postiglione Kfouri (estagiária)
Renato Horácio Pinto (estagiário)
Sérgio Luiz Nogueira Bernardes (estagiário)
Informática
Pedro Orlando V. Galletta
Capa
Wittrockia spiralipetala
in Bromélia da Mata Atlântica
Preparação e revisão de texto
Maria Julieta de Alcântara Carreira Penteado
Agradecimentos especiais
Ana Fernandes Xavier, Sérgio Luis Pompéia,
Suzana Ehlin Martins,
Clayton Ferreira Lino, Maria Inês Ladeira,
Geraldo Barbosa Linhares,
Lucia Maria Gonçalves Marins
Consultoria e revisão técnica
Sueli Angelo Furlan
Ficha Catalográfica
São Paulo (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria de Educação
Ambiental.
Serra do Mar: Uma viagem à Mata Atlântica. 2ª Ed. São Paulo: SMA/CEAM, 2001 (Série
Educação Ambiental)
Bibliografia.
ISBN 85.86347.07.8
1.Mata Atlântica 2. Ecologia 3. Educação Ambiental 4. Serra do Mar
I. Título II. Série
CDD 574.56242098161
2
Serra do Mar: Uma viagem
à Mata Atlântica
Governo do Estado de São Paulo
Geraldo Alckmim Governador
Secretaria de Estado do Meio Ambiente
José Goldemberg
Secretário
Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratégico
e Educação Ambiental
Lucia Bastos Ribeiro de Sena
Coordenadora
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Cananéia vista do Mar Pequeno
4
Sumário
Introdução - 9
Estação de Embarque nº 1: A Floresta – 13
A mata vista de fora e de dentro – 13
Moradores da mata – 14
Olhando da serra para o mar – 16
É tempo de refletir – 20
Estação de Embarque nº 2: O Homem na Floresta – 23
Os índios – 23
As comunidades tradicionais – 29
É tempo de refletir – 34
Estação de Embarque nº 3: O Homem e o Urbano – 39
Uma volta a 1500 – 39
Um salto para a era industrial – 42
Falando um pouco da Baixada Santista... especialmente de Cubatão – 43
Pela estrada afora... para o litoral norte – 47
Pegando a estrada para o litoral sul – 51
É tempo de refletir – 56
Última Estação: Recuperando a Mata Perdida – 61
O desmatamento tem uma história – 61
A natureza também tem seus métodos – 64
A delicada trama da recuperação – 65
O papel do Estado na trajetória da conservação – 66
Aproximando o foco: a proteção da Mata Atlântica – 68
Uma pergunta final – 70
Bibliografia – 74
5
“...foi que vi pela primeira vez as
inteira. Porém, lá, não estavas nua,
Terra. Por mais distante, o errante
[...] Do mar se diz `terra à vista´;
para a mão carícia; outros astros
Terra, Terra. Por mais distante, o
te esqueceria.”
6
tais fotografias em que apareces
e sim coberta de nuvens. Terra,
navegante, quem jamais te esqueceria.
terra, para o pé firmeza; terra,
te são guia.
errante navegante, quem jamais
Trecho da canção Terra, de Caetano Veloso.
7
8
Introdução
E
ste é um convite para viajarmos juntos. Percorreremos
uma região do Brasil de 1.500.000 ha – onde a Mata
Atlântica recobre a Serra do Mar e as planícies costeiras do
Estado de São Paulo. Mas, iremos muito mais longe no
tempo: recuaremos 100, 200, 500 anos e até mais. Voltaremos
ao presente, retornaremos ao passado. Haverá paradas para
algum olhar mais atento. Detalhes revelarão processos e
mostrarão modos de viver, pensar e trabalhar das pessoas;
reflexões apontarão caminhos. Muitas perguntas vão surgir;
respostas, nem todas.
O trajeto começa na mata, passa pelo homem que viveu e
vive nela, distancia-se um pouco para ver o que há em torno
e volta. Vamos nos deter em alguns pontos para conhecer
aspectos das relações entre o homem e a mata. Veremos modos de vida diferentes. Formas de economia altamente destrutivas, outras mais cooperativas. Conversaremos sobre
problemas. Mostraremos algumas iniciativas do poder público para conservar o que restou dessa convivência de
muitos séculos entre o homem e a Mata Atlântica no litoral
do Estado de São Paulo.
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A Mata Atlântica, como é comumente conhecida, não é
uma única floresta. Na verdade, é um conjunto de florestas
diferentes, que têm em comum o fato de localizarem-se no
lado atlântico do continente. Essa vegetação que cobriu no
passado as encostas das montanhas voltadas para o Oceano
Atlântico, de norte a sul do País, avançando para o interior
em muitos pontos, acha-se hoje reduzida a manchas esparsas,
cujas porções mais extensas, significativas e conservadas
encontram-se no litoral dos Estados do Rio de Janeiro, São
Paulo e Paraná. Sua principal característica é a de concentrar
grande número de espécies da flora e da fauna, fato que faz
aumentar a responsabilidade quanto à conservação, pois
destruir trechos da mata, ainda que pequenos, significa perder muitas espécies que nunca mais serão conhecidas.
A decisão de escrever sobre este conjunto de florestas
deve-se à sua grande importância, atualmente, para o Brasil e
de modo particular para o Estado de São Paulo.
Outro motivo importante para falar da Mata Atlântica no
trecho paulista da Serra do Mar é o fato de tratar-se de uma
região que, por um lado, veio sofrendo forte impacto
ambiental, desde o período da colonização, a partir de 1500,
até as últimas décadas do século XX, quando conheceu os
efeitos da industrialização e da urbanização. Por outro lado,
manteve formas tradicionais de economia em comuni10
dades com estreitas ligações com a natureza.
O tema será abordado sob vários aspectos – biológicos,
geográficos, históricos, culturais, sociais e econômicos –,
que se entrecruzam, articulados de modo a propiciar ao
leitor a reflexão acerca da necessidade e da abrangência
das ações possíveis para conservar a região. Procurando
traduzir em linguagem clara e acessível conceitos desses
vários ramos da ciência, este trabalho pode ser aplicado em
programas de educação ambiental, cujo objetivo for discutir a conservação. Pode ser útil a todos os que se interessam
pela questão ecológica e também aos educadores em geral.
Estes últimos poderão aproveitá-lo, conforme suas necessidades, no todo ou em parte, como ponto de partida para
uma reflexão mais aprofundada ou estímulo para trabalhos
práticos de educação ambiental.
Espera-se que esta publicação seja mais um instrumento
a contribuir com informações e sensibilização para as
questões de que trata, abrindo um espaço de discussão e
um tempo de amadurecimento, que resultem na participação do leitor em ações concretas de conservação dos
recursos naturais.
Boa leitura. E vamos embarcar!
Mata Atlântica vista de dentro, revelando sua riqueza e exuberância.
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12
ESTAÇÃO DE EMBARQUE Nº 1: A FLORESTA
E
inúmeras nascentes, cujas águas irão formar
m São Paulo, a Serra do Mar e a de
rios e cachoeiras de porte considerável.
Paranapiacaba marcam um limite
Entre os rios mais importantes dessa região,
geográfico entre litoral e interior. Estas
não poderiam deixar de ser citados o
duas serras são formadas por rochas
Ribeira do Iguape, o Juquiá, o Cubatão, o
datadas de milhões de anos e muito
1
Itapanhaú, o Juqueriquerê e o Fazenda,
resistentes ao intemperismo . Sobre
entre outros.
essas rochas, existe uma camada de
solo geralmente pouco profunda,
A mata vista de fora e de dentro
formada por partículas de rocha, que
vão se desprendendo com o passar do
Olhada de fora e de uma certa distântempo sob a ação das chuvas e dos
cia, como numa vista aérea, a primeira
ventos, entre outros fatores, restos de
imagem que se tem da Mata Atlântica é de
animais e vegetais em vários graus de
uma grande cobertura, como se fosse um
decomposição, e material transportado
enorme manto, formado pelas copas
por ação da força da gravidade. Nestas
verdes de árvores com mais de 20 metros
condições de relevo e solos variados, a
de altura. É o que se costuma chamar de
Mata Atlântica se instalou.
Muriqui, o maior primata brasileiro, vive
dossel. Nas encostas da serra, geralmente
A floresta é resultado da ação do
nos fragmentos florestais da Mata Atlântica.
os troncos são finos como os das palmeiras
clima. Os ventos quentes e úmidos vinO muriqui ou mono-carvoeiro é uma
espécie
ameaçada
de
extinção
(Estação
e embaúbas, com as copas se concentrando
dos constantemente do oceano, ao se
Ecológica Juréia-Itatins).
no alto. Mas há também árvores com
defrontarem com o relevo serrano,
troncos largos e majestosos como a figueira, a peroba, a
elevam-se e resfriam-se, formando nuvens baixas, que
canela, o pau d’óleo e o pau d’alho, entre outras.
podem precipitar-se sob a forma de chuva ou neblina.
Ao entrar na floresta, a primeira impressão que se tem é
As chuvas frequentes, a neblina e o tipo de solo propia de que todos os espaços estão preenchidos. Há uma
ciam o acúmulo de água no subsolo, o que dá origem a
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profusão de plantas em todos os
níveis. Olhando de cima para
baixo, encontra-se logo depois
do dossel uma camada de
vegetação formada por árvores
menores, com troncos finos e
longos, cujos ramos e folhas, a
exemplo das grandes árvores,
concentram-se no alto das
plantas. É o caso do palmiteiro,
da samambaia-açu, de plantas
jovens que atingirão mais tarde o
dossel e, finalmente, de plantas
que germinam na sombra.
Uma das características das
florestas tropicais úm idas2 , particularmente da Mata
Atlântica, é a variedade de plantas. Chamam a atenção, de
modo especial, aquelas que ocupam os troncos das árvores:
epífitas, lianas, musgos e liquens. As duas primeiras são
mais visíveis na Mata Atlântica da Região Sudeste do Brasil.
As epífitas instalam-se sobre o tronco e
os ramos de certas árvores, conseguindo,
assim, captar a luz do sol, essencial na
produção do seu próprio alimento. Para
obter a água e os sais minerais de que necessitam, algumas emitem raízes que chegam até o solo; outras valem-se das folhas
em forma de calha, onde a água é armazenada. As plantas mais representativas da
Mata Atlântica e exclusivas do mundo tropical são as bromélias e orquídeas, de beleza incomparável na forma e no colorido.
Lianas são trepadeiras que sobem pelas
O lobo-guará é um animal solitário e noturno.
O nome guará, vermelho em tupi-guaraní, é
devido a seu pelo que tem esta côr.
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Líquens pendentes de galhos.
árvores em busca da luz do
sol, prendendo-se nos troncos
por meio de garras, como é o
caso das jibóias, dos imbés e
da costela-de-adão.
Os musgos recobrem
troncos e pedras como um
tecido verde, delicado e
macio, cuja textura lembra o
veludo.
Os liquens são formações
vegetais presentes em
ambientes úmidos, onde a
poluição é baixa ou inexistente. Por isso funcionam como
um sinal de boa qualidade ambiental. Há um tipo, cujos fios
muito finos, parecendo uma cabeleira leve e transparente,
dependuram-se nos galhos das outras plantas: é a úsnia ou
barba-de-velho, muito semelhante a um tipo de bromélia.
Moradores da mata
Toda essa riqueza de formas de vegetação cria condições para uma fauna de
dossel, de tronco e de chão muito rica,
espalhada pelos diferentes ambientes.
Os mamíferos de chão desse tipo de
floresta têm porte pequeno e alongado,
adaptados a viver e se deslocar entre os
troncos das árvores. Um alce – um animal de formações vegetais abertas –
ficaria com seus chifres presos no
emaranhado de plantas, na primeira
tentativa de passeio. E a girafa, como
faria com seu pescoço tão longo?
Trecho do Parque Estadual cortado pela rodovia dos
Imigrantes na região do município de Cubatão.
Ao contrário das plantas, que se mostram em
toda a exuberância ao visitante, é difícil ver os
animais. Além de se esconderem ao menor
indício da presença humana, muitos só saem à
noite, como os gatos do mato, os morcegos, os
gambás e as cuícas, e outros são mais visíveis
em determinadas estações do ano. Assim,
dependendo do horário que se entra na floresta,
o que se ouve é um ou outro ruído, o pio de um
pássaro; o que se sente, os insetos; e o que se
vê, alguns animais de solo ou de tronco de
árvores. O resto são apenas vestígios dos
demais habitantes: pegadas, penas, pelos, ossos,
fezes, tocas. E, muitas vezes, apenas estes vestígios norteiam o pesquisador no seu trabalho. A observação
direta dos animais é mais difícil.
Eis aí um dos motivos pelos quais existem mais informações disponíveis sobre a flora do que sobre a fauna. No
entanto, mais de um milhão de espécies de insetos e
centenas de aves e mamíferos vivem nas matas atlânticas,
estabelecendo com a floresta relações vitais para a sua
própria manutenção e determinantes nos processos
ecológicos. Há realmente várias trocas. A floresta fornece
abrigo e alimento aos animais, e eles retribuem, por
exemplo, carregando para longe, na pelagem ou no aparelho
digestivo, as sementes e os grãos de pólen das plantas.
.
A vida neste verdadeiro edifício
Nos andares superiores, nas copas das árvores e dos
arbustos, vivem o macaco-muriqui – também conhecido
como mono-carvoeiro –, o bugio, o tucano-de-bico-verde e
o papagaio-de-cara-roxa, entre muitos outros.
Mais embaixo, habitam vários pássaros.
Outros animais moram predominantemente no chão
como a paca, a jaguatirica e o quati; ou mesmo em tocas,
como os tatus.
Essa distribuição por andares não é estática. Há trânsito
no sentido horizontal, vertical, na terra e no ar. Enquanto as
aves que sobrevoam o imenso dossel verde entram na mata
em busca de alimento, outros animais o fazem percorrendo
quilômetros por terra.
O cardápio dessa fauna é variadíssimo. O caxinguelê,
também conhecido como esquilo brasileiro, come brotos
e sementes oleoginosas; o macuco alimenta-se de insetos,
vermes e frutos caídos no manto de folhagem que cobre o
solo; já a cutia sustenta-se de raízes e talos suculentos,
além de frutos.
Os felinos – a jaguatirica, o gato-do-mato, entre outros
– são carnívoros, que devoram pequenas aves e
mamíferos. Um dos mais belos gaviões brasileiros – o
gavião-pega-macaco – alimenta-se de macacos, de outros
mamíferos e de aves.
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Olhando da
serra para o mar
Depois desse contato com o
interior da mata, suas plantas e
seus animais, caminharemos
num sentido diferente – do
planalto para o mar. A caminhada começa com a descida da encosta, para chegar
depois ao ambiente de
restinga. Daí pode-se atingir o
mar pelas praias e pelos
costões rochosos – dois
ambientes contra os quais as ondas quebram. Outra opção é
acompanhar um rio qualquer até o ponto em que suas águas
doces encontram-se com a água salgada. É bem comum, no
litoral brasileiro, que esse ponto seja um local de solo
lodoso, cheiro forte e vegetação típica, cuja riqueza e
importância ecológica são pouco
conhecidas e valorizadas. Trata-se do
mangue.
É importante que nessa descida da
serra sejam observadas as mudanças que
vão ocorrendo. A umidade muda à medida que se desce. O solo altera-se continuamente, sofrendo a influência de vários
fatores: da inclinação dos terrenos, das
rochas, da água, da salinidade do mar.
Isso causa modificações tanto em cada
planta, como no conjunto que compõe a
vegetação, transformando sensivelmente a
sua fisionomia. Na planície, a mata vai
perdendo densidade e altura. Já não se vê
Manguezal com raízes-escora, no Rio
Itapanhaú na região de Bertioga.
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Vegetação rasteira em terreno
arenoso à beira d’água.
aquele dossel contínuo. O solo,
cada vez mais arenoso, recobrese de plantas baixas, e mais
resistentes à ação do sol e à
salinidade do mar, que as atinge
nos borrifos ou na subida da
maré.
Toda essa região de planície
se modificou muito ao longo do
tempo. Muitas planícies atuais
estiveram submersas há dezenas
de milhares de anos. Com o recuo dos oceanos, nas
glaciações, surgiu uma faixa terrestre com um solo de
elevação muito suave, formando cordões ou fileiras,
semelhante ao mar quando se encrespa levemente sob a ação
do vento. São os chamados cordões de restinga.
A vegetação desse tipo de solo
varia desde a mata pluvial de planície,
à de restinga, passando por pequenas
árvores e arbustos, até as plantas de
porte baixo, como a orelha-de-onça e
plantas rasteiras de caule
estolonífero3, como a açariçoba e o
feijão-de-praia.
O contraste com essa paisagem de
ondulações suaves é dado pelas dunas
que ocorrem em alguns setores do
litoral paulista. Nestas formações
arenosas de altura variada, observa-se
escassa vegetação estolonífera.
.
Um berçário quase flutuante
Percorrendo com o olhar os
pouco arejado, movediço, constantemente inundado e com
ambientes alagadiços próximos aos estuários, vemos o
alto teor de salinidade. Um exemplo dessa adaptação é a
mangue, que não se parece com um berçário, é claro, mas
estrutura das raízes aéreas: raízes-escora, que ajudam a
cuja função mais importante é oferecer boas condições para
a reprodução das espécies e dar proteção a espécimes jovens planta a fixar-se, e pneumatóforos6, através dos quais a
planta capta o oxigênio de que necessita.
que nele se abrigam. E por quê?
Nos manguezais do litoral
O primeiro motivo é a
de São Paulo, predominam
constituição do seu solo,
4
bosques de mangue vermelho,
rico em nutrientes , devido
branco e preto (siriúba),
à decomposição de
associados a uma grande
detritos de rochas, de
riqueza de outros tipos de
sedimentos de solo e de
plantas, como as algas, os
matéria orgânica trazida
liquens, as orquídeas, as
pelos rios, além de um
bromélias e, em alguns
índice elevado de
pontos, um tipo de vegetação
salinidade, em virtude do
rasteira, onde se destaca uma
encontro com a água do
gramínea chamada spartina.
mar. Não nos esqueçamos
de que o mangue é o ponto
Como as coisas
de encontro de duas águas
acontecem?
– a doce e a marinha – e
Neste rápido passeio pela
de sedimentos5 terrestres.
Mata Atlântica, pudemos ver
Outro motivo é uma
um pouco como ela é.
questão de localização. Os
Percebemos ligações entre o
manguezais desenvolvemrelevo, o solo, a vegetação e a
se em locais abrigados da
fauna. Notamos uma intercosta e banhados pelas
relação vital em tudo que
marés, e em desembocacompõe esse ambiente. Mas
duras de rios. O relevo,
Detalhe de uma inflorescência de Bromélia. P. E. Serra do Mar.
faltou saber como isso
em geral suave, permite
acontece, o que rege todo esse
acesso fácil a muitas
movimento, enfim, os processos naturais.
espécies marinhas. Peixes, crustáceos, aves e, também,
Há processos que garantem a sobrevivência; outros que
fungos e bactérias desenvolvem-se ali, alimentam-se e
explicam o comportamento de reprodução dos seres vivos;
servem de alimento, estabelecendo assim importantes
aqueles que envolvem transformações no ambiente; e
cadeias alimentares.
Nesse ambiente, tão propício aos animais, as únicas plan- muitos outros, que não poderão ser abordados neste
trabalho.
tas que crescem são aquelas que se adaptam ao solo lodoso,
.
17
.
.
Adaptações e resistência
Em busca de um lugar ao sol
É assim que podem ser chaA chuva forte, o vento ou
madas a constituição e a estrumesmo a ação do homem podem
tura das plantas que sobrevivem
derrubar as árvores da mata,
em ambientes pouco propícios,
abrindo uma clareira. Quando isso
nos quais há desafios a vencer.
acontece, as plantas de camadas
Por exemplo, as grandes árvores
mais internas saem da penumbra e
como as figueiras ou sapopemas
passam a receber diretamente a luz
têm raízes avantajadas e em
do sol. As sementes de algumas
forma de lâmina, para protegêplantas que estavam adormecidas
las da ação dos ventos, das
7
brotam e, aos poucos, a vegetação
fortes declividades e do rastejo
se recompõe, preenchendo
do solo, além de aumentar a
novamente o espaço vazio. Está se
área de absorção ou captura de
formando a mata secundária,
alimentos e garantir-lhes o
através de um processo comum na
oxigênio, escasso no solo da
Mata Atlântica – o processo de
mata devido à umidade e
sucessão biológica, no qual as
temperatura elevadas, e à
espécies vegetais vão sendo
presença de grande quantidade
substituídas gradualmente, com o
de raízes, microrganismos e
passar do tempo, umas
animais.
colaborando com as outras.
O gravatá – bromélia de chão
– resolve o problema da pouca
Um sistema curioso de
água disponível, armazenando-a
semeadura
nas suas folhas grandes e
A paisagem da floresta é
suculentas.
marcada pela presença de plantas
No cardo-da-praia, as folhas
Na Mata Atlântica muitos animais ao se alimentarem
da mesma espécie, em pontos
transformaram-se em espinhos
de plantas carregam no seu aparelho digestivo as sementes
distantes entre si. A ação do vento
e o caule armazena a água.
que serão defecadas em lugares distantes.
atua na semeadura de muitas
A vegetação de mangue
plantas das matas atlânticas, mas é
firma-se no lodo com a ajuda de
mínima dentro da mata, sendo mais freqüente quando se abre
inúmeras raízes aéreas do tipo escora, que lhe dão aquele
uma clareira. Então, quem leva as sementes para longe? Os
aspecto emaranhado na base do tronco. E as plantas
responsáveis por isso são principalmente os animais. Além de
rasteiras, vistas na areia, desenvolvem-se nesse tipo de solo
carregá-las na pelagem, deixando-as cair por onde passam, o
graças a caules subterrâneos, conhecidos como estolões,
fixados por pequenos tufos de raízes.
.
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seu aparelho digestivo pode funcionar como meio de
transporte. É que ao comer o fruto, eles engolem também as
sementes. Passado algum tempo e longe da planta matriz,
essas sementes vão sendo devolvidas à terra, pelas fezes ou
pelo regurgitamento. É um processo de dispersão das
sementes. Deixadas em diferentes pontos da mata, muitas
delas germinam e crescem.
.
Triângulo amoroso entre duas flores e um animal
Por causa da sua capacidade de locomover-se, os animais
representam um papel importante na reprodução de certas
flores: eles levam o pólen, gameta masculino das flores, para
o óvulo de uma flor “feminina”, que, depois da sua visita,
fertiliza-se. Este é o processo de polinização, que acontece
aparentemente por acaso. O polinizador, que pode ser uma
abelha, um beija-flor, ou um determinado tipo de morcego,
tem intenção apenas de alimentar-se; o que vai buscar nas
flores é o néctar de que necessita. Mas, ao fazer isso, seu
corpo fica coberto de pólen que ele acidentalmente deposita
de flor em flor.
.
Relações, contatos e transferências
Os seres mantêm-se vivos porque obtêm energia ao se
alimentarem uns dos outros. Por exemplo, as plantas são
comidas pelos insetos, que são comidos por sapos, que são
comidos por cobras. Ou, então, as plantas são comidas por
roedores, que são comidos por aves.
A transferência da energia contida nos alimentos, por
meio de uma série de organismos que repetidamente se
alimentam e servem de alimento, chama-se cadeia alimentar.
As plantas que formam o primeiro elo da cadeia alimentar são chamadas de produtoras, porque produzem seu próprio alimento a partir da energia solar, de nutrientes, sais
minerais e água: é a fotossíntese.
Os animais são conhecidos como consumidores e temos,
ainda, os decompositores – bactérias, fungos e vários outros invertebrados, que decompõem restos de plantas e
animais –, os quais se misturam depois com o solo, a água e
o ar, e voltam para os animais e para as plantas, iniciandose, assim, um novo ciclo.
O consumidor recebe diferentes denominações confor-
onça pintada
Esquema da cadeia alimentar
jaguatirica
Rede alimentar
tucano
sapo
inseto
rato
pássaro
quati
19
me a posição na cadeia
alimentar. Quando se
alimenta de plantas é
herbívoro ou
consumidor primário;
quando se alimenta de
herbívoros, é
consumidor
secundário, como os
carnívoros; quando se
alimenta desses
carnívoros é terciário;
quando se alimenta de
um terciário, é
quaternário e assim
por diante.
Os exemplos dados
até agora são simples,
lineares, mas na natureza as inter-relações entre produtores,
consumidores e decompositores são mais complexas,
configurando teias alimentares, em que um animal ou planta
podem ser consumidos por vários outros e com isso ocupar
posições diferentes nas cadeias em que está presente.
É tempo de refletir
Chegando ao fim desta primeira etapa da nossa viagem,
é importante pensar um pouco a respeito do modo como
compreendemos os fenômenos naturais. É inevitável ao
homem uma interpretação desses fenômenos, carregada
de valores vinculados à sua história e à sua cultura.
E é essa interpretação que torna relativas e, às vezes, até
20
O quati vive mais nas árvores,
em pequenos bandos e possui
hábitos diurnos.
contraditórias, suas
atitudes, decisões e
opiniões.
No passado, os
estudos sobre os processos da natureza
ressaltavam apenas a
competição, a luta
pela sobrevivência e a lei
do mais forte. A vida dos
animais e das plantas era
interpretada como uma
verdadeira guerra de
extermínio. Era a idéia da seleção natural pela competição.
Hoje, são reconhecidos, também, muitos exemplos de
cooperação: o beija-flor extrai o néctar e, em contrapartida,
traz o pólen; o animal come o fruto, porém guarda intacta a
semente; por uma clareira na mata entram a luz e a água que
permitem à semente desenvolver-se. As adaptações podem ser
vista como formas de cooperação entre elementos opostos,
que encontram um modo sutil de conviver, sem o qual pelo
menos um deles seria destruído.
Reconhecer e preservar essas relações de cooperação pode
indicar um amadurecimento da sociedade, no sentido de uma
atitude menos predatória e de uma consciência mais aguda da
necessidade de proteger e recuperar o ambiente.
Continuemos a nossa viagem.
Índios Guarani, habitantes da Mata Atlântica no litoral paulista.
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22
ESTAÇÃO DE EMBARQUE Nº 2: O HOMEM NA FLORESTA
M
ais do que nunca, interessam-nos todas as relações de
cooperação ou de agressão, só que agora entre os elementos da natureza e as diferentes culturas humanas, uma
vez que os homens também se relacionam com a mata.
Os índios
A Mata Atlântica não era um espaço onde cresciam apenas plantas e animais. Espalhadas pelo imenso território
encontrado pelos portugueses em 1500, viviam nações indígenas, com línguas e costumes próprios.
No espaço que é hoje o litoral do Estado de São Paulo,
concentravam-se os grupos de língua tupi-guarani, cuja história, durante a colonização, assemelha-se a de outros povos
indígenas existentes em áreas descobertas pelos
portugueses.
Estes povos nativos foram considerados não somente
propriedade, mas também um bom instrumento para as
tarefas necessárias à realização do projeto de colonização.
Para garantir o domínio efetivo sobre o novo território, os
portugueses necessitavam do índio como mão-de-obra para
os diversos serviços braçais e também como guias, que lhes
mostrassem os recursos naturais existentes e lhes abrissem
caminho num meio natural acidentado e coberto por densa
floresta tropical.
Assalto dos Tupinambá contra os tupiniquins e portugueses,
segundo Hans Staden, viajante alemão do séc. XVI.
23
Ao encontrar resistência por parte dos indígenas à sua
dominação, os portugueses deram início a um dos capítulos
de violência mais tristes da nossa história. No decorrer dos
quase quatro séculos em que o Brasil permaneceu colônia de
Portugal, os povos indígenas foram perseguidos,
escravizados e, muitas vezes, dizimados numa luta desigual.
O trabalho imposto a eles não tinha qualquer relação com a
sua cultura. Suas mulheres eram violadas. E a catequese a
que os missionários jesuítas dedicaram-se foi mais um
instrumento de dominação sobre os povos nativos.
Mas houve resistência. As relações entre indígenas e
europeus foram marcadas por violentos confrontos. Grupos
inimigos entre si compunham alianças com os portugueses,
acirrando ainda mais os conflitos; vários destes foram registrados por viajantes naturalistas e estudados por
historiadores.
Embora dominados pelos brancos, os povos indígenas
vêm lutando até hoje para sobreviver e resistir à
descaracterização cultural. As informações que nos chegam,
veiculadas pela televisão ou por revistas, contam-nos muito
pouco sobre o seu modo de vida e seus costumes; por isso,
vale a pena olhar mais atentamente para um grupo próximo
de nós – o de língua guarani, da família tupi-guarani, do
tronco tupi.
Quadro das famílias indígenas
24
.
O povo Guarani e seu território
Entre o litoral e o planalto do Estado de São Paulo, existem aldeias indígenas, habitadas pelos Mbya e Ñandeva,
grupos cuja língua é dialeto do guarani.
O território, para o guarani, não se limita à área das
aldeias onde ele habita; é toda parte pela qual o povo transita hoje, ou transitou no passado. Engloba cidades e países,
bastando para isso que suas tradições revelem a presença de
seus antepassados na região. O território não é exclusivo de
seu povo, podendo haver convivência pacífica com os
brancos.
O local de moradia, porém, deve estar protegido da
interferência de estranhos, sendo necessário haver mata, água
e terra para plantar. Essas são as condições que garantem os
padrões tradicionais de vida, ou seja, o exercício da caça, da
coleta, da pesca e da agricultura. Mas nem sempre isto
aconteceu.
.
para outras mais distantes.
Hoje, a distribuição das habitações no território não
obedece mais à configuração tradicional. As casas dispersas
ligam-se umas às outras, por caminhos abertos e a distância
entre elas relaciona-se com o grau de parentesco de seus
moradores. Diante da casa do líder
existe uma área para a realização dos
rituais coletivos.
Modo de vida
Todas as atividades deste povo
O trabalho com a terra
estão ligadas aos aspectos mágicos e
Os guarani produzem para o próprio
rituais contidos na sua tradição
sustento, por meio da agricultura, da
cultural.
caça, da pesca e da coleta; e para o
As coisas acontecem como sempre
comércio, por meio do artesanato.
aconteceram, ou melhor, como os
Os guarani são semi-nômades e,
mais velhos contam que aconteceram.
sempre fixaram-se em função da ativiÉ esse relato oral carregado de lendas
dade agrícola. O tipo de agricultura
que orienta as gerações mais novas,
tradicionalmente praticado pelos
garantindo a perpetuação dos usos e
guarani é o sistema de roças de coivara.
costumes.
Esta técnica, que consiste na queima da
Os aldeamentos de todo o
vegetação sem limpeza do terreno, na
território guarani estão ligados por
utilização do que restou da queimada
estreitos laços de parentesco e por
como adubo natural e na plantação de
intercâmbio econômico. As visitas
mais de uma cultura na mesma área,
entre os habitantes das aldeias do
espalhou-se pelo litoral e interior, sendo
litoral e do planalto são constantes e
Índias de aldeia em Silveiras.
utilizada atualmente por inúmeras
feitas a pé. As trilhas percorridas na
comunidades tradicionais.
Serra do Mar são as mesmas utilizadas pelos seus
Os guarani desenvolveram, no decorrer do tempo,
antepassados há séculos.
técnicas para o cultivo de muitas espécies, algumas das quais
Cada núcleo é formado por poucas famílias compostas
servem de alimento, hoje, para grande parte da população,
por pais, filhos, genros e netos, que obedecem ao líder
como o milho, a mandioca, o feijão, o amendoim, o mamão
político-espiritual, que transmite o que aprendeu dos ane a erva-mate, entre outras.
tepassados e possui o dom de comunicar-se com os deuses.
Dedicaram-se também à melhoria de algumas plantas
A população numa aldeia é pouco numerosa e bastante
nativas, através de experimentos simples. Assim, conseguiinstável, devido aos deslocamentos constantes, em função
ram aumentar a resistência biológica do milho, cuja produde casamentos ou cisões entre as famílias.
ção foi ampliada.
Uma aldeia pode ainda servir como ponto de passagem
.
25
Conheciam muitos tipos
diferentes de mandioca e
sabiam tratar a mandioca
brava para consumo humano,
extraindo-lhe a substância
tóxica.
.
Uma partida de pesca, reproduzida do livro Duas
Viagens ao Brasil, de Hans Staden.
Mitos de origem
Um mito tupinambá,
que é o povo que habitou o litoral norte do Estado de São
Paulo, conta que certa estrela vermelha que aparece perto da lua, a que davam o nome
de lanovare, ia ao seu encalço para devorá-la. E quando
a lua, no período das chuvas,
depois de muitos dias sem
aparecer, tornava a surgir,
vermelha, acreditavam que estava iminente o momento de
ser alcançada pelo lanovare.
Acreditavam que seria o fim
do mundo. Os homens gritavam de alegria, saudando o
avô mítico que iriam encontrar, mas as mulheres, com
medo da morte, gritavam, chorando e se lamentando.
O cultivo do milho, motivo
de celebração
Dissemos que aspectos
sagrados e rituais envolvem
todas as atividades da vida do
povo guarani. O ciclo de
cultivo do milho é um
exemplo: suas fases são
marcadas por vários rituais
que celebram acontecimentos
sociais e religiosos. A
colheita anual abre-se com
uma grande festa, durante a
qual as crianças das famílias
de várias aldeias recebem seus nomes.
Quando uma família se muda, deve começar a caminhada antes da época do plantio, para que já esteja instalada na
outra aldeia, no momento de fazer a roça.
.
Aproveitando o que a natureza dá
As tradições culturais guarani também orientam a pesca,
a caça e a coleta. Esta última, que consiste na extração de
mel e plantas da mata, além de prover o grupo com
alimentos, fornece taquara para as flechas, fibras para as
cordas e cestos, tintas para a pintura do corpo, cera e resina
utilizadas como cola, e remédios. Através deste trabalho,
que é masculino, os índios obtêm matéria-prima para sua
principal atividade comercial: o artesanato.
O modo de caçar e pescar dos guarani é muito diferente
26
daquele do branco. No lugar das armas de fogo, estão arcos
e flechas; instrumentos rústicos entalhados com as próprias
mãos, além do timbó, substituem anzóis e redes sofisticadas.
(O timbó é uma substância extraída de algumas plantas, que,
jogada na água, entorpece os peixes. Nesse estado, eles vêm
à superfície, boiam e isso facilita a captura.)
.
As mãos: o instrumento de trabalho
O trabalho artesanal sempre fez parte da cultura guarani.
Na aldeia confeccionam-se utensílios e instrumentos de uso
cotidiano: cestos, esteiras, potes, armas e objetos rituais.
A proximidade entre as aldeias indígenas e os centros
urbanos possibilitou a comercialização desses objetos,
que se tornaram uma fonte de recursos para a compra
de alimentos na entressafra e de outros produtos de que
a aldeia não dispõe.
Toda família participa desta atividade, que hoje, mistura
elementos do meio natural e industrializados. A venda direta
é feita pelo produtor em praças públicas, feiras e estradas,
principalmente por mulheres e crianças, e a indireta, nas
lojas de artesanato.
.
Índios guarani paramentados com artesanato indígena: cocares,
colares para diferentes idades.
O saber Guarani
Toda a sabedoria do povo guarani está contida nos ritos e
implícita na sua tradição. Para manter o modo de vida tradicional, os indígenas contam com o conhecimento precioso
das relações entre os seres vivos e o meio ambiente local –
condição essencial para sua sobrevivência física e cultural.
Para caçar é preciso conhecer os hábitos dos animais;
para a coleta, reconhecer a época em que os frutos
amadurecem e o poder de cura das plantas; para a pesca e a
agricultura, conhecer astronomia e sua relação com as
chuvas e marés. A previsão de chuvas, por exemplo, é feita
a partir do surgimento de determinadas estrelas.
A dimensão artística faz-se presente nos utensílios para
uso diário, nos objetos para uso ritual, nos cânticos e nas
27
danças. As vestimentas, enfeites e pinturas no corpo,
especiais para cada cerimônia, também revelam a
sensibilidade artística, presente na beleza e harmonia das
combinações de formas e cores.
Cada grupo tem suas características peculiares de
expressão e isso pode ser observado ao compararmos o
trançado dos cestos, o ritmo dos cânticos e os passos das
danças.
À direita, Staden orando em agradecimento pela realização de um milagre,
junto a uma cruz, erguida na aldeia de Ubatuba. À esquerda, mulheres
trabalhando com seus filhos enfaixados às costas.
28
.
A resistência indígena
A existência física e cultural de aldeias indígenas na
Serra do Mar e no litoral do Estado de São Paulo é prova da
resistência deste povo à dominação a que tem sido
submetido ao longo de sua história. A pressão sobre os
guarani não se resumiu ao período colonial, em que os
indígenas foram massacrados pelos colonizadores. Ainda
hoje, eles enfrentam inúmeros obstáculos à manutenção do
seu modo de vida, e um deles se relaciona com a questão do
acesso à terra. Os guarani agora lutam pela reconquista de
um território que, no passado, foi do seu povo, não mais
com arcos e flechas, mas através das leis que, ao
demarcarem as reservas, reconhecem o seu direito ao
território coletivo que lhes permite viver com dignidade.
Os guarani das diversas aldeias têm se organizado através
da Ação Guarani Indígena-Aguai que, além de atuar na
solução dos problemas decorrentes de conflitos fundiários,
incentiva a organização dos tembiguai – associações
internas em cada aldeia, por meio das quais os jovens
assessoram os caciques em projetos comunitários, como é o
caso da criação de abelhas e peixes na aldeia de Ubatuba.
Esta é uma iniciativa e há outras no sentido da permanência
dessa cultura minoritária.
Além da questão ética, do direito de manifestação e
expressão das minorias, que outro motivo justificaria a
manutenção do modo de vida guarani? No momento em
que a sociedade volta as suas preocupações para a busca
do equilíbrio entre desenvolvimento e aproveitamento dos
recursos, é importante a existência de uma cultura que lida
com os recursos naturais, de um modo bastante alternativo
ao da sociedade abrangente, e que estendeu sua influência
a outros grupos com os quais manteve contato nesse
espaço da Mata Atlântica, a saber: no litoral, os caiçaras;
nas margens dos rios, os ribeirinhos; no interior, os
caboclos. Conhecidos também como comunidades
tradicionais, esses grupos expressam no seu modo de vida
dela os meios para
ARTESÃO X ARTESANATO
sua sobrevivência.
Grande parte dos
Artesão é aquele que detém o seu
instrumentos de
As comunidades tradicionais
conhecimento
com tal maestria, que o seu
trabalho, dos utentrabalho se destaca pela criatividade, utisílios domésticos e
O índio é a influência preponderante na formação dessas
lidade e beleza. O artesão domina a técdos objetos de adorcomunidades, depois do europeu, principalmente o
nica e as qualidades do material e isso
no é confeccionada
português, que foi fator dominante, sem esquecer do negro,
lhe confere o reconhecimento de toda a
comunidade. Sua fama muitas vezes ulpela própria comuque completa o quadro dessa pluralidade cultural.
trapassa os limites do seu núcleo, chegannidade. O material é
Da miscigenação originou-se uma população com
do a lugares muito distantes.
retirado diretamente
profundas marcas da cultura indígena, que vive hoje em
Artesanato significa trabalho feida natureza: fibras,
contato muito próximo com a Mata Atlântica. Essas peto com as mãos, para o qual é necessário
madeiras, folhas e
quenas comunidades mantêm diferentes estágios de contato
o conhecimento das técnicas e dos materiais adequados.
argila transformamcom os centros urbanos, em maior ou menor grau de
isolamento, em pequenos núcleos esparsos, seja nas ilhas, na se nas mãos do artesão em gamelas, cuias, mobílias, redes, remos e canoas.
beira do mar ou dos rios, ou nas encostas da Serra. São
Da necessidade de sobreviver apenas dos recursos
chamadas de tradicionais porque, à semelhança dos índios, o
disponíveis na mata e no
hábito da
mar, e do contato direto
transmissão oral dos
com suas plantas e
costumes e
animais, esses grupos
conhecimentos é
foram acumulando um
muito forte. Sua
conhecimento empírico 8
cultura baseia-se na
e profundo dos ecossistradição.
temas da região. Suas
Esses grupos
atividades foram desencaracterizam-se por
volvidas de forma a conum modo de vida
ciliar as necessidades de
semi-fechado em
sobrevivência própria
graus variados,
com a dos recursos
geralmente à
naturais dos quais elas
margem do
dependem.
processo de
E é essa sabedoria
desenvolvimento.
que nos interessa
Permanecendo em
Covo, apetrecho de pesca fabricado artesanalmente, utilizando
conhecer agora, registrar
contato direto com a
material vegetal coletado na floresta ou manguezal.
e aplicar.
natureza, extraem
muitos aspectos da cultura indígena que vale a pena
resgatar.
29
.
Como se desenvolve a economia tradicional
Dependendo do grau de isolamento em que as
comunidades tradicionais se encontram, sua economia
pode diferir total ou parcialmente daquela do sistema
de mercado, como o conhecemos nas cidades. Porém,
há pontos comuns entre os diversos grupos, o que nos
permite falar de uma economia tradicional.
O aproveitamento dos recursos naturais dá-se
diretamente por meio da coleta manual ou com o
auxílio de instrumentos simples, pela caça e a pesca,
sem passar pelas etapas de transformação próprias do
processo industrial. É uma atividade de baixo impacto
ao meio ambiente, devido principalmente à pequena
quantidade exigida para o consumo dessas populações.
A relação com esses recursos exige do indivíduo
conhecer muito bem as estações do ano, os ciclos e
outras condições da natureza, como a melhor época
e o melhor terreno para a semeadura, colheita, caça,
pesca e coleta.
A produção visa suprir basicamente as necessidades
do grupo, não havendo a preocupação de estocar para
comercialização futura. O estoque do que é necessário
à sobrevivência encontra-se na natureza, resultando
daí o empenho em preservá-la. Grande parte da
produção dentro dessas comunidades é realizada
de forma artesanal.
O método e os instrumentos utilizados no trabalho
são muito semelhantes aos usados pelas gerações
passadas, embora já se tenha introduzido elementos
próprios da produção industrial, como a motosserra, a
rede de náilon e os motores das embarcações, entre
outros. Isto de certo modo vem alterando a economia
tradicional.
30
Casa da Farinha típica do Parque
Estadual da Serra do Mar - Núcleo
Picinguaba.
Preparação do solo
Plantio
Colheita
Plantio e colheita na mesma época
Calendário agrícola de uma
comunidade do Rio Verde. Estação
Ecológica de Juréia – Itatins
.
queima-se aquilo que foi cortado, que
Uma relação com a terra: plantar
COMO A MANDIOCA
vai funcionar como adubo ali mesmo.
Nas comunidades tradicionais
B
R
A
V
A
V
I
R
A
F
A
R
I
N
H
A
As pragas são geralmente controlaplanta-se o que faz parte da alimentação
das de forma natural. Utiliza-se mais
diária: arroz, mandioca, milho, feijão,
Depois de colhida, a mandioca é
de um tipo de semente para cada
batata, banana e outras frutas.
processada na casa de farinha, presente
cultura, pois se uma delas for
As frutas, com exceção da banana,
em quase todo bairro ou vila dessas coatingida por alguma praga, outras
são plantadas nos quintais das casas; as
munidades. Em geral de uso comunitápoderão estar imunes, garantindo a
outras culturas são realizadas na roça,
rio, consiste num conjunto de equipamentos rústicos, semelhantes aos que os
produção esperada.
ou seja, em locais próprios para cada
índios
usavam
há
centenas
de
anos.
Ali
O produto da lavoura destina-se, em
tipo de cultivo.
se descasca, lava, moe e peneira a mangeral, à subsistência; comercializa-se
A agricultura praticada é a de roças
dioca, que depois é utilizada como aliquando a safra rende além das expectaitinerantes. Trata-se de um processo
mento em forma de farinha. Cada um que
tivas de consumo. Outras vezes, os
caracterizado pelo descanso da terra,
leva a mandioca para fazer farinha, deixa uma certa quantidade para o dono do
produtos agrícolas entram num sistema
quando o solo dá mostras de esgotaequipamento,
que
depois
a
vende.
de trocas dentro da comunidade ou
mento. O sinal de recuperação de uma
fora dela. Um dos produtos plantados
área que foi abandonada após o cultivo
com o objetivo de comércio é a banana.
é expresso pelo surgimento de um novo tipo de vegetação
Em muitas comunidades o sistema de trabalho agrícola é
no local: as capoeiras.
coletivo ou cooperativo nas etapas de preparo da terra,
Também é utilizado um sistema no qual mais de uma
plantio e colheita. O proprietário da roça convida pessoas do
cultura divide o mesmo espaço de roça: o consorciamento.
local, e até de fora, para o mutirão e oferece a refeição em
Como exemplo, temos o milho com o arroz, o cará indaiá
troca do trabalho. O final da colheita, em alguns casos, é
ou o cará branco com a mandioca, o milho com a mandiocomemorado com uma grande festa, com bebida, comida,
ca e a cana com a mandioca. A cana é plantada para a
música e danças características.
obtenção do açúcar mascavo, a rapadura e a garapa.
Esses pequenos agricultores têm encontrado muitos
As plantas nativas são outro sinal para os agricultores;
obstáculos para continuar sobrevivendo. A valorização das
mostram qual é a lavoura adequada ao local. Assim, onde
terras com vistas a empreendimentos imobiliários e a prescrescem a caxeta e a cana-do-brejo, pode-se plantar arroz,
são exercida pelos seus responsáveis levam os moradores a
pois aquelas plantas indicam áreas inundáveis, propícias
vender suas pequenas propriedades. Aqueles que resistem
ao cultivo deste cereal.
enfrentam, em alguns casos, a proibição de usar a terra para
Obedecer o ciclo agrícola anual é muito importante
o cultivo, porque, atualmente, a maioria das terras cobertas
para essas comunidades, pois cada colheita fornece sepela Mata Atlântica está colocada sob a proteção da legislamentes para o plantio do ano seguinte. As técnicas de
ção ambiental, que também coíbe suas atividades. Em
preparo do solo são marcas deixadas pela influência da
muitos casos, como no dos parques, estações ecológicas e
cultura indígena. Vinte dias antes da semeadura, as plantas
reservas biológicas, a legislação não permite nenhuma
e os troncos finos são roçados; o machado vem depois,
atividade de agricultura ou extrativismo. Essas dificuldades
cortando as madeiras grossas. Na véspera do plantio,
31
tor, precisa conhecer
muito bem o complexo
sistema de funcionamento da natureza: as
épocas de reprodução
dos peixes, o período
adequado para sua
captura – em que
fase da lua, em que
maré, se à noite ou
durante o dia – e o local
propício para a pesca de
cada espécie.
Quantos são esses
pescadores? É difícil
A pesca
calcular seu número,
Pesca artesanal é
A
pesca
comercial
utiliza
barcos
motorizados
e
emprega
pescadores
pagando
salários.
mas o que importa saber
aquela realizada nos
Traineira em Ubatuba – litoral norte de São Paulo.
é que o fruto da sua
rios, nos estuários e
atividade abastece
no mar, próximo ao
significativamente mercados locais e regionais.
continente, com instrumentos em geral confeccionados
A partir da década de 60 a pesca industrial/empresarial
pelos próprios pescadores e embarcações simples, muitas
passou a exercer grande pressão sobre a pesca artesanal.
vezes sem motor.
O pescador artesanal é autônomo, não tem patrão. Traba- Com embarcações motorizadas mais velozes, redes e demais
apetrechos mais sofisticados, as empresas de pesca apanham
lha principalmente em grupos familiares ou em parceria.
o produto em locais distantes da costa e em quantidade
Embora possa dedicar-se eventualmente a outra atividade
muito maior.
como a agricultura, a pesca é sua principal fonte de renda.
A técnica de captura dos animais que têm valor comerO produto da pesca é dividido em partes com colegas da
cial, muitas vezes, depreda o estoque natural. É o caso da
comunidade: uma vai para o dono do barco e a outra é
parelha, uma técnica de pesca industrial em que dois barcos
repartida entre os camaradas ou parceiros. Muitas vezes,
quem leva esse produto até o consumidor, atualmente, é um emparelhados dirigem-se à costa, arrastando uma rede que
varre o fundo do mar e provoca a destruição da fauna e da
intermediário – chamado de atravessador –, responsável
flora marinhas. Isto porque nesse movimento capturam-se,
pela colocação do peixe no mercado.
também, filhotes e jovens que serviriam para a reprodução.
Os principais produtos da pesca artesanal no litoral
paulista são a tainha, o parati, a pescada, o bagre, a manjuba A conseqüência é a ameaça de desaparecimento das espécies
de maior interesse econômico. A parelha arrasta consigo as
e a corvina.
redes de espera e os cercos flutuantes, destruindo-os.
Para pescar, o pescador, do mesmo modo que o agriculobrigam o morador
local a procurar
trabalho nos centros
urbanos, sem habilitação para conseguir
os empregos melhor
remunerados na
cidade; assim, ele é
colocado numa
situação profissional
e de vida que,
muitas vezes, beira a
marginalidade.
.
32
A pesca industrial tem prejudicado a pesca artesanal e ao
pescador não resta outra alternativa a não ser a de tornar-se
empregado desse sistema industrial – o embarcado –, que
lhe rouba as condições que o faziam dono do seu trabalho,
um artesão. A garantia de salário e os benefícios decorrentes
do registro em carteira apresentam-se como vantagem, principalmente quando os estoques de pescado diminuem e o
mercado se organiza para a produção industrial.
Outras ameaças à pesca artesanal advêm da valorização
imobiliária nas áreas de praia e da ação da poluição, que
restringem ou degradam o espaço de pesca, obrigando o
pescador a deslocar-se por maiores distâncias, o que ele poderá fazer somente se tiver melhores condições.
.
Os “doutores” da Mata Atlântica
A intimidade das comunidades com o meio natural e o
conhecimento da fauna e da flora permitem a existência de
“médicos” na floresta. A utilização da flora para a cura de
doenças corriqueiras é muito comum entre os moradores da
mata, mas há pessoas que se destacam
pela capacidade de curar. Distinguem o
que causa os diferentes sintomas e sabem
o que fazer para curar o doente, associando plantas e materiais de origem
animal. Seu conhecimento não se resume
a informações como o tipo de planta e
onde encontrá-la, mas abrange qual a
parte indicada para cada doença e como
fazer sua combinação com outras plantas, como preparar medicamentos.
Este “doutor”, que aprendeu o que
sabe com os pais e avós e o ensinará aos
seus filhos, lida também com o aspecto
sagrado e religioso, mantendo contato
constante com os espíritos da mata, que
protegem as plantas garantindo-lhes as
virtudes. Geralmente líder religioso na sua comunidade,
acrescenta rituais, benzedura e “simpatias” aos processos
de cura.
.
A mata transformada em objetos de uso
Vários tipos de plantas são extraídas para a construção de
casas, canoas, barcos e utensílios domésticos; as folhas,
depois de trançadas, servem como telhados; e óleos, resinas
e fibras tiradas das árvores têm utilidade. É o caso do tanino
que, depois de preparado, serve para proteger as redes de
pesca contra a fixação de algas e animais.
O turismo transformou a confecção de objetos artesanais
para uso diário em atividade comercial. Essas peças feitas à
mão chamaram a atenção dos turistas que começaram a
procurá-las cada vez mais. A procura incentivou uma produção em maior quantidade, melhor acabada e mais colorida,
bem ao gosto do comprador urbano. Assim, cestos, gamelas,
cuias, abanos, esteiras e redes foram, muitas vezes, parar nas
paredes e recantos das casas, como peças decorativas.
Cerco fixo – técnica artesanal utilizada pelos
caiçaras para a pesca em rios e canais que
sofrem influência das marés.
33
Cerâmica folclórica de Apiaí.
No primeiro caso, o machado derruba pequena
quantidade; já para o aproveitamento industrial
entra em cena a motosserra, capaz de retirar
mais madeira em menos tempo. Algumas
comunidades encontram-se envolvidas com
essas duas formas bem distintas de produção.
É tempo de refletir
.
Uma economia mista
Falamos um pouco antes que a economia tradicional
misturava-se à industrial. E, de fato, há elementos como
produção em série, mercado intermediário e outros, embutidos no trabalho das comunidades da mata. Isso depende das
relações das comunidades com a sociedade mais ampla em
que se encontram inseridas. Quanto menor a resistência a
mudanças dentro das comunidades, quanto maior o grau de
contato com os centros urbanos, mais transformações vão
ocorrendo. Dá-se, assim, uma verdadeira troca de influências na economia dessas comunidades.
Bons exemplos dessa mistura ocorrem na extração do
palmito e da caxeta. Quando se destina à alimentação das
comunidades, o palmito é retirado em pequena escala; mas,
se o objetivo é abastecer os centros urbanos, muito mais
árvores são derrubadas. No caso da caxeta, sua madeira
macia presta-se à confecção de artesanato em comunidades
próximas à sua área de ocorrência e também é utilizada na
indústria para a fabricação de lápis de excelente qualidade.
Estamos chegando ao fim da segunda etapa
de nossa viagem. Neste trecho, procuramos
conhecer alguma coisa da dinâmica das relações, com o meio ambiente e com a sociedade
urbana, de pequenos grupos humanos muito
próximos da Mata Atlântica, cuja economia
privilegia uma produção de pequena escala e para os quais a
floresta é uma companheira.
Como uma forma de nos despedir dessas comunidades
tradicionais vamos participar de um acontecimento muito
importante, uma manifestação da cultura caiçara que mistura
trabalho, conhecimento, festa, e que é, enfim, expressão da
vida: a pesca da tainha.
.
Apresentação da tainha
A tainha é um peixe do mar, da família dos mugilídeos.
Cria-se, porém, em água doce e vive, durante a primeira fase
de sua vida (que coincide com os meses de verão), em
lagoas, rios e estuários, no sul do País; depois, vai para o
mar. Quando, em abril, os primeiros ventos minuanos
trazem o frio andino, as tainhas nadam para o norte, próximas à costa.
A pesca da tainha dura cerca de três meses no litoral
paulista e apresenta três fases em que o envolvimento dos
pescadores é bastante distinto.
34
Pesca da tainha
Antes da chegada do peixe, os pescadores
dedicam-se ao conserto das redes, como o
tresmalho, substituindo as partes corroídas pelo
uso no ano anterior. Fabricam redes novas que
receberão o tratamento de um banho de tanino
feito com a casca da aroeira, mangue vermelho ou
cajueiro, por exemplo, antes de estrearem nas
águas do mar.
No final do mês de maio, quando chega o vento
sudoeste, “o vento que encosta a tainha”, os pescadores sabem que o peixe se aproxima e saem, à
noite, à sua procura. Neste início não importa
tanto o lucro que possa advir da venda do peixe,
mas a emoção de ostentar os primeiros resultados
da pescaria.
Os meses de junho e julho representam o ponto alto da
pesca. Os pescadores estão organizados e voltados inteiramente para esta tarefa. Mesmo aqueles que se dedicam
à pesca de outros produtos têm que aproveitar a chegada
da tainha, para garantirem a sua subsistência. No final de
cada tarde, um “vigia” se coloca numa posição de onde
possa observar o mar e, ao perceber a movimentação do
cardume, anuncia-o aos outros. Todos tomam posição
nos barcos, cada qual com sua tarefa, e passam, muitas
vezes, a noite toda pescando. O resultado da pesca é
dividido em partes.
A festa da tainha é o grande acontecimento social para
esses caiçaras. É comemorada no dia de São Pedro – padroeiro dos pescadores –, ou de outros santos, cuja data
coincida com a temporada da tainha, conforme a região.
Com o mês de agosto vai terminando a pesca. O “peixe
de arribada” – aquele que sobra – está começando sua volta
para o sul. Outras espécies de peixe vão requerer outros
instrumentos, outra rotina.
.
Comparando as coisas
Podemos aproveitar a descrição da pesca da tainha para
fazer uma ligeira comparação com as rotinas de trabalho de
um habitante qualquer da cidade grande. Vamos lá?
• Na cidade há uma separação clara entre moradia e local de
trabalho; para o caiçara, o espaço do trabalho é um prolongamento do local onde ele mora.
• O tempo do trabalhador urbano é o tempo do relógio, seu
ritmo está ligado às exigências da produção; na pesca, a
natureza é quem dita o ritmo da vida.
• A escola é, no meio urbano, um importante espaço de
aprendizagem da profissão; na arte da pesca – inclusive a
técnica de construção de embarcações e instrumentos – todo
o conhecimento é aprendido na prática do trabalho, ao
acompanhar os mais velhos, desde cedo, na realização das
atividades.
Essas diferenças nos dão a idéia de como é possível, em
35
lugares bem próximos no espaço e no tempo, coexistirem
modos de vida tão distintos.
Quando nos interessamos em compreender uma cultura
diferente da nossa, temos que estar atentos para o fato de
que vamos fazê-lo a partir do nosso ponto de vista, usando
as nossas medidas e os nossos valores, o que pode nos levar
a julgar como inferior aquilo que é diferente.
Cada cultura tem suas características. Conceitos como
progresso, civilização, novo e moderno são relativos; não
guardam em si garantia absoluta de qualidade ou vantagem.
Tendo isso em mente, estaremos abertos para o que há de
particular e interessante em outros modos de vida. Nem
melhores, nem piores, apenas diferentes!
Mas, afinal, o que nos interessa em tudo isso?
O simples fato de existir comunidades tradicionais convivendo com uma população urbana, num sistema industriali-
zado, já seria motivo de interesse para uma análise e um
registro. Mais do que isso, interessa-nos identificar e divulgar formas menos agressivas de explorar a natureza, numa
área importante, em que se encontra o pouco que resta da
Mata Atlântica em São Paulo.
Não se pretende substituir tecnologias avançadas de
produção pelas formas tradicionais aqui apresentadas.
As relações que essas comunidades estabelecem com o
meio natural não são modelo para sociedades urbanas,
com milhões de habitantes. Porém, o desenvolvimento
tecnológico e o avanço científico não substituem o conhecimento empírico e as formas tradicionais de vida.
A alternativa que se coloca é a possibilidade de reunião
de diferentes formas de saber – o tradicional e o moderno
– para, quem sabe, a partir disso, começarmos a desenvolver sem destruir.
36
Porto de Santos localizado no estuário da Baixada Santista.
37
38
ESTAÇÃO DE EMBARQUE Nº 3: O HOMEM E O URBANO
P
elo modo como temos caminhado até agora, fica claro
que os índios e as comunidades
tradicionais não são os únicos
habitantes da região pela qual
viajamos. Ao contrário, representam
uma minoria, no meio da vasta população urbana que vive de forma muito
diferente, oposta mesmo, onde as atividades econômicas obedecem a
outro ritmo – o tempo da fábrica
–, cujas origens encontram-se
muitos séculos atrás e longe do
Brasil, na Europa, que vivia
um período de plena expansão
comercial.
Voltemos no tempo e atravessemos o Oceano Atlântico. Continuemos viajando.
Uma volta a 1500
Tudo começou porque Portugal, dotado de um projeto
mercantil colonial semelhante ao de
outros países da Europa, entre os
séculos XV e XVI, expandiu seus
domínios, cruzando os mares e
apossando-se das novas terras encontradas. Foi por isso que, navegadores
europeus e, no caso do Brasil, principalmente os portugueses, empreenderam viagens a terras americanas,
procurando novas fontes para o abastecimento do mercado mundial.
O Brasil, como uma dessas fontes,
acabou sendo transformado em colônia
de Portugal.
Ao desembarcarem na costa
brasileira, os portugueses traziam
em sua bagagem uma visão da
natureza bem de acordo com o
momento expansionista em que
se encontravam. A atração
exercida pela fauna prendiase à possibilidade de exploração dos recursos naturais
que representava. A natureza aí estava, pronta para ser
39
usufruída e aproveitada. Para o colonizador, o fantástico
desafio de dominá-la, transformando-a em objeto de lucro,
constituía a motivação para suas ações. Implantou-se aqui
uma economia predatória, na qual importava retirar, de
imediato, o que tinha valor comercial, sem qualquer preocupação com o futuro da colônia. Foi o início de uma atitude
de destruição da natureza que, depois, incorporou-se ao
modo de vida da sociedade brasileira.
A extração, concentrada nos recursos naturais que interessavam à Coroa, localizou-se, inicialmente, apenas em
alguns pontos da colônia, devido às limitações de
conhecimento do território e da capacidade de absorção,
pelo mercado mundial. Assim, trechos da costa atlântica,
revestidos por exuberante mata, começaram a sofrer a
extração dos seus recursos, como o pau-brasil, e a servirem
para o cultivo do que mais interessava, no momento, ao
mercado mundial, que era a cana-de-açúcar.
Pela proximidade com o litoral, a Mata Atlântica foi a
floresta mais prejudicada com a entrada deste novo homem
em cena – o colonizador. Como diz Vital Farias, num trecho
da sua canção Saga da Amazônia, “se a floresta, meu amigo,
tivesse pé para andar, eu garanto, meu amigo, com o perigo,
não tinha ficado lá”.
.
Mata Atlântica, a preferida do colonizador
Uma das regiões mais exploradas desde o início da
colonização foi o litoral brasileiro, onde naquela época
predominavam as matas atlânticas e outros ecossistemas
associados. As matas atlânticas acompanhavam o litoral
brasileiro, do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul.
Em São Paulo, foram exploradas desde os primeiros ciclos
econômicos, na época da Colônia.
Duas vilas destacaram-se na história do Brasil Colônia:
a Vila de São Vicente e a Vila de São João Batista de
Cananéia, fundadas na primeira metade do século XVI. Sua
localização era estratégica e correspondia ao que os portugueses procuravam em toda costa: pontos favoráveis para a
atracação9 das embarcações, com águas calmas e protegidas.
.
Jóias para a Coroa
De Cananéia partiram para o interior expedições em
40
busca de ouro e pedras preciosas. Da primeira, que seguiu
para o interior pelo rio Ribeira de Iguape, não se teve notícias, mas o ouro foi encontrado algum tempo depois, no alto
desse mesmo rio, nos atuais municípios de Apiaí e Iporanga.
Nessa região, que corresponde hoje ao Vale do Ribeira e
ao litoral sul de São Paulo, o ouro foi o principal produto de
exploração e o centro de todas as atividades. Vários povoados foram fundados nas margens do rio e o porto de Iguape
passou a realizar as exportações. A cidade, transformada em
pólo regional, viveu seus “anos dourados” enquanto durou
esse ciclo.
.
O Ciclo da cana
Mais ao norte, a Vila de São Vicente firmava-se.
A paisagem começava a ser alterada com a introdução de
animais domésticos, como o gado e o cavalo, e da cana-deaçúcar, trazida da Ilha da Madeira, outra colônia portuguesa.
Na planície costeira, estabeleceram-se extensas lavouras
canavieiras e grandes engenhos junto às grandes propriedades, o que gerou uma organização do espaço com base na
monocultura – cultivo exclusivo de um produto, no caso,
a cana-de-açúcar. Sua produção era ali beneficiada e depois
exportada.
Porém, a área disponível para o cultivo da cana-de-açúcar
nessa região era limitada, devido à presença de locais
inundáveis, como brejos e mangues, e das escarpas da Serra
do Mar, inadequadas para a agricultura. O nordeste do
Brasil, por sua vez, já estava produzindo o açúcar com
custos mais baixos, em virtude de melhores condições de
transporte e da qualidade dos solos na Zona da Mata.
A produção de açúcar da Vila de São Vicente entrou em
decadência e perdeu expressão no mercado mundial.
A função portuária passou a ser exercida em Santos que,
apresentando condições mais favoráveis de atracação,
transformou-se em pólo de exportação dos produtos do
planalto, para onde a colonização já havia se dirigido.
A cana-de-açúcar persistiu no litoral por meio de uma
nova tentativa de monocultura em grandes áreas, dessa vez
em São Sebastião e Ubatuba, no litoral norte. Essa região,
que até a metade do século XVIII manteve pequenos núcleos
41
populacionais isolados, produzindo para a subsistência,
começou a conhecer a devastação da economia predatória já
instalada em outros pontos do país. O açúcar, produzido em
larga escala, e a aguardente tinham o mesmo destino que a
produção de São Vicente no século XVI: o mercado europeu. Mas as características geográficas também aí não eram
propícias para a lavoura canavieira; o litoral recortado e as
escarpas da Serra do Mar aproximando-se da linha da costa
deixavam poucas áreas de planícies.
.
Um pouco de café?
O café para exportação também foi experimentado no
litoral norte, nos primeiros anos do século XIX. O seu
cultivo cresceu economicamente até 1850, mas foi abandonado em função da produção das lavouras do Vale do
Paraíba, que suplantaram a produção litorânea, com suas
terras mais extensas e férteis.
Assim, o ouro, a cana-de-açúcar e o café estabeleceram
ciclos que tiveram, em comum, um caráter de depredação,
palavra que tem como sinônimos saque, pilhagem, devastação. Também a pesca da baleia teve importância regional,
porque dela extraía-se o óleo utilizado na iluminação das
vilas. A Ilha do Bom Abrigo, várias localidades no município de São Sebastião e Bertioga eram locais que se destacavam e Armação, Baleia e Espia são nomes de praias que
guardam a lembrança dessa atividade extrativista, responsável pelo desaparecimento das baleias na costa paulista.
Com os interesses coloniais caminhando para outras
direções, esse litoral passou a ser ocupado de formas variadas, ligando-se à metrópole apenas com relação ao escoamento dos produtos da terra, principalmente através do
porto de Santos.
O povoamento já estabelecido continuou a desenvolverse, baseado, na maior parte das áreas, numa agricultura de
subsistência. No entanto, nota-se a presença de ciclos bem
pontuais, como o do arroz, em Iguape, no fim do século
XIX e início do século XX.
Um salto para a era industrial
De 1822, data da independência do Brasil, até as primeiras décadas de 1900, alguns trechos das regiões litorâneas e
da Serra do Mar mantiveram-se à margem do desenvolvimento do Estado, o que permitiu a recuperação natural de
muitas áreas devastadas, que hoje formam a mata secundária
existente.
No final do século XIX, algumas indústrias de pequeno
porte haviam se instalado no litoral. Eram fábricas que
beneficiavam produtos agrícolas, como o arroz em Iguape e
a banana na Baixada Santista, além de olarias e curtumes.
Indústrias de anilinas, adubos e papel foram implantadas no
litoral central.
Essa situação perdurou até meados do século XX, quando a economia predatória retornou ao litoral, desta vez não
Mapa de Cubatão em 1852.
42
mais para extração de recursos, mas visando o aproveitamento do solo para a
construção. Novamente, os
interesses e as decisões
encontravam-se distantes
dali.
A infra-estrutura de
transporte montada como
apoio às atividades do porto
de Santos favoreceu a concentração industrial, o
desenvolvimento do comércio e das atividades de
serviço, e a conseqüente urbanização da Baixada Santista.
As condições ambientais e a proximidade com o maior
centro produtor e consumidor – São Paulo –, aliadas às
facilidades do transporte nacional e internacional oferecidas
pelo porto, trouxeram para a região o maior pólo petroquímico do País. Foi uma decisão oportuna, na perspectiva
dos grandes interesses econômicos, que, no entanto, provocou resultados dramáticos em termos ambientais.
Bairro-cota, nome dos assentamentos
nos limites do Parque Estadual da
Serra do Mar, na região de Cubatão.
com extensas formações de
manguezais. É uma região
de grande crescimento
econômico, com graves
problemas decorrentes da
industrialização, principalmente em Cubatão, onde a
urbanização caótica criou
sérios problemas
ambientais. O turismo sem
planejamento na Baixada
Santista criou também uma paisagem urbana marcada pelos
arranha-céus, que criaram outra muralha, agora de cimento e
concreto. Nesta região, a Mata Atlântica tem uma parte
protegida pelo Parque Estadual da Serra do Mar – que é o
maior parque do Estado.
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BA
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Falando um pouco da Baixada Santista...
especialmente de Cubatão
A paisagem do litoral central ou Baixada Santista
é marcada pelas escarpas da Serra do Mar, uma
muralha coberta por florestas que cercam o mar,
como bem observaram os colonizadores
portugueses ao chegarem a essa região. Da
muralha ao mar, uma rede de drenagens desce e
encontra a planície formada por cordões arenosos da restinga, e uma grande área estuarina
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Mapa do litoral central.
43
pudesse suprir de energia elétrica o
A Baixada Santista é formada por
novo empreendimento.
vários municípios, como mostra o
Com a refinaria chegaram outras
mapa. Além de Cubatão e dos muniindústrias nacionais e estrangeiras,
cípios costeiros, fazem parte da Baicujo objetivo era utilizar produtos e
xada Santista várias ilhas, dentre elas
subprodutos dela gerados, ou aproa de São Vicente – onde se localiza a
veitar a infra-estrutura e as vantagens
sede do município de Santos – e a de
governamentais concedidas para a
Santo Amaro – onde fica o município
formação daquele pólo industrial.
de Guarujá.
Em 1964 foi instalada a CompaA cidade de Cubatão fica na planínhia Siderúrgica Paulista – Cosipa,
cie onde se dá o encontro da foz de
a maior siderúrgica do País, para a
dois grandes rios que descem a Serra
produção de chapas de aço destinado Mar: o Cubatão e o Mogi. Essa
das principalmente à fabricação de
planície é cercada quase totalmente
automóveis.
pela escarpa da Serra do Mar.
Atualmente, o pólo abrange mais
Os ventos que vêm do mar, enconde 20 indústrias, a maioria delas para
trando esse obstáculo, elevam-se e
fabricar produtos químicos, como
provocam aquela neblina tão caractecloro, soda cáustica, ácido clorídrico
rística da serra; porém, é pouca a
e fertilizantes.
circulação do ar.
Sangramento das encostas da Serra decorrente
Num local assim, em que o ar
da poluição na região do pólo industrial
E olha aí o resultado
quase não se renova, a fumaça que sai
de Cubatão, em 1985.
A decisão de destinar parte da área do
das chaminés das fábricas causou uma
município à atividade industrial
poluição de dimensões dramáticas
desafiou a administração pública a lidar com os sérios
para a vida das pessoas e da vegetação. Pois foi exatamentranstornos causados à população local.
te nessa região que se implantou um pólo petroquímico.
Os altos índices de poluição do ar literalmente destruíram a vegetação das encostas, que não se refez. Perdendo
Refinando o petróleo e engrossando o caldo
as plantas que o seguravam, o solo da escarpa sofreu
Na década de 50, o governo federal decidiu implantar
violenta erosão. A terra deslocada com a erosão começou a
uma grande refinaria de petróleo no País – a Refinaria
assorear10 o estuário, comprometendo a reprodução de
Presidente Arthur Bernardes. Depois de acirrada disputa
inúmeras espécies animais e vegetais. Todos os ambientes
política entre os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, a
foram afetados. Até as indústrias passaram a correr perigo
escolha recaiu sobre São Paulo.
por causa desses escorregamentos. O assoreamento atinForam investidos muitos recursos públicos na região.
giu também o Porto de Santos que, pelas suas condições
Por exemplo, o curso do rio Pinheiros na capital paulista
geográficas, exige ser dragado periodicamente para manter
teve de ser revertido, para que a Usina Henry Borden
.
.
44
a sua profundidade. Além
disto, muitas indústrias
foram construídas em
aterros sobre manguezais.
Os resíduos industriais, por
sua vez, contaminaram as
águas e o solo, provocando
sérios problemas de abastecimento.
Deste quadro, resultaram graves conseqüências
sociais e para a saúde.
A construção das indústrias atraiu trabalhadores
de várias partes do Brasil,
muitos dos quais, terminadas as obras, ficaram
desempregados, tendo de se valer do subemprego
para sobreviver.
Os moradores antigos também sofreram com as
profundas mudanças que as indústrias trouxeram para o
seu modo de vida. Quase sem espaço e com o ambiente
degradado, não podiam exercer plenamente suas atividades. Marginalizaram-se.
A vida em condições de extrema pobreza transformou
esses grupos sociais em agentes da degradação. Isso porque houve ocupação de áreas impróprias para a habitação:
barracos foram levantados nas encostas da Serra e nos
manguezais, colocando a vida em risco, frente ao perigo de
deslizamentos iminentes a cada temporada de chuvas.
Produtos perigosos transportados em encanamentos subterrâneos provocaram graves acidentes, como a explosão
ocorrida na Vila Socó, em 1984.
.
Correndo para pagar o prejuízo
Face a este cenário insuportável de poluição e devasta-
Plântula de Tibouchina pulchra,
espécie utilizada na semeadura
aérea para recuperar as encostas desmatadas da Serra do Mar,
no setor que margeia Cubatão.
ção, que se tornou de
conhecimento público e
sensibilizou a sociedade
civil nacional e internacional, o governo do
Estado de São Paulo
começou a buscar soluções para prevenir, recuperar e remediar o mal já
instalado.
Diversos órgãos
receberam verbas para
pesquisas que permitissem acompanhar e controlar as fontes
de poluição do ar, da água e do solo, e fiscalizar as indústrias, principalmente quanto à instalação de filtros nas
chaminés e tratamento de efluentes industriais. Um programa de controle permanente da poluição e dos
escorregamentos foi criado na década de 80, e várias outras
ações governamentais desencadearam-se na região. Muitas
obras foram realizadas para contenção de encostas, com a
finalidade de reduzir o perigo de escorregamento da Serra, a
cada estação de chuvas.
Os canais assoreados pelo material proveniente da
destruição dos manguezais foram dragados3 e, para
recuperar a vegetação das encostas da Serra, foi realizada,
em caráter experimental, a primeira semeadura aérea de
espécies nativas.
.
“Nós vamos invadir sua praia”
Outro aspecto bastante polêmico do desenvolvimento é a
atividade turística, da forma como ela acontece no Brasil.
45
No litoral do Estado de São Paulo, tudo começou na Baixada Santista.
O município de Santos sempre se destacou como balneário. Nas primeiras décadas deste século, as chácaras de
veraneio na orla marítima foram substituídas, aos poucos,
por palacetes de propriedade de fazendeiros e comerciantes
do café. A implantação da infra-estrutura hoteleira na região
teve início em 1914, com a inauguração do Hotel Parque
Balneário, na praia do Gonzaga, que funcionava também
como cassino.
Nos anos 30, Santos começou a receber um público de
todas as camadas sociais, o que gerou a necessidade de
diversificar os tipos de alojamento: palacetes passaram a
funcionar como pensões e proliferaram as cabines para
banho e troca de roupa, na avenida à beira-mar.
Tômbolo que liga a Ilha Porchat (primeiro plano)
à Ilha de São Vicente (segundo plano).
Com a inauguração da via Anchieta, em 1947, a situação
sofreu nova mudança: o acesso a Santos ficou muito mais
rápido, significando uma alternativa de lazer para o
paulistano, que já podia descer a Serra de trem, ônibus ou
automóvel e permanecer no litoral apenas por um dia.
O paulista do interior também tinha onde passar suas férias,
ou mesmo o fim de semana.
O panorama da orla transformou-se rapidamente com a
construção de edifícios de apartamentos, cujo apelo
promocional era o de uma segunda residência, ou de um
investimento seguro. O comércio de produtos e serviços
cresceu rapidamente para atender a um volume enorme
de pessoas.
A construção da Rodovia dos Imigrantes, no início da
década de 70, e da Pedro Taques, facilitou ainda mais o
acesso à Baixada Santista. Santos ressentiu-se e começou a
mostrar sinais de saturação: a falta de água, energia, problemas de esgoto e de abastecimento de produtos tornaram-se
fatos comuns. Suas praias poluíram-se, perdendo as condições de uso durante os períodos de férias. O espaço urbano,
repleto de edifícios, fechou a paisagem da orla marítima.
A expansão para outras áreas tornou-se inevitável e o caminho foi São Vicente, Ilha Porchat e Guarujá.
A partir da década de 70, a Prefeitura de Santos restringiu a utilização das praias, fechando as cabines de banho e
proibindo o estacionamento de ônibus fretados. Lá se foram
os chamados “farofeiros” em direção à Ponte Pênsil. Atravessando-a, sairam para outros locais, principalmente a
Praia Grande.
E o fluxo turístico foi caminhando: Mongaguá, Suarão,
Itanhaém, Peruíbe. Inúmeros bairros cresceram entre esses
centros mais populosos. Os veranistas que freqüentavam o
Guarujá, tornaram a balsa mais uma vez, agora com destino
à Bertioga e outras praias mais isoladas.
46
Vista de uma das poucas praias e restingas não atingidas pela
especulação imobiliária, no litoral norte de São Paulo. Praia da
Fazenda – Núcleo Picinguaba – Parque Estadual da Serra do Mar.
Pela estrada afora... para o litoral norte
As estradas Piaçaguera-Guarujá e Mogi-Bertioga
intensificaram a tendência para o nordeste do Estado,
porque eliminavam as longas filas à espera de uma balsa.
Porém, o que permitiu que o turismo em grande escala
pegasse a estrada rumo a esse litoral exuberante, foi a
construção da Rio-Santos – a BR 101 – famosa por seu
traçado, muitas vezes, a poucos metros do mar.
A paisagem observada da estrada que serpenteia pelas
escarpas, morros isolados e planícies, é magnífica. De
muitos pontos o viajante pode apreciar a costa recortada,
cujo relevo irregular causa um efeito de forte impacto,
que a cor turquesa do mar ajuda a reforçar. Em vários trechos as ondas arrebentam nos costões rochosos de esporões
da Serra do Mar.
Esse litoral rendilhado inclui baías onde se
concentra o maior número de ilhas rochosas
do litoral paulista. As que podemos
observar nada mais são do que
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antigos morros, os quais
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um dia, quando o mar esteve mais recuado, portanto mais
baixo, já estiveram ligados ao continente. Por isso sua
vegetação apresenta características semelhantes àquelas
encontradas na Serra do Mar.
Até 1950, a situação dos moradores dos diversos bairros
dos municípios do litoral norte, inclusive das ilhas, era de
relativo isolamento, pois dependiam quase que somente do
mar como via de contato. Havia poucas estradas de terra e
apenas algumas trilhas abertas na mata, como a antiga rota
de tropeiros ligando Ubatuba a Parati, atual Trilha do Corisco, no Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo
Picinguaba.
A construção da estrada Caraguatatuba-Ubatuba deu
início à interligação entre os municípios do litoral norte, mas
foi somente nos anos 70, com o início dos investimentos no
setor imobiliário, que a região deu um salto quanto ao fluxo
de visitantes. A abertura da Rodovia dos Tamoios – na altura
de São José dos Campos – que desce até Caraguatatuba, e
alguns trechos da Rio-Santos, uniram pontos importantes
Litoral norte
47
Litoral norte de São Paulo – no
primeiro plano, Ilha das Couves; no
segundo, Núcleo Picinguaba do
Parque Estadual da Serra do Mar.
desse pedaço do litoral e também foram responsáveis pelo
crescimento sócioeconômico da região. Hoje, a Rodovia
Carvalho Pinto também se tornou uma nova interligação
importante e provavelmente desencadeará novos processos
sócioeconômicos.
.
De Bertioga a São Sebastião
Saindo de Bertioga, depois de ampla planície com áreas
inundáveis de ambos os lados da estrada, surge uma seqüência de praias, de tamanho muito variado. Após cada curva,
uma nova imagem: a praia de Toque-Toque, por exemplo,
com sua belíssima cachoeira na beira da estrada. Em vilas
mais populosas, como Boissucanga, predominam as casas
de veranistas, os hotéis e as pousadas. Na direção da Serra,
temos o chamado “sertão”, onde agora vivem os caiçaras,
cada vez mais distantes do
mar. Em muitas praias desembocam pequenos rios que
se pode acompanhar até o pé
da serra. Durante o percurso,
poços e cachoeiras com o
fundo pedregoso e as águas
geladas compõem um cenário
perfeito para a magia de
borboletas amarelas que
brincam em pleno ar.
Alguns rios deste trecho,
como o Juqueí, tiveram o
curso alterado, próximo ao
mar, em função de
escorregamentos durante a
construção da BR-101.
O município de São Sebastião tem um centro urbano com
infra-estrutura de bancos, supermercados, um comércio
variado e o porto, que guarda a lembrança de glórias passadas, além de ser considerado como um dos principais terminais petrolíferos do Estado de São Paulo. Tudo isto faz de
São Sebastião um município com função de pólo para a rede
de cidades vizinhas, principalmente para a lindíssima
Ilhabela, que fica bem em frente.
O Terminal Almirante Barroso–Tebar da Petrobras é uma
extensão de Cubatão no litoral norte. Recebe petróleo vindo
do exterior, envia-o à Refinaria Arthur Bernardes através de
oleodutos e recebe-o de volta, dessa vez para distribuir o
produto já refinado a vários pontos do território nacional.
Instalado na década de 60, trouxe consigo a ameaça e a
concretização de grandes desastres ecológicos. Os constan48
Costão rochoso em Caraguatatuba.
tes vazamentos de óleo de
grandes proporções destroem
a fauna marinha e chegam
até as praias, prejudicando a
pesca dos moradores locais e
o lazer dos turistas.
.
Ilhabela
Mesmo de longe, Ilhabela
encanta o observador. Atravessando o canal de São
Sebastião, a beleza se confirma: são praias, costões,
cachoeiras e a água límpida,
agitada por cardumes coloridos. A arquitetura arrojada
de algumas casas de veraneio
impõe-se na paisagem,
contrastando com a simplicidade das moradias dos
pescadores. No pequeno centro urbano, as construções nos
remetem ao passado da Vila Bela da Princesa, famosa pela
produção de açúcar e aguardente de primeira qualidade.
Cerca de 80% da ilha encontram-se protegidos pelo Parque
Estadual de Ilhabela, que abrange outras ilhas do arquipélago, entre elas, a Vitória e a de Búzios.
.
Caraguatatuba
Caraguatatuba é a cidade que mais cedo conheceu o
turismo no litoral norte. A facilidade de acesso às suas
praias tornou-as muito procuradas principalmente durante a
década de 50. Isso provocou a instalação de uma infraestrutura de serviços que contribuiu para o aumento da
população urbana. Ainda hoje, muito freqüentada por turis-
tas, Caraguatatuba tornou-se ponto de passagem para quem
se dirige a outras praias do litoral, descendo pela Rodovia
dos Tamoios. No quilômetro 20, na pista que desce, encontra-se o acesso ao Núcleo Caraguatatuba do Parque Estadual
da Serra do Mar.
.
Ubatuba
Nessa costa bastante recortada, Ubatuba destaca-se com
um colar de pequenas praias que seguem rumo à divisa com
o Rio de Janeiro.
O centro urbano, como o de outras cidades desta porção
do litoral, dispõe de infra-estrutura tanto para os moradores
locais como para turistas. No Perequê-Açu, o convívio entre
moradores e turistas é muito próximo. Praias mais distantes
49
Índios de uma aldeia na
região de Ubatuba.
do centro fazem o
contraponto, alojando exclusivamente turistas, em
condomínios de alto luxo e
residências que reproduzem
os padrões de conforto da
cidade grande.
O Saco da Ribeira, o mais
importante atracadouro da
região, parece um pátio de
estacionamento para lanchas, iates e escunas, que os
proprietários vêm usar nos
períodos de férias ou feriados. Este ponto é saída para
o Parque Estadual da Ilha
Anchieta onde, além das
belezas naturais, encontra-se
um antigo presídio de triste
memória, que abrigou presos políticos na época do Estado
Novo, período da ditadura de Getúlio Vargas. O edifício foi
projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e tombado pelo
Patrimônio Histórico.
De volta ao continente e sempre para o norte, a estrada
segue os contornos da serra: ora plana, quase no nível do
mar, ora sinuosa, a alguns metros de altitude, permitindo ver
o mar salpicado de pequenas ilhas. A pujante vegetação
encontra-se protegida pelo Parque Estadual da Serra do Mar/
Núcleos Santa Virgínia e Cunha, na serra, e Picinguaba, na
costa. Neste último, a vila do mesmo nome e o bairro do
Camburi reúnem antigos povoados de pescadores, a casa da
farinha restaurada de uma fazenda, além de importantes
ambientes costeiros.
.
Turismo no litoral norte: culpado ou inocente?
O turismo parece a atividade mais adequada ao potencial
desta belíssima região. Porém, a política de abertura de
estradas por parte do governo federal favoreceu uma atividade imobiliária selvagem, onde se permitiu o investimento
maciço na construção de condomínios de luxo, que exigiram
o desmatamento de grandes áreas, ou o avanço para a orla
marítima. Uma verdadeira barreira de moradias modificou a
paisagem, impedindo, muitas vezes, o acesso às praias e
interferindo até mesmo na visão que se pode ter do mar a
alguma distância. Esses condomínios e loteamentos
encontraram clientela principalmente na elite paulista que,
fugindo da saturação do turismo na Baixada Santista, procurava locais mais sossegados para o seu lazer.
50
Outra conseqüência da abertura de acesso sem planejamento e sem restrições de uso do solo, desrespeitando, aliás,
leis já existentes, foi uma vertiginosa valorização das terras
localizadas à beira-mar, onde viviam e trabalhavam os
caiçaras – tradicionais moradores das praias. Empurrados
para o interior, muitos deles mudaram-se para o “sertão”, ou
para os bairros periféricos dos centros urbanos próximos.
Até as encostas – áreas de risco ambiental ou de proteção a
mananciais12 de abastecimento para cidades litorâneas –
começaram a ser habitadas. Os mesmos problemas se repetiram nas ilhas litorâneas, exploradas por esse tipo de turismo.
O litoral norte, pelos recursos naturais que oferece à
contemplação e ao lazer, pela posição geográfica em que se
encontra, muito perto de grandes cidades do Vale do
Paraíba, e pela facilidade cada vez maior de acesso, é um
grande pólo turístico do Estado de São Paulo. Mas não se
deve reproduzir neste trecho o que aconteceu na Baixada
Santista, sob risco de vermos sucumbir, ao mesmo
tempo, uma fonte
de renda para a
população local e
IGUAPE
as belezas que
encantam
CA
N
É
AN
IA
ILHA COMPRIDA
qualquer pessoa sensível.
Aliás, desafios semelhantes apresentam-se no último
trecho dessa nossa viagem: o litoral sul e sudeste, e o Vale
do Ribeira.
Pegando a estrada para o litoral sul
Um dos caminhos para se chegar ao litoral sul é por
Peruíbe, seguindo pela Rodovia Pedro Taques. Em Peruíbe,
podemos sentir o primeiro impacto das sensações que vão
nos acompanhar na visita a essa região: o majestoso Maciço
do Itatins, protegido pela Estação Ecológica de JuréiaItatins, ao pé do qual serpenteia o rio Una do Prelado. E por
todo o litoral sul e Vale do Rio Ribeira de Iguape a
imponência da vegetação, a imensidão das águas e a originalidade dos extensos manguezais nos passarão uma impressão de natureza intocada de grande beleza cênica.
Mas para entrarmos em contato com o homem que vive
nessa região, escolhemos um outro trajeto, que sai da cidade
de São Paulo e entra em diversos municípios desse trecho
majestoso da Mata Atlântica.
Da capital paulista rumo ao sul pela Rodovia Régis
Bittencourt, BR-116, passamos por uma região
intensamente urbanizada, próxima a São Paulo. Após
Taboão da Serra, a paisagem começa a mudar. É o “cinturão
verde”: chácaras de lazer e vastas hortas
responsáveis em grande parte pelo abastecimento de
hortifrutigranjeiros da capital.
A vegetação que vemos da estrada até onde a vista alcança é remanescente da própria Mata Atlântica. Lembremonos das condições climáticas desta parte da Serra, da elevação e do resfriamento dos ventos vindos do Oceano Atlântico, e muito cuidado com a neblina!
Litoral sul
51
Pequenos bairros em pontos esparsos da estrada dedicam-se à prestação de serviços
ao viajante. Bem mais para
dentro da floresta, próximo ao
município de Miracatu, há
povoados que desenvolvem
a agricultura para auto-sustento e que obtêm sua renda
através da extração de produtos da mata.
Terminada a descida da
Serra, entramos numa vasta
região plana. A sinalização
anuncia o município de
Juquiá. Ali, no início do século
XX, foi construída a ferrovia
Santos-Juquiá, que alterou o
fluxo de transporte, dirigido
até então para o litoral do
próprio Vale, no sentido da
Baixada Santista. Isso reforçou
uma tendência já existente de
centralizar todas as exportações do Estado a partir do
Porto de Santos. Mais alguns
quilômetros e passamos por
uma ponte sobre o maior rio
de todo o trajeto: o Ribeira de Iguape.
.
guesa –, no começo da colonização.
No início do século XX, imigrantes
japoneses instalaram-se no local por
conta de um projeto de assentamento
agrícola, apoiados por uma agência de
seu país, a KKKK-Kaigai Kogai
Kabushi Kajsha/Companhia Ultramarina de Empréstimo S/A. Os japoneses
se dedicaram à agricultura, produzindo
novos produtos e técnicas de cultivo.
As plantações de chá que são vistas da
estrada passaram a ocupar vastas
áreas, tanto em Registro, quanto em
municípios vizinhos. Após beneficiamento em indústrias locais, o chá –
um dos principais produtos agrícolas
da região – é exportado, além de
abastecer o mercado interno.
Retomando o caminho, deixamos a
BR-116, a única rodovia que liga o sul
ao sudeste do Brasil, e entramos
na estrada que atravessa a pequena
cidade de Pariqüera-Açu, em direção
à Iguape.
Registro
Conhecida como a “capital do Vale”, Registro destaca-se
pela infra-estrutura de que dispõe. Localizada nas margens
do rio Ribeira, foi o ponto de passagem daqueles que se
aventuravam em busca do ouro; ali era cobrado o quinto –
imposto sobre a extração do ouro devido à Coroa Portu-
.
Iguape
As ruas e edificações revelam um
passado de muita riqueza. No século
XVI, esta cidade fundada na foz do rio Ribeira de Iguape
sediava o principal porto para escoamento do ouro encontrado no alto do rio Ribeira, o que a tornou um pólo regional.
Até companhias teatrais européias apresentavam-se regularmente na cidade.
Terminado o ciclo do ouro no final do século XVIII, o que
sustentou Iguape a partir daí foi a característica de cidade
portuária. Em meados do século XIX, um fato novo veio
Prédio da Cooperativa Agrícola de Registro.
52
Vista aérea da cidade de Iguape.
alterar este quadro: a decisão de reduzir o trecho final do
percurso até o porto. Para isso, foi necessário abrir um canal
artificial entre o rio e o Mar Pequeno, cortando perpendicularmente a planície e transformando parte de Iguape numa
ilha. Porém, pouco depois de
construído, a ação da correnteza provocou desbarrancamentos, alargando tanto o leito e as
margens do canal que ele
passou a ser o caminho preferencial do rio. Os sedimentos
carregados para o Mar Pequeno
provocaram o assoreamento
do porto, inviabilizando sua
utilização. Perdia-se, assim,
uma das únicas vias de escoamento da produção da região.
A atividade mais prejudicada foi a
rizicultura. Embora o arroz produzido no Vale tenha recebido prêmios
por sua qualidade, já havia dificuldades em competir no mercado com
outras regiões produtoras. Com o
assoreamento do porto, os custos
com transportes inviabilizaram seus
preços, causando o encerramento de
mais um período de importância
econômica para a região.
Hoje, a população de Iguape
vive principalmente do aproveitamento de parte do seu potencial
turístico e da pesca da manjuba,
do camarão e da tainha.
Iguape é riquíssima em recursos naturais, como todos os
municípios do Vale do Ribeira. Não é por acaso que algumas das Unidades de Conservação mais importantes do
Estado localizam-se nessa área, como a Estação Ecológica
de Juréia-Itatins, criada a partir
de um grande movimento da
opinião pública, contrária à
proposta de se instalarem ali
usinas nucleares.
Uma balsa sai de Iguape e nos
leva ao município de Ilha Comprida, transformada em Área de
Proteção Ambiental – APA.
A Ilha formou-se a partir da
deposição de sedimentos marinhos e continentais; seu solo
arenoso resiste pouco à ocupação
Festa do Bom Jesus de Iguape.
53
Cananéia
humana e às modificações que isso traz ao ambiente, como
os desmatamentos da vegetação natural. Como o próprio
nome diz, a ilha é comprida, alongando-se numa única praia
de 70 quilômetros de extensão. Mais para o sul, surgem as
ilhas do Bom Abrigo e do Cardoso.
E agora a balsa nos levará à Ilha de Cananéia: uma
nova parada.
.
Cananéia
Cananéia foi uma das primeiras vilas ocupadas pelos
colonizadores. A arquitetura da cidade testemunha isso: ruas
estreitas e construções coloniais trazem o passado para os
nossos olhos.
Desde o início, Cananéia destacou-se por seus estaleiros,
onde se construíam embarcações marítimas e fluviais –
atividade que faz parte da vida dos moradores até hoje.
Duas grandes instalações marcam presença na beira do
canal, ambas construídas na década de 70: o Hotel Glória,
administrado até 1989 pelo governo do
Estado e, posteriormente, pela prefeitura
de Cananéia, e o entreposto de pesca que
recebe o pescado da região e abastece parte
da capital paulista.
Saindo da Ilha de Cananéia, as águas
calmas do canal da baía de Trapandé nos
levarão ao extremo sul do litoral paulista.
Do lado direito, o continente; do lado
esquerdo, o Parque Estadual da Ilha do
Cardoso, onde foi criado, também nos anos
70, o Centro de Pesquisas Aplicadas aos
Recursos Naturais da Ilha do Cardoso, o
Ceparnic. Com o objetivo de realizar
estudos sobre a região, o Centro foi
equipado com laboratórios e alojamentos
para cientistas, mas desde a sua abertura tem sido
subaproveitado.
De ambos os lados do canal uma visão fantástica: a
ondulação dos morros e a vegetação dos mangues com suas
raízes na beira d’água. Durante alguns quilômetros estaremos percorrendo um ambiente cuja importância é reconhecida no mundo inteiro: o complexo estuarino-lagunar
Iguape-Cananéia-Paranaguá13. Formado pelo encontro das
águas de rios com as águas salgadas do mar, este ambiente é
extremamente propício à vida marinha e possui os
manguezais mais preservados do País. Próximo desses
manguezais podemos ver saliências como se fossem
morrinhos de conchas: são os sambaquis ou casqueiros.
Na Ilha do Cardoso, uma ou outra casa nos chamará a
atenção. Mais adiante a fisionomia da ilha se altera: em
lugar dos morros cobertos por imensas árvores, uma planície com cerca de 500 metros separa o canal do mar. Daí até
o final da ilha, algumas pequenas vilas de pescadores com54
SAMBAQUI
Os sambaquis são amontoados de conchas, instrumentos e ossadas humanas encontradas
em algumas áreas perto de lagoas e estuários. Essas
formações estão sendo pesquisadas desde o início
deste século, e o resultado permite afirmar que povos
primitivos habitaram a região, há mais de seis mil
anos! O estudo do material revelou ainda que esses
povos desconheciam a agricultura, viviam da coleta,
pesca e caça; utilizavam instrumentos bastante rudimentares; instalavam-se em locais onde poderiam facilmente dispor de alimentos; ali permaneciam por cerca
de 40 anos e depois mudavam-se, em função do esgotamento temporário dos recursos. Ainda não se sabe
ao certo a causa do desaparecimento do “homem do
sambaqui”. Guerras com povos mais adiantados ou
alterações no ambiente natural? Não se sabe... O que
se sabe é que esses achados constituem verdadeiras
Caverna Morro Preto, uma das cavernas mais visitadas do Núcleo Santana, situada no
Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – Petar.
relíquias arqueológicas, pois por meio deles é possível
obter-se informações acerca do modo de vida do homem brasileiro daquela época.
pletam o cenário. Marujá, a maior delas, destaca-se por sua
beleza natural e pelo modo de vida de seus moradores –
profundos conhecedores do ambiente que habitam. Esse
conhecimento pode ser observado a partir de um instrumento de pesca extremamente eficiente: o cerco.
A riqueza ambiental continua em direção ao Paraná, mas
nós nos dirigiremos até alguns pontos interioranos do Vale
do Alto Ribeira, como Apiaí e Iporanga. Ali, está localizado
o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – Petar, onde o
relevo de rochas calcárias, comum nesta região, possibilitou
o desenvolvimento de inúmeras cavernas, grutas e abismos.
A visão que se tem na entrada e no interior de uma caverna
é fascinante. Além do Petar, que se destaca por possuir o
maior número de cavernas, também no Parque Estadual
Intervales e no Parque Estadual de Jacupiranga – com a
conhecida Caverna do Diabo – podemos contemplar esse
tipo de formação.
.
Muito bonito o litoral sul, porém...
Apesar da riqueza ambiental, histórica e cultural do Vale
do Ribeira esta região esteve, na maior parte do tempo, à
margem do desenvolvimento do Estado de São Paulo. Várias
atividades econômicas que se estabeleceram com sucesso
em outras regiões, foram tentadas também ali, mas, com
vias de acesso escassas e um tipo de solo pouco propício
55
para a agricultura, os resultados foram inexpressivos.
tação – os posseiros. Não bastando, existem, ainda, terras
Assim, seus municípios mantiveram-se centrados basicacuja documentação em cartório confere propriedade a mais
mente numa agricultura de subsistência e no extrativismo
de uma pessoa. Questão antiga na região, agravou-se com a
dos recursos naturais, por meio da pesca, da coleta vegetal
instalação da infra-estrutura viária e turística. A conseqüente
e da extração mineral.
valorização das terras aprofundou conflitos fundiários
Não somente o isolamento geográfico, mas também a
antigos, que resultaram em concentração das terras nas mãos
baixa densidade demográfica entre outros fatores favorecede poucos, e na sistemática expulsão e marginalização dos
ram, na década de 70, que integrantes de movimentos de
antigos moradores. Com isso, estava aberto o caminho para
contestação ao regime político
a especulação, além do aproveiinstalado no País, em 1964, ali se
tamento pelo setor turísticorefugiassem e treinassem grupos
imobiliário, que acabou ocupanguerrilheiros. Tal atividade foi
do áreas sem aptidão para a
energicamente reprimida pelo
construção, como é o caso dos
Exército, que aniquilou a guerrimangues e da restinga, e, de
lha. Porém, a partir desse episómodo especial, muitas áreas da
dio, as autoridades. governamenIlha Comprida.
tais voltaram sua atenção para a
Isolamento, pobreza, quesregião e passaram a investir em
tões fundiárias, Mata Atlântica
infra-estrutura básica, buscando
quase intocada, grande volume
diminuir o isolamento e evitar
de água, ecossistemas preciosos,
com isso o risco de repetição do
são algumas das expressões que
A Ilha Comprida – litoral sul – teve suas restingas
desmatadas para dar lugar a loteamentos.
acontecido.
definem este último ponto da
A retomada do desenvolvimennossa viagem – o litoral sul e o
to deu-se através de medidas concretas de incentivo à agriVale do rio Ribeira de Iguape.
cultura, à pesca e à ocupação imobiliária, que incluíram a
construção de inúmeras obras, principalmente estradas
É tempo de refletir
vicinais14, abrindo o acesso à região.
Muito antes disso, o litoral sul e o Vale do Ribeira já
O caminho para a busca de soluções talvez se encontre na
eram palco de problemas sociais muito graves, que permaresposta a algumas perguntas.
necem até hoje sem solução. Na base deles encontra-se a
Qual a vocação desta região, cuja forma de desenvolviquestão fundiária, ou seja, a questão da posse legítima e
mento resultou na preservação espontânea de alguns espaços
documentada das terras. A situação é complexa, porque
naturais extremamente importantes para o equilíbrio
existem ali inúmeras áreas das antigas províncias do Impéambiental da região?
rio, que passaram, a partir de 1891, a constituir território
Qual é a saída para desenvolver e, ao mesmo tempo,
dos Estados – as terras devolutas –, além de pessoas que
manter a riqueza ambiental?
ocupam as terras antes dos processos legais de regulamenHá, de fato, oposição entre desenvolvimento econômico
56
e conservação dos recursos naturais?
É justo a população de uma região considerada patrimônio de toda a humanidade arcar sozinha com o ônus de
conservá-la?
Existem mecanismos políticos e econômicos que permitam aos moradores da região desenvolver atividades econômicas compatíveis com a conservação da riqueza do seu
ambiente?
Responder a essas e a outras perguntas com ações efetivas é o grande desafio que se coloca para todo aquele que se
interessa e tem responsabilidade sobre o futuro da conservação da Mata Atlântica no Estado de São Paulo.
57
58
A capivara é o maior roedor do mundo e vive próxima a lagoas e áreas alagadas, porque só defeca na água.
59
60
ÚLTIMA ESTAÇÃO : RECUPERANDO A MATA PERDIDA
E
neste ponto vamos começar a fechar o círculo da nossa
trajetória. Até aqui vimos como e por que este conjunto
de florestas sofreu tamanha devastação. Agora vamos ver
como o homem tem reagido frente ao desafio que significa
equilibrar desenvolvimento e conservação. Muitas iniciativas no sentido de defender os recursos naturais surgiram,
fruto não apenas de ações individuais, mas de decisões
oficiais, expressas em leis.
É verdade que os objetivos da conservação desses
fragmentos de floresta ampliaram-se, embora as intervenções para recuperar a mata ainda sejam pontuais. Não é
tarefa fácil. Requer muita pesquisa, colaboração das pessoas e fundamentalmente dinheiro para investir.
São muitos os objetivos dessa recuperação. Um deles é
atenuar pressões sobre os remanescentes, criando uma
espécie de reserva complementar de matérias-primas, para
evitar o saque nas matas ainda conservadas. Outro é o de
recuperar para garantir qualidade ambiental, recursos
hídricos, biomassa vegetal etc. Existe ainda uma proposta
de criação de zonas-tampão para proteção de áreas singulares que conservam espécies originais da fauna ou da flora.
Para entender bem esta questão, vamos discutir um pouco
o desmatamento.
O desmatamento tem uma história
O desmatamento tem sido um dos principais problemas
para o que ainda restou da Mata Atlântica.
As matas atlânticas foram intensamente destruídas ao
longo da história brasileira. Originariamente, elas ocorriam
ao longo do litoral brasileiro, de norte a sul, e ocupavam
também grandes extensões de terras do interior nas Regiões
Sudeste e Sul. Hoje, restam apenas 5% de um total de
1.000.000 de quilômetros quadrados dessas matas, localizados em sua maior parte no Estado de São Paulo.
Se observarmos bem, perceberemos que as maiores
cidades brasileiras, onde vivem cerca de 80 milhões de
pessoas, ou mais de 50% da população brasileira, localizam-se em áreas em que dominavam essas matas. O mesmo acontecendo com os grandes pólos industriais, químicos, petroleiros e portuários do Brasil, que são responsáveis por 80% do PIB nacional.
O nosso Estado, por exemplo, fica numa região de
domínio das matas atlânticas. Foi aqui que elas mais
avançaram interior a dentro, por isso é que o seu
desmatamento é muito significativo. No interior de São
Paulo, quase toda a vegetação de florestas tropicais foi
61
dizimada, restando apenas algumas manchas abrigadas em
Unidades de Conservação, que significam 3% da cobertura
vegetal original. Embora os maiores desmatamentos tenham ocorrido no ciclo cafeeiro, hoje ainda temos uma
forte tendência de utilizar áreas de floresta para construir
hidrelétricas e expandir investimentos turísticos imobiliários, principalmente na zona litorânea.
No século XVI, o Estado de São Paulo possuía aproximadamente 81,8 % de seu território coberto por florestas,
segundo estudo de Mauro Victor (1975), abrangendo uma
variedade de matas determinada pelo clima e pelo relevo,
presentes desde as escarpas litorâneas até as barrancas do
Rio Paraná. Estas florestas, pouco estudadas ecologicamente, receberam denominações diferentes, conforme
a condição de localização e clima em que se desenvolveram ou, simplesmente, conforme a sua fisionomia.
Assim, é possível encontrar na literatura, principalmente
nos relatos de botânicos e viajantes naturalistas, designações, tais como: florestas pluviais (as da faixa litorânea), mesófilas de
interior, de altitude (nas regiões serranas),
matas frias de araucária (no planalto atlântico), entre outras.
Várias destas formações foram praticamente extintas durante os diferentes ciclos
econômicos que comandaram a agricultura, a
industrialização e a urbanização. Atualmente, as chamadas mesófilas e as matas
de araucárias, destruídas com a expansão
do café, estão representadas por pequenas
manchas isoladas.
No sudeste brasileiro, à época do ciclo do
café, os desmatamentos progrediram pela
região litorânea, a partir da fronteira com o
Estado do Rio de Janeiro, alcançando o Vale
do Rio Paraíba. A cafeicultura expandiu-se
para o interior, abrangendo quase todo o Estado, e nos anos
20 deste século, a devastação já havia reduzido a cobertura
original a 44,8% de sua área total. Na década de 50,
restavam apenas 26%. Hoje as estimativas apontam remanescentes de cobertura florestal em torno de 8,3% para
todo o Estado. Outras culturas também colaboraram para a
extinção das florestas paulistas, como a do eucalipto e do
pinheiro do Caribe, a da cana-de-açúcar e as pastagens.
Estas estatísticas devem ser olhadas com cuidado pois
se referem também a uma média para o Estado. No Vale do
Ribeira encontram-se as maiores extensões de florestas
remanescentes, significando uma porcentagem de mais de
50% de sua área original.
Flores que sinalizam a presença de mata secundária irrompem
do majestoso dossel verde da Mata Atlântica.
62
Áreas cobertas por remanescentes de mata atlântica e ecossistemas associados no Estado de São Paulo.
1985
Classe
Floresta
Restinga
Mangue
ha
1.792.629
175.936
16.460
1990
%*
7,42
0,73
0,07
há
1.731.472
174.793
16.359
Evolução da perda de cobertura florestal no Vale do
Ribeira – Estado de São Paulo.
Ano
Área (x100 ha)
Área* (%)
1500
15.000
94,5
1854
14.990
94,4
1886
14.960
94,2
1907
14.940
94,1
1920
14.900
93,8
1935
14.720
92,7
1952
14.590
91,9
1962
13.930
87,8
1973
11.270
71,0
1985
8.680
54,7
1990
8.540
53,8
* Relativo à área total do Estado.
Fontes: Victor (1975) 1500 a 1973; Fundação SOS Mata Atlântica
(1992); 1985 a 1990
Incremento
%*
7,16
0,72
0,07
ha
563
0
0
%**
0,03
0,00
0,00
Decremento
ha
61.720
1.153
101
%**
3,44
0,66
0,61
A explicação para essas diferenças na intensidade de
desmatamento encontra-se no fato de que o Vale do Ribeira nunca acompanhou os ciclos econômicos dominantes no
Estado, configurando-se sempre como uma região de
economia marginal. Somente a partir da década de 70,
com a abertura de estradas, é que a agricultura da banana
se expandiu pelo centro do Vale, ao mesmo tempo que os
municípios ao longo da rodovia apresentavam um crescimento urbano. Recentemente, quase todas as áreas de
florestas remanescentes nesta região foram incluídas em
Unidades de Conservação, que abrangem cerca de 58,51%
das terras florestadas do Vale.
As florestas remanescentes que recobrem a Serra do Mar
e de Paranapiacaba em São Paulo têm como característica
fundamental uma elevada biodiversidade, reflexo de um
mosaico natural que se desenvolveu em conseqüência de
fatores como altitude, topografia e tipo de solo. Essas diferentes formações florestais interligam-se por complexos
processos ecológicos. Matas de encosta e de montanha
fazem transição, por um lado, com as das planícies
aluviais e marinhas e, por outro, com formações mais
63
secas do reverso da serra; tudo
isso permeado por manchas de
capoeirões e matas secundárias de
extensões variáveis, ainda mal conhecidas em profundidade.
A complexidade ambiental e a
biodiversidade também são resultado
da ação, sobre essas florestas, das
populações que se sucederam, como
vimos durante esta nossa viagem.
.
maior no campo da educação
ambiental, ao conscientizar a
população contra o desperdício
e a favor da recuperação e respeito
à natureza.
Outra dimensão dos projetos de
recuperação ambiental é a possibilidade de orientar os estudos sobre
conservação florestal para finalidades múltiplas, sejam elas corretivas,
ecológicas ou produtivas. Atualmente, crescem as possibilidades técnicas de propor alternativas combinadas, buscando responder a necessidades sócioambientais legítimas,
uma vez que muitas áreas críticas
são as mesmas onde a ocupação
humana é mais intensa. Neste caso,
um projeto de recuperação deve
cumprir função social mais ampla,
indo além da estética da paisagem e
da ecologia para alcançar também
uma dimensão econômica.
Consertar, enquanto é tempo
Existem no Brasil várias iniciativas
de recuperação florestal em áreas
degradadas pelo desmatamento, mineração, urbanização, agropecuária,
barragens e estradas. Depois da grande
onda preservacionista da década de 80,
os anos 90 parecem marcados pela
busca de alternativas de recuperação.
Além dos objetivos ecológicos, a
recuperação de florestas também tem a Regeneração natural da Mata Atlântica com Tibouchina.
Caminho do Mar, Cubatão/SP.
finalidade de buscar alternativas para
aliviar as pressões humanas sobre o que
A natureza também tem seus métodos
resta de florestas no País.
A tendência atual é direcionar os esforços de conservação
Conhecemos pouco sobre o funcionamento de nossas
não apenas para aspectos preventivos, punitivos ou compenflorestas, mas a urgência do problema da degradação tem
satórios, mas reabilitar áreas degradadas também para
incentivado as pesquisas neste campo. Como os conhecirecuperar as qualidades ecológicas e estéticas, e, em muitos
mentos adquiridos ainda não permitem generalizações,
casos, para garantir a segurança da população do entorno
alguns estudiosos consideram que as intervenções de manedessas áreas.
jo ainda são empíricas. Assim, cada pesquisa se converte
Os projetos de recuperação representam também uma
num experimento.
oportunidade de desenvolver novos conhecimentos sobre
Em relação às florestas naturais é preciso decidir, por
dinâmica ambiental e capacitar diferentes agentes para o uso
exemplo, quais delas podem e devem ser manejadas para
sustentável dos recursos. Tais projetos, quando feitos com a
finalidades econômicas. Um ponto fundamental neste tipo
participação da comunidade, ganham uma projeção ainda
64
de manejo deve ser o conhecimento de como e por que
determinadas plantas ocorrem no bosque, distribuem-se
nele, qual o seu potencial de exploração e quais as suas
necessidades para a manutenção dos processos reprodutivos,
de crescimento etc.
Algumas experiências de manejo já foram acumuladas e,
em geral, sua proposta é a de otimizar as práticas da população local. É o caso da exploração da castanha-do-pará, da
borracha, das fibras e frutos em reservas extrativistas.
Outro ponto muito importante nesta questão de recuperação é que as florestas podem se recuperar naturalmente.
Vejamos como isto acontece.
Quando por alguma razão uma floresta tropical é derrubada, o clima daquele pedaço, chamado de microclima
original, desaparece. O solo fica diretamente exposto à luz
do sol, o ar e o solo secam e a temperatura sofre flutuações
acentuadas entre o dia e a noite.
Certas espécies de árvores pioneiras estão adaptadas para
tirar proveito desta situação: crescem rápido, porém sua vida
é breve; morrem antes dos quinze anos. Uma segunda onda
de pioneiras que também exige luz abundante, cresce com
rapidez, porém vive mais tempo, talvez mais de um século.
Estas árvores fixam grandes quantidades de nitrogênio,
desempenhando um importantíssimo papel na recuperação
das reservas de nutrientes. Elas criam as condições para o
retorno das espécies da fase madura.
Essas fases de sucessão duram tempos variáveis conforme o tipo de floresta, intensidade de degradação e principalmente ao tipo de pioneiras que se instalam. Segundo alguns
autores, na Mata Atlântica, a fase de plantas secundárias,
antes da idade madura da floresta, pode durar até 200 anos e
mesmo uma fase de secundárias pode se repetir várias vezes.
A eliminação de toda a vegetação com tratores pode
trazer sérias conseqüências para o processo natural de
recuperação. Os solos podem se tornar empobrecidos para
sempre, o que pode transformar uma floresta rica e exube-
rante numa vegetação de ervas ou arbustos secos.
As mudanças no clima também influem. Se as plantas de
uma floresta madura foram geradas em períodos de clima
mais úmidos do que o atual, nunca se formará outra floresta
igual à que foi destruída, pois o seu ponto ótimo em termos
de clima já teria deixado de existir.
A delicada trama da recuperação
As estratégias para a recuperação de matas atlânticas têm
revelado como esta tarefa é delicada. Vários experimentos
vem se desenvolvendo há mais de duas décadas em áreas da
Serra do Mar que sofreram deslizamentos de encosta. Um
dos primeiros projetos de recomposição florestal foi implantado na Serra do Mar, no município de Cubatão.
Tudo começou quando, em meados da década de 80, um
grupo de trabalho da Secretaria da Agricultura concluiu,
depois de uma ampla avaliação, que:
• as informações disponíveis para recompor a vegetação
não permitiam a proposição de medidas concretas e
emergenciais, visando a recuperação e o repovoamento de
florestas na encosta da Serra do Mar;
• uma das medidas urgentes era fazer um diagnóstico da
situação ambiental que informasse sobre as condições da
vegetação, da serapilheira, dos solos e da água, nas áreas
degradadas pela emissão de poluentes do complexo industrial de Cubatão;
• uma forma emergencial de conter os processos erosivos
era a introdução experimental de espécies exóticas, adaptáveis ao ambiente degradado;
• deveriam ser estimuladas todas as iniciativas institucionais, das universidades e dos órgãos de governo, tendo
em vista a urgência do problema e as conseqüências nefastas
para a população local, caso os movimentos de massa
viessem a ocorrer no período das chuvas, naquela região.
Uma das primeiras propostas causou uma avalanche de
65
críticas por parte de pesquisadores e ambientalistas. A
proposta consistia no seguinte: seriam implantados projetos
emergenciais com gramíneas, para conter o escoamento
superficial da água e preparar o solo para receber espécies
florestais nativas.
Uma grande polêmica nascia em torno da questão da
recomposição e recuperação ambiental. De um lado, colocavam-se aqueles que defendiam um estilo de recuperação que
utilizava plantas exóticas e nativas, e até mesmo obras de
engenharia, para controlar o risco ambiental de acidentes de
grandes proporções, como o que já havia ocorrido na Serra
do Mar, em Caraguatatuba, 1978. Nessa ocasião, durante o
verão, houve um grande deslizamento de terra, que destruiu
moradias, matando pessoas e gerando uma situação de
calamidade pública.
De outro lado, posicionavam-se aqueles que consideravam essas soluções como paliativas e de resultados duvidosos. Sua sugestão era experimentos de reflorestamento,
considerando aspectos ecológicos da floresta já conhecidos
nas academias. O princípio desta proposta era procurar
imitar a própria floresta, auxiliando-a nos seus processos
sucessórios naturais. A recomposição, neste caso, deveria
apoiar-se na flora nativa da Serra do Mar e nos seus próprios
mecanismos sucessórios. O problema era que pouco se
conhecia sobre esse processo para empreendê-lo com segurança, além do que, a emissão dos gases tóxicos das
industrias, que era a principal causa da destruição florestal,
foi combatida com timidez. Era preciso combater as causas
e não os efeitos da degradação.
Estes experimentos iniciais, se surtiram pouco efeito,
muito contribuíram para multiplicar experiências em outras
áreas e acumular conhecimentos sobre os procedimentos
para recuperação de áreas degradadas por poluição. Significaram o pontapé inicial para uma série de experimentos de
recomposição florestal e pesquisas sobre sucessão ecológica
e fitossociologia na Mata Atlântica que viriam em seguida.
66
Ainda na década de 80, surge o primeiro projeto neste
sentido, utilizando uma metodologia sofisticada de dispersão artificial de sementes de espécies nativas, próprias da
sucessão da Mata Atlântica. Estudos prévios determinaram
quais espécies eram resistentes a ambientes degradados por
poluição. As sementes destas plantas foram preparadas em
laboratório, num processo chamado de peletização.
Simplificadamente esse processo consiste em juntar um
grupo de sementes num gel protetor em forma de pelete.
Um helicóptero despejava chuvas desses grupos de sementes nas encostas de Cubatão. O processo foi válido, mas
recebeu muitas críticas, quanto aos custos e às vinculações
políticas a que esteve submetido. Outros pesquisadores,
utilizando técnicas mais baratas de cultivo de plântulas em
viveiros e replantio manual dessas mudas, obtiveram resultados muito próximos.
O papel do Estado na tragetória da conservação
O poder público desenvolve ações concretas para a
conservação do ambiente, procurando defender a vegetação,
disciplinar o extrativismo ou proteger os mananciais. E essa
preocupação com os recursos naturais é muito antiga, embora os motivos que lhe deram origem fossem muito diferentes
dos atuais, refletindo preocupações e interesses próprios do
contexto de uma outra época.
Todas as medidas no sentido da proteção da natureza
sempre expressam as condições políticas, sociais, econômicas e culturais que definem a relação entre poder público,
sociedade civil e meio natural, naquele determinado momento. Por exemplo, no Brasil colonial, as medidas de
proteção das florestas visavam resguardar o monopólio da
Coroa Portuguesa sobre os recursos. E as preocupações
iniciais giravam em torno do aproveitamento econômico e
da sua possibilidade de uso. A proteção aos mananciais
seguia a linha da conservação dos recursos hídricos com
fins exclusivos de abastecimento.
Foi assim que se criou na cidade de São Paulo o Parque da Cidade, na Serra da Cantareira, onde se localizava
o ponto de captação de água para o abastecimento do
município.
Alguns episódios desta história demonstram ações
oficiais no sentido da proteção das riquezas naturais. Por
exemplo:
• no século XVII, Maurício de Nassau apresentou medidas para proteger as florestas da Região Nordeste do País;
• no século XVIII, em 1796 e 1797, as Cartas Régias
decretaram como propriedade da Coroa Portuguesa todas as
matas e arvoredos da borda da costa ou dos rios, utilizados
para o transporte de madeira. Alertavam para a necessidade
de conservação das florestas;
• no século XIX, em 1821, José Bonifácio de Andrada e
Silva propôs a criação de um setor administrativo responsável por matas e bosques; em 1876, André Rebouças propôs a
criação de parques nacionais na Ilha do Bananal e em Sete
Quedas; em 1896, foi criado o Parque da Cidade ou Reserva
Florestal da Cantareira, em São Paulo;
• no século XX, na década de 30, tivemos alguns fatos:
em 1934, o Código Florestal e o Código das Águas; em
1937, a criação do Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de
Janeiro, e a legislação de proteção do patrimônio histórico e
artístico nacional; e em 1939, a criação do Parque Nacional
de Iguaçu (PR).
Uma das formas que o Estado possui para proteger os
recursos naturais é declarar uma determinada área ou local
como Unidade de Conservação, passando assim a ser responsável pelo que ocorre dentro dos seus limites.
A demarcação de áreas naturais esteve, até há pouco
tempo, mais ligada à idéia de reserva – local destinado a
experimentos científicos ou ao aproveitamento da madeira
para a produção e consumo – do que à concepção de conservação ecológica, com o objetivo de intervir minimamente na
paisagem. Nas reservas introduziam-se espécies vegetais
exóticas, como o pínus e o eucalipto, visando a produção de
madeira, e as pesquisas eram conduzidas para verificar a
adaptação dessas espécies ao novo habitat. As espécies
nativas eram protegidas com a intenção de garantir estoques
para o futuro.
Uma área é escolhida para receber legislação que a
proteja, quando se revela de interesse ecológico e cultural.
Atualmente, o conceito de unidade de conservação é bastante abrangente; envolve áreas que abrigam ambientes ecologicamente importantes, representativos do que restou da
vegetação que outrora cobria grande parte do território, cuja
destruição pode ameaçar de extinção a fauna e a flora.
Envolve também locais onde existem monumentos ou
comunidades cujo modo de vida e relação com o meio
natural representam um patrimônio a ser conservado.
.
Como se implanta uma Unidade de Conservação
Proteger oficialmente uma área ou um monumento
requer uma série de medidas. Após defini-la, realiza-se um
estudo, em que são levantadas as características naturais, o
grau de ocupação humana e demais aspectos do trecho em
questão. Esse estudo orienta a escolha do melhor tipo de
proteção para aquela área, ou seja, a categoria de manejo
mais adequada.
Há várias categorias de manejo: parque estadual, estação
ecológica, área de proteção ambiental e outras. A área
protegida é enquadrada na categoria mais apropriada às suas
características, através de um diploma legal. Essa etapa é
muito importante, pois qualquer falha no estudo ou, principalmente, a sua ausência podem acarretar um enquadramento inadequado que dificultará a implantação.
No ato da criação, é necessário demarcar a área, definir
seus limites. Esse trabalho de gabinete e de campo deve
criar condições, tanto para uma fiscalização eficiente do uso
dos recursos naturais, como para o levantamento da situação
67
fundiária. Essa é a primeira etapa do processo de regularização fundiária. Nos casos em que o Estado deve tornar-se
proprietário da área, é preciso indenizar ou propor permutas
aos donos das terras. Para tanto, o governo necessita de
documentação que comprove claramente a propriedade. Isto
pode ser difícil e demorado no caso de terras devolutas ou
de propriedade indefinida, além do que, a indenização em
geral exige do Estado recursos financeiros vultosos.
Outro passo para a implantação de uma Unidade é definir
a sua utilização. Isto é feito por meio de um plano de manejo que estabelece um zoneamento que pode destinar áreas
para preservação constante, pesquisa e visitação pública.
Esse processo deve envolver todos os interessados. Os
Planos de Gestão têm sido uma tentativa de definir as diretrizes básicas para esse manejo, a partir da realidade local,
incluindo os conflitos de interesse. Finalmente, para que
uma Unidade de Conservação possa funcionar, é necessário
dotá-la de infra-estrutura administrativa adequada aos seus
diferentes objetivos.
Essas fases de implantação não acontecem obrigatoriamente na ordem em que foram explicadas e isso depende da
situação real de cada Unidade.
A Mata Atlântica é protegida por diferentes categorias de
manejo, tais como:
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
Parque Nacional
Parque Estadual
Estação Ecológica
Reserva Biológica
Área de Proteção Ambiental
Área de Relevante Interesse Ecológico
Área Natural Tombada
Área sob Proteção Especial
Corredores Ecológicos
Terras Indígenas
Reservas Particulares do Patrimônio Nacional
.
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68
Aproximando o foco: a
proteção da Mata Atlântica
QUARESMEIRA
A quaresmeira, jacatirão
ou manacá-da-serra, cresce em
abundância na Mata Atlântica.
Entre milhares de espécies distribuídas principalmente nas regiões tropicais, a quaresmeira é
uma planta da vegetação secundária, cujo colorido rosa, roxo
ou branco, destaca-se do imenso
dossel verde. É uma planta ornamental e esse efeito pode ser apreciado também nas ruas das cidades onde é utilizada para
arborização.
No Estado de São Paulo,
a quaresmeira foi introduzida,
pois sua área original de distribuição localiza-se acima do Estado do Rio de Janeiro.
A Mata Atlântica na Serra
do Mar começou a ser protegida em 1935, com a criação da
Reserva Estadual de Pilões ou
Queiroz. Dessa data até a
década de 70, a idéia de
proteção começou a incluir
áreas que se estacavam por
sua beleza natural.
A partir da década de 70,
um importante conceito
passou a ser introduzido
nas estratégias de conservação: é o conceito de áreas
contínuas, que garantem uma
área de vida extensa para as espécies da fauna e da flora. O
Parque Estadual da Serra do Mar, criado em 1977, fruto da
junção de 14 áreas protegidas, é um ótimo exemplo dessa
idéia inovadora.
Nos anos 80, a criação de Unidades de Conservação
ligou-se cada vez mais à necessidade de proteção ecológica
das áreas naturais, o que se traduz por uma preocupação
maior com o fato de que os recursos naturais se esgotam e
podem extinguir-se.
Um passo decisivo para a conservação da Mata Atlântica,
por exemplo, foi dado a partir da criação da Estação Ecológica Juréia-Itatins, pelo governo federal. O objetivo dessa
medida era reservar a área para estudos que subsidiariam a
implantação de usinas nucleares, como parte do programa
energético do País. A opinião pública, contrária à presença
de usinas nucleares em local tão preservado, mobilizou-se
contra o empreendimento. E embora já existissem algumas
entidades dedicadas à defesa do
ambiente, essa iniciativa em
defesa da Juréia propiciou
grande participação, incentivou
o surgimento de vários grupos e
fez crescer o movimento
ambientalista. Depois disso, a
atuação em benefício da conservação de áreas naturais
passou a ser mais significativa,
ultrapassando os limites daquela região.
No período de dez anos,
entre 1977 e 1987, muitas
Unidades de Conservação
foram criadas na Mata Atlântica, com maior ou menor restrição de uso. Integradas a uma
estratégia ampla de conservação, que tem como eixo central
o planejamento ambiental, elas
protegem os recursos naturais e
procuram compatibilizar o desenvolvimento de atividades
econômicas com as características ambientais locais.
O tombamento da Serra do Mar, em 1985, foi o
coroamento desse novo conceito de conservação que
procura proteger uma grande mancha de Mata Atlântica.
Ampliando o território protegido, instalou uma zona
de contenção do processo de degradação, ou de
ocupação desordenada, junto às áreas de proteção
integral do ambiente.
Assim, a Mata Atlântica no Estado de São Paulo é resguardada através de vários tipos de Unidades de Conservação, que vão ajudando a configurar a área contínua de
proteção, como podemos observar no mapa das páginas 72 e
73. O planejamento, a fiscalização e a educação são outros
Estação Ecológica Juréia-Itatins.
poderosos instrumentos de proteção de que o poder público
dispõe para a defesa das áreas naturais.
O planejamento ambiental estabelece medidas que definem o melhor tipo de atividade econômica a ser desenvolvida em determinadas áreas.
A fiscalização ambiental pode atuar de modo preventivo
mediante orientação, ou punitivo por meio de penalidades
que variam conforme o estabelecido pela legislação.
A educação ambiental tem um vasto caminho por onde
enveredar para cumprir seu papel, a saber: através de campanhas de mobilização com alvos específicos, como a limpeza
de praias ou a prevenção de incêndios florestais; dando
apoio à rede formal de ensino; atuando na formação de
agentes multiplicadores; e utilizando as áreas naturais
69
protegidas enquanto espaço para divulgação de informações.
Uma pergunta final
Depois de tudo o que vimos e dos lugares por onde
passamos, talvez reste ainda uma pergunta: por que preservar a Mata Atlântica?
A esta altura cabem respostas que, embora concisas,
traduzem a abrangência das questões que quisemos levantar:
as plantas, os animais e o homem têm direito à vida;
na Mata Atlântica existem espécies da fauna e da flora
que não são encontradas em nenhum outro conjunto de
florestas: é direito das gerações futuras conhecê-las e saber
usá-las;
a Mata Atlântica concentra grande volume de água –
elemento indispensável à vida –, que nas próximas décadas
se tornará escasso;
muitas plantas e animais destas matas ainda são desconhecidos. É preciso dar tempo para que suas possibilidades
alimentares e terapêuticas sejam pesquisadas;
esse espaço natural constitui-se num precioso laboratório de experiências, cujos resultados podem conter as respostas para futuros problemas ecológicos;
a sua paisagem oferece oportunidade de lazer e descanso, em contato com uma extrema beleza natural;
a Mata Atlântica tem potencial para tornar-se uma
importante fonte de recursos econômicos;
as populações tradicionais que ali vivem possuem algo
importantíssimo a nos ensinar: a forma branda de explorar os
recursos da mata, a partir da qual novas tecnologias podem
ser aperfeiçoadas. Essas populações têm direitos sociais que
precisam ser respeitados;
a Mata Atlântica é hoje reconhecida como patrimônio
mundial;
o homem é natureza; faz parte dela. E qualquer quebra
desta unidade põe em risco a vida na Terra.
.
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.
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70
FAUNA E FLORA EM EXTINÇÃO
A extinção biológica de uma espécie significa o seu
desaparecimento completo devido à não-adaptação às mudanças
ambientais. Trata-se de um processo natural que existe desde que
surgiu a vida no planeta, e que se define pela impossibilidade de
uma espécie manter-se por reprodução. O que caracteriza a extinção
é a morte do último casal, o enfraquecimento que impede os representantes de se reproduzir ou a taxa de mortalidade maior que a
taxa de natalidade.
Alguns fatores que podem ser responsáveis pela
extinção:
a competição entre os seres vivos por espaço, alimento etc.;
o isolamento geográfico de uma população muito pequena;
as alterações geológicas e climáticas;
a ação predatória do homem.
A ação do homem sobre a natureza, hoje, é de tal ordem que a palavra extinção terminou por ganhar um significado
dramático. Tornou-se sinônimo de desaparecimento prematuro e
repentino de plantas e animais que não estão em processo natural
de desaparecimento. Isto porque os ecossistemas foram muito reduzidos em área ou foram transformados por ações predatórias indiretas, tais como o desbaste seletivo de espécies, a ponto de causar problemas de espaço ou alimento para os que vivem neles.
Infelizmente há muitas espécies de peixes, aves e insetos que já desapareceram sem que pudéssemos sequer conhecêlas. Para evitar que isto continue acontecendo é necessário voltar
as atenções para espécies em perigo de extinção, que devem ser
objeto de pesquisa, como já vem acontecendo com o jacaré-depapo-amarelo e o mono-carvoeiro.
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Notas:
1. Intemperismo – Processo que ocasiona a desintegração e
a decomposição dos minerais em geral, graças à ação de
chuvas, ventos, neve e seres vivos.
8. Conhecimento empírico – Conhecimento baseado na
experiência pessoal ou coletiva.
9. Atracação – Ato de deixar a embarcação à terra.
2. Florestas tropicas úmidas – Associações vegetais de
grande porte, relacionadas a climas quentes e úmidos. É a
formação vegetal de máximo desenvolvimento na terra.
3. Caule estolonífero – Caule lateral subterrâneo, delgado,
em geral longo, que nasce na base de um caule
preexistente e se expande, enraizando-se em certos nós e
geralmente formando ramos aéreos. Este caule é capaz de
formar outros ramos da planta.
4. Nutrientes – Substâncias ou elementos químicos que
fornecem matérias ou energia necessária para um organismo; recurso alimentar.
5. Sedimentos – Material originário da destrição (decomposição) de qualquer tipo de rocha ou material de origem
biológica, que é transportado e depositado na superfície de
qualquer terreno.
10. Assorear – Obstruir – por areia ou por sedimentos
quaisquer – um rio, canal ou estuário, tornando-os mais
rasos.
11. Dragagem – Remoção de material sólido do fundo de
um ambiente aquático.
12. Mananciais – Nascentes de água; fonte. Conjunto de
nascentes.
13. Complexo estuarino-lagunar-Iguape-CananéiaParanaguá – Região da costa paulista onde ocorre o encontro da vários rios de água doce com a água do mar.
Formam-se canais de água salobra, delimitados por cordões de sedimentos, onde se desenvolve o mangue.
14. Estrada vicinal – Caminho ou estrada que liga povoações próximas.
6. Pneumatóforos – Raiz aérea, submersa ou exposta. Raiz
respiratória do mangue siriúba.
7. Rastejo – Processo de movimentação do solo. É mais
comum quanto mais ingreme é a encosta, que reflete o seu
grau de instabilidade. São indicadores de rastejo o conjunto de árvore inclinadas, blocos deslocados e degraus na
encosta.
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CRÉDITOS – FOTOS E FONTE DAS ILUSTRAÇÕES
SERRA DO MAR: UMA VIAGEM À MATA ATLÂNTICA
Fotos:
Adriana Mattoso
Foto pág. 30
Antonio Gaudério
Fotos págs. 13, 18, 21 e 27
Ilustrações: – Fontes:
-
Clayton Ferreira Lino
Fotos págs. 14, 54, 55 e 62
Elton M. C. Leme
Foto capa
Igrécio Perez Flora
Fotos págs. 4, 52 e 53
Neréia Massini
Foto pág. 46
-
-
-
Sérgio Pompéia
Fotos págs. 15, 37, 43, 44 e 45
Sueli Ângelo Furlan
Fotos págs. 17 e 47
-
Página 19: Cadeia Alimentar 1 – Livro Serra do Mar – 2ª edição
Página 19: Rede Alimentar 2 – Livro Serra do Mar – 2º edição
Página 23: Livro Duas viagens ao Brasil. Hans Staden. Ed. Itatiaia
Edusp, 1988
Página 24: Quadro famílias indígenas – Livro Serra do Mar – 2ª
edição
Página 26: Uma partida de pesca – Fonte: Duas viagens ao Brasil,
Hans Staden. Ed. Itatiaia, Edusp, 1988
Página 28: À direita, Staden orando em agradecimento da realização de um milagre, junto a uma cruz, erguida na aldeia
de Ubatuba. À esquerda, mulheres trabalhando com
seus filhos enfaixados às costas – Fonte: Duas viagens
ao Brasil. Hans Staden. Ed. Itatiaia Edusp, 1988
Página 30: Calendário Agrícola de uma comunidade do Rio Verde.
Estação Ecológica de Juréia-Itatins – Fonte:
Equipe da Juréia – Instituto Florestal/SMA
Página 42: Mapa de Cubatão – Fonte: Ab’Saber, A. N. Um exemplo a não ser seguido. Ciência Hoje, v.I, nº 1. jul.
ago.1982; baseado no livro Romagem pela Terra dos
Andradas, de Costa e Silva Sobrinho
Página 43: Mapa do Litoral Central – SMA/CPLA/DPAA/DPVI/SP
Página 47: Mapa do Litoral Norte – SMA/CPLA/DPAA/DPVI/SP
Página 51: Mapa do Litoral Sul – SMA/CPLA/DPAA/DPVI/SP
Wilson Rizzo
Fotos págs. 29 e 33
Agradecemos especialmente a Caetano Veloso
pela autorização da publicação da letra da música “Terra” (Caetano Veloso); copyright by Guilherme Araújo Produções Artísticas Ltda. (Adm.
por Warner/Chappel Edições Musicais Ltda.),
todos os direitos reservados.
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