A realização de um sonho - Portal do Envelhecimento

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A realização de um sonho - Portal do Envelhecimento
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A realização de um sonho:
Continuar a lutar na Terceira Idade
Por Ana Elisa Sena Klein
Anísio Chagas costuma dizer: fugir da velhice é burrice. O
melhor é aceitar a velhice e trabalhar para termos vida
saudável e vitoriosa nesse período da vida para que
tenhamos qualidade de vida na existência.
Foto: Jurema Eny Monteiro Chagas - 2010
A
nísio Chagas, 82 anos de idade, começou nossa conversa falando
que Deus o trouxe à existência exatamente no dia 17 de abril de
1928 em Santa Maria do Salto, no extremo norte de Minas Gerais, no
Vale do Rio Jequitinhonha. Como filho de humildes e pobres
agricultores e criadores de gado teve uma infância feliz e sem problemas
traumáticos.
É casado há 49 anos com a dona de casa Jurema Eny Monteiro Chagas, e
com ela teve três filhos, Jason, Silvano e Suzana, e 5 netos. Anísio se sentiu
muito à vontade para falar sobre sua vida pessoal e profissional, inclusive
relatar sua relação com a doença. Ele se classifica como um sobrevivente de
câncer de próstata.
Aliás, esta é uma classificação usada cientificamente. Um dos últimos relatórios
elaborado em conjunto para o Centro de Controle e Prevenção de Doenças
(CDC) e o Instituto Nacional do Câncer (NCI), divulgado recentemente pela
grande imprensa nos Estados Unidos, assinala o seguinte: - o número de
sobreviventes de câncer aumentou para 11,7 milhões em 2007 nos EUA,
devido aos avanços na detecção da doença. Segundo o relatório, dos 11,7
milhões de sobreviventes de câncer em 2007, sete milhões tinham, pelo
menos, 65 anos de idade. Do total de sobreviventes os pacientes com câncer
de mama formaram o maior grupo (22%), seguidos pelos que sofriam de
câncer de próstata (19%), e dos que tinham câncer colorretal (10%) - 4,7
milhões de pessoas tinham recebido o diagnóstico dez anos antes ou mais.
O senhor Anísio segue o que as autoridades americanas assinalam: um
sobrevivente de câncer se define desde o momento em que recebe o
diagnóstico até o final de sua vida. E ele é prova do que diz o relatório: “muitos
estão sobrevivendo ao câncer e levando vidas saudáveis e produtivas”.
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Com a família, na cidade de Recife, e seus filhos pequenos, em 1969. (Foto: Nabor Rosa)
Bacharel em teologia pela Faculdade Adventista de Ensino (Antigo IAE) hoje
UNASP, possui vários cursos de extensão universitária pela Andrews
University. É também radialista, jornalista e gerontólogo. Está aposentado há
18 anos, mas continua muito ativo com sua espiritualidade: sou apaixonado
pela teologia da terceira idade, busco conhecer na Bíblia o que Deus revela
sobre isso nas páginas das escrituras sagradas.
Sua relação com a questão do envelhecimento começou há alguns anos.
Primeiro lendo livros sobre gerontologia, e depois assistindo seminários,
congressos, etc. Foi durante esses eventos que percebeu que o interesse, e os
interessados sobre a velhice aumentavam cada vez mais. Sentiu então que era
necessário devolver ao outro tudo o que Deus fez, tem feito e faz por ele e sua
família.
Foi preciso se aposentar para realizar um sonho de continuar sendo útil à
humanidade. Hoje é conselheiro da Associação de Pastores Jubilados em
Santa Catarina, e do Núcleo da terceira idade onde prioriza o envelhecimento
com qualidade de vida e dignidade. Segundo ele, todos os idosos merecem
atenção e interesse, pois muitas são as suas necessidades.
Sua atuação não para por aí. Ele também é membro da Associação Brasileira
de Relações Públicas, Secção Rio de Janeiro-RJ; membro da Associação
Catarinense de Imprensa; membro da Associação Nacional de Gerontologia;
associado do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos. Como membro da
ING Santa Catarina participou do conselho municipal de idosos de
Florianópolis. Também é membro da ASAPREV (Associação dos Aposentados
da Previdência Social da Grande Florianópolis).
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Anísio Chagas tem um programa radiofônico na rádio Novo Tempo (frequência
96.9 FM), em Florianópolis, onde também mantém o programa Análise do Fato,
há 12 anos no ar, de 2ª à 6ª, no qual reserva todas as 3ª feiras para abordar
assuntos pertinentes à velhice. Ainda tem um programa na TV Barriga Verde –
Bandeirantes, há 20 anos, com o programa “Gotas de Fé”, onde aborda
assuntos da terceira idade.
Lembro-me que li uma poesia que falava sobre a visita da velhice, e que
precisamos dar lugar à velhice quando está chegando, recebê-la com alegria.
Essa poesia me ajudou muito a aceitar minha velhice, não como uma visitante
incômoda, mas de bom grado, sem medo. Vivendo com a velhice
pacificamente.
Quando lhe pergunto o que o faz feliz, rapidamente me responde: o melhor de
minha velhice é poder vivê-la com alegria. Mas gostaria de ver os mais jovens
e adolescentes mais próximos dos idosos, a dicotomia entre jovens e velhos
me entristecem.
Viver a velhice
Em sua opinião a sociedade atual faz da
velhice algo descartável, porque muitas vezes
ela joga o idoso no lixo.
Anísio Chagas, 2011 (Foto: Jurema Eny Monteiro Chagas)
Para mim quatro são os inimigos da velhice: preconceito, tabu, mito e
ignorância. Despida desses inimigos a velhice é maravilhosa. Adotei novos
hábitos, faço academia e caminho três vezes por semana, durmo após o
almoço, aboli proteína animal e açúcar de minha dieta. Um novo estilo de vida
(sempre fui um inimigo figadal do fumo e álcool), sigo a orientação de
Hipócrates: “seja teu alimento o teu remédio”. Uso complementos alimentares à
minha dieta e, além disso, faço exercícios, repouso e alegria.
Pergunto sobre o pior momento de sua vida e ele me conta que foi a morte dos
seus pais e entes queridos, por instinto de conservação. Ele fala de seus
temores e seu medo de perder os sentidos, e por isso pede a Deus por vigor
mental e boa memória até o fim de seus dias.
Para o senhor Anísio, uma velhice bem sucedida é a convicção do dever
cumprido, isenção de remorsos e culpas, saúde biológica e uma vida
harmônica com Deus. Como ele diz: O alvorecer é lindo e o outono da vida tem
seus encantos.
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Um dos encantos é sem dúvida a constante construção do seu projeto de vida,
pois a cada momento o senhor Anísio se reinventa:
Dentro de mim existem sonhos e projetos para realizar em meu benefício e dos
demais idosos. Sonho em montar um centro de recuperação para dependentes
químicos e obesos mórbidos.
Projetos não faltam em sua vida, por isso ele diz:
Não gosto da palavra “aposentado”, me considero um homem “jubilado”,
porque vivo minha velhice com alegria, felicidade e júbilo.
Creio em Deus, isso me anima, me orienta, me ajuda, me projeta e me
comove.
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Ana Elisa Sena Klein - Fisioterapeuta e mestranda em Gerontologia pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). E-mail:
[email protected]
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