Dessulfurização Bacteriana de Combustíveis Fósseis
Transcrição
Dessulfurização Bacteriana de Combustíveis Fósseis
Biotecnologia Ambiental Dessulfurização Bacteriana de Combustíveis Fósseis milhões de barris de petróleo por dia, com uma percentagem de enxofre superior a 1,1. Luís Alves, Elsa Mesquita, Francisco M. Gírio INETI, Departamento de Biotecnologia, Unidade de Microbiologia Industrial e Bioprocessos (UMIB), Estrada do Paço do Lumiar, 22, 1649-038 LISBOA, Tel. 01-7165141; Fax. 01-7163636; E-mail: [email protected] 1. Introdução O petróleo e o carvão são importantes combustíveis fósseis com uma composição complexa em que se podem considerar quatro famílias de compostos: hidrocarbonetos alifáticos, cíclicos, aromáticos e moléculas contendo átomos de azoto, enxofre ou oxigénio na sua estrutura (Tabela 1). Os compostos orgânicos contendo enxofre (S) constituem uma pequena mas importante fracção desses combustíveis e devido à sua difícil biodegrabilidade são considerados compostos recalcitrantes. O petróleo bruto convencional contem entre 0,04 a 5% (p/p) e em termos gerais, petróleos de densidade mais elevadas possuem teores de S superiores (Kropp et al, 1997). A presença deste elemento é indesejável não só por contribuir para a corrosão do equipamento da refinaria mas também porque, aquando da combustão desses produtos, se libertar dióxido de enxofre (SO2 ) (Denome et al, 1993), um dos principais poluentes atmosféricos e responsável pelas chuvas ácidas. Além disso, quando presente em concentrações superiores a 100 ppm, o SO2 é nocivo ao homem, provocando irritações nas mucosas (Schmidt et al, 1973). Exposições breves a concentrações na ordem dos 400-500 ppm são letais, já que provoca a dilatação das membranas mucosas e espasmos dos músculos dos brônquios. A combinação de poeiras com o SO2 agrava os efeitos nocivos sobre o homem, e na presença de nevoeiro essa conjugação torna-se mais perniciosa. Também o Reino vegetal é bastante sensível ao SO2 . No entanto prevê-se que em 2010 a produção ultrapasse os 83 milhões aumentando também o enxofre contido no petróleo para 1,27 %. Plantas expostas a concentrações de apenas 1-2 ppm sofrem graves danos em poucas horas (Schmidt et al, 1973). Tendo em conta a utilização crescente destes combustíveis fósseis, devida em larga medida às necessidades dos países industrializados, a emissão de enxofre para a atmosfera constitui, assim, um dos problemas ambientais da actualidade. Este problema poderá agravar-se ainda, se não forem tomadas as devidas precauções, tendo em conta a diminuição das reservas em combustíveis fósseis com baixo teor de enxofre (Konishi, 1997). Segundo Monticello (1998), em 1990 eram produzidos a nível mundial 70 Os efeitos nefastos causados pelo SO2 presente na atmosfera levou vários países e a União Europeia a restringir as suas emissões de SO2 (Tabela 2). Uma das estratégias para diminuir os níveis de emissão de SO2 para a atmosfera, consiste na remoção do enxofre do carvão, do petróleo e seus derivados antes da sua combustão. Actualmente são utilizados nas refinarias processos físicos e químicos (hidrodessulfurização) para a remoção do S inorgânico. Esses tratamentos tem custos muitos elevados, envolvendo catalisadores químicos sob condições extremas: elevadas temperaturas (200 a 425 ºC) e altas pressões (150 a 250 psi) (Izumi et al, 1994). Além disso, o S associado a Tabela 1 – Compostos representativos de hidrocarbonetos presentes nos combustíveis fósseis ALIFÁTICOS n-Hexadecano CH3 - (CH2) 14 - CH3 2-metiltetradecano CH3 - (CH2) 11 - CH- (CH3) 2 CH3 CICLICOS 1 – metilciclopentano Ciclohexano AROMATICOS CH3 Tolueno Fenantreno “NSO” * Piridina N Dibenzotiofeno S * Hidrocarbonetos que têm na sua estrutura azoto, enxofre ou oxigénio. Abril 1999 - Boletim de Biotecnologia nº 62 3 Biotecnologia Ambiental compostos orgânicos é bastante difícil de ser removido, por esses processos, já que se encontra ligado covalentemente a matrizes complexas (Denome et al, 1994). A alternativa a este tratamento químico passa pelo recurso a processos biológicos mais eficazes para a dessulfurização dos combustíveis fósseis (biodessulfurização), nomeadamente ao nível da remoção do enxofre ligado covalentemente a matrizes orgânicas. 2. Biodessulfurização: bactérias que removem o enxofre dos combustíveis fósseis Os estudos de biodessulfurização tiveram ínicio nas décadas de 50 e 60, no entanto sem resultados significativos. Só na última década é que esta área sofreu desenvolvimentos significativos. Foram seleccionadas bactérias com a capacidade de utilizar Tabela 2 – Regulações internacionais para emissões de enxofre actuais e previstas. (Monticello, 1998) País Produto União Europeia União Europeia Coreia do Sul Tailândia Estados Unidos União Europeia União Europeia Petróleo Petróleo bruto Gasóleo Gasóleo Gasolina Gasóleo Gasóleo o enxofre presente em hidrocarbonetos poliaromáticos pertencentes a diferentes géneros. Brevibacterium sp. (Van Afferden et al, 1990), Corynebacterium sp. (Omori et al, 1992), Rhodococcus sp. (Izumi et al, 1994), Sulfolobus sp. (Kargi, 1987), Pseudomonas sp. (De Fatima, et al, 1996), Agrobacterium sp. (Constanti, 1994), Arthrobacter sp. (Lee et al, 1995), Acinetobacter sp. (Malik, 1978), Rhizobium sp. (Malik, 1978), Desulfovibrio sp. (Kim et al, 1990), Gordona sp. (Rhee et al, 1998), Beijerinckia sp. (Laborde & Gibson, 1977), Xanthomonas sp. (Constanti, A B Figura 1 – Vias degradativas do dibenzotiofeno. A – Via de Kodama; o átomo de enxofre não é removido, havendo ruptura de ligações C-C. B – Via de Van Afferden; o enxofre é removido na forma de ião sulfito ocorrendo ruptura da estrutura carbonada. 4 Concentração actual (ppm) 3500 33000 2000 5000 400 500 350 Boletim de Biotecnologia nº 62 - Abril 1999 Concentração alvo (ppm) 1000 10000 500 500 50-100 200 < 100 Ano 1999 1999 2000 2000 2000 2000 2005 1994) e Bacillus sp. (Alves et al, em preparação). Na maioria dos trabalhos publicados sobre biodessulfurização, o dibenzotiofeno (DBT) e outros compostos análogos com substituintes alquilo são utilizados quer como fonte de carbono e energia principal ou secundária (co-substrato), por serem considerados representativos dos compostos organosulfurados recalcitrantes presentes nos combustíveis fósseis (Monticello, 1985). O DBT é, no entanto, geralmente designado como composto modelo. No entanto há que salientar a existência de numerosos estudos efectuados com outros compostos orgânicos contendo enxofre (Kayser et al,1993; Eaton & Nitterauer, 1994; Kropp et al,1994; Constanti et al, 1996), misturas de DBT com alcanos (Ohshiro et al,1995; Setti et al,1993) e até mesmo com amostras de carvão (Dahlberg et al, 1993) ou petróleo (Van Afferden et al,1993). O petróleo e o carvão são substratos complexos e o facto de um microrganismo ser capaz de metabolizar o DBT em condições laboratoriais não implica necessariamente que consiga remover o enxofre orgânico presente nesses combustíveis fósseis. Há que ter em conta, por um lado, o problema da acessibilidade dos microrganismos aos compostos que contêm enxofre, e por outro, mesmo que essa acessibilidade exista, à existência de impedimentos estéricos associados à estrutura desses mesmos compostos, que dificultam a actuação dos sistemas enzimáticos microbianos. Alternativamente ao uso de células intactas, a utilização de Biotecnologia Ambiental enzimas livres ou imobilizadas tem sido objecto de patentes para aplicação em processos de biodessulfurização (Kilbane et al, 1994, Kern et al, 1989). DIBENZOTIOFENO NADH + O2 + H 3. Vias Metabólicas Degradativas do DBT Em 1973 Kodama e seus colaboradores, estudando duas espécies de Pseudomonas spp. constataram que o DBT era parcialmente degradado através de sucessivas oxidações por um mecanismo semelhante ao da degradação do naftaleno (Denome et al, 1993) (Fig. 1-A). A dihidroxilação de um dos anéis aromáticos do DBT conduz à destruição desse anel, obtendo-se como produto final o 3hidroxi-2-formilo-benzotiofeno no qual persiste o núcleo tiofénico. Esta é a via utilizada pela maioria das bactérias estudadas que atacam o DBT (Kilbane & Jackowsky, 1992). Na via de Kodama, o ataque ao anel benzénico ocorre nas posições 2 e 3 do DBT (Gallagher et al, 1993). Como geralmente os compostos análogos ao DBT presentes nos combustíveis fósseis, têm substituintes alquilo ou arilo nessas posições, esses compostos não poderão ser degradados por esta via. Por outro lado, o produto final da degradação parcial do DBT ainda contém o átomo de enxofre, apresentando níveis de toxicidade biológica semelhantes ao substrato inicial (Gallagher et al, 1993). Em 1990 Van Afferden propõe uma via metabólica diferente em Brevibacterium sp., na qual o DBT é convertido, em quantidades estequiométricas, a benzoato e sulfito que por sua vez é oxidado a sulfato, por oxidação abiótica (Fig. 1-B) (Van Afferden et al, 1990). O benzoato é, por sua vez, totalmente mineralizado a CO2 e H2 O. Deste modo, o DBT é usado como nutriente pela bactéria no papel duplo de fonte de carbono e enxofre. Esta via de degradação do DBT não tem grande interesse em termos de processos de biodessulfurização de combustíveis + DBT monooxigenase + H2O + NAD 5-ÓXIDO DE DIBENZOTIOFENO + NADH + O 2 + H DBT monooxigenase + H2O + NAD 5,5-DIÓXIDO DE DIBENZOTIOFENO 1 NADH + /2 O2 DBT-5,5-dioxido monooxigenase + NAD 2’-HIDROXIBIFENILO-2-SULFINATO H2O - 2’-hidroxibifenilo-2-sulfinate sulfinoliase HSO3 2-HIDROXIBIFENILO 2- SO4 VIA ASSIMILATÓRIA DO ENXOFRE Figura 2 – Via “4S”; o enxofre é removido na forma de sulfito, permanecendo intacta a estrutura carbonada. fósseis, já que a mineralização completa da estrutura carbonada implicará necessariamente uma diminuição na energia química potencial dos combustíveis. Porém, as bactérias utilizadoras desta via metabólica são potencialmente úteis na formulação de inóculos microbianos mistos para processos de bioremediação de hidrocarbonetos poliaromáticos contendo enxofre libertados no ambiente. Uma terceira via metabólica descrita é a via sulfóxido-sulfonasulfonato-sulfato, normalmente denominada “4S”. Trata-se de uma via específica para a remoção do átomo de enxofre presente no DBT em que o grupo tiofénico sofre um ataque oxidativo progressivo. Actualmente sabe-se, a partir de estudos em Rhodococcus sp. IGTS8, que esta via envolve um sistema multienzimático com três actividades diferentes (Fig. 2) (Gray et al, 1996). A primeira enzima é uma monoxigenase do DBT, que oxida o DBT a 5,5’-dióxido de DBT em dois passos; a segunda enzima é igualmente uma monoxigenase que converte o 5,5’-dióxido de DBT a 2’hidroxibifenilo-2-sulfinato e finalmente uma liase que catalisa a quebra da ligação C-S transformando o 2’-hidroxibifenilo-2-sulfinato em dois produtos finais, 2-hidroxibifenilo (HBP) e sulfato. As duas primeiras enzimas da via requerem oxigénio molecular, NADH Abril 1999 - Boletim de Biotecnologia nº 62 5 Biotecnologia Ambiental e FMN como cofactores. Uma terceira enzima foi recentemente descrita em Rhodococcus sp., uma reductase de FMN endógena responsável pelo fornecimento da flavina reduzida às monooxigenases (Gray et al, 1996). Este novo sistema multienzimático pressupõe a existência de monoxigenases que utilizem flavina livre como substrato e a consequente existência de um complexo enzimático entre as oxigenases e a reductase de flavina. Os microrganismos que utilizam esta via para metabolizar o DBT conseguem assim que o átomo potencialmente tóxico seja retirado do composto tiofénico, sob a forma de um composto tratável (sulfato) apenas com uma ligeira perda do seu valor energético (Wang & Krawiec, 1994). Deste modo, as estirpes utilizadoras da via “4S” poderão constituir uma “ferramenta” biológica fundamental no tratamento em larga escala dos combustíveis fósseis, caso se consigam obter biocatalisadores de elevada estabilidade em ambiente industrial (Wang & Krawiec, 1994). 4. Estudos de Biologia Molecular Estudos recentes de biologia molecular com uma das melhores estirpes dessulfurizadoras conhecidas, Rhodococcus sp. IGTS8 permitiram conhecer a sequenciação de um fragmento de 4 kb de ADN que continha os genes da via “4S” da dessulfurização (Denome et al, 1994). Este fragmento contem 3 genes, denominados soxA, soxB e soxC (sox de “sulfur oxidation”). Estes 3 genes foram subclonados independentemente em Escherichia coli MZ1 e identificaram-se as respectivas proteínas expressas. Verificou-se que soxC origina uma proteína de aproximadamente 45 kDa responsável pela oxidação do DBT a 5,5´-dióxido de DBT. O produto de soxA é uma proteína com uma massa molecular de 50 kDa sendo responsável pela oxidação do 5,5dioxido de DBT a 2-hidroxibifenilo-2sulfinato. A proteína expressa por soxB tem 40 kDa e cataliza a formação do 2-hidroxibifenilo, produto final da via “4S”. Estudos realizados com Pseudomonas sp. C18 indicaram a existência de um único controlo ao nível genético para as vias degradativas do dibenzotiofeno, naftaleno e fenantreno (Denome et al, 1993). No entanto este tipo de estudos tem recaído apenas nestes dois géneros bacterianos, havendo necessidade de alargar no futuro o conhecimento dos mecanismos regulatórios a nível genético para outros géneros bacterianos. 5. Aplicação Biotecnológica A aplicação da biodessulfurização em larga escala ainda se encontra apenas ao nível do estudo em instalações piloto. Um desses estudos está a ser feito pela companhia americana “Energy BioSystems Corporation”, que desenvolveu uma instalação piloto onde se podem dessulfurizar até 5 barris de petróleo por dia (Fig. 3). O biocatalizador (células bacterianas) e o combustível fóssil são misturados num biorreactor de 150 L onde ocorre a dessulfurização biológica. Após a remoção do enxofre, a mistura reaccional é enviada para uma centrífuga para separação das fases orgânica e aquosa. O produto petrolífero já dessulfurizado é enviado para um precipitador electrostático para remoção da água residual, passando por uma série de três filtros para recolha do biocatalisador existente na mistura reaccional. Finalmente, à solução aquosa é Condensador Ar Biocatalisador Produto dessulfurizado Água Unidade de separação Controlo de pH Adição de reagentes Combustível com alto teor de enxofre Bioreactor Fase aquosa Unidade de separação Biocatalisador e água reciclados Agente neutralizante Sulfato Figura 3 – Esquema de um possível processo de biodessulfurização. Adaptado de Monticello, 1998. 6 Boletim de Biotecnologia nº 62 - Abril 1999 Biotecnologia Ambiental encontram-se presentemente em curso no INETI. No futuro, iniciar-se-ão estudos de biologia molecular que serão mais facilitados no caso em análise devido aos conhecimentos de transformação genética disponíveis no género Bacillus sp. e que não se comparam ao conhecimento existente nos restantes géneros conhecidos e descritos como dessulfurizadores de DBT. A partir de amostras de solos contaminados com hidrocarbonetos, recolhidas nos terrenos da ex-refinaria de Lisboa, local da Expo-98, foi isolada e seleccionada na Unidade de Microbiologia Industrial e Bioprocessos (UMIB) do INETI-DB uma bactéria capaz de utilizar o DBT como única fonte de enxofre. Ensaios de taxonomia realizados com o sistema BIOLOG e galerias API permitiram a identificação da estirpe 1B como pertencendo ao genéro Bacillus sp. No entanto, os resultados não foram conclusivos quanto à espécie, apresentando apenas 36,6 % de homologia com o Bacillus brevis. Na Fig. 4 está representado o perfil degradativo do DBT desta estirpe quando cultivada em glucose (1 %) e DBT (0,5 mM). Como produto da dessulfurização do DBT foi identificado o 2-hidroxibifenilo, que é o composto final da via metabólica “4S” o que torna este Bacillus sp. 1B interessante em termos de biodessulfurização uma vez que o enxofre é removido sem haver diminuição do valor calórico do DBT. A utilização do DBT ocorre logo após a inoculação, verificando-se a acumulação do produto da dessulfurização (HBP) após um dia de tempo de cultivo. Todo o DBT disponível foi consumido após 9 dias de cultivo, formando-se no final do crescimento uma quantidade aproximadamente estequiométrica de 2-hidroxibifenilo (1:1). Estudos fisiológicos de optimização das condições de cultivo para melhorar a sua capacidade dessulfurizante ln DO430 nm ; pH 6. A contribuição do Bacillus sp. 1B do seu valor calórico como é o caso do Bacillus sp. isolado no INETI, e que o façam com taxas de dessulfurização o mais elevadas possíveis. Esses biocatalizadores, células inteiras ou enzimas isolados terão que possuir elevada estabilidade em ambiente industrial. A possibilidade de clonagem da via catabólica “4S” em hospedeiros geralmente já utilizados em bioprocessos industriais encontra- 8 300 6 250 200 4 150 2 100 0 50 -2 0 0 5 10 DBT ( µ M); HBP (µ M) adicionado NaOH (ou amónia) para a sua neutralização, resultando sulfato de sódio (ou sulfato de amónio). O sulfato de sódio é facilmente eliminado numa estação de tratamento de águas residuais, enquanto o sulfato de amónio poderá ser utilizado directamente como fertilizante agrícola. 15 Tempo (dias) lnDO430nm pH [DBT] [HBP] Figura 4 - Dessulfurização do DBT pelo Bacillus sp. 1B. A estirpe foi cultivada com 0.2 mM de DBT como fonte de enxofre e 0.5% de glucose como fonte de carbono. 7. As perspectivas A biodessulfurização é uma área de estudos relativamente “jovem” pois apenas na última década se verificou um aumento do interesse da comunidade científica. Apesar dos resultados promissores já obtidos, a obtenção de um processo de dessulfurização viável em termos industriais baseado numa fábrica celular requer ainda uma acção conjugada de estudos de fisiologia microbiana, biologia molecular e engenharia bioquímica para que a introdução deste tipo de bioprocesso se faça numa área economicamente sensível, como é a dos combustíveis fósseis. Continua a ser importante a selecção de novas estirpes microbianas com a capacidade de dessulfurizar combustíveis fósseis sem diminuição se a ser feita e o próximo passo será a implementação de estratégias de tecnologia de DNA recombinante com vista ao aumento da capacidade dessulfurizante através nomeadamente do aumento da expressão dos genes da via “4S”. Agradecimentos Os autores agradecem ao Prof. Belarmino Barata (FC-UL) pela cedência das amostras de solo contaminado que permitiram o isolamento da bactéria Bacillus sp. 1B. Este trabalho é parcialmente financiado pelos seguintes contratos: INCO–COPERNICUS–Nº IC15-CT 96-0716 e PRAXIS/2/2.1/BIO/05/94. Abril 1999 - Boletim de Biotecnologia nº 62 7 Biotecnologia Ambiental Bibliografia Alves, L.; Rodrigues, C.; Mesquita, E.; Amaral-Collaço, M.T.; Girío, F.M. Desulfurization of dibenzothiophene by Bacillus sp. 1B (artigo em preparação) Constanti, M.; Giralt, J.; Bordons, A. (1994). Desulfurization of dibenzothiophene by bacteria. World J. Microbiol. Biotechnol. 10: 510-516. Constanti, M.; Giralt, J.; Bordons, A. (1996) Degradation and desulfurization of dibenzothiophene sulfone and other sufur compounds by Agrobacterium MC501 and a mixed culture. Enzyme Microb. Technol. 19: 214-219. Dahlberg, M.; Rohrer, R.L.; Fauth, D. J.; Sprecher, R.; Olson, G.J. (1993) Biodesulfurization of Dibenzothiophene sulfone by Arthrobacter sp. and studies with oxidized Illinois No.6 coal. Fuel. 72:1645-1649. De Fatima; W.M.J.; Setti, L.; Lanzarini, G.; Pifferi, G. (1996). Dibenzothiophene biodegradation by a Pseudomonas sp. in poorly degradable organic solvents. Process Biochem. 31: 711-717. Denome, S.A.; Olson, E. S.; Young, K.D. (1993). Identification and cloning of genes involved in specific desulfurization of dibenzothiophene by Rhodococcus sp. strain IGTS8. Appl. Environ. Microbiol. 59: 2837-2843. Denome, S.A.; Oldfield, C.; Nash, L. J.; Young, K.D. (1994) Characterization of the desulfurization genes from Rhodococcus sp. strain IGTS8. J. Bacteriol. 176: 6706-6716. Eaton, R.W.; Nitterauer, J.D. (1994) Biotransformation of benzothiophene by isopropylbenzene degrading bacteria. J. Bacteriol. 176: 3992-4002. Gallangher, J.R.; Olson, E.S.; Stanley, D.C. (1993) Microbial desulfurization of dibenzothiophene: a sulfur-specific pathway. FEMS Microbiol. Lett. 107: 3136. Gray, K.A.; Pogrebinsky, O; Mrachko, G.T.; Squires, C.H. (1996) Biochemical characterization of the biodesulfurization of dibenzothiophene by Rhodococcus sp. strain IGTS8 - potencial role in fossil fuel desulfurization (conference abstract). Abstr. Pap. Am. Chem. Soc., 212 Meet., Pt.1, p. BIOL 054. Izumi, Y.; Ohshiro, T.; Ogino, H.; Hine, Y.; Shimao, M. (1994). Selective desulfurization of dibenzothiophene by 8 Rhodococcus erythropolis D-1. Appl. Environ. Microbiol. 60: 223-226. Kargi, F. (1987). Biological oxidation of thionthrene, thioxanthene and dibenzothiophene by the thermophilic organism Sulfolobus acidocaldarius. Biotechnol. Lett. 9:478-482. Kayser, K.J.; Bielaga-Jones, B.A.; Jackowsky, K; Odusan, O.; Kilbane, J.J. (1993) Utilization of organosulphur compounds by axenic and mixed cultures of Rhodococcus rhodochrous IGTS8. J. Gen. Microbiol. 139: 3123-3129. Kern, E.E., Menger, W.M., Odelson, D.A., Sinskey, A.S., Wise, D.L., Trantolo, D.J. (1989) Enzymatic coal desulfurization. US Patent nº 5094668. Kilbane, J. J.; Jackowsky, K. (1992) Biodesulfurization of water-soluble coalderived material by Rhodococcus rhodochrous IGTS8. Biotechnol. Bioeng. 40:1107-1114. Kilbane, J.J., Woodstock, I.L. (1994) Enzyme from Rhodococcus rhodochrous ATCC 53968, Bacillus sphaericus ATCC 53969 or a mutant thereof for cleavage of organic C-S bonds. US Patent nº5516677. Kim, H. Y.; Kim, T. S.; Kim, B. H.(1990) Degradation of organic sulfur compounds and the reduction of dibenzothiophene to biphenyl and hydrogen sulfide by Desulfovibrio desulfuricans Mb. Biotechnol. Lett. 12: 757-760. Konishi,J.; Ishii, Y.; Onaka, T.; Okumura, K.; Suzuki, M. (1997) Thermophilic carbon-sulfur-bond-targeted biodesulfurization. Appl. Environ. Microbiol. 63: 3164-3169. Kropp, K.G.; Gonçalves, J.A.; Andersson, J.T.; Fedorak, P.M. (1994) Microbial mediated formation of benzonaphthothiophenes from benzo[b]thiophenes. Appl. Environ. Microbiol. 60: 3624-3631. Kropp, K. G.; Andersson, J.T.; Fedorak, P.M. (1997) Bacterial transformations of 1,2,3,4-tetrahidrodibenzothiophene and dibenzothiophene. Appl. Environ. Microbiol. 63: 3032-3042. Laborde, A.L., Gibson, D.T. (1977) Metabolism of dibenzotiophene by a Beijerinckia sp. Appl. Environm. Microbiol. 34: 783-790. Lee, M.K.; Senius, J.V.; Grossman, M.J. (1995). Sufur-specific microbial desulfurization of sterically hindered analogs of dibenzothiophene. Appl. Environ. Microbiol. 61: 4362-4366. Boletim de Biotecnologia nº 62 - Abril 1999 Malik, K.A. (1978). Microbial removal of organic sufur from crude oil and the environment: some new perspectives. Process Biochem. 13: 10-12. Monticello, D.J.; Finnerty, W.R. (1985) Microbial desulfurization of fossil fuels. Ann. Ver. Microbiol. 39: 371-389. Monticello, D.J. (1998). Riding the fossil fuel biodesulfurization wave. Chemtech. 28: 38-45. Omori, T.; Monna, L.; Saiki, Y.; Kodama, T. (1992). Desulfurization of dibenzothiophene by Corynebacterium sp. Strain SY1. Appl. Environ. Microbiol. 58: 911-915. Ohisro, T.; Hirata, T.; Izumi, Y. (1995). Microbial desulfurization of dibenzothiophene in the presence of hydrocarbon. Appl. Microbiol. Biotechnol. 44: 249-252. Rhee, S.; Chang, J.H.; Chang, Y.K.; Chang, H.N. (1998). Desulfurization of dibenzothiophene and diesel oils by a newly isolated Gordona strain, CYKS1. Appl. Environ. Microbiol. 64:2327-2331. Schmidt, M.; Siebert, W.;Bagnall, K.W. (1973) “The chemistry of sulphur, selenium, tellurium and polonium” Pergamon Texts in Inorganic Chemistry, vol.15, Pergamon Press, Oxford. Setti, L.; Rossi, M.; Lanzarini, G.; Pifferi, P.G. (1993) Barrier and carrier effects of n-dodecane on the anaerobic degradation of benzothiophene by Desulfovibrio desulfuricans. Biotech. Lett. 15: 527-530. Van Afferden, M.; Schacht, S.; Klein, J.; Trüper, H.G. (1990). Degradation of dibenzothiophene by Brevibacterium sp.DO. Arch. Microbiol. 153:324-328. Van Afferden, M.; Tappe, D.; Beyer, M.; Trüper, H.G.; Klein, J. (1993) Biochemical mechanisms for the desulfurization of coal-relevant organic sulfur compounds. Fuel. 72: 1635-1643. Wang, P., Krawiec, S. (1994) Desulfurization of dibenzothiophene to 2hidroxybiphenyl by some newly isolated bacterial strains. Arch. Microbiol. 161: 266-271.