Revista_Spa_volume_41_1_Arte_FINAL_web-1
Transcrição
Revista_Spa_volume_41_1_Arte_FINAL_web-1
Vol. 25 | nº1 | 2016 ISSN 0871 - 6099 CONSENSOS VAD covidien Isto sim, é tranquilidade. A sua experiência. Monitorização BIS™. Tudo o que precisa para personalizar a anestesia e melhorar os resultados.1 A experiência ensinou-o a olhar para o paciente para perceber de que forma um determinado fármaco está a surtir efeito. A sua experiência, em conjunto com a monitorização BIS™, oferece-lhe tudo o que precisa para controlar e ajustar com confiança a anestesia a cada paciente. Está comprovado que a monitorização avançada do EEG BIS™ processa os dados mais rapidamente, tornando as perceções do cérebro durante a anestesia mais claras e também mais rápidas1. Sinta-se mais confiante quando adapta a dose necessária a cada paciente para acelerar o recobro1, diminuir os efeitos secundários1 e reduzir o estado de consciência2. No final, os doentes saem mais rapidamente1 e recuperam mais depressa1. Sucesso para si com melhores resultados e satisfação para o paciente. 1. Gan TJ, Glass PS, Windsor A, et al. Bispectral index monitoring allows faster emergence and improved recovery from propofol, alfentanil, and nitrous oxide anesthesia. BIS Utility Study Group. Anesthesiology. 1997;87(4):808-815 2. Myles PS, Leslie K, McNeil J, Forbes A, Chan MT. Bispectral index monitoring to prevent awareness during anesthesia: the B-Aware randomised controlled trial. Lancet. 2004;363(9423):1757-1763 COVIDIEN, COVIDIEN com logótipo, o logótipo Covidien e positive results for life são marcas comerciais registadas nos EUA e internacionalmente da Covidien AG. Outras marcas são marcas comerciais de uma empresa Covidien. ©2014 Covidien. 14-PM-0041 – 05/2014 A via aérea supraglótica I-gel está agora indicado para reanimação e pode ser inserido em menos de 5 segundos com utilização em pacientes com um peso de 30-90 Kgs+, torna o i-gel indicado para a maioria dos adultos. Para experimentar i-gel visite www.i-gel.com, onde poderá encontrar mais informação, videos, downloads e as últimas novidades. ´ LIVOPAN ® A escolha natural 50% oxigénio 50% protóxido de azoto nem mais nem menos MED744 - PT/março 2016 LIVOPAN® é um medicamento sujeito a receita médica restrita. RCM REDUZIDO: 1. DENOMINAÇÃO: LIVOPAN 50%/50%, gás medicinal comprimido. 2. COMPOSIÇÃO: Protóxido de azoto medicinal (N2O) 50 % v/v e oxigénio medicinal (O2) 50 % v/v a uma pressão de 138 bar ou de 170 bar (15°C). 3. FORMA FARMACÊUTICA: Gás medicinal comprimido. 4. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: O LIVOPAN está indicado nas situações de dor de curta duração, de intensidade ligeira a moderada, quando se pretende uma analgesia de indução e recuperação rápida. 5. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Devem ser tomadas precauções especiais quando se trabalha com protóxido de azoto. O protóxido de azoto deve ser administrado de acordo com as orientações nacionais. O LIVOPAN é administrado por via inalatória em doentes em ventilação espontânea através de uma máscara facial. A administração do LIVOPAN é gerida pela respiração do doente. Segurando a máscara firmemente ao redor da boca e nariz e respirando através da máscara, a vulgarmente denominada “válvula de demanda” abre e o LIVOPAN é libertado do equipamento e é administrado ao doente através da via aérea. A absorção ocorre nos pulmões. Em odontologia, é recomendada a utilização de uma máscara dupla; ou em alternativa, uma máscara nasal ou naso-bucal com sistemas de exaustão/ventilação adequados. A administração por via endotraqueal não é recomendada. A administração de LIVOPAN a doentes que respirem por tubos endotraqueais deve ser feita apenas por profissionais de saúde qualificados na prestação de anestesia. A administração de LIVOPAN deve ser iniciada pouco antes do desejado efeito analgésico. O efeito analgésico é evidenciado após 4-5 ventilações e atinge o seu máximo dentro de 2-3 minutos. A administração de LIVOPAN deve continuar durante todo o procedimento doloroso, ou enquanto o efeito analgésico for desejado. Após a descontinuação da administração/inalação, os efeitos desaparecem rapidamente em poucos minutos. Dependendo da reacção individual ao efeito analgésico, pode ser necessário adicionar outros analgésicos. O LIVOPAN deve ser utilizado, de preferência, em doentes capazes de compreender e seguir as instruções sobre a utilização do equipamento e máscara. Em crianças ou em doentes que não são capazes de compreender e seguir as instruções, o LIVOPAN pode ser administrado sob a supervisão de pessoal médico competente que pode ajudá-los a manter a máscara no lugar e monitorizar activamente a administração. Nestes casos, o LIVOPAN pode ser administrado com um fluxo de gás constante. Devido ao risco aumentado do doente ficar marcadamente sedado e inconsciente, esta forma de administração só deverá ocorrer em condições controladas. O fluxo contínuo de gás só deve ser utilizado na presença de pessoal qualificado e em locais com equipamento adequado para gestão dos efeitos da sedação e diminuição da consciência mais pronunciada. Sempre que se use fluxo contínuo, o risco potencial de inibição do reflexos de protecção da via aérea tem de ser considerado, pelo que é necessário estar preparado para assegurar a permeabilidade da via aérea e a ventilação assistida. Ao terminar a administração, deve ser permitido ao doente recuperar de forma calma e sob condições controladas por cerca de 5 minutos ou até que o grau de alerta/consciência recupere satisfatoriamente. O LIVOPAN pode ser administrado até 6 horas sem monitorização hematológica em doentes sem factores de risco. 6. CONTRA-INDICAÇÕES: Durante a inalação do LIVOPAN, bolhas de gás (embolia gasosa) e cavidade cheias de gás podem expandir devido à elevada difusibilidade do protóxido de azoto. Consequentemente a utilização de LIVOPAN está contraindicada: Em doentes com sintomas de pneumotórax, pneumopericárdio, enfisema severo, embolia gasosa ou traumatismo craniano; Após a realização de mergulho profundo devido ao risco de doença de descompressão (bolhas de azoto); Após bypass cardio-pulmonar recente com circulação extra-corporal e após bypass coronário sem circulação extra-corporal; Após injecções intra oculares recentes de gás (ex. SF6, C3F8), até que este seja completamente absorvido, porque o volume de gás pode aumentar a pressão/volume com risco de cegueira; Doentes com dilatação severa do tracto gastrointestinal. O LIVOPAN está também contraindicado em: Doentes que apresentem hipersensibilidade ao protóxido de azoto; Doentes com insuficiência cardíaca ou disfunção cardíaca (ex. após cirurgia cardíaca), por aumentar o risco de deterioração da performance cardíaca; Em doentes que apresentem sinais persistentes de confusão, ou outros sinais de aumento da pressão intracraniana; Doentes que apresentem uma diminuição do nível de consciência e/ ou da capacidade de cooperar e seguir instruções, pelo risco de uma maior sedação por parte do protóxido de azoto poder afectar os reflexos de protecção naturais; Doentes com deficiências diagnosticadas mas não tratadas das vitaminas B12 ou ácido fólico, ou com perturbações genéticas ao nível das enzimas envolvidas no metabolismo destas vitaminas; Em doentes com lesões faciais que dificultem ou ponham em risco a utilização da máscara. 7. ADVERTÊNCIAS: O LIVOPAN só deve ser administrado por pessoal qualificado, com acesso a equipamento de reanimação. Na utilização de um fluxo constante da mistura gasosa, o risco de sedação profunda, inconsciência e perda dos reflexos de protecção, com por exemplo, regurgitação e aspiração, devem ser considerados. É importante ter em atenção o potencial uso abusivo do fármaco. Devem se tomadas medidas para que as concentrações no ambiente de trabalho sejam as mais baixas possíveis e de acordo com a regulamentação. As salas em que se utilize LIVOPAN devem ser convenientemente ventiladas e/ou equipadas com sistemas de exaustão que assegurem uma concentração de protóxido de azoto no ar ambiente abaixo dos limites nacionais de exposição ocupacional estabelecidos. 8. INTERACÇÕES: Combinação com outros medicamentos: O protóxido de azoto, componente do LIVOPAN, interage de forma aditiva com anestésicos inalados e/ou substâncias activas com efeito ao nível do sistema nervoso central (e.g. opiáceos, benzodiazepinas e outros psicotrópicos). Na utilização concomitante de agentes de acção central deve-se ter em consideração os riscos de sedação pronunciada e depressão dos reflexos de protecção. O Linde: Living healthcare LIVOPAN potencia o efeito inibitório do metotrexato sobre a metionina sintetase e o metabolismo do ácido fólico. A toxicidade pulmonar associada a substâncias activas, tais como a bleomicina, amiodarona, e furadantina ou antibióticos similares, pode ser exacerbada pela inalação de oxigénio suplementar. Outras interacções: O protóxido de azoto, presente no LIVOPAN, inactiva a vitamina B12 (co-factor na síntese da metionina) a qual interfere com o metabolismo do ácido fólico. Assim a síntese de DNA é comprometida após administração prolongada de protóxido de azoto. Estas alterações podem resultar em alterações megaloblásticas da medula óssea, e possível polineuropatia e/ou degeneração subaguda da medula espinal. Portanto a administração de LIVOPAN deve ser limitada no tempo. 9. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Anemia megaloblástica e leucopénia foram relatadas após a exposição prolongada ou repetida a LIVOPAN. Efeitos neurológicos, como mielopatia e polineuropatia, foram relatados em exposições excepcionalmente elevadas e frequentes. Deve ser considerada a administração de terapia de substituição em todos os casos de suspeita de deficiência das vitaminas B12 ou folato, ou se surgirem sinais ou sintomas de efeitos sobre a síntese de metionina desencadeados por protóxido de azoto. Frequentes (>1/100, <1/10): – Doenças do sistema nervoso: tonturas, sensação de lipotímia, euforia; – Doenças gastrointestinais: náuseas e vómitos. Pouco frequentes (>1/1000, < 1/100): – Doenças do sistema nervoso: astenia marcada. Afecções do ouvido e do labirinto: e sensação de pressão no ouvido médio. – Doenças gastrointestinais: aerocolia, aumento do volume de gás intestinal. Frequência desconhecida (não pode ser estimada a partir dos dados disponíveis): – Doenças do Sangue e sistema linfático: anemia megaloblástica, leucopénia; – Doenças do sistema nervoso: polineuropatia, paraparesia e mielopatia, depressão respiratória, cefaleias; – Perturbações do foro psiquiátrico: psicose, confusão, ansiedade. Para mais informações deverá contactar o titular da autorização de introdução no mercado. Linde Portugal, Lda. | t.218 310 442 | [email protected] | www.linde-healthcare.pt Revista da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia Vol 25 - Nº 1 | 2016 Vol. 24 | nº1| 2015 ISSN 0871 - 6099 Sumário // ContentS hp://revistas.rcaap.pt/anestesiologia FICHA TÉCNICA EDITOR CHEFE // Editor-in-Chief António Augusto Martins - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra - Portugal EDITORES ASSOCIADOS // Associate Editors Fernando Abelha - Centro Hospitalar S. Porto - Portugal Lucindo Ormonde - Centro Hospitalar Lisboa Norte - Portugal Paulo Sá – Hospital Amadora Sintra, CVP e Clínica de Santo António, Lisboa - Portugal Rosário Órfão - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra - Portugal CONSELHO EDITORIAL // EDITORIAL BOARD Daniela Figueiredo - Centro Hospitalar do Porto - Portugal Hugo Vilela - Centro Hospitalar Lisboa Norte - Portugal Joana Carvalhas – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra - Portugal Jorge Reis - Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia - Espinho - Portugal Jorge Tavares – Faculdade de Medicina da Universidade do Porto - Portugal José Luís Ferreira – Centro Hospitalar Lisboa Central - Portugal Luís Agualusa – Unidade Local de Saúde de Matosinhos - Portugal Pedro Amorim – Centro Hospitalar do Porto - Portugal Rui Araújo - Unidade Local de Saúde de Matosinhos - Portugal Sílvia Neves - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra - Portugal CONSULTORA TÉCNICA // COPY EDITOR Helena Donato - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra - Portugal INFORMAÇÃO SOBRE A REVISTA // Information http://revistas.rcaap.pt/anestesiologia // http://www.spanestesiologia.pt E-MAIL: [email protected] DIREÇÃO DA SPA // SPA Board Presidente // President Maria do Rosário Lopes Garcia Matos Órfão Vice - Presidente // Vice - President Paulo Alexandre Sá Antunes Rodrigues Secretário // Secretary Rui Nuno Machado Guimarães Tesoureiro // Treasurer Marta Sofia Aurélio Azenha Vogal // Member of the Board Fernando José Pereira Alves Abelha SPA // SPA Address Centro de Escritórios do Campo Grande Av. do Brasil, nº 1, 5º andar, sala 7 1749 - 028 Lisboa - Portugal tel.: (+351) 913 609 330 e-mail: [email protected] Propriedade e Administração da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia // Portuguese Society of Anesthesiology Ownership and Management Editorial Consensos na Gestão da Via Aérea em Anestesiologia // Anesthesiology consensus in airway management 6 Jorge Matos Órfão, José Gonçalves Aguiar Consensos // Consensus CONSENSOS NA GESTÃO CLÍNICA DA VIA AÉREA EM ANESTESIOLOGIA // ANESTHESIOLOGY CONSENSUS IN THE MANAGEMENT OF THE AIRWAY 7 Jorge Matos Órfão, José Gonçalves Aguiar (VAD SPA) Artigo de Revisão // Review Anestesia no Idoso // Anesthesia in the elderly 32 Mário Guerra, FErNando abelha Caso Clínico // Case Report Efeito paradoxal da atropina: mito ou realidade subvalorizada? // Paradoxical effect of atropine: myth or undervalued reality? 45 Daniel Rodrigues Alves, Susana Amim, Nídia Gonçalves ISSN 0871-6099 Depósito Legal // Legal Deposit nº:65830/93 Preço Avulso // Individual Copy 7,5€ / Número // Number Assinatura // Subscription Rates: 4 edições // 4 copies / 30€ Distribuição: Gratuita aos Sócios da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia // Distribution: Without Charge for Membership of Portuguese Society of Anesthesiology Tiragem // Printed Copies: 2500 Periocidade: Trimestral (mar, jun, set, dez) // Frequency : Quarterly (Mar, Jun, Sep, Dec) Design, Concepção Gráfica e Paginação // Graphic Design, Paging and Printing: Letra Zen Comunicação [email protected] | (+351) 910 023 527 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 Impresso em papel ácido livre // Printed on acid-free paper 5 Editorial Consensos na Gestão da Via Aérea em Anestesiologia // Anesthesiology consensus in airway management Jorge Matos Órfão1, José Gonçalves Aguiar1 1 Assistente Hospitalar Graduado, Serviço de Anestesiologia do Centro Hospitalar do Porto, Porto, Portugal A abordagem da via aérea dos doentes é uma competência nuclear da nossa especialidade e como tal tem sido objeto de uma preocupação na formação e no treino fundamentais para uma adequada prática clinica, sustentada em documentos que ajudam a criar padrão na prática clinica adequado e segura. É propósito da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (SPA), o apoio a iniciativas que se relacionem com o estudo, reflexão, formação e criação de documentos orientadores na organização ou regulação da nossa prática clínica, nomeadamente no que se refere à abordagem da via aérea. Nesse sentido tem incentivado e apoiado diversas iniciativas como cursos ou workshops, associados aos cursos anuais do Centro Português do Comité Europeu para a Educação em Anestesiologia (CEEA) e atividades peri-congresso anual da SPA, entre outras. Em 2008 foi criado o Grupo de Trabalho de Via Aérea Difícil da SPA que tem sido responsável pela realização de cursos de abordagem e manuseio da via aérea de que são exemplo o Curso Via Aérea Difícil ou o de Fibroscopia da Via Aérea. Em agosto de 2014 por iniciativa do Grupo de Trabalho de Via Aérea Difícil e com o apoio da Direção da SPA, foi lançado o desafio de elaborar os primeiros consensos em via aérea difícil para Portugal. Estes consensos pretendem ser mais do que uma simples importação e tradução de diferentes algoritmos de sociedades científicas mundiais de reconhecido valor e mérito. Tendo como base o estado da arte acerca da abordagem da via aérea e os consistentes documentos existentes de sociedades científicas como a Difficult Airway Society (DAS), American Society of Anesthesiologists (ASA), European Airway Management Society (EAMS), etc. bem como importante bibliografia acerca do tema, procurou-se elaborar um documento que possa refletir uma adaptação às realidades e prática da anestesia portuguesa. Em paralelo foi realizado um esforço para criar um registo único de via aérea difícil, para adultos e crianças, que ao incluir informação considerada imprescindível acerca da abordagem da via aérea, permita construir uma base de dados que possa constituir um apoio sólido à reflexão acerca da nossa prática anestésica, no que respeita à abordagem da via aérea. Estudos recentes, nomeadamente os realizados no Reino Unido (4th National Audit Project of the Royal College of Anaesthetists and the Difficult Airway Society - NAP4) demonstram que a ocorrência de problemas na abordagem da via aérea se relaciona com os operadores envolvidos e o seu nível de performance, bem como com as linhas de atuação 6 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 previstas e os materiais que nelas se incluem para cumprir o objetivo definido. Nos últimos anos tem-se verificado um desenvolvimento de dispositivos que ajudam a uma mais segura, consistente e adequada abordagem da via aérea de que são exemplo os dispositivos supraglóticos, laringoscópios, videolaringoscópios, fibroscópios, etc. sendo a elaboração de recomendações e guidelines na abordagem de via aérea como noutras áreas, uma tentativa de uniformizar e integrar práticas de atuação, materiais disponíveis e níveis de formação e experiência, com o objetivo de melhorar as condições em que essa abordagem é realizada e, com isso, melhorar o outcome dos doentes. Os consensos são recomendações práticas que agrupam informação científica publicada, opinião de peritos ou dados clínicos e destinam-se aos colegas, com o objetivo de os ajudar na tomada de decisões no que à abordagem da via aérea diz respeito, tendo presente que a aplicação destas recomendações não são garante de resultados específicos e podem ser adaptadas ou modificadas atendendo a limitações ou situações fundamentadas. Devem ficar sujeitas a revisões periódicas, tendo em atenção a evolução da medicina e da anestesia e a avaliação dos resultados obtidos da sua própria aplicação ou aplicabilidade. A existência de recomendações possibilita a uniformização de linguagem, objetivos, prática clínica e materiais a utilizar perante determinados cenários de abordagem da via aérea. Os registos serão memória e partilha de experiências, sempre importante para a evolução dos cuidados prestados. Com a publicação destes consensos pretende-se dar um contributo para uma evolução, conscientes de que é apenas um passo significativo na segurança e na qualidade dos cuidados de anestesia prestados aos nossos doentes. Conscientes do muito que ainda há a fazer, existe também a satisfação pela possibilidade de se ter mobilizado um vasto grupo de colegas para este contributo de criação de um documento, em português, que faça a síntese do que pode ser uma abordagem estruturada da via aérea. Conflito de Interesses Os autores declaram não existir conflito de interesses em relação ao trabalho efetuado. Fontes de Financiamento Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo. Jorge Matos Órfão José Gonçalves Aguiar Consensos // Consensus CONSENSOS NA GESTÃO CLÍNICA DA VIA AÉREA EM ANESTESIOLOGIA Jorge Matos Órfão1, José Gonçalves Aguiar1, Alexandre Carrilho2, Amélia Ferreira3, Ana Leão3, Carla Mourato4, Carlos Mexêdo1, Cláudia Pereira5, Fábio Vaz6, Filipa Lança7, Graça Paiva8, Ivo Pires7, Joana Carvalhas8, Joana Mourão3, João Bonifácio8, Lina Miranda9, Marta Guinot10, Mercedes Gacio9, Nuno Moinho8, Patricia Santos3, Paula Sarmento11, Rita Frada1, Rita Resende12, Rui Lages13, Sandra Gestosa14, Teresa Rocha15, Zélia Moreira1. Palavras-chave: - Anestesia; - Consenso; - Intubação Intratraqueal; - Manuseio das Vias Aéreas; - Obstrução das Vias Respiratórias; - Portugal Resumo Os consensos na gestão clínica da via aérea em anestesiologia pretendem disponibilizar informação, baseada na evidência atual ou, na falta desta, na opinião de peritos, no que respeita à abordagem da via aérea difícil previsível ou não previsível. Reforçamos a importância da avaliação da via aérea e da identificação de potenciais problemas que possam condicionar dificuldade na sua abordagem e a adoção de uma estratégia segura que permita identificar e responder em crescendo de intervenção às dificuldades encontradas. Na impossibilidade de intubação traqueal (não intubo) otimizada e limitada a 4 tentativas, da impossibilidade de ventilar e oxigenar (não oxigeno) após 2 tentativas de usar um dispositivo supraglótico ou de uso de máscara facial inicialmente adequada é importante realizar, em tempo útil, uma cricotirotomia para assegurar oxigenação. As situações clínicas de exceção só com planos simples, conhecidos por todos e regularmente treinados e adaptados à nossa atividade clinica podem assegurar melhores “outcomes”. O registo destes eventos e a informação ao nosso doente da dificuldade encontrada e modo como foi resolvido o problema é essencial e constitui ainda um desafio a alargar a uma base nacional. ANESTHESIOLOGY CONSENSUS IN THE MANAGEMENT OF THE AIRWAY Jorge Matos Órfão1, José Gonçalves Aguiar1, Alexandre Carrilho2, Amélia Ferreira3, Ana Leão3, Carla Mourato4, Carlos Mexêdo1, Cláudia Pereira5, Fábio Vaz6, Filipa Lança7, Graça Paiva8, Ivo Pires7, Joana Carvalhas8, Joana Mourão3, João Bonifácio8, Lina Miranda9, Marta Guinot10, Mercedes Gacio9, Nuno Moinho8, Patricia Santos3, Paula Sarmento11, Rita Frada1, Rita Resende12, Rui Lages13, Sandra Gestosa14, Teresa Rocha15, Zélia Moreira1. Keywords: - Airway Management; - Airway Obstruction; - Anesthesia; - Consensus; - Intubation, Intratracheal; - Portugal Abstract The consensus in the management of the airway in anesthesiology intended to provide information, based on current evidence, or in the failing of that in the opinion of experts with respect to the anticipated or unanticipated difficult airway. We reinforce the importance of airway assessment and the identification of potential problems that may cause difficulty in their approach and the adoption of a safe strategy to identify and respond to the difficulties encountered. The impossibility of tracheal intubation (cannot intubate) optimized and limited to 4 attempts, the inability to ventilate and oxygenate (cannot oxygenate) after 3 attempts with a supraglottic device or a facial mask, it´s important to make in time a cricothirotomy to ensure oxygenation. Infrequent clinical conditions only with simple plans, known by everyone and regularly trained and adapted to our clinical activity can ensure better “outcomes”. The registration of these events and the information to our patient’s about the founded difficulty and the way the problem has been resolved the issue is essential and is still a challenge to extend into a national basis. Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar Porto, Porto, Portugal Serviço de Anestesiologia, Hospital São José, Centro Hospitalar Lisboa Central, Lisboa, Portugal 3 Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar São João, Porto, Portugal 4 Serviço de Anestesiologia, Instituto Português Oncologia, Coimbra, Portugal 5 Serviço de Anestesiologia, Hospital de Viseu, Viseu, Portugal 6 Serviço de Anestesiologia, Hospital Pediátrico Coimbra, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal 7 Serviço de Anestesiologia, Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa, Portugal 8 Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar Universitário Coimbra, Coimbra, Portugal 1 2 Serviço de Anestesiologia, Instituto Português Oncologia, Porto, Portugal Serviço de Anestesiologia, Hospital Angra do Heroísmo, Angra do Heroísmo, Açores, Portugal 11 Serviço de Anestesiologia, Hospital S. Sebastião, Vila da Feira, Portugal 12 Serviço de Anestesiologia, Hospital Pedro Hispano, Matosinhos, Portugal 13 Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia Espinho, Portugal 14 Serviço de Anestesiologia, Hospital Faro, Centro Hospitalar do Algarve, Faro, Portugal 15 Serviço de Anestesiologia, Hospital Dª. Estefânia, Centro Hospitalar Lisboa Central, Lisboa. 9 10 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 7 Consensos Via Aérea Difícil SPA I. IntroduÇÃO Experiência e competência na gestão da via aérea assume-se como nuclear e fundamental na prática clínica de um anestesiologista. Independentemente do cenário clínico (bloco operatório, unidade de cuidados pós anestésicos, unidade de cuidados intensivos, emergência, etc.) em que o anestesiologista aborda o seu doente, a gestão da abordagem e manuseio da via aérea assume-se como um domínio essencial. O reconhecimento da existência de uma potencial dificuldade é fundamental para antecipar e construir um modelo de abordagem da via aérea que se revele seguro, adequado e eficaz para assegurar patência, estabilidade e protecção da via aérea no sentido de podermos assegurar ventilação e oxigenação adequada ao nosso doente. Essa impossibilidade pode ser desastrosa, tida como incompetente e associar-se a importante morbilidade e mortalidade. A elaboração de documentos de ajuda na organização e a regulação da nossa prática clínica, nomeadamente no que se refere à abordagem da via aérea são fundamentais. A Sociedade Portuguesa de Anestesiologia – SPA, incentivou e apoiou iniciativas relacionadas com a gestão clínica da via aérea como cursos ou workshops associados aos cursos anuais do Centro Português da CEEA - Comité Europeu para a Educação em Anestesiologia ou ao seu congresso anual. Em 2008 foi criado o Grupo de Trabalho de Via Aérea Difícil da SPA que tem sido responsável pela realização de cursos de abordagem e manuseio da via aérea de que são exemplo o Curso Via Aérea Difícil ou o Curso Fibroscopia da Via Aérea. Em agosto de 2014 o Grupo de Trabalho de Via Aérea Difícil da SPA propôs a elaboração dos primeiros Consensos em Via Aérea Difícil para Portugal. Estes pretendem ser mais do que uma importação e tradução de diferentes algoritmos de sociedades científicas mundiais de reconhecido valor e mérito. Procura reflectir o estado da arte na abordagem da via aérea e pretende ser um documento que possa possibilitar uma adaptação à realidade e prática clinica da anestesiologia portuguesa. Em simultâneo, foi realizado um esforço para se criar um registo acerca da Via Aérea Difícil, para adultos e crianças, que incluísse informação considerada imprescindível acerca de problemas encontrados na abordagem e manuseio da via aérea entre nós e permitisse construir uma base de dados que possa constituir um apoio para a análise e reflexão acerca da nossa prática anestésica, no que respeita à abordagem da via aérea. II. CONSIDERAÇÕES GERAIS A abordagem da via aérea dos doentes é uma competência nuclear da nossa especialidade e como tal tem sido objecto de um investimento na formação e no treino para um adequado desempenho clínico sustentado em documentos que ajudam a criar padrão para uma prática clinica adequada e segura. A abordagem da via aérea, nomeadamente em emergência, é frequentemente “life-saving” mas pode ocasionalmente resultar em complicações severas e mesmo fatais.1-4 Em doentes em que após a indução anestésica nos vemos incapazes de manusear a apneia que condicionamos, pode ser trágico.5-8 As complicações mais frequentes associadas à anestesia referidas na 8 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 “closed claim analysis”: morte (26 %), lesão neurológica (22 %) ou lesão cerebral permanente (9 %) são avassaladoras e os eventos mais devastadores associados a essa morbilidade e mortalidade em anestesia são os respiratórios (17 %).9 As complicações na abordagem da via aérea ocorrem durante todo o período perioperatório: 67 % na indução, 15 % durante a cirurgia, 12 % na extubação, e 5 % durante a recuperação da anestesia e apesar de o número de mortes e lesões cerebrais na indução anestésica tenha diminuído de 62 % (1985-1992) para 35 % (1993-1999) o mesmo não se verificou relativamente às outras fases da anestesia e a probabilidade de morte/lesão cerebral acrescida nas emergências da via aérea associam-se a persistentes tentativas de intubação traqueal. Tal facto levou ao desenvolvimento de estratégias de gestão da via aérea na indução, manutenção e recuperação da anestesia para melhorar a segurança dos nossos doentes.10 O 4th National Audit Project of the Royal College of Anaesthetists and Difficult Airway Society (NAP4) realizado no Reino Unido (UK) dá-nos informações relevantes acerca de factores que contribuem para “outcomes” negativos relacionados com avaliação, comunicação, planeamento, equipamento utilizado e treino para a abordagem e manuseio da via aérea11 e se é verdade que as complicações na gestão da via aérea são raras, quando acontecem podem ter graves consequências e o NAP4 estima que 1:22000 anestesias gerais resulta em complicação grave e que em 1:150 000 anestesias é complicada por morte ou lesão cerebral.11-13 As consequências de cada complicação na gestão da via aérea é influenciada por factores associados ao doente (co-morbilidades), a competência e desempenho do anestesista, ajuda organizada ou material disponível11,14,15 e novos desafios como o envelhecimento das populações e os avanços científicos e tecnológicos, que possibilitam e exigem novas e mais complexas técnicas e terapêuticas cirúrgicas, levam a que a possibilidade de nos depararmos com uma via aérea difícil e a ocorrência de problemas na sua abordagem com aumento da morbilidade e ou mortalidade seja uma situação relevante nos nossos dias. Assistimos a um esforço continuado e uma evolução significativa na metodologia de avaliação da via aérea com o objectivo de conseguir um maior grau de previsibilidade na dificuldade expectável quando da abordagem da via aérea, desenvolvimento de dispositivos que ajudem a uma mais segura, consistente e adequada abordagem da via aérea de que são exemplo os dispositivos supraglóticos, videolaringoscópios, fibroscópios, etc. e a elaboração de recomendações, guidelines ou consensos para abordagem de via aérea numa tentativa de uniformizar práticas de atuação, materiais disponíveis a usar e níveis de formação, treino e experiência, com o objetivo de melhorar as condições em que essa abordagem é realizada e com isso melhorar o “outcome” dos nossos doentes. III. OBJECTIVOS DOS CONSENSOS Estes Consensos são recomendações que agregam informação e evidência científica publicada, opinião de peritos e dados clínicos com o objectivo de facilitar a tomada de decisões para o manuseio da via aérea difícil possibilitando uma resposta estruturada a problemas clínicos potencialmente ameaçadores e Consensos Via Aérea Difícil SPA assim contribuir para a redução de “outcomes“ adversos como trauma da via aérea, via aérea cirúrgica não necessária, lesão cerebral ou morte, mas obviamente não acolhe todos os problemas ou soluções acerca da via aérea difícil. A adopção e aplicação de algoritmos, guidelines ou recomendações desenvolvidos e disponibilizados pelas diferentes sociedades científicas não garante benefícios ou resultados específicos16 e estes consensos não fogem a essa regra. Assim, estas “recomendações” podem ser adaptadas ou modificadas atendendo a limitações, condicionalismo ou especificidade locais associadas à situação clínica, logística ou organizacional específica. Não é intenção destes consensos constituir -se como referência de “standard” mínimo de prática na abordagem e manuseio da via aérea ou de avaliação e juízo clínico. Deve ficar sujeito a revisões periódicas, tendo em atenção a evolução do estado da arte em anestesiologia e a avaliação dos resultados obtidos da sua aplicabilidade e utilização. A primeira ideia a reter é a da necessidade de se realizar uma avaliação estruturada e cuidadosa da via aérea em todos os doentes que vão estar ao cuidado de um anestesiologista, no sentido de se identificarem potenciais problemas e dificuldade e assim se poder organizar um plano de abordagem da via aérea coerente e consistente de acordo com o problema identificado, a capacidade e experiência do anestesiologista, da ajuda ou material disponível, diminuindo o risco de complicações.11 Há que assegurar um plano inicial (A) de abordagem da via aérea que tenha a maior probabilidade de sucesso. “First attempt - the best attempt”, ou seja, que a primeira tentativa seja a melhor tentativa17 e como o objetivo é uma resposta estruturada a problemas que se vão colocando e são potencialmente adversos, é fundamental ter planos alternativos (B, C, D) que, na impossibilidade de intubação traqueal na primeira tentativa, assegurem ventilação e oxigenação adequadas e limitem trauma e complicações da via aérea por abordagens repetidas e inadequadas.18 Toda a equipa deve estar preparada para estes planos alternativos e com os dispositivos necessários para tal disponíveis, antes de iniciar a abordagem da via aérea. Conseguida a intubação traqueal nunca esquecer que os problemas iniciais podem manter-se ou mesmo serem agravados no fim de um procedimento ou que novos desafios se podem colocar no momento da extubação. Daí se propor, de acordo com a gravidade situação, plano (guideline) para uma extubação em segurança. Como a nossa actividade também se desenvolve em contextos clínicos particulares (obstetrícia, pediatria e trauma) desenvolveram-se guidelines específicos para a abordagem da via aérea nos doentes daquelas especialidades. IV. METODOLOGIA Foi realizada pesquisa bibliográfica de bases de dados (MEDLINE, PubMed, Embase e Ovid) acerca de guidelines, algoritmos e consensos na gestão da via aérea. Privilegiámos o acesso aos sites das sociedades internacionais que se dedicam à gestão da via aérea Difficult Airway Society - DAS (www.das.uk. com), Society for Airway Management - SAM (www.samhq.com), European Airway Management Society - EAMS (www.eamshq. net) e de sociedades internacionais referência na anestesiolo- gista como a European Society of Anesthesiologists, ESA (www. esahq.org/ euroanaesthesia), American Society of Anesthesiologists, ASA (www.asahq.org), Australian and New Zealand College of Anaesthetists, ANZCA (www.anzca.edu.au) ou a Canadian Anesthesiologists Society (www.cas.ca). Optou-se por uma abordagem inicial generalista da via aérea e da via aérea difícil mas como a nossa actividade também se desenvolve em contextos clínicos particulares (obstetrícia, pediatria e trauma) desenvolveram-se recomendações e guidelines específicos para a gestão da via aérea difícil nos doentes daquelas especialidades. Cada cenário clínico específico (obstetrícia, pediatria e trauma) foi desenvolvido por um grupo de 4 a 5 colegas sob coordenação de um dos elementos do Grupo de Via Aérea Difícil da SPA. A constituição dos grupos procurou agrupar colegas com experiências hospitalares e vivência clínico diversificadas, tendo a seleção dos colegas tido como critérios a sua experiência profissional e a sua experiência específica na abordagem da via aérea, o seu local de trabalho em dimensão e tipo de cuidados prestados e a localização geográfica procurando envolver um número representativo de hospitais de todo o País. O trabalho de cada grupo desenvolveu-se de forma autónoma e totalmente independente dos restantes grupos tendo sido elaborado um consenso final para cada situação clínica específica. Assim, este é o resultado de um trabalho extenso, levado a cabo por um vasto grupo de anestesiologistas de todo o país que nele procuraram também refletir a sua experiência e as suas preocupações com a via aérea difícil. Estes consensos foram apresentados e deu-se início à sua discussão pública no Congresso Anual da SPA em março de 2015. O documento ficou disponível no site da SPA para divulgação e auscultação de opinião de todos os colegas anestesiologistas de julho a dezembro de 2015. V. O GRUPO DE TRABALHO Coordenação: Jorge Matos Órfão, Centro Hospitalar Porto Colaboração: Alexandre Carrilho, Centro Hospitalar Lisboa Central (Hospital São José) Amélia Ferreira, Centro Hospitalar São João Ana Leão, Centro Hospitalar São João Carla Mourato, Instituto Português Oncologia, Coimbra Carlos Mexêdo, Centro Hospitalar Porto (Coordenação grupo de via aérea no trauma) Cláudia Pereira, Hospital de Viseu Fábio Vaz, Hospital Pediátrico Coimbra Filipa Lança, Centro Hospitalar Lisboa Central (Hospital Santa Maria) Graça Paiva, Centro Hospitalar Universitário Coimbra Ivo Pires, Centro Hospitalar Lisboa Norte (Hospital Santa Maria) Joana Carvalhas, Centro Hospitalar Universitário Coimbra Joana Mourão, Centro Hospitalar S. João (coordenação grupo registos da via aérea) Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 9 Consensos Via Aérea Difícil SPA João Bonifácio, Centro Hospitalar Universitário Coimbra José Gonçalves Aguiar, Centro Hospitalar Porto Lina Miranda, Instituto Português Oncologia, Porto Marta Guinot, Hospital Angra do Heroísmo Mercedes Gacio, Instituto Português Oncologia, Porto Nuno Moínho, Centro Hospitalar Universitário Coimbra Patrícia Santos, Centro Hospitalar São João Paula Sarmento, Hospital S. Sebastião, Vila da Feira Rita Frada, Centro Hospitalar Porto (coordenação grupo de via aérea em pediatria) Rita Resende, Hospital Pedro Hispano, Matosinhos Rui Lages, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia Espinho Sandra Gestosa, Hospital Faro Teresa Rocha, Hospital Dª. Estefânia, Lisboa Zélia Moreira, Centro Hospitalar Porto (coordenação grupo de via aérea em obstetrícia) VI. CONSENSOS NA GESTÃO CLÍNICA DA VIA AÉREA EM ANESTESIOLOGIA 1. DEFINIÇÕES DE VIA AÉREA Conjunto de noções e definições simples que não pretendem abranger a totalidade das situações clínicas, mas apenas as mais frequentes, possibilitando que exista uma linguagem e conceitos padrão. VIA AÉREA DIFÍCIL Não existe uma definição standard e única de Via Aérea Difícil na bibliografia disponível.17 Assumimos Via Aérea Difícil como uma situação clínica em que um anestesiologista treinado e experiente se depara com dificuldades na ventilação com máscara facial ou dispositivo supraglótico, dificuldade na laringoscopia directa ou indirecta, dificuldade na intubação traqueal ou na via aérea cirúrgica.18 Há que ter consideração de que Via Aérea Difícil é uma interação complexa entre factores associados ao doente, ao cenário clínico específico e a capacidade do profissional, equipa e organização envolvida. VENTILAÇÃO DIFÍCIL COM MÁSCARA FACIAL OU DISPOSITIVO SUPRAGLÓTICO Situação clínica em que um anestesiologista treinado e experiente não consegue promover uma ventilação adequada sob máscara facial ou dispositivo supraglótico (máscara laríngea ML; máscara laríngea de intubação MLi; tubo laríngeo) e garantir uma saturação O2 > 92 %. Esta impossibilidade, difícil de reconhecer1 e descrita de: sem dificuldade até impossível (apesar de tentativas de classificação),20-22 deve-se a inadequada adaptação e selagem do dispositivo, fuga de gás ou resistência aumentada para a ventilação e manifesta-se por sinais de inadequada ventilação e oxigenação como inadequados ou ausentes movimentos de tórax e auscultação pulmonar, inadequados ou ausentes valores de dióxido de carbono expirado e de espirometria, cianose, distensão gástrica 10 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 e alterações hemodinâmicas associadas a hipoxemia e hipercapnia taquicardia, hipertensão, arritmias) que se vai instalando.7 COLOCAÇÃO DIFÍCIL DE DISPOSITIVO SUPRAGLÓTICO Situação clínica em que a colocação do dispositivo supraglótico requer múltiplas tentativas numa via aérea com ou sem patologia da traqueia.17 Em 25 % dos incidentes anestésicos reportados no NAP4 relacionam-se com a dificuldade de inserção de um dispositivo supraglótico na abordagem primária ou na abordagem de resgate da via aérea.11 LARINGOSCOPIA DIFÍCIL Situação clínica em que para um anestesiologista treinado e experiente não é possível visualizar as cordas vocais, no seu todo ou em parte, após várias tentativas de laringoscopia convencional optimizada.16 Independentemente da técnica de laringoscopia usada (direta ou indireta), deve descrever-se o dispositivo, a visibilidade obtida, o número de tentativas e de manobras de ajuda para o resultado final.17 INTUBAÇÃO TRAQUEAL DIFÍCIL Situação clínica em que para a intubação traqueal são realizadas múltiplas tentativas numa via aérea com ou sem patologia da traqueia,16 múltiplas tentativas por mais do que um operador e necessidade de recurso a um adjuvante (ex: bougie) para facilitar a abordagem da via aérea ou o recurso a um dispositivo alternativo ao dispositivo selecionado para uso no plano A de abordagem da via aérea.23 INTUBAÇÃO TRAQUEAL FALHADA Situação clínica em que a intubação traqueal não é conseguida após múltiplas tentativas.20 Aceita-se até quatro tentativas de intubação traqueal, por um operador experiente, ainda que a saturação de oxigénio seja mantida ou no caso de intubação traqueal falhada em que não se consegue oxigenar o nosso doente com o recurso a ventilação com máscara facial ou dispositivo supraglótico estamos em presença de uma situação de “não intubo, não oxigeno” (cannot intubate, cannote oxygenate).24 CRICOTIROTOMIA DIFÍCIL Situação clínica em que a identificação e o acesso à membrana cricotiróidea é difícil ou é impossível de realizar. 2. AVALIAÇÃO DE VIA AÉREA Há um concordância nos diferentes consensos ou guidelines internacionais acerca da importância da avaliação da via aérea para se poder prever dificuldades na gestão clínica da via aérea.2-28 A avaliação assente exclusivamente em testes preditivos de sucesso na intubação traqueal por laringoscopia directa, de sensibilidade e especificidade baixa, resulta em falhas na observação da glote e intubações com o doente acordado desne- Consensos Via Aérea Difícil SPA cessárias. Assim, quando avaliamos a via aérea, precisamos de avaliar a probabilidade de sucesso na ventilação e oxigenação através de máscara facial ou dispositivo supraglótico, intubação traqueal por laringoscopia direta ou indireta e de acesso infraglótico para uma via aérea cirurgica.29 Apesar deste cuidado, a previsibilidade de dificuldade no manuseio da via aérea não é completamente fiável30-32 e a morbilidade e mortalidade associada à abordagem da via aérea após a indução da anestesia geral deve-se muito ao facto de não se “planear a falha que pode ocorrer” 11 e ter uma equipa identificada com problemas e plano para os resolver é importante e o momento “sign in” da verificação da cheklist cirúrgica “WHO Surgical Safety Checklist” é adequado para esse objectivo. No exame físico devemos procurar sinais sugestivos de possível dificuldade na ventilação por máscara facial, na laringoscopia e intubação traqueal, no uso de dispositivos supraglóticos e na realização de cricotirotomia. São sinais sugestivos de dificuldade na ventilação por máscara facial33,37 obesidade, idade avançada, sexo masculino, protusão mandibular limitada, distância tiro-mentoniana diminuída, Mallampati classe 3 ou 4, barba, falta de dentes, roncopatia ou síndrome apneia obstrutiva do sono (SAOS), irradiação prévia do pescoço. A mnemónica MOANS ajuda a lembrar os indicadores de previsível dificuldade de ventilação com máscara facial. M de ”mask seal” (selagem da máscara facial), de que são exemplo os homens com barba, presença de sangue ou trauma facial severo que condiciona uma má adaptação e selagem da máscara facial. O de “obstruction” (obstrução), para doentes com índice de massa corporal (IMC) > 26 kg/m2, grávidas no terceiro trimestre que para além do peso sobre a parede abdominal e torácica e das vísceras abdominais, reduzido curso do diafragma, têm tecido redundante na via aérea alta condicionando aumento da resistência e mesmo obstrução ao fluxo de ar para a traqueia. Doentes com com inflamação ou infeção da via aérea alta como angioedema, angina de Ludwig ou epiglotite criam o mesmo problema. A “age” (idade), para doentes com mais idade por perda de músculo ou tónus da via aérea alta. N “no teeth”, a falta de dentes leva a que os tecidos da face retraiem e condicionem má selagem e fuga de ar. S “stiff” (rigidez), referente aqueles doentes com resistência pulmonar aumentada ou compliance diminuída e que precisam de pressão de ventilação mais elevadas e de que são exemplo os doentes com hiperreatividade (ex: asma e DPOC), edema ou infeção da via aérea. São sinais sugestivos de dificuldade na laringoscopia direta 38,54: abertura da boca limitada, protusão mandibular limitada, palato estreito “em ogiva”, Mallampati classe 3 ou 4, diminuição das distâncias tiro-mentoniana e mento-esternal, limitada extensão da cabeça e pescoço, perímetro cervical aumentado. Para ajuda de memória à dificuldade de laringoscopia e intubação podemos usar a mnemónica, validada pelo estudo NEAR III, LEMON que permite uma ajuda rápida numa situação de emergência. L “look externaly” (olhar hábito externo) assenta no pressu- posto de que a via aérea que parece difícil, provavelmente é. Suspeita assente em algum dado específico relacionável com a via aérea ou avaliação global do doente. E “evaluate the 3-3-2 rule” (avaliar regra 3-3-2), abertura da boca (3 dedos) avalia a facilidade para o acesso oral; distância do mento ao osso hióide (3 dedos) avalia as dimensões do espaço mandibular para acomodar a língua na laringoscopia; e a distância entre o osso hióide e a cartilagem tireóide (2 dedos) identifica a posição da glote relativamente à base da língua. M “Mallampati score” (avaliação Mallampati), o grau de exposição das estruturas posteriores da orofaringe, avaliado com a boca aberta e a língua exteriorizada, permite relacionar abertura da boca, tamanho da língua e da orofaringe que define a acessibilidade da cavidade oral e visualização da glote para a intubação traqueal. Apesar de ser pouco sensível e específico, classe IV associa-se a 10 % de insucesso na intubação. O “obstruction/obesity” (obstrução/obesidade) é sempre um marcador de dificuldade e acompanha-se de voz abafada, dificuldade em deglutir a saliva, estridor e sensação de dispneia. É particularmente preocupante o estridor pois associa-se a redução do calibre da via aérea em 50 % ou diâmetro igual ou inferior a 4,5 mm. N “neck mobility” (mobilidade cervical), a imobilização cervical torna a laringoscopia mais difícil, são exemplos de doentes com este problema as vítimas de trauma que estão imobilizados ou os doentes com imobilidade cervical intrínseca (ex: artrite reumatóide e pelviespondilite anquilosante). São sinais sugestivos de dificuldade no uso de dispositivos supraglóticos55-63: Limitada abertura da boca. Patologia supra ou extraglótica (ex: irradiação cervical, hipertrofia da língua ou amígdalas). Como mnemónica de ajuda para dificuldade no uso dos dispositivos supraglóticos temos RODS. R para “restricted mouth opening” (limitada abertura da boca), medida que é problemática de acordo com o dispositivo que se vai usar. O “obstruction” (obstrução) para qualquer obstrução abaixo da laringe, pois o dispositivo não consegue vencer problema abaixo do local onde é colocado. D “disrupted or distorted airway” (via aérea danificada ou deformada) a adaptação e selagem do dispositivo pode estar comprometida. S “stiff lungs or cervical spine” (pulmão rijo e coluna cervical), situações de diminuição da compliance pulmonar ou limitação da mobilidade cervical podem não permitir colocação e estabilização do dispositivo para adequado desempenho São sinais sugestivos de dificuldade para cricotirotomia:64,65 Dificuldade de identificação da localização da membrana cricotiróidea “MCT” (sexo feminino, idade inferior a 8 anos, pescoço obeso, desvio da via aérea, patologia sobrejacente como inflamação, infiltração, irradiação ou tumor) ou dificuldade de acesso à traqueia por via cervical anterior (pescoço obeso, patologia sobrejacente e deformidade fixa em flexão da coluna cervical). A mnemónica SHORT ajuda a recordar as condições que tornam difícil ou impossível a realização de uma cricotirotomia. A palavra pode ajudar a lembrar que um pescoço curto, “short”, Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 11 Consensos Via Aérea Difícil SPA 3.CENÁRIO DE VIA AÉREA DIFÍCIL A avaliação de via aérea, realizada nas suas vertentes de história e exame objetivo e complementada com exames complementares de imagem como radiografia, TC, ressonância magnética (RN) e mais recentemente a ecografia aplicada à via aérea, em aspetos importantes como a localização da traqueia e da membrana cricotiróidea podem não ser suficientes para estabelecer com um grau de certeza elevado acerca da dificuldade na abordagem da via aérea. Mesmo recorrendo a opinião multidisciplinar o grau de previsibilidade é, ainda assim, falível. VIA AÉREA DIFÍCIL PREVISÍVEL Nas situações em que há previsibilidade de dificuldade na abordagem da via aérea (Fig. 1) é de equacionar a realização de outra técnica anestésica em que a abordagem de via aérea não seja necessária. Essa nossa opção não pode negligenciar a potencial de ter de abordar a via aérea por necessidade de conversão de técnica anestésica ou complicação que possa surgir e assim um plano de resgate da via aérea (qual, com quem e com que material) tem que estar sempre equacionado. Se tal não for possível, a manutenção da ventilação espontânea do doente,107 ,147 independentemente da técnica e do material utilizados é importante e mandatória. Tal é verdade mesmo para aqueles doentes em que, independentemente da técnica que se realize,1 é necessário sedar ou mesmo anestesiar para abordar a sua via aérea difícil em virtude do nível de ansiedade ou incapacidade de entendimento, comunicação ou colaboração, de que são exemplo os doentes de pediatria ou os doentes com défices intelectuais ou cognitivos. Na abordagem de via aérea difícil previsível devemos sempre ponderar e prever a possibilidade de pedir ajuda126 e decidir pela opção tida como mais adequada ao nosso doente: técnica não invasiva em que as opções são a realização de uma fibroscopia, videolaringoscopia ou outra com o nível de sedação, analgesia e/ou anestesia tópica adequados ao conforto e segurança do doente; ou a realização de uma técnica invasiva como a cricotirotomia, acesso percutâneo, etc. A capnografia é essencial para verificar o sucesso da nossa abordagem, da colocação correcta do tubo traqueal e da adequada ventilação. O insucesso da realização de técnica não cirúrgica deverá fazer equacionar o cancelamento do procedimento ou, por último, a realização de uma técnica cirúrgica para abordar a via aérea. OXIGENAÇÃO E MONITORIZAÇÃO levanta mais dificuldades para a realização da cricotirotomia ou de que o tempo é curto, “short”, para tomar a decisão e realizar o procedimento. S “surgery” (cirurgia ou alteração), que dificulte o acesso cervical anterior. H “hematoma” (hematoma, inflamação ou infeção), que impeça ou ponha dificuldades técnicas á realização da cricotirotomia. O “obesity” (obesidade ou outro problema de acesso), pela dificuldade colocada de referenciação anatómica e acesso à MCT. R “radiation distortion” (irradiação dos tecidos), pelas cicatrizes e rigidez tecidular que condiciona ou outras situações que limitem exposição da MCT como é o caso de uma coluna cervical fixa. T “tumor” (tumor), qualquer massa (ex: bócio) que limite o acesso à MCT e condicione problemas como hemorragia. Quanto maior o número de indicadores preditores de dificuldade na abordagem da via aérea maior a possibilidade de se ter problemas.66-67 Embora a evidência na literatura seja limitada para a avaliação do impacto da história clínica e da consulta de registos prévios do doente, que detecte fatores médicos, cirúrgicos ou anestésicos que ajudem na identificação de uma via aérea difícil e a possível associação de problemas prévios na abordagem da via aérea com características do doente como: idade, obesidade, SAOS, roncopatia ou patologias congénitas (ex: Treacher-Collins, Pierre Robin, síndrome Down) ou adquiridas (ex: anquilose, artrite reumatóide, osteoartrite degenerativa), aconselha-se a considerar adequada essa práctica.69,82 Registos clínicos que nos dêem informação acerca de qualquer abordagem prévia da via aérea do nosso doente, carta ou cartão de via aérea difícil que o doente possua são auxílio importante a uma opção mais adequada. O mesmo se aplica a exames complementares de diagnóstico (ex: tomografia computorizada (TC) e radiografia) anteriores ou actuais, que embora não haja evidência na literatura para o seu uso por rotina, podem identificar alterações83,84 com impacto na abordagem da via aérea. Contextos clínicos como risco de aspiração do conteúdo gástrico, tempo de tolerância à apneia, reserva cardiovascular, capacidade de entendimento e colaboração do doente; a competência e experiência do clínico envolvido, disponibilidade e capacidade do colega ou equipa que pode ajudar; ou do material disponível85 para a estratégia ou plano delineado tem que ser ponderados para além da cuidada avaliação da via aérea. VIA AÉREA DIFÍCIL PREVISIVEL Procedimento possível com outra Técnica Anestésica Outra Técnica Anestésica NÃO ABORDAR VIA AÉREA não não sim Realizar Procedimento Abordagem da via Aérea e Intubação com doente em Ventilação Espontânea (Considerar AJUDA) TÉCNICA INVASIVA TÉCNICA NÃO INVASIVA Fibroscopia Videolaringoscopia Outras CRICOTIROTOMIA Acesso Cirúrgico Técnica Percutânea Ventilação Jet Intubação Retrógrada Sucesso Insucesso Confirmação C02 et REALIZAR PROCEDIMENTO cancelar procedimento Figura 1. Via aérea difícil previsível 12 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 sim outras opções Técnicas Invasivas Consensos Via Aérea Difícil SPA VIA AÉREA DIFÍCIL NÃO PREVISIVEL PLANO A - ABORDAGEM INICIAL Laringoscopia Direta AJUDA Elevação do tronco, Flexão Cervical, Extensão da cabeça, Técnica de Laringoscopia, Manipulação externa laringe (BURP) Se má visualização da laringe: Considerar introdutor: Bougie | Mandril Considerar Outros Laringoscópios VIDEOLARINGOSCÓPIO OXIGENAÇÃO E MONITORIZAÇÃO VIA AÉREA DIFÍCIL NÃO PREVISÍVEL Na situação de doentes com via aérea difícil não previsível (Fig. 2) considera-se a existência de quatro níveis de atuação que tem como máxima prioridade a oxigenação do doente. Para cada nível a margem de tolerância ao risco de compromisso da oxigenação reflete-se no tipo de abordagem: nos planos A e B, há tentativas de intubação traqueal com laringoscopia ou com o recurso a dispositivos supraglóticos; no Plano C a prioridade é assegurar a oxigenação, que estava a ser comprometida, através da ventilação com máscara facial ou dispositivo supraglótico e por último tomar em tempo útil a decisão de abordagem e resgate da via aérea com oxigenação através de técnicas cirúrgicas. Na abordagem inicial (Plano A) existe a laringoscopia11 para intubação traqueal em que, verificando-se dificuldade ou impossibilidade em atingir esses objetivos, deverão ser considerados e revistos aspetos como o adequado posicionamento do doente, optimização da libertação da via aérea alta com o reposicionamento da cabeça e pescoço, protusão da mandíbula, manipulação externa da laringe backwards, rightwards, upwards pressure (BURP), utilização de mandril ou condutor, recurso a outro tipo de lâminas como as lâminas Miller ou McCoy151, videolaringoscópios, etc. O uso de cânulas faríngeas (nasais ou orais) e máscara facial é aconselhado para manter a ventilação e oxigenação, com um ou dois operadores, entre cada tentativa de intubação que não deverão ultrapassar em número as quatro e sempre com a certeza de melhoria relativamente à anterior, devendo o sucesso da intubação traqueal ser confirmado por capnografia. No caso de insucesso e após considerar a chamada de ajuda, a abordagem de via aérea com dispositivos supraglóticos (Plano B) como máscaras MLi, iGel, ou outros41 deverá ser tentada e repetida uma vez considerando-se a necessidade de resgate se existir dessaturação franca (sat O2<90 % com fornecimento de O2 de 100 %).59,60 Nas situações de sucesso na abordagem com dispositivos supraglótico e após o doente estabilizado, a intubação traqueal pode ser tentada através do dispositivo “às cegas” ou com o recurso a um fibroscópio (não deverá ser realizada mais do que uma tentativa). Se a intubação não for conseguida ou se a colocação do dispositivo supraglótico não tiver sido conseguida ou não estar estável deve-se fornecer O2 (Plano C) de forma eficaz, continuada e acordar o doente. Em situações em que existe deterioração do estado clínico do doente e/ou agravamento da situação clínica entra-se em fase de Resgate de via aérea (Plano D), com realização de técnica invasiva de acesso à via aérea por cricotirotomia por agulha - kit - ou cricotirotomia cirúrgica,65 com a consciência de que embora permitam ventilação e oxigenação suficiente e eficaz para resolução da emergência, são técnicas com morbilidade acrescida e que têm carácter precário e limitado no tempo. sucesso 4 tentativas Manter O2 e Anestesia ENTUBAÇÃO TRAQUEAL Confirmação: - Visual (passagem glote) - Capnografia - Deteção Esofágica MÁSCARA FACIAL CÂNULA ORO/NASO FARINGEA INSUCESSO PLANO B - ABORDAGEM SECUNDÁRIA sucesso DISPOSITIVOS SUPRAGLÓTICOS (intubação) AJUDA 2 tentativas INSUCESSO SpO2 < 90% FiO2 = 1 Confirmar: - Ventilação e Oxigenação - Anestesia - Relaxamento Muscular FIBROSCOPIA INTUBAÇÃO TRAQUEAL (1 tentativa) Confirmar Intubação INSUCESSO PLANO C - OXIGENAÇÃO E VENTILAÇÃO sucesso Manter Oxigénio e ventilação Reversão BNM AJUDA ACORDAR O DOENTE ADIAR A CIRURGIA INSUCESSO Ventilação e oxigenação PLANO D - RESGATE DA VIA AÉREA RESGATE DA VIA AÉREA AJUDA CRICOTIROTOMIA Equipamento: - Cânula - Sist. Ventilação Alta Pressão - Manujet Confirmar Insuflação e Exsuflação CRICOTIROTOMIA CIRÚRGICA Equipamento: - Kit Cirúrgico - Bisturi - Tubo OT 6.0 mm Ventilação com Baixa Pressão Verificação da Posição do Tubo Possibilidade de Complicações severas Vias aéreas precárias que devem ser convertidas em definitivas logo que possível O uso de cânula de 4 mm em doentes em ventilação espontânea pode ser suficiente Figura 2. Via aérea difícil não previsível EXTUBAÇÃO EM VIA AÉREA DIFÍCIL Por abordagem da via aérea difícil entende-se o estabelecimento de uma sequência de planos e atitudes e não a realização de atos isolados; assim o sucesso dessa abordagem abrange também o período pós-operatório, com a planificação de acordo com todos os envolvidos (anestesista, cirurgião, intensivista) de uma estratégia adequada e segura para a extubação do doente. Consideram-se diversas etapas fundamentais para o adequado plano de extubação (Fig. 3) . Estratégia, fase na qual uma correta e abrangente avaliação do doente atendendo a fatores de risco gerais para extubação como equilíbrio cardiovascular, respiratório e neurológico, entre outros e a fatores de risco específicos de via aérea, como as alterações identificadas na via aérea e que colocam o doente em risco; Preparação, em que os fatores anteriormente descritos deverão ser otimizados e equacionados aspectos como o bloqueio neuromuscular residual, a existência de ajuda diferenciada e experiente e a existência de equipamento e monitorização adequados para a vigilância precoce de potenciais complicações.11 Estas fases permitem uma estimativa do risco de extubação, Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 13 Consensos Via Aérea Difícil SPA considerando-se doente de baixo risco aquele sem fatores de risco gerais ou com via aérea não complicada e doente com risco aqueles que apresentem possibilidade de necessidade de reintubação complicada ou fatores de risco diversos. Extubação, pode ser realizada em ambiente de bloco operatório (sala de operações ou recobro / UCPA) ou em ambiente de cuidados intensivos, com o recurso ou não a sedação (ex: remifentanil em perfusão), com recurso a materiais específicos (ex: introdução de cateter troca tubos) e manutenção do mesmo por um período de tempo variável após a extubação. Em situações extremas ou quando se pensa não ter segurança para a extubação adiar a retirada do tubo que protege a via aérea ou recorrer a uma via aérea cirúrgica como a traqueostomia (temporária ou definitiva) são situações válidas na segurança do doente. EXTUBAÇÃO EM VIA AÉREA DIFÍCIL ESTRATÉGIA Fatores Risco Geral Cardiovasculares Respiratórios Neurológicos Metabólicos Necessidades Cirúrgicas Outras condições médicas Avaliar Via AÉreA FATORES Fatores Risco de Via AÉrea Via Aérea Difícil Conhecida Alterações Via Aérea -Trauma -Edema -Hemorragia Acesso Limitado à Via Aérea Obesidade / SAOS Risco de Aspiração PREPARAÇÃO Bloqueio NeuroMuscular Local para a extubação Ajuda diferenciada Monitorização Equipamento Optimizar o Doente Optimizar Fatores de Risco ESTIMAR RISCO DE EXTUBAÇÃO Risco Dúvida da Oxigenação Reintubação Potencialmente Complicada Doentes com fatores de Risco BAIXO RISCO Via Aérea não Complicada Doentes sem Fatores de Risco BAIXO RISCO RISCO EXTUBAÇÃO (Bloco/UCI/UCPA) SEGURANÇA NA EXTUBAÇÃO DO DOENTE? SIM EXTUBAçÃO PROFUNDA EXTUBAçÃO com Sedação remifentanil Doente acordado Cateter troca tubos NÃO ADIAR A EXTUBAÇÃo TRAQUEOSTOMIA Oxigenação Aspiração Inserção proteção boca Reversão BNM Ventilação Espontânea Recuperação Consciência Pressão Positiva, Cuff, extubação Experiência Vigilância PÓS-EXTUBAÇÃO RECOBRO E FOLLOW UP TRANSPORTE E COMUNICAÇÃO OXIGENAçÃO E PATÊNCIA DE VIA AÉREA. MONITORIZAçÃO E ANALGESIA DOCUMENTAçãO E REGISTOS Figura 3. Extubação em via aérea difícil 4. MATERIAIS DE VIA AÉREA DIFÍCIL Existem estudos controlados randomizados e meta-análi14 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 ses que suportam o uso de determinadas técnicas e dispositivos34,153-154 mas para outros não há grau de evidência elevado disponível e as recomendações para o seu uso são baseadas em consensos de peritos.141 Para uma segura e correta abordagem da via aérea difícil é importante dispor de dispositivos que sejam uma mais-valia na resolução de problemas colocados. Há que fazer opções de seleção do material a ter disponível, de acordo com os nossos algoritmos ou guidelines, o tipo de doentes e de procedimentos padrão com que nos deparámos, o treino e experiência que já temos ou podemos adquirir de modo controlado para um uso correto e em situação em que de facto possa ser útil. Entendeu-se classificar os materiais em unidades que deverão ser familiares aos profissionais, devendo estar arrumados de forma semelhante, corretamente catalogados e objeto de controle periódico.10 Estas Unidades de Via Aérea (Fig. 4) são classificadas em Unidades de Via Aérea de Rotina e Unidades de Via Aérea Difícil. As primeiras destinam-se a locais onde se realiza abordagem de via aérea por rotina e agrupam o material considerado básico – máscaras faciais, cânulas faríngeas (orais e nasais), laringoscópios, tubos traqueais, mandril, estiletes e introdutores ou troca tubo ou adjuvantes como a pinça de Magill. As unidades por nós consideradas de via aérea difícil são de dois tipos: as vocacionadas para locais onde o número de doentes com via aérea difícil e a necessidade de abordagem é mais elevado, como blocos operatórios, unidades de medicina intensiva e serviços de urgência ou emergência e as outras onde o número de abordagem será tendencialmente menor mas que por características específicas como a localização considerada remota e por isso com menor possibilidade de apoio diferenciado justificam a existência de equipamento mais dirigido para situações de via aérea difícil não previsível e resgate das complicações que ocorram. As primeiras deverão agrupar material diferenciado para abordagem de via aérea difícil previsível e não previsível como laringoscópios com lâminas especiais, videolaringoscópios, introdutores com capacidade de ventilação e oxigenação, dispositivos supraglóticos com potencial de intubação, fibroscópio e material de acesso invasivo à via aérea; as segundas deverão conter material para abordagem de via aérea difícil não previsível, de resgate de oxigenação como laringoscópios com lâminas especiais, videolaringoscópios, introdutores com capacidade de ventilação e oxigenação, dispositivos supraglóticos com potencial de intubação e material de acesso invasivo à via aérea bem como material de resgate de intubação como videolaringoscópios que, pelas características específicas poderão e deverão ser de modelos mais ligeiros e menos onerosos. É importante reforçar a necessidade de uso periódico dos materiais das unidades de via aérea em situações clínicas controladas, com apoio e supervisão de colegas experientes no seu uso, o que permite adquirir experiência e estar mais preparado para tomar decisões para a sua utilização e o seu uso adequado em situações clínicas reais de necessidade de resolução de problema no manuseio da via aérea. Consensos Via Aérea Difícil SPA UNIDADES DE VIA AÉREA UNIDADES DE VIA AÉREA ROTINA DEFINIÇÕES Arrumação Identificação Mobilidade Controlo MATERIAIS Máscaras Faciais Cânulas Orofaríngeas Cânulas Nasofaríngeas Máscaras Laríngeas Lâminas Laringoscópio: - Mackintosh Tubos traqueais Introdutores: - Bougie - Estiletes Pinça Magill UNIDADES DE VIA AÉREA DIFÍCIL BLOCO OPERATÓRIO/ UCI / SU LOCAIS REMOTOS DEFINIÇÕES DEFINIÇÕES Arrumação Identificação Mobilidade Controlo Selado Registo (CARRO) Arrumação Identificação Mobilidade Controlo Selado Registos (MALA) MATERIAIS MATERIAIS Lâminas Laringoscópio: - McCoy - Miller Videolaringoscópio Introdutores: - Frova ML entubação Fibroscópio Kit Acesso Invasivo Resgate Oxigenação Lâminas Laringoscópio - McCoy - Miller Introdutores - Frova ML entubação Kit Acesso invasivo Resgate intubação Videolaringoscópios Figura 4. Unidades de via aérea 5. FORMAÇÃO EM VIA AÉREA DIFÍCIL A gestão clínica da via aérea exige competências técnicas (conhecimento médico específico e capacidade de desempenho para o manuseio da via aérea) e competências não técnicas (capacidade de liderança, de trabalhar em equipa, de consciência da situação, de priorização de tarefas e de tomada de decisão).120,115 A via aérea difícil é uma situação clínica de exceção e os algoritmos que temos que seguir ou o uso de dispositivos necessários que temos de conhecer e saber usar, não podem nem devem ser treinados em cenário clínico de crise.115 O treino com manequins em ambiente de simulação de cenários de caso clínico, permite a preparação dos profissionais sem risco para o doente, mas tem limitações associadas a curvas de aprendizagens variáveis e com a experiência clínica e em simulação acumuladas pelo profissional113,117 e ao facto de que com o tempo competências técnicas e não técnicas se vão perdendo122,166 o que implica a necessidade de formação e treino com periodicidade variável (ex: anual)26 mas essencial para se ter a prontidão e capacidade de resposta a situações clínicas de exceção. 6.VIA AÉREA OBSTETRICIA, PEDIATRIA E TRAUMA 6.1. VIA AÉREA DIFICIL EM OBSTETRÍCIA Como universalmente reconhecido as complicações associadas a via aérea difícil são uma causa de importante morbilidade e mortalidade; este facto é pertinente também em obstetrícia onde a incidência de intubação difícil ou não conseguida não tem diminuído, apesar dos avanços na abordagem da via aérea.85 A incidência de via aérea difícil em obstetrícia tem sido re- portada como sendo cerca de oito vezes a da população em geral.87 No entanto, uma revisão sistemática recente não encontrou qualquer evidência de que a intubação traqueal difícil fosse mais frequente na população obstétrica do que na população geral.88 Independentemente da discussão se a via aérea obstétrica é realmente mais difícil ou não, a impossibilidade de intubaçao orotraqueal na grávida continua a ser uma preocupação real para o anestesiologista, pelas eventuais implicações potencialmente graves para a mãe e para o feto.89 Existem múltiplos fatores que parecem contribuir para o problema da via aérea difícil em Obstetrícia: As características demográficas da população obstétrica estão a mudar em muitos países, com a média de idades e o peso das grávidas a aumentar, e a complexidade médica dos casos.86 A diminuição de cesarianas sob anestesia geral e a utilização mais frequente de outros materiais de abordagem da via aérea na população comum, nomeadamente os dispositivos supraglóticos, reduziu consideravelmente a experiência de muitos anestesiologistas na abordagem da via aérea por laringoscopia e intubação traqueal.91 O aumento da utilização da anestesia loco-regional expõe menos grávidas à necessidade de abordagem da via aérea, abrindo a hipótese de que as grávidas que recebem anestesia geral representem um grupo mais doente e com necessidade de procedimentos mais urgentes.90 O impacto dos fatores humanos é claramente relevante, destacando o stress associado às situações emergentes, a deficiente comunicação com a restante equipa, particularmente com o obstetra e a tomada de consciência da possibilidade de um mau outcome materno e fetal que poderá comprometer a confiança e a capacidade de decidir.89 A emergência clínica pode condicionar uma inadequada avaliação e menor atenção às medidas de otimização da abordagem da via aérea podendo levar à prestação de cuidados inferiores ao desejável.89 Os fatores organizacionais são igualmente relevantes para o problema, nomeadamente a limitação ou escassez de equipamentos disponíveis, localização habitualmente remota do bloco operatório de obstetrícia, equipas menos treinadas e ajuda menos disponível em horários “fora de expediente” e ainda, ausência de protocolos definidos.92 Uma série de desenvolvimentos interessantes, que ocorreram ao longo dos últimos 10 anos, parecem estar a influenciar a forma como é abordada a via aérea obstétrica. A laringoscopia indireta rígida tem-se tornado cada vez mais popular para a realização da intubação traqueal e o aparecimento de um novo fármaco que permite a reversão permanente dos relaxantes neuromusculares não-despolarizantes tem questionado as noções até então bem definidas sobre o papel que o relaxamento muscular desempenha na gestão da via aérea difícil.105 Para otimizar a abordagem da via aérea em obstetrícia propõem-se um conjunto de recomendações - orientações assentes na segurança e simplicidade para que possam ser implementados e adaptados à realidade de cada instituição. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 15 Consensos Via Aérea Difícil SPA Otimização da abordagem da via aérea Considerando as particularidades da via aérea na população obstétrica são elaboradas recomendações para uma otimização global, encarando os aspetos relacionados com o procedimento anestésico e uma otimização específica atendendo sobretudo a fatores relacionados com a grávida. Otimização global São identificados aspetos importantes para a abordagem da via aérea em obstetrícia que se relacionam com procedimentos anestésicos envolvendo grávidas, que podem e devem ser objeto de atenção particular pois influem diretamente no resultado do manuseamento de via aérea: 1- Elaboração de protocolos institucionais: Deverá existir um protocolo da instituição de saúde relativo à via aérea previsivelmente difícil e de acordo com o material existente e/ou a familiarização dos anestesiologistas com o mesmo; também um algoritmo de via aérea difícil não previsível deverá estar disponível nos vários setores da unidade obstétrica e anexo à Unidade de via aérea difícil. Também deverá existir um protocolo institucional de profilaxia da aspiração de vómito para cesariana84 bem como uma checklist para a anestesia geral para cesariana, relativo a material; fármacos; posicionamento; pré-oxigenação.94 2- Formação contínua: As instituições deverão ter programas institucionais regulares, de treino multiprofissional na aplicação das recomendações, algoritmos, protocolos, checklists e competências não-técnicas, recorrendo à simulação93,94,105 deverão criar formas de incentivo à formação individual e de grupo visando contacto, manuseamento e atualização com os novos dispositivos de abordagem da VA 85,111; os anestesiologistas não deverão estar confinados à prática de anestesia para obstetrícia.89 3- Constituição da equipa de Anestesiologia: o anestesiologista deve estar em presença física na sala de partos 24h/24h (recomendações da SPA), de forma a poder antecipar eventos críticos, avaliar continuamente as grávidas (nomeadamente a via aérea) e delinear os planos analgésicos/anestésicos adequados em cada momento; deverá também existir a preocupação de que todas as anestesias gerais em obstetrícia (não esquecer as puérperas) devem ser supervisionadas por anestesiologista sénior experiente,93 na tentativa de obter menor morbilidade.95-97 Otimização Específica Identificam-se também aspetos importantes que se relacionam especificamente com a via aérea das grávidas e que deverão ser objeto de particular atenção: 1- Avaliação da via aérea: A via aérea das grávidas deverá ser avaliada na altura da admissão à sala de partos, considerando as alterações anatomofisiológicas que condicionam maior dificuldade e o seu agravamento crescente com o tempo da gravidez.98 Parecem ser fatores de risco independentes para intubação difícil a idade, o índice de massa corporal, a classificação de Mallampati, dentes incisivos proeminentes e retrognatismo.84,100 16 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 Mesmos nos casos urgentes, a via aérea deve ser rapidamente avaliada (teste de Mallampati modificado, abertura de boca, mobilidade do pescoço e distância tireomentoniana) e devem ser delineadas estratégias para a sua manipulação em caso de necessidade. Recomenda-se a reavaliação da via aérea sobretudo em situações de trabalho de parto prolongado e em situações de pré-eclampsia pois a duração do trabalho de parto pode agravar a dificuldade da abordagem da via aérea.99 Em situações de evolução para cesariana a via aérea deve ser avaliada novamente no pré-operatório imediato mesmo nos casos urgentes ou emergentes. 2- Protocolos de jejum (pré-cesariana):101-103 Deverão existir protocolos de jejum por forma a aumentar a segurança relativa à possibilidade de aspiração de conteúdo gástrico: para situações de cesariana propomos um jejum de líquidos claros de 2 horas e de sólidos de 6 a 8 horas ponderando mais tempo em grupos de maior risco (ex: obesas, diabéticas); durante o trabalho de parto será permitida a ingestão de líquidos claros. 3- Profilaxia de aspiração102,104, 121: A profilaxia de aspiração de conteúdo gástrico deverá ser realizada após a 12ª semana de gestação, havendo uma diminuição de risco 48 horas após o parto; em situações de cirurgia eletiva, administrar por via oral um antagonista dos receptores H2 (ranitidina 150 mg) na noite anterior e na manhã da cirurgia; em situações de cirurgia urgente, um antagonista dos receptores H2 por via endovenosa, associado a 30 mL de citrato de sódio (0,3 mol/mL) oralmente (se possível 20 minutos antes). Deverá haver consciência de que os antiácidos podem causar náuseas e vómitos e não devem ser usados antes de cesarianas eletivas que serão realizadas com anestesia regional; o omeprazol requer 40 minutos para a redução da acidez gástrica, nas cesarianas eletivas ou emergentes (com associação de citrato de sódio), apresenta uma eficácia semelhante à dos antagonistas dos receptores H2. A metoclopramida (10 mg ev) pode igualmente ser considerada, em associação à ranitidina, antes das cesarianas eletivas ou emergentes. O seu efeito pró-cinético garante maior diminuição do volume gástrico e não provoca efeitos neurocomportamentais indesejáveis no feto. 4- Posicionamento: O posicionamento é fundamental devendo ser otimizado, sobretudo nas grávidas obesas. Para além da colocação da grávida em posição de “sniffing” (flexão do pescoço e extensão cervical) a elevação da cabeça e tronco a 30º tem evidenciado um aumento da capacidade residual funcional, bem como uma maior facilidade na laringoscopia.105 Até à saída do feto manter a deslocação do útero gravídico para a esquerda. 5- Pré-oxigenação104,105: A oxigenação prévia eficaz (com o objetivo de alcançar um EtO2 de 0,85 %) retarda o aparecimento de hipoxia, proporcionando mais tempo na intubação traqueal. Taxas de fluxo de oxigénio de 10 litros/minuto, utilizando a técnica de 3 min com respiração do volume corrente ou a técnica de 8 inspirações lentas e profundas (capacidade vital forçada), fornecem uma ótima pré-oxigenação num sistema circular. Durante a pré-oxigenação, a confirmação da localização da cartilagem cricóide pode reduzir o risco de aplicação incorreta da pressão Consensos Via Aérea Difícil SPA cricóide, o que poderia dificultar a laringoscopia. 6- Otimização da laringoscopia: A manipulação externa da laringe - BURP (backward, upward, right pressure) durante a laringoscopia direta poderá permitir melhorar a visualização da glote.106,107 7- Pressão cricóide (manobra de Sellick): Em situações de dificuldade de abordagem de via aérea e no caso de dificuldade de laringoscopia a pressão cricóide deve ser reduzida, ajustada ou retirada.108,109 Também em situação de dificuldade e para manter a oxigenação poderá ser considerada ventilação manual suave com máscara e balão mantendo pressão cricóide.105,109 8- Relaxamento neuromuscular e reversão emergente: A obtenção de relaxamento neuromuscular profundo tem benefícios na abordagem da via aérea. Se for necessário reverter de forma emergente o bloqueio neuromuscular com aminoesteróides, deverá estar disponível e ser administrado sugamadex de forma rápida e correcta, mas tem de haver consciência que a reversão permanente do bloqueio neuromuscular não implica um rápido recobro da ventilação espontânea se a via aérea permanecer obstruída.105,110 Material de abordagem da via aérea A gestão da via aérea em obstetrícia, assim como o material necessário para a sua abordagem, deverá ser sempre adaptado às caraterísticas da instituição/unidade obstétrica. Ainda que adaptado a cada instituição, as unidades obstétricas deverão estar equipadas com estratégias e material (algum indispensável) que possibilitem uma abordagem eficaz eficiente e segura da via aérea, visando diminuir a morbi-mortalidade materna.94 Na sala operatória recomenda-se, por exemplo, a existência de rampa (cunha) para optimizar posicionamento (canal auditivo externo em linha reta com a fúrcula esternal). O engurgitamento dos capilares da mucosa do aparelho respiratório leva a um edema generalizado da via aérea com obstrução da via aérea alta e maior risco de hemorragia na manipulação da mesma. Recomenda-se a utilização de tubos traqueais de menor calibre e de agentes vasoconstritores tópicos, (efeitos mínimos no fluxo uteroplacentário) ao manipular a via aérea.104 Deve existir material básico de abordagem da via aérea disponível e acessível a todos os setores da unidade obstétrica; para além deste material, deve existir a Unidade de VAD (com o algoritmo de VAD anexado), cuja localização, facilmente acessível, deve ser do conhecimento geral de todos os profissionais da maternidade.93 Nesta Unidade deverão existir idealmente um, no máximo dois, dispositivos para cada passo do algoritmo. Sendo que, mais importante do que qual o dispositivo a adotar, é a experiência que os anestesiologistas têm no seu manuseio. Os dispositivos supraglóticos de segunda geração são os recomendados no contexto da obstetrícia permitindo uma melhor selagem e a possibilidade de drenagem gástrica, para além da possibilidade de permitirem intubaçao, por técnica às cegas ou por fibroscopia através deles.116 Os videolaringoscópios e laringoscópios ópticos poderão ter um papel na abordagem inicial alternativa à laringoscopia direta ou no plano de 2ª tentativa de intubação. Mas o anestesiologista deverá ter treino com estes dispositivos: nunca deverão ser utilizados pela primeira vez em casos de dificuldade não prevista da via aérea.93 VIA AÉREA DIFÍCIL PREVISÍVEL A situação desejável seria que a identificação da via aérea difícil fosse possível durante a gravidez, permitindo a elaboração de uma estratégia entre anestesiologista e obstetra. Deste modo haveria tempo para preparar toda a equipa, a estrutura, o ambiente e a grávida. No entanto, a realidade é quase sempre diferente. A maioria das situações catastróficas relacionadas com uma via aérea difícil ocorre quando uma dificuldade não foi prevista antes da indução da anestesia. Portanto, nas situações eletivas, uma anamnese cuidadosa e um exame adequado da via aérea devem ser realizados em todas as grávidas, o que permite um planeamento antecipado e individualizado da estratégia para provável intubação difícil. Como nenhum teste isolado é capaz de prever adequadamente uma VAD, recomenda-se a realização de todos os testes habitualmente utilizados nesta avaliação. A identificação precoce permitirá a elaboração de uma estratégia de cuidados, que deve obrigatoriamente envolver o obstetra (Fig. 5). Como 87 % das cesarianas de urgência ou emergência podem ser previstas através da avaliação regular de todas as grávidas admitidas em trabalho de parto, o anestesiologista deve iniciar uma analgesia peridural e garantir o funcionamento adequado do cateter em todas as grávidas de risco. Dessa forma, diminui a necessidade de anestesia geral e manipulação da via aérea, no caso de má evolução obstétrica. A colocação de um “cateter epidural profilático” é particularmente útil nas grávidas com estigmas de via aérea difícil, com comorbilidades obstétricas (por exemplo obesidade mórbida) e que representam um subgrupo de risco aumentado.128 Para a abordagem de uma via aérea difícil identificada é proposto estabelecer uma técnica loco-regional; em situações de parto vaginal e prevenindo alguma intercorrência deverá ser preparada a intervenção sobre a via aérea; também para situações de cesariana eletiva deverá ser realizada a técnica loco-regional e apenas em situação de contra indicação desta ou insucesso a abordagem sob anestesia geral com intubação traqueal deverá seguir a linha de atuação de abordagem da via aérea difícil previsível. Em situação de cesariana urgente ou emergente e ponderando o bem-estar materno e fetal a realização de uma técnica regional como o bloqueio subaracnoideu poderá estar indicada; em alternativa a abordagem de via aérea deverá atender ao algoritmo de via aérea difícil previsível do adulto. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 17 Consensos Via Aérea Difícil SPA VIA AÉREA DIFÍCIL PREVISIVEL EM OBSTETRÍCIA VAD PREVISÍVEL PARTO VAGINAL CESARIANA ELECTIVA CESARIANA ELECTIVA • Considerar opções com obstetra • Esclarecer a grávida • Antecipar anestesia regional • Planear e preparar intervenção na via aérea • Anestesia regional • Se falha ou contraindicação à anestesia regional usar o algoritmo abordagem via aérea difícil previsível adulto • Ponderar anestesia regional (BSA) • Ponderar bem estar materno e fetal • Algoritmo de abordagem via aérea difícil previsível no adulto VAD: via aérea difícil; BSA: Bloqueio subaracnoideu Figura 5. Via aérea difícil previsível em Obstetrícia VIA AÉREA DIFÍCIL NÃO PREVISÍVEL Tal como já referido, inúmeras sociedades têm vindo a publicitar algoritmos para a abordagem da VAD. Alguns pontos têm aplicabilidade na população obstétrica, mas outros há em que a sua adaptação, para este grupo particular, não é tão bem conseguida dada a falta de evidência. O recomendável é delinear uma estratégia clara para a abordagem da VAD previsível e não previsível que obviamente dependerá da preferência pessoal e da experiência do anestesiologista. A segurança, traduzida pela manutenção prioritária da oxigenação, pela tentativa de manter proteção da aspiração de conteúdo gástrico e na decisão de prosseguir ou não com a cirurgia, foi um dos princípios orientadores da realização do algoritmo. Nesse contexto, o pedido de ajuda precoce e a tomada de consciência do tempo decorrido são muito relevantes. Cada passo de atuação deve ter uma duração de até 1 minuto e a decisão para acesso invasivo da via aérea deve ser tomada até aos 5 minutos.118,119 O esquema de atuação proposto divide-se em quatro patamares de atuação, que seguem uma sequência de atitudes atendendo aos resultados obtidos. (Fig. 6) O plano inicial de intubaçao traqueal deverá ser, com habitualmente, preparado e realizado nas melhores condições possíveis e no qual as prioridades são rapidez, necessidade de elevada taxa de sucesso e trauma mínimo sobre a via aérea. Deve ser otimizada com pré-oxigenação, posicionamento, profilaxia da aspiração, BURP, ajuste da pressão cricóide e estilete de intubaçao. Se não se for bem-sucedida deve-se pedir ajuda e ponderar manter ventilação com manutenção da pressão cricóide, com insuflações suaves. Desde o início deve-se considerar a hipótese de voltar à ventilação espontânea e acordar a grávida, tendo em 18 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 conta o estado fetal e materno. Em situações emergentes tem que se equacionar os objetivos de forma a assegurar uma boa oxigenação materna bem como prevenir a aspiração pulmonar, mas também a permitir o nascimento o mais célere possível. Na sequência do insucesso de intubação traqueal deve ser realizada uma segunda tentativa de intubaçao pelo anestesiologista mais experiente presente, depois de confirmado o melhor posicionamento possível, com BURP e, se necessário, após mudança para laringoscópio alternativo/ videolaringoscópio ou com auxílio de outros dispositivos. Múltiplas tentativas de intubação provaram estarem diretamente associadas a complicações, nomeadamente hipoxemia, regurgitação e aspiração de conteúdo gástrico, bradicardia e paragem cardíaca.118 Mantendo-se o insucesso na intubação traqueal tentar ventilar e oxigenar com máscara facial e dispositivos supraglóticos; estes últimos são preferencialmente, de segunda geração, pela possibilidade de proteção gástrica.114 O esquema de atuação nesta fase deve depender da experiência e senso clínico do anestesiologista responsável. Se foi possível restaurar a ventilação e oxigenação, deve ser discutida com a equipa obstétrica a necessidade de prosseguir com a cesariana, tendo em conta o estado fetal e/ou materno. Nas situações não emergentes a grávida deve retomar a ventilação espontânea e ser acordada, devendo ser equacionada a hipótese de realizar a cesariana sob anestesia locoregional (se aplicável) ou sob anestesia geral após intubaçao acordada com fibroscopia. Em caso de cesariana emergente o procedimento deverá continuar, podendo tentar-se a intubaçao através da máscara laríngea, de preferência sob visualização por fibroscopia e após o nascimento,87 mantendo adequada profundidade anestésica e pressão cricóide. Caso a intubaçao não seja realizada ou conseguida, o cirurgião deve ser alertado que a via aérea não se encontra protegida e que deve evitar a pressão fúndica e a exteriorização uterina.85-87 Se os planos idealizados não obtiverem sucesso e com o desenvolvimento de hipoxemia severa, em particular se associada a bradicardia, deve-se realizar uma técnica invasiva de resgate: cricotirotomia por cânula ou cricotirotomia cirúrgica devendo ser pedida ajuda adicional. Uma vez tomada a decisão é essencial utilizar a técnica na qual se tem mais experiência e que será potencialmente a mais eficaz..84 Se a oxigenação não for conseguida, com progressão para paragem cardíaca materna, na grávida com mais de 20 semanas deve realizar-se cesariana perimortem nos 5 min seguintes, de forma a optimizar a eficácia das medidas de suporte avançado de vida. VIA AÉREA DIFÍCIL NÃO PREVISÍVEL EM OBSTETRÍCIA ABORDAGEM INICIAL INTUBAÇÃO TRAQUEAL medidas optimização sucesso abordagem via aérea CESARIANA Confirmar Ventilação et Co2 Laringoscopia difícil? Reajustar pressão cricoide Manipulação esxterna Optimizar ajustamento Estilete de intubação Insucesso Pedir AJUDA Ponderar VMF±pressão cricoide ABORDAGEM SECUNDÁRIA sucesso OXIGENAÇÃO E MONITORIZAÇÃO 2ª Tentativa de intubação traqueal CESARIANA Lâminas Alternativas Laringoscópios alternativos ± pressão cricoide Insucesso Confirmar Ventilação et Co2 Pedir AJUDA Optimizar via aérea ± pressão cricoide considerar alternativa* OXIGENAÇÃO E VENTILAÇÃO Sim SUPRAGLÓTICO de 2ª geração ± pressão cricoide Máximo 2 tentativas Máscara Facial O2100% 2 mãos, tubo orofaríngeo ±pressão cricoide sucesso A Cirurgia é emergente? Avaliar estado materno/natal Não Insucesso AJUDA ADICIONAL ACORDAR Técnica regional considerar alternativa RESGATE DA VIA AÉREA CRICOTIROTOMIA COM CânULA / CRICOTIROTOMIA CIRÚRGICA sucesso Insucesso SAV; CESARIANA perimorteM VMF: Ventilação com máscara facial; etCO2 SAV: suporte avançado de vida; BURP; backward, upward, Right pressure; *ex. intubação traqueal através de supraglótico após o nascimento, ** ex. Intubação acordada por fibroscopia Figura 6. Via aérea difícil não previsível em Obstetrícia 6.2. VIA AÉREA DIFÍCIL EM PEDIATRIA O conhecimento das particularidades da via aérea da criança, a familiaridade com os equipamentos e técnicas disponíveis e a aplicação de práticas baseadas em linhas de actuação consensuais são essenciais na prática segura da anestesia pediátrica.130 Em termos globais as definições usadas na população pediátrica são as adotadas para os adultos (ASA) 132 e já referidas anteriormente. A incidência de via aérea difícil (VAD) em pediatria é inferior à encontrada na população adulta; estudos realizados em alguns centros apontam para uma incidência de laringoscopia grau 3 ou 4 (classificação Cormack-Lehane, C-L) entre 0,06 e 1,34 %, com maior prevalência em crianças com idade inferior a 1 ano.131 As complicações relacionadas com a abordagem da via aérea pediátrica continuam a ser uma das principais causas de morbilidade perioperatória.129 Nos doentes pediátricos existem alguns aspectos que podem ser preditores de VAD,133-135 como a existência de dismorfias faciais, a mobilidade cervical reduzida, retrognatia/micrognatia, abertura da boca limitada e a relativa macroglossia. Além destes fatores uma história clínica detalhada, o exame físico orientado e informações adicionais de exames auxiliares de diagnóstico são essenciais para reconhecer, e se possível prever, uma VAD. Assim, na história, deverão merecer particular atenção antecedentes de VAD em situações prévias (registos sobre dificuldades encontradas, abordagem usada, carta de VAD), a existência de roncopatia, SAOS, antecedentes de cirurgia ou radioterapia da face e pescoço ou de lesões traumáticas ou inflamatórias da face e pescoço bem como a existência de síndromes / malformações congénitas.133-135 Também no exame da criança para além do aspeto geral, a existência de sinais de dificuldade respiratória (cianose, adejo nasal, tiragem, estridor), de dismorfias da cabeça, da face e do pescoço (face e perfil), são sinais merecedores de atenção. O exame da via aérea deve incidir sobre a abertura da boca, tamanho da língua, proeminência dos incisivos superiores, classificação de Mallampati.133-135 Podendo, se indicado, ser complementado com exames auxiliares de diagnóstico como radiografia ao tórax, TC e RM cervicotorácicas e eventualmente estudos do sono.133-135 Material de Via Aérea O material de via aérea pediátrico deverá estar disponível e devidamente testado, deverá também existir uma unidade de Via Áerea Difícil com uma organização lógica e adaptado ao local em questão (ex: Bloco exclusivamente pediátrico deve conter material de VAD, sem duplicação do material já existente em stock). Existe atualmente uma diversidade grande de materiais de tamanhos apropriados para pediatria (desde doentes com peso de 500 gr), abrangendo máscaras faciais, cânulas oro e naso faríngeas, lâminas de laringoscópio e videolaringoscopio, mandris, dispositivos supraglóticos, fibroscópios de muito pequeno calibre e excelente resolução e materiais de acesso cirúrgico. A organização do material selecionado e, principalmente, a experiência no seu manuseio são fundamentais para a sua utilização e para o correto desempenho em abordagem da via aérea em Pediatria. A utilização de tubos traqueais com cuff é recomendada sendo essencial a monitorização frequente das pressões do cuff (10-20 cmH2O). Os tubos sem cuff devem ser reservados para as intubações brônquicas intencionais na cirurgia torácica neonatal e no isolamento pulmonar.130-139 VIA AÉREA DIFÍCIL PREVISÍVEL A abordagem da criança com VAD previsível deve ser realizada em centros pediátricos especializados, com UCI de Pediatria Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 19 Consensos Via Aérea Difícil SPA 20 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 VIA AÉREA DIFÍCIL PREVISÍVEL PEDIÁTRICA OXIGENAÇÃO E MONITORIZÇÃO e que disponham de uma equipa treinada na abordagem da VA de doentes pediátricos, excluindo-se aqui todas as situações consideradas emergentes. Esta equipa deve incluir dois anestesiologistas experientes, enfermeiro de anestesia e eventual otorrinolaringologista.5-7 Assim, apenas em casos de risco de vida ou perda de membro, a cirurgia poderá ser realizada em centros periféricos sendo a transferência programada para um centro especializado o mais brevemente possível.130 Os pais/representantes legais e a criança devem ser informados dos potenciais riscos associados à abordagem da via aérea difícil (traumatismo local, hemorragia, edema, dor, estabelecimento de via aérea cirúrgica, necessidade de internamento em UCI). 133 O plano de abordagem de via aérea deve incluir sempre a colocação de acesso endovenoso prévio, se possível, deve ser do conhecimento de todos os intervenientes e deve estar estabelecido, em cada instituição, a quem deve ser pedida ajuda adicional caso seja necessário (nomeadamente ajuda interdisciplinar).137 A utilização de medicação pré-anestésica deve ser adaptada a cada caso e tem como base a segurança e o conforto da criança; inclui anticolinérgicos (atropina/glicopirrolato), ranitidina/ metoclopramida (se existir história de refluxo, estômago cheio), benzodiazepinas (ponderar risco benefício, adolescentes). A técnica anestésica preferencial é a indução inalatória com sevoflurano e O2 a 100 %, até profundidade anestésica adequada mas mantendo a ventilação espontânea; (sedação e anestesia tópica em adolescentes se colaborantes; técnicas alternativas podem incluir indução intravenosa com propofol/ ketamina, mantendo a ventilação espontânea. Deverá manter-se oxigenação e monitorização contínuas durante todo o procedimento. A indução e intubação sequencial rápida não deve ser realizada em crianças pequenas por não prever ventilação e oxigenação intermitentes com consequente hipoxemia desnecessária. É preferível uma indução “controlada”: elevação do leito, anestesia e relaxamento profundos e ventilação intermitente com máscara facial mantendo baixas pressões de insuflação (<20 cmH2O).130 O plano de abordagem de via aérea (Fig. 7) deverá incluir a técnica em que o anestesiologista tenha mais experiência e a que ofereça menos complicações. A intubação por fibroscopia através de máscara facial ou de máscara laríngea é a técnica preferencial. A máscara facial previne obstrução da via aérea superior, proporciona um canal entre a boca e a laringe e mantém oxigenação e ventilação contínuas e adequadas. Técnicas às cegas são fortemente desaconselhadas. As técnicas cirúrgicas como primeira opção podem ser equacionadas nos casos em que há registo de fibroscopia prévia muito difícil/não conseguida, lesões laringotraqueais prévias por tentativas de intubação e nas situações em que há previsão da necessidade de manter traqueostomia no final da intervenção cirúrgica. FIBROSCOPIA SEDAÇÃO VENTILAÇÃO ESPONTÂNEA (Máscara Facial / Máscara Laríngea sim Prosseguir Procedimento sim não OPTIMIZAÇÃO AJUDA Manter MF/ML ACORDAR Considerar REPLANEAR Anst. Regional Necessidade de Traqueostomia no pós-operatório Fibroscopia prévia - muito difícil - não conseguida VIA AÉREA CIRURGICA Lesões Laringotraqueais prévias REGISTOS CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS Figura 7. Via aérea difícil previsível em Pediatria VIA AÉREA DIFÍCIL NÃO PREVISÍVEL O plano de abordagem da VAD pediátrica deve seguir manobras simples de diagnóstico das mais frequentes complicações e serem adoptadas medidas básicas para as ultrapassar. É fundamental a ideia de, em qualquer fase do esquema de abordagem da via aérea (Fig. 8), se não estiverem reunidas as condições de segurança para a realização de uma cirurgia não urgente, a criança deve ser acordada. A capacidade de ventilar uma criança com máscara facial é extremamente importante e, quando ineficaz, constitui um dos principais fatores de morbilidade. As principais dificuldades ventilatórias sob máscara facial relacionam-se com a presença de obstrução da via aérea e que são muito ais frequentes do que no adulto; podem ser de caracter anatómico/mecânico (posicionamento incorreto, má colocação da máscara, hipertrofia amigdalina e adenoideia, distensão gástrica, presença de sangue, secreções ou corpos estranhos) e funcional (laringospasmo, broncospasmo, rigidez torácica por opióides). A sua resolução deve ser sistematizada e treinada,130-136 devendo fornecer-se oxigénio durante todo o processo de abordagem da via aérea. O pedido de Ajuda precoce pode limitar significativamente a morbilidade associada a abordagem de via aérea difícil não previsível pelo que deve sempre ser accionado. A laringoscopia directa é o patamar de tentativa de intubação traqueal inicial que, quando bem-sucedida, permite prosseguir com a intervenção. Nas situações de insucesso é fundamental tentar otimizar o posicionamento, selecionar uma lâmina mais Consensos Via Aérea Difícil SPA VIA AÉREA DIFÍCIL NÃO PREVISÍVEL PEDIÁTRICA VENTILAÇÃO COM MÁSCARA FACIAL ineficaz eficaz Optimizar posição cabeça e MF Permeabilidade VA Adjuvante VA Ventilação 4 mãos Excluir Obstrução Funcional AJUDA OXIGENAÇÃO + ANESTESIA + RELAXAMENTO MUSCULAR adequada ou mesmo um videolaringoscopio, sendo importante o limite de três tentativas para a intubação por laringoscopia; (o número de tentativas de intubação e de introdução de um dispositivo supraglótico devem ser limitadas dada a fragilidade dos tecidos e o calibre da VA pediátrica, tornando-a mais vulnerável à obstrução.130,137-140 A utilização de laringoscópios especiais e de videolaringoscópios depende da experiência e disponibilidade dos materiais, pelo que a competência na laringoscopia direta e uma boa técnica na ventilação com máscara facial continuam a ser a base no manuseio da via aérea pediátrica.130 A capnografia é o meio mais eficaz para confirmação da colocação do tubo traqueal. Também é de referir que, conseguida a intubação traqueal mas na impossibilidade de ventilação pelo tubo deve-se excluir a possibilidade de DOPES (displacement, obstruction, pneumothorax, equipment failure, overinflated stomach). Nas situações em que a intubaçao traqueal não foi conseguida, apesar de manter uma oxigenação adequada o passo seguinte deve ser a introdução de um dispositivo supraglótico. Se a intubaçao traqueal for necessária e a situação clínica estiver estável pode ser realizada intubaçao por fibroscopia através do dispositivo supraglótico.140 A tendência da saturação de oxigénio (SatO2) e a evolução hemodinâmica (mais do um valor isolado de SatO2 ou da duração das tentativas de estabelecer uma via aérea) é que devem ditar a progressão no algoritmo. Nas casos de insucesso de intubação e de ventilação através de um dispositivo supraglótico (não ventilo, não oxigeno) a prioridade continua a ser a oxigenação pelo que as possibilidades são acordar a criança e adiar o procedimento ou, em situações extremas, realizar técnicas de resgate com acesso cirúrgico à via aérea. Nestas, o sucesso das técnicas percutâneas é baixo e a duração limitada, pelo que a traqueostomia cirúrgica (pode requerer a presença de um otorrinolaringologista) pode ser a opção. A broncoscopia rígida com ou sem jet ventilation é uma alternativa aplicável em todas as idades.137 Pela simplicidade de execução e de material necessário bem como por permitir a oxigenação necessária a cricotirotomia cirúrgica é o procedimento invasivo de escolha para o acesso emergente à VA independentemente da idade.136 Insucesso LARINGOSCOPIA DIRETA (excluir corpo estranho vómito, secreções) AJUDA Insucesso Optimizar posição BURP Mudar Lâmina Adjuvante (bougie/ mandril) Videolaringoscopia 3 tentativas AJUDA Insucesso Sucesso Sucesso Sucesso MASCARA LARÍNGEA 2 tentativas mudar tamanho e forma AJUDA FIBROSCOPIA pela ML 2 tentativas INTUBAÇÃO TRAQUEAL Insucesso ML / MF Anestesia Regional Ventilação e cânula oronasofaríngea RESGATE PROSSEGUIR COM PROCEDIMENTO ACORDAR ADIAR PROCEDIMENTO BRONCOSCOPIA RÍGIDA + jet ventilation (qualquer idade) CRICOTOMIA CIRURGICA (qualquer idade) CRICOTOMIA CANULA (idade > 8 anos) TRAQUEOSTOMIA (qualquer idade Figura 8. Via aérea difícil não previsível em Pediatria EXTUBAÇÃO EM PEDIATRIA Em crianças com via aérea difícil o estabelecimento de um plano estratégico para o período pós-operatório e extubação requer a mesma atenção e cuidados que a abordagem inicial da via aérea (Fig. 9). Tal como no adulto, são considerados os mesmos fatores, dos quais dependem a estratificação do risco de extubação: fatores sistémicos e fatores de via aérea. Todos devem ser analisadas e otimizados antes da extubação. É tamRev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 21 Consensos Via Aérea Difícil SPA bém aconselhável a realização de fibroscopia prévia à extubação para avaliar edema das estruturas, sobretudo quando a intubaçao foi muito difícil ou em cirurgia da via aérea devendo haver consciência de que não existe uma fórmula infalível para avaliar a patência de uma via aérea Considera-se a existência de baixo risco quando a criança não tem risco de aspiração, não existiu manipulação traumática da VA e não existem fatores de risco sistémicos. Nestas situações é importante aguardar a recuperação completa da anestesia, exsuflar o cuff e proceder à extubação no bloco operatório; se for considerado necessário proceder a nebulização com dexametasona e adrenalina. As situações com risco englobam as crianças com potencial dificuldade de manter oxigenação adequada, nas quais a reintubaçao, quando necessária, pode ser potencialmente difícil e/ou que apresentam fatores de risco sistémicos. Quando é decidida a extubação, esta deve ser feita com a criança acordada, em ventilação espontânea adequada e recuperação de consciência ( resposta a comandos/olhos abertos espontaneamente) Devem ser ponderadas, de acordo com a experiência, as técnicas de extubação com remifentanil em perfusão, troca do tubo traqueal para máscara laríngea (colocada ainda com profundidade anestésica e suspender hipnóticos posteriormente) ou a utilização de guia de intubação / cateter troca tubos com fornecimento de O2 (bougie Boussignac®, frova®, aintree®) sob anestesia local (instilação de lidocaína na orofaringe e traqueia). Nas situações de risco elevado em que existiu trauma da via aérea, edema dos tecidos orofaríngeos, ventilação não eficaz e fatores sistémicos descompensados, a extubação deve ser protelada e a criança mantida com intubação e internada numa UCI para estabilização. A traqueostomia deve ser ponderada com cautela e quando se prevê desmame ventilatório prolongado. OXIGENAÇÃO E MONITORIZÇÃO EXTUBAÇÃO EM VIA AÉREA DIFÍCIL PEDIÁTRICA EXTUBAÇÃO ACORDADO BOA VENTILAÇÃO Sat O2 > 95% VENTILAÇÃO e Sat O2 InadEquadas O2 por cateter JET VENTILATION PPV POR CATETER BOA VENTILAÇÃO Sat O2 > 95% eficaz ineficaz EXTUBAR Figura 9. Extubação em via aérea difícil em Pediatria 22 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 REINTUBAR PELO CATETER 6.3. VIA AÉREA DIFÍCIL EM TRAUMA As situações de via aérea difícil no trauma são potenciadas pelas particularidades do próprio trauma, como instabilidade da coluna cervical; traumatismo cranioencefálico; queimado; trauma maxilo-facial; trauma da via aérea; instabilidade hemodinâmica; doente não colaborante e agitado e questões associadas com a limitação do tempo de abordagem. É necessário uma estratégia onde técnicas de rápida estabilização e manutenção da patência de via aérea permitam uma ventilação e oxigenação adequada constituindo-se como o primeiro passo para prevenir a hipoxia e a hipoperfusão tecidular.1 Pelas características específicas do próprio trauma deve considerar-se a presença de risco de aspiração em todos os doentes.1 Este nível de risco de aspiração aumenta a dificuldade de abordagem, obrigando a uma estratégia (sequência lógica de planos contingentes) mais do que um plano (esquema de atuação único). Como em todas as outras situações de abordagem da via aérea, este algoritmo pressupõe uma avaliação prévia da via aérea e uma pré-oxigenação efetiva; também um número limitado de tentativas de intubação traqueal, evitar atuar antes do tempo e evitar a tomada de decisão precoce serão objetivos a atingir. No doente traumatizado, numa fase inicial deve ser equacionado objetivamente se há necessidade de abordar a via aérea (Fig. 10); em seguida deve ser definido se essa necessidade é emergente (crash airway) ou não emergente. Se existe necessidade de abordar a via aérea isso deve ser preferencialmente feito com o doente em ventilação espontânea sempre que o doente apresentar saturação de O2 adequada, estiver colaborante e acordado e hemodinamicamente estável. Por oposição considera-se que existem três situações comuns que obrigam a abordar a via aérea, considerada difícil, de um doente traumatizado em estado de inconsciência ou anestesiado: - Porque se falhou no reconhecimento e avaliação prévia da via aérea difícil antes da indução da anestesia. - O doente já está inconsciente antes de se abordar a via aérea - O doente apresenta critérios de via aérea difícil mas está hemodinamicamente instável ou recusa absolutamente em cooperar com uma abordagem para intubação traqueal acordado. EMERGENTE Situação com necessidade de abordar a via aérea de forma emergente. Se a dificuldade é previsível ou é encontrada, independente do nível de experiência do anestesista, a ajuda deve ser pedida neste momento. A primeira abordagem deverá ser realizada com técnica de indução de sequência rápida tentando adquirir de forma rápida e segura uma via aérea patente. Quando as tentativas de laringoscopia iniciais são difíceis, a pressão exercida sobre a cricóide deve ser aliviada, (isto deve ser realizado sob visualização direta e com aspiração disponível, para prevenir o risco de regurgitação).157 A pré-oxigenação deve ser realizada antes da indução da anestesia geral em todos os doentes.157 A desnitrogenação pode ser conseguida com fluxo de oxigénio a 100 % mantendo uma selagem eficaz da máscara facial até a fração de oxigénio Consensos Via Aérea Difícil SPA de 0, 8 a 0,9. A pré-oxigenação aumenta a reserva de oxigénio, atrasa a hipoxia e permite mais tempo para a laringoscopia, intubação traqueal e para as técnicas de resgate, se a intubação falhar.157 A duração da apneia sem dessaturação também pode ser prolongada pela administração de oxigénio até 15 l/min através de cânula nasal.160 A estabilização cervical durante todo o procedimento deve ser obtida, mediante ajuda extra, minimizando a possibilidade de agravar danos existentes. A laringoscopia na situação de indução de sequência rápida em trauma deve atender a que há risco aumentado nestes doentes da presença de sangue na orofaringe, corpos estranhos ou lesão dentária.145 Sabemos que tentativas repetidas e instrumentação da via aérea estão associadas com mau outcome e aumentam o risco de evoluir para situações de “não intubo, não oxigeno”. Para esse fim devemos optar por avançar na primeira laringoscopia com lâminas com o melhor desempenho possível, como a de McCoy e adjuvantes como o mandril, bougie® ou frova®. A escolha do laringoscópio influencia as hipóteses de sucesso da intubação; os videolaringoscópios oferecem uma melhor visualização e partilha da imagem em comparação com a laringoscopia direta convencional. Nas situações onde existe suspeita de instabilidade cervical os videolaringoscópios com lâmina de curvatura extrema tornam-se vantajosos permitindo a orientação anterior para a laringe e evitando o recurso à hiperextensão cervical.143 Para o sucesso da intubação com recurso a videolaringoscópio com curvatura extrema, na generalidade é necessário mandril rígido com curvatura igual à lâmina utilizada. Este tipo de aparelho torna ainda possível a intubação em condições físicas muito adversas para a laringoscopia clássica, 149 pelo que é hoje aconselhável que todos os anestesistas adquiram treino no uso e manuseamento de videolaringoscopios.143 Quando a laringoscopia e a intubação são difíceis não é adequado repetir o mesmo procedimento se nada for feito de diferente para melhorar a hipótese de sucesso; assim para cada técnica não cirúrgica considerar 3 tentativas de otimização. Esta pode e deve ser feita com recurso a melhoramento do posicionamento, aspiração da orofaringe, aumento do fluxo de oxigénio, manipulação da laringe e/ou protrusão da mandíbula, mudança do tamanho ou do tipo de laringoscópio e lâmina, uso de adjuvantes como o bougie ®, frova®, mandril; alteração da profundidade do bloqueio neuromuscular e mudança de operador. Como existe a possibilidade de laringoscopia e intubação traqueal não serem conseguidas, um dispositivo supraglótico deve estar disponível para colocação permitindo a manutenção da oxigenação. A colocação com sucesso cria a oportunidade de considerar opções para a intubação definitiva, pois na situação emergente de abordagem de via aérea no trauma, acordar não é uma opção. As opções podem ser desde intubar através do dispositivo supraglótico por técnica às cegas (ex: fastrach®) ou com recurso à fibroscopia através do supraglótico. Os supraglóticos de 2ª geração devem ser preferidos em com- paração aos de 1ª geração pois permitem drenagem gástrica bem como pressões de selagem mais altas.152 O biteblocker evita a dentada com obstrução da ventilação, evitando o edema de pressões negativas. Estes dispositivos, por norma, também permitem, através deles, o recurso a fibroscopia para intubação. Os estudos (NAP4) levados a cabo pelo Royal College of Anaethesiology reconheceram potenciais vantagens dos dispositivos de 2ª geração recomendando a sua existência em todos os hospitais. Por essa razão, todos os que abordam doentes de trauma devem ter acesso imediato e estar familiarizados e treinados ao uso de dispositivos supraglóticos de 2ª geração.1 Nas situações em que a oxigenação através do dispositivo supraglótico não é conseguida, após um máximo de três tentativas de colocação, deve-se avançar para técnica invasiva, com recurso a técnica de cricotirotomia cirúrgica ou kit de cricotirotomia com diâmetro superior a 4 mm.152 Estamos perante uma situação emergente de abordagem da via aérea no trauma obrigando a avançar na árvore de decisão, salientando-se uma vez mais que a questão de acordar o doente não é hipótese. A situação de “não intubo, não oxigeno” rapidamente evolui para lesão cerebral ou morte por hipoxia nestes doentes, porque apresentam uma baixa reserva de oxigénio pelas situações associadas ao trauma. A cricotirotomia pode ser realizada por técnica cirúrgica com recurso a bisturi ou por técnica por cânula sendo a primeira mais rápida e eficaz para obter uma via aérea segura.161 Um tubo orotraqueal com cuff na traqueia permite proteger da aspiração gástrica, permite expiração, permite ventilação com baixa pressão e monitorização do CO2 end-tidal. Existe um número de técnicas cirúrgicas descritas, mas há falta de evidência da superioridade de uma sobre as outras. O resgate da via aérea através de cricotirotomia não deve ser tentada sem o uso prévio de relaxamento neuromuscular completo. As técnicas de cricotirotomia com kit de cânula superior a 4 mm são menos invasivas e já permitem ventilação eficaz.161-162 Estas técnicas requerem controlo motor mais fino, são mais demoradas, sendo menos ajustadas a situações emergentes de stress. O uso destes dispositivos obriga a familiarização da técnica e treino frequente. Depois de restabelecida a oxigenação deve-se executar uma traqueostomia cirúrgica permitindo obter uma via aérea definitiva. Esta técnica é mais demorada e associada a maior risco de complicações. VIA AÉREA NÃO EMERGENTE Perante a abordagem de um doente com trauma, em que há necessidade de abordar a via aérea, mas não é emergente, é necessário avaliar se há previsibilidade de ser difícil ou não e pedir ajuda, preferencialmente mais diferenciada. Se não for previsível a existência de uma via aérea difícil a abordagem deverá ser realizada de acordo com o estabelecido para a população geral, tendo atenção às condições especiais associadas ao trauma. Quando existir uma via aérea difícil previsível será necessário, rapidamente, avaliar o grau de colaboração e de estabilidade hemodinâmica do doente. Em doentes traumatizados não colaRev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 23 Consensos Via Aérea Difícil SPA borantes e com instabilidade a anestesia geral pode ser necessária, mantendo a ventilação espontânea se possível; em doentes colaborantes e hemodinamicamente estáveis, a intubação em ventilação espontânea é a técnica de eleição, preferencialmente com recurso a técnica por fibroscopia. Quando, por características anatómicas ou associadas ao trauma, não existirem condições para uma manipulação supraglótica deve ser ponderada uma técnica invasiva precoce com anestesia local. VIA AÉREA DIFÍCIL EM TRAUMA NECESSIDADE DE ABORDAR A VIA AÉREA EMERGENTE crash Airway NÃO EMERGENTE AJUDA AJUDA INSTÁVEL/ NÃO COLABORANTE INDUÇÃO SEQUENCIAL RÁPIDA* pré-oxigenação oxigenação apneica estabilização cervical VA DIFÍCIL PREVISIVEL VA DIFÍCIL NÃO PREVISIVEL ESTÁVEL/ COLABORANTE OXIGENAÇÃO Insucesso Intubação Em Ventilação Espontânea LARINGOSCÓPIO Técnica Invasiva Precoce Sob Anestesia Local ADJUVANTES VIDEOLARINGOSCOPIO Insucesso Sucesso DISPOSITIVO SUPRAGLÓTICO 2ª GERAÇÃO M. LARINGEA / INTUBAÇÃO Sucesso Insucesso TÉCNICA INVASIVA CRICOTIROTOMIA CIRÚRGICA KIT CRICOTIROTOMIA > 4 mm CONSIDERAR OPÇÕES Intubação: Dispo. Supraglótico ML Intubação Fibroscopia Insucesso CONFIRMAÇÃO DE INTUBAÇÃO Capnografia Auscultação VIA AÉREA CIRURGIA DEFINITIVA Cuidados pré-extubação Traqueostomia * considerar implicações hemodinâmicas dos fármacos usados; considerar sedação em VE; Garantir aporte de O2 durante laringoscopia Figura 10. Via aérea difícil em Trauma 24 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 ALGORITMOS VIA AÉREA CONDIÇÕES ESPECIAIS Em situações em que a via aérea do doente com trauma não é previsivelmente difícil e a abordagem não é emergente devemos seguir a linha de atuação comum à da população geral mas com necessidade de modificações associadas às particularidades das situações específicas da via aérea difícil em trauma (Fig. 11). Neste contexto referem-se algumas recomendações associadas a cada cenário possível de encontrar, de forma geral. Em doentes com traumatismo cranioencefálico é fundamental uma abordagem rápida e expedita, a hipoxia deve ser evitada e mantidas pressões de perfusão cerebral adequadas para evitar a lesão cerebral secundária. Em doentes vítimas de queimaduras graves é fundamental avaliar a possibilidade de lesões de queimadura da via aérea supra e infraglótica. A decisão e abordagem da via aérea devem ser precoces à instalação do edema e da intoxicação pulmonar associada ao monóxido de carbono. A fibroscopia em ventilação espontânea (evitando a administração de anestésicos locais na mucosa queimada) permite abordar de forma segura a via aérea e ao mesmo tempo permite fazer um diagnóstico de lesões associadas à queimadura; por esta multiplicidade de indicações deve ser realizada por alguém experiente na técnica. As particularidades associadas ao trauma maxilofacial estão associadas ao tipo de trauma, não sendo possível estabelecer um padrão; contudo aspetos como o risco de obstrução da via aérea por corpos estranhos, sangue e secreções e a existência de fraturas da face são muito frequentemente encontrados.147 O principal aspeto associado a esta condição específica está muitas vezes na limitação do uso de ventilação por máscara facial, mesmo quando a intubação é previsivelmente fácil, por incapacidade de adaptação da máscara facial à face do doente. Atender sempre a que a intubação nasotraqueal é contra-indicada na presença de líquido cefalorraquidiano, fratura de Le Fort ou da base do crânio. A existência de lesão e/ou instabilidade cervical obriga a uma atenção especial nos aspetos associados ao risco de lesão neurológica provocada pela manipulação do pescoço, especialmente se já existirem sintomas neurológicos de lesão medular. É importante manter a imobilização cervical. Em situações de via aérea difícil potencial e se o doente se apresentar colaborante e hemodinamicamente estável deve realizar-se uma abordagem da via aérea com o doente acordado e em ventilação espontânea. Quando as condições indicarem uma abordagem com realização de uma intubação de sequência rápida a pressão cricóide deve ser associada a estabilização do suporte posterior da coluna com a mão. Nos doentes com trauma e rutura de via aérea é necessário avaliar o grau de lesão.147 Tratando-se de uma lesão laríngea major, devemos manter a ventilação espontânea e intubar distal à lesão não se pressurizando a via aérea proximal à lesão, pelo risco de desenvolver complicações ventilatórias , como pneumotórax, pneumomediastino ou pneumotórax hipertensivo. O uso de dispositivos supraglóticos e o recurso a sistema ventilatórios tipo jet ventilation está contraindicado. Consensos Via Aérea Difícil SPA Quando a lesão é mais distal na árvore pulmonar está indicada a colocação de tubo de duplo lúmen ou bloqueador brônquico para excluir o lado da lesão. Em casos de extrema gravidade pode ser ponderado o recurso a circulação extracorporal. Um último grupo de patologia específica relacionado com trauma é a compressão da via aérea existindo, habitualmente, sinais clínicos de estridor.147 Nestes doentes, se colaborantes e hemodinamicamente estáveis, a abordagem de via aérea deve ser realizada em ventilação espontânea. A intubação deve ser distal à obstrução, como na rotura da via aérea evitando o recurso a jet ventilation (a expiração pode não ser conseguida); de igual forma os dispositivos supraglóticos não estão indicados embora neste caso pela necessidade de ventilação com alta pressão da via aérea. CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DE VAD EM TRAUMA TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO TRAUMA MAXILO-FACIAL Abordagem rápida e expedita Evitar hipoxia Manter pressão perfusão Cerebral > 70 mmHg - Risco de Obstrução da VA por corpos estranhos, sangue e/ou secreções - A ventilação máscara facial pode ser difícil mesmo quando a intubaçao é fácil QUEIMADO A intubaçao NASOTRAQUEAL é contra-indicada: Decisão e abordagem precoce Diagnóstico lesão VA - Presença de LCR, fractura de Le Fort ou base do crânio - Decisão inicial deve ser baseada na metodologia ABC Compressão da VA (Estridor) Rutura da Via Aérea Manter a ventilação espontânea mesmo com a anestesia geral A intubação deve ser abaixo da obstrução Os supraglóticos não são solução Se jet ventilation, a expiração pode ser um problema Se lesões laríngeas major - Manter ventilação espontânea -Intubação traqueal abaixo da lesão traqueal - Não pressurizar a via aérea proximal à lesão - Não usar a jet ventilation ou supraglótico - Considerar tubo duplo lúmen/bloqueador brônquico - Considerar em casos extremos circulação extracorporal Lesão / Instabilidade cervical Para cada técnica não cirúrgica considerar 3 tentativas de optimização de: Se VAD, intubaçao orotraqueal acordado, se doente colaborante, hemodinâmicamente estável - Manipulação (protusão mandibular; laringe; dispositivos) Especialmente se sintomas neurológicos de lesão medular - Adjunvantes (bougie®; frova®; mandril) Fibroscopia em ventilação espontânea Manter a imobilização cervical Se manobra de Sellick - Pressão cricoide e uma mão a fazer suporte posterior do pescoço - Tamanhos/tipos - Aspiração/fluxo O2 - Relaxamento muscular Figura 11. Condições específicas de VAD em Trauma 7. REGISTO E COMUNICAÇÃO DE VIA AÉREA DIFÍCIL A sinalização de doentes com via aérea difícil (VAD) é fundamental para o seu manuseio anestésico em segurança.162 Tal só é possível se existir adequado registo e comunicação dos eventos que ocorrem na nossa prática clínica. A ausência de registo do evento com elaboração de documento que deve ser comunicado, pode contribuir para complicações major numa futura abordagem da via aérea do doente em causa e constitui uma falha da obrigação legal do anestesiologista ou de quem identificou tal situação em a comunicar.163 É obrigação do médico que vivenciou a complicação na abordagem da via aérea, fazer o relato no processo clínico do doente acerca do que aconteceu referindo a dificuldade encontrada, as atitudes tomadas para a resolver, o resultado da intervenção e caso tenham ocorrido que consequências se associam ao acontecido. É também obrigação desse médico explicar ao doente, familiar responsável ou tutor o que aconteceu e fornecer documento explicativo (carta ou cartão de via aérea difícil) de alerta para situação de VAD. Em Portugal não existe um modelo uniformizado de registo clínico (e legal), o que leva a que informação importante e relevante não seja guardada e partilhada de modo fiável, privando doente e os profissionais de saúde que o possam vir a tratar de um instrumento que pode ser muito importante em caso de necessidade de abordagem da via aérea no futuro. A inexistência destes registos justifica o nosso desconhecimento acerca da morbilidade e mortalidade associadas à gestão clínica da via aérea. A Sociedade Portuguesa de Anestesiologia propõe-se promover um registo nacional, uniforme e disponível, com o objetivo de contribuir para a análise dos eventos ocorridos em doentes que foram submetidos a manipulação da sua via aérea e ajudar a diminuir risco e aumentar a segurança dos nossos doentes, avaliar aplicabilidade de consensos-guidelines-algoritmos, uso de determinados dispositivos, morbilidade e mortalidade associada a este tipo de problemas. É reconhecido na literatura que a formação na abordagem da via aérea difícil ainda permanece de “boca em boca” e o mesmo se aplica à comunicação das dificuldades que se verificaram na abordagem da via aérea apesar das advertência da ASA e da DAS acerca da necessidade de emissão de documento a entregar ao doente sempre que se tenha estado em presença de uma situação de VAD. 21 O recurso a vários instrumentos de comunicação do evento de VAD, embora se possa considerar redundante, constitui uma “defesa da profundidade” legal.164 Para assegurar que a informação não se perde, o documento elaborado deve ser entregue ao doente e ao seu médico assistente, registado no processo clínico do doente com criação de alerta de VAD e registado numa base de dados nacional, 19,31 que no caso do nosso País é necessário e importante criar. Os documentos de registo de Via Aérea Difícil, em pediatria (Fig. 12 ) e para adultos (Fig. 13), criado e proposto nos consensos acerca da gestão clínica da via aérea, incluem variáveis de preenchimento obrigatório: 1. Data da ocorrência; 2. Estabelecimento de saúde e local onde ocorreu a abordagem (e o problema) da via aérea; 3. Identificação do doente; 4. Características demográficas (idade, sexo, peso, altura); 5. Patologia sistémica relacionada com a via aérea; 6. Problema verificado: grau de dificuldade de ventilação por máscara facial, grau de dificuldade de ventilação por dispositivo supraglótico, existência de dificuldade na Intubação traqueal (número de tentativas), classificação do grau de laringoscopia Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 25 Consensos Via Aérea Difícil SPA segundo Cormarck-Lehane, existência de dificuldade. 7. Alterações particulares nos doentes pediátricos 8. Modo de resolução da situação (materiais e técnicas): máscara facial, dispositivo supraglótico e outros; laringoscopia direta, tipo e tamanho de lâmina; videolaringoscopio, fibroscopio; cricotirotomia, traqueostomia 9. Resolução da situação: adiamento, morte, outro. 10. Grau de diferenciação clínica e experiência do profissional que abordou a VA. 11. Comentários: espaço - campo, para escrita livre de observações Com estas informações identificámos o doente (mesmo se inconsciente) e registamos informação útil para quem tenha que efetuar uma nova abordagem de novo a via aérea deste doente. Como as orientações da SPA para avaliação de via aérea difícil incluem o registo da história médica e exame físico, incluímos informação sobre a existência de doenças sistémicas com aumento da incidência de VAD21 e preditores de acordo com o exame físico. Para avaliação deste último item adotamos os preditores de intubação difícil propostos por El-Ganzouri e dois preditores de ventilação por máscara difícil: o índice de massa corporal e estado de dentição segundo o proposto por L’Hermite et al e Eberhart et al. 167-168 São também objetivos, entre outros, avaliar a incidência de VAD em Portugal, identificar problemas na abordagem da via aérea dos nossos doentes, identificar preditores de via aérea difícil na população portuguesa e validar as práticas instituídas na abordagem de via aérea. A sinalização de doentes com via aérea difícil pode impedir uma catástrofe para o doente, mas para tal é imprescindível a existência de uma comunicação eficaz entre os diferentes intervenientes no tratamento do doente.31 Como os doentes recebem cuidados de saúde em diferentes locais os seus registos podem não se encontrar imediatamente disponíveis, pelo que será fundamental a informatização dos registos numa base acessível a todos os médicos.165 Esta situação levanta alguns problemas legais (confidencialidade, acesso e controlo) ainda em fase de resolução. Os registos como fonte de dados constituem também um instrumento poderoso na avaliação de práticas, materiais e algoritmos, permitindo consolidar, desenvolver e validar práticas de abordagem de via aérea difícil. A uniformização de linhas de atuação bem como de materiais utilizados são também uma consequência lógica e espectável da existência de registos, refletindo-se claramente no “outcome” dos doentes, no que a via aérea difícil diz respeito. Figura 12. Registos de via aérea difícil em pediatria Figura 12. Registos de via aérea difícil em pediatria 26 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 Figura 13. Registos de via aérea difícil em adultos Consensos Via Aérea Difícil SPA VII. CONCLUSÕES A gestão clínica da via aérea é um domínio essencial do anestesiologista para poder proporcionar, mesmo em circunstâncias difíceis, de modo consistente e estável a patência e a proteção da via aérea, proporcionando oxigenação adequada do nosso doente. A VAD é um evento raro e de consequências imprevisíveis se os profissionais envolvidos não tem preparação adequada e experiência adquirida na abordagem de situações clínicas de excepção que permita uma resposta segundo orientações (guidelines) que ajudem à tomada de decisão em tempo útil para a resolução do problema. Estes consensos são um contributo para que todos tenhamos num documento, de fácil consulta e leitura, um padrão de identificação de potencial dificuldade na abordagem da via aérea, uma proposta (algoritmo) adaptável a diferentes locais de trabalho e de acordo com particularidades de algumas populações de doentes como são as grávidas, as crianças e as vítimas de trauma, de abordagem da via aérea em crescendo de intervenção de modo a assegurar o essencial (oxigenação) ao nosso doente, sugestões de materiais a utilizar e por fim uma proposta de registo acerca dos problemas que enfrentámos, como os resolvemos e que impacto tem nos nosso doentes. Conflito de Interesses Os autores declaram não existir conflito de interesses em relação ao trabalho efetuado. Fontes de Financiamento Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo. Referências 1. Cook TM, Woodall N, Frerk C; Fourth National Audit Project. Major complications of airway management in the UK: results of the Fourth National Audit Project of the Royal College of Anaesthetists and the Dif cult Airway Society. Part 1: anaesthe- sia. Br J Anaesth. 2011;106:617–31. 2. Cook TM, Woodall N, Harper J, Benger J; Fourth National Audit Project. Major complications of airway management in the UK: results of the Fourth National Audit Project of the Royal College of Anaesthetists and the Dif cult Airway Society. Part 2: intensive care and emergency departments. Br J Anaesth. 2011; 106:632–42. 3. Sakles JC, Chiu S, Mosier J, Walker C, Stolz U. The importance of first pass success when performing orotracheal intubation in the emergency department. Acad Emerg Med. 2013 20:71–8. 4. Lossius HM, Røislien J, Lockey DJ. Patient safety in pre-hospital emergency tracheal intubation: a comprehensive meta-analysis of the intubation success rates of EMS providers. CritCare. 2012; 16:R24 5. Kheterpal S, Martin L, Shanks AM, Tremper KK. Prediction and outcomes of impossible mask ventilation: a review of 50,000 anesthetics. Anesthesiology. 2009; 10:891–7. 6. Bernhard M, Beres W, Timmermann A, Stepan R, Greim CA, Kaisers UX, Gries A. Prehospital airway management using the laryngeal tube. An emergency department point of view. Anaesthesist. 2014; 63:589–96. 7. Timmermann A, Russo SG, Eich C, Roessler M, Braun U, Rosenblatt WH, Quintel M. The out-of-hospital esophageal and endobronchial intubations performed by emergency physi- cians. Anesth Analg. 2007; 104:619–23. 8. von Goedecke A, Herff H, Paal P, Dörges V, Wenzel V. Field airway management disasters. Anesth Analg. 2007; 104:481–3. 9. Metzner J1, Posner KL, Lam MS, Domino KB. Closed claims’ analysis. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2011 ; 25: 263-76. 10. Peterson GN, Domino KB, Caplan RA, Posner KL, Lee LA, Cheney F.Management of the difficult airway: a closed claims analysis. Anesthesiology. 2005 Jul; 103(1):33-9. 11. Cook T, Woodall N, Frerk C. 4th National Audit Project of The Royal College of Anaesthetists and The Difficult Airway Society. Major complications of airway management in the United Kingdom, Report and Findings. London: Royal College of Anaesthetists;2011. 12. Ruxton L. Fatal accident enquiry 15 into the death of Mr Gordon Ewing. 2010. Glasgow [accessed 14 April 2014] Available from: https:// www.scotcourts.gov.uk/opinions/2010FAI15.html 13. Michael Harmer. The Case of Elaine Bromiley. [accessed 12 April 2015] Available from: http://www.chfg.org/resources/07_qrt04/ Anonymous Report Verdict and_Corrected Timeline Oct07.pdf 14. Hung O, Murphy M. Context-sensitive airway management. Anesth Analg. 2010; 110: 982–3. 15. Weller JM, Merry AF, Robinson BJ, Warman GR, Janssen A. The impact of trained assistance on error rates in anaesthesia: a simulation-based randomised controlled trial. Anaesthesia. 2009; 64: 126–30. 16. Butler KH, Clyne B. Management of the difficult airway: alternative airway techniques and adjuncts. Emerg Med Clin North Am. 2003; 21: 259-89. 17. Practice Guidelines for Management of the Difficult Airway An Updated Report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on Management of the Difficult Airway Anesthersiology V118; No2 February 2013 18. The difficult airway with recommendations for management – Part 1 – Difficult tracheal intubation encountered in an unconscious/ induced patient. Canadian Airway Focus Group. Can J Anesth.2013; 60:1089–118. 19. el-Ganzouri AR, McCarthy RJ, Tuman KJ, Tanck EN, Ivankovich AD. Preoperative airway assessment: predictive value of a multivariate risk index. Anesth Analg. 1996;82:1197-204. 20. Langeron O, Masso E, Huraux C, Guggiari M, Bianchi A, Coriat P, et al. Prediction of difficult mask ventilation. Anesthesiology. 2000; 92: 1229-36. 21. Apfelbaum JL, Hagberg CA, Caplan RA, Blitt CD, Connis RT, Nickinovich DG, et al. Practice guidelines for management of the difficult airway: an updated report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on Management of the Difficult Airway. Anesthesiology. 2013; 118: 251-70. 22. Kheterpal S, Han R, Tremper KK, Shanks A, Tait AR, O’Reilly M, et al. Incidence and predictors of difficult and impossible mask ventilation. Anesthesiology2006; 105: 885-91. 23. Crosby ET, Cooper RM, Douglas MJ, Doyle DJ, Hung OR, Labrecque P, et al. The unanticipated difficult airway with recommendations for management. Can J Anaesth. 1998; 45: 757-76. 24. Walls RM. The emergency airway algorithms. In: Walls RM, Murphy MF, Luten RC, Schneider RE, editors. Manual of Emergency Airway Management. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2004. p. 8-21. 25. Henderson JJ, Popat MT, Latto IP, Pearce AC; Difficult Airway Society. Difficult Airway Society guidelines for management of the unanticipated difficult intubation. Anaesthesia. 2004; 59: 675-94. 26. Boet S, Borges BC, Naik VN, Siu LW, Riem N, Chandra D, et al. Complex procedural skills are retained for a minimum of 1 yr after a single high-fidelity simulation training session. Br J Anaesth. 2011; 107: 533-9. 27. Petrini F, Accorsi A, Adrario E, Agrò F, Amicucci G, Antonelli M, et al. Recommendations for airway control and difficult airway management. Minerva Anestesiol. 2005; 71: 617-57. 28. Boisson-Bertrand D, Bourgain JL, Camboulives J, Crinquette V, Cros AM, Dubreuil M, et al. Difficult intubation. French Society of Anesthesia and Intensive Care. A collective expertise. Ann Fr Anesth Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 27 Consensos Via Aérea Difícil SPA Reanim. 1996;15: 207-14. 29. Murphy M, Hung O, Launcelott G, Law JA, Morris I. Predicting the difficult laryngoscopic intubation: are we on the right track? Can J Anesth. 2005; 52: 231-5. 30. Khan ZH, Kashfi A, Ebrahimkhani E. A comparison of the upper lip bite test (a simple new technique) with modified Mallampati classification in predicting difficulty in endotracheal intubation: a prospective blinded study. Anesth Analg. 2003; 96: 595-9. 31. Schaeuble JC, Caldwell JE. Effective communication of difficult airway management to subsequent anesthesia providers. Anesth Analg. 2009;109:684-6. 32. Eberhart LH, Arndt C, Aust HJ, Kranke P, Zoremba M, Morin A. A simplified risk score to predict difficult intubation: development and prospective evaluation in 3763 patients. Eur J Anaesthesiol. 2010; 27: 935-40. 33. Kheterpal S, Han R, Tremper KK, Shanks A, Tait AR, O’Reilly M, et al. Incidence and predictors of difficult and impossible mask ventilation. Anesthesiology. 2006; 105: 885-91. 34. Park SK, Choi GJ, Choi YS, Ahn EJ, Kang H. Comparison of the i-gel and the laryngeal mask airway proseal during general anesthesia: a systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2015; 10: e0119469. 35. Langeron O, Masso E, Huraux C, Guggiari M, Bianchi A, Coriat P, et al. Prediction of difficult mask ventilation. Anesthesiology. 2000; 92: 1229-36. 36. Yildiz TS, Solak M, Toker K. The incidence and risk factors of difficult mask ventilation. J Anesth. 2005; 19: 7-11. 37. Gautam P, Gaul TK, Luthra N. Prediction of difficult mask ventilation. Eur J Anaesthesiol .2005; 22: 638-40. 38. Rocke DA, Murray WB, Rout CC, Gouws E. Relative risk analysis of factors associated with difficult intubation in obstetric anesthesia. Anesthesiology. 1992; 77: 67-73. 39. Khan ZH, Kashfi A, Ebrahimkhani E. A comparison of the upper lip bite test (a simple new technique) with modified Mallampati classification in predicting difficulty in endotracheal intubation: a prospective blinded study. Anesth Analg. 2003; 96: 595-9. 40. Eberhart LH, Arndt C, Cierpka T, Schwanekamp J, Wulf H, Putzke C. The reliability and validity of the upper lip bite test compared with the Mallampati classification to predict difficult laryngoscopy: an external prospective evaluation. Anesth Analg. 2005; 101: 284-9. 41. Maitra S, Khanna P, Baidya DK. Comparison of laryngeal mask airway Supreme and laryngeal mask airway Pro-Seal for controlled ventilation during general anaesthesia in adult patients: systematic review with meta-analysis. Eur J Anaesthesiol. 2014; 31: 266–73. 42. Savva D. Prediction of difficult tracheal intubation. Br J Anaesth. 1994; 73: 149-53. 43. Mallampati SR, Gatt SP, Gugino LD, Desai SP, Waraksa B, Freiberger D, et al. A clinical sign to predict difficult tracheal intubation: a prospective study. Can Anaesth Soc J. 1985; 32: 429-34. 44. Samsoon GL, Young JR. Difficult tracheal intubation: a retrospective study. Anaesthesia. 1987; 42: 487-90. 45. Karkouti K, Rose K, Cohen M, Wigglesworth D. Models for difficult laryngoscopy. Can J Anaesth.2000; 47: 94-5. 46. el-Ganzouri AR, McCarthy RJ, Tuman KJ, Tanck EN, Ivankovich AD. Preoperative airway assessment: predictive value of a multivariate risk index. Anesth Analg. 1996; 82: 1197-204. 47. Tse JC, Rimm EB, Hussain A. Predicting difficult endotracheal intubation in surgical patients scheduled for general anesthesia: a prospective blind study. Anesth Analg. 1995; 81: 254-8. 48. Orozco-Diaz E, Alvarez-Rios JJ, Arceo-Diaz JL, Ornelas- Aguirre JM. Predictive factors of difficult airway with known assessment scales. Cir Cir. 2010; 78: 393-9. 49. Arne J, Descoins P, Fusciardi J, Ingrand P, Ferrier B, Boudigues D, et al. Preoperative assessment for difficult intubation in general and ENT surgery: predictive value of a clinical multivariate risk index. Br J Anaesth. 1998; 80: 140-6. 28 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 50. Saghaei M, Safavi MR. Prediction of prolonged laryngoscopy. Anaesthesia. 2001; 56: 1198-201. 51. Rose DK, Cohen MM. The airway: problems and predictions in 18,500 patients. Can J Anaesth. 1994; 41: 372-83. 52. Reed MJ, Dunn MJ, McKeown DW. Can an airway assessment score predict difficulty at intubation in the emergency department? Emerg Med J. 2005; 22: 99-102. 53. Wilson ME, Spiegelhalter D, Robertson JA, Lesser P. Predicting difficult intubation. Br J Anaesth. 1988; 61: 211-6. 54. Brodsky JB, Lemmens HJ, Brock-Utne JG, Vierra M, Saidman LJ. Morbid obesity and tracheal intubation. Anesth Analg. 2002; 94: 732-6. 55. Langeron O, Semjen F, Bourgain JL, Marsac A, Cros AM. Comparison of the intubating laryngeal mask airway with the fiberoptic intubation in anticipated difficult airway management. Anesthesiology. 2001; 94: 968-72. 56. Giraud O, Bourgain JL, Marandas P, Billard V. Limits of laryngeal mask airway in patients after cervical or oral radiotherapy. Can J Anaesth. 1997; 44: 1237-41. 57. Salvi L, Juliano G, Zucchetti M, Sisillo E. Hypertrophy of the lingual tonsil and difficulty in airway control. A clinical case . Minerva Anestesiol. 1999; 65: 549-53. 58. Asai T, Hirose T, Shingu K. Failed tracheal intubation using a laryngoscope and intubating laryngeal mask. Can J Anesth. 2000; 47: 325-8. 59. Ishimura H, Minami K, Sata T, Shigematsu A, Kadoya T. Impossible insertion of the laryngeal mask airway and oropharyngeal axes. Anesthesiology. 1995; 83: 867-9. 60. Kumar R, Prashast , Wadhwa A, Akhtar S. The upside-down intubating laryngeal mask airway: a technique for cases of fixed flexed neck deformity. Anesth Analg. 2002; 95: 1454-8. 61. Brimacombe JR. Laryngeal Mask Anesthesia: Principles and Practice. 2nd ed. Philadelphia: Saunders; 2005 . 62. Li CW, Xue FS, Xu YC, et al. Cricoid pressure impedes insertion of, and ventilation through, the ProSeal laryngeal mask airway in anesthetized, paralyzed patients. Anesth Analg. 2007; 104: 1195-8. 63. Ramachandran SK, Mathis MR, Tremper KK, Shanks AM, Kheterpal S. Predictors and clinical outcomes from failed Laryngeal Mask Airway UniqueTM: a study of 15,795 patients. Anesthesiology. 2012; 116: 1217-26. 64. Aslani A, Ng SC, Hurley M, McCarthy KF, McNicholas M, McCaul CL. Accuracy of identification of the cricothyroid membrane in female subjects using palpation: an observational study. Anesth Analg. 2012; 114: 987-92. 65. Elliott DS, Baker PA, Scott MR, Birch CW, Thompson JM. Accuracy of surface landmark identification for cannula cricothyroidotomy. Anaesthesia. 2010; 65: 889-94. 66. Rocke DA, Murray WB, Rout CC, Gouws E. Relative risk analysis of factors associated with difficult intubation in obstetric anesthesia. Anesthesiology. 1992; 77: 67-73. 67. Frerk CM. Predicting difficult intubation. Anaesthesia. 1991; 46: 1005-8. 68. Domino KB, Posner KL, Caplan RA, Cheney FW.Airway injury during anesthesia: A closed claims analysis. Anesthesiology.1991; 91:1703-11. 69. Esri T, Medalion B, Weisenberg M, Szmuk P, Warters RD, Charuzi I. increased body mass index per si is not a predictor of difficult laryngoscopy. Can Anaest.h 2001; 50: 179-83. 70. Juvin P, Lavaut E, Dupont H, Lefevre P, Demetriou M, Dumoulin Jl, et al. Difficult tracheal intubation is more common in obese than in lin patients. Anesth Analg. 2003; 97:595-600. 71. Langeron O, Masso E, Huraux C, Guggiari M, Bianchi A, Coriat P, et al. Prediction of difficult mask ventilation. Anesthesiology. 2000; 92:1229-36. 72. Roche DA, Murray WB, Rout CC, Gouws E. Relative risk analysis of factors associated with difficult intubation in obstetric anesthesia. Consensos Via Aérea Difícil SPA Anesthesiology. 1992; 77:67-73. 73. Buckland RW, Pedley J. Lingual thyroid-a threat to the airway. Anaesthesia. 2000; 55:1103-5. 74. Coonan TJ, Hope CE, Howes WJ, Holness RO, MacInnis EL. Ankylosis of temporo-mandibular joint after temporal craniotomy: A cause of difficult intubation. Can Anaesth Soc J. 1985; 32:150-60. 75. Hill CM:Death following dental clearance in a patient suffering from ankylosing spondylitis – a case report with discussion on management of such pronlems. Br J Oral Surg. 1980; 18:73-6. 76. Lee HC, Andree RA. Cervical spondylosis and difficulat intubation. Anesth Analg. 1979; 58:434-5. 77. Miyabe M, Dohi S, Homma E: Tracheal intubation in an infant with treacher-Collins syndrome-pulling out the tongue by a forceps. Anesthesiology. 1985; 63:213-4. 78. Nagamine Y, Kurahashi K. The use of three-dimensional computed tomography images for anticipated difficult intubation airway evaluation of a patient with Treacher-Collins syndrome. Anesth Analg. 2007; 105:626-8. 79. Nakazawa K, Ikeda D, Ishikawa S, Makita K. A case of difficult airway due to lingual tonsilar hypertrophy in a patient with Dow`s syndrome. Anesth Analg. 2003; 97:704-5. 80. Ramamami M, Ponnaiah M, Bhaskar S, Rai E. An uncommon cause of unanticipated difficult airway. Paediatr Anaesth. 2009; 19:643-5. 81. Bash DK, Browder F, Barr M, Greer D. Anaesthesia for treacher Collins and Pierre robin syndromes: A report of three cases. Can Anaesth Soc J. 1986;33:364-70. 82. Roa NL, Moss KS. Treacher Collins syndrome with sleepanea: anesthetic considerations. Anesthesiology. 1984; 60:71-3. 83. Aoi Y, Kamiya Y, Shioda M, Furuya R, Yamada Y. Pre anesthetic evaluation can play a crucial role in the determination of airway management in a child with oropharyngeal tumor. J Anaesth. 2006; 20:215-9. 84. Hung O, Murphy M. Context-sensitive airway management. Anesth Analg .2010; 110: 982-3. 85. Quinn AC, Milne D, Columb M, Gorton H, Knight M. Failed tracheal intubation in obstetric anaesthesia: 2 yr national case–control study in the UK. Br J Anaesth. 2013; 110: 74-80 86. Lewis GE. The Confidential Enquiry into Maternal and Child Health (CEMACH). Saving Mothers’ Lives: reviewing maternal deaths to make motherhood safer-2003-2005. The Seventh Report on Confidential Enquiries into Maternal Deaths in the United Kingdom. London: CEMACH; 2007. 87. Samsoon GL, Young JR. Difficult tracheal intubation: a retrospective study. Anaesthesia. 1987; 42: 487-490 88. Goldszmidt E. Is there a difference between the obstetric and non- obstetric airway. In: Halpern SH, Douglas MJ, editors. Evidence Based Obstetric Anaesthesia. Oxford: Blackwell Publishing;, 2007.p. 225–36 89. Russell R. Failed intubation in obstetrics: a self-fulfilling prophecy? Int J Obstet Anaesth. 2007; 16: 1–3 90. Goldszmidt E. Principles and practices of obstetric airway management. Anesthesiol Clin.2008; 26 : 109–25. 91. Searle RD, Lyons G. Vanishing experience in training for obstetric general anaesthesia: an observational study. Int J Obstet Anesth. 2008; 17:233-7. 92. Barnardo PD, Jenkins JG. Failed tracheal intubation in obstetrics: a 6-year review in a UK region. Anaesthesia. 2000; 55: 690–4 93. Scott-Brown S, Russell R. Video laryngoscopes and the obstetric airway., Int J Obstet Anesth. 2015 ;24:137-46. 94. O Brien K, Conlon C. Failed intubation in obstetrics. Anesth Intensive Care Med. 2013:14:8. 95. Hawthorne L, Wilson R, Lyons G, Dresner M. Failed intubation revisited: 17-yr experience in a teaching maternity unit. Br J Anaesth 1996;76:680–4 96. Johnson RV, Lyons GR, Wilson RC, Robinson AP. Training in obs- tetric general anaesthesia: a vanishing art? Anaesthesia. 2000; 55: 163–83. 97. Tsen LC, Pitner R, Camann WR. General anesthesia for cesarean section at a tertiary care hospital 1990-1995: indications and implications. Int J Obstet Anesth. 1998; 7: 147–52. 98. Pilkington S, Carli F, Dakin MJ, Romney M, De Witt KA, Doré CJ, et al. Increase in Mallampati score during pregnancy. BrJ Anaesth. 1995;74):638-42. 99. Boutonnet M, Faitot V, Katz A, Salomon L, Keita H.. Mallampati class changes during pregnancy, labour and delivery: can these be predicted? Br J Anaesth. 2010; 104):67-70. 100. Rocke DA, Murray WB, Rout CC, Gouws E.. Relative risk analysis of factors associated with difficult intubation in obstetric anesthesia. Anesthesiology, 1992; 77:67-73. 101. Wong CA, Loffredi M, Ganchiff JN, Zhao J, Wang Z, Avram MJ. Gastric emptying of water in term pregnancy. Anesthesiology., 2002;96:1395-400. 102. Smith I, Kranke P, Murat I Smith A, O’Sullivan G, Søreide E, et al. Perioperative fasting in adults and children: guidelines from the European Society of Anaesthesiology. Eur J Anaesthesiol. 2011;28:556-69 103. American Society of Anesthesiologists Task Force on Obstetric Anesthesia. Practice guidelines for obstetric anesthesia: an updated report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on Obstetric Anesthesia. Anesthesiology. 2007;106):843-63. 104. Rudra A. Airway management in obstetrics. Indian J Anaesth. 2005; 49: 328-35 105. Rucklidg M, Hinton C. Difficult and failed intubation in obstetrics. Cont Educ Anaesth Critical Care& Pain J.2012;12. 106. Tamura M, Ishikawa T, Kato R, Isono S, Nishino T. Mandibular advancement im- proves the laryngeal view during direct laryngoscopy performed by inexperienced physicians. Anesthesiology. 2004;100:598-601. 107. Benumof JL, Cooper SD. Quantitative improvement in laryngoscopic view by optimal external laryngeal manipulation. J Clin Anesth 1996;82):136-40. 108. Banks A, Levy D. General anaesthesia for operative obstetrics. Anaesth Intensive Care Med. 2007; 8:317-9. 109. Ting Ting Oh, Ban Leong Sng. Rethinking the rapid sequence induction in obstetrics. Trends Anaesth Critical Care.2014;4: 42-46. 110. Chambers D, Paulden M, Paton F, Heirs M, Duffy S, Craig D, et al. Sugammadex for the reversal of muscle relaxation in general anaesthesia: a systematic review and economic assessment. Health Technol Assess. 2010;14:1-211. 111. Use of advanced airway techniques in the pregnant patient. Anesthesiology Clin. 2013; 31: 529-43. Turkstra TP, Armstrong PM, Jones PM, Quach T. GlideScope use in the obstetric patient. Int J Obstet Anesth. 2010;19:123-4. 112. Mhyre JM, Healy D. The unanticipated difficult intubation in obstetrics. Anesth Analg. 2011;112:648-52. 113. Komatsu R, Kasuya Y, Yogo H, Sessler DI, Mascha E, Yang D, et al. Learning curves for bag-and-mask ventilation and orotracheal intubation: an application of the cumulative sum method. Anesthesiology. 2010; 112: 1525-31. 114. Chutatape A, Sng BL.The role of the supraglottic airway in general anaesthesia for Caesarean section. Trends in Anaesthesia and Critical Care 3;2013: 162-165. 115. Leblanc VR. Simulation in anesthesia: state of the science and looking forward. Can J Anesth. 2012; 59: 193- 202. 116. ANESTHESIA AND INTENSIVE CARE 2010; 38: 1023 – 028 117. Wong DT, Prabhu AJ, Coloma M, Imasogie N, Chung FF. What is the minimum training required for successful cricothyroidotomy?: a study in mannequins. Anesthesiology. 2003; 98: 349-53. 118. Mhyre JM, Healy D. The unanticipated difficult intubation in obstetrics.Anesth Analg. 2011;112:648-52. 119. Goldszmidt E. Principles and practices of obstetric airway management.Anesthesiol Clin. 2008;26:109-25. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 29 Consensos Via Aérea Difícil SPA 120. Fletcher G, Flin R, McGeorge P, Glavin R, Maran N, Patey R. Anaesthetists’ Non-Technical Skills (ANTS): evaluation of a behavioural marker system. Br J Anaesth. 2003; 90: 580-8. 121. http://www.uptodate.com/contents/airway-management-of-th e-pregnant-patient-at-delivery?topicKey=ANEST %2F16690&elapsedTi meMs=3&view=print&di.. 122. Siu LW, Boet S, Borges BC, Bruppacher HR, LeBlanc V, Naik VN, et al. High-fidelity simulation demonstrates the influence of anesthesiologists’ age and years from residency on emergency cricothyroidotomy skills. Anesth Analg. 2010; 111: 955-60. 123. Ni J, Luo L, Wu L, Luo D. The Airtraq™ laryngoscope as a first choice for parturients with an expected difficult airway. Int J Obstet Anesth. 2014;23:94-5. 124. Scott-Brown S, Russell R. Video laryngoscopes and the obstetric airway. Int J Obstet Anesth. 2015;24:137-46. 125. Vaida SJ, Pott LM, Budde AO, Gaitini LA. Suggested algorithm for management of the unexpected difficult airway in obstetric anesthesia. J Clin Anesth. 2009;21:385-6. 126. Gaba DM, Howard SK, Flanagan B, Smith BE, Fish KJ, Botney R. Assessment of clinical performance during simulated crises using both technical and behavioral ratings. Anesthesiology. 1998; 89: 8-18. 127. Hood DD, Dewan DM. Anesthetic and obstetric outcome in morbidly obese parturients. Anesthesiology. 1993;79:1210–8. 128. Munnur U, Boisblanc B, Suresh MS. Airway problems in pregnancy. Crit Care Med. 2005; 33(10 Suppl):S259-68 . 129. Jimenez N, Posner KL, Cheney FW, Caplan RA, Lee LA, Domino KB . An update on pediatric anesthesia liability: a closed claims analysis. Anesth Analg. 2007;104: 147–53. 130. Schmidt AR, Weiss M, Engelhart T. The paediatric airway: Basic principles and current developments. Eur J Anaesthesiol. 2014; 31:293-9. 131. American Society of Anesthesiologists Task Force on Management of the Difficult Airway. Practice guidelines for management of the difficult airway: an updated report. Anesthesiology. 2013; 118:120. 132. Sunder RA, Haile DT, Farrell PT.Pediatric airway management: current practices and future directions. Pediatric Anesthesia. 2012; 22: 1008-15. 133. Navaratnarajha J. Assessment and management of the predicted difficult airway in babies and children. Anaesth Intensive Care Med. 2012; 13: 226-33. 134. Engelhardt T, Machotta A, Weiss M.Management strategies for the difficult paediatric airway. Trends Anaesth Crit Care 2013; 3: 183-187. 135. Heinrich S, Birkholz T, Ihmsen H, Irouschek A, Ackermann A, Schmidt J. Incidence and predictors of difficult laryngoscopy in 11.219 pediatric anesthesia procedures. Pediatr Anesth. 2012; 22:729-736. 136. Weiss M, Engelhardt T. Proposal for the management of the unexpected difficult pediatric airway. Pediatr Anesth. 2010; 20:45464. 137. Black A, Thomas M, Wilkinson K. Development of a guideline for the management of the unanticipated difficult airway in pediatric practice. Pediatric Anesthesia 2015; Feb:1-17. 138. Litman RS, Maxwell LG. Cuffed versus uncuffed endotracheal tubes in pediatric anesthesia: the debate should finally end. Anesthesiology. 2013; 23:103-10. 139. Tobias J. Pediatric airway anatomy may not be what we thought: implications for clinical practice and the use of cuffed endotracheal tubes. Pediatr Anesth. 2015; 25:9-19. 140. Frerk C, Mitchell VS, McNarry AF, Mendonca C, Bhagrath R, Patel A, et al. Difficult Airway Society 2015 guidelines for management of unanticipated difficult intubation in adults. Br J Anaesth. 2015 ;115:827-48. 141. Abernathy JH 3rd, Reeves ST. Airway catastrophes. Curr Opin Anaesthesiol. 2010;23:41-6. 142. Smith AF. Creating guidelines and treating patients when the- 30 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 re are no trials or systematic reviews. Eur J Anaesthesiol 2013; 30: 383–5 143. Agberg C, Arin AH, Gabel JC. Current concepts in the management of the difficult airway.2009; 11: 1–28. 144. Aziz M. Use of video-assisted intubation devices in the management of patients with trauma. Anesth Clin. 2013;31: 157–66. 145. Bair, Aaron E, and Erik G Laurin. 2 - Advanced Airway Techniques. Second Edition. Elsevier Inc. 146. Brambrink AM, Hagberg CA. Benumof and Hagberg’s Airway Management. 3rd ed. Amsterdam: Elsevier; 2013. 147. Chrimes N, Fritz P. The Vortex Approach : Management of the Unanticipated Difficult Airway. Smashwords Edition. 2013. 148. Curran JE. Anaesthesia for facial trauma. Anaesth Intensive Care Med.2014; 15: 373–8. 149. Dörges V. Airway management in emergency situations. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2005;19:699-715. 150. Savoldelli GL, Schiffer E, Abegg C, Baeriswyl V, Clergue F, Waeber JL. Learning curves of the Glidescope, the McGrath and the Airtraq laryngoscopes: a manikin study. Eur J Anaesthesiol. 2009; 26: 554-8. 151. Galvagno S M. Airway Management in the Trauma Patient. 17th ed. Amsterdam: Elsevier;2012. 152. Heidegger T, Gerig HJ, Henderson JJ. Strategies and algorithms for management of the difficult airway. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2005;19:661-74. 153. Plummer JL, Owen H. Learning endotracheal intubation in a clinical skills learning center: a quantitative study. Anesth Analg. 2001; 93: 656-62. 154. www.asahq.org.American Society of Anesthesiologists. STATEMENT OF PRINCIPLES : TRAUMA ANESTHESIOLOGY. (2013). [consultado em 2015 nov 9].Disponível em: www.asahq.org/resources/ resources-from-asa-committees/committee-on-trauma-and-emergency-preparedness/trauma-anesthesiology 155. De Montblanc J, Ruscio L, Mazoit JX, Benhamou D. A systematic review and meta-analysis of the i-gel® vs laryngeal mask airway in adults. Anaesthesia. 2014; 69: 1151–62. 156. Chen X, Jiao J, Cong X, Liu L, Wu X. A comparison of the per- formance of the I-gelTM vs. the LMA-STM during anesthesia: a meta-analysis of randomized controlled trials. PLoS One. 2013; 8: e71910. 157. Tournadre JP, Chassard D, Berrada KR, Boulétreau P. Cricoid cartilage pressure decreases lower esophageal sphincter tone. Anesthesiology. 1997; 86: 7–9. 158. Salem MR, BruningaKW, Dodlapatii J, Joseph NJ. Metoclopramide does not attenuate cricoid pressure-induced relaxation of the lower esophageal sphincter in awake volunteers. Anesthesiology. 2008; 109: 806–10. 159. Bell MDD. Routine pre-oxygenation – a new ‘minimum standard’ of care? Anaesthesia. 2004; 59: 943-5 160. Patel A, Nouraei SA. Transnasal Humidified Rapid-Insufflation Ventilatory Exchange (THRIVE): a physiological method of increasing apnoea time in patients with difficult airways. Anaesthesia. 2015; 70: 323–9. 161. Miguel-Montanes R, Hajage D, Messika J, Bertrand F, Gaudry S, Rafat C, et al. Use of highflow nasal cannula oxygen therapy to prevent desaturation during tracheal intubation of intensive care patients with mild-to-moderate hypoxemia. Crit Care Med. 2015; 43: 574–83. 162. Vourc’h M, Asfar P, Volteau C, Bachoumas K, Clavieras N, Egreteau PY, et al. High-flow nasal cannula oxygen during endotracheal intubation in hypoxemic patients: a randomized controlled clinical trial. Intensive Care Med. 2015; 41: 1538–48. 163. Barron FA, Ball DR, Jefferson P, Norrie J. ‘Airway Alerts’. How UK anaesthetists organise, document and communicate difficult airway management.Anaesthesia. 2003;58:73-7. 164. Baker P, Moore C, Hopley L, Herzer K, Mark Lj. How do anaesthetists in New Zealand disseminate critical airway information? Anaesth Intensive Care. 2013 ;41:334-41. 165. Greenland KB, Irwin MG. Airway management--’spinning silk Consensos Via Aérea Difícil SPA from cocoons’ ( -Chinese idiom). Anaesthesia. 2014;69:296-300. 166. Schaeuble JC, Ganter MT. Clarifying the indications for difficult airway alert forms. Anaesthesia. 2015;70:505-6. 167. Wilkes M, Beattie C, Gardner C, McNarry AF. Difficult airway communication between anaesthetists and general practitioners. Scott Med J. 2013; 58: p. 2-6. 168. Graham CA. Advanced airway management in the emergency department: what are the training and skills maintenance needs for UK emergency physicians? Emerg Med J .2004; 21: 14-9. 169. L’Hermite J, Nouvellon E, Cuvillon P, Fabbro-Peray P, Langeron O, Ripart J.The Simplified Predictive Intubation Difficulty Score: a new weighted score for difficult airway assessment. Eur J Anaesthesiol. 2009;26:1003-9. 170. Nørskov AK, Rosenstock CV, Wetterslev J, Astrup G, Afshari A, Lundstrøm LH. Diagnostic accuracy of anaesthesiologists’ prediction of difficult airway management in daily clinical practice: a cohort study of 188 064 patients registered in the Danish Anaesthesia Database. Anaesthesia. 2015;70:272-81. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 31 Artigo de Revisão // Review Anestesia no Idoso Mário Guerra1, FErNando abelha1,2 Palavras-chave: - Anestesia: - Avaliação de Resultados; - Idoso Resumo A tendência para o envelhecimento global tem sido implicada no aumento dramático de algumas doenças crónicas e comorbilidades. Isto levará a uma procura crescente por procedimentos anestésicos e cirúrgicos por parte da população idosa. Este manuscrito pretende abordar a singular fisiologia geriátrica e a avaliação peri-operatória do paciente idoso para ajudar a guiar os cuidados destes pacientes tendo em vista a melhoria destes. Foi realizada uma pesquisa de literatura, através da base de dados da MedLine, por artigos escritos na língua inglesa. Como palavras-chave foram utilizadas “elderly” e “geriatric” combinadas com “anesthesia”, “preoperative assessment”, “monitorization”, “postoperative care” e “postoperative management”. Dos resultados obtidos foram escolhidas as publicações que nos pareceram mais pertinentes, incluindo estudos originais, revisões, relatos de casos e cartas ao editor. As suas listas de citações foram também revistas. No período pré-operatório devem-se avaliar o risco anestésico, cardiovascular, respiratório e renal. Os médicos também devem prestar atenção às doenças endócrinas dos pacientes tal como ao seu estado hematológico, imunológico, mental e à “frailty”. A administração de anestésicos de acordo com o estado patofisiológico do doente é um facto mais importante do que a escolha entre a técnica de anestesia regional e a geral. A monitorização intra-operatória dá informações importantes à equipa médica acerca do estado geral do paciente cirúrgico. No que diz respeito aos cuidados pós-operatórios, o controlo da dor e a nutrição têm de ser tidos em conta e os profissionais de saúde devem conjugar esforços em prol da reabilitação do doente. Compreender a fisiologia e patofisiologia geriátricas é essencial para avaliar e orientar adequadamente os pacientes idosos. Estes indivíduos são caracterizados por declínio funcional progressivo de todos os órgãos, homeostenose e variabilidade interindividual. Mesmo com cuidados peri-operatórios otimizados algumas complicações, como a disfunção cognitiva pós-operatória e o delírio pós-operatório podem ocorrer. Medidas preventivas poderão ser implementadas embora não sejam infalíveis. A anestesia no idoso pode ser muito desafiante para os médicos. Com a idade surgem várias alterações físicas e psicológicas juntamente com múltiplas doenças. Para que os cuidados de saúde dos idosos sejam otimizados, essas alterações devem ser tidas em conta. Também se deve avaliar o seu risco de complicações futuras para que possam ser implementadas medidas de prevenção. Anesthesia in the elderly Mário Guerra1, FErNando abelha1,2 Keywords: - Aged; - Anesthesia; - Patient Outcome Assessment 32 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 Abstract The global ageing tendency has been implicated in the dramatic increase in some chronic diseases and comorbidities. This will lead to a growing demand for surgery and anesthetic procedures by the elderly population. This manuscript intends to approach the singular geriatric physiology and the perioperative assessment of the elderly patient to help guide the care of elderly patients hoping to improve the care of these patients. A literature search was performed in the MedLine database for articles written in the English language. As keywords, we used “elderly” and “geriatric” combined with “anaesthesia”, “preoperative assessment”, “monitorization”, “postoperative care” and “postoperative management”. From the obtained results, we chose the most pertinent publications, including original studies, reviews, case reports and letters to the editor. Their citation lists were also reviewed. In the preoperative period one should assess the anesthetic, cardiovascular, respiratory and renal risks. Doctors should also pay attention to the patients’ endocrine diseases, immunologic and hematologic states as well as their “frailty” The correct administration of anesthesia according to the pathophysiological status of the patient is more important than the choice between regional or general anesthesia. Intra-operative monitorization gives the medical team important information about the Anestesia no Idoso global status of the surgical patient. Regarding postoperative care, pain management and nutrition have to be taken into account and health carers should join forces towards the patients’ re-enablement. Understanding geriatric physiology and pathophysiology is essential to properly evaluate and manage elderly patients. These individuals are mainly characterized by progressive function decline of all organs, homeostenosis and interindividual variability. Even with optimized care some complications, like postoperative cognitive dysfunction and delirium may appear. Preventive measures can be promoted, although these are not infallible. Anesthesia in the elderly can be very challenging to physicians. With increasing age, several physical and psychological changes emerge along with the co-existence of multiple diseases. In order to optimize the health care of elderly, one should be aware of these changes and properly assess their risk of future complications so preventive attitudes can be implemented. Data de submissão - 23 de fevereiro, 2015 Data de aceitação - 26 de abril, 2015 1 2 Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Porto, Portugal Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar de São João, Porto,. Portugal Introduction Populations all over the world are not only rising in numbers but they’re also getting older. In fact, the most recent demographic data are astounding. According to the World Health Organization, the world’s population of people 60 years of age and older has doubled since the 80’s. They may even reach the 2 billion in 2050. Also, and for the first time ever, people aged 65 or older will outnumber children under 5 in the current year. This global ageing has its implications. As a matter of fact, ageing, in addition to changes in lifestyle and diet, has been implicated in the dramatic increase in chronic diseases such as cancer, diabetes, hypertension, heart failure and other heart diseases.1 Advanced age is not a contraindication to anesthesia or surgery; however, perioperative morbidity and mortality are greater in elderly than in younger surgical patients. Increasing chronic diseases and other comorbidities will lead to a growing demand for surgery. Actually, elderlies already resort to surgery four times more often than the rest of the population and the numbers are expected to increase even more.2 Also, by 2051, 40 % of all anesthetics will be used, exclusively, on people aged over 65.3 This means not only more physical trauma but also greater exposure to anesthetics and their side-effects.4 First, it must be noted that the term “elderly” is a subjective term that refers to an old and ageing person and there is no consensus regarding the age at which an individual is considered to become one. Therefore, and because it meets the general findings in the majority of medical articles, “elderly” shall refer to any person with 65 years old or more. 5-8 The final objective of perioperative care is to help elderlies return to their pre-morbid sate. For that to happen, clinicians must treat them respectfully, optimise their rehabilitation by preventing complications and always bearing in mind these are particularly frail individuals with multiple comorbidities.9 This manuscript will approach the singular geriatric physiology and the perioperative assessment of the elderly patient. Geriatric Physiology and Pathophysiology It is of common knowledge that aging is followed by a decline in physical capability resulting from a progressive deterioration of all organs. In addition, people become more sedentary with advanced age and, so, the majority of elders have chronic diseases and comorbidities that must be assessed before anesthesia and surgery.10 The first two concepts to have in mind are the limited functional reserve and the interindividual variability that define these patients. Limited functional reserve refers to the inability of an organ to maintain its function when experiencing some sort of stress, namely, a surgical procedure. This incapacity to maintain homeostasis is sometimes described in the literature as “homeostenosis”. The limited reserve is, in part, responsible for the longer time elderly need in order to be as functional as they were before surgery, when compared to younger patients. In severe cases, or in certain surgeries, they may become totally dependent on others because they stop being able to do simple everyday tasks by themselves.11 Interindividual variability emphasizes that elderly patients are not all alike. While some show frail presentations and suffer from quick functional deterioration, others show less signs of organ damage and can be fully independent at very advanced ages. Besides, there is also significant variability within the same individual (intraindividual) since the speed at which each organ or system ages is not the same.12 Cardiovascular System Elders have a reduced arterial elasticity which is a result of fibrosis of the media layer. This will lead to an increased afterload, an elevated systolic blood pressure and finally, to left-ventricle hypertrophy. Diastolic dysfunction follows not only systolic hypertension but is also associated with valvular diseases, coronary artery disease and cardiomyopathy. Diastolic dysfunction, itself, will result in increased telediastolic pressure, rising up the risk of heart failure.13 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 33 Anestesia no Idoso Like the vessels media layer, the myocardium and the cardiac conduction system also become fibrotic and the heart valves are frequently calcified.13 The compromise of the conduction system and the natural loss of node cells may conduce to arrhythmias, namely, atrial fibrillation and atrial flutter.12 Maximal heart rate decreases with age because of an increased vagal tone, on one hand, and less beta receptor sensitivity in the myocardium, on the other. This way, elderly patients will have more difficulty in responding to situations like hypoxia, hypovolemia or hypotension, since elders lack compensatory tachycardia. Blood also takes more time to complete a circulation cycle, which means there will be a delay in the onset of intravenous drugs and an acceleration of the induction time of inhalatory anesthetics.12, 14, 15. Respiratory System Respiratory deterioration is also typical of this age group. It includes structural and functional changes. Changes on the curvature of the spine, like hyper kyphosis, distort the correct disposition of ventilatory muscles, affecting their efficiency. This is aggravated even more by the age-related loss of function of all muscles16, 17 and the final result is a reduced respiratory strength and total amplitude. Aged individuals also have increased difficulty in clearing mucus from the lungs due to reduced cough strength and an impaired mucociliary function.18, 19 The loss of tissue elasticity plays a major role on respiratory dysfunction and it is connected to the elevated levels of tissue and plasmatic inflammatory cytokines observed in aged subjects. Lack of elasticity produces two immediate consequences: airspace dilation and the collapse of small airways with decreased efficiency of gas exchange. So, in other words, loss of elastic tissue predisposes elderly to hypoxia and, ultimately, the development of chronic obstructive pulmonary disease.6 In summary, respiratory deterioration encompasses decreased vital capacity, a decreased expiratory flow, an increased residual volume and increased lung compliance.10 All these will lead to an increased ventilatory impairment in the recovery room. Renal System Glomerular filtration rate, renal mass and renal blood flow also tend to fall with aging, predisposing elders to acute renal failure in the post-operatory period. Although plasma renin activity also falls with age, angiotensin sensitivity and sympathetic tone are increased. These, in addition to the lowered prostaglandin synthesis, contribute to a higher renal vascular resistance. Effective renal plasma flow decreases proportionally more than the glomerular filtration rate and this can explain, in part, the higher filtration fraction in the elderlies.20, 21 The ability to maintain and eliminate electrolytes such as sodium or potassium and to concentrate and dilute urine is impaired in the elderly. These can lead to clinically important consequences, namely, dehydration, water intoxication, sodium retention and hypo/hyperkalaemia.22, 23 The response to antidiuretic hormone and aldosterone is reduced and reabsorbing glucose is more difficult.12 34 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 Liver Physiology Liver mass is reduced by 20 % to 40 %, in the elderly, and more markedly in women than in men. Advanced age is associated with low plasmatic albumin, alanine aminotransferase and γglutamyl transpeptidase and high bilirubin plasma concentration, which suggests liver function is also compromised in the elderly.24 Another age related fact is that cytochrome P450 activity is 32 % lower in subjects above 70 years than in subjects aged 20-29 years.25 The hepatic along with the renal changes are responsible for pharmacokinetic and pharmacodynamics alterations that turn drug metabolism and elimination into deficient processes. This will have repercussions on drugs plasma concentration. Central Nervous System (CNS) The aging brain also undergoes anatomical and physiological alterations. The decline of brain weight begins soon at 45-50 years of age and it does not stop until the age of 86.26. However, decreases in brain mass cannot be explained solely by agerelated losses. It constitutes a multifactorial process and some comorbidities like hypertension or diabetes can have ominous effects on white matter tracts and on the blood-brain barrier permeability.27, 28 There are subclinical vascular diseases, frequent in the elderly, that cause changes in cognition such as impaired attention, psychomotor speed and executive function.29 Neurogenesis is affected as well, restricting the elders’ ability to learn and leading to cognitive decline.30 Cognition itself can be defined in two main ways, acquired knowledge and processing speed. Although the first one only declines after the 60s, the second one starts decreasing in the early adulthood. Memory decline occurs in more than 40 % of people aged over 60 years.31, 32 PREOPERATIVE ASSESSMENT It is important to screen the presence and evaluate the stability of the patient’s medical conditions and treatments through a preoperative consultation. It is the physician’s task to identify diseases prone to cause disturbances in the normal functioning of vital organ systems like coronary disease or diabetes so they can be optimized preoperatively. It is also crucial to understand the true organic functional reserve of the patient. An adequate medical history and a methodical physical examination are the keys for preoperative assessment.33, 34 Anesthesia risk assessment There have been multiple scales and scoring systems to help physicians estimate the operational risk. The American Society of Anesthesiologists (ASA) Physical Status classification system was initially created in 1941.35 The purpose of the grading system is simply to assess the degree of a patient’s “sickness” or “physical state” prior to selecting the anesthetic or prior to performing surgery. This is the most commonly used scale nowadays and consists of 6 classes allowing an overview of the patient’s health. Besides, the letter “E” can be added to the class if the procedure at issue has an urgent nature.15, 36 Describing patients’ preoperative physical status is used for recordkeeping, Anestesia no Idoso for communicating between colleagues, and to create a uniform system for statistical analysis. The grading system is not intended for use as a measure to predict operative risk but various studies found a correlation between the ASA classification and mortality.37, 38 Despite being very versatile and simple to use it lacks on reproducibility as different anesthetists often come to different conclusions when assessing the same patient.39 Besides, ASA criteria do not take into account patients age neither the complexity of the surgery and there is no differentiation between a systemic disease leading to a procedure and one that is an incidental chronic finding.40 Measures of outcome are needed in order to allow monitoring the quality of healthcare service. One way to achieve those measures of outcome is by using score systems. The POSSUM score was created by Copeland et al41 so it could be easily used across the multiple types of surgery and whose main utility would be during a surgical audit. This score is, basically, the sum of a physiological score (twelve variables) and an operative severity score (six variables). The result provides an indicator of the risk of morbidity and mortality in the general surgical patient and, thus, measuring the quality of healthcare delivery. Since its creation, back in 1991, some variations of the POSSUM score have emerged. As an example, after some literature references to the tendency of the POSSUM score to over predict mortality in low-risk patient groups, the P-POSSUM score was developed later on.42, 43 This last score uses the same information as the original but a different risk predicting equation. In 2004, in order to better estimate the mortality of colorectal cancer patients, another modified version, the Cr-POSSUM was created.44 More recently, the Elderly (E) POSSUM score was constructed to predict the mortality of elderly patients undergoing major colorectal cancer procedures.45 Cardiovascular risk assessment According to the most recent European guidelines46 on assessment and management of non-cardiac surgery, cardiovascular risk evaluation should focus, basically, on four elements: the surgical risk for cardiac events after the procedure, functional capacity, risk indices and non-invasive testing. Surgical Risk for Cardiac Events after the Procedure Patient-related risk factors, the type of the surgery and its clinical context may be responsible for cardiac complications after non-cardiac surgery.46 Regarding surgical specific factors; urgency, invasiveness, type and duration of the operation, changes in body temperature, blood loss and fluid shifts seem to be the most relevant.47 Risk Indices They represent the relationship between the clinical history and the risk of perioperative mortality and morbidity. The European guidelines46 emphasize two of them: “the Lee index”48 and the NSQIP/MICA model.49 The Lee index was designed for predicting post-operative myocardial infarction, pulmonary oedema, ventricular fibrillation or cardiac arrest and complete heart block. This index includes six independent predictors for developing postoperative cardiac complications: high-risk type of surgery, ischemic heart disease (IHD), history of heart failure, history of cerebrovascular disease, preoperative treatment with insulin and preoperative creatinine level >170 mmol/L (>2 mg/ dL). The more predictors the patient has, the greater the likelihood of future complications: the risk of postoperative cardiac complications for 0, 1, 2 or more risk factors is, approximately, 0.4 %, 1 %, 7 % or 11 %, respectively.48, 50 The NSQUIP/MICA model was developed to evaluate the risk of intra or post-operative myocardial infarction or cardiac arrest and it uses the American College of Surgeons National Surgical Quality Improvement Program database. The NSQUIP/MICA model predicts death better than the Lee index but, on the other hand, it lacks an estimation of the risk of perioperative pulmonary oedema and of complete heart block. So, the two indices may give physicians’ complementary information and using them both could help doctors to make safer decisions.46 Functional Capacity Preoperative determination of functional capacity is fundamental. It is measured by metabolic equivalents (METs). This feature may be objectively assessed by exercise testing but more commonly it is estimated from the ability to perform certain activities of daily living. If patients are unable to climb two flights of stairs it means their functional capacity is less than 4 METs and this condition is associated with an increased risk of perioperative cardiac events with increased mortality in case of thoracic surgery. When the functional capacity is high, the prognosis is excellent. On the other hand, if it is poor or unknown, preoperative risk stratification and perioperative management should be determined based on the presence and number of risk factors in relation to the risk of the surgery. Non-invasive tests Non-invasive cardiac testing investigates left ventricular (LV) dysfunction, myocardial ischemia and valve abnormalities. All these three can be assessed by stress echocardiography, recommended in asymptomatic individuals before high-risk surgery in patients with more than two clinical risk factors and poor functional capacity (<4 METs). A preoperative electrocardiography is commonly performed. It is very important for patients with ischemic heart disease and it is “recommended for patients who have risk factor(s) and are scheduled for intermediate- or high-risk surgery”. When the goal is to assess the LV function, then echocardiography is the most available and user-friendly tool. Although its routinely use is not recommended by the European guidelines for preoperative assessment, it may be useful in asymptomatic patients with high surgical risk.46 As it has already been said, the diastolic dysfunction is a pathological situation that can be a consequence of multiple clinical conditions and, ultimately, can lead to heart failure. This situation is more incident in the elderlies and is mainly caused by a loss of left ventricular compliance. This limits the heart’s ability to relax and results in increased telediastolic pressure. This is the reason why atrial contribution to the ventricular filling is so important in the elderly. When telediastolic pressure is Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 35 Anestesia no Idoso too high, blood may flow retrograde to the pulmonary circulation with resulting pulmonary venous congestion and oedema. Some patients are asymptomatic while others present with exercise intolerance, cough, dyspnea or fatigue. The clinical picture may also appear similar to left ventricular systolic failure. It is very important to make the correct diagnosis because some therapeutic measures such as diuretics or inotropic stimulation, useful in systolic failure, may aggravate diastolic dysfunction. Echocardiography is the preferred method to assess diastolic dysfunction. Typically, if the patient presents this dysfunction, echocardiography will show a preserved or hyperdynamic left ventricular systolic function and a ratio of greater than 15 between the peak early mitral inflow velocity (E) and the peak early diastolic mitral annular velocity (e’), through Doppler measurement.51-53 Respiratory risk Assessment As a part of a preoperative consultation, medical history should focus on smoking, occupational exposures, respiratory symptoms, restricted exercising capability and history of pre-existing infections and lung diseases. 33 Back in 2006, the American College of Physicians (ACP) elaborated a guideline on “Risk Assessment for and Strategies To Reduce Perioperative Pulmonary Complications for Patients Undergoing Noncardiothoracic Surgery”,54 based on a previous 2-part systematic review conducted by ACP itself.55 This guideline defined patient and procedure-related risk factors for postoperative complications. The first ones include age older than 60 years, cigarette use, chronic obstructive pulmonary disease (COPD), congestive heart failure, functional dependence and ASA scale class II or higher. Respecting procedure risk factors, the site of surgery must not be forgotten, according to this guideline, because interventions in some anatomical regions are more prone to cause complications than others. Abdominal, thoracic, neurological, head, neck and vascular surgeries are particularly associated with an increased risk of postoperative respiratory complications. Regarding laboratory testing, serum albumin below 35 g/L and blood urea nitrogen (BUN) higher than 21 mg/dL were proved to be predictors of mortality.54, 56 Preoperative spirometry and chest radiography should not be used routinely for predicting pulmonary complications but they can be useful to identify patients who are not likely to survive after pulmonary resection and in patients with previous COPD or asthma.33, 54, 57 More recently, in 2010, Canet et al58 developed a predictive index for postoperative respiratory complications using a population-based cohort. This index uses seven variables: age (≤50, 51-80 or >80 years-old), preoperative SpO2 % (≥96, 91-95, ≤91), respiratory infection in the last month, preoperative anemia (≤10 g/dL), the surgical incision location (peripheral, upper abdominal or intrathoracic), the duration of surgery (≤2, >2 to 3 or >3) and if it is an emergency procedure. Using the sum of each Β-logistic regression coefficient and multiplying it by 10, after rounding off its value, the index categorizes subjects into low (<26 points), intermediate (26-44 points) and high-risk (≥45 points) patients. Despite using only seven variables, this index had good discriminative capacity and calibration value. According to the authors this tool is suited for clinical practice since age, SpO2 and he36 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 moglobin “are easily quantifiable and verifiable, and the three surgical risk factors can be anticipated” 58 Preoperative renal risk assessment Acute kidney injury (AKI) is very common, especially, during the perioperative period and in the intensive care unit. 1 to 5 % of all hospitalized patients develops AKI and elderly, in particular, seem to be more and more affected by it. This condition is related to higher morbidity and mortality along with longer hospital stays. The postoperative risk of acute renal failure varies from 1.1 to 17 % depending on the used definition of acute renal failure.59 In order to define and to stratify AKI for severity, two sets of criteria were created: the risk–injury–failure–loss–endstage renal disease (RIFLE)60 and the Acute Kidney Injury Network (AKIN).61. The first one to emerge was RIFLE. These criteria are based on two variables: plasma creatinine/glomerular filtration rate and urinary output. According to the criteria the patient can be classified as being at risk, the least severe category, followed by injury, and failure is the most severe category. RIFLE criteria can also describe changes in AKI severity over time and foresee outcomes. If a patient shows a complete loss of renal function he/she may be categorized as loss or as having end-stage renal disease (ESRD).62 AKIN came later, it was also based on creatinine levels and the urinary output but it brought four major changes in the AKI classification. First, instead of the risk, injury and failure RIFLE categories, AKIN defines stages 1, 2 and 3, respectively. Stage 1 of AKIN is also defined by an absolute increase in creatinine of at least 0.3 mg/dL which is not the case of the risk category in RIFLE criteria. Also, patients who receive renal replacement therapy are automatically classified as Stage 3, independently of their creatinine and urinary output values. Finally, the outcome categories (Loss and ESRD) are not part of AKIN.62 Postoperative AKI is known to increase in-hospital mortality, length of stay, and hospital costs after surgery so it is important to assess the risk of developing it preoperatively. 63 For that purpose several score systems have been created. Kheterpal et al64 for instance, defined a list of independent preoperative predictors of postoperative AKI and stratified them into five classes based on the number of risk factors. That list encompasses age equal or superior to 56 years old, male sex, active congestive heart failure, ascites, hypertension, the emergence character of the procedure, intraperitoneal surgery, mild or moderate renal insufficiency and diabetes mellitus. Regarding laboratory testing, an accurate assessment of the renal function in elder patients is necessary, according to the National Kidney Foundation. However, despite the growing investigation on this area, no single equation has been recommended for evaluating the GFR in the elderly population so far. In 2010, van Pottelbergh et al65 concluded that the determination of serum creatinine alone was not a good marker of kidney function. That finding can be explained by the influence of some nonrenal factors such as total muscle mass, age, sex, diet and race.66 They also analyzed, among others, the performance of both modification of diet in renal disease (MDRD) and the Cokroft Anestesia no Idoso - Gault formulas but they could not certify which one of these was better for assessing the renal function in people aged 65 years and older.65 In 2013, Koppe L et al states that the recently developed BIS – 1 (Berlin Initiative Study) formula was the most reliable one in terms of evaluating the renal function of elderlies, particularly, in those with chronic kidney disease (CKD) stages 1-3. However, one year earlier, Schaeffner et al elected the BIS – 2 equation over the BIS – 1 as the first choice formula to determine the renal function in persons over 70 with normal or mild to moderately reduced kidney function.67, 68 Preoperative endocrine diseases The classical definition of metabolic syndrome identifies central obesity, insulin resistance, hyperinsulinemia, glucose intolerance, dyslipidemia and hypertension as its main features.69 This syndrome can lead to pro-thrombotic and pro-inflammatory states, hepatic steatosis and obstructive sleep apnea disease. It also increases the risk of cardiovascular disease by 2-fold and the risk of type 2 diabetes mellitus by 5-fold.70 Metabolic syndrome is a very common medical condition, especially in the elderly, reaching 44 % of the population between 60 and 69 years old and 42 % of people with 70 years and older.71 Nowadays, there are multiple definitions of metabolic syndrome and diagnostic criteria vary. The most commonly used definitions were developed by the National Cholesterol Education Program Adult Treatment Panel (NCEP/ATP) and by the International Diabetes Federation (IDF). While de classical definition of Reaven et al69 emphasized the insulin resistance as mandatory for the diagnosis, these most recent criteria72 give more attention to the central obesity measured by waist circumference.73 Unfortunately, none of the current available definitions consider the effects of aging on the diagnostic variables and that’s why they have a lesser predictive value when applied in elderly populations.74 The number of obese elderlies is growing. However, it has been difficult to establish the correct way to approach them namely because some relative health risks actually decline with increasing body mass index (BMI) in older adults. For example, there is an association between obesity and increased bone mineral density and decreased osteoporosis. This, along with the larger trochanteric fat pads, provides protection against hip fractures in both men and women. Also, the effectiveness of the obesity treatment is uncertain in the majority of cases, in this population, and losing weight may cause harmful effects on both muscle and bone mass.75 BMI consists in a simple formula used to classify patients into weight categories. However, in the elderly, the relationship between the BMI value and the percentage of total body fat is distorted. This happens because of the combined effects of progressive, age-related, loss of height as a result of the compression of vertebral bodies and the increase in total fat mass along with the decrease of total muscle mass.74 That is why, on this population, it is preferable to determine central obesity through measuring the waist circumference rather than calculating BMI. Abnormally high glucose states are very common among the elderly. It is estimated that one-third of people above 65 years old have diabetes and 75 % of them have pre-diabetes or diabe- tes. Despite these astonishing data, however, half of older individuals with this disease are still undiagnosed.76 This is a disease affecting multiple organ systems and known to cause, if uncontrolled, dehydration, electrolyte imbalances and an increased risk of wound infection in the perioperative period.77 The preoperative assessment should concentrate on diabetes stability and sensitivity to the usual hypoglycemic therapy, cardiovascular and cognitive fallouts and neuropathy. It is also crucial to have in mind that a clinical entity described as older-onset diabetes rarely presents with the classical triad: polyphagia, polydipsia and polyuria. 33 Hematologic and Immunologic system More than 10 % of people older than 65 years old have anemia, according to the WHO definition (hemoglobin < 12 g/dL in women and < 13 g/dL in men).78 Also, after 50 years old this clinical condition increases with advancing age reaching 20 % of elderlies older than 85.79 In elder populations, most cases of anemia are mild, well tolerated and with low clinical significance.80 Nevertheless, anemia can be responsible for multiple adverse outcomes impairing the quality of life, the cognitive and physical function. It can also influence other clinical conditions such as cardiovascular diseases and frailty, contribute to longer hospital stays81 and may even increase the risk of death, including perioperative mortality.82, 83 The exact cause for the anemia in the elderlies may be difficult to be determined since this population has several comorbidities, disorders and take various medications. In the majority (80 %) of cases,84 however, physicians are able to identify the reason for the hemoglobin drop. Basically, the causes of anemia, in the elderly, are divided in 4 different groups: nutrient-deficient anemia, anemia of chronic inflammation, anemia related to chronic kidney disease and unexplained anemia. The anemia’s severity is not correlated with the underlying cause. This is a concept that should not be overlooked.84 If a patient scheduled for elective surgery was found to have anemia and he/she is expected to lose great amounts of blood during the procedure, that should constitute an indication for rescheduling the surgery until the proper evaluation and management.85 The term “immunosenescence” comprises all the dysfunctional changes to the immunologic system that progressively emerge with aging.86 It seems T-cells are particularly affected by the aging process. The number of naïve T-cells is reduced through the years while CD8+ memory T-cells increase. But changes are not restricted to the adaptative immune system since they extend to natural-killer cells, dendritic cells and other effectors of the innate immune system.87 Systemic immunity impairment can lead to an increase prevalence of neoplastic, chronic inflammatory and autoimmune diseases in older patients. Also, vaccines will work less effectively making these patients more susceptible to common pathogens such as influenza.87 Frailty The term “frailty” has been increasingly used to indicate people at high risk of adverse outcomes such as onset of disability, morbidity, institutionalization or mortality and those who are not Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 37 Anestesia no Idoso able to respond adequately to a certain stress. Disability is not the cause but rather a consequence of frailty. Doctors are usually capable of noticing a frail patient who is more often, although not always, elderly but its assessment remains a problem. Frailty is a dynamic clinical condition and the result of a multisystem deterioration that has nothing to do with the normal aging process. Today, the scientific community sees frailty as a syndrome and, therefore, related impairments like sarcopenia, functional status decline, neuroendocrine dysregulation and immune system deterioration can occur in a combined manner.88 Frailty turn individuals more vulnerable to stressors (ex. Surgery), complications and is the responsible for increasing hospitalization periods.89 Recent studies state that quantifying frailty helps clinicians in the way that it improves the precision of preoperative risk assessment.90 Nevertheless, no method of quantifying frailty, especially in the perioperative period, has yet been put into routine clinical practice despite the variety of measurement tools available. Currently, there are two ways of approaching frailty: phenotype and accumulated deficit. Some measurement tools face frailty as a true clinical syndrome or phenotype and rely on a group of outcomes to identify and quantify frailty. For instance, the “FRAIL” scale consists basically in 5 domains – Fatigue, Resistance (ability to climb one flight of stairs), Ambulation (ability to walk one block), Illnesses (superior to 5) and Loss of weight (more than 5 %).91 Another tool is the “Easy Prognostic Score “developed by Ravaglia et al using nine different predictors of mortality including age, gender and physical activity.92 The most well-known and widely used phenotype, though, was described by Fried et al. She and her colleagues proposed a frailty phenotype consisted by 3 or more of the following components: • Unintentional weight loss of more than 10 pounds in prior year or, at follow-up, of more than 5 % of total body weight in prior year • Weakness, adjusted for gender and body mass index • Poor endurance and energy as indicated by self-report of exhaustion • Slowness. Calculated based on the required time to walk 15 feet, adjusting for gender and standing height • Low physical activity level The major drawback of this score, however, is that it is essentially “physical” and focusing on sarcopenia as the main pathophysiologic feature but ignoring disorders of cognition and mood. Another way to approach the frail patient is to pay more attention to the quantity rather than the quality of the patient’s deficits, which have been accumulating throughout life. Simply put, the more deficits the patient has, the more likely the patient has frailty. One of the scores that uses this system is the “Frailty Index” that seems to be the most promising of the tools to assess this clinical condition because it is less dependent on physical factors.93 Unfortunately, clinicians are still searching for an effective way to reverse frailty but many believe that “prehabilitation”, a recently emerged concept, is the key factor to optimize frail patients before surgery. However, solid clinical evidence to support this method is still scarce. 38 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 Rehabilitation consists in safe and feasible exercise training in order to increase muscle mass, improve balance and delay cognitive decline, in summary, modify deficit accumulations. A better education and a consistent nutritional support also take part in optimizing frail patients preoperatively.89 Preoperative mental status examination Speech, consciousness, perception, orientation, coherence, memory, and motor activity can be assessed preoperatively to determine baseline cognitive status and postoperatively to measure change in function using the Mini Mental State Examination (MMSE) which is reliable, easy to conduct, and useful for serial testing modifications in cognition.94 Alternatively, the Clock Drawing Test, the Confusion Assessment Method and the 3 Item Recall Test are equally suitable tools for routine preoperative assessment of the cognitive function.94-96 A complete questionnaire about other delirium risk factors like sensorial impairment (mainly, visual and hearing), alcohol and drug abuse, preoperative depression, previous cerebrovascular accident, anticholinergic medication, and cognitive deterioration should also be considered for all elderly surgical candidates.8, 33 If the patient was found to have any kind of cognitive impairment, then a more specialized preoperative evaluation, performed by a geriatrician, should be done. If these patients have any kind of substance abuse they may also benefit from being referred to a specialist for preoperative detoxification. 97 Major depression is also a serious condition in elderly candidates and the Geriatric Depression Scale can be used to detect it.33, 98 Furthermore, mental screening is also necessary for the physician to investigate the ability of the patient to perceive all the information and to give a valid informed consent. 33 INFORMED CONSENT During the preoperative consultation, an informed consent shall be obtained. This is a mandatory procedure in all cases and not just when dealing with elderly patients although some age-related changes, such as dementia or hearing impairment, can compromise the consent. It is the physician’s duty to certify that the patient was able to fully understand and memorize all the information presented before signing the consent. In some severe situations like the already referred dementia it might be necessary the collaboration of a family member when decision making is on the line.99 ANESTHETIC TECHNIQUE Before discussing in more detail the specificities of each one of the anesthetic techniques, it is important to remember that the proper administration of an anesthetic in accordance with the pathophysiological characteristics of one patient is more important than the choice between general or regional anesthesia. Many studies have tried and failed to show significant differences between the two techniques.100-102 However, this conclusion may be distorted because the outcomes studies usually measure are not directly related to anesthesia.9 Anestesia no Idoso General Anesthesia There are several age-related factors that can influence the anesthetic drug consumption. Elderly are depleted of neurotransmitters, neuronal density and innervation of skeleton muscles. These changes justify using lower drug doses in the aged people when compared to young and healthy individuals because, in a simple manner, the same concentration produces a larger response. Additional factors can also lower the threshold of overdose in advanced age patients with particular attention to the reduced cardiac index and baroreflex response. The first one increases induction time and the impaired baroreflex response lowers the compensatory tachycardia.7 General anesthesia leads to vasodilation by two complementary ways: through direct effects on microcirculation and, indirectly, by central inhibition of vasoconstriction. 103, 104 This conducts to impaired wound healing since vasoconstriction initiates the “inflammation phase” of the wound healing process, attenuates the blood loss and facilitates blood clotting.7 In the specific case of inhalatory anesthesia it is useful to remind that elders have reduced alveolar exchanges. This factor contribute to disparities between tele-expiratory and plasma drug concentrations and may lead to overdose of this kind of agents.7 There is also a group of age-associated pharmacokinetic and pharmacodynamics changes that can influence anesthetics effect and an additional increase in side-effects. Regional Anesthesia With regional anesthesia, the physiologic endocrine stress response to surgery is attenuated,105 a situation that does not occur when physicians use typical dosages of volatile or IV agents. Core hypothermia, adverse to the wound healing process, is equally probable either under general or epidural anesthesia.106 The role of local anesthetics in the wound healing process is still uncertain due to some contradictory data. Reducing pain and the stress response can work positively in terms of healing but local anesthetics also prolong collagen synthesis and inhibit mesenchymal cells proliferation.107-109. Spinal anesthesia is one of the most used forms of regional anesthesia and, due to spinal blocking plus age-related comorbidities, can produce severe hypotension and bradicardia especially if the patient has an already low cardiac reserve, as is the case of elderlies. When used on these patients, spinal anesthetics suffer a larger diffusion and produce wider effects than planned, due to some age-related changes in cerebrospinal fluid. Besides, the loss in nervous fibers cause neuronal block to extend through a larger area than desired.7 Intra-operative monitorization Monitoring is essential in modern surgery. It not also detects the consequences of human errors but it also warns the medical team if the patient’s clinical condition is deteriorating for some reason. Thus, intraoperative monitoring helps reducing the risk of accidents.110-112 Some of the variables physicians can use to correctly monitorize patients are the following: Intra-arterial blood pressure: Hypotension can follow the induction of anesthesia and can be particularly severe in the elderly patient. Before the drug administration, intra-arterial cannulation and transduction should be made in order to prevent this condition. Another method that could be used to avoid hypotensive episodes is the “beat-to-beat” monitoring.9 Central venous pressure: Central venous catheterization provides an additional route for venous access when vasoactive drug support or parenteral nutrition is necessary. However, this procedure is far from being risk-free since insertion trauma and infection may occur. Cerebral oxygen saturation: There is evidence supporting that detection of episodes of cerebral ischemia through the determination of cerebral oxygen saturation may help reducing the prevalence of POD/POCD if early intervention is carried out.113 Nevertheless, this still lacks further investigation to be confirmed.9 Bispectral index monitors (BIS) and entropy monitors: Both are useful to evaluate the depth of anesthesia in order to prevent overdose, hypotension and POCD/POD.9, 114 If these methods are not available the Association of Anaesthetists of Great Britain and Ireland recommend the use of the Lerou normogram to calculate the proper dose on inhalational anesthesia taking into account the lower minimum alveolar concentration (MAC) values of elderly people.9 Saager et al identified a condition called “triple low”, consisting of BIS lower than 45, mean arterial pressure under 75mmHg and MAC under 0.7. Individuals with this triple combination were found to be more sensitive to anesthesia with increased risk of brain hypoperfusion and mortality.12 Peripheral nerve stimulation: It has already been said that typical pharmacodynamic and pharmacokinetic changes affect elderly individuals and these can unpredictably modify the anesthetics’ effect. Neuromuscular blockade may, thus, become longer than expected justifying the routinely use of neuromuscular function monitoring in patient subject to these type of drugs.9, 115 POSTOPERATIVE CARE Anesthetists routinely assess patients towards the end of the surgical procedure in order to decide the intensity of postoperative care. Patients with stable body temperature and blood pressure, proper anesthesia and analgesia will recover more easily, requiring a lighter postoperative care and a shorter hospitalization period. However, in some particularly severe conditions, patients may demand critical care after surgery, despite optimal intraoperative conditions. Analgesia, fluid therapy, blood pressure maintenance and conservation of body temperature should make part of postoperative care to allow the re-enabling of patients and to reduce the risk of potential complications Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 39 Anestesia no Idoso Pain Management Pain management is a fundamental part of postoperative because pain may, not only, result in longer hospital stays but also contribute to complications such as postoperative delirium (POD) or postoperative cognitive dysfunction (POCD) POD/POCD, difficulty in mobilization and cardiorespiratory problems.116, 117 Assessment is the first thing to do in order to achieve optimal postoperative pain management. Some features like localization, aggravating/alleviating factors, timing, severity and associated symptoms shall be described. Some of these features can be obtain by applying pain scales. Various scales have been studied in the elderly population but, unfortunately, the majority was not capable of accurately report the analgesia needs of elderlies. In general, however, the verbal measures performed better than the non-verbal ones. Unusual behaviors, mobilization difficulties and lack of appetite may also constitute clues to help health carers assessing pain.118 Of course to correctly evaluate postoperative pain, physicians need to know the pain baseline of the patient, asking about it preoperatively. This is important because surgery may alter some pre-existing conditions such as rheumatic pathologies and, thus, the pain may result from an exacerbation of this conditions rather than post-surgery pain per se.119 Opioids, mainly morphine, are considered the basis of postoperative analgesia. Nevertheless, this drug class may cause some adverse effects and health carers should try to prevent these unfortunate events. Mobility, appropriate hydration and co-administration of stimulating laxatives and stool softeners are some of the strategies to avoid or mitigate constipation. Nausea and vomiting may be prevented by giving traditional neuroleptic antiemetics before taking the opioid.119 Currently, anesthesiologist usually make use of multimodal analgesia techniques that consist not only in drug administration’s but also in some non-pharmacologic strategies like postural support, pressure care and ice to prevent swelling.9 Non-steroidal anti-inflammatory medications have to be carefully used because they’re associated with increased risk of toxicity, namely renal. Therefore, these drugs should be excluded for any patient with a renal function lower than 50 mL/min. They also can conduce to gastric damage and peptic ulcers. Paracetamol is considered safe and eligible for use in the elderly.9, 119 Postoperative delirium and postoperative cognitive dysfunction POD consists of an acute syndrome, occurring in the first few days (24-72h) after surgery with a fluctuating course.120 It is not a rare situation since 10 % of elderly surgical patients may suffer from it and this incidence is variable depending on the type of surgery.114 The main symptom of this condition is disturbed attention. Other cognition deficits like disorientation and memory loss may also become part of this syndrome.114 Delirium can be classified into three different types: hyperactive/hyperalert, hypoactive/hypoalert and mixed. As the name suggests, hyperactive delirium is more exuberant and its signs are easier to detect. Hypoactive delirium, on the contrary, remains undiagnosed more often and can be easily misdiagnosed with dementia or depression.121 This type of delirium is also associated with pressure ulcers, longer 40 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 hospital stays and increased risk of short- and long-term mortality.122 Another way to categorize delirium is to classify it as psychotic, emotional and mixed. A patient with psychotic delirium can experience hallucinations, paranoia, illusions or delusions while other with emotional delirium is affected more with a depression-like syndrome having a depressed mood, emotional liability and anxiety.122 There are multiple risk factors that may increase the risk of POD. Being, roughly, an elderly-related disorder, POD is, unsurprisingly associated with advanced age, cognitive impairment, lower educational level and pre-existing comorbidities. There are also some modifiable risk factors like infection, malnutrition, dehydration and severe pain that should be corrected.122 POD is believed to be multifactorial. One of the causes may be related to imbalances of CNS melatonin and neurotransmitters such as acetylcholine and dopamine. The stress-induced inflammatory response, caused by surgery, may also be connected with the occurrence of delirium after the intervention.114 POCD is a syndrome resulting from the prolonged deterioration of cognitive function that occurs after surgery and anesthesia but, usually, takes more time to get established than POD. It is estimated that 15 up to 25 % of geriatric surgery population will present with POCD after the procedure.120 This condition is defined by memory impairment (both verbal and visual), intellectual limitations and poor executive function that, in most cases, lasts for weeks or months.109 The severity of presentation is quite variable. Some patients only have minor symptoms while others suffer from a marked difficulty to focus or to process information, being unable to perform even the easiest of the tasks.114 Those who are victims of mild variations of this syndrome can pass unnoticed to clinicians. However, POCD has been associated with increased risk of mortality, leaving the labour market prematurely and becoming dependent on socio-economic support, therefore, recognition of this neurocognitive disorder is of utmost importance.123 Various researchers have been trying, along the years, to identify the exact cause that could explain POCD but many believe it is multifactorial. The “classical” hypothesis are microemboli, cerebrovascular disease, inflammatory mediation and neurodegeneration. However, there are multiple studies questioning if microemboli really play a role in POCD. Actually, the weight of evidence is against this hypothesis.124-126 Some risk factors like diabetes, hypertension, obesity, carotid disease, peripheral artery disease and age itself also contribute to POCD. The contribution of a preoperative cognitive deficit due to cerebrovascular disease, although probable, has not been easy to prove.127 In order to detect POCD, neuropsychological testing must be executed and it is necessary to obtain base-line tests preoperatively for a comparison purpose. Unfortunately, it is not simple for doctors to interpret the cognitive changes, there is no agreed definition of what constitutes a significant cognitive decline and there isn’t a consensual POCD definition.114 An important fact is that the incidence, magnitude or clinical pattern do not seem affected by the type of anesthesia, according to recent data.120, 127 Anestesia no Idoso Prevention of postoperative cognitive dysfunction and delirium Clinicians should implement measures to minimize the risk of having two of the most feared complications of anesthesia, particularly in the geriatric population. Fulfilling preventive measures of these situations can, not only, reduce prevalence but also improve the outcome in case of a postoperative cognitive problem. In 2001, a study led by Clegg and Young128 suggested opioids were associated with a 2-fold increased risk of delirium. Within opioids, pethidine caused the most pronounced risk increment. Benzodiazepines, nifedipine and antihistamine H1 medications were also studied by the same authors and found also to be associated with a higher risk of developing postoperative delirium and, possibly, postoperative cognitive dysfunction. Thus, when dealing with patients with preoperative risk of developing POD/ POCD, one should avoid using this sort of drugs. Another method to fight these threats is by combining a range of “multi-domain interventions”114 which include an optimal range depth of anesthesia, targeting bispectral index (BIS) levels in between 40 to 60±5. Proper cerebral oxygen saturation monitoring along with blood volume, serum electrolyte and pain management are important actions to prevent POD/POCD as well. Pharmacological intervention is usually not effective against these two entities.109, 113 Maybe the best manner to prevent POD/POCD is, in some cases, to change the magnitude of the surgery. In other words, by quoting Gibbs,129 “Perhaps avoiding major surgical procedures in favour of less invasive alternatives, where possible, should be considered”. Nutrition Postoperative nutritional support reduces the risk of complications, improves clinical outcome and prevents longer hospital stays. Avoiding postoperative nausea permits early enteral nutrition, improving wound healing and recovery. Enteral nutrition seems to have more benefits and, therefore, is preferable to parenteral nutrition.130 Enteral nutrition is more physiologic, better preventing in functional and morphologic alteration of the gut system and less expensive than parenteral nutrition.131 Re-enablement after surgery Re-enablement consists of a multidisciplinary process through which patients return to their preoperative level of function. Elderly should be assessed in terms of mobilisation and stability and provided with assistance tools, like walkers, to stabilize balance if necessary. Before proceeding to discharge, health carers should also assess the patient’s home environment for any inaccessible structures, and formulate a plan to increase muscle strength and improve stability. Stimulating ambulation in well-assessed conditions improves safety and reduces the risk of complications such as deep venous thrombosis and POD. Although “re-enablement” is beyond remobilization and rehabilitation, the recovery of ambulation is a high priority after surgery since only 2 days of hospitalization result in significant functional decline in elderly patients.9, 119 CONCLUSION The number of elderlies undergoing surgery is increasing and this brings new challenges for anesthetists. With advancing age, several physical and psychological changes emerge along with the co-existence of multiple diseases. In order to optimize the health care of elderly, one should be aware of these changes and properly assess their risk of future complications so preventive attitudes can be implemented. Knowledge of the specific pharmacological aspects of the elderly is also needed in order to assure quality of health care. Conflicts of interest None. Financial support and sponsorship The study received no finantial support. Corresponding Author Fernando José Abelha [email protected] References 1. NIA, NIH, and WHO, Global Health and Aging. 2011. Publication no. 117737: p. 32. 2. Naughton C, Feneck RO. The impact of age on 6-month survival in patients with cardiovascular risk factors undergoing elective non-cardiac surgery. Int J Clin Pract. 2007;61:768-76. 3. AIHW. Australian hospital statistics 2007-08. 2009; Health services series no. 33. 4. Ward SA, Parikh S, Workman B. Health perspectives: International epidemiology of ageing. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2011; 25: 305-17. 5. Corcoran TB, Hillyard S. Cardiopulmonary aspects of anaesthesia for the elderly. Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2011; 25: 329-54. 6. Lowery EM, Brubaker AL, Kuhlmann E, Kovacs E.J. The aging lung. Clin Interv Aging. 2013; 8: 1489-96. 7. Bettelli G. Anaesthesia for the elderly outpatient: Preoperative assessment and evaluation, anaesthetic technique and postoperative pain management. Curr Opin Anaesthesiol. 2010; 23: 726-31. 8. Robinson TN, Wu DS, Pointer LF, Dunn CL, Moss M. Preoperative cognitive dysfunction is related to adverse postoperative outcomes in the elderly. J Am Coll Surg. 2012; 215: 12-7; discussion 17-8. 9. Griffiths R, Beech F, Brown A, Dhesi J, Foo I, Goodall J, Harrop-Griffiths W, Jameson J, Love N, Pappenheim K, White S. Peri-operative care of the elderly 2014: Association of anaesthetists of great britain and ireland. Anaesthesia. 2014; 69 Suppl 1: 81-98. 10. Sprung J, Gajic O, Warner DO. Review article: Age related alterations in respiratory function - anaesthetic considerations. Can J Anaesth. 2006; 53: 1244-57. 11. Royse CF. Williams Z., Ye G, Wilkinson D, De Steiger R, Richardson M, Newman S. Knee surgery recovery: Post-operative quality of recovery scale comparison of age and complexity of surgery. Acta Anaesthesiol Scand. 2014; 58: 660-7. 12. Deiner S, Silverstein JH. Anaesthesia for geriatric patients. Minerva Anestesiol. 2011; 77: 180-9. 13. Rooke GA. Autonomic and cardiovascular function in the geriatric patient. Anesthesiol Clin North America. 2000; 18: 31-46, v-vi 14. Jennett S. The response of heart rate to hypoxia in man after cervical spinal cord transection. Paraplegia. 1970; 8: 1-13. 15. Jankovic R, Bogicevic A., Stosic B., Pavlovic A., Petrovic A., Markovic D. and Vucetic C. Preoperative preparation of geriatric patients. Acta Chir Iugosl. 2011; Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 41 Anestesia no Idoso 58: 169-75. 16. Sharma G, Goodwin J. Effect of aging on respiratory system physiology and immunology. Clin Interv Aging. 2006; 1: 253-60. 17. Culham E.G., Jimenez HA, King CE. Thoracic kyphosis, rib mobility, and lung volumes in normal women and women with osteoporosis. Spine (Phila Pa 1976). 1994; 19: 1250-5. 18. Freitas FS, Ibiapina CC, Alvim C.G, Britto RR, Parreira VF. Relationship between cough strength and functional level in elderly. Rev Bras Fisioter. 2010; 14: 470-6. 19. de Oliveira-Maul JP, de Carvalho HB, Miyuki Goto D, Mendonça Maia R, Fló C, Barnabé V, et al.Aging, diabetes, and hypertension are associated with decreased nasal mucociliary clearance. Chest. 2013; 143: 1091-7. 20. Kielstein JT, Bode-Boger SM, Haller H, Fliser D. Functional changes in the ageing kidney: Is there a role for asymmetric dimethylarginine? Nephrol Dial Transplant. 2003; 18: 1245-8. 21. Gong Y, Zhang F, Ding F, Gu Y. Elderly patients with acute kidney injury (aki): Clinical features and risk factors for mortality. Arch Gerontol Geriatr. 2012; 54: e47-51. 22. Kirkland JL, Lye M, Levy DW, Banerjee A.K. Patterns of urine flow and electrolyte excretion in healthy elderly people. Br Med J (Clin Res Ed). 1983; 287: 1665-7. 23. Jiang S, Sun X, Gu H, Chen Y, Xi C, Qiao X, et al. Age-related change in kidney function, its influencing factors, and association with asymptomatic carotid atherosclerosis in healthy individuals--a 5-year follow-up study. Maturitas. 2012; 73: 230-8. 24. Dong M.H, Bettencourt R, Barrett-Connor E, Loomba R. Alanine aminotransferase decreases with age: The rancho bernardo study. PLoS One. 2010; 5: e14254. 25. Sotaniemi EA, Arranto AJ, Pelkonen O. and Pasanen M. Age and cytochrome p450-linked drug metabolism in humans: An analysis of 226 subjects with equal histopathologic conditions. Clin Pharmacol Ther. 1997; 61: 331-9. 26. Hedman AM, van Haren NE, Schnack HG, Kahn RS, Hulshoff Pol HE. Human brain changes across the life span: A review of 56 longitudinal magnetic resonance imaging studies. Hum Brain Mapp. 2012; 33: 1987-2002. 27. Aine CJ, Sanfratello L., Adair JC, Knoefel JE, Caprihan A, Stephen JM. Development and decline of memory functions in normal, pathological and healthy successful aging. Brain Topogr. 2011; 24: 323-39. 28. Zeevi N, Pachter J, McCullough LD, Wolfson L, Kuchel GA. The blood-brain barrier: Geriatric relevance of a critical brain-body interface. J Am Geriatr Soc. 2010; 58: 1749-57. 29. Warsch JR, Wright CB. The aging mind: Vascular health in normal cognitive aging. J Am Geriatr Soc. 2010; 58 Suppl 2: S319-24. 30. Couillard-Despres S, Iglseder B, Aigner L. Neurogenesis, cellular plasticity and cognition: The impact of stem cells in the adult and aging brain--a minireview. Gerontology. 2011; 57: 559-64. 31. Salthouse TA. Neuroanatomical substrates of age-related cognitive decline. Psychol Bull. 2011; 137: 753-84. 32. Small SA. Age-related memory decline: Current concepts and future directions. Arch Neurol. 2001; 58: 360-4. 33. Bettelli G. Preoperative evaluation in geriatric surgery: Comorbidity, functional status and pharmacological history. Minerva Anestesiol. 2011; 77: 637-46. 34. Blommers E, Klimek M, Hartholt KA, van der Cammen TJ, Klein J, Noordzij PG. Perioperative care of the older patient. Z Gerontol Geriatr. 2011; 44: 187-91. 35. Saklad M. Grading of patients for surgical procedures. Anesthesiology. 1941; 2: 281–84. 36. Daabiss M. American society of anaesthesiologists physical status classification. Indian J Anaesth. 2011; 55: 111-5. 37. Machado AN, Sitta Mdo C, Jacob Filho W, Garcez-Leme LE. Prognostic factors for mortality among patients above the 6th decade undergoing noncardiac surgery: Cares--clinical assessment and research in elderly surgical patients. Clinics (Sao Paulo). 2008; 63: 151-6. 38. Hamel MB, Henderson W.G., Khuri S.F. and Daley J. Surgical outcomes for patients aged 80 and older: Morbidity and mortality from major noncardiac surgery. J Am Geriatr Soc. 2005; 53: 424-9. 39. Mak P.H, Campbell RC, Irwin MG. The asa physical status classification: Inter-observer consistency. American society of anesthesiologists. Anaesth Intensive Care. 2002; 30: 633-40. 42 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 40. Wolters U, Wolf T, Stutzer H, Schroder T. Asa classification and perioperative variables as predictors of postoperative outcome. Br J Anaesth. 1996; 77: 217-22. 41. Copeland GP, Jones D, Walters M. Possum: A scoring system for surgical audit. Br J Surg. 1991; 78: 355-60. 42. Whiteley MS, Prytherch DR, Higgins B, Weaver PC, Prout WG. An evaluation of the possum surgical scoring system. Br J Surg. 1996; 83: 812-5. 43. Prytherch DR, Whiteley MS, Higgins B, Weaver PC., Prout WG, Powell S.J. Possum and portsmouth possum for predicting mortality. Physiological and operative severity score for the enumeration of mortality and morbidity. Br J Surg. 1998; 85: 1217-20. 44. Tekkis PP, Prytherch DR, Kocher HM, Senapati A, Poloniecki JD, Stamatakis JD, et al. Development of a dedicated risk-adjustment scoring system for colorectal surgery (colorectal possum). Br J Surg. 2004; 91: 1174-82. 45. Tran Ba Loc P, du Montcel ST, Duron JJ, Levard H, Suc B, Descottes B, Desrousseaux B, Hay JM. Elderly possum, a dedicated score for prediction of mortality and morbidity after major colorectal surgery in older patients. Br J Surg. 2010; 97: 396-403. 46. Kristensen SD, Knuuti J, Saraste A, Anker S, Bøtker HE, Hert SD, et al.. 2014 esc/esa guidelines on non-cardiac surgery: Cardiovascular assessment and management: The joint task force on non-cardiac surgery: Cardiovascular assessment and management of the european society of cardiology (esc) and the european society of anaesthesiology (esa). Eur Heart J. 2014; 35:2383-431. 47. Mangano DT. Perioperative medicine: Nhlbi working group deliberations and recommendations. J Cardiothorac Vasc Anesth. 2004; 18: 1-6. 48. Lee TH, Marcantonio ER, Mangione CM, Thomas EJ, Polanczyk CA, Cook EF, et al. Derivation and prospective validation of a simple index for prediction of cardiac risk of major noncardiac surgery. Circulation. 1999; 100: 1043-9. 49. Gupta PK, Gupta H, Sundaram A, Kaushik M, Fang X, Miller WJ, et al. Development and validation of a risk calculator for prediction of cardiac risk after surgery. Circulation. 2011; 124: 381-7. 50. Wotton R, Marshall A, Kerr A, Bishay E, Kalkat M, Rajesh P, et al. Does the revised cardiac risk index predict cardiac complications following elective lung resection? J Cardiothorac Surg. 2013; 8: 220. 51. Butterworth JF, Mackey DC, Wasnick JD, Morgan & Mikhail’s Clinical Anesthesiology, M.H. Professional, Editor. 2013. p. 1383. 52. Chinnaiyan KM, Alexander D, Maddens M, McCullough PA. Curriculum in cardiology: Integrated diagnosis and management of diastolic heart failure. Am Heart J. 2007; 153: 189-200. 53. Tschope C, Paulus WJ. Is echocardiographic evaluation of diastolic function useful in determining clinical care? Doppler echocardiography yields dubious estimates of left ventricular diastolic pressures. Circulation. 2009; 120: 810-20; discussion 820. 54. Qaseem A, Snow V, Fitterman N, Hornbake ER, Lawrence VA, Smetana GW, et al. Risk assessment for and strategies to reduce perioperative pulmonary complications for patients undergoing noncardiothoracic surgery: A guideline from the american college of physicians. Ann Intern Med. 2006; 144: 575-80. 55. Smetana GW, Lawrence VA, Cornell JE. Preoperative pulmonary risk stratification for noncardiothoracic surgery: Systematic review for the american college of physicians. Ann Intern Med. 2006; 144: 581-95. 56. Gibbs J, Cull W, Henderson W, Daley J, Hur K, Khuri SF. Preoperative serum albumin level as a predictor of operative mortality and morbidity: Results from the national va surgical risk study. Arch Surg. 1999; 134: 36-42. 57. Dewan SK, Zheng SB, Xia SJ. Preoperative geriatric assessment: Comprehensive, multidisciplinary and proactive. Eur J Intern Med. 2012; 23: 487-94. 58. Canet J, Gallart L, Gomar C, Paluzie G, Valles J, Castillo J, Sabate S, Mazo V., Briones Z. and Sanchis J. Prediction of postoperative pulmonary complications in a population-based surgical cohort. Anesthesiology. 2010; 113: 133850. 59. Abelha FJ, Botelho M, Fernandes V. and Barros H. Determinants of postoperative acute kidney injury. Crit Care. 2009; 13: R79. 60. Bellomo R. Ronco C, Kellum JA, Mehta RL, Palevsky P. Acute renal failure - definition, outcome measures, animal models, fluid therapy and information technology needs: The second international consensus conference of the acute dialysis quality initiative (adqi) group. Crit Care. 2004; 8: R204-12. 61. Mehta RL, Kellum JA, Shah SV, Molitoris BA, Ronco C, Warnock DG, Levin A. Acute kidney injury network: Report of an initiative to improve outcomes in acute kidney injury. Crit Care. 2007; 11: R31. Anestesia no Idoso 62. Cruz DN, Ricci Z, Ronco C. Clinical review: Rifle and akin--time for reappraisal. Crit Care. 2009; 13: 211. 63. Ng SY, Sanagou M, Wolfe R, Cochrane A, Smith JA, Reid CM. Prediction of acute kidney injury within 30 days of cardiac surgery. J Thorac Cardiovasc Surg. 2014; 147: 1875-83, 1883.e1 64. Kheterpal S, Tremper KK, Heung M, Rosenberg AL, Englesbe M, Shanks .M, Campbell DA .Jr. Development and validation of an acute kidney injury risk index for patients undergoing general surgery: Results from a national data set. Anesthesiology. 2009; 110: 505-15. 65. Van Pottelbergh G, Van Heden L, Mathei C, Degryse J. Methods to evaluate renal function in elderly patients: A systematic literature review. Age Ageing. 2010; 39: 542-8. 66. National Kidney Foundation. K/DOQI clinical practice guidelines for chronic kidney disease: evaluation, classification, and stratification. Am J Kidney Dis. 2002;39(2 Suppl 1):S1-266. 67. Koppe L, Klich A, Dubourg L, Ecochard R, Hadj-Aissa A. Performance of creatinine-based equations compared in older patients. J Nephrol. 2013; 26: 716-23. 68. Schaeffner ES, Ebert N, Delanaye P, Frei U, Gaedeke J, Jakob O, et al. Two novel equations to estimate kidney function in persons aged 70 years or older. Ann Intern Med. 2012; 157: 471-81. 69. Reaven GM. Banting lecture 1988. Role of insulin resistance in human disease. Diabetes. 1988; 37: 1595-607. 70. Grundy SM. Metabolic syndrome pandemic. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2008; 28: 629-36. 71. Ford ES, Giles WH, Dietz WH. Prevalence of the metabolic syndrome among us adults: Findings from the third national health and nutrition examination survey. Jama. 2002; 287: 356-9. 72. Expert Panel on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Cholesterol in Adults. Executive Summary of The Third Report of The National Cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, And Treatment of High Blood Cholesterol In Adults (Adult Treatment Panel III). JAMA. 2001;285:2486-97 73. Alberti KG, Zimmet P, Shaw J. The metabolic syndrome--a new worldwide definition. Lancet. 2005; 366: 1059-62. 74. Lechleitner M. Obesity and the metabolic syndrome in the elderly--a mini-review. Gerontology. 2008; 54: 253-9. 75. Villareal DT, Apovian CM, Kushner RF, Klein S. Obesity in older adults: Technical review and position statement of the american society for nutrition and naaso, the obesity society. Am J Clin Nutr. 2005; 82: 923-34. 76. Corriere M, Rooparinesingh N, Kalyani RR. Epidemiology of diabetes and diabetes complications in the elderly: An emerging public health burden. Curr Diab Rep. 2013; 13: 805-13. 77. Kohl BA, Schwartz S. Surgery in the patient with endocrine dysfunction. Med Clin North Am. 2009; 93: 1031-47. 78. 79. Patel KV. Epidemiology of anemia in older adults. Semin Hematol. 2008; 45: 210-7. 80. Berliner N. Anemia in the elderly. Trans Am Clin Climatol Assoc. 2013; 124: 230-7. 81. Culleton BF, Manns BJ, Zhang J, Tonelli M, Klarenbach S, Hemmelgarn BR. Impact of anemia on hospitalization and mortality in older adults. Blood. 2006; 107: 3841-6. 82. Balducci L, Ershler WB, Krantz S. Anemia in the elderly-clinical findings and impact on health. Crit Rev Oncol Hematol. 2006; 58: 156-65. 83. Musallam KM, Tamim HM, Richards T, Spahn DR, Rosendaal FR, Habbal A, Khreiss M, Dahdaleh FS, Khavandi K, Sfeir PM, Soweid A, Hoballah JJ, Taher AT, anJamali F.R. Preoperative anaemia and postoperative outcomes in non-cardiac surgery: A retrospective cohort study. Lancet. 2011; 378: 1396-407. 84. Andres E, Serraj K., Federici L, Vogel T, Kaltenbach G. Anemia in elderly patients: New insight into an old disorder. Geriatr Gerontol Int. 2013; 13: 519-27. 85. Goodnough LT, Schrier SL. Evaluation and management of anemia in the elderly. Am J Hematol. 2014; 89: 88-96. 86. Fulop T, Larbi A, Wikby A, Mocchegiani E, Hirokawa K, Pawelec G. Dysregulation of t-cell function in the elderly : Scientific basis and clinical implications. Drugs Aging. 2005; 22: 589-603. 87. Haq K, McElhaney JE. Immunosenescence: Influenza vaccination and the elderly. Curr Opin Immunol. 2014; 29: 38-42. 88. Abellan van Kan G, Rolland Y, Bergman H, Morley JE, Kritchevsky SB, Vellas B. The i.A.N.A task force on frailty assessment of older people in clinical practice. J Nutr Health Aging. 2008; 12: 29-37. 89. Hubbard RE, Story DA. Patient frailty: The elephant in the operating room. Anaesthesia. 2014; 69 Suppl 1: 26-34. 90. Partridge JS, Harari D, Dhesi J.K. Frailty in the older surgical patient: A review. Age Ageing. 2012; 41: 142-7. 91 Abellan van Kan G, Rolland YM, Morley JE, Vellas B. Frailty: Toward a clinical definition. J Am Med Dir Assoc. 2008; 9: 71-2. 92. Ravaglia G, Forti P, Lucicesare A, Pisacane N, Rietti E, Patterson C. Development of an easy prognostic score for frailty outcomes in the aged. Age Ageing. 2008; 37: 161-6. 93. Searle SD, Mitnitski A, Gahbauer EA, Gill TM, Rockwood K. A standard procedure for creating a frailty index. BMC Geriatr. 2008; 8: 24. 94. Oresanya LB, Lyons WL, Finlayson E. Preoperative assessment of the older patient: A narrative review. JAMA. 2014; 311: 2110-20. 95. Aubrun F, Gazon M, Schoeffler M, Benyoub K. Evaluation of perioperative risk in elderly patients. Minerva Anestesiol. 2012; 78: 605-18. 96. Bagri AS, Rico A, Ruiz JG. Evaluation and management of the elderly patient at risk for postoperative delirium. Clin Geriatr Med. 2008; 24: 667-86, viii. 97. Chow WB, Rosenthal RA, Merkow RP, Ko CY. Esnaola N.F. Optimal preoperative assessment of the geriatric surgical patient: A best practices guideline from the american college of surgeons national surgical quality improvement program and the american geriatrics society. J Am Coll Surg. 2012; 215: 45366. 98. Bass DS, Attix DK, Phillips-Bute B, Monk TG. An efficient screening tool for preoperative depression: The geriatric depression scale-short form. Anesth Analg. 2008; 106: 805-9, table of contents. 99. Speker Obe B, Scully P. The mental capacity act and the elderly. Curr Anaesth Crit Care. 2009; 20: 90-92. 100. O’Hara DA, Duff A, Berlin JA, Poses RM, Lawrence VA, Huber EC, Noveck H, Strom BL, Carson JL. The effect of anaesthetic technique on postoperative outcomes in hip fracture repair. Anesthesiology. 2000; 92: 947-57. 101. Roy RC. Choosing general versus regional anaesthesia for the elderly. Anesthesiol Clin North America. 2000; 18: 91-104, vii. 102. Le-Wendling L, Bihorac A, Baslanti TO, Lucas S, Sadasivan K, Wendling A, Heyman HJ, Boezaart A. Regional anaesthesia as compared with general anaesthesia for surgery in geriatric patients with hip fracture: Does it decrease morbidity, mortality, and health care costs? Results of a single-centered study. Pain Med. 2012; 13: 948-56. 103. Kobayashi Y, Yoshida K, Noguchi M, Wakasugi Y, Ito H, Okabe E. Effect of enflurane on contractile reactivity in isolated canine mesenteric arteries and veins. Anesth Analg. 1990; 70: 530-6. 104. Kurz A, Xiong J, Sessler DI, Plattner O, Christensen R, Dechert M, Ikeda T. Isoflurane produces marked and nonlinear decreases in the vasoconstriction and shivering thresholds. Ann N Y Acad Sci. 1997; 813: 778-85. 105. Moraca RJ, Sheldon DG, Thirlby RC. The role of epidural anaesthesia and analgesia in surgical practice. Ann Surg. 2003; 238: 663-73. 106. Bentov I, Reed M.J. Anaesthesia, microcirculation, and wound repair in aging. Anesthesiology. 2014; 120: 760-72. 107. Bamigboye AA, Hofmeyr GJ. Local anaesthetic wound infiltration and abdominal nerves block during caesarean section for postoperative pain relief. Cochrane Database Syst Rev. 2009; Cd006954. 108. Chvapil M, Hameroff SR, O’Dea K. and Peacock EE., Jr. Local anaesthetics and wound healing. J Surg Res. 1979; 27: 367-71. 109. Lucchinetti E, Awad AE, Rahman M, Feng J, Lou PH, Zhang L, Ionescu L, Lemieux H, Thebaud B, Zaugg M. Antiproliferative effects of local anaesthetics on mesenchymal stem cells: Potential implications for tumor spreading and wound healing. Anesthesiology. 2012; 116: 841-56. 110. Keenan RL, Boyan CP. Decreasing frequency of anaesthetic cardiac arrests. J Clin Anesth. 1991; 3: 354-7. 111. Eichhorn JH, Cooper JB, Cullen DJ, Maier WR, Philip JH, Seeman RG. Standards for patient monitoring during anaesthesia at harvard medical school. Jama. 1986; 256: 1017-20. 112. Association of Anaesthetists of Great Britain and Ireland. Recommendations for standards of monitoring during anaesthesia and recovery. 2007 [ci- Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 43 Anestesia no Idoso ted 2015 3/01/2015]; 4th:[Available from: http://www.aagbi.org/sites/default/ files/standardsofmonitoring07.pdf]. 113. Ballard C, Jones E, Gauge N, Aarsland D, Nilsen OB, Saxby BK, et al. Optimised anaesthesia to reduce post operative cognitive decline (pocd) in older patients undergoing elective surgery, a randomised controlled trial. PLoS One. 2012; 7: e37410. 114. Strom C., Rasmussen LS, Sieber FE. Should general anaesthesia be avoided in the elderly? Anaesthesia. 2014; 69 Suppl 1: 35-44. 115. Steinmetz J, Rasmussen LS. The elderly and general anaesthesia. Minerva Anestesiol. 2010; 76: 745-52. 116. Sieber FE, Barnett SR. Preventing postoperative complications in the elderly. Anesthesiol Clin. 2011; 29: 83-97. 117. Aubrun F. Management of postoperative analgesia in elderly patients. Reg Anesth Pain Med. 2005; 30: 363-79. 118. Gagliese L, Katz J. Age differences in postoperative pain are scale dependent: A comparison of measures of pain intensity and quality in younger and older surgical patients. Pain. 2003; 103: 11-20. 119. Hughes S, Leary A, Zweizig S, Cain J. Surgery in elderly people: Preoperative, operative and postoperative care to assist healing. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2013; 27: 753-65. 120. Lewis MC, Nevo I, Paniagua MA, Ben-Ari A, Pretto E, Eisdorfer S, Davidson E, Matot I, Eisdorfer C. Uncomplicated general anaesthesia in the elderly results in cognitive decline: Does cognitive decline predict morbidity and mortality? Med Hypotheses. 2007; 68: 484-92. 121. Cole MG. Delirium in elderly patients. Am J Geriatr Psychiatry. 2004; 12: 7-21. 122. Lundstrom M, Stenvall M, Olofsson B. Symptom profile of postoperative delirium in patients with and without dementia. J Geriatr Psychiatry Neurol. 2012; 25: 162-9. 123. Steinmetz J, Christensen KB, Lund T, Lohse N, Rasmussen LS. Longterm consequences of postoperative cognitive dysfunction. Anesthesiology. 2009; 110: 548-55. 124. Martin KK, Wigginton JB, Babikian VL, Pochay VE, Crittenden MD, Rudolph JL. Intraoperative cerebral high-intensity transient signals and postoperative cognitive function: A systematic review. Am J Surg. 2009; 197: 55-63. 125. Kruis RW, Vlasveld FA, Van Dijk D. The (un)importance of cerebral microemboli. Semin Cardiothorac Vasc Anesth. 2010; 14: 111-8. 126. van der Linden J, Hadjinikolaou L, Bergman P, Lindblom D. Postoperative stroke in cardiac surgery is related to the location and extent of atherosclerotic disease in the ascending aorta. J Am Coll Cardiol. 2001; 38: 131-5. 127. Silbert B, Evered L, Scott DA. Cognitive decline in the elderly: Is anaesthesia implicated? Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2011; 25: 379-93. 128. Clegg A, Young JB. Which medications to avoid in people at risk of delirium: A systematic review. Age Ageing. 2011; 40: 23-9. 129. Gibbs NM. Risks of anaesthesia and surgery in elderly patients. Anaesth Intensive Care. 2012; 40: 14-6. 130. Wheble GA., Knight W.R. and Khan O.A. Enteral vs total parenteral nutrition following major upper gastrointestinal surgery. Int J Surg. 2012; 10: 194-7. 131. Park JS, Chung HK, Hwang HK, Kim JK, Yoon D.S. Postoperative nutritional effects of early enteral feeding compared with total parental nutrition in pancreaticoduodectomy patients: A prosepective, randomized study. J Korean Med Sci. 2012; 27: 261-7. 44 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 Caso Clínico // Case Report Efeito paradoxal da atropina: mito ou realidade subvalorizada? Daniel Rodrigues Alves1, Susana Amim2, Nídia Gonçalves2 Palavras-chave: - Arritmias Cardíacas; - Atropina; - Electrocardiografia Resumo A atropina é uma molécula bem conhecida dos anestesiologistas, que há muito identificaram o seu potencial para um efeito paradoxal decorrente da utilização de doses baixas do medicamento. Contudo, o assunto raramente é discutido em publicações recentes e a verdadeira incidência do fenómeno fica assim por elucidar. No presente artigo apresentamos os casos clínicos de 7 pacientes que desenvolveram efeito paradoxal após a administração de 0,5 mg de atropina em bólus rápido por via endovenosa, o qual reverteu com a administração de uma dose adicional de 0,5 mg. Revemos ainda os mecanismos explicativos subjacentes. Paradoxical effect of atropine: myth or undervalued reality? Daniel Rodrigues Alves1, Susana Amim2, Nídia Gonçalves2 Keywords: - Arrhythmias, Cardiac; - Atropine; - Electrocardiography Abstract Atropine is a well-known molecule to anesthesiologists, who have long recognized its potential for a paradoxical effect subsequent to administration of low doses of the drug. However, the subject is seldom discussed in recent articles and the true incidence of the phenomenon is therefore hard to estimate. In the present article we present the cases of 7 patients who developed a paradoxical effect after a bolus administration of 0.5 mg of intravenous atropine, which reverted with an additional dose of 0.5 mg. Lastly, we set out to analyse the underlying mechanisms involved. Data de submissão - 23 de novembro, 2015 Data de aceitação - 15 de fevereiro, 2016 1 Interno de Anestesiologia no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal Mestrado em Tecnologia de Diagnóstico e Intervenção Cardiovascular (ramo de especialização em Ultrassonografia Cardiovascular). 2 Anestesiologista no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Lisboa,Portugal Introdução É curioso verificar que volvidos mais de 180 anos após o isolamento da atropina1 ainda se mantêm dúvidas relativamente a algumas particularidades do seu modo de ação. Trata-se de uma molécula familiar aos Anestesiologistas, que há muito lhe atribuem o potencial para um efeito bifásico sobre a frequência cardíaca do indivíduo,2 aceitando-se que doses baixas podem ter um efeito paradoxal, isto é, um efeito vagotónico, com diminuição da frequência cardíaca e/ou aparecimento de diferentes graus de bloqueio a nível do nódulo sinusal e/ou da condução atrioventricular, ao passo que doses mais elevadas provocam o efeito vagolítico que lhe é tradicionalmente atribuído, com consequente aumento da frequência cardíaca. Contudo, o assunto raramente é discutido em publicações científicas recentes, e é frequente assumir que nas doses clinicamente utilizadas tal efeito será hoje em dia uma ocorrência rara. Na realidade, os efeitos paradoxais da atropina foram já amplamente documentados de modo experimental em seres humanos, através de diferentes abordagens,2,3 sabendo-se hoje que o fundamental para os evitar será administrar uma dose adequada do medicamento. Presentemente, a maioria dos autores advoga uma dose de 10-20 mcg/kg,4 mas muitos defendem a adopção do valor superior deste intervalo,5 nomeadamente em crianças.6 Em adultos, é frequente adoptar o intervalo de 0,5-1 mg,4 e mesmo nas guidelines internacionais do European Resuscitation Council (2015), a dose inicial recomendada para bradicardia com sinais adversos é de 0,5 mg7 independentemente do peso (a repetir, se necessário). Tal é particularmente curioso se tivermos em conta que se encontra descrito na literatura que mesmo em condições normais não será infrequente uma diminuição da frequência cardíaca em 4 a 8 batimentos por minuto após a administração de uma dose de 0,4 a 0,6 mg1 de atropina por via endovenosa. No presente artigo apresentamos 7 casos de efeito paradoxal após administração de 0,5 mg de atropina endovenosa em bólus rápido. Casos clínicos Os 7 casos clínicos a que nos referimos foram recolhidos da nossa prática clínica ao longo de doze meses, reportando-se a pacienRev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 45 Efeito paradoxal da atropina: mito ou realidade subvalorizada? tes adultos, com idades compreendidas entre os 37 e os 75 anos, sendo 4 do sexo feminino e 3 do sexo masculino. Seis dos 7 foram submetidos a anestesia geral balanceada, tendo predominado a utilização de remifentanil como opióide sistémico. A Tabela 1 resume os dados apresentados. Note-se que nenhum dos pacientes apresentava comorbilidades cardíacas conhecidas ou se encontrava medicado com antiarrítmicos, e que o electrocardiograma pré-operatório não evidenciava alterações. Tabela 1. Características dos 7 pacientes que apresentaram efeito paradoxal após administração de 0,5 mg atropina endovenosa. Dose de Paciente Sexo Idade Peso atropina mcg/Kg Cirurgia Técnica Opióide efetuada anestésica Sistémico 1 F 55 72 kg 6,9 mcg/kg Dermolipectomia das coxas Sequencial 2 F 37 90 kg 5,6 mcg/kg Redução mamária Anestesia Geral Balanceada Remifentanil Hernioplastia inguinal + excisão quisto sebáceo Anestesia Geral Balanceada Fentanil 3 M 75 78 kg 6,4 mcg/kg 4 M 57 105 kg 4,8 mcg/kg Reconstrução do canal auditivo externo (por exostose) Anestesia Geral Balanceada Remifentanil 5 F 43 63 kg 7,9 mcg/kg Dacriocistorrinostomia + septoplastia Anestesia Geral Balanceada Remifentanil 6 F 41 60 kg 8,3 mcg/kg Microcirurgia da laringe Anestesia Geral Balanceada Remifentanil 7 M 56 60 kg 8,3 mcg/kg Septoplastia Anestesia Geral Balanceada Remifentanil Em todos os pacientes indicados se verificou o desenvolvimento, no período intraoperatório, de bradicardia sinusal severa (frequência cardíaca inferior a 40 batimentos por minuto) associada a hipotensão. Consequentemente, foi administrada atropina na dose recomendada7 de 0,5 mg em bólus endovenoso rápido, e nestes pacientes assistiu-se ao rápido desenvolvimento de um efeito paradoxal, evidenciado pelo desaparecimento do ritmo sinusal normal e surgimento de um ritmo de escape juncional. A Tabela 2 mostra os traçados electrocardiográficos obtidos durante este período. Em todos os indivíduos estudados à exceção do nº 4 foi administrada uma dose adicional de 0,5 mg, com pronta resolução do quadro e normalização do traçado. No paciente nº 4 optou-se por não administrar uma dose adicional de atropina, dado haver estabilidade tensional, sendo que a recuperação de um traçado sinusal com condução atrioventricular normal apenas se verificou a partir dos 17 minutos pós-administração da dose inicial de atropina. Discussão Estes casos clínicos demonstram que o efeito paradoxal da atropina em Anestesiologia está longe de ser apenas um risco teórico, podendo ser encontrado na prática clínica diária mesmo com doses de 0,5 mg. As razões para o comportamento bifásico desta molécula em função da dose administrada reúnem ainda alguma controvérsia na literatura,8 vigorando duas correntes explicativas principais: presença de um mecanismo central e presença de um mecanismo periférico. Esta última é a que reúne presentemente maior apoio e que aqui analisaremos. Tabela 2. Traçados electrocardiográficos dos pacientes com efeito paradoxal e sua recuperação. Pacientes da tabela 1 2 Disritmia Tempo em relação à primeira imagem adquirida para o paciente Ritmo juncional com despolarização auricular retrógrada (setas) 0’00’’ Regresso de ondas de despolarização auricular positivas em DII, de provável origem sinusal (isto é, verdadeiras ondas P, indicadas pelas setas). Contudo, como podemos ver estas atingem o nodo atrioventricular num período não excitável (muito próximo ou já após a sua despolarização espontânea), pelo que não são conduzidas e continua a haver ritmo juncional. Note-se que a existência de despolarização auricular normal impede a condução retrógrada do estímulo do NAV e desaparecem as ondas negativas após o QRS. Podemos ainda observar que os ritmos auricular e ventricular não são totalmente concordantes, pelo que existem ondas P antes do QRS e sobrepostas a este. 1’22’’ 1’41’’ O aumento da frequência do nódulo sinusal permite a captura do pacemaker juncional, que é assim inibido, voltando o nódulo sinusal a exercer o controlo sobre a frequência cardíaca 1’50’’ Ritmo juncional com despolarização auricular retrógrada (setas) 0’00’’ A relação absolutamente constante nos diferentes complexos entre o QRS e uma aparente onda de despolarização auricular sobreposta faz pensar que continue a existir um ritmo juncional com despolarização auricular secundária, embora não se possa excluir o retorno da atividade do nódulo sinusal exatamente com a mesma frequência do nódulo AV (até porque as ondas sobrepostas parecem ser positivas). 0’33’’ O aparecimento de atividade nodal com maior frequência permite a captura do pacemaker juncional, que é assim inibido, voltando o nódulo sinusal a exercer o controlo sobre a frequência cardíaca. 3’02’’ 46 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 Peso Efeito paradoxal da atropina: mito ou realidade subvalorizada? Tabela 2. Traçados electrocardiográficos dos pacientes com efeito paradoxal e sua recuperação (cont.) Pacientes da tabela Disritmia Tempo em relação à primeira imagem adquirida para o paciente Ritmo juncional (sem condução auricular retrógrada clara) 0’00’’ Recuperação do ritmo sinusal normal 4’34’’ Ritmo juncional (sem condução auricular retrógrada clara) 0’00’’ Peso 3 4 5 6 7 Regresso de ondas de despolarização atrial positivas em DII, de provável origem sinusal (isto é, verdadeiras ondas P, indicadas pelas setas). Contudo, como podemos ver estas atingem o nódulo auriculoventricular num período não excitável (muito próximo ou já após a sua despolarização espontânea), pelo que não são conduzidas e continua a haver ritmo juncional. Podemos ainda observar que os ritmos auricular e ventricular não são totalmente concordantes, pelo que existem ondas P antes do QRS e sobrepostas a este. 0’16’’ 0’30’’ Recuperação do ritmo (sinusal) normal 17’48’’ Ritmo juncional; embora não seja clara a existência de ondas de despolarização auricular retrógrada a comparação do QRS com os traçados seguintes faz pensar na sua presença como uma falsa onda S. 0’00’’ Aparecimento de atividade auricular anterógrada, identificada pelo surgimento de ondas P (ainda não conduzidas). 2’57’’ Recuperação do ritmo sinusal normal 3’09’’ Ritmo juncional (sem condução auricular retrógrada clara) 0’00’’ Reaparecimento de atividade auricular, com ondas positivas em DII, provavelmente de origem sinusal (ondas P) com relação inconstante com o QRS. Nos últimos complexos a onda P parece estar a uma distância suficiente do QRS para atingir o nódulo sinusal em período excitável, provavelmente correspondendo ao momento da captura do pacemaker juncional (o mesmo PQ que na imagem seguinte). 0’27’’ A continuação da monitorização confirma a recuperação do ritmo sinusal normal 1’55’’ Ritmo juncional com despolarização auricular retrógrada (setas) 0’00’ Recuperação do ritmo sinusal normal 2’19’’ Sabe-se hoje que existem diferentes tipos de recetores de acetilcolina, que se dividem em dois grandes grupos: muscarínicos e nicotínicos. Cada um destes, por sua vez, apresenta diferentes subtipos, sendo que no âmbito do presente artigo nos devemos concentrar no grupo dos recetores muscarínicos – sobre os quais a atropina exerce o seu efeito – nomeadamente referindo a existência, entre outros, dos subtipos M1, M2 e M3, com características e distribuição preferencial distintas no organismo. O consenso atual é de que o efeito paradoxal da atropina estará na dependência do antagonismo dos recetores M1, enquanto o efeito vagolítico surgirá por bloqueio competitivo dos recetores M21 e possivelmente também M3.6 Os recetores M2 e M3 são sobretudo pós-sinápticos, tendo por isso responsabilidades na consubstanciação das eferências parassimpáticas. Já os recetores M1, por outro lado, são encontrados sobretudo a nível pré-sináptico de neurónios parassimpáticos pós-gangliónicos.1 Nesta localização não conseguem agir diretamente sobre a célula efetora mas exercem uma importante função de controlo Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 47 Efeito paradoxal da atropina: mito ou realidade subvalorizada? por mecanismo de feedback negativo. Com efeito, em condições fisiológicas a presença de acetilcolina na fenda sináptica em quantidade suficiente tem efeito não apenas sobre os recetores pós-sinápticos mas também a nível pré-sináptico, onde o agonismo M1 tem como consequência a inibição da libertação adicional de acetilcolina pelo neurónio, assim impedindo uma acumulação excessiva do neurotransmissor na fenda sináptica. A administração de medicamentos com ação antagonista dos recetores M1 interfere com este mecanismo regulador, predispondo a uma maior libertação e acumulação de acetilcolina na fenda sináptica – e potencialmente maior estimulação do neurónio pós-sináptico, favorecendo a vagotonia.1 A farmacodinâmica mostra-nos que a afinidade com que uma mesma molécula se liga a diferentes recetores ou subtipos de um determinado receptor pode ser marcadamente distinta. Na realidade, pode haver ligação a apenas um ou outro subtipo, ou a ligação pode ocorrer a vários mas com um tropismo distinto. No caso em análise, pensa-se que em baixas concentrações só existirá ligação fisiologicamente importante da atropina aos recetores M1, sem efeito relevante sobre os recetores M2 ou M3 no macroplano do indivíduo6 – o que predispõe aos efeitos já mencionados. Em presença de concentrações suficientemente elevadas, os três subtipos descritos serão antagonizados, sendo que as consequências fisiológicas da ação sobre os M2 e M3 se sobreporão à do bloqueio M1, isto é, mesmo que haja tendência a maior acumulação de acetilcolina na fenda sináptica, a sua ação sobre os subtipos M2 e M3 a nível pós-sináptico é bloqueada diretamente por antagonismo competitivo entre a acetilcolina e a atropina, com esta última impedindo a ligação das moléculas do neurotransmissor ao seu local de ação. A consequência lógica será o surgimento de efeitos anticolinérgicos. Assim se explica a dualidade de efeitos da atropina em função da dose administrada. É interessante verificar que a dose recomendada de 0,5 mg em adultos possa provocar efeitos paradoxais durante uma anestesia mas tal não pareça ocorrer em outros contextos mesmo com doses inferiores, como ocorre nos protocolos das ecocardiografias de stress. Nestes a atropina é utilizada rotineiramente de forma gradual e crescente começando com doses de apenas 0,25 mg (repetidas até um máximo de 1 mg9), sem que se tenham observado efeitos adversos decorrentes desta utilização.10 Provavelmente tal estará relacionado com o menor estado de vagotonia do indivíduo durante estes exames. Com efeito, perante uma estimulação vagal intensa existirá maior quantidade de neurotransmissor na fenda sináptica. De um ponto de vista farmacodinâmico, o efeito da administração de um antagonista competitivo como a atropina pode ser ultrapassado pelo aumento da concentração local do agonista. Assim, se neste caso temos maior concentração local de acetilcolina (agonista) será de esperar que as moléculas de atropina (antagonista competitivo) tenham maior dificuldade (mais competição) para se ligarem ao mesmo número de recetores M2 e M3 do que sucederia num estado menos vagotónico. Consequentemente, uma dose perto do limite inferior do intervalo considerado terapêutico poderá não ser capaz de contrariar o agonista de modo clinicamente relevante face a um estado de 48 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 estimulação vagal importante. Sendo a afinidade pelos recetores M1 superior à dos M2 e M3, predominará o efeito do seu bloqueio, aumentando ainda mais a quantidade de neurotransmissor na fenda sináptica e assim agravando a vagotonia – levando ao surgimento do efeito paradoxal. Durante o intraoperatório, o estado do paciente anestesiado é caracterizado por um aumento da vagotonia, quer por diminuição das eferências simpáticas quer por estimulação direta do núcleo do vago11 provocada pelos opióides frequentemente utilizados (tendo-se demonstrado que uma vagotomia bilateral diminui francamente a bradicardia associada à sua administração12, 13). De entre os diferentes opióides de uso corrente, alguns autores sugerem que o remifentanil poderá ter um efeito vagotónico mais pronunciado que os demais medicamentos desta categoria14 – embora tal opinião não reúna presentemente consenso.13 Este foi o opióide sistémico administrado em 5 dos 7 pacientes que revelaram efeito paradoxal. Tal estado de vagotonia poderá tornar o estado intraoperatório particularmente propício à ocorrência de efeito paradoxal da atropina com doses que não o provocariam em condições “normais”. Análise das alterações electrocardiográficas observadas Sabemos hoje que o nódulo sinusal (NS) é rico em inervação parassimpática,3 que é aliás a influência predominante a este nível.15 Assim, perante um aumento da vagotonia – neste caso induzido pelo efeito paradoxal da atropina – surge uma diminuição da frequência do pacemaker sinusal – ou mesmo ausência temporária da sua atividade. A prová-lo está o frequente desaparecimento de ondas P que encontrámos nos traçados incluídos neste artigo. Embora o nódulo auriculoventricular (NAV) também tenha inervação vagal,1, 15 a este nível o seu predomínio não é tão marcado quando comparado com a atividade do sistema nervoso simpático, permitindo por isso o surgimento de um ritmo de escape com origem no NAV. A provar a origem nodal alta está não só a frequência do ritmo de escape obtido mas também a existência de um QRS estreito. Por outro lado, em alguns dos traçados observamos ainda a ocorrência de ondas de despolarização auriculares retrógradas, indicadas pela sua localização após o QRS e pela sua polaridade negativa em DII. Estas ondas de despolarização podem contribuir para inibir o próprio nódulo sinusal, se este não tiver uma frequência intrínseca superior. A administração de uma dose mais elevada de atropina (segunda dose administrada) leva ao predomínio dos efeitos antimuscarínicos e ao acelerar da frequência do nódulo sinusal, com reaparecimento de ondas P (positivas em DII). Contudo, porque também aumenta a ação antimuscarínica sobre o NAV, numa fase inicial essas ondas P podem não ser conduzidas não propriamente por existir um bloqueio a nível do NAV mas antes pelo facto de a frequência do ritmo juncional ser demasiado elevada, pelo que as ondas P que aqui chegam o atingem num período não excitável por já se encontrar despolarizado – como podemos inferir pelos traçados com um PQ extremamente curto ou mesmo ondas P sobrepostas ao QRS, indicando que o NAV está a funcionar dissociado do estímulo conduzido a partir do nódulo sinusal. À medida que a atropina se vai ligando a mais recetores M2 (e possivelmente M3), a frequência intrínseca do NS aumen- Efeito paradoxal da atropina: mito ou realidade subvalorizada? ta o suficiente para se sobrepor à do NAV responsável pelo ritmo juncional, acabando por o “capturar” e restaurar o ritmo normal. Com efeito, podemos observar em alguns traçados o surgimento de estímulos que atingem o NAV em período excitável e logo são conduzidos, momento a partir do qual a sua repetição a frequência superior à da excitabilidade intrínseca do NAV inibe a atividade espontânea de pacemaker deste último (isto é, “captura-o”), restaurando o ritmo sinusal normal. Conclusão Os casos apresentados, recolhidos ao longo de um ano, demonstram que o efeito paradoxal da atropina não é apenas um risco teórico, sendo observável na prática clínica diária com a administração de doses fixas de 0,5 mg do medicamento em adultos. Naturalmente tal levanta a questão sobre qual a dose de atropina mais adequada para este grupo etário no estado intraoperatório, nomeadamente sobre o ajuste da mesma ao peso do paciente, sendo necessários estudos adicionais para esclarecer definitivamente a questão. diography for risk stratification in hypertensive patients with chest pain. Circulation. 1998;98:2855-9. 11. DeSouza G, Lewis MC, TerRiet MF. Severe bradycardia after remifentanil. Anesthesiology. 1997;87:1019-20. 12. Reitan JA, Stengert KB, Wymore ML, Martucci RW. Central vagal control of fentanyl-induced bradycardia during halothane anesthesia. Anesth Analg. 1978;57:31-6. 13. Shinohara K, Aono H, Unruh GK, Kindscher JD, Goto H. Suppressive effects of remifentanil on hemodynamics in baro-denervated rabbits. Can J Anaesth. 2000;47:361-6. 14. Tirel O, Chanavaz C, Bansard JY, Carré F, Ecoffey C, Senhadji L, et al. Effect of remifentanil with and without atropine on heart rate variability and RR interval in children. Anaesthesia. 2005;60:982-9. 15. Acampa M, Lamarina M, Puccetti L, Guideri F, Auteri A. Autonomic Nervous System and Cardiac Arrhythmias. In: Vespry LA, editor. Cardiac Arrhythmia Research Advances. New York: Nova Science Publishers; 2007. p. 73-92. Fontes de Financiamento Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo. Correspondência Daniel Rodrigues Alves [email protected] Referências 1. Brown JH, Taylor P. Muscarinic receptor agonists and antagonists. In: Hardman JG, Limbird LE, Gilman AG, editors. Goodman & Gilman’s The Pharmacological basis of therapeutics. 10th ed. New York: McGraw-Hill; 2001. p. 155-73. 2. Bettermann H, Cysarz D, Portsteffen A, Kümmell HC. Bimodal dosedependent effect on autonomic, cardiac control after oral administration of Atropa belladona. Auton Neurosci. 2001;196:1-10. 3. Ikuta Y, Shimoda O, Kano T. Quantitative assessment of the autonomic nervous system activities during atropine-induced bradycardia by heart rate spectral analysis. J Auton Nerv Syst. 1995;52:71-6. 4. Omoigui S. Sota Omoigui’s anesthesia drugs handbook. Rochester: State-of-the-Art Technologies; 2010 5. Mets B, Redai I. Parasympathomimetic and parasympatholytic drugs. In: Evers AS, Maze M, Kharasch ED, editors. Anesthetic Pharmacology - Basic Principles and Clinical Practice. 2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press; 2011. p. 666-675. 6. Barrington K. The myth of a minimum dose for atropine. Pediatrics. 2011;127:783-4. 7. Soar J, Nolan JP, Böttiger BW, Perkins GD, Lott C, Carli P, et al. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2015: Section 3. Adult advanced life support. Resuscitation. 2015;95:100-47. 8. Glick DB. The autonomic nervous system. In: Miller RD, Eriksson LI, Fleisher LA, Wiener-Kronish JP, Young WL, editors. Miller’s Anesthesia. 7th ed. Philadelphia: Churchill Livingstone; 2009. p. 261-304. 9. Sicari R, Nihoyannopoulos P, Evangelista A, Kasprzak J, Lancellotti P, Poldermans D, et al. Stress echocardiography expert consensus statement: European Association of Echocardiography (EAE) (a registered branch of the ESC). Eur J Echocardiogr. 2008;9:415-37. 10. Cortigiani L, Paolini EA, Nannini E. Dipyridamole stress echocar- Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 49 Sistema de Compressão Sequencial Kendall SCD™ A sua Solução Intraoperatória Contra a TVP O Seu Parceiro na Prevenção do TEV • Quase todos os pacientes cirúrgicos correm o risco de desenvolver Trombose Venosa Profunda (TVP).1 • As orientações internacionais recomendam o uso de Compressão Pneumática Intermitente (CPI) intraoperatória para pacientes de alto risco.1 Está clinicamente comprovado que o Sistema Kendall SCDTM reduz o risco de TVP e Embolia Pulmonar (EP), tendo ainda demonstrado aumentar a sobrevivência de pacientes que sofreram um AVC.2 Para mais informações sobre esta tecnologia, por favor contacte um representante da Covidien. Referências Clínicas: 1. Geerts WH et al. Prevention of venous thromboembolism: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines (8th Edition). Chest. 2008 Jun;133(6 Suppl):381S-453S. 2. Dennis MS, et al. Effectiveness of intermittent pneumatic compression in reduction of risk of deep vein thrombosis in patients who have had a stroke (CLOTS 3): a multicentre randomised controlled trial. The Lancet. Published online: 31 May, 2013. www.covidien.com COVIDIEN, COVIDIEN com logótipo, e o logótipo Covidien são marcas comerciais registadas nos EUA e internacionalmente da 50 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 Covidien AG. Outras marcas são marcas comerciais de uma empresa. 2015 Covidien. Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016 51 52 Rev Soc Port Anestesiol | Vol. 25 - nº1 | 2016