Os sete trovoes
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Os sete trovoes
OS SETE TROVÕES: Uma análise do salmo 29 à luz do cenário geográfico Por Sérgio Dario Costa Silva, Th.M 0 SUMÁRIO INTRODUÇÃO: os aspectos geográficos e a interpretação bíblica ....................................... 02 1. APRESENTAÇÃO DO TEXTO: delimitação das cláusulas ............................................ 04 2. ESTRUTURA DO TEXTO ............................................................................................... 06 3. ANALISANDO O TEXTO ................................................................................................ 07 3.1 OS IMPERATIVOS PARA LOUVAR: chamada à adoração ........................................... 07 3.2 A MANIFESTAÇÃO TEOFÂNICA E SEUS EFEITOS .................................................. 10 3.2.1 A região norte de Canaã ............................................................................................... 11 3.2.2.1 Localização ................................................................................................................... 12 3.2.2.1.1 Mar mediterrâneo ...................................................................................................... 12 3.2.2.1.2 Líbano ........................................................................................................................ 12 3.2.2.1.3 Siriom ........................................................................................................................ 13 3.2.2.2 Clima e vegetação......................................................................................................... 14 3.2.2.3 Importância histórica .................................................................................................... 16 3.2.2.4 Entendendo o texto ....................................................................................................... 17 3.2.2 A região sul de Canaã.................................................................................................... 20 3.2.2.1Localização: Cades ........................................................................................................ 20 3.2.2.2 Clima e vegetação......................................................................................................... 20 3.2.2.3 Importância histórica .................................................................................................... 21 3.2.2.4 Entendendo o texto ....................................................................................................... 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 23 APÊNDICE 01 ........................................................................................................................ 26 APÊNDICE 02 ........................................................................................................................ 27 APÊNDICE 03 ........................................................................................................................ 28 1 INTRODUÇÃO: Os aspectos geográficos e a interpretação bíblica O objetivo primordial do exegeta ou do intérprete das Sagradas Escrituras é buscar o verdadeiro e autêntico sentido do texto bíblico. Contudo, nota-se que muitos estudiosos das Escrituras têm ignorado vários aspectos fundamentais no processo de interpretação, e entre eles está o cenário geográfico. O cenário geográfico, bem como o clima, vegetação e localização têm sido deixados de lado, como sendo algo insignificante para o entendimento de uma passagem bíblica. Robertson, percebendo tal negligência, escreve seu livro “Terra de Deus” mostrando o significado o cenário geográfico para os planos e propósitos de Deus. Ele argumenta que diversos pontos geográficos mencionados nas Escrituras desempenham um papel relevante na história da redenção. Primeiro, deve-se entender que um texto bíblico não pode ser isolado de seu contexto não apenas sócio-político-cultural, mas também geográfico. Segundo, várias expressões hebraicas são usadas para indicar aspectos geográficos e esta ênfase não é por acaso, possui sua importância. Vários nomes diferentes para o solo são ditos nas Escrituras, e os diversos nomes de lugares possuem significado que iluminam a interpretação. Terceiro, a palestina localiza-se numa posição estratégica e isso explica por que o agir de Deus na história constitui o tema do Antigo Testamento. Iahweh agiu na história por meio do cenário geográfico, sendo a Palestina o elo de ligação entre Egito e Mesopotâmia; deserto árabe e Mediterrâneo; Mar Vermelho e Damasco. Na história da Palestina, percebe-se que era uma terra dos deslocamentos e não do repouso, contudo Iahweh promete um repouso nesta 2 terra, condicionado à obediência e quando o pacto era quebrado, Canaã voltava a ser uma terra de deslocamentos. Enfim, Iahweh usa o cenário geográfico para se revelar ao seu povo. Por isso, desconsiderar os aspectos geográficos do texto bíblico é um grande erro que não se pode continuar cometendo. O propósito deste trabalho é analisar o salmo 29 à luz do cenário geográfico, mostrando que entender a geografia ajuda compreender a mensagem bíblica. 3 1. APRESENTAÇÃO DO TEXTO: delimitação das cláusulas A delimitação das cláusulas possui um papel importante no trabalho exegético. A relevância da delimitação das cláusulas pode ser vista no fato de proporcionar para o exegeta uma compreensão mais clara acerca da estrutura da composição do texto em estudo, bem como perceber as ênfases do autor no texto, além da objetividade e precisão em situar os leitores em cada parte do versículo no decorrer do trabalho. dwIïd"ñl. rAmªz>mi 1 Tributai ao Senhor filhos dos poderosos ~ylia_ e ynEåB. hw"hyl;⥠Wbåh'1 Tributai ao Senhor glória e força z[o)w" dAbïK' hw"©hyl;÷ Wbåh'1 Tributai ao Senhor glória ao seu nome Am+v. dAbåK. hw"hyl;â( Wbåh'2 Adorai ao Senhor na beleza da santidadevd<qo)-tr:d>h;B. hw"©hyl;÷ Wwðx]T;v.hi2 A voz do Senhor está sobre as águas ~yIM"ïh-;ñ l[; hw"©hy> lAqï 3 O Deus da glória faz trovejar ~y[i_r>hi dAbïK'h;-lae( 3 O Senhor está sobre as muitas águas `~yBi(r: ~yIm:ï-l[; hw"©hy>÷ 3 A voz do Senhor é poderosa x:Ko+B; hw"ïhy>-lAq 4 A voz do Senhor é majestosa `rd")h'B, hw"©hy>÷ lAqï 4 A voz do Senhor quebra os cedros ~yzI+r"a] rbEvå o hw"hy>â lAqå 5 5 E despedaça dos cedros do Líbano `!An*b'L.h; yzEïr>a;-ta, hw"©hy>÷ rBEïv;y>w: E os faz saltar como bezerro lg<[E+-AmK. ~dEîyqir>Y:w: 6 `~ymi(aer>-!b, AmåK. !yO©r>fiw> !Anðbl' . 6 7 A voz do Senhor despede labaredas de fogo`vae( tAbïh]l; bceªxo hw"ïhy>-lAq A voz do Senhor faz tremer o deserto rB"+d>mi lyxiäy" hw"hy>â lAqå 8 O Senhor faz tremer o deserto de Cades `vdE(q' rB:ïd>mi hw"©hy>÷ lyxiîy" 8 A voz do Senhor faz procriar corças étAlY"a; lleäAxy> hw"“hy> lAqÜ 9 E desnuda bosques tArï['ñy> @foöx/Y<w:) 9 a Salmo de Davi b c a b a b c a b a b a b Líbano e o Siriom como filho de bois selvagens a b a b 4 `dAb)K' rmEïao ALªKu÷ Al+k'yheb.W O Senhor preside o dilúvio bv'_y" lWBåM;l; hw"hy>â E presidirá o Senhor, rei eternamente `~l'(A[l. %l,m,ä hw"©hy>÷ bv,YEïw: O Senhor dá força ao seu povo !TE+yI AMæ[;l. z[oß hw"©hy>) O Senhor abençoará o seu povo com paz `~Al)V'b; AMå[;-ta, %rEßb'y> hw"¦hy> E no seu templo todos dizem: glória 9 c 10 a 10 b 11 a 11 b O salmo 29 é uma doxologia em forma de louvor, visto que os termos predominantes são “reino”, “poder” e a “glória” de Iahweh. É uma doxologia veterotestamentária em louvor ao Senhor Rei do universo, e o propósito do salmo é claramente notado em sua linguagem e estrutura. O salmo inicia com três imperativos convocando os homens à adorem a Iahweh. Mays observa que a proclamação da glória de Iahweh é feita na forma de um temporal que vêm do mar estrondando contra as encostas das montanhas e as suas florestas. 1 E a proclamação alcança seu clímax na declaração de que o Iahweh é o Soberano Rei eterno. A declaração mostra o significado da proclamação da glória e exibe o poderoso governo do Senhor. O salmo conclui invocando este poder como bênçãos de paz para o povo de Deus. Enfim, o propósito da teofania, no salmo, é invocar a majestade e o governo de Deus sobre todo o universo. 1 MAYS, James Luther. Psalms. p. 135. 5 2. ESTRUTURA DO TEXTO 1. Imperativos para louvar vv.1-2 a. Tributai ( ) a Yahweh, ó filhos de Deus (poderosos/ corte celestial) Wbh' b. Tributai (Wbh') a Yahweh: glória e força c. Tributai (Wbh') a Yahweh: a glória devida d. Adorai (Wwx]T;v.hi) a Yahweh: na beleza de sua santidade 2. A manifestação teofânica e seus efeitos vv.3-9 a. 3-4 A manifestação de Deus: sobre as águas, sobre muitas águas, é poderosa e majestosa b. 5-9 os efeitos da manifestação - quebra os cedros - despedaça os cedros do Líbano; - Ele os faz saltar como um bezerro - Ele faz saltar Líbano e Siriom como bois selvagens - Despede chamas de fogo; - Faz tremer o deserto de Cades ( ) - Dar cria às corsas (ou desgalha os carvalhos) - Desnuda os bosques; - A congregação diz: Glória vdE(q' 3. vv 10-11 Yahweh: O Soberano Rei Eterno a. Yahweh é o Soberano Rei Eterno v.10 b. Yahweh fortalece e abençoa seu povo v.11 6 3. ANALISANDO O TEXTO 3.1 OS IMPERATIVOS PARA LOUVAR: chamada à adoração vv. 1-2 O salmo inicia com uma série de imperativos e cada um descreve aspectos singulares do caráter de Iahweh, o único Deus que deve ser louvado. Os imperativos estão organizados e estruturados em forma de paralelismo sintético-climático. 3.1.1 Tributai a Iahweh, ~yli_ae ynEåB. Um dos principais desafios desta cláusula é determinar o verdadeiro significado da expressão “~yli_ae ynEåB.”.2 Weiser,3 Perowne,4 Harman5 e Alexander defendem que o termo trata-se da hoste celestial e argumenta que são os seres intermediários entre Deus e os homens, ou seja, anjos.6 Gaebelien7 e Horne entendem como sendo os “poderosos” da terra,8 enquanto que Calvino afirma que a tradução correta é “filhos dos poderosos” por se tratar de uma expressão idiomática hebraica para falar dos “poderosos” e “príncipes”.9 Partindo desse pressuposto, Calvino defende que o salmo tenciona humilhar os príncipes da terra diante da grandeza e soberania de Iahweh. Mas algo é certo, a expressão não se refere aos deuses falsos como no Salmo 97.7, e considerando que o governo de Iahweh possui dimensões universais, leva-nos a acreditar na possibilidade de se referir à todos que estão sob este governo. 3.1.2 Tributai a Iahweh glória e força A cláusula 1c faz um paralelismo sintético com 1b, acrescentando que “glória” e “força” devem ser tributadas ao Senhor. 2 Cf. também Dt 10.17; Sl 89.7 (6) WEISER, Athur. The Old Testament Library: The Psalm. p.262. 4 PEROWNE, J.J. Stewart. Commentary on the Psalms. p.275. 5 HARMAN, Arllan. Psalm : A mentor commentary.p.137 6 ALEXANDER, Joseph A. Commentary on Psalms. p.134. 7 GAEBELEIN, Arno C. The book of Psalms.p.134. 8 HORNE, George.Commentary on the Psalms. p.137. 9 CALVINO, João. Salmos 1. p.612. 3 7 ~yli_ae ynEåB. hw"hyl;⥠Wbåh' z[o)w" dAbïK' hw"©hyl;÷ Wbåh' A palavra do raiz 1b 1c dAbïK' [“glória”] tem uma importância singular no salmo. O vocábulo vem que significa “ser (estar) pesado”, “pesaroso”, “duro”, “rico”, “honrado”, e “glorioso”. Denota a pessoa digna de respeito, atenção e obediência. O termo possui dois sentidos no salmo: o primeiro, sumariza os atributos do Senhor como Rei, chamado no salmo como “Rei da glória” (v. 3) e seu resplendor santo e majestade são sua glória. Segundo, é um termo que demonstra a manifestação da realeza divina do Senhor. Mays sintetiza estes dois sentidos como “honra” e “manifestação visível”.10 Na cláusula 1c, dAbïK,' evidencia a honra de Iahweh chamando os ouvintes a reconhecê-la. E a tríplice repetição do imperativo, intensifica a honra que deve ser tributada a Iahweh. O termo z[ [“força”] é evidenciado na manifestação teofânica no próximo segmento. O vocábulo é geralmente usado fazendo referência à divindade. Nos hinos de louvor a “força de Iahweh” ressalta Sua grandeza e majestade incomparáveis, enquanto que nos salmos de lamento, é fonte de confiança e esperança: Na tua força, Senhor, o rei se alegra” 11 “Eu te amo, ó Senhor, força minha” 12 “O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, nele fui socorrido; por isso, o meu coração se exulta e com meu cântico o louvarei. O Senhor é a força do seu povo, o refúgio salvador do seu ungido”. 13 A “força” é, de fato, um atributo essencial de Iahweh14 e, é com essa idéia que Calvino aplica o salmo: “em suma, ele exorta [os homens] a renunciarem sua arrogância e sua 10 MAYS L. James. Exposity Psalm 29. Interpretation. p.61. Sl 21.1 12 Sl 18.1 13 Sl 28.7-8 14 Cf. Sl 62.11[12]; 63.2[3]; 68.33[34]; 89.10 [11]; 96.7; Is 62.8; 11 8 enganosa opinião acerca de sua própria força, e por fim, a glorificarem a Deus como ele merece”.15 3.1.3 Tributai a Iahweh glória ao seu nome O nome de Iahweh também é digno de honra. O “nome de Iahweh” é glorioso em retidão, fidelidade, juízo e salvação.16 Por isso, Ele deve ser honrado não apenas por causa de Sua posição como cabeça Soberano do universo, mas também por causa de Seu incomparável caráter. No AT o nome, às vezes, está relacionado com o caráter, e o nome do Senhor revela Seu caráter grandioso e majestoso. O nome do Senhor significa a total auto-revelação de Deus em sua santidade e verdade,17 e como afirma Kidner, “a glória de Seu nome é a revelação explícita de quem Ele é”.18 O nome de Iahweh exprime segurança ao povo de Deus: “O Senhor é homem de guerra; Iahweh é o seu nome”.19 Israel chamava pelo nome do Senhor nos momentos difíceis, rogando por socorro.20 Nos salmos, o homem confia, louva, clama, ama o nome de Iahweh, como fonte de segurança.21 O Senhor te responda no dia da tribulação; o nome do Deus de Jacó te eleve em segurança. Celebraremos com júbilo a tua vitória e em nome do nosso Deus hastearemos pendões. 22 3.1.4 Adorai Iahweh na beleza de Sua santidade 2b Há também discordâncias quanto à tradução da cláusula 2b. Calvino prefere “no resplendor do santuário de Deus”, referindo não ao céu, mas ao tabernáculo.23 Enquanto que kidner propõe que seja traduzido da seguinte forma: adorai ao Senhor por causa do resplendor 15 Op. Cit. p. 613. Sl 66.2; 79.9; Is 40.5 17 Sl 22.22[23] 18 KIDNER, Derek. Salmos 1-72 : introdução e comentário. p.145. 19 Ex. 15.3 20 Sl 25.1; 26.1; 28.1;35.1; 38.1; 86.1; 21 Sl 5.12 [11]; 7.18 [17]; 9.3 [2]; 18.50 [49] 22 Sl 20. 2, 6 [1,5] 23 Op. cit p.613 16 9 da Sua santidade”.24 O verbo “adorai” é usado no hitpael, indicando uma ação enfática, intensiva e constante. Possui a idéia de prostrar-se e render-se, uma rendição total ao Grande Rei Soberano do universo. O ato de adorar deve ser um dever compulsório de todos os habitantes da terra em todos os momentos. Em contraste com a transitoriedade da glória humana e terrena encontra-se a beleza imutável do Deus manifesto.25 A beleza da santidade é às vezes entendido, significando separação ou consagração de vestes que eram colocadas em um lugar de honra, e tomadas com reverência pelos sacerdotes quando apresentavam na presença de Iahweh.26 Três pontos podem ser destacados nesta cláusula: Primeiro, o objeto da nossa adoração, onde a gloriosa majestade de Deus é chamada de beleza de Sua santidade. Segundo, o lugar da adoração, onde o santuário era a beleza da santidade. Terceiro, a forma da adoração, sendo santo em todo comportamento. É importante ressaltar que Deus sempre desejou habitar no meio de seu povo para revelar seu resplendor, mas isso só é possível quando o povo leva em conta o impacto da santidade divina e começa a responder positivamente pela fé e obediência, deixando o caráter santo de Iahweh ser manifestado em suas vidas. 3.2 A MANIFESTAÇÃO TEOFÂNICA E SEUS EFEITOS vv. 3-9 Após a seqüência de imperativos, o salmista descreve a manifestação teofânica de Deus no cenário geográfico. Para seguir as descrições do salmo, deve-se trazer a memória o mapa da palestina: ao oeste ou ocidente está o mar mediterrâneo, e ao norte está o Líbano com seus bosques de cedros; ao leste ou oriente está o monte Hermon, chamado no Salmo de Siriom; ao Sul está o deserto de Cades. Veja o mapa (AHARONI,1999, p.14) que se segue: 24 Op. cit. P. 145 Sl 145.5 26 Cf. ALEXANDER, Joseph A. Commentary on psalms. p. 134 25 10 3.2.1 A região norte de Canaã A primeira região descrita pelo salmista é a região norte de Canaã, destacando o mar mediterrâneo, responsável pelas tempestades e fortes ventos, o Líbano e o Siriom. 11 3.2.1.1 Localização 3.2.1.1.1 O mar mediterrâneo O mar mediterrâneo é conhecido como “mar grande”,27 “mar ocidental”28, “mar dos filisteus”,29 “mar de Jafa”,30 e embora não seja citado no salmo, é evidente que está subentendido na descrição geográfica do salmista. Ele banha toda a costa ocidental de Canaã, “de pouca profundidade na costa palestínica, impedindo a aproximação de navios de maior calado”, 31 contudo útil como defesa natural, pois ninguém poderia aproximar em suas costas. É o maior mar dos mares internos, com uma extensão de 4.500km e uma superfície de três milhões de km2. Considerando que a região norte do Mar morto é caracterizada por um terreno montanhoso, o mediterrâneo é importante por que os ventos do oeste, vindo do mar provocavam chuvas que regavam as florestas da região. Alguns fatos fizeram do Mediterrâneo um mar importante nos escritos bíblicos. Os cedros usados na construção do templo foram levados pela costa do mediterrâneo, 32 e foi nele que o profeta Jonas foi lançado, e foi para lá que o profeta Elias enviou seu moço para verificar o aparecimento da nuvem que traria chuva.33 Quanto à importância do mediterrâneo na história, Tognini afirma que “através dos séculos, as águas do Mediterrâneo foram palco de sangrentas batalhas, de riquíssimo comércio, de viagem de famosos homens das nações”.34 3.2.1.1.2 O Líbano O segundo cenário geográfico descrito no salmo é a região do Líbano,35 onde o salmista destaca seus montes e cedros. A cordilheira dos montes líbanos, que corre paralelamente à costa oriental do Mediterrâneo, e com uma extensão de 170 km, fica na parte ocidental da Síria, ao norte da Palestina.36 Observe o mapa (AHARONI,1999, p.59) abaixo: 27 Cf. Js 1.4 – Veja o mapa anterior. Dt 11.24 29 Ex 23.31 30 Ed 3.7 31 RONIS, Osvaldo. Geografia Bíblica. p. 80 32 Cf. 1 Rs 5.8-10 33 Cf. 1 Rs 18.41-46 34 TOGNINI, Enéias. Geografia da terra santa. p.60 35 O vocábulo “Líbano” é oriundo da raiz ibn, “branco”, em virtude da pedra calcária branca presente no Líbano. Os assírios chamavam-no de “Lib’na, e depois de Niblani; os egípcios, “rmnn” ou “rbrn”; e os cananeus de “Lbnn”. 36 RONIS, Osvaldo. Geografia Bíblica. p. 37. 28 12 É importante ressaltar que a região do Líbano é dividida em duas partes: (1) Líbano, correspondente à região montanhosa a oeste e (2) Antilíbano, cadeia montanhosa à leste.37 A altura média da cordilheira varia entre 1.000 e 3.000 metros sobre o mar, sendo seus picos principais: Gebel Makmal; Dahr El-Dubab e Dahr El-kutib.38 Em uma visão geográfica geral, nota-se que o extremo sul da região montanhosa do Líbano é uma continuação das colinas do norte da Galiléia e esta cordilheira formava para as cidades costeiras fenícias uma proteção natural contra invasões vindas do interior do continente. Algo que fazia da região do Líbano um destaque eram seus cedros. Grandes florestas de cedros e ciprestes cobriam suas encostas, fazendo da região uma das mais admiradas na época. O Líbano era famoso também pela fertilidade. 3.2.1.1.3 O Siriom O Siriom39 é o nome do monte Hermom dado pelos sidônios, enquanto que os cananeus chamavam-no de Siner.40 Contudo, nota-se que Ct 4.8 e 1 Cr 5.23 fazem distinção entre Hermon e Senir. Veja o mapa (AHARONI,1999, p.14) abaixo: 37 Esta divisão não é mencionada nos escritos bíblicos, surge a partir do domínio grego. Cf. TOGNINI, Enéias. Op. cit. p.89. cf. tb. WOOD, Derek. The illustrated bible dictionary. p. 891-892. 39 Siriom significa “coraça”, talvez se referindo à sua forma. 40 Cf. Dt 3.8-9; 4.48 38 13 O Siriom é uma montanha com 2.800 metros de altura, e é localizado na região do Antilíbano, “no extremo sul da cadeia dos montes, no limite sul da Síria e extremo norte da Palestina”,41 sendo a mais alta das vizinhanças da Palestina. A região formava a fronteira norte das conquistas israelitas de terras dos amorreus.42 O antilíbano corre paralelo ao Líbano de nordeste para sudoeste, avançando para o sul e pelo Hermon, ocupando uma extensão de quase 163 km43 e é nestes montes que nascem os renomados rios Abana e Farfar44. Com uma altitude por volta de 3.000 m, faz com que o monte Hermon seja visto de várias partes da Palestina.45 É um monte majestoso e considerado sagrado pelos primeiros habitantes de Canaã.46 3.2.1.2 O clima e vegetação da região A região mencionada no salmo faz parte da zona mediterrânea ou zona úmida, uma zona subtropical com uma média de 35,5 cm de chuva por ano, responsável pela área de muitas florestas, carvalhos e cedros.47 O clima da região é muito influenciado pelo Mediterrâneo, visto que o ar quente vêm do mar traz invernos moderados para todo o litoral e existe “época em que caem 90% das chuvas, 41 RONIS, Osvaldo. Geografia Bíblica. p. 33 Dt 3.8; Js 11.17 43 TOGNINI, Enéias. Op. cit. p. 89-90. cf. tb. BERRETT, Lamar C. Michael Grant publication, p.494. 44 Cf. 2 Rs 5.12 45 ROBERTSON, O. Palmer. Terra de Deus. p.55. 46 Cf. Jz 3.3; Js 13.5 47 ROBERTSON, O. Palmer. Op. cit. p. 67. 42 14 mas nas colinas e nas montanhas a temperatura pode chegar a abaixo de zero e pode nevar em lugares com em Jerusalém”.48 Considerando que a área ao norte do mar morto é montanhosa, os ventos do oeste, vindo do Mediterrâneo, traziam chuvas que procuravam manter a grande área verde do litoral. As geadas e orvalho no sul vêm do Mediterrâneo, e enquanto ao norte, das correntes aéreas provenientes do Siriom. Acredita-se que o clima da região passou por mudanças ao decorrer dos anos em virtude do desmatamento, causando erosões no solo e uma lenta desertificação da área. O monte Siriom também exerce um papel fundamental na formação do clima da região, “como catalisador das correntes de ar quente é úmido vindas do Mediterrâneo e precipitador das mesmas em forma de Orvalho”.49 Ronis destaca que quando chega o verão, a neve do Siriom vai derretendo, formando fios de águas e riachos que descem pelas encostas e regam as partes inferiores do monte e os vales.50 Nesta região, dois tipos de vegetação podem ser destacadas: na região montanhosa havia vegetação baixa com grandes árvores, enquanto que na região litorânea havia grande concentração de plantas mais baixas, como por exemplo os arbustos.51 Observe os mapas (Atlas Vida Nova, 1997, p.10) abaixo: 48 Atlas Vida Nova. p. 10 RONIS, Osvaldo. Op. cit. p.39 50 Op. cit. p.33 51 ROBERTSON, O. Palmer. Op. cit. p.70. 49 15 3.2.1.3 Importância histórica da região Esta região está estreitamente ligada com história do povo de Israel. Os escritores do Antigo Testamento, constantemente, mencionaram esta região quando apontaram os limites da terra prometida: “.. desde o deserto, desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates até ao mar ocidental...”.52 Os livros históricos narram que o Líbano foi uma das regiões conquistadas por Josué,53 e que os moradores da região foram deixados por Deus para provar Israel.54 Os cedros do Líbano forneceram a ótima madeira de construção do Oriente antigo e a madeira usada por Salomão em suas construções, inclusive para a construção do templo.55 Além disso, Salomão apreciava muito aquela região.56 Os espinheiros do Líbano e Siriom eram empregados na fabricação de navios por Tiro, para os barcos sagrados do Egito,57 e para a fabricação de móveis.58 Os cedros do Líbano eram muito usados como metáfora na linguagem poética no Antigo Testamento. A parábola de Jotão sobre o espinheiro e os cedros do Líbano,59 a parábola de Jeoás para Amazias,60 os cedros como símbolo de prosperidade de um reinado justo,61 o justo é abençoado como os cedros;62 salmo de louvor ao Criador, onde Deus é o Criador de tudo, inclusive os cedros do Líbano, admirado por muitos, foi Ele quem plantou;63 e os cedros do Líbano eram fonte de inspiração para Salomão que compara a beleza do Líbano com a sua amada.64 Os cedros estavam também presentes na linguagem profética. Isaías descreve o dia do Senhor que será marcado pela ira contra os da região do Líbano.65 E os profetas Jeremias, Ezequiel, Naum e Zacarias usaram os cedros do Líbano para descrever o juízo de Deus sobre as diversas nações, inclusive Judá.66 O Siriom, i.e. Hermon, também tem sua história relacionada com Israel. A meia tribo de Manassés se estabeleceu perto dessa região.67 Esta 52 Cf. Dt. 11.24 Cf. Js 1.4; 11.17 54 Cf. Jz 3.3 55 Cf. 1 Rs 7.2; 9.19; A madeira foi usada também na reconstrução do templo por Zorobabel; Ed 3.7 56 Cf. I Rs 4. 33 57 Cf. Ez 27.5 58 Cf. Ct 3.9 59 Cf. Jz 9. 15 60 II Rs 14. 9 61 Cf. Sl 72. 16; 62 Cf. Sl 92. 12; 63 Cf. Sl 104. 16 64 Cf. Ct 3.9; 4.8,11,15; 5.15; 7.4; 65 Cf. Is 2. 13; 10.34; 14.8; 53 66 67 Cf. Jr 22. 6;Ez 27. 5 Ez 31. 3 Naum 1. 4 Zc 10. 10 ; 11.1 Cf. 1 Cr 5. 23 16 região faz parte do relato da conquista,68 e o seu orvalho é destacado.69 Além disso, o principal deus do Hermon era baal, daí o nome baal-Hermon70 e muito cedo os cananeus usaram o monte para festejar seus deuses. Contudo, Iahweh se revela como Aquele que faz tremer o Hermon. 3.2.1.4 Entendendo o texto 3.2.1.4.1 A voz de Iahweh está sobre as muitas águas- troveja o Deus da glória A chamada à adoração nos versos anteriores é justificada neste segmento através da manifestação peculiar de Iahweh. Note que o salmo ressalta em três cláusulas que a voz de Iahweh é ouvida nos grandes temporais e tempestades: “a voz de Iahweh está sobre as muitas águas; troveja o Deus da glória; Iahweh está sobre as águas”. Para Calvino esta ênfase tem como propósito “subjugar pelo temor os obstinados que, de outra forma, não se renderiam espontaneamente”.71 Chama-se a voz de Iahweh de trovão porque a Sua voz vem de cima, possui força e grande alcance. A repetição da expressão hw"hy>â lAqå [“voz de Iahweh”], que se repete sete vezes no decorrer do salmo, expressa uma onomatopéia, descrevendo o som da tempestade acompanhada de grandes trovões. Isso levou Leslie a intitular o salmo de “o hino dos sete trovões”.72 E para Weiser, a mensagem da representação do salmista não é o fenômeno natural mas sim a manifestação de Iahweh.73 O objetivo primário do salmista é a revelação da majestade e glória de Deus, justificando a razão da adoração.Gaebelein analisa a repetição de hw"hy>â lAqå e entende que a voz de Iahweh é Sua palavra, e que revela o Seu julgamento sobre a terra. As “muitas águas” fazem lembrar o mediterrâneo, o mar mais importante do Antigo Testamento, chamado “o grande mar”. A voz de Iahweh está relacionada com o trovão acompanhado de violentas tempestades; e uma tormenta oriunda do mediterrâneo é um fenômeno majestoso. A voz de Iahweh está sobre o grande mar,74 com isso, Ele triunfa sobre as muitas águas. Além de “grande mar”, o Mediterrâneo era conhecido como “mar 68 Cf. Js 11. 3,17 Cf. Sl 133 70 Cf.Jz 3.3; 1 Cr 5.23 71 Op. cit. p.615 72 LESLIE, Elmer A. The psalms. p.136 73 Op. cit. p.29 74 Cf. Js 1.4 69 17 ocidental”75 por sua localização ocidental e “mar dos filisteus”, 76 em virtude dos filisteus habitarem em sua costa. Os cananeus acreditavam que Baal provia chuva e fertilidade, e que o poder dele podia ser visto nas tempestades. E o salmista confronta a religião cananita, tomando os louvores que os cananeus atribuíam aos deuses, e dedica a Iahweh, Aquele que possui o poder sobre as tempestades. Iahweh não apenas criou os mares mas também os controla, 77 e faz com que eles O louvem.78 Na linguagem figurada de Isaías79 e Jeremias,80 o mar aparece completamente debaixo do domínio de Iahweh. Enfim, nota-se que a cláusula “troveja o Deus da glória” é uma alusão aos versos 1 e 2. 3.2.1.4.2 A voz de Iahweh é poderosa e majestosa O salmista continua descrevendo as características singulares da voz de Iahweh. A voz de Iahweh revela também Seu caráter majestoso. A voz de Iahweh é manifestada em poder e majestade, i.e. investida com estes atributos, é uma expressão mais forte que os adjetivos correspondentes “forte e majestade”. Mays destaca que neste hino e contextos similares, a frase “a voz de Iahweh” significa uma articulação de som que comunica a temerosa majestade e poder de Iahweh.81 Iahweh é chamado “Rei da glória” e a força e o poder, o esplendor e a majestade são Sua glória. Calvino destaca muito bem que a manifestação teofânica celebra não apenas o poder de Deus mas também Sua bondade em suas obras.82 3.2.1.4.3 A voz de Iahweh e os cedros do Líbano O verso 5 ilustra a temerosa majestade da glória de Iahweh, descrevendo os efeitos no norte de Canaã. Esta expressão faz vir a mente “um trovão” que com seus raios é capaz de destruir grandes árvores, e os cedros [~yzI+r"a]] sempre são mencionados no Antigo Testamento como árvores fortes com raízes profundas, sendo que os do Líbano são especiais pela sua beleza. 75 Cf. Dt 11.24 Cf. Ex 23.31 77 Sl 104.7-9 78 Sl 148.4,7 79 Is 17.12 80 Jr 6.23 81 MAYS, L. James. Exposity Psalm 29. Interpretation. p.61. 82 Op. cit. p.614 76 18 Há uma variação significativa entre os verbos das duas cláusulas. O primeiro, rbEåvo é um verbo primitivo simples que significa quebrar e se encontra no qal particípio ativo [indica ação contínua], enquanto que na cláusula 5b [rBEïvy; >] o mesmo verbo está na forma intensiva [piel imperfeito consecutivo], intensificando a natureza da destruição. Alexander, observando estes verbos afirma que “juntos indicam uma progressão, ou expressa a idéia de que Ele habitualmente quebra, ou tem quebrado os cedros do Líbano”. 83 E o uso destes verbos ajuda perceber que o salmista deseja demonstrar o caráter majestoso da voz de Iahweh. Nota-se também que o paralelismo sinonímico entre as cláusulas 5a 5b ~yzI+r"a] rbEåvo hw"hy>â lAqå !An*b'L.h; yzEïr>a;-ta, hw"©hy>÷ rBEïvy; >w: reforça esta intensidade, pois 5b especifica os cedros que o salmista tem em mente. Harmann destaca que a referência ao Líbano é interessante, por que marca os limites com o território cananita ao norte. Os cedros do Líbano são auto-conhecidos, e eles representam a força do próprio Líbano. Mas eles seriam quebrados pela voz majestosa do Senhor.84 A preferência do salmista pelos cedros do Líbano é devida sua altura e beleza, e por ser símbolo de orgulho e majestade, poder e força. E estes famosos, magníficos e fortes cedros do Líbano são despedaçados diante da voz de Iahweh. A majestade do Líbano se renderia à majestade de Iahweh. 3.2.1.4.4 A voz de Iahweh e os montes Líbano e o Siriom O outro lugar mencionado no salmo é o Siriom, i.e monte Hermon. Harmann argumenta que “Siriom” é usado basicamente como sinônimo de “Líbano”. 85 E Gaebelein, seguindo o mesmo raciocínio, acrescenta que os montes nas Escrituras são usados tipicamente como símbolos de governos humanos e a voz de Iahweh vêm destruindo todos os reinos humanos e todas outras formas de governos serão quebradas.86 Além disso, sabe-se que os montes são considerados moradas dos deuses,87 e Iahweh mostra, com isso, Sua soberania sobre os deuses cananeus. 83 Op. cit. 135 HARMAN, Arllan. Psalm : A mentor commentary. p.138 85 Op. cit. p. 138 86 Op. cit. p. 135 87 Cf. Sl 68.15ss 84 19 Quanto aos animais mencionados na comparação, é uma especificação retórica visando mostrar a vivacidade dos animais jovens e ao mesmo tempo, deixar claro os efeitos da poderosa voz de Iahweh. 3.2.2 A região sul de Canaã A segunda região descrita pelo salmista é a região sul de Canaã, destacando o deserto de Cades. Desta forma, o salmista apresenta duas regiões contrastantes quanto ao clima e vegetação. Contudo, ambas possuem um propósito e significado teológico importante dentro do salmo. 3.2.2.1. Localização: deserto de Cades Os principais desertos de Canaã situam ao Sul e ao oriente. Ao sul, “os desertos de Sur, Sinai, Parã, Zin, Berseba e Cades formam um, e o mesmo deserto; um colossal deserto, com nomes distintos, apenas para descrever e localizar regiões”.88 Tognini argumenta sobre a possibilidade de Cades e Zim formar, junto com Padã Arã, uma só região.89 Cades tem sua localização no noroeste da penísula do Sinai. 3.2.2.2 Clima e vegetação A região sul de Canaã é desértica, começando com o sul do Neguebe e indo em direção mais ao sul, chamada zona saaro-sindiana, que compreende a área subtropical árida incluindo os desertos da Arábia e do Saara. Robertson destaca que “apenas 5 a 15 cm de chuva cai nestas áreas áridas a cada ano, e qualquer lavoura que exista depende totalmente de irrigação”.90 88 TOGNINI, Enéias. Op cit. p.125. Op. cit. p.16 cf. tb. Nm 13.26; 27.14; 33.36 90 Op. cit. p. 67 89 20 Quanto à vegetação, a região é de vegetação pobre, com raríssimas áreas cobertas de algum tipo de plantas e a maior parte da área é totalmente desértica. 3.2.2.3 Importância histórica A região do deserto de Cades está também estreitamente ligada com a história israelita. O primeiro relado da região foi quando Quedorlaomer e seus aliados marcharam pra o sul e chegaram a em Mispate i.e. Cades subjugando os amalequitas.91 Israel permaneceu na região de Cades, nas extremidades do deserto de Parã e Zim, por mais vezes, e foi desse local que os espias foram enviados por Moisés para ver a terra,92 e foi nesta região desértica que o povo por desprezar a promessa de Deus, foi condenado à morrer no deserto.93 Foi a região onde Miriã foi sepultada,94 e em seguida, ainda estando em Cades, Moisés manda pedir permissão para passar pelo território edomita mas o rei de Edom não permitiu.95 Estes são algumas das principais referências a Cades. 3.2.2.4 Entendendo o texto: a voz de Iahweh e o deserto de Cades O deserto de Cades era uma parte dos desertos que Israel passou, em sua jornada rumo a Canaã 96 e a voz de Iahweh é tão potente que faz tremer o deserto de Cades. O verbo lyxiäy" que é usado duas vezes nas cláusulas 8ab, está na forma causativa [hifil imperfeito] e isto é significativo por que indica intencionalidade. Havendo Iahweh demonstrado seu poder sobre os montes na região norte de Canaã [Líbano e Siriom], Ele agora faz conhecida Sua força sobre o deserto Cades, região sul. Considerando que na literatura hebraica usava termos extremos para indicar a totalidade, pode-se afirmar que o propósito do salmista, em mencionar as regiões norte e sul, é deixar visível esta extensão da majestade de Iahweh, ou até mesmo, afirmar que Sua voz é capaz de abalar toda terra. 91 Cf. Gn 14.5-9 Cf. Nm 13.26; 20.1; Dt 1.19, 46; Dt 1.2 93 Cf. Nm 14.32-35 94 Cf. Nm 20.1 95 Cf. Nm 20.14-21 96 Nm 13.26 92 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS O salmo finaliza regozijando o fato que o Senhor é o Rei eterno. Harmann acredita que pode ser uma referência à criação de gênesis 1, e à forma em que Iahweh reina sobre a criação.97 Iahweh, como Rei Soberano sobre toda a terra, abençoa a terra com sua paz. Tratase de uma conclusão reforçando o conhecimento de que Iahweh é o Senhor de todas as coisas no céu e na terra. Weiser acerca disso diz: “a esperança de paz sobre a terra, o qual é expressa no último verso, confia na majestade de Deus diante de Sua glória, a glória que treme da terra, atemoriza os homens e faz o poeta se curvar em adoração”.98 E para Alexander a aplicação de todo o salmo está neste verso.99 Quanto à expressão “abençoará seu povo com paz”, Calvino entende que “ainda que Deus exiba indiscriminadamente seu poder visível à vista do mundo inteiro, contudo ele exerce de maneira peculiar em favor de seu povo eleito”.100 Com isso, pode-se notar que todo o cenário geográfico usado pelo salmista aponta para a declaração de que Iahweh é o Soberano Rei eterno sobre toda a terra. Daí, fica clara a importância que se deve dar aos aspectos geográficos nos textos bíblicos. O leitor e o exegeta não podem, de forma alguma, ignorar a relevância do cenário geográfico das passagens bíblicas, pois elas possuem um significado fundamental para a interpretação do texto e para uma melhor compreensão da intenção do autor. 97 Op. cit. p.138 Op. cit. p.264-265 99 Op. cit. p. 136 100 Op. cit. p.621 98 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AGOSTINHO, Santo. Comentário de Salmos. São Paulo : Paulus, 1998. 2. AHARON, Yohanan. Atlas bíblico. São Paulo : CPAD, 1999. 3. ALEXANDER, Joseph A. Commentary on Psalms. Kregel Publications,1991. 4. Atlas Vida Nova da Bíblia e da história do Cristianismo. São Paulo : Vida Nova, 1997. 5. BARRÉ, Lloyd M. Short Notes: recovering the literary structure of psalm XV. Vetus ......testamentum 34 no 2 Ap 1984. 6. BDB Hebrew Lexicon. 7. BEROWNE, J. J. Stewart. Commentary on the Psalms. kregel publications, 1989. 8. BERRETT, Lamar C. 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Não-verbal piel hifil ms particípio qal 3ms imperfeito hifil 3ms imperfeito hifil 3ms imperfeito Polel 3ms imperfeito qal ms particípio qal 3ms b a Não - verbal perfeito 1 dwIïd"ñl. rAmªz>mi ~ylia_ e ynEåB. hw"hyl;⥠Wbåh'1 z[o)w" dAbïK' hw"©hyl;÷ Wbåh'1 Am+v. dAbåK. hw"hyl;â( Wbåh'2 dv,qo)-tr:d>h;B. hw"©hyl;÷ Wwðx]T;v.hi2 ~yIM"ïh;ñ-l[; hw"©hy> lAqï 3 ~y[i_r>hi dAbïK'h;-lae( 3 `~yBi(r: ~yIm:ï-l[; hw"©hy>÷ 3 x:Ko+B; hw"ïhy>-lAq 4 `rd")h'B, hw"©hy>÷ lAqï 4 ~yzI+r"a] rbEvå o hw"hy>â lAqå 5 `!An*bL' .h; yzEïr>a;-ta, hw"©hy>÷ rBEïv;y>w: 5 !Anðbl' . lg<[E+-AmK. ~dEîyqir>Y:w: 6 `~ymi(aer>-!b, AmåK. !yO©r>fwi >÷ 6 `vae( tAbïh]l; bceªxo hw"ïhy>-lAq 7 rB"+d>mi lyxiäy" hw"hy>â lAqå 8 `vdE(q' rB:ïd>mi hw"©hy>÷ lyxiîy" 8 étAlY"a; lleAä xy> hw"“hy> lAqÜ 9 tArï['ñy> @foöx/Y<w:) 9 `dAb)K' rmEïao ALªKu÷ Al+ky' hebW. 9 bv'_y" lWBåM;l; hw"hy>â 10 `~l'(A[l. %l,m,ä hw"©hy>÷ bv,YEïw: 10 !TE+yI AMæ[;l. z[oß hw"©hy>) 11 `~Al)V'b; AMå[;-ta, %rEßb'y> hw"¦hy> 11 a Não-verbal 3ms Cláusulas a b a b 3ms perf qal 3ms qal 3ms Imperfeito Consec. Imperfeito 3ms imperfeito piel qal a b a b c a b a b 26 APÊNDICE 02 PGN Assunto Receptor 3ms Autoria do salmo Ordem p.louvar Glória e força Glória ao nome de Ia Adoração Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos Filhos dos poderosos 2mpl 2mpl 2mpl 2mpl 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3ms 3mpl 3ms 3ms 3ms 3ms A voz e águas Iah faz trovejar Muitas águas Voz ponderosa Voz majestaosa Voz e cedros Voz e cedros Líbano e o bezerro Siriom e bois Voz e fogo Voz e o deserto Voz e Cades Voz e corças Voz e os bosques Templo e glória Iahweh e dilúvio Iahweh é Rei eterno Força, povo Bênção e paz de Iah Emissor Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Salmista Cláusulas 1 dwIïd"ñl. rAmªz>mi ~ylia_ e ynEåB. hw"hyl;⥠Wbåh'1 z[o)w" dAbïK' hw"©hyl;÷ Wbåh'1 Am+v. dAbåK. hw"hyl;â( Wbåh'2 dv,qo)-tr:d>h;B. hw"©hyl;÷ Wwðx]T;v.hi2 ~yIM"ïh-;ñ l[; hw"©hy> lAqï 3 ~y[i_r>hi dAbïK’h-; lae( 3 `~yBi(r: ~yIm:ï-l[; hw”©hy>÷ 3 x:Ko+B; hw"ïhy>-lAq 4 `rd")h'B, hw"©hy>÷ lAqï 4 ~yzI+r"a] rbEvå o hw"hy>â lAqå 5 !An*bL' .h; yzEïr>a;-ta, hw"©hy>÷ rBEïv;y>w: 5 !Anðbl' . lg<[E+-AmK. ~dEîyqir>Y:w: 6 `~ymi(aer>-!b, AmåK. !yO©r>fwi >÷ 6 `vae( tAbïh]l; bceªxo hw"ïhy>-lAq 7 rB"+d>mi lyxiäy" hw"hy>â lAqå 8 `vdE(q' rB:ïd>mi hw"©hy>÷ lyxiîy" 8 étAlY"a; lleAä xy> hw"“hy> lAqÜ 9 tArï['ñy> @foöx/Y<w:) 9 `dAb)K' rmEïao ALªKu÷ Al+k'yheb.W 9 bv'_y" lWBåM;l; hw"hy>â 10 `~l'(A[l. %l,m,ä hw"©hy>÷ bv,YEïw: 10 !TE+yI AMæ[;l. z[oß hw"©hy>) 11 `~Al)V'b; AMå[;-ta, %rEßb'y> hw"¦hy> 11 a b c a b a b c a b a b a b a b a b c a b a b 27 ANEXO 03 Wbïh' ~yli_ae ynEåB. hw"hyl;⥠Wbåh' dwIïd"ñl. rAmªz>mi WTT Psalm 29:1 `z[o)w" dAbïK' hw"©hyl;÷ LXT Psalm 28:1 yalmo.j tw/| Dauid evxodi,ou skhnh/j evne,gkate tw/| kuri,w| evne,gkate tw/| kuri,w| ui`ou.j kriw/n evne,gkate tw/| kuri,w| do,xan kai. timh,n ui`oi. qeou/ VUL Psalm 28:1 psalmus David in consummatione tabernaculi adferte Domino filii Dei adferte Domino filios arietum 2 adferte Domino gloriam et honorem adferte Domino gloriam nomini eius adorate Dominum in atrio sancto eius ACF Psalm 29:1 DAI ao SENHOR, ó filhos dos poderosos, dai ao SENHOR glória e força. ARA Psalm 29:1 Salmo de Davi Tributai ao SENHOR, filhos de Deus, tributai ao SENHOR glória e força. ARC Psalm 29:1 Salmo de Davi Dai ao SENHOR, ó filhos dos poderosos, dai ao SENHOR glória e força. hw"©hyl;÷ Wwðx]Tv; .hi Am+v. dAbåK. hw"hyl;â( Wbåh' WTT Psalm 29:2 `vd<qo-) tr:d>h;B. LXT Psalm 28:2 evne,gkate tw/| kuri,w| do,xan ovno,mati auvtou/ proskunh,sate tw/| kuri,w| evn auvlh/| a`gi,a| auvtou/ VUL Psalm 28:2 adferte Domino gloriam et honorem adferte Domino gloriam nomini eius adorate Dominum in atrio sancto eius ACF Psalm 29:2 Dai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na beleza da santidade. ARA Psalm 29:2 Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na beleza da santidade. ARC Psalm 29:2 Dai ao SENHOR a glória devida ao seu nome; adorai o SENHOR na beleza da sua santidade. 28 primeiro trovão hw"©hy>÷ ~y[ir_ >hi dAbïK'h;-lae( ~yIM"ïh;ñ-l[; hw"©hy> lAqï WTT Psalm 29:3 `~yBi(r: ~yIm-:ï l[; LXT Psalm 28:3 fwnh. kuri,ou evpi. tw/n u`da,twn o` qeo.j th/j do,xhj evbro,nthsen ku,rioj evpi. u`da,twn pollw/n VUL Psalm 28:3 vox Domini super aquas Deus maiestatis intonuit Dominus super aquas multas ACF Psalm 29:3 A voz do SENHOR ouve-se sobre as suas águas; o Deus da glória troveja; o SENHOR está sobre as muitas águas. ARA Psalm 29:3 Ouve-se a voz do SENHOR sobre as águas; troveja o Deus da glória; o SENHOR está sobre as muitas águas. ARC Psalm 29:3 A voz do SENHOR ouve-se sobre as águas; o Deus da glória troveja; o SENHOR está sobre as muitas águas. terceiro trovão `rd")h'B, segundo trovão hw"hy>â lAqå x:KBo+ ; hw"ïhy>-lAq WTT Psalm 29:4 LXT Psalm 28:4 fwnh. kuri,ou evn ivscu,i fwnh. kuri,ou evn megaloprepei,a| VUL Psalm 28:4 vox Domini in virtute vox Domini in magnificentia ACF Psalm 29:4 A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade. ARA Psalm 29:4 A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade. ARC Psalm 29:4 A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade. quarto trovão `!An*b'L.h; yzEïr>a;-ta, hw"©hy>÷ rBEïvy; >w: ~yzI+r"a] rbEåvo hw"hy>â lAqå WTT Psalm 29:5 LXT Psalm 28:5 fwnh. kuri,ou suntri,bontoj ke,drouj kai. suntri,yei ku,rioj ta.j ke,drouj tou/ Liba,nou VUL Psalm 28:5 vox Domini confringentis cedros et confringet Dominus cedros Libani ACF Psalm 29:5 A voz do SENHOR quebra os cedros; sim, o SENHOR quebra os cedros do Líbano. 29 ARA Psalm 29:5 A voz do SENHOR quebra os cedros; sim, o SENHOR despedaça os cedros do Líbano. ARC Psalm 29:5 A voz do SENHOR quebra os cedros; sim, o SENHOR quebra os cedros do Líbano. `~ymi(aer>-!b, AmåK. !yO©r>fiw÷> !Anðb'l. lg<[E+-AmK. ~dEyî qir>Yw: : WTT Psalm 29:6 LXT Psalm 28:6 kai. leptunei/ auvta.j w`j to.n mo,scon to.n Li,banon kai. o` hvgaphme,noj w`j ui`o.j monokerw,twn VUL Psalm 28:6 et comminuet eas tamquam vitulum Libani et dilectus quemadmodum filius unicornium ACF Psalm 29:6 Ele os faz saltar como um bezerro; ao Líbano e Siriom, como filhotes de bois selvagens. ARA Psalm 29:6 Ele os faz saltar como um bezerro; o Líbano e o Siriom, como bois selvagens. ARC Psalm 29:6 Ele os faz saltar como a um bezerro; ao Líbano e Siriom, como novos unicórnios. quinto trovão `vae( tAbïh]l; bceªxo hw"hy>â lAqå LXT Psalm 28:7 fwnh. kuri,ou diako,ptontoj flo,ga puro,j VUL Psalm 28:7 vox Domini intercidentis flammam ignis ACF Psalm 29:7 A voz do SENHOR separa as labaredas do fogo. ARA Psalm 29:7 A voz do SENHOR despede chamas de fogo. ARC Psalm 29:7 A voz do SENHOR separa as labaredas do fogo. WTT Psalm 29:7 WTT Psalm 29:8 sexto trovão `vdE(q' rB:ïd>mi hw"©hy>÷ lyxiîy" rB"+d>mi lyxiäy" hw"hy>â lAqå LXT Psalm 28:8 fwnh. kuri,ou sussei,ontoj e;rhmon kai. sussei,sei ku,rioj th.n e;rhmon Kadhj VUL Psalm 28:8 vox Domini concutientis desertum et commovebit Dominus desertum Cades ACF Psalm 29:8 A voz do SENHOR faz tremer o deserto; o SENHOR faz tremer o deserto de Cades. 30 ARA Psalm 29:8 A voz do SENHOR faz tremer o deserto; o SENHOR faz tremer o deserto de Cades. ARC Psalm 29:8 A voz do SENHOR faz tremer o deserto; o SENHOR faz tremer o deserto de Cades. sétimo trovão tArï[ñy' > @foöx/Yw< :) étAlY"a; lleäAxy> hw"hy>â lAqå WTT Psalm 29:9 `dAb)K' rmEaï o ALªKu÷ Al+k'yheb.W LXT Psalm 28:9 fwnh. kuri,ou katartizome,nou evla,fouj kai. avpokalu,yei drumou,j kai. evn tw/| naw/| auvtou/ pa/j tij le,gei do,xan VUL Psalm 28:9 vox Domini praeparantis cervos et revelabit condensa et in templo eius omnis dicet gloriam ACF Psalm 29:9 A voz do SENHOR faz parir as cervas, e descobre as brenhas; e no seu templo cada um fala da sua glória. ARA Psalm 29:9 A voz do SENHOR faz dar cria às corças e desnuda os bosques; e no seu templo tudo diz: Glória! ARC Psalm 29:9 A voz do SENHOR faz parir as cervas e desnuda as brenhas. E no seu templo cada um diz: Glória! `~l'(A[l. %l,mä, hw"©hy>÷ bv,YEïw: bv'y_ " lWBåM;l; hw"hy>â WTT Psalm 29:10 LXT Psalm 28:10 ku,rioj to.n kataklusmo.n katoikiei/ kai. kaqi,etai ku,rioj basileu.j eivj to.n aivwn/ a VUL Psalm 28:10 Dominus diluvium inhabitare facit et sedebit Dominus rex in aeternum ACF Psalm 29:10 O SENHOR se assentou sobre o dilúvio; o SENHOR se assenta como Rei, perpetuamente. ARA Psalm 29:10 O SENHOR preside aos dilúvios; como rei, o SENHOR presidirá para sempre. ARC Psalm 29:10 O SENHOR se assentou sobre o dilúvio; o SENHOR se assenta como Rei perpetuamente. 31 `~Al)V'b;AMå[;-ta, %rEßby' > hw"h¦ y> !TE+yI AMæ[;l. z[oß hw"©hy>) WTT Psalm 29:11 LXT Psalm 28:11 ku,rioj ivscu.n tw/| law/| auvtou/ dw,sei ku,rioj euvlogh,sei to.n lao.n auvtou/ evn eivrh,nh| VUL Psalm 28:11 Dominus virtutem populo suo dabit Dominus benedicet populo suo in pace ACF Psalm 29:11 O SENHOR dará força ao seu povo; o SENHOR abençoará o seu povo com paz. ARA Psalm 29:11 O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR abençoa com paz ao seu povo. ARC Psalm 29:11 O SENHOR dará força ao seu povo; o SENHOR abençoará o seu povo com paz. 32