Se o Líbano perecer?
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Se o Líbano perecer?
Site: http://www.smaronidade.com.br E-mail: [email protected] Telefone: (11) 2440-7374 Se o Líbano perecer? Se imolarem o Líbano, haverão de se arrepender. Os que alvejam com suas metralhadores o Líbano com a intenção de destruí-lo, tiveram por acaso um momento de lucidez para fazerem a si mesmos a seguinte pergunta: Se o Líbano perecer, a quem beneficiará sacrificá-lo? Restaram-lhes, por acaso, lampejos de razão quando cravaram os seus punhais na carne do Líbano mártir, enchendo suas taças com seu sangue inocente, para indagar sobre o seguinte: Se deceparem os cedros do Líbano, onde irão buscar uma sombra amiga? Se queimarem os seus trigais onde irão se alimentar? Se secarem as suas fontes, onde irão desalterar a sua sede? Se o sol do Líbano se eclipsar, e as suas estrelas se apagarem, como irão enxergar? Se a sua atmosfera se envenenar e ele se asfixiar, como irão respirar? Sabemos que cada crime traz no seu cometimento a sua pretensa justificação de ordem moral, social ou hereditária, exceto o crime de “matar” o Líbano. Pois este é o único crime que anarquistas, mercenários ou loucos podem cometer Barbara e injustificadamente. Não se pode justificar a sádica matança de pássaros e borboletas. (...) O Líbano nos deu tanto bem estar e segurança e nós o deixamos em pânico. Ele nos abriga e nós o deixamos perdido num vendaval de ódio. Ele nos batizou com a água do amor e nós o jogamos no poço da amargura. Ele nos ensinou a cantar os Salmos e nós o brindamos com o pipoquear das metralhadoras. Ele nos presenteou a Poesia, a rosa e o jasmim e nós o obsequiamos com cargas de dinamite. Ele semeou os nossos caminhos com uvas, figos e cerejas, e nós semeamos as suas verdes com pedras, pregos e fogueiras de pneumáticos. O mar de Beirut , coitado, é muito invejado pelo azul de suas águas. O azul é a cor da liberdade. Por isso, o céu é azul, azul é o Oceano, azul é a Poesia, azul é o caminho da esperança. É por isso que o mar de Beirute paga um tributo muito caro– o mesmo fato acontece em Biblos, Junieh, Sidon, Tiro e no Aozai – pelo azul celeste de suas águas. As gaivotas do mar, as ondas e os peixes pagam a mesma taxa exorbitante que pagam, unicamente como tributo por sua liberdade. Será que isto significa que a liberdade na sua essência é completamente trágica? Em outras palavras, será que a liberdade e a tragédia são ramos da mesma arvore? O fato é que o que sucede ao Líbano hoje, não lhe advém do desfrutar de sua liberdade, mas do excesso de liberdade nele reinante. Todos vos como eu próprio, necessitamos do Líbano, pois se o Líbano não existisse, como um diadema de esmeraldas cingindo a cabeça do Oriente, precisaríamos criá-lo. Pois o Líbano é a reserva espiritual que nos restou, é a nossa ultima reserva ouro, que precisamos guardar avaramente para os momentos de penúria.. Pois eu vos alerto – se este patrimônio for destruído, muito ireis chorar e ireis vos arrepender. Nizar Kabbani (traduzido do árabe) ( O autor foi um grande poeta sírio. Escreveu esse artigo durante a época da guerra do Líbano (1975-1990). Ele faleceu em Londres , depois do fim daquela guerra). ® Todos os direitos reservados.