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As irmãs Conceição (a dir.) e Celeida levam a tradição da costura e do bordado há duas gerações
QUEM FAZ HISTÓRIA | Na Associação de Bom
Sucesso, 47 anos separam a integrante mais jovem
da mais idosa do grupo. Conceição Almeida Silva,
professora aposentada, tem 82 anos. Sua energia e
vitalidade contagiam a todos. Apaixonada pelo artesanato, ela conta que sua mãe era costureira, o
que a despertou cedo para a costura e o bordado.
Mas, há alguns anos, parou o trabalho por um problema oftalmológico, não podia mais forçar a visão. “Por isso, entrei na Associação e faço flores de
chitão com a minha irmã.”
A irmã é Celeida Almeida Moraes, professora
aposentada e diretora da Associação de Pais e Amigos do Excepcional (Apae) de Bom Sucesso. Ela é
a idealizadora da entidade e foi a articuladora das
reuniões iniciais. Junto com Conceição, é expert
em flores e revela o segredo dessa arte complexa e
delicada. “A flor de tecido é engomada com polvilho para ficar durinha. Riscamos e cortamos as pétalas uma a uma. Depois, frisamos e montamos na
haste de bambu.” As próprias irmãs fazem o corte
do bambu, que, segundo ela, deve ser na “lua certa”. O miolo do tecido é contornado com sisal. Para
fazer uma única flor, é necessário mais de um dia.
A artesã Edna de Lourdes Resende Monteiro completa a linha de flores e utiliza os retalhos para fazer cravinhos e flores em botão. “Temos consciên8 PASSO A PASSO ABRIL / MAIO 2013
cia de que os nossos produtos não são essenciais.
O nosso artesanato é, acima de tudo, apreciação e
sentimento”, declara Celeida Moraes.
Outra artesã, Maria Léa Alves Lopes, é professora aposentada, assim como suas colegas de trabalho. Foi lecionando no antigo primário que
aprendeu a fazer embalagens, cartazes e lembrancinhas para utilização nas datas comemorativas. Para ela, a Associação se resume a amizade.
“A nossa integração, a alegria e o carinho são
transmitidos em cada peça, e quem compra sempre tem uma boa impressão da gente”, acredita.
A costureira Francisca Maria Oliveira também
se encontrou no grupo. “Tinha loucura por tecido,
linha e agulha. Aos poucos, isso se tornou meu
ofício.” De natureza mais retraída, a artesã enfatiza que, com as colegas, consegue se comunicar
melhor. “Trabalho por prazer e amor, que são
muito mais importantes que qualquer dinheiro.”
BERÇO DE MINAS | Instalada numa escola desativada, a Associação de Artesãos de Ibituruna
dá vida a um lugar aparentemente abandonado.
Dez artesãs se encontram diariamente para dar
vazão a seus talentos. São colchas, centros de mesa, pesos de porta e até itens mais modernos, como capas para notebook, tablets e iphones. Tudo
muito primoroso e bem-feito, agradando aos
mais exigentes consumidores.
A história do grupo começou em 2007, quando
a Prefeitura Municipal teve a iniciativa de estimular o artesanato local e contratou uma professora
para ensinar os interessados. Ainda naquele ano,
a Secretaria Municipal de Cultura viu a necessidade de contatar o Sebrae Minas, que aplicou o
programa Sebrae de Artesanato e permitiu que
houvesse uma ampliação de horizontes. “No começo, eram 40 pessoas, entre homens e mulheres. Essas ficariam a cargo do artesanato. Os homens se dedicariam à confecção de móveis em
madeira de café. Mas o tempo passou, e somente
o trabalho das artesãs permaneceu”, relembra Isabel Cristina de Andrade Coelho, mais conhecida
como Bebel, artesã e professora aposentada.
A consultoria do Sebrae Minas continuou e,
entre 2008 e 2009, houve o apoio de uma designer para a consolidação da identidade da Associação. Foi detectado que a população de menor
renda fazia peças com restos de pano, remendando-os. O chitão era muito utilizado por ser mais
barato que os outros tecidos. “Pensamos: por que
não unir a técnica do patchwork com o chitão? Ficou decidido que esta seria a identidade, uma
costura de retalhos que liga e dá sentido às nossas
vidas”, explica Bebel. O nome Berço de Minas foi
uma homenagem à cidade.
Em 2010, houve a junção das Associações de
Artesãos de Bom Sucesso e Ibituruna. “Confesso
que demoramos a entender o que significaria a
união dos grupos. Mas essa parceria trouxe o chitão, definitivamente, para a nossa realidade. Podemos dizer que eles trabalham o chitão rebordado, e nós, o remendado”, esclarece a artesã.
Hoje, a entidade se dedica à produção e comercialização dos produtos em feiras. Das vendas, 50% do valor arrecadado vão para as artesãs
e 50% para compra de material. Há a cultura de
estocagem de produtos para não haver sobrecarga de trabalho em épocas de pico. A renda das
mulheres não é fixa, e o retorno financeiro aparece somente quando os eventos acontecem. Por
isso, a atividade é, para muitas, complementar. O
desejo da maioria delas, no entanto, é que, em
um futuro breve, possam viver somente do artesanato e ser autossustentáveis. “Sonhamos com
o fortalecimento e a consolidação do grupo, com
“Esta parceria (entre as Associações
de Artesãos de Bom Sucesso e
Ibituruna) trouxe o chitão,
definitivamente, para a nossa
realidade. Podemos dizer que
eles trabalham o chitão
rebordado, e nós, o remendado”
Isabel Cristina de Andrade
Coelho, artesã
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