Boletim de Março-Setembro de 2002
Transcrição
Boletim de Março-Setembro de 2002
N ú c l e o NEH M e Hi sitsótr ói ar i da ads a M Muul lhhe er re s d ed eE Es ts ut du od so sd ed H M a r ço/S et em b r o 200 2 An o I / n º1 / S em es t r a l S u m ário E d ito ria l A p resen ta çã o N E H M E stu d o s “ A P ro d u çã o d a m em ó ria e d o esq u ecim en to ” p o r E sth er B a sile S ilh u eta P ú b lia H o rtên sia d e C a stro p o r A n tó n ia F ia lh o C o n d e R ecen sã o C rític a “ L eo n o r P im en tel- A p o rtu g u esa d e N á p o les” p o r M a rília E . S o ta F a v in h a R ecen sã o C rític a “ L a fig u ra fem in in a em lo s n a rra d o res testig o s d e la C o n q u ista ” p o r E lia n e G ra cin d o d e S á A ssin a tu r a d e P ú b lia H or tê n cia d e C astr o É v o ra 2 7 d e N o ve m b r o d e 1 5 77 C iclo d e C o n ferên cia s H istó ria e H isto rio g ra fia d a M u lh e r Públia Hortênsia de Castro, ou Públia Lusitana, no dizer de Carolina Michaëlis o rg an iza ção N E H M de Vasconcelos, nasceu em Vila Viçosa em 1548, tendo morrido em Évora, C on cepção G ráfica: Vitor C a stro cidade onde passou parte da sua vida, em 1595. Era filha de Tomás de Castro, In fo rm a çã o “ E stu d o s d e M u lh e r n o s E .U .A ” p o r J o sep h A b ra h a m L ev i parente do Arcebispo de Évora da altura, D. João de Mello. Duvida-se que o seu nome seja o baptismal, o que a tornaria única entre as mulheres de Quinhentos; foi, porém, aquele que ficou para a História, latinizado e ao gosto humanista, de acordo com o contexto epocal. Para J.B. Venturino, que B ilio g r a fia R ec o m e n d a d a S ites In tern et R ela cio n a d o s descreveu a recepção em Vila Viçosa da embaixada do cardeal Alexandrino, Legado do Papa, em 1571, terá sido antes um cognome, atribuído em virtude dos seus conhecimentos literários e dotes de oradora. pág.10 Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.2 EDITORIAL O Núcleo de Estudos de História da Mulher (NEHM) foi criado no ano de 2001 vindo preencher uma lacuna até aí existente na Universidade de Évora. A História da Mulher está integrada nos Gender Studies, e é hoje uma área comum em qualquer universidade Europeia ou Americana, encontrando-se em constante crescimento desde os anos setenta. A opção pela História foi marcada pela própria formação dos seus membros fundadores. O Núcleo, ainda em fase de instalação no CIDEHUS, pretende desenvolver campos de investigação que possam aliciar a colaboração interna e externa de outros investigadores, ligados ou não ao meio universitário, bem como conseguir a participação de alunos de licenciaturas afins em trabalhos e projectos devidamente acompanhados que lhes possibilite, a um tempo, a integração num grupo de trabalho, bem como a iniciação à investigação, prática tão necessária de reconhecido potencial pedagógico. “ Só quem tem verdadeiramente o gosto de moldar mentes e caracteres, de formar gente viva e de qualidade (quase que diria, um espírito de Pigmalião), é que merece a distinção de ser um universitário. E também de ter a satisfação indiscritível que é a de sentir que há alguns que nos ficam a olhar por toda a vida como o seu mestre e um segundo pai formador.” In, João Vasconcelos e Costa, A Universidade no seu Labirinto, Ed. Caminho, Lisboa, 2001, p. 45 Assim é, de facto. Por isso um dos dois vectores de interesse deste grupo de trabalho é, justamente, a mobilização de jovens potenciais investigadores, fazendo esse recrutamento no meio dos nossos alunos. Outro vector de interesse será o estabelecimento de contactos com grupos de investigação análoga em Portugal e no estrangeiro, de forma a criar eventuais projectos em rede consagrados através de protocolos versáteis e de mútuo interesse. A primeira actividade do NEHM concretizou-se com o lançamento do livro Leonor da Fonseca Pimentel – A Portuguesa de Nápoles, Ed. Livros Horizonte, Lisboa, 2000, realizado a 8 de Novembro de 2001 no auditório da sala 131 da Universidade de Évora. O ano de 2002 será marcado por um Ciclo de Conferências que se estenderá ao longo do segundo semestre, aberto a toda a comunidade. As temáticas das conferências versarão sobre a situação da História da Mulher nas várias culturas e religiões. Pretende-se, igualmente, promover uma conferência de âmbito internacional que possibilite a visualização do estado da questão da historiografia da especialidade. O Boletim, que agora se publica, terá uma periodicidade semestral, com rubricas fixas, tais como artigos de fundo dos investigadores do núcleo e / ou pedidos a estudiosos que estejam a desenvolver investigações nesta área, recenções críticas, notícias e páginas da net, com interesse para o tema . Terá também uma rubrica de História Local, denominada “Silhueta”, onde se fará uma pequena biografia de uma mulher que se tenha destacado no plano cultural, político ou social alentejano. As conferências proferidas no âmbito das actividades do NEHM serão também publicadas no Boletim do NEHM. As actividades e mais informações sobre o NEHM, projectos, membros, notícias, etc., estarão disponíveis na página www.cidehus.uevora.pt/indexnh.htm. As coordenadoras Maria de Deus Manso Sara Marques Pereira Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.3 Artigo de fundo A Produção da memória e do esquecimento por Esther Basile tradução Elsa Rita dos Santos continuação pág. seguinte 1) Os estudiosos fazem uma distinção entre memória e esquecimento e consideram a recordação, ou melhor as recordações, um património individual e individualmente diferenciado, sublinhando, simultaneamente, o carácter colectivo da memória. Todavia, uma conexão profunda liga as recordações individuais e a memória colectiva: esta última constitui a estrutura, ou se se quiser, a metanarração no interior e em relação à qual as recordações pessoais se organizam e se desenvolvem (Cavicchia 1996). A organização social do tempo, pública, oficial e coercitiva, no sentido em que não é nos permitido prescindir totalmente dela, organiza as nossas recordações, na medida em que organiza as nossas vidas. Nem sempre os tempos pessoais e os oficiais coincidem: pense-se na não coincidência entre o fim-de-ano do calendário e os diversos fins-de-ano que cada um de nós experienciou, ou nos desfasamentos entre os ciclos da vida fixados por lei baseados em recenseamentos e os das nossas vidas individuais. E, contudo, por muito que o tempo oficial (e, portanto, a memória oficial) nos possa parecer incongruente em relação a etapas significativas da nossa vivência, nenhum de nós se pode excluir desse sistema. Pelo contrário, é exactamente por o termos interiorizado e de através dele conseguirmos dar uma estrutura às nossas recordações que podemos comunicar e participar, que não ficamos fora da rede das relações sociais. Em troca, evidentemente, de um certo grau de conformação, de perda de originalidade, não tanto das nossas recordações individuais, quanto da sua organização numa sequência dotada de um sentido partilhado e partilhável pelos outros. Decididamente todos nós pensamos o passado nos termos em que o “pensa” a cultura a que pertencemos. Convém sublinhar um outro ponto. Este processo de organização da memória colectiva não é neutro, mecânico, impessoal. A memória colectiva de um grupo, de um povo, de uma civilização, não é produzida por force des choses; é um produto humano, fruto das relações entre seres humanos. Mesmo com diferentes graduações e implicações, todos os estudiosos, de Halbwachs a Croce, a Hobsbawm concordam que a história se escreve sempre para o presente: a história é uma reconstrução do passado orientada e selectiva que serve para dar sentido ao nosso presente. Mas há mais. A velha fórmula segundo a qual a história é escrita pelos vencedores, é sem dúvida banalizadora e simplificadora, mas contém um fundo de verdade. Não se trata de contrapor, ideológica e esquematicamente, vencedores e vencidos, opressores e oprimidos: o facto é que os vencedores, exactamente porque são vencedores, controlam os instrumentos culturais e sociais, necessários para elaborar e impôr o seu ponto de vista (Bourdieu 1992), para transformar o sentido que o mundo tem para eles em sentido do mundo. Faz parte integrante da vitória reestruturar a memória colectiva à sua imagem e semelhança e é também uma espécie de “necessidade” que a gestão da vitória impõe. Naturalmente, como todos sabemos, esquecer, olvidar, apagar são parte integrante do processo de construção da memória, pelo menos quanto o é a sua parte, digamos, positiva: a narração, a ilustração, a valorização. Parece indubitável que o esquecimento seja funcional à recordação, no sentido em que se recorda alguma coisa na condição de se esquecerem muitas outras. Mas mesmo no caso do esquecimento o processo não é simples, linear, mecânico: também o esquecimento, como a memória, é um produto social. O peso das relações de poder é reconhecível quando tentamos reconstruir o mapa do que esquecemos e não é menos evidente do que na estrutura e nos conteúdos do que recordamos. E, todavia, reconhecer que memória e esquecimento, enquanto produtos sociais, trazem incorporados na sua estrutura as relações de poder que presidiram à sua construção, não significa atribuir-lhes necessariamente uma espécie de coerência total, de estrutura monolítica. Incongruências, contradições, vazios e, nos casos mais felizes, contrapropostas para a construção de uma memória “outra” assinalam ao observador atento os condicionalismos que a presença dos vencidos exerce sobre a construção da memória dos vencedores. No quadro destas considerações sumárias, a revolução napolitana de 1799 parece ser um caso de particular complexidade. É como se esta constituísse uma matéria desconcertante, difícil de tratar, escaldante seja quando se quer construir a memória seja quando se quer afundar em esquecimento. Esta dificuldade de elaboração manifesta-se desde logo no caso do Saggio de Vincenzo Cuoco. Caso singular de história escrita por um vencido e de imediato “revisionada” por ele próprio. O texto de Cuoco funda, por assim dizer, uma construção de sentido no interior da qual a revolução de ’99 permanece um acontecimento ambíguo, com valências múltiplas e contraditórias que a retórica oficial nunca inseriu completamente no cânon dos factos gloriosos da história pátria e nem sequer alguma vez condenou como facto Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.4 vergonhoso, como episódio infausto para “resgatar” à luz de outras e mais dignas prestações. Acontece como se sobre a revolução, sobre os seus méritos e os seus excessos, sobre a sua modernidade e o seu carácter utópico, sobre o concretismo terrível das consequências da sua pretensa abstração persistissem cones de luz, couches ainda não completamente exploradas, factos que não foram objecto de uma elaboração integral, de uma superação total de valores. Certamente que esta minha consideração não pretende ignorar os estudos e as obras de arte que inteligências e talentos eminentes dedicaram à revolução, nem o empenho de Gerardo Marotta que, com a dedicação pessoal de uma vida, manteve vivo em Nápoles o interesse pela revolução e formou a formidável biblioteca que todos conhecemos; enfim, não é uma hipótese radical como, por exemplo, a tese da Macciocchi (1993). Mas devo admitir que, por fim, me parece que a tese do sacrifício generoso de um punhado de heróis, aristocratas e intelectuais, tão inteligentes e corajosos quanto irresponsavelmente desconhecedores das condições reais em que agiam, enfim, a tese de Cuoco segundo a qual «o próprio excesso de Luzes que superava a experiência da idade, levava-os a crer fácil o que realmente era impossível para o estado em que o populacho se encontrava» (Cuoco 1966; 45), na maioria dos casos acaba por ser considerada a mais adequada ao relato dos factos. Pelo contrário, existe quem não a considere adequada (Ricci 1990); e é precisamente a este filão de investigações que quero dar um contributo enquanto antropóloga, reflectindo sobre algumas características da revolução que na memória que o senso comum tem dela raramente são discutidos, se é que não são completamente removidos. Avanço a hipótese de que sejam, sobretudo, dois os aspectos “obscurados” da revolução: do lado dos revolucionários ou, pelo menos, de alguns eminentes entre eles, a coerência radical de enunciados e de comportamentos que reivindicam o próprio conteúdo racional como valor; no lado oposto, os extremos de violência cega da repressão totalmente irracional. Em certo sentido, poder-se-ia dizer que são exactamente os dois factores explicativos propostos por Cuoco e que tantos históricos depois dele adoptaram, “o excesso de Luzes” e “o estado do populacho”, a serem utilizados redutivamente para explicar - só até certo ponto - “como foi que as coisas aconteceram”. Daí em diante, segue-se o silêncio, a remoção mais do que o esquecimento. Gostaria de ir um pouco mais além, de reconstruir como objecto de reflexão e de análise o que me parece silenciado e removido. Vou circunscrever esta minha tentativa ambiciosa a algumas reflexões sobre a relação entre racionalidade e comportamento no fim de Leonor da Fonseca Pimentel; e a algumas outras sobre manifestações mais extremas do “estado do populacho”, sobre aquele canibalismo praticado pelo menos durante os dias de Julho e Agosto de 1799 em que se concentrou a maior parte da execuções na praça Mercato. 2) Leonor da Fonseca Pimentel não é a primeira mulher em Itália e mesmo na Europa a ser justiçada. Mas é a primeira, ou pelo menos das primeiras juntamente com algumas francesas suas contemporâneas, a ser justiçada pelas suas ideias políticas e, sobretudo, pela sua praxis política. E nisto existe um elemento de enorme novidade. A tradição consolidada queria que as mulheres, por serem mulheres, fossem justiçadas não porque agiam, faziam, cometiam delitos, mas porque eram movidas pelas forças do mal, constrangidas por estas a cometer acções malvadas. As bruxas eram possuídas pelo Demónio, para as libertar desse estado de possessas não bastava nem a confissão nem o arrependimento (actos extorquidos pelos inquisidores que queriam fossem considerados voluntários e conscientes), mas somente a destruição física do objecto possuído, mais precisamente do objecto-mulher. E isto era válido ainda para a mulher europeia do século XVII. Nas primeiras décadas do século seguinte, no que diz respeito à bruxa queimada na fogueira, Moll Flanders e as outras como ela assinalam um progresso importante no imaginário colectivo. Moll, como é sabido, faz de tudo: ladra, mentirosa, vigarista, vê mais de uma vez o nó da forca passar-lhe bastante perto do pescoço. Mas o seu inventor, Daniel Defoe, rende-lhe uma homenagem extraordinariamente nova e inovadora: Moll não é movida por ninguém, é ela que decide e age sozinha; e as suas acções, por muito malvadas que as possamos julgar, comportam muita inteligência e muito carácter. Personagem literária que simboliza e sintetiza as mulheres de carne e osso da Inglaterra da primeira revolução industrial, as populares que Defoe tinha encontrado dentro e fora da prisão de Newgate, Moll Flanders é uma mulher que pensa e que quer. E oitenta anos depois da publicação de Moll Flanders (1721), algumas mulheres europeias sobem ao patíbulo por uma outra razão, não porque cometeram delitos comuns, mas porque fizeram e fazem política. Creio que Leonor Pimentel, Olympia de Gouges e algumas outras são figuras chave que com a sua morte assinalam Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.5 continuação pág. seguinte uma viragem radical. Antes delas, outras mulheres tinham feito política na Europa e algumas também por isso tinham sido justiçadas, mas eram mulheres pertencentes a famílias reinantes, abadessas, princesas e rainhas, intérpretes de papéis políticos que lhes tinham sido atribuídos desde o nascimento; da mesma forma que o nascimento aristocrático, bastante mais do que as convicções políticas, conduziram à guilhotina tantas nobres francesas durante a revolução. O percurso de Leonor é completamente diferente. Este é fruto de uma escolha consciente e determinada para a qual contribuem a sua inteligência, os seus estudos, a sua experiência de vida, a solidez da sua ética, o seu gosto pela sociabilidade e pelo carácter político constituitivos das relações humanas, de tal modo são sólidas as suas convicções e as sente como racionalmente fundadas e moralmente justas, para se considerar no dever de as ensinar aos outros, de as difundir, de as publicitar, de lutar para as aplicar. Não é movida por nenhuma das motivações femininas tradicionais. Não é uma companheira ou uma esposa que com devoção segue um companheiro: no máximo são alguns machos jovens que a seguem fascinados pelo seu pensamento lúcido e pela autonomia do seu carácter. Não é inspirada por nenhuma revelação, nenhum deus maior ou menor fala através dela. É a razão que a leva a agir. Até que ponto estava enraizado nela o seu materialismo e quanta dignidade corajosa e inteligente podia florescer naquela base de concretitude pragmática é testemunhado pela sua morte, como a relata Cuoco: uma chávena do café amado, como último desejo, e uma citação do amado Vergílio, para construir o sentido de um destino individual e colectivo, para entregar a quem depois dela chegasse uma memória que já tinha elaborado o que devia acontecer mesmo antes de acontecer, que já antes de morrer tinha transcendido a própria morte através do valor. Mas, sobretudo, aquilo que interessa na perspectiva que aqui adoptei é que os outros, desde os da Junta que a condena à morte até aos Lazari que lhe dedicam rimas obscenas, intuíram-na (e temeram-na e detestaram-na e eliminaram-na) precisamente pelo que ela era e queria ser: uma mulher política. E, contudo, parece-me poder dizer que já em Cuoco esta característica de Leonor, que é a sua característica, começa a esbater-se, a diluir-se nos estereótipos constantemente recorrentes da sua feminilidade. Cuoco não lhe nega a recordação, define-a como “sábia e desventurada” (Cuoco 1966; 241); mas transforma-a na Virgem que audet concurrere viris; não pode ou não sabe defini-la senão como concorrente dos homens. Além disso, é no plano das virtudes que Leonor Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.6 compete com os homens, na coragem e no amor à pátria: «escreve o Monitore napoletano, do qual expira o mais puro e ardente amor pela pátria» (Cuoco 1966; 307). Mas não são recordadas, nem para as criticar, as ideias de Leonor. Cuoco regressa mais de uma vez durante o Saggio sobre dois temas que lhe interessam particularmente: a função da comunicação entre governo e cidadãos, entre governo central e administração das periferias, entre governo e exército; e a necessidade da educação para transformar o povo em cidadãos. Mas nunca recorda Leonor como aquela que, no Governo republicano, se esforçou por fazer alguma coisa concreta nas duas direcções e foi capaz de fazê-lo. Certamente que não podemos esperar de Vincenzo Cuoco um ponto de vista sobre a condição feminina que amadureceu um século e meio mais tarde. Contudo, podese reflectir sobre o facto de um século e meio mais tarde o tom não se ter modificado: Croce julga os artigos do Monitore como sendo sonetos «do ânimo bom de Leonor» e «do entusiamo e da elevada moral» e Villani, que o cita, observa que os artigos do Monitore eram sempre «curtos, incisivos, cheios de intensidade e entusiamo» (Villani 1966; 234, nota 6). Mas nem mesmo ele vai mais além das virtudes de Leonor. Se esta é a perspectiva, torna-se inevitável que, a pouco e pouco, se chegue à Leonor de Roberto De Simone, escrita para inaugurar a estação 1998-99 do Teatro de São Carlos de Nápoles, na qual a figura de Leonor se dilui e esbate num lamento geral pelos perseguidos de todos os tempos, de todos os lugares, de cada sexo. Penso que uma pessoa que é capaz de saborear um café a dois passos da forca não teria apreciado que se lamentasse a sua morte. Teria preferido que se a discutisse racionalmente. Nisto vejo a remoção. Do ponto de vista político não é central o facto de que Leonor fosse generosa e tivesse sentimentos elevados, não mais do que é central que o fossem Mario Pagano, o próprio Cuoco e talvez também Genovesi. Realmente significativo é que Leonor é uma mulher política que participa no governo, exerce um poder e cria uma opinião pública, segura das suas convicções e com firmeza de carácter: por isso é justiçada. Como governou? É uma pergunta que só rara e marginalmente é posta. O que nos pode ser útil recordar? A parte anedótica que lhe diz respeito ou o conteúdo dos seus artigos? A nobreza de alma da grande senhora ou a genialidade sem preconceitos da política de classe que compreendeu quais são os meios para conseguir o consenso popular e quer confiar a Pulcinella a divulgação do verbo republicano cento e cinquenta anos antes de se inventar a política-espectáculo? É uma figura patética, uma aristocrata arrastada por furores tão sacros quanto abstractos ou é a política concreta que, a partir do dado real da dialectofonia popular, põe operativamente, como uma questão de praxis, o problema da relação orgânica entre intelectual e povo que somente tanto tempo depois será posto na ordem do dia por alguém que gozará de uma autoridade que a Leonor foi sempre regateada? Este e outros semelhantes a estes parecem-me ser os conteúdos removidos: para os homens é difícil aceitar de acordo com determinados valores a ideia de que as mulheres governem porque são inteligentes, preparadas, fortes. Para as mulheres, ainda hoje é difícil aceitar segundo determinados valores os preços bastante altos que o exercício independente da inteligência, da força, da capacidade de governar exigia. E exige. Das mulheres, mas não só das mulheres. Talvez o nó a desfazer possa ser resumido nesta questão: que lugar ocupa Leonor na nossa memória? É um pretexto, um modelo, um protótipo, um icone? Trata-se de reflectir sobre as implicações políticas da resposta que se escolhe. 3) Existe outro facto da revolução de 1799 cuja remoção me deixou sempre desconfortável. Só nomeá-lo cria desconforto: trata-se do canibalismo praticado pela plebe napolitana sobre os corpos dos “jacobinos” mortos no patíbulo ou nas estradas. Provavelmente é útil, para uma melhor compreensão do que se procura falar, distinguir, pelo menos no plano empírico, o canibalismo do que genericamente é chamado violência. Esta última pode atingir níveis inauditos, sem que por isso inclua o canibalismo. E vice-versa, como nos ensina a literatura etnológica, o canibalismo, pelo menos em algumas culturas, é uma prática que tem pouco a ver com a violência. A verdade é que nas histórias que se narram da revolução napolitana, esse está na posição ambígua de não ser nem esquecido nem explicitamente tematizado, característica dos conteúdos removidos. A remoção começa, também neste caso, com Cuoco. Na edição de 1801, no capítulo XLVIII tinha escrito: «(…) escorria o sangue e ardiam aquelas fogueiras onde se coziam os membros dos infelizes que o povo comia»; que na publicação de 1806 se transformou em «(…) nas praças públicas com fogueiras em que se coziam os membros dos infelizes, em parte lançados vivos em parte moribundos» (Cuoco 1966; 278 e nota 2). Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.7 continuação pág. seguinte A versão de 1806 não é menos crua, mas evita os termos explícitos “povo” e “comia”. Depois, não se fala mais disso. Os capítulos XLVII e XLIL são dedicados à narração minuciosa, indignada, consternada, das violações das normas jurídicas, das traições à palavra dada, das arbitrariedades, das sentenças, para além da crueldade dos procedimentos emanados do Soberano e aplicados pela segunda Junta dirigida pelo “monstro” Especial. Cuoco adopta uma perspectiva tão legítima quanto redutora: a ruptura do pacto de legalidade entre as classes altas da sociedade, entre monarquia, tribunais, aristocratas e burgueses, intelectuais e de profissão, parece-lhe, justamente, uma catástrofe irremediável, resultado de uma ruptura insanável (Meu Deus, quanto ódio público…) e precursora de uma «noite profunda» que «cerca e cobre tudo com uma sombra impenetrável» (Cuoco 1966, 311). Mas o que simultaneamente acontece nas praças e nas vielas, as acções de que o povo é protagonista, aqueles “cidadãos” em nome dos quais a Revolução tinha nascido, tudo isso é «barbárie que faz tremer», ou seja, é substancialmente um pouco mais do que a ordinária ira popular, cuja responsabilidade se deve atribuir a quem a desencadeou e nada faz para a deter: o Cardeal Ruffo e os ingleses. Mais uma vez não seria justo exigir de Cuoco uma sensibilidade que não é da sua época: ainda durante muito tempo os burgueses europeus discutiram sobre multidões delinquentes e massas desenfreadas, tão perigosamente ferozes quanto pronas às ordens do chefe carismático que a seu prazer as incita e as tráva: e… ai… encontrarão nos factos mais de um motivo de confirmação das suas teses. Esta teoria da multidão delinquente, incitada pelo chefe carismático, é o dispositivo de redução e remoção mais frequente nos autores que se ocuparam da Revolução napolitana. Consente-lhes não tematizar o canibalismo como uma forma específica de comportamento extremo. Mesmo M. A. Macciocchi, que embora meritoriamente, não reduz a questão a um par de linhas apressadas, mas dedica-lhe um parágrafo inteiro construído a partir de citações de fontes primárias e literárias, conclui definindo depreciativamente os lazzari «uma tribo de canibais» e maldizendo os Bárbaros e «todos os Ruffo e os seus exércitos da Fé» (Macciocchi 1993; 255-359). Execração muito partilhável e por mim partilhada, mas que não contribui para a produção de uma melhor compreensão dos comportamentos. Tentemos praticar o etnocentrismo crítico de Ernesto De Martiniano, tentemos reflectir sobre o que é o canibalismo do ponto de vista interno à cultura ocidental. É indubitável que na cultura ocidental este seja considerado o mais negativo dos comportamentos negativos. Na opinião geral é julgado sem hesitações o comportamento mais desumano que se possa imaginar, um dos poucos absolutamente imperdoável, bestial, não, pior do que bestial, a prática do canibalismo serve por definição a estigmatizar como inferiores e primitivos os outros povos que o tenham praticado ou o pratiquem; enquanto que para os indivíduos surpreendidos a praticá-lo nas nossas sociedades não pode haver outro destino que o manicómio criminal. Todavia, surpreendentemente, a questão volta a propor-se no outro pólo da hierarquia de valores da cultura ocidental cristã, onde se situa um complexo mítico-ritual, com alguns conteúdos que hoje já se afundaram na invisibilidade da evidência doxica (Bourdieu 1992), isto é, são invisíveis porque demasiado em evidência. O momento mais intenso e mais alto da prática da religião dominante no Ocidente é constituído pela interacção ritual de um sacrifício oferecido a Deus seguido de um banquete durante o qual os fiéis se alimentam dos despojos da vítima sacrificial. A questão é que esta vítima sacrificial é um homem, melhor um deus encarnado e que se fez homem: pelo que o banquete é um banquete canibalesco. Sei bem o quanto, posta nestes termos, a questão possa ser desconcertante para as nossas sensibilidades anestesiadas, mas quer se queira considerar símbolo ou realidade transubstanciada, metáfora ou artigo de fé, a verdade é que é este o conteúdo da Missa e da Eucaristia de rito católico; conteúdo sacro e eminentemente salvador, o deus-homem engolido-interiorizado é,para o fiel, garantia de firmeza neste mundo e de salvação no outro mundo. Encontramo-nos assim numa óptica não muito longínqua da dos “primitivos” desprezados, cujo banquete canibalesco é uma tradição etnológica firme (Volhard 1991), interpretado como um comportamento sempre ritual, carregado de referências ao mito e que, de qualquer forma, diz respeito à circulação e ao domínio dos poderes. Todavia, alguns dados de facto não se inserem facilmente neste quadro interpretativo. Volhard construiu um mapa da difusão do canibalismo como instituição cultural que inclui muitos países da faixa equatorial e exclui as zonastemperadas. Com base nisto Harris (1979) propôs uma explicação em termos de determinismo ambiental: a falta de condições ecológicas para caçar e/ou criar animais de tamanho grande e a consequente escassez de proteínas animais seriam a causa da distribuição e persistência do canibalismo. Em relação a este último argumento poderíamos levantar uma série de objecções, mas aqui, pelo contrário, interessa-nos o positivo, porque chama a nossa atenção sobre um ponto: seja qual for o significado Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.8 metafórico ou simbólico que a Eucaristia mantém dentro do horizonte cultural do Ocidente, dois pontos parecem consolidados: - a prática do canibalismo ritual não está documentada no Ocidente nem sequer em fontes mais arcaicas. Se alguma vez esteve vigente deve ter desaparecido muito cedo. - no interior da cultura ocidental o canibalismo é classificado como o comportamento aberrante por excelência, ao qual está ligada uma valência não só de maldade, mas de degradação total para a vítima e de total regressão para o carnífice. No interior da cultura ocidental não se pode, enfim, não se deve falar de canibalismo porque, nunca, nem nas situações mais difíceis, este pode reentrar na esfera das acções instrumentais, funcionais, como é a de comer para sobreviver, mas nem sequer na esfera das acções simbólicas, como comer para salvar, preservar, sacralizar. Então como se explicam os casos ocidentais de canibalismo? Os quais descobrimos, com alguma surpresa, serem menos excepcionais, ainda que raros, do que pensáramos. Assim, existem casos documentados durante a Guerra dos Trinta anos na Alemanha e durante a Revolução em Caen, França; e o historiador francês Corbin reconstruiu um caso relativamente recente ocorrido em Dordogna durante a crise do Segundo Império (Corbin 1990). Não tenho dúvidas que investigações mais cuidadas fariam emerger outros casos. De qualquer forma, deve-se sublinhar que todos os casos recordados têm uma série de elementos em comum com o napolitano: aconteceram num período de ruptura das regras e das ordens político-sociais, no seio de contextos violentos e opressivos, têm por protagonista o povo ou melhor «a turba de populares» e por vítimas membros das classes mais altas; se for reconhecível alguma cor ideológica nos comportamentos, é a de que a vítima é de algum modo portadora de posições progressistas, inovativas, e os perseguidores de posições reaccionárias, conservadoras.Nenhum autor propõe a leitura destas práticas como práticas rituais e nem sequer como práticas simbólicas. O esquema interpretativo que reaparece com insistência é o da multidão delinquente: um comportamento aberrante em modo extremo, colectivo, desenfreado, irado; que se consome e se esgota rapidamente e se precipita no remoinho da negação e da remoção assim que se conclui. Não existem responsabilidades individuais a apurar. Como se vê, o caso napolitano prestar-se-ia perfeitamente a ser inscrito neste modelo. Mas também aqui podemos fazer uma pergunta provocadora: o que pensavam estar a fazer os lazzari napolitanos quando assavam e comiam as pernas e os braços, os corações e os fígados dos “jacobinos”? Não podemos imaginar um lazzaro napolitano que diz a si próprio: “eu sou um membro da multidão delinquente”. Mas, se quisermos aceitar a fórmula mais parecida com o exorcismo que com a hipótese explicativa da bestialização, devemos perguntar-nos que sentido tinha a acção canibalesca para aqueles que a realizavam. Consideravam-na uma resposta à simples e pérfida fome fisiológica ou era algo diferente, de muito diferente? Na expectativa de estudar profundamente a questão, posso somente oferecer mais outra anotação. Creio que se possa excluir a explicação da fome fisiológica. Não porque a plebe napolitana não estivesse esfomeada, mas porque de algum modo já tinha transcendido a própria fome perene e furiosa, objectivando-a e valorizando-a, dando-lhe voz e presença na personagem de Pulcinella. A plebe napolitana actuava sobre a própria fome, não era movida por ela. Podia saquear palácios, despensas e armazéns aceitando representar-se como totalmente governada pelo próprio aparelho dirigente: mas um assado de carne humana era, como é, outra coisa. Proponho uma hipótese. É verdade que no mundo ocidental o comportamento canibalesco é colocado fora de qualquer ritualidade institucionalizada: mas isso não quer dizer que não possa assumir valências simbólicas, que não possa ser assumido como significante de um significado, que não aluda, para os que o tem, a um “além” carregado de valor. Se esta premissa é aceitável, podemos pensar que também no caso napolitano (e nos outros casos europeus) o objectivo do canibalismo era, provavelmente, a interiorização do valor e da potência daqueles que eram comidos. Porém, não como no canibalismo a que chamaria “construtivo” com o objectivo de fazer com que as forças do morto passassem àqueles que lhes absorviam a carne e não se dispersassem indomadas com o risco de serem envolvidas por potências negativas se capturadas por outros. Neste caso, o da Revolução napolitana, talvez comer não queira tanto dizer incorporar quanto degradar, não tem tanto o sentido de interiorizar quanto o de atirar ao mundo, na forma mais ignóbil possível, uma categoria de seres humanos que era objecto de ódio particular, também esse extremo, mas não destituído de sentido e “razões”. Vejamos. Em primeiro lugar, a condição social dos “jacobinos”, evidentemente privilegiada em relação à dos lazzari, não se apoiava principalmente em recursos de ordem material, como a riqueza da qual era sempre possível, para os lazzari, entender a natureza e o uso e Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.9 de que sabiam como entrar na posse, com súplicas e implorações obtiam-se migalhas, com a violência fatias mais consistentes. Mas os “bens” dos “jacobinos”, muitos dos quais eram imateriais( a instrução, o estilo, as maneiras e as relações, a desenvoltura e a segurança em manter as relações, a capacidade de dar ordens e de conseguir obediência sem ter o monopólio da força, enfim aquilo a que dois séculos depois Bourdieu chamaria capital social e cultural), eram inerentes às suas pessoas e como tal, não ofereciam possibilidade de apropriação nem através da violência nem através da imitação. Pior ainda (e isto na minha hipótese é o outro fundamento do ódio), os “bens” dos “jacobinos” não se podiam obter nem mesmo com a súplica, a propiciação, o “colocar-se à disposição” servil. Quando os lazzari ofereciam esta sua disponibilidade, as únicos recursos que verdadeiramente controlavam, os jacobinos recusavamlhos, por vezes com desdém e indignação e exortavam os lazzari a “fazer como eles”, a instruirem-se, educaremse, aprenderem a viver com civilidade. O ódio que nasce das feridas infligidas à dignidade é implacável. O canibalismo dos lazzari parece-me pertencer, contudo, sempre aos comportamentos rituais que constroem o mundo do avesso, que subvertem a realidade, na medida em que tempos e lugares protegidos subvertem as regras de apropriação e gestão da realidade. No canibalismo da Revolução de ’99 é o significado simbólico do comportamento a ser invertido: a incorporação que no banquete ritual eleva o incorporante ao nível do incorporado aqui degrada o incorporado a dejecção do incorporante. Tenho consciência de estar a propôr uma interpretação bastante dura e inusual, e, para mais, não suficientemente apoiada por uma investigação ad hoc. Porém, gostaria de sublinhar, como minha atenuante, que a minha interpretação excluíe o recurso à “natureza bestial” da plebe ou à aparentemente mais sofisticada interpretação da multidão como mera energia psíquica que o chefe canaliza, modela, solta e tráva a seu gosto. Seja qual for o juízo moral que cada um de nós dê aos seus comportamentos, de acordo com a minha hipótese os lazzari canibalescos são, de qualquer forma, produtores de sentido, produtores do sentido de acções que dizem respeito às relações de forças internas ao sistema social a que pertencem: portanto, os lazzari canibalescos são, também eles, sujeitos políticos. Esther Basile Referências bibliográficas M. Aug, Cannibalismo in Enciclopedia Einaudi, Torino, 1977. P. Bourdieu, Risposte per un’antropologia riflessiva, a cura di L.J.D. Vacquant, Bollati Boringhieri, Torino, 1992. A. Cavicchia Scalamonti, La memoria consumata, Ipermedium, Napoli, 1996. A. Corbin, Un villaggio di cannibali nella Francia dell’800, Laterza, Bari, 1990. V. Cuoco, Saggio storico sulla Rivoluzione di Napoli (Introduzione di Pasquale Villani), Biblioteca Universale Rizzoli, Milano, 1999. A. De Stefano, Immagini da una Rivoluzione. Napoli 1799, Guida Napoli, 1989. E. H. Gombrich , L’uso delle immagini, Leonardo Arte, Milano, 1999. M. Harris, Cannibali e Re. Le origini delle culture, Feltrinelli, Milano, 1979. M. A. Macciocchi, Cara Eleonora. Passione e morte della Fonseca Pimentel nella Rivoluzione napoletana, Rizzoli, Milano, 1993. Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.1 0 Silhueta Públia Hortênsia de Castro por Antónia Fialho Conde Públia Hortênsia de Castro, ou Públia Lusitana, no dizer lembremos D. Isabel de Castro e Andrade, que também de Carolina Michaëlis de Vasconcelos, nasceu em Vila no século XVI terá defendido Conclusões de Filosofia e Viçosa em 1548, tendo morrido em Évora, cidade onde Teologia no convento do Varatojo passou parte da sua vida, em 1595. Era filha de Tomás de Nos temas teológicos revelaria também grande perspicácia, Castro, parente do Arcebispo de Évora da altura, D. João discursando em Elvas com outras Conclusões nesse de Mello. Duvida-se que o seu nome seja o baptismal, o domínio, possivelmente perante Filipe II de Espanha, em que a tornaria única entre as mulheres de Quinhentos; foi, 1581; como prova do agrado régio, recebeu uma tença de porém, aquele que ficou para a História, latinizado e ao 15.000 réis por ano, que terá usado para dote conventual, gosto humanista, de acordo com o contexto epocal. Para para se recolher à clausura – não fazendo necessariamente J.B. Venturino, que descreveu a recepção em Vila Viçosa profissão - nesse mesmo ano de 1581. da embaixada do cardeal Alexandrino, Legado do Papa, Fazia parte das Damas eruditas que a Infanta D. Maria, em 1571, terá sido antes um cognome, atribuído em virtude filha de D. Manuel I, reuniu à sua volta, ao lado de Luísa dos seus conhecimentos literários e dotes de oradora; de e Ângela Sigeu, de Paula Vicente, mantendo com a princesa facto, esteve previsto um discurso de Públia perante o cordiais relações, que se estenderam também ao Cardeal cardeal, em que quisera defender, no dizer de Venturino, D. Henrique e ao Duque de Bragança, D. João. Conclusões naturais e legais, o que não se concretizaria Na sua obra, manuscrita, destaca-se vasta epistolografia por falta de tempo do Legado. em latim e em português, poesias, também em latim e em Segundo Barbosa Machado, terá estudado Humanidades português, e diálogos religiosos e filosóficos. Como e Filosofia na Universidade de Coimbra, usando traje de exemplo, temos os Psalmos pela victoria e felicidade do homem, com o seu irmão Jerónimo de Castro, que ainda Senhor D. Duarte, e declaração dos ditos Psalmos, por em 1614 conservaria todas as obras da irmã, hoje encomenda da mãe de D. Duarte, a Infanta D. Isabel, na desaparecidas. J. B. Venturino cita Públia Hortênsia como altura em Évora, em 1574, e a obra Flosculus Theologalis. tendo estudado em Salamanca, mas para Carolina Michaëlis de Vasconcelos, ela terá tido professores particulares, sendo doutrinada em casa, primeiro em Vila Viçosa, depois em Évora, sendo aqui o estudo acompanhado por D. João de Melo, que sempre terá recomendado mestres da Universidade eborense, onde entrariam nomes como Luís de Molina, ou o próprio S. Francisco de Borja, Geral da Companhia de Jesus. No domínio da Filosofia Moral terá defendido em Évora, em 1565, Conclusões, com apenas dezassete anos, perante a admiração dos presentes, entre os quais André de Resende; este descreve o seu brio na defesa dessas teses, tornando-se assim a primeira mulher portuguesa a discursar em público, nas mão a única nesse século: Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.11 Recensão Crítica Leonor Pimentel - A Portuguesa de Nápoles por Marília E. Sota Favinha SANTOS, Teresa e PEREIRA, Sara Marques (coord.), Leonor da Fonseca Pimentel- A Portuguesa de Nápoles (1752-1799), Lisboa, Livros Horizonte, 2001 Esta importante obra resulta do Colóquio evocativo de Leonor da Fonseca Pimentel- a portuguesa de Nápoles, aquando do bicentenário da sua morte, em Outubro de 1999. Na apresentação as coordenadoras fazem o historial deste colóquio realizado pelo Projecto Faces de Eva- Estudos sobre a Mulher, destacando as Instituições envolvidas: Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Évora, Embaixada de Itália, Instituto Italiano da Cultura em Portugal, Istituto Per Gli Studi Filosofici de Nápoles, Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, Fundação Eugénio de Almeida, Instituto da Comunicação Social da Câmara Municipal de Lisboa e da Câmara Municipal de Évora. A personagem que serviu de mote a este colóquio e consequentemente ao presente volume, Leonor da Fonseca Pimentel, é injustamente desconhecida em Portugal. Nascida em Itália, de uma família de origem portuguesa, Leonor da Fonseca Pimentel foi uma inigualável revolucionária que pautou sempre a sua acção pela coerência política e pela maturidade intelectual que a levaram ao cadafalso em Agosto de 1799, com quarenta e sete anos de idade, sob a acusação de jacobinismo. Ao longo deste livro podemos seguir os traços mais marcantes da personalidade de Leonor da Fonseca Pimentel, a sua acção política e intelectual, mas ao mesmo tempo encontramos diversos estudos que contextualizam, analisam e projectam o seu pensamento e as suas actividades. Juntam-se a estes estudos uma tradução de O triunfo da Virtude peça de teatro escrita por Leonor. E um soneto, também, de sua autoria enviado à Marquesa de Alorna e que permanecia até hoje desconhecido. A presente obra destaca-se pela qualidade dos estudos apresentados, quer por investigadores italianos, quer portugueses, mas também, por colocar na galeria da História, agora em Portugal, Leonor Fonseca Pimentel- a portuguesa de Nápoles. Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.1 2 Recensão Crítica La figura femenina en los narradores testigos de la conquista por Eliane Gracindo de Sá LÓPEZ DE MARISCAL, Blanca. México: Programa Interdisciplinario de Estudios de la Mujer: Consejo para la Cultura de Nuevo León, 1997. La figura femenina en los narradores testigos de la conquista Lamentavelmente não traduzido para o português de Blanca López Mariscal é leitura obrigatória não apenas para aqueles que se ocupam dos temas de estudo sobre a Conquista da América. Viabiliza exemplar exercício historiográfico. Trata as questões propostas com actualidade teórica e profunda sensibilidade de sentido histórico. O percurso escolhido pela autora permite que o carácter regional da análise não inviabilize a reflexão universal dos temas apresentados. Trata-se marcadamente de um estudo de género, circunscrito geograficamente à Mesoamérica e ao litoral caribenho, primeiro espaço de contacto entre os mundos em confronto. Os limites temporais estabelecidos são os primeiros cem anos desse contacto: dos últimos oito anos de século XV ao final do XVI. A delimitação dos marcos geográficos e temporais não foge às características da construção da análise que constitui La Figura femenina en los narradores testigos de la conquista. Preside o texto uma abordagem teórico-metodológica definida, amadurecida em reflexões sobre a historiografia, apoiada em erudição pertinente às fontes. Daí decorre um texto enxuto, sem desnecessárias reiterações. A Introdução aponta com clareza os objectivos do texto: reconstruir a imagem das mulheres da conquista, de acordo com o que sobre elas disseram os narradores desta empresa. Como as descrevem? Que tipos de comportamentos assinalam? Dão-lhes a palavra alguma vez? Qual é o espaço cultural de onde se narra? A busca das respostas é procurada nos «narradores testemunhos», na crónica não oficial, no registro daqueles que efectivamente vivenciaram o confronto, que se foram despojando das marcas da história dos monarcas, para a história para os monarcas, para comunicar o diverso, para apresentar uma nova realidade, que exacerba seus sentidos de observação. São movidos pela necessidade de se evocarem como testemunhos, cuidadosos e valorosos. Daí decorre um registro detalhado e generoso, no qual se pode encontrar também a mulher, adequadamente explorado pela autora. A iconografia constante aponta novos e possíveis caminhos a serem explorados. A estruturação dos capítulos vai desnudando, aprofundando e ampliando os olhares e os focos de observação das questões enunciadas. As mulheres vão sendo resgatadas nos enunciados e silêncios dos cronistas em: 1. O descobrimento nas ilhas e em Terra Firme; 2. O recebimento no mundo mesoamericano; 3. A mulher como ajudante; 4. A outra face da recepção; 5. A mulher e o desencadeamento da conquista; 6. A chegada das mulheres espanholas; 7. A formação das primeiras famílias. O Epílogo resume a trajectória das construções das imagens das mulheres a partir das representações fantásticas presentes nas primeiras impressões dos europeus enfatizando a acção, a actuação, enfim aspectos do papel desempenhado pela mulher no processo de conquista. Sobre estas constatações a autora ultrapassa os limites cronológicos impostos ao objecto para estabelecer um nexo histórico entre o passado reconstruído e outros marcos da história da América latina, como a independência, a revolução mexicana e as lutas do quotidiano contemporâneo. Sobretudo, destaca a reflexão sobre as marcas deixadas pela imagem actuantes dessas mulheres que contribuiram para formar o que se conheceria posteriormente como «nuestro México», mesmo sobre as que vivem imersas num mundo masculino. A originalidade do trabalho decorre da leitura crítica e circunstanciada dos textos dos cronistas, na busca das pistas mais escondidas e disfarçadas, na articulação da explicitação das possibilidades de exploração de todo registro e informação, para além, ou mais apropriadamente, para a implantação do potencial de interpretação dos testemunhos, numa reconstrução dos sistemas de representação de que dispõem para olhar a complexidade e a perplexidade do novo com que se defrontam, mas ainda com a ausência e as possibilidades de invenção e novas construções necessárias ao entendimento do universo circundante. Além disso, a autora se preocupa em manter o constante questionamento sobre a construção desses olhares, seja pela novidade, seja pelo preconcebido, seja pelo desapercebido. É essa estrutura do texto que estimula a sensibilidade e as possibilidades da análise histórica dos temas, sem perder a actualidade do tratamento, sem cometer anacronismos, pecados tão presentes em estudos similares. As mulheres, mas não só elas, são as sociedades confrontadas e em (re)formação que estão apresentadas nas relações e nos sitemas de representações derivados, na multiplicidade e diversidade de uma historicidade mais plenamente compreendida. Fica arguido o mito da passividade, colaboraccionismo, toda e qualquer interpretação que homogenize, que congele ou cristalize formas estereotipadas de pensar por e sobre o outro. Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.1 3 Ciclo de Conferências O primeiro Ciclo de Conferências dedicado ao tema História e Historiografia da Mulher, desenvolvido pelo NEHM, pretende dar a conhecer ao público em geral uma visão especializada que permitirá a abordagem da História da Mulher no espaço português e lusófono. Com o objectivo de desenvolver e divulgar esta área temática é nossa intenção dar continuidade a este tipo de iniciativas, assim como aprofundar a investigação neste domínio. Ciclo de Conferências Colégio luis António Verney e Auditório Soror Mariana - Évora Selma Pantoja (Universidade de Brasília/ Faculdade de Letras de Lisboa) As Mulheres na Formação do Mundo Atlântico e a História de Angola - Séc. XVII a XIX Colégio Luis António Verney 8 de Março - 16.00h Margarida Sá Nogueira Lalanda (Universidade dos Açores) A Mulher Freira no séc. XVII e XVIII 20 de Março - 14.30h Maria Filomena Barros (CIDEHUS/Universidade de Évora) A Mulher Muçulmana no Portugal Medieval 9 de Abril - 14.30h C onc epção G ráfica: Vitor C astro A Escultura- Gustav Klint - 1896 Joseph Abraham Levi (Rhode Island College-Providence-EUA) No Mundo de Fénix. Cristãs-Novas e Mulheres Judias das Diásporas: Pilares do (cripto) Sefardismo Ibérico 30 de Maio - 14.30h N ú c l e o NEH M dd ee EEsstt uu dd oo ss ddee HHi is sttóórr iiaa ddaa ss MMu ul lhheer reess Apoio N E SA Organização Informações e inscrições em www.cidehus.uevora.pt C o l é g io L u í s A n t ó n i o Ve r n e y e A u d itó rio S o ro r M aria n a - É v o ra S e lm a P an to ja (U n iv ersid ad e d e B rasília / F a cu ld ad e d e L etra s d e L isb o a) “A s M ulh e res n a F o rm açã o d o M u n d o A tlân tic o e a H istó ria d e A n g ola - S é c. X V II a X IX ” C o lé g io L u is A n tó n io Vern ey 8 d e M arço - 1 6 .0 0 h M arg arid a S á N o g u eira L ala nd a (U n iv ersid ad e d o s A ço res) “A M u lh e r F re ira n o séc. X V II e X V III” 2 0 d e M arç o - 1 4 .3 0 h M aria F ilo m en a B a rro s (C ID E H U S /U n ive rsid ad e d e É v o ra) “A M u lh er M u çu lm an a n o P o rtu g a l M ed iev al” 9 d e A b ril - 1 4 .3 0 h Jo sep h A b rah am L e v i (R h o d e Isla n d C o lleg e -P ro v id e n ce-E U A ) “N o M u nd o d e F én ix . C ristã s-N o v as e M u lh e res Ju d ias d as D iásp o ra s: P ilares d o (crip to ) S efard ism o Ib é rico ” 3 0 d e M aio - 1 4 .3 0 h Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.1 4 Informação Estudos de Mulher nos E.U.A por Joseph Abraham Levi Nos últimos dez anos os estudos da mulher nos Estados Unidos têm feito passos de gigantes com presenças quase omnipresentes em mais de 625 universidades e institutos superiores onde se ensinam cursos dedicados ou quase exclusivamente dirigidos à análise histórica do Feminismo e dos Estudos de Mulher em geral — da literatura e da história/historiografia à antropologia e à religião —, quer a nível nacional ou pan-americano (do Canadá à Argentina), quer a nível internacional, ou seja, europeu, africano e asiático-oceânico. Para mais informações ou para obter uma lista das acima mencionadas instituições, enviar um e-mail para <[email protected]> Ed Gunn, MLA Member and Costumer Services Office, Modern Language Association of America, <http:// www.mla.org>. 1993", <http://frank.mtsu.edu/~kmiddlet/history/como apoio à investigação do Feminismo e da Historiografia, quer nos Estados Unidos, quer no resto do Mundo. <http://www.census.gov/population/www/soc demo/ppl-121.html> Core Documents of U.S. Democracy <http://www.access.gpo.gov/su_docs/locators/ coredocs/about.html> Emma Goldman Papers <http://sunsite.berkeley.edu/ Goldman> History of the Suffrage Movement <http://www.pbs.org/onewoman/suffrage.html> International Institute of Social History-Women’s History <wysiwyg://40/http://www.iisg.nl/~womhist/ vivahome.html> Library of Congress, National Union Catalog, Manuscript Collections <http://www.loc.gov/coll/nucmc/ nucmc.html> Medieval Feminist Index <http://www.haverford.edu/ library/reference/mschaus/mfi/mfi.html> National Women’s History Project <http://www.nwhp.org> NAU’s Women’s Studies Program and Resources web page <http://www.nau.edu/wst> Smithsonian History Databases <http://www.si.edu/ archives/ihd/ihdb.htm> World History Archives <http://www.hartford-hwp.com/archives> World Wide Web Virtual Library Women’s History <http://www.iisg.nl/~womhist/vivalink.html> Women’s Studies Database da University of Maryland em College Park < h t t p : / / w w w. i n f o r m . u m d . e d u / E d R e s / To p i c / WomensStudies/Bibliographies>, destina-se às pessoas interessadas nas profissões mulheres e em assuntos femininos/feministas. A seguir damos alguns sítios — por sua vez contendo inúmeros links a uma gama indefinida de fontes bibliográficas, históricas e historiográficas — que com certeza irão ajudar estudiosas e estudiosos nas suas investigações em mérito: E, para concluirmos, eis aqui alguns sítios governamentais dedicados às investigações históricas, que, por sua vez, também possuem subdivisões ou secções especificadamente dedicadas à história/historiografia da Mulher: ACRL’s Women’s History Sites <http:// www.library.arizona.edu/users/dickstei/wss/ acrlwsshistory.htm> American Antiquarian Society <http:// www.americanantiquarian.org/Exhibitions/ Womanswork> Any Day: This Day in History <http://www.scopesys.com/anyday> Bureau of Census; Women in the United States Library of Congress American Memory <http://rs6.loc.gov>. National Archives <http://www.nara.gov>. National Park Service <http://www.cr.nps.gov>. Smithsonian Institution <http://www.si.edu>. Entre as inúmeras obras publicadas no ano académico 2001-2002 destacam-se as seguintes três: Alberti, Johanna. Gender and the Historian. Harlow: Longman, 2002, a ressaltar o papel fundamental do género no narrar a história da humanidade; Sharma, Arvind e Katherine K. Young, eds. The Annual Review of Women in World Religions. vol. 6. Albany: State University of New York Press, 2002, onde oito autores analisam, através dos séculos, as diferentes atitudes das religiões humanas perante as mulheres, do sudoeste da China ao Ocidente cristão; Joseph Abraham Levi Rhode Island College Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.1 5 Informação Leitura Congressos Bibliografia Recomendada No próximo 8 de Março, dia Internacional da Mulher, a Pró-Ordem dos Professores irá organizar em Setúbal, um Seminário sobre O Papel das Mulheres na Educação. BOCK, Gisela – La mujer en la historia de Europa: de la Edad Media a nuestros dias. Madrid, 2001. BOXER, C. R. – A Mulher na Expansão Ibérica. Lisboa,1975. CAINE, B.; SLUGA, G. – Genero y historia. Mujeres Nos dias 23 e 24 de Maio, o Centro de Estudos sobre a Mulher- Faces de Eva irá levar a cabo o I Curso Livre de Estudos sobre a Mulher, intitulado “Falar sobre Mulheres: da Igualdade à Paridade” , estando já confirmadas as presenças de Zília Osório de Castro, Ana Vicente, Joseph Levi, Irene Vaquinhas, Paulo Guinote, Regina Tavares da Silva, João Esteves, Sara Marques Pereira, Manuela, Silva, Teresa Santos, Teresa Toldy, Teresa Rita Lopes. Este Curso irá decorrer na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, nos auditórios 1 e 2. en el cambio sociocultural europeo, de 1780 a 1920. Madrid, 2000. DOMINGO, P. Ballarin ( dir. de ) – Las Mujeres en Europa: Convergencia y Divergencias. Granada, 2001. Escribir en feminino. Poeticas y politicas. Ed. de B. Suarez Briones, M.B. Martin Lucas, M.J. Busto. Barcelona, 2000. Estudios de género. Bilbau, 2000. Feminism-Art-Theory: an anthology 1968-2000. Malden, 2001. Feminist geography in practice: research and methods. Malden, 2002. Em Dezembro irá realizar-se, em Nova York, o Congresso Anual do MLA, que contará com uma secção chefiada pelo Professor Joseph Abraam Levi, intitulada “From Cape Verde to East Timor: Literature, Culture, and Society as Expressed by Lusophone- African and Lusophone-Asian Women. LEYSER, H. – Medieval Women. A social History of Women in England, 450-1500. Londres, 1999, 3ª ed. LE JAN, Régine – Femmes, Pouvoir et Société dans de haut Moyen Âge. Paris, 2001. MARTINEZ QUINTANA, V. – Estudios y politicas para las mujeres. Madrid, 2001. Mujeres en la Contemporaneidade: Educacion, Cultura, Imagen. ( Coord. De E. Barranquero Texeira Internet e L. Prieto Borrego), Málaga, 2000. Sites a consultar PEÑAFIEL RAMÓN, António – Mujer, mentalidad e identidad en la España moderna ( siglo XVIII). Múrcia, 2001. www.vlsearchFacility www.vleui european history project wsslinks- Women and Gender Studies Web Sites www Virtual Library(VL) : Women´s History Institute of Social Studies- The Hague, Women History & Development Reflexiones en torno del género: la mujer como sujeto de discurso. Saragoça, 2001. TORREZ SANCHEZ, C. – La Clausura imposibile. Conventualismo femenino contrareformista. Madrid, 2000. y expansión Bolet im N E H M - M a r ço/S et em b r o 2 002 - p á g.1 6 Coordenação: Maria de Deus Manso Sara Marques Pereira Conselho Redactorial: Maria de Deus Manso Sara Marques Pereira Antónia Fialho Conde Marília Favinha M a r g a ri d a C a e i r o N ú c l e o NEH M d ed Ee Es tsut du odso sd ed H e Hi si tsót rói ra i ad ad sa M M u l hh ee rr e s In fo rm a ç õ e s e m : C ID E H U S C e n tro In te rd is c ip lin a r d e H istó r ia ,C u ltu ra s e S o c ie d a d e s d a U n iv e r sid a d e d e É v o r a P a lá c io d o V im io s o - A p a r ta d o 9 4 7 0 0 2 -5 5 4 É v o ra Te l. + ( 3 5 1 ) 2 6 6 7 0 6 5 8 1 F a x .+ ( 3 5 1 ) 2 6 6 7 4 4 6 7 7 e .m a il: c id e h u s @ u e v o r a .p t / w w w .c id e h u s .u e v o r a .p t