cia Torres Seroa da Motta
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Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB Os Desafios da Regulação do Comércio Internacional de Armas: Uma Discussão de Lutas e Perspectivas MOTTA, Patrícia Torres Seroa da NASCIMENTO, Tábata Miranda do RESUMO O presente trabalho apresenta como tema central a Regulamentação do Comércio Internacional de Armas, pois este mercado com a sua falta de normas tem gerado muito sofrimento as populações. Alguns acordos; conferências e convenções foram realizadas por parte dos países, da ONU, de ONGs, de Agências, entre outros, mas sem sucesso. O acordo foi assinado em abril de 2013, no intuito de coibir o comércio ilícito e prevenir o desvio de armas, que abastecem genocidas, terroristas e o crime organizado internacional. Este foi o primeiro instrumento jurídico internacional a regular o comércio de armas convencionais, de pistolas a mísseis, estabelecendo critérios para a exportação e trazendo mais transparência às transferências. O objetivo deste artigo é apresentar as expectativas da ONU e possíveis efeitos dessa regulamentação. Os dados foram coletados a partir de documentos oficiais, relatórios localizados no banco de dados no site da ONU, e também em suas Instituições como a Assembleia Geral, UNODA, entre outros. Por isso, a importância dos países ratificarem o tratado para que este entre em vigor, dando mais transparência ao setor. PALAVRAS CHAVE: Tratado de Comércio de Armas, ONU, Regulamentação. ABSTRACT This paper presents the central theme Regulation of the International Arms Trade, as this market has caused many suffering to populations due to its lack of standards. Some agreements, Graduanda em Relações Internacionais pelo Instituto de Educação Superior de Brasília- [email protected] Graduada em Ciência Política pelo Centro Universitário do Distrito Federal- http://lattes.cnpq.br/3143052859119674 Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB conventions and conferences were held by countries, the UN, NGOs, agencies and others, but without success. The agreement was signed in April of 2013, in order to curb the illicit trade and prevent the misuse of weapons fueling genocide, terrorism and the international organized crime. This will be the first international legal instrument to regulate the trade in conventional weapons, from handguns to missiles, establishing criteria for the export and bringing more transparency to transfers. The objective of this paper is to present the expectations of the UN and possible effects of such a regulation. Data was collected from official documents, reports located in the database of the UN website, and also in its institutions as the UNODA. Therefore, it is important that the countries ratify the treaty so that it can enter into force, giving more transparency to this sector. KEYWORDS: Arms Trade Treaty, UN, Regulation. 1. INTRODUÇÃO Na Conferência da ONU sobre o Tratado de Comércio de Armas de 2011, o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, discursou: “Existem normas comuns para o comércio mundial de poltronas, mas não para o comércio mundial de armas”. Atualmente não há normas internacionais juridicamente vinculativas que regulem o comércio de armas, gerando resultados catastróficos. O estudo “O Fardo Global da Violência Armada”, encomendado pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) em 2011, mostrou que mais de meio milhão de pessoas morrem em decorrência da violência armada a cada ano. A crescente insegurança por parte da sociedade civil, o aumento de refugiados - mais de 45 milhões de pessoas ao redor do mundo- (dados da ACNUR)1; o aumento nas importações e exportações de armas e as inúmeras tentativas de regulamentação do comércio de armas refletem a urgência da assinatura do novo tratado que regula o comércio internacional de armas. O presente trabalho busca analisar e responder as seguintes questões: Quais as expectativas da ONU com a criação do Tratado de Comércio de Armas (TCA) para o comércio internacional de armas? Quais serão os possíveis efeitos dessa regulamentação? Tais são as preocupações que envolvem 1 Agência da ONU para Refugiados. Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB as discussões sobre a regulamentação internacional das armas e cuja abordagem implicou necessariamente nessa intervenção internacional. Após a delimitação do marco conceitual, será inicialmente examinada a breve história dos acontecimentos que suscitaram o tratado. Na segunda parte serão apresentados os principais exportadores mundiais de armas convencionais e também a colocação do Brasil com armas leves. Em um terceiro momento será apresentado o TCA, e por fim, as considerações finais que remetem à necessidade dos países ratificarem o tratado para que este entre em vigor, dando mais transparência ao setor. 2. BREVE HISTÓRICO E AS TENTATIVAS DE REGULAMENTAÇÃO As tentativas de controle do fluxo internacional de armas não são recentes. De acordo com SANTORO, 2012: Desde o século XIX têm conseguido importantes avanços para regular e controlar a conduta de Estados e grupos armados em guerras e outras formas de conflitos violentos, estabelecendo padrões éticos e jurídicos que definem o tipo de armamento que pode ser utilizado. São exemplos dessas mobilizações as conferências de Haia (1899 e 1907), as Convenções de Genebra (1864-1949), a Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio (1948) e a criação do Tribunal Penal Internacional (2002). A United Nations Office for Disarmament Affairs (UNODA)2 também reconhece que o comércio internacional de armas permanece desregulado, ou seja, não há o estabelecimento de parâmetros legais mínimos para se controlar o fluxo de armas e que elas tenham a destinação apropriada3. Conforme o banco de dados da UNODA, “desde 1978, as Nações Unidas têm vindo a publicar o status do regulamento multilateral de armamento e de desarmamento, apresentando dados sobre signatários, os partidos de acordos relevantes e os textos dos próprios acordos”. Podemos citar alguns tratados: o Protocolo de Genebra de 1925; o Tratado sobre Não- 2 3 Escritório das Nações Unidas para os Assuntos de Desarmamento. (UNODA, 2012). Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB Proliferação de Armas Nucleares de 1968; a Convenção sobre Certas Armas Convencionais de 1981 entre outros4. No âmbito doméstico, alguns países criaram mecanismos internos para limitar o tráfico de armas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o principal instrumento que regula a transferência de armas é o ITAR (International Traffic in Arms Regulations), objeto criado através da Arms Control and Export Policy (AECA) de 1976, possui como finalidade garantir a segurança nacional dos EUA e possibilitar a consecução da sua política externa (SILVA e PEDONE, 2012). Outros países como Brasil e África do Sul, também buscaram estabelecer mecanismos para controlar a exportação de material bélico (SILVA e PEDONE, 2012). “O Brasil, na década de 1970, formulou a Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar5. E a África do Sul, durante o governo de Nelson Mandela, cria, em 1995, a National Conventional Arms Control Committe6”. Desde o nascimento das Nações Unidas, as metas do desarmamento multilateral e da limitação de armas foram consideradas centrais para a manutenção da paz e da segurança internacional. Estas metas vão desde a redução e eventual eliminação das armas nucleares, destruição de armas químicas e do fortalecimento da proibição contra armas biológicas, até a suspensão da proliferação de minas terrestres e de armas leves e de pequeno calibre. As Nações Unidas têm defendido consistentemente um Tratado de Comércio de Armas forte que cubra um amplo leque de armas convencionais, e que este exija aos seus Estados-Parte a realização de avaliações de risco completas antes de transferi-las7. 3. PROBLEMAS CAUSADOS PELA FALTA DE REGULAMENTAÇÃO A falta de regras internacionais que governem o comércio de armas dificulta a transferência documentada dessas, com a devida avaliação do risco das violações dos direitos humanos e do direito humanitário. Em todas as partes do mundo, a pronta disponibilidade de 4 (UNODA, BANCO DE DADOS,2013). 5 A exportação de material de emprego militar realizava-se mediante um sistema de licenças governamentais. Tal sistema de exportação de armas sob licença governamental era dirigido, conjuntamente, pelo Itamaraty e pela Secretária-geral do Conselho de Segurança Nacional. 6 Um relatório anual sobre as exportações sul-africano de armas com informações sobre o valor das mercadorias exportadas por categoria e destino. 7 (NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL, 2013). Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB armas e munições, levou ao sofrimento humano, a repressão política, crime e terror entre as populações civis8. O estudo “Fardo Global da Violência Armada, 2011” 9 e o conflito na Síria 10 refletem bem os problemas causados pela falta de regulamentação das armas. Como apresentado no estudo, podemos apresentar alguns dados: apesar das guerras dominarem as manchetes na mídia, os níveis de violência armada em alguns países sem conflitos se assemelham àqueles de zonas de conflito. Num ano comum entre 2004 e 2009, mais pessoas per capita foram mortas em El Salvador do que no Iraque; cerca de 526.000 pessoas morrem violentamente todos os anos, dos quais apenas 55.000 perdem suas vidas em conflitos ou como resultado do terrorismo. Conforme a matéria realizada pela ONU Brasil “Entenda a Crise”, no intuito de esclarecer o que está acontecendo na Síria (como se deu esse processo) é demonstrado que: dados compilados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) indicam que 100 mil pessoas foram mortas desde março de 2011, quando começou o levante contra o presidente Bashar al-Assad; cerca de 2 milhões de refugiados sírios nos países vizinhos e Norte da África; cerca de 1,2 milhão de famílias tiveram suas casas atingidas de acordo com a Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental (ESCWA). Cerca de 400 mil delas foram completamente destruídas, 300 mil parcialmente destruídas e 500 mil sofreram danos de infraestrutura; cerca de 57% dos hospitais públicos foram danificados ou destruídos e 37% estão fechados, segundo a OMS; uma pesquisa conduzida por Turquia, Estados Unidos e Noruega mostra que três quartos das cerca de 8,4 mil crianças sírias – a maioria entre 10 e 13 anos – refugiadas no campo de Gaziantep Islahiye, na Turquia, perderam ao menos um parente no conflito. O estudo revela que a maioria delas apresenta sinais de estresse e trauma e 44% presenciaram ao menos cinco de 11 eventos adversos associados com guerra e desastres. Metade das crianças sofre depressão e muitas estão preocupadas com familiares que permanecem no país; e a produção agrícola foi duramente comprometida com a crise, somando um prejuízo de 1,8 bilhão de dólares. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e 8 (UNRIC, 2013). (GENEVA DECLARATION ON ARMED VIELENCE AND DEVELOPMENT, 2011). 10 (ONU BRASIL, 2013). 9 Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB Agricultura (FAO), só 5% dos agricultores conseguiram colher toda sua produção de trigo e cevada. Cerca de 20% dos produtores perderam inteiramente suas plantações e 55% dos pecuaristas registraram redução substancial nos estoques de gados e aves; entre outros. 4. PRINCIPAIS EXPORTADORES Atualmente, o mercado mundial de exportações de armas movimenta US$ 70 bilhões por ano e vai de pistolas a navios de Guerra. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - EUA, França, Reino Unido, China, e Rússia – respondem juntos, por 88% da exportação mundial de armas convencionais; e o Brasil atualmente está em 4º lugar nesse tipo de exportações. Esses atores contribuem de maneira regular para que ocorram graves violações de direitos humanos11. 4.1) Estados Unidos Segundo a campanha global Control Arms, os EUA exportam anualmente US$12,2 bilhões em armamentos, valor que representa mais de um terço do comércio de armas convencionais12. Em 2011, os Estados Unidos bateram o seu recorde histórico na exportação de armas, totalizando US$ 66,3 bilhões13. No dia 26 de agosto de 2012, o The New York Times informou que os maiores clientes dos EUA foram14: A Arábia Saudita, que somaram US$ 33,4 bilhões, está o maior acordo militar já assinado pelos EUA, que vendeu ao país 84 novos aviões de combate F-15, atualizou outras 70 aeronaves e ofereceu três tipos de helicópteros: 70 Apaches, 72 Black Hawks e 36 Little Birds. Os Emirados Árabes Unidos compraram US$ 4,42 bilhões em armas, entre eles US$ 3,49 bilhões em um escudo antimísseis avançado e US$ 939 milhões em 16 helicópteros Chinook. Omã, por sua vez, comprou 18 aviões de combate F-16 por US$ 1,4 bilhão, entre outras armas que a região acumula com o argumento de se defender de um possível ataque do Irã. Além disso, os EUA venderam US$ 4,1 bilhões de dólares em aviões C-17 à Índia, e outros US$ 2 bilhões em baterias antimísseis Patriot para Taiwan, em um acordo muito criticado pelo governo chinês. 11 (AMNESTY INTERNATIONAL E OXFAM INTERNATIONAL 2003, 2003). Instituto Sou da Paz, 2013. 13 Pedone e Silva; 2012. 14 (Agência EFE,2012) 12 Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB 4.1.2) Assinatura do Tratado Os EUA, maior exportador de armas do mundo, assinou o tratado no dia 25 de setembro de 2013 na sede da ONU em Nova York pelo secretário de Estado John Kerry15. “É muito importante que os Estados Unidos, maior exportador de armas do mundo, tenha se comprometido a uma regulação internacional do comércio de armas, disse o porta-voz de Ban". Mas não devemos pensar que foi tão fácil assim, há alguns opositores como informa o Instituto Humanitas Unisinos, em entrevista que fez a Alves e Suano, em 2012: Mas internamente nos EUA o TCA já tem seus opositores. Em 29 de junho, cento e trinta membros republicanos enviaram uma carta ao presidente Obama argumentando que este instrumento proposto viola o direito fundamental e individual de manter e portar armas, preconizado pela Segunda Emenda da Constituição norte-americana. Para eles, a ONU está produzindo um instrumento (o TCA) que pode vir a constituir uma ameaça significativa para a Segurança Nacional, para Política Externa e para os interesses econômicos estadunidenses, além de afetar seus direitos constitucionais. 4.2) União Europeia Representa cerca de 30% das exportações de armas, os Estados-membros da União Europeia "deveriam fazer mais para assegurar que o comércio seja devidamente regulamentado e mais transparente", afirma o Parlamento Europeu 16. Infelizmente é muito difícil obter dados oficiais sobre o desempenho da União Europeia no mercado internacional de armas. Porém é possível analisar as importações de alguns de seus clientes, como o México17. A União Europeia se converteu em um importante fornecedor de armas para o México ao duplicar suas exportações entre 2009 e 2010, apontou o informe do Conselho Europeu sobre a Exportação de Armas Convencionais. Segundo o documento da U.E., o México substituiu o Chile e a Venezuela na lista dos principais compradores de armas da Europa e passou para o segundo lugar entre os países da América Latina, depois do Brasil. O valor das exportações de armas convencionais para o México subiu de 154 milhões de euros para 355 milhões de euros em 2010, apontou o comunicado, uma cifra recorde desde o Acordo Global com a U.E. que entrou em vigor no ano 2000. Dentre os principais países exportadores na U.E. estão principalmente a França, a 15 (FRANCE PRESSE, 2013) Epoch Times (2013) 17 (ARKO INFOLATAM, 2012) 16 Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB Alemanha, o Reino Unido, o Oriente Médio e Norte da África; a África do Sul, a Grécia, a Turquia e outros parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), bem como países asiáticos e latino-americanos18. Segundo o Relatório Anual da Anistia Internacional Portugal de 2012, que trata da Lista de Armas e Países algumas: Licenças de exportação concedidas em 2011 pela União Europeia mostram que a França exportou 26,5 milhões de euros em componentes eletrônicos para o Egito, 25 milhões de euros em equipamento para produção de armas, 23 milhões de euros em aviões militares e 21 milhões de euros em bombas, roquetes e mísseis. O mesmo tipo de licença mostra que a U.E. permitiu a Alemanha a venda de 57,3 milhões de euros em veículos militares, 9 milhões em equipamento eletrônico e 6 milhões em embarcações navais. Da França: A França ainda tem fornecido armas a países onde existe um risco substancial de que possa serem usadas para cometer graves violações dos direitos humanos. Por exemplo, forneceu munições e armamento à Líbia, sob Al-Gaddafi, explosivos e veículos blindados tanto ao Egito, como ao Chade e munições para a Síria entre 2005 e 2009. Os clientes-chave da França incluem Singapura, Emirados Árabes Unidos, Grécia, outros parceiros da NATO, a região do Oriente Médio e o Norte da África. E por fim o Reino Unido, da Amnistia Internacional Porto: Seus clientes-chave incluem os EUA, Índia, Arábia Saudita, África do Sul e outros parceiros da NATO. É também um exportador fundamental para outros países no Oriente Médio e no Norte da África, bem como na África subsaariana. Este, no entanto, tem fornecido armas para países onde existe um risco substancial que possam ser usadas para cometer graves violações dos direitos humanos, como a França e a Alemanha. Por exemplo, forneceu armas ao governo do Sri Lanka sabendo da repressão dele e forneceu armas pequenas, explosivos, munições e equipamentos para veículos blindados à Líbia sob Al-Gaddafi, assim como armas pequenas para o Bahrain e equipamentos de imposição da lei ao Iémen. 4.2.1) Assinatura do Tratado A própria U.E. diz que desde o lançamento da iniciativa para promover a adoção do Tratado de Comércio de Armas em 2005, tem estado totalmente empenhada apoiando o seu processo de elaboração. Por exemplo, a França, a Alemanha e o Reino Unido apoiam a inclusão 18 (AMNISTIA INTERNACIONAL PORTO - GRUPO LOCAL 6, 2013) Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB de uma regra vinculativa segundo as linhas da Regra de Ouro da Amnistia Internacional19. A fim de apoiar concretamente o processo do T.C.A, a U.E. desenvolveu desde 2009, através das Decisões do Conselho 2009/42/CFSP 20 e 2010/336/CFSP 21 , recursos substanciais para a sensibilização e promoção internacional de um documento robusto e ambicioso22. A União Europeia assinou o tratado no dia 25 de Setembro de 2013 na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. E a Itália, o oitavo exportador mundial de armas, tornou-se o quinto membro da ONU e a primeira nação da União Europeia a ratificar o tratado, que entrará em vigor quando for firmado por 50 países23. 4.3) China O Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo divulgou em 2013 um relatório sobre transferências globais de armas, segundo o qual o volume das exportações chinesas de armas convencionais - o que inclui os mais sofisticados aviões, mísseis, navios e artilharia - saltou 162% entre 2008 e 2012. O Paquistão é o principal cliente24. Segundo a IHS Jane's25 empresa de consultoria e análise setorial, “as vendas de armas da China para o exterior quase duplicaram nos últimos cinco anos, chegando a US$ 2,2 bilhões e levando a China a superar o Canadá e a Suécia, tornando-se o oitavo maior exportador mundial em termos de valor”. Novos países que estão ingressando com mais força no mercado mundial de armas, notadamente a China, temem que a regulação internacional das transferências possa limitar a liberdade de ação das suas indústrias. Portanto, o TCA gera a impressão que haveria um “congelamento” no comércio de armas para que houvesse a manutenção da assimetria entre países desenvolvidos e em desenvolvimento 26 . A China não se comprometeu com qualquer 19 É a proibição de que transações envolvendo armas sejam realizadas com governos ou grupos que cometem violações maciças de direitos humanos, como as que ocorrem atualmente na Síria (Anistia Internacional, 2012). 20 Disponível em: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2009:017:0039:0044:PT:PDF 21 Disponível em: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2010:152:0014:0014:PT:PDF 22 (UNIÃO EUROPÉIA ACÇÃO EXTERNA,2013) 23 Agence France-Presse, 2013. 24 Folha de São Paulo, 2013. 25 Defence & Security Intelligence & Analysis. 26 Pedone e Silva, 2012. Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB acordo multilateral sobre as exportações de armas e tem uma abordagem cautelosa ao tratado proposto. Disse que aceita a necessidade de um tratado para reconhecer direitos humanos internacionais mas que tais critérios são difíceis de julgar objetivamente27. 4.4) Rússia Segundo o jornal Diário da Rússia, a Rússia continua a ser o segundo maior exportador de armas do mundo, somando um total de 15,13 bilhões de dólares em exportações em 2012, dois bilhões a mais do que em 2011. A revista “Forbes”, afirma que a perda dos contratos com a Líbia e a suspensão dos contratos acordados anteriormente com Irã e Síria não tiveram impacto negativo sobre as exportações russas de equipamento bélico. Em 2012, a lista de clientes da indústria armamentista russa foi incrementada pelo Azerbaijão, o Iraque e até mesmo os Estados Unidos, que manifestaram interesse em comprar 70 helicópteros para o exército afegão. A empresa Rosoboronexport, única exportadora autorizada de armas e equipamentos militares da Rússia, assinou um contrato com a China em 2012 para a entrega de 52 helicópteros de carga Mi-171E, no valor de 600 milhões de dólares28. A Rússia, como a China, ainda não integrara o TCA. Segundo informações da Amnistia Internacional Porto: Funcionários russos argumentam que tais regras são interpretadas subjetiva e ideologicamente. O governo do país parece à vontade com o fato de o TCA cobrir uma ampla gama de armas convencionais como na Lista de Munições do Acordo de Wassenaar. A Rússia acredita que o foco deveria residir no controle do comércio para evitar o desvio para o mercado ilícito de armas, mas os respectivos detalhes das propostas e opiniões sobre a transparência mantêm-se incompletas. 27 28 (AMNISTIA INTERNACIONAL PORTO - GRUPO LOCAL 6, 2013) (DIÁRIO DA RÚSSIA,2012) Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB A Rússia está comprometida com a Organization for Security and Co-operation in Europe (OSCE) 29 e o Acordo de Wassenaar30, contendo ambos princípios para respeitar a Lei Internacional dos Direitos Humanos e a Lei Internacional Humanitária ao considerar-se as transferências de armas31. 4.5) Brasil De acordo com uma análise da organização suíça Small Arms Survey, baseada nos dados de 2010 da divisão de estatísticas da ONU (UN Comtrade), o Brasil só fica atrás de Estados Unidos, Alemanha e Itália na exportação de armas leves, ocupando a 4° posição. A organização ainda faz a estimativa de que as transferências internacionais anuais de armas leves movimentam ao menos 8,5 bilhões de dólares. Seu relatório ressalta, no entanto, que avaliações precisas são difíceis devido à "relutância" de muitos países, como o Brasil e os da União Européia, de divulgar publicamente a sua produção legal e dados sobre exportação e importação32. No ranking de armamentos pesados, somos o 27º (vigésimo sétimo), de acordo com o Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo (SIPRI). Por essa razão, temos um leque bem extenso de cliente nessa categoria. Mesmo assim, a venda de armamento convencional pelo país equivale a somente 0,1% do total mundial33. Em entrevista realizada pelo Instituto Humanitas Unisinos, a analista Daniela Alves34 afirma que “o Brasil vem desenvolvendo um planejamento de construir uma significativa indústria bélica”. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio 29 A OSCE tem uma abordagem global da segurança que engloba político-militar, econômico e ambiental, e humanos aspectos. É, portanto, aborda uma ampla gama de preocupações relacionadas com a segurança, incluindo o controle de armas, as medidas de fortalecimento da confiança e da segurança, direitos humanos, minorias nacionais, a democratização, as estratégias de policiamento, combate ao terrorismo e as atividades econômicas e ambientais. 30 O “Acordo de Wassenaar”foi criado em 1995 e possui hoje 40 países membros. Foi firmado no pós “Guerra Fria” e tem como objetivo controlar a exportação de armas convencionais, bens e tecnologias de duplo uso. 31 (AMINISTIA INTERNACIONAL PORTO,2012). 32 (Deutsche Welle; Emissora internacional da Alemanha,2013). 33 Ninio, Folha de São Paulo,2012. 34 Analista de relações internacionais, diretora do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais – CEIRI, e editora-chefe do Ceirinewspaper. Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB Exterior (MDIC) o valor das exportações de armas leves triplicou nos últimos cinco anos: foi de US$ 109,6 milhões em 2005 para US$ 321,6 milhões em 2010 (em 2011, houve um recuo para US$ 293 milhões). Contando apenas as armas de fogo, foram 4.482.874 armas exportadas entre 2005 e 2010, ou seja, 2.456 armas por dia, segundo um levantamento do Exército. 4.5.1) Assinatura do TCA Segundo o jornal Deutsche Welle, “o Brasil se tornou um dos maiores exportadores de armas leves do mundo por causa, em parte, de uma série de decisões políticas tomadas durante a ditatura militar”35. Segundo especialistas, tanto no país como no exterior, a indústria de armamentos depende da participação do Estado, seja diretamente, como acionista de empresas estatais, seja por meio de grandes encomendas. A maior parte do mercado brasileiro de armas está nos EUA e nos países da União Europeia, mas tem havido um esforço do governo para ampliar esses mercados para África e Oriente Médio – onde há países em que as necessidades de equipamentos de defesa são mais modestas. O Brasil assinou o TCA na primeira oportunidade, em 03 de junho de 2013, ainda aguarda a manifestação dos Ministérios das Relações Exteriores, da Defesa e da Justiça antes de enviar o texto para ratificação no Congresso Nacional36. 5. TRATADO DO COMÉRCIO DE ARMAS (TCA): ORIGENS A inexistência de mecanismos internacionais que disciplinem o comércio de armas convencionais é fator relevante na intensificação de conflitos internos e da violência em grandes cidades. Ao contrário, do que ocorre com as armas de destruição em massa não há, atualmente, acordo internacional que discipline o comércio de armas convencionais37. Em 6 de Dezembro de 2006 pela Resolução 61/8938, a Assembleia Geral das Nações Unidas decide a elaboração de um Tratado sobre o Comércio de Armas com apenas um voto 35 Carta Capital, 2012. Instituto Sou da Paz,2013. 37 Patriota (2013) 38 A Resolução 61/89 está disponível no site: http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/61/89&Lang=E 36 Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB contra, o dos EUA, que considerava mais eficaz a via das legislações nacionais para combater a proliferação das armas. Para tal decisão muito contribuiu o apelo de vários Prémios Nobel e a pressão de muitas entidades da sociedade civil, entre as quais ONGs defensoras do respeito pelos direitos humanos e promotoras de ações, quando a Assembleia Geral requereu que os países da organização internacional submetessem as suas visões sobre o tratado 39 . Mais de 100 países assim o fizeram, como pode ser analisado no “Towards an Arms Trade Treaty: establishing common international standards for the import, export and transfer of conventional arms”40 que foi compilado produzido outro relatório que levou, em 2009, ao estabelecimento de um grupo de trabalho que determinou o ano de 2012 para a realização da Conferência sobre o Tratado de Comércio de Armas41. Na Conferência de 2012 a ONU prosseguiu tentando chegar a uma decisão por consenso, o que obrigou não só a um esforço negocial muito elevado, como à procura de um equilíbrio através de mútuas concessões na busca de um acordo. No final de 2012, a Assembleia Geral convocou mais uma Conferência, desta vez para entre 18 e 28 de Abril de 2013, que, partindo da minuta final da Conferência de Julho de 201242, viria a criar uma nova minuta de texto do Tratado43, mais exigente e abrangente e, por isso, mais aceitável pelos críticos da minuta de Julho de 2012. O impasse foi resolvido enviando-se o documento, para votação, à Assembleia Geral das Nações Unidas, tendo o resultado sido de uma aprovação com 154 votos a favor, 23 abstenções e 3 votos contra.44 5.1) Adesões ao Acordo O TCA, foi aprovado na Assembleia Geral em abril de 2013, com o voto favorável de 155 países, e será o primeiro instrumento jurídico internacional a regular o comércio de armas 39 (OBSERVATÓRIO PERMANENTE SOBRE A PRODUÇÃO, COMÉRCIO E A PROLIFERAÇÃO DE ARMAS LIGEIRAS, 2013). 40 Resolução 61/89, da Assembléia Geral da ONU. 41 (STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE (SIPRI), 2013). 42 (UNITED NATIONS OFFICIAL DOCUMENT,2013). 43 (GENERAL ASSEMBLY, 2013). 44 (OBSERVATÓRIO PERMANENTE SOBRE A PRODUÇÃO, COMÉRCIO E A PROLIFERAÇÃO DE ARMAS LIGEIRAS, 2013). Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB convencionais, de pistolas a mísseis, estabelecendo critérios para a exportação e trazendo mais transparência às transferências. Espera-se que o Tratado possa coibir o comércio ilícito e prevenir o desvio de armas, que abastecem genocidas, terroristas e o crime organizado internacional. Nesse sentido, ele poderá impactar na redução da violência no mundo e contribuir para garantia do respeito aos direitos humanos.45 Ban Ki-moon sobre a votação do A.T.T: "Esta é uma vitória para os povos do mundo. O TCA vai tornar mais difícil para que armas mortais sejam desviadas para o mercado ilícito e irá ajudar a prevenir que senhores da guerra, piratas, terroristas e outros criminosos possam adquiri-las. Será uma nova e poderosa ferramenta em nossos esforços para prevenir abusos graves dos direitos humanos e violações do direito humanitário internacional. Ele vai dar o impulso necessário para outros tratados de desarmamento global e para os esforços de nãoproliferação" . O próximo passo é a ratificação individual pelos Estados-membros. O tratado entraria em vigor 90 (noventa) dias depois de ser aprovado em pelo menos 50 países. Especialistas acreditam que todo o processo pode durar ainda mais dois anos46. 5.2) As Diretrizes do Acordo As diretrizes para o estabelecimento do acordo estão contidas no Relatório do Comitê de Preparação para a Conferência.47 O documento contém os prováveis artigos do Tratado, que incluem a organização, a regulação para se evitar as transferências ilícitas, além da notificação do que é vendido. O TCA teria como objetivo evitar que transferências de armas fossem enviadas para violar direitos humanos, perpetuar atos de genocídio ou crimes contra a humanidade, contribuir para ataques terroristas, violar a Carta das Nações Unidas, especialmente o Capítulo 7, entregar armas a terceiros, afetar a segurança regional e impactar no desenvolvimento socioeconômico dos países. O acordo também teria como artigo, o compromisso dos países na assistência a vítimas das armas e seus traumas, como forma de compensação pelos danos causados48. 45 (Amnesty International, 2013) (DEUTSCHE WELLE,2013.) 47 UNITED NATIONS A/CONF.217/1, 2012. 48 Silva e Pedone (2013). 46 Núcleo Internacional- Vol.1, N°1, Fev.- Jul. 2016 Revista Eletrônica do Curso de Relações InternacionaisCentro Universitário-IESB 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Tratado de Comércio de Armas será um grande avanço no âmbito legal internacional, pois representa a abertura de vias jurídicas para soluções pacíficas de conflitos. Tendo em vista, que muitas vítimas de crimes armados ficam sem proteção e ressarcimento de danos devido a falta de atributo legal, espera-se que haja uma redução destes com o novo acordo. O artigo apresentou um breve histórico das tentativas de regulamentação por parte da ONU e outras organizações internacionais, assim como a de países como o Brasil, a África do Sul e Estados Unidos, que já haviam criado leis domésticas visando regular o comércio de armas. Ao se pesquisar os principais exportadores de armas e armamentos mundiais49, notou-se que, apesar da grande dificuldade de encontrar informações oficiais, que eles também representam os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Em seguida foi apresentado o documento em si e suas diretrizes. O comércio de armas deve ser regulado, de maneira a não só minimizar o risco de desvio de armas detidas legalmente, mas também a incluir padrões globais para avaliar o risco de desvio, nomeadamente através do exercício da devida diligência em relação à verificação da documentação exigida, da gestão de estoques em países beneficiários, da história de desvio pelo importador e dos padrões de corrupção. 7. REFERÊNCIAS AVILA, Carlos Federico Domínguez. O Brasil, a política nacional de exportação de material de emprego militar – PNEMEM – e o comércio internacional de armas: um estudo de caso. Scielo, Rio de Janeiro, v. 16, p.221-241, abr. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-77042011000100010&script=sci_arttext#tx20>. Acesso em: 12 nov. 1987. AMNESTY INTERNATIONAL E OXFAM INTERNATIONAL 2003. Secretariado Internacional da Oxfam (Org.). Vidas Despedaçadas: um caso para rígidos controles internacionais de armas. 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