SUMÁRIO - Prof. Saulo Almeida
Transcrição
SUMÁRIO - Prof. Saulo Almeida
Capa: Renato Xavier Projeto Gráfico: Casa de Jdeias Produção Gráfica: Adalmir Caparrás Fagá 2" Edição Revista- 2005 - Ia Reimpressão - 2010 Título Original: Lettre sur l'humanisme Tradução: Rubens Eduardo Frias SUMÁRIO Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Heidegger, Martin, 1889 - 1976 Carta sobre o humanismo / Martin Heidegger. - 2 ed. rev. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro - 2005 Título original: Lettre sur l'humanisme. ISBN 978-85-88208-64-3 Bibliografia 1. Filosofia alemã 2. Humanismo CDD-193 05-7532 Índices I. Título para catálogo C' b re "o O "H umarusmo . " .7 sistemático: 1. Filosofia alemã 193 e 2010 CENTAURO EDITORA Travessa Roberto Santa Rosa, 30 - 02804-0 I O - São Paulo - SP Te!. Ii - 3976-2399 - Te!'lFax 11- 3975-2203 E-mail: [email protected] www.centauroeditora.com.br .arta a Jean Beaufret (Paris) 87 ilossario Português-Alemão 91 SOBRE O "HUMANISMO" CARTA A JEAN BEAUFRET (Paris) STAMOS AINDA LONGE DE PENSAR, COM SUFI- ciente radicalidade, a essência do agir. Conhecemos . . l'P o \. agir apenas como o produzir de um efeito. A sua realidade efetiva segundo a utilidade que oferece. ~as a es- T:; e ~ sência do agir é o consuma!. Consumar significa des- C/'t.o ro.JL dobrar alguma coisa até à plenitude de sua essência; o, (teIGMO levá-la à plenitude, producere. ser consumado, Por isso, apenas pode em sentido próprio, aqui o que já é. O-que todavia "é", antes de tudo, ~ o ser. O pensar consuma a relação do ser com a essência do homem. O pensar não produz nem efetua esta relação. Ele apenas a oferece ao ser, como aquilo que a ele próprio foi Clarfa sobre o qumanismo ~ confiado pelo ser. Esta oferta consiste no fato de, no s mos capazes de pressentir o que se esconde neste pensar, o ser ter acesso à linguagem. ~ linguagem é a \' I rocesso. A libertação da casa do ser. Nesta habitação do ser mora o homem. Gramática e a abertura de um es aço essencialI!!~§ Os pensaaores 1/ a manifestação e os poetas são os guar as desta ha- bitação. A guarda que exercem é o ato de con~nar ~uagem CIo ser, na me i a em que a levam à \ I" - ' ..g1!,êg!..mdos ~~a _--_.~ o o riginal está reservado .S,.omQJf!.tefa_ºillJL2.....2~r_. e .. .. o poetiza . O pensar não é apenas l'engagement r cl'action em favor e através do ente, no sentido do exerce como o mais sirlg~12..e, iminência de vir a ser. A história do ser sustenta e um efeito, ou por s~r aplic;do, que o pensar se trans- efetivamente real da situacão presente. , . .... forma em ação. O pensar age enquanto ao me~m;-tt.rr112~:_O~_~~_elevado .l2orgue interessa à relação do ser com_o l-:!.'2...D.:lep;1. Toda a eficácia, porém, ~-se -- O é ~ pensar ...~ .. l'engagement através e em favor da verdade ~r. ~ -------. """",-.-"",, ."."._ ..•.. A sua história nunca é completa, ela sempre está na e nela a conservam. Não é por ele irradiar pensar. Este agir é provavelmente dans no ser e espraia-se sobre o ente. O pensar, """"'" determina cada conclition et' situation Para primeiro aprendermos ..•.. humaine. a experimentar, na sua pureza, a cita essência do pensar, o que significa, pelo contrário, deixa-se requisitar pelo ser para dizer a ao mesmo tempo, realizá-Ia, devemos libertar-nos da in- verdade do ser. O pensar consuma este deixar. Pensar terpretação técnica do pensar, cujos primórdios recuam é L'engagement até Platão e Aristóteles. O próprio pensar é tido, ali, par L'Être. Ignoro se do ponto de vis- ta lingüístico é possível dizer ambas as coisas ("par" como 'tEXU'11, o processo da reflexão no serviço do fazer e "pour"), c'est e do operar. A reflexão, já aqui, é vista desde o ponto L'engagement de l'Être. Aqui, a palavra para o genitivo de vista da rrpaçtç e rroil1mç. Por isso, o pensamento, "de 1' ... " visa expressar que o genitivo é, ao mesmo tomado em si, não é "prático" . A caracterização do pen- tempo, genitivus Mas nisto não sar como Oecopic e a determinação do conhecer como se deve esquecer que "sujeito e objeto" são expressões postura "teórica" já ocorrem no seio da interpretação inadequadas muito "técnica" do pensar. É uma tentativa de reação, visando na forma da salvar também o pensar, dando-lhe ainda uma autono- "Lógica" e "Gramática" ocidentais. Mesmo hoje, mal mia em face do agir e do operar. Desde então, a "Filo- 8 9 numa só expressão, a saber: penser, subjectivus e objectivus. da Metafísica que se apoderou, cedo, da interpretação da linguagem, roartin <rar{a sobre o humanismo sofia" está constantemente na contingência a sua existência em face das "Ciências". com as ciências, o rigor do pensar não consiste só na de justificar exatidão artificial, isto é, técnico-teórica dos conceitos. Ela crê que O rigor do pensar repousa no fato de o dizer permane- isto se realizaria da maneira mais segura, elevando-se cer, de modo puro, no elemento do ser, deixando ela mesma à condição de uma ciência. Este empenho, porém, é o abandono ~ perar o simples das múltiplas dimensões. da essência do pensar. A Filo- formulações se não for ciência. O não ser ciência é con- ~ ~ Você pergunta: Comment como o elemento do pensar. A "Ló- medida que lhe é inadequada. rtIIILmanisme"? que começa com a melha-se a um procedimento Um tal julgamento , I VIII' ~,J de viver em terra seca. Já há muito tempo, demasiad tempo, o pensar está fora do seu elemento. i~ vel chamar de "irracionalismo" ír mais facilmente elucidadas numa conversa dir ta. N nestas condições, só com muita culdade o pensar poderá conservar a pluridirn lidade do âmbito que lhe é pr no, 1 1111 \ IIIIf Esta questão nasce da intencão de con- """ ~~~. 1/11. c-, se isto ~~ ainda, I. li! si lI)II [\1'1\ 'I nhl'ir .sta necessidade. I I I I' novos. E sempre se está , I"11 I ~t1 a," (', Também os nomes "F" ~lSLca" apenas surgem quan- 11111!lI Ir 1\1\I'io h ga ao fim. Na sua gloriosa 11 fi ti tI I 11 p' 11111'111)) li 111 tais titulos. Nem mesmo 111I111111V:IIIl :10 pensar. Este termina 11111111111, ( ) ('ll'llH'nIO "aquilo ao a partir do, 11 11 I 1111'11dI' p '115:11'. O elemento ' :1l'1'11111 Ijll 111111111 1'11111': () pudn. I2lrassum o ( (.'/..A.I ( '~ /; 10 A I s "-ismos". Mas o mercado da opinião i\ 111I1 I 1 li' mstanternente 'I As questões levantadas na sua carta poderiam Mas, sobretudo, se s au mot a palavra "Humanismo". Pergunto~me 111 o ato de reconduzir papel, o pensar sacrifica facilmente a sua mobili a /J C C<...o'GO 1 1111111 pr v cam? Não há dúvida de que há muito pensar ao seu elemento? ~ redonner 1H'II'Ssári . Ou será que não se manifesta, .\ Será pos '" <h ,li 11111110 suficiente, a desgraça que expressões desta que procura avaliar a na- tureza e as faculdades do peixe, sobre a sua capacidade s~ I asse- ~ Por hoje, gostaria of.-a.A CO~ Sofistica e Platão. Julga-se o pensar de acordo com uma ~, lingüísticas cuidadosas. ti sta fará também uma luz sobre as outr~as. de cientificidade. Na interpretação técnica do pensar, o gica" é a sanção desta interpretação Mas, por ou- I escolher apenas uma das suas questões. A análise siderado uma deficiência que é identificada com a falta ser é abandonado im- tro lado, a forma escrita oferece a salutar coerção para sofia é perseguida pelo temor de perder em prestígio e importância }Ceiaegger I II ;. (( (d,) I I ( «( (f ( I' r: ( (t- D I I !t..-'II ~arta sobre o qumanismo pensar e o conduz, assim, para a sua essência. Dito de sem dúvida, pensados, maneira simples, o pensar é o pensar do ser. O g niti- da "Metafísica", distinguindo-se vo tem duplo significado. O pensar é do ser na m dida significa, a partir de uma determinada interpretação em que o pensar, apropriado do ser - a metafísica - actus e potentia, distinção que e manifestado p t r, sob o império da "Lógica" e da "atualidade"; pertence ao ser. O pensar é, ao mesmo temp , p nsar é identificada do ser, na medida em que o pensar, falo de "força tranqüila do possível", não me refiro ao ser, escuta o ser. Escutando pertenc I d nd , possibile de uma possibilitas ss n- à potentia o ser e a ele pert n o ser é aquilo que ele é, conforme sua origem com a de existentia enquanto e essentia. isto Quando apenas representada, nem essentia de um actus da existentia; cial. O pensar é - isto, quer dizer: o ser encarr g u- refiro-me ao próprio ser que, pelo seu querer, impera se, dócil ao destino e por ele dispensado, ncia com seu poder sobre o pensar e, desta maneira, sobre uma a essência do homem, ou seja, sobre a sua relacão com da uma " coisa ." d o pensar. Encarregar-se dee uma u d "pessoa" qu rer sig- significa: amá-Ias, querê-tas. Est nifica, quando pensado mais originariam nt : d m da essência. Tal querer é a essência própria d qual não é apenas capaz de produzir o ser. Poder algo significa, aqui: guardá-lo na sua essência, conservá-Ío no seu elemento. Quando poder, o isto ou aquilo, o pensar chega ao fim, na medida em que sai do seu elemento, compensa esta perda valori- mas é capaz de deixar que algo desdobre o seu ser em zando-se como 't-EXv'll, como instrumento sua proveniência, e, por este motivo, como atividade acadêmica isto significa que é capaz de fazer-ser. de formação e aca- O poder do querer é a graça pela qual alguma coisa é bando como atividade cultural. A Filosofia vai trans- propriamente formar-se em uma técnica de explicação pelas causas capaz de ser. Este poder é propriamente o possível; aquele possível cuja essência repousa no últimas. Não se pensa mais; ocupamo-nos de "Filoso- É a partir deste querer que o ser é capaz de fia". Na concorrência destas ocupações elas então exi- pensar. Aquele possibilita este. O ser como o que pode b m-se publicamente como "ismos", procurando e quer é o "possível". O ser como o elemento é a "força s rbrepujar tranqüila" t' 'usual. Ele res.ide, e ist~ particularmente querer. de poder que quer dizer, isto é, do possí- vel. Os nossos termos "possível" e "possibilidade" são, III 12 a outra. O domínio I rnos, na singular uma destas ex ressões não nos tem os 1i al~~U~Z~i;I~,J 'larfa sobre o qumanismo assim chamada "existência privada" não é, entretanto, ao ser. Esta relação permanece oculta sob o domínio ainda o ser-homem essencial e livre. Ela simplesmente da subjetividade que se apresenta como a opinião pú- crispa-se numa negação do que é público. Ele man- blica. Se, todavia, a verdade do ser se tornou digna tém o chantão dele dependente e alimenta-se apenas de ser pensada pelo pensar, deve também a reflexão do recuo diante do que é público. Ele atesta, assim, sobre a essência da linguagem alcançar um outro nível. contra sua própria vontade, a sua subjugação à opinião Ela não pode continuar sendo apenas simples filosofia . pública. Ela mesma, porém , é a instauracão e dominação metafisicamente condicionadas - porque se origi- da linguagem. É somente por isso que "Ser e Tempo" nando do domínio da subjetividade - da abertura do da linguagem e toca a simples questão: em que modo ente, na incondicional objetivação de tudo. Por isso, a do ser, afinal, a linguagem, enquan,to linguagem, é em . . (§ 34) contém uma indicação para a dimensão essencial linguagem põe-se ao servico da meditacão das vias de cada situação? O esvaziamento da linguagem que gras- comunicação, nas quais se espraia a objetivacão, como sa, em toda a parte e rapidamente, não corrói apenas a o acesso uniforme de tudo para todos, com ~de~. responsabilidade de qualquer limite. Deste modo, a linguagem cai sob a palavra. Ela provém de uma ameaça à essência do ho- ditadura da opinião pública. Esta decide previamente o mem. Um simples uso cultivado da linguagem não de- que é compreensível e o que de~e ser d;;prezado incompreensível. monstra, ainda, que conseguimos escapar a este perigo com i Aquilo que se diz, em Ser e Tempo (1927) § § 27 estética e moral em qualquer uso da essencial. Um certo requinte no estilo poderia hoje, ao contrário, até significar que ainda não vemos o perigo, e 35, sobre o "a gente" não quer fornecer, de maneira nem somos capazes de o ver, porque ainda não ousa- alguma, apenas uma contribuição incideni:al para a So- mos nunca enfrentar o seu olhar. A decomposição da ciologia. T ampouco o "a gente" significa apenas a figura linguagem, atualm!12!.etão fa.1as!ae isto bastante tarde, oposta, compreendida de modo ético-existencialista, ao ;;'ão é ~ntudo, ser-em-si-mesmo da pessoa. O que foi dito contém, ao fato de que a linguagem, sob o domínio da metafísi~a contrário, indicação, pensada a partir da questão da moderna da subjetividade, se extravia quase irresistivel--------------------------. mente do seu elemento. A linguagem recusa-nos ainda verdade do ser, para o pertencer originário da palavra 14 ~~-------------- a razão, ~~'""----'----- ~--_--.. ,.. ~ mas já uma conse üência do - ------- -- 15 - . <larIa sobre o ijumanismo a sua essência: isto é, que ela é a casa da verdade do ser. A linguagem abandona-se, ao contrário, real, no sistema de atuação de causa e efeito. Abordamos mem? Para onde se dirige "o cuidado", senão no sentido de reconduzir o homem nova!?ente p~ra a sua essência? .. ..:::;.-- e filosofamos com expli- ----------~-ue o homem (homo) se torne humano (b-.Jimgnusl Deste modo então, -----_. co~tudo, a humanitas permanece no coracão de um tal A elas também pertence o pensar; pois humanismo Que outra coisa significa isto, a não ser o ente como o efetivamente real, tanto quando calculamos e agimos, como quando procedemos o homem para este apelo, um empenho e urna solicitude pelo ho- sobre.o.enre. Este próprio ente aparece como o efetivamente neste apelo ao homem, não se esconde nesta tentativa de preparar ao nosso puro quZrer e à nossa atividade, como um instrumev.to de dominação Não reside, no entanto, cientificamente - r- cações e fundamentações. garantir que algo seja inexplicável. ções pensamos Com tais afirma- estar diante do mistério. Como se já estivesse estabelecido que a verdade do ser se pudesse fundamentar, q~u:e=-=o:....:h:.::o:.::m=e.:.:m~s;.e::.:ja=-:.:h::u:.:m~a::.n:.:o::.....:e:....n:.:;:::ã.:::o_d:::.e ~no, isto é, situado fora da sua essência., Entretanto, em ue consiste a humanidade de qualquer modo, sobre causas e razões explicativas, ou, o que dá no mesmo, sobre a impossi- do hom~m? Ela repousa Q.a sua essên.,cia... Mas de onde e como se determina a essência do homem? Marx exige que o "homem humano" bilidade da sua apreensão. nhecido e reconhecido. Caso o homem encontre, alguma vez, o caminho para a proximidade é isto: meditar e cuidar para O homem do ser, então deve antes aprender a existir no inefável. Terá que reconhecer, igual, tanto a sedução pela opinião pública, quanto Ele encontra-o na "sociedade". "social" é para ele o homem "natural". na "sociedade" que a "natureza" do homem, de maneira a seja co- totalidade das "suas necessidades reprodução, naturais" subsistência É isto é, a (ali me nta- impotência do que é privado. Antes de falar, o homem .ão, vestuário, deve novamente escutar, primeiro, o apelo do ser, sob o .qüitativarnente risco de, dócil a este apelo, pouco ou raramente algo que 10 homem, a humanitas do homo, desde o ponto de restar a dizer. Somente assim será devolvida à palavra o vista da sua distinção da Deitas. Ele é, sob o ponto de valor da sua essência e o homem será agraciado com a vista da história da salvação, ~omem como "filho de \l.volução da casa para habitar na verdade do ser. Deus", que, em Cristo, escuta e \esponde é assegurada. O cristão vê a humanidade 17 ao apelo do ~~hílvoÚ'LI/~j - kJlJ( 116 econômica) <larra sobre o humanismo Pai. O homem não é deste mundo, na medida em que ra, o assim chamado barbarismo da Escolástica gótica o "mundo", pensado teórica e platonicamente, é apenas -Ia Idade Média. Do humanismo, uma passagem provisória para o Além. mente, faz sem re parte um studium humanitatis; este Somente na época da república romana, huma- ,-------- entendo histórica- , -- - _. estudo maneira, à~Antigiiidade, - recorre, de uma certa -----_.---,..- nitas foi, pela primeira vez, expressamente pensada e tornando-se assim, em cada caso, também~~~~ci- visada sob este nome. O homo humanus contrapõe-se mente da-gr~d.d~~ Isto ao homo barbarus. O homo humanus é, aqui, o roma- século XVIII, aqui entre nós sustentado por Winckel- no que eleva e enobrece a virtus romana através da mann, Goethe e Schiller. Holderlin, ao contrário, "incorporação" da l1atÚEta herdada dos Gregos. Estes faz parte do "humanismo" e isto pelo fato de pensar o Gregos são os Gregos do helenismo cuja cultura era destino da essência do homem mas radicalmente do ensinada nas escolas filosóficas. Ela refere-se a eruditio que este "humanismo" é capaz. et institutio in bonas artes. A l1atÚEla assim entendida é traduzida por humanitas. A romanidade propriamen- Se, porém, por humanismo se entende, de modo ~ --....... ~_. . geral, o empenho para que o homem se torne livre para te dita do homo romanus consiste nesta tal humanitas. a sua huma~iaade, Em Roma, encontramos dade..:.então o humanis;o-distin@~-~t;, é ~vidente ~~-- o primeiro humanismo. Ele no humanismo ----------- ..-.- para nela encon~ do não --=.;~-, a s~~_digniem cada casç, permanece, por isso, na sua essência, um fenômeno s~gundõaConcepção especificamente romano, que emana do encontro da do~m. romanidade com a cultura do helenismo. Assim, a cha- as vias para a sua realização. O humanismo mada Renascença dos séculos XIV e XV, na Itália, é não carece de retorno à Antigüidade, como também uma renascentia romanitatis. Como o que importa é a não o humanismo romanitas, trata-se da humanitas e, por isso, da rratÚEta em Existencialismo. Neste sentido amplo, em questão, grega. Mas a grecidade é sempre vista na sua forma também o Cristianismo é um humanismo, tardia, sendo esta mesma vista de maneira romana. em que, segundo a sua doutrina, tudo se ordena à sal- Também vação da alma (salus aeterna) do homem, aparecendo o homo romanus do Renascimento está em oposição ao homo barbarus. Todavia, o inumano é, age- 18 da "liberdade" e da "natureza" Distinguem-se, então, do mesmo modo, I de Marx que Sartre concebe, quando a história da humanidade fala na medida na moldura da história da 19 "'<:---~ crarfa sobre o qumanismo salvação. Por mais que se distingam humanismos estas espécies de segundo as suas metas e fundamentos, I .vantando-se no próprio seio da Metafísica a questão: a [ue é Metafísica? De início, questões acerca do "ser" e maneira e os meios de cada realização, e a forma da sua s bre a verdade do "ser" podem ser apresentadas doutrina, questões "metafísicas". todas elas coincidem nisto: que a hum~itas do homo humanus é determinada a p~tir do ponto de r O primeiro humanismo, r--..... ~ vista de uma inter retacão fixa da natureza, da história ~ '----. :>o, do mundo e do fundamento ----=------ ~-- tipos do humanismo , do mundo, isto é, do pon- to de vista do ente na sua totalidade. ( Todo o humanismo metafísica. Toda a determinação de uma tal da essência do homem que já pressupõe a interpretação do ente, sem a questão da verdade do ser, e o faz sabendo ou não sabendo , é Metafísica. Por isso, mostra-se, e isto no tocante ao modo como é determinada a essência do homem , o elemento mais próprio de toda a Metafísica, no fato de ser "humanística". manismo De acordo com isto, qualquer permanece humanidade metafísico. Na determinação do homem, o humanismo huda não só deixa de questionar a relação do ser com o ser humano, mas o humanismo tolhe mesmo esta questão, pelo fato de, por causa de sua origem metafísica, não a conhecer II nem a compreender. natureza particular E vice-versn, a necessidade pres~n~ .. " como o'b'" via a essencia mais universal ---_._..-..,,-do homem.. O homem é tomado como animal rationale, Esta determinacão não é apenas a se funda ou numa Metafísica ou ele mesmo se postula como fundamento e todos os g~e, desde ~p~ão até~ -te ~d têm .surgi o, pressupõem > o romano, como I tradu cão latina da expressão grega S<POU Â,óyou EXOU, . I mas uma interpretação iessencial do homem ci6nada metafísica. Esta determinação não é falsa. Mas ela é condi- pela Metafísica, cuja origem essencial apêrlãSãs seus limites s~ tOE~ar~ml contudo, Temp-;,dignos questionado de serem 9uestio~_s. foi, primeiro, ao consumo em S~r e, O digno de ser confiado ao pensar como aquilo que ele deve pensar, atirado e nã-;;. mas de maneira de uma dissolvente alguma compulsão de dúvida. A Metafísica representa realmente o ente em seu ser e pensa assim o ser do ente. Mas ela não pensa a diferença de ambos (Vide "Sobre a Essência do Funda- e a mento", 1929, pág. 8; "Kant e o Problema da Metafísi- da questão da verdade do ser, es~ ca", 1929, pág. 225, e ainda, "Ser e Tempo", 1927, pág. . quecida na Metafísica e através dela, só pode vir à luz 20 -- 230). A Metafísica não levanta a questão da verdade do 21 <larIa sobre o qumanismo ser-ele-mesmo. Por isso ela também jamais questiona o pr ceder-se assim, pode situar-se, desta maneira, o ho- modo como a essência do homem pertence à verdade mem, no interior do ente, como um ente entre outros. do ser. Esta questão até agora não foi levantada pela enuncia- Metafísica. Esta questão é inacessível para a Metafísica dos certos sobre o homem. É preciso, porém, ter bem enquanto Metafísica. O ser ainda está à espera de que .lararnente ele mesmo se torne digno de ser pensado pelo homem. relegado definitivamente Seja qua or a maneira de determinar a ratio do animal animalitas; é o que acontecerá, mesmo que não seja e a razão do ser vivo, tendo em mira a determinação equiparado ao animal e se lhe atribuírmos uma dife- essencial do homem, quer como "faculdade dos princí- rença específica. Pensa-se, em princípio, sempre o homo pios", quer como "faculdade das categorias" ou de outra animalis, mesmo que anima seja posta como animus maneira, em toda parte e sempre a essência da razão sive mens e mesmo que estes, mais tarde, sejam postos funda-se no fato de que, para toda a percepção do ente como sujeito, como pessoa, como espírito. Uma tal po- no seu ser, o ser-em-si-mesmo já se iluminou e acontece sicão é o modo próprio da Metafisica. Mas com isto a ----~--------~--~~----- historicamente na sua verdade. presente que o homem permanece assim para o âmbito essencial da essência do homem é minimizada e não é pensada na Do mesmo modo com animal, ç<po'Ujá se propôs sua origem. Esta origem essencial permanecerá sempre uma interpretação da "vida" que repousa necessaria- a origem essencial para a humanidade historial. ~;: mente sobre uma interpretação do ente como çoolÍ e tafísica pensa o homem a partir da animalitas, ela não <{mole;'em meio à qual se manifesta o ser vivo. Além pensa em disto, e antes de mais, resta, enfim, perguntar se a essência do homem como tal, originalmente - e com isto decidindo previamente tudo - realmente se funda I om isto se poderá afirmar, constantemente, ~ . ireçao a sua umanitas. ; A metafísica fecha-se à simples noção essencia~~ de que o homem somente desdobra o seu ser n sua-~--' essência, enquanto recebe o apelo do s~r. Somente na já "tem" ele enco~trado na dimensão da animalitas. Estamos nós no caminho i~timidade dest;;~~l~ certo para a essência do homem quando distinguimos aquilo em que mora a sua essência. Somente deste \I sempre o homem, e enquanto o distinguimos como ser vivo, morar "possui" ele "linguagem" como a habitação que entre outros, da planta, do animal e de Deus? Pode preserva o ex-stático para a sua essência. O estar pos- 22 23 , 'larta sobre o humanismo tado na clareira do ser é o que eu chamo a ex-sistência :rn nal, deixar tombar tudo de volta na vivência da vida, do homem. Este modo de ser só é próprio do homem. n lmoestando-se ainda, com ilusória segurança, que o A ex-sistência assim entendida não é apenas o funda- pensar destrói, pelos seus conceitos rígidos, o fluxo mento da possibilidade da razão, ratio, mas é aquilo Ia vida e que o pensar do ser deforma a existência. em que a essência do homem conserva a origem de fato de a Filosofia e a química fisiológica poderem sua determinação. examinar A ex-sistência somente se pode dizer da essência r O homem como organismo, sob o ponto de vista dãsCiências a atureza, não é nesteeIem~t~ rova_de Que -~ no d e "ser;". pois, apenas o h ornem, ao menos tanto "orgânico", isto é, de que no corpo ex- ~ _ •... . - - -- ~ ..., .••.. - plicado cientificamente resida a essência do ho~I11..._ quanto sabemos, nos limites da nossa experiência, está Isto vale tampouco como a opiciã;-de iniciado no destino da ex-sistência. É por isso que a atômica, esteja encerrada a essência da natureza. Pois, ex-sistência nunca poderá ser pensada como uma ma- poderia mesmo acontecer que a natureza escondesse neira específica de ser entre outras espécies de seres precisamente a sua essência, naquela face que oferece vivos; isto naturalmente supondo que o homem foi as- ao domínio técnico do homem. Como a essência do sim disposto, o que deve pensar a essência do seu ser homem não consiste em ser um organismo animal, e não apenas elaborar relatórios sobre a natureza e a assim também não se pode eliminar e compensar esta história da sua constituição e das suas atividades. Desta insuficiente determinação da essência do homem, ins- maneira, funda-se na essência da ex-sistência também trumentando-o com uma alma imortal ou com as facul- aquilo que atribuímos ao homem, mediante a compa- dades racionais, ou com o caráter de pessoa. Em cada ração com o "animal". O cor o do homem é algo de- caso, passa-se por alto a essência, e isto em ~ essencialmente diferente de um organismo animal. O mesmo prqjeto metafisiço. do homem, isto é, somente a partir do modo huma- ~ ___ -- .----- que, na energia ~ .- d'rro do biologismo não está supera-o quan o se j~-nta ~quilo que o homem é, o que na linguagem tra- ao elemento corporal do homem a alma e à alma o dicional da Metafísica se chama a "essência" do ho- espírito e ao espírito o aspecto existencial, pregando mem, reside na sua ex-sistência. Mas a ex-sistência, as- ainda alto como até agora o apreço pelo espírito, para, sim pensada, não é idêntica ao conceito tradicional do 24 .25 ~' crarta sobre o qumanismo existentia, que significa realidade efetiva, na diferença (~v rdade que ainda fica aberta a questão se através do com a essentia enquanto possibilidade. Em Ser e Tempo tVI'ITIO (pág. 42), encontra-se a frase grifada: "A essência do 'I 'nas à primeira vista, como realidade efetiva, já é ser-aí reside na sua existência". P insado com suficiente exatidão o ser da pedra ou Aqui não se trata de uma contraposição de existentia e essentia, porque, de 111 "exístentíu", em suas interpretações, diferentes smo a vida como ser da flora e da fauna. Em todo maneira alguma, ainda estão em questão estas duas 'ns , os seres vivos são como são, sem que, a partir do determinações , 'LI metafísicas do ser, nem se fale então da sua relação. A frase contém, ainda muito menos, uma ser como tal, estejam postados na verdade do ser, Ifl.l(udando numa tal postura o desdobramento afirmação geral sobre a existência (dasein), na medida ial do seu ser. Provavelmente, essen- causa-nos a máxima em que esta designação surgiu, no século XVIII, para dificuldade, entre todos os entes que são, pensar o a palavra "objeto" deveria expressar o conceito metafí- li sico de realidade efetiva do real. Ao contrário, a frase r .ntesco mais próximo, estando, contudo, diz: O homem desdobra-se assim no seu ser (west) que Indo, ao mesmo tempo, separado por um abismo da ele é o "aí", isto é, a clareira do ser. Este "ser" do aí, e nossa essência ex-sistente. Em comparação somente ele, possui o traço fundamental da ex-sistên- n s parecer que a essên~ia do divino nos é mais próxi- cia, isto é, significa o traço fundamental da in-sistên- ma, como o elemento estranho do ser vivo; próxima, cia ex-sratíca na verdade do ser. A essência ex-srática quero dizer, numa distância essencial, que, enquanto r vivo, porque, por um lado possui conosco o papor outro ~--------~----,--pode até do homem reside na sua ex-sistência, que permanece listância, contudo, é mais familiar para a nossa essên- distinta da existentia .ia ex-sistente que o abissal parentesco corporal com compreendida pensada metafisicamente. Esta é pela Filosofia Medieval como actuali- o animal, quase inesgotável para o nosso pensamento. tas. Kant representa a existentia como a realidade efe- Tais considerações tiva no sentido da objetividade da experiência. Hegel determinação corrente e, por isso, sempre provisória e determina apressada, do homem como animal rationale. a existentia como a idéia que se sabe a si lançam uma estranha luz sobre a Porque - -'- mesma, a idéia da subjetividade absoluta. Nietzsche as plantas e os animais estão mergulhados, concebe a existentia como o eterno retorno do mesmo. .no seio de seu ambiente próprio, mas nunca estão in- '--~"""- ---_ cada qual •.... ~---------------------------------- 26 27 crarta sobre o qumanismo c---é mundo -,""'" __-por isso, falta-Ihes a lingu;g~m. E n~ seridos livremente na clareira do ser - e só esta clareira 11 11 -, porque lhes falta a linguagem estão eles s~sos sem mundo no seu ambiente. Mas nesta palavra "ambiente" concentra-se toda a dimensão enigmática do ser vivo. Na sua essência, a linguagem não é nem exteriorização de um organismo nem expressão de um ser vivo. Por -nt ,quer perguntemos pelo que é o homem, quer tllIlII 111 I f \ 1I temos quem é o homem. Pois no quem? e no no, e talvez nem mesmo a partir do seu valor de significação. Linguagem é advento iluminador-velador - ~ do r-- ~a, IIII 'I" da 11"1 ) com a existentia. ~ - Ex-sistência si nifica sob o <: ontc: de ncia" não se determina, nem a partir do esse essen- I IIC, I nt \ I \' I da idéia. E~istência nomeia a-º,e.terminacão da uilo o homem é no destino da verdade. Existentia per- manece o nome para a efetivação daquilo que uma coisa é, enquanto se manifesta na sua idéia. A frase: nta o ser-aí, enquanto toma sob o seu é real ou não, mas responde à questão da "essência" d'o levantar esta questão inadequa-' 28 id d 11 CUl a o 11 enquanto clareira do ser. Mas o ser-aí mesmo é Ilquanto "[ogado''. Desdobra o seu ser no lance do ser lispensa o destino e a ele torna dócil. A suprema confusão seria, se se quisesse explicar 1\\1' 1\ [ra e sobre a essência ex-sistente do homem, como se Ii IHSC uma transposição secularizada de um pensamento r-xpresso pela teologia cristã sobre Deus (Deus est suum I'.~$ '), para aplicá-Ío ao homem; a ex-sistência não é nem \ 111)':t realização efetiva de uma essência, nem causa e 110 homem ex-siste", não responde à pergunta se o homem homem. Costumamos em a partir do esse existentíae, mas a partir do eleex-státíco do ser-aí. Como ex-sistente, o homem (existence) quer, ao contrário, dizer actuaUt'as, realidade efetiva, em oposição com a pura possibilid~de "Wesen" entre aspas. Isto significa que agora a II ,,-,-~,----------..;.::. Existentia ~ 11ldllvl",:t =--..., vista do seu conteúdo, estar exposto na verdade do ser. e-- que possui caráter objetivo. Com cautela se escre- I1 111 ao conteúdo, nem quanto ~a, ex-sistência ontológico-historial, e não menos por isso, na frase citada em Ser e Tempo (pág. 42) a I pensada extaticamente, não coin- c~uanto possui caráter de objeto. Mas o elemento pesso- ti íulha e obstrui, ao mesmo tempo, o desdobramento 111 próprio ser. temos em vista algo que possui caráter de pessoa 1111 \lU isso, ela também não pode ser pensada em harmonia com a sua essência, nem a partir do seu valor de sig- Jú 111111 por si mesma o que é essencial (EssentíeHe). Se se compr cende o projeto nomeado em Ser e Tempo como um I ór que representa, então ele será como que a produII ll 29 <rarfa sobre o humanismo ção da subjetividade :\ que, desde Platão, diz: a essentia precede a e não se dá como a "compreensão mundo"; unicamente a relação ex-stática II pode ser pensada, a saber, como com a clareira do ser. A tarefa de repetir e acompanhar, de maneira adequada e suficien- te, este outro pensar que abandona a subjetividade foi, meira Parte, Tempo e Ser (Víde Ser e Tempo, pág. 39). É aqui que tudo se torna confuso. A seção problemática foi retida, porque o dizer suficiente desta reviravolta fracassou e não teve sucesso com o auxílio da linguagem da Metafísica. A conferência intitulada da verdade, pensada e pronunciada Sobre a essência em 1930, mas ape- nas impressa em 1943, oferece uma certa perspectiva sobre o pensamento da reviravolta de Ser e Tempo para Tempo e Ser. Esta reviravolta não é uma modificação do ponto de vista de Ser e Tempo; mas nesta reviravolta o pensar ousado alcança a região dimensional qual Ser e Tempo foram compreendidos compreendidos esquecimento a partir da e, na verdade, a partir da experiência fundamental do do ser. Sartre, pelo contrário, exprime assim o princípio do existencialismo: a existência precede a essência. Ele toma, ao dizer isto, existentia e essentia na acepção da 30 \,' II I\. ,1 1111 Mas a inver- lima frase metafisica permanece uma frase meta~ m esta frase, permanece ele com a Metafisica, I- cimento da verdade do ser. Pois, ainda que a I' \ h ofia determine a relação de essentia e existentia, no Illil\ sem dúvida, dificultada pelo fato de, na publicação de Ser e Tempo, eu haver retido a Terceira Seção da Pri- artre inverte esta proposição. 11'111 1ft. do ser", no âmbito da "analítica existencial" do "ser-no- das controvérsias da ldade Média ou no senti- I, Leibniz; de outro modo, antes de tudo isto, resta I1II II )Iltudo, perguntar, a partir de que destino do ser esta 11 ,I ínção no ser de esse essentiae e esse existentiae chega 1'1' I\I pensada. Permanece desafiando itivo por que o questionamento o pensamento o deste destino do ser n linca foi levantado e por que esta questão não podia " 'r pensada. Ou é esta situação da distinção da essentia , existentia um sinal do esquecimento do ser? Podemos , njeturar que este destino não reside numa simples omissão do pensar humano e muito menos numa me- nor capacidade do pensamento dos primórdios do Oci- dente. A distinção entre essentia (quididade) e existentia (atualidade) perpassa o destino da história ocidental e da história determinada pela Europa. A frase principal de Sartre sobre a precedência da existência sobre a essentia justifica, entretanto, "Existencialismo" como um título adequado o termo para esta filosofia. Mas a frase capital do "Existencialismo" 31 não <larfa sobre o qumanismo tem o mínimo de comum com aquela frase em Ser e Tempo; sem levar em consideração nem se podia ainda pronunciar que em Ser e Tempo um juízo sobre a rela- ção de essentia e existentia pois trata-se, ali, de preparar algo precursor. Pelo que dissemos, isto ainda se apre- senta de um modo bastante desajeitado. Talvez o que ainda resta para dizer possa, eventualmente, transfor- mar-se num estímulo para levar a essência do homem a I hlsr rialmente, 111 I' ", ru 'I' I I , I 11 , ",I" 111 1 de .ououx, a tradição encobridora ue nomeia a presença do que se apresenta na maioria 'das vezes, através ele uma enigrnáti- nmbígüídade, visa à própria coisa que se apresenta. I p'5 I armos o nome metafisico , utilizada em Ser e Tempo, nruição fenomenológica" -nt "substância", nesta de acordo com a aí realizada, já se tinha em (pág. 25) então a proposição "A 'substância' do o modo como o homem se atentar, com o pensar, para a dimensão da verdade do 1IIIm m é a ex-sistência'': ser que o perpassa com o seu domínio. 1Ip" 'senta em sua própria essência ao ser é a ex-stática Todavia, tarn- bérn isto só poderia acontecer a favor da dignidade do In-sistência ser e em benefício do ser-aí, que o homem, ex-sistindo, Iiu manísticas do homem como animal rationale, como sustenta, e não por causa do homem, para que através ", ssoa", como ser espiritual-anírnico-corporal, da sua obra se afirmem a civilização e a cultura. Para que nós, contemporâneos, gir, entretanto, a dimensão na verdade elo homem, as interpretações não são I, laradas falsas nem são rejeitadas. Ao contrário, o possamos atin- da verdade do ser a fim único pensamento que se quer impor é o de que as mais altas determinacões humanísticas da essência do de poder rnedíra-ln, deveremos, primeiro, tornar desde homem ainda não experimentam já bem claro como o ser se dirige ao homem e como mente dita do homem. o requisita. Tal experiência essencial nos será dada se Ser e Tempo, compreendermos ção não significa que um tal pensar se oriente para o que o homem Digamo~lo, primeiro, é enquanto ex-sisre. na linguagem da tradicão . , onde Neste sentido, é contra o humanismo. lado oposto do humano - defendendo isto quer dizer: a existência do homem é a sua substân- desumanidade cia. Por isso, aparece repetidas vezes a frase em Ser e Pensa-se contra o humanismo Tempo: "A 'substância a humanitas do homem' é a existência" (págs. 117, 212 e 314). Mas a substância é, pensada ontoló. a dignidade propria- o pensar, em Mas esta oposio inumano - ou degrade a dignidade ea do homem. porque ele não instaura do homem numa posição suficientemente alta. É claro que a sublimidade 32 da essência do homem 33 --- -- -- -- ------------------ crarfa sobre o humcnísmo não repousa no fato de ele ser a substância do ente próximo. E, contudo, a proximidade permanece, para o como seu "sujeito", para, na qualidade de potentado do homem, a mais distante. O homem atérn-se primeiro e ser, deixar diluir-se na tão decantada "objetividade", a para sempre apenas ao ente. Quando, porém, o pensar entidade do ente. r 'I resenta o ente enquanto ente, refere-se, certamente, Pelo contrário, o homem é "atirado" pelo próprio ser na verdade do ser, para que, ex-sistindo, desta ma- 110 ser; todavia, pensa, constantemente, apenas o ente como tal e precisamente não e jamais o ser como tal. A neira, guarde a verdade do ser para que na luz do ser o 11 ente se manifeste como o ente que efetivamente é. Se e  como o ente aparece, se e como o Deus e os deuses, a (illaciosaexpressão: a pergunta acerca do ser. A Filosofia história e a natureza penetram na clareira do ser, como s gue, como em Descartes e Kant, também ali onde ela se apresentam e ausentam, não decide o homem. O se torna "crítica", constantemente na esteira da represen- advento do ente repousa no destino do ser. Para o ho- (ação metafisica. Ela pensa, partindo do ente e para ele mem, porém, permanece a questão de saber se ele acha s dirigindo, na passagem pela mediação de um olhar a conveniência adequada àsua essência, que correspon- 1 ara o ser. Pois na luz do ser está situado cada ponto de de a este destino, pois, de acordo com ele, o homem é o 1 artida do ente e cada retorno a ele. pastor do ser. É somente nesta direção que Ser e Tempo pensa quando é experimentada a existência ex-srática como "o cuidado" (§ 44a, págs. 226 e segs.). luestão do ser" permanece sempre a questão do ente. questão do ser não é ainda aquilo que designa esta A Metafísica, porém, somente conhece a clareira \0 ser ou desde o olhar que nos lança aquilo que se apresenta no "aspecto" tOEU ou criticamente, como o Mas o ser - o que é o ser? Ser é o que é mesmo. objeto da perspectiva de representação categorial por Experimentar isto e dizê-lo é a aprendizagem pela qual parte da subjetividade. Isto significa: a verdade do ser deve passar o pensar futuro - não é Deus nem um fun- como a clareira em si mesma permanece oculta para damento do mundo. O ser é mais longínquo que qual. a Metafísica. Este ocultar, porém, não é uma lacuna quer ente e está mais próximo do homem que qualquer da Metafísica, mas o tesouro da riqueza a ela mesma ente, seja este uma rocha, um animal, uma obra de arte, recusado e ao mesmo tempo apresentado. uma máquina, seja um anjo de Deus. O ser é o mais em si, porém, é o ser. Somente ela garante, no seio do 34 35 A clareira crarfa sobre? o humanismo destino ontológico da Metafísica, a perspectiva a partir da qual as coisas que se apresentam afetam o homem que lhes vem ao encontro: desta maneira, o próprio ho- ,I,\ da I atrai a visão para si e a ela se entrega quando o perceber se transforma no propor-diante-de-si, cogitans como subjectum Supondo simploriamente: na perceptio da res da certitudo. que em si nos seja dado questionar como se comporta, tão então, o ser em relação à ex-sistência? O ser é a relação, na medida em que retém, junto a si, a ex-sistência na sua essência existencial, isto é, ex-stática e a recolhe junto a si, como o lugar da verdade do ser, no seio do ente. Pelo fato de Ili \1\1) to o homem o sustenta ex-staticamente, isto é, assume com cuidado, ele desconhece primeiro o mais próximo e atem-se ao que vem depois deste. Ele pensa até que isto é o mais próximo. Contudo, mais próximo que o próximo e, ao mesmo tempo, mais remoto que o mais longínquo para o pensamento corrente, é esta proximi- ularizado, mas nomeia uma relação essencial do hoIII In m o ser, no seio do ser referenciado à essência " ,,, \ he mem. Portanto, as expressões preparatonas 11 au- I 1111 idade" e "inautenticidade", usadas como prelúdio, I I li 1 significam uma distinção moral-existencial, \I nem mtr pológica", mas a relação "ex-stática" do ser huma- m a verdade do ser que é a primeira a ter que ser I \I \ li -nsada porque até agora oculta para a Filosofia. Mas relação é como é não em razão da ex-sistência, mas (i\ I 'S ência da ex-sistência é existencial-ex-staticamente a IHI rtir da essência da verdade do ser. A única coisa que o pensar que, pela primeira vez, pr ura expressar-se em Ser e Tempo gostaria de alcan- \I\\' ' algo simples. Como talo ser permanece misterio- nrnente como a singela proximidade de um imperador [u não se impõe à força. Esta proximidade • 'LI desdobra o ser como a própria linguagem. Mas a linguagem não ~,npenas linguagem, no sentido em que a concebemos, quando muito, como a unidade de fonema (grafema), m lodia e ritmo e significação (sentido). Pensamos fo- dade a verdade do ser. O esquecimento sob o de vista da "filosofia moral" e ao mesmo tempo o homem como ex-sistente vir a postar-se nesta relação que é a forma como o próprio ser se destina, enquan- em Ser e Tempo. A palavra u : ' refere a uma queda do homem, entendida 1\ mem pode apenas perceber o seu 8tydu na percepção uosiu, (Aristóteles, Met. 8, 10); somente a perspectiva "decaída" nomeada da verdade do ser, em favor da agressão do ente impensado 36 na sua essência, é o sen- I) 'ma e grafema como o corpo da palavra, melodia e rir- mo como a alma e o que possui significação adequada, 37 <larIa sobre o humanismo II I (I, a linguagem a partir da correspondência à essência do d dobra o seu ser no elemento dimensional que é a homem, na medida em que esta é representada como animal rationale, isto é, como a unidade do corpo-alma, I" ('Iprj(l maneira de o ser ser. pensar é atento a estas simples relações. Para espírito. Todavia, assim como na humanitas do homo I animalis, a ex-sistência permanece oculta e, através dela, , I Il\ a relação da verdade do ser com o homem assim en- 111 cobre a interpretação metafísico-animal da linguagem a 1111' ainda importa uma expressão como tal - deixa sua essência ontológica historicaL De acordo com ela, I,· I rocura ele a palavra adequada no seio da língua- I tradicional da Metatlsica e da Gramática, que vem I nge. É problemático se um tal pensar - supondo n Ia denominar-se humanismo. Certamente que não, a linguagem é a casa do ser manifestada e apropriada \ nquanto o humanismo pelo ser e por ele disposta. que não, se for Existencialismo e defender a frase que Por isso, trata-se de pensar a essência da linguagem a partir da correspondência correspondência, ao ser enquanto ou seja, como habitacão da essência já é metafísico. Certamente 'artre exprime: Précisément nous sommes sur um plan ou iL y a seulement des hommes (L'Existencialisme est um Humanisme, pág. 36). Em vez disso, pensando a partir de Ser e Tempo, deveria dizer-se. Précisément nous sommes do homem. O homem, porém, não é apenas um ser vivo, sur um plan ou il y a principalment L'Être. Mas de onde pois, ao lado de outras faculdades, também possui a vem o que é le plan? L'Être et le plan são o mesmo. Em linguagem. Ao contrário, a linguagem é a casa do ser; Ser e Tempo, vem dito intencionalmente e com cuidado nela morando, o homem ex-siste enquanto pertence à (pág. 212): il y a l'Être: "dá-se". O il y a traduz o lidá, verdade do ser, protegendo-a. se" de modo impreciso. Pois o "se" que aqui "dá" é o Assim, o que importa na determinação da huma- próprio ser. O "dá", contudo, nomeia aquilo que dá, nidade do homem enquanto ex-sistência é que o ho- a essência do ser que garante a sua verdade. O dar-se mem não é o essencial, mas o ser enquanto dimensão davia, não é o conhecido elemento espaciaL Ao con- claramente, com ele mesmo, é o próprio ser. lido li Emprega-se, ao mesmo tempo, o a-se para, proll visoriamente, evitar a expressão: 110 ser é ; pois comu- 38 39 do elemento ex-stático da ex-sistência. A dimensão, to' -------- tudo o que é espacial e todo o espaço de tempo como o espírito da linguagem. Pensamos comumente -- -- - - ------- mente diz-se "é" das coisas que são. Estas nós as 'desig- I \I[n namos .de ente.Ma~ .oser justamente não "é 'o 'ente". I Se "é" vem dito sem maíorexplícitação I! '11S~, penetrando na verdade do ser" é, enquanto pen- do ser então o história se' manifesta na linguagem pela palavra h), [ ensadores ser é representado com demasiada facilidade como um 1\1', essenciais. É por isso que o pensar que historial. Não existe um pensar "sistemático" e, ao "ente", ao modo do 'ente conhecido, que opera como IlId ), para ilustração, uma história das opiniões passa- causa, e é operado como efeito. Contudo, já Parmêni- ilns. Mas também não existe, como pensa Heger, uma des afirma nos primórdios do pensamento: E'tcrt 'Dyáp ist mática que fosse capaz de fazer da lei de seu pensar E'lu<Xt É o saber, o "sei". Nesta palavra esconde-se o lima mistério originário para todo o pensar. Talvez o "é" só t possa ser dito, de maneira adequada, apenas do ser, radicalmente, a história do ser à qual o pensar, como de maneira tal .que todo ente jamais propriamente "é". memorial desta história, pertence, acontecendo através Mas como o pensamento ainda deve atingir a dimensão Ia posterior recordação da história, no sentido do que em que dirá o ser na sua verdade, em vez de explicá-lo teve lugar no passado. A história não acontece primeiro como um ente a partir do ente, deve ficar aberta para a como evento. E este não é um simples passar; O evento solicitude do pensar a questão se, e como o ser é. da história desdobra-se em ser como o destino da ver- O EO'n'D yáp Etuoa de Parmênides permanece lei da história e que pudesse sobressair ao mesmo mpo, a esta, no sistema, Existe, se pensarmos mais dade do ser" a partir dele (Vide Conferência sobre o Hino ainda hoje impensado. Por aí se pode medir como se de Hotclerlin "Como um dia de festa. ..", 1941, pág. 31). dá o progresso da Filosofia. Ela não progride de for- Ao destino chega o ser, na medida em que ele, o ser, se ma alguma se respeitar a sua essência. Ela marca passo dá. Mas isto significa, quando pensado em conformi- para pensar sempre o mesmo. O progredir, a saber, afas- dade ao destino: ele dá-se e recusa-se simultaneamen- tar-se deste lugar, é um erro que segue o pensar como a te. Entretanto, sombra que ele mesmo projeta. Porque o ser está ainda como desenvolvimento, do, "espírito", não é destituída impensado, diz-se também, em Ser e Tempo, do ser: "dá- de verdade. Ela, porém, também. não é, em parte certa se". Sobre este il y a não se pode especular sem mais e e em parte falsa. Ela é tão verdadeira como é verdadei-ra sem apoio. Este "dá-se" impera como o destino do ser, a Mietafísica que, pela primeira: vez, em Hegel, traz à 40 411 a determinação hegeliana de história, <rarfa sobre o humanismo linguagem a sua essência pensada de modo absoluto no sistema. A Metafísica absoluta faz parte - com suas inversões, através de Marx e Nietzsche - da história da verdade do ser. O que dela provém não se deixa atingir nem afastar por refutações. Somente se deixa assumir na medida em que se recolhe sua verdade, mais radicalmente no ser mesmo, retirando-a da esfera de uma opinião apenas humana. Néscia é toda a refutação no campo do pensar essencial. A disputa entre pensadores é a "disputa amorosa" da mesma questão. Ela auxilia-os alternadamente a penetrar na simples participação no mesmo, a partir do qual eles encontram a docilidade no destino do ser. Supondo que o homem, no futuro, seja capaz de pensar a verdade do ser, então ele pensará a partir da ex-sistência. Ex-sistindo está ele postado no destino do ser. A ex-sistência do homem é, enquanto ex-sistência historial, mas não é um primeiro lugar e apenas pelo fato de, no decurso do tempo, muitas coisas acontecerem com o homem e as coisas humanas. Pelo fato de se tratar de pensar a ex-sistência do ser-aí, por isso o pensar, em Ser e Tempo, está tão fundamente interessado em que seja experimentada a historicidade do ser-aí. Não se diz, porém, em Ser e Tempo (pág. 212), onde se fala do "dá-se". "Somente enquanto é ser-aí, 42 ,li I' q \I \ 1\ I III ser"? Sem dúvida. Isto significa: somente ense manifesta a clareira do ser este se transmite homem. Mas o fato de aí, a clareira enquanto a ,d,lde do próprio ser, acontecer e manifestar-se, é a I 1l'o.tinaçãodo próprio ser. Este é o destino da clareira tIIHlicionalda existentia e no sentido moderno como a II i1\idadeefetiva do ego cogito, é aquele ente através do qual o ser é primeiramente criado. A frase não afirma que o ser é um produto do homem. Na Introdução a S'r e Tempo (pág. 38) está escrita de maneira simples e -lara e até em grifo: "Ser é transcendente como tal". As- sim como a abertura da proximidade espacial ultrapassa qualquer coisa próxima ou distante, quando vista a partir desta, assim o ser é fundamentalmente mais amplo que todo o ente, porque é a própria clareira. Neste caso, ainda se pensa de acordo com o ponto de partida inicialmente inevitável, situado na Metafísica ainda dominante, o ser a partir do ente. Somente a partir de tal perspectiva o ser se mostra num ultrapassar e como este mesmo. A determinação introdutória "Ser é o transcendente como tal" reúne, numa simples frase, a maneira como até agora a essência do ser se manifesta ao homem. Esta determinação retrospectiva da essência do ser permanece incontornável para o ponto de partida 43 (l.arfa sobre o humanismo antecipador da questão .da verdade do ser. Longe dele está a presunção de querer começar tudo desde o início e declarar falsa toda a filosofia anterior. Para um pensar que procura pensar a verdade do ser, a única questão que permanece é se a determinação plesmente transcendente do ser como o sim- já nomeia a simples essência da verdade do ser. Por isso, também se diz na página 230 que somente a partir do 11 sentido" , isto é, a partir da verdade do ser, se pode compreender como o s.er é. O ser manifesta-se ao homem no projeto ex-stático, mas este projeto não instaura o ser. E, além disto, o projeto é essencialmente projeto jogado. Aquele o homem, um que joga no projetar mas o próprio ser que destina não é o homem para a ex-sistência do ser-aí como sua essência. destino Este acontece como a clareira do ser, forma sob a qual o destino é. Ela garante a proximidade na clareira do "aí", mora o ho- Nesta proximidade, mem como o ex-sistente, de experimentar ao ser. sem que já hoje seja capaz propriamente este morar e assumi-lo. imíd a de IIde ser, modo como o "aí" do ser-aí é A proxrrm pensado - na conferência sobre a elegia de Hõlderlin I' 11\ ir I Ia experiência do esquecimento I' 11 I 1'[\ 11 I I 'om acento patriótico, t I I , Ir 110 li' é pensada aqui numa acepção mais .originária, nem nacionalista, mas de I ) com a história do ser. Mas a essência da pátria mesmo tempo, nomeada com a intenção de pen- n apatridade \t'l\'in do ser. Esta do homem moderno a partir da his- do ser. O último a experimentar esta apatridade I li Nietzsche. Ele não foi capaz de encontrar, no seio \Ia Metafísica, outra saída que não fosse a inversão da M tafísica. Mas isto é a consumação T davia, Holderlin HO", preocupa-se, da perplexidade, ao compor para que os seus "contemporâneos" o lugar do seu desdobramento o "R etor- reencontrem essencial. Isto ele não o procura, de maneira alguma, no egoísmo de seu povo. Ele o vê, ao contrário, a partir da condição de eles fazerem parte do Ocidente. Mas Ocidente não é pensado regional e geograficamente, opõe ao oriental, também enquanto o ocidental se não é pensado como a Eu- ropa, mas na perspectiva da história universal a partir da proximidade com a origem, Nós praticamente da não comecamos a pensar as misteriosas ain- relações 11 "Retorno" (1943) a partir de Ser e Tempo - éa partir da com o Oriente, Holderlin que assomaram (Vide "O Jster" e "A Peregrinação", e.segs.). O "alemão ll poesia do Poeta que-esta proximidade do ser é percebi- da numa linguagem mais radical e nomeada a "pátria" à palavra na poesia de não é proclamado 9 3 estrofe ao mundo para que este se restabeleça no modo de ser alemão, mas 45 <larfa sobre o humcnismo é dito para os alemães, para que eles, em verdadeiro universalismo, mundo se tornem participantes da história do (Sobre a poesia de Hõlderlin, Tübinger Gedenkschrift, "Lembrança". 1943, pág. 322). A pátria deste habitar historial é a proximidade do ser. É nesta proximidade que se realiza - caso isto um dia aconteça - a decisão se e como o Deus e os deuses IlIdl evitar de ter o ser na representação, também o ser I I Ii 'ado apenas como o "mais geral" e, portanto, o pll .ngloba o ente ou como criação do ente infinito, ou I I\d(\, como produção de um sujeito finito. Ao mesmo 11111\ ,"o ser", desde a Antiguidade, situa-se em lugar "1111 nte", e vice-versa, este em lugar daquele; ambos IIIIlssados numa estranha e não refletida confusão. O ser enquanto destino que destina verdade per- se recusam e a noite permanece, se e como amanhece o dia sagrado, se e como, no surgimento do sagrado, pode recomeçar uma manifestação de Deus e dos deuses. O sagrado, porém, que é apenas o espaço essencial para a deidade -, o qual, por sua vez, apenas garante uma dimensão para os deuses e o Deus -, manifesta-se somente, então, em seu brilho, quando antes e após a longa preparação, o próprio ser se iluminou e foi experimentando em sua verdade. Só assim começa, a partir do ser, a superação da apatridade, na qual erram perdidos, não apenas os homens, mas também a essência \\ll I oesia, sem que ainda se torne manifesto como a história do ser. O pensamento de caráter universal de "Le b '" \ \()lderlin, que se expressa no poema m rança, e I or isso mais essencialmente radical e, por isso, mais tecipador que o puro cosmopolitismo ill de Goethe. Pela mesma razão, a relação de Holderlin com a grecilade é essencialmente diferente que não o humanismo. Por isso, os jovens alemães que sabiam de Holderlin, I ensaram e viveram bem outra coisa em face da morte, do que aquilo que a opinião pública apresentava como do homem. A apatridade que assim deve ser pensada reside no abandono I\)l\ncce oculto. Mas o destino do mundo anuncia-se antológico do ente. Ela é o sinal do es- quecimento do ser. Em conseqüência dela, a verdade do ser permanece impensada. O esquecimento do ser manifesta-se indiretamente no fato de o homem sempre considerar e trabalhar só o ente. E como nisto não sendo a opinião alemã. A apatricidade torna-se um destino do mundo. É por isto que se torna necessário pensar este destino sob o ponto de vista ontológico-historial. O que Marx, a partir de Hegel, reconheceu, num sentido essencial e significativo, como alienação do homem, alcança, com 47 46 ----- ---------------~-=-=-==-----~----------~~ Garfa sobre o humanismo' III suas raizes, até a apatricidade do homem: moderno. 11,,11\ Esta alienação é provocada e isto, a partir do destino do ser, na forma de Metafísica, é por ela consolidada 1I e ao mesmo tempo por ela mesma encoberta, como homem experimentado como subjetividade. I lli In 1\ \ n j 'obre esta, não há dúvida, muito se-escre- 1 Il outro tipo de historiografia. M-asporque nem Husserl, I j I I, nem, quanto eu saiba até agora, Sartre reconhecem I a gente se liberte das representações ingênuas sobre o materialismo e das refutações mesquinhas tendem que pre- atingi-lo. A essência do materialismo não consiste na afirmação de que tudo apenas é matéria; ela consiste, ao contrário, numa determinação me, tafísica, segundo a qual' todo o ente aparece corno a matéria de um trabalho. A essência moderna e a me, tafísica do trabalho foram antecipadas no pensamento da Fenomenología dó Espírito, de Hegel, como o processo que a si mesmo se instaura, da produção. in- 48- I mas ela origina,se ontológico.historicalmen, I I" I o ente manifesto. Enquanto uma forma da I ,a técnica funda-se na história da Metafísica. I U ma fase privilegiada da história do ser e a Ia qual, até agora, podemos ter uma visão de \111 11\ necessário que \:lI , apenas com seu nome, até à 'tE:X'Ull dos \\l\'l1i)[ 111111 Existencialismo atingem aquela dimensão, no seio da Mas, para isto, é naturalmente da verdade do ser, LI \X'Ull como um modo de àÂ.1l8EÚElV, isto é, que a dimensão essencial do elemento da História re- tivo com o marxismo. esconde,se na essência I I no esquecimento. A técnica não remonta, I ria, a visão marxista da História é superior a qualquer qual é, em primeiro lugar, possível um diálogo produ, materialismo antológico-historial Ii ri a alienação, atingir uma dimensão, essencial da histó- nem o :\0 I ( uco se pensa. A técnica é, em sua essência, apatricidade. Pelo fato de Marx, enquanto experimenta side no ser, por isso, nem a Fenomenologia, Ia, isto é, da ohj.eti'tidadedo efetivamente 1\11:1 1 1111 \I ri to . I r mais diversas que sejam as pOSlçoes qtle se 111111:\1 em face das doutrinas do comunismo e da sua IlIl\d:ll1l_entação,é certo, sob o ponto de vista-ontológi, I1 I historial, que nele se exprime uma experiência ele, tar daquilo que é atual na história universal. Quem • 11 11 '..:1' 11 orno 11 nna o "comunlsmo. apenas como partido ou- c 1111'1 "vlHã do mundo" não pensa com suficiente, amplitude 11:1 mesma maneira como aqueTes que, na expressão "1\ IlIcricanismol1, apenas visam, e ainda com acento pee [orativo, um particular estilo de vida. 49 o: perigo para, .0 <larfa sobre o qumanismo I qual é impelido, cada vez mais nitidamente, o que até r' onduzir às suas origens, nem se deixa experimen- agora era a Europa, consiste provavelmente no fato de, lar, de modo suficiente, através de um pensamento que antes de tudo, o seu pensar - um dia a sua grandeza não radicaliza a mediação. Expulso da verdade do ser, - decair e ficar para trás, na marcha essencial do desti- o homem gira, por toda parte, em torno de si mesmo, no mundial que inicia; este, contudo, permanece deter- '( mo animai rationaie. A essência do homem, no entanto, consiste em minado pelo caráter europeu nos traços essenciais de Metafísica alguma, seja ela le ser mais do que simples homem, na medida em que idealista, seja materialista, seja cristã, pode, segundo a .ste é representado como o ser vivo racional. "Mais" sua essência, e de maneira alguma apenas nos esforços I despendidos em desenvolver-se, alcançar ainda o des- se a definição tradicional do homem tivesse que per- tino, isto é, atingir e reunir, através do pensar, o que manecer a determinação fundamental agora é do ser num sentido pleno. perimentar uma origem fundamental. ão deve ser entendido aqui em sentido aditivo, como para então ex- apenas um alargamento, através de um Em face da essencial apatricidade do homem, acréscimo do elemento existencial. O "mais" significa: mostra-se ao pensamento, fiel à dimensão ontológico- mais originário e por isso mais radical em sua essên- historial, o destino futuro do homem, no fato de ele cia. Aqui, porém, mostra-se o elemento enigmático: o achar o caminho para a verdade do ser, pondo-se a ca- homem é, na condição-de-ser-jogado. Isto quer dizer: o minho deste encontro. Cada nacionalismo é, do ponto homem é, como a réplica ex-sistente do ser, mais que de vista metafísico, um antropologismo e, como tal, um o animai rationaie, na proporção em que precisamente subjetivismo. O nacionalismo não pode ser superado é menos na relação com o homem que se compreende pelo simples intemacionalismo, a partir da subjetividade. O homem não é o senhor mas apenas ampliado e erigido em sistema. Tanto o nacionalismo não é con- do ente. O homem é o pastor do ser. Neste "menos" duzido à humanitas, e sobres sumido, como não o é o o homem nada perde, mas ganha, por quanto atinge a individualismo, através do coletivismo a-histórico. Este verdade do ser. Ele ganha a essencial pobreza do pas- I" a subjetividade do homem na totalidade. Ele realiza tor, cuja dignidade reside no fato de ter sido chamado incondicional auto-afirmação. Esta não se deixa pelo próprio ser, para guardar a sua verdade. Este apelo ,I .'lIa 50 51 crarta sobre o qumanismo vem como o lance no qual se origina a condição de serjogado do ser-aí. o homem morar ex-stárico na proximidade do ser. Ela é vigilân- é, em sua essência ontoló- cia, isto é, o cuidado pelo saber. Pelo fato de neste gico-historial, o ente cujo ser como ex-sistência consiste pensar dever ser pensado algo simples, parece ele tão no fato de morar na vizinhança do ser. O homem é o Iifícil ao tipo de representação que nos foi transmitido vizinho do ser. , mo Filosofia. Mas a dificuldade não consiste num Mas - o senhor já há muito deverá ter querido perder-se em profundas considerações de caráter parti- objetar-me - não pensa justamente um tal pensar a hu- ular e em formar conceitos complicados, mas oculta- manitas do homo humanus? Não pensa ele esta humani- se no recuar que faz penetrar e pensar num questionar tas num sentido tão decisivo, como Metafísica alguma em busca de experiência, e que abandona as opiniões a pensou e jamais a poderá pensar? Não é isto um correntes da Filosofia. Éo Opina-se, por toda parte, que a tentativa de Ser a humanidade do homem des- e Tempo findou num beco sem saída. Deixemos esta de a proximidade do ser. Mas é, ao mesmo tempo, o opinião entregue a si mesma. Para além de Ser e Tem- humanismo 1)0, o pensar que procura .dar alguns passos no tratado "humanismo" no sentido supremo? Certamente. humanismoquepensa no qual está em jogo, não o homem, mas a essência hi-storial do homem, na sua origem desde a que temeste verdade do ser. Não depende, porém, desta circunstân- çar. Entretanto, talvez este pensar se tenha aproximado cia, então, no mesmo tempo, de maneira absoluta, a um pouco mais do miolo de sua questão. Todavia,en- ex-sistência do homem? De fato, assim é. quanto a Filosofia apenas se ocupar em obstruir cons- título, ainda hoje não conseguiu avan- Em Sere Tempo (pág; 38) afirma-se que todo o tantemente a possibilidade de penetrar na questão do Filosofia "repercute na existência". pensar..a saber,a verdade do ser, ela está certamente Mas a existência não é aqui a realidade efetiva do ego livre do perigo de um dia romper-se na dureza da sua cegue. Ela .tarnbém não é apenas a realidade efetiva dos questão .. Por esta razão .o "filosofar" sobre o fracasso sujeitos que agem juntos e .uns para os outros e assim está separado, por um abismo, de um pensar quereal- chegam .a si mesmos. "Ex-sistêncía" é, numa diferença mente fracassa . .Se um dia o homem tivesse -a sorte de fundamentalccmoqualquer realizar um tal pensar, não aconteceria uma desgraça. A question:amentoda :52 existentiae "existence", o (lar{a sobre o qumanismo questão. Na penúltima página de Ser e Tempo (pág. ele, pelo contrário, seria concedido o dom que poderia 11 advir ao pensamento por parte do ser. 'I i7), estão Mas também isto é importante: o objeto do pen- IIH;n as frases seguintes: "A disputa na interpre- do ser (isto, portanto, não significa do ente, e samento não é atingido por um conversar à toa sobre I '11) bérn a "verdade do ser" e sobre a "história do ser". Tudo \ 111, I)orque ainda nem sequer foi desencadeada. E, afinal, depende do fato de a verdade do ser atingir a língua- I gem e de o pensar conseguir esta linguagem. Talvez a \[escncadear da disputa já necessita de uma prepara' linguagem então exija muito menos a expressão precipitada do que o devido silêncio. Contudo, nós, contemporâneos, qual de quereria pretender que as suas não do ser do homem) não pode ser decidi, Ia não se deixa introduzir improvisadamente, • 10. É só para isto que a presente investigação está a rnminho''. IlpÓS mas o Estas frases continuam válidas ainda hoje, muitos decênios. Continuemos nós, também nos tentativas de pensar estivessem familiarizadas na senda tempos vindouros, como viajantes no caminho para a do silêncio? Quando muito, o nosso pensar poderia vizinhança do ser. A questão por vós levantada ajuda a talvez apontar para a verdade do ser como o que deve clarear o caminho. ser pensado. Assim, mais que de outra maneira, ele estaria livre do simples pressentimento O senhor pergunta: Comment redonner uns sens au e do opinar e mor "Humanisme"? "De que maneira dar novamente à seria entregue à tarefa da escritura, que se tornou rara. palavra humanismo um sentido"? A sua pergunta não As coisas que têm alguma consistência ainda chegam pressupõe apenas que o senhor quer conservar a pala, a tempo, por mais tarde que seja, mesmo que não se vra "humanismo"; ela contém também a confissão de destinem para a eternidade. que esta palavra perdeu o seu sentido. Se o âmbito da verdade do ser é um beco sem saída ou o livre espaço em que a liberdade reserva a Ela perdeu o sentido pela convicção de que a ssência do humanismo é de caráter metafísico e isto sua essência, isto poderá decidir e julgar todo aquele significa, agora, que a Metafísica não só coloca a ques- que tentou, por seu próprio esforço, trilhar o caminho tão indicado, ou, o que ainda é melhor, abrir um cami- que a Metafísica persiste no esquecimento do ser. Mas nho melhor, o que significa uma vida mais adequada o pensar que conduz a esta compreensão do caráter 54 55 da verdade do ser, mas a obstrui, na medida em <rarfa sobre o humanismo- problemático da essência do humanismo levou-nos, ao mesmo tempo, a pensar a' essência do homem hama humanus, em sua dimensão mais essencial, resulta a um sentido historial que é mais antigo, que é o seu mais antigo- sentido, 'sob o ponto de vista historiográfico. , IIhumarusmo. ' '. 11 1:rosse como ta.1 sem senti do e-um pa 1avra ll aponta, na pala- 111111 ser apreendida de maneira radical. Este sentido é o que possui a palavra "humanisrno" como palavra. Dar-lhe novamente um sentido somente pode significar: determinar de novo o sentido da palavra. Isto exige, de um lado, que a essência do homem seja experimentada mais originariamente; de outro lado, que se mostre em que medida esta essência é, a seu modo, bem-disposta. A essência do homem reside. na ex-sistência. É esta exsistência que essencialmente importa, o que significa que ela recebe a sua importância do próprio ser, na medida em que o ser apropria o homem enquanto ele é O' ex-sistente, para a vigilância da verdade do ser; in- serindo-o na própria verdade do ser. "Humanismo" sig- 56 ira, pensamos um "humanismo" de natureza sin- I '111 li r. A palavra I \ 1111 dá como .resultado uma expressão que ll IIlucus a nan lucenda • Será que se deve chamar a este "humanismo" que 11111\ contra todo o humanismo IIH'SmO 111'1 rete .do inumano, nrompanhar IHI conhecido, mas que ao tempo, de maneira alguma, se arvora em inainda de "humanismo'? q1 'nas para talvez, participando vra, para. a humanitas, a essência do homem. O' "ismo" aponta para o fato de que a essência do homem deveria ia do homem é essencial em conseqüência disto, importa o homem simplesmente como tal. Desta I I \1 Este devolver do sentido não deve ser entendido como se a simples flactus vacis. O' IIhumanum 11 mais radicalmente. No que diz respeito a esta humanitas do a possibilidade de devolver a palavra humanismo 1 '(l, agora, caso nos dedicamos a manter a palavra: a II E isto no uso da expressão, as correntes dominantes que se afogam subjetivismo metafísico e que estão afundadas no s uecimento do ser? Ou será tarefa do pensamento t I ntar, através de uma aberta oposição contra o "huma- nismo", um novo impulso que poderia suscitar uma III nção para a humanitas do hama humanus e sua fun- damentação? Pois deste modo - caso o momento da história universal atual já não a provocasse por si mes1110 - poder-se-ia despertar uma reflexão que pensasse, não apenas sobre o homem, mas sobre a "natureza" do homem, não apenas sobre a natureza, mas ainda mais originariamente sobre a dimensão na qual a essência 10 homem, determinada a partir do próprio ser, se (. ma familiar. Não seria melhor suportarmos 57 antes, <larfa sobre o ltumcnísmo por mais algum tempo ainda, os inevitáveis mal-ent 11 didos, deixando-os desgastarem-se lentamente; mal- 11 tendidos aos quais o caminho do pensamento está l'orquc se diz que o ser do homem consiste em I 1111 I posto até agora no elemento de Ser e Tempo. Estas falsa. interpretações são naturalmente interpretações do qui I IIIII 111' to: ,I pensa saber já antes da leitura. Todos eles revelam a 11111111 quem afirma a mundaneidade do ser-homem I val r ao que é de baixo, negando o que é do além mesma estrutura e o mesmo fundamento. iando a toda "transcendência"? Porque se aponta uma palavra de Nietzsche sobre Porque se fala contra o "humanismo", teme-s uma defesa do inumano e uma glorificacão da barbárí brutal. Pois o que há de "mais lógico" do que ficar, para I "morte de Deus" declara-se que tal comportamento ção da desumanidade? '1"1 experimentar a "morte de Deus" é um sem-Deus? Porque, em tudo isto, em toda a parte, se fala conIIII Porque se fala contra a "Lógica", pensa-se que se para intro- duzir, em seu lugar, a arbitrariedade dos impulsos e é mo. Pois o que é "mais lógico" do que isto: aquele III apenas com a afirma- exige a renúncia ao rigor do pensamento, ser meramente mundano, reduzindo-se assim 111I Ilna ao positivismo. Pois, o que é mais lógico do se leu, ou de opiniões de outros que leram e do que s aquele que nega o humanismo, mu ndo", imagina-se que o homem foi degrada- aquilo que para a humanidade vale como elevado ngrado, tal filosofia ensina um "nihilisrno" irrespon- v 1 e destruidor. Pois o que é "mais lógico" do que 10: quem nega, em toda a parte, o ente verdadeiro, sentimentos e assim proclamar como verdadeiro o "ir- roloca-se do lado do não-ente e, com isto, proclama que racionalismo". Pois, o que é "mais lógico" do que isto: () simples nada é o sentido da realidade efetiva? aquele que fala contra o lógico defende o alógico? Porque se fala contra os "valores" a gente escan- O que se passa aqui? Ouve-se falar de "humanis1110", "lógica", "valores", "mundo" e "Deus". Ouve-se daliza-se em face de uma filosofia que pretensamente {alar de uma oposição contra tudo isto. O que foi no- ousa abandonar ao desprezo os supremos bens da hu- meado conhecer-se e toma-se como o positivo. Aquilo manidade. Pois o que é "mais lógico" do que isto? Um [ue, no ouvir dizer, fala, de um modo não pensado pensamento que rejeita os valores deverá proclamar tudo sem valor? com rigor, contra o que acima nomeado, toma-se ime- 58 59 diatamente como sendo a sua negação e, esta, como o crarfa sobre o liumcnismc "negativo", no sentido do destrutivo. Em Ser e Tempo fala-se até, em alguma parte expressamente, da "destrui- I I 111 I -se a recusa de submeter a uma reflexão o que, pr conceito, 1"11 se julga "positivo", juntamente com Pensa-se com o auxílio da Lógica nc e oposição, díade esta em que se pensa estar a e a razão, tantas vezes invocadas, que o que não é po- om o constante apelo ao elemento lógico susci- ção fenomenológica". sitivo é negativo, e que assim se pratica o desprezo da 111 • i1 III!I( , razão e merece, por isso, ser marcado como deprava- aparência de um empenho justamente, se renunciou no pensar, quando, ao pensar. estas observações deve ter resultado um pouco ção. Está-se tão saturado de "Lógica" que se contabiliza tis laro que a oposição ao "humanismo" como elemento oposto condenável tudo que se opuser 11\ à serni-sonolência I li, d ' maneira alguma, a defesa do inumano, I 1111 rns pers pectivas. do simples opinar. Rejeita-se tudo o que não permanece truncado junto ao conhecimento idolatrado positivo, na fossa previamente e no nada e assim completa o nihilismo. Deixa-se, atra- mas abre A "Lógica" entende o pensar como a representação preparada da pura negação, que a tudo nega e que, por isso, termina não impli- ,111 .nte em seu ser, pensar que apresenta o representar generalidade 1111 do conceito. Mas o que acontece com vés deste caminho lógico, afundar tudo num nihilisrno 1\ 111 ditação sobre o próprio ser, isto é, com o pensar que se inventou com o auxílio da Lógica. 1111 ' pensa a verdade do ser? Somente este pensar atinge Mas será que efetivamente pensar apresenta o "contra", que um diante do que comumente na, aponta necessariamente se imagi- para a pura negação e para o negativo? Isto acontece só então e neste caso, sem , cs ência originária do Àóyoç que, em Platão e Aris11')1 .les, os fundadores da "Lógica", já foi entulhada perdida. Pensar contra a "Lógica" não significa quebrar lnn ,as em defesa do ilógico, mas significa apenas: melitar sobre o Àóyoç e a sua essência nos primórdios dúvida, de modo inevitável e definitivo - isto é, sem uma livre visão de qualquer outra coisa - quando já de p nsamento: antemão I nração de um tal refletir. Que sentido possuem se coloca o elemento opinativo sitivo", decidindo, como "o po- a partir deste, absoluta e ao mesmo tempo negativamente, quer possível oposição sobre o âmbito de toda e quala ele. Num tal procedimento 60 e significa empenhar-se, primeiro, do na prepara nós todos os sistemas da Lógica, por mais amplos que s cjam, quando ti se subtraem, e mesmo sem o saber, já antemão, da tarefa de primeiro questionar, 61 mesmo <rarfa sobre o humanismo que seja apenas isto, a essência do Àóyoç. Quisésse- "1 us" como "o valor supremo", isto significa uma mos devolver na mesma moeda, com objeções, o que \Il'gradação da essência de Deus. O pensar através de certamente é improdutivo, então, com maior razão, se :\1 res é, aqui e em qualquer outra situação, a maior poderia dizer: o irracionalismo como renúncia a tatio, Ill:t fêmia que se pode pensar em face do ser. Pensar impera o desconhecido e o indiscutido, quando se de- (outra os valores não significa, portanto, propagar que fende aquela "Lógica" que pensa poder esquivar-se de (I uma modificação sobre o Àóyoç e sobre a essência da mas isto significa: levar para diante do pensar a clarei- ratia que nele se fundamenta. rn da verdade do ser contra a subjetivação O pensar contra "os valores" não afirma que I' nte é destituído de valor e que é sem importância; do ente em i mples objeto. Chamar a atenção para o "ser-no-mundo" como tudo aquilo que se declara como "valores" - a "cultura", a "arte", a "ciência", a "dignidade do homem", () traço fundamental "mundo" e "Deus" - seja sem valor. Ao contrário, não significa afirmar que o homem é apenas um ser importa, finalmente, reconhecer que, justamente pela "mundano", no sentido cristão; portanto, um ser afas- caracterização de algo como "valor", se rouba a digni- Indo dade daquilo que é assim valorizado. Isto quer dizer: da humanitas do hama humanus de Deus e, até, desligado da "transcendência". om esta palavra pensa-se o que mais claramente foi ao avaliar algo como valor, aquilo que foi valoriza- lenominado do é apenas admitido como objeto de avaliação pelo inte supra-sensível. homem. Mas aquilo que é algo que em seu ser não no sentido da causa primeira de todos os entes. Deus se esgota sua objetividade e, quando , pensado como esta causa primeira. "Mundo", toda- a objetividade por transcendente. O transcendente é o Este vale como o ente supremo tem o caráter de valor. Todo o valorizar, mesmo onde via, na expressão "ser-no-mundo", é um valorizar positivamente, é uma subjetivação. O maneira alguma, o ente terreno, em oposição ao ce- valorizar não deixa o ente ser, mas todo o valorizar leste, nem mesmo o "mundano" em oposição ao "espi- deixa apenas valer o ente como objeto de seu operar. ritual". "Mundo, naquela expressão, não significa, de O esdrúxulo empenho em demonstrar modo algum, um ente e nenhum âmbito do ente, mas a objetividade não significa, de dos valores não sabe o que faz. Quando se proclama a abertura do ser. O homem é e é homem, enquanto 62 63 ·{l'arla sobro o q.umanismo é o ex-sistente. :Bleestá postado, num processo trapassagem, o próprio na abertura do ser, que é o modo 11'011: l'I1 , como um .lance, no "cuidado" de si. Frojetado maneira, o homem está postado "na abertura Mundo éa clareira do ser na qual o homem I1 d .. I I" penetro\! nomeia a essência da ex-sistên ia, /1111 ex-sistência, "mundo" é, justamente, de certa maneira, o outro lado no seio da e para a ex-sistência. O homem do lado de cá do mundo com um " sujeno," pense-se este como "eu" ou como "nós". " NU:1ca é também primeiramente e apenas sujeito, que, na verdade, sempre se refere, ao mesmo tempo, a objetos, de tal maneira que a sua essência consistiria na relação sujeito-objeto. Ao contrário, o homem primei- ro é, em sua essência, ex-sistente na abertura do ser mundo também não contém uma decisão sobre a hipótese se o homem é, no sentido teológico-metafísico, ser deste mundo ou do outro. um u "não-ser", como, tampouco, ou impossibilidade apressado, sobre a pos- de deuses. Por isso não é mas já falso no modo de proceder, que a interpretação da essência do homem, a Ia relação desta essência com a verdade do ser, ísrno. A esta classificação arbitrária falta, ademais, r lidado na leitura. Não há preocupação com o fato I., I sde 1929, estar escrito, no texto, Sobre a essência ,lu fundamento (pág. 28, nota 1), o seguinte: "Através da \I .rpretação ontológica do ser-aí como ser-no-mundo, 111 se decidiu nada, nem positiva nem negativamente, obre um possível ser-para-Deus. Mas só pela clarifica(;G. da transcendência se alcança um adequado conceito do ser-aí, que, levado em consideração, permite, então, /)erguntar qual é, sob o ponto de vista ontológico, o estado da relacão do ser-aí com Deus". Se também se inter- , cuja abertura ilumina o "entre" em cujo seio pode "ser" uma "relação" de sujeito e objeto. A frase: a essência do homem reside no ser-no- S 11111 J jamais é primeiramente I 111\ iluminada, desde a qual desde bra o seu ser o "ex" da ex-sistência. Pensada a partir da 1\ I 111111\1' I com vista à dimensão <lU 1I11.llId do a partir da condição de ser projetado de sua essén Ia, O "ser-no-mundo" II existencial da essência do ainda nada está decidido sobre a "existência de 111' 111, ser é; este projetou a essência do a determinação I \ 1111 orn pretar, corno de costume, também esta observação, de maneira mesquinha, irá explicar-se: esta filosofia não se decide nem a favor nem contra a existência de Deus. Ela permanece presa à indiferença. E um tal indiferen- tismo, contudo, torna-se vítima do nihilismo. Ora, ensina a observação que aduzimos, ferentismo? Porque grifamos então determinadas 64 65 o indipala- <rarta sobre o humanismo vras isoladas e não qualquer uma? Pois, foi apenas para Todavia, com esta indicação não se quer decidir, insinuar que o pensar que pensa desde a questão da de maneira alguma, pelo teísmo, o pensar que, anteci- verdade do ser, pensa mais radical e originariamente pando, aponta para a verdade do ser como o que deve do que a Metafísica é capaz de questionar. ser pensado. Ele não pode ser teísta, nem ateísta. Isto, Somente a partir da verdade do ser se deixa pensar porém, não levado por uma atitude de indiferença, mas a essência do sagrado. E somente a partir da essência por respeito aos limites, postos ao pensar enquanto do sagrado deve ser pensada a essência da divindade. pensar, e isto através daquilo que se lhe dá a pensar E, finalmente, somente na luz da essência da divindade pela verdade do ser. Na medida em que o pensar se pode ser pensado e dito o que deve nomear a palavra contenta com a sua tarefa, dá ele, no momento de "Deus": ou será que não devemos ser capazes de, presente destino mundial, ao homem, uma orientação primeiro, entender e escutar com cuidado estas pala- para a dimensão originária de sua morada historial. vras, se nós, homens, isto é, como seres ex-sistentes, Como dizer desta forma a verdade do ser, o pensar quisermos ter acesso a uma experiência de uma relação entregou-se àquilo que é mais essencial do que todos os de Deus para com o homem? Pois, como poderia o valores e do que qualquer ente. O pensar não supera homem da atual história mundial mesmo apenas ques- a Metafísica, mas ainda mais a exacerba, ultrapassa e tionar, com seriedade e rigor, se o Deus se aproxima a sobressume em qualquer lugar, mas enquanto recua ou se subtrai, se o homem omite pensar primeiro para para a proximidade do mais próximo. A descida é bem dentro da dimensão, na qual aquela questão unicarnen- mais difícil e perigosa, particularmente ali, onde o ho- te pode ser desencadeada? Esta dimensão, porém, é a mem se perdeu na subjetividade. A descida conduz à dimensão do sagrado, que mesmo como dimensão já pobreza da ex-sistência do homo humanus. Na ex-sistên- permanece fechada, caso não se clarear a abertura do cia é abandonado o âmbito do homo animaUs da Meta- ser para, em sua clareira, estar próximo do homem. física. O império deste âmbito é a razão indireta e de Talvez o elemento mais marcante desta idade do mun- conseqüências que recuam longe, para a obliteração do consista no rígido fechamento para a dimensão da a arbitrariedade daquilo que se pode caracterizar como graça. Talvez seja esta a única desgraça. biolo rismo ) ) tarn m ara aquil do e que se conhece pela <rada sobre o humcnisrno expressão pragmatismo. Pensar a verdade do ser signido homo sa, somente pode ser levado a uma estabilidade segura, ao serviço da verdade através de um recolhimento e ordenação do seu plane- fica, ao mesmo tempo: pensar a humanitas humanus. Importa a humanitas do ser , mas sem o humanismo no sentido metafísico. Se, porém, a humanitas técnica, entregue aos meios de comunicação de mas- está tão essencialmente jar e agir como um todo, correspondente à técnica. Quem poderia deixar de perceber a indigência no campo visual do pensar do ser, não deve então a nesta situação? Não seria conveniente poupar e garan- "Ontologia" ser completada por uma "Ética"? Não seria tir os laços estabelecidos, ainda que somente consigam então seu empenho, que exprime em sua frase, muito manter a unidade do ser humano precariamente e ape- especial: "Ce que je cherche à faire, depuis longtemps nas na situação de hoje? Sem dúvida. Mas já desobri- déjà, c'est préciser le rapport de l'ontologie avec une éthi- ga esta indigência o pensar de considerar aquilo que que possible"? principalmente deve ser pensado e que permanece, Logo após a publicação de Ser e Tempo, perguntou- enquanto ser; mais que todo ente, garantia e verdade? me um jovem amigo: "Quando escreverá o senhor uma Será que o pensar pode ainda continuar a esquivar-se ética"? Lá, onde a essência do homem é pensada tão de pensar o ser, quando este se manteve escondido em essencialmente, a saber, unicamente a partir da ques- longo esquecimento e, ao mesmo tempo, se anuncia, tão da verdade do ser, mas onde, contudo, o homem neste momento da história universal, através da como- não foi elevado para o centro do ente, deve realmente ção de todos os entes? despertar a aspiração por uma orientação a partir da ex- Antes de procurarmos determinar mais exatamen- ou de te as relações entre a "Ontologia" e a "Ética", devemos acordo com o destino. A aspiração por uma Ética urge, perguntar o que são a própria "Ontologia" e a própria com tanto mais pressa por uma realização, quanto mais "Ética". Impõe-se considerar se aquilo que é nomeado a perplexidade manifesta do homem e, não menos, a nestas duas expressões ainda permanece adequado e oculta, se exacerbam para além de toda a medida. Deve próximo para aquilo que foi entregue ao pensar como dedicar-se todo o cuidado à possibilidade de criar uma tarefa, que como pensar deve, antes de tudo, pensar a Ética de caráter obrigatório, uma vez que o homem da verdade do ser. sistência para o ser, deve viver convenientemente 68 69 (larfa sobre o qumanismo Caso tanto a "Ontologia" como a "Ética", junto costuma traduzir-se. "o caráter próprio do homem com todo o pensar por disciplinas, se tomassem cadu- o seu demônio". cas, adquirindo dcrna e não de modo grego. HSoç significa morada, assim, o nosso pensar mais disciplina, Essa tradução pensa de maneira é mo- qual será então a situação da questão da relação das lugar da habitação. duas disciplinas mencionadas onde o homem habita. O aberto de sua morada torna com a Filosofia? A "Ética" aparece junto com a "Lógica" e a "Física", A palavra nomeia o âmbito aberto manifesto aquilo que vem ao encontro pela primeira vez, na Escola de Platão. As disciplinas homem e assim, aproximando-se, surgem na época que permite a transformação I roximidade. do pen- da essência do demora-se em sua A morada do homem contém e conser- sar em "Filosofia", a Filosofia em Êm<J't'!Íull (Ciência) e va o advento daquilo a que o homem pertence em sua a Ciência mesma em um assunto de escola e de ativida- issência. Isto é, segundo de escolar. Na passagem por esta Filosofia assim enten- ôcdurov. o Deus. A sentença diz: o homem habita.na dida, surge a Ciência e passa o pensar. Os pensadores medida em que é homem, antes desta época não conhecem Com esta sentença nem uma "Lógica", a palavra de Heráclito, na proximidade de Heráclito concorda o de Deus. uma his- nem uma "Ética" e nem uma "Física". E, contudo, o seu tória que Aristóteles pensar não é nem ilógico nem imoral. A yúmç era, po- 17). É a seguinte: HpáXÀEt'tOÇ ÀÊ)'Ct'tat 1tpÕç 'touç rém, pensada por eles numa profundidade çÉvouç e amplitude U1tEt:V 'toúç relata (de parto animo A 5.645 a ~ouÀoj.lÉvouç EV'tUXEÍv aú'tro que toda a "Física" posterior nunca mais foi capaz de oi E1tEtÕ'!Ínpootóvre; alcançar. As tragédias de Sófocles ocultam - permita-me 'tCOt1tvCO E<J't1l<Jav, EXÊÀEUEy<xp aU'toúç uma tal comparação - em seu dizer, o 1ÍSoç, de modo Sappuv'taç mais originário, que as preleções de Aristóteles sobre a eiôov aú'tov SEpÓj.lEVOV1tpàç Etvat yàp Xat Ev'tauSa eíotévot SEQUç. "Narra-se de Heráclito uma palavra que teria dito aos "Ética". Uma sentença de Heráclito, que consiste ape- forasteiros que queriam chegar até ele. Aproximando-se, nas em três palavras, diz algo tão simples que dela brota viram-no como se aquecia junto ao fomo. Detiveram-se e chega à luz, de maneira imediata, a essência do 1ÍSoç. surpresos; isto, sobretudo, porque Heráclíto ainda os en- A sentença de Heráclito é a seguinte (Fragmento 119): i]Soç <xvSpo:ytco õaíj.loov. 70 De maneira geral corajou - a eles que hesitavam - convidando-os a entrar, com as palavras: Pois também aqui estão presentes deuses ... ". 71 'larfa sobre o qumanismo Esta narrativa fala por si; destaquemos, contudo, alguns aspectos. Ii Interessante. Os curiosos perdem logo, pois, com I \" O grupo de visitantes está frustrado e desconsertado na curiosidade que os levou a dirigir-se ao pen- visão frustrante, a vontade de se aproximarem mnis. Que farão ali? Este fato, comum e sem encanto, Il' alguém estar com frio e estar perto do forno, qual- morada. O grupo cria ter que encontrar o pensador, '1\1 'r um pode revivê-lo, em qualquer tempo, em casa. Pura que procurar então um pensador? Os visitantes em circunstâncias que, ao contrário do simples viver IIpresentam-se para se afastar. Heráclito lê essa curio- comuns, deveria mostrar, em tudo, os I lade frustrada em seus rostos. Sabe que para uma traços do excepcional e do raro e, por isso, do emo- multidão já basta a falta de uma sensação esperada, cionante. O grupo traz a esperança de, com sua visita, pn ra fazer com que os recém-chegados imediatamente encontrar voltassem para trás. Por isso, indundc-lhe sador; o desconserto é provocado pelo aspecto da sua dos homens junto do pensador coisas que, ao menos coragem. por um certo tempo, sejam motivo de conversa. Os Ele mesmo os convida a entrarem, contudo, dizendo: estranhos que querem visitar o pensador esperam vê- . 'lvat Àáp Xat Ev'tau8a 10 talvez justamente no momento em que ele, mergu- \ 'tão aqui presentes". 8múÇ, os deuses também Esta palavra situa a morada ~8oç do pensador e lhado em profundas meditações, pensa. Os visitantes querem "viver" isto, não para serem atingidos pelo H pensar, mas simplesmente visitantes imediatamente ou se alguma vez entenderam para poderem dizer que u agir, numa outra luz. A história não conta se os viram e ouviram alguém, do qual, igualmente, apenas esta palavra, vendo então tudo numa outra luz. Mas se se diz que é um pensador. esta história foi contada e transmitida até nós, contem- Em vez disso, os curiosos encontram Heráclíto porâneos, isto reside no fato de que aquilo que relata junto ao forno. É um lugar banal e bastante comum. provém da atmosfera deste pensador e a caracteriza: Sem dúvida, nele se coze o pão. Ele está aí apenas Xat Ev'tau8a, "também aqui", junto ao forno, neste para se aquecer. Assim revela ele, neste lugar, sem lugar corriqueiro, onde cada coisa e cada circunstância, dúvida, comum, toda a indigência de sua vida. A vista cada agir e cada pensar s~o costumeiros e banais, isto de um pensador é, familiares, "pois, também aqui", no âmbito do fa- passando frio oferece muito pouco 72 73 <rarfa sobre o qumanismo miliar eiveí 8EOÚÇ,a coisa é de tal modo "que deuses estão presentes". H80ç àv8pw1tffi ôcdurov diz o próprio Heráclíto. :1 verdade do ser, desconhecendo, assim, que existe um I ensar que é mais rigoroso que o penar conceitual. O I ensar que procura antecipar-se, pelo pensar, na verda- "A habitação (familiar) é para o homem a abertura para le do ser, só consegue, na indigência de seu primeiro a presentificação sforço, transformar do Deus (o in-soliro)", Se, portanto, de acordo com a significacão funda- mensão absolutamente em linguagem pouca coisa de didiferente. Esta ainda se falsifica mental da palavra ~8oç, o nome Ética diz que medita a a si mesma, na medida em que não tem sucesso em habitação do homem, então aquele pensar que pensa a reter a essencial ajuda do ver fenomenológico verdade do ser como o elemento primordial do, deixa de lado, porque sem sentido e inadequada, enquanto do homem alguém que ex-siste, já é em si a Ética originá- a preocupação e, contu- em ser "Ciência" e "Pesquisa". Todavia, ria. Mas este pensar não é apenas então Ética, porque para tornar conhecida e compreensível é Ontologia. pensar, no seio da filosofia estabelecida, só foi possível, Pois a Ontologia pensa sempre apenas o esta tentativa do ente (oy) em seu ser. Enquanto não tiver sido pensada, primeiro, falar desde o horizonte do estabelecido contudo, a verdade do ser, toda a Ontologia permanece correndo às expressões que lhe eram familiares. sem o fundamento. É esta a razão por que o pensamen- Entretanto, aprendi a ver que justamente e re- estas ex- to que, com Ser e Tempo, procurava antecipar o pensar pressões tinham que levar direta e inevitavelmente para dentro da verdade do ser, se caracterizava a si mes- a errância. Pois, as expressões e a linguagem conceitual mo como Ontologia Fundamental. Esta tende a penetrar nelas integradas não foram repensadas, no fundamento a partir da coisa propriamente essencial do qual provém o pensamen- pelos leitores, dita que tinha que ser to da verdade do ser. Já pelo ponto de partida do outro pensada; ao contrário, a coisa propriamente questionar, presentada se afasta este pensar, da "Ontologia" da Me- taíísica (daquela de Kanr). A "Ontologia", porém, quer seja ela transcendental ou pré-crítica, está submetida à dita foi re- a partir das expressões que foram mantidas com suas significações correntes. O pensar que questiona a verdade do ser e nisto crítica, não porque ela pense o ser do ente e force assim determina o ser para dentro do conceito, mas porque não conhece e em direção a ele, não é nem ética nem ontologia. 74 ------------------ para o lugar essencial do homem, a partir do ser 75 E, (Iarfa sobre o humanismo contudo, a sua pergunta, pensada mais originariamen- de acordo com o destino, a essência do homem para te, retém um sentido e um peso fundamentais. morar na verdade do ser. Este morar é a essência do Pois, deve se perguntar: se o pensar, pensando "Ser-no-mundo" (Ser e Tempo, pág. 54). A indicação a verdade do ser, determina a essência da humanitas - e, para o "ser-em " como o " morar," que lãa aparece, nao como ex-sistência a partir do fato de pertencer ao ser, um simples jogo etimológico. A indicação que aparece permanece então este pensar apenas um representar na conferência de 1936, sobre a palavra de Holder- teórico do ser e do homem, ou é possível retirar, ao lin, "Cheio de méritos, todavia poeticamente habita o mesmo tempo, de um tal conhecimento, homem nesta terra", não é um enfeite de um pensar indicações para a vida ativa? que foge da Ciência, salvando-se na Poesia. O discurso A resposta é: este pensamento não é nem teórico sobre a casa do ser não é uma transposição da imagem nem prático. É antes, desta distinção, que ele acontece da "casa" para o ser; ao contrário, um dia seremos mais e se realiza. Este pensar é, na medida em que é, a lem- capazes de pensar o que é "casa" e "habitar" a partir da brança do ser e nada além disso. Pertencendo ao ser, essência do ser adequadamente pensada. porque por ele jogado na guarda de sua verdade e para ela requisitado, Sem embargo, o pensar jamais cria a casa do ser. ele pensa o ser. Um tal pensar não O pensar conduz a ex-sistência historial, isto é, a huma- chega a um resultado: não produz efeito. Ele satisfaz a nitas do homo humanus, para o âmbito onde nasce o sua essência, enquanto é. Mas ele é, na medida em que que é salutar. diz a sua propriamente dita. À questão propriamente Com o salutar - o bom -, particularmente, se dita do pensar pertence apenas uma saga (Sage), aquela manifesta, na clareira do ser, o mal. A essência do mal que é adequada ao que constitui a essência da questão. não consiste na simples maldade do agir humano, mas A sua constrigência é essencialmente mais alta que a reside na ruindade do ódio. Ambos, o bom e o ódio, vaidade das ciências, porque é mais livre, pois ela deixa somente podem desdobrar o seu ser, no seio do ser, na que o ser - seja. medida em que o próprio ser é o que está em conflito. O pensar trabalha na edificação da casa do ser; Nisto se esconde a origem essencial do nadificar. Aqui- é como tal casa que a juntura do ser dispõe, sempre lo que nadifica ilumina-se como o que possui caráter 76 77 <laria sobre o qumanismo saber e do amor. Nesta vontade ainda se oculta o ser apoio para todo o comportamento como a vontade de poder. Todavia, o motivo pelo qual 10 ser. "Apoio" (Halt) significa na língua alemã a "pro- a negatividade da subjetividade absoluta que é "dialétí- teção (Hut). O ser é a proteção que guarda o homem ca" e porque através da dialética o nadificar , com efeito , chega a manifestar-se, mas ao mesmo tempo vela-se na em sua essência ex-sistente, de tal maneira, para a sua verdade, que ela instala a ex-sistência na linguagem. É essência, não pode ser aqui discutido. por isso que a linguagem é particularmente O nadificar no ser é a essência daquilo que eu nomeio o nada. Por isso, porque pensa o ser, o pensar pensa o nada. É somente o ser que garante ao salutar (salvo) o nascimento ao ódio. com honra, o impulso para a desgraça ser e a habitação do ser humano. a casa do Somente porque a linguagem é a habitação da essência do homem, dem as humanidades po- historiais e os homens não estar em casa na sua linguagem, de maneira tal que ela se torna para eles um obstáculo das suas maquinações. Quais as relações que mantém, entretanto, o pen- Somente na medida em que o homem, ex-sistindo sar do ser com o comportamento teórico e prático? Isto na verdade do ser, a este pertence, pode vir do próprio ultrapassa toda a consideração porque se preocupa com ser a adjudicação daquelas ordens que se devem tomar a luz na qual pode residir e mover-se um ver da teoria. lei e regra para o homem. Adjudicar significa em grego O pensar atenta para a clareira do ser, enquanto depo- não é apenas lei, mas, mais origina- sita o seu dizer do ser na linguagem como habitação riamente, a adjudicação oculta na destinação do ser. da ex-sistência. Deste modo, o pensar é um agir. Mas Só esta é capaz de dispor o homem no seio do ser. Só é um agir que, ao mesmo tempo, supera toda a práxis. tal disposição é capaz de sustentar e vincular. De outra O pensar perpassa a operar e a produzir, não pela gran- maneira toda a lei permanece apenas no artifício da ra- deza dos seus resultados nem pelas conseqüências zão humana. Mais importante que qualquer fixacão de sua atuacão , mas através do mínimo do seu consumar regras é o homem encontrar o caminho para morar na destituído de sucesso. VEJ.lE1V. O võuoç verdade do ser. É somente esta habitação que garante a experiência do que pode ser sustentado e dar apoio. O 80 ----- presenteia a verdade - -- --~~------------ da . Pois o pensar traz à linguagem, em seu dizer, apenas a palavra impronunciadado 81 ser. ~arfa sobre o qumanismo A expressão "trazer à linguagem", aqui usada, sob o nome "Filosofia", na forma do inabitual que é deve ser tomada agora bem literalmente. O ser chega, apenas acessível aos iniciados. Representamo-nos, iluminado-se, à linguagem. Ele está constantemente mesmo tempo, o pensar, à maneira do conhecimento caminho para ela. Isto que está constantemente a em ad- científico e seus empreendimentos ao de pesquisa. Me- vento, o pensar ex-sistente, por sua vez, traz, em seu dimos o agir na produção impressionante dizer, à linguagem. Esta é assim elevada para a clareira sucesso da práxis. Mas o agir do pensar não é nem do ser. Somente assim é a linguagem daquela maneira teórico nem prático, nem é a imbricação dos dois mo- misteriosa e que, contudo, constantemente, dos de comportamento. nos per- passa com o seu imperar. Portanto, enquanto a lin- e cheia de Pelo seu modo simples de ser, o pensar do ser guagem levada plenamente à sua essência é historial, torna-se para nós irreconhecível. Se, contudo, nos tor- o ser é guardado na lembrança. A ex-sistência habita, namos amigos do não costumeiro do simples, então as- pensando, a casa do ser. Em tudo isto, as coisas per- salta-nos imediatamente uma outra preocupação. Surge manecem como se nada tivesse acontecido através do a suspeita de que este pensamento do ser se torna víti- dizer pensante. ma da arbitrariedade; pois, não pode encontrar apoio Todavia, há pouco mostrou-se um exemplo para este invisível agir do pensar. Pois, enquanto pensamos de maneira apropriada, a expressão "trazer à lingua- no ente. Onde busca o pensar a sua medida? Qual a lei do seu agir? É aqui que se deve escutar a terceira pergunta da gem" que foi destinada à linguagem, apenas isto e nada sua carta: comment mais, enquanto conservamos isto que pensamos como porte toute recherche sans faire de la philosophie une sim- o que no futuro deve ser constantemente ples aventuriere? pensado, na sauver l'élement d'aventure que com- Só de passagem vamos nomear agora atenção de nosso dizer, trouxemos à linguagem algo a Poesia. Ela confronta-se com as mesmas questões e essencial do próprio ser. da mesma maneira, como o pensar. Mas ainda sempre O estranho, neste pensamento do ser, é a sua sim- vale a pouco meditada palavra de Aristóteles em sua plicidade, pois ela nos mantém dele afastados. Pois, Poética que o poematizar é mais verdadeiro do que o procuramos o pensar que tem seu prestigio universal investigar o ente. 82 83 <rarfa sobre o humanismo Mas o pensar não é apenas une aventure, enquanto procurar e perguntar para além, para o desconheci- mora o homem". O poeta denomina-a "O mais perigo- so dos bens". do. O pensar é, em sua essência, enquanto pensar do A boa disposição do dizer do ser enquanto des- ser, por este requisitado. O pensar está referido ao ser tino da verdade é a primeira lei do pensar, e não as como o que está referido ao advento (l'avenant). O pen- regras da Lógica que apenas se tornam regras a partir pensar no advento do ser está ligado ao Ia lei do ser. Atentar para o bem disposto do dizer pen- sar enquanto ser como advento. O ser já se destinou ao pensamento. sante não inclui apenas que meditemos cada vez o que O ser é como o destino do pensar. O destino, porém, se deve dizer do ser e como isto deve ser dito. Aquele é em si historial. A sua história já chegou à linguagem, tríplice elemento a que acenou uma carta anterior é no dizer dos pensadores. determinado em seu comum-pertencer a partir da lei da A única tarefa do pensar é trazer à linguagem, docilidade do pensar ontológico-historial ao destino: o sempre novamente, este advento do ser que permane- rigor da meditação, o cuidado do dizer, a parcimônia ce e em seu permanecer espera pelo homem. Por isso, da palavra. os pensadores essenciais dizem sempre o mesmo. Isto, Já é tempo de nos desacostumarmos de superva- porém, não quer dizer: o igual. Não há dúvida que lorizar a Filosofia e de, por isso, lhe vir com exigências. eles só o dizem a quem se empenha em meditar sobre Na presente indigência do mundo, é necessário menos eles. Na medida em que o pensar, rememorando Filosofia, mas mais desvelo do pensar; menos literatu- torialmente, his- presta atenção ao destino do ser, ele já se vinculou ao bem disposto que é adequado ao des- ra, e mais cultivo da letra. O pensamento futuro não é mais Filosofia, por- tino. E, contudo, permanece o elemento aventureiro , a saber, como um constante risco do pensar. De que que pensa mais originariamente do que a "Metafísica", modo este simples, certamente não em si, mas para pode mais, como exigia Hegel, deixar de lado o nome o homem, do "amor pela sabedoria" e nem ter-se tornado a própria não deveria permanecer Continuemos pensando bre a linguagem, o mais perigoso? na palavra de Holderlin no fragmento 84 so- liMas em choupanas nome que diz o mesmo. O pensar futuro também não sabedoria na forma do saber absoluto. O pensar está na decida para a pobreza da sua essência precursora. O 85 <rarfa sobre o ltumanismo pensar recolhe a linguagem para junto do simples dizer. A linguagem é assim a linguagem do ser, como as nuvens são as nuvens do céu. Com seu dizer, o pensar abre sulcos invisíveis na linguagem. Eles são mais invisíveis do que os sulcos que o camponês, a passo lento, CARTA A JEAN BEAUFRET (Paris) abre pelo campo. FRIBURGO, 23 DE NOVEMBRO DE 1945. Caro Sr. Beaufret, A sua amável carta, que me foi transmitida há alguns dias pelo Sr. Palmer, deu-me uma grande satisfação. Conheço o seu nome há apenas algumas semanas, através dos excelentes artigos sobre" o existencialismo", publicados em Conj1uences. Infelizmente, até agora, não obtive os nºs 2 e 5 da revista, mas desde o primeiro artigo (nº 2) que se me tomou evidente o elevado conceito que o senhor tem da Filosofia. Há ainda aqui domínios ocultos que só o futuro esclarecerá. Mas tal não se conseguirá, salvo se o rigor do pensar a 86 <rada sobre o qumanismo atenção vigilante do dizer e da economia das palavras não acharem um crédito bem diferente daquele de que gozam agora. O senhor mesmo vê que um abismo separa aqui o meu pensar da filosofia de Jaspers, sem fa- indicação essencial acerca das possibilidades de um er instruído pelo outro, no seio de um pensamento produtivo, dentro de um intercâmbio mútuo. "Da-sein" é uma palavra-chave do meu pensar, por lar já da outra questão que anima o meu pensar e que, isso ela é causa de graves erros de interpretação. 'Da- de maneira curiosa, tem sido até agora absolutamente sein" não significa para mim exatamente "eis-me", mas, desconhecido. Estimo deveras Jaspers como pessoa e se é que me posso exprimir num francês sem dúvida como escritor, a sua influência na juventude universitá- impossível: ser-a-aí e o-lá significa exatamente AÀrt8EUX, ria é considerável. Mas a aproximação, quase tornada desvelamento-abertura. por Mas o que precede não passa de uma informação excelência que circula na nossa Filosofia. Este equívoco breve. O pensar fecundo requer, mais do que a escritura atinge o cúmulo quando se pretende ver na minha filo- e a leitura, a ()\yyouma da conservação e deste trabalho sofia um "nihilísmo", na minha filosofia que não se in- que é, já ensinamento recebido, já ensinamento dado. clássica, "[aspers e Heidegger" é o mal-entendido terroga somente, como toda a filosofia anterior, sobre o MARTIN HEIDEGGER ser do ente, mas sobre a verdade do ser. Pelo contrário , a essência do nihilismo tem como característica o ser incapaz de pensar o nihil. Pressinto, tanto quanto pude dar-me conta após algumas semanas, no pensamento dos jovens filósofos da Franca, um élan extraordinário que mostra bem que se prepara uma revolucão neste domínio. O que o senhor afirma da tradução de Da-sein por "realidade humana" é deveras justo. Excelente ainda a anotação: "Mas se o alemão tem os seus recursos, o francês tem os seus limites": aqui oculta-se uma 88 89