Um aquário como caixa estanque

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Um aquário como caixa estanque
UM AQUÁRIO COMO CAIXA ESTANQUE
Texto e fotos: Paulo de Oliveira
Foto: 1
Vou iniciar estes artigos sobre fotografia subaquática falando-vos de um sistema
muito simples para a captação de imagens meio emersas meio submersas. Uma
visão da natureza que já tentou seguramente muitos fotógrafos que acabaram
depois por desistir intimidados só pelo facto de não possuírem uma caixa estanque,
nem conhecimentos de fotografia subaquática.
Um aquário pode ser a solução de recurso desde que seja utilizado da forma
inversa ao que é habitual; ou seja a água por fora e nós (através da visão da nossa
câmara) lá bem metidos dentro, a seco.
Para respeitar esta separação dos dois meios convêm antes de tudo o mais utilizar uma verdadeira cola de silicone (como a Elasticon) para aquários e não um dos
muitos vedantes também à base de silicone que se usam, por exemplo, para tapar
as fendas das caixilharias das janelas, mas que não têm as mesmas propriedades
adesivas. Não se esqueça de desengordurar bem as superfícies de colagem, com
álcool ou acetona, para a cola aderir convenientemente.
Se não estiver familiarizado com a técnica de construção de aquários de vidro
colado dê uma espreitadela a um livro de aquariofilia onde esta matéria venha bem
explicada. À falta de melhor sugiro-lhe o Aquário de Água Doce que escrevi nos
meus tempos de aquariófilo.
Tenha o cuidado de escolher para a face frontal, aquela por onde irá fotografar,
um vidro sem riscos nem imperfeições. Peça ao vidraceiro para cortar o vidro a partir de uma chapa grande, porque os retalhos pequenos acabam sempre por andar
muito tempo pelos cantos da casa e ficam riscados.
Se for particularmente desastrado reforce as arestas exteriores do aquário com
umas cantoneiras de alumínio anodizado que pode adquirir numa oficina de caixilharia de alumínio. O alumínio, assim como tudo o que tenha uma superfície polida
e desengordurada, pode ser bem colado com a cola de silicone.
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Foto: 2
As tiras de vidro coladas de topo no bordo superior do aquário destinam-se a
evitar que se fizer algum movimento inadvertido a água não entre logo pela borda
do aquário (foto: 2). As pegas oblíquas permitem um agarrar mais firme do conjunto
melhorando consideravelmente a estabilidade da câmara.
Na foto: 3 mostro-lhe um pormenor do fixador do cabo disparador constituído
simplesmente por um tubo de PVC preto colado ao aquário com cola de silicone.
Coloquei também um contacto EO (Electric Oceanic) para poder ligar à câmara
os meus flashes anfíbios (foto 4). É claro que um fio a passar apenas pelo bordo do
aquário fazia exactamente a mesma função mas já devem ter reparado que tenho
“a mania das perfeições”.
Foto: 3
Foto: 4
A fixação da câmara será assegurada por uma barra também de alumínio
dobrada com a configuração adequada e colada ao fundo do aquário. Em cima desta podemos aplicar um adaptador rápido de cabeça do tripé tornar mais prática a
instalar e remover a câmara. A objectiva deve ficar bem alinhada com o centro do
vidro frontal.
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Para obter o efeito da linha da superfície bem definida é preciso afastar a objectiva pelo menos uns 10 a 15 cm do vidro frontal e usar aberturas do diafragma
superiores a f5,6.
Um vidro plano de faces paralelas coloca alguns problemas em fotografia subaquática, sobretudo com objectivas de grande angular; que são as que mais se
usam neste tipo de fotografia.
Por causa da difracção os raios incidentes muito inclinados sofrem uma maior
refracção que na prática se manifesta numa perca de qualidade e um ligeiro escurecimento dos cantos da imagem. Este efeito é mais visível com objectivas de distância focal inferior a 35 mm no formato 24x36 mm. Pouco podemos fazer quanto a
isso senão minorar o problema escolhendo uma abertura do diafragma o mais
pequena possível.
Outro fenómeno que acontece quando se espreita por um vidro de faces planas para dentro de água é já bem conhecido de todos os que usaram alguma vez
uma máscara de mergulho: os objectos parecem maiores e mais próximos de nós.
Para conciliar a visão de ambos os meios somos obrigados a colocar em frente da objectiva uma espécie de “óculos de leitura” que lhe permitam ver ao perto na
parte inferior da imagem. Uma óptima solução para este problema são as meias
lentes de aproximação (split-field) da Cokin. Para uma utilização geral as lentes de
+1 e +2 cobrem praticamente todas as situações.
Foto: 5
A objectiva fica focada para infinito, ou para algum motivo emerso, e a meialente de aproximação ajuda a focar para o primeiro plano subaquático.
Mesmo a baixa profundidade, sobretudo se a incidência do Sol for baixa em
relação à superfície da água, pode haver uma grande diferença entre a exposição
para a parte terrestre e para a subaquática. Por isso, se não usar um flash anfíbio
ou encerrado numa caixa estanque para iluminar a parte submersa, vai ter que
igualar essa diferença através de um filtro de densidade neutra (cinzento) (foto: 5).
Escolha um filtro de gelatina que corte 1 a 1,5 EV (- 1 a -1,5 pontos do diafragma
ou da velocidade de obturação) e coloque-o fixo na parte de cima do aro da tal
meia-lente da Cokin. Depois regule o conjunto de modo a acertar a união dos filtros
com a linha da superfície e disfarçando assim a artimanha.
Tente não ser demasiado ambicioso e evite usar objectivas de distância focal
superior a 28 mm no formato 24x36mm para não obter uma imagem demasiado
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suave e escura nos cantos das fotografias. No meu caso utilizei a 50 mm da Mamiya RB 67 (que corresponde aproximadamente a uma 24 mm no formato 24x36 mm)
mas os cantos da imagem mostram bem que este ângulo de campo já é excessivo
para usar com esta técnica.
Como na maior parte dos casos vai certamente preferir mostrar o mais possível
dos dois meios será melhor equipar a sua câmara de um visor de 90º para poder
focar e enquadrar a imagem na vertical com toda a comodidade. A Mamiya RB
(Revolving Back) tem um sistema chassis porta filme rotativo que permite passar a
qualquer altura de formato horizontal para vertical sem precisar de mudar a posição
a câmara. Pude por isso usar o óptimo visor de lupa com fotómetro incorporado o
que representa, sem dúvida, uma grande comodidade.
Foto: 6
Como vêm na foto: 6, a posição de trabalho é bastante boa e desde que o sistema esteja bem equilibrado não requer o mínimo esforço físico: temos a impulsão de
Arquimedes do nosso lado – ou melhor, e como convém, do lado oposto.
É imprescindível pintar o aquário por dentro com tinta preta ou forrá-lo a cartolina preta, para evitar reflexos internos. O vidro frontal deve ser limpo com um bom
limpa-vidros, por exemplo Ajax, para ficar bem desengordurado; de outro modo
embacia com mais facilidade na face interior e não deixa escorrer bem as gotas de
água por fora. Podemos colocar dentro do próprio aquário sempre á mão, uns guardanapos de papel macio e absorvente para limpar de vez em quando as gotas e
impurezas que ficam agarradas ao vidro da frente junto á linha de água.
Quando fotografamos em rios ou lagos onde ainda existam peixes, vale a pena
usar umas migalhas de broa, de Nestum cereais ou comida para peixes de aquário,
de modo atrair os animais para próximo da câmara; como que fiz para a foto: 7.
Não se riam, eu sei que os peixes são pequenos e mal se vêm, mas estão lá!
As possibilidades deste sistema são evidentemente inferiores ás que uma boa
caixa estanque mas o seu custo é muito inferior e, para quem goste de construir
engenhocas, muito mais divertido.
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Foto: 7
De qualquer modo deixem-me dizer-vos que a foto: 8, efectuada em 1986 no rio
Ave, serviu para fazer um cartaz que ganhou nesse mesmo ano um concurso intitulado “Salvemos o Ave”, promovido pela Câmara Municipal de Santo Tirso. Mais tarde, em 1998, foi novamente utilizada no meu livro Portugal em selos (ver Currículo
www.pauloedita.blogspot.com) para construir uma imagem alusiva aos 350 Anos da
Engenharia Militar.
Foto: 8
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Usei um flash anfíbio para iluminar as plantas aquáticas em primeiro plano e um
filtro de densidade neutra de -1 EV para a parte emersa da fotografia. Como a água
corria com intensidade debaixo do arco da ponte formou-se um pequeno turbilhão
junto ao vidro que proporcionou uma linha de água muito mais dinâmica.
A água dos rios fora da época de Verão pode ser muito baixa e acabar por limitar bastante o tempo de permanência para se trabalhar confortavelmente. Existem
umas botas de borracha cujo revestimento se prolonga até ao peito e têm umas
alças, que podemos usar associadas a vestuário interior quente. Senão as calças
com alças de um fato de mergulho e umas botas também de neoprene serão também uma boa escolha.
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