Tese de Doutorado - Aderson M. Vieira - 2005
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Tese de Doutorado - Aderson M. Vieira - 2005
ADERSON MARTHA VIEIRA ESTUDO DE BARREIRAS CAPILARES COMO COBERTURA FINAL DE ATERRO DE RESÍDUOS Orientador: Fernando A. M. Marinho Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo como requisito para obtenção do título de Doutor em Engenharia. São Paulo 2005 ADERSON MARTHA VIEIRA ESTUDO DE BARREIRAS CAPILARES COMO COBERTURA FINAL DE ATERRO DE RESÍDUOS Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Engenharia. Área de Concentração: Engenharia Geotécnica Orientador: Dr. Fernando A. M. Marinho São Paulo 2005 1 “À minha esposa querida, Cristine, e aos meus pais, Paulo e Helena, pelo amor, apoio, suporte e incentivo recebidos durante esses anos, os quais foram essenciais para o término desta Tese” AGRADECIMENTOS Ao amigo e orientador Prof. Dr. Fernando Marinho por sua paciência, seus ensinamentos e dedicação, sem os quais este trabalho seria inviável. À Roberta, Paula, Daniel, André Augusto e Mateus, minha família, pelo apoio nos momentos difíceis. À minha segunda família, Mark, Mônica e Philip pelo apoio e suporte. Aos professores Carlos de Sousa Pinto pela atenção recebida e pelas críticas construtivas ao presente trabalho. Ao amigo Orlando Oliveira pela ajuda indispensável e pelo apoio para o término deste trabalho, principalmente na ajuda com alguns ensaios apresentados aqui. Aos técnicos do Laboratório, Antônio e Joaquim, pela ajuda e colaboração nos ensaios. Aos demais amigos do laboratório pelo companheirismo e convivência gratificante ao longo desses anos. À FAPESP pelo auxílio financeiro que possibilitou a realização deste trabalho. E, sobretudo, um agradecimento muito especial à minha esposa Cristine Vieira, uma das pessoas mais importante da minha vida. Cris, sem seu companheirismo, amizade, apoio, ajuda, amor e paciência este trabalho não se concretizaria. Obrigado por tudo Amor! SUMÁRIO ÍNDICE DE FIGURAS............................................................................................... I ÍNDICE DE TABELAS .......................................................................................... XII 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 2 COBERTURA FINAL PARA ATERROS DE RESÍDUOS: BARREIRAS CAPILARES ............................................................................................................... 4 2.1 BARREIRAS CAPILARES ....................................................................................... 7 2.1.1 Princípio de funcionamento das barreiras capilares............................................ 7 2.2 CAPACIDADE DE RETENÇÃO DE ÁGUA DE SOLOS COMPACTADOS ...................... 12 2.2.1 2.2.2 2.2.3 Mineralogia do solo e percentagem de finos.................................................... 15 Histerese ......................................................................................................... 15 Energia de compactação, umidade de moldagem e densidade.......................... 16 3 INTERAÇÃO SOLO-ATMOSFERA.................................................................. 20 3.1 BALANÇO HÍDRICO REGIONAL........................................................................... 21 3.2 EVAPOTRANSPIRAÇÃO ...................................................................................... 23 3.2.1 Balanço de energia.......................................................................................... 23 3.2.2 Evaporação de água da superfície do solo........................................................ 30 3.2.3 Transpiração ................................................................................................... 33 3.2.4 Influência da camada superficial na razão de evaporação do solo .................... 36 3.3 INFILTRAÇÃO .................................................................................................... 39 3.3.1 Influência da estrutura na permeabilidade saturada.......................................... 42 3.3.2 Fluxo em solos não saturados.......................................................................... 49 3.3.3 Função de permeabilidade............................................................................... 51 3.3.4 Modelos para o cálculo da função de permeabilidade: Equação de Haverkamp e Equação de Van Genuchten ........................................................................................ 54 3.3.5 Influência da estrutura na permeabilidade de solos não saturados .................... 60 4 MONITORAMENTO DE BARREIRAS CAPILARES: TDR........................... 65 4.1 MÉTODO DO REFLECTÔMETRO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS (TDR)........... 66 4.2 CALIBRAÇÃO DO INSTRUMENTO ........................................................................ 68 4.2.1 Modelo de Topp et al. (1980). ......................................................................... 68 4.2.2 Modelos dielétricos de misturas ...................................................................... 70 4.3 FATORES QUE INFLUENCIAM AS MEDIDAS COM O TDR ..................................... 72 4.3.1 4.3.2 Efeito da Freqüência ....................................................................................... 72 Zona de influência das hastes .......................................................................... 73 5 CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS UTILIZADOS NOS ESTUDOS.............. 76 5.1 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO ......................................................................... 76 5.1.1 Descrição e características do solo residual ..................................................... 76 5.1.2 Caracterização do solo residual ....................................................................... 78 5.1.3 Características dos solos não-coesivos............................................................. 80 5.2 COMPACTAÇÃO DO SOLO RESIDUAL .................................................................. 82 5.3 PERMEABILIDADE DOS SOLOS SATURADOS ........................................................ 83 5.3.1 5.3.2 5.4 Solo residual ................................................................................................... 83 Solos não-coesivos.......................................................................................... 86 CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA DOS SOLOS ....................................................... 87 5.4.1 5.4.2 5.4.3 5.4.4 5.4.5 5.4.6 Método da placa de sucção.............................................................................. 87 Método de translação de eixo .......................................................................... 88 Método do papel filtro..................................................................................... 89 Curvas de retenção de água das areias ............................................................. 89 Curvas de retenção de água do gnaisse ............................................................ 91 Ajustes das curvas de retenção de água ........................................................... 94 6 EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTAÇÃO UTILIZADOS. ........................... 98 6.1 MEDIDOR DE SUCÇÃO: TENSIÔMETROS ............................................................ 98 6.1.1 Descrição do instrumento utilizado ................................................................. 98 6.1.2 Procedimento de saturação e calibração dos tensiômetros.............................. 100 6.2 MEDIDOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICA: TDR ................................................ 103 6.2.1 Preparação dos solos para os ensaios com o TDR.......................................... 103 6.2.2 Equipamentos utilizados ............................................................................... 104 6.2.3 Verificação da influência do contorno ........................................................... 105 6.2.4 Curvas de calibração da areia e do Gnaisse: descrição dos experimentos ....... 107 6.2.5 Efeito da estrutura do solo: descrição dos experimentos ................................ 110 6.2.6 Verificação do efeito do comprimento e inserção das guias de onda: descrição dos experimentos ...................................................................................................... 111 6.2.7 Efeito da compactação no contato haste-solo: descrição dos experimentos .... 112 6.2.8 Resultados da curva de calibração da areia .................................................... 115 6.2.9 Resultados da curva de calibração do gnaisse ................................................ 116 6.2.10 Resultados do efeito da estrutura do solo na relação Ka -θ. ............................ 124 6.2.11 Resultados do efeito do comprimento de haste. ............................................. 125 6.2.12 Resultados do efeito do comprimento de inserção das hastes no solo............. 125 6.2.13 Resultados do efeito da interação da haste com o solo. .................................. 127 6.2.14 Resultados do efeito da compactação no contato haste-solo........................... 129 6.3 COLUNAS: MOLDES E ESTRUTURA ................................................................... 131 6.4 CAIXA DE EVAPORAÇÃO INSTRUMENTADA ...................................................... 133 6.5 SISTEMA PARA SIMULAÇÃO DE CHUVAS: CHUVÍMETRO .................................. 134 6.5.1 6.5.2 6.5.3 Descrição do chuvímetro............................................................................... 134 Saturação do chuvímetro............................................................................... 136 Procedimentos de calibração do chuvímetro.................................................. 137 6.5.4 Resultados da calibração do chuvímetro........................................................ 139 7 ANÁLISE NUMÉRICA ..................................................................................... 140 7.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 140 7.2 CONSIDERAÇÕES E HIPÓTESES ADOTADAS PARA A MODELAGEM DO PROBLEMA 140 7.2.1 Descrição da simulação e hipóteses adotadas ................................................ 140 7.2.2 Condições iniciais e de contorno ................................................................... 142 7.3 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DOS PARÂMETROS DE ENTRADA NAS SIMULAÇÕES DE BARREIRAS CAPILARES. ............................................................................................ 143 7.3.1 7.3.2 7.3.3 Efeito da intensidade de chuva ...................................................................... 144 Efeito do grau de saturação ........................................................................... 150 Efeito do coeficiente de permeabilidade do solo saturado.............................. 160 8 EXPERIMENTOS COM COLUNAS DE SOLOS ........................................... 166 8.1 PREPARAÇÃO DOS SOLOS ................................................................................ 166 8.2 PROCEDIMENTOS PARA INSTALAÇÃO DO TDR NAS COLUNAS ......................... 166 8.3 PROCEDIMENTOS PARA INSTALAÇÃO DOS TENSIÔMETROS NAS COLUNAS ....... 167 8.4 PROCEDIMENTOS PARA INSTALAÇÃO DOS TERMÔMETROS.............................. 168 8.5 MONTAGEM E CARACTERÍSTICAS DAS COLUNAS ............................................. 169 8.5.1 Características Coluna 1................................................................................ 170 8.5.2 Características Coluna 2................................................................................ 171 8.5.3 Características Coluna 3................................................................................ 172 8.6 INSTRUMENTAÇÃO DAS COLUNAS .................................................................... 174 8.6.1 Instrumentação Coluna 1............................................................................... 175 8.6.2 Instrumentação Coluna 2............................................................................... 176 8.6.3 Instrumentação Coluna 3............................................................................... 177 8.7 DESCRIÇÃO DOS EXPERIMENTOS .................................................................... 178 8.7.1 8.7.2 8.7.3 Ensaios de Infiltração.................................................................................... 179 Ensaios de Evaporação.................................................................................. 181 Ensaios com variação de intensidade de chuvas............................................ 182 9 RESULTADOS E ANÁLISES DOS ENSAIOS EXPERIMENTAIS NAS COLUNAS .............................................................................................................. 185 9.1 VARIAÇÕES EXPERIMENTOS 9.2 9.2.1 9.2.2 NAS LEITURAS DE SUCÇÃO COM OS TENSIÔMETROS AO LONGO DOS ........................................................................................................ 188 ENSAIOS DE INFILTRAÇÃO .............................................................................. 192 Resultados de infiltração da coluna 1 ............................................................ 193 Resultados de infiltração da coluna 2 ............................................................ 196 9.2.3 Resultados de infiltração da coluna 3 ............................................................ 198 9.3 RESULTADOS DE EVAPORAÇÃO: COLUNAS 1 E 3.............................................. 201 9.4 EFEITO DA INTENSIDADE DE CHUVAS .............................................................. 206 10 AVALIAÇÃO DOS MODELOS DE VAN GENUTCHEN E HAVERKAMP 218 10.1 OBJETIVO ........................................................................................................ 218 10.2 AJUSTE DA CURVA DE RETENÇÃO E FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE ................. 218 11 CONCLUSÕES .................................................................................................. 232 11.1 INSTRUMENTAÇÃO: TENSIÔMETROS ...................................................... 232 Calibração dos tensiômetros...................................................................................... 232 11.2 INSTRUMENTAÇÃO: TDR ......................................................................... 232 Calibração do TDR ................................................................................................... 232 Efeito do comprimento de inserção e contato solo-haste............................................ 233 Efeito do comprimento das hastes. ............................................................................ 234 Instalação e medição................................................................................................. 234 11.3 PREVISÃO DO COMPORTAMENTO E COLUNAS....................................... 234 Resultados experimentais.......................................................................................... 234 Análise dos modelos numéricos de simulação de barreiras ........................................ 235 12 RECOMENDAÇÕES PARA FUTURAS PESQUISAS ................................... 237 ANEXO A CÓDIGO COMPUTACIONAL UTILIZADO NA MODELAGEM ....................... 238 A.1 DESCRIÇÃO DO PROGRAMA UTILIZADO ........................................................... 238 A.2 IMPLEMENTAÇÃO DA INFILTRAÇÃO E DA EVAPORAÇÃO .................................. 239 A.3 DESCRIÇÃO DAS CONDIÇÕES INICIAIS E DE CONTORNO ................................... 241 A.4 LIMITAÇÕES .................................................................................................... 244 ANEXO B ENSAIOS DE EVAPORAÇÃO .................................................................... 245 B.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS DE EVAPORAÇÃO ............................. 245 B.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS ENSAIOS DE EVAPORAÇÃO ............................. 246 R E F E R Ê N C I A S ............................................................................................ 250 I ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 2.1- DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO E RETENÇÃO DE ÁGUA EM UM TUBO CAPILAR. ... 8 FIGURA 2.2- MODELO ET AL., CAPILAR DE RETENÇÃO DE ÁGUA NO SOLO (ALTERADO DE IWATA 1988). ................................................................................................................ 9 FIGURA 2.3- CAPACIDADE DE RETENÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA EM UMA BARREIRA CAPILAR. ..................................................................................................................... 10 FIGURA 2.4- ASCENSÃO CAPILAR EM POROS DE DIFERENTES TAMANHOS FORMADOS POR CAMADAS DE SOLOS COM DIFERENTES CURVAS GRANULOMÉTRICAS. ............................. 11 FIGURA 2.5 – DIFERENTES ESTADOS DE SATURAÇÃO E PRINCIPAIS PARÂMETROS DA CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA DO SOLO. ..................................................................... 13 FIGURA 2.6 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO EFEITO DA HISTERESE NO FORMATO DA CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA DE UM SOLO SUJEITO A VARIAÇÕES CLIMÁTICAS. ........... 16 FIGURA 3.1 - COMPONENTES QUE: (A)ENTRADA DO BALANÇO DE RADIAÇÃO NA SUPERFÍCIE DO SOLO EM E SAÍDA DE RADIAÇÃO DA SUPERFÍCIE DO SOLO; ENERGÉTICO DE DIA; (C) BALANÇO ENERGÉTICO DE NOITE [ALTERADO (B) BALANÇO TANNER (1960) APUD BLIGHT (1997)]. ................................................................................................. 26 FIGURA 3.2 – (A) BALANÇO DE ENERGIA DIURNO DE UM SOLO SECO COM A VARIAÇÃO DA VELOCIDADE DO VENTO, E EL MIRAGE, CALIFORNIA, VEHRENCAMP, 1953 (APUD TINDALL KUNKEL, 1999); (B)BALANÇO DE ENERGIA DIURNO DE UM SOLO ÚMIDO, PHOENIX, AZ, FRITSCHEN E VAN BAVEL, 1962 (APUD TINDALL E KUNKEL, 1999). ............................. 27 FIGURA 3.3 – PERFIL DE TEMPERATURA DE UM SOLO ARENOSO VEGETADO DO CANADÁ (TINDALL E KUNKEL, 1999). ........................................................................................ 30 FIGURA 3.4 – GRÁFICO ESQUEMÁTICO DOS ESTÁGIOS DE EVAPORAÇÃO DE ÁGUA DE UM SOLO (TINDALL E KUNKEL, 1999). ............................................................................... 32 FIGURA 3.5 – ESQUEMA SIMPLIFICADO DE TRANSPIRAÇÃO DE PLANTAS. ....................... 35 FIGURA 3.6 – EFEITO DA CAMADA SUPERFICIAL NA RAZÃO DE EVAPORAÇÃO DO SOLO EM VÁRIAS CONDIÇÕES (BLIGHT, 1997). ............................................................................ 38 FIGURA 3.7 – VARIAÇÃO DA RAZÃO DE INFILTRAÇÃO COM O TEMPO EM 3 CONTORNO INICIAIS (WILSON, CONDIÇÕES DE 1997)............................................................................ 40 FIGURA 3.8 – DISTRIBUIÇÃO IDEALIZADA DO PERFIL DE UMIDADE DURANTE INFILTRAÇÃO DE ÁGUA NO SOLO (TINDALL E KUNKEL, 1999)............................................................. 41 II FIGURA 3.9 – (A)MODELO LAMBE (1958) DE PARA ESTRUTURA DE SOLOS ARGILOSO (B)MODELO DE OLSEN (1960) PARA A PERMEABILIDADE DE SOLOS ARGILOSOS. ............ 43 FIGURA 3.10 – SOLO ARGILO-SILTOSO PREPARADO UTILIZANDO-SE COMPACTAÇÃO DINÂMICA (MITCHELL ET AL., 1965). ............................................................................ 44 FIGURA 3.11- (A) CURVAS COMPACTAÇÃO; (B) DE COMPACTAÇÃO PERMEABILIDADE 1958). ........................................... 45 DO MÉTODO DE COMPACTAÇÃO NA PERMEABILIDADE SATURADA DE UM SOLO ARGILO-SILTOSO (MITCHELL, FIGURA 3.13 – PROCEDIMENTO DETERMINAÇÃO DE DIFERENTES ENERGIA DE EM FUNÇÃO DO TEOR DE UMIDADE DE MOLDAGEM PARA UM SOLO ARGILO-SILTOSO (MITCHELL AT AL., FIGURA 3.12 – INFLUÊNCIA PARA 1993). ....................................... 47 RECOMENDADOS POR CRITÉRIOS DE DANIEL COMPACTAÇÃO E DE BENSON (1990B) CAMADA DE PARA BAIXA PERMEABILIDADE EM BARREIRAS CAPILARES. ............................................................... 48 FIGURA 3.14 – ESQUEMA VARIAÇÃO PARA OBTENÇÃO DA FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE(A) DA SUCÇÃO COM A PROFUNDIDADE; (B) VARIAÇÃO DO TEOR UMIDADE VOLUMÉTRICO COM A PROFUNDIDADE. ......................................................................... 53 FIGURA 3.15 – CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA DE UMA AREIA E UMA ARGILA COM A EQUAÇÃO DE HAVERKAMP ET AL. (1977). ..................................................................... 56 FIGURA 3.16- FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE OBTIDA PELA FORMULAÇÃO DE HAVERKAMP ET AL. (1977) (APUD LAPPALA AREIA DA FIG. ET AL., 1993); (A) FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE PARA A 3.15; (B) FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE PARA A ARGILA DA FIG. 3.15. .... 57 FIGURA 3.17 – (A)CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA DE UM SOLO ORGÂNICO SILTOSO PELA EQUAÇÃO DE VAN GENUCHTEN (1980); (B) FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE DE VAN GENUCHTEN AJUSTADA AOS DADOS EXPERIMENTAIS (APUD VAN GENUCHTEN, 1980).... 59 FIGURA 3.18 – (A)CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA DE UMA ARGILA PELA EQUAÇÃO DE VAN GENUCHTEN (1980); (B) FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE DE AJUSTADA AOS DADOS EXPERIMENTAIS (APUD VAN GENUCHTEN, FIGURA 3.19 – (A) EFEITO VAN GENUCHTEN 1980). ...................... 60 DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO NO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE DE UM SOLO ARGILO-SILTOSO DE WENATCHEE; (B) EFEITO DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO NO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE DE UM SOLO ARGILOSO DE LIVE OAK (MEERDINK ET AL., 1996) ............................................................................ 62 FIGURA 3.20 – VARIAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE DE UM SOLO ARGILO- SILTOSO COM A SUCÇÃO, LEVANDO-SE EM CONSIDERAÇÃO A ENERGIA DE COMPACTAÇÃO (MEERDINK ET AL., 1996)............................................................................................. 63 III FIGURA 3.21 – EFEITO DA HISTERESE NA FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE DE UM SOLO ORGÂNICO (VAN GENUCHTEN, 1980). .......................................................................... 64 FIGURA 4.1 - DIAGRAMA DE COLUNA DE SOLO UTILIZADA POR TOPP ET AL., 1980. ........ 65 FIGURA 4.2- ESQUEMA DO SISTEMA BÁSICO DO TDR. .................................................. 66 FIGURA 4.3- RELAÇÃO ENTRE A CONSTANTE DIELÉTRICA E O TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO ACHADO POR TOPP ET AL. (1980). .......................................................... 68 FIGURA 5.1 – CURVA GRANULOMÉTRICA DO SOLO RESIDUAL DE GNAISSE COM E SEM O USO DE DEFLOCULANTE NO PROCESSO DE SEDIMENTAÇÃO DOS GRÃOS........................... 79 FIGURA 5.2 – DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DAS AREIAS IPT#16, IPT#50, IPT#100 E DO PEDRISCO UTILIZADOS. ........................................................................................... 80 FIGURA 5.3 – CURVA DE COMPACTAÇÃO DO SOLO RESIDUAL PARA ENERGIA DE PROCTOR NORMAL COM E SEM REUSO. ......................................................................................... 82 FIGURA 5.4 – DENSIDADE E TEOR DE UMIDADE DOS CORPOS DE PROVA UTILIZADOS NOS ENSAIOS DE PERMEABILIDADE DO SOLO RESIDUAL. ....................................................... 85 FIGURA 5.5- CURVAS DE RETENÇÃO DA AREIA IPT#100 EM DIFERENTES COMPACIDADES RELATIVAS .................................................................................................................. 90 FIGURA 5.6- CURVAS DE RETENÇÃO AJUSTADAS DA AREIA COMPACIDADES RELATIVAS IPT#100 EM DIFERENTES ......................................................................................... 90 FIGURA 5.7 – CURVAS DE RETENÇÃO DA AREIA IPT#100, IPT#50 E IPT#16................. 91 FIGURA 5.8- RELAÇÕES DE RETENÇÃO DE ÁGUA DO SOLO RESIDUAL DE GNAISSE PARA CP-2PNO E CP121-E. ................................................................................................. 93 FIGURA 5.9 – CURVAS DE RETENÇÃO DO GNAISSE COMPACTADO NA ÓTIMA E ESTATICAMENTE (CP-2PNO E CP121). ........................................................................ 94 FIGURA 5.10 - CURVAS DE RETENÇÃO DE ÁGUA OBTIDAS PARA AS AREIAS IPT#100, IPT#50 E IPT#16, AJUSTADAS PELO MODELO DE VAN GENUCHTEN (1980). .................. 95 FIGURA 5.11 – CURVAS DE RETENÇÃO DE ÁGUA OBTIDAS PARA AS AREIAS IPT#100, IPT#50 E IPT#16, AJUSTADAS PELO MODELO DE HAVERKAMP ET AL. (1977). ................ 95 FIGURA 5.12- PONTOS DA CURVA DE RETENÇÃO DE UM SOLO RESIDUAL DE GNAISSE OBTIDAS EXPERIMENTALMENTE E O AJUSTE FEITO PARA O MODELO DE VAN GENUCHTEN (1980). ........................................................................................................................ 96 FIGURA 5.13 – PONTOS DAS CURVAS DE RETENÇÃO DE UM SOLO RESIDUAL DE GNAISSE OBTIDAS EXPERIMENTALMENTE E O AJUSTE FEITO PARA OS MODELOS DE AL.(1977). HAVERKAMP ET ................................................................................................................... 96 IV FIGURA 6.1 – DESENHO ESQUEMÁTICO DOS MINI-TENSIÔMETROS UTILIZADOS PARA MONITORAÇÃO DAS COLUNAS DE SOLO (ALTERADO SOIL MOISTURE MANUAL). ............. 99 FIGURA 6.2 – (A) TENSIÔMETRO COM RESERVATÓRIO DE REENCHIMENTO (C) “MINI” PONTA POROSA E TRANSDUTOR; SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS (D) (B) CONVERSOR DE VOLTAGEM. .......................................................................................................... 100 FIGURA 6.3 – CURVAS DE CALIBRAÇÃO DOS TRANSDUTORES DE PRESSÃO. ................. 102 FIGURA 6.4 – (A)SISTEMA DE AQUISIÇÃO, GERAÇÃO E RECEPÇÃO DE ONDAS; (B) MULTIPLEXADOR; (C) GUIAS DE ONDA WG14 E WG20. ............................................. 104 FIGURA 6.5 - VARIAÇÃO DE KA COM A DISTÂNCIA DA PONTA DA GUIA DE ONDA PARA O FUNDO DE UM RECIPIENTE COM ÁGUA......................................................................... 106 FIGURA 6.6 - LIMITAÇÃO DA CALIBRAÇÃO: A) REGIÃO DELIMITADA PARA VALORES VÁLIDOS DE KA; B) FORMAÇÃO DE AGREGAÇÃO (ρD=1,16 FIGURA 6.7 – MÉTODO DE COMPACTAÇÃO “MISTA” MG/M3, 0,347 M3/M3). ........ 110 UTILIZADO PARA VERIFICAÇÃO DO EFEITO DE CONTATO................................................................................................... 113 FIGURA 6.8 – FALHA DE CONTADO HASTE-SOLO DEVIDO A “MÁ” COMPACTAÇÃO. ....... 114 FIGURA 6.9 – MÉTODO DE COMPACTAÇÃO “ÚNICA”. .................................................. 114 FIGURA 6.10 – CONTADO HASTE-SOLO SEM PRESENÇA DE VAZIOS PARA MÉTODO DE COMPACTAÇÃO “MISTA”. ........................................................................................... 115 FIGURA 6.11 – CURVA DE CALIBRAÇÃO DA AREIA, JUNTAMENTE COM A PROPOSTA POR TOPP ET AL. (1980)..................................................................................................... 116 FIGURA 6.12 - DADOS DE CALIBRAÇÃO DO TDR E AJUSTE AOS DADOS EXPERIMENTAIS LEVANDO EM CONTA A DENSIDADE SECA (ρD). ............................................................ 116 FIGURA 6.13 – VARIAÇÃO DOS PARÂMETROS DE AJUSTE DA CURVA DE CALIBRAÇÃO DE GNAISSE COM A DENSIDADE. ...................................................................................... 118 FIGURA 6.14 – COMPARAÇÃO ENTRE MODELOS E EQUAÇÕES DA LITERATURA E A CALIBRAÇÃO PROPOSTA. ............................................................................................ 120 FIGURA 6.15 - COMPARAÇÃO MODELOS PROPOSTOS POR ENTRE DADOS EXPERIMENTAIS, CALIBRAÇÃO OBTIDA E DOBSON ET AL. (1985):A) ρD=1,7 MG/M3 E B) ρD=1,2 MG/M3. ................................................................................................................................. 121 FIGURA 6.16 – ANÁLISE COMPARATIVA DE DADOS EXPERIMENTAIS EM SOLOS TROPICAIS. ................................................................................................................................. 122 FIGURA 6.17 – DADOS DA SECAGEM E UMEDECIMENTO DE UMA ÚNICA AMOSTRA COMPARADOS COM A CURVA DE CALIBRAÇÃO OBTIDA. ............................................... 124 V FIGURA 6.18 - EFEITO DO COMPRIMENTO DE HASTE NA CALIBRAÇÃO DO TDR: COMPARAÇÃO ENTRE GUIAS DE ONDA DE 20 E 14 CM DE COMPRIMENTO. ..................... 125 FIGURA 6.19 – VARIAÇÃO DE KA EM FUNÇÃO DO SEGMENTO DE HASTE INSERIDO NO SOLO PARA DIFERENTES DENSIDADES E UMIDADES. ..................................................... 127 FIGURA 6.20 - VARIAÇÃO DE KA COM O COMPRIMENTO INSERIDO NO SOLO PARA AS HASTES DE 20CM E DE 14CM (EFEITO DO CONTATO E DA INSERÇÃO)............................. 128 FIGURA 6.21 – VARIAÇÃO DE KA COM O NÚMERO DE REINSERÇÕES DA GUIA DE ONDA NO SOLO. ........................................................................................................................ 129 FIGURA 6.22 – EFEITO DO CONTATO ENTRE AS HASTES E O SOLO DEVIDO À QUALIDADE DA COMPACTAÇÃO; (C) COMPARAÇÃO COM A CURVA DE CALIBRAÇÃO. ....................... 131 FIGURA 6.23 – SEGMENTOS DE COLUNAS DE 10, 15 E 30 CM DE ALTURA..................... 132 FIGURA 6.24 – DESENHO DA ESTRUTURA DE SUPORTE DAS COLUNAS.......................... 133 FIGURA 6.25- MONTAGEM PVC; (B) DO CHUVÍMETRO: (A) SERINGAS ENCAIXADAS NA PLACA DE DETALHE DAS SERINGAS COM AGULHAS; (C) ENCAIXA DA PLACA NO TUBO DE PVC; (D) PLACA COLADA AO TUBO. ........................................................................... 135 FIGURA 6.26- SISTEMA DE CONTROLE DE VAZÃO: A)CALIBRAÇÃO DO SISTEMA; B)SISTEMA MONTADO EM COLUNA DE SOLO. ............................................................... 136 FIGURA 6.27- SUJEIRA ACUMULADA NAS AGULHAS APÓS CALIBRAÇÃO INICIAL. ......... 138 FIGURA 6.28- FILTROS UTILIZADOS PARA DIMINUIÇÃO DA CONTAMINAÇÃO DAS AGULHAS................................................................................................................... 138 FIGURA 6.29 – CALIBRAÇÃO DO CHUVÍMETRO: (A) CARGA X INTENSIDADE DE CHUVA; (B) CARGA X VAZÃO. ....................................................................................................... 139 FIGURA 7.1 – GEOMETRIA DA BARREIRA CAPILAR SIMULADA COM A ALTURA DA CAMADA DE GNAISSE DE 120 CM. ............................................................................................. 141 FIGURA 7.2 – GEOMETRIA, CONDIÇÕES INICIAIS E DE CONTORNO UTILIZADAS NO ESTUDO DO EFEITO DA INTENSIDADE DE CHUVA NA CAPACIDADE DE RETENÇÃO DA BARREIRA. . 145 FIGURA 7.3 – VARIAÇÃO DA RAZÃO DE INFILTRAÇÃO COM O TEMPO PARA INTENSIDADES DE CHUVAS DE 0,01 CM/H, CM/H, 0,02 CM/H, 0,03 CM/H, 0,04 CM/H, 0,05 CM/H, 0,06 CM/H, 0,07 0,1 CM/H.......................................................................................................... 146 FIGURA 7.4 - VOLUME DE ÁGUA INFILTRADO COM O TEMPO PARA AS DIVERSAS INTENSIDADES DE CHUVA E PARA UM GRAU DE SATURAÇÃO DE 30%. FIGURA 7.5 - VOLUME .......................... 147 DE ÁGUA INFILTRADO COM O TEMPO PARA AS DIVERSAS INTENSIDADES DE CHUVA E PARA UM GRAU DE SATURAÇÃO DE 80%. .......................... 147 VI FIGURA 7.6 – VOLUME DE ÁGUA COM O TEMPO, A INTENSIDADE DE CHUVA DE 0,01 E 0,1 CM/H E GRAU DE SATURAÇÃO DE 30% E 80%.............................................................. 148 FIGURA 7.7 – VOLUME PERCOLADO PELA BASE DA BARREIRAS CAPILAR COM O TEMPO, A INTENSIDADE DE CHUVA E O GRAU DE SATURAÇÃO INICIAL. ........................................ 149 FIGURA 7.8 – VOLUME PERCOLADO PELA BASE DA BARREIRA CAPILAR EM FUNÇÃO DA INTENSIDADE DE CHUVA PARA GRAUS DE SATURAÇÃO DE DE: (A) 30%, 50% E 80% NOS TEMPOS 5600 H, (B) 6000 E (C) 6500 HORAS. .............................................................. 150 FIGURA 7.9 – CONDIÇÕES INICIAIS E DE CONTORNO ADOTADAS PARA VERIFICAÇÃO DO EFEITO DO GRAU DE SATURAÇÃO INICIAL. ................................................................... 151 FIGURA 7.10 – VOLUME DE ÁGUA INFILTRADA E ESCOADA EM RELAÇÃO AO VOLUME DE ÁGUA PRECIPITADO PARA UMA PRECIPITAÇÃO CONSTANTE DE PRECIPITAÇÃO DE 6500 HORAS: (A) 0,01 CM/H E TEMPO DE S=30 %; (B) S=50 %; (C) S=80 %. ...................... 152 FIGURA 7.11 – PERFIS DE SATURAÇÃO NOS GRAUS DE SATURAÇÃO INICIAIS DE 30%, 50% E 80%, CHUVA DE 0,01 CM/H EM QUE: (A) DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL; (C) FIGURA 7.12- VOLUME PERFIS T=0 H E T=1800 H; (B) PERFIS DE INÍCIO PERFIS T=0 H E T=6500 H. .................................... 154 DE ÁGUA INFILTRADA E ESCOADA EM RELAÇÃO AO VOLUME DE ÁGUA PRECIPITADO PARA UMA PRECIPITAÇÃO CONSTANTE DE PRECIPITAÇÃO DE 6500 HORAS: (A) FIGURA 7.13 – PERFIS SATURAÇÃO INICIAIS DE 0,1 CM/H E TEMPO DE S=30 %; (B) S=50 %; (C) S=80 %. ...................... 156 DE SATURAÇÃO PARA BARREIRA SIMULADA NOS GRAUS DE 30%, 50% E 80%, CM/H EM QUE: (A) PERFIS NOS TEMPOS DE 0 SUJEITAS A INTENSIDADE DE CHUVA DE HE 30 H; (B) PERFIS NOS TEMPOS DE TEMPOS DE INÍCIO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL; (C) PERFIL NOS TEMPOS DE 0 HE 0 0,1 HE 6500 H. .............................................................................................................................. 157 FIGURA 7.14 – EFEITO DO GRAU DE SATURAÇÃO NA VARIAÇÃO DA QUANTIDADE DE ÁGUA PERCOLADA PELA BARREIRA CAPILAR COM O TEMPO. .................................................. 159 FIGURA 7.15 – (A)VARIAÇÃO DO GRAU DE SATURAÇÃO DO SOLO RESIDUAL COM A VOLUME DE ÁGUA PERCOLADO POR UNIDADE DE ÁREA; (B) VARIAÇÃO DO GRAU DE SATURAÇÃO COM O TEMPO DE INÍCIO DA PERCOLAÇÃO DE ÁGUA PELA BASE. ............... 160 FIGURA 7.16 – DESENHO ESQUEMÁTICO DA BARREIRA CAPILAR UTILIZADA E AS CONDIÇÕES DE CONTORNO E INICIAIS IMPOSTAS. ......................................................... 161 FIGURA 7.17 – EFEITO DA VARIAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE DO SOLO RESIDUAL SATURADO, SENDO: (A) PERCENTUAL DE CHUVA (0,1 CM/H) INFILTRADA; (B) VOLUME INFILTRADO DE ÁGUA; E (C) VOLUME PERCOLADO (SAÍDA PELA BASE). .......... 162 VII FIGURA 7.18 - EFEITO DA VARIAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE DO SOLO RESIDUAL SATURADO, SENDO: (A) PERCENTUAL DE CHUVA (0,02 CM/H) INFILTRADA; (B) VOLUME INFILTRADO DE ÁGUA E (C) VOLUME PERCOLADO (SAÍDA PELA BASE). ........... 163 FIGURA 7.19 - EFEITO DA VARIAÇÃO DO COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE DO SOLO RESIDUAL SATURADO, SENDO: (A) PERCENTUAL DE CHUVA (0,01 CM/H); (B) VOLUME INFILTRADO DE ÁGUA; E (C)VOLUME PERCOLADO (SAÍDA PELA BASE).......................... 164 FIGURA 7.20 – RELAÇÃO ENTRE O COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE DO SOLO SATURADO PARA INTENSIDADES DE CHUVAS DE 0,1 CM/H, 0,02 CM/H, 0,01 CM/H E O TEMPO DE: (A) INÍCIO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL; (B) INÍCIO DA SAÍDA DE ÁGUA PELA BASE. FIGURA 8.1 – PROCEDIMENTO DE INSTALAÇÃO DAS GUIAS DE ONDA DO ........ 165 TDR NAS COLUNAS................................................................................................................... 167 FIGURA 8.2 – PROCEDIMENTO DE INSTALAÇÃO DA PEDRA POROSA DO TENSIÔMETRO NAS COLUNAS................................................................................................................... 168 FIGURA 8.3 – PROCEDIMENTO DE INSTALAÇÃO DE SENSOR DE TEMPERATURA NAS COLUNAS................................................................................................................... 169 FIGURA 8.4 – PERFIL DE SOLO DA BARREIRA CAPILAR: COLUNA 1. .............................. 170 FIGURA 8.5 – PERFIL DE SOLO DA BARREIRA CAPILAR: COLUNA 2. .............................. 172 FIGURA 8.6 – PERFIL DE SOLO DA BARREIRA CAPILAR: COLUNA 3. .............................. 173 FIGURA 8.7 –LOCALIZAÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO UTILIZADA NA COLUNA 1.............. 175 FIGURA 8.8 –LOCALIZAÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO UTILIZADA NA COLUNA 2. ............ 177 FIGURA 8.9 –LOCALIZAÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO UTILIZADA NA COLUNA 3.............. 178 FIGURA 8.10 – ORGANOGRAMA DE ENSAIOS. ............................................................. 179 FIGURA 8.11 – PROBLEMAS DE VAZAMENTO E AUMENTO DE NÍVEL DE ÁGUA DA BASE DA COLUNA 3, DURANTE PROCESSO DE INFILTRAÇÃO. ...................................................... 181 FIGURA 8.12- VARIAÇÃO 1976) DE CHUVA DA PARA TEMPOS DE RECORRÊNCIA DE CIDADE 10 DE ANOS, SÃO PAULO (APUD PINTO 25 ANOS E 50 ET AL. ANOS EM CONJUNTO COM AS CHUVAS SIMULADAS...................................................................................... 183 FIGURA 8.13 – VERIFICAÇÃO DA RELAÇÃO CARGA VERSUS INTENSIDADE DE CHUVA PARA OS ENSAIOS REALIZADOS............................................................................................ 184 FIGURA 9.1- VARIAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO DA COLUNAS 1 DOS VÁRIOS ENSAIOS. ................................................................................................ 186 FIGURA 9.2- VARIAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO DA COLUNAS 2 DOS VÁRIOS ENSAIOS. AO LONGO AO LONGO ................................................................................................ 187 VIII FIGURA 9.3- VARIAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO DA COLUNAS 3 DOS VÁRIOS ENSAIOS. AO LONGO ................................................................................................ 188 FIGURA 9.4 –ILUSTRAÇÃO DE DIFICULDADES NA INSTRUMENTAÇÃO DE LONGA DURAÇÃO COM OS TENSIÔMETROS (COLUNA 1). .......................................................................... 189 FIGURA 9.5 – VARIAÇÃO POROSA COM A AREIA. DE MEDIDAS DE SUCÇÃO DEVIDO AO CONTATO DA PEDRA ............................................................................................... 190 FIGURA 9.6 – VARIAÇÃO DAS LEITURAS DE SUCÇÃO NA CAMADA DE AREIA DEVIDO À VARIAÇÃO DA TEMPERATURA PARA COLUNA 3............................................................ 192 FIGURA 9.7 – VARIAÇÃO COLUNAS 1, DA RAZÃO DE INFILTRAÇÃO DE ÁGUA COM O TEMPO PARA AS 2 E 3....................................................................................................... 193 FIGURA 9.8 – VARIAÇÃO DA SUCÇÃO E DA UMIDADE COM O TEMPO DEVIDO À 3 INFILTRAÇÃO DE 735 CM DE ÁGUA NA COLUNA 1. ...................................................... 195 FIGURA 9.9 – VARIAÇÃO DA SUCÇÃO E DA UMIDADE COM O TEMPO DEVIDO À 3 INFILTRAÇÃO DE 735 M DE ÁGUA NA COLUNA 2. ........................................................ 197 FIGURA 9.10 – VARIAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO COM O TEMPO NO SOLO RESIDUAL DE GNAISSE (TDR14 A 18) E NA AREIA (TDR19 A 21) DA COLUNA 3. .......... 199 FIGURA 9.11 – VARIAÇÃO CAMADAS DE AREIAS DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO COM O TEMPO NAS IPT#100 (TDR 19) E IPT#16 (TDR20 E TDR 21) DA COLUNA 3. ................................................................................................................................. 200 FIGURA 9.12 – VARIAÇÃO DE TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA (U.R.) DENTRO E FORA DA CAIXA “CLIMATIZADA”. ............................................................................... 201 FIGURA 9.13 – EVAPORAÇÃO POTENCIAL MEDIA DENTRO E FORA DA CAIXA “CLIMATIZADA”......................................................................................................... 202 FIGURA 9.14 – VARIAÇÃO DA SUCÇÃO E DA UMIDADE COM O TEMPO DEVIDO À EVAPORAÇÃO IMPOSTA NO TOPO DA COLUNA 1. .......................................................... 203 FIGURA 9.15 – PERFIS DE SUCÇÃO E DE UMIDADE DURANTE EVAPORAÇÃO DA COLUNA 1. ................................................................................................................................. 204 FIGURA 9.16 – VARIAÇÃO DA SUCÇÃO E DA UMIDADE COM O TEMPO DEVIDO À EVAPORAÇÃO IMPOSTA NO TOPO DA COLUNA 3. .......................................................... 205 FIGURA 9.17 – VARIAÇÃO DO VOLUME (ACUMULADO) DE ÁGUA INFILTRADO E DO RUNOFF COM O TEMPO PARA I=140 MM/H E T=26 MIN NAS 3 COLUNAS........................ 206 FIGURA 9.18 – PERCENTUAL DE CHUVA INFILTRADO COM O TEMPO PARA I=140 MM/H E T=26 MIN PARA AS 3 COLUNAS. .................................................................................. 207 IX FIGURA 9.19 – RAZÃO PARA AS 3 COLUNAS. DE INFILTRAÇÃO COM O TEMPO PARA I=140 MM/H E T=26 MIN ................................................................................................. 208 FIGURA 9.20 – VARIAÇÃO DO VOLUME RUNOFF COM O TEMPO PARA I=25 (ACUMULADO) DE ÁGUA INFILTRADO E DO MM/H PARA AS COLUNAS 1 E 3 E I=30 MM/H PARA COLUNA 2, TODOS EM T=8 H....................................................................................... 209 FIGURA 9.21 – PERCENTUAL DE CHUVA INFILTRADO COM O TEMPO PARA I=25 MM/H PARA AS COLUNAS 1 E 3 E I=30 MM/H PARA COLUNA 2, TODOS EM T=8 H. ................... 210 FIGURA 9.22 – RAZÃO DE INFILTRAÇÃO COM O TEMPO PARA I=25 MM/H PARA AS COLUNAS 1 E 3 E I=30 MM/H PARA COLUNA 2, TODOS EM T=8 H. ................................. 210 FIGURA 9.23 – VARIAÇÃO DO VOLUME (ACUMULADO) DE ÁGUA INFILTRADO RUNOFF COM O TEMPO PARA I=60 MM/H E T=1 H NAS 3 COLUNAS. FIGURA 9.24 – PERCENTUAL E DO .............................. 211 DE CHUVA INFILTRADO COM O TEMPO PARA I=60 MM/H E T=1 H NAS 3 COLUNAS. .............................................................................................. 212 FIGURA 9.25 – RAZÃO DE INFILTRAÇÃO COM O TEMPO PARA I=60 MM/H E T=1 H NAS 3 COLUNAS................................................................................................................... 212 FIGURA 9.26 – VARIAÇÃO DA SUCÇÃO E DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO DA COLUNA 1 COM O TEMPO PARA AS TRÊS CHUVAS SIMULADAS. ..................................... 214 FIGURA 9.27 – VARIAÇÃO DA SUCÇÃO E DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO DA COLUNA 2 COM O TEMPO PARA AS TRÊS CHUVAS SIMULADAS. ..................................... 215 FIGURA 9.28 – VARIAÇÃO DA SUCÇÃO E DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICO DA COLUNA 3 COM O TEMPO PARA AS TRÊS CHUVAS SIMULADAS. ..................................... 216 FIGURA 9.29 – VARIAÇÃO DO VOLUME INFILTRADO COM FIGURA 10.1 - CONDIÇÕES COLUNAS. .......................... 217 DE CONTORNO E INICIAIS ADOTADAS NA SIMULAÇÃO DA COLUNA 1.................................................................................................................. 219 FIGURA 10.2 – FUNÇÕES DE PERMEABILIDADE DE AREIAS OBTIDAS PELO MODELO DE VAN GENUCHTEN (1980). .................................................................................................. 220 FIGURA 10.3 - FUNÇÕES DE PERMEABILIDADE DE AREIAS OBTIDAS PELO MODELO DE HAVERKAMP ET AL. (1977)......................................................................................... 220 FIGURA 10.4 – CURVA DE RETENÇÃO OBTIDAS A PARTIR DOS AJUSTES DOS MODELOS AOS DADOS EXPERIMENTAIS PARA O SOLO RESIDUAL. FIGURA 10.5 - AJUSTE GENUCHTEN (1980) ........................................................ 221 DA VARIAÇÃO DA SUCÇÃO COM O TEMPO PELO MODELO DE VAN AOS PONTOS EXPERIMENTAIS OBTIDOS COM TENSIÔMETROS NA COLUNA 1.................................................................................................................. 222 X FIGURA 10.6 - AJUSTE DA VARIAÇÃO DA SUCÇÃO COM O TEMPO PELO MODELO DE HAVERKAMP ET AL. (1977) AOS PONTOS EXPERIMENTAIS OBTIDOS COM TENSIÔMETROS NA COLUNA 1.................................................................................................................. 223 FIGURA 10.7 – AJUSTE DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICA PELO MODELO DE VAN GENUCHTEN (1980) AOS PONTOS EXPERIMENTAIS OBTIDOS COM TDR NA COLUNA 1... 224 FIGURA 10.8 - AJUSTE DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICA PELO MODELO DE HAVERKAMP ET AL. (1977) AOS PONTOS EXPERIMENTAIS OBTIDOS COM TDR NA COLUNA 1. .............................................................................................................................. 224 FIGURA 10.9 – VARIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA INFILTRADO POR UNIDADE DE ÁREA COM O TEMPO. ................................................................................................................... 225 FIGURA 10.10 - FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE, RELATIVA PARA O SOLO RESIDUAL DE GNAISSE, OBTIDAS PELO MODELO DE VAN GENUCHTEN (1980) E HAVERKAMP ET AL. (1977). ...................................................................................................................... 226 FIGURA 10.11 – CONDIÇÕES COLUNA 1, DE CONTORNO E INICIAIS ADOTADAS NA SIMULAÇÃO DA CONSIDERANDO-SE UMA CAMADA DE SOLO SUPERFICIAL ALTERADA DE DE ESPESSURA. CM .......................................................................................................... 227 FIGURA 10.12 – CURVAS HAVERKAMP 3,5 ET AL. DE RETENÇÃO DE ÁGUA OBTIDAS PELO AJUSTE DO MODELO DE (1977) AO DADOS EXPERIMENTAIS, CONSIDERANDO-SE EXISTIR ALTERAÇÃO DO SOLO SUPERFICIAL. ............................................................................ 228 FIGURA 10.13 - AJUSTE HAVERKAMP ET AL. DOS VALORES DE SUCÇÃO SIMULADOS COM O MODELO DE (1977) AOS DADOS EXPERIMENTAIS PARA COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE SATURADO DE 0,0008 CM/H. ........................................................... 228 FIGURA 10.14 - AJUSTE DOS COM O MODELO DE VALORES DO TEOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICA SIMULADOS HAVERKAMP ET AL. (1977) AOS DADOS EXPERIMENTAIS PARA COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE SATURADO DE 0,0008 CM/H................................... 229 FIGURA 10.15 - VARIAÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA INFILTRADO POR UNIDADE DE ÁREA COM O TEMPO INCLUINDO CAMADA SUPERFICIAL ALTERADA. ...................................... 230 FIGURA 10.16- FUNÇÕES HAVERKAMP ET AL. DE PERMEABILIDADE OBTIDAS PELO AJUSTE DO MODELO DE (1977) AOS DADOS EXPERIMENTAIS, CONSIDERANDO-SE EXISTIR ALTERAÇÃO DO SOLO SUPERFICIAL. ............................................................................ 230 FIGURA A12.1 – PROCESSO DE INFILTRAÇÃO COMPUTACIONAL (ALTERADO DE LAPPALA ET AL., IMPLEMENTADO NO CÓDIGO 1993). ........................................... 239 XI FIGURA B.1 –ENSAIOS PARA VERIFICAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA ALTURA DOS RECIPIENTES NA RAZÃO DE EVAPORAÇÃO. ...................................................................................... 245 FIGURA B.2 – VARIAÇÃO DO POTENCIAL ATMOSFÉRICO E DA UMIDADE RELATIVA COM O TEMPO PARA ENSAIO DE EVAPORAÇÃO........................................................................ 247 FIGURA B.3 – VARIAÇÃO DA RAZÃO DE EVAPORAÇÃO COM A UMIDADE...................... 247 FIGURA B.4 – VARIAÇÃO DE PESO DE ÁGUA NO SOLO PELO TEMPO PARA RECIPIENTES COM ALTURAS DE 10, 5, 2.5, 1.25 CM DE SOLO E RECIPIENTE DE ÁGUA DE 5 CM. .................. 248 FIGURA B.5 – VARIAÇÃO COM ALTURAS DE 10, DA UMIDADE VOLUMÉTRICA COM O TEMPO PARA RECIPIENTES 5, 2.5, 1.25 CM DE SOLO E RECIPIENTE DE ÁGUA DE 5 CM. .......... 248 FIGURA B.6- VARIAÇÃO DA EVAPORAÇÃO NO SOLO E NA ÁGUA COM O TEMPO, PARA RECIPIENTES COM ALTURAS DE CM. 10, 5, 2.5, 1.25 CM DE SOLO E RECIPIENTE DE ÁGUA DE 5 ........................................................................................................................... 249 FIGURA B.7– VARIAÇÃO DA EVAPORAÇÃO COM O TEMPO PARA RECIPIENTE CONTENDO SOLO E COMPARAÇÃO COM MODELO NUMÉRICO. ......................................................... 249 XII ÍNDICE DE TABELAS TABELA 2.1 - COMPONENTES DAS CAMADAS E SUAS FUNÇÕES, ALTERADO DE MITCHELL (1997). .......................................................................................................................... 6 TABELA 3.1 – ALGUNS MATERIAIS, VALORES DE CONDUTIVIDADE TÉRMICA DO SOLO E OUTROS κC (ALTERADO DE GARRATT, 1992) ........................................................... 29 TABELA 4.1- ZONA DE INFLUÊNCIA DA GUIA (ALTERADO DE O’CONNOR E DOWING, 1999). ......................................................................................................................... 74 TABELA 5.1 – RESUMO DAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO SOLO RESIDUAL UTILIZADO. ................................................................................................................................... 79 TABELA 5.2 – PROPRIEDADES DAS AREIAS SELECIONADAS. .......................................... 81 TABELA 5.3 – CARACTERÍSTICAS DOS CORPOS DE PROVA ANTES E DEPOIS DOS ENSAIOS. 84 TABELA 5.4 –PRESSÕES UTILIZADAS NOS ENSAIOS E COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE.85 TABELA 5.5 – PERMEABILIDADE OBTIDA COM PERMEÂMETRO DE CARGA CONSTANTE. .. 86 TABELA 5.6 - PARÂMETROS PERMEABILIDADE. DE ENTRADA PARA A OBTENÇÃO DA FUNÇÃO DE ....................................................................................................... 97 TABELA 6.1– CARACTERÍSTICAS DOS MOLDES UTILIZADOS. ....................................... 105 TABELA 6.2– VALORES DE KA PARA VERIFICAÇÃO DA INTERFERÊNCIA DA PEDRA POROSA NAS PROXIMIDADES DA GUIA DE ONDA ....................................................................... 107 TABELA 6.3– PARÂMETROS UTILIZADOS NOS MODELOS.............................................. 119 TABELA 6.4– RELAÇÃO ENTRE KA E O COMPRIMENTO DE INSERÇÃO DA HASTE NO SOLO. ................................................................................................................................. 127 TABELA 7.1 - MATERIAIS EMPREGADOS NA ANÁLISE NUMÉRICA................................. 142 TABELA 8.1 – CARACTERÍSTICAS DE COMPACTAÇÃO DA COLUNA DE SOLO (COL#1). ... 171 TABELA 8.2 – CARACTERÍSTICAS DE COMPACTAÇÃO DA COLUNA 2 (COL#2). .............. 172 TABELA 8.3 – CARACTERÍSTICAS DE COMPACTAÇÃO DA COLUNA 3. ........................... 174 TABELA A.1 – CONDIÇÕES DE CONTORNO POSSÍVEIS DE SEREM ADOTADAS................. 242 Resumo Os projetos de aterros de resíduos são bastantes variados e dependem das condições locais da área de instalação. Um dos pontos críticos desse projeto e que atua diretamente no controle das interações solo atmosfera no aterro, e conseqüentemente em sua efetividade, é a cobertura final do aterro. Um meio empregado para se ter certo controle dessas interações é o uso de barreiras capilares como cobertura. O presente trabalho tem como objetivo principal o estudo do comportamento de barreiras capilares submetidas a condições climáticas simuladas (extremas e normais) para verificação da eficiência da cobertura em relação aos aspectos climáticos envolvidos. Avaliaram-se também as técnicas de monitoramento e modelagem geralmente utilizadas para o projeto de barreiras capilares. Para o estudo das barreiras capilares em condições climáticas controladas, utilizaram-se colunas instrumentadas com camadas de solo residual e areias com medidores de umidade (TDR) e sucção (tensiômetros). As barreiras foram submetidas a condições extremas de infiltração e evaporação, e em condições de chuvas intensas simuladas. Os resultados dos experimentos indicam que a eficiência da barreira é primeiramente influenciada pelas condições de infiltração que de retenção de água. Além desse aspecto, verificou-se que as condições de chuvas de baixa intensidade e longa duração são mais desfavoráveis à efetividade da barreira que chuvas de alta intensidade e curta duração. Abstract Landfills are designed in different ways, depending on the local conditions of the installation area. Among the critical points and the landfill design, straightly related with soil-atmospheric interactions, is the landfill final cover. The use of capillary barriers as landfill covers is one of the ways to have certain control over those interactions. This work aims to study the capillary barriers behavior under simulated climatic conditions (extreme and normal) to verify cover system regarding to the climatic aspects involved. The main instrumentation techniques of the capillary barriers as landfill covers were also analyzed. Residual and sand soil columns with TDR and tensiometer instrumentations were used in order to study capillary barriers under controlled climatic conditions. The capillary barriers were subjected to extreme infiltration and evaporation conditions, as well as, to a variety of rain intensities. The experiment results show that the capillary barrier effectiveness is influenced more by infiltration conditions then by water retention. Besides that aspect, it was verified that low intensity rainfall with long duration is worse to the effectiveness to the barrier then high intensity rainfall with short duration. 1 1 INTRODUÇÃO A preocupação com a destinação de resíduos vem aumentando nas últimas décadas. A disposição de forma adequada desses resíduos em grandes centros urbanos tornou-se um grande problema ambiental. A geração cada vez maior de resíduos nas cidades requer, cada vez mais, áreas para sua disposição. Em muitos casos essas áreas são escassas e ainda têm que cumprir requerimentos mínimos da legislação ambiental. A escassez de áreas adequadas, que seguem as normas reguladoras, e que ao mesmo tempo sejam de baixo custo lançam desafios à engenharia, sobretudo no que se deve à otimização da relação custo-benefício. Os projetos de aterros de resíduos são bastante variados e dependem das condições locais da área de instalação. Um dos pontos críticos desse projeto e que atua diretamente na efetividade do aterro é a cobertura final do aterro. A cobertura tem basicamente 4 funções principais: é responsável pela diminuição da infiltração de água; diminuí a proliferação de vetores e odores; protege contra a ação antrópica; controla o fluxo de gás para a atmosfera. A cobertura final pode mudar conforme as características locais climatológicas e geotécnicas do material utilizado na cobertura. Portanto o que vale para determinada região não necessariamente será válido para outra. Faz-se necessário por sua vez o entendimento e o estudo dessas características para que se tenha a segurança e efetividade desejada no projeto de coberturas. Taís características são ainda pouco estudadas devido à complexidade do fenômeno de interação entre o solo e a atmosfera. As condições atmosféricas de uma determinada região e suas características geotécnicas influem na quantidade de água que infiltra no solo. Essa infiltração tem conseqüências diferentes, dependendo do problema que se esteja analisando. Na engenharia geotécnica, a mitigação dos problemas de lixiviação de água em aterro de resíduos está fortemente ligada à diminuição da água infiltrada. Essa infiltração por sua vez é influenciada pelo balanço de água do solo de cobertura. 2 Um dos meios empregados para se ter um certo controle das interações do solo com a atmosfera é o uso de barreiras capilares. Esse controle dá-se por intermédio de camadas constituídas de materiais porosos, apresentando características geotécnicas prédeterminadas na fase de projeto. Essas camadas têm a função de diminuir a infiltração e/ou reduzir a evaporação, limitando o volume de entrada de água no aterro. Além do controle de infiltração de água, as barreiras capilares são utilizadas, em alguns casos, para o controle da entrada de oxigênio em resíduos. Nestes casos, a barreira capilar diminui a reação dos resíduos com o oxigênio, evitando a formação de compostos perigosos ao ambiente. As barreiras capilares servem, assim, para amenizar a variabilidade das interações solo-atmosfera. As barreiras capilares podem ser construídas com materiais porosos, tais como: solos, resíduos ou uma composição desses materiais. A prática mais comum é a utilização de solo como material de construção das barreiras capilares. Neste estudo, serão utilizados areias e um solo residual de gnaisse. O emprego desse solo deve-se a sua facilidade de obtenção e a escassez de estudos do comportamento de solos residuais em barreiras capilares, principalmente em condições climáticas tropicais. Para se ter uma adequada investigação dos mecanismos que interferem no projeto de barreiras capilares, é necessário estudar: o comportamento do material em condições climáticas controladas (extremas e normais); suas características geotécnicas em condições não-saturadas; a otimização da disposição e geometria das camadas por meio de ensaios de laboratórios. Associado a esses estudos deve-se fazer uso de ferramentas numéricas que possibilitem a simulação dos processos de evaporação e infiltração, facilitando a análise de sensibilidade dos diversos parâmetros envolvidos. O presente estudo, assim, enfoca o mecanismo de funcionamento das barreiras capilares para o controle do fluxo de água na superfície de contorno, ou seja, na interface com a atmosfera. Para isso, o desempenho e a viabilidade técnica de uso desses materiais nas barreiras capilares são avaliados. O trabalho está dividido em oito partes: revisão bibliográfica, indo do Capítulo 1 ao 4; caracterização geotécnica dos solos utilizados, no Capítulo 5; descrição da calibração e montagem dos equipamentos necessários à pesquisa, no Capítulo 6; análise numérica dos problemas envolvendo a sensibilidade de 3 parâmetros na análise de barreiras capilares, no Capítulo 7; descrição dos experimentos com modelos físicos de barreiras capilares feitas em laboratório sujeitos a variações climáticas controladas, Capítulo 8; resultados e análises dos experimentos com modelos físicos de colunas, no Capitulo 9; avaliação de modelos numéricos na análise do comportamento de barreiras capilares, no Capítulo 10; e as conclusões e recomendações do estudo, capítulos 11 e 12. O estudo tem como objetivo: • determinação das condições de contorno ambientais que afetam o projeto de barreiras capilares; • verificação do desempenho de camadas de cobertura na retenção de água de acordo com os aspectos climáticos envolvidos; • verificação em laboratório do comportamento de barreiras com várias camadas; • desenvolvimento de metodologia para aumentar a eficiência de barreiras capilares considerando as condições climáticas; • avaliação do uso da modelagem numérica para previsão do comportamento das barreiras capilares. 4 2 COBERTURA FINAL PARA ATERROS DE RESÍDUOS: BARREIRAS CAPILARES O uso de solo em aterro de resíduos é uma prática bastante antiga (Bagchi, 1989). No passado, acreditava-se que a lixiviação dos resíduos era completamente atenuada ou até mesmo purificada pelo solo e pelo lençol de água. Assim a contaminação do aqüífero não era considerada um problema. Entretanto, com o aumento da preocupação com o meio ambiente na década de 50, os aterros começaram a ser detalhadamente estudados. Em pouco tempo, descobriu-se que os aterros de resíduos poderiam contaminar o lençol freático por lixiviação dos contaminantes [e.g. Califórnia Water Pollution Control Board (1954, 1961) apud Bagchi (1989)]. Há algumas décadas atrás, tendo em vista essa preocupação ambiental e os perigos causados pela crescente produção de resíduos dos grandes centros industriais, surgiu uma necessidade de desenvolvimento de técnicas de projeto mais apuradas e economicamente viáveis para o controle da lixiviação dos contaminantes. Atualmente um importante elemento responsável pelo controle parcial da quantidade de contaminantes a ser lixiviada é a cobertura final do aterro. Essas coberturas, em alguns casos, podem ser barreiras capilares. As barreiras capilares, no caso de aterros de resíduos, possuem duas funções básicas: uma é limitar a água que atinge as camadas de resíduos, reduzindo a lixiviação de material; a outra função é reduzir a entrada de oxigênio que pode reagir quando em contato com alguns resíduos, aumentado a produção de contaminantes [e.g. Blight (1997); Kampf e Von Der Hude (1995); Nicholson et al. (1989); Cabral et al. (1999)]. Portanto as barreiras capilares para uso em aterros devem ser projetadas de maneira a assegurar um certo controle do fluxo de água e/ou oxigênio para dentro do aterro. Assim a barreira funciona como meio de minoração das variações do perfil de sucção do solo, mantendo um perfil de sucção mínimo necessário à diminuição do fluxo de água e/ou oxigênio que entrará em contato com o resíduo. A performance em longo prazo de um aterro de resíduos está diretamente ligada a um sistema de cobertura eficiente e duradouro. 5 As barreiras capilares são construídas com solos e outros materiais granulares que são adequados para a proteção dos resíduos nos aterros por longos períodos. As primeiras coberturas de aterros eram confeccionadas como uma barreira de argila com espessura em geral maior que 60 cm e acima dessa uma camada de solo em torno de 15 cm com cobertura vegetal. A permeabilidade da camada de argila variava entre 10-8 a 10-10 m/s (Manassero et al., 2000). Atualmente as barreiras capilares são constituídas, na sua forma mais simplificada, de uma camada de material fino (e.g. argila, silte-argiloso) sobre uma camada de material granular (em geral areia). As barreiras capilares utilizadas na cobertura podem ter mais de duas camadas. Nas barreiras com mais de 2 camadas, há fatores considerados como proteção contra animais, erosão, gelo e degelo, diminuição do efeito de ressecamento da camada, entre outros. De acordo com Mitchell (1997), geralmente, as barreiras multicamadas contêm seis componentes, divididos nas seguintes camadas: a de superfície, a de proteção, a de drenagem, a de baixa permeabilidade, a de coleta de gás e a de fundação. A função de cada uma das camadas e alguns tipos de materiais, que as barreiras costumam ser construídas, estão apresentados na Tabela 2.1. 6 Tabela 2.1 - Componentes das camadas e suas funções, alterado de Mitchell (1997). CAMADA FUNÇÃO PRIMÁRIA POTENCIAIS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO Superficial Fazer a interface da atmosfera com as camadas inferiores. Evitar a erosão. Reduzir a temperatura e a evaporação das camadas inferiores. Solo com vegetação. Geossintéticos. Materiais de pavimentação. Pedregulhos. De proteção Reter a infiltração de água. Separar os contaminantes dos animais, vegetais e do homem. Proteger as camadas inferiores do ciclo de molhagem e secagem. Proteger as camadas inferiores do frio e do degelo. Solo. Materiais reciclados. Resíduos (e.g. resíduo de papel). De drenagem Reduzir a altura da coluna de água em cima da camada de baixa permeabilidade. Reduzir a saturação das camadas superiores nos períodos de chuva. Areia ou pedregulhos. Materiais reciclados ou resíduos. De baixa permeabilidade Minimizar a percolação de água. Diminuir a saída de gases. Argila compactada. Geomembranas. Geosynthetics clay liners (GCL). Materiais reciclados e resíduos (e.g. resíduos de papel). De coleta de gás Coletar e remover os gases liberados pelo resíduo. Areia ou pedregulhos. Geotexteis. Materiais reciclados ou resíduos. De fundação Servir de base para a construção das camadas superiores. Resíduos ou materiais reciclados. Não há um número exato de camadas que se deve colocar nas barreiras capilares, isso dependerá de cada projeto (e.g. Mitchell, 1997; EPA, 1991). O estabelecimento da geometria e da quantidade de camadas depende do meio em que a barreira deve ser construída e as propriedades do solo. Conseqüentemente o projeto das camadas está ligado diretamente à interação solo-atmosfera, ou seja, ele está sujeito ao balanço hídrico da região e as características geotécnicas do material. 7 2.1 BARREIRAS CAPILARES Nos aterros de resíduo, há a necessidade de uma descontinuidade hidráulica entre o resíduo e a cobertura do aterro de modo a evitar ascensão capilar de água do resíduo para a cobertura e também para diminuir o escape de gases para fora do aterro. Portanto as barreiras capilares necessitam de no mínimo duas camadas para funcionar, uma com a finalidade de barrar e armazenar água e a outra com finalidade de fornecer descontinuidade hidráulica entre as camadas de resíduo e a de retenção de água. Essas camadas ainda podem ser inclinadas de modo que a água infiltrada seja desviada para um sistema de drenagem. Além dos aspectos atmosféricos que serão descritos no capítulo 3, a eficiência da barreira capilar está ligada à capacidade de retenção e distribuição de água nos poros, ou seja, ao fenômeno da capilaridade nos solos. 2.1.1 Princípio de funcionamento das barreiras capilares O movimento e a retenção de água em camadas de solo é similar em muitos aspectos à ascensão e à retenção de água em tubos capilares. Embora existam diferenças entre esses dois casos, pode-se entender o funcionamento de barreiras capilares comparandoas a um sistema de tubos capilares interconectados. Assim é conveniente tratar aqui do fenômeno da capilaridade em solos. Esse fenômeno é baseado em um modelo simplificado em que os vazios do solo são considerados como um conjunto de tubos capilares interconectados. A simplificação do fenômeno capilar nos solos facilita bastante a análise e a compreensão da retenção de água em solos e conseqüentemente o princípio de funcionamento das barreiras capilares. A retenção de água no solo e sua transmissão dependem das forças de interação entre a água e a parede dos poros do solo (paredes dos tubos capilares) ou dos grãos de solo. Essas forças são as forças coesivas superficiais e forças de adsorção. As forças coesivas superficiais estão relacionadas às ligações moleculares que existem entre as partículas de água. As forças coesivas são de maior intensidade na superfície da água, onde existem menos partículas interagindo umas com as outras, do que no seu interior, 8 resultando assim em uma tensão superficial. As forças de adsorção estão associadas à capacidade de atração que a parede do recipiente, no caso, formada pelos grãos do solo, exerce nas moléculas de água. Esse sistema de forças tem como resultante uma força ascendente no capilar, fazendo com que haja uma elevação do nível de água até alcançar o equilíbrio. A essa ascensão de água dá-se o nome de ascensão capilar ou efeito de capilaridade. Em outras palavras a capilaridade é o fenômeno de ascensão de água em uma coluna de pequeno diâmetro devido às forças de absorção e coesão. Na Figura 2.1, está representado o fenômeno de capilaridade em um tubo capilar de diâmetro, d. O tubo capilar está inserido em uma superfície livre de água com nível em N.A. A água sobe nas paredes do tubo por capilaridade até que haja um equilíbrio entre as forças capilares e o peso próprio da coluna de água. A altura, h, que é função da tensão superficial da água, , do ângulo de contato, β, entre a superfície do capilar e o menisco de água (ângulo de molhagem), do diâmetro do capilar, d, da densidade da água, w, e da gravidade, g, é dada por: h= 4σ cos β ρ w gd (2.1) Como haverá um equilíbrio entre as forças capilares de ascensão e o peso da coluna de água, o capilar será capaz de reter, nessas condições de equilíbrio, uma quantidade de água equivalente a altura de coluna de água, h. A pressão de água logo abaixo do menisco capilar é negativa de valor –hρwg, correspondente à pressão de altura de coluna de água. No solo, essa pressão negativa de água é conhecida como sucção. d -h 0 (-) h N.A. 45o Figura 2.1- Distribuição de pressão e retenção de água em um tubo capilar. 9 Portanto o solo será capaz de reter determinada quantidade de água por meio de capilaridade. Se os poros do solo forem representados de maneira simplificada como um conjunto de capilares de diâmetros diferentes, haverá para cada diâmetro uma capacidade de retenção de água diferente para alturas ou cargas de pressão diferentes. A soma do volume de água de cada capilar em determinada altura (sucção) resulta na capacidade de retenção de água do solo nesse nível de carga ou sucção. De modo a visualizar-se a capacidade de retenção de água do solo, na Figura 2.2, estão desenhados vários capilares representando os poros do solo. Esses capilares estão abertos na base e no topo, estão sujeitos à pressão atmosférica (pressão de referência, considerada igual a 0) e têm diâmetros, di, com i variando de 1 a n. Cada capilar tem livre comunicação um com o outro pela sua base e está inserido na água. Como os vários capilares possuem diâmetros diferentes, a altura de ascensão capilar é diferente. Assim para um poro de diâmetro di a ascensão capilar é a altura hi. Para uma carga de pressão hi, todos os poros com diâmetro d≤ di estão preenchidos com água. A soma do volume de água de todos esse poros resulta na capacidade de retenção de água do solo nesse nível de carga. Nesse caso, para cada valor de carga de pressão hi, com i=1 a n, tem-se associado uma quantidade de água que é retida pelo solo. A variação da quantidade de água no solo, dada pelo teor de umidade volumétrico (θ), em função da carga de pressão ou sucção (h) é representada por uma curva, conhecida como curva de retenção de água do solo, que será vista no item 2.2. d1 d2 h1 d3 dn h h2 h3 hi hn θ Figura 2.2- Modelo capilar de retenção de água no solo (alterado de Iwata et al., 1988). 10 A barreira capilar funciona baseada na capacidade de retenção de água dos solos. Uma camada de solo mais fino com alta capacidade de retenção é sobreposta a uma camada de material mais grosso com pequena capacidade de retenção de água. A camada de material mais grosseiro é utilizada para que haja quebra hidráulica entre a camada de material fino e o interior do aterro (e.g. Iwata et al., 1988; Nicholson et al., 1989; Morris e Stormont, 1998; Morris e Stormont, 1999). Na Figura 2.3, está apresentada de maneira ilustrativa a capacidade de retenção da barreira capilar. A água que infiltra na barreira capilar é armazenada ao longo do perfil do solo. A distribuição da água ao longo da camada superior de solo pode ser dividida em três zonas, conforme mostrado na Figura 2.3: zona saturada, zona de transição e zona residual. A quantidade e a distribuição de água em cada zona é representada pela curva de retenção de água do solo e depende também das propriedades de retenção da camada inferior (Iwata et al., 1988). Camada 1 Material fino solo não saturado dn Zona de transição (Franja capilar) Entrada de ar no solo Zona de residual h Zona saturada Zonadesaturada hn d2 h2 d1 h1 θ solo saturado Camada 2 Material granular h2 Figura 2.3- Capacidade de retenção e distribuição de água em uma barreira capilar. A capacidade de retenção de água da camada superior (material mais fino) será menor devido à carga de pressão imposta pelo potencial matricial da camada inferior (material granular). Na Figura 2.4, está ilustrado esquematicamente o efeito do contraste 11 granulométrico na capacidade de retenção de água de um solo. Na Figura, estão representadas duas camadas de materiais com granulometria distintas, o material da camada superior (material mais fino) e o da camada inferior (material granular). A curva de retenção de água para os dois solos também é dada na Figura 2.4. A camada inferior tem espessura tal que a parte superior dessa camada, no equilíbrio, encontra-se com teor de umidade volumétrico residual, correspondente a uma sucção igual a ψ2res. Assumindo-se essa sucção como constante em toda a interface das duas camadas dos diferentes materiais, pode-se fazer uma analogia a um tubo capilar em que este está submetido na base a uma pressão menor que a pressão no topo. Aplicando-se a teoria capilar, o potencial matricial do solo fino (ψ1) será igual a soma do potencial gravimétrico (Hρwg) com o potencial matricial do solo granular (ψ2res) em situação de equilíbrio (ver detalhe na Figura 2.4). Assim a altura de ascensão capilar na camada superior será menor por influência do potencial matricial da camada inferior de solo. Se para cada capilar há a diminuição do volume de água retido (diminuição da altura), a capacidade de retenção de água da camada de material fino será menor. H (-) Entrada de ar no solo fino, ψ1 Camada 1 Material fino h ψ2res Hρwg θ Camada 2 Material granular θ Entrada de ar no solo granular, ψ 2 ψ1 Figura 2.4- Ascensão capilar em poros de diferentes tamanhos formados por camadas de solos com diferentes curvas granulométricas. 12 Qualquer quantidade de água igual ou menor a capacidade de retenção da camada de solo ficará “suspensa” por capilaridade na camada de material mais fino, evitando assim a entrada no interior do aterro. Quando houver um volume infiltrado de água maior que a capacidade de retenção da camada superior de solo, o excedente de água será drenado para a camada inferior. A camada inferior, por suas vez, retém parte ou toda a água de acordo com sua capacidade de retenção. O restante da água é drenado para o interior do aterro. 2.2 CAPACIDADE DE RETENÇÃO DE ÁGUA DE SOLOS COMPACTADOS A característica de retenção de água do solo em determinado estado de compactação varia com a sucção. Essa característica é representada por meio da curva de retenção de água do solo, que é a relação entre a quantidade de água retida, representada pelo teor de umidade volumétrico (ou grau de saturação), em função da sucção. O comportamento do solo durante a infiltração e a evaporação de água será controlado principalmente por essa característica e pela função de permeabilidade não saturada. Ambas vão depender da distribuição e geometria dos poros, ou seja, de sua estrutura. Na prática, devido à dificuldade de execução de ensaios para determinação da permeabilidade do solo no estado não saturado, utilizam-se cada vez mais modelos para estimar a função de permeabilidade do solo (e.g. Van Genuchten, 1980; Wilson e Fredlund, 2000; Khire et al., 1998). Esses modelos são baseados na curva de retenção de água do solo e utilizam parâmetros de ajuste a essa curva. Dentre os parâmetros de ajuste estão: o teor de umidade volumétrico, correspondente ao valor de sucção em que há entrada de ar do solo devido à drenagem de água dos poros maiores; o teor de umidade residual, correspondente a um valor em que há variação de sucção sem que praticamente haja variação do teor de umidade volumétrica do solo; e o coeficiente de permeabilidade saturado. A umidade de entrada de ar representa o teor de umidade em que há drenagem devido ao aumento da sucção e conseqüente entrada de ar no solo. A umidade residual corresponde ao ponto (ponto de inflexão da curva) na curva de retenção de água em que o teor de umidade volumétrico do solo sofre pouca ou nenhuma variação com o aumento da sucção. Na Figura 2.5, estão representados os principais parâmetros obtidos por meio da curva de retenção de água. 13 50 valor de sucção de entrada de ar 45 Zona saturada ou de efeito de borda 40 Zona de transição Zona residual 35 30 25 20 15 10 5 Teor de umidade residual 0 0.1 1 10 100 1000 10000 100000 Sucção (kPa) Figura 2.5 – Diferentes estados de saturação e principais parâmetros da curva de retenção de água do solo. Segundo Vanapalli et al. (1996) existem 3 estágios para perda de água do solo (ver Figura 2.5): Zona de efeito de borda, em que os poros do solo estão preenchidos com água, havendo continuidade dos meniscos de água em contado com as partículas de solo e/ou agregações. Nessa fase o solo encontra-se saturado, havendo assim maior área para o fluxo de água. O coeficiente de permeabilidade será praticamente o mesmo que o do solo no estado saturado. Zona de transição, em que há desaturação com redução acentuada do teor de umidade do solo com o acréscimo da sucção, não existindo mais continuidade dos meniscos em contato com as partículas do solo e/ou agregações. O coeficiente de permeabilidade do solo dependerá do nível de sucção do solo, já que há uma menor área disponível para o fluxo de água. 14 Zona residual, em que há uma redução pequena (em relação à da zona anterior) do teor de umidade do solo para um determinado acréscimo de sucção. Nessa fase, há o predomínio de forças de adsorção (e.g. Marinho e Stuermer, 2000) em detrimento as forças capilares (caso de solos argilosos) e provavelmente não haverá praticamente mais continuidade hidráulica. Nessa etapa, a transferência de água no solo se dará predominantemente por fluxo de vapor e extremamente lenta. Nessa fase, o líquido perde a continuidade capilar e torna-se bastante viscoso, podendo apresentar comportamento de um fluido não newtoniano (ou de Bingham). Portanto a validade dos modelos de fluxo nessa fase, principalmente em solos de alta plasticidade, é questionável, já que a maioria dos modelos é baseada na validade da teoria capilar e na equação de Possueille que supõe o comportamento newtoniano dos fluidos. Vanapalli et al (1996) sugere que para solos argilosos de baixa plasticidade o início da zona residual é entre 500 a 1500 kPa. Para solos de média a alta plasticidade, o início desta zona pode ser maior que 1500 kPa, havendo algumas vezes para esses solos dificuldades na definição do valor residual. Os valores sugeridos por Vanapalli servem, entretanto, só como referência, não devendo ser tomado como regra. Meerdink et al. (1996) monitoraram duas barreiras monolíticas experimentais com camadas superficiais vegetadas para cobertura de aterro de resíduos de 30 x 30 m cada, utilizando o método de Time Domain Reflectometry (TDR). As duas secções apresentavam camada de solo siltoso vegetado de 15 cm. A camada monolítica de argila 90 cm e 60 cm para solos argilosos e argilo-siltoso, respectivamente. Os valores de sucção obtidos por Meerdink et al. para os dois solos estudados na interface das camadas foram em torno do residual (1000-3000 kPa). Assim a faixa de sucção para aplicação dos modelos de fluxo em solos não saturados pode estar restrita a valores de sucções abaixo do encontrado em campo. Nesses casos, é necessário fazer a devida medição da variação do teor de umidade volumétrica com o tempo, de modo a obterem-se parâmetros mais confiáveis. A curva de retenção de água e a permeabilidade dos solos estão diretamente ligadas à estrutura do solo. Os principais fatores que influenciam a forma da curva de retenção de água e conseqüentemente na permeabilidade do solo não saturado são: mineralogia e percentagem de finos, histerese, energia de compactação, teor de umidade de moldagem, densidade. 15 2.2.1 Mineralogia do solo e percentagem de finos Com o aumento da plasticidade do solo, há um aumento do valor da sucção de entrada de ar no solo, conseqüentemente da capacidade de retenção de água (e.g. Delage e Graham, 1996, Côté et al., 2002). Estudos realizados por Black, 1962 (apud Delage e Graham, 1996) mostram que quanto maior o índice de plasticidade dos solos maior o valor da sucção em que há entrada de ar no solo e mais abatida será a curva de retenção de água. Assim os solos com maiores índices de plasticidade terão maiores capacidades de armazenagem de água. Os Estudos realizados por Côté et al. (2002) para a determinação da influência da mineralogia na curva de retenção de água corroboram com os resultados obtidos por Black, 1962. Os estudos de Côté et al. (2002) em misturas de solos arenosos com solos finos (argilas e siltes) indicam que quando o teor de finos é suficiente para preencher os vazios de solos granulares (valor crítico) em determinada porosidade, o tamanho máximo dos poros será controlado pelas partículas mais finas. Portanto a entrada de ar será maior nos solos com percentagem de finos suficiente para preencher os vazios do material mais arenoso. Os autores também observam que há uma diminuição da inclinação da curva de retenção com o aumento da superfície específica (solo mais plástico), conforme esperado. 2.2.2 Histerese As principais causas da histerese estão ligadas à estrutura do solo e à mudança de direção do movimento de água no solo (Dineen e Ridley, 1999). A consideração do efeito da histerese no projeto de barreiras é complicada, já que há no campo ciclos de secagem e umedecimento. Na Figura 2.6, está apresentado um esquema da variação no formato da curva de retenção de água do solo sujeito a variações climáticas. A verificação feita em laboratório comumente se estende para uma condição de “completa” molhagem ou secagem (pontos A até E), entretanto no campo essa condição pode não ser representativa. Por exemplo, se um solo compactado com teor de umidade volumétrico em B for submetido à secagem (evaporação de água), a trajetória que este 16 solo seguirá será BC via 1, conforme esquema da Figura 2.6. No caso desse mesmo solo apresentar teor de umidade em C, e, ao contrário do anterior, for submetido ao umedecimento (infiltração de água), a trajetória a ser seguida será CB via 2. Caso o solo seja submetido a uma maior evaporação de água, o caminho a ser seguido, a partir de B, poderia ser BCD, via 1. Essa última trajetória poderia ser invertida caso houvesse infiltração de água, ou seja, a curva de retenção de água do solo passaria a seguir uma outra trajetória DFB, via 2, devido ao efeito de histerese na molhagem. Portanto o formato da curva de retenção dependerá da duração e intensidade dos ciclos de molhagem e secagem, conseqüentemente das condições climáticas de campo. Assim sugere-se apenas a verificação da magnitude desse aspecto para que o máximo desvio do valor calculado para o real seja conhecido. 1 2 F C 1 o ent cim 2 1-trajetória de Secagem 2-trajetória de umedecimento m age sec B ede um Teor de umidade volumétrico A D E Log. sucção Figura 2.6 – Representação esquemática do efeito da histerese no formato da curva de retenção de água de um solo sujeito a variações climáticas. 2.2.3 Energia de compactação, umidade de moldagem e densidade. Para solos argilosos compactados, a estrutura é influenciada pela densidade seca do solo, pelo teor de umidade de moldagem, pela energia de compactação, (Mitchell et al., 1965). Marinho e Stuermer (2000), em trabalho sobre a influência da energia de compactação na curva de retenção de água de um solo residual de gnaisse (WL=48%, IP=19%, %<2µm=45%), chegaram as seguintes constatações, referentes ao teor de umidade de moldagem e a energia de compactação: 17 1. a entrada de ar do solo compactado (estudado) em uma mesma energia não é afetada significativamente pelo teor de umidade de moldagem; 2. a entrada de ar é afetada pela energia de compactação, energias maiores levam a menores índices de vazios e conseqüentemente maiores sucções de entrada de ar. O estudo realizado por Leong e Rahardjo (2002) em solo residual de argilito (WL=38, IP=14%, %<2µm=10%), corrobora com os resultados encontrados por Marinho e Stuermer (2000). Para o solo estudado, Leong e Rahardjo (op. cit.) observaram que: 1. As variações entre curvas de retenção de corpos de prova moldados com diferentes umidades (ramo úmido e seco) e na mesma energia de compactação é pequena, havendo diminuição com o aumento da energia de compactação; 2. há um aumento da entrada de ar do solo com o aumento da energia de compactação; 3. A curva de compactação do solo é mais “abatida" com o aumento da energia de compactação, o que implica em predominância de poros pequenos e melhor distribuídos; De acordo com os modelos clássicos de Lambe (1958) e Olson (1960) (ver item 2.3), a estrutura de um solo compactado abaixo do teor de umidade ótima será mais floculada e com agregações mais espaçadas que para o mesmo solo moldado com um teor de umidade igual ou maior que o ótimo. Nessa umidade, há formação de estrutura com macros e micros poros. Para solos moldados com teor de umidade acima do teor de umidade ótima, o solo apresenta estrutura mais dispersa com menores quantidades de agregações e menor espaço entre elas, havendo assim a predominância de micro poros. Essa variação na estrutura devido ao teor de umidade de água de moldagem influencia diretamente a capacidade de retenção de água do solo. Nessas condições, é de se esperar que um solo compactado no ramo úmido da curva de compactação apresente maior entrada de ar que um solo compactado no ramo seco. Outro aspecto relevante é que solos compactados no ramo úmido apresentam maior compressibilidade que os solos compactados no ramo seco, estando esse em mesma densidade e com mesma energia de compactação (e.g. Lambe, 1958; Mitchell, 1993). Desde modo com o aumento da 18 sucção, os solos moldados no ramo úmido são capazes de suportar maior variação de sucção sem que haja entrada de ar no solo (maior capacidade de entrada de ar) (Marinho e Stuermer, 2000). As conclusões apresentadas por Marinho e Stuermer (2000) bem como por Leong e Rahardjo (2002) referentes à interferência do teor de moldagem não parecem razoáveis sobre a luz dos modelos clássicos da estrutura do solo, apresentados anteriormente. Em análise mais detalhada, observa-se que, para o trabalho dos primeiros autores, não se pode concluir nada quanto ao efeito do teor de moldagem na entrada de ar do solo. As curvas de retenção de água foram obtidas por secagem por Marinho e Stuermer (op. cit.) e a partir de diferentes graus de saturação (menores que 100 %), portanto não havendo dados experimentais suficientes para a determinação da entrada de ar do solo em condições de moldagem no ramo seco. Do mesmo modo, o efeito do teor de umidade de moldagem na curva de retenção do solo não é nítido nos resultados obtidos por Leong e Rahardjo. Os resultados destes últimos autores incluem comparações de curvas com densidades diferentes, existindo assim uma sobre-posição de efeitos contrários na curva de retenção. Essa sobre-posição de efeitos influencia os resultados obtidos por Leong e Rahardjo (2002). Entretanto, mesmo se a influência dos aspectos acima forem considerados desprezíveis nos resultados dos estudos de Marinho e Stuermer (2000) e Leong e Rahardjo (2002), não se pode desconsiderar o efeito do teor de moldagem em outros solos. Tinjum et al. (1997) em estudo sobre efeito da compactação na curva de retenção de água para 4 argilas afirmam que há um aumento da entrada de ar do solo com o teor de moldagem para uma mesma densidade e dada energia de compactação. Estudos de Vanapalli et al. (1999) sobre o efeito do estrutura do solo e do histórico de tensões na curva de retenção de água de um solo argilo-arenoso (WL=36%, IP=19%, %<2µm=30%) concluem que o teor de umidade de moldagem tem influência considerável na estrutura de solos finos, só diminuindo sua influência para valores de sucção da ordem de 2x104 a 106 kPa (maior que a residual de 10000 kPa). Pode-se explicar esse aspecto devido à predominância de poros menores que serão responsáveis pelo comportamento da curva de retenção de água do solo em valores elevados de sucção. Assim os macro-poros interagregados não terão uma influência significativa, sendo o comportamento da curva de retenção função dos poros intra-agregados. Outros 19 aspectos relevantes do comportamento do solo que afetam a curva de retenção de água são: A mudança de estrutura (distribuição dos poros), e conseqüentemente a forma da curva de retenção de água do solo, com o aumento da sucção. Estudo de porosimetria, realizado por Simms e Yanful (2002) em diversos solos compactados acima da ótima, mostra que há um progressivo aumento da quantidade de micro-poros com o aumento da sucção. Assim pode-se inferir que para sucções elevadas haverá predominância de micro-poros em relação aos macro-poros devido à mudança de estrutura do solo. Para solos de maior plasticidade e moldados acima da ótima, esse aspecto pode ser relevante na utilização de modelos para a obtenção da permeabilidade do solo não saturado. A predominância de dois tamanhos de poros na curva de distribuição de poros, originando uma curva de retenção de água bimodal (predominância de dois tamanhos de poros) para teores de umidade abaixo da ótima (e.g. Tinjum et al. 1997; Leong e Rahardjo, 1999). Esse comportamento bimodal dependerá das características do solo. 20 3 INTERAÇÃO SOLO-ATMOSFERA As condições climáticas são de primordial importância para a determinação da quantidade de água que infiltra e evaporará das barreiras capilares. As barreiras capilares estarão sujeitas a ciclos de molhagem e secagem. Esses ciclos podem levar a uma precária funcionalidade do sistema projetado, dependendo do tempo de duração de cada ciclo, conseqüentemente da interação solo-atmosfera. A compreensão dos mecanismos de interação do solo, e/ou material poroso usados nas barreiras, com a atmosfera torna-se imprescindível para o dimensionamento e equacionamento do projeto de barreiras capilares em coberturas de aterros. As condições climáticas algumas vezes inviabilizam a utilização das barreiras capilares como método de controle da entrada de oxigênio e da infiltração de água. O uso da barreira capilar como redutor da entrada de oxigênio tem sido mais freqüente em climas úmidos (e.g. Wilson et al., 1995). Para climas áridos, a barreira capilar é mais eficiente na redução da infiltração de água nas camadas mais profundas (e.g. Zornberg e Caldwell, 1998; Caldwell e Reith, 1993). Os casos intermediários exigem um gerenciamento das barreiras de forma que elas tornem-se eficientes. Essa eficiência é baseada na necessidade de projetar a barreira em condição tal que essa possa manter um fluxo de água e/ou oxigênio para dentro do aterro em um nível mínimo, preferencialmente próximo a zero. Assim o projeto de barreiras capilares é mais complexo em climas em que o balanço atmosférico apresenta tanto períodos predominantemente secos como chuvosos. Esse tipo de clima faz com que a barreira trabalhe sob condições extremas com prolongados períodos de molhagem e secagem. Os perfis de sucção nos solos não-saturados desenvolvem-se como resultado das condições de fluxo nas superfícies de contorno, ou seja, serão dependentes principalmente do fluxo líquido de água do solo (diferença entre a quantidade que infiltra, positiva, e a que evapora, negativa) (e.g. Wilson, 1997; Blight, 1997). A permeabilidade dos solos não saturados também é função dos fatores climáticos, já que o perfil de sucção no solo está diretamente ligado a esta. Assim, no caso de um aterro de 21 resíduos, deve-se entender como esses componentes associam-se para que se tenha um funcionamento mais efetivo da barreira capilar em condições climáticas locais. Lim et al. (1996) realizaram estudos em Singapura sobre a estabilidade em taludes, objetivando avaliar o efeito da camada de cobertura na variação da sucção ao longo de um determinado tempo. Foram analisadas situações em que a cobertura foi feita com uma manta geossintética, com uma vegetação rasteira e sem nenhum tipo de proteção. Dos estudos realizados pelos autores, pode-se concluir que é possível gerenciar a infiltração de água possibilitando assim a manutenção de um perfil mínimo de sucção, ou seja, pode-se ter certo controle do balanço de água do solo. O balanço hídrico regional impõe um volume de água disponível para infiltração, cuja absorção depende das características geotécnicas do material. O sistema de cobertura de barreiras capilares deverá funcionar de tal forma que a água absorvida na época chuvosa seja evaporada na época seca. Observa-se aqui que essas barreiras podem funcionar de maneiras distintas, de acordo com as características desejadas de projeto. 3.1 BALANÇO HÍDRICO REGIONAL A maior ou menor quantidade de água que entra no solo depende, fundamentalmente, do balanço hídrico da região em que se localiza o aterro e das características geotécnicas do solo e/ou do material de cobertura. O balanço hídrico pode ser dividido em duas partes: o balanço de água atmosférico e o balanço de água do solo (Blight, 1997). O balanço de água atmosférico, B, é a soma algébrica, em uma determinada região, da precipitação (chuva e neve), P, a qual é considerada como entrada (positiva) e o potencial de evaporação1, Ep que é considerado como uma perda (negativa). Assim o balanço atmosférico de água em uma determinada região é dado por: B = P − Ep 1 É a quantidade evaporada de uma superfície de água livre. (3.1) 22 O fluxo de água entre o solo e a atmosfera ou balanço de água do solo tem como principais componentes: a evaporação e a infiltração no solo. Essas duas componentes estão diretamente ligadas às condições climáticas da camada superficial da atmosfera. Portanto aspectos como a turbulência, a umidade, a pressão e a temperatura da camada superficial da atmosfera interferem no balanço de água do solo, conseqüentemente no projeto de barreiras. O estudo das interações solo-atmosféricas torna-se importante para que haja uma melhor eficiência dessas barreiras. O balanço de água do solo é de maior interesse à Engenharia Geotécnica, pois dita o comportamento do perfil de sucção do solo. Entretanto o conhecimento do balanço de água atmosférico é importante ao estudo das barreiras capilares, já que as interações solo-atmosféricas dependem desse balanço. O balanço de água do solo controla o estado de umidade na zona não-saturada do solo entre a superfície do terreno e o nível de água. O balanço de água do solo é dado pela lei de conservação de massa, ou seja: entrada de água no solo = saída de água + água estocada no solo. Desconsiderando-se a recarga de água por meio do lençol freático, como no caso das coberturas de aterros de resíduos, ter-se-á: a entrada de água (infiltração) = P – (Iint+Roff); e a saída de água (evaporação) = ET. Então, tem-se: P − (I int + R off ) = I = ET + ∆S (3.2) Em que: Iint é a quantidade de água interceptada antes de atingir o solo; Roff, o excesso de água que não infiltra no solo escorrendo pela superfície do terreno, também chamado de runoff; ET, a evapotranspiração efetiva da superfície do solo; ∆S, a água estocada. 23 3.2 EVAPOTRANSPIRAÇÃO A evapotranspiração é processo de perda de água da superfície do solo para a atmosfera por meio da vaporização de água. Este processo afeta o balanço de água do solo, interferindo no projeto de barreiras capilares. A evapotranspiração está dividida em duas parcelas: a evaporação e a transpiração. A evaporação é a saída de água de uma superfície “livre” de água ou da superfície do solo. A evaporação será considerada potencial (Ep) quando a água evaporar a partir de uma superfície de água livre. Essa evaporação é teoricamente a máxima razão de perda de água do solo, sendo em geral tomada como referência, sendo a evaporação usualmente medida nas estações meteorológicas. Entretanto há casos em que a evaporação do solo pode vir a ser maior que a evaporação potencial (e.g. Wilson, 1990). A transpiração é o processo de evaporação devido à extração de água do solo por meio das raízes vegetais e liberação dessa água para a atmosfera pela folhagem. Entre os aspectos mais importantes para que ocorra a evapotranspiração, estão as disponibilidades de água e de energia, de maneira suficiente para haver a vaporização da água. A continuidade do processo é dada pelo transporte do ar úmido para longe da superfície de evapotranspiração. De modo geral a evapotranspiração de água pelo solo ou superfície de água é resultado da demanda atmosférica, enquanto houver suprimento de água. A demanda atmosférica ou balanço de água atmosférico é controlada pelo clima local. O suprimento de água é controlado pelo solo e pelas características da vegetação, entre outros (e.g. Wilson et al., 1995; Sharma, 1985). Os dois principais fatores que afetam a evaporação de água do solo são o balanço de energia e fatores aerodinâmicos da superfície de solo (e.g. Tindall e Kunkel, 1999; Blight, 1997; Garratt, 1992; Sharma, 1985; Van Bavel, 1966). 3.2.1 Balanço de energia As moléculas de água estão ligadas umas as outras pelas forças de Van der Waal, que diminuem sua atração com a sexta potência da distância (Tindall e Kunkel, 1999). Para 24 que haja evaporação, as moléculas de água têm que ganhar energia suficiente para deixar a superfície da água. Para que certa quantidade de água deixe a superfície, é necessário que haja energia equivalente ao valor do produto da massa de água a evaporar (E) pelo calor latente de vaporização da água (λ). O calor latente de vaporização (λ, em 106 J/kg) é função da temperatura (T, em oC), sendo dado por (Tindall e Kunkel, 1999): λ = 2,5 − 2,37 × 10 −3 × T ; ou λ = 2500 − 2,37 × T (3.3) Portanto a energia deve ser suprida até prover o calor latente de evaporação (λE) necessário para a água evaporar da superfície do solo. O vapor de água resultante deve ser arrastado da superfície pelo movimento de ar ou dispersado por difusão para manter o gradiente de evaporação e, com isso, continuar o processo de evaporação (e.g. Blight, 1997, Wilson et al., 1995; Sharma, 1985, Tindall e Kunkel, 1999). A evapotranspiração pode ocorrer ainda sem que haja déficit de vapor de água (umidade) (Sharma, 1985), devido à parcela de energia recebida. A principal fonte de evaporação é fornecida pelo balanço de energia da superfície (e.g. Tindall e Kunkel, 1999; Blight, 1997; Garratt, 1992; Sharma, 1985). Essa energia é proveniente dos raios solares sob a forma de radiação solar de ondas curtas e da energia emitida pelo solo e atmosfera sob a forma de radiação de ondas longas. Na Figura 3.1 de Tanner, 1960 (apud Blight, op. cit.), estão representados os componentes do balanço energético, como segue: R n − G = H + λE Em que: Rn-G é a energia disponível; (3.4) 25 Rn é o fluxo líquido de radiação para superfície ou radiação líquida (nova radiação solar e radiação difusa no ar, menos radiação refletida e a radiação emitida pela terra); G, o fluxo de calor da superfície do solo (calor que causa mudanças na temperatura do solo); H, o fluxo de calor sensível (calor que causa mudanças na temperatura do ar); λE, o fluxo de calor latente de evaporação (calor necessário para causar evaporação na superfície do solo). A entrada de energia solar de ondas curtas (0,15-3,0 µm) é dominante durante o dia. Durante a noite, radiações de ondas longas (3-100 µm) saindo da superfície do solo são preponderantes (Tindall e Kunkel, 1999). Na Figura 3.1(a), está representada a entrada e a saída de radiação da superfície do solo. Na Figura 3.1(b), está esquematizado o balanço energético durante o dia, quando existe uma entrada de radiação líquida (predominantemente ondas curtas). Essa radiação é dividida em três partes: uma parte vai para o solo (fluxo de calor da superfície do solo, G), alterando sua temperatura e havendo um fluxo de radiação da atmosfera para o solo; uma segunda parte vai para o ar atmosférico e para os vazios do solo (fluxo de calor sensível, H), havendo um fluxo de calor do solo para a atmosfera; e a outra parte (calor latente de evaporação, λE) vai transformar a água do solo em vapor, havendo um fluxo de calor do solo para a atmosfera. Na Figura 3.1(c), está apresentado o balanço de energia noturno, quando existe uma saída da radiação líquida que é dividida nas mesmas três partes, sendo: o fluxo de calor do solo, G, maior e de sentido oposto; o calor latente de evaporação, λE, sai do solo e, é bem menor que o do dia; e o fluxo de calor sensível, H, além de ser maior também segue o sentido oposto. 26 Figura 3.1 - Componentes do balanço de radiação na superfície do solo em que: (a)entrada e saída de radiação da superfície do solo; (b) Balanço energético de dia; (c) Balanço energético de noite [alterado Tanner (1960) apud Blight (1997)]. Segundo Garrat (1992), a absorção de radiação solar é geralmente resultado da variação diurna de energia. Assim grande parte da evaporação é devida à radiação de ondas curtas, ocorrendo durante o dia. Durante a noite, em geral, há perda de calor da superfície do solo pela emissão de ondas longas. Nas Figuras 3.2a e 3.2b, estão apresentados o balanço de energia diurno de um solo seco e um solo úmido, respectivamente, ambos sem cobertura. Na Figura 3.2a, observa-se que a componente λE não aparece, devido à superfície do solo estar seca, nessa condições não haverá fluxo de calor latente de evaporação. Na mesma Figura, está mostrada a variação da velocidade do vento ao longo do dia. Observa-se que na parte da manhã a contribuição do fluxo de calor do solo é significativa (~8:00-10:30). Nesse horário, praticamente toda a energia recebida é transformada em fluxo de energia do solo (G). Devido praticamente a não haver vento nesse horário, o transporte turbulento é pequeno, levando a um aumento rápido da temperatura do solo e conseqüentemente do fluxo de energia do solo. Com o aumento da velocidade do vento, há um aumento da turbulência e uma maior quantidade de energia é transformada em calor sensível. Esses dois aspectos mostram a importância da velocidade do vento no balanço de energia do solo que afeta diretamente a evaporação da superfície desse. Assim modelos para determinação da evaporação, que não levem em consideração fatores como o fluxo de energia do solo, podem levar a valores muito distintos dos reais. Ainda na Figura 3.2a, nota-se que a radiação líquida torna-se negativa de noite, isso se dá devido à emissão de radiação de ondas longas do 27 solo ser maior do que a radiação recebida. Na Figura 3.2b, a radiação líquida é dividida em fluxo de energia do solo, calor sensível e calor latente de vaporização. Observa-se que o calor latente de evaporação alcança o máximo às 13:00 horas, com defasagem em relação ao pico de radiação líquida de 1 h. Assim, no caso mostrado, haverá defasagem do pico de evaporação em relação ao pico de energia. A demanda de evaporação após as 15:00 horas é ainda considerável, havendo absorção de energia pela água que provém do fluxo de energia do solo, da radiação líquida e do calor sensível. (a) (b) Figura 3.2 – (a) Balanço de energia diurno de um solo seco com a variação da velocidade do vento, El Mirage, California, Vehrencamp, 1953 (apud Tindall e Kunkel, 1999); (b)Balanço de energia diurno de um solo úmido, Phoenix, Az, Fritschen e Van Bavel, 1962 (apud Tindall e Kunkel, 1999). 28 O fluxo de calor do solo pode ser calculado pela primeira lei da condução de calor ou lei de Fourier (e.g. Garratt, 1992; Tindall e Kunkel, 1999). Nessa lei, a razão de fluxo de calor no solo para condições contínuas de temperatura (gradiente de temperatura constante) e fluxo vertical unidimensional é dada por: G = −κ c ∂T ∂z (3.5) Em que: κc é a condutividade térmica do solo, em W/m.K; T, a temperatura, em K; z, a profundidade, em m. Segundo Tindall e Kunkel (1999), κc depende da temperatura, mas na faixa de variação de temperatura tipicamente encontrada no solo, pode-se desprezar essa variação. A condutividade térmica pode ser calculada pela seguinte expressão alterada de Hillel, 1982 (apud Tindall e Kunkel, 1999): κc = k aκ a f a + k wκ w f w + k sκ s f s ka f a + f w + ks f s Em que a, w e s (3.6) são as frações de volume de ar, água e sólido (mineral), tendo como condutividades térmicas κa, κw e κs, respectivamente; k é a razão entre o gradiente de temperatura médio na fase de referência (ar, água ou solo) e o gradiente de temperatura médio do meio fluido (ar ou água). Rearranjando a equação 3.6, temos: κc = k aκ a (1 − S )e + eSk wκ w + k sκ s e(k a (1 − S ) + S + k s ) (3.7) Observa-se pela Equação 3.7 que a condutividade térmica do solo é composta pelas parcelas referentes às 3 fases em que o solo pode se encontrar. Assim a condutividade térmica, e em conseqüência o fluxo de calor do solo, será dependente do grau de 29 saturação (S), do índice de vazios (e) e do gradiente de temperatura. Na Tabela 3.1, estão apresentados alguns valores de condutividade térmica para solos e outros materiais. Na Figura 3.3, estão apresentados dados da variação da temperatura com a profundidade para diversas horas do dia em um solo arenoso vegetado do Canadá (Tindall e Kunkel, 1999). O ponto de inflexão no perfil de temperatura representa o valor em que o fluxo de calor do solo é aproximadamente zero. Observa-se que há fluxo de calor até uma profundidade de 20 cm. Tabela 3.1 – Alguns valores de condutividade térmica do solo e outros materiais, κc (alterado de Garratt, 1992) Τeor de umidade volumétrico, θ κc Densidade (%) (W/mK) (kg/m3) 0 0,30 1600 0,2 1,90 1800 0,4 2,20 2000 0 0,25 1600 0,2 1,10 1800 0,4 1,60 2000 Rocha - 2,90 2700 Gelo - 2,50 910 Neve antiga - 1,00 640 Neve nova - 0,10 150 Água - 0,60 1000 Tipo de Superfície Areia Argila 30 Figura 3.3 – Perfil de temperatura de um solo arenoso vegetado do Canadá (Tindall e Kunkel, 1999). Sabendo-se o perfil de temperatura e a condutividade térmica do solo, o fluxo de calor pode ser calculado utilizando-se a Equação 3.5. A profundidade em que ainda há fluxo de calor será importante à medida que este interfere no processo de evaporação do solo e com isso no perfil de sucção, influenciando na quantidade de água que infiltra. 3.2.2 Evaporação de água da superfície do solo Conforme apresentado no item 3.2.1, para que haja evaporação de uma certa quantidade de água é necessário o fornecimento de energia suficiente até que a água alcance o calor latente de evaporação (λE). Esse calor será função da energia líquida recebida, do fluxo de calor do solo e do calor sensível do ar. O vento, o grau de saturação do solo e a densidade interferem no fluxo de energia, portanto na evaporação. Além desses fatores a quantidade de energia que o solo é capaz de refletir afetará também a razão de evaporação de água da superfície do solo. A razão entre a energia refletida e a radiação líquida recebida pela superfície do solo é chamada albedo (Tindall e Kunkel, 1999). Segundo Sharma (1985) a absorção de energia em uma superfície de solo é afetada por suas propriedades térmicas e pelo albedo. O albedo sofre a influência da cor do solo, umidade, inclinação, textura (Sharma, 1985). Além desses fatores, a razão de 31 evaporação de uma superfície de solo saturado será também afetada pela rugosidade do solo. A razão de evaporação pode até mesmo exceder a da superfície livre de água em situações em que a rugosidade da superfície aumenta a turbulência de ar na superfície do solo (Tindall e Kunkel, 1999). Como observado por Philip (1957), o solo apresenta 3 estágios de evaporação (e.g. Philip, 1957; Marshall et al., 1996; Blight, 1997; Tindall e Kunkel, 1999; Wilson, 1997, Wilson et al., 1995). O primeiro estágio refere-se a razão de evaporação de uma superfície de solo saturado, em que essa dependerá principalmente dos fatores acima citados, sendo relativamente constante para condições de evaporação uniforme. No segundo estágio, o acréscimo na quantidade de energia requerida (devido ao aumento de sucção no solo) para retirar a água do solo para a atmosfera não é tão importante para que haja diminuição na evaporação, pois a quantidade de energia necessária para evaporar uma mesma massa unitária do solo é bem maior que a energia (sucção) necessária para conservar essa massa, mesmo quando comparadas a sucções da ordem de 1500 kPa (a diferença fica em torno de 1700 vezes) (Blight, 1997). Entretanto o solo começa a secar para manter a razão de evaporação, caso não haja realimentação de água. Quando o teor de umidade volumétrica do solo diminuir para níveis baixos (aumento da sucção e diminuição da permeabilidade), tal que a permeabilidade do solo venha a ser menor que a demanda atmosférica, a razão de evaporação de água do solo sofre um decréscimo (Gardner, 1960). Como conseqüência dessa diminuição a seção por onde a água passa diminui e a sucção aumenta, dificultando o fluxo de saída, e, assim, requerendo uma energia maior para retirada da água do solo. Quando a superfície do solo fica suficientemente seca, um terceiro estágio de secagem é alcançado. Nesse estágio, a água não se move para a superfície como um líquido, mas como um vapor de água com baixa razão de fluxo entre camadas. Ocorre, assim, uma grande redução na razão de evaporação devido ao rebaixamento da zona de evaporação (Marshall et al., 1996). Na Figura 3.4, estão ilustrados os estágios de evaporação de um solo. O estágio 1 corresponde a uma condição saturada do solo. O segundo estágio depende da permeabilidade do solo não saturado, portanto da função de permeabilidade do solo, tratada no item 3.2.1. No terceiro estágio, ocorre evaporação por difusão de vapor da superfície do solo (Philip, 1958). 32 Figura 3.4 – Gráfico esquemático dos estágios de evaporação de água de um solo (Tindall e Kunkel, 1999). No terceiro estágio a transferência de vapor de água de uma área de alta pressão de vapor a uma de baixa, pode ocorrer devido ao gradiente de temperatura no solo, conforme Maclean e Gwatkin (1946) apud Croney e Coleman (1960). Em solos bastante secos, é possível a transferência isotérmica de vapor de água devido à apreciável variação de pressão de vapor com a sucção do solo, em sucções que excedem 10000 kPa (Croney e Coleman, op. cit.). Pode-se assim afirmar que o primeiro estágio de evaporação é função principalmente da demanda atmosférica ou potencial de evapotranspiração. O segundo estágio está ligado ao potencial de evapotranspiração e as propriedades do solo não saturado (e.g. curva de retenção de água, coeficiente de permeabilidade saturado, função de permeabilidade) O terceiro estágio, segundo Sharma (1985) tem pouca contribuição na perda de água do solo. As análises feitas por Philip (1958) mostram que o início desse estágio dá-se no valor de teor de umidade residual do solo (permeabilidades muito baixas). O fluxo nessa fase ocorre predominantemente por meio de difusão de vapor, requerendo assim análise de fluxo considerando a transferência de calor e fluxo de água. 33 O controle das condições atmosféricas é impraticável, entretanto podem-se controlar as propriedades dos solos para que balanço de água (infiltração menos evaporação) seja balanceado. Assim é necessário que projetar barreiras capilares de forma que haja certo controle da razão de evaporação, evitando trincas ou infiltração excessiva, aumentando, com isso a eficiência da cobertura. Nos parâmetros de projeto, portanto deve-se considerar o balanço de água segundo as condições climáticas locais. 3.2.3 Transpiração A transpiração é o processo de evaporação de água por meio de organismos vegetais (plantas). As plantas removem água do solo por meio de suas raízes. A maior parte dessa água é evaporada por transpiração, realizada por micro-aberturas em células localizadas nas folhas, denominadas estômatos. A abertura dos estômatos é a principal via de transpiração das plantas. O controle da abertura do estômato é feito por pressão positiva nas paredes intercelulares, denominada pressão de turgor. Um aumento da pressão de turgor gera um aumento gradativo da abertura dos estômatos, até um nível máximo e sua diminuição gera o fechamento gradativo dos estômatos de forma a prevenir perdas de água (Porporato et al., 2001, Laio et al., 2001; Kimball, 2003). Na prática, a diferenciação entre transpiração e evaporação do solo é extremamente difícil, já que esses processos estão relacionados intrinsecamente, formando o sistema solo-planta-atmosfera. O efeito da evapotranspiração vegetal é, segundo Styczen e Morgan (1995), expresso pelo potencial de evapotranspiração (Etp). A perda de água por evapotranspiração do solo leva a altas sucções, portanto baixas permeabilidades. Com o aumento da sucção, as plantas têm dificuldades na extração de água do solo por meio da absorção das raízes. Isso faz com que elas venham a reduzir sua transpiração fechando seus estômatos para prevenir a desidratação, tal que a razão de evapotranspiração efetiva diminui (e.g. Styczen e Morgan, op. cit.; Laio et al., 2001; Porporato et al., 2001). Esse ponto é variado de planta para planta (Laio et al., 2001; Porporato et al., 2001), e será tratado aqui como valor de sucção no qual a transpiração da planta sofre diminuição preventiva (ou ponto de desidratação). Para valores de sucção mais altos, a transpiração devido ao processo de fotossíntese e a retirada de água pelas raízes 34 continuam, a uma razão reduzida, até alcançar o ponto de murchamento. Nesse ponto, há o completo fechamento dos estômatos, diminuindo ainda mais a razão de evaporação. Abaixo desse ponto, a sucção necessária para extrair água do solo é tão alta que prejudica os tecidos celulares das plantas, começando a haver danos irreversíveis (Laio et al., 2001; Porporato et al., 2001). O valor médio de sucção, amplamente relatado na literatura [e.g. Blight (1997), Marshall (1996), Bache e MacAskill (1984); Noggle e Fritz (1976); Coult (1975)], no qual as plantas começam a murchar (ponto de murchamento), é de 1500 kPa. Na Figura 3.5, está ilustrado de maneira simplificada o funcionamento do sistema soloplanta-atmosfera. O ponto de turgor está representado por uma mola (PT) que está ligada ao funcionamento de aberturas de alívio (estômato) e com certa pressão inicial, PTo. Outra mola (Rs) representa a resistência do solo à extração de água, que é função do potencial matricial ou sucção do solo, portanto teor de umidade (desprezando-se aqui o potencial altimétrico), e terá valor inicial Rso. A demanda atmosférica é considerada constante. Se existir uma diferença de concentração entre os dois líquidos do sistema, separados por uma membrana semipermeável a solutos, haverá uma pressão osmótica, Πo. Caso essa pressão seja maior que Rso (sucção do solo), existirá um gradiente de fluxo para o interior do sistema (planta). A água passará pela membrana semipermeável (membrana plasmática) de modo que o sistema entre em equilíbrio, diminuindo o potencial osmótico, conseqüentemente a razão de extração de água do solo. Com a diminuição do potencial osmótico, há aumento da pressão de compressão da mola (∆PT) (pressão de turgor). Esse aumento faz com que haja necessidade de alívio da pressão pelas aberturas de alívio (aumento da abertura do estômato), havendo assim perda de água para atmosfera. Essa perda de água será comandada pela maior ou menor pressão na mola, a qual controla a abertura de alívio (abertura do estômato). Caso, entretanto, haja aumento de Rs (sucção no solo), o gradiente de fluxo será menor. A diminuição da entrada de água no sistema faz com que a diferença de concentração aumente devido à evaporação da água via aberturas de alívio. A partir de um valor de resistência, Rsd (ponto de desidratação), a queda na pressão PT faz com que haja início do fechamento das aberturas de alivio, diminuindo assim a razão de evaporação. Se houver um aumento gradativo de Rs, haverá diminuição de PT e conseqüentemente 35 fechamento das aberturas de alívio. O completo fechamento se dará em um valor Rsw (ponto de murchamento). Demanda atmosférica Aberturas de alívio de pressão Transpiração Solo Estômato Rs (Resistência do solo à extração de água pelas raízes da planta) PT (Pressão de turgor) Líq. Celular com concentração, Cp Água, com Concentração, Ca Membrana plasmática semi-permeável Figura 3.5 – Esquema simplificado de transpiração de plantas. A transpiração das plantas ocorre em 3 estágios como a do solo, podendo-se classificar em: 1. Estágio de evaporação máxima - nesse estágio a razão será máxima e dependente fundamentalmente dos fatores climáticos quando houver suprimento de água suficiente à planta, ou seja, não houver limitação de água devido a um decréscimo do teor de umidade do solo. 2. Estágio de evaporação intermediária - esse ponto está relacionado à perda de pressão interna da planta (turgor) e é uma função da sucção do solo. Há nesse estágio limitação da capacidade de extração de água pelas raízes, tendo como conseqüência o início do fechamento dos estômatos para evitar desidratação da planta. O valor de sucção em que há o fechamento do estômato é função de cada espécie (Porporato et al. 2001), e denominou-se aqui ponto de desidratação. 36 3. Estágio residual de evaporação – nesse ponto a sucção do solo é tão alta (média de 1500 kPa) que a planta não consegue mais extrair água na velocidade necessária, havendo fechamento completo dos estômatos e diminuição na razão de evaporação. Esse ponto é denominado ponto de murchamento em que começam a aparecer danos irreversíveis no vegetal (Porporato et al., 2001). Entre os fatores que afetam a transpiração da planta estão: • Luz - a luz estimula a abertura do estômato e aumenta o aquecimento das folhas, elevando assim a transpiração das plantas. Portanto as plantas transpiram mais com a incidência de luz (dia) que no escuro (noite). • Temperatura - as plantas transpiram mais rapidamente em temperaturas maiores, devido à evaporação de água ser maior nessas temperaturas. Na temperatura de 30oC, as folhas podem transpirar 3 vezes mais que à 20oC. • Umidade relativa do ar – a diminuição da umidade relativa do ar aumenta a razão de transpiração, já que o déficit de água entre a planta e a atmosfera é maior. • Vento - o vento atua como meio de transporte do vapor de água aumentando a demanda de água atmosférica e conseqüentemente a razão de transpiração. • Densidade de folhas – quanto maior a densidade de folhas maior a quantidade de estômatos e maior a transpiração. A densidade de estômato por folha pode variar dependendo de condições ambientais, como a intensidade de luz, temperatura, umidade e concentração de CO2 (e.g. Kimball, 2003). • Fatores relacionados ao solo, como permeabilidade do solo (saturado e não saturado) e capacidade de retenção de água. 3.2.4 Influência da camada superficial na razão de evaporação do solo Blight (1997) realizou experimentos em laboratório para verificar a influência das texturas de diversos solos na razão da evapotranspiração de água destes. No experimento, foram utilizados quatro recipientes plásticos idênticos, três preenchidos 37 com o mesmo solo cor escura e um com água. Nos recipientes preenchidos com o solo, colocaram-se coberturas de grama, do próprio solo de cor escura e camada superficial de 1 cm de areia grossa. Os recipientes com solo foram saturados por meio de banho na água durante 24 horas. Depois da saturação, permitiu-se a drenagem do excesso de água dos recipientes de modo que fosse alcançada a capacidade de campo do solo. Os drenos então foram selados e os recipientes expostos ao ar para secagem. Na Figura 3.6, estão apresentados os resultados obtidos pelo autor. Na Figura, observam-se diferentes razões de evaporação/evapotranspiração para diferentes condições superficiais. Para o solo com cobertura vegetal, os 3 estágios de evapotranspiração relatados no item 3.2.2 podem ser vistos. O ponto de desidratação, ver item 3.2.3, inicia a partir de 22,5% de teor de umidade do solo e o ponto de murchamento a partir de 14%. Nos casos estudados, o aumento da evapotranspiração devido à presença de vegetação é desprezível quando comparado com o solo sem cobertura. Os aumentos nas razões de evaporação do solo com cobertura vegetal e do solo sem cobertura em relação à superfície da água livre foram atribuídos pelo autor à transpiração e à maior absorção de calor pela superfície escura do solo, respectivamente. A menor razão de evaporação foi observada para o solo com camada superficial de 1 cm de areia. Esse comportamento pode ser explicado com base na diferença granulométrica dos solos e na reflexibilidade da superfície. A areia, por apresentar essencialmente quartzo e feldspato em sua constituição, tem maior valor de albedo (maior reflexibilidade), portanto menor absorção de energia em quantidade necessária a evaporação de água. A areia grossa apresenta granulometria maior, e, portanto, uma capacidade de retenção de água menor que a do solo. Como no experimento permitiu-se a drenagem da água em excesso, o teor de umidade da camada superficial será menor que o do solo da camada inferior. Nesse estado provavelmente a areia apresenta coeficiente de permeabilidade não saturado menor que o do solo da camada inferior, dificultando assim a saída de água. Essa diferença de coeficiente de permeabilidade não saturado, portanto diferença de sucção, age como uma barreira resistiva de evaporação, diminuindo a razão de evaporação. 38 Figura 3.6 – Efeito da camada superficial na razão de evaporação do solo em várias condições (Blight, 1997). Apesar dos experimentos realizados por Blight (1997) não serem conclusivos devido ao número limitado de amostras, seus resultados sugerem as seguintes hipóteses relativas à interferência da camada superficial de cobertura: • a cor do solo interfere na razão de evaporação; • a transpiração, devido à presença de cobertura vegetal com gramas, pode não ser significativa em determinados casos; • a razão de evaporação medida a partir da superfície livre de água, pode gerar valores errôneos de evaporação, de modo a interferir nas simulações numéricas; • dependendo dos valores do coeficiente de permeabilidade não saturado do solo (dado pela função de permeabilidade), as camadas de materiais de maior granulometria sobrepostas a camadas de solos podem diminuir razão de evaporação de maneira significativa. Ressalta-se que para a verificação das hipóteses levantadas acima, é necessário o estudo de uma gama maior de coberturas e em condições controladas variadas. 39 3.3 INFILTRAÇÃO A infiltração é a máxima razão de entrada de água no solo em certo intervalo de tempo. A infiltração do solo depende do perfil de umidade do solo ou de sucção. Em solos com teor de umidade volumétrico pequeno, portanto sucção alta, o gradiente hidráulico entre um ponto na superfície do solo e outro no interior solo é maior do que o apresentado pelo mesmo solo em condições iniciais de umidade maior, menor sucção. Um maior gradiente faz com que seja absorvida uma maior quantidade de água inicialmente. A variação do gradiente hidráulico com o tempo é função da água disponível a infiltrar (precipitação menos água interceptada e o escoamento superficial) e das características do solo. Na Figura 3.7, estão mostrados 3 casos ilustrativos da influência do perfil inicial de umidade e da quantidade de água disponível para infiltrar na razão de infiltração do solo (e.g. Wilson, 1997; Tindall e Kunkel, 1999). Na Figura, observa-se a forma típica da variação da razão de infiltração com o tempo em diferentes condições de contorno iniciais. Para todos os casos, a variação é função da sucção superficial inicial do solo. Na linha A, a razão de infiltração (intensidade da chuva) é mantida constante, e menor que o coeficiente de permeabilidade saturado do solo (ksat). Nesse caso, a água que infiltra no solo é igual à precipitação “imposta”. Explica-se isso pelo fato de haver menor quantidade de água infiltrada em um certo intervalo de tempo que a máxima capacidade de infiltração do solo, coeficiente de permeabilidade saturado, em condições de gradiente unitário (sucção zero). O caso B, mostra a variação da razão de infiltração com o tempo na condição de formação de lamina de água na superfície do solo. A razão de infiltração inicial nesse caso é muito maior que o coeficiente de permeabilidade saturado do solo. Esse comportamento é devido à diferença do potencial de sucção do solo de um ponto da superfície (saturado) para um ponto logo abaixo (sucção <<0). A diferença de sucção contribui para que haja um gradiente hidráulico muito maior do que 1 que faz com que haja maior infiltração no solo. Com o passar do tempo, a sucção diminui e conseqüentemente o gradiente hidráulico tende a 1 (estado saturado), aumentando a resistência de entrada de água no solo e diminuindo assim a razão de infiltração para o valor máximo nessas condições de gradiente de pressão (igual ao ksat). Na curva de segmentos C e D, ilustra a condição de razão de infiltração constante em 40 que a intensidade de chuva é maior que o coeficiente de permeabilidade saturado do solo. Durante os primeiros estágios a razão de infiltração é a mesma da intensidade de chuva imposta (segmento C). Após o primeiro estágio e com o avanço da entrada de água no solo, há um decréscimo da razão de infiltração igual ao do caso anterior. Figura 3.7 – Variação da razão de infiltração com o tempo em 3 condições de contorno iniciais (Wilson, 1997). A velocidade com que haverá o decréscimo da razão de infiltração depende da redistribuição do perfil de umidade (ou sucção) no solo, e conseqüentemente de sua função de permeabilidade não saturada. Na Figura 3.8, está ilustrada, de forma esquemática, a redistribuição do perfil de umidade volumétrico do solo devido ao processo de infiltração. Considerando a infiltração de água em um perfil de solo semiinfinito e homogêneo, apresentando um teor de umidade volumétrico uniforme igual ao residual (Figura 3.9), pode-se descrever o processo de infiltração e distribuição de água no solo em 4 zonas (Tindall e Kunkel, 1999): 1. Zona saturada, em que o solo encontra-se saturado, podendo existir ar ocluso em alguns poros. 2. Zona de transição, em que há um leve decréscimo do teor de umidade com a profundidade em relação ao teor de umidade na superfície do solo, o teor de umidade ainda está perto da saturação. 41 3. Zona de transmissão é uma extensão da zona saturada com teor de umidade um pouco menor e praticamente uniforme. Nessa zona há predomínio do potencial gravitacional em detrimento do potencial de sucção do solo. 4. Zona molhada, em que o teor de umidade decresce rapidamente com a distância da zona de transmissão para o teor de umidade inicial do solo. Figura 3.8 – Distribuição idealizada do perfil de umidade durante infiltração de água no solo (Tindall e Kunkel, 1999). Uma condição contínua de infiltração não implica, necessariamente, na redução significativa da sucção no solo. Uma redução significativa na sucção da porção superior do perfil do solo só ocorrerá quando a razão de infiltração de água, em certo período de tempo, aproxima-se do coeficiente de permeabilidade saturado do solo, ou seja, a razão de infiltração depende da função de permeabilidade do solo (função que descreve a variação do coeficiente de permeabilidade do solo com a sucção) e do gradiente hidráulico. Desde modo nos primeiros estágios da infiltração, a sucção do solo antecedente ao início do processo é o principal aspecto na determinação da razão de infiltração e distribuição de água no perfil de solo. Portanto, juntamente com as propriedades do solo, os históricos de precipitação e de evaporação de água do solo serão importantes para o projeto de barreiras capilares. 42 Outro aspecto que influencia na razão de infiltração é o nível de água no solo, pois este pode influenciar o perfil de sucção. Croney et. al., 1958 (apud Fredlund, 1997), notaram que a sucção além de está relacionada com as condições climáticas próximas à superfície do solo, também é influenciada pelo nível de água. No caso de barreiras capilares, a influência do nível de água será nula, já que as barreiras são projetadas com camadas de solo de base de baixa entrada de ar, de modo que haja quebra da condutividade hidráulica devido à ascensão capilar. Os fatores que afetam a entrada de água no solo, então, podem ser basicamente divididos em: fatores climáticos, entre os quais o principal é a precipitação/evaporação e histórico de molhagem do solo; e características do solo, em que o aspecto mais importante é a capacidade de retenção de água e a variação do teor de umidade volumétrico do solo (ou da sucção) com a entrada de água, conseqüentemente a variação do coeficiente de permeabilidade do solo. Desta maneira, a função de permeabilidade em solos não saturados é um importante instrumento para a análise do projeto de barreiras capilares e será tratada no item 3.3.1. 3.3.1 Influência da estrutura na permeabilidade saturada Além da curva de retenção de água do solo um outro aspecto importante para a distribuição de água nos solos é a permeabilidade. Diversas pesquisas com solos compactados mostram a influência do teor de umidade de moldagem, da densidade, da energia de compactação, do método de compactação na permeabilidade de solos compactados (Mitchell et. al., 1965; Boynton e Daniel, 1985; EPA, 1991; Benson e Daniel, 1990; Daniel e Benson 1990; Daniel e Wu, 1993; Olsen, 1960; Lambe, 1958a e 1958b). A seguir estão resumidas as principais propriedades de solos compactados que podem influir em projetos de barreiras capilares para uso em cobertura de aterros de resíduos. A umidade de moldagem do solo é de fundamental importância na estrutura do solo. O teor de umidade de moldagem do solo está diretamente ligado às características de permeabilidade e resistência. Os estudos clássicos desenvolvidos por Lambe (1958a, 43 1958b) e Olsen (1960) descrevem o efeito da estrutura em solos compactados e a influência da estrutura na permeabilidade dos solos argilosos. O modelo proposto por Lambe (op. cit.) para o solo argiloso compactado descreve a estrutura do solo no ramo seco da curva de compactação como tendo partículas floculadas e no ramo úmido, estrutura de partículas dispersa, conforme Figura 3.9a. Foram encontradas por Lambe (1958b) diferenças da ordem de até 1000 do coeficiente de permeabilidade de argilas compactadas saturadas e moldadas no ramo seco em relação ao mesmo solo compactado com umidade de moldagem no ramo úmido. Olsen (1960) estudando os diversos fatores (tortuosidade, gradiente, viscosidade, estrutura, diferenças de cargas) que influenciam nas diferenças da permeabilidade medida em relação à calculada, em solos argilosos compactados saturados, verificou que a estrutura é o fator que mais influencia nessa diferença. Olsen (1960) propõe assim a verificação dessa interferência por meio de um modelo, denominado modelo de clusters. Na Figura 3.9b, está apresentado o modelo de cluster, em que há agregações de partículas finas de solo formando “grãos” maiores que estão em contato um com o outro. (a) (b) Figura 3.9 – (a)Modelo de Lambe (1958) para estrutura de solos argiloso (b)Modelo de Olsen (1960) para a permeabilidade de solos argilosos. Na Figura 3.10, estão apresentados os resultados obtidos por Mitchell et al. (1965) para um solo argilo-siltoso (WL=37% e IP=23%) preparado por pisoteamento com variação no teor de umidade de moldagem para uma mesma densidade (17kN/m3). Pelo gráfico observa-se um leve aumento da permeabilidade do solo com o aumento do teor de umidade de moldagem, e após teor de umidade em torno de 18%, há uma brusca diminuição da permeabilidade. Mitchell et al. (op. cit.) atribuíram esse comportamento ao decréscimo na tendência de dispersão das partículas do solo com o acréscimo do teor 44 de umidade de moldagem devido à redução na energia de compactação necessária a manter a mesma densidade. Mitchell et al. (1965) ressaltam que esse não é o único fator determinante. Os autores sugerem que o comportamento de solos preparados com teor de umidade abaixo da umidade ótima pode ser uma função do tipo de solo, do esforço de compactação e teor de umidade de moldagem, efeitos da não uniformidade na saturação e migração de finos devido à ação de gradientes de ensaio relativamente elevados. O autor relata o uso de gradientes usuais em laboratório da ordem de 50 a 120 (Mitchell et al., 1965). Figura 3.10 – Solo argilo-siltoso preparado utilizando-se compactação dinâmica (Mitchell et al., 1965). 45 Mitchell at al., 1965, apresentam resultados de permeabilidade saturada em função do teor de umidade de moldagem, obtidos para curvas de compactação com diferentes energias de compactação de uma argila-siltosa. Na Figura 3.11, estão apresentadas as curvas de compactação para 3 diferentes energias de compactação e a variação da permeabilidade em função do teor de umidade de moldagem para um solo argilo-siltoso no estado saturado. Observa-se na Figura que para energia maiores, há um decréscimo inicial imediato da permeabilidade com o teor de umidade de moldagem. (a) (b) Figura 3.11- (a) Curvas de compactação para diferentes energia de compactação; (b) Permeabilidade em função do teor de umidade de moldagem para um solo argilo-siltoso (Mitchell at al., 1958). 46 Seed e Chan (1959), estudando as características de resistência e a estrutura de argilas compactadas, concluem que: • para solos compactados no ramo seco - o método de compactação produz pouca deformação cisalhante, mantendo uma estrutura floculada; • para solos compactados no ramo úmido - pelo método de pisoteamento causa maior deformação cisalhante, e maior grau de dispersão na estrutura; pelo método de impacto, causa uma deformação cisalhante ligeiramente inferior à do método anterior, diminuindo assim o grau de dispersão das partículas do solo; pelo método estático, causa pouca deformação cisalhante, aumentando o grau de floculação da estrutura em relação aos métodos anteriores. Essa diferença de estrutura devida à deformação cisalhante causada por diferentes métodos de compactação será refletida na permeabilidade do solo. Na Figura 3.12, estão os dados obtidos por Mitchell et al. (1958) da variação da permeabilidade de solo argilo-siltoso com o método de compactação. Observa-se que para uma mesma curva de compactação, ou seja, mesmo teor de umidade e densidade, há uma diferença de permeabilidade para o solo moldado com teor de umidade acima da umidade ótima devido ao método de compactação utilizado. 47 (a) (b) Figura 3.12 – Influência do método de compactação na permeabilidade saturada de um solo argilo-siltoso (Mitchell, 1993). Benson e Daniel (1990a) observaram diferenças entre a permeabilidade de uma argila com alta plasticidade (WL= 56%, IP=41%) compactada no ramo seco e no úmido de até 6 ordens de magnitude. Uma das alternativas sugeridas pelos autores para minimizar os efeitos das agregações na permeabilidade em solos compactados é utilizar teores de umidade grandes o bastante para que haja homogeneidade da camada de solo. Uma 48 outra sugestão de Benson e Daniel (op. cit.) é a compactação com teores de umidade menores, utilizando-se equipamentos pesados para aumentar a energia de compactação, e conseqüentemente diminuir a permeabilidade. Daniel e Benson (1990b) sugerem a adoção de critérios para definir a relação de teor de umidade-densidade, de modo a cumprir os requerimentos de baixa permeabilidade, considerando outros fatores relevantes (e.g. tensão, deformação). Na Figura 3.13, está apresentada a metodologia recomendada pelos autores com base em estudos da permeabilidade em solos argilosos compactados. O procedimento envolve o estabelecimento de faixas de densidade-teor de umidade necessárias a encontrar a permeabilidade requerida. O procedimento recomendado é: determinação da curva de compactação para energias de proctor modificado, normal e reduzido; determinação do coeficiente de permeabilidade para cada corpo de prova compactado; modificar a zona aceitável de modo a considerar outros requerimentos como tensão cisalhante e disponibilidade de equipamentos construtivos. Figura 3.13 – Procedimento recomendados por Daniel e Benson (1990b) para determinação de critérios de compactação de camada de baixa permeabilidade em barreiras capilares. 49 3.3.2 Fluxo em solos não saturados Em meios saturados a relação entre a velocidade de fluxo em uma secção (q) e o gradiente hidráulico (i= ∆H/L) resulta na conhecida equação de Darcy: q = −k ∆H , L (3.8) em que k é o coeficiente de permeabilidade do solo saturado. Entretanto em meios porosos não saturados essa forma convencional necessita ser adaptada, já que nesses meios há variação na área disponível ao fluxo de água devido à variação no teor de umidade volumétrico do solo. Assim k não será mais uma constante e sim função do teor de umidade volumétrica do solo, conseqüentemente da sucção. Da mesma forma o gradiente hidráulico não será mais função só do potencial gravimétrico, mas também da sucção. Portanto pode-se estender a equação de Darcy para fluxo vertical unidimensional de modo a considerar esses aspectos da seguinte forma: q = −k (θ ) 1 − ∂Ψ ∂z (3.9) Em que ∂ψ/∂z é a variação da sucção com a profundidade; e K(θ), o coeficiente de permeabilidade não saturado (função da umidade). Assumindo-se ψ como uma função que associa para cada valor de θ um único valor de sucção obtém-se pela regra da cadeia que: ∂Ψ ∂Ψ ∂θ = ∂z ∂θ ∂z Substituindo 3.9 em 3.10, tem-se, (3.10) 50 q = −k (θ ) 1 − ∂Ψ ∂θ ∂θ ∂z (3.11) Para descrever adequadamente o fluxo de água em meios porosos não saturados, faz-se necessária outra equação, a equação da continuidade, dada por: ∂θ ∂q =− ∂t ∂z (3.12) As Equações 3.11 e 3.12 são as duas equações básicas para descrição de fluxo em meios porosos não saturados, e a combinação delas resulta na conhecida equação de Richard, 1931 (apud Tindall e Kunkel, 1999). Assim, combinando as Equações 3.11 e 3.12, temse: ∂θ ∂ ∂Ψ ∂θ ∂k (θ ) = k (θ ) + ∂t ∂z ∂θ ∂z ∂z (3.13) Evidentemente que a equação 3.13 está sujeita as mesmas hipóteses adotadas na obtenção da equação de Darcy, amplamente discutidas na literatura (e.g. Taylor, 1948; Mitchell, 1993; Tindall e Kunkel, 1999; Pinto, 2000). Entre as principais considerações adicionais na derivação da Equação 3.14 a partir da equação de Darcy e da equação de continuidade estão: • a existência de relação única entre a sucção do solo e o teor de umidade volumétrico e entre a permeabilidade e a sucção, esse aspecto nem sempre é verdadeiro devido ao efeito da histerese no solo (ver item 2.2.3); • a constância do tamanho dos poros não considerando a expansão ou contração (ver item 2.2.3). 51 3.3.3 Função de permeabilidade A permeabilidade do solo não saturado é função da variação da quantidade de água que o solo apresenta em seus poros. Essa quantidade é refletida pelo grau de saturação (S) ou teor de umidade volumétrico do solo (θ) e relacionados com a sucção por meio da curva de retenção de água do solo. A função que descreve a variação do coeficiente de permeabilidade com o teor de umidade volumétrico do solo é chamada função de permeabilidade. Essa função depende da forma como o solo retém água [e.g. Fredlund e Rahardjo (1993)]. A função de permeabilidade do solo pode ser obtida de forma aproximada por meio da medição do teor de umidade volumétrico ou da sucção do solo com a profundidade em colunas de solo. As medidas devem ser tomadas em distâncias tais que a variação da sucção entre dois pontos consecutivos seja a menor possível. Na Figura 3.14, está apresentado um esquema prático para o cálculo do coeficiente de permeabilidade não saturado de um solo, utilizado por Meerdink et al. (1996). O coeficiente de permeabilidade não saturado é calculado a partir da equação estendida de Darcy (Eq. 3.9), isolando o coeficiente de permeabilidade do solo, assim: k (Ψ ) = − ∆Vw 1 dh A∆t dz (3.14) z =Zi Em que ∆Vw é o volume de água que passa no ponto Zi em uma coluna de solo de comprimento L e secção transversal A, durante um incremento de tempo ∆t. A distância vertical a partir da superfície da coluna até um elemento i é dado por z e dh/dz é o gradiente hidráulico. Assumindo um fluxo unidimensional e laminar, bem como desprezando as variações volumétricas, Meerdink et al. (1996) adotam os seguintes passos: 1. Obter o gráfico da variação da sucção com a profundidade (Figura 3.10a) e da variação do teor de umidade com a profundidade para diversos tempos durante o experimento. 52 2. A partir do gráfico de sucção versus a profundidade, obtém-se o gradiente hidráulico no ponto Zi nos tempos t e t’ (Figura 3.14a), sendo este dado por, − dh dz = 1+ i ,t J ∂Ψ ∂z (3.15) i ,t J Em que o tempo, tj, é igual a t ou t’ (t>t’) medidos no ponto i. O gradiente hidráulico é obtido para cada ponto instrumentado a distâncias iguais. O gradiente entre o tempo t e t’ é obtido a partir da Equação 3.15 pela média aritmética. 3. O volume de água (∆Vw,i) que passa no ponto Zi entre o período de tempo t e t’ é calculado integrando a diferença no teor de umidade volumétrico no tempo t ( ) e no tempo t’ ( ’), ou seja a diferença do perfil de umidade de Zi a L. Assim tem-se, L ∆Vw,i = A θ ′ − θ dz (3.16) Zi 4. O coeficiente de permeabilidade é calculado para cada profundidade Zi (em que há instrumentação) e para cada incremento de tempo ∆t (t’-t) pela substituição dos resultados das Equações 3.15 e 3.16 em 3.14. A sucção atribuída a esse coeficiente de permeabilidade do solo não saturado é a média aritmética das sucções medidas em um elemento Zi, em tempos t e t’, i.e., Ψ= Ψ(t ,i ) + Ψ(t′,i ) 2 (3.17) 53 Figura 3.14 – Esquema para obtenção da função de permeabilidade(a) Variação da sucção com a profundidade; (b) Variação do teor umidade volumétrico com a profundidade. Em solos não saturados, o avanço da frente de saturação pode levar a valores de sucção e de coeficientes de permeabilidade muito diferentes em alturas relativamente próximas, portanto diminuindo a precisão de cálculo pela adoção da média aritmética. Segundo Haverkamp e Vauclin (1979) a média aritmética leva a um resultado sobre-estimado do coeficiente de permeabilidade. Haverkamp e Vauclin (op. cit.) afirmam que a forma do perfil de sucção devido ao avanço da frente de saturação tem influência no erro gerado pelo modelo de médias adotado. Para perfis de sucção com maior ponto de inflexão, o erro gerado será maior, principalmente nos estágios iniciais de infiltração na superfície do solo. Os autores por meio de análises numéricas e comparações com resultados experimentais e analíticos sugerem a adoção da média geométrica como melhor estimativa para o cálculo do coeficiente de permeabilidade do solo não saturado e da sucção. Assim deve-se fazer uma leve modificação dos procedimentos adotados por Meerdink et al. (1996), substituindo-se a média aritmética adotada para o cálculo da sucção e do coeficiente de permeabilidade do solo não saturado pela geométrica. A obtenção da função de permeabilidade de materiais em problemas de fluxo em meios não saturados é complexa e dispendiosa, demandando bastante tempo e a necessidade de equipamento e pessoal especializados. Assim a obtenção da função de permeabilidade é pouco efetuada. Na prática, o uso de modelos para a obtenção da função de permeabilidade para simular fluxo em meios não saturados é bastante comum 54 (e.g. Khire et al., 2000; Khire et al., 1997; Wilson e Fredlund, 2000; Morris e Stormont, 1999; Wilson et al. 1995), devido à simplicidade, rapidez e economia dos projetos. Vários pesquisadores (e.g. Mualem, 1976; Haverkamp et al. 1977; Van Genuchten, 1980; Childs e Collis, 1950; Brooks e Corey, 1966, Gardner, 1960) estudando a relação do coeficiente de permeabilidade de solos não saturados desenvolveram equações analíticas, experimentais e estatísticas para descrever a função de permeabilidade do solo por meio do uso da curva de retenção de água. Entres os diversos modelos atualmente utilizados, pode-se destacar o modelo de Van Genutchen (1980), de Haverkamp et al. (1977) e de Brooks e Corey (1966) bastante utilizados e difundidos devido à simplicidade e à relativa representatividade em meios porosos. Os dois primeiros modelos serão visto no item seguinte, devido as suas representatividades tanto em solo não coesivos como em alguns tipos de solos coesivos. O modelo de Brooks e Corey (op. cit.) é aplicado principalmente em solos não coesivos, portanto não será apresentado aqui. 3.3.4 Modelos para o cálculo da função de permeabilidade: Equação de Haverkamp e Equação de Van Genuchten Mualem (1976) distinguiu dois grupos principais de modelos para prever a permeabilidade não saturada: O primeiro é baseado na equação de Kozeny para meios porosos saturados e não saturados em que a permeabilidade relativa (kr) é a relação entre o coeficiente de permeabilidade efetivo (k) e o coeficiente de permeabilidade do solo saturado (ksat), e é dada por: kr = k k sat = Θλ (3.18) 55 Em que depende do solo e é o teor de umidade volumétrico efetivo ou normalizado, dado pela diferença entre o teor de umidade volumétrico ( ) atual do solo e o teor de umidade residual ( r) dividido pela diferença entre o teor de umidade volumétrico do solo saturado ( Θ= sat) e o teor de umidade residual, portanto: θ −θr θ sat − θ r (3.19) O segundo grupo é baseado nas medidas da curva de retenção de água, a partir da qual a permeabilidade do solo em estado não saturado é medida. Mualem propôs uma equação simplificada para previsão da variação da permeabilidade do solo com a sucção, dada por: θ k r (θ ) = Θ n* 0 θ sat 0 Em que n* dθ 2 ψ (3.20) dθ ψ é um parâmetro que leva em conta aspectos relacionados com a variação da tortuosidade, com o grau de saturação e o fator de correlação parcial entre poros adjacentes (Mualem, 1976; Brooks e Corey, 1966). A relação da sucção ( ) com o teor de umidade volumétrico ( ) é dada por meio de formulação semi-empírica da curva de retenção de água do solo. Haverkamp et al. (1977) propuseram a seguinte relação - : Θ= 1 Ψ 1+ α′ (3.21) β Em que ’ é a carga de pressão para o ponto inclinação da curva log-log de (1/ =0,5 em unidade de comprimento; e -1) pela a . A equação para o cálculo da 56 permeabilidade de Haverkamp et al. (1977) é da forma da Equação 3.18, em que tem valor unitário. Assim substituindo-se 3.21 em 3.20, tem-se: kr = 1 Ψ 1+ A B (3.22) Na Equação 3.22, os símbolos A e B são parâmetros de ajuste. Na Figura 3.15, estão apresentados os ajustes da Equação 3.22, propostas por Haverkamp et al. (op. cit.), as curvas experimentais de retenção de água de uma areia e de uma argila (apud Lappala et al., 1993). Nas Figuras 3.16a e 3.16b, estão apresentadas as funções de permeabilidade do solo obtidas a partir do ajuste da curva de retenção de água do solo e utilizando-se a Equação 3.22, aos dados experimentais da função de permeabilidade para os mesmos solos (apud Lappala et al., 1993). Figura 3.15 – Curva de retenção de água de uma areia e uma argila com a equação de Haverkamp et al. (1977). 57 Figura 3.16- Função de permeabilidade obtida pela formulação de Haverkamp et al. (1977) (apud Lappala et al., 1993); (A) função de permeabilidade para a areia da Fig. 3.15; (B) função de permeabilidade para a argila da Fig. 3.15. Van Genuchten (1980), baseado em Haverkamp et al. (1977) e em outros autores, propôs uma equação generalizada para ajuste à curva de retenção de água do solo. A equação de Van Genuchten que correlaciona a sucção ( ) com o teor de umidade volumétrico do solo é dada por: 1 Θ= 1 + (αΨ ) n m (3.23) 58 Van Genuchten implementou essa equação (Eq. 3.23) ao modelo de Mualem (1976) (Eq. 3.20), para determinação da variação da permeabilidade com a saturação do solo, resultando em: k r (Θ ) = Θ Em que: 1 2 1− 1− Θ 1 m m 2 {1 − (αΨ) [1 + (αΨ) ] } ou k (Ψ ) = 2 n −m n −1 r [1 + (αΨ) ] n m (3.24) 2 é um valor positivo; n é um parâmetro relacionado com a inclinação da curva de retenção de água do solo; sucção correspondente ao valor de é um parâmetro relacionado com o inverso da =0,5, dado por α = 1 Ψ (2 1 m ) −1 1− m ; e m parâmetro dependente de n, dado por m=1-1/n. Para curvas de retenção de água íngremes, como no caso de solos não coesivos, é aproximadamente o inverso do valor da entrada de ar do solo. As hipóteses simplificadoras adotadas no modelo de Mualem-Van Genuchten (1980) são: 1)a representação da configuração da estrutura porosa do solo como pares de tubos capilares de diferentes raios ligados em seqüência, eliminando a necessidade de consideração da probabilidade de conexão de mais de um poro pequeno a um poro maior (nessa hipótese, a resistência efetiva ao fluxo está confinada ao poro de raio menor, sobre-estimando assim a contribuição dessa seqüência ao fluxo total); e 2) a não existência de conexão entre poros paralelos, desprezando, portanto, a contribuição de várias ligações entre capilares (subestimando a permeabilidade). Segundo Childs e Collis-George (1950) esses efeitos são contrários, havendo uma tendência de compensação desses dois fatores, além de simplificar esse tipo de modelo estatístico. Além dessas duas hipóteses, a formulação apresentada no modelo Mualem-Van Genuchten (1980) não considera a contração ou a expansão do solo. Na Figura 3.17a, está apresentado o ajuste da curva de retenção de água de um silte orgânico utilizando-se a equação de Van Genutchen (1980) a dados obtidos experimentalmente. Na Figura 3.17b, os parâmetros obtidos por meio do ajuste da curva de retenção de água do solo são utilizados para o cálculo da função de permeabilidade. 59 A função de permeabilidade então é comparada com dados obtidos experimentalmente, apresentando uma boa concordância (apud Van Genuchten, 1980). (a) (b) Figura 3.17 – (a)Curva de retenção de água de um solo orgânico siltoso pela equação de Van Genuchten (1980); (b) função de permeabilidade de Van Genuchten ajustada aos dados experimentais (apud Van Genuchten, 1980). Nas Figuras 3.18a e b, estão apresentados os ajuste utilizando-se as Equações 3.23 e 3.24, respectivamente. Os parâmetros para o cálculo da função de permeabilidade na Figura 3.18b foram obtidos por meio do ajuste da Equação 3.23 aos pontos experimentais do solo argiloso. A partir desses parâmetros obteve-se a função de permeabilidade por meio da Equação 3.24. Na Figura 3.25, estão também apresentados os dados obtidos experimentalmente (apud Van Genuchten, 1980) para a função de permeabilidade. Observa-se que há certa discrepância entre os dados calculados e os dados obtidos experimentalmente. O ajuste, mostrado na Figura 3.18, foi feito para um valor de teor de umidade residual do solo ( r) igual a zero, já que não havia dados suficientes para a determinação do valor real. A adoção desse critério, segundo Van Genuchten (1980), é a causa da discrepância. Portanto sugere-se que o ajuste da curva de retenção de água do solo utilizando-se o modelo de Van Genuchten (1980) seja feita criteriosamente adotando-se uma faixa ampla de dados, de modo que seja possível a 60 distinção o valor real do teor de umidade residual do solo( r), bem como o de entrada de ar. (a) (b) Figura 3.18 – (a)Curva de retenção de água de uma argila pela equação de Van Genuchten (1980); (b) função de permeabilidade de Van Genuchten ajustada aos dados experimentais (apud Van Genuchten, 1980). Em alguns casos, a curva de retenção de água para solos argilosos e siltosos não é adequadamente descrita pela equação de Van Genuchten (1980) ou de Haverkamp et al. (1977). Nesses casos, a função de permeabilidade obtida pelos modelos só será válida dentro da faixa em que se consiga razoável ajuste da curva de retenção. 3.3.5 Influência da estrutura na permeabilidade de solos não saturados Conforme mostrado no subitem 3.2.1, o coeficiente de permeabilidade de solos saturados pode ser afetado pela estrutura do solo. Entre os fatores que afetam a estrutura de solos compactados estão o teor de umidade de moldagem, o método de compactação e a energia de compactação. A curva de retenção de água do solo também sofre a influência de fatores que podem modificar a estrutura dos poros conforme visto no item 61 2.2. Assim a princípio pode-se afirmar que todos esses fatores modificadores da estrutura do solo têm influência na variação da permeabilidade do solo com a sucção ou o teor de umidade volumétrico. Entretanto o grau que esses fatores influenciarão na função de permeabilidade de solos não-saturados ainda é pouco conhecido e estudado. O único trabalho de conhecimento do autor com verificação experimental sobre os fatores inerentes a compactação que podem influenciar a permeabilidade de solos não saturados, foi relatado por Meerdink et al. (1996). Meerdink et al. (1996) estudaram a condutividade hidráulica de solos não saturados em duas barreiras compactadas com uma camada cada, utilizadas nas coberturas finais de aterros de resíduos pilotos em Wenatchee, Washington, e Live Oak, Georgia. Os solos utilizados nos estudos foram: uma argila siltosa (WL=58%, IP=5%, %<2µm =7%), denominada de acordo com o lugar de origem como Wehatchee Silty Clay; e uma argila (WL=58%, IP=15%, %<2µm=15%), denominada Live Oak Clay. Meerdink et al. (1996) verificaram os efeitos do teor de umidade de moldagem e do método de compactação nas funções de permeabilidade dos solos de Wenatchee e Live Oak. Nas Figuras 3.19a e b, estão apresentados os resultados obtidos pelos autores sobre o efeito do teor de umidade de moldagem na permeabilidade do solo não saturado. Os solos apresentados nessas Figuras foram moldados com teores de umidade 3% acima do teor de umidade ótimo de compactação e 3% abaixo da ótima, com energia de compactação de proctor normal. Os coeficientes de permeabilidades saturados para os solos de Wenatchee acima e abaixo da ótima foram 5,8x10-10 e 3,9x10-8 m/s, respectivamente. Os coeficientes de permeabilidades para os solos saturados de Live Oak acima e abaixo da ótima foram 4,3x10-10 e 5,0x10-9 m/s, respectivamente. Os autores observaram que para sucções acima de 200 kPa (~20 m) a permeabilidade do solo não saturado não foi afetada pelo teor de umidade de moldagem, conforme se observa na Figura 3.19 para os dois solos. Esse aspecto pode ser explicado pela presença de macro e micro poros na estrutura desses solos devido ao teor de umidade de moldagem. Neste nível de sucção, os poros maiores provavelmente já drenaram, havendo assim predominância de água apenas nos micro poros. A semelhança na distribuição do tamanho dos micros poros no solo moldado no ramo seco em relação ao mesmo tipo de solo moldado no ramo úmido leva a uma diferença desprezível na permeabilidade não saturada devido ao teor de umidade de moldagem. 62 Figura 3.19 – (a) Efeito do teor de umidade volumétrico no coeficiente de permeabilidade de um solo argilo-siltoso de Wenatchee; (b) Efeito do teor de umidade volumétrico no coeficiente de permeabilidade de um solo argiloso de Live Oak (Meerdink et al., 1996) Na Figura 3.20, estão apresentados os resultados obtidos por Meerdink et al. (1996) sobre o efeito da energia de compactação para a argila-siltosa de Wenatchee. O solo foi moldado com mesmo teor de umidade (~10%), mas com diferentes energias de compactação (proctor normal e proctor modificado). O corpo de prova moldado com energia de proctor normal apresentou teor de umidade 3% abaixo do teor de umidade ótimo e o moldado pelo método de proctor modificado apresentou teor de umidade igual ao ótimo. Os coeficientes de permeabilidade dos corpos de provas saturados para a energia de proctor normal e do modificado foram, respectivamente, de 3.9x10-8 e 5.6x10-10 m/s. Observa-se na Figura 3.16 que mesmo para sucções na ordem de 1000 kPa ainda há diferenças dos coeficientes de permeabilidade do solo não saturado. 63 Figura 3.20 – Variação do coeficiente de permeabilidade de um solo argilo-siltoso com a sucção, levando-se em consideração a energia de compactação (Meerdink et al., 1996). Outro aspecto que pode influenciar na obtenção da variação do coeficiente de permeabilidade do solo com a sucção é a histerese. Os modelos utilizados para o cálculo da função de permeabilidade consideram a permeabilidade de solos em estado não saturado como uma função única do teor de umidade do solo. Entretanto a histerese afeta diretamente a curva de retenção de água do solo, dependendo do método de obtenção (secagem ou molhagem), conforme abordado anteriormente (ver item 2.2). Segundo Van Genuchten (1980), o efeito da histerese na função de permeabilidade em função do teor de umidade volumétrico do solo e utilizando-se a Equação 3.24 será pequeno para condições em que r, s e n permanecem os mesmos. Na Figura 3.21, estão apresentados os resultados obtidos por Van Genuchten (op. cit.) do efeito da histerese na função de permeabilidade obtida por meio de seu modelo e comparação com dados experimentais para um solo orgânico. Os resultados demonstram que mesmo a curva de retenção de água do solo apresentando considerável histerese, essa é pouco refletida na função de permeabilidade, tanto nos dados experimentais como na aplicação do modelo proposto pelo autor. 64 Figura 3.21 – Efeito da histerese na função de permeabilidade de um solo orgânico (Van Genuchten, 1980). Os resultados de Van Genuchten (1980) sugerem que o efeito da histerese da curva de retenção de água é refletido em menor grau na função de permeabilidade. Fredlund et al. (1994) afirmam que a relação kr- não sofre a influência da histerese porque o volume de água que escoa é uma função direta do volume de água no solo. Portanto o coeficiente de permeabilidade do solo no estado não saturado, segundo Fredlund et al. (op. cit.), é uma função singular do teor de umidade volumétrico do solo e independe da trajetória de secagem e umedecimento, desde que a mudança de volume do solo seja desprezível. Levando-se unicamente em consideração a relação kr- na análise de problemas de fluxo em meios não saturados, o efeito da histerese será desprezível devido à ordem de grandeza dos valores envolvidos no cálculo. Entretanto, nos modelos utilizados para o cálculo desse tipo de problema, a quantidade de água a escoar depende também do gradiente hidráulico atuante no solo o qual é função da sucção. Desse modo, a histerese influenciará na análise do fluxo de água em meios não saturados por meio do gradiente hidráulico do solo. 65 4 MONITORAMENTO DE BARREIRAS CAPILARES: TDR A técnica do time domain reflectometry (TDR) é baseada nas propriedades dos materiais e foi desenvolvida originalmente para medir integridade de cabos em redes elétricas. Essa técnica foi, posteriormente, estendida por Topp et al. (1980) para o uso na determinação do teor de umidade volumétrico do solo (O’Connor & Dowding, 1999). No estudo de Topp et al. (1980), o solo foi colocado em cilindros coaxiais (coluna de solo, ver Figura 4.1) de tal forma que reproduzisse o formato de linhas de transmissão, simplificando a aplicação da teoria do ensaio por meio da analogia com tais linhas. Figura 4.1 - Diagrama de coluna de solo utilizada por Topp et al., 1980. A técnica do TDR para medição da umidade do solo foi amplamente discutida e usada, principalmente na área agrícola (e.g. Schmugge et al., 1980; Dalton et al., 1984; Topp & Davis, 1985; Heimovaara & Bouten, 1990; Herkelrath et al., 1991; Knight, 1992; Cabral et al., 1999; Suwansawat & Benson, 1999). O TDR tem sido utilizado também no Brasil (Costa e Cintra, 2001; Conciane et al. 1996; Andrade et al., 2003; Tommaselli e Bacchi, 2001) de uma maneira mais limitada. Nesse estudo, o TDR será utilizado na monitoração de colunas de solo no laboratório, com a finalidade de se obter as variações 66 de teores de umidade nas camadas das barreiras capilares sujeitas a diversas condições de fluxo. Assim faz necessária uma sucinta revisão da técnica. 4.1 MÉTODO DO REFLECTÔMETRO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS (TDR) O instrumento funciona por meio da emissão e captação de pulsos eletromagnéticos. A fonte geradora do TDR aplica uma rápida e crescente voltagem a um cabo coaxial (geralmente de 50 ohms). O sinal caminha ao longo do cabo até alcançar as guias de onda inseridas no solo. Parte do sinal é refletida de volta devido à diferença das propriedades elétricas (impedância) entre o cabo e o início das hastes da guia. Essa reflexão também é devida a diferenças de impedância entre os meios em que as hastes (solo) e o cabo se encontram (ar). A outra parte do sinal passa ao longo das hastes (guias de ondas) paralelas. Quando o pulso alcança o fim das hastes, ele é refletido de volta, novamente devido a uma nova diferença na impedância. Vários pulsos são gerados pelo TDR na quantidade necessária para produzir um gráfico da relação entre variações da impedância (coeficiente de reflexão) com o tempo, como mostrado na Figura 4.2. Esse gráfico fornece o tempo entre a chegada dos sinais refletidos do início das hastes dentro do solo e os refletidos no final das guias de ondas (e.g. O’Connor e Dowing, 1999; Topp et al., 1980, Topp e Davis, 1985). A Figura 4.2 ilustra o sistema básico de um TDR. Multiplexador Guia de onda Solo Computador Voltagem relativa ou coeficiente de reflexão Gerador de pulso/ Amostrador/datalogger Início da guia dentro do solo Final da guia dentro do solo Tempo (ns) Figura 4.2- Esquema do sistema básico do TDR. 67 Com o tempo de passagem da onda eletromagnética pela guia de onda inserida dentro do solo, calcula-se a velocidade de propagação do pulso no solo. A velocidade que a onda leva para viajar através das guias de ondas no solo é dependente da permissividade (ou constante dielétrica) e da permeabilidade magnética do material. Quanto maior a constante dielétrica menor é a velocidade de propagação e quanto menor essa constante maior, a velocidade. A equação que relaciona a velocidade de propagação da onda (Vp) à constante dielétrica aparente do solo (Ka) é dada de maneira simplificada (desprezando-se as perdas elétricas) por: Vp = 2L = t c µa K a (4.1) Em que t é o tempo que a onda leva para ir e voltar na haste dentro do solo; L, o comprimento das hastes; c, a velocidade da luz no ar (3x108 m/s) e µa, é a permeabilidade magnética do material. A permeabilidade magnética, µa, é, em geral, igual a 1 para os solos e rochas (Robinson e Friedman, 2003; Robinson, 2004) e diferente de 1 para materiais ferromagnéticos. Ressalta-se, ainda, que as ondas eletromagnéticas viajando em um meio, como no caso do TDR, têm seu comportamento descrito pela teoria de ondas eletromagnéticas. Portanto as hipóteses assumidas para aplicação do TDR estão ligadas a essa teoria. Essas hipóteses são válidas para condições de campo eletromagnético em meio linear, isotrópico e homogêneo (Santamarina, 2001). Utilizando-se o TDR, o teor de umidade volumétrico do solo (θ) é obtido por meio da correlação com a constante dielétrica do solo (Ka). Vários pesquisadores demonstraram a existência de uma correlação entre o teor de umidade volumétrico e a constante dielétrica do solo (e.g. Topp et al. 1980; Hallikainen et al., 1985). A precisão das medidas de umidade obtidas com o TDR depende, principalmente, da qualidade com que a correlação entre θ e Ka é obtida, ou seja, depende da curva de calibração. Considerando essas simplificações, Topp et al. (1980) utilizaram a medição da permissividade do solo para obter o teor de umidade por meio de correlação empírica. No item 4.2, serão apresentados alguns dos modelos de calibração encontrados na literatura. 68 4.2 CALIBRAÇÃO DO INSTRUMENTO Na literatura, encontram-se dois procedimentos para estabelecer a relação entre a constante dielétrica do solo e o teor de umidade volumétrico. O primeiro procedimento estabelece uma relação matemática, ajustando uma equação aos dados experimentais. Neste caso, não se apresenta nenhuma justificativa física para a equação. Entre estes modelos, encontra-se o de Topp et al. (1980). O segundo procedimento baseia-se em modelos dielétricos de misturas. Estes modelos relacionam a constante dielétrica aparente do meio poroso (mistura, solo) com as constantes dielétricas dos seus componentes (ar, água e partículas sólidas). Portanto é importante se fazer algumas considerações sobre os modelos de misturas tendo em vista, principalmente, o seu aspecto didático para a compreensão dos fenômenos envolvidos. 4.2.1 Modelo de Topp et al. (1980). A relação obtida por Topp et al. (1980) entre constante dielétrica e teor de umidade volumétrico do solo está apresentada na Figura 4.3. Figura 4.3- Relação entre a constante dielétrica e o teor de umidade volumétrico achado por Topp et al. (1980). 69 A partir dos dados da curva da Figura 4.3 obtém-se a Equação 4.2, apresentada por Topp et al. (1980): θ = −5,3 x10 −2 + 2,9 x10 −2 K a − 5,5 x10 −4 K a 2 + 4,3 x10 −6 K a 3 ou K a = 3,03 + 9,3 × θ + 146,0 × θ 2 − 76,7 × θ 3 (4.2) Em que θ é o teor de umidade volumétrico do solo e Ka, a constante dielétrica aparente. Essa equação considera as perdas elétricas pequenas, o que em alguns casos (e.g. argilas, solos orgânicos, minérios) pode se tornar importante. Portanto, pelo fato do solo ser um material dielétrico complexo, há a necessidade da adoção de hipóteses e simplificações, especialmente no caso de argilas. Nesses tipos de solo, o efeito das forças de interação entre a superfície das partículas e a água pode ser importante para comportamento do sistema e conseqüentemente para a resposta do TDR (e.g. Wang e Schmugge, 1980; Dirksen e Dasberg, 1993, Skierucha e Malicki, 2002). Essas forças vêm a ser mais importantes à medida que as partículas se tornam menores, tal que a magnitude dessas forças sejam predominantes em relação ao peso das partículas (Mitchell, 1993). Assim a permissividade e a condutividade da água próxima a essas partículas são alteradas, aumentando as perdas do sistema e levando com isso a possíveis erros de leituras do instrumento. O ideal é fazer a calibração do aparelho quando se tratar de solos argilosos e orgânicos ou outros materiais cuja condutividade seja alta e verificar sua influência. Segundo Topp et al. (1980), a constante dielétrica aparente do solo é praticamente independente do tipo de solo, da sua densidade seca e ainda do teor de sal. Assim, esses autores afirmam que a Equação 4.2 pode ser aplicada de forma generaliza aos solos. Entretanto, verifica-se pela análise detalhada dos dados obtidos por Topp et al (op. cit), a restrita variedade de solos estudados. Dirksen e Dasberg (1993), estudando a relação Ka-θ para 11 diferentes solos, concluem que a equação proposta por Topp et al. (1980) só é válida para solos com baixo teor de argila com densidade seca (ρd) na faixa de 1,35 a 1,50 g/cm3. 70 Estudos realizados por outros pesquisadores, ao contrário do afirmado por Topp et al (1980), apontam a influência da estrutura do solo na relação entre Ka-θ (e.g. Wang e Schmugge, 1980; Dobson et al., 1985; Dirksen e Dasberg, 1993; Skierucha e Malicki, 2002; Yu e Drnevich, 2004; Tommaselli e Bacchi, 2001). Essa influência e outros fatores que afetam a constante dielétrica no solo são tratados em alguns modelos teóricos relacionando Ka e θ apresentados na literatura, como os modelos de misturas (ver item 4.2.2). Estudos com solos brasileiros sobre a correlação entre o teor de umidade e a constante dielétrica são apresentados por Souza et al (2001), Tommaselli e Bachi (2001), Teixeira et al. (2003), Andrade et al. (2003). Os resultados desses pesquisadores mostram que a equação proposta por Topp et. al. (1980), em geral, não se aplica aos solos tropicais. 4.2.2 Modelos dielétricos de misturas Dobson et al. (1985) apresentam um estudo sobre as características dielétricas de solos, mostrando um modelo dielétrico para misturas de quatro fases. O modelo leva em conta: a fase sólida, a água adsorvida, a água livre e o ar. Segundo Dobson et al (1985), a expressão que descreve a constante dielétrica aparente da mistura (Ka) é: Ka = ( ) 3K s + 2(θ − θ bw ) ⋅ K fw − K s + 2θ bw (K bw − K s ) + 2(n − θ ) ⋅ (K ar − K s ) 3 + (θ − θ bw ) ⋅ Ks K fw − 1 + θ bw Ks K bw − 1 + (n − θ ) ⋅ Ks K ar (4.3) −1 Em que Ks, Kfw, Kbw e Kar são as constantes dielétricas da parte sólida, da água livre, da água adsorvida e do ar, respectivamente; n é a porosidade do solo; e θ, θfw e θbw são os teores de umidade volumétricos do solo e em relação a água livre e a água adsorvida. O modelo representado pela Equação 4.3 é denominado aqui de Dobson I. Para o cálculo de Ks, Dobson et al. (1985) propõem a seguinte equação empírica, obtida a partir de resultados experimentais de Hallikainen et al. (1985): 71 K s = (1,01 + 0,44 ρ s ) 2 − 0,062 (4.4) Utilizando-se a Equação 4.4, obtém-se valores de Ks variando entre 4,6 e 4,9 para a variação da densidade dos grãos (ρs) de 2,6 a 2,75. A constante dielétrica do ar (Kar) é igual a 1 e a da água (Kfw) depende da temperatura, sendo, a 20 oC, 81,5 (Topp et al., 1980). A constante dielétrica da água adsorvida (Kbw) encontrada na literatura varia de 3 (constante dielétrica da água em forma de gelo) a 40 (e.g. Dirksen e Dasberg, 1993; Dobson et al.,1985). Além da Equação 4.3, Dobson et al. (1985) apresentam também uma equação semiempírica, tendo como base o modelo de Birchak et al. (1974) e referida aqui como modelo Dobson II: K aα = 1 + ρd α ( K s − 1) + θ β K αfw − θ ρs (4.5) Em que α é o fator que, segundo Roth et al. (1990), está relacionado com o arranjo geométrico das partículas e a forma de incidência do campo eletromagnético nestas. Para α =1, o campo eletromagnético é paralelo às partículas de solo e para α =-1, o campo é perpendicular. Na literatura, encontram-se valores de α variando de 0,39 a 0,81 (e.g. Birchak et al., 1974; Dobson et al., 1985; Dirksen e Dasberg, 1993). O parâmetro β leva em conta o efeito da água adsorvida, que pode ser significativo para teores de umidades baixos (e.g. Wang e Schmugge, 1980; Dobson et al, 1985). Por levar em conta a água adorvida, o parâmetro β depende da mineralogia do solo. Assim Dobson et al (1985), adotando α = 0,65, obtiveram uma equação semi-empírica para o cálculo de β. Essa equação, relacionando a porcentagem de areia, S, e de argila, C, é dada por: β= (127,48 − 0,519 S − 0,152C ) 100 (4.6) 72 Roth et al. (1990), baseados no modelo de Birchak et al. (1974), apresentam uma equação semi-empírica, considerando 3 fases (desconsiderando a água adsorvida) no solo, com a seguinte forma: α K aα = θK wα + (1 − φ ) K sα + (φ − θ ) K ar (4.7) Roth et al (op. cit.) sugerem a adoção do fator de forma, α, igual a 0,5. Skierucha e Malicki (2002) apresentam uma equação semi-empírica que correlaciona a constante dielétrica do solo com o teor de umidade e a sua densidade. K a = (0,573 + 0,582 ρ d + (7,755 + 0,792 ρ d )θ ) 2 (4.8) Ressalta-se que o procedimento de obter a relação entre o teor de umidade e a constante dielétrica por meio do ajuste aos dados experimentais é plenamente aceitável, quando se sabe das limitações dos procedimentos usados na geração dos dados e no uso que se fará das medições, utilizando a curva obtida. 4.3 FATORES QUE INFLUENCIAM AS MEDIDAS COM O TDR 4.3.1 Efeito da Freqüência Materiais elétricos isolantes ou materiais dielétricos ideais não devem carregar corrente quando sujeitos uma diferença de potencial, i. e., eles devem ser não condutivos. Em outras palavras a resistividade de um material elétrico isolante real deve ser alta, conduzindo uma corrente muito fraca. O solo é um material dielétrico que funciona como isolante entre as hastes das guias de ondas. Assim o pulso mandado pela fonte geradora gera um campo eletromagnético produzindo forças e torque nas moléculas de água que estão no solo. Em contra partida a essas forças, existem forças inerciais e viscosas opostas a elas. Portanto as propriedades eletromagnéticas dos materiais são 73 dependentes do tempo que as forças elétricas irão atuar no material, conseqüentemente da freqüência de onda (Tareev, 1979). Caso a freqüência das ondas eletromagnéticas seja baixa, haverá tempo suficiente para polarização das moléculas, afetando assim a permissividade do meio (e.g. Tareev, 1979) e comprometendo a leitura do TDR. A faixa de freqüência utilizada para medição do teor de umidade do solo é em geral 1Mhz a 1Ghz, segundo Topp et al. (1980). De acordo com esses pesquisadores, a constante dielétrica nessa faixa de freqüência é fortemente dependente do teor de umidade volumétrico do solo. 4.3.2 Zona de influência das hastes Além da calibração do instrumento outra importante questão no uso dessa técnica é a zona de influência ao redor das hastes do TDR. Comparações das distribuições de campos eletromagnéticos ao redor de guias de onda com 3 e 2 hastes apontaram que guias de onda com três hastes são quase duas vezes mais sensíveis (e.g. Knight et al., 1994; O’Connor e Dowing, 1999). Isso se dá porque a concentração de energia torna as medições de umidade do solo próximo às hastes mais sensíveis. Assim haverá uma área de influência, a qual tem grande importância nas medições e está associada com regiões onde o potencial elétrico é maior. Vários pesquisadores apresentam resultados sobre zona de influência das guias de ondas, alguns desses resultados estão apresentados na Tabela 4.1. A faixa de variação da zona de influência está em torno de 6 a 40 mm para as guias apresentadas na Tabela 4.1. Knight (1992) em estudo teórico recomenda que as guias sejam projetadas com uma relação entre espessura de hastes (d) e espaçamento entre hastes (S) maior que 0,1 para prevenir grande concentração de energia muito perto das hastes. O espaçamento entre hastes e a espessura das hastes são importantes, pois influenciam no grau de concentração do campo eletromagnético e como conseqüência na sensibilidade ao redor da guia de onda (e.g. Knight et al., 1994; Baker e Lascano, 1989; O’Connor e Dowing, 1999). Quanto mais próximas e mais espessas são as hastes, maior a concentração do campo, portanto maior a influência do solo junto a essas. Esse fato 74 faz com que a adequada fabricação e instalação das guias de ondas tornem-se um fator importante para a obtenção do teor de umidade do solo. Tabela 4.1- Zona de influência da guia (alterado de O’Connor e Dowing, 1999). Descrição das guias de ondas Quantidade de hastes Dimensões das hastes Material Comprimento (mm) Espessura (d) (mm) Espaçamento das hastes (s) (mm) aço inox. aço inox aço inox 2 2 2 Raio de influência cilíndrica em relação lateral das hastes Instalação Instalação vertical horizontal (mm) (mm) 10 10 20 15 25 25 2 aço inox 50 30 2 aço inox 50 35 aço inox aço inox aço inox aço inox aço inox aço inox 2 2 2 3 3 3 50 20 20 0.5 (s+d) 150 3 50 25 –40 200 3 25 6 –10 80 3 12.5 10 – 15 0.70 S 0.5 (s+d) 0.70 S Referências Petersen (1995) Petersen (1995) DeClerk (1985) Baker and Lascano (1989) Topp and Davis (1985) Petersen (1995) Knight et. al (1994) Cabral et. al (1999) Cabral et. al (1999) Cabral et. al (1999) Knight et. al (1994) Green e Cashman (1986) relatam efeito de ponta (borda) em circuitos abertos em linhas de transmissão com dois fios, devido ao campo eletromagnético gerado. Os autores sugerem a seguinte formula empírica para o cálculo da zona de influência além da ponta dos fios, δl s 1 = − 3,954 + s 2,564 ⋅ cosh d −1 2 (4.9), + (3,954 ) 2 75 em que: δl é o efeito da influência do campo eletro-magnético além da ponta da guia de onda; s é a distância de centro a centro das hastes ou fio; e d, a espessura das hastes ou fio. A Equação 4.9 foi utilizada por Pettinelli et al. (2002) como critério de correção na obtenção da constante dielétrica de fluidos (ar, etanol e água deionizada) com guias de onda com par de hastes de 22,5 cm de comprimento. A correção foi feita adicionando-se o valor de δl ao comprimento físico da guia de onda. Pettinelli et al. (op. cit.) indicam que a não adoção dessa correção sobreestima os valores da constante dielétrica da água. No caso de solos, podem-se evitar as diferenças na obtenção do teor de umidade volumétrico do solo, utilizando-se uma curva de calibração que reproduza o mais próximo possível às condições do experimento. 76 5 CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS UTILIZADOS NOS ESTUDOS 5.1 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO Para utilização no estudo de barreiras capilares, foram escolhidos materiais com propriedades geotécnicas mínimas para a viabilização técnica e econômica das coberturas. As principais características inicialmente definidas para a seleção dos diversos materiais foram, com base principalmente na revisão bibliográfica, as seguintes: a boa capacidade de retenção de água, agregada a permeabilidade do solo saturado; a disponibilidade de solo em quantidade suficiente para a execução do estudo; e a facilidade de obtenção do material em relação a outros tipos de solos. Na primeira parte da pesquisa, investigaram-se as características iniciais dos materiais, incluindo um resíduo de papel. Este último não pôde ser empregado devido à variabilidade de suas características durante os ensaios de caracterização (e.g. Marinho et al.; 2002) A pesquisa ficou, então, restrita ao estudo dos seguintes materiais: areias média e fina; e solo residual de gnaisse. Nos subitens 5.1.1, 5.1.2 e 5.1.3, serão apresentadas as características dos diversos materiais relevantes ao escopo do trabalho e a caracterização destes. 5.1.1 Descrição e características do solo residual No presente estudo, utilizou-se um solo residual de gnaisse. A escolha desse solo deveuse a sua utilização em outras pesquisas no Laboratório de Solo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, bem como a sua facilidade de obtenção e as características de retenção. Outro aspecto observado refere-se à disponibilidade de dados sobre esse 77 tipo de solo na literatura que podem servir de base para futuros estudos em linha similar ao desenvolvido aqui. O solo residual estudado foi obtido no campo experimental do Laboratório de Mecânica dos Solos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), zona oeste da cidade de São Paulo. Este solo provém da bacia sedimentar terciária do planalto paulistano. As rochas dessa região são principalmente compostas por gnaisses, micaxistos, migmatitos e granitos. O subsolo, onde se localiza o Campo Experimental, é formado por rocha metamórfica gnáissica na sua base. Em sua parte superior, a camada de solo é composta por um solo residual bastante alterado. Nessa camada, não há estruturas reliquiares da rocha matriz e o solo é mais argiloso. Na camada inferior o solo apresenta estruturas reliquiares da rocha matriz, observando-se planos de xistosidade. Entre as duas camadas há uma camada de transição em que o solo apresenta um grau menor de alteração que a camada superior e maior que a inferior. Esse solo é bastante heterogêneo com veios e bolsões de caulim, podendo-se ver algumas das estruturas reliquiares da rocha matriz. As amostras de solo foram coletadas a partir da base de um talude do campo experimental da USP. O local foi escolhido por ser fonte de material de outros estudos (e.g. Stuermer, 1998; Vieira, 1999; Oliveira, 2004) e pela facilidade de acesso. A camada de solo, onde extraíu-se as amostras de solo, localiza-se abaixo da camada superficial, apresentando coloração avermelhada, com bolsões e veios de caulim. A olho nú, pode-se verificar a presença de mica (muscovita), quartzo, feldspato e caulim. A coloração avermelhada do solo sugere uma alta concentração de ferro, atribuída ao processo de formação deste solo. A quantidade de solo retirada foi de aproximadamente 5000 kg. Este solo foi peneirado, utlizando-se peneira com abertura de malha de 4,8 mm. Após peneiramento, misturouse a amostra e, por quarteamento, obteve-se uma amostra menor de aproximadamente 400 Kg. Essa amostra de 400 kg foi dividida em 4 caixas plásticas e armazenadas no laboratório. As amostras para todos os ensaios executados foram retiradas dessas 4 caixas de solo. 78 5.1.2 Caracterização do solo residual Para a caracterização geotécnica do solo residual de gnaisse, executaram-se ensaios de granulometria e massa específica dos grãos. Os limites de liquidez foram obtidos da literatura (Oliveira 2004). Os ensaios seguiram as recomendações da Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT), pelas suas normas NBR 6508 e NBR 7181, para a determinação da massa específica dos grãos e análise granulométrica, respectivamente. Dois tipos de ensaios foram executados para a obtenção da curva granulométrica, um com e outro sem o uso de defloculante (hexametafosfato de sódio). Esses ensaios, além da caracterização do solo, visaram também a verificação da influência do uso de defloculante na curva granulométrica. Os ensaios foram feitos para melhor dimensionamento da barreira capilar, pois, no estudo, utilizaram-se os critérios modificados para projetos de filtros, propostos por Terzaghi (1922) apud Cruz (1996), no dimensionamento do material de base. Esses critérios são empíricos, baseados na curva granulométrica do material e bastante usados no dimensionamento de filtros de proteção em barragens. Os critérios são baseados em dois princípios: o primeiro é que o material do filtro deve ser mais permeável que o material fino; e o segundo leva em consideração o tamanho dos finos do filtro, de modo que não haja o preenchimento dos poros do material (filtro) pelo material do solo filtrado. Na Figura 5.1, estão apresentadas as curvas granulométricas do solo com e sem defloculante. Observa-se, pelo gráfico, que 55 % dos grãos da curva sem defloculante tem diâmetro de grãos na faixa de 0,007 mm a 0,02 mm, enquanto a curva granulométrica do solo adicionado de defloculante para a mesma percentagem é mais bem distribuída, variando de 0,0013 a 0,02 mm. Observando-se a Figura 5.1, constata-se que há diferença no tamanho dos grãos de filtro utilizando-se a curva com defloculante em relação àquela sem. Essa diferença favorece o dimensionamento de camadas de base (areias) de maior granulometria. O uso de curvas granulométricas sem defloculante para o cálculo do diâmetro de filtro necessário para o solo em estudo é aconselhável, pois aumenta o contraste granulométrico entre as camadas, otimizando a capacidade de retenção de água da barreira como um todo, conforme descrito no subitem 2.1. 79 Figura 5.1 – Curva granulométrica do solo residual de gnaisse com e sem o uso de defloculante no processo de sedimentação dos grãos. O solo residual estudado apresenta limite de liquidez de (WL) 47%, limite de plasticidade (WP) de 34% e índice de plasticidade (IP) de 13%. O peso específico dos grãos (ρs) obtido foi 2,75x103 kg/m3. As características geotécnicas básicas do solo residual estudado estão apresentadas na Tabela 5.1. Tabela 5.1 – Resumo das principais características do solo residual utilizado. Descrição Com defloculante Sem defloculante ρs, x103 Kg/m3 2,75 2,75 WL, % 47 47 WP, % 34 34 IP, % 13 13 Areia grossa, % 1 1 Areia média, % 2 2 Areia fina, % 29 29 Silte, % 47 68 Argila, % 21 - Classificação unificada Silte de baixa compressibilidade (ML) 80 5.1.3 Características dos solos não-coesivos. Os materiais não coesivos foram selecionados para servir como camada de base da barreira capilar. As areias foram selecionadas atendendo os critérios de disponibilidade, padronização granulométrica e mineralógica, diminuindo a variabilidade nos resultados de ensaios. Optou-se, assim, por utilizar areia normal preparada pelo Instituto de Pesquisa tecnológica do Estado de São Paulo (IPT) denominadas: Areia IPT#16 (retida na peneira número 16 e passada na peneira n.10), Areia IPT#50 (retida na peneira número 50 e passada na peneira 30) e Areia IPT#100 (retida na peneira número 100 e passada na peneira 50). O pedrisco (brita retida na peneira de abertura de malha de 4,8 mm e passada na de abertura de 9,52 mm) foi utilizado como material de regularização da base da cobertura. Na Figura 5.2, estão apresentadas as distribuições granulométricas das areias IPT#16, IPT#50, IPT#100 e do pedrisco. Por serem materiais obtidos por peneiramento, as curvas de distribuição granulométricas foram consideradas com distribuição uniforme de acordo com a faixa de peneiramento. Peneiras (ASTM) 100 100 50 40 30 16 10 4 m m 9.5 19 25 38 Areia Normal IPT #100 Areia Normal do IPT #16 Pedrisco Areia Normal do IPT #50 90 80 70 0 10 20 30 Porcetagem retida 0.001 0.01 (ABNT) ARGILA S ILTE 0.1 1 Diâmetro dos grãos (mm) FINA MÉDIA AREIA 40 50 20 100 30 0 4 5 6 7 8 9 10 90 3 10 2 80 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 20 0.2 70 0.3 30 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1 60 0.02 40 0.03 50 0.004 0.005 0.006 0.007 0.008 0.009 0.01 50 0.002 40 0.003 60 0.0005 0.0006 0.0007 0.0008 0.0009 0.001 Porcentagem que passa 200 10 GRO S S A PEDREGULHO Figura 5.2 – Distribuição granulométrica das areias IPT#16, IPT#50, IPT#100 e do pedrisco utilizados. 81 Executaram-se ensaios para determinação dos índices de vazios máximo (emáx) e mínimo (emín), e ensaios para a determinação da densidade dos grãos (ρs) dos materiais. Os ensaios foram executados de acordo com as recomendações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), MB-3324 de 1990 e MB-3388 de 1991, e NBR 6508 de 1982. As excessões no procedimento de ensaios foram a determinação do emáx do pedrisco e emín da areia IPT #100. No primeiro caso, a determinação do índice de vazios máximo dos pedriscos seguiu as recomendações de Souza Pinto (1966). No segundo caso, o índice de vazios mínimo da areia IPT #100 foi determinado por meio de 3 métodos distintos: os métodos B1 e B2 da Norma MB-3388/1991 da ABNT, e um terceiro método por vibração, B3. Executou-se o terceiro método utilizando-se praticamente os mesmo procedimentos do método B1, a única diferença foi quanto ao número de camadas. Enquanto no método B1, a camada vibrada com sobrecarga foi única, no método, chamado B3, dividiu-se o solo em 3 camadas. Cada uma dessas camadas foi vibrada com a sobrecarga de ±13,8 kPa. Os índices de vazios mínimos dos métodos B1, B2 e B3 foram 0,821, 0,723 e 0,704, respectivamente. O método B3 e B2 praticamente equivaleram-se, mostrando-se mais eficazes no caso estudado. Na Tabela 5.2, estão apresentadas os resultados desses ensaios, bem como uma breve descrição das areias e do pedrisco. Tabela 5.2 – Propriedades das areias selecionadas. ρs Nomenclatura Descrição da areia emáx emín (x 103 Kg/m3) Areia IPT#100 areia mal graduada, retida na peneira número 100 e passada na peneira 50 1,000 0,704 2,65 Areia IPT#50 areia mal graduada, retida na peneira número 50 e passada na peneira 30 1,006 0,800 2,65 Areia IPT#16 areia mal graduada, retida na peneira número 16 e passada na peneira n.10. 0,894 0,784 2,67 Pedrisco Pedrisco mal graduado de brita, retido na peneira número 4.8 mm e passado na 9.52 mm. 1,225 0,790 2,73 A compacidade relativa (C.R.) das areias nos ensaios executados foi medianamente compacta de acordo com a classificação proposta por Terzaghi, sendo no mínimo igual a 0,60. Um aspecto importante na escolha de um valor mínimo foi a manutenção do índice de vazios calculado, visando facilitar a execução e melhorar a acurácia dos ensaios. O fato da compacidade relativa escolhida estar dentro da faixa de utilização 82 comumente encontrada em drenos de barragens (P. T. Cruz, comunicação pessoal) também foi levado em consideração para escolha deste valor mínimo. 5.2 COMPACTAÇÃO DO SOLO RESIDUAL Os ensaios de compactação foram executados conforme recomendações da ABNT em sua norma NBR 7182, sendo as amostras preparadas de acordo com a NBR 6457. Assim as amostra secadas ao ar foram destorroadas e passadas na peneira de abertura de malha de 4,8 mm. Os ensaios foram feitos com e sem reuso de solo para que fossem verificados possíveis efeitos de quebra de grãos. O solo foi compactado em 3 camadas em um volume de 1000 cm3, utilizando-se soquete de 2,5 kg e 26 golpes (energia de proctor normal). Na Figura 5.3, estão apresentadas as curvas de compactação do solo com e sem reuso de material. Verifica-se por essa figura que praticamente não há diferença entre as curvas de compactação do solo com e sem reuso. Para a obtenção da densidade seca máxima (ρdmáx) e do teor de umidade ótimo (Wot), considerou-se apenas a curva de compactação em que não houve reuso de solo. Assim os valores de ρdmáx e Wot são 1,59x103 kg/m3 e 23,4 %, respectivamente. 1.80 1.75 S=80% 1.70 S= 87% S=60% S=70% S=90% S = 100 % ρ d (x103 kg/m3) 1.65 1.60 1.55 1.50 1.45 1.40 1.35 1.30 Proctor Normal c/reuso Proctor Normal s/reuso 1.25 1.20 1.15 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 W (%) Figura 5.3 – Curva de compactação do solo residual para energia de proctor normal com e sem reuso. 83 5.3 PERMEABILIDADE DOS SOLOS SATURADOS Os ensaios de permeabilidade foram executados com o objetivo de fornecer parâmetros para as análises numéricas e análises das colunas experimentais. Além desses aspectos, executaram-se também ensaios para verificar em que grau mudanças no teor de umidade de moldagem do solo e na densidade podem afetar os valores do coeficiente de permeabilidade do solo saturado (ksat). Para execução dos ensaios, foram compactados 4 corpos de prova de solo residual de gnaisse, 4 de areias e 1 de pedrisco. A seguir serão descritos os ensaios. 5.3.1 Solo residual A determinação de ksat do solo residual de gnaisse foi feita utilizando-se 4 corpos de prova: três, compactados pelo método de proctor normal com umidade de moldagem no ramo seco (CP-1PNS), na umidade ótima (CP-2PNO) e no ramo úmido (CP-3PNU) da curva de compactação; e um, compactado estaticamente, densidade seca de 1,21x103 kg/m3 (CP121-E). Para execução dos ensaios de permeabilidade do solo residual saturado, utilizou-se o permeâmetro de parede flexível. Como não havia, até o momento da execução dos ensaios, norma brasileira para o uso de permeâmetros de parede flexível, estes ensaios foram executados de acordo com a American Society for Testing and Materials (ASTM), D 5084-90, método C. Após compactação, os corpos de prova CP-1PNS, CP-2PNO e CP-3PNU foram moldados de modo que as alturas fossem reduzidas para 5,5 cm, 12 cm e 12 cm, respectivamente, e o diâmetro, reduzido para 7 cm. O corpo de prova CP121-E foi moldado estáticamente com altura de 15 cm, utilizando-se um molde de latão com 7 cm de diâmetro. Este procedimento foi adotado devido a dificuldade encontrada na moldagem de corpos de prova com as características iniciais (densidade seca e umidade de moldagem) do CP121-E. Após compactação, o topo e a base foram raspados de modo que a altura do CP121-E ficasse com aproximadamente 12 cm. Os ensaios foram feitos em ambiente com temperatura controlada, em torno de 20 oC. Na Tabela 5.3, 84 estão apresentadas as principais características do corpo de prova antes e depois dos ensaios de permeabilidade. Não foi possível obter os dados pós-ensaio do corpo de prova CP121-E, pois este apresentou baixa consistência após ensaio, impossibilitando a obtenção do volume. Verifica-se pela Tabela 5.3 que houve expansão de 10,34 %, 4,74 % e 2,54 % dos corpos de prova CP-1PNS, CP-2PNO e CP-3PNU, respectivamente. Na Figura 5.4, estão apresentados os pares de valores, densidades secas e teor de umidade inicial, de cada corpo de prova ensaiado e sua posição em relação à curva de compactação do solo antes e depois do ensaio. Observa-se na Figura 5.4, que os corpos de prova CP-1PNS, CP-2PNO e CP-3PNU estão praticamente saturados. A expansão volumétrica citada anteriormente levou à diminuição nos valores de densidade inicial dos corpos de prova CP-1PNS, CP-2PNO e CP-3PNU mudando as características iniciais dos corpos de prova, conforme mostrado na Figura 5.4. Esta variação na densidade foi maior para o corpo de prova CP-1PNS. Tabela 5.3 – Características dos corpos de prova antes e depois dos ensaios. Característica Unid. CP-1PNS Antes Depois CP-2PNO Antes CP-3PNU CP121E Depois Antes Depois Antes diâmetro, φ (cm) 7,09 7,37 7.04 7,14 7,08 7,24 7,00 altura, h (cm) área, A 5,53 5,65 12.06 12,28 12,14 11,90 12,18 2 39,48 42,61 38.93 40,04 39,37 41,17 38,48 3 218,13 240,68 469.44 491,68 477,94 490,07 468,74 (cm ) volume, V (cm ) ∆V/V (%) 10,34 4,74 2,54 --- W (%) 17,97 35,63 23.21 29,33 29,57 34,17 23,27 ρd (x103 Kg/m3) 1,54 1,39 1.55 1,48 1,45 1,42 1,19 e --- 0,791 0,984 0.779 0,863 0,897 0,944 1,311 S (%) 62,60 99,80 82.12 93,63 90,84 99,69 48,88 θ (%) 27,64 49,49 35.95 43,37 42,95 48,42 27,74 85 1.80 1.75 1.70 S= 87% S=90% S = 100 % ρ d (x103 Kg/m3) 1.65 1.60 1.55 1.50 Ksat=7x10-9 m/s Ksat=8x10-9 m/s 1.45 1.40 S=50% 1.35 Proctor Normal s/reuso CP-1PNS CP-2PNO CP-3PNU CP121-E 1.30 1.25 1.20 1.15 10 12 14 16 18 20 S=70% S=60% Ksat=2x10-8 m/s Ksat=5x10-7 m/s 22 24 26 28 30 32 34 36 38 W (%) Figura 5.4 – Densidade e teor de umidade dos corpos de prova utilizados nos ensaios de permeabilidade do solo residual. Na Tabela 5.4, estão apresentadas as pressões dos ensaios e os coeficientes de permeabilidade do solo saturado. Os valores de confinante dos ensaios referem-se ao total (sem contabilizar a contra-pressão). A contra-pressão apresentada na Tabela 5.4 é a pressão mínima (Pressão de topo) atuante no corpo de prova, entretanto ressalta-se que a contra pressão variou entre um limite inferior (pressão de topo) e superior (pressão na base). Os valores do coeficiente de permeabilidade do solo residual saturado estão de acordo com valores encontrados na literatura para solo residuais (e.g. Cruz, 1996). Tabela 5.4 –Pressões utilizadas nos ensaios e coeficiente de permeabilidade. Nomenclatura Descrição CP-1PNS CP-2PNO CP-3PNU CP121-E Proctor normal Proctor normal Proctor normal Estática --- 10 10 10 10 Topo (kPa) 147 75 75 20 Base (kPa) 152 87 87 32 Contra-pressão (kPa) 147 75 75 20 Confinante (kPa) 161 Tipo de compactação gradiente médio Pressão Ksat Unid. (m/s) 95 -9 20x10 95 -9 7x10 37 -9 8x10 500x10-9 86 Observa-se pela Figura 5.4 e pelas Tabelas 5.3 e 5.4 que ksat dos corpos de prova moldados com diferentes teores de umidade e mesma energia de compactação, CP1PNS, CP-2PNO e CP-3PNU, apresentaram diferenças pequenas (menor que 3 vezes) de permeabilidade entre si, para o solo estudado. Comparando-se estes mesmos corpos de prova com o CP121-E, as diferenças ficaram na ordem de 10 a 100 vezes. 5.3.2 Solos não-coesivos A determinação de ksat dos solos não coesivos foi feita utilizando-se 5 corpos de prova: dois, com areia IPT#100 e índices de vazios de 0,821 e 1,000; um, com areia IPT#50 e e=0,870; um, com areia IPT#16 e e=0,821; e um com pedrisco e e=0,938. Os ensaios de permeabilidade das areias foram executados com o uso de permeâmetro de parede rígida e com carga constante, seguindo-se as recomendações da ABNT por meio da NBR 13292. Os ensaios do pedrisco foram feitos com caraga variável em razão da vazão ser maior que a vazão de alimentação do permeâmetro. Na Tabela 5.5, estão mostrados o índice de vazios (e), as compacidades relativas e os coeficientes de permeabilidades obtidos para as areias IPT#100, IPT#50, IPT#16 e para o pedrisco. Os ensaios de permeabilidade na areia IPT#100 com índice de vazios máximo (emáx.=1,000) tiveram como objetivo verificar a variação do coeficiente de permeabilidade da areia com a variação do índice de vazios. Esses ensaios resultaram em um coeficiente de permeabilidade de 2,46x10-4 m/s. Comparando-se os resultados de ksat da areia IPT#100 para e= 0,821 e emáx= 1,000, verifica-se que a diferença de coeficientes de permeabilidade é desprezível. Tabela 5.5 – Permeabilidade obtida com permeâmetro de carga constante. ksat Nomenclatura e C.R. Areia IPT#100 0,821 0,60 3,13x10-4 Areia IPT#100emáx 1,000 0 2,46x10-4 Areia IPT#50 0,870 0,66 1,48x10-3 Areia IPT#16 0,821 0,66 5,20x10-3 Pedrisco 0,938 0,66 5,00x10-2 m/s 87 5.4 CURVA DE RETENÇÃO DE ÁGUA DOS SOLOS As curvas de retenção de água (CRA) foram obtidas com o objetivo de servir como ferramenta para as análises numéricas, para a projeção das colunas estudadas e para a interpretação dos experimentos com as barreiras capilares. Foram executados 7 ensaios para a obtenção da CRA: dois ensaios para a obtenção da curva de retenção de água do gnaisse em diferentes condições de moldagem, e 5 para a obtenção das CRAs das areias IPT#100 (3 ensaios), IPT#16 e IPT#50. As CRAs obtidas foram ajustadas aos modelos de Van Genuchten et al. (1980) e Haverkamp et al. (1977). Para a obtenção das curvas de retenção das areias, utilizou-se o método da placa de pressão com sucções de até 30 kPa. Os ensaios de CRA do gnaisse foram executados por 3 métodos diferentes, dependendo do valor de sucção a ser medido. Para valores de sucção de 1 a 20 kPa, utilizou-se o método da placa de sucção (PS), baseado em diferenças manométricas entre a placa e um resevatório de água (e.g. Oliveira 2004). Para valores de sucção de 20 a 500 kPa, utilizou-se o método de translação de eixo (TE), proposto por Hilf (1956), utilizando-se equipamento desenvolvido no Laboratório de Mecânica dos Solos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (e.g. Oliveira 2004). Para sucções maiores que 500 kPa, utilizou-se o método do papel filtro (PF) (e.g. Marinho, 1994). 5.4.1 Método da placa de sucção O método da placa de sucção é baseado em diferenças manométricas entre a extremidade livre de um pequeno reservatório de água e a altura média do corpo de prova. Essa diferença é possível por meio da utilização de uma placa cerâmica com alta entrada de ar, sobre a qual o corpo de prova é colocado e um tubo de pequeno diâmetro que liga a placa ao reservatório. Assim o nível do conjunto, corpo de prova-placa de pressão, é colocado em altura acima do nível da superfície de água livre no reservatório. Essa altura de coluna de água é calculada de maneira a equivaler a sucção média a ser 88 imposta ao corpo de prova (i.e. altura manométrica entre metade da altura do corpo de prova e a superfície de água no reservatório). Nesse experimentos, foram utilizadas placas de sucção com pedras porosas de 100 kPa. O ambiente do corpo de prova era isolado do ambiente por meio de recipiente plástico com pequeno furo no topo para equalização de pressão. Este recipiente era fechado com papéis plástico e alumínio para evitar evaporação do corpo de prova. Com o objetivo de evitar ao máximo a evaporação de água do corpo de prova, colocou-se, ainda, acima do corpo de prova uma bandeja com algodão umedecido acima do solo. Neste ensaio, o equilíbrio do sistema placa de sucção-corpo de prova é constatado quando há interrupção na saída de água do reservatório. A sucção imposta utilizando-se esse equipamento é de no máximo 30 kPa, devido a limitação de altura no laboratório. Após estabilização da sucção do corpo de prova (equilíbrio do sistema), obtêm-se o volume ( com o uso de paquímetro) e o teor de umidade. O tempo de estabilização foi obtido por meio de pesagem do corpo de prova como sendo de no mínimo 2 dias. Todos os corpos de prova, entretanto, foram deixados no mínimo por 3 dias para estabilização da sucção. 5.4.2 Método de translação de eixo O método da translação de eixo é baseado na imposição de uma pressão de ar maior que a atmosférica, fazendo com que a água da superfície de uma pedra porosa (placa cerâmica) com alta entrada de ar fique com sucção igual à diferença entre a pressão de ar imposta e a pressão da água (atmosférica). Esse método utiliza uma câmara hermeticamente fechada, com entrada superior de ar comprimido e ligada pela sua base a uma bureta com água na pressão atmosférica. Uma placa cerâmica (pedra porosa) colada à base é ligada a bureta com água. A entrada de ar da pedra utilizada nos experimentos é de 500 kPa. A bureta, a princípio, serve para acompanhamento da leitura de água que saí do corpo de prova, entretanto, durante a execução dos ensaios, observou-se aumento do nível de água da bureta com o aumento da umidade ambiente. Além da umidade a variação do nível da bureta foi atribuída à variação da temperatura ambiente. Apesar do ensaio ser feito em ambiente de temperatura controlada, a constante movimentação do laboratório leva a pequenas variações na temperatura desse quarto, provavelmente afetando o ponto de orvalho (condensação de vapor de água para 89 água líquida) de dentro da câmara, por meio da transferência de calor pela parede do recipiente. Ressalta-se, entretanto, que este aspecto não influenciou na sucção imposta no corpo de prova. 5.4.3 Método do papel filtro O método do papel filtro é baseado na capacidade de absorção de água do papel que fica em contato com o solo, após equilíbrio. O estado de equilíbrio fornece a sucção de equilíbrio entre o papel filtro e o corpo de prova, mas com diferentes umidades. O teor de umidade do papel filtro é então obtido. Com uma curva de calibração previamente determinada do papel filtro, o teor de umidade do papel é relacionado a sucção que este está. Esta sucção é a mesma que a do corpo de prova. (e.g. Marinho, 1994a e 1994b; Marinho e Chandler, 1995). O tempo para o equilíbrio de sucção entre o corpo de prova e o papel é, segundo Marinho (1994b), de 7 dias. Após este período, o papel é pesado e a sucção obtida de forma indireta, utilizando-se a curva de calibração do papel. No presente estudo, utilizou-se a curva de calibração proposta por Oliveira (2004). 5.4.4 Curvas de retenção de água das areias Com o objetivo de investigar a capacidade de retenção das areias, foram obtidas as curvas de retenção da areia IPT#100 em diversas compacidades relativas e as curvas de retenção da areia IPT com diferentes distribuições granulométricas (IPT#100, IPT#50 e IPT#16). Na Figura 5.5, estão apresentadas as curvas de retenção da areia IPT#100 para compacidade relativa de 0 (e=emáx=1,000), 0,60 (e=0,821) e 0,85 (e=0,747). Observa-se que aparentemente não houve diferenças entres as curvas. Entretando existem diferenças pequenas entre as curvas devido a variação da porosidade. Essas diferenças podem ser melhor percebidas se for feito o ajuste das curvas de retenção. Com este objetivo, essas curvas de retenção foram ajustadas pelo método de Van Genuchten (1980), estando os resultados mostrados na Figura 5.6. Observa-se nesta figura que a diferença entre a compacidade relativa de 0,60 e 0,85 é praticamente inexistente, enquanto que a diferença entre a compacidade de 0,60 e 0 é um pouco maior. 90 60 50 θ (%) 40 30 20 Areia IPT#100 emáx. Areia IPT#100 C.R. =0.60 Areia IPT#100 C.R. =0.85 10 0 0.01 0.1 1 10 100 Sucção (kPa) Figura 5.5- Curvas de retenção da areia IPT#100 em diferentes compacidades relativas 60 Areia IPT#100 emáx. Areia IPT#100 C.R. =0.60 50 Areia IPT#100 C.R. =0.85 θ (%) 40 30 20 10 0 0.01 0.1 1 10 100 Sucção (kPa) Figura 5.6- Curvas de retenção ajustadas da areia IPT#100 em diferentes compacidades relativas 91 Na Figura 5.7, estão apresentados os dados experimentais das curva de retenção das areias IPT#100, IPT#50 e IPT#16, nas compacidades relativas de 85 %, 66 % e 66%, respectivamente. Observa-se nessas curvas que as diferenças entre elas são mais significativas que as apresentadas na Figura 5.7. Portanto pode-se concluir que o efeito da textura (distribuição granulométrica) das areias é mais relevante nas propriedades de retenção do solo que a compacidade relativa para as areias estudadas. 60 IPT #50 C.R. =0.66 Areia IPT#100 C.R. =0.85 50 Areia IPT#16 C.R. 0.66 θ (%) 40 30 20 10 0 0.01 0.1 1 10 100 Sucção (kPa) Figura 5.7 – Curvas de retenção da areia IPT#100, IPT#50 e IPT#16. 5.4.5 Curvas de retenção de água do gnaisse Para a determinação da CRA do gnaisse compactado, foram moldados quatro corpos de prova: dois pelo método de proctor normal, com teor de umidade ótimo de moldagem; e dois compactados com energia de compactação de 7x10-2 kN/m3. A diferença na energia de compactação visou a verificação da mudança da capacidade de retenção do solo devido à mudança na densidade. As CRA dos diversos corpos de prova foram obtidas por secagem, após umedecimento dos corpos de prova até próximo à saturação (aspersão de água). 92 Os corpos de prova utilizados nos ensaios de proctor normal ,CP-2PNO-1 e CP-2PNO2, foram obtidos a partir do corpo de prova proveniente do ensaio de permeabilidade, CP-2PNO. Estes corpos de prova foram moldados em anéis de adensamento de 7 cm de diâmetro por 2 cm de altura. Durante a moldagem houve secagem dos corpos de prova, assim, foi necessário aspergir os corpos de prova com água para garantir melhor a saturação. A aspersão foi feita utilizando-se os anéis como forma de confinamento lateral do solo. O corpo de prova CP-2PNO-1 foi utilizado para obtenção dos pontos de baixa sucção (método da placa de sucção), enquanto que, para maiores sucções (métodos de translação de eixo e papel filtro), utilizou-se o CP-2PNO-2. Para a determinação da curva de retenção do gnaisse com energia de compactação de 7x10-2 kN/m3, moldaram-se dois corpos de prova CP121-1 e CP121-2 a partir de um corpo de prova maior de 15 cm de altura por 15 cm de diâmetro. Este corpo de prova maior foi compactadado nas mesmas condições e utilizando-se os mesmos procedimentos que o experimento da coluna 3, com densidade de 1,21 g/cm3 e teor de umidade gravimétrico de 23,4 %. A compactação do corpo de prova maior foi feita com soquete fabricado no laboratório de 368,5 g, caindo a uma altura de 20 cm, em 6 camadas e com 36 golpes para cada uma. O corpo de prova CP121-1 foi moldado com anel de aço de 5,1 cm de diâmentro e 2,0 cm de altura. Este corpo de prova foi utilizado para obter sucções pelos métodos de translação de eixo (TE) e pelo métodos do papel filtro (PF). O Corpo de prova CP121-2 foi obtido com 7,1 cm de diâmetro e 2,0 cm de altura. Este corpo de prova foi utilizado nos ensaios na placa de sucção (PS). O umedecimento dos corpos de prova para que houvesse aumento do grau de saturação do solo foi feito por aspersão de água. Na Figura 5.8, estão apresentadas as relações de retenção do gnaisse para a densidade seca de moldagem de 1,21 g/cm3 e de 1,55 g/cm3. Na Figura 5.9, estão apresentadas as curvas de retenção obtidas do Gnaisse para os corpos de prova CP121-E e CP-2PNO. Observa-se que, para sucções maiores que 1500 kPa, as curvas de retenção apresentam mesma tendência. 93 1.500 S (%)=40 50 60 80 70 90 1.300 100 e 1.100 0.900 0.700 S (%) 0.500 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 e= 0.7 0.8 0.9 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Gnaisse CP-2PNO -1(PS) CP-2PNO -2 (TE e PF) CP121-E-1 (TE e PF) CP121-E-2 (PS) W (%) W (%) 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 00 10 10 01 10 02 10 03 10 04 su cção (k Pa) Figura 5.8- Relações de retenção de água do solo residual de gnaisse para CP-2PNO e CP121-E. 94 50 θ (%) 40 30 20 10 0 0.1 CP121-2 (PS) CP121-1 (TE) CP-2PNO-1(PS) CP-2PNO-2 (TE) CP-2PNO-2 (PF) CP121-1 (PF) 1 10 100 Sucção (kPa) 1000 10000 Figura 5.9 – Curvas de retenção do Gnaisse compactado na ótima e estaticamente (CP- 2PNO e CP121). 5.4.6 Ajustes das curvas de retenção de água As Figuras 5.10 e 5.11 mostram os dados obtidos para as areias IPT#50 e IPT#100, para o solo residual de gnaisse, bem como o ajuste por meio de modelos da curva de retenção. Foram feitos ajustes por meio de dois modelos: o de Haverkamp et al (1977) e o de Van Genuchten (1980). O ajuste do modelo de Haverkamp et al. (op. cit.) foi executado visualmente para todos os solos. Para o modelo de Van Genuchten (op. cit.), utilizou-se o método dos mínimos quadrados. Obteve-se uma boa correlação desses modelos com os dados das areias. 95 60 Teor de umidade Volumétrico (%) 50 IPT#100 VG-IPT#100 IPT#50 VG-IPT#50 IPT#16 VG-IPT#16 40 30 20 10 0 0.01 0.1 1 10 100 1000 Sucção (kPa) Figura 5.10 - Curvas de retenção de água obtidas para as areias IPT#100, IPT#50 e IPT#16, ajustadas pelo modelo de Van Genuchten (1980). 60 Teor de umidade Volumétrico (%) 50 40 IPT#100 Hav-IPT#100 IPT#50 Hav-IPT#50 IPT#16 Hav-IPT#16 30 20 10 0 0.01 0.1 1 10 100 1000 10000 Sucção (kPa) Figura 5.11 – Curvas de retenção de água obtidas para as areias IPT#100, IPT#50 e IPT#16, ajustadas pelo modelo de Haverkamp et al. (1977). Nas Figuras 5.12 e 5.13, estão apresentadas as curvas de retenção obtidas a partir dos corpos de prova do ensaio de permeabilidade (CP2-PNO). Os pontos CP2-PNO-1 foram obtidos de um primeiro corpo de prova na placa de sucção, e os pontos CP2-PNO-2 foram obtidos a partir de um segundo corpo de prova pelo método da translação de eixo. Os dados experimentais foram ajustados aos modelos de Van Genuchten (1980) e 96 Haverkamp et al. (1977). Observa-se nas Figuras 5.12 e 5.13 que a curva gerada a partir do modelo de Haverkamp et al. (op. cit.) teve melhor ajuste aos dados experimentais que a curva do modelo de Van Genuchten (op. cit.). 50 Van Ge nuchten (1980) θ (%) 40 30 20 CP-2PNO CP121 10 0 0.1 1 10 100 1000 10000 100000 Sucção (kPa) Figura 5.12- Pontos da curva de retenção de um solo residual de gnaisse obtidas experimentalmente e o ajuste feito para o modelo de Van Genuchten (1980). 50 Haverkampet al. (1977) θ (%) 40 30 20 10 0 0.1 CP-2PNO CP121 1 10 100 1000 10000 Sucção (kPa) Figura 5.13 – Pontos das curvas de retenção de um solo residual de gnaisse obtidas experimentalmente e o ajuste feito para os modelos de Haverkamp et al.(1977). 97 Devido a granulometria grossa apresentada pelo pedrisco, que se pode traduzir como baixa sucção de entrada de ar no solo, a curva de retenção desse material é de difícil obtenção. Como o pedrisco será utilizado como camada que atuará nas condições de contorno como elemento de quebra de continuidade hidráulica e prevenção contra erosão, sua função na barreira capilar como material de retenção será praticamente nula. Assim a curva retenção deste não influenciará de maneira significativa nos ensaios, não sendo necessária para as análises. Na Tabela 5.6, estão apresentados de maneira resumida os parâmetros obtidos por meio dos modelos de Van Genuchten (1980) e Haverkamp et al. (1977). Tabela 5.6 - Parâmetros de entrada para a obtenção da função de permeabilidade. Solos Areia IPT#100 Areia IPT#50 Areia #IPT16 Gnaisse (CP-2PNO) Gnaisse (CP121) Modelo α β Van Genuchten (1980) Haverkamp et al. (1977) Van Genuchten (1980) Haverkamp et al. (1977) Van Genuchten (1980) Haverkamp et al. (1977) Van Genuchten (1980) Haverkamp et al. (1977) Van Genuchten (1980) Haverkamp et al. (1977) 0,2800 kPa-1 3,5000 kPa 0,4800 kPa-1 2,1000 kPa 1,7160 kPa-1 0,5500 kPa 0,0012 kPa-1 1100 kPa 0,0635 kPa-1 275 kPa 6,700 6,500 8,000 8,000 7,991 6,000 2 1,200 1,250 0,65 θr (%) 3,00 3,00 1,00 1,50 1,80 1,00 0,1 1,00 0,10 0,10 θs (%) 41,00 41,00 45,00 45,00 40,00 40,00 43,00 44,00 50,00 50,00 98 6 EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTAÇÃO UTILIZADOS. Este capítulo tem como objetivo apresentar os equipamentos utilizados para instrumentação e montagem das barreiras capilares. Alguns aspectos relevantes à pesquisa, sobre montagem, preparação e calibração dos instrumentos utilizados na monitoração, também são abordados. Para a instrumentação da coluna, foram utilizados tensiômetros, TDR e termômetros. Os termômetros utilizados foram do tipo termissor NTC. Os tensiômetro e o TDR serão abordados nos itens 6.1 e 6.2, respectivamente. Além desses instrumentos também serão abordados aqui: a estrutura utilizada para execução das colunas, item 6.3, montagem de câmara climatizada para controle do nível de evaporação do solo, item 6.4 e fabricação de chuvímetro para a simulação de chuvas, item 6.5. 6.1 MEDIDOR DE SUCÇÃO: TENSIÔMETROS 6.1.1 Descrição do instrumento utilizado Os tensiômetros utilizados nos experimentos foram os mini-tensiômetros fabricados pela Soil Moisture Inc. Esses tensiômetros foram usados em razão da flexibilidade do equipamento (e.g. tamanho da sua pedra porosa) ser adequada para os ensaios de colunas de solos. As principais características do tensiômetros estão apresentadas na Figura 6.1. O tipo de tensiômetro utilizado é constituído de: um tubo principal de acrílico com abertura na parte superior para entrada de água; uma pedra porosa de 0,60 cm de diâmetro externo por 3,00 cm de comprimento; um tubo flexível plástico de 0,32 cm de diâmetro e 180 cm de comprimento que conecta a pedra porosa ao tubo de acrílico; um tubo interno ao tubo flexível, visando facilitar a saída de ar da cavidade da 99 pedra porosa durante a saturação. O tubo interno leva o ar contido na pedra porosa para fora do sistema. A extremidade desse tubo está vedada por meio de um sistema de conexões, anel de vedação e parafuso. O preenchimento do tensiômetro com água é feito pela parte superior, entrando pelo tubo flexível até a água preencher o sistema todo. O parafuso de saída de ar (ver Figura 6.1) é aberto para possibilitar que o ar aprisionado saía do sistema. O preenchimento de água do tensiômetro se dá por completo quando não há observância de saída de ar pelo parafuso. Figura 6.1 – Desenho esquemático dos mini-tensiômetros utilizados para monitoração das colunas de solo (alterado Soil Moisture manual). Na Figura 6.2, está apresentados o tensiômetro (Figura 6.2a e 6.2b), juntamente com o sistema para automação das medidas de dados, incluindo: transdutor de pressão (Figuras 6.2ª e 6.2d), sistema de aquisição de dados (Figura 6.2c) e conversor de sinal (Figura 6.2d). 100 Figura 6.2 – (a) Tensiômetro com “mini” ponta porosa e transdutor; (b) reservatório de reenchimento (c) Sistema de aquisição de dados (d) conversor de voltagem. 6.1.2 Procedimento de saturação e calibração dos tensiômetros Para a melhor saturação e conseqüente resposta na medida de sucção com tensiômetros, Marinho e Chandler (1995) sugerem: 1)o uso de água de-aerada; 2)Água o máximo possível limpa, ou de preferência pura; 3) Superfície de contato com a água deve ser a menor possível para que micro-fendas superficiais com núcleos cavitação (ar) sejam evitadas (escolha do tensiômetro); 4)O sistema deve ser preenchido com água aplicando-se vácuo para que haja a remoção da máxima quantidade de ar possível; 5) Ciclos de pressão positiva devem ser aplicados para a remoção das bolhas persistentes. Baseados nas sugestões desses autores, utilizou-se água destilada de-aerada na saturação dos tensiômetros. Para obter água de-aerada, os seguintes procedimentos foram adotados: 101 • uma quantidade de água destilada suficiente para o preenchimento de dois tensiômetros (1000 cm3) de cada vez foi aquecida até o ponto de ebulição (fervida); • a água ainda quente foi então colocada em um picnômetro, mantendo-se um tempo de preenchimento inferior a 5 minutos; • o ar de dentro do picnômetro foi retirado por meio de aplicação de vácuo; • concomitantemente à aplicação de vácuo, o picnômetro com água foi inserido dentro de um recipiente com água para que houvesse resfriamento do sistema sem reabsorção de ar. A água assim preparada foi utilizada na saturação da pedra porosa e do sistema de tubos, conexões e manômetro. Os procedimentos para a saturação dos tensiômetros foram: • a saturação da pedra porosa foi feita por imersão dessa na água de-aerada, deixando o conjunto no vácuo por duas horas; • a água de-aerada foi transferida para um recipiente com vedação de borracha e bico para a minimização da entrada de ar e facilitação do preenchimento do tensiômetro; • os tensiômetros foram preenchidos pelo topo de maneira lenta e evitando ao máximo a formação de ar durante a colocação da água; • verificou-se a completa remoção do ar, observando-se o tubo para saída de ar do mini-tensiômetro; • o procedimento acima foi executado em tempo inferior a 10 minutos para cada 2 tensiômetros, de modo a evitar a reabsorção de ar; • após o preenchimento do tensiômetro com água de-aerada, o conjunto ainda foi submetido a uma pressão negativa no topo de 60-70 kPa para que houvesse verificação de possíveis núcleos de cavitação dentro dos tensiômetros. Além da saturação dos tensiômetros procedeu-se a calibração dos transdutores que foram acoplados aos tensiômetros. Na figura 6.3a, estão apresentadas as curvas individuais de calibração de cada tensiômetro e a calibração e a original do fabricante. 102 Na Figura 6.3b, estão apresentadas as curvas médias de todos os tensiômetros e a original do fabricante. A curva da Figura 6.3b foi utilizada nos experimentos. Original TT1 TT2 TT3 TT4 TT5 TT6 TT7 TT8 TT9 TT10 TT11 TT12 TT13 TT14 TT15 TT16 100 90 (a) Sucção (kPa) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 100 90 80 Sucção (kPa) Equação de calibração: (b) y=6,432x-25,2387 70 2 R =0.9995 60 50 40 Calibração Ajuste da calibração Original Ajuste Original 30 20 10 0 0 2 4 6 8 10 12 Corrente (mA) 14 16 18 Figura 6.3 – Curvas de calibração dos Transdutores de pressão. 20 103 6.2 MEDIDOR DE UMIDADE VOLUMÉTRICA: TDR Com o objetivo de examinar alguns aspectos concernentes à aplicação do TDR para a obtenção do teor de umidade volumétrico do solo, foram feitos ensaios para obter a curva de calibração e verificar a influência do modo de instalação das guias nos resultados. Utilizaram-se, nos experimentos, a areia IPT#100 e o solo residual de gnaisse caracterizados no Capítulo 5. Ressalta-se que os experimentos com a areia foram feitos para constatação da validade da equação de Topp et al. (1980), pois na literatura é amplamente relatada a validade dessa equação para solos granulares (e.g. Hilhorst et al.; 2000; O’Connor e Dowing; 1999). 6.2.1 Preparação dos solos para os ensaios com o TDR A amostra de areia IPT#100 foi secada ao ar, retirando-se sua umidade higroscópica. A amostra, então, foi colocada em recipiente plástico fechado para evitar a perda de umidade. Depois da determinação da umidade inicial da amostra, o volume adicional de água necessário para a execução de cada ensaio foi cuidadosamente determinado e acrescentado aos corpos de prova de cada ponto ensaiado. O solo de cada corpo de prova foi homogeneizado e novamente colocado separadamente em recipiente fechado para evitar evaporação. Após esse procedimento, obteve-se novamente o teor de umidade do solo de cada corpo de prova. Esse procedimento foi executado imediatamente antes da obtenção de cada valor da constante dielétrica com o TDR, diminuindo com isso as perdas de água. Após cada ensaio, foi obtido o teor de umidade volumétrico de cada corpo de prova em três alturas diferentes (topo, meio e base) do recipiente. Os mesmo procedimentos adotados para a preparação da areia foram seguidos para a preparação da amostra de gnaisse. Entretanto, no caso do gnaisse, a amostra de solo residual foi secada ao ar, homogeneizada e passada na peneira de abertura de malha de 4,8 mm. Após o ajuste do teor de umidade para o valor desejado, o solo foi novamente passado na peneira de malha de 4,8 mm de abertura para melhorar a homogeneização da 104 amostra. O teor de umidade foi então retirado após esse procedimento e o ensaio realizado. 6.2.2 Equipamentos utilizados O equipamento para a determinação da constante dielétrica do solo foi o TDR Trase Sytem (Soil Moisture Co.) com multiplexador. Nos estudos, foram utilizadas guias de onda com três hastes e com comprimentos de 14 cm (WG14) e 20 cm (WG20). As guias de ondas industrializadas são feitas de aço inoxidável e cabo de resina acrílica. As suas hastes possuem espessura de 0,3 cm e a distância entre as hastes é de 2,5 cm. Na Figura 6.4, estão apresentados os equipamentos utilizados em que: a) é o gerador e receptor de ondas, integrados ao sistema de aquisição; b)é o equipamento para conexão de múltiplas guias de onda; c)são as guias de onda de 14 cm (WG14) e 20 cm (WG20) de comprimento. (a) (c) Guias de onda Sistema de aquisição Gerador e receptor de ondas (b) Multiplexador WG14 WG20 Figura 6.4 – (a)Sistema de aquisição, geração e recepção de ondas; (b) Multiplexador; (c) Guias de onda WG14 e WG20. Foram utilizados dois tipos de moldes para os corpos de prova, todos de PVC rígido. Na Tabela 6.1, estão apresentadas as características dos moldes utilizados e o tipo de ensaios realizados com estes moldes. Dois tipos de ensaios foram feitos: os 105 experimentos para a obtenção da curva de calibração e experimentos para verificação de aspectos que poderiam influenciar nos resultados das medições da constante dielétrica. Tabela 6.1– Características dos moldes utilizados. Diâmetro Espessura da parede Altura (cm) (cm) (cm) M1 24,8 0,35 5,0 Verificação M2 14,2 0,40 5,0 Calibração Molde Ensaio 6.2.3 Verificação da influência do contorno A distância mínima entre a ponta das hastes e o contorno do meio foi obtida por Cabral et al. (1999) como sendo de 1 cm. Entretanto, estudos feitos por Pettinelli et al. (2002) mostram que o efeito de ponta das hastes é função do espaçamento e da espessura das hastes. Assim, com o objetivo de avaliar a distância mínima de influência da ponta das hastes utilizadas para o contorno do meio, foram executados ensaios para verificação dessa distância, utilizando-se um recipiente com água à temperatura de 19 oC e a guia WG14. A distância mínima mantida para a lateral do recipiente foi de 2,5 cm. Os dados apresentados na literatura (Tabela 4.1) sugerem que a distância lateral mínima das hastes para o contorno do meio a ser monitorado, sem que haja interferência no ensaio, deva ser de, no mínimo, 2,5cm. Para execução desses ensaios, a distância entre a ponta da guia de onda e o fundo do recipiente com água foi variada. Na Figura 6.5, estão apresentados os resultados da variação da constante dielétrica aparente (Ka) com a distância da ponta da guia para o fundo do recipiente. Verifica-se que a distância necessária para que não haja mudança na obtenção da constante dielétrica é igual à aproximadamente 0,7 cm para o caso estudado. 106 85.5 85.0 84.5 84.0 Ka 83.5 83.0 82.5 82.0 81.5 Água (temperatura 19 oC) 81.0 80.5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Distância ponta da guia-base do recipiente (mm) Figura 6.5 - Variação de Ka com a distância da ponta da guia de onda para o fundo de um recipiente com água. Além dos ensaios com a guia imersa em recipiente com água, realizaram-se ensaios com o objetivo de verificar a existência de interferência na obtenção de Ka para o caso da instalação da pedra porosa (tensiômetros) próxima às hastes da guia de onda. Para a execução desses ensaios, utilizaram-se guias de onda WG20. O solo utilizado no experimento foi a Areia IPT#100. As medidas de Ka foram obtidas com essa guia inserida em areia seca. A areia seca foi escolhida, pois é a situação mais desfavorável para análise conduzida. Colocou-se a areia seca em recipiente plástico de diâmetro de 24 cm e altura de 25,5 cm, seguidamente as hastes da guia foram verticalmente inseridas no solo (sem o cabo). Os valores de Ka foram obtidos em três situações: a)somente a guia inserida na areia seca; b) guia inserida na areia seca com pedra porosa a 1 cm da haste central; c)guia inserida em areia seca com pedra porosa encostada na guia central. A pedra porosa utilizada foi a do tensiômetro, descrito no subitem 6.1.1. As características dos ensaios e os valores obtidos de Ka no solo com a pedra porosa do tensiômetro estão apresentados na Tabela 6.2. Os valores medidos de Ka foram iguais em todas as três situações em que a guia de onda foi inserida na areia. Verifica-se, assim, que não houve diferenças no caso da pedra porosa inserida no solo e encostada a haste do TDR. Os resultados indicam que a proximidade da pedra porosa em relação às hastes e a quantidade de água contida na 107 pedra não são suficientes para influenciar na leitura de Ka com o uso TDR. Portanto a instalação do TDR em conjunto com os tensiômetros pode ser feita sem problemas. Tabela 6.2– Valores de Ka para verificação da interferência da pedra porosa nas proximidades da guia de onda Situações Meio Guia de onda a Areia IPT#50 sem pedra porosa WG20 2,7 b Areia IPT#50 com pedra porosa WG20 2,7 c Areia IPT#50 com pedra porosa WG20 2,7 Localização Ka 6.2.4 Curvas de calibração da areia e do Gnaisse: descrição dos experimentos Para a obtenção dos pontos experimentais da curva de calibração do TDR, utilizou-se o molde M2, descrito na Tabela 6.1, e a guia de onda WG14. Antes de cada ensaio, a massa do conjunto guia de onda-molde era obtida. Cada ponto da curva de calibração representa um corpo de prova. Os pontos dessa curva foram obtidos com a preparação dos corpos de prova em condições controladas de densidade e teor de umidade. A guia de onda foi instalada com suas hastes, mantendo as distâncias de contorno mínimas relatadas no subitem 6.2.3. 108 Os corpos de prova para a obtenção da curva de calibração da areia IPT#100 foram compactados estaticamente. Os corpos de prova foram moldados em 4 camadas de 1,25 cm cada. A quantidade de camadas foi escolhida para melhorar a homogeneização na moldagem dos corpos de prova. Além desse aspecto, também se considerou a necessidade de inserção das hastes a distância lateral mínima de 2,5 cm, conforme item 6.2.3. A segunda camada de cada corpo de prova foi colocada, então, coincidindo com metade da altura do recipiente. A camada era então escarificada. Após a escarificação dessa camada, a guia de onda era inserida através de 3 orifícios previamente executados na parede do recipiente na altura de 2,5 cm do fundo do molde. Seguidamente a colocação e compactação da camada superior de solo eram feitas, juntamente com os valores de Ka. Os corpos de prova para a obtenção da curva de calibração do gnaisse foram também compactados estaticamente. Para densidades inferiores a 1,4 Mg/m3, foram utilizadas duas camadas de 2,5cm cada. Para densidades maiores que 1,4 Mg/m3, foi necessário aumentar o número de camadas em razão da grandeza da energia de compactação. Neste caso, o corpo de prova foi preparado com quatro camadas, tendo a superfície da segunda camada sempre uma altura média de 2,5 cm. A superfície da segunda camada era escarificada e a guia era inserida através dos três orifícios na lateral do molde. Em seguida, as duas camadas superiores eram compactadas e os valores de Ka medidos. Ressalta-se que a calibração objetivou simular a instalação do TDR na forma como o mesmo seria usado em medições posteriores. Com o objetivo de verificar possíveis mudanças na constante dielétrica com o tempo, em alguns casos os corpos de prova foram deixados tampados por mais de 12 horas e os valores de Ka monitorados. Nesses casos, não se constatou nenhuma mudança no valor da constante dielétrica. Após cada ensaio, foi determinada a massa do conjunto guia de onda-molde-solo, e o volume do solo medido. O teor de umidade gravimétrico foi determinado antes do ensaio e ao seu final. As determinações de teor de umidade foram feitas, para verificação da umidade, em 3 pontos do corpo de prova: topo, meio e base. Com as medidas de volume, teor de umidade gravimétrico e massa úmida do solo, obtiveram-se a densidade seca e o teor de umidade volumétrico do ensaio. 109 No caso da areia, a densidade seca (ρd) foi de 1,38 Mg/m3. Moldaram-se 5 corpos de prova em teores de umidade volumétricos de 0,0011 m3/m3, 0,10 m3/m3, 0,20 m3/m3, 0,30 m3/m3 e 0,40 m3/m3. Para o gnaisse, a faixa de variação de ρd foi entre 1,03 e 1,70 Mg/m3. O teor de umidade volumétrico do gnaisse variou de aproximadamente 0,100 a 0,415 m3/m3. Teores de umidade volumétricos abaixo de 0,100 m3/m3 não foram obtidos devido a dificuldades de compactação do solo, seja pela pouca quantidade de água ou pela energia requerida para compactar (maior que a capacidade do equipamento). Alguns pontos obtidos durante a calibração com teores de umidade maiores foram desprezados na obtenção da equação de calibração. Esses pontos apresentavam comportamento visivelmente diferente dos outros devido à formação de agregações. Estas agregações formavam-se durante homogeneização do solo, mesmo passando em peneira de 4,8 mm. Para solos com densidades secas maiores ou iguais a 1,4 Mg/m3, a energia de compactação foi suficiente para haver homogeneidade na distribuição dos grãos nos corpos de prova para faixa de umidade testada. Entretanto, para solo com densidades secas menores que 1,4 Mg/m3, a baixa energia de compactação não foi suficiente para a distribuição uniforme dos grãos. Na Figura 6.6a, estão apresentados os limites máximo e mínimos considerados durante a obtenção dos pontos para calibração em função da densidade seca (ρd) e do teor de umidade volumétrico do solo. No limite máximo apresentado na Figura 6.6a, estão também considerados valores máximos de grau de saturação dos corpos de prova de 95 % para os corpos de prova com densidades maiores que 1,6 Mg/m3. Na Figura 6.6b, está apresentado um corpo de prova moldado com ρd=1,16 Mg/m3 e θ=0,347 m3/m3 em que pode-se observar a não uniformidade na distribuição dos grãos (formação de agregações) devido à alta umidade e baixa densidade. Este corpo de prova foi um dos que apresentaram desvio na tendência da curva de calibração do solo. 110 ρd (Mg/m3) 80% 70% 60% % 100 90% S= S= S= 0% 50% 1.30 S=4 % S = 30 1.40 S= S= 1.50 (b) Linhas de limitação: Mínimo Máximo 1.20 1.10 S= (a) 1.60 0 10 20 30 40 50 θ (%) Figura 6.6 - Limitação da calibração: a) região delimitada para valores válidos de Ka; b) formação de agregação (ρd=1,16 Mg/m3, 0,347 m3/m3). 6.2.5 Efeito da estrutura do solo: descrição dos experimentos Roth et al. (1990) afirmam que a forma da curva de calibração depende de como o campo eletromagnético incide nas partículas de solo, portanto depende da estrutura do solo. Nas curvas de calibração, em geral, o efeito da estrutura está incorporado ao efeito da variação do teor de umidade. No solo estudado, observou-se uma variação na estrutura em função do teor de umidade de compactação (e.g. Oliveira e Marinho, 2004). Com o objetivo de verificar este efeito, executou-se um ensaio para, em conjunto com os dados da calibração, examinar o efeito da mudança de estrutura do solo na constante dielétrica por causa da mudança da umidade de moldagem. Adicionalmente a esse aspecto, o ensaio permitiu a verificação da ocorrência de histerese na relação Ka-θ. Para verificação desses efeitos, compactou-se um corpo de prova estaticamente na umidade ótima, com ρd=1,60 Mg/m3 e θ = 0,370 m3/m3. A execução do ensaio seguiu os mesmos procedimentos de preparação e compactação adotados nos demais corpos de prova da calibração. Após a compactação, permitiu-se a secagem do corpo de prova, deixando-o evaporar pelo topo até o teor de umidade volumétrico de 0,055 m3/m3. Os valores de Ka e a massa total do solo para cada ponto foram obtidos continuamente durante o processo de secagem. Assim, os valores medidos refletem a média de umidade do corpo de prova no momento das medidas. Análises numéricas realizadas 111 com o objetivo de avaliar o perfil de teor de umidade ao longo do corpo de prova indicaram que somente a partir de um teor de umidade médio inferior a 0,120 m3/m3 existe uma diferença de 0,020 m3/m3 entre o valor médio do corpo de prova e o topo. Para um teor de umidade médio inferior a 0,100 m3/m3, a diferença entre o valor médio e a extremidade superior é de 0,050 m3/m3. Desta pôde-se considerar que o perfil de teor de umidade ao longo desse ensaio foi praticamente uniforme. Portanto, o valor medido com o TDR durante a secagem é representativo do teor de umidade no corpo de prova. Após a secagem, o corpo de prova foi umedecido de forma controlada por aspersão de água, vedando-se o topo do recipiente e deixando-se estabilizar durante, no mínimo, dois dias. Seguidamente à estabilização, os valores de Ka e a massa do solo eram medidos. 6.2.6 Verificação do efeito do comprimento e inserção das guias de onda: descrição dos experimentos Com o objetivo de avaliar o efeito do comprimento das hastes nas medidas de Ka no solo residual, foram feitos ensaios medindo-se a constante dielétrica do solo com as guias WG14 e WG20. Adicionalmente a estes estudos, a influência da inserção das hastes da guia no solo foi verificada. Os ensaios para verificação do efeito do comprimento de inserção da haste tiveram como objetivo verificar como este aspecto afeta a relação Ka-θ. Os ensaios foram executados com as guias WG14 e WG20, no molde M1. Todos os corpos de prova foram moldados em duas camadas, com ρd e θ variando entre 1,37 Mg/m3 e 1,45 Mg/m3 e 0,149 m3/m3 e 0,370 m3/m3, respectivamente. A preparação do solo e a colocação no molde seguiram os mesmos procedimentos dos ensaios de calibração. Foram também executados ensaios para verificar possíveis diferenças entre valores de Ka obtidos com a haste inserida no solo sem e com o cabo de conexão dentro da massa 112 do solo. A única diferença no procedimento de ensaio usando-se a guia enterrada com o cabo foi na maneira de colocar a guia no solo. Após a compactação da primeira camada, o solo foi escarificado e a guia (incluindo o cabo) colocada sobre a camada. O cabo coaxial saía do solo através de um orifício na parede do recipiente. Esse orifício era vedado com massa de vedação para evitar perda de água e só então a segunda camada era compactada. Foram realizadas 6 séries de ensaios em que se variaram o comprimento da haste, o teor de umidade e a densidade. Nas séries com a guia WG20 (séries 1, 3 e 5) as hastes foram compactadas junto com o solo. Para a execução das séries que utilizaram a guia WG14 (séries 2, 4 e 6), os mesmos corpos de prova das séries 1, 3 e 5 foram utilizados. Em cada ensaio, as hastes eram gradualmente retiradas do solo, medindo-se o Ka. Durante os primeiros ensaios, observaram-se possíveis efeitos de contatos devido à inserção da guia WG14 no lugar da WG20. Assim, para verificação do efeito de contato na leitura de Ka e após cada série, a guia WG20 foi completamente retirada do solo e reinserida. 6.2.7 Efeito da compactação no contato haste-solo: descrição dos experimentos Com o objetivo de verificar a influência do comprimento de inserção das hastes da guia de onda no solo residual, executaram-se experimentos com as guias enterradas no solo e parcialmente enterradas (hastes parcialmente no solo). Nesses ensaios, utilizaram-se o molde M1 e as guias WG14 e WG20. O solo foi compactado de 2 maneiras diferentes: a) compactação “mista” (CM); b) compactação “única” (CU). O primeiro método utilizou compactação dinâmica (soquete) e estática. O segundo método utilizou compactação estática. No método da compactação “mista”, utilizou-se um disco menor e um soquete para compactar o solo, como mostrado na Figura 6.7. O soquete (Figura 6.7a) foi utilizado para compactar a primeira camada de solo, enquanto que o disco menor (Figuras 6.7b e 6.7c) foi utilizado no restante da compactação. Na Figura 6.7d, está apresentado o corpo de prova após compactação. Observa-se que o solo aparentemente está homogêneo, entretanto este corpo de prova apresentou problemas na determinação de Ka, conforme 113 mostra a Figura 6.8. Nesta figura, podem-se observar os vazios deixados pelo método de compactação ao redor da haste do solo. Figura 6.7 – Método de compactação “mista” utilizado para verificação do efeito de contato. Portanto esse método resultou em mau-contado das hastes com o solo, principalmente para teores de umidade volumétrica altos, como se verifica na Figura 6.8. Esse maucontado entre o solo e a haste é fruto da pequena diferença de nível constatada entre o solo próximo às bordas do recipiente e o do centro quando a haste foi colocada no solo. A diferença de nível foi gerada em razão de uma maior compactação do centro do corpo de prova em relação às bordas, quando se utilizou o disco menor. Esta diferença levou ao aumento da quantidade de ar ao redor da haste, conseqüentemente a menores valores da constante dielétrica, como apresentado no item 6.2.14. 114 Figura 6.8 – Falha de contado haste-solo devido a “má” compactação. A compactação “única” utilizou um disco de diâmetro aproximadamente igual ao do molde M1. Na Figura 6.9a, está mostrado o disco utilizado para o método de compactação “única”. Na Figura 6.9b, está apresentado o corpo de prova após compactação. Figura 6.9 – Método de compactação “única”. Não se constatou diferenças significativas no contato haste-solo para este método. Na Figura 6.10, estão apresentadas as hastes inseridas no solo, mostrando o contado obtido com esse método. Observa-se comparando o contato haste-solo da Figura 6.8 com a Figura 6.10 que existe uma melhor distribuição de solo ao redor das hastes na última figura, propiciando assim valores de Ka mais confiáveis. 115 Figura 6.10 – Contado haste-solo sem presença de vazios para método de compactação “mista”. 6.2.8 Resultados da curva de calibração da areia Na Figura 6.11, estão apresentados os pontos obtidos para a calibração da areia IPT#100 em conjunto com a curva de calibração proposta por Topp et al. (1980). Verifica-se pela Figura 6.11 que a calibração da areia foi a mesma calibração achada por Topp et. al. (op. cit.). Assim a curva de calibração utilizada para obter os dados de teor de umidade volumétrico das camadas de areias no monitoramento das barreiras capilares foi a equação proposta por Topp. et al. (op. cit.). 116 30 Topp et al. (1980) Areia IP T#100 25 Ka 20 15 10 5 0 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35 0.40 θ (m3/m3) Figura 6.11 – Curva de calibração da areia, juntamente com a proposta por Topp et al. (1980). 6.2.9 Resultados da curva de calibração do gnaisse Na Figura 6.12, estão apresentados os dados experimentais obtidos do gnaisse, juntamente com a relação determinada entre a constante dielétrica aparente do solo e o teor de umidade volumétrico para diversas densidades. 30 25 1.57 1.66 1.59 1.66 1.41 1.53 1.45 Ka 20 ρd (Mg/m3) 15 1.22 1.17 1.65 1.67 10 5 1.39 1.7 1.67 1.68 1.7 1.6 1.4 1.2 1.33 1.21 1.4 1.23 1.11 1.61 1.4 1.22 1.4 1.43 1.4 1.22 1.11 1.16 1.12 0.95 1.11 1.11 0 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35 0.40 θ (m3/m3) Figura 6.12 - Dados de calibração do TDR e ajuste aos dados experimentais levando em conta a densidade seca (ρd). 117 Os valores ao lado dos pontos experimentais são as densidades secas. A análise dos dados indica que existe uma dependência da densidade na relação Ka versus θ. Observase que a constante dielétrica diminui com a diminuição da densidade seca. Verifica-se que, para valores de densidade em torno de 1 Mg/m3 e umidades maiores que 0,300 m3/m3 existe maior dispersão nos resultados. Nesses pontos, observou-se a formação de agregações durante a homogeneização do solo para compactação. Nesses corpos de prova, as agregações não eram desfeitas em razão da baixa energia de compactação (baixa densidade e alta umidade). Como conseqüência, o solo não ficava homogêneo, havendo a presença de grandes vazios preenchidos por ar entre agregações. Estes vazios, quando em contato com as hastes da guia de onda, fazem com que as medidas de Ka sejam subestimadas. Os estudos de Miyamoto et al. (2003) sobre o efeito da distribuição granulométrica na curva de calibração de um solo de cinzas vulcânicas corroboram com estes resultados. Topp e Davis (1985) também indicam que o efeito do ar aprisionado em volta das hastes pode ser significativo na estimativa da relação Ka-θ. A partir dos resultados obtidos nos ensaios de calibração, foi determinada uma equação de calibração para o TDR, utilizando-se regressão. A função obtida relaciona a constante dielétrica aparente do solo, o teor de umidade volumétrico (em porcentagem) e a densidade seca (ρd). A seguinte função exponencial relacionando Ka com θ foi obtida: K a = 1 θ (aK a ) × b ou θ = log b a (6.1) As regressões exponenciais foram obtidas a partir dos experimentos apresentados na Figura 6.12. A variação do parâmetro a e do b são função da densidade do solo e estão apresentados na Figura 6.13. Observa-se, na Figura 6.13, que o parâmetro “a” varia de forma não linear (polinomial) com a densidade seca do solo e o “b” varia linearmente para a faixa medida. 118 1.06 ka=abθ 1.05 Parâmetro b 5.0 1.04 4.0 1.03 1.8 1.7 1.6 1.5 1.00 1.0 1.1 1.0 1.01 1.4 2.0 ka=abθ 1.3 1.02 1.2 3.0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 Parâmetro a 6.0 ρd (g/cm3) ρd (g/cm3) Figura 6.13 – Variação dos parâmetros de ajuste da curva de calibração de gnaisse com a densidade. Em que: ( a = 1 − 0,7 ρ d + 0,133ρ d2 ) (6.2) b = 1,09 − 0,03ρ d (6.3) Substituindo-se a e b na Equação 6.1, obtém-se: Ka = θ= 1 1 − 0.7 ρ d + 0.133ρ d [ ( 2 ⋅ (1.09 − 0.03ρ d )θ ou log K a 1 − 0.7 ρ d + 0.133ρ d 2 log(1.09 − 0.03ρ d ) )] (6.4) Na Figura 6.12, estão indicadas as curvas ajustadas para diversas densidades. Esta equação permite a determinação do teor de umidade volumétrico para uma determinada densidade seca quando se mede a constante dielétrica com o TDR. Extrapolando-se o valor de Ka para um teor de umidade igual a zero, observa-se o efeito da densidade na constante dielétrica para o tipo de solo ensaiado. 119 Os dados de calibração e a própria curva de calibração proposta foram comparadas tanto com equações empíricas e semi-empíricas (e.g. Topp et al., 1980; Skierucha e Malicki, 2002, Roth et al., 1990), como com equações teóricas (e.g. Dobson et al., 1985). Na Figura 6.14, estão apresentados os dados experimentais obtidos para os ensaios de calibração com densidade igual a 1,7 Mg/m3, juntamente com curvas e modelos da literatura. Os parâmetros utilizados nos diversos modelos estão indicados na Tabela 6.3. O valor de θbw necessário ao modelo I de Dobson et al. (1985) (Equação 4.3, item 4.2) foi obtido a partir da curva de retenção do solo (subitem 5.4). O valor de Kbw utilizado foi de 35, entretanto, variou-se este valor entre 3 (gelo) e 40, não se obtendo resultados melhores que os mostrados na Figura 6.14. Tabela 6.3– Parâmetros utilizados nos modelos. Referência Ks Dobson et al. (1985) - I 4,88 Dobson et al. (1985) II Roth et al., (1990) θ m3/m3 0,01 Kw Kar Kbw α 81,5 1,0 35 4,88 - - - - 5,5 - - - - β - 0,650,5 0,5 Equação - 4.3 1,077 4.5 - 4.7 120 30 25 Ka 20 Dens. 1.7 Mg/m3 Calibração T opp et al. (1980) Dobson et al. (1985) - I Dobson et al. (1985) - II, alfa=0.5 Dobson et al. (1985) - II, alfa=0.65 Roth et al (1990) - alfa=0.5 Skierucha e Malicki (2002) 15 10 5 0 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35 0.40 θ (m3/m3) Figura 6.14 – Comparação entre modelos e equações da literatura e a calibração proposta. Dentre os modelos obtidos na literatura, aquele que melhor representou o comportamento do solo foi o modelo Dobson II (Equação 4.5, item 4.2), proposto por Dobson et al. (1985). Na Figura 6.15, têm-se as curvas de calibração obtidas para uma densidade seca de 1,7 Mg/m3 e 1,2 Mg/m3, juntamente com o modelo Dobson II. No modelo de Dobson et al. (op. cit.), foram adotados os parâmetros apresentados na Tabela 6.3. Os valores de b foram obtidos a partir da Equação proposta por estes autores (Equação 4.6). Na Figura 6.15, os dados experimentais para as duas densidades mencionadas anteriormente também estão apresentados. Observa-se na Figura 6.15a que, para um valor de α de 0,65, o modelo Dobson II resultou em melhor ajuste aos dados experimentais (ρd=1,7Mg/m3) que para um valor de 0,50. No caso da densidade de 1,2Mg/m3, obteve-se um melhor ajuste utilizando-se α de 0,50, como se observa na Figura 6.15b. Portanto, para o solo estudado há uma variação de α com a variação da densidade. Ressalta-se ainda que, nos modelos de Dobson et al (1985), o valor de Ks é obtido por meio da Equação 4.4. Verifica-se que o valor de Ks obtido do modelo é inferior ao observado. Constata-se, desta forma, que nenhum dos modelos propostos na literatura representou adequadamente o comportamento do solo estudado. 121 Dens. 1.7 Mg/m3 Calibração Dobson et al. (1985) - II, alfa=0.5 Dobson et al. (1985) - II, alfa=0.65 Dens. 1.2 Mg/m3 Calibação Dobson et al. (1985) - II, alfa=0.5 Dobson et al. (1985) - II, alfa=0.65 30 (a) 25 Ka 20 (b) ρ =1,7 Mg/m3 d ρ =1,2 Mg/m3 d 15 10 0.40 0.35 0.30 0.25 0.20 0.15 0.10 0.05 0.40 0.35 0.00 θ (m3/m3) 0.30 0.25 0.20 0.15 0.10 0.05 0 0.00 5 θ (m3/m3) Figura 6.15 - Comparação entre dados experimentais, calibração obtida e modelos propostos por Dobson et al. (1985):a) ρd=1,7 Mg/m3 e b) ρd=1,2 Mg/m3. Para a avaliação da curva de calibração, os dados experimentais, juntamente com a relação aqui obtida (Equação 6.4) para as densidades de 1,7 Mg/m3 e 1,2 Mg/m3, a curva de calibração de Topp et al. (1980) e os dados experimentais de dois solos tropicais (e.g. Souza et al., 2001; Dirksen e Dasberg, 1993) estão apresentados na Figura 6.16. O solo estudado por Souza et al. (2001) é um solo argiloso laterítico vermelho (ALV) da região de Campinas, São Paulo. Os dados apresentados foram obtidos em ensaios de campo e laboratório (amostras deformadas), onde a densidade do solo ensaiado foi de 1,24 Mg/m3. No trabalho de Dirksen e Dasberg (1993), dentre os vários solos estudados, há um solo residual tropical laterizado (RL). Os dados experimentais foram obtidos por estes autores a partir de vários corpos de prova, com variação de densidade seca de 1,13 Mg/m3 a 1,34 Mg/m3. Observa-se na Figura 6.16 que os dados experimentais do solo RL estão fora da faixa compreendida pelas curvas de calibração para valores maiores que 0,17 m3/m3. Os dados do solo ALV podem ser divididos em duas séries. Uma feita em laboratório e outra obtida em campo. Observa-se uma clara distinção entre estas duas séries. Os ensaios de laboratório coincidem com a curva de calibração obtida para uma densidade de 1,2 Mg/m3. Enquanto os dados obtidos no campo afastam-se deste 122 valor, ficando próximos da curva correspondente a uma densidade de 1,7Mg/m3. Ressalta-se, entretanto, que os valores de densidade de campo obtidos pelos autores foram estimados. Em todos os casos os solos tropicais apresentaram comportamento bem distinto da curva de calibração proposta por Topp et al. (1980). 30 Calibação (1,7 Mg/m3) Calibação (1,2 Mg/m3) T opp et al. (1980) Gnaisse, dens. 1,2 Mg/m3 Gnaisse, dens. 1,7 Mg/m3 ALV - Lab. (1,24 Mg/m3) ALV - Camp. (1,24 Mg/m3) RL (1,13-1,34 Mg/m3) 25 Ka 20 15 10 0.40 0.35 0.30 0.25 0.20 0.15 0.10 0.05 0 0.00 5 θ (m3/m3) Figura 6.16 – Análise comparativa de dados experimentais em solos tropicais. Os resultados dos experimentos mostram que a densidade do solo afeta significativamente a constante dielétrica e, em conseqüência, a curva de calibração do TDR. A variação da constante dielétrica com o teor de umidade do solo é dependente das diferenças das constantes dielétricas de cada fase (ar, água e minerais), ou seja, depende da fração de volume de cada fase no solo. Assim, sabendo-se que a constante dielétrica (Ks) da maioria dos minerais que compõem o solo varia entre 3 e 6 (e.g. Topp et al., 1980; Wang e Schmugge, 1980; Topp e Davis, 1985; Dirksen e Dasberg, 1993; Robinson e Friedman, 2003; Robinson, 2004), a constante dielétrica do ar é 1 e a da água a 20 oC vale 81,5 (Topp et al., 1980), pode-se concluir que o efeito da densidade seja maior para valores menores de teor de umidade. Para maiores teores de umidade volumétricos, existe maior influência da fração de água no valor de Ka, enquanto que para menores teores de umidade as partículas do solo passam a ter maior influência. 123 As comparações dos resultados obtidos com os modelos apresentados na literatura, juntamente com a curva de calibração proposta, demonstram que nenhum desses modelos representa adequadamente o comportamento do solo estudado. A equação de Topp et al. (1980), amplamente utilizada, não é representativa do comportamento de muitos solos tropicais. A diferença encontrada entre a curva de calibração proposta e a equação de Topp et al. (1980) (Figura 6.14) pode ser atribuída principalmente aos minerais constituintes do solo estudado. Corroborando esta afirmação estão as pesquisas de Tommaselli e Bacchi (2001), estudando solos tropicais, que indicam haver influência do teor de óxido de ferro na curva de calibração do TDR. Segundo Dirksen e Dasberg (1993), solos contendo hidróxido de alumínio (gipsita) como principal constituinte apresentam constantes dielétricas similares às de óxidos metálicos, ou seja, Ks em torno de 15. Os solos residuais tropicais, devido ao processo de intemperismo, sofrem alterações dos minerais, levando a uma elevada concentração de óxidos de alumínio e ferro hidratado. Assim, dependendo do grau de intemperismo sofrido pelo solo, a constante dielétrica para as partículas sólidas poderia, teoricamente, variar entre 3 e 18 (hematita). O solo residual de gnaisse estudado aqui apresenta uma grande quantidade de óxido de ferro (cor avermelhada do solo) e de óxido de alumínio (gipsita, na forma de muscovita) (e.g. Oliveira, 2004). Portanto, este solo deve ter um valor alto da constante dielétrica das partículas sólidas. Este valor poderia ser estimado a partir da Equação 6.4, substituindo-se o valor da densidade seca pelo valor da densidade dos grãos e igualando-se θ a zero. Esta estimativa resulta em um valor de Ks de 12,37, similar às constantes de óxidos metálicos. Valores de Ks= 18 e 16 foram obtidos por Dirksen e Dasberg (1993) em retroanálises dos dados de TDR de dois solos tropicais, contendo óxidos de ferro. Assim, com base nesses aspectos, podem-se explicar as diferenças observadas entre as curvas de calibração de Topp et al. (1980) e a curva aqui proposta. Como a fração mineral do solo influencia mais os valores da constante dielétrica do solo em teores de umidade baixos, as diferenças entre as duas curvas deveriam mesmo ser maiores para densidades maiores e para teores de umidades menores, conforme observado. Outro aspecto que pode influenciar nas diferenças obtidas é a água adsorvida. Estudos de Wang e Schmugge (1980), Dobson et al. (1985) e Dirksen e Dasberg (1993) indicam que a água adsorvida influencia na obtenção da curva de calibração dos solos. 124 6.2.10 Resultados do efeito da estrutura do solo na relação Ka -θ. Na Figura 6.17, estão apresentados os resultados obtidos durante o processo de secagem e umedecimento, descrito no item 6.2.5, para verificação de efeito da umidade de moldagem e histerese. O corpo de prova utilizado nos ensaios foi moldado com densidade seca de 1,6 Mg/m3 e teor de umidade volumétrico de 0,37 m3/m3. Na Figura 6.17, estão também apresentados os dados das curvas de calibração (Equação 6.4) para as densidades de 1,6 Mg/m3 e 1,7 Mg/m3. Observa-se, na Figura 6.17, que não há diferença significativa entre as calibrações utilizando-se o processo de secagem e umedecimento para o solo estudado. Portanto, para este caso, não há efeito de histerese. Observa-se também na Figura 6.17 que as curvas de umedecimento e secagem seguiram a mesma trajetória das curvas obtidas com a Equação 6.4, porém, com pequenas diferenças de no máximo 0,02 m3/m3. Essas diferenças estão dentro da precisão dos ensaios utilizando-se o TDR (e.g. Topp et al., 1980), sendo também observadas nos próprios dados da calibração. Portanto, caso haja algum efeito da umidade de moldagem dos corpos de prova na forma da curva de calibração, conforme sugerido por Roth et al (1990), este efeito não foi significativo para o estudo. 30 1,60 Mg/m3 (secagem) 1,60 Mg/m3 (umedecendo) 25 Ka 20 15 10 0.40 0.35 0.30 0.25 0.20 0.15 0.10 0.05 0 1.7 1.6 0.00 5 θ (m3/m3) Figura 6.17 – Dados da secagem e umedecimento de uma única amostra comparados com a curva de calibração obtida. 125 6.2.11 Resultados do efeito do comprimento de haste. Na Figura 6.18, estão apresentados os dados dos ensaios de verificação do efeito do comprimento de haste na curva de calibração do solo estudado para densidade de 1,4 Mg/m3. A nomenclatura utilizada, bem como as características dos pontos, estão apresentadas no item 6.2.6. Os pontos em que só as hastes das guia de onda estão inseridas no solo foram obtidos com o cabo encostado na parte externa do recipiente. Verificou-se também se a variação da umidade influenciaria o ensaio. Os resultados indicam que não há diferença entre os valores de Ka obtidos com a guia de 14 cm ou com a guia de 20 cm de comprimento para nenhuma das umidades estudadas. 30 25 Ka 20 Calibação (1,4 Mg/m3) Dados Calibração (WG14) série 1 (WG20) série 5 (WG20) série 6 (WG14) WG20 c/cabo WG20 c/cabo 1.41 1.4 1.37 1.38 1.45 15 10 5 1.43 1.4 1.39 1.4 1.4 1.4 1.39 0 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35 0.40 θ (m3/m3) Figura 6.18 - Efeito do comprimento de haste na calibração do TDR: comparação entre guias de onda de 20 e 14 cm de comprimento. 6.2.12 Resultados do efeito do comprimento de inserção das hastes no solo. O objetivo deste estudo foi verificar qual é a influência do comprimento de inserção nos valores de Ka medidos. Assim pode-se verificar se existia diferença na calibração feita com a haste parcialmente inserida no solo e enterrada, bem como até que ponto essa 126 possível diferença interferiria nos experimentos com colunas.Os resultados apresentados foram obtidos com duas amostras com densidade de aproximadamente 1,40 Mg/m3 e 1,45 Mg/m3 teores de umidade volumétricos de 0,15 m3/m3, 0,36 m3/m3 e 0,37 m3/m3. Conforme descrito no item 6.2.6, também foram feitos ensaios para verificação da influência da introdução da guia de onda com cabo de fixação das hastes no solo compactado. Os resultados dos ensaios para verificação do efeito do comprimento de hastes no solo estão apresentados na Figura 6.19. Como pode ser verificado pela Equação 4.1, Ka varia com o quadrado do comprimento da haste. Assim optou-se por apresentar na Figura 6.16 como Ka varia com a variação do quadrado do comprimento de inserção normalizado (LN), definido aqui como a razão entre o comprimento de inserção da haste no solo (Li) pelo comprimento total da haste (L). Na Figura 6.19, são apresentados os dados da série 1, 2, 5, e 6. A série 3 e 4 não foram apresentadas, devido à constatação de problema de compactação durante o ensaio. Observa-se na Figura 6.19 que quanto maior o teor de umidade maior a influência do comprimento de inserção das hastes no solo. Para valores de LN igual a 0,97, a diferença encontrada não foi significativa, ficando dentro da precisão do ensaio. Os resultados indicam ainda que existe uma consistente correlação entre Ka e LN na forma polinomial de: ( L )2 + a2 (Li L)4 K a = a0 + a1 Li (6.5) Em que a2 e a1 são função da densidade e do teor de umidade do solo; e a0 é igual a constante dielétrica do ar, pois para que Li/L seja igual a zero é necessária que a guia esteja fora do solo, no ar. Na Tabela 6.4, estão apresentados os valores de a0, a1 e a2 obtidos para as séries 1, 2, 5 e 6. 127 30 Série 1 (0,359 m3/m3; 1,38 Mg/m3) Série 2 (0,359 m3/m3; 1,38 Mg/m3) Série 3 (0,358 m3/m3; 1,45 Mg/m3) WG 20 c/cabo (0,371 m3/m3; 1,44 Mg/m3) Série 5 (0,149 m3/m3; 1,39 Mg/m3) Série 6 (0,149 m3/m3; 1,39 Mg/m3) 25 Ka 20 15 10 5 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 (Li/L)2 1 Figura 6.19 – Variação de Ka em função do segmento de haste inserido no solo para diferentes densidades e umidades. Tabela 6.4– Relação entre Ka e o comprimento de inserção da haste no solo. Ka=a0+a1x+a2x2, em que x=(Li/L)2; a0=Kar=1; a1= f(θ, ρd); a2= g(θ, ρd) ρd θ Nomenclatura a0 a1 m3/m3 Mg/m3 Série 1 0,3589 1,38 1 26,15 Série 2 0,3589 1,38 1 23,65 Série 5 0,1491 1,39 1 8,15 Série 6 0,1491 1,39 1 8,25 a2 -8,00 -7,00 -2,57 -3,47 6.2.13 Resultados do efeito da interação da haste com o solo. Na Figura 6.20, estão apresentados os resultados mostrados na Figura 6.18, acrescidos de outros dados obtidos com a inserção da haste de 14cm após a total retirada da haste de 20cm. Neste caso, o efeito do contato mencionado anteriormente é majorado. Na Figura 6.20, podem-se observar dois pontos relativos à “recompactação” do solo (o solo foi estaticamente pressionado). Estes dois pontos foram obtidos com o objetivo de reduzir o efeito do contato e mostram que o valor de Ka retorna ao valor “original” quando é feita uma “recompactação”. 128 Observa-se na Figura 6.20 que o efeito do contato é menor para teores de umidade menores. Observa-se também nessa figura que as curvas se mostraram paralelas para um mesmo teor de umidade. Portanto, o efeito do contato para os dois teores de umidade estudados é independente (constante) do comprimento de inserção. 30 25 "recompactados" Ka 20 Série 5 (0,149 m 3/m 3; 1,39 Mg/m 3) Série 6 (0,149 m 3/m 3; 1,39 Mg/m 3) Série 3 (0,358 m 3/m 3; 1,45 Mg/m 3) Série 4 (0,358 m 3/m 3; 1,45 Mg/m 3) Série 4 recom pactado (0,358 m 3/m 3; 1,45 Mg/m 3) Série 6 recom pactado (0,149 m 3/m 3; 1,39 Mg/m 3) WG 20 c/cabo (0,371 m 3/m 3; 1,44 Mg/m 3) 15 Efeito de cont at o 10 WG20 série 5 5 WG14 série6 0 0 WG20 série 3 WG14 série 4 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Comprimento de haste para fora do solo (mm) 100 Figura 6.20 - Variação de Ka com o comprimento inserido no solo para as hastes de 20cm e de 14cm (efeito do contato e da inserção). Verificando-se, ainda, o efeito da inserção da guia de onda no solo, as variações de Ka com número de reinserções da guia WG20 para as séries 1,3 e 5 estão apresentadas na Figura 6.21. Observa-se que há pequena diminuição do valor de Ka na primeira reinserção em relação ao valor de Ka quando a guia é compactada junto com o solo (número de reinserções igual a zero). Após a primeira reinserção, a variação de Ka diminui. Essa variação também diminui na mesma proporção para todos os teores de umidade, como pode ser observado na Figura 6.21. 129 19.0 17.0 Ka 15.0 13.0 11.0 Série 5 (0,149 m3/m3; 1,39 Mg/m3) Série 3 (0,358 m3/m3; 1,45 Mg/m3) Série 1 (0,359 m3/m3; 1,38 Mg/m3) 9.0 7.0 5.0 3.0 0 1 2 Número de reinserções Figura 6.21 – Variação de Ka com o número de reinserções da guia de onda no solo. Durante os ensaios para verificação do efeito de inserção, constatou-se que existe um importante efeito de contato do solo com as hastes, indicando a importância da estrutura de solo ao redor das hastes. Esse efeito é maior quanto maior for o teor de umidade volumétrico do solo. Os estudos de Rothe et al. (1997) sobre mudanças causadas na estrutura do solo devido à instalação de guias de onda do TDR, também mostram a importância do solo ao redor da haste utilizando-se método de cravação da haste no solo. Portanto, a técnica de instalação das guias de onda deve ser considerada na calibração, pois esta afeta as medidas de Ka. 6.2.14 Resultados do efeito da compactação no contato haste-solo. Na Figura 6.22, estão apresentados os resultados de corpos de prova em que foram observados vazios ao redor das hastes devido à “má” compactação, conforme descrito no item 6.2.7. Na Figura 6.22a, verifica-se que as séries 1 e 3, executadas com guias WG20, têm valores bastante próximos de θ e de ρd, mas ainda assim existem entre elas diferenças significativas dos valores de Ka encontrados. Essas diferenças foram constatadas ser o efeito do contato devido à “má” qualidade da compactação do corpo de prova da série 3. Essa série foi compactada utilizando-se uma compactação mista (CM), conforme descrito no subitem 6.2.7. Esse procedimento levou a uma 130 compactação da primeira camada um pouco maior no centro do corpo de prova que nas extremidades. Essa compactação de “má” qualidade fez com que a guia não ficasse completamente encostada no solo, levando à ocorrência de vazios preenchidos com ar. A presença de “bolsões” de ar foi confirmada ao final dos ensaios por meio da cuidadosa retirada da camada de solo superficial. Na Figura 6.22b, estão apresentados os dados das séries 1, 3, 4, 5 e 6 em conjunto com a curva de calibração para densidade de 1,4 Mg/m3. Nesta figura fica mais clara a diferença em relação à curva de calibração devido ao contato da haste com o solo para os pontos iniciais das séries. Os números mostrados junto aos pontos são as densidades de cada ensaio. Verifica-se pela Figura 6.22b que o efeito devido à má qualidade da compactação é maior para teores de umidade maiores. Este efeito subestima o valor da constante dielétrica aparente do solo. Assim a qualidade de compactação também é outro aspecto importante durante a calibração. Constatou-se que a má qualidade da compactação pode levar a diferenças significativas de Ka e, conseqüentemente, a valores errôneos do teor de umidade volumétrico do solo. 131 30 (a) Série 1 (0,359 m3/m3; 1,38 Mg/m3) Série 3 (0,358 m3/m3; 1,45 Mg/m3) WG 20 c/cabo (0,371 m3/m3; 1,44 Mg/m3) Série 4 recompactado (0,358 m3/m3; 1,45 Mg/m3) 25 Ka 20 Efeito do cont at o devido à má qualidade na compactação 15 série 3 10 5 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 (Li/L)2 30 25 Ka 20 15 (b) Calibação (1,4 Mg/m3) WG20 (CU) série 1 WG20 c/cabo (CM) série 3 WG20 (CM) série 3 WG14 (CM) série 4 WG20 (CM) série 5 WG14 (CM) série 6 WG20 c/cabo (CU) WG20 (CU) 1.4 1.38 1.37 1.45 1.44 1.45 10 5 1.39 1.39 0 0.00 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.30 0.35 0.40 θ (m3/m3) Figura 6.22 – Efeito do contato entre as hastes e o solo devido à qualidade da compactação; (c) comparação com a curva de calibração. 6.3 COLUNAS: MOLDES E ESTRUTURA As colunas de laboratório foram montadas em segmentos de PVC rígido de 15 cm de diâmetro interno. Para melhor execução e maior facilidade de obtenção do teor de umidade do solo nas diversas camadas, optou-se por fazer os segmentos das colunas de 132 alturas diferentes. As colunas, então, foram feitas com segmentos de tubo PVC rígido de alturas de 10, 15 e 30 cm. Na Figura 6.23, estão mostradas as características dos segmentos das colunas. Todas as peças possuem no topo e na base placas de PVC para conexão e vedação entre elas. A vedação é feita com anéis de borracha (o-rings) que são pressionados por meio de parafusos contra as placas de PVC, obtendo-se assim uma perfeita estanquidade. Este tipo de sistema desenvolvido no Laboratório de Mecânica dos Solos da Escola Politécnica da USP (e. g. Marinho e Pinto, 2002) apresentou boa eficiência para execução dos ensaios. Figura 6.23 – Segmentos de colunas de 10, 15 e 30 cm de altura. As colunas de laboratório foram instaladas em estrutura metálica desenvolvida para essa finalidade. A estrutura foi projetada de maneira a apresentar boa rigidez e pouca vibração, diminuindo as interferências durante a montagem e o ensaio das colunas. Na base dessa estrutura ainda foram feitos drenos para coleta da água percolada pelas colunas. Na Figura 6.24, está apresentado um desenho da estrutura metálica que serviu de suporte para montagem das colunas de solos (descritas no capítulo 8). Essa estrutura ainda serviu de suporte para os equipamentos e instrumentos utilizados na monitoração das barreiras. 133 Figura 6.24 – Desenho da estrutura de suporte das colunas. 6.4 CAIXA DE EVAPORAÇÃO INSTRUMENTADA Para simular condições de evaporação controlada, utilizou-se uma caixa climatizada com desumidificador, e contendo medidor de umidade e temperatura em seu interior. A caixa climatizada foi confeccionada em camada de madeirite revestido com folhas de isopor. Os revestimentos visam ao melhoramento das condições térmicas, diminuindo com isso as interferências externas nas condições atmosféricas de dentro da caixa. O 134 acesso às colunas foi feito pela parte frontal e traseira, de modo a facilitar a verificação dos instrumentos em seu interior. • Dentro desta caixa foram instalados sensores de umidade e temperatura, visando o monitoramento da temperatura e umidade relativa dentro da caixa. A umidade de dentro da caixa foi controlada por estes instrumentos em conjunto com um desumidificador com capacidade de variação de umidade de 20 % a 90 %. Ressalta-se que o controle de temperatura e umidade no laboratório é importante para verificação da resposta de barreiras capilares mediante a condições ambientais mais controladas. No campo, a verificação da influência desses fatores isoladamente é inviável, pois há ocorrências simultâneas das variáveis envolvidas, bem como grande variabilidade dessas. Além disso, a temperatura e a umidade do ar afetam diretamente a evaporação de água e, portanto, a eficiência da barreira capilar. 6.5 SISTEMA PARA SIMULAÇÃO DE CHUVAS: CHUVÍMETRO Com o objetivo de simular chuvas com várias intensidades para verificar o comportamento das barreias capilares montadas, foi fabricado um simulador de chuva ou chuvímetro. 6.5.1 Descrição do chuvímetro A fabricação do chuvímetro teve como base os experimentos de Nissen et al. (2000). Esses pesquisadores utilizaram 9 agulhas para simular a infiltração de contaminantes em coluna de solo. Estendeu-se esse conceito para a fabricação do chuvímetro com agulhas hipodérmicas e tubo rígido de PVC. Assim, para a execução do sistema de controle de vazão desse estudo, utilizou-se uma placa de PVC com diâmetro de 15 cm. A placa foi perfurada com broca de modo a se obter 77 furos de 0,62 cm de diâmetro cada, uniformemente distribuídos. Nesses furos, foram acopladas seringas (capacidade de 1 cm3) com agulhas hipodérmicas de 0,4 mm de diâmetro externo, cada agulha distante da 135 outra de aproximadamente 1,4 cm (eixo a eixo), conforme Figuras 6.25a e 6.25b. A placa foi então colada a um tubo de aproximadamente 50 cm de comprimento e diâmetro de 15 cm, mostrado nas Figuras 6.25c e 6.25d. Posteriormente foi acoplado a este tubo um segmento de aproximadamente 50 cm para aumento da capacidade de vazão das agulhas por meio do aumento da pressão de água (carga da coluna de água). A quantidade de furos e os diâmetros das agulhas foram obtidos experimentalmente e com base nas intensidades de chuvas típicas da cidade de São Paulo (20 a 60 mm/h). As dimensões do tubo de PVC foram calculadas de modo a fornecer à coluna uma intensidade de chuva igual ou maior que 180 mm/h. Essa vazão é baseada em chuva na Cidade de São Paulo com tempo de recorrência de 50 anos e duração de 15 min (Pinto, 1976). A vazão de água para o diâmetro da agulha (limpa) utilizada foi 0,004 cm3/s com carga de 25 cm de coluna de água. Figura 6.25- Montagem do chuvímetro: (a) seringas encaixadas na placa de PVC; (b) detalhe das seringas com agulhas; (c) Encaixa da placa no tubo de PVC; (d) placa colada ao tubo. 136 Além do chuvímetro duas outras partes são necessárias ao sistema para simulação de chuvas: reservatório de água para manutenção da carga de coluna de água no interior do chuvímetro e base acoplável com extravasor para saída de água. A base do chuvímetro foi feita com um dos segmentos de 15 cm de altura da própria coluna. Entretanto a base ainda possuía um fundo removível com anel de vedação (o-ring), possibilitando a calibração do chuvímetro (fundo fechado) e as medidas de vazão superficial nas colunas de solo (fundo aberto). Na Figura 6.26 estão apresentadas as diversas partes do sistema de simulação de chuva. Figura 6.26- Sistema de controle de vazão: a)calibração do sistema; b)sistema montado em coluna de solo. 6.5.2 Saturação do chuvímetro Antes do início da calibração, havia necessidade de saturação das agulhas hipodérmicas utilizadas no chuvímetro. Objetivando-se obter melhor eficácia, dois procedimentos de saturação das agulhas foram testados: a) aplicando-se uma carga de pressão (coluna de água) máxima no chuvímetro; b) por sucção. No primeiro método de saturação, os 137 resultados obtidos não foram satisfatórios. Neste método, a carga aplicada (máximo de 100 cm de coluna de água) foi muito pequena para que todas as agulhas fossem saturadas, resultando em vazões inferiores as do segundo método. A saturação por sucção do segundo método mostrou-se mais eficiente e rápida. Nesse método, a saturação era feita por meio de sucção de água pelas agulhas. Para a execução do segundo procedimento, um cap, com o-ring e conexão de saída (válvula de engate rápido), foi encaixado ao topo do chuvímetro, de maneira a vedá-lo. Seguidamente uma mangueira, ligada à bomba de vácuo, era acoplada a conexão de saída. O chuvímetro era colocado em recipiente com água destilada e filtrada para evitar qualquer contaminação das agulhas. Ressalta-se que a limpeza da água é um fator importante na calibração, devido ao diâmetro reduzido das agulhas (0,4 mm). A bomba, então, era ligada, mantendo-se uma pressão constante de aproximadamente 66 kPa. A água entrava, então, no chuvímetro saturando as agulhas. 6.5.3 Procedimentos de calibração do chuvímetro A calibração do chuvímetro foi feita com o objetivo de obter a relação entre a altura de carga e a intensidade de chuva ou a vazão. Para calibração, utilizou-se o chuvímetro acoplado a base com fundo removível (Figura 6.26a) e um reservatório para recarga de água no chuvímetro. A ligação entre o reservatório de reabastecimento de água e o chuvímetro foi feita com mangueira plástica. A vazão foi controlada por válvula acoplada a mangueira. O nível de água era controlado pelo monitoramento da altura de água dentro do chuvímetro Na Figura 6.26a, está mostrado o chuvímetro montado na base acoplável e preparado para o início da calibração. A calibração foi inicialmente executada com agulhas novas com altura de carga de água variando de 13 cm a 35 cm acima das pontas das agulhas. Um volume de água em torno de 50 cm3 era coletado em proveta, tendo o seu tempo cronometrado. A proveta então era pesada e o volume calculado. A vazão, então, era calculada e a intensidade de chuva obtida dividindo-se a vazão obtida pela área da coluna (~180 cm2). 138 Após a calibração inicial e antes do início das simulações de chuvas nas colunas, observou-se uma possível contaminação das agulhas. Fez-se nova calibração para verificação do grau de contaminação, seguindo-se os mesmos procedimentos descritos anteriormente. A contaminação foi constatada com esses novos ensaios de calibração, necessitando assim uma completa limpeza das agulhas e a execução de novos pontos de calibração após limpeza. Na Figura 6.27, estão apresentadas as agulhas “contaminadas” devido à sujeira na água. Para se obter melhores resultados, a limpeza das agulhas teve que ser feita uma a uma com água destilada, filtrada e com temperaturas em torno de 50 o C. Para assegurar que não haveria nova contaminação precauções extras foram adotadas. Assim a filtragem da água que só acontecia durante a coleta e enchimento do reservatório também foi feita durante o enchimento do chuvímetro. Colocou-se para isso o jogo de filtros mostrados na Figura 6.28a. Esses filtros foram acoplados ao topo do chuvímetro, e tampado com filme plástico, só com abertura suficiente para entrada da mangueira de reabastecimento de água (Figura 6.28b). Figura 6.27- Sujeira acumulada nas agulhas após calibração inicial. Figura 6.28- Filtros utilizados para diminuição da contaminação das agulhas. 139 6.5.4 Resultados da calibração do chuvímetro Na Figura 6.29, estão apresentados os resultados da variação da carga com a intensidade de chuva (Figura 6.29a) e carga com vazão (Figura 6.29b) para: a calibração do chuvímetro na condição inicial em que as agulhas eram novas; a calibração com as agulhas obstruídas por sujeira (contaminadas); e, resultado após limpeza das agulhas. Observa-se na figura a diferença entre a calibração das agulhas limpas e com as agulhas obstruídas. Assim limpeza das agulhas e a filtragem da água são fatores primordiais na calibração. Ressalta-se que nos ensaios de coluna novos ensaios para verificação da vazão foram feitos, como será apresentado no Capítulo 8. 90 (a) 80 Carga (cm) 70 60 50 40 30 20 10 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 Intensidade de chuva (mm/h) Agulhas novas (inicial) Agulhas obstruídas (após 20 dias) Agulh as depois de limpeza 90 80 (b) Carga (cm) 70 60 50 40 30 20 10 0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 Vazão (cm3/h) Figura 6.29 – Calibração do chuvímetro: (a) carga x intensidade de chuva; (b) carga x vazão. 140 7 ANÁLISE NUMÉRICA 7.1 INTRODUÇÃO A modelagem numérica tem sido uma ferramenta bastante utilizada para avaliar os fatores que podem interferir no projeto de barreiras capilares (e.g. Khire et al. 1997; Wilson e Fredlund, 2000; Scanlon et al., 2002; Zornberg et al. 2003). A principal dificuldade encontrada para o uso dessa ferramenta é a representação adequada das condições iniciais e de contorno do problema em estudo. Entre essas condições estão: as climáticas, as de saturação inicial da barreira, as medidas de valores do coeficiente de permeabilidade saturado e a curva de retenção de água. Deste modo o objetivo das simulações é fornecer informações e parâmetros para o projeto de barreiras capilares estudadas no laboratório. O fornecimento de subsídios para a escolha das condições de contorno adequadas para os experimentos de laboratório tem também relevância fundamental nestas análises. Baseado nesses objetivos optou-se por dividir o capítulo em: considerações adotadas para a modelagem do problema, em que são explicados os principais aspectos inerentes à análise numérica realizada; e análise de sensibilidade dos parâmetros de entrada, em que se procurou verificar o peso desses parâmetros na análise. Além desses aspectos, uma breve descrição do software VS2DHI (Variably Saturated 2 D hydraulic Interface) utilizado é dada no anexo A. 7.2 CONSIDERAÇÕES E HIPÓTESES ADOTADAS PARA A MODELAGEM DO PROBLEMA 7.2.1 Descrição da simulação e hipóteses adotadas As análises foram feitas de modo a representar com maior precisão possível os ensaios de laboratório. Para as análises executadas, considerou-se fluxo em meio não-saturado e 141 saturado unidimensional, utilizando-se os modelos de Van Genuchten (1980). O modelo de Van Genuchten (1980) é bastante utilizado nesse tipo de análise. A geometria das colunas simuladas está apresentada na Figura 7.1. Foram utilizadas nas simulações colunas de solo de 15 cm de diâmetro com três camadas de solo com: gnaisse, areia fina (areia IPT#100) e areia média (areia IPT#16), com o solo mais fino sobre o solo de maior granulometria. As características dos materiais estão detalhadas no Capítulo 5. A camada de areia grossa foi utilizada como filtro da camada de areia fina e como camada de descontinuidade hidráulica entre essa areia e o resíduo. A camada de areia fina teve como finalidade quebrar a condutividade hidráulica da água proveniente da camada de gnaisse e também serviu como filtro desse solo. Assim a camada de areia foi mantida com espessura de 40 cm, de modo a haver quebra na condutividade hidráulica. A altura da camada de gnaisse adotada foi de 120 cm. Figura 7.1 – Geometria da barreira capilar simulada com a altura da camada de gnaisse de 120 cm. As propriedades da curva de retenção de água de cada solo estão apresentadas na Tabela 7.1. A condição inicial adotada nas simulações foi teor de umidade volumétrico constante ao longo de cada camada de solo. O teor de umidade volumétrico do gnaisse 142 foi o equivalente ao solo compactado com a energia de proctor normal em sua densidade máxima, ou seja, equivalente ao teor de umidade ótimo do solo. A areia foi colocada com um teor de umidade volumétrico igual ao residual. Os teores de umidade volumétricos do solo foram selecionados de forma a representar aproximadamente as condições em que o solo foi compactado nos experimentos de laboratório. O efeito desse parâmetro inicial no comportamento da barreira em curto e longo prazo também foi avaliado na análise. Na prática, essa condição inicial só seria válida se não houvesse fluxo de saída nem de entrada de água na camada de solo durante a construção. Portanto essa condição deve variar no decorrer da construção da barreira, necessitando assim de estudo de sua influência na barreira capilar, sobretudo em curto prazo. Tabela 7.1 - Materiais empregados na análise numérica. Solos Ksat (m/s) Modelo α -1 (kPa ) β θr 3 θs (m /m3) (m3/m3) Areia IPT#100 3,13 x 10-4 Van Genuchten (1980) 0,2750 6,7 0,03 0,41 Areia IPT#16 5,20 x 10-3 Van Genuchten (1980) 1,7163 7,99 0,018 0,40 Residual de gnaisse 7,00x10-9 Van Genuchten (1980) 0,0034 1,5213 0,001 0,44 7.2.2 Condições iniciais e de contorno As hipóteses a serem analisadas foram restringidas para a execução do estudo numérico, adotando-se condições de contorno representativas do problema. Essas condições levaram em consideração a minimização do trabalho de modelagem numérica. Segundo Scanlon et al. 2002 um ponto fundamental na análise de barreiras capilares é a especificação das condições de contorno da base. As principais condições de contorno de base adotadas para simulação numérica em meios saturados/não-saturados são carga piezométrica ou total, vazão específica e superfície de descarga (ou seepage face). Scanlon et al. (2002) verificaram as condições de contorno que afetam a modelagem numérica de barreiras capilares, utilizando diversos programas (entre eles, o VS2DHI). 143 Os autores demonstraram que a condição de contorno de gradiente unitário na base pode causar excesso de água percolada através da barreira quando comparado com dados experimentais. O motivo do excesso de água deve-se a imposição da saturação do meio (nível de água na base da barreira) por causa da condição adotada, até a altura correspondente a ascensão capilar da água na camada de solo em estudo. Portanto há entrada de água no sistema pela base, diminuindo a capacidade de retenção de água da camada. Neste caso, o volume de água necessário para que haja vazão pela base é menor. A interferência do gradiente unitário na base na quantidade de água percolada não é significativa para o caso de existir uma camada de solo inferior com sucção de entrada de ar baixa (capacidade de retenção pequena) e altura suficiente para que haja uma quebra hidráulica do conjunto (Scanlon et al, 2002). Os autores também demonstram que o uso da condição de superfície de descarga como condição de base da barreira capilar é mais adequado nesse tipo de problema. Na modelagem, utilizou-se a condição de contorno de superfície de descarga. Além dessa condição de contorno, adotaram-se condições de vazão específica de entrada vertical ao domínio na superfície das barreiras capilares para as simulações de chuvas apresentadas no subitem 7.3. As condições iniciais foram simplificadas para os casos em estudo. Essas simplificações e condições adotadas estarão refletidas nos resultados obtidos. Uma breve discussão de todas as condições que podem ser utilizadas está apresentada no anexo A. A discretização do tempo de precipitação e de evaporação (balanço hídrico) é também um aspecto importante para simulação numérica. Ressalta-se que devem ser usados modelos de maneira cautelosa, atentando para suas simplificações, limitações e fatores intervenientes no cálculo (ver Capítulo 3). 7.3 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DOS PARÂMETROS DE ENTRADA NAS SIMULAÇÕES DE BARREIRAS CAPILARES. Foram simulados períodos únicos de infiltração para verificação do efeito de intensidades de chuvas e do teor de umidade inicial na barreira capilar com camada de solo residual equivalente a 120 cm sobre camadas de areias de 55 cm de espessura. 144 Além dessas simulações também foram feitas análises com diferentes ordens de valores de coeficiente de permeabilidade saturado do solo. As condições iniciais e de contorno adotadas na simulação foram: superfície de descarga na base do domínio do problema; vazão específica unidimensional pelo topo da barreira capilar, equivalente às chuvas do período simulado. A formação de lamina de água superficial não foi considerada nas simulações, i.e., toda a água em excesso (que não infiltra) é contabilizada como escoamento superficial. 7.3.1 Efeito da intensidade de chuva Visando verificar o efeito das condições iniciais e de contorno em simulações numéricas de barreiras capilares, foram feitas modelagens com intensidade pluviométrica variada. Os valores de chuva adotados foram baseados nos volumes de chuva mensal dividido pelo número de horas do mês para o clima da cidade de São Paulo (Estação meteorológica da Água Funda, IAG-USP, e Cidade Universitária, CTH-USP). Os valores adotados para a simulação foram: 0,01 cm/h, 0,02 cm/h, 0,03 cm/h, 0,04 cm/h, 0,05 cm/h, 0,06 cm/h, 0,07 cm/h e 0,1 cm/h. As condições iniciais e de contorno estão mostradas na Figura 7.2. Todas as simulações foram executadas com único período de infiltração de 6500 h, exceto as simulações da Figura 7.3 que por causa da escala foram executadas com tempo de 744 horas. 145 Figura 7.2 – Geometria, condições iniciais e de contorno utilizadas no estudo do efeito da intensidade de chuva na capacidade de retenção da barreira. Na Figura 7.3, está apresentado o gráfico da variação da razão de infiltração no solo com o tempo para as diversas chuvas e para um grau de saturação inicial de 80%. Observam-se, na Figura 7.3, os estágios de infiltração no solo: o primeiro em que a razão de infiltração é constante com o tempo até o momento em que ocorre a saturação da superfície do solo, dando início ao escoamento superficial; e o segundo estágio em que há um decréscimo na razão de infiltração até que a camada de solo residual esteja saturada por completo e a razão de infiltração passe a ser igual ao coeficiente de permeabilidade do solo residual saturado (no caso ksat=7x10-9 m/s ou 2,5x10-3 cm/h). A saturação completa do solo residual ocorre após avanço da frente de saturação até a profundidade correspondente a espessura da camada desse solo que depende da função de permeabilidade do solo e do coeficiente de permeabilidade do solo saturado (ksat), conforme explicado no Capítulo 3. A camada de solo residual é a principal responsável pela velocidade de avanço da frente de saturação, em razão das características de 146 permeabilidade (função de permeabilidade e ksat). As outras duas camadas de areias interferem em menor grau na razão de infiltração. Chuv=0,01 cm/h S=80% Chuv=0,02 cm/h S=80% Chuv=0,03 cm/h S=80% Chuv=0,04 cm/h S=80% Chuv=0,05 cm/h S=80% Chuv=0,06 cm/h S=80% Chuv=0,07 cm/h S=80% Chuv=0,1 cm/h S=80% 0.09 0.08 0.07 0.06 0.05 0.04 0.03 0.02 750 700 650 600 550 500 450 400 350 300 250 200 150 100 0 50 0.01 0 Razão de infiltração (cm/h) 0.1 ksat Gnaisse Tempo (h) Figura 7.3 – Variação da razão de infiltração com o tempo para intensidades de chuvas de 0,01 cm/h, 0,02 cm/h, 0,03 cm/h, 0,04 cm/h, 0,05 cm/h, 0,06 cm/h, 0,07 cm/h, 0,1 cm/h. Com base nos resultados apresentados na Figura 7.3, verifica-se que, para chuva com intensidade igual ou maior que 0,05 cm/h, o tempo para a saturação da camada de solo residual (no segundo ponto de inflexão de cada curva) é praticamente o mesmo. Portanto o tempo de saturação da camada de gnaisse é afetado de maneira menos significativa a partir desse valor de intensidade de chuva. Assim a variação da quantidade de água que sai da barreira capilar (percolação base) também vai ser menor a partir desse valor de intensidade de chuva. Esse aspecto pode ser visto nas Figuras 7.4 e 7.5 em que estão apresentados os resultados da variação do volume de chuva infiltrada no solo (tempo máximo de 6500 h) para os graus de saturação de 30% e 80%, respectivamente. Observa-se que, para as chuvas com intensidades maiores ou iguais a 0,05 e nas condições adotadas na simulação, a variação da quantidade de água infiltrada é praticamente a mesma. 147 Volume infiltrado (cm 3) 800 700 600 500 Chuv=0,01 cm/h S=30% Chuv=0,02 cm/h S=30% Chuv=0,03 cm/h S=30% Chuv=0,04 cm/h S=30% Chuv=0,05 cm/h S=30% Chuv=0,06 cm/h S=30% Chuv=0,07 cm/h S=30% Chuv=0,1 cm/h S=30% 400 300 200 100 0 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Figura 7.4 - Volume de água infiltrado com o tempo para as diversas intensidades de chuva e para um grau de saturação de 30%. Volume infiltrado (cm 3) 800 Chuv=0,01 cm/h S=80% Chuv=0,02 cm/h S=80% Chuv=0,03 cm/h S=80% Chuv=0,04 cm/h S=80% Chuv=0,05 cm/h S=80% Chuv=0,06 cm/h S=80% Chuv=0,07 cm/h S=80% Chuv=0,1 cm/h S=80% 700 600 500 400 300 200 100 0 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Figura 7.5 - Volume de água infiltrado com o tempo para as diversas intensidades de chuva e para um grau de saturação de 80%. Na Figura 7.6, estão apresentadas as curvas de variação dos volumes de chuvas infiltradas com o tempo para as intensidades de chuvas de 0,1 cm/h e 0,01 cm/h e para graus de saturação iniciais de 30% e 80%, para ambas as chuvas. Verifica-se que a diferença entre a quantidade de água infiltrada devido a uma chuva de intensidade de 0,01 cm/h e uma de 0,1 cm/h é maior para graus de saturação menores (no caso, 30% e 80%), para os casos simulados. Portanto, o grau de saturação inicial influencia no 148 volume de água infiltrado, tendo maior influência para a análise solos com graus de saturação menores. Vol. infiltrado acumulado (cm 3) Chuv=0,01 cm/h S=30% Chuv=0,1 cm/h S=30% Chuv=0,01 cm/h S=80% Chuv=0,1 cm/h S=80% 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Figura 7.6 – Volume de água com o tempo, a intensidade de chuva de 0,01 e 0,1 cm/h e grau de saturação de 30% e 80%. Na Figura 7.7, estão apresentadas as curvas de volume de água percolada pela base da barreira para diversas intensidades de chuvas (0,01 cm/h, 0,02 cm/h, 0,04 cm/h e 0,1 cm/h) e para graus de saturação de 30% e 80% com o tempo. Observa-se que a quantidade de água que sai pela base, para um mesmo tempo, é maior para intensidade de chuvas e graus de saturação iniciais maiores, como o esperado. Observa-se ainda que, para o caso em que a intensidade de chuva e o grau de saturação são 0,01 cm/h e 80%, respectivamente, há maior volume de água percolado que nos casos em que a chuva é 0,1 cm/h e o grau de saturação de 30%. Verifica-se ainda que, nos casos de chuvas acima de 0,04 cm/h para um grau de saturação inicial de 80%, o volume percolado é praticamente o mesmo. Para os casos em que o grau de saturação é 30%, a diferença do volume percolado devido à intensidade de chuva é maior para os valores acima de 0,04 cm/h do que para o caso em que o grau de saturação é de 80 %. 149 Chuv=0,01 cm/h S=80% Chuv=0,02 cm/h S=80% Chuv=0,04 cm/h S=80% Chuv=0,1 cm/h S=80% Chuv=0,01 cm/h S=30% Chuv=0,02 cm/h S=30% Chuv=0,04 cm/h S=30% Chuv=0,1 cm/h S=30% Vol. percolado (cm 3/cm2) 0.00 -0.50 -1.00 -1.50 -2.00 -2.50 -3.00 -3.50 -4.00 -4.50 -5.00 4500 5000 5500 6000 6500 Tempo (h) Figura 7.7 – Volume percolado pela base da barreiras capilar com o tempo, a intensidade de chuva e o grau de saturação inicial. Nas Figuras 7.8a, 7.8b e 7.8c, para melhor visualização do efeito da intensidade de chuva em conjunto com o grau de saturação, estão apresentadas as curvas do volume percolado com a variação da intensidade de chuva para S=30%, 50% e 80% nos tempos de 5600 h, 6000 h e 6500, respectivamente. Observa-se, pelas Figuras, que a partir de intensidades iguais ou maiores que 0,05 cm/h não há praticamente interferência da chuva na quantidade de água percolada, para os referidos tempos e nas condições simuladas. Todas as figuras apresentadas ilustram a importância das condições iniciais do solo na análise numérica de barreiras capilares em conjunto com a intensidade de chuva imposta. 150 0 -10 -20 -30 -40 Tempo~5600 h S=30% Tempo~5600 h S=50% Tempo~5600 h S=80% -50 -60 (a) -70 -80 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1 Intensidade de chuva (cm/h) 0 -10 -20 -30 -40 -50 -60 Tempo~6000 h S=30% Tempo~6000 h S=50% Tempo~6000 h S=80% (b) -70 -80 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1 Intensidade de chuva (cm/h) 0 Tempo=6500 h S=30% Tempo=6500 h S=50% Tempo=6500 h S=80% -10 -20 -30 -40 -50 -60 (c) -70 -80 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 0.1 Intensidade de chuva (cm/h) Figura 7.8 – Volume percolado pela base da barreira capilar em função da intensidade de chuva para graus de saturação de 30%, 50% e 80% nos tempos de: (a) 5600 h, (b) 6000 e (c) 6500 horas. 7.3.2 Efeito do grau de saturação Nas simulações também foi verificado o efeito do grau de saturação inicial na quantidade de água que infiltra na barreira capilar. Essas simulações foram executadas com o grau de 151 saturação da camada de gnaisse variando de 30 %, 50 % e 80 %. As intensidades de chuvas simuladas foram 0,01 cm/h e 0,1 cm/h, por um período 6500 h (9 meses). As geometrias das camadas foram: camada de solo residual de gnaisse de 120 cm de espessura sobreposta à camada de areia fina (IPT#100) de 40 cm de espessura e essa por sua vez sobreposta à camada de areia média (IPT#16) de 15 cm. As condições iniciais e de contorno adotadas aqui foram: vazão específica de entrada vertical no topo e superfície de descarga (seepage face) na base. Os parâmetros dos solos necessários à simulação foram apresentados na Tabela 7.1. Na Figura 7.9, estão apresentadas as condições iniciais e de contorno adotadas para verificação do efeito do grau de saturação da camada de solo residual para chuvas de 0,01 cm/h e 0,1 cm/h, com duração de 6500 h. Figura 7.9 – Condições iniciais e de contorno adotadas para verificação do efeito do grau de saturação inicial. Na Figura 7.10, estão apresentados os resultados da variação da quantidade de água de chuva infiltrada com o tempo para uma vazão específica de entrada pelo topo de 0,01 cm/h 152 e duração, T, de 6500 h. Os graus de saturação, S, utilizados nesta análise foram 30%, 50% e 80%. Nessa figura, observa-se que a geração de escoamento superficial inicia em tempos, Tes, iguais a 3630 h, 2570 h e 1000 h, para os respectivos graus de saturação iniciais da camada de gnaisse de 30%, 50% e 80%. Para tempos menores que os anteriores, a razão de infiltração de água no solo é igual à quantidade de água precipitada. Para tempos maiores, há diminuição da quantidade de água que infiltra por causa do início da saturação do solo (camada superficial). Como conseqüência do início da saturação, há um aumento gradativo do escoamento superficial. O aumento do escoamento superficial ocorre até o ponto em que toda a camada de solo residual estiver saturada. A partir desse ponto, a razão de infiltração de água é igual ao coeficiente de permeabilidade do solo saturado. Observa-se, ainda na Figura 7.10, que, para o caso simulado, a variação total do escoamento superficial em relação ao volume total precipitado foi 32%, 43% e 60% para os graus de saturação de 30%, 50% e 80%, respectivamente. Portanto, para a intensidade de chuva de 0,01 cm/h, os diversos graus de saturação iniciais tiveram influências distintas no volume de água infiltrada na barreira capilar. Tes=1000 Tes=2570 Tes=3630 100 90 Chuva infiltrada (%) 80 70 60 50 40 30 Chuv=0,01 cm/h S=30% Chuv=0,01 cm/h S=50% Chuv=0,01 cm/h S=80% 20 10 0 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Figura 7.10 – Volume de água infiltrada e escoada em relação ao volume de água precipitado para uma precipitação constante de 0,01 cm/h e tempo de precipitação de 6500 horas: (a) S=30 %; (b) S=50 %; (c) S=80 %. Nas Figuras 7.11a, 7.11b e 7.11c, observam-se os comportamentos dos perfis de saturação do solo para as 3 camadas da barreira com a variação do grau de saturação do solo residual, e considerando-se uma infiltração de água de 0,01 cm/h. Na Figura 7.11a, 153 observam-se perfis de saturação bem distintos para os diferentes graus de saturação adotados, após um período de 1800 h (dois meses e meio). Nesta figura o posicionamento da frente de saturação é 90 cm, 120 cm para os graus de saturação de 30% e 50%, respectivamente, e com a camada de gnaisse saturada para S=80 %. Na Figura 7.11b, pode-se ver que os perfis de saturação das camadas de solo para os tempos em que se inicia a diminuição na razão de infiltração (início do escoamento superficial) são os mesmos. Nestes tempos, a camada de gnaisse encontra-se praticamente saturada com a frente de saturação localizada a uma profundidade de 120 cm. Entretanto não há entrada de água na camada de areia fina. Na Figura 7.11c, estão apresentados os perfis de saturação do solo para o tempo final de simulação (t=6500 h). Verifica-se por esta figura que a camada de gnaisse está completamente saturada, já havendo entrada de água na camada de areia fina. Observa-se, ainda, nessa figura que os perfis de saturação correspondentes aos graus de saturação iniciais de 30% e 50% ainda não alcançaram a posição de equilíbrio. Essa posição indica um regime de fluxo permanente, ou seja, a vazão de saída na base da barreira é constante. Para o grau de saturação inicial de 80%, o perfil de saturação encontra-se na posição de equilíbrio, decorrido o período de 6500 h. Portanto, só neste último caso, há saída de água pela base. 154 Profundidade (cm) T= 0 h; S= 30% T= 1800 h; S= 30% T= 0 h; S= 50% T= 1800 h; S= 50% T= 0 h; S= 80% T= 1800 h; S= 80% 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 T= 0 h; S= 30% T=3630h; S= 30% T= 0 h; S= 50% T= 2570 h; S= 50% T= 0 h; S= 80% T= 1000 h; S= 80% (a) (b) q=0,01 cm/h 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 S (%) (c) Gnaisse Profundidade (cm) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 T= 0 h; S= 30% T= 6500 h; S= 30% T= 0 h; S= 50% T= 6500 h; S= 50% T= 0 h; S= 80% T= 6500 h; S= 80% IPT#100 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 IPT#16 S (%) Figura 7.11 – Perfis de saturação nos graus de saturação iniciais de 30%, 50% e 80%, chuva de 0,01 cm/h em que: (a) Perfis t=0 h e t=1800 h; (b) Perfis de início do escoamento superficial; (c) Perfis t=0 h e t=6500 h. Na Figura 7.12, estão apresentados os resultados de simulações com a mesma barreira apresentada anteriormente, porém com intensidade de chuva de 0,1 cm/h. As outras condições iniciais e de contorno foram mantidas. Na Figura 7.12a, estão apresentados os 155 resultados obtidos até o tempo de 6500 h. Na Figura 7.12b, estão apresentados os mesmos resultados em escala menor, até o tempo de 100 h. Na Figura 7.12, observa-se que a variação total do escoamento superficial em relação ao volume total precipitado foi 92,0%, 93,6% e 95,8% para os graus de saturação de 30%, 50% e 80%, respectivamente. Os tempos iniciais do escoamento superficial obtido para S de 30%, 50% e 80% foram Tes=53,6, Tes=38,7 e Tes=13,0, respectivamente. Comparando-se as Figuras 7.10 e 7.12, verifica-se que as diferenças da variação de chuva infiltrada com o tempo entre os graus de saturação simulados são maiores no caso de intensidade de chuva de 0,01 cm/h que no de 0,1 cm/h. No caso em que a razão de infiltração é 0,01 cm/h (Figuras 7.10 e 7.11), as diferenças dos tempos iniciais de escoamento superficial entre os diversos graus de saturação são maiores que as diferenças do caso em que a razão de infiltração é 0,1 cm/h. Portanto a influência do grau de saturação é relativamente maior para a intensidade de chuva de 0,01 cm/h que para a intensidade de 0,1 cm/h. Observando ainda essas figuras, verifica-se que quanto maior a intensidade de chuva maior a velocidade com que há aumento no escoamento superficial. Nas Figuras 7.13a, 7.13b e 7.13c, estão apresentados os perfis de saturação do solo para as 3 camadas da barreira para a intensidade chuva de 0,01 cm/h. Na Figura 7.13a, estão apresentados os perfis de saturação a partir de graus de saturação iniciais de 30%, 50% e 80%, para a situação inicial e após período de 30 h. Observa-se, na Figura 7.13a, que os perfis de saturação são semelhantes, com a parte superficial do solo saturada para S=80 % e com graus de saturação próximos a 100 % nos demais. Nesta Figura, o posicionamento da frente de saturação é 20 cm, 20 cm e 50 cm para os graus de saturação de 30 %, 50 % e 80 %, respectivamente. Na Figura 7.13b, pode-se ver que os perfis de saturação das camadas de solo para os tempos em que se inicia a diminuição na razão de infiltração (início do escoamento superficial) apresentam formatos semelhantes. Observa-se, ainda nesta figura, que a frente de saturação nos três casos apresenta mesma profundidade de avanço de 30 cm. Para os tempos apresentados na Figura 7.13b, dá-se início a saturação da camada de gnaisse com diminuição na razão de infiltração de água no solo. Na Figura 7.13c, estão apresentados os perfis de saturação do solo para o tempo final de simulação (t=6500 h). Verifica-se ainda na figura que 156 todos os perfis de saturação alcançaram a posição de equilíbrio. Nesta fase, portanto, já há saída de água pela base do sistema para os três graus de saturação simulados. 100 (a) 90 Chuv=0,1 cm/h S=30% Chuv=0,1 cm/h S=50% Chuv=0,1 cm/h S=80% Chuva infiltrada (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Tes=38,7 Tes=53,6 Tes=13 100 90 (b) Chuva infiltrada (%) 80 70 60 50 40 30 Chuv=0,1 cm/h S=30% Chuv=0,1 cm/h S=50% Chuv=0,1 cm/h S=80% 20 10 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Tempo (h) Figura 7.12- Volume de água infiltrada e escoada em relação ao volume de água precipitado para uma precipitação constante de 0,1 cm/h e tempo de precipitação de 6500 horas: (a) S=30 %; (b) S=50 %; (c) S=80 %. 157 Profundidade (cm) T= 0 h; S= 30% T= 30 h; S= 30% T= 0 h; S= 50% T= 30 h; S= 50% T= 0 h; S= 80% T= 30 h; S= 80% 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 T= 0 h; S= 30% T= 53.6 h; S= 30% T= 0 h; S= 50% T= 38,7 h; S= 50% T= 0 h; S= 80% T=13 h; S= 80% (b) (a) q=0,1 cm/h 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 S (%) (c) Gnaisse Profundidade (cm) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 T= 0 h; S= 30% T= 6500 h; S= 30% T= 0 h; S= 50% T=6500 h; S= 50% T= 0 h; S= 80% T= 6500 h; S= 80% IPT#100 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 IPT#16 S (%) Figura 7.13 – Perfis de saturação para barreira simulada nos graus de saturação iniciais de 30%, 50% e 80%, sujeitas a intensidade de chuva de 0,1 cm/h em que: (a) perfis nos tempos de 0 h e 30 h; (b) perfis nos tempos de 0 h e tempos de início do escoamento superficial; (c) perfil nos tempos de 0 h e 6500 h. Comparando-se as Figuras 7.11a e 7.13a, verifica-se que as diferenças de profundidade da frente de saturação entre os diversos graus de saturação para um mesmo tempo são 158 maiores no caso da intensidade de chuva de 0,01 cm/h que no caso da intensidade de 0,1 cm/h. Pode-se concluir, portanto, que o avanço da frente de saturação tem maior dependência do grau de saturação no primeiro caso que no segundo caso. Comparandose as Figuras 7.11b e 7.13b, observa-se também que, no tempo de início do escoamento superficial (tempo mostrado nas figuras), a profundidade da frente de saturação é a mesma para os 3 graus de saturação, mas variável com a intensidade de chuva. Pelos resultados obtidos quanto maior o grau de saturação, para uma mesma intensidade de chuva no mesmo intervalo de tempo, menor a quantidade de água que infiltra nas camadas e, portanto, maior o escoamento superficial. Esse aspecto é devido à diminuição da capacidade de infiltração no solo, e, portanto, devido à velocidade de avanço da frente de saturação. Na Figura 7.14, estão apresentados os resultados da variação de volume percolado por unidade de área (o valor negativo representa a saída do sistema) com o tempo para a chuva de 0,1 cm/h e graus de saturação de 30%, 50% e 80%. Na Figura 7.14, está apresentada também a variação do volume percolado para chuva de 0,01 cm/h e grau de saturação de 80%. Observa-se na figura que as variações volumétricas com o tempo para cada grau de saturação são lineares, com curvas paralelas entre si. Pode-se verificar a partir dos dados apresentados na Figura 7.14 que há uma variação de 0,5 cm3/cm2 de volume de água percolado a cada 10 % de variação do grau de saturação para um mesmo tempo e para a chuva de 0,1 cm/h. A variação dos volumes percolados de água pela base para os graus de saturação de 50 % em relação ao de 30% foi 50 %. No caso dos graus de saturação de 80% em relação ao de 50%, a variação do volume percolado de água foi 53%. Verifica-se também que os tempos para o início da percolação de água pela base, Ts, são 4970 h, 5490 h e 5850 h para os graus de saturação de 80%, 50% e 30%, respectivamente, com intensidade de chuva de 0,1 cm/h. O tempo para início da percolação de água no caso da intensidade de chuva de 0,01 cm/h foi 5540 h. 159 Ts=5490 Ts=5540 Ts=4970 Ts=5850 Vol. percolado/área (cm3/cm2) 0.0 -0.5 -1.0 -1.5 -2.0 -2.5 -3.0 -3.5 Chuv=0,1 cm/h S=30% Chuv=0,1 cm/h S=50% Chuv=0,1 cm/h S=80% Chuv=0,01 cm/h S=80% -4.0 -4.5 -5.0 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Figura 7.14 – Efeito do grau de saturação na variação da quantidade de água percolada pela barreira capilar com o tempo. Na Figura 7.15a, estão representados os dados da variação do grau de saturação do solo residual com a variação do volume de água percolado pela barreira para tempos de 5500 h, 6000 h e 6500 h e intensidade de chuva de 0,1 cm/h. Para o tempo de 5500 h e grau de saturação 30%, não houve saída de água do sistema, portanto este ponto não aparece na Figura. Pode-se observar o comportamento linear da variação do grau de saturação com o volume de água percolado. Este comportamento é reflexo da saturação da camada de gnaisse, com o perfil de saturação das camadas de solo na posição de equilíbrio. Observando a figura, verifica-se que variações iguais do grau de saturação levam a variações de mesmo valor na quantidade de água percolada pela barreira para uma mesma intensidade de chuva. Na Figura 7.15b, está representada a variação do grau de saturação com o tempo de início da percolação de água pela base. Observa-se na figura que quanto maior o grau de saturação menor é o tempo de início de saída de água do sistema. Este aspecto reflete que em camadas com graus de saturação maiores o avanço da frente de saturação é mais rápido, pois a permeabilidade do solo não-saturado é maior. Portanto o tempo de início da saída de água do sistema é menor. Constata-se também, pela figura, que, dentro da faixa de graus de saturação simulados, variações iguais no grau de saturação 160 inicial do solo levam a variações de mesmo valor no intervalo do tempo de início da saída de água. 100.0 90.0 (b) (a) 80.0 S (%) 70.0 60.0 50.0 Tempo (h): 6500 6000 5500 40.0 30.0 20.0 10.0 0.0 0.0 -0.5 -1.0 -1.5 -2.0 -2.5 -3.0 -3.5 -4.0 Volume percolado/área (cm3/cm2) -4.5 -5.0 4900 5000 5100 5200 5300 5400 5500 5600 5700 5800 5900 Tempo inicial da saída de água (h) Figura 7.15 – (a)Variação do grau de saturação do solo residual com a volume de água percolado por unidade de área; (b) Variação do grau de saturação com o tempo de início da percolação de água pela base. 7.3.3 Efeito do coeficiente de permeabilidade do solo saturado Visando-se verificar a importância do efeito do coeficiente de permeabilidade do solo saturado, ksat, no comportamento de barreiras, executaram-se simulações com diferentes valores de ksat do solo residual de gnaisse. As variações impostas foram da ordem de 10 vezes para mais e para menos. As análises realizadas neste subitem não levaram em consideração as possíveis variações na curva de retenção de água do solo. Essas variações são devidas às variações na distribuição dos poros, pois para haver mudança no coeficiente de permeabilidade do solo saturado é necessário haver mudança na distribuição de poros, conseqüentemente na forma da curva de retenção de água. Na Figura 7.16, estão apresentados os dados de entrada utilizados na análise. As intensidades de chuvas simuladas foram 0,1 cm/h, 0,02 cm/h e 0,01 cm/h com duração total de 6500 h cada e para uma condição de contorno na base de superfície de descarga (seepage face). O coeficiente de permeabilidade da camada de solo residual de gnaisse saturado de 2,52x10-3 cm/h (7x10-9 m/s) foi reduzido para 2,52x10-4 cm/h (7x10-10 m/s) e aumentado para 2,52x10-2 cm/h (7x10-8 m/s). 161 Figura 7.16 – Desenho esquemático da barreira capilar utilizada e as condições de contorno e iniciais impostas. Nas Figuras 7.17, 7.18 e 7.19, estão apresentados os resultados dos volumes de chuva infiltrado e percolado com o tempo para chuvas de intensidade igual a 0,1 cm/h, 0,02 cm/h e 0,01 cm/h, respectivamente. Nas Figuras 7.17a, 7.18a e 7.19a, estão apresentados os percentuais de chuva infiltrada no solo com o tempo. Nas Figuras 7.17b, 7.18b e 7.19b, estão apresentados o volume acumulado ou total de chuva infiltrada por unidade de área com o tempo. Nas Figuras 7.17c, 7.18c e 7.19c, estão apresentados o volume de água percolado (saída da base) por unidade de área com o tempo. Comparando-se as Figuras 7.17a, 7.18a e 7.19a, verifica-se que a diferença da variação da chuva infiltrada com o tempo entre ksat de 0,00252 cm/h e 0,0252 cm/h é maior que a diferença entre ksat de 0,00252 cm/h e 0,000252 cm/h. Essas diferenças aumentam com a diminuição da intensidade de chuvas. Verifica-se ainda nessas figuras que quanto menor o coeficiente de permeabilidade menor a quantidade de chuva infiltrada. Comparando-se as Figuras 7.17b, 7.18b e 7.19b, constata-se que as diferenças entre as razões de variação do volume infiltrado de chuva pelo tempo para ksat de 0,00252 cm/h 162 e 0,0252 cm/h são maiores que para ksat de 0,00252 cm/h e 0,000252 cm/h. Essas diferenças aumentam com o aumento da intensidade de chuva. Nas Figuras 7.17b, 7.18b e 7.19b, observa-se que quanto maior a intensidade de chuva maior a razão de aumento do volume de água infiltrado no solo. Nas Figuras 7.17c, 7.18c e 7.19c, observa-se que, para as condições de estudo, o volume percolado de água usando ksat de 0,00252 cm/h em comparação ao volume com ksat de 0,0252 cm/h é consideravelmente maior do que quando comparado com ksat de 0,000252 cm/h. Além desses aspectos, verifica-se que para as chuvas maiores, essas diferenças são mais significativas. Assim pode-se concluir que o efeito da variação coeficiente de permeabilidade do solo saturado para quantidade de água que infiltra na barreira e no volume percolado de água é mais importante para intensidades de chuvas maiores. Chuv=0,1 S=80% Ksat=0,0252 cm/h Chuv=0,1 S=80% Ksat=0,00252 cm/h Chuv=0,1 S=80% Ksat=0,000252 cm/h Chuv=0,1 cm/h S=80% Ksat=0,0252 cm/h Chuv=0,1 cm/h S=80% Ksat=0,00252 cm/h Chuv=0,1 cm/h S=80% Ksat=0,000252 cm/h 100 Chuva infiltrada (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 1000 2000 3000 4000 5000 Volume infiltrado (cm 3/cm2) 200 (a) 90 (b) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 6000 0 1000 2000 Tempo (h) 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Volume percolado (cm 3/cm 2) Chuv=0,1 cm/h S=80% Ksat=0,0252 cm/h Chuv=0,1 cm/h S=80% Ksat=0,00252 cm/h Chuv=0,1 cm/h S=80% Ksat=0,000252 cm/h 0 -10 -20 -30 -40 -50 -60 -70 -80 -90 -100 -110 -120 -130 -140 -150 -160 -170 -180 (c) 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Figura 7.17 – Efeito da variação do coeficiente de permeabilidade do solo residual saturado, sendo: (a) percentual de chuva (0,1 cm/h) infiltrada; (b) volume infiltrado de água; e (c) volume percolado (saída pela base). 163 Chuv=0,02 cm/h S=80% Ksat=0,0252 cm/h Chuv=0,02 cm/h S=80% Ksat=0,00252 cm/h Chuv=0,02 cm/h S=80% Ksat=0,000252 cm/h Chuv=0,02 S=80% Ksat=0,0252 cm/h Chuv=0,02 S=80% Ksat=0,00252 cm/h Chuv=0,02 S=80% Ksat=0,000252 cm/h 100 Chuva infiltrada (%) (a) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 1000 2000 3000 4000 5000 Volume infiltrado (cm 3/cm2) 200 90 (b) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 6000 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Tempo (h) Volume percolado (cm 3/cm 2) Chuv=0,02 cm/h S=80% Ksat=0,0252 cm/h Chuv=0,02 cm/h S=80% Ksat=0,00252 cm/h Chuv=0,02 cm/h S=80% Ksat=0,000252 cm/h 0 -10 -20 -30 -40 -50 -60 -70 -80 -90 -100 -110 -120 -130 -140 -150 -160 -170 -180 (c) 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Figura 7.18 - Efeito da variação do coeficiente de permeabilidade do solo residual saturado, sendo: (a) percentual de chuva (0,02 cm/h) infiltrada; (b) volume infiltrado de água e (c) volume percolado (saída pela base). 164 Chuv=0,01 cm/h S=80% Ksat=0,0252 cm/h Chuv=0,01 cm/h S=80% Ksat=0,00252 cm/h Chuv=0,01 cm/h S=80% Ksat=0,000252 cm/h Chuv=0,01 S=80% Ksat=0,000252 cm/h Chuv=0,01 S=80% Ksat=0,00252 cm/h Chuv=0,01 S=80% Ksat=0,0252 cm/h 100 Chuva infiltrada (%) (a) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 1000 2000 3000 4000 5000 Volume infiltrado (cm 3/cm2) 200 90 (b) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 6000 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Tempo (h) Volume percolado (cm 3/cm 2) Chuv=0,01 cm/h S=80% Ksat=0,0252 cm/h Chuv=0,01 cm/h S=80% Ksat=0,00252 cm/h Chuv=0,01 cm/h S=80% Ksat=0,000252 cm/h 0 -10 -20 -30 -40 -50 -60 -70 -80 -90 -100 -110 -120 -130 -140 -150 -160 -170 -180 (c) 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo (h) Figura 7.19 - Efeito da variação do coeficiente de permeabilidade do solo residual saturado, sendo: (a) percentual de chuva (0,01 cm/h); (b) volume infiltrado de água; e (c)volume percolado (saída pela base). Nas Figuras 7.20a e 7.20b, estão apresentados os resultados da variação do ksat com o tempo para o início do escoamento superficial e o tempo para o início da saída de água pela base, respectivamente para as 3 intensidades de chuvas simuladas. Na Figura 7.20, não estão indicados os tempos para início do escoamento superficial dos valores de ksat=0,025 cm/h para intensidades de chuvas de 0,02 cm/h e 0,01 cm/h. Não houve escoamento superficial no tempo de execução das simulações (6500 h). Observa-se na Figura 7.20a que quanto maior a intensidade de chuva menor é o tempo necessário para o início do escoamento superficial para qualquer ksat. Observa-se também que quanto maior a intensidade de chuva menor a influência do coeficiente de permeabilidade do solo saturado no balanço de água no solo (maior volume de água escoando 165 superficialmente). Na Figura 7.20b, está apresentada a relação entre o coeficiente de permeabilidade do solo saturado, ksat, e os tempos de início de saída de água pela base da barreira para chuvas de 0,1 cm/h, 0,02 cm/h e 0,01 cm/h. Nesta figura, observa-se que as diferenças entre os tempos de início da saída de água pela base da barreira para as diversas chuvas e para o coeficiente de permeabilidade de 0,00252 cm/h é menor que as diferenças entre os tempos de saída para as chuvas e para ksat igual a 0,0252 cm/h, para os casos simulados. -01 10 Chuv=0,1 cm/h Chuv=0,02 cm/h Chuv=0,01 cm/h (a) 577 1180 (b) 2310 Ksat (cm/h) -02 10 4970 5540 5110 -03 10 Chuv=0,1 cm/h Chuv=0,02 cm/h Chuv=0,01 cm/h -04 10 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 0 Tempo para início de escoamento superficial (h) 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Tempo para início da saída de água (h) Figura 7.20 – Relação entre o coeficiente de permeabilidade do solo saturado para intensidades de chuvas de 0,1 cm/h, 0,02 cm/h, 0,01 cm/h e o tempo de: (a) início do escoamento superficial; (b) início da saída de água pela base. 166 8 EXPERIMENTOS COM COLUNAS DE SOLOS Com o objetivo de verificar o comportamento de barreiras capilares em condições distintas de compactação, diferentes espessuras de camadas e em condições controladas de evaporação e infiltração, executaram-se experimentos em três colunas de solo instrumentadas. Neste Capítulo, serão descritos os procedimentos adotados para preparação do solo, instrumentação e montagem das colunas, bem como a execução dos experimentos nas diversas condições. 8.1 PREPARAÇÃO DOS SOLOS Os solos utilizados nas colunas foram: solo residual de gnaisse, areias IPT#100 e IPT#50. Além desses solos, utilizou-se também um pedrisco (brita) para servir como camada de separação entre a saída de água na estrutura das colunas e a barreira capilar propriamente. O solo residual foi primeiramente destorroado e homogeneizado, passando-o na peneira de 4,8 mm de abertura de malha e misturando-o. Seguidamente, acrescentou-se a quantidade de água necessária para compactação da camada de gnaisse na coluna, homogeneizando novamente esse solo. A amostra de solo assim obtida foi, então, separada em recipiente plástico hermeticamente fechado, dividindo-a em quantidades necessárias para o enchimento de um segmento simples (segmentos de PVC, Figura 6.23, subitem 6.3) da coluna. O gnaisse foi mantido no recipiente fechado por um período de 12 horas. As areias foram secadas ao ar e também separadas em recipientes plásticos fechados e em quantidade suficiente para cada segmento a ser utilizado na coluna. Estes procedimentos foram seguidos em todas as colunas. 8.2 PROCEDIMENTOS PARA INSTALAÇÃO DO TDR NAS COLUNAS A instalação das guias de onda do TDR nas colunas foi feita à medida que o solo foi compactado nas colunas. Na Figura 8.1, estão apresentadas as etapas da instalação de 167 uma guia de onda. O solo foi compactado até a altura de inserção da guia de onda. Após compactação, o solo foi escarificado e, então, a guia de onda foi inserida (Figura 8.1a e 8.1b) por três furos laterais na parede dos segmentos de PVC. A altura de inserção das guias e a compactação do solo foram calculadas para que as hastes ficassem em contato com a superfície da camada (Figura 8.1c). Seguidamente a inserção da guia de onda, foi feita a vedação do furo com massa de calafetação (Figura 8.1d) e a compactação prosseguida. Na Figura 8.1e, estão mostradas as guias de onda do TDR inseridas ao término da preparação da coluna 1. Esses procedimentos foram seguidos para cada guia e em todas as três colunas. Figura 8.1 – Procedimento de instalação das guias de onda do TDR nas colunas. 8.3 PROCEDIMENTOS PARA INSTALAÇÃO DOS TENSIÔMETROS NAS COLUNAS Como a compactação das colunas foi feita dinamicamente, optou-se por inserir a pedra porosa após a compactação visto que a inserção durante a compactação poderia danificar as pedras. Na Figura 8.2, estão apresentados os procedimentos seguidos para a instalação da pedra porosa de um tensiômetro em uma das colunas de solo. Para cada pedra porosa instalada, foi feito previamente um furo (pré-furo) no segmento de PVC de diâmetro de 0,65 cm para a colocação da pedra (Figura 8.2). Estes pré-furos foram vedados com rolhas durante a compactação do solo, de modo a evitar a perda de água da coluna. A distância entre o eixo de cada furo de instalação das guias de onda e das 168 pedras porosa foi de 1 cm. Para execução dos furos em que seriam colocadas as pedras, utilizou-se furadeira elétrica com broca de vídia de 0,635 cm de diâmetro (φ 1/4”) para perfurar o solo até profundidade de 4,5 cm. Para que houvesse melhor aderência entre a pedra porosa e o gnaisse, as pedras foram recobertas com uma “lama” do mesmo solo (Figura 8.2b). A “lama” foi preparada passando-se o solo na peneira de abertura de malha de 0,42 mm (#40) e com umidade um pouco acima do limite de liquidez. Após recobrimento com a “lama” (Figura 8.2b), a pedra porosa foi inserida no furo no solo através da parede do recipiente (Figura 8.2c). Seguidamente fez-se o fechamento do furo, primeiramente com a própria lama (Figura 8.2d) e logo depois com a massa de calafetação (Figuras 8.2e e 8.2f). Seguiu-se a mesma metodologia para todos os tensiômetros instalados. Uma eficaz aderência foi obtida com este procedimento, a qual foi verificada durante a retirada de alguns tensiômetros para manutenção. Figura 8.2 – Procedimento de instalação da pedra porosa do tensiômetro nas colunas. 8.4 PROCEDIMENTOS PARA INSTALAÇÃO DOS TERMÔMETROS A instalação dos sensores de temperatura nas colunas foi feita da mesma maneira que as guias de onda, i.e., ao longo da compactação do solo nas colunas. Na Figura 8.3, estão 169 apresentados o sistema de aquisição de dados dos sensores (Figura 8.3a), o sensor de temperatura (Figura 8.3b) e a instalação na coluna de solo (Figura 8.3c). Para instalação desses sensores, o solo também foi compactado até a altura de inserção. Após compactação, o solo foi escarificado (no caso do gnaisse) e, então, a guia de onda foi inserida (Figura 8.1a e 8.1b) por orifícios previamente abertos na parede dos segmentos de PVC. Seguidamente a inserção do sensor, foi feita a vedação do furo com massa de calafetação e a compactação prosseguida. Figura 8.3 – Procedimento de instalação de sensor de temperatura nas colunas. 8.5 MONTAGEM E CARACTERÍSTICAS DAS COLUNAS Executaram-se ensaios com 3 colunas de solo para verificar o comportamento de barreiras capilares em condições distintas de compactação e diferentes espessuras de camadas. As colunas ensaiadas foram executadas com uma areia média, uma areia fina e um solo residual. As colunas foram executadas em 3 camadas: camada de base (areia média), camada intermediária (areia fina) e camada superior (solo residual). Todas as colunas foram compactadas de maneira dinâmica, as areias por vibração e o gnaisse com soquete. A diferença na execução das colunas deveu-se a energia de compactação da camada de solo residual (coluna 1 e coluna 3) e a espessura dessa camada (coluna 1 e coluna 2). Nos subitens 8.5.1 a 8.5.3, serão apresentadas as principais características de cada coluna. 170 8.5.1 Características Coluna 1 A execução da coluna 1 (col#1) foi feita com 3 camadas: areia média (areia IPT#16) na base, com 15 cm de espessura; areia fina (areia IPT#100) na camada intermediária, com 40 cm de espessura; e 120 cm de solo residual de gnaisse na parte superior. Na Figura 8.4, está apresentado o perfil de solo para a coluna 1. Nessa coluna, as camadas de areias foram compactadas por vibração. A camada de solo residual de gnaisse foi compactada de maneira dinâmica com mesma energia utilizada no ensaio de proctor normal (59,48 kN.m/m3). A camada de solo residual foi dividida em 4 módulos de 30 cm, cada um subdividido em 12 camadas de igual altura. Cada camada foi compactada utilizando-se um soquete de 2,5 kg e altura de queda de 30,5 cm. As camadas de areias IPT#100 e IPT#16 foram compactadas nos índices de vazios, 0,747 e 0,821, respectivamente. A densidade (ρd), teor de umidade gravimétrico (W) e energia de compactação das camadas de solo da coluna 1 estão apresentadas na Tabela 8.1. Figura 8.4 – Perfil de solo da barreira capilar: coluna 1. 171 Tabela 8.1 – Características de compactação da coluna de solo (col#1). Espessura da camada ρd Wmédio Energia de compactação (cm) (g/cm3) (%) (kN.m/m3) Gnaisse 120 1,59 23,40 59,48 Areia IPT#100 40 1,52 Seca ao ar vibração Areia IPT#16 15 1,46 Seca ao ar vibração Solos Com o objetivo de facilitar a detecção da variação do volume de água de saída pela base da coluna, colocou-se uma camada de pedrisco (brita) de 10 cm de espessura com granulometria uniforme (passado na peneira de abertura de malha de 9,5 mm e retido na de 4,8 mm) sob a camada de areia média (IPT#16). A essa camada foi adicionada água por meio da instalação de uma bureta interligada ao dreno da base. Assim criou-se um nível de água na parte superior da camada de pedrisco. O pedrisco também serviu como camada de filtro para a areia IPT#16. O critério de filtro foi calculado de acordo com a proposta feita por Terzaghi (1922) apud Cruz (1996), 5d15<D15<. 5d85, em que: d15 e d85 são os diâmetros das partículas de pedriscos que passam em 15% e 85% do total de solo, respectivamente, a ser filtrado e D15, o diâmetro do material do filtro a 15%. Na montagem, observou-se uma absorção de água imediata, em torno de 6 cm3, pela camada de areia IPT#16, resultando em uma redistribuição da água na camada dessa areia. Durante o período de estabilização (antes da infiltração) observou-se que houve vazamentos na base da coluna devido ao descolamento da base da coluna com a compactação posterior das colunas 1 e 2. O vazamento foi secado e fechado com cola de PVC e silicone. 8.5.2 Características Coluna 2 A coluna 2 foi compactada de maneira idêntica àquela da coluna 1, entretanto a espessura da camada de gnaisse utilizada foi de 60 cm. Na Figura 8.5, está apresentado 172 o perfil de solo dessa coluna. As principais características de compactação das camadas de gnaisse das colunas estão apresentadas na Tabela 8.2. Figura 8.5 – Perfil de solo da barreira capilar: coluna 2. Tabela 8.2 – Características de compactação da coluna 2 (col#2). Espessura da camada ρd Wmédio Energia de compactação (cm) (g/cm3) (%) (kN.m/m3) Gnaisse 60 1,59 23,40 59,48 Areia IPT#100 40 1,52 Seca ao ar vibração Areia IPT#16 15 1,46 Seca ao ar vibração Solos Nesta coluna, também foi colocada uma camada de pedrisco (brita) para verificação da saída de água pela base por meio da instalação de bureta no dreno da base. A espessura dessa camada foi de 15 cm. O nível de água ficou inicialmente na mesma altura da camada do pedrisco. 8.5.3 Características Coluna 3 A coluna 3 (col#3) foi executada de forma semelhante à da coluna 1, ou seja, em 3 camadas: 15 cm de areia média (areia IPT#16) na base, 40 cm de areia fina (areia 173 IPT#100) na camada intermediária e 120 cm de solo residual de gnaisse na parte superior. Na Figura 8.6, está apresentado o perfil de solo para a coluna 3. A diferença na execução da coluna 1 e coluna 3 deveu-se a energia de compactação do solo residual de gnaisse. A energia de compactação do gnaisse da coluna 3 foi igual a 7,13x10-2 kN.m/m3. Para a obtenção dessa energia, a camada de gnaisse foi compactada de maneira dinâmica com um soquete fabricado no laboratório com peso de 368,5 g, altura de queda de 20 cm. A camada de solo residual foi, então, dividida também em 4 módulos de 30 cm, cada um subdividido em 12 camadas de igual altura. Cada camada foi compactada com 36 golpes, utilizando-se o soquete fabricado. O número de golpes foi calculado por tentativa em amostra piloto. As camadas de areias IPT#100 e IPT#16 foram compactadas por vibração nos mesmos índices de vazios das colunas 1 e 2, isto é, 0,747 e 0,821, respectivamente. A densidade (ρd), teor de umidade gravimétrico (W) e energia de compactação das camadas de solo da coluna 3 estão apresentadas na Tabela 8.3. Figura 8.6 – Perfil de solo da barreira capilar: coluna 3. 174 Tabela 8.3 – Características de compactação da coluna 3. Espessura da camada ρd Wmédio Energia de compactação (cm) (g/cm3) (%) (kN/m3) Gnaisse 120 1,21 23,40 7,13x10-2 Areia IPT#100 40 1,52 Seca ao ar vibração Areia IPT#16 15 1,46 Seca ao ar vibração Coluna 3 O mesmo procedimento de colocação na coluna 1 de uma camada de pedrisco de 10 cm foi utilizado nesta coluna, objetivando também a simulação de uma condição de sucção nula na base da coluna. Portanto criou-se, também, um nível de água na parte superior da camada de pedrisco monitorado com bureta ligada ao dreno da base. Durante a montagem, houve absorção de água, e variação de nível de água em torno de 2 cm, pela camada de areia IPT#16, resultando em uma altura de ascensão desprezível. Posteriormente verificou-se que o teor de umidade volumétrico a uma altura de 3 cm da base da camada IPT#16 (altura de colocação do TDR) variou de 4 % para 7 % durante a montagem da coluna 3. Entretanto, para altura de 12 cm acima da base da camada de pedrisco (segundo ponto de monitoração do TDR) não houve mudanças de umidade. 8.6 INSTRUMENTAÇÃO DAS COLUNAS Os procedimentos de inserção das guias de onda (TDR), dos tensiômetros e dos termômetros foram apresentados nos itens 8.2, 8.3 e 8.4, respectivamente. Os orifícios de instalação dos diversos instrumentos foram feitos de modo a manter uma boa distribuição dos tensiômetros ao longo da coluna, procurando-se monitorar os pontos mais críticos, como, por exemplo, o topo e base da camada de gnaisse. Além deste aspecto levou-se em consideração durante a execução dos orifícios o posicionamento das hastes das guias de onda em relação às camadas de solo a serem compactadas. Portanto orifícios de introdução das hastes das guias de ondas foram executados de modo que estas ficassem entre duas camadas de solo, melhorando assim a aderência do solo à haste e diminuindo possíveis efeitos de contato haste-solo, conforme descrito anteriormente (itens 6.2 e 8.2). 175 Nos itens 8.6.1 a 8.6.3, está apresentada a descrição da instrumentação utilizada em cada coluna nos vários experimentos. 8.6.1 Instrumentação Coluna 1 Na Figura 8.7, estão apresentadas as localizações dos instrumentos utilizados para as medições de sucção e de teor de umidade volumétrico do solo ao longo do tempo, bem como a nomenclatura utilizada. Essa nomenclatura seguiu a utilização dos canais de comunicação entre o sistema de aquisição de dados e os instrumentos. Nessa coluna, não foram instalados termômetros. (Z) Ponto Nomenclatura (cm) 1 10 TDR1, T3 2 35 TDR2, T4 3 65 TDR3, T5 4 95 TDR4 5 115 TDR5, T6 6 125 TDR6, T1 7 163 TDR7 8 172 TDR8 Figura 8.7 –Localização da instrumentação utilizada na coluna 1. O teor de umidade volumétrico do solo foi medido com o TDR (1 a 8), utilizando-se guias de onda de 14 cm. Os tensiômetros utilizados nessa coluna foram o T3, T4, T5, T6 176 e T1. A quantidade de tensiômetros apresentados na Figura 8.7 variou no decorrer dos experimentos em função de: saturação do equipamento, capacidade de medidas de valores de sucção altos (> 70 kPa) e manutenção necessária durante os ensaios devido à difusão de ar. Os tensiômetros T3 e T5, localizados a 10 cm e 65 cm do topo respectivamente, foram instalados após 30 horas do início da infiltração, evitando assim possível cavitação. Enquanto os tensiômetros T4, T6 e T1, localizados à distância de 35 cm, 115 cm e 125 cm do topo, respectivamente, foram instalados posteriormente. Após os ensaios de evaporação foi necessária a reinstalação dos tensiômetros instalados no gnaisse, pois se permitiu a cavitação destes. A reinstalação dos tensiômetros só foi feita após o primeiro ensaio para simulação de chuvas. 8.6.2 Instrumentação Coluna 2 Na Figura 8.8, estão apresentadas as localizações dos instrumentos utilizados para as medições de sucção e de teor de umidade volumétrico do solo ao longo do tempo, bem como a nomenclatura utilizada. Essa nomenclatura também seguiu a utilização dos canais de comunicação entre o sistema de aquisição de dados e os instrumentos. Os procedimentos de instalações das guias de onda (TDR), dos tensiômetros e dos termômetros utilizados foram descritos anteriormente, itens 8.2, 8.3 e 8.4. 177 (Z) Ponto Nomenclatura (cm) 1 10 Tp1, TDR10, T15 2 35 Tp2, TDR11, T13 3 55 Tp3, TDR12, T12 4 65 Tp6, TDR13 Figura 8.8 –Localização da instrumentação utilizada na coluna 2. O teor de umidade volumétrico do solo foi medido com o TDR (10 a 13). Para que os tensiômetros não entrassem em processo de cavitação por causa da alta sucção inicial dos solos da coluna 2, estes instrumentos foram instalados próximos da execução dos ensaios de infiltração. Os tensiômetros utilizados nessa coluna foram o T15, T13 e T12. A quantidade de tensiômetros para monitoração também variou no decorrer dos experimentos. Os termômetros (Tp) utilizados foram Tp1, Tp2, Tp3 e Tp6. 8.6.3 Instrumentação Coluna 3 Na Figura 8.9, estão apresentadas as localizações dos instrumentos utilizados para medição do teor de umidade volumétrico do solo. O teor de umidade volumétrico do solo foi medido com o TDR (14 a 21), utilizando-se guias de onda de 14 cm. A localização da instrumentação utilizada está mostrada na Figura 8.9. Para monitoração da sucção, utilizaram-se os tensiômetros T2, T7, T9, T10 e T11. Os termômetros (Tp) utilizados foram Tp8 a Tp15. Os procedimentos de instalações dos diversos instrumentos foram descritos nos itens 8.2, 8.3 e 8.4. 178 (Z) Ponto Nomenclatura (cm) 1 10 Tp15, TDR14, T2 2 35 Tp14, TDR15, T7 3 65 Tp13, TDR16, T9 4 95 Tp12, TDR17 5 115 Tp11, TDR18, T10 6 125 Tp10, TDR19, T11 7 163 Tp9, TDR20 8 172 Tp8, TDR21 Figura 8.9 –Localização da instrumentação utilizada na coluna 3. Ressalta-se que durante a execução dos ensaios a instrumentação das colunas sofreu modificações, caso dos tensiômetros, em conseqüência da necessidade de calibração e manutenção dos equipamentos. Após os ensaios de evaporação, da mesma forma que os tensiômetros da coluna 1, foi necessária a reinstalação dos tensiômetros, pois se permitiu a cavitação destes. A reinstalação dos tensiômetros só foi feita após o primeiro ensaio para simulação de chuvas. 8.7 DESCRIÇÃO DOS EXPERIMENTOS Com o objetivo de verificar o comportameto das barreiras capilares submetidas a diferentes condições de infiltração e evaporação, executaram-se experimentos em colunas de solo no laboratório. Os experimentos simulados foram agrupados em três 179 tipos: ensaios de infiltração, ensaios de evaporação e ensaios com diferentes intensidades de chuvas. Entre cada ensaio, as colunas de solo foram fechadas para ocorrer a estabilização do perfil de umidade. Na Figura 8.10, está apresentado um organograma com os ensaios executados em cada coluna. A descrição desses ensaios está apresentada nos itens 8.6.1 a 8.6.3. Figura 8.10 – Organograma de ensaios. 8.7.1 Ensaios de Infiltração Os ensaios de infiltração objetivaram verificar a capacidade de retenção da barreira, a velocidade com que essa infiltração ocorre e a distribuição de água das diversas camada. Além desses aspectos, o ensaio de infiltração da coluna 1 serviu para uma avaliação dos modelos de Van Genutchen (1980) e Haverkamp et al. (1977), utilizados como ferramentas na análise e projeto de barreiras capilares. Após verificação de constância nas leituras de umidade (tempo de equilíbrio), os ensaios de infiltração foram feitos inicialmente nas colunas 1, com volume de água igual a 735 cm3 e, posteriormente, na coluna 2 com o mesmo volume. Para a execução 180 dos ensaios de infiltração, foi acoplado ao topo de cada coluna de solo mais um segmento de PVC de 15 cm de altura com anel de vedação. A água, então, foi adicionada ao topo da coluna lentamente e de forma contínua, utilizando-se uma bureta. Para evitar erosão da superfície de solo, colocou-se sobre a camada de gnaisse uma pedra porosa de proteção, durante todo o processo de inserção de água. Essa pedra porosa foi imediatamente retirada após cada ensaio. Nos ensaios nas colunas 1 e 2, a altura da lamina de água no topo das colunas chegou a um valor de aproximadamente 4 cm. A duração da infiltração de todo o volume de água adicionado pelo topo da coluna 1 foi de 34 dias, enquanto, na coluna 2, foi de 16 dias. Durante o tempo de infiltração, as colunas foram fechadas no topo para evitar a evaporação de água. Observou-se expansão média do topo dessas colunas 1 e 2 de 1 cm e 0, 75 cm, respectivamente. O ensaio de infiltração da coluna 3 foi feito em dois estágios de infiltração: o primeiro, com volume inicial de 735 cm3; e o segundo, com volume de 5700 cm3. Os procedimentos de adicionamento de água foram os mesmo adotados nas colunas 1 e 2. Antes de ambos os ensaios, deixou-se o perfil de umidade das colunas entrar em equilíbrio. O primeiro estágio foi executado para possibilitar a comparação da distribuição de água entre as colunas 1 e 3, e foi feito no mesmo período que o ensaio de infiltração dessa primeira coluna (coluna 1). No primeiro estágio, a infiltração ocorria praticamente ao mesmo tempo que o adicionamento da água, portanto para esse ensaio só foi possível obter os dados do monitoramento de umidade do solo. Após a execução do primeiro estágio, para se obter o perfil de umidade de equilíbrio do solo, o topo da coluna foi tampado, evitando, assim, a evaporação de água. Seguidamente ao equilíbrio do perfil de umidade do solo, o segundo estágio foi executado. Esse estágio foi executado visando a obtenção da capacidade máxima de rentenção da coluna, pois o volume de 735 cm3 não foi suficiente para saturação da barreira. No segundo estágio, a altura da lamina de água no topo da coluna foi mantido em um valor máximo de aproximadamente 15 cm. Para que isso fosse feito, necessitou-se dividir o volume de água, acrescentando-se água conforme o nível diminuia. Esse procedimento causou certa dispersão nos resultados, que necessitaram de ajuste. O tempo total para a infiltração de 5700 cm3 de água foi de 27 horas. Não se observou nenhuma expansão no solo do topo dessa coluna. 181 Algumas horas após o final do segundo estágio de infiltração (aproximadamente 25 h) observou-se vazamento de água pela base da coluna 3. Este vazamento foi constado ser proveniente do orifício de inserção do TDR 21 (profundidade de 172 cm do topo da coluna). A massa de vedação desse orifício foi então reforçada e o vazamento parado. A água que vazou foi coletada parcialmente, resultando em um volume de aproximadamente 1438 cm3. Na Figura 8.11, estão apresentados os dados do teor de umidade volumétrico obtidos com o TDR 21 da coluna 3 (profundidade de 172 cm) ao longo do tempo. Na tentativa de reestabelecer o nível anterior (1 cm abaixo da base da areia IPT#16), drenou-se a água da coluna pela bureta da base, rebaixando-se até o mesmo nível do pedrisco (175 cm do topo da coluna). A água infiltrada na coluna continuou sendo drenada até estabilização do nível. 40.0 Vari ação de n i ve l de águ a 35.0 30.0 θ (%) 25.0 20.0 Dre n age m pe l a bu re ta de base 15.0 10.0 5.0 0.0 3200 De te cção de águ a pe l o TDR 3250 3300 Col #3-TDR 21 P-172 cm Início da infiltração (5700 cm3) 3350 3400 3450 3500 Tempo (h) Figura 8.11 – Problemas de vazamento e aumento de nível de água da base da coluna 3, durante processo de infiltração. 8.7.2 Ensaios de Evaporação Os ensaios de evaporação foram executados com a finalidade de verificar: o comportamento das barreiras em condições “extremas” de evaporação imposta ao topo 182 da coluna. Os ensaios de evaporação foram feitos em condição controlada (“extrema”) de evaporação e a segunda em condições ambientais. Impôs-se uma evaporação potencial (evaporação da superfície de água livre) de valor aproximadamente 8 vezes maior que o valor de evaporação potencial do ambiente, utilizando-se para isso uma caixa “climatizada” (caixa de evaporação). Uma outra maneira de evaporação utlizada, foi a evaporação sob condições ambientais. Esta foi executada juntamente com os ensaios de simulação de chuvas em várias intensidades, sendo apresentadas como parte desse experimentos. Os ensaios em condições de evaporação controlada foram executados nas colunas 1 e 3. Para execução desses ensaios, acoplaram-se, ao topo das colunas, segmentos de PVC de 15 cm de altura. A caixa de evaporação, descrita no item 6.4, foi então colocada em cima das colunas e a abertura da caixa foi vedada com a utilização de placas de isopor. Para simulação de condições “extremas” de evaporação, colocou-se um desumidificador de ar no ambiente interno a caixa, diminuindo a umidade relativa do ar. As condições interna e externa à caixa foram monitoradas com termômetros e higromêtros. Além dessas medidas, obtiveram-se também as medidas de evaporação potencial. Para que a evaporação potencial fosse obtida, utilizaram-se segmentos de PVC (15 cm de altura) do mesmo tipo daqueles das colunas. Esses recipientes contendo água foram colocados dentro e fora da caixa. Os recipientes eram constantemente pesados (em balança dois dígitos de precisão) durantes os ensaios para controle da saída de água. 8.7.3 Ensaios com variação de intensidade de chuvas Os ensaios com variação de intensidade de chuvas visaram verificar o comportamento da barreiras sob condições de chuvas extremamente intensas com base no clima da Cidade de São Paulo (tempo de no mínimo recorrência de 50 anos, apud Pinto et al. 1976). Na Figura 8.12, estão apresentados os dados de intensidade e duração das chuvas simuladas. Na Figura, também estão apresentadas as curvas de intensidade pela duração para tempos de recorrência de 10, 25 e 50 anos a partir de dados fornecidos por Pinto et al. (1976) das chuvas da Cidade de São Paulo. As chuvas foram simuladas utilizando-se o chuvímetro apresentado no item 6.5. 183 Intensidade de chuva (mm/h) 200 180 50 an os 160 25 an os 140 120 Col#1, Col#2 e Col#3 Duração: 26 min 1h 8h 8h 10 an os 100 80 60 Col#1, Col#2 e Col#3 40 Col#2 20 Col#1 e Col#3 0 10 100 1000 Tempo de chuva (min) Figura 8.12- Variação de chuva da Cidade de São Paulo (apud Pinto et al. 1976) para tempos de recorrência de 10 anos, 25 anos e 50 anos em conjunto com as chuvas simuladas. As intensidades de chuvas simuladas foram de: 140 mm/h com tempo de duração (t) de 26 minutos e 60 mm/h com t=1 h, ambas as chuvas simuladas nas três colunas; e de 25 mm/h (col #1 e col #3) e 30 mm/h (col #2) com tempo de 8 h. A diferença de intensidade de chuva simulada para esta última coluna foi resultado de dificuldades surgidas na execução do experimento. Durante os ensaios, foram medidos o escoamento superficial da coluna (runoff) e a vazão de chuva a carga constante. Com esses dados, obtiveram-se os valores de chuva infiltrada no solo. O controle da carga de coluna de água foi feito por meio de válvula de vazão regulável (válvula de aparelhagem de soro, tipo conta gotas). Para confirmação da efetividade desse controle, a carga foi monitorada ao longo do ensaio. Observou-se pequena dispersão de no máximo 0,5 cm para chuva de 8 horas de duração. A vazão calculada foi baseada na carga média obtida durante o ensaio. As dispersões observadas nas cargas dos ensaios com chuvas de 8 horas estão refletidas nos resultados. 184 Para confirmar se não havia obstrução das agulhas diminuindo a vazão previamente calculada, fizeram-se medições de vazão antes e depois do ensaio. Na Figura 8.13, estão apresentadas as vazões calculadas antes e depois dos ensaios de infiltração. Observa-se que houve compatibilidade com pouca dispersão entre as curvas de calibração e os dados de vazão obtidos durante os ensaios. Calibração Col#1-#3 chuv 140 mm/h (antes) Col#1-#3 chuv 140 mm/h (depois) Col#2 chuv 140 mm/h (antes) Col#2 chuv 140 mm/h (depois) Col#2 chuv 25 mm/h (antes) Col#2 chuv 25 mm/h (depois) 90 Col#3 chuv 25 mm/h (antes) Col#3 chuv 25 mm/h (depois) Col#1 chuv 25 mm/h (antes) Col#1 chuv 25 mm/h (depois) Col#1-#2-#3 chuv 60 mm/h (antes) Col#1-#2-#3 chuv 60 mm/h (depois) 80 Carga (cm) 70 60 50 40 30 20 10 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 Intensidade de chuva (mm/h) Figura 8.13 – Verificação da relação carga versus intensidade de chuva para os ensaios realizados. 185 9 RESULTADOS E ANÁLISES DOS ENSAIOS EXPERIMENTAIS NAS COLUNAS Neste Capítulo, serão apresentados os resultados obtidos com os experimentos das colunas, bem como as suas análises. Para melhor visualização dos ensaios realizados, fez-se um breve histórico da monitoração das colunas. O detalhamento dos resultados será apresentado nos itens seguintes. Na Figura 9.1, está apresentada a monitoração do teor de umidade volumétrico em várias profundidades da coluna 1, utilizando-se o TDR. O gráfico foi dividido em seis áreas, numeradas de 1 a 6, representando as seguintes etapas de ensaios e monitoração: 1-construção e estabilização do perfil de umidade do solo; 2-infiltração do volume de água de 735 cm3; 3-estabilização do perfil de umidade devido à água infiltrada na barreira; 4- Evaporação com caixa climatizada (U.R.médio de 28%); 5-estabilização do perfil de umidade; e 6-simulações de chuvas intercaladas com períodos de evaporação nas condições ambientes. 186 TDR 1 (Col #1/Prof. -10 cm) TDR 2 (Col #1/Prof.-35 cm) TDR 3 (Col #1/Prof.-65 cm) TDR 4 (Col #1/Prof.-95 cm) TDR 5 (Col #1/Prof.-115 cm) TDR 6 (Col #1/Prof.-125 cm) TDR 7 (Col #1/Prof.-163 cm) TDR 8 (Col #1/Prof.-172 cm) Início: Infiltração 735 cm3 Final: Infiltração 735 cm3 Início: Evaporação (U.R.=28 %) Final: Evaporação (U.R. =28%) Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 25 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 45.0 40.0 35.0 θ (%) 30.0 25.0 1 2 20.0 3 4 5 6 15.0 10.0 5.0 0.0 0 1000 2000 3000 4000 Tempo (h) 5000 6000 7000 Figura 9.1- Variação do teor de umidade volumétrico da colunas 1 ao longo dos vários ensaios. Na Figura 9.2, está apresentada a monitoração do teor de umidade volumétrico em várias profundidades da coluna 2, utilizando-se o TDR. A monitoração dessa coluna pode ser dividida em quadro áreas, numeradas de 1 a 4. Cada área representa também uma etapa do estudo realizado: 1-construção e estabilização do perfil de umidade do solo; 2-infiltração do volume de água de 735 cm3; 3-estabilização do perfil de umidade na barreira; 4- simulações de chuvas intercaladas com períodos de evaporação nas condições ambientes. 187 TDR 10 (Col #2/Prof. -10 cm) TDR 11 (Col #2/Prof.-35 cm) TDR 12 (Col #2/Prof.-55 cm) TDR 13 (Col #2/Prof.-65 cm) Início: Infiltração 735 cm3 Final: Infiltração 735 cm3 Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 30 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 45 40 35 θ (%) 30 25 1 20 2 3 4 15 10 5 0 0 1000 2000 3000 4000 Tempo (h) 5000 6000 7000 Figura 9.2- Variação do teor de umidade volumétrico da colunas 2 ao longo dos vários ensaios. Na Figura 9.3, estão apresentados os dados da monitoração de teor de umidade volumétrico com o TDR da coluna 3. Os dados estão divididos também em áreas numeras de 1 a 6. Cada área representa uma etapa do estudo do comportamento dessa barreira, assim: 1- construção e estabilização do teor de umidade volumétrico; 2infiltração de volume de água de 735 cm3; 3- infiltração de volume de água de 5700 cm3 e estabilização; 4- evaporação imposta; 5- estabilização do perfil de umidade; e 6simulação de chuvas. 188 TDR 14 (Col #3 P-10 cm) TDR 15 (Col #3 P-35 cm) TDR 16 (Col #3 P-65 cm) TDR 17 (Col #3 P-95 cm) TDR 18 (Col #3 P-115 cm) TDR 21 (Col #3 P-172 cm) TDR 19 (Col #3 P-125 cm) TDR 20 (Col #3 P-163 cm) Início: Infiltração 735 cm3 Início: Infiltração 5700 cm3 Início: Evaporação (U.R.=28 %) Final: Evaporação (U.R.=28 %) Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 25 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 45.0 40.0 35.0 θ (%) 30.0 25.0 1 20.0 2 3 4 5 6 15.0 10.0 5.0 0.0 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 Tempo (h) Figura 9.3- Variação do teor de umidade volumétrico da colunas 3 ao longo dos vários ensaios. 9.1 VARIAÇÕES NAS LEITURAS DE SUCÇÃO COM OS TENSIÔMETROS AO LONGO DOS EXPERIMENTOS Durante a monitoração das barreiras foram encontradas algumas dificuldades nas medidas de valores de sucção utilizando-se os tensiômetros. Observaram-se dois tipos de variações “atípicas” nas leituras dos tensiômetros. O primeiro tipo foi devido a difusão de ar ao longo do tempo dentro dos tensiômetros e a manutenção dada para retirada desse ar. Algumas vezes necessitando a reinstalação dos instrumentos. A reinstalação também foi causada pelas altas sucção alcançadas nos experimentos, utrapassando a capacidade de leitura dos tensiômetros. O segundo tipo foi atribuído ao efeito da variação da temperatura. 189 Para ilustrar melhor o efeito de bolhas de ar no sistema por difusão e a necessidade de manutenção, estão apresentados na Figura 9.4 os dados obtidos com a simulação de chuva (chuva 25 mm/h, t=8h) em tensiômetros da coluna 1. Observa-se nesta Figura que a retirada de bolhas compromete parte das leituras, necessitando-se de interpretação dos dados. 100 Instalação Retirada de bolhas 90 80 Sucção (kPa) 70 60 50 Retirada de bolhas 40 30 Retirada de bolhas Instalação 20 10 0 6600 T3 6620 6640 6660 T4 6680 T5 6700 Tempo (h) Figura 9.4 –Ilustração de dificuldades na instrumentação de longa duração com os tensiômetros (coluna 1). Na Figura 9.5, estão ilustrados novamente a presença de ar em conjunto com efeito da temperatura, ambos observados em dados da coluna 3, tensiômetros T2 (Z=10 cm) e T11 (Z=125 cm). Na Figura 9.5a, estão apresentados os dados dos tensiômetros T2 e, para comparação, os dados do tensiômetro T9. Observa-se que há uma diferença nas tendências da sucção, essa diferença foi atribuída a difusão de ar com formação de bolhas dentro do tensiômetro. Mesmo com periódicas manutenções, ainda assim houve uma diminuição na leitura. Na Figura 9.5b, estão apresentados os dados de sucção obtidos com os tensiômetros T11 (camada de areia IPT#100, z=125 cm) e T10 (Gnaisse Z=115 cm). Observa-se nesta figura que inicialmente os tensiômetro estão seguindo a mesma tendência, porém para um tempo igual a aproximadamente 4050 horas começa a haver uma diferenciação das leituras, sem que houvesse qualquer mudança nas 190 características do ensaio. As diferenças aqui observadas foram atribuídas no caso da areia a variação de temperatura, em conjunto com a interação solo-pedra porosa e entre a camada de gnaisse e de areia IPT#100. 80 70 Sucção (kPa) 60 50 (a) Início da infiltração (5700 cm3) Início evaporação (U.R. 27%) T2 T9 Variação das leituras de sucção devido à difusão de ar 40 30 20 10 0 80 70 Sucção (kPa) 60 (b) Início da infiltração (5700 cm3) Início evaporação (U.R. 27%) T10 T11 50 40 30 Variação da sucção devido à variação de temperatura ambiente 20 10 0 3200 3400 3600 3800 4000 4200 4400 4600 4800 5000 Tempo (h) Figura 9.5 – Variação de medidas de sucção devido ao contato da pedra porosa com a areia. Analisando-se mais detalhadamente o problema, verificou-se que as variações encontradas nos tensiômetros instalados na areia IPT#100 ocorriam em sucções acima de 6 kPa. Observando-se as curvas de retenção de água desssa areia (ver Capítulo 5, Figura 5.10), pode-se verificar que, para essas sucções, a areia encontra-se praticamente no teor de umidade volumétrico residual. Portanto, qualquer variação pequena do teor 191 de umidade do solo, pode levar a grandes variações da sucção medida. Neste caso, qualquer variação volumétrica diferencial entre a lama e areia ou tensiômetro e água devido a diferenças de temperatura pode levar a mudanças na leitura. A existência de certa influência da temperatura nas leituras do tensiômetro (Figura 9.5b) foi constadada durante os experimentos. Na Figura 9.6, estão apresentados os dados da variação da sucção do solo da coluna 3 nas profundidades de 125 cm e 115 cm, lidas com os tensiômetros T11 e T10, respectivamente. Além desses dados, também estão apresentados na Figura 9.6, a variação da temperatura ambiente (Tp 7) e do solo (Tp 10) na profundidade de instalação do T11. Pode-se observar por esta figura que existe uma variação da sucção medida com o tensiômetro T11 com a variação da temperatura ambiente, i.e., para aumento de temperatura há uma diminuição na sucção lida e o contrário ocorre com a diminuição da temperatura. Vários autores (e.g. Germaine e Ladd, 1988; Mitchel, 1993) mostram que pode haver variações em medidas de pressão neutra no solo devido a diferenças no coeficiente de expansão térmica dos materias utilizados nos ensaios. Baseado nessa hipótese, pode ser verificado, utilizando-se o coeficiente de expansão volumétrico da água de 210x10-6 oC1 (Germaine e Ladd, 1988) e o coeficiente de expansão linear do plástico (Tenite Butyrate) do tensiômetro de 114x10-6 oC-1 (informação Soilmoisture por email), que a diferença da variação volumétrica do plástico em relação à da água é de 63 %. Portanto o tensiômetro expande mais que a água nas mesmas condições de variação de temperatura. Assim, caso haja bolha de ar dentro do tensiômetro, a diferença de expansão entre o tensiômetro e a água (aumento de temperatura) faz com que haja diminuição na sucção medida. No caso de diminuição da temperatura existe a diminuição do volume do corpo do tensiômetro, a bolha de ar é comprimida, aumentando a pressão interna e aumentando a sucção. Essse processo pode fazer com que haja uma pequena transferência entre a água do solo e do tensiômetro. Entretanto, como a variação volumétrica entre os materiais é pequena por causa dos volumes envolvidos de água, ar e corpo do tensiômetro, esse efeito só é significativo nas condições em que a sucção pode variar bastante com uma pequena variação do teor de umidade volumétrico, como é o caso da areia descrita aqui. 192 Ressalta-se, entretanto, que adicionalmente ao efeito da temperatura mostrado na Figura 9.6, existe a troca de umidade com a camada de gnaisse e o efeito de contato entre a pedra porosa e o solo. Temperatura (oC) 30 Tp 7 (ar) 28 26 24 22 20 Temperatura (oC) 30 Tp 10 (125 cm) 28 26 24 22 20 Sucção (kPa) 25 20 15 10 T10 (115 cm) T11 (125 cm) 5 0 4100 4200 4300 4400 4500 4600 4700 4800 Tempo (h) Figura 9.6 – Variação das leituras de sucção na camada de areia devido à variação da temperatura para coluna 3. 9.2 ENSAIOS DE INFILTRAÇÃO Na Figura 9.7, está apresentada a variação da razão de infiltração de água do solo com o tempo para os ensaios de infiltração nas colunas 1 (735 cm3), 2 (735 cm3) e 3 (5700 cm3). O valor do eixo das abscissas foi colocado em escala logarítmica para melhor visualização da entrada de água no tempo inicial. Os pontos acima da curva de ajuste da 193 coluna 3 foram causados por dispersão e pelo procedimento de ensaio, conforme explicado no item 8.7.1. Observa-se na Figura que a velocidade de infiltração de água na coluna 3 é maior que o coeficiente de permeabilidade dessa coluna (5x10-7 m/s ou 0,18 cm/h), indicando que o volume de água infiltra no solo sem haver saturação da camada superficial. Para as colunas 1 e 2, os valores da razão de infiltração medidos chegaram em torno do coeficiente de permeabilidade do gnaisse saturado (7x10-9 m/s ou 2,52x10-3 cm/h). Portanto nesse último caso existiu a saturação da camada superficial com a passagem da frente de umedecimento. 3 Razão de Infiltração (cm/h) 2.5 Coluna #1 (735 cm3) Coluna #2 (735 cm3) Coluna #3 (5700 cm3) 2 1.5 1 0.5 0 0.10 1.00 10.00 100.00 1000.00 Tempo (h) Figura 9.7 – Variação da razão de infiltração de água com o tempo para as colunas 1, 2 e 3. 9.2.1 Resultados de infiltração da coluna 1 Na Figura 9.8, estão apresentados os dados das variações da sucção e do teor de umidade volumétrico com o tempo, nas etapas iniciais, de infiltração de 735 cm3 de água e período de estabilização do perfil de umidade da coluna de solo 1. As retas verticais mostram o início e o final da infiltração de água. O tempo total de infiltração da água nessa coluna foi de 34 dias. Observa-se que a coluna encontra-se praticamente em equilíbrio já no início da montagem. Após o início da infiltração, há um aumento de 194 aproximadamente 1 a 2 % no teor de umidade volumétrico do solo nos dados detectados nos pontos TDR 1 a TDR 4. A variação medida no TDR 5 foi em torno de 2 a 3 %. No tempo de aproximadamente 34 dias depois da infiltração (817 h), há um decréscimo no teor de umidade volumétrica no TDR 5, indicando uma perda de água para camada inferior. Essa diminuição foi atribuída à absorção de parte da água do solo residual pela areia IPT#100. Este comportamento foi constatado pela variação do teor de umidade volumétrico detectado pelo TDR 6 (areia IPT#100), abaixo da camada de gnaisse, após o tempo de aproximadamente 817 h. Com base na variação do teor de umidade médio medido do gnaisse de 2 %, pode-se calcular a retenção de água dessa camada no valor de aproximadamente 444 cm3. Observa-se ainda que não houve qualquer mudança nas leituras dos TDR 7 e 8, localizados a 163 cm e 172 cm do topo da coluna de solo (base da barreira). Não foi observada, também, alteração no nível da bureta colocada na base da coluna. Portanto o restante do volume de água foi absorvido pelas camadas de areia, i.e., 291 cm3 dos 735 cm3 infiltrados. Assim pode-se concluir que a barreira funcionou adequadamente para o volume de água infiltrado. Observa-se ainda na Figura 9.8 que após início da infiltração há uma queda acentuada da sucção em T3 e T5. Após um tempo de aproximadamente 5 dias do início da infiltração, a sucção em T3 foi a valor nulo de sucção. Os valores de sucção em T5 chegaram a valores em torno de 2 kPa após um tempo de aproximadamente 15 dias e meio (371 h), sem, portanto, chegarem a zero. 195 40 T3 (Prof. 10 cm) T4 (Prof. 35 cm) T5 (Prof. 65 cm) T6 (Prof. 115 cm) T1 (Prof. 125 cm) Início: Infiltração 735 cm3 Final: Infiltração 735 cm3 35 Sucção (kPa) 30 25 20 15 10 5 0 45.0 θ (%) 40.0 35.0 30.0 25.0 10.0 θ (%) 8.0 6.0 4.0 2.0 0.0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 Tempo (h) TDR 1 (Col #1/Prof. -10 cm) TDR 2 (Col #1/Prof.-35 cm) TDR 3 (Col #1/Prof.-65 cm) TDR 4 (Col #1/Prof.-95 cm) TDR 5 (Col #1/Prof.-115 cm) TDR 6 (Col #1/Prof.-125 cm) TDR 7 (Col #1/Prof.-163 cm) TDR 8 (Col #1/Prof.-172 cm) Início: Infiltração 735 cm3 Final: Infiltração 735 cm3 Figura 9.8 – Variação da sucção e da umidade com o tempo devido à infiltração de 735 cm3 de água na coluna 1. 196 9.2.2 Resultados de infiltração da coluna 2 Na Figura 9.9, estão apresentados os dados das variações da sucção e do teor de umidade volumétrico com o tempo para infiltração de 735 cm3 de água na coluna 2. Observa-se nesta figura que os valores de sucção monitorados pelos tensiômetros da camada de gnaisse reduziram rapidamente após o início da infiltração de água pelo topo da barreira. Os valores de sucção medidos com o tensiômetro T15, a 10 cm do topo da coluna, reduziram rapidamente, chegando a zero em 3 dias e meio após o início da infiltração de água. Para os tensiômetros T13 (35 cm) e T12 (55 cm), os valores de sucção reduziram-se mais lentamente e de forma semelhante. Os tensiômetros T13 e T12 alcançaram valores de sucção mínimos na faixa de 1 a 2 kPa em aproximadamente 4 dias e meio do início da infiltração. Na Figura 9.9, pode-se observar ainda que os valores de teor de umidade medidos pelo TDR 13, localizado 5 cm abaixo da camada de gnaisse, aumentaram de 4 para a faixa de 8 a 9 % de umidade. A variação de umidade desse ponto seguiu a mesma tendência que o ponto de monitoramento do TDR 6 da coluna 1, também posicionado a 5 cm da camada de gnaisse. A única diferença entre esses pontos foi o tempo para o início do aumento de umidade a partir do início da infiltração. Na coluna 1, o tempo para que houvesse aumento do teor de umidade volumétrico foi de 34 dias, enquanto que para a coluna 2 esse tempo foi de aproximadamente 5,5 dias. Como as características de compactação dessas duas colunas são aproximadamente iguais, pode-se atribuir essa diferença à espessura da camada de gnaisse da coluna 1 (120 cm) em relação à coluna 2 (60 cm). Os TDRs 10, 11 e 12 localizados a 10 cm, 35 cm e 55 cm do topo da camada de gnaisse em um valor médio de 2,2 % de umidade. Adotando-se esse valor, chega-se a um volume de retenção de água pela camada de gnaisse de aproximadamente 244 cm3 de água, o restante dos 735 cm3 (491 cm3) infiltrou para as camadas de areias. As leituras da bureta de base dessa coluna indicaram um aumento do nível de água de 0,4 cm, considerando-se a porosidade da areia IPT#16 igual a 0,45, resulta em uma drenagem de aproximadamente 33 cm3 de água pela base. Com base nesses resultados, constata-se 197 4,5 % do volume de água infiltrado foi drenado pela base. Assim essa barreira não foi totalmente efetiva na retenção do volume de água infiltrado. 80 70 Sucção (kPa) 60 T 15 (Col#2 Prof.-10 cm) T 13 (Col#2 Prof.-35 cm) T 12 (Col#2 Prof.-55 cm) Início: Infiltração 735 cm3 Final: Infiltração 735 cm3 50 40 30 Col#2 ρ d=1,59 g/cm3) (ρ 20 θ (%) 10 0 42 41 40 39 38 37 36 35 12 T DR 10 (Col #2/Prof. -10 cm) T DR 11 (Col #2/Prof.-35 cm) T DR 12 (Col #2/Prof.-55 cm) Início: Infiltração 735 cm3 Final: Infiltração 735 cm3 θ (%) 10 8 6 4 2 T DR 13 (Col #2/Prof.-65 cm) Início: Infiltração 735 cm3 Final: Infiltração 735 cm3 0 3200 3400 3600 3800 4000 4200 4400 4600 4800 5000 Tempo (h) Figura 9.9 – Variação da sucção e da umidade com o tempo devido à infiltração de 735 m3 de água na coluna 2. 198 9.2.3 Resultados de infiltração da coluna 3 Os experimentos de infiltração dessa barreira foram feitos inicialmente com um volume de água de 735 cm3, deixando-se estabilizar as leituras de umidade do solo, após esse período um novo volume de 5700 cm3 foi infiltrado, conforme mencionado no Capítulo 8. Na Figura 9.10, estão apresentados os dados da variação do teor de umidade volumétrico obtidos com o tempo, antes da infiltração e depois dos dois experimentos de infiltração de 735 cm3 e 5700 cm3. Observa-se na Figura 9.9 que, no início da infiltração, pode-se observar a variação dos teores de umidade lidos pelos TDRs 14 e 15. O TDR 14, distante 10 cm do topo da coluna, variou inicialmente em aproximadamente 16 %, saindo de um valor de 28 % para 44 %. Após o tempo de 9 dias e meio o teor de umidade desse tensiômetro baixou para 35 %, estabilizando em aproximadamente 34 %. O TDR 15 variou inicialmente de 30 % para 35 %, estabilizando pouco abaixo de 34 % de teor de umidade. Nos TDRs 16, 17 e 18 só foi observado o aumento do teor de umidade em média de 2,3 %. Na Figura 9.10, ainda pode-se observar que não houve modificações nos teores de umidade volumétricos lidos com TDR 19 (5 cm abaixo da camada de gnaisse) e TDR 20 (163 cm do topo da coluna). Assim pode-se concluir que a barreira foi efetiva na retenção do volume de água adicionado, já que não houve passagem de água para as camadas de areia. A variação observada no TDR da base da coluna (TDR 21) foi causada pela reposição da bureta durante o ensaio, assim o acompanhamento da leitura do nível de água ficou comprometido, portanto não foi feito (ver item 8.7.1, Figura 8.11) 199 T DR 14 T DR 15 T DR 16 T DR 17 (Col #3 (Col #3 (Col #3 (Col #3 P -10 P -35 P -65 P -95 cm) cm) cm) cm) T DR 18 (Col #3 P -115 cm) Início: Infiltração 5700 cm3 Início: Infiltração 735 cm3 45.0 θ (%) 40.0 35.0 30.0 θ (%) 25.0 20.0 45.0 40.0 35.0 30.0 25.0 20.0 15.0 10.0 5.0 0.0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 Tempo (h) T DR 19 (Col #3 P -125 cm) T DR 20 (Col #3 P -163 cm) T DR 21 (Col #3 P -172 cm) Início: Infiltração 5700 cm3 Início: Infiltração 735 cm3 Figura 9.10 – Variação do teor de umidade volumétrico com o tempo no solo residual de gnaisse (TDR14 a 18) e na areia (TDR19 a 21) da coluna 3. Na Figura 9.11, estão apresentados os dados obtidos de sucção e teor de umidade volumétrico com a monitoração dos ensaios de infiltração de um volume de água de 5700 cm3. Esse ensaio foi feito com o objetivo de verificar a capacidade de retenção dessa barreira. Nessa Figura, observa-se que após um tempo de aproximadamente 380 h do início da infiltração há estabilização tanto nos valores de sucção monitorados, como nos valores de teor de umidade. O valor médio de umidade ao longo do perfil de solo foi de aproximadamente 37,5 %. 200 60 Sucção (kPa) 50 Col#3 T 2 (10 cm) T 7 (35 cm) T 9 (65 cm) 40 30 T 11 (125 cm) T 10 (115 cm) Início: Infilt ração 5700 cm3 20 10 0 45.0 θ (%) 40.0 35.0 θ (%) 30.0 25.0 45.0 40.0 35.0 30.0 25.0 20.0 15.0 10.0 5.0 0.0 3200 T DR 14 (Col #3 P -10 cm) T DR 15 (Col #3 P -35 cm) T DR 16 (Col #3 P -65 cm) 3300 3400 T DR 17 (Col #3 P -95 cm) T DR 18 (Col #3 P -115 cm) Início: Infilt ração 5700 cm3 3500 3600 3700 Tempo (h) T DR 19 (Col #3 P -125 cm) T DR 20 (Col #3 P -163 cm) T DR 21 (Col #3 P -172 cm) Início: Infilt ração 5700 cm3 Figura 9.11 – Variação do teor de umidade volumétrico com o tempo nas camadas de areias IPT#100 (TDR 19) e IPT#16 (TDR20 e TDR 21) da coluna 3. 201 9.3 RESULTADOS DE EVAPORAÇÃO: COLUNAS 1 E 3 Na Figura 9.12, estão apresentados os resultados obtidos com a monitoração da temperatura e da umidade relativa durante o ensaio de evaporação das colunas. A faixa média de umidade relativa imposta no topo das colunas foi de 28%, a faixa de variação ficou em torno de 26 a 30 %. A temperatura dentro da caixa foi elevada devido ao desumidificador instalado, com média igual a 45 oC. 100 Temperatura, oC (fora da caixa) Temperatura, oC (dentro da caixa) U.R., % (dentro da caixa) U.R., % (fora da caixa) 90 Temperatura (oC) 80 90 80 70 70 60 60 50 50 40 40 30 30 20 20 10 10 0 0.00 U. R. (%) 100 0 100.00 200.00 300.00 400.00 500.00 600.00 700.00 800.00 Tempo (h) Figura 9.12 – Variação de temperatura e umidade relativa (U.R.) dentro e fora da caixa “climatizada”. Na Figura 9.13, estão apresentados os dados da evaporação potencial obtidos dentro e fora da caixa climatizada. Observa-se nessa Figura que os valores da evaporação potencial de dentro da caixa foi de 0,465 mm/h, enquanto a evaporação ambiente (fora da caixa climatizada) foi de 0,05 mm/h. 202 400 Volume/área (mm) - saída de água 350 Recipiente com água (dentro da caixa) Recipiente com água (fora da caixa) 300 Evaporação Potencial = 0.465 mm/h R2 = 0.9964 250 200 150 100 Evaporação potencial = 0.0522 mm/h R2 = 0.9891 50 0 0.00 100.00 200.00 300.00 400.00 500.00 600.00 700.00 800.00 900.00 Tempo (h) Figura 9.13 – Evaporação potencial media dentro e fora da caixa “climatizada”. Na Figura 9.14, estão apresentados os dados da monitoração da coluna 1. Observa-se nesse gráfico que a variação da sucção do solo com o tempo nas diversas profundidades é paralela. Nessa Figura pode-se também observar que a variação do teor de umidade volumétrico da base da camada de gnaisse (TDR 5) é maior que na parte superior. Nos TDRs 1 a 4, a variação do teor de umidade volumétrico do solo é praticamente o mesmo. Na Figura 9.15, estão apresentados os perfis de sucção e de umidade do solo para os ensaio de evaporação, verifica-se que a saída até o tempo de 12 dias após o início da evaporação é linear. Após esse período, existe um leve aumento da evaporação do topo. Nessa figura, pode-se ainda observar que o teor de umidade forma uma espécie de “perfil de evaporação” inverso ao de infiltração, i.e, com a água saindo gradativamente da base. 203 80 T3 (Prof. 10 cm) T4 (Prof. 35 cm) T5 (Prof. 65 cm) T6 (Prof. 115 cm) T1 (Prof. 125 cm) 70 Sucção (kPa) 60 50 40 30 20 10 θ (%) 0 41.0 39.0 37.0 35.0 33.0 31.0 29.0 27.0 25.0 10.0 θ (%) 8.0 6.0 4.0 2.0 0.0 3500 4000 4500 5000 5500 6000 Tempo (h) TDR 1 (Col #1/Prof. -10 cm) TDR 2 (Col #1/Prof.-35 cm) TDR 3 (Col #1/Prof.-65 cm) TDR 4 (Col #1/Prof.-95 cm) TDR 5 (Col #1/Prof.-115 cm) TDR 6 (Col #1/Prof.-125 cm) TDR 7 (Col #1/Prof.-163 cm) TDR 8 (Col #1/Prof.-172 cm) Início: Evaporação (U.R.=28 %) Final: Evaporação (U.R. =28%) Figura 9.14 – Variação da sucção e da umidade com o tempo devido à evaporação imposta no topo da coluna 1. 204 Profundidade (cm) Sucção (kPa) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Col#1 Tempo após construção: 135 dias (equíbrio após infiltração de 735 cm3) 154 dias (início da evaporação 3700 h) 155,70 dias 158,70 dias 160,70 dias 166,70 dias 171,71 dias 176,70 dias 181,21 dias 188,86 dias 0 5 θ (%) 10 15 20 25 30 35 40 45 Col#1 Tempo após contrução: 134 dias (Equilíbrio) 135 (Equilíbrio) 154 dias 154,70 dias 171,71 dias 181,21 dias 225 dias (Equilíbrio após evaporação) 188,86 dias 191,43 dias Figura 9.15 – Perfis de sucção e de umidade durante evaporação da coluna 1. Na Figura 9.16, estão apresentados os resultados da variação da sucção e do teor de umidade volumétrico monitorados na coluna 3. Observa-se pela figura que a variação da sucção também é paralela, porém não-linear. A variação da sucção dessa coluna ocorre menos acentuadamente que a variação da coluna 1. Observa-se também nessa figura que a variação do teor de umidade volumétrico com o tempo entre os TDR 14 e 15 é paralela, o mesmo acontecendo entre os TDR 16, 17 e 18. Estes últimos no entanto apresentam maior variação do teor de umidade volumétrico, ou seja, maior saída de água com o tempo. 205 80 Sucção (kPa) 70 60 Col#3 T 2 (10 cm) T 7 (35 cm) T 9 (65 cm) T 11 (125 cm) T 10 (115 cm) Início: Evaporação (U.R.=28 %) Final: Evaporação (U.R.=28 %) 50 40 30 20 10 0 45.0 θ (%) 40.0 35.0 30.0 25.0 θ (%) T DR 14 T DR 15 T DR 16 T DR 17 45.0 40.0 35.0 30.0 25.0 20.0 15.0 10.0 5.0 0.0 3500 4000 (Col #3 (Col #3 (Col #3 (Col #3 P -10 P -35 P -65 P -95 cm) cm) cm) cm) 4500 T DR 18 (Col #3 P -115 cm) Início: Evaporação (U.R.=28 %) Final: Evaporação (U.R.=28 %) 5000 5500 6000 Tempo (h) T DR 19 (Col #3 P -125 cm) T DR 20 (Col #3 P -163 cm) T DR 21 (Col #3 P -172 cm) Início: Evaporação (U.R.=28 %) Final: Evaporação (U.R.=28 %) Figura 9.16 – Variação da sucção e da umidade com o tempo devido à evaporação imposta no topo da coluna 3. 206 9.4 EFEITO DA INTENSIDADE DE CHUVAS Nas Figuras 9.17 a 9.19, estão apresentados os dados obtidos com a simulação de uma chuva de alta intensidade e curta duração de 140 mm/h e duração de 26 minutos. Na Figura 9.17, os valores da vazão da chuva simulada, do escoamento superficial medido e do volume de chuva calculado estão apresentados para as colunas 1, 2 e 3. Observa-se nessa figura que o volume de chuva infiltrado nas colunas 1 e 2 são menos da metade do volume de chuva infiltrado na coluna 3. 1200 Volume infiltrado (col#1) Volume infiltrado (col#3) Volume escoado (col#2) Vol. chuva (I=140 mm/h; t=26 min) Volume infiltrado (col#2) Volume escoado (col#1) Volume escoado (col#3) Volume (cm3) 1000 800 600 400 200 0 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 Tempo decorrido (h) Figura 9.17 – Variação do volume (acumulado) de água infiltrado e do runoff com o tempo para I=140 mm/h e t=26 min nas 3 colunas. Na Figura 9.18, estão apresentados os dados do percentual de chuva infiltrado com o tempo para a chuva de 140 mm/h e para as colunas 1, 2 e 3. Na coluna 3, a quantidade de chuva infiltrada é de aproximadamente 38%, enquanto que para as colunas 1 e 2 essa percentagem diminuí para um valor de 10 %. Verifica-se também na figura que até um 207 tempo de aproximadamente 6 minutos não houve nenhum escoamento superficial para a coluna 3. 100 Coluna 1 (I=140 mm/h; t=26 min) Coluna 2 (I=140 mm/h; t=26 min) Coluna 3 (I=140 mm/h; t=26 min) 90 Chuva infiltrada (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 Tempo (h) Figura 9.18 – Percentual de chuva infiltrado com o tempo para I=140 mm/h e t=26 min para as 3 colunas. Na Figura 9.19, estão apresentadas as variações da razão de infiltração com o tempo da chuva de 140 mm/h e t=26 min. Observa-se por esta Figura que, para o tempo de chuva, não houve diminuição da razão de infiltração a valores iguais ao do coeficiente de permeabilidade do solo saturado. Essa situação ocorre quando há saturação da camada superficial do solo. Assim pode-se concluir que para a intensidade de chuva e o tempo simulado não houve saturação superficial do solo. Este aspecto está refletido nos valores monitorados na profundidade de 10 cm nas 3 colunas (Figuras 9.26 a 9.28). 208 14 Coluna 1 (I=140 mm/h; t=26 min) Coluna 2 (I=140 mm/h; t=26 min) Coluna 3 (I=140 mm/h; t=26 min) Razãso de infiltração (cm/h) 12 10 8 6 4 2 0 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 Tempo (h) Figura 9.19 – Razão de infiltração com o tempo para I=140 mm/h e t=26 min para as 3 colunas. Na Figura 9.20, estão apresentados os valores de volume de água simulado, volume escoado superficialmente e volume infiltrado para as chuvas de 25 mm/h e 30 mm/h, a primeira para as colunas 1 e 3 e a segunda, para a coluna 2. O tempo de duração de ambas as intensidades de chuvas foi de 8 horas. Verifica-se novamente que os volumes de água infiltrados para as colunas 1 e 2 foram iguais, mesmo sendo a intensidade de chuva dessas duas colunas diferentes. Os valores do volume de água infiltrado para as colunas 1 e 2 foram também menores que a metade do valor infiltrado na coluna 3. 209 5000 4500 4000 Volume (cm3) 3500 3000 Volume infiltrado (col#1) Volume infiltrado (col#2) Volume infiltrado (col#3) Volume escoado (col#1) Volume escoado (col#2) Volume escoado (col#3) Vol. chuva (I=30 mm/h; t=8 h)-Col#2 Vol. chuva (I=25 mm/h; t=8 h) -Col #1 e #3 2500 2000 1500 1000 500 0 0.000 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 7.000 8.000 9.000 Tempo decorrido (h) Figura 9.20 – Variação do volume (acumulado) de água infiltrado e do runoff com o tempo para I=25 mm/h para as colunas 1 e 3 e I=30 mm/h para coluna 2, todos em t=8 h. Na Figura 9.21, estão apresentadas as variações do percentual de chuva infiltrada na coluna 2 com chuva de 30 mm/h e nas colunas 1 e 3 com chuva de 25 mm/h. Observase nessa figura que 30 % do volume total de chuva infiltraram na coluna 3, na coluna 1 e 2 o percentual infiltrado foi de apenas 10 %. Na Figura 9.22, estão apresentadas as curvas da razão de infiltração pelo tempo para as chuvas de 8 horas e para as 3 colunas. Observa-se na Figura os valores da razão de infiltração para essa chuva também foram acima dos coeficientes de permeabilidade do solo saturado. 210 100 Coluna 1 (I=25 mm/h; t=8 h) Coluna 2 (I=30 mm/h; t=8 h) Coluna 3 (I=25 mm/h; t=8 h) 90 80 Chuva infiltrada (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 Tempo (h) Figura 9.21 – Percentual de chuva infiltrado com o tempo para I=25 mm/h para as colunas 1 e 3 e I=30 mm/h para coluna 2, todos em t=8 h. 3 Coluna 1 (I=25 mm/h; t=8 h) Coluna 2 (I=30 mm/h; t=8 h) Coluna 3 (I=25 mm/h; t=8 h) Razãso de infiltração (cm/h) 2.5 2 1.5 1 0.5 0 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 Tempo (h) Figura 9.22 – Razão de infiltração com o tempo para I=25 mm/h para as colunas 1 e 3 e I=30 mm/h para coluna 2, todos em t=8 h. 211 Na Figura 9.23, estão apresentados os dados do volume de chuva acumulado, do volume escoado e do volume infiltrado para chuva de intensidade de 60 mm/h e duração de 1 hora para as três colunas. Observa-se na figura que o volume infiltrado para a coluna 3 é o dobro do volume infiltrado para as colunas 1 e 2. 1200 Vol. chuva (I=60 mm/h; t=1 h) Volume infiltrado (col#2) Volume escoado (col#1) Volume escoado (col#3) Volume infiltrado (col#1) Volume infiltrado (col#3) Volume escoado (col#2) Volume (cm3) 1000 800 600 400 200 0 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 Tempo decorrido (h) Figura 9.23 – Variação do volume (acumulado) de água infiltrado e do runoff com o tempo para I=60 mm/h e t=1 h nas 3 colunas. Na Figura 9.24, estão apresentados os dados da variação do percentual de chuva infiltrado com o tempo para a intensidade de chuva de 60 mm/h. O percentual total de chuva infiltrada foi de 38 % para a coluna 3 e 16 % para as colunas 1 e 2. Na Figura 9.25, estão apresentados os dados da variação da razão de infiltração com o tempo para as colunas 1, 2 e 3 e intensidade de chuva de 60 mm/h. Para essa intensidade e duração também não houve saturação da camada superficial do solo, com a razão de infiltração ficando muito acima dos valores dos coeficientes de permeabilidade do solo saturado. 212 100 Coluna 1 (I=60 mm/h; t=1 h) 90 Coluna 2 (I=60 mm/h; t=1 h) 80 Coluna 3 (I=60 mm/h; t=1 h) Chuva infiltrada (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 Tempo (h) Figura 9.24 – Percentual de chuva infiltrado com o tempo para I=60 mm/h e t=1 h nas 3 colunas. 6.00 Coluna 1 (I=60 mm/h; t=1 h) Coluna 2 (I=60 mm/h; t=1 h) Razãso de infiltração (cm/h) 5.00 Coluna 3 (I=60 mm/h; t=1 h) 4.00 3.00 2.00 1.00 0.00 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 Tempo (h) Figura 9.25 – Razão de infiltração com o tempo para I=60 mm/h e t=1 h nas 3 colunas. Na Figura 9.26, estão apresentados os dados da monitoração de sucção e teor de umidade volumétrico ao longo do perfil de solo da coluna 1. Na Figura, pode-se verificar que a barreira capilar teve uma variação grande da sucção, porém só nas camadas mais superficiais do solo. A variação da sucção diminuiu conforme aumentou 213 a profundidade. O aumento da sucção dessa camada entre os intervalos de chuvas foi praticamente na mesma velocidade de diminuição da sucção. Mesmo para chuva de 25 mm/h e 8 horas de duração a barreira respondeu bem, apesar de nessa chuva a variação de umidade e sucção medidas ser maior. Os valores do teor de umidade volumétrico do solo variaram somente nas leituras dos TDR 1 (10 cm do topo) e TDR 2 (35 cm), porém em uma faixa limitada de 36 % a 39 %. Para os outros TDR (3-8) não houve variação para as chuvas simuladas. Na Figura 9.27, estão apresentados os dados da monitoração de sucção e teor de umidade volumétrico ao longo do perfil de solo da coluna 2. Mesmo com o solo superficial da coluna se apresentar praticamente saturado (teores de umidade na faixa de 40 % a 41 %), a coluna para este caso foi efetiva na função de barreira capilar. A variação da sucção medida nessa barreira alcançou profundidades de até 55 cm (T12), chegando a valores próximos de zero na superfície do solo para intensidade de chuvas de 30 mm/h e duração de 8 horas. Entretanto após um período de 6 dias de evaporação a barreira já estava com valores de sucção superiores ao de antes das chuvas. Na Figura 9.28, estão apresentados os dados da monitoração de sucção e teor de umidade volumétrico ao longo do perfil de solo da coluna 3. Para esta coluna, observouse uma variação no teor de umidade volumétrico do solo maior que para as colunas 1 e 2. O volume de água infiltrado com a simulação das chuvas não variou na base do gnaisse mais que 6 %. Durante a simulação da chuva de 25 mm/h e duração de 8 h houve infiltração de água proveniente da camada de gnaisse para areia, como pode ser observado na variação do TDR 19 a 125 cm do topo da coluna (camada de areia IPT#100). Essa barreira, portanto, foi a menos efetiva durante as simulações das chuvas. Comparando-se as Figuras 9.26 e 9.27, coluna 1 e da coluna 2, verifica-se que os teores de umidade volumétricos médios da camada de gnaisse para coluna 1 e 2 e antes das chuvas foram de 37 % para a coluna 1 e 40 % para coluna 2. Esses valores correspondem a um grau de saturação dessa camada de 88 % e 95 % para as colunas 1 e 2 respectivamente. As diferenças dos graus de saturação das colunas 1 e 2 durante as simulações levaram a pequenas diferenças nos valores obtidos nos ensaios quando comparados com os valores relacionados à densidade do solo (dados da coluna 3). Sucção (kPa) 214 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Col#1 T3 T4 T5 T1 Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 25 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 45.0 θ (%) 40.0 35.0 30.0 25.0 T DR T DR T DR T DR 14.0 (Col (Col (Col (Col #1/Prof. -10 cm) #1/Prof.-35 cm) #1/Prof.-65 cm) #1/Prof.-95 cm) T DR 5 (Col #1/Prof.-115 cm) Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 25 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h T DR 7 (Col #1/Prof.-163 cm) T DR 8 (Col #1/Prof.-172 cm) Início:Chuva 140 mm/h t=26 min 12.0 θ (%) 1 2 3 4 10.0 8.0 Início:Chuva 25 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 6.0 4.0 2.0 0.0 6100 6200 6300 6400 6500 6600 6700 6800 Tempo (h) Figura 9.26 – Variação da sucção e do teor de umidade volumétrico da coluna 1 com o tempo para as três chuvas simuladas. Sucção (kPa) 215 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Col#2 T 15 T 13 T 12 Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 30 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 45 θ (%) 40 35 30 T DR 10 (Col #2/Prof. -10 cm) T DR 11 (Col #2/Prof.-35 cm) T DR 12 (Col #2/Prof.-55 cm) Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 30 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 25 θ (%) 14 12 10 8 6 T DR 13 (Col #2/Prof.-65 cm) Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 30 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 4 2 0 6100 6200 6300 6400 6500 6600 6700 6800 Tempo (h) Figura 9.27 – Variação da sucção e do teor de umidade volumétrico da coluna 2 com o tempo para as três chuvas simuladas. 216 T2 T7 T9 Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 25 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 40 Sucção (kPa) 35 30 Col#3 25 20 15 10 5 0 45.0 θ (%) 40.0 35.0 30.0 θ (%) 25.0 45.0 40.0 35.0 30.0 25.0 20.0 15.0 10.0 5.0 0.0 6100 TDR 14 (Col #3 P-10 cm) TDR 15 (Col #3 P-35 cm) TDR 16 (Col #3 P-65 cm) TDR 17 (Col #3 P-95 cm) 6200 6300 6400 TDR 18 (Col #3 P-115 cm) Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 25 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h 6500 6600 6700 6800 Tempo (h) TDR 19 (Col #3 P-125 cm) TDR 20 (Col #3 P-163 cm) TDR 21 (Col #3 P-172 cm) Início:Chuva 140 mm/h t=26 min Início:Chuva 25 mm/h t=8 h Início:Chuva 60 mm/h t=1 h Figura 9.28 – Variação da sucção e do teor de umidade volumétrico da coluna 3 com o tempo para as três chuvas simuladas. 217 Na Figura 9.29, estão apresentados os dados da variação do volume infiltrado com a intensidade de chuva. Observa-se neste gráfico que uma chuva de menor intensidade e maior duração é mais importante para o balanço de água da coluna que uma chuva de maior intensidade e menor duração. Esse aspecto foi observado também nos dados de monitoração das barreiras, sendo importante aspecto a ser considerado na simulação e projeto das barreiras. 1400 Col #1 Col #2 Col #3 Volume infiltrado (cm3) 1200 1000 800 t=1h t=26 min t=8h 600 400 200 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Intensidade de Chuva (cm/h) Figura 9.29 – Variação do volume infiltrado com colunas. Os dados de simulações de chuvas indicam que o volume de escoamento superficial da barreira é um importante para o balanço de água da barreira. Verificou-se que a barreira de melhor desempenho foi a da coluna 1, utilizada com camada de 120 cm de espessura e com densidade seca de 1,59 g/cm3. A influência da espessura da camada nos experimentos foi importante só para condição de infiltração contínua, para condições em que se permitiu a evaporação de água (simulações de chuvas), obtiveram-se efetividades semelhantes entre a barreira de 60 cm de espessura de camada de gnaisse (coluna 2) e a barreira de 120 cm (coluna 1). Comparando-se o desempenho nos experimentos de chuvas da barreira capilar com camada de gnaisse de 60 cm de altura (coluna 2) e densidade seca de 1,59 g/cm3 com as de 120 cm e densidade seca de 1,21 g/cm3 (coluna 3), verificou-se que as primeiras tiveram melhor desempenho já que não foi constatada passagem de água para a camada de areia. 218 10 AVALIAÇÃO DOS MODELOS DE VAN GENUTCHEN E HAVERKAMP 10.1 OBJETIVO O objetivo principal deste Capítulo é avaliar os modelos de Van Genuchten (1980) e Haverkamp et al. (1977), utilizados em análises e projetos de coberturas de aterro. Nestas análises utilizaram-se os dados experimentais obtidos com a infiltração de água da coluna 1 de solo. 10.2 AJUSTE DA CURVA DE RETENÇÃO E FUNÇÃO DE PERMEABILIDADE As análises para aferição dos parâmetros da curva de retenção e para obtenção da função de permeabilidade dos diversos solos foram feitas com o software VS2DHI. As condições de contorno e as condições iniciais adotadas nas simulações estão apresentadas na Figura 10.1. 219 Teor de umidade volumétrico (%) 0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00 35.00 40.00 45.00 0.00 20.00 Produndidade (cm) 40.00 60.00 Perfil de umidade inicial 80.00 100.00 120.00 140.00 160.00 Figura 10.1 - Condições de contorno e iniciais adotadas na simulação da coluna 1. O perfil de umidade inicial adotado foi o mesmo medido pelo TDR. A razão de infiltração de água no solo foi adotada igual 8 cm/h durante 800 horas, sem que haja acúmulo superficial. Essa hipótese é válida na medida que a quantidade de água acumulada na superfície do solo é pequena, não tendo grandes influências na razão de infiltração como foi observado na comparação de resultados. No caso das areias, as funções de permeabilidade foram obtidas diretamente por meio do uso do modelo Van Genuchten (1980). Na Figura 10.2, estão apresentadas as funções de permeabilidade obtidas com o citado modelo para as areias. As funções de permeabilidade da areias ajustadas pelo modelo de Haverkamp et al. (op. cit.) foram obtidas sobrepondo o ajuste desse modelo às curvas da Figura 10.2. Na Figura 10.3, estão apresentadas as funções de permeabilidade para areias IPT#100 e IPT#16 obtidas pelo modelo de Haverkamp et al. (op. cit.) Para que a simulação fosse executada, tomaram-se, como base, as curvas de retenção dos solos obtidas no laboratório e os pontos experimentais medidos pela instrumentação da coluna 1. 220 1.E+00 IPT#16-VG Areia IPT#100-VG 1.E-01 Areia IPT#50-VG Kr 1.E-02 1.E-03 1.E-04 1.E-05 1.E-06 0.1 1 10 100 1000 10000 100000 Sucção (kPa) Figura 10.2 – Funções de permeabilidade de areias obtidas pelo modelo de Van Genuchten (1980). 1.E+00 Areia IPT#100-Hav 1.E-01 Areia IPT#16-Hav Kr 1.E-02 1.E-03 1.E-04 1.E-05 1.E-06 0.1 1 10 100 1000 10000 100000 Sucção (kPa) Figura 10.3 - Funções de permeabilidade de areias obtidas pelo modelo de Haverkamp et al. (1977). Para execução da simulação, obtiveram-se, da instrumentação realizada, valores de sucção e teor de umidade volumétrica do solo residual. Estes valores quando obtidos em um mesmo intervalo de tempo são pares de valores da curva de retenção do solo. Esses pontos da curva de retenção do solo obtidos via instrumentação serviram como base para novo ajuste da curva de retenção. Na Figura 10.4, estão apresentados juntos com os 221 dados da curva inicial (ajuste inicial) os novos ajustes tanto para o modelo de Van Genuchten (1980) como para o modelo de Haverkamp et al. (1977). Observa-se na Figura 10.4 que o teor de umidade volumétrico inicial diferiu bastante dos dados obtidos com ensaios de placa de sucção e translação de eixo. Atribuiu-se esta diferença a certo confinamento do solo dentro da coluna diminuindo assim a capacidade de expansão com a entrada de água. Este aspecto pode ser observado na execução de ensaios de laboratório da curva de retenção dos CP2-PNO. Estes corpos de prova apresentaram expansão volumétrica de até 9 %. Ressalta-se, porém, que se deve considerar imprecisões de medidas nesse valor de expansão. Outro aspecto indicativo de possível expansão do solo na obtenção da curva de retenção é a clara alteração da superfície do solo com a entrada de água, entretanto deve-se considerar também a precisão de medida Teor de umidade volumétrico (%) dos instrumentos. 47.5 45.0 42.5 40.0 37.5 35.0 32.5 30.0 27.5 25.0 22.5 20.0 17.5 15.0 12.5 10.0 7.5 5.0 2.5 0.0 T5 T3 Van Genutchen ajuste inicial Van Genutchen (1980) Haverkamp et al. (1997) Haverkamp- ajuste inicial 0.1 1 10 100 Sucção (kPa) 1000 10000 100000 Figura 10.4 – Curva de retenção obtidas a partir dos ajustes dos modelos aos dados experimentais para o solo residual. As curvas apresentadas na Figura 10.4 foram obtidas por ajuste manual e por tentativa e erro para melhor aproximar as simulações dos dados experimentais obtidos. Nota-se que há pouca diferença no ajuste da curva de retenção para os dois modelos. Nas Figuras 222 10.5 e 10.6, estão apresentadas os resultados da variação da sucção com o tempo para profundidade a partir do topo de 10 cm (T3) e 65 cm (T5). As simulações realizadas com os modelos de Van Genuchten (1980) (Figura 10.5) e Haverkamp et al. (1977) (Figura 10.6) com o novo ajuste das curvas de retenção estão também apresentados nestas Figuras. O coeficiente de permeabilidade saturado do solo residual de gnaisse foi modificado de 7x10-9 m/s para 2,22x10-9 m/s, objetivando melhor correlação entre os dados experimentais e as simulações. Comparando-se as Figuras 10.5 e 10.6, observa-se que, apesar da pequena diferença no ajuste da curva de retenção, as diferenças na variação da sucção com o tempo em relação aos dados experimentais para a simulação executada com o modelo de Van Genuchten (op. cit.) são maiores que as simulações executadas com o modelo de Haverkamp et al. (op. cit.). 70 60 T3 Simul. 10 cm T5 Simul. 65 cm Parâmetos utilizados Van Genuchten (1980): Alfa= 0,00034 cm Beta= 1,5213 Teta sat= 0,405 Teta res= 0,001 Ksat= 0,0008 cm/h Teor de umidade inicial 40,0 % (com 10 cm topo de 39,4%) Sucção (kPa) 50 40 30 20 10 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Tempo (h) Figura 10.5 - Ajuste da variação da sucção com o tempo pelo modelo de Van Genuchten (1980) aos pontos experimentais obtidos com tensiômetros na coluna 1. 223 90 T3 T5 80 Parâmetos utilizados Haverkamp et al. (1977): Alfa= -14000 cm Beta= 1,15 Teta sat= 0,405 Teta res= 0,001 Ksat= 0,0008 cm/h A'= -5000000 cm B'= 4 Teor de umidade inicial 40,0 % e 39,4% Simul. 10 cm Simul. 65 cm 70 Sucção (kPa) 60 50 40 30 20 10 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Tempo (h) Figura 10.6 - Ajuste da variação da sucção com o tempo pelo modelo de Haverkamp et al. (1977) aos pontos experimentais obtidos com tensiômetros na coluna 1. Nas Figuras 10.7 e 10.8, estão apresentados os resultados experimentais do teor de umidade volumétrico do solo residual com o tempo para as profundidades de 10 cm (TDR 1) e 65 cm (TDR 3) a partir do topo da coluna. As correlações obtidas com os dois modelos foram boas. Esse aspecto é explicado pela pouca variabilidade que o teor de umidade volumétrico do solo apresenta perto da saturação em comparação com a variação da sucção. 224 42.0 TDR 1 (Col #1/Prof.-10 cm) TDR 3 (Col #1/Prof.-65 cm) Teor de umidade volumétrico (%) 41.5 Simul. 10 cm Simul. 65 cm 41.0 40.5 40.0 39.5 Parâmetos utilizados Van Genuchten (1980): Alfa= 0,00034 cm Beta= 1,5213 Teta sat= 0,405 Teta res= 0,001 Ksat= 0,0008 cm/h Teor de umidade inicial 40,0 % (com 10 cm topo de 39,4%) 39.0 38.5 38.0 37.5 37.0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Tempo (h) Figura 10.7 – Ajuste do teor de umidade volumétrica pelo modelo de Van Genuchten (1980) aos pontos experimentais obtidos com TDR na coluna 1. 42.0 TDR 1 (Col #1/Prof.-10 cm) TDR 3 (Col #1/Prof.-65 cm) 41.5 Simul. 10 cm Simul. 65 cm Teor de umidade vol. (%) 41.0 40.5 40.0 Parâmetos utilizados Haverkamp et al. (1977): Alfa= -14000 cm Beta= 1,15 Teta sat= 0,405 Teta res= 0,001 Ksat= 0,0008 cm/h A'= -5000000 cm B'= 4 Teor de umidade inicial 40,0 % e 39,4% 39.5 39.0 38.5 38.0 37.5 37.0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Tempo (h) Figura 10.8 - Ajuste do teor de umidade volumétrica pelo modelo de Haverkamp et al. (1977) aos pontos experimentais obtidos com TDR na coluna 1. 225 Na Figura 10.9, estão apresentados os resultados experimentais e das simulações da variação do volume de água acumulado que entrou pelo topo da barreira capilar. Neste caso, obteve-se melhor correlação entre o modelo de Van Genuchten (op. cit.) e os dados experimentais. Foram feitas outras tentativas para aumento da vazão de água utilizando-se o modelo de Haverkamp et al. (op. cit.), porém não se obteve sucesso. Na Figura 10.10, estão apresentadas as funções de permeabilidades obtidas a partir das simulações descritas acima. Volume de entrada acumulado (cm3) 700 600 500 400 300 200 Experimental coluna #1 Van Genutchen (1980) 100 Haverkamp et al. (1977) 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Tempo (h) Figura 10.9 – Variação do volume de água infiltrado por unidade de área com o tempo. 226 1.00E+00 1.00E-01 1.00E-02 Van Genutchen (1980) Haverkamp et al. (1977) kr 1.00E-03 1.00E-04 1.00E-05 1.00E-06 1.00E-07 0.1 1 10 100 1000 10000 100000 Sucção (kPa) Figura 10.10 - Função de permeabilidade, relativa para o solo residual de gnaisse, obtidas pelo modelo de Van Genuchten (1980) e Haverkamp et al. (1977). Após várias tentativas mal sucedidas para aumento da vazão de entrada de água utilizando-se o modelo de Haverkamp et al. (1977), decidiu-se acrescentar ao perfil de solo uma camada superficial de solo residual alterado devido à expansão observada no experimento. Assim considerou-se que houve expansão de 1 cm do topo da coluna de solo e alteração de suas propriedades de 5 cm. Este valor foi obtido, verificando-se por meio da comparação dos dados experimentais com os dados de simulações, qual espessura de camadas de solo alterado melhor se adequaria aos dados observados. Na Figura 10.11, estão apresentadas as condições de contorno e iniciais das simulações realizadas, bem como o perfil de umidade inicial adotado. 227 Teor de umidade volumétrico (%) 0.00 Alteração 3,5 cm 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00 35.00 40.00 45.00 0.00 20.00 Produndidade (cm) 40.00 60.00 Perfil de umidade inicial 80.00 100.00 120.00 140.00 160.00 Figura 10.11 – Condições de contorno e iniciais adotadas na simulação da coluna 1, considerando-se uma camada de solo superficial alterada de 3,5 cm de espessura. Adotaram-se os mesmos procedimentos executados para a simulação acima, incluindo, entretanto, a camada superficial alterada. Várias tentativas foram executadas para obtenção da melhor correlação da simulação com os dados observados. As tentativas realizadas com o modelo de Van Genuchten (1980) não foram incluídas nesse trabalho, por apresentarem pior correlação que as tentativas utilizando-se o modelo de Haverkamp et al. (1977) em relação aos dados experimentais obtidos. Na Figura 10.12, estão apresentadas as curvas de retenção dos diversos solos. Para execução das simulações com o modelo de Haverkamp et al. (op. cit.), foi necessário adoção de uma curva de retenção, obtida com esse modelo, da camada de solo expandido (camada alterada do topo da coluna). Teor de umidade volumétrico (%) 228 55.0 52.5 50.0 47.5 45.0 42.5 40.0 37.5 35.0 32.5 30.0 27.5 25.0 22.5 20.0 17.5 15.0 12.5 10.0 7.5 5.0 2.5 0.0 T5 T3 Haverkamp et al. (1997) Haverkamp- ajuste inicial Solo expandido (topo col#1) 0.1 1 10 100 Sucção (kPa) 1000 10000 Figura 10.12 – Curvas de retenção de água obtidas pelo ajuste do modelo de Haverkamp et al. (1977) ao dados experimentais, considerando-se existir alteração do solo superficial. Nas Figuras 10.13 e 10.14, estão apresentados os resultados simulados com o modelo de Haverkamp et al. (1977) da variação da sucção e variação do teor de umidade com o tempo respectivamente para um coeficiente de permeabilidade saturado ligeiramente alterado passando de 7x10-9 m/s (ensaios de laboratório) para 2,22x10-9 m/s (8x10-4 cm/h). 100 T3 T5 90 Parâmetos utilizados Haverkamp et al. (1977): Alfa= -14000 cm Beta= 1,15 Teta sat= 0,405 Teta res= 0,001 Ksat= 0,0008 cm/h A'= -900000 cm B'= 2,7 Teor de umidade inicial 40,0 % e 39,4% Simul. 10 cm Simul. 65 cm 80 Sucção (kPa) 70 60 50 40 30 20 10 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Tempo (h) Figura 10.13 - Ajuste dos valores de sucção simulados com o modelo de Haverkamp et al. (1977) aos dados experimentais para coeficiente de permeabilidade saturado de 0,0008 cm/h. 229 42.0 TDR 1 (Col #1/Prof.-10 cm) TDR 3 (Col #1/Prof.-65 cm) 41.5 Simul. 10 cm Simul. 65 cm Teor de umidade vol. (%) 41.0 40.5 40.0 Parâmetos utilizados Haverkamp et al. (1977): Alfa= -14000 cm Beta= 1,15 Teta sat= 0,405 Teta res= 0,001 Ksat= 0,0008 cm/h A'= -900000 cm B'= 2,7 Teor de umidade inicial 40,0 % e 39,4% 39.5 39.0 38.5 38.0 37.5 37.0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Tempo (h) Figura 10.14 - Ajuste dos valores do teor de umidade volumétrica simulados com o modelo de Haverkamp et al. (1977) aos dados experimentais para coeficiente de permeabilidade saturado de 0,0008 cm/h. Na Figura 10.15, estão apresentadas a curva da variação do volume de água infiltrado acumulado com o tempo para a simulação e também os pontos experimentais obtidos. Observa-se também que a simulação utilizando-se o coeficiente de permeabilidade de 2,22x10-9 m/s (0,0008 cm/h) foi a que melhor se ajustou aos dados medidos no experimento, levando-se em consideração a camada superficial alterada. 230 Volume de entrada acumulado (cm3) 700 600 500 400 300 200 Experimental coluna #1 100 Haverkamp et al. (1977) 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Tempo (h) Figura 10.15 - Variação do volume de água infiltrado por unidade de área com o tempo incluindo camada superficial alterada. Na Figura 10.16, estão apresentadas as funções de permeabilidade utilizadas nesta simulação. 1.00E+00 1.00E-01 1.00E-02 Van Genutchen (1980) 1.00E-03 kr Haverkamp et al. (1977) Solo expandido (topo col#1) 1.00E-04 1.00E-05 1.00E-06 1.00E-07 0.1 1 10 100 1000 10000 100000 Sucção (kPa) Figura 10.16- Funções de permeabilidade obtidas pelo ajuste do modelo de Haverkamp et al. (1977) aos dados experimentais, considerando-se existir alteração do solo superficial. 231 Verifica-se que se considerando o coeficiente de permeabilidade de 2,22x10-9 m/s (0,0008 cm/h), incluindo a camada superficial alterada e utilizando o modelo de Haverkamp et al. (1977), os resultados da simulação aproximam-se aos dados observados experimentalmente. A camada superficial alterada deve, portanto, ser considerada nas simulações para que os resultados sejam melhores correlacionados com os dados observados. 232 11 CONCLUSÕES 11.1 INSTRUMENTAÇÃO: TENSIÔMETROS Calibração dos tensiômetros A parte crítica do processo de calibração dos tensiômetros para o uso na instrumentação é a saturação do sistema. O método de saturação utilizado mostrou-se bastante eficaz em relação à resposta do tensiômetros e o tempo tomado para saturar. Entretanto, em longo prazo, a resposta dos tensiômetros mesmo com constante manutenção foi menos efetiva devido à difusão de ar. A resposta do tensiômetro também foi afetada em menor grau pela temperatura. Assim o uso dos tensiômetros nos experimentos foi limitado por esses aspectos. A técnica utilizada para instalação dos tensiômetros nas colunas de solo mostrou-se adequada e efetiva, obtendo-se excelente resposta do equipamento. 11.2 INSTRUMENTAÇÃO: TDR Calibração do TDR Os critérios para a obtenção da curva de calibração do TDR foram baseados nos experimentos realizados no laboratório, levando-se em consideração: faixa de densidade, procedimentos de compactação, distância ponta-parede do recipiente e comprimento de inserção da haste no solo. Esses procedimentos mostraram-se adequados para a obtenção da curva de calibração do equipamento. O uso da curva de calibração do TDR sem considerar o efeito da densidade na constante dielétrica aparente do solo é comum na prática, entretanto, em alguns casos, esse efeito 233 pode ser significativo. A influência da densidade é maior à medida que o teor de umidade volumétrico diminui, pois a constante dielétrica aparente do solo dependerá em maior proporção da constante dielétrica das partículas sólidas. Portanto deve-se obter a curva de calibração do TDR para a faixa de densidade que se pretende trabalhar e nas condições dos experimentos. Para que os resultados possam ser extrapolados para outras condições, deve-se proceder à aferição do aparelho de modo a levar em consideração a modificação nas condições de ensaio. O modelo de Topp et al. (1980) foi comparado com a calibração proposta e com outros dados de solos tropicais, divergindo consideravelmente em todos os casos. Os quatro outros modelos de calibração testados neste trabalho também não simularam adequadamente o comportamento do solo. Assim, a utilização desses modelos sem os parâmetros adequados ao solo residual não é recomendada. A relação entre a constante dielétrica e o teor de umidade volumétrico não apresentou nenhuma histerese. Efeito do comprimento de inserção e contato solo-haste A constante dielétrica medida, e conseqüentemente do teor de umidade volumétrico obtido, são influenciados pelo comprimento de inserção da haste no solo. Os valores da constante dielétrica diminuem quanto menor for o comprimento de inserção da haste no solo. Portanto essa influência é maior na medida que a haste é retirada do solo e na medida que o solo fica mais úmido. Entretanto, para comprimento de inserção de até 97% do comprimento da haste, a diferença encontrada não foi significativa. Assim, deve-se considerar o grau de inserção das hastes no solo durante a execução do ensaio para obtenção da curva de calibração. Verificou-se que as leituras obtidas com o TDR também são afetadas pela qualidade do contato hastes-solo, conseqüentemente pela qualidade da compactação. 234 Assim o efeito do comprimento de inserção da haste no solo e o efeito do contato hastesolo subestimam os valores de Ka em relação aos valores obtidos com a guia completamente inserida no solo e tendo um bom contato hastes-solo. Esse aspecto pode levar a obtenção de valores errôneos do teor de umidade volumétrica do solo, portanto deve-se considerá-los durante a calibração e utilização do sistema do TDR. Efeito do comprimento das hastes. Constatou-se que não houve diferença na curva de calibração nos experimentos realizados com as guias de onda com espaçamento de 2,5 cm, espessura de haste de 3 mm e comprimento 20 cm e 14 cm. Portanto o tamanho da haste das guias de onda não interfere na obtenção da curva de calibração para o caso estudado. Instalação e medição A técnica para instalação das guias de onda foi adequada ao tipo de calibração, obtendose um bom contato hastes-solo. A aplicação da técnica evitou as possíveis conseqüências dos efeitos do contato hastes –solo na instrumentação da coluna. 11.3 PREVISÃO DO COMPORTAMENTO E COLUNAS Resultados experimentais A processo de segmentação da coluna facilitou a execução desta e a instalação dos equipamentos de instrumentação, mostrando-se eficaz. 235 Os resultados obtidos com a variação da intensidade de chuvas mostraram que chuvas menores e de longa duração influenciam mais no balanço de água das barreiras capilares que chuvas maiores e de curta duração. As diferenças dos graus de saturação de até 7 % entre as colunas 1 e 2, durante as simulações, levaram a diferenças muito menores no volume de água infiltrado que as diferenças encontradas nos valores relacionados à variação da densidade da camada de gnaisse. Os resultados mostraram que o escoamento superficial é importante no balanço de água. Verificou-se que a barreira de melhor desempenho foi da coluna 1, a utilizada com camada de 120 cm de espessura e com densidade seca de 1,59 g/cm3. Entretanto a efetividade obtida com barreiras de mesma densidade (colunas 1 e 2), porém com espessuras de camadas de gnaisse de 60 cm (coluna 2) e de 120 cm (coluna 1) foram semelhantes, podendo-se utilizá-las. Comparando-se o desempenho da barreira capilar com camada de gnaisse de 60 cm de altura e densidade seca de 1,59 g/cm3 (coluna 2) com as de 120 cm e densidade seca de 1,21 g/cm3 (coluna 3) sob condições de diversas intensidades de chuvas, verificou-se que a primeira teve melhor desempenho. Análise dos modelos numéricos de simulação de barreiras Constataram-se diferenças na curva de retenção obtida por retro-análises e àquela obtida no laboratório, devido a possíveis efeitos de confinamento e/ou oclusão de ar. Estas diferenças contribuem para sobreestimar a capacidade de retenção da barreira em projetos de cobertura e, portanto devem ser levadas em consideração. O emprego do modelo de Haverkamp et al (1977) nas análises resultou em melhor aproximação aos dados medidos que o modelo de Van Genutchen (1980). A variação de volume de água acumulada que entra na coluna com o tempo foi subestimada pelo modelo de Van Genutchen (1980) e sobreestimada pelo modelo de Haverkamp et al 236 (1977). Entretanto a adoção de uma camada superficial alterada forneceu melhores resultados com o uso do modelo de Haverkamp et al. (op. cit.). Portanto devem-se considerar possíveis alterações superficiais no solo devido à infiltração de água para que os resultados obtidos com simulação sejam mais aproximados possíveis. Deve-se também ter bastante critério na escolha de modelos para o projeto de barreiras. 237 12 RECOMENDAÇÕES PARA FUTURAS PESQUISAS • Visando um mais amplo estudo das condições que podem afetar no projeto de barreiras as seguintes recomendações de estudo são feitas: • Verificação da influência da camada de areia no balanço de água da barreira, variando para isso o tipo e a espessura da areia. • Verificação de barreiras submetidas a condições atmosféricas e com inclinação das camadas. • Variação no número de camadas e da disposição das camadas • Estudo da variação do balanço de água para diversas condições controladas de evaporação. • Verificação da influência da curva de retenção no projeto de barreiras. 238 Anexo A CÓDIGO COMPUTACIONAL UTILIZADO NA MODELAGEM A.1 Descrição do programa utilizado O modelo utilizado na análise numérica inclui a capacidade de resolução de problemas em que o domínio da solução matemática considera o efeito do grau de saturação do meio poroso. Nas simulações numéricas realizadas, usou-se o programa VS2DHI (Variably Saturated 2 Dimensional Hydraulic Interface), desenvolvido pelo United State Geological Survey (USGS) para a resolução de equações de fluxo em meio nãosaturado e escoamento monofásico em duas dimensões. O código computacional faz uso do método de diferenças finitas para resolução da equação de Richard (1931), utilizada nos problemas de fluxo. Os códigos computacionais, utilizados nesse tipo de problemas, resolvem de maneira numérica essa equação, empregando a curva de retenção de água e a função de permeabilidade do solo. A curva de retenção de água do solo é implementada na análise por meio da utilização de modelos matemáticos de ajuste. Esses modelos geram curvas que são ajustadas aos dados experimentais obtidos. Os modelos mais utilizados para esse fim são os modelo de Van Genuchten (1980), Haverkamp et al. (1977), Brooks e Corey (1966), Fredlund e Xing (1994). Esses modelos estão amplamente abortados na literatura e não serão tratados aqui (e.g. Leong e Rahardjo, 1997; Fredlund e Xing, 1994). Para a obtenção da função de permeabilidade, são utilizados esses modelos matemáticos de ajuste em conjunto com modelos estatísticos, como o de Mualem (1976). No programa utilizado, o cálculo da função de permeabilidade do solo é feito de 4 diferentes maneiras, utilizando-se para isso ou o modelo de Van Genuchten (1980); ou o modelo de Haverkamp et al. (1977); ou o modelo de Brooks e Corey (1966); ou um método tabular, em que se necessita dos dados experimentais da função de permeabilidade do solo. 239 A.2 Implementação da infiltração e da evaporação A infiltração de água, de chuva ou de irrigação, em uma camada de solo é implementada no código do programa considerando um processo de dois estágios. Na Figura A.1, está apresentada a relação entre a razão de infiltração de água, q, e o tempo Nessa figura, os dois estágios podem ser vistos. No primeiro estágio, a entrada de água no sistema é igual à precipitação imposta, qchuva, até que a razão de infiltração de água no solo, q, seja excedida. A altura de lamina de água pode ser especificada nos dados de entrada do programa. Quando a capacidade de infiltração do solo for excedida, há um decréscimo na razão de infiltração no solo (segundo estágio). A partir de um tempo, Trunoff, o excesso de água é computado como escoamento superficial e a condição de entrada de água é tratada como uma condição de carga total. Mantendo-se a infiltração por um longo tempo, haverá um decréscimo do fluxo de água entrando no solo, até que o fluxo se iguale ao coeficiente de permeabilidade do solo saturado, k. Figura A12.1 – Processo de infiltração implementado no código computacional (alterado de Lappala et al., 1993). Portanto a infiltração pode ser especificada como carga hidráulica ou como vazão específica de entrada. Quando especificada como vazão específica, o fluxo de entrada é constante até que a intensidade pluviométrica especificada exceda a capacidade de infiltração do solo e a altura da lamina de água (quando especificada). Assim a infiltração passa a ser controlada pelo gradiente entre o solo e as condições de contorno superficiais adotadas, sendo calculada em termos de carga total. Desde modo o código do programa leva em consideração as características hidráulicas do solo. Caso a camada 240 superficial de solo esteja completamente saturada, a quantidade de água que infiltra na barreira é determinada pelo coeficiente de permeabilidade do solo saturado. A diferença entre o volume de água precipitado e o volume infiltrado é computada como escoamento superficial e/ou acúmulo de água superficial. A evaporação, da mesma forma que a infiltração, também é simulada como um processo de dois estágios, em que uma evaporação potencial (PEV) é especificada. Posteriormente, essa evaporação é comparada com a evaporação calculada no código (EV). A evaporação calculada é computada como fluxo de saída que depende da diferença de pressão entre o solo e a atmosfera, ou seja, da capacidade de absorção de água pelo ar. Caso o valor de PEV>EV a evaporação será igual à EV, mantendo-se como evaporação máxima o valor de PEV. A equação que define a razão de evaporação (EV) a ser utilizada no código do programa é: EV = kk r SRES ( HA − h) (A.1) Em que: EV é a evaporação computada; k, o coeficiente de permeabilidade do solo saturado; kr, coeficiente de permeabilidade relativo dado pela função de permeabilidade do solo; h, sucção do solo; HA, o potencial de pressão atmosférico; SRES, a superfície de resistência. O potencial de pressão atmosférico é calculado como função da umidade relativa e temperatura atmosférica, e pode ser definido como o potencial que o ar tem de absorver água do solo, sendo dado por: HA = RT ln RH , Mwg Em que: R é a constante universal de gases (8,31 kg.m2/s2.K.g.mol); (A.2) 241 T, a temperatura do ar em kelvin; g, a gravidade local (9,81 m/s2); Mw, o peso molecular da água (0,018 kg/g-mol); RH, a umidade relativa do ar. A superfície de resistência pode ser definida como uma camada de solo milimétrica de permeabilidade pequena. Essa camada é formada devido à quebra de grãos de solo e sua compactação pelas gotas de chuva e também devido ao aumento da tensão efetiva (sucção) pelo processo de ressecamento superficial (Marshall et al., 1996). A superfície de resistência pode ser adotada na simulação de casos em que há a formação de crosta endurecida na superfície do solo, portanto com permeabilidade menor nessa camada. Assim a superfície de resistência é calculada por: SRES = k 1 ⋅ c , ∆Z nó k nó (A.3) Em que: ∆Znó é a distância entre o centro do elemento em que se deseja especificar como superfície de endurecimento e a superfície do domínio; kc, o coeficiente de permeabilidade da crosta; knó, o coeficiente de permeabilidade designado no limite do nó. Para que a superfície de resistência não seja computada, basta definir ∆Znó como sendo a distância da superfície ao centro do elemento de malha em contado com esta e igualar kc ao knó. A.3 Descrição das condições iniciais e de contorno Nas modelagens numéricas de problemas de engenharia, há a necessidade de adoção de condições iniciais e de contorno. Essas condições visam estabelecer as condições iniciais e critérios de contorno para a resolução do problema em estudo de maneira satisfatória. Em alguns casos, pode-se adotar para um mesmo problema mais de uma condição de contorno. Nestes casos, é aconselhável utilizar a condição que minimize o trabalho realizado na 242 modelagem, ou seja, que diminua a quantidade de informações e o tempo necessário à solução do problema. Com o objetivo de simplificar a análise do problema, as simulações em geral são executadas de maneira unidimensional na direção vertical. Assim a água infiltrada no solo pode mover-se para cima ou para baixo dependendo de seu potencial gravimétrico e a sucção. As condições iniciais necessárias para a solução da equação de escoamento podem ser especificadas de três maneiras diferentes: pela distribuição de carga hidráulica de equilíbrio ou por um perfil qualquer de distribuição de carga hidráulica ao longo das camadas de solo ou pelo teor de umidade volumétrico inicial. As condições de contorno podem ser especificadas conforme apresentado na Tabela A.1. Tabela A.1 – Condições de contorno possíveis de serem adotadas. Condição de contorno Sem fluxo Carga piezométrica específica Carga total Vazão específica de entrada normal ao domínio Vazão específica de entrada vertical ao domínio (qv) Vazão específica de saída normal ao domínio (-qn) Evaporação/transpiração (ET) superfície de descarga ou seepage face (seep) Drenagem livre Característica Não há fluxo de entrada nem de saída no domínio do problema. A carga piezométrica é fixada em um valor desejado a ser adotado no decorrer da simulação. A soma do potencial gravitacional, ou altimétrico, e a sucção é fixada em um valor desejado, a ser adotado no decorrer da simulação. O potencial máximo de infiltração é especificado normal ao domínio do problema. O potencial máximo de infiltração é especificado vertical ao domínio do problema. O potencial máximo de percolação (saída) é especificado normal ao domínio do problema. O potencial de evapotranspiração é especificado e calculado como fluxo de saída superior de com o gradiente de pressão entre o solo e a atmosfera Superfície de saída de água em que há mistura de condições de contorno de carga de pressão e vazão específica. No programa essa condição é calculada a posteriori de acordo com Neuman (1973). Superfície de saída de água em que há imposição de saída de água com um gradiente unitário, ou seja, impõe estado de saturação do solo. A condição de carga hidráulica de equilíbrio existe quando há equilíbrio entre o potencial gravimétrico de água e a sucção, geralmente com a presença de um nível de água na base e sem a ocorrência de transferência de água com a atmosfera. Na condição de distribuição de carga de pressão, pode-se atribuir um perfil de carga ou uma carga 243 piezométrica constante ao longo das camadas de solo. A distribuição do teor de umidade volumétrica também pode ser feita com distribuição de um perfil de umidade para as camadas de solo ou de maneira constante ao longo das camadas. No caso de análise numérica de barreiras capilares, a condição de contorno de carga piezométrica ou total é adotada para simular um gradiente de pressão na base, geralmente de valor unitário. A simulação é executada especificando uma pressão piezométrica igual a zero ou uma carga total igual ao valor do potencial gravimétrico, impondo assim um gradiente unitário. Deste modo, esta condição impõe a saída de água do sistema pela saturação do solo da base da barreira. A condição de contorno de vazão específica impõe um fluxo constante preestabelecido. A condição de contorno de superfície de descarga é utilizada para simular a saída de água do sistema sem que haja valores de pressão ou de fluxo preestabelecidos. A superfície de descarga funciona em condições de fluxo transiente que por meio de processo interativo pode simular duas condições: a de carga piezométrica e a de fluxo em uma única superfície. A superfície de descarga existe, em geral, em interfaces entre a superfície do solo e a atmosfera, em que há descarga de água livremente. Segundo Neuman (1973), a superfície de descarga é empregada em condições de fluxo transiente e seu comprimento não pode ser determinado a priori. Nessa condição de contorno, a superfície não pode ser tratada somente como superfície de condição de contorno de carga piezométrica ou de condição de vazão específica. Essa superfície é então tratado como uma mistura das duas condições e é determinada a posteriori (Neuman, 1973). Na superfície em que existe a condição de superfície de descarga, a sucção ou o fluxo através dessa superfície pode ser zero. Durante a primeira interação, a carga piezométrica, Χ, é igualada a zero para todo o comprimento inicial da superfície. Nos nós da malha em que a carga piezométrica é considerada zero, esperam-se valores de vazão de saída do sistema (vazão negativa) como resultado das interações. Caso um valor positivo de vazão seja encontrado em um nó em que Χ=0, a vazão é igualada a zero. Este nó é então tratado como uma condição de vazão específica na próxima interação. Nos casos de nós de malha em que a vazão, Q, é igualada a zero, esperam-se valores de carga piezométrica negativa. No caso em que um valor positivo de Χ é encontrado para Q=0, o valor de Χ é igualado a zero e na próxima interação o nó é 244 tratado como uma condição de carga piezométrica. Assim o cálculo da superfície de descarga é feito até que haja um grau de convergência suficiente para cada nó, levando à solução do problema. A.4 Limitações O modelo de evaporação simplificado implementado no software não considera aspectos concernentes à rugosidade do material, velocidade do vento, estabilidade térmica da camada superficial de ar, temperatura, reflexibilidade do material, e transferência isotérmica de vapor. Esses aspectos podem influenciar diretamente na diferença entre a evaporação potencial medida em superfície de água livre (panelas de evaporação) e a do solo saturado, como descrito no Capítulo 3. Entretanto, sabendo-se a evaporação potencial da superfície do solo, o programa é capaz de simular os estágios de evaporação, como descrito anteriormente. Os dados meteorológicos representativos do problema são implementados no código do programa VS2DHI por meio de períodos de recarga. Pode-se especificar o tempo de cada período, se há acúmulo de água na superfície do terreno, passo inicial da simulação, passo máximo e mínimo, se no período há ou não simulação de evaporação, se há e qual é a condição de fluxo contínuo. Entretanto no código do programa não é possível a simulação em uma mesma superfície de duas condições de contorno simultâneas, em que haja evaporação e infiltração para um mesmo período. Assim, no caso das barreiras capilares em que só for considerado fluxo unidimensional, deve-se especificar se há evaporação ou infiltração em uma determinada superfície para um determinado período. Como existe limitação de 365 períodos de evapotranspiração, é impossível executar simulações com número de períodos maior que 365, limitando o programa a um certo nível de discretização temporal. Anexo B ENSAIOS DE EVAPORAÇÃO B.1 Análise dos resultados dos ensaios de evaporação Os ensaios de evaporação tiveram como objetivo: a verificação da variação da evaporação potencial de uma superfície de água em relação à evaporação da superfície do solo inicialmente saturado, a determinação dos estágios de evaporação para o solo estudado e a verificação da evaporação com a variação de altura da camada superficial. Executaram-se para isso ensaios de evaporação para verificação da variação da evaporação em recipientes de mesma secção, mas com alturas diferentes. Os ensaios foram realizados em moldes de PVC rígido com seção circular de diâmetro interno de aproximadamente 14 cm. Os moldes utilizados, R1-10, R2-5, R3-2.5 e R4-1.25, tinham bases fechadas e alturas variando de 10 cm, 5 cm, 2,5 cm, 1,25 cm, respectivamente. Utilizou–se a areia normal do IPT#100, com compacidade relativa de 0,60 para a execução do experimento. A areia foi moldada submersa em água para garantir sua saturação no início do ensaio. Um recipiente de 5 cm de altura (RA-5) e de mesma seção dos recipientes contendo solo foi preenchido com água. Durante o ensaio, foram monitoradas as temperaturas da superfície livre de água, do ar e a umidade relativa do ar, inicialmente de hora em hora, e posteriormente em períodos maiores. Com as medidas de temperatura do ar e de umidade, calculou-se o potencial atmosférico, conforme proposto por Edelfson e Anderson (1943). Figura B.1 –Ensaios para verificação da influência da altura dos recipientes na razão de evaporação. 246 B.2 Análise dos resultados dos ensaios de evaporação Como descrito no item anterior, executaram-se ensaios para a verificação da variação da evaporação potencial de água de uma superfície de solo saturado em relação a uma superfície de água livre. Para verificação da influência da espessura da camada na evaporação de água do solo, variaram-se as alturas dos recipientes com o mesmo solo. Na Figura B.2, estão apresentados os dados da variação da umidade e do potencial de sucção atmosférico com o tempo para o ensaio de evaporação. O fato de que as variações da temperatura nas condições de ensaio são pequenas, levam a uma maior influência da umidade relativa do ar no potencial atmosférico. Na Figura B.3, estão apresentados os dados da variação da razão de evaporação de água dos solos e do recipiente com água em função do tempo e em conjunto com a variação da umidade relativa durante o período. Conforme o esperado, constatou-se que quanto maior a evaporação menor é a umidade relativa e vice-versa. Verifica-se ainda a diminuição da razão de evaporação a partir de um determinado período que dependeu da quantidade de água disponível para evaporar e da altura de cada recipiente. Nas Figuras B.4 e B.5, observa-se a influência da altura do recipiente na evaporação, bem como a influência da umidade volumétrica do solo. Como a umidade volumétrica medida foi a média da umidade para os diferentes recipientes, atribuiu-se a diferença no ponto de mudança da razão de evaporação para cada solo (estágios de evaporação) aos diferentes perfis de umidade que variam conforme a altura. Em conseqüência o ponto de inflexão ou de diminuição da razão de evaporação foi influenciado pela altura da camada de solo. Na Figura 5.25, estão apresentados os dados da evaporação acumulada com o tempo. Observa-se no gráfico que a inclinação da curva é a medida da razão de evaporação em cada instante. Verifica-se que há uma diferença da razão de evaporação do solo (R1-10, R2-5, R3-2.5, R4-1.25) e a da água (RA-5). Essa diferença corrobora os dados obtidos na literatura (e.g. Wilson, 1990), em que existe uma leve diferença da evaporação potencial em superfície de água e na superfície do solo. Na Figura 5.26, estão apresentados os dados de evaporação do recipiente de 10 cm de altura e de uma simulação executada com o potencial de evaporação medido para o solo. Observa-se 247 que com esse valor houve uma boa concordância entre os resultados medidos e os simulados, entretanto simulações feitas a partir do potencial de evaporação da água levaram a valores subestimados de evaporação. Portanto a diferença entre o potencial de evaporação do solo e o da água pode levar a resultados errôneos em uma simulação numérica. 6.5E+05 90.0 80.0 6.0E+05 70.0 60.0 5.5E+05 50.0 Umidade 40.0 Yatm 5.0E+05 30.0 20.0 4.5E+05 10.0 4.0E+05 0.0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Potencial médio de pressão na atmosfera: 587218.3~590000 Umidade Relativa Média: 66% Tempo (h) Figura B.2 – Variação do potencial atmosférico e da umidade relativa com o tempo para ensaio de evaporação. 0.5 100 R1-10 R2-5 RA-5 R3-2.5 R4-1.25 UmidadeRelativa 90 0.4 80 70 0.3 60 50 0.2 40 30 0.1 20 10 0.0 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Tempo (h) Figura B.3 – Variação da razão de evaporação com a umidade. 1100 1200 248 800.0 RA-5 R2-5 R3-2.5 R4-1.25 R1-10 700.0 600.0 500.0 400.0 300.0 200.0 100.0 0.0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Tempo(h) Figura B.4 – Variação de peso de água no solo pelo tempo para recipientes com alturas de 10, 5, 2.5, 1.25 cm de solo e recipiente de água de 5 cm. 0.6000 qR1-10 qR2-5 qR3-2.5 qR4-1.25 0.5000 0.4000 0.3000 0.2000 0.1000 0.0000 0.00 200.00 400.00 600.00 800.00 1000.00 1200.00 Tempo (h) Figura B.5 – Variação da umidade volumétrica com o tempo para recipientes com alturas de 10, 5, 2.5, 1.25 cm de solo e recipiente de água de 5 cm. 249 60.0 50.0 40.0 RA-5 R1-10 R2-5 R3-2.5 R4-1.25 Potência (RA-5) Potência (R1-10) 0.982 y = 0.0589x 0.8957 y = 0.085x 30.0 20.0 10.0 0.0 0.00 100.00 200.00 300.00 400.00 500.00 600.00 700.00 800.00 900.00 1000.00 1100.00 Tempo (h) Figura B.6- Variação da evaporação no solo e na água com o tempo, para recipientes com alturas de 10, 5, 2.5, 1.25 cm de solo e recipiente de água de 5 cm. 45.0 40.0 Dados obtidos Simulado 35.0 30.0 25.0 20.0 15.0 10.0 5.0 0.0 0.00 100.00 200.00 300.00 400.00 500.00 600.00 700.00 800.00 900.00 1000.00 Tempo (h) Figura B.7– Variação da evaporação com o tempo para recipiente contendo solo e comparação com modelo numérico. 250 Referências ALBRECHT, B. 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