transforme-se

Transcrição

transforme-se
TRANSFORME-SE 2
TRANSFORME-SE
VOLUME 2
CAIO ARES
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TRANSFORME-SE 2
Título:
Transforme-se
Volume 2
ISBN 85-900562-5-2
© 2009, Caio Ares
Caio Ares Editor
www.caioares.com
Capa e Ilustração:
Caio Ares
Editoração:
Inês Julia Castelli
Revisão:
Mônica Rodrigues de Lima
Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ares, Caio
Transforme-se, volume 2 / Caio Ares – São Paulo : Caio Ares
Editor, 2009
ISBN-85-900562-5-2
1. Autoconsciência 2. Auto-realização 3. Felicidade. 4.
Meditações 5. Sucesso l. Título
1ª edição: 1999
2ª edição: 2005, revista
3ª edição: 2009, revista e ampliada
99-0336
CDD-158.1
Índices para catálogo sistemático:
1. Transformação interior : Mensagens : Psicologia aplicada
158.1 7
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TRANSFORME-SE 2 - Apresentação
APRESENTAÇÃO
A história do pensamento humano começou quando o homem abriu os olhos para o
espaço que o cercava e tentou compreendê-lo.
Adão desperta do sono instintivo do reino animal e entra, pelas portas entreabertas da
razão, no mundo artificial dos humanos e suas incontáveis realizações.
Entretanto, para o antigo, a noção do limite entre o espaço interior, o mundo exterior e
sua imaginação, praticamente não existia.
Ele olhava o horizonte luminoso e sonhava com terras longínquas pontilhadas por
cidades de ouro. Mirava os céus azuis e avistava, bem visíveis, deuses protetores e, ao
mesmo tempo, sanguinários e vingativos.
Tentava, exausto, descansar o coração brutalizado pelas constantes batalhas
contemplando o verde mar, quando demônios horrendos surgiam para aterrorizá-lo.
Por estes dias antigos, a vida era cheia de sustos, superstições e enganos
provenientes da falta de bom senso em saber diferenciar o real - o plano objetivo - do
imaginado - o plano subjetivo. Uma imagem fundia-se na outra e turvava o
conhecimento e a compreensão inteligente sobre o mundo e o homem.
A produção de imagens interiores é um interessante fenômeno do pensamento.
Durante séculos, vários pensadores procuraram as bases da construção do
pensamento lógico para que o homem comum, ao encontrar a razão, não mais se
tornasse escravo da sua imaginação ou daqueles que pudessem manipulá-la.
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C., não só para satisfazer esta necessidade
individual e social, como também para, através do despertar da consciência humana,
levar o homem a agir de forma centrada, racional, construtiva, moral e ética.
A primeira preocupação do filósofo foi identificar as coisas que pertenciam ao plano
objetivo, dando-lhes permanência e características próprias.
A partir de então, água seria sempre água, fogo sempre fogo e, nesta nova ordem das
coisas, um elemento básico, um objeto ou uma situação qualquer seriam estáveis, sem
correrem o risco de se transmutarem de forma sobrenatural ou mágica.
Enquanto ia estabilizando e organizando em sequências coerentes as imagens e as
dinâmicas do meio ambiente, o filósofo percebia que o conhecimento que adquiria,
refletia-se em seu plano subjetivo aumentando-Ihe a compreensão e responsabilidade
acerca da sua participação no mundo.
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TRANSFORME-SE 2 - Apresentação
Assim, o pensamento inteligente, estruturado e racional começava a dar os primeiros
frutos ao fazer com que os gregos se colocassem na comunidade como indivíduos
sociais construtivos.
Todo cidadão, de qualquer idade ou classe social, sentia-se valioso e imprescindível
para o desenvolvimento harmônico da sociedade. A individualidade, a excelência e o
orgulho pessoal, eram incentivados por meio de debates, torneios, concursos artísticos,
exposições, jogos ou outras atividades comunitárias, onde cada um tinha a
oportunidade de mostrar seus talentos, escolhendo para tanto, qualquer área de
atuação compatível com suas capacidades e expectativas. Então, verdade é beleza,
ordem e excelência.
Concomitante à busca heróica pelo conhecimento do conhecimento e a justa medida
de todas as coisas, igual aos helenos, nenhum outro povo demonstrou tanta
honestidade em querer aprender a amar e exaltar esse mundo, essa vida e os homens.
A materialização delicada do sublime em sua cultura, prova-o.
Para o especialíssimo filho da Hélade, a pobreza de resultados, a mediocridade e a
indolência física eram tão graves quanto a ignorância: significavam falta de esforço, de
civilidade e de educação sã.
É da natureza do homem querer ser reconhecido e aceito pela comunidade por aquilo
que ele é. Por este motivo, todos eram incentivados a se conhecerem e se
desenvolverem -"Conhece-te a ti mesmo". E, por precaução, para que as gerações
futuras não perdessem o poder transformador da razão e do pensamento reflexivo,
educavam seus filhos para serem homens livres de idéias, não subjugados por um rei,
um sacerdote ou uma religião. Pois, lhes era claro que sua imensa prosperidade era
consequência direta dos seus esforços bem dirigidos.
Em posse deste amadurecimento sem precedentes, o povo grego, conseguiu
materializar a civilização mais brilhante de que se tem notícia até os dias de hoje. Mas,
embora esta fosse a Era de Ouro da humanidade, o pensamento racional e suas
técnicas de desenvolvimento foram perdendo terreno para outras linhas de
pensamento mais exóticas.
O choque de outras culturas, com juízos e conceitos excêntricos, aliado aos atentados
intermitentes da superstição e da fantasia contra a razão estruturadora, contaminou a
construção do raciocínio dos mais célebres pensadores.
Assim, a filosofia, que nos seus primórdios buscava o encontro do conhecimento
racional e científico para construir um mundo novo e brilhante, terminou seus dias
como uma teologia intelectualizada que definia, por meio de hipóteses pseudocientíficas, a relação exata entre Deus, a Alma e o mundo.
Do passado até os nossos dias, o mundo mudou drasticamente, está moderno, cheio
de invenções mirabolantes e quase virtual.
Mas, infelizmente, o pensamento racional, capaz de criar limites eficientes entre o
interior, o exterior e a imaginação, não se desenvolveu como deveria. Pois, por entre
prédios espelhados, elevadores panorâmicos, carros velozes e foguetes
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TRANSFORME-SE 2 - Apresentação
interplanetários, bilhões de seres humanos, por não conseguirem raciocinar com
clareza, ainda se apavoram com as imagens criadas pela própria imaginação
deseducada ou pelos reflexos das alucinações alheias.
Muitos destes, incrivelmente, ainda temem deuses julgadores, demônios assustadores
e continuam sonhando em um dia habitar lugares sobrenaturais, paradisíacos e cheios
de ventura.
Miragens à parte, hoje sabe-se cientificamente que o homem vive inserido em um ecosistema globalizado altamente inteligente, onde, além de ser criatura do mundo natural
é seu co-criador ao lhe interferir decisivamente nos complexos sistemas interligados.
Como se não bastasse, ao criar a cultura e desenvolver as civilizações, inventa e reinventa outros mundos em constante mutação e auto-equilíbrio.
O mundo civilizado não existe sem a ação do homem. Entretanto, por ainda não saber
controlar todos os seus poderes interiores por meio da razão, nem saber exatamente
quem é, onde está, ou qual a sua função orgânica na ordem dos sistemas naturais e
artificiais que ele mesmo inventou (político, jurídico, econômico, ecológico, social,
familiar, lingüístico, cultural, educacional, religioso, computacional, globalização e
outros), por ignorância, está destruindo, sua vida, o planeta e o mundo civilizado.
É justamente para ser útil, frente a este frágil equilíbrio do início do século XXI que
surge Transforme-se.
Transforme-se é um novo método de autoconhecimento que, por meio de questões
filosóficas encadeadas, promove a evolução da consciência ao reestruturar os
parâmetros interiores sobre o próprio eixo do ser.
A abordagem dos textos diários é coloquial, carinhosa, poética, algumas vezes
rousseauniana, outras, instigantes como Maquiavel, Voltaire ou Sócrates. Porém, é
justamente essa expressão atualizada, popular e variada que envolve o leitor, fazendoo pensar... refletir... transformar.
Somente quem achou a si próprio e entendeu as dinâmicas sistemáticas do mundo
pode inserir-se de modo funcional e harmônico na comunidade a qual pertence. Por
esse motivo, o leitor, ao ser colocado no centro holográfico deste jogo de espelhos
conceituais variados, composto pelas meditações aqui apresentadas, é estimulado a
procurar por algo mais: sua individualidade, única e intransferível.
E, como resultado desse amplo desenvolvimento interior, ele descobre quem realmente
é, onde verdadeiramente está e o que deve fazer para realizar-se enquanto pessoa
humana.
Medite ao ler cada capítulo, deixe-o penetrar em você, mastigue-o, digira-o, entenda-o,
compare-o com o que lhe ensinaram ou com os exemplos que você conhece. Permita
que eles flexibilizem a sua inteligência, fazendo-o ir além dos conceitos superficiais
aprendidos por meio da cultura e da tradição.
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TRANSFORME-SE 2 - Apresentação
Aquele que guia os passos pelo som cristalino de sua voz interior, a qual, uma vez
ouvida, nunca se cala, consegue encontrar a segurança e o equilíbrio verdadeiros para
olhar em frente e seguir confiante o caminho da realização individual, de fato.
Nota do Autor
Conforme foi anunciado em 2004 e 2005, o volume 2 do livro Transforme-se
deveria ter chegado às livrarias em setembro de 2005, ao mesmo tempo em que
outros produtos de minha autoria eram colocados no mercado. Contrário aos
meus esforços, todos os lançamentos foram abortados por culpa da ação
criminosa da Crivo Assessoria de Imprensa.
De má-fé, os profissionais da Crivo Assessoria de Imprensa desviaram o
material informativo sobre o meu trabalho em diversas áreas, o qual deveria ter
chegado às mãos de jornalistas alocados em todo o território nacional.
Apanhado de surpresa por profissionais corruptos da mídia, cuja existência a
maioria dos brasileiros desconhece, fui ameaçado e chantageado por jornalistas
desonestos, pertencentes a grandes veículos de comunicação, os quais foram
contatados pela Crivo.
Em troca de somas em espécie, essas pessoas se propõem a falar bem, mal ou
se calar sobre esse ou aquele assunto, independente da veracidade dos fatos.
Avesso ao achaque, acabei pagando com meu próprio futuro, por não ter cedido
ao pagamento de propina.
Os maus integrantes da imprensa roubaram meus arquivos pessoais, levaram
tudo que puderam, incluindo os originais não publicados dos volumes 2, 3, 4, 5
e 6 da coleção Transforme-se. No mesmo período, em meio às dificuldades
causadas por eles, eu, meus parceiros comerciais e meus clientes de coaching,
passamos a receber ameaças anônimas por telefone. A fim de proteger a todos,
encerrei minhas atividades e retirei-me do mercado por tempo indeterminado.
Não tardou para que o desgosto e o estresse me vitimassem. Em poucos meses
comecei a apresentar cegueira progressiva.
Abatido, mas não vencido, tão logo descobri que ficaria cego, me esforcei para
reescrever as ideias principais do material que havia sido roubado. Por isso,
peço desculpas aos leitores pelas falhas evidentes dessa obra. A ausência
completa de colaboradores, aliada aos problemas de visão, impediram-me de
escrever mais e melhor. Contando com apenas 5% de acuidade visual em um
dos olhos, fiz o melhor que pude para transmitir minha mensagem por escrito.
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TRANSFORME-SE 2 - Sumário
SUMÁRIO
página
Apresentação
3
Capítulo 1
8
Capítulo 2
37
Capítulo 3
48
Capítulo 4
56
Capítulo 5
62
Capítulo 6
73
Capítulo 7
97
Capítulo 8
107
Capítulo 9
121
Capítulo 10
126
Capítulo 11
139
Bibliografia Consultada (resumida) e
Recomendada
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
CAPÍTULO 1
“O mistério das criações humanas:
A mente que imagina maravilhas e seduz o sujeito.
O corpo reclamante que as anseia com a força dos cinco
sentidos.
O espírito (a inteligência individual) que encara a situação como
um problema e avança corajosamente ao encontro da solução
para materializar o desejado.
Se conseguir, independente das consequências, se sentirá feliz e
realizado.
Até sonhar novamente, novamente e novamente.”
(Caio Ares)
Então, diante de tantas criações, nos perguntamos assombrados: como o
descendente sensual de um elo perdido, parente próximo dos chimpanzés e
gorilas, pode ter organizado um outro mundo, além do natural, para propiciar
sua sobrevivência e gozo?
Como pôde ter inventado e construído o avião, o carro, o foguete, o submarino,
os arranha-céus, os computadores, o cinema, os navios, as cidades, as nações
e as demais criações artificiais que estão representadas na história da
humanidade?
Como faz para materializar essas coisas prodigiosas e inacreditáveis que,
aparentemente, vão contra as expectativas sobre o que é possível? Será
mágica? Pensamento positivo? Fé? Deus? Ou há algo mais que ninguém
desconfia?
Pois bem, o livro Transforme-se 2 vai tratar desses assuntos ao revelar para o
leitor os segredos escondidos atrás das imagens, dos jogos, da programação da
mente e, mais importante, como tudo isso interfere na construção da realidade
humana, em qualquer época ou lugar.
Não seríamos grandes criadores, nem teríamos construído civilizações tão
complexas, caso não fôssemos capazes de imaginar e materializar o imaginado.
Para nós, em essência, tanto faz visualizar no âmago da mente um objeto
precioso, uma máquina avançada, um comportamento humano requintado ou
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
um movimento físico que transcende as limitações do corpo humano.
Imaginamos, desejamos, arquitetamos, treinamos, erramos, acertamos e, não
raro, em pouco tempo, conseguimos materializar no plano sensível o que vimos
no mundo das construções não concretas. Quase não existe o que não possa
ser realizado nos três estados da matéria: sólido, líquido ou gasoso.
Esse fenômeno é possível porque a própria visão estampada na tela mental é
consequência última de uma construção interior minuciosa, inteligente,
sistêmica e factível em vários planos, cujos elementos constitutivos baseiam-se
na lógica mais pura e absoluta. A função final de cada representação mental é
materializar-se. Ela existe em potência intelectual, perfeita, para vir a ser
realidade um dia, quando as condições forem propícias.
Quanto mais inteligentes, informadas e sociais forem a mente e a pessoa que
estiver imaginando ou incorporando imagens criadas por outros sujeitos,
maiores serão as chances de as ideias visualizadas virem a ser completamente
concretizadas por intermédio de ações ordenadas sob condições controladas de
forma consciente, restando apenas descobrir a estratégia e os elementos
certos, naturais, artificiais e humanos para realizar os sonhos pessoais e
coletivos.
Vamos a um exemplo instigante, extraído dos anais da história antiga.
Um belo dia, há muito tempo, provavelmente em algum ponto perdido do
Oriente Médio, alguém imaginou a figura de um ser com magníficas asas
farfalhantes. Como não se viam esses espécimes movendo-se à solta por
paragens conhecidas ou, então, por aquelas relatadas por viajantes, quase
imediatamente a estranha representação foi associada à outra dimensão, que
não a natural.
Naqueles tempos, de priscas eras, as pessoas davam uma importância
descomunal às imagens pensadas, às produzidas por mãos humanas e às
originadas espontaneamente pelos fenômenos do meio ambiente. Imaginação e
realidade eram tidas como aspectos semelhantes.
Mais adiante, esses personagens alados acabariam absorvidos pelo plano das
lendas, do imaginário popular e das fábulas que, juntas, são fonte inesgotável
de inspiração para a construção da cultura dos povos.
Entretanto, resta-nos uma pergunta: Será que os seres alados são mesmo tão
absurdos? Pura fantasia oriental?
A resposta é não.
Hoje, com os avanços das ciências e da genômica, em particular, cada vez mais
está próximo o dia em que conviveremos com esplêndidos espécimes
emplumados, escamados ou meio equinos.
O que está havendo?
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Será que naquela época remota, a mente projetava uma realidade à frente do
seu tempo?
Será que ela sinalizava a existência de possibilidades lógicas para um belo dia
no futuro ou era apenas um sintoma da necessidade humana em integrar o
mundo dos homens ao mundo natural?
Esses são questionamentos que somente se esclarecerão mediante a análise
detalhada do universo das imagens concretas e não concretas.
Por conta de sua importância evidente, toda e qualquer imagem criada pela
mente deve ser estudada com respeito e profundidade ao procurar-se entender
sua origem, seu meio estrutural e sua finalidade funcional ou em outras
palavras: o que é, para que serve, para quem serve, para quem não serve e por
que deve ser materializada.
Afinal, como acreditavam intuitivamente os antigos, as imagens mentais
possuem um poder extraordinário e perigoso por serem exequíveis.
Porém, se as lendas realmente inspiram as massas, será que o Paraíso poderá
ser materializado um dia, em algum lugar?
Sim.
E o Apocalipse?
Também.
Se as condições forem propícias e os jogos favoráveis, a materialização dessas
imagens é quase certa.
Tudo começa no interior da mente: a alegria, a dor, a verdade, a mentira, o
problema e a solução. Tudo, até mesmo o começo do fim.
Não se deve brincar com a imaginação achando que ela serve como alcova
onde tudo é permitido, sem maiores consequências, uma vez que ninguém fica
sabendo.
Muitas vezes, por exemplo, para alguns casais, a imaginação pouco educada e
leviana pode levá-los à infidelidade conjugal.
Cada traição imaginada é tão fatal para a história do par, quanto a perfídia
vivenciada. Talvez seja pior, porque para a mente quase não há limite entre a
fantasia e a realidade. Para ela são apenas imagens e sensações. Com a
oportunidade ao alcance, tanto faz materializar a fidelidade ou a infidelidade.
Se o corpo desejar o imaginado...
Vamos a outro exemplo?
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Imagine algo absurdo: uma situação pessoal, uma coisa, um objeto, uma
máquina, um ser vivente, um comportamento, qualquer coisa. Ao terminar,
questione-se interiormente: o que é preciso para que essa ideia seja
concretizada no plano material?
Use sua criatividade e inventividade. Ouse ao buscar soluções racionais e
responsáveis. Esteja comprometido com o histórico-processual de seus
produtos e serviços. Interrogue-se até encontrar esquemas operacionais que
sejam assertivos para esse caso em especial. Seja preciso e trace uma receita
de sucesso de execução, passo a passo.
Enquanto pratica esse exercício, preste atenção em tudo o que acontece em
seu interior, desde o início da ação intelectual até encontrar a solução
desejada.
Repare no funcionamento integrado de seus processos interiores e responda:
Como eles enfrentam a tarefa de encontrar soluções para problemas
operacionais e criativos? Eles se põem a resolvê-los alegremente ou paralisam
diante das dificuldades? Como eles se automotivam para encontrar resultados
satisfatórios?
Que tipo de comentários você escuta em seu interior enquanto pensa em fazer
esse exercício: Críticos? Autocríticos? Elogiosos? Bobos? Destrutivos?
Que tipo de voz habita em seu interior: Masculina ou feminina? Adulta, infantil
ou adolescente? Como ela lhe fala?
Sua mente é: Criativa? Curiosa?
Aventureira? Ou está paralisada?
Flexível?
Preguiçosa?
Debochada?
Ao final desse exercício, se você e sua mente estiverem funcionando a
contento, é provável que descubra que sua ideia originalmente absurda e pouco
provável, pode não ser tão inverossímil assim. Verá que é viável ou, pelo
menos, coerente para ser e estar em algum momento do futuro, bastando
simplesmente decidir como, quando, onde e com quem materializá-la. O mesmo
acontece com suas imagens pessoais, elas podem ser materializadas em
circunstâncias especiais. A mente é um organismo solucionador.
Responda:
O que você imagina para si? Para sua história de vida?
Que tipo de histórias você imagina para o mundo? E para as outras pessoas ao
seu redor?
Em que tipo de mundo você acredita que está vivendo?
Que tipo de imagens existe em sua mente?
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Que tipo de imagens você prefere absorver do meio ambiente físico e cultural?
Quais são os seus medos?
Quais são as suas crenças?
É preciso cuidado e atenção máxima com as representações que você visualiza
e, mais ainda, com aquelas que incorpora diariamente, seja por meio de filmes,
noticiários, revistas, jornais, livros, músicas, comentários de amigos, de
inimigos e outros.
As imagens que você cria interiormente e as consumidas do exterior são
construtivas ou destrutivas?
Você sabe o que são imagens construtivas? Será que sabe realmente?
Você sabe o que são realidades construtivas? Será?
Você acha que são muitas perguntas?
Antes de tecer conclusões apressadas, observe que essas questões revelam e
reorganizam sua estrutura interior, a partir do núcleo de sua personalidade
individual e, portanto, única.
Por acaso você quer que as imagens destrutivas se materializem em seu
cotidiano na forma de histórias de vida assistêmicas, por falta de consciência e
responsabilidade da sua parte?
Lembre-se (para não cair na tentação): quem carrega carências e dificuldades,
não funciona bem. Cuidado!
Os indivíduos que estão cheios de problemas, na verdade, possuem um único
problema: eles mesmos. O problemático é o problema, não funciona, não
soluciona, não toma as devidas providências e, se possível, fica na cola dos
outros reclamando e tentando fazer com que os demais resolvam por ele as
situações difíceis.
É por isso que, no fundo, efetivamente, ninguém consegue solucionar a vida de
ninguém, pois todo problema só é problema para quem o gerou e o carrega. É o
problema dele, porque ele ainda não movimentou os recursos certos, internos e
externos, para solucioná-los como bem entender, segundo seu livre-arbítrio e
competência pessoal. E, como o problema é dele, pessoal e intransferível, a
solução tem de ser dele e não dos outros, senão, a situação se repetirá até que
seja, finalmente, resolvida pelo reclamante problemático.
E por falar em competência, quantos pobres competentes você conhece?
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Há muito tempo, a pobreza virou um mito celestial, mas é uma farsa que não
tem nada de santa ou abençoada. Tanto a pobreza quanto a riqueza são duas
polaridades que não existem de fato. São conceitos contraditórios que
confundem e desequilibram os já desequilibrados sujeitos pensantes.
Todavia, se, como dizem as bocas irresponsáveis, os pobres vão para o céu
porque alguém lá em cima os ama, então é hora de começar a investigar as
intenções daqueles que inventaram o Paraíso e o lotearam. Não há pobres
competentes.
A miséria é a paga honesta quando a incompetência governa soberana sobre as
pessoas que, independente da posição social ou fortuna pessoas, são
incompetentes. Mesmo o homem mais rico ou bem-nascido, se for
incompetente, ficará pobre ou gerará descendentes destinados à miséria.
Por ser uma qualidade de espírito que afeta todas as instâncias da vida do
sujeito e de seus relacionamentos, é impossível que uma pessoa competente
produza um filho sadio, porém incompetente. Competentes geram e educam
competentes.
Então, para acabar de vez com a pobreza do mundo, não adianta desculpar e
financiar os incompetentes, dando-lhes dinheiro, promessas do Céu ou bens
materiais aqui na Terra, basta que a sociedade lhes cobre competência e
responsabilidade pessoal, familiar e social. Portanto, a solução não é dar, mas
cobrar.
Mesmo porque, cá entre nós, para sermos verdadeiramente honestos, ninguém
se importa tanto com as dores alheias a ponto de salvá-las delas. As soluções
que vêm de fora sempre são paliativas, circunstanciais, “meia-boca”, inclusive,
a maioria dos que ajudam, o faz por causa das próprias dores psicológicas.
Esses querem se sentir aliviados interiormente, importantes, maiores e
melhores do que são ou pensam ser. São problemáticos querendo salvar
problemáticos e, por esse motivo, se atraem desejando vivenciar as mesmas
histórias tristes, os mesmos fundos emocionais doentios e dramáticos, as
mesmas incompetências.
Isso não quer dizer que não se deva participar das soluções alheias, ao
contrário, a cumplicidade solucionadora é muito divertida, impulsiona as
relações positivas e saudáveis e gera boas lembranças para todos os
envolvidos. É gostoso demais poder trocar informações construtivas,
estratégicas, solucionadoras, lúdicas e humanas de alta qualidade.
Mas, evidentemente, isso não tem nada a ver com a caridade, pois é diferente,
é outra sinergia, é um outro tipo de jogo. Sim, porque a caridade é um jogo
como outro qualquer, possui regras predeterminadas, parceiros com
comportamentos pré-estudados e prêmios pré-estabelecidos culturalmente para
ambas as partes.
Adivinhe!
13
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Quem ganha nesse Jogo de interesses?
O que ganha?
Quem perde?
O que perde?
Por que os jogadores jogam esse jogo?
Como esse jogo começou?
Qual seu desenvolvimento histórico?
Como ele se multiplicou estruturalmente?
Você o joga?
Quais são seus interesses?
Efetivamente, o que você ganha?
Por acaso, a caridade premia e incentiva a incompetência, a desonestidade e a
irresponsabilidade?
O que mais você descobriu com essas questões, e que não havia pensado
antes?
A caridade é um negócio rentável?
Os maus governantes e os bons comerciantes sabem que sempre poderão
contar com a boa e velha mágica da caridade, quando quiserem mascarar e
financiar as falhas dos sistemas e a incúria dos homens. Em nome da caridade,
quanto mais circular milhares, milhões, bilhões, às custas dos caridosos, melhor
será para os negócios.
Quando se participa desse jogo de interesses escusos, quais são as
consequências a curto, médio e longo prazo, para você, sua estrutura de
relacionamentos e a sociedade em geral?
Observe: se os problemas forem considerados de forma correta, por pessoas
criativas, construtivas e responsáveis, eles se tornam desafios instigantes,
oportunidades imperdíveis de crescimento humano e social.
Cultivar o hábito de solucionar os problemas particulares com responsabilidade
e competência é um expediente que mantém o indivíduo saudável, bem
estruturado e feliz.
Você, leitor, já se deu conta de que, em seu cotidiano, quando encontra a
solução ou soluções para um determinado problema, imediatamente sente-se
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
invadido por uma sensação de felicidade e realização pessoal que é compatível
com o nível de dificuldade da situação enfrentada?
Em contrapartida, já percebeu o que acontece com quem não quer ou não gosta
de solucionar seus próprios problemas?
Analise os problemáticos que você conhece, suas histórias de vida, e tire suas
próprias conclusões.
Quem sabe quem é, onde está, o que produz, que papéis representa, com quem
e por que, dificilmente se perderá nos jogos da vida humana e animal.
Leitor, esteja sempre no centro produtivo da sua história de vida, pois não é
fácil manter-se equilibrado no mundo humano, repleto de ideias em choque,
com homens prontos para matar ou morrer, para que elas possam sobreviver.
E pensar que são só histórias...
Os povos se organizam e têm, como pano de fundo, histórias de todas as
coisas. As de origem mais primitiva, que contam sobre o surgimento dos
primeiros homens, relatam que eles nasceram do sapo, do peixe, do canguru,
da cobra, do jaguar, dos ovos dos pássaros, dos seixos, dos pingos da chuva e
outros elementos. As histórias mais próximas dos costumes modernos narram
que deuses antropomórficos criaram os homens para conduzi-los.
Dessas narrativas, a mais famosa, o Criacionismo, que imperou solene e
impoluta até o século XIX, revela que, em seis dias, Deus criou o céu, as
estrelas, a Terra, os mares, as espécies e o homem, segundo sua imagem e
semelhança, uns seis mil anos atrás, no máximo, segundo as indicações
bíblicas.
Em 24 de novembro de 1859, na Inglaterra, Charles Darwin lançou o livro A
Origem das Espécies e a Seleção Natural, no qual afirmava que os organismos
vivos descendem de ancestrais comuns, porém, com modificações anatômicas
e funcionais, consequentes às condições ambientais. Em outro tópico, ele
aponta que, quanto mais recentes forem os fósseis na escala evolutiva, mais
devem parecer-se com o indivíduo atual ou o mais novo, caso a espécie esteja
extinta.
Diferentemente dos postulados do Criacionismo – que prega a ideia de um
mundo fixo e imutável, criado e organizado por uma potência suprema, segundo
sua vontade e lei eternas, até o fim dos tempos –, Darwin descrevia um meio
natural hostil e instável, subordinado à competição e à cooperação, tendo em
vista a sobrevivência dos mais aptos, apartados da influência do poder divino.
Suas ideias evolucionistas receberam o apoio imediato de alguns dos cientistas
mais célebres da época, entre eles, Alfred R. Wallace, Thomas H. Huxley,
Joseph Hooker, Paul Broca e Ernst Haeckel. Mesmo assim, o livro A Origem
das Espécies recebeu críticas violentas das sociedades cristãs e tementes a
Deus, em todas as partes do mundo. Foi um escândalo internacional.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Em 1871, a tradicional família inglesa sofreu um ataque ainda mais devastador
sobre suas crenças e valores quando Darwin declarou, em seu novo livro A
Origem do Homem e a Seleção Sexual, que os seres humanos descendem do
ramo comum aos chimpanzés e outros símios. Outro tumulto mundial.
Segundo suas conclusões, já que na época não existiam fósseis de hominídeos
reconhecidos pela comunidade científica, os homens não passavam de primatas
melhor adaptados. Visionário, ele chegou a prever que os ancestrais humanos
seriam encontrados na África, fato que só pôde ser comprovado em 1924 com a
descoberta de um espécime Australopithecus Africanus (antropoide do sul da
África), com 2,5 milhões de anos, batizado de Menino de Taung e aceito pelos
cientistas em 1950, após muitas discussões, como convém à classe,
evidemment.
Os confrontos entre os criacionistas e os darwinistas continuam em pauta, com
os expositores inflamados e o público dividido. De seus balcões-púlpitos, os
criacionistas jogam pesado e argumentam que as verdades científicas devem ser
procuradas nas palavras de Deus, que estão transcritas nos textos sagrados, não na
interpretação duvidosa de uns ossinhos mudos. Os dois lados possuem argumentos
fortes, que arregimentam e movimentam multidões. Quem tem a razão? Que tipo de
jogos estão envolvidos em cada caso?
Assim, para se entender como funcionam os jogos, será preciso viajar no tempo e no
espaço, visitar vários momentos históricos interessantes a fim de conhecer a história
das histórias, para se ter condições de contar uma nova história sobre o homem, sua
origem e, de quebra, responder a algumas questões que estão em aberto sobre os tais
ossinhos mudos.
Mas tenha cuidado: não entre nessa aventura desprotegido e inocente, pois coisas
estranhas estão para acontecer com você. De agora em diante, seus demônios e
medos mais secretos surgirão nas encruzilhadas da mente, como fantasmas de
insepultos, para cobrar-lhes as respostas certas aos enigmas que arruínam a vida de
tantos.
Se errar ou fugir apavorado, será devorado pelas piores emoções, as mais
animalescas, irracionais e violentas.
Se acertar...
Bem, de qualquer modo, se você conseguir sair do labirinto, nunca mais será a mesma
pessoa, nem seu mundo voltará a ser igual. A parte heroica da sua personalidade
deixará de ser comum, crescerá e fará grandes mudanças positivas em seu mundo
particular.
Vamos? Então, “aperte o cinto porque esta será uma noite movimentada”, a noite dos
tempos.
Nossa viagem começa há 15 bilhões de anos quando o universo, o organismo máter,
nasceu de uma explosão colossal, o big-bang. Desde então, enquanto cresce e
16
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
amadurece, tem avançado contra o negrume aterrador, enchendo-o de movimento,
galáxias, pulsações de vida, estrelas, transformações e planetas.
A Terra, celeiro fértil de vidas e outras circunvoluções biológicas, formou-se há 4,5
bilhões de anos. Os primeiros registros fósseis pertencem às bactérias com 3,8 bilhões
de anos. As plantas multicelulares e os animais surgiram há 750 milhões de anos. Os
répteis, que apareceram há 300 milhões de anos, culminaram com os dinossauros que
dominaram o planeta de 200 a 65 milhões de anos, encerrando o período Cretáceo.
O período Terciário, posterior ao Cretáceo e que se estendeu de 65 milhões a 1,8
milhão de anos atrás, caracterizou-se por profundas alterações geológicas, ambientais
e climáticas, com quedas e elevações ocasionais de temperatura.
Nessa época, a Terra parecia estar possuída por forças titânicas e sobrenaturais que
balançavam, levantavam e dobravam o chão formando cadeias gigantescas como
aconteceu com o Himalaia, os Pireneus, os Cárpatos, os Apeninos, os Andes e os
Alpes.
Havia ainda os vulcões que cobriam os céus dos mares e da terra firme, com uma
imensidão de fumo e enxofre avisando à bicharada que, por milhões de anos, de suas
bocarras infernais iria escorrer o sangue quente da Terra, tornando pedra e morte onde
antes havia cor e vida.
Como se não bastasse, em meio a rangidos ensurdecedores, por vezes, em alguns
pontos, a paisagem abria-se em feridas que jamais se cicatrizariam.
Em um todo, a fauna e a flora seguiam as mudanças, eliminavam espécies e forneciam
condições para que os mamíferos aumentassem o tamanho físico, a variedade e o
número de espécies.
As aves perderam suas características répteis (dentes e rabos) e especializaram-se
para o voo.
As plantas ganharam flores e incrementaram o sistema reprodutivo. Em todos os
reinos, os organismos vivos foram forçados a criar estratégias para sobreviver nos
novos ambientes.
O comportamento dos animais foi influenciado por sua morfologia, herança genética e
estímulos provenientes do meio. Assim, é certo que as espécies herdeiras foram
aquelas que, quando necessário, conseguiram gerar soluções contínuas, morfológicas
e comportamentais.
O sistema biótico do planeta Terra, a biosfera terrestre, representa a soma da interação
do histórico-processual de todos os elementos existentes, os animados e os
inanimados. A vida se divide e se multiplica pelo dom da Matemática. Energia e
nutrientes são presos à cadeia que promove a explosão criativa de incontáveis formas
de vida.
A adição de uma nova espécie viva ou a subtração de uma espécie já existente
(extensão), por exemplo, reflete-se no comportamento dos demais elementos restantes
17
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
e do conjunto, o qual funciona como um todo orgânico racional. As relações causais
tramam os processos bióticos e interferem na sistêmica do universo inteiro.
Há aproximadamente 60 milhões de anos, surgiram duas espécies de primatas com
uma inovação adaptativa singular: possuíam o cérebro relativamente grande, em
proporção ao tamanho de seus corpos. Essas espécies antigas eram parecidas com os
lêmures e os tarsos da atualidade, viviam em grandes bandos barulhentos e
alimentavam-se de frutas e folhas em abundância.
Ao que tudo indica, seus cérebros cresceram em virtude de a alimentação farta e a
enorme quantidade de informações que precisavam processar. Havia as informações
da Natureza, das espécies com quem partilhavam o ambiente (de quem deveriam se
proteger) e, principalmente, das mensagens geradas pelos indivíduos do bando,
quando do relacionamento cara a cara.
Quanto ao restante da fauna, a vida desses primatas gregários era mais complexa e
demandava um número maior de soluções práticas para continuarem a existir.
As pressões em espiral ascendente levaram as espécies primatas subsequentes a se
tornarem exímias em organizar estratégias comportamentais que garantiram a
formação de sistemas sociais eficientes e autossolucionadores, o que lhes deu a
chance de manter o cérebro grande e em perfeito funcionamento em ambientes
abertos.
Essa é a origem da evolução do cérebro, da mente e do indivíduo social e sistêmico,
quando ainda não havia o humano, só o animal.
Há cerca de 10 milhões de anos, as densas florestas que dominavam o continente
africano, lentamente, cederam espaço às savanas, às matas, aos pastos e aos
pântanos. Um novo horizonte começava a ser desenhado, trazendo consigo
oportunidades inéditas de evolução para os animais que puderam se organizar em
bandos melhor adaptados.
Com a alteração do ambiente, certos grupos de macacos se viram estimulados a
descer dos galhos e buscar alimentos no chão – plantas, raízes, frutos e,
ocasionalmente, restos de animais mortos (carniça).
A Natureza gosta de brincar com o acaso, ao materializar o provável e o improvável. O
que vale para ela é manter a chama da vida acesa, seja como ou onde for. Contudo,
entre suas infindáveis e ininterruptas tentativas de acerto, uma nova forma estava
fadada a dominar o planeta.
Em determinado momento, entre 10 e 7 milhões de anos atrás, a Natureza produziu
uma espécie inédita de primata, cuja morfologia privilegiava o desenvolvimento do
sistema cerebral e esse, futuramente, estava destinado a gerar a mente.
Então, a partir do nascimento do primeiro hominídeo, pouco a pouco, e durante
o avanço dos milhões de anos, as metamorfoses pertinentes à evolução natural
prepararam o terreno para o surgimento de um organismo que, mais tarde, bem
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
à frente, teria a capacidade de contribuir beneficamente com a Natureza que o
gerou de maneira indireta. Um ser altamente sistêmico e integrado.
O estudo da evolução humana é um ramo científico repleto de surpresas e
armadilhas desconcertantes. A nova corrente de pensamento, aceita pela
maioria dos estudiosos, considera que a evolução não foi linear e naturalmente
progressiva, mas que se processou aos saltos, em forma de arbusto, com várias
espécies que apareciam, desapareciam e se afunilaram após o surgimento do
Homo sapiens sapiens, nossa espécie, há aproximadamente 200 mil anos. Os
motivos que levaram os sapiens sapiens a serem os únicos a sobreviver ainda
são impenetráveis.
Das 20 espécies aceitas como nossas ancestrais, poucas têm seu lugar
garantido. Dependendo das descobertas futuras, algumas podem cair dos
galhos que as prendem à família humana, como aconteceu no passado com
outros pretendentes.
Para pertencer a essa comunidade diferenciada, os candidatos ao posto de
nossos antepassados devem apresentar credenciais físicas e intelectuais que
hoje são tomadas como exclusivas dos humanos.
As credenciais físicas incluem o bipedalismo, a postura vertical e ereta, o
cérebro grande e multifuncional, a capacidade manipulativa com o polegar
oponente, molares grandes, caninos pequenos e incisivos, esmalte dental
espesso, face inferior vertical, caixa craniana arredondada e regular.
Das habilidades intelectuais podemos citar a aptidão de criar estruturas sociais
complexas, a utilização do símbolo, a criatividade, a capacidade de construir
instrumentos, o pensamento ordenado e inventivo, a arte e, mais importante, a
facilidade para desenvolver sistemas que ajudam os homens a construírem
outros mundos, além do mundo natural.
Parece muito, mas, segundo as pesquisas mais recentes, quando se comparam
as demais espécies de animais com os humanos, nota-se que as referências e
os conceitos podem se confundir, até se perder a noção exata sobre o que
diferencia os humanos dos animais antigos e modernos.
Por esse motivo, os especialistas tentam responder a uma questão urgente: O
que nos torna humanos?
Há oito tipos básicos de vida no planeta: as eubactérias, as arqueobactérias, os
arqueozoanos, os protistas, os cromistanos, as plantas, os fungos e os animais.
O homem é um animal vertebrado e mamífero, que se encontra no topo da
cadeia evolutiva e guarda em seu interior todas as informações dos que estão
abaixo dele. Ao que parece, se não evoluir mentalmente, pode vir a utilizar
estratégias comportamentais de ordens inferiores, que comprometerão seu
amadurecimento humano.
19
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Então, como devemos classificar um homem moderno e citadino que apresenta
um tipo de comportamento similar àquele observado em predadores, parasitas
ou vírus?
Essa pessoa é um ser humano?
Se optarmos pela negativa, como pode ter direitos humanos?
Diante da dúvida sobre o que é a humanidade e o que nos faz humanos, nessa
viagem pela noite dos tempos, precisamos voltar os olhos para nossos
antepassados.
O candidato mais antigo a pleitear uma posição confortável na estranha família
humana chama-se Toumaï, tem 7 milhões de anos e foi encontrado em TorosMenalla, no norte do Chade, em 2002, por Michel Brunet e Patrick Vignaud. Seu
fóssil (alguns dos tais ossinhos mudos) resume-se a uma caixa craniana
praticamente completa e muito bem preservada.
Toumaï tinha o tamanho de um chimpanzé e habitava próximo a um lago com
400 mil quilômetros quadrados circundado por uma floresta. Naquela época,
onde hoje é um deserto inóspito, o ambiente apresentava um misto de florestas,
rios e pântanos habitados por várias espécies de animais.
Os próximos pretendentes são: o Orrorin tungensis (6 milhões de anos), o
Ardipithecus ramidus kadabba (5,8 milhões de anos), o Ardipithecus ramidus
(4,5 milhões de anos) e o Australopithecus anamensis (4,2 milhões de anos).
Todos eram bípedes ou bípedes e arbícolas, especialmente vegetarianos e
habitantes de regiões arborizadas.
Por volta de 3,5 milhões de anos, emerge a estrela máxima do mundo fóssil,
Lucy, um Australopithecus afarensis, encontrado por Donald Johanson, em
Hadar (Etiópia), em fins de novembro de 1974. Os A. afarensis mediam de 1 m
a 1,50 m, pesavam de 30kg a 75 kg, possuíam um cérebro de 450 a 550 cm 3 e
habitavam as savanas.
Por volta de 2,5 milhões de anos, entram em cena os Australopithecus africanus
que, em companhia dos A. afarensis, são conhecidos como australopitecíneos
gráceis, por serem leves, com braços longos e corpos enxutos. Os
Paranthropus robustus, seus contemporâneos, são mais encorpados e
apresentam uma crista sagital no topo do crânio, que era responsável pela
fixação de músculos mastigatórios poderosos. Os primeiros instrumentos líticos
datam de 3 a 2,5 milhões de anos e resumem-se em simples pedras lascadas
(complexo industrial de Omo) que foram fabricadas por membros dos gêneros
Australopithecus e Paranthropus.
Fabricar algo exige memória, planejamento, criatividade e competência
intelectual para superar problemas de ordem abstrata. Mesmo assim, os
especialistas costumam considerar essas espécies como meros macacos em
pé, animais destituídos de qualquer lampejo de humanidade, porque não
existem provas de que esses antepassados possuíssem cultura própria.
20
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Trata-se de um rigor injusto, se levarmos em conta que esses arcaicos punhamse de pé, olhavam-se nos olhos, comunicavam-se por meio da fisionomia,
produziam sons inteligíveis, tinham as mãos livres para o gesto e estavam
inseridos em um mundo cheio de coisas interessantes para serem manipuladas
e conhecidas detalhadamente.
Se realmente a ontogênese (processo individual de desenvolvimento dos seres
vivos) recapitula a filogênese (desenvolvimento das espécies), como propôs o
cientista Haeckel (1834-1919), a comunicação entre nossos antepassados teria
começado com o olhar e a expressão facial acompanhada de sons, como
acontece com os recém-nascidos sapiens sapiens que avidamente buscam
travar contato com a mãe e as outras pessoas, desde os primeiros momentos
da vida.
Da mesma maneira, é possível imaginá-los explorando os terrenos, fascinados
com os elementos naturais próximos e distantes, demonstrando a mesma
curiosidade travessa, peculiar aos nossos pequenos primitivos modernos, e que
nos enternece tanto.
Os véus que escondem os segredos do universo humano não resistem aos
questionamentos da mente, quando esta se vê diante do desconhecido, como
acontece com a coragem afetiva de querer penetrar no coração alheio, aberto
pelo caminho daqueles que se olham emocionados, tentando descobrir o cerne
de várias emoções e, até quem sabe, o amor florescente. Ou, em outro
momento, como um Narciso primitivo, ter a coragem de olhar-se na superfície
do espelho d’água, encontrando-se no fundo de si próprio, pequeno, porém
sentindo-se estranhamente um pouco menos animal. “gnōthi seauton” (conhecete a ti mesmo).
Esse foi o princípio da história do sujeito pensante que, para relacionar-se
consigo mesmo, precisava se conhecer e aprender a se escutar.
E então, esse eu interior pequenino e confuso, suspenso por vontades, desejos,
temores e dúvidas, olhou por cima dos arbustos, das copas das maiores
árvores, dos montes, das montanhas e enamorou-se da linha do horizonte,
porque, lá longe, ele sentiu que o chamavam.
Da visão daquilo que o convida, com a intimidade cúmplice de quem o conhece,
as terras, os mares, os céus e o que mais houvesse, estariam prontos para
serem analisados, decodificados, simbolizados e historiados mediante um
processo lento, longo e cumulativo que duraria milhões de anos e culminaria
com o surgimento da memória em seus níveis mais sofisticados, assim como a
conhecemos nos Homo sapiens. Porém, se a imensidão lhe fazia promessas,
por outro lado, escondia perigos: as feras (que poderiam estraçalhá-lo ou
devorar seus queridos), as borrascas (que poderiam arrasar seus habitats), as
mudanças bruscas no clima e os desastres naturais que pareciam querer punilo, sabe-se lá por quê. Forças essas, superiores àquelas observadas nos seres
naturais, talvez sobrenaturais, quem sabe, pertencentes a um mundo poderoso,
21
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
mas invisível
pensamentos.
aos
seus
olhos
inquisidores.
A
ignorância
guiava
seus
Assim, para o hominídeo, as paisagens pareciam conter vida própria, como
entidades sedutoras, cúmplices e violentamente perigosas.
Mas, por causa dessa instabilidade temperamental e aterradora, que lhe fugia
do controle e da compreensão, é provável que ele tenha aprendido a sentir
medo do que está à espreita, do que está guardado e do que virá amanhã e
depois. E pode ser também que hoje essa emoção esteja escondida no fundo
dos corações humanos, bem longe da razão.
Como não poderia deixar de ser, no passado, consoante a essas condições
cognitivas especiais, a evolução abriu o leque mostrando opções variadas de
relacionamentos baseados em laços afetivos profundos.
Por seu turno, o bipedismo interferiu em suas relações sociais, sexuais e nos
nascimentos das crianças ao projetar os genitais à frente do corpo nu. O ato
sexual, praticado nessas condições, diferentemente dos símios, cuja
penetração é por trás e oportunista, força o par a se olhar, se reconhecer e
trocar importantes informações racionais, emocionais e sociais: antes, durante e
depois da cópula.
A sexualidade, entendida como complemento íntimo do relacionamento afetivo
maduro, desempenhou e ainda desempenha um papel fundamental na evolução
dos indivíduos e da raça humana em geral.
Quanto ao parto, o bipedismo estreitou a bacia e obrigou as crias – com a
cabeça aumentada por causa do cérebro maior – a nascerem prematuras em
relação aos outros animais. A finalização do desenvolvimento do filhote
hominídeo é extrauterina e depende integralmente do relacionamento com os
pais e o meio que o cerca, desse modo pode-se verificar que o fenótipo é
produto da interação entre o genótipo e o ambiente. A soma desses fatores,
ordenados em um sistema individual, lhes estimulou a inteligência, moldou seu
caráter e propiciou o surgimento de novas formas de contato, comunicação
interpessoal, acordo social e relacionamento com o entorno.
Em complemento, as mãos libertas foram imprescindíveis para o
desenvolvimento da interligação dos cinco sentidos. Com a facilidade de
manipular as coisas que estavam à disposição, os antigos puderam analisá-las
melhor, cheirá-las melhor, trazê-las para junto do ouvido, sacudi-las, lambê-las
em pontos diferentes e tocá-las de modos variados e criativos.
Os primeiros representantes do gênero Homo têm 2,5 milhões de anos e
apresentam grande variação de tamanho e forma. Entre os inúmeros fósseis
coletados, os antropólogos identificaram três espécimes principais: Homo
habilis, Homo rudolfensis e Homo ergaster. Esses espécimes possuíam
cérebros com tamanhos de 500 a 800 cm 3 , eram maiores do que os
australopithecus e habitavam regiões da África oriental e meridional.
22
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Alguns cientistas preferem chamá-los apenas de habilis, já que é quase
impossível identificar e classificar com segurança os vários fósseis
encontrados. É muito provável que várias espécies estejam juntas, em número
muitas vezes superior ao classificado.
Pela análise da caixa craniana dos habilis, os neurologistas acreditam que seus
cérebros tinham as regiões de Broca e Werneck (responsáveis,
respectivamente, pela fala e compreensão linguística) completamente
desenvolvidas, o que caracterizaria a competência para o uso corrente da
linguagem falada. Os habilis receberam essa denominação por causa dos
instrumentos que fabricavam ao bater uma rocha de cascalho contra outra para
produzir lascas afiadas. O restante do seixo, o núcleo desbastado e pontudo,
servia como ferramenta para serviços mais pesados (Indústria Olduvaiense).
Os habilis foram os primeiros a consumir grandes quantidades de carne,
provavelmente conseguidas com a coleta de restos de animais abatidos por
outros carnívoros. Essa prática é conhecida como carniçagem e,
ocasionalmente, deveria ser aplicada pelos Australopithecus que, igual aos
Homo, costumavam partir os ossos grandes para retirar do seu interior o tutano,
altamente nutritivo.
Certos pesquisadores defendem que os A. afarensis consumiam carne
regularmente e que, inclusive, eram adeptos do canibalismo, como acontece
com alguns bandos e chimpanzés e representantes do gênero Homo.
Há dois milhões de anos, aparece o Homo erectus com um cérebro de 750 a
1250 cm 3 . Sabe-se que ao redor do lago Turkana, no norte do Quênia, há 1,9
milhão de anos, grupos de Paranthropus boisei, Homo habilis, Homo
rudolfensis, Homo ergaster e Homo erectus dividiam os mesmos recursos
ambientais. Se levarmos em conta que os hominídeos são animais sociais,
chegamos à conclusão de que eles tiveram algum tipo de interação social e
cultural.
Há 1,8 milhão de anos, surpreendentemente, os H. erectus surgem na Ásia e no
extremo oriente, resultado de uma possível migração da África, anterior há dois
milhões de anos. Sobreviveram até 40 mil anos atrás (fósseis encontrados em
Ngandong, Java). Os H. erectus provavelmente foram os criadores dos famosos
machados de mão, feitos de seixos desbastados de ambos os lados e moldados
em forma de gota. As primeiras ferramentas desse tipo apareceram há 1,4
milhão de anos e foram encontradas em todo o velho mundo, menos no sudeste
asiático.
O formato e as dimensões desses instrumentos foram mantidos por centenas de
milhares de anos, o que nos faz supor que os Homo antigos eram orientados
por uma cultura tradicional, que desprezava a criatividade e a variedade
produtiva, como ainda acontece com quem se prende aos cânones.
À parte da limitação desses antepassados, a fabricação dos machados de mão
exigia que os produtores possuíssem sensibilidade, destreza, conhecimento
natural e grande perícia técnica para superar os desafios que se apresentavam
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
durante o processo de desbaste das diferentes rochas, com diferentes graus de
dificuldade (Indústria Acheulense).
A produção lítica do passado é obra de grandes peritos que legaram às futuras
gerações belas lições de pertinácia para vencer desafios e superar limitações.
Como acontece nas oficinas modernas, é possível que os artífices mais jovens
e inexperientes fossem orientados e treinados por mestres mais velhos e mais
traquejados. Os machados de mão, encontrados em vários sítios arqueológicos
do mundo, nos revelam que seus fabricantes conseguiam pensar, refletir e
planejar suas ações operacionais para materializar uma determinada forma
preexistente em suas mentes, respeitando diretrizes precisas e predeterminadas, possuindo, talvez, um senso rudimentar de ordem e valor, que
exigia da Natureza mais do que ela lhes oferecia.
Assim, depois que os hominídeos entraram no curso da história e da vida do
planeta, talvez a noite dos tempos tenha ficado bem mais curiosa, ruidosa e
inteligente do que se supõe.
Os primatas são a ordem social por excelência do reino animal. Praticamente,
todos os primatas antropoides vivem em grupos sociais complexos, mostrandose aptos a aprender regras comuns a um conjunto de experiências e utilizá-las
para enfrentar novos problemas. Portanto, a propensão humana à sociabilidade,
à solução de questões complexas, ao aprendizado e à encefalização
(desenvolvimento e aumento do cérebro) é parte de uma tendência geral.
Para sobreviver no turbulento redemoinho da história do planeta, em constante
transformação, era forçoso que os hominídeos conseguissem transpor o roteiro
imposto pelo instinto. Pois, como animais pertencentes ao reino animal, eles
encontravam-se em franca desvantagem. Com corpos tão frágeis e sensíveis,
eram presas fáceis das feras.
Se os sujeitos pensantes, em conjunto com suas mentes, não solucionassem os
problemas do entorno, desenvolvendo comportamentos individuais e grupais
que os estimulasse à cooperação e à troca inteligente, na atualidade não
existiriam seres humanos. A forte inclinação ao social foi a salvação da espécie
humana.
Os primeiros antepassados a ultrapassar os limites que os prendiam a mais
completa animalidade foram aqueles cuja verve social expandiu-se e começou a
individualizar os elementos do entorno, emprestando-lhes propriedades
objetivas e subjetivas, que facilitavam sua manipulação física e intelectual. Com
o passar dos milênios, enquanto seu sistema intelectual se desenvolvia, o meio
ia ganhando um caráter responsivo e afetivo que, segundo sua leitura particular,
ampararia, protegeria e recompensaria quem se comportasse de modo correto.
Essa compreensão, baseada em trocas inteligentes e sistêmicas, aliada a uma
certa competência para resolver os problemas do ambiente, deu-lhes respaldo
para organizar um mundo com crenças, ideias e leis não naturais que facilitoulhes a sobrevivência.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Em Israel, no ano de 2004, no vale do Hula (um caminho de migração da África
para a Europa e a Ásia), foram encontrados restos de fogueiras com 750 mil
anos, produzidas por hominídeos não identificados.
Especula-se que os H. erectus já dominassem a produção do fogo no continente
africano, há 1,8 milhão de anos, próximo do início do Pleistoceno, quando
placas de gelo começaram a invadir o hemisfério norte, interferindo no clima do
planeta.
O domínio da técnica da combustão pode ter facilitado a conquista das terras
do velho mundo, com climas, fauna e flora diferentes do continente africano.
A alimentação interfere diretamente na morfologia dos seres vivos. Somos o
que comemos. Com a utilização regular do fogo, o homem pré-histórico teria
condições de incrementar sua dieta e poder alimentar com maior facilidade e
eficiência crianças, jovens e velhos. Já foi observado que o alimento cozido tem
seu potencial energético aumentado porque facilita a mastigação e a digestão.
Isso fez com que os intestinos trabalhassem menos e diminuíssem de tamanho,
enquanto o cérebro passava a ter condições de absorver a energia excedente.
Além desses fatores, os alimentos macios dispensam a necessidade de
músculos grandes, os quais pressionam a caixa craniana e impedem que o
cérebro se expanda, como aconteceu com os Paranthropus.
Mastigar menos e com menor força permitiu que os músculos mastigatórios
diminuíssem e imprimissem menos força à caixa craniana, o que facilitou sua
expansão enquanto o cérebro crescia com a energia que recebia da
alimentação rica e variada. O cérebro é um órgão dispendioso, pois, nos
humanos, ele consome 25% da energia disponível.
As fogueiras também representaram um importante avanço para socializar o
bando e protegê-lo dos predadores. Se levarmos em conta o comportamento
dos povos primitivos em geral, ou das civilizações antigas, é possível que, para
esses antigos pré-históricos, o lugar destinado às fogueiras era tido como um
espaço sagrado que unia, confortava e protegia, fornecendo oportunidades para
alimentar o corpo e o espírito.
Para maximizar as chances oferecidas pelos ambientes, com seus mais
variados desafios, os bandos se estruturavam em torno de 10 ou 20 indivíduos
empenhados em solucionar as necessidades básicas diárias. Uma pequena
célula social flexível, soldada por laços indissolúveis, em constante equilíbrio
funcional.
Pelo visto, a tendência aos agrupamentos pequenos se manteve até o
Paleolítico Superior, há aproximadamente 40 mil anos, quando os grupos
começaram a duplicar o número de integrantes e a diversificar a estrutura
original, por vezes, enfraquecendo-a.
Há 500 mil anos, inicia-se a fabricação dos machados de mão com simetria e
acabamento superior (Técnica Levallois). Hoje em dia, uma pessoa hábil e
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
inteligente levaria muitos meses, talvez anos, para dominar a técnica do
lascamento bifacial e perfeitamente simétrico. Os experts seriam raros, tamanha
a complexidade do processo. Quanto à funcionalidade, a simetria não era
indispensável no emprego das pedras talhadas, mas já deveria ser considerada
uma qualidade. Vemos que os homens do Paleolítico Inferior haviam começado
a se preocupar com a estética dos seus instrumentos.
O emprego do princípio da simetria por parte desses lascadores – primitivos,
por certo, mas cujos intelectos se empenhavam em alcançar a correspondência
das partes, sem se importarem com os sacrifícios e as decepções necessárias,
quando se punham a transformar as irregularidades das formas naturais – é um
indício claro de que eles pensavam com maior requinte, quando comparados
aos seus ascendentes.
A perfeição, em qualquer das suas feições, é uma ilusão da mente, um
fenômeno imagético interior e conceitual, peculiar às estruturas de raciocínio
desenvolvidas, mas, que, ainda não atingiram os níveis superiores de
compreensão formal e funcional. Ao que parece, desde esses velhos tempos, a
desigualdade das partes incomodava o senso estético e, provavelmente,
também o sentimento ético das gentes.
Algumas dessas peças destacam-se pela personalidade transcendental,
comunicando, para quem as vê e toca, que o artífice preocupou-se em
ultrapassar os limites da matéria para atingir um padrão plástico que primasse
pela beleza e expressão de uma sensibilidade inteligente e refinada. São
verdadeiras obras-primas, cuidadosamente esculpidas com incisões precisas e
delicadas. É provável que alguns desses machados de mão representem as
primeiras manifestações de arte que se tem notícia. Os mais belos não foram
maculados pelo uso ordinário de picar vegetais, talhar a carne, trabalhar a
madeira e cortar peles de animais. Foram mantidos praticamente intactos por
centenas de milhares de anos, como que para preservar o esplendor e o
potencial funcional inviolados, lembrando os punhais e as facas sagradas
encontradas em culturas primitivas de todos os tempos.
Tendo em conta a qualidade das emoções e das crenças envolvidas na
fabricação, no uso e na apreciação desses objetos, é quase certo que esses
indivíduos já acreditavam na influência da imagem mental sobre o objeto e viceversa.
Porém, são inferências desse calibre que, muito mais adiante e a par de outras
realizações, anunciam a prática inquestionável das artes, da magia e, depois
delas, das religiões.
A representação figurativa mais antiga foi encontrada no sítio de Berekhat Ram,
em Israel, e conta com 250 mil anos de idade. A figura esculpida em um
pequeno pedaço de rocha lembra a silhueta de uma mulher. Contudo, há
divergências quanto às intenções do escultor. No caso da confecção de
ornamentos pessoais, o intuito é claro e revela a interferência do pensamento
simbólico de modo inequívoco. As primeiras joias do mundo são colares de
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
conchas pequenas e regulares, encontradas na caverna de Blombos, África do
Sul, com cerca de 75 mil anos de idade.
Em data incerta, algo entre 800 e 400 mil anos, começaram a aparecer
hominídeos de várias espécies e subespécies, com crânios mais arredondados
e cérebros maiores, entre 1000 e 1400 cm 3 .
Dada a dificuldade em classificá-los, os pesquisadores costumam chamá-los de
Homo sapiens arcaicos. Uma denominação inapropriada.
Por volta de 800 mil anos, surge o Homo heidelbergensis, o primeiro hominídeo
a habitar a Europa. Os Homo sapiens arcaicos sobreviveram até 100 mil anos
atrás.
Na Etiópia, em 1997, foram encontrados os fósseis dos Homo sapiens idaltu
(subespécie sapiens) e ossos de outros indivíduos. Os crânios encontrados
parecem que foram separados dos corpos, descarnados e cuidadosamente
polidos, fazendo supor que eles praticavam algum culto destinado aos
antepassados. Até há pouco tempo, acreditava-se que o culto dos crânios havia
surgido no Paleolítico Tardio (por volta de 10 mil anos atrás), junto aos
primeiros povos agricultores e sobrevivido até os nossos dias, em povos de
cultura primitiva que ainda acreditam que a cabeça é a morada do espírito do
indivíduo.
Segundo essa crença, depois que o corpo morre, o espírito sobrevive e
continua habitando no crânio do falecido, de onde acompanha os passos dos
descendentes, cuidando para que as tradições não se alterem. Tudo deveria
continuar como sempre foi, desde antanho, para garantir a segurança e a
permanência do espírito dos mortos, dos vivos e daqueles que um dia virão.
Os antigos procuravam controlar a volubilidade da Natureza, ao querer fixar
seus usos e costumes, regras e formas por gerações sem fim, como se a
conservação do mundo humano e artificial interferisse diretamente na
estabilidade das imagens naturais. As informações do meio eram organizadas
em sequências de representações mentais ligadas por intermédio de
correspondências gramáticas e processuais. Eles acreditavam que as imagens
produzidas por suas mentes e mãos, de alguma forma, refletiam na estrutura do
ambiente, como se as mesmas possuíssem vida e essência independentes.
Segundo essa linha de raciocínio, que privilegia a construção de enredos e
histórias, se houve o ontem, então haverá o amanhã, desde que o contexto
social e os elementos do cenário humano se mantivessem iguais.
Durante o Pleistoceno, o planeta passou por mudanças ambientais e climáticas,
com variações bruscas de temperatura, em consequência de pelo menos oito
grandes ciclos de glaciação-interglaciação.
Enquanto as paisagens se alteravam e os recursos do ambiente escasseavam,
as espécies lutavam contra os perigos da extinção iminente. A história era
dramática para os hominídeos que, para sobreviver, precisavam de grandes
27
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
quantidades de energia proveniente dos alimentos. A variedade e a quantidade
necessárias para saciar a fome dos bandos foram garantidas a duras penas.
Os registros arqueológicos apontam que, a partir de 250 mil anos atrás, havia
uma nova espécie que caminhava sobre a Europa e o Oriente Médio – os
neandertais – que sobreviveram até provavelmente 28 mil anos atrás. Há quem
garanta que eles estiveram entre nós após essa data.
Essa espécie possuía o cérebro volumoso (entre 1400 e 1600 cm 3 ), rosto
grande, maxilar destituído de queixo, arcadas supraciliares salientes, testa
baixa e inclinada, torso bojudo como um barril e membros curtos. Eram fortes,
inteligentes, laboriosos e estavam fisicamente adaptados para suportar as
exigências extremas da época. Alguns dos piores anos que os hominídeos já
enfrentaram.
No continente europeu, o frio glacial colocava os organismos vivos em xeque.
As alterações ocorridas em um único ano, muitas vezes, eram capazes de
mudar completamente a constituição da fauna e da flora de regiões inteiras.
Essa situação comprometia, de forma irrecuperável, a sustentação da cadeia
alimentar e levava várias espécies à extinção.
Por causa das dificuldades e do estresse, a expectativa de vida dos neandertais
era de 40 anos de vida. Seus fósseis costumam apresentar fraturas por esforço,
levando-nos a imaginar o trabalho que tinham para se manterem vivos e
produtivos. E, mesmo diante de tais problemas, eles conseguiram prosperar
com galhardia, por mais de 200 mil anos.
No Levante, os neandertais repartiram o espaço com os sapiens entre 100 mil e
40 mil anos atrás. Na Europa, eles estiveram juntos por 12 mil anos, no mínimo,
entre 40 e 28 mil anos atrás.
De todos os antepassados comuns, os neandertais são os que geram mais
controvérsias, por seu comportamento estranhamente parecido com o dos
sapiens sapiens, em pontos que comprometem a ambos, eram: exímios
caçadores de animais de médio e grande porte, consumiam grandes
quantidades de carne, construíam ferramentas com mais de uma matéria-prima,
enfeitavam-se com objetos de adorno pessoal, enterravam seus mortos,
acreditavam na vida após a morte, cuidavam dos velhos e dos doentes,
possuíam estruturas de raciocínio lógico matemático e foram os melhores
lascadores da dificílima técnica Levallois de que se tem notícia.
A maior parte dos pesquisadores acredita que os neandertais eram
intelectualmente atrasados e que, portanto, os usos e costumes “humanos” que
eles
apresentavam
foram
grosseiramente
copiados
dos
homens
anatomicamente modernos com quem tiveram algum tipo de contato, sem,
contudo, terem consciência do valor simbólico e cultural do que estavam
imitando.
Mas, pesquisadores menos puristas reagem alertanto que a história não foi bem
assim, pois os registros não são conclusivos e mostram evidências ambíguas. A
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
transição do Musteriense (cultura associada aos neandertais de 40 a 28 mil
anos atrás) para o aurignaciano (cultura associada aos sapiens sapiens de 34 a
30 mil anos atrás) foi bem mais complexa e intrincada do que pretendem os fãs
incondicionais da nossa superioridade.
Talvez nunca se saiba ao certo se houve cópia, interação cultural ou se ambos
os grupos evoluíram de forma paralela. Uma estranha coincidência estrutural,
que somente poderia ocorrer se as duas mentes poussuíssem capacidades
semelhantes de cognição e inventividade.
Dada a semelhança comportamental, cultural e produtiva, fica evidente que
tanto os neandertais quanto os sapiens sapiens possuíam formas de pensar
compatíveis com igual compreensão do meio e a mesma facilidade para
simbolizá-lo em benefício próprio.
Não há certeza quanto aos motivos que levaram os neandertais a, literalmente,
sumirem do mapa. Costuma-se atribuir o ocorrido ao possível confronto dos
sapiens, mais numerosos e belicosos, contra os pequenos agrupamentos
neandertais. Mistério semelhante ronda a existência do Homo floresinesis que
habitou a ilha de Flores, na Indonésia, até 12 mil anos atrás. Essa criatura era
pequena, em torno de um metro, mais inteligente, boa caçadora e excelente
fabricante de armas e instrumentos. Sua extinção deu-se em decorrência de
uma erupção vulcânica e é possível que tenha mantido contato com populações
modernas. Até hoje, as lendas dos povos da região contam sobre a existência
de homens minúsculos no passado remoto.
Em relação ao desaparecimento dos neandertais, alguns acreditam que houve
absorção pacífica, sendo que as características genéticas dos mais antigos, e
em menor número, foram diluídas com o passar do tempo.
A teoria da mestiçagem costuma receber críticas da parte dos puristas da raça,
que não admitem a hipótese de que houve qualquer tipo de intercâmbio social,
cultural e, menos ainda, sexual entre os diferentes grupos de hominídeos. Mas
há evidências constrangedoras que levam a crer que realmente houve
cruzamentos entre os neandertais e os sapiens, como sugerem os resultados
dos estudos de alguns fósseis (com características cruzadas) encontrados em
sítios da Europa e do Levante, região do mediterrâneo oriental.
Além desse fato, ainda restam dúvidas se os neandertais são uma subespécie
sapiens. Algumas análises químicas pesam a favor do parentesco íntimo.
Quanto aos sapiens, é provável que o aumento do número de indivíduos tenha
favorecido o avanço cultural e social dos bandos, interferindo naturalmente no
comportamento e na maneira de encarar o meio e seus recursos. Grupos
grandes precisam encontrar mais alimentos para sobreviver. Portanto, seus
elementos devem ser mais flexíveis e criativos.
No ambiente glacial, a busca por um novo repertório de soluções adaptativas
emergenciais obrigou-os a pensar mais e melhor, e em consequência, levou-os
a transgredir os limites impostos pela tradição sobre a formação do
29
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
pensamento, lançando o homem e sua mente em direção à criatividade
moderna.
Com isso, a mente tinha a chance de desenvolver-se ainda mais,
sistematizando o meio, segundo suas leis, em conjunto com as regras ditadas
pelo mundo natural. O mental e o animal fundem-se para formar o homem
daqueles dias primitivos.
É possível que, para aquela época, se os sapiens, como um todo, não fossem
mais cooperativos entre si, criativos e hábeis em criar estratégias de exploração
mais agressivas, teriam soçobrado. Assim, se estavam em desvantagem devido
à sua sensibilidade, suas mentes, mais racionais que instintivas, apresentavam
possibilidades que lhes davam vantagens assombrosas.
É provável que a linguagem, formada por um léxico de tamanho razoável e
regras gramaticais ordenadas, tenha desempenhado um papel vital nos
processos peculiares ao desenvolvimento observado. Se for assim, a fala
melhor estruturada favoreceu a fixação e a transmissão dos conhecimentos
acumulados, bem como facilitou a troca de experiências, ideias, pensamentos e
emoções complexas entre as pessoas, os bandos e, desses, às futuras
gerações.
Na literatura arqueológica, a transição do Musteriense para o Aurignaciano é
conhecida sob o termo de “Explosão do Paleolítico Superior”, momento em que
foi plasmado o universo cultural da humanidade, esteio do progresso posterior.
A produção da época, em sua íntegra, já expressava uma sensibilidade
moderna que, no futuro, daria variedade e vida à moda, às artes plásticas, à
música, à indústria, à religião, ao comércio e à sociedade organizada. A
inovação chocava-se com a tradição e a relegava a segundo plano – o novo
contra o velho.
É bem verdade que em estágios anteriores, como vimos, havia indícios tímidos
de representações simbólicas, linguísticas, artísticas e sistêmicas, mas nada
comparado à expansão criativa do Paleolítico Superior, quando foi formada a
identidade humana.
O emergir absoluto do pensamento simbólico e articulado causa a impressão de
que a mente se apossou do homem levando-o a materializar, quase à força, à
custa da sua necessidade de expressão, comunicação e realização pessoal,
uma realidade nascida em sua imaginação.
Imbuído de forças interiores que fugiam do seu controle, parecia que o homem
precisava provar para si, para os demais e o além que era capaz de realizar
façanhas sobrenaturais, iguais ou superiores àquelas vistas e pressentidas.
Mais do que querer participar da intimidade dos deuses, ele sentia a
necessidade de ser e parecer um deus, mesmo quando a ideia sobre os
poderes e os seres além do natural não passavam de conjecturas, simples
rascunhos mentais.
30
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
De vivência em vivência, de ação em ação, tudo aquilo com que o homem se
identificava e que lhe falava ao coração, desde uma paisagem até uma ideia,
sentia que lhe pertencia de alguma forma. Era parte da sua essência mais
íntima e verdadeira.
Se, por milhões de anos, seus antepassados privilegiaram a pedra e a madeira
para confeccionar uns poucos instrumentos e ferramentas, agora ele tomou as
matérias-primas, sem cerimônias, transformando-as, na medida do possível, em
um meio para exercer e demonstrar seu poder, sem limites. Para se exibir, seus
delicados objetos de adorno pessoal (as joias da pré-história) eram montados
com dentes de animais importantes, conchas, contas de marfim, ossos, chifres,
sementes, penas, flores e o que mais houvesse de valioso e diferente. Os
elementos da Natureza ganharam significados novos e passaram a ser
utilizados para ressaltar suas personalidades únicas, individuais e grupais.
Preocupação idêntica inspirava a criação e a confecção de roupas e tecidos. A
maioria dos modelos era simples, funcional e destacava a etnia dos grupos.
Mas também existiam trajes elaborados, confeccionados para personalidades
ou ocasiões importantes. Tais vestimentas abusavam dos enfeites dispendiosos
e evidenciavam que o aspecto luxuoso da vida possuía um papel importante na
organização social da comunidade.
Em Surgir, na Rússia, foi encontrado um túmulo com 28 mil anos de idade, onde
foram sepultadas três pessoas: um ancião de aproximadamente 70 anos e dois
jovens (um rapaz e uma moça).
Os personagens foram enterrados com uma suntuosidade impressionante.
Embora o tecido tenha desaparecido com o passar do tempo, supõe-se que
suas vestes foram bordadas com mais de 13 mil contas de marfim, encontradas
espalhadas sobre os restos mortais. Isso caracteriza o amor pelo excesso, o
horror ao vazio, tão característico de mentalidades barrocas.
Para consolidar a imagem de poder pessoal e riqueza, eles portavam braceletes
de marfim polido (o mais velho usava 25 braceletes), colares gravados e
pintados, alfinetes de marfim, broches, toucados trabalhados, armas e outros
adereços preciosos.
Quanto às habitações, da mesma forma que havia o infalível “puxadinho”, em
certas zonas, algumas cavernas ostentavam a fachada pintada e a entrada
revestida com pedras chamativas.
Por esses tempos, a linguagem artística fluía com tranquilidade e construía um
sistema sofisticado de signos que facilitavam a expressão e o intercâmbio de
uma qualidade diferente de ideias, valores e conceitos.
Aos humanos não bastava mais a ração diária para se manterem vivos e
satisfeitos, a partir de então, necessitavam acessar as benesses da moda,
decoração, joalheria e artes para sentirem que participavam da vida humana e
artificial, em toda sua plenitude. Quem possuía, desfrutava e se exibia. Quem
não tinha, olhava e desejava.
31
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Em complemento à estimulação que os outros sentidos recebiam, a audição
ganhava seu quinhão deleitando-se com as notas melodiosas de flautas, apitos
e o som curioso de guizos, tambores e xilofones primitivos. Não há registros
confiáveis, mas decerto, havia o canto e a dança.
A construção da realidade humana contou com a ajuda de instrumentos
poderosos de aferição, os cinco sentidos, que serviam para inspirar e guiar o
sujeito pensante, enquanto esse procurava a medida correta para produzir
aquilo que lhe traria prazer físico, estético e intelectual.
O cérebro humano foi moldado para buscar e ser capaz de produzir mais
prazer. A sensibilidade aguçada aliada a uma noção funcional e produtiva do
entorno levou os grandes criadores pré-históricos a elaborar obras com grande
qualidade técnica e artística. Com seu toque criativo, eles materializam
trabalhos dignos de culto, os quais remetiam a um estado de espírito que
atingia a ideia do sobrenatural, uma crença de que existe algo superior aos
homens interferindo em suas vidas. Por essa razão, por suas características
intrínsecas que estimulam a contemplação, a reverência e a reflexão, a arte
sempre esteve filiada ao universo mágico e religioso.
Entretanto, a arte e o sentido estético ainda são incógnitas que resistem às
melhores explicações e independem da época ou do lugar de origem. Há 30 mil
anos havia mestres que possuíam um tal senso e gosto, que nada deviam aos
maiores e melhores expoentes da história da arte.
Diante das obras-primas do passado remoto, o espírito do homem moderno é
pego de surpresa e arremessado a um mundo de imaginação e êxtase
reverente. As pinturas parietais das cavernas de Lascaux, na França, e de
Altamira, na Espanha, são obras-mestras comparáveis, em expressão e gênio,
à Capela Sistina, executada por Michelangelo, durante o Renascimento – outro
grande momento da história da humanidade.
Essa comparação realizada por especialistas modernos revela que os artistas
pré-históricos, pobres em conhecimentos técnicos, instrumentos e materiais,
conseguiram produzir maravilhas, guiados pela emoção à flor da pele. A
sensibilidade do corpo lapidou a essência.
Porém, a sensibilidade física dos sapiens é tão grande, tão anormal, que chega
a invalidar a teoria da evolução das espécies, quanto à adaptabilidade dos
organismos vivos em relação aos ambientes.
Seguindo o esquema imposto pela Natureza, seria de esperar que, para
enfrentar as adversidades dos últimos milhões de anos, os hominídeos
apresentassem um corpo diferente do que possuímos. No entanto, em oposição
às expectativas, constata-se que a evolução chegou ao cúmulo de formar
corpos inaptos para a vida ao natural.
Se a maioria dos representantes das várias espécies hominídeas não tivesse
lançado mão de vestimentas e outros artifícios para compensar suas
32
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
inadequações progressivas, hoje não existiriam homens e mulheres vivendo nos
cinco continentes, superando os climas mais inclementes e triunfando sobre as
cadeias alimentares mais variadas.
Por causa da sua inteligência e criatividade culinária a serviço do paladar, o
homem é o único animal que consegue explorar todos os ecossistemas,
engolindo praticamente tudo que vê pela frente: fungos, bactérias, insetos,
raízes, caules, folhas, frutos, flores, tubérculos, cereais, peixes, algas,
crustáceos, moluscos, hortaliças, derivados animais e, até mesmo, terra. Ele só
não come pedra... por enquanto. O homem é um paradoxo, uma contradição
ambulante que está devorando e destruindo a Natureza.
As atividades humanas da extração mineral à agricultura, passando pela
indústria, urbanização e exploração marinha, interferem definitivamente no
equilíbrio instável da Natureza. Os estragos já efetuados são irrecuperáveis.
Não se pode prever as consequências da ação humana a longo prazo sem uma
compreensão global do funcionamento sistêmico da biosfera, a fina película de
vida que envolve o planeta.
Contudo, como o homem está preso às duas senhoras que não se entendem - a
Natureza e a mente - tudo que lhe diz respeito é incongruente e dividido entre o
biológico e o mental: seu físico, o pensamento e o comportamento.
Em oposição ao instinto do animal que lhe anima as entranhas, seu corpo o
impele para o racional e o social, preparado como está para funcionar como um
instrumento de alta precisão, útil para coletar, analisar e processar material
físico e intelectual.
Os animais humanos possuem essa estrutura física, essa pele macia e sensual,
essa aparência e postura empinada, porque a mente assim os obriga. Estão
acima da Natureza, porque o mundo humano é o espaço da mente.
Todos os animais humanos – os homens – possuem mentes, porém, nem todas
as mentes, por culpa de falhas naturais ou má educação, atingem o alto nível
de evolução sistêmica e funcional, que eleva o simples sujeito pensante à
categoria de ser humano.
Por ser um animal potencialmente racional, que interfere decisivamente nos
sistemas que o contém, podendo afetá-los até a destruição total, o homem, para
ser considerado humano, deve ser completamente responsável pela qualidade
de sua produção, bem como pelo histórico-processual de suas ações e produtos
– da formação e manutenção da prole, ao fruto de seus trabalhos. O indivíduo
atinge a condição humana, quando sua mente expurga a irracionalidade e
passa a produzir pensamentos e raciocínios completamente racionais
(sistêmicos e consequentes). De onde pode-se inferir que, só é humano quem
possui uma mente racional.
Sujeito pensante e mente. O mundo natural fornece muitos exemplos de
associações entre espécies diferentes. Quando os dois espécimes ganham com
a parceria, o relacionamento é chamado de mutualismo, se um deles é
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
prejudicado, então é parasitismo. Nesse caso, se a relação entre ambos, sujeito
pensante e mente, for negativa, o indivíduo será assistêmico, inumano e
prejudicará o meio que o envolve e o contém.
Assim, a mente humana é uma espécie viva e produtiva, não animal, que
sobrevive e prospera a partir da relação íntima que mantém com o sujeito
pensante e o meio. É revelador que depois do Paleolítico Superior, quando os
estímulos do entorno se tornaram mais variados e dados às construções
intelectuais, a evolução dos homens se processou muito mais ativamente nos
setores voltados ao pensamento e à cultura, do que no genético. A entrada
definitiva da mente em cena originou um movimento evolutivo que, até a
presente data, tem se chocado com a Natureza. É preciso, pois, conhecer essa
entidade a fundo.
Para dissecar a estrutura da mente, há uma chave que a revela: o Homo
sapiens pensa e fala formando enredos.
Das religiões às ciências, dos objetos aos usos e costumes, a totalidade das
informações que estão na cultura dos povos resume-se a coleções de histórias
criadas em várias épocas, segundo a interpretação ou o interesse daqueles que
as criaram. De fato, no mundo humano, não existem realidades, só conclusões.
Algumas, inclusive, completamente conflitantes, mesmo quando derivadas de
acontecimentos semelhantes ou iguais. As megatendências surgem e se
perpetuam quando certas mentes conseguem fazer prevalecer suas ideias
sobre o meio e as demais mentes, em grande escala.
Já foi apontado que as ideias são os genes das mentes (Richard Dawkins).
Infelizmente, dada a gravidade histórica, ainda participamos de uma situação
que ameaça a evolução da raça humana. Há milhares de anos, os homens
fazem a mesma pergunta: Quem está dirigindo a trama da minha vida? Os
deuses? Não, definitivamente, não há nenhum deus traçando o destino de quem
quer que seja.
Deus não existe.
De modo ininterrupto, dia e noite, a mente conta histórias, cria diálogos
interiores, gera imagens e desenvolve jogos mentais de vida e morte que
envolve tudo e todos: eu, pai, mãe, dinheiro, casa, amores, trabalho, traição,
mudança, carro, filhos, morte e outros componentes cognitivos.
Por estar naturalmente alinhada com as leis do espaço-tempo e suas
subordinadas estruturais, a mente consegue gerar pensamentos sobre esses
componentes, localizando-os no espaço, dando-lhes significados e
organizando-os no tempo em processos interligados em rede com passado,
presente e futuro coerentes. Ela utiliza o mesmo artifício para conhecer-se,
explicar-se e reconhecer-se como unidade pertencente ao todo – o Eu. Em
consequência, torna-se social, inventiva e potencialmente transformadora do
meio. É o princípio gerador da cultura e da civilização.
34
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Desse modo, uma vez consciente da sua individualidade complexa, pois é
mente, corpo e personalidade atuante, busca tomar posse do ambiente para
testar suas criações intelectuais, suas histórias, de acordo com suas ideias e
crenças sobre o que é real ou passível de vir a sê-lo.
Então, a mente humana, com suas dinâmicas muito particulares, é a verdadeira
escritora dos dramas, das comédias e dos romances que os homens e mulheres
representam diariamente nos palcos da vida.
Os gêneros dramáticos, com suas diferentes sequências operacionais, papéis e
inúmeras chances de expressão racional e emocional, dão oportunidade aos
mais variados tipos de personalidades, de se encaixarem e se desenvolverem
em seus gêneros prediletos. Por exemplo, personalidades com inclinação nata
para o drama estarão propensas a vivenciar dramas na vida real. Naturalmente,
de forma consciente ou inconsciente, elas buscam e acham os elementos
dramáticos certos para construir seus dramas pessoais, ou então, para
participar dos dramas alheios.
Seja quem for e esteja onde estiver, nenhum homem ou mulher consegue
sobreviver sem estar ligado a algum tipo de história ou histórias.
Porém, todo cuidado é pouco, pois há histórias que enlouquecem. Como
acontece quando, andando a passos largos, desequilibrados naturais e mentais
erigem cidades, nações e monumentos, impulsionados pela crença
esquizofrênica de que Deus, governante absoluto de um mundo fixo e imutável,
guia seus passos e abençoa suas ações irresponsáveis e assistêmicas. A fé em
Deus enlouquece.
Por capricho extremo da Natureza, algumas mentes nascem aptas a organizar
scripts bem planejados, abrangentes, equilibrados e completamente felizes para
todos os envolvidos. São composições repletas de situações prazerosas de
serem vividas e repetidas ao longo dos anos. Todavia, mentes que nascem
prontas são exceção.
A esmagadora maioria vem ao mundo comum carente de educação competente
e orientação assertiva. Por isso, suas histórias de vida estão fadadas a serem
malformadas, assistêmicas, cheias de erros e problemas sem fim.
Além disso, por falta de julgamento crítico e conhecimento, é muito comum que
as pessoas tomem meras construções arquetípicas, criadas pela mente, para
compor e testar seus enredos preliminares, como pessoas reais e não meros
personagens de ficção, criados pela mente. Igualmente acontece com as
imagens concretas e não concretas: faz-se a maior confusão. Mas será que
Deus não existe mesmo?
Bem, para dizer a verdade... é lógico que Ele está em algum lugar especial. E
na ordem das coisas, Deus mora ao lado do Papai Noel, no mesmo bairro que a
Branca de Neve e os sete anões, próximo à Fonte da Juventude, depois do
Eldorado, virando à esquerda em Oz, vizinho da Terra do Nunca.
35
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 1
Histórias, histórias, histórias!
Pode-se afirmar que, independente da vontade consciente do sujeito pensante,
a mente ordena-se naturalmente por meio de enredos e tramas. Em termos
evolutivos, é impossível precisar quando se iniciou esse curioso processo de
organização sistêmica interior e exterior. Mas, certamente, essa é a qualidade
primordial que proporcionou a evolução da raça humana como um todo
congruente, sistêmico, lúdico e histórico.
Na verdade, a denominação Homo sapiens sapiens é equivocada, deveríamos
ser classificados como Homo sapiens historicus, já que é a partir da nossa
espécie que a história se fixa como linguagem da mente e elemento inseparável
do homem e das sociedades humanas e históricas.
Todavia, se a história é uma consequência lógica do processamento das
informações contidas na mente, de que forma o cérebro humano foi se
estruturando no decorrer dos milhões de anos para chegar a produzir a mente
que é capaz de criar histórias?
36
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
CAPÍTULO 2
A primeira infância é um período de evolução biológica e intelectual
profundamente comprometedor para o futuro da criança, da família e da
sociedade, pois há o perigo de o pequeno não conseguir se humanizar, caso
não receba os estímulos necessários.
Para entrar no caminho da humanização, em um curto espaço de tempo, o
infante deve aprender a andar, alimentar-se, higienizar-se, falar, desenvolver o
repertório emocional humano, relacionar-se corretamente com seres e coisas,
respeitar limites sistêmicos, construir limites pessoais saudáveis, incorporar
dinâmicas nucleares e códigos de parentesco, funcionar mentalmente segundo
as noções sistêmicas interligadas às leis do espaço-tempo linear e circular, ser
cooperativo em sociedade e responsável pelo histórico-processual da sua
produção.
Além desses tópicos gerais, igualmente, a criança precisa ser levada a investir
na expansão consciente de suas aptidões físicas, motoras e intelectuais,
processos que, sistematizados em conjunto aos demais, sustentarão seu
desenvolvimento posterior. A boa educação capacita o homem e o humaniza.
A fim de viabilizar o aprendizado e afastar as pressões inerentes às exigências
do início da vida, instintivamente, a criança utiliza seu incrível talento para
brincar, seduzir e divertir-se ao passo que procura humanizar-se. Enquanto o
filhote hominídeo brinca e interage com o meio, tem o ensejo imperdível de
incrementar a inteligência e as habilidades, de aprender conceitos culturais
construtivos, de organizar valores positivos, de testar metas pessoais e de
modelar sua personalidade e seu comportamento para participar do meio
familiar e social de forma produtiva e sistêmica.
Sendo assim, quando o filhote homínida nasce, vem ao mundo munido de
capacidades humanas em estado bruto, cujo desenvolvimento progressivo e
consciente é fundamental para que ele tenha condições de manter relações
satisfatórias com os elementos animados e os inanimados que o cercam.
Se esse pequeno indivíduo em formação tiver a sorte de participar de
ambientes naturais e humanos que promovam a expansão dos seus talentos
particulares, quando tornar-se adulto, poderá realizar todos os objetivos de
vida. Pois, se não bastassem os dotes internos que crescem vigorosos com a
educação correta, a Natureza ainda lhe oferece uma infinidade de biomas e
matérias-primas prontas para se moldarem à vontade do criador.
É com a exploração inteligente dessa riqueza interior e exterior descomunal,
que os homens podem materializar os sonhos pessoais, construindo realidades
artificiais que lhes tragam maior conforto e segurança: o ambiente humano –
37
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
espaço não natural criado por um ou mais indivíduos. Então, quanto mais
acurado for o conhecimento teórico e prático dos produtores, maior
competência eles terão para gerar soluções racionais que viabilizem a
concretização de ideias e ideais.
Observando a evolução da produção humana, com seus símbolos e significados
inerentes, nota-se que ao atingirem certos estágios de maturação intelectual e
funcional, os indivíduos, os grupos e as comunidades buscam integrar os
recursos naturais aos recursos humanos disponíveis, em conformidade com a
noção dessas pessoas sobre o que é real e realizável no Universo.
Esse fenômeno sistêmico incomum ocorre, porque, em essência, o bichohomem, também chamado pelos antropólogos de animal com cultura, é um ser
biológico único. Potencialmente social e sistematizador do meio, ele é capaz de
produzir conjuntos sociais variados e personalizados – parte natural e parte
humano – onde busca encaixar-se para sentir-se reconhecido por seus méritos
e integrado ao Todo.
Inseridas em ambientes naturais em constante transformação formal e
funcional, as sociedades organizam-se em torno de um tipo específico de
cultura que ampara e coordena o intercâmbio da produção dos indivíduos, com
vistas à evolução das partes e dos conjuntos interessados. O mesmo acontece
com os elementos naturais e os artificiais, os seres humanos acham-se
engastados à fina película de vida que recobre o planeta. Ninguém está só ou
desligado. Sem exceção, tudo e todos se encontram interconectados em rede
com a totalidade dos sistemas naturais e artificiais que, juntos, compõem o
ambiente sensível, racional e responsivo que sustenta a evolução dos seres
naturais e do bicho-homem em particular.
No âmbito da sistêmica natural, os seres vivos: plantas, bactérias, insetos,
animais, etc., são organismos geradores de produtos * e resíduos ** , que são
*
Produto: Em virtude do funcionamento dos sistemas, esses geram produtos, serviços e resíduos que podem ser
físicos, intelectuais ou culturais. Quaisquer uns desses aspectos são instrumentos de interação do indivíduo produtor
(organismo, pessoa, empresa, sistema misto ou artificial) com o meio ambiente e os demais seres (elementos
sistêmicos) que compõem o macrossistema interligado – biosfera, o planeta Terra. A qualidade da interação
histórico-processual dos produtos ou serviços explicita o patamar da inteligência do indivíduo produtor (organismo,
pessoa, empresa, sistema misto ou artificial). Deve-se entender por qualidade de interação histórico-processual o
desenvolvimento completo do produto, atuando em conjunto sobre todos os demais sistemas que cercam o produtor.
Aqui não cabe uma avaliação sobre as vantagens intrínsecas do produto ou serviço, mas sim, sua função sistêmica e
sistematizadora dentro do meio e suas consequências histórico-processuais. Produtos de má qualidade e serviços
ruins podem ser muito bem executados, mas isso não os torna bons, úteis ou mesmo necessários. Exemplificando,
temos: o cigarro, a bebida, os tóxicos, a prostituição, o crime, a maternidade irresponsável e outros. A lei e a ordem
da sociedade são dependentes do compromisso dos indivíduos em suas relações, como também pela
responsabilidade inerente ao histórico-processual para com seus produtos e serviços. Sem compromisso não há
responsabilidade e, muito menos, respeito à lei e à ordem, à moral e à ética. Quando o indivíduo produtor se liga de
forma sistêmica, consciente e comprometida com sua produção, torna-se responsável pela qualidade históricoprocessual dos seus produtos e serviços, em crescimento natural e potencial, junto aos demais sistemas que o
amparam e o sustentam.
**
Resíduo: Elemento sistêmico (indivíduo, extrato ou sedimento) que gera trocas assistêmicas, deficientes,
destrutivas ou nulas. Por esse motivo, a tendência natural do sistema é eliminá-lo de seu modelo ou colocá-lo à
margem. Se não o fizer, o sistema pode vir a se desestruturar ou se extinguir. Dentro desse enfoque, o homem é
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
assimilados na íntegra pelo meio ambiente, em completa conformidade com as
leis universais que regulam o funcionamento de todos os vários tipos de
elementos existentes, dos átomos às galáxias.
No entanto, o animal humano foge à regra porque, embora faça parte do Todo,
na condição de elemento natural terrestre, sua produção não é determinada
nem regulada pelas leis cósmicas, como acontece com os representantes das
demais ordens e gêneros conhecidos.
A produção humana, ao contrário, obedece aos interesses dos indivíduos, dos
grupos e das várias culturas, sendo uma mais equivocada que a outra. Como
afirmou Nietzsche: “Verdades são ilusões cuja natureza ilusória esquecemos”.
O fato preocupa e produz conflitos contínuos. Os espaços artificiais que as
sociedades plasmam na biosfera, sustentados por regras culturais não naturais,
interferem diretamente nos processos naturais que constroem o planeta Terra e,
por extensão, o corpo universal.
Como ensinam as ciências exatas e as humanas, a história de cada indivíduo,
grupo ou nação, está atrelada à competência com que cada elemento efetua
suas trocas sistêmicas internas e externas. Intercâmbios inteligentes e,
portanto, focados na maximização dos recursos, produzem sistemas individuais
e grupais, altamente satisfatórios e sustentáveis, sem produzir resíduos tóxicos
ou dinâmicas degradantes.
Para que os relacionamentos humanos possam atingir a excelência máxima, o
homem, o animal mais poderoso da Natureza, conta em seu interior, com a
competência sistêmica. Como acontece com as demais capacidades latentes
natas, tais como a criatividade, a racionalidade, o talento artístico e o afetivo, a
competência sistêmica também precisa ser expandida conscientemente. Se
esse dom não for ativado, o produtor não terá como gerar produtos com alto
valor humano agregado.
Sendo assim, embora sejam ilimitadas as possibilidades dos homens
alcançarem a realização plena no particular e no coletivo, a situação limite em
que o planeta se encontra, com a maior parte dos biomas devastados e a
restante comprometida, comprovam que os bichos-homens ainda não
desenvolveram o enorme potencial sistêmico e solucionador, para serem
capazes de utilizar os recursos à disposição em prol da materialização de um
orbe paradisíaco, assim como eles pressentem que é possível de vir a existir.
Em relação à vida particular do homem, o resultado é igualmente
desconcertante, aquém do que poderia ser. À sombra de construções vaidosas,
os ambientes denunciam a presença de ligações humanas destrutivas, com
considerado produtor e produto de si mesmo, pois é um ser consciente que apresenta a capacidade de relacionar-se
criativamente consigo e transformar-se a partir dessa relação, segundo seu livre-arbítrio, independente de suas
origens e condições. Sendo assim, é unicamente sua a responsabilidade em tornar-se produto e não resíduo biológico
e social, caso não queira ser rejeitado ou excluído naturalmente pelos sistemas.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
sonhos traídos, esperanças perdidas e decepções incuráveis, misturados à
sensação de fracasso pelo que se foi e de medo pelo que virá no amanhã.
Colada à rede degradada que recobre o planeta, a maioria das pessoas sentese só, desligada do mundo e sem chance de encontrar a tão procurada
felicidade. É geral, a noção de que ninguém está a salvo dos ataques
intermitentes que a fina película de vida sofre por conta da ação humana
predatória, a qual pode levar qualquer criatura, em qualquer lugar e a qualquer
momento, a ter sua história arrasada. O interior humano mal formado e mal
informado, reflete-se no exterior, levando homens e mulheres a se comportarem
ora como presas ora como predadores.
Porém, como os indivíduos podem evoluir, se o seio cultural que os tem nutrido
desde os dias mais recuados da Pré-História, enfraqueceu-os a ponto de eles
se tornarem meros fiascos das potências que poderiam ser?
É vergonhoso. Nenhum dos povos que habitam a Terra, age de modo sistêmico
ou trabalha para manter os sistemas que compõem a ordem universal. E, como
resultado sinistro, restou-lhes participar das consequências cumulativas da
destruição milenar e do perigo iminente da autodestruição.
Está longe o tempo em que os homens começaram a fomentar mal a psique,
base da personalidade e sede da consciência. Tal se deu quando após eras
incontáveis de especulações sistêmicas imprecisas, eles passaram a crer que a
sobrevivência humana dependia dos humores sobrenaturais, e não da ação
inteligente do homem que transforma as circunstâncias e os materiais mais
diversos, em benefício das suas aspirações e necessidades. A má escolha
serviu para emperrar o desenvolvimento da consciência, aprisionando o sujeito
pensante no estágio infantil da evolução humana.
Na fase pré-racional, até os seis anos de idade, as crianças creem que o mundo
é mágico. Conforme crescem, vão descobrindo como as coisas funcionam de
fato e de medida, dentro do possível.
Ameaçados pelos desafios naturais e humanos em formação, nossos
antepassados, sentindo-se inseguros por conta do raciocínio deficiente, se
comportavam como infantes assustados e maravilhados, à procura de proteção
e aprovação superior.
A emergência do pensamento abstrato e simbólico, o estado onírico
(capacidade dos mamíferos de sonhar durante o sono), as desordens mentais, o
uso de alucinógenos e o consumo frequente de fermentados com alto teor
alcoólico, fizeram com que o primitivo acreditasse na existência de realidades
paralelas àquelas que ele experimentava nos entornos naturais e nos planos
das realizações humanas.
Quando se encontrava refém dos estados alterados de consciência, o antigo
participava de experiências insólitas e visualmente impressionantes, que
consolidavam a tendência não racional de formular explicações factuais, a partir
de enredos fantásticos que misturam o natural com o sobrenatural, o objetivo
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
com o subjetivo, o real com o imaginário, a história (a narrativa lógica) com a
ficção.
Muito antes que a escrita fosse inventada e pudesse servir como veículo de
transmissão cultural, os povos usavam as lendas e as epopeias mitopoéticas
para passarem a cultura tribal de geração em geração.
Como acontece hoje em dia nas lendas modernas, a maioria das narrativas
antigas versava sobre fatos reais que eram compreendidos e explicados em
forma de ficção maravilhosa, como cabe às mentalidades ingênuas.
Dinamizadas pelo forte acento mágico, as histórias do passado remoto
ensinavam acerca das origens, finalidades e propriedades das coisas, dos
seres e dos ambientes. Além do que, e mais importante, passavam conselhos e
regras de como, quando e por que os homens deveriam seguir esta ou aquela
linha de conduta no trato com as coisas visíveis e as invisíveis.
Por esses tempos recuados, por mais infantis que os primitivos fossem, eles
procuravam ordenar de modo histórico e produtivo seu espaço de atuação,
tentando colocar cada elemento no devido lugar, levando em conta sua função
e importância dentro dos conjuntos sistêmicos.
Na ausência do raciocínio científico, que surgiria bem mais tarde na história da
evolução humana, os pré-históricos buscavam com grande esforço intelectual
explicar como e por que se processava o intercâmbio das partes que eles
pressentiam estar integradas por estranhas forças causais e consequentes. O
objetivo imediato era garantir a segurança, o acesso fácil às fontes de alimento
e a continuidade do grupo diante de uma dinâmica natural aparentemente
imprevisível.
A fim de funcionalizar a ação do sujeito pensante, a mente organiza as
informações que recolhe do meio, sistematizando-as em roteiros lineares com
começos, meios e finalidade coerentes. Porém, os homens do passado, mais
animais que humanos, não possuíam conhecimento suficiente para
compreender e explicar as ocorrências com precisão história e científica. As
falhas cognitivas na coleta e no processamento das informações comprometiam
a racionalidade linear do pensamento e da ação do primitivo.
Para conseguirem ser lineares e precisos ao mesmo tempo, dentro do padrão
historiográfico correto, antes, eles deveriam ser capazes de reconhecer e
compreender a sistêmica que une e anima o Todo. No geral, somente sendo
sistêmicos e conscientes, teriam condições de pensar e agir com lógica. Não
era o caso. Os homens do passado não tinham a menor ideia de que o
ambiente físico obedece às leis universais matematicamente precisas e
imutáveis, as quais começaram a ser timidamente descobertas com o trabalho
científico dos gregos, a partir das primeiras conclusões racionais de Tales de
Mileto, pai da Filosofia e o maior dos Sete Sábios da Grécia.
Excitados, impressionados e assombrados com as imagens, as ideias e as
sensações deformadas que lhes brotavam na mente em formação, os préhistóricos supuseram, com seus parcos intelectos, que a “realidade invisível”
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
era superior à “realidade visível”, sendo então, responsável direta pelos
prodígios ocorridos nessa. O real, desta feita, passava a ser o invisível
sobrenatural, em detrimento do visível natural. Essa inferência errônea sobre
oponentes causais ecoou com vigor nos trabalhos de Platão e Freud.
No famoso Mito da Caverna, Platão tentou explicar a relação existente entre a
ideia divina perfeita e a representação mundana imperfeita, seguindo o padrão
dos opostos complementares. O Pai da Psicanálise agiu da mesma maneira;
teorizou sobre a dinâmica que cria os fenômenos psicológicos, reinventando,
mais uma vez, a velha ideia dos conflitos irreconciliáveis, como causa geradora
máter de tudo que há. As conclusões do grego e do suíço são coerentes, mas
irracionais. Baseados em leituras equivocadas, o trabalho completo dos dois
intelectuais produziram sérias deformações no pensamento humano.
No passado remoto, confuso diante dos processos produtivos humanos – que
materializam as imagens mentais em fatos e comportamentos – o primitivo
aprendeu a considerar as forças sobrenaturais que ele imaginava, como sendo
reais, e que no berço dos tempos humanos não passavam de sensações e
impressões fugidias.
Contudo, quando ele as significou, simbolizou e as representou em imagens,
dando-lhes finalmente concretude, passou a confiar cegamente no poder dos
ídolos e das formas que ele mesmo inventou para protegê-lo e guiá-lo em todos
os momentos.
As definições precárias da mentalidade pré-lógica, que dividem o Universo em
planos distintos, entre eles, o mundo invisível, o mundo natural e o mundo
artificial humano, inseriam o primitivo em um contexto fenomênico
supostamente controlado por forças e entidades supernaturais, a meio caminho
entre a loucura e a objetividade. Nesse senso precário, o Eu nascente
minguava diante dos itens do cotidiano que, por trás das aparências sensíveis,
guardava energias tremendas que espreitavam e julgavam cada um dos
pensamentos e atos do sujeito pensante.
Segundo a avaliação primeva, tudo que fosse captado pelos cinco sentidos
possuía uma contraparte invisível e inteligente, como por exemplo, as pedras,
as plantas, os metais, as palavras, os astros, as cores, os ventos, os animais,
as sílabas faladas ou escritas, as paisagens, os alimentos, os enfeites, os
objetos de adorno pessoal, os objetos de decoração, as partes do corpo
humano e animal, as máscaras, os ciclos biológicos, os trajes, as palavras
escritas ou faladas, os textos escritos, as posturas físicas, as danças, os gestos
físicos, etc.
O homem percebe o mundo pelo filtro dos sentidos. Além dos cinco clássicos
que captam milhares de informações por segundo, a ciência está descobrindo
outros, dezenas, muitos deles formados pela interconexão dos já conhecidos.
É por meio dessa coleta particular, que cada cérebro forma as imagens e os
conteúdos aos quais os indivíduos reagem. Se houver falhas no processo de
absorção e interpretação cognitiva, a pessoa terá dificuldades para analisar os
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
ambientes, a si própria e também para compreender como os elementos e os
sistemas se integram para formar um organismo único – o Cosmo.
Hipersensível, o cérebro requer cuidados especiais para funcionar bem. A
percepção que o alcoólico, o dependente químico e o crente têm do mundo é
diferente do panorama visto por alguém saudável e normal que protege o
conjunto cognitivo (sistema nervoso, cérebro e mente) de substâncias,
sensações e imagens destrutivas ou tóxicas: maconha, ecstase, skank, crack,
ópio, heroína, cocaína, chás alucinógenos, bebidas alcoólicas, agressões ao
físico (táteis, palatares, auditivas, odoríficas, visuais, etc.), a crença no
sobrenatural (demônios, deuses, forças mágicas, etc.) e outras. Essas drogas
desorganizam de imediato os sensíveis registros mentais, levando o homem a
comportar-se mais próximo do animal irracional do que do humano. Por conta
do meio e da cultura dos tempos pré-históricos, a mente primitiva produziu um
confuso mapa conceitual da realidade, no qual, qualquer coisa, por mais
insignificante que fosse, escondia forças sobrenaturais que poderiam dirigir ou
alterar, a seu bel-prazer, o destino dos seres vivos. Uma pedra, segundo esse
raciocínio supersticioso, poderia interferir na sorte humana, através de sua
energia hiperfísica – o duplo invisível – ou de alguma entidade espiritual que se
manifestasse por intermédio dela.
As primeiras tentativas para controlar as energias supostamente fenomenais
surgiram com a invenção da magia e das mancias seguidas, mais tarde, pela
criação das religiões que simplificaram o caos do universo mágico, ao proporem
a ideia de um só deus ou de uma plêiade de deuses que, como pais e mães
espirituais, dirigiam a criação.
Entretanto, o controle que a magia e as religiões ofereciam funcionava às
avessas, pois praticava a completa submissão do homem às potências
supernaturais. Nesse relacionamento patológico, o indivíduo se oferecia para
servir ao invisível ou a seus eméritos representantes sagrados – os xamãs, os
magos e os sacerdotes – a fim de que pudesse ser recompensado nessa vida e,
segundo especulações mais ousadas, na vida que há depois da morte.
E ai dos coitados que não respeitassem as ordens do invisível e dos
representantes exclusivos; se desagradassem as divindades manhosas, suas
existências, nessa vida e na outra, seriam amaldiçoadas para todo o sempre.
Loucura? Não, fé.
Certas crenças também professavam que os faltosos eram acorrentados a
terríveis encarnações pela eternidade afora. De todo o jeito, no geral, imperava
a ameaça do castigo, aqui ou em outro lugar fantástico.
A incerteza quanto à configuração do Universo, e de qual a posição do
elemento humano na ordem das coisas, acabou levando o pré-racional a
desenvolver um perfil doentio. Atormentado por medos irracionais, ele passou a
produzir enredos de vida marcados pela busca alucinada por forças poderosas
que lhe garantissem o direito de ser e estar nos ambientes terrestres e
espirituais superiores.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
Porém, essa procura insensata por segurança e estabilidade estava destinada
ao fracasso eterno. Conjecturava-se que as forças sobrenaturais se mantinham
em constante disputa pelo domínio dos ambientes, dos seres e das coisas.
Devido ao clima de instabilidade e insegurança, o poder dos bruxos era relativo.
Os esforços encantatórios poderiam ser anulados pela ação de outros magos ou
por forças contrárias que fariam com que o feitiço virasse contra o feiticeiro e
aqueles que estivessem ao seu lado.
São comuns os relatos dos embates místicos das forças destrutivas que geram
o perigo, a fome, a doença, os desastres climáticos, as catástrofes geológicas,
as pragas e a morte, versus as forças construtivas que trazem a segurança, a
fartura, a saúde, a providência climática, a estabilidade geológica, a fertilidade
e a vida longa.
E, como o primitivo não sabia quando seria atingido pelo ataque insidioso das
forças negativas nem o motivo exato da agressão, era normal que eles
procurassem se proteger com todos os artifícios que estivessem ao alcance:
imprecações mágicas, escarificações (cortes profundos na pele), amputações
de membros do corpo, rezas, cânticos, danças, posturas corporais, oferendas
diárias e sazonais, uso de desenhos mágicos, pinturas corporais, uso de trajes
especiais, consumo de excrementos corporais, jejuns, sacrifícios de animais e
pessoas, abstinências, consumo de carne e sangue sacrificial, consumo de
alucinógenos, ligação com o duplo invisível de seres e coisas, consulta de
mancias, confecção e uso de máscaras, de amuletos, etc.
Criadas pelo desatino dos homens e organizadas em torno de crenças, rituais e
práticas sedimentadas no absurdo, a magia e a religião tem mal educado as
sociedades, desde antanho, fazendo com que elas se expandam alienadas das
verdadeiras responsabilidades sistêmicas do gênero humano.
É inquestionável, com base nos fatos históricos, que a estrutura mental dos
indivíduos que se submetem aos ditames impostos pelo poder mágico dos
números, ou pelo poder dos elementos naturais, ou pelo poder dos orixás, ou
pelo poder dos astros, ou pelo poder das paisagens, ou pelo poder de Deus, ou
pelo poder do filho de Deus, ou pelo poder dos espíritos, ou pelo poder das leis
de Deus, ou pelo poder dos livros sagrados, ou pelo poder dos ícones
santificados, etc. possuem falhas psíquicas e funcionais que comprometem
suas ideias, ações, ideais e obras.
Embora seja praticamente impossível identificar quando as crenças
sobrenaturais e outros fatores alienantes começaram a danificar o raciocínio
humano, é possível saber exatamente quando, como e por que a delicada
ordem dos sistemas naturais foi rompida pelos animais com cultura.
A luta pela sobrevivência obriga os organismos vivos a buscarem soluções
práticas para suprirem três necessidades básicas: a alimentação, a segurança
individual e grupal e, finalmente, a reprodução sexuada ou assexuada.
Dessas carências naturais, comuns a todas as espécies vivas, a que mais
preocupa o cérebro e, por extensão, a mente, é a premência de encontrar
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
fontes de alimentos nutritivos e variados, que garantam sua sobrevivência e
evolução.
As pressões internas de ordem fisiológica e mental para obter suprimentos
abundantes, se possível em um local de bem-aventurança perene, forçaram o
hominídeo a iniciar a longa jornada mundo adentro, contando apenas com o
intelecto poderoso (mesmo que mal informado) e a inusitada habilidade para
fabricar ferramentas de madeira, osso e pedra.
Porém, ao utilizar as tais ferramentas, ocorria um prodígio inesperado: o bichohomem superava as limitações do físico frágil e se transformava em um ser
extraordinário, acima das expectativas naturais. Com elas em mãos, ele
golpeava com fúria, arremessava longe, cortava com precisão, cavava fundo,
quebrava ossos e coisas duras, furava diferentes texturas e corpos, triturava
grãos, lascava pedras e outros materiais resistentes, espetava insetos e bichos,
picava nacos de diversos tamanhos e formas, rasgava couros e carnes, serrava
caules, macerava folhas e formava compostos e, ainda por cima, conseguia
lixar, partir, desbastar, limar, martelar, espremer, prender, prensar, etc. Um
verdadeiro multiprocessador vivo e inteligente.
Com exceção do bicho-homem, não há nenhum outro animal,
criatura que consiga praticar essas atividades em conjunto.
instrumentos toscos dando-lhe mais força e poder de atuação,
posicionava em um patamar evolutivo, muito além do que
conseguiria alcançar ou mesmo suportar.
monstro ou
Com seus
o antigo se
a Natureza
Como uma história de horror do tempo das cavernas, quando o super-homem
paleolítico, impulsionado por um cérebro faminto e oprimido pela caixa
craniana, se armou de pedras lascadas, pedaços de paus e ossos para
enfrentar os ambientes terrestres e seus habitantes, nenhuma espécie se
mostrou forte o bastante para impedir-lhe o avanço predador. Matérias-primas,
florestas, morros, rios, fontes, bichos, tudo tombou diante da mão armada. É
com esse arsenal de tecnologia barata que os hominídeos começaram a
interferir nos mais variados sistemas da Natureza, completamente alheios aos
limites impostos pelas leis universais que regulam a trama das relações
produtivas naturais.
Contudo, a cisão dramática da sinergia natural deu-se muito mais tarde, quando
o homem Neolítico deixou de depender da coleta e da caça para sobreviver da
produção de alimentos. A agricultura surgiu após o término do período de Wurn,
há aproximadamente onze mil anos, no final da última Era Glacial, que causou
tantos sofrimentos às inúmeras espécies de hominídeos. A alteração favorável
do clima, com estações melhor demarcadas, temperaturas mais amenas e
regime regular de chuvas facilitou o cultivo de várias categorias vegetais. Um
pouco mais adiante, os neolíticos também se poriam a domesticar os animais
para abatê-los, explorá-los, sacrificá-los aos deuses e tê-los como
companheiros fiéis, bonzinhos e obedientes.
Sem ter mais a obrigação de deslocar-se por longas distâncias à cata de
alimentos, carregando a família e os poucos pertences nas costas e nos
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
flancos. Aos trancos e barrancos, finalmente, o primitivo podia apropriar-se em
definitivo de localidades escolhidas a dedo.
Nas paragens que chamou de suas, ele decifrou seus segredos íntimos, amouas, deflorou-as e, lentamente, foi exercitando o potencial inventivo e
sistematizador para dominar e transformar os sistemas originais que as
compunham.
Sobre essas terras despidas e desvirginadas sem pudor, construiu e destruiu os
sonhos que ia sonhando e que, de qualquer jeito, estavam destinados a serem
açoitados pelos ventos e pelo humor tempestuoso dos homens.
Com a alteração drástica das oportunidades, as antigas hordas nômades,
socialmente independentes e autossuficientes, aos poucos, aceitaram a ideia de
materializarem uma nova ordem terrena, organizando-se em comunidades
ligadas ao solo e interligadas por relações de trocas de produtos e serviços,
entre eles, a ajuda em caso de conflito intertribal.
Incentivados pela estabilidade aparente, produzida em virtude da agricultura
planejada e do apaziguamento da Natureza, os grupos viraram comunidades,
que viraram aldeias, que viraram vilas, que viraram pequenas cidades, que
viraram grandes cidades famintas, como feras prontas para atacarem os
vizinhos, de preferência, os mais ricos e indefesos.
Os processos históricos e produtivos das civilizações nascidas à beira dos
grandes rios Eufrates, Nilo, Ganges e Amarelo, assemelham-se, não importando
a distância que existe entre a Mesopotâmia, o Egito, a Índia e a China. O
conflito de interesses, a dominação calculista e a exploração desumana do mais
forte contra o mais fraco tomaram a cena em cada uma delas, para se imporem
definitivamente no tempo e no espaço, como padrão comportamental válido
para o individual, o social e o nacional.
A certeza de que era possível alterar a configuração do mundo, simplesmente,
possuindo, domando e explorando a terra, em vez de migrar conforme a
estação, modificou a forma como o homem via o mundo e se encaixava na nova
ordem das coisas.
Nesse clima perigoso de revolução de valores, de conceitos, de
comportamentos, de visão do mundo e do homem, se os Estados nascentes
quisessem se organizar e se estabelecer no plano histórico, teriam de impor ao
povo barulhento, tanto uma nova explicação do Todo quanto novas regras de
vida, com começo, meio e finalidades que satisfizessem a maioria.
A criação da estrutura institucional religiosa acompanhou a evolução da
organização dos sistemas sociais complexos e hierarquizados. Oriundas das
concepções mágicas primitivas, as religiões surgiram como instrumentos de
coerção psicológica e social, finamente concebidos para explorar ao máximo a
força produtiva das pessoas fracas de espírito, as quais deveriam gerar
riquezas para sustentar o Estado, os governantes e os agregados do poder.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 2
Como os deuses comandavam os fieis de um ponto inacessível do além, esses
não podiam questionar diretamente os mandantes divinos sobre o volume
abusivo do trabalho imposto, o montante excessivo dos tributos cobrados, as
condições subumanas de vida dos trabalhadores e, muito menos, reclamar de
os sacerdotes-governantes se apropriarem da quase totalidade dos lucros
obtidos com os produtos e os serviços por eles gerados.
Embora a dominação político-religiosa fosse implantada em todos os cantos, a
tarefa não era simples e exigia imensa criatividade e poder de persuasão. Pois,
além das instituições religiosas terem de manter as pessoas imbecilizadas por
tempo indeterminado, tornando-as cegas, surdas e incapazes de raciocinar
diante das evidências mais escandalosas, as crenças religiosas eram criadas
para justificar e validar a posição de comando do governante-sacerdoteabsoluto, na base do Um sobre todos e todos a serviço do Um.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
CAPÍTULO 3
É noite de céu fechado. No interior da mata às cegas, sons estranhos anunciam
que algo fora do comum vai acontecer. Passos sinistros se misturam aos gritos,
urros, silvos e ao barulho de asas batendo em retirada. Um horror. Temendo
pelo pior, os bichos se enfiaram onde deu. Tem tatu com onça, veado com urso,
arara com esquilo, jacaré com garça. Nos campos, sumiu quem anda, quem
voa, quem pula e quem rasteja.
Acima, no reino do infinito, não querendo ver o que está por vir, a Lua, a
poderosa soberana da noite, resolveu se esconder sob um pesado manto cor de
carvão. Se algo der errado hoje, ninguém sabe o que poderá acontecer com o
mundo visível e o outro mundo. De norte a sul e de leste a oeste o céu treme
soltando raios e trovões. De alto a baixo a apreensão é geral. Na aldeia dos
homens, as mulheres, os velhos e as criancinhas de olhos questionadores,
unidos em um abraço apertado, junto da fogueira, rezam para que os seres que
se escondem na escuridão não venham pegá-los.
Quanto aos homens, esses saíram faz tempo, rumo ao sopé da grande
montanha, há quilômetros de distância, lá para os lados das terras que gente
viva tem medo de andar. A essa altura da noite, eles já devem estar na
iminência de provarem os perigos da morte.
Diante da caverna que leva ao mundo dos espíritos, um punhado de homens
nus e pintados de ocre – a cor sagrada – espia assustado para o interior da
goela negra que os engolirá em breve. O mais velho deles, o xamã, veste um
rico traje adornado com peles, contas de marfim tingidas de várias cores,
bordados e penas de aves mágicas.
Altivo, o bruxo segura na mão esquerda o cajado ritual com cabeça de águia
esculpida no topo. Na mão direita porta uma lamparina que ameaça se apagar
com o vento que anuncia a chegada da tempestade. Antes que a minúscula
chama desmaie, o que seria um mau presságio, eles invocam a proteção dos
bons espíritos para darem início à missão mágica.
A cerimônia começa. Uncl, o guardião do elixir encantado, apresenta o líquido
turvo para o bruxo abençoar e libar a terra. Após a bênção, a beberagem passa
de mão em mão. Enquanto os moços bebem goles generosos da infusão que
abre os caminhos do bem, eles pressionam o punho esquerdo contra o peito
direito. Dentro da mão cerrada, esconde-se o amuleto pessoal. Com o corpo
devidamente fechado às influências negativas, os pobres coitados estão
preparados para enfrentar a perigosa jornada, em que muitos podem se perder
para sempre.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
Há histórias medonhas sobre essas aventuras perigosas. Falam de bravos que
foram mastigados por paredes de pedra que se abrem de repente, pegando os
descuidados de surpresa. Também se conta de alguns que, deixados para trás
na escuridão mais fechada, foram estraçalhados por garras invisíveis. Outros
ainda, por encanto, viraram morcegos, víboras e almas famintas de tudo: de
gente, de amor, de sonhos e de esperanças.
Uma vez dentro da caverna, a única proteção existente encontra-se na mão
direita do guia. É a pequena chama que sofre para sobreviver. Quem se afastar
dessa luz corajosa, está perdido, é presa fácil das sombras e dos
endemoniados que moram nelas.
Entoando canções que mais parecem os lamentos dos antepassados, o grupo
amontoa-se a um passo da entrada do túnel.
Os moços estão colados uns nos outros de temor por não saberem o que lhes
acontecerá quando deixarem esse mundo. Segurando forte os amuletos nas
mãos, enfim, entram, logo atrás do bruxo, tomando cuidado para manterem a
distância exigida pelas leis xamânicas.
Há tempos, sabe-se que, para se manter o poder intacto, o líder não pode se
misturar com pessoas inferiores a ele. O mais puro e elevado não deve perder
sua energia unindo-se aos menos elevados. Sendo assim, nessa noite, ao
mesmo tempo que procuravam manter a distância correta do xamã, os liderados
se empurravam nervosamente, tentando não perder a luz do líder espiritual de
vista. Nenhum deles quer se arriscar a ficar para trás, no mais puro breu.
À medida que avançam, descendo a ladeira escorregadia e tortuosa, o ar vai
sendo roubado dos pulmões. No chão lodoso, os pés vacilantes e descalços
sofrem com os pedregulhos pontudos que os perfuram como presas de
serpentes. Meio zonzos, por causa da bebida que tomaram à entrada da
caverna, sentem que quanto mais passos dão, mais perdem a noção do tempo
e do espaço.
O menor ruído ou a mais leve sensação de toque faz com que suas mentes
gritem e seus corações disparem, temendo que os horrores que habitam nessa
zona perdida entre os mundos os ataquem sem dó nem demora.
É nesse momento que eles percebem que os barulhos da mata desapareceram.
A constatação é alarmante: significa que a passagem para o mundo exterior se
fechou. É tarde demais para pensarem em retornar, eles estão perdidos em
outra dimensão. Não há mais saída.
Presos às circunstâncias, cada um deles tem certeza que não voltará mais a ver
os entes queridos, a aldeia, o lar, o céu azul, os campos e os caminhos
amados. De agora em diante, o destino lhes reserva o negro, o nada e o terror
eterno. Estão vivos, mas mortos para o mundo.
Quando a tensão atinge o limite máximo, os corpos molhados de pavor não
conseguem dar mais um passo sequer. O xamã, percebendo que os homens
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
estão próximos de serem tragados pelo colapso, emite um grito estridente,
invocando os espíritos das aves mágicas que protegem a tribo de todos os
perigos.
O chamado de socorro surte efeito imediato nos ânimos esgotados. Como em
um passe de mágica, a força renasce nos corações que pareciam querer fugir
dos peitos apertados. Mais confiante, o grupo sente que os espíritos do bem se
juntaram a eles, para defendê-los dos espíritos do mal, pelo resto do caminho.
Se saírem vivos dessa empreitada, pensam, farão novas cicatrizes no rosto e
no tronco reafirmando a ligação espiritual com os guias benfazejos. Contra as
forças do mal, todos os sacrifícios e penitências, por piores e mais dolorosos
que sejam, se justificam.
Mais adiante, quando a trilha descendente se estreita em uma última passagem
sinuosa, brota uma estranha luminosidade nas paredes encrespadas, como se a
luz e as energias negras estivessem guerreando. Para os homens, a visão
bruxuleante, longe de assustar, ao invés, reconforta. Conforme acreditam, é
sinal de que a aventura está prestes a alcançar o destino supremo. Mais
algumas dezenas de metros e estarão diante da fonte de luz primordial que
guarda a vida de todas as coisas e seres: a fogueira sagrada que mora no
centro da Terra.
Atraídos pela visão da luz, que parece estar enfrentando e vencendo o inimigo
negro, eles avançam aliviados, sabendo que vão de encontro a algo divino que
os anima e os protege à distância desde que nasceram.
Os velhos sábios ensinavam, que no momento exato do nascimento uma chispa
espiritual da fogueira sagrada saía da caverna e entrava no corpo pequenino,
enchendo-o de vida e de movimento. Filhos dos homens e das chamas, um dia,
entretanto, a energia emprestada deveria voltar ao centro da Terra, para
aninhar-se junto das labaredas que nunca se apagam. Então, no mundo dos
homens, quem havia deixado a fagulha divina escapar, perderia o calor, o brilho
e, apagado, viraria pó, cinzas.
Perdidos no interior da caverna, diante da promessa da luz, em um movimento
instintivo, o bando procura acelerar o passo, agindo como crianças
amedrontadas que correm para o colo materno, na intenção de fugirem de
fantasmas que as perseguem. Um impulso íntimo, tão velho quanto a
humanidade, os faz querer aconchegar-se junto à luz quente e afetuosa.
Percebendo o nervosismo geral e o perigo de tudo virar uma confusão só, o
mago lhes segura o ânimo e o passo acelerado, diminuindo o seu, à frente dos
mais jovens, enquanto, em voz alta, entoa cânticos de agradecimento aos bons
espíritos, por todos estarem vivos e sãos após terem atravessado a
perigosíssima zona negra que separa o mundo dos seres vivos, do mundo
sagrado, no qual eles estão prestes a adentrar.
E eis que, por fim, chegam ao destino tão temido e, em igual medida, tão
desejado. A andança terminou em um imenso salão. A cena com que se
50
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
deparam é bela e terrível. Nas paredes há pinturas maravilhosas de animais
correndo em disparada, rugindo, urrando, atacando ou prontos para serem
abatidos. Os olhos das feras são impressionantes, miram dentro dos visitantes
do outro mundo, como se espreitassem seus corações e mentes, procurando
descobrir que emoções e intenções carregam consigo.
Deixando de lado os homens atônitos perante o espetáculo intimidador, o guia
espiritual se acerca da fogueira no centro do recinto e acrescenta-lhe a
pequena chama que trazia na mão direita. Em seguida, toma o apito de
obsidiana esculpida que pende em seu peito. Com gesto estudado, glorifica o
ambiente assoprando as notas sagradas que só ele conhece. Logo após,
rabisca desenhos mágicos no chão argiloso. Acompanhando os movimentos do
velho feiticeiro, meio atordoados, os bravos da tribo balbuciam as frases certas,
repetindo-as em tom de cantilena sem fim.
De uma pequena bolsa presa à cintura, o mago pega um bocado de pó branco e
o joga sobre as chamas crepitantes. Feito isso, o fogaréu se aviva e produz
labaredas maiores e mais trêmulas. O efeito é de arrepiar. Parece que,
repentinamente, o enorme salão pétreo encheu-se de mais vida e poder
sobrenatural. Tem-se a impressão exata de que, a qualquer instante, as
imagens vivificadas pelo reflexo das chamas, podem saltar das paredes e
atacar o pequeno comitê, que se sente suspenso em um espaço entre a
realidade, a ilusão e a mais pura magia revelada.
Produzindo um movimento espetacular, o grande bruxo levanta os braços
magros em direção ao infinito. De um só golpe, as mangas do traje escorregam
pesadamente, revelando os símbolos tatuados na pele enrugada e venerável. A
cena é tão forte e o poder explicitado é tão imenso, que os valentes caçadores
baixam os olhos temendo serem subjugados como as feras ao redor.
Após beberem mais uns bons goles da poção que abre os caminhos do bem, o
xamã sinaliza para que se sentem na posição que agrada aos espíritos
protetores.
Enquanto se ajeitam no chão, mais tombando do que sentando, o mago, em pé,
coloca a máscara mágica, de feição terrível, para dar início ao ritual de
encantamento dos espíritos dos animais que estão encarcerados nas rochas e
que deverão ser caçados nos dias seguintes.
Com a máscara colocada, o bruxo joga três punhados, a medida sagrada, do pó
alvo sobre o fogo vivo, que se levanta mais violento do que antes,
enlouquecendo os bichos. Com essa nova provocação mágica, os bisões, os
cavalos, os mamutes, os ursos, as renas, os leões e as outras feras realmente
querem se livrar das paredes para atacar aqueles que querem matá-las.
Mas todos sabem que isso não vai acontecer porque o poder do mago é
descomunal. Por mais que as horríveis bestas se agitem, ele as mantém presas
nas paredes espelhadas, prontas para receberem o encantamento que as farão
perecer pela lança certeira. Arremessada pela mão hábil do caçador experiente,
todos sabem que, na verdade, o projétil será guiado espiritualmente pela magia
51
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
infalível do bruxo, aquele que guarda as tatuagens ocultas dos olhares curiosos.
Dos que estão nesta vida e daqueles que estão na outra ou nas outras
existências.
No corpo do velho está gravado o repertório completo dos símbolos de força
que guardam a tribo. Os mais antigos datam da época da sua formação, faz
muito tempo. São dezenas. Entre eles, estão os sinais gráficos que
representam os guias espirituais do passado. Por meio dos símbolos pessoais,
os mortos transmitem sua energia do além para o velho feiticeiro.
A história da tribo está contada no corpo tatuado do venerando, ele próprio,
instrumento de magia, respeito e adoração. Verdadeiro ídolo vivo e atuante.
No meio dos caçadores, as emoções estão de tal jeito afloradas, que os cinco
sentidos se abriram para captar toda e qualquer impressão, a fim de que essa
experiência jamais seja esquecida, em nenhum dos detalhes fascinantes.
A cerimônia é longa e vai noite adentro. Durante horas seguidas eles cantam
canções sagradas, dançam coreografias encantatórias, fazem caretas
ritualísticas, soltam gritos mágicos apavorantes e encenam que estão atacando
as feras, sem piedade. Contra os animais acuados na superfície das rochas,
lançam artefatos mortais em direção aos órgãos vitais e às partes vulneráveis.
Próximo ao término do ritual, exaustos, invocam mais uma vez a proteção dos
espíritos e lhes pedem coragem, acompanhamento e perdão pelas vidas que
vão roubar da Natureza. Em troca, para provar a boa intenção dos seus
propósitos, prometem reverenciar e adorar o primeiro bicho que for morto,
oferecendo sua carne, sangue e espírito ao mundo sobrenatural.
Há milênios, os caçadores contam a mesma história aos filhos pequenos. O
primeiro animal que morresse pela lança encantada, ocuparia a liderança
espiritual da manada. Do mundo dos espíritos, o líder orientava os espíritos dos
animais ainda vivos para que seguissem seu nobre exemplo. Como ele fez,
deveriam oferecer os corpos em favor da sobrevivência da comunidade
humana. Aqueles que trilhassem o caminho do mártir elevado seriam
recompensados com pastos verdes no além. Quando quisessem, também
poderiam voltar à carne para correrem e pastarem nos campos terrestres. E,
desde que os homens continuassem a praticar os rituais da carne e do espírito
santo, a manada voltaria ao planeta novamente, e novamente, e novamente, e
novamente, entregando o corpo aos caçadores em troca do bem mais precioso:
a imortalidade da alma.
Quanto às feras que não copiassem o exemplo do líder espiritual, quando
morressem, sem poder contar com a direção do guia iluminado, se perderiam
nas sombras do além, virando assombrações para sempre famintas de tudo.
Com a finalização das preces emocionadas, mais uma vez em fila, com o xamã
à frente, os homens dançam ao redor da fogueira sagrada. Suas sombras
engolem as imagens dos animais emparedados como se estivessem apagando
a luz da vida que os bichos também possuem.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
A um sinal do bruxo, o grupo se acerca mais da fogueira e passa a dançar de
forma frenética. A sombra que os caçadores produzem é fenomenal, parece um
só corpo com mil mãos, mil armas, mil cabeças e uma só intenção: assassinar
os oponentes.
Quando o fogo que nunca apaga diminui, é sinal de que a cerimônia deve ser
encerrada. Para iluminar o caminho de volta ao mundo dos vivos, o feiticeiro
entrega a cada um dos bravos um graveto que deverá ser aceso na fogueira
sagrada.
Excitados com as experiências vividas, e profundamente gratos pelas graças
que irão alcançar, eles saem em silêncio reverente do útero da Terra, pela
manhãzinha, renascidos e cheios de esperanças.
Durante dois dias, eles serão festejados pela tribo, na condição de novoshomens, que morreram ao entrar na caverna sagrada, mas que voltaram
revividos, quando saíram dela, trazendo na mão direita a chama do fogo eterno.
Na semana seguinte, partirão para a caçada que pode durar vários dias.
Esta historieta pode muito bem ter acontecido há 5, 15, 25, 40 mil anos atrás,
ou mais, muito mais. Levando-se em conta as escavações dos arqueólogos, as
descobertas dos antropólogos e a análise das lendas arcaicas que chegaram
aos nossos dias, preservadas em relatos escritos e falados, tidos como mágicos
ou sagrados, em linhas gerais, era assim que os antigos magos conduziam seus
trabalhos encantatórios.
Os xamãs, um misto excêntrico de médico, sacerdote, psicólogo, ilusionista e
ator, eram os mediadores das tribos junto ao mundo dos espíritos eternos, um
lugar habitado pelos espíritos da Natureza e das forças extrafísicas, segundo
crenças muito antigas.
Os feiticeiros eram peritos na aplicação de técnicas avançadas de sugestão
dirigida. Profundos conhecedores dos processos que estruturam a psique
humana, fabricavam visões interiores com o auxílio da imaginação criativa dos
espectadores, os quais acabavam interferindo decisivamente sobre a dinâmica
dos intercâmbios naturais.
O homem é um ser social consciente, que busca soluções práticas para resolver
os problemas que surgem continuamente em suas relações com os elementos
animados e os inanimados, com os quais ele mantém contato regular, a
começar por si próprio. Sendo naturalmente sistêmico e solucionador, ele
anseia obter das relações o que elas podem produzir de melhor. O objetivo final
(teleologia) é alcançar a felicidade e a realização plena.
Para atender à demanda variada, os magos antigos, os primeiros comerciantes
a explorar a credulidade humana, inventaram uma infinidade de explicações,
serviços e produtos mágicos que, como faziam crer, possuíam o poder de
solucionar todos os tipos de relacionamentos humanos: as relações amorosas,
as relações pessoais, as relações de poder, as relações com a terra (coleta,
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
semeadura e moradia), as relações com os animais (caça, exploração, criação e
proteção), as relações com os ambientes (segurança, exploração e viagens), as
relações com a economia (autossustento, comércio e investimentos), etc.
Para sorte dos magos, na maioria das vezes, as coisas pareciam dar certo por
uns tempos, por causa do brilhantismo da mente humana que, depois de colher
todas as informações operacionais disponíveis no ambiente – reais e fictícias –
elaborava um plano de ação de curto prazo, lançando o homem, artificialmente
otimizado, em direção à realização dos objetivos almejados, custando o que
tivesse que custar e doendo em quem estivesse pelo caminho.
A indústria
assistência
no atacado
mente e os
da propaganda e do marketing, voltada à exploração do nicho da
espiritual, começou cedo. Os feiticeiros criavam e comercializavam
e no varejo, produtos e serviços milagrosos, ganhando o coração, a
recursos dos consumidores.
Os pré-históricos consumiam objetos insólitos, porque, conforme afirmavam os
fabricantes, eles conferiam poder, proteção e boa sorte. Mas, sem que os
usuários percebessem, os significados contidos nos artigos “mágicos”,
confeccionados sob encomenda ou prêt-à-porter, programavam a mente para
que os indivíduos fossem obedientes às lideranças institucionalizadas.
Manipulação dirigida? Não, fé.
Desta feita, parecendo bicho amestrado e fantasiado, lá ia o sapiens pelos
caminhos da vida, carregando balangandãs e outras bizarrices, crentes que os
penduricalhos e os acessórios os faziam melhor que os demais.
Como pode ser observado, o teatro, o domínio da arte de enganar o espectador
já existia e era fundamental nas negociações de natureza milagrosa. Quem
representava e mentia com mais competência ganhava destaque nas duas
vidas, nessa e na outra.
Muitos dos talismãs, inventados no passado remoto, continuam sendo
comercializados nos dias atuais, sem apresentar alterações na forma e no
conteúdo. Um outro tanto modificou a forma, mas manteve intactos os
significados primitivos. Os talismãs do bicho morto, hit dos Tempos das
Cavernas, são exemplos típicos. Originalmente confeccionados com partes de
animais mortos, tidos como mágicos, poderosos ou ambos, na atualidade, se
resumem a imagens de mártires religiosos, que viveram e morreram em
benefício dos homens. Pelo menos, é assim que se crê.
Desde sempre, os talismãs do bicho morto são oferecidos como produtos
mágicos que conferem poder e proteção. Mas, sem que os usuários saibam,
eles foram elaborados para cumprir uma função bem menos nobre e elevada.
Esses artigos influenciam os processos mentais, levando os consumidores a,
inconscientemente, desprezar e destruir o mundo material, os corpos físicos
(inclusive os próprios), e buscar a salvação do espírito em outra vida.
O que essa gente espiritualizada fez com esse lindo planeta inocente?
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 3
Histórias, histórias, histórias...
55
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 4
CAPÍTULO 4
Histórias...
Os gregos foram livre-pensadores por excelência, enquanto os bárbaros
confundiam suas mentes com dogmas e pensamentos excêntricos, os
nobres filhos da Hélade colocavam o intelecto a serviço da descoberta de
formas mais racionais e equilibradas de ser e de estar no mundo, para,
inclusive, protegê-los da ação inconseqüente dos homens. Eles amavam a
Natureza e tratavam-na como uma extensão de si mesmos.
Daí a aversão grega às obras arquitetônicas megalomaníacas, tão ao
gosto das demais sociedades e à construção de máquinas que pudessem
quebrar o frágil equilíbrio natural, ao agigantar os efeitos da interferência
humana nos ambientes, além do que a natureza consegue suportar.
Procuravam exercitar o comedimento e o bom-senso, onde quer que
estivessem. Em incursões ao redor do mundo ou recebendo estrangeiros
em solo pátrio, comportavam-se com pragmatismo em relação à cultura
alheia. Aprendiam o que lhes interessava, tomando o cuidado de
reconfigurar informações, técnicas e usos, para que o material colhido
servisse à evolução do conjunto social helênico, sem que o mesmo
descaracterizasse a cultura grega.
O passado não nos legou nenhum texto ou palavra firmada de Pitágoras e
há sérias dúvidas se ele deixou algo escrito aos contemporâneos. Por
essa razão, sobre seu pensamento restam-nos mais questionamentos que
certezas.
Mesmo assim, a tradição lhe atribui ideias muito interessantes e originais.
Segundo consta, o mestre ensinava que os números são a verdadeira
essência das coisas. Sob o ponto de vista da física, da química e da
biologia moderna, o pensamento pitagórico está correto. O Universo, com
tudo que ele contém de visível e de invisível a olho nu, pode ser resumido
em um punhado de fórmulas, de leis e de equações matemáticas.
Porém, ao que parece, para o filósofo nascido na ilha de Samos, na Jônia,
em torno de 570 a.C., os números não são fatores abstratos, úteis tão
somente à confecção de operações matemáticas variadas. Cada número
representa algo real, individualizado e atemporal.
56
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 4
Por essa época, é bom lembrar, no século VI a.C., período que assistiu ao
nascimento da Filosofia, os maiores pensadores gregos estudavam a
Natureza, baseados na conjectura de que o Cosmo é um organismo vivo
autogerado. Sendo assim, Pitágoras deveria supor que a Matemática
possui uma função geradora e mantenedora da vida, completamente
diferente da visão estéril que temos dela na atualidade.
O Todo é um mecanismo criado por Deus ou é um organismo vivo? É
criação ou criatura? Não é nenhum dos dois? Então, o que é? A
Matemática realmente guarda os segredos do surgimento da vida?
Se Pitágoras nos visitasse hoje, vindo diretamente do passado e tivesse
acesso aos nossos conhecimentos científicos modernos, talvez, fiel ao
pensamento de sua época e ao jeito grego de absorver informações
estranhas, ele nos explicasse o Todo por intermédio de uns poucos
princípios semelhantes a estes:
Princípio da Individualidade Absoluta
Nunca houve, não há e jamais haverá dois indivíduos exatamente iguais
no histórico cósmico. Cada elemento sistêmico físico, dos átomos aos
corpos mais complexos, possui individualidade única. Não há repetições
no Cosmo. Todos são exclusivos e únicos no tempo e no espaço: átomos,
planetas, estrelas, cometas, satélites, plantas, insetos, animais, homens,
produtos gerados pelos homens, etc.
Princípio da Identidade Numérica Absoluta
Por possuir um conjunto único de características no tempo e no espaço,
cada indivíduo pode ser associado a um número único e dinâmico, tal qual
um código de barra vivo e inteligente, o qual nunca se perde ou se repete
no processo de formação e evolução do Cosmo.
Então, os números são essências que sempre existiram e que sempre
existirão, mas que guardam o potencial do que poderão vir-a-ser a partir
da individualidade que lhes pertence, na condição de grandeza numérica
absoluta.
O homem, unidade física finita e temporal, por exemplo, evolui à medida
que amadurece o raciocínio e alcança a sabedoria. Por conseguinte,
acompanhando a evolução racional do sujeito pensante e agente, o
número que o representa possui o potencial de evoluir, também
57
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 4
infinitamente, sem que ambos deixem de ser o que são: pessoa temporal
e número atemporal únicos.
Princípio da Instabilidade Numérica Absoluta
Exatamente como acontece com os seres humanos e os demais
elementos sistêmicos do sistema cósmico (as unidades em processo de
racionalização crescente), o Cosmo pode ser representado por um
número único e infinito em sua dimensão potencial. O Todo É, enquanto
se exercita como potência absoluta de vir-a-ser. Entretanto, É sem nunca
Sê-lo, porque continuadamente Está, sem deixar de Ser o que realmente
É.
Aristóteles se manifestou sobre o assunto: “O Ser é uno como sujeito e
múltiplo como predicado”.
Hegel também refletiu: “O Todo é apenas essência realizando-se a si
mesmo em seu desenvolvimento natural”, o que o levou a concluir que “o
absoluto é essencialmente resultado, nisso constituindo sua natureza de
ser efetivo, sujeito ou vir-a-ser de si mesmo”.
Princípio do Padrão Sistêmico Biótico
As energias cósmicas, materializadas em inúmeros níveis de
condensação, organizadas em diferentes associações sistêmicas,
racionalizam-se para dar origem a leis orgânicas que emprestam funções
reguladoras ao Todo, com vista à sua sobrevivência por tempo
indeterminado.
Princípio da Unidade Constitucional com a Fonte Sistêmica Biótica
Original
O Cosmo é um organismo único e autogerado que funciona amparado por
um padrão sistêmico biótico altamente dinâmico. As relações sistêmicas,
que estruturam os aspectos visíveis e os não visíveis do Cosmo,
ordenam-se em processos matemáticos de caráter produtivo e
autoequilibrado.
O conjunto cósmico possui formato, conteúdo e expressão sistêmica
individual graças ao potencial ilimitado das entidades físicas e numéricas
58
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 4
que o compõem e que geram combinações, expressões e formas em
quantidades infinitas.
É a matemática orgânica, e não qualquer divindade sobrenatural, que
garante a continuidade do movimento, da transformação e do equilíbrio,
enquanto as unidades sistêmicas físicas surgem, evoluem e desaparecem
no corpo cósmico: o mundo da matéria. Igualmente, é a sinergia orgânica
que mantém os elementos unidos para formar um sistema único,
patrocinando, então, a formação de um pensamento cósmico (sistêmico e
sistematizador) comum a toda a criação visível e não visível.
Desta feita, todos os elementos sistêmicos universais possuem o DNA
cósmico e estão sujeitos às leis impostas pela física sistêmica (atômica e
subatômica), em todos os seus níveis de expressão e conformidade. Se
realmente houvesse um Deus impondo sua vontade e alterando as
relações que interligam todas as diferentes unidades cósmicas, formando
um Todo coerente e produtivo, o Cosmo se desintegraria, porque a
racionalidade da sua ordem teria sido quebrada. Se Deus existisse, ele só
serviria para gerar o caos.
Princípio das Ligações Sistêmicas em Rede Absoluta
O Cosmo se comporta como um sistema de partes perfeitamente
interligadas. Não há um só elemento que não lhe pertença ou que não se
comunique com as demais unidades sistêmicas restantes, por via direta
ou indireta, ao interferir nos ambientes aos quais estão inseridos.
O resultado fluente das trocas que ocorrem entre as partes mantém o
conjunto cósmico em contínuo estado de transformação constitucional e
funcional, por conta da alternância das relações mantidas pelos elementos
sistêmicos que surgem, evoluem e desaparecem no plano físico. E,
enquanto a instabilidade resultante conseguir se equilibrar, o corpo
cósmico tem a oportunidade de continuar existindo. Contudo, se o fluxo
sinérgico for rompido ou vier a se degenerar, o Cosmo, assim como o
conhecemos, deixará de existir.
O bicho-homem, ao gerar produtos e serviços inconsequentes, que
contrariam as leis naturais e as necessidades evolutivas da Natureza,
pode provocar não só a destruição do planeta Terra, como também do
Cosmo, por inteiro.
Princípio da Unidade Constitucional dos Organismos Vivos
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 4
A simples existência de um único ser vivo, que se encontra inserido em
uma cadeia complexa de dinâmicas biológicas integradas (o nascimento, a
evolução orgânica completa, a geração de descendentes e a morte)
comprova que o Cosmo, enquanto sistema integrado de forças afins,
realmente é um organismo vivo (Zoé, vida cósmica), já que suas
estruturas visíveis e não visíveis propiciam o nascimento de inúmeras
formas de vida (bios, vida individual), bem como as mantêm em rede
cósmica, por tempo indeterminado. Apenas no planeta Terra, a vida existe
há aproximadamente 3,8 bilhões de anos, sendo assim, pode-se inferir
que, assim como acontece com as células do corpo humano, todas as
unidades existentes no Universo possuem a mesma informação
constitucional. Os gregos antigos gostavam de utilizar duas frases que,
em poucas palavras, definiam sua opinião sobre o assunto: “As partes e o
Todo são a mesma coisa e uma coisa só” e “O que está em cima é igual
ao que está embaixo”.
* * * * *
Desde o momento em que nossos antepassados mais remotos passaram
a olhar o firmamento com curiosidade e desejo, sentiram o ímpeto de
decifrar como e por que havia algo tão belo suspenso acima de suas
cabeças pensantes. Se descobrissem os segredos daquele tesouro, um
dia, quem sabe, os mais cobiçosos conseguiriam subir aos céus, se
apropriariam do espaço e se enfeitariam com os astros cintilantes. Não
lhes bastava mais querer conquistar as terras avistadas e as sonhadas, os
bichos-homens queriam mais, famintos no espírito, queriam dominar além,
queriam se saciar no infinito. Faltava-lhes, então, saber a origem da
abóboda celeste, conhecer seu funcionamento e descobrir de que forma
se chega lá. A ambição e a loucura não aceitam limites.
Durante a História da Humanidade, os sujeitos pensantes e agentes
produziram muitas explicações sobre os mistérios da existência do céu e
da Terra. Entre as muitas conjecturas antigas, que chegaram até nossos
dias, há a que toma o Todo por criação de Deus e a que o considera como
organismo vivo, uma macrocriatura autogerada. Desse par de alternativas,
qual é a mais racional? Qual é a mais fantasiosa? Por quê? Pela lógica, a
especulação mais racional está mais próxima da verdade, já que o
Universo é um sistema racional que obedece a leis racionais, passíveis de
serem conferidas por métodos científicos precisos. Você teria coragem de
escolher uma dessas explanações para nortear todas as facetas da sua
história de vida? Por quê? Você se arriscaria a entregar-se de corpo e
alma a uma religião que se baseia em uma dessas suposições? Por quê?
E se, caso tenha se entregado, vier a descobrir, no futuro, que construiu
sua existência em cima de uma mentira, de uma teoria descabida? Com
que cara ficaria? Com que cara está neste exato momento? Conhece a ti
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 4
mesmo, olhe para si mesmo, antes de querer olhar para o céu, para o
outro e para o que mais houver.
61
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
CAPÍTULO 5
A caça era a atividade mais relevante da vida primitiva. Sem o consumo regular
da proteína animal, a evolução do físico humano, e principalmente do cérebro,
estava comprometida.
Embora não se envolvesse no confronto direto com os animais ferozes, como
faziam os destemidos matadores de feras, o mago, o depositário fiel do
conhecimento teórico e prático da tribo, desempenhava a função mais
importante do processo, treinando a mente e o corpo dos caçadores para que
eles alcançassem o sucesso na dura empreitada.
Nos rituais propiciatórios para as caçadas, como o ocorrido em nossa historieta
na caverna do fogo eterno, o xamã organizava encenações dramáticas em que
os limites entre o palco e a plateia se misturavam, com o fito de treinar os
caçadores para o enfrentamento mortal.
Nessas ocasiões catárticas especiais, todos os detalhes eram fixados a priori
na mente dos combatentes para que, quando se lançassem à perseguição na
vida real, estivessem aptos para reproduzir os mesmos procedimentos técnicos
e sentir as mesmas emoções positivas que haviam sido ensaiadas no rito.
Crenças místicas à parte, as soluções táticas que levavam à vitória eram
encontradas no curso do acontecimento. Enquanto caçavam sôfregos e
apaixonados, completamente entregues ao enfrentamento, suas mentes
solucionadoras operacionalizavam aquela situação extrema, tomando-a como
um jogo de vida e morte, onde o foco, a experiência, a comunicação integrada e
a sinergia da equipe contavam mais do que o número e o tamanho dos
contrários, fossem eles, renas, ursos, bisões ou mamutes gigantescos.
Oposto ao que os caçadores crentes pensavam, o diferencial que garantia a
vitória era humano, não sobrenatural. A mente humana jogava, planejava,
estrategiava e organizava enredos operacionais muito mais eficientes que os
oponentes. O ganho para o lado humano era certo, com poucas margens de
erro.
Então, no lugar em que os crentes primitivos viam forças espantosas agindo no
destino dos viventes, o que realmente havia era a mais pura programação
mental, física e emocional, interferindo na produção dos fatos.
Contudo, como o povo não tinha consciência do que se passava; mesmo porque
quem fabricava os milagres disfarçava a trucagem milenar; acreditava-se
piamente que o prêmio da aventura, o animal morto, esquartejado e pronto para
ser devorado em segurança, devia-se à benevolência das energias extrafísicas
62
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
e ao poder descomunal do guia espiritual que conduzia e protegia a tribo com
passes de mágica.
Com a formulação da ideia do mundo dos espíritos eternos, dividido em planos
inferiores e superiores, claros e escuros, o homem antigo sentia que tinha
acesso ao destino de todos os seres e, inclusive, dele mesmo, bizarro híbrido
separado em partes conflitantes: animal, humana, cultural e espiritual. Sim, pois
se todos os elementos físicos possuem o duplo invisível, ele, em posse de um
corpo material, também deveria ter alma e estar ligado aos níveis não-físicos no
além.
É provável que a partir do momento em que a psique humana (social e
unificadora por excelência) interpretou a Natureza como sendo enganadora e
traiçoeira, o sujeito pensante e agente sentiu-se abortado da ordem planetária e
passou a lutar contra os elementos para conseguir sobreviver.
Os povos antigos contam sobre uma Idade de Ouro perdida, quando reinava a
perfeita união. Talvez, a sensação de perda e exclusão que habita no interior
humano: a angústia, tenha sido gerada quando o homem deixou de ser
completamente animal para passar a sobreviver dos méritos da cultura.
A busca íntima pela reunião perdida nas dobras do tempo humano satisfazia-se
com a ideia de um plano perfeito que reuniria as espécies em um estado
supremo de paz, ordem e graça infinitas, após a morte.
Ao mesmo tempo, dando continuidade a essa linha de raciocínio idealista, que
deve ter sido construída em milhares de anos de confabulações, a morte não
poderia representar o fim absoluto da carne nem a libertação definitiva do
espírito. Porque, caso contrário, com o passar do tempo, a união dos planos se
desintegraria por falta ou por excesso de contingente. Em determinado instante,
todos estariam mortos e eternamente presos no mundo superlotado dos
espíritos, o que acarretaria a dissolução dos mundos originais, levando o
Universo ao caos.
Para solucionar essa questão funcional complicada, inventou-se a dinâmica da
reencarnação, ideia que garantia a manutenção de todos os mundos e seres ad
infinitum, graças ao fluxo contínuo de ciclos de nascimentos e mortes
ininterruptos. A profunda necessidade de reencontro e reunião sentida há tanto
tempo, estava equacionada a contento. Um verdadeiro prodígio de força
intelectual, desenvolvido enquanto as Eras e os homínidas se sucediam.
Aqui não cabe analisar se o conteúdo dos raciocínios estava certo ou errado. O
que conta é maravilhar-se com a maestria do processo que busca ser coerente
e dinâmico para tornar-se orgânico e permanente, mesmo quando os elementos
do sistema de inferências, as ideias e as conclusões, estiverem equivocados.
Se forem examinar a construção do pensamento dos ancestrais, de forma
contínua e progressiva, desde o princípio dos tempos, fica fácil perceber que há
muito a mente vinha se preparando para funcionar como sistema independente,
criativo e sistematizador do meio.
63
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
À época em que a produção humana não passava de poucas pedras lascadas,
a mente já se mostrava potencialmente apta para elaborar sistemas intelectuais
altamente complexos, por meio dos quais os homens pudessem entender o
funcionamento de todas as coisas, como uma rede de trocas interligadas com
começo, meio e finalidades, em movimento perpétuo. Graças a essa visão
gestáltica e inclusiva, o sujeito pensante e agente poderia interagir com o
entorno, transformando-o segundo sua compreensão particular e vontade
expressa.
Bravos! A mente merece aplausos e elogios superlativos.
Diante do exposto, se aqueles indivíduos tivessem recebido informações
constitucionais de alta qualidade psicoestrutural, é quase certo que teriam
imaginado e construído um outro mundo. Mas, para azar geral, não foi o caso.
O termo psicoestrutural refere-se às informações educativas provenientes da
família, da escola, da religião, das instituições, dos grupos sociais, da
sociedade e da Natureza. Elas podem ser positivas e construtivas ou irracionais
e destrutivas. Esses dados constitucionais são apreendidos pelo sujeito e são
determinantes na construção dos modelos mentais que o levam a enxergar e
significar a si próprio, o mundo, as coisas do mundo, bem como a forma como
deve se relacionar com os mesmos.
Quanto àquele mundo antigo, ele fora malvisto, mal-interpretado,
malsimbolizado e malsignificado por pessoas que podiam materializar qualquer
coisa, desde que as visualizasse antes no espaço holográfico que existe no
interior da mente.
Toda e qualquer imagem mental pode ser materializada se for trabalhada
racionalmente, à medida que o sujeito trava relações produtivas com os
sistemas naturais, artificiais e humanos.
E o que os animais com cultura viam no íntimo, reproduziam no plano físico.
Principalmente no que diz respeito às cenas dignas dos piores infernos.
As figuras mentais são construções plásticas inteligentes, configuradas
internamente por conta do processo mental que produz imagens em três ou
mais dimensões. A produção imagética de determinada figura mental, inicia-se
com a mente humana coletando informações minuciosas, por intermédio dos
cinco ou mais sentidos, sobre um fato específico, ser, coisa ou pessoa. Todos
os dados são reunidos nos arquivos mentais, formando a ideia e a imagem
interior do objeto analisado.
Depois que a fonte de estudo passou pelo crivo da cognição (conhecimento) e
teve seus segredos descobertos, ela pode ser utilizada pelo sujeito pensante e
agente. O processo se completa quando o homem nomeia a imagem mental e a
transmite criando comportamento e cultura.
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
Quando a imagem, o nome, o objeto estudado ou seus predicados são
reinseridos nos sistemas naturais e humanos pela mão do homem, esses
aspectos retornam na condição de produto, serviço ou resíduo, os quais,
obrigatoriamente, serão inventariados e consumidos pelos ambientes e os seres
que os habitam, em rede cósmica.
Por exemplo, uma maçã existe como imagem, forma e conteúdo na Natureza.
Mas, como cada maçã é um elemento único, uma entidade numérica absoluta e
original no tempo e no espaço, haverá tantas versões da mesma coisa quantas
forem as maçãs existentes na totalidade da história universal, ou seja, todas as
maçãs que já existiram, as que existem e aquelas que ainda existirão. Jamais
haverá duas maçãs exatamente iguais. Cada uma é uma, embora todas juntas
pertençam a uma mesma categoria.
Diante da diversidade predicativa das unidades, a mente desenvolveu a
capacidade de criar a imagem idealizada da fruta em seu espaço holográfico
interior, adicionado ao que ela significa e representa, como resultado da soma
dos dados e experiências que o sujeito apreendeu ao se relacionar com esse
fruto, no geral.
A partir do momento em que a mente “conhece” a maçã e pode localizá-la no
espaço, ela passa a estar à disposição da vontade do sujeito pensante e
agente, na condição de coisa manipulável. Abre-se, assim, a oportunidade para
que haja a relação produtiva entre o homem e o objeto. Em termos conceituais,
nasce o criador e a criatura.
Exatamente como procede com os componentes do entorno – dissecando-os,
interpretando-os e internalizando-os como imagem e ideia –, a pessoa faz
consigo, pois se reconhece como unidade produtiva que interfere na sistêmica
do ambiente.
Cada ligação produtiva que o sujeito pensante e agente mantém com os
elementos animados e os inanimados que o cercam é única e geram resultados
igualmente únicos. No caso das relações humanas, os participantes têm a
oportunidade de aprender algo de si à medida que o Um se reflete nos Outros.
A totalidade das opiniões que o homem absorve em resposta à sua presença no
meio natural e humano, unem-se no espaço holográfico para formar uma
imagem única que o define e o qualifica como agente causal. Tomando essa
figura por base, a mente compõe esquemas algorítmicos * que correspondam às
suas possibilidades atuais e futuras.
É essa entidade formada no interior da mente, e síntese das várias
interpretações que o indivíduo tem dele mesmo como agente/pessoa, que vai
funcionalizar as demais imagens mentais, organizando-as em processos
subordinados à ação do sujeito internalizado, o “Eu Interior”: o ator principal dos
enredos mentais. Na Idade Média, o Eu Interior aparece nos textos secretos dos
alquimistas sob a alcunha de “homúnculo”.
*
Algoritmo: Sequência finita de regras matemáticas formais que levam à solução de um determinado problema ou
de problemas semelhantes.
65
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
Então, há o sujeito oculto – o Eu Interior – que habita no centro do universo das
imagens e das tramas mentais, e há o sujeito revelado – o indivíduo – que
possui corpo físico, nome, sobrenome e que atua no plano físico.
Na formação do indivíduo (administrador de dois universos, o mental e o
material), os climas psicológico e o fenomênico se espelham e se completam na
sistêmica comportamental dos sujeitos oculto e revelado. Se a pessoa se
desenvolver em ambientes com conteúdos deformantes (agrupamentos sociais
doentios, favelas, cortiços, lares conflituosos, etc.), o Eu Interior se formará de
modo distorcido. Concomitantemente, o sujeito revelado se comportará de
maneira patológica, produzindo histórias de vida e produtos doentios.
No momento em que a mente primitiva percebeu que a individualidade existia
na multiplicidade de uma mesma categoria, produziu a sintaxe que admite o
sujeito e o predicado como sendo essenciais à compreensão dos fatos naturais
e dos humanos. Ao indicar o sujeito, a humanidade deu um grande passo. O
sujeito é o termo da oração a respeito do qual se declara algo. O predicado é
tudo o que se diz do sujeito. Os verbos fazem parte do predicado e explicitam
ações, processos, situações ou estados.
A sintaxe progride como dinâmica sistêmica que se funda na individualidade da
palavra que, combinada a outras, forma a oração, a qual, por sua vez, conduz à
linguagem oral e escrita, que favorece a comunicação entre os seres, que serve
de esteio à produção da cultura, que gera a civilização. Um sistema leva a outro
e outro e outro e outro.
É assim mesmo, uma história sempre desencadeia outra e outra e outra. No
entanto, no terreno humano, tudo tem início no sujeito que significa e que é
significado. No processo histórico da humanidade, o homem é semente
plantada no solo fértil do Universo.
Para organizar o mundo e o sujeito que age no mundo, a mente parte de
pressupostos elementares, tais como: “Quem faz, faz alguma coisa” e “Se algo
foi feito, é porque alguém o fez”.
A segunda inferência levou o homem das cavernas a acreditar que existiam
entidades sobrenaturais, quando buscou pelos sujeitos poderosos que haviam
feito as árvores e as florestas, as pedras e as montanhas, os rios e os mares,
os bichos e a fauna e, em última instância, os astros e o Universo, quando ele
finalmente tomou o macrossistema universal como um Todo.
Segundo a compreensão do primitivo, o mundo visível seria o predicativo do
sujeito divino superpoderoso, que foi manifesto pelo verbo, igual acontece com
o homem que materializa as coisas, pela sua vontade e atitude consciente.
Nesse caso, o sujeito em questão recebeu o nome de Deus.
Esse raciocínio é extremamente coerente, segundo o ponto de vista linear.
Porém, sob a ótica sistêmica, é uma construção intelectual irracional e obtusa,
que pode levar o homem, em processo de racionalização, à loucura, caso ele
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
aceite a ideia de que Deus – o sujeito superpoderoso que criou o Universo –
protege e guia cada uma das suas criações.
A fé em Deus sobre todas as coisas obriga o Eu Interior a sair do centro dos
processos mentais inconscientes e conscientes para colocar-se à margem, na
categoria das coisas manipuláveis, junto às demais imagens mentais de
segunda categoria.
Os efeitos dessa anormalidade sobre a organização interior são devastadores.
As sensíveis dinâmicas criativas e sistematizadoras da mente não funcionam
corretamente diante da sujeição do Eu Interior a uma imagem de ficção, no
caso Deus, por mais que as culturas tenham lhe emprestado predicados
maravilhosos.
Por ser Deus, um personagem de ficção destituído de realidade, evidentemente,
Ele não pode ser decodificado pelos cinco sentidos. O que obriga a pobre
mente inquiridora a querê-lo, sem descanso, para poder conhecê-lo e possuí-lo
de fato e de medida.
Essa busca alucinada no céu e na Terra pelo que não pode ser tocado, visto,
cheirado, provado e ouvido, relega o homem e os predicados humanos a
segundo plano. O mesmo ocorre com a crença em vários deuses.
A interpretação mística dos acontecimentos arruína a racionalidade das leituras
cognitivas e produz distorções de compreensão que levam a alucinações em
graus variados. Então, as coisas e os fatos deixam de ser o que são, e passam
a ser tomados pelo que a imaginação fantasiosa crê que eles sejam, baseada
no que, na verdade, eles não são.
Com a racionalidade da mente arruinada e, portanto, incapaz de participar do
meio ambiente regulado por causas e consequências racionais, o crente
principia a interagir com o mundo que o cerca, baseando-se nas fantasias
irracionais que se criam em seu espaço holográfico.
Com o correr do tempo, sem que se dê conta, o indivíduo começa a viver
tranquilamente da “realidade ficcionalizada” que a mente lhe oferece, alienandose progressivamente dos processos sistêmicos da vida humana saudável e
responsável.
Nesse caso, a mente passa a funcionar sob a égide de processos internos
ilógicos que a impedem de formular soluções racionais efetivas. Isso porque o
centro do pensamento foi invadido por uma ou mais figuras inexistentes que,
por não terem sido dissecadas e interpretadas pelos cinco ou mais sentidos,
não podem entrar em processos mentais ou naturais. Deus não É, nunca Foi e
não poderá Ser jamais, porque não é fato, é ficção.
É com esse desequilíbrio mental sedimentado na mais pura linearidade
inconsistente que os alucinados têm pensado, visualizado e materializado a
história da humanidade no planeta e no espaço sideral, crendo que as forças
sobrenaturais estão ao seu lado, zelando por seus destinos.
67
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
Quanto à Natureza, segundo as religiões monoteístas, quem a criou, o Deus Pai
Todo-Poderoso, é responsável por sua criação e vai repará-la no devido tempo,
em um passe de mágica, quando Ele achar que é a hora certa. E aqueles que
estiverem ao lado Dele, o maior e mais poderoso bruxo do Universo, criador da
criação e vencedor do bruxo do mal, Satã, vão continuar progredindo contra os
que não creem Nele, perpetuando assim, o eterno conflito entre oponentes: os
fiéis contra os infiéis, os superiores contra os inferiores, os do bem contra os do
mal, os puros contra os impuros, os escolhidos contra os não escolhidos e por
aí vai...
É assustador pensar que, até meados do século XIX, a “ciência ocidental” tenha
sido dominada pelo pensamento mecanicista que considerava o Universo como
sendo uma máquina criada e movida por Deus. A matéria era vista e entendida
como coisa útil apenas à glorificação do criador: Ele, Deus. Deus?
Desagradável e egoica, essa história tinha tudo para ser um fracasso
retumbante nas bilheterias mundiais. Entretanto, nas mãos de excelentes
roteiristas, diretores, produtores, cenógrafos, figurinistas, técnicos de efeitos
especiais, sonoplastas, atores, propagandistas e comerciantes, o espetáculo
virou sucesso internacional, atraindo cada vez mais fãs do mundo inteiro, ano a
ano, sem perder o encanto mágico e o aplauso do público pagante e
consumidor de chaveiros às relíquias mais portentosas e caras.
Por mais que os concorrentes do showbiz tentem, essa história se mantém no
topo da lista das mais mais. Nem mesmo as megaproduções hollywoodianas
mais rentáveis e ganhadoras de Oscars conseguiram chegar-lhe perto em
termos de lucro líquido e espaço na mídia.
Para contar nossa história campeã, como convém à farsa, as cortinas do tempo
se abrem e uma voz vem do fundo, em off: “Era uma vez, no centro do
Universo, iluminado por estrelas fulgurantes, Deus, vestido com esmero,
diverte-se à larga interferindo no destino de tudo que há, ao som de trombetas e
harpas eternas”.
Pois bem, sem ter que dar satisfações sistêmicas a ninguém, o personagem
principal dessa historinha ridícula, no papel de soberano absolutista e
sobrenatural, à moda oriental, faz o que bem entende, contra e a favor do que
for. Interesseiro e de humor vacilante, ora assassino, ora dadivoso, Ele cria,
destrói e transforma o que quiser, onde e quando achar melhor, na base do Um
sobre todos e todos a serviço do Um.
O termo loucura define o sujeito que perdeu o contato com a realidade. Nenhum
indivíduo, que acredite em Deus ou que siga suas palavras ou leis não
sistêmicas, está em contato com a realidade, porque quem está dirigindo seus
processos cognitivos e produtivos, do céu e do interior da mente, é uma ficção
vazia. E como tal, não pensa, não fala, não age, não dita leis, nem dirige
nenhuma sina.
68
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
O pensamento místico afirma-se na centralização do poder sobrenatural, em
detrimento do poder individual, no sistema de vida de cada homem em
particular e no conjunto social. Por falta de consciência, muitos são reféns
obediente, dos que sabem programar a mente e a história de vida dos sujeitos
pensantes, do começo ao fim. Há muito tempo, a evolução da raça humana tem
sofrido com a intervenção inescrupulosa dos manipuladores e dos crentes
servis.
Mesmo que se autoproclamem evoluídos espiritualmente ou santos, nenhum
crente é responsável, confiável ou racional. Apresentando a imaginação
impressionável e sedenta em ser manipulada por outrem, é presa fácil que pode
ser levada a praticar atos odiosos contra o que for, como comprova a História
Universal.
O homem consegue pensar de forma abstrata e criativa ao unir as diferentes
figuras mentais e as ideias que se articulam ao redor do sujeito oculto,
localizado no centro do sistema do pensamento humano. A plasticidade
inteligente das imagens mentais favorece o surgimento de hipóteses, que
podem ser previamente ensaiadas no espaço holográfico da mente, para depois
serem testadas no plano físico.
Diferente do animal instintivo, antes de agir, o homem tem condições de pensar,
refletir, escolher entre opções múltiplas (livre-arbítrio), modelar o
comportamento escolhido e estruturar a ação (planejamento e estratégia),
baseando-se na sistêmica do sujeito oculto, que busca fins específicos na
condição de sujeito revelado.
Os sistemas construídos pelos homens, sejam eles máquinas, livros, artefatos
complexos, etc., revelam o interior do produtor. Evidentemente, a linguagem
não escapa à regra.
A linguagem é um sistema de comunicação composto de signos falados ou
escritos, que facilitam a troca de informações, ideias e emoções entre os
indivíduos. Ampliando o conceito, os estímulos visuais, táteis, sonoros,
palatares e olfativos também fazem parte do sistema da comunicação humana.
A psique, o pensamento e a linguagem são fenômenos sistêmicos
consequentes que geram produtos e subprodutos como por exemplo a
capacidade para criar enredos, histórias racionais e fantasias, entre outros.
Pela concatenação do discurso do indivíduo, o ouvinte atento pode identificar
sua moral, ética, visão do mundo, de si, da história de vida na qual o sujeito que
fala está inserido, seu futuro provável e o que mais há no interior para ser
trocado com o mundo e os seres vivos. Curtas ou extensas, as declarações
funcionam como janelas da alma, que revelam o íntimo do comunicador ao
comunicado. Contando de si e dos outros, o homem se desnuda.
A oração “João colheu a maçã”, por exemplo, informa que determinado agente
causal (João – o sujeito) praticou uma ação específica (colheu a maçã – o
predicado). Não há dados complementares que indiquem o antes (como) e o
69
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
depois (por que e para que). Mas é possível conjecturar racionalmente sobre o
assunto.
A frase supõe um conjunto ordenado de pensamentos, atitudes e emoções que
podem ter precedido e sucedido o fato, enquadrando o sujeito que praticou a
ação, em um contexto histórico natural e racional.
João poderia ter subido na macieira e colhido a mação para comê-la, vendê-la,
dá-la de presente a alguém ou destiná-la a outro fim.
Se inquirido sobre o assunto, João diria com clareza de espírito: “Eu colhi a
maçã”. Admitindo a autoria, João torna-se responsável pelo ocorrido e por suas
consequências.
Nesse ambiente orgânico de leituras factuais racionais, João se reconhece
naturalmente como sujeito pensante e agente, o que o leva a compreender o
fato em relação à organização mental do processo e às respostas do meio que
o contém.
Em comparação, na sentença “Deus quis que Paulo colhesse a maçã”, a ação
encontra-se em um contexto anômalo, onde as relações causais se confundem
e as responsabilidades produtivas se anulam reciprocamente.
Na primeira frase, João é o sujeito (autor causal responsável) que praticou o
trabalho de colher a maçã. Como acontece com qualquer pessoa que suba em
uma árvore frutífera para colher frutos, presume-se que o agente causal
aprendeu algo no procedimento. Se desejar, no futuro, para colher outros frutos,
João pode aperfeiçoar a dinâmica e reproduzi-la. Então, a ação produtiva
possui o potencial de gerar conhecimento prático e autoconsciência produtiva.
Na segunda frase, a irracionalidade trai o processo. Deus é o sujeito da ação,
mas quem trabalhou e se arriscou ao subir na árvore foi Paulo. A situação difere
bastante do primeiro caso, pois o trabalhador, o verdadeiro agente causal
responsável, diria sem clareza de espírito: “Deus quis que eu colhesse a maçã”.
Nessa segunda frase, as relações produtivas não são racionais. O produtor que
executou o trabalho não é o sujeito da oração. Esse, por ser desconhecido, não
pode ser confirmado racionalmente por nenhum tipo de leitura sensorial, nem
ter a participação confirmada no processo.
Basta que se admita a segunda frase como verdadeira para que os delicados
sistemas mentais superiores entrem em pane, os de Paulo e daqueles que
creem na afirmação.
Sempre que o crente agradece a Deus pela direção e participação em seu
trabalho, sem perceber, está se anulando como sujeito perante a própria mente.
Diante da incoerência dos sujeitos na sintaxe, que se confundem entre o real –
o agente causal de carne e osso, e o fictício – Deus, a mente descarta a
experiência factual como sendo racionalmente válida.
70
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
Com isso, o crente deixa de aprender verdadeiramente com o procedimento
produtivo, turvando a consciência e se construindo como pessoa menos
consequente e menos responsável para com as suas ações no presente e no
futuro. A moral e a ética desse sujeito estão comprometidas.
A maravilhosa mente humana, sistema criativo por excelência, não possui
nenhum tipo de julgamento em seus departamentos de criação. Com a mesma
facilidade cria o medíocre, o monstruoso e o sublime na arte, na ciência, na
cultura e na vida cotidiana. A análise crítica, o pensamento reflexivo, o
pensamento filosófico, a moral e a ética são produtos exclusivos dos processos
interiores que geram a consciência do indivíduo.
Os aprendizados conscientes, com os erros e os acertos, as frustrações e os
desafios, dão à pessoa que deseja expressar o poder humano no plano físico a
oportunidade de encarar as limitações individuais com coragem e determinação.
Ele sabe que, se quiser ver seus sonhos materializados na íntegra, deve
investir na expansão dos talentos natos para conseguir agir como elemento
solucionador que harmoniza as partes, elevando o conjunto dos
relacionamentos à plenitude.
Para o indivíduo, o Outro representa o não Eu, o diferente, o desconhecido,
aquele que lhe instiga a curiosidade e os sentidos, apaixonando e assustando,
atraindo e afastando. Contudo, não há o Eu, se não houver o Outro que o
revela, muitas vezes cobrando o que lhe falta para ser melhor, mais inteiro e
digno de receber o amor e o respeito dos Outros.
Diferentes e potencialmente complementares, se vierem a estabelecer vínculo
estável, o Eu e o Outro reagirão igual: se analisarão reciprocamente, criarão
juízos de valor e moral, avaliarão possibilidades atuais e futuras, cruzarão
interesses e capacidades, criarão estratégias e comportamentos específicos,
problematizarão as facetas da relação e procurarão gerar soluções para que a
ligação energética (sinergia) progrida, satisfazendo os envolvidos.
As relações pessoais pedem investimentos recíprocos para se firmarem e
crescerem. Quando as forças que ligam os relacionamentos carecem de
verdade, os participantes se distorcem como pessoas.
Se o indivíduo se comportar como não humano, o Outro será oponente, vítima
ou produto medíocre. Se agir como humano, o Outro será companheiro, amigo
querido, parceiro do amor compartilhado ou produto de qualidade
inquestionável. Quando o Eu Interior está no centro do pensamento, em vez da
figura imagética de Deus ou dos deuses, como acontece com os crentes, à
medida que os aprendizados racionais vão se acumulando nos registros
mentais, a consciência progride a níveis cada vez mais elevados. Ao atingir o
estágio da excelência funcional e emocional, nasce a sabedoria, a Sophia dos
gregos, o produto mais nobre e belo da consciência.
Sendo assim, se a sabedoria é o resultado último da soma das experiências
racionais entre o Eu e os Outros, evidentemente não há consciência e solução
onde prevalecer a mentira sobre a verdade.
71
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 5
O santo iogue não é sábio, o santo monge tibetano não é sábio, o santo Papa
não é sábio, o santo rabino não é sábio, o santo pai de santo não é sábio, o
santo pregador espiritualista também não é sábio.
Não há sábios na senda do sobrenatural porque nenhum místico conhece de
fato e de medida nada do que ensina, seja sobre o Paraíso e os paraisanos, o
Inferno e os infernais, o Umbral e os sombrios, Deus e as hierarquias sagradas,
ou outra bobagem qualquer. Todos, do Papa ao macumbeiro, mentem, enganam
e traem os Outros.
Funcionando como produto refinado da consciência, cabe à bela Sophia exercer
o controle dos processos produtivos do Eu e dos Outros. É preciso não
esquecer que o início da Civilização Humana foi marcado por guerras bestiais,
por falta de sabedoria e excesso de fé mística. Civilização? Humana?
72
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
CAPÍTULO 6
“Entusiasmados com os prodígios da boa semeadura, à medida
que os primeiros lavradores aprendiam a multiplicar os frutos que
nasciam da terra generosa, deixavam vir mais e mais filhos, os
frutos do ventre humano fértil.
Todavia, em pouco tempo, o otimismo viraria dor, com muitos
corpos famintos de tudo, se somando na divisão da colheita. Uma
gente ignorante, que rezava dia e noite, pedindo ao léu para
sobreviver com os restos do que haviam colhido para seu
Senhor.”
(Caio Ares)
Se, no passado, os pequenos grupos de caçadores-coletores andavam livres
pelo mundo, agora, presos à terra, aumentavam o contingente, crentes em um
futuro promissor, há muito sonhado. Uma onda inspiradora afirmava que, enfim,
onde nascia e crescia um, deveriam nascer e crescer vários.
Crescei e multiplicai-vos... Para o élã da época, nessa operação comercial
ordinária, quanto mais braços estivessem trabalhando, maior seria a produção;
produzir mais equivalia a somar mais riquezas; mais recursos, fomentava a
construção de um modelo produtivo básico; a necessidade de manter ações
produtivas e sociais sob controle, consequentemente, abria espaço para o
aparecimento de um personagem que desempenhasse o papel de chefecontrolador absoluto, o último fator a entrar nessa conta, fechando a nota.
Quanto aos lucros dessa fatura tosca, esses seriam tão maiores quanto mais se
subtraísse dos produtores – os braços multiplicados - por meio de dízimos,
cêntimos, meio a meio, 90%, impostos fixos, subornos, achaques, impostos
extraordinários, taxas do solo, oferendas, donativos e tantas invencionices mais
criadas para tirar do trabalhador aquilo que, originalmente, era dele: o produto
ou serviço, frutos naturais do seu labor. De taxa em taxa, o homem se
escravizava sem perceber.
Para que esse sistema mal formado e escorchante se mantivesse em
funcionamento sem que houvesse resistências internas, urgia criar meios para
que os produtores perdessem o vínculo com a produção e o produto. A solução
mágica, lógico, como de praxe, viria do mundo espiritual e estava destinada a
ser tomada como verdade inquestionável, por tempo indeterminado ou enquanto
existisse um crente.
73
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
As terras úmidas do Crescente Fértil, do Egito à Mesopotâmia, começaram a
abrigar comunidades rurais desde o nono milênio. Por volta do sexto e quinto
milênios, chegaram a comportar centenas e, em alguns casos, milhares de
pessoas divididas em cômodos de paredes geminadas, formando imensos
aglomerados populacionais, em um único bloco.
Nos primeiros conjuntos habitacionais não havia ruas, corredores ou passagens
comuns, as pessoas transitavam de uma localidade à outra, atravessando as
habitações por dentro, inviabilizando assim, a existência da intimidade e da
quietude interior. Por vezes, abriam buracos nos tetos, que serviam de portas
ou criavam pequenos pátios internos, úteis para a entrada da luz solar, do ar
fresco e para facilitar a circulação das pessoas.
Nessas protocidades que cresciam como massas orgânicas, sem formas
definidas, os cômodos não apresentavam grandes diferenciações. Por vezes,
havia pequenos recintos que deveriam ter servido para o culto e, outros
maiores, que talvez fossem utilizados para armazenar provisões e utensílios.
Mas, por mais promissora que a nova situação pudesse parecer, o plantio não
fornecia garantia de fortuna certa. Similar à dinâmica imprevisível e
emocionante dos jogos de azar, fatores múltiplos poderiam trazer a abundância
ou a miséria aos jogadores que sulcavam o imenso tabuleiro no terreno
preparado.
A cada nova estação, a sociedade da terra apostava tudo que possuía, torcendo
para que a providência estivesse com ela, à frente de cada lance jogado.
Na lide diária, para a maioria dos trabalhadores de então, já não bastava ser
capaz de estrategiar situações de ataque, como faziam os antigos, nos dias em
que os principais adversários não passavam de animais movidos pelo instinto,
jogadores previsíveis e conhecidos desde sempre.
A abrangência da problemática da produção agrícola desafiava a compreensão
dos primitivos e pedia-lhes mais conhecimento e técnica para que tivessem
condições de trabalhar com tantas variáveis praticamente indomáveis.
Com o advento da agricultura, o bicho-homem subiu um degrau evolutivo a mais
e avançou na construção de um ambiente artificial, onde, sem perceber, acabou
tornando-se peça funcional da engrenagem de um sistema de produção que
desprestigiava as necessidades do humano e da Natureza.
Na condição de dependente da terra, o plantador primitivo, ex-caçador-coletor,
customizou seus conceitos e crenças fora de moda, adaptando-as às exigências
dos novos tempos. Logo, seus deveres, direitos e chances de crescimento
pessoal, girariam em torno dos interesses da produção, sob a direção abusiva
dos deuses que estivessem em alta.
Para funcionar, os sistemas precisam que seus múltiplos fatores estruturais
(modelo, forma, funções, células, órgãos, leis, dinâmicas processuais, etc.)
estejam em sintonia, formando um todo produtivo estável e inteligente. Se
74
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
houver falhas sistêmicas graves, o conjunto entrará em xeque, mais cedo ou
mais tarde.
Igual acontece com os demais sistemas, a sistêmica agrícola possui inteligência
racional própria, capaz de ordenar e modelar seus vários aspectos, na tentativa
de atingir um grau de eficiência absoluta. Os sistemas formatam os elementos
sistêmicos que o constituem.
Entretanto, nascida naqueles tempos pouco humanizados, no meio daquelas
gentes ignorantes e supersticiosas, a sistêmica agrícola acabou gerando uma
sociedade peculiar.
O negócio com a terra, baseado na exploração dos recursos naturais e
humanos, pedia a construção de uma superestrutura social, organizada na
divisão de classes e na especialização do trabalho. O conhecimento, matériaprima indispensável à evolução de pessoas e comunidades, era tratado como
bem valioso e ficava restrito aos que detinham o poder nas mãos. A prática não
era de todo nova, fincava raízes profundas no rico terreno xamânico, onde
crescia a árvore dos frutos proibidos, aquela que devia ser protegida das
pessoas comuns, como recomendam as lendas.
Os xamãs, personagens esquisitos, tinham importância capital na vida das
pessoas e das comunidades porque, antes de mais nada, armazenavam a
cultura da tribo na cabeça. Apenas eles conheciam todas as lendas e técnicas
de memória. Se, por alguma razão, o bruxo sumisse do mapa, desapareceriam
com ele todas as referências do grupo no mundo, restando apenas o
desconhecido, o caos, onde antes havia a ordem na palavra dita pelo xamã.
Aquele que conhecia as teorias e as práticas, punha-se à frente iluminando o
caminho e assustando o cortejo impressionável. Quem nada sabia e tudo temia,
seguia trêmulo a luz salvadora nos domínios assombrados pelos terríveis seres
das trevas. A ignorância sempre produz monstros.
No lento decantar do tempo e das experiências, graças aos avanços das
técnicas agrícolas, como a irrigação, que resolvia o problema dos terrenos
secos, as colheitas se tornavam cada vez mais abundantes.
Com o excedente da riqueza obtida na exploração do trabalho do agricultor
assustado e idiotizado, o sistema encorpava e criava novos tipos de
profissionais que deveriam cobrir as carências das operações primárias,
produzindo um ambiente frenético e palpitante, que em nada lembrava o cenário
do passado.
O novo espaço de atuação humana contava com a ação coordenada dos
administradores, escribas, comerciantes, sacerdotes, guerreiros, arquitetos,
governantes, adivinhos, artífices, pastores, artistas, pecuaristas, prostitutas,
ladrões, vagabundos, generais, ministros, artesãos, entre outros.
O clima psicológico progressista e aberto a novas experiências criou a
oportunidade para que o conjunto confuso de crenças antigas fosse substituído
75
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
por um sistema teológico completo, que apresentava explicações precisas sobre
a origem do mundo e de todas as demais coisas existentes, surgidas a partir da
vontade expressa de divindades ligadas à terra, à fertilidade, aos fenômenos
atmosféricos e aos estados de espírito.
Para facilitar a conversão ao novo sistema de ideias religiosas, criou-se um
receituário com rezas, liturgias, cânticos, rituais caseiros, rituais comunitários,
festas e ofícios propiciatórios da boa fortuna, que preenchiam todos os
momentos da vida dos cidadãos.
Hipnotizados pela religião, se os deuses mandassem plantar, eles plantavam.
Se mandassem colher, eles colhiam. Se mandassem crescer e se multiplicar,
eles se multiplicavam como animais movidos pelo instinto. Se mandassem
matar, eles assassinavam sem nenhuma piedade. Se mandassem que
morressem, eles entregavam suas vidas com humildade reverente.
Uruk, cidade suméria situada próxima ao Golfo Pérsico, foi a primeira localidade
habitada a apresentar uma inovação que seria exaustivamente copiada por
outros povos: o modelo urbano. Nesse modelo, o sistema social e político
organizava-se em torno do templo – símbolo maior da comunidade.
Diferentemente dos aglomerados entupidos, escuros e insalubres de outrora, as
cidades urbanizadas possuíam ruas, avenidas, prédios públicos, centros
administrativos, armazéns, residências reais e quarteirões diferenciados por
classes ou ofícios.
A precariedade da organização produtiva e social dos primeiros aglomerados
populacionais igualitários, as protocidades, evoluíram dividindo-se em duas
metades distintas e interdependentes. A primeira, a zona rural, produzia os
alimentos, a riqueza básica que nutria a cidade, o sistema e tudo o que nele
houvesse. A segunda, no polo oposto, a cidade, centro urbano administrativo,
religioso, cultural, comercial e produtor de bens móveis e serviços, dos quais a
zona rural dependia para sobreviver.
Cada nova ideia, conceito, descoberta, produto, serviço ou resíduo que
qualquer das duas partes produzisse, entrava na sistêmica produtiva do
conjunto social, servindo de base à geração de outros produtos, serviços e
resíduos, em moto-contínuo. Em termos sistêmicos, nada se perde, seja uma
ideia, um produto ou a expressão do indivíduo na História.
O modelo urbano se difundia em todos os cantos, bem como o sistema político,
econômico e social que o caracterizava. A passagem da economia de aldeia
para a economia urbana centralizou o poder e remodelou o papel do
governante, que passou a ser respeitado como ser especial, capaz de feitos
colossais. Empossados como representantes exclusivos dos deuses, os
soberanos tomavam para si a nobre obrigação de imprimir a ordem no caos
terrestre.
76
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
A cidade, o “Paraíso na Terra”, simbolizava a força sagrada do rei-construtor.
Eficiente, a propaganda real fazia crer que o empreendimento imobiliário se
materializava com a energia que descia dos céus.
Conforme se explicava com grande aparato de marketing, a hierarquia divina,
que movia as estrelas e formava o espaço celeste, se refletia na hierarquia
governante, transferindo o poder cósmico a essa, para que ela materializasse a
ordem sagrada no reino da Natureza selvagem. Desta feita, o exercício do
poder egoísta e irrefreável virava sinônimo de civilização e progresso.
Como a hierarquia divina e a hierarquia governante (o rei e o alto-escalão, tidos
como sagrados ou pertencentes ao sagrado) não podiam pegar no pesado nem
sujar suas ricas vestimentas, era dada ao povo a honra de colocar a mão na
massa para finalizar o milagre da materialização. Produzir a edificação e a
manutenção da cidade garantia ao humilde trabalhador o ingresso no sistema
do divino. Ao obedecer às ordens superiores, os gentios se ligavam aos deuses.
Na prática, a gentalha estava sendo vergonhosamente enganada e explorada,
com a desculpa de que o que estava sendo construído embaixo era um reflexo
da ordem divina que existia em cima.
Desde o florescimento do pensamento mágico, nos tempos das cavernas, os
grupos sociais, infantilizados, se apegavam à proteção de forças e entidades
sobrenaturais poderosas. Então, quando as cidades foram pensadas,
entregaram-nas aos cuidados dos deuses de origem, tendo um deles à frente, o
qual era proprietário legal do território e de tudo que havia nele. Com o passar
do tempo, os deuses protetores das cidades começaram a competir entre si
querendo fazer prevalecer os direitos do mais forte sobre os mais fracos.
Nesse regime que fundia o sagrado ao humano e ao animal, as riquezas do
Estado pertenciam à suprema entidade sobrenatural que, generosa, permitia
que os produtores e os prestadores de serviços retivessem pequenas cotas da
produção ou dos lucros obtidos.
Traindo o vínculo indissolúvel que há entre o indivíduo e seus produtos, os
produtores foram levados a acreditar que a produção humana era obra dos
deuses, que “trabalhavam” por intermédio dos homens. Nada do que o sujeito
pensante e agente produzisse de bom e valioso era propriamente seu. Sem o
intercurso do divino, os homens nada podiam e pouco valiam.
Os “sábios” explicavam que a materialização da obra humana ocorria porque
fora previamente determinada pelos seres imateriais, que estavam acima do
homem, no além. O produtor humano, como um vaso oco, não passava de mero
veículo do divino que o preenchia e o incitava a produzir. Desse modo, ao
homem não restava espaço para nada, muito menos para o espírito humano se
desenvolver. Por todos esses motivos, viam a riqueza pessoal com maus olhos.
O acúmulo de bens, de capital e de provisões representava um sintoma
evidente de expropriação da fortuna divina. Em razão do que, qualquer sujeito
abastado poderia ser apontado como ladrão, sem que houvesse a necessidade
de apresentar provas. Se o tal gajo fosse pego pela vigilância real, iria arder no
paço público, para que todos aprendessem a lição.
77
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
Um dia, muito mais à frente no tempo, os ricos também seriam condenados a
arder nas chamas violentas do Inferno, quando ele fosse inventado junto ao
Paraíso Celeste, jardim de delícias eternas.
Porém, enquanto essas duas criações ainda não dominavam o imaginário
popular, para o governante do Paraíso Terrestre, o cidadão ideal deveria ser
fiel, temente aos deuses, servil e, de preferência, pobre, quase miserável, para
provar sua honestidade e ser digno da piedade divina. Pois, se os deuses se
zangassem com a soberba de um ou de outro, toda a sociedade poderia sofrer
com a ira das potências supremas.
Ricos, mesmo, só os deuses e seus representantes poderiam ser e parecer.
Ainda assim, quando os soberanos-sacerdotes quiseram ostentar mais que o
habitual, trataram de mascarar a situação, introduzindo o templo no interior do
palácio real, que passou a ser a casa do deus e centro natural de convergência
de todas as riquezas do reino.
Depois que a pompa virou símbolo da capacidade real para proteger e alimentar
o povo, quanto mais o rei aparentasse ser rico e perdulário, mais acreditavam
que as riquezas jorrariam sobre os cidadãos, das fontes produtivas do Estado.
Afinal, o rei e o Estado eram uma coisa só. Cretinice coletiva? Não, fé.
No terceiro milênio a.C., enquanto as cidades-estado mesopotâmicas duelavam
por ordem dos deuses padroeiros, inviabilizando o estabelecimento de alianças
estáveis – base da formação das nações – o sistema de crenças foi acrescido
de uma ideia para lá de esperta.
Um soberano semita se autoproclamou “deus-vivo”. Note bem, ele não dizia ser
Filho de Deus ou seu representante único. Ele, que era exibido, e tinha um
guarda-roupa de fazer inveja, apresentou-se ao respeitável público como sendo
o próprio deus em pessoa. Aquele a quem todos deviam obediência cega.
Naram-Sin, o soberano nada ingênuo, era neto de Sargão, o magnífico,
fundador do império acádico, um reino efêmero, porém voraz, que desejou
possuir tudo que havia no mundo.
O primeiro império semita sonhava em conduzir filhos-cidadãos obedientes de
um só deus pai entronizado, servos de um só senhor, rebanho dócil de um só
pastor. Acad durou pouco. Porém, as ideias, mais resistentes que os impérios,
sobreviveram.
No final do quarto milênio, no norte do continente africano, na faixa de terra
fértil que ainda margeia o delta do Nilo e se aprofunda para o interior, rumo às
cataratas, regiões essas conhecidas como baixo e alto Egito, foi inaugurado o
primeiro estado burocrático centralizado da humanidade, com estrutura estável
e duradoura.
Segundo contam as lendas que continuam voando com as areias do deserto,
por volta de 3000 a.C., Menés deu início ao longo período faraônico ao unificar
sob uma só coroa os povos que viviam divididos nas duas regiões.
78
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
A estrutura política dessa civilização de origem fluvial organizou-se sob o
modelo fixo da teocracia absolutista. No cume da pirâmide social reinava o
faraó, monarca absoluto de natureza divina, responsável por transferir a maat
do Universo para o plano terreno. Disso dependia a continuidade dos ciclos: as
cheias do Nilo, as chuvas, as colheitas, os nascimentos, as realizações
humanas, enfim, tudo.
As crenças egípcias mais antigas contavam que, no início, só existia Nun, o
oceano caótico sem começo nem fim. Em determinado instante, vindo do nada,
surgiu, sobre as marés agitadas, uma duna piramidal encimada pelo Sol (Rá). A
luz sagrada correu rápido, plasmando formas que foram colocadas no seu
devido lugar. Fez-se a ordem (Maat), nasceu o Universo.
No Império Egípcio, logo abaixo do trono real, escorando-o com a força
ameaçadora das crenças religiosas e das armas, acomodavam-se
confortavelmente os sacerdotes e os generais. O restante da pirâmide era
preenchido pela população em geral. O país pertencia ao soberano que
dispunha das terras, das riquezas e das gentes como bem entendia.
Entronizado na condição de deus encarnado, e representante exclusivo das
potências supremas, o faraó assegurava sua soberania exercendo com punhos
de aço a chefia da política, da religião e do exército. Sua vontade era lei
inconteste e deveria regular todos os aspectos da vida dos súditos, nessa vida
e na outra. Depois de morto, a alma imortal do faraó rumaria para o céu,
levando consigo seus pertences e favoritos para servi-lo no além.
Não havia separações entre a figura do faraó, o Universo e o país. Quem
ousasse atentar contra a pessoa do faraó, o pior dos crimes do antigo Egito,
deveria receber os maiores castigos nessa existência e na outra, por ter
colocado a permanência do reino e do Todo em risco.
O complexo sistema faraônico durou três mil anos, produziu 31 dinastias,
acomodadas em três períodos históricos distintos: o alto império, o médio e o
baixo império. Entre essas etapas, houve dois períodos intermediários,
marcados por profundas agitações.
A glória dos faraós findou-se com a queda da rainha Cleópatra, última reinante
da casa dos gregos Ptolomeus, em 29 a.C., após a derrota da batalha naval na
baía do Áccio, contra o exército romano, comandado por Otaviano, futuro
Augusto, pai da Roma imperial. Em nome da Pax e contra a desordem, a cidade
eterna ocupou o centro do Universo. No trono, primeiro o imperador, após a
queda do império, seguiu-se o Santo Papa, o guerreiro da cristandade. E tudo
aquilo que não deveria ter vingado no solo fértil, pelo bem da humanidade,
cresceu, multiplicou-se e transformou-se em algo desprezível.
As guerras representam a produção de pessoas perturbadas que utilizam a
maravilhosa mente humana da pior forma: sistematizando destruições
contínuas, em modalidades variadas, com requintes de crueldade demoníacos.
79
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
O bicho-homem é o único ser natural que vive em todos os climas, que produz o
fogo, as artes, as ciências, que reza para deuses inexistentes e que compraz-se
em destruir sua espécie e o meio ambiente em guerras, revoluções ou
simplesmente agindo em nome do progresso, da liberdade, da fraternidade e da
igualdade, como cidadão obediente e temente àqueles que o protegem no céu e
na Terra.
E pensar que tudo começou com o pobre primitivo pré-histórico sentindo-se
oprimido, angustiado, pequeno interiormente e sonhando com dias mais felizes
no futuro. Histórias...
Embora os níveis de evolução física e intelectual dos hominídeos pré-sapiens
sapiens sejam variados, tem-se a impressão de que a história da cultura
humana continua sendo fiada, de geração em geração, com um fio único, há
milhões de anos, sem que sejam feitas críticas rigorosas quanto à qualidade do
material. Quando muito, de tempos em tempos, mudam-se as aparências e
algumas normas sociais, mas nunca se desce fundo, atingindo os núcleos
basilares da mentalidade humana.
Da noite negra das Eras primitivas, até os nossos dias modernos, tem-se
aproveitado praticamente tudo que vem sendo coletado e guardado nos balaios
caducos da cultura do animal-humano.
Até quando, os donos da História, os homens e as mulheres que a constroem,
serão vítimas dessa total falta de consciência? Dessa falta de sabedoria para
separar o joio do trigo?
Os indícios arqueológicos contam que, em muitos aspectos, o hominídeo da
atualidade continua semelhante em essência aos antepassados mais próximos
da condição animal. Esquece-se que os seres irracionais sofrem para
sobreviver.
“O cenário natural envolve e emociona quem busca a beleza no
que há para ser apreciado pelos 5 sentidos, como o céu azulturmalina, o Sol quente e dourado, os pássaros que rabiscam
lindos arabescos no ar, as matas verde-esmeralda, as flores que
explodem em cores perfumadas, os frutos maduros prontos para
serem saboreados, os rios cintilantes que cantam e dançam, os
mares enamorados pedindo para lamber os corpos suados. As
emoções afloradas convidam ao romance. Porém, todo cuidado é
pouco, as aparências enganam e traem os sentimentos mais
finos. Movidos pelos instintos, muitos se perdem em dramas
inesperados.”
(Caio Ares)
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
Na Natureza, os comportamentos dos seres vivos são fortemente influenciados
por estratégias de confronto. Como Darwin observou, todas as espécies estão
fadadas a participar da luta do forte contra o fraco para tentar garantir a
segurança, a satisfação sexual e a alimentação diária.
Os jogos de combate, baseados no choque de forças, são
funcionais, uma vez que produzem traumas e perdas
Entretanto, eles servem de fio condutor para unir todas as
na mesma macrodinâmica comportamental e produtiva,
diferenças que existem entre os integrantes.
primitivos e pouco
em larga escala.
criaturas terrestres
independente das
À medida que o homem evolui racionalmente, os padrões menos elevados da
Natureza deixam de influenciá-lo. Aliviado do peso imposto pela animalidade,
ele passa a sofrer cada vez menos para viver no planeta.
Em suma, o repertório lúdico do reino natural contém jogos ruins que podem
modelar o estilo de vida das criaturas movidas pelo instinto e dos homens,
quando eles se comportam e pensam de modo irracional.
Então, embora os sapiens sapiens sejam os seres mais evoluídos do planeta, a
maioria tem se perdido em jogos medíocres que os impedem de alcançar os
estágios superiores da consciência: guerras, revoluções, revoltas, rebeliões,
greves, guerrilhas, atentados e todas as modalidades de lutas corporais,
pessoais, ideológicas, políticas, sociais, religiosas, etc. Nos jogos
verdadeiramente humanos, não existe espaço para lutas, conflitos, confrontos e
choques.
Para o mundo dos homens, os conflitos representam a diversão típica e doentia
de personalidades malcriadas e mal educadas que tiveram o desenvolvimento
mental comprometido desde cedo.
Esses indivíduos intelectualmente assistêmicos, por mais que façam, jamais
gerarão soluções sistêmicas e felizes, pois suas relações de vida são fruto de
uma luta interior e exterior contínua, por todas e quaisquer causas.
Por essa razão, para o adulto evoluir por intermédio das ligações que mantém
com o mundo, deve conservar ativos os processos interiores e exteriores que o
levam a comportar-se construtivamente. Tanto que, para os indivíduos
plenamente humanizados, vencer na vida – o jogo do sucesso e da realização
pessoal plena – deixa de ser uma batalha entre desiguais, como acontece com
os inumanos assistêmicos, para transformar-se em um prazeroso jogo de
parcerias construtivas, em que o adulto bem-nascido, bem-criado e bemeducado participa com inventividade, curiosidade, alegria, responsabilidade
produtiva e sensibilidade apurada.
Do ponto de vista tático, as guerrilhas são mais antigas que as guerras.
Assaltos de bandos são comuns entre os animais e é possível que os
hominídeos os tenham praticado regularmente desde sempre. A conceituação
moderna deriva-se da resistência das tropas irregulares espanholas durante a
Guerra Peninsular Napoleônica (1808-1813).
81
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
A partir de então, as guerrilhas têm-se multiplicado, de braços dados com o
terrorismo, nascido em 1793, durante a Revolução Francesa. Elas caracterizamse por ataques-surpresa de bandos autônomos, frequentemente comandados
por líderes populistas que fanatizam as pessoas ignorantes, imprimindo-lhes
imagens idealizadas na mente por meio das mesmas velhas promessas de
sempre.
Diferentemente do que os manipuladores sociais pregam há milhares de anos,
não existem soluções definitivas, a não ser na morte, quando cessam os
pensamentos e os jogos mentais.
É normal que o sistema cerebral, eternamente interessado em tirar mais prazer
do entorno, procure por soluções efetivas que resolvam as relações do sujeito
com os seres, as coisas e o mundo. Se o indivíduo for saudável em termos
psíquicos, saberá utilizar esse impulso em favor da construção de relações
harmoniosas. Caso contrário, sobrevém o horror.
Hitler, Lênin e Napoleão, por exemplo, inventaram soluções fabulosas que
destruíram milhões de vidas em cenas do Inferno. Entretanto, nenhum homem
provocou tantos desastres sistêmicos, guerras, mortes e horrores infernais,
quanto Jesus Cristo, com suas promessas e soluções alucinantes.
E quanto a Moisés e Maomé? Que soluções, sonhos e futuros, esses místicos
venderam aos seus povos? Em quais enredos essas pessoas foram obrigadas a
entrar por causa deles? Como esses povos estão hoje?
O homem gosta de sonhar com situações maravilhosas, igual faz consigo
mesmo, quando se visualiza no futuro, desfrutando de uma existência mais feliz
e mais perfeita. Como indivíduo, esta qualidade projetiva é fundamental para
sua evolução. Porque, se consegue ver o que quer no amanhã, pode planejar
sua trajetória para materializar seus sonhos de modo consciente e responsável,
realizando-se progressivamente como entidade sistêmica em contínuo estado
de construção formal e funcional.
Mas, quando sonha em conjunto com outros, permitindo que seu espaço
imagético interior seja invadido por ficções projetadas por líderes desonestos,
passa a fazer parte da massa sem vontade e destino próprio, pronta para ser
imbecilizada e explorada.
Não há líderes oportunistas que não tenham liderados à altura. Os prêmios que
estão em jogo são imperdíveis: a vida eterna, a Terra Prometida, o Nirvana, o
Paraíso Terrestre, o Paraíso Celeste, a libertação do Karma, o domínio do
mundo, 100 virgens esperando no além e outros tesouros tentadores.
E o que é exigido em troca para se ganhar essas prendas maravilhosas? Quase
nada, apenas as almas dos indivíduos, como só os melhores demônios seriam
capazes de pedir, enganando os desprevenidos que, de qualquer jeito, não
valem muito.
82
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
Por conta dessa jogatina desenfreada, é muita ingenuidade ou leviandade
achar-se que a massa é pobre vítima indefesa daqueles que ela se põe à mercê
para guiá-la, protegê-la e sustentá-la em suas necessidades e desejos. Entre
ambas as partes, líderes maquiavélicos e massas comandadas, estabelece-se
uma relação oportunista que funde os interessados em um único sistema
residual, com propósitos de exploração mútua e além, por tempo não definido.
Como demonstra a História, as gentes quebram os vínculos sociais
estabelecidos e se lançam em ocorrências graves quando opositores do sistema
vigente lhes oferecem opções de vida mais vantajosas, mesmo que irreais.
Trotski observou: “A mera existência de privações por parte do povo não basta
para provocar insurreições; se bastasse, as massas sempre descontentes com
sua situação, estariam sempre em clima de revolta”. Sofrimentos e miséria,
portanto, não são suficientes para derrubar regimes políticos e religiosos.
Para se pôr o edifício social abaixo, deve-se destruir as imagens fantasiosas
que os poderes instituídos implantaram na mente da população impressionável.
O povo deve ser levado a compreender, de uma vez por todas, que o futuro
maravilhoso que lhes prometeram não existe, é ficção, fraude.
Contudo, para que as massas se mantenham suscetíveis às rédeas, enquanto
lhes destroem as esperanças antigas, deve-se criar outra miragem
impressionante para que as pessoas possam se prender a ela.
Entretanto, é preciso ter cuidado com o processo de câmbio da manipulação
social. Pois, quando o povo percebe que foi enganado, enfurece-se e passa a
destruir os ícones com a mesma facilidade com que os havia obedecido,
adorado e enriquecido.
O princípio da débâcle final da monarquia francesa, nascida de um conchavo
com a célebre Igreja Católica deu-se quando o público se viu soterrado por uma
avalanche de publicações estrangeiras e nacionais sobre a vida privada da
família real e da aristocracia, em fins do século XVIII.
Pela mesma época, oportunamente, os pensadores burgueses e a alta nobreza
capitalista construíam a imagem de um mundo perfeito e mágico, produzida sob
medida para ser desejada pela população descontente.
Mais do que política, ideológica ou econômica, a principal batalha dos líderes
revolucionários foi travada no campo das imagens mentais. De um lado, Luiz
XVI, igual aos seus antecessores, procurava manter o respeito do povo
fabricando milagres e prometendo a ordem contra o caos. No polo oposto, os
iluministas avant-gard propunham o início imediato da construção do novo
Paraíso Terrestre, em pleno solo francês, com Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.
Para azar do pobre monarca, ele iria enfrentar a oposição com os cofres e os
celeiros vazios, a década de 1780 trouxe invernos rigorosos. A produção
agrícola sofreu perdas monumentais. O povo passava fome. Na época da
Revolução Francesa, o país contava com 25 milhões de pessoas, 90% delas
83
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
vivendo na zona rural, em situação mais do que precária. O sonho virava
pesadelo.
Ao longo de 54 anos de reinado (1661-1715), Luiz XIV investiu na construção
de um reino de sonho e desejo que deveria durar por muito tempo, para si e
para seus descendentes, como se fosse um maravilhoso dia ensolarado que
custa a se findar.
Mas, agora, em fins do século XVIII, nuvens negras de ódio apagavam a luz do
céu azul e ameaçavam desabar sobre quem estivesse em terras francesas. Vivo
ou morto, ninguém seria poupado dos perigos à vista. O idílio era coisa do
passado.
Ah! O passado..., que dias gloriosos foram aqueles, quando a França viu surgir
o mais iluminado dos seus reis...
Como um único homem pôde fazer tanto em tão curto espaço de tempo? De
cetro em punho, ele fez a França virar outra, como por encanto.
Quando Luiz XIV ascendeu ao trono, na condição de primeiro entre seus pares,
herdou uma posição mantida às custas dos achaques que os nobres e os
clérigos praticavam contra os soberanos, desde o século V quando o reino foi
fundado. Se vossas altezas não satisfizessem a gula pantagruélica dos
gananciosos, alimentando-os com bens, privilégios e honrarias, a coroa rolaria
das cabeças coroadas.
Nesse sistema social sórdido, no qual os mais privilegiados lançavam mão da
chantagem e do assassinato para sobreviver e prosperar, o povo era voto
vencido e seguia qualquer um que lhe oferecesse uns trocados ou diversão
gratuita.
De temperamento arrivista, sensível à baderna e à carnificina, o francês, como
todo bom bárbaro, deixava-se dominar facilmente pelo rufar das paixões
violentas, como aconteceu na semana de 23 a 30 de agosto de 1572, data em
que Paris tingiu-se de sangue. A matança desenfreada, conhecida como a
“Noite de São Bartolomeu” * , começou no interior do palácio do Louvre, por
ordem de Carlos IX, contra os protestantes que almejavam derrubar o governo e
tomar o trono. Com a coroa em risco, o rei católico resolveu a questão a golpes
de punhal.
Após o cheiro de morte impregnar os salões reais e os bairros de Paris, o
conflito espalhou-se pelo país inteiro. Católicos e protestantes se enfrentavam
como bandos de animais ferozes.
A luta perdurou por 30 anos, com altos e baixos, e foi parcialmente resolvida
com a assinatura do Édito de Nantes, em 1598, por Henrique IV. Em 1685, Luiz
XIV revogou o tratado que conferia liberdade à Igreja Reformada e expulsou os
*
O filme Rainha Margot, dirigido por Patrice Chéreau e estrelado pela inesquecível Isabelle Adjani e por Daniel
Auteuil, em 1994, traz-nos um retrato bastante fiel dos fatos ocorridos na França à época da “Noite de São
Bartolomeu”, em 24 de agosto de 1572.
84
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
protestantes do território francês, pondo fim às pretensões dos reformadores.
Eles obtiveram permissão para retornar ao país, em 1787, dois anos antes de
explodir o Terror, na Revolução Francesa.
A Reforma nasceu na Alemanha, em 1517, no dia em que Lutero pregou 95
teses na entrada da igreja de Wittenberg, destinadas a desafiar os interesses
da instituição que produziu a ordem feudal.
Durante o desenrolar da história cristã, igual acontecia nas sociedades pagãs
da antiguidade, as pessoas de fé em Cristo temiam ser e parecer ricas, por
medo de arderem nessa vida e na outra.
Mas tudo mudou quando Lutero inverteu os valores que a sociedade feudal
emprestava à riqueza e à pobreza. Segundo os ensinamentos do clérigo
alemão, Deus, o Pai mais do que justo, recompensa as almas virtuosas com
uma existência de riquezas materiais, da mesma forma que condena os impuros
e os pecadores com a miséria e o sofrimento.
Em um só golpe certeiro, os pobres deixavam de ser os queridinhos do
altíssimo e levavam um belo pé no traseiro maltrapilho.
A nova Boa Nova luterana apareceu exatamente no momento em que a Europa
fervilhava com as expectativas de lucro certo nas terras conquistadas e a
conquistar no Velho e no Novo Mundo.
Às favas com os ideais cristãos de humildade e pobreza, o dinheiro prometia
correr solto, como nunca se vira antes, e nenhum crente parecia se importar em
pegá-lo com as mãos sujas de sangue inocente. Diante do ouro e das riquezas
abundantes, os cordeiros de Deus viravam lobos famintos e endemoniados.
A navegação abriu os mercados mundiais e alterou a configuração dos mapas
geográficos e mentais. As circunstâncias excepecionais que pegavam de
surpresa as Sagradas Escrituras, que nada falavam do novo mundo recémdescoberto, exigiam a formulação urgente de novas explicações sobre a
organização e o funcionamento das coisas no plano universal.
Lutero e Calvino foram espertos e agiram rápido. Viraram o mundo cristão pelo
avesso, simplesmente mudando as regras para a conquista do prêmio máximo
da cristandade: o ingresso nos céus. Da noite para o dia, despejaram os
miseráveis do Paraíso e revenderam o espaço desinfetado aos ricos e aos
hipócritas.
Pela nova fé, batizada de Protestante, o mesmo Pai, que antes amava os
pobres e condenava os ricos ao Inferno, agora queria que seus queridos filhos
fossem pródigos e poderosos como Ele. Os herdeiros aproveitariam da boa vida
cá e, depois, poderiam desfrutar de merecidas férias eternas ao lado do
Criador, no belíssimo Resort Celeste, lugar de gente “escolhida a dedo”.
O Evangelho Protestante foi aceito de chofre por milhões de homens e
mulheres que precisavam justificar a vontade de aparecer e a ânsia
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
incontrolável de acumular bens materiais e capital, perante os juízes da Terra e
do Além.
Na Europa dominada pelo catolicismo, a burguesia encontrou na nova direção
espiritual os argumentos necessários para combater o sistema feudal e o
controle absoluto dos reis. As Sagradas Escrituras reinterpretadas abriam
brechas importantes para que os emergentes penetrassem no restrito círculo do
poder aristocrático, sendo recebidos de igual para igual, com a aprovação de
Deus e de Jesus Reformados.
Quanto a Luiz XIV, ele não vivenciou os terrores da “Noite de São Bartolomeu”
(passada décadas antes de seu nascimento), mas sofreu, na carne, os perigos
da Fronda. Dos dez aos quinze anos de idade, o futuro rei dos Franceses deve
ter rezado todos os dias para que ele e sua mãe, Ana da Áustria, não fossem
assassinados. Com exceção do Cardeal Mazzarino, provável amante da rainharegente, mãe e filho não podiam confiar em ninguém. Os ricos tinham recursos
para comprar a revolta, os pobres ofereciam-na em cada esquina escura e mau
cheirosa. Assim era a França.
Quando assumiu o poder em 1661, aos 22 anos de idade, após a morte do
querido Mazzarino, se quisesse sobreviver, Luiz teria de domar, sozinho, aquele
povo venal, dividido e apaixonado. A tarefa era quase impossível. De estatura
baixa e compleição física insignificante, o jovem começou por investir
maciçamente na construção de uma imagem pessoal de caráter e aparência
divinas. A mensagem era clara: como um deus vivo, ele criaria um novo mundo,
impondo uma nova ordem.
Se tudo desse certo nos planos do monarca visionário, em breve, o mundo, a
humanidade e os deuses se renderiam ao novo classicismo francês. O estilo
Luiz XIV deveria ser símbolo de poder e sofisticação. Um verdadeiro marco na
história das artes e da civilização humana.
Ao jovem e ambicioso rei, portanto, não bastava ser tomado como santo
milagreiro e bom guerreiro humilde, igual aconteceu com os que o antecederam
no cargo, para ter o poder reconhecido pelo aval comprometedor de Roma, dos
nobres e do povo.
Por trabalhar com o imaginário popular, há milhares de anos, a política, a
magia, a religião e o marketing se mesclam e se confundem nas técnicas de
persuasão e de controle social. Nas mãos hábeis do grande feiticeiro real, Luiz
XIV, a invenção do requinte “tipicamente francês” e da etiqueta social
(etiquette) foram utilizados como instrumentos de controle social. A última moda
em magia para mudar humores e valores. Trés chic.
De uma hora para outra, a nação passaria a investir no requinte dos usos e dos
costumes. Vulgares de espírito, os súditos, por fora, pareceriam finos e
educados, embora lembrassem as mundanas que mudam de aparência e
expressão, mas que deixam sérias dúvidas, se, por acaso, por dentro, deixaram
de ser o que sempre foram. Eles ainda aprenderiam um dia, que o verniz novo
precisa envelhecer, geração após geração, para ganhar caráter e respeito.
86
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
No menor tempo possível, o pensamento e o comportamento dos súditos seriam
remodelados com o consumo e a aceitação de novos ritos de corte, novos
símbolos de adoração, novos trajes, novos acessórios, novos adereços
pessoais, novos penteados, novos objetos de decoração, novos talismãs de
força e proteção.
Sem que os súditos-consumidores percebessem, sob a aparência encantadora
do novo conjunto de usos e costumes à moda Luiz XIV, meticulosamente
planejados e confeccionados, escondiam-se mensagens subliminares que
forçavam as mentes dos sujeitos pensantes e agentes a se renderem às ordens
e aos caprichos do rei. Hipnotizados pela nova moda reinante, todos se
entregavam de corpo e alma ao grande xamã coroado.
Querendo provar que era uma entidade poderosa, produtora de prodígios sem
fim, o soberano dos franceses se metamorfoseava todos os dias, na frente de
todos, maravilhando-os com seu dom extraordinário. Ele realizava com
elegância e mostrava-se com orgulho, desde o despertar até o adormecer, para
quem quisesse conferir, fosse cidadão francês ou estrangeiro. Com um toque
mágico, aquilo que era feio e torto virava um deslumbramento digno de
aplausos e ós. Ele possuía a luz e merecia ser seguido onde quer que fosse.
O problema da baixa estatura foi resolvido com saltos altos, inventados e
estreados por sua majestade em pessoa. A cabeça irregular adornou-se com
perucas de cachos lustrosos e penteados altos, que lhe emprestavam um quê
de portentoso. No rosto sem graça, uma fina máscara de cosméticos
redesenhava os contornos e escondia as imperfeições da cútis. Sobre o corpo
miúdo, os trajes reluziam como joias preciosas. Perfumes, peles, rendas, sedas,
veludos, brocados, brilhos e adornos de valor incalculável eram usados com
maestria.
Para servirem de palco aos novos modos e modas, plasmaram palácios de
sonho, com jardins e decoração à altura. O ambiente tinha de ser mais luxuoso
e respeitoso do que em Roma, o qual servia para emoldurar a imagem divina do
Santo Papa.
Luiz XIV contou com a colaboração imprescindível de Jean-Baptiste Colbert,
seu braço direito e principal ministro, quando se pôs a financiar o
desenvolvimento de um sistema de manufaturas e de oficinas dependentes da
coroa, destinadas a produzir artigos de luxo e de alto-luxo a um nível nunca
visto na Europa até então.
Os melhores artistas e artesãos nacionais disponíveis, somados a outros vindos
do estrangeiro: tapeceiros, pintores, marceneiros, ourives, vidraceiros, artífices
do bronze e da prata, estofadores, joalheiros, etc., se reuniram para criar um
conjunto coeso de produtos e de obras-primas que refletiam a grandiosidade do
poder real e exaltavam a figura gloriosa do soberano da França. À vista do
mundo, Luiz XIV se exibia como o Rei-Sol. Ao tempo, com propriedade, cunhou
a frase que o explicava perfeitamente: “O Estado sou Eu”.
87
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
Sentado confortavelmente no centro do sistema nacional francês, o Rei-Sol
organizava e controlava os aspectos produtivos da França, iluminando tudo e
todos, ao mesmo tempo em que ameaçava as forças vivas do continente e do
além-mar. Pelas armas ou pelo comércio dos magníficos produtos franceses,
Luiz influenciava a cultura e os hábitos dos povos em que seu fulgor tocava.
Como um dia arderam Persépolis e Cartago, inimigas fidagais de gregos e
romanos, agora ardiam sob a lei do mais forte, as cidades que se opunham ao
soberano refinado. Em redor das imensas fogueiras gritantes, os guerreiros
bem vestidos cantavam e dançavam, lançando terríveis sombras contra os
espectadores atônitos e apavorados.
No entanto, por mais forte que seja a magia política, um dia ela acaba. O
Estado era Luiz e esse sofreria o desgaste do tempo com ele. Ao término de 54
anos de reinado, o sistema artificial criado pelo mago-rei demonstrava sinais de
envelhecimento. O povo, as terras cultivadas, as modas, os modos, as artes e o
cofre público estavam exauridos com as exigências do governo. A França
expandira em todos os sentidos, inclusive anexando territórios e redesenhando
os limites do reino. Porém, as forças vivas da nação haviam trabalhado no limite
do possível.
Para que o modelo continuasse existindo e progredindo, era necessário que o
próximo feiticeiro real revigorasse o sistema, implementando reformas
profundas que rejuvenescessem as partes do conjunto social e a sistêmica no
geral.
Infelizmente, após a morte do Rei-Sol, o novo rei, Luiz XV, não raiou perante o
povo para continuar com o encantamento fulgurante, em vez disso, preferiu
esconder-se nos braços e no interior das coxas das amantes, sob o enxoval
licencioso do Rococó. O maravilhoso sonho um dia sonhado avançava para o
fim sombrio.
Como Jean-Antoine Watteau, pintor do período, denunciou com grande
perspicácia em seus trabalhos, os rostos estão narcotizados, os olhos não se
encontram, os corpos elegantes perderam a alma, no ar, falta algo mais além
do oxigênio. Nas telas, os ambientes são insustentáveis, reclamam por vida, por
sangue correndo nas veias, por gente de verdade, por revolução. Será que
Watteau previa a vinda do inevitável?
Morto Luiz XV, ergue-se outro mago-rei ainda mais medíocre que o falecido. Em
comparação com Luiz XIV, o novo soberano dos franceses, Luiz XVI, era
infinitamente menos brilhante e menos cuidadoso com a produção das imagens
que deveriam ser impressas no imaginário popular, para sustentar a monarquia
e os agregados desta. Quanto à Maria Antonieta, a prostituta austríaca, como
era conhecida, contribuiu de forma desastrosa à confecção das cenas da corte.
Durante o curto reinado, o jovem casal real conseguiu dissipar o pouco que
restava da aura mágica de poder e respeito que sustinha os soberanos em seus
ambientes. Os figurinos, os usos e os costumes imprimidos pela corte
88
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
esbarravam perigosamente no exagero e no gosto duvidoso que, confrontados
com a força que emanava das modas e dos modos do passado áureo,
transmitiam um ar de deboche.
Enquanto isso, os antigos ritos da corte, pesadamente marcados para controlar
os ânimos ao máximo, perdiam os elementos pedagógicos e corrompiam-se na
importância dada às festas e às novas danças de salão, que juntavam os pares
e os grupos para todos os fins, dos prazeres da cama às conspirações mais
desbragadas.
Ao fim do longo período, que se iniciara com Luiz XIV, a corte de Luiz XVI e de
Maria Antonieta tornara-se uma caricatura risível e obscena do esplendor que
um dia fora reverenciado em todo o mundo.
Manipulados há séculos, desde a fundação do reino, pela encenação mística e
mágica dos diferentes reis, com a fragmentação dos rituais e das imagens
criadas para serem adoradas e respeitadas, as gentes acordavam do transe e
descobriam que os soberanos nunca tinham sido seres divinos capazes de
garantir a fartura, a saúde e a segurança nacional, como faziam crer. O povo se
sentia enganado.
O sagrado virava profano e o profano mundano demais para ser aceito. A
desfaçatez se espalhava e envolvia a todos. “A Vida Privada de Luiz XV” e
“Casos da Condessa Du Barry”, entre dezenas de outros livros, jornais e
panfletos subversivos contavam, com a picardia típica das edições de fofocas
escabrosas, que as cenas domésticas da realeza e da alta nobreza, não eram
diferentes daquilo que se passava no interior dos bordéis, das tavernas e das
alcovas mais infectas.
Os poderosos eram retratados como pessoas de carne-e-osso, ordinárias até a
medula. A corte real, devassa e corrupta, encampando príncipes, duques,
condes, bispos, ministros, cortesãos, cidadãos, aldeões e quem mais dela se
aproximasse, era descrita como sendo uma extensão natural dos vícios e dos
apetites dos soberanos. Por dentro e por fora do palácio real o reino estava
apodrecido.
A fratura da boa imagem francesa, de alto a baixo na escala social, expôs a nu
e a cru, aquilo que todos procuravam esconder com pó de arroz e rouge, atrás
das cortinas de seda brocada, dentro das gavetas dos móveis preciosos,
debaixo das camas cobertas de peles e adamascados, e também no interior das
igrejas, dos prostíbulos, das casas de tijolos e dos casebres de barro e sapé.
Os corpos vestidos de joias, de púrpura, de algodão ou de trapos já não valiam
muita coisa.
Com tudo posto a descoberto, o povo não aguentou a violência do confronto
com a miséria da realidade, um dia feita de sonho e desejo. Diante dos graves
problemas sistêmicos que exigiam soluções imediatas contra a fome, a
bancarrota e o perigo eminente da guerra civil, cada um esqueceu da parcela
de culpa pelas desgraças nacionais e acabou achando que valia mais a pena
89
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
arriscar a própria cabeça e a alheia na construção do Paraíso pós-Luízes, com
os ideais mágicos do Cristo.
Se a Itália desenterrara ossos, obras-primas e os ideais clássicos para criar o
Renascimento e o Barroco, a Revolução Francesa queria reinventar a França
enterrando cabeças.
A magia dos soberanos franceses se voltava contra todos os cidadãosfigurantes do sonho alheio. Era hora de cada um deles pagar pelo fim do
encantamento, muitos, debaixo do fio afiado. Final do último ato, início da
próxima atração histórica.
Nesse caso, de pronto, havia novos produtores de sonhos em ação. Sendo
assim, mais uma vez na História da Humanidade, as massas se moveriam às
cegas, porque alguém lhes prometia o acesso a uma realidade mágica.
Dessa vez, a ilusão não estava sendo vendida ao povo impressionável, como
algo existente ou factível no mundo dos espíritos eternos ou no meio da poeira
do deserto, no céu, no além, no fim do oceano, debaixo da terra, sob o mar,
depois da linha do horizonte ou em um lugar secreto, reservado a poucos
escolhidos. No fim do século XVIII, em pleno apogeu da Era das Luzes, a ficção
era prometida como produto final da Revolução Francesa.
Como é comum a esses movimentos sociais, os organizadores queriam usar e
abusar da massa ignorante, em benefício próprio, sem ter a menor intenção de
realizar os desejos da ralé, como prometiam. Se muitos morressem pelo
caminho sangrento da revolução, tanto melhor, abririam espaço para o
florecimento de gerações obedientes ao comando da nova direção ideológica.
Voltaire era contrário à revolução, achava a gentalha interesseira, traiçoeira e
violenta demais para se confiar. O velho filósofo ladino estava certo. Estima-se
que somente entre 1793-1794 foram julgados, torturados, condenados e
executados mais de 30 mil franceses de todas as classes sociais, tidos como
“inimigos do povo”.
Descobriram, a duras penas, que toda promessa paradisíaca esconde as
sementes do Inferno nas entranhas. Dezenas de castelos, aldeias, palácios,
casas e casebres eram incendiados ao som da turba que gritava: “Mata, mata,
mata!”. Nas cidades agitadas, as ruas viravam matadouros públicos. Nas
cadeias lotadas, assassinos compartilhavam as celas com as futuras vítimas.
Uns acusavam os outros, clamando por um frenesi de sangue e vingança.
Não havia um só canto do reino onde alguém pudesse se esconder em
segurança. Findara o tempo do refinamento aparente. Como bichos que haviam
sido disfarçados, ao rasgar das fantasias, se lançavam à refrega como feras
famintas.
O sonho irresponsável, imprimido nas gentes por Robespierre e os outros
iluministas portadores das “Luzes”, libertou forças primitivas incontroláveis. Até
90
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
mesmo os líderes mais destacados, aqueles que arquitetaram e movimentaram
a revolução, tiveram as cabeças cortadas na guilhotina.
A França quase foi destruída pela guerra civil e pela invasão das potências
estrangeiras, salvou-se no último minuto, pela ação aglutinadora de Napoleão
que, por trás da máscara revolucionária, maquiada com as tintas mentirosas da
igualdade, da fraternidade e da liberdade, sonhou um sonho grandioso e
luxuoso para si, com consequências trágicas para aqueles que, como sempre,
de um jeito ou de outro, perdem-se ao seguir os sonhos alheios.
Em sua empreitada, o pequeno general corso tentou plagiar as mágicas e os
truques de Luiz XIV, porém, o mundo havia mudado e exigia novos
encantamentos. Napoleão, démodé, não se deu conta e o perdeu. Seu sonho
revelou-se um pesadelo trágico, que levou milhões à morte.
As imagens que são fixadas na mente das pessoas por outrem podem conduzilas à infelicidade ou à morte, se os sujeitos pensantes não tiverem controle
sobre as mesmas ou se não souberem proteger o espaço holográfico da
invasão daqueles que tencionam dominar os pensamentos, as emoções, a força
produtiva e, em última instância, suas histórias de vida, em todas as situações,
do começo ao fim.
Há os sonhos, as fantasias, as alucinações, as ilusões, as ficções... Dessas
projeções mentais, quais são factíveis? Quais são simples rascunhos
imagéticos e históricos da mente? Quais são resultado de sérios problemas
mentais individuais e coletivos? Os grandes manipuladores conhecem essas
diferenças sutis com profundidade. Quando querem ludibriar e dominar o Outro,
usam-nas com precisão, cada uma delas, no momento certo.
Os estratos menos racionais da evolução natural prendem os seres inferiores à
roda dos jogos da vida e da morte, pautados pela dor e pelo sofrimento. Mas há
opções de vida mais alvissareiras, em estágios bem mais acima. Os seres
evoluídos escapam dessa terrível sina marcada por problemas de todo tipo, por
se envolverem em jogos sociais e produtivos, com alto nível de racionalidade e
qualidade produtiva.
Todas as espécies terráqueas possuem o potencial de evoluir racionalmente, a
começar pelo bicho-homem, a grande esperança da Mãe-Natureza. A teleologia
humana aponta para a realização plena do indivíduo no tempo e no espaço.
É por meio do crescimento pessoal consciente (certificando-se que os
processos mentais estão a salvo da ação invasiva daqueles que querem
manipulá-los), que o homem assegura a liberdade e a evolução dos talentos
particulares. Quanto à tão desejada felicidade, esta provém da competência
com que o sujeito encontra soluções harmoniosas para si e para cada um dos
seus relacionamentos com as coisas, os seres e as demais pessoas. Para
auxiliá-lo no processo de ascese pessoal, a mente lhe disponibiliza múltiplos
recursos, tais como, o espaço holográfico para visualizar o que quiser, sob
qualquer ângulo físico ou processual, a capacidade de planejar e estrategiar a
execução de projetos e, também, o prodígio de poder sistematizar e solucionar
91
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
os relacionamentos produtivos de modo lúdico e divertido. Diferentemente do
que ensinam as religiões, Deus não existe e, portanto, não comanda o destino
de ninguém. E, se existisse, de fato e de medida, nada poderia fazer, porque se
o fizesse, destruiria a sistêmica universal, construída por uma rede de causas e
consequências racionais precisas.
Se os indivíduos não manipularem pessoalmente seus processos criativos e
produtivos, outros o farão em seu lugar. Para essas dinâmicas funcionarem,
basta a ordem de um sujeito qualquer. É essa sensibilidade extrema que torna o
animal humano vulnerável à ação inescrupulosa dos magos, dos religiosos, dos
políticos e de todos aqueles que tentam seduzir, amedrontar e anular os
sujeitos pensantes e agentes, para usá-las em benefício próprio, como animais
exploráveis.
Há milhares de anos, os manipuladores das massas conhecem as técnicas que
dominam os mecanismos delicados que produzem as histórias e as imagens no
interior da mente humana.
Os ensinamentos secretos (técnicas de manipulação), os frutos mais cobiçados
da árvore do conhecimento, são proibidos aos que devem ser manipulados,
claro. Essas informações privilegiadas destinam-se às personalidades
escolhidas com rigor, que deverão ser fortes, espertas e imorais, para poderem
dominar os ignorantes impressionáveis, sem dó e sem dramas de consciência.
Nas sombras mais veladas, totalmente protegidos dos olhos e dos ouvidos
curiosos, o velho sacerdote ensina ao novo como ludibriar as mentes alheias,
para conquistar as almas e os pertences dos homens descuidados.
O controle dos segredos sagrados é exercido pelos escolhidos dos escolhidos,
amparados por instituições fechadas, contíguas aos poderes que governam as
sociedades planetárias. Dentro e fora do Planeta, o lixo se acumula.
Por mais incrível que possa parecer, o processo de apropriação da mente
alheia é simples e pode alterar imediatamente os pensamentos, as emoções, os
desejos, os movimentos produtivos, os comportamentos sociais e a história de
vida de uma ou mais pessoas.
Para que o sujeito possa desenvolver-se como criador de si mesmo, ele não
pode ser dirigido por líderes que prometem uma solução mágica para todos,
sejam eles, Lênin, Mao Tsé-Tung, Buda, Jesus Cristo, Marx, Roberspierre ou o
flautista de Hamelin que, igual aos outros encantadores, levou milhões ao
abismo com seu som hipnótico.
A história humana atual, frágil e doentia, não comporta mais os messias que
tanto sucesso fizeram no passado nem os movimentos alucinantes que eles
produziram e que geraram tantas mortes e destruições.
Os mais inescrupulosos prometeram entregar o Paraíso Celeste na outra vida,
sem apresentar previamente o produto ao consumidor ainda vivo. Bilhões já
morreram por causa dessa ilusão, criada para ludibriar e expropriar as pessoas
impressionáveis e pouco racionais.
92
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
Mas será que o Paraíso Celeste realmente não existe?
Para se saber a verdade, basta desmembrar a imagem idealizada, seja ela qual
for, em partes menores com começos, meios e finalidades interligadas em rede.
Se todas as secções funcionarem em conjunto, então o modelo proposto é
viável.
Quando o modelo não estiver disponível à análise, como é o caso do Paraíso
Celeste, pode-se conjecturar sobre sua essência, forma e função prováveis,
formulando conjuntos de questões encadeadas, como o questionário que se
segue:
Exatamente, onde está localizado o Paraíso? Qual é sua extensão exata?
O solo é de terra? Se não for de terra, de qual material, cor, textura e
aparência ele é formado?
O Paraíso tem rios? Quantos rios? Qual é a largura e a extensão dos rios
paraisanos? Onde desemboca a água dos rios? No vácuo?
O Paraíso é um planeta? Se for um planeta, ele faz parte de algum sistema
solar ou o Paraíso é uma coisa solta em lugar algum?
O Paraíso possui mar? Quantos mares há no Paraíso? Há oceanos também?
Se os paraisanos forem à praia, que tipo de trajes usarão?
O que fazem as pessoas e os demais seres durante o dia inteiro e pelo resto
de suas “vidas”?
Os paraisanos usam roupas? De que tipo? No Paraíso tem moda, grife,
tendência ou é algo mais simplesinho, mais padrão, feito uniforme comunista
cubano para evitar a vaidade e a ostentação?
Que tecidos são permitidos?
Que tipos de modelos são permitidos? Quem desenha os modelitos?
Quem produz os tecidos e os modelos?
Tem fábricas, lojas, shoppings, centros comerciais?
Os humanos e os demais “seres vivos” produzem lixo ou resíduos? Se
houver lixo, então tem lixeiro e lixão?
Já pensou conseguir ir ao Paraíso para virar lixeiro ou morar perto do lixão?
Quem mora no Paraíso come o quê?
Se eles se alimentam, o que lhes acontece depois da digestão?
Tem papel higiênico ou é como nos tempos bíblicos?
Já que não acontece nada de novo, sobre o que os paraisanos conversam
pela eternidade afora?
Quais assuntos são proibidos?
Sobre o que os paraisanos pensam eternamente?
Os paraisanos se emocionam? Que emoções eles podem sentir? Quais
emoções eles não podem sentir pelo resto de suas “vidas”?
Desejo sexual pode?
Empreendedorismo pode?
Desejo de mudar de “vida” pode?
Pode-se criar, inventar, crescer e prosperar?
No Paraíso tem música? Quem compõe as músicas? Que tipo de músicas
tocam no Paraíso? Que tipo de músicas são proibidas?
Os paraisanos dançam? Onde dançam? Que danças são permitidas? Dançar
coladinho pode?
93
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
O Paraíso possui animais? Quantos e de quais espécies? Tem dinossauro?
Tem pernilongo? Tem urubu, pulga, aranha ou chato? Ué, por quê? Pois não
foi Deus quem fez o coitado do chato e a pobrezinha da pulga?
O Paraíso tem plantas, flores, frutos e brotos? Quantas e quais são as
espécies vegetais paraisanas?
Em relação aos frutos maravilhosos, o que os paraisanos fazem com eles?
Os frutos nascem, crescem e apodrecem ou se parecem com frutos de
plástico, já que no Paraíso nada pode nascer, crescer e morrer, posto que
tudo é eterno e inalterável? Que tipo de “vida” é essa?
E quanto às belíssimas plantas e flores do Paraíso, também são de plástico?
Será que o tal Paraíso é igual a um cenário onde o homem é um objeto de
cena que não tem qualquer função histórica?
No Paraíso o homem é um nada?
Isso é a “outra vida”?
Se isso é a “outra vida”, então é uma “não vida”, de um “não ser”, já que não
há evolução, variedade e movimento natural.
Qual é o tipo de regime político vigente no Paraíso? É democrático,
absolutista, comunista ou o quê?
Quem manda por lá eternamente? Alguém pode questionar as ordens do
governante eterno? Se questionar, o que acontece com o reclamante?
Como é a cultura no Paraíso? Quem controla a produção cultural? Quem
censura? Como censura?
No Paraíso o tempo passa ou é um eterno nada?
O Paraíso tem noite? Tem dia? Se tem noite e dia, então o tempo passa.
Os paraisanos usam relógio? Tem várias marcas ou é modelo padrão?
As criaturas que moram no Paraíso dormem ou ficam eternamente
acordadas feito zumbis? Se dormem, a que horas se levantam
religiosamente, às 3:00? Para fazerem o quê?
Os paraisanos tomam banho? Pelados? Credo, que pecado! Banho juntinhos
pode? Nossa! Isso também não é pecado?
Com essas perguntas básicas e bem-humoradas, como o assunto ridículo
requer, é possível saber se o Paraíso existe e como funciona ou se ele não
existe porque não funciona de jeito nenhum. Se ele realmente existir, deve
funcionar como um sistema em pleno movimento inteligente.
Além do que, e mais importante, para que ele exista de fato e de medida, como
um Paraíso prometido e entregue ao consumidor, é preciso que todos os
clientes tenham eternamente a mesma opinião e gosto. Porque, se apenas um
paraisano discordar e for reclamar ao SACP (Serviço de atendimento ao
consumidor do Paraíso) de que o tal Paraíso não é nenhum “Paraíso”, então o
Jardim das Delícias deixa de ser unanimidade universal para se tornar um local
como outro qualquer, com gente reclamando insatisfeita, cheio de pobres, de
gente ignorante, de santos, de mártires, de profetas mentirosos, de mendigos,
de prostitutas, de bandidos “arrependidos”, de manipuladores e outras
personalidades palpitantes que, segundo Jesus de Nazaré, tem vaga garantida
no Paraíso Celeste do Pai. Paraíso?
Cristo prometeu o Paraíso com três palavras: “humildade, caridade e
obediência”. Mao, Robespierre e Lênin também. Mao encantou a ralé gritando:
94
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
“Comida, Paz e Liberdade”. Lênin usou: “Pão, Paz e Terra”. Os revolucionários
franceses: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Como muitos durante a
história, eles empregaram a velha técnica de vendas apoiada em três
palavrinhas mágicas: nem duas, nem quatro, apenas três. Se o Paraíso Celeste
é uma grande bobagem, então o Paraíso Terrestre também o é?
Não. O Paraíso Terrestre é possível de vir a ser construído racionalmente como
um sistema social de alta performance, desde que as lideranças alucinantes
sejam banidas da face do planeta para todo o sempre. Ontem e hoje, as
sociedades planetárias têm sido usadas para satisfazer os interesses
caprichosos dos detentores do poder religioso e político.
No dia em que os manipuladores inescrupulosos deixarem de destruir a
mentalidade humana para explorar os sujeitos como bestas apascentadas e
produtivas, os indivíduos conseguirão evoluir como pessoas humanas e
passarão a materializar o ambiente humano, o verdadeiro Paraíso Terrestre,
lugar de homens e mulheres racionais, consequentes e responsáveis por seus
destinos e produtos.
Aqui termina o velho conflito filosófico “Fides x Ratio” (Fé contra Razão).
E por falar em fé irracional, fé não humana, existe historinha mais sonsa do que
a lenga-lenga do Paraíso? Existe.
“Um belo dia, há mais de cinco mil anos, uns mil, após a criação ter sido criada,
o Criador procurou Abraão para lhe propor um negócio pra lá de tentador. Se o
velho hebreu lhe entregasse a alma e passasse a adorá-lo sobre todas as
coisas, ele e seus descendentes herdariam o mundo e dominariam os demais
povos. De olho no riquíssimo butim planetário, o patriarca corruptível aceitou as
condições propostas e firmou a aliança com o Todo-Poderoso que atende no
balcão de vendas e de trocas do além. O ambicioso Abraão nem se deu conta
que Satã, o fingidor dos mil disfarces, costuma oferecer o mundo para quem o
adorar de corpo e alma. Assim nasceu o Povo Escolhido. Desde então, de reza
em reza, de ritual em ritual, de conjura em conjura, de prática mágica em
prática mágica, minuto a minuto, hora a hora, semana a semana, mês a mês,
ano a ano, decênio a decênio, século a século, milênio a milênio, essa gente
está à espera do momento em que terão o planeta sob seu comando. Segundo
creem, a qualquer instante deve surgir o Rei-Vingador que lhes trará a vitória
final, enchendo-os de glória e júbilo, sob os corpos dos seus inimigos, em nome
do Pai. Amém.” Repugnante? Execrável? Inumano? Hipócrita? Não, fé.
Será que o Demo passou a perna no ancião ambicioso?
Hum... se for assim, essa historinha infeliz tem tudo para gerar consequências
medonhas, dignas de quem a criou.
E você, leitor, já entregou sua alma? O que lhe ofereceram em troca? Este
mundo? O Paraíso? Este mundo mais as delícias eternas do Paraíso?
Judaísmo, catolicismo, islamismo, protestantismo, budismo, hinduísmo... As
ofertas não param de crescer. Será que você fez um bom negócio? Será que
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 6
avaliou bem as opções que estão à disposição no mercado da compra e da
venda de almas? Há opções incríveis que satisfazem todos os gostos e
necessidades. É praticamente impossível resistir a tantas tentações milagrosas.
E quanto a Abraão, será que o maligno realmente o ludibriou? Os hebreus são
comerciantes notórios. E se a alma barganhada não valesse muita coisa, no
final das contas? Quem teria enganado quem? Então...
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
CAPÍTULO 7
Em termos sistêmicos, a interação inteligente das unidades conduz ao
surgimento de uma entidade conjuntiva, diferente das partes unitárias que a
constituem. A soma das partes, então, produz um novo elemento sistêmico
universal, uma nova energia racional e produtiva que vai interagir com o meio.
Assim inicia a história de tudo que há, do Universo, ao cérebro e à mente
humana.
O cérebro humano, o mais completo do reino animal, possui algo em torno de
86 bilhões de neurônios individualizados, capazes de efetuar aproximadamente
30 mil sinapses (conexões interneuroniais). Foram identificados cerca de 400
tipos diferentes de neurônios, tais como as células piramidais e os neurônios
fusiformes que, ao que tudo indica, são responsáveis pela sociabilidade, a
vocalização, a cognição e a organização de comportamentos alimentares
complexos.
Além dos seres humanos e dos grandes primatas, os neurônios fusiformes
foram localizados nos cetáceos odontocete (com dentes) e nas baleias jubarte,
todos animais sociais de grande inteligência.
As propriedades de excitabilidade, de condução e de medição química são
específicas do processo de comunicação dos neurônios, que se ligam formando
redes estáveis (modelos mentais), responsáveis pelo conjunto de respostas
comportamentais do indivíduo, frente às mais diversas situações.
Os modelos sistêmicos configurados pelos neurônios são plásticos e podem ser
alterados com o aprendizado de informações psicoestruturais que interfiram na
compreensão que o sujeito possui do mundo – como um ambiente sensível à
ação das leis naturais e à cultura humana –; de si – como agente pensante e
atuante –; das coisas do mundo – como elementos passíveis à força do sujeito
e à ação da sinergia que interconecta o que há, formando o Todo.
A mudança na forma de ver e entender a realidade, leva o sistema cognitivo a
criar novas estratégias operacionais, novos comportamentos, novas maneiras
de perceber, de interpretar e de lidar com o meio e, por conseguinte, a uma
nova organização interna e externa.
O encéfalo é supersensível. Se o sujeito absorver informações, imagens,
substâncias e conteúdos destrutivos ou tóxicos, a mente se tornará assistêmica
e perderá a capacidade de entender e de trabalhar com os aspectos racionais
do meio responsivo que contém o indivíduo.
As sistêmicas cerebrais e mentais, ambas pertencentes aos sistemas do
cérebro e da mente, devem ser construídas com cuidado e responsabilidade
97
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
máximas. Cada criança merece ser criada com o mesmo primor com que são
confeccionadas as jóias mais deslumbrantes e valiosas. Quando pronto, o
produto final deve servir para maravilhar e embelezar o mundo, com suas
propriedades únicas. O ser humano é jóia rara e fulgurante. Por essa razão, a
maternidade irresponsável * é crime que os progenitores cometem contra os
descendentes, a sociedade e o Universo.
A estrutura cerebral humana, fruto da evolução do reino animal como um todo,
divide-se em três partes interligadas, o rombencéfalo, o mesencéfalo e o
prosencéfalo.
O rombencéfalo, conhecido por cérebro animal, herança dos répteis, surgiu há
350 milhões de anos. Comanda o comportamento instintivo e os componentes
neurológicos que controlam a sobrevivência física. Com o tempo,
acompanhando a evolução do cérebro, sobre o rombencéfalo, apareceu o
mesencéfalo, responsável pela produção das emoções, que tornaram os
indivíduos mais aptos a reagir aos estímulos dos ambientes.
Por fim, sobre o rombencéfalo e o mesencéfalo, a evolução natural produziu o
prosencéfalo que abriga o córtex cerebral, que recobre o conjunto. O córtex é
conhecido como massa cinzenta. Os neurônios corticais não possuem cobertura
de mielina, razão pela qual adquirem a cor acinzentada característica.
A massa cinzenta produz os pensamentos e é responsável pelos aspectos
superiores da vida psíquica do indivíduo. Nas áreas de projeção do córtex
ocorrem as configurações e os esquemas perceptivos. Da zona projetiva partem
as mensagens que bloqueiam ou reforçam os influxos efetores, que determinam
as respostas motoras, com íntima participação do tálamo e do hipotálamo.
Então, no encéfalo, como um todo sistêmico integrado e inteligente, estão
registrados os comportamentos e as estratégias operacionais de todas as
ordens abaixo do homem.
É esse arquivo, à disposição do córtex cerebral, que leva os animais humanos,
no topo da evolução natural, a entenderem, preverem e suplantarem o
comportamento de qualquer ser vivo que esteja sendo analisado. Os dados
obtidos podem ser acessados de forma inconsciente e misturados às
*
O homem é uma criatura rara e potencialmente destrutiva. Se não for humanizado, pode vir a se transformar no
maior predador da natureza. Sob esse enfoque, a multiplicação indiscriminada de hominidas inconsequentes e
irracionais, pode ser considerada crime contra a Humanidade e os biomas.
O direito de gerar descendentes deve ser reservado aos indivíduos que detêm meios de garantir a humanização de
sua prole. Para tanto, antes de procriar, os candidatos à progenitura precisam provar à sociedade a qual pertencem,
que o casal possui condições sistêmicas precisas: familiares, ambientais, sociais, físicas, mentais, psicológicas,
financeiras, patrimoniais, emocionais e culturais. Nenhum indivíduo deveria ser gerado sem ter seus direitos
evolutivos previamente garantidos. E caso os pais venham a faltar, o sistema de parentesco deve absorver os órgãos,
os quais são e sempre serão parte integrante e indissolúvel desse. Se a família for irresponsável para com seus
produtos, a sociedade também o será para com sua produção.
Nenhuma criança deveria nascer em favelas, cortiços, lares conflituosos ou em meio ambientes avessos à evolução
humana. Nenhuma criança deveria se sentir estranha, não amada, desajustada ou infeliz. Para o bem da
Humanidade, nenhuma criança deveria crescer torta ou desestruturada.
98
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
informações conscientes, formando padrões comportamentais mais flexíveis e
assertivos em relação ao objeto estudado (indivíduo ou grupo).
Há muito, a mente utiliza o expediente de unir o conhecimento pre-fixado (o
instinto) ao conhecimento adquirido nas experiências pessoais do sujeito
pensante e agente, com a intenção de organizar comportamentos mais
eficientes e assertivos. A prática pode ser observada ao longo da História
Humana, dos caçadores que estudavam os hábitos da caça variada, aos
biólogos modernos que pesquisam os vírus mais impenetráveis, à procura de
estratégias para vencê-los. E o homem sempre vence a competição,
conseguindo jogar melhor que o vírus, o parasita e o animal, sem que haja a
revanche consciente por parte dos perdedores não humanos.
Todavia, os jogos de vida e morte praticados entre
possuem soluções efetivas, como comprova o
guerreiros, os povos do Oriente Médio, cujos
enfrentando-se até hoje, como bichos mal-educados,
os animais humanos, não
histórico dos primeiros
descendentes continuam
após milhares de anos.
E o que não deveria ter crescido pelo bem da humanidade, multiplicou-se...
Desde o primeiro sopro de vida, o pequeno homínida consulta o órgão cerebral,
por meio de processos conscientes, inconscientes e endopsíquicos (trata-se de
processos diferenciados, ocorridos na zona inconsciente), à cata de
comportamentos pre-fixados ou novos que o ajudem a sobreviver e progredir no
ambiente que o acolhe.
Se o meio for violento, excêntrico ou desequilibrado, o bebê humano reagirá
organizando comportamentos inadequados, em resposta aos estímulos
recebidos. Se nenhuma medida socioeducativa for aplicada a tempo, o padrão
comportamental assistêmico e destrutivo poderá permanecer inalterado pelo
resto de sua conturbada história de vida.
Por conta da eficiência dos processos mentais que adaptam, estruturam e
sistematizam todas as informações que entram no sistema cognitivo, se o
pequeno animal humano crescer mal-educado, poderá vir a se tornar a criatura
mais perigosa da Natureza, pronta para destruir qualquer ser, coisa ou
ambiente, muitas vezes, por puro prazer.
Parece absurdo propor-se que o magnífico ser humano possa desperdiçar o
potencial ilimitado, comportando-se como vírus, parasita ou predador que mata
por cobiça, loucura ou diversão. No entanto, é exatamente assim que acontece.
Amparados por culturas planetárias que privilegiam a formação de ambientes
irracionais, com imagens distorcidas e dinâmicas sem solução, a quase
totalidade dos eventos históricos foi produzida por homens e mulheres, que se
comportavam e pensavam como vírus ou piores que os animais mais
sanguinários. Quase não há exemplos de humanidade na História do homem no
planeta.
99
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
Para que, finalmente, haja a evolução sociopolítica das comunidades
planetárias, os povos devem deixar de produzir tanto os líderes ilusionistas,
quanto as massas acríticas e ignorantes. Os maiores entraves à evolução social
provêm dos indivíduos inconsequentes, que dão o apoio, o voto, a vela ou o
dízimo, esperando que, em troca, alguém no céu ou na Terra, satisfaça seus
desejos oportunistas.
Em outro evento trágico, a Revolução Russa, os Romanov foram alvejados e
esquartejados com tal selvageria que, em 17 de julho de 1998, depois que os
ossos quebrados da família imperial, por fim, foram encontrados, identificados e
puderam ser enterrados na catedral de São Paulo e São Pedro, Boris Yeltsin,
presidente russo em exercício, fez voto de penitência diante do mundo:
“Durante esses oitenta anos, colocamo-nos mudos a respeito desse crime
horrendo. Aqueles que o perpetraram, assim como aqueles que há décadas
encontram justificativas para esse ato bárbaro, são culpados. Todos nós somos
culpados. Não podemos nos enganar e explicar a mais desenfreada crueldade
humana como necessidade política ou social... Somos todos responsáveis
perante a história do povo russo e da humanidade no geral”...
E por extrema ironia, após o Paraíso Russo ter se mostrado palco de
atrocidades infernais, o povo transformou os Romanov em santos martirizados,
colocando-os em altares maravilhosamente adornados, para que os
assassinados, do além, pudessem atender aos pedidos piedosos daquela gente
tão boa, humilde e fiel.
O “case” chinês foi igualmente trágico. Mao Tse-Tung, querendo avivar a chama
revolucionária assassina, que iria produzir o Paraíso Comunista Chinês,
afirmava que “Todo poder político se origina no cano de uma arma”.
E durante décadas, enquanto construíam o Éden chinês, a história de vida das
pessoas esteve presa às armas, ora à frente do cano certeiro, ora atrás, com o
dedo no gatilho ligeiro.
O processo revolucionário chinês custou dezenas de milhões de vidas, quiçá
centenas. Nunca se saberá ao certo, os detalhes escabrosos da materialização
do Inferno do Paraíso Comunista Chinês.
Por mais que os resultados fossem sinistros e as populações se tornassem
mais miseráveis do que eram sob os antigos regimes, os ideais revolucionários
marcaram profundamente a história e a mentalidade do século XX.
Embalados pelos exemplos gloriosos da Revolução Francesa, da Revolução
Russa e da Revolução Chinesa, cidadãos de vários países se entregaram à
ilusão do processo revolucionário que, segundo prometiam os organizadores do
movimento, ao fim da convulsão social, materializaria, em um passe de mágica,
o Paraíso dos Princípios Cristãos na Terra, em versões caseiras.
Contudo, se os ideais cristãos não deram certo na Idade Média, em mais de mil
anos de tentativas dolorosas, por que dariam certo em outro tempo? Ou será
100
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
que eles deram certo, atingiram seus objetivos e era exatamente isso que os
manipuladores queriam repetir?
Durante o século XX, iludidas pelas promessas mágicas, milhões de pessoas se
tornaram esquisitas no conteúdo e na forma, inaugurando um novo tipo: o
camarada revolucionário que pensa e age como vírus.
Como compete às mentalidades viróticas, acreditavam que unidos venceriam,
desde que fossem muitos e estivessem infiltrados no corpo social,
contaminando-o por inteiro. Porém, a ação inorgânica dessas pessoas foi tão
eficiente, que elas inviabilizaram a sustentação de qualquer tipo de sistema
social, inclusive daqueles que se propunham a construir e manter pela
eternidade afora.
Qual é o nível intelectual do indivíduo que pensa como um vírus? Como ele se
comporta no dia a dia? Como ele contribuiu com a delicada rede de sistemas
integrados (naturais, humanos, artificiais e mistos)? Que histórias de vida ele
está preparado para construir? Em qual mundo ele vive? O que é o mundo para
ele? O que acontece com o organismo social, quando ele consegue se infiltrar
em seus pontos-chave? Esse indivíduo é confiável e emocionalmente sadio? O
religioso age como um vírus perigoso? Por quê? Quem mais age como vírus?
Com os acontecimentos de 1765 e 1783, na colônia inglesa na América, os
norte-americanos, autointitulados como “Filhos da Liberdade” e “Povo Eleito por
Deus, possuidor do destino manifesto na grandeza e na soberania sobre os
demais”, aproveitaram as oportunidades para cometerem matricídio ideológico,
cortando os laços históricos e culturais que os soldavam aos antepassados, às
vistas do mundo apreensivo.
Isso, porque, na prática, a velha, culta e tradicional mãe Inglaterra, havia sido
ferida de morte por seus filhos coloniais, em nome de Deus e da igualdade que
visava o lucro proveniente da completa autonomia política e econômica.
Diante da possibilidade de fortuna fácil na “Nova Canaã”, na América, a
riquíssima terra prometida por Deus aos filhos protestantes, os olhos cobiçosos
dos Orestes norte-americanos se arregalaram, ao mesmo tempo que os bolsos
e as bolsas abriram as bocas famintas de moeda nacional e estrangeira.
Com rapidez impressionante, a alma desgarrada e aventureira, que corria pelas
extensas pradarias, de arma e Bíblia em punho, flagelando os índios em nome
de Deus, vestiu-se de vívido afã nacionalista e entrou no conflito contra a velha
mãe-Inglaterra, para ver quem era mais forte. O imenso butim americano não
seria dividido com ninguém, nem com a metrópole, nem com os pobres coitados
dos nativos emplumados, os “cananeus” do novo mundo. Genocídio? Não, fé.
De uma hora para outra, os valores se inverteram e o mundo, fascinado com as
atitudes “progressistas norte-americanas”, passou a valorizar o novo, o jovem e
a modernidade sem lastro, comprometendo a sustentabilidade dos sistemas
nucleares, as famílias, que se fundavam na preponderância tradicional dos
progenitores, mais velhos e experientes, sobre os filhos jovens e inexperientes.
101
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
A partir de então, por todos os continentes, de geração em geração, a
instituição familiar, com seus vínculos de raiz, seus compromissos ancestrais e
objetivos de crescimento histórico e cultural em comum, foi perdendo
importância, ao passo que os lares viravam campo de batalha das diferentes
gerações antagonizadas.
Todo relacionamento humano necessita de ajustes para propiciar a evolução
das partes envolvidas, seja no vínculo estabelecido entre patrão-empregado,
pai-filho, marido-mulher, irmão-irmão, noivo-noiva, namorado-namorada,
professor-aluno, sócio-sócio, cidadão-governante, empresa-consumidor ou
outro qualquer. Se houver desconfiança e desrespeito, a relação adoece e
morre.
Via de regra, desde então, findava o respeito sincero, a segurança familiar, a
integridade dos papéis sociais, a indestrutibilidade dos laços tradicionais, a
compreensão conjugada e a admiração verdadeira de uns pelos outros.
Falidos, os casamentos que se mantinham por conveniência, usavam e
abusavam da dissimulação calculista e da afronta cínica, tão bem
representadas na cultura, na postura e na história norte-americana.
A magia ianque demonstrou ser tão poderosa e persuasiva que, durante o
século XX, a psicanálise (o pior mal desse século de tantos males), chegou ao
absurdo de pregar que os jovens devem se rebelar contra os pais, velhos e
ultrapassados, para desenvolverem cultura e identidade diferente (oposta e não
complementar). Um verdadeiro terror que continua no século XXI.
Segundo as teorias psicanalíticas, em voga, os pais tendem a oprimir e castrar
seus rebentos, enquanto esses precisam de liberdade e igualdade
incondicionais para crescerem fortes, firmes e independentes. No particular,
recomenda-se que cada um repita o exemplo norte-americano, para ser alguém
e vencer na vida. Essa é a fórmula mágica do sucesso!
Mas esse sucesso não vai se materializar jamais pois, ao se tentar cortar os
indissolúveis vínculos históricos e processuais com os ascendentes e os
antepassados, o jovem compromete sua significação histórica pessoal.
Cada descendente é resultado de um momento histórico e sistêmico único na
vida do casal progenitor. Mais do que a simples invasão oportunista do
espermatozoide, a fecundação do óvulo envolve fatores genéticos, psicológicos,
ambientais, geracionais, sociais, econômicos e históricos do pai e da mãe. A
sinergia do casal produz um ser único no Universo. Cada ser humano é um
universo completamente diferente do Outro. Dentro desse conjunto de fatores
sistêmicos determinantes e interligados em múltiplas esferas, o filho concebido
representa a tentativa da Natureza para solucionar a soma dessas variantes,
produzindo um indivíduo apto (tendo em vista o momento da concepção) para
garantir a sobrevivência e a multiplicação futura dos genes do sistema produtor
original – os pais.
102
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
O organismo gerado, o filho biológico e espiritual do casal em questão, é o
elemento sistêmico potencialmente solucionador para o sistema que o gerou e
para o meio que o contém. Então, para se entender sua gênese, função e
forma, deve-se analisar detalhadamente todos os componentes envolvidos em
sua geração, dentro do contexto individual, familiar e coletivo, único e diferente
dos demais indivíduos * .
Quando exposta às teorias e às práticas psicanalíticas inconsequentes, a mente
revolta-se contra tal barbárie biológica e intelectual, desestruturando o interior e
o exterior do sujeito pensante e agente o quanto pode. Afinal, ela, a mente, não
foi orientada a cortar laços vitais indissolúveis?
A partir desse comando grosseiro, a mente passa a construir histórias de vida
potencialmente destrutivas e sem solução. Por esse motivo, cada vez mais, as
sociedades modernas, psicanalisadas, veem-se ameaçadas por jovens e
adultos revoltados, desequilibrados, sem rumo e americanizados no pior sentido
do termo.
Quanto aos Orestes norte-americanos da época da Independência, mal sabiam
eles que as Fúrias perseguiriam seus descendentes e os descendentes desses,
atormentando suas mentes com cenas de julgamentos na vida real e nas
películas de Hollywood.
A culpa interior será redimida, quando finalmente chegar o dia em que o “Novo
Povo de Deus” for julgado pela História, no centro do antigo Areópago da
consciência da raça humana, por todos os crimes morais, éticos, políticos,
econômicos, militares, ecológicos, culturais, históricos, pessoais e étnicos por
ele cometido contra a Humanidade e a Natureza.
Abraham Lincon, um amante do teatro e da arte de enganar o espectador,
deveria estar pensando em seu povo ou em suas intenções hipócritas quando
proferiu a seguinte frase: “É possível enganar muitos por pouco tempo e poucos
por muito tempo, mas é impossível enganar a todos o tempo todo.”
No nascimento lendário da nação, junto da
Independência Americana, com fortes acentos
mito do Paraíso Prometido Americano, terra
fraterna, onde a riqueza jorrava em fontes
pavimentadas com barras de ouro puro, para os
elaboração da Declaração da
místicos e mágicos, criou-se o
da oportunidade igualitária e
borbulhantes e as ruas eram
imigrantes passearem.
Como convinha à pretensão histórica do jovem “Povo Escolhido por Deus”, o
conteúdo da Declaração encanta e impressiona do começo ao fim:
“Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário
a um povo dissolver os laços políticos que os ligavam a outro, e
assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que
*
A adoção de órfãos é uma prática que requer cuidados extremos. Não há garantias sobre o que pode ocorrer
quando a família adotiva insere em seus processos um elemento sistêmico pertencente a um sistema nuclear
diferente. A adaptação sistêmica pode não ocorrer jamais. E mesmo que ocorra, ela jamais será completa. O órfão,
inconscientemente, sempre se sentirá fora do seu sistema.
103
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
lhes dão direito as leis naturais e as leis do Deus da Natureza... Nós,
por conseguinte, representantes dos Estados Unidos da América,
reunidos em congresso geral, apelando para o Juiz Supremo do
mundo pela retidão das nossas intenções... E em apoio desta
declaração, pleno de firme confiança na proteção da divina
Providência, empenhamos mutuamente nossas vidas, nossas fortunas
e nossa sagrada honra.”
Bem, no todo, a Declaração falava em liberdade, igualdade e retidão das nobres
intenções. Na prática, por baixo dos panos, os declarantes pensavam e agiam
diferente. Sim, o país nascia forte, porém, cheio de artimanhas e dubiedades
para mascarar sabe-se lá o que.
Thomas Jefferson passou à História, como o coautor mais brilhante da
Declaração da Independência Americana. No fundo, não era diferente dos
infames que tratavam os negros e os miseráveis como peças sem alma, simples
carnes vivas, úteis para todos os fins.
Na propriedade do ilustre personagem nacional, os negros, rotos aos milhares,
eram usados no trabalho extenuante da lavoura; às dezenas e melhor vestidos,
podiam ser encontrados servindo nos cômodos da casa principal; nus e
escolhidos a dedo, de frente e de bruços, sob lençóis de linho branco ou no
chão cru, eram vistos abertos para saciar a luxúria do grande senhor branco.
O mais incensado representante da Declaração da Independência Americana,
que jurou perante Deus e os homens, ser portador da mais alta moral humana,
nunca teve caráter e vergonha suficiente para alforriar os escravos,
aproximadamente cinco mil negros, que lhe garantiam a fortuna e o tempo livre
para exibir-se ao mundo, sobre os red carpets, como símbolo da nação
emergente.
Já naquela época, a verdadeira intenção da alma americana era evidente para
quem sabia ler nas entrelinhas, os fins – os lucros – justificam os meios – a
exploração dos mais fracos. Yes, “In God we trust” * .
Durante o século XX, os norte-americanos criaram a mais impressionante
indústria bélica do mundo. Armados até os dentes, derrubaram governos,
assassinaram pessoas e populações, invadiram territórios, alimentaram revoltas
internacionais, tudo para abrirem mercados aos produtos “made in USA” e para
garantirem o acesso privilegiado às fontes de matérias-primas planetárias. O
sucesso do comércio com o exterior foi conseguido à bala, ou sob ameaças,
para a graça do “Povo Escolhido”, de arma e Bíblia em punho.
Os americanos creem que Deus lhes reservou um destino especial: dominar o
mundo pelo bem da humanidade. Eles são os salvadores, os super-heróis, the
world cop, os guardiões do Universo, os representantes do Salvador, Nosso
Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor?
*
Essa frase está escrita nas notas de dólar.
104
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
Sean Purdy e coautores explanam sobre o modo de pensar e agir do povo
norte-americano no excelente livro História dos Estados Unidos. Alguns trechos
dessa obra:
“... essa missão divina levou protestantes evangélicos a promoverem
um imperialismo baseado na ‘retidão moral’, isto é, que os norteamericanos liderariam, não só pelo exemplo remoto, mas também
pela presença física entre raças ainda não redimidas do pecado... o
mundo estaria sendo beneficiado com a expansão, bem como a
guerra manteria virtudes morais e os espíritos disciplinados... o
adágio de Roosevelt: ‘Fale macio e use o porrete’, que simbolizava
uma política de ‘paz pronta para a guerra’... Comentou Charles E.
Wilson, presidente da General Motors (acerca dos lucros obtidos com
as guerras), que o melhor cenário seria uma ‘economia permanente
de guerra’... os lucros das corporações cresceram de US$ 6,4 bilhões,
em 1940, para US$ 10,8 bilhões em 1944... Os Estados Unidos
saíram da guerra (Segunda Guerra Mundial) como líder militar e
econômico do mundo. A economia do país passou a ser controlada
mais do que nunca pelas grandes corporações.”
Sob o pretexto de ser defensora máter da paz mundial, da vida e da
democracia, a iluminada nação americana construiu o maior e mais letal parque
industrial bélico do planeta. Em fábricas-modelo, milhares de pais e mães de
família produzem armas que matam seus filhos e os filhos de milhões de
pessoas pelo mundo afora.
Em posse da produção fenomenal, os norte-americanos dominam o comércio
internacional de armas. Faturam bilhões de dólares todos os anos, colocandose na liderança da exploração do rentável negócio com a guerra e com os tipos
diferentes de conflitos armados existentes, que vão do simples assalto à mão
armada às guerrilhas mais sofisticadas. Quanto ao mercado interno
estadunidense, a constituição garante o lucro. O cidadão tem o direito, senão o
dever, de portar e usar armas.
No imenso país armado e amado por Deus, o envolvimento com as dinâmicas
de dominação bruta começa na infância. Cedo, colocam nas mãos dos petizes
em formação, aquelas gracinhas endiabradas, jogos de guerra, armas e
munições de brinquedo, miniaturas de armamentos pesados, réplicas de
instrumentos de coerção e tortura, cópias de material de combate, também há
os desenhos animados e os videogames que banalizam a violência e o
sofrimento alheio. Para os pequenos, perseguir, matar, destruir e infringir
sofrimento é diversão inocente, brincadeira de criança.
A tendência beligerante dos “Filhos da Liberdade” é agravada pela cultura
nacional que se esforça em criar heróis arquetípicos que sejam bons de briga e
de tiro ao alvo. Ao travar contato com a parte expressiva das lendas, da
literatura, das artes plásticas e, sobretudo, do cinema, o público consumidor vêse induzido a glorificar a atitude de personagens que afrontam, perseguem,
atiram e explodem carros, casas e gente. Tais artigos culturais são verdadeiras
odes ao assassinato a sangue-frio.
105
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 7
Parafraseando Rousseau: “Os homens nascem destinados a se tornarem
deuses, as culturas os desvia do caminho natural e os animaliza”.
Energizado pela retórica alienante das Sagradas Escrituras, “O Novo Povo
Escolhido” ainda fará muito pelo mundo, como quer o Criador, The Big One, The
Big Boss, The Big Stick, que os protege e os guia pelos caminhos abertos nos
continentes.
Isto são os Estados Unidos. “This is The End”.
106
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
CAPÍTULO 8
Com a queda do Império Romano, a Europa entrou na Baixa Idade Média,
assistindo ao desaparecimento extraordinário das cidades, as urbes, orgulho
dos romanos. As poucas que sobraram, entraram em franca decadência,
acompanhando a diminuição da população em geral. As estradas e o comércio
que as alimentavam e as enchiam de vida e movimento, sumiram junto. Foramse também os avanços culturais, sociais, artísticos e científicos, alcançados
pela civilização clássica. Desaparecia uma realidade, surgia outra. Os cidadãos
romanos, outrora alfabetizados, cultos, civilizados e pensantes, em um passe
de mágica cristã, transformaram-se em animais produtivos, humildes, caridosos
e obedientes ao Deus Pai.
Em todas as partes, para se defenderem dos bárbaros que assolavam os
agrupamentos indefesos, as grandes propriedades rurais se organizavam em
feudos fechados para o mundo. O conhecimento, como acontecia na
antiguidade pré-clássica, passou a ser reservado aos detentores do poder.
Apenas os sacerdotes e os nobres mais importantes sabiam ler e escrever. A
chama que conduzia as massas estava nas mãos dos novos guias espirituais.
Os caminhos trilhados pela população ignorante seriam os mais negros,
medonhos e apavorantes da história europeia.
Os vendedores desonestos costumam assustar e coagir os consumidores e os
futuros consumidores, provocando-lhes o medo e a apreensão, para facilitar a
venda de produtos e serviços que não apresentam garantias e valores
agregados à mostra.
Os primeiros criadores dessa prática escusa, provavelmente, foram os xamãs
pré-históricos que sobreviviam às custas da comercialização de artigos com
características intangíveis e sem comprovação.
Mas, em nenhuma outra época, os consumidores foram tão enganados e
explorados como os indivíduos da Idade das Trevas, que caíram na rede da
Igreja Católica. Para facilitar a venda de produtos e serviços cristãos, o mundo
encheu-se de sombras famintas, demônios, pragas, pavores e ameaças sem fim
nem cabimento.
Na Alta Idade Média, as cidades, as estradas e o comércio retornaram trazendo
esperança de vida para a humanidade, que começava a desconfiar do caráter e
das intenções da Santa Igreja, sem, contudo, questionar ou desconfiar de
Jesus.
107
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
Os séculos XIII e XIV foram decisivos para o futuro da Itália e do restante do
continente europeu. Enquanto os primeiros gênios do Renascimento e do
Humanismo nascentes procuravam afugentar a ignorância reinante há mais de
mil anos, a massa acrítica italiana, seduzida pelas diretrizes insanas de São
Francisco de Assis, ameaçava enterrar a Europa em uma nova Idade das
Trevas, ainda mais desastrosa que a original. O culpado era um lunático
santificado que prometia o reino dos céus àqueles que seguissem seu exemplo
de renúncia total à matéria.
Como é de praxe, a Natureza gerou um homem apto a produzir maravilhas para
a Humanidade e o Todo: Francisco de Assis (nascido Giovanni Battista di Pietro
Bernardone). Porém, para azar do Universo, este infeliz optou por contrariar os
desígnios da Mãe-Natureza e passou a infectar os sistemas planetários com
sua produção irracional e irresponsável.
O célebre Giotto, pintor que deu início à tradição pictórica do Renascimento,
ridicularizou a fé franciscana em comentários divertidos, tais como: “Quando as
posses escasseiam, parece que o bom senso também escasseia”. E,
“Raramente há extremos sem vícios”. Com típico bom humor latino, jocoso e
atrevido, o mestre chamava o santo de louco e seus seguidores de idiotas.
Os gregos foram os primeiros a ensinar que na vida e na arte, menos é mais,
porém nesse caso, estamos falando de refinamento, não de pobreza. Todo e
qualquer artigo grego deveria expressar uma elegância ímpar. Nas cenas que
pintou de São Francisco de Assis, pagas a peso de ouro pela santa e rica
Igreja, o grande pintor se superou, ao produzir ambientes e personagens
despojados de ornamentos supérfluos, mas requintados no conceito estético e
na construção formal. Exatamente o oposto do que pregava o santo adorador da
pobreza humana. Com beleza, perspicácia e refinamento artístico, Giotto
combatia a alienação e a mediocridade.
A partir do ano 1700, os sistemas feudal e absolutista declinavam e cediam
lugar ao sistema capitalista, em bases preferencialmente democráticas. A
substituição levava à reconfiguração da sistêmica do modelo constitucional dos
países que adotavam o capitalismo e, consequentemente, da ação dos
cidadãos sem eliminar a dependência mística das massas.
A preocupação coletiva de líderes e de liderados, de mudar as aparências e as
normas sociais, sem alterar os jogos mágicos que subordinam a mentalidade
das pessoas à manipulação fantasiosa, também servia aos propósitos da alta
burguesia, desejosa de participar do poder político, dividindo os mesmos
truques imagéticos que mantinham as massas cativas e obedientes, há milhares
de anos, como ensina a Bíblia, para aqueles que sabem ler nas entrelinhas. No
caso, os manipuladores.
O poder político, a religião e o capitalismo (baseado no empreendedorismo e no
trabalho assalariado) esqueciam as antigas diferenças irreconciliáveis, a fim de
unir as forças coercivas em nome do lucro e do poderoso Deus-Capital. Muitos
dos antigos baluartes do antigo regime se reciclavam em prósperos homens de
negócios, defensores do liberalismo e dos direitos civis.
108
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
Na maioria das vezes, os organizadores dos movimentos sociais pela igualdade
e pelos direitos democráticos dos cidadãos, agiam mancomunados com os
capitães das indústrias nacionais e internacionais que tencionavam azeitar a
máquina capitalista, tendo à disposição mais trabalhadores e consumidores
manipuláveis.
Pelas contas ordinárias, quanto mais salários injustos fossem pagos aos braços
multiplicados, mais os lucros retornariam aumentados aos cofres das empresas,
com a venda dos produtos milagrosos, que os próprios explorados fabricavam e
consumiam, enchendo o mundo de lixo.
Igual aconteceu na antiguidade, em que a gentalha suava e rezava para
sobreviver; nos Novos Tempos, mais uma vez, as pessoas seriam escravas do
sistema e não perceberiam.
Insensíveis às consequências, os adoradores do Deus-Capital punham em
marcha a construção de um espaço sem fronteiras, destinado ao livre-comércio
e ao acúmulo de bens móveis e imóveis. Um lugar mágico e sobrenatural, de
todas as bandeiras e idiomas, aberto aos consumidores do mundo inteiro, que,
livres, com direitos iguais de consumo e irmanados na aquisição dos produtos
comercializados, entrariam e participariam das delícias do Paraíso do Consumo,
quer fosse em Nova York, Roma, São Paulo, Paris, Tóquio, Sydney, Buenos
Aires, Toronto, Londres, sendo jovens, belos, desejados e felizes para todo o
sempre.
A materialização desse novo engodo paradisíaco começou com uma revolução,
como já era moda, que jogava ao rés do chão os requisitos da busca pelo
requinte da forma, da essência e do conteúdo (taxados de elitistas), com a
finalidade de facilitar o consumo indiscriminado de artigos produzidos em larga
escala e de caráter duvidoso.
Com a propaganda, o marketing e a mídia a postos no trabalho de
encantamento do público-alvo, foi fácil convencer as pessoas de que os
produtos industrializados em larga escala eram melhores do que os
manufaturados em pequena escala e com alto valor agregado. Além do que,
acostumados a acreditar em passes de mágica e promessas fantasiosas de
“grandes vantagens” em troca de “pequenos esforços” (o velho custo-benefício),
os consumidores preferiam ser preenchidos de esperanças baratas, a serem
obrigados a encarar o vazio de si mesmos e de suas histórias de vida, pobres
de significado e direção.
E, como continuavam precisando dos outros para lhes dizerem quem eram,
como deveriam pensar, em que deveriam acreditar, para onde deveriam ir e
como deveriam se vestir e viver, os púlpitos balcões de vendas foram divididos
com os magos das vendas que apontavam para os produtos que iriam
solucionar todos os problemas ... em um passe de mágica ... $$$ ...
“Processo é uma série de atividades que pegam alguma coisa e acrescentam
valor, para fazer alguma coisa nova, que, então, é passada para o cliente”,
109
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
como ensinou Ian Brooks, em seu livro Seu cliente pode pagar mais. Porém, se
a coisa fabricada não possui valor agregado suficiente para valer algo, sobra ao
mau fabricante o recurso de ludibriar o consumidor, atribuindo resultados
mágicos ao artigo que está sendo apresentado à venda.
Para facilitar o ingresso do maior número de interessados no Paraíso do
Consumo, os produtos miraculosos, dispostos em prateleiras, gôndolas, vitrines,
displays, araras, poderiam ser adquiridos à vista ou a prazo, ao gosto do
freguês. Os clientes mais ocupados não ficariam na mão, seria possível atendêlos pelo sistema delivery, a qualquer hora e onde estivessem. Os menos
exigentes também não seriam esquecidos, efetivariam suas compras por
catálogos ou prestigiariam os serviços de contrabandistas, traficantes, camelôs
e ladrões. “Satisfação garantida ou o dinheiro de volta”.
A fim de criar um certo frisson consumista, as palavras, “novo”, “revolucionário”,
“mágico”, “solução definitiva”, “instantâneo”, “imperdível”, “garantido” e
“compre”, estariam impressas em cartazes, panfletos, anúncios promocionais e
nas embalagens dos produtos.
Reis, santos e loucos projetaram Paraísos no Céu e na Terra. O Novo Jardim
das Delícias – o Paraíso do Consumo – começou a ser montado por um tipo
diferente de gente, os burgueses capitalistas, que para atingirem os fins
desejados, enganaram os consumidores agregando poderes sobrenaturais aos
produtos comercializados. Pouco a pouco, os produtos deixavam de ser o que
eram de verdade para serem aquilo que se pensava que eles fossem, sem sêlos de fato e de medida.
A ação imoral e antiética ultrapassou os séculos, sem que ninguém agisse
contra, virando prática comum, inerente ao comércio de todas as nações. Os
atributos mágicos são prometidos de forma implícita ou explícita. Entretanto,
nada do que está sendo anunciado, pode ser entregue, como por exemplo, a
“satisfação garantida”, “o amor correspondido”, “a sedução do ser amado”, “a
conquista da riqueza”, “o sucesso pessoal”, “a plenitude individual”, “a saúde
perfeita”, “a alegria”, “a luz”, “a aceitação pessoal”, “a realização profissional”,
“a beleza”, “a juventude eterna” e “a felicidade plena”, entre outras mentiras.
Os anúncios de divulgação publicitária de produtos e serviços comercializados
são fabricados para darem a impressão que os artigos e os modelos humanos
que os recomendam, participam de um plano de existência ideal, mágico e
sobrenatural, muito acima da realidade imperfeita e temporal de qualquer
pessoa normal.
Ataviados como ícones maravilhosos, sedutores e acessíveis aos mortais, os
itens de consumo que estão sendo exibidos, transformam-se em objetos de
desejo à mente atenta e impressionável, que passa a querer possuí-los para
satisfazer a curiosidade minuciosa dos cinco sentidos.
Para a mente faminta de informações sensoriais e sedenta em desfrutar mais
prazer em suas relações com o mundo e com as coisas do mundo, a não
aquisição da mercadoria anunciada equivale à negação do indivíduo, que se vê
110
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
afastado dos prazeres do Paraíso do Consumo e dos deuses-modelos que nele
habitam, em clima de festa permanente.
A técnica de venda e revenda mais utilizada por sacerdotes, políticos e
marketeiros consiste em duas fases elementares.
Em primeiro lugar, deve-se desequilibrar os consumidores em potencial,
fazendo com que se sintam descontentes consigo e com suas realidades de
vida, por melhores que elas sejam ou possam vir a ser. Para o truque
manipulatório funcionar, é importante que os consumidores se percebam
incompletos e inseguros, como se lhes faltasse algo para garantir a
sobrevivência e a realização particular. Se for possível assustá-los ou ameaçálos, melhor ainda.
Em seguida, após deixá-los desequilibrados, ansiosos e deslocados, deve-se
persuadir os consumidores com promessas miraculosas, de que a solução para
suas necessidades vitais serão completamente satisfeitas com a aquisição
imediata do produto ou do serviço que está sendo apresentado.
Em resumo, o que está à venda, por ser anunciado sob um ponto de vista
mágico e encantador, aparenta ser melhor, mais belo, mais emocionante, mais
promissor, mais perfeito e, portanto, mais desejável do que qualquer coisa que
o consumidor possua de fato e de medida.
Assim, em vez de visar a felicidade e o bem-estar físico e psicológico das
pessoas, como pregam os anúncios e os anunciantes – do Santo Papa ao
propagandista – são dispensados esforços e recursos monumentais para que os
consumidores estejam sempre insatisfeitos, inseguros e prontos para
consumirem compulsivamente, a fim de tentarem suprimir em vão, sua
pequenez interior doentia.
Como Bernard Rosenberg disse em seu livro Cultura de Massa:
“Na medida em que nos tornamos objetos de manipulação (coisas), a
nossa ansiedade é explorável ... a masa cresce, somos mais
semelhantes do que nunca e é mais profunda a sensação de termos
caído numa armadilha e de estarmos sós e abandonados ... nada nos
satisfaz realmente, porque nada do que anunciam é verdadeiro, real.
Estamos doentes da alma, pois somos enganados, traídos em nossa
boa fé e ingenuidade ... diante dos interesses dos inescrupulosos,
nenhuma forma de arte, nenhum corpo de conhecimento, nenhum
sistema de ética e valores é tão forte, que consiga resistir à
vulgarização e à fraude.”
Cansados das pressões cotidianas e das incertezas com o futuro, nossos
antepassados sentiam-se atraídos pela chance de ingressar em um
ambiente idílico, nessa existência ou em outra, em que a satisfação de
seus desejos e necessidades estivesse eternamente garantida.
111
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
Conforme alguns povos antigos construíam a ideia do Paraíso Celeste,
segundo as expectativas mais otimistas, surgia uma utopia maravilhosa.
Nessa estância sublime não havia mortes, perdas, sofrimentos e
catástrofes de nenhuma espécie. Os usos, os costumes, as condições de
vida e os vínculos pessoais se mantinham intactos, em perfeita ordem,
para todo o sempre.
Em igual medida, nos Paraísos terrestres das cidades antigas, via de
regra, os governantes procuravam imprimir esta mesma permanência
formal e funcional, imobilizando o avanço das artes, das relações sociais,
dos ofícios e da forma de viver.
As inovações, quando aconteciam, somente eram aceitas se viessem por
intermédio dos deuses, que traziam as novidades do seu habitat prodigioso
para introduzi-las no terreno dos mortais. Segundo os antigos, por trás de
cada produto humano havia um deus criador e protetor do produto em
questão, do arado à porta.
Com o caos ameaçando a frágil ordem universal, o único jeito que os
homens tinham de se proteger contra a destruição era viver na rotina, sem
criar nada de novo ou de diferente. Causas iguais gerariam consequências
iguais. Para aqueles corações sempre intranquilos, a repetição dos
mesmos atos, dos mesmos usos e costumes era uma promessa de bem
viver. Ou, pelo menos, uma esperança de se acordar vivo no dia seguinte.
O que já era uma grande conquista.
Com exceção da Grécia e de Roma, que souberam ousar e inovar,
procurando manter o aspecto positivo das tradições, a maioria das
sociedades antigas enferrujaram no ramerrão. Nesses casos, a tradição
existia na vitória do hábito pelo hábito, sem razão de ser.
Por mais de mil anos, o movimento cristão se pautou pela destruição
sistemática dos valores e das tradições pagãs. No mundo, apenas Cristo e
sua Verdade deveriam sobreviver. O Renascimento procurou trazer um
freio a essa prática de rapina. Mas era tarde demais. Os homens já haviam
se acostumado a participar dos movimentos de contra cultura com muita
paixão e poucos critérios de avaliação.
A partir do século XIII, alguns produtores culturais audaciosos, pintores,
escultores, literatos e pensadores começaram a produzir pequenas fissuras
no monólito da cultura cristã. Embora tímido e dissimulado no início, dada
a ameaça imposta pela vigilância católica (incluindo os horrores infernais
que foram praticados pela Santa Inquisição em 500 anos de atuação
assassina), o processo era irreversível e deveria crescer com o tempo,
gerando
discussões
e
batalhas
que
acabariam
por
vitimar
indiscriminadamente as tradições positivas e as irracionais da cultura
humana, englobando as cristãs, as clássicas e as demais.
O segmento da contratradição encorpou com os fatos que ocorreram
durante a Revolução Industrial Inglesa, a Independência Americana e a
112
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
Revolução Francesa, nos séculos XVII e XVIII. Com os valores tradicionais
em queda, as relações de longa duração viram-se desprestigiadas em
favor das ligações de curta duração, atendendo às exigências da sistêmica
capitalista, que se alimenta do escambo ininterrupto de coisas, seres e
mercadorias.
A fragilização dos laços humanos com o mundo e com as coisas do mundo,
desde então, tem comprometido o desenvolvimento afetivo das pessoas. A
elaboração sucessiva de novas técnicas e tendências de mercado, aliadas
à alta rotatividade de produtos e serviços, são componentes fundamentais
ao bom funcionamento da sistêmica capitalista, no que se refere à
produção, à renovação dos estoques e à agilidade das vendas.
À medida que a inteligência da sistêmica capitalista se impunha no cenário
mundial, organizando modelos sociais que competem na produção e no
consumo
máximos,
pelo
menor
tempo
e
custo
possíveis,
concomitantemente, mais e mais esses valores foram sendo utilizados
como ingredientes das relações pessoais modernas.
Se a inteligência do sistema agrícola provocou resultados humanos
discutíveis, porque nasceu e cresceu no interior de sociedades pouco
humanizadas, o sistema capitalista padece do mesmo mal.
Antes, o Paraíso do além prometia a eternidade e, quando muito, uma
certa periodicidade cíclica, produzida por meio de reencarnações mal
explicadas. Nos Novos Tempos, o Paraíso do Consumo prometia se
reinventar e se reciclar a cada nova estação, fazendo com que os
consumidores se sentissem excitados com as oportunidades anunciadas.
A partir do instante em que a cultura humana degradou ainda mais o foco
evolutivo e passou a absorver e refletir aspectos que dizem respeito
unicamente ao fulcro do comércio capitalista, o animal com cultura, que
depende de estruturas socioculturais ricas e elevadas para se desenvolver
no interior e no exterior, foi lentamente se tornando produto com preço e
prazo de validade estreitos. Em um passe de mágica, os indivíduos
passaram a valer pouco, quase nada. De novo?
Contudo, como esses efeitos colaterais mágicos são guardados em
segredo, a sete chaves, a cada nova estação, uma infinidade de novos
produtos são lançados fazendo com que os consumidores sonhem,
desejem ardorosamente e se lancem à caça dos prêmios da última moda e
dos amuletos de grife, que fazem qualquer primitivo se sentir o máximo.
E, então, novamente e novamente, os deuses-modelos, volúveis e de mil
caras, continuariam dando o exemplo, ao mudar de penteado, de
máscaras, de roupas, de jóias, de utensílios divinos, de postura e de
expressão, levando as massas ignorantes e impressionáveis ao delírio com
as novas promessas falsas de felicidade plena, prazer garantido, sucesso
pessoal e realização eterna.
113
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
As pilastras da Modernidade se apoiam em nome de três palavras mágicas
cristãs: Liberté, Egalité e Fraternité, mas que poderiam ser facilmente
traduzidas, em qualquer língua, para: mercado aberto, consumo
indiscriminado e lucro financeiro garantido.
Como já se sabe, todo Paraíso prometido esconde as sementes do Inferno.
Nesse Admirável Mundo Novo produzido a cada temporada, todos estão
destinados a ficar presos nas trevas, sendo mastigados pelas figuras
negras.
Diferente de algumas épocas do passado, que estampavam demônios e
horrores nos templos, para assustar e explorar a gentalha imbecilizada,
agora o mal passa a habitar na mente e no coração apreensivo dos
consumidores, que se sentem instintivamente ameaçados, caso não
consigam comprar os produtos sobrenaturais que solucionam todos os
problemas que afligem a moderna humanidade consumista: a feiura, a
imperfeição, a exclusão social, o fracasso amoroso, a impotência, a
doença, a pobreza, o fracasso profissional, a solidão, a tristeza, a não
aceitação de si, a doença mental, a não realização pessoal...
As informações apreendidas pelos cinco ou mais sentidos unem-se no
interior da mente atenta, formando imagens do ambiente, as quais
permitem que o leitor, o sujeito pensante e agente, enquadre-se no tempo
e no espaço para reagir aos estímulos recebidos. Quando há a perda
momentânea da visão ou há a falta da luz que revela a forma, a cor, a
intenção e a essência das coisas e dos seres, as leituras dos demais
órgãos sensoriais sofrem graves deformações.
No homem, a visão predomina sobre os outros sentidos de exploração
cognitiva. Assim, quando o indivíduo se encontra submerso na escuridão, é
normal que em seu espaço holográfico surjam imagens mentais
assustadoras, provenientes dos arquivos imagéticos internos, para avisar o
sujeito que o meio que o contém pode esconder ameaças não reveladas, já
que os perigos não podem ser identificados de pronto.
Os sentidos estão integrados. Quando o principal deles, a visão, não puder
operar com precisão, os demais restantes terão suas leituras afetadas,
comprometendo a racionalidade do conteúdo do conjunto de informações
colhidas no ambiente. Na escuridão, a mente, em pânico ou em estado de
estresse, reage à situação produzindo imagens interiores alarmantes para
que o sujeito solucione imediatamente a questão ou ponha-se em fuga.
Para a mente humana, a imagem, o símbolo e a ideia equivalem-se e se
complementam para formar um elemento único e racional, apto para ser
otimizado nos processos mentais que geram os pensamentos. O que vale
dizer que a comunicação mais eficiente é aquela que consegue dominar
todos os aspectos constitutivos do pensamento, com a intenção de enviar
uma mensagem clara e facilmente absorvível pela mente do receptor — o
indivíduo que recebe a mensagem.
114
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
As instituições mais poderosas da história só chegaram ao topo do mundo
porque foram exímias no controle desses fatores. Usam-nos com perfeição
para dominar o pensamento alheio, subjugando o diálogo interior e exterior
do receptor com precisão é método infalíveis.
Para a inteligência sistêmica que modela e dinamiza os processos
produtores dos pensamentos, a luz, a harmonia, a beleza, a ordem e a
sensação de felicidade, são facetas que se equivalem intelectualmente
para formar uma conclusão maior e mais perfeita, a qual faz parte do
conjunto de referências que se aloja no nível mais elevado da psique. Em
igual medida, o negrume, o medonho, a dor e o caos fazem parte dos
níveis inferiores.
A propensão para fabricar ou utilizar instrumentos que facilitem a execução
de tarefas do cotidiano não é exclusiva dos animais humanos, outros
bichos também a possuem. Porém, até o presente momento, apenas o
homem procura imprimir significados nos objetos por meio de símbolos e
plásticas especiais que sirvam como veículo de comunicação, expressão e
interação para consigo e para com os demais.
Quão mais primoroso for o produto ou o serviço executado, melhor o
produtor se sentirá consigo próprio, passando a se valorizar como sujeito
que pensa, age e transforma seres, coisas, pessoas e ambientes. Portanto,
é natural que o ser humano se afeiçoe à sua produção, pois essa lhe
fornece a dimensão exata da sua individualidade, evolução e poder
pessoal.
O caráter tosco dos primeiros artefatos líticos atesta que os fabricantes
pré-históricos estavam tão somente preocupados com a função do objeto,
não mais que isso. A relação do hominídeo antigo com seus produtos era
objetiva e imediata. Sem que houvesse vínculos afetivos e intelectuais
profundos. Entretanto, com o avanço das Eras, vai ficando evidente que os
homens da Idade da Pedra começaram a trabalhar os aspectos abstratos
dos produtos, agregando-lhes valores e predicados que excediam as
finalidades práticas dos objetos. O que, certamente, deveria proporcionar
algum tipo de recompensa íntima e social. Desde então, o indivíduo, o
produto e a sociedade têm evoluído conjuntamente. A estética está
intimamente ligada à moral e à ética.
É tocante acompanhar a evolução das formas, dos conteúdos e da sintaxe
na produção humana. Progressivamente, e com grande dificuldade, os
primitivos vão lascando as pedras, ferindo as mãos, cortando os dedos e
procurando, sem descanso, plasmar formas belas e significativas que
consigam falar maravilhas aos corações.
Este é o primeiro grande indício do avanço da consciência humana
quando, afastando-se do clima psicológico que envolve os jogos brutais da
evolução natural, o hominídeo procurou enriquecer suas relações
produtivas buscando, na medida do possível e do impossível, trazer a arte,
a harmonia e a linguagem para o cotidiano primitivo animalizado.
115
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
A partir do momento em que a chama estética acendeu-se em um
crescendo lento, mas consciente e determinado, os diferentes ofícios vão
procurar materializar o belo em vários ângulos e versões, querendo invadir
a vida terrena de beleza, luz e encanto variado.
Enquanto isso, o lado monstruoso das formas e das ideias refugiou-se nas
sombras da psique e da vida, à espera para ser solucionado e
transformado pela sabedoria, a bela Sophia.
Na arte, a busca pela perfeição da forma e do conteúdo, auxilia na
evolução da vida humana, ao interferir na construção positiva do intelecto
do produtor e do apreciador do objeto artístico. Tanto a estética quanto a
moral e a ética representam a intenção inteligente do sujeito que se revela
no pensamento e na ação produtiva.
Expressão viva da cultura, a arte, com seus movimentos envolventes de
estilo, conteúdo e forma, tem peso decisivo na evolução dos conjuntos
sociais, como pode ser observado na trajetória histórica dos povos.
É notável que a cultura judaica, em mais de 5 mil anos de atuação no
planeta, não tenha sido capaz de legar à humanidade uma produção
artística digna de nota.
No geral, quase inexistente, a arte judaica assemelha-se às paisagens
desérticas e sufocantes, nas quais, os predicados da vida e da alma
humana não conseguem florescer e se encher de cor, movimento,
variedade e expressão criativa.
Se a cultura judaica não presta para fazer brotar a grande arte que
refrigera e “semeia” a alma humana, presta para quê?
O que se pode esperar da cultura que atenta contra o natural e o humano?
Da cultura cheia de fé, que deforma os espíritos com o fel dos preconceitos
(racismo, sectarismo, purismo, elitismo, sexismo, fanatismo, homofobia * e
outros sentimentos execráveis)? Como pode haver paz no mundo?
Não há humanidade verdadeira onde não houver a beleza da forma e do
conteúdo do que o homo produz, do produto ao ambiente. Então, será mais
elevada e sábia, a expressão humana que se mostrar mais depurada do
inferior, do primitivo e, portanto, do animalesco irracional.
Desde tempos muito antigos, a magia e a religião mostraram-se eficientes
na manipulação dos conceitos e dos predicados imagéticos da luz e das
trevas, inventando ficções, produtos e serviços que aterrorizavam e
seduziam as massas, prendendo-as ao comando inescrupuloso das elites
governantes. Para tanto, fizeram uso irrestrito dos poderes formativos da
arte.
*
Veja nota no final do capítulo, p. 118.
116
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
Inserido nesse campo de ação alienante, as lendas místicas que tratam do
Inferno, com seus pavores, e do Paraíso, com seus favores, em qualquer
versão étnica existente, são ficções minuciosamente inventadas, com o fito
único de explorar os processos inconscientes e conscientes das pessoas,
invalidando-as como indivíduo.
Em termos simbólicos e conceituais, os Paraísos são identificados com a
luz e com tudo o que ela representa no ideal imaginário. Em contrapartida,
se o Paraíso é o lugar da luz, o que não está no Paraíso encontra-se no
lado escuro da existência, participando dos predicados que lhe são
peculiares: os tormentos infernais.
Sendo assim, os pobres consumidores que, por mais que consumam,
nunca conseguirão desfrutar do prometido idealizado – os atributos da luz
e da felicidade eterna – brota-lhes na alma a sensação insidiosa de que
não sejam bons o suficiente para pertencerem ao Paraíso dos sorrisos
infinitos. Pois, pressentem os coitados que, se eles não participarem do
Jardim das Delícias, onde todos são venturosos para sempre, a culpa é
deles e não dos maravilhosos produtos mágicos que os deuses-modelos
usam e recomendam.
E, uma vez que creem que o problema está neles, seus maiores medos e
inseguranças passam a persegui-los, assumindo a forma instintiva de
demônios interiores, que ninguém vê, mas que todos sabem que estão lá.
Então, o mal será eterno companheiro desses infelizes.
A Revolução Industrial Inglesa, a Independência Americana e a Revolução
Francesa marcaram a virada de um capítulo do drama da história trazendo
novos cenários, novos enredos e novos atores. Como mandam as normas
comerciais mais ferozes, nas tramas dos novos tempos, tudo e todos
deverão ser passageiros e descartáveis, desmanchando no ar tudo o que
um dia foi sólido.
Outra terceira onda? Outros tsunamis? Outras vítimas?
117
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
No seio da Mãe-Natureza, centenas de espécies do reino animal são praticantes do chamado sexo entre os iguais.
Nos céus, nos sete mares e na terra firme, misturados a nuvens, vagas e flores, é normal se encontrar pares do
mesmo sexo, dos insetos aos animais de grande porte, copulando sem o menor sinal de constrangimento ou culpa.
Até mesmo o leão, o rei altivo, tão admirado na antiguidade, não dispensa as carícias e o sexo dos melhores
companheiros.
Entre os seres humanos, igualmente, o comportamento homossexual sempre esteve presente, ora às claras, ora às
escondidas, conforme fosse encorajado ou desencorajado pelos códigos sociais em vigência.
Nos tempos antigos, época em que os padrões morais eram outros, os gregos conseguiram construir uma sociedade
viril e superavançada, que se baseava em sólidos vínculos de cumplicidade homossexual. Unidos de corpo e alma,
como amigos e amantes, eles venciam os maiores desafios nos campos de batalha e na lide diária, movidos ao ardor
do coração apaixonado pelo outro, pela vida e pela liberdade.
Homero, na Ilíada, nos relata os fatos e nos solta a imaginação nas entrelinhas do conto épico. Vamos às entrelinhas:
após enfrentar dez longos anos de duro cerco, Troia se mantinha firme. Ao redor dos altos muros intransponíveis, os
guerreiros da Hélade, exaustos, minguavam e se apequenavam. Se, outrora, aportaram nas praias troianas, em mil
naus de guerra, cheios de vigor e autoconfiança, agora, secretamente, sonhavam em voltar à terra natal, para tentar
curar as feridas do corpo e da alma, ganhas nas contendas inúteis.
Enquanto a desesperança corroía as sobras da expedição micênica, Heitor, o filho do rei Príamo, matou Pátroclo,
erastes e companheiro inseparável de Aquiles, o combatente mais temido e respeitado.
Tudo parecia perdido, quando o filho de Tétis encontrou o amigo mais que querido, lavado de sangue. Nas alturas
sublimes, os deuses, comovidos, encobriam o rosto nas dobras dos alvos mantos bordados a ouro. Ao mesmo tempo,
nas profundezas sombrias, as almas penadas, vestidas de andrajos pestilentos, arrancavam os cabelos e furavam os
olhos para não verem a cena lancinante. Agarrado ao cadáver frio, Aquiles, urrando como um demônio
enlouquecido, jurava que iria destruir quem lhe trouxera tamanho sofrimento. Dos favores do mundo, nada mais
interessava ao bravo, nem luxo, nem glória. Apenas queria lutar e morrer, para ter suas cinzas unidas às cinzas
daquele que lhe fora tirado. Na morte, pelo menos, estariam juntos para sempre, fiéis um ao outro, como em vida.
Revoltados com a dor do grande herói, que acabara de perder a razão do seu viver, os corações dos camaradas de
armas, de imediato, começaram a bater forte, alto, como tambores de guerra. A sorte iria mudar, eles, vestidos de
orgulho e armados de fúria, lutariam para vingar os companheiros queridos que haviam partido dessa existência e,
principalmente, para defender os que ainda estavam presente, ao lado de uns poucos afortunados. Se possível,
ninguém mais sofreria a dor que não se finda.
Pátroclo morrera, era certo, mas sua vida não seria tomada em vão. Troia, enfim, foi derrotada, porque o amor dos
homens venceu. Esse episódio lendário marcou profundamente o caráter e o destino do povo grego. E quem há de
questionar minha interpretação dos poemas homéricos? Os hebreus que fraudaram a história desde sempre? Os
cristãos que fraudaram a história desde sempre? Os islâmicos que fraudaram a história desde sempre? Os
protestantes que fraudaram a história desde sempre? Quem tem moral para questionar-me?
Histórias, histórias, histórias...
Não se sabe, ao certo, quando a prática corrente da homossexualidade se alastrou pela Grécia. Algumas fontes a
colocam à altura da invasão dórica, ocorrida em meados do século XII a.C. Todavia, supõe-se que ela seja bem mais
antiga, a julgar pela data da história contada por Homero, passada no início do século XII a.C., somada às lendas de
homossexuais, anteriores à entrada dos dórios no território, como por exemplo, Pélops e Laio.
Dada a dimensão do caso, é provável que o comportamento homossexual estivesse ligado a rituais mágicos de
transferência de poderes, comuns na pré-história. Os pré-helênicos nativos ou os invasores, os povos indo-europeus
que começaram a penetrar na Hélade desde fins do Terceiro Milênio, talvez acreditassem que o relacionamento
homossexual conferia dons especiais aos praticantes. O amante, ao absorver a essência de outro macho, se tornaria
duplamente másculo e valoroso. O assunto é pantanoso e jamais saberemos o que realmente aconteceu.
Homero, o bardo cego, foi sutil ao compor seus versos. Educador elegante e sagaz, evitou criar passagens cheias de
erotismo, que inflamam os espíritos vulgares, e procurou modelar o comportamento homossexual dos personagens
dando-lhes os contornos do ideal. A relação afetiva íntima entre dois homens, longe de servir de repasto à satisfação
118
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
de desejos volúveis, deveria proporcionar o amadurecimento de qualidades que elevassem os amantes, a sociedade e
o Estado. Em suma, o relacionamento deveria servir de veículo à expressão do verdadeiro amor.
K. J. Dover afirma na contracapa de seu livro A Homossexualidade na Grécia Antiga acerca da importância dos
valores homossexuais na formação da sociedade grega: “... o amor entre pessoas do mesmo sexo não foi apenas
tolerado, mas elevado à condição suprema de realização pessoal”. Protegido pela lei, do homossexual esperava-se os
maiores exemplos de virtude e graça.
Se, na Terra, animais e homens partilhavam tranquilamente do amor entre os iguais, no Olimpo, o Lar Doce Lar dos
deuses gregos, as coisas não eram diferentes. Zeus e os demais deuses olímpicos não resistiam aos encantos dos
jovens bem dotados. São famosas as historietas que tratam dos romances entre os imortais e os mortais do mesmo
sexo.
Os homossexuais caíram em desgraça no reino animal, nos ambientes dos seres humanos e no Panteão, quando a
famigerada cultura judaico-cristão, finalmente, conseguiu estender seus tentáculos sobre o Império Romano. A partir
de então, as leis da Natureza e as leis de Roma seriam contraditadas pelas leis do Deus perturbado que pesa mal,
mede mal, julga mal, que calunia, gera conflitos intermináveis, roga pragas violentas e condena os desafetos ao
sofrimento e à morte infeliz.
Entre as vítimas lendárias e históricas dessa divindade encrenqueira e irracional encontram-se impérios, povos,
raças, continentes, países, cidades, religiões, deuses, pessoas e bichos. Algumas delas: Egito, Roma, Sodoma
(destruída pelo Deus-Pai, porque os sodomitas praticavam o pecado mortal da sodomia: sexo anal), Gomorra, os
cananeus, os filisteus, os palestinos, os índios, os negros (que, como os índios e os animais, foram acusados de não
possuírem alma. Se os índios e os negros não aceitassem “humildemente” o batismo cristão e as leis de Deus, O qual
afirma ser a fonte original do amor, da verdade e da justiça, teriam que suportar a servidão por justa causa e, em
alguns casos, enfrentar os horrores do extermínio sistemático, igual se faz com certos “bichos indesejáveis”.
Convertidos ou não, milhões de pobres coitados indefesos foram escravizados e um outro tanto foi assassinado sem
perdão), os pagãos, os ateus, os livre-pensadores, os homossexuais e outros indesejáveis.
Quem salvará os homossexuais das garras do Deus que os condena à infelicidade nessa vida e à danação eterna no
Inferno?
Para o intolerante deus dos judeus, dos católicos, dos islâmicos e dos protestantes, a homossexualidade é a pior das
perversões. Mas, quem está pervertendo as leis naturais e as dinâmicas evolutivas da Humanidade: Deus ou os
homossexuais? Quem merece ser condenado à danação sem fim, por seus juízos e atos aberrantes: Deus ou os
homossexuais?
A Antiguidade clássica e o Renascimento nos legaram lições importantes. As sociedades que mais evoluíram e
contribuíram com o progresso humano foram exatamente aquelas em que o gênio dos homossexuais, os homens que
amam homens, mais encontrou espaço para se revelar.
O mundo seria outro, diferente desse, certamente pior, mais feio e bem mais incompreensível, se os gregos, adeptos
do sexo entre os iguais, não tivessem existido nas lendas e na vida real. Não há atividade humana em que eles não
tenham se destacado e se tornado perenes. Com genialidade e pulso firme, esses homens mostraram seu valor.
Como nos ensina a Grécia Antiga, quanto mais homossexuais brilhantes houver, mais todos ganharão. Alguns deles:
Aquiles, Aristóteles, Epaminondas, Parmênides, Leônidas, Temístocles, Pitágoras, Hércules, Harmódio, Hesíodo,
Policleto, Alexandre Magno, Heródoto, Ésquilo, Pausânias, Zenão, Demóstenes, Fídias, Arquimedes, Protágoras,
Sófocles, Aristogeiton, Empédocles, Píndaro, Eurípedes, Hiparco, Clístenes, Demócrito, Miron...
No polo oposto, as sociedades que têm por hábito impedir que os homossexuais evoluam como pessoas normais e
produtivas, dentro de suas necessidades específicas, no geral, comprometem a qualidade dos processos sociais e
históricos. Tais conjuntos sociais irracionais e não-sistêmicos, ao se afastarem daquilo que é pertinente ao natural e
ao humano, acabam produzindo ambientes impróprios ao desenvolvimento saudável dos seres vivos e, em
particular, dos humanos.
Qualquer um que atente contra a integridade física, moral e psicológica dos homens que amam homens, comete
crime contra a Natureza e a Humanidade. Agora, mais uma vez, resta saber quem deve ir para o Inferno a fim de
pagar por todos os seus pecados: Deus ou os homossexuais?
119
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 8
A Natureza demonstra que os homossexuais masculinos são seres superiores. Que diferenças há no cérebro dos
homossexuais masculinos? Essas diferenças lhes dão quais capacidades extra? Que diferença há entre os indivíduos
homossexuais masculinos e os femininos? Que diferença há entre os homossexuais natos e aqueles que são
produzidos pelas deformações do meio ou pela incapacidade que certos homens apresentam em desempenhar papéis
especificamente heterossexuais? Se os homossexuais masculinos são seres superiores, que tipo de papel social, de
imagem social e de comportamento eles deveriam estar produzindo? Por quê certas culturas obrigam os
homossexuais a se comportarem de forma caricata e reprovável? Que tipo de estruturas sistêmicas as sociedades e as
culturas deveriam estar gerando para amparar e proteger o desenvolvimento saudável dos indivíduos homossexuais,
desde o seu nascimento?
120
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 9
CAPÍTULO 9
Índia, Nova Guiné, Venezuela, Estados Unidos, Kwait, Bali, Uganda, Brasil,
Alemanha, Peru... Na realidade do século XXI, a totalidade das nações
participam de um conjunto orgânico e inteligente que é vivificado pela troca
ininterrupta de produtos, serviços e resíduos das partes. Não há mais casos
isolados. A ação produtiva de cada indivíduo nacional – o país – reflete-se na
qualidade do sistema planetário como um todo.
Por sua vez, esses organismos estaduais individualizados e nominados,
subdividem-se em células menores – os habitantes nacionais – que,
amalgamados pelas trocas humanas comuns, formam o corpo social que recebe
o nome do país.
Portanto, cada sociedade planetária representa a soma das ações produtivas
coordenadas da totalidade dos cidadãos. Será mais idílica e humanizada, quão
maior for a competência de cada elemento sistêmico – o cidadão – em
participar do encontro de soluções simples e racionais para os problemas
internos e externos que, em geral, indiscriminadamente, desafiam a inteligência
dos sistemas.
O Brasil, por exemplo, representa o resultado da soma da produção física e
intelectual de cada brasileiro, minuto a minuto. As histórias nacionais são
contas em aberto. Se não houver cuidados especiais, um único fator
desequilibrante (cidadão) pode inviabilizar a solução do todo social, a qualquer
momento, colocando a evolução do conjunto em risco.
Diante da complexidade dos ambientes internos e externos, para que uma
determinada nação consiga se manter produtiva e saudável, por tempo
indeterminado, seu sistema social não pode se conformar com soluções
mágicas que subordinam as energias intelectuais e produtivas dos cidadãos.
A força, que mantém a continuidade da evolução das qualidades individuais de
uma determinada nação em particular, surge em decorrência da participação
racional e compromissada de cada elemento sistêmico-social, com vistas à
realização do potencial da sociedade que o contém e que se acha inserida em
um ambiente sistêmico maior – o planeta Terra – onde coexistem outros
sistemas naturais e nacionais.
Se os elementos ou os laços sinérgicos que os unem forem irracionais ou
destrutivos, o sistema social resultante, que no caso pode ser uma nação ou o
conjunto delas, poderá se degenerar ou apresentar panes sistêmicas graves,
independente do grau de complexidade funcional conquistado.
121
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 9
Do mundo antigo, temos o exemplo monumental da construção da civilização
romana, que abrangeu a maior parte dos povos existentes, consolidando-os em
um só organismo estável e altamente produtivo.
Com a tradição calcada no princípio da lei, da ordem e do trabalho em comum,
o romano sabia que, para construir uma civilização como nunca se vira até
então, era preciso formar gerações de cidadãos civilizados e compromissados
entre si.
Os erros cometidos pelos povos mais antigos, com suas paixões e seus
desvarios, haviam ensinado aos austeros romanos, fascinados pela
administração e organização política, que as ações, os pensamentos e os ideais
dos indivíduos e das sociedades determinavam o futuro dos Estados.
Para eles estava claro que as causas geravam as consequências, assim como o
produtor competente e responsável pela excelência da sua produção, gerava o
produto de qualidade superior.
Como é normal, a força dos sistemas humanos está subordinada ao caráter do
compromisso produtivo que existe entre o produtor e seus produtos, bem como
do tipo de interação produtiva vigente. Com a noção do dever e da justiça
enraizada no espírito do povo desde suas origens míticas, o sistema romano foi
sendo modelado com tal eficiência que, mesmo quando estava nas mãos dos
governantes mais incompetentes, não raro, conseguia se autossustentar e
evoluir, sem maiores problemas.
O desejo de viver em uma sociedade progressista e segura fazia com que
homens e mulheres se unissem para desempenhar, de bom grado, a função de
pilares, primeiro da monarquia, depois da república (res-pública = coisa do
povo) e, posteriormente, do vasto império.
O sucesso da administração dependia dos cidadãos romanos civilizados, e não
só das sólidas instituições, a qual proporcionava o progresso material e social
nas regiões do globo que estavam sob a tutela da cultura romana, com sua rede
de estradas cruzando o império, pontes, aquedutos e cidades sistêmicas
construídas em pontos estratégicos (urbes).
No entanto, o maior trunfo da cultura romana, urdida em conjunto com a nobre
cultura grega, ambas formando a cultura clássica, não é visível e não pode ser
encontrada na superfície, entre construções magníficas, jóias espetaculares,
obras de arte insuperáveis, nem em textos inigualáveis. Ei-la no subsolo da
cultura, penetrando fundo no modo de pensar dos produtores desses prodígios.
Nenhuma outra cultura, a não ser a clássica, desenvolveu uma percepção tão
aguda do valor do indivíduo ou uma crença tão poderosa na capacidade
humana. Como disse Protágoras de Abdera: “O homem é a medida de todas as
coisas, do ser daquelas que são, do não ser daquelas que não são”. É
indiscutível que o pensamento clássico foi a maravilha mais preciosa do mundo
antigo, lapidado por uma racionalização exigente e audaz, que engastou o
122
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 9
homem no centro do Universo, tornando-o responsável pela construção do seu
mundo interior e, em consequência, do exterior.
Por esses tempos, depois de séculos de esforço dos maiores pensadores, a
filosofia e a ciência finalmente ganharam a batalha contra a superstição, um
perigo tão velho quanto a raça humana, sempre à espreita para guiar os
ignorantes pelo caminho da involução humana.
Como apontou Sêneca, com fina ironia:
“A diferença entre nós e os etruscos é que, enquanto acreditamos que
os raios resultam da colisão das nuvens, eles creem que as nuvens
colidem para lançar raios; pois, como atribuem tudo à vontade dos
deuses, são levados a acreditar que as causas não possuem
consequências naturais e previsíveis, mas que elas acontecem porque
são causadas por forças sobrenaturais e possuem algum significado
oculto.”
Assim, com a vitória da razão, conquistada pela cultura clássica, os deuses –
produtos que nunca existiram – e os sacerdotes – vendedores que sempre
existiram – deixaram de atormentar e explorar as pessoas – os gentis
consumidores. Pela primeira vez na história da humanidade, o homem estava
livre para olhar o mundo com objetividade e extremo rigor crítico. Agora, todas
as perguntas eram permitidas e deveriam ser feitas para se destruir os dogmas
dogmas. Todos os véus místicos eram rasgados para se condenar e desterrar a
ignorância bem alojada.
Para ser considerado humano, e portanto civilizado, em primeiro lugar, o
homem teria de ser racional, consciente das suas ações e responsável pelas
consequências produtivas e residuais. Os romanos envidavam esforços para
construir um mundo humano formado por homens para homens, não um lugar
excêntrico para bárbaros dirigidos por deuses.
Mas, mal sabiam os espíritos racionais que, por mais que tentassem vencer a
mediocridade dos homens, um belo dia, a ignorância contrafeita e enroscada na
mente de muitos que não paravam de crescer e se multiplicar como animais, iria
se unir em bandos de iguais, para vingar-se da razão e da busca honesta pelo
real sobre todas as coisas do céu e da Terra.
Para a época, a construção do Império Romano foi a experiência máxima em
termos de organização sistêmica e social. Evidentemente, o exemplo fica
restrito no tempo, espaço e grau de evolução da humanidade, até então. Esse
exemplo é caso, não regra, uma vez que para sua implantação, milhões de
pessoas e várias culturas antigas tiveram de ser vencidas.
E, ao fim, quando o sistema entrou em colapso, o ocidente afundou na Idade
das Trevas, sepultando praticamente todos os avanços obtidos nas diversas
áreas da competência humana. O preço pago pela tentativa de globalizar o
mundo antigo foi muito caro.
123
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 9
Os especialistas continuam a debater sobre as causas da queda do Império
Romano. Já foram levantadas centenas de hipóteses e todas são de cunho
sistêmico.
Segundo Churchill:
“A experiência do Império Romano propiciou um tal avanço a seus
cidadãos, que dificilmente poderá ser igualado ou superado por
qualquer civilização histórica dos nossos dias.”
Gibbon, em seu livro Declínio e Queda do Império Romano, comenta que: “A
derrocada do Império foi uma revolução que será sempre lembrada e que as
nações do mundo moderno ainda sentem seus efeitos”.
Somada a outros fatores, a análise histórica nos leva a inferir que o advento do
Cristianismo abriu precedentes perigosos para a proliferação de elementos
virais humanos. Humanos? Homens que agem como vírus podem ser
considerados humanos?
O sistema cristão se baseia na igualdade, na fraternidade, na caridade, no
autossacrifício em nome da fé e na supremacia absoluta e inquestionável das
leis de Deus, as quais devem ser administradas por homens escolhidos e
orientados diretamente por Deus, diferente, portanto, da organização política e
do direito romano que eram gerados por homens para homens.
Como já acontecia nos tempos bíblicos mais recuados, com as religiões mais
primitivas, na dinâmica produtiva cristã, o produtor é entendido e tratado como
um mero instrumento da produção, “uma coisa” usável, cabendo a Deus-Pai que
o inspira, guia e protege, o mérito sobre o sucesso da fabricação ou da
obtenção do produto final.
Pela fé do crente cristão, igual ao pensamento pagão do passado, é Deus que,
conforme sua vontade caprichosa, plasma a realidade na vida dos indivíduos e
das sociedades. Há frases notórias: “meu destino está nas mãos de Deus”, “o
que é meu, Deus garante”, “não temo nenhum perigo, porque Deus está sempre
comigo”, “não deu certo, porque Deus não quis”, “Deus é Fiel”, “foi Deus quem
quis assim”, “se Deus quiser”, “Deus te acompanha e te guie”, “este problema
eu coloco nas mãos de Deus, para Ele resolver para mim”, “o que é meu, Deus
me traz”, “terei quantos filhos Deus quiser”, “o futuro dos meus filhos Deus
garante”, “Deus está na minha frente, iluminando o meu caminho contra as
forças das trevas”, “o Senhor é meu pastor, nada me faltará” e outras “pérolas”
de sabedoria que demonstra de forma inequívoca, a profunda falta de
responsabilidade desses produtores para com seus produtos, métodos e para
as sociedades planetárias.
Jesus não era humanista, ele nada fez pela evolução da humanidade. Sua
mensagem era voltada à salvação do espírito pela submissão às leis do seu pai,
Deus. O Deus do povo tantas vezes perseguido, humilhado e escravizado. O
Deus do povo que sempre sonhou com a revanche, com a vingança (que
chamam de Justiça Divina – aquela que pune os desafetos e os inimigos). O
124
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 9
Deus que prometeu ao povo escolhido o domínio da Terra e a conquista dos
demais povos. O Deus que faria os fracos e os oprimidos, aqueles que sofrem e
choram, vencerem os fortes. O Deus que inverte o jogo. O Deus da dês-ordem
natural. O Deus da pobreza humana. O Deus que não admite a existência de
nenhum outro, senão Ele. Ele, o mais forte. Ele que tira sua força da involução.
Ele que deve vencer sempre. Ele que deve destruir todos os demais deuses e
infiéis. Ele que queima, castiga e mata seus inimigos, em nome da ventura
eterna.
A ideia judaico-cristã é clara. Os fracos, multiplicados e unidos, são capazes de
vencer e dominar os fortes. Mas isso não é evolução humana, é simples
inversão das leis e dos jogos da Mãe-Natureza.
A Natureza evolui à medida que os organismos mais fortes e melhor preparados
suplantam os mais fracos, em jogos pouco racionais. Estes, porém, são menos
irracionais e danosos à evolução dos sistemas e dos indivíduos, do que os
jogos que são produzidos pela cultura judaico-cristão.
O mundo começou a ruir quando Jesus, o rei dos reis e corrompedor da
Natureza, sonhou em reinar absoluto sobre todos os miseráveis existentes, os
judeus e os não judeus.
A gratidão é doença de cachorros? Nem divinas nem dignas, a submissão
viciada e a gratidão humilde são doenças que acometem os cachorros sem raça
e sem vergonha. É coisa de gente cã, gente que clama pela coleira salvadora e
bendita, gente que despreza a razão e a consciência, gente que sofre e chora
porque merece sofrer e chorar. Miséria humana? Não, fé.
O dia em que o homem aprender a desenvolver a fé em si próprio e passar a se
comportar como deus vivo, tudo isso acabará. Não haverá mais animais nas
cadeias, nas ruas pedindo esmolas, nos palácios dos governos escusos, nas
mansões dos ricos, pobres de espírito que vivem da exploração alheia. Uma
patética ciranda de bichos presos às velhas emoções sombrias ligadas ao
instinto.
A justiça continua sendo feita.
125
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
CAPÍTULO 10
A cristianização do Império Romano implicou na absorção das ideias pregadas
nas Escrituras Sagradas, por parte de povos greco-latinos dominantes, os quais
haviam se desenvolvido sob bases psicoestruturais diferentes.
Orgulhosa em sua humildade ensaiada, a Boa-Nova disseminada entre os
submetidos bem arregimentados venceu os vencedores invencíveis e destruiu o
sistema vigente, enquanto o pobre era elevado às alturas paradisíacas, como
símbolo máximo da evolução, pureza e santidade. Decretava-se assim, a
estetização patética da mediocridade, na absolvição da incompetência funcional
e produtiva.
Com o foco evolutivo convergindo para a epifania da pobreza humana, a Europa
degenerava na marra. As artes, os usos e os costumes deveriam ser o mais
tosco possível para agradar a Deus e combinar com o simplismo medíocre de
seu filho: Jesus Cristo.
Então, não havia outra opção, senão a desintegração do modelo imperial
original para a formação de um tipo de realidade fiel ao novo ideal.
À época, ninguém perguntou como um indivíduo ousa ser pobre de espírito e
produzir pobreza, quando a Natureza presenteou o gênero humano com
recursos incontáveis no interior e no exterior. Longe de ser louvável ou
santificado, o medíocre ofende e contraria o Universo.
Todos os homens nascem ricos e únicos. E é exatamente assim que eles
devem crescer e prosperar: conscientes da importância em pensar, agir e
produzir como deuses de infinita sabedoria. Disso depende a sobrevivência do
planeta, da humanidade e do Cosmo.
Como teria sido a história da humanidade se os crentes tivessem jogado seus
deuses sobrenaturais na lata do lixo e tivessem se tornado eles próprios,
deuses de verdade?
A queda do sistema romano cedeu espaço à sistêmica que iria produzir uma
nova qualidade de homem e de cenário: a Idade Média.
Para o consumidor-medieval ignorante e impressionável, importava-lhe mais
crer nos benefícios dos produtos (crucifixos, amuletos, imagens santificadas,
etc.) e dos serviços mágicos (bênçãos, batismo, estrema-unção, etc.) e como
eles eram anunciados pelos vendedores-sacerdotes nas missas, do que, aquilo
que, em verdade, lhe era entregue para ser consumido. Fato esse que, em
consequência, abria a porta à institucionalização da fraude e do abuso contra o
126
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
cliente. Ou melhor, o embuste era inerente ao modelo comercial em questão.
Os clientes pagavam caro para serem enganados.
Ao gosto da freguesia, por mais de mil anos, demônios e terrores iguais aos que
estão estampados no tímpano da igreja de Saint-Foy, em Conques, seriam
vistos e sentidos em todos os lugares, atazanando fiéis e infiéis, vítimas
masoquistas de longos chifres, dentes afiados, garras penetrantes, chamas
infernais e dores insuportáveis. A salvação, a Luz Divina, encontrava-se no
interior do templo, no altar, ao lado da caixa registradora.
Após dez séculos da mais absurda incompetência funcional e produtiva,
azeitada pelo bordão “Amai-vos uns aos outros”, o vergonhoso panorama
humano alterou-se no Renascimento, com a absorção parcial e desfocada da
cultura clássica.
Nas artes e na vida, criar é modelar a matéria, submetê-la à ideia que se
apossa do criador, clamando por expressão e realidade. É ato que revela o
amor e o respeito que o criador tem pela matéria, pela humanidade da alma e
pelos Outros.
Atravessando o Renascimento e o Barroco, a nódoa espiritual do sangue dos
mártires alucinados pela fé cristã, manchava a delicadeza do mármore
finamente talhado, o qual, os críticos do período consideravam superior ao
produzido na antiguidade por gregos e romanos.
Mas era impossível compará-los, pois eram obras-primas oriundas de mundos
incompatíveis. Analisando ambos os períodos e suas respectivas produções,
percebe-se no mais recente a loucura invadindo a alma e a obra de Bosh, o
tormento interior em Michelangelo, o desespero em Grünewald, o grito de
revolta em Caravaggio. À sombra da cruz, a Europa adoecera. Corroída em
suas raízes ancestrais e conceituais, enlouquecera.
Evidentemente, tudo isso era estranho à plenitude encontrada nas obras de
Policleto, Fídias, Praxíteles ou ao estilo realista dos romanos. Desta feita, por
mais que os grandes mestres das artes, das ciências e do pensamento
renascentista e Barroco se esforçassem em igualar ou superar os clássicos no
conteúdo e na expressão, não tinham a menor condição de entender com a
mente, o coração e o restante do corpo, a alegria de viver que se esconde no
sorriso maroto da Koré e do belo e sensual Kouros. Depois de Cristo, ninguém
mais ousaria sentir prazer sem culpas e medos tolos. Amai-vos uns aos outros?
Como? Destruindo a humanidade da alma? Enlouquecendo? Jesus demonstrou
que desconhecia o amor de verdade. É bastardo do humano, por ser filho de
Deus. Mas, se os europeus não conseguiam curar as neuroses cristãs
exumando os restos do passado assassinado, a descoberta de novos
horizontes garantiria diversões à frente. Olhos piedosos miravam famintos o
ultramar. Ambição criminosa? Não, fé.
Quanto aos legítimos proprietários dessas terras, eles seriam tratados igual o
foram os antigos cananeus, como ensina a Bíblia aos seus fiéis.
127
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
A espada afiada iria penetrar na carne virgem do nativo, com o mesmo fervor
com que os evangelizadores enterrariam a cruz no solo fértil e rico. Primeiro ao
Sul, por bons cristãos – no Paraíso Perdido – em nome do Deus dos pobres.
Depois, ao Norte, por bons protestantes – na Terra Prometida – em nome do
Deus dos ricos. Deus dos pobres? Deus dos ricos?
O que gera mais lucro ao comércio da fé mística, 10% dos proventos de pobres
imbecilizados ou 10% de ricos imbecilizados?
O esperto Calvino fez as contas, avaliou as oportunidades, virou-se em direção
a Lutero e resolveu investir na formulação de uma nova jogada comercial, quer
dizer, uma nova igreja mundial, destinada a jogadores que quisessem ganhar
recompensas nessa vida e na outra, sob uma nova logomarca.
Tendo pressa nos resultados, como todo bom negociante esperto, Calvino,
pouco criativo, não inventou propriamente um novo jogo, apenas deu-se ao
trabalho de Reformar o antigo. A estratégia comercial se limitava a tirar clientes
do concorrente, a desgastada Igreja Católica, oferecendo mais vantagens
mágicas do que ela e denegrindo a imagem da empresa adversária. Uma
barbada.
Aproveitando os princípios do comércio liberal, a Igreja Reformada revolucionou
o mercado da fé. O garoto-propaganda seria o mesmo, mas sairia da cruz.
Repaginado, Ele apareceria na mídia prometendo o novo Paraíso. Tudo muito
clean e moderno.
Para atrair os clientes-alvo (os burgueses), os textos bíblicos passaram por uma
limpeza generalizada, mas simples. As palavras sagradas foram
reinterpretadas, transformando uma coisa em outra, em um passe de mágica
cínico. Na releitura sagrada, o Pai, volúvel, deixa de amar os miseráveis e
passa a preferir os bem sucedidos que pagam 10% gordos.
No novo esquema comercial, a caridade não sofreu grandes modificações.
Assim como acontecia com os católicos, a caridade, sob a marca do
protestantismo, continuou servindo à movimentação do comércio, do marketing
pessoal e para manter a ralé sob controle, condicionando os pobres a se
comportarem como cães famintos à cata dos restos da mesa dos donos. Para
se ganhar alguma coisa, só sendo bonzinho, humilde e obediente.
A doação caridosa, a esmola calculada e calculista dos que têm mais, mascara
as evidências egoístas, calando a crítica de quem quer que seja. Afinal, quem
dá aos pobres empresta a Deus e garante a ida aos céus dos justos, como
ensinam os textos sagrados. Portanto, infere-se que o caridoso é um justo
celeste, não importando se ele é um empresário inescrupuloso, um governante
corrupto ou um criminoso perigoso.
Envolta na magia do protestantismo capitalista, a Holanda de Rembrant passou
do mais austero recato humilde à mais aberta luxúria e ostentação, mudando
usos, costumes, aparências e valores morais, em questão de uns poucos anos.
Hipocrisia? Não, fé. Nas cidades pequenas, os mais velhos reclamavam
128
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
baixinho, que se as coisas continuassem assim, Amsterdã, a capital dos
puritanos, um dia se transformaria na capital do sexo e do consumo de drogas
livres.
A sociedade moderna nasceu desse hibridismo torto e mau caráter, parido pela
burguesia emergente, louca para enterrar o modelo feudal e expandir os
mercados pelos quatro cantos do mundo, derrubando governos contrários, com
a bênção do Pai, como convém, para que tudo continuasse como sempre foi.
Católicos, protestantes, israelitas, evangélicos, islamitas, comunistas,
socialistas, jovens arrivistas, etc. Se a história do passado requer uma leitura
racional, para que se possa entender sua sistêmica, o presente faz-se muito
mais urgente. Isso, se, antes, a humanidade animalizada não fabricar um novo
Inferno, talvez o último, com rolos de enxofre saindo por todos os poros do
planeta.
O animal com cultura evoluiu enormemente no âmbito tecnológico, mas nos
campos social, intelectual, individual e sistêmico, deixa muito a desejar.
Entretanto, como sempre acontece na História Humana, do seu novo patamar,
ele busca integrar os sistemas que estão à sua disposição para formar um todo
que esteja apto à sua manipulação.
Ignorante e inconsequente, o bicho-homem mergulha no empreendimento mais
arriscado da epopeia humana: a globalização (integração de todos os sistemas
naturais, humanos, artificiais e mistos) executada sem estudos de impacto
prévios que apresentem soluções em caso de desastres sistêmicos de pequeno,
médio e grande porte.
Os conflitos espalhados pelo globo prometem ser crescentes. Ao se levar à
união dos sistemas em escala global, desencadeou-se um processo natural de
tensão e sobrecarga sistêmica que pode levar o maximodelo à fragmentação
total.
Em 11 de setembro de 2001, atônito, o mundo recebeu um pequeno aviso do
que poderá acontecer no futuro, em escala mundial, se nada for feito
imediatamente. Atingidas por raios vindos do céu, duas babéis orgulhosas
desfizeram-se em chamas infernais, por causa do confronto de duas religiões
intransigentes. Ontem e hoje, o desprezo à vida humana é o mesmo.
Em junho de 1099, quando Jerusalém foi libertada do domínio islâmico, durante
a campanha da primeira cruzada, um cronista cristão descreve a vitória dos fiéis
sobre os infiéis:
“Todos os defensores da cidade abandonaram as muralhas e fugiram
através da cidade e os nossos os perseguiram, matando-os e
acutilando-os, até no Templo de Salomão, onde a carnificina foi tal
que os nossos caminhavam com sangue até os tornozelos. ... Em
breve corriam por toda a cidade, arrebanhando o ouro, a prata, os
cavalos, as mulas e pilhando as casas que regurgitavam de riquezas.
Depois, completamente felizes e chorando de alegria, os nossos
129
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
foram adorar o sepulcro do nosso Salvador Jesus e pagar as dívidas
que tinham para com Ele. ...”
Por onde passavam, rumo à Terra Santa, os cruzados pilhavam as cidades e
massacravam as populações, não poupando mulheres nem crianças. Houve um
verdadeiro banho de sangue.
Há séculos, os fiéis de ambas as facções religiosas, cristãos e islâmicos, se
perseguem como animais famintos, crentes que os vencedores receberão os
prêmios do Paraíso Celeste, como foi prometido por Deus, em seus textos
sagrados. Sagrados? Por quê? Quem disse? Quem crê? Por que crê? São
irracionais contra irracionais. Animais contra animais, movidos pelas leis do
mais forte.
Santo Agostinho afirmava que os hebreus descendem de Caim, o primeiro
assassino bíblico, e que são orientados pelo demônio em pessoa. No entanto, o
Deus dos judeus não é o mesmo que acompanha os católicos e os
protestantes? Não é estranho que a Terra Santa seja foco perene de conflitos e
assassinatos a sangue frio? Será que Deus gosta de ver o sangue correndo no
seu altar escolhido?
Na atualidade, no século XXI, os animais humanos não estão preparados para
participar de um tipo de sistema globalizado que, para funcionar corretamente,
exige que os produtos e serviços trocados entre os elementos humanos sejam
seguros e de altíssima qualidade.
Em um ambiente globalizado, a loucura ou a incompetência de um é problema
de todos. Pois, basta a ação, inconsequente ou maldosa, de um único bichohomem para que se inicie a desintegração do Todo.
Não há mais ações isoladas, as informações e os fatos entram no sistema
planetário e correm o mundo com velocidade impressionante. Os produtos,
serviços e resíduos dos sapiens, enfim estão em rede cósmica.
Todos esses fatores convergem para a necessidade de se encontrar novas
soluções de trabalho, ensino e convívio social.
A educação do ser humano principia junto dos sistemas que sustentam e
amparam sua sobrevivência: sistema nuclear, sistema de parentesco e sistema
de pessoas amigas (na infância, esse sistema é determinado pelos dois
sistemas anteriores, o nuclear e o de parentesco). Portanto, a educação da
criança é filtrada e pouco abrangente, porque fica limitada às crenças, aos
conhecimentos, aos valores, aos pontos de vista e aos interesses desse grupo
de pessoas afins.
Ao entrar para a escola, a criança enfrenta um grande problema: vê-se diante
de um universo diferente daquele em que foi criada até então. Uma vez dentro
da sala de aula, na companhia de Outros, os não-Eu, ela será obrigada a
organizar, de imediato, sua personalidade em processo de formação para ser
130
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
capaz de relacionar-se socialmente com os elementos desse sistema social
específico – a escola.
Dentro do modelo escolar, para poder sobreviver como ser biológico social,
produtivo e cultural, a criança tenderá a desempenhar um papel que seja
coerente com seus parcos conhecimentos sobre si mesma, sobre suas
potencialidades e compatível com a pequena gama de papéis disponibilizados
pelo grupo, de modo natural sendo a maioria deles medíocre.
É importante salientar que, em grande parte das vezes, a criança, em sua
essência, como indivíduo potencial, é diferente do papel que está sendo levada
a representar socialmente. Mas tanto a família quanto a instituição de ensino,
por estarem funcionando de forma limitante e limitada, não lhe oferecem
condições de aprofundar o conhecimento sobre si mesma para desenvolver-se
de maneira saudável e orgânica.
Desse modo, quando consideradas pelo enfoque correto, as salas de aula são
sistemas abertos (microcosmos) que apresentam as condições necessárias
para desenvolver e preparar os indivíduos de qualquer idade para ingressarem
na sociedade (macrocosmo), como cidadãos produtivos e responsáveis pelo
histórico-processual de seus produtos, serviços e resíduos, tornando-se, ao
mesmo tempo, indivíduos diferentes e complementares em relação às
necessidades do todo orgânico ao qual pertencem. Esse é o ideal a ser
alcançado.
Mas o ideal está longe da realidade. Então, o que se vê são oposições
estratégicas e funcionais envolvendo os professores e os alunos; ou os alunos
contra os outros alunos; ou os alunos contra as matérias; ou os alunos contra
os poderes estabelecidos, estendendo-se da sala de aula à diretoria e à
sociedade civil.
Na maioria dos casos, os alunos, na qualidade de sistemas individuais, não se
abrem para receber as informações constitucionais que os levarão à condição
de autoeducandos. Porque, em última instância, é o aluno que se educa,
quando percebe que é o único responsável pela construção consciente de si
próprio, bem como de seus produtos, serviços e enredos de vida. Ele é o
educador e o construtor de si mesmo. O poder está em suas mãos mágicas.
Atendendo a essa dinâmica que responsabiliza e educa, cabe à escola propiciar
métodos, meios, materiais e profissionais capacitados para facilitar a integração
do aluno, de qualquer idade, às informações psicoestruturais de qualidade, que
garantirão seu desenvolvimento humano em conformidade sistêmica com o
Todo racional.
Portanto, é inacreditável que o modelo vigente de educação, assistêmico em
sua base pedagógica e conceitual, ainda funcione para deseducar e
desestruturar a maioria, sem que se faça algo de eficiente em prol do homem e
de sua humanidade latente.
131
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
Como característica sistêmica universal, típica desse microcosmos, podemos
observar alguns personagens representando papéis-padrão comuns (por
exemplo: o aluno revoltado, o CDF, a namoradeira da classe, o dedo-duro, o
puxa-saco do professor, o esforçado inseguro, a putinha do colégio, o
problemático, o professor neurótico e outros) na micro e na macroescala,
quando assistêmicas e doentias.
A sociedade problemática produz a escola problemática. Compatível com o
histórico nacional doentio, os norte-americanos, por exemplo, introduziram um
novo tipo ao rol dos arquétipos pertinentes ao ambiente escolar: o aluno
cowboy, de arma em punho, que atira contra índios, negros, vietnamitas,
japoneses, alemães, latinos, russos, chineses, cubanos, islâmicos, marcianos,
pobres, bandidos, mocinhos... The american way of life.
No interior da escola, as pessoas se exercitam como seres sociais,
incorporando papéis preestabelecidos pela sistêmica escolar. Se o fenômeno
não for controlado, os alunos (os atores sociais) vão carregar o ônus da
interpretação pelo resto de suas vidas e das vidas dos que estão ao redor,
sofrendo as consequências.
Aprende-se a ser bom aluno, assim como aprende-se a ser bom filho, bom pai,
bom profissional, etc. O não investimento na busca pela excelência na formação
acadêmica, interfere na construção dos demais papéis sociais que o sujeito vai
representar em sua história de vida. Os papéis sociais * estão interligados e
evoluem conjuntamente. Os indivíduos evoluídos e responsáveis buscam
alcançar o melhor em cada um deles. Conhece-se a qualidade do homem pela
quantidade de papéis que ele representa no mundo.
*
“O indivíduo se baseia no conjunto de seus scripts sociais internos, localizados nos registros mentais, para
representar os papéis que vão defini-lo como pessoa.
Os scripts sociais internos se formam naturalmente no âmago da mente do sujeito pensante e agente, seja por
aprendizado ou a partir das informações cognitivas que o mesmo recolhe de forma inconsciente e consciente, dos
ambientes naturais e humanos em que vive e se desenvolve.
Em conformidade com as leis matemáticas e orgânicas que constroem o Universo e tudo que ele contém, cada script
social interno se organiza como um sistema aberto de dados racionais e emocionais afins, que se unem com o intuito
de funcionalizar o pensamento e o comportamento do agente causal, o sujeito pensante e agente. É por intermédio
desses scripts sociais internos, somados às demais dinâmicas e funções da mente, que a personalidade se estrutura e
passa a interagir com o meio que a cerca.
Entretanto, se a sistêmica mental vier a abrigar um único script social interior mau formado ou mau orientado, a
totalidade da arquitetura íntima que sustenta a psique se deformará e passará a criar perigosas distorções no
pensamento e na ação produtiva do sujeito. Em igual medida, se houver a falta de um ou mais scripts sociais
internos no âmago da sistêmica mental do indivíduo, ele se sentirá impossibilitado de se envolver de modo
satisfatório e pleno nas relações pessoais pertinentes aos scripts em questão.
As culturas planetárias devem cuidar para que todos os indivíduos tenham condições de construir e de organizar
scripts sociais internos, relacionamentos pessoais e dinâmicas macrossociais que promovam a expressão elevada de
suas divinas almas humanas.”
(Trecho do livro Estruturologia, de Caio Ares)
132
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
Por exemplo, qual o tipo de homem e pensador que foi Marx? Esse homem
conseguiu fracassar em todos os papéis que representou na vida. Foi péssimo
filho, irmão, neto, sobrinho, primo, aluno, empregado, patrão, marido, pai,
amigo, vizinho e cidadão * . No entanto, esse cancro humano produziu ideias que
movimentaram milhões de sujeitos pensantes e agentes. Como alguém pode
seguir uma pessoa tão desequilibrada e mau caráter? Que tipo de ideias um
homem desses pode produzir? Com quais intenções? Querendo ludibriar e
explorar quem?
Desde os primórdios, na Mesopotâmia, as escolas, na quase totalidade, não
apresentam condições de garantir a evolução de cada aluno e da classe como
um todo. Assistêmicas na configuração e na função, as salas de aula, de ontem
e de hoje, são verdadeiros nichos de má formação humana.
De modo pitoresco, o modelo escolar, quando irracional, favorece o surgimento
espontâneo de zonas específicas comuns a qualquer época e espaço, que
aparecem como bairros ou localidades demarcadas, também encontradas na
macroescala social, onde os personagens se alocam, segundo suas tendências
ressaltadas pela sistêmica do ambiente escolar (por exemplo: o “fundão”, as
carteiras à frente do professor, o centro, as laterais, etc.). Assim, representando
papéis inadequados e participando de sistêmicas danosas, os alunos informamse intelectualmente e enformam-se como pessoa humana, agregando adjetivos
e valores à sua individualidade, os quais compromete suas oportunidades de
realização pessoal no futuro.
Desta feita, os educadores e as escolas deixam de cumprir as funções
socioeducativas, não preparando os alunos para as dinâmicas da vida em
sociedade. São raros os casos em que os alunos e formandos modernos, ao
findarem os estudos acadêmicos, ingressam na cadeia produtiva sem
apresentarem graves deficiências sistêmicas, emocionais, intelectuais, morais e
éticas, que muitas vezes vão acompanhá-los por toda a existência.
Desde que sejam propiciados por modelos sistêmicos inteligentes, as salas de
aula, do jardim de infância às universidades, apresentam todas as chances de
oferecer climas ricos em experiências humanas que formam e informam
cidadãos autoeducados, conscientes dos seus papéis e produtos, tornando-os
assim, seres sociais sinérgicos e participativos na construção e manutenção da
riqueza que compõem o macrosistema social – a sociedade civil.
Portanto, não basta passar-lhes informações, tarefas ou reprimendas, é
necessário que os alunos se tornem elementos sistêmicos responsáveis pelo
histórico-processual dos seus produtos e serviços, desde a geração e
manutenção da sua prole ao fruto do seu trabalho.
*
Para saber mais sobre o assunto, leia o livro Jenny Marx ou a mulher do diabo de, Françoise Giroud,
editora Record, 1996.
133
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
A instituição socioeducativa escolar, porém, não é o único organismo sistêmico
que possui a capacidade de desenvolver e civilizar o indivíduo, humanizando-o
mais amplamente, há também a empresa comercial.
A empresa alia o gabarito cognitivo, sobre o qual é formada a estrutura
comportamental da mesma, à responsabilidade de ser um organismo que leva
seus elementos sistêmicos, os trabalhadores, a produzirem produtos e serviços
comercializados e difundidos conceitualmente em grande escala.
Quando assistêmica, a empresa também apresenta personagens, modelos,
zonas, pontos focais e sinergia deficiente. Entre os personagens típicos das
dinâmicas produtivas problemáticas, estão o sabotador, o ladrão, o fala mal do
patrão, o agitador, o fofoqueiro, o leva e traz, o espião industrial, o chefe
neurótico, o torce-contra, o diretor ou o gerente corrupto e outros tipos
assistêmicos.
Do ponto de vista sistêmico-sinérgico, a existência dessas figuras na empresa
denuncia que a organização está enferma, além do que, sua sobrevivência e
longevidade no mercado estão ameaçadas.
A instituição comercial, por sua extrema diversidade humana, de organização e
função, é o local mais propício para o indivíduo continuar seu desenvolvimento
pessoal, social e profissional. Porque, se o trabalhador não conseguir evoluir
organicamente em seu espaço de trabalho, dificilmente o conseguirá em seus
ambientes íntimos, onde as relações são particulares e sofrem cobranças de
caráter afetivo, amoroso ou familiar.
Por ter condições de proporcionar inúmeras oportunidades de crescimento
interior e exterior aos funcionários, as empresas são escolas, em gênero,
importância e caso. Por intermédio da sistêmica e da cultura internas, que
devem estar focadas na evolução contínua de pessoas, processos e produtos, a
organização produtiva tem por obrigação, instigar e garantir a evolução pessoal
dos trabalhadores – as células vivas do sistema empresarial. Não há empresas
estáveis e de sucesso, quando seus trabalhadores são uns fracassos humanos.
Afinal, ao preparar-se com responsabilidade para ser um profissional
competente e de futuro garantido, o qual busca desempenhar seus papéis
sociais com o máximo de excelência e responsabilidade produtiva, o homem e a
mulher descobrem a importância em desenvolver seus atributos individuais,
para serem capazes de conviver com pessoas variadas, as quais, por sua vez,
devem estar aptas a formar equipes sistêmicas flexíveis, solucionadoras e
produtivas, somando os fatores biológicos aos sociais e aos culturais, na
formação das estruturas interiores e exteriores, comuns aos seres humanos.
Isso requer de cada trabalhador, do menor ao mais graduado, investimentos
consistentes em educação, cultura geral, ética, moral, saúde, bons modos,
aparência pessoal, redes de relacionamentos construtivos, expansão intelectual
e pensamento reflexivo, entre outros fatores capitais.
134
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
Nesse contexto amplo, o trabalho é muito mais do que um emprego ou uma
opção de ganho financeiro, na verdade é uma chance de aprender a adquirir
qualidade nos relacionamentos sociais e produtivos.
Quando, no futuro, houver nas empresas a integração sistêmica dos
trabalhadores e dos processos de qualidade aos produtos, o indivíduo
perceberá que produzir com excelência e consciência produtiva vai além da sua
responsabilidade com a organização, com os chefes e administradores ou com
os consumidores finais. Antes, na cadeia produtiva, ele está produzindo para si
próprio. Os produtos e serviços gerados são espelhos de si mesmo que refletem
seu valor e nível evolutivo, enquanto pessoa em processo de individualização e
humanização.
Segundo o que é comum à dinâmica dos sapiens, as dificuldades encontradas
pelo criador, obrigam-no a desenvolver suas capacidades natas, morais e
éticas, para habilitá-lo a moldar a matéria sensível, segundo sua vontade.
Essa relação produtiva contínua de aprendizado e especialização interior e
exterior leva o produtor a incorporar inconscientemente as qualidades dos
materiais com que ele trabalha, com vistas a superar limitações e resistências
de ambas as partes. Dentro desse conjunto de fatores sistêmicos e sinérgicos,
a cultura tende a direcionar e amparar a ação daqueles que estão sob sua
tutela.
Na Grécia Clássica, a relação produtiva individual e grupal contava com a
orientação de um tipo de cultura que buscava sentir e materializar a verdade em
todas as coisas: no cosmo, no mundo, no homem e em sua produção. Para os
gregos, a verdade era sinônimo de ordem, beleza e harmonia. A base cultural
originada em tempos creto-micênicos, cozida em conjunto com os encantadores
versos de Homero, bastou para que os helenos munidos de espírito criativo e
bons materiais legassem personalidades e obras-primas insuperáveis à
humanidade. Na arte, a busca pela perfeição da forma e do conteúdo, auxilia na
evolução da vida humana, ao interferir na construção positiva do intelecto do
produtor, do consumidor e do apreciador do objeto artístico.
Tanto a estética quanto a moral e a ética representam a intenção inteligentes do
sujeito que se revela no pensamento e na ação produtiva. Durante o Império
Romano, a cultura grega sobreviveu miscigenada à cultura latina. Mas ambas
morreram quando foram confrontadas pela cultura cristã, de baixa qualidade
produtiva e, portanto, sem qualidade moral e ética.
Os homens e os povos se constroem (para o melhor e para o pior) por
intermédio de suas obras. Pois, não há como negar que os produtos revelam os
valores e o patamar evolutivo de quem os produziu, seja o produtor um
organismo vivo, um povo, uma organização ou uma pessoa.
Ao espelhar-se em suas obras – seus produtos –, o homem acaba absorvendo
os quesitos da produção à sua personalidade: qualidade, espécie, forma,
função, significado e símbolo. Então, o produtor e o produto tornam-se um só,
estando unidos por forças físicas e psicológicas, indestrutíveis. Imagem e
135
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
reflexo um do outro. Quando o agente produtor descobre esses fatores
incontestáveis, está pronto para desenvolver-se de modo ininterrupto e
completamente responsável.
Das culturas conhecidas, nenhuma se mostrou tão imprópria à evolução de
indivíduos e sociedades, quanto a cultura judaica. Por sua culpa, o povo judeu
tem sofrido em todos os cantos, milênios após milênios.
A cultura judaica tem produzido que tipo de processos produtivos e históricos?
Que tipo de homens? Que tipo de resíduos? Que tipo de produtos? São
racionais? Humanos? Irracionais? Não humanos?
Por ser uma cultura inversora, a ordem natural se põe contra sua expressão e
progresso, tentando corrigi-la por intermédio do infortúnio. Pelas
consequências, conhece-se a qualidade das causas.
Pobre judeu, quem o salvará das garras de sua própria cultura? Quem salvará a
Humanidade? A humanidade e a racionalidade dos homens?
Além da judaica, que outras culturas merecem ser revistas? A islâmica? A
tibetana? A americana? A hindú? Quais mais? O que fazer quando uma certa
cultura vitima um ou mais povos? As culturas humanas estão alinhadas com as
forças positivas do Universo?
Até o presente momento, a biosfera terrestre tem sido dinamizada por jogos de
vida e morte pouco racionais, mas que se mostram eficientes ao funcionalizar o
conjunto dos comportamentos interligados de todos os seres vivos, com seus
respectivos produtos e serviços, mesmo quando a maioria das partes
constituintes apresentam níveis ínfimos de inteligência ou racionalidade.
É inequívoca a presença crescente da razão, o Logos dos gregos, nos
processos bióticos que formam os reinos naturais. Do aparecimento dos
primeiros sistemas orgânicos há quase quatro bilhões de anos, compostos por
organismos unicelulares primitivos, até ser atingida a complexidade
impressionante dos biomas da atualidade, percebe-se que pouco a pouco, os
sistemas foram evoluindo à medida que surgiam espécies cada vez mais
complexas, mais “inteligentes”, mais diversificadas e mais preparadas para
solucionar os problemas que iam sendo propostos pelas condições cambiantes
do macrossistema planetário.
Sabe-se que a inteligência sistêmica dos ambientes influencia na construção
formal e funcional dos organismos vivos, na mesma proporção em que ocorre o
inverso. As partes e o todo evoluem em conjunto.
O animal com cultura, o homem, locador natural da magnífica mente humana, é
a mais nova aposta da Mãe-Natureza à evolução da Terra. No entanto, esse ser
potencialmente racional precisa evoluir rápido antes que a irracionalidade da
sua ação supere a racionalidade do conjunto universal e impeça a continuidade
de qualquer tipo de dinâmica lúdica biótica, por tempo indeterminado. Se o
planeta for danificado pelos homens irracionais, ele poderá voltar à condição de
136
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
semente cósmica, à espera de uma nova chance de ter a vida brotando de suas
entranhas.
A vida terrestre nasceu em meio a desafios quase intransponíveis. Para
sobreviverem, os sistemas nascentes foram obrigados a superar as inúmeras
pressões contrárias. Começava a funcionar, então, a sinergia da luta pouco
racional pela sobrevivência a qualquer custo.
Somos filhos legítimos dessa inteligência sistêmica original. Somos todos filhos
da luta, da vida e da morte do mais fraco. Somos filhos do instinto, mas também
somos filhos da razão maior que está tentando construir o planeta Terra e o
Cosmo. Cada um de nós é responsável por assenhorar-se da luz que, ao
espantar as sombras, ilumina nosso próprio caminho.
Herdamos as características de todos os sistemas que entram em nossa
configuração sistêmica única (sistemas: nuclear, de parentesco, de amigos, de
bairro, de cidade, de estado, de país...). E, apenas pela razão, evoluiremos a
fim de transformar o planeta Terra em um local onde a vida não precise mais
nascer pela dor e pelo sofrimento. Isso vale para todas as espécies naturais,
incluindo a espécie humana.
Mas, por ora, por pensarmos e agirmos com menos inteligência e racionalidade
do que os vírus, os insetos e os animais não humanos, nós, os homens, nos
tornamos a maior ameaça à Mãe-Natureza. A mesma Mãe que nos projetou e
nos gerou com tanta boa-fé. Esperançosa, ela acreditou em nosso potencial
descomunal e nós, crentes nos deuses e enlouquecidos por eles, começamos a
destruir a Natureza. Unido às partes, o bicho-homem involuiu o conjunto.
A Humanidade é humana? Ainda não.
Como pode haver humanidade, quando todos, dos miseráveis aos
multimilionários, dos tolos aos “sábios”, das “santas” às putas, espalham a
pobreza humana por onde passam? São bichos que mentem, enganam, traem e
deixam-se ser traídos e enganados para poderem sobreviver e prosperar.
Exceto o homem, nenhum outro ser vivo se mostrou tão irracional, a ponto de
provocar a destruição da biosfera.
Presa e predadora. Vítima e assassina. Pobre gentalha orgulhosa de sua
loucura. Pobre Humanidade quase sem humanidade nenhuma.
A distribuição das massas físicas do planeta Terra está sendo desastrosamente
alterada com a extração inconsequente de materiais e substâncias do solo e do
subsolo (petróleo, gases, lençóis freáticos, metais, carvão, pedras preciosas,
etc.) e a construção irresponsável de megacidades superpopulosas e amantes
de edificações colossais. O bicho homem esgarça a tecitura das tramas que
formam o tecido da crosta terrestre ao impor-lhe pesos, massas, volumes e
práticas estranhas às dinâmicas evolutivas da Natureza.
A intromissão irracional e destrutiva interfere no equilíbrio da massa total do
planeta. Graças aos desequilíbrios já provocados, o eixo terrestre já está em
137
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 10
processo de correção trazendo consequências graves à Humanidade. Ninguém
se dá conta? Enquanto o chão rui sob seus pés, os cientistas crentes, sempre
soberbos e embevecidos com a própria inteligência manca, se encantam com o
brilho das estrelas criadas por Deus, junto de tudo que há, em seis dias. No
sétimo, descansou.
Santos, sábios ou idiotas amorais? Se a ciência trata da racionalidade sistêmica
e matemática do Universo e de todos os elementos universais, dos átomos às
galáxias e à mente humana, como os praticantes e estudiosos da ciência podem
ser irracionais a ponto de acreditarem na existência física, energética e
intelectual de Deus? Que mundo é esse? Em quem se pode confiar?
Enlouqueceram? Os efeitos são devastadores. A justiça continua sendo feita, as
contas continuam sendo corrigidas. Os que erram...
Os homens, os sujeitos pensantes e agentes, não foram criados por acaso
natural ou por capricho divino. Em termos cósmicos, a racionalidade humana
possui uma função sistêmica precisa: acelerar o processo de racionalização da
sinergia planetária.
Por estar no topo da escala evolutiva, cada homem já nasce com a
responsabilidade de contribuir com a evolução das espécies vivas, e dos
biomas que as contêm, desenvolvendo o potencial racional das unidades
sistêmicas e dos conjuntos sistêmicos, como um todo único e inteligente.
O ser humano nasceu para ser guardião e mestre racional da Natureza.
“O homem possui a sombra e a luz, a irracionalidade e a racionalidade
entranhadas em sua essência. Se optar por espantar as sombras,, seu
caminho será eternamente protegido e iluminado. Porque, se for luz e
se fizer luz, é sinal de que se conscientizou que é Um, uma presença
criativa única no tempo e no espaço, um elemento sistêmico universal
que sempre existiu e que sempre existirá como potência matemática
absoluta e predicativa.
Então, o homem que se libertou da irracionalidade para unir-se à
racionalidade da sistêmica universal, mira no infinito e enxerga seu
próprio reflexo estampado no firmamento. Ele e o Todo, enfim, são um
só. A união a tanto sonhada realizou-se.”
(Caio Ares)
138
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
CAPÍTULO 11
Durante a evolução da história da cultura humana, as classes dominantes, em
posse das teorias, das práticas e dos símbolos de poder das comunidades,
conseguiam controlar os jogos sociais, manipulando a imaginação e a sinergia
produtiva das pessoas, com o anteparo das forças armadas.
Nas sociedades agrícolas primitivas, divididas em classes dependentes da
terra, os grandes proprietários (reis, nobres, sacerdotes e generais) ocupavam
o topo da pirâmide social, dominando o território nacional e tudo que havia
sobre ele, das coisas aos seres vivos. Na base da pirâmide, amontoavam-se os
que tudo deviam porque nada possuíam.
Para perpetuar a oferta da mão de obra barata em grande quantidade (os
braços multiplicados que sustentavam os estados), as crenças religiosas, as
tradições culturais e as leis (humanas e divinas) eram formuladas, entre outros
objetivos, para limitar ao máximo a evolução individual dos pobres e dos
escravos.
Os trabalhadores braçais deveriam ser mantidos nos duros ofícios, de geração
em geração, presos às respectivas classes baixas e, de preferência, mansos e
resignados para que as “coisas” se mantivessem no lugar em que os poderosos
os punham, segundo os interesses da época.
Nesses sistemas irracionais e imbecilizantes, o comércio representava um mal
necessário. O Estado lucrava e não conseguia sobreviver sem um sistema de
trocas ativo. Em contrapartida, os comerciantes conseguiam acumular riquezas
com maior eficiência e segurança do que a elite rural conservadora, a qual
jogava com a sorte na lide com a terra.
Com a entrada nos Novos Tempos, marcada pela presença crescente da
burguesia (a nobreza do dinheiro) nos altos postos administrativos, a situação
se alterou para os indivíduos ligados ao comércio, que passaram a apresentar
um peso diferente na construção e na organização dos corpos sociais, podendo
participar de forma progressiva na condução política dos países.
Rápido, os construtores do Paraíso do Consumo aprenderiam a criar cordéis
para prender os fantoches que lhes pertenciam por direito: os trabalhadores e
os consumidores. Em breve, o Jardim das Delícias iria crescer e começar a
interferir na estabilidade dos Estados. O mundo nunca mais seria o mesmo.
Pelo menos nas aparências...
139
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
Sendo assim, a cabeça do homem moderno, além de ser propriedade do
governante e do sacerdote, hoje também pertence aos profissionais do universo
do comércio, que dela se apossam, usando os mesmos truques de sempre.
Como os tempos mudam, mas se preservam as mágicas que mantêm a ralé
cativa, a economia de mercado da sociedade cristão moderna incorporou ideias,
imagens e diretrizes bíblicas, como os princípios da caridade * e da custódia ** ,
com a bênção das igrejas católicas e protestantes, para sinalizar aos fiéis
consumidores do sobrenatural, que a vaidade, a ostentação e o desejo de
consumo eram comportamentos aceitos por Jesus Cristo. Por sinal, o mesmo
Cristo que, plagiando Buda (nascido cerca de 566 a.C. e conhecido em todo o
mundo antigo, da China à Grécia), pregava o despojamento total e a ausência
absoluta do desejo de consumo.
Quem não se lembra do Filho de Deus afirmar que “É mais fácil um camelo
passar pelo buraco da agulha do que o rico entrar no reino do Pai” ou “Quando
deres um banquete não convida teus amigos mas, sim, os pobres e os
estropiados” ou “Bem-aventurados os pobres porque deles é o reino dos céus”?
As máximas que o Filho de Deus pregava, por ordem do Pai, como sendo suas,
circulavam pelo Império Romano havia séculos. Na verdade, o que Cristo fez foi
criar um mix populista de enunciados judaicos, gregos, persas, hindus,
egípcios, etc., para comercializá-lo como se fosse um novo produto junto a
clientes de baixa renda e pouco senso. O Velho Testamento também é pouco
original. Está repleto de lendas retiradas das culturas suméria, babilônica, hitita,
hindu, persa e etc. Parece que o povo judeu absorveu (roubou?) a parte mais
importante da história dos povos com os quais mantiveram contato, tomando-as
como sendo originalmente suas. De cabo a rabo, do Velho ao Novo
Testamento, a Bíblia apresenta o maior conjunto de fraudes históricas do
mundo.
Independente da apropriação do pensamento alheio, o que mais salta aos olhos
na avaliação da Boa Nova messiânica, é o juízo do messias. Suas palavras
denunciam uma personalidade neurótica, psicótica, esquizofrênica, maníacodepressiva, pessimista, irracional e dada a alucinações. São tantos os
problemas mentais que é quase impossível terem pertencido a uma só pessoa,
no caso, Jesus de Nazaré, o salvador da humanidade. Salvador?
No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec nos fornece um
retrato fiel da opinião de Jesus sobre o planeta, sobre a missão do homem no
mundo e sobre a gerência administrativa do Criador na ordem das coisas:
*
Princípio da Caridade: Prega que os mais ricos devem ajudar os mais pobres.
Princípio da Custódia: Prega que as empresas e os indivíduos mais ricos devem agir como guardiões sociais,
preservando e aumentando suas fortunas, para o bem da sociedade.
Baseados nos ensinamentos bíblicos, os dois princípios foram lançados no livro O Evangelho da Riqueza, de autoria
do magnata fundador do conglomerado U.S. Steel Corporation, Andrew Carnegie. “Ambos os princípios eram
francamente paternalistas, viam os donos de empresas como pais de empregados que pareciam crianças ... A ideia de
Carnegie era de que os ricos guardavam o dinheiro “em confiança” para o resto da sociedade ... era também função
das empresas multiplicar a riqueza da sociedade, aumentando a sua própria por meio de investimentos prudentes dos
recursos postos sob sua custódia” (Stoner e Freeman 1995).
**
140
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
“E, porventura, a Terra é um lugar de alegrias e um Paraíso de
delícias? Não ressoam ainda aos vossos ouvidos as palavras dos
profetas? Não disse que haveria choro e ranger de dentes para os que
nascem nesse vale de lágrimas, de dores e sofrimentos? Vós que nele
vieste viver, espera lágrimas ardentes e penas amargas e quanto mais
agudas e profundas forem as vossas dores, levanta os olhos ao céu e
bendizes ao Senhor por vos haver querido provar.” ... “A felicidade
não é deste mundo. Realmente: nem a fortuna, nem o poder, nem
mesmo a juventude são condições essenciais para a ventura; direis
mais; nem mesmo a reunião dessas três condições tão invejadas,
porque se ouve continuamente, em meio às classes mais privilegiadas
e as pessoas de todas as idades, a queixa amarga de sua condição
de vida.” ... “Bem sofrer, mal sofrer. Quando Cristo disse ‘Bemaventurados os que choram, porque eles serão consolados’, não se
referia, em geral, aos que sofrem, porque todos aqui sofrem, quer
vivam em palácios, quer vivam em cabanas. Mas ah! Poucos sabem
sofrer bem, poucos compreendem que só as provas bem suportadas
conduzem ao reino de Deus.” ... “A recompensa será tanto maior e
mais preciosa quanto maior houver sido a aflição.” ... “Mesmo que
tivésseis de chorar e sofrer toda uma existência, que significa isso ao
lado da eternidade de glória reservada ao que houver suportado a
prova com fé, amor e resignação.” ... “Busca, pois, consolo para os
vossos males no futuro que Deus vos prepara e vós, os que mais
sofrem, sentir-vos-ei como os felizes da Terra.” ... “Não resistais
àquele que te fizer mal.” ... “Perdoa setenta vezes sete.”
Paranóia? Mistificação? Não, fé.
Fé mística e hipocrisia são facetas da mesma moeda de trocas. Uma não existe
sem a outra. Da mesma forma, todos aqueles que fazem uso da fé mística são
hipócritas à sua maneira. A fé humana nada tem a ver com a fé mística.
Sobre essa questão, Madre Tereza de Calcutá legou-nos um belo exemplo, com
a cruz cravada no peito e as palavras do Pai na ponta da língua. Tereza ficou
mundialmente famosa por seguir à risca as leis de Deus e de seu filho amado,
Jesus. No entanto, para espanto de todos, quando a madre santificada
abandonou os palcos da vida e as manchetes dos noticiários, descobriu-se que
a religiosa desacreditava da existência de Deus. Hipocrisia? Não, fé.
Todavia, há mais. No Evangelho segundo João, encontramos:
“De novo lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem
me segue não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida.”
(8,12; Mat 5,14; Jó 9,5)
Na Primeira Epístola de João, encontramos:
“Não ameis o mundo, nem as cousas que há no mundo. Se alguém
amar o mundo, o amor do Pai não está nele.” (2,15)
141
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
“Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai,
mas procede do mundo.” (2,16)
“Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele,
porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente.” (2,17)
“Nisto conhecemos o amor, em que Cristo deu a sua vida por nós; e
devemos dar nossa vida pelos irmãos.” (3,16)
Isso é o Cristianismo. Isso é o Espiritismo. Isso conduz à mediocridade
Humana. Isso animaliza o sujeito pensante e agente, o magnífico ser humano.
Isso destrói a vida saudável. Involução humana? Não, fé.
O Todo é mente e corpo; é pensamento sistêmico e resultado; é energia e
massa; é razão crescente, luz e vida. O maravilhoso mundo da matéria, a parte
visível do Universo, é a obra-prima dessa inteligência monumental. Igual ao
homem, é criador e criação, é produtor e produto de si mesma, é indivíduo e
número únicos. Na arte e na vida, o homem evolui pela matéria, a mesma
matéria que ele precisa aprender a amar e respeitar para ser capaz de
transformá-la em obra-prima digna de pertencer ao Todo.
Moisés, Buda, Jesus, Maomé e todos os espiritualistas estão errados, o ser
humano evolui por intermédio da matéria. A arte é a verdadeira religião
humana, a religião que revela o verdadeiro criador divino e profícuo.
Todas as religiões usam e abusam dos conceitos e dos predicados da Luz e das
sombras para atrair os fiéis. O fundador do budismo, Sidarta Gautama, recebeu
o codinome de Buda, que em sânscrito (buddah) significa “o Iluminado”, aquele
que ilumina os caminhos para a libertação do Carma. Os budistas creem em
planos superiores habitados por seres divinos e felizes. O fiel atinge a
iluminação quando consegue renunciar completamente aos apelos da matéria,
fonte de dores e sofrimentos.
Para ludibriar o público leitor, a Bíblia é pródiga em citações e histórias que
empregam a luz como símbolo de força e salvação. Nos Salmos, livro de hinos
e rezas, escritos de 1000 a 333 a.C., há passagens famosas:
“Ainda que eu ande por um vale escuro como a morte, nada temerei.
Pois tu, ó senhor Deus, está comigo; tu me proteges e me dirige.”
(23,4)
“O Senhor Deus é a minha luz e a minha salvação, de que terei
medo?” (27,1)
“Tu és a fonte da vida e, por causa da tua luz, nós vemos a luz.”
(36,9)
142
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
“Assim, é Deus, eu ando na tua presença, eu ando na luz da vida.”
(56,13)
“O Senhor Deus é a nossa luz e nosso escudo.” (84,11)
“Alguns estavam vivendo na escuridão, nas trevas, aflitos e presos
com correntes de ferro porque haviam se revoltado contra as ordens
do Deus altíssimo e rejeitado os seus ensinamentos.” (107,10-11)
“A tua palavra é lâmpada para guiar os meus passos, é luz que
ilumina o meu caminho.” (119,105)
A fundação alemã Bertelsmann Stiftung entrevistou 21 mil pessoas de 18 a 29
anos, em 21 países, sobre o tema religiosidade: 85% se disseram religiosos e
44% muito religiosos. No Brasil, os que disseram ser muito religiosos atingiu a
marca dos 65%.
Einstein, em carta enviada ao amigo Eric Gutking, em 1954, afirma: “A religião
judaica, como todas as outras religiões, é uma encarnação das superstições
mais infantis ... a palavra Deus para mim nada mais é do que expressão e
produto da fraqueza humana”.
Como pode ser visto até agora, as religiões colecionam contradições não
explicadas, que o público engole sem o menor escrutínio. O Cristo da Igreja
Católica é absolutista e feudalista. Prega o sofrimento bem suportado e a
simplicidade (pobreza interior e exterior) como regra de vida para o fiel agradar
o Pai e alcançar o Paraíso. Já, o Cristo protestante, é liberal e capitalista. Prega
o bem-viver, o sucesso pessoal e o desejo de consumo nessa vida e na outra.
Ambos os personagens são opostos. Qual deles é o verdadeiro? Ou será que
os dois são falsos?
Fora as contradições dessa ou daquela religião ou desse ou daquele
personagem sagrado, é praxe encontrar nas empresas o pensamento técnicoadministrativo misturado ao pensamento mágico-religioso, com a intenção de
criar normas de qualidade, conceitos comerciais e dinâmicas produtivas que
embaralhem o raciocínio dos trabalhadores e dos consumidores, que passam a
trabalhar e consumir sem atentar para o fato de que estão sendo explorados
como animais produtivos.
Marcus Buckinghan e Donald O. Clifton, autores do livro Descubra seus Pontos
Fortes, escrito a partir da pesquisa efetuada pelo Instituto Gallup, com mais de
2 milhões de pessoas, em 101 empresas de 63 países, afirmam que:
“A humanidade tem investido há séculos em sua fixação na culpa e no
fracasso ... a maioria das empresas opera com 20% da sua
capacidade humana (80% do potencial nato do trabalhador é
desperdiçado) ... o mercado global de hoje tem um ritmo acelerado, é
extraordinariamente complexo e amoral”.
143
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
Não se pode mais disfarçar o indisfarçável. Os homens, em todas as partes do
mundo, são amorais e involuídos. E agora?
O homem é um produtor histórico que, com seus produtos, modela-se, modela a
sociedade e direciona os rumos da História; mas quando é contratado, treinado
e pago para produzir e consumir produtos e serviços sem altos valores
agregados, os quais são confeccionados de forma irracional e não humana,
conforme teorias e conceitos inorgânicos, passa a construir uma sociedade
autodestrutiva e completamente assistêmica.
No princípio, as organizações precisavam preocupar-se apenas com a eficiência
dos sistemas produtivos. Reproduzindo a noção dos mercados e dos recursos
limitados, essas organizações eram vistas e entendidas simplesmente como
instituições econômicas com responsabilidade para resolver problemas
econômicos fundamentais como: o que produzir, como produzir, para quem
produzir, quanto investir, como vender e por quanto.
Há muito, essa compreensão revelou-se perigosamente limitada porque está
evidente que o contexto de atuação das empresas é muito mais abrangente e
invasivo, enquanto o modelo de gestão dos negócios sofre questionamentos e
julgamentos cada vez mais severos e corrosivos. Mediante tais observações
empíricas da realidade das empresas, constata-se a necessidade de se
encontrar novos modelos de gestão para cada tipo de empresa, instituição e
outras formas jurídicas de entidades.
Entretanto, contrariando a urgência em se adquirir uma visão orgânica e
consequente sobre o funcionamento de uma e de todas as empresas em
conjunto, a visão acadêmica ainda em vigência, trata a empresa como uma
soma de partes funcionais interligadas, orientadas à produção, comercialização
e distribuição de produtos e serviços. Essa definição equivocada aproxima-a de
um mecanismo produtivo com foco na produção, nos produtos e na saída dos
mesmos – as vendas, convertidas em lucros que voltam à empresa.
A partir dessa compreensão mecanicista desfocada e interessada no capital, as
teorias e os conceitos utilizados para criar, gerir, organizar e administrar uma
organização produtiva são formulados levando-se em conta as experiências de
determinadas empresas marcantes na economia de um determinado país.
As teorias e práticas que são tomadas como referência à criação de regras,
explicitam e formalizam conceitos que, longe de servirem para qualquer caso,
demonstram ser empiricamente viáveis e pertencentes aos ambientes onde
foram geradas – e dos quais são consequência sistêmica lógica, estando então,
circunscritos ao tempo, espaço, experiência, competência e modelos sistêmicos
dos mesmos. Portanto, não são “fórmulas mágicas” mas, sim, produtos
específicos daqueles sistemas.
Porém, desconsiderando essas singularidades fundamentais, é prática comum,
no mundo empresarial globalizado, que esses resultados sejam tomados como
padrão e que os conceitos se expandam, sem se atentar para os perigos da sua
implantação indiscriminada.
144
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
Contra o conjunto empresarial heterogêneo, utiliza-se a premissa dos bons e
velhos vendedores de soluções messiânicas e salvadoras, que o que é válido
para uma empresa ou um pool de empresas bem sucedidas em determinada
época e circunstância, é ótimo para todas em qualquer tempo, espaço e
situação, desde que se reproduzam as mesmas condições e se imponham as
mesmas normas preconizadas pelas teorias consagradas nacional e
internacionalmente, reduzindo o mundo ao funcionamento comum.
Portanto, a implantação de programas oportunistas que alteram o
funcionamento organizacional e agridem a estrutura natural de uma empresa de
forma assistêmica e irresponsável, pode destruir suas bases de sustentação
internas e externas, levando-a a um estado crítico e irrecuperável, no qual
perde as referências como indivíduo produtivo que possui identidade,
inteligência, função, destino e predicados únicos.
De forma alguma, deve-se esquecer que à semelhança do sujeito pensante,
agente e transformador, cada empresa possui um patrimônio constituído de sua
concepção e situação inaugural, histórico particular, inteligência personalizada,
órgão de executivos, órgão de trabalhadores e modelos sistêmicos
absolutamente únicos que lhe dão DNA, interesses, necessidades distintas e
oportunidades de evolução e expansão individual.
Longe de ser um mecanismo produtivo que deve funcionar de forma padrão,
segundo pregam as teorias e as normas de cunho quase religioso, as empresas
demonstram ser complexos sistemas empresariais vivos, racionais, dinâmicos,
responsivos, criativos, produtivos e potencialmente transformadores, cujo
funcionamento
e
consequente
longevidade
estão
submissos
ao
desenvolvimento integrado dos seus fatores biológicos, sociais, técnicos e
organizacionais.
De forma concomitante, o enfoque tradicional da empresa como instituição
econômica que tem a responsabilidade consubstanciada na maximização dos
lucros e na minimização dos custos, atualmente sofre cobranças do
macroambiente no qual opera sua missão econômica e social.
Entende-se por macroambiente as exigências que são feitas pelas partes
integrantes em um negócio, formalizadas pelo poder econômico dos clientes,
pela sociedade local e global, pelos governos, pelas associações e entidades
não governamentais, pelas legislações, pelos concorrentes, pelo mercado
fornecedor e distribuidor e, por último, pelos profissionais que compõem o
negócio e que exercem forças significativas e megatendências que criam
oportunidades e ameaças à organização.
Dentro desse conteúdo amplo, a visão atual da empresa em relação ao seu
ambiente interno e externo é infinitamente mais complexo do que reza a
premissa clássica, pois ela é, na verdade, uma instituição sociopolíticaeducacional, que precisa organizar as capacidades para funcionar como
empresa, sociedade e escola de desenvolvimento humano e produtivo.
145
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
Além do mais, é chegado o momento histórico, crucial, de o mundo empresarial
refletir sobre como tem utilizado e demonstrado a responsabilidade para com a
sociedade, por meio da responsabilidade expressa no histórico-processual dos
seus produtos e serviços comercializados em larga escala.
Nas últimas décadas, em especial, graças aos modelos de gestão assistêmicos,
mecanicistas, de cunho religioso e irresponsável, que coisifica o homem e seus
produtos, fomos obrigados a colecionar uma infinidade de artigos de péssima
qualidade intrínseca, sem contar os profissionais desonestos e desorientados,
as fraudes nos resultados e nas pesquisas, os investimentos perdidos, as
fortunas gastas com a corrupção, os desvios de capital, a destruição dos
valores morais, éticos e culturais, os programas sociais assistencialistas e
equivocados e tantos outros senões.
A influência do ilícito ocorre desde a organização da gestão clássica de
negócios até a apreensão de selos de acreditação, certificações, ferramentas
gerenciais, programas motivacionais e demais modismos mágicos que surgem a
cada estação, apregoados por gurus nacionais e internacionais como sendo a
grande panaceia, a boa-nova para se lucrar mais pelo menor custo possível,
mas que, na verdade, não solucionam os problemas empresariais e as
exigências do macroambiente. Pior ainda: leva-os ao caminho sem solução, às
expensas do trabalhador e da sociedade.
Mesmo que se gastem fortunas com propaganda e marketing para valorizar as
marcas e os produtos, é público e notório que a empresa moderna enfrenta a
crise mais dramática da sua existência histórica, por falta de um modelo de
gestão que integre e sistematize os processos, as pessoas e seus produtos,
elevando a consciência e a competência desses produtores e consumidores,
para que eles consigam produzir e consumir produtos que contenham históricoprocessual comprometido com a evolução do homem, das espécies e dos
ambientes, desde a sua criação à total extinção dos mesmos em todos os
sistemas integrados que amparam e sustentam a vida humana: sociais,
naturais, artificiais, humanos e mistos.
Desse patamar, somos confrontados com a profunda necessidade de reformar
todos os aspectos empresariais em andamento, a partir da formulação da
missão da empresa, bem como sua concepção, criação e desenvolvimento dos
seus produtos e serviços, sua tecnologia, seus clientes-alvo, seus fornecedores,
incluindo igualmente a responsabilidade pelo histórico-processual dos produtos
comercializados e difundidos conceitualmente em escala histórica, cultural,
social e comercial.
Segundo a noção clássica da concepção e do desenvolvimento de um negócio,
para a definição e análise da missão, enfoca-se a razão social e econômica
pela qual deve existir e prosperar a organização.
Nesse item de base, encontramos contradições funcionais e operacionais
graves podendo questionar já no princípio das discussões que visam reformular
o sistema atual. Como um produto que causa danos à sociedade, independente
de ter sido produzido e distribuído segundo todas as normas de qualidade, pode
146
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
advir de uma empresa que jurou uma missão incoerente com seus produtos e,
portanto, mentirosa.
Ela é considerada como enganosa, porque não há conhecimento de uma
missão que explicite sua vocação e seu desejo de causar danos à saúde, morte
dos usuários e trabalhadores, distúrbios psicológicos variados, desintegração
social e ambiental. Além de outros malefícios que incluem o mau gosto e a falta
de educação e cultura.
Desses produtos perniciosos, podemos citar os mais notórios: as armas, o
cigarro, as máquinas e os veículos movidos a combustível poluente,
megarrebanhos de animais de abate (principalmente o gado), plásticos, pneus,
filtros de cigarro, as bebidas alcoólicas, programas de rádio e televisão de baixo
nível, revistas e edições de conteúdo medíocre, filmes, músicas e peças de
teatro imorais ou violentas, artes “pseudocultas”, pornografia, drogas, produtos
confeccionados e embalados com matérias-primas nocivas ao homem e aos
ambientes, produtos não biodegradáveis, produtos tóxicos, poluentes, remédios
condenados e condenáveis, alimentos que prejudicam a saúde e demais
produtos, milhões deles com histórico-processual que atenta contra o homem,
sua cultura, sua evolução humana, contra os demais seres vivos e contra a
manutenção do meio ambiente.
Não raro, esses produtos e serviços que matam, viciam, comprometem a
sociedade e deseducam o sapiens sapiens, sustentam o desenvolvimento do
local, da cidade, do estado, do país e, porque não dizer, da economia mundial,
se levarmos em conta os milhões de postos de trabalho que são preenchidos,
da contratação de altos executivos com excelente educação acadêmica, pagos
a peso de ouro, aos trabalhadores mais empobrecidos e ignorantes.
Com relação aos fornecedores, as contradições também têm guarida certa. A
esses são exigidos requisitos e especificações técnicas de alta precisão, tais
como: grau de controle de matérias-primas, facilidade e dificuldade de acesso
às fontes e eventuais restrições à rede de distribuição e comercialização,
incluindo a preservação do meio ambiente e a responsabilidade social, quanto
ao não emprego de mão de obra escrava e infantil. Porém, estranhamente, não
é levado em conta se essas matérias-primas, ao serem utilizadas,
desfavorecem a vida e o desenvolvimento humano e ambiental em sentido
amplo e histórico.
Da mesma forma, são encontradas distorções graves nos programas destinados
às empresas, como acontece com o Programa da Responsabilidade Social – SA
8000, quando esse premia a irresponsabilidade e a incompetência produtiva de
pessoas, ONGs, grupos e instituições privadas e governamentais, por
intermédio de ações com forte cunho paternalista e assistencialista.
A quase totalidade dos projetos que são praticados com base nas normas
nacionais e internacionais do programa SA 8000, longe de educar e
conscientizar os produtores (instituições, trabalhadores e o público em geral)
para a necessidade de desenvolverem a responsabilidade produtiva em todos
os níveis da população, tendo em vista suas consequências lógicas para os
147
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
diferentes sistemas e a sociedade, na verdade são utilizados como
instrumentos de marketing barato, para a fidelização dos clientes e a projeção
de marcas e produtos comercializados. Por esse motivo, os profissionais
envolvidos em sua organização e implantação, são chamados vulgarmente de
“Marketing Social”, com retorno financeiro garantido.
Tais ações populistas e duvidosas, a miúdo, enquanto revitalizam a imagem e
os cofres das empresas patrocinadoras, também buscam esconder suas
deficiências produtivas e de caráter, embaixo do tapete do público consumidor.
Abundam os exemplos vergonhosos e cínicos de organizações que promovem
projetos pomposos sob a égide da Responsabilidade Social, mas que não
possuem responsabilidade produtiva particular. Seus métodos e produtos estão
aquém do desejado.
O verdadeiro corpo conceitual e prático da Responsabilidade Social, indiferente
da origem e forma normativa, apenas pode dizer respeito ao produtor e à
responsabilidade que deve estar implícita no histórico-processual de cada um
de seus produtos, serviços e métodos produtivos. Fora isso, não há
responsabilidade e compromisso social de fato.
O mesmo se dá com os programas de Responsabilidade Ambiental que, por
baixo dos panos, mais uma vez, objetivam os lucros financeiros em detrimento
dos reais interesses dos seres vivos e do planeta. Como já aconteceu antes, o
messianismo salvador continua sendo um negócio excelente.
Surgem mais contradições quanto à estratégia de desenvolvimento e ampliação
do negócio, essa é obtida por intermédio de um programa de formulação de
estratégias de mercado que incluem a definição do público-alvo, marketing,
propaganda e perfil do consumidor, o qual é checado permanentemente para
que haja o perfeito conhecimento dos gostos e hábitos do cliente usuário, com
vistas à sua manipulação posterior, de forma subliminar ou explícita.
Entretanto, não se considera nessas práticas de pesquisa, científicas e quase
criminosas, posto que são aéticas e imorais, se esse cliente que vai ser
induzido, pode ou deve consumir esses produtos de péssima qualidade
intrínseca, uma vez que é a sua vida, seu futuro e o futuro das gerações
subsequentes que está em jogo, em favor dos números, dos lucros e dos
interesses ambiciosos dos empresários imperdoáveis.
Então, as empresas modernas, quase em sua totalidade, base da economia e
do desenvolvimento social em larga escala, por estarem pervertendo os
mercados, as sociedades e as pessoas, em cumplicidade com os demais
agentes do poder, além de atentarem contra a parte biológica e humana que
existe naturalmente em seus aspectos organizacionais, produtivos e comerciais,
estão funcionando como perigosos focos infecciosos de desintegração humana,
social e ambiental.
Como se não bastasse, além dos péssimos exemplos já citados das normas
nacionais e internacionais que ludibriam e alienam as massas, os modelos de
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TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
gestão consagrados e implantados por grandes empresas de consultoria, assim
como os demais programas disponíveis ao universo empresarial a cada nova
estação, que, ao objetivarem tão somente a qualidade em sentido abstrato, a
quantidade da produção, o lucro e a satisfação ilusória do cliente manipulado,
tornam o homem o agente produtor, cada vez mais alheio à produção do seu
produto.
Desta feita, sua criatividade, inventividade, expressão individual e participação
nas soluções referentes à melhoria da produção e dos seus processos, são
reduzidos ao mínimo. As fórmulas oportunistas já vêm prontas e são utilizadas,
quase de forma indiscriminada, sem se levarem em conta a individualidade de
cada empresa e as necessidades humanas.
E, uma vez que a organização tenha ganhado um certificado de qualidade
qualquer, esse, necessariamente, não quer dizer, em hipótese alguma, que os
trabalhadores tenham ganhado o equivalente em relação às suas vidas e
expectativas de futuro. Porque, ignorantes do seu potencial e apartados dos
métodos pedagógicos que os fariam crescer e prosperar, os trabalhadores
tornam-se meros cumpridores de ordens altamente complexas, artificiais e
técnicas (porém irracionais), que visam aos interesses do próprio sistema de
produção de bens e serviços, comumente chamado de mercado e daqueles que
o dirigem e mantêm.
Então, é roubada do trabalhador a chance de aprender, crescer, aprimorar-se
de forma natural e desenvolver-se interior e exteriormente por meio do exercício
consciente propiciado pela execução do seu labor, focando-se tão somente nos
quesitos do capital, do mercado, do marketing, dos consumidores e das
tendências estilísticas e de gosto, sempre em constante contradição e embate.
O homem que depende do seu trabalho para sobreviver com dignidade, é
tratado como coisa que deve produzir coisas vendáveis que gerem grandes
lucros, independente das suas características intrínsecas, para outras coisas
vivas consumirem, as quais são tão manipuladas e desrespeitadas em seus
princípios de humanidade latente quanto ele.
Por ser tomado como coisa produtiva que pode ser substituída, por qualquer
pretexto, ou colocada de lado como coisa sem valia, independente dos seus
interesses e suas expectativas particulares de crescimento individual, o
trabalhador vê-se forçado a conviver com a incerteza e o medo contínuo de ter
sua sobrevivência ameaçada, junto dos seus, caso não consiga adivinhar que
rumos tomar dentro do inconcebível, nem seja capaz de corresponder às
exigências, processos, produtos e pessoas. Tanto que o clima de insegurança e
medo que assola o mundo inteiro é sintoma agudo da incongruência dos
sistemas que excluem o homem do centro dos processos produtivos, anulandoos como sujeitos pensantes, agentes e transformadores.
Mais grave que em outras épocas históricas críticas, esse sistema de coisas
suprime de cada homem seu justo direito de viver com dignidade e qualidade
humana.
149
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
Dentro desse ambiente doentio e alienante, o que realmente interessa é colocar
o foco e os métodos evolutivos sobre os produtores, não apenas sobre os
produtos e os consumidores, como fazem os variadíssimos programas de
melhorias voltados aos produtos e aos processos. Haja vista que são estes, os
trabalhadores, os verdadeiros produtores dos sabres voltados à geração dos
valores e riquezas, no sentido que eles dão forma e conteúdo aos mesmos.
Os produtos são consequência direta dos agentes produtores, alicerçados em
sua própria evolução interior e exterior. Um é reflexo do outro. Então, se os
trabalhadores não tiverem qualidade de vida, conteúdo e consciência humana
desperta, seus produtos estarão comprometidos, por mais bem feitos que eles
pareçam ser. Estarão aquém da criação responsável, compromissada e
consequente de um verdadeiro produtor humano. Serão coisas que não
agregarão valores ou princípios éticos legítimos, aos produtores, aos
consumidores e à História.
Dessa forma, as condições atuais, impetradas pelos mercados contra os
trabalhadores e os consumidores, estão favorecendo a involução do indivíduo
humano, bem como estão destruindo seus valores e princípios.
Como se nada estivesse acontecendo de anormal, é comum sermos afrontados
com grandes investimentos em programas de melhoria da qualidade pelos ISOs,
Prêmios Nacionais, Prêmios de Excelência, programas motivacionais e
treinamentos dos mais variados, com a finalidade de fazer o trabalhador
produzir mais e mais sem reclamar, sendo implantados em organizações
doentias e sem caráter, com seus líderes, pessoas, processos, produtos,
fornecedores e consumidores que, juntos, constituem uma imensa rede
assistêmica e nefasta à evolução da história da raça humana.
Cúmplices inconsequentes de uma grande farsa, onde, nas fotos para a mídia,
os personagens principais riem satisfeitos, felizes e realizados em seus
propósitos, enquanto ganham seus prêmios, selos de qualidade, troféus por
desempenho e palmas do público ignorante e facilmente impressionável.
Contudo, infelizmente, esse é um triste jogo de cartas marcadas, em que o
homem – eu, tu, ele, nós, vós, eles – é o grande perdedor histórico.
Animais, animais, animais...
Faz tempo que a sistêmica evolutiva da Humanidade degenerou. Como
acontece há milhares de anos, do topo à base da pirâmide social, os canalhas
ricos e pobres, manipuladores e manipulados, continuam ocupando as mesmas
posições estratégicas nos jogos pouco racionais que a vida também propõe. O
sistema inteiro precisa ser transformado. Todos são culpados. Esse mundo
imoral e aético tem de acabar. Pois, então, que se decrete o fim desse mundo.
Que venham os transformadores, que nasça um novo mundo com uma nova
Humanidade.
150
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
A profunda falta de preparo intelectual dos indivíduos para pensar e agir de
modo sistêmico e focado na produção de produtos com histórico-processual de
alta qualidade e alto valor agregado está na raiz dos maiores problemas do
mundo moderno, seja no ambiente familiar, nas organizações e em sociedade.
As pesquisas apontam que 99,99% dos produtores não sabem identificar as
diferenças existentes entre os inúmeros sistemas naturais, humanos, artificiais,
mistos e, menos ainda, como cada um deles funciona de modo isolado e em
conjunto. A pouca ou nenhuma compreensão gera a baixa competência
sistêmica do indivíduo, da organização e da sociedade.
É interessante apontar que, mesmo com o escol de informações técnicas e
normativas que estão à disposição dos administradores e dos empresários, um
número impressionante de empresas inauguradas não chegam ao segundo ano
de vida. A situação das grandes empresas também deixa muito a desejar. Por
mais que invistam recursos em melhorias, continuam apresentando perdas
inconcebíveis, em virtude da incompetência sistêmica dos profissionais e da má
formação do modelo organizacional.
Mas crescer como? A sistêmica capitalista atingiu o ponto máximo da
contradição sinérgica. As leis da sustentabilidade exigem que se diminuam as
populações planetárias, a produção e o consumo, a níveis mínimos.
Foi-se o tempo em que a máxima “crescei e multiplicai-vos” era o máximo.
Temos que adotar um novo bordão “diminuí a produção e o consumo, buscai a
excelência do capital humano e sobrevivereis”.
Mas como encolher o mundo dos homens sem destruí-lo? Como eliminar os
excessos sem a perda da Humanidade? Como racionalizar os sistemas
agrícola, pecuário e capitalista? Como torná-los sustentáveis? Se forem feitas
as contas, ver-se-á que a biosfera não suporta mais do que uns poucos milhões
de homens vivendo dos seus recursos. Estima-se que até 2030 haverá 15
bilhões deles por aí. Mas quem se preocupa com isso? Quem se preocupa em
diminuir a produção irracional de produtos: gente e artigos?
Se a problemática do século XXI é colossal, ela também traz consigo a
oportunidade da raça humana encontrar grandes soluções. Porém, antes, é
preciso descartar aquilo que vem travando a evolução do homem há milhares
de anos. Porque a reutilização descarada de fórmulas mágicas com os mesmos
truques encantatórios e irracionais de sempre tem produzido situações mortais.
Para resolver as novas questões, não basta à liderança continuar fazendo
planejamento financeiro e estratégico, desenvolvimento mercadológico, tentar
zelar pela marca, obter certificações, criar um ritmo organizacional rígido ou
fazer medições rigorosas. É preciso sim, que as instituições entendam que são
sistemas vivos que precisam desenvolver suas capacidades sistêmicas
individuais no ambiente interno e no externo, para serem capazes de evoluir de
modo saudável, sustentável e não residual.
151
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
As organizações deficientes no quesito da competência sistêmica apresentam
patologias crônicas que contaminam os setores e os indivíduos que a elas se
ligam por intermédio dos seus processos e produtos.
Ao se efetuar o diagnóstico de consultoria ou de auditoria nas organizações
doentes, é certo que as análises vão declarar que essas instituições participam
de procedimentos administrativos e produtivos corrompidos, que sugam as
energias e os recursos das empresas. Via de regra, os valores que norteiam o
comportamento dos indivíduos e da organização estão invertidos produzindo os
seguintes fatos:
Falhas no Caráter
Baixa Competitividade
do Negócio
Ameaças à
Credibilidade da Marca
Roubos.
Sabotagem.
Corrupção.
Chantagem.
Rede de intrigas.
Traições à empresa, aos processos ou aos
profissionais.
Revelação de sigilos da empresa.
Os responsáveis pelos processos empresariais
(proprietários, diretores, gerentes e chefes)
geram maus exemplo pessoais, contaminando as
dinâmicas.
Os produtos não possuem valor agregado.
Os produtos não possuem histórico-processual
competitivo.
Os produtos não geram mercados estáveis.
Os produtos não têm competência para regular
seu valor no mercado.
Os produtos agridem os sistemas.
Os produtos agridem os valores humanos.
Os processos produtivos e os trabalhadores não
são sistêmicos.
Falta de compromisso do produtor, por não estar
integrado à empresa.
A empresa não investe no desenvolvimento do
capital humano.
A incompetência sistêmica dos produtores põe
em risco a imagem da empresa.
A má qualidade do histórico-processual dos
produtos compromete a imagem e a missão da
empresa.
As práticas produtivas e comerciais são
condenáveis.
A composição societária é problemática.
A postura dos proprietários e administradores é
condenável.
O marketing põe em risco a imagem e a missão
da empresa.
Acidentes de trabalho, ambientais e sociais.
152
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
Ameaças
Provocadas
pela Globalização
Inconstância e inconsistência nos propósitos da
empresa.
As empresas não possuem competência
sistêmica para sobreviverem em rede global.
As empresas não possuem competência
sistêmica para absorverem novas tecnologias.
As
empresas
não
possuem
cultura
de
desenvolvimento sustentável e não residual.
A administração da empresa se baseia na
absorção de modismos na área da gestão
empresarial.
Pode-se encontrar a maioria dos problemas, citados acima, em 99,99% das
empresas mundiais. Dessa maneira, fica fácil perceber porque a raça humana
do século XXI chegou a tal situação de decadência e desesperança com o
futuro. Enquanto as fraudes no “business” e no “marketing” prosperam, o
ambiente dentro e fora das empresas vai à falência.
Todavia, embora sejam passíveis de críticas quanto às formas como são
implantadas na atualidade, coisificando trabalhadores e consumidores, as
normas de qualidade trazem ideias interessantes às empresas, as quais
também são úteis à orientação de pessoas, grupos e sociedades, em qualquer
parte do globo: a busca pela excelência produtiva, a preocupação em agregar
altos valores aos produtos, a sistematização inteligente dos ambientes interno e
externo, o controle absoluto da não conformidade, o cuidado com a
sustentabilidade ambiental, a responsabilidade produtiva e social, as
equivalências entre as causas e as consequências, a priorização das relações
de qualidade entre os indivíduos e os sistemas, entre outras.
Poderíamos reduzir esses itens em duas palavras de extrema importância
histórica e social: educação e civilidade. Basta que se use como tal, e não como
instrumentos de imbecilização e de exploração do homem, como tem acontecido
até agora, para que não haja mais a produção da criminalidade, das guerras, da
violência, do tráfico, da prostituição, da mendicância, da maternidade
irresponsável (aquela cujos pais não garantem a humanização do rebento –
direito inalienável do indivíduo), da favelização, da destruição ambiental, da
exploração do forte sobre o fraco (o darwinismo social), da pedofilia, do incesto
e tudo o mais que houver de mau feito, de irracional e indigno à condição
humana.
Para tanto, o homem globalizado do século XXI deve ocupar o centro dos
processos produtivos, para que possa, livre da magia e da religião, se
desenvolver como produtor consciente e responsável pelo histórico-processual
dos seus produtos – da geração e manutenção da sua prole, aos frutos dos
seus trabalhos.
Pois, somente assim, centrado e humanizado, ele pode ser capaz de construir
uma vida plena para si, para os seus entes queridos e uma sociedade
planetária pacífica e maravilhosa para todos. Um Éden de verdade, digno dos
Seres Humanos, os verdadeiros deuses do Universo.
153
TRANSFORME-SE 2 – Capítulo 11
Você já é Deus? E os Outros? Já são deuses os israelenses, os turcos, os
tibetanos, os sudaneses, os chineses, os americanos, os árabes, os brasileiros,
os nicaraguenses, os nigerianos, os indianos, os vietnamitas, os nepalenses, os
bolivianos, os russos, os haitianos, os franceses, os cubanos, os iraquianos, os
egípcios, os sérvios, os colombianos, os afegãos...?
Então...
FIM
154
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