Fisioterapia_2006 - Faculdade Montenegro
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Fisioterapia_2006 - Faculdade Montenegro
Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro de 2006 Brasil Ano 7 - no 1 Janeiro / Fevereiro de 2006 ISSN 1518-9740 Traumato • Mastectomia e amplitude de movimento do ombro • Risco de trombose venosa profunda • Osteoartrite do joelho e fortalecimento do quadríceps Ultra-som • Conformidade e manutenção dos equipamentos Infecção • Agentes patogênicos em eletrodos de borracha • Staphylococcus aureus em serviços de fisioterapia Respiratório • Mobilidade torácica durante a gestação • Amplitude tóraco-abdominal em indivíduos jovens • Fisioterapia e bipap pós cirurgia cardíaca www.atlanticaeditora.com.br !Capa.indd 1 1/2/2006 18:21:02 Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - Março / Abril de 2006 Brasil Ano 7 - no 2 Março / Abril de 2006 ISSN 1518-9740 Traumato • Instabilidade patelofemoral • Alongamento músculos isquiotibiais Anatomia • Síndrome do piriforme Lombalgia • Lombalgia e gestação • Isostretching e lombalgia crônica • Quebec Back Pain Disability Scale Respiratório • EMG em portadores de distrofinopatias Ultra-som • Interação com os tecidos biológicos www.atlanticaeditora.com.br !Capa.indd 1 7/4/2006 13:47:09 Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - Maio / Junho de 2006 Brasil Ano 7 - no 3 Maio / Junho de 2006 ISSN 1518-9740 Cardiorespiratório • Lupus eritematoso sistêmico • Capacidade vital em crianças • Força muscular respiratória em idosos Traumato-ortopedia • Lesões músculo-esqueléticas e ginástica rítmica • Alongamento e força dos isquiotibiais Sáude da mulher • Fisioterapia na sala de parto Paralisia cerebral • Fisioterapia em crianças com paralisia cerebral • Estimulação elétrica neuromuscular na paralisia espástica www.atlanticaeditora.com.br !Capa.indd 1 3/7/2006 19:05:26 Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 4 - Julho / Agosto de 2006 Brasil Ano 7 - no 4 Julho / Agosto de 2006 ISSN 1518-9740 Postura • Lombalgia em motoristas de ônibus • Postura sentada da criança escolar • Sintomas osteomusculares em professores Saúde da mulher • Força muscular do períneo • Fatores de risco da incontinência urinária Hidroterapia • Temperatura, freqüência cardíaca e pressão arterial Esporte • Treinamento respiratório em atletas de natação www.atlanticaeditora.com.br !Capa.indd 1 30/8/2006 19:30:30 Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2006 Brasil Ano 7 - no 5 Setembro / Outubro de 2006 ISSN 1518-9740 Paralisia cerebral • Equoterapia e encefalopatia espástica • Estimulação elétrica neuromuscular em paralisia cerebral • Estilo de vida e paralisia cerebral Traumato • Lesões músculo-esquelético por arma de fogo • Flexão do joelho e alongamento do fêmur pelo método de Ilizarov Gravidez • Adaptações fisiológicas do período gestacional Ergonomia • Fisioterapia preventiva na avaliação ergonômica de um escritório Profissão • Há preferência pelo sexo do fisioterapeuta para a terapia? www.atlanticaeditora.com.br !Capa.indd 1 14/11/2006 16:55:35 Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 6 - Novembro / Dezembro de 2006 Brasil Ano 7 - no 6 Novembro / Dezembro de 2006 ISSN 1518-9740 Fisiologia • Força de preensão e lateralidade em crianças Ergonomia • Análise qualitativa da postura estática • Condição Ergonômica dos postos de trabalhos • Intervenção da fisioterapia em funcionários de indústria têxtil Dermato • Vacuoterapia no fibro edema gelóide Acupuntura • Acupuntura para pacientes com hérnia de disco lombar • Acupuntura na reabilitação da terceira idade www.atlanticaeditora.com.br !Capa.indd 1 15/1/2007 17:51:10 Fisioterapia Brasil (vol.7, nº1 janeiro/fevereiro 2006 - 1~80) EDITORIAL Seis anos de revista e muito trabalho pela frente, Jean-Louis Peytavin ................................................................................................... 3 ASSOCIAÇÃO Criação da Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher - ABRAFISM, Cristine Homsi Jorge Ferreira ................................................................................................................................................................................ 4 ARTIGOS ORIGINAIS Mobilidade torácica e pressões respiratórias máximas durante a gestação, Fátima Caromano, Eliane Sayuri, Cláudia Marchetti Vieira da Cruz, Juliana Monteiro Candeloro, Juliana Schulze Burti, Luciana Zazyki de Andrade ............................................................................................................................................. 5 Efeitos fisiológicos da fisioterapia respiratória convencional associada à aplicação de BiPAP no pós-operatório de cirurgia cardíaca, Kamilla Tays Marrara, Aline Marques Franco, Valéria Amorim Pires Di Lorenzo, Fernanda Negrini, Sérgio Luzzi ...................................................................... 8 Ocorrência de bioagentes patogênicos nos eletrodos utilizados na Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea nos serviços de fisioterapia da Baixada Fluminense RJ, José Tadeu Madeira de Oliveira, Antônio Neres Norberg, Fábio dos Santos Borges, Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, Ingrid Jardim de Azeredo Souza, Rafael Jardim de Azeredo Souza, Ailton da Silva Gonçalves, Betânia Martins Alhan de Oliveira, Fabiano Sanches Guerra ......................................................................... 14 Risco de trombose venosa profunda em pacientes traumato–ortopédicos hospitalizados, Luciano Pereira de Oliveira, Vagner Wilian Batista e Sá .................................................................................................................................. 18 Ocorrência de Staphylococcus aureus em fisioterapeutas que atuam em clínicas e hospitais de Governador Valadares MG, Daniel de Assis Santos, Mariane Cândida Medeiros Oliveira, Liliane Lisboa Oliveira, Ludmila Reis Milardi, Sabrina Ferreira Almeida, Lígia Jordão Valentim, Bartira Pereira Neves, Mario Antonio Baraúna, Ruiz Angelo Ventura da Silva ........................................................................................... 22 Medida da amplitude tóraco-abdominal como método de avaliação dos movimentos do tórax e abdome em indivíduos jovens saudáveis, Audrey Borghi-Silva, Renata Gonçalves Mendes, Elisabeth Santos Silva, Higia L. Paulucci, Paula C. Picchi, Valéria Amorim Pires Di Lorenzo ................................................................. 25 Análise da amplitude de movimento do ombro de mulheres mastectomizadas submetidas a um programa de exercícios e alongamentos musculares, Ana Cristina da Nóbrega Marinho, Alexsandro Alcantara de Macedo ........................................................................................................................................................................ 30 Comparação dos lasers diodo 904 nm e 670 nm na viabilidade do retalho cutâneo randômico isquêmico em ratos, Lívia Ribeiro de Assis, Alexandre Marcio Marcolino, Carlos Eduardo Pinfildi, Rodrigo Paschoal Prado, Fábio Lourencin, Lydia Masako Ferreira ................................................................... 36 Comportamento do lactato sanguíneo de pacientes com síndrome isquêmica aguda nas 48 horas de internação na unidade coronariana submetidos à reabilitação cardíaca fase I, Cintia Godinho Junqueira, Regina Roque da Glória, Sílvia Mesquita, Miguel Houri Neto ....................................................................... 40 Correlação entre estresse e dor em pilotos de helicópteros do Grupamento de Radio Patrulha Aérea da Polícia Militar na cidade de São Paulo, Kelly Cristina Diniz, Tabajara de Oliveira Gonzalez, João Pedro Arantes, Emílio Luiz Santana Panhosa, Cezar Gallettii Júnior ........................................... 44 REVISÕES Fatores que interferem na reabilitação protética de idosos amputados de membros inferiores, Júnea Mara Gonçalves Moraes, Daniele Sirineu Pereira, Gisele de Cássia Gomes, Leani Souza Máximo Pereira................................. 49 O exercício físico e a regeneração muscular, Fabiana Elisa Toressan Faria, Viviane Balisardo Minamoto ..................................... 55 Importância da conformidade dos equipamentos de ultra-som terapêutico com a NBR-IEC 1689, Elton Antônio Valentini, Carlos Dias Maciel, Nivaldo Antonio Parizotto ................................................................................................... 59 Osteogenese imperfeita – características clínicas, moleculares e tratamento, Gabriela Pinheiro Rebouças Martins, Marcus Vinicius Amaral, Henrique Douglas Melo Coutinho ....................................................... 66 ESTUDOS DE CASO Distrofia muscular intermediária entre Duchenne e Becker, Elaine Maria Bueno da Silva, Thaís Helena Brunheroto Nucci, Cristina Iwabe, Maria da Graça Baldo Deloroso ................................................................................... 69 Benefícios de um programa de fortalecimento excêntrico do quadríceps no tratamento da osteoartrite de joelho, Andressa Souza Milagres, Igor Magalhães e Souza, Johnathan O. Coura Pereira, Roger Duarte da Paz, Flávia Maria Campos de Abreu .................................................................................................................................... 73 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ................................................................................................................................................................... 79 EVENTOS .......................................................................................................................................................................................................... 80 Fisioterapia_v7n1.indb 1 1/2/2006 18:46:33 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 2 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Prof. Dr. Dirceu Costa (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Prof. Dr. José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO – Rio de Janeiro) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa) Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo) Grupo de assessores Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (UNIRB – Bahia) Dr. Farley Campos (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID – São Paulo) Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA – HFAG – Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Rio de Janeiro Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3362-2097 Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: [email protected] Assinaturas 6 números ao ano: Brasil - 1 ano: R$ 156,00 América Latina - 1 ano: US$ 160,00 Europa - 1 ano: € 150,00 Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Atendimento ao assinante Edilaine Silva [email protected] Editores associados Dr. André Luís Santos Silva Drª. Tiene Deccache Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ [email protected] Colaboradoras da Redação Ingrid Haig Guillermina Arias www.atlanticaeditora.com.br Ilustração da capa: Músculos do pescoso, ilustração de G. Devy, Traité d’anatomie humaine de Leon Testut, Paris, 1904. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia_v7n1.indb 2 1/2/2006 18:49:39 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 3 Editorial Seis anos de revista e muito trabalho pela frente Jean-Louis Peytavin, editor A sua revista Fisioterapia Brasil entra no sétimo ano de existência, com mais de 400 artigos já publicados, e mais de 1000 artigos na lista de espera. Não há dia que não recebemos artigos e agradecemos por sua confiança e pela qualidade, cada vez melhor, dos trabalhos enviados. Diante desta enorme produção dos fisioterapeutas brasileiros, vamos tentar, com a sua ajuda, desenvolver os nossos serviços. Em primeiro lugar, estamos aumentando a cada ano o número de páginas, para publicar cada vez mais artigos. São quase 500 páginas por ano, e em breve 600 e mais. Estamos também melhorando o procedimento de avaliação dos trabalhos, com os mais renomados professores das universidades brasileiras. Temos de agradecer aqui a todos os membros do conselho científico da revista que não poupam o seu tempo para redigir pareceres documentados e de grande interesse para os autores. Refiro-me em particular a José Rubens Rebelatto, Dirceu Costa e Tânia de Fátima Salvini, da Ufscar, a Fátima Caromano, da USP, sem esquecer Esperidião Elias Aquim do Paraná, ou ainda nosso amigo Mario Antônio Baraúna de Uberlândia, nem todos os revisores anônimos que nos ajudam a construir uma revista que seja o espelho da pesquisa em fisioterapia. Fisioterapia_v7n1.indb 3 Nosso objetivo é publicar o melhor da produção e criar ferramentas úteis para a consulta e pesquisa. Por isso, estamos reformando o nosso site, para apresentar, de uma maneira eficiente, os artigos, os autores e os temas. Está demorando um pouco, mas estará pronto em breve. Todos os assinantes receberão uma senha para consultar à vontade os arquivos da revista e dos congressos. Não se desesperem se o seu artigo não está ainda publicado, estamos trabalhando para enviar uma resposta a todos. Do seu lado, ajudem-nos respeitando as normas de publicação e diminuindo o comprimento dos artigos: quanto mais curtos, mais têm chances de serem publicados rapidamente, e também mais chances têm de serem lidos... Estamos também preparando outras publicações e edições, para utilizar o melhor possível o material que recebemos, com o objetivo de criar pouco a pouco uma verdadeira enciclopédia da fisioterapia nacional. Com a sua ajuda e suas assinaturas, conseguimos construir, em seis anos, uma revista independente, hoje indispensável. Temos ainda muito trabalho pela frente, para torná-la uma revista de nível internacional e representativa da variedade dos temas de pesquisa da fisioterapia, que cresce, a cada ano, na área das ciências da saúde. Mas acreditamos que não vamos esperar mais seis anos para chegar lá. 1/2/2006 18:49:39 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 4 Associação Criação da Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher (ABRAFISM) Profa. Dra. Cristine Homsi Jorge Ferreira Presidente da Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher A saúde das mulheres é um importante indicador da saúde de uma nação. Isso porque, historicamente, têm sido atribuídos às mulheres os cuidados com os demais membros da família, e porque estas representam o maior contingente de cuidadoras formais na área da saúde. Além disso, as mulheres necessitam de cuidados especificamente voltados à sua saúde reprodutiva, que devem incluir desde a possibilidade de escolher e utilizar um método contraceptivo, até uma assistência multiprofissional de qualidade na gestação, parto, puerpério e climatério. Essas são algumas das razões que justificam a necessidade de programas específicos de saúde da mulher. Nesse sentido, diversos esforços mundiais têm sido empreendidos para melhorar os indicadores de saúde da mulher, envolvendo também a fisioterapia. Um exemplo importante é a International Organization of Physical Therapy in Women’ s Health (IOPTWH), um subgrupo da World Confederation of Physical Therapy (WCPT) que tem como objetivos difundir e incentivar a prática clínica e a pesquisa em fisioterapia na saúde da mulher, além de incentivar a criação de outros grupos no mundo. No Brasil, fisioterapeutas de todo o país reunidos em assembléia que ocorreu no XVI Congresso Brasileiro de Fisioterapia em São Paulo, no dia 07/10/2005, criaram a Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher (ABRAFISM). O encontro começou com o discurso da secretária geral da WCPT, Dra. Brenda Myers, que falou sobre a importância das associações para o crescimento da fisioterapia. Os principais objetivos desta nova associação foram declarados na sua criação e são: encorajar a promoção à Saúde da Mulher; promover a cooperação entre os fisioterapeutas que trabalham na área de Saúde da Mulher; encorajar a melhora na assistência fisioterapêutica prestada em Saúde da Mulher; contribuir para definir o papel da fisioterapia em Saúde da Mulher no âmbito público e privado; facilitar o aprimoramento da prática fisioterapêutica em Saúde da Mulher através da troca de informações em âmbito nacional e internacional; difundir o Fisioterapia_v7n1.indb 4 papel da fisioterapia em Saúde da Mulher junto aos fisioterapeutas, outros profissionais da área da saúde e comunidade leiga através da promoção de fóruns, debates, campanhas, simpósios e congressos; encorajar a pesquisa científica e colaborar para o desenvolvimento de novos conhecimentos na área de Saúde da Mulher; colaborar para ampliação e preservação do mercado de trabalho do fisioterapeuta na área de Saúde da Mulher; buscar apoio e cooperação com associações nacionais e internacionais que tenham objetivos semelhantes, e ainda incentivar a criação de uma especialidade na área de fisioterapia, em Saúde da Mulher. Esses objetivos só serão concretizados se houver uma participação crescente dos fisioterapeutas que atuam na área de Saúde da Mulher na vida associativa. A diretoria da ABRAFISM, eleita por unanimidade, agradece a confiança e está extremamente motivada a trabalhar para que os fisioterapeutas possam ocupar o seu espaço e contribuir, com suas habilidades e competências, para uma melhor qualidade de vida e saúde das mulheres brasileiras. Diretoria da ABRAFISM Cristine Homsi Jorge Ferreira (SP) Vice-presidente: Elza Baracho (MG) Secretária Geral: Andréa Marques (SP) Diretora Científica: Adriana Moreno (SP) Diretora de Defesa Profissional: Elaine Caldeira Guirro (SP) Diretora Tesoureira: Maria Cristina Cortes Carneiro Meirelles (SP) Diretora de Comunicação: Pollyana Dórea (BA) Diretora Cultural: Telma Chiarapa (MS) Conselheira Consultiva: Débora Bevilaqua Grossi (SP) Presidente: Para informar-se sobre como se tornar um membro da ABRAFISM, envie e-mail para abrafi[email protected] 1/2/2006 18:49:40 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 5 Artigo original Mobilidade torácica e pressões respiratórias máximas durante a gestação Thoracic mobility and maximum breathing pressures during the pregnancy Fátima Caromano, D.Sc.*, Eliane Sayuri**, Cláudia Marchetti Vieira da Cruz**, Juliana Monteiro Candeloro**, Juliana Schulze Burti***, Luciana Zazyki de Andrade*** *Profa. Dra. do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP, Laboratório de Fisioterapia e Reatividade Comportamental do Curso de Fisioterapia da USP (LaFi-ReaCom) **Fisioterapeuta e Pesquisadora Voluntária do LaFi – ReaCom, ***Graduanda do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP Resumo Abstract A fisioterapia atua no preparo físico/funcional da mulher durante o período gestacional e na recuperação pós-parto. Parte essencial das intervenções fisioterapêuticas inclui a reeducação respiratória, que deve ser adaptada para as diferentes fases deste período. Com o objetivo em compreender melhor as alterações funcionais respiratórias decorrentes da gestação, este estudo analisou as pressões inspiratória e expiratória máximas e toracometria num grupo de 200 mulheres, sendo 150 gestantes divididas em três grupos, 50 no primeiro trimestre de gestação, 50 no segundo trimestre e 50 no terceiro trimestre de gestação, sendo que 50 mulheres não gestantes formaram o grupo controle. Encontrou-se que a diminuição da mobilidade torácica e das pressões respiratórias ocorre a partir do primeiro trimestre, aumentando com o desenvolver da gravidez e é dependente dos reajustes hormonais e das adaptações biomecânicas. Physical therapy prepares pregnants during pregnancy and after delivery. A essential part of the physical therapy interventions includes the respiratory reeducation that have to be adapted to the different phases of this period. Aiming a better comprehension of the respiratory changes that occurs during pregnancy, the objective of this study was to analyse maximal inspiratory and expiratory pressures in a group of 200 women. In this group 150 women were pregnant and 50 not pregnant. In the pregnant group, 50 were in the first trimester, 50 in the second and 50 in the third trimester. It was found that decrease of the thoracic mobility and breathing pressures starts from the first trimester, increases with the development of the pregnancy and is dependent of hormonal readjustment and biomechanical adaptations. Key-words: pregnancy, breathing, evaluation, physical therapy. Palavras-chave: gestação, respiração, avaliação e fisioterapia. Introdução A gravidez provoca grandes mudanças no organismo a fim de prepará-lo para implantar, formar e desenvolver uma nova vida durante a gestação. No primeiro trimestre ocorrem diversas alterações endócrinas, sendo que o elemento básico para tais alterações é a placenta, que sintetiza vários hormônios com funções próprias durante a gestação, como a gonadotropina coriônica (HCG), a somatotropina placentária, a tireotropina placentária, os estrógenos, a progesterona e os andrógenos. A tireóide, o pâncreas, a supra-renal e a hipófise também têm suas atividades aumentadas nesta fase, alterando o metabolismo materno e, desta forma, fazendo com que coração, rins e pulmões trabalhem de forma mais intensa [1]. Quanto às alterações cardiopulmonares, o aumento da progesterona, particularmente, provoca uma diminuição na tensão alveolar, podendo haver congestão tissular e hipersecreção no trato respiratório superior, além de diminuição na pressão diastólica logo no início da gestação, devido à Recebido 10 de maio de 2004; aceito 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Profa. Dra. Fátima Caromano Curso de Fisioterapia da USP, Laboratório de Fisioterapia e Reatividade Comportamental, Rua Cipotânea, 51 Cidade Universitária da USP 05360-000 São Paulo SP, E-mail: [email protected]. Fisioterapia_v7n1.indb 5 1/2/2006 18:49:41 6 diminuição na resistência vascular periférica. Como há um aumento de 15 a 20% no consumo de oxigênio, somado a um estado natural de hiperventilação (pela maior necessidade de O2 na gestação e pela sensibilização do centro respiratório na medula pela progesterona), o trabalho respiratório aumenta, podendo-se observar dispnéia durante exercícios leves logo nas primeiras semanas. Ocorrem alterações biomecânicas na função dos arcos costais (estimuladas por hormônios) que precedem o crescimento uterino, observado pelo aumento progressivo do ângulo subcostal, que desloca as costelas para cima e para fora e pelo aumento dos diâmetros torácicos ântero-posterior e transverso em cerca de dois a três centímetros cada (a circunferência torácica total aumenta de 5 a 7 cm). Devido às alterações na posição das costelas o diafragma eleva-se aproximadamente quatro centímetros. Curiosamente, a freqüência respiratória não se altera, mas ocorre um aumento da incursão da respiração; o volume corrente e a ventilação por minuto aumentam, mas a capacidade pulmonar não se altera ou diminui [2]. No segundo trimestre, o crescimento do bebê que se alimenta pela placenta prevalece. Ocorre um aumento na atividade da tireóide materna, o que eleva ainda mais o metabolismo e a prolactina produzida pela hipófise dobra de quantidade. Pode continuar ocorrendo dispnéia pela inadequação entre a demanda e a resposta ventilatória e podem surgir palpitações quando a gestante faz exercícios físicos de baixa a moderada intensidade, já que sua freqüência cardíaca de repouso apresenta uma média de 15 batimentos por minuto a mais que a da mulher não grávida [3]. No terceiro trimestre a expansão do útero impede a descida total do diafragma durante a inspiração, sendo que, perto do parto, este músculo pode elevar-se até quatro centímetros ou mais. A pressão que o feto faz para cima pode deslocar as costelas, aumentando o perímetro costal inferior da mãe de 10 a 15 cm e aumentando o ângulo subcostal. Nessa fase da gestação a excursão respiratória fica limitada nas bases dos pulmões e tornase mais ativa no ápice e na região medial, o que aumenta ainda mais a dificuldade de respirar no final da gravidez [2]. A relaxina torna as articulações costocondrais mais móveis, tornando mais comum a ocorrência de dores, contusões e até rompimentos [4]. Durante toda a gestação as glândulas mamárias são estimuladas pelos hormônios de forma a aumentar seu volume, adaptando-se para o período de lactação. Esse aumento no volume da mama por um aumento da massa, causa uma resistência à mobilidade na parte superior anterior do tórax, dificultando ainda mais as inspirações, principalmente na postura de decúbito dorsal [5]. Do ponto de vista biomecânico, ocorre um aumento da base de sustentação para compensar o deslocamento corporal anterior provocado pelo útero aumentado. A maioria das grávidas refere dores nas costas e pode-se observar um aumento na lordose lombar [4]. Esta adaptação modifica o posicionamento das inserções dos pilares posteriores do músculo diafragma, diminuindo sua eficiência biomecânica. Fisioterapia_v7n1.indb 6 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Há aumento na volemia e, em conseqüência, na pré-carga cardíaca devido ao aumento da freqüência cardíaca e ao aumento no condicionamento das fibras cardíacas em resposta aos estrógenos, visando melhorar a irrigação uterina [6]. As paratireóides da mãe passam a ficar maiores e mais funcionantes nesse período para suprir as necessidades fetais de cálcio. A prolactina dobra de quantidade novamente e as concentrações de HCG e progesterona caem quando se aproxima o período do parto para que possam ocorrer as contrações uterinas e a conseqüente expulsão do feto [1]. Quando se iniciam as contrações há um reflexo neuroendócrino que, via medula e hipotálamo, leva à liberação de ocitocina que auxilia na dilatação para o parto (por meio das contrações) e na contração das células mioepiteliais em volta das aréolas mamárias para que haja ejeção do leite para a amamentação [5]. Verifica-se que, desde a concepção, ocorrem mudanças fisiológicas e biomecânicas que alteram a função respiratória da gestante, não existindo na literatura índices que quantifiquem os efeitos das alterações nas pressões inspiratória e expiratória na mobilidade do tórax. Objetivo Frente ao colocado, este estudo se propõe a avaliar a mobilidade torácica em três fases gestacionais, utilizando a mensuração da toracometria e das medidas das pressões respiratórias máximas. Material e métodos Foram selecionadas 200 mulheres, com biotipos semelhantes e faixa etária entre 18-25 anos. As participantes foram divididas em quatro grupos: 50 não grávidas (controle – NG), 50 gestantes na primeira quinzena do terceiro mês de gestação (grupo 1 – G1), 50 mulheres na primeira quinzena do sexto mês de gestação (grupo 2 – G2) e 50 participantes na primeira quinzena do nono mês de gestação (grupo3 – G3). Para a mensuração da toracometria, foram utilizados um manuvacuômetro e fita métrica. As participantes foram gestantes que eram acompanhadas no Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sendo que todas deveriam ser saudáveis, sem nenhuma complicação, estarem na primeira gestação, com biotipo e faixa etária semelhantes. Todas foram convidadas e assinaram um termo de consentimento pós-informado sobre o estudo. As gestantes e as mulheres do grupo controle foram submetidas a mensurações de toracometria utilizando a técnica de cirtometria dirigida [7], quando foram coletadas medidas de três regiões: axilar, processo xifóide e últimos arcos costais, durante bipedestação. As mulheres eram orientadas a expirar profundamente, e o fisioterapeuta realizava a primeira medida, depois faziam a inspiração profunda para a realização da 1/2/2006 18:49:41 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 7 segunda medida. Em seguida calculava-se a diferença entre as duas medidas. O procedimento era repetido três vezes, utilizando-se para o estudo a maior das três medidas. Em seguida, realizava-se as medidas das pressões inspiratória e expiratória máximas, com as mulheres em postura sentada, por meio de manovacuômetro. Também foram coletadas três medidas em cada teste e, para efeito de estudo, utilizou-se a maior das três medidas. Entre cada coleta de medida foi feito um intervalo de três minutos para repouso. Foi realizada análise estatística descritiva e teste t de Student. final da gravidez, em função da compressão do diafragma desencadeada pelo crescimento do feto. Também é interessante observar que a pressão inspiratória máxima é a medida que diminui de forma mais acentuada, o que explica a dificuldade para respirar durante a realização de pequenos a médios esforços no final da gestação. Resultados e discussão Não gestante - NG Grupo 1 - G1 Grupo 2 - G2 Grupo 3 - G3 Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa (p < 0,005) na idade e altura entre os quatro grupos e, como esperado, encontrou-se diferença significativa de peso entre os grupos – em função do ganho de peso durante a gestação. Os dados mostram que os grupos estudados eram semelhantes quanto à idade, altura e peso no grupo NG (Tabela I). Tabela I - Valores das médias de idade, peso e altura nos quatro grupos estudados. Grupo Não gestante - NG Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Idade Peso Altura 23,5 ± 1,9 22,9 ± 2,1 23,1 ± 1,2 23,3 ±1,8 52,6 ± 3,9 53,1 ± 5,0 61,7 ± 7,8 63,2 ± 5,3 1,57 ± 0,02 1,57 ± 0,03 1,55 ± 0,05 1,56 ± 0,03 Verificou-se que a mobilidade torácica, nos três segmentos avaliados e as pressões inspiratória e expiratória máximas diminuíram de forma significativa (p < 0,005) entre os grupos NG e G1, G1 e G2 e, G2 e G3, demonstrando uma sobrecarga orgânica que se inicia no primeiro trimestre, decorrente principalmente das alterações hormonais e cardiocirculatórias e, que se acentuam com o desenvolvimento do feto e conseqüente compressão biomecânica do coração e pulmões associada com a mudança dos ângulos de origem e inserção dos músculos respiratórios (Tabela II e III). Tabela III - Valores das médias das diferenças das cirtometrias em inspiração profunda e expiração profunda. Grupos Axilar Xifóidea Abdominal 8,1 ± 0,5 6,2 ± 0,8 5,4 ± 1,3 5,1 ± 2,0 6,9 ± 0,8 5,3 ± 0,3 4,8 ± 1,1 4,5 ± 1,8 1,2 ± 1,2 0,7 ± 0,3 0,5 ± 0,9 0,3 ± 1,2 Como pode ser observado na Tabela III, a mobilidade torácica da população estudada era predominantemente axilar. A diminuição da expansibilidade diminuiu em aproximadamente um terço nas regiões axilar e xifóide, quando comparamos os quatro grupos e, chama a atenção o fato da mobilidade dos últimos arcos costais, no grupo G3, ser um quarto do valor encontrado no grupo NG, demonstrando o efeito biomecânico que ocorre em função da expansão do volume abdominal em direção à caixa torácica. Conclusão Os achados são compatíveis com as informações sobre as modificações impostas à gestante pelas alterações orgânicas que ocorrem a partir do primeiro trimestre. Desta forma, os programas de atividade física a serem elaborados para esta população devem considerar os exercícios compatíveis com a sobrecarga imposta, a possibilidade de execução de movimentos compensatórios durante o período de gestação, especialmente de musculatura respiratória, o treinamento das posturas de repouso e o controle voluntário da respiração, dentro do padrão respiratório mais funcional para a gestante. Referências Tabela II - Valores das médias da PIMáx (pressão inspiratória máxima) e PEMáx (pressão expiratória máxima) nos quatro grupos estudados. Grupos Não gestante - NG Grupo 1 - G1 Grupo 2 - G2 Grupo 3 - G3 Pressão Inspiratória Máxima Pressão Expiratória Máxima -81,2 ± 15,1 -54,6 ± 12,6 -41,7 ± 9,3 -33,9 ± 10,9 +80,9 ± 23,9 +52,7 ± 13,6 +47,6 ± 11,0 +41,5 ± 12,4 Pode-se observar na Tabela II que a alteração mais significativa nas pressões respiratórias máximas ocorre no primeiro trimestre de gestação, desfazendo o mito de que a gestante vai apresentar maior dificuldade para respirar somente no Fisioterapia_v7n1.indb 7 1. Peixoto S. Pré-Natal. 2 ed. São Paulo: Manole; 1981. 2. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos – Fundamentos e técnicas. 3 ed. São Paulo: Manole; 1998. 3. Polden M, Mantle J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia. 7 ed. São Paulo: Livraria Santos; 1997. 4. Tedesco JJA. A grávida. Suas indagações e as duvidas do obstetra. São Paulo: Atheneu; 2000. 5. Martins JAP. Manual de obstetrícia. 1 Fisiologia. São Paulo: EDUSP; 1982. 6. Guyton e Hall. Fisiologia humana e o mecanismo das doenças. 6 ed. 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Fisioter Bras 2003;4(5):349-52. 1/2/2006 18:49:42 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 8 Artigo original Ocorrência de bioagentes patogênicos nos eletrodos utilizados na Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea nos serviços de fisioterapia da Baixada Fluminense RJ Occurrence of pathogenic bioagents on electrodes used in Transcutaneous Nerve Stimulation in physical therapy services in Baixada Fluminense RJ José Tadeu Madeira de Oliveira, M.Sc.*, Antônio Neres Norberg, D.Sc.*, Fábio dos Santos Borges, M.Sc.*, Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, M.Sc.*, Ingrid Jardim de Azeredo Souza**, Rafael Jardim de Azeredo Souza***, Ailton da Silva Gonçalves****, Betânia Martins Alhan de Oliveira*****, Fabiano Sanches Guerra****** *Docentes da Universidade Iguaçu, **Docente da Universidade Iguaçu, Especialista em Fisioterapia Cinética Funcional, ***Docente da Universidade Iguaçu, Especialista em Fisioterapia Cinética Funcional, ****Farmacêutico graduado pela Universidade Iguaçu, *****Farmacêutica graduada pela Universidade Iguaçu, Especialista em Parasitologia, ******Iniciação científica da Universidade Iguaçu Resumo Abstract A Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) é uma corrente de baixa intensidade, onde o contato entre o eletrodo e a pele são mecanismos indispensáveis da técnica terapêutica. Os eletrodos são constituídos de borracha siliconizada, acoplados à superfície cutânea com o uso de um gel eletricamente condutivo. Esses eletrodos de tamanho e marcas diversificadas, utilizados em pacientes, foram submetidos à fricção longitudinal com o auxílio de um suabe, em um tempo máximo de duas horas e foram semeados em meio de cultura Brewer e Sabouraud. O crescimento obtido foi repicado para meios de cultura Agar-sangue, Agar-hipertônicomanitol e meio seletivo para Pseudomonas e Staphylococcus. As colônias foram identificadas por caracteres culturais e provas bioquímicas de identificação, através de sistema BioMerieux Vitek. O crescimento fúngico foi identificado por caracteres morfológicos, culturais, provas bioquímicas e morfológicas quando necessárias. Os resultados demonstraram 59,5 % de positividade nas amostras avaliadas para a presença de agentes fúngicos e bacterianos. Sugere-se uma necessidade de prevenção da transmissão de bioagentes por contato, e melhoria na qualidade do atendimento em fisioterapia. The transcutaneous Nerve Stimulation (TNS) is a low intensity current where contact between electrode and skin are indispensable mechanisms of therapy. The electrodes are made of silicone rubber coupling to cutaneous surface using a electrically conductive gel. These electrodes of size and mark diversified used in patients, were submitted to longitudinal friction with support of a swab, in maximum time of two hours and were seed in Brewer and Sabouraud medium. The growth obtained was transplanted to Agar-blood media, Agar-hipertonic-manitol and selective medium to Pseudomonas and Staphylococcus. The colonies were identified by characters of culture and biochemical proof of identification through the BioMerieux Vitek system. The fungal growth was identified by morphological characters, cultural, biochemical and morfological proof when necessary. The results showed 59,5 % of positivity in evaluated samples for the presence of fungal and bacterium agents. Its suggested necessity of preventing bioagents transmission by contact and advance in attendance quality in physical therapy. Key-words: Pathogenic bioagents, electrodes. Palavras-chave: bioagentes patogênicos, eletrodos. Introdução Durante séculos, a estimulação elétrica vem sendo utilizada para o alívio da dor. Na Grécia, enguias elétricas foram utilizadas pelos antigos egípcios no tratamento de lesões e dores de cabeça [1]. Em Roma, um escravo de nome Antero, emancipado pelo Imperador Tibério, passeava às margens do rio Tibre, tropeçou em um peixe elétrico e curou-se de sua crise de gota. Fatos históricos relataram outras situações. William Gilbert, no século XVI Artigo recebido em 3 de agosto de 2004; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: José Tadeu Madeira de Oliveira, Av. Mirandela, 1354 casa 02 Centro 26520-099 Nilópolis RJ, Tel: (21) 37617152/9614-8940, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 8 1/2/2006 18:49:43 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 considerado pai da eletroterapia moderna, Joham Jottob Krugger, em 1744, e Jean Louis Jalbert também utilizaram a eletricidade como recursos terapêuticos e novos adventos impulsionaram a eletroterapia como conhecimento científico. O reconhecimento da eletroterapia como recurso oriundo da eletricidade estática e a corrente galvânica que surgiu após a Revolução Francesa mostram a evolução deste procedimento terapêutico [2]. Na década de 60, após a publicação da Teoria da Comporta por Melzack & Wall em 1965, os aparelhos de estimulação elétrica passaram a ser utilizados no controle da dor [2]. A Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) é uma corrente de baixa intensidade onde o contato entre o eletrodo e a pele são mecanismos indispensáveis na técnica terapêutica. Esses dados foram ratificados por Kitchen & Basin [3]. Os eletrodos são constituídos de borracha siliconizada com impregnação de carbono. Tais eletrodos são reutilizáveis, geralmente acoplados à superfície cutânea com o uso de um gel eletricamente condutivo. Existem outros tipos de eletrodos disponíveis, porém Nolan relatou que os eletrodos de borracha-silicone são mais eficazes e economicamente viáveis [4]. Jadassohn [5] observou uma reação eczematosa em paciente medicado com iodofórmio, utilizado como cicatrizante. Alguns dias após, já com a melhora do quadro clínico, o autor reaplicou iodofórmio no tegumento do paciente, obtendo intensa reação eczematosa. No V Congresso Alemão de Dermatologia, Jadassohn comunicou sua observação, relatou que os agentes externos, chamados de contactantes representam uma grande fonte de contaminação. Andrade et al. [6] relataram que o meio hospitalar, incluindo o ar, a água e as superfícies inanimadas que cercam o paciente, guardam íntima relação com as infecções hospitalares, podendo proporcionar focos de contato e de transmissão. Apesar das principais causas de infecção hospitalar estarem relacionadas com a susceptibilidade do doente à infecção e com os métodos de diagnóstico e terapêuticos, não se pode deixar de considerar os aspectos de assepsia e de higiene do ambiente hospitalar. Muitos recursos para se evitar a ocorrência do problema vêm sendo utilizados. O Center for Disease Control [7] referiu que as organizações de saúde têm desenvolvido normas de assepsia e higiene hospitalar. Schaefer [8] ratificou que essas normas são universais porque devem ser aplicadas a todos os doentes, em todos os tipos de tratamentos e para todos os instrumentos e equipamentos. Os protocolos propostos atribuem ênfase especial às barreiras de proteção contra os microrganismos. Segundo Russo et al. [9], a crescente incidência de doenças transmissíveis conduz à necessidade de uma conscientização sobre os riscos reais de contaminação das mais diversificadas formas terapêuticas, dentre elas em especial a fisioterapia. Fisioterapia_v7n1.indb 9 9 Sabe-se que, em termos de fisioterapia, pouco se conhece sobre os aspectos microbiológicos que envolvem esta atividade, fato que despertou receio e apreensão sobre o mecanismo de se identificar focos de contato e de transmissão de agentes patogênicos, dentre elas os causadores de dermatite de contato, com registros em outros países, evidenciando-se a necessidade de reconhecer a situação para estabelecermos uma abordagem mais específica com resultados mais concretos. Material e métodos Foram coletadas 24 amostras para pesquisa nos serviços de fisioterapia, situados na região da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, no período de maio a julho de 2002. A análise dos materiais foi realizada no laboratório de microbiologia e imunologia do programa de mestrado em ciências biológicas da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Iguaçu. Os eletrodos condutores de eletroestimulação, de tamanho e marcas diversificadas utilizados em pacientes, foram submetidos à fricção longitudinal na superfície horizontal com o auxílio de um suabe embebido em solução salina (cloreto de sódio 0,9 %). No tempo máximo de duas horas após a coleta foram semeadas em meio de cultura de Brewer e Sabouraud. O meio de Brewer foi incubado em estufa a 37º C por 24 horas. O crescimento obtido foi repicado para meios de cultura Agar-sangue, Agar-hipertônico-manitol e meio seletivo para os gêneros Pseudomonas e Staphylococcus. As colônias desenvolvidas foram identificadas por caracteres culturais e provas bioquímicas de identificação, através do sistema BioMerieux Vitek. O crescimento fúngico no meio de Sabouraud foi identificado por caracteres morfológicos, culturais e provas bioquímicas quando necessárias. Resultados Das 24 amostras dos eletrodos de borracha siliconizada carbonizada de eletroestimulação analisadas, 59,5 % apresentaram a ocorrência de agentes bacterianos e/ou agentes fúngicos, nos serviços de fisioterapia por municípios pesquisados na região da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Encontrou-se uma freqüência mais elevada para os bioagentes fúngicos (42,5 %), enquanto que os bacterianos apresentaram 17,0 % (Tabela I). De acordo com a ocorrência de agentes bacterianos nos eletrodos de eletroestimulação, foi encontrada uma freqüência igualmente distribuída entre Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus (Tabela II). Na ocorrência de agentes fúngicos, houve uma freqüência bem distribuída de acordo com a seguinte ordem: Alternaria spp. 4,25 %, Aspergillus spp. 8,5 %, Cladosporium spp. 4,25 %, Candida albicans 8,5 %, Penicillium spp. 8,5 %, Nigrospora spp. 4,25 %, Sporothrix spp. 4,25 % (Tabela III). 1/2/2006 18:49:44 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 10 Tabela I - Distribuição de bioagentes bacterianos e fúngicos em 24 amostras coletadas nos eletrodos de eletroestimulação, utilizados nos serviços de fisioterapia por municípios pesquisados. Municípios Agentes bacterianos Belford Roxo Mesquita Nova Iguaçu Japerí Queimados São João de Meriti Totais Agentes fúngicos Totais Nº (%) Nº (%) Nº (%) 00 02 01 01 00 00 04 00 8,5 4,25 4,25 00 00 17,0 02 04 00 02 02 00 10 8,5 17,0 00 8,5 8,5 00 42,5 02 06 01 03 02 00 14 8,5 25,5 4,25 12,75 8,5 00 59,5 Tabela II - Ocorrência de agentes bacterianos por gênero e espécies em 24 amostras coletadas nos eletrodos de eletroestimulação, utilizados nos serviços de fisioterapia. Gênero e especies Nº (%) Pseudomonas aeruginosa Staphylococcus aureus Totais 02 02 04 8,5 8,5 17,0 Tabela III - Ocorrência de agentes fúngicos por gênero e espécies em 24 amostras coletadas nos eletrodos de Eletroestimulação, utilizados nos serviços de fisioterapia pesquisados. Gênero e especies Nº Amostras + (%) Alternaria spp Aspergillus spp Candida albicans Cladosporium spp Nigrospora spp Penicillium spp Sporothrix schenckii Totais 01 02 02 01 01 02 01 10 4,25 8,5 8,5 4,25 4,25 8,5 4,25 42,5 Discussão Lima et al. [10] relataram que grande parte das infecções cutâneas é causada por fungos e bactérias, estando estas isoladas ou em conjunto. Enfatiza-se a possibilidade da ocorrência de infecção hospitalar, não somente pela existência de bioagentes patogênicos, mas pela suscetibilidade do indivíduo à infecção independente dos aspectos de limpeza do ambiente e respectivos equipamentos. Schaefer [8] relatou a importância das normas universais de assepsia, desinfecção e esterilização para todos os pacientes, instrumentos e equipamentos como forma de controle de infecção e biossegurança, chamando-nos a atenção para a realização de um estudo mais específico voltado à fisioterapia. Fisioterapia_v7n1.indb 10 Santos [11] corroborou com Rey [12], quando disse que a alta umidade entre diversos segmentos corporais suporta a atividade e o crescimento de grande quantidade de bactérias, fungos e leveduras. Em nossos estudos, das 24 amostras dos eletrodos de borracha siliconizada carbonizada de eletroestimulação analisadas, houve uma freqüência de 59,5 % de agentes bacterianos e/ou fúngicos, confirmando a necessidade de conscientização dos profissionais de fisioterapia sobre os riscos de contaminação por microrganismos. Silva [13] definiu que a infecção implica a colonização de células, tecidos ou cavidades corporais do hospedeiro, enquanto que a colonização indica a presença do microrganismo sem causar doença. Diaz & Rojas [14] alertaram para o fato de que todas as superfícies, principalmente as horizontais, devem ser limpas, pois a força de gravidade facilita a produção e proliferação de microrganismos veiculadores de contaminação e infecção. Rey [12] relatou que a pele apresenta uma microbiota, com predomínio de espécies do gênero Staphylococcus aureus, além de bacilos gram-negativos, representados principalmente por enterobactérias. A freqüência de positividade nos eletrodos de eletroestimulação em nosso estudo para agentes bacterianos apresentou-se menor que para agentes fúngicos (17,0 % e 42,5 %, respectivamente). Com relação aos agentes bacterianos, foi encontrada uma freqüência igualmente distribuída entre Pseudomonas aeruginosa (50 %) e Staphylococcus aureus. Adams et al. [15], Levy et al. [16], Santos et al. [17], Santos et al. [18] e Gould [19] ratificaram que o Staphylococcus aureus, enquanto um dos membros patogênicos da microbiota do homem, é encontrado em inúmeras partes do corpo, como fossas nasais, mãos, garganta, intestino, e principalmente pele e mucosas. O mesmo foi descrito por Zaits et al. [20] quanto aos elementos fúngicos, citando a candidose como ubíqua e a Candida albicans como integrante desta microbiota. E este microorganismo pode ser transmitido de pessoa para pessoa, através do contato direto ou indireto [21,22]. Morrinson et al. [23], Hosking et al. [24], Jantunem et al. [25], Verscharaegen et al. [26], Wald et al. [27] evidenciaram que as infecções por Aspergillus representam a segunda causa mais comum de infecção por fungos em pacientes. Cahill [328], ao realizar biópsias de pele com aspergilose cutânea por Aspergillus niger, confirmou sua patogenia colocando a pele contaminada como transmissor e a água como veiculadora do patógeno, o que ratifica a possibilidade de as placas eletrocondutoras serem mediadoras destes patógenos com a pele. Enquanto que Austwich & Longbottom [29] se referiram a uma outra espécie, o Aspergillus fumigatus, como sendo de importância clínica nas infecções e alergias. Nossos estudos apontaram para uma freqüência bem distribuída de agentes fúngicos na seguinte ordem: Alternaria spp. 4,5 %, Aspergillus spp. 8,5 %, Candida albicans 8,5 %, Penicillium spp. 8,5 %, Cladosporium spp. 4,25 %, Nigrospora spp. 4,25 % e Sporothrix spp. 4,25 %. Frampton [1] alertou sobre a irritação cutânea durante a aplicação prolongada, fazendo-se necessária a limpeza da área a serem aplicados os eletrodos a fim de evitar essas irritações. 1/2/2006 18:49:45 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Frampton [1] ratificou que a resposta alérgica aos eletrodos, à fita adesiva, ou ao gel representam o principal problema à aplicação do TENS. A Organização Mundial de Saúde (OMS/ WHO) considera as parasitoses como elementos de máxima importância nas ciências da Saúde. Baseados nessas informações, Madeira-Oliveira et al. [30] relataram a relevância da inclusão da disciplina de parasitologia na formação acadêmica de fisioterapia, da qual pouco se conhece sobre os aspectos microbiológicos que envolvem a prática terapêutica. O resultado da pesquisa aponta para a necessidade de um protocolo de assepsia eficaz destes eletrodos, nos serviços de fisioterapia, promovendo o bem estar físico e a integridade dos pacientes. Conclusão Registra-se na região da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, nos serviços de fisioterapia, a ocorrência de bioagentes patogênicos nos eletrodos de borracha siliconizada com impregnação de carbono, utilizados na eletroanalgesia transcutânea. Entre as amostras analisadas, 59,5 % conferiram positividade de patógenos com predominância dos elementos fúngicos em 42,5 % e bacterianos em 17 %. Levanta-se a suposição de que a freqüência de microrganismos patogênicos nos eletrodos associados a microbiota cutânea do homem, baixa do sistema imune e técnica inadequada de aplicação promovam a ocorrência de possíveis doenças dermatológicas. Considerando-se a análise dos resultados, relata-se a necessidade da realização de técnica asséptica na região cutânea de aplicação da eletroanalgesia no homem e nos eletrodos. Faz-se necessário um cuidado preventivo e de biossegurança no que se refere à prática fisioterapêutica em relação a bioagentes patogênicos. É preciso, também, que se dê continuidade na pesquisa com fundamentação na investigação dos bioagentes patogênicos na abordagem fisioterapêutica, identificando procedimentos apropriados para desinfecção dos eletrodos e da pele. Referências 1. Frampton VM. Pain control with the aid of transcutaneous nerve stimulation. Physiotherapy 1982;68(3):77-81. 2. Leitão A, Leitão V. Clínica de reabilitação. 1a ed. São Paulo: Atheneu; 1995. p.313-4. 3. Kitchen S, Basin S. Eletroterapia de Clayton. 10a ed. São Paulo: Manole; 1998. p.350. 4. Nolan MF. Conducticve differences in electrodes used with transcutaneous electrical nerve stimulation devices. Phys Ther 1991;71:746-51. 5. Jadassohn J. [1985]. Tur Kenntnis Der Medikamentosen Dermatosen. Verhandeugen. Deutchen Dermatigishen Gereleschaet. Finster Congrees. Graz Wien: W Braunmiller; 1896. p.106. 6. Andrade D, Angerami ELS, Padovani CR. Condição microbiológica dos leitos hospitalares antes e depois de sua limpeza. 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Universidade de Brasília, DF; 2000. 1/2/2006 18:49:46 12 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Artigo original Efeitos fisiológicos da fisioterapia respiratória convencional associada à aplicação de BiPAP no pós-operatório de cirurgia cardíaca Physiological effects of the conventional respiratory physical therapy associated to BiPAP in post cardiac surgery Kamilla Tays Marrara*, Aline Marques Franco*, Valéria Amorim Pires Di Lorenzo, D.Sc.**, Fernanda Negrini, M.Sc.***, Sérgio Luzzi**** *Graduandas do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, **Professora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, ***Professora do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, ****Médico cirurgião da equipe de cirurgia cardíaca da Santa Casa de Misericórdia de Araraquara Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi avaliar as alterações da função pulmonar pela Força Muscular Respiratória (FMR-PImax e PEmax), Capacidade Vital (CV), Freqüência Respiratória (FR) e Oxigenação (SpO2) do pré-operatório ao 1º pós-operatório (PO) e deste à pré-alta; e verificar a eficácia da Fisioterapia Respiratória Convencional (FRC) associada à Ventilação não-invasiva (BiPAP) no PO de cirurgia cardíaca. Incluiu-se 27 pacientes, 12 tratados com FRC associada à BiPAP (Grupo1-G1) e 15 com FRC (Grupo2G2), com avaliação das variáveis citadas no pré-operatório, 1ºPO, 3ºPO e pré-alta. Para a análise utilizou-se Friedman ANOVA e Mann-Whitney (p ≤ 0,05). Quanto a FMR, apenas G1 aumentou significativamente do 1ºPO para pré-alta, e os valores de PImax apresentaram-se significativamente maiores que G2. Em ambos os grupos, a CV aumentou significativamente do 1º para o 3ºPO, mas apenas G1 mostrou valores da pré-alta próximos ao pré-operatório. A oxigenação aumentou do 3ºPO à pré-alta para ambos, mas apenas o G1 aproximou-se dos valores do pré-operatório. Quanto à FR, apenas o G1 reduziu significativamente no PO. A FRC associada à BiPAP mostrou-se mais eficiente do que a FRC isolada, no aumento da FMR, CV e oxigenação, e na reversão da FR, apesar dos valores não terem sido recuperados completamente até a pré-alta. The aim of this study was to evaluate the pulmonary function alterations by the Respiratory Muscular Force (RMF- MIP and MEP), Vital Capacity (VC), Breathing Frequency (BF) and Oxigenation (SpO2) from the Pre-operation to the 1st post-operation (PO) and from that one to the pre-discharge; and to verify the efficiency of the Conventional Respiratory Physical Therapy (CRP) associated to the Non-invasive ventilation (BiPAP) in the cardiac surgery PO. 27 patients were included; 12 of them were treated with FRC associated to the BiPAP (Group 1-G1) and 15 with FRC (Group 2-G2). These patients were evaluated in the pre-operation ,1st PO, 3rd PO and pre-discharge as for the mentioned variables. To the analysis were used Friedman ANOVA and Mann-Whitney (p ≤ 0,05). As for the RMF, only G1 increased significantly from the first PO to the pre-discharge, and the values of MIP were significantly bigger than G2. In both groups, the VC increased significantly from the 1st to the 3rd PO, but only G1 presented pre-discharge values near to the pre-operation. The oxigenation increased from the 3rd PO to the pre-discharge for both, but only the G1 came near to the preoperation values. As for RF, only the G1 decreased significantly in the PO. In conclusion, the CRF associated to the BiPAP seemed be more efficient than the isolated CRF, in the RMF increasing, VC and oxigenation, and in the RF reversion, despite of the values have not been completely recuperated until the pre-discharge. Palavras-chave: ventilação não-invasiva, cirurgia cardíaca, fisioterapia respiratória, função pulmonar. Key-words: non-invasive ventilation, cardiac surgery, respiratory physical therapy, pulmonary function. Introdução A cirurgia cardíaca predispõe a alterações sistêmicas que demandam cuidados específicos no Pós-Operatório (PO) [1]. Dentre essas alterações destacam-se o tempo de Circulação Extra-Corpórea (CEC), uso de anestésicos, dor pós-operatória, medo, presença de fatores de risco, entre outros, sendo comum ocorrer mudanças no padrão respira- Artigo recebido em 4 de junho de 2004; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Kamilla Tays Marrara, Av. Filomeno Rispoli, 179 Parque Santa Marta 13564-200 São Carlos SP, Tel.: (16) 33762559, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 12 1/2/2006 18:49:47 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 tório, incoordenação muscular e diminuição na complacência pulmonar devido às alterações nas propriedades mecânicas do pulmão e da parede torácica. A anestesia está associada a efeitos deletérios sobre a função pulmonar, sendo que a alteração do padrão respiratório, que se torna superficial, e a disfunção diafragmática causam a hipoventilação alveolar, redução da resposta ventilatória e hipoxemia. As alterações fisiológicas e mecânicas somam-se para diminuir a função pulmonar e a Força Muscular Respiratória (FMR), de maneira a comprometer a recuperação do paciente no PO de cirurgia cardíaca, pois a manutenção adequada da FMR é essencial para a ventilação pulmonar e para a facilitação da desobstrução das vias aéreas [2]. A anormalidade na mecânica pulmonar após cirurgia cardíaca é caracterizada por um padrão restritivo com redução da Capacidade Vital (CV) e da Capacidade Residual Funcional (CRF) [3]. A CV está geralmente reduzida a aproximadamente 40% dos valores préoperatórios, durante um período de no mínimo dez a quatorze dias [4,5]. Para prevenção e tratamento dessas complicações pós-operatórias, a Fisioterapia Respiratória Convencional (FRC) tem sido amplamente utilizada, demonstrando ser tão eficiente quanto outras técnicas de expansão pulmonar, recuperando a função pulmonar. Os pacientes que receberam FRC associada à Ventilação Não-Invasiva (VNI) por dois níveis de pressão positiva (BiPAP) [6], também apresentaram diminuição significativa da incidência dessas complicações, em comparação aos pacientes que não realizaram qualquer abordagem fisioterapêutica [7-9]. O uso da VNI reduz o trabalho respiratório e aumenta a complacência do sistema respiratório por reverter microatelectasias do pulmão e, tanto o padrão respiratório restritivo, como a hipoxemia não podem ser prevenidos, mas modificados [10], sem mudança nos índices de FMR [9,11], não dependendo do esforço do paciente para gerar inspirações profundas. Sendo assim, apresenta uma vantagem em relação a outros métodos, principalmente em PO imediato, no qual o paciente é pouco cooperativo ou incapaz de realizar inspiração máxima, promovendo aumento dos valores de volumes e capacidades pulmonares [12]. É também verificado que a utilização de VNI, por pelo menos dois a três dias após a cirurgia, leva a efeitos benéficos na função pulmonar e índices de oxigenação [7]. Tendo em vista o número de complicações que ocorrem no PO de cirurgia cardíaca e os efeitos benéficos da FRC associada à BiPAP constatados na literatura, justifica-se a realização deste estudo, contribuindo com maior número de trabalhos científicos que fundamentem a associação desta técnica de ventilação como forma de reversão das complicações pós-operatórias. Os objetivos deste estudo foram avaliar as alterações da função pulmonar do pré-operatório para o 1º PO e verificar a evolução das medidas de FMR, CV, Freqüência Respiratória (FR) e Oxigenação (SpO2) no 1º PO até a pré-alta, verificando a eficácia da aplicação de BiPAP na diminuição das alterações da mecânica pulmonar frente ao ato cirúrgico. Fisioterapia_v7n1.indb 13 13 Material e métodos Foram avaliados 40 pacientes, com idade média de 58,1 ± 9,06 anos, submetidos a cirurgia cardíaca eletiva de revascularização do miocárdio com incisão mediana e CEC realizada no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Araraquara, dos quais 13 não concluíram o protocolo de tratamento devido a instabilidade hemodinâmica, arritmias não-controladas e desistência do tratamento no PO. Todos os pacientes assinaram um Termo de Consentimento mediante orientações sobre o protocolo proposto, em atendimento à resolução 196/96 do CNS, e este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário de Araraquara. Foram excluídos os pacientes submetidos a cirurgia de emergência, baixo nível de compreensão e idade inferior a 50 anos. Os pacientes foram selecionados e agrupados randomicamente em dois grupos, compondo um Grupo 1 (G1) com 12 pacientes, tratado com FRC associada a aplicações de BiPAP (duas vezes ao dia, com duração de 30 minutos cada aplicação), e Grupo 2 (G2) com 15 pacientes, tratado com FRC, duas vezes ao dia. As avaliações foram realizadas no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e pré-alta, sendo que no pré-operatório os pacientes receberam informações sobre os procedimentos cirúrgicos e fisioterapêuticos a serem executados nos diferentes períodos de sua recuperação (período de internação), sendo todos submetidos a uma avaliação clínica na qual constavam os dados pessoais, antropométricos, diagnóstico médico, antecedentes pessoais, dados relacionados à cirurgia, além de medidas específicas como: FMR (PImax e PEmax), CV, FR e SpO2. A FMR foi obtida com um manovacuômetro da marca Ger-Ar escalonado em cmH2O, segundo metodologia proposta por Black&Hyatt [13]. Para a realização da manobra o paciente foi instruído a realizar um esforço inspiratório máximo após expiração completa para a mensuração da Pressão Inspiratória Máxima (PImax). Da mesma forma, o paciente foi instruído a realizar um esforço expiratório máximo ao final de uma inspiração máxima para a mensuração da Pressão Expiratória Máxima (PEmax). Para a obtenção da CV utilizou-se um Ventilômetro de Wright da marca Omedha, e o paciente foi instruído a inspirar profundamente e expirar lentamente, através de um bucal, até soltar todo ar, utilizando clipe nasal. A FR foi mensurada pelos movimentos da caixa torácica durante os ciclos respiratórios realizados em um minuto. A SpO2 foi obtida de forma não invasiva através do oxímetro de pulso portátil 1001 acoplado a um dos dedos do paciente, indicador ou anular, sendo verificado sem utilização de máscara de oxigênio e antes da aplicação de BiPAP. Essas medidas específicas foram obtidas de forma padronizada pelo mesmo examinador, com o paciente sentado de forma confortável. Após a realização da cirurgia cardíaca, os pacientes receberam o tratamento proposto de acordo com o seu grupo, sendo que a FRC constava de exercícios 1/2/2006 18:49:48 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 14 respiratórios diafragmáticos associados à movimentação ativa e/ou ativo-assistida nos membros superiores, mobilização de membros inferiores, manobras desobstrutivas, auxílio da tosse e técnicas reexpansivas. A aplicação de BiPAP foi utilizada na modalidade espontânea, ciclada em dois níveis de pressão positiva, com um nível pressórico durante a inspiração (IPAP) de 8 a 12 cmH2O e um nível pressórico durante a expiração (EPAP) de 4 a 6 cmH2O. Para cada variável estudada foi realizado o cálculo das Médias e dos Desvios Padrões e aplicada a análise de Friedman ANOVA (p ≤ 0,05) entre as situações, e a análise Mann-Whitney para comparação dos grupos quanto ao Índice de Ganho do 1º PO à pré-alta ( =((Pré-alta – 1ºPO)/1ºPO*100) ). Figura 1 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável PImáx no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G1. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Resultados A Tabela I mostra as características antropométricas, demográficas, clínicas e cirúrgicas dos pacientes envolvidos neste estudo para G1 e G2. As figuras 1, 2, 3 e 4 ilustram o comportamento dos valores de FMR (PImax e PEmax), onde se pode constatar uma queda significativa entre o préoperatório e o 1º PO tanto para G1 como para G2. Apenas para o G1 (FRC + BiPAP) houve aumento significativo dos valores do 1º PO para pré-alta, sendo este aumento observado a partir do 3º PO. Quando comparado o Índice de Ganho, em percentual, do 1º PO para pré-alta hospitalar, nos diferentes protocolos utilizados, observou-se que o G1 apresentou valores de PImax significativamente maiores do que os do G2, sendo que para PEmáx, o Índice de Ganho entre os grupos não se mostrou significativo. No que se refere a CV, as figuras 5 e 6 demonstram os resultados obtidos entre as fases pré-operatório e pré-alta, sendo observado, do pré-operatório para 1º PO, diminuição significativa dos valores, tanto para G1 como para G2, e um aumento significativo de 1º para 3º PO, mas apenas o grupo tratado com FRC associada à BiPAP mostrou valores de pré-alta próximos aos de pré-operatório. Quando comparados G1 e G2, quanto ao Índice de Ganho de 1º PO para pré-alta hospitalar, foi observado que não houve diferença significativa entre eles. Figura 2 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável PImáx no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G2. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Figura 3 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável PEmáx no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G1. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Tabela I - Características antropométricas, clínicas e cirúrgicas em média e desvio padrão dos pacientes estudados. Variáveis G1 G2 Idade (anos) 58,7 ± 8,5 57,7 ± 9,76 Sexo 11 homens / 1 mulher 11 homens / 4 mulheres Peso (kg) 76,6 ± 14 67,00 ± 11,3 Altura (m) 1,70 ± 0,11 1,64 ± 0,07 Índice de massa corpórea 24,22 25,00 Tempo total de cirurgia (horas) 3,08 ± 0,6 2,95 ± 0,65 Tempo de perfusão (min) 71,75 ± 10,96 77,81 ± 26,35 Fisioterapia_v7n1.indb 14 1/2/2006 18:49:49 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 15 Figura 4 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável PEmáx no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G2. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Figura 7 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável SpO2 no préoperatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G1. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Figura 5 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável CV no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G1. **p<0,01. Em relação à oxigenação, verificou-se redução significativa dos valores de pré-operatório à 1º PO para ambos os grupos, assim como um aumento também significativo de 3º PO à pré-alta, mas apenas os resultados do grupo tratado com FRC associada à BiPAP aproximaram-se dos valores do préoperatório, como pode ser verificado nas figuras 7 e 8. No que se refere ao Índice de Ganho, em percentual, para SpO2 entre G1 e G2, do 1º PO para pré-alta, não foi observada alteração significativa. Quanto à FR, não foram observados valores significativos entre as situações de pré-operatório à pré-alta, tanto para G1 como G2, mas em relação ao Índice de Ganho do 1º PO para pré-alta, comparando-se ambos os grupos, verificou-se redução significativa dos valores no grupo tratado com FRC associada à BiPAP, em comparação ao grupo tratado com FRC isolada, como pode ser verificado na Tabela II. Figura 6 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável CV no préoperatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G2. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. Fisioterapia_v7n1.indb 15 Figura 8 - Evolução das Médias e Desvios Padrões da variável SpO2 no pré-operatório, 1º PO, 3º PO e Pré-alta para o G2. *p ≤ 0,05; **p < 0,01. 1/2/2006 18:49:50 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 16 Tabela II - Pressão Inspiratória Máxima e Freqüência Respiratória média, Delta de PImáx e da FR do 1º PO à Pré-alta para G1 e G2. G1 G2 PImáx média 1º PO Pré-alta FR média 1º PO Pré-alta 28,4 ± 14,8 39,2 ± 12,7 55,6 ± 27,7 42,4 ± 16,8 21,2 ± 4,9 20 ± 3,1 18,1 ± 3,0 21,5 ± 2,6 ∆PImáx ∆FR 48,4 ± 15,4* -2,37 ± 43,4 -11,9 ± 16,6* 14,9 ± 21,5 Valores expressos em Média e Desvio Padrão; PImáx média no 1º PO e pré-alta de cirurgia cardíaca, em cmH2O; FR média no 1º PO e pré-alta de cirurgia cardíaca, em rpm; ∆PImáx = Delta de PImáx ((Pré-alta – 1º PO)/1º PO * 100); e ∆FR = Delta de FR; *p < 0,05-Mann-Whitney. Discussão Este estudo investigou os efeitos da cirurgia cardíaca associada à CEC, com relação à função pulmonar em pacientes submetidos a rotina de FRC associada à BiPAP e FRC isolada. Com relação a FMR, observou-se que a cirurgia cardíaca associada à CEC produz prejuízos sobre a mecânica respiratória, reduzindo, assim, a capacidade dos músculos inspiratórios e expiratórios em gerar tensão suficiente para vencer o trabalho imposto, por desvantagem mecânica ou por dor pós-operatória. Têm sido constatados valores menores de PImáx e PEmáx em relação aos valores pré-operatórios nos pacientes em PO de cirurgia cardíaca [14], estando esta diminuição relacionada ao trauma que os músculos respiratórios são submetidos durante esse procedimento cirúrgico e ao aparecimento de alta taxa de complicações pulmonares [15] e, apesar desses valores aumentarem com o passar dos dias da recuperação, não retornam aos valores pré-operatórios até oito semanas após a ocorrência da cirurgia [1,2,16]. Neste estudo verificou-se que, mesmo com uma redução dos valores de FMR (PImáx e PEmáx) do pré-operatório para o 1º PO, para ambas as variáveis, apenas o G1 (FRC associada a BiPAP) apresentou aumento do 1º PO à pré-alta hospitalar. Quanto à CV, em alguns estudos, como o de Matte et al. [17], quando se associou aplicação de BiPAP à FRC, observou-se aumento dos valores desta variável, assim como os apresentados neste estudo, sendo que os valores de pré-alta aproximaram-se dos verificados no pré-operatório. A utilização de BiPAP leva a um menor trabalho da musculatura respiratória e aumento dos valores de volumes e capacidades pulmonares, não necessitando do esforço do paciente para gerar inspirações profundas [12]. Em relação à oxigenação, os resultados apresentados por Ferreira et al. [7], Matte et al. [17] e Ingwersen et al. [18] demonstraram melhora dos valores de SpO2 com a utilização de FRC associada à BiPAP, assim como os resultados apresentados por Joris et al. [19] em PO de gastroplastia, sendo que este resultado também pôde ser verificado neste estudo, observando-se que os valores da pré-alta mostraramse bem próximos dos valores do pré-operatório. Sugerindo que o aumento da Oxigenação deveu-se ao aumento da Pressão Parcial de Oxigênio (PaO2), da relação V/Q, da Fisioterapia_v7n1.indb 16 relação PaO2/FiO2, diminuição do shunt pulmonar e da diferença alvéolo-arterial, apesar destas variáveis não terem sido estudadas. No que se refere a FR observada neste estudo, verificou-se menores valores para o grupo tratado com FRC associado à BiPAP quando comparado ao grupo tratado apenas com FRC na pré-alta hospitalar, estando de acordo com os resultados apresentados por Matte et al. [17], devendo-se à maior abertura alveolar e melhora da complacência. Alguns autores relatam que a efetividade da VNI depende do ajuste adequado dos parâmetros do ventilador, sendo que para BiPAP utiliza-se pressão inspiratória fixada entre 8 e 12 cmH2O, enquanto a expiratória varia de 4 a 6 cmH2O, e para tais níveis pressóricos obteve-se ganho dos valores de CV e SpO2 [7,17], assim como os resultados observados neste estudo, em que ambas as variáveis na pré-alta mostraram valores próximos aos do pré-operatório. Este estudo apresentou algumas limitações, tais como número de pacientes avaliados em cada grupo e o número e tempo de aplicações diárias de BiPAP, assim como controle das complicações no PO pela análise radiográfica; e a ausência de um grupo controle (sem tratamento). Entretanto, em nosso estudo, todos os pacientes foram tratados, seguindo uma rotina estabelecida pelo setor de fisioterapia. Conclusão Em conclusão, foi verificado que os pacientes submetidos a cirurgia cardíaca associada à CEC apresentaram prejuízos sobre a função pulmonar, e a utilização da FRC associada à BiPAP aplicada aos pacientes no PO de cirurgia cardíaca foi eficaz no ganho de FMR (PImáx) e no aumento da CV e oxigenação, assim como na reversão da FR. Observandose, dessa forma, maior eficiência quando a FRC é associada a BiPAP do que quando aplicada isoladamente, porém os valores basais de função pulmonar não foram recuperados completamente até a pré-alta hospitalar. Referências 1. Johnson D, Hurst, T, Thomson D, Mycyk T, Burbridge BT, Mayers I. Respiratory function after cardiac surgery. J Cardiothorac Vasc Anesth 1996;10:571-7. 1/2/2006 18:49:51 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 2. Garcia RCP, Costa D. Treinamento muscular respiratório em pós-operatório de cirurgia cardíaca eletiva. Rev Bras Fisioter 2002;6:139-46. 3. Craig DB. 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Effect of Bi-level positive airway pressure (BiPAP) nasal ventilation on postoperative pulmonary restrictive syndrome in obese patients undergoing gastroplasty. Chest 1997;111:665-9. 1/2/2006 18:49:52 18 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Artigo original Risco de trombose venosa profunda em pacientes traumato-ortopédicos hospitalizados Risk of deep-vein thrombosis in hospitalized orthopedic patients Luciano Pereira de Oliveira*, Vagner Wilian Batista e Sá, M.Sc.** *Acadêmico do 8º período do Curso de Fisioterapia, Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, **Fisioterapeuta - MSB, UCB, UNIGRANRIO, Hospital Estadual Rocha Faria – RJ Resumo Abstract A trombose venosa profunda (TVP) é um transtorno comum em pacientes hospitalizados, principalmente naqueles em fase pós-operatória, restritos ao leito e imobilizados. O objetivo deste estudo foi identificar e classificar o risco para desenvolvimento de TVP nos pacientes internados na enfermaria de traumato-ortopedia do Hospital Estadual Rocha Faria (HERF) - Rio de Janeiro. Foi utilizado o delineamento de estudo epidemiológico descritivo, prospectivo, aleatório, de prevalência, por um período de quatro meses (maio/2003 a agosto/2003). A coleta de dados baseou-se no protocolo de profilaxia de TVP modificado. A amostra foi composta por 96 pacientes, 53 do sexo feminino e 43 do sexo masculino masculino, com idade variando de 04 a 97 anos; (média de 54,4 ± 24,1; p < 0,05). Dos 96 pacientes, 8 (8%) foram classificados no risco baixo, 44 (46%) no risco médio e 44 (46%) no risco alto para desenvolvimento de TVP. Identificou-se alta prevalência (92%) para o risco de desenvolvimento de TVP na amostra estudada. Deep vein thrombosis (DVT) is a common disease in hospitalized patients, mainly in postoperative ones and immobilized. The aim of this study was to identify and to classify the risk for development of DVT in patients hospitalized in orthopedic infirmary of the Rocha Faria Hospital (RFH) – RJ-Brazil. It was a descriptive, prospective and prevalence study for a period of four months (2003/may to 2003/aug). The collection of data was based on the protocol of DVT prophylaxis modified. The sample was composed for 96 patients, 53 female and 43 male, with age varying of 04 to 97 years old; (average of 54,4 ± 24,1; p < 0.05). 8 patients (8%) were classified in low risk, 44 (46%) in intermediate risk and 44 (46%) in high risk for DVT development. It was concluded that exists high prevalence (92%) for DVT development in the studied sample. Key-words: deep vein thrombosis, prevalence, hospitalized patients, orthopedic diseases. Palavras-chave: trombose venosa profunda, prevalência, pacientes hospitalizados, traumato-ortopedia. Introdução A trombose venosa profunda (TVP) é uma condição na qual um coágulo forma-se no interior de uma veia profunda, geralmente dos membros inferiores e mais raramente dos membros superiores, apresentando predominantemente fibrina e hemácias com quantidade variável de plaquetas e leucócitos [1]. Este trombo pode tomar proporções capazes de ocluir totalmente a passagem de sangue pelo vaso acometido, o que levaria a uma recanalização vascular, fato contribuinte para o não aparecimento de sinais e sintomas como dor local e edema distal em até 50% dos pacientes [2-5]. A TVP é um transtorno grave, de difícil diagnóstico [5,6] e com alta incidência na população feminina, principalmente nas idosas onde há um maior risco, abrangendo todas as etnias [7]. Porém, outros estudos [8,9] têm demonstrado que Artigo recebido em 28 de setembro de 2004; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Luciano Pereira de Oliveira, Condomínio Fazenda Mombaça, 05 km 481 BR 101, 23900-000 Angra dos Reis RJ, Tel: (21)9447-1243, E-mail: [email protected]. Fisioterapia_v7n1.indb 18 1/2/2006 18:49:52 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 adolescentes e crianças com idade inferior a 12 anos, assim como neonatos, apresentam igual risco para desenvolverem TVP, despertando a atenção quanto à presença real do risco em todas as faixas etárias. As complicações da TVP constituem alto risco para a vida do paciente. A mais temida é a embolia, provocada pelo desprendimento do trombo de uma veia proximal. Este desprendimento de trombo é perigoso, pois é capaz de ocluir totalmente um vaso sangüíneo de pequeno calibre no pulmão. A esse fenômeno dá-se o nome de tromboembolia pulmonar (TEP), condição de custo oneroso para seu tratamento, que apresenta alta incidência em pacientes hospitalizados e é identificada como causa de mortes [2,10-14]. Possibilidades terapêuticas farmacológicas, físicas e cirúrgicas têm sido utilizadas para tratar a TVP. No entanto, a prevenção é a melhor estratégia para os pacientes internados [15,16]. Segundo o consenso estabelecido no V Fórum Nacional da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular – SBACV [17], sobre Profilaxia da TVP e Tromboembolismo Pulmonar, a profilaxia é recomendada a todos os pacientes, clínicos ou cirúrgicos hospitalizados, bem como para aqueles em domicílio, que necessitem permanecer acamados por tempo prolongado. O método de escolha, físico e/ou farmacológico, é determinado de acordo com a classificação do risco de cada paciente em baixo, médio ou alto, de sua condição clínica e da disponibilidade dos diferentes métodos em cada hospital. É consenso que todos os pacientes hospitalizados devam começar a deambular precocemente, seja qual for o risco para desenvolvimento de TVP [17-19]. No entanto, esse método físico nem sempre é possível, devido às condições clínicas apresentadas pelo paciente, principalmente os restritos ao leito. Dessa forma, torna-se indispensável a presença de um 19 fisioterapeuta para acompanhar de perto a evolução de cada paciente hospitalizado, bem como para prescrever e implementar o método físico mais adequado para cada caso. A alta prevalência de distúrbios traumato-ortopédicos, principalmente fraturas dos membros inferiores com indicações cirúrgicas, documentada por Sá [20] nas enfermarias de traumato-ortopedia do Hospital Estadual Rocha Faria – HERF, levou-nos a questionar se os pacientes internados nas diversas clínicas deste hospital apresentariam risco para desenvolverem TVP, e se a afirmativa fosse verdadeira, qual seria o índice de risco para desenvolvimento de TVP nesta população. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi identificar e classificar o risco para desenvolvimento de TVP nos pacientes internados na enfermaria de traumato-ortopedia do HERF - RJ. Material e métodos A população pesquisada contou com indivíduos internados na enfermaria de traumato-ortopedia do HERF, oriundos de diversas regiões do Estado do Rio de Janeiro, com as mais variadas condições traumato-ortopédicas, no período de maio a agosto de 2003. A amostra foi composta por 96 indivíduos (n = 96), dos quais 53 (55%) eram do sexo feminino e 43 (45%), do sexo masculino, com média de idade 54,4 ± 4,8 anos (p < 0,05). O delineamento de estudo foi o epidemiológico descritivo, prospectivo, randomizado de prevalência. Para a coleta dos dados, utilizou-se um formulário padrão onde constava o nome do paciente, idade, sexo, peso, altura, diagnóstico médico, etiologia e procedimento médico prescrito e o protocolo de profilaxia de TVP de Bastos et al. [21], obedecendo aos critérios de risco propostos na IV Conferência de Consenso de Terapia Antitrombótica [22], como demonstra a Figura 1. Figura 1 - Formulário padrão utilizado para coleta de dados e classificação de risco de TVP [21]. Nome Diagnóstico Fatores de Risco: • Idade > 40 anos • Idade > 65 anos* • Infecção grave • Variz de grosso calibre • Grande queimadura • Obesidade (IMC ≥ 30) • Anticoncepcional oral **Alto risco: Idade Sexo Peso (kg) Altura (m) IMC Proc. Terapêutico • Eclâmpsia • Pré-eclâmpsia • Puerpério • Neoplasia • Ileíte regional • Retocolite ulcerativa • Diabetes • Grande cirurgia ortopédica quadril/joelho • Prostectomia trans. / grande cirurgia p/ câncer • Traumatismo raquimedular Clínica: Leito: Etiologia • Síndrome nefrótica • Infarto agudo Miocárdio • TVP/EP + 2 anos • Doença autoimune • Restrição ao leito > 5h* • Imobilização • Anestesia geral • Trombofilia (síndrome pró-trombótica) • TVP/EP a menos de 2 anos • Cirurgia prolongada + 60` • Trauma grave* • Trauma • AVE • ICC • TRM** • Outros Classificação do risco: • BAIXO (0 a 1 ponto) • MÉDIO (2 a 4 pontos) • ALTO (5 ou mais pontos) Legenda: IMC – Índice de Massa corporal; TRM – Traumatismo Raquimedular; AVE – Acidente Vascular Encefálico; ICC – Insuficiência Cardíaca Congestiva; TVP/EP – Trombose Venosa Profunda/Embolia Pulmonar Fisioterapia_v7n1.indb 19 1/2/2006 18:49:53 20 A utilização do protocolo é dada da seguinte forma: para cada fator de risco assinalado conta-se 1 ponto, para os fatores de risco marcados por um asterisco (*) conta-se 2 pontos. Então, o somatório de todos os fatores de risco assinalados determina se o paciente em questão pertence a uma classe de risco baixo, se for somado zero ou 1 ponto; risco médio, se somarem 2 a 4 pontos; ou alto, se a pontuação for igual ou maior a 5 pontos. Os fatores de risco: “Grande cirurgia ortopédica quadril/joelho”, “Prostectomia trans./Grande cirurgia p/câncer”, “Traumatismo raquimedular”, “Trombofilia -Síndrome pró-trombótica” e “TVP/EP” (Trombose Venosa Profunda/Embolia Pulmonar a menos de dois anos) são considerados fatores de alto risco. Os dados foram coletados por fisioterapeuta, semanalmente, diretamente do prontuário e por entrevista com o paciente ou o seu responsável. Não foram solicitados exames complementares com o objetivo de avaliar todas as condições patológicas contidas no formulário padrão. Somente foram assinaladas as patologias diagnosticadas que constavam no prontuário do paciente, ou relatadas pelo próprio paciente ou familiar. Toda fratura fechada foi considerada como pertencente ao fator de risco “trauma”, enquanto que as fraturas expostas, os politraumatismos e as amputações (cirúrgica ou traumática) foram considerados como fator de risco “trauma grave”. As infecções de pós-operatório e as pseudoartroses infectadas pertenceram ao fator de risco “infecção grave”. Determinou-se um tempo de restrição no leito em cinco horas tendo como base o estudo de Campos [23], pois o fator de risco “Restrição prolongada no leito” contida no protocolo de Bastos [21] não contemplava tal informação. O item Traumatismo raquimedular (TRM), foi acrescido de dois asteriscos (**) para indicação direta de alto risco de desenvolvimento de TVP. Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Ao final de cada avaliação, obteve-se a identificação da classe de risco para desenvolvimento de TVP do paciente. O risco baixo teve a menor prevalência, somente 8 (8%) pacientes. Quanto ao risco médio e alto, houve uma equivalência na prevalência, para ambos, de 44 (46%). Tabela 1 - Distribuição da amostra nos principais fatores de risco de TVP avaliados em 96 pacientes internados nas enfermarias de traumatoortopedia do HERF. Fatores de risco Freqüência Trauma Imobilização Restrição ao leito > 5h Idade > 65 anos Idade entre 40 e 65 anos Cirurgia prolongada > 60 minutos Outros Trauma grave Diabetes Infecção grave Anestesia geral Obesidade Grande cirurgia ortopédica Quadril/Joelho Síndrome nefrótica Infarto Agudo do Miocárdio Acidente Vascular Encefálico 83 52 48 36 35 12 12 9 7 5 6 2 2 1 1 1 % 86,46 54,17 50,00 37,50 36,46 12,50 12,50 9,38 7,29 5,21 6,25 2,08 2,08 1,04 1,04 1,04 A figura 2 ilustra a distribuição da amostra na classificação de risco para desenvolvimento de TVP. Figura 2 - Distribuição percentual da classificação de risco de desenvolvimento na amostra estudada. Resultados e discussão Dos 96 pacientes avaliados, 25 (26 % ± 9%, p < 0,05) apresentavam idade abaixo dos 40 anos; 35 (36,5 % ± 10% p < 0,05) entre 40 e 65 anos; e 36 (37,5 % ± 10%, p < 0,05) pacientes acima de 65 anos. O trauma, incluindo o trauma grave, foi o fator de risco que mais esteve presente nas avaliações. Noventa e dois pacientes (95,8% ± 4%, p < 0,05) tiveram confirmado o diagnóstico de fratura. Tal condição contribuiu para a alta freqüência de imobilizações (54 % ± 10%, p < 0,05) e restrições ao leito por um tempo maior que 5 horas (50% ± 10%, p < 0,05). A Tabela I demonstra a distribuição da amostra de acordo com os fatores de risco e freqüência das condições. O tempo médio dos procedimentos cirúrgicos realizados nos pacientes foi de duas horas, contadas a partir da sedação. Portanto, estes pacientes já possuíam risco baixo de desenvolvimento de TVP. Fisioterapia_v7n1.indb 20 Os resultados obtidos neste estudo são semelhantes aos encontrados por Bergqvist et al. [24], realizado no Hospital Geral de Malmo, na Suécia, para prevenção de trombose venosa profunda após cirurgia. Os autores identificaram uma incidência menor que 10%, para o risco baixo, enquanto que para o risco médio esse número elevou-se, atingindo uma incidência de 10 a 40% e para o risco alto de 40 a 80%. 1/2/2006 18:49:53 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Conclusão O risco baixo para desenvolvimento de TVP teve a menor prevalência, somente 8 (8%) pacientes. Quanto ao risco médio e alto, houve uma mesma prevalência, para ambos, de 44 (46%), estando o trauma, a idade avançada, a imobilização e a restrição ao leito associados diretamente com o alto risco para desenvolvimento de TVP, seja no paciente hospitalizado ou domiciliado. Estudos futuros devem abordar ações terapêuticas e profiláticas para redução do risco de desenvolvimento de TVP em pacientes hospitalizados ou domiciliados. Referências 1. Hirsh J, Hull RD, Raskob GE. 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Br J Surg 1992;79:495-8. 1/2/2006 18:49:54 22 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Artigo original Ocorrência de Staphylococcus aureus em fisioterapeutas que atuam em clínicas e hospitais de Governador Valadares – Minas Gerais Staphylococcus aureus occurrence in physical therapists of Governador Valadares – Minas Gerais Daniel de Assis Santos*, Mariane Cândida Medeiros Oliveira**, Liliane Lisboa Oliveira**, Ludmila Reis Milardi**, Sabrina Ferreira Almeida**, Lígia Jordão Valentim**, Bartira Pereira Neves**, Mario Antonio Baraúna***, Ruiz Angelo Ventura da Silva**** *Doutorando em Microbiologia, Universidade Vale do Rio Doce UNIVALE, **Acadêmicos de fisioterapia – Universidade Vale do Rio Doce UNIVALE, ***Doutor em Motricidade Humana – Centro Universitário do Triângulo UNITRI, ****Mestre em Fisioterapia – Centro Universitário do Triângulo UNITRI Resumo Abstract Trinta profissionais fisioterapeutas foram selecionados para verificar o estado de portador de Staphylococcus aureus na mucosa nasal. A coleta foi realizada por meio de um swab esterilizado que, posteriormente foi inserido em um tubo contendo caldo de enriquecimento. Para o isolamento e identificação utilizaram-se as provas bioquímicas manita, Dnase, catalase e coagulase. Verificou-se que todos os indivíduos pesquisados eram portadores de uma espécie de estafilococo, sendo que 52% eram portadores de S. aureus, 43% de S. epidermidis e 5% possuíam S. saprophyticcus. Fatores como idade, sexo, área de atuação profissional, internações prévias e uso de medicamentos não influenciaram de forma significativa os resultados obtidos (p<0,05). O presente estudo demonstrou que a maioria dos profissionais pesquisados possuía S. aureus na mucosa nasal. O estado de portador assintomático desse microrganismo pelos fisioterapeutas pode apresentar risco potencial de transmissão aos pacientes por eles atendidos. Thirty physical therapists from Governador Valadares (Southeast of Brazil) were selected to investigate the nasal carrier occurrence of Staphylococcus aureus. Specimens for culture were collected from the nares with cotton swabs. The nasal swabs were cultured on enrichment broth. After that, culture was transferred to manitol salt agar, Dnase agar and citrated serum to identify the isolates. Our data revealed that all investigated professionals were nasal carrier of one Staphylococcus specie (52% - S. aureus; 43% - S. epidermidis; 5% - S. saprophyticcus). Conditions as age, sex, place of work, medicine use and previous diseases didn’t significantly influence obtained results (p<0.05). This work demonstrated that the majority of investigated professionals was nasal carriers of S. aureus, and there is a transmission risk of the microorganism to their patients. Key-words: Staphylococcus aureus, nasal carrier, physical therapist. Palavras-chave: Staphylococcus aureus, portador assintomático, fisioterapeuta. Introdução O gênero Staphylococcus compreende patógenos comuns ao homem e outros animais, os quais, ocasionalmente, provocam doenças que representam risco à vida. As infecções estafilocócicas correspondem, na maioria das vezes, a condições comuns da pele de ferimentos. A maioria dessas doenças decorre de transferência de esta- filococos presentes na microbiota normal de indivíduos infectados, porém assintomáticos, para um indivíduo susceptível [1,2]. Os estafilococos são cocos gram-positivos, não formadores de esporos, resistentes ao dessecamento, sendo prontamente disseminados pelas partículas de poeira presentes no ar e na superfície. Três são as espécies de Staphylococcus que apresentam importância para o homem: Staphylococcus saprophyticcus, Staphylo- Recebido 17 de fevereiro de 2005; aceito 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Daniel de Assis Santos, Laboratório de Microbiologia, Universidade Vale do Rio Doce, E-mail: [email protected]. br Fisioterapia_v7n1.indb 22 1/2/2006 18:49:55 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 coccus epidermidis e Staphylococcus aureus. Embora todas essas espécies possam ser encontradas na microbiota normal do trato respiratório (especialmente narinas e garganta) e pele, elas são potencialmente patogênicas, sendo que a espécie S. aureus está relacionado às doenças humanas com maior freqüência [1,3]. As bactérias acima mencionadas, principalmente S. aureus, causam uma variedade de doenças, incluindo acne, piodermite, furúnculos, pústulas, impetigo, pneumonia, osteomielite, endocardite e artrite. Certas linhagens são responsáveis pela Síndrome do Choque Tóxico (SCT), que se caracteriza por febre alta, vômitos, diarréias, e ocasionalmente, o óbito. Além disso, pode ocorrer a contaminação do alimento por uma toxina produzida pelo S. aureus, que depois de ingerida, promove um aumento da permeabilidade intestinal, podendo levar a graves diarréias e vômitos. A espécie S. epidermidis é freqüentemente responsável por infecções de indivíduos submetidos a cateter endovenoso, enquanto que S. saprophyticus pode provocar condições infecciosas no trato urinário [1]. Indivíduos hígidos podem ser portadores e, na maioria dos casos, esses estafilococos não provocam doenças. As crianças são freqüentemente infectadas durante a primeira semana de vida por meio de contato com a mãe ou outro indivíduo com quem mantenha contato próximo. Condições infecciosas graves ocorrem quando a resistência do hospedeiro encontra-se debilitada em decorrência de alterações hormonais, enfermidades imunossupressoras (como a AIDS), ferimentos, tratamento com esteróides ou outras drogas que comprometam o sistema imune [1]. O uso indiscriminado de antibacterianos resulta em uma seleção natural de linhagens resistentes de estafilococos, principalmente S. aureus, que possui uma grande capacidade de adquirir resistência aos antibióticos (2). As infecções hospitalares causadas por isolados resistentes aos antimicrobianos ocorrem com maior freqüência nos indivíduos debilitados. Dessa forma, os pacientes se contaminam com estafilococos oriundos dos profissionais hospitalares, dentre estes, fisioterapeutas, os quais podem ser portadores assintomáticos. Embora algumas infecções adquiridas na comunidade possam ser tratadas com penicilina, as amostras de S. aureus causadoras de doenças devem ser analisadas individualmente quanto à susceptibilidade e resistência aos fármacos antibacterianos [1]. A prevenção de infecções estafilocócicas é problemática, uma vez que muitos indivíduos são portadores assintomáticos e pelo fato de algumas doenças, como a acne, poderem ser transmitidas pelo simples contato com os dedos contaminados. Em ambientes hospitalares, tais como alas cirúrgicas e berçários, os profissionais infectados por S. aureus devem ser excluídos ou tratados com drogas antibacterianas de uso tópico e, ou sistêmico, a fim de erradicar a condição de portador [1,2]. É difícil impedir a disseminação dos Fisioterapia_v7n1.indb 23 23 estafilococos de uma pessoa para outra e procedimentos simples como coberturas de superfícies cutâneas expostas por meio de feridas cirúrgicas podem minimizar o risco de contaminação [4]. O presente trabalho teve, como principal objetivo, a averiguação do estado de portador nasal assintomático de bactérias do gênero Staphylococcus em profissionais fisioterapeutas que atuam em diferentes centros, clínicas e hospitais na cidade de Governador Valadares, Minas Gerais. A análise do perfil de portador é importante, pois pode auxiliar na prevenção da disseminação, do profissional para seus pacientes, de S. aureus. Material e métodos Foram selecionados 30 profissionais fisioterapeutas, sendo 23 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, que atuam em diferentes centros, clínicas de fisioterapia e hospitais de Governador Valadares em Minas Gerais, para verificar a ocorrência de S. aureus na mucosa nasal. Informações como área de atuação profissional, uso de medicamentos e internações prévias foram anotadas para posterior análise de correlação com os resultados dos testes de identificação dos isolados. Os profissionais foram submetidos a um swab nasal que foi, imediatamente, inserido em um tubo contendo caldo de enriquecimento. Em seguida os tubos foram incubados a 37ºC por um período de 24 horas. Decorrido o período de incubação, foram executados o isolamento e a identificação das espécies de Staphylococcus segundo Oplustil et al. [5]. O isolamento foi feito pela transferência de uma pequena alíquota do caldo de enriquecimento para ágar manita, que foi incubado a 37ºC por 24 horas. As colônias obtidas foram submetidas às provas bioquímicas Dnase, coagulase e catalase. A leitura dos resultados foi executada visualmente e, por observação do conjunto das provas bioquímicas, os isolados foram classificados em S. aureus, S. epidermidis ou S. saprophyticus. A análise da correlação dos resultados de portador assintomático em relação ao sexo, idade, área de atuação, internações prévias e uso de medicamentos foi realizada por meio do teste não-paramétrico de Wilcoxon. Um valor de p < 0,05 foi considerado como estatisticamente significativo. Resultados Foi verificado que 100% dos indivíduos pesquisados possuíam, em sua microbiota nasal, uma espécie de Staphylococcus, sendo que em 52% a espécie identificada foi S. aureus, em 43% foi S. epidermidis e em 5% foi S. saprophyticcus, como demonstra a Figura 1. A análise estatística revelou que nenhum dos parâmetros analisados (idade, sexo, área de atuação profissional, internações prévias e uso de medicamentos) influenciou de forma significativa os resultados observados (p<0,05). 1/2/2006 18:49:56 24 Figura 1 - Ocorrência de espécies de Staphylococcus nos profissionais fisioterapeutas pesquisados. Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 portador nasofaríngeo assintomático constitui a fonte mais freqüente desses microrganismos. Esse fato demonstra existir um risco potencial para os pacientes atendidos por fisioterapeutas portadores do microrganismo, principalmente se os profissionais atuarem em áreas ou locais nos quais predominem pacientes imunocomprometidos. Além da simples determinação do estado de portador assintomático, seria desejável a determinação do perfil de susceptibilidade e resistência a drogas antibacterianas das bactérias isoladas para que uma intervenção terapêutica com o intuito de eliminar o estado de portador fosse corretamente selecionada, evitando casos de falha da terapêutica, reduzindo a possibilidade da seleção de mutantes resistentes do microrganismo e, conseqüentemente, diminuindo o risco de contaminação de pacientes. Discussão Conclusão Não há, disponível na literatura da área, qualquer trabalho objetivando a determinação do estado de portador assintomático de S. aureus em profissionais fisioterapeutas. Dessa forma, o presente estudo é pioneiro no que diz respeito à população analisada e os dados aqui apresentados são, adiante, comparados aos resultados obtidos por pesquisadores que executaram a detecção da bactéria em questão em populações diversas. Cole et al. [6], buscando identificar fatores que determinassem o estado de portador de S. aureus verificaram, pesquisando jovens universitários, que a ocorrência foi maior em homens, diferindo dos dados aqui apresentados em que a análise estatística revelou não haver diferença estatisticamente significativa entre homens e mulheres. Além disso, a freqüência da ocorrência aqui encontrada (52% dos indivíduos possuíam S. aureus na microbiota nasal) foi superior àquela verificada por Cole et al. [6], que foi de 27%. Bischoff et al. [7] obtiveram resultados semelhantes aos de Cole et al. [6], classificando 29% dos indivíduos pesquisados como portadores de S. aureus. Por outro lado, Pena et al. [8], em experimentos similares aos realizados no presente estudo, pesquisaram 71 pacientes em hemodiálise e averiguaram a ocorrência de S. aureus em 55%, semelhante ao valor aqui apresentado (52%). Ao estudar 250 pacientes portadores de piodermite, Nagaraju et al. [9] isolaram S. aureus de 80,8%, confirmando a etiologia dessa condição e reforçando o fato de que a mesma pode ser transmitida por meio de portadores assintomáticos do microrganismo. A detecção de S. aureus realizada em profissionais da fisioterapia e demais profissionais de saúde deveria ser executada rotineiramente, visto que a bactéria se encontra colonizando uma parte considerável da população mundial como mencionado acima (27% a 80,8%). Segundo Murray et al. [4], a disseminação dos microrganismos resistentes aos antibióticos é muito difícil de se controlar, pois o estado de Fisioterapia_v7n1.indb 24 Concluindo, estudos de determinação da ocorrência de S. aureus em profissionais da saúde, não só em fisioterapeutas, são ainda necessários para confirmar os dados aqui apresentados e alertar a comunidade sobre as condições causadas por esse microrganismo, conscientizando sobre a possibilidade de preveni-las. Referências 1. Madigan MT, Martinko JM, Parker J. Doenças microbianas de transmissão interpessoal. Microbiologia de brock. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall; 2004. 2. Laupland KB, Conly JM. Treatment of staphylococcus aureus colonization and prophylaxis for infection with topical intranasal mupirocin: An evidence based review. Clin Infect Dis 2003;37:933-38. 3. Peacock SJ, Silva I, Lowy FD. What determines nasal carriage of staphylococcus aureus? Trends Microbiol 2001;9:605-10. 4. Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. 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Int J Dermatol 2004;43:412-14. 1/2/2006 18:49:57 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 25 Artigo original Medida da amplitude tóraco-abdominal como método de avaliação dos movimentos do tórax e abdome em indivíduos jovens saudáveis Thoracoabdominal amplitude as evaluation method of thorax and abdomen movement in healthy young individual Audrey Borghi-Silva, D.Sc.*, Renata Gonçalves Mendes**, Elisabeth Santos Silva**, Higia L. Paulucci**, Paula C. Picchi**, Valéria Amorim Pires Di Lorenzo, D.Sc.*** *Profa Dra do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, Laboratório de Fisioterapia Cardiovascular – UFSCar, **Alunas do Curso de Fisioterapia da UNIARA, ***Profa Dra do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, Laboratório de Eletromiografia e Espirometria, UFSCar, Trabalho referente à iniciação científica do curso de Fisioterapia do centro universitário de Araraquara – UNIARA Resumo Abstract Introdução: A medida da amplitude tóraco-abdominal (ATA), por meio da cirtometria, é um método utilizado para avaliar os movimentos do tórax e abdome de pacientes submetidos à reabilitação pulmonar, durante intervenções terapêuticas e cirúrgicas. Objetivos: Padronizar a medida de expansibilidade tóraco-abdominal por meio da cirtometria de indivíduos jovens saudáveis, realizando-a por três examinadores diferentes, em dias alternados. Método: Foram estudados 100 indivíduos jovens saudáveis, com 20,8 ± 2 anos, sendo 50 do sexo masculino e 50 do sexo feminino. A medida da ATA foi realizada durante 3 inspirações e expirações máximas nos pontos da prega axilar, processo xifóide e cicatriz umbilical, por meio de fita métrica, por três examinadores diferentes, em dias alternados, considerando a maior medida para análise. Resultados: Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas pela ANOVA entre as medidas. O padrão respiratório costal foi predominante, em ambos os sexos, entretanto, este maior no sexo feminino (p < 0,05). Conclusão: Pela padronização da medida da amplitude dos movimentos tóraco-abdominais proposta neste estudo, foi possível verificar que esta metodologia mostrou-se confiável na avaliação fisioterapêutica quando obtida por diferentes examinadores. Introduction: The thoracoabdominal amplitude measurement, by cirtometry, is a method that has been used to evaluate the thoracoabdominal movements of patients submitted to the pulmonary rehabilitation, during therapeutical interventions and surgeries. Objectives: To standardize the thoracoabdominal expansibility measurement by cirtometry in health young individual realized by different examiners on alternate dates. Method: One hundred individual, with 20,8 ± years, being 50 men and 50 women, were studied. The thoracoabdominal amplitude measurement was realized, during 3 maximal inspirations and expirations, at the axillary fold, xiphoid process and umbilical scar, using a tape measure by 3 different examiners on alternate dates, it has being considered the highest measure to the analysis. Results: No were observed by ANOVA significant statistical differences among the three examiners measures. The respiratory pattern presented costal predominance in both sexes, but it was higher in the female sex, p < 0,05. Conclusion: By measurement standardization of the thoracoabdominal amplitude proposed in this study was possible observed that this methodology was reliable in the physiotherapeutic evaluate when obtained by different examiners. Palavras-chave: amplitude tóraco-abdominal, fisioterapia, cirtometria. Key-words: thoracoabdominal amplitude, physical therapy, cirtometry. Recebido 30 de março de 2005; aceito 5 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Audrey Borghi e Silva, Av. Caetano Mirabelli, 79, 13564-210 São Carlos SP, Tel: (16) 270-8607, E-mail: audreybs@uol. com.br Fisioterapia_v7n1.indb 25 1/2/2006 18:49:58 26 Introdução A medida das amplitudes de movimento do tórax e abdome tem sido amplamente utilizada na avaliação de diversas patologias e durante intervenções terapêuticas. Por meio do estudo da mobilidade tóraco-abdominal, Silva et al. [1] observaram importantes repercussões da cirurgia abdominal sobre os músculos respiratórios. Na cirurgia cardíaca, Pires et al. [2] e Garcia et al. [3] esta avaliação permitiu detectar a disfunção diafragmática, bem como a efetividade do treinamento muscular respiratório nestes pacientes. Em indivíduos com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) Maciel et al. [4] avaliaram os efeitos da administração do broncodilatador pela mobilidade tóraco-abdominal, e Aliverti et al. [5] estudaram a cinemática da caixa torácica e volumes compartimentais durante o exercício. Já outro estudo [6] verificou estes movimentos antes e após episódios agudos de asma. Os efeitos do envelhecimento [7] e da obesidade [8] na mobilidade torácica também foram estudados, bem como o comportamento da parede torácica durante a respiração em repouso [9] Na literatura têm sido propostos alguns métodos de mensurações das amplitudes de movimento do tórax e abdome. Segundo Manczurc et al. [10] a pletismografia pode mensurar parâmetros respiratórios tão confiáveis quanto um sistema de pneumotacógrafo, porém não é tão acessível devido ao seu alto custo e a necessidade de pessoal especializado para sua realização. Martuci et al. [11] realizaram um estudo para estabelecer a configuração da parede torácica em sujeitos normais respirando livremente ou contra uma carga resistiva, utilizando um magnetômetro. Por meio de radiogramas simples de tórax, Pires et al. [2] mensuraram a amplitude de movimento hemidiafragmático na incidência póstero-anterior e De Groot et al. [9]. avaliaram os movimentos da parede torácica utilizando um analisador automático (ELITE). Além desses métodos de avaliação das amplitudes do tórax e do abdome, a medida por meio da cirtometria também tem sido utilizada para quantificar tais amplitudes de movimentos [8], sobretudo após a realização de intervenções terapêuticas [12] e cirúrgicas [3,13]. A partir da cirtometria, nas fases da inspiração e expiração máximas, são obtidos os valores de expansibilidade e retração dos movimentos tóraco-abdominais [14] com a utilização de fita métrica. Este método tem sido proposto devido a seu baixo custo, facilidade em sua execução e também como forma de definir o padrão respiratório de determinadas populações [8]. Nas avaliações fisioterapêuticas a cirtometria tem sido utilizada para investigar a influência de técnicas sobre as amplitudes de movimento do tórax e abdome, em várias patologias. Costa et al. [8] avaliaram os efeitos da Reeducação Funcional Respiratória (RFR) em indivíduos obesos por meio das medidas de força muscular respiratória (FMR) e cirtometria e observaram aumento na FMR e nas amplitudes tóraco-abdominais desses indivíduos após RFR. Fisioterapia_v7n1.indb 26 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Jamami et al. [12] avaliaram os efeitos da Reabilitação Pulmonar (RP) em 22 pacientes com DPOC utilizando a espirometria simples, teste de caminhada, oximetria de pulso e além disso, foi proposta a avaliação da cirtometria e do índice de amplitude, por meio de cálculo matemático. Os resultados demonstraram que o programa de RP promoveu melhora na tolerância ao exercício e expansibilidade tóraco-abdominal dos pacientes estudados. Apesar de vários autores estudarem as amplitudes tóracoabdominais, por meio da cirtometria, e pelo fato desta ser utilizada na prática de avaliação fisioterapêutica, ainda perdura a necessidade de padronização, bem como da comprovação cientifica de sua confiabilidade enquanto método de avaliação, especialmente por depender exclusivamente de critério individual de quem coleta as medidas, sujeito a erro de interpretação. Nesse sentido e com o objetivo de minimizar possíveis erros metodológicos, este estudo se propôs a padronizar a obtenção da medida de expansibilidade tóraco-abdominal por meio da cirtometria de indivíduos saudáveis, realizada por três examinadores diferentes em dias alternados. Material e método Para a realização deste estudo foram avaliados 100 voluntários com idade entre 18 a 25 anos, sendo 50 indivíduos do sexo feminino e 50 do sexo masculino, que consentiram em participar desta pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo comitê de Ética em pesquisa da Instituição. Foram excluídos os voluntários que apresentaram patologias respiratórias, deformidades torácicas ou neurológicas ou que não concluíram o procedimento experimental. A tabela 1 apresenta as características individuais dos sujeitos estudados. Tabela I - Características dos indivíduos estudados quanto à idade, peso, altura e IMC e resultados estatísticos (Teste t) entre o sexo masculino e feminino. Idade (anos) Peso (kg) Altura(m) IMC (kg/m2) Masculino (n = 50) Feminino (n = 50) 20,6 ± 3,6 73,3 ± 14,5 1,73 ± 0,2 23,1 ± 4,1 20,5 ± 3,4 54,25 ± 9,2* 1,60 ± 0,2* 20,1 ± 3,3* Valores expressos em Média ± DP. *Diferença significativa (p<0,05). A medida da amplitude tóraco-abdominal foi obtida por meio da cirtometria, utilizando-se uma fita métrica, escalonada em centímetro (cm), sendo esta realizada por 3 diferentes examinadores diferentes e em dias alternados. Esta medida foi realizada horizontalmente em três níveis: axilar, xifoidiano e abdominal. Na região axilar os examinadores colocaram a fita métrica logo abaixo da prega axilar, tomando o cuidado para que esta ficasse firmemente posicionada em uma linha reta, a partir da prega em questão. A seguir, os examinadores orientaram o voluntário para 1/2/2006 18:49:58 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 que realizassem uma inspiração máxima e logo após uma expiração máxima, sem direcionar o ar para uma ou outra região específica, deixando que a fita percorresse seus dedos durante a manobra. Em seguida, de maneira semelhante, os examinadores verificaram a amplitude xifoidiana, tomando como ponto de referência à borda inferior do apêndice xifóide e por último verificaram a amplitude abdominal tendo a cicatriz umbilical como base. Para todas as medidas a fita métrica foi firmemente colocada sobre o tórax ou abdome, sem folgas e nem apertada em demasia, permitindo mobilidade durante a medida. Todos os examinadores receberam as orientações quanto aos pontos de referências que deveriam ser tomados como base durante as medidas. Em cada ponto de referência foram realizadas 3 inspirações e expirações máximas sob o comando de voz dos examinadores. Os voluntários foram examinados na posição ortostática, com o tórax desnudo e foram orientados a inspirar e expirar profundamente, sendo anotados os 3 valores de inspiração e expiração máximas em cada ponto, bem como as diferenças obtidas entre a inspiração e expiração. Entretanto, para a análise dos dados foi considerado o maior valor obtido das 3 medidas realizadas. Os resultados obtidos foram utilizados para calcular o Índice de Amplitude (IA), proposto por Jamami et al. [13] com a finalidade de atenuar as diferentes dimensões de tórax e abdome para a amostra estudada, através da seguinte fórmula: 27 Em que, INS = valor da cirtometria durante a inspiração máxima e EXP = valor da cirtometria durante a expiração máxima. Os resultados obtidos foram agrupados em tabelas, em média e desvio-padrão e ilustrados em figura. Para análise estatística dos dados, foi utilizada a análise de variância (ANOVA) para mais de 2 situações pareadas. Quando foram constatadas diferenças, foi aplicado o teste de Duncan para diferenciar as situações ou grupos. Para avaliar as diferenças entre o sexo masculino com o feminino foi utilizado o teste t Student não pareado. Utilizou-se como nível de significância p < 0,05. Resultados Na tabela I, onde estão apresentadas as características dos indivíduos quanto à idade, peso, altura e IMC, separados por sexo, foram constatadas diferenças significativas dessas variáveis, com exceção da idade, entre o sexo masculino e feminino (73,3 ± 14,5 versus 54,2 ± 9,2 kg; 1,73 ± 0,2 versus 1,60 ± 0,2 metros; e 23,1 ± 4,1 versus 20,1 ± 3,3 do IMC, respectivamente). Os resultados em média e desvio padrão das amplitudes de movimento axilar, xifoidiano e abdominal, obtidas na inspiração e na expiração máxima, bem como a diferença entre a inspiração e a expiração, para o sexo masculino e feminino estão apresentados na tabela II. Tabela II - Médias e desvios-padrão dos valores das amplitudes axilar, xifoidiano e abdominal na inspiração e expiração, bem como dos índices de amplitude (IA). Amplitude Axilar Xifoidiana Abdominal Feminino Insp 85,6 ± 5,1 78,1 ± 5,2 75,7 ± 6,8 Exp 80,9 ± 5,2 74,6 ± 5,7 76,1 ± 6,8 Masculino IA 4,7 ± 1,8 3,5 ± 1,4 -0,4 ± 1,8 Insp 100,9 ± 6,8 93,0 ± 5,7 83,4 ± 8,5 Exp 95,7 ±7,3 88,7 ± 6,5 84 ± 8,3 IA 5,1 ± 2,2 4,3 ± 1,6 -0,7 ± 2,6 Insp: inspiração Exp: expiração IA: índice de amplitude Nas tabelas III (sexo masculino) e IV (sexo feminino) estão relacionadas às médias e desvios padrões dos índices de amplitude obtidos dos diferentes examinadores, onde se observou pela ANOVA que não houve diferença significativa entre eles. Tabela III - Médias e desvios-padrão dos valores dos índices de amplitude (IA) axilar, xifoidiano e abdominal no sexo masculino e resultados estatísticos entre os examinadores. IA Examinador 1 Examinador 2 Examinador 3 ANOVA Axilar 7,8 ± 3,6 Xifoidiana7,2 ± 2,9 Abdominal-1,2 ± 4,7 8,3 ± 3,8 7,2 ± 3,8 -0,9 ± 5,2 7,8 ± 4,3 7,3 ± 2,9 -1,1 ± 4,9 NS NS NS *Diferenças entre os examinadores (p<0,05), NS Não significativo. Fisioterapia_v7n1.indb 27 Tabela IV - Médias e desvios-padrão dos valores dos índices de amplitude (IA) axilar, xifoidiano e abdominal do sexo feminino e resultados estatísticos entre os diferentes examinadores. IA Examinador 1 Examinador 2 Examinador 3 ANOVA Axilar 8,4 ± 3,2 Xifoidiana7,0 ± 3,0 Abdominal-0,9 ± 3,6 8,7 ± 3,4 7,6 ± 3,1 -1,2 ± 7,3 8,5 ± 3,3 7,1 ± 2,8 -0,9 ± 4,8 NS NS NS *Diferenças entre os examinadores (p<0,05), NS Não significativo. Os dados referentes aos índices de amplitude estão demonstrados na tabela V na qual pode ser observada diferença significativa para o sexo feminino quando comparado com o sexo masculino somente para o IAax (8,5 ± 0,1 versus 8,0 ± 0,3 respectivamente), com p < 0,05. 1/2/2006 18:49:59 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 28 Tabela V - Médias e desvios-padrão dos valores dos índices de amplitude axilar, xifoidiano e abdominal para o sexo masculino e feminino. IA Axilar Xifoidiana Abdominal Feminino Masculino Teste t 8,5 ± 0,1 7,2 ± 0,2 -0,89 ± 0,3 8,0 ± 0,3 7,3 ± 0,1 -1 ± 0,09 * NS NS *Diferenças entre os examinadores (p<0,05), NS Não significativo. Além disso, quanto ao comportamento da mobilidade tóraco-abdominal entre o sexo masculino e feminino, ilustrado na figura 1, pode-se constatar diferenças estatisticamente significantes entre os IAax e IAxif quando comparados ao IAabd. Porém o IAax e o IAxif não foram diferentes entre si. Figura 1 - Diferenças entre os Índices de amplitude axilar, xifoidiano e abdominal no sexo feminino e masculino. Discussão A medida da amplitude dos movimentos tóraco-abdominais tem sido utilizada como método de avaliação fisioterapêutica da mobilidade e/ou amplitude, bem como da imobilidade ou rigidez torácica e abdominal, durante os movimentos respiratórios. Estudos têm propostos diferentes métodos de mensuração das amplitudes tóraco-abdominais, porém muitos deles, não são acessíveis devido a seu alto custo e necessidade de avaliadores treinados para execução das medidas. O presente estudo abordou a cirtometria, que é um método bastante acessível, considerando seu baixo custo com a utilização de apenas uma fita métrica e a facilidade de realização. Apesar da cirtometria ser um instrumento bastante utilizado na prática clínica, não foram encontrados estudos sobre Fisioterapia_v7n1.indb 28 a padronização deste método, bem como da comprovação cientifica de sua confiabilidade enquanto método de avaliação, o qual pode estar sujeito a erros interindividuais. Além disso, carece de estudos avaliando a mobilidade tóraco-abdominal de uma população de jovens saudáveis. O presente estudo analisou a aplicação deste método em voluntários jovens de 18 a 25 anos e saudáveis e a partir dos resultados, pode-se constatar que a medida de amplitude tóraco-abdominal por meio da cirtometria mostrou ser um método confiável, uma vez que não foram encontradas diferenças entre os examinadores. Além disso, pode-se constatar que em ambos os sexos houve maior mobilidade/expansibilidade da região axilar (padrão respiratório costal), e maior tendência do padrão respiratório apical no sexo feminino. McArdle et al. [15] constataram que aproximadamente 70% da expansão pulmonar são devidos ao aumento antero-posterior e 30% são devidos ao movimento diafragmático, justificando a expansão reduzida do abdome em relação ao tórax nos indivíduos avaliados neste estudo. Diversos estudos têm utilizado a medida da amplitude tóraco-abdominal por meio da cirtometria como um método avaliação da evolução clínica de pacientes submetidos a intervenções na área de fisioterapia respiratória. Sampaio [16] observou que o treinamento físico e muscular respiratório modificou o padrão respiratório de pacientes asmáticos e Jamami et al. [12] e Silva [17] observaram que após programa de intervenção fisioterapêutica na RP de pacientes com DPOC, houve uma melhora do padrão respiratório desses pacientes com aumento da expansibilidade tóraco-abdominal. Outros estudos que utilizaram esta medida como método de avaliação também podem ser citados, realçando a grande utilidade e importância deste estudo na padronização do método. Costa et al. [8] estudaram que a obesidade leva a importantes alterações da função pulmonar e que a reeducação funcional respiratória levou a aumentos dos IA. Garcia et al. [3] observaram que o treinamento muscular respiratório proporcionou aumento das amplitudes de movimento do tórax em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Já Maciel et al. [4] relataram aumento da expansibilidade, após a aplicação de broncodilatador em pacientes com DPOC e Cardoso et al.[18] observaram reduções da expansibilidade do tórax em pacientes parkinsonianos, quando comparados com indivíduos não-parkinsonianos. Conclusão Finalizando, concluímos, por meio dos resultados obtidos neste estudo, que a cirtometria tóraco-abdominal é um método simples, barato e confiável de avaliação da mobilidade/expansibilidade tóraco-abdominal e dos índices de amplitude axilar, xifoidiano e abdominal. Além disso, foi possível constatar que a cirtometria, quando realizada de forma padronizada, mostrou-se um método confiável de avaliação 1/2/2006 18:50:00 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 das amplitudes tóraco-abdominais de indivíduos saudáveis na faixa etária estudada, quando utilizada por diferentes examinadores. No entanto, este estudo remete a necessidade de futuras pesquisas, sobre a eficácia da cirtometria em relação a outros métodos de avaliação das amplitudes de movimento tóraco-abdominal, bem como em diferentes populações. Referências 1. Silva EF, Guedes RP, Ribeiro EC. Estudo das repercussões das cirurgias abdominais sobre os músculos respiratórios. Fisioter Mov 2003;16(1):51-6. 2. Pires AC, Saporito WF, Grandini M, Oliveira AC, Zambon JP, Ávila MP. Avaliação da Disfunção Diafragmática no Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca. Arq Med ABC 1999;22(1/2):137. 3. Garcia RCP, Costa D. Treinamento muscular respiratório em pós-operatório de cirurgia cardíaca eletiva. Rev Bras Fisioter 2002;6(3):139-46. 4. Maciel SS, Paulo MQ, Souza CO, Silva LG, Tavares RR. Efeitos do broncodilatador do Acanthosperum hispidum DC, nos pacientes pulmonares obstrutivos crônicos (DPOC). Rev Bras Cienc Saúde 1997;1(1/3):23-30. 5. Aliverti A, Stevenson N, Dellaca RL, Lo Mauro A, Pedotti A, Calverley PM. Regional chest wall volumes during exercise in chronic obstructive pulmonary disease. Thorax 2004;59(3):2106. 6. Ringel ER, Loring SH, McFadden ER Jr, Ingram RH Jr. Chest wall configurational changes before and during acute obstructive episodes in asthma. Am Rev Respir Dis 1983;128(4):607-10. 7. Caromano FA, Durigon OFS, Landaburu C, Pardo MS. Estudo comparativo de duas técnicas de avaliação da mobilidade torácica em mulheres jovens e idosas saudáveis. Fisioter Bras 2003;4(5):348-52. Fisioterapia_v7n1.indb 29 29 8. Costa D, Sampaio LMM, Pires Di Lorenzo VA, Jamami M, Damaso AR. Avaliação da força muscular respiratória e amplitudes torácicas e abdominais após RFR em indivíduos obesos. Latin American Journal of nursing 2003;11(6):156-60. 9. De Groote A, Wantier M, Cheron G, Estenne M, Paiva M. Chest wall motion during tidal breathing. J Appl Physiol 1997;83(5):1531-7. 10. Manczur T, Greenough A, Hooper R, Allen K, Latham S, Price JF et al. Tidal breathing parameters in young children: comparison of measurement by respiratory inductance plethysmography to a facemask pneumotachograph system. Pediatr Pulmonol 1999;28(6):436-41. 11. Martucci RC, Lopes JM, Jardim JRB Chest wall configuration in normal subjects in the sit and supine positions breathing free and though a linear resistence. J Pneumol 1992;18(3):93-100. 12. Jamami M, Pires VA., Oishi J, Costa D. Efeitos da Intervenção Fisioterápica na Reabilitação Pulmonar de Pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Rev Fisioter Univ São Paulo 1999;6(2):140-53. 13. Salomão PDN, Silva AL. 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Arq Neuro-Psiquiatr 2002;60(1):91-5. 1/2/2006 18:50:01 30 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Artigo original Análise da amplitude de movimento do ombro de mulheres mastectomizadas submetidas a um programa de exercícios e alongamentos musculares Motion range analysis of shoulder in women with mastectomy after exercises and stretching program Ana Cristina da Nóbrega Marinho*, Alexsandro Alcantara de Macedo** *Professora Visitante da Universidade Estadual da Paraíba, Doutoranda em Ciências da Saúde pela UFRN, **Graduado no Curso de Fisioterapia pela UEPB, Pós Graduado em Recursos Cinesioterapêuticos pela UFPB Resumo Abstract A retirada da mama tende a desencadear muitos problemas subseqüentes à cirurgia. Diante disso, este trabalho teve como objetivo analisar a amplitude de movimento do ombro de mulheres mastectomizadas, antes e após a prática de um programa cinesioterapêutico. Participaram deste estudo 10 mulheres que fazem parte do serviço de fisioterapia da Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), da cidade de Campina Grande-PB. O programa foi realizado no período de Outubro a Dezembro de 2004, com freqüência de 2 vezes por semana, num total de 16 sessões. Os dados apontaram que todas as pacientes apresentaram diminuição da amplitude de movimentos antes da realização do programa cinesioterapêutico, para os movimentos de flexão e abdução, e que após a realização do mesmo, os movimentos de flexão e abdução apresentaram melhora na amplitude de movimento em 100% das pacientes. Para o movimento de flexão, 80% das pacientes passaram a apresentar uma diferença de 0-10° e, para o movimento de abdução, 90% também apresentaram uma diferença em relação ao lado contralateral à cirurgia, de 0-10°, aprovando a importância e eficácia de um programa de exercícios e alongamentos, que vem melhorar a qualidade de vida da paciente mastectomizada. The breast withdrawal causes many subsequent problems to the surgery. Ahead of this, the aim of this study was to analyze the range of motion of women shoulder with mastectomy, before and after a physical therapy program. Ten women participated to this study which are part of the service of Physical Therapy of the Assistencial Foundation of the Paraíba (FAP), of the city of Campina Grande-PB. The program was carried through the period of 2004 october to december, twice a week, with a total of sixteen sessions. The data pointed out that all the patients presented reduction of the motion range before the physical therapy program, for the movements of flexion and abduction, and after the program, the flexion abduction movements improved in 100% of the patients. To the flexion movement, 80% of the patients presented a difference of 0-10° and for the movement of abduction, 90% also the surgery presented a difference in relation to the other side, of 0-10°, approving the importance and effectiveness of a program of exercises and stretching, that comes to improve the quality of life of the patient with mastectomy. Key-words: breast cancer, mastectomy, range motion, kinesitherapy. Palavras-chave: câncer de mama, mastectomia, amplitude de movimento, cinesioterapia. Artigo recebido em 30 de março de 2005; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Ana Cristina da Nóbrega Marinho, rua Adiel Valdivino, 102 Centenário 58108-025 Campina Grande PB, Tel: (83) 3211135, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 30 1/2/2006 18:50:02 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 31 Introdução Material e métodos O câncer de mama representa, hoje, a primeira causa de morte de câncer entre as mulheres brasileiras. No Brasil, há a tendência de aumento do número de morte pela doença em mulheres com idade inferior a 49 anos. Estimativas do INCA (Instituto Nacional de Câncer) indicam que são esperados cerca de 30.000 casos novos e 7.000 mortes por ano no país, sendo que nos últimos 20 anos houve um aumento da incidência de 68% [1]. De acordo com Gomes e Gomes [2], esta é a forma mais freqüente de câncer entre mulheres com idade superior a 40 anos e, segundo as estatísticas, sua incidência aumenta a cada ano, principalmente nos países em desenvolvimento. Apesar dos avanços no tratamento, a retirada da mama, ou mastectomia, continua sendo empregada em muitos casos. Este procedimento cirúrgico visa, além da prevenção da disseminação da doença, um melhor índice de sobrevida destas pacientes. Contudo, a ablação desta parte do corpo pode trazer danos psicológicos, sociais e complicações que afetam o bem-estar e auto-estima da mulher. O sucesso nos resultados do tratamento de câncer de mama pode ser obtido por diversas formas terapêuticas como a cirurgia, quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia, desses a cirurgia continua sendo o principal recurso terapêutico para desempenhar a função de controle locorregional da doença, prevenindo a sua disseminação [3]. Os tratamentos do câncer de mama vêm sofrendo significativas mudanças, como técnicas mais conservadoras, estéticas e menos agressivas e mutiladoras. As cirurgias de mama levam a alterações funcionais, sociais e psicológicas na paciente, modificando sua auto-estima. Portanto, a reabilitação funcional não só se faz necessária, como é fundamental [4]. Segundo Kisner e Colby [5], as alterações na amplitude articular do ombro do lado envolvido surgem como uma das seqüelas de grande incidência neste grupo, além da dor, linfedema e aderências na parede torácica, e influenciam e interferem na vida diária e na qualidade de vida da mulher mastectomizada. Portanto, é de suma importância que o fisioterapeuta que irá lidar com casos de mulheres que foram submetidas a mastectomia, tenha consciência das modificações que esse tipo de cirurgia irá causar nessas mulheres, e de como estas poderão interferir na qualidade de vida das mesmas. A fisioterapia, utilizando recursos específicos (físicos e naturais), desempenha um papel fundamental nesta nova etapa da vida da paciente, por representar um conjunto de possibilidades terapêuticas físicas suscetível de intervir desde a recuperação funcional da cintura escapular e membros superiores até a profilaxia de complicações como a retração, aderência cicatricial, fibrose, linfedema, que são responsáveis pela dificuldade da paciente em realizar suas AVDs. Marconi e Lakatos [6] referem que a pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas, através do emprego de processos científicos. A pesquisa parte de uma dúvida ou problema e, com o uso do método científico, busca uma solução ou resposta. Tomando por base esses conceitos, realizamos esta investigação do tipo descritiva, analítica, de caráter exploratório com abordagem qualiquantitativa. De acordo com a finalidade deste estudo, pode-se dizer que esta pesquisa é de caráter exploratório com abordagem qualiquantitativa, pois tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses [7]. Também pode ser dita como uma pesquisa descritiva, pois tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. Participaram da população de estudo 10 pacientes mastectomizadas que fazem parte do serviço de fisioterapia da Fundação Assistencial da Paraíba (FAP), da cidade de Campina Grande-PB. Para traçar o perfil do grupo, as informações foram coletadas a partir da utilização de um questionário, por meio da técnica de entrevista semi-estruturada e de conteúdo não-disfarçado, com perguntas fechadas. Para análise da amplitude de movimento, foi utilizado um goniômetro simples, que serviu como fonte de registro e quantificação das eventuais alterações na amplitude de movimento do ombro homolateral, posteriormente à cirurgia, antes e após o programa cinesioterapêutico proposto. Inicialmente foi realizada a seleção dos indivíduos que assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, caso concordassem com os requisitos da pesquisa. Após a formação do grupo, primeiro foi aplicado um questionário contendo questões relacionadas ao perfil do grupo e foi feita uma avaliação da amplitude de movimento do ombro, com a utilização do goniômetro. Na segunda fase da pesquisa, foi elaborado e aplicado um protocolo de tratamento cinesioterapêutico (com exercícios e alongamentos musculares), voltados pra ganho de amplitude articular do ombro (Anexo 1). O programa foi realizado em grupo, durante os meses de outubro a dezembro, num total de 16 sessões, sendo 2 vazes por semana, 30 minutos por sessão. Em uma terceira fase, todas as pacientes foram submetidas a uma nova avaliação e os foram dados analisados e comparados com os obtidos antes da realização das 16 sessões. Para coleta dos dados necessários, foram adotados os princípios éticos da privacidade e do anonimato necessários à pesquisa envolvendo seres humanos, dispostos na resolução 196/96 do Conselho Nacional da Saúde [8], que visa assegurar aos participantes da pesquisa, informações, anonimato, privacidade e o livre consentimento. Os dados foram transportados para planilhas e armazenadas no programa Software Excel, distribuídos e avaliados através das freqüências absolutas e relativas e apresentados sob forma de tabelas e quadros. Fisioterapia_v7n1.indb 31 1/2/2006 18:50:02 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 32 Resultados Aqui serão apresentados e, simultaneamente analisados, os dados desta pesquisa na seguinte seqüência: características sócio-econômico-demográficas das pacientes; tipos de cirurgia; fatores de risco; tratamentos complementares; diferença do grau de amplitude de movimento do ombro homolateral com o contra-lateral à cirurgia. Características sócio-econômico-demográficas Tabela I - Distribuição percentual das características sócio-econômicodemográficas das pacientes com diminuição da amplitude de movimento do ombro, que foram submetidas a mastectomia. Idade f % 30-40 41-50 51-60 + 60 Estado civil Solteira Casadas Viúvas Grau de instrução Sem instrução Ensino Fundamental Ensino Médio Profissão Dona de casa Costureira Agente administrativo Agricultora Renda 1-3 SM Procedencia Campina Grande Outras cidades da Paraíba Outro estado Cor Branca Negra 1 2 2 5 10 20 10 50 5 4 1 50 40 10 4 5 1 40 50 10 6 1 1 2 60 10 10 20 10 100 4 6 0,0 40 50 0,0 9 1 90 10 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) De acordo com a Tabela I, observa-se que a maioria das pacientes estudadas tinha idade superior a 60 anos (50%). Segundo Leal [9], a incidência de câncer de mama aumenta com a idade, isso porque o envelhecimento desencadeia mudanças celulares que elevam a sua suscetibilidade a transformação maligna, além do fato das pessoas idosas terem sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco preditores do câncer. Com relação ao grau de escolaridade observa-se que apenas uma paciente (10%) concluiu o ensino médio. Por essas mulheres terem baixa instrução de ensino, geralmente Fisioterapia_v7n1.indb 32 recebem poucas informações e tendem a sofrer de problemas de saúde, dentre estes destaca-se o câncer de mama. Vale ressaltar que muitas não tinham o conhecimento sobre a percepção dos benefícios e barreiras a respeito da prática do auto-exame, além de existirem também preconceitos e timidez de algumas mulheres no que se refere à realização de visitas médicas, aumentando as chances de aparecimento da doença e dificultando seu possível tratamento. Verifica-se, quanto à profissão, que a maioria das pacientes estudadas referia ser dona de casa (60%). Dados semelhantes a esses foram encontrados no estudo de Davim et al. [10], que observaram que, dentre as 109 mulheres por ele pesquisadas, 66% referiram ser donas de casa. De acordo com a Tabela I, das 10 mulheres entrevistadas, 4 (40%) residiam na cidade de Campina Grande e 6 (60%) residiam em outras cidades da Paraíba. Este fato reside na idéia de que Campina Grande é uma cidade pólo para tratamento de saúde de pessoas vindas de outras localidades da Paraíba. Pode-se ressaltar que todas as pacientes entrevistadas tinham renda familiar mensal entre 1 e 3 salários mínimos (100%). Marinho et al. [11] encontraram dados, em seu estudo, referentes à baixa renda familiar (67,1%). É possível que esses resultados estejam relacionados à situação demográfica das usuárias, uma vez que o maior contingente de entrevistadas tem baixa renda familiar, baixo nível educacional e são provenientes de outras cidades, como foi citado anteriormente. Pessoas em condições sócio-econômicas desfavoráveis têm maior dificuldade de acesso ao sistema de saúde e, conseqüentemente, estão expostas ao diagnóstico tardio de varias doenças, inclusive o câncer de mama. Pode-se, ainda, identificar que há uma maior prevalência nas mulheres de cor branca (90%), visto que só uma (10%) mulher de raça negra participou desta pesquisa. Estes dados semelhantes também foram encontrados nos estudos de Panobianco e Mamede [12], os quais observaram que, das 17 mulheres submetidas à cirurgia de mama por câncer, 16 delas (94,1%) eram brancas e uma da raça negra (5,9%). Tipo de cirurgia realizada De acordo com a Tabela II pode-se verificar que a maioria (6-60%) das pacientes mastectomizadas que fizeram parte do presente estudo foi submetida a mastectomia radical modificada do tipo Madden. Segundo Schwartz et al. [13], este tipo de cirurgia é indicado nos tumores de até 3,0 cm, e consiste na remoção da glândula mamária, com preservação dos músculos peitoral maior e menor, além do esvaziamento axilar nos três níveis e linfonodos interpeitorais. Estudos realizados por Orikassa e Brito [14] encontraram dados contraditórios, onde a maioria (40%) das pacientes foi submetida a mastectomia radical simples, seguida de 32% das pacientes que se submeteram a mastectomia radical modificada do tipo Madden. Os primeiros procedimentos cirúrgicos em oncologia mamária, descritos por Halsted, são amplos e mu- 1/2/2006 18:50:03 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 tiladores e, apesar das perspectivas de cura, muitas vezes não são os mais justificáveis pelas seqüelas psicofísicas deixadas. Segundo Chaves [15] e Goffi [16] além do melhor resultado estético, a sobrevida das pacientes submetidas às cirurgias conservadoras, combinadas com as terapêuticas complementares, tem-se mostrado equânime e funcionalmente superior nos casos potencialmente curáveis, sobretudo nos estágios iniciais da doença, quando comparadas à sobrevida daquelas submetidas ao tratamento radical. Porém, é importante realizar uma seleção criteriosa do fator de segurança ao se optar por uma dessas técnicas. Tabela II - Distribuição percentual por tipo de cirurgia das pacientes mastectomizadas. Tipo de Cirurgia realizada Mastectomia radical Modificada a Patey Mastectomia radical Halsted Mastectomia radical Modificada a Madden Quadrantectomia Total f % 1 2 6 1 10 10 20 60 10 100 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) Tempo de cirurgia Tabela III - Distribuição percentual por tempo de cirurgia das pacientes mastectomizadas. Tempo de cirurgia 0-2 3-5 +6 Total f % 7 3 0 10 70 30 0 100 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) No que se refere ao tempo de cirurgia, a maioria das pacientes estudas (7-70%) encontrava-se no primeiro ao segundo ano de pós-operatório e 3 (30%) estavam no terceiro ao quinto ano. Para Prado [17], esses períodos são de grande importância para o enfrentamento das dificuldades decorrentes do procedimento cirúrgico, pois é no decorrer deles que as mulheres encontram maior dificuldade para alcançar toda a amplitude de movimento do braço do lado operado, como também para incorporar procedimentos de autocuidado, prevenção de bloqueio articular e alterações posturais. Fatores de risco Observa-se, no quadro I, que 5 pacientes (50%) tinham história de câncer de mama na família, e 5 (50%) fizeram uso de pílulas anticoncepcionais. De acordo com Leal [9], o histórico familiar é evidente. Alguns autores demonstram que Fisioterapia_v7n1.indb 33 33 irmãs e filhas de mulheres com câncer de mama apresentam um risco 3 vezes maior de desenvolver esta patologia, e um risco 5 vezes maior quando as pacientes apresentam doença bilateral. Por fim, um risco superior a 50 vezes em relação às irmãs de pacientes com câncer da mama cujas mães também eram afetadas. Isso denota a influência do fator hereditário prognosticador da neoplasia, confirmado pelo resultado da tabela. Quadro I - Distribuição percentual por fatores de risco das pacientes mastectomizadas. Fatores de risco Etilismo Tabagismo Uso anticoncepcional Câncer de mama na família Obesidade f % 0,0 2 5 5 1 0,0 20 50 50 10 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) Com relação ao papel dos anticoncepcionais no desenvolvimento dos tumores malignos da glândula mamária, há opiniões divergentes. Porém, estudos mais recentes têm mostrado que o uso prolongado de anticoncepcionais orais em pacientes que apresentaram a primeira gestação muito cedo, e que tiveram uma menarca um tanto precoce, em pacientes com ciclos onovulatórios do tipo hiperrestrogênico e em mulheres na pré-menopausa que fazem uso prolongado da pílula, coloca estas pacientes no grupo de alto risco para o desenvolvimento do câncer de mama. Tratamentos complementares Quadro II - Distribuição percentual por tratamentos complementares das pacientes mastectomizadas. Tratamentos complementares f % Quimioterapia Radioterapia Não fez tratamento 9 9 1 90 90 10 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) O Quadro II mostra o percentual dos tratamentos complementares realizados pelos indivíduos do grupo estudado. Nove pacientes (90%) foram submetidas a tratamento de quimioterapia e radioterapia. Estudos de Panobianco e Mamede [12] estão em sintonia com dados obtidos no presente estudo, visto que, das 17 mulheres estudadas em sua pesquisa, 14 (82,3%) também foram submetidas a esses tipos de tratamentos complementares. De acordo com Magalhães, Erlich e Erlich [18], grandes passos foram dados no sentido terapêutico, como a quimioterapia adjuvante, que aumenta a sobrevida livre da doença, sendo que em alguns casos pode-se falar até mesmo em cura; 1/2/2006 18:50:04 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 34 a quimioterapia neoadjuvante aumenta em cerca de 20% as chances de sobrevida livre da doença por 5 anos nos estágios iniciais e dobra na doença localmente avançada. Segundo Magalhães, Erlich e Erlich [18], a radioterapia representa uma arma importante no combate ao câncer, por que ela possui grande capacidade de destruir células malignas remanescentes no leito tumoral com alta eficácia. Schlwartz et al. [13] relatam que a adição da radioterapia no tratamento do câncer tem reduzido significativamente a incidência de recidiva locorregional, potencializando a sobrevida e a qualidade de vida dessas mulheres. Porém, a radiação pode causar fibrose no cavo axilar, destruindo os linfáticos e contribui para o acúmulo de linfa no membro homolateral. A mobilidade da articulação glenoumeral pode ser podada pelo peso do membro linfedematoso e também pela fraqueza pós-operatória dos músculos da cintura escapular [5]. Diferença de grau de amplitude de movimento antes do programa cinesioterapêutico. Tabela IV - Distribuição percentual por diferença de grau de amplitude de movimento, do ombro homolateral em reação ao contra-lateral à cirurgia, antes do programa cinesioterapêutico. Diferença em graus da ADM Movimentos analisados Flexão 0 |—| 10° 11° |—| 20° 21° |—| 30° 31° |—| 50° Total Extensão Abdução f % f % f % 5 3 1 1 10 50 30 10 10 100 10 0 0 0 10 100 0 0 0 100 9 1 0 0 10 90 10 0 0 100 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, ADM: Amplitude de movimento, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) De acordo com a Tabela IV, para o movimento de flexão, 5 (50%) pacientes apresentaram uma diferença entre 0 e 10°, 3 (30%) de 11° a 20°, 1 (10%) de 21° a 30°, e apenas 1 (10%) apresentou diferença de 31° a 50°, isso sempre em comparação ao lado contra-lateral à cirurgia. Esses dados estão em consonância com os resultados do estudo feito no departamento de cirurgia do Hospital St. Elizabeth, na Holanda, onde, das 148 pacientes mastectomizadas, 12% apresentaram uma diferença de mais de 20° na flexão do ombro homolateral à cirurgia, em comparação com o lado contra-lateral [19]. Baraúna et al. [19] avaliaram a morbidez e a limitação da amplitude de movimento, onde foi comprovada a diminuição da flexão do ombro envolvido em 4% das pacientes mastectomizadas. Em relação ao movimento de extensão, verifica-se na Tabela IV que 10 (100%) pacientes envolvidas na pesquisa Fisioterapia_v7n1.indb 34 apresentaram diminuição entre 0° e 10°, isso implica dizer a extensão foi o movimento que sofreu menor diminuição após a retirada da mama. Para o movimento de abdução, a Tabela IV mostra que 9 (90%) pacientes apresentaram uma diferença de 0° a 10° e apenas 1 (10%) apresentou diminuição de 11° a 20°, em comparação com o ombro contra-lateral à cirurgia. Ainda analisando a Tabela IV, percebe-se que todas as pacientes avaliadas antes do programa cinesioterapêutico proposto na pesquisa apresentaram diminuição da amplitude de movimento do ombro homolateral à cirurgia, para os movimentos de flexão, extensão, abdução, sendo que houve uma diminuição mais significativa para o movimento de flexão. Comparando os dados da Tabela IV com os dados da tabela III, observa-se que ocorreu diminuição na amplitude de movimento do ombro envolvido na cirurgia, mesmo estando as pacientes em um pós-operatório bastante tardio (3 a 5). Esses dados confrontam com os resultados encontrados em um estudo feito pelo Hospital Universitário de St. Vincent, em Dublin, na Irlanda, onde foi verificado, através do goniômetro, que as pacientes mastectomizadas estudadas por eles apresentaram diminuição da amplitude de movimento do ombro envolvido, notadamente na primeira semana após a cirurgia, com retorno ao normal em até 6 meses. Porém, os dados do presente estudo corroboram com um estudo mais recente feito no Ambulatório de Mastologia do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Uberlândia, no qual, com utilização da biofotogrametria computadorizada, verificou-se que a amplitude de movimento do ombro envolvido ficou comprometida mesmo após 6 meses de cirurgia [19]. Estes dados sugerem que o profissional de fisioterapia deve estar inserido dentro da equipe de profissionais que tratam essas pacientes, e que o acompanhamento deve ser feito não apenas no pós-operatório imediato, e sim até mesmo após 6 meses de cirurgia. Diferença de grau de amplitude de movimento após o programa cinesioterapêutico. A Tabela V mostra que, depois de executado o programa cinesioterapêutico proposto, todas as pacientes tiveram ganho de amplitude de movimento para o movimento de flexão, 80% das pacientes apresentaram uma diferença de 0° a 10º no ombro homolateral em relação ao ombro contra-lateral à cirurgia, ou seja, antes, 5 pacientes apresentaram essa diferença e após o término do programa esse número aumentou para 8. Quanto ao movimento de extensão, não ocorreu alteração significativa após as 16 sessões, em comparação ao início do programa cinesioterapêutico. Já para o movimento abdução ocorreu ganho de amplitude após as 16 sessões (100% das pacientes passaram a apresentar uma diminuição entre 0 a 10°, comparando o ombro envolvido e o ombro contra-lateral à cirurgia). 1/2/2006 18:50:05 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Tabela V - Distribuição percentual por diferença de grau de amplitude de movimento, do ombro homolateral em relação ao contra-lateral à cirurgia, após o programa cinesioterapêutico. Dif. graus ADM Movimentos analisados Flexão 0 |—| 10° 11° |—| 20° 21° |—| 30° 31° |—| 50° Total f 8 1 1 0 10 % 80 10 10 0 100 Extensão Abdução f 10 0 0 0 10 f 10 0 0 0 10 % 100 0 0 0 100 % 100 10 0 0 100 Fonte: pesquisa de campo/ FAP/, ADM: Amplitude de movimento, f- Freqüência absoluta (número de pacientes) Em um estudo realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Oncológicas (CEPON), onde foi utilizado também o goniômetro para análise da amplitude do ombro, foram encontrados dados semelhantes ao presente estudo. Para o movimento de flexão e abdução, após 10 sessões de fisioterapia, em 4 sessões, as pacientes recuperaram 80% da função do ombro envolvido [20]. Conclusão Estes dados sugerem que o profissional de fisioterapia deve estar inserido na equipe de profissionais que tratam essas pacientes, e que o acompanhamento deve ser feito não apenas no pós-operatório imediato, e sim até mesmo após 6 meses de cirurgia. De acordo com dados literários, todas as pacientes mastectomizadas sofrem complicações no pós-cirúrgico imediato e tardio e, caso não sejam tratadas, há um retardo na recuperação, dificultando o retorno às atividades de vida diária. A diminuição da amplitude de movimento é uma destas complicações, e geralmente só é tratada por meio de procedimentos fisioterapêuticos, em especial através da prática de exercícios e alongamentos. Referências 1. Lopes ER, Abreu E, Mello RC. Câncer. INCA – Ministério da Saúde. [citado 2004 jul 23]. Disponível em: URL: http://www.inca.org.br 2. Gomes ALRR, Gomes CC. Epidemiologia. In: Chaves IG, et al. Mastologia: aspectos multidisciplinares. Rio de Janeiro: Medsi; 1999. p. 93-107. 3. Serravalle N. Fisioterapia em mastectomizadas. [citado 2004 set 07]. Disponível em: URL: http://www.ufpe.br/fisioterapia/mastec. 4. Câncer de mama. [citado 2004 nov 29]. Disponível em: URL: http://www.cancerdemama.com.br 5. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 3a ed. São Paulo: Manole; 1998. 6. Marconi MA, Lakatos EM. Metodologia científica. 3a ed. São Paulo: Atlas; 2000. 7. Gil AC. Métodos e técnicas da pesquisa social. 2a ed. São Paulo: Atlas; 1989. 8. Brasil, Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Resolução 196/96. [citado 2003 mar 10]. Disponível em: URL: http://www.ufrgs.br/HCPA/gppg/res19696.htm. Fisioterapia_v7n1.indb 35 35 9. Leal CS. Diagnóstico clínico do câncer de mama. In: Chaves E. Câncer de mama – diagnóstico, tratamento e prognóstico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1994. 10. Davim RMB et al. Auto-exame de mama: conhecimento de usuárias atendidas no ambulatório de uma maternidade escola. Rev Latinoam Enfermagem 2003;11(1). 11. Marinho LAB, Costa-Gurgel MS, Cecatti JG et al. Conhecimento, atitude e prática do auto-exame das mamas em centros de saúde. Rev Saúde Pública 2003;37(5). 12. Panobianco MS, Mamede MV. Complicações e intercorrências associadas ao edema de braço nos três primeiros meses pós mastectomia. Rev Latinoam Enfermagem 2002;10(4). 13. Schwartz SI et al. Princípios de cirurgia. 6a ed. Rio de Janeiro; 1996. 14. Orikassa RM, Brito MAP. A ação da fisioterapia em pacientes em pós-operatório de mastectomia prevenindo as complicações [monografia]. Jaú: Faculdades Adamantinenses Integradas; 2003. 15. Chaves E. Câncer de mama – diagnóstico, tratamento e prognóstico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1994. 16. Goffi FS. Bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. 4a ed. São Paulo: Atheneu; 1996. 17. Prado MA. A prática da atividade física em mulheres submetidas à cirurgia de câncer de mama: percepção de barreiras e benefícios. [citado 2004 nov 29]. Disponível em: URL: http://www. scielo.php.br 18. Magalhães MAF, Erlich DH, Erlich R. Quimioterapia citotóxica no câncer de mama. In: Chaves E. Câncer de mama – diagnóstico, tratamento e prognóstico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1994. 19. Baraúna MA, et al. Avaliação da amplitude de movimento do ombro em mulheres mastectomizadas pela biofotogrametria computadorizada. Rev Bras Cancerol 2003;50(1). 20. Dias M. Recuperação funcional de membro superior em pacientes pós mastectomia radical modificada. [citado 2004 jan 12]. Disponível em: URL: http://www.udesc.br/cefid/pos/fisioterapia/mirella.htm Anexo 1 Programa cinesioterapêutico adaptado de Camargo e Marx 1- Flexão anterior do braço; 2- Abdução do braço; 3- Extensão do braço; 4- Rotação interna e externa dos ombros; 5- Elevação simultânea e relaxamento dos ombros; 6- Inclinação da cabeça; 7- Elevação alternada dos ombros; 8- Mãos apoiadas sobre o queixo, abertura dos cotovelos o máximo possível e abaixá-los até tocarem entre si; 9- Mãos apoiadas sobre o queixo, cotovelos abertos, colocar as mãos sobre a cabeça e a partir daí elevação dos ombros; 10- Extensão total dos braços, depois apoiar mãos sobre a cabeça e inclinar os braços alternadamente; 11- Mão sobre a cabeça, elevar lentamente até extensão total do braço; 12- Mãos apoiadas por trás da nuca, cotovelos abertos, em seguida fechá-los e abri-los; 13- Inclinação do tronco, abdução do braço, com as mãos entrelaçadas; 14- Flexão anterior total dos braços, com inclinações laterais (usar bastão). 1/2/2006 18:50:06 36 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Artigo original Comparação dos lasers diodo 904 nm e 670 nm na viabilidade do retalho cutâneo randômico isquêmico em ratos Comparison of the 904 nm and 670 nm diode lasers in the viability of random skin flap Lívia Ribeiro de Assis*, Alexandre Marcio Marcolino*, Carlos Eduardo Pinfildi M.Sc.**, Rodrigo Paschoal Prado M.Sc.**, Fábio Lourencin, M.Sc***, Lydia Masako Ferreira, D.Sc. **** *Graduado em Fisioterapia pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva IMES-FAFICA, **Docente do IMES-FAFICA, Professor da Pós-Graduação Latu Sensu de Especialização em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica, Universidade de São Marco, Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte - Webtvinterativa, ***Docente da Universidade Paulista, campus de São José de Rio Preto, ****Professora Titular da Disciplina de Cirurgia Plástica do Departamento de Cirurgia da UNIFESP-EPM e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Plástica Reparadora da UNIFESP - EPM Resumo Abstract O presente estudo teve como objetivo comparar a eficácia do laser diodo (904 nm) e do laser diodo (670 nm) na viabilidade do retalho cutâneo randômico em ratos. Este se constituiu de 36 ratos da linhagem Wistar, distribuídos ao acaso em 3 grupos de 12 animais cada. O retalho cutâneo randômico foi realizado com as medidas de 10 x 4 cm, com uma barreira plástica interposta entre o mesmo e o leito doador. O Grupo 1 (controle) foi submetido a uma simulação de tratamento de radiação. O Grupo 2 submeteu-se a radiação do laser diodo (904 nm). O Grupo 3 recebeu a radiação laser diodo (670 nm). Foi utilizada a técnica pontual com contato, em um ponto localizado a 2,5 cm da base cranial do retalho com densidade de energia de 16 J/cm2 imediatamente após a operação e nos 4 dias subseqüentes. As porcentagens da área de necrose de todos os grupos foram avaliadas no 7 dia pós-operatório com o método de Gabarito de papel. Obtivemos como resultado no Grupo 1 média de área de necrose de 48 %; o Grupo 2 - 37 % e o Grupo 3 - 27 %. Após a análise estatística, os resultados mostraram que os grupos experimentais obtiveram valores estatisticamente significativas em comparação ao grupo controle e que, o Grupo 3 apresentou uma menor área de necrose (p < 0,001). Concluímos que a radiação laser diodo foi eficaz no aumento da viabilidade do retalho cutâneo randômico em ratos sendo que a radiação laser diodo 670 nm (G3) foi a mais eficaz no aumento da viabilidade do retalho cutâneo randômico em ratos comparado ao grupo 1 e grupo 2. The aim of this study was to compare the role of AsGa (904 nm) diode laser irradiation and GaAlAs (670 nm) diode laser irradiation in the viability of random skin flap in rats. Were used 36 Wistar rats, weighed and randomly divided in 3 groups with 12 rats in each group. The random skin flap was performed measuring of 10 x 4 cm, with a plastic sheet interposed between the flap and the donor site. The Group 1 (control) underwent sham irradiation. Group 2 was submitted to diode laser (AsGa) irradiation and Group 3 was submitted to diode laser (GaAlAs) irradiation. The laser irradiation was used with the punctual contact technique with target tissue on a point at 2,5 cm cranial from the flap base immediately after the surgery and for the four subsequent days, and the energy density was 16 J/cm2. The percentage of necrotic area of the three groups was calculated at the seventh postoperative day through a paper template method. Results: The Group 1 obtained the average necrotic area of 48%, the Group 2 - 37 % and the Group 3 - 27 %. After the ANOVA test, the results showed that all experimental groups obtained values statistically significant compared to the control group, and the group 3 was the best group compared all groups of this study (p < 0,001). Conclusion: The laser irradiation was efficient in increasing random skin flap viability in rats and the diode laser irradiation GaAlAs (group 3) was the most efficient in increasing random skin flap viability in rats compared to the group 1 and the group 2. Palavras-chave: terapia a laser de baixa intensidade, retalho cirúrgico, necrose, ratos. Key-words: laser therapy low level, skin flap, necrosis, rats. Recebido 3 de maio de 2005; aceito 10 de janeiro de 2006. Endereços para correspondência: Rodrigo Paschoal Prado, rua Rio Grande do Sul, 801 Higienópolis 15804-040 Catanduva SP, Tel: (17) 97175734, E-mail: [email protected]; Carlos Eduardo Pinfildi, rua Aracajú, 1352 Vila Santo Antônio 15801-250 Catanduva SP, Tel: (17) 35248203, E-mail: cepinfi[email protected]. Fisioterapia_v7n1.indb 36 1/2/2006 18:50:07 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Introdução Os retalhos cutâneos são utilizados com grande freqüência em todos os ramos da cirurgia plástica, porém a isquemia continua a ser a principal complicação dessas intervenções, podendo levar a necrose tecidual e a um insucesso no tratamento [1]. Em função disso, pesquisas estão voltadas à melhora do aporte sangüíneo para os mesmos, diminuindo assim a condição isquêmica e prevenindo a necrose [2-5]. Recentemente, surgiram pesquisas utilizando o laser de baixa intensidade e estas merecem destaque pelos resultados satisfatórios e pela facilidade de aplicação, no entanto há ainda incerteza sobre sua eficácia nos procedimentos com retalhos cutâneos [6,7], principalmente em relação a qual comprimento de onda seria mais eficaz. Dessa forma, esse trabalho teve por objetivo investigar o efeito dos lasers diodo 904 nm e 670 nm na viabilidade do retalho cutâneo randômico isquêmicos em ratos. Materias e métodos Utilizou-se 36 ratos (Rattus norvegicus: var. albinus, Rodentia, Mammalia), adultos, com cerca de 3 meses de idade, pesando entre 280 gramas a 310 gramas, machos pesando 260 a 320 gramas, da linhagem Wistar, sendo estes distribuídos randomicamente em 3 grupos de 12 animais cada. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade de Medicina de Catanduva. Os animais do estudo foram anestesiados, por via intraperitoneal, com uma associação eqüitativa de cloridrato de tiletamina e cloridrato de zolazepam, em uma dose total de 50 mg/kg. Após a anestesia, foi realizada a depilação digital no dorso do animal. Logo após, foi realizado um retalho de base cranial, com 10 cm de comprimento e 4 cm de largura no dorso dos animais. O retalho teve como limites os ângulos inferiores das escápulas e os ossos superiores da cintura pélvica [8] (Figura 1). 37 Os retalhos foram elevados a partir da fáscia profunda dos músculos e continham a fáscia superficial, panículo carnoso e pele (Figura 2). Figura 2 –Retalho cutâneo randômico de base cranial elevado. Fonte: Dados do Autor Um filme plástico foi interposto entre o retalho e o leito doador, impedindo a revascularização do retalho por meio dos vasos do leito [9,10]. A seguir, suturou-se o retalho com pontos separados simples de fio de náilon monofilamentar 4-0 na mesma posição original (“área doadora”), com a distância de 1 cm entre os pontos (Figura 3) [4]. Figura 3 - Retalho suturado após a interposição da barreira plástica. Fonte: Dados do Autor Figura 1 – Retalho planejado (10 x 4 cm). Fonte: Dados do Autor Fisioterapia_v7n1.indb 37 Imediatamente após o procedimento operatório, os animais do Grupo 1 (controle) mantiveram-se anestesiados por mais 30 minutos, quando submeteram-se à simulação do tratamento laser diodo, o grupo 2 submeteu-se a uma radiação do laser diodo 904 nm e o grupo 3 recebeu a radiação do laser diodo 670 nm. Foi utilizada a técnica pontual com contato em um ponto localizado a 2,5 cm da base cranial do retalho. A radiação laser foi realizada imediatamente após a operação e nos 4 dias subseqüentes, no mesmo horário e com densidade de energia de 16 J/cm2 [11]. Durante a realização da aplicação do laser, foi utilizado um molde plástico sobre o retalho para a demarcação do ponto 1/2/2006 18:50:07 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 38 referente aos grupos (Figura 4). Foi utilizado um equipamento laser com comprimento de onda 904nm, potência de 15 mW área do feixe de 0,125 cm2 no grupo 2 e no grupo 3 o laser diodo de onda 670 nm, potência de 30 mW e área do feixe de 0,07 cm2. Figura 4 - Local da irradiação laser. Fonte: Dados do Autor A porcentagem de área de necrose dos retalhos foi verificada, no sétimo dia após a operação, por meio do método do gabarito de papel [12]. O limite entre o tecido viável (pele macia, rósea, quente e com pêlos) e o necrosado (pele rígida, escurecida, fria e sem pêlos) foi demarcado nos animais com caneta esferográfica diretamente no retalho. Um molde de todo o retalho foi desenhado, onde se delimitou a área necrosada da área viável do retalho e logo após foi recortado em papel transparente vegetal, sendo a seguir aferido em balança de precisão (erro de ± 0,0001 g). Foi recortada deste fragmento também, apenas a área correspondente à necrose do retalho que também foi aferida. Em seguida foi aplicada a seguinte fórmula: porcentagem de área = peso do gabarito de papel de necrose do retalho x 100 de necrose do retalho peso do gabarito de papel da área total do retalho Resultados A porcentagem das áreas de necrose foram as seguintes: Grupo 1 (48%), Grupo 2 (37%) e Grupo 3 (27%). Foi utilizado o este ANOVA para a realização dos resultados sendo que os grupos experimentais foram estatisticamente significativos comparados ao grupo controle, sendo que o Grupo 3 o que obteve uma menor área de necrose do retalho cutâneo comparado aos demais grupos do estudo. Discussão Atualmente vários fisioterapeutas e médicos utilizam o laser de baixa intensidade na prática clínica em úlceras venosas, por pressão e diabéticas, objetivando um aumento da microcirculação e do fluxo sanguíneo, acarretando uma cicatrização mais rápida e eficaz [13-16] Fisioterapia_v7n1.indb 38 No entanto há ainda incerteza sobre qual comprimento de onda seria mais eficaz nos procedimentos com retalhos cutâneos [6,7]. Tabela I - Porcentagem da área de necrose no sétimo dia pós-operatório. Animal Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 Média 57 48 47 50 45 46 48 42 51 49 46 52 48 44 39 49 52 38 35 40 30 34 41 33 11 37 34 29 19 35 31 2 30 32 22 28 24 30 27 G3< G2< G1 Teste ANOVA p<0,001 G1- Grupo 1 (Controle) G2- Grupo 2 (904 nm) G3- Grupo 3 (670 nm) Em virtude deste conhecimento, resolveu-se pesquisar os efeitos deste aumento de fluxo sangüíneo causado pela irradiação laser na viabilidade do retalho cutâneo randômico isquêmico, utilizado com grande freqüência principalmente nas operações plásticas reconstrutoras. O rato foi escolhido, como modelo experimental, devido às facilidades de obtenção, de manipulação laboratorial e por ter sido utilizado em diversos experimentos semelhantes [4-7] O modelo de retalho cutâneo que evolui com isquemia em sua porção distal, com as medidas de 10 x 4 cm, proposto e aceito consensualmente desde 1965 por McFarlane et al. [8], foi escolhido para o experimento por se tratar de um retalho bem definido no estudo da isquemia e por ser uma linha de pesquisa muito estudada no Programa de Pós-graduação em Cirurgia Plástica da UNIFESP-EPM, apresentando uma porcentagem de necrose entre 25 a 50% a partir de sua porção distal, apesar que em 5,7% dos casos de retalhos isquêmicos não ocorre necrose significativa [4,5]. Para garantir e padronizar o grau de isquemia adotou-se a conduta de interpor um filme plástico entre o retalho e o leito doador, para impedir a revascularização do retalho por meio dos vasos do leito, conforme proposto por Ugland [9] e revisto por Kaufman et al. [10]. A área de necrose do retalho foi avaliada no 7º dia pósoperatório por meio do método do gabarito de papel. Este método foi eleito também, devido à ampla utilização na literatura pesquisada, e também por ser de rápida e fácil execução, com uma margem de erro de apenas 5% [12]. 1/2/2006 18:50:08 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Os resultados deste estudo demonstraram que o laser diodo foi eficaz no aumento da viabilidade do retalho cutâneo isquêmico e que o grupo 3 foi o que obteve uma menor área de necrose comparado aos outros grupos experimentais (p < 0,001). A técnica de aplicação deste estudo foi a pontual com contato [11,13,17] em um ponto localizado a 2,5 cm da base cranial do retalho [17], utilizando um molde plástico para padronizar o local de aplicação [8], sendo que a aplicação foi realizada imediatamente após o ato operatório e nos 4 dias subsequentes [17]. A dosimetria utilizada no estudo foi de 16 J/cm2 baseado em Kami et al. [11] sendo que este utilizou o laser diodo com comprimento de onda de 830 nm. Sugerimos a partir deste estudo que novas pesquisas sejam realizadas com esses mesmos comprimentos de onda, podendo ser diversificado o local de aplicação, número de pontos e dosimetria. Conclusão A radiação laser de baixa intensidade foi eficaz na viabilidade do retalho cutâneo em ratos, sendo que a radiação 670 nm (grupo 3) mostrou-se o mais eficiente comparados aos demais grupos. Referências 1. Kerrigan CL. Skin flap failure: pathophysiology. Plast Reconstr Surg 1983;72:766-77. 2. Kjartansson J, Lundeberg T. Effects of electrical nerve stimulation (ENS) in ischemic tissue. Scand J Plast Reconstr Hand Surg 1990;24:129-34. 3. Jurell G, Jonsson CE. Increased Survival of experimental skin flaps in rats following tretment with antiadrenergic drugs. Scand J Plast Reconstr Surg 1976;10:169. 4. Duarte SI, Gomes HFC, Ferreira LM. Effect of dimethyl sulphoxide on necrosis of skin flaps in rats. Can J Plast Surg 1998;6:93-7. Fisioterapia_v7n1.indb 39 39 5. 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Photomedicine and Laser Surgery 2005;23(1):89-151. 1/2/2006 18:50:09 40 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Artigo original Comportamento do lactato sanguíneo de pacientes com síndrome isquêmica aguda nas 48 horas de internação na unidade coronariana submetidos à reabilitação cardíaca fase I Behaviour of sanguineous lactate in pacients with acute ischemic syndrome among 48 hours of in-patient (phase I) cardiac reabilitation in coronary unit Cintia Godinho Junqueira*, Regina Roque da Glória*, Sílvia Mesquita**, Miguel Houri Neto, D.Sc.*** *Fisioterapeutas e preceptoras da residência em fisioterapia pneumofuncional do hospital Biocor, especialistas em fisioterapia pneumofuncional e em exercícios físicos aplicados à reabilitação cardíaca e populações especiais, **Fisioterapeuta do Hospital Vera Cruz, especialista em fisioterapia pneumofuncional e em exercícios físicos aplicados à reabilitação cardíaca e populações especiais, ***Professor de Bioestatística no Mestrado em Ciência da Saúde - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) Resumo Abstract Avaliou-se a influência do exercício precoce pós Síndrome Isquêmica Aguda (SIA) no nível do lactato sanguíneo, nas 48 horas de evolução dos pacientes em unidade coronariana. Foram medidos 12 indivíduos com idade média de 69,4 ± 12,7 anos, sendo 8 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, submetidos à análise laboratorial por coleta de amostra sanguínea, antes e após a reabilitação cardíaca na fase 1, segundo o protocolo estabelecido pelo American College of Sports Medicine (ACSM), dentro das 48 horas da admissão na referida unidade. Não houve diferença significativa (p < 0,05) dos níveis de lactato obtidos no período de 48 horas da admissão pós SIA, demonstrando que o exercício físico precoce na fase aguda desta síndrome impediu o pico do lactato em torno das 48 horas de evolução. Was evaluated the effect of early exercise post Acute Ischemic Syndrome (AIS) on the level of the blood lactate within 48 hours of evolution of patients in the coronary unit. The data collection, which included 12 AIS patients, 69,4 ± 12,7 years old, being 8 males and 4 females, subject to laboratorial analyses by means of blood sample collection before and after the cardiac rehabilitation in phase 1, in compliance with the protocol established by American College of Sports Medicine (ACMS), within the 48 hours of admission in the mentioned unit. There was no significant difference (p < 0,05) on the levels obtained in the period of 48 hours of admission post AIS showing that the early exercise in the acute phase of this syndrome prevented the lactate peak close to the 48 hours of evolution. Palavras-chave: lactato sanguíneo, reabilitação cardíaca, miocárdio, infarto. Key-words: sanguineous lactate, cardiac rehabilitation, myocardium, heart attack. Artigo recebido em 15 de julho de 2005; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Regina Roque da Glória, Rua Desembargador Alfredo de Albuquerque, 20/502 Santo Antônio 30330-250 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 3297-8872, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 40 1/2/2006 18:50:10 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Introdução 41 Tabela I - Idade, sexo e evolução individual dos pacientes. Pacientes A Síndrome Isquêmica Aguda representa o evento decorrente de uma diminuição do aporte de oxigênio ao miocárdio, em caráter agudo, ocasionando graus variados de sofrimento, que podem culminar em morte tecidual em maior ou menor grau. Compreende a angina instável e o infarto agudo do miocárdio. O diagnóstico da SIA baseia-se no quadro clínico de dor precordial, alterações eletrocardiográficas do segmento ST e alterações enzimáticas [1,2]. A isquemia cardíaca leva a um acúmulo de metabólitos e liberação de enzimas que existem no tecido, em níveis elevados. Esses marcadores isquêmicos são úteis para auxiliar tanto no diagnóstico quanto no prognóstico dos pacientes com IAM. São mensuradas as enzimas creatinoquinase-MB (CK-MB), a mioglobina, a troponina I e a desidrogenase lática (LDH). A evolução no tempo dos marcadores bioquímicos de lesão miocárdica é variável de acordo com cada enzima. A LDH apresenta uma elevação em torno de 12 a 18 horas, pico entre 24 a 48 horas e normalização em torno de 10 dias, tornando-se, assim, um marcador importante para avaliar os benefícios do exercício sobre a evolução dos pacientes nesta fase, havendo prazo para se iniciar a reabilitação cardíaca por apresentar um pico mais tardio [3,4]. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a reabilitação cardíaca é parte integrante da terapêutica cardiológica. Um programa de exercícios físicos supervisionados deve ser iniciado tão logo o quadro do paciente se estabilize. A mobilização precoce tem o objetivo de reduzir os efeitos deletérios do repouso prolongado no leito, evitar complicações pulmonares, osteomusculares e vasomotoras e ainda controlar as alterações psicológicas e promover redução da permanência hospitalar [5-9]. O exercício de leve intensidade pode favorecer o sítio de liberação de lactato pelos músculos, fígado, intestino e pele, ou seja, diminuir a concentração de lactato e assim promover o equilíbrio entre a sua produção e remoção [10]. Em uma situação de isquemia, em que está havendo um desequilíbrio, o exercício pode contribuir para a remoção do lactato, minimizando os efeitos deletérios de sua concentração aumentada, nesta fase precoce da SIA O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do exercício precoce pós SIA no curso do lactato sanguíneo nas 48 horas de evolução dos pacientes. Material e métodos A coleta de dados abrangeu o período de junho a agosto de 2004, incluindo uma amostra de 12 pacientes com idade média de 69,4 ± 12,7 anos, sendo 8 do sexo masculino e 4 do sexo feminino, realizado no Hospital Biocor, em Nova Lima, MG, conforme demonstra a Tabela I. Fisioterapia_v7n1.indb 41 Idade (anos) Sexo Evolução 79 71 82 81 71 49 47 69 82 78 70 54 Masculino Feminino Masculino Masculino Feminino Masculino Masculino Masculino Masculino Feminino Feminino Masculino Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta Alta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Considerando a SIA como o evento decorrente de uma diminuição do aporte de oxigênio ao miocárdio, em caráter agudo, ocasionando graus variados de sofrimento, que podem culminar em morte tecidual em maior ou menor grau, foram incluídos no estudo os pacientes admitidos na Unidade Coronariana, com presença de pelo menos 2 dos seguintes critérios: 1) história clínica de dor, 2) alteração ECG, 3) alteração enzimática; que evoluíram sem complicações clínicas e/ou hemodinâmicas como recorrência de dor, edema agudo de pulmão, arritmias e intervenção mecânica. Esses pacientes foram submetidos à análise laboratorial por coleta de amostra de sangue arterial e venoso, por canulação arterial braquial ou venosa; tendo sido colhidas amostras de acordo com o protocolo de admissão do UCO nas 48 horas. As amostras foram avaliadas pelo aparelho gasômetro ABL 735 Radiometer Copenhagem. Os pacientes foram submetidos à reabilitação cardíaca na fase 1 após 6 a 12 horas da admissão, logo que se apresentassem estáveis clínica e hemodinamicamente, sendo monitorizados por eletrocardiografia direta contínua. O programa de exercícios seguiu o protocolo estabelecido no hospital, baseado no American College of Sports Medicine (ACSM) e supervisionado diretamente pelo fisioterapeuta. O protocolo estabelece atividades de baixa intensidade, com gasto calórico entre 1,5 a 3 METS, proporcional ao metabolismo utilizado para as atividades habituais diárias. O programa foi realizado duas vezes ao dia com duração em torno de 15 minutos, e inclui exercícios de mobilização ativa de membros superiores e membros inferiores e intensidade limitada pela variação da freqüência cardíaca. A progressão foi graduada da posição supina a ortostática e pelo número de repetições. Os critérios utilizados para interromper a sessão foram a queixa do paciente de cansaço ou dor, a variação da freqüência cardíaca de 20 bpm e alteração eletrocardiográfica. Resultados A análise estatística foi feita através do teste de pareamento fundamentado no teste t de Student para uma probabilidade de erro de 5% (p < 0,05). 1/2/2006 18:50:10 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 42 A tabela II mostra os parâmetros bioquímicos de lactato à admissão e após as 48 horas de evolução. Tabela II - Níveis individuais de lactato na admissão e após 48 horas. Pacientes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Lactato Admissão 48 horas 8 9 13 11 10 20 13 12 8 19 9 24 13,00 ± 5,24 8 11 14 16 10 11 15 15 9 12 9 18 12,33 ± 3,20 O intervalo de confiança da média (IC) dos desvios de lactato (0,16 ± 1,2545), por apresentar uma amplitude de variação que contém o valor zero, indica a não significância dos níveis dessa substância no período de 48 horas, sendo expresso pela equação: IC = Onde: X = Valor médio das diferenças individuais; T = Constante obtida da tabela T de student para: α = nível de erro para 5%; GL = 11 graus de liberdade; s = desvio padrão associado à média das diferenças; n = número amostral. Discussão Este estudo demonstra que a variação não significativa do lactato, devido à reabilitação precoce, evitou que não se atingisse o seu pico usualmente esperado, o que se explica pela remoção mais rápida e eficaz do ácido lático por oxidação nos músculos esqueléticos e cardíaco, com exercícios de baixa intensidade, minimizando os efeitos do acúmulo de lactato sanguíneo. Na revisão da literatura, não há descrição de trabalhos que relacionem os efeitos do exercício sobre o lactato na reabilitação cardíaca fase 1, mas há várias citações na fase 2 [11-13]. A energia para a função normal da célula em condições de repouso e de exercício é obtida predominantemente pela via aeróbica, através do sistema ATP-CP, onde a oxidação da glicose ou glicogênio produz ATP pelo ciclo de Krebs. Sabe-se ainda que, em condições de anaerobiose, a falta de Fisioterapia_v7n1.indb 42 oxigênio ativa a enzima LDH que reduz o ácido pirúvico em ácido lático [14,15]. O metabolismo da glicose, sem a presença de oxigênio, como ocorre na isquemia miocárdica, produz ácido lático, que é o produto final do metabolismo anaeróbio lático. O infarto agudo do miocárdio é o resultado de um foco de isquemia tecidual causada por uma perfusão tissular inadequada. Portanto, o fluxo arterial baixo, baixa retenção de oxigênio e presença de glicólise anaeróbia caracterizam a isquemia miocárdica [16]. Essa situação resulta em privação de oxigênio acompanhada de remoção inadequada de metabólitos, e como a hipóxia inibe o metabolismo aeróbio, as reservas intracelulares de ATP podem ficar depletadas. A hipóxia decorrente da isquemia miocárdica também afeta a produção de energia pelo miocárdio, devido ao acúmulo de metabólitos tóxicos e acidose. Estes metabólitos resultam em desvio parcial da produção de ATP aeróbia habitual para o tipo anaeróbio menos característico; utilizando o metabolismo dos carboidratos como o combustível predominante e um acentuado aumento na produção de ácido lático. Numa situação normal, o coração é protegido contra a fadiga pela enzima LDH, que transforma o ácido lático produzido em pequena quantidade, em ácido pirúvico. Entretanto, durante a isquemia, esse processo é invertido, sendo importante o equilíbrio entre a produção e a remoção do lactato. A remoção do lactato ocorre pelo ciclo de Cori, tamponamento e utilização por outras células, como musculares, esqueléticas e cardíacas [17,18]. Sabendo que o exercício de leve intensidade pode favorecer o sítio de liberação de lactato pelos músculos, fígado, intestino e pele, ou seja, que o objetivo do exercício é diminuir a concentração de lactato e assim promover o steady-state entre a produção e a remoção do lactato, e sabendo que numa situação de isquemia miocárdica está havendo um desequilíbrio, presume-se que o exercício possa contribuir na remoção do lactato nesta fase precoce da SAI [19]. O ácido lático é oxidado após o exercício, ou seja, ele é convertido em ácido pirúvico e utilizado como substrato pelo coração e pelo músculo esquelético, sendo a remoção do ácido lático mais rápida quando realizado um exercício leve contínuo, do que quando na recuperação em repouso. Isto seria explicado pelo fato de o exercício leve aumentar a oxidação do ácido lático pelo músculo que está trabalhando. Estima-se que a intensidade ideal de exercício para promover a remoção do ácido lático seja de cerca de 30-40% do VO2 máximo, e que exercícios de intensidade mais elevada poderiam acarretar um aumento na produção de ácido lático e, conseqüentemente, impedir a sua remoção. Possivelmente, o treinamento promoveria um fluxo sanguíneo melhorado para o fígado, permitindo uma remoção aumentada de lactato. Vários trabalhos publicados na literatura científica demonstram os efeitos benéficos do exercício sobre o metabolismo dos indivíduos [20]. 1/2/2006 18:50:11 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Estudos com lactato marcado metabolizado por animais concluíram que a oxidação é a principal via de sua eliminação no repouso (40-50% do lactato produzido) e nos exercícios leves (55-87% do lactato produzido). Em outro estudo com pacientes pós IAM, antes e após reabilitação cardíaca por 3 semanas, concluíram que este período foi eficiente para causar adaptações, evidenciadas pelo decréscimo da FC e PA sistólica, bem como redução no ácido lático [21]. Assim, com base nos trabalhos publicados na fase 2 e 3 da reabilitação cardíaca [22,23], afirmando que o treinamento físico tem como um de seus objetivos diminuir a concentração de lactato progressivamente ao longo dos dias, e sabendo que a remoção do lactato começa a ocorrer durante o exercício e pode durar até mais de 60 minutos após a interrupção do exercício, observa-se que, ainda na fase 1 da reabilitação cardíaca, ocorrem resultados benéficos do exercício sobre a concentração de lactato sanguíneo nos pacientes pós SIA [21,24]. Conclusão A partir dos resultados obtidos neste estudo, em que não houve a variação significativa do lactato no curso das 48 horas após a SIA, não atingindo o pico de seus valores como seria esperado de acordo com a literatura, conclui-se que a reabilitação cardíaca na fase 1, além dos benefícios comprovados para auxiliar a recuperação dos pacientes e para a redução da morbimortalidade cardiovascular, contribui também para melhor remoção do lactato. Os resultados encontrados, apesar de obtidos com número amostral estatisticamente sustentável, indicam que uma pesquisa desta natureza seja feita com um maior número de pacientes para que se defina uma média mais próxima do universo populacional e a real instabilidade da resposta medida. Referências 1. Knobel L, Baruzzi ACA, Brilhante JJ, Feher J. Infarto agudo do miocárdio. In: Knobel L. Condutas no paciente grave. São Paulo: Atheneu; 1997. p.26-44. 2. Piegas LS. III Diretriz sobre tratamento do infarto agudo do miocárdio. 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O estudo foi realizado com a participação de 15 pilotos voluntários, que responderam a dois questionários: o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp, devidamente autorizado, e o Inventário de Dor de Wisconsin adaptado. As informações obtidas foram analisadas pela estatística descritiva linear coeficiente de correlação de Pearson (r). Os resultados mostraram alta taxa de desconforto musculoesquelético relacionado ao trabalho (60%). Entre os sintomáticos, a prevalência de dor foi 34,4% em ombro, seguido da coluna lombar (25%). Entre os sintomáticos de estresse (40%), 33% apresentavam-se na fase de “resistência” e 7% “quaseexaustão”, com sintomatologias prevalentes psicológicas (57%). A análise linear descritiva, pelo Coeficiente de Correlação de Pearson, demonstrou alta correlação (r = 0,90) entre estresse e ocorrência de dor entre esses profissionais. Os resultados sugeriram que a profissão possui riscos ocupacionais de lesão musculoesquelética. The aim of this study was to assess stress level presented by helicopter pilots from the Military Police Group of Flying from the State of São Paulo (GRPAe), in the city of Sao Paulo, and correlated with musculosketal pain prevalence. Fifteen commandants pilots participated in this study, asking two questionnaires: Lipp’s Symptom Inventory of Stress to Adults (ISSL), properly authorized, and the Wisconsin Adapted Inventory of Pain. Data were analyzed by linear descriptive statistics Coefficient of Correlation of Pearson (r). The results indicated a high prevalence rate of symptoms among helicopters pilots (60%). The prevalence of pain involved the shoulder (34,4%) and the lumbar spine (25%). Among those who presented signs of stress (40%), 33% was in the resistance phase and 7% presented almost-exhaustion phase, with psychological symptomatology of stress prevailed (57%). The Coefficient of Correlation of Pearson was 0,90. The results indicated occupational risks for the musculoskeletal system. Key-words: musculosketal pain, helicopters pilots, stress. Palavras-chave: dor musculoesquelética, pilotos de helicópteros; estresse. Introdução O trabalho dos pilotos de helicópteros do Grupamento de Rádio Patrulha Aérea da Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo (GRPAe) incorpora muito dos fatores desencadeantes e/ou agravantes do estresse no ambiente de trabalho descritos na literatura [1]. O estresse é definido como uma mobilização química coordenada do corpo humano para atender à demanda de adaptação do organismo frente a uma situação ameaçadora Recebido 21 de setembro de 2005; aceito 10 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Kelly Cristina Diniz, Av. José Benedito Braga, 514/01 Vila Mogilar 08773-020 Mogi das Cruzes SP, Tel: (11) 46991460 / 8165-1323, E-mail:[email protected] / [email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 44 1/2/2006 18:50:13 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 da homeostase, seja a natureza do estressor real ou imaginário. Dessa maneira, um elevado estado de ansiedade, que é caracterizado como um sintoma de estresse, pode influir na habilidade cognitiva devido à redução do nível de concentração na execução de tarefas [2]. Padrão postural sedentário, ou trabalho sentado na maior parte do tempo, estado de alerta constante em atividades de risco de morte e contatos com situações de tragédia são comuns no meio de trabalho da PM [3]; somando-se à atividade de pilotagem, a complexidade de tarefas num ambiente de velocidade e temporalidade acentuam as pressões diárias de serviço. No desempenho de suas atividades aéreas, principalmente, os pilotos de helicópteros estão submetidos a uma postura muscular estática e assimétrica, de tensões contínuas durante o tempo de vôo. Nessa atitude postural, sob vibrações constantes, quadros dolorosos podem ser desencadeados em regiões musculares e/ou osteotendíneas adjacentes a coluna vertebral [4]. Contudo, a dor musculoesquelética pode ser exacerbada por fatores pessoais, que dizem respeito à forma com que o indivíduo interage com o meio em que trabalha; episódios constantes de tensão emocional por fatores individuais e/ou sobrecarga de trabalho podem gerar o estresse ocupacional, que se caracteriza por desconfortos orgânicos sintomáticos, perda de desempenho profissional e falta de motivação [5]. Numa abordagem atual de investigação das causas dos acidentes aéreos, envolvendo o complexo homem-meiomáquina, o estresse é apontado como fator de influência na gênese e/ou no contexto do acidente [6]. Esse fato dinamizou o conceito de segurança de vôo no meio aeronáutico através da repercussão e conscientização do assunto; contudo, segurança não significa ausência de risco. Segundo último relato estatístico disponível pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), no ano de 2003, foram registrados 18 acidentes com helicópteros civis homologados, o que corresponde a 26% do total da aviação civil considerando um aumento de 125% em relação a 2002, que consta de oito ocorrências. Ainda, segundo dados do DAC, entre os anos de 1990 a 2000, as investigações sobre acidentes aeronáuticos em toda a aviação apontam a falha operacional como resultado de erro de julgamento do piloto em 42% como o maior índice estatístico. As novas tecnologias oferecem muitas maneiras capazes de melhorar os índices de segurança de vôo dos sistemas de prevenção já bastante seguros, apesar do rápido crescimento do tráfego nas últimas décadas. Porém, os erros por fator humano representam desafios difíceis de superar, uma vez que o homem não pode ser programado para não errar [7]. Materiais e métodos Foram voluntários desse estudo 15 pilotos comandantes de vôo de helicópteros, no Grupamento de Rádio Patrulha Aérea da Polícia Militar (PM) do Estado de São Paulo (GRPAe), unidade Campo de Marte, na cidade de São Paulo, Fisioterapia_v7n1.indb 45 45 sendo todos do sexo masculinos, casados e com formação universitária, com idades entre 34 e 47 anos (38,8 ± 3,38), tempo de trabalho na Instituição entre 3 e 216 meses (133,2 ± 59,43), tempo de vôo semanais entre 3h e 30 horas (8 ± 7,6) e tempo de vôo catalogados na CIV (Caderneta Individual de Vôo) entre 800h e 4.000 horas (2.278 ± 1.210). Do turno de trabalho, 86,6% operam em categoria mista (diurno e noturno) e 13,33% apenas em diurno. Foram utilizados dois questionários para a coleta de dados: o ISSL - Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp [8], com sua devida autorização, e o Inventário de Dor de Wisconsin [9] adaptado pela pesquisadora e analisado pelo seu orientador. O ISSL identifica a sintomatologia que o indivíduo apresenta, avaliando se ele possui sintomas de estresse, o tipo de sintomas existentes (se somáticos ou psicológicos) e a fase de estresse em que se encontra. O questionário é composto de três partes que se referem respectivamente às três fases do estresse: alerta, resistência e exaustão. O ISSL pode ser requisitado e avaliado tão somente por profissional da área da saúde com formação no curso específico, sendo esse desenvolvido e promovido pela própria criadora do instrumento, na cidade de Campinas (SP). A autorização para a realização da pesquisa foi requisitada por Carta de Solicitação, ao Major Comandante Oficial do GRPAe, unidade Campo de Marte, seguida de uma cópia do Projeto de Pesquisa. Após a aprovação do Projeto de Pesquisa pelo Comitê de Ética da UMC, a entrega dos questionários foi feita por intermédio de um Tenente Psicólogo da corporação, sendo esse responsável eleito pelo Capitão Médico da Corporação. Após o reconhecimento do Termo de Consentimento e mediante a assinatura da Declaração do Voluntário, cada participante recebeu uma cópia do Termo de Consentimento e uma outra da Declaração de sua participação voluntária. A coleta dos dados foi estabelecida para dia e horário prédeterminados pelo Major Comandante Oficial da Corporação após serem reunidos todos os instrumentos em data instituída aos pilotos para a entrega do material. O dados obtidos foram organizados em planilhas do software Excel, considerando o nível de significância de 0,05 índice compatível com as ciências contemporâneas na área da saúde para garantir a validade do resultado da pesquisa e assegurar a confiabilidade do saber geral, utilizando-se para a análise estatística o coeficiente de correlação de Pearson. Este cálculo foi realizado para determinar a correlação linear entre Estresse e Dor. O coeficiente “r” varia de -1 a +1, com o valor 0 (zero) significando que as duas variáveis não variam em conjunto. Resultados Dos 15 participantes, 60% relataram ter sentido algum tipo de dor ou desconforto musculoesquelético relacionado 1/2/2006 18:50:14 46 ao trabalho, enquanto 40% eram assintomáticos de dor. O Gráfico 1 apresenta o porcentual de sintomas relatados pelos sujeitos sintomáticos por região corporal, na qual se obteve maior concentração dos sintomas nos membros superiores (53,3%), onde a região de ombros prevaleceu com 34,4%. Em membros inferiores, a concentração foi de 50% com destaque para a região de coluna lombar (25%). Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 a fase “alerta”; e a fase de “quase-exaustão” foi singular sob o aspecto da sintomatologia psicossomática do indivíduo participante. Gráfico 3 - Porcentual dos sujeitos em cada fase do estresse, segundo critério diagnóstico do ISSL. Gráfico 1 - Porcentual dos sintomas de desconfortos musculoesqueléticos apontados por regiões corporais. O Gráfico 4 retrata a sintomatologia de estresse prevalente encontrada entre os sujeitos sintomáticos. A natureza psicológica dos principais achados sugere o desgaste mental da profissão, uma vez que todos os sujeitos sintomáticos de estresse referiram algum tipo de dor. Porém, cabe ressaltar que dos sintomáticos de dor nem todos tinham estresse. Quanto à intensidade de dor na última semana, 20% citaram como forte, 20% como moderada e outros 20% como fraca (Gráfico 2). Sendo a dor fraca caracterizada pelo apontamento de uma única região; já para as intensidades moderada e intensa pelo menos duas regiões foram citadas no diagrama do corpo humano. Dos assintomáticos de dor/desconforto na última semana (40%), a presença de dor após um dia de trabalho se deu em região lombar (70%) ou em região de ombros (30%), encontrando-se as regiões apontadas unicamente. Dos sintomáticos de dor na última semana, porém sem sintomas de estresse, a prevalência de dor deu-se 66,6% em ombros e lombar concomitantes com variações apenas em intensidades, e 33,3% apenas em ombro, não havendo apontamento único para lombar. Gráfico 2 - Porcentual das diferentes intensidades de dor caracterizadas pelos pilotos na última semana. Gráfico 4 - Sintomatologia predominante apresentada pelos pilotos com estresse positivo. O gráfico 5, considerando-se nesse estudo os valores numéricos: 1 = “não tem estresse”; 2 = “resistência”; e 3 = “quase exaustão”, a correlação para estresse e dor na última semana foi positiva moderada (r = 0,61), ou seja, os sintomáticos de estresse relataram algum tipo de dor musculoesquelética. Gráfico 5 - Correlação entre nível de estresse e percepção de dor (EVA) presente na última semana. O Gráfico 3 demonstra o diagnóstico do estresse por caracterização da fase em que se encontram o sujeitos sintomáticos, sendo que 60% dos participantes do estudo não apresentaram estresse, enquanto 40% situaram-se de forma prevalente na fase de “resistência”. Não houve registro para Fisioterapia_v7n1.indb 46 1/2/2006 18:50:15 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 O maior índice de correlação desse estudo deu-se no grupo sintomático de estresse e de dor (r = 0,90) em relação ao tempo de trabalho no GRPAe como piloto de helicóptero, como demonstra o Gráfico 6. Vale salientar que nesse grupo comportam-se os sujeitos, entre os quais, com maior experiência de trabalho de atividade aérea. Gráfico 6 - Correlação entre tempo de trabalho (meses) e escala de dor (EVA) referida na última semana. O Gráfico 7 monstra as alterações gerais para melhor visualização da presença de qualquer alteração no desempenho das AVDs na última semana, tanto em sujeitos sintomáticos de dor como em assintomáticos. Gráfico 7 - Caracterização em alterações, total ou parcial, nos desempenhos das AVDs na última semana. Discussão As prevalências encontradas nessa investigação suportam as hipóteses levantadas na literatura [7, 10, 11] no tocante as influências dos fatores de riscos ocupacionais na higidez dos pilotos de helicópteros, repercutindo, assim, na qualidade de vida desses trabalhadores e, conseqüentemente, na segurança de vôo. Os fatores associados ao estresse também foram consistentes com os achados nesses estudos, incluindo fatores importantes como tempo de carreira, idade e aspectos da organização do trabalho como a produtividade. Dentre as regiões corporais mais acometidas nos sujeitos sintomáticos de dor após um dia de trabalho estão as regiões Fisioterapia_v7n1.indb 47 47 de coluna cervical, citados ombros e pescoço com 47% das queixas, e a coluna lombar (25% das queixas). Essas regiões foram também identificadas como relevantes em outro estudo [12], acrescentando-se os sintomas de membro inferior (3,1% das queixas de dor em regiões de tornozelos e pés), que se destacou nesse estudo com taxa semelhante ao das queixas em regiões de punhos e mãos (3,1%). Aparentemente, o desconforto ou dor nas regiões de colunas cervical (ombros e pescoço) e lombar são decorrentes das posturas adotadas por esses profissionais durante a atividade de pilotagem do helicóptero. Na maior parte do tempo da atividade aérea, os tripulantes de comando mantêm o cotovelo direito em flexão e sem apoio para o antebraço, submetido à posição neutra para preensão do cíclico. Além disso, ocorre uma contração isométrica dos músculos do pescoço, coluna vertebral e membro superior, visando a estabilização do braço, de maneira a permitir que os movimentos precisos da mão sejam realizados. Também, para manter o olhar sobre o painel de instrumentos, acomodando ainda o suporte capacete de proteção, a manutenção da postura estática dos segmentos corporais proximais à cabeça requer considerável nível de contração muscular isométrica, o que predispõe a ocorrência de fadiga e desconforto muscular nessa região [12-15]. Uma outra possibilidade para a ativação muscular nãovoluntária isométrica é a atividade muscular exercida com a finalidade de estabilizar a cabeça, ombros e braços, visando permitir os movimentos de punhos e mãos. Essa ativação muscular contínua gera mudanças metabólicas locais que podem levar a um padrão reflexo de propagação da dor [1,16]. Por meio desse mecanismo, à medida que as fibras começam a se tornar fatigadas, outras fibras em cadeia são ativadas reflexamente, que também serão sobrecarregadas em decorrência da alta demanda física e cognitiva do trabalho. No que diz respeito às variáveis envolvendo tempo de exposição ao trabalho (anos de profissão, horas de vôo CIV), estresse e dor na última semana, a correlação significativa de 0,90 demonstra que níveis de estresse nas fases de “resistência” e “quase-exaustão” desencadeiam sintomas psicossomáticos. Contudo, a correlação moderada entre estresse e dor na última semana (r = 0,61), demonstra que dor e estresse podem ou não estar presentes concomitantemente. Ou seja, nos sujeitos assintomáticos de estresse (60%), três sujeitos não relataram qualquer tipo de dor na última semana (33,3%); outros três (33,3%) não referiram dor na última semana, porém, a memória subjetiva da dor, após um dia de trabalho, indicou duas citações para dor lombar e uma para região dos ombros. Já os assintomáticos de estresse, porém, com dor na última semana (33,3%), relataram diferentes intensidades da dor, sendo as regiões lombar e cervical as mais indicadas. Nos sujeitos sintomáticos de estresse (40%), todos referem qualquer tipo de dor na última semana. Embora a sintomatologia psicológica de estresse foi prevalente no grupo em fase de “resistência”, o sujeito na fase de “quase-exautão” 1/2/2006 18:50:16 48 apresentou igualmente sinais físicos e psicológicos de estresse. Entre esses sujeitos estão os relatos de dor referida, em regiões de cabeça, mãos, abdominal, coxa, tríceps sural e pés, comumente indicados no questionário de Wisconsin. Portanto, considera-se uma evidência desse estudo que as fases de “resistência” e de “quase-exaustão”, que se caracterizam por sintomatização de alterações fisiológicas decorrentes da percepção de um agente estressor, por um período superior a uma semana, demonstrando uma incapacidade psico-comportamental de enfrentamento da situação ou do agente de estresse e/ou uma sobrecarga orgânica devido à alta demanda cognitiva [7]. O fato de não haver nesse estudo a caracterização da fase “alerta” de estresse pode ser um indicativo de que os sujeitos assintomáticos de estresse, porém com memória da dor após um dia de trabalho, apresentem essa qualificação transitória. Pois, a fase de alerta é caracterizada por sintomas alarmes de cansaço que regridem após um período de repouso, restabelecendo-se, assim, a homeostase. Contudo, essa possibilidade não é uma afirmativa dessa análise. O estresse tal qual é compreendido na literatura trata-se de um processo, abrangendo esferas do complexo social-individual, ou seja, a forma com que o sujeito age e interage em seu ambiente de convívio com o outro e consigo mesmo. A fase de “alerta” pode ser caracterizada como o instante em que o organismo percebe o agente estressor e ativa o sistema de “luta ou fuga”, reagindo com a liberação de adrenalina pelo Sistema Nervoso Autônomo Simpático, desencadeando hiper-ventilação, taquicardia e elevação da pressão arterial. Na fase de “resistência”, há uma latência do agente estressor com o organismo, que utiliza as reservas de energia adaptativa, caracterizando falta de concentração, mal-estar e dúvidas quanto a si mesmos, tornando o indivíduo mais suscetível a doenças. A fase de “quase-exaustão” qualifica o organismo enfraquecido, com manifestações de algumas patologias não tão graves, com baixa energia adaptativa à demanda do trabalho [17]. Conclusão Portanto, esse estudo sobre o trabalhador piloto de helicóptero reporta ao estresse no ambiente de trabalho como uma desordem psicofisiológica, de natureza cumulativa, em face ao desempenho das tarefas e uma sensação de indisposição às altas exigências da atividade profissional. A correlação apreciável desse estudo (r = 0,90) para os itens dor e tempo de trabalho no GRPAe aponta para a relação estresse e dor no ambiente de trabalho, comprovando que quanto mais tempo de profissão, tanto maior apresentam-se a prevalência e a intensidade de sintomas dolorosos musculoesqueléticos. Fisioterapia_v7n1.indb 48 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Referências 1. Walsh IA, Gil Coury H. Evolução espontânea de sintomas musculoesqueléticos relacionados ao trabalho: um estudo prospectivo. Rev Bras Fisioter 2002;6(3):155-158. 2. Rosa GMM, Souza VCS, Pistarino LD, Gaban GA, Serafim AD, Faria ETB. Análise da influência do estresse no equilíbrio postural. 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O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre os fatores que interferem na reabilitação protética de idosos com AMI. Os fatores reportados na literatura, com impacto na reabilitação de idosos com AMI, foram: idade, nível e tipo de amputação, comorbidades, cicatrização, reamputações, condições físicas, psicológicas e cognitivas. Orientações pré e pós-operatórias, cuidados com o coto e a escolha da prótese também interferem no sucesso da reabilitação. De acordo com a literatura, inúmeros fatores podem interferir na protetização do idoso com AMI. Contudo, o sucesso na reabilitação pode ser alcançado desde que as propostas terapêuticas considerem as características peculiares dessa população. Lower limb amputation (LLA) represents a significant impact to the elderly functional capacity, with consequences in their quality of life. The use of prosthesis for geriatric patients provides them with a greater independence and improved life expectancy. However, the prosthetic rehabilitation of elderly with LLA is a complex task, with several aspects that should be considered. The aim of this study was to make a literature review about the aspects that influence the prosthetic rehabilitation of the elderly with LLA. The aspects reported in the literature which have impact on the elderly with LLA rehabilitation were: age, level and type of amputation, co-morbidities, scarring, reamputation, physical, psychological and cognitive conditions. Pre and post surgery recommendations, caring of the stump and the selection of the prosthesis also influence the rehabilitation success. In accordance with the literature, innumerable aspects can influence the prosthetization of elderly with LLA. However, success in rehabilitation can be achieved provided the therapeutic approaches take into account the particularities of this population. Palavras-chave: idoso, amputação, reabilitação, próteses. Key-words: aged, amputation, rehabilitation, prostheses. Introdução O fenômeno de crescimento da população idosa brasileira é acompanhado por um aumento na prevalência de doenças crônico-degenerativas [1,2]. Neste contexto, as vasculopatias periféricas assumem um lugar de destaque entre as causas de incapacidade e óbito em idosos, sendo apontadas pela literatura como as principais responsáveis pelas amputações de membros inferiores (AMI) nestes indivíduos [2-4]. As AMI representam um importante impacto sócio-econômico, com diminuição da capacidade funcional, de socialização e conseqüentemente, da qualidade de vida do indivíduo [5-8]. Além disso, o mito de que idosos não possuem perspectiva de protetização acaba conduzindo-os à inatividade e ao declínio funcional. Artigo recebido em 15 de dezembro de 2004; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Daniele Sirineu Pereira, Rua Rio de Janeiro, 1186/1704 Centro 30160-041 Belo Horizonte MG, Tel: (31)32245923/8821-1228, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 49 1/2/2006 18:50:18 50 Embora o prognóstico do idoso amputado seja permeado por uma alta taxa de mortalidade, vários estudos têm demonstrado otimismo em relação à reabilitação funcional desses pacientes após a amputação [6,9-12], mesmo que as metas sejam menos ambiciosas. A utilização de dispositivos protéticos por pacientes geriátricos promove maior independência funcional, autonomia e aumento da expectativa de vida dos idosos com AMI [13-15]. Entretanto, é necessário considerar a complexidade do processo de reabilitação protética (RP) de um idoso, pois geralmente, além da amputação, outras comorbidades estão presentes nesses indivíduos [3,13,16,17]. O presente estudo teve como objetivo fazer uma revisão bibliográfica sobre os fatores que interferem na RP de idosos submetidos à AMI. Material e métodos As bases eletrônicas de dados Medline, Lilacs e Scielo foram pesquisadas, com busca restrita ao período de 1993-2004. As palavras-chave utilizadas foram elderly, amputation, lower limb, rehabilitation, prosthetic. A busca restringiu-se a artigos publicados em inglês e português, cujas pesquisas fossem realizadas com humanos de faixa etária acima de 60 anos de idade. A seleção dos artigos foi realizada por meio dos seguintes critérios: 1. população: idosos amputados de membros inferiores; 2. etiologia da amputação: vasculopatia periférica, uma vez que a maioria das amputações na população geriátrica ocorre devido às mesmas; 3. tipo de amputação: unilateral ou bilateral; 4. nível da amputação: transtibial, transfemural ou desarticulação do quadril; 5. desfecho investigado: ênfase no processo de reabilitação. Foram encontrados 58 artigos científicos, sendo incluídos 35 pela concordância com os critérios definidos, dentre eles ensaios clínicos experimentais ou quasi-experimentais, estudos transversais e relato de caso. Resultados Para que um programa de reabilitação tenha sucesso, o idoso deve passar por uma avaliação pré-operatória minuciosa em que condições clínicas, como situação física e mental, e condições sócio-econômicas do indivíduo devem ser consideradas. A análise de tais fatores contribui não só para determinar o melhor nível de amputação, mas para estabelecer objetivos realistas para reabilitação [16]. Os fatores reportados na literatura que podem interferir, com grande impacto, na reabilitação de idosos com AMI foram a idade elevada, o nível e tipo de amputação, a integridade da pele, a presença de comorbidades, reamputações, além do declínio das condições físicas, psicológicas e cognitivas [9,13,14,17,18]. A idade encontra-se fortemente relacionada à presença de comorbidades e à motivação, variáveis que interferem no resultado da reabilitação do idoso [7]. Fisioterapia_v7n1.indb 50 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Ao investigar a influência da idade avançada na RP de amputados, Kerstein et al. [19] verificaram que esta se relacionou com níveis mais altos de amputação, incidência de amputações bilaterais e maior tempo necessário para a reabilitação. Sakuma et al. [11] constataram que a maioria dos amputados idosos capazes de deambular com a prótese era 10 anos mais jovem, em comparação àqueles que não conseguiram a marcha. Flecher et al. [20] identificaram a idade avançada como um preditor negativo para o sucesso com prótese, enquanto Bilodeau et al. [10] observaram que a utilização do dispositivo protético decresce com a idade. Entretanto, mesmo o aumento da idade sendo apontado como um dos principais fatores que interferem na RP, ele sozinho não é contra-indicação para tal [3,9,11]. Em um estudo de caso, duas idosas com mais de 90 anos, com amputação transtibial por doença vascular periférica (DVP), conseguiram marcha comunitária, apesar de infecções recorrentes do coto e comprometimentos circulatórios severos [12]. Em relação aos tipos de AMI, unilateral ou bilateral, Sakuma et al. [11], considerando a capacidade de deambular com a prótese, encontraram taxas de sucesso de 78% nas amputações transtibiais bilaterais e de 15% nas transfemorais bilaterais. De Fretes et al. [21] reportaram que 80,6% dos amputados bilaterais foram protetizados ainda no hospital. Já em um estudo brasileiro, Diogo [22] verificou que 58% dos idosos com AMI unilateral foram protetizados, contra 22% dos idosos com AMI bilateral, sendo que nestes últimos a dependência funcional foi maior. O nível de amputação aparece como um dos parâmetros mais fortes para obtenção de sucesso com a prótese [9,13,18,20]. No estudo de Leung et al. [13], do grupo considerado sucesso na RP, 76% eram amputados transtibiais e apenas 20%, amputados transfemorais. Em uma análise prospectiva sobre o sucesso da RP de 116 idosos com AMI, 100% dos amputados transtibiais foram protetizados, sendo que destes, 73% deambulavam com a prótese por tempo integral. Em contraste, 73% dos indivíduos amputados transfemorais colocaram a prótese, e destes apenas 50% deambulavam com a prótese por tempo integral. A taxa de protetização dos amputados bilaterais neste estudo foi de 83%, sendo que 27% destes utilizavam a prótese por tempo integral [9]. Em um estudo com 241 pacientes idosos com AMI, não ocorreu relação entre o nível de amputação e a existência ou não de diabetes, nível de atividade de vida diária (AVD), mobilidade e cognição no período pré-operatório [4]. Níveis de amputação acima do joelho associaram-se a um risco maior de quedas [23], à baixa confiança no equilíbrio e menor mobilidade protética em relação àqueles com amputações abaixo do joelho [24]. Estudos relatam correlação negativa entre o número de comorbidades e maiores níveis de independência na deambulação e sucesso no uso da prótese [13,17,25]. Na literatura, os fatores associados ao insucesso na RP foram doenças 1/2/2006 18:50:18 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 cardiopulmonares e cerebrovasculares; alterações visuais e comprometimento cognitivo [9,14,26]. Entretanto, Steimberg et al. consideram que a protetização do idoso apenas seria contra-indicada quando essas comorbidades estão em estágio severo o suficiente para impor rígidas limitações na tolerância ao esforço [27]. Não se observou vínculo entre a presença de diabetes com o processo de adaptação com a prótese e o desempenho funcional entre indivíduos com AMI [7,14], assim como não foram constatadas diferenças na prevalência do nível de amputação e na presença de comorbidades entre amputados diabéticos e não diabéticos [8]. Davis et al. [16] referem que as contraturas da articulação do joelho dificultam e podem, até mesmo, impossibilitar o uso da prótese, corroborando com o estudo de Fletcher et al. [20], em que as contraturas em flexão também constituíram um fator para o insucesso no uso da prótese. O estudo de Melchiorre et al. [25], ao avaliar o índice de independência funcional e o tempo de reabilitação de amputados de etiologia vascular e traumática, não demonstrou diferença entre os dois grupos. Do mesmo modo, a causa da amputação não afetou o tempo gasto na reabilitação em estudo de Scremin et al. [28]. A integridade da pele do membro residual exerce influência relevante na colocação da prótese [9,14,20]. McWhinnie et al. [14] relatam que a má cicatrização do coto ocorreu em 25% dos pacientes amputados abaixo do joelho, enquanto que não houve problemas de cicatrização nas AMI acima do joelho. Já em um estudo de Scremin et al. [28], o maior tempo para a cicatrização se associou mais à idade do que à causa da amputação. A presença de infecção e úlceras no coto foi descrita como fator relacionado ao atraso na adaptação da prótese [11,14], à falha na RP [9] e à menor funcionalidade no momento da alta da reabilitação [25]. A ocorrência de reamputações em idosos com AMI também é um fator relevante na RP desses indivíduos, sendo apontada como um dos motivos para o insucesso no uso da prótese [18,20]. Estudos demonstram que, após 5 anos de amputação de causa vascular, o risco de se perder o membro contralateral é de 20 a 50% [3], enquanto a taxa de reamputação, após 8 anos, para um nível mais alto, foi de 44% e de 66%, considerando também a perda do membro contralateral [29]. McWhinnie et al. [14] verificaram que o número de reamputações foi maior entre os pacientes diabéticos quando comparado aos pacientes não diabéticos. A presença de fatores como idade, sexo, dor residual, gangrena, diabetes, doença isquêmica do coração, tabagismo e reconstrução vascular prévia não influenciaram a independência com a prótese [7,30,31]. Já o VO2 máx mostrou-se relevante preditor da capacidade funcional e do sucesso na RP de amputados por DVP [32]. Campbell e Ridler [33] encontraram o nível de mobilidade e a independência no período anterior à amputação como bons preditores para indicar o uso da prótese por pacientes com AMI devido à DVP. Fisioterapia_v7n1.indb 51 51 Também indicadas na literatura como fatores fundamentais no sucesso da RP, são as orientações dadas aos pacientes antes e após a cirurgia de AMI. Diogo [34] menciona que orientações quanto à higiene, realização adequada do curativo e enfaixamento, posicionamento e exercícios são procedimentos essenciais para o bom preparo do coto, visando à colocação da prótese. A escolha adequada da prótese é outro aspecto importante ao se iniciar a RP. Critérios como idade, peso, nível de amputação, estado geral do coto, condições físicas, nível de atividade física, ocupação do paciente, ambiente de moradia e trabalho, condições econômicas, a aparência do dispositivo protético, assim como as peculiaridades de cada indivíduo devem ser consideradas no momento da protetização [35,36]. A observação de todos estes critérios facilita a adaptação e a aquisição da prótese [35]. Outro fator que parece interferir no uso da prótese é a utilização da cadeira de rodas (CR), pelo idoso, como primeira opção para a locomoção. O uso da CR entre os idosos com AMI é muito comum, mesmo em indivíduos com condições de iniciar a marcha com andador ou muletas. Tal fato leva o paciente a acomodar-se, não desenvolvendo sua habilidade para a marcha e posterior protetização [37,38]. Em um estudo de Bilodeau et al. [10], o fato de o indivíduo possuir CR não contribuiu para o menor uso da prótese. A experiência de quedas, o medo de cair e a falta de confiança no próprio equilíbrio são prevalentes entre indivíduos comunitários com AMI [23,24]. Entretanto, Miller et al. [24] verificaram que a baixa confiança no próprio equilíbrio foi o único fator que afetou a mobilidade com a prótese e o nível de participação social. A experiência com quedas e o medo de cair não exercem influência significativa na mobilidade protética [24]. Discussão Mesmo que a reabilitação de idosos com AMI apresente inúmeras dificuldades, um percentual significativo desses pacientes pode obter sucesso com a RP, tornando-se independente na deambulação com a prótese, no auto cuidado e, assim, retornar à vida comunitária. Atualmente, a taxa de sucesso na RP de idosos varia entre 30 e 60%, dependendo principalmente do nível da amputação [9,29]. Quanto mais proximal a amputação, maior é o gasto energético para deambulação com a prótese, dificultando o seu uso pelos idosos. Tal dificuldade ocorre pela prevalência de doenças cardiopulmonares e a baixa tolerância ao exercício na população geriátrica. Dessa forma, idosos com AMI proximais obtêm menor sucesso na deambulação com a prótese, pois o esforço exigido durante a marcha pode exceder a sua capacidade física [9,11,32]. Além disso, a perda do joelho aumenta a demanda energética, diminui a propriocepção, o equilíbrio e a eficiência da marcha [39]. A preservação do joelho, portanto, é importante 1/2/2006 18:50:19 52 para a RP, pois diminui o gasto energético e, biomecanicamente, minimiza as alterações do centro de massa, que ocorrem durante a marcha e as transferências [39]. Apesar da reserva cardiopulmonar muitas vezes limitar a capacidade de deambulação do idoso com a prótese, é necessário considerar os outros benefícios proporcionados pelo uso da mesma, como a realização de atividades de vida diária básicas, garantindo um mínimo de funcionalidade para o paciente. Bilodeau et al. [10] constataram que 83% dos idosos com AMI estavam satisfeitos com a prótese, mesmo aqueles com baixo nível de atividade. Além disso, o dispositivo protético promove melhor imagem corporal, ajudando-os a desenvolver confiança em suas habilidades físicas [10]. Nos estudos revisados, as comorbidades encontradas como principais preditores de insucesso foram doenças cardiopulmonares e alterações cognitivas [9,11,19,27]. Alguns autores são de opinião que os idosos com comorbidades não estão aptos à protetização, enquanto para outros, a gravidade da comorbidade é o que determina se o paciente é candidato ou não à protetização [14,20,27]. Dessa forma, não existe na literatura um consenso sobre a maneira de se identificar com clareza um candidato potencial para colocação da prótese. Isso reafirma a necessidade de uma avaliação criteriosa sobre as reais condições de saúde do idoso amputado para se descartar a possibilidade de protetização. Os achados de Miller et al. [24] acerca da baixa confiança no equilíbrio em amputados de membro inferior também sugerem que tal condição deve receber atenção especial no processo de reabilitação. Um programa constituído por atividades que desenvolvam força, coordenação e equilíbrio pode aumentar ou, até mesmo, restabelecer a confiança do indivíduo em seu equilíbrio, promovendo maior funcionalidade e participação social. A presença de contraturas constitui um problema especial no processo de RP, podendo se desenvolver antes mesmo da amputação e, em muitos casos, torna-se um fator impeditivo para colocação da prótese. Todavia, as contraturas são evitáveis através do posicionamento adequado do membro acometido e da abordagem fisioterapêutica, medidas que podem ser implementadas precocemente, antes mesmo da amputação. Ainda que a dificuldade de protetização em idosos amputados bilaterais seja maior, esta não é uma condição que contra-indica o uso de prótese nesta população. Considerando todos os fatores que interferem no uso da prótese, a percentagem de idosos amputados bilaterais protetizados é bastante significativa. Um ponto em comum em todos os estudos foi o uso de dispositivos de auxílio à marcha por estes pacientes, fato que pode ter contribuído para o sucesso da reabilitação desses indivíduos. Outro fator que influencia negativamente a reabilitação de idosos com AMI é o grande número de reamputações nesses indivíduos [11,18,20]. Atualmente, o que parece acontecer é a opção por uma amputação primária proximal, mesmo que Fisioterapia_v7n1.indb 52 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 a protetização de um idoso amputado transfemoral seja mais difícil. De acordo com os estudos revisados, isto ocorre, principalmente, para se evitar reamputações e conseqüentemente maior tempo de internação e declínio funcional. Adunsky et al. [4] reportam que a opção por uma amputação proximal é resultado de um alto grau de comprometimento e gravidade das doenças vasculares nos idosos e da alta incidência de infecções no coto no pós-operatório. Estudos indicam que a amputação primária em um nível proximal aumenta a chance de sucesso na recuperação no período pós-amputação e a relacionam a uma menor necessidade de reamputação [11,30]. O aumento da idade também se mostrou como um fator relevante na reabilitação de idosos com AMI [10,20,28]. No entanto, apesar das prováveis dificuldades, o idoso de idade mais avançada com AMI não está fadado ao fracasso na colocação de uma prótese. Resultados positivos na reabilitação protética de pacientes geriátricos, em muitos estudos, confirmam que a idade avançada como fator isolado não é contra-indicação para o uso da prótese [9,11,12]. Contudo, para o sucesso na protetização de indivíduos idosos é imprescindível um enfoque amplo e específico que respeite o tempo e as limitações dos mesmos. Em alguns estudos, foi encontrada relação entre idade e tempo necessário para reabilitação [19,28], evidenciando que o idoso exige um tempo maior para obter sucesso com a prótese. Segundo Scremin et al. [28], tal achado mostra o grande investimento necessário para que o idoso chegue a um nível de independência satisfatório, o que só pode ser obtido através da internação do paciente ou de tratamento ambulatorial intensivo. Assim, uma reabilitação bem feita é um ponto chave para o sucesso no uso da prótese por um amputado de membro inferior, principalmente se este é um idoso com múltiplos acometimentos. Fletcher et al. [20] relataram que de 199 pacientes idosos, 74% daqueles com amputação unilateral, reabilitados em uma clínica especializada, obtiveram sucesso com a prótese, em contraste com 9% que não receberam reabilitação especializada. Adunsky et al. [4], ao encontrarem resultados insatisfatórios quanto a protetização de idosos com AMI, consideraram que o tempo para a reabilitação foi insuficiente e que a solução seria um período maior de treinamento funcional. De acordo com a literatura, existe uma grande probabilidade de sucesso na protetização de pacientes geriátricos. Entretanto, a indicação de prótese para esses pacientes não deve ser generalizada, sendo necessário o conhecimento dos fatores que interferem na protetização e no uso da prótese, ponderando custo/benefício, para realização de uma reabilitação mais realista e sem tentativas frustrantes. Sobretudo, torna-se evidente a necessidade de uma equipe multidisciplinar experiente e bem treinada envolvida no processo de reabilitação do idoso amputado. Os demais fatores, como integridade da pele, hábitos sociais, nível de mobilidade e independência anteriores à 1/2/2006 18:50:20 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 amputação, orientações recebidas no pré e pós-operatório, quedas e medo de cair e demais condições físicas, psicológicas e cognitivas são achados muitas vezes isolados que não permitem conclusões quanto ao seu real impacto na RP dessa população. Conclusão A variedade de instrumentos e definições utilizadas nos estudos para definir a adaptação com a prótese, o sucesso na reabilitação e demais variáveis constituíram uma dificuldade para a comparação entre os resultados e a determinação da relevância dos fatores que interferem significativamente na reabilitação de idosos com AMI. O que existe é uma grande similaridade dos achados e uma tendência dos resultados em favor da presença de comorbidades, idade, reamputações, tipo e nível de amputação como os principais fatores que interferem na protetização de idosos com AMI. Referências 1. Ramos LR, Rosa TEC, Oliveira ZM, Medina MCG, Santos FRG. Perfil do idoso em área metropolitana na região sudeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Rev Saúde Pública 1993;27(2):87-94. 2. DATASUS. Informações do Datasul; base de dados. [citado 2004 jul 7]. Disponível em URL: http://www.datasus.gov. br/tabnet/tabnet.htm 3. Cutson TM, Bongiorni DR. 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Os estudos apresentados recomendam a prática do exercício físico para auxiliar o processo de regeneração muscular, embora algumas variáveis como tempo de início, duração, intensidade e tipo de exercício devam ser alvos de pesquisas futuras. One of the best advance in the treatment of skeletal muscle injuries are related to the knowledge that exercise is important to improve muscle healing, while the use of inactivity can impair the healing process. The aim of this review is to present the mechanisms involved in the muscle regeneration and also to show the results of studies related to the effect of mobilization in the treatment of these muscle injuries. The studies suggest to use the physical exercise to improve the muscle regeneration process, although some variables such as the early or late onset, duration and intensity of exercise and the type of exercise should be studied in more detail. Key-words: muscle lesion, mobilization, immobilization, muscle regeneration. Palavras-chave: lesão muscular, mobilização, imobilização, regeneração. Introdução As lesões musculares representam um grande número de lesões esportivas, profissionais e recreacionais. Estas lesões ocorrem através de vários mecanismos que variam do trauma direto, incluindo laceração e contusão muscular, até lesões indiretas associadas à distensão, isquemia e disfunções neurológicas [1]. O diagnóstico e o tratamento inapropriado dessas lesões podem comprometer a participação do atleta no treinamento e na competição. Deste modo, não é surpresa que profissionais da área de medicina esportiva estejam empenhados em descobrir como favorecer e acelerar a recuperação de lesões musculares. Nestas circunstâncias, a questão da imobilização x mobilização pós-lesão apresenta crescente atenção, tanto na prática clínica quanto em pesquisas experimentais. Um dos mais importantes avanços no tratamento das lesões musculoesqueléticas provém da compreensão de que o início rápido da atividade pode promover a recuperação da função, enquanto o tratamento desta com repouso prolongado poderá retardar a recuperação desfavorecendo a regeneração muscular [2]. Entretanto, algumas variáveis como intensidade, duração e início do exercício ainda merecem estudos, pois existe divergência na literatura em relação ao melhor protocolo de exercício realizado após lesão muscular. Sendo assim, a fim de apresentar o efeito da mobilização no tratamento das lesões musculares, este artigo de revisão primeiramente estabelece os mecanismos envolvidos na regeneração muscular e posteriormente apresenta resultados de estudos relacionados ao uso da mobilização em músculos previamente lesados. Artigo recebido em 15 de abril de 2005; aceito em 15 de novembro de 2005. Endereço para correspondência: Profa. Dra. Viviane Balisardo Minamoto, Curso de Mestrado em Fisioterapia, Universidade Metodista de Piracicaba, Rodovia do Açúcar, Km 156 Campus Taquaral 13417-530 Piracicaba SP, Tel: (19) 3124 1558, Fax (19) 3124 1659, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 55 1/2/2006 18:50:23 56 Para isso, foi realizada uma busca na base de dados Medline (palavras-chaves utilizadas: skeletal muscle injury, mobilization, immobilization, healing process), no período de 1985 a 2003, complementada com a busca de estudos citados nessas referências bibliográficas. Regeneração muscular O músculo esquelético é capaz de notável regeneração após lesão. Diferentes eventos ocorrem para ativar a completa regeneração muscular: fagocitose de fragmentos musculares, revascularização, ativação, proliferação e diferenciação de células precursoras musculares e reinervação [3]. Nos modelos experimentais de lesão muscular, a natureza da lesão determina a extensão na qual a revascularização, fagocitose, reinervação e miogênese devem ocorrem para regenerar o músculo [4]. Com exceção da fagocitose das fibras fragmentadas, os eventos celulares e moleculares que ocorrem após lesão são semelhantes aos que ocorrem durante a miogênese do embrião. Inicialmente, a lesão causa dissolução do sarcolema que leva a rápida necrose da fibra muscular, com posterior aumento do número de células inflamatórias no local da lesão, sendo estas as principais características histopatológicas observadas na fase inicial do trauma muscular [5]. Assim, a fase inicial da lesão muscular é acompanhada pela ativação de células inflamatórias e miogênicas. Pesquisas recentes revelam que fatores liberados pelo músculo lesado ativam células inflamatórias intramusculares, que promoverão sinais quimiotáticos para células inflamatórias oriundas da circulação [5]. Os neutrófilos são as primeiras células inflamatórias a invadir o músculo lesado, liberando bradicinina, prostaglandina e histamina, causando vasodilatação e aumentando a permeabilidade dos pequenos vasos [6], aumentando em quantidade de 1-6 horas após a lesão e permanecendo presentes poucas horas após a lesão [5,7]. Após a infiltração de neutrófilos (~48h), os macrófagos tornam-se as células inflamatórias predominantes no local da lesão. Essas células mononucleares infiltram-se no local para fagocitar o tecido lesado, condição importante para a regeneração muscular [8], ativar e regular a atividade mitótica das células miogênicas [5,7], além de liberar fatores de crescimento após a lesão [9,10]. A degeneração é seguida pela ativação do processo de reparo muscular. A proliferação celular é um evento necessário para a regeneração muscular. A expansão das células miogênicas promove uma fonte suficiente de novos mionúcleos para o reparo muscular. As células miogênicas diferenciam-se e fundem-se às fibras lesadas para reparo e/ou formação de novas miofibras [5]. As células miogênicas responsáveis pela regeneração são as células satélites (CS), inicialmente descritas por Mauro [11]. Elas fazem parte de uma população de células com grande atividade mitogênica que contribui para o crescimento muscular pós-natal, reparo das fibras musculares danificadas Fisioterapia_v7n1.indb 56 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 e manutenção do músculo esquelético adulto. Foram assim denominadas por sua localização anatômica na periferia de fibras musculares multinucleadas maduras. São células indiferenciadas e mononucleadas, cuja membrana basal está em continuidade com a membrana basal da fibra muscular. Enquanto o tecido muscular esquelético mantém-se livre de agressões, as CS permanecem em estado de quiescência (repouso). Entretanto, em resposta a estímulos como crescimento, remodelação ou trauma, as CS são ativadas, proliferam-se e expressam marcadores da linhagem miogênica. Essas células se fundem a fibras musculares já existentes ou se fundem à CS vizinhas para gerar novas fibras musculares [12]. A revascularização é fator importante para o sucesso e formação de nova fibra muscular após uma severa lesão, levando nutrientes e oxigenação aos tecidos adjacentes para o reparo do tecido [9,13,14]. Deste modo, se a lesão levar a um comprometimento vascular, o processo regenerativo será mais lento, devido ao retardo da fagocitose pelas células inflamatórias [15]. Além do suprimento sanguíneo, a integridade da lâmina basal também é importante no sucesso da regeneração, servindo como base para a formação do novo miotubo (precursor das miofibrilas) e o desenvolvimento mínimo de fibrose [8]. Resumindo, para que aconteça a regeneração, o tecido muscular passa por três fases. A primeira é a de destruição ou inflamatória aguda (zero a sete dias), a qual é caracterizada por formação de hematoma, necrose miofibrilar e reação celular inflamatória. A segunda é a fase de reparo ou proliferativa (sete a vinte e um dias), a qual consiste de fagocitose do tecido necrosado, regeneração das miofibrilas, produção do tecido conectivo de cicatrização e crescimento capilar. Já a terceira e última fase, de remodelação ou maturação (após vinte e um dias), caracteriza-se pela maturação das miofibrilas, contração e reorganização do tecido de cicatrização e restauração da capacidade funcional muscular [13,16]. O exercício e a regeneração muscular O rápido e completo reparo do tecido muscular lesado é objetivo óbvio, principalmente em caso de lesões em atletas, justificando as tentativas experimentais para se encontrar um tratamento viável que favoreça o reparo do músculo. Durante muito tempo, a imobilização foi utilizada para o tratamento das lesões musculares, sendo que na prática clínica os membros lesados são imobilizados por tempo suficiente para resultar em atrofia das miofibrilas. Vários fatores podem afetar a severidade da atrofia, assim como idade, sexo, duração da imobilização, tipo de fibra predominante no músculo, grupo muscular e posição em que o músculo é imobilizado [17]. Além da atrofia, redução da força e flexibilidade muscular, a imobilização resulta em risco de nova lesão [18], fibrose intramuscular, perda de capilares, e várias alterações histoquímicas e bioquímicas [16], sendo que as alterações mais notáveis ocorrem durante a primeira semana de imobilização [19]. 1/2/2006 18:50:23 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Atualmente, os efeitos deletérios da imobilização são bem enfatizados e a mobilização tem sido favorecida como forma de tratamento, sendo sua superioridade, em relação à imobilização, documentada em vários estudos clínicos [20,21]. Deste modo, é bem estabelecido que o tratamento que utiliza a mobilização é importante para a regeneração da fibra muscular e para reativar a propriedade tênsil original do músculo. A mobilização provoca aumento do número de miotubos, rápido e intenso crescimento dos capilares, formação e orientação do tecido de cicatrização e ganho da força tênsil. Além disso, a força tênsil provida do exercício provoca alinhamento dos miotubos, transmitindo força de contração aos miofibroblastos no tecido de cicatrização, guiando o direcionamento e crescimento das miofibras [6,18]. Entretanto, trabalho prévio realizado por Sayers & Clarkson [22] avaliou o efeito da mobilização x imobilização após lesão muscular, não sendo encontrada diferença muscular funcional entre os dois protocolos de tratamento. Esses autores verificaram se exercícios leves poderiam resultar ou não em favorecimento da função dos músculos flexores do cotovelo, previamente lesados por exercício excêntrico. O exercício leve empregado foi um regime de atividade diária que promoveu aumento na atividade muscular sem induzir lesões adicionais. Os indivíduos submeteram-se a quatro dias de exercício diário de duas séries de 25 movimentos de flexo-extensão do cotovelo em toda amplitude de movimento, em velocidade lenta, cadência constante, com período de repouso de dois minutos entre as séries. Ambos os tratamentos, exercícios leves e imobilização, dois regimes de tratamento opostos, resultaram no favorecimento da recuperação da força isométrica máxima. Entretanto, os exercícios leves ainda reduziram os índices de dor muscular nos quatro primeiros dias do experimento quando comparado ao grupo imobilizado, que apresentou exacerbação do quadro álgico. Sendo assim, mesmo não havendo diferença da força muscular entre os dois regimes de tratamento utilizados, o exercício mostrou-se mais eficiente do que a imobilização em relação aos sintomas relacionados com a lesão muscular. Em outro estudo, Saxton & Donnely [23] mostraram que o exercício concêntrico leve, realizado durante 4 dias após lesão por exercício excêntrico máximo nos flexores do antebraço, teve benefícios tanto na recuperação da força muscular quanto no alívio da dor quando comparado ao grupo controle. Pesquisando também os efeitos de contrações concêntricas leves na lesão muscular, porém no músculo quadríceps femoral, Sorichter et al. [24] empregaram os exercícios no dia anterior a lesão e após duas horas, durando até 9 dias da carga excêntrica. Baseados em imagens obtidas por ressonância magnética, marcadores inflamatórios e creatina quinase (CK), eles observaram que as contrações concêntricas adicionais não tiveram efeito significativo na lesão muscular, sugerindo que o exercício concêntrico leve não acelera e nem prejudica o processo de regeneração muscular. Fisioterapia_v7n1.indb 57 57 A intensidade do exercício também foi alvo de estudos. Trabalho prévio mostra que as contrações excêntricas leves foram utilizadas como forma de tratamento durante o período de recuperação pós-lesão em flexores e extensores do cotovelo [25]. O exercício teve início no dia posterior à lesão, durante 14 dias. O grupo não exercitado apresentou dor e fraqueza muscular, alterações na flexibilidade articular e aumento dos níveis da CK no sangue. O grupo exercitado apresentou menores alterações em todos os parâmetros citados, sugerindo que a prática do exercício excêntrico leve após lesão foi benéfica para a recuperação muscular. Do mesmo modo, exercício de alta intensidade, como o exercício excêntrico máximo [26] foi empregado após lesão muscular, também induzida pelo exercício excêntrico. Neste trabalho a eletromiografia, entre outros marcadores de lesão muscular, foi utilizada para analisar a resposta muscular após exercício. O autor concluiu que uma segunda série de exercícios excêntricos máximos realizados após três dias não aumenta a lesão e não retarda a recuperação, mesmo sendo esta série de exercícios mais extenuante que a inicial. Estudos prévios utilizando o exercício excêntrico máximo apresentaram resultados similares, demonstrando que existe uma adaptação à carga, observada pela redução nos indicadores de lesão muscular (força, amplitude de movimento, dor, edema e circulação de proteínas no sangue) [27,28]. Uma outra variável bastante questionada em relação à mobilização é a determinação do início do retorno à atividade pós-lesão muscular. Embora muitos atletas e não atletas defendam a continuidade da atividade na presença de dor muscular, não é sabido se esta prática irá exacerbar a lesão ou favorecer a recuperação da função muscular. Baseado em evidências clínicas, existem fortes evidências de que o melhor tratamento por meio da mobilização é aquele no qual a atividade inicia-se após curto período de imobilização, variando de um a cinco dias pós-trauma, seguido então de mobilização [18]. A maioria dos autores revela que a mobilização imediatamente após a lesão pode causar novas rupturas e fraqueza do tecido na área lesada, devendo ser evitada nos primeiros dias após a lesão [18,21]. Estudos de Lehto et al. [29] e Clancy & Clarkson [30] sugerem que uma redução na atividade entre 3 a 5 dias é benéfica na recuperação da função muscular. Entretanto, esses resultados não foram encontrados por Gregory et al. [31]. Neste estudo, os autores compararam o resultado da atividade no reparo da contusão muscular resultante do trauma mecânico no tibial anterior do rato, empregando quatro regimes de exercício: corrida ou natação, sendo iniciadas imediatamente (após 1 hora) e após 72 horas da indução da lesão. O grupo controle não se exercitou. Em relação a duração das atividades, a corrida foi realizada em uma esteira com inclinação de 10º, a 25m/min, por 15 minutos, e a natação foi realizada com a mesma duração, utilizando-se carga equivalente a 2% do peso corporal para evitar a flutuação durante o exercício. Os animais exercitaram-se entre 1 e 32 dias. O processo 1/2/2006 18:50:24 58 de resolução da contusão muscular foi analisado por meio da contagem manual de eritrócitos, leucócitos e fibras colágenas. Os autores concluíram que a corrida com início imediato é o regime que mais favoreceu o processo de reparo da contusão muscular. Embora o emprego de qualquer regime de atividade tenha sido melhor que a não atividade, o início imediato mostrou favorecer o processo de reparo da contusão e a corrida demonstrou resultados superiores à natação. Conclusão Os estudos disponíveis limitam maiores considerações a respeito da mobilização por não existir uma variedade de pesquisas utilizando os mesmos protocolos de indução de lesão ou métodos para análise do processo de reparo muscular. Entretanto, os estudos apresentados mostram que, na maioria das vezes, a mobilização é um método muito favorável e eficaz para o tratamento de lesões musculares, tanto para a diminuição da dor quanto para a recuperação funcional do músculo. Deste modo, com base nos relatos apresentados, o exercício físico, recurso comum utilizado como parte do tratamento fisioterapêutico, deve ser recomendado para o auxílio no processo de regeneração muscular, embora algumas variáveis como tempo de início, duração, intensidade e tipo de exercício devam ser alvos de pesquisas futuras. Referências 1. Kasemkijwattana C, Menetrey J, Somogyi G, Moreland M, Fu F, Buranapanitkit B, et al. Development of approaches to improve the healing following muscle contusion. 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J Manipulative Physiol Ther 1995;18:72-8. 1/2/2006 18:50:25 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 59 Revisão Importância da conformidade dos equipamentos de ultra-som terapêutico com a NBR-IEC 1689 The importance of equipments accordance of therapeutic ultrasound with the NBR-IEC 1689 Elton Antônio Valentini*, Carlos Dias Maciel, D.Sc.**, Nivaldo Antonio Parizotto, D.Sc.*** *Mestrando, Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia, Escola Engenharia de São Carlos (EESC), Universidade de São Paulo (USP), São Carlos, São Paulo, **Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia, Escola Engenharia de São Carlos (EESC), Universidade de São Paulo (USP), São Carlos, São Paulo, ***Laboratório de Eletrotermofototerapia, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, São Paulo Resumo Abstract O ultra-som é um aparelho muito utilizado na prática clínica em fisioterapia. Estudos referentes a sua eficácia nas mais variadas doenças tratadas pela fisioterapia são freqüentemente publicados, adotando os mais variados parâmetros acústicos possíveis com o equipamento ultra-sônico para efetivar o tratamento. Do mesmo modo, muitos trabalhos com o intuito de caracterizar o campo acústico produzido por este equipamento, bem como avaliação deste campo acústico foram realizados. Grande parte dos trabalhos realizados com avaliação de equipamentos de ultra-som mostra que a maioria deles apresenta um ou mais parâmetros fora de calibração. O escopo deste artigo é alertar sobre a importância da calibração e familiarizar o fisioterapeuta com a NBR-IEC 1689, que é a norma em vigência no Brasil, que prescreve sobre o desempenho e os métodos de medição de campo acústico de aparelhos de ultra-som terapêutico com faixa de freqüência de 0,5 a 5 MHz. The ultrasound is a much used device on physical therapy clinical practice. Studies on its efficacy in a large group of diseases treated by physical therapy are frequently published, adopting many possible acoustic parameters with the ultrasonic equipment to obtain the cure. In a similar way many works that intend to characterize the acoustic field produced by this device, as well as the evaluation of ultrasound equipments show that most part of them brings two or more parameters out of the calibration. The scope of this paper is to advise the physical therapist on the importance of the calibration and the importance of this familiarization in accordance with the NBR-IEC 1689, which is the nowadays standard in Brazil that prescribes the performance and methods of measurement of acoustic field for therapeutic ultrasonic devices with frequency band from 0.5 to 5 MHz. Palavras-chave: instrumentação, normas, técnicas de fisioterapia, ultra-som. Introdução Dizer que o ultra-som é uma modalidade terapêutica freqüentemente utilizada na prática da fisioterapia é uma minimização da realidade. Pesquisas revelam números incontestáveis de sua importância na clínica. De acordo com Daniel & Rupert [1], nos Estados Unidos, 72,1% dos profissionais quiropratas entrevistados usam ultra-som em suas clínicas, já entre os fisioterapeutas o uso é de 94%, segundo Lindsay [2]. Key-words: instrumentation, standard, physical therapy technics, ultrasound. Segundo Roebroeck et al. [3] no Canadá 94% dos fisioterapeutas utilizam esta modalidade. Aproximadamente 54% dos atendimentos particulares britânicos e 20% dos atendimentos no National Health Service envolvem o uso do ultra-som [4]. Na Austrália 90% dos fisioterapeutas tem acesso ao ultra-som, e 80% deles o usam diariamente [5]. Apesar desta grande utilização, os mecanismos pelo qual o ultra-som produz efeitos terapêuticos são bastante controversos. Speed [6] diz que estudos in vitro demonstram numero- Recebido 2 de agosto de 2005; aceito 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Prof. Dr. Carlos Dias Maciel, Universidade de São Paulo-USP, Escola de Engenharia de São Carlos, Rua Trabalhador Sancarlense, 400, 13560-000 São Carlos SP, Tel: (16) 3373-9350, E-mail:[email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 59 1/2/2006 18:50:26 60 sos mecanismos (estimulação no reparo pelos fibroblastos, síntese do colágeno, regeneração tecidual, consolidação de fratura óssea), mas in vivo estes mecanismos são de difícil reprodução e visualização. Já Ter Haar [7] diz que apesar deste elevado uso, há uma escassez de trabalhos clínicos científicos na área de ultra-som para fisioterapia, fazendo com que os tratamentos sejam determinados em grande parte empiricamente. Gam & Johannsen [8] em uma análise de pesquisas sobre a eficácia do ultra-som, comentam que o principal problema destas pesquisas está na metodologia utilizada (tempos de aplicação variados, parâmetros com valores variados, falta de especificação de parâmetros, falta de descrição se os aparelhos estavam calibrados). Da mesma maneira Van der Windt et al. [9] descrevem problemas metodológicos nas pesquisas sobre os mecanismos de ação do ultra-som. Uma das formas de minimizar estes problemas metodológicos é conhecer os parâmetros que efetivamente caracterizam o campo acústico. Mas também de nada adianta conhecer os parâmetros e não se ter certeza se o equipamento utilizado está calibrado. Sendo assim a discussão sobre a eficácia do ultra-som terapêutico no tratamento de lesões deve começar com a preocupação se os aparelhos utilizados estão ou não calibrados. Para descobrir se o aparelho de ultra-som está calibrado é necessário avaliar o campo acústico gerado pelo transdutor. Para isto, muitas técnicas podem ser usadas. A norma vigente no Brasil para avaliação de campo acústico é a NBR-IEC 1689. Neste sentido, conhecer a NBR-IEC 1689 é dar o primeiro passo para estudar os efeitos do ultra-som pra utilização clínica em condições adequadas. Na NBR-IEC 1689 são especificados métodos e caracterização do desempenho da saída de equipamento de Fisioterapia baseado em ensaios de referência de rotina. Também especifica as características a serem declaradas pelo fabricante de equipamentos ultra-sônicos para Fisioterapia; prescrições para o desempenho e segurança do campo ultra-sônico gerado pelo equipamento de Fisioterapia; critérios de aceitação para aspectos de desempenho de equipamento ultra-sônico de Fisioterapia. No intuito de apresentar a NBR-IEC 1689, serão descritos os parâmetros que devem ser avaliados de acordo com a norma, que também são um importante subsídio para o conhecimento do campo acústico gerado pelo aparelho de ultra-som. Em seguida serão descritos os dois métodos propostos pela norma para a avaliação e caracterização do feixe ultra-sônico. Por fim serão apresentados alguns trabalhos realizados nas últimas décadas que procuraram avaliar a calibração dos aparelhos utilizados em fisioterapia. Parâmetros a serem avaliados pela NBR-IEC 1689 Os parâmetros avaliados pela NBR-IEC 1689 podem ser divididos nos que estão relacionados com o feixe no tempo e aqueles que estão relacionados com o feixe no espaço. Fisioterapia_v7n1.indb 60 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Os parâmetros temporais e espectrais são: a freqüência de trabalho acústica, duração de pulso, período de repetição, fator de operação, potência de saída declarada, intensidade efetiva, intensidade máxima do feixe e forma de onda de modulação. Já os parâmetros espaciais são: a área de radiação efetiva (ARE), relação de não uniformidade do feixe (RNF) e tipo de feixe. O ultra-som é transmitido na forma de onda longitudinal, onda transversal ou de onda de superfície. No tecido biológico a principal forma de propagação é a longitudinal, onde a agitação das partículas se dá paralelamente à direção de propagação da onda, constituindo zonas de compressão e rarefação. Nas zonas de compressão ocorre um aumento da pressão em relação ao equilíbrio. Nas zonas de rarefação ocorre uma diminuição na pressão em relação ao equilíbrio. As ondas ultra-sônicas apresentam características dos demais tipos de ondas, como o comprimento, a amplitude, o período e a freqüência [10]. A freqüência de uma onda de ultra-som é o número de vezes que se repetem zonas de compressão ou zonas de rarefação por segundo. Sua unidade é Hertz (Hz) sendo utilizados os valores KHz (1000 Hz) e MHz (1.000.000 Hz). A freqüência do transdutor depende da freqüência de ressonância da cerâmica piezoelétrica localizada no cabeçote do transdutor ultra-sônico. Piezoeletricidade é a propriedade de alguns tipos especiais de cristais, responsável pela produção de polarização elétrica quando há aplicação de uma pressão mecânica proporcional. O efeito oposto também é observado, a geração de uma deformação mecânica devido a uma polarização elétrica [11]. À medida que a cerâmica piezoelétrica do cabeçote se desloca para frente e para trás, forma uma onda ultra-sônica que se propagará no tecido [12]. A freqüência de ressonância da cerâmica piezoelétrica está intimamente relacionada com os materiais que a compõe e com a espessura da cerâmica. Quando o ultra-som está sendo transmitido no modo pulsado, há interrupções freqüentes na geração da onda acústica. Desta forma ocorrem no meio irradiado intervalos de tempo onde ocorrem mudanças de pressão (deslocamento da onda) e intervalos de tempo onde a pressão permanece inalterada (Figura 1). O intervalo de tempo que ocorre estes aumentos e diminuições na pressão do meio é a duração do pulso. No período de repetição de pulso considera-se o intervalo de tempo onde ocorrem as mudanças de pressão no meio (pulso ultra-sônico) e o intervalo de tempo em que a pressão permanece inalterada. Pode-se definir período de repetição de pulso o valor absoluto do intervalo de tempo após o qual ocorrem as mesmas características de uma forma de onda periódica, sendo o valor de referência igual a soma da amplitude da pressão mínima e 10% da diferença entre as amplitudes das pressões mínima e máxima [13]. 1/2/2006 18:50:27 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Na utilização do modo pulsado há, portanto dois tipos de freqüências a serem consideradas, a freqüência de onda (f) e a freqüência de repetição de pulso (fr) [14]. O fator de operação é a relação entre a duração do pulso e o período de repetição do pulso. Figura 1 - Esquema da duração de pulso e período de repetição do pulso. Quando uma onda sonora se propaga no meio, ela transmite energia. A potência de um aparelho de ultra-som é a quantidade de energia ultra-sônica gerada em um intervalo de tempo, é expressa em Watts. Quando se refere à potência de pico, fala-se do máximo pico de pressão da onda sonora em um intervalo de tempo. Já quando se fala em potência média, são todas as oscilações na pressão divididas pelo intervalo de tempo transcorrido; a potência média sempre vai ser menor que a potência de pico. Observando a figura 1, a potência média pode diminuir quando se aumenta o tempo de pulso desligado, mantendo o período de repetição do pulso e a duração de pulso. Mas aumentando-se a duração de pulso e mantendo-se o período de repetição do pulso, aumenta-se a potência média. A potência de saída declarada pode ser mensurada utilizando-se uma balança de força de radiação. Neste caso tem-se a potência média. Para a avaliação da potência devem-se ajustar os controles do aparelho de forma que este produza a máxima potência de saída no cabeçote aplicador. Esta potência é avaliada em todos os valores de tensão de rede permitida, pois, dependendo da qualidade da rede elétrica utilizada no aparelho de ultra-som, a potência de saída pode variar com a variação de tensão. Além disto a norma também pede que se varie a tensão 10% acima e abaixo das tensões nominais permitidas, para avaliar como se comporta a potência de saída no cabeçote aplicador. A NBR-IEC 1689 permite uma variação de 20% entre a potência de saída declarada no aparelho e a potência que o aparelho está produzindo. Intensidade acústica é a energia (E) que atravessa uma área (S) em um intervalo de tempo (t), expressa em Watts/ cm2 [4]. Sendo assim, medindo-se um pico de pressão ou pico de potência, em um ponto de área muito pequena tem-se uma Fisioterapia_v7n1.indb 61 61 intensidade de pico espacial e pico temporal (Intensity spacial peak and temporal peak – ISPTP). Já se a medida for em uma área grande, com um intervalo de tempo maior onde teremos a média de pressão ou a potência média, obtém-se uma intensidade média espacial e média temporal (Intensity spacial avarege and tempotal avarege – ISATA). Para obter-se a intensidade média espacial e pico temporal (Intensity spacial avarege and temporal peak – ISATP) deve-se medir a intensidade em um pico de pressão ou pico de potência em uma área grande. Quando se deseja uma intensidade de pico espacial e média temporal (Intensity spacial peak and temporal avarege – ISPTA) a aquisição dos dados se dá em um ponto de área muito pequena num intervalo de tempo grande o suficiente para se adquirir a média das pressões ou então a potência média. O campo de um disco piezoelétrico circular é complexo. Nas proximidades do transdutor há muitos picos e vales de pressão espalhados de maneira desordenada. À medida que se afasta do transdutor, o padrão do campo se torna mais uniforme [15]. A região próxima ao transdutor é conhecida como campo próximo ou zona de Fresnel; a região para além do campo próximo é o campo distante, ou zona de Fraunhoffer [12]. Figura 2 - Ilustração conceitual da distribuição de intensidade e do feixe ultra-sônico (modificado de Wells [15]). Devido a esta complexidade do campo próximo é importante caracterizar no campo acústico as intensidades de pico espacial e pico temporal, que é a intensidade que, quando muito alta, pode ser lesiva ao tecido. Se adquirirmos apenas intensidades de média espacial e média temporal ignora-se os picos de pressão que estão presentes no campo acústico. Quando se avalia o campo acústico através dos métodos sugeridos pela NBR-IEC 1689 tem-se condições de localizar estes pontos de intensidade de pico espacial e pico temporal, pois as medidas são realizadas pontualmente pelo hidrofone (transdutor, com área de recepção muito pequena, que produz sinais elétricos em resposta a sinais acústicos lançados na água pelo cabeçote de ultra-som). A intensidade efetiva é obtida da relação da potência de saída declarada pela área de radiação efetiva. Esta intensidade não pode ser maior que 3,0 W/cm2. A área de radiação efetiva do cabeçote aplicador (ARE) é a região na face do transdutor que realmente emite campo ultra-sônico. Esta área não é igual à área da face do cabeçote 1/2/2006 18:50:28 62 aplicador e nem sempre é igual à área da cerâmica piezoelétrica, pois quando a cerâmica vibra, as estruturas próximas a ela também vibram, podendo emitir energia ultra-sônica. Este efeito é conhecido como efeito de borda. Segundo a NBR-IEC 1689 para se ter o conhecimento da área de radiação efetiva é necessário descobrir a área de seção transversal do feixe de cada um dos quatro planos da varredura. A área de seção transversal do feixe (ASTF) é a região no plano varrido que contém 75% da energia total do feixe ultra-sônico. Após a verificação da área de seção transversal nos quatro planos varridos faz-se uma regressão linear do plano mais distante da face do transdutor até a face do transdutor e encontra-se a área de radiação efetiva do cabeçote aplicador (Figura 3). Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Ao se realizar um corte transversal no eixo axial do feixe ultra-sônico será visualizado o tipo de feixe produzido pelo transdutor de ultra-som, que pode ser colimado, divergente ou convergente (Figura 5). No caso de um feixe colimado a intensidade média mantém-se quase inalterada quando o feixe está se afastando do transdutor. No feixe convergente a intensidade média aumentará e atingirá o máximo ao chegar no foco. No caso de um feixe divergente a intensidade média diminui quando o feixe se afasta do transdutor. O tipo de feixe ideal para transdutores de fisioterapia é o colimado, onde teoricamente a intensidade média se mantém inalterada. Figura 5 - “Tipos de feixe”. (a) colimado; (b) convergente; (c) divergente. Figura 3 - Aquisição da área de radiação efetiva do cabeçote aplicador. Realizando um corte transversal no campo acústico gerado pelo cabeçote aplicador de ultra-som espera-se que o formato deste campo seja um círculo perfeito. Na realidade o formato do campo normalmente não é um círculo perfeito. Esta irregularidade na forma do feixe num corte transversal e a variação das intensidades ao longo do feixe é chamada de não-uniformidade do feixe (Figura 4). Quanto menor a relação de não-uniformidade, ou seja, quanto mais circular o feixe num corte transversal, mais simétrico será o feixe. A relação de não uniformidade do feixe é a relação entre o quadrado da pressão acústica eficaz máxima e a média espacial do quadrado da pressão acústica eficaz, tomada sobre a área de radiação efetiva. A NBR-IEC 1689 diz que transdutores de ultra-som para fisioterapia devem ter uma RNF ≤ 8. A forma de onda de modulação é como se apresenta a onda acústica ao observar vários pulsos e traçada uma envoltória por um tempo suficientemente longo para incluir toda informação acústica significativa na onda modulada por amplitude. Podem ser encontrados vários tipos de forma de onda, entre elas forma retangular, dente de serra, irregular, contínua e triangular (Figura 6). Figura 6 - Formas de onda de modulação. (a) dente de serra, (b) retangular, (c) triangular. Figura 4 - Corte transversal no campo ultra-sônico mostrando a nãouniformidade do feixe. Metodologia para a avaliação do campo acústico Para as técnicas de varredura global e varredura de linha ou diametral são necessários um tanque acústico, um hidrofone e um cabeçote aplicador de ultra-som. Fisioterapia_v7n1.indb 62 1/2/2006 18:50:29 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 O tanque acústico deve estar cheio de água desgaseificada para evitar a cavitação das ondas ultra-sônicas. O tamanho deste tanque deve ser suficientemente grande para permitir a imersão tanto do cabeçote quanto do hidrofone. O hidrofone é um transdutor que produz sinais elétricos em resposta a sinais acústicos lançados na água pelo cabeçote de ultra-som. Este hidrofone deve estar em um suporte que permita movimentação no mínimo em três graus de liberdade (Fig.7). O elemento ativo do hidrofone deve ter um raio máximo de 0.5 mm quando a freqüência do transdutor é menor ou igual a 3 MHz [12]. O transdutor que irá ser avaliado também deve ter um suporte com três graus de liberdade de movimentação (Figura 7). Tanto os suportes do hidrofone e do cabeçote quanto as paredes do tanque acústico deve ser bons ou revestidos de bons absorvedores de energia ultra-sônica para que ocorra o mínimo de reverberação. 63 do ponto central. Após a varredura desta linha gira-se o cabeçote do ultra-som 45º e varre-se outra linha, até completar quatro linhas que se cruzam no ponto central de alinhamento. Estas quatro linhas dividirão o plano em oito áreas iguais, e deve conter no mínimo 50 passos cada linha. Após a aquisição destes pontos calcula-se a área de secção transversal do feixe. Repete-se o procedimento nos outros três planos. Neste procedimento o hidrofone só precisará de dois graus de liberdade para realizar a varredura. Figura 8 - Esquema da varredura de linha ou diametral. Figura 7 - Graus de liberdade do transdutor e do hidrofone. Na varredura global o hidrofone varrerá quatro planos paralelos à face do cabeçote (Figura 7). Para a aquisição dos quatro planos desloca-se o hidrofone em uma linha perpendicular à face do transdutor, chamada de eixo de alinhamento, até o mais distante possível desta face. O hidrofone é deslocado novamente em direção a face do transdutor até encontrar o primeiro pico de pressão acústica, que se refere a fronteira entre o campo distante e o campo próximo, neste sítio se localizará um plano de varredura, com os outros três se localizando entre este plano e a face do cabeçote. Todas as varreduras globais devem ser grades quadradas com o ponto central no eixo de alinhamento do feixe. A varredura não deve ter um movimento contínuo, mas deve ser realizada em passos discretos com os valores de tensão eficaz ou de pico medidos a cada passo. O tamanho do passo deve estar entre 0,5 mm e 1,0 mm, e não maior que 2,0 mm. E o número de pontos da varredura deve ser no mínimo 100, uma matriz 10x10. Na varredura de linha ou diametral os procedimentos para a aquisição dos quatro planos de medição são iguais à varredura global. O ponto central ou comum das quatro varreduras de linha deve encontrar-se no eixo de alinhamento do feixe. No plano a ser varrido, o hidrofone desloca-se no eixo Y, passando pelo ponto central que está localizado no eixo de alinhamento, captando os sinais em uma linha de varredura. Esta linha deve ter o mesmo número de pontos de cada lado Fisioterapia_v7n1.indb 63 Nos dois métodos para a avaliação, os dados são coletados pontualmente, nos dando a real aparência do campo acústico, principalmente nos mostrando a localização das regiões de pontos quentes (picos de pressão e intensidade), que podem causar lesões teciduais quando muito altas. Resultados de trabalhos que realizaram a avaliação do campo acústico de transdutores de ultra-som para fisioterapia Nas últimas três décadas muitos trabalhos, em várias partes do mundo, foram realizados no sentido de analisar campo acústico gerado por aparelho de ultra-som para fisioterapia. Fipe e Parnell [16] mediram, conforme a IEC 150, a área de radiação efetiva, a potência de saída e a intensidade de 18 equipamentos. Destes, 78% estavam operando fora da tolerância especificada. Este trabalho foi realizado na Austrália. No Canadá, Snow [17] avaliou a potência de saída, a freqüência e o temporizador de 26 equipamentos. Observou que 81% dos equipamentos tinham níveis de potência variando ± 20% do indicado no painel, 27% estavam com o temporizador sem exatidão. A freqüência foi considerada inaceitável em apenas 1 aparelho. Também no Canadá, Ross et al. [18] testaram 89 equipamentos. Os parâmetros avaliados foram potência, intensidade, exatidão do temporizador e freqüência. Observaram que 78% 1/2/2006 18:50:30 64 tinham erros extrapolando ± 20% da potência especificada. No parâmetro intensidade, 63% dos aparelhos estavam fora da tolerância de ± 20%. O temporizador de 23% dos equipamentos estava fora de padronização, e 13% das unidades estavam com freqüência fora do limite de ± 5%. Na Holanda, Hekkenberg et al. [19] examinaram a intensidade, a área de radiação específica, a potência e a relação de não uniformidade do feixe de 28 aparelhos. Verificaram que 79% dos aparelhos não atendiam completamente aos limites de tolerância. Lloyd e Evans [20] mediram 67 cabeçotes Reino Unido. Avaliaram intensidades de 0,25; 0,50; 1,00 e 2,00 W/cm2. Dos cabeçotes testados, 59% estavam fora do limite de tolerância de ± 30%. Na Escócia, Pye e Milford [21] analisaram 85 aparelhos de ultra-som, verificando os parâmetros de potência acústica de saída, freqüência, tempo de pulso e exatidão do temporizador. A potência estava fora do limite de tolerância de ± 30% em 69% das unidades. Todos os equipamentos estavam dentro da tolerância de ± 5% para a freqüência. A exatidão do temporizador estava fora do especificado no painel do aparelho em 87% dos equipamentos. Artho et al. [22] testaram nos Estados Unidos 83 unidades de ultra-som usados em clínicas. Os equipamentos foram analisados em 4 intensidades diferentes (0,5; 1,0; 1,5 e 2,0 W/cm2) usando freqüência de 1 MHz no modo contínuo. Os parâmetros medidos foram a potência de saída e precisão do temporizador. Dos equipamentos testados 39% estavam com potência de saída fora do limite de tolerância de ± 20%, e 52% estavam com o temporizador funcionando incorretamente. No Brasil dois trabalhos apresentam avaliação de campo acústico gerados por aparelhos de ultra-som. Em Piracicaba, São Paulo, Guirro et al. [23] analisaram a potência em 31 equipamentos. Nas intensidades de 0,1; 0,2; 0,5; 0,8; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 W/cm2, na freqüência de 1.0 MHz. Nenhum dos equipamentos avaliados condizia com as especificações dos fabricantes. No Rio de Janeiro, Ishikawa [24] realizou a avaliação de 33 aparelhos de serviços públicos e privados daquela cidade. Foram avaliados todos os parâmetros pedidos pela NBR-IEC 1689. De todos os equipamentos avaliados, nenhum atendeu completamente a norma. Discussão A avaliação de campo acústico gerado por aparelho de ultra-som é uma preocupação mundial. Apesar das diferenças de metodologia utilizadas nos trabalhos citados encontramos resultados que podem ser relacionados entre si. Em todos os trabalhos, a maioria dos aparelhos estava fora do limite de tolerância. No exterior a média de aparelhos que estavam fora do limite de tolerância é de 69%, um índice muito alto. Se os parâmetros estiverem abaixo do limite inferior de tolerância, pode não ocorrer efeito nenhum, acarretando em perda Fisioterapia_v7n1.indb 64 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 de tempo e de dinheiro. Já, o que é pior, se os parâmetros estiverem acima dos limites de tolerância, os riscos de lesão tecidual são muito grandes. Num trabalho realizado por Cunha et al. [25], cujos resultados mostram que apenas alterando o modo de emissão do ultra-som de pulsado para contínuo, o que produz um acúmulo de calor no sítio da aplicação, houve piora no desempenho deste método para reparação do tendão em ratos. Estes dados demonstram o quanto devemos nos preocupar com alterações nos parâmetros de emissão de um equipamento de ultra-som na área de Fisioterapia [25]. No Brasil esta realidade é ainda mais preocupante. Nos dois trabalhos citados nenhum dos aparelhos conseguiu atender totalmente as especificações exigidas. O trabalho de Ishikawa [24], que avaliou todos os parâmetros pedidos pela norma, encontrou problemas como a falta de especificação de alguns parâmetros no manual de alguns equipamentos, parâmetros abaixo do limite de tolerância, parâmetros acima do limite de tolerância e parâmetros que constavam na norma e não eram produzidos pelo aparelho. Apesar do tema já ser debatido há muito tempo e muitos acharem que já é um assunto esgotado, enquanto os equipamentos continuarem sendo avaliados e apresentarem problemas, os usuários desta tecnologia continuarão perdendo tempo, dinheiro e principalmente pondo sua integridade física em risco. Utilizando o sistema de medicina baseada em evidências, Robertson e Baker [26] mostraram que há pouca evidência sobre a efetividade clínica do ultra-som ativo comparado com o placebo no tratamento da dor e de lesões musculoesqueléticas, além do reparo de tecidos moles. Muitos dos equipamentos utilizados nestes trabalhos não referem se haviam sido submetidos a uma calibração ou checagem da intensidade de emissão do campo ultra-sônico. Apesar disso, a preocupação com a segurança e confiabilidade dos equipamentos tem sido uma constante através da história da utilização clínica do ultra-som terapêutico [27]. O fato de continuar havendo uso não controlado dos equipamentos como se encontra na atualidade, de tal forma que a norma existe, mas não há mecanismos de controle sobre o cumprimento integral das normas por parte das empresas e principalmente por parte dos profissionais que fazem uso desta ferramenta de trabalho, certamente haverá uma grande perda de investimentos na área de atendimento da saúde da população. Isso decorre pelo fato de que muitos profissionais acham que estão efetuando seus tratamentos corretamente, mas os seus clientes não estão recebendo aquilo que foi planejado para atuar sobre o alvo do tratamento. O aspecto ético se agrava ainda mais sob esta ótica. Conclusão A tecnologia de ultra-som é muito utilizada na rotina clínica do fisioterapeuta. E a correta calibração dos aparelhos 1/2/2006 18:50:31 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 65 de ultra-som é fundamental para a eficiência dos mesmos no tratamento das diferentes lesões. Trabalhos com avaliação de campo acústico gerado por aparelhos de ultra-som mostram que a maioria dos equipamentos utilizados na clínica apresenta problemas na calibração. A correta calibração dos equipamentos de ultra-som é a base para a compreensão dos mecanismos de ação deste como uma modalidade terapêutica eficaz. Pois de nada adianta conhecer os parâmetros que caracterizam o campo acústico e os mecanismos de ação do ultra-som no reparo de lesões se os aparelhos não estiverem corretamente calibrados. Por isto é importante que o fisioterapeuta conheça o equipamento que está em suas mãos, e conheça a norma vigente, adquirindo assim subsídios para reivindicar que os aparelhos estejam de acordo com o exigido, para a sua segurança e segurança de seu paciente. 14. Referências 17. 1. Daniel DM, Rupert RL. Calibration and electrical safety status of therapeutic ultrasound used by chiropractic physicians. J Manipulative Physiol Ther 2003;26:171-5. 2. Lindsay DM, Dearness J, McGinley CC. A Electrotherapy usage trends in private physiotherapy practice in Alberta. Physiotherapy Canada 1995;47:30-4. 3. Roebroeck ME, Dekker J, Oostendorp RAB. The use of therapeutic ultrasound in physical therapy: practice patterns in Dutch primary healt care. Phys Ther 1998;78: 470-8. 4. Ter Haar G. Physic of therapheutic ultrasound. Physiotherapy 1987;73:110-3. 5. Lindsay D, Dearness J, Richardson C, Chapman A, Cuskelly G. A survey of electro modality usage in private physiotherapy practices. 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Ultrasound Med Biol 2000;26:911-64. 1/2/2006 18:50:32 66 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Revisão Osteogenese imperfeita – características clínicas, moleculares e tratamento Osteogenesis imperfecta – treatment, clinical and molecular traits Gabriela Pinheiro Rebouças Martins*, Marcus Vinicius Amaral**, Henrique Douglas Melo Coutinho, M.Sc.*** *Discente, Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte FMJ, **Discente, Universidade Federal do Ceará UFC, ***Docente, Universidade Regional do Cariri, URCA Resumo Abstract Osteogênese imperfeita (OI) é um distúrbio hereditário na formação óssea, que resulta principalmente em fragilidade óssea. Possui uma grande variabilidade fenotípica, que segue desde um leve aumento na incidência de fraturas a fraturas intrauterinas e morte no período perinatal. Mutações nos genes COL1A1 ou COL1A2 que codificam respectivamente as cadeias proα1(I) e proα2(I) do colágeno tipo I são responsáveis por mais de 90% dos casos de OI. Nesta artigo são revisadas as variantes clínicas e moleculares bem como as perspectivas de tratamento mais atuais utilizadas para OI. Foi realizada uma revisão na bibliografia especializada utilizando os bancos de dados internacionais Scielo, Lilacs, Highwire e Pubmed. A busca pela terapia gênica trás grandes perspectivas com relação à cura para OI. Osteogenesis imperfecta is a heritable disorder of bone formation with bone fragility being the major clinical feacture. It exhibits a broad range of phenotype variability, ranging from light increase in the incidence of the fractures to multiple fracturing in uteru and perinatal death. Mutations in either the COL1A1 or COL1A2 that encode the chains proα1(I) and proα2(I) of type I collagen are responsible for more than 90% of the cases of OI. In this article is revised the clinical and molecular variants as well as the more current perspectives of treatment for OI. It was made a review using the especialized bibliography disponible in the international databanks Scielo, Lilacs, Highwire and Pubmed. The search for the gene therapy introduces great perspectives with relation to the cure for OI. Palavras-chave: Osteogênese imperfeita, COL1A1, COL1A2, colágeno tipo I. Key-words: osteogenesis imperfecta, COL1A1, COL1A2, collagen type I. Introdução OI (tipos V, VI, VII) não estão associadas com defeitos nos genes do colágeno I [3]. Mais de 200 mutações diferentes que afetam a síntese ou a estrutura do colágeno tipo I já foram encontradas em pacientes com OI. A heterogeneidade clínica desta doença reflete uma heterogeneidade ainda maior em nível molecular [4,5,6]. Por muito tempo, o tratamento da OI limitou-se ás medidas conservadoras, com mínima atividade física e eventuais correções cirúrgicas das deformidades. Ultimamente, no entanto, o uso dos bifosfonatos, componentes inibidores da reabsorção óssea, como tratamento para OI mudou a qualidade de vida dos pacientes [7]. Por ser uma doença genética considerada incurável, terapias celulares e terapias gênicas estão sendo investigadas como potencial tratamento [9]. Osteogênese imperfeita (OI) é um distúrbio hereditário no metabolismo do colágeno I, comprometendo generalizadamente o tecido conjuntivo [1]. É uma doença heterogenia que resulta principalmente em fragilidade óssea, mas também pode ocorrer esclera azulada, dentinogênese imperfeita, e perda auditiva [2]. Exibe uma abrangência com relação à severidade clínica, variando de múltiplas fraturas intra-útero e morte perinatal, a estatura adulta normal com baixa incidência de fraturas [3]. É atualmente classificada em sete tipos baseados em apresentações clínicas e arquitetura óssea. Mutações nos genes do colágeno I (COL1A1 e COL1A2) estão comumente associadas à osteogênese imperfeita, mas não sendo considerado um pré-requisito para o diagnóstico, pois as novas formas de Recebido 9 de novembro de 2005; aceito 10 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Henrique Douglas Melo Coutinho, Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Centro de Ciências Exatas e da Natureza – CCEN, Departamento de Biologia Molecular – DBM, Laboratório de Biologia Molecular E Ecologia – LABIME 58051-900 João Pessoa PB, E-mail: [email protected], [email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 66 1/2/2006 18:50:32 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Osteogênese imperfeita e sua diversidade clínica Uma grande gama de variações clínicas já foi reconhecida, desde a forma letal perinatal até apenas um leve aumento na freqüência de fraturas. A heterogeneidade clínica pode ser explicada pelo menos em parte, pela heterogeneidade alélica: os fenótipos variam de acordo com a cadeia do protocolágeno I que está afetada, e de acordo com o tipo e a localização da mutação no lócus [6]. O sistema de classificação de Sillence divide a OI em quatro tipos (I a IV) priorizando para analise dessa classificação a arquitetura óssea. As novas formas de OI (tipos V a VII), baseando-se apenas em apresentações clínicas poderiam estar todas incluídas no tipo IV de OI [3]. O tipo I é a forma mais branda, não sendo deformante e resultando em pacientes com estatura normal e tipicamente apresentando esclera azulada. Fraturas não são comumente observadas no nascimento sendo mais comuns durante o desenvolvimento infantil e decrescendo após a puberdade [3], é dividida em dois subtipos A e B baseado na presença ou ausência de dentinogênese imperfeita [10]. O tipo II é a forma mais severa sendo letal no período perinatal. Pacientes com OI tipo II mostram severas deformidades nos ossos longos, tórax e fraturas intra-útero. Insuficiência pulmonar é a principal causa de morte. Aproximadamente 60% dos afetados morrem no primeiro dia de vida e 80% morrem no primeiro mês principalmente por infecções ou insuficiência cardíaca congestiva [10]. O tipo III é uma rara doença autossômica recessiva caracterizada por moderada a severa fragilidade óssea. É a mais severa forma compatível com a sobrevivência após o período perinatal [7]. Fraturas intrauterinas, deformidade óssea, baixa estatura e face triangular são características de pacientes com OI tipo III [9]. O tipo IV é clinicamente o grupo mais diverso na classificação de Sillence e engloba todos os pacientes que não se encaixam nos tipos (I a III). O fenótipo pode variar de severo a brando, com os pacientes mais severamente afetados apresentando fraturas no nascimento, sofrendo moderada deformidade esquelética e adquirindo baixa estatura [3]. Estrutura normal do colágeno e sua relação com a osteogenese imperfeita Algumas características do colágeno tipo I normal são essenciais na avaliação da patogenia da doença [6]. É a maior proteína da matriz extracelular da pele, ossos, tendões e muitos outros tecidos conjuntivos [11], trata-se de uma proteína trimérica (tendo três subunidades) com uma estrutura tripla hélice [3]. É codificada por dois genes: COL1A1 e COL1A2, localizados no braço longo do cromossomo 17 (17q21. 31-17q22.05), e no cromossomo 7 (7q21.3-7q22.1) respectivamente [12]. Tem sua formação a partir de uma Fisioterapia_v7n1.indb 67 67 proteína precursora, o pró-colágeno tipo I [13]. A molécula de pró-colágeno tipo I é formada por duas cadeias proα1(I) codificadas no cromossomo 17 e uma cadeia similar mais distinta, de proα2(I) codificada no cromossomo 7 [6]. A via desde a seqüência de DNA até a proteína final de colágeno I envolve muitas etapas. A complexidade desta via cria muitas oportunidades para erros, na replicação, transcrição, tradução ou modificação pós-traducional, que podem causar a doença [13]. Natureza das mutações Diversas mutações têm sido descobertas nos dois genes do colágeno tipo I, (COL1A1 e COL1A2), e estão sendo tabuladas nos arquivos das mutações do colágeno humano [3,8]. Aproximadamente 95% dos casos de OI são causados por mutações heterozigotas dominante nos genes COL1A1 e COL1A2 [14]. A maioria das mutações que causam a doença é de ação dominante [6], como citado a cima, mas algumas são recessivas, por exemplo, as mutações que causam OI tipo III, que são freqüentemente do tipo sentido trocado nos códons da glicina [6]. Estudos do colágeno I tem revelado dois tipos de defeitos, pacientes com OI leve (tipo I) tem uma redução na produção de colágeno [1], que está associada com mutações que resultam na interferência da síntese de mRNA por um alelo COL1A1, levando à metade a síntese de colágeno I [10], sendo caracterizado como efeito quantitativo, pacientes com a forma moderada ou severa de OI produzem uma estrutura anormal do colágeno I, caracterizando um defeito qualitativo [1]. Cerca de 85% das mutações são descritas como uma simples mudança de nucleotídeo, responsável pela substituição da glicina na tripla hélice, estas mutações afetam a propagação e o dobramento da proteína, Na matriz extracelular ela pode afetar o processamento do pró-colágeno ou interferir na relação colágeno-colágeno, ou ainda a interação colágeno-proteína da matriz extracelular [10]. Outras mutações incluem substituições sem sentido nos códons da arginina ou glutamina, e uma variedade de mutações em íntrons [3]. Códons finalizadores prematuros, pequenos trechos de inserção ou deleção (em geral de 1 ou dois pares de bases) ou mutações de sítio de corte constituem a maioria das mutações [6]. Genótipo x fenótipo A relacionamento entre genótipo e fenótipo em OI ainda está incompletamente entendido. Em geral, defeitos qualitativos são mais severos que os defeitos quantitativos. Dentre as mutações estruturais do colágeno uma ampla variedade de características fenotípicas tem sido detectada [10]. Existem algumas razões para explicar estas variações [3]. Primeiro, a tripla hélice do colágeno não é uma estrutura uniforme [3], e o papel bioquímico da cadeia onde ocorreu a mutação também é uma importante variante [10]. Segundo, as conseqüências intracelulares das mutações não são constantes. Finalmente, 1/2/2006 18:50:33 68 as mutações genéticas não ocorrem isoladamente, mas outros fatores podem influenciar na resistência óssea. Estes fatores podem ser devidos a variações ambientais nutricionais ou genéticas entre os diferentes indivíduos, e provavelmente explica o fato de algumas mutações comumente observadas poderem ser associadas com uma grande variedade de fenótipos [3]. Tratamento Historicamente, o tratamento tem sido limitado a vitaminas, suplementos hormonais, analgésicos para aliviar as dores ósseas crônicas, a detecção rápida de fraturas, uso de apoios ortopédicos e hastes intramedulares pra prevenir a deformidade progressiva [5]. Terapias farmacológicas têm sido usadas com pouco sucesso. Agentes usados na terapia farmacológica incluem, cálcio, flúor, calcitonin, esteróides anabólicos e magnésio. Recentemente, entretanto, o uso dos bifosfonatos em crianças com OI vem mostrando alguns efeitos na redução da incidência de fraturas [9]. Os bifosfonatos possuem componentes sintéticos que são análogos ao pirofosfato, um inibidor endógeno da reabsorção óssea [5]. Administrações endovenosas de bifosfanatos, desenvolvida no começo dos anos 90, estavam dentro dos primeiros agente que proporcionavam aos pediatras uma oportunidade para tratar crianças com OI [1]. Dentre os efeitos benéficos já relatados da terapia com bifosfonatos em OI estão, o aumento da densidade mineral óssea, diminuição da taxa de fraturas, normalização do metabolismo ósseo e significativa redução nas dores ósseas, e conseqüente melhoramento na qualidade de vida [5]. Terapias com bifosfonatos não são a cura para a OI, pois embora melhore a resistência óssea aumentando a qualidade de vida do paciente, não corrigi os defeitos genéticos [3]. A perspectivas sobre a possibilidade de cura pela terapia gênica vêm aumentando a cada dia. Terapia gênica consiste na introdução de um gene em uma célula com o fim de obter um efeito terapêutico [13], entretanto, utiliza-la para OI é um grande desafio, pois a maioria das mutações é do tipo dominante negativa, e apenas fornecer o gene normal sem suprimir o gene mutante pode não causar um benefício significante. Em contraste em algumas mutações onde ocorre apenas a perda de função, onde um alelo não é expresso ou é ausente, podem ser bem susceptíveis à terapia gênica, pois a introdução de cópias funcionais dos genes seria suficiente para a correção [9]. Muitas pesquisas estão sendo feitas com relação à terapia gênica para OI, mais ainda não existe um protocolo com eficácia comprovada. Com o advento da terapia gênica surgirão novas perspectivas para melhorar a qualidade de vida das pessoas com OI, é preciso lembra que essa busca recém se inicia. Conclusão Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 fragilidade óssea e possível morte. Esta alteração genética ocorre em uma frequência de 1/10000 ou 1/12000. Devido ao fato de ser uma malformação genética, os mecanismos de tratamento ainda não são definitivos, sendo esta uma das áreas de expectativa de ação da terapia gênica. De qualquer forma, atualmente existem diversos métodos bioquímicos e moleculares tanto para diagnosticar durante o pré-natal, logo após o nascimento ou o risco de incidência deste problema. Uma vez detectado, os profissionais que trabalham na área de ortopedia (tanto médicos quanto fisioterapeutas) devem indicar aos pais cuidados respiratórios e precaução contra danos ósseos, além do tratamento com suplementação alimentar e a base de bifosfonatos. Referências 1. Maasalu K, Haviko T, Martson A. Treatment of children with osteogenesis imperfecta in Estonia. Acta Paediatr 2003;92:4525. 2. Cole WG. The molecular pathology of osteogenesis Imperfecta. Clin Orthop Relat Res 1997;343:235-48. 3. Roughley PJ, Rauch F, Glorieux FH. Osteogenesis imperfecta - clinical and molecular diversity. Eur Cell Mater 2003;5:41-7. 4. Benusiené E, Kucinskas V. COL1A mutation analysis in lithuanion patients with osteogenesis imperfecta. J Appl Genet 2002;44(1):95-102. 5. Falk MS, Heeger S, Lynch KA, DeCaro KR, Bohach D, Gibson KS et al. Intravenous biphosphonate therapy in children with osteogenesis imperfecta. Pediatrics 2003;3(3):573-8. 6. Nussom RL, Mc Innes RR, Willard HF. Thompson e Thompson: Genética Médica. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 7. Assis MC, Plotkin M, Glorieux FH. Osteogenesis imperfecta: novos conceitos. Rev Bras Ortop 2002;37(8):323-7. 8. Galicka AG. Mutations in type I collagen genes resulting in osteogenesis imperfecta in humans. Acta Biochim Polonica 2002;49(2):433-41. 9. Niyibizi C, Smith P, Mi Z, Robbins P, Evans C. Potential of gene therapy for treating osteogenesis imperfecta. Clin Orthop Relat Res 2000;379:126-33. 10. Marini JC, Forlino A. 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A OI representa um conjunto de alterações genéticas que afetam a estrutura ou a síntese do colágeno tipo I, acarretando Fisioterapia_v7n1.indb 68 1/2/2006 18:50:34 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 69 Estudo de caso Distrofia muscular intermediária entre Duchenne e Becker Intermediate muscular dystrophy between Duchenne and Becker Elaine Maria Bueno da Silva*, Thaís Helena Brunheroto Nucci*, Cristina Iwabe, M.Sc.**, Maria da Graça Baldo Deloroso, M.Sc.*** *Fisioterapeutas graduadas pelo Centro Universitário Hermínio Ometto Uniararas, **Fisioterapeuta graduada pela USP, especialista em neurologia infantil Unicamp, docente do curso de fisioterapia Uniararas, supervisora do curso de fisioterapia Unip Campinas, ***Fisioterapeuta graduada pela Unimep, docente do curso de fisioterapia Uniararas e Fafica/Catanduva Resumo Abstract As miopatias são caracterizadas por distúrbios bioquímicos nas fibras musculares, decorrentes de alteração na produção e função de proteínas musculares (distrofina). Dentre os principais tipos de distrofia muscular, destacam-se a distrofia muscular de Duchenne e a distrofia muscular de Becker. Existe, porém, uma forma intermediária de miopatia com características intermediárias entre Duchenne e Becker. O objetivo deste trabalho foi relatar o caso de um indivíduo do sexo masculino, nove anos de idade, com diagnóstico de distrofia intermediária entre Duchenne e Becker. Inicialmente foi realizada anamnese com o responsável e avaliação do sujeito quanto à força muscular e, posteriormente, avaliação funcional de acordo com a escala de Vignos. O sujeito apresentou atraso e dificuldade na aquisição de algumas atividades motoras como ficar de pé e marcha; aos seis anos de idade apresentou início dos sintomas com quedas freqüentes; aos nove anos apresentou dificuldade na deambulação, aumento da lordose lombar, déficit de equilíbrio, fraqueza muscular e diminuição da funcionalidade, principalmente de membros inferiores. O quadro clínico da distrofia intermediária é semelhante à distrofia muscular de Duchenne, porém com início um pouco mais tardio, assemelhando-se à distrofia muscular de Becker. The myopathy is characterized by biochemical deficiencies in muscle tissue due to alteration in the production and function of muscle proteins (dystrophin). Among the main types of muscular dystrophy they are distinguished Duchenne muscular dystrophy and Becker muscular dystrophy. It exists, however, one intermediate form of myopathy with intermediate characteristics between Duchenne and Becker. The objective of this study was to relate the case of an individual male, nine years old, with diagnosis of intermediate dystrophy between Duchenne and Becker. Initially it was done anamneses with tutors, then it was analysed muscle strength and functional evaluation with Vignos scale. The subject demonstrated delay and difficulty in the acquisition of some motor activities like standing and gait; frequent falls at six years; at nine years, difficulty in the gait, increase of lumbar lordosis, balance deficit, muscular weakness and reduction of the functionality, mainly of lower limbs. In conclusion, the clinical process of the intermediate dystrophy is similar to the Duchenne muscular dystrophy, however with delay in the onset, it is similar to Becker muscular dystrophy. Key-words: Duchenne muscular dystrophy, Becker muscular dystrophy, intermediate muscular dystrophy. Palavras-chave: distrofia muscular de Duchenne, distrofia muscular de Becker, distrofia muscular intermediária. Introdução Dentre as principais doenças neuromusculares, pode-se citar a Distrofia Muscular de Duchenne (DMD), a Distrofia Muscular de Becker (DMB) e, atualmente, tem-se observado um tipo intermediário a estas duas, com características semelhantes. A DMD e DMB formam um conjunto de miopatias degenerativas, geneticamente determinadas (doença ligada ao sexo), ocasionando a falta de uma proteína muscular denominada distrofina. Tal déficit resulta em “fragilidade” muscular com inclusão de fibrose e gordura entre as fibras musculares, as quais se tornam incapazes de responder aos estímulos do sistema nervoso central que chegam até o mús- Artigo recebido em 20 de outubro de 2004; aceito em 5 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Profa. Cristina Iwabe, Rua Sacramento, 1091/32 Centro 13023-185 Campinas SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 69 1/2/2006 18:50:35 70 culo e, conseqüentemente, de se contraírem. Acomete todos os grupos musculares de fibras estriadas, caracterizando-se por degeneração, necrose, variações de forma e volume (fibras atróficas e hipertróficas), aumento dos núcleos centrais das fibras musculares e interposição progressiva de conjuntivo e tecido gorduroso entre elas [1]. Na DMD, a criança apresenta aparente desenvolvimento motor normal, porém, por volta dos três anos de idade, inicia história de quedas freqüentes, marcha digitígrada e dificuldade para subir e descer escadas. Ao se levantar do chão, utiliza-se de uma manobra característica, denominada levantar de Gower [2,3]. A perda progressiva da força muscular geralmente é simétrica, iniciando nas regiões proximais dos membros, progredindo para regiões distais. O desequilíbrio na ação da musculatura, perda da força muscular e a ação da gravidade podem ocasionar deformidades articulares, como escolioses, que prejudicam o alinhamento postural do indivíduo. Outro sinal característico é a pseudo-hipertrofia de tríceps sural (panturrilha), quadríceps, glúteo e deltóide, devido ao acúmulo de gordura entre as fibras musculares, e também ocorre o aumento da lordose lombar durante a marcha [2,3]. Por volta dos sete a oito anos de idade, a criança perde a capacidade de deambulação, sendo necessária a locomoção na cadeira de rodas. Geralmente, progridem para óbito durante a segunda ou terceira década de vida, em conseqüência da imobilidade geral, principalmente da musculatura respiratória. Há rigidez da parede torácica, microatelectasia pulmonar, aspiração e dificuldade para eliminação das secreções, devido à capacidade reduzida de tossir [3-5]. As anormalidades cardíacas podem ser detectadas precocemente, logo ao nascimento, aumentando com a idade, até que esteja presente em todos os pacientes aos 18 anos. Em relação à parte cognitiva, acreditava-se antigamente que essas crianças apresentassem inteligência normal, mas diversos autores descreveram deficiência cognitiva e apatia, em porcentagem significativa, desses pacientes [3]. A DMB é uma forma de miopatia menos grave do que a DMD, sendo seu curso também progressivo, porém de início mais tardio e lento, iniciando-se aproximadamente na adolescência, podendo ocasionar a perda de capacidade de locomoção na segunda ou terceira década de vida [6]. A cardiomiopatia pode ocorrer em cerca de 50% dos indivíduos, da mesma forma que a instalação das deformidades articulares e escolioses, as quais podem surgir mais tardiamente do que na DMD. O óbito é raro antes de 21 anos, ocorrendo geralmente próximo dos 40 anos ou devido às complicações respiratórias e cardíacas. O quadro clínico da DMB apresenta variabilidade muito maior que a do tipo Duchenne, tanto no surgimento dos primeiros sinais, como na evolução da doença. Assim, é comum encontrarmos em uma mesma família, indivíduos afetados pela DMB que apresentam diferentes graus de comprometimento [4]. Tanto para o diagnóstico da DMD, quanto para DMB são utilizados os exames laboratoriais (análise da creatinafos- Fisioterapia_v7n1.indb 70 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 foquinase – CK, DNA), eletromiografia (EMG) e a biópsia muscular [7]. A forma intermediária de miopatia é um tipo raro de doença neuromuscular, com características motoras semelhantes à DMD e DMB, porém não há base literária suficiente para a sua descrição. Desse modo, o objetivo desse trabalho é relatar o caso raro de um indivíduo com distrofia muscular intermediária e, através da descrição do caso clínico, serão acrescentadas a seguir as principais características encontradas nesse tipo de distrofia. Material e métodos Foi analisado no setor de pediatria da clínica de fisioterapia do Centro Universitário Hermínio Ometto – Uniararas, um sujeito do sexo masculino, nove anos de idade, com diagnóstico clínico de distrofia muscular intermediária. Inicialmente, foi realizada anamnese com o responsável, a fim de verificar dados da gestação e parto, as principais etapas do desenvolvimento neuromotor, o início dos sintomas e os exames laboratoriais para diagnóstico. Após a anamnese, o sujeito foi avaliado segundo a ficha de avaliação fisioterapêutica da Clínica de Fisioterapia da Faculdade Hermínio Ometto - Uniararas, no setor de pediatria, quantificando a força de grupos musculares de membros superiores (MMSS) e inferiores (MMII), e a avaliação funcional de MMSS e MMII, segundo a escala modificada de Vignos et al. [8] (quadro I). Quadro I - Escala de avaliação funcional de Vignos et al. [8] Grau 1: Caminha e sobe escadas sem necessitar de ajuda Grau 2: Anda e sobe escadas com ajuda do corrimão Grau 3: Caminha e sobe escadas lentamente, apoiando-se no corrimão. Grau 4: Anda sem ajuda e se levanta da cadeira, mas não consegue subir escadas. Grau 5: Anda sem ajuda, mas não é capaz de levantar-se da cadeira ou de escalar degraus. Grau 6: Caminha somente com ajuda de aparelhos ortopédicos longos para membros inferiores. Grau 7: Caminha com auxilio de aparelhos ortopédicos longos para os membros inferiores, mas precisa de ajuda para equilibrar-se. Grau 8: Mantém-se em pé com auxilio dos aparelhos ortopédicos, porém não consegue andar, nem mesmo com ajuda. Grau 9: Confinada à cadeira de rodas. Os flexores do cotovelo vencem a ação da gravidade. Grau 10: Confinada à cadeira de rodas. Os flexores do cotovelo não conseguem vencer a ação da gravidade. Resultados Sujeito do sexo masculino, nove anos de idade, segundo o relato da mãe, é filho adotivo, sendo o primeiro filho da mãe biológica, não apresentando nenhum caso dessa patologia 1/2/2006 18:50:36 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 na família. Nasceu de parto normal, a termo, peso de 2,5 kg, apresentando parada cardiorrespiratória ao nascimento, permanecendo internado por sete dias na unidade de terapia intensiva, evoluindo sem seqüelas motoras. Em relação ao desenvolvimento motor, apresentou atraso no sentar sem apoio, não engatinhou, iniciou aos nove meses a postura de pé com apoio e aos dois anos a marcha independente. Aos seis anos, apresentou quedas freqüentes, alterações na postura em pé, com déficit de equilíbrio, base alargada, além de iniciar a marcha digitígrada. Aos nove anos, apresentou dificuldade para subir e descer escadas, com maiores déficits de força e equilíbrio, principalmente em MMII, aumentado a dificuldade para deambulação independente. Em relação à força muscular, apresenta fraqueza muscular mais acentuada nos músculos proximais dos MMII comparados com os MMSS (Tabela I). Tabela I - Análise da força muscular em MMSS e MMII no indivíduo com Distrofia Muscular Intermediária. Músculo MMSS Flexor de ombro Extensor de ombro Abdutor de ombro Adutor de ombro Rotador interno Rotador externo Pronador Supinador Flexor de cotovelo Extensor de cotovelo Flexor de dedos Extensor de dedos Flexor de punho Extensor de punho MMII Flexor de quadril Extensor de quadril Abdutor de quadril Adutor de quadril Rotador interno Rotador externo Flexor do joelho Extensor do joelho Dorsiflexor tornozelo Flexor plantar tornozelo Flexor de dedos Extensor de dedos Grau de força muscular 4 4 4 4 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 2 2 2 2 3 3 3 3 3 4 3 3 Em relação à avaliação funcional de MMSS e MMII verificou-se maior grau de funcionalidade nos MMSS (Tabela II). Fisioterapia_v7n1.indb 71 71 Tabela II - Avaliação da capacidade funcional no indivíduo com Distrofia Muscular Intermediaria segundo escala de Vignos et al. [8] Membros MMSS MMII Grau de funcionalidade 3 2 Para confirmação do diagnóstico clínico foi realizado o exame laboratorial de CK (945 US/ml, com valores normais de aproximadamente 40 US/ml para idade até 14 anos) e clínico de DNA, observando deleção molecular no gene da distrofina, compatíveis com o diagnóstico de Distrofia Muscular Progressiva Xp21, o qual abrange tanto a DMD quanto a DMB. Devido ao resultado dos exames laboratoriais e à análise do quadro clínico demonstrado pelo sujeito, o qual não apresenta características compatíveis isoladamente com a DMD ou com a DMB, foi caracterizada a Distrofia Muscular Intermediária. Discussão Através do caso relatado, pode-se observar que o primeiro sintoma a ser observado na Distrofia Muscular Intermediária assemelha-se a DMD, o qual se caracteriza por início da marcha digitígrada e quedas freqüentes [5]. Porém, nessa forma de distrofia intermediária, o indivíduo apresentou início dos sintomas aos seis anos de idade, ou seja, em período mais tardio do que a DMD, pois esta inicia seus primeiros sintomas entre 3-5 anos de idade e aos sete ocasiona a perda da capacidade de andar. Por outro lado, apresenta início precoce para caracterizar DMB, onde os primeiros sintomas são mais lentos, mantendose a marcha inalterada até os 15 anos de idade [6]. Para realização do diagnóstico clínico, pode ser realizado o teste enzimático de CK, no qual o indivíduo no início da DMD geralmente apresenta o índice de CK até 50 vezes elevado [2], fato observado no sujeito analisado. Pode ser realizado também o exame de DNA, o qual pode ser utilizado para identificação da localização anormal do gene em Xp21 e que são particularmente úteis em conjunto com o teste de CK sérica para o diagnóstico clínico [5]. Segundo estudos de Leitão et al. [1], 60 a 70% dos indivíduos diagnosticados como DMD ou DMB apresentam uma deleção molecular no gene da distrofina, característica observada no indivíduo do nosso estudo, o qual apresentou exame compatível com distrofia muscular progressiva Xp21. Essa denominação abrange as distrofias musculares, tanto do tipo Duchenne, como do tipo Becker, que são doenças genéticas de herança recessiva ligada ao cromossomo X, e que afeta indivíduos do sexo masculino. Devido à escassez na literatura, deve-se valorizar principalmente a descrição clínica e os achados dos testes de genética molecular para realização do seu diagnóstico clínico. Calcula-se que aproximadamente 15% dos pacientes que recebem inicialmente o diagnóstico de DMD apresentam início do acometimento motor tardiamente ou evoluem com acometimento moderado [6]. 1/2/2006 18:50:37 72 Em relação ao quadro motor do sujeito, verificou-se início da fraqueza muscular na região proximal dos membros, principalmente em MMII, concordando com relatos de Burns e Macdonald [3]. A marcha do indivíduo analisado também apresenta alterações semelhantes à DMD, como oscilações laterais do tronco, abdução do membro inferior ipsilateral, devido à fraqueza do glúteo médio, aumento da flexão do quadril, a fim de compensar a fraqueza dos músculos dorsiflexores de tornozelo. Tais características manifestam-se à medida que a força muscular dos membros diminui [3]. Em alguns casos de DMD pode-se observar atraso no desenvolvimento motor [2], fato também observado no nosso estudo, no qual o sujeito apresentou atraso nas aquisições de posturas altas como sentar, ficar de pé e andar. Em relação à capacidade funcional, nas distrofias musculares, os MMSS tendem a manter a sua capacidade funcional por mais tempo do que os MMII, porém, devido ao início da fraqueza muscular mais proximal (cintura escapular), o indivíduo apresenta dificuldade para manipulação e preensão de objetos, conseqüente à falta de estabilidade proximal [3]. Essa característica foi observada no nosso estudo, o qual o indivíduo apresentou maior grau de funcionalidade em MMSS. Essa maior funcionalidade do MMSS deve-se principalmente ao maior grau de força muscular apresentado pelo indivíduo, além de não apresentar deformidades articulares. Isso demonstra que a manutenção do comprimento ideal do músculo possibilita maior geração de força e, conseqüentemente, maior uso do membro [9,10]. A força de contração muscular (tensão) gerada pelo músculo é quantificada pela freqüência de disparos dos neurônios motores alfa e proporcional ao número de fibras extra-fusais estimuladas por este neurônio motor [7,9,10]. Para que o músculo possa gerar contração ativa máxima, é necessário também que se encontre em um comprimento ideal (comprimento de repouso) que corresponde à posição na qual o músculo deve agir com força e eficiência. A tensão gerada pelo músculo pode cair se esse comprimento for inferior ou exceder o de repouso, pois, se for maior, haverá menos ligações cruzadas de actina e miosina disponível para interagir e, se for menor, ocorrerá interferência entre as moléculas, porque a sobreposição é muito grande. Portanto, alterações posturais podem mudar esse comprimento de repouso e diminuir a capacidade do músculo de gerar tensão [10]. A fraqueza muscular não apenas resulta em perda do movimento ou de estabilidade de uma determinada articulação, mas também gera um estado de desequilíbrio muscular que afeta todos os grupos musculares referentes à produção de movimentos coordenados [10]. Desse modo, a fraqueza muscular encontrada nos músculos proximais dos membros do indivíduo pode afetar a produção de força dos músculos adjacentes, alterando assim a sua funcionalidade, característica observada nos MMII do sujeito. Além disso, é importante que os músculos mantenham seu comprimento de repouso ideal, a fim de possibilitar a geração de força. Fisioterapia_v7n1.indb 72 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Conclusão Devido à variabilidade de tipos de doenças neuromusculares, é importante conhecer e identificar todas as características clínicas de cada patologia a fim de possibilitar o diagnóstico e tratamento preciso. Devido às características clínicas encontradas, principalmente o início dos sintomas motores, a Distrofia Muscular Intermediária apresenta quadros motores semelhantes à DMD, porém com início dos sintomas no período entre a DMD e DMB, ou seja, aproximadamente aos seis anos de idade. A evolução motora tende a seguir os mesmos sintomas relatados para a DMD e DMB, com perda progressiva da força muscular, da capacidade funcional, até atingir a perda da deambulação independente, locomovendose em cadeira de rodas, porém em idades intermediárias àquelas relatadas para a DMD e DMB. Devido à probabilidade de acometimento cardíaco e à perda progressiva de fibras musculares, como nos demais tipos de distrofia, o óbito pode ser ocasionado devido à insuficiência respiratória associada. O diagnóstico deve ser realizado com base nos exames laboratoriais, clínicos, mas, principalmente, no conhecimento prévio das demais patologias neuromusculares e na análise do quadro motor do indivíduo. O tratamento fisioterapêutico deve ser iniciado o mais precocemente possível, a fim de prevenir a instalação de deformidades articulares, retardar a perda da força muscular e aperfeiçoar a capacidade respiratória e funcional do indivíduo, da mesma forma já relatada nos casos de DMD e DMB. È necessário, portanto, o conhecimento das características da patologia a fim de propor o tratamento terapêutico adequado, considerando sempre a evolução da própria patologia. Referências 1. Leitão AVA et al. Progressive muscular dystrophy - Duchenne type: controversies of the kinesitherapy treatment. São Paulo Med J 1995;113(5):995-9. 2. Shepherd RB. Fisioterapia em pediatria.3a ed. São Paulo: Santos; 1998. 3. Burns W, Mac Donald J. Fisioterapia e crescimento na infância. São Paulo: Santos; 1999. 4. Stokes M. Neurologia para fisioterapeutas. São Paulo: Premier; 2000. 5. Diament A, Cypel S. Neurologia infantil. 3a ed. São Paulo: Atheneu; 1998. 6. Kudo et al. 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Coura Pereira*, Roger Duarte da Paz*, Flávia Maria Campos de Abreu*** *Fisioterapeuta Graduado na Universidade Presidente Antônio Carlos UNIPAC, Barbacena MG, **Fisioterapeuta, Membro do Grupo Latino Americano para a Maturidade -GDLAM, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana-LABHIM RJ, ***Fisioterapeuta Graduada na UEMG, Membro do Grupo Latino Americano para a Maturidade-GDLAM, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana-LABHIM RJ, Docente Titular de Fisioterapia Aplicada à Geriatria UNIPAC Resumo Abstract O presente trabalho foi realizado através da seleção de um individuo idoso portador de osteoartrite de joelho, no qual foram utilizados para confirmação da patologia o diagnóstico médico, o exame radiológico e a sintomatologia clínica. Foram realizados um total de 36 sessões de fisioterapia exclusivamente de alongamento estático e fortalecimento excêntrico do quadríceps femoral, com freqüência de três sessões por semana, com duração média de 50 minutos cada sessão. Foram utilizadas as escalas de força manual, goniometria passiva, perimetria, índice algo-funcional de Lequesne e escala de Cincinnati, para mensuração, com obtenção de ganhos significativos, demonstrados em forma de gráficos. Devemos considerar que apesar de haverem possíveis variáveis nesta pesquisa por ter sido realizada somente com uma amostra, concluímos que o exercício excêntrico de quadríceps femoral produz uma melhora substancial no quadro álgico e incapacitante em indivíduos portadores de osteoartrite de joelho, resultando em uma melhor qualidade de vida. The current work was performed through the selection of an elderly individual with knee osteoarthritis, confirmed by medical diagnostic, radiology examination, and clinical symptoms. A total of 36 physical therapy sessions exclusively of static stretching and eccentric strengthening of the femoral quadriceps were performed, with a frequency of three sessions per week, with an average duration of 50 minutes each session. The manual force scales, the passive goniometry, perimetry, Lequesne index and Cincinnati scale used for mensuration with significant gains, shown in graphs were also performed. We should consider that although there might be possible variables in this research, since it was performed only with one person, we concluded that the eccentric exercise of femoral quadriceps produces a substantial improvement in the algic and disability process in patients with knee osteoarthritis, resulting in a better quality of life. Key-words: elderly, osteoarthritis, eccentric exercise, quality of life. Palavras-chave: idoso, osteoartrite, exercício excêntrico, qualidade de vida. Introdução Segundo dados do IBGE, no ano de 2030 o Brasil terá a sexta população mundial em número absoluto de idosos [1,2]. Ao longo da segunda metade do século XX, os idosos, a velhice e o processo de envelhecimento humano vêm ganhando espaços cada vez maiores no cenário nacional, alcançando o verdadeiro ápice gerontológico em sua última década [3,4,5]. A osteoartrite, também denominada doença degenerativa articular, é uma patologia muito freqüente que envolve degeneração da cartilagem, remodelagem do osso subcondral, crescimento excessivo de osso nas margens articulares, Recebido 18 de maio de 2005; aceito 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Igor Magalhães e Souza, Av. João Monlevade, 498 B Pioneiros 36420-000 Ouro Branco MG, Tel: (31)3741-3869 /97318363 ou (32)3331-1911, E-mail: igaofi[email protected] Fisioterapia_v7n1.indb 73 1/2/2006 18:50:38 74 derrame articular e espessamento da sinóvia ou da cápsula articular [6]. Esta patologia está associada a alterações nas fibras de colágeno, proteoglicanas, na síntese de condrócitos, na hidratação e nas propriedades mecânicas da cartilagem afetada. É comum a ocorrência da osteoartrite em articulações que sofrem maior descarga de peso corporal, como os joelhos. Os primeiros sintomas são dor, rigidez matinal, diminuição ou perda de movimento, crepitações, edema, fraqueza e espasmos musculares [7,8,9]. Se existir movimento, na articulação acometida, o osso subcondral torna-se esclerótico, e se não existe movimento considerável, o osso e toda a musculatura adjacente sofre atrofia. Também é comum estarem presentes áreas de foco de sinovite crônica secundária, caracterizada por infiltrado de linfócitos, em casos de osteoartrite mais avançados [10,11,12]. A osteoartrite é uma doença multifatorial, dentre as causas incluem-se fatores genéticos, metabólicos, enzimáticos, biomecânicos, sexo feminino, e idade avançada. Existem diferenças na patogênese entre homens e mulheres. Nas mulheres a osteoartrite está associada à obesidade ou estresse articular e é freqüentemente bilateral, enquanto nos homens ocorre por trauma ou lesão, sempre unilateralmente[13,14]. Na última década, cientistas e fisiologistas do exercício têm intensificado e focalizado as pesquisas em relação ao treinamento de força para pessoas idosas, com o objetivo de minimizar ou reverter à redução da força muscular relacionada com a idade [15,16]. Nos exercícios isotônicos excêntricos ocorre um tipo de sobrecarga muscular dinâmica que geram tensão e alongamento muscular quando aplicada a uma força externa e ocorrem em muitas funções diárias tais como, abaixar o corpo contra a gravidade e descer escadas, além de proporcionar uma maior fonte de absorção de choque. Acredita-se que as contrações musculares excêntricas forneçam uma maior quantidade de força ao músculo do que as contrações concêntricas. Em relação à contração isométrica, as contrações excêntricas geram uma maior quantidade de tensão no músculo, além de um menor consumo de oxigênio e energia [17]. A realização de exercícios físicos pela população idosa é de fundamental importância quando considerarmos seus benefícios para aumentar a independência funcional [18]. O presente estudo visa realizar um programa de fortalecimento com exercícios exêntricos em ambos os joelhos em uma idosa de 75 anos, buscando a minimização do quadro àlgico, melhora da força muscular, melhora da A.D.M. e melhora da qualidade de vida nos aspectos psicológicos, emocionais e funcionais. Material e métodos O presente trabalho foi realizado através da seleção de um individuo portador de osteoartrite de joelho, no qual foram utilizados para confirmação da patologia o diagnóstico Fisioterapia_v7n1.indb 74 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 médico, o exame radiológico, a idade, o sexo e sintomatologias clínicas. Nos critérios de inclusão, constam: idade mínima de 70 anos, bom estado mental, lucidez e cooperação ao tratamento, presença de edema, dor e crepitações no joelho, presença de limitação funcional no joelho, fraqueza muscular em membros inferiores, confirmação de osteoartrite de joelho pela visualização dos sinais característicos no RX. Nos critérios de exclusão, constam: presença de patologias graves, como câncer, cardiopatias e doenças pulmonares. O tratamento foi realizado no IMAF (Instituto Mauro Alcides Ferreira) na cidade de Barbacena MG, tendo início no dia 15/03/2004 com término no dia 25/06/2004. Os materiais utilizados no estudo foram: goniômetro (marca ISP), fita métrica, tornozeleira de 1 e de 2 kg, esfigmomanômetro (marca Solidor), estetoscópio (marca Rappaport Premium), Escala de Pontuação de Cincinnati, Índice Algo-Funcional de Lequesne para artrose de joelho e Escala de Força Manual. Na avaliação inicial foi constatado tratar-se de um indivíduo independente em suas atividades diárias, porém com certas restrições, onde suas principais queixas eram a dor freqüente nos joelhos, onde também interferia na qualidade do sono noturno, fraqueza em membros inferiores no caminhar, subir escadas e agachar-se. Foram observadas a presença de crepitações em ambos os joelhos, edema no joelho esquerdo, hipotrofia muscular em todos os músculos do membro inferior bilateralmente, com maior acometimento do lado esquerdo onde possuía um maior grau de artrite. No aspecto psicológico, trata-se de um paciente sedentário, depressivo, ansioso, com pouca atividade social e pouco comunicativa. Através da avaliação pelo teste de graduação manual de força muscular, foram detectados pequenos déficits no grau de força muscular dos músculos do membro inferior, com exceção dos músculos adutores do quadril, flexor dos dedos e extensor dos dedos, bilateralmente. Também foram detectadas alterações na flexibilidade e no equilíbrio, com maior ênfase no membro inferior esquerdo, detectado através da análise da goniometria. A análise do trofismo muscular também foi realizada bilateralmente, através da perimetria. Foram utilizadas as escalas de Índice-Algo Funcional de Lequesne, para artrose de joelho e Escala de Pontuação de Cincinnati. O Índice-Algo Funcional de Lequesne compreende um questionário administrado ao paciente com perguntas relacionadas a dor e ao comprometimento funcional e sua utilização representa um importante auxilio na avaliação das ações terapêuticas a serem seguidas. Em cada sessão foram realizadas três séries de dez repetições para cada exercício, com um total de 36 sessões fisioterapêuticas, com uma freqüência de três sessões por semana, com duração média de 50 minutos cada sessão. A cada doze sessões foram feitas reavaliações idênticas à primeira para se observar à evolução da paciente. 1/2/2006 18:50:39 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 Os sinais vitais foram monitorados no início e no final de cada sessão, sendo eles formados pela medição da pressão arterial, freqüência cardíaca e freqüência respiratória. A partir dos dados encontrados na avaliação inicial, estabeleceu-se um programa de treinamento baseado no ganho de força e endurance muscular para o músculo quadríceps femoral, na intenção de minimizar os efeitos limitantes causados por uma osteoartrite de joelho presente. Ao final da avaliação foram reunidas todas as informações colhidas e planejado o tratamento fisioterapêutico dando início assim ao tratamento a seguir: alongamento estático dos músculos quadríceps, ísquio tibiais, tríceps sural e tibial anterior, bilateralmente (3 séries de 20 segundos cada), exercício ativo resistido isotônico excêntrico para quadríceps, 1 – começando com uma tornozeleira de 1 kg, evoluindo para uma tornozeleira de 2 kg ao final do tratamento, para retorno de extensão de joelho (paciente sentada na maca com os MMII pendentes, sem realizar a contração concêntrica de quadríceps, sendo realizado passivamente pelo terapeuta); 2 – com resistência manual para o movimento de retorno de flexão de joelho, com o quadril a 90º de flexão e estabilizado, paciente em decúbito dorsal (resistência executado pelo mesmo terapeuta durante todo tratamento); 3 – com resistência manual para o movimento de retorno de flexão de joelho e quadril, paciente em decúbito dorsal (resistência executada pelo mesmo terapeuta durante todo tratamento). 75 dos abdutores de quadril esquerdo receberam inicialmente grau 3 de força muscular e o grupo do lado direito grau 4; o grupo dos adutores de quadril receberam inicialmente grau 5 de força; o grupo dos dorsiflexores do tornozelo receberam grau 3 de força; o grupo dos plantiflexores do tornozelo receberam grau 4 inicialmente e bilateralmente na escala manual de força. Na reavaliação final, depois de 36 sessões realizadas, o grupo dos flexores de quadril mantiveram grau 5 de força bilateralmente; o grupo dos extensores de quadril mantiveram com grau 4 de força; o grupo dos abdutores de quadril mantiveram grau 5 de força bilateralmente; o grupo dos adutores de quadril mantiveram grau 5 de força bilateralmente; o grupo dos extensores do joelho direito permaneceu com grau 5, e o joelho esquerdo permaneceu em grau 4; o grupo dos flexores de joelho direito evoluíram para grau 5, e o grupo esquerdo manteve grau 4 de força; o grupo dos dorsiflexores do tornozelo direito evoluiu para grau 5 de força e o grupo do lado esquerdo evoluiu para grau 4 de força; o grupo dos plantiflexores evoluíram para grau 5 de força. Gráfico I - Escala manual de força muscular Resultados e discussão Os resultados seguintes foram baseados em uma comparação entre os dados obtidos na primeira avaliação, antes da execução do tratamento proposto, e os dados da avaliação pós-tratamento. Ao final do programa observou-se uma melhora no aspecto psicológico do indivíduo. Existe uma relação entre a saúde dos idosos e relacionamentos sociais, onde se pode observar, uma melhor saúde no idoso quando ele se encontra envolvido com a sociedade [19,20]. Houve uma melhora significativa no quadro da paciente através do teste de graduação manual da força e a progressão da carga nos exercícios de fortalecimento. No teste de graduação manual de força muscular houve um aumento no escore obtido. Mesmo se tratando de um teste subjetivo, este é um teste válido e reconhecido, por isso foram tomadas algumas precauções para que certas influências externas não interferissem no tratamento, sendo elas: a avaliação inicial e reavaliações seguintes foram realizadas por um mesmo avaliador; o avaliador não teve acesso aos resultados obtidos na avaliação anterior durante a reavaliação. Os membros inferiores, que representaram o alvo do programa de treinamento obtiveram melhora nos graus de força em todos os grupos musculares. Os grupos dos músculos extensores e flexores do quadril e do joelho receberam inicialmente grau 3 de força na escala manual de força; o grupo Fisioterapia_v7n1.indb 75 Existem recentes pesquisas que apontam que os indivíduos idosos podem beneficiar-se dos exercícios aumentando não só a resistência e a força muscular, mas também o equilíbrio e a mobilidade, causando uma significativa redução nos riscos de quedas e lesões, melhorando a capacidade funcional total. Com o envelhecimento, a perda de força é maior em membros inferiores do que superiores, já que estes permanecem mais ativos. Treinamento físico pode não restaurar tecidos que já foram destruídos, mas geram uma certa proteção contra um número de doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento. O mais importante é maximizar as funções fisiológicas do organismo que ainda permanecem preservadas [21,22,23]. Devemos levar em conta o ganho significativo em relação à carga imposta durante a primeira e a ultima sessão, que obteve um aumento de 100% nesta carga o que nos leva a concluir um ganho expressivo de força muscular, pois do contrário não conseguiríamos aumentar esta carga em tão pouco tempo de treinamento. 1/2/2006 18:50:40 76 Houve uma melhora significativa na amplitude de movimento (A.D.M.) dos membros inferiores da paciente sendo mensurada através da goniometria passiva. Os dados relatados a seguir correspondem à diferença entre a avaliação inicial e a final, apesar de terem sido realizadas a goniometria em cada reavaliação. No grupo muscular dos flexores de quadril do lado direito houve um ganho de 20% na A.D.M. e do lado esquerdo o ganho foi de 25%; o grupo dos extensores de quadril do lado direito teve um ganho de 80% e do lado esquerdo de 100%; no grupo dos abdutores de quadril direito houve um ganho de 55% e no lado esquerdo houve um ganho de 50%; no grupo dos adutores de quadril direito houve um ganho de 35% e do lado esquerdo houve um ganho de 27%; no grupo dos flexores de joelho direito houve um ganho de 22% e do lado esquerdo houve um ganho de 19,5%; no grupo dos extensores de joelho não houve alteração; no grupo dos dorsiflexores do tornozelo direito houve um ganho de 33% e do lado esquerdo houve um ganho de 60%; no grupo dos plantiflexores do lado direito houve um ganho de 50% e do lado esquerdo houve um ganho de 42%. Gráfico II - Goniômetria. Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 amplitude de movimento, maior facilidade nas atividades de desgaste, pois serve como um sinalizador para os músculos que estão prestes a serem utilizados, melhora na consciência corporal, ativa a circulação e auxilia na liberação de movimentos bloqueados por tensões emocionais [24]. Um aspecto importante na saúde física é a integridade do sistema músculo esquelético que é formado por três componentes básicos: força muscular, resistência e flexibilidade. Se houver um comprometimento de um desse três componentes a adaptação músculo esquelética também estará comprometida e poderá causar um grande impacto na saúde e bem estar deste indivíduo. Portanto, realizar programas de treinamento que incluam estes três componentes é de grande valor para uma manutenção da qualidade da saúde [24,25]. Na avaliação inicial foram realizadas medidas métricas, através da perimetria, sendo elas infra e supra-patelar. Na avaliação final constatou-se um pequeno ganho no trofismo muscular de todo o membro inferior bilateralmente, principalmente no músculo quadríceps femoral, mesmo não sendo o objetivo principal do treinamento. Mas também sabemos que é inevitável um ganho de força muscular, sem obtermos um ganho de trofismo muscular, por menor que seja. Sempre que a contração muscular encontrar uma resistência irá ocorrer uma tensão em todas as estruturas do músculo. Esse aumento na tensão estimula os mecanismos de hipertrofia, hiperplasia e proliferação conjuntiva. A hipertrofia é o maior causador de aumento de volume dos músculos e consiste no acúmulo de proteína contrátil nas fibras brancas e vermelhas. Já a hiperplasia muscular consiste no aumento do número de fibras. A proliferação do tecido conjuntivo funcional do músculo, camadas formadas pelo endomísio, perimísio e epimísio apresentam uma pequena contribuição para o volume muscular [26]. Em relação aos ganhos obtidos, na medida infra-patelar do joelho direito houve um ganho de 11% e no joelho esquerdo de 13%; na medida supra-patelar houve um ganho de 3% bilateralmente. Conclui-se então que, apesar da pequena diferença encontrada no resultado pré e pós-teste em ambos membros inferiores, houve um pequeno ganho no trofismo muscular do músculo quadríceps femoral. Gráfico III - Perimetria. Os alongamentos são importantes elos contra uma vida sedentária, onde se mantém os músculos mais flexíveis, preparando-os para o movimento e ajudando na mudança de uma vida de inatividade para uma vida mais ativa e demonstra que estes devem ser realizados de forma correta, pois poderão trazer mais prejuízos do que benefícios [14]. Os alongamentos podem ser realizados antes e depois das atividades causando uma manutenção da flexibilidade e ajudando na prevenção de lesões. Entre outros benefícios, na prática do alongamento encontra-se redução das tensões musculares, sensação de relaxamento, melhora da coordenação motora pela facilitação dos movimentos, aumento na Fisioterapia_v7n1.indb 76 1/2/2006 18:50:41 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 77 O sistema de classificação mais utilizado atualmente na dor e capacidade funcional de um indivíduo portador de uma osteoartrite de joelho é o Índice Algo-Funcional de Lequesne, onde avalia as condições físico-funcionais do paciente e a gravidade da lesão, além de avaliar a dor ou incômodo, a capacidade de distância máxima de marcha e a dificuldade da vida cotidiana, como por exemplo subir e descer escadas ou agachar-se completamente. O escore varia entre 1 e 24 pontos, proporcionando uma classificação da gravidade da osteoartrite em leve, moderada, grave, muito grave e extremamente grave [10]. O Índice-Algo Funcional de Lequesne, compreende um questionário administrado ao paciente com perguntas relacionadas a dor e ao comprometimento funcional e sua utilização representa um importante auxilio na avaliação das ações terapêuticas a serem seguidas [27]. Gráfico V - Escala de Cincinnati. Gráfico IV -Índice Algo-funcional de Lequensne. Conclusão No Índice Algo-Funcional de Lequesne obteve-se um ganho de 94% em relação á primeira e última avaliação realizada. Na avaliação inicial, obteve-se uma pontuação na escala igual a 17,5 pontos, sendo que na última avaliação obteve-se um escore de 9,0 pontos. Concluímos que houve um ganho significativo no quadro álgico e capacidade funcional da paciente pesquisada, quando avaliada pela escala em questão. O Cincinnati Rating System possui a pontuação máxima de 100 pontos onde o escore de 95 a 100 pontos é considerado excelente, 84 a 94 bom, 65 a 83 razoável e 64 ou menos pontos insatisfatório. O questionário Cincinnati é viável para ser usado como método de acompanhamento e documentação de um tratamento realizado e apresenta-se sensível às alterações dos sintomas dos pacientes com o passar do tempo [28]. Na Escala de Pontuação de Cincinnati obteve-se um aumento de 292% no escore total do joelho direito, onde na avaliação inicial tinha-se um valor de 28 pontos na escala e na avaliação final obteve-se 82 pontos. Porém no joelho esquerdo obteve-se um ganho de 345 % com valor inicial de 22 pontos e 76 pontos na avaliação final. Fisioterapia_v7n1.indb 77 Concluímos assim que houve um ganho considerável na Escala de Pontuação de Cincinnati onde foram avaliadas as características de dor e capacidade funcional, entre outras. É importante ressaltar que se torna cada vez mais necessário uma melhor qualidade de vida na população idosa, visto que em 2030 o Brasil terá a sexta população mundial em número absoluto de idosos, o que nos força cada vez mais a buscar por conhecimentos e pesquisas sobre as patologias que geram a incapacidade funcional e os possíveis tratamentos desses indivíduos. Diante disso, obteve-se resultados satisfatórios através do programa de fortalecimento muscular excêntrico do quadríceps femoral no tratamento da osteoartrite de joelho em uma idosa de 75 anos. Com os resultados pode-se concluir haver um grande benefício com o programa de alongamento estático e exercício excêntrico para se obter ganho no fortalecimento muscular, na flexibilidade e na hipertrofia muscular, ou seja, na capacidade funcional total deste indivíduo. Outros fatores importantes visíveis nos benefícios do programa de exercícios realizado foram à melhora no fator psicológico, no nível de ansiedade, no quadro de depressão e um maior convívio social. Deve-se considerar que apesar de haverem possíveis variáveis nesta pesquisa por ter sido realizada somente com uma amostra, foram alcançados os objetivos principais do estudo, onde se conclui que o exercício excêntrico de quadríceps femoral produz uma melhora substancial no quadro álgico e incapacitante em indivíduos portadores de osteoartrite de joelho, resultando em uma melhor qualidade de vida. É importante que sejam realizadas mais pesquisas sobre o programa de fortalecimento exclusivamente excêntrico, buscando uma maior população, de forma randomizada, na busca de uma comprovação científica sobre os efeitos fisiológicos presentes ao final do programa de exercício excêntrico. 1/2/2006 18:50:42 78 Referências 1. Coloma AL et al. Adaptações ao treinamento de força na terceira idade. 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Revista do Joelho SBCJ 2001;1(1):11-4. 1/2/2006 18:50:42 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 79 Normas de publicação Fisioterapia Brasil A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 2. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 3. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 4. Estudo de caso São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 5. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. PREPARAÇÃO DO TEXTO 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. Fisioterapia_v7n1.indb 79 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin – Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 – Lapa – 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel: (21) 2221 4164 – E-mail: [email protected] Consulte o texto completo das Normas em nosso site: www.atlanticaeditora.com.br 1/2/2006 18:50:43 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 1 - janeiro/fevereiro de 2006 80 Calendário de eventos 2006 Março 20 a 25 de março 5th International Conference on Advances in Pulmonary Rehabilitation and Management of Chronic Respiratory Failure Stresa, Itália Informações: [email protected] 29 de junho a 1 de junho Cardiovascular Prevention 2006 – Setting up a Rehabilitation Clinic Sophia-Antipolis, France Informações: [email protected] 22 de março Evidence-Based Cognitive Rehabilitation New Orleans, Estados Unidos Informações: [email protected] Setembro Abril 6 a 9 de abril Reatech – V Feira Internacional de tecnologias em reabilitação e inclusão Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo Informações: www.cipanet.com.br 28 de abril a 1 de maio 40º Encontro Nacional de Atividade Física, Fisioterapia e Nutrição Poços de Caldas, MG Tel: (35) 3222-2344 Maio 12 a 14 de maio IIº Congresso Goiano de Fisioterapia Castro´s Park Hotel, Goiânia, GO Informações: [email protected] Junho Fisioterapia_v7n1.indb 80 6 a 9 de setembro 13º Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva Unicenp, Curitiba, PR Informações: www.sifr2006.com.br 13 a 16 de setembro XII Congresso Latinoamericano de Fisioterapia e Kinesiologia Bogotá, Colômbia Informações: [email protected] 22 e 23 de setembro III Congresso Brasileiro de Fisioterapia da Escoliose UniFMU, São Paulo, SP Informações: www.escoliose.fst.br E-mail: [email protected] Tel: (11) 3283 –1157 Outubro 25 a 27 de maio XXVII Congresso da Sociedade de cardiologia do Estado de São Paulo XII Simpósio de Fisioterapia Campos do Jordão, SP Informações: www.socesp.org.br 15 a 18 de junho 19º Congresso paulista de Educação Física Jundiaí, SP Tel: (11) 4587-9611 23 a 25 de junho Congresso Internacional de Fisioterapia e Terapia Manual Hotel Intercontinental, Rio de Janeiro Informações: Tel.:(21) 9449-0372 [email protected] 6 a 9 de outubro V CONNEFI – Congresso Norte Nordeste de Fisioterapia Hotel Tropical, Manaus, AM Organização: SOAMFI (Sociedade Amazonense de Fisioterapia) Informações: Adriana (92) 8812-7674, Dr. Marcos Cortez (92) 8111-1030, www.soamfi.org. 18 a 21 de outubro 6th Mediterranean Congress on Physical and Rehabilitation Medicine Algarve, Portugal Informações: [email protected] 1/2/2006 18:50:44 Fisioterapia Brasil (vol.7, nº2 março/abril 2006 - 81~164) EDITORIAL Sobre verdades e mentiras nas publicações cientificas, Marco Antonio Guimarães da Silva........................................................ 83 ARTIGOS ORIGINAIS Avaliação do ensino-aprendizagem em ventilação mecânica nos cursos de fisioterapia no Paraná, Erica Fernanda Osaku, Heitor Silvério Lopes, Esperidião Elias Aquim .......................................................................................... 84 Incidência de patologia respiratória em portadores de refluxo gastroesofágico, Eloisa Aparecida Nelli, Ana Beatriz de Lima Poloni, Carolise Bonilha, Alceu Sergio Trindade Junior ............................................. 87 Variações anatômicas entre o nervo isquiático e o músculo piriforme e sua relação com a síndrome do piriforme, Luciany Everardo Atencio Santamaría Fagundes, Fábio Urbini Carnevalli, Osvaldo Pelozo Júnior, Silvio Antônio Garbelotti Júnior ......................................................................... 90 Aspectos clínicos e anatomopatológicos da reparação de defeito osteocondral experimental da cabeça umeral de cães, após aplicação de laser a diodo de arsenieto de gálio, Cristina Boock de Souza Rodrigues, Ricardo Junqueira Del Carlo, Celber René Limonge, Betânia de Souza Monteiro, Lisandra Cristina Perez Pinheiro, Antônio José Natali, Taise Domingues de Souza ............................................................................................................................ 95 Isostretching no tratamento da lombalgia crônica, Paola Moreira Lopes, Thais Cristina Mackert, Moacir Chien-Min Haruo Yau, Ligia Maria Facci .................................................................................... 99 Comportamento das forças de reação do solo na marcha em condições de instabilidade patelofemoral, Fernanda Ishida Corrêa, João Carlos Ferrari Corrêa, José Luís Martinelli, Marco Antônio Araújo, Eduardo Filoni, José Augusto Peres ........................................................................ 104 Análise histomorfométrica e funcional do miocárdio de ratos wistar submetidos ao esforço físico crônico, Cynthia Kallás Bachur, José Alexandre Bachur, Érica Carolina Campos ........................................................................................................................... 109 Efeito da duração do alongamento estático na flexibilidade dos músculos isquiotibiais em um curto programa de alongamento, Lais Mara Siqueira das Neves, Carolina Alice Bragiola, Rodrigo Paschoal Prado, Carlos Eduardo Pinfildi .................................................................................. 113 Utilização da EMG de superfície como método de análise de força muscular e função respiratória em portadores de distrofinopatias, Ana Inês González, Andreza Del Castanhel, Clarissa Martinelli Comim, Karina Oliveira de Souza, Lisiane Tuon ...................................................... 118 Validação da adaptação e modificação do Quebec Back Pain Disability Scale, Vanessa Ferreira Bréder, Débora Feliciano de Oliveira, Estélio Henrique Martin Dantas, Marco Antônio Guimarães da Silva ............................................................................................................................................. 124 REVISÕES Características da produção científica de fisioterapia relacionada à saúde coletiva, Paulo Frazão, Carla Costa ............................................................................................................................................................ 132 Tratamento da lombalgia na gestação, Cristine Homsi Jorge Ferreira, Ana Carolina Rodarti Pitangui, Ana Márcia Spanó Nakano ........................................................................................................ 138 Mecanismos de interação do ultra-som terapêutico com tecidos biológicos, João Luiz Quagliotti Durigan, Karina Maria Cancelliero, Michel Silva Reis, Carolina Náglio Kalil Dias, Denis Rafael Graciotto, Carlos Alberto da Silva, Maria Luiza Ozores Polacow.................................. 142 Efeitos fisiológicos da massagem para bebês, Cláudia Marchetti Vieira da Cruz, Fátima Aparecida Caromano ....................................................................................................................................................... 149 Eficácia dos exercícios de Tai Chi Chuan na prevenção do risco de quedas em idosos, Fátima de Lima Paula, Edmundo de Drummond Alves Junior, Marco Antonio Orsini Neves, Júlio Guilherme Silva, Dionis Machado, Victor Hugo Bastos. ..................................................................................................... 155 ESTUDO DE CASO Avaliação pré e pós-tratamento fisioterapêutico na disfunção temporomandibular, Juliana de Paiva Tosato, Daniela Aparecida Biasotto-Gonzalez ..................................................................................................... 159 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................................... 162 EVENTOS ................................................................................................................................................................................. 164 !Inicio.indd 81 7/4/2006 17:02:47 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 82 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Editor assistente Dra. Noemi Damasceno de Oliveira Conselho científico Prof. Dr. Dirceu Costa (Unimep – São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Prof. Dr. José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO – Rio de Janeiro) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa) Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Grupo de assessores Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (UNIRB – Bahia) Prof. Dr. Paulo Heraldo Costa do Valle (UNICID – São Paulo) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde Rio de Janeiro Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo A. Shalon Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3362-2097 Colaboradoras da Redação Ingrid Haig Guillermina Arias Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: [email protected] Assinaturas 6 números ao ano: Brasil - 1 ano: R$ 180,00 América Latina - 1 ano: US$ 180,00 Europa - 1 ano: € 180,00 Atendimento ao assinante Edilaine Silva [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Ilustração da capa: Músculos da mão, ilustração de G. Devy, Traité d’anatomie humaine de Leon Testut, Paris, 1904. I.P. 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[email protected] Uma das mais coerentes definições de método que conheço, dada por Descartes, nos diz que “O método é a arte de se organizar uma série de diversos pensamentos, seja para descobrir algo que se ignora seja para levar a alguém alguma coisa que já se conhece”. Não cabe ao criador do racionalismo cartesiano a primazia de ser o único na sistematização metodológica, mas ele consegue sintetizar magistralmente, com poder de concisão jamais visto, a dinâmica da construção e do ciclo de continuidade da pesquisa cientifica. Sabemos, todos os que trabalhamos com a investigação cientifica, que o apoio oferecido pelos trabalhos daqueles que nos precederam e que se encontram publicados nos periódicos são imprescindíveis e constituem um dos pilares da construção cientifica. Tenho, nos julgamentos que faço como examinador de teses de Doutorado ou de dissertações de mestrado, procurado utilizar ao máximo as idéias contidas na definição descartiana. Afinal, o doutorando ao fazer a defesa de sua tese, deve com o trabalho escrito e com a defesa oral, demonstrar que soube levantar a literatura pertinente e que foi capaz de, baseando-se nestas consultas, realizar, sem vieses, o seu projeto de pesquisa. Finalmente, esse doutorando, deve contextualizar a construção de sua tese no documento escrito, de modo a se adequar à formatação acadêmica exigida. Poderíamos ser muito felizes e executar o nosso trabalho inicial de seguir, sem preocupação, as pistas deixadas por outros investigadores, caso não existissem duas situações, talvez mais presentes do que imaginemos, no nosso cotidiano laboral, e que são: os equívocos cometidos por aqueles que pensam que sabem fazer investigação cientifica; e a adulteração de dados, em sua maioria, cometida pelos que sabem fazer a pesquisa. Já tive oportunidade de, em outros editoriais, falar sobre os que, por desconhecerem metodologia da pesquisa, nos levam, como pesquisadores, a ter muitíssima cautela quanto às interpretações dos resultados e conclusões contidos nas pesquisas que fazem. O problema dessas pesquisas equivocadas e publicadas não se circunscreve à regionalizações e alcança indiscriminadamente um parque editorial mundial que reúne os mais variados periódicos, incluindo-se aí, também, os de grande impacto. Eu diria que esses pesquisadores estariam transmitindo uma verdade relativamente absoluta, já que a possibilidade de estejam errados existe. Por outro lado, de vez em quando, a imprensa noticia fraudes em investigações cientificas que acabam por tornarse, à dependência da importância da pesquisa, em grandes escândalos. O último desses escândalos de que se tem notícia recente foi a fraude cometida por um investigador, praticamente um herói em seu pais, que manipulou os dados de suas pesquisas com o DNA e contou para a comunidade cientifica uma grande mentira. A Science, revista escolhida pelo pesquisador para desova de sua mentira, se retratou e tomou a providência de exigir dos pesquisadores, a partir de agora, os detalhes de suas contribuições ao estudo e, ainda, que os autores assinem declaração de veracidade das conclusões encontradas. A questão de solicitar do investigador uma declaração assinada da veracidade de seus procedimentos, sob meu ponto de vista, não resolve. Não soluciona o problema levantado, simplesmente porque o pesquisador mentiroso acaba por convencer-se de que diz a mais pura das verdades, passando a acreditar em sua mentira; algumas vezes, não tendo sequer consciência da falsa situação em que vive. Aqui, a mentira, acaba sendo absolutamente relativa e pode, em alguns casos, passar por verdade. Só nos resta, como editores e leitores, esperar que a decência triunfe ao menos no campo científico, e que as verdades contadas pelos nossos pares sejam verdades “absolutamente” absolutas. *Professor da UFRRJ e de curso de Doutorado recomendado no exterior e Editor cientifico da Revista Fisioterapia Brasil Fisioterapia_v7n2.indb 83 4/4/2006 17:04:40 84 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Artigo original Avaliação do ensino-aprendizagem em ventilação mecânica nos cursos de fisioterapia no Paraná Assessment of mechanical ventilation training in physical therapy schools of Paraná Erica Fernanda Osaku*, Heitor Silvério Lopes**, Esperidião Elias Aquim*** *Professora da UNIOESTE, mestranda em Engenharia Biomédica – CEFET-PR, **Professor do curso de pós-graduação do CPGEI, CEFET-PR, doutor em engenharia elétrica, ***Professor da UTP, Unifor, Uniandrade, UNB, doutor em fisioterapia pela Universidade de Buenos Aires Resumo Abstract Com o crescente interesse dos fisioterapeutas em se especializar e trabalhar na área de fisioterapia respiratória, torna-se necessário uma formação acadêmica mais completa. Durante a formação destes futuros profissionais observa-se que o tempo de estágio em uma Unidade de Terapia Intensiva é, em geral, insuficiente para adquirir os conhecimentos suficientes sobre ventilação mecânica. Além disto, realizar na Universidade a prática do funcionamento de um ventilador mecânico é inviável por falta de infra-estrutura. Devido a estas dificuldades, o aluno termina sua formação acadêmica com pouco conhecimento e embasamento sobre ventilação mecânica. Este estudo mostra que realmente existe um déficit em relação ao ensino e aprendizado dos alunos de fisioterapia, no que diz respeito à ventilação mecânica. With the increasing interest of physical therapists in specializing and working in the area of respiratory physical therapy, a more complete academic instruction has become increasingly necessary. During the instruction of these future professionals, it has been observed that the time of training in an Intensive Care Unit is general insufficient to acquire the suficient knowledge of ventilation mechanics. Besides, to practice the use of a mechanical ventilator in the University is unviable since there is lack of infrastructure. Because of these difficulties, the student finishes their academic instruction with little knowledge and basing on mechanical ventilation. This study shows that there is a deficit in the process of teaching mechanical ventilation to physical therapy students. Key-words: mechanical ventilation, teaching. Palavras-chave: ventilação mecânica, ensino. Introdução O processo de ensino-aprendizagem dentro de uma sala de aula, especialmente na área da fisioterapia aplicada à pneumologia (fisioterapia pneumofuncional), tem sido comprometido pela dificuldade de se dispor in loco de aparelhos de ventilação mecânica (pelo seu alto custo e necessidade de infra-estrutura adequada). Além disto, o tempo de estágio nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), onde o aluno tem contato direto com estes dispositivos, é, em geral, de 7 a 15 dias, sendo um tempo bastante exíguo para um aprendizado efetivo do assunto. Por outro lado, nestes últimos anos, houve uma crescente conquista de espaço do profissional de Fisioterapia dentro das Unidades de Terapia Intensiva. Com conhecimentos de anatomia, fisiologia respiratória e domínio dos princípios de ventilação mecânica, o fisioterapeuta dedicado a esta especialidade tem conquistado o respeito e trazido contribuição à equipe-multidisciplinar da UTI, a exemplo do que ocorre em outros países desenvolvidos [1]. O crescimento em ritmo acelerado da fisioterapia na área da Terapia Intensiva tem levado a uma maior atuação dos profissionais junto aos pacientes submetidos à ventilação mecânica. Neste meio há a preocupação de que este crescimento conti- Recebido 13 de abril de 2004; aceito em 15 de setembro de 2005. Endereço para correspondência: Erica Fernanda Osaku, UNIOESTE, Clínica de Fisioterapia, Rua Universitária 2069, Jardim Universitário 85814110 Cascavel PR; E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 84 4/4/2006 17:04:41 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 nue acontecendo em sólidas bases éticas e técnico-científicas, conscientes do papel frente à multi e interdisciplinaridade que envolve a assistência ventilatória mecânica [2]. Hoje, o fisioterapeuta atua no amplo gerenciamento do trabalho da respiração e todas as atividades correlatas para otimização da função ventilatória e utiliza todas as variáveis de modos de ventilação como recurso terapêutico [2]. Cabe aos novos profissionais que estão entrando no mercado de trabalho, a consolidação deste espaço conquistado, o que exige, ainda na fase de formação, recursos metodológicos que facilitem a assimilação dos conhecimentos buscados. Esta pesquisa tem como objetivo verificar a extensão dos conhecimentos de alunos de graduação em fisioterapia no conteúdo de ventilação mecânica, verificando-se as respostas obtidas através de um questionário. Com isto, pretende-se oferecer subsídios a professores e coordenadores de curso para que possam melhor adequar a formação acadêmica às demandas profissionais dos egressos. Observa-se também que há um interesse em melhorar o ensino e a aprendizagem em todas as áreas da fisioterapia como, por exemplo, no artigo de Caromano et al. [3]. 85 O gráfico 1 mostra os resultados do interesse dos alunos em relação a temas pertinentes à fisioterapia respiratória. Observa-se que a maioria dos assuntos foi considerada “muito interessante”, destacando-se a reabilitação pulmonar e os recursos manuais da fisioterapia respiratória. Estes destaques provavelmente se justificam em função dos recursos disponíveis para as aulas teóricas e práticas destes assuntos nas instituições. O aluno tem condições de realizar, durante os estágios, uma reabilitação pulmonar dentro das clínicasescola, pois o material necessário para esta atividade (bicicleta ergométrica, bastões, bolas, esfignomanômetros, etc) é disponível na maioria das instituições. E em relação aos recursos manuais, cabe ao professor ensinar a maneira correta de realizar as manobras. Gráfico 1 - Grau de interresse. Material e métodos Há, atualmente no Estado do Paraná, cerca de 24 instituições que oferecem o curso de fisioterapia. Destas 24 instituições, 10 formarão fisioterapeutas no ano de 2003, pois as demais ainda não têm alunos no 4o ano. Em 2003, foram registrados no CREFITO-8 (Paraná) 641 novos fisioterapeutas (recém-formados em 2002 ou que fizeram transferência de outros CREFITOs) [4]. Foi realizada uma pesquisa em 8 instituições do Paraná para verificar a extensão dos conhecimentos e o interesse dos alunos do 4o ano em relação à disciplina de fisioterapia aplicada à pneumologia e, mais especificamente, em relação ao conteúdo de ventilação mecânica. Em todas as instituições envolvidas, os alunos do 4o ano tiveram a disciplina de fisioterapia aplica à pneumologia (ou equivalente) no 3º ano, em 2002. Um questionário foi elaborado e aplicado aos alunos durante os meses de março e abril de 2003, sendo que um total de 401 alunos respondeu o questionário. Este questionário continha perguntas gerais e específicas de ventilação mecânica. Foi elaborado de forma que não existisse ambigüidade nas respostas e de maneira que algumas das perguntas tivessem ligações entre elas. A coleta de dados foi feita em um único dia para cada instituição, sendo realizada pela mesma pessoa. 1 – Reabilitação Pulmonar 5 – Inaloterapia e Oxigemoterapia 2 – Recursos Manuais da Fisio. Resp. 6 - Avaliação e Exame Físico 3 – Ausculta Pulmonar 7 – Incentivadores e Espirometria 4 – Ventilação Mecânica 8 – Drenagem Postural Em seguida, questionou-se o grau de conhecimento dos alunos de acordo com os assuntos apresentados. No gráfico 2, observa-se que a maioria dos alunos tem pouco conhecimento em todos os assuntos. Em particular, as maiores carências são em ventilação mecânica e nos incentivadores e espirometria, onde 77% dos entrevistados julgam ter “pouco” conhecimento. Na maioria das instituições, observou-se que o conteúdo de ventilação mecânica é ministrado com aulas teóricas ou, em alguns poucos casos, com aulas demonstrativas. Gráfico 2 - Grau de conhecimento. Resultados e discussão Na primeira pergunta do questionário, referente à disciplina de fisioterapia aplicada à pneumologia, verificou-se que 94% dos alunos consideram a disciplina “interessante”, 80% “gostam” e 75% a consideram “difícil”. Fisioterapia_v7n2.indb 85 1 – Ventilação Mecânica 5 – Reabilitação Pulmonar 2 – Incentivadores e Espirometria 6 – Ausculta Pulmonar 3 – Drenagem Postural 7 – Avaliação e Exame Físico 4 – Inaloterapia e Oxigenoterapia 8 – Recursos Manuais 4/4/2006 17:04:42 86 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Quanto ao grau de dificuldade dos assuntos ministrados em aula, em geral os alunos os consideram de dificuldade mediana, porém, como mostra o gráfico 3, a ventilação mecânica foi considerada o assunto mais difícil. Este resultado também se justifica pelo fato já citado anteriormente, a falta de aulas demonstrativas com ventiladores mecânicos e a própria prática dentro de uma UTI, supervisionada pelo professor, que ocorre somente no 4º ano. Conclusão Gráfico 3 - Grau de dificuldade. 1- Ventilação Mecânica 5 – Inaloterapia e Oxigenoterapia 2 – Incentivadores e Espirometria 6 – Avaliação e Exame Físico 3 – Ausculta Pulmonar 7 – Recursos Manuais 4 – Reabilitação Pulmonar 8 – Drenagem Postural Especificamente a respeito do grau de conhecimento dos alunos sobre ventilação mecânica, 45% acham que é “regular”, 29% acham que é “fraco” e 3% consideram que não têm “nenhum conhecimento”, conforme mostrado no gráfico 4. É importante observar que menos de ¼ dos alunos (22%) consideram seu conhecimento do assunto “bom” ou “ótimo”. Comparando os resultados do gráfico 4 com o item 1 do gráfico 2 (que se refere à ventilação mecânica), observase que os resultados das respostas são os mesmos, ou seja, somando-se esta porcentagem do gráfico 4 (regular, fraco, nenhum), obtém-se 77% que podemos considerar com pouco conhecimento, como já mostrado no gráfico 2. Também foi questionado se, através do conteúdo de ventilação mecânica ministrado em sala de aula, os alunos se julgavam em condições de elaborar o plano de tratamento para um paciente em UTI. A maioria, 94% dos alunos, respondeu que não. Esta resposta já era esperada, pois os resultados anteriores mostraram que os alunos possuem pouco conhecimento do assunto, sendo este considerado um dos mais difíceis para o aprendizado, devido às dificuldades já relatadas. Gráfico 4 - Conhecimento em ventilação mecânica. Fisioterapia_v7n2.indb 86 Através desta pesquisa, foi possível verificar que há uma falha quanto ao ensino do assunto ventilação mecânica, e que este também é considerado um assunto realmente difícil. Através dos dados obtidos, constatou-se que os alunos egressos dos cursos de fisioterapia saem da universidade com pouco conhecimento e prática insuficiente em ventilação mecânica. É possível que este déficit possa refletir diretamente na vida profissional destes futuros fisioterapeutas. A formação do fisioterapeuta no assunto de ventilação mecânica, quando ministrado na disciplina de fisioterapia aplicada à pneumologia (ou equivalente), é incompleta, pois, em geral, a teoria é apresentada sem a prática . Sabe-se que o conteúdo de ventilação mecânica é aprofundado em cursos de pós-graduação, porem é importante que durante a formação acadêmica os alunos tenham uma exposição adequada a este assunto, para que concluam o curso estando aptos a desempenhar suas atribuições profissionais plenas. Pode-se observar que o assunto ventilação mecânica para a grande maioria dos alunos entrevistados é realmente difícil de aprender, sendo, de fato, um assunto complexo. Através deste trabalho espera-se que, de alguma forma, os professores das disciplinas relacionadas e os coordenadores de curso considerem readequar a carga horária do assunto ventilação mecânica às necessidades efetivas do profissional de fisioterapia. Também se evidencia a necessidade de infra-estrutura para melhor sustentar os cursos de fisioterapia, no que diz respeito a este assunto. Agradecimentos A todos os alunos que voluntariamente participaram da pesquisa. Às instituições e aos coordenadores dos cursos de fisioterapia que colaboraram e participaram da pesquisa. Referências 1. Emmerich J. Suporte ventilatório contemporâneo. 1a ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. 2. Duarte A. Recursos fisioterapêuticos durante a ventilação cerebral. [citado 2003 jun 10]. Disponível em URL: http://www. fisioterapia.com.br 3. Caromano FA, Cunha MG, Pardo MS, Silva JM. Ensino de hidroterapia na graduação – estabelecendo objetivos. Fisioter Bras 2002;3(4):237-41. 4/4/2006 17:04:43 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 87 Artigo original Incidência de patologia respiratória em portadores de refluxo gastroesofágico Incidence of respiratory disease in patient with gastroesophageal reflux Eloisa Aparecida Nelli*, Ana Beatriz de Lima Poloni**, Carolise Bonilha**, Alceu Sergio Trindade Junior, D.Sc.*** *Responsável do Setor de Fisioterapia do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP), Bauru-SP, **Fisioterapeutas Graduadas na Universidade do Sagrado Coração e Bolsistas da FUNDAP no HRACUSP, Bauru-SP, ***Professor Titular do Departamento de Ciências Biológicas, Disciplina de Fisiologia, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo e Setor de Fisiologia do HRAC-USP Resumo Abstract O objetivo do presente estudo foi verificar a incidência de pneumonia aspirativa ou outra patologia respiratória decorrente do refluxo gastroesofágico, tendo por finalidade principal verificar a eficácia do tratamento fisioterapêutico como rotina no Hospital de Anomalias Craniofaciais (HRAC/USP). Foram analisados 80 prontuários de pacientes tratados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Desses, 26 eram portadores de refluxo gastroesofágico e pneumonia aspirativa, e 54 apresentaram refluxo com outros comprometimentos respiratórios. O tratamento fisioterapêutico desses pacientes incluiu mudanças posturais no leito, técnicas de higiene brônquica e reexpansão pulmonar como tapotagem, vibração, terapia respiratória manual passiva (TEMP), exercícios passivos e ativos. Observamos, em todos pacientes, melhora no desconforto respiratório com base na avaliação pediátrica e fisioterapêutica. Estes dados sugerem que a fisioterapia deve ser incluída na rotina de tratamento desses pacientes. The objective of this retrospective study was to verify the incidence of aspiration pneumonia or other respiratory diseases induced by gastroesophageal reflux disorder (GERD) and efficiency of physical therapy. Medical records from 80 patients treated for aspiration pneumonia in the Intensive Care Unit at the Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP) were analyzed. Data about age and socioeconomic status (SES) were collected. Out of the 80 patients, 26 presented aspiration pneumonia and 54 presented other respiratory disease. Physical therapy included postural change in bed and technics for bronchial hygiene and expansion such as flapping, vibration, taping, active and passive exercises. We observed significant improvement in respiratory discomfort motor development with basis in pediatric and physical therapy assessment. We suggest that physical therapy must can be included in the treatment of these patients. Palavras-chave: refluxo gastroesofágico, pneumonia, pediatria. Key-words: physical therapy, gastroesophageal reflux, pneumonia, paediatrics. Introdução atenção se volta também para as manifestações que ocorrem fora do aparelho digestivo, como as pulmonares, cardíacas e faringolaringeanas. Dentre estas, as mais discutidas são as complicações pulmonares [1]. A associação de RGE a problemas pulmonares muitas vezes não é detectada, o que leva o paciente a apresentar a doença por um longo período, sem receber o tratamento adequado. Uma das patologias mais freqüentes associadas às dismorfologias craniofaciais no HRAC/USP é o refluxo gastroesofágico (RGE) que ocorre principalmente no primeiro ano de vida da criança. Sua associação com várias complicações ligadas ao aparelho digestivo é fato amplamente conhecido. A Recebido 17 de dezembro de 2004; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Eloisa A. Nelli, Setor de Fisioterapia do HRAC-USP, Rua Silvio Marchione 3-20, Vila Universitária 17012-900, Bauru SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 87 4/4/2006 17:04:44 88 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Além disso, o paciente fica sujeito a internações hospitalares freqüentes e prolongadas, o que faz aumentar muito a morbidade e mortalidade [1]. O RGE é um processo inflamatório de causa química, iniciando-se na mucosa do esôfago, atingindo todas as camadas de sua parede, sendo conceituado como fluxo retrógrado e repetido do conteúdo gástrico para o esôfago. É freqüente em crianças por imaturidade de alguns componentes da barreira anti-refluxo, apresenta, na maioria dos casos, evolução benigna e é caracterizado pela presença de regurgitações e vômitos [2]. O RGE pode ser classificado como fisiológico, primário, secundário, patológico e oculto. O fisiológico (regurgitações) é mais comum nos primeiros meses de vida prolongando-se até o quarto mês, diminuindo após a introdução de dieta semi-sólida e adoção de postura mais ereta pela criança. O primário resulta de distúrbio funcional da junção gastroesofágica e o secundário associa-se a condições específicas como estenose congênita do esôfago, fístula-esofágica, atresia do esôfago, distúrbio da deglutição, estenose hipertrófica do piloro, úlcera gástrica ou duodenal, pâncreas anular, pseudo-obstrução intestinal, alergia alimentar (proteína do leite de vaca), infecções urinárias, parasitoses intestinais, doença genético-metabólicas, asma, fibrose cística e alterações do sistema nervoso central [3]. Deve-se suspeitar do refluxo gastroesofágico patológico e oculto quando os vômitos e regurgitações não melhoram após os seis meses de vida, não respondem a medidas posturais e dietéticas, e quando estão presentes repercussões clínicas como redução do crescimento, sintomas e sinais sugestivos de esofagite como choro excessivo, irritabilidade, distúrbio do sono, agitação, dor abdominal, anemias, hemorragias digestivas, manifestações respiratórias (broncoespasmo, pneumonias de repetição) e otorrinolaringológicas como laringites, sinusites, otites e outras. Estas manifestações respiratórias podem ser causadas por três mecanismos: aspiração de quantidades significativas do conteúdo gástrico (macroaspiração) para as vias aéreas superiores e pulmões, causando pneumonias de aspiração, mais comum em crianças que apresentam distúrbios de deglutição; aspiração de pequenas quantidades do conteúdo gástrico (microaspiração), ocasionando reações inflamatórias secundárias; e acidificação intratraqueal que por estímulo de terminações nervosas, pode desencadear broncoespasmo [3]. As pneumonias aspirativas são processos geralmente agudos que comprometem os alvéolos, brônquios e espaço intersticial [4], tornando a parede alveolar e os espaços alveolares edemaciados. A pneumonia causa hipóxia por duas razões: o líquido tende a preencher os alvéolos dificultando a ventilação, e as membranas desses tornam-se tão espessas que não permitem a difusão do oxigênio [5]. Após prescrição pediátrica inicia-se o tratamento fisioterapêutico com estimulação motora, adequação da postura no leito e terapia respiratória. O objetivo do presente estudo foi verificar, em indivíduos com comprometimento respiratório provocado por RGE, a eficácia do tratamento fisioterapêutico e a implantação dos procedimentos como rotina de protocolo no atendimento desses casos no HRAC/USP. Fisioterapia_v7n2.indb 88 Materiel e métodos Foram analisados 80 prontuários de pacientes internados com diagnóstico de RGE associado a pneumonia aspirativa e outras patologias respiratórias no período de 1997 a 2001, durante o qual foram submetidos às seguintes técnicas de intervenção fisioterapêutica: 1. Posicionamento da criança em decúbito ventral no leito [6] com elevação de 30 a 45 graus, por meio de um suporte em madeira revestido de espuma e plástico, com sela para apoiar a região pubiana. 2. Estimulação motora global com mudanças de decúbito, e mobilização de membros superiores e inferiores, na tábua de decúbito. 3. Terapia respiratória segundo Azeredo [7]: 3.1 - Tapotagem: Percussão torácica realizada com as mãos em concha produzindo uma freqüência aproximada de 6Hz sobre o tórax. 3.2 - Vibração: Movimentos rápidos e rítmicos realizads com as mãos espalmadas, acopladas com certa pressão no tórax com freqüência aproximada de 12Hz a 16Hz. 3.3 - Terapia Expiratória Manual Passiva (TEMP): Posiciona-se as mãos espalmadas bilateralmente, ântero-lateralizadas abaixo dos mamilos, comprimindo o tórax nos dois terços finais da expiração, proporcionando aumento no tempo expiratório. 3.4 - Manobra de Pressão Negativa: Posicionamento das mãos de maneira semelhante ao TEMP, para maior negativação durante o ato inspiratório. Tais manobras permitem o desprendimento e o deslocamento das secreções de regiões periféricas para as áreas centrais, objetivando a expectoração e aspiração. 3.5-Aspiração Traqueo-Brônquica: Procedimento invasivo, mecânico e simples, para pacientes com dificuldade em expelir secreções pulmonares voluntariamente. Resultados e discussão Foram avaliados 80 prontuários, dos quais 32% (26 casos) apresentavam RGE associado a pneumonia aspirativa e 68% (54 casos), RGE com outro tipo de comprometimento respiratório, como broncoespasmo, atelectasia, insuficiência respiratória e outros. A análise dos prontuários mostrou que a aplicação da fisioterapia descrita no item método proporcionou melhora no quadro pulmonar, oferecendo ao paciente um conforto 4/4/2006 17:04:44 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 respiratório com menos gasto energético, auxiliando a expectoração, facilitando a ventilação pulmonar. Estudos evidenciaram que a intervenção da fisioterapia pulmonar pode contribuir na redução do número de ocorrência de pneumonia em crianças [8]. Outros estudos são necessários para investigar os efeitos da fisioterapia respiratória segundo posições corporais [9]. No HRAC pudemos observar que a melhor posição para se evitar o RGE é o decúbito ventral e elevado de 30º a 45º em período contínuo, tanto para o estado acordado quanto para o adormecido, pois a gravidade ajuda a diminuir os episódios de refluxo mantendo assim o conteúdo gástrico longe do cárdia, sendo que não ocorre aumento da pressão intrabdominal. Conclusão Pudemos concluir que é fundamental a intervenção fisioterapêutica nos portadores de RGE para acelerar o restabelecimento do quadro pulmonar, aumentando a permeabilidade das vias aéreas, diminuindo o gasto metabólico e otimizando as condições motoras. Entretanto, como estes pacientes ficam em decúbito elevado por longos períodos, outros aspectos devem ser avaliados, especialmente aqueles relacionados às diferentes etapas do desenvolvimento motor. Assim, um outro protocolo a ser montado é o de treinamento e orientações aos pais e cuidadores, com o objetivo de restaurar e reabilitar todas as funções da criança portadora de RGE. Fisioterapia_v7n2.indb 89 89 Referências 1. Meyer R, Fischer GB. Associação entre refluxo gastro-esofágico e quedas da saturação transcutânea de oxigênio da hemoglobina em lactentes com doença ventilatória obstrutiva crônica. J Pediatr 2001;77:89-95. 2. Raia AA. Esôfago-estômago-duodeno. São Paulo: Savier; 1979. 3. Norton RC, Penna FJ. Refluxo gastro-esofágico. J Pediatr 2000;76:218-24. 4. Benfica MGA, Cardoso ICRA, Leocádio Filho G, Vieira CB, Chamone CB. Importância do diagnóstico laboratorial das pneumonias bacterianas agudas na infância. Rev Bras Anal Clin 1998;30:159-60. 5. Guyto AC, Hall JE. 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J Pediatr 2001;77:393-400. 4/4/2006 17:04:45 90 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Artigo original Variações anatômicas entre o nervo isquiático e o músculo piriforme e sua relação com a síndrome do piriforme Anatomical variations between the sciatic nerve and piriformis muscle and relation to piriformis muscle syndrome Luciany Everardo Atencio Santamaría Fagundes*, Fábio Urbini Carnevalli**, Osvaldo Pelozo Júnior, M.Sc.***, Silvio Antônio Garbelotti Júnior, M.Sc.**** *Fisioterapeuta, Pós-graduando em Acupuntura no Centro de Estudos de Acupuntura e Terapias Alternativas, CEATA, **Fisioterapeuta, Especialista em Ortopedia pela UniFMU, Especialista em Fisioterapia Desportiva pela Unimep e Mestrando em Engenharia Biomédica pela UniVAP, ***Fisioterapeuta, Docente de Anatomia e Cinesiologia do Centro Universitário São Camilo, UniFMU, ****Fisioterapeuta, Docente de Anatomia e Cinesiologia do Centro Universitário São Camilo, UniFMU e UniFieo Resumo Abstract A Síndrome do Piriforme é caracterizada pela compressão do nervo isquiático quando este emerge da pelve. Ainda não existe consenso sobre o diagnóstico clínico devido à semelhança com outras afecções da região lombar. O objetivo deste trabalho é estudar as variações anatômicas entre o nervo isquiático e o músculo piriforme e sua possível relação com a síndrome do piriforme. Foram, estudadas 104 regiões glúteas, de ambos os lados, de cadáveres adultos de ambos os sexos. Observamos três tipos de relação entre o nervo isquiático e o músculo piriforme, sendo: Tipo 1, quando o nervo isquiático emerge como tronco único, passando sob o músculo piriforme; Tipo 2, quando o nervo isquiático emerge dividido, com a parte fibular comum atravessando o meio do ventre do músculo piriforme e a parte tibial passando debaixo da margem inferior deste músculo; e Tipo 3, quando o nervo isquiático emerge como tronco único passando acima da margem superior do músculo piriforme. Com isso, concluímos que a presença de variações anatômicas do nervo isquiático com o músculo piriforme é um fator possivelmente relacionado com o aparecimento da síndrome do piriforme, sendo assim, é importante conhecê-las e considerá-las tanto no momento do diagnóstico clínico, complementar, quanto no tratamento. The Piriformis Muscle Syndrome is characterized by a sciatic nerve compression when emerges from pelvis. There is no consensus on clinical diagnosis as it is similar to other problems that affect the spine. The aim of this study was to observe the anatomical variation among the sciatic nerve and the piriformis muscles and their possible relation with the piriformis muscle syndrome. So, there were studied 104 gluteus parts from adult cadavers, men and women, previously both-sided dissected. We have observed three types of relation between the sciatic nerve and the piriformis muscles, as follows: Type 1 – when the sciatic nerve emerges as the only stem and passes under the piriformis muscle; Type 2 – when the sciatic nerve emerges and is shared with the common fibular portion which crosses the middle of the piriformis muscles venter and the tibial portion, passing down the inferior muscles edge; and Type 3 – when the sciatic nerve emerges as the only stem and passes up to the superior piriformis muscle edge. Therefore we concluded that the presence of the anatomical variations for the sciatic nerve and the piriformis muscle is possibly related to the piriformis muscle syndrome, and it is important to know them well and consider them for the clinical or additional diagnosis and the treatment as well. Palavras-chave: músculo piriforme, nervo isquiático, síndrome do piriforme, nervo tibial. Key-words: sciatic nerve, piriformis muscle, piriformis muscle syndrome, nerve tibial. Recebido 14 de fevereiro de 2005; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Luciany E. A. Santamaría Fagundes, Rua Plínio do Amaral, 143, Jd. da Saúde 04288-160 São Paulo SP, Tel: (11)5062-9246, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 90 4/4/2006 17:04:46 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Introdução Yeoman [1] em 1928 foi o primeiro a descrever o músculo piriforme como fator etiológico de isquiatalgia (ciatalgia) e lomboisquiatalgia (lombociatalgia). Robinson [2] em 1947 caracterizou e denominou a compressão do nervo isquiático pelo músculo piriforme como sendo a “Síndrome do Piriforme”. Esta compressão pode ocorrer devido a traumas, contraturas ou hipertrofia do músculo piriforme, apresentando sinais e sintomas clínicos como dor unilateral na região na glútea, especialmente sobre a incisão isquiática maior e o músculo piriforme; parestesia geralmente irradiadas para a coxa e perna e entre outros fatores, como dor à palpação [3,4]. A incidência desta síndrome na população é de apenas 6% , sendo mais comum no sexo feminino do que no sexo masculino [5]. Apesar da baixa incidência relatada na literatura cientifica [5] a Síndrome do Piriforme, tem sido muito estudada [6-10] devido à importância clínica, principalmente pela falta de um diagnóstico específico, sendo considerado um diagnóstico clínico confuso [2-5,7,9,11,12] pela semelhança desta síndrome com outras causas de isquiatalgia e lomboisquitalgia, sendo em alguns casos, considerado diagnóstico diferencial quando há comprometimento à região lombar sem causa aparente ou justificada [3,7] . Para muitos autores, este têm sido o motivo para o estudo de novas técnicas de diagnóstico e tratamento específicos para a síndrome do piriforme [6-9,13]. Entre o nervo isquiático e o músculo piriforme existem variações anatômicas muito estudadas, e alguns autores têm relacionando esta condição com a síndrome do piriforme [7,11,14,15,16]. A presença de variações anatômicas na relação entre o nervo isquiático e o músculo piriforme, pode estar relacionadas com o aparecimento da síndrome do piriforme, principalmente quando houver déficits neurológicos motores e/ou sensitivos. 91 Os tipos de relações anatômicas encontradas foram fotografados com câmera digital Sony FD 73/75 Mavica. Os resultados obtidos foram submetidos a tratamento estatístico descritivo, através da porcentagem entre as variações anatômicas encontradas e o número total de casos estudados, e entre as variações anatômicas encontradas e o número de casos do lado direito e do lado esquerdo respectivamente. Resultados Observamos três tipos de relação entre o nervo isquiático e o músculo piriforme (Gráfico 1), sendo: tipo 1, quando o nervo isquiático emerge como tronco único, passando debaixo do músculo piriforme, em 87,5% dos casos (Figura 1); tipo 2, quando o nervo isquiático emerge dividido, com a parte fibular comum atravessando o meio do ventre do músculo piriforme e a parte tibial passando debaixo da margem inferior deste mesmo músculo, em 11,54% dos casos (Figura 2); e Tipo 3, quando o nervo isquiático emerge como tronco único passando acima da margem superior do músculo piriforme, em 0,96% dos casos (Figura 3). Gráfico I - Relação entre o nervo isquiático e o músculo piriforme: variações anatômicas. Figura 1 - Demonstração da relação normal entre o músculo piriforme e o nervo isquiático. TIPO 1: P = Músculo Piriforme; N.I. = Nervo isquiático. Material e método O estudo foi realizado nos Laboratórios de Anatomia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Laboratório de Anatomia do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e Laboratório de Anatomia do Centro Universitário São Camilo (UNISC). Foram estudados 104 regiões glúteas de cadáveres de indivíduos adultos brasileiros, previamente dissecadas, de ambos os lados e ambos os sexos. Foram observadas em cada uma das peças, as topografias entre o nervo isquiático e o músculo piriforme, analisando as possíveis variações anatômicas existentes nesta relação. Os dados foram colhidos através de esquema realizados segundo o tipo de variação anatômica encontrada, e agrupados em tabelas numerais crescente. Fisioterapia_v7n2.indb 91 Figura 2 - Demonstração de variação anatômica onde observamos o nervo fibular comum perfurando o músculo piriforme e o nervo tibial passando por debaixo da margem inferior deste músculo. TIPO 2: P = Músculo Piriforme; F = Ramo Fibular Comum; T = Ramo Tibial. 4/4/2006 17:04:47 92 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Figura 3 - Demonstração do nervo isquiático passando por cima do músculo piriforme. TIPO 3: P = Músculo Piriforme; N.I. = Nervo Isquiático. & Winnie [3] enfatizaram que o diagnóstico é meramente clínico, já que sem um exame clínico apropriado, o diagnóstico pode se tornar incerto. Outros autores relatam que o diagnóstico clínico é controverso [4,7,12,13] e continua sendo devido à falta de critérios específicos de diagnóstico [12,13]. Segundo Spinner et al. [10] isto se deve em grande parte por demonstrar pouco ou nenhum achado clínico no exame clínico. Segundo Rodrigue & Hardy [4], o diagnóstico é complicado pelas variabilidades etiológicas da síndrome, sendo que em alguns casos estas não são muito claras. O diagnóstico tornou-se complicado também pela semelhança com outras causas de isquiatalgia, embora a síndrome do piriforme seja relativamente rara. Em alguns casos a síndrome do piriforme é considerada diagnóstico diferencial ou de exclusão; isto quando no quadro clínico apresenta-se dor isquiática ou na região lombar, mas no exame clínico e complementar não existe comprometimento lombosacral [3,6,7,13]. Os avanços das técnicas de imagens entre elas a Tomografia Computadorizada (TC) e a Ressonância Nuclear Magnética (RNM), tem contribuído para tornar o diagnóstico da Síndrome do Piriforme mais específico [8,9,13]. Segundo Rossi et al. [13], o papel da RNM limitava-se a determinar outras causas de isquiatalgia, mas, sendo utilizada especificamente na região pélvica, pode ser útil no diagnóstico da síndrome do piriforme, por evidenciar anomalias no músculo piriforme e nervo isquiático. A relação entre o músculo piriforme e o nervo isquiático, têm sido estudada por diversos autores e em alguns casos têm se relacionado diretamente as variações anatômicas encontradas nesta relação com a síndrome do piriforme [14,15,16,18]. Pecina [15] encontrou em 6,15 % dos casos variações anatômicas na qual o ramo fibular comum, passava entre as partes tendinosas do músculo piriforme e considerou esta variação como sendo significante para o desenvolvimento da síndrome do piriforme. Segundo Titelman [17], a ocorrência deste tipo de variação, predispõem a irritação do nervo e consequentemente a dor. Por sua vez Fishman et al. [7] relatam que é improvável que variações anatômicas sejam responsáveis pela síndrome do piriforme, porque no teste de prolongação do reflexo H, com a coxa em flexão, adução e rotação medial, o ramo tibial é comprometido com maior freqüência e severidade que o ramo fibular comum. Isso acontece apesar do ramo fibular comum apresentar-se com maior porcentagem como variação anatômica. É importante ressaltar que Fishman et al. [7] não relatam o tipo de variação anatômica do ramo fibular comum. Como visto, as variações anatômicas do nervo isquiático tem sido muito descritas na literatura científica, especificando a relação do nervo isquiático e seus ramos fibular comum e tibial com o músculo piriforme; sendo assim é importante relacioná-las com a síndrome do piriforme porque, uma vez Na relação entre os antímeros e os tipos de variações anatômicas encontradas, observamos para o lado direito Tipo 1 em 84% dos casos; Tipo 2 em 16% dos casos, e Tipo 3 em 0% dos casos. Para o lado esquerdo, Tipo 1 em 90,7% dos casos; Tipo 2 em 7,4% dos casos, e Tipo 3 em 1,85% dos casos (Gráfico 2 e 3). O lado direito apresentou-se com maior número de variações anatômicas em relação ao lado esquerdo, com um total de 8 à direita e 5 à esquerda. Gráfico II - Lado direito em relação ao número de variações anatômicas. Gráfico III - Lado esquerdo em relação ao número de variações anatômicas. Discussão Trabalhos descrevendo a etiopatogenia, etiologia, sinais e sintomas, assim como o diagnóstico e o tratamento da Síndrome do Piriforme têm sido amplamente divulgados na literatura científica [2,3,7,8,10,11,12,17]. O diagnóstico para a síndrome do piriforme tem sido um dos principais motivos dos estudos destas estruturas. Durrani Fisioterapia_v7n2.indb 92 4/4/2006 17:04:47 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 93 presente, tanto a contração [5], como o alongamento excessivo do músculo piriforme poderá levar a compressão do nervo isquiático ou seus ramos, apresentando assim, sinais e sintomas específicos. Na maioria dos casos o nervo isquiático, emerge como tronco único abaixo do músculo piriforme, com incidência entre 70,2 % [18] a 93,85 % [15] dos casos. Os nossos resultados mostram que em 87,5% dos casos, apresenta-se este tipo de topografia, concordando com os resultados de Anson & Macway (89,1%), Anderson (87,5%), Agur (87%) e Gabrielli (86,3%) [18]. Sugerimos que se apresentando este tipo de topografia e associando-se com um trauma na região glútea, levando a inflamação do músculo piriforme e consequentemente, a compressão do nervo isquiático; a probabilidade de desenvolver a síndrome do piriforme com déficits neurológicos motores e/ou sensitivos, poderia ser maior. Já que isto comprometerá o nervo isquiático por inteiro, assim também como seus ramos fibular e tibial. Na coxa, o nervo isquiático comporta-se como um nervo essencialmente motor e emite ramos musculares que inervam, pelo seu componente tibial, os músculos semitendíneos, semimembranáceo, a cabeça longa do bíceps femoral e a porção extensora do adutor magno. E pelo seu componente fibular comum inerva, a cabeça longa do bíceps femoral. Na perna, o nervo fibular comum, separado do nervo isquiático, divide-se nos nervos fibular superficial e fibular profundo, encarregados em geral da atividade motora dos músculos da região lateral e anterior da perna, e da sensibilidade da pele da região posterior da perna e região dorsal e lateral do pé. Ainda na perna o nervo tibial, já totalmente dividido do nervo isquiático, inerva em geral, para a atividade motora, os músculos da região posterior da perna e região plantar do pé, e leva a sensibilidade da pele a região lateral medial e plantar do pé, incluindo a região do calcanhar [19]. Uma vez comprometido o nervo isquiático, os sinais e sintomas poderiam se tornar de acordo com a inervação descrita. A dor na região glútea poderia ser causada pela própria inflamação ou espasmo do músculo piriforme, como descrito por Jankiewicz et al. [8]. Quando há déficit neurológico a atrofia glútea presente em alguns casos, poderia ser derivada não só da dor ou desuso, mas principalmente pela compressão no nervo glúteo inferior, como descrito por Gabrielli et al. [14]. A parestesia ou a dor na região posterior da coxa presente em alguns casos [10], poderia ocorrer devido à compressão do nervo cutâneo posterior da coxa que também passa por debaixo do músculo piriforme [20]. A parestesia ou a dor da região lateral da perna e dorsal do pé, poderia ser pelo comprometimento sensorial do nervo fibular comum, incluindo os seus ramos. Os déficits neurológicos motores como a dificuldade para caminhar, como descrita em alguns casos [10], poderia ocorrer, pelo comprometimento do nervo glúteo inferior, responsável pela inervação do músculo glúteo máximo, e indispensável para a marcha, como descrito por Gabrielli et al. [14,16]. Esta dificuldade para caminhar, poderia ser causada também, pelo comprometimento dos músculos da região posterior da coxa, inervados pelo nervo isquiático, cuja função em geral, é a flexão da perna [20]. O déficit da dorsiflexão do pé poderia ser observado pelo comprometimento do nervo fibular comum, como de seus ramos. A variação anatômica na qual o ramo fibular comum emerge, perfurando o ventre do músculo piriforme, enquanto o nervo tibial passa por debaixo da margem inferior deste músculo, apresenta-se na literatura com incidência entre 7,1% a 34% dos casos [18]. Nossos resultados mostram que em 11,54% dos casos estudados, existe este tipo de variação concordando com os resultados de Anderson (12%), Agur (12,5%), Gabrielli et al. (11,2%) [18]. Sugerimos, que apresentando-se este tipo de variação anatômica, a probabilidade de desenvolver a síndrome do piriforme e está apresentar déficit neurológico motores e/ou sensitivos, poderia existir, porque uma vez o músculo piriforme contraindo, hipertrofiando ou inflamando, levaria em primeiro lugar a compressão do ramo fibular comum, desencadeando provavelmente sinais e sintomas, de acordo com a função motora e sensitiva do ramo fibular comum e seus componentes ou divisões, como descrito anteriormente. Pecina 15], enfatizou que variações anatômicas deste tipo poderiam levar ao desenvolvimento da síndrome do piriforme, quando o alongamento do músculo piriforme, poderia comprimir o ramo fibular comum, entre as partes tendinosas deste músculo. Nossos dados demostram ainda, um tipo de variação anatômica na qual o nervo isquiático emerge como tronco único passando por cima do músculo piriforme, em 0,96% dos casos. Este tipo de variação anatômica foi considerado inicialmente hipotética por Beaton & Anson, e logo relatadas por Lee & Tsai em (2,98%), Anderson (0,5%), Agur (0,5%), Chiba (2%), dos casos estudados, respectivamente [18]. Sugerimos, que nos casos de apresentar-se este tipo de variação anatômica, a probabilidade de desenvolver a síndrome do piriforme com déficit neurológicos motores e/ou sensitivos, é relativamente menor. Já que nestes casos, seria mais difícil a compressão do nervo isquiático pelo músculo piriforme. Mas mesmo assim, devem-se tomar em conta outros possíveis fatores etiológicos da síndrome do piriforme. Não encontramos outros tipos de variações anatômicas relatadas na literatura científica, como aquela na qual o nervo isquiático emerge como tronco único, perfurando o músculo piriforme, como descrita por Beaton & Anson em (0,8%), Anson & Macvay (0,2%) e Lee & Tsai (1,8%) [18] dos casos. Outro tipo de variação anatômica não encontrada por nós, é aquela na qual, o ramo fibular comum passa por cima do músculo piriforme, enquanto o ramo tibial passa por debaixo deste músculo; como descrita por Beaton & Anson em Fisioterapia_v7n2.indb 93 4/4/2006 17:04:48 94 (2,1%), Testut & Latarjet (1%), Anson & Macvay (0,7%) e Lee & Tsai (4,2%), dos casos respectivamente [18]. Um tipo de variação anatômica, na qual o ramo tibial perfura o músculo piriforme, enquanto o ramo fibular comum passa por debaixo deste, foi descrita somente por Chiba [18], apresentando-se apenas em 4% dos casos. Em quanto à incidência de variações anatômicas entre o lado direito e esquerdo; os nossos resultados sugerem que o lado direito é mais variável que o lado esquerdo (8 à direita e 5 à esquerda), concordando com Gabrielli et al. [14,16], em que encontraram 6 à direita e 2 à esquerda. Como visto, a relação anatômica entre o nervo isquiático e o músculo piriforme, apresenta diversos tipos de variações anatômicas, as quais poderiam estar relacionadas com a síndrome do piriforme, principalmente se houver comprometimento neurológico motores e/ou sensitivos. Conclusão A presença de variações anatômicas da relação entre o nervo isquiático e o músculo piriforme é um fator possivelmente relacionado com o desenvolvimento da síndrome do piriforme, principalmente quando houver déficit neurológico motores e/ou sensitivos, sendo assim, é importante conhecê-las e considerá-las no momento do diagnóstico clínico e complementar, assim como no momento da determinação entre o tratamento cirúrgico ou o conservador. Referências 1. Yeoman W. The relation of arthritis of the sacro-iliac joint to sciatica: with one analysis of 100 Cases. Lancet 1928;(2). 2. Robinson DR. Piriformis syndrome in relation to sciatic pain. Am J Surg 1947;73: 355-8. 3. Durrani Z, Winnie AP. 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Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan; 1995. 4/4/2006 17:04:49 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 95 Artigo original Aspectos clínicos e anatomopatológicos da reparação de defeito osteocondral experimental da cabeça umeral de cães, após aplicação de laser a diodo de arsenieto de gálio Effects of gallium arsenate diode laser application on articular cartilage experimental defect in dog umeral head Cristina Boock de Souza Rodrigues, M.Sc.*, Ricardo Junqueira Del Carlo, D.Sc.**, Celber René Limonge***, Betânia de Souza Monteiro****Lisandra Cristina Perez Pinheiro*****, Antônio José Natali, D.Sc.******, Taise Domingues de Souza, M.Sc.******* *Fisioterapeuta, Mestre em Medicina Veterinária, **Médico Veterinário, Pesquisador CNPq, Professor Titular, Orientador Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV), ***Fisioterapeuta, Especialista em osteopatia, mestrando em Medicina Veterinária (UFV), ****Médica Veterinária, m estranda em Medicina Veterinária (UFV), *****Graduanda Medicina Veterinária (UFV), bolsista PIBIC/CNPq, ******Licenciado em Educação Física, Professor Adjunto (UFV), *******Médica Veterinária, Professora Assistente, Universidade de Vila Velha Resumo Abstract Foi avaliada, por meio de exames clínicos e anátomopatológicos, a influência do laser a diodo de arsenieto de gálio (As-Ga) na reparação articular da cabeça umeral de 36 cães após osteocondroplastia experimental. O laser determinou efeito analgésico logo após a sua aplicação, melhorou a deambulação após 21 dias e potencializou a reparação. The influence of Gallium-Arsenate (As-Ga) diode laser on the repairing process of dog humeral heads after experimental osteochondroplasty was assessed by clinical and anatomopathological examinations. The laser provided analgesic effect immediately after its application, improved lameness after 21 days and had a great repairing potential. Palavras-chave: laserterapia, cartilagem articular, lesão osteocondral. Key-words: laser therapy, articular cartilage, osteochondral defect. Introdução intrínseca de reparação, por se tratar de um tecido desprovido de irrigação sangüínea e, portanto, dependente da vascularização proveniente da medula óssea para que ocorra migração de células mesenquimais, responsáveis pelo processo de cicatrização [4-6]. Após lesões, o tecido de reparação tende a se tornar cartilaginoso, mas permanece com características fibrosas, e sua natureza é biomecanicamente importante [7]. Mesmo quando histologicamente semelhante à cartilagem hialina, difere da cartilagem articular normal, bioquímica e biomecanicamente [8] e, freqüentemente, a longo prazo, são observadas extensas A cartilagem articular é uma estrutura complexa que absorve choque durante o movimento articular [1]. Sua nutrição deriva do líquido sinovial produzido pela membrana sinovial e, em menor grau, da difusão de substratos sanguíneos que cursam através do osso subcondral [2]. O líquido sinovial também é responsável pela lubrificação das superfícies deslizantes [1-3]. As lesões superficiais da cartilagem articular, que não envolvem o osso subcondral, possuem pouca capacidade Recebido 8 de abril de 2005; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Ricardo Junqueira Del Carlo, Departamento de Veterinária, Universidade Federal de Viçosa, 36570-000 Viçosa MG, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 95 4/4/2006 17:04:50 96 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 alterações degenerativas, iniciando-se com fibrilação superficial da cartilagem de reparação e posterior formação de fissuras, ocorrendo ainda diminuição na celularidade e perda da afinidade tintorial pela safranina O [5]. Os efeitos fisioterápicos do laser de baixa potência estão fundamentados na sua ação vasodilatadora pré-capilar e capilar, que melhora a circulação e aumenta a oxigenação, o aporte de nutrientes e a retirada de catabólitos. Também promove modificações na pressão hidrostática, favorecendo a reabsorção de edemas. Além disso, inibe a síntese de prostaglandinas, eleva o limiar da dor, estimula a produção de endorfinas, restabelece a homeostase celular e atua positivamente sobre a regeneração tecidual pela elevação do metabolismo [9]. O objetivo deste trabalho foi avaliar, por meio de exames clínicos e anátomopatológicos, a influência do laser a diodo de arsenieto de gálio (As-Ga) na reparação da cartilagem articular da cabeça umeral de cães após osteocondroplastia experimental. foram separados em quatro subgrupos de quatro animais (C1, C2, C3 e C4), submetidos somente ao procedimento cirúrgico e avaliados antes da cirurgia e durante sete, 21, 35 e 60 dias após a cirurgia, respectivamente. Os 16 cães do Grupo tratado (GT) também foram separados em quatro subgrupos de quatro animais (T1, T2, T3 e T4), e submetidos ao procedimento cirúrgico, porém neste grupo foi realizada aplicação do laser As-Ga. A primeira aplicação foi feita no primeiro dia de pós-operatório e as seguintes sempre com intervalo de 48 horas, até atingirem sete, 21, 35 e 60 dias, de acordo com o subgrupo experimental, submetidos a três, sete, 12 e 20 sessões, respectivamente. As aplicações de laser As-Ga foram realizadas com um aparelho (Laser Infra-Red 904 – KLD, Biossistemas Equipamentos Eletrônicos Ltda) de 45 W (watts) de potência máxima e comprimento de onda de 904 nm, na dose de 4 J/cm2 por ponto. O animal foi colocado em decúbito lateral direito e após a identificação do acrômio esquerdo, o membro torácico esquerdo foi estendido e rotacionado medialmente ficando paralelo à coluna vertebral. Um ponto cranial, outro caudal e o último ventral em relação ao acrômio foram irradiados em cada animal, com a extremidade da caneta do laser, em contato com a pele, posicionada de modo a incidir perpendicularmente ao defeito. Clinicamente os animais foram avaliados quanto a presença ou ausência de claudicação e pressão de apoio dos membros operados. Para análise da claudicação, foram submetidos a caminhadas diárias, sendo que no grupo tratado a avaliação foi feita antes e após a aplicação do laser. A mensuração da pressão de apoio do membro torácico esquerdo foi realizada uma vez antes do procedimento cirúrgico e diariamente após a cirurgia nos animais dos grupos controle e tratado, utilizando uma balança de precisão digital e um tablado de madeira de altura igual ao do piso da balança. O procedimento foi realizado por um único observador. Ao atingir o período para avaliação previsto para cada subgrupo (sete, 21, 35 ou 60 dias), os animais de GC e GT foram sacrificados. A articulação escápulo-umeral operada foi dissecada e avaliada macroscopicamente, quanto à conformação e ao aspecto do preenchimento do defeito. A análise estatística foi feita por meio de análise de variância da regressão (para avaliação da pressão de apoio dos membros de GC e GT) e o teste t foi feito para avaliar a pressão de apoio antes e após a aplicação do laser. Foi adotado o nível de significância de até 5%. A avaliação de claudicação foi descritiva. Materiais e métodos Foram utilizados 32 cães adultos, machos e fêmeas, clinicamente sadios, sem raça definida, pesando entre 10 e 20 kg, provenientes do canil experimental do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa. Após procedimentos rotineiros pré-operatórios e de anestesia geral, a articulação escápulo-umeral esquerda de todos os cães foi abordada, conforme estabelecido por Piermattei [10]. Após incisão da cápsula articular, realizou-se a rotação medial e extensão do membro, que resultou na exposição da porção caudal da cabeça do úmero. Com auxílio de um punch de biopsia circular de seis milímetros de diâmetro, foi delimitado um defeito na cartilagem articular. O tecido cartilaginoso circunscrito foi removido por meio de uma perfuratriz elétrica, na velocidade de 2000 rpm, sob irrigação contínua com solução ringer-lactato. A profundidade do defeito criado foi a espessura completa da cartilagem articular, até penetrar o osso subcondral, evidenciando sangramento. As bordas da lesão foram mantidas perpendiculares em relação à superfície articular e a articulação foi lavada com solução de ringer-lactato para remoção de pequenos fragmentos cartilaginosos. Em seguida, a cápsula articular e os planos cirúrgicos foram suturados. Nas primeiras 24 horas após a intervenção cirúrgica a articulação operada foi imobilizada por uma bandagem de Velpeau [11], e os animais mantidos em baias individuais. Posteriormente, os cães foram transferidos para canis coletivos (quatro cães/canil), recebendo ração comercial (Biriba – Guabi S/A) e água à vontade. Os animais foram medicados com enrofloxacina (Duotril 10% - Duprat) (10 mg/kg/s.c. a cada 24 horas), imediatamente antes e durante cinco dias após a cirurgia, e cetoprofeno (Profenid injetável – Aventis) (1,1 mg/kg/s.c. a cada 24 horas) por três dias, após a cirurgia. Os 32 cães foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos experimentais. Os 16 cães do Grupo controle (GC) Fisioterapia_v7n2.indb 96 Resultados e discussão Na avaliação clínica do GT, todos os animais apresentaram durante a primeira sessão de aplicação do laser (primeiro dia pós-operatório), a área operada edemaciada e dolorosa à manipulação. Todavia 48 horas após a cirurgia (durante a segunda sessão), os animais permitiram a manipulação do 4/4/2006 17:04:50 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 97 membro operado. Resultados similares a esses também foram observados no GC nos primeiros dias pós-operatórios. No quesito claudicação, foi observado que os animais do C1 e T1 comportaram-se de forma semelhante. Enquanto, os animais dos subgrupos T2, T3 e T4, comparados com o subgrupo controle respectivo, apoiaram mais precocemente o membro operado. Resultados similares foram descritos por Lobato [1], ao assegurar que o laser, clinicamente, diminuiu os sinais inflamatórios e a dor, permitindo melhor desempenho e maior amplitude de movimento. Pela análise de variância da regressão, verificou-se uma relação funcional entre a recuperação dos animais, medida pela variação na pressão de apoio e o tempo de tratamento pós-operatório. Tal relação aplicou-se tanto para o grupo tratado como para o controle (Figuras 1 e 2). Embora tenha havido significância para a regressão nos dois grupos, os coeficientes de determinação apresentaram-se baixos, o que indica baixa adequabilidade do linear simples para aquelas situações ou, ainda, um ajuste inadequado em apenas parte do tempo em que os animais foram expostos à recuperação. Esperava-se uma taxa de recuperação maior, ao longo do tempo, para o grupo tratado, devido ao efeito analgésico do laser [12], mas foi verificado que os modelos lineares ajustados para ambos os grupos foram estatisticamente idênticos. Tal afirmação foi verificada pela significância do coeficiente de correlação (R) entre os resíduos resultantes das duas equações, o que indicou que esses modelos proporcionaram desvios iguais para cada ponto considerado da variável tempo. Isto foi aplicado para todos os subgrupos controle e tratado. Pode-se inferir também que o método de avaliação, balança de precisão e tablado, não permitiu a avaliação precisa da pressão de apoio, que variava em função de movimentos do animal, como abanar da cauda, posição da cabeça dentre outros. O teste “t” para dados pareados demonstrou, em média, que a pressão de apoio após a aplicação do laser foi maior do que a medida imediatamente antes, caracterizando efeito analgésico imediatamente após a laserterapia, conforme demonstrado em coelhos por Burr [1] e Piermattei e Flo [13]. A análise macroscópica realizada após o sacrifício mostrou melhor preenchimento do defeito nos animais do GT, comparados com o GC, ao longo do tempo (Figura 3). O defeito dos animais C1 e T1, aos sete dias, permaneceu com as bordas definidas e regulares, com o fundo preenchido por material de coloração vermelho escuro, semelhante a coágulo sangüíneo. Nos animais do C2, aos 21 dias, o tecido de reparação que preenchia o defeito apresentou coloração rósea-avermelhada e as bordas mantiveram-se definidas. No T2, as bordas do defeito apresentaram-se irregulares e arredondadas e o preenchimento foi uniforme, porém sem atingir a superfície articular e o tecido de reparação assumiu coloração esbranquiçada a rósea. Nos animais do C3, aos 35 dias, os defeitos apresentavamse com as bordas irregulares e arredondadas. O preenchimento do defeito aconteceu de forma incompleta, com tecido de reparação amarelado a róseo. No T3 as bordas do defeito estavam arredondadas, com preenchimento até as proximidades da superfície articular, por um tecido de coloração róseo-esbraquiçado. Nos animais do C4, aos 60 dias, o preenchimento da falha não alcançou o nível da superfície da cartilagem articular normal, as bordas da lesão mantiveram-se irregulares e o tecido de reparação tinha coloração esbranquiçada a rósea, com alguns pontos amarelados. No T4, em três animais, as bordas permaneceram arredondadas, a falha estava preenchida por tecido de coloração esbranquiçada a rósea até a proximidade da superfície articular. Em um animal o preenchimento da falha foi total e se deu por tecido semelhante a cartilagem. Figura 1 - Gráfico de regressão do índice de pressão, medido em porcentagem, em função dos dias decorridos após a cirurgia, para o subgrupo C4. ** significativo a 1% pelo teste t. Figura 2 - Gráfico da regressão do índice de pressão, medido em porcentagem, em função dos dias decorridos após a cirurgia, para o subgrupo T4. ** significativo a 1% pelo teste t. Fisioterapia_v7n2.indb 97 4/4/2006 17:04:51 98 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Os resultados foram semelhantes aos obtidos por Souza [14] que observou, em falhas osteocondrais no joelho de coelhos, preenchimento parcial após duas semanas, evoluindo para preenchimento completo as quatro e sete semanas após o procedimento cirúrgico, na maioria dos animais. Por outro lado, Hurtig et al. [4] observaram pequena reparação um mês após a criação de falhas osteocondrais em eqüinos. Mas, após quatro meses, observaram um tecido róseo recobrindo o fundo, porém sem preenchimento até o nível da superfície articular, o que aconteceu somente aos 9 meses. Esses achados indicam que o processo de reparação de falhas osteocondrais pode variar de espécie para espécie, podendo também ser influenciado pelo tamanho, formato e localização do defeito. Também existe variação individual, conforme observado em um animal do T4, cujo preenchimento do defeito atingiu o nível da superfície articular. Conclusão Figura 3 - Aspecto macroscópico da falha osteocondral da cabeça do úmero de cães sacrificados nos diferentes tempos pós-operatórios (PO). C1 (7 dias), preenchimento da falha com coágulo. T1 (7 dias), material de preenchimento semelhante ao C1. C2 (21 dias), defeito preenchida com tecido de coloração rósea-avermelhada. T2 (21 dias), melhor preenchimento do que C2. C3 (35 dias), preenchimento ainda incompleto com tecido amarelado a róseo. T3 (35 dias) preenchimento incompleto por tecido de reparação esbranquiçado a róseo. C4 (60 dias), preenchimento incompleto por tecido de reparação esbranquiçado a róseo. T4 (60 dias), tecido semelhante à cartilagem remanescente preenchendo o defeito. Fisioterapia_v7n2.indb 98 Com base nos resultados do presente estudo, conclui-se que o laser a diodo de arsenieto de gálio aplicado após osteocondroplastia da cabeça do úmero, em cães, apresentou efeito analgésico logo após a sua aplicação; melhorou deambulação após 21 dias e potencializou a reparação do defeito. Referências 1. Burr DB. Anatomy and physiology of the mineralized tissues: role in the pathogenesis of osteoarthrosis. Osteoart and Cartil 2004;1-11. 2. Cambell CJ. The healing of cartilage defects. Clin Orthop Relat Res 1969;64:45-63. 3. Hettinga DL. Resposta inflamatória das estruturas sinoviais da articulação In: Gould JA. Fisioterapia na ortopedia e na medicina do esporte. 2 ed. São Paulo: Manole; 1993. p.87-117. 4. Hurtig MB, Fretz PB, Doige CE et al. Effects of lesion size and location on equine articular cartilage repair. Can J Vet Res 1998;52(1):137-46. 5. Kettunen K. Effect of articular function on the repair of a fullthickness defects of the joint cartilage. 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Viçosa MG: Departamento de Veterinária da UFV; 1998. 51p. 4/4/2006 17:04:52 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 99 Artigo original Isostretching no tratamento da lombalgia crônica Isostretching as treatment for chronic low back pain Paola Moreira Lopes*, Thais Cristina Mackert*, Moacir Chien-Min Haruo Yau*, Ligia Maria Facci, M.Sc.** *Fisioterapeutas graduados no Centro Universitário de Maringá – CESUMAR, **Fisioterapeuta graduada na Universidade Estadual de Londrina, Especialista em Morfofisiologia Aplicada à Reabilitação e à Educação Corporal, Docente do Centro Universitário de Maringá – CESUMAR Resumo Abstract A lombalgia é um mal que atinge milhares de pessoas, tornandose responsável por limitações das atividades funcionais e comprometimento da qualidade de vida. Diante da grande variabilidade de métodos terapêuticos utilizados para o tratamento de tal afecção e da pouca fundamentação científica para o método Isostretching, objetivou-se avaliar os benefícios alcançados nos pacientes submetidos à técnica. Foram selecionados 20 pacientes, sendo 11 mulheres e 9 homens, tendo como queixa principal lombalgia crônica. Estes se submeteram a 12 sessões da técnica, três vezes semanais. Ao início e ao término do tratamento foram utilizados vários instrumentos de avaliação para verificar melhora da dor, da qualidade de vida, da força muscular de abdominais e extensores de coluna e flexibilidade. Foram encontrados benefícios estatisticamente significantes com relação a todos os aspectos investigados na maioria dos pacientes. No presente estudo, verificou-se a eficácia terapêutica do método Isostretching na melhora da dor e de flexibilidade de pacientes com dor lombar crônica. The low back pain affects thousands of people and may cause limitation of functional activities and quality of life. Due to great variety of therapeutic methods of treating this disease, and the few scientific studies about the Isostretching method, the aim of this study was to evaluate improvement of patients submitted to this method. The sample was composed by twenty patients, eleven women and nine men with chronic low back pain. They were submitted to twelve Isostretching sessions, three times a week. Several methods of evaluation were used, at the beginning and at the end of treatment, in order to verify pain improvement, quality of life, abdominal muscle and column extensors strength and flexibility. Most patients showed a statistically significant improvement in all methods evaluated. In this study, therapeutic efficacy of Isostretching method was verified for improvement in pain and flexibility in patients with chronic low back pain. Key-words: low back, rehabilitation, pain. Palavras-chave: coluna lombar, reabilitação, dor. Introdução A queixa de lombalgia, definida por dor na coluna lombar, apresenta na sociedade atual prevalências surpreendentes, acometendo cerca de 70% a 85% da população em algum momento da vida [1]. É importante ressaltar que o termo lombalgia não pode ser considerado diagnóstico, devendo-se estabelecer a causa para definir a melhor modalidade terapêutica [2]. Sendo este um mal que atinge milhares de pessoas, suas conseqüências são econômica e socialmente visíveis: é o principal responsável por limitações das atividades funcionais em pessoas com menos de 45 anos, é a terceira causa mais comum de procedimentos cirúrgicos; apresenta um terço dos gastos financeiros referentes a todas as doenças músculo-esqueléticas, e está relacionado, hoje, a mais de 2% dos afastamentos de trabalho todo ano [3,4]. A dor na coluna lombar pode ser causada por estresse postural prolongado, carga excessiva ou repetida durante o trabalho, aplicação de forças dinâmicas anormais sobre o corpo estático ou dinâmico, ou ainda por movimentos súbitos e inesperados que impõem estresses mecânicos sobre o corpo [5]. Além disso, pelo fato da região lombar ser o segmento mais móvel da coluna vertebral, e também o que Recebido 8 de junho de 2005; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Ligia Maria Facci, Rua Alfredo Pujol, 1288- zona 5, caixa postal 974, 87015-250 Maringá PR, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 99 4/4/2006 17:04:53 100 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 suporta maior peso corporal, justifica-se a grande incidência de queixas com relação a ela. Vários métodos terapêuticos podem ser utilizados no tratamento da lombalgia, tais como: eletrotermoterapia, massoterapia, tração lombar, alongamentos realizados de maneira estática, balística, passiva e por facilitação neuro-muscular proprioceptiva, dispositivos para compressão abdominal e lombar, acupuntura, quiropraxia, tai-chi-chuan e hidroterapia [6-11]. Num estudo comparativo realizado por Silva [7], observou-se que o tratamento ativo da lombalgia obteve maior êxito, reduzindo a dor e melhorando a resistência lombar em relação ao passivo. O tratamento multidisciplinar inclui procedimentos físicos, acompanhamento psicológico e ocupacional, podendo apresentar resultados bastante positivos, como redução da dor e melhora da capacidade funcional dos pacientes [12]. Partindo do princípio que uma das principais causas da dor lombar é a alteração postural [5], o método Isostretching, técnica de reeducação postural criada na França por Bernard Redondo [13], vem atualmente sendo indicado para o tratamento de pacientes com tal queixa. Rui [14] verificou a utilização do Isostretching sobre as alterações posturais de uma paciente mastectomizada. Os resultados obtidos com vinte sessões demonstraram melhora da postura, porém, a avaliação através de fotografia simples, sem padronização ou fotogrametria, não constituiu um instrumento confiável para aplicação clínica. Germiniani et al. [15] e Beloube et al. [16] obtiveram significativa melhora no tratamento de alterações posturais, na flexibilidade muscular, na redução das curvaturas exacerbadas, na melhora da simetria dos segmentos corporais e, conseqüentemente, da estética corporal, com a aplicação do Isostretching. Pessoa [17] selecionou pacientes com alterações posturais em desenvolvimento e outros com alterações já instaladas. Foi aplicado o método Isostretching como complemento da fisioterapia tradicional, sendo duas sessões tradicionais e uma do método, por semana. A cada mês, a avaliação postural realizada inicialmente era repetida, totalizando 2 meses de tratamento. Seus resultados estatísticos foram bastante positivos, no entanto, por ter sido aplicado em associação com a fisioterapia convencional, não se pôde caracterizar a eficácia exclusiva do método. As principais indicações para a sua aplicação contemplam quadros álgicos crônicos e alterações da coluna vertebral [15], sendo importante ressaltar que, na prática, pacientes com dor aguda, na maioria das vezes, não suportam executar os exercícios. Martins [18] utilizou o Isostretching para analisar as modificações de percepção corporal, aplicando-se o teste de Askevold. Dos dez pacientes incluídos no estudo, apenas três concluíram o protocolo de dez sessões e freqüência semanal de duas vezes. Ao final do tratamento, dois pacientes obtiveram melhora na construção de sua imagem corporal. Como no estudo citado anteriormente, o número de perdas foi muito grande, interferindo diretamente na aceitabilidade dos resultados do estudo, e deixando lacunas para a prática clínica. Foram encontrados estudos sobre os efeitos do Isostretching em pacientes com escoliose. Oliveiras & Souza [19] utilizaram a técnica associada a manipulações osteopáticas em seis pacientes durante oito meses (58 sessões). Foram verificadas reduções de encurtamentos nas cadeias musculares anterior e inspiratória, alteração do apoio plantar e redução do ângulo de Cobb em quatro dos seis pacientes. Apesar do período de tratamento ter sido maior, o fato de se utilizar outra técnica associada mascarou o resultado do estudo e, além disto, estes não foram estatisticamente significativos (p > 0,05). Em um estudo de caso, Sá & Lima [20] aplicaram onze sessões de Isostretching em um indivíduo do sexo masculino de treze anos, com diagnóstico de escoliose idiopática. Através de análise por fotografias padronizadas, verificaram-se resultados pouco significativos em relação à simetria corporal, porém diminuição das retrações vertebrais pelo método de Nash & Moe e manutenção do ângulo de Cobb. Além disso, foram importantes as alterações de flexibilidade avaliadas pelos testes de sentar-alcançar, de cadeias musculares e de elevação da perna reta. A dor em coluna, também avaliada neste estudo por uma escala de desconforto, apresentou discreta melhora. Apesar da pouca fundamentação científica sobre a utilização do método Isostretching em pacientes com alterações e queixas em coluna vertebral, notam-se excelentes resultados nas escassas referências encontradas e na prática clínica. O objetivo deste estudo é verificar a evolução de pacientes lombálgicos crônicos submetidos à técnica de Isostretching em diferentes aspectos. Fisioterapia_v7n2.indb 100 Material e métodos O estudo foi realizado na Clínica de fisioterapia do Centro Universitário de Maringá (CESUMAR), na cidade de Maringá PR. Foram selecionadas fichas de encaminhamento de indivíduos, de ambos os sexos, maiores de dezoito anos, que procuraram o ambulatório de fisioterapia tendo como queixa principal dor crônica na região lombar, de diferentes diagnósticos clínicos, ou mesmo sem definição do mesmo. Após entrar em contato com os pacientes e esclarecê-los da metodologia do estudo, os que concordaram em participar, voluntariamente, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Foram excluídos aqueles que tinham sido submetidos a procedimento cirúrgico recente (nos últimos seis meses), os que estavam em tratamento fisioterapêutico, aqueles que se apresentavam em quadro agudo da dor, e os que não concordaram em participar do estudo. Após a seleção, os pacientes foram avaliados por uma fisioterapeuta, através de uma ficha pré-elaborada, que continha vários instrumentos de avaliação. Para o desfecho da dor, foram utilizados a Escala Visual Análoga (EVA), o questionário Roland Morris (RM) e o item Dor do questionário SF-36. 4/4/2006 17:04:54 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 A qualidade de vida foi avaliada, através do questionário SF-36 [21]; para flexibilidade foram utilizados os testes de Schober e Index-chão; e a força muscular de abdominais e de extensores da coluna foram avaliados através de prova de função manual. Os indivíduos incluídos no estudo receberam 12 sessões de fisioterapia, com freqüência de três vezes por semana e duração de 45 minutos. As sessões de Isostretching foram realizadas em grupos de até seis pacientes, sendo utilizados colchonetes, bolas e bastões para as variações da técnica. Os pacientes foram orientados a apresentarem-se com roupa apropriada para a prática dos exercícios. O estudo seguiu um protocolo de atendimento fixo, que se adaptava às dificuldades de cada paciente (Quadro I). Quadro I - Protocolo de exercícios executados nas sessões de Isostretching. Postura Quantidade de execuções Em pé Sentado Deitado Relaxamento com música 2 2 2 5 minutos Acessórios utilizados Bastões Bastões e bolas bolas música Na primeira sessão, os pacientes receberam as instruções básicas do método, que incluíram: expiração profunda prolongada, isometria de quadríceps, abdominais e glúteos, depressão escapular e retificação das curvaturas, através de autocrescimento. Nas posturas com ângulo de quadril fechado (flexão de quadril), incentivou-se a anteversão, e nas posturas com ângulo de quadril aberto (quadril neutro), incentivou-se a retroversão, como preconiza o autor da técnica Isostretching. A pressão arterial e a freqüência cardíaca de todos os pacientes foram verificadas nas quatro fases do tratamento, devido ao fato de se encontrarem no grupo de pacientes hipertensos controlados. A pressão arterial foi aferida no início, meio e fim dos exercícios e após o relaxamento, enquanto a freqüência cardíaca foi verificada no início da sessão e após o término de cada posição. 101 Quadro II - Características dos pacientes incluídos no estudo. Pacientes selecionados Pacientes incluídos Homens Mulheres Raça Branca Negra Outra IMC Sedentários Tempo do início da queixa Idade 36 20 9 11 75% 20% 5% 28,3 kg/m² em média 80% 50% há mais de 18 meses 50 anos em média Os dados do estudo foram analisados, estatisticamente, através do Teste de Hipóteses, em que se utilizou o Teste de Wilcoxon para dados pareados, sendo considerados significantes os valores de p menores que 0,05 (5%). A análise da variável dor revelou redução estatisticamente significativa nos três instrumentos utilizados comparando os indivíduos do início ao final do tratamento (p-valor 0,00292 para SF-36 0,000857 para EVA e 0,00045 para RM). É importante salientar que na avaliação da dor, realizada através do SF-36, quando os valores aumentavam, ocorreu melhora de qualidade de vida e, conseqüentemente, redução do quadro álgico. Na escala visual análoga (EVA), instrumento que também avaliou a dor, ocorre o inverso, ou seja, a redução dos valores significa melhora do quadro (figura 1). Os efeitos do método começaram a ser observados e relatados pelos pacientes a partir da oitava semana, podendo ser concluídos ao final do tratamento. Dos 20 pacientes reavaliados, porém, apenas dois tiveram piora do quadro álgico nos três parâmetros avaliados, representando apenas 10% de piora entre os participantes. Figura 1 - Comparação dos resultados iniciais e finais dos instrumentos de avaliação da dor. Resultados Foram selecionados 36 indivíduos para participarem do presente estudo. No entanto, por intercorrências pessoais, como indisponibilidade de tempo e para a freqüência nas sessões, 16 pacientes foram excluídos ao início da execução do protocolo. Dos 20 participantes avaliados e reavaliados, 11 eram do sexo feminino e 9 do sexo masculino, e com faixa etária variando entre 27 e 74 anos (média de 50 anos), sendo 80% sedentários (Quadro II). A maioria (80%) não apresentava diagnóstico clínico definido. Fisioterapia_v7n2.indb 101 Pôde-se verificar um aumento de pelo menos um (1) cm de estatura em 7 (35%) dos pacientes tratados (Tabela III). Analisando as variações de flexibilidade de coluna antes e após a execução do tratamento, obteve-se melhora em 8 dos pacientes na execução do teste de Schober Dorsal, em 11 no teste de Schober Lombar, e em 11 destes no teste Index-chão, sendo que neste último instrumento dois dos pacientes que já apresentavam valor máximo (0 cm de distância do chão) este valor se manteve (Tabela I). 4/4/2006 17:04:54 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 102 Tabela I - Análise das variações de flexibilidade de coluna e estatura nos pacientes submetidos ao tratamento. Schober Dorsal (cm) Schober Lombar (cm) Index-chão (cm) Estatura(cm) Inicial Final Inicial Final Inicial Final Inicial Final Média Mediana Valor mínimo Valor máximo 30,80 30,88 14,57 15,08 15,66 11,75 1,60 1,61 31,00 31,00 14,00 15,00 17,0000 12,00 1,61 1,61 27,00 27,00 12,00 13,00 0,00 0,00 1,47 1,49 34,00 34,00 21,00 19,00 35,00 33,00 1,78 1,78 Desvio Padrão C.Variação (%) 1,40 1,87 2,05 1,53 12,47 10,84 0,086 0,084 4,54 6,06 14,05 10,17 79,66 92,27 5,36 5,19 Tabela II - Análise descritiva da qualidade de vida através do SF-36. Capacidade funcional Aspectos físicos Inicial Final Inicial Final Dor Inicial Final Estado geral saúde Inicial Final Vitalidade Inicial Final Aspectos sociais Inicial Final Aspectos emocionais Inicial Final Saúde mental Inicial Final N Média Mediana Min Max Variance Desvio padrão C.Variação (%) 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 40,25 49,50 15,00 40,00 27,10 44,40 67,00 74,35 54,25 65,25 46,25 74,63 24,98 46,65 57,65 69,60 37,50 50,00 0,00 12,50 31,00 41,00 72,00 77,00 50,00 77,50 37,50 83,75 0,00 33,30 60,00 72,00 10,00 5,00 0,00 0,00 0,00 0,00 25,00 25,00 0,00 0,00 0,00 12,50 0,00 0,00 24,00 24,00 90,00 100,00 100,00 100,00 61,00 84,00 97,00 100,00 90,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 92,00 96,00 409,14 786,58 881,58 2000,00 223,46 570,36 430,53 332,66 721,78 719,67 972,04 854,79 1270,97 1566,92 501,19 532,88 20,23 28,05 29,69 44,72 14,95 23,88 20,75 18,24 26,87 26,83 31,18 29,24 35,65 39,58 22,39 23,08 50,25 56,66 197,94 111,80 55,16 53,79 30,97 24,53 49,52 41,11 67,41 39,18 142,69 84,86 38,83 33,17 A qualidade de vida representa importante conseqüência da eficácia do tratamento. Com relação aos resultados demonstrados sobre este desfecho, verificados com a aplicação do SF-36, o aumento da pontuação dos pacientes revelou melhora, estatisticamente significativa (mediana inicial de 143,74 e final de 150,49 p-valor = 0,0056), com a execução do protocolo do estudo (Tabela II). A avaliação da força muscular de abdominais e extensores de coluna, realizada através de prova de função manual, revelou resultados salientes tanto no primeiro quanto no segundo aspecto. Tais resultados indicam que 100% dos participantes obtiveram alguma melhora na força muscular dos referidos músculos. Discussão Nesta pesquisa foi verificado aumento de estatura de pelo menos um centímetro em 35% dos pacientes, parâmetro este não avaliado em estudos prévios, porém saliente muitas vezes na prática clínica. Este achado pode ser relacionado ao Fisioterapia_v7n2.indb 102 estímulo de retificação das curvaturas associado e às posturas de autocrescimento. A melhora da força muscular de abdominais e extensores de coluna foi verificada através de prova de função manual, instrumento que freqüentemente revela discordância de resultados entre avaliadores. Deste modo, não pôde ser considerada um achado cientificamente relevante. Com relação à alteração da postura, esta não foi verificada na aplicação deste protocolo, não se podendo relacionar com vários estudos que demonstraram melhora neste aspecto [14-17]. Os resultados deste estudo também não puderam ser comparados aos de Oliveiras & Souza [19] e de Sá & Lima [20], no aspecto modificação de curva escoliótica, e ao de Martins [18], que verificou alteração de percepção corporal. A flexibilidade demonstrou relevante melhora neste grupo de pacientes, achado condizente com os trabalhos de Germiniani et al. [15], Beloube et al. [16], Oliveiras & Souza [19] e de Sá & Lima [20]. Em nenhum destes estudos, porém, foi verificada significância estatística nos resultados, além de não 4/4/2006 17:04:55 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 ter havido, também, compatibilidade entre os instrumentos avaliados. Os trabalhos de Pessoa [17] e Oliveiras & Souza [19] foram realizados com a aplicação do Isostretching associado à outra intervenção. Desta forma, os resultados finais positivos não podem ser relacionados apenas à execução do método devido à influência da outra técnica aplicada, concomitantemente. Os estudos citados previamente, desta forma, não podem ser diretamente comparados com este trabalho, pela falta de padronização nos instrumentos de avaliação utilizados, pelas amostras de pacientes não serem semelhantes, e também por apresentarem diferentes objetivos. Conclusões No presente estudo, verificou-se a eficácia terapêutica do método Isostretching na melhora da qualidade de vida, da dor, da força muscular, da flexibilidade, e até mesmo da estatura, em pacientes com lombalgia crônica. Os efeitos positivos sobre o quadro doloroso, objetivo principal nos pacientes com lombalgia crônica, ocorreram, provavelmente, devido à melhora dos demais aspectos analisados. Todos estes benefícios têm influência direta sobre a qualidade de vida dos indivíduos. O número de sessões estipuladas foi pequeno, sendo ainda extremamente interessante verificar os efeitos de protocolos prolongados. Além disso, poderia ser relevante acompanhar os pacientes após o tratamento por determinado período para se confirmar se os benefícios alcançados com a execução da técnica seriam mantidos. Devido ao êxito encontrado nos resultados, conclui-se que a aplicação deste método merece avaliação de diferentes desfechos, para que, assim, seja possível certificar-se dos prováveis benefícios alcançados pelo mesmo. Para que tais resultados aconteçam é necessário o conhecimento profundo da técnica, bom comando verbal, empenho, disponibilidade do paciente e tempo para aprender a realizar as posturas de forma correta e eficaz. Finalmente, é importante ressaltar que, independente do método escolhido para o tratamento de qualquer alteração músculo-esquelética, a visão globalizada do paciente deve ser enfocada para que sua qualidade de vida e a eficácia do método sejam sempre enfatizadas. Referências 1. Daltroy LH, Iversen DM, Larson MG, Lew R, Wright E, Ryan J et al. A controlled trial of an education program to prevent low back pain. N Engl J Med 1997;337(5). Fisioterapia_v7n2.indb 103 103 2. Deyo AR, Weinstein JN. Low back pain. N Engl J Med 2001;344(5):363-70. 3. Andersson GBJ. 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Rev Bras Reumatol 1999;39(3):143-50. 4/4/2006 17:04:56 104 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Artigo original Comportamento das forças de reação do solo na marcha em condições de instabilidade patelofemoral Behavior of the ground reaction forces in the gait in conditions of patelofemoral instability Fernanda Ishida Corrêa*, João Carlos Ferrari Corrêa D.Sc.**, José Luís Martinelli**, Marco Antônio Araújo**, Eduardo Filoni**, José Augusto Peres** *Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, Centro Universitário Nove de Julho - UNINOVE , **Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE Resumo Abstract Qualquer condição que perturbe o controle motor adequado, maturação do sistema nervoso central, adequada amplitude de movimento, força muscular preservada, estrutura e composição óssea apropriadas, além de propriocepção intacta, poderá provocar uma marcha dita patológica, podendo trazer uma deficiência primária para a marcha ou criar mecanismos compensatórios secundários para que esta mantenha uma função útil. A instabilidade patelofemoral é uma condição patológica, a qual implica em perda da funcionalidade da marcha. O presente estudo teve como objetivo analisar a existência de um padrão comum das variáveis da força reação do solo, durante a realização da marcha em aclive e declive, em 10 voluntários saudáveis (grupo controle). Como tal questão foi afirmativamente respondida, buscamos verificar a possibilidade de identificação de alterações dessas variáveis também durante a marcha em 10 voluntários com instabilidade patelofemoral (grupo patológico). Os dados da força de reação do solo foram coletados utilizando-se o Sistema Gaitway Instrumented – Kistler, que consiste de uma esteira rolante (Trotter Treadmill) com duas plataformas de força. Foram estudados os valores do primeiro e segundo pico de força vertical máxima (Fy1 e Fy2), força vertical mínima (Fymin), além da taxa de aceitação do peso. O padrão dessas variáveis durante a marcha em voluntários saudáveis e com instabilidade patelofemoral não demonstrou diferença estatisticamente significativa, por meio do teste T de Student a 5% de probabilidade dos resultados obtidos. Portanto, ao considerar os resultados obtidos nesse estudo, pode-se concluir que tais variáveis não são viáveis para sua utilização no diagnóstico precoce da instabilidade patelofemoral. Any condition that disturb the adequate motor control, central nervous system maturation, adequate range of movement, preserved muscular strength, appropriate bone structure and composition, besides intact proprioception, can result in a pathological gait, leading to primary damage in gait or creating secondary compensatory mechanisms to keep an utile function. The patellofemoral instability is a pathological condition which leads to a gait functionality loss. The present study had as objective to analyze the existence of a common pattern of the ground reaction forces variables, during gait in acclivity and declivity, in 10 healthy volunteers (control group). As such question was affirmatively responded, we aimed in verifying the possibility of identification of these variables also during gait in 10 volunteers with patellofemoral instability (pathologic group). The ground reaction forces data were collected using the Gaitway Instrumented – Kistler system, which consists in a treadmill (Trotter) with two force platforms. Were studied the values of the first and second maximal vertical force peak (Fy1 e Fy2), minimal vertical force (Fymin), and the weight acceptation rate. These variable’s pattern during gait in healthy volunteers and with patellofemoral instability have not shown statistically significant differences, by the Student test in a probability of 5% of the obtained results. So, considering the obtained results, we can conclude that such variables are not useful in early diagnostic of patellofemoral instability. Key-words: ground reaction force, patellofemoral instability, gait, treadmill. Palavras-chave: força reação do solo, instabilidade patelofemoral, marcha, esteira rolante. Recebido 29 de junho de 2005; aceito em 15 de fevereiro de 2006. Endereço para correspondência: Prof. Dr. João Carlos Ferrari Corrêa, Rua Professor Francisco Galvão Freire, 163 Urbanova II 12244-479 São José dos Campos SP, Tel: (12) 3949-2516, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 104 4/4/2006 17:04:56 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Introdução A análise da marcha humana é um dos recursos utilizados em fisioterapia para se encontrar tanto alterações ortopédicas quanto neurológicas. Para uma compreensão completa dessas alterações, faz-se necessário o estudo por completo e profundo da chamada marcha normal, que constitui a base de comparação entre o comportamento normal e patológico. As plataformas de força medem as forças reação do solo que fornecem um sinal elétrico proporcional à força aplicada. Estas forças são divididas nas suas componentes ortogonais, e seus gráficos gerados em função do tempo. Para comparação com padrões, as forças reação do solo são normalizadas e registradas como porcentagem do peso corpóreo [1]. Katoulis et al. [2] descreveram que a marcha normal é resultante da correlação harmônica entre a ação coordenada das funções nervosas, musculares e esqueléticas. Os pré-requisitos para a integridade dessa harmonia são um controle motor adequado, maturação do sistema nervoso central, adequada amplitude de movimento, força muscular preservada, estrutura e composição óssea apropriadas, além de propriocepção intacta [3]. Quaisquer condições que perturbem esses pré-requisitos poderão resultar em uma marcha dita patológica, podendo trazer um prejuízo primário na marcha ou criar mecanismos compensatórios secundários para que esta mantenha uma função útil [4]. A instabilidade patelofemoral é uma condição patológica na qual o restabelecimento da marcha significa maior funcionalidade para o paciente [5]. Surge, então, a necessidade do estudo do comportamento biomecânico da marcha de tais indivíduos, o qual pode otimizar o processo de diagnóstico e posteriormente a própria reabilitação. Especificamente, este trabalho pretendeu estudar o comportamento das variáveis biomecânicas, através da análise da variação da força reação do solo do membro inferior dominante, inter-sujeitos, durante o ciclo completo da marcha, dos voluntários saudáveis para comparação com voluntários portadores de instabilidade patelofemoral durante 10 ciclos completos das marchas realizadas em aclive e declive, as quais, segundo Insall [5], tendem a desencadear os sinais de instabilidade da patela, em virtude da maior requisição do aparelho extensor associada à falta de estabilização estática, principalmente dos côndilos femorais. Assim, a questão é responder primeiramente qual o comportamento das forças reação do solo, frente à atividade funcional da marcha em aclive e declive, atividade esta que tende a desencadear sinais e sintomas inerentes à instabilidade patelofemoral em indivíduos portadores desta doença. Uma vez essa questão respondida, deve-se, na existência de um comportamento comum para indivíduos saudáveis, verificar se o mesmo apresenta alterações na presença de indivíduos com instabilidade patelofemoral, podendo esta ser identificada precocemente (diagnóstico) com as variáveis aqui estudadas. Fisioterapia_v7n2.indb 105 105 Respondendo a estas questões, a reabilitação fisioterapêutica terá ganhado uma importante contribuição, visto que a base teórica para as disfunções articulares é que determina a terapêutica, tornando-a mais eficaz, ainda mais quando o diagnóstico precoce é realizado. Material e métodos Participaram deste trabalho, realizado no Laboratório de Biodinâmica do Centro Universitário Nove de Julho UNINOVE, 10 voluntários saudáveis, sendo 5 homens e 5 mulheres, com idade média de 20,9 (± 2,07) anos; e 10 voluntários com diagnóstico prévio de instabilidade patelofemoral bilateralmente, média de idade de 21,7 (± 3,4) anos. Os voluntários realizaram duas atividades funcionais: marcha em aclive de +3º e declive de -3º (inclinações estas suficientes para desencadear comportamentos identificadores da instabilidade patelofemoral conforme estudo piloto realizado anteriormente), durante as quais foram obtidos dados da força reação do solo, do membro dominante. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (segundo a resolução CNS 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, de 10/10/96). Os voluntários foram informados da possibilidade de se retirarem da pesquisa em qualquer fase da mesma, sem penalização alguma, antes mesmo de lerem e assinarem o termo de consentimento para participação da pesquisa clínica. Ao chegarem no local do exame, os voluntários considerados saudáveis eram submetidos a um questionário [6], o qual constou de identificação e informações que traduzissem o estado funcional da articulação do joelho de todos os voluntários, com o objetivo de selecionar somente os voluntários que apresentassem a articulação do joelho sem comprometimentos fisiológico e patológico. Também foram submetidos ao teste de flexibilidade, os músculos do quadríceps femoral, estando todos os voluntários dentro dos parâmetros aceitáveis [7]. Já os voluntários tidos como patológicos não seguiam o protocolo descrito acima, visto que estes já possuíam um diagnóstico prévio de instabilidade patelofemoral, uma vez que foram encaminhados, após avaliação, por um médico ortopedista ao Laboratório para que participassem do trabalho. Portanto, foi realizado apenas um exame na articulação do joelho simplesmente como forma de confirmação do diagnóstico, excluindo principalmente outro tipo de patologia não desejada, como por exemplo, a condromalácia [6]. Ao finalizar a fase informativa (aplicação do questionário e termo de consentimento), foi dada ao voluntário uma orientação, sobre as atividades funcionais a serem executadas durante a coleta dos dados, bem como da finalidade do trabalho. Foi permitido aos voluntários andar livremente durante 3 minutos pela esteira rolante instrumentada com duas plataformas de força, para que se acostumassem com todos os aparatos necessários para o experimento, onde a velocidade 4/4/2006 17:04:57 106 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 da marcha foi regulada igualmente a fim de estabelecer uma cadência normal para todos os voluntários estudados, como discutido no trabalho de White et al. [8], que compararam o coeficiente de variação (CV) da força reação do solo vertical de 6 passadas consecutivas nos 30 primeiros segundos e depois a cada 3 minutos por 21 minutos, reportando um CV mais baixo a 3 minutos, recomendando não coletar antes dos 2 minutos iniciais de habituação. Os dados da força de reação do solo foram coletados utilizando-se o Sistema Gaitway Instrumented – Kistler, que consiste de uma esteira rolante (Trotter Treadmill) com duas plataformas de força. Estas plataformas de força são baseadas em quatro transdutores piezoelétricos, dispostos a uma distância de 350 mm do eixo transversal e 210 mm do eixo longitudinal da plataforma. Cada transdutor possui um cristal piezoelétrico sensível à pressão exercida na direção vertical. Foi utilizado um conversor A/D de 12 bits de resolução e o sinal da força de reação do solo foi amostrado em uma freqüência de 1000 Hz, e filtrado com filtro Butterworth de 4ª ordem digital com freqüência de corte de 5 Hz. A plataforma não permite apenas a análise das forças verticais de reação do solo, como também a extração do tempo de contato do pé com o solo, do tempo de transição, ritmo e categoria das passadas, parâmetros do tempo de apoio, comprimento de passos e medida do peso corpóreo, além da análise matemática dos dados. Para a adaptação à esteira, o voluntário caminhou sobre ela livremente em uma velocidade determinada subjetivamente pelo próprio voluntário. A amostragem da força reação do solo foi coletada durante as 10 passadas do voluntário durante o funcionamento contínuo da esteira. Figura 1 - Representação da força reação do solo (vertical), onde é descrito o movimento evidenciando algumas características: a) ∆t; b) Fy1; c) ∆t Fy1; d) Fy2; e) ∆t Fy2; f ) Fymin; g) ∆t Fymin; h) taxa de aceitação do peso; i) impulso; j) período de duplo apoio; k) período da passada. Resultados Através da força reação do solo foram obtidos valores referentes à força vertical do membro dominante durante o ciclo completo da passada, como forma de padronizarmos a coleta dos dados, visto as duas articulações patelofemorais dos voluntários serem afetadas pela doença. As tabelas I e II representam os valores médios e desviospadrão analisados do padrão inter-sujeitos, do grupo saudável e do grupo patológico, durante a marcha em aclive de +3º e declive de -3º, respectivamente. Análise dos dados Para a análise dos dados foram selecionados, para cada série temporal da força reação do solo: a) os valores do primeiro pico de força vertical máxima (momento de contato do calcanhar no solo - Fy1); b) segundo pico de força vertical máxima (retirada do pé - Fy2); c) força vertical mínima (Fymin); d) diferença entre a força vertical máxima (Fy1) e a força vertical mínima (Fymin); e) valor da inclinação da curva de força até o seu primeiro pico superior, denominado taxa de aceitação do peso (valor máximo da força vertical passiva dividido pelo tempo decorrido até esse valor ser alcançado) (figura 1). Os dados relacionados a Fy1, Fy2, e Fymin foram normalizados pelo peso corporal do voluntário, e expressos pela unidade N/kg. Os valores médios da força reação do solo foram submetidos ao teste T de Student (duas populações independentes). O tratamento estatístico foi realizado nos programas Excel (Microsoft) e Matlab v. 6.0 (Mathworks), e o tratamento matemático foi realizado nos programas Matlab v. 6.0 (Mathworks) e Origin v. 6.0 Professional (Microcal Software). Fisioterapia_v7n2.indb 106 Tabela I - Valores médios com respectivo desvios padrão e valor de p (teste T de Student) à 5% de probabilidade das 10 passadas de cada um dos 10 voluntários, totalizando 100 dados mensurados para cada variável analisada da força reação do solo (vertical), do grupo saudável e do grupo patológico, durante a marcha em aclive. Variáveis Grupo saudável Pico da força vertical máxima (Fy1 x PC*) 1,06 ± 0.01 Pico da força vertical máxima (Fy2 x PC*) 1,02 ± 0,02 Força vertical mínima (Fymin x PC*) 0,85 ± 0,01 Diferença entre a Fy1 e a Fymin 1,24 ± 0,11 1,15 ± 1,16 Taxa de aceitação do peso 9,19 ± 0,25 7,38 ± 0,39 Grupo patológico Valor - p 1,11 ± 0,03 0,05 ** 1,12 ± 0,02 0,06 ** 0,96 ± 0,05 0,05 ** 0,05 ** 0,65 ** * onde PC significa Peso Corporal ** não significante 4/4/2006 17:04:58 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 107 A comparação dos valores médios, para cada variável estudada entre os dois grupos analisados neste estudo para a marcha realizada em aclive, foi feita através do teste T de Student, segundo o qual temos que p > 0,05, então aceitamos a hipótese de nulidade, ou seja, a média das variáveis entre os grupos saudável e patológico, quando da marcha realizada em aclive, não mostrou diferença estatisticamente significativa. Já para a marcha realizada em declive, as variáveis estudadas podem ser visualizadas na tabela II. são de fundamental importância para a manutenção do equilíbrio e estabilidade durante a marcha e, conseqüentemente, podem causar uma alteração na regulação do padrão do movimento, resultando em diferenças cinemáticas entre esses dois ambientes. White et al. [8] adotaram um critério para estabelecer quando o voluntário estaria habituado à nova condição e, a partir desse critério, estabeleceu-se o tempo necessário para adaptação à esteira rolante antes de iniciar a aquisição dos dados. Os autores estudaram o CV das curvas de força reação do solo vertical de 6 passadas consecutivas nos 30 primeiros segundos e depois a cada 3 minutos por 21 minutos. Observaram que os maiores valores correspondentes aos CVs foram os dos primeiros 30 segundos de coleta e dos 9 minutos; e os menores foram obtidos aos 3 minutos. Dessa forma, adotaram 3 minutos como tempo de prática prescrita antes da aquisição dos dados e recomendam não coletar antes dos 2 minutos iniciais de habituação. Conforme o trabalho descrito acima, os voluntários do grupo saudável e do grupo patológico, antes mesmo de serem coletados os dados deste estudo, andaram por 3 minutos sobre a esteira para que houvesse um período de habituação significativo e que posteriormente não interferisse no padrão da marcha coletada para análise. Após esse período de habituação, a cadência para a marcha eleita para cada voluntário independentemente deu-se através da avaliação subjetiva do próprio voluntário, quando este referia estar adaptado à velocidade, a qual estaria muito próxima de sua cadência normal de marcha. Mesmo que a metodologia aplicada para a escolha da cadência da marcha visasse favorecer a ocorrência de diferenças entre os voluntários, isto na prática não ocorreu, sendo que todos os voluntários adotaram uma velocidade para a marcha muito próxima a 1 m/s, sem ocorrer diferenças significativas. A forma das curvas produzidas pela força reação do solo encontradas em nosso estudo é típica daquelas reportadas na literatura [11]. A força vertical tem características de curva com dois picos. A primeira, chamada de força passiva, é relacionada com a aceitação do peso (weight acceptance), quando a velocidade descendente do corpo está sendo freada (ou seja, aceleração descendente do centro de massa do corpo). A segunda curva, dita força ativa, é devida ao impulso (pushoff) e demonstra que o centro de massa está sendo acelerado ascendentemente, aumentando a velocidade ascendente. Na análise dos resultados para a marcha do grupo saudável e do grupo patológico, durante a marcha em aclive, encontrou-se valor muito próximo entre os dois grupos, mas sem que houvesse diferenças estatisticamente significativas. Apesar do referido, cabe ressaltar que a força mínima aumentou no grupo com instabilidade patelofemoral. Deflexões significativamente menores, nos voluntários com instabilidade patelofemoral, podem indicar uma ineficiência do aparelho locomotor em reduzir cargas durante o médio apoio ao longo do ciclo completo da marcha [12]. Outra variável que também sofreu alteração, independente- Tabela II - Valores médios com respectivo desvios padrão e valor de p (teste T de Student) à 5% de probabilidade das 10 passadas de cada um dos 10 voluntários, totalizando 100 dados mensurados para cada variável analisada da força reação do solo (vertical), do grupo saudável e do grupo patológico, durante a marcha em declive. Variáveis Grupo saudável (Fy1 x PC*) 1,19 ± 0,04 Pico da Força vertical máxima (Fy2 x PC*) 1,13 ± 0,02 Força vertical mínima (Fymin x PC*) 0,75 ± 0,02 Diferença entre a Fy1 e a Fymin 1,58 ± 0,16 Taxa de aceitação do peso 7,84 ± 0,64 Grupo patológico Valor - p 1,21 ± 0,03 0,06 ** 1,17 ± 0,03 0,05 ** 0,87 ± 0,04 0,07 ** 1,39 ± 0,24 0,06 ** 7,42 ± 0,52 0,06 ** * onde PC significa Peso Corporal ** não significante Observando a tabela II, temos que p > 0,05, então também aceitamos a hipótese de nulidade para essas variáveis quando da marcha realizada em declive, não havendo diferença estatisticamente significativa entre os grupos saudável e patológico. Portanto, todas as variáveis dinâmicas estudadas não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos estudados durante as duas marchas eleitas neste estudo. Discussão Muitos autores, entre eles Dingwell et al. [9] e Wank, Frick, Schmidtbleicher [10], destacam algumas vantagens da utilização da esteira rolante com a finalidade de análise da marcha, fins clínicos e de reabilitação, entre elas: o maior controle de fatores ambientais envolvidos na coleta dos dados, tal como a velocidade, facilidade no acoplamento e manuseio do equipamento de coleta dos dados ao voluntário, além de permitir o registro de sucessivos ciclos da marcha sem a necessidade de realizar várias tentativas para se obter um número representativo de ciclos. Já Wank, Frick, Schmidtbleicher [10] destacam que as diferenças mecânicas entre piso fixo e esteira rolante podem ser devidas à diferença de informação visual, auditiva e vestibular que o voluntário recebe sobre esta. Estas informações Fisioterapia_v7n2.indb 107 4/4/2006 17:04:59 108 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 mente da diferença estatística encontrada não referir significância, foi a taxa de aceitação do peso, que diminuiu, em virtude talvez da menor amplitude do pico de força máxima ativa ou mesmo do maior tempo necessário para alcançar este mesmo pico, valores que determinam o coeficiente desta variável. Desta forma, pode-se acreditar que os voluntários tidos como patológicos busquem uma forma de aumentar a estabilidade, compensando a instabilidade articular e a displasia muscular, mas nada que refira existir uma quebra no padrão de controle motor observado inicialmente no grupo saudável (controle), para as variáveis da força reação do solo analisadas. Segundo Nordin e Frankel [13], para que um indivíduo possa ter uma marcha normal, faz-se necessária uma combinação de fatores mecânicos (incluindo estruturais), neurológicos, cognitivos e perceptuais. Os pré-requisitos para a integridade desses fatores são um controle motor adequado, maturação do sistema nervoso central, adequada amplitude de movimento, força muscular preservada, estrutura e composição óssea apropriadas, além de propriocepção intacta. O ciclo da marcha é uma seqüência perfeitamente orquestrada de eventos elétricos e mecânicos que culminam na propulsão coordenada do corpo através do espaço. O ciclo da marcha deveria ser visto como um esforço coordenado entre o sistema nervoso, o sistema muscular e o sistema esquelético. Nesse sentido, as ações musculares são muito mais complexas, de maneira que a noção de que os músculos simplesmente se contraem e causam rotações nas articulações é incorreta e simplificada [14]. Para todas as variáveis biomecânicas analisadas por nós neste estudo, não encontramos nada que indicasse um padrão biomecânico instável nos voluntários portadores de instabilidade patelofemoral durante a marcha realizada em aclive e declive. Dingwell et al. [9] relataram que a variabilidade é indicativa da instabilidade do padrão de controle motor, e esta pode ser uma provável hipótese para a diferença encontrada neste estudo não ser estatisticamente significativa. Dingwell et al. [15] e White et al. [8] discutiram que um ambiente restritivo, tal como a marcha em esteira rolante, poderia produzir um padrão locomotor extremamente reprodutivo e com baixa variabilidade em sua execução. Este fato talvez possa se aplicar em nosso estudo, mas como não realizamos a análise destas variáveis em piso fixo, devido à falta de equipamentos disponíveis para tal estudo, não teremos como responder a esta questão. padrões de variação sem diferenças significativas, para o grupo saudável, tanto para a marcha realizada em aclive, quanto para a marcha realizada em declive, o que permite a utilização de tais variáveis como indicadores para uma alteração do aparelho locomotor (diagnóstico). Porém, com as variáveis obtidas nesse estudo, observou-se não haver diferenças de um padrão da força reação do solo que demonstrassem qualquer quebra da estabilidade biomecânica nos voluntários com instabilidade patelofemoral, em comparação ao grupo com voluntários saudáveis, não sendo viável o diagnóstico precoce da instabilidade patelofemoral através das variáveis analisadas neste estudo. Conclusão Da análise das variáveis biomecânicas experimentalmente investigadas neste estudo, quando da marcha realizada em aclive e declive em uma esteira rolante, podemos concluir que a metodologia empregada neste estudo permitiu uma análise confiável dos resultados, possibilitando uma análise simultânea e sincronizada dos parâmetros observados. Portanto, as variáveis analisadas da força reação do solo mantêm Fisioterapia_v7n2.indb 108 Referências 1. Delisa JA, Gans BM. Rehabilitation medicine: principles and practice. Filadélfia: J.B. Lippincott; 1993. p.1238. 2. 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Gait Posture 1999;10:21-9. 4/4/2006 17:04:59 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 109 Artigo original Análise histomorfométrica e funcional do miocárdio de ratos wistar submetidos ao esforço físico crônico Histomorphometric and functional analysis of the myocardium of wistar rats submitted to chronic physical effort Cynthia Kallás Bachur, M.Sc.*, José Alexandre Bachur, M.Sc.**, Érica Carolina Campos*** *Docente da Disciplina de Fisioterapia Cardiológica, Supervisora de estágio na disciplina de Fisioterapia Cardiovascular Ambulatorial na Universidade de Franca – SP, **Docente da Disciplina de Fisioterapia Traumatologia e Patologia, Supervisor de estágio na disciplina de Fisioterapia Traumatológica na Universidade de Franca – SP, Diretor do curso de Fisioterapia da Universidade de Franca, ***Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Cardiológica Resumo Abstract O esforço físico crônico é conhecido por induzir uma série de adaptações morfo-funcionais no sistema cardiovascular. As alterações funcionais podem ser observadas através do tempo médio de realização de um determinado protocolo de esforço físico com intensidade e duração pré-definidas ou não, como o de esforço físico exaustivo a 6% de sobrecarga corporal que foi utilizado neste estudo para avaliação funcional. Além das alterações funcionais, modificações anatômicas cardíacas como um aumento na massa ventricular, podem ser observadas, dependendo dos padrões de intensidade, duração e freqüência do esforço físico crônico. Para analisar-se estas referidas alterações adaptativas, o esforço físico realizado em água por ratos é um bom modelo experimental. Este trabalho foi realizado com o objetivo de se analisar as possíveis respostas adaptativas decorrentes do esforço físico crônico breve, por quatro semanas, sob diferentes intensidades máximas, relativas às sobrecargas corpórea de 2%, 4% e 6%. Na análise morfométrica não houve alteração morfológica significativa em nenhum dos grupos estudados. Os resultados obtidos em função do esforço físico exaustivo indicaram um perfil adaptativo funcional do sistema cardiovascular significativo dos animais submetidos ao esforço físico crônico com sobrecarga máxima de 6 %. Chronic physical effort is known for inducing a serie of morphofunctional adaptations at the cardiovascular system. The functional alterations can be observed through the average realization time of a determined physical effort protocol with pre-defined, or not, intensity and duration, with tone of exhaustive physical effort at 6% of body overcharge, which was used in this study for functional evaluation. Besides the functional alterations, heart anatomic alterations like increase of ventricular muscle mass, we can observe, depending on the intensity, duration and frequency patterns of chronic physical effort. The physical effort made by rats inside the water is a good experimental model to analyze these adaptive alterations. This study was realized with the intention of analyzing the possible adaptive answers resulting from brief chronic physical effort, for four weeks, under different maximum intensities, related to body overcharges of 2%, 4% and 6%. At the morphometric analysis there was no significant alteration in any of the studied groups. The results obtained due to the exhaustive physical effort indicated a significant adaptive functional profile of the cardiovascular system in animals submitted to chronic physical effort with maximum overload of 6%. Key-words: physical effort, overload, morphology, heart. Palavras-chave: esforço físico, sobrecarga, morfologia, coração. Introdução O esforço físico intensivo e prolongado induz a adaptações cardiovasculares que permitem ao coração um desempenho fisiológico excepcional [1,2]. Como conseqüência do esfor- ço físico vigoroso praticado durante longos períodos, essas adaptações provocam uma variedade de alterações funcionais e anatômicas, que podem se situar fora dos limites da normalidade e cujo significado clínico e prognóstico tem sido objeto de intensa discussão [3]. As modificações importantes Recebido 16 de agosto de 2005; aceito em 15 de fevereiro de 2006. Endereço para correspondência: Cynthia Kallás Bachur, Universidade de Franca - Clínica de Fisioterapia / Departamento de Reabilitação Cardiovascular, Av. Dr. Armando Salles Oliveira, 201 Parque Universitário 14404-600 Franca SP, Tel: (16)3711-8720/9967-7016, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 109 4/4/2006 17:05:00 110 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 geradas no sistema cardiovascular através do exercício físico bem orientado são : aumento do VO2 máx; redução da freqüência cardíaca concomitante ao aumento do volume sistólico; redução do nível das catecolaminas sangüíneas e urinárias (provavelmente por diminuição do tônus simpático); aumento de enzimas oxidativas, de capilares e de fibras de encurtamento lento (vermelhas) e elevação do glicogênio muscular; melhor tolerância ao esforço físico; aumento da capacidade aeróbia; melhora do transporte de O2 devido à maior densidade de capilares; redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio (MVO2); redução da pressão arterial sistólica e diastólica de repouso; aumento de HDL-colesterol; redução de triglicérides e de LDL-colesterol; aumento da tolerância à glicose; aumento da motivação para perda de peso; redução da ansiedade e da depressão[4]. Estudando os efeitos do esforço físico crônico sobre a performance cardíaca [5], verificaram que o coração hipertrofiado dos ratos treinados desenvolveram, em diferentes níveis de pressão diastólica final, tensão significativamente maior do que o coração dos animais do grupo controle, e que as alterações associadas ao exercício resultaram em maior capacidade miocárdica para executar o trabalho mecânico. As adaptações do sistema cardiovascular durante o exercício constituem um dos exemplos mais interessantes dos mecanismos de controle dos processos fisiológicos básicos. Os mecanismos responsáveis pelo controle da função cardiovascular durante o esforço físico são o exemplo típico de processo fisiológico multifatorial com funções redundantes, que permitem ao sistema operar de maneira sempre efetiva nas mais diversas circunstâncias [6]. O aumento da capacidade de trabalho do miocárdio visa garantir o débito cardíaco frente a uma sobrecarga com menor consumo de oxigênio. Tal situação pode ser encarada como adaptativa. Será benéfica enquanto durar a adaptação da atividade funcional à demanda aumentada [7]. Considerando o mecanismo de adaptação do coração à sobrecarga de trabalho, justifica-se o empenho na criação de modelos experimentais que visam explicar os mecanismos envolvidos na sua gênese e manutenção. Este estudo tem como objetivo analisar o comportamento adaptativo do miocárdio frente ao esforço físico crônico realizado sob protocolo de intensidades progressivas (leve, moderada e intensa), associado à performance funcional e morfométrica frente ao esforço físico exaustivo. Delineamento experimental Material e métodos Foram utilizados 32 ratos machos da raça Wistar (Rattus norvegicus, Hannover, var. albina), pesando inicialmente 392 g em média. Estes animais foram mantidos em gaiolas plásticas (no máximo 03 ratos por gaiola), em sala climatizada com controle de temperatura (entre 24ºC – 28ºC), luminosidade (ciclo de 12 horas – claro, 12 horas – escuro) com água e ração fornecidas ad libitum. Fisioterapia_v7n2.indb 110 Para se conhecer comparativamente o comportamento adaptativo do miocárdio ao esforço físico crônico realizado sob três diferentes níveis de intensidade (leve, moderada e intensa), foi necessário três grupos , além do grupo controle, compostos de 08 animais cada grupo. O esforço físico crônico foi realizado pelo período de 04 semanas, em uma frequência de 05 vezes por semana com duração de 30 minutos. Porém, a progressividade da implementação da sobrecarga corpórea (SCC), para a determinação da intensidade, em cada um dos grupos de estudo, se deu da seguinte maneira (Figura 1): Figura 1 - Progressividade da implementação da sobrecarga corpórea (SCC), para a determinação da intensidade, em cada um dos grupos de estudo. - Grupo I, controle, os animais foram mantidos em repouso, sob cuidados de higiene e alimentação; - Grupo II, os animais foram submetidos ao esforço físico durante as 04 semanas com 2% de SCC; - Grupo III, os animais foram submetidos ao esforço na primeira semana com 2% de SCC e, nas segunda, terceira e quarta semanas com 4% de SCC; - Grupo IV, os animais foram submetidos ao esforço físico na primeira semana com 2% de SCC, na segunda com 4% e nas terceira e quarta semanas com 06% de SCC. Esforço físico crônico O esforço físico crônico foi realizado em tanque de material sintético de polietileno com 100 cm de comprimento, 70 cm de largura e 80 cm de altura, contendo água numa profundidade de 50 cm, de maneira que impossibilitavam que os animais apoiassem sua cauda no fundo dos mesmos durante sua movimentação. A água era mantida numa temperatura de 31 ± 1ºC por uma resistência elétrica submersa acoplada a um termostato. Os animais foram submetidos ao esforço em sessões com duração de 30 minutos, numa freqüência de 05 vezes por semana, durante um mês, e com uma intensidade progressiva 4/4/2006 17:05:01 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 111 a cada semana através da implementação de sobrecarga corpórea de 2%, 4% e 6%, sendo estes pesos fixados no tronco dos animais, na região infra-axilar. As sobrecargas foram constituídas de fragmentos de chumbo envolvidos por fitas de esparadrapo com um elástico, sendo as medidas feitas em balança digital. Os animais eram pesados semanalmente, para que a sobrecarga corpórea fosse adequada individualmente. Este procedimento foi iniciado sempre no mesmo horário. Todos foram submetidos ao experimento após um período de jejum de 08 horas. Após o término das sessões de natação, os animais foram enxugados em sala com temperatura controlada de 25ºC e colocados novamente nas suas respectivas gaiolas. paração entre as médias empregou-se o Teste de Scheffé, ao nível de significância de α = 0,05. Os dados são apresentados como média aritmética ± desvio padrão da média. A adaptabilidade funcional está representada pela capacidade máxima, expressa em minutos, de realização do esforço físico exaustivo com intensidade relativa a 6% de sobrecarga corpórea para todos os animais. De acordo com os dados demonstrados na figura 2, a capacidade de realização deste referido protocolo de esforço físico, após o período de estimulação, apresentada pelos animais de grupo IV e do grupo III foram significativamente maiores em relação ao grupo I (controle). Porém, a média obtida junto aos animais do grupo II não foi significativamente em relação ao grupo controle. Esforço físico exaustivo Figura 2 - Capacidade máxima de realização do esforço físico exaustivo com 6% de SCC dos grupos : G I - controle, o qual não foi submetido ao esforço físico crônico; G II - representando os animais estimulados somente com SCC de 2%, durante todo o período; G III - grupo de animais submetidos ao esforço físico crônico com sobrecarga corpórea progressiva de 2% e 4%; e o G IV composto pelos animais submetidos ao esforço físico crônico com SCC de 2%, 4% e 6%. Ao final do período experimental de quatro semanas, os ratos foram mantidos em repouso por 48 horas, novamente pesados individualmente, e logo após submetidos a um esforço exaustivo, com sobrecarga corpórea de 6% para todos os animais. O tempo de natação foi determinado pela capacidade de adaptação funcional de cada animal, obtendo respostas diferentes em tempos de esforço. Foi observado tempo de exaustão máxima quando os animais ficavam submersos no fundo do tanque em tempo superior à 08 segundos. Após o limite pré-determinado, os animais eram retirados e submetidos ao sacrifício. Coleta de material Os animais foram sacrificados imediatamente após a realização do esforço físico exaustivo, por inalação contínua de éter etílico puro por ± 1 minuto com o intuito de sedação e posteriormente a uma indução de pneumotórax. No momento do sacrifício foi realizada a laparotomia mediana para a retirada do coração. O órgão cardíaco foi retirado, lavado em solução a 0,9% de cloreto de sódio (sol. salina) e, fixados em solução de formol a 10% durante 24 horas. O procedimento histológico foi realizado de forma habitual, corados com Hematoxila Eosina (HE), para posterior análise morfométrica. Para análise morfométrica, as imagens da lâmina foram captadas utilizando uma câmera JVC-TK1270 com uma lente macro de 55 mm. Em seguida elas passam por um processo de binarização onde é realizado a detecção dos objetos por limiar de espectros de cor RGB e é feito a separação da alça superior do ventrículo direito e a alça inferior do ventrículo esquerdo, dando as medidas de espessura de cada raio e feito a média de raios. Resultados Os resultados da morfometria foram analisados estatisticamente através da Análise de Variância (ANOVA), e a com- Fisioterapia_v7n2.indb 111 G I = G II; G I < G III e G I < G IV ; G II = G III e G III < G IV; G III = G IV, de acordo com o teste de Scheffé (a= 0,05). Quanto à adaptabilidade morfológica, não houve diferença significativa em relação à espessura ventricular direita e esquerda entre os grupos II, III e IV em relação ao grupo controle - G I. Discussão Sabe-se que o esforço físico determina estímulos significativos para o desenvolvimento da assim chamada hipertrofia ventricular esquerda “fisiológica”. Porém, as alterações estruturais resultantes do esforço físico crônico dependem, ao menos parcialmente, da natureza ou tipo do esforço físico realizado [8]. A hipertrofia fisiológica pode ser desencadeada por uma determinada sequência de estímulos tidos fisiológicos, como os decorrentes do esforço físico realizado em água ou em esteira rolante [9]. Esse tipo de hipertrofia se desenvolve com a melhoria da atividade contrátil do miocárdio, não produzindo as alterações deletérias, comuns nas hipertrofias de natureza patológica, podendo ser considerada como uma adaptação 4/4/2006 17:05:02 112 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 biológica fundamental do músculo a uma maior carga de trabalho [10]. Estudos feitos através de medidas ecocardiográficas, observaram rápido aumento da massa ventricular esquerda no início dos treinamentos [11]. A duração do esforço físico crônico afeta a estrutura do coração, porém, vários estudos não relataram qualquer mudança nas dimensões cardíacas com o treinamento a curto prazo, embora houvesse uma melhoria significativa tanto no VO2 máx. quanto na resposta do coração ao exercício submáximo [12]. Assim, como neste último relato, não foi observada a ocorrência significativa de hipertrofia cardíaca de corrente do protocolo proposto neste estudo, podendo estar relacionada principalmente às sobrecargas corpóreas utilizadas em função do período de duração (30 minutos). Ou seja, o protocolo proposto não sobrecarregou funcionalmente o coração, de forma suficiente para que tal remodelação estrutural se fizesse significativamente presente. Porém, apesar da inexistente modificação morfológica, observou-se que, a performance dos grupos III e IV, foi significativamente maior em relação ao grupo controle (figura 2), diferentemente do ocorrido com o grupo II. Referências Conclusão Os resultados obtidos no presente estudo, sugerem que o esforço físico crônico com natação foi eficiente para promover adaptações funcionais no sistema cardiovascular, sendo necessário uma sobrecarga corpórea maior que 2% do peso corporal. Os dados confirmam que para esse tipo de protocolo utilizado, não houve aumento significativo da massa ventricular, sendo a metodologia para avaliar hipertrofia ventricular ineficaz. Fisioterapia_v7n2.indb 112 1. Bevegard S, Holmgren A, Johnson B. Circulatory studies in well-trained athletes at rest and during exercise, with special reference to stroke volume and the influence of body position. Acta Physiol Scand 1963;57:26-38. 2. Cumming GR. The heart and physical exercise. Can Med Assoc 1963;88:80-5. 3. Rost R. The athlete’s heart. Eur Heart J 1982;3[Suppl A]:193-8. 4. Lucino D, Milani RV, Constantino G, Lavie CJ et al. Effects of cardiac rehabilitation and exercise trainning on autonomic regulation in patients with coronary artery disease. Am Heart J 2002;143:977-83. 5. Crews J, Aldinger EE. Effect of chronic exercise on myocardial function. Am Heart J 1967;74:526-41. 6. Neto TLB. Fisiologia do exercício aplicada ao sistema cardiovascular. 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Med Sci Sports Exerc 1982;14:344. 4/4/2006 17:05:03 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 113 Artigo original Efeito da duração do alongamento estático na flexibilidade dos músculos isquiotibiais em um curto programa de alongamento Effect of duration of static stretching on the flexibility of the hamstring muscles in a short stretching program Lais Mara Siqueira das Neves*, Carolina Alice Bragiola*, Rodrigo Paschoal Prado, M.Sc**, Carlos Eduardo Pinfildi, M.Sc*** *Fisioterapeuta, Graduada no Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva – IMES/FAFICA, **Fisioterapeuta, Docente de Cinesioterapia e Prótese e Órtese da Faculdade de Santa Giulia e Professor de Fisiologia II do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva – IMES/FAFICA, ***Fisioterapeuta, Professor de Fisioterapia Geral II do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva – IMES/FAFICA Resumo Abstract O objetivo desse estudo foi analisar o efeito da duração do alongamento estático na flexibilidade dos músculos isquiotibiais em um curto programa de alongamento. Através de um teste da flexibilidade dos músculos isquiotibiais, foram escolhidas 40 voluntárias na faixa etária de 18 a 25 anos do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva – IMES/FAFICA. Estas foram divididas em quatro grupos de dez, sendo o grupo 1 - grupo controle, o grupo 2 - alongamento estático por 15 segundos, o grupo 3 - alongamento estático por 1 minuto e o grupo 4 - alongamento estático por 3 minutos. As voluntárias dos grupos 2, 3 e 4 foram submetidas ao alongamento durante cinco dias consecutivos. Estas voluntárias foram avaliadas através do teste de flexibilidade dos músculos isquiotibiais com goniômetro antes do alongamento e no quinto dia, ou seja, no último dia de alongamento. Após a análise estatística através dos testes Anova e Tukey, os resultados mostraram que houve diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) entre os grupos, exceto quando comparados o grupo 1 com o 3 e o grupo 2 com o 3. This study aimed to analyze the effect of duration of static stretching in the flexibility of the hamstring muscles in a short stretching program. Through a flexibility test of the hamstring muscles, forty women volunteers, aged between 18 and 25 years old, were chosen from IMES/FAFICA (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva). These volunteers were divided into four groups of ten people. Group 1 - control group, group 2 - static stretching for 15 seconds, group 3 - static stretching for 1 minute and group 4 - static stretching for 3 minutes. The volunteers from groups 2, 3 and 4 were submitted to stretching during 5 consecutives days. These volunteers were evaluated through the flexibility test of the hamstring muscles with a goniometer before the stretching and in the fifth day, in other words, the last day of stretching. After the statistic analysis of the Anova and Tukey tests, the results showed that there is a significative difference (p < 0,05) between the groups, except when the group 1 was compared with group 3 and group 2 with group 3. Palavras-chave: músculos isquiotibiais, flexibilidade, alongamento estático. Key-words: hamstring muscles, flexibility, static stretching. Introdução Existem diversos tipos de alongamento, sendo os mais utilizados: o alongamento ativo, passivo, balístico, facilitação neuromuscular proprioceptiva e estático [6,7]. O alongamento estático é o mais utilizado para se obter aumento da flexibilidade e relaxamento muscular [8]. Hoje não há um consenso sobre a duração e freqüência do alongamento, quando se refere ao aumento da flexibilidade muscular. O alongamento não se torna eficaz, quando O alongamento é uma das técnicas mais utilizadas na fisioterapia para se obter um aumento na amplitude de movimento (ADM) por meio do aumento da flexibilidade muscular. Atua na diminuição do tônus, encurtamento e espasmo muscular, e é utilizado para preparar a musculatura antes dos exercícios físicos, para evitar lesões musculares [1-5]. Recebido 16 de agosto de 2005; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Rodrigo Paschoal Prado, Rua Rio Grande do Sul, 801, Higienópolis 15804-040 Catanduva SP, Tel: (17) 9717-5734, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 113 4/4/2006 17:05:03 114 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 utilizado por menos de 6 segundos, mas é eficiente quando utilizado de 15 a 30 segundos com um número maior de repetições [9,10]. Madding et al. [10] concluíram em um estudo que o alongamento por 15 segundos é tão eficaz quanto o de 2 minutos, enquanto outros autores, como Bandy, Iron e Briggler [11] concluíram que o alongamento por 30 e 60 segundos é mais eficaz do que o alongamento por 15 segundos para o aumento da flexibilidade, não havendo diferença entre os alongamentos de 30 e 60 segundos. Para aumentar ou manter a flexibilidade, um indivíduo sedentário deve alongar pelo menos uma vez ao dia, 3 ou 5 dias por semana e manter o alongamento pelo maior tempo possível [4,12,13]. Com base em estudos, surgiu a idéia de elaborar uma pesquisa com o propósito de determinar a duração do alongamento estático para aumentar a flexibilidade dos músculos isquiotibiais em um curto programa de alongamento. Quarenta estudantes femininas com idade entre 18 e 25 anos do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva – IMES/FAFICA foram selecionadas para participar deste estudo. As voluntárias leram e assinaram um termo de consentimento que as informava sobre os procedimentos do estudo e seus direitos. As voluntárias declararam que não estavam envolvidas em nenhum programa de exercícios de alongamento muscular ou qualquer outra atividade e se comprometeram a não realizar nenhuma dessas atividades durante o estudo, para não influenciar no resultado deste. O controle específico das voluntárias incluía uma ficha de avaliação da qual faziam parte: idade, lesões musculares e contra-indicações para o uso de alongamento muscular. Para participar do estudo, as voluntárias tinham que exibir mais que 20º de perda de ADM (amplitude de movimento) no teste utilizado para a seleção e avaliação da flexibilidade. Fizeram parte dos critérios de inclusão: período de 3 meses sem realizar qualquer tipo de alongamento (sedentária); mais do que 20º de perda de ADM; e idade entre 18 e 25 anos. Dentro dos critérios de exclusão estão: lesões nos músculos isquiotibiais nos últimos 6 meses; perda menor que 20º de ADM; e cirurgias prévias em lombar ou nas articulações de quadril, joelho e tornozelo. Este estudo obteve aprovação do Comitê de Ética da Faculdade de Medicina de Catanduva. Para a avaliação das voluntárias foi utilizado um teste de flexibilidade dos músculos isquiotibiais, onde a voluntária era posicionada em decúbito dorsal, fixando o joelho direito e o quadril com faixas elásticas (Thera-Band). Um pesquisador posicionava o quadril e o joelho esquerdos a 90º de flexão. O outro pesquisador posicionava o goniômetro no joelho esquerdo, adotando como ponto de referência (eixo) o côndilo lateral do fêmur, o braço fixo paralelo à superfície lateral do fêmur dirigido para o trocanter maior do fêmur e o braço móvel paralelo à face lateral da fíbula dirigido ao maléolo lateral [15]. Neste momento o pesquisador pedia à voluntária que estendesse ativamente o joelho esquerdo até o ponto em que começasse a sentir um leve desconforto nos músculos isquiotibiais. Foi considerada a flexão do joelho esquerdo a 90º como posição inicial e a extensão completa do joelho esquerdo a 0º (Figura 2). Material e métodos Foi utilizado um goniômetro da marca CARCI com marcação em graus (º), para a avaliação da amplitude de movimento dos músculos isquiotibiais das voluntárias no início do estudo (antes do início do protocolo de alongamento) e um dia após o último dia de alongamento (no término do estudo). Para realização do alongamento estático uniforme foi adotado um sistema com duas polias e uma corda, onde uma extremidade estava fixada no tornozelo do membro inferior esquerdo e a outra extremidade com um peso de 7 (sete) kg [14]. Durante o alongamento, as voluntárias permaneciam deitadas em uma maca e fixadas a esta por duas faixas elásticas (Thera-band) da cor ouro, sendo uma faixa colocada no joelho direito e a outra no quadril, para assegurar o posicionamento adequado para o alongamento, evitando qualquer movimento compensatório (Figura 1). Figura 1 – Sistema de alongamento. Figura 2 - Teste. Fonte: Dados do Autor. Fisioterapia_v7n2.indb 114 Fonte: Dados do Autor. 4/4/2006 17:05:04 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Após a seleção das quarenta voluntárias, estas foram divididas através de sorteio em quatro grupos de dez. O grupo 1 (G1) não foi submetido ao alongamento estático, sendo apenas grupo controle. O grupo 2 (G2) realizou alongamento estático durante 5 dias consecutivos com a duração de 15 segundos. O grupo 3 (G3) realizou alongamento estático durante 5 dias consecutivos com a duração de 1 minuto. O grupo 4 (G4) realizou alongamento estático durante 5 dias consecutivos com a duração de 3 minutos. As voluntárias foram submetidas ao alongamento estático, durante 5 dias consecutivos (uma semana), através do sistema de polias e na duração estipulada em seu grupo. As avaliações da flexibilidade dos músculos isquiotibiais (ADM) foram realizadas antes do inicio do protocolo de alongamento e um dia após o ultimo alongamento, ou seja, no sexto dia. Após a coleta dos dados, foi utilizado o teste de Análise de Variância (ANOVA) para verificar se houve diferença significativa entre os grupos [16]. São apresentados, a seguir, nas Tabelas I, II, III e IV, os valores encontrados antes do estudo e em seu término, de cada grupo, relacionados ao teste de flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Tabela I - Valores em graus encontrados antes e após o alongamento no grupo-controle. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Antes Após 42º 42º 36º 42º 40º 36º 35º 20º 42º 42º 38º 42º 36º 40º 40º 36º 42º 20º 40º 38º Fonte: Dados do Autor. As médias do ganho de flexibilidade dos músculos isquiotibiais foram: Grupo 1: - 1,9 graus, grupo 2: 7,8 graus, grupo 3: 6 graus e Grupo 4: 19 graus. Através dos testes Anova e Tukey, observou-se diferença estatisticamente significativa entre os grupos (P < 0,001), com exceção quando comparados o grupo 1 (controle) com o 3 (1 minuto) e o grupo 2 (15 segundos) com o 3 (1 minuto). Sendo que o grupo 4 (3 minutos) foi mais eficaz em comparação aos demais grupos experimentais. Fisioterapia_v7n2.indb 115 Tabela II - Valores em graus encontrados antes e após o alongamento, durante 15 segundos. Voluntárias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Antes Após 38º 30º 38º 38º 48º 40º 50º 42º 34º 40º 46º 42º 38º 48º 42º 54º 48º 50º 50º 42º Fonte: Dados do Autor. Tabela III - Valores em graus encontrados antes e após o alongamento, durante 1 minuto. Resultados Voluntárias 115 Voluntárias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Antes Após 36º 38º 32º 44º 46º 32º 46º 40º 44º 54º 42º 44º 40º 48º 52º 40º 54º 44º 38º 50º Fonte: Dados do Autor. Tabela IV - Valores em graus encontrados antes e após o alongamento, durante 3 minutos. Voluntárias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Antes Após 48º 40º 38º 42º 32º 30º 32º 48º 34º 38º 60º 60º 62º 60º 58º 48º 58º 68º 48º 50º Fonte: Dados do Autor. 4/4/2006 17:05:05 116 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Discussão As controvérsias entre esses estudos foram o motivo da pesquisa sobre o efeito da duração do alongamento estático na flexibilidade dos músculos isquiotibiais em um curto programa de alongamento. Nesse estudo, foram utilizadas as durações de 15 segundos e 1 minuto de alongamento, por serem tempos utilizados na prática clínica diariamente; e o tempo de 3 minutos para observação, pois segundo alguns autores como Halbertdsma, Bolhuis e Goeken [4]; Depino, Webright e Arnold [12]; Hericson et al. [13], quanto maior o tempo em alongamento maior é o ganho de flexibilidade. E, com o tempo de 3 minutos, pôde-se verificar que as voluntárias iniciaram a sensação de formigamento nesse tipo de alongamento. A utilização de um curto programa de alongamento, ou seja, durante 5 dias consecutivos, foi para verificar se haveria um ganho rápido na amplitude de movimento. Com isso, este estudo pôde comprovar que quanto maior o tempo em alongamento maior é o ganho de flexibilidade, concordando com os estudos de alguns autores como Halbertdsma, Bolhuis e Goeken [4]; Depino, Webright e Arnold [12]; Hericson et al. [13]. Segundo Doretto [20], isso ocorre devido à presença dos Órgãos Tendinosos de Golgi, que ajudam a impedir a força excessiva durante a contração muscular e alongamento. Eles emitem impulsos em resposta à tensão criada no músculo ao se contrair ou em resposta à tensão, quando o músculo é distendido passivamente. Eles possuem um limiar de excitabilidade muito alto, sendo assim, quando são ativados, tanto na contração quanto no alongamento excessivo, seus impulsos são deflagrados e alcançam a medula através da fibra Ib, onde estabelecem sinapse inibitória com o motoneurônio Alfa que está deflagrado em excesso e sinapse facilitadora para o opositor. Com isso, eles protegem o músculo contra uma tensão excessiva [20]. Para realizar o alongamento, deve-se primeiramente avaliar qual é o objetivo e a capacidade do indivíduo, para selecionar qual o tipo de alongamento mais adequado. A preferência dos músculos isquiotibiais para o estudo foi devido à sua tendência a sofrer encurtamento com o sedentarismo [2,4,9] e, apesar das mulheres apresentarem maior flexibilidade do que os homens, optou-se por utilizá-las, devido à população de estudo conter um número abundante de mulheres. Atualmente, há muita controvérsia em relação à duração e à freqüência do alongamento, quando se refere ao ganho de flexibilidade muscular. O alongamento não se torna eficaz, quando utilizado por menos de 6 segundos, mas é eficiente, quando utilizado de 15 a 30 segundos, com um número maior de repetições [9,10,17]. As recomendações quanto à duração da manutenção do alongamento estático variam de um mínimo de 15 segundos a um máximo de 60 segundos [9-11,18]. Infelizmente, alguns autores colheram dados antes e após uma sessão de alongamento em apenas um dia e não forneceram evidências quanto à duração mais eficaz para atividades de alongamento que ocorrem por mais de um dia (por exemplo semanas), para serem utilizadas na prática clínica. Segundo um estudo, foi utilizado alongamento passivo de 15 segundos, 45 segundos e 2 minutos na mesma intensidade nos músculos abdutores de quadril em indivíduos saudáveis, sendo demonstrado que o alongamento de 15 segundos foi tão efetivo quanto o de 2 minutos [10]. Outro estudo com o objetivo de comparar duas doses “ideais” de alongamento, sendo 4 repetições de 18 segundos de alongamento, e 1 repetição de 30 segundos na musculatura isquiotibial, teve como resultado um ganho na amplitude de movimento nas duas doses de alongamento [19]. Já outros autores relatam na literatura que para haver um aumento ou manter a flexibilidade, um indivíduo sedentário deve alongar pelo menos uma vez ao dia, 3 ou 5 dias por semana e manter o alongamento pelo maior tempo possível [4,12,13]. Foram examinadas diferentes durações de alongamento estático, executando-os 5 dias por semana durante 6 semanas. Foram examinados os efeitos do alongamento dos músculos posteriores da coxa em diferentes períodos de tempo, incluindo a comparação de grupos que efetuaram o alongamento por 15, 30 e 60 segundos e um grupo que não fez o alongamento. Os resultados indicam que 30 e 60 segundos de alongamento estático foram mais eficazes em aumentar a flexibilidade dos músculos posteriores da coxa que 15 segundos ou absolutamente nenhum alongamento. Não foi encontrada nenhuma diferença entre 30 e 60 segundos de alongamento, indicando que os dois períodos tinham um efeito igual sobre a flexibilidade [9,11]. Fisioterapia_v7n2.indb 116 Conclusão De acordo com os valores obtidos com os testes Anova e Tukey, pôde-se concluir que houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos, com exceção de quando foi comparado o grupo 1 com o 3 e o grupo 2 com o 3. Sendo que o grupo 4 (com maior tempo de alongamento) foi mais eficaz comparado aos demais grupos experimentais. Referências 1. Fountain FP, Gersten JW, Senger O. Decrease in muscle spasm produced by ultrasound, hot packs and IR. Arch Phys Med Rehabil 1960;41:293-9. 2. Halbertsdma JP, Goeken LNH. Stretching exercises: effect on passive extensibility and stiffness in short hamstring of healthy subjects. Arch Phys Med Rehabil 1994;75:976-81. 3. Gracies JM. Physical modalities other them stretch in spastic hypertonia. Phys Med Rehabil Clin N Am 2001;12:769-92. 4/4/2006 17:05:06 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 4. Halbertdsma JP, Bolhuis AIV, Goeken LNH. Sport stretching: effect on passive muscle stiffness of short hamstring. Arch Phys Med Rehabil 1996;77:688-92. 5. Worrel T, Smith TL, Winegardner J. Effect of hamstring stretch on hamstring muscle performance. J Orthop Sports Phys Ther 1994;20:154-9. 6. Spernoga SG, Uhl TL, Arnold BL, Gansneder BM. Duration of maintained hamstring flexibility after a once-time, modified hold-relax stretching protocol. J Athl Train 2001;36:44-8. 7. Roberts JM, Karen W. Effect of stretching duration on active an passive range of motion in the lower extremity. Sports Med 1999;33:259-63. 8. Wessling KC, deVane DA, Hylton CR. Effects of static stretch versus static stretch and ultrasound combined on triceps surae muscles extensibility in healthy women. Phys Ther 1987;67:6749. 9. Bandy WD, Irion JM. The effect of time on static stretch on flexibility of the hamstring muscles. Phys Ther 1994;74:84552 10. Madding SW et al. Effect of duration of passive stretch on hip abduction range of motion. 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Estes pacientes possuem diferença significante em relação aos valores de força muscular e dados da função respiratória em comparação com valores considerados de normalidade. O objetivo deste estudo foi analisar a eficácia da utilização de técnicas de avaliação da força muscular de forma manual e eletromiografia como exame confiável na identificação da evolução de degeneração destes pacientes, bem como comparação dos valores de função respiratória e eletromiografia com índices de normalidade. Demonstrou-se que os testes de força muscular manual comparados com os resultados de eletromiografia são subjetivos e, os valores de Pemax são inferiores a Pimax, sendo significativa a fraqueza expiratória. Com isto, os tratamentos e prognósticos fisioterapêuticos se tornam mais fidedignos. The dystrophy diseases includes Muscular Dystrophy of Duchenne (DMD) and Becker (DMB), being characterized by progressive degeneration of the skeletal muscles, beginning in the scapula waist, pelvic and trunk, with loss of strength muscular, deformities and loss of the ambulation. These patients have significant difference in relation to the values of muscular strength and breathing function data in comparison with considered values of normality. The objective of this study was to analyze the effectiveness of the manual techniques used to the muscular strength evaluation and the electromyography as reliable exam in the identification of the evolution of degeneration of these patients, as well as comparison of the values of breathing function and electromyography with normality indexes. It was demonstrated that the tests of manual muscular strength compared with the electromyographic results are subjective and the values of Pemax are inferior to Pimax, being significant the expiratory weakness. So, the treatments and prognostics of hysical therapy become more trustworthy. Palavras-chave: distrofia muscular, força muscular, eletromiografia, função respiratória. Key-words: muscular dystrophy, muscular strenght, electroneurography, respiratory function. Introdução [1]. Esta alteração provoca uma deleção no gene responsável pela produção de uma proteína citoesquelética denominada distrofina, que tem a função de manter as propriedades mecânicas da célula muscular, a flexibilidade e a integridade que é necessária durante a contração e relaxamento das fibras musculares [2]. Esta proteína encontra-se ausente na DMD e de forma parcial na DMB, caracterizando as formas mais As distrofinopatias compreendem a Distrofia Muscular de Duchene (DMD) e a Distrofia Muscular de Becker (DMB), caracterizadas por uma desordem recessiva, ligadas ao cromossomo X, causando distúrbios de caráter genético na região Xp21, acometendo músculos cardíaco e esquelético Recebido 20 de setembro de 2005; aceito em 25 de fevereiro de 2006. Endereço para correspondência: Prof. Lisiane Tuon, Rua Antônio Santa Helena 94, Centro 88960-000 Sombrio SC, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 118 4/4/2006 17:05:07 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 119 severa e mais leve, respectivamente, onde ambas apresentam sinais e sintomas semelhantes, porém, com um tempo de evolução diferenciado [3]. A DMD e a DMB acometem exclusivamente meninos, sendo que a mãe é a portadora do gene e responsável pela transmissão genética do mesmo. A DMD apresenta uma taxa de incidência de 1 a cada 3.500 meninos nascidos vivos, e a DMB de 1,7 a 5,5 a cada 100.000 [1,2,4,5,6]. A DMD é uma doença progressiva, na qual ocorre a substituição do tecido muscular por tecidos fibroso e adiposo, acometendo inicialmente a cintura escapular, pélvica e tronco. Por volta dos dois anos de idade, pode ser observada fraqueza branda dos músculos da cintura pélvica, e em alguns casos, distúrbios da marcha, no entanto, os sinais e sintomas se tornam evidentes entre três e cinco anos de idade [7]. Ao mesmo tempo se pode observar como sinal característico a hipertrofia dos músculos da panturrilha (pseudo-hipertrofia), acompanhada da perda funcional dos músculos extensores do quadril [8]. Em razão da atrofia precoce dos músculos abdutores do quadril, principalmente glúteo médio, os portadores se tornam incapazes de manter a pelve nivelada, sendo responsável pelo Sinal de Trendelenburg [6]. A fraqueza progressiva, bem como os encurtamentos musculares, principalmente dos plantiflexores, normalmente limitam o paciente à cadeira de rodas entre 11 e 13 anos de idade [8]. Conforme a doença progride, os problemas respiratórios vão se agravando, sendo responsáveis por mais de 90% dos óbitos. Acredita-se que a fraqueza destes músculos se inicie por volta dos setes anos de idade, tornando-se evidente entre dez e doze anos, ou seja, na idade onde a capacidade de deambulação é perdida [6,9,10]. Nas distrofinopatias os intercostais externos e acessórios são os primeiros músculos a serem acometidos, ocasionando uma redução da expansão do gradil costal, aprofundando-se sua fraqueza à medida que a doença evolui [11]. No entanto, dos músculos acessórios da respiração o esternocleidomastoideo é inicialmente o mais acometido [12]. Com a fraqueza muscular progressiva e a redução da expansão do gradil costal estes pacientes acabam por desenvolver um distúrbio de caráter restritivo [11]. Dos músculos respiratórios, o diafragma é que permanece por mais tempo funcional, acabando também afetado pela fraqueza muscular progressiva [12]. Ao mesmo tempo os músculos abdominais são acometidos, onde sua fraqueza pode ser a causa de óbito mais freqüente, pois leva a uma redução na capacidade de tosse, tornando-a inefetiva, favorecendo ao acúmulo de secreções e possíveis complicações respiratórias [11,12]. O diagnóstico das distrofinopatias tem início através da percepção dos sinais e sintomas na idade em que a patologia geralmente manifesta-se com evidências, ou seja, por volta dos 3 anos de idade. No entanto, a confirmação diagnóstica depende de testes específicos, como: biópsia muscular, mensuração dos níveis de creatina-fosfoquinase na corrente sanguínea através de testes bioquímicos, análise de DNA e eletroneuromiografia [13]. A eletroneuromiografia (EMG) é essencial na investigação de distúrbios neurogênicos e miopáticos, onde a miopatia é identificada por potencias musculares de curta duração e pequena amplitude durante a contração voluntária [13,14]. Segundo estudos, a EMG pode ser utilizada para a investigação da caracterização do curso da DMD, quando a quantificação é investigada e associada com pacientes de mesma idade [15]. A EMG pode ser realizada com a colocação de eletrodos de superfície ou eletrodos de agulha. Os eletrodos de superfície são colocados sobre a pele, e são mais efetivos se um meio de contato eletrolítico for colocado entre o eletrodo e a pele. Estes são utilizados quando os tecidos excitáveis circundam uma área ampla [16]. Sabe-se que as avaliações eletrodiagnósticas podem auxiliar no estudo clínico e a estabelecer um diagnóstico do paciente, ajudando aos profissionais da área da saúde em suas avaliações, no planejamento do programa de tratamento e no manejo dos pacientes [17,18]. O presente estudo tem como objetivo, analisar a eficácia da utilização de técnicas de análise de força muscular de forma manual em pacientes portadores de distrofinopatias e a necessidade da utilização de estudos eletromiográficos como forma fidedigna na identificação da evolução da degeneração desta patologia, e a comparação de dados de PImax, PEmax cirtometria, espirometria e EMG na musculatura respiratória (intercostais externos e esternocleideomastoideo), com valores considerados de normalidade a fim de proporcionar um prognóstico mais exato. Fisioterapia_v7n2.indb 119 Materiais e métodos A amostra do presente estudo foi composto por oito pacientes portadores de distrofinopatias, todos do sexo masculino, com idade média de 17,1 ± 6,7, dos quais sete eram portadores de DMD e um portador de DMB. Foi utilizado também um grupo controle de voluntários saudáveis, entre alunos do Colégio de Aplicação e acadêmicos da Universidade do Extremo Sul Catarinense-UNESC, pareados em sexo e idade com os pacientes da amostra. Os 15 sujeitos da amostra foram divididos em três grupos distintos: o grupo A composto pelos pacientes com DMD (7), o grupo B pelo paciente com DMB (1), e o grupo C pelos indivíduos do grupo controle (7), devendo-se levar em consideração que um mesmo sujeito controle foi utilizado para dois pacientes, por estes possuírem a mesma idade. Para a realização do estudo todos os sujeitos firmaram por si ou seus pais um termo de consentimento, aprovando sua inclusão no estudo, sendo o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa - CEP da UNESC. Foram incluídos no estudo todos os pacientes portadores de distrofinopatias, com diagnóstico médico de DMD ou DMB, confirmado por exame de creatinafosfoquinase, biópsia muscular, e de DNA. Restariam excluídos da amostra aqueles que 4/4/2006 17:05:08 120 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 após avaliação inicial se encontrassem com valores de pressão inspiratória máxima inferior à -30cmH2O, indicando estágio avançado da patologia e possível fadiga muscular respiratória. A coleta dos dados foi realizada nas salas de estudos eletromiográficos e avaliação cardio-pneumofuncional, ambas localizadas na Clínica de Fisioterapia da UNESC, na cidade de Criciúma-SC, nos meses de março a junho de 2005. Os pacientes foram submetidos a uma avaliação fisioterapêutica, a eletromiografia nos músculos gastrocnêmio, glúteo médio, intercostais externos e esternocleidomastoideo, e a prova de função pulmonar (espirometria). Na avaliação, a força muscular foi quantificada através da graduação estabelecido pela Medical Research Council [19]; as pressões inspiratórias e expiratória máximas mensuradas com a utilização do aparelho manovacuômetro da marca Suporte, com medidas de -150 a +150 cm H2O; e o fluxo expiratório máximo mensurado com a utilização do aparelho Peak-Flow da marca Airmed, podendo obter medidas de até 850 l/min. Os encurtamentos musculares, foram avaliados e classificados de acordo com Gross [20], através da análise da restrição da amplitude de movimento. A cirtometria, foi realizada através de duas medidas, sendo uma a nível axilar e a outra xifoideana, onde após calculada a diferença entre as inspirações e expirações, estas foram comparadas com valores normais compreendidos entre 5 e 7 cm. Os valores goniométricos após mensurados foram comparados os graus de normalidade para cada movimento articular estabelecido para o estudo, segundo descrições de Palmer [19], já os reflexos foram avaliados e graduados de acordo com a escala proposta por Meythaler [21]. Realizou-se também a eletromiografia nos músculos citados anteriormente, com o equipamento System do Brasil, apresentando 8 canais de entradas analógicas, tendo para análise dos dados o programa AqDados para Windows, possuindo um conversor do tipo analógico-digital, com faixa de entrada entre -2500uV e + 2500uV, freqüência de amostragem de 1000Hz com 5 bits, amplificador diferencial com faixa de 80 a 100 dB e filtros de passagem alta de 20Hz e de passagem baixa de 500Hz. Foram dispostos dois eletrodos de superfície na região muscular identificada como sendo a de maior atividade por recrutamento de fibras musculares, localizada através de palpação muscular no momento em que os pacientes e controles realizavam uma contração do tipo isométrica máxima do músculo desejado, em uma distância de aproximadamente 1 cm entre os eletrodos. Para a análise, o paciente era colocado em posições onde os músculos tivessem que realizar uma contração do tipo isométrica, com o uso de tiras de tecido, fixadas com velcro, sendo que os abdutores e intercostais tinham que realizar o movimento contra a gravidade, e o gastrocnêmio e esternocleidomastoideo com gravidade eliminada, mantendo-se a contração por 6 segundos nos músculos intercostais externos, após apnéia inspiratória, e por 10 segundos no restante dos músculos. Os valores de RMS (root mean square) em mV foram utilizados para análise, que, segundo Lindemman [22] podem ser utilizados como método de avaliação da atividade fisiológica dos músculos e determinação de seu nível de recrutamento e força muscular. A espirometria foi realizada através do aparelho Vitatrace VT 130 SL, com software Spiromatic 3.2, com teste de Capacidade Vital Forçada (CVF). Os pacientes foram posicionados em frente ao aparelho, sendo instruídos a, após uma inspiração profunda máxima, realizarem uma expiração forçada e máxima dentro do prolongador acoplado ao aparelho, com os lábios serrados e colocação de clipe nasal, mantendo esta por no mínimo seis segundo de duração. Os resultados obtidos utilizaram as informações próprias dos pacientes quanto a idade, peso e altura dos pacientes. O grupo controle foi avaliado apenas através do uso da eletromiografia, para posterior comparação entre os três grupos distintos. Ao final, os dados de RMS foram analisados e avaliados pelo programa de estatístico SpSS 10.0 para Window, e colocados no programa Excel para construção de gráficos. Fisioterapia_v7n2.indb 120 Resultados Segundo informações colhidas dos pais dos pacientes portadores de distrofinopatias, a média de idade de início dos sinais clínicos e sintomas encontra-se nos 5,7 anos ± 4,2, tendo sido confirmado o diagnóstico por volta dos 7 ± 4,5 anos de idade. O início do tratamento fisioterapêutico ocorreu, em média, aos 10,8 ± 8,3 anos de idade, com duração de aproximadamente 5 anos. Em relação ao tipo de tratamento fisioterapêutico, 85% da amostra encontrava-se realizando tratamento motor e respiratório, e 25% apenas realizava somente fisioterapia motora. Os valores de média da força muscular de gastrocnêmio e glúteo médio dos pacientes de distrofinopatias estão expressos na Figura 1, bem como a relação desses valores com o valor de referência da Medical Research Council [19], que gradua o teste de força muscular em uma escala de 0 a 5, variando de ausência de contração até contração que vence uma resistência considerada máxima, sendo que a comparação dos valores dos pacientes com grupo controle para forca muscular manual, descritos na Figura 1, demonstraram diferença estaticamente significativa (p < 0,05). Segundo Lindeman [22] a EMG de superfície pode ser utilizada para indicar dados do mecanismo fisiológico da mudança de força em pacientes com doença muscular quando comparados com um grupo controle. Figura 1 - Média da força muscular de membros inferiores de pacientes com distrofinopatias e valores de referência. 4/4/2006 17:05:09 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Os valores de EMG desses mesmos músculos, quando comparados com os valores obtidos do grupo controle, não foram estatisticamente diferentes, como demonstrado na Figura 2, em uma escala de 0 a 150 mV (máximo de atividade elétrica detectada em ambos os grupos) (p > 0,05). 121 Figura 4 - Média dos valores de EMG de intercostais externos e esterno-cleidomastoideo. Figura 2 - Média dos valores de EMG de gastrocnemio e glúteo médio dos pacientes com distrofinopatias e controle. Discussão Os níveis de Pimax e Pemax mensurados dos pacientes, mostram-se inferiores, quando comparados aos valores de normalidade de acordo com a idade de cada paciente. No entanto, somente a Pemax demonstrou diferença significativa, sendo estes valores visualizados na Figura 3 (p < 0,05). Os valores de Peak-Flow, também indicaram obstrução ao fluxo aéreo, sendo sua média de 261,5 l/min. Figura 3 - Média dos valores de PIMAX e PEMAX dos pacientes com distrofinopatias e valores de referência. A cirtometria apresentou diferença estaticamente significativa quando comparados os resultados dos pacientes com grupo controle, baseados na referência de Azeredo [25] (p < 0,05). Quando comparados os resultados da EMG dos pacientes nos músculos intercostais externos e esternocleidomastoideo, com o grupo controle, não obteve-se diferença estaticamente significativa (p > 0,05), como apresenta a Figura 4. Na espirometria, 83% dos pacientes apresentaram Distúrbio Ventilatório Restritivo, onde seis apresentaram grau 1, dois grau 3 e um grau 4, e somente um paciente apresentou Distúrbio Ventilatório Obstrutivo grau 2. Dois pacientes não apresentaram fluxo expiratório suficiente para manutenção de seis segundos durante o teste. Fisioterapia_v7n2.indb 121 A observação dos sinais clínicos e sintomas, bem como o diagnóstico das patologias, se deram em idades avançadas, sendo este resultado confirmado por um estudo brasileiro realizado, o qual refere que o diagnóstico das DMD e DMB estão sendo confirmados em idade mais próximas da perda da deambulção do que do início da observação dos sintomas [23]. Da mesma forma o tratamento fisioterapêutico acabou por iniciar-se tardiamente, sendo que o tratamento dos pacientes com distrofinopatias deve iniciar assim que o diagnóstico for estabelecido, permitindo a prolongação da atividade funcional [14]. Na amostra, é realizado tratamento respiratório e motor em 85,7% dos pacientes, este dado favorece valores semelhantes entre o grupo de pacientes, permitindo uma análise mais fidedigna em comparação com o grupo controle. Na comparação entre os valores de força muscular de gastrocnêmio e glúteo médio com a escala da Medical Research Council (MRC) [20], foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, indicando ao fisioterapeuta a utilização desta como meio de avaliação do processo evolutivo de pacientes portadores de distrofinopatias [6]. No entanto, exames bioquímicos e de eletromiografia podem identificar modificações da massa muscular funcionante e potenciais de ação e servem para acompanhar a evolução da doença, sendo mais eficazes em comparação com a utilização de testes manuais [22,24]. Com isto verificou-se que os dados obtidos na eletromiografia dos pacientes, quando comparados com grupo controle, não apresentaram diferenças significativas, em relação aos músculos glúteo médio e gastrocnêmio, demonstrando que a avaliação de força muscular manual é um método subjetivo para quantificar o nível de função e recrutamento muscular em pacientes com DMD e DMB, assim como na determinação de seu prognóstico. Quanto menor o número de fibras musculares recrutadas afim de promover uma contração muscular, menor será a quantidade de potenciais de ação e, consequentemente, haverá uma queda na produção de forca muscular. Nos valores de Pimax não houve diferenças estaticamente significativa entre os pacientes e controles, e esses resultados 4/4/2006 17:05:10 122 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 podem ter decorrido do fato dos pacientes incluídos realizarem tratamento fisioterapêutico respiratório, constantemente, com ênfase na musculatura inspiratória avaliada, não permitindo que a fraqueza muscular respiratória característica da doença evolua de forma acentuada. No entanto, a força muscular expiratória mostrou-se alterada, com valores reduzidos em relação aos valores considerados normais para a idade de cada paciente, quando avaliados controles baseando-se na tabela de Azeredo [25,26], e esses achados resultam de que, em muitas doenças neuromusculares, os músculos expiratórios podem estar mais comprometidos que os músculos inspiratórios [27], devendo também receberem maior atenção durante os tratamentos fisioterapêuticos a fim de evitar o curso acentuado da doenca. A cirtometria axilar e xifoidiana apresentaram-se com valores reduzidos em relação ao normal entre 5-7 m, demonstrando comprometimento de intercostais externos [11]. Na eletromiografia dos músculos intercostais externos e esternocleidomastóideo não houve diferenças significativas em relação ao grupo controle, contradizendo a afirmação de que estas musculaturas seriam as inicialmente acometidas, gerando redução no número de fibras musculares e, consequentemente, diminuiçao da capacidade de recrutamento muscular e reduçao de força [6], iniciando por volta dos sete anos de idade [10], onde a idade mínima da amostra foi de 9 anos. Os pacientes com doença neuromuscular, via de regra, desenvolvem defeito restritivo, com redução da CPT, resultado de uma combinação de fatores, como: imobilidade geral, musculatura respiratória deficiente, rigidez da parede torácica, diminuição da capacidade de tossir e eliminar secreções [28]. A espirometria pode-se apresentar como resultados distúrbios ventilatórios restritivos ou obstrutivos, sendo que os distúrbios obstrutivos são encontrados nos estágios finais da doença [29]. Através dos dados obtidos, detectou-se que os músculos intercostais externos e esternocleidomastoideo mantiveram-se com valores de força muscular semelhantes ao grupo controle, como também quando comparados os valores de EMG de gastrocnêmio e glúteo médio, através dos valores de RMS. No entanto, procura-se a determinação da diferença do processo evolutivo entre os grupos musculares respiratórios e de membros inferiores, sendo estes primeiramente acometidos. documentar através de potencias de ação o nível de recrutamento das fibras musculares no momento da produção da contração muscular, evidenciando de forma mais fidedigna o real comprometimento muscular nesta patologia, ao mesmo tempo, evitando o constrangimento e decepção por parte dos pacientes toda vez que tenham que realizar o teste de forca muscular manual, pois acabam por perceber sua perda de forca gradativa. Os valores de Pemax inferiores aos de Pimax demonstraram que provavelmente há pouca preocupação dos fisioterapeutas com a musculatura expiratória no protocolo de tratamento, já que, como citado anteriormente, todos realizavam fortalecimento para musculatura inspiratória, no entanto, deveria ser dada maior importância ao seu treinamento, pois o enfraquecimento da musculatura expiratória é responsável pela maior parte dos óbitos precoces desses pacientes. Ao final desse trabalho percebe-se que se necessita de mais estudos, visando poder-se responder qual a correlação da evolução de degeneração dos músculos distais com a musculatura respiratória. Assim teremos parâmetros de evolução da degeneração dos músculos, podendo se eleger técnicas fisioterapêuticas mais objetivas, contribuindo para o aumento da sobrevida dos pacientes. Conclusão Através desta pesquisa demonstrou-se que os testes de força muscular manual quando comparados com os resultados da EMG mostram-se subjetivos. Os dados da EMG de superfície apresentam maior confiabilidade na análise do padrão de força muscular e determinação do estágio de evolução destas patologias. A maior confiabilidade de caracterização dos níveis de forca muscular por procedimentos de eletromiografia de superfície se deve pelo fato deste poder Fisioterapia_v7n2.indb 122 Referências 1. Bothwell JE, Gordon KE, Dooley JM, MacSween J, Gummings FA, Salisbury S. Vertebral fractures in boys with duchenne muscular dystrophy. Clinical Pediatrics 2003; 42:353-6. 2. Rubin E, Farber JL. Patologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 3. Ansved T. Musclar Dystrophies: influence of physical conditioning on the disease evolution. Current Opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care 2003;6:435-9. 4. Nudel U, Zuk D, Einat P, Zeelon E, Levy Z, Neuman S, Yaffe D. Duchenne muscular dystrophy gene product is not identical in muscle and brain. Nature 1989;337(5):76-8. 5. Priez A, Duchene J, Goubel F. 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A reprodutibilidade do questionário foi determinada depois de 8 dias por um 2º avaliador. Utilizou-se técnicas de estatística descritiva (média, mediana, desvio-padrão, erro-padrão e coeficiente de variação). Para análise inferencial foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para análise da normalidade e a correlação de Spermam para verificar a correlação entre as variáveis, com um nível de confiança de p < 0,05. Resultados: A correlação de Spearman foi significante e alta, com significância estatística (p < 0,05). Conclusão: A utilização do questionário pode ser utilizada como parâmetro para a avaliação da incapacidade de motoristas de ônibus urbano com dor lombar. Objective: The objective of the present study was to determine the validity and reliability of the questionnaire Quebec Back pain Disability suitable and modified Scale. Methods: The sample was constituted by 20 drivers of urban bus (average = 32,5 years) that they had answered the questionnaire of the beginning of the study and after 8 days for one 1º appraiser. The reliability of the questionnaire was determined after 8 days for one 2º appraiser. One used techniques of descriptive statistics (average, medium, shunting line-standard, error-standard and coefficient of variation). For inferential analysis it was used the test of Kolmogorov-Smirnov for analysis of normality and the correlation of Spearman to verify the correlation between the variable, with a confidence level of p < 0,05. Results: The correlation of Spearman was significant and high, with statistic significance (p < 0,05). Conclusion: The use of the questionnaire can be used as parameter for the evaluation of the incapacity of urban bus drivers with lumbar pain. Palavras-chave: lombalgia, questionário, motorista de ônibus. Key-words: low back pain, questionnaire, bus driver. Introdução Lombalgia é a segunda causa mais comum para a procura de cuidados médicos, chegando a 30% das consultas ortopédicas e a 50% dos pacientes atendidos na fisioterapia. É considerado o segundo maior problema médico nas sociedades industriais modernas, em termos de absenteísmo e diminuição da produtividade. Sua influência sócio-econômica é vasta, sendo uma das maiores causas de ausência ao trabalho e levando, inclusive, à aposentadoria precoce [1]. Moraes et al. [2] completa que é uma dor localizada na região lombar de início insidiosa, vaga ou muito intensa. O seu diagnóstico é difícil devido a inúmeros fatores; entre eles traumas mecânicos, características psicossociais e comportamentais, tipos de ocupação, tipo e local de atividade física, os quais podem levar a uma disfunção ou algia na região lombar. Walters [3] complementa ainda que estes fatores podem ser caracterizados em termos de sua magnitude e tempo, tais como freqüência, repetição, duração e exposição. Recebido 15 de dezembro de 2005; aceito em 15 de março de 2006. Endereço para correspondência: Vanessa Ferreira Bréder, Rua Aleijadinho, 274/201, Cidade Nobre 35162-352 Ipatinga MG, Tel: (31) 99296820, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 124 4/4/2006 17:05:12 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 125 Considerável tempo e esforço têm sido gastos no desenvolvimento de uma intervenção eficaz para reduzir a incapacidade e custos associados com lesões ocupacionais apesar desta natureza não específica [4]. Dados estatísticos indicam que 35% a 48% da população mundial com idade entre 20 a 29 anos, e 15% das pessoas com idade de 15 a 20 anos referem ter tido lombalgia [5]. O custo anual da lombalgia (despesas de saúde, indenizações, jornadas de trabalho perdidas) nos Estados Unidos é estimado em dezenas de bilhões de dólares [3]. Essa desordem da coluna lombar é responsável por aproximadamente 25% das queixas trabalhistas e resulta em um ou mais dias de trabalho perdido para 25 milhões de americanos a cada ano [6]. Por tudo isso cada vez se torna importante estabelecer um método objetivo para identificar a prevalência de lombalgia em motoristas de uma empresa de ônibus urbano para se estabelecer uma relação entre lombalgia, horas de trabalho na postura sentada e fatores psicossociais, já que se tem observado nesta classe um grande número de dias perdidos de trabalho por desordens musculoesqueléticas. A escolha de um ou outro método de mensuração da dor lombar está relacionada com o número de indivíduos a serem analisados, o custo e a inclusão de diferentes idades. Quando a preocupação for alcançar grandes grupos populacionais, instrumentos de precisão, fácil aplicação e de baixo custo são fundamentais [7]. O conhecimento assim produzido fornecerá uma base racional para auxiliar a escolha das intervenções a serem implementadas, em função da situação encontrada. Dishman e Steihardt [8] citam como requerimentos mínimos para um instrumento de coleta de informações, a validade das medidas realizadas, como também a não interferência com os padrões habituais de comportamento. Dessa forma o estudo teve como objetivo determinar a validade e reprodutilidade do questionário Quebec Back Pain Disability Scale adaptado e modificado em uma amostra de motoristas de ônibus urbano que permitirá a possibilidade de realizar um levantamento da prevalência de lombalgia em motoristas urbano em qualquer parte do mundo. o sigilo das informações, assim como a ausência de identificação do funcionário, além da não permanência do chefe no local de aplicação dos questionários. Este procedimento tem a finalidade de assegurar o máximo de fidedignidade nas respostas. Além disso, foi também elaborado um Termo de Informação à empresa na qual se realizou a pesquisa, com os mesmos itens do termo de participação consentida. Foram excluídos os indivíduos que estavam afastados por algum motivo, que não fossem moradores de Ipatinga, que não exerciam o cargo de motorista dentro da empresa, que responderam os questionários incompletos e também aqueles que se recusaram a responder o questionário por algum motivo. Material e métodos Amostra A amostra foi constituída por 20 indivíduos adultos, do sexo masculino, voluntários, residentes na Região do vale do Aço, no Estado de Minas Gerais. O presente trabalho atendeu as Normas para a Realização de Pesquisa em Seres Humanos, resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996 (Brasil, 1996). Todos os participantes do estudo concordaram em assinar o Termo de Participação consentida (contendo objetivo e justificativa do estudo, procedimento de avaliação e caráter de voluntariedade da participação do sujeito). Foi garantido Fisioterapia_v7n2.indb 125 Procedimentos O processo de validação do questionário começou em agosto de 2005 quando passou por uma análise de um painel de cinco doutores especialistas no assunto para que sua validade fosse verificada, utilizando-se o método de face validity [10], isto é, se ele realmente mede o que se propõe a medir. Após esta verificação, tendo sido aceito o instrumento como válido, por unanimidade, dois avaliadores deram início aos procedimentos de avaliação. Os questionários foram aplicados em forma de autoaplicação, correspondente a semana usual ou habitual do indivíduo. Estes foram respondidos pelo mesmo sujeito em 4 visitas: inicial (visita 1 pelo 1º avaliador e visita 2 pelo 2º avaliador) e final (visita 3 pelo 1º avaliador e visita 4 pelo 2º avaliador), após um intervalo de um dia entre a visita 1 e 2 e a visita 3 e 4, já entre a visita 1 e 3 e entre a visita 2 e 4 no mínimo de 5 dias e no máximo 8 dias de intervalo. Explicou-se, de modo geral, em que consistia o estudo, esclarecendo sua importância em benefício dos próprios pesquisados. Além disso, estes assinaram um termo de consentimento de participação, o qual continha também os objetivos e procedimentos da pesquisa. Informou-se, ainda, sobre a importância da veracidade das respostas do questionário e que só o autor da pesquisa tomaria conhecimento das mesmas. Sendo assim, alguns motoristas aceitaram participar, respondendo as perguntas do instrumento para verificação do mesmo, que conforme Kiss, para se determinar à cientificidade de um protocolo de testagem é necessário à observância dos seguintes critérios: validade, fidedignidade, objetividade, padronização de instruções e, preferencialmente, padrões. Validade é o grau no qual um teste realmente mede o que se destina a medir. Esta contém a evidência relacionada com o conteúdo (face validity ou logical validity), a evidência relacionada com critérios (validade estatística ou validade correlacional) e a evidência relacionada com o constructo (construct validity). Esta última pode fornecer evidência adicional para a validação por evidência relacionada com critérios [10]. Segundo Thomas e Nelson [11], a fidedignidade é o grau de consistência do teste. Reflete o grau em que a medida é livre de erros intra-avaliação. 4/4/2006 17:05:13 126 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Para Morrow et al. [10], objetividade é o grau de reprodutibilidade do teste por diversos aplicadores. Reflete o nível que a medida pode ser afetada por erros inter-avaliadores. Padronização de instruções ou protocolo caracteriza-se por envolver a descrição do teste, com sua fonte de referência original, sua validade, fidedignidade para o grupo e objetividade, bem como detalhes do objetivo, da descrição e das condições de realização do teste, incluindo local, vestimenta, formas de motivação para obtenção de resultados reais, cuidados a serem tomados e os erros mais freqüentes a serem evitados [12]. Padrões ou parâmetros de normalidade são, segundo a mesma autora, valores obtidos através de amostras específicas da população, variando de acordo com idade e sexo. Sua finalidade é possibilitar a avaliação dos resultados obtidos no teste em função da distribuição normal dos escores. igual ou superior a 25,00%, caso contrário será a média. O erro padrão determina a dispersão entre diversão “amostras”, a estimativa será considerada alta quando for maior que 3,5%. [13]. Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para análise de homogeneidade e a partir do resultado optou-se pela correlação de Sperman para verificar a correlação entre as variáveis independentes (índice de fatores psicossociais e horas trabalhadas) e dependentes (índice de Prevalência) e a correlação “r” intra-avaliador e inter-avaliador, através do programa SPSS 10.0 for Windows. O estudo admitiu o nível de p < 0,05 para a significância estatística. Instrumentos O questionário Quebec Back Pain Disability Scale, adaptado e validado possui 23 questões e foi dividido em 4 partes: dados pessoais, descrição da atividade, questões psicossociais, e perguntas relacionadas a dor lombar (anexo). Através dessas perguntas foram criados 3 indicadores: indicador de horas trabalhadas, de fatores psicossociais e de prevalência, para formulação dos índices. Os índices foram calculados por um processo de normatização entre as questões, para estimular um valor em escores paras as variáveis qualitativas. O indicador de horas trabalhadas consistia das questões 2.1, 2.2, 2.3, 2.4 e os valores variaram de 0 a 21. Para esse indicador foi criado um índice: IHT: 2.1 + (0,62 x 2.2) + (5,3 x 2.3) + (7 x 2.4) 4 onde IHT é o índice do QBPDS em escores O indicador de fatores psicossociais consistia de nove questões: 3.1, 3.2, 3.3, 3.4, 3.5, 3.6, 3.7A, 3.7B e 1.1. Para este indicador trabalhou-se com o índice abaixo: IPS: 3.1+ 3.2 + 3.3 + 3.4 + 3.5 + 3.6 + 3.7A + 3.7B + 1.1. Resultados Os resultados descritivos referentes as variáveis: índice de prevalência, índice psicossocial e horas trabalhadas do primeiro avaliador, estão a seguir na tabela I e II A tabela I se refere à primeira avaliação do primeiro avaliador e a tabela II se refere a segunda avaliação do primeiro avaliador. Tabela I IP1.1 Prevalencia x 4.6) + (30 x 4.7) + (1,37 x 4.8) + (30 x 4.9) + (6 x 4.10) 10 Análise estatística Inicialmente empregou-se a análise descritiva, através da qual forma estimadas as medidas de localização (Média e Mediana) e dispersão (Desvio Padrão, erro padrão e Coeficiente de Variação). A mediana é a melhor estimativa de tendência central sempre que o coeficiente de variação for Fisioterapia_v7n2.indb 126 IHT1.1 Horas trabalhadas 2,11 0,07 2,11 0,32 -0,85 0,29 1,67 2,78 20 15,26 6,32 0,49 5,55 2,19 3,41 1,58 3,13 12,95 20 34,57 IP1.2 Prevalencia IPS1.2 Psicossocial IHT1.2 Horas trabalhadas 7,91 0,67 6,00 3,00 0,53 1,28 5,14 15,28 20 37,94 2,11 0,07 2,17 0,31 -0,76 0,29 1,67 2,67 20 14,69 6,48 0,67 5,55 2,98 1,82 1,43 3,55 14,28 20 45,97 Média 7,99 Erro padrão 0,66 Mediana 6,00 Desvio padrão 2,96 Curtose -0,53 Assimetria 0,99 Mínimo 5,14 Máximo 14,28 n 20 CV% 37,08 Tabela II 9 Posteriormente foi criado o indicador de Prevalência, a qual as questões 4.1, 4.2, 4.3, 4.4, 4.5, 4.6, 4.7, 4.8 , 4.9 e 4.10 fazem parte do indicador abaixo: IP: (0.4 x 4.1) + (30 x 4.2) + 4.3 + (10 x 4.4) + (30 x 4.5) + (30 IPS1.1 Psicossocial Média Erro padrão Mediana Desvio padrão Curtose Assimetria Mínimo Máximo n CV% Observando-se a tabela I e II, verifica-se que as variáveis IP1.1 e IHT1.1; e IP1.2 e IHT1.2 apresentaram uma alta dispersão (cv > 25,00%) tendo a mediana como melhor medida 4/4/2006 17:05:14 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 de tendência central, ou seja, a mediana representa melhor o grupo estudado. Observa-se que o grupo não apresentou proximidade com a distribuição normal em relação a estas variáveis (p < 0,05) As médias do 1º e 2º avaliador estão muito próximas, mostrando assim uma boa tendência na sua aplicabilidade. O desvio padrão dos índices do 1° e 2° avaliador foram baixos, significando assim uma maior concentração das respostas. Os resultados descritivos referentes as variáveis: índice de prevalência, índice psicossocial e horas trabalhadas do segundo avaliador estão, a seguir, na tabela III e IV. A tabela III se refere à primeira avaliação do segundo avaliador e a tabela IV se refere à segunda avaliação do segundo avaliador. Tabela III IP2.1 IPS2.1 IHT2.1 Prevalencia Psicossocial Horas trabalhadas Média Erro padrão Mediana Desvio padrão Curtose Assimetria Mínimo Máximo n CV% 7,94 0,67 6,00 2,98 0,43 1,21 5,14 15,28 20 37,48 2,06 0,07 2,06 0,33 -0,68 0,45 1,67 2,78 20 16,08 6,04 0,56 5,30 2,51 1,98 1,40 3,13 12,95 20 41,63 Tabela IV IP2.2 IPS2.2 IHT2.2 Prevalência Psicossocial Horas trabalhadas Média Erro padrão Mediana Desvio padrão Curtose Assimetria Mínimo Máximo N CV% 7,96 0,67 6,00 3,02 0,34 1,21 5,14 15,28 20 37,92 2,10 0,07 2,17 0,32 -1,04 0,10 1,67 2,67 20 15,25 6,64 0,63 5,80 2,80 2,73 1,61 3,55 14,28 20 42,15 Observando as tabelas III e IV podemos perceber que os resultados estão próximos das tabelas I e II. Como por exemplo, temos as variáveis IP2.1 e IHT 2.1; e IP2.2 e IHT 2.2 que também apresentaram uma alta dispersão tendo assim a mediana como melhor medida de tendência central. As médias do 1º e 2º avaliador também estão muito próximas, mostrando assim uma boa tendência na sua aplicabilidade. Fisioterapia_v7n2.indb 127 127 Na tabela V estão os resultados da distribuição da normalidade pelo método de Kolmogorov-Smirnov, para verificar a homogeneidade da amostra [13]. Tabela V - Teste Kolmogorov-Smirnov. N z (KS) p-valor IP IPS IHT 80 3,102 80 1,164 0,000 80 1,899 0,133 0,001 A Test distribution is Normal. B Calculated from data. Observando-se a tabela V, verifica-se que o grupo não apresentou proximidade com a distribuição normal em relação a variável IP e IHT, ou seja, a distribuição de dados (média, mediana e moda) não está no mesmo ponto, já com relação a variável IPS ocorreu distribuição normal. Na tabela VI estão os resultados da estatística inferencial relativa ao coeficiente de correlação de Spearman entre os índices IP, IPS e IHT do primeiro avaliador. Tabela VI Correlação de Spearman Intra-avaliador IP1.1 IPS1.1 r p-valor IHT1.1 r p-valor IP1.2 r p-valor IPS1.2 r p-valor IHT1.2 r p-valor N IPS1.1 IHT1.1 IP1.2 IPS1.2 0,186 0,433 -0,029 -0,351 0,903 0,129 ,993(**) 0,231 -0,042 0,000 0,328 0,859 0,164 ,865(**) -,599(**) 0,211 0,490 0,000 0,005 0,371 0,213 -0,408 ,701(**) 0,197 -,626(**) 0,366 0,075 0,001 0,404 0,003 20 20 20 20 20 Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). A partir dos resultados encontrados na tabela VI, observase que ocorreu uma correlação alta entre IP1.2 e IP1.1; IPS1.2 e IPS1.1; IHT1.2 e IHT1.1 e estatisticamente significativa para p < 0,05. A correlação entre IPS1.2 e IHT1.1 foi classificada como média, também estatisticamente significativa (p < 0,05). Na tabela VII estão os resultados da estatística inferencial relativa ao coeficiente de correlação de Sperman entre os índices IP, IPS e IHT do segundo avaliador. 4/4/2006 17:05:14 128 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Tabela VII A partir dos resultados encontrados na tabela VII, observa-se que ocorreu uma correlação perfeita entre IP2.2 e IP2.1. A correlação entre IPS2.2 e IPS2.1 foi alta pra p < 0,05 e a correlação entre IHT2.2 e IHT2.1 foi média, mas estatisticamente significativa para p<0,05. A correlação entre IPS2.2 e IHT2.2 foi classificada como média alta, também estatisticamente significativa (p < 0,05). Na tabela VIII houve a aplicação do procedimento estatístico da correlação de Spearman para verificação da objetividade e da fidedignidade do instrumento interavaliadores. Correlação Intra-avaliador de Spearman IP2.1 IPS2.1 IPS2.1 R 0,051 p-valor 0,832 IHT2.1 R -0,205 p-valor 0,387 IP2.2 R 1,000(**) p-valor 0,000 IPS2.2 R 0,105 p-valor 0,658 IHT2.2 R 0,142 p-valor 0,552 N 20 IHT2.1 -0,249 0,290 0,051 -0,205 0,832 0,387 ,885(**) -,469(*) 0,000 0,037 -0,434 ,568(**) 0,056 0,009 20 20 IP2.2 IPS2.2 0,105 0,658 0,142 -,601(**) 0,552 0,005 20 20 Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed). Tabela VIII - Correlação de Spearman IP2.1 r p-valor IPS2.1 r p-valor IHT2.1 r p-valor IP2.2 r p-valor IPS2.2 r p-valor IHT2.2 r p-valor N IP1.1 IPS1.1 IHT1.1 IP1.2 IPS1.2 IHT1.2 ,998(**) 0,000 0,051 0,832 -0,209 0,375 ,998(**) 0,000 0,105 0,658 0,143 0,547 20 0,176 0,458 ,959(**) 0,000 -0,252 0,283 0,176 0,458 ,840(**) 0,000 -0,334 0,15 20 -0,035 0,884 -0,441 0,052 ,793(**) 0,000 -0,035 0,884 -,624(**) 0,003 ,700(**) 0,001 20 ,987(**) 0,000 0,087 0,714 -0,249 0,291 ,987(**) 0,000 0,147 0,535 0,125 0,598 20 0,156 0,512 ,860(**) 0,000 -,501(*) 0,024 0,156 0,512 ,977(**) 0,000 -,594(**) 0,006 20 0,208 0,379 -,500(*) 0,025 ,551(*) 0,012 0,208 0,379 -,648(**) 0,002 ,930(**) 0,000 20 Resultados Correlação alta Correlação alta Correlação Média alta Correlação alta Correlação alta Correlação alta ** Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). * Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed). Na tabela VIII, a correlação entre as variáveis foram altas para p < 0,05. A correlação entre IHT2.1 e IHT1.1 foi classificada como média alta, mas estatisticamente significativa para p < 0,05. Discussão As pesquisas sobre dor lombar [1,2,14-17] procuram questionários que venham levantar a prevalência desta na população de uma forma geral. O seu diagnóstico é difícil devido a inúmeros fatores. Dentre os problemas que surgiram durante a realização do estudo da validade e reprodutibilidade que poderiam ter interferido nos resultados encontrados pode-se citar o fato de a amostra ter sido selecionada por Fisioterapia_v7n2.indb 128 conveniência, não sendo representativa da população brasileira como um todo, porém isto não descaracteriza o estudo em virtude dos resultados terem sido consistentes. Alguns questionários tiveram de ser desconsiderados para análise de reprodutibilidade por ultrapassar o tempo de 8 dias. Houve dificuldade de interpretação de algumas perguntas do questionário, especialmente identificar o que significa pausas no seu trabalho e atividades nas horas vagas ou de lazer; dificuldade da maioria dos sujeitos em estimar, nos casos dos que possuem dor, como é esta em seu pior momento, suave ou moderada, alguns sujeitos tentaram pular algumas questões ou dar respostas contraditórias. O estudo de Matsudo et al. [7], que validou o questionário internacional de atividade física, teve limitações semelhantes 4/4/2006 17:05:15 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 129 ao estudo corrente, como por exemplo a interpretação de algumas perguntas. O questionário Quebec Back Pain Disability Scale também foi adaptado e validado por Santos [18] com o objetivo de identificar também a prevalência de lombalgia e fatores associados. A autora, assim como o presente estudo, eliminou algumas perguntas do original com a finalidade de reduzir o questionário. Tais modificações se efetivaram conforme Thomas e Nelson [11] acreditam eles que questionários mais curtos são mais eficazes do que os longos. Cita-se a seu crédito a colocação de Borg e Gall [19], os quais, em uma análise de 98 estudos de questionário, mostrara que, em média, cada página adicionada a um questionário reduziu o número de retorno em 0,5%. Santos [20] e Moraes [2] utilizaram também o mesmo questionário: Quebec Back Pain Disability Scale, validado e adaptado para seu estudo. Já Werneke e Hart [21], para levantar a prevalência de lombalgia em pacientes utilizaram o Oswestry Low Back Questionnaire. Jacob et al. [14] utilizou o Modified Roland e Morris disability Scale e Elders e Burdort [17] utilizou o Nordic questionnaire, também com o mesmo objetivo. Brox [22] igualmente, utilizou como instrumento em seu estudo um questionário, mas este não deixou claro sobre sua validade, levando então em dúvida a confiabilidade de seus resultados. Silva et al [23] utilizou em seu estudo um questionário pré codificado com questões fechadas para levantar a prevalência de lombalgia e freqüência na qual os entrevistados trabalhavam sentado, em pé, agachado, deitado e ajoelhado. Não deixam claro em seu estudo também sobre a validade do instrumento. De acordo com De Luca [24] diferentes fatores prejudicaram a coluna, entre os quais prolongadas posturas estáticas. De Vitta [25] testemunhou os dados da presente pesquisa por meio de um levantamento bibliográfico, elaborado de 1988 a 1992, em que enquadrou algumas situações cotidianas, entre as quais, a manutenção da postura sentada ou em pé por períodos prolongados, como agressores das estruturas musculoesqueléticas da coluna lombar e conseqüentemente, consideradas com fatores determinantes da lombalgia. As questões psicossociais, foram avaliadas, em 5654 trabalhadores industriais, por Morken et al. [26] também através de um questionário. Mas não foi deixado claro em seu estudo se o instrumento foi validado. Segundo Nyland [27], questionários auto administrados é o método mais comum para estabelecer a prevalência de lombalgia. Os sujeitos participantes do corrente estudo não apresentaram nenhuma objeção durante a execução do questionário. Esse dado sugere a aceitação e aplicabilidade do mesmo para motoristas de ônibus. Além disso, o seu tempo de execução é rápido, o que eleva a praticidade do teste. Dessa forma pos- sibilita estabelecer um instrumento que se propõe identificar a prevalência de lombalgia. Para tal, os valores do coeficiente de correlação são importantes para sua validação. Santos [28] encontrou uma excelente correlação na validação de seu questionário. Esse estudo obteve uma correlação de 0,77 e 0,97 para clareza e 0,98 para a validade. Para Kiss [12], uma correlação acima de 0,7 é considerada suficiente para a validação de um teste. Sendo assim, os resultados encontrados para o valor de r do questionário satisfazem o objetivo do estudo. Fisioterapia_v7n2.indb 129 Conclusão O questionário Quebec Back Pain Disability Scale, adaptado e validado, é um instrumento com coeficientes de validade e reprodutibilidade similares a de outros instrumentos, com a vantagem de ser rápido, prático e possibilitar levantamentos de grandes grupos populacionais, representando uma ótima alternativa para comparações. Recomendações Para países em desenvolvimento, as formas auto-aplicáveis parecem ser mais úteis do que as entrevistas pessoais. O resultado desta investigação, auxiliará, como instrumento teórico, acadêmico e mesmo prático, no processo de formação integral e harmônico do ser humano. Referências 1. Silva GV, Bonfim ABC, Silva MAG, Rodriguez CG, Cosendy F, Andrade JF. Disfunção muscular e lombalgia em pilotos de helicóptero. Fisioter Bras 2005;6(4):281-9. 2. Moraes ERP, Silva MAG, Pereira JS. 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Discriminant validity and relative precision for classifying patients with nonspecific neck and back pain by anatomic pain patterns. Spine 2003;28(2):161-6. 22. Brox JI, Sorensen R, Friis A, Nygaard O, Indahl A, Keller A et al. Randomized clinical trial of lumbar instrumented fusion and cognitive intervention and exercises in patients with chronic low back pain and disc degeneration. Spine 2003;28(17):191321. 23. Silva MC, Fassa AG, Valle NCJ. Dor lombar crônica em uma população adulta do Sul do Brasil: prevalência e fatores associados. Cad Saúde pública 2004;20(2):1-12. 24. De Luca MCZ. Prevenção e tratamento de lombalgias. Fisioter Mov 1999;13(1):61-78. 25. De Vitta A. A lombalgia e suas relações com o tipo de ocupação, com a idade e o sexo. Rev Brás Fisioter 1996;1(2):67-72. 26. Morken T, Rise T, Moen B, Hauge SHV, Holien S, Langedrag A et al. Low back pain and widespread pain predict sickness absence among industrial workers. BMC Musculoskelet Disord 2003;4(21):1-8. 27. Nyland JL, Grimmer KA. Is undergraduate physiotherapy study a risk factor for low back pain? A prevalence study of LBP in physiotherapy students. BMC Musculoskelet Disord 2003;4(22):1-12. 28. Santos SG. Educação postural mediante um trabalho teórico. Rev Bras Ativ Fís Saúde 1998;3(2):32-42. QUESTIONÁRIO O questionário que você agora recebe, destina-se a obter alguns dados que nos permitirá elaborar um programa de educação para a saúde para seu próprio benefício. Solicitamos, portanto, sua atenção em preenche-lo adequadamente. Agradecemos sua valiosa colaboração. I. DADOS PESSOAIS 1.1.Escolaridade: ( ) 1o. grau incompleto ( 1.2. Idade: _______ anos ) 1o. grau completo ( ) 2o. grau ( ) superior II. DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE 2.1. Há quanto tempo você trabalha como motorista? ( ) menos de 2 anos ( ) entre 2 e 4 anos ( ) entre 4 e 7 anos ( ) mais de 7 anos 2.2. Quantas horas por dia você trabalha? ( ) menos de 8 horas por dia ( ) entre 8 e 12 horas por dia ( ) mais de 12 horas por dia 2.3. Existem pausas no seu trabalho? ( ) Sim - Quantas? ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) + de 3 ( ) Não 2.4. Em que posição você fica nestas pausas? ( ) sentado ( ) parado em pé ( ) andando III. QUESTÕES PSICOSSOCIAIS: 3.1. Você está satisfeito com o seu trabalho? ( ) Sim ( ) Não 3.2. Tem um bom relacionamento dentro do ambiente de trabalho? ( 3.3. Possui muitos amigos fora do ambiente de trabalho? ( ) nenhum ( ) poucos ( ) suficiente ( ) muitos Fisioterapia_v7n2.indb 130 ) Sim ( ) Não 4/4/2006 17:05:16 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 131 3.4. Qual é a sua atividade nas horas vagas (de lazer)? _____________________________________ Quantas vezes por semana? ( ) nenhuma ( ) 1 vez ( ) 2 vezes ( ) 3 vezes ou mais 3.5. Quais das opções abaixo melhor caracteriza seu humor? ( ) Normal ( ) Ansioso ( ) Tristeza freqüente ( ) Irritação fácil 3.6. Prática atividade física regularmente? ( ) Sim - Quantas vezes por semana? ( ) 1 vez ( ) 2 vezes ( ) 3 vezes ou mais ( ) Não 3.7. No final da jornada de trabalho você se sente: A. Fisicamente: ( ) Bem ( ) Cansado ( ) Pouco cansado ( ) Muito cansado B. Mentalmente: ( ) Bem ( ) Cansado ( ) Pouco cansado ( ) Muito cansado PARA RESPONDER A ESTAS PERGUNTAS, CONCENTRE-SE APENAS NA REGIÃO LOMBAR (COSTAS), IGNORANDO AS OUTRAS PARTES DO CORPO. 4.1. Você sente alguma dor, desconforto, na região lombar (parte baixa das costas)? ( ) Sim - Qual a duração da dor? __________________ horas ( ) Não 4.2. Você já sofreu algum acidente/doença envolvendo a região lombar? ( ) Sim ( ) Não 4.3. Qual é a freqüência da dor ? ( ) Não sinto dor ( ) Diária ( ) Semanal ( ) Mensal 4.4. Como é a dor em seu pior momento? ( ) Nenhuma ( ) Suave ( ) Moderada ( ) Intensa 4.5. Você sentia dor antes de trabalhar com motorista? ( ) Sim ( ) Não 4.6. Você teve que trocar de atividade/função por causa de dor na região lombar? ( ) Sim ( ) Não 4.7. As dores na região lombar reduziram suas atividades nos últimos 12 meses? ( ) Sim ( ) Não 4.8. Por quanto tempo você ficou impedido de realizar suas atividades devido às dores lombares nos últimos 12 meses? ( ) 0 dias ( ) 1 a 7 dias ( ) 8 a 15 dias ( ) mais de 15 dias 4.9. Você sentiu dor na região lombar nos últimos 7 dias? ( ) Sim ( ) Não 4.10. Você está fazendo algum tratamento atualmente? ( ) Sim Qual? ( ) Fisioterapêutico ( ) Medicamentoso ( ) Ambos ( ) Outros - Qual? ______________________ ( ) Não Fisioterapia_v7n2.indb 131 4/4/2006 17:05:17 132 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Revisão Características da produção científica de fisioterapia relacionada à saúde coletiva Characteristics of the scientific production of physical therapy related to public health Paulo Frazão, D.Sc.*, Carla Costa** *Professor do Programa de Pós Graduação (Mestrado) em Saúde Coletiva da Universidade Católica de Santos, **Graduada em Fisioterapia pela Universidade Santa Cecília, Aluna do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Católica de Santos Resumo Abstract O objetivo deste trabalho foi identificar a produção científica em Fisioterapia relacionada à Saúde Coletiva no período entre 2000 e 2002. Os dados coletados foram obtidos através de técnica de busca na base de dados do Medline. Para a apuração dos resultados foram utilizados os aplicativos Microsof Excel 2002 e Epi-Info 6.04b. O conteúdo foi analisado segundo as seguintes variáveis: temas relacionados à Saúde Coletiva, tipo de estudo, público-alvo ao qual os trabalhos se destinavam e instrumentos de pesquisa utilizados. Pela análise dos dados, observou-se um aumento no número de artigos publicados relacionando Fisioterapia e Saúde Coletiva no período tratado. Entre as técnicas de pesquisa mais empregadas destacaram-se os estudos transversais e o uso de questionários. Foram encontrados artigos demonstrando a importância do fisioterapeuta na equipe de saúde, com nítida visão interdisciplinar. Concluindo, podemos perceber que a produção científica nesta área ainda é recente e pequena, mas significativa no conjunto de artigos indexados na especialidade. The aim of this study was to identify the scientific production in physical therapy related to Public Health in the period 2000 to 2002. The data were collected through search in Medline database. To reach the results, the programs Microsoft Excel 2002 and EpiInfo 6.04b were used. The content was analyzed according to the following variables: themes, referring to collective health, kind of study, target public to which the studies were addressed to, and the necessary research instruments. The results have shown that there is an increase in the number of published articles, that relate physical therapy and collective health in the period mentioned. Among the most used research techniques we may emphasize the transversal studies and the use of questionnaires. It was found articles that show the importance of the physical therapist in the health team, showing a clear interdisciplinary view. As a conclusion, we are able to notice that the scientific production in this area is still recent and reduced in number, although meaningful in the set of articles indexed in the specialty. Palavras-chave: saúde pública, fisioterapia, conhecimento. Key-words: physical therapy, public health, knowledge. Introdução a regulamentação da profissão em 1969 [2]. Ao fisioterapeuta é atribuída a competência para elaborar diagnóstico fisioterapêutico (avaliação físico-funcional), prescrever com base em sua avaliação, técnicas fisioterapêuticas e a indicação do melhor momento para a alta do paciente. Dessa forma, a atividade do fisioterapeuta pode produzir significativo impacto na qualidade de vida do indivíduo. Embora o fisioterapeuta esteja sendo identificado com freqüência na execução de procedimentos preventivos em vários campos de atuação da assistência individual, as possibilidades Desde os primórdios da humanidade, fontes de luz, água, calor, eletricidade, massagens e exercícios físicos têm sido utilizados com finalidades terapêuticas. Esta prática, inicialmente intuitiva e empírica, foi ao longo do tempo se fundamentando e se aperfeiçoando até atingir o status de atividade científica, passando a ser denominada Fisioterapia [1]. No Brasil, os primeiros serviços de fisioterapia datam do período compreendido entre 1879 e 1883, culminando com Recebido 24 de março de 2004; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Paulo Frazão, Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Saúde Coletiva da Universidade Católica de Santos, Rua Carvalho de Mendonça 144 - 4º andar 11070-906 Santos SP Tel/Fax: (13)3205-5578, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 132 4/4/2006 17:05:17 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 133 de inserção dessa profissão no campo da Saúde Coletiva ainda não estão claramente definidas. Entretanto, considerando os processos de reforma do setor saúde, no Brasil e em outros países [3], essas possibilidades podem estar atravessando um período de expansão. Esses processos de reforma vêm exigindo, além de transformações estruturais, financeiras e organizacionais, a redefinição dos papéis e das funções essenciais da Saúde Coletiva [4]. No mundo contemporâneo, para elevar os níveis de saúde da população, são exigidas atividades que transcendam a noção de Estado e incluam também a sociedade, e ações que não se limitem apenas à condução de serviços dirigidos à prevenção das doenças e promoção da saúde, mas compreendam também atribuições relativas à regulação e organização de serviços de assistência curativa individual para assegurar a eqüidade no acesso e a qualidade da atenção à saúde. Com o desenvolvimento dos sistemas de saúde no mundo e a busca da integralidade da atenção [5,3], condições têm sido geradas para uma maior interação entre a fisioterapia e a Saúde Coletiva. Essa interação se manifesta mais visivelmente no campo dos serviços de saúde. O número de pessoas que necessitam do fisioterapeuta está aumentando rapidamente e somente uma minoria têm recebido serviços de reabilitação apropriados. A provisão dos serviços de fisioterapia é insuficiente para as necessidades da maioria dos países e novos modelos de oferta de serviços precisam ser desenvolvidos para alcançar as necessidades de uma proporção mais elevada da demanda. A maioria dos países em desenvolvimento apresenta número insuficiente de profissionais para atuar em nível local. A razão fisioterapeuta/população nos países desenvolvidos é de 1:1400 comparada com uma estimativa de 1:550 mil habitantes nos países em desenvolvimento [6]. No Brasil, a criação do Sistema Único de Saúde em 1988, inaugurou um novo período no qual tem sido observada expansão das unidades de serviços e reorientação dos programas de saúde. Eventos técnico-científicos [7,8], conferências de saúde [9,10] e dirigentes [11,12] têm reiterado a necessidade da inclusão de fisioterapeutas nas equipes e o desenvolvimento de ações de fisioterapia nos níveis primário [13], secundário e terciário de atenção à saúde. Nas últimas três décadas, vários programas de Pós-Graduação em Saúde Coletiva foram criados em nosso país. O perfil da demanda e dos egressos, antes concentrado na categoria médica, vem sendo ocupado por outras profissões [14-16], entre as quais a fisioterapia. Estudos sobre a produção científica são relevantes porque fornecem um mapeamento das contribuições, necessidades e desafios relacionados à geração de novos conhecimentos, podendo subsidiar a orientação de programas de pós-graduação [17]. Contudo, pouca informação científica existe sobre as características da produção científica em fisioterapia relacionada à Saúde Coletiva. O objetivo deste estudo foi identificar o volume e as características dos artigos publicados sobre fisioterapia relacionada à Saúde Coletiva a fim de traçar um perfil da produção científica, segundo as áreas temáticas e os tipos de estudos publicados. Fisioterapia_v7n2.indb 133 Material e métodos A produção científica sobre Fisioterapia relacionada à Saúde Coletiva (F-SC) foi identificada mediante a realização de um levantamento [18], tomando-se como unidades de análise artigos científicos publicados em periódicos. Os dados coletados foram obtidos empregando técnicas de busca no Medline, base de dados bibliográficos da National Library of Medicine, mantida pelo National Institute of Health, com sede em Bethesda, Maryland, Estados Unidos. Sua cobertura inclui artigos originais de investigação científica, artigos de revisão, cartas, editoriais e estudos de caso (não inclui capítulos de livros, resumos e resenhas de livros) nas áreas biomédicas, de enfermagem, odontologia, medicina veterinária e ciências afins. Contém todas as citações publicadas no Index Medicus e no International Nursing Index e abrange atualmente mais de 4.600 periódicos internacionais, publicados em mais de 70 países, cadastrados segundo critérios de excelência na base PubMed. Também foi consultada a base eletrônica Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde). Para identificar os artigos, foi empregado o descritor Physical Therapy (Specialty) nas palavras-chave dos registros publicados. Após essa operação específica, procedeu-se uma busca mais refinada com a finalidade de selecionar artigos indexados relacionados à Saúde Coletiva mediante a presença dos descritores Physical Therapy (Specialty) and Public Health nas palavras-chave do registro. No Lilacs foram usados os seguintes descritores: Fisioterapia e Saúde Pública. Essa exploração inicial mostrou um número muito pequeno de artigos indexados nos anos noventa contendo a combinação de descritores empregada. Por essa razão, os procedimentos analíticos descritos a seguir foram adotados apenas para os artigos publicados no período de 2000 a 2002. Para esse período de tempo, os resumos dos artigos foram transcritos para um arquivo eletrônico. O conteúdo foi analisado segundo as seguintes variáveis: temas relacionados à Saúde Coletiva, tipo de estudo, o público alvo ao qual os trabalhos se destinavam e os instrumentos de pesquisa utilizados. Os continentes nos quais as pesquisas foram realizadas também foi alvo de exame. Para fins de pesquisa caracterizamos seis continentes: América do Norte, América Latina, Europa, África, Ásia e Oceania. Os dados foram transcritos para uma planilha eletrônica no aplicativo Excel 2.000. O produto da apuração foi expresso na forma de tabelas e gráficos. Alguns resultados foram comparados conforme o ano de publicação. Resultados Em primeiro lugar, torna-se importante ressaltar que a base de dados LILACS não foi utilizada porque durante 4/4/2006 17:05:18 134 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 pesquisa realizada na mesma, com o emprego dos descritores Saúde Pública e Fisioterapia, nenhum artigo foi encontrado. Na base de dados Medline, os resultados permitiram identificar 97 artigos publicados em 54 revistas indexadas. Em 17 deles não havia apresentação de resumos. Os periódicos com maior quantidade de artigos (>3) publicados foram Physical Therapy; Archives of Physical Medicine and Rehabilitation; The Australian Journal of Physiotherapy; Journal of Allied Health; Journal of Interprofessional Care. O emprego apenas do descritor Physical Therapy (Specialty) nas palavras-chave do registro permitiu a identificação de 199 títulos de artigos publicados entre os anos de 2000 e 2002. Nesse conjunto foram identificados 92 artigos indexados com ambos os descritores fisioterapia e Saúde Coletiva. O número de trabalhos relativos à fisioterapia em geral e o número de publicações com a presença dos descritores Fisioterapia e Saúde Coletiva foram comparados nos anos 2000, 2001 e 2002 (Figura 1). Observou-se uma tendência de crescimento das publicações do segundo tipo, cuja proporção elevou-se de cerca de 14,3% em 2000, para 38,6% em 2001 e 51,1% em 2002. pesquisas foram oriundas da América do Norte, 40,7% da Europa, 12,3% da Oceania, e o restante 2,5% da África e América Latina. Do continente asiático nenhum artigo foi encontrado. Figura 1 - Evolução em percentual do número de artigos indexados no Medline com descritores Fisioterapia e Saúde Coletiva, em relação ao descritor Fisioterapia no período de 2000 a 2002. Tabela I - Distribuição do número de artigos na interface Fisioterapia + Saúde Coletiva indexados no Medline segundo o tipo de estudo. Estudo N % Transversal – survey Controlado Revisão da literatura Grupo focal / Pesquisa-ação Longitudinal – Observacional Estudo de avaliação Estudo de caso / Relato de experiência Clínico Estudo comparativo Estudo exploratório Não informado Total 32 21 13 5 5 2 2 2 1 1 1 85 37,5 24,6 15,3 5,9 5,9 2,4 2,4 2,4 1,2 1,2 1,2 100,0 % Cum. 37,5 62,1 77,4 83,3 89,2 91,6 94,0 96,4 97,6 98,8 100,0 Nota: Multicêntricos = 3 (controlados = 2 + survey = 1) Dos 59 resumos com a descrição do número de sujeitos que participaram da pesquisa, 27,1% utilizaram menos que 30 participantes. A mesma proporção correspondeu aos intervalos de 30 a 100 e de 101 a 300 sujeitos. Em apenas 11 trabalhos, participaram mais de 300 sujeitos (Figura 2). Figura 2 - Percentual de artigos na interface Fisioterapia-Saúde Coletiva indexados no Medline segundo o número de sujeitos do estudo. Participaram da produção dos artigos, 299 pesquisadores, numa média de 3,15 pesquisadores por artigo (desvio-padrão = 2,03). Apenas um trabalho apresentou autoria institucional e 17 (17,9%) foram publicados por somente um autor. Quarenta e nove artigos (51,6%) foram publicados por 2 a 3 pesquisadores e o restante (30,5%) apresentou a participação de quatro ou mais especialistas. Dos artigos pesquisados, a maioria (94,8%) foi publicada no idioma inglês. Dos 80 trabalhos com resumo disponível, 34 (42,50%) empregaram metodologia qualitativa, 11(13,75%) quantitativa e 35 (43,75%), ambas. Na Tabela I é apresentada a distribuição dos artigos, segundo os diferentes tipos de estudo. Pode-se observar o predomínio de estudos transversais (37,5%), controlados (24,6%) e de revisão da literatura (15,3%) sobre os demais tipos. No que se refere aos países de origem das investigações, 81 resumos apresentaram a informação: 44,5% das Fisioterapia_v7n2.indb 134 Quanto aos temas de Saúde Coletiva investigados, observou-se maior ocorrência de artigos ligados à avaliação de programas, tecnologias, procedimentos, substâncias (30,6%). Dos 82 artigos cujo resumo foi possível identificar o tema, 16 estavam relacionados à participação do fisioterapeuta na equipe de saúde, incluindo a importância do seu conhecimento para outras áreas de interesse da saúde numa nítida perspectiva interdisciplinar. Outros temas de interesse dos pesquisadores estavam ligados ao ensino de graduação, ao planejamento e administração de sistemas e serviços de saúde, 4/4/2006 17:05:19 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 e à organização e satisfação no trabalho, incluindo aspectos ligados ao aprimoramento profissional e ao desenvolvimento de recursos humanos (Tabela II). Tabela II - Distribuição dos artigos indexados no Medline, na interface Fisioterapia + Saúde Coletiva de acordo com a área temática. Tema Freq. % Avaliação de procedimentos / substâncias / tecnologias / programas 25 30,6 Fisioterapeuta na equipe de saúde e outras áreas 16 19,5 Ensino de graduação (relação professor-aluno) 8 9,8 Planejamento / Administração 6 7,3 Organização e satisfação no trabalho / Recursos Humanos /Aprimoramento profissional 6 7,3 Saúde do trabalhador na prática da fisioterapia 5 6,1 Critérios de decisão clínica / Prática baseada em evidência 5 6,1 Aferição de eventos 3 3,7 Bioética 2 2,4 Economia em saúde 2 2,4 O papel dos fisioterapeutas na pesquisa 1 1,2 Aderência dos pacientes ao tratamento na ft 1 1,2 Fisioterapia na doença de Parkinson 1 1,2 Qualidade de asilos 1 1,2 TOTAL 82 100,0 F.A. 30,6 50,1 59,9 67,2 74,5 80,6 86,7 90,4 92,8 95,2 96,4 97,6 98,8 100,0 No que concerne ao público-alvo das publicações, a maior parte teve como foco os fisioterapeutas e sua atuação em diversas áreas da saúde (47,5%). Uma parcela menor foi composta de artigos dirigidos à relação dos fisioterapeutas com profissionais da saúde não médicos (11,9%). Pacientes com diversas patologias (10,7%) e estudantes da área da saúde (10,7%) também estavam inseridos no público-alvo ao qual os artigos foram direcionados (Tabela III). Para a realização de seus trabalhos, os pesquisadores se valeram de uma ampla gama de instrumentos de pesquisa, sendo que a utilização de questionários foi a técnica de observação mais comumente empregada (42,6%). Também se destacou o uso de técnicas da prática clínica (18,2%), seguidas pela realização de entrevistas (13,6%). Os questionários postais também fizeram parte dos instrumentos utilizados pelos pesquisadores, não estando agrupados aos questionários comuns por representarem um modo diferente de emprego do instrumento e também por ter uma representatividade importante (9,1%) dentro do contexto global de todos os instrumentos utilizados (Tabela IV). Fisioterapia_v7n2.indb 135 135 Tabela III - Distribuição do público-alvo ao qual os artigos indexados no Medline e utilizados para a realização deste trabalho foram direcionados. Público Alvo Fisioterapeutas/atuação em áreas diversas Fisioterapeutas e outros profissionais não médicos da saúde Pacientes com patologias diversas Estudantes da área da saúde Médicos de especialidades diversas Idosos Administradores Cardiopatas Dirigentes de cursos de graduação Adolescentes Adultos saudáveis Prática profissional Total N % % Cum. 40 47,5 47,5 10 9 9 4 3 2 2 2 1 1 1 84 11,9 10,7 10,7 4,8 3,6 2,4 2,4 2,4 1,2 1,2 1,2 100,0 59,4 70,1 80,8 85,6 89,2 91,6 94,0 96,4 97,6 98,8 100,0 Tabela IV - Distribuição dos tipos de instrumentos de pesquisa utilizados para a realização dos artigos, indexados pelo Medline, na interface Fisioterapia + Saúde Coletiva. Instrumento Questionário Prática clínica Entrevistas Questionário postal Coleta de dados e treina/o Escalas de dor / analógica Aplicativo Entrevista por telefone Estudo de um caso Grupo focal Registros hospitalares Testes em aparelhos Testes psicológicos Total Freqüência Percentual % Cum. 28 12 9 6 2 2 1 1 1 1 1 1 1 66 42,6 18,2 13,6 9,1 3,0 3,0 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 100,0 42,6 60,8 74,4 83,5 86,5 89,5 91,0 92,5 94,0 95,5 97,0 98,5 100,0 Discussão Os resultados apresentados foram obtidos a partir do exame de resumos de artigos indexados no Medline. A maioria das investigações foi produzida na América do Norte e na Europa. É importante ressaltar a ausência de artigos indexados na base Lilacs. Esse aspecto pode ser indicativo da falta de problematização de questões de pesquisa abrangendo as duas áreas de conhecimento na literatura latino-americana em ciências da saúde. Por essa razão, entre outras, as infor- 4/4/2006 17:05:20 136 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 mações geradas devem ser consideradas como uma primeira aproximação que permitiu identificar algumas tendências de caráter geral na produção científica de fisioterapia relacionada à saúde coletiva, gerada nos países mais desenvolvidos. Na área de fisioterapia, Cusatis-Neto & Ferraz [17] divulgaram estudo similar analisando 63 resumos publicados no ano de 2001 no periódico Fisioterapia Brasil. Procedimentos metodológicos semelhantes para investigar a produção científica sob esse enfoque também foram empregados por pesquisadores de outras áreas [19-22]. Para aqueles interessados em melhor compreender as características dessa produção, a abordagem aqui efetuada, limitada aos aspectos quantitativos, deve ser complementada pela revisão e análise qualitativa dos artigos completos envolvendo, de um lado, os problemas e os resultados das pesquisas, e de outro, a discussão realizada pelos autores, incluindo o alcance de suas implicações para a Fisioterapia em Saúde Coletiva. A produção científica, como qualquer área ou setor de atividade humana, é prática histórica e social que implica, simultaneamente, a eleição de determinados objetos de estudo e problemas de investigação; a delimitação do campo de investigação das diferentes disciplinas científicas e a aceitação, consciente ou inconscientemente, de modelos teóricos ou paradigmas de explicação de determinadas classes de fenômenos. Os interesses das agências de fomento e dos pesquisadores variam conforme o tempo e o lugar e, portanto, não estão isolados do contexto onde se inserem [23]. No século XX ocorreram transformações significativas nas condições de vida em determinadas regiões do planeta, decorrentes dos modelos de desenvolvimento social e econômico engendrados em cada região. Esses modelos produziram modificações instaurando processos de industrialização e de migração populacional com importantes repercussões na urbanização, na fecundidade e no meio ambiente. Essas transformações econômicas e sociais têm produzido forte impacto no padrão de distribuição das taxas de morbi-mortalidade, na estrutura etária das populações, e vêm exigindo mudanças nas características da resposta de cada sociedade aos problemas de saúde coletiva [24,25]. Entre as características da resposta, nota-se o fortalecimento do enfoque sistêmico e a busca de uma maior racionalização das ações e serviços de saúde sob os princípios da integralidade e da eqüidade [3,5]. Nos países mais desenvolvidos, a busca de respostas a essas exigências tem criado condições para a implementação de programas e ações de saúde, que envolvem diferentes áreas de conhecimento e atuação profissional. Entre essas áreas, destacam-se as ações de fisioterapia em programas de promoção da saúde e prevenção das doenças; de geriatria em casas de idosos e centros de convivência; de reabilitação de traumatizados e outros tipos de pacientes em unidades de internação hospitalar e de atendimento domiciliar; e de saúde ocupacional nos ambulatórios médicos de empresas. A elevação da proporção de trabalhos contendo os descrito- res Fisioterapia e Saúde Coletiva em relação ao universo de trabalhos de Fisioterapia enquanto área de especialidade pode estar refletindo esse fenômeno, no qual a atuação profissional em equipes, programas e sistemas de saúde, ao contrário do exercício autônomo ou isolado, favorece a identificação de problemas de investigação sob o enfoque interdisciplinar, aspecto destacado por especialistas de ambas as áreas [17,30,31]. Neste ponto, trabalhos relativos à avaliação de programas, tecnologias, procedimentos, substâncias (30,6%) e à participação do fisioterapeuta na equipe de saúde (19,5%), incluindo a importância do seu conhecimento para outras áreas de interesse da saúde, apresentaram maior freqüência. Em nosso país, alguns trabalhos publicados em periódicos de circulação nacional ensejaram essas tendências [13,2629]. A maioria dos trabalhos foi publicada sob a responsabilidade de dois ou mais autores, resultado semelhante ao observado por Cusatis-Neto & Ferraz [17]. Esse fato corrobora o fenômeno da coletivização do trabalho e expressa uma certa modernização da atividade científica descrita por analistas da produção em saúde [20]. Embora os pesquisadores tenham empregado uma ampla gama de instrumentos de pesquisa, presentes no universo de abordagens qualitativas e quantitativas, para a realização de seus trabalhos, a técnica de observação mais mencionada foi o uso de questionários (42,6%), provavelmente pela facilidade e rapidez na obtenção dos dados que muitos pesquisadores reconhecem em sua aplicação [32,33]. Fisioterapia_v7n2.indb 136 Conclusão Do exposto, e levando em consideração as limitações inerentes a este tipo de estudo, pode-se concluir que a produção científica de Fisioterapia relacionada à Saúde Coletiva é recente e pequena, mas significativa no conjunto de artigos indexados na especialidade. Embora algumas tendências temáticas genéricas possam ser identificadas, verificou-se elevada dispersão envolvendo vários objetos de estudo ligados direta e indiretamente à Saúde Coletiva. Agradecimentos Os autores agradecem o auxílio da fisioterapeuta Renata Martho na identificação e classificação dos artigos e ao Prof. Dr. Luiz Carlos Morrone pelas críticas e sugestões. Referências 1. Define DV, Feltrin MIZ. A fisioterapia no Brasil. Atualização Brasileira de Fisioterapia 1986;3(4). 2. Brasil. República Federativa. Decreto-Lei 938, de 13 out 1969. Diário Oficial da União 197 retificado na Seção I p. 3658, de 16 out 1969. 3. Mendes EV. Uma agenda para a saúde. 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São Paulo: Futura; 2000. 4/4/2006 17:05:21 138 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Revisão Tratamento da lombalgia na gestação Treatment of low back pain in pregnancy Cristine Homsi Jorge Ferreira, D.Sc.*, Ana Carolina Rodarti Pitangui**, Ana Márcia Spanó Nakano, D.Sc.*** *Fisioterapeuta, Coordenadora Acadêmica do Curso de Especialização em Fisioterapia na Saúde da Mulher da Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP, **Fisioterapeuta, Especialista em Saúde da Mulher na Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP, ***Enfermeira, Professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - USP. Resumo Abstract A lombalgia gestacional é um sintoma de dor, de origem multifatorial e não totalmente elucidada, que acomete em torno de 50% das gestantes. Durante muitos anos, esta manifestação clínica vem sendo negligenciada por muitos profissionais da área da saúde, talvez por ser considerada como uma queixa inerente ao período gestacional. No entanto, recentemente, este sintoma parece receber uma maior atenção por parte dos estudiosos, por estar exercendo um enorme impacto socioeconômico. O objetivo deste estudo foi revisar a literatura científica acerca da lombalgia na gestação e identificar as medidas terapêuticas utilizadas no seu tratamento. Nesta revisão foi observada a necessidade do reconhecimento da importância da lombalgia gestacional por todos os profissionais da saúde, bem como o desenvolvimento de novas opções terapêuticas viáveis neste período. Low back pain is a symptom of pain, of multifatorial origin and not totally elucidated that attacks around 50% of pregnant women. During many years, this clinical manifestation has been neglected by many health professionals, perhaps because it is considered an inherent complaint the pregnancy period. However, recently, this symptom has received a better attention by researchers, due to the huge socioeconomic impact. The objective of this study was literature review about low back pain in pregnancy, and identify the therapeutic measured used in its treatment. In this review observed the need of the recognition of the importance of low back pain, by all health professionals, as well as the development of new viable therapeutic options in this period. Key-words: pregnancy, low back pain, treatment, posterior pelvic pain. Palavras-chave: gravidez, lombalgia, tratamento, dor pélvica posterior. Introdução Na última década, vários estudos verificaram a alta incidência, em torno de 50%, da lombalgia na gestação [1-4]. A preocupação não é nova: já em 1899, Cantin apud Ostgaard [5] salientava, em sua tese, que a lombalgia era uma das manifestações clínicas mais negligenciadas durante o período gestacional. Recentemente, esta queixa parece receber uma atenção maior por parte dos estudiosos, talvez porque a lombalgia represente queda na produtividade e na qualidade de vida da gestante, exercendo nos dias de hoje um enorme impacto socioeconômico, devido à existência de um número muito maior de mulheres que trabalham fora de casa, se comparado com o que ocorria há algumas décadas atrás [6-8]. A lombalgia na gestação não representa, na realidade, nenhum tipo de doença da coluna lombar, mas, sim, um sintoma de origem multifatorial ainda não totalmente elucidado [5]. Apesar de sua origem continuar obscura, as hipóteses mais discutidas se concentram nas modificações biomecânicas, hormonais e vasculares, próprias do período gestacional. Não existem provas científicas suficientes de que modificações biomecânicas, hormonais ou vasculares possam causar, isoladamente, a lombalgia na gestação, não se sabendo por que metade das mulheres a desenvolve [9,10]. Recebido 21 de julho de 2005; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Ana Carolina Rodarti Pitangui, Av. Portugal, 2580 casa 32 Santa Cruz 14020-380 Ribeirão Preto SP, Tel: (16) 3916-1167, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 138 4/4/2006 17:05:22 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 139 Até hoje, praticamente não existem estudos que se aprofundem na correlação entre a lombalgia na gestação com outros determinantes que não as modificações fisiológicas que ocorrem neste período [11]. Talvez isso tenha contribuído para que esta seja considerada, por muitos, inerente ao período gestacional, não necessitando a adoção de nenhuma medida de alívio. Fast et al. [2] constataram que quando as gestantes procuravam seus médicos referindo lombalgia, na maioria dos casos não era oferecido tratamento algum e, freqüentemente, o médico chegava a dizer que a lombalgia na gestação era normal e até esperada, quando alguma terapêutica era instituída, optava-se pelo uso de analgésicos. Fung et al. [12] verificaram que entre 109 mulheres que sofriam de lombalgia apenas 6 procuraram soluções fora do consultório do obstetra. A busca por soluções pelas gestantes fora dos consultórios obstétricos se torna difícil se este profissional não visualiza a importância desta queixa. Isto porque a gestação é um período em que a mulher geralmente prioriza o bem estar do feto e se o obstetra, que é o profissional de referência para ela, não julgar importante a adoção de medidas de alívio, dificilmente haverá a adesão a qualquer programa que pretenda amenizar esta manifestação. O fisioterapeuta é um profissional que tem todos os pré-requisitos para avaliar e tratar os casos de lombalgia na gestação, para tanto, existe a necessidade do reconhecimento da importância deste sintoma, por todos os profissionais da área da saúde, bem como da difusão, discussão e maiores estudos sobre a eficácia das opções terapêuticas viáveis neste período. Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo revisar a literatura cientifica acerca da lombalgia na gestação, com intuito de identificar as medidas terapêuticas utilizadas no seu tratamento. busca por recursos fisioterapêuticos não farmacológicos, que aliviem este sintoma sem colocar em risco o bem estar materno e fetal. Em 1991, Jacobson [15] propôs uma série de exercícios específicos para gestantes que apresentavam lombalgia, visando o relaxamento e alongamento da coluna lombar sobrecarregada pelo excesso de peso, e ainda exercícios de fortalecimento da musculatura abdominal. Esses exercícios basearam-se naqueles que normalmente são utilizados para lombalgia crônica fora do período gestacional [13,16-18]. Walde apud Hainline [17] identificou vários fatores de alívio da lombalgia entre um grupo de gestantes. Segundo este autor, todos têm uma lógica comum: a postura é contemplada, as posições são mudadas e a tensão lombar é evitada. As seguintes medidas, que estão listadas em ordem decrescente em efetividade, foram descritas como tendo sido de alívio para as gestantes: 1- colocar uma almofada ou suporte atrás das costas quando sentadas; 2- passar da postura em pé ou sentada para deitada; 3- mudar de pé para sentada; 4- banho de água quente; 5- colocar uma bolsa de água quente nas costas; 6- mudar de deitada ou sentada para em pé; e 7- caminhar. Hainline [17] concluiu que, embora estas recomendações sejam bastante genéricas, o ponto importante é que as mulheres grávidas que sofrem de lombalgia devem estar dispostas a tentar manobras simples de alívio da dor. Apesar dos exercícios, métodos de relaxamento e orientações sobre as posturas mais adequadas na realização das atividades de vida diária, tipo de mobiliário entre outras, serem indicadas genericamente como medidas terapêuticas por vários autores, Ostgaard et al. [19] preconizaram a utilização de um tratamento individualizado e diferenciado, que se baseou na classificação clínica da lombalgia em dor lombar ou dor pélvica posterior. A dor lombar foi descrita como sendo um sintoma presente previamente à gestação, que provavelmente retornaria durante a gravidez. Suas características clínicas foram descritas pela presença de dor de caráter constante, pouca dificuldade durante a marcha e em postura estática, redução da amplitude de movimento da coluna lombar, dor a palpação da musculatura paravertebral e teste para provocação da dor pélvica posterior negativo. A dor pélvica posterior seria uma lombalgia específica do período gestacional de caráter intermitente, com irradiação para um ou ambos os glúteos. Diferentemente da dor lombar, não possui alterações na mobilidade da região lombar, provoca dor durante a marcha, em postura estática e a palpação da região glútea. Apresenta teste para provocação da dor pélvica posterior positivo. O teste de provocação da dor pélvica posterior foi realizado com o paciente em supino, tendo uma das pernas flexionadas a 90º de quadril e joelho. Estabilizou-se a espinha ilíaca ântero-superior do lado oposto. Com as mãos sobre o joelho, realizou-se uma leve pressão longitudinal ao fêmur. O teste foi considerado positivo em referência de dor. Os resultados Material e métodos Para realização desse estudo de revisão foram selecionados artigos publicados entre os anos de 1987 a 2003 em periódicos indexados nas bases de dados Lilacs, Medline e Current Contents publicados em inglês, francês, espanhol e português que tratassem da lombalgia específica do período gestacional de origem músculo-esquelética ou de causa idiopática que persiste ou se agrava durante a gestação. Ao todo, foram incluídos neste trabalho 25 artigos, sendo 2 selecionados na base de dados Lilacs, 21 na base de dados Medline e 2 na base de dados Current Contents. Resultados e discussão Freqüentemente, para o tratamento da dor lombar utiliza-se a terapêutica medicamentosa. Entretanto, esta se torna limitada pela própria gestação, já que as drogas usualmente prescritas para a lombalgia não possuem dados conhecidos a respeito dos riscos fetais [13,14]. Por isso, existe uma Fisioterapia_v7n2.indb 139 4/4/2006 17:05:22 140 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 demonstraram uma especificidade de 80% e sensibilidade de 81%. As medidas terapêuticas utilizadas no tratamento da dor lombar consistiram em reeducação postural, cinesioterapia, exercícios de relaxamento, orientações ergonômicas e das atividades de vida diária. No entanto, no tratamento da dor pélvica posterior, realizou-se exercícios respiratórios, uso de cinto abdominal não elástico, técnicas de relaxamento, orientações ergonômicas e das atividades de vida diária. Alguns autores têm relatado bons resultados com o uso de técnicas de manipulação para os casos de lombalgia na gestação que preencham os critérios diagnósticos de subluxação sacroilíaca [18,20,21]. Daly et al. [20] realizaram manipulação rotacional em 11 gestantes com lombalgia que preenchiam os critérios diagnósticos para subluxação da articulação sacroilíaca e verificaram que 91% delas tiveram alívio da dor e não apresentaram mais os sinais clínicos característicos de subluxação sacroilíaca. Em um estudo de caso realizado recentemente por Requejo et al. [22], foi proposta a utilização de um protocolo modificado para o tratamento da lombalgia gestacional. Inicialmente, dividiu-se a terapia em 2 etapas que foram realizadas em 4 sessões. A 1ª sessão teve como objetivo a diminuição da dor e o relaxamento muscular, utilizando compressas quentes na região lombar, mobilizações suaves nos tecidos, nos processos espinhosos de T11 e T12, e movimentos ativos de extensão da coluna lombar. A 2ª terapêutica ocorreu 5 dias depois da 1ª e enfatizou as mesmas intervenções, acrescidas de alongamento de flexores de quadril. Após o período de 3 dias, ocorreu a 3ª sessão, onde foi realizado o tratamento anterior, associado a exercícios abdominais, auto-alongamento de flexores de quadril e agachamento na parede com a coluna em posição neutra. Após 3 dias, ocorreu a 4ª sessão, que constou das atividades realizadas nas intervenções anteriores associadas à reeducação postural, instruções ergonômicas e programa de exercícios para serem realizados em casa. Thomas et al. [23], tendo em vista o alívio da lombalgia noturna que acomete um grande número de gestantes, compararam a utilização de 2 tipos de travesseiros como suporte para o abdome da grávida. Um dos travesseiros utilizados era comum e o outro foi especialmente desenhado para se encaixar melhor embaixo do abdome da grávida, possuindo um dos lados mais fino em forma de cunha e recebeu o nome de “Ozzllow”. Participaram do estudo 92 gestantes, cada uma serviu de controle para si, utilizando durante uma semana o travesseiro normal e uma semana o travesseiro “Ozzlow”. Em relação à impressão das gestantes sobre a utilidade dos 2 travesseiros na prevenção ou alívio da lombalgia, 34% delas acharam que a utilidade do travesseiro comum variava de moderado à excelente, enquanto que em relação ao travesseiro “Ozzlow”, 62% consideraram sua utilidade variando de moderado a excelente. Os autores concluíram que a simples medida de dar suporte ao abdome gravídico em decúbito lateral pode ser benéfica para um número apreciável de gestantes. Kihlstrand et al. [7] realizaram um estudo prospectivo com 129 mulheres, dividindo-as em 2 grupos, onde verificaram a diminuição da intensidade da dor lombar durante a gestação e do número de afastamentos de trabalho nas pacientes que realizaram exercícios na água. Os exercícios foram oferecidos 1 vez por semana, durante 1 hora, com atividades apropriadas ao período gestacional e técnicas de relaxamento. Recursos como a massoterapia, hidroterapia e acupuntura são mencionados como sendo possivelmente eficazes no alívio da lombalgia na gestação, porém, ainda não existem estudos formais sobre os seus benefícios, o que sugere a necessidade de novas pesquisas que venham elucidar o valor terapêutico dos mesmos nesta situação específica [24,25]. Fisioterapia_v7n2.indb 140 Conclusões O ponto de partida para que sejam desenvolvidas e avaliadas condutas terapêuticas específicas para as gestantes com lombalgia gestacional passa irremediavelmente pela conscientização dos profissionais de saúde de que esta é uma importante morbidade, que é desenvolvida por um número considerável de gestantes, não devendo, portanto, ser ignorada. A gestação é apontada como um fator que limita o tratamento medicamentoso da lombalgia, o que reforça a necessidade da atuação fisioterapêutica baseada no conhecimento que este profissional detém sobre os recursos mais apropriados e efetivos neste período. Referências 1. Berg G, Hammar M, Moller-Nielsen J, Linden U, Thornblad J. Low back pain during pregnancy. Obstet Gynecol 1988;71:714. 2. Fast A, Shapiro D, Docummun EJ, Friedmann LW, Bouklas T, Floman Y. Low back pain in pregnancy. Spine 1987;12(4):36871. 3. Ostgaard HC, Andersson GBJ, Karlsson K. Prevalence of back pain in pregnancy. Spine 1991;16(5):549-52. 4. Orvieto R., Achiron A, Ben-Rafael Z, Gelernter I, Achiron R. Low back pain of pregnancy. Acta Obstet Gynecol Scand 1994;73:209-14. 5. Ostgaard HC. Assessment and treatment of low back pain in working pregnant women. Spine 1996;20(1):61-9. 6. Ferreira CHJ, Nakano AMS. Lombalgia na gestação: uma revisão. JBM 1999;77(1):113-8. 7. Kihlstrand M, Stenman B, Nilsson S, Axelsson O. Water-gymnastics reduced the intensity of back/low back pain in pregnant women. Acta Obstet Gynecol Scand 1999;78:180-5. 8. Stuge B, Hilde G, Vollestad N. Physical therapy for pregnancyrelated low back and pelvic pain: a systematic review. Acta Obstet Gynecol Scand 2003;82:983-90. 9. Bullock JE, Jull GA, Bullock MI. The relationship of low back pain to postural changes during pregnancy. Aust J Physiother 1987;33(1):10-7. 10. Ostgaard HC, Andersson GBJ, Schultz AB, Miller JAA. Influence of some biomechanical factors on low back pain in pregnancy. Spine 1993;18(1):61-5. 4/4/2006 17:05:23 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 11. Paul JA, Van-Dijk FJH, Frings-Dresen MHW. Work load and musculoskeletical complaints during pregnancy. Scand J Work Environ Health 1994;20:153-9. 12. Fung BKP, Kwong CMF, Ho ESC. Low back pain of women during pregnancy in the mountainous district of central Taiwan. Chinese Medical Journal 1993;51(2):103-6. 13. Rungee MJ. Low back pain during pregnancy. Orthopedics 1993;16(12):1339-44. 14. Alexander JT, Mccormick PC. Pregnancy and discogenic disease of the spine. Neurosurg Clin N Am 1993;4(1):153-9. 15. Jacobson H. Protecting the back during pregnancy. AAOHN J 1991;39(6):286-91. 16. Heckman JD, Sassard R. Current concepts review musculoskeletal considerations in pregnancy. J Bone Joint Surg Am 1994;76-A(11):1720-30. 17. Hainline B. Low back pain in pregnancy. Advances in neurology 1994;64:65-7. 18. Wicks T. The sacroiliac joint: the major cause of backache in pregnancy. Midwifery Today Childbirth Educ 1996;39:33-4. Fisioterapia_v7n2.indb 141 141 19. Ostgaard HC, Zetherström G, Roos-Hansson E, Svanberg B. Reduction of back and posterior pelvic pain in pregnancy. Spine 1994;19(8):894-900. 20. Daly JM, Frame PS, Rapoza PA. Sacroiliac subluxation: a common, treatable cause of low back pain in pregnancy. Fam Pract Res J 1991;11(2)149-59. 21. Macintryre IN, Broadhurst NA. 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Anesth Analg 1997;85:1074-87. 4/4/2006 17:05:24 142 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Revisão Mecanismos de interação do ultra-som terapêutico com tecidos biológicos Mechanisms of therapeutical ultrasound interaction with biological tissues João Luiz Quagliotti Durigan*, Karina Maria Cancelliero**, Michel Silva Reis***, Carolina Náglio Kalil Dias****, Denis Rafael Graciotto*****, Carlos Alberto da Silva******, Maria Luiza Ozores Polacow, D.Sc.****** *Mestrando em Fisioterapia da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, **Doutoranda em Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos – UFScar, ***Mestrando em Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos – UFScar, ****Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP, *****Fisioterapeuta, Universidade Paranaense – UNIPAR, ******Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação da Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP Resumo Abstract O objetivo desse trabalho foi revisar os mecanismos e interações do ultra-som terapêutico nos diversos tecidos biológicos. Para isso, foram consultadas as bases de dados Medline, Pubmed, e Periódicos da Capes com as seguintes palavras-chaves: ultra-som terapêutico, reabilitação, fisioterapia, tecidos biológicos. Foram abordados os aspectos físicos do recurso incluindo os mecanismos térmicos e não térmicos, além da sua influência sobre a temperatura e circulação, síntese de colágeno, proliferação celular e reparação tecidual, sistema tegumentar e seus anexos, efeitos em processos inflamatórios e aplicações de baixa intensidade. Apesar da freqüente aplicação na fisioterapia, o ultra-som é um recurso físico ainda controverso quanto alguns dos seus efeitos e suas interações com o meio biológico. Além disso, em algumas aplicações específicas, os estudos ainda são escassos. Neste sentido, fica evidente a necessidade de mais investigações para determinar parâmetros físicos adequados e as suas interações com o meio biológico. The objective of this work was to review the mechanisms and interactions of the therapeutic ultrasound in various biological tissues. For this, were consulted Medline, Pubmed and Capes databases with the following key-words: therapeutic ultrasound, rehabilitation, physiotherapy, biological tissues. The physical aspects of the resource included the thermal and non thermal mechanisms, besides its influence on the temperature and circulation, collagen synthesis, cellular proliferation and tissue repairing, tegumentar system and its annexes, effect in inflammatory processes and applications of low intensity. Despite the frequent use in the physical therapy, the ultrasound is still controversial as a physical resource related with some of its effect and its interactions with the biological environment. Moreover, in some specific applications, the studies still are scarce. In this direction, it is evident the necessity of more investigations to determine adequate physical parameters and their interactions with the biological environment. Palavras-chave: ultra-som terapêutico, reabilitação, fisioterapia, mecanismos de interação. Key-words: therapeutic ultrasound, rehabilitation, physiotherapy, interaction mechanisms. Introdução relho auditivo humano quando possui freqüências na faixa de 20 Hz a 20 kHz e ondas acima desse limite, não audíveis, são denominadas ultra-sônicas [1]. Em 1917, ocorreu a primeira prática do US, com a criação de sonares para a detecção de submarinos. Porém, foi no final da década de 40 e início da de 50 que se conseguiu, com sucesso, a primeira aplicação do US na área biológica, sendo que a partir daí a sua evolução progrediu rapidamente [2]. O ultra-som (US) é uma forma de energia mecânica transmitida transcutaneamente por ondas de pressão acústica de alta freqüência em organismos biológicos. Ondas acústicas são vibrações organizadas das moléculas ou átomos de um meio capaz de favorecer a sua propagação, podendo este ser gasoso, liquido ou sólido. A onda sonora é audível pelo apa- Recebido 1 de agosto de 2005; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Karina Maria Cancelliero, Rua Gomes Carneiro, 875 Centro 13400-530 Piracicaba SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 142 4/4/2006 17:05:25 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 143 Atualmente, a energia ultra-sônica está entre as mais utilizadas pelo fisioterapeuta, para auxiliar o tratamento das mais diversas disfunções dos tecidos moles, incluindo contraturas articulares, tendinites, bursites, espasmos músculos-esqueléticos e dor [3]. Ademais, uma quantidade considerável de trabalhos laboratoriais tem sido realizada com o objetivo de esclarecer seus efeitos sobre os tecidos biológicos [4]. Assim, este artigo tem como objetivo revisar os mecanismos e interações do ultra-som terapêutico nos tecidos biológicos. Para tanto, foi consultado as bases de dados Medline, Pubmed, e Periódicos da Capes, no período de 1968 a 2004, tendo como ênfase as respostas dos tecidos biológicos promovidas pela utilização do ultra-som terapêutico. Foram levantadas as informações dos últimos trinta anos, tendo como palavras-chave os termos: ultra-som terapêutico, reabilitação, fisioterapia; mecanismos de interação. Uma vez fichado, observando as informações de maior relevância, e organizado por assunto (mecanismos de interação, efeitos sobre a temperatura, circulação, angiogênese, síntese de colágeno, proliferação celular, reparação tecidual, efeitos no sistema tegumentar e em processos inflamatórios), o material foi utilizado para a redação do artigo. A elevação da temperatura tecidual produzida através da absorção da energia ultra-sônica pode trazer benefícios através de uma vasodilatação local ou até queimar os tecidos irradiados. A magnitude do aquecimento dependerá de alguns fatores como: tipo de US (contínuo ou pulsado), intensidade, tempo de aplicação, freqüência, tamanho da área tratada, profundidade do tecido, absorção (tecidos altamente protéicos absorvem energia mais do que os tecidos com alto teor de gordura), propriedades de dissipação e resfriamento tecidual [9,10]. Os efeitos fisiológicos provenientes do aquecimento tecidual, que podem produzir aumento do fluxo sanguíneo e da atividade metabólica; aumento da extensibilidade do colágeno em estruturas tais como tendões, ligamentos e cápsulas articulares; alívio da dor e diminuição do espasmo muscular [6,11]. Por outro lado, nas enfermidades associadas a transtornos vasculares, um aumento da temperatura associado com o efeito mecânico do US pode promover um efeito adverso [12], e cuidados devem ser tomados para que não ocorram alguns efeitos mecânicos indesejáveis, como a cavitação transiente que inevitavelmente podem acompanhar as dosagens que promovem os efeitos térmicos [6]. Assim, a prevalência do efeito térmico do US sobre os mecanismos ocorre somente nas intensidades superiores a 1 W/cm2, no modo continuo, nas freqüências de 1 ou 3 MHz, embora não existem dados científicos ou clínicos que justifiquem a utilização do US com intensidades acima de 1 W/cm2, visto que intensidades mais elevadas podem ser lesivas [7]. Mecanismos de interação com tecidos biológicos A ação do US depende de muitos fatores físicos e biológicos, tais como intensidade, tempo de exposição, estrutura espacial e temporal do campo ultra-sônico e estado fisiológico do objeto. A interação deste grande número de variáveis dificulta a compreensão exata do mecanismo de ação do US na interação com os tecidos biológicos [5]. Os mecanismos físicos pelos quais o US induz respostas clinicamente significativas nos tecidos biológicos são classificados como térmicos e não térmicos, ou mecânicos [1,6]. Esses mecanismos e seus subseqüentes efeitos estão diretamente relacionados com os parâmetros físicos do US, com o tempo e a técnica de aplicação e podem ter seus efeitos potencializados conforme os parâmetros utilizados. Desse modo, o US contínuo caracteriza-se pela forte produção de calor, que também está presente no pulsado, porém de forma reduzida, devido ás interrupções regulares na propagação da onda [7]. Mecanismo térmico Os efeitos térmicos do US ocorrem devido à conversão de energia cinética em energia térmica pelos tecidos. Para se ter um efeito terapêutico, a temperatura tecidual deve ser mantida entre 40 e 45 graus, pelo menos 5 minutos [6]. Um aquecimento muito lento e suave permite o resfriamento e dissipação pelo fluxo sanguíneo eliminando as possibilidades de efeitos terapêuticos promovidos pelo aquecimento. Nesse sentido, caso ocorra um aquecimento muito rápido e excessivo, dor e necrose térmica podem ocorrer [8]. Fisioterapia_v7n2.indb 143 Mecanismos não-térmicos Os efeitos não térmicos do US são obtidos pelo microfluxo acústico e pela cavitação [7]. Microfluxo corresponde a movimentos unilaterais que ocorrem em fluídos submetidos a um campo ultra-sônico. Esses movimentos originam forças e tensões que podem modificar a posição de partículas intra e extra-celulares ou mesmo a configuração normal das células, e conseqüentemente podem afetar a atividade celular [1,6,11]. Desse modo, o microfluxo pode alterar organelas celulares e membranas de maneira reversível ou irreversível, dependendo de sua magnitude. O microfluxo pode ter seu valor terapêutico uma vez que sua ação facilita a difusão através de membranas. Dependendo do tipo de célula, a alteração iônica produzida pode desenvolver modificações na motilidade, síntese ou secreção celular, que podem acelerar o processo de reparo [6]. Já cavitação é a formação e pulsação de bolhas de gás ou de vapor no interior dos fluídos, como resultado das mudanças de pressão no campo acústico, induzidas pelas ondas do US. A cavitação pode ser estável ou transitória, sendo que a primeira é decorrente de uma vibração estável, em resposta ás alterações de pressão regularmente repetidas, enquanto que a segunda transitória ocorre quando há alterações irregulares 4/4/2006 17:05:26 144 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 de pressão e altas temperaturas na região da bolha colapsada e pode desintegrar localmente os tecidos e levar á produção de radicais livres [13]. O reparo de tecidos produzidos pela onda ultra-sônica, através de modificações na permeabilidade da membrana celular para os íons de cálcio e sódio que provocam a síntese de proteínas é atribuído a cavitação estável. As membranas celulares tornam-se mais permeáveis, devido aos movimentos unidirecionais do fluido em campo ultra-sônico, e as organelas podem se alterar devido às forças de radiação [11]. Dyson [6,7] relacionou os efeitos fisiológicos de: degranulação de células de sustentação; alterações na função da membrana celular, aumento dos níveis intracelulares de cálcio; estimulação da atividade dos fibroblastos, resultando num aumento da síntese protéica, da angiogênese, da permeabilidade vascular e da tensão elástica do colágeno aos mecanismos não térmicos. durante 5 minutos, iniciando 24 horas após a lesão, por 10 dias consecutivos. Os resultados mostraram que não houve diferenças significativas na rede vascular, sugerindo que o US não provoca mudanças no padrão vascular. Efeitos terapêuticos do US Na fisioterapia, o US tem sido utilizado no tratamento de diversas patologias e seus efeitos sobre os tecidos têm sido objeto de investigações a fim de elucidar a sua influência em compostos orgânicos e em estruturas biológicas [14]. Efeitos sobre temperatura, circulação e na angiogênese Draper et al. [15], num estudo experimental em coelhos, compararam a taxa de aumento da temperatura na região medial do tríceps sural, utilizando freqüência de 1MHz e 3MHz. As temperaturas foram medidas em duas profundidades para cada uma das freqüências, sendo 2,5 e 5,0 cm para 1MHz e 0,8 e 1,6 cm para 3MHz, com doses de 0,5, 1,0, 1,5,e 2,0 W/cm2, em aplicações de 10 minutos de duração. A temperatura tecidual foi medida a cada 30 segundos, mas não foram encontradas diferenças significativas para os vários parâmetros utilizados, embora o aquecimento tenha ocorrido de forma mais rápida com a freqüência de 3MHz. Hogan et al. [16] investigaram a possibilidade de haver aumento do fluxo sanguíneo em tecidos isquêmicos de músculos de ratos, quando irradiados com US pulsado, na freqüência de 1 MHz e com intensidades de 1,25 a 10,0 W/ cm2, por 5 minutos, em dias alternados, por 1 ou 3 semanas. Os resultados mostraram diferenças significativas entre estimulação aguda e crônica do músculo, com ligeira constrição das arteríolas, mas a repetição da exposição à intensidade de 2,5 W/cm2 melhorou o fluxo sanguíneo. Young & Dyson [12] referem aumento na formação de vasos sanguíneos na fase mais precoce de reparação com uso do US. Em contra partida, Menezes & Volpon [17] observaram os efeitos do US na vascularização, após lesão muscular do reto femoral em coelhos, utilizando US no modo pulsado (50%), com freqüência de 1 MHz, intensidade de 0,5 W/cm2, Fisioterapia_v7n2.indb 144 Efeitos sobre a síntese de colágeno, proliferação celular e reparação tecidual Embora os mecanismos não sejam ainda perfeitamente conhecidos, há evidências demonstrando a influência do US na reparação tecidual, pelas modificações provocadas na permeabilidade da membrana das células. Trabalhos sugerem que estes efeitos ocorram devido à cavitação [18]. Dinno et al. [19], referem que o US produz modificações hemodinâmicas microvasculares, aumentando a perfusão e o tecido de granulação, estimulando assim a reparação. Com o objetivo de estudar os efeitos do US no processo de cicatrização de tendões rompidos, Roberts et al. [20] aplicaram US pulsado, na intensidade de 0,8 W/cm2 e freqüência de 1 MHz, por 5 minutos, cinco vezes por semana, durante seis semanas. Os resultados mostraram que, nos animais submetidos ao tratamento com o US, não houve cicatrização dos tendões, enquanto que no grupo controle os tendões cicatrizam espontaneamente. Concluíram que o US, no protocolo proposto, tem efeitos deletérios sobre a cicatrização tendinosa. Stevenson et al. [21] relataram que não houve alteração na formação de cicatriz, nem na resistência à ruptura de tendões flexores de galinha seccionados, suturados e irradiados diariamente, por 20 dias consecutivos, com US na freqüência de 3MHz e intensidade de 0,75 W/cm2. Turner et al. [22] estudaram o efeito do US na cicatrização de tendões flexores, utilizando o método subaquático, iniciando a irradiação 7 dias após a lesão e sutura, com intensidade de 1,0 W/cm2, três vezes por semana durante 5 semanas, e não encontraram diferenças significativas na resistência, nem na amplitude do movimento produzido. Por outro lado, Enwemeka [23] avaliou a aceleração do processo de cicatrização em tendões aquileanos de coelhos, tenotomizados e irradiados com US contínuo na freqüência de 1MHz e intensidade de 1 W/cm2, por 9 dias. Os tendões removidos foram submetidos a testes mecânicos que demonstraram o aumento na capacidade de absorção de energia do lado tratado, sugerindo aceleração do processo de cicatrização. Resultados semelhantes foram mostrados por Jackson et al. [24], que usaram o US contínuo na intensidade de 1,5 W/cm2 para o tratamento de rupturas parciais do tendão aquileano de ratos, pelo o método subaquático de irradiação, em sessões de 4 minutos de duração, diariamente nos oito primeiros dias. Foi constatado que houve aumento simultâneo da força dos tendões e da síntese de colágeno. Os efeitos do US sobre o processo de cicatrização de tendão flexores em galinhas, no modo pulsado de 3MHz de 4/4/2006 17:05:26 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 145 freqüência e intensidade de 0,8 W/cm2 em sessões de 3 minutos, durante 10 dias, na fase precoce de cicatrização num grupo (7 dias após a lesão) e na fase tardia no outro (24 dias após a lesão) foram referidos por Gan et al. [25]. Os resultados mostraram um aumento da amplitude do movimento, bem como, em nível microscópico, alinhamento mais regular do colágeno produzido e diminuição do infiltrado inflamatório, sendo que esses dois últimos achados foram mais pronunciados no grupo de tratamento na fase precoce, sugerindo que o US pode ter efeitos benéficos sobre a cicatrização tendinosas, principalmente quando aplicado na fase precoce. Ramirez et al. [26] investigaram os efeitos do US na síntese de colágeno e proliferação celular usando cultura de fibroblastos derivados do tendão de aquiles de ratos recém-nascidos. Seus resultados apontaram aumento da a síntese de colágeno e divisão celular durante os períodos de proliferação celular. Doan et al. [27] utilizaram o US em gengiva humana in vitro e verificaram que o uso no modo pulsátil (1 MHz) nas intensidades 0,1 e 0,4 W/cm2 induziram a proliferação celular, produção de colágeno, formação óssea e angiogênese. Cunha et al. [28] demonstraram que o uso do US em ratos após tenotomia do tendão de aquiles estimula a formação de tecido de reparação, aumentando a síntese de colágeno, com melhor agregação e alinhamento das fibras de colágeno no eixo do tendão. Estes resultados foram encontrados com o uso do US no modo pulsátil (freqüência de 1 MHz, intensidade de 0,5 W/cm2, por 5 minutos, durante 14 dias consecutivos), sendo que no modo contínuo com os mesmos parâmetros não foram encontrados resultados benéficos no tecido de reparação destes tendões. Christine et al. [29] estudaram o tendão de Aquiles de ratos com objetivo de avaliar os efeitos do US sobre as suas propriedades estrutural e atuação funcional no processo de reparo. Os tendões foram hemi-secionados cirurgicamente e tratados com um US de 1MHz contínuo divididos em dois grupos tratados, onde um deles recebeu 1 W/cm2 por 4 minutos de irradiação ultra-sônica e outro de 2 W/cm2 por 4 minutos. Os autores concluíram que tanto 1 W/cm2 quanto 2 W/cm2 de intensidade estimula o processo de reparo de tendão. Porém, Barnett et al. [13], alertam para a ocorrência de danos biológicos em altas intensidades de irradiação ultra-sônica. As fibras musculares esqueléticas foram estudadas por Rantanen et al. [30], após lesão do músculo gastrocnêmio de ratos sobre os efeitos do US. A velocidade de regeneração muscular nos animais tratados no modo pulsado foi comparada com o grupo controle, utilizando técnicas de imunohistoquímica e morfometria. Foi encontrado que a proliferação de células satélites foi bastante significativa (96%) com o uso do US modo pulsátil durante os primeiros estágios de reparação em comparação com o grupo controle. Desse modo, Dyson et al. [6] concluem que o US usado na fase aguda de uma lesão, pode estimular a liberação de agentes quimiotáxicos e a degranulação celular. Já durante a fase de proliferação celular, que se inicia aproximadamente no terceiro dia após a lesão, os fibroblastos expostos a níveis terapêuticos de US seriam estimulados a sintetizar maior quantidade de colágeno, que é a proteína fibrosa que confere resistência à tração aos tecidos, possibilitando, assim, um tecido cicatricial mais forte e elástico. Baseando-se nesses efeitos, acredita-se que o US possa melhorar a cicatrização tecidual, conferindo propriedades mecânicas mais adequadas ao tecido mole cicatrizado. Fisioterapia_v7n2.indb 145 Efeitos no sistema tegumentar e seus anexos Na década de 60, ocorre o relato sobre o uso do US em lesões nas orelhas de coelhos, sendo o tratamento iniciado no 14º dia após a lesão, com o uso de diversas formas e diferentes intensidades de aplicação do US. Os autores concluíram que o US acelera a cicatrização com os melhores resultados correm na fase inicial [31]. Posteriormente, Dyson & Suckling [32], utilizaram o US em úlceras varicosas no membro inferior de pacientes, no modo pulsátil, 3 MHz, 0,2 W/cm2, por 5 minutos, com uma redução significativa do tamanho das lesões. Da mesma maneira Roche & West [33] referem que o uso do US na periferia de úlceras varicosas, na freqüência de 3 MHz, 1 W/cm2, durante 5 minutos, em áreas menores que 5 cm2, apresentaram resultados significativos, com redução da área das úlceras. Com relação aos efeitos benéficos do US no tratamento de queimaduras em ratos, Cambier & Vanderstraten [34] não encontraram efeitos estimulantes do US no modo continuo (0,3 W/cm2), nem no modo pulsátil (0,25 W/cm2), discordando da aplicação clínica do US na cicatrização de queimaduras. Young & Dyson [35] que analisaram os efeitos do US em lesões de total pele em ratos, utilizando o modo pulsátil, 0,75 ou 3 MHz, 0,1 W/cm2, por 5 dias, encontraram maior tecido de granulação, leucócitos, macrófagos e fibroblastos no grupo tratado que no grupo controle. Após 7 dias havia uma diferença significativa de celularidade entre os grupos, sugerindo que o US nos parâmetros utilizados pode ser usado para acelerar o processo inflamatório e a proliferação celular. Byl et al. [36] realizaram lesões na pele de porcos e aplicaram o US contínuo (1 MHz, 1,5 W/cm2, por 5 minutos) e o US pulsátil (1 MHz, 0,5 W/cm, por 5 minutos), sendo que significativa diferença na cicatrização foi encontrada somente após 10 dias de tratamento. Em 2002, Aynaci et al. [37] referem ter realizado o primeiro estudo sobre os efeitos do US na cicatrização de enxerto ósseo pediculado em músculo, na coluna vertebral. Foram utilizados 20 coelhos, sendo o recurso aplicado durante 20 minutos a partir do terceiro dia pós-operatório com uma freqüência de 1,5 Mhz no modo pulsado. Os coelhos foram sacrificados após 6 semanas de cirurgia, onde foi observada uma aceleração da reparação óssea, com aumento da velocidade e qualidade da fusão espinha. 4/4/2006 17:05:27 146 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Efeitos do US de baixa intensidade al. [45], pesquisaram os seus efeitos na osteoartrite de joelho em 34 pacientes, sendo que os voluntários foram divididos em dois grupos: tratados com US contínuo com intensidade máxima tolerada de até 2,5 W/cm2 e controle. Os autores concluíram que não havia diferenças significativas entre os grupos estudados. Também foi observado, que o US foi efetivo na melhora da dor e amplitude de movimento das disfunções inflamatórias agudas, fato não observado nas disfunções inflamatórias crônicas [46]. Um fato a se destacar é que diversos estudos mostram que o US não possui benefícios em humanos com osteoartrite de joelho, mas a maioria deles não possui metodologia confiável [3,47]. O US também demonstrou não possuir efeitos antiinflamatórios em modelos experimentais de artrite. Goddard et al. [48], submeteram recipientes contendo Mycobacterium tuberculosis ao US de baixa intensidade com freqüência de 1,5 MHz e com antiinflamatório não-esteroidal flurbiprofen, do 0 ao 4º dia. Os autores demonstraram que não houve diferença significativa na qualidade e na quantidade do infiltrado inflamatório entre o grupo tratado com o US e o grupo controle, porém houve diferença significativa entre o grupo tratado com flurbiprofen e o controle. Pereira et al. [49], avaliaram a evolução do edema de pata em ratos tratados através do US contínuo com intensidade de 0,2 W/cm2 apreciado ao tratamento farmacológico (indometacina). Os autores observaram que o US não foi capaz de reduzir o edema das patas posteriores dos ratos artríticos, mas a associação do US com a indometacina foi capaz de inibir o edema. Esses estudos coincidem com os resultados apresentados por Durigan et al. [50], que observou a evolução do edema de pata em ratos Holtzman adultos artríticos, tratados através do US pulsado com freqüência de 1 MHz, recorte de 20% e intensidade média de 0,4 W/cm2 associado ao tratamento farmacológico. Os resultados sugerem que o US não foi capaz de reduzir o edema e que somente o tratamento farmacológico e a sua associação com o US foram capazes de reduzir o edema das patas posteriores. Conforme descrito na literatura, os efeitos do US em processos inflamatórios crônicos ainda permanecem obscuros, existindo a necessidade de mais estudos para o entendimento dessa questão. O pioneiro no estudo do US pulsado de baixa intensidade como estimulador osteogênico foi Duarte que, baseando-se nas propriedades elétricas do tecido ósseo (piezoeletricidade), investigou o uso desse US na consolidação de fraturas ósseas em coelhos. Por meio da área do calo formado e das análises histológicas e radiográficas, concluiu-se que o US acelerou a formação do calo ósseo e obteve em seu experimento ganho de tempo na consolidação de fraturas de coelhos, sob estímulo do US, na ordem de 50% [38]. Logo em seguida foi realizada uma investigação clínica, em que o uso da estimulação ultra-sônica do calo ósseo foi avaliado em 27 pacientes portadores de pseudartrose e ou retardo de consolidação de fraturas. O índice de cura obtido foi de 70% nas pseudartroses do tipo hipertrófico. Nestes casos, houve nítida neoformação óssea, com aumento e reforço do calo periostal, acompanhado do fechamento progressivo da falha óssea [39]. O estudo de Heckman et al. [40], randomizado, duplocego, avaliou o efeito do US na cura de fraturas corticais, sendo examinadas 67 fraturas de tíbia. Os critérios clínico e radiográfico mostraram uma diminuição de 154 para 96 dias (38%) no tempo de cura de fraturas do grupo tratado com US ativo comparando-se com o grupo não tratado (placebo). Kristiansen et al. [41], também realizaram um grande estudo randomizado, duplo-cego, para testar a eficácia do US pulsado de baixa intensidade na redução do tempo de consolidação de fraturas distais do rádio de 60 pacientes. No grupo placebo demorou em média 98 dias para ocorrer a consolidação da fratura enquanto o grupo tratado com US necessitou de apenas 61 dias em média, ou seja, uma diminuição de 38% no tempo de consolidação como encontrado no estudo de Heckman et al. [40]. O mecanismo específico pelo qual o US pulsado de baixa intensidade acelera o reparo ósseo contínua tema de especulações científicas; no entanto, em termos de mecanismos físicos, o US pode exercer uma força mecânica nas células de tecidos moles no local da fratura [42]. Existem evidências que campos elétricos variáveis, com freqüência semelhante aquela do US utilizado em estimulação de crescimento ósseo, produzem aumento na incorporação de cálcio iônico intracelular em culturas de células ósseas, através da ativação de canais de transporte de cálcio do tipo L (sensíveis à variação de tensão elétrica) presentes na membrana plasmática [43]. Mais tarde, foi determinado que os canais de transporte de cálcio do tipo L também são mecano-sensíveis, ou seja, respondem a estímulos mecânicos [44]. Efeitos em processos inflamatórios literatura é conflitante quando se estuda os efeitos do US em processos inflamatórios crônicos em humanos. Falconer et Fisioterapia_v7n2.indb 146 Conclusão Embora de aplicação corrente na fisioterapia, o ultra-som é um recurso físico ainda controverso, quanto alguns dos seus efeitos e as suas interações com o meio biológico. Além disso, em algumas aplicações específicas os estudos ainda são escassos. Neste sentido, fica evidente a necessidade de mais investigações para determinar parâmetros físicos adequados e as suas interações com o meio biológico. 4/4/2006 17:05:28 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 Referências 1. Kitchen SS, Partridge CJ. A review of therapeutic ultrasound. Physiotherapy 1990;76:599-00. 2. Ter Haar G. Therapeutic ultrasound. Eur J Ultrasound 1999;9(1):3-9. 3. Geoffrey R, Harris M, Jeffrey LS. Managing musculoskeletal complaints with rehabilitation therapy: Summary of the Philadelphia Panel evidence-based clinical practice guidelines on musculoskeletal rehabilitation interventions. J Fam Pract 2002;51(12):1042–1046. 4. 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Com interesse nos conhecimentos referentes à utilização da massagem no tratamento de bebês e crianças, foi realizado um levantamento bibliográfico dos últimos trinta anos, em quatro bases de dados, a partir do qual se analisou criticamente cada texto encontrado, inclusive capítulos de livros, considerando-se a fundamentação, descrição das técnicas e efeitos fisiológicos da massagem para bebês e crianças descritos. The utilization of massage as a therapeutic resource is described since the beginning of our civilization. It produces effects over the nervous, muscle-skeleton and cardiac-respiratory systems. The physical therapist uses knowledge concerning bases and technics of massage and others. Classically massage has been prescribed for adults as a therapeutic resource and recently is being explored for its utilization and beneficial effects in children and infants. With interest to the knowledge concerning the utilization of massage for treatment of infants and children, it has been done a literature review of the last thirty years, in four databases, where each text was critically analyzed, inclusively chapters of books, considering the bases, technical descriptions and physiological effects of massage for infants and children. Key words: physical therapy, physiology, massage, child. Palavras chaves: fisioterapia, fisiologia, massagem, criança. Introdução A massagem é descrita e utilizada como recurso terapêutico desde os primórdios da nossa civilização. Classicamente a massagem vem sendo prescrita aos adultos e, mais recentemente, sua utilização e efeitos benéficos em crianças e bebês vêm sendo pesquisados. No entanto, pouco material didático foi publicado referente aos efeitos fisiológicos da massagem para bebês e crianças. Em função deste fato, este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica atualizada sobre este tema. Método Foi realizada uma revisão bibliográfica dos últimos trinta anos em quatro bases (Biological, Medline, LILACS e PsycINFO) além de busca pessoal junto a fisioterapeutas que atuam em pediatria. Desta busca resultaram doze livros que abordam o tema e dez artigos, sendo que, posteriormente, realizou-se uma seleção considerando-se somente os textos escritos com base em estudos realizados com um mínimo de rigor científico. Os efeitos da massagem para bebês em diferentes órgãos e sistemas Individualidade das reações cutâneas e massagem A pele é o mais sensível de nossos órgãos, primeiro meio de comunicação e mais eficiente protetor, pois todo corpo é recoberto pela pele, até mesmo a córnea dos olhos é recoberta por uma camada modificada de pele [1].Tanto a pele quanto o sistema nervoso originam-se da mais externa das três camadas de células embriônicas, a ectoderme (que também se diferencia em cabelo, dentes e nos órgãos dos sentidos do olfato, paladar, audição, visão e tato) [11,7]. Segundo Boigey [4], o Recebido 26 de setembro de 2005; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Fátima Aparecida Caromano, Curso de Fisioterapia da USP, Laboratório de Fisioterapia em Comportamento, Rua Cipotânea, 51 Cidade Universitária USP 05360-000 São Paulo SP, Tel: (11)30917451, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 149 4/4/2006 17:05:30 150 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 revestimento cutâneo representa individualidade biológica. Diferenças morfológicas e constitucionais, adquiridas ou hereditárias, asseguram os caracteres reacionais variáveis de um indivíduo para o outro. Cada pele reage de maneira diferente às excitações exteriores. O fisioterapeuta deve considerar sempre que a espessura dos tegumentos é diferente de acordo com as regiões do corpo e de acordo com a idade, ou seja, a pele da criança é mais fina do que a do adulto, e esta última é mais fina que a dos idosos. Esta espessura é ainda variável de um sexo para o outro, ela é maior no homem do que na mulher. A massagem ou outras estimulações diversas, agindo sobre o tegumento externo influencia as funções da pele, que apesar de múltiplas e variadas, podem ser agrupadas em funções de proteção, informação e regulação profunda, sendo tais funções, diretamente subordinadas ao sistema nervoso central [3]. A pele é um aparelho sensorial, sede do sentido tátil, o mais extenso de todos, representa uma imensa terminação nervosa exposta, por isso torna-se a origem de reflexos profundos cuja importância é fundamental. Embora o tato, a pressão e a vibração sejam freqüentemente classificados como sensações distintas, eles são, todos detectados pelos mesmos tipos de receptores. As únicas diferenças entre esses três tipos de sensação são [2]: corpos retornaram a um nível normal de proliferação de linfócitos. Em seu livro, Nielsen [6] refere que a massagem facilita uma maior resistência contra as doenças, pois um corpo que não precisa lutar contra o estresse reserva mais energia para lidar com as infecções normais. Segundo Klaus [5], o sentido do tato é ativado bem antes do nascimento, uma vez que os bebês estão cercados e em contato com fluidos e tecidos quentes desde o início da vida fetal. Após o nascimento, eles continuam a gostar de proximidade, de calor e de consolo tátil, além de responderem a outros aspectos do tato, tais como variações de temperatura, de textura, de pressão e de dor. a. A sensação tátil, que geralmente é causada pela estimulação de receptores táteis na pele ou em tecidos imediatamente abaixo da pele; b. A sensação de pressão que, por via de regra, resulta da deformação de tecidos mais profundos e, c. A sensação vibratória, que advém de sinais sensitivos rapidamente receptivos, porém algum dos mesmos tipos de receptores como os destinados ao tato e pressão são utilizados. Nos últimos anos, estudos têm confirmado a evidência de que a pele teria uma função imunológica [2,5]. Foi descoberto que a camada mais externa da pele, a epiderme, produz uma substância que é indistingüível imunoquimicamente da timopoetina (hormônio da glândula timo), que está ativa na diferenciação de linfócitos T - responsáveis pela imunidade celular. Existem milhares de linfócitos T individualmente diferentes, cada um deles capaz de reagir a um antígeno específico e destruí-lo [2]. Segundo Montagu [1], nos últimos anos começou-se a considerar os efeitos da estimulação tátil alterando as respostas fisiológica e bioquímica. Em seu livro Tocar - o significado humano da pele, o autor reúne várias pesquisas realizadas sobre de que maneira o tocar ou o não tocar produzem efeitos no organismo. Dentre os experimentos citados, dois chamam a atenção ao demonstrar a função imunológica da pele - um feito com macacos da espécie Macaca radiata e outro com a espécie Macaca nemestrina, nos quais os macacos, depois de se separarem de suas mães por duas semanas, sofreram uma supressão em seu funcionamento imunológico, sendo que, após serem devolvidos às mães, seus Fisioterapia_v7n2.indb 150 Massagem e vasomotricidade Os vasos subcutâneos contêm mais de um quarto da quantidade total de sangue. Aos impulsos vasoconstritivos de origem simpática sucedem-se sem trégua os impulsos vasodilatadores, causados por reflexos antidrômicos no ponto de partida sensitivo. O sistema nervoso, provavelmente por meio do sistema simpático, contribui para o estímulo reflexo nos vasos sangüíneos das partes consideradas; ou seja, os vasos dentro do sistema muscular ou em outros lugares, provavelmente, são esvaziados durante a massagem não apenas por serem comprimidos, mas também pela ação reflexa [3]. Segundo Wood e Becker [7], o efeito reflexo do deslizamento superficial melhora a circulação cutânea, especialmente o fluxo sangüíneo nas veias superficiais e vasos linfáticos, facilita também a troca de fluidos do tecido, aumenta a nutrição dos tecidos e remove os produtos da fadiga ou inflamação. Conforme afirmado por Cassar [8], ocorre uma melhora na circulação sangüínea e no retorno venoso, além de um aumento no volume sangüíneo e uma queda na viscosidade sangüínea, na contagem de hematócrito e na viscosidade plasmática [9,10]. Uma hipótese é a de que a massagem afeta a reologia sangüínea pelo mecanismo de hemodiluição, que é definida como um aumento no volume de plasma sangüíneo. Outro conceito alternativo é a hemodiluição ocorrer pela hiperemia reativa que se segue à massagem. Outra teoria é a de que a melhora na circulação seria obtida pela manutenção mecânica dos músculos que teria o efeito de descongestionar microvasos, de modo que o fluido plasmático estagnado dentro desses vasos seria reintroduzido na circulação geral. Costuma-se observar o desaparecimento momentâneo de edemas mecânicos das paredes abdominais e dos membros inferiores em seguida a uma sessão de massagem [4]. A massagem pode favorecer a reabsorção do líquido dos edemas e dos extravasamentos, ou mesmo colocar em equilíbrio regiões periféricas com deficiência ou estase circulatória [11,12]. Massagem e funções hormonais Boigey [4] informa que Lewis foi o primeiro a demonstrar que toda excitação da pele libera um hormônio tissular 4/4/2006 17:05:31 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 151 - a substância H - que, a exemplo da histamina, provoca a vasodilatação dos capilares; e que, para outros autores, no entanto, a substância ativa liberada na pele sob influência da massagem é bem semelhante à da colina e estimularia mais particularmente o sistema parassimpático. A colina liberada pela massagem faz sentir sua ação profundamente, isto é, na altura dos músculos esqueléticos, cujo tônus diminui quando acrescido de uma lesão qualquer. Assim, a massagem deveria a uma influência hormonal o fato de provocar a diminuição das contraturas musculares. O relaxamento profundo supostamente aumenta a estimulação parassimpática, e parece que, quanto mais relaxado o indivíduo torna-se durante e após a massagem, maior a estimulação. O hipotálamo controla a maior parte do sistema nervoso autônomo e o integra ao sistema endócrino. A massagem diminui os estados de hiperalgesia. Trata-se de uma ação da colina, que é um estimulante do sistema parassimpático. Assim, uma ampla e direta excitação dos tegumentos libera acetilcolina ou histamina. No entanto, este fenômeno é mais complexo do que parece, pois a liberação de produtos hormonais por segmentos anatômicos da pele provoca fenômenos histamínicos variáveis de acordo com cada indivíduo, com o estado de sua neurotonia e de seu equilíbrio neurovegetativo [12].5 Na prática, o que se observa é uma tensão muscular e pontos dolorosos provocados pela alteração do metabolismo local. Esta alteração em nível muscular gera um ciclo conhecido como ciclo “dor-tensão”, onde, para proteger a região dolorida, o indivíduo imobiliza segmentos corporais, aumentando a tensão muscular no mesmo, provocando mais dor e, assim, sucessivamente. Tem sido sugerido que a massagem ajuda a romper o ciclo da dor por seus efeitos mecânicos e reflexos e pela melhora na circulação [4,12]. A massagem leve, superficial, atua na dessensibilização da pele aumentando, momentaneamente, a circulação; a massagem vigorosa, profunda, quando realizada por tempo prolongado, provoca no indivíduo massageado um estado de cansaço e relaxamento, com queda da pressão arterial [4,8,9,12]. As respostas às amplas excitações dos tegumentos, transmitidas por via nervosa e humoral são infinitamente variáveis em sua intensidade de acordo com os indivíduos. Assim, a ação terapêutica em matéria de massagem deve ser realmente precisa, delicada e graduada [12]. Weininger [13] descobriu que ratos machos acariciados durante três semanas após seu desmame no 23o dia, tinham um peso médio, aos 44 dias de vida, 20 gramas a mais do que os animais do grupo controle, que não tinham recebido o mesmo tratamento. Além disso, o crescimento e as temperaturas retais dos acariciados foram mais intensificados do que o dos outros - sugerindo uma possível alteração no ritmo metabólico desses animais. Quando estes foram submetidos a estímulos estressantes (imobilização e absoluta privação de alimento e água por 48 horas) e autopsiados imediatamente depois, os ratos acariciados mostraram menos lesões nos sistemas cardiovascular e gastrintestinal do que os animais não acariciados. Para crianças internadas em unidades de terapia intensiva, foi demonstrado que a manipulação de bebês aumenta a saturação de oxigênio e com o decorrer do tempo, facilita o ganho de peso [11,14]. Foi demonstrado que uma massagem suave e firme, por 15 minutos, três vezes ao dia, em bebês prematuros, resulta em um ganho de peso aproximado de 50% (aparentemente como resultado de um nível mais elevado de hormônios gastrintestinais, os quais, por sua vez, aumentam a superfície de absorção dos intestinos para os nutrientes do leite) e em um desempenho melhor em testes de controle motor e de envolvimento com as pessoas, além de receberem alta 6 dias antes [5]. Danos cardiovasculares e outros, causados ao organismo em virtude de estresse prolongado, como Hans Selye e outros demonstraram em abundância, podem ser considerados produto terminal da atuação do hormônio ACTH (adrenocorticotrópico) – um dos hormônios secretados pela glândula pituitária que atua sobre o córtex da glândula adrenal para provocar sua secreção de cortisona. Na realização dos exames nos ratos encontraram mudança radical no funcionamento hipotalâmico, implicando na redução ou inibição de descargas simpáticas maciças em resposta a um estímulo de alarme (e, portanto, menor produção de ACTH pela pituitária). Resumindo o processo, concluíram que os animais acariciados responderam com uma maior eficiência funcional na organização de todos os sistemas do corpo, sendo que os demais animais foram, em todos os sentidos, menos aptos a enfrentarem ataques e lesões oriundos do meio ambiente [13]. Algumas substâncias neuroendócrinas têm sua produção influenciada pela massagem. Segundo Fritz [12], são elas: Fisioterapia_v7n2.indb 151 • Dopamina: influencia a atividade motora que envolve o movimento (especialmente o movimento delicado aprendido, como o de escrever), a seleção consciente(capacidade de concentrar a atenção) e o humor em termos de inspiração, intuição de possibilidade, alegria e entusiasmo. Efeitos opostos são resultantes de baixos níveis de dopamina. A massagem parece aumentar o nível de dopamina disponível no corpo. • Serotonina: permite que uma pessoa mantenha um comportamento adequado - regula o humor, atenção a pensamentos e efeitos calmantes, reduz a irritabilidade, envolve a saciedade, modula o ciclo de sono/vigília. Acredita-se que a massagem aumenta o nível disponível de serotonina • Epinefrina/adrenalina e norepinefrina/noradrenalina: a epinefrina ativa mecanismos de excitação no corpo e a norepinefrina funciona mais no cérebro. São substâncias químicas da ativação, excitação, do alerta e do alarme e em todos os comportamentos e funções de excitação simpática. Os baixos níveis destas substâncias tornam o indivíduo moroso, sonolento e com baixa reatividade. Parece que a massagem tem um efeito regulador sobre estas substâncias 4/4/2006 17:05:32 152 • • • • por meio da estimulação ou inibição do sistema nervoso parassimpático, ou seja, dependendo da resposta do SNA, a massagem pode despertar uma pessoa com facilidade e aliviar a fadiga ou pode acalmar uma outra que está furiosa, pois inicialmente o toque estimula o sistema nervoso simpático; após quinze minutos, em média, com uma estimulação sustentada é que ocorre o engajamento das funções parassimpáticas Encefalinas / endorfinas: são levantadores de ânimo que dão suporte à saciedade e modulam a dor. A massagem aumenta os níveis destas substâncias. Ocitocina: hormônio relacionado aos sentimentos de atração e de tomar conta, bem como durante a gravidez e a lactação. A massagem tende a aumentar o nível disponível desta substância Cortisol: este e outros glucocorticóides são hormônios produzidos pelas glândulas supra-renais e têm sido relacionados a sintomas e doenças associadas ao estresse, inclusive estados de imunidade suprimida, perturbações do sono e aumentos no nível da substância P. A massagem reduz os níveis destas substâncias. Hormônio do crescimento: promove a divisão celular e, em adultos, atua nas funções de regeneração e reparação de tecido. É mais ativo durante o sono. A massagem dinamiza, de maneira indireta, a disponibilidade deste hormônio, encorajando o sono e reduzindo o nível de cortisol. A produção deste hormônio foi observada em bebês que foram tocados [5]. Ação da massagem sobre o sistema nervoso O aumento nas funções autônomas é seguido por uma redução se a massagem for diminuída ou encerrada. Ao pressionar um ponto (acupressão) ocorre liberação de analgésicos do próprio corpo e as substâncias químicas de toda a classe da endorfina (alterando o humor) que estimulam respostas parassimpáticas de restauração e contentamento. A estimulação do sistema nervoso periférico pode produzir analgesia por indução de efeitos inibidores neurofisiológicos e neurohumorais no mecanismo espinal da comporta [8,12]. Pesquisas sugerem que o desenvolvimento de analgesia depende da estimulação de pontos específicos no músculo que correspondem a certos tipos de receptores musculares. Então, se a massagem ativar esses pontos numa intensidade suficiente, as fibras de diâmetro grande podem ser estimuladas impulsionando o mecanismo da comporta e a analgesia por hiperestimulação. Pode-se dizer que as sensações da massagem chegam mais rapidamente ao cérebro, e as sensações de dor são bloqueadas porque a comporta está fechada [8]. Nos casos de espasticidade (hipertonia dos músculos, que causa movimentos rígidos e descoordenados, resultantes de lesões no motoneurônio superior), paralisias (suspensão temporária ou a perda permanente da função com freqüente redução nas sensações ou fraqueza dos movimentos voluntá- Fisioterapia_v7n2.indb 152 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 rios), a massagem tem o efeito de aliviar a tensão nos músculos e estirá-los (por um curto período de tempo no caso da espasticidade), e de aumentar a circulação local e sistêmica, além de nutrir o músculo, eliminar as toxinas presentes no sistema e proporcionar um toque carinhoso. Em pacientes com seqüela de acidente vascular encefálico (AVE), auxilia na restauração das sensações, reduz a rigidez dos músculos, diminui qualquer espasmo dos vasos sangüíneos, reduz o estresse e oferece apoio emocional aos pacientes [8]. Estudos de Sullivan [15] têm demonstrado as respostas da massagem local na mudança no nível da atividade do motoneurônio espinal em sujeitos sem deficiência neurológica. Nestes estudos foram investigados os efeitos da massagem na atividade do motoneurônio espinal, através das mudanças mensuradas na amplitude do reflexo-H, uma medida indireta da excitabilidade do motoneurônio. O teste de reflexo de Hoffmann (reflexo-H) mede a atividade elétrica em sua superfície tecidual, ou seja, uma medição da excitabilidade do trajeto do reflexo espinhal. O reflexo-H registrado foi obtido do mesmo músculo antes, durante e depois da massagem. A amplitude do reflexo-H foi marcadamente reduzida durante o período da massagem em comparação com aquela obtida antes ou depois da massagem. Este achado foi interpretado como indicativo de uma redução (inibição) da atividade do motoneurônio [12]. O uso da técnica do reflexo-H fornece uma medida satisfatória da excitabilidade do motoneurônio. A redução da excitabilidade do motoneurônio (como evidenciado pelo decréscimo na amplitude do reflexo-H) observada durante a massagem fornece evidências maiores dos efeitos inibitórios de uma série de estímulos periféricos [12]. A massagem, provavelmente, fornece um input sensorial multidimensional capaz de excitar um número de receptores diferentes. A massagem ativa os receptores cutâneos e profundos do músculo. O papel do fuso muscular e do órgão tendinoso de Golgi deve ser confirmado. O fato de que a inibição foi observada somente durante a massagem de determinado músculo, confirma a especificidade da resposta e sugere que o estímulo e os receptores ativados durante a massagem são específicos do músculo que está sendo massageado [4,8,12]. Assim, os resultados não podem ser extrapolados para sujeitos neurologicamente deficientes, por exemplo, sujeitos que manifestam hiperatividade muscular reflexa [12]. Respostas musculoesqueléticas e viscerais à massagem Para Walker [16], o tronco e os ombros precisam estar completamente livres e relaxados para que a respiração aconteça com facilidade e num ritmo normal. Deste modo, indiretamente, a massagem sobre a caixa torácica, mobiliza as articulações costovertebrais e condroesternais e evita assim a rigidez das pequenas articulações, pois é a elasticidade dos músculos e a flexibilidade das articulações que permitem o pleno funcionamento dos pulmões e a livre circulação do 4/4/2006 17:05:33 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 153 sangue nas veias. E este ritmo pode mudar se os canais de respiração estiverem bloqueados ou o peito congestionado. Nielsen [6] refere que a massagem estimula a respiração e circulação sanguínea devido ao relaxamento dos ombros e do tórax tornando a respiração mais profunda e regular, propiciando maior oxigenação do sangue, com isso, estimulando a circulação. A diminuição na tensão leva à transmissão de um número reduzido de impulsos simpáticos para os músculos involuntários do trato respiratório e, à medida que as contrações musculares tornam-se mais fracas, os músculos relaxam, repousam e as vias aéreas se abrem [12]. A cavidade abdominal contém órgãos ocos muito importantes tais como o estômago, duodeno e órgãos maciços como o fígado, pâncreas, etc; além disso, contém quase a quarta parte do volume sangüíneo do corpo, ou seja, cerca de dois litros de sangue. Por isso, pode-se facilmente compreender porque a circulação geral pode ser ativada pela massagem abdominal. Dentro do abdome, cada víscera está ligada a estruturas adjacentes e/ou ao peritônio por ligamentos ou pela fáscia [5]. Então, qualquer tensão ou aderência nessas estruturas de tecido mole pode inibir os movimentos da víscera e refletir no funcionamento de outras estruturas. Por sua ação sobre os tecidos conjuntivos, a massagem pode auxiliar na mobilidade das vísceras [12]. Além dos efeitos circulatórios, existem outros como os efeitos sobre o sistema nervoso, a diurese - que é aumentada qualitativamente e quantitativamente. A massagem linfática é aplicada para ajudar a descongestionar áreas de edema, em particular a parte inferior do abdome e ajudar o sistema imunológico, que tende a estar enfraquecido [8,12,16]. A digestão pode ser beneficamente influenciada pela ação desta massagem. A massagem movimenta os conteúdos do estômago para o duodeno e acelera, assim a exoneração do intestino combatendo a constipação crônica [17]. Para Nielsen [6] a massagem estimula a digestão, elimina gazes e diminui cólica devido ao relaxamento do trato gastrintestinal. Este estímulo feito à digestão decorre de três fatores: excitação direta, ação sobre a circulação e influência nervosa [4]. É um consenso que a massagem melhora a circulação para as vísceras e causa, de forma reflexa, a contração dos músculos lisos e é provável que, direta ou indiretamente, a massagem ative as secreções glandulares no trato gastrintestinal. Cabe ressaltar, no entanto, que a massagem no abdome é contra-indicada nos casos de enterite (inflamação que atinge o intestino delgado e que pode se estender para o duodeno, estômago, jejuno e íleo) – que é uma condição que melhora rapidamente em adultos, mas pode ser fatal em bebês [12]. As regiões dorsal e lombar são região que apresentam grandes músculos, como o trapézio e o grande dorsal. A massagem estimulante desta região excita os músculos dorsais e lombares superficiais e, indiretamente exerce influência sobre os músculos escapulares. A massagem sobre esta região atua como eficiente estimulante nervoso pela excitação reflexa que exerce sobre a medula e a cadeia simpática dorsal e lombar; além de trazer efeitos sedativos sobre o sistema nervoso central e descongestiona e relaxa os músculos dorsais. Alem disso, evita a fadiga, relaxa e alonga os músculos intercostais, mantendo as costelas móveis [12]. Ao nascer, o bebê tem pouca força nesses músculos e a coluna permanece curvada (como na posição fetal mantida no útero). Massagear os músculos das costas pode estimular o bebê quanto ao ganho de extensão necessário para adquirir a posições sentada e em pé [12]. Walker [16] refere que durante os primeiros meses de vida, os bebês se recuperam de sua posição fetal e para isso esticam os músculos, abrem as articulações e coordenam os movimentos, portanto a massagem é fundamental nesta fase, uma vez que proporciona uma força de coesão que ajuda a coordenação muscular e prepara o bebê para executar atividades e habilidades físicas de forma coordenada. A massagem sobre os membros inferiores tem por principal efeito mobilizar grande massa sangüínea na direção do coração. Também atua sobre a massa sangüínea representada pelo sangue venoso e pela linfa que é empurrada para cima, na direção da raiz dos membros. Além disso, a massagem dos membros atua sobre grandes e potentes grupos musculares estimulando sua função e sua atividade, no sentido de uma maior capacidade funcional. Ao aumentar a circulação nos músculos, a massagem tem o efeito de drenar os metabólitos – incluindo ácido láctico e água [12]. Fisioterapia_v7n2.indb 153 Conclusão Pode-se verificar que a massagem produz efeitos sobre os diferentes sistemas e órgãos do nosso corpo, que desencadeiam benefícios terapêuticos significativos ainda pouco explorados na prática clínica do fisioterapeuta que atua com recém-nascidos e crianças. Alguns poucos estudos nos direcionam para programas educacionais elaborados para gestantes ou cuidadores, como babás, avós e supervisoras de creches. Desta forma, a massagem, que é um recurso simples e pouco oneroso, pode ser utilizado pelos pais e/ou cuidadores para produzir efeitos salutares e preventivos junto aos bebês saudáveis, ou ainda, ser um implemento importante na terapêutica de bebês ou crianças portadores de disfunções ou doenças. Referências 1. Montagu A. Tocar - O significado humano da pele. São Paulo: Summus; 1988. 2. Mountcastle, V. B. Fisiologia médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1982. 3. Guyton AC. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro: Interamericana; 1980. 4. 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The practitioner 1990;1487:396-7. 4/4/2006 17:05:34 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 155 Revisão Eficácia dos exercícios de Tai Chi Chuan na prevenção do risco de quedas em idosos The efficacy of Tai Chi Chuan for preventing falls in eldery Fátima de Lima Paula*, Edmundo de Drummond Alves Junior, D.Sc.**, Marco Antonio Orsini Neves, M.Sc. *** Júlio Guilherme Silva****, Dionis Machado*****, Victor Hugo Bastos, M.Sc.****** *Especialista em Gerontologia e Geriatria–UFF, **Doutor em Educação Física – UFRJ, ***Professor Pesquisador FESO, Mestre em Saúde Coletiva-UFRJ, ****Professor Pesquisador FESO – Doutorando em Saúde Mental–IPUB/UFRJ, *****Professora Pesquisadora FESO – Mestranda em Saúde Mental – IPUB/UFRJ, ******Professor Pesquisador UNIABEU / FESO – Mestre em Motricidade Humana – UCB / Doutorando em Saúde Mental – IPUB/UFRJ Resumo Abstract A prática dos exercícios de Tai Chi Chuan tem sido muito divulgada e inúmeras pesquisas buscam um melhor embasamento teórico-conceitual para a fundamentação de seus possíveis benefícios no controle postural e, conseqüentemente, na prevenção dos mecanismos de quedas em idosos. Por meio de revisão da literatura, verificou-se a relação existente entre a realização de tais atividades no equilíbrio e postura em idosos. Inúmeras pesquisas fornecem resultados significativos relacionados à redução dos episódios de quedas, de pessoas que se submeteram aos programas específicos envolvendo os exercícios de Tai Chi Chuan. Pode-se concluir que as atividades investigadas são benéficas para os idosos, particularmente no que se refere ao controle postural. Os exercícios de Tai Chi Chuan que envolvem equilíbrio, mobilidade e controle postural em idosos, devem ser específicos e respeitar as particularidades relacionadas ao nível de estabilidade funcional desses indivíduos. Tai Chi Chuan exercises have been divulged and many researches aimed a better theoretician basement of their benefits for prevention of falls in elderly. Through the literature the authors verified an association of their exercises and balance. A greater number of studies have been demonstrated the reduction of falls in elderly who practice Tai Chi Chuan. These exercises are useful particularly in postural control. They involve balance, mobility and postural control and must be specific to each particularity of functional stability in elderly. Key-words: Tai Chi Chuan, falls, postural control, elderly, rehabilitation. Palavras-chave: Tai Chi Chuan, quedas, controle postural, idosos, reabilitação. Introdução A progressão da idade contribui para alterações nos parâmetros de equilíbrio devido às mudanças do controle postural em diversos níveis [1]. Estudos têm demonstrado que indivíduos idosos apresentam uma diminuição da excitabilidade do sistema vestibular, decorrente de uma redução do número de células localizadas no utrículo, sáculo e canais semicirculares, estruturas do sistema vestibular [2,3]. Outros trabalhos têm evidenciado uma redução da atividade no sistema somestésico em decorrência de modificações estruturais progressivas, além da lentificação da freqüência de disparos nos receptores musculares, levando à redução nos mecanismos proprioceptivos e nas respostas exteroceptivas cutâneo-plantares em idosos [4-6]. O sistema visual também é afetado pela progressão da idade, principalmente no que se refere à diminuição da percepção dos movimentos. Inúmeros autores relatam que as deficiências do sistema visual influenciam diretamente o controle postural, pois as aferências visuais realizam conexões diretas com o sistema vestibular e cerebelo [7-10]. Em casos Recebido 26 de setembro de 2005; aceito em 15 de janeiro de 2006. Endereço para correspondência: Victor Hugo Bastos, Rua Silva Teles, 30 A/208 Andaraí 20541110 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2572 7766 ou (21) 8166 8013, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 155 4/4/2006 17:05:34 156 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 de deficiências nesses circuitos, a seqüência dos movimentos ficará comprometida, prolongando o tempo de reação em atividades funcionais específicas [11-14]. As eferências motoras também são comprometidas, pois os mecanismos neurogênicos levam à perda de massa muscular e diminuição do número de unidades motoras, ocasionando, conseqüentemente, uma diminuição da força muscular e flexibilidade [15]. Estas modificações fisiológicas inerentes à progressão da idade tendem a causar perturbações nas respostas motoras. Tais perturbações podem ocorrer tanto no ajuste quanto no controle postural e resultam em deficiências nas reações de equilíbrio e proteção. Este quadro predispõe a ocorrência de episódios de queda. Os exercícios de Tai Chi Chuan promovem resultados expressivos na melhora da velocidade das respostas proprioceptivas, redução do risco de quedas, aumento do controle postural, melhora da segurança e maior independência funcional para deambulação e demais atividades de vida diária [16-20]. O objetivo deste estudo foi rever a literatura científica nas bases de dados, Pubmed, MedLine, Lilacs e Scielo trabalhos relacionados à prática do Tai Chi Chuan em indivíduos idosos. Foram utilizadas as palavras chaves Tai Chi Chuan, quedas, controle postural, idosos, reabilitação. idade, além de determinados processos patológicos. Dentre as alterações patológicas podemos destacar: hipotensão postural, crise hipertensiva, síncope vaso-vagal, insuficiência vértebrobasilar, demência, neuropatia periférica, parkinsonismo e doença pulmonar obstrutiva crônica [27]. A deterioração do sistema sensorial afeta a estabilidade postural nos idosos, provocando uma diminuição na capacidade de recuperação à posição inicial, após a perda do equilíbrio [28]. Partindo do princípio que os mecanismos proprioceptivos sofrem um processo de declínio com a progressão da idade, além de sua importância para a manutenção da postura e do equilíbrio, faz-se necessária a busca de informações que reforcem a prática dessas atividades na população idosa. Alguns autores associam a alta incidência de transtornos do equilíbrio e quedas em idosos aos distúrbios provenientes das alças proprioceptivas [29]. Novos temas estão emergindo no intuito de reforçar a idéia de que as intervenções voltadas à maximização da função fisiológica são de extrema eficácia na prevenção dos distúrbios relacionados ao equilíbrio e postura [30-31]. Um programa voltado para a prevenção requer uma apreciação da complexa interação dos múltiplos fatores etiológicos e de risco que podem ocasionar as quedas [32]. A prática dos exercícios de Tai Chi Chuan tem sido considerada benéfica no que diz respeito à melhora das condições gerais de equilíbrio, controle motor e postural em idosos [33-37]. Alguns autores afirmam que tais atividades dão ênfase à percepção consciente dos movimentos corporais e pressupõem que a prática repetida tende a provocar um desenvolvimento mais apurado dos mecanismos proprioceptivos conscientes [38-39]. Estudos envolvendo a prática motora mostram que conforme a atividade é repetida ocorre melhoria nas variáveis comportamentais, ou seja, o sujeito executa a tarefa de maneira mais ágil e precisa. Alterações nestas variáveis sugerem aprendizagem e evidenciam alterações plásticas decorrentes da fixação da tarefa motora [40-41]. Alguns autores, no intuito de verificar quais componentes de um programa de exercícios são mais eficazes na redução do risco de quedas, realizaram várias abordagens de tratamento variando em freqüência, intensidade e duração. Os resultados indicaram que os exercícios de Tai Chi Chuan, em associação com treinamentos de força, equilíbrio e resistência, fornecem condições satisfatórias na diminuição do risco de quedas em idosos [42]. Um estudo envolvendo a mensuração da estabilidade estática e dinâmica por meio de uma plataforma computadorizada comparou os resultados entre os grupos de idosos praticantes e não-praticantes de Tai Chi Chuan. A plataforma registrou dois parâmetros: a estabilidade máxima (oscilação do corpo) e a medida da oscilação do tornozelo em relação ao quadril. Os resultados mostraram que não houve diferença significativa quanto ao equilíbrio estático de idosos praticantes e não-praticantes de Tai Chi Chuan. Porém, em testes mais complexos (oscilação do campo visual e oscilação da base de suporte), o grupo dos indivíduos que praticavam o Tai Chi Resultados e discussão Nos países ocidentais, cerca de 30% dos idosos sofrem quedas pelo menos uma vez ao ano, sendo que 10% destes idosos apresentam idade superior a 80 anos. Dois terços dos idosos que sofrem quedas apresentam casos de recidiva num período de seis meses após o primeiro episódio. Nos países orientais a freqüência de quedas em idosos é menor, cerca de 15% dos idosos caem uma vez ao ano e apenas 7,2% apresentam recidiva [21-25]. Segundo dados obtidos por meio do manual Guideline for the prevention of falls in older persons [26], enquanto as lesões acidentais ocupam a quinta posição entre as principais causas de morte envolvendo a população idosa, as quedas são responsáveis por aproximadamente 66% das mortes resultantes das lesões acidentais. No Brasil pelo menos 30% da população idosa sofre episódios de queda pelo menos uma vez ao ano. A participação das quedas na mortalidade proporcional por causas externas cresceu significativamente nos últimos anos em nosso país, provocando um grande declínio funcional nas atividades de vida diária e atividades funcionais, com aumento do risco de institucionalização [27]. A queda pode ser definida como um evento multifatorial, onde estão envolvidas: déficit de equilíbrio, alterações na marcha e no sistema sensório-motor, além de fatores ambientais. Os fatores de risco relacionados às quedas em idosos podem ser classificados como extrínsecos e intrínsecos. Os extrínsecos são potencialmente influenciados por fatores ambientais, tais como iluminação inadequada, superfícies desniveladas, degraus e obstáculos diversos. Os fatores intrínsecos estão relacionados às alterações resultantes da própria progressão da Fisioterapia_v7n2.indb 156 4/4/2006 17:05:35 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 157 Chuan apresentou melhores resultados na medida de estabilidade máxima. Os autores acreditam que tais resultados estejam relacionados à ativação de ajustes posturais antes e após a ocorrência de movimentos e reações de equilíbrio e proteção, diretamente associados à marcha [33]. Outro estudo observou por seis meses a eficácia de um programa de Tai Chi Chuan na diminuição do número e risco de quedas em idosos. Os participantes foram divididos em dois grupos. O primeiro era composto por indivíduos que realizaram um programa baseado nos movimentos de Tai Chi Chuan (grupo experimental) com uma freqüência de três vezes semanais, enquanto o segundo, por indivíduos que realizaram somente atividades de alongamento (grupo controle) com freqüência similar. No final do sexto mês de intervenção, os autores constataram uma redução significativa no número de quedas e nas seqüelas decorrentes das quedas no grupo experimental. Além disso, neste grupo, o risco de quedas foi 55% menor quando comparado ao controle. Os resultados obtidos se mantiveram por um período de seis meses após o término do estudo [43]. Desta forma, parece que o programa de Tai Chi Chuan mostrou-se eficiente na redução do número, risco e receio de quedas, além de melhorar o equilíbrio e desempenho físico em indivíduos fisicamente inativos, com idade igual ou superior a setenta anos. Pesquisa buscando determinar os efeitos dos exercícios de Tai Chi Chuan em mulheres idosas realizou um programa com duração de três meses e freqüência de duas sessões semanais. Os resultados demonstraram melhora em relação ao equilíbrio, mobilidade funcional e redução do receio de quedas na população estudada. Segundo o trabalho, tais exercícios podem ser considerados indicados para mulheres idosas, desde que respeitem a individualidade de cada participante [34]. É consenso que a queda é um evento de causa multifatorial de alta complexidade terapêutica e de difícil prevenção, exigindo dessa forma uma abordagem multidisciplinar. O objetivo é manter a capacidade funcional dos indivíduos, entendendo esse novo conceito de saúde particularmente relevante para os idosos como a manutenção plena das habilidades físicas e mentais, proseguindo com uma vida independente e autônoma. [27,44]. sistema músculo-esquelético, reduzindo os riscos de quedas. Os exercícios de Tai Chi Chuan têm recebido considerável atenção e estão sendo utilizados como complementares nas abordagens voltadas para déficits de equilíbrio. Estudos publicados sobre a utilização desta técnica demonstram que ela diminui o risco de quedas, e que os exercícios realizados melhoram o equilíbrio postural. Conclusão Com base na literatura pesquisada conclui-se que com a progressão da idade existe uma deterioração significativa do equilíbrio em indivíduos idosos, tornando-os suscetíveis a episódios de quedas e perda da independência funcional. Os déficits apresentados estão relacionados ao equilíbrio e podem ser tratados, por meio de programas de exercícios específicos, por um profissional especializado. De acordo com a literatura, um número considerável de estudos randomizados tem demonstrado que os programas de exercícios realizados durante a fase ativa de intervenção melhoram o equilíbrio e o Fisioterapia_v7n2.indb 157 Referências 1. Baloh RW, Jacobson KM, Scoth TM. The effect of aging on visual vestíbulo-ocular responses. Exp Brain Res 1993;95:50916. 2. Johnsson LG, Hawkins JE. Sensory and neural degeneration with aging as seen in microdissection of the inner ear. Ann. Otol. Rhinol. Laryngol 1972;81:179-93. 3. Rosenhal U, Rubin W. 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J Am Geriatr Soc 2002; 50:905-11. 4/4/2006 17:05:37 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 159 Estudo de caso Avaliação pré e pós-tratamento fisioterapêutico na disfunção temporomandibular Assessment of pre and post physical therapy in temporomandibular dysfunction Juliana de Paiva Tosato*, Daniela Aparecida Biasotto-Gonzalez, D.Sc.** *Fisioterapeuta, **Professora e Supervisora de Estágio na UMC, Coordenadora da Pós-Graduação em Terapia Manual na UMC Resumo Abstract Um sinal comumente observado nas disfunções temporomandibulares é a limitação na movimentação mandibular. Com isso, este estudo objetivou avaliar o tratamento fisioterapêutico em um paciente com limitação na abertura bucal. Para isso, um paciente do sexo masculino, 21 anos, passou por avaliação fisioterapêutica, na qual constatou-se diminuição da amplitude de movimento mandibular, deflexão à direita, tensão na musculatura mastigatória e alteração cervical. Após avaliação, iniciou-se o tratamento fisioterapêutico, que foi realizado em quatro sessões. Após o tratamento, verificou-se ganho significativo da abertura bucal (r = 0,97), da lateralidade à direita e à esquerda (r = 0,70; r = 0,92), o que demonstrou a efetividade do tratamento no paciente estudado. A common sign observed in temporomandibular dysfunctions is the limitation of mandibular movement. Thus, the objective of this study was to assess the physical therapy in a patient with mouth opening limitation. For such, one male patient, 21 years old, underwent the physiotherapeutic assessment, in which was noted a decrease in mandibular range of motion, deflection to the right, masticatory musculature tension and cervical alteration. After the assessment, physiotherapeutic treatment initiated, performed in four sessions. It was observed after treatment a significative mouth opening gain (r = 0,97), right and left lateralization (r = 0,70; r = 0,92), which demonstrated the effectiveness of the physical therapy on the studied patient. Palavras-chave: articulação temporomandibular, deflexão mandibular, disfunção temporomandibular. Key-words: Temporomandibular joint, physical therapy, mandibular dysfunction. Introdução fibras nervosas em sua parte central, e ricamente vascularizado e inervado na periferia [2,3]. O disco articular pode apresentar-se deslocado, caracterizando uma relação anormal do disco e da cabeça da mandíbula. Grossmann [5] coloca que há duas categorias básicas dessa artropatia: deslocamento anterior do disco com redução, no qual aparece estalido na abertura e no fechamento bucal, associado a um desvio da mandíbula durante seu abaixamento para o lado comprometido (a mandíbula desalinha no início da abertura e posteriormente realinha); e deslocamento anterior do disco sem redução, caracterizado por limitação na abertura da boca, e deflexão mandibular para o lado A articulação temporomandibular (ATM) constitui a ligação móvel entre o osso temporal e a mandíbula [1]. É uma articulação do tipo sinovial, que se interrelaciona anatômica e cinesiologicamente com as articulações adjacentes e da coluna cervical [2]. Entre as superfícies ósseas da ATM tem-se um disco articular, que separa o espaço articular em um compartimento superior e um inferior, não permitindo contato direto das estruturas ósseas, melhorando a estabilidade da articulação. Tal tecido fibrocartilaginoso é destituído de vasos sanguíneos e Recebido 17 de dezembro de 2004; aceito em 15 de dezembro de 2005. Endereço para correspondência: Juliana de Paiva Tosato, Rua Jacarandá, 232 Condomínio Arujazinho IV 07400-000 Arujá SP, Tel.: (11)46541840, E-mail: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 159 4/4/2006 17:05:37 160 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 comprometido no seu abaixamento (a mandíbula desalinha e mantém-se assim até o término da abertura bucal). Muitos estudos demonstram que a Disfunção Temporomandibular (DTM) apresenta etiologia multifatorial [5]. As alterações no posicionamento do disco articular podem ser um dos fatores predisponentes ao aparecimento de sinais e sintomas. Um sinal comumente observado nos deslocamentos do disco articular, assim como na disfunção temporomandibular de outras origens, é a limitação na movimentação mandibular. Para o aumento de amplitude de movimento de abertura bucal, foi visto na literatura a utilização da intervenção cirúrgica para um ganho funcional [1,3]. Israel e Roser [6] apresentam em seu estudo, após um acompanhamento de 7,5 meses pós-operatórios, um ganho médio de abertura mandibular de 5,9 mm. O tratamento fisioterapêutico já foi estudado em disfunções temporomandibulares de origem miogênica por Biasotto-Gonzalez [7], através de uma análise eletromiográfica. Em seu estudo, a massoterapia influenciou positivamente no tratamento dos pacientes. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o pré e o pós-tratamento fisioterapêutico, em um paciente com deflexão mandibular e limitação na abertura bucal. (volante cervical), mobilização unilateral da ATM, exercício de língua no palato, destração da ATM bilateral, mobilização para deslocamento anterior do disco sem redução, exercícios de lateralidade, exercícios de abertura com resistência. Após o tratamento proposto, verificou-se ganho significativo da amplitude de movimento mandibular (Tabela I). Material e métodos O campo de variação do Coeficiente “r” situa-se entre -1 e +1, sendo que sua interpretação depende do valor numérico e do sinal. Foi utilizado o valor de alfa (α) igual a 0,05 no teste estatístico para rejeitar a hipótese de nulidade. Este objetivou verificar se com o passar do tratamento, houve aumento da amplitude dos movimentos mandibulares. Analisando as medidas obtidas no decorrer do tratamento, notou-se ganho significativo na amplitude da abertura bucal (r = 0,97), na lateralidade à direita (r = 0,70) e na lateralidade à esquerda (r = 0,92). Paciente do sexo masculino, 21 anos, procurou o serviço de fisioterapia com queixa de limitação na abertura bucal há cinco meses. Na avaliação fisioterapêutica, constatou-se diminuição da amplitude de movimento mandibular, sendo esta mensurada com paquímetro. Verificou-se abertura de 27 mm; lateralidade à direita de 8 mm, e à esquerda de 5 mm. Na avaliação dinâmica, notou-se presença de deflexão à direita, sugerindo uma hipótese diagnóstica de deslocamento anterior de disco sem redução. Na palpação, observou-se tensão na musculatura mastigatória (predominantemente em masseter direito e temporal esquerdo, em esternocleidomastoideo, e trapézio superior), e maior sensibilidade em pterigóideo lateral direito. Na avaliação da oclusão, segundo Angle [8], verificou-se classe I (normoclusão). A avaliação da coluna cervical foi realizada segundo o método Maitland, sendo observado bloqueio em C3 e C5, com rotação de C3 e C5 à direita e limitação da rotação à direita. Após avaliação, iniciou-se o tratamento fisioterapêutico, com o objetivo de ganhar amplitude de movimento mandibular, diminuir a tensão da musculatura mastigatória e melhorar a postura cervical. Foram realizadas quatro sessões, em duas semanas. Durante as terapias utilizou-se massoterapia, tração cervical, pompagem cervical, mobilização cervical pelo Método Maitland [9] Fisioterapia_v7n2.indb 160 Sessão Avaliação 1ª sessão 2ª sessão 3ª sessão 4ª sessão Pearson Abertura Lat D Lat E 27 32 36 38 40 0,977 8 10 10 10 10 0,707 5 8 8 10 10 0,926 Após as mensurações realizadas na avaliação e ao término de cada sessão, foi calculado o grau de correlação entre as variáveis colhidas. Para se medir e avaliar o grau de relação existente entre as duas variáveis aleatórias foi utilizado o Coeficiente de Correlação de Pearson [10]. Para o cálculo deste coeficiente utilizou-se a seguinte fórmula: Discussão As disfunções temporomandibulares apresentam origem multifatorial, e as alterações capazes de interferir na Articulação Temporomandibular são diversas, uma vez que a ATM é vulnerável tanto a fatores intrínsecos como extrínsecos [11,12]. Silva [5] expõe que não é possível reconhecer um único fator etiológico desencadeante de DTM, sendo que esta é originada por associação entre fatores psicológicos, estruturais e posturais, que desequilibram a oclusão dentária, os músculos mastigatórios e a articulação temporomandibular em si. No caso aqui exposto, verificou-se alteração articular e muscular. Sendo assim, a busca de medidas terapêuticas que acelerem a recuperação do paciente é de grande valia. A fisioterapia apresenta diversos recursos capazes de diminuir a dor, melhorar a condição muscular, ganhar amplitude de movimento e 4/4/2006 17:05:38 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 adequar a funcionalidade mandibular. No paciente em questão, o tratamento fisioterapêutico foi significativamente benéfico, devido principalmente ao ganho de abertura bucal funcional sem dor em pouco tempo, quando comparado ao de outros estudos. Jagger [13] tratou doze pacientes através de manipulação mandibular, apresentando ganho de oito milímetros na abertura bucal. Israel e Roser [6] obtiveram aumento de 5,9 milímetros de abertura bucal, em sete meses e meio, com 24 pacientes que passaram por artroscopia da ATM. Além disso, o mau posicionamento da coluna cervical influencia diretamente na face, agindo na relação entre o maxilar superior e a mandíbula [1,14] o que justifica a importância de se tratar também a coluna cervical do paciente com disfunções temporomandibulares. No caso aqui exposto, a intervenção na coluna cervical através do método Maitland [9] teve grande contribuição para a recuperação da função mandibular, que foi obtida em pouco tempo. Conclusão Frente aos resultados obtidos, notou-se ganho significativo da abertura bucal, sem dor, o que demonstrou a efetividade do tratamento fisioterapêutico no paciente estudado. Referências 1. Rocabado M. 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A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. tizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 2. Artigos originais 7. Resumos São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 1. Editorial 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sinte- Fisioterapia_v7n2.indb 162 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 4/4/2006 17:05:39 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos Fisioterapia_v7n2.indb 163 163 utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros – Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: Livro: May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986 Capítulo ou parte de livro: Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua da Lapa, 180/1103 – Lapa 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel.: (21) 2221-4164 E-mail: [email protected] 4/4/2006 17:05:40 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 2 - março/abril de 2006 164 Calendário de eventos Julho 2006 Abril 28 de abril a 1 de maio 40º Encontro Nacional de Atividade Física, Fisioterapia e Nutrição Poços de Caldas, MG Informações: (35) 3712-7000, E-mail: [email protected] Maio 10 a 15 de julho XII Encontro nordestino dos estudantes de fisioterapia Centro de Convenções – Maceió, AL Informações: [email protected] Informações: Comunic Eventos, (82) 3325-3468/33257590 Setembro 12 a 14 de maio IIº Congresso Goiano de Fisioterapia Castro´s Park Hotel – Goiânia, GO Informações: [email protected] 6 a 9 de setembro 13º Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva Unicenp – Curitiba, PR Informações: www.sifr2006.com.br 13 e 14 de maio Conceito Bobath no Tratamento da Hemiplegia Ministrante: Drª. Monika Müller Hotel Flórida – Rio de Janeiro, RJ Informações: CAPEMS [email protected] Jorge Gomes (21) 9606-2633 13 a 16 de setembro XII Congresso Latinoamericano de Fisioterapia e Kinesiologia Bogotá, Colômbia E-mail: [email protected] 25 a 27 de maio XXVII Congresso da Sociedade de cardiologia do Estado de São Paulo XII Simpósio de Fisioterapia Campos do Jordão, SP Informações: www.socesp.org.br 22 e 23 de setembro III Congresso Brasileiro de Fisioterapia da Escoliose UniFMU – São Paulo, SP Informações: www.escoliose.fst.br, [email protected], (11) 3283-1157 Junho 2 a 4 de junho IV Simpósio Carioca de Fisioterapia Hotel Glória – Rio de Janeiro, RJ Informações: www.rbcfisioterapia.com.br Tel: (21)3273-2210 15 a 18 de junho 19º Congresso Paulista de Educação Física Jundiaí, SP Informações: (11) 4587-9611 23 a 25 de junho Congresso Internacional de Fisioterapia e Terapia Manual Hotel Gloria, Rio de Janeiro Informações: (21) 9449-0372, [email protected] 29 de junho a 1 de julho Cardiovascular Prevention 2006 / Setting up a Rehabilitation Clinic Sophia-Antipolis, France Informações: [email protected] Fisioterapia_v7n2.indb 164 Outubro 6 a 9 de outubro V CONNEFI – Congresso Norte Nordeste de Fisioterapia Hotel Tropical – Manaus AM Organização: SOAMFI (Sociedade Amazonense de Fisioterapia) Informações: Adriana (92) 8812-7674, Dr. Marcos Cortez (92) 8111-1030, www.soamfi.org. 18 a 21 de outubro 6th Mediterranean Congress on Physical and Rehabilitation Medicine Algarve, Portugal Informações: [email protected] 24 a 27 de outubro I Congresso Internacional de reabilitação neuromusculoesquelética e esportiva Hotel Rio Othon Palace, Rio de Janeiro Informações: www.congresocirne.com.br, (21) 2233-0506 4/4/2006 17:05:41 Fisioterapia Brasil (vol.7, nº3 maio/junho 2006 - 165~244) EDITORIAL Tudo bem, mas nada presta ou a lógica do “sem sentido”, Marco Antonio Guimarães da Silva .............................................. 167 ARTIGOS ORIGINAIS Avaliação da capacidade vital pela ventilometria em crianças saudáveis do sexo masculino de 7 a 11 anos, Beatriz Vidotto Imhof, Daniel Benedet Juk, Gisele Cristina de Souza, Giselle Fernanda Quintino Beckert, Lilian Cristina Cruz, Mariane Bernardes, Rodrigo Vielmo Brocca, Karen Muriel Simon, Marta Fioravanti Carpes ............................................................................................................................ 168 Estudo correlacional entre lombalgia e concavidade lombar em universitários, Mario Antonio Baraúna, Márcio Vinícius Batista Mendes, Gustavo Simões Barbosa, Hugo Machado Sanchez, Ruiz Ângelo Ventura Silva, Frederico Pereira Montes, Kellen Gonçalves Garcia, Thaíse Cristina Davi de Miranda, Cristiane Marques Batista Makhoul, Eliane Gouveia de Morais, Vladimir Vasconcelos Ribeiro Scarpa ................................................................................................. 172 A incidência da doença de Parkinson em idosos na assistência de condutas e comportamentos motores em domicílios do Rio de Janeiro, Ana Luzia Batista Góis, Heron Beresford ................................................................ 177 Avaliação cardiorespiratória em mulheres com lupus eritematoso sistêmico, Leandra Gonçalves Lima, Marcos Aurélio Ogando de Oliveira .................................................................................................... 181 Avaliação de dois modelos de tábua proprioceptiva com dois tipos de apoios por meio da eletromiografia de superfície, Flávio Boechat Oliveira, Roger Hungria de Paula, Carlos Gomes de Oliveira, Estélio H M Dantas .......................................................................................................................... 187 Análise comparativa da força muscular respiratória entre idosas institucionalizadas e não institucionalizadas, Rodrigo Polaquini Simões, Marco Antonio Auad, Jadiane Dionísio, Marisa Mazzonetto .......................................................................................................................................... 191 Efeitos de um treinamento de alongamento sobre a força dos músculos isquiotibiais, Fernanda Corbellini, Marcelo La Torre, Mônica de Oliveira Melo, Cláudia Tarragô Candotti .................................................... 197 Avaliação do pico de torque excêntrico e concêntrico dos músculos rotadores do ombro em tenistas juvenis, João Ricardo M. dos Santos, Márcio C. Antonelo, Rafael de Barros S. Coelho, Ricardo Takahashi, Fábio V. Serrão................................................................................................... 204 Influência da fisioterapia nas alterações motoras em crianças com paralisia cerebral, Andréia Pedrosa Mota, João Santos Pereira ................................................................................................................................. 209 Importância da intervenção fisioterapêutica precoce na correção da incontinência urinária masculina pós-prostatectomia, Carina Tárzia Kakihara, Ubirajara Ferreira, Nelson Rodrigues Netto Jr ............................................................................................................................ 213 Repercussão atual das lesões músculo-esqueléticas sofridas pelas ginastas durante suas carreiras na ginástica rítmica, Raquel Petry, Elirez Silva ..................................................................................................... 219 Estimulação e aquisição do controle cervical e do rolar por meio do método Halliwick associado ao conceito Bobath, em crianças com atraso motor, Pamela Falco dos Santos, Márcia Cristina Bauer Cunha, Renata Calhes Franco .......................................................................... 224 REVISÃO Atuação do fisioterapeuta na sala de parto normal, Tainá Colombo Santos, Mirna Souza dos Anjos ....................................... 229 ESTUDO DE CASO Efeito da estimulação elétrica neuromuscular em paciente com paralisia cerebral do tipo espástica, Mário Oliveira Lima, Sérgio T. T. de Freitas, Fernanda Púpio Silva Lima, Charli Tortoza, Rodrigo Alvaro Brandão Lopes-Martins ............................................................................................................. 235 NORMAS DE PUBLICAÇÃO .........................................................................................................................................240 fisioterapia_v7n3.indb 165 3/7/2006 19:03:40 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 166 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Editor assistente Dra. Noemi Damasceno de Oliveira Conselho científico Prof. Dr. Dirceu Costa (Unimep – São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Prof. Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti – Paraná) Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Prof. Dr. José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO – Rio de Janeiro) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU – Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba – UFPB – João Pessoa) Profº Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR – São Paulo) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE – Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Grupo de assessores Dr. Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (UNIRB – Bahia) Prof. Dr. Paulo Heraldo Costa do Valle (UNICID – São Paulo) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde Rio de Janeiro Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ Tel./Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Antonio Carlos Mello Praça Ramos Azevedo, 206/1910 01037-010 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3362-2097 Recife Monica Pedrosa Miranda Rua Dona Rita de Souza, 212 52061-480 – Recife – PE Tel.: (81) 3444-2083 / 9204-0346 E-mail: [email protected] Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Assinaturas 6 números ao ano: Brasil - 1 ano: R$ 180,00 América Latina - 1 ano: US$ 180,00 Europa - 1 ano: 180,00 Colaboradoras da Redação Ingrid Haig Guillermina Arias Atendimento ao assinante Edilaine Silva [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço por correio ou por e-mail aos cuidados de Jean-Louis Peytavin Rua da Lapa, 180/1103 20021-180 – Rio de Janeiro – RJ [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Ilustração da capa: Músculos do membro inferior, ilustração de G. Devy, Traité d’anatomie humaine de Leon Testut, Paris, 1904. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. fisioterapia_v7n3.indb 166 3/7/2006 19:04:06 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 167 Editorial Tudo bem, mas nada presta ou a lógica do “sem sentido” Marco Antonio Guimarães da Silva,Med.Dr.Sci. [email protected] O término de um curso de graduação ou de pós-graduação, a inserção no mercado de trabalho, o reconhecimento de nossa competência ou a conquista de algo que esperávamos nos trazem bons sentimentos. Não, necessariamente, vivemos felizes; entretanto, diante de algumas satisfações que incorporamos ao nosso cotidiano, consideramo-nos pessoas felizes ou emocionalmente neutras. E assim podemos viver toda uma vida, levando... Por outro lado, a dura realidade do contexto social, traduzida por uma violência urbana altamente exacerbada, por corrupções em todas as esferas, pelo des-trato da coisa pública, pelo descaso e incompetência dos políticos e governantes, deveria nos dar razões suficientes para anularmos qualquer motivo para sermos felizes ou mesmos para encararmos os fatos com neutralidade. O sim de nossa aquiescência a um aparente ou real conforto, gerado por ações bem sucedidas no plano pessoal, e o não da recusa ou o imobilismo para criar e gerar ações públicas que detenham a quantidade de ações ruins, cometidas na sociedade em que vivemos, nos torna protagonistas de um cotidiano capaz de superar até mesmo o absurdo retratado nas peças teatrais de um Ionesco ou de um Becket. Perdemos a capacidade de reflexão e vivemos em estado de verdadeira catatonia social, como rãs submetidas à intoxicação de um poderoso veneno neurotóxico de uma serpente; imobilizadas e à espera de serem digeridas pelas enzimas do vil réptil. Perdemos, também, a capacidade de construir sistemas simbólicos ou sistemas de pensamento que possam subverter nossas necessidades básicas e criar necessidades não existentes na natureza. Restou-nos, apenas, a condição apresentada por qualquer animal, a de apossarmo-nos da realidade já existente e adaptarmo-nos à mesma para sobreviver. A nossa realidade acabou por enviar para a mais distante galáxia a idéia piagetiana construtivista da concepção da formação da inteligência e os correlatos substratos psicanalíticos para a construção do conhecimento. A lógica é a ferramenta da coerência, e parece que, no presente caso, subvertemos a lógica ao aceitar a real contradição, acima citada, entre o plano pessoal e coletivo. Não temos coerência; logo, não possuímos lógica. O atomismo lógico (investigação lógica da realidade, defendida pelos filósofos do Círculo de Viena, especialmente Wittgenstein) não consegue oferecer substrato para entender tal situação, e tampouco a metafísica (que admite certos a priori da mente) também o consegue. Nesse sentido, em um plano abstrato, podemos nos consolar com o texto de Lewis Carrol (Charles Dogson) – 18321898. Sua mais famosa obra – Alice no país das maravilhas – é um conto fantástico com direito a todos os personagens clássicos de contos infantis (caminhos inusitados, pílulas mágicas, animais falantes etc). Mas a importância de Alice resulta da dupla originalidade: a de ser um conto, em que o mais importante não é o que acontece, e sim o que se fala; um conto em que o autor-poeta é superado, ou melhor, auxiliado pelo professor-matemático, interessado na metalinguagem, que utiliza a transgressão lógica como uma terapia hipnótica. Alice pretende chegar à lógica por meio da incoerência e do absurdo. A obra de Carrol é uma excelente e lúdica iniciação ao mundo da lógica, através da demonstração de falácias, de contradições, de incongruências e paradoxos. Lamentável saber que a obra que escrevemos diariamente, com as tintas das omissões e incoerências, só tem nos conduzido a uma única lógica: a lógica do sem sentido. A esta altura, você, que conseguiu chegar ao fim desta leitura, deve estar se perguntando: mas que diabos tem a ver o tema levantado neste artigo com um periódico de fisioterapia ? Eu diria que nada tem a ver, que não faz sentido, que é totalmente ilógico. Fazer sentido, ter lógica! É necessário? *Professor da UFRRJ e de curso de Doutorado recomendado no exterior e Editor cientifico da Revista Fisioterapia Brasil fisioterapia_v7n3.indb 167 3/7/2006 19:04:07 168 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Artigo original Avaliação da capacidade vital pela ventilometria em crianças saudáveis do sexo masculino de 7 a 11 anos Evaluation of the vital capacity by ventilometry in healthy male children 7 to 11 years old Beatriz Vidotto Imhof*, Daniel Benedet Juk*, Gisele Cristina de Souza*, Giselle Fernanda Quintino Beckert*, Lilian Cristina Cruz*, Mariane Bernardes*, Rodrigo Vielmo Brocca*, Karen Muriel Simon**, Marta Fioravanti Carpes*** *Acadêmicos do curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, **Fisioterapeuta, Professora orientadora do Trabalho de Conclusão do Curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, ***Fisioterapeuta, Professora coorientadora do Trabalho de Conclusão do Curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI Resumo Abstract Com o crescimento, a função respiratória na criança revela modificações nítidas da função pulmonar. Com o objetivo de avaliar a capacidade vital e relaciona-la com o peso, estatura e idade em crianças do sexo masculino na faixa etária de 7 a 11 anos que freqüentavam uma escola particular em Itajaí, SC, foi coletado o valor da capacidade vital (CV), através da ventilometria, o peso e a estatura. O valor médio da capacidade vital foi 2,38 litros ± 0,11. O coeficiente de correlação simples da estatura em relação a CV foi de r = 0,694; idade em relação a CV, r = 0,644; peso em relação a CV, r = 0,642. O coeficiente de correlação simples evidenciou que os volumes pulmonares têm relação com as variáveis estatura, idade e peso. A estatura é a variável que mais interfere em volumes pulmonares e apesar de escassa, a literatura disponível confirmou um volume normal para esta faixa etária. With growing, the child’s respiratory function shows clear modifications in the pulmonary function. Aiming the evaluation of the vital capacity and relating it to the weight, size and age in male, private-school students between 7 and 11 years old in Itajaí, SC – Brazil, the vital capacity was collected with the use of ventilometry, the weight and height. The average value of the vital capacity (VC) was 2,38 liters ± 0,11. The simple correlation coefficient of the height in relation to VC was r = 0,694, age in relation to VC, r = 0,644 and weight in relation to VC, r = 0,642. The simple correlation coefficient made evident that the pulmonary capacity is related to the size, age and weight. The height is what mostly interferes in pulmonary capacity and the bibliography available, in spite of being rare, confirmed it as a normal capacity for such ages. Key-words: vital capacity, ventilometry, growing. Palavras-chave: capacidade vital, ventilometria, crescimento. Introdução A função básica do sistema respiratório é prover o organismo com oxigênio e dele remover produtos metabólicos como o gás carbônico. Esta função de constante renovação de ar é assegurada pelo movimento do tórax [1,2]. O tórax é constituído, pelo esterno, pelas costelas e por cartilagens condroesternais, todas revestidas e intercaladas por músculos esqueléticos. Expande-se na fase inspiratória com a contração dos músculos inspiratórios, e retrae-se na fase expiratória com ação das forças elásticas do parênquima pulmonar e participação de músculos expiratórios numa expiração forçada [3]. Durante a inspiração, a ação muscular inspiratória provoca um aumento das dimensões vertical e horizontal da caixa torácica, diminuindo, portanto, a pressão intrapleural, que passa a ser mais negativa, de -5 cm H2O para –7 cm H2O, assim, esta negatividade da pressão intrapleural faz com que Recebido 14 de junho de 2004; aceito 15 de março de 2006. Endereço para correspondência: Karen Muriel Simon, Rua Nakle Francisco, 343, Centro 88330-000 Piçarras SC, Tel: (47) 9102-2731, E-mail: [email protected] fisioterapia_v7n3.indb 168 3/7/2006 19:04:08 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 169 os alvéolos se expandam, mobilizando uma quantidade de volume de ar para o seu interior [4,5]. Esta dinâmica da caixa torácica e do parênquima pulmonar, que consiste em aumentar os volumes inspiratórios, relativa à quantidade de força gerada pelos músculos inspiratórios, denomina-se de complacência total do sistema respiratório e pode ser alterada por distúrbios que afetam a complacência pulmonar, da parede torácica ou ambas [1,2,6]. Ferreira [7] afirmou que a expansibilidade torácica tem uma relação positiva quando relacionada as medidas de força muscular (Pimax e Pemax). Com o máximo movimento da caixa torácica, seguida de expiração total, tem-se uma mobilidade máxima, fornecendo um volume de ar para os pulmões, denominado de capacidade vital [1,2,4,5]. É importante ressaltar que a complacência torácica e pulmonar sofre alterações desde o nascimento até o envelhecimento. Afirma Marcondes [8] que estas transformações anatômicas, tornam-se muito mais intensa na fase do estirão da criança e Mallozi [9] cita que no período dos 6 aos 18 anos aproximadamente, a relação crescimento pulmonar e seus ganhos em volumes pulmonares apresenta um aumento progressivo das dimensões lineares e função pulmonar. Ao nascimento, o diâmetro antero-posterior e transverso dos arcos costais com a coluna vertebral são praticamente perpendicular; com o crescimento, passam a ter uma angulação oblíqua e quando a partir dos sete anos de idade, o tórax assemelha-se ao do adulto. Essas transformações anatômicas proporcionam uma melhor biomecânica torácica e melhor ventilação pulmonar [10]. Durante o crescimento, também ocorrem alterações biológicas que implicam em crescimento corporal, da caixa torácica, viscera pulmonar e vias aéreas. Shepherd [11] afirma que, da primeira infância à idade adulta, o número de alvéolos e bronquíolos aumenta em dez vezes, e a superfície alveolar em vinte vezes, assim a função respiratória da criança revela modificações nítidas quer do volume de ventilação pulmonar, quer da capacidade vital e da capacidade máxima respiratória. E, segundo Pryor et al. [12] este crescimento das vias aéreas vai até aproximadamente oito anos de idade. Existem diversos fatores que modificam a função pulmonar. Dentre eles tem-se a estatura, idade, peso; o sexo, raça, localização geográfica, atividade física, o fumo, a posição do corpo [13]. Estenne et al. [14] em seu estudo analisou a diferença da idade e da posição postural na dinâmica a torácica e abdomediafragmática. Verificando que os homens tem geralmente capacidade vital pulmonar maior que as mulheres, indivíduos altos e magros também apresentam a capacidade vital maior que os obesos, e os adultos, volumes pulmonares maiores que as crianças. Em 1995, Chowgule et al. [15] observou a função pulmonar em crianças indianas normais, que mostrava uma correlação linear positiva com a estatura e idade em relação a capacidade vital forçada. A capacidade vital média foi de 2,54 litros para a população masculina de dez anos de idade, estatura de 150 cm e peso de 40 kg. Vijayan et al. [16] encontrou uma capacidade vital de 2,59 litros, também em crianças de 10 anos de idade e 150 cm de estatura. Em 2000, Vijayan et al. [16], analisou a função pulmonar em crianças indianas de 7 a 19 anos de idade. A média de capacidade vital foi de 2,43 ± 0,07 litros. Para esta amostra houve uma correlação Capacidade Vital Forçada em geral mais alta com a estatura seguido de peso e idade. Gondwe et al. [17] observaram em 85 crianças africanas de estatura média 125 cm uma capacidade vital de 1,49 ± 0,25 litros. Para a população brasileira no estudo de Mallozi [9] a média da CV em crianças do sexo masculino, de 7 a 11 anos de idade, foi de 2,068 litros; com limite inferior e superior da estatura respectivamente de 110 cm e 147 cm. Diante destas informações, demonstra-se que as variáveis: estatura, idade e peso são fatores de variação volumétrica durante o crescimento. Assim, torna-se necessária uma avaliação física respiratória considerando as funções vitais de ventilação e respiração desempenhada pelos pulmões em crianças [10,18]. Para registro dos volumes e capacidades pulmonares, pode ser utilizado a ventilometria, um recurso de fácil acesso e fácil interpretação dos resultados. A técnica de ventilometria registra no marcador do ventilômetro, a quantidade de ar máxima que é possível expelir dos pulmões após uma inspiração máxima [19]. É realizado através de uma manobra de capacidade vital forçada, com o intuito de avaliar a capacidade dos pulmões de moverem rapidamente grandes quantidades de ar [4]. Este trabalho objetivou verificar a capacidade vital e relacionar esta em relação a estatura, peso e idade, em crianças saudáveis do sexo masculino com faixa etária entre 7 e 11 anos, em uma instituição particular de ensino fundamental em Itajaí-SC. fisioterapia_v7n3.indb 169 Material e método O estudo da função pulmonar em crianças saudáveis do sexo masculino de faixa etária de 7 a 11 anos, foi aprovado pela comissão de ética em pesquisa da Universidade do vale de Itajaí, resolução196;96. O estudo foi realizado no Colégio Salesiano Itajaí, situado no município de Itajaí – SC, no período de 1º março a 31 de maio de 2003. A população abrangeu 123 indivíduos do sexo masculino, matriculados de 1ª a 8ª séries, na instituição citada anteriormente. O critério de inclusão consistiu em ser voluntário, saudável, sexo masculino, idade entre 7 e 11 anos, com estatura entre 1,20 cm e 1,60 cm e peso entre 25 e 50 kg, não possuir nenhuma patologia respiratória e ortopédica diagnosticada e ter o termo de consentimento assinado pelo responsável. 3/7/2006 19:04:08 170 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 O critério de exclusão compreendeu os meninos que eram incapacitados de colaborar ou entender o procedimento, o não comparecimento da criança, ou até mesmo alguma alteração diagnosticada na data em que se procedeu a coleta. Tratou-se de uma pesquisa censitária com o grupo selecionado conforme os critérios de inclusão e exclusão. Os materiais utilizados foram: • Ventilômetro e clip nasal. • Ficha de coleta de dados. O procedimento para a coleta consiste em: indivíduo em sedestação, com o tórax desnudo, posição vertical e os membros superiores ao longo do corpo. Foi solicitado para que os participantes fizessem uma expiração máxima partindo de uma inspiração profunda. Utilizou-se um clip nasal para que não houvesse escape de ar pelo nariz e verificou-se a capacidade vital pela ventilometria. A estatura e o peso foram verificados com os indivíduos em posição ortostática, em uma balança Bankart, para medidas em centímetros e quilogramas, respectivamente. Os dados foram coletados sempre pelo mesmo examinador. Para análise estatística foi utilizado o teste de correlação simples da capacidade vital em função da estatura , peso e idade e o teste t para as correlações, considerando a correlação estatisticamente significativa com p < 0,05. Gráfico 2 - Regressão da capacidade vital em função da idade. A relação da estatura e do peso com a capacidade vital estão representados nos gráficos 3 e 4. Gráfico 3 - Regressão da capacidade vital em função da estatura Resultados Entre os 121 indivíduos do sexo masculino inicialmente selecionados para estudo, foram excluídos 30 indivíduos da análise de dados sendo 26 por apresentarem patologias respiratórias e 4 por terem mais de 11 anos e “iniciarem” a fase do estirão. Assim foram analisados a amostra 91 dos 121 indivíduos, que cumpriram todos os critérios de inclusão previamente definidos no termo de consentimento. Os dados de capacidade vital e mobilidade torácica foram obtidos na postura sentada. A média de idade foi de 8,96 ± 1,32 anos, a média de peso foi de 33,23 ± 7,07 kg e a média de estatura foi de foi de 1,37 ± 0,08 m, nos indivíduos estudados. A média da capacidade vital em relação a diferentes idades está apresentada no Gráfico 1, a relação capacidade vital e idade está no Gráfico 2. Gráfico 4 - Regressão da capacidade vital em função do peso. Gráfico 1 – Capacidade vital em diferentes idades. Discussão A ventilação pulmonar é um fator primordial na fisiologia do sistema respiratório, assim, é de grande importância que um indivíduo tenha uma perfeita ventilação pulmonar. Para isso é necessário que haja integridade das estruturas da caixa torácica e parênquima pulmonar, caso contrário na presença de deformidades da parede torácica, doenças fisioterapia_v7n3.indb 170 3/7/2006 19:04:09 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 171 neuromusculares pode ocorrer um comprometimento da função respiratória. Em relação ao crescimento pulmonar e seus ganhos em volumes pulmonares, verificamos pela equação de regressão que houve um aumento progressivo das dimensões lineares e função pulmonar para esta faixa etária, comportamento semelhante ao observado por Mallozi [9]. O volume pulmonar representado pela variável capacidade vital, aumenta em 0,047 litros para cada ano de idade na faixa etária de 7 a 11 anos (Gráfico 2), demonstrando assim a influencia da idade, com o crescimento, na função pulmonar. Como a idade, a estatura e o peso também influenciaram no aumento de capacidade vital. Para cada centímetro que se ganha de estatura tem-se um ganho de 0,096 litros de capacidade vital (Gráfico 3). Para cada kg que se aumenta tem-se um ganho de 0,015 litros de capacidade vital (Gráfico 4). Similar a idéia de Vijayan et al. [16] e Chowgule et al. [15], este estudo mostrou uma correlação positiva da capacidade vital quando associado a idade, estatura e peso (Gráficos 2, 4 e 5) na população de meninos de 07 a 11 anos. A correlação para esta faixa etária foi maior, para capacidade vital, quando relacionada a estatura (r = 0,694) (p < 0,05); a correlação para as variáveis idade e peso foi respectivamente (r = 0,644) (p < 0,05); (r = 0,642) (p < 0,05), afirmando assim a forte influencia da estatura nos volumes pulmonares. Para as diferentes idades não houve diferença significativa para capacidade vital, as crianças apresentavam médias de estatura e capacidade vital semelhantes, permanecendo dentro de uma faixa etária em que as dimensões e funções pulmonares permaneciam lineares, não sendo verificado, então, a fase de estirão nestes indivíduos. A média da capacidade vital encontrada neste estudo nas crianças em sedestação foi de 2,38 litros ± 0,11; inferior a média encontrada em estudos realizados por Vijayan et al. [16] e Chowgule et al. [15], em crianças do sexo masculino de 10 anos de idade, estatura de 150 cm e peso de 40 kg. isso devido a participação de uma amostra, no presente estudo, com idades inferiores a dez anos e segundo Shepherd [11] a função respiratória da criança revela modificações nítidas do volume durante o crescimento. Para apenas a amostra de dez anos de idade estatura e peso respectivamente 145centimetros e 36,55 kg este estudo encontrou uma capacidade vital média de 2,52 ± 0,35 litros, indo ao encontro aos autores Vijayan et al. [16] e Chowgule et al. [15]. A média de volume encontrado em nosso estudo foi inferior a média encontrada por Vijayan et al. [16], isto devido a utilização de amostra com idades superiores a onze anos e diferentes sexos. Gondwe et al. [17] observaram uma capacidade vital para uma amostra de raça negra que foi inferior ao nosso estudo. Segundo o consenso de espirometria [13] há modificações das estruturas anatômicas e ganho de volumes pulmonares pelas variáveis sexo e idade e raça. Foi sugerido que os volumes pulmonares tem uma diminuição de até 10 a 15% na raça negra. Para a população brasileira no estudo de Mallozi [9] a média da CV em crianças do sexo masculino e 7 a 11 anos de idade foi inferior ao nosso estudo. O autor trabalhou com uma amostra da cidade de São Paulo que tinha uma média inferior de estatura, quando comparada à nossa amostra. fisioterapia_v7n3.indb 171 Conclusão O coeficiente de correlação simples evidenciou que a capacidade vital têm relação com as variáveis estatura, peso e idade, com correlação estatisticamente significativas. A estatura foi a variável que mais interferiu em volumes pulmonares. A capacidade vital observada para esta faixa etária e comparado a outros autores é normal. Referências 1. Guyton A et al. Tratado de fisiologia médica. 9 ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 1997. 2. 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East African Medical Journal 2001:78:14-8. 3/7/2006 19:04:10 172 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Artigo original Estudo correlacional entre lombalgia e concavidade lombar em universitários Correlational study between low back pain and lumbar lordosis in students Mario Antonio Baraúna*, Márcio Vinícius Batista Mendes**, Gustavo Simões Barbosa***, Hugo Machado Sanchez****, Ruiz Ângelo Ventura Silva*****, Frederico Pereira Montes**, Kellen Gonçalves Garcia***, Thaíse Cristina Davi de Miranda***, Cristiane Marques Batista Makhoul******, Eliane Gouveia de Morais**, Vladimir Vasconcelos Ribeiro Scarpa******* *Fisioterapeuta, Doutor em Motricidade Humana, docente do Programa de Pós-graduação (Mestrado em Fisioterapia) da UNITRI – Centro Universitário do Triângulo, **Fisioterapeuta, graduado na UNITRI – Centro Universitário do Triângulo, especialista em acupuntura, ***Fisioterapeuta, graduado na UNITRI – Centro Universitário do Triângulo, ****Fisioterapeuta, Mestrando em Fisioterapia pela UNITRI – Centro Universitário do Triângulo, bolsista CAPES, *****Fisioterapeuta, Mestre em Fisioterapia pela UNITRI – Centro Universitário do Triângulo, ******Fisioterapeuta, docente do curso de Estética da UNITRI – Centro Universitário do Triângulo, *******Engenheiro Eletricista, Mestrando em Eletrônica de Potência pela UFU - Universidade Federal de Uberlândia Resumo Abstract A lombalgia é uma patologia que acomete 80% da população em alguma época da vida, sendo uma queixa comum a ambos os sexos. Posto isto, objetivou-se no presente estudo correlacionar à dor lombar com a concavidade lombar em universitários do Centro Universitário do Triângulo – UNITRI. A amostragem foi composta de 100 voluntários (85 mulheres e 15 homens), sedentários, com dor lombar, na faixa etária entre 18 a 35 anos, nos quais foram aplicados ficha de avaliação com critérios de inclusão e exclusão. Como instrumento de avaliação utilizou-se a escala analógica visual da dor e o cifolordômetro para quantificação da curvatura lombar. Através da análise estatística verificou-se que não houve correlação entre a lombalgia e a curvatura lombar e que, no transcorrer da idade a dor lombar evidencia-se, para ambos os sexos. Além disso, verificou-se haver uma tendência do sexo feminino apresentar a concavidade lombar maior que o sexo masculino. The low back pain is a pathology that acquires 80% of the population at some time of the life, being one common complain to both the sex. Was aimed in the present study to correlate lumbar pain with the lumbar concavity in students of the University Center of Triangle – UNITRI. The sampling was composed of 100 volunteers (85 women and 15 men), sedentary, with lumbar pain, 18-35 years old, in which had been applied evaluation with criteria of inclusion and exclusion. As evaluation instrument were used scales analogical visual scale of pain and cipholordometer for quantification of the lumbar bending. Through the statistical analysis, it was verified that does not exist correlation between low back pain and lumbar bending and that lumbar pain is increasing with age for both the sex. Moreover, it was verified to have a trend of the feminine sex to present a bigger lumbar concavity that the masculine sex. Key-words: low back pain, lumbar lordosis, cipholordometer. Palavras-chave: dor lombar, curvatura lombar, cifolordômetro. Recebido 15 de dezembro de 2004; aceito 15 de março de 2006. Endereço para correspondência: Mario Antonio Baraúna, UNITRI - Centro Universitário do Triângulo: Av. Nicomedes Alves dos Santos, 4545 Bairro Gávea 38411-106 Uberlândia MG, E-mail: [email protected], Márcio Vinícius Batista Mendes, [email protected] fisioterapia_v7n3.indb 172 3/7/2006 19:04:11 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Introdução A lombalgia ou síndrome dolorosa lombar é definida como uma dor localizada na região lombar [1]. Geralmente, identifica-se dor, aumento de temperatura e espasmo muscular na região lombar bem como diminuição do tronco e dor irradiada para os segmentos corporais inferiores [2]. Esta é uma das doenças mais comuns do mundo ocidental, afetando aproximadamente 80 a 85% da população em uma determinada época de sua vida [3]. De acordo com Hall [4], a lordose é definida como uma acentuação da curvatura lombar, resultando de um desequilíbrio entre o fortalecimento dos músculos lombares e o enfraquecimento dos músculos abdominais. Segundo Cailliet [5] não foi ainda estabelecido um valor angular limite para lordose lombar. O seu valor fisiológico, medido da L1 a L5, é de 40. Para Tribastone [6], fica entre os 25 e os 45, quantificação esta obtida através da radiografia da coluna em projeção sagital (perfil). Muitos são os fatores que desencadeiam as degenerações das estruturas lombares, condições doentias, tais como diabetes, doenças vasculares, o tabagismo, podem acelerar o processo degenerativo destas estruturas. A relação entre a degeneração do disco intervertebral e a lombalgia não esta claramente entendida. Parece que a alteração na propriedade da estrutura do disco, sensibiliza os nervos terminais por liberação de mediadores químicos, e tumores neurovasculares dentro dos discos degenerados, e isto pode contribuir para o desenvolvimento da dor lombar [7]. As mudanças posturais também são fatores de risco para dores lombares, sendo que posturas incorretas criam estresses nos ligamentos e músculos da coluna vertebral afetando a curvatura lombar da coluna [8]. Segundo Nourbakhsh & Arab [9] a lombalgia está relacionada à ineficiência dos músculos extensores da coluna, flexores e adutores do quadril e abdominal, que por sua vez influenciam na lordose lombar. Ainda, apesar da contribuição de muitos estudiosos de varias áreas das Ciências da Saúde acerca dor, Posso [10] relatou a dificuldade de defini-la, avaliá-la e quantificá-la, sendo que a quantificação da dor pode ser obtida através das escalas unidirecionais, dentre elas, a escala analógica visual graduada. Desta forma, Nunes [11] descreve sobre a dificuldade do diagnóstico da dor lombar em muitos casos. A identificação exata do tecido envolvido é praticamente impossível. Mesmo com toda tecnologia, vários casos ficam com diagnóstico inadequado e ou incerto. Corraborando ainda sobre esta explanação Bouter et al. [12] afirma que este é um fato que vem sendo presenciado por vários fisioterapeutas na prática clinica, não havendo explicações concretas. Por isto, e devido a grande dificuldade em obter-se um diagnóstico com um resultado preciso, nos deparamos com a necessidade de correlacionar o acometimento das dores lombares com o aumento da concavidade lombar, utilizando fisioterapia_v7n3.indb 173 173 o ciforlodômetro como método de avaliação, diagnóstico e porque não, de prognóstico, pois dentro da prática cinesiofuncional, fisioterapeutas e outros profissionais da área da saúde procuram explicações e observações ainda não fundamentadas com relação ao diagnóstico específico da dor lombar. Material e métodos Participaram do estudo 100 universitários (85 mulheres e 15 homens), sedentários compreendidos na faixa etária entre 18 a 35 anos e dor lombar de origem não-traumática que assinaram um termo de consentimento informado. Não participaram deste estudo universitários que apresentassem patologias mio-esqueléticas, fumantes, diabetes, doenças de fundo neurológico, discrepância de membros inferiores maior que 2 cm, lesão discal e espondilite anquilosante. Como instrumentação foi elaborada uma ficha de avaliação, enfatizando registros tais como: idade, curso, presença de dor lombar, quantificação na escala analógica visual de dor, pratica de atividades físicas, mediante o afastamento das hipóteses da exclusão já mencionadas. Os voluntários masculinos apresentavam-se sem camisa e as mulheres com vestimenta adequadas para as mensurações da curvatura lombar. A concavidade lombar foi quantificada através do cifolordômetro (Figura 1). Este aparelho foi desenvolvido por Baraúna [13] patenteado no INPI sobre o PI 9905389-6 e serve para registrar em molde as curvaturas da coluna no plano sagital, isto é, as cifoses e lordoses, através de uma haste fixa na vertical de alumínio de 39x58 mm, tem 1,97 cm de altura e conta com 39 hastes horizontais com secção transversa de ¼ polegada e 40 cm de comprimento, as quais são móveis, indeformáveis e eqüidistantes uma da outra a cada 4 cm. Também faz parte da composição deste instrumento uma plataforma de apoio ortostático regulável, com 73x56 cm, em piso de borracha anti-derrapante [14]. Figura 1 - Cifolordômetro. Fonte: Lab. Análise do Movimento – UNITRI. 3/7/2006 19:04:11 174 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Para quantificação da dor foi utilizada a Escala Análoga Visual de Dor - EAVD. Na primeira etapa da quantificação da dor foi apresentado ao voluntário uma linha de dez centímetros de comprimento (horizontal), traçada sobre um papel, com um ítem em cada extremidade, mas sem nenhuma referência. O voluntário indica por uma marca, o ponto onde situa a dor no instante presente. O participante da amostragem nunca deve rever o que fez anteriormente: a cada mensuração apresenta-se a ele uma outra escala em branco. Na segunda etapa, sem que o voluntário veja, o fisioterapeuta atribui um valor entre 0 a 10 à marca feita (0 = sem dor) (10 = pior dor imaginável). O fisioterapeuta mensura o ponto demarcado com uma régua [14]. Para mensuração da lordose seguiram-se 3 passos. Com os voluntários em trajes apropriados e descalços realizou-se a palpação das vértebras lombares e demarcação com lápis dermatográfico dos pontos referentes a T12, L3 e S1. Feito isto, o voluntário foi posicionado no cifolordômetro em posição ortostática com os pés paralelos, calcanhares alinhados, olhar no horizonte, membros superiores relaxados e alinhados ao tronco. Em seguida, foi feita a demarcação da curvatura lombar no cifolordômetro (Figura 2). Importante salientar que foi realizada uma única mensuração de 5 segundos para evitar que o voluntário oscilasse no instrumento e alterasse as curvaturas vertebrais [14]. Posteriormente, quantificouse a concavidade lombar a partir da união de três pontos, no papel, referentes aos processos espinhosos de T 12, L 3 e S1, formando um ângulo que foi mensurado através do transferidor [14]. Resultados Figura 2 - Demarcação da curvatura lombar no cifolordometro. Com interesse em verificar a existência ou não de correlações significantes entre a presença/ausência de sedentarismo e os valores das medidas de dor lombar e do ângulo, foi aplicado o Coeficiente de Contingência C [16], aos dados em questão. Isto, porque a variável sedentarismo apresenta-se em escala nominal. Ao nível de significância de 0,05 em uma prova bilateral. Para a aplicação do Coeficiente de Contingência C, é necessário que se aplique antes o teste do Qui-Quadrado (χ2). Se o valor do χ2 encontrado for maior do que o valor crítico do χ2, de acordo com a tabela, aplica-se o Coeficiente de Contingência C. Em caso contrário, o Coeficiente não pode ser aplicado. De acordo com os resultados demonstrados na Tabela II, não foram encontradas correlações significantes entre as variáveis analisadas. Fonte: Lab. Análise do Movimento - UNITRI. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário do Triângulo – UNITRI. Para o tratamento estatístico utilizou-se o Coeficiente de Correlação Pearson, Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman, Qui-Quadrado e o Teste t de Student ao nível de significância de 5%. fisioterapia_v7n3.indb 174 Com o objetivo de verificar a existência ou não de correlações significantes entre os valores das variáveis peso, dor lombar e ângulo da curvatura lombar foram analisados através do Coeficiente de Correlação de Pearson [15]. A variável idade, no entanto, por não apresentar distribuição normal dos valores, foi analisada através do Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman, um teste não-paramétrico [16]. Ambos com nível de significância de 0,05, em uma prova bilateral. De acordo com os resultados demonstrados na Tabela I, foi encontrada correlação positiva significativa entre os valores das variáveis dor lombar e idade. Isto significa que, à medida que a idade aumenta, a dor lombar aumenta, também à medida em que a idade diminui, a dor lombar diminui, também. Tabela I - Valores de rs e das probabilidades a eles correspondentes, encontradas quando da aplicação dos Coeficientes de Correlação, aos valores das variáveis: idade, peso, dor lombar e ângulo. Variáveis analisadas Valores de rs Probabilidades Dor lombar x ângulo Dor lombar x peso Dor lombar x idade Ângulo x peso Ângulo x idade Peso x idade -0,1165 -0,0115 0,2034 -0,1824 0,0362 0,0789 0,248 0,909 0,042* 0,069 0,721 0,435 (*) p < 0,05 Tabela II - Valores de X2 e de C, obtidos quando da aplicação do teste do Qui-Quadrado e do Coeficiente de Contingência C, às freqüências de respostas positivas/negativas, referentes ao sedentarismo, e às medidas de dor lombar e de ângulo. Variáveis analisadas Sedentarismo x Dor lombar Sedentarismo x Ângulo lombar Valores de χ2 Valores de C 1,63 0,18 xxxxxxx xxxxxxx 3/7/2006 19:04:12 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 175 Com o intuito de verificar a existência ou não de diferenças significantes entre os resultados obtidos por elementos do sexo masculino e elementos do sexo feminino, foi aplicado o teste t de Student [15], às medidas das variáveis: idade, peso, dor lombar e ângulo. O nível de significância foi estabelecido em 5% em uma prova bilateral. De acordo com os resultados demonstrados na Tabela III, foram encontradas diferenças significantes entre os valores da variável peso, sendo que as medidas obtidas pelos elementos do sexo masculino foram mais elevadas do que as obtidas pelos elementos do sexo feminino. apenas do peso, sendo os indivíduos da amostra do sexo masculino mais pesados que as do sexo feminino. No entanto, este aumento do peso nos homens não foi indicativo para o aumento da dor lombar ou da angulação da curvatura como era de se esperar, já que estas variáveis não se correlacionaram, no entanto, Murrie et al. [21] avaliaram a curvatura lombar de 56 indivíduos e verificaram esta se mostrou maior nas mulheres, entretanto isto pode ser em razão da amostra em seus estudos ser menor comparado ao presente estudo. Norton et al. [22] avaliaram a curvatura lombar de indivíduos de ambos os sexos com lombalgia dividido em 4 subtipos, comparando com pessoas sem a patologia, e concluíram que houveram diferenças na curvatura lombar entre os subtipos de lombalgias, mas não houve diferença entre o grupo com a patologia e sem a patologia, o que vem legitimar o presente trabalho que também avaliou ambos os sexos e não verificou correlação entre a concavidade lombar e lombalgia. Korovessis et al. [23] avaliaram as curvaturas vertebrais de 3441 crianças com idade variando entre 9 e 15 anos através do cifômetro e não encontraram correlação entre a dor lombar e, curvatura, peso e idade, o que vem confirmar a eficácia metodológica proposta no presente estudo, visto que avaliou-se um menor número de voluntários e os resultados encontrados em ambos trabalhos foram os mesmos. Nos estudos de George et al. [24] verificaram 475 mulheres idosas Afro-descendentes através do método radiológico e do exame clínico, e averiguaram que o grau de lordose não está associado a dor lombar, além de questionarem a validade do exame clínico. Assim sendo, enfatiza a validade do nosso estudo para a população estudada, que no caso foi de estudantes universitários brasileiros em faixa etária produtiva. Idosos apresentam fusão das vértebras L4-L5 e L5-S1 que contribuem para o aumento da lordose [20], posto isso, o presente estudo avaliou apenas adultos jovens que apresentam menor probabilidade de fusão vertebral do que idosos. Murrie et al. [21] avaliaram a curvatura lombar em 27 indivíduos com dor lombar e 29 sem a dor através da ressonância nuclear magnética e concluíram que a idade não influenciou na curvatura lombar, que a curvatura lombar não se correlacionou com a dor lombar em ambos os sexos. Estes achados são semelhantes aos do presente estudo no que se refere à ausência de correlação entre dor lombar e curvatura, mas difere quando se comparou a curvatura lombar e idade, pois o presente estudo revelou que a curvatura aumenta com o decorrer da idade. Tal fato explica-se, por ter-se avaliado no presente trabalho adultos jovens sem grande variação de faixa etária, o que não ocorreu nos estudos do autor supra-citado. Murata et al. [25] comparam a curvatura lombar em indivíduos com 10 anos de diferença de idade e constataram que a curvatura lombar diferenciou-se em média 10 graus entre os grupos analisados, contudo a população estudada foi a população local – japonesa – que sabe-se ter diferenças morfológicas com a brasileira, avaliada no presente trabalho, Tabela III - Probabilidades associadas aos valores de p, encontradas quando da aplicação do teste t de Student aos valores das variáveis: idade, peso, dor lombar e ângulo, obtidas com sujeitos do sexo masculino e do feminino. Variáveis analisadas Idade Peso Dor lombar Ângulo lombar Valores de p 0,3105 0,000* 0,256 0,051 (*) p < 0,05 Discussão A avaliação da lordose lombar pela cifolordometria mostrou-se eficaz e de fácil aplicabilidade como verificado em outros estudos [14,17]. A avaliação pelo cifolordômetro é não invasiva, de baixo custo, ocupa pequeno espaço físico e não necessita de preparação especifica do ambiente para seu funcionamento, além disso, não traz prejuízos à saúde do individuo [18]. O exame radiográfico é um exame bastante utilizado para avaliação das curvaturas vertebrais, no entanto, a radiação ionizante deste tipo de avaliação traz prejuízos a saúde das pessoas, o que levou muitos estudos a enfatizarem a aplicação de métodos não invasivos na avaliação das curvaturas vertebrais, para possibilitar reavaliações constantes de indivíduos com patologias da coluna torácica e acompanhamento periódico dos indivíduos assintomáticos [19,14]. Schuler et al. [20] avaliaram a lordose lombar através da radiografia pelo método de Cobb e pelo método computadorizado e concluíram que os valores encontrados em ambos os métodos foram similares, no entanto seu estudo objetivou comparar técnicas de mensuração para preparação cirúrgica, sendo assim este seria inviável para acompanhamento por período de tempo mais prolongado devido o efeito cumulativo da radiação, já o método proposto no presente trabalho é altamente indicado para o acompanhamento de patologias ou tratamento. Quando se comparou o valor da idade, peso, do índice da Escala Analógica Visual da Dor e ângulo da curvatura lombar entre homens e mulheres, verificou-se diferença significativa fisioterapia_v7n3.indb 175 3/7/2006 19:04:13 176 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 e que é o objeto de interesse para os pesquisadores e clínicos do nosso país. Evcik & Yucel [8] estudaram 50 pacientes com dor lombar crônica e 50 pacientes com dor lombar aguda através de exame radiográfico e concluíram que os pacientes com lombalgia crônica apresentaram maior angulação na coluna lombar inferior. Em comparação com o presente estudo é importante relatar que não distinguiu-se neste se a patologia era aguda e crônica, e ainda que a mensuração da curvatura foi realizada entre T 12 e S 1 não separando a curva em alta ou baixa, desta forma, acredita-se haver uma maior validade, pois a dor lombar pode ser de etiologia da coluna lombar como um todo e não apenas da coluna lombar superior ou inferior. 10. Posso MBS. Semiologia e semiotécnica de enfermagem. São Paulo: Atheneu; 1999. 11. Nunes CV. Lombalgia e lombociatalgia: diagnostico e tratamento. Rio de Janeiro: MEDSI; 1989. 12. Bouter LM, Van Tulder MW, Koes BW. Methodologic issues in low bck pain research in primary care. Spine 1998;23(18):201420. 13. Baraúna MA. 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No presente trabalho, verificou-se que a cifolordometria é um método fidedigno e de fácil manuseio para a quantificação das curvaturas da coluna vertebral, desta forma, podendo ser utilizado como um instrumento de auxilio diagnóstico e prognóstico, possibilitando um acompanhamento em periódicas reavaliações sem malefícios a saúde do indivíduo. Referências 1. Pereira APB, Souza LAP, Sampaio RF. Back school: um artigo de revisão. Rev Bras Fisioter 2001;5(1):1-8. 2. Cappaert TA. The sacroliac joint as factor in low back pain: a review. Journal of Sport Rehabilitation 2000;9(2):169-83. 3. Nascimento AZ, Aguiar CM, Ferreira PH. O efeito do protocolo de Mckhenzie e da mobilização vertebral no ganho da mobilidade da coluna lombar. Fisioter Mov 1999;1:27-48. 4. Hall SJ. Biomecânica básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1993. 5. Cailliet R. Síndrome da dor lombar. Porto Alegre: Artmed; 2001. 6. Tribastone F . Tratado de exercícios corretivos aplicados à reeducação motora postural. 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J Orthop Sports Phys Ther 2002;32(9):447-60. fisioterapia_v7n3.indb 176 3/7/2006 19:04:14 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 177 Artigo original A incidência da doença de Parkinson em idosos na assistência de condutas e comportamentos motores em domicílios do Rio de Janeiro Incidence of the Parkinson disease in elderly in the attendance of conducts and motor behaviors in residences of Rio de Janeiro Ana Luzia Batista Góis*, Heron Beresford, D.Sc.** *Fisioterapeuta, Mestrando em Ciências da Motricidade Humana(UCB), **Doutor em Filosofia, Professor Titular da Universidade Castelo Branco e Professor Adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Resumo Abstract Tendo em vista a alta incidência da Doença de Parkinson – DP em pessoas idosas, o aumento da população idosa no mundo e a indicação da fisioterapia domiciliar como forma eficaz de atendimento aos não-auto-suficientes, o presente estudo teve como objetivo verificar a incidência da DP no grupo de idosos em atendimento de fisioterapia domiciliar para estabelecer a faixa de idade em que a fisioterapia domiciliar foi mais realizada. A amostra foi de 620 pacientes, sem exclusão. Os resultados mostraram que dos 620 pacientes investigados, 27 apresentaram a DP como principal diagnóstico, e o índice resultante de 4,35%; quanto à fisioterapia domiciliar realizada concentrou-se na faixa de 80 a 89 anos. Os resultados mostraram-se compatíveis com os de pesquisas relatadas na literatura da área, o índice resultante é considerado significativo e apontou que a demanda de fisioterapia domiciliar na DP está concentrado na faixa etária de 80 a 89 anos. Mediante o estudo realizado recomenda-se que no Brasil a falta de acesso da maioria da população idosa ao atendimento domiciliar tanto na rede pública quanto na rede suplementar deve ser corrigida para suprir a demanda destes idosos, e priorizar a reabilitação precoce. With the high incidence of the Disease of Parkinson (DP) in elderly people, the increase of this population in the world and the indication of the home physical therapy as effective form of service, the aim of this study was to verify the incidence of DP in the elderly group in service of home physical therapy to establish the range of age for what the home physical therapy was more used. The sample was of 620 patients, without exclusion. The results showed that of the 620 investigated patients, 27 presented DP as main diagnosis, and the index resulting as 4.35% ; the home physical therapy was concentrated on the range of 80 to 89 years. In conclusion, the results were compatible with the literature of the area, the resulting index is considered significant and it pointed that the demand of home physical therapy in DP is concentrated in the age group from 80 to 89 years. It is recommended that in Brazil the lack of access of most of the senior population to the home service in the public service like in the private service should be corrected to supply the demand of these senior, and to improve the precocious rehabilitation. Key-words: elderly, Parkinson disease, home physical therapy. Palavras-chave: idoso, doença de Parkinson, fisioterapia domiciliar. Introdução O crescente envelhecimento das populações na maioria dos países é um fenômeno apontado em numerosos estudos [1]. No Brasil, o aumento da expectativa de vida e a redução da taxa de natalidade modificaram rapidamente o perfil de- mográfico do País. Os dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE– apontam 14,5 milhões de pessoas com mais de 60 anos (representando 8,8% do total da população brasileira), em 2000 [1,2]. Se o comportamento do crescimento desta população não mudar, em 2025 a população de idosos deverá quase dobrar de tamanho, Recebido 18 de dezembro de 2004; aceito 15 de maio de 2006. Endereço para correspondência: Ana Luzia Batista Góis, Rua Alexandre Calaza, 256 Grajaú 20560-110 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2577-7071, E-mail: anagoesfi[email protected] fisioterapia_v7n3.indb 177 3/7/2006 19:04:15 178 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 chegando a 34 milhões de pessoas, o que representará 14% de nossa população [2,3,4,5]. Como conseqüência lógica dessas modificações no quadro demográfico, os idosos ganharam uma maior visibilidade social, e um novo sentido para a velhice começou a se delinear. Exemplo disso são as determinações legais contidas na Política Nacional do Idoso (lei n. 8.842/94), que define a atuação do governo em áreas específicas, entre elas a saúde, para que sejam promovidas a autonomia, a integração e a participação dos idosos na sociedade. É importante salientar que, além das transformações demográficas, o Brasil vem passando por uma transição epidemiológica que alterou significativamente seu quadro de morbimortalidade: em menos de 40 anos, as enfermidades crônicas, típicas de faixas etárias mais avançadas e com custos diretos e indiretos mais elevados, substituíram as doenças infectocontagiosas, próprias de uma população mais jovem [6]. Ao pesquisar a questão da terceira idade no Brasil, Ramos [7] refere que a maioria dos idosos (85%) apresenta pelo menos uma doença crônica, e uma significativa minoria (10%) possui, no mínimo, cinco destas patologias; comenta ainda que os idosos investigados apresentaram patologias associadas ao envelhecimento, que eram de cunho neurológico em 89,5% dos casos, e reumatológico em apenas 10,5% deles. A Doença de Parkinson (DP) é a segunda principal causa neurológica de deficiência em adultos, e pacientes idosos com DP geralmente usam muitos e diversos serviços de hospital, o que pode ser entendido pela necessidade especial dos seus “complicados” estágios [8]. A incidência da DP, de origem idiopática, aumenta cerca de dez vezes na população acima de 60 anos [9]. É uma doença de indivíduos idosos, com uma idade de pico entre 55 e 66 anos [10]. Afeta aproximadamente um milhão de indivíduos nos Estados Unidos, e é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, depois da Doença de Alzheimer [9]. Acomete aproximadamente 1% dos indivíduos acima dos 65 anos de idade [10] e 2,6% da população de 85 anos [11]. O envelhecimento é, portanto, segundo Langston [12], um fator de risco na DP. A pesquisa de Caird [13] confirma que a incidência da DP aumenta com a idade. Na Escócia, o índice dessa patologia é de 46,6 por 100.000 pessoas com idade de 40 a 49 anos, de 254 por 100.000 pessoas com 6069 anos, e de 1.924,5 por 100.000 pessoas com mais de 80 anos [14]. Em qualquer localidade, 74% das pessoas com DP têm mais de 70 anos de idade, e a média de início é de 65,3 anos. Somente uma em sete pessoas tem o diagnóstico com menos de 50 anos. Jones & Godwin-Austen [15] evidenciam em seu trabalho que a DP demonstra forte relação com a fase do envelhecimento, e ainda complementam que não foram encontradas diferenças na prevalência no que se refere a sexo e a classe social, que não parecem afetar a incidência. Stern [16] não encontrou na prevalência da DP diferenças relacionadas ao sexo e à classe social; não houve também diferenças geográficas. Porém, as análises dos dados de mortalidade e de grandes estudos familiares sugerem um componente genético com exposição a um agente ambiental causador no inicio da vida. De acordo com Langston [12], fatores ambientais apresentam relação com a DP, especialmente em zonas industrializadas. Estudos epidemiológicos relatados por Limongi [17] demonstraram maior incidência da DP, em populações expostas a pesticidas e a água de poço contaminada, relacionada com toxinas ambientais. Uma análise de sobrevivência mostrou um tempo mais curto de vida (P < 0,001) para pacientes com DP. 53% dos atestados de óbitos desses pacientes deram a DP como causa básica ou de contribuição de morte. Nesse trabalho foi verificado um aumento significativo em mortes por pneumonia [18]. Estudos evidenciam que em períodos iguais de duração da doença, os pacientes com acometimento de DP de idade avançada (78 anos ou mais velho) obtiveram maior perda da motricidade do que os pacientes de meia-idade. Os índices mais altos foram para a rigidez [19]. Os sintomas motores da DP são o foco da farmacoterapia, mas os sintomas não-motores (demência, psicose, ansiedade, insônia, perturbações e disfunção do humor) podem ser tão perturbadores quanto os outros aspectos da doença [20]. A evolução da doença leva à incapacidade, agravando os problemas com a marcha e com a fadiga [21], aumentando o risco de quedas, até levar à restrição ao leito. A DP é tratada com levodopa, e a resposta inicial em geral é muito gratificante. Porém, o tratamento a longo prazo pode ter respostas clínicas menos satisfatórias. Entretanto, estudos demonstram que muitos dos declínios no desempenho neurológico podem ser revertidos ou estabilizados com a reabilitação [22,23]. Neste contexto, a fisioterapia domiciliar deve ser recomendada, sabendo-se que, a princípio, para ser mais efetiva, a terapia mais intensa deve ser instituída precocemente [24]. Considerando a alta incidência da DP em pessoas idosas e a indicação da fisioterapia domiciliar como maneira eficaz de atendimento aos não-auto-suficientes, reduzindo também os altos custos com internação hospitalares, o presente estudo tem como objetivo verificando a incidência da DP no grupo de idosos em atendimento de fisioterapia domiciliar, comparando se o percentual de pacientes acometidos pela DP confirma os níveis de incidência dessa doença relatados pela literatura. Com isso, espera-se contribuir para a produção de conhecimento sobre o envelhecimento no Brasil. Pesquisas epidemiológicas como a do presente estudo poderão, quando associadas a outros microlevantamentos, compor uma fotografia regional que ajude a traçar o perfil do idoso e as prevalências dos seus problemas de saúde nas diferentes regiões do País, subsidiando o planejamento, a execução e a avaliação das ações de proteção e reabilitação dos nossos idosos. fisioterapia_v7n3.indb 178 3/7/2006 19:04:15 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 179 Material e métodos Tabela II - Distribuição da idade dos 27 pacientes da fisioterapia domiciliar. Trata-se de uma pesquisa de epidemiologia, com enfoque no registro de morbidade [25]. O método adotado é descritivo, e não existe grupo controle para se comparar os resultados. Os dados foram levantados no Arquivo de Prontuários de um Serviço de Fisioterapia localizado na cidade do Rio de Janeiro, cobrindo o período de 1999 a 2002. Não tendo ocorrido a exclusão de qualquer prontuários pertencentes a este período, a amostra deste estudo foi constituída por 620 indivíduos com idade de 60 anos ou mais, de ambos os sexos, encaminhados pela clínica médica ao atendimento de fisioterapia domiciliar por apresentarem dificuldades de locomoção ou por estarem restritos ao leito. 70-79 anos 80-89 anos 90-99 anos Indeterminado* Total Resultados A análise dos prontuários e dos pareceres fisioterapêuticos periódicos e padronizados neles contidos permitiu, entre outras, as seguintes constatações diretamente relacionadas ao objetivo do presente estudo. Dos 620 pacientes idosos atendidos pela fisioterapia domiciliar no período de 1999 a 2002, vinte sete (27) apresentaram a DP como principal diagnóstico, o que equivale a 4,35% em relação às demais doenças apontadas na Tabela I. Tabela I - Distribuição do diagnóstico dos 620 pacientes da fisioterapia domiciliar. Gonartrose Doença de Parkinson Fraturas AVC AVE Artralgias Diversas Doenças Resporatórias Mal de Alzheimer DPOC Paralisia Outros* Total 10 (1%) 27 (4.35%) 94 (12%) 111 (14%) 127 (16%) 50 (6%) 90 (11%) 20 (2%) 31 (4%) 19 (2%) 228 (28%) 807 *Obs: O total de diagnósticos (807) foi maior que o número de sujeitos da amostra (620) porque muitas vezes os prontuários registravam mais de um diagnóstico para o mesmo paciente. Com relação à idade dos 27 pacientes que apresentaram a DP como principal diagnóstico, verificou-se que a faixa que vai dos 80 aos 89 anos apresentou o maior número de pacientes: treze (13), correspondendo a 48% do total (Tabela II). Os prontuários não registraram tratamento de fisioterapia domiciliar em pacientes com menos de 70 anos. fisioterapia_v7n3.indb 179 05 (19%) 13 (48%) 07 (26%) 02 (7%) 27 *Dois prontuários não especificavam a idade do paciente. Discussão Verifica-se que os resultados aqui apresentados corroboram o que diz a literatura da área: estudos citados por Cambier, Masson, Dehen e Limongi [10,17] apontaram 100 a 150 casos de DP numa população geral de 100.000 habitantes. Usando o referencial de 150 casos, temos o percentual de 0,15 % de índice usando como amostra a população em geral. Outro estudo, sobre a incidência da DP na Escócia, citou 1924,5 casos de DP por 100.000 em pessoas com mais de 80 anos [14]. Essa relação mostra um percentual de 1,92 % em idosos acima de 80 anos. Comparada com os dados comentados por Cambier, Masson, Dehen e Limongi [10,17], esta pesquisa evidenciou um aumento de casos de DP numa proporção doze vezes maior, levando a sugerir que esse aumento esteja relacionado à especificidade da amostra (idade). A comparação da pesquisa citada por Cambier, Masson, Dehen e Limongi [10,17] com a presente pesquisa evidenciou um aumento dos achados de DP numa proporção 29 vezes maior. A comparação da pesquisa de Mutch et al. [14] com a presente pesquisa evidenciou um aumento dos achados de DP numa proporção 2,26 vezes maior, levando a sugerir que o índice de 4,35% encontrado na presente pesquisa esteja relacionado à especificidade maior da amostra: idade e incapacidade (idosos com dificuldades de locomoção ou restritos ao leito e em tratamento de fisioterapia domiciliar). Sendo assim, os achados corroboram pesquisas anteriores e demonstram que o total de 27 idosos, embora numericamente represente uma amostra pequena, de fato se revela nesta pesquisa como representativa e significativa diante da especificidade da amostra abordada neste estudo. Relatos de outros pesquisadores fecham o feito da presente pesquisa quando concluem que a DP acomete aproximadamente 1% dos indivíduos acima dos 65 anos de idade [27,28] e 2,6% da população de 85 anos [22], demonstrando que o envelhecimento é um fator de risco na DP. Os resultados apresentados no Gráfico 2 são também compatíveis com estudos de Langston [12]. Caird [13] e Diederich et al. [19], que atestaram maior perda da motricidade em pacientes com mais de 78 anos de idade. A partir dessa faixa etária se encontram os níveis mais severos de fragilidade, acentuando-se as incapacidades ocasionadas pela evolução da DP instalada nas décadas anteriores. São estes os idosos que mais necessitam de fisioterapia domiciliar, seja para manutenção ou reeducação da 3/7/2006 19:04:16 180 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 marcha e do equilíbrio, seja para obter melhora das funções respiratórias, entre outros objetivos do tratamento. 10. Cambier J, Masson M, Dehen H. Manual de neurologia. Rio de Janeiro: Medsi; 1999. p. 327-43. 11. O’Sullivan SB, Schmitz TJ. Fisioterapia. Avaliação e tratamento. São Paulo: Manole; 1993. p. 549-64. 12. Langston JW, Koller WC, Giron LT. Etiology of Parkinson’s disease. In: Olanow CW, Lieberman AN, eds. 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No Brasil, a falta de acesso da maioria da população idosa ao atendimento domiciliar é uma realidade que merece ser divulgada para ser corrigida, pois é um dos fatores que impedem a reabilitação mais precoce e, conseqüentemente, mais efetiva, como preconizam vários autores por meio de trabalhos que constituíram a literatura consultada neste trabalho. Referências 1. Camarano AA. (org.). Os novos idosos brasileiros muito além dos 60? Rio de Janeiro: Ipea; 2004. p.1-5. 2. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Síntese de Indicadores Sociais 2002. Rio de Janeiro, 2003. [citado 2004 oct 13]. Disponível em URL: <http:// www.Ibge.gov.br. 3. OMS – Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde; 2005. p.3. 4. Saldanha AL, Caldas PC (orgs). Saúde do idoso: a arte de cuidar. 2 ed. Rio de Janeiro: Interciência; 2004. p.3-4. 5. Veras RP. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. 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Todas as pacientes preencheram os critérios de classificação do American College of Rheumatology para LES e se encontravam na fase inativa da doença, constatada pelo índice de atividade da doença (SLEDAI). A avaliação pulmonar foi feita com base em parâmetros de função pulmonar e a capacidade submáxima ao exercício pela aplicação do TC6. Resultados: Na função pulmonar pode-se observar que a Pressão Expiratória Máxima e a Capacidade Vital Forçada apresentaram valores inferiores, com alteração significativa de 23,57% e 33,3% respectivamente, quando comparados a valores preditos. A Pressão Inspiratória Máxima e o Pico de Fluxo Expiratório, não apresentaram alteração estatística. No TC6 os valores obtidos foram inferiores aos preditos, média de 46,26%. Conclusão: Análises da população estudada demonstram que mulheres com LES apresentam um condicionamento físico limitado, contribuindo para níveis baixos de atividade aeróbia, o que pode ser constatado por valores inferiores no TC6 e nos testes de função pulmonar. Objective: To evaluate the estimate aerobic capacity, throught a 6 minute walk test (6MW), along with analysis of pulmonary function in women with systemic lupus erythematosus (SLE). Methods: 17 female patients participated in the study, age 16-50 years, body mass index (BMI) < 30 kg/m2, time of disease > 12 months. Every patient satisfied the diagnostic criteria of the American College of Rheumatology for SLE, and were in the inactive phase of the disease, checked by the index of activity of the disease (SLEDAI). The pulmonary evaluation was made based on analysis of pulmonary function tests and the submaxim capacity of exercise for application of the 6MW. Results: In analysis of pulmonary function tests it could be observed that the maximal expiratory pressure (PeMax) and the Forced Vital Capacity (FVC), presented inferiors values than predicted ones, with significant alteration of 23,57% and 33,3% respectively, when compared with predicted values. The maximal inspiratory pressure (PiMax) and the expiratory Peak Flow did not present significant alteration. In the 6MW, the values obtained were smaller predicted ones, average 46,26% (p < 0,05). Conclusion: Analyses of the studied population demonstrate that women with SLE, present a limited physical conditioning, contributing for low levels of aerobic activity, what can be shown by smaller values of 6MW and pulmonary function tests. Palavras-chave: lupus eritematoso sistêmico, condicionamento cardiovascular, teste de seis minutos, teste função pulmonar. Introdução O Lupus Eritematoso Sistêmico (LES), é uma doença inflamatória crônica, de etiologia desconhecida, que acomete o tecido conjuntivo, está associada à produção de anticorpos reativos e antígenos nucleares, citoplasmáticos e de membrana Key-words: systemic lupus erythematosus, cardiovascular conditioning, 6 minutes walk test, pulmonary function test. celular, bem como da deposição de imunocomplexos fixadores de complemento [1,2,3]. Apesar da etiologia ser desconhecida, acredita-se que o desencadeamento da doença seja multifatorial com a predisposição do hospedeiro (genética e/ou hormonal), influência viral e ambiental. Sabe-se que familiares tem maior chance Recebido 11 de julho de 2005; aceito 15 de maio de 2006. Endereço para correspondência: Leandra Gonçalves Lima, Rua Joaquim Teófilo, 302 Centro 37750-000 Machado MG, E-mail: leandra_machado@ hotmail.com fisioterapia_v7n3.indb 181 3/7/2006 19:04:17 182 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 de apresentar o LES ou outras doenças auto-imunes. Existe uma alta concordância em gêmeos monozigóticos [1,2]. Há maior predomínio no sexo feminino (9:1), embora seja menos marcante quando se inicia antes da puberdade ou na mulher idosa [4], ocorre em todas as raças, embora seja mais freqüente em negros. A incidência anual nos EUA é de 27,5/milhão para mulheres brancas e 75,4/milhão para mulheres negras [1,2]. Na população geral a prevalência é de uma em 2.500 pessoas. A incidência anual global é de aproximadamente seis novos casos por 100.000 pessoas, para a população de alto risco [5]. Em 1971, o American College of Rheumatology propôs critérios para diagnóstico do LES, que foram revisados em 1982 e 1997 [6]. Para ser diagnosticado o LES, o paciente deve apresentar quatro ou mais critérios, que são: eritema malar, lesão cutânea discóide, fotossensibilidade, úlcera oral, artrite, serosite (pleurite ou pericardite), doença renal (proteinúria ou cilindrúria), doença neurológica (convulsão ou psicose), doença hematológica (anemia hemolítica e/ou leucopenia e/ ou linfopenia e/ou trombocitopenia), alterações imunológicas (anti-DNA positivo, anti-Sm positivo, anticorpos antifosfolipídio IgG e/ou IgM em níveis anormais, célula LE positiva ou teste para sífilis falso positivo) e anticorpos antinucleares em título aumentado [6]. O LES, apresenta manifestações clínicas polimórficas, que podem comprometer vários sistemas principalmente músculoesquelético, tegumentar, respiratório, cardíaco e nervoso debilitando a resistência física e a qualidade de vida. Queixas gerais como adinamia, febre, mal-estar, perda de peso e fadiga são freqüentes na fase ativa da doença, podendo o doente lúpico apresentar algumas dessas manifestações, mas não necessariamente todas [3,7]. Por mecanismos ainda não muito claros, o LES tem contribuído para que esses pacientes apresentem menos energia [3,8] interferindo no desempenho das atividades de vida diária [3]. Diante destes fatos e levando em consideração os altos índices de eventos cardiopulmonares nesta patologia, nosso objetivo foi avaliar e discutir a capacidade aeróbia estimada através de um teste de esforço submáximo e a análise da função pulmonar em mulheres com Lupus Eritematoso Sistêmico. atividade da doença foi avaliada de acordo com o índice de atividade da doença (SLEDAI), segundo Hawker [9]. Todas aquelas que possuíram condições que limitassem a capacidade física e /ou locomoção, capacidade cognitiva atrapalhando a performance durante o teste de caminhada e as que não consentiram foram excluídas do estudo. Nenhuma das pacientes incluídas no estudo estava participando de programas de treinamento ou condicionamento físico. Na análise da função pulmonar, avaliamos à Capacidade Vital Forçada (CVF), mensurada pelo Espirômetro (Bulth Type), sendo solicitado uma inspiração máxima até a Capacidade Pulmonar Total (CPT) e uma expiração máxima até o volume residual. A Pressão Inspiratória Máxima (PiMax) foi mensurada pelo Vacuômetro (Gerar), sendo necessária uma expiração até volume residual seguida de uma inspiração máxima. A Pressão Expiratória Máxima (PeMax) mensurada pelo Pressômetro (Gerar), consistia de uma inspiração até a CPT seguida de uma expiração máxima. As narinas foram ocluídas em ambas por um nose clip, respirando somente por um bocal acoplado ao manovacuômetro e o Pico de Fluxo mensurado pelo Peak Flow Meter (Assess), neste a análise foi realizada por uma inspiração até a CPT seguida por uma expiração rápida e intensa. Cada medida foi analisada quatro vezes, e considerou-se o maior valor, que foi comparado a valores preditos de acordo com idade, sexo e altura propostos pelas equações de Cherniack e Manfreda [10] para a CVF, Black e Hyatt [11,12] para a PiMax e PeMax e Leiner [13] para a avaliação do Peak Flow. A capacidade submáxima ao exercício foi avaliada pela aplicação do Teste de Caminhada de 6 minutos (TC6), e o resultado obtido foi comparado com valores preditos pela equação de Enright e Sherril [14]. Antes do início e logo após o término da caminhada foram verificados: Pressão arterial (B&D), Freqüência Cardíaca (oximetro Onyx), Freqüência respiratória (visualmente pelo número de incursões por minuto), Saturação de oxigênio (Onyx), e o nível de tolerância ao esforço (Escala Subjetiva modificada de Borg). O teste foi conduzido em um corredor fechado, sem aclive ou declive, com curso de 10 metros de distância, tendo marcação metro a metro. As pacientes foram instruídas a andar nesse trajeto de 10 metros, caminhando o mais rápido possível, o tempo foi cronometrado com um cronômetro (Casio), sendo então possível à análise da distância percorrida em 6 minutos. Das 17 pacientes que participaram do teste, 9 foram escolhidas por sorteio, e incentivadas verbalmente, a cada 30 segundos, com frases como: “Você esta indo bem”, “Vamos lá”. Nas demais pacientes (8), não foi dado nenhum incentivo verbal. O teste de caminhada seria suspenso caso a pressão arterial sistólica alcançasse valores menores que 90 mmHg ou maiores que 150 mmHg, pressão arterial diastólica superior a 100 mmHg, saturação de oxigênio inferior a 90%, e ou condições de fadiga que atrapalhassem a performance durante o teste. Material e métodos Foram incluídos neste estudo, após consentimento informado e esclarecido, 17 pacientes portadores de Lupus Eritematoso Sistêmico (LES), sexo feminino, com idade variando de 16 a 50 anos, com média de 33,8 anos, índice de massa corpórea (IMC) menor que 30 kg/m2, tempo de doença igual ou acima de 12 meses, cuja média foi de 81,11 meses. Com relação à raça, 64% das pacientes eram caucasianas, 24% eram negras e 12% eram mulatas. Todas as pacientes preencheram quatro ou mais critérios de classificação do LES, de acordo com o American College of Rheumatology e não se encontravam em atividade clínica. A fisioterapia_v7n3.indb 182 3/7/2006 19:04:18 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 183 Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca. Para análise estatística foram utilizados o Teste da Diferença das Médias e o Teste da Variação Percentual. O nível de significância considerado foi p < 0,05. Figura 3 - Comparação dos valores médios obtidos e previstos para a PiMax. Resultados Na avaliação da função pulmonar observamos, que a Capacidade Vital Forçada (CVF) das 17 pacientes com LES, mostrada na Figura 1, apresentavam valores inferiores aos esperados, cerca de 33,3% do total (p < 0,05), quando comparados a valores preditos, de acordo com sexo, idade e altura propostos pela equação de Cherniack e Manfreda [10]. Na Pressão Expiratória Máxima também houve alteração significativa, média de 23,57% inferior ao esperado (Figura 2). Não houve alteração significativa quando analisados os valores de Pressão Inspiratória Máxima, sendo que a média prevista foi 70,12 e a média obtida 69,94 (Figura 3). Na mensuração do Pico de Fluxo Expiratório não houve diferença significativa, tendo o predito uma média de 422,43 enquanto o obtido obteve média de 390,00. Figura 1 - Comparação dos valores médios obtidos e previstos na CVF. Apenas duas pacientes possuíam patologias associadas ao LES, sendo que uma apresentava hipertensão pulmonar e a outra hipertensão arterial sistêmica. Estas obtiveram resultados inferiores às demais pacientes. Quando avaliada a função pulmonar da paciente com hipertensão pulmonar, obtivemos valores menores em 30% para a CVF, 35,7% para PiMax, 73,8% para PeMax e 58% para o Peak Flow quando comparados a valores referenciais. Na paciente com hipertensão arterial sistêmica os valores também foram significantemente inferiores ao previsto em 32% da CVF, 33,7% na PiMax, 47,7% na PeMax e 60,2% no Peak Flow, quando comparados a valores referenciais de acordo com a idade, sexo e altura. Foi detectada diferença significativa nos resultados obtidos pelo teste de caminhada de 6 minutos nas mulheres com LES avaliadas, quando comparadas a valores referenciais preditos pela equação de Enright e Sherril [14], tendo média de 46,26%, menores que os esperados (p< 0,05), como mostra a Figura 4. Figura 4 - Comparação dos valores obtidos e previstos no TC6 em 17 mulheres com LES. Figura 2 - Comparação dos valores médios obtidos e previstos para a PeMax. Quando analisamos à freqüência cardíaca, freqüência respiratória e o Borg pode-se observar diferença entre o início e o final do teste de caminhada, com valores de 24,60%, fisioterapia_v7n3.indb 183 3/7/2006 19:04:19 184 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 25,20% e 112,96% respectivamente (p < 0,05). Na saturação de oxigênio não houve diferença significativa entre os valores médios obtidos no início e no final do teste de caminhada, com redução de apenas 1,78% (Tabela I). O teste de caminhada passou a ser utilizado como medida do desempenho para exercícios em programas de reabilitação [17]. Há, todavia, necessidade de padronização na metodologia, especialmente quanto ao tipo e intensidade do incentivo dado ao paciente durante sua realização. Na nossa experiência, constatamos que pacientes portadoras de LES obtiveram no teste de caminhada, valores significantemente inferiores aos valores preditos pela equação de Enright e Sherril [14]. Em média de 46,26% menores que os esperados (p < 0,05), sugerindo então um condicionamento físico limitado nestas pacientes, diferentemente do estudo de Fujita et al. [1]. que mostrou que a capacidade submáxima ao exercício encontrava-se dentro dos padrões de normalidade. Os nossos resultados confirmam com dados já publicados por Tenche et al. [18], que pacientes com LES apresentam uma maior desabilidade física, contribuindo para níveis baixos de treinamento aeróbio. A tolerância ao exercício em pacientes com LES pode estar diminuída por múltiplos fatores, sendo eles comprometimento pleuropulmonar, cardíaco, descondicionamento físico pela natureza crônica da doença, com hipotrofia e fraqueza muscular pela presença de hipertensão arterial sistêmica com ou sem doença coronariana associada, artrite em membros inferiores, osteonecrose e neuropatia periférica [3,19]. Em 1993, Winslow et al. [20]. estudaram a relação entre aspectos hemodinâmicos e capacidade de exercício em pacientes com LES. Nesse estudo, 18 pacientes com LES e hipertensão arterial pulmonar foram comparados a 10 controles sadios. Os autores observaram que a tolerância ao exercício estava significativamente diminuída por causa da resposta hemodinâmica alterada durante o exercício, decorrente do aumento da resistência vascular pulmonar, e que essa baixa tolerância poderia estar relacionada à fadiga, queixa comum entre os pacientes com LES. O primeiro estudo abordando condicionamento físico em pacientes com LES data de 1989, um estudo piloto realizado na Universidade de Havard, com um grupo de 23 pacientes utilizando como ergômetro a bicicleta ergométrica concomitante com a avaliação ergoespirométrica [3]. O segundo estudo foi publicado em 1995 pelo mesmo grupo, onde autores avaliaram a fadiga, a depressão e a tolerância ao exercício em pacientes com LES, durante o teste ergométrico. Estes observaram melhora da capacidade aeróbia, fadiga e depressão após três meses de treinamento [3]. Ainda em 1995, Sakauchi et al. [21]. constataram baixa capacidade aeróbica para o exercício em pacientes com LES, tendo como causa o aumento insuficiente do pulso de oxigênio durante o exercício incremental. Essa redução seria decorrente do aumento insuficiente do volume sistólico e/ou da diferença arteriovenosa em pacientes com LES durante o exercício, considerando que o pulso de oxigênio corresponde ao volume de oxigênio extraído pelo tecido periférico por Tabela I - LES: Parâmetros relacionados aos períodos pré e póscaminhada. Parâmetro FC FR SpO2 Borg Pré N Média DP 17 88,2 ± 15,5 17 18,5 ± 2,7 17 0,9 ± 0,03 17 3,1 ± 2,6 Pós N 17 17 17 17 Média 109,9 23,2 0,9 6,7 DP P ± 19,7 < 0,05 ± 2,6 < 0,05 ± 0,01 NS ± 2,9 < 0,05 Resultados expressos em média e desvio- padrão da Freqüência Cardíaca, Freqüência Respiratória, Saturação de Oxigênio e valores da Escala Subjetiva de Borg. Durante o teste de caminhada, 8 pacientes das 17 interromperam o teste antes de completar os seis minutos, devido à presença de fadiga muscular em membros inferiores. Não observamos diferença significativa entre o grupo de pacientes estimuladas quando comparados com o grupo de pacientes não estimuladas verbalmente p > 0,05. Discussão Com a generalização dos métodos de imagem não invasivos, cada vez mais atenção vem sendo dada às alterações cardíacas e pulmonares em pacientes com LES, sendo estes considerados como órgãos alvo freqüentemente atingidos pela doença. Manzi et al. [15]. observaram risco 52 vezes maior de as mulheres com LES desenvolverem doença coronariana na faixa etária entre 35 e 44 anos, quando comparadas a controles normais de mesma faixa etária, mostrando a precocidade de eventos coronarianos nestas pacientes. O sistema cardiovascular e pulmonar tem como função principal manter o processo de respiração celular. Desta forma, a utilização de um teste de esforço para avaliar o consumo de oxigênio e a eliminação de gás carbônico de forma direta é uma maneira de aferir não só a integridade desses sistemas, mas também as adaptações a eles impostas durante a realização de exercícios [3]. Em nosso estudo verificamos que o teste de caminhada de 6 minutos foi um método satisfatório para estimar a capacidade aeróbia de pacientes com LES. Segundo Enright e Sherril [14]. o padrão do teste de seis minutos foi incluído juntamente com outros testes para determinação de fatores de risco para doenças cardiopulmonares. Para Minor et al. [16]. a evolução preliminar do teste submáximo para estimar a capacidade aeróbia na mulher com doença reumática, indica ter uma excelente confiança e poderia provar ser um método estável de acessar a capacidade aeróbia nesta população. fisioterapia_v7n3.indb 184 3/7/2006 19:04:20 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 185 batimento cardíaco, justificando sua correlação com o volume de ejeção sistólica. Estudos têm demonstrado o efeito do aprendizado em relação ao teste da caminhada, principalmente se repetidos em curto espaço de tempo [17,22]. Observamos que não houve diferença significativa quando comparamos o grupo das mulheres estimuladas verbalmente com o grupo das não estimuladas (p > 0,05), constatando assim, que pacientes incentivadas não apresentam melhor desempenho que as não incentivadas. Em nosso protocolo, as frases de incentivo padronizadas buscaram sempre melhorar e não manter o desempenho do paciente, que sempre era acompanhado por um orientador. Constatamos um aumento da freqüência cardíaca, freqüência respiratória, pressão arterial e Borg quando comparados no início e no final do teste de caminhada de 6 minutos, mantendo valores dentro dos parâmetros de normalidade (p < 0,05). Esse acréscimo, ocorre pois durante o exercício, a freqüência cardíaca aumenta linearmente com o consumo de oxigênio, e a formação de dióxido de carbono exige um aumento proporcional na ventilação pulmonar aumentando assim a freqüência respiratória, e o aumento da pressão arterial se deve ao aumento do débito cardíaco [23]. Na saturação de oxigênio não foi observada alteração significativa p > 0,05. Brandão et al. [22] mostrou em seu estudo que a intensidade de percepção do esforço (Borg), pode ser modificada pelo exercício, sexo e idade. Com isso verifica-se que o exercício pode aumentar os níveis na escala subjetiva de Borg. Visto que o sistema pulmonar é freqüentemente atingido pelo LES, avaliamos os comprometimentos pulmonares através da realização de testes de função pulmonar. Martinez et al. [24], em 2004, relata que o estado funcional dos pulmões de pacientes lúpicos, mesmo sem história de comprometimento pulmonar, revelou um padrão restritivo com diminuição da capacidade vital, capacidade pulmonar total e diminuição da difusão de CO2, ao lado de hiperventilação, hipoxemia, hipocapnia e aumento significativo da diferença alvéolo- arterial do oxigênio. As alterações dos testes de função pulmonar ocorrem freqüentemente em pacientes com LES, mesmo quando não há atividade da doença, sintomas respiratórios e alterações ao exame radiográfico do tórax [7]. Não existem estudos longitudinais que correlacionem anormalidades seriadas nas provas de função pulmonar com achados de lavado broncoalveolar ou com achados histológicos [7]. O diafragma pode apresentar inabilidade para gerar pressão normal por fraqueza, diminuição da excursão diafragmática ou imobilidade devido a possíveis adesões pleurais [7,25]. A função pulmonar anormal é bem menos comum se o paciente é assintomático. Segundo Barreto et al. [7], em um estudo realizado por Silberstein et al., mais de 88% dos pacientes com LES, mostraram ter a função pulmonar anormal. Em nosso estudo, verificamos alterações nos testes função pulmonar quando comparamos valores obtidos com os previstos que foram avaliados por equações de acordo com idade, sexo e altura. A CVF mensurada por um espirômetro portátil, foi significantemente menor que o predito p < 0,05. O que discorda dos resultados encontrados por Fujita et al. [1]. no qual demonstraram que os valores de CVF apresentavam -se dentro dos padrões de normalidade em pacientes com LES. Quando a CVF encontra-se em valores inferiores ao predito em indivíduos com padrão restritivo, pode ser resultado de um aumento na quantidade ou no tipo de colágeno ou em qualquer doença que afete a função de fole da parede torácica ou a distensibilidade do tecido pulmonar [26]. Na musculatura respiratória a força é mensurada através de pressões respiratórias máximas (PiMax e a PeMax), a velocidade de contração através do fluxo aéreo alcançado, e o encurtamento muscular através da variação do volume pulmonar [27]. A PeMax, também obteve significância de 23,57% quando comparado o obtido com o predito pela equação de Black [11]. diferentemente da PiMax, onde não houve significância estatística p < 0,05. A análise do pico de fluxo expirado, também não revelou significância estatística, não detectando assim presença de um processo bronco-obstrutivo. Gibson et al. [25] estudaram a função diafragmática e o envolvimento pulmonar em 30 pacientes com LES, e observaram um aumento nas taxas de anormalidades em relação aos testes de função pulmonar. Em 7 dos pacientes com menor volume pulmonar as medidas de curva de volume pressórico estático e a pressão respiratória máxima indicou uma restrição de volume extra pulmonar. Em 4 pacientes houve grandes anormalidades da função diafragmática. fisioterapia_v7n3.indb 185 Conclusão Ao verificarmos a literatura sobre este tema, parece não haver um consenso, embora o presente estudo concorde com a maioria dos autores. Entretanto estudos adicionais são necessários devido à escassez de trabalhos encontrados. Neste trabalho verificamos que o teste de caminhada submáxima (TC6), parece ser um método válido e de fácil execução para estimar a capacidade aeróbia em mulheres com LES, e que o teste quando realizado com incentivo não demonstra valores significantemente maiores. A análise da população estudada demonstra que pacientes com LES apresentam valores inferiores aos esperados no teste de esforço submáximo, quando comparados com os previstos, assim como a presença de comprometimento pulmonar através dos resultados obtidos nos testes de função pulmonar. Podemos concluir assim, que seja viável para estas pacientes a realização de uma adaptação cardiopulmonar no sentido de reduzir os efeitos inerentes da própria patologia de base e portanto melhorar a qualidade de vida. 3/7/2006 19:04:20 186 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Referências 14. Enright PL, Sherrill DL. Reference equations for the sixminute walk in healthy adults. Am J Respir Crit Care Med 1998;158:1384-7. 15. Manzi S, Meilahn EM, Raire JE. Age-specific incidence rates of myocardial infarction and angina in woman with sytemic lupus erythematosus: compararison with the Framingham study. Am J Epidemiol 1997;145:408-15. 16. Minor MA, Johnson JC. 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Para tanto foram utilizadas dois modelos de tábua proprioceptiva (T1 e T2), iguais na base de apoio para os pés, porém diferentes no seu contato com o solo. Os 05 (cinco) indivíduos, utilizados no teste, foram posicionados em apoio bipodal, sendo captado o sinal eletromiográfico em dois momentos, um com os pés mais separados e outro com os pés mais próximos. Os resultados obtidos evidenciaram maior atividade mioelétrica no músculo gastrocnêmio, comparativamente com o músculo tibial anterior, durante os testes tanto com os pés mais próximos quanto mais afastados, em ambas as tábuas. Esta diferença ficou mais evidente na probabilidade 90%, tanto para a separação menor entre os pés (p = 0,0345), quanto maior (p = 0,0215). Ao se considerar a separação entre os pés, T1 produziu diferença significativa em tibial anterior, com os pés mais separados para a probabilidade 50% (p = 0,0346) e probabilidade 90% (p = 0,0398) e, para gastrocnêmio na probabilidade 90% (p = 0,0216). The purpose of this study is to make a surface electromyography research of the anterior tibialis muscle, and gastrocnemium medial face, during the utilization of two models of disk training, in two different bases of suport. For this matter it was used two models of disk training (T1 and T2) used to proprioceptive training, identical in the foot base, however, different in its contact with the floor. The 05 (five) individuals treated in this test, were positioned in two foot support, having the electromyography sign captured in two moments; one with the feet more apart and the other with the feet more joined. The results obtained during the test evidencied of greater myoelectric activity for the gastrocnemium muscle, compared to the anterior tibialis muscle, either with the feet more joined or apart, in both disk training. The difference was more evident in the 90% probability, either for the minor distance between the feet (p = 0.0345), or the greatest (p = 0.0215). Considering the distance between the feet, T1 produces significant difference in the anterior tibialis with the feet more separated with the 50% probability (p = 0.0346) and 90% probability (p = 0.0398) and, as for gastrocnemium with the 90% probability (p = 0.0216). Palavras-chave: eletromiografia de superfície, fisioterapia, propriocepção, tábua de equilíbrio. Key-words: Surface electromyography, physical therapy, proprioception, disk training. Introdução da função, a melhora da força muscular e/ou a melhora da propriocepção. Esta última, por sua vez, nada mais é do que a percepção consciente da posição em que se encontram determinados segmentos corporais no espaço, que permite a manutenção da harmonia corporal em seus segmentos e dos segmentos em relação ao espaço [1]. Exercícios que O tratamento fisioterapêutico de um indivíduo, após lesão de membros inferiores, principalmente em joelho e tornozelo, seja desportista ou não, é freqüentemente realizada através da execução de exercícios que objetivam o restabelecimento Recebido 15 de julho de 2005; aceito 15 de março de 2006. Endereço para correspondência: Roger Hungria de Paula, Rua Dr. Costa Reis, 103 Centro 36750-000 Palma MG, Tel: (32) 3446 1323, E-mail: [email protected], Flávio Boechat Oliveira, E-mail: fi[email protected] fisioterapia_v7n3.indb 187 3/7/2006 19:04:22 188 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 buscam a melhora da propriocepção, normalmente inicia-se primeiramente por execuções com apoio dos membros em superfície firme, depois numa superfície macia como uma espuma e por fim, em uma base reduzida e instável, como a tábua proprioceptiva [2-5]. Ashton-Miller et al. [6] questionam o efeito que determinados exercícios, como os realizados em tábua de equilíbrio, tem sobre duas modalidades clássicas de propriocepção, que são: percepção do posicionamento do membro e a capacidade de perceber ou reagir a um estímulo, neste caso o movimento articular. Entretanto, os exercícios para treinamento de propriocepção estão entre os mais eficientes na recuperação de pacientes acometidos de lesão de membro inferior, notadamente na torção de tornozelo, apesar de o mecanismo que redunda em tal problema não estar ainda bem estabelecido. Freeman et al., apud [7], propuseram que a instabilidade ocorre pela falta de coordenação motora, após a lesão, sendo que na presença de edema articular, não há instabilidade apenas por déficit de controle motor, mas também por alteração da pressão intra-articular, causando distúrbio na condução aferente pela lesão nos ligamentos. Assim, na presença de lesão ligamentar, a estabilidade estaria comprometida não só pela lesão no ligamento mas, também, pelo retardo que ocorre nas informações processadas pelos mecanorreceptores musculares para disparar o reflexo miotático, sendo este o primeiro mecanismo a reagir ao estímulo, que é normalmente de aproximadamente 40 msec [4]. O treinamento com o disco ou tábua de equilíbrio (TE), foi desenvolvido para que houvesse a reabilitação dessas estruturas que são lesionadas e vários protocolos e modelos de TE estão disponíveis no mercado. As TE variam em largura, formato, podem ser quadrada, retangular ou redonda e variam também a forma como mantém a base de apoio com o solo. Apesar desse método de reabilitação ser amplamente difundido, pouco se conhece acerca das respostas fisiológicas e/ou proprioceptivas durante sua utilização. O objetivo do presente trabalho foi realizar um estudo piloto para avaliar a atividade elétrica dos músculos gastrocnêmico e tibial anterior durante exercícios proprioceptivos realizados em dois diferentes modelos de tábua de equilíbrio. Os indivíduos foram posicionados sobre a tábua em apoio bipodal, primeiro com os pés posicionados com o maior afastamento, com uma distância de 30 cm entre os pés segundo delimitação feita na tábua, depois com os pés mais próximos,com uma distância de 10 cm, também dentro de demarcações. Depois foram estimulados a tentarem manter o equilíbrio sobre a tábua, sem apoio para as mãos. Todos foram testados primeiro na tábua T1, depois na tábua T2. Materiais e métodos Cinco indivíduos voluntários saudáveis do sexo masculinos, destros, participaram deste estudo e suas características são apresentadas na tabela I. Dois modelos de tábuas de equilíbrio denominadas T1 e T2, neste estudo, foram utilizadas durante os testes, sendo ambas construídas com a parte superior, nas quais os pés são apoiados, de formato quadrado, medindo 50 cm de lado. A tábua T1 possui o ponto de apoio com o solo em forma de um semicilindro deitado, medindo 30 cm de comprimento e 10 cm de diâmetro e a tábua T2 tem o ponto de apoio em forma de uma semi-esfera com 7,5 cm de diâmetro. fisioterapia_v7n3.indb 188 Tabela I - Características individuais. Idade (anos); estatura (m) e massa (kg). Indivíduo I1 I2 I3 I4 I5 Idade Estatura (m) Massa (kg) 27 26 34 26 39 1,73 1,90 1,70 1,73 1,80 69 102 81 74 91 Os exames da ação musculares foram realizados por apreciação do registro da eletromiografia de superfície (EMG) dos músculos investigados no membro direito de cada indivíduo. Para tanto, inicialmente, os indivíduos tiveram a região, sobre a qual seriam fixados os eletrodos, limpa com álcool. Os eletrodos foram então fixados sobre o ventre dos músculos tibial anterior (TA) e gastrocnêmio medial (GT). Os eletrodos de medida eram distanciados de 2,5 cm e posicionados em relação ao ventre muscular de acordo metodologia recomendada na literatura [8]. O eletromiógrafo utilizado foi o ME3000P8 e os sinais EMG de ambos os músculos foram registrados simultaneamente em tempo real, por um notebook, depois de amostrados na freqüência de 1000 Hz, através do software ME3000P8. Inicialmente, cada eletromiograma foi convertido em valores RMS (Root Mean Square), calculados sobre janelas consecutivas de 100 ms. Uma primeira análise do EMG foi desenvolvida para comparar as atividades mioelétricas obtidos em cada teste. Para tanto, foram calculadas as probabilidades 10% (P10), 50% (P50) e 90% (P90) de acordo como metodologia proposta para avaliação do estado de estresse a que uma musculatura está submetida [2], bem como a média do RMS por meio da estimativa da função de probabilidade acumulada, partindo da ordenação de todos os valores do RMS de cada músculo e teste em ordem crescente [9, 2]. Além disso, cada sinal RMS foi filtrado em passa-baixa com freqüência de corte em 10 Hz (Butterworth, 3a ordem), com o intuito de investigar a existência de padrão de ação muscular durante cada teste. Foram utilizados os testes estatísticos Friedman 2- way ANOVA e Wilcoxon para dados pareados com nível de significância de 0,05. Resultados De uma forma geral a identificação de um padrão de ativação mioelétrica, para o GT e TA, não foi evidente, con- 3/7/2006 19:04:22 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 189 siderando todos os testes. Quatro indivíduos apresentaram características de ação que parece indicar a ação de agonista e antagonista atuando em fases inversas na atividade do TA e GT, sendo que tais características ficaram mais evidentes somente nos testes com a tábua T2 e com menor afastamento entre os pés, conforme o observado com o sujeito 1 (Fig. 1). Figura 3 - Resultado da probabilidade 90% da FDPA do RMS do músculo TA de cada sujeito, nos testes com separação entre os pés maior (MX) e menor (MI). Figura 1 - Envelope do sinal EMG, determinado a partir do RMSEMG filtrado (10 Hz), dos músculos TA (preto) e GT (cinza) nos testes com as tábuas A) T1 (separação menor); B) T2 (separação menor); C) T1 (separação maior); D) T2 (separação maior). Dados relativos ao Sujeito #1. Também foi observada em quatro dos cinco indivíduos maior atividade com os pés mais separados para o músculo GT (Fig. 4). Figura 4 - Resultado da probabilidade 90% da FDPA do EMG do músculo GT de cada sujeito, nos testes com separação entre os pés maior (MX) e menor (MI). Apesar deste padrão de ação, a atividade do GT pareceu estar presente durante todo o teste, mesmo nos períodos de ação mais intensa do TA, enquanto que, a desse último, mostrou-se bem baixa durante a maior parte do tempo e com presença de picos bem característicos. O outro indivíduo apresentou uma característica mais semelhante a da presença de coativação simultânea de ambos os músculos, mas mantendo também a tendência de presença de picos de ação de TA bastante evidente (Fig. 2). Figura 2 - Envelope do sinal EMG, determinado a partir do RMSEMG filtrado (10 Hz) do TA (preto) e GT (cinza) nos testes com as tábuas A) T1 (separação menor); B) T2 (separação menor); C) T1 (separação maior); D) T2 (separação maior). Dados relativos ao Sujeito #3. Com respeito à probabilidade 50% as intensidades mais altas no GT e TA ficaram distriubuídas entre os testes, sem tendência definida (Fig. 5 e Fig. 6). Resultados similares foram observados também para a probabilidade 10% e a média. Figura 5 - Resultado da probabilidade 50% da FDPA do RMSEMG do músculo TA de cada sujeito, nos testes com separação entre os pés maior (MX) e menor (MI). Com relação à comparação da atividade entre os testes, a única tendência observada em todos os indivíduos foi a da existência de maior atividade mioelétrica no TA, nos testes desenvolvidos na tábua T1 e com os pés mais separados, conforme revelado pela probabilidade 90% (Fig. 4) da função de distribuição de probabilidade acumulada (FDPA). fisioterapia_v7n3.indb 189 3/7/2006 19:04:23 190 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Figura 6 – Resultado da probabilidade 50% da FDPA do RMSEMG do músculo GT de cada sujeito, nos testes com separação entre os pés maior (MX) e menor (MI). Comparando as tábuas em separação menor, o músculo TA mostrou-se mais ativos com a tábua T2, com apenas um indivíduo (sujeito 1), com resultado diferente dos demais. Este estudo é pioneiro, que os resultados trazem controvérsias quanto ao que se acredita. As implicações clínicas dos resultados da tábua de equilíbrio na reeducação proprioceptiva é a restauração da função ou alteração das experiências de percepção através de um novo programa neuromotor. Conclusão Os testes estatísticos corroboraram algumas das tendências observadas pois, na comparação entre as tábuas revelaram, que para o TA, a probabilidade P10% foi maior na T1 nos testes com os pés mais separados (p = 0,0398) e, para o GT em T2, na probabilidade 90%, tanto para a separação menor entre os pés (p = 0,0345), quanto maior (p = 0,0215). Quanto a comparação entre as separações entre os pés, considerando ambas as tábuas, apenas T1 produziu diferença significativa, quando, para o TA, a maior separação entre os pés produziu maior atividade para as probabilidades 50% (p = 0,0346) e 90% (p = 0,0398) e, para o GT, para a probabilidade 90% (p = 0,0216). Discussão No presente estudo, investigamos, através da eletromiografia de superfície, a atividade dos músculos TA e GT, quando voluntários realizaram exercícios proprioceptivos em dois modelos de tábua de equilíbrio, mantendo os pés mais afastados e mais próximos. Nos artigos investigados não encontramos nenhum estudo similar. Os envoltórios lineares observados no sinal EMG evidenciaram que o músculo GT manteve-se em atividade durante todo o tempo de registro dos exercícios, mostrando sua participação ativa na manutenção do equilíbrio, atuação esta mais evidente do que no TA, esse se mostrou com maior atividade na tábua T2, com os pés mais próximos. Os resultados obtidos da probabilidade 90% mostraram maiores picos de atividade na tábua T1 para o músculo TA, em maior separação para os pés, em todos os indivíduos testados. Isto significa maior atividade deste músculo nesta posição, ao contrário do que se poderia pensar, pois com os pés mais próximos a base de equilíbrio diminui, sendo esperado maior dificuldade nesta posição e a tábua T1 possui o ponto de apoio com o solo em forma de um semicilindro deitado, que promove deslocamentos apenas em um sentido, equanto a T2 promove uma maior possibilidade de deslocamentos, já que o contato é uma esfera. É preciso fazer esta consideração aqui. fisioterapia_v7n3.indb 190 Embora este estudo tenha tido caráter exploratório dada a escassez de estudo na área de pesquisa, os resultados aqui encontrados permitem concluir que existe diferença de ação muscular, entre dois modelos de tábua utilizadas no treinamento de propriocepção, informação de grande importância para nortear o protocolo de tratamento. Portanto, deve-se avaliar que tipo de tábua deve-se utilizar, de acordo com a fase evolutiva do paciente. Referências 1. Dantas EHM. Flexibilidade: alongamento e flexionamento. 4ª ed. Rio de Janeiro: Shape; 1999. 2. Aarås A, Fostervold KI, Ro O et al. Postural load during VDU work: A comparison between various work postures. Ergonomics 1997;40(11):1255-68. 3. Basmajian JV. Terapeutica por el ejercicio. 3ª ed. Buenos Aires: Panamericana; 1986. 4. Bernier J, Perrin D. Effect of coordination training on proprioception of the functionally unstable ankle. J Sports Phys Ther 1998;27(4). 5. Hall SJ. Biomecânica Básica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 2000. 6. Ashton-Miller J et al. Can Proprioception really be improved by exercises? Knee Surg Sports Traumatol Arthrosco 2001;9:12836. 7. Osborne MD et al. The effect of ankle disk training on muscle reaction time in subjects with a hitory of ankle sprain. Am J Sports Med 2001;29(5):627. 8. Surface EMG for the Non-Invasive Assessment of Muscles (SENIAM8). European Recomendation for Surface Electromyography; 1999. 9. Jonsson B. Quantitative electromyographic evaluation of muscular load during work. Scand J Rehabil Med 1982;(6):69-74. 3/7/2006 19:04:24 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 191 Artigo original Análise comparativa da força muscular respiratória entre idosas institucionalizadas e não institucionalizadas Comparative analysis of respiratory muscle strength between elderly institutionalized and non institutionalized Rodrigo Polaquini Simões*, Marco Antonio Auad**, Jadiane Dionísio***, Marisa Mazzonetto**** *Fisioterapeuta, Estagiário voluntário do Laboratório de Fisioterapia Cardiovascular da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, Aluno do curso de especialização em Fisiologia do Exercício da Universidade Federal de São Carlos, **Fisioterapeuta, Aluno do Curso Avançado em Ortopedia do Hospital das Clínicas – FMUSP, Fisioterapeuta da Clínica Lage, São Paulo – SP, ***Fisioterapeuta, Aluna do curso de especialização em Neuropediatria da UFSCar, ****Fisioterapeuta, docente na disciplina fisioterapia aplicada a cardiologia e pneumologia e coordenadora do curso de Fisioterapia da Universidade Camilo Castelo Branco, campus VIII, Descalvado SP Resumo Abstract Objetivos: Avaliar se há diferenças na força muscular respiratória (FMR), verificada através da pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx) com o avançar de cada década a partir dos 60 até 89 anos, tanto em idosas institucionalizadas como não institucionalizadas, e comparar os valores entre estes dois grupos. Metodologia: Foram estudadas 105 mulheres com idade entre 60 e 89 anos (50 não institucionalizadas e 55 institucionalizadas), sendo excluídas pneumopatas, praticantes de atividade física regularmente, fumantes e ex-fumantes. Todas realizaram o teste de manovacuometria em posição sentada, sendo previamente demonstrado as manobras a serem realizadas, sustentando-as em seu máximo por aproximadamente um segundo, e após três repetições o maior valor obtido foi o registrado. Utilizou-se o teste t Student com p < 0,05. Resultados: Redução na FMR foi encontrada com o avançar de cada década a partir dos 60 anos, sendo os valores tanto da PImáx como da PEmáx significativamente menores nas idosas institucionalizadas quando comparado com as não institucionalizadas da mesma década. Conclusão: A menor FMR nas idosas institucionalizadas, pode estar relacionado com o menor nível de atividade destes indivíduos em suas rotinas diárias, acelerando o processo de perda de massa muscular respiratória. Objectives: To evaluate differences in the respiratory muscle strength (RMS), verified through the maximal inspiratory pressure (MIP) and maximal expiratory pressure (MEP) with advancing of each decade from the 60 until 80 years old, in elderly women institutionalized and non institutionalized, and to compare the values between two groups. Methods: 105 women with age between 60 and 89 years had been studied (50 non institutionalized and 55 institutionalized), being excluded individuals with respiratory diseases, regularly practitioners of physical activity, smokers and former smokers. All had been submitted to the manovacuometry test in seated position, being previously demonstrated the correct maneuvers to be carried through, and had been sustained for at least one second, and after three repetitions the highest value was the registered one. Test t Student with p < 0,05 was used. Results: Reduction in the RMS was found with advancing of each decade after 60 years, being the values of the PImáx and PEmáx significantly lesser in the elderly institutionalized when compared with non institutionalized of the same decade. Conclusion: The lesser RMS in the institucionalized elderly, can be related with the decrease in activity level of these individuals in their daily routines, speeding up the loss process of respiratory muscular mass. Palavras-chave: força muscular respiratória, pressão inspiratória máxima, pressão expiratória máxima, idoso. Key-words: respiratory muscle strength, maximal inspiratory pressure, maximal expiratory pressure, elderly. Recebido 1 de agosto de 2005; aceito 15 de maio de 2006. Endereço para correspondência: Rodrigo Polaquini Simões, Av. Paulo VI, 474 Jardim Cruzeiro do Sul 13572-140 São Carlos SP, Tel: (16) 33752540, E-mail: [email protected] fisioterapia_v7n3.indb 191 3/7/2006 19:04:25 192 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Introdução torácica, que juntamente com as mudanças nas propriedades do pulmão e da parede torácica, podem causar aumento do diâmetro ântero-posterior (AP), chamado de enfisema senil [6]. A alteração postural e da estrutura da caixa torácica, promove encurtamento da cadeia inspiratória, que segundo Souchard é compreendida pelos músculos peitoral menor, escalenos, intercostais externos e o diafragma, com isso o pulmão tem menor volume de ar corrente [11]. Todas estas alterações fisiológicas citadas anteriormente são próprias do processo de senescência, e promovem um declínio na função respiratória geral dos idosos [12]. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é avaliar se há diferenças na força muscular respiratória verificada através da PImáx e PEmáx com o avançar de cada década à partir dos 60 até os 89 anos, tanto em idosas institucionalizadas como não institucionalizadas, e comparar os valores entre estes dois grupos. Técnicas para avaliar a força da musculatura respiratória (FMR) são amplamente utilizadas por poder identificar possíveis fraquezas, fadiga ou até falência dos músculos respiratórios [1]. A mensuração da FMR pode ser avaliada através da pressão subatmosférica que estes músculos são capazes de gerar. Sendo portanto, a pressão inspiratória máxima (PImáx) a maior pressão que pode ser gerada durante a inspiração forçada, contra uma via aérea ocluída; e a pressão expiratória máxima (PEmáx) a maior pressão que pode ser desenvolvida durante um vigoroso esforço expiratório contra uma via aérea ocluída [2]. A PEmáx é uma medida que indica a força dos músculos abdominais e intercostais, já a PImáx indica a força do principal músculo inspiratório, o diafragma [3]. A medida da FMR através da PImáx e PEmáx tem sido considerada desde as décadas de 60 e 70, como um método simples, prático, rápido e não invasivo [3,4], avaliando não só a FMR de indivíduos saudáveis, como também de pneumopatas [5] e de pacientes com patologias neuromusculares [6]. Com o progressivo avanço da idade, mudanças nas propriedades físicas do pulmão e da caixa torácica são inevitáveis, tais como alterações na quantia e na composição dos componentes dos tecidos conjuntivos do pulmão, como a elastina, colágeno e proteoglicanos [7]. Quanto a parede do tórax, esta sofre progressivo enrijecimento devido a calcificação das costelas e das articulações vertebrais [8,9]. As alterações nas propriedades físicas do pulmão do idoso, refletem em algumas mudanças nos volumes e capacidades pulmonares. O volume residual (VR) é aumentado devido às modificações nas propriedades elásticas do pulmão, levando a uma ligeira redução na capacidade vital (CV), e aumento na capacidade residual funcional (CRF). A CRF é determinada pelo equilíbrio entre a tendência natural do pulmão para retrair e a tendência contrária da parede do tórax para expandir [8,10]. Com o envelhecimento, aumento das curvaturas da coluna é verificado, acentuando portanto a cifose da porção Materiais e métodos Foram estudadas 105 mulheres com idade entre 60 e 89 anos (média de 74,75 ± 2,37 anos), sendo estas divididas em dois grupos: Grupo 1: Não institucionalizadas, constituído de 50 mulheres separadas em três subgrupos: 1A) Não institucionalizadas com idade de 60 a 69 anos (N = 17); 1B) Não institucionalizadas com idade entre 70 e 79 anos (N = 15); e 1C) Não institucionalizadas com idade entre 80 e 89 anos (N = 18). Grupo 2: Institucionalizadas, constituído de 55 mulheres separadas em três subgrupos: 2A) Institucionalizadas com idade entre 60 e 69 anos (N = 17); 2B) Institucionalizadas com idade entre 70 e 79 anos (N = 18); e 2C) Institucionalizadas com idade entre 80 e 89 anos (N = 20). A coleta de dados das idosas institucionalizadas, foi realizada em três asilos localizados na cidade de São Carlos-SP e três na cidade de Descalvado-SP. A Tabela I mostra as características antropométricas individuais das participantes estudadas, com relação à idade, peso, altura e índice de massa corpórea (IMC), em médias e desvios padrão. Tabela I - Características antropométricas das participantes. Grupo 1 (Não Institucionalizadas) 1A (60 - 69 anos) 1B (70 - 79 anos) 1C (80 - 89 anos) Grupo 2 (Institucionalizadas) 2A (60 - 69 anos) 2B (70 - 79 anos) 2C (80 - 89 anos) N Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) IMC (Kg/m2) 17 15 18 64,64 ± 2,28 74,53 ± 2,35 84,77 ± 2,34 73,25 ± 3,89 62,83 ± 2,90 64,15 ± 3,53 1,65 ± 0,10 1,58 ± 0,05 1,61 ± 0,04 26,90 ± 1,21 25,16 ± 2,32 24,74 ± 1,65 17 18 20 64,76 ± 2,53 74,55 ± 2,35 85,30 ± 2,38 65,53 ± 2,87 64,30 ± 3,62 60,45 ± 3,45 1,63 ± 0,09 1,60 ± 0,07 1,59 ± 0,05 24,66 ± 2,73 25,11 ± 3,15 23,91 ± 1,85 N: número de participantes; Kg: quilogramas; m: metros; fisioterapia_v7n3.indb 192 3/7/2006 19:04:26 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 193 Foram selecionadas para participar deste estudo mulheres com faixa etária entre 60 e 89 anos, não praticantes de atividade física regularmente, sem qualquer problema respiratório agudo ou crônico, com peso entre a faixa de classificação de normal (IMC de 18,5 a 24,9 kg/m2) a sobrepeso (IMC de 25 a 29,9 kg/m2) segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), não fumantes nem ex-fumantes, sem qualquer alteração na região torácica e/ou abdominal como retrações cutâneas ou desvios estruturais acentuados na coluna, que possam alterar a dinâmica respiratória. Para obtenção dos valores da pressão inspiratória e expiratória máxima, foi utilizado um manovacuômetro (Critical Med, Indústria Brasileira) do tipo anaeróide, com intervalo operacional de 0 a +300 cmH2O para pressões expiratórias e 0 a -300 cmH2O para pressões inspiratórias. Os sujeitos foram orientados a ficarem em posição sentada e com uma postura adequada. Foi realizado uma demonstração de como deveria ser efetuada a manobra anteriormente a realização pelo próprio sujeito, logo após foi colocado um clip nasal no participante, e este com o bocal entre os dentes e com os lábios bem fechados em torno do mesmo para não permitir escape de ar, realizava a manobra de inspiração forçada à partir do volume residual (VR), repetindo-a três vezes com intervalo de um minuto entre cada repetição. Posteriormente foi realizado a expiração forçada à partir da capacidade pulmonar total (CPT), utilizando a mesma metodologia aplicada na manobra de inspiração. Para a obtenção dos valores da PImáx e da PEmáx, os indivíduos sustentavam a manobra de esforço respiratório em seu máximo durante aproximadamente um segundo [2], o maior valor obtido das três repetições em cada manobra, foi o valor registrado. Vale ressaltar que a manovacuometria foi realizada em todos indivíduos por um único avaliador, e sob comando verbal homogêneo. Os dados foram organizados de tal forma a possibilitar a aplicação das análises estatísticas, a fim de verificar se houve diferenças significativas dos valores entre os dois grupos e intragrupos, para tal, foi utilizado o programa Data Analysis and Technical Graphics Origin 6.0, com análise através do Teste t de Student para duas amostras com nível de significância p < 0,05. Resultados Os resultados foram analisados de acordo com as variáveis estudadas, calculando a média dos valores obtidos em cada subgrupo dos dois grupos (não institucionalizadas e institucionalizadas), e posteriormente foi comparado os valores encontrados da PImáx e da PEmáx entre os subgrupos de cada grupo, ou seja, os valores de ambas variáveis entre o subgrupo com faixa etária de 60 a 69 anos com o de 70 a 79 anos, e este último com o de 80 a 89 anos, tanto entre os subgrupos de institucionalizadas como os de não institucionalizadas (Tabela II). Tabela II - Pressão inspiratória e expiratória máxima das institucionalizadas e não institucionalizadas. ++Significância (p < 0,05) entre institucionalizadas e não institucionalizadas do mesmo subgrupo. †Significância (p < 0,05) entre os subgrupos de 60 - 69 anos e 70 - 79 anos em cada grupo. +Significância (p < 0,05) entre os subgrupos de 70 - 79 anos e 80 - 89 anos em cada grupo. Não institucionalizadas Idade (anos) 60 - 69 70 - 79 80 - 89 Institucionalizadas PImáx (cmH2O) 66,17 ± 15,73 55,66 ± 8,83† 49,72 ± 8,12+ PEmáx (cmH2O) 63,82 ± 13,75 50,00 ± 6,26† 44,16 ± 9,88 PImáx (cmH2O) 44,11 ± 14,23++ 33,88 ± 8,40++† 32,50 ± 10,39++ PEmáx (cmH2O) 40,58 ± 15,73++ 33,33 ± 10,78++ 28,50 ± 15,34++ PImáx: dada em valores negativos; PEmáx: dada em valores positivos. Foi verificado uma redução progressiva com o avançar de cada década em ambas variáveis (Figura 1 e 2), sendo que em relação aos valores de PImáx, diferença não significativa foi encontrada apenas quando comparado os valores do subgrupo de 70 a 79 anos com o de 80 a 89 anos do grupo de institucionalizadas (Figura 1); já em relação aos valores de PEmáx, diferença significativa foi encontrada apenas com o comparativo entre o subgrupo de 60 a 69 anos com o de 70 a 79 anos do grupo de não institucionalizadas (Figura 2). fisioterapia_v7n3.indb 193 Figura 1 - Redução progressiva da PImáx das não institucionalizadas e institucionalizadas. * Diferença significativa (p < 0,05) entre o subgrupo de 60-69 e 70-79 anos; ** diferença significativa (p < 0,05) entre o subgrupo de 70-79 e 80-89 anos. 3/7/2006 19:04:26 194 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Figura 2 - Redução progressiva da PEmáx das não institucionalizadas e institucionalizadas. * Diferença significativa (p < 0,05) entre o subgrupo de 60-69 e 70-79 anos. Figura 5 - Comparação dos valores de PImáx e PEmáx em cmH2O entre o grupo de mulheres institucionalizadas e não institucionalizadas, de faixa etária de 80 a 89 anos. * Diferença significativa (p < 0,05). Discussão Quando comparado os valores da PImáx e PEmáx das não institucionalizadas de 60 a 69 anos, 70 a 79 anos, e 80 a 89 anos com as institucionalizadas da mesma faixa etária, foi verificado uma diminuição significativa (p < 0,05) no grupo de mulheres institucionalizadas, como demonstrado nas figuras 3, 4 e 5 respectivamente. Figura 3 - Comparação dos valores de PImáx e PEmáx em cmH2O entre o grupo de mulheres institucionalizadas e não institucionalizadas, de faixa etária de 60 a 69 anos. * Diferença significativa (p < 0,05). Figura 4 - Comparação dos valores de PImáx e PEmáx em cmH2O entre o grupo de mulheres institucionalizadas e não institucionalizadas, de faixa etária de 70 a 79 anos. * Diferença significativa (p < 0,05). fisioterapia_v7n3.indb 194 Os resultados do nosso estudo sugerem que tanto a PImáx como a PEmáx sofrem alterações com a idade, sendo a diminuição de ambas variáveis verificadas com o avançar de cada década à partir dos 60 anos até os 89 anos. Essa redução nos valores, são indícios que perda da força da musculatura respiratória ocorre devido ao processo de envelhecimento, evidenciando um declínio na função respiratória geral, que segundo Rea et al. [13] se inicia aproximadamente na terceira década de vida. Estes nossos resultados corroboram com os encontrados por Vincken et al. [14] e Enright et al. [15], que também encontraram correlação negativa entre os valores das pressão respiratórias máximas e a idade, porém são contrários aos resultados obtidos por Mcelvaney et al. [16] e Bruschi et al. [17], que não encontraram influência da idade sobre os valores pressóricos. As reduções da PImáx e da PEmáx, podem ser explicadas pelas alterações fisiológicas próprias do processo de senescência, como as mudanças na composição do tecido pulmonar e da caixa torácica, que acarretam em diminuição da massa e da eficiência da musculatura respiratória, consequentemente diminuindo a complacência e aumentando o trabalho respiratório [8,9]. As alterações nos volumes e capacidades pulmonares que ocorrem nos idosos também tem influência em sua musculatura respiratória. O volume residual é aumentado, ocasionando redução na capacidade vital e elevação na capacidade residual funcional; essas mudanças acarretam em aumento no volume pulmonar, refletindo em importante encurtamento da musculatura inspiratória [10], e consequentemente diminuindo a força desta musculatura, já que segundo Grossman et al. [18], quando um músculo perde sua flexibilidade normal sua relação comprimento-tensão estará alterada, ocasionando incapacidade do mesmo de produzir um pico de tensão adequado, desenvolvendo fraqueza com retração. As alterações do VR e da CPT, podem influenciar os valores da PImáx e PEmáx, já que estes são gerados em baixos volumes pulmonares (VR) e altos volumes pulmonares (CPT) 3/7/2006 19:04:27 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 195 respectivamente, portanto, estas adaptações fisiológicas podem contribuir para a associação da idade com o declínio dos valores pressóricos inspiratórios e expiratórios [2]. Segundo Enright et al. [15] a idade tem uma forte correlação negativa com a FMR, ou seja, com o avançar da idade os indivíduos tem menor força dos músculos respiratórios, fato este segundo o autor, devido à regressão da massa muscular que ocorre no diafragma e musculatura respiratória acessória, tal como a diminuição da resposta desses músculos a um mesmo nível de estimulação neural. Um outro fato relatado por Neder et al. [2], é que nos indivíduos idosos há um aumento na complacência do compartimento abdominal, podendo ocorrer dissipação da pressão gerada durante a expiração forçada, repercutindo em redução da PEmáx estática. Alguns estudos verificando a PImáx, relatam que sua análise de forma comparativa entre ambos os sexos, apresentam diferenças significativas, na qual os homens tem valores cerca de 30% maior que as mulheres da mesma idade [17,19,20]. Arora et al. [21] relatam o fato de alterações no peso corporal afetar a massa muscular do diafragma. Segundo Schoenberg et al. [22], a melhora na função pulmonar pode ocorrer após pequeno aumento do peso corporal, sendo que o efeito respiratório é atribuído ao aumento na força da musculatura respiratória. Em um trabalho realizado por Kantarci et al. [23], os autores avaliaram quantitativamente o movimento do músculo diafragma em indivíduos saudáveis com diferentes IMC; eles encontraram em seus resultados menor movimento diafragmático nos sujeitos com peso abaixo do normal, quando comparado com indivíduos com peso normal, sobrepeso, e obesos. Apesar da redução progressiva dos valores da PImáx e PEmáx com o avançar de cada década, diferença não significativa foi verificada entre os valores da PImáx das institucionalizadas de 70 a 79 com as de 80 a 89 anos, como também entre os valores da PEmáx das idosas não institucionalizadas desta mesma faixa etária. Este fato pode estar relacionado ao limitado número da amostra, pois talvez com uma maior população de estudo, significância estatística poderia ser encontrada. O fato das reduções dos valores da PEmáx das idosas institucionalizadas não serem significativas entre os grupos etários, pode estar relacionado a já acentuada redução da força muscular respiratória presente nestas idosas, não havendo grandes modificações com o avançar das décadas. Outro fato encontrado em nossos resultados foi uma diminuição significativa quando comparado os valores da PImáx e PEmáx entre as idosas institucionalizadas e não institucionalizadas da mesma década, sugerindo que há menor força tanto da musculatura inspiratória como da expiratória em idosas institucionalizadas. Este fato possivelmente é devido ao menor nível de atividade desses indivíduos em suas rotinas diárias, sendo que grande período do dia passam na posição deitada e sentada, e caminham e/ou realizam alguma atividade em curtos períodos, acelerando o processo de perda de massa muscular, que possivelmente ocorre não só nos músculos respiratórios como também na musculatura periférica. Este processo de perda, é citado em alguns trabalhos na literatura [2, 15], os quais relatam que a inatividade física promove perda tanto da massa muscular periférica, como também da musculatura respiratória. Essa correlação entre nível de atividade física e força muscular respiratória e periférica, foi estudada no trabalho de Powers & Criswell [24], no qual os autores relatam que há evidências que a atividade física dinâmica está associada a um aumento na força e na capacidade de resistência, tanto dos músculos periféricos como também dos músculos respiratórios, sendo atribuída aos exercícios. Auad et al. [25] avaliando a força de preensão palmar de 107 idosos de 60 a 79 anos praticantes de atividade física, concluíram em seu trabalho que tanto os homens quanto as mulheres de 70 a 79 anos, tem força de preensão menor que os indivíduos do mesmo sexo com idade de 60 a 69 anos, sugerindo que perda da força de preensão ocorre com o avançar da idade mesmo em idosos praticantes de atividade física. Em um trabalho também realizado com idosos por Enright et al. [15], os autores verificaram correlação positiva quando comparado os valores de preensão palmar e força muscular respiratória desses indivíduos. Neder et al. [2], também relataram uma positiva e significante associação entre a força muscular periférica (medida através dos extensores do joelho) e a força da musculatura respiratória (medida através da PImáx e PEmáx), ou seja, os indivíduos com menor força na musculatura extensora do joelho, também apresentavam proporcionalmente efetiva diminuição nos valores das pressões respiratórias máximas. Apesar dos resultados encontrados em nosso trabalho, maiores estudos se fazem necessários em relação a FMR em indivíduos institucionalizados, havendo necessidade de intervenções diretas e indiretas relacionadas a força muscular respiratória através de maior atividade músculo-esquelética geral em suas rotinas diárias, desacelerando o processo de perda da FMR, promovendo melhora na função respiratória e evitando complicações diretamente relacionadas a essa diminuição de força. fisioterapia_v7n3.indb 195 Conclusão Com base nos resultados, podemos concluir que com o avançar da idade há diminuição nos valores das pressões respiratórias máximas, tanto nas idosas institucionalizadas como nas não institucionalizadas com faixa etária entre 60 e 89 anos. Entretanto há uma redução significativa nos valores das institucionalizadas quando comparado com as não institucionalizadas, sugerindo acentuada perda de força tanto da musculatura inspiratória como da expiratória neste grupo. 3/7/2006 19:04:28 196 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Referências 13. Rea H, Becklake MR, Ghezzo H. Lung function changes as a reflection of tissue aging in young adults. Bull Eur Physiopathol Respir 1983;18:5-19. 14. Vincken W, Ghezzo H, Cosio MG. Maximal static respiratory pressures in adults: normal values and their relationship to determinants of respiratory function. Bull Eur Physopathol Respir 1987;23:435-9. 15. Enright PL, Kronmal RA, Manolio TA, Schenker MB, Hyatt RE. Respiratory muscle strength in the elderly. Am J Respir Crit Care Med 1994;149:430-8. 16. McElvaney G, Blackie S, Morrison NJ, Wilcox PG, Fairbarn MS, Pardy RI. Maximal static respiratory pressures in the normal elderly. Am Rev Respir Dis 1989;139:277-81. 17. 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Durante este período o grupo experimental participou de um treinamento de alongamento passivo para os músculos isquiotibiais. Os resultados indicaram que houve diferenças significativas somente para o grupo experimental entre o pré e pós-experimento, onde os sujeitos apresentaram maiores magnitudes para as variáveis força e flexibilidade. Os resultados de eletromiografia mostraram que não houve diferenças significativas para ambos os grupos, entre o pré e pós-experimento. Este resultados permitem concluir que o treinamento de alongamento passivo promoveu efeito positivo sobre a capacidade de produção de força, durante contração isométrica. The aim of this study was to verify the effects of muscle stretching exercises on the capacity of force production of harmstrings, during isometric contraction. The sample was composed of twelve subjects, 6 from control group and 6 from experimental group. They were submitted to evaluations of muscular force, electromyography and amplitude of movement, with interval of four weeks between them. During this period, the experimental group participated of a passive stretching training. The results indicated that had significant differences in the experimental group between pre and post-experiment, where the subjects showed greaters magnitudes of force and flexibility. The results of electromyography did not indicate significant differences for both groups between pre and post-experiment. It was conclude that the passive stretching training promoted positive effect on the capacity of force production, during isometric contraction. Key-words: goniometer, force, flexibility, passive stretching. Palavras-chave: goniometria, força, flexibilidade, alongamento passivo. Introdução A performance humana é oriunda de inúmeros fatores interdependentes, tais como força, velocidade, resistência, coordenação e flexibilidade. A flexibilidade é uma qualidade física na qual, por ação voluntária, os movimentos são executados na sua amplitude angular máxima, por articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos e sem risco de lesões [1,2]. Alguns estudos têm demonstrado que indivíduos com boa flexibilidade possuem menor risco de sofrer lesões nas estruturas músculo-articulares, além de desenvolverem positivamente o sistema motor e manter uma boa postura [1,3]. No entanto, geralmente a flexibilidade é vista somente como parte da rotina de treino de indivíduos praticantes de uma atividade física regular e não como um fator que pode influenciar suas atividades da vida diária (AVDs) e, portanto beneficiar sua qualidade de vida. Parece ser consensual que a prática regular de exercícios resistidos promove um aumento da flexibilidade quando realizados em grandes amplitudes articulares [2,3,4] e, que Recebido 19 de julho de 2005; aceito 15 de março de 2006. Endereço para correspondência: Cláudia Tarragô Candotti, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Curso de Fisioterapia, Av. Unisinos, 950 Cristo Rei 93022-000 São Leopoldo RS, Tel: (51) 59-11122 ramal:2203, E-mail: [email protected]; [email protected] fisioterapia_v7n3.indb 197 3/7/2006 19:04:29 198 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 exercícios de alongamento promovem, entre outros benefícios, a prevenção de lesões e dores musculares de efeito tardio [4]. A grande freqüência de problemas e lesões musculares e articulares, dores lombares e limitações na participação em atividades esportivas/recreativas são conseqüências da reduzida flexibilidade [5,6]. Desse modo, entende-se que é particularmente importante o indivíduo apresentar boa flexibilidade na coluna lombar, bem como bom nível de alongamento da musculatura isquiotibial, já que esta condição parece estar associada à menor incidência de lesões lombares crônicas. Não obstante, se a coluna lombar for solicitada além da sua amplitude normal ou se houver restrição na amplitude de movimento da articulação coxo-femoral, no sentido de causarem um “bloqueio” articular, ou ainda, se a musculatura isquiotibial apresentar-se encurtada, poderão ocorrer lesões, resultantes da forte extensibilidade muscular (ou estiramento) muscular e dificuldades nas AVDs [3,7]. A procura por uma atividade física que resulte em um ganho de força ocorre freqüentemente com objetivo estético, de lazer ou competitivo. Considerando que tanto a flexibilidade quanto a força são componentes da aptidão física relacionados à saúde, entende-se que o ideal seria desenvolver o treinamento de ambas capacidades motoras paralelamente [7]. Infelizmente, geralmente, somente o trabalho de força é desenvolvido, muitas vezes em restritas amplitudes de movimento, aumentando as chances de provocar uma instabilidade músculo-articular, pois a musculatura que não é treinada na amplitude total do movimento, quando solicitada a realizar um movimento mais amplo, não resiste à tensão e acaba sendo lesionada [3,7]. A negligência para o desenvolvimento da flexibilidade em relação à força está comumente associada a crença de que o ganho de força promovido pela musculação, por exemplo, seria prejudicado pelo treinamento da flexibilidade. Para desmistificar essa crença entende-se necessário o desenvolvimento de um estudo que avalie o efeito da flexibilidade sobre a força muscular. Especula-se que o treinamento de flexibilidade não interfere negativamente no ganho de força. Atualmente técnicas de alongamento constituem o método mais utilizado para desenvolver a flexibilidade, pois resultam em inúmeros benefícios para a saúde, como: a diminuição do risco de lesões músculo-articulares, a redução ou eliminação dos nódulos musculares, a melhora da circulação sanguínea, desenvolvimento da coordenação, entre outros [5]. Desse modo, entende-se que, através de exercícios de alongamento, a amplitude de movimento é beneficiada, tanto em movimentos esportivos como nas AVDs. Inúmeros testes são utilizados para avaliar a flexibilidade, tais como mensuração da ADM das articulações, utilizando goniômetros ou flexímetros. O trabalho de alongamento envolve processos musculares, como as modificações no comprimento da fibra muscular, que resulta no aumento do número de sarcômeros em série e deformações nos tendões, fáscias e ligamentos, possibilitando o aumento da sua extensibilidade [8]. Além disso, aspectos intermuscular, como a atividade dos músculos agonistas e antagonistas e, intramuscular, como o aumento da permeabilidade da membrana celular em resposta ao estímulo mecânico que é transmitido para a matriz extracelular ao iniciar o alongamento devem ser considerados, pois fazem parte destes processos musculares [9,10]. Desta forma pensa-se que os resultados do treinamento de alongamento poderiam ser avaliados com um método não utilizado convencionalmente, a eletromiografia de superfície (EMG) conjuntamente com a goniometria. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar os efeitos dos exercícios de alongamento muscular sobre a capacidade de produção de força dos músculos isquiotibiais, durante contração isométrica. fisioterapia_v7n3.indb 198 Materiais e métodos A amostra foi constituída por doze indivíduos, do sexo feminino, que apresentavam restrição da amplitude de movimento (ADM) da articulação coxo-femoral. Os indivíduos apresentavam idade média de 27,6 ± 5,4 anos, estatura média de 164 ± 0,6 cm e massa corporal média de 57,45 ± 4,83 kg. Foi considerado normal uma ADM de 90 graus para a coxo femoral [11]. Todos os indivíduos eram praticantes de musculação e assinaram um termo de consentimento declarando-se de acordo com sua participação voluntária no estudo e cientes de que poderiam retirar-se da investigação a qualquer momento, se assim o desejassem. Os indivíduos foram divididos em dois grupos, grupo controle (n = 6) e grupo experimental (n = 6). Este estudo ocorreu em três fases: (1) pré-experimento, (2) experimento e (3) pós-experimento. Nas fases de pré e pósexperimento foram realizadas avaliações de força muscular, de ADM e de EMG com os indivíduos de ambos os grupos. Na fase de experimento foi realizado um treinamento de flexibilidade somente com o grupo experimental. Durante o desenvolvimento do estudo, todos os indivíduos, de ambos os grupos, continuaram sua prática de musculação normalmente, que consistia de um treinamento resistido, com intensidade moderada de 10 a 12 repetições, com freqüência de três dias por semana [12]. Durante um período de quatro semanas, três dias por semana [5], foi desenvolvido um treinamento de flexibilidade, com três exercícios de alongamento passivo. Os exercícios de alongamento foram repetidos 10 vezes cada [13], com duração de 60 segundos cada vez, totalizando uma sessão de 30 minutos [5]. No primeiro exercício, o indivíduo foi posicionado em decúbito dorsal sobre um colchonete, mantendo a coluna lombar retificada e os membros inferiores estendidos em contato com o colchonete. O exercício consistiu na elevação de um dos membros inferiores estendido até a ADM máxima do indivíduo. O pé foi mantido relaxado para evitar a ação do gastrocnêmio no joelho, pois se esta articulação estiver retraída, a dorsiflexão do pé fará com que o joelho flexione, interferindo assim no alongamento dos isquiotibiais [11]. O 3/7/2006 19:04:30 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 199 segundo exercício foi realizado com o indivíduo na posição sentada sobre o colchonete, com os membros inferiores estendidos e unidos. O exercício consistiu na flexão do tronco do indivíduo, de forma que mantivesse as curvaturas fisiológicas da coluna, para que não ocorresse qualquer influência no alongamento dos músculos isquiotibiais, uma vez que o encurtamento destes músculos pode ser compensado pelo aumento da curvatura da região torácica da coluna vertebral [5]. O terceiro exercício foi realizado com o indivíduo na posição sentada sobre o colchonete, com os membros inferiores estendidos e afastados. O exercício consistiu na flexão do tronco do indivíduo à frente, com o cuidado de manter as curvaturas fisiológicas da coluna vertebral durante todo o tempo de alongamento. O protocolo de avaliação consistiu na realização de três contrações voluntárias máximas (CVM) dos isquiotibiais, com duração de cinco segundos cada e com intervalo de dois minutos entre cada CVM. Os indivíduos foram posicionados em decúbito ventral, mantendo os joelhos estendidos, tendo seu tornozelo direito preso a uma cinta (Figura 1a). Foi solicitado que realizassem a tentativa de flexão do joelho, realizando a maior força isométrica possível. Nesta avaliação foram coletados simultaneamente sinais de força e EMG com uma taxa de amostragem de 2000 Hz para cada canal. foi avaliada em um estudo prévio, onde seis indivíduos, não integrantes da amostra, foram submetidos ao protocolo de avaliação, em dois momentos distintos, chamados de teste e reteste, com intervalo de uma semana entre eles. Os valores RMS médios, obtidos no teste e reteste, foram submetidos a dois procedimentos estatísticos: (1) teste t pareado para verificar se existia diferença entre eles e (2) teste de Correlação de Pearson para verificar a associação entre os sinais de teste e reteste. Os resultados do estudo piloto demonstraram que não houve diferença significativa (p > 0,05) entre os valores RMS médios do teste e do reteste, bem como apresentaram coeficientes de correlação fortes (r = 0,9) e significativos, para ambos os músculos. Para a avaliação da ADM da flexão do quadril, foi utilizado um goniômetro manual, sendo o indivíduo posicionado em decúbito dorsal, sobre um colchonete. Foi realizado o teste de comprimento muscular dos isquiotibiais biarticulares [11]. A coluna lombar, o sacro e o membro inferior esquerdo eram mantidos firmemente em contato com o colchonete. O avaliador elevava o membro inferior direito, mantendo o joelho estendido e o pé relaxado. O centro do eixo do goniômetro foi alinhado sobre o trocanter maior do fêmur da articulação do quadril, usando como referência, o trocanter maior do fêmur. No início da ADM, o braço proximal do goniômetro foi alinhado ao longo da linha média da pelve do indivíduo e o braço distal alinhado com a linha média lateral do fêmur, usando como referência, o epicôndilo femoral. Na máxima ADM a leitura do giniômetro era realizada (Figura 2). Figura 1 - (a) Postura durante a avaliação da força muscular, (b) Célula de carga, (c) posicionamento dos eletrodos. Figura 2 - Avaliação da ADM com goniômetro manual. Para a aquisição dos sinais de força foi utilizada uma célula de carga de 2000 N (Alfa Instrumentos Eletrônicos Ltda, São Paulo) (Figura 1b), conectada a um computador Pentium 200 MHz com 64 Mb Ram, dotado de um conversor A/D (EMG System do Brasil Ltda, São José dos Campos). A aquisição dos sinais EMG foi realizada com um eletromiógrafo de 16 canais (EMG System do Brasil, Ltda) e com o software AqDados (Lynx Tecnologia Eletrônica Ltda), utilizando-se um computador do tipo Pentium 200 MHertz com 64 MB RAM, dotado de um conversor A/D (EMG System do Brasil, Ltda). Foram utilizados dois pares de eletrodos de superfície na configuração bipolar, colocados longitudinalmente sobre o ventre dos músculos semitendíneo e cabeça longa do bíceps da coxa (Figura 1c). Para a captação do sinal EMG foram observados rigorosamente todos os procedimentos recomendados pela Sociedade Internacional de Eletrofisiologia e Cinesiologia [14,15]. A reprodutibilidade do sinal EMG fisioterapia_v7n3.indb 199 O processamento dos sinais de força e EMG foi realizado utilizando-se um sistema de aquisição de dados (SAD) (versão 2.61.07mp, 2002). Os sinais de força foram filtrados com um filtro media móvel passa baixa (freqüência de corte de 10 Hz). Foram utilizados os valores de pico de força (F1, F2 e F3) em cada CVM e foi calculado o pico de força médio (Fm) das três CVM. Para os sinais de EMG foi utilizado o filtro passaalta (freqüência de corte de 20 Hz). Após a filtragem, o sinal EMG foi analisado no domínio do tempo, a partir do root mean square (valor RMS), em intervalos de um segundo (2000 pontos, janelamento de Hamming). Para a normalização da amplitude do sinal EMG foi utilizado como critério o valor RMS máximo (valor de pico) atingido, em cada músculo, entre as três CVM, expresso em porcentagem (100%). 3/7/2006 19:04:31 200 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Os valores de força, RMS e ADM foram submetidos a tratamento estatístico utilizando o software SPSS 10.0. Como a normalidade dos dados foi confirmada (teste Shapiro-Wilk) foram realizados os testes: teste t simples para verificar diferenças significativas entre os grupos controle e experimental no período de pré-experimento e o teste t pareado para verificar diferenças significativas entre o pré e pós-experimento, para os grupos controle e experimental. O nível de significância foi p < 0,05. femoral e semitendíneo foram semelhantes para ambos os grupos. Desse modo, os resultados da avaliação neuromuscular dos músculos isquiotibiais demonstraram que a atividade mioelétrica não apresentou diferenças significativas para ambos os grupos entre o pré e pós-experimento (p < 0,05). Tabela III - Média e desvio padrão do valor RMS normalizado dos músculos bíceps femoral e semitendíneo, no pré e pós-experimento, para os grupos controle e experimental. Controle Resultados Os resultados de força (F1, F2, F3 e Fm) e flexibilidade (ADM) obtidos no pré-experimento demonstraram que os indivíduos de ambos os grupos apresentavam semelhantes valores para estas variáveis (p = 0,06 e p = 0,07, respectivamente). Os valores médios de força e ADM obtidos nas fases de pré e pós-experimento, para os grupos controle e experimental podem ser observados na Tabela I. Quando comparados os valores de força e flexibilidade obtidos entre o pré e pós-experimento, os resultados indicaram diferenças significativas para o grupo experimental (Tabela II), que apresentou maiores magnitudes para ambas as variáveis após o treinamento de flexibilidade. Tabela I - Média e desvio padrão da força (N) e da flexibilidade (graus) apresentada pelos indivíduos dos grupos controle e experimental, no pré e pós-experimento. Pré-experimento ADM F1 F2 F3 Fm Controle 86 ± 2,6 254 ± 71 256 ± 67 269 ± 73 260± 70 Experimental 82 ± 5,9 183 ± 28 198 ± 51 191 ± 38 191± 36 Pós-experimento Controle 87 ± 2,4 251 ± 69 242 ± 74 243 ± 80 246 ± 74 Experimental 95 ± 3,5 228 ± 41 227 ± 43 231 ± 40 229 ± 41 Tabela II - Valores p obtidos na comparação das variáveis força e flexibilidade entre pré e pós-experimento para os grupos controle e experimental. ADM F1 F2 F3 Fm Controle Experimental 0,08 0,26 0,15 0,18 0,16 0,00* 0,02* 0,07 0,04* 0,02* *diferença significativa p < 0,05. Na Tabela III são apresentados os resultados obtidos com a avaliação neuromuscular nas fases de pré e pós-experimento, para os grupos controle e experimental. Pode-se observar que os valores RMS normalizados médios dos músculos bíceps fisioterapia_v7n3.indb 200 Pré Bíceps femoral 32,5 ± 5,9 Semitendíneo 35,0 ± 2,7 Experimental Pós Pré Pós 32,2 ± 5,0 30,5 ± 7,7 34,0 ± 5,4 32,9 ± 6,4 35,5 ± 2,3 47,6 ± 6,3 Discussão O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos dos exercícios de alongamento muscular sobre a capacidade de produção de força. Assim, pode-se observar na Tabela II que as variáveis força e flexibilidade não se modificaram significativamente para o grupo controle, entre o pré e pós-experimento. Entretanto, o grupo experimental apresentou diferenças significativas em ambas variáveis. Como antes do início do experimento ambos os grupos não diferiam entre si, este resultado sugere que o treinamento de flexibilidade teve uma influencia positiva sobre o ganho de força dos isquiotibiais. Qualquer programa de treinamento para desenvolver a flexibilidade visa deformações positivas nos componentes plásticos (tendões, ligamentos e fáscias) dos músculos encurtados. Esses são compostos em grande parte por colágeno, o qual proporciona muita força e pequena extensibilidade devido a consistência de suas ligações cruzadas [16]. Por outro lado, um encurtamento muscular pode ser caracterizado por deformações negativas nos componentes plásticos, como por exemplo, o espessamento da fáscia (um tecido conectivo que une ossos aos elementos contráteis), devido ao maior número de ligações de colágeno, o que torna o tecido mais rígido, menos elástico e mais propenso a lesão [5]. Assim, esse espessamento da fáscia afeta a amplitude dos movimentos. Programas de flexibilidade têm sido desenvolvidos com objetivo de melhorar a amplitude dos movimentos, sendo o alongamento muscular um dos procedimentos mais utilizados [4,5]. Dentre as diversas técnicas de alongamento, a técnica de alongamento passivo, é amplamente utilizada [17]. Nesta técnica duas variáveis podem ser manipuladas: a tensão muscular e o tempo de permanência no exercício de alongamento. No presente estudo, a tensão foi controlada, subjetivamente, pela refência do indivíduo, que verbalizava a amplitude máxima do movimento. O tempo de permanência foi estipulado em 60 segundos. Na literatura tem 3/7/2006 19:04:32 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 201 sido referido que o tempo de permanência dos exercícios de alongamento passivo para desenvolver a flexibilidade deve ser mantido entre 30 e 60 segundos [2,5,18]. Alguns estudos têm demonstrado que quando os músculos isquiotibiais são submetidos a alongamentos com tempo de permanência inferior a 30 segundos não ocorrem diferenças significativas na flexibilidade [1,2,5,9,19,20]. Do ponto de vista prático, encurtamentos musculares geram limitações, em geral, tais como: compressão de fibras nervosas, prejuízo das técnicas nas habilidades atléticas, diminuição da capacidade de trabalho, do lazer e aumento da fadiga local. Acredita-se que o aumento da flexibilidade e portanto, da amplitude dos movimentos em torno das articulações, contribui para reverter os efeitos negativos do encurtamento muscular que, por sua vez, parece promover uma melhora da força quando desenvolvido paralelamente ao trabalho resistido. Estudos têm demonstrado que o aumento no comprimento da fibra muscular durante o alongamento está associado a um aumento no número de sarcômeros em série em toda a extensão das fibras musculares. Como os comprimentos dos filamentos de actina e miosina permanecem constantes, a adaptação dos músculos para um comprimento funcional diferente do comprimento de repouso acaba por envolver a produção ou remoção de sarcômeros a fim de manter o correto comprimento do sarcômero em relação ao músculo inteiro, em resposta ao treinamento do alongamento [5,15,21,22]. A avaliação neuromuscular fornece indiretamente informações fisiológicas a cerca do processo de aumento de força. Estas informações fisiológicas incluem aspectos intermusculares como a ação dos músculos agonistas e antagonistas e os aspectos intramusculares, como o recrutamento e sincronismo de unidades motoras e a velocidade e taxa de disparo dos potenciais de ação durante a contração, os quais demonstram a adaptabilidade do sistema neuromuscular ao treinamento de força [9,10]. No presente estudo, a ativação neuromuscular não apresentou diferenças significativas para ambos os grupos entre o pré e pós-experimento. Especula-se, portanto, que a melhora da força não foi decorrente de adaptações neuromusculares e sim, devido a adaptações mecânicas dos componentes plásticos. Pesquisas mostram que o alongamento é uma maneira de indução à hipertrofia, pois proporciona o aumento na produção de proteínas contráteis, no número de sarcômeros em série e em paralelo [8]. Outra possibilidade é que o ganho de força apresentado pelos indivíduos do grupo experimental possa ter tido sua origem no aumento da produção do hormônio IGF-1, pois ao trabalhar força e flexibilidade, paralelamente, a síntese deste hormônio do crescimento pode crescer em até quarenta vezes [23]. Assim, se um dos fatores que resultou no ganho de força muscular se deu através de alterações hormonais, é possível que a EMG não se altere, pois essa técnica informa a atividade elétrica do músculo e não as respostas hormonais, decorrentes do treinamento de força. Especula-se também que a não ocorrência de adaptações neuromusculares, como demonstraram os resultados do presente estudo, talvez possa ser explicada por dois fatores: (1) o período de tempo insuficiente de treinamento de alongamento (quatro semanas) e (2) o fato dos indivíduos do estudo já serem praticantes de atividades físicas antes do experimento. Com relação à última afirmação, segundo Fleck & Kraemer [12] indivíduos treinados apresentam um percentual baixo de mudanças fisiológicas e adaptações neuromusculares se comparados a indivíduos iniciantes. Tem sido documentado que exercícios resistidos com o objetivo de hipertrofia promovem o aumento da flexibilidade quando realizados em grandes amplitudes articulares e que uma flexibilidade bem desenvolvida auxilia no ganho de força [2,4,12]. Infelizmente, diversos mitos ainda persistem, em ambientes de academia, quando se discute o desenvolvimento simultâneo de força e flexibilidade, sendo que a crença de que um deprime o outro é a maior causa de discussões. A flexibilidade de uma articulação é dependente do seu nível de utilização. Por isso, o treinamento de exercícios de resistência em indivíduos não-atletas pode favorecer a melhoria dos níveis de flexibilidade, uma vez que as articulações, até então pouco utilizadas e, provavelmente, encurtadas, passarão a receber um estímulo progressivo que acarretará adaptações positivas a médio e longo prazo [24]. A hipertrofia muscular, resultante do trabalho com peso, aumenta o diâmetro das fibras musculares, e essa secção transversa volumosa proporciona maiores condições de extensibilidade muscular e, conseqüentemente, de desenvolvimento da flexibilidade [2,4,7]. Assim, exercícios de resistência e alongamento devem ser trabalhados paralelamente para que possam ser evitados desequilíbrios no organismo [25]. Exercícios de força que exigem toda a amplitude articular podem causar stress e dor se o indivíduo não apresentar uma boa flexibilidade [6]. Portanto, considera-se importante observar a primeira das três leis básicas do culturismo e treinamento de força, ou seja, antes de desenvolver a força muscular, deve-se desenvolver a flexibilidade articular [4,26]. Entende-se assim que, desenvolver a força e a flexibilidade de forma equilibrada, torna-se a condição ideal para a saúde e qualidade de vida em indivíduos não-atletas. Tem sido documentado que tanto a força como a flexibilidade decrescem significativamente com a idade e que esta perda pode ser amenizada com a prática de atividade física regular. Entretanto, estudos mostram que em relação à flexibilidade, a redução desta ocorre principalmente devido ao desuso e realização de movimentos com pequenas amplitudes articulares e não ao processo de envelhecimento [4,5,20]. Algumas pesquisas têm demonstrado que estímulos adequados de treino de força e de flexibilidade em idosos, promovem ganhos destas variáveis similares ou até superiores aos encontrados em jovens [27]. Desse modo, o desenvolvimento de um treinamento de força e flexibilidade para idosos parece contribuir significativamente para a manutenção da aptidão física, seja na sua saúde em geral, como nas capacidades funcionais, otimizando suas atividades diárias e melhorando sua fisioterapia_v7n3.indb 201 3/7/2006 19:04:32 202 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 qualidade de vida [28,29]. O desenvolvimento da força e da flexibilidade pode ainda estar relacionado com as AVDs, pois por exemplo, uma determinada função profissional pode não só requerer uma força específica, em uma amplitude articular também específica, mas também a conservação daquele nível de atividade durante todo o dia de trabalho [7]. Assim, os encurtamentos musculares adaptativos resultantes da função profissional podem reduzir a flexibilidade e aumentar a tensão muscular [30]. Desta forma, exercícios de força e alongamento, para o corpo todo, fornecem estabilidade músculo-articular, além do relaxamento muscular. A avaliação da flexibilidade da articulação coxo-femoral através da goniometria tem sido amplamente utilizada [14,25], bem como o teste de comprimento muscular dos isquiotibiais biarticulares de Kendall [14]. Outros métodos de quantificação da flexibilidade, como o que utiliza o teste de sentar e alcançar [1,31], o flexímetro [24] ou o flexiteste [6] também são referidos na literatura. No presente estudo, optou-se pela goniometria porque a medida da posição da articulação e da ADM das extremidades com um goniômetro universal são, geralmente, consideradas de confiabilidade boa e excelente [32], o que é imprescindível em um estudo de pré e pós-experimento, onde busca-se comparar os resultados obtidos. A avaliação da força, no pré e pós-experimento, foi realizada através de contração isométrica. Não obstante, todos os indivíduos eram praticantes de musculação, ou seja, desenvolviam um trabalho de força através de contração dinâmica. Desse modo, talvez os resultados de força, obtidos pela CVM, não sejam representativos da força resultante de uma contração dinâmica, mais usualmente requerida nas atividades diárias. Entretanto, para verificar se o treinamento de flexibilidade influenciava o ganho de força, era necessária a obtenção de uma medida de força, independente do tipo de contração. Outros estudos também utilizaram contrações isométricas para avaliar o ganho de força e obtiveram resultados significativos, indicando que o treinamento de flexibilidade influenciou positivamente a força [18,20]. Referências Conclusão Os resultados demonstram que o treinamento de alongamento passivo, com permanência de sessenta segundos, promoveu efeito positivo sobre a capacidade de produção de força, durante contração isométrica. Além disso, os resultados também demonstraram que o treinamento de alongamento passivo promoveu melhora na flexibilidade da articulação coxo-femoral, diminuindo o encurtamento dos músculos isquiotibiais apresentado pelos indivíduos. fisioterapia_v7n3.indb 202 1. Silva SC, Matsudo VKR, Rivet RE. Flexibilidade e Aptidão Física: revisão de literatura. Rev Brás Ciências do Esporte 1996;6(2):158-63. 2. Dantas EH. Flexibilidade: alongamento e flexionamento. Rio de Janeiro: Shape; 1999. 3. Rodrigues TL. Flexibilidade e alongamento. Rio de Janeiro: Sprint; 1998. 4. 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Coelho**, Ricardo Takahashi**, Fábio V. Serrão, D.Sc.*** *Fisioterapeuta, Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP **Fisioterapeuta, ***Professor Adjunto do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Disciplina de Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi comparar o pico de torque excêntrico e concêntrico dos músculos rotadores mediais (RM) e laterais (RL) do ombro dominante e não dominante, em jogadores de tênis. Além disso, foi avaliada a relação entre o pico de torque excêntrico pelo concêntrico para RM/RL e RL/RM. Sete voluntários (16 ± 1,73) foram avaliados. A avaliação foi realizada no dinamômetro isocinético Biodex 3. As contrações excêntricas e concêntricas foram realizadas a 60 e 180 º/seg. Não houve diferença significativa entre o ombro dominante e o não dominante para a relação entre o pico de torque excêntrico pelo concêntrico para RM/RL e RL/RM (p > 0,05). O pico de torque concêntrico dos RM e o pico de torque excêntrico dos RL do ombro dominante foi estatisticamente maior que do ombro não dominante (p < 0,01). Os resultados deste estudo sugerem uma adaptação da força dos músculos rotadores do ombro decorrentes da prática do tênis. The objective of this study was to compare the eccentric and concentric peak torque of the medial (MR) and lateral (LR) rotator muscles of dominant and non-dominant shoulders, in tennis players. Moreover, the eccentric-to-concentric peak torque ratio for the MR/LR and LR/MR was evaluated. Seven participants (16 ± 1.73) were evaluated. The evaluation was realized on a Biodex 3 isokinetic dynamometer. The eccentric and concentric contractions were realized at 60 deg/second and at 180 deg/second. The eccentric-to-concentric peak torque ratio for the MR/LR and LR/MR, between dominant and non-dominant shoulder, was not statistically significant (p > 0.05). The concentric peak torque of the MR and eccentric peak torque of the LR for the dominant shoulder were statistically higher than that of non-dominant shoulder (p < 0.01). The results of this study suggest an adaptation of the shoulder rotator muscles strength resulting from tennis practice. Palavras-chave: pico de torque, ombro, manguito rotador, isocinético. Key-words: peak torque, shoulder, rotator cuff, isokinetic. Introdução possuem uma reduzida potência muscular e um menor nível de condicionamento, podendo sofrer diferentes tipos e padrões de lesão [1]. Em relação às lesões que acometem tenistas em geral, o movimento do saque, por ser de natureza repetitiva no esporte e ser realizado com o membro superior acima da cabeça, merece particular atenção [2,3]. O movimento do saque pode ser dividido em 5 fases: rotação, levantamento, aceleração, desaceleração e execução. A primeira fase (rotação) é a de preparação para o saque, que O tênis é o mais popular de todos os esportes de raquete, sendo que o número de jogadores, nos últimos 20 anos, aumentou significativamente. Estima-se que nos Estados Unidos dois milhões de pessoas joguem tênis a cada ano, e o número de participantes em competições é cada vez maior [1]. Um número crescente de pré-adolescentes e adolescentes inicia a prática o tênis. Esse grupo apresenta um particular problema quanto a lesões no esporte; em geral, atletas jovens Recebido 16 de agosto de 2005; aceito 15 de abril de 2006. Endereço para correspondência: Prof. Dr. Fábio V. Serrão, Universidade Federal de São Carlos UFSCar, Departamento de Fisioterapia, Rod. Washington Luís, km 235, 13565-000 São Carlos SP, Tel: (16) 3351-8754, E-mail: [email protected] fisioterapia_v7n3.indb 204 3/7/2006 19:04:34 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 205 termina com a bola saindo da mão do tenista. O levantamento é a fase onde o tenista irá armazenar energia potencial para o saque. Inicia com predomínio da contração concêntrica de rotadores laterais e termina com contração excêntrica de rotadores mediais, desacelerando o movimento e armazenando energia potencial necessária para a posterior contração concêntrica, na fase de aceleração. Na terceira fase (aceleração), ocorre a contração concêntrica de rotadores mediais visando o contato da raquete com a bola. A quarta fase (desaceleração) envolve a contração excêntrica de rotadores laterais para desacelerar o movimento do saque. Em geral, as forças de desaceleração são duas vezes maiores que as de aceleração, mas agem por um período de tempo mais curto (40 milissegundos). A fase de execução representa o momento em que o corpo movimenta-se para diante com o braço reduzindo, efetivamente, as forças de afastamento aplicadas ao ombro [4]. Uma deficiência na contração excêntrica de rotadores mediais na fase de levantamento e, principalmente, de rotadores laterais na fase de desaceleração, pode comprometer a estabilidade articular e predispor o ombro a lesões [4,5,6]. Grande parte dessa demanda repetitiva, em que é exposto o atleta de tênis durante o saque, é colocada sobre a articulação do ombro. Assim, essa articulação é a mais freqüentemente afetada no membro superior, com a inflamação de músculos do manguito rotador sendo o tipo de lesão mais comum em tenistas de todos os níveis [1]. O manguito rotador do ombro possui a função de rodar o úmero e fazer a depressão da cabeça umeral [7], evitando o impacto com o arco coracoacromial [8]. O equilíbrio entre os músculos do manguito rotador é essencial para manutenção da estabilidade e da permanência da cabeça do úmero na cavidade glenóide [7,9]. No entanto, o desequilíbrio entre esses músculos vem sendo considerado como uma possível causa de lesões por sobrecarga em tenistas [7,10,11]. O índice da relação antagonista por agonista tem sido utilizado para avaliar o equilíbrio entre os músculos do manguito rotador. Chandler et al. [7], avaliando 25 tenistas universitários (11 homens e 13 mulheres), estudaram a relação entre o pico de torque concêntrico de rotadores laterais por mediais. Os resultados, expressos em porcentagem, foram de 60,5 para velocidade de 60º/seg e 64,9 para 300º/seg, no membro superior dominante. Para o membro não dominante, os valores foram de 70,3 para 60º/seg e 68,8 para 300º/seg. A comparação entre o membro dominante e o não dominante, para essa relação, não mostrou diferença significativa. Embora vários estudos tenham avaliado a relação de força entre os músculos rotadores do ombro durante a contração concêntrica, poucos analisaram a relação antagonista excêntrico por agonista concêntrico [5,6]. A observação da relação concêntrica entre antagonistas pode oferecer importantes informações quanto à força muscular. Porém, pode não aproximar da verdadeira função muscular exigida no movimento do saque e, logo, deixar de observar importantes desequilíbrios musculares. Assim, dado o alto potencial de lesões verificadas no manguito rotador de tenistas, a grande importância do equilíbrio de força muscular entre os músculos rotadores do ombro e a ausência de estudos na literatura envolvendo a análise da relação antagonista excêntrico por agonista concêntrico para essa população de atletas, é que se justifica a atenção desse estudo para obtenção dessa relação. O presente estudo também tem o intuito de comparar o pico de torque concêntrico e excêntrico dos músculos rotadores mediais e laterais do ombro, entre o membro dominante e não dominante. fisioterapia_v7n3.indb 205 Material e métodos Participaram desse estudo 7 voluntários do sexo masculino (16 ± 1,73 anos). Todos os voluntários eram atletas juvenis de tênis, com freqüência de treinamento de no mínimo 5 vezes por semana e disputavam competições regularmente. Seis voluntários apresentavam o membro superior dominante direito e apenas um o esquerdo. Todos os voluntários do estudo e os responsáveis por esses foram esclarecidos quanto aos procedimentos a serem realizados e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme Resolução CSN 196/96. O pico de torque concêntrico e excêntrico foi avaliado por meio de um dinamômetro isocinético Biodex Multi Joint Sistem 3. Um cicloergômetro de membros superiores da marca Saratoga Access & Fitness foi utilizado para a realização de um aquecimento, previamente à avaliação isocinética. Para auxiliar no posicionamento do membro superior do voluntário, na avaliação isocinética, foi utilizado um goniômetro universal da marca Carci. Todos os voluntários foram submetidos a uma avaliação isocinética nos modos concêntrico e excêntrico para a obtenção do pico de torque bilateral dos músculos rotadores mediais e laterais do ombro. Antes da avaliação isocinética foi realizado um aquecimento em cicloergômetro de membros superiores durante 5 minutos, sem carga. Além disso, foi feita a calibração do dinamômetro isocinético conforme orientação do fabricante. Após o aquecimento o voluntário foi posicionado na cadeira do dinamômetro e estabilizado com cintos de contenção, colocados diagonalmente sobre o tórax e horizontalmente sobre a pelve. O voluntário foi posicionado com o ombro em abdução de 60º e flexão de 30º (plano da escápula), e o cotovelo em flexão de 90º. O antebraço foi fixado ao braço de alavanca do dinamômetro pela colocação de velcros. O eixo mecânico de rotação (eixo mecânico do braço de resistência) foi alinhado ao olécrano. Para auxiliar no posicionamento do membro superior do voluntário, foi utilizado o goniômetro universal. A amplitude de movimento avaliada consistiu de 30º de rotação medial e 70º de rotação lateral, totalizando uma amplitude de movimento de 100º. Tanto para o modo concêntrico quanto para o excêntrico a posição inicial do teste foi de 30º de rotação medial. 3/7/2006 19:04:35 206 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Para a avaliação isocinética, em ambos os membros superiores e para ambos os modos de contração, foram realizadas 5 contrações máximas na velocidade angular de 60º/seg e 10 contrações máximas a 180º/seg, com um período de repouso de 2 minutos entre cada velocidade. A determinação do membro superior a ser avaliado primeiro foi feita de forma aleatória, por sorteio; porém a velocidade de 60º/seg foi sempre avaliada anteriormente à 180º/seg. Previamente à realização da avaliação, em cada velocidade e em cada modo de contração, os voluntários foram instruídos quanto à atividade que executariam. Com o intuito de familiarização com o exercício proposto, foram feitas 3 contrações submáximas. Entre a familiarização e a avaliação foi permitido 2 minutos de repouso. Os voluntários foram avaliados, inicialmente, no modo concêntrico, seguido do modo excêntrico. Um tempo de repouso de 15 minutos foi dado entre os modos. Anteriormente à aplicação do teste foi verificado se os dados apresentavam distribuição normal. Para a comparação da relação antagonista excêntrico por agonista concêntrico, entre o membro superior dominante e o não dominante, e do pico de torque para a contração concêntrica e excêntrica, entre o membro dominante e o não dominante, foi utilizado o teste t de Student. O pico de torque concêntrico dos músculos rotadores mediais foi significativamente maior no membro superior dominante quando comparado ao não dominante, nas duas velocidades angulares (p < 0,01). Entretanto, não houve diferença significativa (p > 0,05) na comparação entre o pico de torque excêntrico dos músculos rotadores mediais entre o membro dominante e o não dominante (Fig. 2). Resultados A comparação entre o membro superior dominante e o não dominante para a relação entre o pico de torque de contração excêntrica dos músculos rotadores mediais pela concêntrica dos músculos rotadores laterais não mostrou diferença significativa (p > 0,05) nas duas velocidades angulares (60º/seg e 180º/seg). Para a mesma relação, entre os músculos rotadores laterais por rotadores mediais, também não foi encontrada diferença significativa (p > 0,05) entre o membro dominante e o não dominante, nas duas velocidades angulares (60º/seg e 180º/seg) (Fig. 1). Figura 1 - Valores médios e desvio padrão da relação entre o pico de torque excêntrico por concêntrico dos músculos rotadores mediais do ombro (RM) por rotadores laterais (RL) e de rotadores laterais por rotadores mediais, envolvendo o membro superior dominante (D) e o não dominante (ND). Figura 2 - Valores médios e desvio padrão do pico de torque concêntrico (Conc) e excêntrico (Exc) dos músculos rotadores mediais na velocidade de 60º/seg e 180º/seg, do membro superior dominante e não dominante. ** = p<0,01; Teste t de Student. O pico de torque excêntrico dos músculos rotadores laterais foi significativamente maior no membro superior dominante quando comparado ao não dominante, nas velocidades angulares de 60º/seg (p < 0,05) e 180º/seg (p < 0,01). Entretanto, não houve diferença significativa (p > 0,05) na comparação entre o membro dominante e o não dominante para o pico de torque concêntrico dos músculos rotadores laterais, nas duas velocidades angulares avaliadas (Fig. 3). Figura 3 - Valores médios e desvio padrão do pico de torque concêntrico (Conc) e excêntrico (Exc) dos músculos rotadores laterais na velocidade de 60º/seg e 180º/seg, do membro superior dominante e não dominante. * = p<0,05; ** = p<0,01; Teste t de Student. fisioterapia_v7n3.indb 206 3/7/2006 19:04:36 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Discussão O presente trabalho é um estudo inicial sobre a avaliação da relação do pico de torque excêntrico por concêntrico dos músculos rotadores do ombro para atletas juvenis de tênis. A obtenção de um índice para essa relação poderia servir como parâmetro de normalidade para o retorno ao esporte pós-lesão em atletas com faixa etária e prática esportiva próximas ao grupo estudado. Nesse estudo foram utilizadas as velocidades angulares de 60º/seg e 180º/seg. A menor velocidade foi escolhida de acordo com a maioria dos artigos encontrados que envolviam avaliação isocinética [6,7] A velocidade de 180º/seg foi utilizada para não colocar em risco a integridade do ombro dos voluntários, já que também foi realizada a avaliação no modo excêntrico e esse, em altas velocidades, não é recomendado. A posição de 60º de abdução e 30º de flexão (plano da escápula) do ombro foi utilizada pois proporciona maior segurança aos voluntários, já que permite uma melhor coaptação da cabeça do úmero com a cavidade glenóide, além de melhor suprimento vascular para o músculo supra-espinhal [12]. Quanto à relação antagonista por agonista, os valores encontrados para a relação entre o pico de torque excêntrico de rotadores laterais por concêntrico de rotadores mediais do ombro no membro dominante, foram de 1,39 para a velocidade de 60º/seg e de 1,47 para a velocidade de 180º/seg. Para a mesma relação, no membro superior não dominante, foram encontrados os valores de 1,42 para 60º/seg e 1,48 para 180º/seg. Scoville et al. [5], avaliando 75 atletas universitários, todos praticantes de beisebol, voleibol, handebol ou esportes de raquete, com média de idade de 19,7 anos, também se voltaram para a obtenção dessa relação. Neste estudo foi observado, para a relação entre o pico de torque excêntrico de rotadores laterais por concêntrico de rotadores mediais do ombro, na velocidade de 90º/seg, os seguintes valores: 1,08 para membro dominante e 1,05 para membro não dominante. A diferença quanto aos esportes praticados pelos voluntários do estudo de Scoville et al. [5] com os do presente estudo pode ser um fator que contribuiu para a não concordância de valores. Além disso, no estudo de Scoville et al. [5], os voluntários realizaram a contração concêntrica de rotadores mediais logo após a contração excêntrica dos mesmos. Isso pode ter contribuído para um maior pico de torque concêntrico dos rotadores mediais, em função do ciclo alongamento-encurtamento, o que contribuiria para o menor índice encontrado por esses autores. Wang & Cochrane [6], avaliando 16 atletas de voleibol, encontraram, para essa mesma relação, os valores de 0,96 para a velocidade de 60º/seg e 1,17 para 180º/seg, no membro dominante. Para o membro não dominante, foram encontrados os valores de 1,22, para a velocidade de 60°/seg e 1,42, para a velocidade de 180°/seg. Porém, apesar de termos usado as mesmas velocidades angulares, no estudo de Wang fisioterapia_v7n3.indb 207 207 & Cochrane [6] a relação foi calculada a partir da média do torque, o que pode explicar a não semelhança de valores com nosso estudo. Para a relação do pico de torque excêntrico de rotadores mediais por concêntrico de rotadores laterais do ombro, foram encontrados os valores de 1,40 para a velocidade de 60°/seg e 2,30 para a velocidade de 180°/seg no membro dominante. Para o membro não dominante foram obtidos os valores de 1,40 e 1,90 para as velocidades de 60°/seg e 180°/seg, respectivamente. Scoville et al. [5] encontraram para o membro dominante e o não dominante, à velocidade angular de 90°/seg, os valores de 2,39 e 2,15, respectivamente. Os valores encontrados em nosso estudo para o membro dominante na velocidade de 180º/seg aproximam-se desses. Porém, os resultados obtidos para a velocidade de 60º/seg apresentam-se expressivamente menores. A diferença na velocidade angular utilizada para a avaliação pode ser um fator que contribuiu para tal discordância. Quanto maior a velocidade, menor é o pico de torque concêntrico. Assim, a menor velocidade utilizada em nosso estudo (60º/seg) pode ter permitido um maior pico de torque concêntrico, o que contribuiria para a diminuição do índice. Além disso, como citado anteriormente, a diferença nos esportes praticados pelos voluntários dos dois estudos, pode ter aumentado as diferenças observadas. Quanto à comparação das relações antagonista excêntrico por agonista concêntrico, entre o membro dominante e o não dominante, os resultados do presente estudo não mostraram diferença significativa em nenhuma das velocidades avaliadas. Codinne et al. [9], avaliando 51 sujeitos distribuídos em quatro grupos de atletas, sendo um desses de tenistas, média de idade de 25,7 anos, também não observaram diferença significativa entre o membro dominante e o não dominante para a relação entre o pico de torque concêntrico de rotadores mediais por rotadores laterais. Apesar da concordância quanto à comparação bilateral, o estudo de Codinne et al. [9] analisou a relação entre antagonistas apenas pelo modo concêntrico de contração. Não foram encontrados estudos realizando a comparação entre o membro dominante e o não dominante quanto à relação entre músculos antagonistas de rotação do ombro para o pico de torque excêntrico pelo concêntrico. Assim, devido a maior aproximação da relação antagonista excêntrico por agonista concêntrico com a especificidade do esporte, nesse caso com o saque do tênis, sugerimos que novos estudos sejam realizados com o intuito de obter essa relação em um número maior de sujeitos. Os resultados desse estudo também demonstraram que o pico de torque concêntrico dos rotadores mediais e o pico de torque excêntrico de rotadores laterais do ombro foi significativamente maior no membro dominante em relação ao não dominante, em ambas as velocidades. Um fato que pode explicar a diferença observada pode ser a prática repetitiva do esporte e, principalmente, do movimento repetitivo do saque realizado por estes atletas durante treinos e competições. O 3/7/2006 19:04:36 208 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 movimento do saque, como já citado anteriormente, envolve forte contração concêntrica dos músculos rotadores mediais do ombro para promover maior velocidade da bola, além de forte contração excêntrica dos músculos rotadores laterais para desacelerar o movimento e estabilizar a articulação glenoumeral [1]. Logo, isso pode ter contribuído para o maior pico de torque excêntrico dos rotadores laterais e concêntrico dos rotadores mediais no membro dominante. Esses dados também podem explicar o fato de não ter havido diferença significativa entre o membro dominante e o não dominante para a relação do pico de torque excêntrico de rotadores laterais por concêntrico de rotadores mediais, já que foi observado maior pico de torque no membro dominante para ambas as variáveis, tendendo à manutenção do índice. Em um estudo de Chandler et al. [7], onde foram avaliados 11 homens e 13 mulheres, todos universitários praticantes de tênis, foram observados resultados similares aos nossos quanto à comparação bilateral do pico de torque concêntrico de rotadores mediais e laterais do ombro, na velocidade de 60°/seg, com o pico de torque dos músculos rotadores mediais significativamente maior no membro dominante. Por outro lado, os resultados do presente estudo não demonstraram diferenças significativas na comparação entre o membro dominante e o não dominante quanto ao pico de torque da contração concêntrica de rotadores laterais e excêntrica de rotadores mediais. Isso concorda com os resultados encontrados por Chandler et al. [7]. Uma possível explicação para esses resultados se deve ao fato de que apesar das contrações concêntricas dos rotadores laterais e excêntricas dos rotadores mediais também serem repetitivas na prática do tênis, principalmente na fase de levantamento do saque, essas contrações não precisam ser tão fortes quanto as contrações concêntricas dos rotadores mediais e excêntricas dos rotadores laterais nas fases de aceleração e desaceleração do saque, respectivamente. Uma limitação do presente estudo diz respeito ao tamanho da amostra. Assim, sugerimos que estudos futuros da relação antagonista excêntrico por agonista concêntrico, com uma maior amostra e com outras faixas etárias, sejam realizados para que possamos obter parâmetros mais concretos para o retorno seguro do atleta ao esporte. Conclusão fisioterapia_v7n3.indb 208 Os resultados desse estudo, nas condições experimentais utilizadas, permitem concluir que não houve diferença significativa entre o membro dominante e o não dominante para a relação entre o pico de torque excêntrico dos rotadores mediais pelo concêntrico dos rotadores laterais, bem como excêntrico dos rotadores laterais pelo concêntrico dos rotadores mediais. Além disso, o pico de torque concêntrico dos rotadores mediais e o pico de torque excêntrico dos rotadores laterais do membro dominante foi maior que o do membro não dominante, sugerindo uma adaptação da força dos músculos rotadores do ombro decorrente da prática do tênis. Referências 1. Bylak J, Hutchinson MR. 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Chandler TJ, Kibler WB, Stracener EC, Ziegler AK, Pace B. Shoulder strength, power, and endurance in college tennis players. Am J Sports Med 1992;20:455-8. 8. Ellenbecker TS, Davies GJ, Rowinski MJ. Concentric versus eccentric isokinetic strengthening of the rotator cuff. Am J Sports Med 1988;16:64-9. 9. Codinne P, Bernard PL, Pocholle M, Benaim C, Brun V. Influence of sports discipline on shoulder rotator cuff balance. Med Sci Sports Exerc 1997;25:59-63. 10. Ellenbecker TS. Rehabilitation of shoulder and elbow injuries in tennis players. Clin Sports Med 1995;14:87-108. 11. Ellenbecker TS, Roetert EP. Testing isokinetic muscular fatigue of shoulder internal and external rotation in elite junior tennis players. J Orthop Sports Phys Ther 1999; 29: 275-81. 12. Dvir Z. Isokinetics – Muscle testing, interpretation and clinical applications. New York: Churchill Livingstone; 1995. 3/7/2006 19:04:37 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 209 Artigo original Influência da fisioterapia nas alterações motoras em crianças com paralisia cerebral Influence of physical therapy in motor alterations in children with cerebral palsy Andréia Pedrosa Mota*, João Santos Pereira, D.Sc.** *Mestranda do PROCIMH – Universidade Castelo Branco (UCB), **Doutor em Neurologia pela UNIFESP, Professor do PROCIMH – Universidade Castelo Branco (UCB) Resumo Abstract A paralisia cerebral é uma patologia neurológica que apresenta alterações de tônus muscular, tendo como conseqüência posturas inadequadas podendo levar a deformidades, além de movimentos anormais que interferem na aquisição correta das funções motoras durante as etapas de desenvolvimento. A anormalidade do tônus muscular presente na paralisia cerebral favorece o surgimento de problemas relacionados à coordenação motora influenciando nas alterações do equilíbrio e dificultando o controle postural. Esta pesquisa tem como objetivo verificar as alterações motoras presentes em crianças com paralisia cerebral com hemiparesia espástica em relação ao equilíbrio e a coordenação motora, e a influência da fisioterapia na melhora deste quadro motor. Para tal, utilizamos o teste de proficiência motora de Bruininks-Oseretsky, em duas etapas: pré-teste, onde se analisou as dificuldades de equilíbrio e coordenação motora antes de iniciarmos o trabalho com a fisioterapia; e pós-teste, realizado após o trabalho de fisioterapia. Adotou-se para analise estatística o teste de Wilcoxon, com p < 0,05. Analisando os resultados, verificou-se que a fisioterapia influencia na melhora do equilíbrio com p = 0,014, a na coordenação motora com p = 0,015. Conclui-se que a fisioterapia tem importante papel na melhora do equilíbrio e da coordenação motora, pois, promove o desenvolvimento de habilidades motoras básicas favorecendo a reabilitação. The cerebral palsy is a neurological pathology with alterations of muscular tonus, and consequently inadequate positions resulting in deformities, beyond abnormal movements that interfere with the correct acquisition of the motor functions during the stages of development. The tonus muscular abnormality in cerebral palsy favors the onset of problems related to the motor coordination influencing in balance and postural control. The aim of this study was to verify the motor alterations in children with cerebral palsy with spastic hemiparesis in relation to balance and motor coordination, and the influence of the physical therapy in the improvement of this motor picture. For such, we used the test of motor proficiency of Bruininks-Oseretsky, in two stages: pre-test, where was analyzed the difficulties of balance and motor coordination before initiating the physical therapy; e post-test, after the physical therapy. The test of Wilcoxon was adopted for analyzes statistics, with p < 0.05. Analyzing the results, it was verified that the physical therapy influenced in the balance improvement with p = 0.014, in the motor coordination with p = 0.015. In conclusion, the physical therapy is important in the improvement of balance and motor coordination, therefore, it promotes the development of basic motor abilities favoring the rehabilitation. Palavras-chave: sistema motor, equilíbrio, coordenação motora, paralisia cerebral. Key-words: motor system, balance, motor coordination, cerebral palsy. Recebido 25 de novembro de 2005, aceito 15 de junho de 2006. Endereço para correspondência: Andréia Pedrosa Mota, Rua Paschoal Demarques, 75 Bairro Dornelas 36880-000 Muriaé MG, E-mail: [email protected] fisioterapia_v7n3.indb 209 3/7/2006 19:04:38 210 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Introdução tituem, em sua maior parte, a queixa principal das crianças e dos pais [1]. Portanto, a promoção do desenvolvimento destas habilidades pode ser definida como objetivo a ser alcançado, uma vez que o principal objetivo da fisioterapia consiste em treinar estas crianças com paralisia cerebral que apresentam disfunção motora para a realização de atividades essenciais para sua vida diária [6,7]. Paralisia cerebral (PC), ou encefalopatia crônica não progressiva da infância (ECI), decorre de lesão comprometendo o sistema nervoso central na sua fase de maturação funcional e estrutural [1] ocorrida nos períodos pré, peri e pós-natal, onde as causas mais prováveis citados na literatura são: genéticas, infecção intra-uterina, prematuridade, baixo peso ao nascimento, hipóxia e isquemia perinatal, sendo que diversos fatores de risco interagem, sugerindo que a paralisia cerebral seja conseqüência de um acometimento cerebral multifatorial não se encontrando uma causa específica [2]. Segundo Papasian & Afonso [3], as síndromes motoras mais freqüentes na paralisia cerebral são: a tetraplegia ou tetraparesia espástica com predomínio em membros inferiores, a diplegia espástica e a hemiplegia ou hemiparesia espástica. Podemos ainda encontrar outras formas de apresentação clínica tais como: hipotônica, atetóica, distônica e coreiforme, além da ataxica, que embora rara, surge após comprometimento cerebelar [4]. O quadro clínico da paralisia cerebral é caracterizado por uma disfunção predominantemente sensório-motora, com alterações do tônus muscular, da postura e da movimentação voluntária e movimentos involuntários [1], podendo ser ou não acompanhada por distúrbios na linguagem, visão, audição e mentais, além de epilepsia e hidrocefalia [5]. As alterações motoras presentes na criança com paralisia cerebral são resultante de lesão de estruturas suprasegmentares que controlam a postura e os movimentos. As estruturas mais afetadas são as sensitivo-motoras, nos neurônios da área periventricular, gânglios da base, núcleo rubro, substância negra, tronco cerebral e cerebelo. Estas lesões supra-segmentares produzem comprometimento na função dos motoneurônios inferiores do tronco cerebral e da medula espinhal que inervam os músculos estriados e músculos lisos. Com isto ocorrem alterações no controle do tônus e força muscular, com aparecimento de alterações do movimento, assim como persistência e aumento dos reflexos posturais primitivos, promovendo posturas e movimentos reflexos anormais [3]. A anormalidade do tônus muscular presente na paralisia cerebral favorece o surgimento de problemas relacionados à coordenação motora, já que o movimento visa em sua essência, a regulação do tempo de execução e a graduação de atividades exercidas por grupos musculares múltiplos. Este distúrbio na coordenação motora da paralisia cerebral resulta em ruptura na ativação, na seqüência e na regulação do tempo, produzindo anormalidades no movimento funcional, e como conseqüência, influenciando nas alterações do equilíbrio dificultando o controle postural [6]. Sendo assim, o propósito deste estudo era verificar o grau de dificuldade existente em relação ao equilíbrio estático e dinâmico e a coordenação motora em crianças com paralisia cerebral, visto que as dificuldades no desempenho motor cons- fisioterapia_v7n3.indb 210 Materiais e métodos O universo do estudo foi composto por 44 crianças com diagnóstico de paralisia cerebral que freqüentam uma instituição para crianças excepcionais localizada no Município de Muriaé no Estado de Minas Gerais. Destas apenas sete crianças foram selecionadas de acordo com critérios de inclusão e exclusão previamente determinados. Os critérios adotados para inclusão foram: crianças com quadro de paralisia cerebral com hemiparesia espástica, faixa etária entre 5 à 11 anos de idade, independente de sexo, freqüentadoras assíduas do setor de fisioterapia da instituição, deficiência mental leve. Foram excluídas do estudo crianças com deficiência motora acentuada, deficiência mental moderada ou grave e deformidades que à impedissem de realizar os exercícios propostos no teste no qual seriam avaliadas. Este estudo obedeceu à resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, realizando-se após a seleção uma reunião com pais ou responsáveis para informá-los dos objetivos da pesquisa, participando do mesmo somente as crianças autorizadas após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. As crianças selecionadas realizaram a anamnese, sendo em seguida avaliadas através do teste de proficiência motora de Bruininks-Oseretsky (TPMBO), utilizado para avaliar a função motora em crianças. Utilizou-se subtestes 2 e 3 do TPMBO, relacionados ao equilíbrio estático e dinâmico e a coordenação motora bilateral. O estudo foi realizado em um local livre de distrações, sendo identificado antes de sua aplicação o dimidio corporal com comprometimento motor (hemiparesia) resultante da paralisia cerebral, com intuito de se ter maior atenção durante a realização do teste, evitando-se deste modo erros de interpretação na avaliação dessas crianças. Através da avaliação verificou-se o grau de dificuldade motora existente nas crianças, considerando o escore máximo de 32 pontos para o teste de equilíbrio e 20 pontos para o de coordenação motora, sendo estes valores estabelecidos no TPMBO. A seguir as crianças foram acompanhadas pelo setor de fisioterapia por 12 semanas, onde se realizou o tratamento fisioterápico duas vezes por semana, por trinta minutos. Durante as sessões de fisioterapia as crianças foram incentivadas a realizar atividades que exigiam coordenação motora, equilíbrio, agilidade, destreza, além de correção postural, mobilizações e alongamentos com a finalidade de melhorar seu desempenho em relação às tarefas funcionais, 3/7/2006 19:04:38 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 211 através do posicionamento e exercícios adequados destinados a desenvolver a musculatura do dimidio comprometido pela lesão. Ao término do programa as crianças foram novamente avaliadas, através do mesmo teste TPMBO, sendo os resultados analisados e comparados com o intuito de verificar se ocorreu alguma alteração no quadro motor após a intervenção fisoterapêutica, sendo adotado para análise estatística o teste de Wilcoxon, considerado-se como nível de significância p < 0,05. Tabela II - Resultado do teste final das performances de equilíbrio e coordenação motora obtido através do teste de proficiência motora de Bruininks-Oseretsky ( N = 7). Resultados Do total de 44 crianças com diagnóstico de paralisia cerebral, sete com hemiparesia espástica foram selecionadas para este estudo, correspondendo a 15,9% da população avaliada, sendo quatro do sexo feminino e três crianças do sexo masculino. Deste total quatro apresentavam comprometimento do dimídio corporal esquerdo. Considerando-se o desempenho motor inicial dessas crianças com hemiparesia espástica, observou-se que os valores obtidos na avaliação preliminar em relação a variável de equilíbrio estático e dinâmico através do teste (TPMBO) mostrou pontuação inferior a 32% dos acertos nas atividades realizadas por estas crianças, com variações de 7 a 10 para um total de 32 pontos do teste. Já em relação à coordenação motora, os dados obtidos demonstraram maior dificuldade em sua execução, sendo os resultados foram encontrados inferiores a 20% dos acertos para as atividades realizadas, variando a pontuação de 1 a 4 em um total de 20 pontos para na realização do teste, como demonstrado na Tabela I. Tabela I - Resultado do teste inicial das performances de equilíbrio e coordenação motora obtido através do teste de proficiência motora de Bruininks-Oseretsky ( N = 7). Participante A B C D E F G Pontuação ref. ao equilíbrio 10/32 pontos 8/32 pontos 10/32 pontos 7/32 pontos 10/32 pontos 8/32 pontos 8/32 pontos % de Pontuação pontuação ref. a em relação coord. ao equilíbrio motora 31,2 25,0 31,2 21,8 31,2 25,0 25,0 2/20 pontos 3/20 pontos 3/20 pontos 1/20 pontos 2/20 pontos 4/20 pontos 2/20 pontos % de em pontuação relação a coord. motora 10,0 15,0 15,0 5,0 10,0 20,0 10,0 Através destes dados verificamos acentuada dificuldade motora nas crianças com PC hemiparéticas para ambos os testes realizados. Após o programa de fisioterapia, foi novamente aplicado o teste (TPMBO), obtendo-se os resultados demonstrados na Tabela II. fisioterapia_v7n3.indb 211 Participante A B C D E F G Pontuação ref. ao equilíbrio 12/32 pontos 10/32 pontos 12/32 pontos 9/32 pontos 11/32 pontos 9/32 pontos 10/32 pontos % de Pontuação pontuação ref. a em relação coord. ao equilíbrio motora 37,5 31,2 37,5 28,1 34,3 28,1 31,2 4/20 pontos 5/20 pontos 4/20 pontos 3/20 pontos 4/20 pontos 5/20 pontos 3/20 pontos % de em pontuação relação a coord. motora 20,0 25,0 20,0 15,0 20,0 25,0 15,0 Observou-se a presença de melhora em relação aos resultados obtidos na avaliação anterior. Comparando-se os resultados obtidos através do TPMBO, em relação ao equilíbrio estático e dinâmico e a coordenação motora bilateral antes e após a fisioterapia, utilizando-se como análise estatística o teste de Wilcoxon, verificou-se que a fisioterapia exerce influencia sobre o equilíbrio e a coordenação motora na amostra estudada, apresentando resultado estatisticamente significativo para p < 0,05, conforme descrito na Tabela III. Tabela III - Comparação dos resultados obtidos sobre o equilíbrio e a coordenação motora antes e após a realização da fisioterapia. Equilíbrio Coordenação motora Pré-teste (Md) Pós-teste (Md) P-valor 8,00 2,00 10,00 4,00 0,014 0,015 Legenda: Md = mediana; *p <0,05 Discussão Observou-se, neste estudo, que a hemiparesia não é uma das alterações motoras mais freqüente na paralisia cerebral, estando presente em apenas 15,9% do total de crianças estudadas. Papasian & Afonso [3] ao realizar estudos sobre a eficácia das medidas terapêuticas empregadas no tratamento de crianças com paralisia cerebral, através de revisão bibliográfica, observou que a hemiplegia ou hemiparesia se encontrava em terceiro lugar, estando a tetraplegia espástica em primeiro lugar e a diplegia espástica em segundo. Já Stokes [8] relacionou a incidência da hemiplegia com a provável etiologia, sugerindo que esta se encontra em segundo lugar quando a paralisia cerebral ocorre em crianças prematuras. Através de um levantamento bibliográfico constando de trinta e três artigos extraídos dos sites da Bireme, Lilacs e Pubmed, Pato et al. [2] observou que maioria dos estudos faz referência aos fatores de risco, não relacionando os distúrbios motores. Ainda 3/7/2006 19:04:39 212 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 nesta revisão, os autores verificaram que não havia diferença significativa quanto ao acometimento entre os sexos, o mesmo encontrado neste estudo. Alterações do tônus muscular é um dos sinais mais freqüentes entre os distúrbios motores encontrados em crianças com paralisia cerebral [9,5]. O estudo realizado por Iwabe & Piovesana [9] em relação ao tônus muscular na paralisia cerebral tetraparética, verificou que este interfere tanto na amplitude e qualidade, como na freqüência dos movimentos executados, exigindo estratégias compensatórias para aumentar a estabilidade articular. Neste estudo as alterações do tônus muscular eram simétricas, embora, predominantes nos membros inferiores. Tem-se observado que as alterações no tônus dificultam a realização dos exercícios propostos para o equilíbrio e coordenação motora no inicio do programa de fisioterapia. A intervenção precoce no tratamento de reabilitação visa principalmente a prática de atividades que exijam a participação do corpo inteiro, como observado na recuperação do equilíbrio e coordenação motora [7]. Utilizou-se neste estudo para verificar o comprometimento motor encontrado em crianças com paralisia cerebral nas atividades diárias envolvendo equilíbrio e coordenação motora, os subtestes 2 e 3 do teste de proficiência motora de BruininksOseretsky (TPMBO) em duas etapas: pré-teste, onde foram identificadas as dificuldades encontradas pelas crianças antes de iniciarem o programa de fisioterapia e o pós-teste, realizado no final do estudo com o propósito de verificar a influência da atividade fisoterapêutica sobre essas alterações. No pré-teste, verificou-se a dificuldade em relação ao equilíbrio nas sete crianças, com rendimento inferior a 32% e nas atividades de coordenação motora os resultados de seis crianças foram inferiores a 20%, porcentagem obtida considerando a pontuação total do teste, conforme Tabela II. Após os exercícios realizados durante a fisioterapia, as crianças foram reavaliadas através do mesmo teste e obteve-se resultados mais satisfatórios do rendimento na realização das atividades motoras. Observou-se, ao comparar-se as médias do pré-teste e do pós-teste, através da analise estatística de Wilcoxon, melhora significativa no equilíbrio (p = 0,014) e coordenação motora (p = 0,015), utilizando-se como índice de significância estatística p < 0,05. Diante destes resultados, percebeu-se a necessidade de avaliar as disfunções motoras presente nas crianças com paralisia cerebral para que se estabeleça uma meta de trabalho com resultados mais eficazes. Considerando as dificuldades predominantes em cada criança neste estudo, estas vêm de encontro ao principal objetivo da fisioterapia que consiste em treinar crianças com alterações motoras para a realização de atividades essenciais a sua vida diária [7]. De acordo com os resultados obtidos neste estudo, sugerese que as crianças com paralisia cerebral devam participar de um programa fisioterapêutico com maior solicitação de sua capacidade motora, devendo o mesmo ser implantado nas instituições que atendam esta população. fisioterapia_v7n3.indb 212 Conclusão Conclui-se, portanto, que crianças com quadro de paralisia cerebral hemiparética espástica apresentam limitações funcionais em atividades que exijam equilíbrio e coordenação motora, sendo este importante indicador para determinação do programa fisioterapêutico de recuperação motora nas atividades a serem desenvolvidas. Entende-se assim a influência da fisioterapia na reabilitação e sua importância em criar oportunidades para o desenvolvimento de habilidades motoras básicas nessas crianças como: correr, saltar, pular, rolar, arremessar, entre outras. Assim através do movimento estas crianças com deficiência podem vivenciar novas experiências, favorecendo os ajustes posturais necessários e influenciando em seu desenvolvimento motor. A complementação deste estudo com uma população maior deverá ratificar os resultados encontrados. Referências 1. Mancini MC, Fiúsa PM, Rabelo JM, Magalhães LC, Coelho ZAC, Paixão ML, Gontijo APB, Fonseca SC. Comparação do desempenho de atividades funcionais em crianças com desenvolvimento normal e crianças com paralisia cerebral. Arq Neuropsiquiatr 2002;60(2-B): 446-52. 2. Pato TR, Souza DR, Leite HP. Epidemiologia da paralisia cerebral. Acta Fisiatr 2002;9:271-6. 3. Papazian O, Afonso I. Rehabilitación motora de los niños con parálisis cerebral. 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Arq NeuroPsiquiatr 2003;61(3A):1-9. 3/7/2006 19:04:40 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 213 Artigo original Importância da intervenção fisioterapêutica precoce na correção da incontinência urinária masculina pós-prostatectomia Importance of early physical therapy in correction of postprostatectomy incontinence Carina Tárzia Kakihara*, Ubirajara Ferreira, D.Sc.**, Nelson Rodrigues Netto Jr, D.Sc.*** *Supervisora do Estágio em Fisioterapia Neurológica da Universidade Paulista, Campus Anchieta, São Paulo e Mestranda em Ciências da Saúde pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, **Professor Associado de Urologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM- Unicamp), **Professor Titular de Urologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM- Unicamp) Resumo Abstract Introdução: O presente trabalho teve como objetivo avaliar a importância do tempo de início da fisioterapia em pacientes que sofreram algum tipo de procedimento cirúrgico na próstata, resultando em incontinência urinária. Material e Métodos: Vinte pacientes com diagnóstico de perda urinária decorrente da prostatectomia radical ou ressecção transuretral da próstata foram avaliados com pad test e número de fraldas utilizadas diariamente. Todos eles foram submetidos a doze sessões de fisioterapia, utilizando cinesioterapia e eletroestimulação, uma vez semanalmente. Posteriormente, foram reavaliados por meio de pad test e número de fraldas. Os pacientes foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo era composto por dez pacientes que iniciaram a fisioterapia nos primeiros seis meses de pós-operatório; o segundo grupo de dez pacientes que iniciaram o tratamento fisioterapêutico, após o sexto mês da intervenção cirúrgica. Resultados: Observou-se que tanto no primeiro grupo como no segundo houve uma diferença estatisticamente significante quanto ao pad test inicial em relação ao final. Quanto ao número de fraldas, ocorreu diferença significante somente no primeiro grupo, mostrando uma diminuição significante no número de fraldas. Conclusão: O tratamento com cinesioterapia e com eletroestimulação permitiu concluir que a fisioterapia foi efetiva, com melhora significativa da incontinência urinária. Após a fisioterapia,ocorre melhora na classificação da incontinência, com relação ao pad test e diminuição do número de fraldas utilizadas pelos pacientes prostatectomizados. A redução do número de fraldas utilizadas pelos pacientes do primeiro grupo foi maior do que aquela apresentada pelos pacientes do segundo grupo. Background: The objective of the work was to evaluate the importance of time to start physical therapy in patients who underwent some kind of surgery in prostate, resulting urinary incontinence. Material and methods: Twenty patients with diagnosis of urinary loss after radical or trans-urethral prostatectomy were evaluated with pad test and number of pads used daily. All of them were submitted in twelve physical therapy sessions, using kinesiotherapy and electrical stimulation, once a week. Subsequently, the patients were reevaluated with pad test and number of pads used daily. The patients were divided in two groups: the first was composed of ten patients who initiated the physical therapy in six months of post-operation; the second group of ten patients who initiated the physical therapy, after six months of surgery. After the analysis of the obtained data, it was observed that the both the first group of the second group there were one statistical significative difference as much as initial pad test in relation last. As many as number of pads, the test of signal showed a significative difference only in the first group, displaying a significative decrease of number of pads. Conclusion: The treatment with kinesiotherapy and electric stimulation allowed conclude that the physical therapy was effective, with significant improvement of urinary incontinence. After the physical therapy, improved the incontinence classification, showed in pad test and diminution in pads number. The reduction of number of pads used by patients of the first group was greater than the second group. Key-words: urinary incontinence, prostatectomy, transurethral resection of prostate, physical therapy. Palavras-chave : incontinência urinária, prostatectomia, ressecção transuretral da próstata, fisioterapia. Recebido 24 de novembro de 2005; aceito 15 de maio de 2006. Endereço para correspondência: Carina Tárzia Kakihara, Rua Padre Machado, 584/61 Saúde 04127-001 São Paulo SP, Tel: (11) 557509, E-mail: [email protected] fisioterapia_v7n3.indb 213 3/7/2006 19:04:40 214 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Introdução absorventes, clampe peniano, eletroestimula-ção, exercícios de Kegel, biofeedback, e drogas alfa-agonistas. Na insuficiência esfincte-riana pura de grau moderado ou nos casos em que o tratamento conservador falhou, pode-mos utilizar a injeção de substâncias periuretrais [9]. Na incontinência de etiologia mista (insuficiência esfincteriana associada a disfunção vesical), deve-se tentar corrigir primeiramente a disfunção vesical. Uma vez conseguida, passa-se à correção da insuficiência esfincteriana [2]. Considerando-se que não há unanimidade na literatura com relação ao tempo ideal de início da fisioterapia nos pacientes com incontinência urinária após as cirurgias prostáticas, este estudo se propôs a observar se um programa fisioterapêutico precoce, ou seja, com início nos primeiros seis meses de pós-operatório, poderia apresentar melhores resultados se comparado com outros pacientes que receberam o mesmo tipo de tratamento fisioterapêutico, mas com início mais tardio, isto é, após seis meses da cirurgia. No homem adulto, as causas mais importantes de incontinência urinária são as lesões iatrogênicas decorrentes de cirurgias prostáticas. Dentre as mais comuns, estão a ressecção transuretral da próstata (RTU), a prostatectomia aberta e a prostatectomia radical [1]. Existe uma grande discrepância na literatura sobre a incidência da incontinência pós-prostatectomia. Isto pode ser explicado pela definição e graduação diferente da incontinência, pelo tempo de seguimento e pelos métodos utilizados para avaliação do paciente [2]. Altas taxas de incontinência são detectadas (87%) quando se utiliza o estudo urodinâmico rigoroso em pacientes pósprostatectomia radical [3]. A incontinência urinária por insuficiência esfincteriana pode ocorrer após as cirurgias prostáticas, em especial a prostatectomia radical pois estas podem promover redução significativa do esfíncter urinário masculino [4]. A incidência de incontinência após 3 meses da prostatectomia radical varia de 17% até 54% e aos 6 meses, de 5% até 38% [5]. A maioria dos pacientes recupera a continência urinária espontaneamente nos primeiros 6 meses após a cirurgia. Uma parcela menor a recupera entre 6 meses e 12 meses e, após esse período, adicionalmente apenas 3% a readquirem [2]. De acordo com Sengler e Grosse [6], no pós-operatório, justifica-se um atendimento educativo e informativo. A reeducação propriamente dita deve começar entre 1 e 2 meses de pós-operatório [6]. Um estudo realizado por Chang et al. [7] com 50 pacientes com diagnóstico de incontinência urinária pós- prostatectomia transuretral, avaliou os efeitos dos exercícios do assoalho pélvico que eram iniciados logo após a retirada do cateter de Foley. Os primeiros 25 homens formavam o grupo controle e os próximos 25 faziam parte do grupo que realizou tais exercícios. Na conclusão, os autores relataram que os exercícios do assoalho pélvico fornecem ajuda na redução da freqüência da micção e melhoram os sintomas da perda urinária em homens, nas primeiras 4 semanas após a cirurgia. Essa melhora pode ser devida ao aumento da força das contrações dos músculos do assoalho pélvico. Meaglia et al. [8] realizaram estudo com 27 pacientes que apresentavam incontinência urinária entre 5 e 198 meses após prostatectomia radical, perineal ou prostatectomia transuretral. Durante o estudo que teve seguimento de 1 a 17 meses, foram avaliados 20 pacientes que realizaram exercícios perineais. A melhora no número de episódios de perda em todo grupo foi de 56,6%.Vinte cinco por cento pararam de utilizar fraldas e 2 pacientes se tornaram continentes. Esse trabalho mostrou que o treino comportamental com estimulação verbal para pacientes com incontinência persistente pode melhorar a continência. Nos casos de insuficiência esfincteriana pura de grau leve pode-se utilizar o tratamento conservador, como proteção com fisioterapia_v7n3.indb 214 Material e métodos Foram incluídos no presente estudo 20 pacientes com histórico de incontinência urinária decorrente de cirurgias na próstata (prostatectomia radical ou ressecção transuretral da próstata), na faixa etária compreendida dos 45 anos aos 72 anos. Foram excluídos os pacientes com incontinência urinária que apresentavam infecção urinária e os que apresentavam implantes metálicos ou marcapasso. O programa fisioterapêutico foi realizado no Ambulatório de Urologia da Universida-de Estadual de Campinas (Unicamp), uma vez por semana, por um período de 3 meses, totalizando 12 sessões, com duração de 30 minutos cada. Os pacientes foram ensinados a realizar a cinesioterapia em casa. Os exercícios eram feitos diariamente, perfazendo um total de 90 contrações diárias do músculo elevador do ânus nas posições em decúbito dorsal, decúbito lateral, sentado e em pé. Em cada sessão com a fisioterapeuta, foi utilizada a eletroestimulação com eletrodo anal durante 20 minutos. Nos pacientes que apresentavam incompetência esfincteriana no exame urodinâmico, foi utilizado de 35 Hz até 50 Hz de freqüência, pois na reeducação perineal, a eletroestimulação para fortalecer os músculos utiliza uma corrente de tensão média nula alternada ou bifásica com uma freqüência de 35 Hz até 50 Hz. As fibras rápidas são estimuladas a partir de 35 Hz, de forma ótima com 50 Hz. Já nos pacientes que apresentavam disfunção vesical no exame urodinâmico, foi utilizado freqüência de 8 Hz até 10 Hz., pois para a inibição do detrusor, é preciso uma corrente de tensão média nula alternada ou bifásica com uma freqüência de 8 Hz até 10 Hz. As fibras lentas são estimuladas de forma ótima com uma corrente de 10 Hz. As reavaliações foram realizadas após o término das 12 sessões, nas quais foram aplicados os mesmos parâmetros de 3/7/2006 19:04:41 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 215 avaliação no início do tratamento, como pad test e número de fraldas utilizadas. O pad test classifica a incontinência de acordo com a quantidade de urina perdida após a realização de uma atividade física, que consiste em: andar 30 minutos, subir 20 degraus, descer 20 degraus, sentar e levantar 10 vezes, tossir 10 vezes, correr durante 1 minuto, jogar e pegar um objeto no chão 5 vezes, e lavar as mãos em água por um minuto. A perda de urina de 1 a 10 gramas classifica a incontinência como leve; de 11 a 50 gramas como moderada; de 51 a 100 gramas como severa; mais de 100 gramas como muito severa. Todos os pacientes foram submetidos à avaliação urodinâmica antes do início do tratamento fisioterapêutico. No primeiro grupo, oito pacientes fizeram prostatectomia radical e dois pacientes fizeram ressecção transuretral da próstata. Quanto aos exames urodinâmicos, no primeiro grupo, cinco pacientes tinham instabilidade detrusora e os outros cinco tinham insuficiência esfincteriana. Já no segundo grupo, todos os pacientes fizeram prostatectomia radical, sendo que destes, quatro tinham instabilidade detrusora e seis tinham insuficiência esfincteriana. No primeiro grupo, inicialmente havia quatro pacientes com incontinência muito severa, dois pacientes com incontinência severa, um paciente com incontinência moderada e três pacientes com incontinência leve, como mostra Tabela I. No segundo grupo, inicialmente havia 3 pacientes com incontinência severa, dois pacientes com incontinência moderada e cinco pacientes com incontinência leve, como mostra Tabela II. Tabela I - Caracterização dos pacientes do primeiro grupo. Paciente número 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Cirurgia Estudo urodinâmico Sintoma prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical ressecção transuretral prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical ressecção transuretral hiperatividade detrusora hiperatividade detrusora hiperatividade detrusora insuficiência esfincteriana hiperatividade detrusora insuficiência esfincteriana insuficiência esfincteriana insuficiência esfincteriana insuficiência esfincteriana hiperatividade detrusora urge-incontinência urge-incontinência urge-incontinência incontinência de esforço urge-incontinência incontinência de esforço incontinência de esforço incontinência de esforço incontinência de esforço urge-incontinência Cirurgia Estudo urodinâmico Sintoma prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical prostatectomia radical insuficiência esfincteriana insuficiência esfincteriana hiperatividade detrusora insuficiência esfincteriana insuficiência esfincteriana insuficiência esfincteriana hiperatividade detrusora hiperatividade detrusora hiperatividade detrusora insuficiência esfincteriana incontinência de esforço incontinência de esforço urge-incontinência incontinência de esforço incontinência de esforço incontinência de esforço urge-incontinência urge-incontinência urge-incontinência incontinência de esforço Tabela II - Caracterização dos pacientes do segundo grupo. Paciente número 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Para avaliarmos dentro de cada grupo diferença entre o número de fraldas antes e após o tratamento fisioterapêutico verificamos se houve ou não diminuição do número de fraldas. Na avaliação de possíveis diferenças quanto ao pad test usamos o teste de Wilcoxon [10]. Na avaliação de possíveis diferenças entre os grupos tanto para o número de fraldas quanto para o pad test, usamos o teste de Mann-Whitney. Neste caso, não usamos a variável fisioterapia_v7n3.indb 215 diferença em valor absoluto pois números iguais podem apresentar percentagens diferentes. Por essa razão, definimos a variável ∆%, onde: ∆% = valor inicial – valor final X 100. valor inicial O nível de rejeição para a hipótese de nulidade foi fixado sempre em um valor menor ou igual a 0,05 (5%). Quando o teste estatístico apresentou significância usamos um asterisco (*) 3/7/2006 19:04:42 216 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Para caracterizá-la, caso contrário, isto é, não significante, usamos N.S. A partir da análise do número de fraldas, notou-se que no primeiro grupo, apenas um paciente não usava fralda. Assim, dos nove pacientes que usavam fraldas, todos apresentaram redução do número de fraldas, como mostra Tabela III. O resultado da análise estatística com relação ao número de fraldas do primeiro grupo, antes e após o tratamento fisioterapêutico, mostra que houve diferença estatisticamente significante. No segundo grupo, um paciente usava uripen e um paciente não usava fralda. Assim, dos oito pacientes que usavam fraldas, cinco pacientes apresentaram redução do número de fraldas, enquanto três pacientes continuaram utilizando o mesmo número de fraldas, como mostra Tabela IV. Apesar de não ocorrer diferença estatisticamente significante com relação ao número de fraldas antes e após a fisioterapia no segundo grupo, a maioria dos pacientes do segundo grupo apresentaram diminuição da quantidade de fraldas utilizadas após este tipo de tratamento. Resultados A partir da análise da evolução dos pad test, observou-se que no primeiro grupo, sete pacientes tiveram redução da quantidade de urina perdida no segundo pad test e três pacientes mantiveram a mesma quantidade de perda de urina no segundo pad test como mostra Tabela III. O resultado da análise estatística com relação ao pad test do primeiro grupo, antes e após o tratamento fisioterapêutico, mostra que houve melhora estatisticamente significante. No segundo grupo, dos dez pacientes avaliados com o pad test, sete pacientes tiveram redução na quantidade de urina perdida no segundo pad test e três pacientes mantiveram a mesma quantidade de urina perdida no segundo pad test, como mostra tabela IV. No pad test do segundo grupo, também houve melhora estatisticamente significante da avaliação (antes) para a segunda avaliação (após 12 sessões). Tabela III - Caracterização dos pacientes do primeiro grupo antes do início da fisioterapia e após dois meses de fisioterapia e resultados do pad test e número de fraldas. Idade (anos completos) Início da fisioterapia (meses após a cirurgia) Primeiro Pad Test (G) e número de fraldas Segundo Pad Test (G) e número de fraldas Classificação incontinência no primeiro Pad Test e no segundo Pad Test 1 67 2 2 64 2 3 45 2 4 56 4 5 61 6 6 74 6 7 58 6 8 65 6 9 69 6 10 69 6 490 5 145 5 200 4 135 5 60 não usava fralda 65 4 25 3 5 2 10 3 10 3 90 3 40 3 10 2 60 3 10 não usava fralda 30 3 20 2 5 1 10 2 10 1 Muito severa Severa Muito severa Moderada Muito severa Leve Muito severa Severa Severa Leve Severa Moderada Moderada Moderada Leve Leve Leve Leve Leve Leve Paciente número Resultado da Estatística com relação ao pad test: Teste de Wilcoxon Z calculado = -2,366*, p = 0,018; Resultado da Estatística com relação ao número de fraldas: N = 9; X = 0; p = 0,004*.Obs: O paciente 5 não entrou neste teste pois ele não usava fralda. fisioterapia_v7n3.indb 216 3/7/2006 19:04:42 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 217 Tabela IV - Caracterização dos pacientes do segundo grupo antes do início da fisioterapia e após dois meses de fisioterapia e resultados do pad test e número de fraldas. Idade (anos completos) Início da fisioterapia (meses após a cirurgia) Primeiro Pad Test (G) e número de fraldas Segundo Pad Test (G) e número de fraldas Classificação incontinência no primeiro Pad Test e no segundo Pad Test 11 69 10 meses 12 71 2 anos 13 67 3 anos 14 68 3 anos 15 72 3 anos 16 67 2 anos 17 57 2 anos 18 72 8 meses 19 65 8 meses 20 56 3 anos 10 1 10 1 85 uripen 5 3 30 2 90 5 5 2 5 não usava fralda 75 3 40 2 5 1 10 1 75 uripen 5 2 5 1 15 1 5 não usava fralda 0 não usava fralda 65 2 10 2 Leve Leve Leve Leve Severa Severa Leve Leve Moderada Leve Severa Moderada Leve Leve Leve Sem perda de urina Severa Severa Moderada Leve Paciente número Resultado da Estatística com relação ao pad test: Teste de Wilcoxon Z calculado = -2, 375*, p= 0,018; Resultado da Estatística com relação ao número de fraldas: N = 8; X = 3; p = 0,363 N.S. Obs: O paciente 13 não entrou neste teste pois ele usava uripen e o paciente 18 não usava fralda. Discussão Embora a função do músculo esfincteriano pode se recuperar espontaneamente após um mês da prostatectomia, a cinesioterapia pode intensificar a recuperação da continência durante as primeiras semanas. Em pacientes que são submetidos a prostatectomia radical, após um período inicial rápido de melhora, a incontinência continua a melhorar até seis meses [11]. Para Srougi [12], os riscos de incontinência urinária são proporcionais à experiência da equipe médica e elevam-se um pouco nos pacientes com mais de 70 anos. Logo após a remoção da sonda aplicada na cirurgia, um número razoável de pacientes apresenta o problema, mas as perdas urinárias normalizam-se em quase todos os casos ao cabo de seis meses. Quando isso não ocorre, os especialistas prescrevem medicações (imipramina, sertralina, efedrina) ou indicam fisioterapia para fortalecer o esfíncter da uretra e os músculos da bacia. Os casos mais graves são corrigidos com esfíncter artificial. Outros autores, como Chang et al.[7]e Sengler e Grosse [6] afirmam que a fisioterapia para esses pacientes deve ser iniciada nas primeiras quatro semanas após a prostatectomia transuretral. Para Sengler e Grosse [6], a reeducação pode fisioterapia_v7n3.indb 217 se iniciar entre 1 a 2 meses do pós-operatório com o uso da cinesioterapia e eletroestimulação. Tanto no primeiro grupo quanto no segundo grupo houve uma diferença estatisticamente significante quanto ao pad test inicial em relação ao final. Quanto ao número de fraldas, o teste do sinal mostrou uma diferença significante apenas no primeiro grupo. Nota-se pelos resultados que a fisioterapia precoce tem o seu valor pois a queda do número de fraldas foi significante, o que acontece também quando a fisioterapia é iniciada tardiamente. Conclusão A fisioterapia com o uso da cinesioterapia e eletroestimulação em pacientes prostatectomizados permite uma melhor conscientização do assoalho pélvico, inibição do detrusor e ativação da musculatura do assoalho pélvico. Com esse trabalho, pôde-se observar que, após o tratamento fisioterapêutico ocorre diminuição da incontinência urinária, verificada objetivamente com o pad test, e decréscimo do número de fraldas utilizadas pelos pacientes. Esses resultados foram verificados nos dois grupos de pacientes, embora a análise estatística evidenciou diferença significante no número 3/7/2006 19:04:43 218 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 de fraldas apenas no primeiro grupo, onde os pacientes começaram a fisioterapia precocemente. Assim, pode-se afirmar que segundo o presente estudo é melhor iniciar a fisioterapia logo após a constatação da incontinência urinária decorrente da prostatectomia. Constatou-se que a cinesioterapia e a eletroestimulação aplicadas a pacientes com incontinência urinária pós-prostatectomias são alternativas terapêuticas que devem ser consideradas e que vem tendo grande aceitação como tratamento conservador. 4. Rios LAS. Avaliação urodinâmica. In: Netto Jr NRN, Wroclawski ER (eds). Urologia. Fundamentos para o clínico. São Paulo: Sarvier; p.47-52, 2001. 5. Palma PCR. Incontinência urinária pós-prostatectomia. In: D´Ancona CAL, Netto Jr NR. Aplicações clínicas da urodinâmica. Campinas: Cartgraf; 1995. 6. Sengler J, Grosse D. Reeducação perineal. São Paulo: Manole; 2002. p. 67. 7. Chang PL, Tsai LH, Huang ST et al. The early effect of pelvic floor muscle exercise after transurethral prostatectomy. J Urol 1998;160:402-5. 8. Meaglia JP, Joseph AC, Chang M et al. Post-prostatectomy urinary incontinence: response to behavioral training. J Urol 1990;144:674-6. 9. D´Ancona CAL, Rodrigues P, Castro NM, Muller VJF. Avaliação da perda urinária: critérios clínicos, testes urodinâmicos, diário miccional. In: Bruschini H, Kano H, Damião. Incontinência urinária, uroneurologia e disfunções miccionais. São Paulo: BG Cultural; 1999. p.13-6. 10. Siegel S. Estatística não- paramétrica (para ciências do comportamento). São Paulo: McGraw-Hill; 1975. p.35. 11. 2º International Consultation on Continence. Conservative management in men. In: Abrams P, Cardozo L, Khoury S, Wein A. Incontinence. Health Publication; 2002. p.553-69. 12. Srougi M: Próstata: isso é com você. São Paulo: Publifolha; 2003. p.73. Referências 1. Matheus WE, Ferreira U. Incontinência urinária no homem adulto. In: D´Ancona CAL. Princípios básicos de Urodinâmica. São Paulo: Atheneu; 1995. p.65-7. 2. Lima CLM, Alves RS, Sabaneeff J, Carrerette FB. Propedêutica e avaliação de condutas em incontinência pós-prostatectomia. In: Bruschini H, Kano H, Damião R (eds). Incontinência urinária, uroneurologia e disfunções miccionais. São Paulo: BG Cultural; 1999. p.25-31. 3. Rudy DC, Woodside JR, Crowford ED. Urodynamic evaluation of incontinence in patients undergoing modified Campbell radical retropubic prostatectomy: a prospective study. J Urol 1984;132:708-12. fisioterapia_v7n3.indb 218 3/7/2006 19:04:44 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 219 Artigo original Repercussão atual das lesões músculo-esqueléticas sofridas pelas ginastas durante suas carreiras na ginástica rítmica Current repercussion at the muscular-skeletal lesion suffered by gymnasts during their careers in rhythmic gymnastics Raquel Petry*, Elirez Silva, D.Sc.** *Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Esportiva, Mestranda em Ciências do Movimento Humano/Biomecânica, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis SC, **Fisioterapeuta, Professor de Educação Física, Diretor da Graduação e Pós-Graduação do Departamento de Fisioterapia UGF, Coordenador do Laboratório de Pesquisas em Fisioterapia, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro RJ Resumo Abstract Este estudo tem por objetivo verificar se as lesões músculo-esqueléticas, sofridas pelas ginastas durante o período de treinamento na Ginástica Rítmica (GR), apresentam repercussões tardias após o encerramento da sua carreira esportiva competitiva. Participaram deste estudo 72 indivíduos do sexo feminino entre 16 e 30 anos: 36 que praticaram GR (grupo de casos) e 36 que nunca haviam praticado GR (grupo controle). Para a coleta de dados foi elaborado e aplicado um questionário específico para cada grupo (de casos e controle), perguntando sobre idade, presença de dor/desconforto atualmente, relação desta com alguma lesão prévia (no caso das ginastas, durante o período de treinamento de GR), prática de atividade física atual. O valor do qui-quadrado foi igual a 4,56 para p igual a 0,033, confirmando a hipótese de associação significativa entre a prática de GR e a presença de lesão músculo-esquelética, com repercussões tardias após o encerramento de sua atividade competitiva neste esporte. A prevalência da dor atualmente associada à prática da GR foi de 72%, enquanto que a prevalência da dor atual no grupo controle foi de 42%. Concluiu-se que as lesões músculo-esqueléticas sofridas pelas ginastas durante o período de treinamento na GR apresentaram como repercussão tardia a presença de dor, principalmente na região lombar e que a presença desta dor atualmente seja, provavelmente, a responsável pelo afastamento destas pessoas da prática da atividade física. The aim of this study was to verify if muscular skeletal lesions, suffered by gymnasts during the Rhythmic Gymnastic (RG) training time, has late repercussions after withdrawal from the competitive career. Seventy-two female individuals between 16 years and 30 years of age participated in this study, being that 36 trained RG (case group) and 36 that had never participated in the sport (control group). To collect data, a specific questionnaire was elaborated and applied to each group (case and control), consisting of questions about: age, current presence of discomfort, relation of this discomfort with any previous lesions (in the case of gymnasts, during the period of training RG), the current practice of a physical activity. The squared-qui value was of 4,56 for a p equal to 0.033, confirming the hypothesis of significant association between RG practice and presence of muscular skeletal lesions, with late repercussions after a career within this sport. The prevalence of pain associated with the practice of RG currently was 72%, while the prevalence of pain in the control group was 42%. We conclude that the muscular skeletal lesions suffered by gymnasts during the RG training time, show presence of pain as late repercussion, mainly in the lumbar region and that currently the presence of this pain, probably, is responsible for the withdrawal of these persons from physical activity. Key-words: extreme angles by the body; excessive corporal practice; sportive lesions. Palavras-chave: angulações extremas do corpo; sobrecarga corporal; lesões esportivas. Recebido 10 de janeiro de 2006; aceito 15 de maio de 2006. Endereço para correspondência: raqpetry_fi[email protected] fisioterapia_v7n3.indb 219 3/7/2006 19:04:44 220 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Introdução treinamento na Ginástica Rítmica apresentam repercussões tardias após o encerramento da sua carreira esportiva competitiva. A Ginástica Rítmica (GR) é um esporte bastante plástico, que se destaca pela elegância e beleza dos movimentos (1). Como desporto, a Ginástica Rítmica requer um alto nível de desenvolvimento de certas qualidades físicas, como a flexibilidade, a força, a agilidade, o equilíbrio e a coordenação, com exigências de rendimento elevadas, que tem como objetivo a perfeição técnica na execução de movimentos complexos com o corpo ou com os aparelhos específicos do esporte, como a corda, o arco, a bola, as maças ou a fita [1-4]. Devido à natureza deste esporte e à peculiaridade dos exercícios realizados pelas ginastas - de grande complexidade, muitas vezes com angulações extremas do corpo – existem regiões e estruturas corporais mais propícias e expostas a lesões [5,6]. Entre elas, a coluna lombar aparece como a região mais acometida por essas lesões, seguida pelos membros inferiores [5,7,8]. A sobrecarga colocada sobre a região lombar da ginasta é muito grande [5]. Essa sobrecarga resulta dos movimentos repetitivos de hiperextensão da coluna lombar - gesto esportivo específico e comum na prática de Ginástica Rítmica - e também pela postura hiperlordótica adotada constantemente pelas ginastas [8-12]. Todos estes fatores causais de sobrecarga contribuem para o aparecimento precoce de um quadro doloroso na coluna lombar entre as ginastas [8,9,10,13,14]. Entre as lesões mais graves, podem ser citadas a espondilólise, a espondilolistese - ambas fraturas de estresse - e a hérnia discal [9,10,15,16,17,18]. As lesões nos membros inferiores também aparecem como conseqüência de cargas anormais e excessivas impostas à ginasta (5,8). Lesões nos joelhos (lesões fêmuro-patelares, meniscais, ligamentares e tendinites) e distensões musculares (principalmente dos músculos adutores do quadril – em resposta aos movimentos extremos de abdução do quadril ou flexão associada à extensão do quadril) são as lesões mais encontradas nos membros inferiores das ginastas [5,8,19]. A carreira competitiva das ginastas na Ginástica Rítmica é curta se comparado a outros esportes (1,2). Aos 6 anos, aproximadamente, as meninas iniciam suas atividades neste esporte e, raramente, encontram-se ginastas em plena atividade competitiva após os 25 anos [1,2,8]. A partir dos 14 anos já pertencem à categoria adulta e são vistas comumente em competições internacionais [1,3,20]. Isso acarreta num cotidiano árduo de treinamento, com cargas intensas em estruturas ainda em desenvolvimento, aumentando simultaneamente o risco de lesões [1,21,22,23]. Lesões em estruturas em desenvolvimento podem acarretar conseqüências futuras [21-24]. Essas estruturas podem ter seu desenvolvimento normal prejudicado, podendo repercutir na vida do atleta durante e após seu período de treinamento esportivo competitivo [9,16,21,22,25]. Este estudo tem por objetivo verificar se as lesões músculo-esqueléticas sofridas pelas ginastas durante o período de fisioterapia_v7n3.indb 220 Material e métodos Sujeitos Participaram deste estudo 72 indivíduos do sexo feminino entre 16 e 30 anos divididos em dois grupos: casos e controle. O grupo de casos foi composto de 36 ex-ginastas que praticaram Ginástica Rítmica por, no mínimo, cinco anos, mas que atualmente encontram-se definitivamente afastadas, como atletas, deste esporte. Durante o período em que estavam em atividade na GR, todas competiram na 1ª. Divisão. O grupo controle foi composto de 36 indivíduos, escolhidos aleatoriamente. As exigências para integrar este grupo foram: nunca ter praticado Ginástica Rítmica (seja competitiva, seja recreacionalmente) e estar na mesma faixa etária do grupo de casos. Os indivíduos que não atenderam estas duas exigências foram excluídos e não fizeram parte deste estudo. O estudo obedeceu à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (aprovado por Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos). Todas as participantes tinham ciência do estudo e colaboraram voluntariamente, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido. Lesões músculo-esqueléticas A presença de dor/desconforto em ambos os grupos foi avaliada pela aplicação de um questionário, especialmente elaborado para cada população deste estudo, sendo aplicado por uma fisioterapeuta. Ao grupo de casos foi questionado: (a) idade atual; (b) idade que iniciaram e terminaram sua carreira na Ginástica Rítmica; (c) ocorrência de algum tipo de lesão músculo-esquelética decorrente da prática de GR; (d) presença e local de algum tipo de dor/desconforto atualmente (após ter encerrado sua carreira na GR), (e) relação desta dor/desconforto com uma lesão prévia durante a prática de GR e (f ) a prática de outro tipo de atividade física após seu afastamento da Ginástica Rítmica. Ao grupo controle foi questionado: (a) idade atual; (b) presença e local de algum tipo de dor/desconforto músculoesquelético atualmente; (c) relação desta dor/desconforto com alguma lesão prévia e (d) a prática de atividade física atualmente. Foi informado, a todas as participantes, o conteúdo e o objetivo do questionário, enfatizando que suas identidades seriam preservadas, não sendo divulgadas no estudo. Foi solicitado, a cada participante, que respondesse ao questionário fielmente, sem omitir nenhuma informação, já que os dados divulgados por elas só teriam relevância para o 3/7/2006 19:04:45 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 221 estudo e a omissão de qualquer dado poderia afetar o resultado final do próprio estudo. Figura 1 - Locais de maior prevalência de dor/desconforto atualmente nos casos e controles. Análise dos dados Foi utilizado o teste não paramétrico qui-quadrado para testar as hipóteses de pesquisa que o grupo de casos (ex-praticantes de Ginástica Rítmica) apresentará maior prevalência de dor/desconforto músculo-esqueléticas que as controles. O nível de significância adotado foi igual a 0,05. O teste estatístico pertencia ao programa Primer of Biostatistics 4.0, Stanton A Glantz, McGraw Hill, 1996. Resultados O grupo de casos, composto por ex-ginastas, iniciou o treinamento de Ginástica Rítmica com a idade de 7,0 ± 1,6 anos e encerrou o treinamento de Ginástica Rítmica aos 15,7 ± 2,0 anos de idade. Este grupo estava afastado dos treinamentos de Ginástica Rítmica cerca de 4,5 ± 3,7 anos e apresentou 20,3 ± 3,8 anos de idade. O grupo controle apresentou 21,0 ± 4,0 anos de idade. Todas as 36 ex-ginastas (grupo de casos) referiram algum tipo de lesão músculo-esquelética durante o período que estavam participando dos treinamentos de Ginástica Rítmica. Das 36 ex-ginastas, 26 referiram sentir dor atualmente, sendo que esta dor estava relacionada com a prática anterior de Ginástica Rítmica. No grupo controle, 15 indivíduos referiram sentir dor atualmente, sendo que somente 4 destes 15 indivíduos relacionaram esta dor com uma lesão prévia (Tabela I). Tabela I - Grupo de casos e controle com dor/desconforto atualmente. Dor/desconforto atualmente Sim Não Casos controle 26 10 15 21 χ2 = 4,56 para p = 0,033 A dor na coluna lombar apareceu como sendo a principal queixa no grupo de casos (22 indivíduos), seguida por queixa de dor nos joelhos (06 indivíduos) e no quadril (04 indivíduos). Das 22 ex-ginastas que referiram sentir dor atualmente na coluna lombar, 20 referiram sentir dor neste local já durante o período que praticavam Ginástica Rítmica (Figura 1). No grupo controle a principal queixa foi de dor nos joelhos (06 indivíduos), seguido por queixa de dor na coluna cervical (04 indivíduos), coluna lombar (02 indivíduos), ombros (02 indivíduos) e tornozelos (01 indivíduo). Dos 15 controles que referiram dor atual, apenas 04 referiram uma lesão prévia que justificasse essa dor (Figura 1). fisioterapia_v7n3.indb 221 Tabela II - Grupo de casos e controle que continuam praticando atividade física Dor/desconforto atualmente Casos controle Sim Não 22 14 19 17 χ2 = 0,23 para p = 0,63 Discussão O valor do χ2 = 4,56 para p = 0,033 obtido confirmou a hipótese de pesquisa de que houve associação significativa entre a prática de Ginástica Rítmica e a presença de lesão músculo-esquelética com repercussões tardias após o encerramento de sua atividade competitiva neste esporte. As ex-ginastas (grupo de casos) que participaram deste estudo praticaram Ginástica Rítmica entre os 7 e 15 anos aproximadamente. Nessa faixa etária na qual estavam em pleno treinamento competitivo ocorreu também a maturação músculo-esquelética [21,22]. Estudos realizados [9,22,23,24,26,27] apontam as ginastas rítmicas como atletas que, caracteristicamente, apresentam um atraso no seu desenvolvimento músculo-esquelético e na maturação sexual, devido a fatores como treinamento físico intenso e dieta alimentar restrita [9,21,22,23,24,26,27]. Suportar o estresse de uma atividade física é um importante estimulante para o crescimento normal das estruturas músculo-esqueléticas [21]. O treinamento esportivo competitivo, por outro lado, pode claramente exceder os limites de tolerância e causar danos [9,10,22,25,28]. As demandas colocadas sobre o tecido músculo-esquelético em amadurecimento são fontes de preocupações em função das subseqüentes lesões, assim como as repercussões futuras que estas lesões podem ter na vida do jovem atleta [4,5,21,22,25]. Essa preocupação foi confirmada quando os dados obtidos nesta pesquisa foram analisados e verificou-se que todas as 3/7/2006 19:04:45 222 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 ginastas que participaram do estudo referiram algum tipo de lesão músculo-esquelética durante o período de treinamento na Ginástica Rítmica. As lesões referidas pelas ginastas estavam diretamente associadas aos locais mais expostos à sobrecarga durante a prática de Ginástica Rítmica: a coluna lombar e os membros inferiores [5,8,10,13]. Estudos com ginastas rítmicas [8,9,10,12,13,16] verificaram a vulnerabilidade da coluna lombar, apontando lesões e deformidades características relacionando-as ao tipo de exercícios e movimentos extremos realizados na Ginástica Rítmica [8,9,10,14,15,16,17,18]. Este dado tornou-se ainda mais preocupante quando foi observado que a idade média atual das ex-ginastas (grupo de casos) é de 20 anos e a queixa principal é na coluna lombar: 72% das ex-ginastas entrevistadas referiram dor nesta região. A disfunção lombar não é incomum em atletas e na população em geral, sendo a causa mais freqüente de queixa ortopédica atualmente [10,13,14,29,31]. Estatísticas mundiais indicam que, nas mulheres, a maior prevalência de dor/desconforto na coluna lombar ocorre a partir dos 45 anos [29,30]. Considerando-se esse dado, verificou-se que as ginastas anteciparam essa condição dolorosa em 25 anos, confirmando, assim, a vulnerabilidade da coluna lombar durante a prática de Ginástica Rítmica. As manobras executadas pelas ginastas para a realização dos exercícios, têm sido citadas como atividades comuns de agravamento que precipitam esta condição dolorosa apresentada por um grande número de praticantes deste esporte [5,8,9,10,12,13,16,18,31]. Estudos em ginastas de outros países [10,13] apontaram que 86% destas referiram dor lombar; já estudos em ginastas brasileiras (8) mostrou que 77% destas apresentaram queixa nesta região. Algumas pesquisas [9,10,12,13,18] associaram a queixa de dor lombar das ginastas com desvios anormais na coluna vertebral e outra [14,16,17], ainda, associou à espondilólise. Vários autores [5,9,10,13,16,17,18,21,31] relacionaram a dor lombar das ginastas a desgastes anormais precoces em estruturas ainda em formação, enfatizando, assim, a probabilidade de ocorrência de lesões graves nesta região. São justamente as conseqüências destas lesões que irão repercutir na vida da ginasta mesmo após seu encerramento na prática de Ginástica Rítmica [9,14,16,17,21,32]. Estas lesões graves em atletas tão jovens podem ter conseqüências permanentes, repercutindo com manifestações de dor/desconforto durante toda a vida da ginasta [5,9,10,12,13,14,16,17,31]. As ginastas que participaram do estudo estão há, aproximadamente, 5 anos afastadas dos treinamentos e competições, ou seja, participaram da Ginástica Rítmica nos ciclos anteriores ao que está em vigência atualmente (ciclo 2005-2008). Se estas ex-ginastas já sentem grandes repercussões em função das lesões que sofreram durante o período de treinamento, o que esperar das ginastas que estão em atividade no esporte atualmente se as exigências são ainda maiores? Como estas meninas estarão quando encerrarem suas atividades competitivas na Ginástica Rítmica se a sobrecarga imposta é cada vez maior? Esta é uma questão muito importante e preocupante que deve ser levada em consideração, pois os dados científicos envolvendo a Ginástica Rítmica são limitados e necessitam ser mais explorados. Deveriam ser realizados estudos mais aprofundados sobre a gravidade destas lesões, bem como de seus mecanismos de lesões, para que possa ser feito um acompanhamento mais específico e, talvez, realizar um trabalho engajado na minimização destas sobrecargas, já que estas fazem parte do cotidiano de treinamentos e competições. Este estudo permitiu também observar que a prática da Ginástica Rítmica no passado não serviu de motivação/educação para que as ex-ginastas (grupo de casos) praticassem atividades físicas direcionadas à saúde, após o encerramento da prática competitiva esportiva (χ2 = 0,23; p = 0,63; Tabela II). Provavelmente, as lesões músculo-esqueléticas sofridas pelas ginastas durante o período de treinamento da Ginástica Rítmica, que apresentaram como repercussão tardia a presença de dor, principalmente na região lombar [8,9,10,13,14,16,17], e também, a gravidade destas lesões [5,14,16,17,31] sejam o motivo de afastamento dessas pessoas da prática da atividade física. Entretanto, é conveniente lembrar que este trabalho apresentou como limitação a memória das ex-ginastas e das controles para referir corretamente as dores/lesões músculoesqueléticas ocorridas no passado e existentes no presente, bem como a confiabilidade dos questionários como instrumento de medida da dor. fisioterapia_v7n3.indb 222 Conclusão Da análise dos resultados, concluiu-se que as lesões músculo-esqueléticas sofridas pelas ginastas durante o período de treinamento da Ginástica Rítmica apresentaram como repercussão tardia a presença de dor, principalmente na região lombar, após cerca de cinco anos do encerramento da carreira esportiva competitiva. Provavelmente, a presença atual desta dor seja responsável pelo afastamento destas pessoas da prática da atividade física. Referências 1. Laffranchi B. Treinamento desportivo aplicado à ginástica rítmica. Londrina: Unopar; 2001. 2. Robeva N, Rankelova M. Escola de Campeãs. São Paulo: Ícone; 1991. 3. Abruzzini E. 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A incidência suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor na faixa etária de zero a dois anos nas creches municipais de Florianópolis, durante o segundo semestre de 2001, foi alta, perfazendo 86,1% da amostra. A fisioterapia oferecerá à criança uma vida com melhor funcionalidade, servindo-se de recursos como o conceito Bobath, que visa a uma adequação de tônus, inibição de padrões patológicos e a uma facilitação de movimentos funcionais, associado ao método Halliwick, que utiliza atividades lúdicas visando a melhora dos movimentos. O objetivo deste estudo foi demonstrar os benefícios do método Halliwick como complemento ao conceito Bobath na aquisição e melhora do controle cervical e do rolar em crianças com atraso motor. Foram estudadas 5 crianças com atraso motor, com idade inferior a 2 anos. Elas foram submetidas a uma terapia em piscina aquecida com duração de 45 minutos, e uma no solo, por 1 hora, totalizando 44 sessões. Foi aplicado um protocolo de hidroterapia (método Halliwick) associado a um de solo utilizando o conceito Bobath. Houve melhora das atividades realizadas na água (rotações: sagital, transversal e longitudinal). No solo as crianças adquiriram controle cervical completo e o rolar, passar para postura sentada e o sentar foram realizados com auxílio do terapeuta. A fisioterapia motora, em conjunto com a hidroterapia, proporcionou à criança novas aquisições, em relação à melhora do controle cervical, rolar e sentar. A hidroterapia, por meio do método Halliwick, proporcionou às crianças maior liberdade de amplitude de movimento, aumentando a funcionalidade e contribuindo para a realização das atividades propostas no solo, além da melhora das atividades realizadas na piscina, englobando as diferentes rotações. The motor development is a continuous process that depends on biological, behavior and ambient factors. Any alteration of one of these factors will provoke a motor delay. The incidence suspicion of delay in the neuropsicomotor development in the age of zero to two years in the municipal day-care centers of Florianópolis, during the second semester of 2001, was high, with 86,1% of the sample. The physical therapy gives to the child a life with better functionality, using resources like the Bobath concept, which aims at the adequacy of tonus, the inhibition of pathological standards and the facilitation of functional movements, associate to the Halliwick method, which utilizes playful activities aiming at the improvement of the movements. The objective was to demonstrate the benefits of the Halliwick method as complement to the Bobath concept in the acquisition and improvement of the cervical control and rolling in children with motor delay. Were studied 5 children with motor delay, age < 2 years. They had been submitted to a therapy in warm swimming pool with duration of 45 minutes, and one in the ground, for 1 hour, totalizing 44 sessions. Was applied a hydrotherapy protocol (Halliwick method) associate to one in the ground using the Bobath concept. It had improvement of the activities carried through in the water (rotations: sagital, transversal and longitudinal). On the ground the children acquired complete cervical control and rolling, passing to position seated with aid of the therapist and also seating with aid. The motor physical therapy, in set with hydrotherapy, provided to the children new acquisitions, in relation to the improvement of the cervical control, to roll and to seat. The hydrotherapy, by means of the Halliwick method provided to the children biggest freedom of movement, increasing the functionality and contributing for the accomplishment of the activities carried through in the swimming pool, using the different rotations. Palavras-chave: atraso motor, hidroterapia, método Halliwick, conceito Bobath. Key-words: motor delay, hydrotherapy, Halliwick method, Bobath concept. Artigo recebido em 17 de janeiro de 2006; aceito em 15 de maio de 2006. Endereço para correspondência: Profa Dra. Márcia Cristina Bauer Cunha, Rua 3 de Maio, 82/34 04044-020 São Paulo SP, Tel: (11) 5081-4327, E-mail: má[email protected] fisioterapia_v7n3.indb 224 3/7/2006 19:04:47 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 Introdução Bee [1] define o desenvolvimento motor como sendo um crescimento e mudança na capacidade de realizar atividades físicas. Cada criança possui um potencial de desenvolvimento físico, mental e emocional. Essas características irão desenvolver-se intimamente dependendo das experiências que cada uma irá adquirir do mundo à sua volta [2]. Para Halpern et al. [3], as crianças que vivem em países subdesenvolvidos estão expostas a vários riscos, por exemplo, alta probabilidade de contrair doenças, nascerem de uma gestação conturbada e/ou incompleta (parto pré-termo ou retardo do crescimento intra-uterino), de serem submetidas a condições socioeconômicas adversas, a ambientes familiares desfavoráveis, onde o suporte social, os cuidados de saúde e a estimulação são inapropriados. Todos esses eventos negativos irão contribuir para que tais crianças tenham uma maior chance de apresentar atrasos em seu potencial de crescimento e desenvolvimento. Outras inúmeras causas devem ser destacadas, não só por se encontrarem fora de um padrão normal para a criança, como também por meio de avaliações como: “Alberta Infant Motor Scale”, “Pediatric of Disability” e o “Denver II”. Brazelton [2] enfatiza a observação do impacto que o atraso no desenvolvimento causa na vida da criança fazendo notória a importância de identificar e intervir o mais precocemente com o intuito de minimizar problemas e efeitos negativos decorrentes que irão aparecer futuramente. Halpern et al. [3] complementam ressaltando o estabelecimento de programas de intervenção que objetivem a prevenção e tratamento dos distúrbios do desenvolvimento, proporcionando a essa criança condições de uma vida cotidiana com melhor eficiência possível. A incidência de suspeita de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor na faixa etária de zero a dois anos, nas creches municipais de Florianópolis, durante o segundo semestre de 2001, foi alta, perfazendo 86,1% da amostra [4]. Baum [5] afirma que o exercício aquático é, em termos fisiológicos, muito distinto do exercício terrestre. Um dos maiores benefícios é a densidade relativa entre a água e o ar, que é responsável pela água ser o meio mais facilitador e flexível para a prática de exercício físico, tornando as pessoas capazes de realizar, quando imersas, movimentos que não seriam possíveis ou seriam extremamente difíceis em terra. Campion [6] defende que a água também oferece vantagens sobre o solo, como a possibilidade de realização de movimentos que, fora dela, seriam feitos com muita dificuldade, ou até não seriam executados. Na piscina terapêutica, há influência de forças opostas: gravidade e empuxo, que favorecem a realização desses movimentos, exigindo menos esforços do organismo. Segundo Martins [7], a fase 1 da atividade em piscina terapêutica é composta pelo ajuste mental à água e a fase 2 é composta por rotações, onde aqueles que não sabem nadar fisioterapia_v7n3.indb 225 225 podem realizar movimentos livremente na água, pois é removido o efeito da gravidade e o corpo flutua. Brazelton [2] considerou muito importante a estimulação precoce para a vivência do bebê, pois este está continuamente exposto a estímulos que ativam um percurso de reações. A ocorrência repetida desses estímulos contribui para que a criança aprenda e seja condicionada a reagir com discriminação de características de ser humano. A pouca estimulação poderá levá-la a formas muito mais sutis de interferência no crescimento e desenvolvimento. Bobath [8] concluiu que a base da habilidade de manter-se contra a gravidade, de variedade de movimentos e destreza das crianças normais, é o desenvolvimento das reações de equilíbrio e endireitamento. O tratamento foi direcionado para uma forma mais dinâmica, facilitando seqüência de movimentos anteriores, utilizando pontos-chave, inibindo a atividade anormal e, simultaneamente, facilitando a atividade normal. Portanto, a fisioterapia oferecerá à criança uma vida com melhor funcionalidade, servindo-se de recursos como o conceito Bobath, que visa a adequação de tônus, a inibição de padrões patológicos e a facilitação de movimentos funcionais, associado ao método Halliwick, que utiliza atividades lúdicas visando a melhora dos movimentos. O objetivo deste estudo foi demonstrar, em crianças menores de 2 anos com atraso motor, quais os benefícios físicos oferecidos pelo meio aquático, por meio do método Halliwick em conjunto com o conceito Bobath, no solo, têm como foco estimular a aquisição e/ou melhora do controle cervical e o rolar, para que as crianças com idade de até vinte e quatro meses possam ter amenizadas as repercussões de seu déficit motor e, futuramente, obter uma melhor funcionalidade em suas atividades; apresentando o relato de cinco casos. Material e métodos Este estudo relata cinco crianças com idade entre 0 e 24 meses, com diagnóstico de atraso no desenvolvimento neuro-sensório-motor, que se encontram em tratamento na Clínica de Fisioterapia do Centro Universitário Nove de Julho (Uninove), no setor de Neurologia Infantil e Hidroterapia, e que foram submetidas a uma terapia em piscina aquecida, com duração de quarenta e cinco minutos e uma terapia no solo, com duração de uma hora (duas sessões semanais, um dia somente solo, outro, solo e piscina), no período de junho de 2004 a junho de 2005. As crianças foram analisadas, aplicando-se avaliação neurológica em solo e em piscina terapêutica, antes e após o tratamento, observando as atividades motoras (principalmente o controle cervical e o rolar) realizadas pelas mesmas. Tanto a Avaliação Inicial (A.I.), quanto a Avaliação Final (A.F.) foram fundamentadas pelo preenchimento de uma ficha de avaliação neurológica em solo e outra em piscina terapêutica. 3/7/2006 19:04:48 226 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 A avaliação neurológica em solo baseia-se em: dados pessoais, história da moléstia atual, apresentação clínica do paciente, órteses / próteses / adaptações, cirurgias realizadas, trofismo muscular, encurtamentos e deformidades, tipo e localização de tônus muscular, testes ortopédicos, avaliação postural e motora (em supino, rolar, em prono, arrastar, sentar, em gato, engatinhar, ajoelhar, em semi-ajoelhado, em bípede e marcha), teste de força muscular de MMII e MMSS, reações de proteção / equilíbrio / endireitamento, AVD, alterações respiratórias, patologias associadas, medicamentos, exames complementares, observações gerais (cognitivo, visão, audição e linguagem), objetivos e condutas fisioterapêuticas. Já a avaliação em piscina terapêutica baseia-se em: identificação do paciente, diagnóstico fisioterapêutico, histórico sobre experiência com o meio líquido, modo de entrada e saída do paciente na piscina, flutuação dorsal, rotações (transversal, sagital, longitudinal e combinada), nado básico, objetivos e condutas fisioterapêuticas. ção do tônus, ao contrário, quando o objetivo é o aumento do tônus, pode-se usar a co-contração (atividade simultânea dos agonistas e antagonistas com finalidade de dar mobilidade com estabilidade, tomando um movimento suave, graduando e coordenando), tapping (estimulação tátil e proprioceptiva, capacitando a criança a manter automaticamente uma posição desejada ou um movimento contra a gravidade), placing (quando um membro é levantado a certa posição pelo terapeuta, que rapidamente retira seu apoio, o sujeito que foi movimentado segura e mantém a posição pelo menos por um momento) e descarga de peso [8]. Interferindo em padrões de movimento e adequando o tônus, consegue-se inibição e facilitação, que auxiliarão nas aquisições das habilidades dessa criança [8]. 2. A inibição de padrões patológicos implica inibir os movimentos inadequados, fazendo uso, por exemplo, da estimulação de linha média para se incluir um reflexo primitivo [8]. 3. A facilitação dos movimentos funcionais com manuseios específicos, auxiliando atividades, ajudando-as e tornando-as mais fáceis, promovendo sensações do movimento para a função com diferentes experiências e antecipações posturais, onde é conduzida para uma melhor organização e alinhamento biomecânico a fim de concretizar o movimento [8]. Critérios de inclusão Crianças com idade entre zero e vinte e quatro meses; crianças sem diagnóstico fechado; crianças que possuem déficit motor. Critérios de exclusão Crianças com patologias associadas; crianças fora da faixa etária estipulada (zero a vinte e quatro meses); crianças com crises convulsivas não controladas. Como protocolo de tratamento, foram escolhidos alguns pontos do método Halliwick, que objetivam melhorar o controle cervical e o rolar por meio de movimentos rotacionais: 1. Adaptação mental: após a entrada da criança no ambiente da piscina, ela permanece sentada na borda por poucos instantes até que o terapeuta se aproxime e segure-a pelo gradil costal, e quando a mesma fixa seu olhar no terapeuta, é colocada na água, onde são executadas atividades lúdicas em grupo, realizando movimentos em linha, círculo e caracol; 2. Rotação transversal: o terapeuta realiza passivamente na criança o movimento de transferência de supino para sentado, utilizando a brincadeira de dormir e acordar; 3. Rotação sagital: segurando a criança pelo gradil costal, o terapeuta faz passivamente a inclinação lateral do tronco, através da brincadeira do caracol. 4. Rotação longitudinal: o terapeuta realiza um giro de 180 graus na criança, segurando-a na postura vertical pelo gradil costal, solicitando que ela olhe para ele. Para a terapia em solo, foram escolhidos basicamente três princípios do conceito Bobath que são: 1. Adequação de tônus: pode ser realizada de diversas formas, entre elas, fazendo-se a dissociação de cinturas, mobilização passiva e alongamentos; isso quando é necessária a diminui- fisioterapia_v7n3.indb 226 Resultados Comparando-se em valores as atividades (rotações) executadas na hidroterapia, antes e após o tratamento, verificou-se que produziram as seguintes diferenças de valores (Gráfico 1). Gráfico I - Atividades do método Halliwick antes do tratamento. Gráfico II - Atividades do método Halliwick depois do tratamento. 3/7/2006 19:04:49 Fisioterapia Brasil - Volume 7 - Número 3 - maio/junho de 2006 227 Nos gráficos acima, os valores de 0 a 5 correspondem às seguintes atividades motoras: 1 = não realiza o movimento; 2 = realiza o movimento com auxílio do terapeuta; 3 = inicia o movimento sem auxílio do terapeuta; 4 = completa o movimento. Sendo: AM = adaptação mental; RS = rotação sagital; RT = rotação transversal; RL = rotação longitudinal; RC = rotação combinada. teve controle cervical completo; tanto o rolar como o sentar eram realizados apenas com o auxílio do terapeuta na AI, já na AF os dois movimentos se deram de forma completa sem auxílio do terapeuta. Tabela I - Atividades motoras executadas antes e após o tratamento com método Bobath. Controle cervical Paciente A Paciente B Paciente C Paciente D Paciente E Rolar Sentar A.I. A.F. A.I. A.F. A.I. A.F. 4 4 4 3 3 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 4 4 4 4 4 2 2 3 2 2 4 4 4 4 4 Os valores acima correspondem à: 1 = não realiza; 2 = realiza com auxílio do terapeuta; 3 = inicia o movimento/postura sem auxílio, porém não finaliza/mantém sozinho; 4 = realiza sem o auxílio do terapeuta. Os resultados foram obtidos através de uma avaliação neurológica e em piscina terapêutica inicial (AI) e final (AF), efetuadas com intervalo de seis meses entre elas e duração de 1 ano de pesquisa. A Tabela I compara as atividades motoras antes e após o tratamento. Dentre as atividades motoras realizadas contam-se: Paciente A: apresentou controle cervical completo na AI e AF; apenas iniciou o rolar mas não finalizou na AI, já na AF realizou o movimento completo sem auxílio; o sentar era somente com auxílio na AI, e na AF foi realizado de forma independente sem auxílio do terapeuta. Paciente B: apresentou controle cervical completo na AI e AF; apenas iniciou o rolar mas não finalizou na AI, já na AF realizou o movimento completo sem