Nossa capa Pesquisadores identificam o agente

Transcrição

Nossa capa Pesquisadores identificam o agente
Nossa capa
Pesquisadores
identificam o
agente causador
da Sarna do
Feijoeiro
Quem
causa sarna
Feijão cv. Pérola
Isolado 10
E
m 1998 foram encontradas,
no Estado de Goiás, plantas
do feijoeiro com sintomas diferentes daqueles das doenças mais conhecidas, consistindo em manchas vermelhas
ou pretas com bordos avermelhados localizadas nos talos e internódios comprometendo o enchimento das vagens. As folhas
e as vagens por sua vez, apresentavam pequenas lesões avermelhadas lembrando
uma sarna razão pela qual a doença foi assim denominada.
A doença foi inicialmente registrada na
cultivar Pérola em áreas cultivadas como
feijoeiro em plantio direto e em rotações
com o milho e o sorgo. Em análise realizada em laboratório na Embrapa Arroz e
Feijão, constatou-se a presença de conídios semelhantes aos do fungo Colletotrichum
graminicola e devido ao sistema de rotação
onde foi encontrada, muitos assumiram
prematuramente ser este o agente causal
da doença. Entretanto, estudos posteriores mostraram que estes conídios hialinos,
falciformes, não septados tem dimensões
menores (13,5-27,0 x 2,7-5,4µ) do que os
de C. graminicola (Arx, J.A. von. Phytopath. Z. 29:413-468, 1957). Os apressórios
obtidos em meio de cultura apresentamse esféricos, piriformes e de forma irregular, medindo 16,2-54,0 x 13,5-40,8µ, dimensões que foram superiores às de Colletotrichum graminicola (Sutton, B.C. Can.
J.Bot, 26:873-876, 1968).
06
Cultivar
Isolado 23
Essas características morfológicas possuem ainda semelhança a outras espécies
de Colletotrichum dentre elas C. truncatum.
Por este motivo a técnica de RAPD (Random Amplified Polimorphism DNA) foi
utilizada para comparar isolados deste
novo patógeno com culturas – tipo de C.
graminicola, C. truncatum e C. lindemuntianum. Os produtos gerados desta análise
de DNA revelaram a verdadeira identidade deste Colletotrichum isolado do feijoeiro que apresentou 100% de similaridade
genética com a cultura-tipo de Colletotrichum truncatum (Schw.) Andrus & Moore
(ATCC Nº 1720), posteriormente reclassificado como C. dematium f. truncata
(Schw.) v. Arx. Estas análises revelaram que
este novo patógeno é também geneticamente distante de C. graminicola e de C.
lindemuthianum.
CULTURAS SUSCETÍVEIS
Ao se realizar testes de patogenicidade
com os isolados do C. dematium f. truncata
e isolados de C. graminicola provenientes
do sorgo e do milho constatou-se que esse
novo patógeno é extremamente agressivo,
sendo patogênico às 3 culturas enquanto
Sorgo cv.
TAM 428
Isolado 10
www.cultivar.inf.br
Isolado 23
Outubro de 2001
Fotos Jefferson Costa
Milho híbrido
Isolado 10
Isolado 23
que os isolados de C. graminicola não se
mostraram aptos a causar sintomas no feijoeiro.
Além desses, outros testes de patogenicidade foram realizados, inoculando o
fungo em plantas da cultivar Pérola de 40
dias de idade. Os sintomas foram avaliados após 12 dias de incubação e o fungo
foi re-isolado, completando-se os postulados de Koch, uma exigência científica para
associar um patógeno a uma determinada
doença. Testes efetuados em milho doce,
cultivar Vivi e nos híbridos 95 HT 90
QPM, HD 9548, HD 9563 e HD 9536 e
em sorgo TAM 428 e TX 430 confirmaram a capacidade do fungo em induzir sintomas nestas duas espécies.
CONTROLE DA DOENÇA
A aplicação de fungicidas na cultura
do feijoeiro comum, quando efetuada por
produtores de diversas regiões, objetivando o controle desta nova doença, revelouse ineficiente. Considerando que o patógeno possa estar sendo disseminado para
todo o Brasil, investigou-se e comprovou-
se a alta transmissibilidade deste organismo por sementes. Foi avaliada a eficiência de diferentes fungicidas no tratamento de sementes
para o controle da “sarna” e redução desta taxa de transmissão nas
cultivares Feb 163, Xamego e Pérola, artificialmente inoculadas por
imersão a vácuo com C. dematium
f. truncata.
Nesses testes, o fungicida
PCNB 750 PM foi o mais eficiente
no controle desta nova doença, pois
reduziu o índice de doença em mais
de 60%, quando comparado com a
testemunha (Tabela 2). Entretanto, nenhum dos tratamentos foi eficiente em erradicar Colletotrichum
dematium f. truncata das sementes
do feijoeiro comum.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sarna do feijoeiro causada por
Colletotrichum dematium f. truncata é uma doença extremamente severa no feijoeiro, já disseminada
...
Estágio 1
Estágio 5
Estágio 2
Estágio 4
Estágio 3
Sarna do Feijoeiro
(Colletotrichum truncatum)
Outubro de 2001
www.cultivar.inf.br
Cultivar
07
... pelos estados de Goiás, Minas Gerais, São
Paulo, Paraná e Bahia. Pouco se conhece
sobre sua epidemiologia e os métodos de
controle ainda são extremamente incipientes. É uma doença que desde seu surgimento tem sido limitante ao sistema
produtivo do feijoeiro. Portanto o produtor deve estar alerta tanto quanto a qualidade das sementes bem como na observação de sintomas no campo. Principalmente no plantio de inverno a doença surge com uma lesão esbranquiçada no talo
da planta em geral no nível do solo. Em
poucos dias pontos necróticos avermelhados surgem dentro desta lesão. Quando
totalmente necrosada, a lesão evolui afetando o talo e causando a morte prematura da planta.
Na Embrapa, estudos de métodos para
a avaliação de germoplasma resistente encontram-se em andamento.
Testes de fungicidas para o controle
via pulverizações tornam-se urgentes. Os
testes preliminares tem sinalizado uma
eficiência relativa de produtos estanhados
e de algumas estrobirulinas. Entretanto,
ambos grupos químicos encontram como
principal limitante à sua eficácia, a tecnologia de aplicação, devido a enorme dificuldade de fazer os fungicidas chegarem
ao talo da planta, onde a doença inicia na
.
maioria das vezes.
Jefferson Luis da Silva Costa,
Keith Caetano Chaves,
Carlos Augustin Rava,
Virgínia Carla de Oliveira,
Embrapa Arroz e Feijão, Goiânia-GO
Patogenicidade de espécies de Colletotrichum no feijoeiro
Patogenicidade
Tabela 01
Tabela 02
Espécie
Origem
Milho
Sorgo
Feijão
C. graminicola
C. graminicola
C. lindemuthianum
C. dematium f. truncata
Sorgo
Milho
Feijão
Feijão
+
+
+
+
+
+
Efeito de fungicidas aplicados no tratamento de sementes
para o controle da sarna em três cultivares do feijoeiro
Índice de doenças
Doses em g ou ml p.c
para 100kg de Sementes
Tratamentos
Benomyl 500 TS
Difenoconazole 150 FS
Fludioxinil M 50 WS
Captan 500 PM
Pencycuron PM
Carboxin + Thiram 200 SC
PCNB 750 PM + Carbendazin 500SC
PCNB 750 PM + Benomyl 500 TS
Captan 750 TS
Captan 750 TS + Benomyl 500 TS
Captan 500 PM + Benomyl 500 TS
Captan 750 TS + Carbendazin 500SC
Captan 500 PM + Carbendazin 500SC
Carbendazin 500 SC
PCNB 750 PM
Testemunha
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Cultivar
www.cultivar.inf.br
100
330
150
300
300
500
200 + 100
200 + 100
200
200 + 100
300 + 100
200 + 100
300 + 100
100
300
-
Feb 163
Pérola
Xamego
0,55
0,58
0,57
0,65
0,72
0,65
0,46
0,47
0,42
0,48
0,69
0,69
0,66
0,68
0,30
0,74
0,57
0,56
0,53
0,64
0,66
0,44
0,46
0,33
0,58
0,50
0,67
0,55
0,52
0,57
0,33
0,74
0,56
0,58
0,62
0,68
0,71
0,62
0,46
0,47
0,61
0,57
0,69
0,63
0,65
0,67
0,29
0,73
Outubro de 2001

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