130. a saga do capitão james cook - HCTE

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130. a saga do capitão james cook - HCTE
Scientiarum Historia II – Encontro Luso-Brasileiro de História das Ciências – UFRJ / HCTE & Universidade de Aveiro
A Saga do Capitão James Cook: um verdadeiro sanitarista em alto-mar
Roberto Barbosa de Castilho1*
*[email protected]; [email protected]
1
Departamento de Vacinas Virais – Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos – Fundação Oswaldo Cruz.
Av. Brasil 4635, Manguinhos, CEP: 21040-360, Rio de Janeiro, Brasil.
Palavras Chave: James Cook, Escorbuto, Navegação.
Introdução
A morte de muitos marinheiros – grande parte da tripulação – durante as viagens marítimas era um
problema de saúde pública na época das grandes navegações. As más condições de higiene e as
carências nutricionais levavam ao desenvolvimento de várias enfermidades, dentre elas o escorbuto.
Esta doença é causada pela carência de vitamina C, fato que não era conhecido naquela época, e
pode ser prevenida por uma alimentação rica em vegetais verdes e frutas cítricas. O capitão James
Cook (1728-1779) demonstrou que o escorbuto poderia ser prevenido com uma alimentação
adequada, e mais ainda, que a saúde da tripulação poderia ser mantida por longas viagens através
da introdução medidas sanitárias nos navios. Destarte, James Cook pode ser considerado o primeiro
sanitarista marítimo.
Resultados e Discussão
Desbancando várias teorias da época, que apontavam diversas causas para escorbuto como: o frio
dos climas do norte, a brisa marítima, o consumo de carne salgada, etc.; James Cook comprovou,
empiricamente, que a doença era, na verdade, causada por uma deficiência nutricional e que podia
ser prevenida e curada por uma alimentação adequada. Isto foi demonstrado durante uma viagem de
três anos (1772-1775) a bordo do Resolution. A cada parada, ele adquiria provisões adequadas de
frutas e vegetais frescos. A alimentação era composta de couve, aipo, laranja, limão, chucrute e
malte fermentado1. Além de prevenir o escorbuto, James Cook propôs uma séria de medidas para
manter a saúde da tripulação. Em primeiro lugar, asseio da embarcação e da tripulação: tudo tinha
que ser mantido limpo e seco, inclusive as roupas. A tripulação se revezava em três turnos para
evitar o estresse de turnos seguidos. As roupas que ficassem eventualmente molhadas eram
trocadas por roupas secas. Ele dava preferência a água e alimentos frescos, que não eram
estocados por muito tempo no navio, mas eram adquiridos a cada parada, em quantidades
suficientes. A gordura usada para cozinhar carne salgada nunca era reutilizada e sim descartada2.
Ele achava que a gordura e óleo eram prejudiciais e assim deveriam ser substituídos por açúcar3. A
incorporação destas medidas sanitárias às viagens marítimas resultou numa queda acentuada na
mortalidade das tripulações, pela prevenção do escorbuto e outras doenças, mas também pela
manutenção da saúde dos marinheiros.
Conclusões
A contribuição de James Cook para a prevenção e cura do escorbuto foi digna de um sanitarista
moderno. Além das medidas de saúde e higiene e os cuidados alimentares, com regras que eram
cumpridas à risca, ele vislumbrou a saúde como produto do bem-estar, o que não era comum
naquela época. Ele respeitava sua tripulação não só pelo trabalho a que eles se dedicavam com
afinco, mas também como seres humanos4. Através da preocupação como o bem-estar e a saúde de
sua tripulação, James Cook conseguiu banir o escorbuto e conservar a vitalidade das tripulações por
longos períodos. Sem sombra de dúvida, um legado para a navegação e para a saúde pública.
Referências e Notas
1
Chick, H., Early Investigations of Scurvy and the Antiscorbutic Vitamin. Proceedings of the Nutrition
Society, 12: 210-219, 1953.
2
Krause, R. M., Introduction to Emerging Infectious Diseases: Stemming the Tide. In: Emerging
Infectious - Biomedical Research Reports., Academic Press, p. 18-19, 2000.
3
Vogel, K., Scurvy – “The Plague o the Sea and the Spoyle of Mariners”. Bulletin of The New York
Academy of Medicine, vol. IX, no 8, 459-483, 1933.
4
Greenhill, B., Captain James Cook, R.N. Address during the Cook Commemoration Service,
Westminster Abbey, London, February, 1979.
Disponível em: http://scholarspace.manoa.hawaii.edu/bitstream/10125/6404/1/JL13007.pdf
2º Congresso de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – 28 a 30 de outubro de 2009