Novena 2014 Poullart PORT
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Novena 2014 Poullart PORT
CONGREGAZIONE DELLO SPIRITO SANTO CLIVO DI CINNA, 195 - 00136 ROMA, ITALIA IDENTIDADE E VOCAÇÂO ESPIRITAN A 02 OUTUBRO 2013 – 02 FEVEREIRO 2015 AC - I/11/09-2014 - PO Ventos do Oriente Novena Espiritana com Cláudio Francisco Poullart des Places De terça-feira 23 setembro à quarta-feira 1 outubro 2014 Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 1 Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 2 Títulos dos Nove Dias 1. Nas origens de uma identidade missionária A Palavra de Deus (At 10,1-6); meditação: Começar por dar graças Informações suplementares: Até ao fim do mundo Testemunhos: O carisma dos nossos fundadores hoje (X27) De um pequeno mundo a um mundo mais vasto 2. Desafios missionários e respostas A Palavra de Deus (Jo 12,44-47); meditação: Abre os nossos olhos, Senhor! Informações suplementares: Patronato, Propaganda e MEP Testemunhos: Evangelizar os evangelizadores (E24) O mandato missionário (W24) Tornar-se louco (W09) 3. Onde quer que vá: Pense como se fosse de lá A Palavra de Deus (Fil 2,3-7); meditação: Servidores à imagem de Cristo Informações suplementares: sensibilidade cultural, já Textos: Inspirados numa família (Cap. Maynooth, 3. Missão como fonte de inspiração, 1998) Crise, oportunidade (X29) Curioso de outros (W34) 4. A Linguagem do coração: Edmé Bennetat na Cochinchina A Palavra de Deus (Jo 1,6-8.14-15); Meditação: comunicar uma experiência de Deus Informações suplementares: anunciar com facilidade Testemunhos: Linguagem do amor (W18) As experiências mudam-nos (E23) Transmitir a Palavra de Deus (X29) Anunciar Jesus Cristo (W17) Falta de confiança em si e apoio no Espírito Santo (W18) Doença e Graça (W35) 5. Colaboradores no campo do Senhor : Luís Devaux no Vietname A Palavra de Deus (Jo 15,14-17); meditação: Colaborar em comunidade Testemunhos: Partilha comunitária e projeto missionário (E09) O desafio da diversidade (X217) Amor fraterno (X27) Educação para os pobres (X21) Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 3 6. Refugiado entre os refugiados. Guilherme Piguel no Camboja A Palavra de Deus (2 Cor 3,2-6) ; meditação : Viver com qualquer outro Informações suplementares Encontro intercultural Formação do clero local A sua espiritualidade Testemunhos: Trabalho paroquial e comunidade (W17) Pecado original de desunião (X13) Opção pelos pobres (E22) Espiritanos na Igreja local (E17) 7. Um semeia, outro colhe : Francisco Pottier no Sichuan A Palavra de Deus (1Co 9: 14…22) ; Meditação : Pobreza, fé e discernimento responsável Informações suplementares Conselho do padre Chinês André Li Missionários traçam o seu retrato Testemunhos: Fidelidade no meio das mudanças (X24) Com as comunidades de base e os pobres (W10) Trabalhar com alegria e confiança no Espírito Santo (W18) Com os pobres (W34) 8. Nova missão, desafios antigos: nova iniciativa na Ásia A Palavra de Deus (At 4,31-35); meditação: consciente da nossa cultura Informações suplementares: definir prioridades Testemunhos: Renovação da nossa vida espiritual (E09) Escuta do Espírito e sacrifício(X17) Simplificar o nosso estilo de vida (X29) 9. Se o grão caído na terra não morre. Brian Fulton no Vietname A Palavra de Deus (Jo 12,24-26); meditação: abandono Informações suplementares: memorial Bennetat Testemunhos: A vida simples de Poullart des Places e seus sucessores (E23) O Espírito em ação em nós (E06) Ser eucaristia para os outros (X19) Mais realista sobre identidade e vocação (E24) Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 4 Introdução 'O carisma espiritano é um dom que resplandece através da vida dos nossos fundadores e de outros Espiritanos, dom que nos toca e enriquece. Levanta-nos o desafio de permanecer fiéis, numa época em que o apelo à autenticidade é um dos sinais dos tempos' (TA1,2004). O redator desta novena foi convidado a escrevê-la numa perspetiva asiática e a incluir os temas da Identidade da Vocação Espiritana. Os testemunhos de confrades, citados tal qual e apresentados cada dia, foram recolhidos em 2013 e 2014. Um deles escreve: 'As nossas histórias são sempre antigas e novas. A história dos homens, o repertório da experiência humana repete-se de maneira previsível porque nos encontramos em circunstâncias e situações similares, repetindo os mesmos erros, assustados pelo desafio de crescer, de ser diferentes e de mudar. As histórias que encorajam, as narrações de provações e de fidelidade, de desespero e de esperança, são abundantes. O problema é que temos experiências e histórias, mas não refletimos bastante para captar o seu sentido. Uma história/experiência sem reflexão é só uma experiência. Penso que não apreciamos suficientemente as nossas diferentes experiências, tanto no plano pessoal como no comunitário, para apreciar a sabedoria e as intuições extraordinárias e normais que contêm. Escuto muitas histórias que narram factos sem os interpretar. Não há partilha de fé. Não procuramos saber como as histórias que lemos na Escritura, ou as dos grandes homens e mulheres que nos precederam, nos revelam a maneira como Deus trabalha em nós, tal como fez no passado. Não penso que seja importante saber que história é contada, ou a quem concerne; o que é importante é o sentido da história, a verdade descoberta, o medo exposto, o desafio manifestado. Na minha maneira de ver, pouco importa que história é narrada desde que a experiência seja ocasião de reflexão e o seu sentido desvelado' (W07). Estes testemunhos e as reflexões oferecidas depois da Palavra de Deus procedem principalmente de 'Conversas Espiritanas sobre a Renovação Espiritual no meio da vida'. A pesquisa, os testemunhos e os estudos históricos são progressivamente publicados no blog www.bythewell.org/spiritan-conversation Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 5 Bibliografia A apresentação histórica e as informações suplementares baseiam-se principalmente nos artigos de Catherine Marin publicados em ‘Mémoire Spiritaine’. Mémoire Spiritaine, n.17, (2003), p. 27 to 43. Catherine Marin : ‘Les premiers missionnaires ‘spiritains’ en Asie au XVIIIe siècle’ Mémoire Spiritaine 13. Alain Forest: La modernité d’une société missionnaire: les débuts des Missions Étrangères de Paris. Catherine Marin : ‘La redéfinition de la mission au XVIIe Siècle. Un texte fondamental de Rome : les instructions aux vicaires apostoliques de 1659.’ pp. 167 ff de ‘La mer, la France et l’Amérique Latine’, Paris Sorbonne, 2006. Mémoire Spiritaine 1, (1995) : Catherine Marin: Edme Bennetat, Du Séminaire du Saint-Esprit à la mission de Cochinchine. Mémoire Spiritaine 11 (2000): Catherine Marin: ‘Monseigneur Guillaume Piguel (1721-1771), vicaire apostolique du Cambodge’ Mémoire Spiritaine 18 (2003), pp. 115-123. Catherine Marin: Monseigneur Louis-Marie Devaux (1711-1756). Du séminaire du Saint-Esprit à la mission du Tonkin Biographie de François Pottier sur le site MEP. http://eglise.mepasie.org P. Jean Charbonnier, mep : La catéchèse du prêtre Chinois André Li (1692-1775) dans la province du Sichuan [ bulletin eda n° 337 ] 16/09/2001 http://eglise.mepasie.org Henri Koren. The Spiritans. Pp. 45-50. (sur Pottier) Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 6 Sugestões para a celebração desta Novena Começar com a oração calma do tradicional Ato de Consagração ao Espírito Santo utilizada na Congregação: "Ó Espírito Santo, divino Espírito de luz e de amor, consagro-vos a minha inteligência, o meu coração e a minha vontade, todo o meu ser, para o tempo e para a eternidade. Que a minha inteligência seja sempre dócil às vossas inspirações e ao ensino da santa Igreja católica, de quem és o guia infalível; que o meu coração esteja sempre inflamado do amor de Deus e do próximo, que a minha vontade seja sempre conforme à vontade divina, e que toda a minha vida seja uma imitação fiel da vida e das virtudes de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a quem, com o Pai e convosco, ó Espírito Santo, seja dados honra e louvor para sempre. Ámen". Numa celebração comunitária: Se a novena é unida à celebração da Liturgia das Horas: - Ler só a primeira página de cada dia: introdução histórica, Palavra de Deus, meditação Depois do Pai-nosso, rezar juntos o Ato de Consagração ao Espírito Santo Se a celebração é centrada na novena (45’) : - - Hino apropriado para o tema do dia Ler a introdução histórica Um salmo da Liturgia das Horas A Palavra de Deus Cada um é convidado a ler em silêncio seja a meditação ou o(s) testemunho(s), com uma pergunta para orientar, por exemplo: Que parte me parece refletir a minha identidade e a minha vocação? Tenho uma (várias) experiência similar? Como reconheço nela a presença do Espírito Santo? Que parte nos interpela particularmente como comunidade e poderia ser integrada na agenda duma próxima reunião de comunidade? Intercessões livres Pai-nosso Depois do Pai-nosso, rezar juntos o Ato de Consagração ao Espírito Santo Oração de conclusão tirada da Liturgia das Horas Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 7 1º dia: Nas origens duma identidade missionária Em 1701, Cláudio tem 22 anos. Entra no Colégio jesuíta Luís-o-Grande de Paris, a fim de estudar filosofia e teologia e preparar-se para a ordenação presbiteral. Neste colégio, faz parte de um pequeno grupo de estudantes reunidos pela secreta pertença à Assembleia de Amigos ('AA'). Quarenta anos antes, um dos membros desta associação contribuiu para a fundação da Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris (1685, 'MEP'), que enviará missionários para o Extremo Oriente. A AA de Luís-o-Grande conserva esta orientação para a evangelização do 'ultramar', para a formação espiritual do clero e para o amor da pobreza. Guarda também a orientação para a missão na Ásia. Além disso, o colégio jesuíta é também a sede da procuradoria das missões da Ásia e o lugar onde se recebem as cartas dos missionários jesuítas na China: a partir de 1702, estas cartas são publicadas no boletim 'Cartas edificantes e curiosas', propagando o interesse pela China e apelando a apoiar a missão com oração e esmolas. Educado pelos jesuítas, Cláudio não pode ter ignorado esta dimensão do seu compromisso, ao ler as descrições vivas dos povos e das culturas feitas pelos missionários. A Palavra de Deus (Atos 10,1-6) Havia em Cesareia um homem de nome Cornélio, centurião da coorte itálica. Piedoso e temente a Deus, como aliás toda a sua casa, dava largas esmolas ao povo e rezava continuamente a Deus. Teve uma visão, cerca da hora nona do dia, e viu, distintamente, o anjo de Deus a entrar, aproximar-se dele e dizer-lhe: «Cornélio!» Fitando neles os olhos, cheio de medo, respondeu: «Que é, Senhor?» «As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de Deus, respondeu o anjo, e Ele recordou-se de ti. E agora, envia homens a Jope e manda chamar um certo Simão, conhecido por Pedro. Está hospedado em casa de um certo curtidor, cuja casa está situada junto do mar». Ao começar a nossa novena de oração antes do 305º aniversário da morte do nosso fundador Cláudio Francisco Poullart des Places, somos convidados a renovar o desejo de ser missionários, e a estar em comunhão com aqueles que dão testemunho do Evangelho no Extremo Oriente, bem como nos outros continentes. Podemos começar por fazer memória Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 8 daqueles que nos abriram o coração para o desejo de ser missionários, e assim dar graças a Deus por nos ter falado através deles. Podemos também partilhar, hoje, com membros da nossa comunidade, sobre as origens da nossa vocação missionária. Informações suplementares Em 1703, com a fundação do Seminário do Espírito Santo, os estudantes do Seminário têm aulas de filosofia e teologia no colégio Luís-o-Grande e também eles leem muito provavelmente relatos concernentes às missões na Ásia. O próprio Cláudio tinha o desejo de ir para as missões a fim de 'converter as almas a Deus', mas acabou por dar prioridade à formação de padres que realizariam o sonho do fundador em França, nas colónias francesas, hoje no Canadá, na Guiana, no Senegal, e de 1733 a 1792, no Extremo Oriente. O Seminário é assim descrito: '(é) como um corpo de tropas auxiliares, prontas a irem para qualquer parte onde for preciso trabalhar pela salvação das almas, devotando-se de preferência à obra das missões, seja estrangeiras, seja nacionais, oferecendo-se para residir nos lugares mais pobres e mais abandonados, e para os quais mais dificilmente se encontram pessoas. (…) mesmo que seja preciso atravessar os mares e ir até ao fim do mundo para ganhar uma alma para Jesus Cristo, a sua divisa é: eis-nos prontos para executar as vossas vontades: ecce ego, mitte me (Is 6,8)'. Podemos também ler e partilhar sobre um destes testemunhos: O carisma dos nossos fundadores, hoje: 'Se olhamos um pouco a congregação hoje, percebemos cada vez mais a sua internacionalidade bem assegurada, a sua multiculturalidade, mas estamos conscientes de que o seu carisma e a sua identidade (nascido num contexto histórico particular, o dos nossos fundadores) é também «universal», porque nascido numa Igreja universal sob o impulso do próprio Espírito Santo, que age em cada homem, em cada tempo e em cada cultura. (…) Situamo-nos bem no seguimento destes dois fundadores cuja visão e carisma compreendemos bem, a partir da sua história pessoal, da sua época. Devemos referir-nos constantemente à sua personalidade e história para compreender o nosso próprio compromisso. Mas se me comprometo hoje, 310 anos depois deles, é porque creio que a sua identidade e vocação é «para além do tempo» um apelo a viver hoje num contexto, numa época, em culturas diferentes. É um pouco isto o nosso testemunho de vida intercultural. Deus age em nós e através de nós, e pede-nos o mesmo testemunho e compromisso que pediu aos nossos fundadores num contexto, numa época, em culturas diferentes' (X27). De um pequeno mundo a um mundo mais vasto: 'Depois de terminar a minha formação inicial, há mais de 27 anos, tive dificuldade em passar do que eu chamaria 'um pequeno mundo' a 'um mundo mais vasto' e ilimitado em termos de povos, diversidades culturais, internacionalidade da congregação, tipos de ministério, encontro visível com os pobres e os Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 9 marginalizados. Estes contribuíram muito e apoiaram-me no meu compromisso com a vocação espiritana. Algumas vezes, senti-me ultrapassado pelo nível de pobreza das gentes que sirvo, em particular agora que sou bispo de Samé, que é uma diocese muito pobre, caracterizada pela seca e a falta de água. Chove tão pouco e o que quer seja que as pessoas plantem murchará; quase todos os anos as pessoas cultivam a terra e plantam, mas não colhem quase nada. Confrades e outras pessoas como a Madre Teresa inspiraram-me com as suas ações e o testemunho da sua vida. Por exemplo, a Madre Teresa de Calcutá disse: 'Daivos totalmente a Deus. Deus servir-se-á de vós para realizar grandes coisas com a condição de que acrediteis mais no seu amor do que na vossa própria fraqueza'. Estas palavras encorajaram-me muito, especialmente quando me senti desanimado e desesperado. Desde que decidi apoiar-me na divina Providência e no seu amor, consigo ultrapassar a fraqueza da minha fé. Nestes momentos, repito a mim mesmo o refrão do ano da Fé, tirado do Evangelho de São Lucas, que é um grito dos Apóstolos: 'Senhor, aumentai a nossa fé!' (Lc 17,5)'. (E24). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 10 2º dia: Desafios missionários e respostas Desde 1622, a organização das missões conheceu grandes mudanças. É neste contexto que Cláudio e os estudantes do Seminário do Espírito Santo fazem a sua formação no colégio Luís-o-Grande. As questões missionárias da época podem parecer-nos familiares: falta de missionários, contra testemunhos, colaboração entre congregações, confusão entre a imposição da forma da Igreja da sua própria cultura e a mensagem evangélica, relações com as autoridades e o clero local, formação, opção pelos pobres ou pelos ricos, clericalismo e colaboração com os leigos, apoio material da missão. Em 1704, a posição de tolerância dos jesuítas a respeito dos ritos chineses concernentes aos antepassados é condenada pela Santa Sé. Tratava-se tanto de uma questão de inculturação como de relação entre congregações missionárias. A Palavra de Deus (Jo 12,44-47) Erguendo a voz, Jesus disse: «Quem acredita em mim, não é em mim que acredita, mas naquele que me enviou; e quem me vê a mim, vê aquele que me enviou. Eu vim como luz ao mundo, para todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. E alguém ouvir as minhas palavras e as não guardar, não sou Eu que o condeno, porque não vim para condenar o mundo, mas para o salvar». Recebemos o mandato de pregar a Boa Nova e ajudar a restaurar a dignidade dos mais abandonados.. Isto obriga-nos a aproximar-nos e a encontrar-nos respeitosamente com a sua experiência com um olhar de amor. Sem um testemunho autêntico do poder transformador de Deus em ação na nossa colaboração, arriscamo-nos seja a utilizar os pobres para nossa autojustificação, seja para nos retirarmos para uma aposentadoria confortável. A insegurança causada pela saída da nossa zona de conforto requer uma união prática pessoal e sólida, a fim de permitir que Deus abra os nossos olhos e nos ilumine, para vermos que o Espírito Santo já está em ação fora dos nossos espaços paroquiais. Informações suplementares Em 1622, foi criada a Congregação Romana para a Propagação da Fé, para promover a renovação iniciada no Concílio de Trento, e para contornar o monopólio de Portugal e de Espanha sobre as orientações missionárias e a organização da Igreja. Em 1653, o missionário jesuíta Alexandre de Rodes veio do Vietname para a Europa a fim de se bater em favor do envio de bispos que pudessem ordenar um clero local capaz de apoiar as suas comunidades no meio das perseguições. A Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris ('MEP') tinha sido fundada em 1658 e os Vicariatos Apostólicos do Vietname (Tonquim e Cochinchina) e da China tinham-lhe Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 11 sido confiados. Tinham recebido 'Instruções' romanas, precisando o mandato e o método que deviam orientar também os primeiros espiritanos que partiram para a Ásia, e, mais tarde, inspirar o 'Memorando' de Francisco Libermann à Propaganda Fide. Os MEP creem firmemente que as conversões a Cristo só podem ser fruto da santidade dos missionários, mais do que dos 'meios humanos' privilegiados pelos jesuítas. Este apelo à santidade traduz-se na importância primordial dada à meditação, que impressionará inclusive os monges budistas Thaï que encontram os missionários. Os MEP enviarão 106 missionários para a Ásia entre 1658 e 1709, e ainda hoje continuam a enviar. Podemos também ler e partilhar sobre um destes testemunhos: Evangelizar os evangelizadores: 'Ao longo destes anos, a minha vocação espiritana atravessou altos e baixos, desafios postos à minha vocação de religioso e de missionário. (…) O outro grande desafio é 'como evangelizar os evangelizadores?' Muitos confrades Africanos estão atualmente afetados nas províncias da Europa e da América do Norte. Isto vem da compreensão de que a missão é contextual , que a missão está em toda a parte. No entanto, o problema que permanece, é que os estereótipos das pessoas não mudaram. Leva tempo a partilhar com elas e fazê-las adotar a nova teologia da missão. Como posso evangelizar o evangelizador, isto é, como Africano, como posso levar a Boa Nova às Igrejas do hemisfério norte? Segundo a minha experiência, muitas pessoas do norte pensam ainda que os 'territórios das missões' são as Igrejas do hemisfério sul. Com o conceito de 'estereótipos', quero dizer que há conceções culturais que não representam nem a realidade nem a verdade. O mundo mudou e a divisão norte-sul já não corresponde à realidade. A missão pode ser em toda a parte e o velho conceito de 'territórios de missão' pode aplicar-se a todos os lugares, tanto ao Norte como ao Sul' (E24). O mandato missionário: 'A minha visão da congregação e o que me continua a motivar em tudo o que faço, é o mandato evangélico de ir proclamar aos confins do mundo o Reino de Deus. Este Grande Envio é tão válido hoje como foi no passado. Dois terços da população do mundo não recebeu sequer um primeiro anúncio do Evangelho de maneira concreta (e podemos pôr-nos inclusive a questão em relação à terça parte que é batizada). 'Missionário' tem a mesma raiz que 'mensageiro', que representa o que somos. O resto é um meio para este fim. Se nos concentramos na metodologia - seja a vida comunitária, seja a vida de oração, seja a espiritualidade, o que quer que seja, até 'os pobres' - comprometemo-nos numa forma de narcisismo, que é a tendência da nossa época moderna e cínica. Os objetivos a curto prazo e as soluções não podem substituir uma visão a longo prazo. Durante algum tempo, o Papa Bento XVI falava de uma Igreja fechada, de um pequeno rebanho. (…) A minha preferência recai no Papa Francisco: ide a todos os povos, línguas e nações sem número, que aportem todas as suas riquezas e talentos à celebração comum do mistério do amor e da Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 12 misericórdia de Deus. O mundo interior do espírito encontra o vasto mundo da ação, da incarnação, que é a realidade que celebramos liturgicamente (no Natal) (W24). Tornar-se louco: 'O meu sonho? Que nos tornemos loucos como Poullart e Libermann. A meu ver, isto começa por uma séria revalorização da nossa vida espiritual. Se esta vai bem, "optaremos" pelos pobres e o nosso carisma tornar-se-á ainda mais radiante' (W09). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 13 3º Dia: Onde quer que vá: Pense como se fosse de lá Entre 1730 e 1778, 13 estudantes do Seminário do Espírito Santo, depois de terminar a sua formação, entraram na Sociedade das Missões Estrangeiras em Paris ('MEP') a fim de serem enviados para a Ásia. Durante alguns meses de preparação antes da partida, tiverem que copiar à mão as 'Instruções aos Vigários Apostólicos' dadas em 1659 pela Propaganda Fide aos primeiros vigários apostólicos enviados para a Ásia, os fundadores dos MEP. Na época, estas orientações foram explicitamente destinadas a todas as missões e a todos os missionários. Podemos ainda fazê-las nossas? As duas ideias principais: 1. Adaptação: O missionário, que deve ser cuidadosamente escolhido e formado, deixa a Europa para evangelizar, fundar e fortificar as Igrejas locais e não para prolongar as Igrejas da Europa nas missões. O fim é anunciar o Evangelho, e não exportar um modo de vida. Notamos a modernidade do reconhecimento das culturas e dos costumes que o missionário deve respeitar, nas quais se deve inculturar. 2. Igreja local: O missionário vai evangelizar um povo tendo, como prioridade fundamental, a formação de um clero indígena que progressivamente substitua os missionários europeus. A Palavra de Deus (Fil 2,3-7) Nada façais por espírito de partido ou por vanglória, mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem atender cada um a seus próprios interesses, mas aos dos outros. Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus: Ele que era de condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus, mas despojou-se a si mesmo, tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens. Chamados e segregados, nós, Espiritanos, somos consagrados para juntar-nos a irmãos a caminho com todos os povos. Partilhando as dores de crescimento, somos misteriosamente mandatados para comunicar a vida divina, para levar as bênçãos do Pai a todos os seus filhos. Seguimos Jesus e somos continuamente testemunhas do poder do seu ensino e do seu ministério de cura. Somos servidores para a libertação de todas as opressões. Somos quebrados, para permitir a outros serem em plenitude. A nossa impotência ajuda-nos a fazer a experiência da compaixão de Deus e da comunhão com os pobres. Aprendemos pouco a pouco a pôr-nos nas mãos de Deus, e a afastar os obstáculos à ação do Espírito em nós. Identificamo-nos, assim, com os mais pobres e somos levados a fazer a experiência do amor preferencial de Deus por eles, por nós e por todos. Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 14 Informações suplementares Que há de mais absurdo? 'Não ponhais nenhum zelo, não avanceis nenhum argumento para convencer estes povos a mudar os seus ritos e os seus costumes, desde que não sejam contrários à religião e à moral. Que há de mais absurdo do que transportar para os Chineses a França, a Espanha, a Itália ou qualquer outro país da Europa? (…) Está, por assim dizer, inscrito na natureza de todos os homens estimar, amar, pôr acima de toda a gente as tradições do seu país, e o seu próprio país. Não há também causa mais poderosa de afastamento e de ódio do que introduzir mudanças nos costumes próprios duma nação, principalmente àqueles que foram praticados tão longe quanto remontam as recordações dos anciãos… (…) Não introduzais no deles o nosso país, mas a fé, esta fé que não rejeita, nem fere os ritos nem os costumes de nenhum povo, desde que não sejam detestáveis, mas, ao contrário, quer que os guardemos e protejamos. (…) Não coloqueis nunca em paralelo os usos destes povos com os da Europa; ao contrário, apressai-vos a habituar-vos a eles. Admirai e louvai o que merece louvor. Quanto ao que não o merece, se não convém ostentá-lo ao som de trombeta como fazem os lisonjeadores, tereis a prudência de não julgar'. A tarefa principal dos Vigários Apostólicos é trabalhar na edificação de uma comunidade cristã que assegura progressivamente a sua autonomia mediante a formação de um clero indígena e a nomeação de um bispo indígena a mais ou menos breve prazo. 'Tende sempre este fim diante dos olhos: levar até às ordens sagradas o maior número possível e das mais aptas pessoas, formá-las e fazê-las avançar cada uma a seu tempo' (Instruções da Propaganda Fide aos novos Vigários Apostólicos, 1659). Podemos também ler e partilhar um dos textos: Inspirados numa família: «Várias vezes, aqueles que apresentaram experiências designaram os homens e as mulheres no meio dos quais viviam como fonte fundamental da sua inspiração. A presença e a ação do Espírito podem ser discernidas na vida destas pessoas, especialmente nos pobres e oprimidos. Eles inspiram-nos com a sua hospitalidade, simplicidade, generosidade e profunda fé. Quanto mais nos identificamos com eles e com o seu sofrimento, mais compreendemos o Evangelho que pregamos (RVE 24.1). Isto exige de nós reavaliar o nosso estilo de vida e trabalhar com eles contra as estruturas opressivas. Neste serviço e fraternidade, sentimo-nos mais próximos de Jesus e da Boa Nova do Reino. Encontramo-nos fazendo parte duma nova e mais vasta família, recebendo energias inesperadas, nos momentos difíceis, da parte daqueles com quem vivemos e trabalhamos» (Capítulo de Maynooth, 3. A missão como fonte de inspiração, 1998). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 15 Crise, uma oportunidade : 'Nas diferentes etapas da vida (e, em última instância, na existência) fazemos continuamente uma "extração"… O que quereríamos ser, o que gostaríamos de ser, os planos que poderíamos fazer, a doença, a morte, os compromissos assumidos e os que mais desejaríamos, a relação com os outros, as diferenças que ás vezes nos aparecem como desafios ou então mortes a nós mesmos para bem dos outros, etc. são possíveis lugares de experimentação daquilo que o próprio Cristo viveu na sua vida. O dom que fazemos passa por tudo isto.. O plano de Deus sobre nós passa também por isto, e não apenas na nossa ação "querida" (no sentido de planificação) em favor dos outros. Talvez até o nosso testemunho como missionários passe mais pela nossa maneira de ser no mundo do que aquilo que fazemos (embora uma coisa não exclua de modo algum a outra). Às vezes inventamos estruturas para "planificar a nossa missão" (e imagino que são precisas). Mas os lugares privilegiados são a própria vida; organizar-nos para viver com outros quem quer que sejam, simplesmente: estar em família, trabalhar para alimentar-nos, trabalhar juntos por uma justiça maior entre os povos e as nações, nas cidades e bairros em que habitamos, etc…. O próprio Cristo não foi senão aquilo que a vida (sem dúvida, querida por Deus) lhe concedeu ser e ali onde a vida O colocou, a sua família, os seus amigos, os seus compatriotas, o seu povo, os outros povos e sua religião, etc. Neste sentido, ouso esperar que um dia a vida religiosa mudará… Mas isto é outro assunto…' (X29). Curioso de outros: 'Vivi num certo número de grandes comunidades (4) que eram multiculturais e internacionais e achei-as estimulantes. Sei que outros as acham difíceis, e é por isso que penso que se deve à minha personalidade: creio que tendo a ser aberto aos outros e a aceitar as diferenças. Uni-me aos espiritanos porque estava interessado noutros países e povos. Tive a graça de poder viajar e servir num certo número de países e participar, como espiritano, em muitos encontros internacionais, pelo meu trabalho numa ONG internacional. As culturas, as línguas, os costumes, as práticas religiosas, outras religiões, são outras tantas aventuras no meu percurso. Isto pode parecer um pouco romântico, mas é o que me dá uma verdadeira alegria, a 'alegria de viver'. É também uma das atitudes que identifico como sendo 'espiritana' (W34). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 16 4º Dia: A Linguagem do Coração Os primeiros espiritanos a partir para a Ásia viajaram para Macau em 1733. Trata-se de Guilherme Rivoal, para a missão da Cochinchina (Centro e Sul do Vietname) e Tiago de Bourgerie que ficou em Macau. Edmé Bennetat devia ter 16 ou 17 anos, quando entrou no Seminário do Espírito Santo. Quatro anos mais tarde, uniu-se aos MEP e em 1735 começou 7 meses de navegação para chegar à sua missão da Cochinchina. Encontrou lá uma comunidade cristã que conheceu perseguições e congregações missionárias divididas entre si. Começou por 16 meses de estudo da língua, e um ministério de confissões. Em 1737 foi colocado à cabeça de 20 igrejas com 6000 cristãos dispersos pelas 5 províncias meridionais do Vietname. O seu excelente domínio do vietnamita permitiu-lhe dialogar tanto com os mandarins como tocar o coração das gentes simples com a sua pregação. Ficou lá até 1750. A Palavra de Deus (Jo 1,6-8.14-15) Surgiu um homem enviado por Deus, cujo nome era João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de todos crerem por seu intermédio. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. E o Verbo fez-se homem e habitou no meio de nós, e nós vimos a sua glória., glória que lhe vem do Pai, como Filho único, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho d'Ele e exclama, nestes termos: «Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim passou à minha frente porque existia antes de mim». Viver a vida apostólica requer discernir prioridades. É uma vida muito ocupada, e somos urgidos pelas expetativas de crescimento daqueles que servimos. As urgências podem levar-nos a confundir o que é urgente com o que é fundamental: temos por isso necessidade de fazer um discernimento comunitário e uma abordagem integrada para responder às necessidades próprias de cada contexto. A atividade apostólica pode dessecar a nossa vida espiritual. Mas nós somos enviados a partilhar uma experiência espiritual. Quando a formação inicial se focaliza no domínio académico, os confrades que começam o seu ministério podem estar insuficientemente preparados para partilhar uma experiência espiritual: não há, com frequência, ligação vital entre a sua pregação e a sua própria vida espiritual. Como pode a nossa encarnação num lugar particular refletir-se nas palavras que dizemos e na vida que vivemos? Informações suplementares No seu apostolado, o jovem missionário Edmé Bennetat é ajudado por catequistas que, em geral, são casados, mas nem sempre bem formados. O seu papel é muito importante, porque o catequista é o intermediário essencial entre o missionário e os cristãos: é ele que assegura a formação religiosa dos cristãos, que prepara os neófitos, batiza na ausência do Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 17 padre, enterra os defuntos; a sua casa é amiúde o lugar de reunião dos cristãos, antes da construção da igreja. Um visitador apostólico escreveu a respeito dele em 1739: «É um excelente padre, que olho como um santo. Sozinho, ele vale mais, ouso dizer, que todos os outros missionários que estão atualmente na Cochinchina. Não se cuida, está esgotado; fala a língua do país como se nele tivesse nascido, o que lhe permite pregar com frequência e dar catequese». Ele destaca-se na pregação: «Este digno ministro do altar, verdadeiramente apostólico… Acodem a ele para o escutar e ver. O povo faminto da Palavra de Deus… que Bennetat anuncia com tanta facilidade, zelo e emoção, faz olhá-lo como apóstolo deste país. Nós olhamo-lo como um santo, porque é um milagre contínuo fazer o que ele faz com a pouca saúde que tem'. Em 1750, a perseguição atinge os missionários. Bennetat prefere ficar com as suas comunidades a fugir em segurança. É preso, submetido a um tratamento cruel e expulso para Macau. Enviado a Roma para resolver o problema da divisão entre as congregações missionárias em Tonquim (Norte do Vietname), é nomeado bispo de Tonquim, mas morre em Port Louis, hoje Maurícia, a 22 de Maio de 1761. O domínio da língua sem amor pelas pessoas é como címbalo que ressoa: felizmente, o P. Bennetat deu-se à língua e ao seu povo, em colaboração com os catequistas locais, e deu testemunho do dom de si pelos sofrimentos que suportou. Podemos também ler e partilhar sobre um destes testemunhos: Linguagem do amor : 'A minha primeira grande dificuldade foi ficar doente depois de um ano em África e ter de regressar à Europa: estava em vias de aprender a língua, de conhecer as pessoas, e gostava muito do trabalho e da vida lá. Suponho que isto correspondia precisamente ao que eu esperava da 'vida missionária'. Isto colmatava o meu desejo de viver com pessoas pobres e simples e de trabalhar por elas de todas as maneiras possíveis. Que desastre quando me disseram que devia regressar ao meu país para cuidar da saúde. Quando regressei, mandaram-me trabalhar no seminário menor! Isto pareceu-me duro de engolir. Mas dei a isto o meu melhor. Quatro anos mais tarde, apresentei a minha candidatura para o projeto que começava no Paquistão e fiquei feliz por ter sido chamado' (W18). As experiências mudam-nos: 'No decorrer dos anos, cada um de nós acumula experiências seja no ministério que exerceu ou exerce ainda, seja nas responsabilidades que assume na ou fora da congregação. Estas responsabilidades ao serviço de um determinado povo ou de confrades mudam-nos profundamente, creio! Mesmo os erros e as quedas mudam o nosso olhar e a perceção que temos da nossa fé em Deus, do mundo, dos outros, da congregação e de nós mesmos. Estas diferentes mudanças que eu próprio vivi e continuo a viver hoje convencem-me da necessidade de uma renovação espiritual permanente, adaptada à nossa (minha) situação e à nossa (minha) idade' (E23). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 18 Transmitir a Palavra de Deus: 'Penso que, na minha vida religiosa, dois aspetos poderiam expressar uma certo «sabor espiritano» no que vivi. Uma certa simplicidade na vida de comunidade. Depois, haveria, uma maneira «original» de ler e transmitir a Palavra de Deus. Não posso explicitar muito o que entendo por isto, porque nunca tirei tempo para parar e refletir mais especificamente sobre isto. Mas no que concerne à vida simples de comunidade, diria que é o contato direto e franco que temos uns com os outros. Não é perfeito, evidentemente. Contudo, encontro espiritanos de toda a parte e não é nunca um problema falar, comunicar, ser acolhidos. No que se refere à Palavra de Deus, penso que temos uma maneira bastante única de fazer a ligação entre as realidades e a mensagem de Deus na Sagrada Escritura. Ouvi com frequência homilias, textos, etc. e gosto da maneira que os confrades espiritanos têm (em geral) de tornar humana e acessível a Palavra de Deus. Pode ser estranho dizê-lo, mas para mim é isto' (X29). Anunciar Jesus Cristo: 'Devemos anunciar Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e proclamar o que Ele traz de novidade aos homens, é preciso que nós próprios descubramos esta novidade. Devemos anunciar os mistérios de Jesus, sem os esvaziar do seu conteúdo divino. Por exemplo, não reduzir o Natal apenas ao aniversário do nascimento de Jesus. Digamos que Jesus é o Filho de Deus que se faz homem. Digamos que Deus nos ama. Falemos de Deus. Não tenhamos medo de ser profundos nas nossas pregações. O Espírito Santo, que ensina, está presente, e se as palavras saírem do nosso coração, as pessoas compreenderão. Mas é preciso manter o nosso coração numa relação amorosa com Jesus, pela oração, a eucaristia, o ofício, a leitura espiritual e o silêncio. Não esqueçamos também a renúncia e a docilidade ao Espírito Santo' (W17). Falta de confiança em si e apoio no Espírito Santo: 'Creio que sofri toda a vida de falta de confiança em mim. O que é que me susteve em diferentes provações? - esperar sempre e confiar no Espírito Santo que nos precede para preparar o caminho. Tomei também consciência que as oposições que encontrei me forçaram sempre a procurar mais e mais amplamente respostas. Nunca me permiti ficar abatido pelo desânimo. Só quando a porta estava completamente fechada renunciava a uma ideia que me parecia boa. Portanto: perseverança, coragem e confiança fundamental no Espírito Santo' (W18). Doença e Graça: 'Pergunto-me: será que o 'momento' mais difícil foi o começo de 1990, quando se constatou que eu tinha cancro dos ossos? Sem dúvida, estava aterrado com esta doença, cujo tratamento durou ano e meio, na Holanda. A quimioterapia parecia um combate de boxe de dez assaltos. Depois de cada assalto, ficava praticamente KO; mas levanta-me de cada vez, e apresentava-me para o tratamento seguinte. Brevemente: não posso dizer que esta provação corporal extrema não afetou a minha identidade ou a minha vocação espiritana. Ao contrário, foi graças a esta pesada provação que Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 19 comecei a compreender que o valor da nossa vida missionária depende menos dos nossos êxitos que dos nossos fracassos. Fui convidado a aceitar (se possível com alegria) que é por meio das provações de nos tornamos espiritanos (como aconteceu com Libermann, por meio da sua 'querida doença', a epilepsia). Uma vez curado, voltei aos Camarões em 1991, sempre para junto dos Pigmeus Baka. Mas outra doença causou o meu regresso: atingido por diversas doenças preocupantes. Contudo, assistido não somente por médicos e enfermeiros, mas também pela minha família e confrades (inclusive com o sacramento dos enfermos e as suas orações), voltei à vida, contra toda a esperança. Voltou inclusive a minha fé na vocação espiritana, reforçada! Digamos que o momento mais difícil se transformou graciosamente em novos horizontes. Poderia dizer portanto aos confrades mais jovens que atravessam provações similares: É fazendo o luto do teu projeto missionário pessoal do momento que descobrirás isto: o teu 'querido projeto' será transformado num projeto mais valioso. E é guiado por uma mão maternal e outra paternal, que te tornarás o Espiritano que o Pai busca em ti, por meio do seu projeto. Por outras palavras: (por Nelson Mandela) 'I am not a saint, unless a saint is a sinner who keeps trying'. ('Não sou um santo, a menos que um santo seja um pecador que continua a tentar'). Tentemos de novo ainda, e ainda' (W35). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 20 5º Dia - Colaboradores no campo do Senhor Em dezembro de 1736, Luís Devaux embarcou para Macao, onde chegou no ano seguinte após uma viagem sem história. Tinha entrado para o Seminário do Espírito Santo aos 19 anos de idade e aí estudou durante 5 anos, antes de se transferir para os MEP (Missoes Estrangeiras de Paris) com a ideia de ir para o Canadá. Aí foi encorajado a voltar o seu olhar para a Ásia, para a missão de Tonkin (Vietnam do Norte). Neste país a fé cristã está proibida, é clandestina, mas florescente! Quem denunciar um padre católico recebe uma recompensa e o padre é condenado à morte. Devaux estuda a língua e, com quatro padres autóctones, começa a sua missão de administrador da região entre Hanói e Tanh Hoa. Dá prioridade à educação, desde as escolas primárias até à formação do clero local. Para tal põe em funcionamento mais de trinta pequenos seminários. Em 1747 é nomeado bispo coadjutor e desenvolve uma boa colaboração com o seu bispo. “Os dois bispos, escreve um missionário, são incansáveis, quer estejam juntos numa mesma residência, onde, através de um relacionamento marcado por uma amável simplicidade e uma cordialidade sincera, partilham as suas perspetivas e os seus sofrimentos pela glória de Deus, quer estejam colocados nas extremidades do território, estão atentos a tudo e estão à altura de serem úteis a mais gente. Orientam todos os eclesiásticos por eles formados, regulam o seu comportamento e sua atividade”. Três anos mais tarde, é vítima de uma primeira série de ataques (AVC), mas consegue dar continuidade ao seu trabalho apostólico até à sua morte em 1756. Palavra de Deus (Jo. 15, 14-17) Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando. Não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; chamo-vos meus amigos, porque vos dei a conhcer tudo o que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi e vos destinei, para que indo, deis fruto e o vosso fruto permaneça. Então, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. É isto que vos mando: que vos ameis uns aos outros. Parece que após a sobrecarga de que Poullart des Places fez a experiência ao orientar sozinho, durante os primeiros anos, a Comunidade do Espírito Santo, ele tomou a decisão de chamar colaboradores para partilhar a responsabilidade dos estudantes e, assim, ele pôde ‘situar-se’ e encontrar a paz. Poullart já não se concentra apenas na sua responsabilidade e no sucesso da sua iniciativa, mas também no crescimento das pessoas que Deus lhe confiou. A direção pessoal – útil na primeira fase – dá lugar a uma diferente qualidade de presença à Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 21 comunidade, melhor ainda, de inspirar estudantes e colaboradores. Cláudio converte-se da eficácia à atenção ao outro. Esta conversão é uma nova etapa da fundação da Congregação do Espírito Santo: chama outros padres para, a seu lado, serem diretores do Seminário: serão os “Senhores do Espírito Santo” que orientarão o Seminário durante os 140 anos seguintes. Sendo a vida comunitária apresentada como um meio para a missão, ela hoje é muitas vezes vivida pelos espiritanos como uma fonte de frustrações e de sofrimento. Acontece que nos sentimos mais à vontade para nos ocuparmos dos outros ‘de fora’, a partir de uma posição de poder, do que para viver e colaborar com os outros como irmãos, dependendo uns dos outros. Mas a vida comunitária pode ser um lugar aonde somos enviados para aprender que a fraqueza não é pobreza, enquanto que o serviço dos outros é vivificante. Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos: - Partilha comunitária e projeto missionário: “Dou-me conta que nas comunidades pequenas, de dois ou três confrades, as reuniões de comunidade quase desapareceram. Com o argumento de que tudo se fala à mesa, não se vê a necessidade de outro tipo de reuniões; nestas comunidades pequenas e apostólicas, geralmente com a responsabilidade de paróquias, a oração comunitária reduziu-se ao mais elementar; a partilha de vida e da Palavra desapareceram; eucaristias comunitárias desapareceram. Ora são estes os elementos que podem levar a uma conversão, a uma leitura da vida a partir da Palavra e do que nos identifica como espiritanos. Ao suprimirmos os espaços de confronto da nossa vida com o projecto espiritano, não vejo como os documentos de por si possam agir. No entanto é bom que existam, pelo menos como referência e ajuda para os que querem realmente viver a vida espiritana.” (E09) - O desafio da diversidade: «O relacionamento entre confrades foi um desafio para mim, mas de menor importância, dado que tive excelentes confrades na comunidade; mas, ouvindo outros confrades e a partir das minhas próprias observações, estou consciente de que ele pode ser uma verdadeira cruz. Mesmo sendo todos homens que partilham uma mesma vocação, em múltiplas dimensões continuamos a ser indivíduos com a nossa própria mentalidade e cultura. E o pior de tudo é que não fazemos esforço para combater os nossos defeitos.” (X17). - Amor fraterno: «Para mim, muitos destes problemas (do relacionamento entre confrades) poderiam, se não desaparecer, pelo menos ser atenuados e discutidos num amor fraterno se houvesse uma boa comunicação e verdadeira partilha de vida. É só a vida em comunidade que nos permite crescer juntos na fé e no amor. Infelizmente, com frequência há a tendência para não querer discutir com frontalidade os problemas quando eles acontecem. Pode ser pela preocupação de não se impor, de não impor uma autoridade, ou de não “fazer a Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 22 água ferver””. Preferimos deixar que as coisas se resolvam por si mesmas sem fazer ondas: ”isso passa…!; deixa cair…!” Não é a atitude correta, particularmente no período da formação. É aí que devemos prestar atenção e iniciar os estudantes a saberem partilhar, a fazerem a correção fraterna. Muito raramente encontrei um espiritano que aceite críticas sem reagir fortemente (mesmo sem procurar saber se as críticas têm fundamento ou não). É logo encarado como um ataque pessoal. A formação é o momento chave para a aprender e praticar” (X27). - Educação para os pobres: «A paróquia em que trabalho situa-se numa espécie de ‘bidonville’. A maioria das pessoas aqui são pobres e desempregadas. Isto corresponde muito bem ao nosso carisma de salvar os pobres. Também temos uma escola, construída pelos espiritanos, para servir as crianças das famílias pobres. E os nossos custos de escolaridade não são comparáveis com os das outras escolas privadas, não exigimos um pagamento tão elevado a fim de possibilitar às crianças pobres de estudar na nossa escola. Isto revela a minha compreensão do carisma e da missão dos espiritanos, isto é, estamos lá ao serviço dos pobres. Há espiritanos que trabalham sem desânimo em países em guerra, como a RDC, a RCA, o Sudão do Sul ou noutros setores pobres como na região dos Massai, sem perder a coragem. Eles inspiram-me especialmente pelo seu compromisso em situações semelhantes, sem medo e sem desanimar.” (X21). A China segundo um mapa de 1632 Provincia de Sichuan onde Francisco Pottier foi missionnario de 1753 a 1792 Novena Poullart des Places 2014 Porto de Macao (Português) onde desembarcavam os missionnaires e du Sichuan où François Pottier fut missionnaire de 1753 à 1792 Ventos do Oriente Pag. 23 6º Dia - Refugiado entre refugiados Guilherme Piguel entra no Seminário do Espírito Santo em 1743, aos 21 anos de idade. Três anos mais tarde, concluída a sua formação, é enviado pelos MEP para trabalhar na Cochinchina (Centro e Sul do Vietnam). Quando finalmente chega a Macao, após 4 anos de viagens e de múltiplas tentativas, o imperador da Cochinchina tinha lançado nova e furiosa perseguição contra os missionários e os convertidos. Piguel tem de dirigir-se para o outro lado da fronteira oeste, ao Camboja, onde se ocupa das populações e dos refugiados, também perseguidos neste país. As pessoas vivem na miséria. Infelizmente, as congregações missionárias estão divididas segundo a sua obediência a Roma ou a Portugal. Piguel teve de assumir a responsabilidade da missão. Começa por investir fortemente entre a população cambojana, mandando a um jovem missionário traduzir para língua khmer as orações e o catecismo. A sua gentileza e a sua paciência conquistaram o coração das pessoas, mesmo que poucos budistas se convertessem. Paz e guerra alternam-se rapidamente, quer no Camboja, quer na Cochinchina. Nomeado Vigário apostólico em 1763, Piguel empenha-se por todos os meios em visitar as comunidades perseguidas na Cochinchina e estabelece um pequeno seminário para formar o clero local, vivendo ele próprio numa pobreza extrema. Morre em 1771, com 49 anos de idade. Palavra de Deus (2Cor. 3, 2-6) A nossa carta de recomendação sois vós, escrita em nossos corações e todo o mundo pode tomar dela conhecimento e lê-la. Com toda a evidência, vós sois esta carta de Cristo, fruto do nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não como a Lei, em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, sobre os vossos corações. E se nós temos uma tal confiança em Deus por Cristo, não é por causa da nossa capacidade natural que no-la podemos atribuir: a nossa capacidade vem de Deus. Foi Ele que nos tornou capazes de ser ministros de uma Aliança nova, fundada não sobre a letra, mas no Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito dá a vida. A experiência missionária é semelhante em certos aspetos à de um trabalhador migrante ou de um refugiado: foi arrancado ao seu país, e espera encontrar uma nova morada para viver e realizar o seu projeto de vida. Mesmo que gradual e preparada, a adaptação a um outro estilo de vida é um desafio que exige coragem e paciência. A comunidade espiritana internacional é a missão: as diferentes conversões requeridas para viver juntos e trabalhar em colaboração Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 24 chamam cada um a empenhar-se com humildade para que os talentos de cada um possam revelar-se como sinais do Reino de Deus. Aprender a viver com os outros é, no fim de contas, aprender a viver com o TOTALMENTE OUTRO. A missão consiste, no fim de contas, em ser enviado aos outros por causa do desejo de entrar em comunhão com eles. A comunhão é, no fim de contas, recebida através da morte e ressurreição. A nossa vida missionária, que nos obriga a tudo perder, a morrer, para entrar numa nova família e numa nova cultura, é um modo radical, mas precioso, de viver a identidade e a vocação de cristão. Informações suplementares: - Encontro intercultural: Nos começos, os habitantes do Camboja deixam perplexo o Pe. Guilherme Piguel: “Dizem que acreditam em tudo, mas não sabem nada, nem querem aprender seja o que for, dizendo que não podem. Se lhes dizeis que há um só deus, eles repetirão a mesma coisa, mas se lhes dizeis que há quatro deuses, eles repetirão que há quatro deuses. Toda a religião, dizem eles, é boa, o seu deus é irmão do nosso e por aí adiante”. Pouco antes da sua morte, escreveu: “ Devemos eliminar as armas de mão nesta terra de exílio, as nossas missões são as nossas famílias, os infiéis são nossos filhos que devemos trabalhar para os gerar em Jesus Cristo. Se algum caso extraordinário nos desvia durante algum tempo, nem por isso devemos abandoná-los, mas ao contrário aproximarmo-nos quanto possível para nos reencontrarmos desde que nos apercebemos que existe alguma abertura para o poder fazer”. - Formação do clero local: «No Colégio […], trabalhamos mais solidamente, pois os padres do país fazem muito melhor que nós, porque eles não são conhecidos e falam mais facilmente; num tempo de perseguição quem apoiará os cristãos? Quem cuidará deles? Os padres europeus são obrigados a fugir e a missão encontra-se abandonada, quase perdida como na Cochinchina.” - A sua espiritualidade: Tem uma forte devoção ao Santíssimo Sacramento e à Virgem Maria. Humilde na sua postura e na sua atividade apostólica. Os outros admiram-no e desejam imitá-lo. Verdadeiro filho de Poullart des Places, vive uma mística de Pobreza: administra o seu vicariato numa grande simplicidade, entrega-se às tarefas mais obscuras e mais humildes do ministério sacerdotal. “Dava tudo aos pobres, escreve um dos seus confrades, era mais pobre que os próprios pobres, usando apenas roupas já gastas, e, à sua morte, nem uma camisa se encontrou para lhe vestir”. Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 25 Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos: - Trabalho paroquial e comunidade: «Comecei primeiro nos setores de primeira evangelização, onde trabalhamos em estreita colaboração com as Irmãs. Nestes setores reservamos tempo para a oração. Para além das laudes, da missa e das vésperas, reservamos mensalmente uma manhã para recoleção. Partilhamos e elaboramos o nosso programa em conjunto. É verdade que havia as avarias nas picadas, o que fazia com que um ou outro estivesse ausente durante vários dias, mas nunca durante as recoleções e os tempos de preparação da programação. Mais tarde, trabalhei em setores em que havia paróquias e em paróquia. Aí é mais difícil manter a regularidade. De manhã, para as laudes e a missa, ainda vai. Mas, à tarde, para as vésperas, com as diversas ocupações torna-se difícil assegurar as vésperas em comum. É preciso aceitar com compreensão as ausências por causa de uma atividade apostólica. Quanto ao tempo mensal de oração, zero. Impossível ou encarada como tal, o certo é que não se fazia. Numa das paróquias conseguimos manter a reunião de comunidade e, uma vez por semana, a preparação das atividades paroquiais em conjunto com as Irmãs. Em minha opinião, parece-me que é mais difícil viver e sentir-se religioso no circuito paroquial. Parece-me que se acentua a pastoral diocesana.” (W17). - Pecado original da desunião: «Para mim próprio, terminada a minha formação inicial, o desafio principal tem a ver com “a cultura espiritana ou a comunhão entre nós”. Com efeito, éramos duas comunidades espiritanas próximas uma da outra (em África). Eu vivia com dois outros confrades e a comunidade espiritana vizinha era composta igualmente por vários membros. Estávamos no mesmo setor, formando catequistas, acompanhando comunidades de base, trabalhando pela promoção humana (escolas, saúde). Mas as nossas reuniões de setor eram bastante raras e pareciam um pesado fardo, pois eram consideradas como perda de tempo. Às resoluções tomadas em conjunto não era dado seguimento. Era impossível levar em conjunto o projeto missionário, a visão missionária. Este foi o nosso pecado original, é a constatação que faço após longa reflexão: como consequência, os confrades mergulham em problemas pessoais importantes, no individualismo, na mediocridade, no álcool. A evangelização é meramente superficial, a Palavra de Deus não se tornou atuante. É muito mais fácil construir capelas que não expressam a realidade vivida no dia a dia, a evangelização não cresceu. O azedume instalou-se no coração dos missionários e tornamo-nos incapazes de manter e realizar a nossa missão. O bispo pôs-nos de lado e perdeu a consideração por nós.” (X13). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 26 - Opção pelos pobres: «O futuro da congregação dependerá fundamentalmente da nossa opção pelos pobres. Mas, que significa ‘opção pelos pobres’? Paz e justiça atraíram poucos confrades, mais numerosos são aqueles que se preocupam em tornar a sua própria vida melhor e mais segura. Seguimos o ‘status quo’; muitas pessoas são materialmente pobres em aspetos em que poderíamos melhorar a sua vida. As pessoas educadas foram deixadas fora da Igreja, onde poderiam ser bem úteis para ajudar o resto da comunidade. A nossa renovação pessoal deveria exprimir-se num novo compromisso e numa formação para uma melhor compreensão do conceito ‘opção pelos pobres’. O nosso carisma será partilhado quando vivermos vidas que fizeram a opção pelos pobres.” (E22). - Espiritanos na igreja local: “Sinto que a Congregação sairá mais fortalecida se a sua grande diversidade for bem gerida a partir dos pontos essenciais característicos da identidade espiritana: as intuições dos fundadores, a fidelidade ao Evangelho e o compromisso nos atuais desafios da missão. Este sonho está dependente de determinados elementos, ligados entre si: - Viver a nossa missão como uma consagração a Deus. A dificuldade dos votos não está nos votos em si. Só há um voto: a total consagração a Deus. Os três votos explicitam e concretizam este único voto de consagração. ‘Realização pessoal’ e aceitação da Cruz devem ser trabalhadas com as jovens gerações como a chave de toda a consagração. - A missão junto dos mais pobres deve ser encarada como uma viagem e uma experiência espiritual nos alicerces da nossa humanidade. É viver concretamente esta opção preferencial de Deus para com os pobres. - Revestirmo-nos de uma atitude de serviço, bem distante da busca de poder, superioridade e arrogância, dado que “são as igrejas locais que assumem a missão de Cristo nos diversos territórios e é aí que tomamos parte de acordo com a nossa vocação própria” (RVE, 13). - Partilhar a nossa vocação com os leigos, que são mais que simples colaboradores. Atraídos pelo nosso carisma e pela nossa espiritualidade, estes leigos estão disponíveis para viver a nossa missão em corresponsabilidade. (E17). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 27 7º Dia - Um semeia, outro recolhe Durante os cinco anos da sua formação no Seminário do Espírito Santo, Francisco Pottier dececionou a sua família afastando-se de uma carreira eclesiástica para abraçar uma orientação missionária. Tem 27 anos de idade quando se junta aos MEP em 1753. Nesse mesmo ano, faz uma viagem a Macao e, após 15 meses de estudo da língua chinesa, infiltrou-se por via fluvial na Província de Sichuan, no centro da China. Pottier visita as comunidades, é preso, torturado e exilado. Consegue escapar-se e regressa, tornando-se Vigário Apostólico em 1767. Juntamente com alguns novos missionários, funda um seminário clandestino para a formação do clero local, ordena 15 padres chineses, elabora um tratado pastoral para a evangelização, abre um hospital para leprosos e promove a educação das meninas, bem como um instituto para as virgens cristãs. Após a nomeação de um coadjutor, Pottier restringe o seu ministério a um pequeno setor. Morre três anos mais tarde, em 1792. Se bem que fosse conveniente evitar atrair a atenção das autoridades, grande número de cristãos teima em acompanhar o seu corpo até ao cemitério. Foram de balde os esforços dos padres para evitar toda e qualquer demonstração espetacular, pois até os mendigos da cidade levaram as suas ofertas para as exéquias serem celebradas da forma mais solene possível. Palavra de Deus (1Cor. 9, 14…22) Igualmente o Senhor prescreveu aos que anunciam o Evangelho de viverem da proclamação do Evangelho. Mas eu nunca me aproveitei de nenhum destes direitos. E não escrevo isto para os reclamar. Prefiro morrer! Ninguém me tirará este motivo de orgulho. Com efeito, anunciar o Evangelho não é para mim motivo de orgulho, mas uma necessidade que a mim se impõe. […] Então, qual é o meu mérito? É de anunciar o Evangelho sem procurar nenhuma vantagem material, e sem fazer valer os meus direitos de pregador do Evangelho. Sim, livre em relação a todos, fiz-me escravo de todos a fim de ganhar o maior número possível. […] Com os fracos fiz-me fraco, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos a fim de, a todo o preço, salvar alguns. A pobreza é um dos temas que consideramos essenciais para a identidade espiritana e, apesar disso, é um dos aspetos de maior insatisfação nas nossas vidas. Isso afeta a nossa vida em conjunto, as pessoas que pretendemos servir, os meios da nossa missão, a nossa sensação fundamental de (in)segurança e, finalmente, a nossa confiança em Deus. Ela vai do aspeto financeiro (recursos financeiros e materiais) ao fiduciário, convidando-nos a viver de maneira Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 28 responsável a nossa confiança na divina providência, encarregando-nos daqueles que Deus confia à nossa responsabilidade. Assim procedendo, podemos descobrir que ‘menos’ pode dar ‘mais’. Somos interpelados: ‘Que fazemos com o que temos? Como fazemos um discernimento responsável para a aplicação dos meios disponíveis para a nossa missão?” Estes meios são-nos muitas vezes trazidos por pessoas que fazem sacrifícios e decidem partilhar com aqueles que se encontram em necessidade. Informações suplementares Em 1742, os ritos chineses foram proibidos por Roma e, a partir de 1744, a nova dinastia chinesa não é favorável à religião estrangeira. A pregação é proibida e os missionários devem esconder-se: só restam dois padres autóctones para toda a Província de Sichuan, trabalhando com numerosos catequistas, quando Pottier aí chega. Pottier deve muito ao Pe. André Li (+ 1775), que, durante 10 anos, ficou responsável desta província quando todos os missionários estrangeiros tiveram de fugir. Um dos padres ordenados por Francisco Pottier é Agostinho Zhao Rong: um soldado convertido pelo prisioneiro que ele guardava. Tornar-se-á o primeiro padre chinês mártir e santo. Conselho do padre chinês André Li, em 1753: “O missionário apostólico escolhido por Deus sabe que a sua própria vocação e as disposições dos seus superiores levam-no a evangelizar os pobres, a levar a paz aos seus hóspedes, a comer aquilo que eles lhe oferecem e a anunciar o Reino de Deus que é o Evangelho de Jesus Cristo crucificado. A população cristã que vive nesta província está na sua maioria, antes de mais nada, ocupada desde a infância nos trabalhos agrícolas ou no comércio, tendo poucos de entre eles feito estudos que lhes permitissem valorizar raciocínios subtis ou longos discursos e, ainda menos, uma retórica elegante. Por isso, o trabalhador apostólico deve acomodar-se à sua pobreza, à sua frugalidade, à sua estupidez e o sacerdote deve adaptar-se a eles por regras de sobriedade e de pregação, fazendo-se, como o Apóstolo, tudo para todos, para os ganhar a todos para Cristo; não deve dominar sobre o seu rebanho, mas que adote ele mesmo o jeito do seu rebanho”. Os seus missionários traçam o seu retrato: “Nunca encontrei num homem só tanta simplicidade e tanta grandeza, afirmou-se de S. Martinho; vestia-se como o comum do povo; estava sempre viajando pelas missões; era capaz de fazer viagem de três dias por um único doente. É um homem admirável em tudo: de uma simplicidade e de uma humildade que me cobrem de confusão sempre que o vejo; permite que tudo seja dito e julga-se o mais ignorante dos missionários. Seguramente, eu trocaria quatro cabeças como a minha por metade da sua, Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 29 de tão fatigada que ela está. Trabalha sempre com um zelo infatigável; pregaria três vezes por dia, sem qualquer esforço”. Um outro padre escreveu. “É um verdadeiro coração de ouro, embora se possa afirmar que ele usava um báculo de madeira. Leva uma vida apostólica; pratica a pobreza, a humildade, a paciência, a caridade, e realizou imensos trabalhos”. Não é sem razão que o seu biógrafo lhe deu o título de fundador da missão de Sichuan; se não foi o primeiro missionário e o primeiro bispo, foi ele que a desenvolveu notavelmente, a organizou e a consolidou durante trinta anos de perseguições quase ininterruptas. À sua chegada encontrou 5.000 cristãos e 2 padres, e, à hora da sua morte, eram 25.000 cristãos e 15 padres chineses. Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos: - Fidelidade no meio das mudanças: “Já foi há quase 29 anos que concluí a formação inicial. Fui transferido de um ministério para outro, de uma cultura para outra e de um lugar para outro em nome do meu voto de obediência. Mas o mesmo Deus que me chamou a este ministério é Ele que sustenta a minha fidelidade na vocação espiritana. Por isso, é a Ele que é devido todo o louvor. Esta vida especial e movimentada não foi um desafio apenas para mim, mas também para a maioria dos religiosos missionários. É um desafio suplementar para quem já se habituou a um povo e à sua língua, à sua cultura, tradições e costumes, etc. No fim de contas, foram Deus e nossa Mãe Maria, a minha vida de oração, a imitação do espírito dos nossos co-fundadores, a imitação dos nossos admiráveis confrades antigos, a observância fiel da Regra de Vida, o zelo apostólico, o amor pelas pessoas, o apoio dos meus superiores e Jesus como meu modelo, que realmente sustentaram a minha fidelidade na vocação espiritana. Por tudo isto, estou imensamente reconhecido ao Senhor da vinha.” (X24). - Com as comunidades de base e os pobres: “O trabalho com as comunidades de base traz-me gratas recordações. Lembro-me particularmente de um domingo de manhã, em que, após a missa, fui convidado a visitar um moribundo. As trinta e tal pessoas que estavam na missa acompanharam-me no serviço pastoral por este homem. Quando afirmo que ‘nós’ celebramos os últimos sacramentos, estou consciente do facto de que era uma comunidade de crentes que eram ministros do amor salvífico de Deus. Recordo-me também de ter sido hospitalizado e do facto de o tratamento da minha doença ter sido prolongado. Um amigo meu, pobre agricultor, veio visitar-me. Pouco depois de se ter despedido, voltou atrás. Dou-me conta dele aos pés da cama, perguntando: “Se tivesse dinheiro teria sido operado?”. Ele não dispunha da quantia necessária, teria de a ir arranjar em qualquer lado. As pessoas que são pobres, no Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 30 momento da doença e do luto, são muito criativas. Para mim, estas ocasiões falam-me da bondade intrínseca das pessoas.” (W10). - Trabalhar com alegria e confiança no Espírito Santo: “O carisma espiritano e a missão dos espiritanos hoje correspondem perfeitamente àquilo que o Papa Francisco continuamente repete. Trata-se de difundir a alegria no Espírito, escutando os ensinamentos e inspirando-se na via de Jesus no meio dos homens – e de viver assim em todas as situações do mundo de hoje – realizando a um nível mais profundo aquilo que é importante: as pessoas, cada indivíduo e não o sistema, e que são os pobres, os sofredores, os feridos e os que estão mal, os pequenos, aqueles que não se veem, os fracos, que têm necessidade da ajuda dos fortes, dos que são capazes e que detêm as riquezas. Em diferentes momentos das nossas vidas trabalhamos com toda esta gente, ajudando alguns, formando outros, mas sempre cheios de uma alegria e de uma confiança, não em nós próprios, mas no Espírito que nos orienta, dirige, inspira e que vai antes de nós, preparando o caminho, enchendo os vales, aplanando as montanhas dos combates e da oposição. “Eis-nos aqui, Senhor, para fazer a tua vontade.” (W18) - Com os pobres : « A opção pelos pobres é a chave do nosso ser espiritano, mas o Papa Francisco mostra que ela é também a chave do ser cristão. Ser para os pobres dá a impressão de lhes prestar serviços, o que é bom e que fazemos de muitas maneiras e podemos mostrar aos outros como o fazemos. Estar com os pobres é muito mais exigente e precisamos de desenvolver igualmente critérios de avaliação, não tanto para dar nas vistas, mas para nos ajudar a consciencializar o que fazemos e como o fazemos. Estou convencido que é um dos aspetos da nossa vida que vivemos inconscientemente, que nos compete e que nos parece evidente. Devemos tornar-nos capazes de falar disso para sermos encorajados a continuar. Trabalhar e viver com os pobres é provavelmente transformador. Temos párocos colocados no meio de bairros desfavorecidos. Mas isso, em si não é suficiente. Fazemos nós parte desta comunidade? Posso afirmar que, num certo número de casos que conheço, não somos! Somos conhecidos nessas comunidades e tomamos parte ativa no plano social e interreligioso. Os vizinhos conhecem-nos e apreciam a nossa presença. Apanhamos o “cheiro das ovelhas”. Em todos os nossos ministérios, eu sei que decidimos partilhar o nosso carisma, espiritualidade e missão com as pessoas que servimos. São convidadas a olhar para além delas mesmas na vizinhança, na cidade, na região e no país no que diz respeito à justiça e à caridade. Em cada ministério falamos do que significa ser um grupo espiritano e aqueles que servimos também a isso se referem para justificar aquilo que fazem!” (W34). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 31 8º Dia - Nova missão, desafios antigos Depois de 205 anos de interrução, 8 espiritnaos regressaram ao Extremo Oriente em 1997, na sequência do mandato do Capítulo Geral de Itaïci, em 1992, que pedia ‘uma nova iniciativa na Ásia’. As Filipinas, Taiwan, o Vietnam e a China foram os países escolhidos e duas equipas de quatro membros, cada uma com um ou dois missionários experimentados, reuniram-se primeiro em Assis durante uma semana para partilhar seus pontos de vista e suas esperanças. Eram provenientes da Irlanda, dos Estados Unidos, do Brasil, da Nigéria, da Serra Leoa e de França. Partiram imediatamente para as Filipinas e Taiwan para iniciar um curso de língua Visaya e de Chinês mandarim. Assumiram a capelania hospitalar, a capelania das cadeias, o serviço dos emigrantes, a formação de seminaristas, o diálogo interreligioso, a pastoral universitária e o ministério paroquial. Palavra de Deus (Atos 4, 31-35) Quando acabaram a oração, o local em que se encontravam reunidos começou a estremecer, ficaram todos cheios do Espírito Santo e anunciavam a palavra de Deus com desassombro. A multidão dos que se tinham tornado crentes tinha um só coração e uma só alma; e ninguém afirmava que era seu o que possuía, mas tinham tudo em comum. Era com grande poder que os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma graça abundante recaía sobre todos eles. Nenhum deles viva na indigência, porque todos os que eram proprietários de terrenos ou casas os vendiam e traziam a receita da venda para a colocar aos pés dos Apóstolos; depois eram distribuídos de acordo com as necessidades de cada um. Um certo número de dificuldades da vida comunitária são percebidas como mais fortes em contexto de internacionalidade. O modo de partilhar a nível pessoal difere de acordo com a nossa cultura de origem, o estilo de formação recebida, a nossa espiritualidade. A colaboração é outra área na qual podem vir ao de cima tensões, seja por causa de um conflito latente de poder, de introversão ou de diferentes experiências de Igreja. Os preconceitos devem poder ser criticados, mas também deve prestar-se atenção à identidade cultural e à originalidade de cada um. Um confrade sugere que aprendamos a usar as ciências sociológicas para tomar consciência da influência das estruturas tradicionais sobre a forma como exercemos o poder, sobre a nossa solidariedade e a nossa comunicação. Os modos culturais devem eles também ser evangelizados, mas é difícil aceitar questioná-los: devemos começar por nós próprios. Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 32 Devemos também aprender a aceitar uma sã e vivificante diversidade, no quadro da Regra de Vida, e estar abertos aos carismas de cada um. Informações suplementares Curiosamente, em Taiwan os emigrantes são filipinos, e nas Filipinas há uma paróquia chinesa. 1% da população de Taiwan é católica, enquanto que 90% dos filipinos são católicos. Ao longo dos últimos 17 anos, 16 confrades foram afetados às Filipinas e 17 a Taiwan. As Filipinas têm três jovens professos em formação. Os confrades trabalham em setores muito pobres, com recursos limitados e onde as catástrofes naturais são frequentes. A Igreja das Filipinas continua dependente da generosidade de algumas famílias católicas, muitas vezes grandes proprietários de terras numa sociedade de tipo feudal. A hierarquia católica taiwanesa é ainda muito tímida para se pronunciar publicamente sobre questões sociais, mas os espiritanos estão envolvidos nas áreas da justiça e da paz em colaboração com leigos. Definir prioridades comuns continua uma prioridade para os espiritanos de cada um destes países, mas a estabilidade de alguns confrades é um testemunho encorajador. Confrades de Taiwan estabeleceram contactos e fizeram visitas à China e foram mesmo convidados a trabalhar numa diocese chinesa. Mas os missionários estrangeiros estão impedidos, até já, de residir na China. Entretanto, candidatos da China entraram em contacto connosco para conhecerem melhor a nossa Congregação. Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos: - Renovação da nossa vida espiritual: “Estou convencido que o nosso futuro depende da renovação da nossa vida espiritual. Tive a sorte de poder estudar a história da vida religiosa ao longo dos séculos. Os grandes movimentos renovadores passaram sempre por uma vida mais evangélica, mais exigente, menos mundana. Nunca se renovou a vida religiosa com o dinheiro, com as estruturas, com mais comodidade, com aparelhos da última moda e técnicas modernas. Foi sempre pela fidelidade ao evangelho, à regra de vida, à vida sacramental e de oração, ao zelo apostólico, à doação da vida por amor e serviço aos outros. Se vivemos esta dimensão a sério, o resto é possível viver sem problema; ou seja, somos capazes de viver com os pobres, de partilhar suas vidas e de nos comprometer com eles. Sem isto, a nossa opção pelos pobres transforma-se em ideologia, que fica só na teoria… Quando vemos a dificuldade em arranjar candidatos jovens para as situações missionárias mais pobres, depressa compreendemos que a opção pelos pobres ou nasce de uma vida alicerçada em Jesus Cristo ou não passa de slogan piedoso, mas pouco real”. (E09) - Atenção ao Espírito e sacrifício: « Do meu ponto de vista, o futuro da Congregação está garantido, porque é obra do Espírito Santo. O meu sonho sobre a Congregação é ver os Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 33 seus membros cada vez mais empenhados em escutar a voz do Espírito Santo e mais dóceis às suas inspirações. E transparecerá em todas as categorias que enumeraste e ainda noutras: na nossa opção por/com os pobres; na renovação da nossa vida pessoal; na partilha do nosso carisma, da nossa espiritualidade, da nossa missão com pessoas de outros povos. Mas o mais importante ainda é que tudo está dependente da forma como cada um fizer da sua vida um completo sacrifício.” (X17) - Simplificar o nosso estilo de vida: “O meu maior sonho é simplificar o nosso estilo de vida. Por natureza, a minha vida ‘pessoal’ não pode ser simples. Mas sempre sonhei ser um pouco mais radical na nossa maneira de viver a missão. Mas parece-me que a estrutura ‘clerical’ da nossa Congregação é pesada. Na nossa Província, os ‘padres’ eram verdadeiramente alguma coisa – na nossa cultura também. Daí resulta que temos sempre uma perceção de nós próprios que não me parece justa quando se analisa o ‘grupo de pobres’ que nós somos. Penso que os espiritanos são, em si mesmos, pobres. É verdadeiramente pena que não tomemos mais consciência disso. Isso ajudar-nos-ia a fazermo-nos mais próximos dos pobres na nossa maneira de ser e no nosso estilo de vida. Infelizmente, não é o caso. Temos muita dificuldade em mudar as nossas estruturas, pelo menos na minha circunscrição”. (X29) Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 34 9º Dia - Se o grão lançado à terra não morrer … No ano 2000, o Pe. Brian Fulton, cssp, começou a preparar-se para trabalhar no Vietnam e dois anos mais tarde partiu para este país. Quase na mesma altura, a partir de 1995, padres e seminaristas vietnamitas refugiados foram recebidos na Província dos Estados Unidos. De Roma, o cardeal vietnamita Francisco Xavier Van Tuan pediu à Congregação para tomar em consideração a fusão de uma congregação local vietnamita. Durante este tempo, um confrade de Taiwan começou um programa de ajuda à escolarização de crianças pobres em Hé, no centro do Vietnam. Brian era um missionário experimentado. Empenhou-se na aprendizagem da difícil língua vietnamita e trabalhou como representante de uma ONG (Auteuil Internacional) para pôr a funcionar uma escola profissional para filhos de leprosos. Em 2005, Brian estava confiante: foi decidido estabelecer-se uma comunidade espiritana em Saigão e tentar estabelecer contactos com a Igreja local. Mas, a 2 de fevereiro de 2006, Brian morreu, devido a uma paragem cardíaca. Foram em vão todos estes esforços? Os confrades decidiram colocar todos estes projetos apenas nas mãos do Senhor. E no momento das exéquias de Brian na catedral de Saigão, o Arcebispo convidava oficialmente ‘outros missionários como o Pe. Brian’ a vir trabalhar na sua diocese. Presentemente, temos 4 confrades no Vietnam, originários da Europa e Vietnamitas dos USA, a trabalhar na formação; 12 jovens fizeram a sua primeira profissão nos últimos dois anos, e há mais 20 em formação. Palavra de Deus (Jo. 12, 24-26) Em verdade vos digo : se o grão de trigo lançado à terra não morrer, fica só; mas se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á; quem a perder neste mundo guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém quer servir-me, que me siga; lá onde eu estiver, estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. Na saúde e no trabalho, não nos esqueçamos de preparar a entrega de nós mesmos, progressiva e plena, até à morte. As experiências de fragilidade levam-nos a apoiarmo-nos mais no amor e no poder divinos. Um confrade que fez quimio e esteve em coma aprendeu a estar ‘nas mãos do Senhor’ que o conduz – aprendeu a deixar-se trabalhar confiadamente. Recebemos de Deus a nossa identidade espiritana, imitando o abandono de Libermann, confiados no Deus que nos guia. Tentamos não pôr obstáculos à ação do Espírito, vivendo em comunidade sob a orientação do Espírito Santo, conscientes da ação do Espírito em nós mesmos e nos outros. A coragem para nos comprometermos na missão de Deus, apesar da consciência das nossas limitações, vem-nos do acolhimento do projeto de Deus para as nossas Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 35 vidas e da fé que isso requer. Consultamos a nossa caminhada pessoal e a nossa história comum para discernir a fidelidade de Deus: fortalecemo-nos recordando que foi Deus que nos chamou; acreditamos que é Deus quem conduz a nossa história. Informações suplementares : A congregação vietnamita continua parceira dos Espiritanos para o programa de escolarização em Hué, mas a fusão saiu da ordem do dia. Os candidatos espiritanos vietnamitas irão fazer o seu estágio missionário fora, para fazerem a experiência da missão espiritana em países que respeitam a liberdade religiosa. Está em estudo um compromisso missionário no Vietnam. O nome de Monsenhor Edmé Bennedat, discípulo de Poullart des Places, formado no Seminário do Espírito Santo e missionário na Cochinchina de 1736 a 1762 continua visível no memorial do Centro Pastoral de Saigão. Antes do nosso tempo, a partir de 1733, 6 espiritanos foram missionários no Vietnam, o último dos quais em Tonkin (Vietnam do Norte) foi Pedro Blandin, entre 1778 e 1787 - era sobrinho do Pe. Becquet, o 3º sucessor de Cláudio Poullart des Places. Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos: - A vida simples de Poullart des Places e de seus sucessores: “O meu sonho para a Congregação é a renovação da vida pessoal de cada confrade; daí resultará uma vida comum muito mais simplificada e fraterna. Sem uma redescoberta daquilo que permitiu a Cláudio Poullart des Places e a Libermann fundar e acompanhar a sua congregação, a nossa opção por e com os pobres nunca acontecerá. Precisamos redescobrir e viver a pobreza como a virtude fundamental da nossa Congregação querida por Cláudio Poullart des Places e que ele tão bem pôs em prática. De rico que era, despojou-se de tudo, fez-se pobre. Não será possível um compromisso verdadeiro e durável em favor e com os pobres, sem esta pobreza fundamental, englobando uma forma de pobreza material, uma maior simplicidade de vida, uma renúncia a quanto é supérfluo, a todas as habilidades para enriquecer, uma honestidade a toda a prova, sempre pronta a prestar contas em responsabilidade pessoal. Sem ela, não é possível a humildade e a nossa disponibilidade para viver e servir os pobres lá onde nos quiserem enviar é uma ficção. O ‘a longo prazo’ torna-se rapidamente ‘a curto prazo’. A afetação missionária transforma-se rapidamente em primeira afetação. Se procurarmos viver o nosso carisma, então uma vida pobre no meio dos pobres não mais nos meterá medo; pelo contrário, escolhê-la-emos e consideraremos como uma espécie de ‘sacrifício’ aceitar não sermos enviados. Se vivemos do Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 36 carisma dos fundadores, numa renovação permanente, o que tento fazer e que redescobri graças aos escritos postos à nossa disposição a partir do 300º aniversário da nossa Congregação, o povo de Deus procurar-nos-á para nos solicitar partilhar esta grande riqueza de uma vida simples e humilde, ao mesmo tempo laboriosa e alegre, do discípulo de Cláudio Poullart des Places e dos seus corajosos sucessores. Tento quanto possível simplificar a minha vida. Simplicidade de vida que abre para a disponibilidade, para o acolhimento do imprevisto.” (E23) - O Espírito trabalha em nós: «Que é que significa ser Espiritano? Ser espiritano é em si a expressão de uma espiritualidade, se por ‘espiritualidade’ entendemos uma visão do mundo particularmente inspirada por Cristo ressuscitado e uma atitude específica inspirada pelos valores do reino. Ser espiritano é também um rito vivido em comunidade que nos liga também ao espírito dos nossos antepassados espiritanos. Esta inter-conectividade define-nos como comunidade. O Espírito trabalha em nós quando traduzimos aquilo em que acreditamos naquilo por que trabalhamos. Tocamos o Espírito quando nos enraizamos no sonho dos fundadores. Este Espírito torna-se um protesto ativo contra as condutas e ações que são contrárias aos valores da justiça, da compaixão e os outros valores do Reino. Ser espiritano é uma convicção que brilha nos desafios da vida quotidiana. A convicção é antes de mais pessoal, mas contribui também para o ‘ethos’ comunitário.” (E06). - Ser eucaristia para os outros: “Consegui ficar fielmente empenhado na minha vocação e na missão sobre a base da convicção pessoal, da disponibilidade para ultrapassar a minha própria cultura, com paciência e perseverança, e com a oração pessoal. O apoio da comunidade, onde encontrei uma existência fraterna, foi outro apoio sólido. O estágio missionário que fiz num contexto transcultural foi um momento capital para redefinir a minha identidade como espiritano. Foi a partir de uma tal experiência que compreendi de uma forma existencial que a minha identidade de espiritano está baseada na compreensão de ser ‘Eucaristia’ para os outros, sobre a rutura de si próprio para que outros possam ter vida e vida em abundância, como disse Jesus. A minha compreensão do carisma espiritano e da missão da Igreja de que faço parte é ser agente de transformação – transformar o pensar das pessoas. Antes de mais, como formador, sinto que sou chamado a transformar a vida dos jovens que me estão confiados, para que possam tornar-se verdadeiramente ‘Eucaristia’ para os outros, através do exemplo da minha vida e de outros s diversos contributo. Noutros domínios exteriores à formação, onde a maioria dos confrades estão envolvidos, penso que a sua vocação e a sua missão é igualmente transformadora, quer seja na área da educação, da pastoral, da primeira evangelização, da saúde, da justiça e paz, etc.” (X19). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 37 - Mais realista sobre identidade e vocação: “É verdade que a compreensão da minha identidade e da minha vocação mudou com o tempo. Tornei-me mais realista. Pensava que ia encaminhar muitas pessoas para o Cristianismo, baptizando-as para que fossem ’salvas’. Estava convencido que Cristo é o único salvador e que a minha obrigação era fazer com que todos o compreendessem e acreditassem nele. Pensava que, com os meus esforços, ia mudar as situações difíceis de conflito e apoiar-me na convicção de que como espiritano sou o advogado e defensor dos pobres e dos fracos. Mas, com o correr dos anos, convenci-me que as pessoas e as situações são tão complexas que requerem paciência e tolerância, e que, muitas vezes, as soluções só chegam pela intervenção de Deus. Quero convencer-me que só posso dar o meu pequeno contributo e que Deus fará o resto. Vi que o número de crentes de outras religiões não cessa de aumentar. No princípio, quando ainda era um jovem espiritano cheio de entusiasmo e de zelo, esta tendência aborrecia-me, mas com mais idade, começo a apreciar a fé das outras pessoas e compreendi que o Espírito de Deus é o ator principal e que é ele que conduz os acontecimentos do mundo. No que me diz respeito, sou apenas chamado a esforçar-me por dar testemunho de Cristo através do empenho em viver uma vida virtuosa e as pessoas doutras religiões verão a luz do Evangelho na nossa fé e nos valores em que acreditamos.” (E24). Novena Poullart des Places 2014 Ventos do Oriente Pag. 38