Novena 2014 Poullart PORT

Transcrição

Novena 2014 Poullart PORT
CONGREGAZIONE DELLO SPIRITO SANTO
CLIVO DI CINNA, 195 - 00136 ROMA, ITALIA
IDENTIDADE E VOCAÇÂO ESPIRITAN A
02 OUTUBRO 2013 – 02 FEVEREIRO 2015
AC - I/11/09-2014 - PO
Ventos do Oriente
Novena Espiritana
com Cláudio Francisco Poullart des Places
De terça-feira 23 setembro à quarta-feira 1 outubro 2014
Novena Poullart des Places 2014
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Títulos dos Nove Dias
1.
Nas origens de uma identidade missionária
A Palavra de Deus (At 10,1-6); meditação: Começar por dar graças
Informações suplementares: Até ao fim do mundo
Testemunhos: O carisma dos nossos fundadores hoje (X27)
De um pequeno mundo a um mundo mais vasto
2.
Desafios missionários e respostas
A Palavra de Deus (Jo 12,44-47); meditação: Abre os nossos olhos, Senhor!
Informações suplementares: Patronato, Propaganda e MEP
Testemunhos: Evangelizar os evangelizadores (E24)
O mandato missionário (W24)
Tornar-se louco (W09)
3.
Onde quer que vá: Pense como se fosse de lá
A Palavra de Deus (Fil 2,3-7); meditação: Servidores à imagem de Cristo
Informações suplementares: sensibilidade cultural, já
Textos: Inspirados numa família (Cap. Maynooth, 3. Missão como fonte de inspiração, 1998)
Crise, oportunidade (X29)
Curioso de outros (W34)
4.
A Linguagem do coração: Edmé Bennetat na Cochinchina
A Palavra de Deus (Jo 1,6-8.14-15); Meditação: comunicar uma experiência de Deus
Informações suplementares: anunciar com facilidade
Testemunhos: Linguagem do amor (W18)
As experiências mudam-nos (E23)
Transmitir a Palavra de Deus (X29)
Anunciar Jesus Cristo (W17)
Falta de confiança em si e apoio no Espírito Santo (W18)
Doença e Graça (W35)
5.
Colaboradores no campo do Senhor : Luís Devaux no Vietname
A Palavra de Deus (Jo 15,14-17); meditação: Colaborar em comunidade
Testemunhos: Partilha comunitária e projeto missionário (E09)
O desafio da diversidade (X217)
Amor fraterno (X27)
Educação para os pobres (X21)
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6.
Refugiado entre os refugiados. Guilherme Piguel no Camboja
A Palavra de Deus (2 Cor 3,2-6) ; meditação : Viver com qualquer outro
Informações suplementares
Encontro intercultural
Formação do clero local
A sua espiritualidade
Testemunhos: Trabalho paroquial e comunidade (W17)
Pecado original de desunião (X13)
Opção pelos pobres (E22)
Espiritanos na Igreja local (E17)
7.
Um semeia, outro colhe : Francisco Pottier no Sichuan
A Palavra de Deus (1Co 9: 14…22) ; Meditação : Pobreza, fé e discernimento responsável
Informações suplementares
Conselho do padre Chinês André Li
Missionários traçam o seu retrato
Testemunhos: Fidelidade no meio das mudanças (X24)
Com as comunidades de base e os pobres (W10)
Trabalhar com alegria e confiança no Espírito Santo (W18)
Com os pobres (W34)
8.
Nova missão, desafios antigos: nova iniciativa na Ásia
A Palavra de Deus (At 4,31-35); meditação: consciente da nossa cultura
Informações suplementares: definir prioridades
Testemunhos: Renovação da nossa vida espiritual (E09)
Escuta do Espírito e sacrifício(X17)
Simplificar o nosso estilo de vida (X29)
9.
Se o grão caído na terra não morre. Brian Fulton no Vietname
A Palavra de Deus (Jo 12,24-26); meditação: abandono
Informações suplementares: memorial Bennetat
Testemunhos: A vida simples de Poullart des Places e seus sucessores (E23)
O Espírito em ação em nós (E06)
Ser eucaristia para os outros (X19)
Mais realista sobre identidade e vocação (E24)
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Introdução
'O carisma espiritano é um dom que resplandece através da vida dos nossos fundadores
e de outros Espiritanos, dom que nos toca e enriquece. Levanta-nos o desafio de permanecer
fiéis, numa época em que o apelo à autenticidade é um dos sinais dos tempos' (TA1,2004). O
redator desta novena foi convidado a escrevê-la numa perspetiva asiática e a incluir os temas
da Identidade da Vocação Espiritana.
Os testemunhos de confrades, citados tal qual e apresentados cada dia, foram
recolhidos em 2013 e 2014. Um deles escreve:
'As nossas histórias são sempre antigas e novas. A história dos homens, o repertório da
experiência humana repete-se de maneira previsível porque nos encontramos em circunstâncias
e situações similares, repetindo os mesmos erros, assustados pelo desafio de crescer, de ser
diferentes e de mudar. As histórias que encorajam, as narrações de provações e de fidelidade,
de desespero e de esperança, são abundantes.
O problema é que temos experiências e histórias, mas não refletimos bastante para
captar o seu sentido. Uma história/experiência sem reflexão é só uma experiência. Penso que
não apreciamos suficientemente as nossas diferentes experiências, tanto no plano pessoal
como no comunitário, para apreciar a sabedoria e as intuições extraordinárias e normais que
contêm. Escuto muitas histórias que narram factos sem os interpretar. Não há partilha de fé.
Não procuramos saber como as histórias que lemos na Escritura, ou as dos grandes homens e
mulheres que nos precederam, nos revelam a maneira como Deus trabalha em nós, tal como
fez no passado. Não penso que seja importante saber que história é contada, ou a quem
concerne; o que é importante é o sentido da história, a verdade descoberta, o medo exposto, o
desafio manifestado. Na minha maneira de ver, pouco importa que história é narrada desde que
a experiência seja ocasião de reflexão e o seu sentido desvelado' (W07).
Estes testemunhos e as reflexões oferecidas depois da Palavra de Deus procedem
principalmente de 'Conversas Espiritanas sobre a Renovação Espiritual no meio da vida'. A
pesquisa, os testemunhos e os estudos históricos são progressivamente publicados no
blog www.bythewell.org/spiritan-conversation
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Bibliografia
A apresentação histórica e as informações suplementares baseiam-se principalmente nos
artigos de Catherine Marin publicados em ‘Mémoire Spiritaine’.
Mémoire Spiritaine, n.17, (2003), p. 27 to 43. Catherine Marin : ‘Les premiers missionnaires
‘spiritains’ en Asie au XVIIIe siècle’
Mémoire Spiritaine 13. Alain Forest: La modernité d’une société missionnaire: les débuts des
Missions Étrangères de Paris.
Catherine Marin : ‘La redéfinition de la mission au XVIIe Siècle. Un texte fondamental de Rome :
les instructions aux vicaires apostoliques de 1659.’ pp. 167 ff de ‘La mer, la France et l’Amérique
Latine’, Paris Sorbonne, 2006.
Mémoire Spiritaine 1, (1995) : Catherine Marin: Edme Bennetat, Du Séminaire du Saint-Esprit à
la mission de Cochinchine.
Mémoire Spiritaine 11 (2000): Catherine Marin: ‘Monseigneur Guillaume Piguel (1721-1771),
vicaire apostolique du Cambodge’
Mémoire Spiritaine 18 (2003), pp. 115-123. Catherine Marin: Monseigneur Louis-Marie Devaux
(1711-1756). Du séminaire du Saint-Esprit à la mission du Tonkin
Biographie de François Pottier sur le site MEP. http://eglise.mepasie.org
P. Jean Charbonnier, mep : La catéchèse du prêtre Chinois André Li (1692-1775) dans la
province du Sichuan [ bulletin eda n° 337 ] 16/09/2001 http://eglise.mepasie.org
Henri Koren. The Spiritans. Pp. 45-50. (sur Pottier)
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Sugestões para a celebração desta Novena
Começar com a oração calma do tradicional Ato de Consagração ao Espírito Santo
utilizada na Congregação:
"Ó Espírito Santo, divino Espírito de luz e de amor, consagro-vos a minha inteligência, o
meu coração e a minha vontade, todo o meu ser, para o tempo e para a eternidade.
Que a minha inteligência seja sempre dócil às vossas inspirações e ao ensino da santa Igreja
católica, de quem és o guia infalível; que o meu coração esteja sempre inflamado do amor
de Deus e do próximo, que a minha vontade seja sempre conforme à vontade divina, e que
toda a minha vida seja uma imitação fiel da vida e das virtudes de Nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo, a quem, com o Pai e convosco, ó Espírito Santo, seja dados honra e louvor para
sempre. Ámen".
Numa celebração comunitária:
Se a novena é unida à celebração da Liturgia das Horas:
-
Ler só a primeira página de cada dia: introdução histórica, Palavra de Deus, meditação
Depois do Pai-nosso, rezar juntos o Ato de Consagração ao Espírito Santo
Se a celebração é centrada na novena (45’) :
-
-
Hino apropriado para o tema do dia
Ler a introdução histórica
Um salmo da Liturgia das Horas
A Palavra de Deus
Cada um é convidado a ler em silêncio seja a meditação ou o(s) testemunho(s), com
uma pergunta para orientar, por exemplo: Que parte me parece refletir a minha
identidade e a minha vocação? Tenho uma (várias) experiência similar? Como
reconheço nela a presença do Espírito Santo? Que parte nos interpela particularmente
como comunidade e poderia ser integrada na agenda duma próxima reunião de
comunidade?
Intercessões livres
Pai-nosso
Depois do Pai-nosso, rezar juntos o Ato de Consagração ao Espírito Santo
Oração de conclusão tirada da Liturgia das Horas
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1º dia: Nas origens duma identidade missionária
Em 1701, Cláudio tem 22 anos. Entra no
Colégio jesuíta Luís-o-Grande de Paris, a fim de
estudar filosofia e teologia e preparar-se para a
ordenação presbiteral. Neste colégio, faz parte de
um pequeno grupo de estudantes reunidos pela
secreta pertença à Assembleia de Amigos ('AA').
Quarenta anos antes, um dos membros desta
associação contribuiu para a fundação da
Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris (1685,
'MEP'), que enviará missionários para o Extremo
Oriente. A AA de Luís-o-Grande conserva esta
orientação para a evangelização do 'ultramar', para
a formação espiritual do clero e para o amor da
pobreza. Guarda também a orientação para a
missão na Ásia. Além disso, o colégio jesuíta é
também a sede da procuradoria das missões da
Ásia e o lugar onde se recebem as cartas dos missionários jesuítas na China: a partir de 1702,
estas cartas são publicadas no boletim 'Cartas edificantes e curiosas', propagando o interesse
pela China e apelando a apoiar a missão com oração e esmolas. Educado pelos jesuítas, Cláudio
não pode ter ignorado esta dimensão do seu compromisso, ao ler as descrições vivas dos povos
e das culturas feitas pelos missionários.
A Palavra de Deus (Atos 10,1-6)
Havia em Cesareia um homem de nome Cornélio, centurião da coorte itálica. Piedoso e
temente a Deus, como aliás toda a sua casa, dava largas esmolas ao povo e rezava
continuamente a Deus. Teve uma visão, cerca da hora nona do dia, e viu, distintamente, o anjo
de Deus a entrar, aproximar-se dele e dizer-lhe: «Cornélio!» Fitando neles os olhos, cheio de
medo, respondeu: «Que é, Senhor?» «As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença
de Deus, respondeu o anjo, e Ele recordou-se de ti. E agora, envia homens a Jope e manda
chamar um certo Simão, conhecido por Pedro. Está hospedado em casa de um certo curtidor,
cuja casa está situada junto do mar».
Ao começar a nossa novena de oração antes do 305º aniversário da morte do nosso
fundador Cláudio Francisco Poullart des Places, somos convidados a renovar o desejo de ser
missionários, e a estar em comunhão com aqueles que dão testemunho do Evangelho no
Extremo Oriente, bem como nos outros continentes. Podemos começar por fazer memória
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daqueles que nos abriram o coração para o desejo de ser missionários, e assim dar graças a
Deus por nos ter falado através deles. Podemos também partilhar, hoje, com membros da
nossa comunidade, sobre as origens da nossa vocação missionária.
Informações suplementares
Em 1703, com a fundação do Seminário do Espírito Santo, os estudantes do Seminário
têm aulas de filosofia e teologia no colégio Luís-o-Grande e também eles leem muito
provavelmente relatos concernentes às missões na Ásia. O próprio Cláudio tinha o desejo de ir
para as missões a fim de 'converter as almas a Deus', mas acabou por dar prioridade à formação
de padres que realizariam o sonho do fundador em França, nas colónias francesas, hoje no
Canadá, na Guiana, no Senegal, e de 1733 a 1792, no Extremo Oriente. O Seminário é assim
descrito: '(é) como um corpo de tropas auxiliares, prontas a irem para qualquer parte onde for
preciso trabalhar pela salvação das almas, devotando-se de preferência à obra das missões, seja
estrangeiras, seja nacionais, oferecendo-se para residir nos lugares mais pobres e mais
abandonados, e para os quais mais dificilmente se encontram pessoas. (…) mesmo que seja
preciso atravessar os mares e ir até ao fim do mundo para ganhar uma alma para Jesus Cristo, a
sua divisa é: eis-nos prontos para executar as vossas vontades: ecce ego, mitte me (Is 6,8)'.
Podemos também ler e partilhar sobre um destes testemunhos:
O carisma dos nossos fundadores, hoje: 'Se olhamos um pouco a congregação hoje,
percebemos cada vez mais a sua internacionalidade bem assegurada, a sua
multiculturalidade, mas estamos conscientes de que o seu carisma e a sua identidade (nascido
num contexto histórico particular, o dos nossos fundadores) é também «universal», porque
nascido numa Igreja universal sob o impulso do próprio Espírito Santo, que age em cada
homem, em cada tempo e em cada cultura. (…) Situamo-nos bem no seguimento destes dois
fundadores cuja visão e carisma compreendemos bem, a partir da sua história pessoal, da sua
época. Devemos referir-nos constantemente à sua personalidade e história para compreender
o nosso próprio compromisso. Mas se me comprometo hoje, 310 anos depois deles, é porque
creio que a sua identidade e vocação é «para além do tempo» um apelo a viver hoje num
contexto, numa época, em culturas diferentes. É um pouco isto o nosso testemunho de vida
intercultural. Deus age em nós e através de nós, e pede-nos o mesmo testemunho e
compromisso que pediu aos nossos fundadores num contexto, numa época, em culturas
diferentes' (X27).
De um pequeno mundo a um mundo mais vasto: 'Depois de terminar a minha formação
inicial, há mais de 27 anos, tive dificuldade em passar do que eu chamaria 'um pequeno
mundo' a 'um mundo mais vasto' e ilimitado em termos de povos, diversidades culturais,
internacionalidade da congregação, tipos de ministério, encontro visível com os pobres e os
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marginalizados. Estes contribuíram muito e apoiaram-me no meu compromisso com a
vocação espiritana. Algumas vezes, senti-me ultrapassado pelo nível de pobreza das gentes
que sirvo, em particular agora que sou bispo de Samé, que é uma diocese muito pobre,
caracterizada pela seca e a falta de água. Chove tão pouco e o que quer seja que as pessoas
plantem murchará; quase todos os anos as pessoas cultivam a terra e plantam, mas não
colhem quase nada. Confrades e outras pessoas como a Madre Teresa inspiraram-me com as
suas ações e o testemunho da sua vida. Por exemplo, a Madre Teresa de Calcutá disse: 'Daivos totalmente a Deus. Deus servir-se-á de vós para realizar grandes coisas com a condição de
que acrediteis mais no seu amor do que na vossa própria fraqueza'. Estas palavras
encorajaram-me muito, especialmente quando me senti desanimado e desesperado. Desde
que decidi apoiar-me na divina Providência e no seu amor, consigo ultrapassar a fraqueza da
minha fé. Nestes momentos, repito a mim mesmo o refrão do ano da Fé, tirado do Evangelho
de São Lucas, que é um grito dos Apóstolos: 'Senhor, aumentai a nossa fé!' (Lc 17,5)'. (E24).
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2º dia: Desafios missionários e respostas
Desde 1622, a organização das missões conheceu grandes mudanças. É neste contexto
que Cláudio e os estudantes do Seminário do Espírito Santo fazem a sua formação no colégio
Luís-o-Grande. As questões missionárias da época podem parecer-nos familiares: falta de
missionários, contra testemunhos, colaboração entre congregações, confusão entre a
imposição da forma da Igreja da sua própria cultura e a mensagem evangélica, relações com
as autoridades e o clero local, formação, opção pelos pobres ou pelos ricos, clericalismo e
colaboração com os leigos, apoio material da missão. Em 1704, a posição de tolerância dos
jesuítas a respeito dos ritos chineses concernentes aos antepassados é condenada pela Santa
Sé. Tratava-se tanto de uma questão de inculturação como de relação entre congregações
missionárias.
A Palavra de Deus (Jo 12,44-47)
Erguendo a voz, Jesus disse: «Quem acredita em mim, não é em mim que acredita, mas
naquele que me enviou; e quem me vê a mim, vê aquele que me enviou. Eu vim como luz ao
mundo, para todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. E alguém ouvir as
minhas palavras e as não guardar, não sou Eu que o condeno, porque não vim para condenar o
mundo, mas para o salvar».
Recebemos o mandato de pregar a Boa Nova e ajudar a restaurar a dignidade dos mais
abandonados.. Isto obriga-nos a aproximar-nos e a encontrar-nos respeitosamente com a sua
experiência com um olhar de amor. Sem um testemunho autêntico do poder transformador de
Deus em ação na nossa colaboração, arriscamo-nos seja a utilizar os pobres para nossa
autojustificação, seja para nos retirarmos para uma aposentadoria confortável. A insegurança
causada pela saída da nossa zona de conforto requer uma união prática pessoal e sólida, a fim
de permitir que Deus abra os nossos olhos e nos ilumine, para vermos que o Espírito Santo já
está em ação fora dos nossos espaços paroquiais.
Informações suplementares
Em 1622, foi criada a Congregação Romana para a Propagação da Fé, para promover a
renovação iniciada no Concílio de Trento, e para contornar o monopólio de Portugal e de
Espanha sobre as orientações missionárias e a organização da Igreja. Em 1653, o missionário
jesuíta Alexandre de Rodes veio do Vietname para a Europa a fim de se bater em favor do envio
de bispos que pudessem ordenar um clero local capaz de apoiar as suas comunidades no meio
das perseguições. A Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris ('MEP') tinha sido fundada em
1658 e os Vicariatos Apostólicos do Vietname (Tonquim e Cochinchina) e da China tinham-lhe
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sido confiados. Tinham recebido 'Instruções' romanas, precisando o mandato e o método que
deviam orientar também os primeiros espiritanos que partiram para a Ásia, e, mais tarde,
inspirar o 'Memorando' de Francisco Libermann à Propaganda Fide. Os MEP creem firmemente
que as conversões a Cristo só podem ser fruto da santidade dos missionários, mais do que dos
'meios humanos' privilegiados pelos jesuítas. Este apelo à santidade traduz-se na importância
primordial dada à meditação, que impressionará inclusive os monges budistas Thaï que
encontram os missionários. Os MEP enviarão 106 missionários para a Ásia entre 1658 e 1709, e
ainda hoje continuam a enviar.
Podemos também ler e partilhar sobre um destes testemunhos:
Evangelizar os evangelizadores: 'Ao longo destes anos, a minha vocação espiritana
atravessou altos e baixos, desafios postos à minha vocação de religioso e de missionário. (…)
O outro grande desafio é 'como evangelizar os evangelizadores?' Muitos confrades Africanos
estão atualmente afetados nas províncias da Europa e da América do Norte. Isto vem da
compreensão de que a missão é contextual , que a missão está em toda a parte. No entanto, o
problema que permanece, é que os estereótipos das pessoas não mudaram. Leva tempo a
partilhar com elas e fazê-las adotar a nova teologia da missão. Como posso evangelizar o
evangelizador, isto é, como Africano, como posso levar a Boa Nova às Igrejas do hemisfério
norte? Segundo a minha experiência, muitas pessoas do norte pensam ainda que os
'territórios das missões' são as Igrejas do hemisfério sul. Com o conceito de 'estereótipos',
quero dizer que há conceções culturais que não representam nem a realidade nem a verdade.
O mundo mudou e a divisão norte-sul já não corresponde à realidade. A missão pode ser em
toda a parte e o velho conceito de 'territórios de missão' pode aplicar-se a todos os lugares,
tanto ao Norte como ao Sul' (E24).
O mandato missionário: 'A minha visão da congregação e o que me continua a
motivar em tudo o que faço, é o mandato evangélico de ir proclamar aos confins do mundo o
Reino de Deus. Este Grande Envio é tão válido hoje como foi no passado. Dois terços da
população do mundo não recebeu sequer um primeiro anúncio do Evangelho de maneira
concreta (e podemos pôr-nos inclusive a questão em relação à terça parte que é batizada).
'Missionário' tem a mesma raiz que 'mensageiro', que representa o que somos. O resto é um
meio para este fim. Se nos concentramos na metodologia - seja a vida comunitária, seja a vida
de oração, seja a espiritualidade, o que quer que seja, até 'os pobres' - comprometemo-nos
numa forma de narcisismo, que é a tendência da nossa época moderna e cínica. Os objetivos a
curto prazo e as soluções não podem substituir uma visão a longo prazo. Durante algum
tempo, o Papa Bento XVI falava de uma Igreja fechada, de um pequeno rebanho. (…) A minha
preferência recai no Papa Francisco: ide a todos os povos, línguas e nações sem número, que
aportem todas as suas riquezas e talentos à celebração comum do mistério do amor e da
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misericórdia de Deus. O mundo interior do espírito encontra o vasto mundo da ação, da
incarnação, que é a realidade que celebramos liturgicamente (no Natal) (W24).
Tornar-se louco: 'O meu sonho? Que nos tornemos loucos como Poullart e Libermann. A
meu ver, isto começa por uma séria revalorização da nossa vida espiritual. Se esta vai bem,
"optaremos" pelos pobres e o nosso carisma tornar-se-á ainda mais radiante' (W09).
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3º Dia: Onde quer que vá: Pense como se fosse de lá
Entre 1730 e 1778, 13 estudantes do Seminário do Espírito Santo, depois de terminar a
sua formação, entraram na Sociedade das Missões Estrangeiras em Paris ('MEP') a fim de serem
enviados para a Ásia. Durante alguns meses de preparação antes da partida, tiverem que copiar
à mão as 'Instruções aos Vigários Apostólicos' dadas em 1659 pela Propaganda Fide aos
primeiros vigários apostólicos enviados para a Ásia, os fundadores dos MEP. Na época, estas
orientações foram explicitamente destinadas a todas as missões e a todos os missionários.
Podemos ainda fazê-las nossas? As duas ideias principais: 1. Adaptação: O missionário, que
deve ser cuidadosamente escolhido e formado, deixa a Europa para evangelizar, fundar e
fortificar as Igrejas locais e não para prolongar as Igrejas da Europa nas missões. O fim é
anunciar o Evangelho, e não exportar um modo de vida. Notamos a modernidade do
reconhecimento das culturas e dos costumes que o missionário deve respeitar, nas quais se
deve inculturar. 2. Igreja local: O missionário vai evangelizar um povo tendo, como prioridade
fundamental, a formação de um clero indígena que progressivamente substitua os missionários
europeus.
A Palavra de Deus (Fil 2,3-7)
Nada façais por espírito de partido ou por vanglória, mas, com humildade, considerai os
outros superiores a vós mesmos, sem atender cada um a seus próprios interesses, mas aos dos
outros. Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus: Ele que era de
condição divina não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus, mas despojou-se a si
mesmo, tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens.
Chamados e segregados, nós, Espiritanos, somos consagrados para juntar-nos a irmãos a
caminho com todos os povos. Partilhando as dores de crescimento, somos misteriosamente
mandatados para comunicar a vida divina, para levar as bênçãos do Pai a todos os seus filhos.
Seguimos Jesus e somos continuamente testemunhas do poder do seu ensino e do seu
ministério de cura. Somos servidores para a libertação de todas as opressões. Somos quebrados,
para permitir a outros serem em plenitude. A nossa impotência ajuda-nos a fazer a experiência
da compaixão de Deus e da comunhão com os pobres. Aprendemos pouco a pouco a pôr-nos
nas mãos de Deus, e a afastar os obstáculos à ação do Espírito em nós. Identificamo-nos, assim,
com os mais pobres e somos levados a fazer a experiência do amor preferencial de Deus por
eles, por nós e por todos.
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Informações suplementares
Que há de mais absurdo? 'Não ponhais nenhum zelo, não avanceis nenhum argumento
para convencer estes povos a mudar os seus ritos e os seus costumes, desde que não sejam
contrários à religião e à moral. Que há de mais absurdo do que transportar para os Chineses a
França, a Espanha, a Itália ou qualquer outro país da Europa? (…) Está, por assim dizer, inscrito
na natureza de todos os homens estimar, amar, pôr acima de toda a gente as tradições do seu
país, e o seu próprio país. Não há também causa mais poderosa de afastamento e de ódio do
que introduzir mudanças nos costumes próprios duma nação, principalmente àqueles que
foram praticados tão longe quanto remontam as recordações dos anciãos… (…) Não introduzais
no deles o nosso país, mas a fé, esta fé que não rejeita, nem fere os ritos nem os costumes de
nenhum povo, desde que não sejam detestáveis, mas, ao contrário, quer que os guardemos e
protejamos. (…) Não coloqueis nunca em paralelo os usos destes povos com os da Europa; ao
contrário, apressai-vos a habituar-vos a eles. Admirai e louvai o que merece louvor. Quanto ao
que não o merece, se não convém ostentá-lo ao som de trombeta como fazem os lisonjeadores,
tereis a prudência de não julgar'.
A tarefa principal dos Vigários Apostólicos é trabalhar na edificação de uma comunidade
cristã que assegura progressivamente a sua autonomia mediante a formação de um clero
indígena e a nomeação de um bispo indígena a mais ou menos breve prazo. 'Tende sempre este
fim diante dos olhos: levar até às ordens sagradas o maior número possível e das mais aptas
pessoas, formá-las e fazê-las avançar cada uma a seu tempo' (Instruções da Propaganda Fide
aos novos Vigários Apostólicos, 1659).
Podemos também ler e partilhar um dos textos:
Inspirados numa família: «Várias vezes, aqueles que apresentaram experiências designaram os
homens e as mulheres no meio dos quais viviam como fonte fundamental da sua inspiração. A
presença e a ação do Espírito podem ser discernidas na vida destas pessoas, especialmente nos
pobres e oprimidos. Eles inspiram-nos com a sua hospitalidade, simplicidade, generosidade e
profunda fé. Quanto mais nos identificamos com eles e com o seu sofrimento, mais
compreendemos o Evangelho que pregamos (RVE 24.1). Isto exige de nós reavaliar o nosso
estilo de vida e trabalhar com eles contra as estruturas opressivas. Neste serviço e fraternidade,
sentimo-nos mais próximos de Jesus e da Boa Nova do Reino. Encontramo-nos fazendo parte
duma nova e mais vasta família, recebendo energias inesperadas, nos momentos difíceis, da
parte daqueles com quem vivemos e trabalhamos» (Capítulo de Maynooth, 3. A missão como
fonte de inspiração, 1998).
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Crise, uma oportunidade : 'Nas diferentes etapas da vida (e, em última instância, na
existência) fazemos continuamente uma "extração"… O que quereríamos ser, o que gostaríamos
de ser, os planos que poderíamos fazer, a doença, a morte, os compromissos assumidos e os que
mais desejaríamos, a relação com os outros, as diferenças que ás vezes nos aparecem como
desafios ou então mortes a nós mesmos para bem dos outros, etc. são possíveis lugares de
experimentação daquilo que o próprio Cristo viveu na sua vida. O dom que fazemos passa por
tudo isto.. O plano de Deus sobre nós passa também por isto, e não apenas na nossa ação
"querida" (no sentido de planificação) em favor dos outros. Talvez até o nosso testemunho
como missionários passe mais pela nossa maneira de ser no mundo do que aquilo que fazemos
(embora uma coisa não exclua de modo algum a outra). Às vezes inventamos estruturas para
"planificar a nossa missão" (e imagino que são precisas). Mas os lugares privilegiados são a
própria vida; organizar-nos para viver com outros quem quer que sejam, simplesmente: estar
em família, trabalhar para alimentar-nos, trabalhar juntos por uma justiça maior entre os povos
e as nações, nas cidades e bairros em que habitamos, etc…. O próprio Cristo não foi senão
aquilo que a vida (sem dúvida, querida por Deus) lhe concedeu ser e ali onde a vida O colocou, a
sua família, os seus amigos, os seus compatriotas, o seu povo, os outros povos e sua religião, etc.
Neste sentido, ouso esperar que um dia a vida religiosa mudará… Mas isto é outro assunto…'
(X29).
Curioso de outros: 'Vivi num certo número de
grandes comunidades (4) que eram multiculturais e
internacionais e achei-as estimulantes. Sei que outros
as acham difíceis, e é por isso que penso que se deve
à minha personalidade: creio que tendo a ser aberto
aos outros e a aceitar as diferenças. Uni-me aos
espiritanos porque estava interessado noutros países
e povos. Tive a graça de poder viajar e servir num
certo número de países e participar, como espiritano,
em muitos encontros internacionais, pelo meu
trabalho numa ONG internacional. As culturas, as
línguas, os costumes, as práticas religiosas, outras
religiões, são outras tantas aventuras no meu
percurso. Isto pode parecer um pouco romântico,
mas é o que me dá uma verdadeira alegria, a 'alegria
de viver'. É também uma das atitudes que identifico
como sendo 'espiritana' (W34).
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4º Dia: A Linguagem do Coração
Os primeiros espiritanos a partir para a Ásia viajaram para Macau em 1733. Trata-se
de Guilherme Rivoal, para a missão da Cochinchina (Centro e Sul do Vietname) e Tiago de
Bourgerie que ficou em Macau. Edmé Bennetat devia ter 16 ou 17 anos, quando entrou no
Seminário do Espírito Santo. Quatro anos mais tarde, uniu-se aos MEP e em 1735 começou 7
meses de navegação para chegar à sua missão da Cochinchina. Encontrou lá uma comunidade
cristã que conheceu perseguições e congregações missionárias divididas entre si. Começou
por 16 meses de estudo da língua, e um ministério de confissões. Em 1737 foi colocado à
cabeça de 20 igrejas com 6000 cristãos dispersos pelas 5 províncias meridionais do Vietname.
O seu excelente domínio do vietnamita permitiu-lhe dialogar tanto com os mandarins como
tocar o coração das gentes simples com a sua pregação. Ficou lá até 1750.
A Palavra de Deus (Jo 1,6-8.14-15)
Surgiu um homem enviado por Deus, cujo nome era João. Veio como testemunha, para
dar testemunho da luz, a fim de todos crerem por seu intermédio. Ele não era a luz, mas veio
para dar testemunho da luz. E o Verbo fez-se homem e habitou no meio de nós, e nós vimos a
sua glória., glória que lhe vem do Pai, como Filho único, cheio de graça e de verdade. João dá
testemunho d'Ele e exclama, nestes termos: «Este é aquele de quem eu disse: O que vem
depois de mim passou à minha frente porque existia antes de mim».
Viver a vida apostólica requer discernir prioridades. É uma vida muito ocupada, e
somos urgidos pelas expetativas de crescimento daqueles que servimos. As urgências podem
levar-nos a confundir o que é urgente com o que é fundamental: temos por isso necessidade
de fazer um discernimento comunitário e uma abordagem integrada para responder às
necessidades próprias de cada contexto. A atividade apostólica pode dessecar a nossa vida
espiritual. Mas nós somos enviados a partilhar uma experiência espiritual. Quando a
formação inicial se focaliza no domínio académico, os confrades que começam o seu
ministério podem estar insuficientemente preparados para partilhar uma experiência
espiritual: não há, com frequência, ligação vital entre a sua pregação e a sua própria vida
espiritual. Como pode a nossa encarnação num lugar particular refletir-se nas palavras que
dizemos e na vida que vivemos?
Informações suplementares
No seu apostolado, o jovem missionário Edmé Bennetat é ajudado por catequistas
que, em geral, são casados, mas nem sempre bem formados. O seu papel é muito importante,
porque o catequista é o intermediário essencial entre o missionário e os cristãos: é ele que
assegura a formação religiosa dos cristãos, que prepara os neófitos, batiza na ausência do
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padre, enterra os defuntos; a sua casa é amiúde o lugar de reunião dos cristãos, antes da
construção da igreja. Um visitador apostólico escreveu a respeito dele em 1739: «É um
excelente padre, que olho como um santo. Sozinho, ele vale mais, ouso dizer, que todos os
outros missionários que estão atualmente na Cochinchina. Não se cuida, está esgotado; fala a
língua do país como se nele tivesse nascido, o que lhe permite pregar com frequência e dar
catequese». Ele destaca-se na pregação: «Este digno ministro do altar, verdadeiramente
apostólico… Acodem a ele para o escutar e ver. O povo faminto da Palavra de Deus… que
Bennetat anuncia com tanta facilidade, zelo e emoção, faz olhá-lo como apóstolo deste país.
Nós olhamo-lo como um santo, porque é um milagre contínuo fazer o que ele faz com a pouca
saúde que tem'. Em 1750, a perseguição atinge os missionários. Bennetat prefere ficar com as
suas comunidades a fugir em segurança. É preso, submetido a um tratamento cruel e expulso
para Macau. Enviado a Roma para resolver o problema da divisão entre as congregações
missionárias em Tonquim (Norte do Vietname), é nomeado bispo de Tonquim, mas morre em
Port Louis, hoje Maurícia, a 22 de Maio de 1761. O domínio da língua sem amor pelas pessoas
é como címbalo que ressoa: felizmente, o P. Bennetat deu-se à língua e ao seu povo, em
colaboração com os catequistas locais, e deu testemunho do dom de si pelos sofrimentos que
suportou.
Podemos também ler e partilhar sobre um destes testemunhos:
Linguagem do amor : 'A minha primeira grande dificuldade foi ficar doente depois de um
ano em África e ter de regressar à Europa: estava em vias de aprender a língua, de conhecer as
pessoas, e gostava muito do trabalho e da vida lá. Suponho que isto correspondia precisamente
ao que eu esperava da 'vida missionária'. Isto colmatava o meu desejo de viver com pessoas
pobres e simples e de trabalhar por elas de todas as maneiras possíveis. Que desastre quando
me disseram que devia regressar ao meu país para cuidar da saúde. Quando regressei,
mandaram-me trabalhar no seminário menor! Isto pareceu-me duro de engolir. Mas dei a isto o
meu melhor. Quatro anos mais tarde, apresentei a minha candidatura para o projeto que
começava no Paquistão e fiquei feliz por ter sido chamado' (W18).
As experiências mudam-nos: 'No decorrer dos anos, cada um de nós acumula
experiências seja no ministério que exerceu ou exerce ainda, seja nas responsabilidades que
assume na ou fora da congregação. Estas responsabilidades ao serviço de um determinado
povo ou de confrades mudam-nos profundamente, creio! Mesmo os erros e as quedas mudam o
nosso olhar e a perceção que temos da nossa fé em Deus, do mundo, dos outros, da
congregação e de nós mesmos. Estas diferentes mudanças que eu próprio vivi e continuo a viver
hoje convencem-me da necessidade de uma renovação espiritual permanente, adaptada à
nossa (minha) situação e à nossa (minha) idade' (E23).
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Transmitir a Palavra de Deus: 'Penso que, na minha vida religiosa, dois aspetos
poderiam expressar uma certo «sabor espiritano» no que vivi. Uma certa simplicidade na vida
de comunidade. Depois, haveria, uma maneira «original» de ler e transmitir a Palavra de Deus.
Não posso explicitar muito o que entendo por isto, porque nunca tirei tempo para parar e
refletir mais especificamente sobre isto. Mas no que concerne à vida simples de comunidade,
diria que é o contato direto e franco que temos uns com os outros. Não é perfeito,
evidentemente. Contudo, encontro espiritanos de toda a parte e não é nunca um problema falar,
comunicar, ser acolhidos. No que se refere à Palavra de Deus, penso que temos uma maneira
bastante única de fazer a ligação entre as realidades e a mensagem de Deus na Sagrada
Escritura. Ouvi com frequência homilias, textos, etc. e gosto da maneira que os confrades
espiritanos têm (em geral) de tornar humana e acessível a Palavra de Deus. Pode ser estranho
dizê-lo, mas para mim é isto' (X29).
Anunciar Jesus Cristo: 'Devemos anunciar Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, e proclamar o que Ele traz de novidade aos homens, é preciso que nós próprios
descubramos esta novidade. Devemos anunciar os mistérios de Jesus, sem os esvaziar do seu
conteúdo divino. Por exemplo, não reduzir o Natal apenas ao aniversário do nascimento de
Jesus. Digamos que Jesus é o Filho de Deus que se faz homem. Digamos que Deus nos ama.
Falemos de Deus. Não tenhamos medo de ser profundos nas nossas pregações. O Espírito Santo,
que ensina, está presente, e se as palavras saírem do nosso coração, as pessoas compreenderão.
Mas é preciso manter o nosso coração numa relação amorosa com Jesus, pela oração, a
eucaristia, o ofício, a leitura espiritual e o silêncio. Não esqueçamos também a renúncia e a
docilidade ao Espírito Santo' (W17).
Falta de confiança em si e apoio no Espírito Santo: 'Creio que sofri toda a vida de falta
de confiança em mim. O que é que me susteve em diferentes provações? - esperar sempre e
confiar no Espírito Santo que nos precede para preparar o caminho. Tomei também consciência
que as oposições que encontrei me forçaram sempre a procurar mais e mais amplamente
respostas. Nunca me permiti ficar abatido pelo desânimo. Só quando a porta estava
completamente fechada renunciava a uma ideia que me parecia boa. Portanto: perseverança,
coragem e confiança fundamental no Espírito Santo' (W18).
Doença e Graça: 'Pergunto-me: será que o 'momento' mais difícil foi o começo de 1990,
quando se constatou que eu tinha cancro dos ossos?
Sem dúvida, estava aterrado com esta doença, cujo tratamento durou ano e meio, na
Holanda. A quimioterapia parecia um combate de boxe de dez assaltos. Depois de cada assalto,
ficava praticamente KO; mas levanta-me de cada vez, e apresentava-me para o tratamento
seguinte. Brevemente: não posso dizer que esta provação corporal extrema não afetou a minha
identidade ou a minha vocação espiritana. Ao contrário, foi graças a esta pesada provação que
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comecei a compreender que o valor da nossa vida missionária depende menos dos nossos êxitos
que dos nossos fracassos. Fui convidado a aceitar (se possível com alegria) que é por meio das
provações de nos tornamos espiritanos (como aconteceu com Libermann, por meio da sua
'querida doença', a epilepsia). Uma vez curado, voltei aos Camarões em 1991, sempre para
junto dos Pigmeus Baka. Mas outra doença causou o meu regresso: atingido por diversas
doenças preocupantes. Contudo, assistido não somente por médicos e enfermeiros, mas
também pela minha família e confrades (inclusive com o sacramento dos enfermos e as suas
orações), voltei à vida, contra toda a esperança. Voltou inclusive a minha fé na vocação
espiritana, reforçada! Digamos que o momento mais difícil se transformou graciosamente em
novos horizontes.
Poderia dizer portanto aos confrades mais jovens que atravessam provações similares:
É fazendo o luto do teu projeto missionário pessoal do momento que descobrirás isto: o teu
'querido projeto' será transformado num projeto mais valioso. E é guiado por uma mão
maternal e outra paternal, que te tornarás o Espiritano que o Pai busca em ti, por meio do seu
projeto. Por outras palavras: (por Nelson Mandela) 'I am not a saint, unless a saint is a sinner
who keeps trying'. ('Não sou um santo, a menos que um santo seja um pecador que continua a
tentar'). Tentemos de novo ainda, e ainda' (W35).
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5º Dia - Colaboradores no campo do Senhor
Em dezembro de 1736, Luís Devaux embarcou para Macao, onde chegou no ano
seguinte após uma viagem sem história. Tinha entrado para o Seminário do Espírito Santo aos
19 anos de idade e aí estudou durante 5 anos, antes de se transferir para os MEP (Missoes
Estrangeiras de Paris) com a ideia de ir para o Canadá. Aí foi encorajado a voltar o seu olhar
para a Ásia, para a missão de Tonkin (Vietnam do Norte). Neste país a fé cristã está proibida, é
clandestina, mas florescente! Quem denunciar um padre católico recebe uma recompensa e o
padre é condenado à morte. Devaux estuda a língua e, com quatro padres autóctones, começa
a sua missão de administrador da região entre Hanói e Tanh Hoa. Dá prioridade à educação,
desde as escolas primárias até à formação do clero local. Para tal põe em funcionamento mais
de trinta pequenos seminários. Em 1747 é nomeado bispo coadjutor e desenvolve uma boa
colaboração com o seu bispo. “Os dois bispos, escreve um missionário, são incansáveis, quer
estejam juntos numa mesma residência, onde, através de um relacionamento marcado por uma
amável simplicidade e uma cordialidade sincera, partilham as suas perspetivas e os seus
sofrimentos pela glória de Deus, quer estejam colocados nas extremidades do território, estão
atentos a tudo e estão à altura de serem úteis a mais gente. Orientam todos os eclesiásticos por
eles formados, regulam o seu comportamento e sua atividade”. Três anos mais tarde, é vítima
de uma primeira série de ataques (AVC), mas consegue dar continuidade ao seu trabalho
apostólico até à sua morte em 1756.
Palavra de Deus (Jo. 15, 14-17)
Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando. Não vos chamo servos, porque o
servo não sabe o que faz o seu senhor; chamo-vos meus amigos, porque vos dei a conhcer
tudo o que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi e vos
destinei, para que indo, deis fruto e o vosso fruto permaneça. Então, tudo o que pedirdes ao
Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. É isto que vos mando: que vos ameis uns aos outros.
Parece que após a sobrecarga de que Poullart des Places fez a experiência ao orientar
sozinho, durante os primeiros anos, a Comunidade do Espírito Santo, ele tomou a decisão de
chamar colaboradores para partilhar a responsabilidade dos estudantes e, assim, ele pôde
‘situar-se’ e encontrar a paz. Poullart já não se concentra apenas na sua responsabilidade e no
sucesso da sua iniciativa, mas também no crescimento das pessoas que Deus lhe confiou. A
direção pessoal – útil na primeira fase – dá lugar a uma diferente qualidade de presença à
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comunidade, melhor ainda, de inspirar estudantes e colaboradores. Cláudio converte-se da
eficácia à atenção ao outro. Esta conversão é uma nova etapa da fundação da Congregação do
Espírito Santo: chama outros padres para, a seu lado, serem diretores do Seminário: serão os
“Senhores do Espírito Santo” que orientarão o Seminário durante os 140 anos seguintes.
Sendo a vida comunitária apresentada como um meio para a missão, ela hoje é muitas vezes
vivida pelos espiritanos como uma fonte de frustrações e de sofrimento. Acontece que nos
sentimos mais à vontade para nos ocuparmos dos outros ‘de fora’, a partir de uma posição de
poder, do que para viver e colaborar com os outros como irmãos, dependendo uns dos outros.
Mas a vida comunitária pode ser um lugar aonde somos enviados para aprender que a fraqueza
não é pobreza, enquanto que o serviço dos outros é vivificante.
Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos:
- Partilha comunitária e projeto missionário: “Dou-me conta que nas comunidades
pequenas, de dois ou três confrades, as reuniões de comunidade quase desapareceram. Com o
argumento de que tudo se fala à mesa, não se vê a necessidade de outro tipo de reuniões;
nestas comunidades pequenas e apostólicas, geralmente com a responsabilidade de paróquias,
a oração comunitária reduziu-se ao mais elementar; a partilha de vida e da Palavra
desapareceram; eucaristias comunitárias desapareceram. Ora são estes os elementos que
podem levar a uma conversão, a uma leitura da vida a partir da Palavra e do que nos identifica
como espiritanos. Ao suprimirmos os espaços de confronto da nossa vida com o projecto
espiritano, não vejo como os documentos de por si possam agir. No entanto é bom que existam,
pelo menos como referência e ajuda para os que querem realmente viver a vida espiritana.”
(E09)
- O desafio da diversidade: «O relacionamento entre confrades foi um desafio para mim,
mas de menor importância, dado que tive excelentes confrades na comunidade; mas, ouvindo
outros confrades e a partir das minhas próprias observações, estou consciente de que ele pode
ser uma verdadeira cruz. Mesmo sendo todos homens que partilham uma mesma vocação, em
múltiplas dimensões continuamos a ser indivíduos com a nossa própria mentalidade e cultura. E
o pior de tudo é que não fazemos esforço para combater os nossos defeitos.” (X17).
- Amor fraterno: «Para mim, muitos destes problemas (do relacionamento entre
confrades) poderiam, se não desaparecer, pelo menos ser atenuados e discutidos num amor
fraterno se houvesse uma boa comunicação e verdadeira partilha de vida. É só a vida em
comunidade que nos permite crescer juntos na fé e no amor. Infelizmente, com frequência há a
tendência para não querer discutir com frontalidade os problemas quando eles acontecem.
Pode ser pela preocupação de não se impor, de não impor uma autoridade, ou de não “fazer a
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água ferver””. Preferimos deixar que as coisas se resolvam por si mesmas sem fazer ondas: ”isso
passa…!; deixa cair…!”
Não é a atitude correta, particularmente no período da formação. É aí que devemos prestar
atenção e iniciar os estudantes a saberem partilhar, a fazerem a correção fraterna. Muito
raramente encontrei um espiritano que aceite críticas sem reagir fortemente (mesmo sem
procurar saber se as críticas têm fundamento ou não). É logo encarado como um ataque pessoal.
A formação é o momento chave para a aprender e praticar” (X27).
- Educação para os pobres: «A paróquia em que trabalho situa-se numa espécie de
‘bidonville’. A maioria das pessoas aqui são pobres e desempregadas. Isto corresponde muito
bem ao nosso carisma de salvar os pobres. Também temos uma escola, construída pelos
espiritanos, para servir as crianças das famílias pobres. E os nossos custos de escolaridade não
são comparáveis com os das outras escolas privadas, não exigimos um pagamento tão elevado
a fim de possibilitar às crianças pobres de estudar na nossa escola. Isto revela a minha
compreensão do carisma e da missão dos espiritanos, isto é, estamos lá ao serviço dos pobres.
Há espiritanos que trabalham sem desânimo em países em guerra, como a RDC, a RCA, o Sudão
do Sul ou noutros setores pobres como na região dos Massai, sem perder a coragem. Eles
inspiram-me especialmente pelo seu compromisso em situações semelhantes, sem medo e sem
desanimar.” (X21).
A China segundo um mapa de 1632
Provincia de Sichuan onde
Francisco Pottier foi
missionnario de 1753 a 1792
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Porto de Macao (Português)
onde desembarcavam os
missionnaires
e du Sichuan où François
Pottier fut missionnaire
de 1753 à 1792
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6º Dia - Refugiado entre refugiados
Guilherme Piguel entra no Seminário do Espírito Santo em 1743, aos 21 anos de idade.
Três anos mais tarde, concluída a sua formação, é enviado pelos MEP para trabalhar na
Cochinchina (Centro e Sul do Vietnam). Quando finalmente chega a Macao, após 4 anos de
viagens e de múltiplas tentativas, o imperador da Cochinchina tinha lançado nova e furiosa
perseguição contra os missionários e os convertidos. Piguel tem de dirigir-se para o outro lado
da fronteira oeste, ao Camboja, onde se ocupa das populações e dos refugiados, também
perseguidos neste país. As pessoas vivem na miséria. Infelizmente, as congregações
missionárias estão divididas segundo a sua obediência a Roma ou a Portugal. Piguel teve de
assumir a responsabilidade da missão. Começa por investir fortemente entre a população
cambojana, mandando a um jovem missionário traduzir para língua khmer as orações e o
catecismo. A sua gentileza e a sua paciência conquistaram o coração das pessoas, mesmo que
poucos budistas se convertessem. Paz e guerra alternam-se rapidamente, quer no Camboja,
quer na Cochinchina. Nomeado Vigário apostólico em 1763, Piguel empenha-se por todos os
meios em visitar as comunidades perseguidas na Cochinchina e estabelece um pequeno
seminário para formar o clero local, vivendo ele próprio numa pobreza extrema. Morre em
1771, com 49 anos de idade.
Palavra de Deus (2Cor. 3, 2-6)
A nossa carta de recomendação sois vós, escrita em nossos corações e todo o mundo
pode tomar dela conhecimento e lê-la. Com toda a evidência, vós sois esta carta de Cristo,
fruto do nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não como a
Lei, em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, sobre os vossos corações. E se nós temos
uma tal confiança em Deus por Cristo, não é por causa da nossa capacidade natural que no-la
podemos atribuir: a nossa capacidade vem de Deus. Foi Ele que nos tornou capazes de ser
ministros de uma Aliança nova, fundada não sobre a letra, mas no Espírito; pois a letra mata,
mas o Espírito dá a vida.
A experiência missionária é semelhante em certos aspetos à de um trabalhador migrante ou de
um refugiado: foi arrancado ao seu país, e espera encontrar uma nova morada para viver e
realizar o seu projeto de vida. Mesmo que gradual e preparada, a adaptação a um outro estilo
de vida é um desafio que exige coragem e paciência. A comunidade espiritana internacional é a
missão: as diferentes conversões requeridas para viver juntos e trabalhar em colaboração
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chamam cada um a empenhar-se com humildade para que os talentos de cada um possam
revelar-se como sinais do Reino de Deus. Aprender a viver com os outros é, no fim de contas,
aprender a viver com o TOTALMENTE OUTRO. A missão consiste, no fim de contas, em ser
enviado aos outros por causa do desejo de entrar em comunhão com eles. A comunhão é, no
fim de contas, recebida através da morte e ressurreição. A nossa vida missionária, que nos
obriga a tudo perder, a morrer, para entrar numa nova família e numa nova cultura, é um modo
radical, mas precioso, de viver a identidade e a vocação de cristão.
Informações suplementares:
- Encontro intercultural: Nos começos, os habitantes do Camboja deixam perplexo o Pe.
Guilherme Piguel: “Dizem que acreditam em tudo, mas não sabem nada, nem querem aprender
seja o que for, dizendo que não podem. Se lhes dizeis que há um só deus, eles repetirão a
mesma coisa, mas se lhes dizeis que há quatro deuses, eles repetirão que há quatro deuses.
Toda a religião, dizem eles, é boa, o seu deus é irmão do nosso e por aí adiante”. Pouco antes da
sua morte, escreveu: “ Devemos eliminar as armas de mão nesta terra de exílio, as nossas
missões são as nossas famílias, os infiéis são nossos filhos que devemos trabalhar para os gerar
em Jesus Cristo. Se algum caso extraordinário nos desvia durante algum tempo, nem por isso
devemos abandoná-los, mas ao contrário aproximarmo-nos quanto possível para nos
reencontrarmos desde que nos apercebemos que existe alguma abertura para o poder fazer”.
- Formação do clero local: «No Colégio […], trabalhamos mais solidamente, pois os
padres do país fazem muito melhor que nós, porque eles não são conhecidos e falam mais
facilmente; num tempo de perseguição quem apoiará os cristãos? Quem cuidará deles? Os
padres europeus são obrigados a fugir e a missão encontra-se abandonada, quase perdida
como na Cochinchina.”
- A sua espiritualidade: Tem uma forte devoção ao Santíssimo Sacramento e à Virgem
Maria. Humilde na sua postura e na sua atividade apostólica. Os outros admiram-no e desejam
imitá-lo. Verdadeiro filho de Poullart des Places, vive uma mística de Pobreza: administra o seu
vicariato numa grande simplicidade, entrega-se às tarefas mais obscuras e mais humildes do
ministério sacerdotal. “Dava tudo aos pobres, escreve um dos seus confrades, era mais pobre
que os próprios pobres, usando apenas roupas já gastas, e, à sua morte, nem uma camisa se
encontrou para lhe vestir”.
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Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos:
- Trabalho paroquial e comunidade: «Comecei primeiro nos setores de primeira
evangelização, onde trabalhamos em estreita colaboração com as Irmãs. Nestes setores
reservamos tempo para a oração. Para além das laudes, da missa e das vésperas, reservamos
mensalmente uma manhã para recoleção. Partilhamos e elaboramos o nosso programa em
conjunto. É verdade que havia as avarias nas picadas, o que fazia com que um ou outro
estivesse ausente durante vários dias, mas nunca durante as recoleções e os tempos de
preparação da programação. Mais tarde, trabalhei em setores em que havia paróquias e em
paróquia. Aí é mais difícil manter a regularidade. De manhã, para as laudes e a missa, ainda vai.
Mas, à tarde, para as vésperas, com as diversas ocupações torna-se difícil assegurar as vésperas
em comum. É preciso aceitar com compreensão as ausências por causa de uma atividade
apostólica. Quanto ao tempo mensal de oração, zero. Impossível ou encarada como tal, o certo
é que não se fazia. Numa das paróquias conseguimos manter a reunião de comunidade e, uma
vez por semana, a preparação das atividades paroquiais em conjunto com as Irmãs. Em minha
opinião, parece-me que é mais difícil viver e sentir-se religioso no circuito paroquial. Parece-me
que se acentua a pastoral diocesana.” (W17).
- Pecado original da desunião: «Para mim próprio, terminada a minha formação inicial,
o desafio principal tem a ver com “a cultura espiritana ou a comunhão entre nós”. Com efeito,
éramos duas comunidades espiritanas próximas uma da outra (em África). Eu vivia com dois
outros confrades e a comunidade espiritana vizinha era composta igualmente por vários
membros. Estávamos no mesmo setor, formando catequistas, acompanhando comunidades de
base, trabalhando pela promoção humana (escolas, saúde). Mas as nossas reuniões de setor
eram bastante raras e pareciam um pesado fardo, pois eram consideradas como perda de
tempo. Às resoluções tomadas em conjunto não era dado seguimento. Era impossível levar em
conjunto o projeto missionário, a visão missionária. Este foi o nosso pecado original, é a
constatação que faço após longa reflexão: como consequência, os confrades mergulham em
problemas pessoais importantes, no individualismo, na mediocridade, no álcool. A
evangelização é meramente superficial, a Palavra de Deus não se tornou atuante. É muito mais
fácil construir capelas que não expressam a realidade vivida no dia a dia, a evangelização não
cresceu. O azedume instalou-se no coração dos missionários e tornamo-nos incapazes de
manter e realizar a nossa missão. O bispo pôs-nos de lado e perdeu a consideração por nós.”
(X13).
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- Opção pelos pobres: «O futuro da congregação dependerá fundamentalmente da
nossa opção pelos pobres. Mas, que significa ‘opção pelos pobres’? Paz e justiça atraíram
poucos confrades, mais numerosos são aqueles que se preocupam em tornar a sua própria vida
melhor e mais segura. Seguimos o ‘status quo’; muitas pessoas são materialmente pobres em
aspetos em que poderíamos melhorar a sua vida. As pessoas educadas foram deixadas fora da
Igreja, onde poderiam ser bem úteis para ajudar o resto da comunidade. A nossa renovação
pessoal deveria exprimir-se num novo compromisso e numa formação para uma melhor
compreensão do conceito ‘opção pelos pobres’. O nosso carisma será partilhado quando
vivermos vidas que fizeram a opção pelos pobres.” (E22).
- Espiritanos na igreja local: “Sinto que a Congregação sairá mais fortalecida se a sua
grande diversidade for bem gerida a partir dos pontos essenciais característicos da identidade
espiritana: as intuições dos fundadores, a fidelidade ao Evangelho e o compromisso nos atuais
desafios da missão.
Este sonho está dependente de determinados elementos, ligados entre si:
- Viver a nossa missão como uma consagração a Deus. A dificuldade dos votos não está nos
votos em si. Só há um voto: a total consagração a Deus. Os três votos explicitam e concretizam
este único voto de consagração. ‘Realização pessoal’ e aceitação da Cruz devem ser trabalhadas
com as jovens gerações como a chave de toda a consagração.
- A missão junto dos mais pobres deve ser encarada como uma viagem e uma experiência
espiritual nos alicerces da nossa humanidade. É viver concretamente esta opção preferencial de
Deus para com os pobres.
- Revestirmo-nos de uma atitude de serviço, bem distante da busca de poder, superioridade e
arrogância, dado que “são as igrejas locais que assumem a missão de Cristo nos diversos
territórios e é aí que tomamos parte de acordo com a nossa vocação própria” (RVE, 13).
- Partilhar a nossa vocação com os leigos, que são mais que simples colaboradores. Atraídos
pelo nosso carisma e pela nossa espiritualidade, estes leigos estão disponíveis para viver a
nossa missão em corresponsabilidade. (E17).
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7º Dia - Um semeia, outro recolhe
Durante os cinco anos da sua formação no Seminário do Espírito Santo, Francisco
Pottier dececionou a sua família afastando-se de uma carreira eclesiástica para abraçar uma
orientação missionária. Tem 27 anos de idade quando se junta aos MEP em 1753. Nesse
mesmo ano, faz uma viagem a Macao e, após 15 meses de estudo da língua chinesa, infiltrou-se
por via fluvial na Província de Sichuan, no centro da China. Pottier visita as comunidades, é
preso, torturado e exilado. Consegue escapar-se e regressa, tornando-se Vigário Apostólico em
1767. Juntamente com alguns novos missionários, funda um seminário clandestino para a
formação do clero local, ordena 15 padres chineses, elabora um tratado pastoral para a
evangelização, abre um hospital para leprosos e promove a educação das meninas, bem como
um instituto para as virgens cristãs. Após a nomeação de um coadjutor, Pottier restringe o seu
ministério a um pequeno setor. Morre três anos mais tarde, em 1792. Se bem que fosse
conveniente evitar atrair a atenção das autoridades, grande número de cristãos teima em
acompanhar o seu corpo até ao cemitério. Foram de balde os esforços dos padres para evitar
toda e qualquer demonstração espetacular, pois até os mendigos da cidade levaram as suas
ofertas para as exéquias serem celebradas da forma mais solene possível.
Palavra de Deus (1Cor. 9, 14…22)
Igualmente o Senhor prescreveu aos que anunciam o Evangelho de viverem da
proclamação do Evangelho. Mas eu nunca me aproveitei de nenhum destes direitos. E não
escrevo isto para os reclamar. Prefiro morrer! Ninguém me tirará este motivo de orgulho.
Com efeito, anunciar o Evangelho não é para mim motivo de orgulho, mas uma necessidade
que a mim se impõe. […] Então, qual é o meu mérito? É de anunciar o Evangelho sem procurar
nenhuma vantagem material, e sem fazer valer os meus direitos de pregador do Evangelho.
Sim, livre em relação a todos, fiz-me escravo de todos a fim de ganhar o maior número
possível. […] Com os fracos fiz-me fraco, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos a fim
de, a todo o preço, salvar alguns.
A pobreza é um dos temas que consideramos essenciais para a identidade espiritana e,
apesar disso, é um dos aspetos de maior insatisfação nas nossas vidas. Isso afeta a nossa vida
em conjunto, as pessoas que pretendemos servir, os meios da nossa missão, a nossa sensação
fundamental de (in)segurança e, finalmente, a nossa confiança em Deus. Ela vai do aspeto
financeiro (recursos financeiros e materiais) ao fiduciário, convidando-nos a viver de maneira
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responsável a nossa confiança na divina providência, encarregando-nos daqueles que Deus
confia à nossa responsabilidade. Assim procedendo, podemos descobrir que ‘menos’ pode dar
‘mais’. Somos interpelados: ‘Que fazemos com o que temos? Como fazemos um discernimento
responsável para a aplicação dos meios disponíveis para a nossa missão?” Estes meios são-nos
muitas vezes trazidos por pessoas que fazem sacrifícios e decidem partilhar com aqueles que se
encontram em necessidade.
Informações suplementares
Em 1742, os ritos chineses foram proibidos por Roma e, a partir de 1744, a nova dinastia
chinesa não é favorável à religião estrangeira. A pregação é proibida e os missionários devem
esconder-se: só restam dois padres autóctones para toda a Província de Sichuan, trabalhando
com numerosos catequistas, quando Pottier aí chega. Pottier deve muito ao Pe. André Li (+
1775), que, durante 10 anos, ficou responsável desta província quando todos os missionários
estrangeiros tiveram de fugir. Um dos padres ordenados por Francisco Pottier é Agostinho Zhao
Rong: um soldado convertido pelo prisioneiro que ele guardava. Tornar-se-á o primeiro padre
chinês mártir e santo.
Conselho do padre chinês André Li, em 1753: “O missionário apostólico escolhido por
Deus sabe que a sua própria vocação e as disposições dos seus superiores levam-no a
evangelizar os pobres, a levar a paz aos seus hóspedes, a comer aquilo que eles lhe oferecem e a
anunciar o Reino de Deus que é o Evangelho de Jesus Cristo crucificado. A população cristã que
vive nesta província está na sua maioria, antes de mais nada, ocupada desde a infância nos
trabalhos agrícolas ou no comércio, tendo poucos de entre eles feito estudos que lhes
permitissem valorizar raciocínios subtis ou longos discursos e, ainda menos, uma retórica
elegante. Por isso, o trabalhador apostólico deve acomodar-se à sua pobreza, à sua frugalidade,
à sua estupidez e o sacerdote deve adaptar-se a eles por regras de sobriedade e de pregação,
fazendo-se, como o Apóstolo, tudo para todos, para os ganhar a todos para Cristo; não deve
dominar sobre o seu rebanho, mas que adote ele mesmo o jeito do seu rebanho”.
Os seus missionários traçam o seu retrato: “Nunca encontrei num homem só tanta
simplicidade e tanta grandeza, afirmou-se de S. Martinho; vestia-se como o comum do povo;
estava sempre viajando pelas missões; era capaz de fazer viagem de três dias por um único
doente. É um homem admirável em tudo: de uma simplicidade e de uma humildade que me
cobrem de confusão sempre que o vejo; permite que tudo seja dito e julga-se o mais ignorante
dos missionários. Seguramente, eu trocaria quatro cabeças como a minha por metade da sua,
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de tão fatigada que ela está. Trabalha sempre com um zelo infatigável; pregaria três vezes por
dia, sem qualquer esforço”. Um outro padre escreveu. “É um verdadeiro coração de ouro,
embora se possa afirmar que ele usava um báculo de madeira. Leva uma vida apostólica;
pratica a pobreza, a humildade, a paciência, a caridade, e realizou imensos trabalhos”. Não é
sem razão que o seu biógrafo lhe deu o título de fundador da missão de Sichuan; se não foi o
primeiro missionário e o primeiro bispo, foi ele que a desenvolveu notavelmente, a organizou e
a consolidou durante trinta anos de perseguições quase ininterruptas. À sua chegada encontrou
5.000 cristãos e 2 padres, e, à hora da sua morte, eram 25.000 cristãos e 15 padres chineses.
Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos:
- Fidelidade no meio das mudanças: “Já foi há quase 29 anos que concluí a formação
inicial. Fui transferido de um ministério para outro, de uma cultura para outra e de um lugar
para outro em nome do meu voto de obediência. Mas o mesmo Deus que me chamou a este
ministério é Ele que sustenta a minha fidelidade na vocação espiritana. Por isso, é a Ele que é
devido todo o louvor. Esta vida especial e movimentada não foi um desafio apenas para mim,
mas também para a maioria dos religiosos missionários. É um desafio suplementar para quem
já se habituou a um povo e à sua língua, à sua cultura, tradições e costumes, etc. No fim de
contas, foram Deus e nossa Mãe Maria, a minha vida de oração, a imitação do espírito dos
nossos co-fundadores, a imitação dos nossos admiráveis confrades antigos, a observância fiel
da Regra de Vida, o zelo apostólico, o amor pelas pessoas, o apoio dos meus superiores e Jesus
como meu modelo, que realmente sustentaram a minha fidelidade na vocação espiritana. Por
tudo isto, estou imensamente reconhecido ao Senhor da vinha.” (X24).
- Com as comunidades de base e os pobres: “O trabalho com as comunidades de base
traz-me gratas recordações. Lembro-me particularmente de um domingo de manhã, em que,
após a missa, fui convidado a visitar um moribundo. As trinta e tal pessoas que estavam na
missa acompanharam-me no serviço pastoral por este homem. Quando afirmo que ‘nós’
celebramos os últimos sacramentos, estou consciente do facto de que era uma comunidade de
crentes que eram ministros do amor salvífico de Deus. Recordo-me também de ter sido
hospitalizado e do facto de o tratamento da minha doença ter sido prolongado. Um amigo meu,
pobre agricultor, veio visitar-me. Pouco depois de se ter despedido, voltou atrás. Dou-me conta
dele aos pés da cama, perguntando: “Se tivesse dinheiro teria sido operado?”. Ele não dispunha
da quantia necessária, teria de a ir arranjar em qualquer lado. As pessoas que são pobres, no
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momento da doença e do luto, são muito criativas. Para mim, estas ocasiões falam-me da
bondade intrínseca das pessoas.” (W10).
- Trabalhar com alegria e confiança no Espírito Santo: “O carisma espiritano e a missão
dos espiritanos hoje correspondem perfeitamente àquilo que o Papa Francisco continuamente
repete. Trata-se de difundir a alegria no Espírito, escutando os ensinamentos e inspirando-se na
via de Jesus no meio dos homens – e de viver assim em todas as situações do mundo de hoje –
realizando a um nível mais profundo aquilo que é importante: as pessoas, cada indivíduo e não
o sistema, e que são os pobres, os sofredores, os feridos e os que estão mal, os pequenos,
aqueles que não se veem, os fracos, que têm necessidade da ajuda dos fortes, dos que são
capazes e que detêm as riquezas. Em diferentes momentos das nossas vidas trabalhamos com
toda esta gente, ajudando alguns, formando outros, mas sempre cheios de uma alegria e de
uma confiança, não em nós próprios, mas no Espírito que nos orienta, dirige, inspira e que vai
antes de nós, preparando o caminho, enchendo os vales, aplanando as montanhas dos
combates e da oposição. “Eis-nos aqui, Senhor, para fazer a tua vontade.” (W18)
- Com os pobres : « A opção pelos pobres é a chave do nosso ser espiritano, mas o Papa
Francisco mostra que ela é também a chave do ser cristão. Ser para os pobres dá a impressão
de lhes prestar serviços, o que é bom e que fazemos de muitas maneiras e podemos mostrar aos
outros como o fazemos. Estar com os pobres é muito mais exigente e precisamos de
desenvolver igualmente critérios de avaliação, não tanto para dar nas vistas, mas para nos
ajudar a consciencializar o que fazemos e como o fazemos. Estou convencido que é um dos
aspetos da nossa vida que vivemos inconscientemente, que nos compete e que nos parece
evidente. Devemos tornar-nos capazes de falar disso para sermos encorajados a continuar.
Trabalhar e viver com os pobres é provavelmente transformador. Temos párocos colocados no
meio de bairros desfavorecidos. Mas isso, em si não é suficiente. Fazemos nós parte desta
comunidade? Posso afirmar que, num certo número de casos que conheço, não somos! Somos
conhecidos nessas comunidades e tomamos parte ativa no plano social e interreligioso. Os
vizinhos conhecem-nos e apreciam a nossa presença. Apanhamos o “cheiro das ovelhas”. Em
todos os nossos ministérios, eu sei que decidimos partilhar o nosso carisma, espiritualidade e
missão com as pessoas que servimos. São convidadas a olhar para além delas mesmas na
vizinhança, na cidade, na região e no país no que diz respeito à justiça e à caridade. Em cada
ministério falamos do que significa ser um grupo espiritano e aqueles que servimos também a
isso se referem para justificar aquilo que fazem!” (W34).
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8º Dia - Nova missão, desafios antigos
Depois de 205 anos de interrução, 8 espiritnaos regressaram ao Extremo Oriente em
1997, na sequência do mandato do Capítulo Geral de Itaïci, em 1992, que pedia ‘uma nova
iniciativa na Ásia’. As Filipinas, Taiwan, o Vietnam e a China foram os países escolhidos e duas
equipas de quatro membros, cada uma com um ou dois missionários experimentados,
reuniram-se primeiro em Assis durante uma semana para partilhar seus pontos de vista e suas
esperanças. Eram provenientes da Irlanda, dos Estados Unidos, do Brasil, da Nigéria, da Serra
Leoa e de França. Partiram imediatamente para as Filipinas e Taiwan para iniciar um curso de
língua Visaya e de Chinês mandarim. Assumiram a capelania hospitalar, a capelania das cadeias,
o serviço dos emigrantes, a formação de seminaristas, o diálogo interreligioso, a pastoral
universitária e o ministério paroquial.
Palavra de Deus (Atos 4, 31-35)
Quando acabaram a oração, o local em que se encontravam reunidos começou a
estremecer, ficaram todos cheios do Espírito Santo e anunciavam a palavra de Deus com
desassombro. A multidão dos que se tinham tornado crentes tinha um só coração e uma só
alma; e ninguém afirmava que era seu o que possuía, mas tinham tudo em comum. Era com
grande poder que os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma
graça abundante recaía sobre todos eles. Nenhum deles viva na indigência, porque todos os
que eram proprietários de terrenos ou casas os vendiam e traziam a receita da venda para a
colocar aos pés dos Apóstolos; depois eram distribuídos de acordo com as necessidades de
cada um.
Um certo número de dificuldades da vida comunitária são percebidas como mais fortes
em contexto de internacionalidade. O modo de partilhar a nível pessoal difere de acordo com a
nossa cultura de origem, o estilo de formação recebida, a nossa espiritualidade. A colaboração
é outra área na qual podem vir ao de cima tensões, seja por causa de um conflito latente de
poder, de introversão ou de diferentes experiências de Igreja. Os preconceitos devem poder ser
criticados, mas também deve prestar-se atenção à identidade cultural e à originalidade de cada
um. Um confrade sugere que aprendamos a usar as ciências sociológicas para tomar
consciência da influência das estruturas tradicionais sobre a forma como exercemos o poder,
sobre a nossa solidariedade e a nossa comunicação. Os modos culturais devem eles também
ser evangelizados, mas é difícil aceitar questioná-los: devemos começar por nós próprios.
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Devemos também aprender a aceitar uma sã e vivificante diversidade, no quadro da Regra de
Vida, e estar abertos aos carismas de cada um.
Informações suplementares
Curiosamente, em Taiwan os emigrantes são filipinos, e nas Filipinas há uma paróquia
chinesa. 1% da população de Taiwan é católica, enquanto que 90% dos filipinos são católicos.
Ao longo dos últimos 17 anos, 16 confrades foram afetados às Filipinas e 17 a Taiwan. As
Filipinas têm três jovens professos em formação. Os confrades trabalham em setores muito
pobres, com recursos limitados e onde as catástrofes naturais são frequentes. A Igreja das
Filipinas continua dependente da generosidade de algumas famílias católicas, muitas vezes
grandes proprietários de terras numa sociedade de tipo feudal. A hierarquia católica taiwanesa
é ainda muito tímida para se pronunciar publicamente sobre questões sociais, mas os
espiritanos estão envolvidos nas áreas da justiça e da paz em colaboração com leigos. Definir
prioridades comuns continua uma prioridade para os espiritanos de cada um destes países, mas
a estabilidade de alguns confrades é um testemunho encorajador. Confrades de Taiwan
estabeleceram contactos e fizeram visitas à China e foram mesmo convidados a trabalhar numa
diocese chinesa. Mas os missionários estrangeiros estão impedidos, até já, de residir na China.
Entretanto, candidatos da China entraram em contacto connosco para conhecerem melhor a
nossa Congregação.
Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos:
- Renovação da nossa vida espiritual: “Estou convencido que o nosso futuro depende da
renovação da nossa vida espiritual. Tive a sorte de poder estudar a história da vida religiosa ao
longo dos séculos. Os grandes movimentos renovadores passaram sempre por uma vida mais
evangélica, mais exigente, menos mundana. Nunca se renovou a vida religiosa com o dinheiro,
com as estruturas, com mais comodidade, com aparelhos da última moda e técnicas modernas.
Foi sempre pela fidelidade ao evangelho, à regra de vida, à vida sacramental e de oração, ao
zelo apostólico, à doação da vida por amor e serviço aos outros. Se vivemos esta dimensão a
sério, o resto é possível viver sem problema; ou seja, somos capazes de viver com os pobres, de
partilhar suas vidas e de nos comprometer com eles. Sem isto, a nossa opção pelos pobres
transforma-se em ideologia, que fica só na teoria… Quando vemos a dificuldade em arranjar
candidatos jovens para as situações missionárias mais pobres, depressa compreendemos que a
opção pelos pobres ou nasce de uma vida alicerçada em Jesus Cristo ou não passa de slogan
piedoso, mas pouco real”. (E09)
- Atenção ao Espírito e sacrifício: « Do meu ponto de vista, o futuro da Congregação
está garantido, porque é obra do Espírito Santo. O meu sonho sobre a Congregação é ver os
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seus membros cada vez mais empenhados em escutar a voz do Espírito Santo e mais dóceis às
suas inspirações. E transparecerá em todas as categorias que enumeraste e ainda noutras: na
nossa opção por/com os pobres; na renovação da nossa vida pessoal; na partilha do nosso
carisma, da nossa espiritualidade, da nossa missão com pessoas de outros povos. Mas o mais
importante ainda é que tudo está dependente da forma como cada um fizer da sua vida um
completo sacrifício.” (X17)
- Simplificar o nosso estilo de vida: “O meu maior sonho é simplificar o nosso estilo de
vida. Por natureza, a minha vida ‘pessoal’ não pode ser simples. Mas sempre sonhei ser um
pouco mais radical na nossa maneira de viver a missão. Mas parece-me que a estrutura
‘clerical’ da nossa Congregação é pesada. Na nossa Província, os ‘padres’ eram
verdadeiramente alguma coisa – na nossa cultura também. Daí resulta que temos sempre uma
perceção de nós próprios que não me parece justa quando se analisa o ‘grupo de pobres’ que
nós somos. Penso que os espiritanos são, em si mesmos, pobres. É verdadeiramente pena que
não tomemos mais consciência disso. Isso ajudar-nos-ia a fazermo-nos mais próximos dos
pobres na nossa maneira de ser e no nosso estilo de vida. Infelizmente, não é o caso. Temos
muita dificuldade em mudar as nossas estruturas, pelo menos na minha circunscrição”. (X29)
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9º Dia - Se o grão lançado à terra não morrer …
No ano 2000, o Pe. Brian Fulton, cssp, começou a preparar-se para trabalhar no Vietnam
e dois anos mais tarde partiu para este país. Quase na mesma altura, a partir de 1995, padres e
seminaristas vietnamitas refugiados foram recebidos na Província dos Estados Unidos. De
Roma, o cardeal vietnamita Francisco Xavier Van Tuan pediu à Congregação para tomar em
consideração a fusão de uma congregação local vietnamita. Durante este tempo, um confrade
de Taiwan começou um programa de ajuda à escolarização de crianças pobres em Hé, no
centro do Vietnam. Brian era um missionário experimentado. Empenhou-se na aprendizagem
da difícil língua vietnamita e trabalhou como representante de uma ONG (Auteuil Internacional)
para pôr a funcionar uma escola profissional para filhos de leprosos. Em 2005, Brian estava
confiante: foi decidido estabelecer-se uma comunidade espiritana em Saigão e tentar
estabelecer contactos com a Igreja local. Mas, a 2 de fevereiro de 2006, Brian morreu, devido a
uma paragem cardíaca. Foram em vão todos estes esforços? Os confrades decidiram colocar
todos estes projetos apenas nas mãos do Senhor. E no momento das exéquias de Brian na
catedral de Saigão, o Arcebispo convidava oficialmente ‘outros missionários como o Pe. Brian’ a
vir trabalhar na sua diocese. Presentemente, temos 4 confrades no Vietnam, originários da
Europa e Vietnamitas dos USA, a trabalhar na formação; 12 jovens fizeram a sua primeira
profissão nos últimos dois anos, e há mais 20 em formação.
Palavra de Deus (Jo. 12, 24-26)
Em verdade vos digo : se o grão de trigo lançado à terra não morrer, fica só; mas se
morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á; quem a perder neste mundo
guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém quer servir-me, que me siga; lá onde eu estiver,
estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará.
Na saúde e no trabalho, não nos esqueçamos de preparar a entrega de nós mesmos,
progressiva e plena, até à morte. As experiências de fragilidade levam-nos a apoiarmo-nos mais
no amor e no poder divinos. Um confrade que fez quimio e esteve em coma aprendeu a estar
‘nas mãos do Senhor’ que o conduz – aprendeu a deixar-se trabalhar confiadamente.
Recebemos de Deus a nossa identidade espiritana, imitando o abandono de Libermann,
confiados no Deus que nos guia. Tentamos não pôr obstáculos à ação do Espírito, vivendo em
comunidade sob a orientação do Espírito Santo, conscientes da ação do Espírito em nós
mesmos e nos outros. A coragem para nos comprometermos na missão de Deus, apesar da
consciência das nossas limitações, vem-nos do acolhimento do projeto de Deus para as nossas
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vidas e da fé que isso requer. Consultamos a nossa caminhada pessoal e a nossa história
comum para discernir a fidelidade de Deus: fortalecemo-nos recordando que foi Deus que nos
chamou; acreditamos que é Deus quem conduz a nossa história.
Informações suplementares :
A congregação vietnamita continua parceira dos Espiritanos para o programa de
escolarização em Hué, mas a fusão saiu da ordem do dia. Os candidatos espiritanos vietnamitas
irão fazer o seu estágio missionário fora, para fazerem a experiência da missão espiritana em
países que respeitam a liberdade religiosa. Está em estudo um compromisso missionário no
Vietnam. O nome de Monsenhor Edmé Bennedat, discípulo de Poullart des Places, formado no
Seminário do Espírito Santo e missionário na Cochinchina de 1736 a 1762 continua visível no
memorial do Centro Pastoral de Saigão. Antes do nosso tempo, a partir de 1733, 6 espiritanos
foram missionários no Vietnam, o último dos quais em Tonkin (Vietnam do Norte) foi Pedro
Blandin, entre 1778 e 1787 - era sobrinho do Pe. Becquet, o 3º sucessor de Cláudio Poullart des
Places.
Pode-se também ler e partilhar sobre um destes testemunhos:
- A vida simples de Poullart des Places e de seus sucessores: “O meu sonho para a
Congregação é a renovação da vida pessoal de cada confrade; daí resultará uma vida comum
muito mais simplificada e fraterna. Sem uma redescoberta daquilo que permitiu a Cláudio
Poullart des Places e a Libermann fundar e acompanhar a sua congregação, a nossa opção por e
com os pobres nunca acontecerá. Precisamos redescobrir e viver a pobreza como a virtude
fundamental da nossa Congregação querida por Cláudio Poullart des Places e que ele tão bem
pôs em prática. De rico que era, despojou-se de tudo, fez-se pobre. Não será possível um
compromisso verdadeiro e durável em favor e com os pobres, sem esta pobreza fundamental,
englobando uma forma de pobreza material, uma maior simplicidade de vida, uma renúncia a
quanto é supérfluo, a todas as habilidades para enriquecer, uma honestidade a toda a prova,
sempre pronta a prestar contas em responsabilidade pessoal. Sem ela, não é possível a
humildade e a nossa disponibilidade para viver e servir os pobres lá onde nos quiserem enviar é
uma ficção. O ‘a longo prazo’ torna-se rapidamente ‘a curto prazo’. A afetação missionária
transforma-se rapidamente em primeira afetação. Se procurarmos viver o nosso carisma, então
uma vida pobre no meio dos pobres não mais nos meterá medo; pelo contrário, escolhê-la-emos
e consideraremos como uma espécie de ‘sacrifício’ aceitar não sermos enviados. Se vivemos do
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carisma dos fundadores, numa renovação permanente, o que tento fazer e que redescobri
graças aos escritos postos à nossa disposição a partir do 300º aniversário da nossa
Congregação, o povo de Deus procurar-nos-á para nos solicitar partilhar esta grande riqueza de
uma vida simples e humilde, ao mesmo tempo laboriosa e alegre, do discípulo de Cláudio
Poullart des Places e dos seus corajosos sucessores. Tento quanto possível simplificar a minha
vida. Simplicidade de vida que abre para a disponibilidade, para o acolhimento do imprevisto.”
(E23)
- O Espírito trabalha em nós: «Que é que significa ser Espiritano? Ser espiritano é em si a
expressão de uma espiritualidade, se por ‘espiritualidade’ entendemos uma visão do mundo
particularmente inspirada por Cristo ressuscitado e uma atitude específica inspirada pelos
valores do reino. Ser espiritano é também um rito vivido em comunidade que nos liga também
ao espírito dos nossos antepassados espiritanos. Esta inter-conectividade define-nos como
comunidade. O Espírito trabalha em nós quando traduzimos aquilo em que acreditamos naquilo
por que trabalhamos. Tocamos o Espírito quando nos enraizamos no sonho dos fundadores.
Este Espírito torna-se um protesto ativo contra as condutas e ações que são contrárias aos
valores da justiça, da compaixão e os outros valores do Reino. Ser espiritano é uma convicção
que brilha nos desafios da vida quotidiana. A convicção é antes de mais pessoal, mas contribui
também para o ‘ethos’ comunitário.” (E06).
- Ser eucaristia para os outros: “Consegui ficar fielmente empenhado na minha vocação
e na missão sobre a base da convicção pessoal, da disponibilidade para ultrapassar a minha
própria cultura, com paciência e perseverança, e com a oração pessoal. O apoio da comunidade,
onde encontrei uma existência fraterna, foi outro apoio sólido. O estágio missionário que fiz
num contexto transcultural foi um momento capital para redefinir a minha identidade como
espiritano. Foi a partir de uma tal experiência que compreendi de uma forma existencial que a
minha identidade de espiritano está baseada na compreensão de ser ‘Eucaristia’ para os outros,
sobre a rutura de si próprio para que outros possam ter vida e vida em abundância, como disse
Jesus. A minha compreensão do carisma espiritano e da missão da Igreja de que faço parte é ser
agente de transformação – transformar o pensar das pessoas. Antes de mais, como formador,
sinto que sou chamado a transformar a vida dos jovens que me estão confiados, para que
possam tornar-se verdadeiramente ‘Eucaristia’ para os outros, através do exemplo da minha
vida e de outros s diversos contributo. Noutros domínios exteriores à formação, onde a maioria
dos confrades estão envolvidos, penso que a sua vocação e a sua missão é igualmente
transformadora, quer seja na área da educação, da pastoral, da primeira evangelização, da
saúde, da justiça e paz, etc.” (X19).
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- Mais realista sobre identidade e vocação: “É verdade que a compreensão da minha
identidade e da minha vocação mudou com o tempo. Tornei-me mais realista. Pensava que ia
encaminhar muitas pessoas para o Cristianismo, baptizando-as para que fossem ’salvas’. Estava
convencido que Cristo é o único salvador e que a minha obrigação era fazer com que todos o
compreendessem e acreditassem nele. Pensava que, com os meus esforços, ia mudar as
situações difíceis de conflito e apoiar-me na convicção de que como espiritano sou o advogado e
defensor dos pobres e dos fracos. Mas, com o correr dos anos, convenci-me que as pessoas e as
situações são tão complexas que requerem paciência e tolerância, e que, muitas vezes, as
soluções só chegam pela intervenção de Deus. Quero convencer-me que só posso dar o meu
pequeno contributo e que Deus fará o resto. Vi que o número de crentes de outras religiões não
cessa de aumentar. No princípio, quando ainda era um jovem espiritano cheio de entusiasmo e
de zelo, esta tendência aborrecia-me, mas com mais idade, começo a apreciar a fé das outras
pessoas e compreendi que o Espírito de Deus é o ator principal e que é ele que conduz os
acontecimentos do mundo. No que me diz respeito, sou apenas chamado a esforçar-me por dar
testemunho de Cristo através do
empenho em viver uma vida virtuosa e
as pessoas doutras religiões verão a luz
do Evangelho na nossa fé e nos valores
em que acreditamos.” (E24).
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