psicologia anomalística e filosofia clínica

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psicologia anomalística e filosofia clínica
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PSICOLOGIA ANOMALÍSTICA, FILOSOFIA DA MENTE E
FILOSOFIA CLÍNICA: INTERFACES POSSÍVEIS
Carlos Copelli Neto*
Resumo: O presente artigo propõe levantar alguns paralelos entre a Psicologia Anomalística,
a Filosofia da Mente e a Filosofia Clínica, que implicam em pontos de similaridade, como
também em pontos de divergências, especificamente nas questões sobre as experiências
místicas religiosas. Apresenta, inicialmente, um breve panorama histórico dos estudos dos
fenômenos denominados anômalos na Psicologia da Religião e na Parapsicologia. Dá especial
ênfase à Psicologia Anomalística, que engloba os dois citados sistemas, mas com metodologia
própria. Outras visões, psicológicas e não psicológicas, também são citadas, assim como
exemplos de casos. Comportamentos mediúnicos e religiosos e as suas relações com a cultura
estão embasados nas teorias do biólogo Richard Dawkins, do filósofo da mente Daniel C.
Dennett e da psicóloga Susan Blackmore. A seguir, chega-se à Filosofia Clínica e à sua
metodologia, esboçando uma visão social do tema, assim como a postura do clínico na
condução de sua pesquisa. Finalmente, as interfaces são colocadas no texto.
Palavras-chaves: Psicologia da Religião, Parapsicologia, Psicologia Anomalística, Filosofia,
Filosofia da Mente, Filosofia Clínica, Mediunidade, Experiências Místicas.
Abstract. This article proposes to draw some parallels among Anomalistic Psychology,
Philosophy of Mind and Clinical Philosophy that imply similarity points, as divergences
points. It shows, in beginning, a concise historical view of studies of phenomena named
anomalous in the Psychology of Religion and Parapsychology. Special emphasis is given for
Anomalistic Psychology, which involves the two mentioned systems, but with its own
methodology. Other psychological or not psychological views also are mentioned, as also
examples of cases. Mediumistic and religious behaviors and their relations with the culture
are based in the theories of the biologist Richard Dawkins, of the philosopher of mind Daniel
C. Dennett and of the psychologist Susan Blackmore. After, it shows the Clinical Philosophy
and its own methodology, delineating a social view of theme, and also the behavior of the
clinical to conduct his research. Finally, the interfaces are put in the text.
Keywords: Psychology of Religion, Parapsychology, Anomalistic Psychology, Philosophy,
Philosophy of Mind, Clinical Philosophy, Mediumship, Mystical Experiences.
Introdução
O arcabouço teórico e prático da Filosofia Clínica apresenta o tópico nº. 19,
denominado Singularidade Existencial. Trata-se, como se depreende, de uma expressão de
caráter extremamente amplo, que pode referir-se a inúmeros elementos singulares. No
entanto, especificamente, nesta modalidade terapêutica, significa os eventos que não podem
ser explicados racionalmente. Assim, vivências singulares com poderes sobrenaturais,
fenômenos religiosos e espirituais, fazem parte deste tópico. A postura do filósofo clínico
diante deles é, antes de tudo, respeitar a representação do partilhante, como também
contextualizá-los na respectiva historicidade (Aiub, 2004: 90). Mas antes de entrar nesse
mérito específico, uma primeira abordagem das pesquisas sobre esses temas é fundamental
para o propósito deste artigo, cuja ênfase recai sobre as questões da mediunidade, alegações
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de visões e audições extrafísicas e também teofanias. Todas essas questões estão intimamente
ligadas à espiritualidade e à religiosidade decorrente, quer sejam elas ortodoxamente
construídas dentro dos sistemas religiosos, como nas suas variantes.
Histórico
Especificamente no caso da mediunidade (comunicação com o mundo dos mortos), a
pesquisa científica teve início em 1882, com a fundação da Society for Psychical Research,
em Londres. Dentre os seus membros encontravam-se figuras que seriam conhecidas como
fundadoras da Psicologia Moderna, como Sigmund Freud, Carl Gustav Jung e William James.
No entanto, as pesquisas não avançaram muito no que tange às análises psicológicas dos
médiuns e místicos, posto que se voltaram mais para tentar constatar a veracidade dos
supostos feitos mediúnicos, inclusive em meio às farsas. Assim, procuraram avaliar casos de
deslocamento de objetos sem o uso de meios físicos, como também os relacionados à
comunicação com os mortos. Cabe aqui, a esse respeito, uma citação de William James: “O
que quero atestar imediatamente é a presença – no meio de todos os ingredientes da farsa –
de um conhecimento verdadeiramente supranormal. Entendo por um tal conhecimento,
aquele, cuja origem não possa ser atribuída às fontes ordinárias da informação, ou seja, os
sentidos do sujeito” (1973: 238).
O que se observa no pensamento de James é o viés epistemológico que ele dá daquilo
é trazido pelos médiuns aos observadores (cientistas) dos eventos. Ele não se refere às
alterações físicas no ambiente, mas sim às informações. Em outras palavras, ele busca a fonte
do conhecimento, a qual não seria oriunda do que é apreendido pelos órgãos dos sentidos.
Aliás, esse tem sido um dos objetos de estudo da Parapsicologia até a atualidade, nas
pesquisas sobre precognição e outros eventos não convencionais sob a perspectiva das teorias
científicas vigentes.
Quanto ao objeto de estudo da Society, este recaiu com mais ênfase sobre a ontologia
dos fenômenos (conforme já dito), sem uma preocupação maior do sujeito portador da
mediunidade, como também de outros fenômenos anômalos. Assim, no caminhar das
pesquisas esse sujeito passa a ser enquadrado nos arcabouços teóricos das várias correntes da
Psicologia. Isto se dá já no início do século XX, quando é feita a separação entre
Parapsicologia e a Psicologia da Religião. A primeira teria por objeto de estudo as chamadas
“experiências paranormais clássicas”, que teriam relação com a telepatia, clarividência,
precognição e psicocinesia. Já a Psicologia da Religião ocupar-se-ia das “experiências
paranormais religiosas”, ou seja, quaisquer manifestações ligadas ao sobrenatural. Por
sobrenatural entenda-se tudo o que transcende as forças da natureza e do ser humano.
Retroagindo parágrafo anterior, um ponto importante deve ser destacado:
normalidade/patologia, segundo os vários construtos teóricos da Psicologia. Na Psicologia
Analítica postulada por Jung, as experiências “místicas” poderiam ser consideradas
“normais”, conforme experiências vividas por ele próprio, como também de outras pessoas de
seu círculo pessoal (um exemplo é citado adiante). No entanto, a Psicologia Analítica não
descarta também os transtornos mentais e delírios esquizofrênicos, tidos inicialmente como
experiências com o transcendente. Já na Psicanálise (freudiana), a mesma experiência pode
receber um rótulo de patologia à primeira vista, considerando as teorias freudianas acerca da
religião e da mística. Poderia ser atribuído algum juízo de verdade a cada uma dessas teorias?
Evidentemente, a resposta, pelo menos por enquanto, é negativa. É inviável tentar estabelecer
com quem está a razão. O que se constata inicialmente são os pré-juízos dos seus teóricos
responsáveis, através de suas bases e métodos de investigação. Avançando no tempo, há a
criação da Psicologia Integral de Ken Wilber e a Psicologia Transpessoal de Stanislav Grof.
Estes dois sistemas admitem uma dimensão espiritual (e natural) no ser humano, portanto,
entende-se, com isenção de patologia. Há indícios que essas duas correntes representam uma
expansão dos fundamentos da Psicologia Humanista.
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O que se deduz é a interpretação do profissional da Psicologia dos relatos dos
pacientes.
Outras teorias passíveis de aplicação
.1) – Dinâmica da Espiral – Este sistema foi desenvolvido por Don Edward Beck e
Christopher C. Cowan. Trata-se de uma descrição da evolução humana e os elementos que
impulsionam a mudança evolucionária. Há um entrecruzamento do conceito de “memes” do
biólogo Richard Dawkins (os memes, em especial, serão abordados mais adiante) com
sistemas de valores As citadas mudanças evolucionárias são divididas em oito estágios, desde
o mais instintivo até os mais refinados, tidos como “imateriais” (solidariedade, ascensão
espiritual, etc.). O segundo desses estágios, considerado primitivo, é o chamado tribalanimista. É constituído pela procura de segurança da sociedade, através da confiança nas
relações de sangue e nos poderes mágicos do mundo espiritual. Há veneração aos
antepassados, culto aos espíritos da natureza, ritos de passagem e sazonais, como também
extensos cerimoniais. Reina o pensamento animista, a preservação e respeito a lugares
considerados sagrados, uso de talismãs, obediência aos desejos dos seres espirituais, entre
outros elementos. Sobretudo, há um sentimento de pertença grupal.
Segundo os seus autores, a despeito de haver ainda sociedades que vivam nesse
contexto estrito, todas as demais ainda carregam e cultivam, em maior ou menor escala, traços
desses valores. Dessa forma, há fortes vínculos entre o natural e o sobrenatural, ou ainda não
há qualquer diferenciação. Vale destacar que esse sistema limita-se apenas a descrever os
fenômenos conforme a evolução da espécie humana.
.2) – Mente bicameral – Trata-se de uma hipótese em que as funções cognitivas estão
divididas, onde uma delas parece que está “falando” e a outra “ouve e obedece”. Esta
hipótese foi formulada pelo filósofo inglês Julian Jaynes (1976) - considerado precursor da
Filosofia da Mente - em seus estudos de culturas primitivas. Segundo esse pensador, em um
período ancestral da História não havia uma consciência em primeira pessoa, ou seja, não
aparece ainda o “eu” nas narrativas. Os indivíduos eram guiados por vozes externas que
determinavam o que fazer; eram marionetes dos deuses. Esses indivíduos atribuíam a um
“deus” a autoria das vozes e das ordens. Ainda era considerado que toda e qualquer forma de
conhecimento era oriunda das divindades, portanto a racionalidade e a observação crítica e
empírica da natureza ainda estavam por vir. A ocorrência da consciência de si está datada por
Jaynes por volta de 1.400 a.C.; data essa fundamentada em profundos e minuciosos estudos de
textos de civilizações antigas.
Ainda que esses povos primitivos pudessem estar sofrendo de delírios esquizofrênicos,
encontra-se certa consonância com o segundo estágio da Dinâmica da Espiral citado acima.
Além disso, na atualidade, religiões ligadas ao Cristianismo, também formulam teses acerca
da inspiração que os anjos podem exercer sobre os humanos, fornecendo-lhes informações
e/ou ensinamentos. Outras atribuem ao Espírito Santo tais inspirações. O mesmo pode ser dito
acerca do espiritismo kardecista, no que tange às informações transmitidas pelos espíritos
mentores às mentes dos médiuns.
Considerando o exposto e ao ser observar os primórdios da história da Filosofia,
inclusive a partir da teoria de Jaynes, verifica-se que a construção do conhecimento teve lugar
após uma gradual e lenta desvinculação do homem com o mito. A natureza começou a passar
por uma leitura objetiva e empírica. Surgem os primeiros filósofos e as suas teorias (Copelli,
2007: 16-23) e o uso da racionalidade começa a ter lugar. No entanto, cabe ressaltar que o
pensamento mítico perdurou e ainda se aloja em inúmeros contextos socioculturais atuais.
.3) – Campos morfogenéticos – Teoria desenvolvida e ampliada pelo biólogo inglês
Rupert Sheldrake (1996). É uma teoria longa e voltada para muitos aspectos da Biologia, mas
neste artigo a sua descrição volta-se apenas para a questão epistemológica. Sheldrake faz um
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paralelo entre os campos morfogenéticos e o campo gravitacional, sendo que este último não é
visível, no entanto ele existe. De igual forma, tudo o que foi aprendido pela espécie humana,
continua existindo em uma memória (ressonância mórfica) e pode ser assimilada por aqueles
que acessarem o respectivo campo morfogenético. De certa forma, algo que foi aprendido no
passado, pode ser assimilado com maior facilidade, no presente, ainda que o assimilador atual
não tenha tido qualquer contato com os primeiros experimentadores. Mas, essa possibilidade
não fica restrita ao tempo, uma vez que as distâncias não oferecem obstáculos para que o
mesmo efeito ocorra. Experimentos na área educacional já estão sendo realizados. Alguns
autores comentam que a teoria de Sheldrake tem certa similaridade com os arquétipos
junguianos, presentes no inconsciente coletivo.
Diante da probabilidade de efetiva existência de tais campos, vários eventos
mediúnicos poderiam também ser estudados à luz dessa teoria, pois memórias semelhantes
estariam disponíveis, para serem apreendidas e aprendidas com facilidade e,
consequentemente, imitadas. Todavia, essa imitação não se daria da mesma forma que os
memes (conforme adiante referidos), uma vez que estes se replicam através de informações
diretas e objetivas.
.4) – Psicologia do Destino – O médico Leopold Szondi foi o criador desta
modalidade da Psicologia. Segundo ele, trazemos em nossa herança genética traços
comportamentais de nossos ancestrais, que podem direcionar o nosso destino. Pelas suas
pesquisas em árvores genealógicas, ele percebeu que muitos eventos se repetiam, como por
exemplo, contrair casamentos com pessoas com informações genéticas semelhantes, a escolha
da profissão, dos amigos e até das doenças. Um dos exemplos que ele cita, é o caso de uma
mulher, aparentemente saudável, passa a ter os mesmos problemas psíquicos que sua sogra
tinha, mas que não a havia conhecido. Segundo o autor, o marido havia atraído para si uma
mulher com semelhança genética de sua mãe. Essa atração foi correspondida pela sua esposa.
Muitas considerações podem ser feitas a esta teoria, como por exemplo, a possibilidade de
livre escolha fica tolhida pela genética. Transpondo esses postulados para o tema do presente
artigo, fica também essa hipótese de investigação acerca da mediunidade. Seria ela uma
transmissão genética?
Apenas para ilustrar, interessante é o caso narrado por Jung a respeito de uma reação
de sua filha mais velha quando em visita ao pai, durante a construção da Torre de Bollingen.
Teria ela exclamado que havia um cadáver no local. Feitas as escavações, este foi encontrado.
Disse Jung: “Minha filha pressentira a presença do cadáver; sua faculdade de pressentimento
é uma herança de minha avó materna” (Jung, apud Argollo, 2004: 93-94).
.5) – Pseudociências – Os esotéricos admitem os fenômenos ditos paranormais como
plausíveis e prováveis, embora em discordância com a ciência tal como está estabelecida. Por
outro lado, em refutação às alegações espiritualistas, há os céticos dogmáticos que alegam a
inexistência de todo e qualquer fenômeno dessa ordem, situando-os na ordem da patologia, ou
na melhor das hipóteses, no imaginário popular.
A Psicologia Anomalística
Esta área do saber, formalizada em 1930 e de acordo com a Anomalistic Psychology
Research Unit (Goldsmiths College, University of London), visando recuperar os primeiros
objetivos da Society, pode ser definida como o estudo dos fenômenos extraordinários do
comportamento e da experiência, incluindo (mas não se limitando a) aqueles que muitas vezes
são rotulados como “paranormais”. Tem como objetivo a compreensão de experiências
bizarras que muitas pessoas têm, sem assumir a priori que há algo de paranormal envolvido
nessas experiências em termos de fatores psicológicos e físicos já conhecidos.
Esta Psicologia se entende como abertura ao estudo ontológico de psi, mas mantendo a
perspectiva de necessidade de esgotar as hipóteses convencionais. Qual seria o pano de fundo
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das experiências anômalas? Muitas hipóteses são levantadas, como por exemplo, a fraude, as
crenças, modificações neurofisiológicas, a psicopatologia e processos desconhecidos de
interação entre o sujeito e o meio.
Para a eficiência dos critérios de investigação não é necessário ao pesquisador assumir
a existência de processos “paranormais”. Estuda-se o que é narrado, sentido e vivenciado pelo
sujeito da narrativa, independentemente da “realidade ontológica” e da interpretação adotada
por aquele que observa e pesquisa. É fundamental ter uma escuta sem preconceitos. Isto
porque a realidade pode ser muito mais ampla que aquela prevista pelas teorias científicas
atuais. Aqui se depreende três pontos: (1) uma abordagem inclusive fenomenológica, (2) um
ceticismo metodológico e (3) o reconhecimento de que as teorias científicas são verdades
provisórias.
Como mencionado acima, primeiramente são levadas em conta as interpretações
“convencionais”. Apenas se tais interpretações forem incapazes de dar conta do fenômeno
investigado é que será considerado lícito o uso de interpretações heterodoxas. Aqui o
ceticismo é compreendido como uma ferramenta básica. Ainda há que se destacar que tais
experiências apresentam potenciais de complexidade, de modo que há necessidade de
avaliações interdisciplinares.
Deve ainda o pesquisador considerar que a existência de processos “paranormais”
ainda são questões em aberto e que apenas mais estudos empíricos poderão oferecer maiores
informações. Entretanto, há um corpo de estudos que oferecem evidências para a existência
desses processos. Deverá também ser levado em conta que não há uma teoria suficientemente
ampla e aceita em consenso entre os pesquisadores, para explicar as evidências de anomalias
encontradas nas pesquisas realizadas.
Portanto, as perspectivas de estudos da Psicologia Anomalística são várias, porém para
efeitos deste artigo há o destaque para a perspectiva fenomenológica, que enfatiza, no estudo
das experiências “alegadamente anômalas”, a significação e o impacto que tais experiências
têm para o sujeito. A justificativa para esse destaque será a abordagem deste tema no âmbito
da Filosofia Clínica.
Considerações psicológicas
Ainda reside uma tendência antiga de interpretar o fenômeno da mediunidade como
um estado dissociativo. “Depreende-se nesse conceito, que a dissociação envolve a ocorrência
de experiências e comportamentos que se supõem existirem afastados, ou terem sido
desconectados da consciência” (Kripner, 1994: 339, apud Zangari, 2000: 2). Outrossim, as
pesquisas atuais também apontam para o elemento sociocultural: “No entanto, apesar da
mediunidade ‘fazer uso’ de capacidades dissociativas individuais do médium, a dissociação
parece estar disciplinada pelo grupo social de que o médium participa [...]. Os elementos
socioculturais que darão o contorno das personalidades ‘intrusas’ estão presentes no
respectivo grupo social e, portanto, na mente do médium [...] a diferença entre a dissociação
patológica e a dissociação não-patológica reside na cultura” (Zangari, 2003: 54-55).
Prossegue, ainda, Zangari:
Considerar a mediunidade não apenas pelo seu aspecto individualdissociativo, tem levado, como foi visto, a uma análise das correlações
entre fenômenos psicofisiológicos (como a própria dissociação) e
fenômenos culturais. Deslocou-se, portanto, o eixo interpretativo de
fatores psicopatológicos para os de caráter psicossocial. Mas, pareceme, as relações ainda não estão bem delineadas. Não basta apontar a
existência de correlações. Seria necessário novamente enfatizar que
não parece informações suficientes de como e em quê (grifos do autor)
essa correlação se dá (Zangari, 2000: 2).
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Conforme o exposto, considera-se importante inserir essa abordagem nos contextos
socioculturais, sem descartar completamente o aspecto patológico da dissociação e das
personalidades intrusas. Destaca-se, por outro lado, que essas colocações referem-se à
mediunidade de incorporação, no entanto, é possível estendê-las a outras formas, como alguns
dos exemplos citados adiante. Ainda, sob a perspectiva fenomenológica, é importante
verificar os significados desses fenômenos e/ou eventos, tanto em seu aspecto grupal, como
individual. Um outro ponto importante nessa verificação é considerar que para os médiuns e
seus grupos, a perspectiva é sempre ontológica.
A Filosofia da Mente
.1) – O dualismo. Não obstante a Filosofia ter sido o fundamento das ciências como
algo natural e inerente ao ser humano dotado de razão e de senso crítico, o elemento mítico
ainda se fez presente e é objeto de estudo tanto racional quanto transcendente. Ainda, há a
questão acerca da constituição do homem: matéria e mente? Apenas matéria? Tentando
solucionar essa questão, René Descartes no século XVII tratará diretamente desse tema,
apontando que a matéria possui um tipo de substância, que difere diametralmente da
substância da mente: res extensa e res cogitans, respectivamente. Assim, há duas substâncias
distintas na formação do ser humano. O ponto de ligação entre ambas, segundo ele, seria a
glândula pineal.
Relacionando o pensamento cartesiano com o pensamento mítico,as religiões de todos
os tempos sempre apontaram, direta ou indiretamente a existência de elementos imateriais na
existência humana. O que pode ser considerado importante em sua teoria nesse sentido, é o
elemento pontual acerca das distintas substâncias, expostas de forma clara e objetiva. Dessa
forma, o dualismo cartesiano tornou-se o ponto de partida para as investigações e discussões
acerca da Filosofia da Mente. Duas grandes linhas de pensamento disputam espaços através
de suas concepções: o dualismo e o monismo materialista.
Depreende-se, evidentemente, que para as religiões e à espiritualidade em si, o
materialismo é totalmente nocivo e ameaçador, posto que as teologias necessitam da
“imaterialidade” para a sua sobrevivência e, em alguns casos, como elemento de oposição
moral à matéria tangível. Sobre este último ponto é extremamente comum homilias acaloradas
emocionalmente acerca da supremacia da alma sobre o corpo, a “carne” como inimiga da
alma, sobretudo em questões que envolvem a sexualidade. Jejuns e abstinência de
determinados alimentos em favor da elevação da alma também são prescritos. Tal não é um
ponto exclusivo da tradição judaico-cristã, posto que é vivenciado por outras tradições como o
Budismo e o Islamismo. Porém, em alguns grupos cristãos como o Espiritismo brasileiro e o
Adventismo, por exemplo, há incentivos para a adoção do vegeteranismo, como forma de
purificação corporal em favor da evolução da alma. Nos segmentos religiosos da Umbanda e
do Candomblé, nos quais as alegadas incorporações espirituais são a tônica dominante, as
prescrições iniciáticas incluem a proibição de determinados alimentos, álcool, tabaco e
relações sexuais. Isto para “purificar” o corpo e torná-lo apto para a recepção das entidades
espirituais, identificadas pela “res cogitans” cartesiana.
No entanto, há que se fazer um destaque em relação ao Espiritismo Kardecista, no que
tange à relação mente-corpo, conforme pontua João Fernandes Teixeira: “Exceção a essa
condição [sermos cartesianos] são os kardecistas. Eles são materialistas - embora não o
saibam - por acreditar que podem fotografar espíritos. Se uma coisa pode ser fotografada,
trata-se de algo material. Mas os espíritas certamente não admitiriam ser chamados de
materialistas." (Teixeira, 2008: 65). Ainda que esta exceção seja considerada, ao se enquadrar
essa forma de espiritismo como materialista, ou seja, na res extensa, o viés alegado pela
mística e pela espiritualidade, volta-se para a res cogitans.
Ainda, as religiões, assim como todas as formas de espiritualidade também direcionam
para existência de um mundo (ou vários mundos) em planos extrafísicos, cuja vida prossegue
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independentemente da matéria do plano físico. Não apenas as religiões, mas também a
literatura é rica nesse sentido. Dois clássicos literários a respeito são dignos de nota. A
Divina Comédia de Dante Alighieri, com descrições do céu, do inferno e do purgatório;
descrições essas elaboradas, tendo o próprio Dante como narrador. Outro é O Morro dos
Ventos Uivantes de Emily Bronte. Nesta obra, a heroína morre jovem, mas aparece
continuamente ao seu amado até que ele envelhece e morre e ela vem buscá-lo para que
vivam o seu amor na eternidade. Vale lembrar, que a autora viveu, juntamente com suas irmãs
também escritoras, sob a rígida moral calvinista-vitoriana do século XIX; foi mantida
praticamente encarcerada pelo pai (pastor), e nunca se casou, mas criou essa fantástica estória
de amor.
.2) – As Crenças. As crenças também constituem objeto de estudo de alguns filósofos
da mente; isto devido ao fato das tentativas de definirem do que seria a própria mente, a
consciência e a identidade. Surgiram as questões acerca da identificação da mente e da
consciência com o próprio cérebro. Para os dualistas isso não é possível, no entanto para os
monistas tal seria cabível. Como também há os intermediários, como o Emergentismo, no
qual a mente “emergiria” do cérebro e ainda os que dizem que seria uma “propriedade”
cerebral (Dualismo de Propriedades).
Porém, sem a pretensão de enquadrar o filósofo da mente Daniel Dennett, a psicóloga
Susan Balckmore, como também o biólogo Richard Dawkins em alguma categoria de
pensamento acima mencionada, que escaparia do tema deste artigo, algumas considerações
acerca das crenças e a sua formação, segundo o pensamento destes, são dadas a seguir.
.3) – A Memética. Quanto à propagação das crenças, é viável a apresentação do
conceito de “meme”, cunhado pelo biólogo Richard Dawkins e amplamente utilizados por
Daniel C. Dennett (1998). Segundo Dawkins (1979), assim como os genes tendem a replicarse, copiar-se a si mesmos, passando de geração em geração, tornando-se mais potentes à
medida que se replicam; o mesmo pode ser dito das ideias que passam de mente para mente –
tais ideias são os memes. Essas unidades replicadoras também são unidades de imitação.
Assim, uma ideia replicada é uma ideia imitada. Da mesma forma como os genes se tornam
mais potentes através de sua replicação pelas gerações, semelhantemente isso acontece com
os memes, formando poderosos memeplexos. A Memética, ciência que estuda os memes, é
uma das possibilidades de estudo da formação das culturas. No que se refere à cultura, um
meme não necessita apenas ser replicado pela imitação, mas também através de outras formas
de aprendizado social. As propagandas políticas são um exemplo claro disso; tenta-se
implantar ideias de uma determinada ideologia em outras mentes. O mesmo pode ser dito da
moda, dietas e costumes; as mídias são fortes fontes geradoras de memes. Consequentemente,
o proselitismo religioso enquadra-se nesse contexto. Em contrapartida, cabe ao “alvo” (a
pessoa) dos memeplexos interpretar corretamente os seus significados, com a capacidade,
inclusive, de rejeitá-los segundo seus critérios de avaliação.Seria isso sempre possível?
O ambiente em que o indivíduo está inserido é um elemento importante para a fixação
de memeplexos e a sua replicação. Por exemplo, uma pessoa, cujos valores é estar sempre
vestida com os padrões da moda, tenderá a assimilar com mais facilidade uma nova
publicidade nesse sentido. Na concepção de Susan Blackmore (1999), os seres humanos e os
seus cérebros seriam máquinas de reprodução de ideias, e o respectivo mecanismo para tal
seria a imitação, como também a aprendizagem. Reforça a sua posição, alegando que os
memes são instruções para realizar comportamentos, estocadas no cérebro e passadas adiante
por imitação.
Transpondo a Memética para o plano das religiões, como o fez Dennett (2006) e
também Dawkins (1979) verifica-se a sua plausibilidade. As pregações religiosas, sob
quaisquer formas, desde tempos imemoriais, são a prova contundente da transmissão
memética bem sucedida. Algumas dessas transmissões perdem a sua força, mas não
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totalmente, como é o caso citado acerca da Dinâmica da Espiral, cujo ambiente era a
sociedade tribal-animista. No entanto, ainda uma parte da população segue os seus ditames,
não apenas no âmbito tribal, mas também nas sociedades ocidentais contemporâneas.
Um caso exemplar é o desenvolvimento do Cristianismo, que se expandiu
rapidamente, e após um período de perseguições, conseguiu com seus memeplexos (conjunto
de memes iguais) anular os memeplexos pagãos. Há que se ressaltar que essas replicações
foram tão poderosas, que o Cristianismo, de perseguido, passou a perseguidor, através da
instituição da Inquisição, outro poderoso memeplexo. Este memeplexo tinha por objetivo
combater as heresias, ou seja, destruir outros memes que ameaçassem o poder da Igreja,
impedindo-os de se replicarem. Além das heresias de caráter doutrinário, os memeplexos
inquisitoriais combateram a magia e as evocações de espíritos; tais memeplexos incluíam que
essas outras práticas meméticas eram consideradas satanismo. Entretanto, o bojo doutrinário
(memético) da Igreja incluía toda uma mística voltada para o sobrenatural, com registros de
milagres, visões e práticas prodigiosas, como os êxtases místicos, enaltecidos
homileticamente, portanto memeticamente, porém incompatíveis com práticas meméticas
idênticas fora da autoridade eclesiástica.
Ainda no âmbito da exemplaridade, o Espiritismo desenvolvido no Brasil é bastante
pontual enquanto memeplexo. Embasado na obra do francês Allan Kardec (nascido Hippolyte
Léon Denizard Rivail) no século XIX, encontrou no Brasil um ambiente fértil para a sua
expansão. Os seus divulgadores adaptaram os fundamentos desse sistema espiritualista para a
cultura brasileira. Esta, no tocante à espiritualidade, é muito flexível em relação a outras. Por
exemplo, as religiões indígenas e africanas sofreram pressões meméticas do Catolicismo
durante a colonização. No entanto, elas assimilaram as ideias cristãs, como também
mantiveram suas crenças originais, originando o sincretismo religioso. No Espiritismo
Kardecista, muitas mentes receberam de bom grado as informações meméticas de esperança
da vida após a morte. Interessante que todas as religiões pregam isso, apenas de diferentes
formas. Portanto, não é uma novidade, mas foram memeplexos bem sucedidos, imitados e
“fertilizados” em ambiente favorável. Essa forma de espiritualidade integrou a nossa cultura
(exemplos específicos são citados adiante), porém os seus memes não foram suficientemente
fortes para replicarem-se na França, o seu país de origem.
Inclusive, é importante destacar que há várias formas de espiritualismo, com evocação
de espíritos de mortos, espalhadas pelo mundo, que apresentam diferenças doutrinárias entre
si. Por exemplo, na Inglaterra alguns grupos afirmam categoricamente que não há
reencarnação, mas sim a ressurreição dos mortos, conforme a tese bíblica. Esta informação é
dada neste artigo, conforme observação pessoal do autor in loco. Depreende-se, então, que as
“entidades espirituais” desses grupos ensinam a ressurreição, enquanto as “entidades
espirituais” do Kardecismo ensinam a reencarnação. Este é um notável ponto de divergência
que deve ser considerado, não apenas fenomenologicamente, mas ontologicamente. O que se
depreende são os memeplexos do Cristianismo oficial dirigindo mentes espiritualistas
inglesas, tendo em vista a Inglaterra ser um país de tradição protestante. Já a permeabilidade e
a maleabilidade da cultura brasileira, conforme exposto acima, permite a aceitação da
reencarnação, em detrimento da ressurreição, com facilidade. Em outras palavras, os
memeplexos kardecistas encontraram aqui um campo fértil para o seu desenvolvimento.
Prosseguindo, uma outra forma de reforço memético é a crença na crença. Sobre esse
ponto Dennett cita um texto do cardeal Ratzinger, posteriormente eleito papa Bento XVI
(2006: 243), acerca da universalidade salvífica de Jesus Cristo: “os fiéis devem acreditar
firmemente”. Em outro ponto: “O fiel católico tem a obrigação de professar” (em ambos os
casos, grifos do original, segundo Dennett). Como se depreende o tema (universalidade
salvífica) já fazia parte do corpo doutrinário, mas a sua crença deveria ser reforçada através da
crença memética do discurso da autoridade do teólogo, integrante da alta hierarquia da Igreja.
Em outras palavras, um memeplexo sendo ajudado por outro para replicar-se.
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Concluindo esta parte, é importante frisar que o sujeito-alvo dos memes constitui uma
parte do ambiente propício para a sua proliferação. Sob a perspectiva dos memes, diz Gustavo
Leal Toledo: “[...] são os memes que se replicam e não nós que os replicamos” (Toledo, 2010:
25). Há que se pontuar que tal afirmação pode gerar alguns desconfortos, considerando uma
eventual ausência de liberdade de escolha, entretanto é algo a ser considerado e refletido
diante das assimilações de todas as ordens que são feitas no cotidiano. Mesmo assim, não fica
descartada a intenção pessoal, determinada por memeplexos dos proselitistas em suas
divulgações doutrinárias. Estas considerações retomam a pergunta anterior sobre a autonomia
do sujeito-alvo quanto à assimilação ou rejeição de um memeplexo.
Médiuns, santos e xamãs: exemplos
Considerando que os místicos, de certa forma, são classificados de formas diferentes,
como indicado no subtítulo acima, há, no entanto, vários pontos comuns entre eles, sendo o
principal o alegado contato com o sobrenatural ou o transcendente. Mas, este não é o único,
pois observando-se mais atentamente as ações deles, pode-se depreender que há muitas
similaridades, apenas revestidas diferentemente pelas culturas e sociedades onde os sujeitos
estão inseridos.
Por contato, entende-se que há um ponto de ligação entre o espiritual e o profano,
portanto, o elemento mediúnico se faz presente em todos eles; elemento esse caracterizado
pelo sujeito-médium, com sua representação de realidade, linguagem e subjetividade
socialmente construída. Há apenas pequenas variáveis do ponto de vista ontológico dos
atributos ou “dons” de cada tipo, com as respectivas atribuições de causalidade, via de regra
de ordem mecanicista.
Assim, um médium espírita de “incorporação” entende-se exclusivamente como um
instrumento de uma outra entidade (sobrenatural), que precisa dele para passar suas
informações. Segundo os depoimentos, em alguns casos o médium nada sabe a respeito do
que fala, outros têm consciência do que transmitem, apenas não controlam a fala, e ainda há
aqueles que têm consciência plena do discurso proferido e podem inclusive “filtrar” as
informações que ele (o médium) considera inapropriadas. Já o xamã, “viaja” em espírito para
outros planos, considerados espirituais, obtém informações e quando retorna, as repassa ao
seu grupo social, possuindo, portanto, ciência do que foi visto e aprendido. O santo místico
“contempla” o transcendente, plenamente consciente e recebe informações através de sua
contemplação. Todos aqui citados entendem-se como “instrumentos” de algo superior a eles,
cujo objetivo é melhorar a condição humana, porém as suas subjetividades estão plenamente
presentes, exceto no primeiro tipo de médium aqui citado. Importantíssimo é ressaltar,
novamente, o ambiente sociocultural no qual eles estão inseridos. Vejamos alguns exemplos
comparativos:
.1) – A tradição xamânica está muito ligada às curas por meio de ervas, folhas e raízes
e, as receitas, normalmente, são dadas ao “iniciado” do grupo, denominado propriamente de
xamã. Além disso, podem ocorrer curas que dispensem as receitas acima, bastando uma
invocação por parte do xamã, diante de um paciente ou mesmo à distância. Esse curador passa
por rituais de preparação para poder estabelecer as suas práticas. Esta tradição também
prescreve o respeito à natureza em sua totalidade, inclusive na sua preservação. Para que o
xamã obtenha os seus conhecimentos, ele se “desloca” em espírito para um outro plano,
considerado espiritual. A partir de sua visão desse plano, ele coloca em prática no plano físico
o seu aprendizado. Numa avaliação preliminar, depreende-se que a sua subjetividade se faz
presente.
Ainda sobre o sistema de curas xamânicas, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss
(2008) aponta em suas observações, como um xamã curou uma parturiente com fortíssimas
dores e com dificuldade de dar a luz. Ele simplesmente entoou um canto, não deu qualquer
remédio e tampouco tocou a paciente. Segundo ele, a eficácia dessa prática se baseia tanto na
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crença do feiticeiro na força de sua magia, quanto na crença do doente de que o feiticeiro
realmente cura. As condutas mágicas estabelecem uma espécie de narrativa que incorpora as
experiências intoleráveis do sofredor a algum esquema simbólico presente na cultura local. De
certa forma, depreende-se uma certa similaridade com o proposto por George Canguillem
(1995), ou seja, o corpo e seus processos, a saúde e a doença não pertencem somente ao
pontuado pela anatomia e a sua funcionalidade, mas a uma dimensão sociocultural, que
resulta em uma construção recíproca e indissociável das regras fisiológicas e das normas
sociais.
No entanto, as curas paranormais não se fixam apenas no âmbito do xamanismo, tendo
em vista as múltiplas narrações a respeito, com atribuições causais diversas, sejam elas
atribuídas a uma determinada entidade espiritual, como nos casos dos milagres cristãos e de
determinados feitos espíritas (principalmente no Brasil), ou a outras práticas sem o
envolvimento de entidades antropomorfizadas, como é o caso do Reiki, que postula a
captação de energias de planos extrafísicos, passando pelas mãos do curador, a fim de ajudar
na cura dos enfermos. Essas aplicações energéticas também podem ser feitas à distância,
lembrando que o agente curador passa por rituais iniciáticos para permitir o seu
comportamento curativo. Segundo a Parapsicologia, esses tipos de curas são enquadrados
dentro da micro-cinesia, uma vez que não há possibilidade imediata e visível de constatação
da efetivação do fenômeno da cura, mas apenas após avaliação médica.
.2) – No tocante ainda ao tipo de prática mística relativo às informações advindas do
sobrenatural, é observado em alguns segmentos espíritas de linha kardecista, como é o caso
dos médiuns videntes e ouvintes. Mensagens de várias ordens são vistas ou ouvidas, com a
total consciência do médium e da sua linguagem pessoal. Para a sua transmissão faz-se
necessário o uso de sua subjetividade, na qual o seu “filtro” (citado acima) pode estar
presente. Isto pode ser verificado em alguns discursos do médium brasileiro Luiz Gasparetto.
.3) – Além disso, outros tipos de mensagens podem advir através de outros tipos de
médiuns. Entre eles, os de incorporação e os de psicografia. Neste último segmento enquadrase Francisco Cândido Xavier (kardecista), o qual, inclusive traz a descrição de locais
extrafísicos, como, por exemplo, o seu livro Nosso Lar, adaptado inclusive para uma versão
cinematográfica. Novamente a subjetividade e a linguagem do médium se fazem presentes.
.4) – Ainda no segmento de deslocamentos espirituais, há também uma área abraçada
por muitos no mundo inteiro que é a Projeciologia, que entende que o “corpo astral” de uma
pessoa pode se deslocar do corpo físico e “viajar” por outros planos, receber ensinamentos,
vislumbrar locais de sofrimento e de felicidade. Essas viagens podem ser espontâneas ou
induzidas, por conseguinte são ministrados cursos que ensinam o know how para tal. No
Brasil há dois nomes nesse mister de fama internacional, que são Waldo Vieira e Wagner
Borges. Esta área não é xamânica, mas está enquadrada nos moldes da cultura contemporânea
ocidental.
.5) – Prosseguindo no âmbito da Projeciologia há que se fazer um destaque especial a
Emanuel Swedenborg (século XVIII), considerado o precursor dessa área. Segundo ele
afirmou, era-lhe facultado conversar com os mortos, localizar objetos perdidos, entre outros
prodígios. No entanto, o seu feito mais memorável foi a “visita” que ele fez ao céu e ao
inferno, descritas em latim em seu livro De Caelo et ejus Mirabilibus et de Inferno, ex auditis
et visis editado em 1758, com tradução em português sob o título O Céu e as suas Maravilhas
e o Inferno, segundo o que foi ouvido e visto (2ª. ed., 1987). Segundo ele próprio, foi-lhe
concedido ouvir e ver o que havia nesses planos (céu e inferno) para trazer alento à
humanidade, uma vez que as igrejas não cumpriam esse papel por ignorância. Swedenborg era
filho de um pastor luterano, elevado à categoria de bispo e capelão real na Suécia. Não
obstante a sua origem protestante, Swedenborg era um investigador científico e estudou
mística com afinco.
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.6) – Em aditamento, é interessante notar o exposto na Segunda Epístola de Paulo aos
Coríntios (capítulo 12, versículos 2 a 4): “Conheço um homem em Cristo que, há quatorze
anos foi arrebatado até o terceiro céu, se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe, foi
arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir”. Um
grande número de exegetas afirma que Paulo, embora falando em terceira pessoa, o faz por
modéstia, pois o “homem que ele conhece”, seria ele mesmo.
Neste exemplo, há uma pequena diferença em relação aos acima citados, considerando
que o apóstolo não informa o que ouviu, por se tratar de algo ilícito. Seria essa negação a sua
postura legalista como fariseu que fora antes de sua conversão? Ou a sua incapacidade
semântica de relatar o evento? Ou ainda porque simplesmente não o quis, guardando para si a
experiência? Ele também fica em dúvida se estava em seu corpo ou não. Essa dúvida, muitas
vezes é narrada por alguns médiuns.
Ainda com relação a Paulo, a narrativa de sua conversão constitui um exemplo de
teofania, na qual uma forte luz o cega, seguida de uma voz se dirige a ele. Apenas que neste
caso, ele narra o que foi ouvido, ao contrário do anterior. Vale destacar que a tradição judaicocristã é rica em teofanias, que dão sustentação a esses sistemas religiosos.
.7) – As aparições em Lourdes na França no século XIX descritas por Bernadete
Soubirous, jovem com pouquíssima instrução e muito doente. Segundo a vidente, uma
“Senhora” lhe apareceu várias vezes e deixou mensagens. Após várias vezes perguntando
quem era ela, a “Senhora” se apresentou como sendo a Imaculada Conceição. Isto se deu em
março de 1858, e o papa Pio IX havia proclamado um dogma com o mesmo nome em 1854.
Esta questão das datas causou estranheza aos teólogos da época, uma vez que Bernadete não
teria tido acesso à informação da proclamação do dogma, considerando a sua pouquíssima
instrução. No entanto, é importante frisar que a Igreja já possuía, desde o século XV, uma
festa dedicada à Imaculada Conceição. Sendo a vidente muito religiosa e devota da Virgem
Maria, assim como a sua família, fica também a hipótese que essa expressão – Imaculada
Conceição – já fosse do seu conhecimento, assim como do conhecimento do ambiente
socialmente religioso em que ela vivia.
À guisa de ilustração acerca do reforço memético (crença sobre a crença), Pio IX ao
proclamar o mencionado dogma, o fez intencionalmente, para evitar o contato com os
protestantes, uma vez que algumas aproximações com o Catolicismo já se faziam presentes.
Considerando esse dogma um meme, a sua disseminação reforçaria a posição da Igreja em
relação à Maria, um dos pontos mais nevrálgicos nas diferenças teológicas entre católicos e
protestantes. Como esse pontífice proclamou o referido dogma sem o apoio de um Concílio como é previsto pela lei canônica - (Gonzalez, 1988: 109), este foi a preparação do ambiente
para a proclamação de outro dogma, o da infalibilidade papal (idem: 111). O contexto
sociopolítico dessa proclamação foi a perda do poder temporal dos papas, diante da formação
do Reino da Itália, restando-lhes o poder espiritual. Ora, esse poder já existia, mas foi
reforçado memeticamente pelo mencionado dogma. Por ser um dogma, continua em plena
vigência, sendo, portanto, as encíclicas um caráter de absoluta verdade. O exemplo de Dennett
citado anteriormente, encaixa-se no perfil do reforço memético da infalibilidade,
considerando que o pronunciamento do então cardeal Ratzinger foi ratificado pelo papa João
Paulo II (Dennett: 2006, 243).
Uma Filosofia Clínica Social
Introdução ao tema e exemplificação. A Filosofia Clínica, tal como foi concebida,
volta-se para o atendimento clínico da pessoa individualmente, não obstante já estarem em
curso novas aplicações, como por exemplo, na Educação. Este tipo de aplicação pode ser
considerado de caráter social, uma vez que pretende abranger determinados grupos sociais,
como professores, educadores e alunos, sem deter-se unicamente em apenas uma pessoa. No
12
entanto, em alguns casos, poderá o docente por em prática essa teoria em discentes
específicos, conforme as necessidades.
Aplicações variadas voltadas para grupos, poderiam atribuir à Filosofia Clínica um
caráter social. Tal poderia ser feito através de avaliações de culturas, sociedades, períodos
históricos, entre outros, base em registros históricos, levando em conta os significados que
representaram para a população estudada. Em outras palavras, a historicidade social seria
considerada.
A título de exemplificação do exposto, a cultura protestante desenvolvida no século
XVI, poderia ser descrita segundo os exames categoriais, os tópicos da estrutura de
pensamento envolvidos e até os submodos aplicados pelas partes interessadas. Teríamos nesse
caso, os três eixos da Filosofia Clínica que poderiam ser nomeados como sociais.
Prosseguindo, como seria a categoria circunstância na Europa do século XVI, tanto em seu
aspecto político, como o religioso. A categoria tempo, fundamentalmente, teria grande
importância, como as relações entre as autoridades seculares, as da Igreja e do povo. Haveria
algum assunto imediato? A resposta pode ser positiva, considerando a Reforma que foi
levada a efeito. Em contrapartida, a Igreja Católica também teve o seu assunto imediato, pois
empreendeu a Contra-Reforma.
Com relação a uma estrutura de pensamento social, o tópico fundamental seria como o
mundo se parece, considerando as múltiplas visões de mundo das pessoas nessa época,
inclusive as que exerciam o poder. O que acha de si mesmo, igualmente seria importante,
pois mostraria como os indivíduos se consideravam dentro desse contexto. Outros tópicos
com probabilidade de serem utilizados seriam: emoções, pré-juízos, termos agendados no
intelecto, discurso, estruturação de raciocínio (genericamente situada na época), busca,
comportamento e função, semiose, significado, padrão e armadilha conceitual, axiologia
(tópico e submodo), epistemologia (tópico e submodo), expressividade, ação, hipótese,
experimentação e interseções de estruturas de pensamento. Tópicos esses sempre sob a
perspectiva social.
No que se refere aos submodos, a postura filosófico-clínica seria idêntica,
principalmente àqueles utilizados pelos reformadores. Parece que foram em direção às ideias
complexas, através do reexame das escrituras; entabularam esquemas resolutivos, usaram
argumentação derivada e busca; adicionaram, roteirizaram, percepcionaram,
buscaram; ainda valeram-se de informação e intencionalidade dirigidas.
A coleta dessas informações não ficariam condicionadas a um estudo genérico da
historicidade contida nos registros, mas também os dados divisórios e os enraizamentos
teriam lugar de relevância para a exata compreensão dos eventos. É importante salientar que a
abordagem clínico-filosófica não conteria críticas, julgamentos e interpretações, posto que o
seu método é compreensivo. Esta seria, então, uma abordagem de uma possível Filosofia
Clínica Social da História, conforme a hipotética exemplificação acima.
Singularidade existencial social. Tomando como ponto de partida o exemplo acima,
também seria possível abordar o tópico de singularidade existencial, sob o prisma social,
dada a sua ocorrência em diversos grupos socioculturais específicos. Por exemplo, cada tipo
de médium insere-se em contextos culturais, doutrinários e sociais diferentes. O mesmo pode
ser dito dos videntes cristãos no que tange à especificidade de cada um e as circunstâncias
históricas pertinentes. Dessa forma, além da avaliação clínica individual, é passível de ser
empreendida uma avaliação social pelo método da Filosofia Clínica – o descritivo e
compreensivo – sem julgamentos e/ou críticas, mas apenas à historicidade dos fatos e eventos,
observando-se criteriosamente as subjetividades envolvidas nos respectivos contextos. Para
tanto, é fundamental a suspensão dos pré-juízos e dos juízos do pesquisador. Tal postura é
compatível com os critérios da Psicologia Anomalística, que compreende o ceticismo como
uma ferramenta básica.
13
Conforme prescreve a Filosofia Clínica, os fatos atinentes a esse tópico não podem
ser explicados racionalmente; no entanto, uma observação mais crítica da estruturação de
raciocínio, será possível identificar a lógica existente, sem necessariamente ser a Lógica
Clássica.
Por uma questão didática, a opção para apresentar a hipótese social deste tópico, será
feita através de um exemplo citado neste artigo, estabelecendo interfaces com a Psicologia
Anomalística, Filosofia da Mente, especificamente, com a Memética e as teorias dos campos
morfogenéticos e da Psicologia do Destino.
Tomando o caso de Bernadete Soubirous e suas visões, caberia ao filósofo clínico
pesquisador, ter como ponto de partida de sua investigação uma rigorosa ótica
epistemológica, buscando o conhecimento profundo de toda a historicidade dos eventos, como
também de uma compreensão da Estrutura de Pensamento da vidente, inserida em seu
respectivo contexto sociocultural. A exemplo da Psicologia Anomalística, o pesquisador
filosófico não tomaria imediatamente o caso como paranormal, e procuraria compreendê-lo à
luz daquilo que já é conhecido a partir dos registros históricos, da Sociologia e também da
Antropologia, cuja função é simplesmente descrever, sem julgar (interdisciplinaridade). Estas
seriam algumas das bases epistemológicas de investigação, como também outras poderiam
surgir, como relatos e depoimentos de pessoas que visitaram o santuário erguido em Lourdes.
As interpretações, evidentemente, não caberiam, uma vez que pessoas e eventos não estariam
enquadrados em quaisquer sistemas teóricos já previamente estabelecidos, o que então, não
estaria em concordância com as investigações iniciais da Psicologia Anomalística.
Esses relatos e depoimentos, como também as descrições da época em que os eventos
ocorreram, são considerados insuficientes para o estabelecimento de uma explicação
ontológica dos mesmos; no entanto, para o filósofo clínico bastaria a visão fenomenológica,
voltada para os significados deles decorrentes, como também os impactos sociais ocorridos na
ocasião e os consequentes para o mundo cristão.
Aqui se percebe, quão extensos seriam os exames categoriais, posto que não estariam
restritos aos eventos em si, mas a uma dimensão social muito mais ampla. As circunstâncias
seriam inúmeras, assim como as relações, e também os lugares existenciais. O tempo das
ocorrências é cronológico, mas há a possibilidade de outros tempos subjetivos individuais e
coletivos. Socialmente no início ocorreu um assunto imediato (a sua veracidade ou não), que
se desenvolveram em assuntos últimos (grandes discussões a respeito).
Esta avaliação das categorias incluiria o viés epistemológico da assimilação memética
por parte da vidente e daqueles que creram no alegado fenômeno. Especificamente para
Bernadete, qual era a sua axiologia em relação à religião e à Virgem Maria? Apesar de sua
pouquíssima instrução, ela passou pela catequese de sua época, rica em imagens do
sobrenatural. Além disso, ela teria sido alvo dos memes da festa da Imaculada Conceição já
existente na Igreja? Devido à sua frágil saúde, haveria alguma implicação neurofisiológica
que poderia dar margem à vidência, como uma possibilidade aventada pela Psicologia
Anomalística? Ou ainda, se fosse possível investigar alguma herança genética que facultaria
esse seu comportamento no entorno em que vivia, conforme a teoria de Szondi? Haveria
também uma ressonância mórfica, uma vez que outros videntes cristãos já haviam narrado
feitos semelhantes?
Com relação à assimilação memética, esta não estaria facilitada pelas últimas duas
teorias citadas acima? Esta colocação é feita, tendo em vista o postulado pela Psicologia
Anomalística, no que se refere à complexidade dos eventos e a inexistência de uma teoria de
consenso, como também a possibilidade de haver processos ainda desconhecidos entre o
sujeito e o meio.
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Ainda, não estaria a vidente ampliando a sua axiologia, integrante de seu aparato
religioso-devocional, implicando em uma elevação de suas emoções? Em caso positivo, isto
não facilitaria memeticamente os conteúdos mariológicos? Evidentemente, neste artigo não há
como responder; no entanto, se houver a possibilidade de uma análise da Estrutura de
Pensamento de Bernadete, dos exames categorias e de seus submodos, haveria uma
possibilidade maior da compreensão de suas narrativas acerca do que viu. O mesmo poderia
ser dito daqueles que nela creram e creem até a atualidade, tendo em vista as peregrinações ao
santuário que foi erguido em Lourdes.
Assim, o filósofo clínico teria que usar os tópicos ação, hipótese e experimentação,
para compreender os fenômenos apresentados, utilizando-se exaustivamente dos dados
divisórios e dos enraizamentos, para tentar fixar uma análise indireta. No que diz respeito a
uma Estrutura de Pensamento Social deste caso, evidentemente a visões de mundo e dos
envolvidos terão uma conotação diferenciada, vinculada às emoções e aos valores.
Especificamente os tópicos Significado e Expressividade teriam lugar de destaque. Isto
porque os fenômenos provocaram inúmeros significados nas mentes das pessoas (até hoje) e
talvez a forma como foram expressos, não fornecem a dimensão epistemológica plena, a
despeito da construção teológica que fora erigida. Assim, a subjetividade de Bernadete, aliada
à linguagem expressa por ela (dados de semiose) seriam elementos a serem avaliados.
No que tange à estruturação de raciocínio da vidente e de seus seguidores, há que se
considerar o “terceiro excluído”, uma vez que os fenômenos não podem ser explicados
empiricamente, cabendo, portanto, uma lógica que permita outras atribuições de causalidade e
seus efeitos.
Caberá ainda ao filósofo clínico, a utilização de todos os seus submodos disponíveis
para o estabelecimento da investigação, bem como os submodos que foram empregados na
historicidade dos eventos. Percorrendo todos esses passos da clínica filosófica, será possível
fazer a análise da estrutura. Evidentemente, não haveria o uso de submodos por parte do
clínico, que poderiam alterar intencionalmente alguma parte da referida estrutura.
Todos os demais exemplos registrados no presente artigo são passíveis de serem
avaliados pela Filosofia Clínica, em interfaces com a Psicologia Anomalística e a Filosofia da
Mente, não apenas no âmbito da Memética, mas também sob outras abordagens. Teorias
complementares como a Psicologia do Destino, os campos morfogenéticos, as descrições
antropológicas como a de Lévi-Strauss, como o exemplo aqui referido, e até o segundo nível
da Dinâmica da Espiral poderão ser usadas, tendo em vista que as suas metodologias
contribuem sobremaneira para a compreensão dos referidos fenômenos. Portanto, outras
interfaces, além daquelas que dão título ao artigo, poderão ser consideradas.
Uma interface muito importante com a Psicologia Anomalística reside na avaliação do
médium (qualquer que seja a sua natureza) não apenas em seu aspecto individual, o qual
poderia implicar em psicopatologia, mas também as suas relações com a cultura na qual o
médium está inserido, a despeito dessas fronteiras ainda não estarem totalmente delineadas.
Conclusão
A Filosofia Clínica é um campo vasto, aberto e muito fértil para muitos tipos de
pesquisas, além do atendimento individual no consultório. Esta pequena abordagem que
estabelece algumas interfaces com outras áreas do saber é uma pequena amostra de como
áreas tão complexas como a Parapsicologia e a Religião podem ser abordadas pelo prisma da
Filosofia Clínica. Ainda no tocante à singularidade existencial, torna-se passível ao
pesquisador filosófico investigar elementos que desafiam a Lógica Clássica e aquilo que se
conhece como real. Não apenas aos feitos mediúnicos de qualquer espécie, mas também
elementos outros, como a precognição e ufologia, por exemplo. Pesquisa, suspensão de pré-
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juízos e epistemologia são pontos fundamentais. Assim sendo, ficam abertas as possibilidades
de sequência deste artigo, dada a vastidão do tema.
Assim, ainda permanece sem resposta a colocação de William James, mencionada no
início, acerca de um conhecimento verdadeiramente supranormal.
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*Carlos Copelli Neto
Filósofo
Especialista em Filosofia Clínica
Professor adjunto de Filosofia Clínica no Instituto Interseção – São Paulo
Membro do INTER PSI - Laboratório de Psicologia Anomalística e
Processos Psicossociais do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo – São Paulo

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