Novo Polo de Lingerie.

Transcrição

Novo Polo de Lingerie.
passoapasso
Outubro | Novembro 2013 | Ano XIX | Nº 148
De
Norte a
Sul
Revendas
autorizadas vão
comercializar
a cachaça
artesanal de Salinas
em todo o Brasil
Vargem Grande se destaca
como polo de lingerie no
Vale do Rio Doce
Empreendedores individuais
mineiros se tornam
microempresários
ISSN 2238-2178
9 772238 217000
CARTA AO LEITOR
Foco no mercado
U
“Uma ação
pioneira vai levar a
bebida para todas as
capitais brasileiras.
Uma oportunidade
para que os
apreciadores da
boa cachaça
conheçam a famosa
aguardente da
região de Salinas”
ma das prioridades estratégicas do Sebrae Minas é
fortalecer as micro e pequenas empresas mineiras
nos encadeamentos produtivos, com capacitações de
gestão e inovação e foco no mercado. Projetos como
o de Capacitação de Fornecedores favorecem o acesso das MPE às oportunidades geradas por grandes investimentos
propulsores em diversas regiões do Estado.
A capacitação realizada em parceria com a Gerdau, uma das
principais fornecedoras de aços longos especiais do mundo, vai
além das fronteiras de Minas. O projeto já atende mais de 280 empresas no país, 76 delas em nosso Estado, nas plantas industriais
de Divinópolis, Ouro Branco, Barão de Cocais, Três Marias e Florestal. Os resultados dessa ação e seus impactos na vida das micro
e pequenas empresas são destaque nesta edição da Passo a Passo.
Outra ação de acesso a mercados tem levado um produto típico mineiro para todo o Brasil e outros países – o projeto Comercialização da Cachaça de Alambique de Salinas e região. Em
2001, o Sebrae Minas realizou um grande diagnóstico do setor.
E, em 2005, com o crescimento da atividade no Norte de Minas,
iniciou amplo projeto na região de Salinas, polo produtor de uma
cachaça de qualidade, valorizada em todo o país e no exterior.
O objetivo do Sebrae Minas é desenvolver um plano estratégico e ações mercadológicas que favoreçam a comercialização do produto, valorizando a Indicação Geográfica de Procedência da Cachaça da Região de Salinas, concedida, em 2012,
pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial. A
partir de dezembro deste ano, uma ação pioneira vai levar a
bebida para todas as capitais brasileiras e cidades com mais
de 300 mil habitantes. Uma oportunidade para que os apreciadores da boa cachaça conheçam a famosa aguardente de
cana-de-açúcar da região de Salinas.
A proposta da iniciativa é instalar, em dois anos, de 80 a 100
revendas em capitais, metrópoles e cidades de menor porte com
bom fluxo de turistas. Mais uma atividade produtora de Minas
que se fortalece com o apoio do Sebrae.
Boa leitura!
LÁZARO LUIZ GONZAGA
Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas
www.sebraemg.com.br 3
PASSO A PASSO
Pág. 6
Passo a Passo é uma publicação do Serviço de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais
(Sebrae Minas). Registro no Cartório Jero Oliva nº 931.
Conselho Deliberativo do Sebrae Minas:
BB, BDMG, CDL-BH, CEF, Cetec Ciemg, Faemg, Fapemig,
Fecomércio-MG, Federaminas, Fiemg,
Indi, Ocemg, Sebrae e Sede.
Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas:
Lázaro Luiz Gonzaga
Superintendente: Afonso Maria Rocha
Diretor Técnico: Luiz Márcio Haddad Pereira Santos
Diretor de Operações: Fábio Veras
Conselho editorial: Albertino Corrêa, Aline de Freitas,
Andrea Avelar, Luciana Patrícia Rezende, Rodrigo
Patrocínio Mazzei, Daniela Toccafondo, Danielle Fantini,
Edelweiss Petrucelli, Gustavo Moratori, Jefferson Ney
Amaral, José Márcio Martins, Karinne Mendes, Carlos
Vieira Pinto, Denise Sapper, Március Marques Mendes,
Paulo César Barroso Veríssimo, Regina Vieira, Alex Pena
e Daniele Brito.
Gerente de Comunicação: Teresa Goulart
Jornalista responsável: Andrea Avelar – MTb 06017/MG
Produção editorial: Rede Comunicação de Resultado
Edição: Jeane Mesquita e Licia Linhares
Reportagem: Aline Luz, Beatriz Debien, Brígida Alvim,
Éricka Dias, Hellem Malta, João Luís Chagas, Juliana
Soares, Lucas Ávila, Tarsis Murad e Viviane Miranda
Revisão: Liza Ayub
Designer e diagramação: Clayton Pedrosa
Fotografia: Agência i7, Fernanda Nassen,
Haroldo Kennedy, Mauro Marques e Robert Owen
Foto capa: Pedro Vilela/Agência i7
Ilustrações: Cláudio Duarte e Hélvio Avelar
Projeto gráfico: Brava Design
Impressão: EGL Editores Gráficos
Periodicidade: bimestral
Tiragem: 15 mil exemplares
Redação:
[email protected]
Av. Barão Homem de Melo, 329
Nova Granada – Belo Horizonte
Minas Gerais – CEP: 30.431-285
08005700800
www.sebraemg.com.br
Prêmio Aberje
Vencedor nacional
Categoria mídia impressa
MODA ÍNTIMA
Vargem Grande se destaca como
polo de produção de lingerie no
Vale do Rio Doce
Pág. 12 EMPREENDEDORISMO
Empreendedores individuais
expandem negócios e se tornam
microempresas
Pág. 18 CROWDFUNDING
Mineiros utilizam plataformas
on-line de financiamento coletivo
para viabilizar projetos
Pág. 22 COMUNICAÇÃO
Profissionais de publicidade
e propaganda profissionalizam o
setor em Uberlândia
Pág. 27 EDUCAÇÃO
Herdeiros preparados na ETFG se
empenham para assumir o
comando das empresas familiares
Pág. 32 MERCADO
Donos de sorveterias,em
Montes Claros, aprimoram a
gestão dos negócios
Pág. 38 ARTIGO
Como inovar e tornar-se
empreendedor no século XXI,
por Anderson Rossi
Pág. 40 CAPACITAÇÃO
MPE melhoram os
indicadores de gestão
após Programa de
Desenvolvimento de
Fornecedores da Gerdau
Pág. 46 CAPA
Produtores artesanais da
Cachaça de Salinas apostam
nas revendas autorizadas
para comercializar a bebida
em todo o Brasil
Pág. 66 REVITALIZAÇÃO
Projeto Caminhos pretende
transformar a avenida Silva Lobo,
na capital, em um grande centro
comercial a céu aberto
Pág. 69 DESIGN
Designer Edson Xavier se destaca
no mercado de joalheria e
desenha peças para a Swarovski
sumário
Pág. 54 ENTREVISTA
Afonso Cozzi, mestre em
Administração e professor da
FDC, fala sobre a importância
do conhecimento na hora
de empreender
Pág. 59 LITERATURA
8º Festival Internacional de
Quadrinhos sediará a primeira
Rodada de Negócios entre
quadrinistas e editoras
Pág. 62 NOTAS
Pág. 72 AFROEMPREENDEDORISMO
Pesquisa revela que o número
de empreendedores
afrodescendentes cresce no país
Pág. 76 CONSULTORIA
Aprenda como escolher uma boa
franquia e conheça o segredo
para vender bem
Pág. 80 É BOM SABER
Garantia dos Vales impulsiona
negócios no Estado. Projetos
tecnológicos podem receber
investimentos de até R$ 400 mil
Errata:
Na edição 147, as fotos publicadas nas páginas 50 e 52 foram identificadas incorretamente. Os nomes corretos são: Enilson de Souza, presidente da
Coopergac, na pág. 50, e Ênio Trindade, diretor da Coopergac (à esq.), e Antônio Carlos Cruz, vice-presidente da Coopergac (à dir.), na pág. 52.
www.sebraemg.com.br 5
Fotos: Bernardo Salce/Agência i7
MODA ÍNTIMA
M
oradora de Vargem Grande, pequeno distrito de São João do
Manteninha, no Vale do Rio Doce,
Ilza Maria de Mendonça aprendeu
a costurar em casa, aos 13 anos de idade, com
uma senhora que ajudava sua mãe nas tarefas
domésticas. Começou bordando conjuntos de
mesa e de cama, depois passou a fazer também vestidos para crianças. Sempre caprichosa, ela foi aprimorando o dom e, quando se
casou com Gentil Pereira de Mendonça, em
1972, já era costureira de mão cheia.
Com as vendas das peças no distrito e na
capital mineira, onde vivia uma de suas irmãs,
Ilza Mendonça complementava a renda do armazém do marido e ajudava nas despesas de
casa, mas sentiu que precisava ampliar a variedade de produtos. Em uma das ocasiões em
que foi a Belo Horizonte comprar materiais,
ela conseguiu moldes de roupas e de calcinhas
e achou, nesse último item de vestuário, as
melhores possibilidades de ganho. “Fiz os cálculos e descobri que as peças íntimas demandavam pouco tempo e investimento. Em apenas um dia, eu podia produzir 60 calcinhas,
enquanto uma colcha de cama ou um jogo de
cozinha me exigiam o triplo”, relembra. “Outra surpresa foi que o produto teve muita aceitação em Vargem Grande. A primeira remessa
consegui vender em um instante e tive que
providenciar logo mais tecido.”
Novo polo da
lingerie
Entre montanhas e pedras
imponentes, o pequeno distrito
de Vargem Grande se destaca
pela produção de peças íntimas
6 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
“As peças íntimas deman­davam
pouco tempo e investimento.
Em ape­nas um dia, eu podia
produzir 60 calcinhas, enquanto
uma colcha de cama ou um jogo
de cozinha me exigiam o triplo”
Ilza Mendonça, proprietária da
Meury Kiss
Com o sucesso das vendas, a costureira
percebeu na produção de calcinhas um nicho de mercado e investiu na compra de máquina de costura elétrica e overlock, grandes
novidades na época, que atraíram a população local. Logo a freguesia foi aumentando e,
em 1985, ela fundou a Meury Kiss, primeira
confecção do distrito, que hoje conta com 60
funcionários e produz cerca de 60 mil peças
íntimas por mês, entre calcinhas, cintas, modeladores, sutiãs e cuecas. O marido passou o
armazém para o filho e preferiu dedicar-se à
administração da fábrica junto com a esposa.
Irmãos, cunhados, filhos, genros e colaboradores da empresa também seguiram o mesmo caminho, aprendendo o ofício e abrindo
suas próprias confecções.
Foi assim que começou a história da
produção de lingeries em São João de Manteninha, município que hoje possui 38 confecções do segmento, estando a maior parte
delas, 30, no distrito de Vargem Grande. Juntas, elas formam o Polo de Lingerie de Vargem Grande e são capazes de produzir 500
mil peças e gerar uma renda de R$ 2 milhões
a cada mês. O setor representa 90% das empresas e emprega metade da população local
– 2.500 habitantes.
FORMAÇÃO DO POLO I O crescimento econômico da moda íntima em Vargem Grande
www.sebraemg.com.br 7
começou, em 2005, com as primeiras ações
do Sebrae Minas junto aos empresários das
confecções. Na época, 14 fábricas operavam
de portas fechadas, sem processos produtivos eficientes e com foco nas vendas via representantes. A Regional Vale do Rio Doce
do Sebrae Minas passou a prestar suporte em
áreas como cooperação, eficiência produtiva,
capacitação financeira e gerencial, melhoria
de layout de produção e organização de visitas a feiras especializadas.
O diagnóstico feito na etapa inicial mostrou que o temor de que o lucro não superasse os custos de uma loja impedia os empresários de darem esse passo. “As confecções já
eram empresas organizadas e cumpriam as
leis, mas continuavam escondidas em fundos de quintal. Mostramos que era preciso
abrir as portas para exibir produtos e receber
clientes. Para prepará-los, oferecemos capacitações, desde gestão de negócios até atendimento ao cliente, e o processo de abertura
de lojas foi iniciado”, lembra Marcelo Gonçalves, analista do Sebrae Minas.
A resposta ao investimento foi rápida e
serviu para alavancar mais as vendas. Hoje
em dia, os produtores possuem pronta-entrega, e o número de estabelecimentos em
Vargem Grande chega a exceder o de fábricas, já que cinco delas estão instaladas na
cidade de São João de Manteninha, estabelecidas na área em que circula um maior
número de clientes.
Em 2010, já com 23 fábricas de lingerie
registradas no distrito e quase todas com lojas próprias, foi iniciado o projeto Confecção
de Lingerie de São João do Manteninha e
região, guiado pela metodologia Gestão Estratégica Orientada para Resultados. “Para
reduzir os efeitos da falta de mão de obra,
uma das principais queixas dos empresários, optamos em trabalhar essa deficiência
realizando capacitação e consultorias de
produção e processos nas fábricas. Implementamos o Programa de Alavancagem Tecnológica (PAT) em duas etapas, com 200 horas de capacitação e consultorias, em que os
empreendedores aprenderam a montar suas
8 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
“As confecções já eram empresas
organizadas e cumpriam as leis,
mas continuavam escondidas
em fun­dos de quintal.
Mostramos que era preciso abrir
as portas para exibir produtos e
receber clientes”
Marcelo Gonçalves, analista do
Sebrae Minas
células de produção. Muitos deles chegaram
a aumentar sua produtividade em 45% com a
mesma quantidade de funcionários”, detalha
Marcelo Gonçalves.
Para orientar o crescimento, a próxima
etapa foi a realização de 100 horas de consultoria de gestão e layout por empresa, para
implantação de um rigoroso controle de fabricação. O modelo influenciou algumas empresas a adotarem o pagamento por produção, o que gerou aumento da produtividade
e melhorou os salários dos funcionários, que
passaram a ganhar gratificações ao atingirem
as metas estipuladas.
DE PORTAS ABERTAS I Na fábrica de Ilza Mendonça, as vendas em loja já representam 50%
do montante total e apresentam vantagens
em custo-benefício e aumento na lucratividade. Com o aumento progressivo no número de clientes e de vendas, pela segunda vez,
a empresária decidiu ampliar sua loja, que
passou de seis metros quadrados iniciais para
24 m² e, no fim deste ano, com o término da
obra em execução, passará a ter aproximadamente 200 m².
Aproveitando o legado iniciado pela mãe,
Elisângela, filha de Ilza, criou com o marido, Emerson da Silva Xavier, a Love Life
O empresário Emerson Xavier e a esposa Elisângela, donos da Love Life, contabilizam uma
produção diária de 12 mil peças
Indústria e Comércio Ltda, que atualmente é a maior do município. A empresa foi a
primeira a abrir loja no distrito e, hoje, já
possui uma filial, instalada em um shopping
(voltado para o atacado) de Colatina, no Espírito Santo. Recentemente, o casal transferiu a loja-matriz da fachada da fábrica para
um edifício construído ao lado, com 200 m².
Juntos, os dois estabelecimentos são responsáveis por 35% das vendas.
O cenário é de evolução contínua, e o clima, de otimismo. “Por dia, produzimos entre 11 e 12 mil peças. Em agosto deste ano,
contabilizamos 277 mil produtos e um faturamento de R$ 715 mil”, revela Emerson Xavier, que deixou a carreira militar para assumir a direção do negócio, quando percebeu
que a fabricação de lingeries indicava um
futuro promissor para sua família.
Outro empresário também seduzido pelo
setor foi Amarildo Francisco Siqueira, que
apoiou sua esposa Valéria (irmã de Ilza) na
abertura da segunda confecção de Vargem
Grande, a World Star, em 1992. Atualmente, o
casal comanda 25 funcionários, que produzem
25 mil peças ao mês, e recebe seus clientes em
uma loja de 100 m² com decoração luxuosa. “O
apoio do Sebrae Minas tem sido muito importante, por nos estimular a abrir a mente. Com
as capacitações e consultorias constantes, além
de incentivo à participações em feiras e eventos
de moda em outras cidades e estados, conseguimos visualizar a necessidade de mudança e
acompanhar as novas tendências do mercado”,
avalia o empreendedor.
CAMPO FÉRTIL I O cenário econômico favorável rendeu a São João do Manteninha o
www.sebraemg.com.br 9
status de polo de confecção de lingeries e colocou o município na rota dos representantes,
sacoleiros, lojistas e consumidores finais de
vestuário. A região recebe diariamente centenas de clientes, vindos de diversas regiões de
Minas Gerais, além da Bahia, Espírito Santo,
São Paulo e Rio de Janeiro. Os fornecedores
de matéria-prima também vão diretamente às
fábricas, diferentemente do início, em que os
produtores tinham que se deslocar para conseguir os insumos.
O negócio mudou a realidade do local e
passou a oferecer boas alternativas aos jovens,
como recorda Ilza Mendonça. “O distrito era
muito menor, havia poucas casas e moradores. A agricultura e a olaria, atividades predominantes na região, não ofereciam ocupação
para todos, então a maioria dos jovens saía em
busca de trabalho na capital, outros estados e
países. Hoje, o movimento é contrário. Quem
está aqui não sai mais, por conseguir estudo
e trabalho. E muitos dos que tinham migrado
voltaram para trabalhar ou abrir negócios relacionados às lingeries”, compara.
Foi nesse contexto que Andréia Alves de
Oliveira e sua cunhada Márcia Aparecida da
Silva decidiram fundar a confecção de peças
íntimas New Star, há sete anos. Tanto o ofício
da confecção quanto as principais estratégias
para gerenciar um negócio as sócias aprenderam com seus antigos patrões. Por nove
anos, Andréia Oliveira trabalhou na Love
Life e Márcia Silva atuou na Meury Kiss.
Em março de 2006, elas resolveram
fabricar as peças por conta própria, mas,
como ainda não tinham capital de giro para
manter o negócio, permaneceram em seus
empregos até o fim do ano, fazendo os produtos no período da noite. Os pais de Andréia Oliveira cederam a parte dianteira
do lote de sua residência, que foi adaptada
para abrigar a fábrica e, mais tarde, a loja
da New Star. “Além da família, nossos patrões foram grandes incentivadores para a
abertura da empresa. Eles nos deram alguns
moldes, orientações e sugestões. Até hoje,
eles demonstram muito carinho e sempre
nos apoiam”, conta Andréia Oliveira.
10 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
Com decoração luxuosa, Amarildo Siqueira abriu a WorldStar,
segunda confecção de Vargem Grande, em 1992
Por indicação dos pioneiros, as empresárias entraram para o projeto do Sebrae Minas, em 2011, e receberam a ajuda necessária
para abrir a loja. “Fomos capacitadas para
atender bem os clientes e saber lidar com os
funcionários. Agora, teremos o curso de modelagem, e nossa expectativa de aprendizado
é grande”, estima Márcia Santos.
CONCORRÊNCIA AMIGÁVEL I As opções de
lojas de pronta-entrega em Vargem Grande
são muitas e próximas umas das outras, mas
cada qual com sua identidade e seus pro-
dutos com características específicas. Os
empresários se conhecem, trocam conhecimento e indicações de matérias-primas.
Dessa forma, a concorrência ocorre de forma harmônica e colaborativa.
Para nutrir a relação de parceria e união
entre os empresários, no segundo ano do
projeto, o Sebrae Minas contratou 100 horas
de consultoria, divididas em cinco meses de
trabalho, para fortalecer o associativismo e o
cooperativismo no grupo, o que resultou na
criação da Associação dos Empreendedores
de Confecções, Indústrias e Comércios de
São João do Manteninha e Região (Assecon).
A entidade é presidida por Emerson Xavier,
que se reúne mensalmente com os colegas
empresários para discutir os assuntos de interesse da coletividade.
De acordo com ele, a maior dificuldade
tem sido a falta de mão de obra, problema
que se agrava no final do ano, com o aumento da demanda de produção. “Para suprir o
gargalo e não deixarmos de atender os clientes, temos buscado recursos para capacitar
novos profissionais”, relata.
Outro ponto trabalhado pela Assecon
junto à prefeitura e aos órgãos locais é a melhoria da infraestrutura do polo. Como resultado do crescimento das confecções, hoje
o distrito conta com dois restaurantes, um
posto de gasolina, uma cooperativa de crédito, uma linha de ônibus e táxi. As reivindicações atuais incluem a aplicação de asfalto na
via de 6 km que leva à entrada do distrito, a
instalação de telefonia celular com qualidade, a ampliação das instalações elétricas para
melhorar a qualidade da energia e a construção de um hotel.
O Sebrae Minas também se esforça para
contribuir com a autonomia e a sustentabilidade da Associação. “Estamos finalizando
um diagnóstico para elaborarmos um plano
de ação para aproveitamento de resíduos das
fábricas, como recortes de tecidos, linha, papel, plástico e carretel. Para 2014, já estamos
planejando a realização da primeira feira de
lingerie de São João do Manteninha e região”, antecipa Marcelo Gonçalves.
“Além da famí­lia, nossos patrões
foram grandes incentiva­dores
para a abertura da empresa.
Eles nos de­ram alguns moldes,
orientações e sugestões”
Andréia Oliveira, proprietária da
New Star (à esq.), ao lado da
sócia, Márcia Silva (à dir.)
www.sebraemg.com.br 11
EMPREENDEDORISMO
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
Liliane Marques criou a revista
Mercado e já se prepara para
mudar de Micro Empreendedor
Individual para Micro Empresa
Negócio em
evolução
Empreendedores individuais mineiros mostram perspectivas
e desafios de se tornar um microempresário
12 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
A relações públicas Liliane Marques tem
apostado todas as fichas em seu novo negócio. Afastada de Santa Luzia por muitos anos,
ela voltou a morar em sua cidade natal no ano
passado e logo percebeu a mudança e o desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo
Horizonte. Foi aí que pôs em prática uma ideia
antiga: criar uma revista voltada para o comércio do Vetor Norte da capital mineira, que corresponde às cidades de Confins, Jaboticatubas,
Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Santa Luzia, São
José da Lapa, Ribeirão das Neves e Vespasiano.
A Mercado, de circulação bimestral, por
enquanto, só é encontrada em Santa Luzia,
mas caminha para sua terceira edição e tem
tiragem de 5.000 exemplares. “Pretendo ampliar o negócio aos poucos. Já fiz uma pesquisa de mercado, apliquei questionários, e
o número de anunciantes tem aumentado”,
anima-se. Por ora, Liliane Marques só tem um
funcionário contratado e um faturamento que
ultrapassa os R$ 50 mil anuais, mas pretende
criar uma redação profissional já no ano que
vem para dar conta da demanda crescente.
“Há quase um ano fiz cursos de capacitação
no Sebrae Minas para tirar a empresa do rascunho e entender como é o funcionamento
real de um negócio”, diz.
Crescimento parecido é o da cabeleireira Lúcia Santos, que montou seu salão, há 10
anos, na cidade de Barbacena, no Campo das
Vertentes. Para o empreendimento, economizou, frequentou cursos e participou de feiras de
pequenos comerciantes na região. Esses investimentos resultaram no faturamento anual médio de R$ 50 mil. Com o aumento do número
de clientes – uma média de 10 por dia –, ela
percebeu que o espaço era pequeno e planeja
abrir uma filial em outro bairro da cidade.
Paralelamente às atividades corriqueiras
do salão de beleza, Lúcia Santos viu nos cabelos cortados uma outra fonte promissora.
“Faço perucas, e o mercado local tem muita
demanda para pouca oferta. Quero importar
cabelos da China e Índia para aumentar minha produção e meu orçamento. Todo investimento tem um risco, mas pretendo seguir
com meus sonhos”, revela.
“Faço perucas, e o mercado local
tem muita demanda para pouca
oferta. Quero importar cabelos da
China e Índia para aumentar mi­nha
produção e meu orçamento”
Lúcia Santos, proprietária do salão
Lúcia Cabeleireira
Mas o que Liliane Marques e Lúcia Santos
têm em comum? Elas são Micro Empreendedores Individuais (MEI), modalidade criada
em 2008 para que pessoas que trabalham por
conta própria possam legalizar suas atividades. Para se manter nessa categoria, a empresa deve faturar, no máximo, até R$ 60 mil por
ano. Entre as vantagens, está o registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ),
possibilidade de abertura de conta bancária,
pedido de empréstimos bancários e emissão
de notas fiscais. O MEI está enquadrado na
cobrança do Simples Nacional e é isento de
pagamento dos tributos federais. O empresário paga apenas um valor fixo mensal de
R$ 33,90 (INSS), acrescido de R$ 5 (para os
que são prestadores de serviço) ou R$ 1 (para
quem atua no ramo de comércio e indústria).
www.sebraemg.com.br 13
“Procuro manter a qualidade do
produto, ter persistência e buscar
novas re­ceitas para fazer com que
meu negócio tenha um diferencial”
Grace Kelly Lisboa, dona do Atelier
du Chocolat
Pelo faturamento anual tanto da revista
quanto do salão de beleza, as duas empresárias estão no limite de deixar o MEI. Liliane
Marques vai começar a transição ainda neste
ano. Já Lúcia Santos deixará para 2014. “Se é
para crescer, temos que ser corajosos e arriscar. Mas sempre com o pé no chão”, afirma,
convicta, a proprietária do salão de beleza.
DE REPENTE, MICROEMPRESÁRIO I Segundo
o consultor do Sebrae Minas, Sebastião Moreira, os Micro Empreendedores Individuais
que ultrapassam o faturamento máximo de
R$ 60 mil previstos não têm escolha: serão
realocados para a categoria de Micro Empresa (ME). “Eles são transferidos automaticamente para microempresas, no entanto é
preciso formalizar essa transição junto à Receita Federal do Brasil, via internet”, explica.
14 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
Nela, o empreendimento pode ter receita
bruta anual de até R$ 360 mil e contratação
de quantos funcionários for necessário, e
manter-se no Simples Nacional.
Os impostos variam segundo as atividades comerciais, cujo valor percentual é de 4%
para receita de até R$ 15 mil por mês; industriais, de 4,5%; e de serviços, de 6% para o
mesmo limite. “Há outras diferenciações em
caso de construção civil, que começa com
alíquota de 4,5%, mas parte da previdência
não está incluída na tabela. Todos esses valores são proporcionais à receita. Depois dos
R$ 15 mil, a alíquota progride”, ensina.
Quem ampliou seus negócios diz que, apesar do aumento dos tributos e dos riscos, vale
a pena investir quando há uma boa gestão de
recursos. A empresária Grace Kelly Viol Lisboa,
do Atelier du Chocolat, uma chocolateria especializada em doces finos para festas e eventos,
também em Barbacena, trabalha no ramo há 17
anos. Quando começou, com bolos fornecidos
para o comércio local, tinha uma média de 10
clientes. Hoje, contabiliza mais de 70, com 15
mil doces vendidos por mês. “O aumento da
demanda fez com que eu deixasse de ser uma
MEI e me tornasse uma ME, atualmente com
cinco funcionários”, relata.
Esse crescimento só foi possível por meio
dos cursos e orientações do Sebrae Minas.
“Como a instituição tem muita experiência
em negócios, fui orientada a observar pontos de equilíbrio na empresa que eu nem
percebia”, lembra. A chocolateria tem dado
tão certo que Grace Kelly vai transferir o estabelecimento, em breve, para uma loja em
um shopping da cidade, com uma cafeteria,
de modo a atender melhor quem busca seus
quitutes. “Procuro manter a qualidade do
produto, ter persistência e buscar novas receitas para fazer com que meu negócio tenha
um diferencial.”
Neste ano, os doces feitos pela empreendedora ultrapassaram o limite do município
e fizeram sucesso em um dos restaurantes
mais badalados do tradicional Festival de
Cultura e Gastronomia, em Tiradentes.
Apesar de concorrer diretamente com microempreendedores e pessoas que trabalham
de maneira informal, ela diz que preferiu seguir um caminho mais abrangente, apesar do
aumento das despesas. “O MEI é interessante
para quem trabalha sozinho. No meu caso, dependo muito de mão de obra extra”, pontua.
A empresária Daniele Fernandes, de Belo
Horizonte, também comemora o crescimento de seus negócios. Estudante de Direito,
ela começou a atuar no setor de construção
civil, na prestação de serviços de reformas e
acabamentos. “Trabalhava em outra empresa, mas, com o tempo, considerei montar o
meu próprio negócio para melhorar a situação financeira”, relembra.
De olho no que estava em alta no mercado, a empresária participou de diferentes cursos, consultou o Sebrae Minas e decidiu iniciar como MEI no ramo de construção civil,
abrindo a Construtora Metrópole em 2011.
“Abordei um empreiteiro e consegui o serviço
de reforma de uma igreja. Comecei com apenas um cliente, um pintor e, quando passei a
prestar serviços para condomínios, fui abrindo meus caminhos profissionais”, conta.
Após um ano, a Construtora Metrópole
atingiu o limite da MEI e se tornou uma ME.
Hoje, o faturamento anual já atinge a casa dos
R$ 300 mil, e a empresa tem cinco funcionários. “A possibilidade de prestar serviços para
grandes construtoras faz com que eu planeje transferir o empreendimento de ME para
Empresa de Pequeno Porte, com faturamento
anual maior”, afirma Daniele Fernandes, que
tem a consciência de que mais renda implica mais impostos. “Se quero ser uma grande
empresária e tornar o meu negócio referência
em acabamento e reforma, o caminho é esse.”
“A possibilidade de prestar serviços
para grandes construtoras faz
com que eu plane­je transferir o
empreendimento de ME para
Empresa de Pequeno Porte” Daniele
Fernandes, da Construtora Metrópole
www.sebraemg.com.br 15
Pedro Vilela/Agência i7
Pontos de atenção
A boa situação de uma empresa deve ser
comemorada, mas é preciso cautela e cuidado
para não ultrapassar os limites de faturamento
estabelecidos por lei. Caso isso ocorra, é necessário fazer uma transição imediata do negócio
para outra categoria. Se um MEI ultrapassou
o limite de R$ 60 mil anuais, precisa ter atenção. Isso porque existe uma margem de 20%
que pode torná-lo uma ME de imediato ou no
próximo ano. Se o faturamento ultrapassou o valor limite, mas não foi maior que os R$ 72 mil
previstos na margem, ele passa a ser considerado uma ME e, a partir daí, começa a pagar os
impostos que variam de 4% a 17,42%, dependendo da atividade e do montante. O valor do
excesso é acrescentado ao faturamento do mês
de janeiro do ano seguinte.
No entanto, se um MEI ultrapassou os
R$ 72 mil de limite no próprio exercício de sua
constituição, o recolhimento de impostos sobre o faturamento ocorre no mesmo ano, com
A MAIORIA NO BRASIL
Segundo pesquisa do Sebrae Nacional com
o Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Brasil tem
mais de 6 milhões de Micro e Pequenas Empresas
(veja ao lado), que totalizam 99% dos negócios
do país. Em 2011, elas foram responsáveis por
empregar 15,6 milhões de pessoas.
Em Minas Gerais, recente estudo divulgado
pelo Sebrae Minas mostra que, no segundo trimestre de 2013, 89% das ME do Estado obtiveram lucro de R$ 31 mil, com faturamento médio
de R$ 78 mil e despesas em torno de R$ 47 mil.
Em relação à composição, a média de contratação desse segmento é de cinco funcionários por
empresa, com despesa com pessoal de R$ 18
mil, em média. Cerca de 10% das MPE mineiras
investiram em cursos de qualificação.
acréscimos de juros e atualização monetária.
“Se o empresário percebe que seu faturamento vai ultrapassar esse montante, a transição
deve ser imediata”, alerta Sebastião Moreira.
A multa incide sobre 20% do valor dos impostos devidos se o MEI não alterar espontaneamente o regime jurídico da empresa, ou seja,
passando de MEI para ME.
É importante alertar para a proporcionalidade da receita no ano da constituição como
MEI. A receita de R$ 60 mil anual é proporcional no primeiro exercício. O MEI constituído
até 31 de janeiro do ano civil tem o limite completo da receita, ou seja, R$ 60 mil. Se formalizar em fevereiro, tem apenas 11/12 do limite da
receita, ou seja, R$ 55 mil. O limite de receita
de R$ 5 mil é proporcional ao número de meses do exercício, não importando que, em determinado mês, a receita ultrapasse esse limite
e, em meses futuros, haja a compensação e seja
inferior, não ultrapassando o total permitido.
2000 – 4,2*
Evolução 2001 – 4,6*
das MPE 2002 – 4,8*
no Brasil 2003 – 5,0*
(*em milhões) 2004 – 5,2*
2005 – 5,4*
Aqui, todas as histórias
são divididas assim:
começo, meio e sucesso.
2006 – 5,5*
2007 – 5,6*
2008 – 5.8*
2009 – 6,0*
2010 – 6,1*
2011 – 6,3*
ESCREVA SUA HISTÓRIA DE
SUCESSO COM O EMPRETEC.
“Minha participação
no Empretec foi
fundamental para
a abertura de mais
quatro empresas.”
Para entender o Empretec, nada melhor do que
Fabiano de Lima Rangel
F L Rangel Assessoria Contábil Ltda.,
Juiz de Fora
a opinião de quem fez e, assim, melhorou ou
iniciou seu próprio negócio. E as vantagens não
param por aí. A metodologia, desenvolvida pela
ONU e exclusiva do Sebrae, há 20 anos traz em
Fonte: MTE. Rais e Dieese
seus 6 dias tudo o que você precisa saber para
Taxa de sobrevivência de
empresas (em 2 anos)
Empresas constituídas em
Empresas constituídas em
Empresas constituídas em
Fonte: Sebrae Nacional
se capacitar e preparar melhor sua empresa
para o mercado.
2005 – 73,6%
2006 – 75,1%
2007 – 75,6%
fb.com/sebraemg
fb.com/sebraemg
|
|
fb.com/sebraemg
|
twitter.com/sebrae_mg
fb.com/sebraemg
|
|
twitter.com/sebrae_mg
|
BLOG
BLOG
fb.com/sebraemg
|
twitter.com/sebrae_mg
fb.com/sebraemg
|
sebraemgcomvoce.com.br
twitter.com/sebrae_mg
sebraemgcomvoce.com.br
16 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
0800 570 0800 | www.sebraemg.com.br
twitter.com/sebrae_mg
|
BLOG
|
BLOG
sebraemgcomvoce.com.br
twitter.com/sebrae_mg
sebraemgcomvoce.com.br
CROWDFUNDING
Para que um projeto saia da cabeça para o
papel, é preciso, além de muita disposição e
planejamento, uma previsão de custos que o
torne viável. Agora, imagine contar com a doação financeira de pessoas desconhecidas, mas
que tiveram acesso à iniciativa por meio da internet e decidiram ajudar a colocá-la em prática. Essa ideia é real e se chama crowdfunding.
Tendo como foco a obtenção de capital para
iniciativas de interesse coletivo por meio da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em
geral, pessoas físicas interessadas em seus ideais,
o crowdfunding está revolucionando a forma
como os projetos são planejados e executados.
Para a analista do Sebrae Minas, Regina
Vieira, a solução que o modelo proporciona
é inovadora e consegue escapar dos trâmites
legais e burocráticos. “A economia criativa é a
mais beneficiada, já que as atividades apoiadas,
geralmente, não conseguem passar pelo funil
tradicional, como as leis de incentivo, mas recebem o apoio da sociedade”, enfatiza.
Nascida em 2009, nos Estados Unidos, por
meio do site Kickstarter (www.kickstarter.com),
a metodologia movimentou, somente em 2012,
US$ 2,7 bilhões no mundo através de doações.
O dado representa um aumento de 81% em
relação ao ano anterior, segundo pesquisa da
Massolution, consultoria especializada no setor.
O crowdfunding chegou ao Brasil em 2011 e,
atualmente, mais de 20 portais integram a lista
de plataformas disponíveis. Alguns deles optaram por focar nichos específicos, como cultura,
moda, empreendedorismo, projetos sociais, e
outros estão abertos a diferentes categorias.
O portal Catarse foi o precursor do formato no mercado brasileiro. Criado, inicialmente,
por três jovens, conta, na atualidade, com uma
18 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
equipe de 15 profissionais presentes em diversas
regiões do país. Luis Otávio Ribeiro, um dos fundadores da plataforma, explica que o começo foi
desafiador. “Sabíamos da dificuldade que teríamos, mas acreditávamos que haveria retorno em
função do sucesso que já havia lá fora.”
E realmente deu certo. Desde a sua criação,
foram arrecadados R$ 10,187 milhões para financiar 635 projetos com o apoio de 85 mil pessoas.
“O portal é um local de encontro e produção de
conhecimento. A ideia é genial e faz com que
iniciativas inovadoras sejam implantadas, o que
não ocorreria da forma tradicional. O valor total
patrocinado por empresas e pelo governo ainda
é muito baixo em comparação à quantidade de
projetos existentes, tornando muito difícil, burocrático, caro e moroso o processo de captação de
recursos por esses meios”, comemora o fundador.
TODOS GANHAM I Após o envio do projeto, é
feita uma seleção inicial em relação ao planejamento proposto, ao valor requerido e à estrutura para implantação e entrega do produto. Se
aprovado, ele entra no ar e inicia-se a fase de
arrecadação. Em todos os portais de crowdfunding, o proponente só recebe a verba quando
a meta é atingida em determinado período de
tempo. Ou seja, se não for 100% bem-sucedido,
os apoiadores recebem o dinheiro de volta ou
podem optar por financiar outra iniciativa.
Além disso, existem as cotas de patrocínio
e, como qualquer investimento, o apoiador
recebe uma recompensa, que varia de acordo
com a natureza do projeto. “Por exemplo, se a
iniciativa é lançar um livro, o investidor pode
ganhar um exemplar; se é um show, recebe o
cd ou o ingresso; se é um projeto social, pode
ser agraciado com uma camisa ou um agrade-
Pedro Vilela/Agência i7
Juntos
por uma ideia
Plataformas de
financiamento coletivo
de projetos viram sucesso
na internet e fortalecem a
economia criativa
O empresário Cristiano Cuty, de
Juiz de Fora, contou com a doação
de 236 pessoas para produzir
o jogo de tabuleiro Midgard
cimento especial. O projeto ideal, e que geralmente agrada ao público, é baseado na criatividade, na experiência oferecida, na utilidade e
na abrangência”, explica Luis Otávio.
No caso do Catarse, se a iniciativa conseguir a verba, o portal fica com 13% do valor
arrecadado, o que pode variar entre as opções
existentes de plataforma.
BEM-SUCEDIDO I Encontrar pessoas com interesses similares para conseguir tornar real um
projeto que vai beneficiar uma determinada
localidade é o principal objetivo dos idealizadores do crowdfunding. Esse também foi o foco
da 2ª edição do Festival Internacional de Artes
Vertentes, que reuniu cerca de seis mil participantes em Tiradentes, entre os dias 12 a 22
de setembro, e contou com a expertise de 50
artistas de 15 países diferentes.
O intuito era arrecadar R$ 66 mil em 40
dias por meio da plataforma de crowdfunding. A meta foi superada, e a iniciativa obteve R$ 76 mil. A diretora executiva do Festival, Maria Vragova, conta que não conseguiu
verba por meio das leis culturais de incentivo para colocar o evento em prática, mas
recebeu apoio de moradores e empresários
locais, que doaram recursos financeiros pelo
Catarse. “O principal benefício é ter a liberdade de atuação e criação das recompensas.
Às vezes, lidamos com patrocinadores que
não entendem nada de cultura e precisamos
adequar o projeto à estratégia de marketing e
divulgação da marca da empresa, o que pode
impactar a dimensão cultural da iniciativa.”
Cristiano Cuty e seu sócio, Fernando
Scheffer, de Juiz de Fora, também optaram
por utilizar uma plataforma colaborativa
para produzir o jogo de tabuleiro Midgard.
Para que o projeto acontecesse, a dupla precisou de R$ 16.500. Após a conclusão das ações,
arrecadaram quase R$ 36 mil com o apoio de
236 pessoas, ou seja, 115% acima do requerido.
A verba excedente foi convertida em prêmios
para os apoiadores, como o jogo finalizado, peças extras e camisas personalizadas.
Baseado em aventuras nórdicas, RPG e fantasias místicas, o jogo, que utiliza cartas, está
na fase final de produção e será comercializado até o fim do ano. “Além de o crowdfunding
funcionar como uma pré-venda, o conceito é
muito mais amplo. As pessoas que participam
www.sebraemg.com.br 19
20 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
MODELOS DE FINANCIAMENTO
Conheça as principais plataformas brasileiras de crowdfunding:
Site
Perfil
Endereço
Catarse
Categorias variadas
www.catarse.me
Impulso
Voltado para o microempreendedor
www.impulso.org.br
Mobilize
Categorias variadas (vinculado ao Facebook)
www.facebook.com/mobilizecf
Juntos
Focado em projetos sociais
www.juntos.com.vc
Garupa
Voltado para o turismo sustentável
www.garupa.juntos.com.vc
Variável 5
Focado em projetos culturais
www.variavel5.com.br
VOLUME GLOBAL DE CROWDFUNDING EM 2012: US$ 2,7 BILHÕES
Total de recursos captados por meio da plataforma em 2012 (em milhões de dólares)
Em 30 dias, a cantora Marina Machado arrecadou
R$ 9 mil para viabilizar o show de lançamento
do seu novo CD
para a economia criativa e supera os percalços
e riscos previstos.”
A cantora mineira Marina Machado também compartilha da opinião. “Essa ferramenta
é uma ótima opção para o músico independente
e uma alternativa às leis de incentivo. Assim que
o brasileiro se acostumar a esse tipo de relação,
teremos mais democracia na divulgação de trabalhos”, acredita a artista, que utilizou a plataforma, no início de 2013, para viabilizar o show de
lançamento do seu novo cd, Quieto um Pouco.
Ela lembra que não conseguiu captar recursos
para o projeto e buscou investir no crowdfunding por intermédio de um amigo que também é
músico. O resultado foi satisfatório: em 30 dias,
Marina Machado arrecadou R$ 9 mil, mais que
a meta inicialmente prevista.
“Resolvi pedir apoio ao público cúmplice,
que me pede pra voltar aos palcos, com a venda antecipada de ingressos, cds e outros mimos
em contrapartida ao apoio financeiro. O Brasil
é um dos países mais ricos em diversidade artística. É uma pena que a maioria das pessoas
não tenha acesso e, portanto, poder de escolha”,
ressalta a cantora.
América do Norte
Europa
US$ 1,606 bilhão
US$ 945 milhões
América do Sul
US$ 0,8 mil
Ásia
US$ 33 milhões
África
US$ 0,1 mil
Oceania
US$ 76 milhões
2013
US$ 5,1 bilhões
ARRECADAÇÃO MUNDIAL
2012
US$ 2,7 bilhões
2011
Fonte: Massolution
US$ 1,5 bilhão
www.sebraemg.com.br 21
ClaytonPedrosa
PLANEJAMENTO I Ainda que os benefícios
sejam muitos, Cristiano Cuty alerta para as
recompensas oferecidas. “Apesar de termos
arrecadado mais de 200% do valor inicial, a
quantia não foi suficiente para a produção de
brindes em compensação pelo apoio. À medida
que o projeto avançava e as metas eram batidas,
nós ampliávamos os prêmios e os materiais a
serem produzidos. Com isso, tivemos que injetar verba nossa para a produção. Mas, no final,
isso foi bom, pois nos permitiu lançar um produto mais completo e com qualidade superior.”
Essa experiência mostra que idealizadores e
apoiadores devem ficar atentos ao planejamento, principalmente devido à grande diversidade
dos projetos apresentados. “Não atuamos de
maneira propositiva, e sim, reativa, e vetamos
os projetos que não comprovam a capacidade
de execução. Os apoiadores precisam fiscalizar
a implantação de sua iniciativa. Na maioria das
vezes, são pessoas próximas dos realizadores, o
que impede o risco de fraude e a perda de credibilidade”, orienta Luis Carlos.
Apesar de esse cuidado ser necessário, Regina Vieira afirma que o crowdfunding não
deve ser controlado ou monitorado por meio
de normas, leis ou ações que possam influenciar o processo de colaboração coletiva. “A mudança cultural passa por situações de risco e,
com o tempo, vamos adaptando e conhecendo
cada vez mais o novo modelo. O crowdfunding
simboliza um avanço em termos de produção
de conhecimento, inovação para a sociedade e
Divulgação
do financiamento se envolvem com o projeto,
ajudam a divulgá-lo e o tomam para si. Então,
além de ser um elemento para arrecadação do
montante necessário para a produção do jogo,
é uma ferramenta de divulgação como poucas,
que promove uma maior proximidade do público”, observa Cristiano Cuty.
Para Regina Vieira, a ideia só tende a expandir. “A previsão é que ela se torne ainda
mais popular e alcance mais apoio. Temos essa
confiança, pois se trata de um canal direto do
empreendedor com o seu público, através de
uma construção de rede de relacionamento e
engajamento comunitário”, diz.
COMUNICAÇÃO
Fotos: Mauro Marques
Atuação
em cadeia
Profissionais de propaganda e publicidade de Uberlândia recebem
orientação e capacitação para profissionalizar o setor
A
importância da união é velha conhecida das empresas de comunicação
de Uberlândia, no Triângulo Mineiro.
Há mais de dez anos, os empresários
do setor criaram a Associação dos Profissionais de Propaganda (APP), que envolve os
mais diversos empreendimentos da cadeia do
negócio da comunicação, soma 90 empresas
participantes e atualmente emprega mais de
400 profissionais. Esse grupo gera, de acordo
com dados da APP, faturamento mensal estimado em R$ 7 milhões, sendo que o valor
originado pela veiculação de propagandas é
de cerca de R$ 5,4 milhões por mês, dos quais
40% são por meio de agências locais.
Percebendo a visão integrada e a potencialidade do setor, o Sebrae Minas demonstrou
interesse em contribuir com o negócio e, em
2012, surgiu o projeto Empreendedorismo
em Comunicação (EmCom), direcionado ao
fortalecimento da cadeia da comunicação, beneficiando, até o momento, 54 associados de
micro e pequeno porte. A iniciativa partiu de
um diagnóstico feito com empresários envolvidos nos núcleos de negócios da APP, que se
dividem em veículos de comunicação, agências de publicidade, propaganda e digitais e
prestadores de serviços, como produtoras de
áudio e vídeo e gráficas.
Segundo o analista do Sebrae Minas, Fabiano Alves Pereira, o principal objetivo do
projeto consiste na capacitação das empresas
22 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
de forma mais estruturada, visando a melhorias na gestão e oportunizando novos negócios para maior competitividade. “Queremos
tornar Uberlândia uma cidade conhecida
no setor de comunicação. Temos empresas
reconhecidas e premiadas nacionalmente e
outras com grande potencial de crescimento”, ressalta.
Para Rogério Fonseca, presidente da
APP e proprietário da agência de publicidade Yellow Monkey, os empresários locais
já estavam em diálogo antes da criação do
EmCom. Com a chegada do Sebrae Minas, os
vínculos se fortaleceram, e grandes avanços
são esperados. “Ainda existem divergências
de posicionamento, que são naturais no mercado. Mas as pessoas conversam em busca de
metas comuns”, relata.
A Yellow Monkey é uma agência no modelo full service, isto é, oferece diversos serviços da publicidade, como comunicação
institucional, de varejo, digital e branding.
Desde que passou a integrar o EmCom, a empresa – que completará três anos de criação
em 2013 – tem passado por reestruturações.
Nos últimos meses, foram implementados
sistemas para gerenciar os processos e as
finanças, e três novos profissionais se juntaram à equipe, anteriormente formada por
cinco pessoas. “O momento agora é de planejamento estratégico. Estamos organizando
a casa”, fala o proprietário.
Ele também relata que um dos problemas
enfrentados pelo setor era a dificuldade em
precificar os serviços. Muitas empresas se dedicavam com mais energia ao processo criativo, e a gestão empresarial ficava em segundo
plano. “Após a realização das oficinas, temos
condições de saber o que devemos levar em
conta para não ter prejuízo. A expectativa
é que os valores subam um pouco, não porque os serviços estão mais caros, mas porque
aprendemos a cobrar adequadamente”, pontua Rogério Fonseca.
Alguns resultados, inclusive, já podem ser
quantificados. O negócio, cujo faturamento
ele prefere não revelar, poderá ter acréscimo
de 10% a 20% nos próximos dois anos.
“A expectativa é que os valores
subam um pouco, não por­que
os serviços estão mais caros, mas
porque aprendemos a cobrar
adequadamente”
Rogério Fonseca, presidente
da Associação dos Profissio­nais de
Propaganda e dono da
Yellow Monkey
www.sebraemg.com.br 23
Divulgação
“Estamos cada vez mais
profissio­nais. Por meio da
Associação e do EmCom,
compartilhamos as necessidades
comuns das empresas e nos
vemos como parceiros. Isso
contribui para a qualificação
dos serviços prestados”
Daniel Labanca, proprie­tário da
Cine Filmes
24 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
EM CAMPO I Partindo dos resultados do diagnóstico, foram definidas três linhas de atuação para o EmCom, abrangendo a capacitação
dos profissionais, a geração de negócios e o
reconhecimento de Uberlândia como polo
gerador de mídias inteligentes. As principais
atividades desenvolvidas na primeira fase se
apoiaram em palestras, oficinas, consultorias,
cursos de criação e design thinking (conjunto
de métodos e processos inovadores para solução de problemas, baseado em técnicas de
design) e participação em eventos do setor.
Atualmente, está em curso uma pesquisa com
os clientes com o objetivo de conhecer o que
eles buscam no mercado e quais são os principais pontos de melhorias no relacionamento
com os prestadores de serviços.
As agências de publicidade, propaganda e digitais representam o pontapé inicial
desse trabalho e, por isso, foram priorizadas
com as primeiras ações. Os meios de comunicação são os veiculadores das mídias
produzidas pelas outras empresas da APP.
“Tentamos construir um relacionamento profissional de maior qualidade no elo
dessa cadeia. Capacitando as agências, as
empresas contratam profissionais mais qualificados, que produzem peças melhores,
gerando visibilidade para todo o segmento”,
explica Fabiano Pereira.
Além disso, são ofertadas outras atividades, como a missão do Sebrae Minas ao Festival Mundial de Publicidade, ocorrido no
primeiro semestre deste ano, em Gramado
(RS). Os membros da APP e do EmCom ainda visitaram, no mês de setembro, as principais empresas de publicidade de São Paulo
e estiveram presentes no encontro nacional
das APPs, que aconteceu no dia 3 do mesmo
mês, na sede da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo,
reunindo representantes de 12 associações.
“Atividades como essas têm gerado bons resultados, entre eles, a prospecção de novos
clientes e a maior visibilidade das empresas
de publicidade e propaganda de Uberlândia
no mercado nacional, afirmando seu potencial”, afirma o analista do Sebrae Minas.
“Queremos tornar Uberlândia
uma cidade conhecida no setor
de comunicação. Temos empresas
premiadas nacio­nalmente e
outras com grande potencial de
crescimento” Fabiano Alves Pereira,
analista do Sebrae Minas
DESTAQUE NO MERCADO I Uma das vantagens
competitivas dos empreendedores de Uberlândia diz respeito à visão integrada do negócio.
Dentro da própria APP, as agências, os prestadores de serviço e os veículos de comunicação
se veem como clientes e fornecedores entre
si. Dessa forma, qualquer ação que beneficie
uma empresa potencialmente gera resultados
positivos para outras. Quanto aos clientes externos, em função da variedade de serviços
oferecidos pelos associados, são atendidos os
mais diversos segmentos, com destaque para
os mercados concorridos de telefonia e bebidas. Pequenos e médios empreendimentos locais também são clientes recorrentes.
“Hoje, estamos cada vez mais profissionais.
Por meio da Associação e do EmCom, compartilhamos as necessidades comuns das empresas
e nos vemos como parceiros. Isso contribui para
a qualificação dos serviços prestados”, acredita
Daniel Labanca, proprietário da Cine Filmes.
A empresa, fundada em 2005, produz vídeos corporativos, comerciais e conteúdo
para televisão, direcionados a uma carteira de
clientes variada, desde empreendimentos de
telecomunicações até indústrias do agronegócio. Doze funcionários e dois sócios trabalham
diariamente na Cine Filmes, e diversos outros
profissionais são contratados esporadicamente para atender a demandas específicas.
Para Daniel Labanca, ainda é cedo para
contabilizar os resultados gerados por meio do
EmCom, mas já são perceptíveis algumas melhorias. No primeiro semestre, por exemplo, foi
criado o cargo de gerente de processos para que
as mudanças ocorram de maneira estratégica.
Com isso, se espera um crescimento de até 30%
“Estamos caminhando para
tornar o mercado de comunicação
de Uberlândia mais maduro e
consistente” Rogério Martins,
proprietário da Target Mídia
em dois anos, a partir da conquista e fidelização
de novos mercados, como afirma o empresário.
“Numericamente, ainda não podemos quantificar o faturamento. Mas as vantagens trazidas,
como o compartilhamento de informação e o
aumento do nível de profissionalização, tornam
nossas metas mais fáceis.”
INOVAÇÃO EM COMUNICAR I A Target Mídia,
criada pelo empresário Rogério Martins em janeiro deste ano, é a primeira empresa da região
especializada em publicidade em táxis, ônibus e
www.sebraemg.com.br 25
EDUCAÇÃO
Mesmo com pouco tempo de atuação, o empreendedor já percebe mudanças. “O EmCom
está ajudando o mercado a ser mais eficiente.
Tínhamos uma séria de carências em relação à
qualificação. Por meio do projeto do Sebrae Minas, conseguimos nos capacitar e participar de
eventos, como palestras e debates fora da cidade,
adquirindo know-how e mais desenvolvimento
para o negócio. Estamos caminhando para tornar o mercado de comunicação de Uberlândia
mais consistente”, vislumbra.
A expectativa é que o EmCom se encerre
no fim deste ano, com a apresentação de um
seminário de comunicação, de modo a promover um encontro com os líderes das principais
agências e dos veículos de comunicação do país
para troca de informação e experiência.
Caminho em comum
Em Juiz de Fora, o projeto de Desenvolvimento das Agências de Publicidade e Propaganda reúne 12 agências da cidade. Iniciado em
2011, está prestes a completar a primeira fase,
que previa duração de três anos. De acordo com
pesquisa realizada pela Fundação Guimarães
Rosa, em 2012, após 12 meses de atividades,
69,2% dos empresários participantes aumentaram a lucratividade, 53,8% verificaram crescimento da verba publicitária e 69,2% aumentaram a remuneração dos serviços internos.
Sob a orientação do Sebrae Minas, foram
implantados programas de gestão empresarial, que envolveram investimentos e gestão
de recursos humanos, incentivo à inovação,
estratégias empresariais, gestão financeira e
criação de indicadores de desempenho, entre
outros. Em seguida, priorizou-se o desenvolvimento de processos criativos e marketing,
para que os serviços se estabelecessem em
níveis digitais, plataforma que vem crescendo exponencialmente no mercado, além do
reforço e melhor direcionamento nas plataformas tradicionais.
Atualmente, o grupo de empresários tem
empreendido forças para projetar a gover26 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
nança local por meio do incentivo à inteligência comercial para a geração de novos
negócios. O próximo passo é a criação de
uma entidade de representação do setor de
modo que os interesses comuns possam ter
uma unidade, além de concluir o Estudo de
Posicionamento de Mercado, no intuito de
compreender melhor o cenário de publicidade e propaganda no Brasil, com recorte
para o mercado de Juiz de Fora.
Outro passo importante diz respeito ao
domínio de informações. De acordo com o
analista do Sebrae Minas, João Paulo Palmieri, o desenvolvimento do setor na cidade e região depende, especialmente, da
profissionalização contínua de toda a cadeia
produtiva do segmento, principalmente no
que tange ao tripé AVA (Anunciantes, Veículos e Agências). “O diagnóstico inicial de
desunião e concorrência interna deu espaço
à cooperação, que permite ao grupo alavancar trabalhos coletivos, fortalecendo-se para
a concorrência externa em níveis de maior
abrangência, com posicionamentos mais
efetivos, aglutinando e capitaneando maiores possibilidades”, finaliza.
Herança
valorizada
Com a sucessão familiar, empresas podem crescer, mas
sucesso depende de qualificação e empenho dos herdeiros
Assumir a gestão da empresa da família e colocá-la em harmonia com os novos tempos têm
sido grandes desafios para sucessores de alguns
negócios. O sucesso atingido após a transição
depende da capacidade de inovação, aplicada,
de forma simultânea, à conservação dos valores
e da cultura da organização, da constante preparação gerencial e da adequação ao mercado, que
está em permanente transformação.
Para Rubens Caetano de Albuquerque, gerente da Escola Técnica de Formação Gerencial do Sebrae Minas (ETFG), a preparação de
sucessores deve ser feita a partir do momento
em que os herdeiros tiverem noções adequadas
de responsabilidade e profissionalismo. “O envolvimento dos filhos no negócio, por exemplo,
tem que ser constante para que eles possam
analisar e conhecer cada etapa do processo de
produção e, a partir daí, aproveitar as chances
no mercado”, explica.
Vislumbrar mudanças e oportunidades para
a empresa familiar é uma habilidade que poucos
gestores têm, mas que pode ser desenvolvida
desde cedo. E foi essa capacidade que fez a diferença quando o engenheiro e economista Ricardo Macedo assumiu a gestão da Construtora
Bernardo Salce/Agência i7
mobiliário urbano. O seu diferencial proporcionou-lhe contratos com importantes empreendimentos de turismo de negócios, como hotéis,
restaurantes, meios de transporte, construção
civil e mercado varejista de maneira geral. Com
o crescimento da empresa, que hoje mantém
três funcionários diretos e tem um bom faturamento mensal, Rogério Martins sentiu necessidade de investir no conhecimento das áreas
jurídica e legislativa. “Como trabalho com transporte público e mobiliário urbano, as decisões
políticas interferem no serviço e no cotidiano.
Outro desafio está relacionado à sensibilidade
do mercado para perceber o valor agregado do
nosso produto, que não é tradicional. Buscamos
mostrar para os clientes essa alternativa de comunicação como um diferencial.”
O engenheiro Ricardo Macedo, no
comando da construtora Alcance,
defende a inovação e a ousadia
nos negócios
www.sebraemg.com.br 27
Alcance, em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri,
em 2008, logo após a conclusão da faculdade.
Ele conta que não pensava em conduzir o
negócio da família, mas que, após um estágio
em outra construtora, em Belo Horizonte, visualizou que a área de atuação do empreendimento familiar poderia ser a de incorporação
imobiliária. Fez, então, a proposta ao pai, Celso
de Souza Macedo, e a Luiz Gonzaga Sant’Anna
Lorentz, também fundador da construtora.
“Na época, fui ousado, mas acreditava que tinha chances de dar certo, até pela formação que
havia recebido. Eles compraram a ideia e, assim,
iniciamos o processo de mudança do negócio
e a sucessão familiar, primeiro de forma lenta,
edepois, com a segurança sendo adquirida, em
um ritmo melhor”, afirma. “A empresa tinha um
estilo conservador. Então, precisávamos avançar
um passo de cada vez, sempre mostrando resultados e implantando ações de melhoria quando
necessário”, completa.
Segundo Ricardo Macedo, a visão empreendedora e o gosto pela engenharia foram incentivados desde cedo, em casa. Ele diz que,
quando criança, o pai o levava para ver as obras
da construtora e, já no Ensino Médio, estava
certo de que seria engenheiro. “Apesar de muito ligado ao negócio, meu pai sabia separar as
coisas. Sempre tivemos um relacionamento
muito tranquilo e baseado no diálogo. As discussões e diferenças de opiniões são normais
entre gerações, mas é preciso dosá-las com responsabilidade”, revela o engenheiro.
CURSO I Para Ricardo Macedo, para que o bom
resultado seja alcançado, a qualificação profissional é algo que os sucessores precisam buscar
28 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
e focar a todo momento. “Fiz um curso de formação gerencial do Sebrae Minas, entre 1999 e
2002, por sugestão do meu pai. Ele sempre dizia
que a faculdade não o preparou para as questões
burocráticas de uma empresa. Como eu sempre
gostei de empreender, fiquei apaixonado pelas
disciplinas.”
Segundo ele, a oportunidade de adquirir conhecimentos que não teria em outro lugar foi o
maior diferencial da programação. “O que mais
me marcou foi a parte de economia. Estudar demanda e oferta, elaborar um plano de negócios,
saber como se obtém alvará de funcionamento e
o registro de empresas foram pequenas amostras
de tudo o que meu pai sempre disse que eu precisava aprender”, lembra o engenheiro.
Fundada em 1985, a Construtora Alcance,
com atuação expressiva no Nordeste de Minas
Gerais, tem hoje faturamento médio anual de
R$ 60 milhões e executa obras baseando-se na
metodologia de Gerenciamento de Projetos. Os
fundadores exercem a função de conselheiros da
empresa e estão sempre acompanhando decisões
mais estratégicas. “Percebo que, após seis anos de
transição, estamos muito mais maduros, sempre
ligando a vontade com a experiência.”
Agora, a construtora se prepara para passar
por outro processo: a divisão de patrimônio e a
consolidação de uma holding familiar. Ricardo
Macedo explica que, desde a fundação da empresa, o patrimônio da família esteve atrelado
ao negócio. “No momento, estamos caminhando para que isso seja separado e controlado pela
holding. É algo essencial para garantir transparência e profissionalismo ao negócio”, enfatiza.
“Os que se aventuram na transição familiar precisam estar abertos ao diálogo e à crítica e saber
que a sua vontade é importante, mas a experiência, sobretudo dos fundadores, é essencial.”
A capacitação, o desenvolvimento profissional e o relacionamento familiar são grandes
desafios para que os herdeiros se sintam mais
preparados, e os fundadores do negócio, seguros
com a transição. “Em todo processo sucessório,
tem de haver um envolvimento direto da família. E a participação dos filhos, desde cedo, na
empresa é essencial. Isso inclui conhecimentos
que vão do chão de fábrica até a alta gestão. As-
Uarlen Valério/Agência i7
“O envolvimento dos filhos no
negócio tem que ser constante
para que eles possam conhecer
cada etapa do processo de
produção e, a partir daí,
aproveitar as chances no
mercado” Rubens Caetano de
Albuquerque, gerente da ETFG
Jeovani Zani (ao centro), do grupo Duzzani, de São Sebastião do Paraíso, cuida para que o entrosamento entre os sucessores,
Vinícius e Lidiane (à dir.), seja tão bom quanto o que tem com a irmã e sócia, Patrícia (à esq.)
sim, os herdeiros se familiarizam com os processos e entendem como se chega aos resultados,
verificando se estão ou não no caminho certo”,
diz Rubens Albuquerque.
Ainda que a sucessão só venha a ser realizada
daqui a alguns anos, os herdeiros do Grupo Duzani, de São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas, já estão sendo preparados para a transição.
O grupo nasceu em 1998 por meio da parceira
entre Jeovani Zani e a irmã, Patrícia, e hoje integra uma fábrica de lingerie, uma confecção de
bojos, uma distribuidora, uma loja de matériasprimas para a produção de peças íntimas e uma
construtora incorporadora, além de estar ampliando a atuação para uma rede de cosméticos.
Jeovani Zani conta que a empresa contratou, este ano, a consultoria de uma profissional
especializada para ajudar na transição e orientar a atuação dos sucessores na administração
do grupo. “Já tem um tempo que começamos
a trabalhar com os sucessores aspectos como
liderança e planejamento. Com isso, eles já são
responsáveis por algumas áreas e participam de
reuniões de diretoria. O grande objetivo é colo-
car essa nova geração à frente da Duzzani, preparada para desenvolver o grupo ainda mais.”
Trabalham hoje na empresa o filho mais velho de Jeovani, Vinícius, de 22 anos, e os filhos
de Patrícia: Tiago, de 25, e Lidiane, de 21. Lidiane conta que, quando está trabalhando, fica
bem próxima à mãe para aprender como é a
gestão no dia a dia. “Sempre foi assim. Quando
eu era pequena, ela me trazia para a loja depois
da aula e eu a ajudava em tarefas menores. Já
no Ensino Fundamental, sabia que queria trabalhar no grupo, mas ainda não tinha noção de
como faria isso”, revela.
A jovem começou na Duzzani em 2008
como estagiária do setor financeiro e, hoje,
faz parte da diretoria, além de ser responsável
pela área de compras e pela distribuidora do
grupo, junto com Vinícius. Graduada em administração de empresas, a herdeira elaborou
seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
sobre o tema “sucessão familiar”, com foco no
Grupo Duzzani. “Estudei muita teoria, mas
foi na prática que aprendi o que realmente é
ter um negócio e as dificuldades de se buscar
www.sebraemg.com.br 29
BASE I Tanto Lidiane quanto Vinícius fizeram o
curso de Ensino Médio na ETFG do Sebrae Minas. “O curso os capacitou, fazendo-os enxergar
melhor o caminho proposto. Mas a qualificação
deve ser constante para continuarem amadurecendo nos âmbitos pessoal e profissional”, ressalta Jeovani Zani.. O empresário conta que a
empresa começou na década de 90, quando a
irmã trabalhava em uma fábrica de lingerie, e
ele era vendedor de produtos de limpeza.
Jeovani Zani. passou a vender as peças produzidas pela irmã e, em função da qualidade
dos produtos, as portas foram se abrindo. Hoje,
o grupo possui 450 funcionários, além de parcerias com 70 distribuidores de Minas Gerais, e
um bom faturamento anual. Para o executivo, o
maior desafio com a transição será o de manter
a identidade de empresa familiar e o bom relacionamento entre os irmãos e os primos. “Existe uma preocupação nossa de nutrir e estreitar
o relacionamento entre eles, assim como aconteceu entre mim e minha irmã”, afirma.
Clermont Cintra
um cliente, de lidar com um funcionário e de
negociar com fornecedores”, diz ela.
“Estudei muita teoria, mas foi
na prática que aprendi o que
realmente é ter um negócio
e as dificuldades de se buscar
um cliente, de lidar com um
funcionário e de negociar com
fornecedores” Lidiane Zani,
sucessora do grupo Duzzani
“De fato, a empresa pode unir os parentes,
desde que os papéis estejam muito bem-definidos entre eles para evitar que, futuramente,
haja sucessores mal preparados. Casa é casa,
trabalho é trabalho, e tal imposição tem que
ser feita pelos fundadores do negócio”, orienta
Rubens Albuquerque, lembrando que empresas familiares são hoje 90% dos negócios, no
Brasil e no mundo, e que, de cada 100 delas,
apenas 30 sobrevivem à segunda geração, 15 à
terceira e quatro à quarta.
Qualificação na prática
O curso de Ensino Médio Técnico em Administração, oferecido pela Escola Técnica
de Formação Gerencial (ETFG) do Sebrae
em 15 municípios de Minas Gerais, já formou mais de 8.000 jovens desde 1994. Durante os três anos de curso, são trabalhadas
disciplinas como economia, gestão financeira, administração de recursos humanos, direito, contabilidade e aspectos burocráticos
para iniciar um negócio.
“O empreendedorismo, a busca de oportunidades e a visão de carreira são abordadosfrequentemente, permitindo ao jovem
ter ferramentas que vão auxiliá-lo na gestão
da empresa da família”, explica Rubens Al-
30 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
buquerque. No primeiro ano, tutoriados
por um empresário, os alunos aprendem
os desafios e problemas enfrentados na
implantação do negócio.
Na segunda etapa, é iniciado o processo de simulação de uma empresa para
que eles executem processos. “Com exceção do dinheiro e do produto final, todo
o resto é real. Os estudantes aprendem a
formar parcerias e a lidar com questões
gerenciais e burocráticas”, esclarece.
Durante essa fase, começam a elaborar
o Plano de Negócio que vai culminar
no Plano Vitrine, no último ano, que é
a análise de viabilidade real do negócio.
www.sebraemg.com.br 31
MERCADO
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
O
Para todas
as estações
Fortalecimento gerencial dos empreendedores
e mudança no hábito alimentar do consumidor
estimulam o mercado de sorvetes no Brasil
32 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
s ventos têm soprado a favor do mercado de sorvetes. O segmento vivencia um crescimento inédito alavancado por dois fenômenos: as fortes
ondas de calor em locais que antes tinham
temperaturas mais amenas e o fortalecimento
da economia nacional, que impulsionou o consumo das classes mais populares. Diferentemente do Brasil, o consumo de sorvetes em outros países, onde o frio é mais rigoroso, é muito
grande. Isso se deve ao fato de que, lá fora, o
sorvete é considerado um alimento, diferentemente da cultura daqui, que o aprecia como sobremesa ou guloseima e prefere degustá-lo nos
dias de verão. No entanto, esse hábito começa
a mostrar sinais de mudanças.
Segundo dados da Associação Brasileira
das Indústrias de Sorvetes (Abis), o segmento
brasileiro acumula crescimento médio anual
em torno de 4,5%, acima do Produto Interno
Bruto (PIB), mas aquém do que o mercado ainda pode absorver. Somente no ano passado, os
brasileiros consumiram 1,209 bilhão de litros
do produto. Em 2011, o volume era 1,158 bilhão de litros, o que equivale a 4,2% a menos
que em 2012. Esses resultados evidenciam a
solidificada aceitação dos consumidores pelo
alimento, além de mostrar o maior investimento das indústrias em produtos de qualidade.
Minas Gerais concentra aproximadamente 350 desses fabricantes, que geram cerca de
2.000 empregos diretos e 6.000 indiretos. A
produção, que está distribuída em todo o Estado,
se concentra na Região Metropolitana de Belo
Horizonte (com 121 estabelecimentos), nas divisas com São Paulo (54) e Rio de Janeiro (52)
e no Oeste mineiro (43). Destacam-se ainda o
Vale do Rio Doce, com 33 empresas, e o Norte
de Minas, que abriga 31 empreendimentos.
Geraldo Rafael de Souza, proprietário da
Sorveteria Doçura, está inserido nesse cenário. No ramo de sorvetes, há mais de 40
anos, na cidade de Montes Claros, no Norte
do Estado, a fábrica e a loja somam hoje oito
funcionários. Ele começou o negócio sozinho,
apesar de ter auxílio da esposa, que era funcionária pública, por influência de um amigo.
“Na época, não tinha muito conhecimento do
ramo e precisava trabalhar. Acabei me arriscando e vesti a camisa. Passei por muitos desafios e enfrentei algumas crises, que me serviram de estímulo e motivação para seguir em
frente, apesar das adversidades. Hoje, tenho
orgulho do negócio e de saber que o meu sustento e dos meus quatro filhos, que trabalham
comigo, vem da sorveteria”, conta.
Fora o trabalho responsável e do prazer em
realizar o ofício, o empreendedor acredita que
a boa aceitação do público por tanto tempo
se deve à qualidade do produto, que é menos
industrializado e mais artesanal. A Sorveteria
Doçura fabrica, em média, 35 sabores de sorvete e 30 de picolés. Levando em consideração os aspectos da sazonalidade, a produção
diária é de cerca de 200 litros de sorvete e de
1.000 a 1.200 picolés. A média de atendimentos na loja é de cerca de 300 pessoas por dia.
Além de investir na estrutura e na mão
de obra, Geraldo de Souza busca inovar o
seu portfólio e se capacitar. Para isso, ele conta com o apoio do Sebrae Minas, por meio do
projeto Desenvolvimento do Setor de Sorvetes
de Montes Claros e região, que tem como foco
a sustentabilidade da cadeia de valores des-
“Para manter o negócio por tanto
tempo no mercado, busco sempre
a informação e a capacitação“
Geraldo de Souza, proprietário da
Sorveteria Doçura
O cardápio da
Sorveteria Doçura
conta com 30 sabores
de picolés
www.sebraemg.com.br 33
se segmento (mais informações na página ao
lado). “O projeto de atendimento coletivo foi
estruturado para atender 15 estabelecimentos,
incluindo produtores e comerciantes, com o
objetivo de aumentar a produtividade das empresas fabricantes de sorvete e tendo como eixo
de trabalho a capacitação gerencial e tecnológica voltada à redução dos custos e ampliação do
mercado”, explica o analista do Sebrae Minas,
Walmath Wellson Magalhães Ferreira.
Geraldo de Souza recebeu a consultoria do
Sebrae Minas e já começa a aplicar os conhecimentos adquiridos. “Para manter o negócio
por tanto tempo no mercado, busco sempre a
informação e a capacitação. Esse projeto me
deu ânimo e abriu os horizontes. Depois da
consultoria, percebi a necessidade de mudar
a fábrica de endereço para ampliar a distribuição e colocar o nosso produto em pontos
de venda, padarias e lanchonetes da cidade.
Além disso, fomos muito bem-orientados
quanto à adequação das normas sanitárias e
regras do segmento”, relata.
A expectativa de
Edmo Maia, da
Sorveteria Puro Sabor, é
obter um crescimento
entre 20% e 30%
em 2014
34 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
Com a mudança, a fábrica vai passar de um
espaço físico de 140m2 para uma área de 200m2,
e a loja vai dobrar de tamanho. Já a produção
deve ser ampliada em até 50%, a partir do segundo semestre do ano que vem, quando deve
ser concluída a mudança. Outra expectativa é
contratar mais mão de obra e comprar equipamentos e máquinas potentes e, assim, expandir
a atuação do negócio. “O mercado de sorvetes
no Brasil é promissor já há algum tempo. A possibilidade é sempre crescente”, diz o empresário.
O otimismo vem dos bons resultados: a média
de crescimento do negócio tem sido de 5% ao
ano, mesma estimativa para 2013.
MAIOR COMPETITIVIDADE I O empresário
Edmo Martins Maia também tem se beneficiado com o fortalecimento do mercado de
sorvetes em Montes Claros e, principalmente, com as ações promovidas pelo projeto do
Sebrae Minas. “Um negócio exige capacitação
constante. Com o treinamento ministrado pelos consultores, adquiri mais conhecimento
Na Sorveteria Puro Sabor, a fabricação semanal é de 10.000
picolés e 2.000 litros de sorvete
administrativo. Tive a oportunidade de participar de feiras, conhecer novas máquinas e
sabores diferentes, além de ter acesso a toda
cadeia produtiva de uma só vez”, conta o proprietário da Sorveteria Puro Sabor.
Ele revela que a qualificação permitiu
corrigir a falta de planejamento que a empresa tinha. “Foquei no planejamento, no
crescimento sustentável e na melhoria da
qualidade do produto oferecido. Tudo anotado e bem-programado, com metas e prazos
estipulados”, completa.
Para Bruno Magalhães Figueiredo, presidente do Sindicato Intermunicipal da Indústria do Sorvete (SindSorvete), que conta
com 116 municípios em sua base, o exemplo
de Edmo Maia confirma o fortalecimento do
setor na última década – que soma um crescimento médio anual de 4,5%, de acordo com
dados da entidade – e o maior engajamento
dos empresários das cidades do interior do
Estado na busca pela competitividade e formação profissional. “A capacitação empresarial dá ao empreendedor ferramentas muito
importantes para a tomada de decisão no dia
a dia de seu negócio e também o ajuda a ter
uma visão mais clara sobre o seu posicionamento no mercado e a saber de que forma
pode evoluir”, analisa.
Coincidência ou não, foi exatamente após
a participação no projeto do Sebrae Minas que
Edmo Maia, com quase 20 anos de atuação em
Montes Claros, está reestruturando e construindo um espaço para melhor organização
de sua produção e otimização das condições de
estocagem e logística. “Agora, terei uma fábrica
e duas lojas, além dos pontos de distribuição no
comércio local. Estou investindo na estrutura e
na fabricação dos sorvetes para atender melhor
o cliente”, prevê o empreendedor.
Hoje, a Sorveteria Puro Sabor mantém 13
pessoas em sua equipe, que são responsáveis
pela fabricação de 10.000 picolés e 2.000 litros de sorvete por semana para as cidades de
Montes Claros, Brasília de Minas e Coração de
Jesus. São produzidos 30 sabores de sorvete e
25 de picolés, incluindo frutas típicas da região,
como tamarindo, mangaba, cajá e jabuticaba.
Atualmente, a empresa distribui os produtos
em 28 pontos de revenda da região. Com a
ampliação, Edmo Maia espera um crescimento
entre 20% e 30% em 2014, além de ampliar as
vendas para outras localidades próximas.
FORMAÇÃO GERENCIAL
O projeto Desenvolvimento do Setor de Sorvetes
em Montes Claros, iniciado em fevereiro de 2012,
busca fomentar nos produtores e comerciantes a
melhoria no desempenho gerencial, a visão ampliada para novos negócios e tecnologias, a estruturação de rede de parcerias (fornecedores e clientes) e
a compreensão do mercado em que atuam, resultando, entre outros benefícios, no aumento do faturamento bruto anual.
Para isso, são promovidos treinamentos gerenciais (Desenvolvimento de Habilidades Gerenciais,
Gestão Financeira na Medida e Como Vender Mais
e Melhor), treinamentos em processos (Programa
Alimentos Seguros - PAS e Programa de Eficiência
Energética - Proefi) e participação em feiras setoriais,
como a Fispal Food Service/Tecnosorvetes - Feira Internacional de Produtos e Serviços para a Alimentação Fora do Lar, realizada em junho, em São Paulo.
www.sebraemg.com.br 35
CAPA
As empresas que aderiram ao projeto também recebem capacitação por meio das soluções
de Educação, Tecnologia e Mercado, apoiadas pelas respectivas áreas do Sebrae Minas. As ações
são negociadas junto ao grupo de participantes e
devem acontecer até o fim deste ano. De acordo
com Walmath Ferreira, já é possível identificar a
redução no custo de produção e eliminação de
desperdício devido às consultorias tecnológicas
(Programa Pró-Sorvete e Programa de Eficiência
Energética). Além disso, ele destaca a ampliação
de contratos com novos fornecedores, devido à
PRODUÇÃO
GLOBAL
participação em feiras específicas do setor. “Percebemos, ainda, a profissionalização na gestão
dos empreendimentos por meio dos cursos de
cunho comportamental e gerencial, aprimoramento na marca e na identidade visual de alguns
empreendimentos”, avalia.
Segundo o analista, o desafio para o atendimento ao setor em 2014 é intensificar as capacitações em gestão por processos, ampliar o acesso
às tecnologias e investir na cadeia de fornecedores e atendimento a novos nichos de mercado,
considerando a expansão do segmento.
Os Estados Unidos são os maiores fabricantes do produto, com 3,4 bilhões de
litros por ano. A China está em segundo lugar (1,3 bilhão), acompanhada por
Alemanha (714 milhões) e Itália (467 milhões). O Brasil produz 224 milhões
por ano e figura na quinta colocação.
No mercado brasileiro de fabricantes, a líder é a Kibon, com participação
de 35,8%, seguida da Nestlé (19,7%), La Basque (3,5%), General Mills
(1,8%), que faz o Häagen-Dazs, e Jundiá (0,7%). O restante (38,5%) é
dividido entre as demais marcas.
O Brasil tem 10 mil empreendimentos responsáveis pela produção
industrial e artesanal de sorvete e picolé. As micro e pequenas empresas
representam mais de 90% do mercado.
O Sebrae Minas qualificou seu atendimento
Minas mais empresas continuam abertas
e visitou mais de 120 mil pequenas empre-
após dois anos de existência, gerando
sas por todo o estado, acompanhando,
mais trabalho, renda e desenvolvimento
conhecendo e sugerindo melhorias em suas
para o estado.
gestões. Isso significa que, nos últimos três
Quer melhorar o seu negócio? Acesse
Tipos de sorvete
anos, uma em cada oito pequenas empresas
o nosso site e faça seu cadastro.
O levantamento da Abis também acompanhou o desempenho da
produção de três nichos de mercado: sorvetes tipo massa (bufê e pote),
picolé e soft (expresso).
receberam a visita de nossos orientadores
Em 2012, cada brasileiro ingeriu 6,2 litros de sorvete, superando o
ano anterior (seis litros).
ClaytonPedrosa
Em 23 de setembro, comemora-se o Dia Nacional do Sorvete. A data foi
instituída pela Abis para celebrar o período de temperaturas mais elevadas.
A variante massa é líder absoluta do segmento, pois detém a maior parcela
de fabricação – 875 milhões de litros em 2012 – e foi a que mais apresentou
crescimento frente ao ano anterior. A produção teve elevação de 5,5%.
O Brasil produz
224 MILHÕES
de litros por ano
Fonte: Abis
e estão crescendo cada dia mais. Esse é um
dos motivos para Minas ter o maior índice
de sobrevivência de micro e pequenas
empresas do país. Com o apoio do Sebrae
O picolé ocupa o segundo lugar no ranking em volume de fabricação, com
241 milhões de litros produzidos no ano passado.
O tipo soft, embora também registre crescimento na produção anualmente,
ocupa a menor parcela do trabalho nas indústrias. Em 2012, foram feitos
115 milhões de litros.
BLOG
36 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
0800 570 0800 / www.sebraemg.com.br
Cláudio Duarte
ARTIGO | ANDERSON ROSSI*
Como inovar e tornar-se
empreendedor no século XXI?
A necessidade de inovar nos negócios já é
praticamente consenso entre os empresários
no nosso país. Entretanto, a prática ainda diverge do discurso, como mostram alguns estudos e pesquisas realizados pelas escolas de
negócios e mídia especializada ao longo desta última década. Vou explicar melhor o que
costumo chamar de “paradoxo da inovação”, e
que tem tudo a ver com o que vamos abordar
38 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
sobre inovação e empreendedorismo, tema
deste artigo.
A grande maioria dos empresários entrevistados nas pesquisas, ou seja, mais de 90%,
afirmam que a inovação é estratégica e de vital
importância para o sucesso dos negócios. Por
outro lado, quando o questionamento é sobre
as condições criadas por eles para estimulá-la
e adotar a prática do intraempreendedoris-
mo, esse dado sofre alteração. Menos de 30%
dos executivos analisados afirmam conseguir
criar processos e sistemas favoráveis à gestão
da inovação dentro de suas empresas. Aí vem
o questionamento, que diz respeito ao paradoxo percebido: “Se a maioria dos executivos
considera a inovação um elemento estratégico
para a sobrevivência dos negócios, por que é
tão difícil implantá-la?” A resposta pode estar
nas barreiras culturais da empresa, no estilo
da liderança ou, simplesmente, nos colaboradores, que não têm coragem de desafiar suas
próprias rotinas e limites estruturais.
Ainda é possível afirmar, nos dias atuais,
que a criação de produtos e/ou serviços inovadores no Brasil é considerada uma tarefa
demorada e cara. Inúmeras são as razões que
dificultam e/ou oneram a prática dentro das
empresas, merecendo destaque a falta de cultura inovadora e ou empreendedora, a aversão
ao risco, a intolerância ao erro e o foco excessivo nas ações de curto prazo.
Vale aqui uma reflexão: “Por que ainda deparamos com tantas dificuldades para inovar,
já que se trata de um imperativo estratégico
que aumenta a competitividade dos negócios?
O que precisa realmente ser feito pelos governos, instituições e empresas a fim de criar um
ambiente inovador no país?” Creio que essas
respostas devem ser perseguidas por todos se
quisermos construir uma nação competitiva,
tendo em vista que mudar é sinônimo de crescimento e longevidade.
Mas, afinal, o que pode ser considerado
inovação nos negócios? Tudo aquilo que gera
dinheiro novo para a empresa, ou seja, tudo
o que for criado e/ou implementado e que tenha impacto positivo na contabilidade de uma
organização. Merece destaque o fato de que,
na grande maioria dos casos, ela está relacionada a mudanças incrementais ou melhoria
contínua no produto, serviço ou processo.
Mesmo assim, muitos empresários acreditam
que a mesma está ligada somente ao radical,
ao inédito, daí a dificuldade em implantá-la.
A inovação radical é mais rara e, consequentemente, envolve mais investimentos e
riscos. Quando a empresa consegue criá-la e
lançá-la, como aconteceu, por exemplo, com
a família de produtos “I” da Apple, ela cria
um novo mercado e fatura mais, já que a concorrência levará algum tempo para conseguir
fazer algo semelhante. É importante lembrar
que esse tipo de inovação demanda investimentos expressivos e contínuos em pesquisa
e desenvolvimento. Para se ter uma visão mais
ampliada, a literatura especializada aponta
que mais de 80% das mudanças desenvolvidas nas empresas mundo afora são incrementais, e somente 20%, radicais.
No centro do debate sobre inovação, deparamos com outra questão relevante: a cultura
empreendedora. Inovar tem a ver com empreender, ou seja, buscar novas e melhores maneiras de gerar e captar valor para seu produto
ou serviço. O empreendedor de oportunidade
e o intraempreendedor são reconhecidamente os agentes da transformação, uma vez que
inovar pressupõe planejamento, riscos, erros,
tentativas e busca incessante por melhores resultados. Ele não desiste na primeira tentativa
e é sabido que inovar nem sempre dá certo na
primeira vez. Algumas características do comportamento empreendedor e intraempreendedor precisam ser apropriadas na inovação,
como, por exemplo, perseverança, visão de
longo prazo e confiança.
É importante frisar que não há uma fórmula mágica nem mesmo uma receita milagrosa a seguir para inovar. Cada empresa, de
pequeno ou grande porte, deve encontrar o
seu caminho. Esse deve ser construído pela
liderança e pelos colaboradores, já que é uma
responsabilidade de todos.
Por fim, para que possamos inovar mais e
empreender neste e nos próximos séculos, precisamos romper com todas as barreiras e amarras que ainda impedem a mudança no nosso
ambiente empresarial. É preciso também criar
condições propícias ao surgimento dos intraempreendedores dentro das nossas organizações
porque são eles os verdadeiros agentes de transformação. Não há outra saída, é inovar ou inovar.
*Consultor e professor da Fundação Dom Cabral nas áreas de Gestão da Inovação e Empreendedorismo
www.sebraemg.com.br 39
CAPACITAÇÃO
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
Mônica Freitas, da Lavanderia Santo
Antônio, aprendeu que o uso de
indica­dores de gestão é essencial
para a evolução do negócio
Desenvolvimento
pleno
Parceria entre Gerdau e
Sebrae Minas melhora
indicadores e capacita micro
e pequenas empresas
40 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
E
m 1997, quando começou a atuar
como empreendedora, Mônica Bernadete Machado Freitas viu a chance de iniciar um negócio próprio e
melhorar o sustento da família. Ela
e o marido resolveram montar a Lavanderia Santo Antônio, localizada em Barão
de Cocais. E a ideia deu certo. Hoje, suas especialidades são lavagem e higienização de Equipamentos de Proteção Individual e manutenção das raspas de couro de clientes de grande
porte no mercado.
Um deles é a Gerdau, uma das principais fornecedoras de aços longos especiais
do mundo, que, em parceria com o Sebrae
Minas, implantou o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, que consiste na
capacitação de prestadores de serviço para o
aumento da maturidade da gestão empresarial a fim de atender às novas exigências do
mercado, tendo como objetivo final aumentar
a sustentabilidade da cadeia de suprimentos
como um todo e, por consequência, dos fornecedores locais. Essa qualificação é baseada
em indicadores de desempenho gerenciais,
financeiros, de qualidade, pontualidade e,
consequentemente, na melhoria da competitividade. Iniciado em 2012, o programa será
concluído em dezembro deste ano.
Durante a concepção da iniciativa, a Gerdau indicou a realização de ações em oito estados – Ceará, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio
Grande do Sul. Atualmente, são mais de 280
empresas beneficiadas no Brasil, sendo 76 somente no estado mineiro, nas plantas industriais de Divinópolis, Ouro Branco, Barão de
Cocais, Três Marias e Florestal.
No começo, Mônica Freitas e o marido anotavam as despesas da lavanderia em uma caderneta e, depois, retiravam do total os gastos
com os serviços executados e o quanto haviam
lucrado. Após a adesão ao programa, o casal
entendeu que precisava mudar seus métodos
de controle de gastos e de entrada de recursos.
Atualmente, o empreendimento tem uma sede
de 1.000 m2, 12 funcionários e atende um número de clientes significativo.
www.sebraemg.com.br 41
TERRITÓRIOS DA CIDADANIA
Junto com o diretor da Emecad,
Francisco Carlos Ferreira, a gerente
administrativa Ednea Santos
conseguiu identificar os custos e
controlar melhor os recursos
da empresa
Como fornecedora da Gerdau, a empresária tem participado de treinamentos, recebido
consultorias e descoberto que o uso de indicadores de gestão é essencial para a evolução de
seu negócio. “Esses dados mostram quando há
uma luz amarela de advertência ou vermelha
de perigo. Ou seja, eles indicam claramente a
existência de problemas em determinado setor e como aplicar as ferramentas de correção
de maneira eficaz”, explica Mônica Freitas.
Segundo ela, o programa funciona como
um momento de reflexão e de aprendizado
que até então desconhecia. “Como resultado,
já percebo nosso crescimento pessoal. Também aprendi a delegar funções operacionais
e a usar o nosso tempo para administrar a
empresa, e ainda é possível verificar uma
melhor organização do espaço físico”, conta.
42 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
“Agora, temos a dimensão de onde estamos
errando. Além disso, podemos aprimorar
nossos conhecimentos e ser uma empresa
sustentável e inovadora.”
De acordo com o responsável pelo Programa de Desenvolvimento de Fornecedores nas
unidades da Gerdau de Minas Gerais, Daniel
Fortunato de Araújo, a participação efetiva dos
empreendedores propicia uma melhor maturidade na gestão estratégica, permitindo o
acesso a uma linguagem empresarial moderna
e utilizada por grandes organizações em todo
o mundo. Ele também ressalta que a matriz de
capacitação implementada visa a resultados
diretos no negócio de cada fornecedor, com
ações voltadas para a competitividade, como
acompanhamento por indicadores, redução de
custos, aumento da margem de lucro, melho-
rias no prazo de entrega, confiabilidade, flexibilidade, inovação, qualidade e atendimento.
É exatamente essa a percepção de Mônica
Freitas. “Antes, era somente a Lavanderia Santo Antônio, pequena e familiar. Após o programa, nossa empresa continua familiar, mas se
tornou um negócio de destaque na localidade,
sendo que hoje temos objetivos, missão, visão
e ambição de ser a melhor da região.”
O empreendimento, que começou com
uma máquina acoplada de 10 kg e uma secadora de mesma capacidade, atende atualmente,
fora a Gerdau, clientes de diferentes segmentos do mercado, como AngloGold Ashanti, Cenibra Nipo, Cenibra Logística, Lenarge Transporte, Jolaz Transporte, Rodo M Transporte,
Hotel Senhor do Barão, Pousada das Nascentes, Pousada Cocais e Pousada Solar da Serra.
PLANEJAMENTO I A Emecad está no mercado de prestação de serviços de engenharia
mecânica de Divinópolis há quase 20 anos.
Foi depois da participação no Programa de
Desenvolvimento de Fornecedores que os
proprietários tomaram a decisão de mudar
de sede. De acordo com a gerente administrativa, Ednea Maria Santos, a possibilidade
de organizar melhor os gastos e custos e a
elaboração de um planejamento estratégico
motivaram a reestruturação da empresa.
“Por meio do programa, estamos estabelecendo metas e objetivos de forma mais clara. Conseguimos identificar os custos, ter um
maior controle dos recursos e detectar onde
gastamos mais para tomar as devidas providências. Exemplo disso é a mudança de sede, que é
uma forma de ter um ambiente mais adequado
e agradável aos colaboradores e aos clientes”,
avalia. Outro resultado significativo foi a aproximação entre os profissionais da empresa. “A
equipe está mais motivada e próxima. Temos
objetivos comuns e estamos acompanhando a
melhoria dos nossos resultados de perto”, afirma a gerente administrativa.
Além de palestras e aulas de gestão, o
programa inclui uma consultoria presencial
do Sebrae Minas. “Aprendi a avaliar o meu
próprio negócio, não mais a partir de uma
percepção subjetiva, mas por meio de números e indicadores objetivos”, observa Ednea
Santos. Por meio da elaboração de projetos,
a Emecad presta serviços para Gerdau, FCA,
Metala, Demac, Vale, Odebrecht, atendendo
Belo Horizonte, Divinópolis e toda região
central do Estado.
CRESCER SUSTENTÁVEL I Outra participante
do programa é a OTR, que oferece manutenção especializada em Congonhas. Para
o diretor da empresa, Vicente Gonzaga, a
principal contribuição da iniciativa é possibilitar o desenvolvimento do negócio com
sustentabilidade. “Por meio das orientações
recebidas, definimos metas, fizemos os investimentos necessários e projetamos um
crescimento de 20% no faturamento para o
ano de 2013”, comemora.
www.sebraemg.com.br 43
“Por meio das orientações
recebidas, definimos metas,
fizemos os investimentos
necessários e projetamos
um crescimento de 20% no
faturamento para o
ano de 2013” Vicente Gonzaga,
diretor da OTR
O otimismo é embasado na melhoria dos
indicadores administrativos. “Otimizamos os
controles implementares, os indicadores de desempenho e de gestão empresarial, passamos a
controlar e melhorar os custos e ainda estamos
investindo em treinamentos e capacitação de
nossos colaboradores”, detalha. A empresa está
no mercado de Congonhas há seis anos e atua
nas áreas de usinagem, caldeiraria e montagem
de componentes mecânicos. Atende, além da
Gerdau, Usiminas, CSN, Prefeitura Municipal
de Congonhas, Apia Construções, CGPAR,
GPA, Vito Transporte, Mason, Manserv, Anamar, Valemix, Concretomix, Royal, RHI, EBS,
Grupo Ima, entre outros clientes.
Preparados para o
mercado
O Programa de Desenvolvimento de Fornecedores da Gerdau começou em fevereiro
de 2012 e, como primeira ação em Minas Ge44 PASSO A PASSO OUTUBRO/ NOVEMBRO 2013
rais, foram realizados seminários de apresentação para empresas indicadas pela Gerdau.
A analista do Sebrae Minas e responsável
estadual pelo programa, Simone de Oliveira
Mendes, explica que os empreendimentos
que fizeram a adesão foram contemplados
com o Diagnóstico de Maturidade de Gestão
(DMG), que avalia o nível de competitividade do fornecedor (efetivo ou potencial), segundo critérios definidos pelo Modelo de Excelência em Gestão (MEG). Essa ferramenta
é alinhada aos critérios de excelência em
gestão utilizados pela Fundação Nacional da
Qualidade (FNQ), adaptados à realidade das
pequenas empresas, analisando cada item.
“Os participantes receberam a devolutiva
com os dados por meio do diagnóstico, e fizemos as devolutivas coletivas com a apresentação dos Planos de Capacitação, com cursos e
consultorias que visam adequá-los aos critérios
definidos pelo MEG e/ou critérios complementares, traçados e avaliados conforme o Diagnóstico do Fornecedor”, detalha Simone Mendes.
Pela metodologia, fornecedores do setor,
como das áreas de fundição, usinagem, automação e manutenção em geral, fazem com
o Sebrae Minas o acompanhamento mensal
dos indicadores. Com base nesses dados, são
disponibilizadas capacitações e consultorias
para aperfeiçoar resultados ou identificar
pontos de melhorias.
Cada uma das empresas participantes
também recebe, ao longo do programa, treinamentos específicos sobre gestão empresa-
Na OTR de Congonhas, os funcionários trabalham com usinagem, caldeiraria e montagem de componentes mecânicos
rial, marketing, recursos humanos, finanças,
tributação, responsabilidade social, planejamento estratégico, entre outros temas. Em
conjunto, recebem ainda consultorias individuais para que os conceitos sejam colocados
em prática pelos empresários e pela equipe.
“A metodologia do Sebrae para desenvolver fornecedores tem como proposta inserir
as micro e pequenas empresas na cadeia de
fornecimento das médias e grandes. Mais do
que elevar o nível de gestão e preparar essas
empresas para atender aos requisitos de qualidade, pontualidade e custo, o programa as
capacita para atuar com competitividade em
qualquer mercado, reforçando a ideia de que
é preciso crescer e se desenvolver de forma
consistente sempre”, avalia Cláudio Afrânio
Rosa, analista de Educação do Sebrae Minas.
Ainda é disponibilizado um software,
acessível apenas às empresas participantes
do programa, por meio do site http://www.
pdfgerdau.com.br/, onde são inseridos e
acompanhados, mensalmente, os principais
indicadores que representam a evolução
das prestadoras de serviço em termos de
rentabilidade, eficiência em custos, grau de
dependência com a Gerdau, pontualidade e
qualidade de fornecimento e eficácia comercial. O programa é subsidiado pela Gerdau e
o Sebrae Minas, cabendo aos empresários o
investimento de 20% do valor total.
Segundo Daniel de Araújo, em termos
gerais, nota-se que as empresas que participam dessa iniciativa vêm alcançando melhores resultados em seus indicadores, quando
comparadas a sua situação anterior ao programa, destacando-se a redução de custos, a
melhoria da margem de lucro, a qualidade de
fornecimento e a pontualidade.
Para Simone Mendes, a iniciativa proporciona a profissionalização de pequenos empreendimentos, além de atualizar o empresário quanto às praticas modernas para manter
e conquistar clientes, entregando produtos e
serviços com maior qualidade e cumprimento
de prazos. “É bom para o fornecedor, para a
empresa-âncora e para a sociedade em geral,
porque fortalece o negócio e gera novos empregos, contribuindo para o aumento da competitividade dos pequenos negócios.”
METAS
Alcançar 90% de pontualidade nos
prazos de entrega até dezembro de 2013;
reduzir a não conformidade;
aumentar o faturamento;
reduzir custos;
ter controle de gestão por meio
de indicadores.
www.sebraemg.com.br 45
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
CAPA
Do Oiapoque ao
Chuí
Associação dos Produtores
Artesanais da Cachaça de Salinas aposta
em programa de revenda autorizada
para comercializar a bebida local
em todo o mercado nacional
Se o Brasil é o país do futebol, do carnaval e da caipirinha, não é à toa que Salinas,
no Norte de Minas, tem o título de Capital
Mundial da Cachaça. O município fará jus
a essa homenagem a partir de dezembro, ao
comercializar a bebida em todas as capitais
brasileiras e nas cidades com mais de 300
mil habitantes, dando a oportunidade para
os degustadores de uma boa cachaça apreciarem o aguardente de cana-de-açúcar do
Oiapoque ao Chuí. Para isso, a Associação
dos Produtores Artesanais da Cachaça de Salinas (Apacs) aposta no Programa de Revenda Autorizada, lançado oficialmente durante
o 12º Festival Mundial da Cachaça, em julho
deste ano, e desenvolvido, em parceria com
o Sebrae Minas, junto aos fabricantes locais
associados à entidade.
Nivaldo Gonçalves, presidente da Apacs e produtor da
Cachaça Fascinação, acredita que o programa de revendas
vai multiplicar as vendas dos pequenos produtores
46 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
“Após a obtenção do selo
de Indicação Geográfica de
Procedência da Cachaça da
Região de Salinas, houve uma
necessidade, por parte dos
produtores, de ampliar
o mercado nacional”
Filomeno de Oliveira Junior,
analista do Sebrae Minas
“Quando assumimos a Apacs, em 2009,
um dos principais gargalos era encontrar uma
colocação no mercado para as marcas de cachaça dos pequenos produtores, pelo fato de
não haver recurso disponível para ampliar a
cobertura no mercado, com uma estratégia de
marketing. Diante desse cenário, resolvemos
implantar o Programa de Revenda Autorizada, em nível nacional, para as marcas dos
nossos associados”, explica Nivaldo Gonçalves
das Neves, presidente da Apacs e produtor da
Cachaça Fascinação há 10 anos.
A iniciativa com o Sebrae Minas é pioneira, e a expectativa é ter, em dois anos, entre
80 e 100 revendas, além das capitais e regiões
metropolitanas, nas cidades com população
menor, mas onde o fluxo de turistas é grande
como, por exemplo, na região de Porto Seguro
(BA). Dessa forma, será possível viabilizar a
entrada das pequenas marcas no mercado de
bebidas destiladas. “Esperamos multiplicar,
várias vezes, as vendas de 90% dos pequenos
produtores associados, alavancando o negócio
deles com um reflexo muito forte em toda a
cadeia produtiva da cachaça da Região de Salinas”, afirma Nivaldo Gonçalves.
Os consultores contratados pelo Sebrae
Minas já identificaram 88 possíveis cidades
com potencial para a implantação de uma revenda da Apacs. “Após a obtenção do selo de
Indicação Geográfica de Procedência da Cachaça da Região de Salinas – concedido pelo
Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), em julho de 2012 –, houve uma
necessidade, por parte dos produtores, de
ampliar o mercado nacional da cachaça de
Salinas. Futuramente, vamos trabalhar para
levar a bebida para os Estados Unidos e a Europa”, completa Filomeno Bida de Oliveira
Junior, analista do Sebrae Minas em Salinas.
Para se ter uma ideia da dimensão da iniciativa, basta fazer uma conta simples. Se,
em dois anos, a Apacs tiver 100 revendas
autorizadas com pedidos trimestrais, o produtor vai vender, no mínimo, quatro caixas
de cachaças (com 12 garrafas cada) por ano.
Isso equivale a 400 caixas da bebida, em média, por associado. “Serão mais de cinco mil
garrafas só na rede de revendas autorizadas.
Esse programa é extremamente importante e
estratégico, e esperamos trazer uma rentabilidade grande para o setor”, ressalta o presidente da associação.
A Apacs possui 25 associados, dos quais
21 serão beneficiados, sendo que um deles é
uma cooperativa que representa cerca de 100
pequenos produtores.
DESAFIOS I No entanto, para o presidente da
Apacs, existem três desafios a serem superados: fazer um marketing nacional que viabilize o programa, transmitindo a segurança
de ações bem-sucedidas e estruturadas; a
logística, por se tratar de uma associação de
www.sebraemg.com.br 47
que 90% da cana-de-açúcar utilizada vem do
canavial da propriedade da família. São cinco
funcionários no local, mas, durante a safra,
que começa em maio e vai até outubro, o produtor trabalha com 12 pessoas.
“Paciência. Esse é o principal desafio para
produzir cachaça, pois um bom produto tem
que ter tempo de envelhecimento e precisa
ser feito com cuidado. Meu pai e meu tio
sempre falavam isso, porque, se houver muita ambição em ganhar dinheiro, você não
consegue fabricar com qualidade”, ensina.
Atualmente, a Canarinha é envelhecida
em tonéis de bálsamo por três anos, e a cachaça é uma das marcas mais cobiçadas na
região. Uma garrafa de 600 ml custa R$ 80.
“Em 2014, teremos a primeira Canarinha de
quatro anos, mas a minha meta ainda é fabri-
Em Salinas existem
52 marcas de cachaças
associadas à Apacs
pequeno porte; e a estruturação de um site
absolutamente seguro e confiável, para que
as operações de compra e venda se efetivem
com tranquilidade para os parceiros. “As
consultorias especializadas que recebemos e
o apoio do Sebrae Minas são fundamentais.
Sem essa participação, nós não conseguiríamos alavancar o programa, que tem um
custo financeiro elevado, em um prazo tão
curto”, fala Nivaldo Gonçalves.
O investimento feito no Programa de Revenda Autorizada é da ordem de R$ 112 mil,
em que 70% do valor é subsidiado pelo Sebrae
Minas, que oferece a contratação de consultoria especializada para a sua implementação, e
30% é a contrapartida da Apacs.
“Com o Programa, esperamos levantar o
atual modelo de comercialização e distribuição da Apacs, apresentar as diversas formas
de parcerias para comercializar e distribuir
a bebida e definir os contratos entre a associação, os produtores e os parceiros – revendedores e distribuidores”, afirma Fernando
Machado Ataíde, analista de Agronegócios
do Sebrae Minas. Segundo ele, também será
elaborado um estudo para mapear os possí48 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
“Paciência. Esse é o principal
desafio para produzir cachaça,
pois um bom produto tem que
ter tempo de envelhecimento e
precisa ser feito com cuidado”
Eilton Soares, produtor da
Cachaça Canarinha, ao lado da
mãe Maria Vilma Almeida
“Serão mais de cinco mil
garrafas só na rede de revendas
autorizadas. Esse programa é
extremamente importante e
estratégico” Nivaldo Gonçalves,
presidente da Apacs e produtor da
Cachaça Fascinação
veis municípios onde serão instaladas as futuras revendas autorizadas, em busca de uma
maior cobertura nacional, assim como criar
um modelo de comercialização e distribuição dos produtos da associação.
TRADIÇÃO FAMILIAR I Há 31 anos, Eilton Santiago Soares, produtor da Cachaça Canarinha,
herdou do pai, Noé, e do tio, Anísio Santiago – criador da lendária e famosa Havana –, a
tradição de fabricar cachaça artesanal de qualidade na Região de Salinas. Com dois alambiques em Nova Matrona, distrito localizado
a 38 km de Salinas, ele produz, em média, de
18 a 20 mil litros da bebida por ano, sendo
www.sebraemg.com.br 49
car uma cachaça com cinco anos de envelhecimento”, diz Eilton Soares.
Com mais de 250 clientes, ele consegue
vender toda a sua produção. Com um faturamento médio de R$ 500 a R$ 600 mil por
ano, seu principal mercado consumidor está
na capital mineira e nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
Confiante no sucesso do Programa de
Revenda Autorizada, o produtor diz que a
iniciativa contribuirá para a redução da falsificação da bebida no mercado, além de
permitir planejar melhor a distribuição do
produto. “Inicialmente terei condições de
destinar apenas uma caixa de cachaça para
cada revenda, pois a minha atual produção
está quase toda comprometida. Tenho certeza de que o programa vai dar certo e que
nós vamos trabalhar com pessoas idôneas
em todo o Brasil”, afirma. Daqui a três anos,
Eilton Soares espera aumentar a produção
em 15% e, assim, destinar uma quantidade
maior da cachaça para os revendedores.
AS REVENDAS I A partir de outubro, os empresários e lojistas interessados em ter uma revenda
credenciada da Apacs devem fazer uma inscrição junto à associação e preencher uma ficha de
cadastro, que deverá conter a capacidade financeira do revendedor, posicionamento de mercado, reconhecimento local e estratégia de vendas. Além disso, eles precisam estar dispostos a
usar o logotipo do selo de Indicação Geográfica
e reservar um espaço exclusivo nas lojas para as
cachaças. O cadastro será avaliado por uma comissão da Apacs, que definirá se o empresário
pode ou não ser um revendedor.
Aqueles que forem aprovados vão assinar
um contrato, na modalidade de revenda, e deverão adquirir um kit inicial da bebida, composto por 12 garrafas de cada marca dos 21
produtores, além de pagar uma taxa de adesão
de R$ 3 mil, que funcionará como uma espécie de royalty. Ao todo, o valor investido pelos
lojistas será de R$ 9 mil a R$ 12 mil. Eles e
os empresários receberão ainda um manual,
elaborado pelo Sebrae Minas, com as orientações e normas do programa.
50 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO
AGOSTO/ SETEMBRO 2013
2013
Em contrapartida, os revendedores credenciados terão um espaço no site da Apacs
para comprar as cachaças, que serão oferecidas com os melhores preços praticados
pelos produtores. Já os consumidores poderão acessar as informações para verificar, a
partir do CEP residencial, qual é a revenda
mais próxima de sua casa. “Nas grandes regiões metropolitanas, vamos credenciar uma
revenda a cada 2 milhões de habitantes e,
nas localidades mais dispersas, haverá uma
a cada 500 mil habitantes, para respeitarmos
a área de atuação dos revendedores”, explica
Nivaldo Gonçalves.
Já existem 10 empresários interessados
em ter uma revenda da Apacs. Eles estão
em Belo Horizonte, no Triângulo Mineiro,
Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Recife,
Goiânia, sudoeste de Goiás, e no Distrito Federal. A formalização dos contratos será feita
em novembro.
Antes disso, o associado precisa assegurar
o suprimento mínimo mensal que tem condições de destinar para as revendas, sendo
que o volume da bebida pode variar de acordo com a capacidade de produção de cada
marca. “Além de tornar a cachaça de Salinas conhecida no Brasil inteiro, o aumento
das vendas, da lucratividade e da cartela de
clientes será o principal ganho”, ressalta Fernando Ataíde.
SUA MAJESTADE I Consolidar o produto no
mercado brasileiro de cachaça. Essa é a expectativa de Nestor de Oliveira Santos, produtor
“Com o Programa, esperamos
levantar o atual modelo de
comercialização e distribuição da
Apacs e apresentar as diversas
formas de parcerias para
comercializar e distribuir a bebida”
Fernando Machado Ataíde, analista
de Agronegócios do Sebrae Minas
“Quero vender a bebida não
apenas para sobreviver, mas para
fazer com que a minha marca seja
conhecida Brasil afora”
Nestor de Oliveira Santos, produtor
da Cachaça Majestade
da Cachaça Majestade há 13 anos, com o programa de revenda. “Quero vender a bebida
não apenas para sobreviver, mas para fazer
com que a minha marca seja conhecida Brasil
afora”, idealiza. Com uma produção anual em
torno de 50 a 60 mil litros, o objetivo dele é
aumentar o volume de vendas em 70% após a
abertura das revendas autorizadas.
Na atualidade, 18 mil litros do total de cachaça produzida pelo proprietário da Majestade são envelhecidos em tonéis de bálsamo,
por aproximadamente três anos. O restante é
vendido, a granel, para outros produtores da
região que possuem uma maior demanda da
bebida. Uma Majestade custa R$ 15 (embala-
gem tradicional de 600 ml) e R$ 17 (garrafa
especial de 670 ml). “Vendo, especialmente,
para clientes em Belo Horizonte, São Paulo e
um pouco na Bahia.”
A inspiração de Nestor Santos para começar a fabricar cachaça artesanal veio após
ele degustar, pela primeira vez, uma dose de
Canarinha, do amigo Eilton Soares. “É uma
cachaça de muita qualidade. Depois que provei, resolvi começar a produzir também, em
1990, me espelhando na Canarinha”, lembra
o produtor, que tem dois alambiques na zona
rural de Salinas e três funcionários.
Serviço
Para ser um revendedor autorizado da Cachaça de Salinas, entre em contato com a
Apacs pelo telefone (38) 3841.3431, pelo
e-mail [email protected] ou pelo site
www.apacs.com.br.
www.sebraemg.com.br 51
É no município de Fruta de Leite, a 55 km
de Salinas, que Nivaldo Gonçalves produz a Cachaça Fascinação. Sua propriedade possui uma
moderna fábrica com dornas de fermentação
de aço inoxidável e dois alambiques de cobre,
de 1.200 litros cada, onde a produção anual de
aguardente é de cerca de 60 mil litros. “Temos
capacidade de fabricar 200 mil litros por ano.
Boa parte do que eu produzo é vendida, a granel,
para outras engarrafadoras da região de Salinas,
o que dá uma maior sustentação financeira para
a empresa”, explica. Ele conta com dois funcionários, mas, durante a safra da cana-de-açúcar,
esse número sobe para 14.
Cerca de 25% do volume de sua produção é
envelhecido, ano a ano, em tonéis de bálsamo,
que dão uma cor dourada à cachaça Fascinação
(ouro), e de Jequitibá (branca). Já a versão canacaiana é descansada em dornas de aço inoxidável
e, por isso, sua cor é cristalina. Com um processo
de envelhecimento de quatro anos, os preços da
bebida variam de R$ 20 a R$ 85. “A Fascinação
envelhecida, com valor agregado, é engarrafada e
vendida para clientes em Recife, Belo Horizonte,
Rio de Janeiro, Goiânia, São Paulo e Campinas”,
contabiliza Nivaldo Gonçalves.
Hoje, o faturamento anual do produtor é em
torno de R$ 130 mil, mas, após a abertura das
revendas autorizadas, a expectativa dele é aumentar o volume de vendas em torno de 400%.
“Isso vai expandir o negócio. O produto será levado até o consumidor que é um degustador de
cachaça e reconhece o valor agregado de uma
bebida feita com qualidade.”
Região de
No rastro da qualidade
As primeiras cachaças com o selo de Indicação Geográfica de Procedência da Região de
Salinas estarão disponíveis no mercado em janeiro de 2014. Ele terá um código de rastreabilidade que permitirá ao consumidor obter informações sobre a bebida através do leitor de QR
Code, usado em smartphones, e da digitação da
sequência numérica no site da Apacs.
“O selo tem uma importância estratégica para
preservar a autenticidade da Cachaça da Região
de Salinas, pois vai nos ajudar a combater a falsificação de algumas marcas e cachaças que se apresentam como originais de Salinas. O consumidor
que adquirir uma garrafa com o selo terá a certeza
de que a bebida realmente foi produzida com a
tradição da nossa região”, ressalta Nivaldo Gonçalves. “Para isso, estamos estudando também uma
maneira de fazer com que o selo se torne inválido
e rasgue na hora de abrir a garrafa, impedindo que
seja reaproveitado”, completa o analista do Sebrae
Minas, Filomeno de Oliveira.
Para obter o selo de Indicação Geográfica,
as marcas associadas à entidade passam pelo
crivo de um Comitê Gestor, formado por membros da Apacs e parceiros, como técnicos da
Emater-MG e do IMA. Eles avaliam a origem da
cana-de-açúcar – que pode ser colhida em uma
área de até 5 km da região geográfica delimitada
pelos municípios de Salinas, Novorizonte, Taiobeiras, Rubelita, Santa Cruz de Salinas e Fruta
de Leite –, a adoção de boas práticas e o respeito
ao processo artesanal de produção.
Museu da Cachaça
É também em Salinas que está localizado
o Museu da Cachaça, uma mistura de tecnologia de ponta e objetos antigos para contar a
história de como a bebida surgiu. Inaugurado
em dezembro de 2012, o espaço cultural, instalado em uma área de 13 mil m², possui nove
salas, que tentam mostrar, linearmente, a cadeia produtiva da aguardente. Elas apresentam
52 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
a plantação e a moagem da cana, a participação
histórica dos escravos na produção da cachaça,
o funcionamento dos engenhos e das destilarias
e o envelhecimento em barris.
O Museu da Cachaça fica na avenida Antônio Carlos, 1.250 – Salinas (MG), e a entrada é gratuita. Informações pelo telefone
(38) 3841.4778.
RAIO-X DE SALINAS
R$ 1,49
R$ 693,6
39.182
R$ 216
R$ 5.602,60
milhão foi a arrecadação do ICMS do
setor de cachaça em Minas Gerais*.
Desse total, Salinas arrecadou o ICMS de
mil (46% do ICMS do Estado)*.
habitantes vivem no município.
milhões foi o Produto Interno Bruto
da cidade em 2008.
é o Produto Interno Bruto
per capita da cidade.
*Dados de 2006
Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais
CACHAÇA CLASSE A
A região de Salinas é a segunda do Brasil com selo de Indicação Geográfica
de Procedência da cachaça. A primeira é Paraty, no Rio de Janeiro. A cidade
mineira é um polo produtor de cachaça de qualidade, e seu produto tem a
classificação A, do Ministério da Agricultura. Confira os principais números do
Programa de Revenda Autorizada Apacs:
ClaytonPedrosa
Fascinante
100 revendas autorizadas serão credenciadas em dois anos;
10 empresários já têm interesse em ter uma revenda da Cachaça de Salinas;
88 cidades brasileiras têm potencial para abrigar uma revenda autorizada;
3 milhões de litros (o equivalente a 4,5 milhões de garrafas)
é o volume de produção até setembro de 2013;
40% foi a queda na produção de aguardente nos últimos dois anos, provocada pela seca;
5 milhões de litros era o volume fabricado anualmente antes do período de estiagem;
são 28 alambiques e 52 marcas de cachaça associadas à Apacs;
entre R$ 20 e R$ 350 é a variação de preço das cachaças, mas a maioria
custa, em média, de R$ 20 a R$ 45 ;
R$ 350 é o preço de uma garrafa da cachaça Havana, a marca ícone do município e da
região que foi reconhecida como Patrimônio Imaterial de Salinas, por meio do
Decreto Municipal nº 3.728/2006.
www.sebraemg.com.br 53
ENTREVISTA
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
Quer ser um
empreendedor
de sucesso?
A importância do conhecimento para
empreender e inovar, segundo
Afonso Cozzi, mestre em Administração
e professor do Núcleo de Inovação e
Empreendedorismo da FDC
Na última década, empreender passou
a ser um verbo conjugado por milhões de
brasileiros dotados de atitude, criatividade e
visão inovadora. Essa onda empreendedora,
além de gerar desenvolvimento econômico
e social, aumentou a competitividade de
mercado, hoje mais exigente com relação à
performance empreendedora e menos tolerante com o amadorismo empresarial. Nesse cenário, conhecimento e formação passaram a ser investimentos fundamentais para
profissionalizar e potencializar o desempenho gerencial e a capacidade de inovação
desses empresários.
Em entrevista à Passo a Passo, o mestre em Administração, professor do Núcleo
de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (FDC) e presidente do
Conselho de Administração da Confrapar,
gestora de fundos de venture capital, Afonso
Cozzi, avalia a evolução desse ecossistema
no Brasil, aponta os principais desafios da
atividade empreendedora e as competências a serem desenvolvidas pelos gestores de
hoje, destacando a importância da capacitação e da inovação empresarial.
54 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
Como está o cenário nacional para o empreendedorismo?
Com base em pesquisa realizada em março de 2013, a equipe do Núcleo de Inovação
e Empreendedorismo da FDC fez uma análise do ecossistema de empreendedorismo
brasileiro, utilizando metodologia da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que considera seis
dimensões: modelo regulatório, condições
de mercado, acesso a financiamento, criação
e difusão do conhecimento, capacidade empreendedora e cultura empreendedora.
A análise demonstra que o movimento
empreendedor no Brasil tem crescido nos últimos anos. Entre as suas forças propulsoras,
destacam-se os diferenciais competitivos do
mercado brasileiro (crescimento no volume
de consumidores e tecnologias mais acessíveis) e o aumento de capital disponível no
país (mais investimentos de grande porte e
maior possibilidade de crédito).
Por outro lado, a evolução do modelo
regulatório do Brasil ainda é sutil e precisa
se adequar ao ritmo com que o empreendedorismo se desenha. Os órgãos regulamentadores ainda encontram dificuldades em
implementar, em nível nacional, a simplificação dos procedimentos burocráticos e do
processo de apoio e criação de novas empresas para fomentar e fortalecer a atividade
empresarial. Fatores como a capacitação e a
consolidação de um ambiente que reconheça
a atividade empreendedora como alternativa
ao emprego estável também estão aquém de
seus potenciais.
www.sebraemg.com.br 55
A pesquisadora Vanessa Nogueira, da
FDC, conclui o estudo, sugerindo que a
responsabilidade do funcionamento desse
ecossistema é de todos: empreendedores,
educadores, investidores, famílias, empresas
e o poder público. A projeção internacional crescente do Brasil nos últimos anos e a
exposição que terá até o encerramento das
Olimpíadas do Rio, em 2016, colocam o país
em um momento propício para investir no
progresso deste ecossistema.
Quais os desafios do empreendedor brasileiro?
Estudos do Sebrae e a pesquisa anual
Global Entrepreneurship Monitor (GEM)
indicam que as empresas nascentes deparam com entraves considerados tradicionais
no Brasil. Os principais são: burocracia para
abertura e fechamento de negócios; elevada
carga de tributos e exigências fiscais e legais;
baixa capacitação para a gestão de empresas,
nas escolas técnicas e nas universidades; políticas e programas de apoio não adequados à
realidade do empreendedor.
Quais são os problemas mais recorrentes?
Pouco conhecimento de metodologia de
busca de oportunidades e de modelagem de
novos negócios e de gestão empresarial; ênfase em conhecimentos técnicos, e não de necessidade de mercado; amadorismo na busca
de sócios e contratação de colaboradores.
No Brasil, a figura do “empreendedor herói”
ainda é predominante?
O professor Marcos Hashimoto, da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP),
defende que “a figura da pessoa que carrega
em si todas as virtudes de sucesso não passa
de um mito”. Na mesma linha, o “empreendedor herói” carrega o mito de uma figura
especial, cujo talento nato para a liderança
e o sucesso o credencia a pressentir e a se
antecipar às oportunidades de mercado na
criação de um negócio.
Acredito que essa figura não é mais predominante, graças à consciência, cada vez
maior, de que a capacidade empreendedora
56 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
empreendedora nos currículos e abrindo as
portas para depoimentos de empresários de
vários setores, inclusive de empreendimentos sociais. Assim, a percepção geral é de que
ser empreendedor está ao alcance de todos.
“Em todos os ambientes, dos mais
simples aos mais sofisticados,
é possível identificar pessoas,
principalmente jovens, que sonham
em abrir o próprio negócio”
está presente em todo ser humano e à valorização do pequeno empreendedor. Isso é
fruto de uma mudança cultural iniciada nos
anos 1970, reforçada, hoje, por uma política
ainda de juros baixos, que privilegia os investimentos produtivos, e não a especulação
financeira, e pelo aumento de poder de compra das classes C e D. Apesar das dificuldades
que o pequeno empresário ainda enfrenta, as
políticas de apoio, entre elas o Simples e o
Microempreendedor Individual (MEI), são
avanços importantes.
Em todos os ambientes, dos mais simples
aos mais sofisticados, é possível identificar
pessoas, principalmente jovens, que sonham
em abrir o próprio negócio. As escolas, em
vários níveis, estão incorporando a educação
Entre os empreendedores de micro e pequenas empresas, ainda falta a consciência de
que a capacitação empresarial é necessária?
Infelizmente, ainda há uma percepção de
que a teoria é diferente da prática e que as micro e pequenas empresas (MPE) não podem
se dar ao luxo de gastar tempo com a capacitação empreendedora e o treinamento de
seu pessoal. Porém, é um investimento, geralmente com retorno muito alto. Não cabe aqui
uma discussão maior sobre teoria e prática,
mas elas são faces de uma mesma moeda.
Essa resistência do empresário brasileiro
já foi maior, mas ainda persiste, pois muitas
empresas convivem com um mercado local
e, geralmente, pouco competitivo. O crescimento da economia e a globalização dos negócios serão determinantes para mudanças
mais significativas. Em um mundo com trocas comerciais e avanços tecnológicos cada
vez maiores, nenhum empreendimento cresce sem atualizar conhecimentos e conceitos
de marketing, gestão de pessoas, finanças,
produção, logística, tecnologia, entre outros.
Como mudar essa cultura em relação à capacitação empreendedora?
Fernando Dolabela, autor de O Segredo de
Luisa, entre outros livros, lembra que, nas ultimas três décadas, o entendimento é de que
todos têm potencial empreendedor e podem
desenvolvê-lo pela educação. Acredita-se, hoje,
que a formação empreendedora deva acontecer
do ensino fundamental à universidade e, depois,
durante toda a vida, por meio de participação
em cursos, núcleos e centros de desenvolvimento empresarial, aceleradoras de empresas, parcerias, associações empresariais, dentre outras
formas. A capacitação, somada à imersão no
ambiente empreendedor, pode potencializar a
compreensão e o desenvolvimento de características importantes de quem quer empreender.
E como o empreendedor pode se manter
atualizado?
Conviva com empreendedores, participe
de comunidades, eventos, troque experiências e ideias. Observe os casos de sucesso e de
insucesso, motive-se e aprenda com eles. Leia
sobre empreendedorismo e acompanhe suas
práticas, mudanças e tendências no mundo.
Como essa capacitação contribui com a performance empresarial?
Quando consideramos o contexto brasileiro, percebemos que a educação formal – ensino fundamental, médio e superior – falha em
oferecer aos estudantes princípios de empreendedorismo. Os profissionais brasileiros raramente saem da universidade considerando
empreender como uma opção de carreira. O
emprego e a estabilidade profissional compõem o caminho tradicional a ser perseguido.
Porém, a capacitação – paralela ou complementar ao ensino formal – amplia as perspectivas de futuro do indivíduo, que passa a
enxergar o empreendedorismo como forma
de ser, uma escolha de vida e uma alavanca
de desenvolvimento econômico e social. Ela
desenvolve a habilidade de pensar à frente,
de inovar e se diferenciar. Na educação empreendedora, não existem respostas certas,
e sim perguntas que abrem caminhos para o
aproveitamento de oportunidades.
O que o empreendedor precisa desenvolver
em seu perfil?
Com base em nossa experiência pessoal
em empreendedorismo e em educação empreendedora, no Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC e no investimento em em-
“Os brasileiros raramente saem
da universidade consideran­do
empreender como uma opção
de carreira. O emprego e a
estabilidade profissional
com­põem o caminho tradicional
a ser perseguido”
www.sebraemg.com.br 57
LITERATURA
Qual a importância de cada uma?
A determinação é, sem dúvida, a primeira e
mais importante. O empreendedor deve estar
comprometido e 100% envolvido com seu negócio, desde o início. É importante estar consciente de que dificuldades precisarão ser superadas no caminho e que fracassos acontecem.
Ter conhecimento sobre o mercado de
atuação significa ser capaz de responder às
principais perguntas sobre o segmento. Saber quais são os riscos envolvidos no negócio
e as oportunidades oferecidas pelo mercado
é determinante.
A adaptação às demandas de mercado também é fundamental. Se o produto/serviço oferecido não vende, não insista em mantê-lo, adapte-se,
sem medo de reestruturar-se radicalmente.
Trabalhar a capacidade de construir e
liderar uma boa equipe de trabalho, com
profissionais de confiança, que tenham a habilidade para executar as atividades com excelência e a mesma paixão do empreendedor
pelo negócio, também é vital. São as pessoas
que fazem a empresa acontecer.
“Na educação empreendedora,
não existem respostas certas,
e sim perguntas que abrem
caminho para o aproveitamento
de oportunidades”
58 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
Empreendedorismo
Onde encontrar capacitação empresarial,
consultorias e apoio?
O principal apoiador nacional das MPE
é o Sistema Sebrae. Um dos mais antigos e
experientes do Sistema é o Sebrae Minas,
presente em todo o Estado. Há, ainda, as escolas de negócios, como a FDC, ou aquelas
ligadas às federações e associações de setores, além das várias instituições privadas
que oferecem cursos dirigidos a empresários
de qualquer porte, a preços acessíveis.
A contratação de escritórios de consultoria, contabilidade e direito, que sejam idôneos e tenham credibilidade e experiência
no atendimento às MPE, é outra alternativa.
A participação em associações de classe ajuda a abrir e manter o relacionamento com
empresários e empresas de vários setores,
além da identificação de novas oportunidades no mercado.
Na área financeira, o parceiro mais importante para as MPE é o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), que
opera com linhas próprias de financiamento. Há também o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
e a Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapemig). A Caixa Econômica Federal e o Banco
do Brasil têm importantes linhas de financiamento, com baixas taxas de juros.
Os fundos de venture capital, ainda em
número reduzido no Brasil, aplicam seus
recursos em empresas de grupos de área e
setores específicos. Os principais fundos investem em organizações nascentes de base
tecnológica que apresentem forte potencial
de crescimento.
em quadrinho
O quadrinista
Eduardo Pansica é
um dos convidados
do festival
deste ano
Bernardo Salce/Agência i7
presas nascentes, as principais competências
a serem desenvolvidas são: determinação,
conhecimento do mercado de atuação, adaptabilidade e capacidade de construir e liderar
uma boa equipe de trabalho.
Em sua oitava edição, FIQ
diversifica programação com
Rodada de Negócios entre
quadrinistas e editoras
O Festival Internacional de Quadrinhos
(FIQ), que acontece em novembro, em Belo
Horizonte, chega à sua oitava edição com as
tradicionais exposições de trabalhos nacionais
e internacionais, uma homenagem a Laerte,
um dos principais cartunistas do país (confira na página 61), e uma novidade: a primeira
Rodada de Negócios de Quadrinhos do Brasil,
que servirá para intermediar o contato entre as
editoras e os quadrinistas interessados em potencializar o seu trabalho.
A parceria, feita entre a Fundação Municipal de Cultura, que promove o FIQ, e o Sebrae
Minas, foi selada para profissionalizar o contato informal que já existia entre os artistas, as
agências e a editora em festivais passados. Agora, os interessados podem se inscrever no site
do evento (http://fiqbh.com.br/) e se cadastrar
para o contato com até quatro editoras participantes. “Nas últimas edições, percebemos que
desenhistas levavam seus portfólios para avaliação e decidimos organizar a Rodada de Negócios para outros campos dos quadrinhos, como
roteiro e trabalhos autorais já prontos”, aponta
o coordenador do FIQ, Afonso Andrade.
Uma pesquisa prévia do trabalho dos inscritos e da demanda das agências e editoras também possibilitará que os encontros sejam mais
eficientes. “O Sebrae Minas entra com a parte
mais operacional da Rodada, para dar mais
credibilidade e criar um ambiente propício aos
negócios. Ao aproximar a oferta da demanda,
queremos unir o que as editoras procuram com
o traço, o estilo e o perfil dos quadrinistas. Enwww.sebraemg.com.br 59
Haroldo Kennedy
Referência e inspiração
Público observa painéis com quadrinhos durante a 7º edição do FIQ
tendemos que esses encontros entre editoras e
quadrinistas serão como miniconsultorias, com
geração de conhecimento e aprendizado”, afirma a analista do Sebrae Minas, Raquel Vilarino.
Frequentador assíduo das edições passadas
e convidado deste ano, o quadrinista Eduardo
Pansica diz que o festival, cada vez mais, chama a atenção dos admiradores de quadrinhos e
desenhos e, principalmente, abre as portas do
mercado para aqueles que atuam na área. “Foi
por meio do FIQ que, em 2007, entrei para a
agência norte-americana Art Comics, uma das
principais do setor. Com a padronização ofertada pela Rodada de Negócios, será muito mais
fácil poder mostrar e divulgar o trabalho para
empresas e expandir o negócio”, completa.
MAIS LEITURA, MAIS QUADRINHOS I A primeira Rodada de Negócios de Quadrinhos do
Brasil coincide com o momento de expansão
do mercado em todo o país. Se, no passado, a
maior parte dos quadrinhos brasileiros retratava o tema de humor e era voltada ao público
infantil, hoje é possível encontrar dramas, histórias reais, terror e até reflexões filosóficas. “O
aumento do poder aquisitivo da população, o
crescimento e a melhoria da qualidade das bibliotecas nas escolas públicas e o maior interes60 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
se pela leitura impulsionaram esse crescimento”, avalia Afonso Andrade.
Desde 2006, o Programa Nacional Biblioteca da Escola, do Governo Federal, distribui
quadrinhos para as bibliotecas das instituições de ensino públicas. “Em muitos casos,
isso mantém até 80% do orçamento de pequenas editoras”, ressalta o coordenador do
FIQ. Os números em relação ao aumento
de leitores também são animadores, principalmente para Belo Horizonte. Pesquisa do
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), divulgada no início de 2013,
aponta que a cidade é a capital do país onde
mais se lê. Somente no último mês, 41% dos
belo-horizontinos leram pelo menos um livro,
índice igual ao registrado em Porto Alegre
(RS) e maior que a média nacional, de 33%.
Segundo Cristiano Seixas, proprietário da
Casa dos Quadrinhos, referência de ensino de
técnicas de desenho em Belo Horizonte, a internet também foi fundamental para fomentar
a indústria e divulgar novos talentos. “Os cartunistas desconhecidos começaram a mostrar
seus trabalhos, e já temos casos de artistas que
puderam publicar revistas por meio de financiamento coletivo, em que os internautas doam
dinheiro para possibilitar esse investimento.”
Além disso, se o mercado enfrentou mudanças nos últimos anos, o público que busca
se especializar nas técnicas de desenho também se transformou. Cristiano Seixas observa
que a procura por técnicas tradicionais diminuiu bastante, visto que os alunos passaram a
se espelhar nas produções francesas, belgas e
japonesas. “Esses países, assim como os Estados Unidos, têm um público adulto bastante
consolidado, e os estudantes querem muito
mais inspirações e referências vindas das artes
visuais”, finaliza o empresário.
Agenda
O FIQ, que começou em 1999 e é realizado a cada dois anos, traz ao público
um encontro com personagens e autores
de todos os estilos. De 13 a 17 de novembro, a Serraria Souza Pinto vai abrigar
renomados nomes do HQ e uma programação que conta com oficinas, bate-papos e outras atividades interativas.
A Rodada de Negócios ocorrerá nos
dias 14 e 15 de novembro, e a expectativa
é que participem até 200 quadrinistas,
atendidos por 11 editoras brasileiras e
quatro do exterior. Mais informações no
site http://fiqbh.com.br/.
Considerado um dos principais quadrinistas do país, Laerte vem se reinventando nas
tiras, nas páginas e também na vida. Nascido
em São Paulo, publicou 14 edições da revista
Piratas do Tietê e, atualmente, colabora com
os principais jornais brasileiros. Até o fim do
ano, ele deve lançar um livro com a cantora Rita Lee. Seu repertório de personagens
inclui o anti-herói Overman, Homem-Catraca, Deus e Los Três Amigos, uma parceria
com Angeli, Glauco e Adão Iturrusgarai.
Em 2010, Laerte se mostrou publicamente adepto ao crossdressing e passou
a transitar pelo gênero feminino em suas
roupas e comportamento. Se, no começo da carreira, fez quadrinhos engajados
contra a ditadura, hoje aborda, dentre um
universo de temáticas, questões de gênero
e de sexualidade. “É muito antiga a ideia de
que o quadrinho serve apenas como entretenimento. Como qualquer linguagem, ele
pode ser um meio de conscientização política, crítica e informação”, afirma.
O humor, característica inerente às suas
tirinhas, continua presente mesmo quando
se abordam assuntos sérios. “O humor é
uma linguagem ideológica e sou a favor da
crítica permanente. Grupos e pessoas que
se sentem agredidos por um discurso cômico têm o direito de reivindicar.”
Sobre o vazio criativo, que muitos artistas dizem vivenciar ao longo dos anos
de produção, o cartunista tira inspirações
do próprio dia a dia. “Já há algum tempo,
tenho o costume de anotar algumas coisas que eu considero germes de novos
trabalhos, como um armazém de ideias.
É como alguém que dança: a coreografia
pode não estar pronta, mas é possível improvisar. De alguma forma, o vazio criativo não é um monstro. É algo que tem a ver
com o momento da gente”, finaliza.
www.sebraemg.com.br 61
Arquivo Sebrae
Núcleo de ideias
expandir o negócio para Brasília (DF) e Goiânia (GO) e, até julho de 2014, chegar a 14
centros econômicos brasileiros”, afirma Alexandre Rodrigues, sócio e fundador da Ofex.
Alexandre Rodrigues, sócio e fundador da Ofex, mostra o
troféu que ganhou na Arena Startup
Soluções inovadoras
Em parceria com a Prefeitura Municipal
de Uberaba, o Sebrae Minas, por meio do projeto Sebraetec, publicou o Edital de Tecnologia da Informação e Biotecnologia. O objetivo
é apoiar iniciativas de desenvolvimento desses setores e disseminar a inovação e a busca
por soluções entre as micro e pequenas empresas locais.
62 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
A Associação dos Produtores de Café da
Mantiqueira (Aprocam) lançou, no dia 29
de agosto, na cidade de São Gonçalo do Sapucaí, a marca da Região da Mantiqueira,
formada por 25 municípios. Essa iniciativa
é uma das ações estratégicas de place branding, que consiste na agregação de valor à
região, por meio do relacionamento com
produtos e culturas característicos. O Sebrae
Minas apoia a iniciativa através da estrutu-
ração e do acompanhamento do projeto e da
prestação de consultoria.
Os cafés especiais da região da Mantiqueira são reconhecidos pela altíssima
qualidade, resultante da produção do café
da espécie arábica em altitudes entre 900m
e 1.400m. A Aprocam congrega as cooperativas desses municípios, que têm cerca de
7.800 produtores, dos quais 89% são de pequeno porte.
Robert Owen
Mais de 500 pessoas compareceram, nos
dias 19 e 20 de agosto, à Arena Startup para
uma disputa promovida pelo grupo Minas
Startup, em Uberlândia. Entre as 12 startups
mineiras, venceu a Ofex, plataforma online
para organização de eventos sociais e corporativos, criada em 2012. As finalistas foram
avaliadas por uma banca de investidores e
empreendedores da área. A iniciativa faz parte do projeto Investimento atrai Investimentos e tem como objetivo reunir investidores,
empreendedores e fornecedores da região.
A Ofex, que integra o projeto de Mobilidade Empresarial de Tecnologia da Informação de Uberlândia, realizado pelo Sebrae
Minas, oferece informações sem custos sobre prestadores de serviços. O atendimento
às demandas dos clientes é viabilizado por
parcerias estabelecidas com os fornecedores,
que disponibilizam, na plataforma, dados sobre seus produtos.
A empresa alcançou, no mês de julho
deste ano, a margem de R$ 1 milhão em
venda para seus parceiros e mais de duas
mil solicitações de propostas via plataforma.
“Atendemos 100% das demandas em até 24
horas. Hoje, nosso principal mercado está
no Triângulo Mineiro, mas temos planos de
Garantia de procedência
Divulgação
NOTAS
No total, 23 empreendimentos – seis de
biotecnologia e 17 de tecnologia da informação – se inscreveram. O Edital tem aporte no
valor de R$ 1 milhão. A Prefeitura Municipal
ofereceu como contrapartida o suporte financeiro de R$ 200 mil, enquanto o Sebrae Minas complementou o recurso e é o detentor
da metodologia de trabalho.
Empreendedores capacitados
A primeira turma da pós-graduação
Contabilizando o Sucesso: Especialização
em Gestão e Consultoria Empresarial para
MPE, fruto da parceria entre o Sebrae Minas e o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (Senac-MG), concluiu a especialização em setembro deste ano. Ao todo, 20
profissionais se tornaram aptos a identificar
e a solucionar problemas na gestão das micro
e pequenas empresas, elevar a qualidade dos
produtos oferecidos, aumentar a competitividade, entre outros processos importantes
para o crescimento do negócio. Além disso, os
especialistas terão um papel fundamental na
construção da parceria entre o Sebrae Minas
e os micro e pequenos empresários do Estado.
Serviço
A pós-graduação tem duração de um
ano, e novas turmas são iniciadas a cada
seis meses. Os interessados em participar devem já ter concluído a graduação.
Mais informações no site do Sebrae Minas (www.sebraemg.com.br).
www.sebraemg.com.br 63
A regional do Sebrae Minas em Teófilo
Otoni (Av. Francisco Sá, 207 – Centro) abre
as portas para o maior ícone da moda mineira: Ronaldo Fraga. De 21 de outubro a 15 de
dezembro, das 9h às 17h, será realizada uma
mostra com diversos trabalhos do estilista. A
exposição é composta por 14 peças da coleção
Costela de Adão, realizada em 2003, além de
ambientação cenográfica e concepção criada
especificamente para a exposição, que retratam a cultura do Vale do Jequitinhonha.
Os visitantes poderão aproveitar para conhecer os produtos e serviços que o Sebrae
Minas disponibiliza para que as micro e pequenas empresas trabalhem com mais qualidade e eficiência.
Novas franquias
64 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
negócios que entraram no segmento
de franquias com a ajuda do Programa
Minas Franquia, do Sebrae Minas, cujo
objetivo é estruturar o setor de franchising no Estado, disseminar e ampliar o
acesso às informações e dar suporte aos
empreendedores que desejam expandir
seus negócios por esse sistema.
Divulgação
Quatro micro e pequenas empresas (MPE)
de Montes Claros, no Norte de Minas, entraram para o mercado de franquia, em outubro.
São elas: Fruit Shake, Sellos Acessórios, Líder
Notebooks e Imunizar Vacinas. “São negócios
bem estruturados em seus segmentos e com
nível de gestão aprimorado”, diz Alessandra
Simões, analista do Sebrae Minas responsável
pelo Programa Minas Franquias. Essas empresas têm a vantagem de estarem entre os 10
setores mais procurados por quem pretende
investir no ramo de franquia, com aportes que
variam de R$ 110 a R$ 180 mil.
Já em Belo Horizonte e Região Metropolitana, as franquias de outras quatro MPE
– Massa Pizzaria, Brother Games, Nature
Derme Pharmácia de Manipulação e Clube
dos 13 – estão funcionado desde agosto. Os
empreendimentos são boas opções de investimento e fazem parte do grupo de 22 pequenos
Tour cervejeiro
Os amantes de uma boa cerveja já podem
contar com um aliado importante na hora de
degustar a bebida mais consumida do país.
Trata-se do livro Brasil Beer – O Guia de Cervejas Brasileiras, dos autores Henrique Oliveira, especialista e fundador da Associação
de Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais, e
Helcio Drumond, pesquisador dos segmentos
de cervejas, gastronomia e turismo em geral.
O guia mostra quais são e onde estão localizadas as melhores cervejas produzidas no
Brasil. Para isso, todas as cervejarias, microcervejarias e associações de cervejeiros artesanais nacionais foram mapeadas e catalogadas
em 304 páginas. Produzidas em menor escala,
as cervejas artesanais são produtos com cores,
aromas e sabores distintos dos convencionais,
com qualidade superior.
Os principais roteiros do tour cervejeiro
estão reunidos por região, estado e cidade.
São mais de 450 cervejas e 120 locais onde
se pode degustar a bebida. Em Minas Gerais,
há seis roteiros passando por Belo Horizonte,
Nova Lima, Contagem, Ribeirão das Neves,
Juiz de Fora, Uberlândia, Monte Verde, Frutal
e Delfim Moreira.
A publicação também apresenta uma breve história da cerveja no Brasil, os segredos
da fermentação, as matérias-primas e as etapas de fabricação, além de dicas para aguçar
os sentidos e degustar a bebida, com tipos,
características e classificações dos principais
estilos de cerveja.
Divulgação
Fernanda Nassen
Ronaldo Fraga
Ficha técnica
Brasil Beer - O Guia de Cervejas Brasileiras
Autores: Henrique Oliveira e
Helcio Drumond
Preço: R$ 45
Páginas: 304
Editora: Gutenberg
Mineiras no Rio Franchising
A edição 2013 do Rio Franchising, realizada em setembro, na capital fluminense,
contou com a participação de quatro pequenas empresas mineiras: a Castro Naves, de
Uberlândia; a Top Music, de Uberaba, ambas
no Triângulo Mineiro; a Doce da Roça, de Po-
ços de Caldas, no Sul de Minas; e o Clube dos
13, da região Central de Belo Horizonte. Elas
se tornaram franqueadoras recentemente e,
durante o evento, tiveram a oportunidade de
conhecer o mercado de franquias e prospectar
novos negócios.
www.sebraemg.com.br 65
Fotos: Pedro Vilela/Agência i7
REVITALIZAÇÃO
Lojas comerciais na avenida Silva Lobo, na região Oeste da capital mineira
Shopping a céu
aberto
Um dos principais corredores comerciais
da região Oeste da capital mineira, a avenida
Silva Lobo, reúne, em seus 2,5 km de extensão, mais de 130 estabelecimentos de vários
setores. Bancos, supermercados, padarias,
lojas de roupas, restaurantes e até mesmo
uma faculdade dividem espaço na via que
corta cinco bairros – Nova Granada, Nova
Suíça, Barroca, Alto Barroca e Calafate. Toda
essa variedade de negócios inspirou o Sebrae
Minas, que também está sediado na região, a
elaborar um projeto-piloto de promoção ao
desenvolvimento socioeconômico da área.
Batizada de Caminhos, a iniciativa pretende transformar a avenida em um grande centro comercial a céu aberto. O conceito criado
pelo Sebrae Minas é o de avenida-shopping.
“O projeto foi pensado para criar uma identidade única para a avenida e também ir ao en66 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
A avenida Silva Lobo, na região
Oeste de Belo Horizonte, se
prepara para ser um centro
de referência comercial do país
contro da vocação dela, que é bem semelhante à dos shoppings centers: lojas de segmentos
diversos dividindo o mesmo espaço”, explica a
analista do Sebrae Minas, Fátima Trópia.
A transformação de ruas e avenidas em
centros comerciais já foi feita em outras cidades, mas o modelo proposto foi pensado exclusivamente para a avenida Silva Lobo. “Não
há inovação em promover o desenvolvimento
comercial de uma rua. O diferencial do Caminhos é que ele foi construído tendo em vista
as características da região, que possui um
comércio de micro e pequenas empresas bem
diversificado e a presença de grandes empresas, como bancos, supermercados e lojas de
departamentos, assim como ocorre nos shoppings centers”, pontua Fátima Trópia.
Esse conjunto de estabelecimentos comerciais de porte é responsável pelo fortale-
cimento do mercado econômico. Em 2012,
os negócios instalados na localidade movimentaram R$ 14 milhões e empregaram mais
de 700 pessoas. Esses números expressivos
dimensionam a importância da avenida Silva Lobo para a região e para Belo Horizonte.
“Vamos aproveitar todo esse potencial e atrair
os consumidores dos bairros próximos. Hoje,
por exemplo, muitas pessoas que vêm praticar
exercícios físicos na avenida não fazem compras em nenhum dos estabelecimentos comerciais. Queremos mudar esse cenário, aumentar a circulação de dinheiro e atrair mais
consumidores”, revela a analista do Sebrae.
Considerando apenas a região onde está
localizada, a avenida Silva Lobo tem potencial
para conquistar uma multidão de compradores. Segundo dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a
região Oeste de Belo Horizonte tem mais de
300 mil habitantes. Isso sem contar que outras regiões da cidade, como a Centro-Sul e a
Noroeste, têm fácil acesso à avenida. O público-alvo do projeto Caminhos e a sua área de
influência serão mais bem-definidos no final
do ano, com o resultado da pesquisa mercadológica, encomendada pelo Sebrae Minas.
jeto. “Não há dúvidas de que ele pode promover melhorias significativas na infraestrutura
da avenida e atrair mais compradores.”
O sucesso do primeiro negócio, a loja
de presentes Fina Lembrança, aberta há 10
anos, permitiu que a empresária constituísse
um segundo estabelecimento na mesma avenida, em outro segmento – a Fina Lembrança Mulher, especializada em moda íntima.
Juntas, as lojas realizam, em média, 1.000
vendas por mês, e o faturamento cresce,
aproximadamente, 20% a cada ano.
“Não há dúvidas de que
esse projeto pode promover
melhorias significativas na
infraestrutura da avenida e
atrair mais compradores”
Rafaela Alcantara, proprietária
da loja Fina Lembrança Mulher
AÇÕES PREVISTAS I Baseado em quatro eixos
– planejamento, capacitação, acesso a mercado e comunicação – e ações de consultoria, como o retorno do Negócio a Negócio,
o projeto Caminhos foi concebido para unificar os estabelecimentos em torno de um
objetivo único: potencializar as vendas de
forma organizada. Serão promovidas, por
exemplo, ações de marketing coletivas. A
primeira delas, no Natal deste ano. Mas, antes, os empresários receberão treinamentos
e consultorias do Sebrae Minas para aprimorar a gestão e o desempenho dos negócios.
Durante o lançamento oficial do Caminhos, no dia 12 de setembro, os empresários
da região estiveram no auditório do Sebrae
Minas para conhecer melhor essas ações. Proprietária de dois estabelecimentos na avenida,
Rafaela Alcantara estava presente e disse ter
ficado impressionada com o potencial do prowww.sebraemg.com.br 67
Apesar da projeção do negócio na região,
Rafaela Alcantara ressalta que a avenida precisa de melhorias importantes para conquistar os consumidores. “As pessoas procuram os
shoppings porque se sentem seguras naquele
ambiente. Temos de proporcionar o mesmo
aos nossos clientes. Além disso, as calçadas
precisam ser recuperadas. Em alguns trechos,
os buracos impedem ou dificultam o trânsito
de pessoas com mobilidade reduzida ou que
estejam com seus filhos em carrinhos de bebê.”
CONECTADO COM O CLIENTE I Para entender
melhor as peculiaridades dos lojistas, o Sebrae Minas fez um levantamento sobre suas
potencialidades e pontos de atenção a serem
minimizados. No projeto Cliente Oculto, pesquisadores se passam por clientes e simulam
uma compra para avaliar a qualidade do atendimento e elaborar um perfil daquele estabelecimento. O resultado mostrou que 53% do
empresariado têm problemas relacionados
aos pontos de venda, à qualidade dos produtos e ao controle do fluxo de caixa. Além disso, a mudança de hábitos dos consumidores e
o crescimento atual do e-commerce – segundo o eMarketer.com, até setembro de 2013,
as lojas virtuais faturaram US$ 21,7 milhões
em vendas –, contribuem para a retração do
comércio varejista.
“O varejo atual traz uma série de desafios
para os lojistas e, se não houver investimentos e melhorias, eles não terão como reagir.
É preciso criar uma conexão com o consumidor”, afirma o consultor Daniel Zanco, que
ministrou a palestra Os segredos do sucesso
no varejo: como a gestão pode mudar a sua
vida na apresentação do projeto Caminhos.
Ele ensina que, para desenvolver o negócio
e, acima de tudo, manter a competitividade,
é preciso investir na melhoria do atendimento ao cliente, criar indicadores de vendas,
investir na gestão financeira e no estoque
e, principalmente, capacitar e qualificar os
funcionários. “Ter processos e pessoas bempreparadas para garantir os resultados, fazer
investimentos em tecnologia para ganhar o
cliente, estar no dia a dia da empresa e das
equipes e, mais que isso, olhar o mercado em
que está inserido são atitudes que auxiliam o
empresário a se manter no mercado varejista
e a ampliar o seu negócio”, enumera.
O plano de ações do projeto – desenvolvido com o apoio da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Câmara de Dirigentes Lojistas
de Belo Horizonte (CDL-BH), Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CBEDS), Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e Sebrae Nacional – foi dividido em 4 etapas: planejamento,
capacitação, acesso a mercado e comunicação. Após o lançamento, o Sebrae Minas promoveu encontros com os empreendedores
locais, com a PBH e as lojas-âncora da avenida para estruturar o projeto.
Os próximos passos são: estudo de posicionamento de mercado e de marca, capacitação dos empreendedores, criação do
conceito e identidade visual e elaboração do
calendário de eventos.
A IDEIA ORIGINAL
Localizado no fim da avenida Silva Lobo, o Aglomerado Morro das Pedras e seus mais de 20 mil habitantes
não ficaram de fora dos planos do Sebrae Minas. “O Caminhos foi idealizado para ser realizado na comunidade, mas a execução era bastante complexa. Por isso, resolvemos elaborar um piloto para a avenida
Silva Lobo, que servirá como parâmetro para a ampliação do projeto a ser levado para as sete vilas que
formam o Aglomerado, promovendo o desenvolvimento econômico da região”, explica Fátima Trópia. A
expectativa é que a iniciativa seja lançada até o fim deste ano.
68 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
Fotos: Divulgação
DESIGN
Uma carreira
Com os anéis de feldspasto,
da linha “Expedição”, o
designer Edson Xavier
venceu o 1º Prêmio Sebrae
Minas Design
brilhante
Destaque no mercado de joalheria, Edson Xavier figura
entre os 100 jovens designers mais influentes do mundo
“Você deve acreditar em seus sonhos e em
sua capacidade, seguir sem medo de arriscar e
inovar sempre.” É com brilho nos olhos que o
designer de joias mineiro, Edson Xavier, conta
sua receita de motivação diária. Ingredientes
que foram fundamentais, especialmente, quando decidiu deixar o trabalho técnico em uma
empresa automotiva para ingressar no campo da
criatividade. E deu certo.
Há cinco anos, ele participou do 1º Prêmio
Sebrae Minas Design e saiu vencedor ao desenvolver um projeto de anéis ecológicos. A conquista projetou sua carreira e, hoje, com apenas
27 anos, conquista o mundo com sua habilidade
de criar peças únicas e modernas. “Foi tudo muito rápido, até 2008 não imaginava atuar como
designer de joias”, lembra.
Edson Xavier é formado em Design de Produtos e Engenharia de Produção e teve seu primeiro contato com as joias quando conquistou
uma bolsa de iniciação científica no Centro de
Design de Gemas e Joias, da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). A participação
no Prêmio do Sebrae Minas veio em seguida,
como um primeiro desafio para sua carreira.
Inspirado pela proposta socioambiental de
uso de resíduos para criação de produtos, ele
criou para o concurso anéis utilizando o feldspawww.sebraemg.com.br 69
to, uma sobra de minas de extração de gemas do
Vale do Jequitinhonha. Com o nome “Expedição”, a linha vencedora rememorou as tradicionais cerâmicas da região por meio da aplicação
de pinturas gestuais.
JOALHERIA SOCIAL I Com um olhar voltado para
a sustentabilidade, Edson Xavier se mantém
envolvido com pesquisas sobre processos produtivos de reaproveitamento de resíduos. Após
se consagrar vencedor na premiação, ele continuou o trabalho junto à Itaporarte, associação de
garimpeiros da comunidade de Coronel Murta.
Do papel para a realidade, os anéis desenhados
por ele entraram em produção durante o projeto Gema, coordenado pelo Centro Mineiro de
Design (CMD), em conjunto com a Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e o Centro de Design de Gemas e
Joias da UEMG.
A iniciativa contribuiu para a transferência
de conhecimentos e o desenvolvimento de tecnologia própria no município. Até 2011, quando encerrou seus trabalhos, o projeto realizou a
capacitação de 42 lapidários, responsáveis por
confeccionar as peças de feldspato e mais de 45
protótipos inovadores, entre souvenires e objetos de adornos, decorativos e utilitários. “Não
se tratava apenas de criar joias, mas também
ajudar no desenvolvimento daquela região. A
produção era inclusiva, envolvia os aprendizes
na lapidação da rocha de feldspato, que era a
Anel de ouro, que
pode ser usado como
enfeite de cabelo e
broche, está no book
Swarovski 2013
70 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
base para as peças, e na pintura da joia com óxidos de terra”, explica Edson Xavier, que era um
dos sete designers atuantes.
A iniciativa de capacitação foi um sucesso,
gerou novas oportunidades de negócios e valorização da cultura local e promoveu aumento da
renda com o fomento do artesanato profissionalizado. Hoje, 22 pessoas qualificadas pelo Gema
trabalham no laboratório da associação Itaporarte, em uma coleção de 28 itens, entre pingentes,
anéis e colares. Em breve, elas estarão produzindo até 1.800 peças por mês.
Esse trabalho, somado a tantos outros, rendeu a Edson Xavier o reconhecimento no mercado de joalheria brasileiro e do exterior. Áustria, Estados Unidos e Tailândia são só alguns
dos países que já reconheceram o seu talento.
Hoje, ele acumula uma coleção de mais de 35
prêmios nacionais e internacionais, incluindo o Internacional Design Excellence Awards
(IDEA) Brasil, considerado o Oscar do design
nacional. O artista figura ainda na lista dos 100
jovens designers mais influentes do mundo pela
imprensa especializada norte-americana.
Sua ousadia e criatividade encantaram a
marca austríaca Swarovski em 2009. Além de
conquistar o concurso Top 30 Designs Passion Deluxe, o mineiro levou para casa seu
primeiro contrato com a empresa. Em quatro
anos de parceria com a marca de joias, Edson
Xavier já produziu o book de tendências dos
anos de 2013, 2014 e 2015 e possui mais de
300 peças vendidas para a marca.
Durante o tempo que fica no Brasil, o designer contribui para o crescimento do mercado nacional, realizando consultorias para
fabricantes de joias e semijoias. “Faço o desenho de peças e o acompanhamento da produção para seis clientes fixos. São, em média,
200 modelos vendidos por mês para cada empresa, sem contar os royalties recebidos pelas
peças comercializadas”, contabiliza.
JOIA RARA I Para desenhar a sua linha de joias,
o jovem designer investe em diferentes matérias-primas: resíduos, madeira, pedras preciosas e metal, como ouro e prata. Também se
atreve nas formas e modelos na hora de esbo-
O anel de vidro,
produzido pela
Swarovski, é uma das
joias desenhadas pelo
designer mineiro
çar suas peças no papel. “Tento fugir ao máximo do design convencional, prefiro inovar.
Pesquiso referências de todo tipo de estética,
cultura e arte, desde o grafite de rua até a pintura, a arquitetura e a escultura. No caso dos
anéis de feldspato, por exemplo, inspirei-me no
artesanato de cerâmica do Vale do Jequitinhonha, que é moldado de forma circular”, destaca.
O resultado da variedade de materiais é
visto em alguns produtos inusitados. Um anel
inteiro de vidro e outro de ouro, que pode ser
usado como enfeite de cabelo e broche, foram
produzidos pela Swarovski e estão expostos no
museu da marca, na Áustria. Os valores dos modelos produzidos vão de R$ 300 mil a R$ 500
mil, caso da peça Volúpia, feita em ouro, prata,
gemas preciosas, diamante e turmalina, que está
exposta no museu tailandês The Gem and Jewelry Institute of Thailand (GIT), em Bangkok.
Com uma atividade lucrativa maior aqui
do que no exterior, Edson Xavier planeja abrir
um estúdio de design de joias. “Tenho o sonho
de gerar empregos, e o Brasil tem uma riqueza
de matéria-prima e mão de obra que nenhum
outro país possui”, completa. Para ajudá-lo a
alavancar essa ideia, conta com o apoio e a
estrutura do Sebrae Minas. “Além de ser uma
vitrine para os vencedores, o Prêmio Sebrae
Minas Design impulsiona o empreendedorismo. Vários designers premiados estão investindo em seus negócios. Além de desenharem
“Tento fugir ao máximo do de­sign
convencional, prefiro inovar.
Pesquiso refe­rências de todo tipo
de estética, cultura e arte”
Edson Xavier, designer
os produtos, buscam parcerias para produzir
e cuidam eles próprios da comercialização.
Isso é um diferencial e está contribuindo para
deslanchar a carreira de muitos”, conclui a
coordenadora da premiação e analista de Inovação e Sustentabilidade do Sebrae em Minas
Gerais, Andréa Tristão.
INCENTIVO AO DESIGN
Em três edições do Prêmio Sebrae Minas Design:
foram inscritos 874 trabalhos de profissionais
e estudantes;
de 14 estados brasileiros, em 6 categorias
que mudam a cada ano;
desse total, foram escolhidos 291 trabalhos, entre
33 vencedores, 86 finalistas e 172 classificados.
A 4ª edição será lançada em dezembro de
2013, junto com uma pesquisa que mostrará
a atual condição de todos os vencedores da
premiação desde o seu início.
www.sebraemg.com.br 71
Pedro Vilela/Agência i7
AFROEMPREENDEDORISMO
A professora Neusa
Barcelos (à esq.) e sua
filha, Tatianne (à dir.),
são proprietárias do
Núcleo Educional Ser
Feliz, em Belo Horizonte,
há seis anos
A força do
empreendedor
negro
Estudo do Sebrae revela que o
empreendedor negro ganha espaço e se
destaca no mercado de micro e
pequenas empresas
Há, hoje, no Brasil, 22,8 milhões de
pessoas que enveredaram pelo empreendedorismo. O vultoso número é capaz de
surpreender ainda mais: levantamento
realizado pelo Sebrae, com base nos dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), apontou que quase metade dos donos de pequenos negócios no
Brasil são comandados por autodeclarados
negros (aqui também incluídos os pardos). De 2001 a 2011, período de análise
da pesquisa, a quantidade de empreendedores afrodescendentes cresceu 29%, contra apenas 1% daqueles que se declaram
brancos. A participação deles é, portanto,
de 49%, traduzida em mais de 11 milhões
de empreendedores. “Houve um aumento
no orgulho de pertencer à raça/cor negra.
Mais pessoas passaram a se declarar pertencentes a esse grupo”, afirma o analista
da Unidade de Gestão Estratégica (UGE)
do Sebrae Nacional, Marco Aurélio Bedê.
Além do crescimento nos negócios, a
pesquisa revela que os empreendedores
afrodescendentes apresentaram um au-
72 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
mento de 41% na escolaridade, nos dez
anos analisados: de 4,4 anos de estudo
em 2001 para 6,2 anos em 2011. Ainda assim, o tempo de estudo é inferior
ao dos empreendedores brancos, que
está na casa dos 8,5 anos. Em relação
ao rendimento médio dos negócios comandados por negros, verificou-se um
crescimento de 70% em uma década,
passando de R$ 612 para R$ 1.039 por
mês. No grupo dos empresários da raça
branca, a expansão foi de R$ 1.477 para
R$ 2.019 mensais, o que equivale a um aumento de 40%. No entanto, o faturamento
dos empreendedores negros é, ainda, quase a metade de um empresário branco.
Para Marco Aurélio Bedê, a desigualdade existe, mas a melhoria da escolaridade
e do rendimento prevê uma situação mais
favorável no futuro, por meio da informação e da capacitação desses empreendedores, a fim de superar barreiras e vencer
preconceitos. “A defasagem em termos de
rendimento é grande, isso porque uma elevada parcela de donos de negócios negros
www.sebraemg.com.br 73
trabalha em atividades de menor valor agregado, como comércio ambulante, pesca, entre
outras. Apesar de todo o avanço, os afrodescendentes ainda não conseguiram eliminar o gap
existente, mas a tendência é de caminhar no
sentido de sua redução gradual nos próximos
anos”, acredita.
MAIS NÚMEROS I O levantamento intitulado
“Os Donos de Negócio no Brasil: análise por
raça/cor” mostra que, dos mais de 11 milhões
de empreendedores afrodescendentes, 29%
são mulheres e 71% homens, sendo 60% destes
chefes de família. Outro dado interessante refere-se à distribuição de empresas por ramo. Os
empreendedores negros dividem-se nas atividades de comércio (23%), serviços (21%), agricultura (23%), construção (19%), indústria (10%)
e outras (4%). Quanto às regiões do país, eles
se encontram no Norte (15%), Nordeste (41%),
Centro-Oeste (8%), Sudeste (30%) e Sul (6%).
Outros dados revelados pela pesquisa apontam que os empreendedores negros são mais
jovens, tendo em média 42 anos contra 45 anos
dos declarados brancos. Os primeiros trabalham três horas semanais a menos que os do
segundo grupo (39 h/semanais contra 42). Os
negros têm, ainda, menor acesso aos recursos
de telefonia e informática, menor proporção
de pessoas cobertas por algum sistema de previdência, que trabalham em local fixo urbano,
além de deter a maior proporção daqueles que
começaram a trabalhar antes dos 17 anos.
PERFORMANCE NÃO TEM COR I “Sonho com
um futuro em que a diferenciação de homens e
mulheres por raça e cor se dissolva, formando
uma mistura sem destaque. Creio que eu nem
vá viver para ver isso, mas essa época há de chegar”, declara a professora Neusa Mari Barcelos,
sócia-proprietária do Núcleo Educacional Ser
Feliz, em Belo Horizonte, cogerido com sua
filha Tatianne Barcelos, de 28 anos. Formada
em Relações Públicas, a empresária explica
que seu empreendimento está sob a gestão da
sua família há seis anos, quando compraram a
escola dos antigos proprietários. O centro educativo, com 18 anos de atuação, é especializado
em Educação Infantil (0 a 5 anos), conta com
78 alunos e 15 funcionários, e as mensalidades
variam de R$ 329 (meio turno) a R$ 643 (horário integral).
Neusa Barcelos aponta para o fato de que
grande parte dos alunos são filhos de profissionais brancos de alto destaque no mercado. “Fomos escolhidos não pela cor de nossa
pele, mas pelo nosso trabalho pedagógico,
pela nossa capacidade como educadores.
As nossas crianças convivem em um espaço
onde não existe preconceito, não só de cor,
mas também em relação aos portadores de
necessidades especiais. Elas sairão daqui e levarão a semente da igualdade para fora, o que
certamente dará frutos.”
A sua filha, Tatianne, formada em Normal
Superior e especializada em Psicopedagogia,
já trabalhava na escola antes de assumir sua
gestão. Empolgada com o sucesso do empreendimento, conta que há projetos de ampliação da estrutura, com a aquisição de nova
sede, em fase de construção, nas proximidades do local. Quanto ao preconceito racial,
ela acredita que está diminuindo. “Aquela
coisa de que o negro é desfavorecido social,
cultural e intelectualmente está, enfim, desaparecendo. Estamos avançando, conscientes
de nosso valor como pessoas e no mercado de
trabalho. Não faz mais sentido ficarmos presos às amarras do passado, que nos impedem
de crescer”, acredita.
A jovem empreendedora Tayara Santos de
Paula, proprietária da M&T Papelaria, localizada em Lavras, no Sul de Minas Gerais, é outro exemplo. Com forte tino empreendedor,
ela abriu sua loja há oito meses e já a transformou num misto de papelaria, lanchonete e
copiadora. Ela ainda não fala em lucros, uma
vez que todo o dinheiro arrecadado é investido na melhoria da estrutura e na compra de
itens diferenciados. Mas, certamente, o empreendimento mostra-se bem-sucedido, com
uma clientela crescente e possibilidade de
abertura, num futuro próximo, de uma filial.
“Tenho garra e vontade de vencer, me dou valor e nem penso nessa questão de preconceito, que só faz a gente andar pra trás. Acredito
na capacidade e no potencial das pessoas, o
que não tem nada a ver com a cor ou a raça. À
medida que todos entenderem isso, o mundo
será um lugar bem melhor.”
O empreendedor negro, segundo o levantamento
“Os Donos de Negócio no Brasil: análise por raça/cor (2001-2011)”:
29%
são mulheres, e
Nordeste
71%,
Distribuídos nas atividades de: comércio
74 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
rendimento mensal de
R$1.039.
$
$
Sudeste
Centro-oeste
homens;
(23%),
(21%), agricultura(23%),
construção (19%), indústria (10%),
outras (4%).
serviços
6,2 anos de estudo;
Para capacitar os gestores afrodescendentes
para que suas empresas possam crescer de forma sustentável e aumentar seu faturamento, o
Sebrae vem investindo em ações de capacitação e desenvolvimento de atitudes empreendedoras. Em parceria com o Instituto Adolpho
Bauer e o Coletivo de Empresários e Empreendedores Negros de São Paulo, o Sebrae lançou
o projeto Brasil Afroempreendedor, Desenvolvimento e Fortalecimento do Empreendedorismo Afro-brasileiro, cujo objetivo é capacitar
donos de pequenos negócios em comunidades
negras remanescentes de quilombos, em 12 estados brasileiros, entre eles Minas Gerais.
A iniciativa será desenvolvida em três etapas.
A primeira consiste no levantamento e na publicação de dados sobre os empreendedores afrobrasileiros, além da seleção e da capacitação da
equipe do projeto. A segunda envolve a formação de redes de apoio e a realização de 12 seminários estaduais, com a participação estimada de
1,2 mil empreendedores, dos quais 500 serão selecionados para ter acompanhamento do Sebrae
em ações de formação e capacitação. Por fim,
será feito o monitoramento e a disseminação da
iniciativa, no intuito de fornecer as bases para a
construção de uma Política Nacional de Fortalecimento do Empreendedorismo Afro-Brasileiro,
estruturando propostas de programas de Apoio
aos Empreendedores Afro-Brasileiros.
Norte
49% de empreendedores;
média escolar de
Brasil Afroempreendedor
Sul
(15%),
Nordeste (41%), Centro-Oeste (8%),
Sudeste (30%) e Sul (6%).
Distribuídos nas regiões: Norte
www.sebraemg.com.br 75
CONSULTORIA
Franquia:
Cláudio Duarte
como fazer uma
boa escolha?
76 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
O mercado de franquias é muito atraente e
oferece diversas vantagens. Mas alguns cuidados precisam ser considerados no momento de
fazer a sua escolha. O candidato a franqueado
deve optar por um tipo de negócio com o qual
tenha afinidade e, preferencialmente, apresentar vivência no segmento escolhido. Não basta, por exemplo, conhecer muito a respeito de
culinária: ter informações sobre gastronomia
como hobby é uma coisa; administrar um restaurante é outra bem diferente.
Entender de gestão administrativa, operacional e financeira é condição indispensável para a abertura de um negócio, inclusive
de uma franquia. Ainda que a rede franqueadora disponibilize todo o suporte de campo,
com visitação periódica de um consultor e
treinamento de equipe, e ofereça um software com um sistema operacional eficiente, é
melhor que você esteja bem-preparado ao
entrar no mundo dos negócios.
O mercado é agressivo, e os empreendedores que ingressam em um determinado
segmento, ainda que sejam profissionais experientes, “pagarão o preço do aprendizado”.
O custo dessa consequência será proporcional ao grau de conhecimentos e às habilidades técnicas, humanas, operacionais
e administrativo-financeiras conquistadas
pelo empresário ao longo dos anos de trabalho, mesmo que em outras áreas. Portanto, é
preciso estar capacitado para não ser pego de
surpresa pelo cotidiano dos negócios.
Antes de adquirir sua franquia, considere os
seguintes aspectos:
A rede franqueadora possui, pelo menos, 35
lojas? Com poucas unidades, provavelmente
terá menor expertise em gestão frente a outro
modelo que já possua uma abrangência maior.
Quais são os critérios que a rede franqueadora utiliza para definir o perfil do potencial
franqueado? Não basta apenas ter dinheiro
para investir; é necessário apresentar outros
quesitos fundamentais.
E mais: qual a taxa de franquia cobrada e a respectiva base de cálculo para a cobrança? Qual a
taxa de divulgação ou de marketing cobrada e o
orçamento anual para investimentos em mídia
proposto pela rede? Em quais canais de divulgação ela investe a verba captada?
E ainda: quantos franqueados já desistiram
do negócio ou fecharam as portas, e por quais
motivos? Solicite acesso a esses gestores das
unidades franqueadas que fecharam suas
portas. Visite pelo menos seis que estejam
em atividade e ouça o que eles têm a lhe dizer a respeito da rede na qual você pretende
ingressar. Dificilmente um franqueado consegue esconder suas insatisfações ou omitir
dificuldades no relacionamento com a rede,
por menores que sejam.
Outro ponto essencial: estude a viabilidade do empreendimento em foco por meio da
elaboração cautelosa de um plano de negócios e compare os indicadores de viabilidade
das ações com os números apresentados pelo
franqueador. Leia com atenção a Circular de
Oferta de Franquia (COF) apresentada pela
rede e, caso venha a concretizar o negócio,
compare-o com o contrato de franquia, antes
de assiná-lo. É preciso observar se há divergências entre os documentos.
Portanto, se essas breves informações, ou
parte delas, lhe parecem algo inédito ou desconhecido, esse é um forte sinal de que você
necessita aprofundar seus conhecimentos
antes de assumir compromissos com a aquisição de uma franquia.
Para se informar mais sobre o assunto,
procure o Sebrae Minas e amplie seus conhecimentos.
Fonte: Antônio Augusto Gonçalves de Abreu, consultor e
instrutor do Sebrae Minas / Regional Centro
www.sebraemg.com.br 77
Qual o segredo para
vender bem?
78 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
o desejado, ele começará a favorecê-lo, caso
você faça tudo isso melhor que os concorrentes. E se você surpreendê-lo com o inesperado, terá um lugar especial em seu coração.
Você terá a oportunidade de uma posição
competitiva destacada”.
Concentrar-se no cliente é o melhor caminho para fazer bons negócios. Conquistar
o direito de continuidade em negociações futuras e o envolvimento do vendedor na busca
de soluções para os problemas dos clientes
cria uma relação de confiança que garante
bons resultados no futuro.
Fonte: João Paulo Lopes Pereira, analista do Sebrae Minas
informações coletadas estejam sempre disponíveis em seu cadastro (hobbies, preferências
e histórico de compras). Com esses dados em
mãos e uma análise periódica deles, torna-se
mais fácil estabelecer formas de comunicação
que facilitem o processo de venda.
Vender bem é encontrar o cliente certo, estabelecer uma comunicação eficaz e
entregar a ele o produto adequado com o
preço justo (bom para ambas as partes). O
cotidiano exige do vendedor, ou consultor de
vendas, mais conhecimento, competência,
habilidade de negociação, segurança nas informações disponibilizadas e equilíbrio para
que ele ouça o consumidor. Facilitar esse
Hélvio Avelar
Muitos empresários me perguntam:
como faço para vender bem? Primeiramente, antes de tudo, é necessário encontrar o
cliente. Para isso, o empresário deve sempre
se perguntar: quem é o meu cliente-alvo?
Quais as necessidades e desejos dele? A partir dessas questões, quanto mais claras forem
as respostas dentro da organização, melhor é
a comunicação entre empresa e público-alvo.
Normalmente, os próprios consumidores
apresentam as suas necessidades e motivações para a compra, dizendo simplesmente o
que têm em mente. Por isso, cabe ao vendedor
ouvi-lo, mesmo que, naquele momento, a venda não se concretize. O importante é que as
processo para o vendedor é tarefa do suporte
de vendas, que faz todo o planejamento das
ações. Dessa forma, a empresa estabelece
com o cliente um laço de fidelização a médio
e longo prazo.
Segundo Karl Albrecht, no livro A única coisa que importa - Trazendo o poder do
cliente para dentro da empresa, “se você
se limitar a fazer o bem básico, seu cliente
irá considerá-lo ruim, a menos, é claro, que
nenhum concorrente chegue mais alto na
hierarquia. Se você fizer bem o básico e o
esperado, ele irá considerá-lo medíocre, isto
é, apenas satisfatório, mas sem nada de especial. Se você fizer bem o básico, o esperado e
www.sebraemg.com.br 79
É BOM SABER
Investindo no
crescimento
Bernardo Salce/Agência i7
Primeira sociedade de garantia de crédito do Estado, a Garantia
dos Vales impulsiona os negócios no Leste de Minas
O empresário Carlos Roberto Matias, da Serralheria Esplanada,
conseguiu financiar R$ 30 mil para investir em seu negócio
A expansão de um negócio e o crescimento
do seu faturamento estão ligados, diretamente, à habilidade de se realizarem investimentos na capacidade produtiva, infraestrutura e
equipe de funcionários. No caso das médias e
grandes empresas, há a opção de os recursos
80 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
saírem do próprio faturamento. Uma realidade bem diferente da encontrada pelos micro
e pequenos empreendedores, que, em sua
maioria, precisam recorrer a financiamentos
em instituições financeiras.
É o caso do proprietário da Serralheria Esplanada, Carlos Roberto Matias. Há 11 anos
confeccionando peças em ferro e aço inoxidável sob encomenda, o empresário sentiu necessidade de ampliar o seu negócio. “Resolvi
investir com dois objetivos em mente: expandir minha empresa e aumentar a minha renda. Para alcançá-los, precisava de capital de
giro e adquirir equipamentos mais modernos
para a serralheria”, explica. Com o plano traçado, Carlos Roberto percorreu diversas instituições financeiras, mas, sem poder oferecer
garantias, não conseguiu acesso ao crédito.
Foi quando a gerente do seu banco indicou
a Garantia dos Vales (Sociedade de Garantia
de Crédito do Leste de Minas). Fundada em
julho de 2012, com apoio do Sebrae Minas, a
associação fornece aos proprietários de micro
e pequenas empresas da região do Vale do Rio
Doce certidões que garantem aos bancos e instituições financeiras o pagamento do financiamento. “A Garantia dos Vales assegura até 80%
do crédito solicitado pelo empresário. Se houver algum problema e a empresa não conseguir
honrar a dívida, o banco recebe o valor garanti-
do. Assim, as SGCs (Sociedades de Garantia de
Crédito) são um ponto forte para os pequenos
negócios que demandam crédito e, também,
atrativas para as instituições financeiras”, explica Ricardo Capellini, analista do Sebrae Minas
em Governador Valadares.
Por conta da Sociedade Garantidora de Crédito, Carlos Roberto pôde financiar R$30 mil
e investi-los em sua serralheria. “Além de permitir que eu investisse na minha empresa,
a Garantia dos Vales me orientou na gestão
do meu negócio e a conseguir taxas de juros
mais baixas”, afirma. Do total financiado, R$
18 mil foram destinados à aquisição de novos equipamentos, e o restante transformou-se em capital de giro. Assim, ele conseguiu
aumentar a sua produção, reduzir custos e,
consequentemente, melhorar o faturamento
do seu negócio.
PARCERIA I Em 2008, o Sebrae promoveu
uma chamada pública para estimular o surgimento de sociedades de garantia de crédito no
Brasil. Primeira entidade do gênero em Minas
Gerais, a Garantia dos Vales recebeu R$ 2 milhões para constituir o fundo de risco, que assegura às instituições financeiras a adimplência dos contratos de empréstimo. Esse recurso
está disponível por cinco anos. Além do Fundo de Risco, o Sebrae está investindo cerca de
R$ 400 mil em assistência e consultorias realizadas por seus técnicos e consultores durante 30 meses. Ao final de cinco anos, a entidade
deve devolver o valor do Fundo de Risco ao
Sebrae. Caso seja necessário, o fomento poderá ser renovado por igual período.
Além do montante disponibilizado por
meio da chamada pública, a Garantia dos
Vales recebe contribuições de parceiros para
custear as despesas operacionais. Entre eles
estão as Associações Comerciais, Sindicomércio e CDLs de Governador Valadares e Teófilo
Otoni. Além das entidades de classe, o Sicoob
tem sido um parceiro fundamental. A Prefeitura de Governador Valadares e a Fiemg Regional também participam da parceria. A taxa
de adesão dos associados e a comissão sobre as
garantias emitidas são a receita da SGC.
POR DENTRO DA
GARANTIA DOS VALES
R$ 2.309.256,61
é o valor disponível para as garantias
R$ 639.992
concedidos em forma de garantia
31
26
13
R$ 69.333,33
associados de três setores da economia:
indústria, comércio e serviços
garantias solicitadas
empresas beneficiadas (8 micro
empresas, 4 pequenas, 1 média)
é o valor médio do crédito solicitado
R$53.299,33
é o valor médio garantido
0%
de inadimplência no período
Saiba mais
Para se associar e garantir até 80% do crédito,
procure a Garantia dos Vales, em Governador
Valadares (Avenida Minas Gerais, 544, 2º andar,
Centro). Mais informações pelo telefone
(33) 3089-1500.
www.sebraemg.com.br 81
stock-photo
Criatividade
inovadora
Micro e pequenas empresas mineiras voltadas ao
desenvolvimento de tecnologias podem concorrer a
investimentos de até R$ 400 mil
Promover o desenvolvimento de produtos
e processos com conteúdo tecnológico. Esse
é o objetivo do Edital 13/2013 do Programa de
Apoio à Inovação Tecnológica em Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Tecnova Minas Gerais), que está com as inscrições abertas.
Promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) em
parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o intuito é contribuir para o aumento das atividades de inovação e a melhoria
da competitividade dos empreendimentos. Para
isso, o Tecnova Minas Gerais vai investir entre
R$ 200 mil e R$ 400 mil em projetos inovadores, totalizando R$ 15 milhões, que poderão ser
aplicados em equipamentos, materiais, viagens,
cursos e contratação de serviços terceirizados. O
Edital contempla as áreas de energia, petróleo
e gás, tecnologia da informação, comunicação,
agronegócio, meio ambiente, eletroeletrônico,
biotecnologia e metal-metalúrgico.
Durante a seleção, os projetos serão avaliados de acordo com a conformidade do objetivo,
82 PASSO A PASSO OUTUBRO/NOVEMBRO 2013
do estágio de desenvolvimento e do grau de inovação mercadológico, a capacitação técnica da
equipe executora, da metodologia, da infraestrutura, do orçamento e da adequação do cronograma físico das etapas.
As micro e pequenas empresas interessadas
em participar da concorrência devem apresentar suas propostas em forma de projeto de desenvolvimento no aplicativo Everest (http://everest.
fapemig.br/), até o dia 18 de novembro. O Edital
completo pode ser acessado no site da Fapemig
(www.fapemig.br).
PARCERIA
O Sebrae Nacional também vai atuar no programa Tecnova. A instituição deverá investir
cerca de R$ 50 milhões em projetos e/ou empresas participantes, de todo o país, no desenvolvimento e na melhoria das áreas gerenciais
dos micro e pequenos negócios contemplados.