Caracterização da rebrota de pau-rainha
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Caracterização da rebrota de pau-rainha
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL Caracterização da rebrota de pau rainha (Centrolobium paraense Tul. – Fabaceae) nas roças da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR Estudante: Jessica Livio Pedreira RG: 2050400 – SSP – DF CPF: 721341941-20 Linha de pesquisa: Estrutura e dinâmica de comunidades Orientadora: Jeanine Maria Felfili Co-orientador: Robert Pritchard Miller Trabalho apresentado ao Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília, como parte das exigências para obtenção do título de Engenheiro Florestal Brasília-DF, dezembro de 2008 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL Caracterização da rebrota de pau rainha (Centrolobium paraense Tul. – Fabaceae) nas roças da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR Estudante: Jessica Livio Pedreira Menção: Aprovado por: Jeanine Maria Felfili Robert Pritchard Miller Martinho Alves de Andrade Junior Brasília, 1 de dezembro de 2008 2 Viajar é fatal para o preconceito, a intolerância e as idéias limitadas; só por isso, muitas pessoas precisam muito viajar. Mark Twain 3 Agradecimentos Sou grata a todos que de alguma forma participaram dessa longa caminhada. 4 Índice Lista de figuras ............................................................................................................................ 6 Lista de tabelas............................................................................................................................ 8 Resumo ........................................................................................................................................ 9 1. Introdução .............................................................................................................................. 10 1.1. Hipóteses ...............................................................................................................12 1.2. Objetivos ................................................................................................................12 2. Revisão de literatura ............................................................................................................. 12 2.1. Contexto socioambiental indígena de RR...............................................................12 2.2. Histórico recente de ocupação de Roraima............................................................16 2.3. Povos indígenas do Lavrado ..................................................................................16 2.4. Florestas secundárias e manejo de capoeiras .......................................................17 2.5. Roças indígenas e sistemas agroflorestais ............................................................18 2.6. Pau rainha (Centrolobium paraense Tul. – Fabaceae) ............................................20 2.7. Rebrota no contexto da silvicultura e manejo florestal ..........................................23 2.8. Influência da reserva de carboidratos e luminosidade na brotação........................24 2.9. Influência da altura e diâmetro do toco na brotação...............................................25 2.10. Perspectivas para o uso da talhadia .....................................................................27 3. Material e métodos................................................................................................................ 28 3.1 Área de estudo ........................................................................................................28 3.2. Coleta de dados......................................................................................................29 3.3. Análise de dados ....................................................................................................30 3.4. Devolução dos dados para a comunidade..............................................................32 4. Resultados e discussão ....................................................................................................... 32 4.1. Densidade e área basal ..........................................................................................32 4.2. Distribuição de diâmetros e de altura.....................................................................33 4.2.1. Roça 1 ..............................................................................................................33 4.2.2. Roça 2 ..............................................................................................................35 4.2.3. Capoeira ...........................................................................................................36 4.3. Cronosseqüência de volume de madeira ...............................................................36 4.4. Relação cepa-brotação ...........................................................................................38 5. Conclusão .............................................................................................................................. 42 6. Considerações finais ............................................................................................................ 43 7. Referências bibliográficas.................................................................................................... 44 Anexo I – Autorização de acesso ao conhecimento tradicional associado para fins de pesquisa científica. ................................................................................................................... 48 Anexo II – Devolução de resultados para a comunidade Mutamba..................................... 53 5 Lista de figuras 1. Terras Indígenas na região do Lavrado (savanas) de Roraima (Fonte: Barbosa et al, 2007. Modificado). ........................................................................................................................... 13 2. Precipitação mensal (mm) e temperatura média (°C ) de Boa Vista, Roraima. (Fonte: Barbosa et al., 2007) ........................................................................................................................... 14 3. Fitofisionomias do Lavrado. (Fonte: Barbosa et al., 2007) .................................................... 15 4. Sâmara: semente alada de pau rainha (C. paraense) recoberta de espinhos....................... 20 5. A) árvore de pau rainha aos 4 anos de idade na capoeira e B) madeira de pau rainha para uso em construção na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR............................ 21 6. Distribuição geográfica de Pau rainha (Centrolobium paraense). (Fonte: Kaminski, 2004).. 21 7. Inflorescência de pau rainha (C. paraense) na área de capoeira (CP) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Julho/2008....................................................................... 22 8. Rebrota de pau rainha (C. paraense).................................................................................... 22 9. Parâmetros de pau rainha (C. paraense) mesurados A) nas roças e B) na capoeira na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR.......................................................................... 29 10. Medição dos parâmetros de pau rainha (C. paraense) na área de A) capoeira e B) roça na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR................................................................. 30 11. Apresentação dos resultados parciais do estudo de rebrotas com visita a área de estudo para indígenas da comunidade Mutamba e outras TIs de Roraima....................................... 32 12. Percentual de tocos de acordo com o número de rebrotas de pau rainha (C. paraense) amostradas na Roça 1 (RÇ1) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR............. 33 13. Percentual de tocos de acordo com o número de rebrotas de pau rainha (C. paraense) amostradas na Roça 2 (RÇ2) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR............. 33 14. Classes de diâmetros (cm) de: A) tocos e B) rebrotas de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na roça 1 (RÇ1) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR.......................................................................................................................................... 34 15. Classes de altura (cm) de: A) tocos e B) rebrotas de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na roça 1 (RÇ1) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR..... 34 16. Classes de diâmetros (cm) de: A) tocos e B) rebrotas de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na roça 2 (RÇ2) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR.......................................................................................................................................... 35 17. Classes de altura (cm) de: A) tocos e B) rebrotas de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na roça 2 (RÇ2) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR..... 36 18. A) Classes de diâmetro (cm) e B) classes de altura (m) de árvores de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na capoeira (CP) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. ........................................................................................................................ 36 3 -1 3 -1 19. Cronosseqüência do volume (m ha ) de madeira das rebrotas e volume total (m ha ) das árvores (considerando a altura total da árvore) de pau rainha (C. paraense) encontradas em 6 locais de diferentes idades (4, 12 e 48 meses) amostrados por este estudo na comunidade Mutamba, TI Araçá, RR. ........................................................................................................ 37 3 -1 3 -1 20. Cronosseqüência do volume (m ha ) de madeira das rebrotas e volume comercial (m ha ) das árvores (considerando a altura comercial da árvore) de pau rainha (C. paraense) encontradas em locais de diferentes idades (4, 12 e 48 meses) amostrados por este estudo na comunidade Mutamba, TI Araçá, RR. ................................................................................... 37 21. Número de rebrotas de acordo com: A) circunferência (cm) da cepa e B) altura (cm) da cepa de pau rainha (C. paraense) encontrados nas duas áreas de roças (RÇ1 e RÇ2) na, Terra Indígena Araçá, RR. .................................................................................................... 40 22. Circunferência (cm) das rebrotas de acordo com o número de rebrotas encontradas na cepa de pau rainha (C. paraense) amostrados na: A) roça 1 (RÇ1) e B) roça 2 (RÇ2) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. .................................................................. 40 23. Altura (cm) das rebrotas de acordo com o número de rebrotas encontradas na cepa de pau rainha (C. paraense) amostrados na: A) roça 1 (RÇ1) e B) roça 2 (RÇ2) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. ........................................................................................ 41 7 Lista de tabelas 1. Área basal e densidade dos tocos, rebrotas e árvores de pau rainha encontrados nas roças e capoeira estudadas na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. ......................... 32 2. Diâmetros médios (cm) das peças de madeira de pau rainha utilizadas em telhados de duas construções da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. ..................................... 33 3 3. Dados de volume de madeira (m ) das rebrotas e das árvores de pau rainha encontradas nas áreas da comunidade Mutamba, TI Araçá, RR. ............................................................. 36 4. Média dos diâmetros a altura do solo (DAS) e das alturas das rebrotas e das árvores das nas áreas da comunidade Mutamba, TI Araçá, RR ..................................................................... 38 5. Correlações entre as cepas e as brotações desconsiderando se ocorreram na roça 1 (RÇ1) ou na roça 2 (RÇ) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. ............................ 38 6. Correlações entre as cepas e as brotações considerando se ocorreram na roça 1 (RÇ1) ou na roça 2 (RÇ) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. ................................. 39 8 Resumo As Terras Indígenas são importantes áreas protegidas, as quais devem ser manejadas apropriadamente. Este estudo foi realizado na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá em Roraima, cujo objetivo foi caracterizar a rebrota de Centrolobium paraense Tul (pau rainha) para fins de produção madeireira, verificando se existe alguma relação entre circunferência do tronco e altura de corte dos troncos com a intensidade de rebrota, de forma a enriquecer o manejo tradicional deste recurso. Foi feito o censo de rebrotas em duas roças (0,6ha e 0,16 ha) e censo dos indivíduos em uma capoeira (0,16ha). Foram encontradas 196 rebrotas na roça 1, 94 na roça 2 e 34 árvores na capoeira. Foram significativas as relações entre a circunferência da cepa e a intensidade rebrota (p=0,000), entre a altura da cepa e intensidade de rebrota (p=0,006) e entre a altura da cepa e a altura da rebrota (p=0,049) quando o local de ocorrência foi desconsiderado. Considerando o local, o qual está ligado à idade das rebrotas, a relação entre circunferência da cepa e intensidade de rebrota só foi significativo na roça 2 (12 meses) e a relação entre altura da cepa e intensidade de rebrota não foi significativo (p>0,05) para os dois locais. Houve grande variação na capacidade de rebrota entre os indivíduos e os fatores circunferência e altura de corte das cepas influíram significativamente na intensidade das rebrotas, sendo que a circunferência da cepa teve correlação mais forte com o número de rebrotas que a relação apresentada pela altura. Palavras-chave: etnossilvicultura, savanas, manejo, Terra Índígena, Amazônia. 9 1. Introdução 1 A megadiversidade biológica do Brasil faz este país ter grande destaque em todo o mundo, pois é o país de maior megadiversidade entre os outros 17 países que recebem essa denominação. Entretanto, toda essa biodiversidade carece de estudos para que seu potencial possa ser bem utilizado. A Amazônia, juntamente com regiões da África Central, Sudoeste Asiático e Ásia Boreal, representa uma das últimas áreas florestais pouco modificadas pela ação humana; mas ainda assim, encontra-se sob forte pressão da expansão da fronteira agrícola (Viana, 1998). Estas áreas ameaçadas estão suscetíveis a processos de fragmentação e empobrecimento biológicos e conseqüente diminuição de suas funções ecológicas (Lucas et 2 al., 1998). Assim, áreas protegidas desempenham importante papel para a conservação da sociobiodiversidade. O estado de Roraima destaca-se dos demais estados da Amazônia Legal por abrigar a maior faixa contínua de savana, conhecida como Lavrado ou Campos do Rio Branco (Barbosa et al., 2007). Menos de 1% do lavrado está protegido na forma de Unidade de Conservação, em contrapartida, as Terras Indígenas (T.I.) representam 57% desse ecossistema, ocupado por 28 T.I.s (Barbosa et al., 2007). A comunidade Mutamba é formada por indígenas das etnias Macuxi e Wapixana e está localizada na T.I. Araçá, onde o Lavrado é o ecossistema dominante. Nesta área, também estão presentes ilhas de mata, utilizadas como fonte de recursos florestais e como áreas de cultivo agrícola. São nessas áreas, que os indígenas encontram o pau rainha (Centrolobium paraense Tul): madeira de suma importância na construção de habitações, móveis e produção de energia e que apresenta grande capacidade de emitir rebrotas. Alguns habitantes da comunidade percebem que essa madeira está tornando-se escassa na mata, devido ao aumento da pressão de uso, provocado pelo crescimento da população na comunidade. O corte seletivo de árvores adultas, quando recorrente, pode reduzir as populações ao ponto de colocá-las em risco de extinção. Assim, a talhadia como sistema silvicultural baseado na capacidade de rebrota das árvores após o corte (Graça e Toth, 1990) insere-se neste contexto como alternativa ao corte raso seguido da destoca do pau rainha. O potencial de rebrota desta espécie têm sido cada vez mais explorado pelos indígenas, que aproveitam as rebrotas de pau rainha encontradas nas áreas de roças e capoeiras para suas construções, praticando assim uma forma de manejo. Essa percepção sobre a diminuição dos recursos e conseqüente vontade de contornar a situação é um indicativo do importante papel que essa comunidade apresenta para a conservação desse ecossistema. Este cenário exige uma abordagem diferenciada pelas instituições dispostas a desenvolver trabalhos de pesquisa e extensão nesta região. Dessa forma, a atuação do profissional de 1 Países megadiversos são aqueles que apresentam endemismo de plantas superiores, diversidade de espécies, diversidade de níveis superiores (diversidade filética), diversidade de ecossistemas (diversidade beta), presença de ecossistemas marinhos, além de a presença de florestas tropicais ser levada em grande consideração devido à sua grande contribuição para a diversidade terrestres e de água doce (megadiversidade.com.br). 2 Espaços territoriais cuja função é proteger e conservar a biodiversidade e sociodiversidade e garantir o uso sustentável de seus recursos naturais (Velásquez, 2007). 10 campo dá-se no sentido de comunicar e estimular a experimentação em vez de apenas realizar transferência de tecnologias. É preciso unir o conhecimento científico aos conhecimentos e saberes locais buscando-se construir conhecimentos baseados num paradigma agroecológico e desenvolver tecnologias adequadas às demandas locais (Caporal e Costabeber, 2004). A agroecologia insere-se neste contexto como enfoque científico destinado a promover a transição dos modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencional para estilos de desenvolvimento e de agriculturas sustentáveis (Caporal e Costabeber, 2004). Este campo do conhecimento abriga diversas disciplinas científicas, bem como saberes, conhecimentos e experiências dos próprios agricultores; permitindo o estabelecimento de marcos conceituais, metodológicos e estratégicos que melhor orientam tanto o desenho e manejo dos agroecossistemas sustentáveis como processos de desenvolvimento rural sustentável (Caporal e Costabeber, 2004). Portanto, este estudo justifica-se pelo fato de as informações sobre a espécie Centrolobium paraense Tul serem escassas, apesar desta madeira ter grande potencial de uso para habitações e móveis. O potencial de emitir rebrotas apresentado pelas espécies nativas é pouco conhecido, sendo relevante o levantamento de informações sobre este tema. Além disso, a grande pressão sobre a madeira de pau rainha na comunidade Mutamba da T.I. Araçá exige que sejam experimentadas formas de manejo que visem à conservação desse recurso. As florestas secundárias apresentam diferentes potenciais para o manejo, seja por meio de sistemas de produção florestais e agroflorestais com fins socioeconômicos ou por meio da restauração ambiental objetivando-se recuperar as funções ambientais da floresta (Viana, 1998). Isso destaca a importância das áreas protegidas em unidades de conservação e em terras indígenas, as quais devem ser protegidas e manejadas apropriadamente (Viana, 1998). Este trabalho faz parte das atividades do projeto “Guyagrofor – Desenvolvimento de Sistemas Agroflorestais Sustentáveis Baseado em Conhecimentos Indígenas e Quilombolas no Escudo das Guianas”, um consórcio internacional do programa de Cooperação Internacional (INCO) financiado pela Comunidade Européia. Dentro deste consórcio, subprojetos distintos são realizados por instituições no Suriname, Venezuela e no Brasil, nos estados de Mato Grosso e Roraima. O subprojeto realizado em Roraima recebeu a denominação de “Wazaka’yé: estudo de roças, solos e florestas indígenas” e é uma parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e o Centro Indígena de Cultura e Formação Raposa Serra do Sol – Escola Agrotécnica e Ambiental de Surumu. O Wazaka’yé é apoiado pelo projeto “Agroflorr: Apoio à Extensão Agroflorestal e Agroecológica para Comunidades Indígenas do Lavrado de Roraima” do Instituo Olhar Etnográfico – Instituto de Pesquisa e Documentação Etnográfica. Ambos os projetos, Wazaka’yé e Agroflorr, apoiaram técnica e financeiramente a execução desta pesquisa e estão devidamente autorizados pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN – Autorização N° 019/2006) (Anexo I) e pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). 11 1.1. Hipóteses Dentro do contexto da talhadia, este estudo busca explorar as seguintes hipóteses quanto ao comportamento do pau rainha no sistema de manejo indígena: 1. O diâmetro do tronco cortado pode afetar a intensidade de rebrota. 2. A altura de corte do tronco interfere na intensidade de rebrota. 1.2. Objetivos O objetivo geral deste trabalho é caracterizar a rebrota de Centrolobium paraense Tul (pau rainha) para fins de produção madeireira em uma comunidade indígena. Os objetivos específicos são: • Verificar se existe alguma relação entre diâmetro do tronco e altura de corte dos troncos com a intensidade de rebrota; • Gerar resultados técnicos que possam ser unidos ao manejo tradicionalmente realizado nas rebrotas de pau rainha para se aprimorar o manejo dessas rebrotas e contribuir para atividades de extensão. 2. Revisão de literatura 2.1. Contexto socioambiental indígena de RR 2 Roraima abrange 224.298,980 km (IBGE, 2008), aproximadamente 2,6% do território brasileiro e 4,5% da Amazônia Legal (Barbosa et al., 2005). Os sistemas ecológicos originais do estado são as florestas, as campinas-campinaranas e as savanas ou cerrados (Barbosa et al., 2005). O Estado de Roraima abriga a maior faixa contínua de savana da Amazônia, a qual se encontra isolada dos cerrados do Brasil Central (Barbosa et al., 2005). Essa faixa é denominada de Lavrado ou Campos do Rio Branco (Barbosa et al., 2007) e pertence à ecorregião das “Savanas da Guiana” – no bioma Amazônia (Barbosa et al., 2007). Menos de 0,5% da área total de Lavrado está protegido legalmente na forma de Unidade de Conservação (UC), pelo Parque Nacional (PARNA) do Monte Roraima e pela Estação Eco2 lógica (ESEC) de Maracá; correspondendo a apenas 198 km (Barbosa et al., 2007). O PARNA 2 Monte Roraima apresenta 99 km de área contínua de cerrado, correspondendo a 8,7% de sua área total (Barbosa et al., 2007). Entretanto, esta unidade de conservação encontra-se totalmente sobreposta a Terra Indígena Raposa-Serra do Sol. A ESEC de Maracá localiza-se no limite do Lavrado com a floresta, onde apenas encraves de savanas estão presentes em meio a grandes áreas florestais e várzeas associadas a buritizais (Campos et al., 2008). As Terras Indígenas (T.I.) apresentam papel fundamental na conservação do Lavrado: 2 57% (24.864 km ) desse ecossistema é ocupado por 28 TIs (Figura 1) das etnias Macuxi, Patamona, Ingaricó, Taurepang, Sapará e Wapichana; sendo que a TI Raposa-Serra do Sol juntamente com a TI São Marcos representam 48,3% da área total do lavrado (Campos et al., 2008). Entretanto, a maioria das T.I.s é pequena e bastante vulnerável às crescentes pressões exercidas em seu entorno (Campos et al., 2008). A importância dessas áreas fica evidente 12 quando a representatividade das fisionomias é analisada: muitas fisionomias únicas estão presentes exclusivamente nas T.I.s e estão ausentes nas demais regiões de Lavrado e do Brasil (Campos et al., 2008). Estas fisionomias ocorrem em menos de 1% desse ecossistema e estão presentes em 90% das TIs (Barbosa et al., 2007). Figura 1 – Terras Indígenas na região do Lavrado (savanas) de Roraima (Fonte: Barbosa et al, 2007. Modificado). Excluindo as áreas de agricultura (15,6%), assentamentos de reforma agrária (3,8%) e terras indígenas (57,3%), apenas 23,3% das savanas estariam disponíveis para a criação de unidades de conservação de proteção integral (Barbosa et al., 2007). Três áreas seriam prioritárias para conservação: a Serra do Tucano (baixo curso do rio Tacutu), a Serra da Lua (alto curso do mesmo rio) e a região dos lagos na bacia do rio Cauamé, por apresentarem as maiores extensões contínuas de terra, aproximadamente 100 mil ha (Campos et al., 2008). As UCs enfrentam uma diversidade de problemas relacionados, primeiramente, a sua criação e, a seguir, a sua gestão e fiscalização. A importância de priorizar áreas para a criação de UCs advém do relevante papel que essas áreas têm desempenhado na proteção da biodiversidade remanescente em determinados locais. Contrapondo-se a rápida degradação sofrida pelas áreas externas a elas, promovida pelas mudanças nos padrões de uso da terra e dos recursos naturais (Bensusan, 2006). O Lavrado faz parte do complexo paisagístico “Rio Branco-Rupununi”, na fronteira do Brasil com a Guiana e a Venezuela (Barbosa et al., 2007). Esse complexo ocupa, aproxima2 2 damente, uma área de mais de 60.000 km , dos quais 70% (43.358 km ) estão em Roraima. O clima do Lavrado é do tipo Awi (tropical úmido) de acordo com Köppen. Ocorre um período seco de dezembro a março e um período chuvoso de maio a agosto (Figura 2), no qual 13 aproximadamente 70% da precipitação anual estão concentrados (Barbosa et al., 2007). No centro e no sul da região a altitude é inferior a 600 m e ocorrem abaciamentos, gerando um sistema de lagos perenes e sazonais conectados aos grandes cursos de água por áreas de veredas (Barbosa et al., 2007). Em anos chuvosos ou de precipitação esperada, as veredas atuam como barreiras naturais ao fogo; entretanto, em anos mais secos (principalmente nos anos de El Niño) formam corredores de propagação de chamas devido ao acúmulo de matéria no solo. Figura 2 – Precipitação mensal (mm) e temperatura média (°C) de Boa Vista, Roraima. (Fonte: Barbosa et al., 2007). A paisagem do Lavrado apresenta-se na forma de um mosaico de fisionomias abertas (campestres) e florestais (Figura 3), sendo que as primeiras cobrem aproximadamente 70% da região (Barbosa et al., 2007). Os ambientes florestais são: ilhas de mata, matas de galeria, matas de buritis ou buritizais. Os ambientes abertos ou não florestais são classificados como savanas e como savanas estépicas, diferenciando-se por critério geográfico (Barbosa e Miranda, 2005). As savanas estépicas encontram-se em áreas de maior altitude, nas serras que as limitam com a Venezuela e com a Guiana. De acordo com Barbosa et al. (2005), as savanas são subdivididas em: savana arbórea densa, savana arbórea aberta, savana parque, savana graminosa ou gramíneo-lenhosa, a qual apresenta sub-unidades paisagísticas denominadas de campos limpos e campos sujos. As savanas estépicas dividem-se em: savana estépica arbórea densa, savana estépica arbórea aberta, savana estépica parque e savana estépica graminosa. 14 Figura 3 – Fitofisionomias do Lavrado. (Fonte: Barbosa et al., 2007) A riqueza total do Lavrado é de, aproximadamente, 500 espécies de plantas superiores – valor muito inferior ao encontrado para os cerrados do Brasil central (Barbosa et al., 2007). É possível que o avanço das pesquisas nesta região mostre maiores valores para a riqueza total do Lavrado (Barbosa et al., 2007). Além de pouco estudada, a diversidade florística dessa região está sob forte ameaça devido ao regime freqüente de fogo, pecuária extensiva e grandes empreendimentos ligados a produção de soja, arroz e plantio comercial de árvores, como Acacia mangium Willd. (Barbosa et al., 2007). Estudos de longo prazo sobre os impactos dessas atividades na flora da região são de grande importância, uma vez que a fragmentação deste mosaico de fisionomias pode impedir trocas genéticas e processos geradores da biodiversidade da região. O Lavrado apresenta espécies endêmicas e espécies ameaçadas de extinção, além daquelas que estão ausentes no Cerrado do Brasil Central ou nas demais áreas de cerrado da Amazônia (Barbosa et al., 2007). A ligação entre a bacia do rio Amazonas e do rio Essequibo, juntamente com os diversos lagos formados no período de chuvas desempenha um papel muito importante, porém pouco estudado, na distribuição dos organismos aquáticos e aves migratórias (Barbosa et al., 2007). A fauna do Lavrado, como um todo, ainda é pouco estudada; sendo avifauna, herpetofauna e ictiofauna os grupos mais estudados, enquanto mamíferos e invertebrados são os menos estudados (Barbosa et al., 2007). 15 2.2. Histórico recente de ocupação de Roraima Com a transformação do município de Boa Vista em Território Federal do Rio Branco (Decreto Lei 5812 de 13.09.1943) foram pensados pólos agrícolas regionais de abastecimento, não só para os novos colonos direcionados para esta área, mas também para a população já residente neste território (Barbosa et al., 2005). As áreas escolhidas eram todas em sistemas florestais em contato com as savanas, nas quais o processo de ocupação dava-se na forma de franca expansão da criação de gado bovino (Guerra, 1954). Este processo implicou na expulsão da maior parte das populações indígenas das savanas para áreas periféricas e na ampliação do garimpo de diamantes e ouro (Guerra, 1954). Neste período, este território passou a ser chamado de Território Federal de Roraima (Lei 4.182 de 13.12.1962) em homenagem ao Monte Roraima (Barbosa et al., 2005). Os governos militares estimularam a migração externa para este território a partir doa anos 70, o que resultou em deficiente processo de planejamento agrícola e ambiental e, dessa forma, forte incremento da área desmatada no estado (Barbosa et al., 2005). Com a diminuição das áreas florestadas para os assentamentos rurais, o fluxo migratório seguiu na direção das savanas; onde as atividades agrícola e silvicultural tecnificadas instalaram-se (Barbosa et al., 2005). Já a pecuária, que dominava as savanas, expandiu-se na direção sul, aproveitando as áreas desflorestadas pelo processo migratório das décadas de 1980 e 1990 (Barbosa et al., 2005). 2.3. Povos indígenas do Lavrado A continuidade e a extensão do Lavrado representam um universo de recursos mínimos necessários à subsistência e perambulação das sociedades indígenas situadas nestas áreas (Costa e Souza, 2005). Para este autor, a disponibilidade de recursos da região exigiu dessas populações soluções que lhes permitissem garantir a sobrevivência com um mínimo de recursos disponibilizados pelo meio. A migração de indígenas historicamente ocupantes de regiões de savanas para cidades e vilas ocorre em função de fatores como falta de assistência oficial e a não regularização das terras indígenas (Costa e Souza, 2005). A T.I. Araçá é habitada por indígenas das etnias Macuxi, Wapixana, Taurepang e Sapará; povos de filiação lingüística Karib e Aruak. Na comunidade Mutamba predomina a presença dos Macuxi e Wapixana. Os Macuxi formam uma unidade étnica mais abrangente, os Pemon, em conjunto com os Taurepang, os Arekuna e os Kamarakoto; também falantes de língua pertencente à família Karib e muito próximos, social e culturalmente dos Macuxi (ISA, 2008). Este grupo autodenomina-se Pemonkon (Costa e Souza, 2005) e contrapõe-se aos Kapon, designação que engloba os Ingarikó (Akawaio) e os Patamona (ISA, 2008). O território macuxi estende-se por duas áreas ecologicamente distintas: os campos ao sul e uma área onde predominam serras em que se adensa a floresta o norte; conferindo uma exploração ligeiramente diferenciada daquela feita pelos índios da planície. Em área brasileira, 16 é composto por três grandes blocos territoriais: a TI Raposa Serra do Sol e a TI São Marcos, onde se concentram a grande maioria da população; e oito pequenas áreas que circunscrevem aldeias isoladas no extremo noroeste do território macuxi, nos vales dos rios Uraricoera, Amajari e Cauamé (ISA, 2008). Os Wapixana são o segundo maior grupo indígena de Roraima, estimado em 6500 pessoas (Costa e Souza, 2005). São do grupo lingüístico Aruak e, atualmente, a língua Wapixana é mais utilizada pelos grupos localizados na Guiana – aproximadamente 4000 pessoas (Costa e Souza, 2005). O território tradicionalmente ocupado pelos Wapixana em Roraima estende-se da bacia do rio Uraricoera ao Surumu às regiões da Serra da Lua e Tacutu, chegando além da fronteira com a Guiana (Costa e Souza, 2005). 2.4. Florestas secundárias e manejo de capoeiras O conceito de manejo comunitário de recursos naturais entrou em evidência a partir da década de 80, quando cientistas naturais e sociais destacaram a relação entre degradação ambiental e questões de justiça social, empobrecimento rural e direitos indígenas (Benatti et al., 2003). Este conceito envolve práticas de gestão participativa disseminadas na Amazônia no final do século passado, quando vários grupos de produtores familiares rurais se envolveram em iniciativas de manejo comunitário, em resposta às diversas pressões sobre os recursos naturais comuns de que dependiam (Benatti et al., 2003). As florestas secundárias, nas diversas etapas de desenvolvimento, são capazes de prover importantes recursos às populações tradicionais, desempenham um papel de elevada importância ecológica – em termos de crescimento florestal, acúmulo de biomassa, controle de erosão, conservação de nutrientes, benefícios hidrológicos e manutenção da biodiversidade (Alvino et al. 2005). Nessas florestas, é possível encontrar espécies de rápido crescimento e de boa formação com alto valor econômico (Alvino et al. 2005). Existe carência de estudos que visem a identificação da potencialidade de uso de espécies de floresta secundária, dificultando a possibilidade de manejá-los (Alvino et al. 2005). Alvino et al. (2005) levantou que a potencialidade de uso diversificado de uma floresta secundária no Pará era grande; mas que, por falta de conhecimento sobre os recursos, os agricultores não exploravam esse potencial. Estes estudos são importantes para se levantar a utilidade dessas áreas e dos recursos nelas encontrados, estimulando investimentos e a conservação dessas florestas (Alvino et al. 2005). As capoeiras são áreas de floresta alterada cobertas por vegetação secundária em diferentes estágios de desenvolvimento que crescem após ocupação com cultivos alimentares tradicionais à agricultura familiar; com cultivos semi-perenes ou perenes ou com pastagens (ASFAGRO, 2008). A capacidade de recuperação da área está diretamente ligada à história de uso da terra (Amaral e Matos, 2003). Capoeiras originadas pela atividade agrícola, crescem mais rápido que aquelas oriundas de pastagens (Fearnside e Guimarães, 1996). 17 Essas vegetações secundárias garantem a manutenção de taxas de trocas mais próximas das observadas em florestas primárias que as observadas na maioria das coberturas vegetais encontradas na região amazônica (ASFAGRO, 2008). É relevante destacar a diversidade florística que essas capoeiras apresentam em situações em que o preparo de área para o plantio não é feito com intenso uso de mecanização (ASFAGRO, 2008). Com a adoção de práticas de manejo de capoeira nas fases de pousio e de preparo de área, é possível garantir balanços mais favoráveis de carbono, água e nutrientes, com repercussões ambientais e socioeconômicas positivas em escalas local e regional (ASFAGRO, 2008). Entre indígenas do Acre, o enriquecimento de capoeiras evita que as queimadas para implantação de novos roçados ou para abertura de áreas de pastagem deixem de ser praticadas, possibilitando que as atividades de coleta de frutas e de madeira para a construção de casas e a caça sejam realizadas a distâncias menores das aldeias (Bianchini e Bianchini, 2007). Na região do alto Rio Negro, as capoeiras são ricas em plantas medicinais e são o habitat privilegiado de pequenos animais apreciados pelos índios como cutias (ISA, 2008b). As capoeiras com vinte ou trinta anos são, muitas vezes, reutilizadas pelos índios para seus roçados, exigem menores esforços para serem derrubadas e secam com poucos dias de sol, possibilitando sua queima mais rapidamente (ISA, 2008b). As áreas de capoeira também são valorizadas porque existem espécies cultivadas que continuam a dar frutos por muitos anos, como a pupunha, buritis, caju, cucura e outras (ISA, 2008b). As comunidades que dependem diretamente das florestas, relacionam-se com esse recurso a partir de diferentes perspectivas (Amaral e Amaral Neto, 2005). As comunidades locais apresentam maior interesse na sustentabilidade de seus recursos e possuem maior conhecimento dos processos ecológicos e das práticas tradicionais de manejo dos recursos naturais (Benatti et al., 2003). Isso justifica o envolvimento de pessoas da comunidade na gestão direta desses recursos. Os objetivos sociais, econômicos e ambientais integram uma paisagem ecológica e cultural e produzem diversidade de produtos tanto para consumo como para o mercado (Amaral e Amaral Neto, 2005). 2.5. Roças indígenas e sistemas agroflorestais Os sistemas de produção dos povos indígenas do Complexo Macuxi-Wapixana, tradicionalmente baseados nas roças de coivara, apresentam algumas especificidades de acordo com o grupo indígena que os desenvolvem e da região em que são praticados (nas serras ou no Lavrado); mas apresentam características muitos semelhantes entre si (PPTAL, 2007). As principais culturas registradas nos roçados das terras indígenas dessa região são: mandioca brava, macaxeira, banana, milho, pimenta, cana de açúcar, amendoim abóbora, melancia, manga, mamão, batata-doce, caju, cítricos inhame, cará, hortaliças e legumes, arroz e feijão (PPTAL, 2007). 18 Os sistemas agrícolas hoje se caracterizam pela sua dinâmica e transformação, tanto pela aquisição de novas tecnologias, como pela reconstrução dos sistemas sociais e econômicos em curso, que traz reflexos sobre o modo de subsistência das comunidades indígenas (PPTAL, 2007). A fixação das comunidades indígenas em um determinado local e a concentração dos moradores em torno de serviços e infra-estrutura (postos de saúde, escolas, energia, água encanada, etc.), junto com o crescimento contínuo da população, gera demandas básicas que podem sobrecarregar a capacidade de sustentação dos sistemas tradicionais de produção (PPTAL, 2007). O cultivo de terreiros ou quintais indígenas é caracterizado pelo plantio de árvores frutíferas e de espécies de plantas destinadas ao uso medicinal e ritual. Os “sítios”, como são denominados estes plantios ao redor das moradias no Lavrado, podem chegar a constituir grandes e complexos grupamentos de espécies de árvores variadas, num sistema de cultivo conhecido como sistema agroflorestal (PPTAL, 2007). Sistema, de uma maneira geral, é um conjunto de elementos coordenados entre si que formam uma estrutura organizada. De acordo com Penereiro et al. (2003), um sistema engloba limites, componentes, ambiente de entrada e saída e interações entre os componentes: • O limite define o contorno físico do sistema; • Os componentes são os elementos físicos, biológicos e sócio-econômicos; • Ambiente de entrada são as chuvas, energia solar, ventos, mão-de-obra e insumos (adubos, combustível, etc.); • As interações são relações dos componentes entre si e com o ambiente de entrada, onde a energia flui e a matéria cicla. O termo sistema agroflorestal apresenta uma diversidade de conceitos, que dizem respeito a um conjunto de práticas e sistemas de uso da terra já tradicionais em regiões tropicais e subtropicais (Penereiro et al., 2003). De acordo com PPTAL (2007), os SAFs podem ser definidos como formas de uso da terra em que há consórcio de espécies arbóreas, cultivos agrícolas e/ou criação de animais numa mesma área de maneira simultânea ou ao longo do tempo. Penereiro (1999) define sistemas agroflorestais como uma das diversas modalidades de agriculturas sustentáveis e que estão de acordo com os princípios da agroecologia. Ainda, estes sistemas vão além da produção agrícola por apresentarem o componente florestal no seu desenho. Assim, são sistemas potenciais para a recuperação de áreas ao mesmo tempo em que produzem rendimentos aos produtores (Penereiro, 1999). Tanto as roças como os quintais indígenas são sistemas de produção que, em maior ou menor escala, apresentam uma diversidade de componentes de diferentes naturezas e funções. Pinho (2008) realizou uma caracterização dos solos e da composição florística dos quintais. Quanto às roças estudadas para avaliação das rebrotas de pau rainha, observou-se que nestas áreas estavam presentes espécies agrícolas (milho, abóbora, mandioca), espécies frutí- 19 feras (videiras, pitombeiras, mangueiras) e espécies florestais como o pau rainha (C. paraense) e freijó (Cordia sp) rebrotando. A manutenção do pau rainha e o plantio de espécies frutíferas nas áreas roçadas são formas de enriquecimento da área. Estas ações já realizadas aliadas à intenção de plantio de pau rainha, inserir outras espécies na roça, como o café, e à conseqüente exclusão do uso do fogo na área são uma tentativa de aumentar a biodiversidade do local, seja pela inserção de novas plantas na área, seja pela tentativa de atrair a caça (veados, cutias); aumentando as possibilidades de retorno de alimento para o agricultor. Dessa forma, o sistema agrícola indígena (roças de mandioca, milho, abóbora, feijão) caminha no sentido de converter-se em sistema agroflorestal sucessional, pelo enriquecimento realizado pelo cultivo e manutenção de espécies arbóreas, tanto frutíferas como madeireira. 2.6. Pau rainha (Centrolobium paraense Tul. – Fabaceae) O gênero Centrolobium Mart. ex Benth. integra a família Fabaceae e compreende seis espécies de árvores tropicais com dispersão limitada as Américas Central e do Sul, caracterizado principalmente pela presença de glândulas peltadas alaranjadas que cobrem as folhas e inflorescências e vagens aladas com o núcleo seminífero recoberto por espinhos. O termo Centrolobium deriva do grego, Kreton: esporão e Lobium: vagens; lóbulo revestido de espinhos semelhantes a esporas; o termo espora relaciona-se ao espinho presente na base da ala da sâmara (Figura 4). Pedreira, J. L. Figura 4 – Sâmara: semente alada de pau rainha (C. paraense) recoberta de espinhos. O pau rainha (Figura 5), entre os indígenas da Amazônia, é conhecido por Myrá kuatiar, expressão que significa pau manchado (Haverroth, 2005), provavelmente referindo-se à resina avermelhada produzida quando a casca é cortada (Kaminski, 2004). De acordo com Kaminski (2004), apresenta os seguintes nomes populares: Pau rainha (Brasil); Tejeyeque, Tarara Amarilla (Bolívia); Arariba, Guayacan Hobo (Colômbia); Amarillo, Amarillo de Guayaquil (Equador e Panamá); Balaústre (Venezuela); Redwood ou Kartang (Guiana); e Canary wood, Porucupine wood ou Zebra wood (EUA). 20 A Pedreira, J.L. B Miller, R. P. Figura 5 – A) árvore de pau rainha aos 4 anos de idade na capoeira e B) madeira de pau rainha para uso em construção na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. O pau rainha (Centrolobium paraense Tul. – Fabaceae) ocorre naturalmente desde o Panamá, em direção ao Sul, passando pelo Equador, Venezuela, Colômbia, Guianas, Suriname, até o extremo norte do Brasil (Figura 6), restringindo-se aos Estados do Pará e Roraima (Kaminski, 2004). Em Roraima, ocorre em regiões de baixas elevações, em solos ácidos e com fertilidade variada e é característico das ilhas de mata inseridas na savana, das zonas de transição e da floresta ombrófila densa (Kaminski, 2004). Figura 6 - Distribuição geográfica de Centrolobium paraense. (Fonte: Kaminski, 2004). As árvores ocorrem no interior ou nas bordas da mata, podem atingir alturas de 30,0 m com diâmetros de até 1,20 m, a coloração da madeira varia de branco-creme a amarela (Ka- 21 minski, 2004). Em áreas alteradas, a espécie pode ser encontrada formando maciços e as plantas exibem uma arquitetura característica, com troncos retos, cilíndricos, e copa pequena, arredondada (Kaminski, 2004). Em áreas de floresta desmatada, em processo de regeneração, o pau rainha é apontado como uma das primeiras espécies a se estabelecer, sugerindo ser uma espécie pioneira ou secundária inicial, fundamental para a re-colonização de áreas alteradas onde a vegetação original foi suprimida (Kaminski, 2004). É uma espécie heliófita, a qual necessita de exposição à luz solar para realizar os eventos do ciclo reprodutivo, sendo as plântulas e os indivíduos jovens encontrados somente na borda da mata ou em áreas desmatadas (Kaminski, 2004). O florescimento (Figura 7) ocorre durante o período das chuvas; o amadurecimento dos frutos se dá no período da seca (Kaminski, 2004). Figura 7 – Inflorescência de pau rainha (C. paraense) na área de capoeira (CP) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Julho/2008. A polinização das espécies do gênero Centrolobium é entomofilia, realizada por abelhas, e a dispersão dos frutos é anemocórica (Kaminski, 2004). A madeira de pau rainha não é resistente ao fogo; entretanto, o tegumento lenhoso que recobre as sementes pode funcionar como uma forma de resistência ao fogo e ser responsável pelo surgimento de plântulas de pau rainha em grande número após a queima de uma área (Kaminski, 2004). O pau rainha é um recurso madeireiro de uso tradicional das populações indígenas da região (PPTAL, 2007). Na T.I. Araçá, as ilhas de floresta representam 20% da superfície e ocorrem em um relevo relativamente plano e de fácil acesso por estradas na T.I. Em contraste, em muitas T.I.s da região do Lavrado, o pau rainha ocorre em serras pedregosas e de difícil acesso (Pinho, 2008a). Assim, além do uso local, o pau rainha da T.I. Araçá é solicitado por outras comunidades menos favorecidas com recursos florestais, aumentando ainda mais a pressão sobre esta espécie (Pinho, 2008a). Os usos mais comuns são: combustível, devido ao alto poder calorífico de sua madeira; construção de casas; como planta medicinal; fabricação de móveis e artesanato; cavacos, es- 22 tacas, cabos para ferramentas e extração de corante avermelhado ideal para tingir e produzir tintas (Kaminski, 2004). De acordo com Kaminski (2004), o pau rainha é uma espécie ameaçada pela exploração madeireira na Amazônia e, por isso, é necessária a adoção de medidas que protejam e promovam a espécie como a incorporação em sistemas agroflorestais, a utilização da espécie em programas de recuperação de áreas degradadas e reposição em áreas de ocorrência natural. Estas ações são importantes para a preservação e conservação da diversidade da espécie. 2.7. Rebrota no contexto da silvicultura e manejo florestal A rebrota de toco é uma fonte importante de regeneração de árvores em muitas florestas eqüiâneas e multiâneas; e como representam o estoque futuro, a sobrevivência e o crescimento de algumas dessas rebrotas são componentes essenciais em muitos sistemas silviculturais (O’hara et al.. 2007). Para Higa e Sturion (1997), a rebrota é principal fonte de regeneração nas florestas naturais de zonas áridas; além disso, pode ocorrer por distúrbios como fogo, geadas e insetos. A Figura 8 mostra uma cepa de pau rainha com rebrotas de diferentes idades. As rebrotas desenvolvem-se mais rapidamente quando jovens que as plantas da Figura 8 – Rebrota de pau rainha (C. paraense). mesma idade oriundas de sementes (Silva, 2000). A brotação torna-se menos freqüente com o aumento do tamanho e da idade das árvores antes do corte, mas pode ocorrer em tocos de qualquer idade, como sequóias (Sequoia sempervirens (D. Don) Endl.) de 200 a 400 anos que podem lançar um grande número de brotos (O’hara et al. 2007). Para a cultura do eucalipto, Stape (1997), destaca que a brotação é condicionada por três fatores: genéticos, operacionais e ambientais; os quais estando adequados permitem que a brotação ocorra, estabeleça-se e desenvolva atingindo ou superando as expectativas. Cada um desses fatores associa-se às fases que este autor identifica no processo de emissão de brotos. As fases identificadas na brotação são: a) fase de emissão de brotos, b) fase de estabelecimento dos brotos e c) fase de crescimento dos fustes. Na cultura do eucalipto, as fases da brotação e os fatores condicionantes interagem da seguinte forma: • Fase de emissão: inicia com o corte até os 2 a 3 meses posteriores. Os fatores genéticos são fundamentais para a adequada emissão das brotações. • Fase de estabelecimento dos brotos: inicia após a emissão dos brotos até 23 aproximadamente 6 a 12 meses. Os fatores operacionais influenciam fortemente o crescimento dos brotos. • Fase de crescimento dos fustes: inicia após a fase de estabelecimento até 5 a 6 anos, quando ocorre o novo corte. Os fatores ambientais condicionam o crescimento dos brotos nesta fase. Quando observadas as exigências dos fatores genéticos e ambientais, os fatores operacionais tornam-se os de maior relevância para o sucesso da brotação (Stape, 1997). 2.8. Influência da reserva de carboidratos e luminosidade na brotação O aumento de vigor com o aumento de diâmetro da cepa pode estar atrelado ao maior acúmulo de reservas de carboidratos no sistema radicular, à medida que as árvores tornam-se mais grossas (Graça e Toth, 1990). Em árvores mais antigas – com maiores diâmetros – pode haver declínio no vigor das brotações, devido à perda do vigor da árvore ou de gemas dormentes (Graça e Toth, 1990; O’hara et al. 2007). Enquanto o número de brotos pode diminuir, o crescimento individual deles pode ser maior (O’hara et al. 2007). As reservas de carboidratos e a estrutura física do sistema radicular dos tocos começam a diminuir imediatamente após o corte do tronco até que o suprimento de carboidrato seja provido pelo sistema fotossintético ou pela área foliar das rebrotas das touceiras (O’hara et al., 2007). Em espécies decíduas, o momento do corte pode afetar a brotação devido à variação sazonal do estoque de nutrientes (O’hara et al. 2007), que é maior durante o período de baixa atividade vegetativa e reduzido logo após a formação de novas folhas e brotos (Silva, 2000). A colheita durante o período de maior acúmulo de reservas na planta pode provocar formações de rebrotas de maior vigor (Silva, 2000). Nas brotações iniciais – por serem função das reservas de carboidratos, o número de brotos por toco pode estar livre da influência dos níveis de luminosidade posteriores ao manejo; enquanto o crescimento, vigor e mortalidade dos brotos são afetados pelo regime de luz (O’hara et al., 2007). Os brotos que não atingem a auto suficiência morrem e aqueles brotos que se tornam auto-suficientes, tem o seu crescimento subseqüente, primariamente, em função do regime de luz (O’hara et al., 2007). Estes autores acharam que o tamanho da brotação foi fortemente influenciado pelo regime de luz e que brotações oriundas de tocos que não estejam na condição de pleno sol, provavelmente apresentam menor área foliar desenvolvida. Brotações em situações de sombra ou de sombreamento parcial consumirão mais reservas do toco, além de só conseguirem ter suas próprias reservas de carboidratos mais tardiamente que aquelas em situação de pleno sol (O’hara et al., 2007). Ainda relatam que tocos menores em pleno sol seriam mais vigorosos que tocos maiores em sombreamento parcial. Cepas vigorosas contêm reservas para produzir brotações sob quaisquer condições, por isso, determinada altura é atingida de acordo com o nível de luminosidade do ambiente. Com o desbaste das cepas, há uma melhoria na condição da luminosidade ambiente devido ao 24 raleamento das brotações (O’hara et al., 2007). Entretanto, estes autores ressalvam que o desbaste dos brotos poderia matar o toco caso esta prática ocorresse muito cedo ou de forma muito severa. 2.9. Influência da altura e diâmetro do toco na brotação O diâmetro da cepa é um dos principais fatores que influenciam o vigor das brotações, sendo que geralmente, cepas de maiores diâmetros produzem brotações mais vigorosas (Graça e Toth, 1990). A avaliação do vigor da rebrota pode ser feita levando em consideração a combinação do número e da altura das brotações (Graça e Toth, 1990), assim como pela altura das brotações, quando o objetivo é a condução dessas para fins energéticos (Graça e Toth, 1990). No Amazonas, Sampaio et al. (2005) avaliaram o efeito da poda de copas e cepas de pau-rosa (Aniba rosaeodora – Lauraceae). Os troncos de dez árvores foram cortados a 1,0 metro de altura do solo e, treze anos depois, foram avaliados o crescimento, a sobrevivência e a biomassa das rebrotas das cepas. Inicialmente, observou-se uma vigorosa brotação de 7 brotos por cepa após 90 dias do corte das árvores; entretanto, na avaliação posterior de 13 anos, apenas 60 % das cepas sobreviveram e apresentavam em média dois brotos com altura média de 4,3 m e diâmetro médio de 4,9 cm (Sampaio et al.; 2005). O peso seco da rebrota das cepas foi de 13,7 kg. Graça e Toth (1990) testaram a influência da altura, diâmetro e procedência no vigor das rebrotas de Eucalyptus dunni. As árvores selecionadas foram derrubadas com cortes de 45º à altura de 10 cm do solo. Verificaram que árvores de maiores alturas produziram brotações mais vigorosas e árvores de diâmetros inferiores a 4 cm produziram brotações menos vigorosas que as demais. As maiores alturas e os maiores números de brotações foram verificados em touças de árvores de 12 m a 20 m de altura, enquanto a maior média de brotações (6,5 brotações por touça) foi observada nas touças com diâmetros de 8 a 12 cm (Graça e Toth, 1990). Macedo (1988) estudou os efeitos da altura de corte sobre o desenvolvimento da brotação de Eucalyptus microcorys. Constatou que não houve diferença significativa (nível de 5%) na desbrota das árvores com diferentes alturas de corte (5, 10, 15 e 20 cm do solo); embora, em termos absolutos, existisse uma diferença de 20% em relação ao volume de madeira observado nos tratamentos com altura de corte de 5 e 20 cm na última medição (5 anos depois). Os resultados obtidos no tratamento com a altura de corte a 20 cm do solo foram relacionados ao maior vigor das brotações oriundas de cepas cortadas mais altas; melhor identificação das brotações dominantes na ocasião da desbrota e devido à ação conjunta desses dois fatores anteriores (Macedo; 1988). Este autor também relata que à medida que se aumentava a altura do corte da cepa, ocorria uma queda em sua sobrevivência ao longo dos períodos de observações. O tratamento com altura de corte de 5 cm apresentou a menor variação na sobrevivência das cepas, enquanto o tratamento com altura de corte a 20 cm do solo apresentou a maior variação. Isso 25 pode ser devido a um possível tombamento das brotações inseridas em posições mais altas das cepas devido à ação de ventos (Macedo; 1988). Macedo (1988) também avaliou o efeito do número de brotos por touça na produção volumétrica de madeira na 2ª rotação de E. grandis. Concluiu que o tratamento com desbrota a 4 metros, deixando três brotos por touça apresentou o maior volume cilíndrico de madeira. Neste tratamento, a desbrota ocorreu mais rapidamente em relação aos demais tratamentos, possibilitando maior direcionamento de água e nutrientes da cepa para os brotos remanescentes. Neste caso, o número de três brotos parece ser o mais adequado à capacidade de suporte da cepa (Macedo; 1988). Morita (1988) realizou estudo sobre efeito da altura de corte de Eucalyptus grandis no vigor e na sobrevivência das touças, buscando evidenciar as interações entre a posição do broto e o seu vigor e a influência da altura de corte sobre o tombamento dos brotos. O povoamento tinha cinco anos de idade no momento da instalação do experimento e as primeiras desbrotas foram realizadas aos oito anos de idade, deixando de dois a três brotos por cepa. Os tratamentos com altura de corte a 5, 10, 15, 20, 25 e 30 cm do solo não apresentam nenhuma diferença significativa a nível de 5% de probabilidade para as variáveis – porcentagem de falhas, diâmetro, altura e volume dos brotos – no intervalo (1978 a 1984) analisado (Morita; 1988). Graça e Toth (1990) relatam estudos que verificaram ausência de correlação entre o diâmetro e o vigor de brotações de Eucalyptus saligna Sm. Em outro estudo, o número de brotações de Acer saccharum Marsh diminuiu com o aumento do diâmetro da cepa (Mroz et al., 1985). Esses diferentes resultados são atribuídos às diferenças entre espécies e locais estudados (Graça e Toth, 1990). França (1988) verificou qual o número de brotos de Eucalyptus saligna para propiciar o maior volume de madeira utilizável para chapas de fibras e estudou o efeito da adubação sobre o crescimento das touças contendo diferentes números de brotos. O tratamento com um broto por touça com adubação apresentou superioridade de 62,08% em relação ao tratamento sem desbrota; mas não houve diferença significativa quando comparado ao tratamento com um broto por touça sem adubação. Os tratamentos com dois e três brotos não diferiram estatisticamente entre si, mas foram superiores ao tratamento sem desbrota. Assim, o diâmetro diminuiu à medida que se aumentou o número de brotos e, nestas situações, a adubação não teve efeito significativo. Quanto à influência do número de brotos na altura, a tendência observada por França (1988) foi que o menor número de brotos resultou em maior crescimento em altura, com exceção do tratamento com três brotos com adubação. O crescimento em altura respondeu positivamente a adubação, comparando os tratamentos com menor número de brotos com aqueles que possuem maior número de brotos (França, 1988). Ao nível de 5% de probabilidade, existiu, em média, superioridade de 11% no crescimento em altura dos tratamentos adubados. Assim, quanto maior o número de indivíduos por área, maior pode ser a competição por água, nutrientes e espaço; produzindo efeito negativo no crescimento em altura. O tratamento com um broto 26 diferenciou estatisticamente dos demais tratamentos, apresentando 33,53% de superioridade em relação ao tratamento sem desbrota. Sobre a área basal, França (1988), encontrou diferença significativa entre as médias dá área basal dos tratamentos adubados e não adubados, sendo os tratamentos adubados 19,76% maiores que os tratamentos sem adubação. O tratamento com 3 brotos por touça diferiu significativamente só do tratamento com 1 broto por touça mostrando uma superioridade de 44,65%. A área basal aumentou com o número de brotos até o tratamento com 3 brotos por touça, diminuindo depois no tratamento sem desbrota; provavelmente, pela maior competição provocada por um grande número de brotos por touça. Os resultados de França (1988) sobre o volume cilíndrico não mostraram diferença significativa, apesar de terem sido crescentes naqueles tratamentos que receberam adubação, sendo os valores iguais ou superiores à média; havendo uma tendência de incremento do volume com o aumento do número de brotos. Os tratamentos adubados e não adubados diferiram estatisticamente, sendo 28,81% superiores em relação aos não adubados. Por fim, França (1988) avaliou a produção de matéria seca, sendo esta a resultante da densidade, porcentagem de casca e do volume de madeira. A produção em peso de madeira seca na segunda rotação não foi influenciada significativamente pela adubação e pelo número de brotos por touça; entretanto os tratamentos com maior número de brotos e com adubação mostraram valores a cima da média. A maior produção foi obtida no tratamento com 3 brotos adubados e a menor no de 1 broto sem adubação. França (1988) também avaliou a influência da altura da touça do eucalipto sobre o seu vigor e sua sobrevivência. A altura de corte a altura do solo variou entre 5 a 30 cm. Os resultados não diferiram estatisticamente; entretanto o corte a altura de 5 a 10 cm apresentaram os maiores valores de DAP e altura das rebrotas de E. saligna. 2.10. Perspectivas para o uso da talhadia A talhadia simples é um sistema silvicultural caracterizado pelo corte do fuste seguido da emissão de brotações pelas gemas dormentes ou adventícias, dos tocos e/ou raízes que permaneceram na área; iniciando um novo ciclo florestal (Pancel, 1993). Dessa forma, a talhadia baseia-se na capacidade de rebrota das árvores após o corte e aplica-se somente às espécies florestais que apresentam capacidade de brotar após o corte raso (Graça e Toth, 1990; Stape, 1997). O corte seletivo de todas as árvores adultas em idade de reprodução pode causar erosão genética e impossibilitar a regeneração natural da espécie; o que pode reduzir drasticamente as populações naturais e colocá-las em risco de extinção (Sampaio et al.; 2005). Para a espécie amazônica pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke), a portaria do IBAMA n° 01 de 13/ 05/98 estimula o uso de técnicas que possibilitem a rebrota de árvores adultas, como o corte dos troncos acima de 50 cm do solo ou a poda da copa das árvores (Sampaio et al.; 2005). 27 Os eucaliptos de regiões áridas e a maioria das espécies de regiões úmidas, geralmente rebrotam bem, pelo menos enquanto são jovens, ou até com diâmetro próximo de 30 cm (Higa e Sturion; 1997). Segundos estes autores, a variação das condições ambientes sob as quais os indivíduos encontram-se, influenciam mais a rebrota que as variações entre as espécies. Grande parte das espécies australianas, com exceção daquelas de floresta pluvial, apresentam adaptações ao fogo como casca grossa, gemas epicórmicas, lignotubérculos e rizomas (Higa e Sturion; 1997). Esses aspectos anatômico-morfológicos são fatores importantes para a emissão dos brotos (Stape. 1997). Os lignoturbéculos estão presentes na maioria das espécies e, embora sejam importantes para a brotação, sua ausência não impede a rebrota (Higa e Sturion; 1997). Por conta disso, a talhadia é usada na maioria dos plantios de eucalipto. Evans (1992) aponta que o sistema de talhadia predomina nos países em desenvolvimento da América, Ásia e África para produção de material lenhoso de pequenas a médias dimensões, para uso social ou industrial, e que existe uma tendência de ser novamente utilizado nos países desenvolvidos para produção de biomassa para processos industriais. É bastante utilizada por produzir madeira de pequenas a médias dimensões e simplificar a execução do corte; dispensar a produção de mudas, o preparo de solo e novo plantio; facilitar o planejamento da produção madeireira a curto e médio prazo; envolver menores custos por volume de madeira produzido e ciclos de cortes mais curtos com antecipação de retornos financeiros (Evans, 1992). Entretanto, este sistema pode levar a produção de madeiras de baixo valor comercial devido suas menores dimensões, remoção de nutrientes a cada ciclo curto de colheita, danos às cepas e às brotações pela colheita e geadas (Stape, 1997). Para o sucesso da talhadia, Stape (1997) sugere o mapeamento de sítios aptos a este manejo, que seriam aqueles com os melhores aportes hídrico e nutricional. Ainda, destaca que, devido ao manejo inadequado de rebrotas, o sistema de talhadia foi equivocadamente estereotipada como um sistema pouco satisfatório em relação ao de alto fuste. “Desta forma, nos povoamentos que comportam o manejo por talhadia simples, urge a identificação dos fatores determinantes sobre a capacidade e viabilidade da brotação, identificação essa, que apesar de trabalhosa, é fundamental para um adequado manejo florestal. Finalmente, uma vez detalhados os fatores, faz-se mister a organização racional dos mesmos de forma a embasarem as recomendações de práticas operacionais que visem o sucesso da segunda ou mais rotações” (Stape, 1997. p. 53). Assim, este autor ressalta que pesquisas relacionadas aos fatores condicionantes e às fases da brotação possibilitariam a prognose de efeitos e ajustes de procedimentos preferenciais (Stape, 1997). 3. Material e métodos 3.1 Área de estudo O estudo foi realizado na comunidade Mutamba, a qual compõe a Terra Indígena (T.I.) Araçá juntamente com as comunidades Araçá, Guariba, Mangueira e Três Corações. A T.I. 28 está localizada em área de Lavrado no município de Amajari no Estado de Roraima. Foi homologada em 1982 (Decreto 86.934 de 18/02/1982) e abrange uma área aproximada de 50 mil hectares habitados por 1490 indígenas das etnias Macuxi, Wapixana, Taurepang e Sapará (ISA, 2008; Pinho, 2008b). A comunidade encontra-se no ambiente de Lavrado, com ilhas de mata próximas. Nestas ilhas é encontrada a espécie Centrolobium paraense Tul (pau-rainha), utilizada para diversos fins, principalmente para a construção de moradias. A prática agrícola também acontece nestas áreas devido a presença dos “barros vermelhos” (Pinho, 2008b) – solos mais férteis que os solos sob Lavrado. Em alguns casos, as rebrotas do pau rainha são poupadas quando as roças são implantadas, com o intuito de aproveitá-las num momento futuro. 3.2. Coleta de dados Foram coletados dados referentes a cepas e rebrotas de pau rainha em áreas de roças e de capoeira localizadas na ilha de mata conhecida como Ilha do Porco. Nas roças, os parâmetros mensurados foram: circunferência da cepa no limite do solo, altura de corte da cepa – altura a partir do limite do solo até o topo da cepa, a circunferência da rebrota – medida logo a cima do espessamento formado na sua inserção no toco, a altura da brotação – desde a inserção na cepa até o ápice da rebrota e o número de rebrotas por cepas (Figura 9). Nas capoeiras, as rebrotas de pau rainha foram consideradas indivíduos, pois as cepas já não mais estavam presentes. Nesta área, os indivíduos tiveram a circunferência medida a 30 cm do solo (CAS) e a altura medida até ápice da copa (total) e até a primeira bifurcação (altura comercial). As medidas de circunferência e altura de cepas foram feitas com fita métrica e as medidas das alturas de rebrota e dos indivíduos com vara graduada. A B Figura 9 – Parâmetros de pau rainha (C. paraense) mesurados A) nas roças e B) na capoeira na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Foi feito o censo de rebrotas em duas roças e censo dos indivíduos em uma capoeira, subdividindo a área total de cada local em parcelas de 10x20 m, de acordo com o adotado por Bernhardt (2003) para análise de crescimento de rebrotas de Caixeta (Tabebuia cassinoides) 2 em florestas manejadas. A primeira roça (RÇ1) apresentava área total de 6000 m e tocos cor- 29 2 tados há quatro meses e a segunda (RÇ2), área total de 1600 m e tocos cortados há um ano. 2 A capoeira (CP) apresentava área total de 1600 m e indivíduos de quatro anos. Foram demarcadas parcelas permanentes para acompanhamento futuro das rebrotas, os tocos encontrados nas roças e os indivíduos nas capoeiras foram identificados com plaquetas de alumínio numeradas para futuras remedições. Foram feitas medições em uma casa e em uma maloca comunitária para obter dados sobre os diâmetros das peças de madeira mais demandadas nessas construções. Além disso, os nomes locais dados para estas peças foram registrados. Todas as medições de circunferência e altura foram feitas pelas mesmas pessoas para padronização do erro (Figura 10). Essas medições foram feitas por dois membros da comunidade: Carlos (responsável pelas roças) e pelo Graciano. A B Figura 10 – Medição dos parâmetros de pau rainha (C. paraense) na área de A) capoeira e B) roça na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. 3.3. Análise de dados As medidas de circunferência foram convertidas em diâmetro pela fórmula: Diâmetro = circunferência / Pi. Os dados de altura e diâmetro de tocos e de rebrotas foram distribuídos em classes para a análise da estrutura vertical e horizontal da população. O intervalo de classes foi obtido pela equação de Spiegel (1976): Intervalo de classe = amplitude / número de classe Em que: Amplitude: diferença entre a maior e a menor circunferência ou altura registrados; Número de classe definido pela fórmula: Número de classe = 1 + 3,3 x log (n) Em que: n: número total de indivíduos amostrados. 30 A avaliação do potencial de aproveitamento e possibilidades de manejo das rebrotas se deu pela análise das correlações entre: a) Diâmetro dos tocos e número de rebrotas; b) Diâmetro dos tocos e altura das rebrota; c) Altura de corte do tronco e número de rebrotas; d) Altura de corte do tronco e altura das rebrotas; e) Quantidade de brotos e diâmetro de brotos e f) Quantidade de brotos e altura dos brotos. Foi utilizado o software estatístico Systat 10 para o cálculo de correlações e regressões. Os dados da distribuição das classes de diâmetro e altura das rebrotas nas roças bem como das árvores da capoeira, juntamente com as informações coletadas sobre a dimensão das peças de pau rainha usadas nas construções foram analisados para verificar a possibilidade de uso das rebrotas encontradas nas roças e das árvores encontradas na capoeira para as construções. A partir desses resultados, foram feitas as recomendações sobre o manejo das rebrotas. O volume de madeira das rebrotas e das árvores foi estimado de acordo com a fórmula: V = gi x h x ff Em que: 3 2 V (m ): volume; gi: área transversal (m ); h: altura (m) e ff (fator de forma): 0,36. Para as rebrotas, a altura adotada foi a altura de corte (altura desde o limite do solo até o topo da cepa) e para as árvores foi adotada a altura total e a altura comercial. A área transversal das rebrotas foi calculada com base na circunferência medida logo a cima do espessamento formado na inserção da cepa. Para as árvores, foi calculada com base na circunferência media a 30 cm de altura do solo (CAS). Foi adotada esta fórmula com o fator de forma 0,36 para a estimativa do volume de pau rainha de acordo com o proposto por Tonini et al (2006) para a estimativa de volume de espécies amazônicas de potencial madeireiro plantadas em experimento realizado no Campo Experimental Confiança da Embrapa Roraima no município de Cantá, RR. Este fator de forma é específico para o pau rainha e foi obtido pela cubagem de árvores dessa espécie aos 6 anos de idade. O volume foi estimado dessa forma pela impossibilidade de realização de cubagem rigorosa para as árvores de pau rainha devido a limitações de tempo e equipe para tal. O volume das rebrotas foi calculado da mesma forma devido à falta de referências bibliográficas que apresentassem um método alternativo e mais adequado para a estimativa de volume de rebrotas. A partir dessas informações, foram feitas duas cronosseqüências a partir das estimativas de volume realizadas para as três áreas estudadas: roça 1, que apresentava rebrotas de 4 meses, roça 2, rebrotas de 12 meses e capoeira, indivíduos de 4 anos. Para a área da capoeira, foram estimados dois valores de volume, tendo como base a altura total e a altura comercial das árvores. 31 3.4. Devolução dos dados para a comunidade Foi realizada a “Oficina de Agroecologia e pau-rainha” na comunidade Mutamba como parte das atividades dos projetos Wazaka’ye e AGROFLORR no dia 9 de agosto de 2008. Participaram 40 pessoas, entre membros da comunidade Mutamba, de outras comunidades da T.I. Araçá e de outras T.I.s de Roraima. Este evento teve como objetivo apresentar aos comunitários os dados coletados e resultados parciais sobre a rebrota do pau rainha e conceitos sobre práticas agroecológicas como a adubação verde e conservação da matéria orgânica no solo. Os dados coletados em campo sobre as rebrotas de pau-rainha foram apresentados para a comunidade na forma de palestra e visita às áreas do estudo (Figura 11), além de ter sido entregue um informativo com relato das atividades e resultados parciais desse trabalho (Anexo II). Foram feitas recomendações para a condução das rebrotas de acordo com a junção dos Miller, R. P. Figura 11 – Apresentação dos resultados parciais do estudo de rebrotas com visita a área de estudo para indígenas da comunidade Mutamba e outras TIs de Roraima. dados levantados sobre o manejo já realizado pelo responsável das roças estudadas e os dados levantados pelo trabalho de campo. 4. Resultados e discussão 4.1. Densidade e área basal Foi obtido o diâmetro de 96 tocos de pau-rainha na Roça 1, de 30 tocos na Roça 2 e de 34 indivíduos na Capoeira. A densidade da espécie nas áreas da RÇ1, RÇ2 e CP foram de, respectivamente, 160 e 187,5 tocos e de 212,5 indivíduos. A área basal dos tocos na RÇ1 e na 2 2 RÇ2 foi de 0,70 m /ha e 2,12 m /ha, respectivamente, e área basal dos indivíduos na CP foi de 2 1,68 m /ha. A densidade de rebrotas na RÇ1 foi 323,3 rebrotas/ha e na RÇ2 foi de 562,5 rebro2 2 tas/ha e a área basal das rebrotas na RÇ1 e na RÇ2 foi de 0,06 m /ha e 0,42 m /ha, respectivamente. Os dados estão na Tabela 1, a seguir: Tabela 1 – Área basal e densidade dos tocos, rebrotas e árvores de pau rainha encontrados nas roças e capoeira estudadas na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Roça 1 Roça 2 Capoeira Área (ha) 0,60 0,16 0,16 Toco Rebrota Toco Rebrota 2 Área basal (m /ha) 0,70 0,06 2,12 0,42 1,68 N 96 194 30 90 34 Densidade (N/ha) 160 323,3 187,5 562,5 212,5 N: número de rebrotas, toco ou árvore. 32 A RÇ1 apresentou um total de 196 rebrotas encontradas, das quais 46% foram encontradas solitárias nos tocos. Contudo, também foram encontrados tocos (1%) com até seis rebrotas (Figura 12). Na RÇ2 foram registradas 94 rebrotas no total, sendo que 27% dos tocos apresentaram uma rebrota, 23% apresentaram 3 rebrotas e apenas 3% apresentaram dez rebrotas (Figura 13). 1 1% 4% 8% 2 43% 17% 3 4 5 6 27% 12 – Percentual de tocos de acordo com o número de rebrotas de pau rainha (C. paraense) amostradas na Roça 1 (RÇ1) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. 7% 1 3% 27% 10% 2 3 4 5 17% 6 13% 10 23% 13 – Percentual de tocos de acordo com o número de rebrotas de pau rainha (C. paraense) amostradas na Roça 2 (RÇ2) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Foram medidas peças de pau rainha em duas construções da comunidade Mutamba para se ter uma noção de quais são as classes de diâmetro mais demandadas para essa madeira. Os valores médios são encontrados na Tabela 2: Tabela 2 – Diâmetros médios (cm) das peças de madeira de pau rainha utilizadas em telhados de duas construções da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Termo local Caibro Cumieira Esteio Linha Rincão Travessa Diâmetro (cm) 7,8 13,9 14,8 14,2 27,5 12,5 4.2. Distribuição de diâmetros e de altura 4.2.1. Roça 1 As duas primeiras classes de diâmetro de toco (de 1,59 cm a 9,60 cm) representaram 89,6% dos tocos encontrados na RÇ1, enquanto as duas últimas classes (de 21,64 cm a 29,65 33 cm) comportaram apenas 2% dos dados (Figura 14A). Os tocos da segunda classe apresentaram os diâmetros adequados para uso em caibros, que é a peça de pau rainha usada em maior quantidade na construção do telhado. Houve descontinuidade na curva de distribuição na quarta e na quinta classes de diâmetro, as quais compreendem os tocos de 13,62 cm a 21,63 cm. Esses tocos ausentes representam os diâmetros adequados para esteio, linha e cumieira. As rebrotas (Figura 14B) apresentaram uma distribuição em sino, com 62,2% dos dados agrupados nas terceira, quarta e quinta classes de diâmetros; compreendendo as rebrotas de diâmetro entre 0,92 cm a 1,84 cm. A última classe de diâmetro de rebrota, de 2,78 cm a 3,08 cm, apresentou 2% dos dados. Nenhuma dessas rebrotas têm dimensões adequadas para uso em construções. A B 60 30 47.9 50 25.3 Rebrotas (%) Tocos (%) 41.7 40 30 20 18.6 20 12.9 8.8 10 8.3 10 18.6 5.7 4.1 0.0 1.0 0.0 4.1 2.1 1.0 0 0 3.6 7.6 11.6 15.6 19.6 23.6 27.7 0.5 0.8 Centro de classe de diâmetro de toco (cm) 1.1 1.4 1.7 2.0 2.3 2.6 2.9 Centro de classe de diâmetro de rebrota (cm) Figura 14 – Classes de diâmetros (cm) de: A) tocos e B) rebrotas de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na roça 1 (RÇ1) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. A altura de, aproximadamente, 41% dos tocos de pau-rainha na RÇ1 foi representada pela segunda classe, com alturas entre 21,1 cm e 40,0 cm (Figura 15A). As classes de altura entre 85,1 cm e 145 cm destacam-se pela ausência de indivíduo e a última classe, com alturas variando de 145,1 cm a 165 cm, apresentou apenas 1,1% dos tocos. A altura das rebrotas foi distribuída de maneira mais uniforme que a altura dos tocos (Figura 15B). A quinta classe abrigou a maior quantidade de tocos, representando 22,2% do total dos dados; enquanto as duas últimas classes apresentaram, aproximadamente, 5,5% dos tocos. A B 50 25 22.2 40.9 20 Rebrotas (% ) Tocos (% ) 40 26.9 30 20.4 20 10.8 10 17.0 14.4 15 10 13.9 11.9 7.7 7.2 4.1 5 0.0 0.0 0.0 1.5 1.1 0 0 15 35 55 75 95 115 Centro de classe de altura de toco (cm) 135 155 23 53 83 113 143 173 203 238 268 Centro de classe de altura de rebrota (cm) Figura 15 – Classes de altura (cm) de: A) tocos e B) rebrotas de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na roça 1 (RÇ1) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. 34 4.2.2. Roça 2 As duas primeiras classes de diâmetro, de 3,50 cm a 9,51 cm, representaram 66,7% dos tocos encontrados na RÇ2; enquanto a última classe (de 21,56 cm a 24,56 cm) apresentou 10% dos dados (Figura 16A). Houve uma diminuição brusca no número de tocos da segunda classe, a qual compreende 33,3% dos tocos de 6,51 cm a 9,51 cm de diâmetro, para a terceira classe, a qual compreende 3,3% dos tocos entre 9,52 cm a 12,52 cm de diâmetro. Da quarta até a sexta classe, o número de dados por classe foi constante. Nesta área, 33% dos tocos apresentam diâmetros que correspondem a peças de caibros e 6,7% a peças de esteio, linha e cumieira. As quatro primeiras classes de diâmetro de rebrotas (Figura 16B), de 0,64 cm a 3,87 cm, representaram 82% dos dados aproximadamente; enquanto as duas últimas classes, de 5,50 cm a 7,11 cm, apresentaram 2,2% dos dados. Neste local, nenhuma rebrota apresentou diâmetro adequado para ser usadas como peça para construção. A B 40 30 33.3 33.3 26.7 22.2 20 10.0 10 6.7 6.7 Rebrotas (% ) Tocos (% ) 30 18.9 20 13.3 8.9 10 7.8 6.7 3.3 0 1.1 1.1 5.9 6.7 0 5 8 11 14 17 Centro de classe de diâmetro de toco (cm) 20 23 1.0 1.9 2.7 3.5 4.3 5.1 Centro de classe de diâmetro de rebrota (cm) Figura 16 – Classes de diâmetros (cm) de: A) tocos e B) rebrotas de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na roça 2 (RÇ2) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. A altura de 64% dos tocos da RÇ2 concentrou-se na terceira e na quarta classes de altura, com tocos de 36,2 cm a 60,3 cm (Figura 17A). A sexta classe, com tocos de 72,5 cm a 84,5 cm, representou 4% do total de tocos amostrados. Quanto à distribuição de altura das rebrotas, as classes intermediárias abrigaram os maiores percentuais de dados (Figura 17B). O intervalo entre a segunda e a quinta classe abrigou 72,2% das rebrotas, com alturas entre 80,1 cm e 384,4 cm. As duas últimas classes, com rebrotas de 460,6 cm a 612,7 cm de altura, representaram menos de 10% dos dados. A amplitude da área seccional dos tocos nas duas roças foi semelhante, mas a amplitude de altura de tocos foi maior na primeira roça. As rebrotas da segunda roça foram maiores tanto em circunferência como em altura. 35 A B 30 40 32.0 32.0 21.1 Rebrotas (%) 20 16.0 8.0 10 18.9 20 16.7 15.6 11.1 8.9 10 4.4 8.0 3.3 4.0 0 0 18 30 42 54 66 42 78 118 194 270 346 422 498 574 Centro de classe de altura de rebrota (cm) Centro de classe de altura de toco (cm) Figura 17 – Classes de altura (cm) de: A) tocos e B) rebrotas de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na roça 2 (RÇ2) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. 4.2.3. Capoeira As três primeiras classes de diâmetro, de 5,41 cm a 11,43 cm, apresentaram 76,5% dos indivíduos de pau-rainha; enquanto a última classe, de 15,46 cm a 17,46 cm, apresentou 3% dos tocos, aproximadamente (Figura 18A). A primeira classe de altura apresentou menos de 10% dos dados (Figura 18B). A terceira e a quarta classes, de 5,84 m a 7,67 m, apresentaram igual quantidade de indivíduos, totalizando 47,1% dos dados. O mesmo ocorreu com a quinta e a sexta classes, totalizando 29,4% dos indivíduos de altura entre 7,68 m a 9,51 m. As árvores da capoeira já poderiam fornecer matéria prima para telhados, na forma de caibro, travessa, esteio, linha, cumieira e rincão. A 30 B 29.4 30 26.5 23.5 23.5 Indivíduos (%) 20.6 Indivíduos (%) Tocos (%) 30 20 11.8 8.8 10 20 14.7 10 14.7 14.7 8.1 9.1 8.8 2.9 0 0 6.4 8.4 10.4 12.4 14.4 4.5 16.4 5.4 6.3 7.2 Centro de classe de altura (m) Centro de classe de diâmetro (cm) Figura 18 – A) Classes de diâmetro (cm) e B) classes de altura (m) de árvores de pau rainha (C. paraense) registrados por este estudos na capoeira (CP) na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. 4.3. Cronosseqüência de volume de madeira Foram feitas duas cronosseqüência para o volume de madeira das rebrotas das roças 1 e 2 e das árvores da capoeira – áreas em que rebrotas e árvores apresentam, respectivamente, 4, 12 e 48 meses. Os dados de volume por hectare são encontrados na Tabela 3, a seguir: 3 Tabela 3 – Dados de volume de madeira (m ) das rebrotas e das árvores de pau rainha encontradas nas áreas da comunidade Mutamba, TI Araçá, RR. 3 -1 3 -1 Idade (meses) Volume total (m ha ) Volume comercial (m ha ) 4 0,04 12 5,14 48 4,55 2,29 36 Para as duas seqüências foi utilizado o volume de rebrota das RÇ1 e RÇ2, sendo que para a primeira (Figura 19) foi utilizado o volume de madeira da CP calculado com base na altura total e, para a segunda (Figura 20), foi utilizado o volume com base na altura comercial das árvores de pau rainha da CP. 6.0 5.14 Volume (m 3ha-1) 4.55 4.0 2.0 0.04 0.0 4 12 48 Idade (meses) 3 -1 Figura 19 – Cronosseqüência do volume (m ha ) de madeira das rebrotas e volume total 3 -1 (m ha ) das árvores (considerando a altura total da árvore) de pau rainha (C. paraense) encontradas em locais de diferentes idades (4, 12 e 48 meses) amostrados por este estudo na comunidade Mutamba, TI Araçá, RR. 6.0 Volume (m 3ha -1) 5.14 4.0 2.29 2.0 0.04 0.0 4 12 48 Idade (meses) 3 -1 Figura 20 – Cronosseqüência do volume (m ha ) de madeira das rebrotas e volume co3 -1 mercial (m ha ) das árvores (considerando a altura comercial da árvore) de pau rainha (C. paraense) encontradas em locais de diferentes idades (4, 12 e 48 meses) amostrados por este estudo na comunidade Mutamba, TI Araçá, RR. 3 -1 Tonini et al. (2006) registrou volume de 7,82 m ha de madeira em um plantio de pau rainha aos 6 anos de idade em local de transição de floresta com o lavrado no município de Cantá, RR. Arco-Verde e Schwengber (2003) registraram o valor de 4,19 m3ha-1 (volume total) de madeira em um plantio de pau rainha aos 2,5 anos de idade realizado área de floresta em campo experimental a 90 km de Boa Vista, RR. 3 -1 A RÇ1 (4 meses) apresentou menor volume de madeira, 0,04 m ha , que a RÇ2 (12 me3 -1 ses), 5,14 m ha , apesar de haver pouco mais que o dobro de rebrotas na primeira área (196) 37 que na segunda (94). Neste caso, o tamanho das rebrotas contribuiu mais que sua intensidade para o maior volume de madeira presente na área RÇ2. As rebrotas da RÇ2 são, em média, maiores tanto em diâmetro quanto em altura, como apresentado na Tabela 4, a seguir: Tabela 4 – Média dos diâmetros a altura do solo (DAS) e das alturas das rebrotas e das árvores das nas áreas da comunidade Mutamba, TI Araçá, RR Médias Local N DAS (cm) Altura total (m) Altura comercial (m) Roça 1 (4 meses) 196 1,46 1,25 Roça 2 (12 meses) 94 4,63 3,59 Capoeira (48 meses) 34 9,68 6,61 3,63 N: número de rebrotas ou árvores. 3 -1 O mesmo não explica a diferença de volume existente entre a área RÇ2 (5,14 m ha ) e a 3 -1 CP (4,55 e 2,29 m ha ). Nesta situação, a intensidade de rebrota teve maior influência no volume presente na área que o seu tamanho. A RÇ2 apresentou maior volume que a segunda nas duas situações consideradas para a estimativa de volume da CP (altura total e altura comercial). 4.4. Relação cepa-brotação As relações entre as cepas e as brotações foram analisadas desconsiderando o local onde ocorreram e considerando este fator. Os dados de circunferência e altura de cepa foram coletados com a precisão de 0,5 cm e os dados de brotações, com precisão de 1,0 cm. Foi adotada a significância das correlações para valores de p com 95% de confiabilidade (p ≤ 0,05). A análise foi feita unindo todos os dados de DAS e altura de cepas e de rebrotas das duas roças quando o local foi desconsiderado e foram encontradas as seguintes correlações (Tabela 5). O tamanho da cepa (circunferência) apresentou uma relação significativa quanto ao número de rebrotas (p=0,000), entretanto, foi insignificante quanto a altura da rebrota (p=0,134). A altura de corte das cepas teve relação significativa com o número de rebrota (p=0,006) e com a altura delas (p=0,049). A intensidade de rebrotas (número de brotos por cepa) não apresentou relação significativa nem com a circunferência das rebrotas (p=0,130) e nem com a altura delas (p=0,229). Tabela 5 – Correlações entre as cepas e as brotações desconsiderando se ocorreram na roça 1 (RÇ1) ou na roça 2 (RÇ) na comunidade mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Correlação (95% de confiança) P R R CAS cepa x N rebrota (+) 0,000 0,460 H cepa x N rebrota (+) 0,006 H cepa x H rebrota (+) 0,049 2 2 R Ajust EPR 0,212 0,209 0,101 0,167 0,028 0,024 0,091 0,120 0,014 0,011 6,174 (+): relação diretamente proporcional. 38 Nesta situação, mesmo quando a relação foi significativa, tanto o coeficiente de correla2 2 ção (R) e de determinação (R ) foram baixos (R e R ≤ 0,460). O maior Erro Padrão da Regressão (EPR) foi 6,174 e quanto a relação da intensidade de rebrota com a circunferência da cepa, o EPR foi de 0,101, o que significa um erro percentual (E% = EPR/Média de Y*100) de 3,09% na intensidade da rebrota e pequena variação na capacidade de rebrota entre os indivíduos estudados (Sampaio et al, 2007). As correlações, apesar de significativas, apresentam uma relação fraca. Ao analisar a relação entre cepas e rebrotas separando os dados por local (Tabela 6), as relações entre a circunferência da cepa e o número de rebrotas na cepa não foi significativo na RÇ1 (p=0,072), mas significativo na RÇ2 (p=0,000). Nesta roça, os coeficientes de correlação e 2 de determinação (R=0,502 e R =0,252) foram maiores que aqueles encontrados para esta relação quando os dados foram analisados conjuntamente, mas o valor de EPR (0,217) mostrou menor precisão. A relação entre a circunferência da cepa e a altura da rebrota foi significativo na RÇ1 (p = 0,015), mas não na RÇ2 (p = 0,083). A altura da cepa não apresentou valores significativos quando relacionado com a intensidade de brotação na roça 1 (p = 0,104) e na roça 2 (p = 0,073) e com a altura das brotações na roça 1 (p = 0,949) e na roça 2 (p = 0,119), contrariando os resultados encontrados quando a distinção de local foi desconsiderada. A intensidade de rebrota apresentou uma relação significativa e inversa com a circunferência (p = 0,000) e com a altura (p = 0,000) de rebrotas nas duas roças. A relação do número de rebrotas com a circunferência das rebrotas apresentou 2 valores mais altos de R e R e valores bem inferiores de EPR que a relação apresentada com a altura das rebrotas para os dois locais. Tabela 6 – Correlações entre as cepas e as brotações considerando se ocorreram na roça 1 (RÇ1) ou na roça 2 (RÇ) na comunidade mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Roça 1 Roça 2 2 Correlação 2 P R R CAS cepa x N rebrota - - - CAS cepa x H rebrota 0,015 0,175 N rebrota x CAS rebrota (-) 0,000 N rebrota x H rebrota (-) 0,000 (95% de confiança) R 2 2 R EPR P R R - - 0,000 0,502 0,252 0,244 0,217 0,031 0,026 4,072 - - - - - 0,349 0,122 0,117 0,115 0,000 0,409 0,167 0,158 0,415 0,274 0,075 0,070 3,968 0,000 0,393 0,154 0,145 13,247 ajust ajust EPR Para que se obtenha a madeira do pau rainha pelo sistema de talhadia, é preciso esperar que as árvores dessa espécie atinjam determinado diâmetro, para que possam emitir brotações em seguida. As cepas com circunferência entre 25 e 35 cm apresentaram maior intensidade de rebrotas (até 6 rebrotas por cepa) que aquelas de menor e maior circunferência que este intervalo (Figura 21A). Além de favorecer a intensidade da rebrota, cepas maiores podem afetar a taxa de crescimento das rebrotas, sendo que cepas maiores apresentam maiores taxas de crescimento de rebrotas que as cepas pequenas (Silva, 2000). A altura em que as árvores são 39 cortadas também influencia o número de rebrotas, sendo que tocos que apresentaram entre 25 e 50 cm de altura tiveram mais rebrotas (até 6) que aqueles não incluídos neste intervalo (Figura 21B). B 12 7 10 6 Número de brotações Número de rebrotas A 8 6 4 2 0 0 5 4 3 2 1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Circunferência da cepa (cm) 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Altura da cepa (cm) Figura 21 – Número de rebrotas de acordo com: A) circunferência (cm) da cepa e B) altura (cm) da cepa de pau rainha (C. paraense) encontrados nas duas áreas de roças (RÇ1 e RÇ2) da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. O número de rebrotas na cepa mostrou ter influencia significativa na circunferência e na altura das rebrotas, sendo que na RÇ2 apresentou uma correlação mais forte que na RÇ1. Na RÇ1 (Figura 22A), as cepas que apresentaram rebrotas maiores em circunferência tinham entre 1 e 4 rebrotas. Na RÇ2 (Figura 22B), isso ocorreu com as cepas que apresentavam entre 3 e 6 rebrotas. A B 25 Circunferencia das rebrotas (cm) Circunferência das rebrotas (cm) 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 Número de rebrotas na cepa 7 20 15 10 5 0 0 2 4 6 8 10 Número de rebrotas na cepa 12 Figura 22 – Circunferência (cm) das rebrotas de acordo com o número de rebrotas encontradas na cepa de pau rainha (C. paraense) amostrados na: A) roça 1 (RÇ1) e B) roça 2 (RÇ2) da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. A altura das rebrotas na RÇ1 foi maior para as rebrotas encontradas em cepas com 1 a 4 rebrotas (Figura 23A). Na RÇ2, isso ocorreu com as rebrotas encontradas em cepas com 3 a 6 rebrotas (Figura 23B). Para se determinar o número ideal de rebrotas a serem deixadas na 40 cepa é preciso acompanhar com rigor o manejo realizado pelo responsável da área. A época da desbrota e quantidade de brotos deixados na cepa pode influenciar o crescimento em diâmetro e em altura das rebrotas remanescentes (Silva, 2000). A B 300 600 Altura da rebrota (cm) Altura da rebrota (cm) 500 200 100 400 300 200 100 0 0 1 2 3 4 5 6 Número de rebrotas na cepa 7 0 0 2 4 6 8 10 Número de rebrotas na cepa 12 Figura 23 – Altura (cm) das rebrotas de acordo com o número de rebrotas encontradas na cepa de pau rainha (C. paraense) amostrados na: A) roça 1 (RÇ1) e B) roça 2 (RÇ2) da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. De maneira geral, o tamanho (circunferência) e altura do toco parecem influenciar significativamente a intensidade e altura de brotação por meio de uma relação direta (positiva). O número de brotações tem relação inversa (negativa) e significativa tanto com o tamanho das rebrotas como com a altura delas. Estes resultados estão de acordo com o encontrado por Silva (2000), estudando rebrota de caixeta (Tabebuia cassinoides). Dessa forma, é possível dizer que tanto o diâmetro como a altura de corte da cepa interfere na intensidade de rebrota, comprovando, assim, as hipóteses lançadas neste estudo. 41 5. Conclusão O pau rainha apresentou pequena variação na capacidade de rebrota entre os indivíduos estudados. Os fatores circunferência e altura de corte das cepas influíram significativamente na intensidade das rebrotas, sendo que a circunferência da cepa teve correlação mais forte com o número de rebrotas que a relação apresentada pela altura. A relação dos fatores tamanho e altura de cepa foi diretamente proporcional a variável número de rebrotas; enquanto o fator número de rebrotas foi inversamente proporcional as variáveis circunferência e altura de rebrotas. O número de rebrotas apenas influiu significativamente nas variáveis circunferência e altura de rebrotas quando os dados foram analisados considerando o local de ocorrência, o qual está relacionado à idade das rebrotas. Isso pode indicar que enquanto as rebrotas são jovens, a intensidade de rebrota não interfere em seu desenvolvimento. Porém, a medida que a capacidade suporte da cepa é extrapolada, o número de brotos na cepa pode ser um fator limitante ao desenvolvimento das brotações. Dessa forma, é preciso buscar unir as informações levantadas neste estudo com o manejo que já é realizado nestas áreas, de forma a aprimorar as práticas silviculturais realizadas no pau rainha, como a desrama. 42 6. Considerações finais A prática da desbrota é um tratamento silvicultural recomendado para o pau rainha, servindo para diminuir a competição entre os brotos e favorecer o crescimento daqueles mais vigorosos – considerando a relação inversa entre intensidade de brotação e área seccional e altura das rebrotas. Para a caixeta (T. cassinoides), a desbrota afeta significativamente o crescimento das brotações em altura e diâmetro e no sentido de evitar bifurcações, além disso, em locais mais densos, as cepas com menos rebrotas apresentam brotações com maior crescimento em diâmetro e altura (Silva, 2000). No caso do pau rainha, as rebrotas poderiam estar sob este efeito densidade por conta das culturas agrícolas, como o milho e a mandioca. Dessa forma, a desrama programada pode contribuir para um melhor aproveitamento das brotações. Nas roças acompanhadas neste estudo, o agricultor realiza práticas de manejo nas rebrotas do pau rainha, mas o seu foco principal é evitar o sombreamento da cultura agrícola e sua ida ao local das rebrotas é ditado pelas demandas da roça. É preciso acompanhar com maior rigor as roças com pau rainha para que seja possível identificar o momento adequado para realização das desbrotas. O critério adotado pelo manejador do pau rainha é retirar aquelas brotações que estiverem muito inclinadas (pendendo) e/ou que apresentarem tortuosidade, independentemente da época de corte da madeira. Ter atenção para a época de desbrota é importante para evitar práticas precoces, as quais poderiam induzir bifurcações e diminuição na taxa de crescimento dos brotos remanescentes; pois, como observado por Silva (2000), os novos brotos podem alcançar em altura os brotos que já haviam sido deixados na primeira desbrota – realizada até dois anos após o corte. O pau rainha é uma espécie heliófita e, por isso, competição por luz provocada por novas brotações surgidas após a prática da desrama pode levar a diminuição em incremento de altura das rebrotas deixadas na primeira intervenção (Silva, 2000). O responsável pelas roças, Carlos, é um experimentador e demonstrou muito interesse durante sua participação no trabalho de campo deste estudo. Ele compartilhou suas percepções sobre os recursos florestais e faunísticos da área e acredita que eles estejam ficando escassos e, por isso, vê importância no estudo das rebrotas de pau rainha para que seja possível continuar fazendo uso desta madeira. Durante a coleta de dados, ele fez enriquecimento da área com espécies frutíferas, esperando que este local possa continuar fornecendo recursos e que a caça seja atraída de volta para área quando a roça for abandonada. O envolvimento das pessoas da comunidade é fundamental e premissa básica para que estudos como este aconteçam nesses locais e sejam bem sucedidos. O respeito e incorporação dos conhecimentos locais aos experimentos acadêmicos e científicos enriquecem e validam a realização destes estudos . 43 7. Referências bibliográficas Alvino, Fabrízia de Oliveira; SILVA, Manoela Ferreira F. da; RAYOL, Breno Pinto. 2005. Potencial de uso das espécies arbóreas de uma floresta secundária, na Zona Bragantina, Pará, Brasil. 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A seguir, a autorização do CGEN – Autorização N° 01 9/2006. 48 49 50 51 52 Anexo II – Devolução de resultados para a comunidade Mutamba RESULT ADOS DO TRAB ALHO COM PAU RAINH A N A COMUNIDADE M UTAM BA, TERRA INDÍGENA ARAÇ Á, RORAIM A 7 a 11 de julho de 2008 Foi feito um trabalho de medir as rebrotas e os tocos de pau rainha em três locais da comunidade Mutamba: duas roças do Carlos e uma capoeira do Raimundo. Uma roça do Carlos tem rebrotas de 4 meses de idade e a outra tem rebrotas de 1 ano de idade. A capoeira do Raimundo tem rebrotas de 4 anos de idade. Rebrotas Medição da rebrota Roça de 4 meses Roça de 1 ano Capoeira de 4 anos Medimos a altura e a circunferência dos tocos e das rebrotas nas roças e a circunferência e a altura das árvores de pau rainha da capoeira. Os tocos foram marcados com plaquetas de metal para acompanharmos o crescimento das rebrotas. E na capoeira as árvores também foram marcadas. Medição do toco e da rebrota. Medição das árvores. Tocos marcados nas roças. Árvores marcadas na capoeira. Esperamos encontrar um jeito de manejar o pau rainha para essa madeira não desaparecer das matas. Para isso, é preciso experimentar algumas formas de tratar as rebrotas. Com esse trabalho, descobrimos algumas informações sobre o pau-rainha: • Para ter mais rebrotas, é preciso esperar para cortar tocos mais grossos. Os tocos entre 25 e 35 cm de circunferência apresentaram mais rebrotas (até 6). • A altura em que as árvores são cortadas também influencia o número de rebrotas. Tocos cortados entre 25 e 50 cm de altura apresentaram mais rebrotas (até 6). 53 E quantas rebrotas é melhor deixar em cada toco? Isso depende da idade das rebrotas: Nas roças de 4 meses, é melhor deixar até 4 rebrotas. Se tiver mais que 4 rebrotas, deixar só as mais fortes e retas. Nas roças de 1 ano, deixar apenas as 3 rebrotas que estiverem mais fortes e retas. E o que fazer com as rebrotas retiradas? Assim como o feijão guandu, o feijão de porco, a mucuna e o ingá, o pau rainha é uma leguminosa. Assim, suas folhas e galhos podem ser deixados no solo para serem usados como ADUBAÇÃO VERDE! As próximas informações são sobre o tamanho das rebrotas que foram encontradas nas roças e o tamanho das árvores de pau rainha encontradas na capoeira. Tamanho das rebrotas nas roças de 4 meses e de 1 ano: CIRCUNFERÊNCIA ALTURA 4 meses 1 ano 4 meses 1 ano Média 4,6 cm 8,4 cm Média 1,25 metro 2,43 metros Menor 1 cm 2 cm Menor 8 cm 4 cm Maior 9,5 cm 20 cm Maior 2,57 metros 5,70 metros Tamanho das árvores de pau rainha encontradas na capoeira de 4 anos: Circunferência Altura até a divisão do tronco Altura total Média 30,2 cm 3,62 metros 6,84 metros Menor 17 cm 1,25 metros 4,0 metros Maior 49 cm 7,29 metros 9,5 metros 54