Imagem Corporal e Morfologia: Estudo comparativo

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Imagem Corporal e Morfologia: Estudo comparativo
Imagem Corporal e Morfologia: Estudo comparativo entre
mulheres brasileiras e portuguesas praticantes de musculação
Dissertação apresentada com vista à
obtenção do grau de mestre em
Ciências
do
Desporto,
área
de
especialização em Actividade Física e
Saúde,
conforme
Decreto-Lei
216/92, de 13 de Outubro.
Orientador: Professor Doutor Rui Manuel Garganta Silva
Co-orientadora: Professora Doutora Maria Olga Fernandes Vasconcelos
Alessandro Pedretti
Porto, Junho de 2008
nº
FICHA DE CATALOGAÇÃO
Ficha de Catalogação
Pedretti, A. (2008). Imagem Corporal e Morfologia: Estudo comparativo entre
mulheres brasileiras e portuguesas praticantes de musculação. Porto:
Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
Palavras-chaves: IMAGEM CORPORAL, SILHUETAS, MUSCULAÇÃO
À todos os novos amigos brasileiros e portugueses que fizeram parte desta
etapa de minha vida acadêmica;
Aos meus pais e irmãos;
À Tatiane.
Agradecimentos
Da sugestão inesperada de uma amiga surgiu o propósito de ir para longe. Da
oportunidade de estar em Portugal, surgiram novos amigos, novos horizontes,
uma enorme experiência de vida e um aprendizado incomensurável. Este
capítulo da minha história não poderia ter sido escrito sem vocês:
Aos meus pais, que me apoiaram e possibilitaram este passo importante pela
educação e exemplo que sempre dispensados.
Aos meus irmãos, por serem exemplo e incentivo ao progresso.
À Tatiane, minha esposa, por suportar a saudade de quase dois anos
separados e por acreditar em mim, sempre.
Aos “mestres” desta minha caminhada, Prof. Doutor Rui Garganta e Profa.
Doutora Olga Vasconcelos, pela infinita paciência diante de minhas
dificuldades acadêmicas, por todas as orientações e chamados à realidade da
investigação científica.
À FADE-UP, por todo apoio institucional oferecido, pela amizade com os
seguranças e o pessoal da limpeza, e pela seriedade que nos leva ao
amadurecimento pessoal.
Aos Ginásios B-free e Holme´s Place em Portugal e às Academias Pumping
Iron e Olympia no Brasil, pela confiança e total disponibilidade para a
realização deste trabalho.
À Faculdade de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Juiz
de Fora, pela minha formação inicial neste campo infinito de possibilidades.
V
Índice
Agradecimentos ................................................................................................. V
Índice ................................................................................................................ VII
Índice de Figuras ............................................................................................... IX
Índice de quadros .............................................................................................. XI
Lista de equações ........................................................................................... XIII
Resumo ........................................................................................................... XV
Abstract ......................................................................................................... XVII
Résumé .......................................................................................................... XIX
Lista de abreviaturas ...................................................................................... XXI
Capítulo 1 – Introdução ...................................................................................... 3
1.1 – Apresentação do propósito, problema e objetivo do estudo .................. 3
1.2 – Estrutura do estudo................................................................................ 6
Capítulo 2 – Revisão da literatura ...................................................................... 9
2.1 – Imagem Corporal: desenvolvimento histórico do construto e delimitação
terminológica .................................................................................................. 9
2.1.1 – Desenvolvimento histórico do construto ......................................... 9
2.1.2 – Delimitação terminológica ............................................................ 13
2.2 – A imagem corporal: tipologia e morfologia corporais ........................... 16
2.3 – A imagem corporal: uma visão multidisciplinar .................................... 21
2.3.1 – Filosofia ........................................................................................ 21
2.3.2 – Psicologia ..................................................................................... 23
2.3.3 – Sociologia ..................................................................................... 25
2.3.4 – Semiótica ...................................................................................... 27
2.3.5 – Comunicação Social ..................................................................... 30
2.4 – Imagem corporal e cultura ................................................................... 33
2.4.1 – Influências e questões sócioculturais associadas a imagem
corporal ............................................................................................................ 33
2.4.2 – Agregação do padrão estético atual à idéia de saúde .................. 35
2.4.3 – Comparações culturais ................................................................. 39
2.5 – Imagem corporal na atividade desportiva feminina .............................. 42
2.6 – Definição das componentes da imagem corporal e dificuldades
encontradas para a sua avaliação ................................................................ 49
Capítulo 3 – Objetivos e hipóteses ................................................................... 57
3.1 – Objetivos .............................................................................................. 57
3.2 – Hipóteses ............................................................................................. 57
VII
Capítulo 4 – Metodologia ................................................................................. 61
4.1 – Amostra ............................................................................................... 61
4.2 – Critérios para a seleção da amostra .................................................... 61
4.3 – Instrumento e coleta de dados ............................................................. 62
4.3.1 – Apresentaçao do instrumento de silhuetas .................................... 62
4.3.1.1 – Associação dos valores do somatótipo a escala de silhuetas 63
4.3.2 – Definição dos tipos de Somatótipo ................................................ 66
4.3.3 – Procedimento para a definição dos somatótipos percebido e ideal66
4.3.4 – Antropometria ................................................................................ 67
4.3.4.1 – Composição corporal ............................................................. 69
4.3.4.2 – Critérios de classificação do IMC .......................................... 70
4.4 – Avaliação da distorção da percepção da imagem corporal geral, da
satisfação com a imagem corporal geral e do ideal corporal. ....................... 70
4.5 – Variáveis do estudo ............................................................................. 71
4.6 – Procedimentos estatísticos .................................................................. 71
Capítulo 5 – Apresentação e discussão dos resultados ................................... 75
5.1 – Distorção da Percepção da Imagem Corporal Geral ........................... 76
5.2 – Satisfação com a Imagem Corporal Geral ........................................... 80
5.3 – Ideal Corporal Geral............................................................................. 85
5.4 – Considerações finais............................................................................ 87
Capítulo 6 – Conclusões e sugestões .............................................................. 93
6.1 – Conclusões .......................................................................................... 93
6.2 – Sugestões ............................................................................................ 94
7 – Referências bibliográficas .......................................................................... 97
8 – Anexos ..................................................................................................... 119
8.1 – Formulário de recolha dos dados ...................................................... 119
8.2 – Escala de silhuetas apresentada às mulheres ................................... 120
VIII
ÍNDICE DE FIGURAS
Índice de Figuras
Figura 1 – Escala de silhuetas para mulheres com interesse em emagrecimento
e fortalecimento ................................................................................................ 62
IX
ÍNDICE DE QUADROS
Índice de quadros
Quadro 1 – Caracterização da amostra em seus valores médios e desvios
padrão. ............................................................................................................. 61
Quadro 2 – Caracterização das componentes do somatótipo para as brasileiras
e portuguesas................................................................................................... 75
Quadro 3 – Caracterização das variáveis utilizadas para obtenção dos níveis de
distorção da percepção e satisfação com a imagem corporal geral e ideal
corporal, para as brasileiras e portuguesas (média e desvio padrão) .............. 76
Quadro 4 – Caracterização da variável nível de distorção para brasileiras e
portuguesas (média e desvio padrão) .............................................................. 77
Quadro 5 – Caracterização do percentual de brasileiras e portuguesas que
subestimaram e sobre-estimaram sua imagem corporal geral ......................... 77
Quadro 6 – Caracterização das variáveis frequência de treino semanal e tempo
de treino, para as brasileiras e portuguesas (média, desvio padrão e
significância)..................................................................................................... 78
Quadro 7 – Caracterização do percentual do índice de massa corporal e seu
valor médio, das brasileiras e portuguesas. ..................................................... 78
Quadro 8 – Caracterização da variável satisfação com a imagem corporal geral
para brasileiras e portuguesas (média, desvio padrão e significância) ............ 80
Quadro 9 – Caracterização do percentual de mulheres satisfeitas e insatisfeitas
com a imagem corporal geral, para brasileiras e portuguesas ......................... 81
XI
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 10 – percentual de escolha das silhuetas correspondentes a
componentes predominantes do somatótipo .................................................... 82
Quadro 11 – Caracterização distorção da percepção da imagem corporal geral,
satisfação com a imagem corporal geral e ideal estético, ao se anular a
influência do tempo de treino (média e desvio padrão) .................................... 83
Quadro 12 – Caracterização distorção da percepção da imagem corporal geral,
satisfação com a imagem corporal geral e ideal estético, ao se anular a
influência da frequência de treino semanal (média e desvio padrão)............... 83
Quadro 13 – Caracterização do somatótipo médio geral das mulheres
satisfeitas, insatisfeitas e da população em geral, para brasileiras e
portuguesas...................................................................................................... 84
Quadro
14
–
Frequência
e
percentual
de
escolha
das
silhuetas
correspondentes ao somatótipo ideal para as brasileiras e portuguesas ......... 85
XII
LISTA DE EQUAÇÕES
Lista de equações
Cálculo do percentual de gordura corporal – ((4,95 / DC3) - 4,5) x 100
Cálculo da densidade corporal – 1,0994921 - 0,0008267 x (A+B+C) +
0,0000016 x (A+B+C x A+B+C) - 0,0001392
XIII
RESUMO
Resumo
A estética do ser humano e sua aparência física por influenciarem o
comportamento individual e coletivo, têm sido cada vez mais estudados em
diversas áreas de pesquisa. O objetivo de nosso estudo foi identificar e
comparar o tipo somático, a percepção da imagem corporal geral, a satisfação
com a imagem corporal geral e o ideal estético de mulheres brasileiras e
portuguesas praticantes de musculação. Duas nacionalidades que apresentam
uma interessante peculiaridade, por conta dos fortes traços culturais
portugueses presentes no povo brasileiro devido a colonização de outrora e a
inserção de parte da cultura contemporânea brasileira (principalmente a
midiática) no povo português. A amostra foi constituída por 46 brasileiras e 46
portuguesas com idades médias de 27,1±8.4 anos de idade. Os instrumentos
utilizados foram o somatótipo, de acordo com o método de Cárter e Heath
(1990) e um instrumento de silhuetas adaptado de Stunkard, Sorensen e
Schulsinger
(1983).
Utilizamos
o
teste
t
de
Student
para
medidas
independentes e recorremos à covariância para anular o efeito do tempo de
treino e a frequência semanal de treino que poderiam condicionar os
resultados. O nível de significância foi mantido em p ≤ 0.05 e o programa de
análise estatística utilizado foi o sofware SPSS versão 15.0. Verificamos que:
a) o somatótipo das brasileiras é endomorfo equilibrado e o das portuguesas é
endomorfo mesomorfo; b) não houve diferenças quanto a distorção da
percepção da imagem corporal geral entre as populações (t=0,991 e p=0,324);
c) brasileiras demonstraram ter uma satisfação com a imagem corporal geral
mais significativa do que as portuguesas (t=3,227 e p=0,002) e; d) o ideal
corporal das sul-americanas e europeias deste estudo é, respectivamente, de
predominância mesomórfica e central.
Palavras-chave: Imagem corporal, silhuetas, musculação
XV
ABSTRACT
Abstract
The Human aesthetic and physical appearance are actually studied in many
research areas for their influence. The way the person identify, evaluate and
idealize itself, and the way how it understand the opinion of others about itself is
a topic of general interest, of public health. The objective of our study was
identify and compare the physical type,
perception of general body image,
satisfaction of general body image and aesthetic ideal of brazilian and
portuguese woman who practice weight training. These two nations have an
interesting peculiarity, due to strong Portuguese cultural characteristics that
exist in Brazilian people from the past colonization of Brazil by Portugal and the
actual insertion of part of the Brazilian culture (principally by the media) on
Portuguese people. Our sample have 46 brazilian and 46 portuguese women
with medium ages of 27,1±8.4 years old, who practice weight training. The
instruments used were the somatotype from Heath e Carter (1980) method and
an adapted instrument of silhouettes from Stunkard, Sorensen e Schulsinger
(1983). The t student test was used for independent measures, as the
covariance to nullify the effect of time of training and frequency per week of
training that could influence the results. The significance was estabilished by p
≤ 0.05 and the statistical program used was software SPSS version 15.0. We
verify that: a) the brazilian somatotype is balanced endomorph and the
Portuguese one is an endomorph mesomorph somatotype; b) no differences
was found due to the distortion of perception of general body image (t=0,991 e
p=0,324); c) Brazilian women showed a significative greater satisfaction with
general body image than the Portuguese women (t=3,227 e p=0,002) and, d)
the aesthetic ideal of South American and European in this study was,
respectively, predominantly mesomorph and central.
Keywords: Body Image, silhouettes, weight training
XVII
RÉSUMÉ
Résumé
L’esthétique humaine et l’apparence physique sont depuis très longtemps des
sujets qui font débat en philosophie, et deviennent de plus en plus important
dans différents domaines au niveau mondial. L’objectif de notre étude a été
d’identifier et de comparer le type somatique, la perception de l’image du corps
en général, la satisafaction de ce dernier et l’apparence idéale des femmes
brésiliennes et portugaises qui pratiquent la musculation. Ces deux pays ont
une particularité intéressante, en raison des fortes caractéristiques culturelles
qui existent chez les Brésiliens depuis la colonisation du Brésil par le Portugal
et de la réelle insertion d’une partie de la culture brésilienne chez les Portugais
(principalement par les médias). Notre échantillon compte 46 femmes de
nationalité Brésilienne et 46 de nationalité Portugaise, avec des âges moyens
de 27,1±8.4 et qui font de la musculation. Les instruments utilisés ont été le
somatotype, conformément à la méthode Health-Carter (1980) et un instrument
adapté à l’analyse de la silhouette de Stunkart, Sorensen et Shulsinger (1983).
Le test t de l’étudiant a été utilisé pour des mesures indépendantes, comme la
covariance pour annuler l’effet du temps d’entrainement et la fréquence
hebdomadaire des entrainements qui pourrait influencer les résultats. Le niveau
d’importance a été maintenu avec p ≤ 0.05 et le programme stastitique utilisé a
été software SPSS version 15.0. nous vérifions que a) Le somatotype des
brésiliennes est endomorphe et celui des portugaises est un somatotype
endomorphe mésomorphe; b) Aucune différence n’a été trouvé au sujet de la
déformation de la perception de l’image générale du corps entre les deux
populations (t=0,991 e p=0,324); c) Les femmes brésiliennes ont démontré
avoir une satisfaction avec l’image générale du corps, de façon plus
significatives que les portugaises (t=3,227 e p=0,002)et; d) L’idéal corporel des
Sud-Américaines et des Européennes de cette étude est, respectivement, de
prédominance mésomorphe et centrale.
Mots-cléfs: l´image du corps, silhouettes, musculation
XIX
LISTA DE ABREVIATURAS
Lista de abreviaturas
SDD – Somatotype Dispersion Distance
SAD – Somatotype Attítudinal Distance
IFBB – International Federation of Bodybuilding & Fitness
H1 – Hipótese um
H2 – Hipótese dois
H3 – Hipótese três
H4 – Hipótese quatro
H5 – Hipótese cinco
Fig. 1 – Figura um
IMC – Índice de massa corporal
DC – Densidade Corporal
%G – Percentual de Gordura
A – prega adiposa da coxa
B - prega adiposa tricipital
C - prega adiposa supra-ilíaca.
MG – Massa gorda
W.H.O – World Health Organization
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences
PASTAS – Physical Appearance State and Trait Anxiety Scale
MBSRQ – Multidimensional Body-Self Relations Questionnaire-Physical
Appearance Subscale
BIAQ – Body Image Avoidance Questionnaire
EDI – Eating Disorder Inventory
XXI
1 - INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Capítulo 1 – Introdução
1.1 – Apresentação do propósito, problema e objetivo do estudo
Este estudo pretende ampliar a compreensão sobre os arquétipos ou modelos
corporais presentes no imaginário feminino e sua influência nas idealizações da
imagem corporal individual. Procuramos através da compreensão da relação
entre o imaginário social e suas projeções corporais, conhecer mais
profundamente o intercâmbio coletivo entre a consciência individual -a noção
do eu- e a forma como se interpretam as inúmeras experiências e vivências
corporais de mulheres praticantes de musculação. A aparência física é muito
importante para o desenvolvimento humano (Cash, 1990), tendo em vista que
cada cultura apresenta sua própria estrutura de identificações e projeções
estéticas (Durkheim, 1978; Schilder, 1994), que permite a construção da
imagem do próprio corpo, em face a liberdade individual alcançada com as
mudanças de comportamento durante o último século.
Da evolução da comunicação falada e escrita aos diversos meios existentes
(impresso, áudio-visual e hipermídia) atualmente, são veiculadas dentre todo
conjunto de mensagens a que se pretendem transmitir, idéias e valores sociais
simbolizados
corporalmente
(Pedretti
&
Vasconcelos,
2006).
Segundo
Tiggemann (2003) a mídia pode estimular a projeção de arquétipos corporais
associados a valores simbólicos, culturalmente utilizados como instrumentos
hierarquizantes dos indivíduos, afirmação esta relevante ao reconhecermos,
como Durkhein (1978) e Costa (2000), que organizamos e estruturamos nosso
conhecimento e psiquismo através de idéias expressas por representações
imagéticas mentais.
Ainda que não definido pela literatura, acreditamos que a cultura ocidental vive
rumo ao ápice de um ciclo de padrões estéticos que começou a se fazer
vigente a menos de meio século. Referindo-se ao nosso imaginário coletivo,
inserido no contexto sócio-econômico da atualidade, podemos ver que a
3
INTRODUÇÃO
satisfação das necessidades do corpo passou a ser alvo do consumismo como
alavanca do mercado, ora com a significância de status e poder, ora de
equilíbrio, saúde, paz e etc (Luvisolo, 2000). Entendemos aqui o imaginário,
como o imaginário social de Durkheim, reflexo de configurações simbólicas
utilizadas pelo homem para representar o mundo e a si mesmo (Durkheim,
1978).
Com base nas idéias de Solomom (1991) e Rocha (1995), podemos facilmente
identificar que as práticas, valores e representações corporais presentes em
nossa cultura estética se correlacionam intimamente com o modelo de
sociedade capitalista, transformando o lazer em estilo de vida e este último, em
consumo. Schilder (1994) deixa claro que a imagem corporal, como fenômeno
social e individual, é ativa, que ocorre, se modifica e se adapta às exigências e
características do universo e estruturas das interações sociais. Sendo assim, o
interesse pelo desenvolvimento e melhor compreenção dos aspectos e áreas
de atuação dos conceitos acerca da estética humana vêm crescendo
exponencialmente.
De início as relações deste construto com a neurologia envolviam questões
patológicas referentes as sensações corporais proprioceptivas e outras
questões (Fisher, 1990). O interesse pelas relações de importância e
relevância da nossa imagem individual e coletiva, direcionou este campo do
saber às inúmeras situações que caracterizam o homem enquanto ser social
(Harvey e Sparks, 1991; Turner, 1991). Mais recentemente, como destaca
Pruzinsky
(2004),
outras
preocupações
surgiram
em
detrimento
do
aperfeiçamento e maturação dos conhecimentos acerca da imagem corporal.
Enquanto algumas destas preocupações são referentes as recentes teorias e
conceitos sobre a operacionalidade dos processos deste contruto na mente
humana, outras são advindas de novas necessidades surgidas pelo próprio
desenvolvimento e modificação das estruturas sociais ao longo das décadas.
4
INTRODUÇÃO
Investigações acerca da influência de uma preocupação individual sobre a
imagem corporal em campos médicos, como a recuperação de queimados,
pacientes com câncer e patologias que afetam direta ou indiretamente a
estética corporal, são emergentes (Thompson, 2004). Assim como o
reconhecimento de seu amplo alcance temático, que perpassa sobre as
inúmeras
condições
da
prática
de
atividades
físicas
nos
diversos
comportamentos relacionados ao exercício (Hurst, Hale, Smith & Collins, 2000;
Marzano, 2001; Tiggemann & Williamson, 2000; Scully, Kremer, Meade,
Graham & Dudgeon, 1998).
Diante da crescente ebulição de estudos e interesse, pelos diversos campos do
saber relacionados de alguma forma aos complexos fenômenos individuais e
sociais referidos singularmente pelo termo da imagem corporal, surge a
necessidade de se entender os novos paradoxos corporais que respondam as
exigências do desenvolvimento de conceitos mais específicos e de novas áreas
de estudo. A transdiciplinaridade e congruência de inúmeros campos científicos
é atualmente um fato presente nos estudos da imagem corporal, possibilitando
o desenvolvimento de novos conceitos e métodos de avaliação (Damani,
Button & Reveley, 2001; Fonseca & Fox, 2002; Cash, Jakatdar & Williams,
2004).
Derivadas de observações das realidades brasileira e portuguesa, quanto ao
“corpus” feminino ideal, surgiram questões referentes à insatisfação corporal e
às distorções perceptivas das mulheres, em relação a sua muscularidade e
densidade corporal. Nosso objetivo então é verificar os níveis de acuidade
perceptiva, satisfação e ideal corporal de mulheres brasileiras e portuguesas
praticantes
de
musculação,
procurando
identificar
nas
mesmas,
a
predominância de uma tendência ao delineamento muscular e maior densidade
corporal, além da linearidade clássica. Parece-nos importante que se possa
construir debates que visem compreender a exacerbada importância que uma
“boa aparência” ou a imagem corporal detém para o Homem.
5
INTRODUÇÃO
1.2 – Estrutura do estudo
Procuramos organizar os conteúdos abordados em seis capítulos. O primeiro
deles reservou-se a introdução. No segundo capítulo, referente a revisão de
literatura, são abordados diferentes temas relacionados a imagem corporal,
divididos em cinco sub-capítulos.
No primeiro destes desenvolve-se a apresentação de um breve relato sobre o
desenvolvimento
histórico
do
construto,
seguido
de
uma
delimitação
terminológica referente ao tema. No segundo sub-capítulo da revisão de
literatura, apresentamos o desenvolvimento das tentativas de se classificar
objetivamente as características morfológicas do corpo humano e algumas de
suas relações para com a prática desportiva. Na continuidade do trabalho no
sub-capítulo três, temos um esboço do amplo campo multidisciplinar que o
tema permite abarcar quando observado em suas características subjetivas. Na
continuidade do trabalho no sub-capítulo quatro, são discutidas questões como
as influências culturais sobre a imagem corporal, algumas considerações
acerca do ideal corporal atual em sua associação aos ideais de saúde da
atualidade e a apresentação de diversas comparações culturais presentes na
literatura, que salientam as divergências e congruências na imagem corporal
presentes em diversas coletividades. Em seguida, com o sub-capítulo cinco,
observamos o tema através do âmbito esportivo, discorrendo sobre a prática de
diversas atividades físicas por indivíduos atletas e não atletas. No sexto subcapítulo, apresentamos uma definição de suas componentes e as dificuldades
encontradas para sua avaliação em campos de abordagem objetivos e
subjetivos.
O terceiro capítulo evolve a delimitação dos objetivos e hipóteses deste estudo.
A metodologia, a amostra e os instrumentos de avaliação são descritos no
capítulo quatro. No quinto capítulo são apresentados e discutidos nossos
resultados, terminando com nossa conclusão final sobre o tema e resultados
encontrados no último e sexto capítulo.
6
2 - REVISÃO DA LITERATURA
REVISÃO DA LITERATURA
Capítulo 2 – Revisão da literatura
2.1 – Imagem Corporal: desenvolvimento histórico do construto e
delimitação terminológica
2.1.1 – Desenvolvimento histórico do construto
Fisher (1990) afirma que, conceitos como consciência, ansiedade, imagem e
esquema corporais, relativos a percepção do próprio corpo, têm sido
constantemente aplicados para o entendimento de fenômenos diversos como o
uso de drogas, acometimentos patológicos, intervenções cirúrgicas e
psicoterápicas, prática de atividades físicas e muitos outros. Normalmente,
vertentes de trabalhos de diferentes áreas do conhecimento, como a
psicologia, a sociologia e a educação física, lidam com as atitudes e
sentimentos corporais como se seus conteúdos fossem desconexos, levados a
cabo como se as outras áreas do saber não existissem, raramente
apresentando referências interdisciplinares, utilizando os termos acima citados
sem nenhum esforço de integração entre eles.
Segundo Stewart, Benson, Michanikou, Tsiota e Narli (2003), as primeiras
tentativas de se classificar a morfologia humana foram atribuídas a Hipócrates
(460-377
A.C.)
e
seus
contemporâneos.
Abordagens
sistematizadas
apareceram somente no século XX com a neurologia, quando se começou a
realizar estudos no campo das distorções da percepção corporal advindas de
danos cerebrais, das representações internas e conscientes do corpo
provenientes de informações proprioceptivas, membros fantasmas, problemas
na percepção da lateralidade e outros, levando os neurologistas a verificarem
que os modelos “normais” da percepção corporal não são imutáveis e
representam processos organizados que se podem desestruturar, dando
respaldo científico ao fenômeno que passou a ser reconhecido como tendo um
9
REVISÃO DA LITERATURA
esquema central que registra as percepções corporais e as integra (Fisher,
1990).
Outros exemplos nos quais conceitos de significância sobre a imagem corporal
estavam presentes, mesmo que ainda pouco desenvolvidos, são as discussões
de Wundt sobre o campo das sensações cinestésicas na modulação de
julgamentos psicofísicos, os estudos de Titchener, que ressaltavam a
importância das sensações corporais como modificadoras dos processos
perceptivos, as teorias de Erickson, que demonstraram fortes correlações entre
as delimitações corporais e outras noções da imagem corporal, além de Reich
na área da psicologia, que versou os conflitos individuais e sua expressão em
termos do tônus muscular, relacionando-os com experiências sociais e
individuais (citados por Fisher, 1990, p.14, 15 e 16).
Fisher (1990, p. 16), afirma que o corpo como objeto psicológico começou a
despertar interesse para a psicologia, quando ainda contextualizado como um
fenômeno perceptivo clássico, sob a influência de dois importantes
pesquizadores. O primeiro deles foi Witkin, que em 1954, com auxílio de
colaboradores, demonstrou que a habilidade dos julgamentos da posição
espacial do corpo e a sua capacidade de se distinguir perceptivamente de
objetos distintos, era de alguma forma associada a noção do próprio corpo
como uma entidade diferenciada. Por sua vez, Karem Machover em 1949
tornou conhecidos os conceitos sobre imagem corporal na América e na
psicologia clínica européia.
Wapner e Wernes (citados por Fisher, 1990, p.16) legitimaram os estudos da
percepção corporal mostrando que esta se encontra sob o mesmo campo da
percepção dos objetos, com investigações sobre a influência das atitudes
corporais e fatores externos na percepção do tamanho corporal, na separação
e identificação de objetos como pertencentes ao corpo ou ao ambiente, e a
relação da percepção com o crescimento maturacional individual.
10
REVISÃO DA LITERATURA
A psicanálise, através da teoria libidinal de Freud, influenciou muitos estudos
sobre a corporeidade humana em outras áreas do conhecimento, por mostrar
como a atenção e o comportamento são mediados por sinais e significados
simbólicos associados às partes corporais mais importantes para cada
indivíduo (Fisher, 1990). Fisher (1990, p. 13), cita Freud por enfatizar que “o
ego é primeiramente e antes de tudo um ego corporal”, destacando também
autores como Jung, Fordham, Perry e Rank, que contribuíram para a
elaboração da noção de que os indivíduos conceitualizam seus corpos como
containers ou como um cerco protetor no qual podem se refugiar e evitar
ataques a si próprios.
Pesquisas
como
estas
tornaram
os
psicólogos
desenvolvimentistas,
interessados neste campo de estudo, familiarizados e convencidos da
influência dos comportamentos e atitudes relativos ao corpo sobre diversos
aspectos do desenvolvimento dos indivíduos. Pois, até então, pouca ou
nenhuma atenção era deferida para questões relacionadas a experiência
corporal e a personalidade (Fisher, 1990). Neste sentido, Paul Schilder
contribuiu enormemente, redirecionando o interesse acadêmico para uma
observação das distorções perceptivas, não somente à luz da fisiologia
cerebral, mas também sob um amplo campo psicológico.
Schilder (citado por Fisher, 1990, p. 7 e 8), que já em 1914 e 1923 publicava
estudos sobre toda uma gama de assuntos gerais relacionados com a imagem
corporal, deu possivelmente sua maior contribuição à área em 1935. A
compreensão das idéias de Schilder tornou-se indispensável, que através de
pontos de vista físico, social e mental, instituiu um caráter multifacetado ao
fenômeno, integrando conceitos e tornando multidisciplinar o campo de estudo
da aparência física, que passou a envolver elementos tanto das ciências
biomédicas quanto das ciências do comportamento ou sociais.
De acordo com Fisher (1990), Schilder não se cingiu apenas às distorções
associadas a patologias cerebrais orgânicas, mas praticamente a todas as
11
REVISÃO DA LITERATURA
situações associadas aos indivíduos “normais”, enfatizando a importância dos
sentimentos e atitudes corporais para as explicações do comportamento.
Antecipando o pensamento de sua época, Schilder focalizou seus estudos
sobre as delimitações e percepções do volume e tamanho do corpo, assim
como para a diferença entre percepções do interior e superfície corporais,
pontos de imensa importância para os estudos sobre anorexia nervosa, a
busca pela aparência, atratividade e beleza, assim como para os efeitos do
exercício na percepção corporal.
Na continuação do relato de Fisher (1990, p. 16 e 17), são citados outros
estudos importantes que contribuíram para o desenvolvimento do construto da
imagem corporal, como as pesquisas com lentes oculares para investigar
distorções sobre a percepção de si próprio e de objetos externos (e.g. Stratton,
Kohler, Harris), os estudos de Piaget sobre aspectos do desenvolvimento da
percepção espacial e diferenciações de lateralidade, e os de Koff, Rierdan e
Silverstone sobre maturação corporal, além das definições de Kohlberg sobre a
sexualidade e de Lerner sobre padrões de atratividade.
Os estudos que lidam com o corpo como um objeto psicológico se ramificaram
por diversos domínios que foram divididos em nove grandes áreas de acordo
com Fisher (1990): i- Percepção e avaliação individual da aparência física; iiPrecisão da percepção individual do tamanho corporal; iii- Precisão da
percepção individual das sensações corporais; iv- Habilidade de julgamento da
posição espacial do corpo; v- Sentimentos sobre as definições e valores
protetores dos limites corporais; vi- Distorções das sensações corporais e
experiências associadas a psicopatologias e danos cerebrais; vii- Respostas a
danos corporais, perdas de membros e cirurgias; viii- Respostas a vários
procedimentos desenvolvidos para camuflar o corpo cosmeticamente ou de
alguma forma “melhorá-lo” e; ix- Atitudes e sentimentos pertinentes a
identidade sexual corporal individual.
12
REVISÃO DA LITERATURA
Atualmente, longe de uma entidade singular, o construto da imagem corporal é
reconhecidamente multidimensional, com diversos significados teóricos e
empíricos, denominado freqüentemente pelas representações internas e
subjetivas da aparência física e da experiência corporal. Sendo assim, os
estudos mais produtivos acerca da psicologia da aparência física requerem
uma ênfase integrativa tanto no foco subjetivo quanto no objetivo da imagem
corporal.
2.1.2 – Delimitação terminológica
Ao longo do desenvolvimento e estruturação dos conhecimentos acerca deste
construto,
alguns
pesquisadores
defenderam
conceitualizações
e
nomenclaturas distintas para os diferentes aspectos (cognitivos e emocionais)
da imagem corporal. Shontz (citado por Cash, 2004, p. 2) sugeria em 1969 o
termo esquema corporal para percepções espaciais e posturais, conceito
corporal, processos e estruturas somáticas, e o termo valores corporais, para
atitudes emotivas e valores relacionados ao corpo.
Logo após Freud, Schilder foi um dos primeiros que de forma mais
sistematizada e detalhada, introduziu conceitos da psicanálise na teorização
sobre a imagem corporal (Cash, 1990). De fato, a extensa definição de Schilder
(1994) sobre imagem corporal afirma que:
“A imagem do corpo humano significa a figura do próprio corpo que formamos
na nossa mente, o que é dizer, o modo como o corpo aparece para nós.
Existem sensações que nos são dadas. Nós vemos partes da superfície
corporal. Temos impressões tácteis, térmicas e de dor. Existem sensações que
vem dos músculos e dos tendões – sensações advindas da enervação
muscular – e sensações advindas das vísceras. Tão logo haja uma experiência
imediata há a unidade do corpo. Esta unidade é percebida, ainda que seja mais
que uma percepção. Nós a chamamos de um esquema do nosso corpo ou
13
REVISÃO DA LITERATURA
esquema corporal, ou: ´following head`, que enfatiza a importância do
conhecimento da posição do corpo, do modelo postural do corpo. O esquema
do corpo é a imagem tridimensional que todos têm de si mesmos. Podemos
chamá-lo de imagem corporal” (p. 11).
Em um resumo das idéias de Paul Schilder, entende-se por imagem corporal, a
figuração tridimensional formada em nossa mente, reflexo da estrutura do
corpo, ou ainda, a forma como o percebemos, sendo esta percepção a base
das atitudes emocionais relativas a nossa corporeidade, continuamente
reestruturada, integrando-se e diferenciando-se, em perpétua autoconstrução.
A definição de Schilder abarca elementos conscientes e inconscientes, toda a
variedade de sensações corporais e uma “unidade percebida” de caráter
gestáltico que vai além da simples percepção. Como veremos em seguida,
outros autores, em períodos posteriores, apresentam relações diretas não só
entre as variáveis da imagem corporal com as patologias, mas também entre
estas e todos os eventos cotidianos da vida. Estes autores ampliaram, assim,
as definições e conceitos deste construto.
Fisher (1990), corroborando conceitos de Schilder, relata que a imagem
corporal tem se tornado um campo altamente complexo, e referências ao seu
contexto como aspecto unidimensional são demasiado elementaristas e
reducionistas, tendo em vista os dados incontestáveis que a indicam como
fenômeno multidimensional. Assim, algumas de suas facetas podem ser
observadas e estudadas por se apresentarem “visíveis” sobre a consciência
humana, enquanto outras ainda se encontram submersas no pouco desvelado
campo da inconsciência e subconsciência.
Cash (1990) sugere que a imagem corporal individual inclui a percepção de
padrões culturais, a percepção do quanto se é próximo destes padrões, e a
percepção da importância relativa deste padrão para os membros de seu grupo
social e para os indivíduos em geral. Anui que esta sofre ainda influências de
14
REVISÃO DA LITERATURA
nossos desejos, atitudes emocionais e interações sociais, definindo-a de forma
ampla como as atitudes relativas ao próprio corpo e em particular à aparência
física.
Fallon (1990) reconhece que de todas as formas como as pessoas podem
pensar sobre si mesmas, nenhuma é tão imediata e central como a imagem de
seus próprios corpos. Afirma então, que imagem corporal é o meio como as
pessoas percebem a si mesmas e como pensam que os outros as vêem, sendo
constantemente
mutável
pelo
crescimento
biológico,
trauma
ou
degenerescência, e significativamente influenciada e moldada por diversas
circunstâncias – acentuada pelo prazer ou pela dor.
Uma maneira útil de conceitualizar a imagem corporal, de acordo com Bane e
McAuley (1998), é entendê-la como um guarda-chuva que abarca a precisão
das percepções do tamanho e peso corporal, as cognições acerca da
satisfação e avaliação da aparência corporal, componentes afetivas relativas a
ansiedade
e
sentimentos
derivados
da
aparência
e
componentes
comportamentais, como atitudes alimentares e de exercício focalizadas
corporalmente.
Cash e Pruzinsky (citados por Cash, Melnyk & Hrabosky, 2004, p.306)
distinguem em 2002, uma imagem corporal perceptiva e outra intencional,
dividindo ainda a segunda em dimensões de avaliação e investimento
comportamental afetivo e cognitivo. Cash, Melnyk e Hrabosky (2004)
diferenciaram posteriormente o construto do investimento estético, em um
ponto de vista auto-avaliativo e um ponto de vista motivacional da aparência de
si próprio.
Pesquisadores e clínicos pensam geralmente sobre a imagem corporal em
relação a sua estimativa e satisfação. É essencial discernir entre a satisfação,
que reflete o nível da importância psicológica da aparência para o indivíduo, e
15
REVISÃO DA LITERATURA
um investimento ou uma preocupação com a aparência, que mostram se os
pensamentos e comportamentos giram em torno dela.
Pruzinsky (2004) afirma que a complexidade conceitual da imagem corporal
pode ser representada por três fatores. Primeiro, a não restrição de sua
abrangência à percepção da aparência física, tendo que se considerar as
percepções individuais da funcionalidade corporal, níveis de competência,
sensações corporais e outras experiências relacionadas ao corpo. Em
segundo, a inerente subjetividade de suas experiências, que se refletem em
muitas variáveis, como o grau e natureza da importância da aparência para a
própria definição do “eu”, consciências e sensibilidades somáticas, resistência
individual do construto sobre agentes externos, assim como para fatores do
desenvolvimento nos campos físicos, psicológicos e socias. E em terceiro, a
compreensão de seu caráter lábil, influenciado por variáveis contextuais e
ambientais.
Tendo em consideração todas as características e noções transdiciplinares
apresentadas por Fischer (1990), Fallon (1990), Cash (1900), Schilder (1994),
Vasconcelos (1995) e Bane e McAuley (1998), apresentadas neste estudo,
entendemos que, a imagem corporal envolve um intrincado conjunto de fatores
perceptivos, cognitivos e afetivos que determinam a forma subjetiva como as
pessoas se vêem e vêem os outros.
2.2 – A imagem corporal: tipologia e morfologia corporais
Carter e Heath (1990) explicam que diversos autores (e.g. Kretschmer,
Sheldon, Jung, Adler) procuraram classificar a diversidade da morfologia
humana em tipologias ou traços anatômicos específicos, englobando
conceituações que abrangeram desde a componente somática isoladamente, a
outras que consideraram o contexto dinâmico-funcional do corpo em relação à
estrutura psíquica do indivíduo e aquelas de cunho estritamente psicológico.
16
REVISÃO DA LITERATURA
Ao relatarem o desenvolvimento inicial do somatótipo, Carter e Heath (1990)
descrevem que o modelo de Kretschmer (1888-1964) delimitou a morfologia
humana em quatro tipos, o Leptosômico, com características como a estrutura
esquelética e tecido adiposo pouco desenvolvidos, o Pícnico, que apresenta
um volume corporal desenvolvido em formas mais redondas e extremidades
curtas com tendência para a calvice, o Atlético, sua robustez muscular e
esquelética características, tronco desenvolvido com anca estreita e membros
fortes, e o Displásico, englobando indivíduos disformes ou casos extremos de
outros tipos mistos impossíveis de classificar.
A somatotipologia de Sheldon, baseada no desenvolvimento dos três folículos
embrionários, em 1940, veio classificar a morfologia humana após Kretschmer,
definindo três principais tipos somáticos, ou somatótipos, representados por
valores que significam a influência do desenvolvimento da endoderme,
mesoderme e ectoderme na constituição física individual (Carter e Heath,
1990). Cada componente varia de 1 a 7 valores, com possíveis combinações
entre os valores de 1 a 7 para cada uma das componentes. Sheldon
considerava valores entre 0.5 e 2.5 como baixos, de 3 a 5 medianos e, de 5 a 7
altos, sendo ainda estipulados níveis extremos de 711 para a endomorfia pura,
o 171 para a mesomorfia pura e o 117 para a ectomorfia pura, devendo seus
valores serem considerados como uma unidade e não separadamente.
A classificação de Sheldon de 1940 era obtida por observação antroposcópica
de fotografias frontais, laterais e posteriores dos indivíduos. Desde então,
diversas tentativas foram realizadas a fim de tornar o método de somatótipo
mais objetivo. O antropólogo Cureton em 1947 associou o método inspecional
com auxílio de fotografias a antropometria (perímetros) e avaliações de força.
Um novo método que ampliava o emprego das medições antropométricas para
pregas cutâneas, perímetros, diâmetros ósseos, peso e altura, foi desenvolvido
por Parnel em 1954, sendo aprensetada uma versão final mais simples e
menos dispendiosa em 1990, por Heath e Carter (Carter e Heath, 1990).
17
REVISÃO DA LITERATURA
Análises e comparações entre somatótipos podem ser realizadas através do
cálculo das distâncias entre os valores de diferentes somatótipos, considerados
de forma bidimensonal como propuseram Ross e Wilson (1974) pelo
Somatotype Dispersion Distance (SDD), ou de forma tridimensional como o
método Somatotype Attítudinal Distance (SAD), de Duquet e Hebbelinck
(1977).
Em um interessante estudo, Sugerman (citado por Garganta, 2000, p. 175)
verificou em relação aos componentes do somatótipo, que a endomorfia era
associada à diferentes adjetivos como obesidade, velhice, fraqueza física,
preguiça, dependência e desconfiança; a mesomorfia associava-se à força,
masculinidade, boa aparência, espírito aventureiro, juventude, maturidade de
comportamento e auto-confiança e a ectomorfia reportava-se à elegância,
juventude, ambição, tensão, nervosismo, espírito complicado, teimosia e
pessimismo. Sheldon (citado por Vasconcelos, 1995, p. 30), em 1942, já
sugeria que o comportamento humano é parcialmente influenciado por fatores
genéticos e fisiológicos expressos na constituição corporal do indivíduos.
Diversos outros autores também associaram ou verificaram qualidades e
defeitos relacionando traços de personalidade como auto-confiança e
perfeccionismo, comportamentos alimentares e de exercício físico a tipos
morfológicos distintos (Bane & McAuley, 1998; Cash, 1990; Stephens, Hill &
Hanson, 1994; Tucker, 1983; Vasconcelos, 1995).
Segundo Štěpnička (1986), o somatótipo orienta as relações entre a estrututa e
a função corporais, tipificando as manifestações motoras do corpo humano,
sendo uma predisposição morfológica para a eficiência motora e esportiva,
além de uma boa postura corporal. O treinamento pode enfatizar o potencial já
apresentado pelo corpo de cada desportista, segundo Broekhoff, Pieter, Taaffe
e Nadgir, (1993) e Štěpnička (1986).
18
REVISÃO DA LITERATURA
Afirma ainda Štěpnička (1986), que as características somatotípicas dos atletas
variam em função dos diferentes modos e técnicas de treinamento, com os
indivíduos que se encontram nas classificações de mesomorfo equilibrado,
ecto-mesomorfo e mesomorfo ectomorfo, apresentando variáveis morfológicas
básicas importantes para o sucesso em grande parte das modalidades
esportivas. Logicamente, existem atividades nas quais um perfil morfológico
único não limita sua performance, como é o caso dos esportes coletivos
(Broekhoff et al., 1993; Maia, 1993; Štěpnička, 1986).
Ao observar o somatótipo em caráter desportivo, como destacam Gualdi-Russo
e Graziani (1993), verifica-se que indivíduos não atletas são menos
mesomórficos e mais endomórficos que atletas, e que a atividade desportiva de
alto nível relaciona-se principalmente com os dois primeiros componentes do
somatótipo (endomorfia e mesomorfia), apresentando também diferenças entre
os níveis de performance dos atletas (Bayios, Bergeles, Apostolidis, Noutsos &
Koskolou, 2006; Gualdi-Russo & Graziani, 1993; Gualdi-Russo & Zaccagni,
2001; Monsma & Malina, 2005).
Encontramos assim, uma estrutura média mesomorfa endomorfa para
jogadoras de tênis de mesa espanholas de alto nível (Pradas de la Fuente,
Carrasco Páez, Martínez Pardo, & Herrero Pagán, 2007), uma mesoendomorfia para jogadoras de futsal brasileiras (Queiroga, Ferreira &
Romanzini, 2005) e uma mesomorfia equilibrada para jogadores de futebol
norte-americanos (Zúñiga & De León Fierro, 2007).
Tanto para o futsal quando para o futebol de onze, não foram verificadas
diferenciações significativas entre os jogadores de diferentes posições
(Queiroga et al., 2005; Zúñiga & De León Fierro, 2007). Diferentemente do
verificado para o voleibol italiano, com as ponteiras sendo predominantes em
mesomorfia e as centrais em ectomorfia (Gualdi-Russo & Zaccagni, 2001) e
para o basquetebol de segunda liga também da Itália, com os armadores
menos endomórficos que os defesa, que por sua vez são menos mesomórficos
19
REVISÃO DA LITERATURA
que os jogadores das demais posições, tendendo todos para a ectomorfia
(Viviani, 1994).
Para o voleibol feminino, a alta competição se expressa em valores de
somatótipo mais ectomorfos e menos endomorfos, como ressaltam estudos
com amadoras (Viviani & Baldin, 1993) e atletas de elite italianas (GualdiRusso & Zaccagni, 2001), verificando Silva e Maia (2003) em atletas
portuguesas de escalões de formação uma mesomorfia endomorfia média, em
comparação com as amadoras endomorfas mesomorfas. Como diferença entre
atletas de elite de duas populações distintas, Bayios et al. (2006) encontrou um
somatótipo central para as italianas e uma endomorfia equilibrada para as
gregas.
Os resultados do estudo de Siders, Lukaski e Bolonchuk (1993) indicam que
algumas variáveis da composição corporal (altura, massa magra, peso,
percentual de gordura, ectomorfia e mesomorfia), podem ser preditoras da
performance em nadadores de curta distância (100 jardas) do sexo feminino,
verificando Fernandes, Barbosa e Vilas-Boas (2002) que nadadores de elite
apresentam em média um somatótipo ecto-mesomorfo e as nadadoras são
centrais ou mesomorfas equilibradas.
Gualdi-Russo e Graziani (1993) classificaram a estrutura somatotípica de
diversos praticantes desportivos italianos, encontrando para as mulheres
valores médios de 3.7-3.8-2.8 para a natação, 3.9-3.9-2.7 para o esqui, 3.5-3.62.9 para atletas de track & field, 3.3-4.0-2.5 para artes marciais, 3.7-3.8-2.7
para desportos com bola, 3.6-3.7-2.9 para ginastas, 3.7-3.9-2.4 para patinação.
Monsma e Malina (2005) em patinadoras americanas e canadenses não
verificaram diferenças no somatótipo em função do estilo de patinação (livre,
dança, dupla) apesar do nível de competitividade diferenciar uma maior
linearidade e mesomorfia, menor peso e endomorfia em função do nível da
performance dos patinadores. Em relação ao desporto grego de alto nível,
20
REVISÃO DA LITERATURA
Bayios et al. (2006) encontraram estruturas mesomorfas-endomorfas para o
basquetebol e handebol.
Eklund e Crawford (1994), Stewart et al. (2003) e Bahran e Shafizadeh (2006)
verificaram uma relação inversa entre avaliações positivas da imagem corporal
e os componentes endomorfia e mesomorfia, além de uma relação direta com
a ectomorfia. Como relata Garganta (2000), há uma tendência na sociedade
atual para idealizações de morfologias mesomórficas para os homens e
ectomorficas para as mulheres. Este mesmo autor afirma que, para além da
sua relação com a satisfação corporal, o somatótipo é uma variável de estudo
em diversos outros tipos de investigações, como a influência do exercício na
alteração da composição corporal, a relação da comunicação de massa e a
idealização de tipos morfológicos específicos, as auto-percepções físicas dos
indivíduos em diversos níveis de modalidades de práticas desportivas, imagem
corporal e outros.
2.3 – A imagem corporal: uma visão multidisciplinar
2.3.1 – Filosofia
Beardsley e Hospers (1997) definem a estética como o ramo da filosofia que se
ocupa em analisar conceitos e discutir os assuntos relativos às experiências e
objetos aos quais se possam emitir e elaborar juízos e raciocínios estéticos.
Julgar ou viver esteticamente, segundo os mesmos autores, é enfatizar o
caráter perceptivo do objeto ou situação, desfrutando a experiência, sem
intenção outra que o prazer de percebê-la, sem interesse pela utilidade e
relação dos objetos.
Filósofos como Homero, Píndaro e Pitágoras, dois séculos antes do período
clássico grego, já definiam o belo pela presença de ordem e proporção, o
associavam ao agradável à vista, ao útil, à bondade e ao heróico (Beardsley &
21
REVISÃO DA LITERATURA
Hospers, 1997; Herrero, 1988). Na antiguidade clássica, as idéias pregressas
sobre a beleza foram mantidas pelos pensadores clássicos (e.g. Platão,
Sócrates, Aristóteles), com o belo sendo diferenciado ainda em expressivo,
sensível e moral, e atrelado à justiça e à harmonia, tendo sido definido seu
prazer como de caráter cognitivo e relacionado aos órgãos perceptivos
(Beardsley & Hospers, 1997; Cochofel, 1981; Herrero, 1988).
No Estoicismo, período filosófico posterior a antiguidade clássica, a beleza
continuava dependente de proporção e harmonia e valorizada em seu valor
instrínseco ou moral, por filósofos como Cíceron e Plotino (Beardsley &
Hospers, 1997; Cochofel, 1981; Herrero, 1988). Enquanto no pensamento
acadêmico medieval fortemente influenciado pelo cristianismo (Herrero, 1988),
nomes como São Agostinho e São Tomás de Aquino consideravam o belo
natural acima do artístico, estando presente nos ideais de inteligência,
racionalidade
e
moralidade
do
criador
supremo,
no
Renascimento,
representado por pensadores como Albertini e da Vinci, o conceito de beleza
deixou de ser teocêntrico para ser antropomórfico, auto-suficiente e captado
pelas faculdades intelectivas (Beardsley & Hospers, 1997; Herrero, 1988).
Os teóricos ingleses influenciaram fortemente os estudos do século XVIII sobre
as qualidades da beleza e do sublime além das razões presentes para no juízo
estético, através de nomes como Hutcheston, Hume e Burke (Herrero, 1988). A
“estética filosófica” alemã do século XVIII, influenciada pelo subjetivismo inglês
(Herrero, 1988), com filósofos como Friedrich Schiller, Hegel, Diderot e
Nietzsche, tem seu maior representante em Kant (Beardsley & Hospers, 1997),
com o tema da beleza definitivamente associado a natureza do julgamento
estético, ao subjetivismo, sendo ainda reconhecido como alheio ao Bem e ao
conceito de perfeição e de satisfação desinteressada, tencionada à
universalidade do sentir comum (Cochofel, 1981).
A estética de acordo com Beardsley e Hospers (1997), nunca foi tão ativa e
diversamente cultivada como no século XX. Herrero (1988) cita alguns
22
REVISÃO DA LITERATURA
pensadores atuais, como Richards, por suas idéias do belo como uma
harmonia psíquica, Thomas Munro, pela definição de beleza como sendo
muitas coisas diferentes ainda que não tão bem conhecidas, as quais se tem
aplicado o nome de beleza e Fontanals, pelos estudos de qualidades análogas
a beleza, como a elegância a naturalidade e a graça.
A filosofia influenciou enormemente as questões acerca da corporeidade
humana (Fisher, 1990), destacando Freud (citado por Schilder, 1994, p. 228)
que, “a ciência da estética examina as condições nas quais experimentamos a
beleza”, sendo uma das principais funções da filosofia e da psicologia,
determinar as relações entre o mundo, o corpo e a personalidade (Schilder,
1994).
2.3.2 – Psicologia
Lerner
e
Jovanovic
(1990)
relatam
que,
em
teorias
da
psicologia
desenvolvimentista chamadas probabilísticas, para as quais o desenvolvimento
individual pode ser influenciado por fatores externos, o corpo evoca em relação
as interações sociais individuais, diferentes respostas e reações, se
apresentando como ponto fulcral para o desenvolvimento pessoal, sendo a
imagem corporal um produto e uma produtora do desenvolvimento psicológico
individual.
A imagem do corpo é como um modelo, relata Schilder (1994), uma figuração
corpórea tridimensional em constante construção, que se faz presente na
mente através de nossa própria capacidade auto-perceptiva, tornando-se ainda
manancial básico para as atitudes emocionais relativas ao corpo, que
contribuirão para a formação da personalidade como um sistema de ações e
tendências para a ação, em contato com o mundo externo.
Encontramos em Cash (1990) duas vertentes de estudos da aparência física,
pelas quais o homem é focalizado em suas relações e percepções
23
REVISÃO DA LITERATURA
interpessoais em uma delas, e em suas auto-percepções e experiências
individuais na outra. A aparência também pode ser estudada como uma
construção gestáltica ou especificamente em seus aspectos estéticos distintos.
O termo ou palavra alemã gestalt significa forma, figura, conformação, e é
usada para designar a estrutura psíquica básica de funcionamento do ser
humano. Cash (1990) refere-se à psicologia da gestalt, que identifica os objetos
observados pela ciência, como um todo fenomenológico que apresenta algo
além da simples reunião ou somatório de seus elementos, que não se encontra
ou deriva das unidades ou da aglomeração passiva de suas partes.
Cash (1990) defende que as percepções relativas a aparência afetam
significativamente o cotidiano das pessoas. Schilder (1994) ainda ressalta, que
nossa vida psíquica se baseia em percepções e imagens parciais, sendo que a
maior parte das imagens visuais da maioria das pessoas nunca se tornam
conscientes. O modelo postural do corpo é então, de acordo com Schilder
(1994), um produto criativo de nossa construção psíquica, orientado de forma
contínua, através de processos gestálticos obtidos, criados e produzidos em
função de nossas atividades internas e externas.
Schilder (1994) influenciado pelas teorias de Freud, afirma que qualquer
entendimento mais completo do fenômenos da imagem corporal, deve ter como
base um conhecimento mais amplo sobre a estrutura libidinal do nosso corpo,
que é a forma ou o direcionamento possível de toda gama energética fluente
de nosso centro psíquico, não sendo restrita às energias sexuais.
Enfatiza este mesmo autor, que a libido se refere não apenas ao desejo, mas
também aos processos corporais, refletindo a mudança das estruturas libidinais
focalizada corporalmente sobre o modelo postural do corpo, modificando a
função fisiológica das partes as quais é direcionada. Afirma também que a
energia libidinal só se manifesta orientada para um objeto, segundo as
tendências psicossociais do indivíduo. Importa destacar que, fisicamente,
24
REVISÃO DA LITERATURA
nossas necessidades biológicas não são suficientes para definir a imagem
corporal, somando-se a percepção do tônus muscular, as impressões visuais e
cinestésicas (Schilder, 1994).
Schilder (1994) deixa claro que as tendências libidinais são um fenômeno
social, e que nossa imagem corporal nunca está isolada, estando ligada com a
dos outros em relação a uma distância espacial e emocional, como um campo
magnético que irradia energias à sua volta. Concordamos com Schilder na
afirmação de que somos um organismo intencional dotado de livre vontade de
escolha, podendo nos permitir influenciar pela cultura, amigos e mídia.
Por Schilder (1994) compreende-se de forma clara, que os fenômenos em
torno deste construto só podem ser entendidos, se levarmos em consideração
as relações das imagens corporais de várias pessoas como experiência
primária de vida e base de toda função social, relacionando as tendências
psíquicas às auto-percepções individuais, pelas quais se expressam as
emoções, se estabelecendo os limites com o mundo.
2.3.3 – Sociologia
Marzano (2001) afirma que o corpo nunca esteve tão presente nas reflexões
cotidianas, como apresentado atualmente pela comunicação de massa e
debates médicos. Defende este autor que uma das consequências da ênfase
cultural em um corpo estético ideal é devido a perda de identidade dos corpos,
incapazes de aceitarem sua real e concreta natureza, passando a idealizar não
apenas sua aparência, mas também a força, energia, movimento e autocontrole corporais. Bernard (citado por Marzano, 2001, p. 218), declara que a
realidade corporal se origina nas imposições culturais, utilizadas como suporte
e instrumento para a sociedade se afirmar corporalmente, pelo que corrobora
Douglas (citado por Synnott, 1992, p. 80) ao sugerir que o corpo social limita a
percepção do corpo físico.
25
REVISÃO DA LITERATURA
Segundo Fox (1998), as leis e tradições sociais pressionam o self a se adequar
em relação a aparência, habilidades e características de comportamento,
tornando o corpo um objeto de consumo e capital social, base pela qual a
atratividade, a confiança e habilidades de um indivíduo são julgadas na
sociedade. Esta cultura consumista contemporânea, abastecida por uma
fascinação hedonista pelo corpo, produz um conjunto de práticas disciplinares
dominantes, que se apresentam difusas em suas formas e significados
(Theberge, 1991). O corpo então, como afirma Loy (1991), representa e
reproduz as relações sociais, constituindo-se o centro de todas as ações
humanas.
Turner (1991) nos esclarece que as ciências sociais com excessão da
antropologia, não analisavam o corpo como parte central de suas teorias, e que
a sociologia voltada à corporeidade, herdou dos estudos antropológicos
tradicionais
neste
campo
três
proposições
fundamentais.
Primeiro,
a
personificação humana cria um conjunto de limitações, apesar do grande
potencial para o desenvolvimento sociocultural. Segundo, existem certas
contradições entre a sexualidade humana e os requisitos socioculurais.
Terceiro, os fatos naturais são experienciados diferentemente de acordo com o
gênero. Segundo Turner (1991), o desenvolvimento da teoria social não pode
ser entendido sem analisar mudanças sociais que trouxeram notoriedade para
o corpo, como o crescimento da cultura do consumismo no período pós guerra,
o desenvolvimento das artes na pós modernidade, o movimento feminista, as
mudanças
demográficas
populacionais,
o
crescimento
industrial
das
sociedades e as crises no campo da saúde.
Harvey e Sparks (1991), Turner (1991) e Sparkes (1997), afirmam que
teorizações sobre o corpo se fizeram presentes em autores como Foucault,
Bourdieu e Schopenhauer, como uma crítica à racionalidade capitalista e ao
conceito cristão de repressão moral ou de exploração das relações sexuais
numa estrutura familiar patriarcal. Contribuições de autores como Goffman
26
REVISÃO DA LITERATURA
(2005) foram significantes para alertar os teóricos sociais sobre o papel da
aparência na construção social da pessoa e definição do status social baseado
na forma de apresentação dos corpos nos espaços sociais.
Scott e Morgan (citados por Sparkes, 1997, p. 88) definem que o ato de
construir o corpo é privilegiar certos interpretantes em detrimentos de outros,
descrevendo o corpo de certa forma. Isto enfatizá-lo-à socialmente,
evidenciando o quanto o corpo individual é interligado ao corpo social. Estes
sistemas de significados, como atenta Sparkes (1997), apresentam uma
hierarquia de poder, exigindo, segundo Shilling (1993), uma constante
preocupação em sua manutenção e gerenciamento, que exprime o
reconhecimento do corpo como recurso e símbolo social da própria identidade
individual.
Esta consciência exacerbada do corpo como valor de troca, inserida na cultura
do consumo, cuja ideologia dominante é a do individualismo, atua na formação
do eu e da auto-estima, como destacou Sparkes (1997). Este mesmo autor nos
atenta ao fato de que os indivíduos que não optam ou não atingem os projetos
de auto-controle mais valorizados, são por vezes hostilizados e vistos com
indignação, podendo desenvolver sentimentos negativos acerca de sua
suposta falta de capacidade de alcançar os ideais corporais sociais,
demonstrando que as concepções de saúde e doença são construídas
socialmente.
2.3.4 – Semiótica
Utilizamos de forma tão natural a língua falada que tendemos a não perceber
as outras formas de linguagem presentes no nosso dia-a-dia (Santaella, 1983).
Sparkes (1997) afirma que reconhecer o corpo como um sistema sígnico é
reconhecê-lo como meio de representar nós mesmos para os outros.
27
REVISÃO DA LITERATURA
Joly (2003) defende que as imagens comunicam e transmitem mensagens, que
nos vinculam às tradições mais antigas e ricas de nossa cultura, e que todos os
dias acabamos sendo levados a utilizá-las, decifrá-las e interpretá-las,
caracterizando a cultura contemporânea como uma “civilização da imagem” e
nós mesmos como consumidores destas. A imagem para este autor é algo que
se assemelha a outra coisa não sendo ela mesma, apresentando a função de
evocar características impróprias, utilizando o processo da semelhança,
tornando-se sinônimo de “representação visual”.
Nesse sentido a imagem de nossos corpos não é verdadeiramente o que
somos, é uma representação, servindo também como veículo de mensagens
conscientes ou inconscientes que podem ser interpretadas por terceiros.
Na busca de uma teoria mais geral que nos permita ultrapassar as categorias
funcionais da imagem, a teoria semiótica é a chave que nos permite abordar a
complexidade de sua natureza. O propósito semiótico não é decifrar o mundo,
mas tentar ver se existem categorias de signos diferentes e se esses diferentes
tipos de signos têm uma especificidade e leis próprias de organização e
processos de significação particulares, se apresentando como uma filosofia das
linguagens, compreendida como o estudo de linguagens particulares (Joly,
2003). Assim, podemos identificar o corpo humano como um destes signos que
podem ser estudados pela semiótica em seus processos de linguagem e de
produção de significados.
Santaella (1983) define o signo, assim como a imagem para Joly (2003), como
uma coisa que representa uma outra coisa, estando seu objeto apenas no lugar
de uma coisa primeira sem ser ela mesma, não tendo necessariamente de ser
uma imagem mental, podendo ser uma ação ou uma experiência, ou mesmo
uma mera qualidade de impressão. Nörth (1995), ainda afirma que o signo não
é uma classe de objetos, e sim a função de um objeto no processo da
representação, existindo na mente do receptor e não no mundo exterior. Joly
(2003) anui por base neste raciocínio que tudo pode ser signo, desde que
28
REVISÃO DA LITERATURA
exprima idéias ou designe na mente algo que lhe de significação, dependendo
ainda de seu contexto de aparecimento e da expectativa de seu receptor.
Charles Sanders Pierce é sem dúvida o mais importante dos fundadores da
moderna semiótica geral, de acordo com Nörth (1995). O ponto de partida de
sua teoria é o axioma de que as cognições, as idéias e até o homem são
essencialmente entidades semióticas. Pierce declara que “o fato de que toda
idéia é um signo junto ao fato de que a vida é uma série de idéias prova que o
homem é um sígno”, sendo que “o mundo está permeado de signos, se é que
ele não se componha exclusivamente de signos” (citado por Nörth, 1995, p. 63
e 64). A base do signo na semiótica periciana é uma relação triádica entre
elementos, dos quais um deve ser fenômeno da primeiridade, outro da
secundidade e o último da terceiridade (Santaella, 1983; Nörth, 1995; Santaella
& Nöth, 1997), elementos estes que constituem todas as experiências, sendo
as categorias universais do pensamento e da natureza (Santaella, 1983).
A primeiridade é a categoria do sentimento sem reflexão ou consciência
imediata e presente das coisas, da qualidade pura do ser e do sentir, da
imediaticidade, originalidade e espontâneidade (Santaella, 1983; Nörth, 1995),
é, segundo Pierce (citado por Nörth, 1995, p. 65), “o modo de ser daquilo que é
tal como é, positivamente e sem referência a outra coisa qualquer”. A
secundidade começa quando o fenômeno primeiro é relacionado a um segundo
fenômeno qualquer (Santaella, 1983; Nörth, 1995), sendo a categoria da
comparação, da ação, do fato, da realidade e da experiência no tempo e no
espaço (Nörth, 1995). É a qualidade corporificada materialmente, o mundo real
e sensual, perceptivo sem ser cognitivo, é a consciência em sua definição mais
primeira entre o eu e o não eu (Santaella, 1983). Pierce (citado por Nörth,
1995, p. 66) define a terceiridade como a categoria da mediação, da
comunicação, da representação, já Santaella (1983), como a camada de
inteligibilidade, do pensamento sígnico, mediadora entre nós e os fenômenos,
que se faz para conhecer e compreender as coisas através das quais
interpretamos o mundo. Podemos também identificar no corpo humano as
29
REVISÃO DA LITERATURA
categorias universais de Pierce, com suas possibilidades e qualidades mais
efémeras no campo na primeiridade, o impacto sensível de sua realidade sobre
a presença de terceiros como aspecto da secundidade e, as cognições e
interpretações que fazemos sobre como experienciamos nossos próprios
corpos e os dos outros fazendo parte da terceiridade.
Nörth (1995) afirma que as cognições são um elemento constitutivo no
processo do signo triádico ou semiose, são nós na rede semiótica e não todo o
seu processo. Se todos os fênomenos podem ser explicados e vislumbrados a
partir das cognições que elaboramos baseadas nas três categorias do
pensamento, não seria diferente com as percepções que temos de nós
mesmos, nossa própria auto-leitura, e nossa imagem corporal, a qual Schilder
(1994), com muita propriedade, descreve apresentarem uma parte próxima da
percepção, e outra das idéias.
2.3.5 – Comunicação Social
A forma como atualmemente contemplamos o corpo individual, segue
“alimentando a mídia que nos alimenta retroativamente” (Pedretti e
Vasconcelos, 2006, p. 3). No campo da imagem corporal existem algumas
pesquisas que tentam explicar a forma como a exposição midiática interfere no
modo como seus consumidores interpretam suas realidades corporais em
termos individuais e coletivos. Apresentamos a seguir, seis teorias aplicadas
em estudos sobre a influência das diferentes mídias sobre nossas percepções
corporais.
Gerbner, Gross, Morgan e Signorielli (citados por Harrison, 2003, p. 257)
publicaram em 1994 a Cultivation Theory, uma linha de raciocínio pela qual se
afirma que a exposição midiática cultiva crenças, atitudes e ideais acerca do
mundo real, tornando-os semelhantes a representação de mundo midiática.
Esta teoria defende que as percepções da realidade de grandes consumidores
30
REVISÃO DA LITERATURA
midiáticos são convergidas para as leituras da realidade midiática se tornando
mais parecidas com estas do que as percepções de pequenos consumidores.
Harrison (2003) afirma especificamente, que as imagens femininas de magreza
podem se tornar identificadas como normais pelo alto consumo midiático,
alterando
a
concepção
da
realidade
social
dos
receptores
sem
necessariamente este processo agir de forma consciente. Suscitando desta
forma o desejo das mulheres por uma figura mais magra, com menor tamanho
de cintura e quadril, mas não um menor busto, identificada como esteriótipo
corporal feminino predominante nas mídias da atualidade.
Outras duas teorias significativas foram apresentadas no ano de 1994. A
primeira delas, utilizada para compreender como mensagens e imagens
discretas podem temporariamente influenciar a percepção dos outros pelo
indivíduo, é A Priming Theory, de Jo & Berkowitz (citada por Harrison &
Fredrickson, 2003, pp. 218). A segunda, Uses and Gratification Theory, foi
desenvolvida por Rubin (citada por Tiggemann, 2003, pp. 420), e aborda a
questão corporal defendendo que as pessoas utilizam e consomem a mídia de
formas diferentes para obterem gratificações distintas, conceitualizando ainda o
receptor como um consumidor midiático ativo, podendo escolher quando, o
que, e por quanto tempo assistir televisão ou ler alguma revista.
Mais conhecida, a Objectification Theory (Fredrickson & Roberts, 1997), explica
a forma como meninas e mulheres são educadas culturalmente a internalizar a
perspectiva de um observador “externo” como o primeiro ponto de vista sobre o
seu Eu físico. A tendência de se perceber e se descrever de acordo com traços
externos perceptíveis ao invés, de traços individuais internos, é característica
de uma auto-objetificação. Objetificar o próprio corpo, segundo Marzano
(1991), inclui tratá-lo primariamente como um instrumento para a concretização
de objetivos, um objeto físico para ser visto, usado e manipulado, uma posse
material para ser explorada e comercializada.
31
REVISÃO DA LITERATURA
A Objectification Theory relaciona-se com pelo menos outras duas teorias
sobre o efeito da utilização mitiática. Com a Cultivation Theory, preconiza que
as mensagens midiáticas ensinam seus receptores a adotarem visões
objetificadas e esteriotipadas de si mesmo. Com a Priming Theory, facilita a
compreensão de como as veiculações midiáticas podem alterar as percepções
do Eu através da habilidade de produzir estados objetificados de consciência.
A Social Comparison Theory de Festinger (1954) e Goethals (1986) (citados
por Bissell & Zhou, 2004, pp. 6), defende que imagens percebidas como reais
ou atingíveis, são comparadas com a imagem que se tem de si mesmo e de
terceiros, sendo posteriormente internalizadas e utilizadas como ícone de um
ideal a se alcançar. A similaridade, conceito chave desta teoria, define que o
indivíduo procura moldar-se a outros semelhantes a si mesmo. A prevalência
da magreza nas representações midiáticas, levaria a população feminina de
forma geral a agir e a se comportar no sentido de atingir ou se aproximar
esteticamente destas representações.
Halliwell e Dittmar (2005) atentam ao fato de que mais estudos são necessários
para se identificar os fatores pelos quais as mulheres são mais influenciadas a
escolher seus motivos de comparações sociais com os modelos corporais
presentes no cotidiano de suas vidas, e se estes motivos são fatores
individuais estáveis ou dependem de outros como o humor, a situação social e
o status nutricional. Além do mais, o uso de representações femininas mais
reais e condizentes com a realidade nos anúncios publicitários, poderá ajudar a
minimizar os impactos negativos da mídia em geral, particularmente para as
adolescentes que já passam por conflitos provenientes de suas novas
identidades físicas e psicológicas como mulheres (Stephens et al., 1994).
32
REVISÃO DA LITERATURA
2.4 – Imagem corporal e cultura
2.4.1 – Influências e questões sócioculturais associadas a imagem
corporal
A cultura física é um sistema final de comportamentos relativamente
integrados, que procura cuidar do desenvolvimento físico, eficiência motora,
saúde,
beleza,
perfeição
física
e
expressividade
do
ser
humano.
Desenvolvendo-se a partir de modelos aceitos em uma dada comunidade,
sistema este que frequentemente se faz perceptível instrumentalizando
objetivamente as produções culturais e materializando os valores corporais
(Krawczyk, 1984).
Das duas visões expostas por Fallon (1990) para explicar como o ideal corporal
é determinado, a primeira delas define a atratividade e a beleza como advindas
da excitação sexual; a segunda, remete à cultura a definição das diferentes
identificações de beleza encontradas. Fallon ainda sugere que a genética e a
biologia estabelecem a base para a adequação ou inadequação individual,
enquanto a cultura determina os padrões e métodos aceitáveis para a alteração
corporal, validando o que é considerado desejável e atraente. Segundo Serra
(1986), o homem se apresenta ao longo da vida, como um pedaço de barro
que se molda na aprendizagem social, desenvolvendo as identidades que
ligam o próprio Eu aos sistemas sociais.
Bane e McAuley (1998) destacam que a sociedade atual exerce grande
pressão para que os indivíduos se apresentem aparentemente atraentes.
Fallon (1990) atenta que o ideal corporal só é disponível aos indivíduos de
condições econômicas mais elevadas, servindo também como meio de
distinção de classes.
33
REVISÃO DA LITERATURA
Cash (1990), Lerner e Jovanovic (1990) e Goffman (2005), concordam que as
respostas relacionadas as situações sociais são parcialmente determinadas por
padrões estéticos, pois a aparência física é normalmente a informação mais
prontamente disponível sobre uma pessoa para a formulação de inferências
que mediam a atração, empatia e até hostilidade interpessoais, afetanto as
atitudes, atribuições e ações sociais. Juhasz (1989) ressalta ainda que o círculo
social é relacionado ao próprio conjunto de valores de cada indivíduo,
exercendo as pessoas próximas como pais e amigos uma grande influência na
percepção dos filhos sobre pressões sociais (Epstein, Botvin & Diaz, 1999;
Field, Camargo Jr., Taylor, Berkey, Roberts & Colditz, 2001).
Investigações acerca dos esteriótipos estéticos procuram geralmente identificar
adjetivos sociais derivados da aparência física. Cash (1990) destaca a
existência do esteriótipo “O que é bonito é bom”, pelo qual aos indivíduos
considerados atrativos são associadas características de maior sociabilidade,
esperteza, felicidade, confiança, habilidades sociais, etc, recebendo mais
reforços sociais, maior tolerância quanto ao próprio comportamento, mais
confidências pessoais de terceiros e mais auxílio e atitudes no intuito de
agradá-los. Já a obesidade é associada a condições sociais estigmatizantes
em todas as fases da vida dos indivíduos, podendo ser ainda um estado tanto
físico quanto mental, através de uma percepção distorcida do próprio corpo
(Cash, 1990; Bane & McAuley, 1998; Stephens et al., 1994).
Fallon (1990) e Cash (1990) atentam que a relação entre a beleza e a bondade
é mais forte para as mulheres do que para os homens, sendo ainda mais
negativamente impactada pelo esteriótipo da beleza em relação a obesidade e
êxito profissional, situação na qual suas capacidades podem ser atribuídas a
sorte ou a boa aparência. Cash (1990) verificou também a ação dos
esteriótipos de beleza sobre as características da personalidade dos
indivíduos, com as pessoas consideradas atraentes encontrando maiores
suportes e incentivos para o desenvolvimento de competências e confiança,
enquanto os indivíduos menos atraentes deparam-se com ambientes sociais de
34
REVISÃO DA LITERATURA
rejeição e desinteresse, com poucas possibilidades de desenvolverem
habilidades sociais positivas e um auto-conceito favorável.
Outras estratégias de controle e orientação da própria imagem como a
utilização de cosméticos e escolha do vestuário, foram abordadas por autores
como Cash (1990), Vasconcelos (1995), Schilder (1994) e Fallon (1990). Cash
(1990) verificou que o uso de cosméticos realmente interfere na percepção da
aparência e atratividade, feminilidade e sensualidade, atribuindo caracteres
favoráveis à personalidade da mulher, favorecendo ainda um julgamento
masculino positivo.
Schilder (1994) relata que as roupas são parte da imagem corporal, podendo
até apresentarem o mesmo sentido e simbolismo das partes corporais a que
são direcionadas. Cash (1990) completa as considerações de Schilder anuindo
que o vestuário implica atribuições de gênero ao seu usuário, comunicando
mensagens e sendo mais intensificada em seus adornos e detalhes quanto
mais importância se der ao evento específico. As definições de beleza
apresentam
também,
segundo
Fallon
(1990),
mudanças
gerais
que
acompanham as mudanças culturais da moda do vestuário, assim como as
percepções de bem-estar e satisfação com o próprio corpo são de certa forma
relacionadas ao tipo de roupa utilizada (Vasconcelos, 1995).
2.4.2 – Agregação do padrão estético atual à idéia de saúde
A forma ou estética corporal sempre foi ponto de referência quando se pensa
em saúde (Fallon, 1990). Atualmente, os conhecimentos e práticas de saúde
da sociedade interagem ressaltando na estética, valores relacionados ao corpo,
que facilmente são introjetados na personalidade e comportamento social do
homem (Fox, 1998; Loy, 1991; Marzano, 2001; Schilder, 1994). A importância
da compreensão e análise destas relações propicia um melhor entendimento
35
REVISÃO DA LITERATURA
sobre os valores culturais dominantes, e suas correlações a distintas práticas
de saúde.
Nesta nossa sociedade contemporânea capitalista, envolta de representações
sígnicas, a busca pela saúde transformou-se em obsessão de todas as
parcelas da população, envolvendo suas diferentes idades, gêneros e
condições econômicas (Cash, 1990; Fallon, 1990; Lerner e Jovanovic, 1990;
Morin, 1997). Luvisolo (2000) ressalta que na atualidade, todo indivíduo deve
ter saúde ou manter sua saúde “em forma”, sendo considerado ainda como
sujeito ativo do processo. Afirma ainda que, apesar da dominância de uma
concepção médica de saúde como ausência de doença, a procura agora vai
além desta versão, sendo contextualizada sócio-economicamente. Contudo,
este contexto ainda não é suficiente para explicar a pluralidade do universo
simbólico da saúde atual, que apresenta segundo Gervilla (1993) e Sparkes
(1997), a tendência de nos induzir ao individualismo, a competitividade e o
consumismo.
Como parte de todas as abordagens, percepções e anseios sobre saúde, a
qualidade de vida ganha espaço nas discussões sobre emprego, condições
socio-econômicas e psicossociais, além de condições básicas de vida como
moradia e alimentação (Luvisolo, 2000). Todos estes assuntos teorizam e
simbolizam, sobre a definição do que é saúde. Hoje, uma parcela significante
da população apresenta distúrbios psicossociais, relacionados às mudanças
em nossos valores culturais, profissionais, sexuais, éticos e nas relações
interpessoais, que vêm alterando as formas de sociabilização entre gerações e
gêneros (Greenleaf, Starksa, Gomezb, Chamblissc & Martin, 2004; Harrison,
2003; Schilder, 1994).
Como conseqüência destas novas reorganizações e afirmações de valores e
significados, Luvisolo (2000) identifica quatro concepções de representação da
saúde, que dividem o universo social dos praticantes de atividade física. A
primeira delas é reconhecida pela busca de um aumento ou “conservação de
36
REVISÃO DA LITERATURA
energia” (vitalidade), não identificando como prática de saúde, tudo que se faça
em exagero, por freqüência ou intensidade, fugindo do equilíbrio natural. Já a
segunda é a da educação física escolar, que abrange, segundo Luvisolo
(2000), a iniciação esportiva, o desenvolvimento físico e psicomotor, saúde,
recreação, formação moral disciplinadora e crítica, formação do cidadão e até
formação cognitiva. A terceira concepção, sob a rotulação de tribo da potência,
destaca os atletas e praticantes avançados, que desafiam os limites
estabelecidos, elevando-se além da normalidade, difundindo padrões estéticos
seja no que tange a plasticidade do movimento humano ou a simples
proporcionalidade de suas formas. A quarta concepção nomeada como a da
modelagem corporal, apresenta um discurso parecido com o da conservação,
mas ancora-se na beleza estética, procurando obter reconhecimento real ou
imaginário dos outros. Aliam-se a moda e a indústria da beleza, cultuando o
corpo do desportista como modelo projetado, aumentando e delineando
músculos e circunferências, visando adquirir formas aceitas com as rigorosas
normas estéticas, construindo uma imagem de saúde, associada à beleza,
força e juventude.
Aliado aos valores já debatidos anteriormente, o consumismo, como marca
predominante de nossa sociedade contemporânea, embarcou na crescente
moda da associação entre a atividade física e a saúde, propiciando a criação
de um novo mundo de desejos e projeções para seu público alvo (Rocha,
1995). É crescente o investimento econômico que visa influenciar a produção e
ampliação de um capital simbólico sobre um público cada vez mais abrangente,
que identifica o corpo como instrumento potencial para o reconhecimento social
e pessoal, seja profissional ou amoroso, utilizando os padrões estéticos como
forma de segregação social, trazendo para o cotidiano um comportamento
individualista e competitivo (Bane & McAuley, 1998; Cash, 1990; Fallon, 1990;
Stephens et al., 1994).
Krawczyk (1984) nos chama à reflexão ao questionar se o cultivo consciente do
corpo serve como melhoria de seu valor como tal ou se é uma função de
37
REVISÃO DA LITERATURA
alcance instrumental para valores externos a ele. Relembra ainda que,
enquanto na antiguidade clássica, a relação causal entre a beleza do corpo e
do espírito era compreendida como uma norma, um postulado, uma diretriz de
atividades e um dever, no presente se tornou um valor em si mesmo e não uma
fonte de valores.
Goffman (1980) se refere a idéia do corpo como fonte de estigmas na
sociedade contemporânea, destacando que este termo já na Grécia antiga se
referia a sinais corporais que explicitavam algo incomum ou ruim sobre a moral
de um indivíduo. Gabrielli e Hoff (2006) afirmam que na atualidade, o corpo
“natural” parece imperfeito demais, estando esta imperfeição associada à
doença, necessitando assim de intervenções para se tornar saudável. Nesta
lógica, o conhecimento científico construído pela medicina, sugere um poder
quase ilimitado sobre o corpo, na possibilidade de superação dos limites físicos
impostos pela condição humana, na construção de um novo projeto de corpo. A
idéia de construção do corpo (Body building) é ligada a uma perfectibilidade
própria de cada época (Góes, 1999).
Outros estudos têm demonstrado que as mulheres normalmente experienciam
uma insatisfação corporal com desejo particular pela magreza (Harrison, 2000;
Harisson & Cantor, 1997; H. D. Prosavac, S. S. Prosavac & E. J. Prosavac,
1998), buscando este ideal por meio de disciplinas rígidas referentes aos seus
comportamentos
alimentares,
prática
de
exercícios,
utilização
de
medicamentos e cirurgias plásticas, declarando guerra contra seus corpos em
nome de ideais cada vez mais extremos e perigosos (Harrison, 2003; Marzano,
2001; Norton & Olds, 2005; Ward, 2005).
As relações entre nossa psique e o corpo são muito bem elucidadas por
Schilder (1994), ao deixar claro que tanto as doenças orgânicas quando as
psicogênicas, se apresentam parcialmente expressas no modelo postural do
corpo, através de mudanças reais nos órgãos, em nossos pensamentos e
atitudes, apresentando o sofrimento mental uma expressão somática e vice-
38
REVISÃO DA LITERATURA
versa, pois parte da imagem corporal está mais próxima da percepção e outra
das idéias. E continua afirmando que toda angústia prejudica a experiência de
nossa imagem corporal, devido a intercomunicação existente entre nosso
modelo postural e nossa energia libidinal, acarretando a passagem de conflitos
morais ou libidinais, do centro da personalidade para o modelo postural do
corpo e posteriormente para o corpo e seus órgãos.
O estresse, a baixa auto-estima, a depressão, a obsessão e a ansiedade, são
apenas alguns males que a “nova” sociedade formada a partir destes novos
conceitos e valores corporais adquiriu e vem adquirindo, consciente ou
inconscientemente e também inconsequentemente (Pedretti & Vasconcelos,
2006).
2.4.3 – Comparações culturais
Segundo Spurgas (2005) as mulheres norte-americanas tendem a avaliarem-se
em maior grau em relação a outras culturas, por meio de comparações com
outras pessoas ou modelos midiáticas, verificando que esta avaliação negativa
é um fenômeno que se espalha por diversas etnias, classes, antecedentes
culturais e localizações geográficas. Kowner (2002) defende que, devido a
diferenças culturais no self, os indivíduos de culturas diversas podem diferir na
forma com que se compreendem, apresentando diferentes ideais corporais e
sentimentos distintos em relação aos seus corpos.
Mautner, Owen e Furnham (2000) ressaltam que, em geral, a internalização
dos ideais sociais de beleza é o contributo mais significativo para as desordens
relacionadas a imagem corporal. Warren (2003) destaca que as teorias para
um modelo sociocultural das desordens alimentares sugerem que a
conscientização de um ideal físico magro afeta diretamente a internalização
deste ideal, que por sua vez atuará decisivamente sobre a insatisfação com o
próprio corpo. Anderson-Fye (2004), neste sentido, destaca que as desordens
39
REVISÃO DA LITERATURA
alimentares
têm
sido
associadas
a
nações
desenvolvidas
e
em
desenvolvimento, que apresentam participações cada vez maiores na
economia global e consequente ocidentalização de costumes via fenômenos
como a globalização, imigração e exposição midiática.
Como exemplo disto, Lee e Lee (2000) na China, e Ruggiero, Hannöver,
Mantero e Papa (2000) na Itália, verificaram desejos por uma magreza
excessiva, insatisfações com a imagem corporal, risco de desenvolvimento de
desordens alimentares e internalização dos ideais midiáticos de magreza mais
proeminentes em regiões de maior modernização e desenvolvimento sócioeconômico. Outros autores também observaram para populações com maior
influência da cultura ocidental, maior preferência pela magreza (Cachelin,
Monreal & Juarez, 2006), a influência da etnicidade como moderadora da
internalização dos ideais de magreza e a insatisfação com a imagem corporal
(Warren, 2003; Warren, Gleaves, Cepeda-Benito, Fernandez & Rodriguez-Ruiz,
2005).
Alguns estudos compararam mulheres americanas com populações europeias.
Mautner et al. (2000) verificaram diferentes fatores de influência que interferem
na distorção da imagem corporal, encontrando a internalização dos ideais de
magreza para as norte-americanas, a conscientização destes ideais para as
britânicas e a valorização da magreza e comparação social para as italianas.
Forbes, Doroszewicz, Card e Adams-Curtis (2004) verificaram que em relação
as norte-americanas, as mulheres polonesas apresentam uma menor
internalização de ideais socioculturais de magreza e ideais corporais mais
volumosos.
Holmqvist,
Lunde
e
Frisén
(2007)
comparando
mulheres
adolescentes argentinas e suecas, verificaram que, apesar das europeias
apresentarem auto-percepções corporais mais negativas do que as sulamericas, como maior insatisfação corporal, tinham tentativas menos
frequentes de perder peso e realizar de dietas.
40
REVISÃO DA LITERATURA
Em um grande estudo realizado em toda Comunidade Europeia, McElhone,
Kearney, Giachetti, Zunft e Martınez (1999), verificaram a escolha de um corpo
excessivamente magro por praticamente todas as populações avaliadas,
apresentando a Grécia, a Itália e a França os maiores desejos pela magreza
em excesso, com somente a Irlanda apresentando um ideal corporal
compatível com níveis de peso normais. A Finlândia obteve o menor percentual
de mulheres satisfeitas com o próprio peso (29%). Entretando, foi verificado
que 58% de todas as mulheres que se declaram satisfeitas com o próprio peso
estavam abaixo do peso ideal. Na Noruega, Storvoll, Strandbu e Wichstrom
(2005) verificaram que o aumento durante uma década, na preocupação
masculina com a muscularidade, foi acompanhado pelo crescimento da
insatisfação feminina com esta mesma característica corporal.
Em um estudo interessante de Williams, Ricciardelli, McCabe, Waqa e Bavadra
(2006), os autores observaram, em mulheres jovens australianas e indígenas
das Ilhas Fiji, que atributos associados ao ideal corporal feminino são
semelhantes em ambas as culturas, e que apesar das australianas serem mais
ocidentalizadas, descrevendo o corpo mais especificamente em relação a
ideais de peso, tamanho e formas musculares, ambas as culturas idealizam
mulheres de tamanho mediano, curvilíneas e atléticas, evidenciando a
necessidade de se introduzir avaliações da musculatura em estudos da
imagem corporal.
A conscientização e internalização da cultura ocidental também associam-se as
auto-percepções e a sintomatologia dos distúrbios alimentares de mulheres
asiáticas (Barnett, Keel & Conoscenti 2001; Chan & Owens, 2006; Chen &
Jackson, 2005; Gunewardene, Huon, & Zheng, 2001; Stark-Wroblewski, K.,
Yanico, B. J. & Lupe, 2005). Mulheres de etnia asiática, dentro de culturas
ocidentais, podem apresentar uma maior satisfação com a imagem corporal em
relação a outras etnias (Cachelin, Rebeck, Chung & Pelayo, 2002; Lake,
Staiger & Glowinski, 2000), embora normalmente apresentem níveis mais
baixos de auto-estima física, quando comparadas a outras populações, cada
41
REVISÃO DA LITERATURA
qual em seus ambientes culturais (Kowner, 2002; Mukai, Kambara & Sasaki,
1998; Sheffield, Tse & Sofronoff, 2005).
Em relação aos comportamentos alimentares, auto-estima, insatisfação com a
imagem corporal e discrepância entre o corpo percebido e o ideal, Erickson e
Gerstle (2007) encontraram conceitualizações diferentes da imagem corporal
em adolescentes hispânicas, hispânicas biétnicas e caucasianas, de status
sócio-econômico baixo e médio. Por outro lado, Caldwell, Brownell e Wilfley
(1997) observaram diferenças não significativas
em estudantes afro-
americanas e americanas caucasianas de status sócio-econômico alto.
De forma geral, podemos verificar que quanto mais desenvolvida ou
ocidentalizada for uma cultura, esta tende a apresentar maiores níveis de
internalização, conscientização e valorização de ideais excessivamente
magros, diminuindo os níveis da satisfação com a imagem corporal e autoestima física. Em relação as diferentes etnias, todas as diferentes populações
estudadas apresentavam preocupações em maior ou menor grau, relativas a
sua imagem corporal, com as americanas destacando-se negativamente neste
sentido, seguidas pelas europeias e pelas asiáticas. A literatura deixa claro, até
o momento, que outros fatores relacionados à cultura podem influenciar de
forma significativa as experiências e satisfação com a imagem corporal das
mulheres, como seus antecedentes étnico-culturais, sua forma de resposta à
inserção em ambientes culturais diferentes ao seu, nível sócio econômico e de
escolaridade.
2.5 – Imagem corporal na atividade desportiva feminina
Há sempre no desporto algo que fascina e que não nos deixa indiferente a ele,
quer se goste ou não de seus fenômenos, pois construído à dimensão do
homem, é legitimado pela história, cultura e sociedade, em todas as suas
virtualidades e excessos (Marques, 1993). O exercício é dentre outras coisas,
42
REVISÃO DA LITERATURA
segundo Bane e McAuley (1998) e Eklund e Crawford (1994), um
comportamento pelo qual se espera angariar benefícios para a autoapresentação individual, pois tentamos sempre causar boas impressões quanto
as nossas atitudes e comportamentos.
Schilder (1994) já afirmava que o movimento humano e a percepção de si
mesmo pelo próprio indivíduo, sua imagem corporal, são interligados.
Esclarece ainda que nossa percepção de massa e densidade corporais são
influenciadas pelo tônus muscular que, junto aos reflexos posturais, é a base
de construção para nosso modelo postural, sendo muito possível seu
desenvolvimento ser, em parte, paralelo ao desenvolvimento sensório-motor.
Sendo a aparência do ser humano interligada ao seu movimento, Stolyarov
(1984) ressalta a necesidade de uma maior discussão sobre os valores
estéticos desportivos e a influência destes sobre os desportistas e
espectadores. Marques (1993) corrobora com este ponto de vista ao afirmar
que o desporto possui uma dimensão ou potencialidade estética, que precisa
ser melhor entendida em sua concepção.
Davis (1992) verificou que a preocupação com o peso e insatisfações com a
aparência são mais influenciadas por avaliações subjetivas do tamanho
corporal, ao invés de objetivas, em mulheres praticantes frequentes de
atividade física ou em atletas, comparativamente às não praticantes. Este autor
identificou ainda maiores insatisfações com a imagem corporal, prática de
dietas e percepções de pressão para a magreza nas atletas.
Estes resultados são contrastantes com o estudo de Peterson (2003), que
constatou a prática sub-profissional de inúmeras atividades esportivas
(basquetebol, mergulho, patinação artística, hóquei, ginástica rítmica e artística,
esqui de downhill, nado sincronizado, corridas de velocidade, voleibol, netball,
dança, tenis, rowing e natação) como protetora em relação as insatisfações
corporais e distúrbios alimentares.
43
REVISÃO DA LITERATURA
A incongruência de resultados apresentada anteriormente entre os estudos de
Davis (1992) e Peterson (2003) sugere, como destacam Byrne e McLean
(2002), que o fato em si de ser atleta não coloca o indivíduo sob o risco de
desenvolver desordens alimentares, estando tal acometimento mais associado
aos tipos de esporte que enfatizam demasiadamente a importância com o peso
e a forma corporal magra.
Diante das divergentes opiniões frente as qualidades e potencialidades
estéticas do desporto de forma geral, Marques (1993) destaca que os autores
os quais defendem uma diferenciação dos desportos em estéticos e não
estéticos, baseiam-se na objetividade de sua realização. Os primeiros seriam
aqueles os quais a forma de sua realização condiciona o resultado da ação,
com componentes subjetivos presentes na avaliação da performance, como o
mergulho, as ginásticas e a patinação. Os segundos consequentemente,
seriam aqueles cuja resultado da ação não é condicionado pela sua forma de
execução, os quais podemos citar os desportos coletivos com bolae os
automobilísticos.
Os pesquisadores que procuraram verificar possíveis diferenças entre as
atletas de esportes estéticos não estéticos, encontraram para o primeiro grupo,
maior
ansiedade
competitiva,
insatisfação
com
a
imagem
corporal,
preocupações com o peso e pressão para serem magras, interesse pela
magreza e comportamentos bulímicos (Byrne & McLean, 2002; Kelly, 2004;
Peterson, 2003).
Indivíduos com grande ansiedade podem apresentar-se reticentes a participar
de programas de exercício, por uma avaliação de seus físicos estar envolvida,
tornando este um fator de desinteresse e mantendo-os longe dos benefícios
inerentes (Lantz, Hardy & Ainsworth, 1997; Spink, 1992). Isto poderá também
acarretar um maior risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares
(Hausenblas & Mack, 1999). Apresentam também as pessoas com alta
ansiedade física, forte tendência à praticar tipos específicos de exercícios
44
REVISÃO DA LITERATURA
voltados mais ao fitness do que a desportos individuais ou coletivos (Ecklund &
Crawford, 1994; Frederick & Morrison, 1996; Williams e Cash, 2001).
Russel e Cox (2003) defendem que a prática regular de exercício pode, a curto
prazo, aumentar a auto-estima corporal, agindo sobre variáveis como tônus
muscular, resistência aeróbica e redução da gordura e peso corporal. Apesar
de a maior parte das teorias desenvolvidas para explicar a relação entre o
exercício e a saúde serem baseadas em atividades aeróbicas (Stein & Motta,
1992), diversos outros estudos têm demonstrado tanto o exercício aeróbico
quanto o anaeróbico apresentam benefícios inerentes a sua prática (Lantz et
al., 1997; Scully et al., 1998; Stein & Motta, 1992), com melhorias em variáveis
como a depressão auto-reportada, auto-conceito geral, ansiedade, estados de
humor, auto-estima e tensão pré-menstrual.
Estudos demonstram que as atividades aeróbicas atuam positivamente sobre a
satisfação com o corpo e sobre outros campos como as auto-percepções
físicas (atratividade e bem-estar físico) e o stress físico e psicológico (Burges,
Grogan & Burwitz, 2006; Scully et al., 1998). Entretanto, o treino de força
(Bodybuilding e Weightlifting) isolado ou em conjunto com o aeróbico,
demonstrou melhores resultados sobre subescalas do auto-conceito (Physical
Self, Personal Self e Social Self), atratividade percebida, satisfação com a
imagem corporal, ansiedade física social e percepção de auto-eficácia (Depcik
& Williams, 2004; Stein & Motta, 1992; Williams & Cash, 2001).
Em uma meta-análise, Hausenblas e Fallon (2006) analisaram 121 estudos
publicados e não publicados sobre o impacto do exercício sobre a imagem
corporal, identificando que os indivíduos ativos apresentam auto-imagens mais
positivas do que os sedentários, em todas as idades e em ambos os gêneros,
com os melhores resultados conseguidos pela combinação de atividades
aeróbicas e anaeróbicas, com intensidades de moderada a elevada. Scully et
al. (1998), ressaltam que manter a prática de qualquer atividade física por
longos períodos, apresenta os melhores resultados.
45
REVISÃO DA LITERATURA
Góes (1999) afirma que até a invenção da fotografia na metade do séc XIX, a
imagem do corpo musculoso só era presente na apreciação de valores da
cultura grega e da figura heróica permitida pela doutrina cristã, encontrada
apenas nas pinturas e esculturas. A cultura física germânica, a influência das
atividades circenses que expunham o corpo, além da crescente importância da
fotografia, repercutiram e facilitaram o sucesso da expressão corporal individual
como objeto público e construído. A busca pelo desenvolvimento muscular,
numa sociedade de consumo e ética trabalhista protestante, que combina o
ascetismo e a disciplina, o narcisismo e o hedonismo, fez com que a
musculação (atividade que se refere ao bodybuilding ou ao weightlifting) se
destacasse na era pós-industrial, aumentando o desejo da democratização do
corpo, tornando-o acessível à cultura de massa.
Na continuidade de seu relato histórico, Góes (1999) defende que a
musculação instaurou um ideal de perfectibilidade corporal e passou a
significar a construção da massa muscular, se tornando uma prática comum
até a Primeira Guerra Mundial e um esporte olímpico em 1920 com o
levantamento de peso, sendo praticado inicialmente somente por atletas e
modelos fotográficos até 1930. O desenvolvimento de novos métodos de treino
e ênfases na estética direcionada para a fotografia, tornou sua prática
mundialmente conhecida na década seguinte, fazendo renascer uma
preocupação com a perfeição corporal. Esta é exemplificada pela criação dos
concursos “Mr. América”, “Mr. Universo” e “Mr. Olympia” até os anos 60, com o
atleta austríaco Arnold Schwarzenegger reinventando o bodybuilding, levandoo à uma exposição como esporte e tornando-o um objeto de consumo midiático
em filmes e publicidades de uma forma até então nunca vista.
Na década de 80 surge o ideal de uma mulher mais pesada, com mais
musculatura, o que fez crescer a aceitação da prática da musculação pelas
mulheres. Corliss (citado em Fallon, 1990, pp. 91) exemplifica este fato,
destacando a publicação pela revista Time de uma reportagem entitulada New
46
REVISÃO DA LITERATURA
Ideal of Beauty, na qual defendia uma nova mulher graciosa e magra, mas
mais forte do que as retratadas anteriormente.
Brace-Govan (2004) destaca que o Campeonato feminino de weightlifting foi
iniciado em 1987, tornando-se um esporte olímpico em 2000. Ressalta também
a necessidade de se diferenciar o bodybuilding (fisiculturismo) do weightlifting.
Embora ambas as atividades utilizem pesos cada vez maiores para se atingir
como resultado músculos cada vez mais poderosos, sua diferença se encontra
na ênfase do bodybuilding sobre a estética corporal, enquanto o weightlifting
oferece uma visão diferente da mulher para si mesma, sem competições
performáticas que exponham o corpo em posturas específicas sobre uma
atividade basicamente voyer.
Grogan, Evans, Wright e Hunter (2004) ressaltam que no mundo do
fisiculturismo os discursos de gênero operam de forma a definir níveis
aceitáveis de muscularidade para as mulheres. As competições neste âmbito
são divididas em modalidades como fitness, body fitness e culturismo.
Segundo o guia de normas e regras para competições internacionais da
International Federation of Bodybuilding & Fitness (IFBB) para a época de
2006-2007, na categoria Fitness, os árbitros devem ter em mente que um corpo
feminino é que será julgado, buscando um ideal físico feminino, tendo como
mais importante aspecto a forma corporal feminina, identificando como
negativas as características de muscularidade como vascularização, definição
e volume, apresentados no culturismo. A categoria body fitness se encontra a
meio termo entre o Fitness e o Culturismo, não devendo o físico ser
excessivamente musculado, magro e definido. Já para o Culturismo, é buscado
o máximo desenvolvimento em relação ao volume e definição muscular, sendo
também de suma importância a simetria e porporcionalidade corporais, assim
como uma boa apresentação estética.
47
REVISÃO DA LITERATURA
A IFBB (2006-2007) define que a avaliação das atletas é feita da cabeça aos
pés, olhando cada parte do físico numa sequência descendente em relação ao
volume, simetria e definição corporais, avaliando ainda a estética geral. A
avaliação primária é feita por impressões gerais sobre a aparência atlética,
devendo-se considerar a beleza facial e do cabelo, o desenvolvimento geral da
musculatura, seu equilíbrio e simetria, seguido de uma avaliação da pele que
deve ter aspecto macio, saudável e sem celulite, finalizando pela observação
da capacidade do atleta de se apresentar com confiança, postura e graça.
Hurst et al. (2000) avaliaram mulheres fisiculturistas e levantadoras de peso
experientes e não experientes, em relação a ansiedade física social e
dependência ao exercício. Verificaram que as mulheres fisiculturistas mais
experientes, em relação as menos experientes e as levantadoras de peso,
apresentavam menor ansiedade física social, maior dependência ao exercício e
maior suporte social em relação a sua prática, havendo ainda uma maior
necessidade de controle sobre suas capacidades de treino. Este fato parece
sugerir, segundo os autores, a existência de uma relação entre a dependência
ao fisiculturismo, sua identidade como tal, o suporte social derivado deste
reconhecimento e a ansiedade física social.
Ao observar as atletas levantadoras de peso, Brace-Govan (2004) verificou que
sua atividade lhes proporcionava sentimentos de domínio e capacidade em
desenvolver sua força. Este autor destaca a situação delicada na qual se
encontram as mulheres que se aventuram por este estilo de vida, tendo em
vista a associação entre a força e a masculinidade, dominação e agressividade,
além da presunção de que as mulheres não devem ter corpos musculosos e
serem tão fortes quanto os homens, fenômeno que desafia as construções
convencionais de gênero e as bases da diferenciação sexual.
Segundo Marzano (1991), cada vez mais pessoas hoje em dia são
convencidas de que seus corpos são simplesmente objetos para serem
construídos, como meio de se atingir o sucesso e obter atenção e amor e,
48
REVISÃO DA LITERATURA
finalmente, construir uma identidade masculina através da associação de
valores e significados ao corpo musculado. O autor destaca ainda que, treinar
regularmente e “malhar”, não são atividades neutras, e sim atividades
glamourizadas e sexualizadas, que associam ao corpo musculoso signos
culturais de uma correta atitude perante a vida, significando que nos
preocupamos conosco mesmos e temos a habilidade de modificar nossas
vidas. Na atualidade, a precisão tecnológica para esculpir os corpos utilizada
pelos fisiculturistas e levantadores de peso é agora acessível para qualquer um
que possa arcar com os custos de uma academia.
2.6 – Definição das componentes da imagem corporal e dificuldades
encontradas para a sua avaliação
Segundo Bane e McAuley (1998) e Vasconcelos (1995), são várias as
designações que se têm atribuído ao termo “imagem corporal”. Destas se
podem destacar a percepção do tamanho corporal e avaliações subjetivas da
aparência física, além de diversos comportamentos derivados ou associados a
questões referentes a percepção da imagem do próprio corpo, como níveis de
ansiedade, práticas alimentares e de exercício físico, devendo a comparação
entre estudos, neste sentido, ser muito cuidadosa. Em geral dois pontos são
mais abordados quando da intenção de se avaliar a imagem corporal, um
componente objetivo (perceptivo) e outro subjetivo (cognitivo, afetivo e
comportamental) (Bane & McAuley, 1998; Norton & Olds, 2005; Thompson,
Penner & Altabe, 1990).
As avaliações perceptivas mensuram a precisão das percepções em relação ao
tamanho do corpo, com os instrumentos que avaliam os aspectos perceptivos
da imagem corporal tendo dominado as primeiras pesquisas da área (Bane &
McAyley, 1998). A imprecisão sobre a percepção do tamanho corporal
normalmente é referida pelo termo “distorção da imagem corporal” (Thompson
et al., 1990, pp. 23), e sua avaliação se divide em duas categorias principais,
49
REVISÃO DA LITERATURA
sendo a primeira delas os procedimentos que avaliam a precisão da percepção
para partes corporais e a segunda, os que avaliam a distorção da imagem total
do corpo (Bane & McAyley, 1998). Importa destacar que a precisão da
percepção corporal é conceitual e empiricamente diferente da satisfação com a
imagem corporal, com a primeira relacionada a componentes objetivos e a
segunda a componentes subjetivos que envolvem este construto (Gardner &
Morrell, 1991).
Nas avaliações das partes corporais ou procedimentos locais, o indivíduo
estima o tamanho de uma parte corporal específica, verificando-se ou não uma
distorção individual para o local em questão ao se comparar com medidas
objetivas (Bane & McAyley, 1998). Nos procedimentos que avaliam o
ajustamento da imagem inteira do corpo, o indivíduo é confrontado com
fotografias e ou vídeos de imagens reais ou feedback visual em espelhos com
reflexo distorcido, escolhendo então a imagem que, de acordo com ele, reflete
seu tamanho corporal (Thompson et al., 1990). A precisão perceptiva é então
avaliada pelo grau de discrepância entre a imagem escolhida e o tamanho real
do indivíduo.
Thompson et al. (1990) ressaltam que o método mais utilizado para determinar
uma medida geral da satisfação com o tamanho e o peso corporal é a
utilização de figuras ou silhuetas esquemáticas em ordem crescente de
diferentes tamanhos corporais, nas quais se contemplam apenas a ectomorfia
e a endomorfia. O nível de satisfação é então medido pela discrepância entre
as figuras ou silhuetas apontadas como correspondentes ao tamanho corporal
atual e o “ideal”. Estes mesmos autores, afirmam que avaliações por
questionários normalmente focam uma concepção mais ampla do componente
subjetivo,
apesar
de
algumas
escalas
focalizarem
exclusivamente
a
insatisfação com o peso e tamanho corporal.
Os
instrumentos
cognitivos
vêm
dominando
atualmente
a
literatura,
relativamente às avaliações perceptivas que são raramente utilizadas, e
50
REVISÃO DA LITERATURA
mesmo com as diversas limitações neste campo, referentes as dificuldades
metodológicas nas avaliações, o conhecimento atual acerca das relações entre
o exercício e a imagem corporal foi construído com base em resultados obtidos
com instrumentos de cunho subjetivo (Bane & McAuley, 1998).
Estudos da imagem corporal focalizada em sua componente afetiva
apresentaram grande desenvolvimento na década de 80, com estudos voltados
à ansiedade, desconforto e sentimentos negativos relacionados ao próprio
corpo, contribuindo enormemente para um melhor entendimento das relações
entre o exercício e a imagem corporal, de acordo com Bane e McAuley (1998).
Existem diversos detalhes capazes de influenciar as pesquisas que utilizam
procedimentos de avaliação perceptiva. A presença de insinuações ou
sugestões faciais por parte do avaliador e o tipo de roupa utilizada pelo
avaliado podem ser relevantes (Bane & McAuley, 1998; Collins, Beumont,
Touyz, Krass, Thompson & Philips, 1987; Thompson et al., 1990). Está descrito
ainda que mulheres em fase perimenstrual (pré e durante a menstruação)
tendem
a
superestimar
seus
tamanhos
corporais
do
que
na
fase
intermenstrual, e que praticantes de fisiculturismo e halterofilismo apresentam
melhor precisão ao avaliar seus tamanhos corporais (Stewart et al., 2003).
Em específico aos componentes subjetivos, é preferível que se escolha
instrumentos que possam abarcar diferentes aspectos da imagem corporal
(afetivos, cognitivos e comportamentais), devido ao fato de que detalhes na
instrução da avaliação podem direcionar os resultados para níveis de
satisfação,
interesses,
cognições,
ansiedade,
preocupações
e
outras
componentes relacionadas a aparência (Bane & McAuley, 1998), cabendo ao
pesquisador a escolha cuidadosa de um instrumento específico.
Para a progressão do campo das avaliações da imagem corporal, deve-se
sempre ter atenção quanto ao instrumento que se pretende utilizar, para que
este se adeque ao tipo de abordagem (geral ou específica) e característica
51
REVISÃO DA LITERATURA
(traço ou estado) da variável que se pretende avaliar (Pruzinsky, 2004;
Thompson, 2004). A escolha de avaliações com fiabilidade e validação
estabelecidas é outro ponto crucial, não se devendo confiar em fiabilidades
definidas para outras populações (Streiner, 2003; Thompson, 2004; Pruzinsky,
2004). Comparar estudos que não tenham utilizado um instrumento em sua
forma original de publicação é um assunto delicado, sendo aconselhável,
segundo
Thompson
(2004),
adicionar
um
terceiro
instrumento
para
comparações.
Cash (citado por Thompson, 2004, pp. 11) no que se refere a utilização e
seleção de medidas para a imagem corporal em contextos médicos, afirma que
instrumentos que avaliam a dimensão traço da imagem corporal devem ser os
preferidos, certificando-nos que a escolha feita seja capaz de acusar alterações
devido a intervenções ou manipulações experimentais (Pruzinsky, 2004;
Thompson, 2004). Importa também que se tenha um cuidado adicional ao
protocolo de instrução, a fim de se direcionar a avaliação para os aspectos do
construto que realmente interessem (Bane & McAuley, 1998; Pruzinsky, 2004;
Thompson, 2004; Thompson et al., 1990).
Thompson (2004) e Pruzinsky (2004) reforçam a necessidade de se considerar
a diversidade das características dos participantes na análise dos dados,
devido a claras diferenças existentes de população para população, com
diferentes significados adotados para tipos específicos de enfermidades, partes
corporais, aparência corporal, funcionalidade sexual e outras tantas que
influenciam a qualidade de vida individual. Neste sentido, aconselham uma
análise primária e distinta das variáveis individuais das populações que
estiverem sendo comparadas, em busca de diferenças basais ou mesmo
associações entre as mesmas, sugerindo então uma análise geral em
decorrência de uma equivalência relativa entre as características individuais
dispostas.
52
REVISÃO DA LITERATURA
Stewart et al. (2003) sugerem que, devido a limitações específicas dos
componentes objetivos e subjetivos quando avaliados separadamente, se deve
utilizar uma abordagem conjunta. Exemplificam esta afirmação, relatando que
os questionários não abordam diretamente questões da percepção objetiva,
que espelhos de imagem distorcida apresentam respostas de ajustamento
incertas e não lineares e imagens televisivas podem geralmente ser alteradas
somente nos eixos vertical e horizontal, apresentando ainda as silhuetas ou
figuras esquemáticas e fotografias, índices de muscularidade e adiposidade
variáveis com uma altura constante, não captando assim as variedades da
morfologia humana. Sendo assim, é compreensível a dificuldade e talvez a
impossibilidade de se tentar abarcar uma total mensuração das variáveis da
imagem corporal (Fisher, 1990).
Diversos exemplos e informações sobre quase cinquenta instrumentos e
procedimentos desenvolvidos nos diversos campos de avaliação são
encontrados em Thompson et al. (1990) e Bane & McAyley (1998). Estes
últimos autores relatam ser difícil a orientação de uma bateria de testes e
avaliações mais indicada para se utilizar, dada a natureza multidimensional da
imagem corporal e a diversidade de objetivos dos estudos. Os autores sugerem
ainda que os pesquisadores devem evitar utilizar o termo geral “imagem
corporal” e sim especificar quais aspectos do construto que pretendem
examinar, se mais de um, para facilitar as comparações entre estudos.
Pruzinsky (2004) ressalta que o estabelecimento de padrões e métodos para
avaliar e reabilitar pacientes em contextos médicos diversos, depende de um
entendimento profundo da imagem corporal, a fim de aplicar e desenvolver
novas formas de avaliação, programas de prevenção, reabilitação e tratamento.
Entretanto, afirma também que não se tem, no momento, uma quantidade
suficiente de informação sobre a natureza da adaptação da imagem corporal às
patologias e tratamentos durante o decorrer da vida.
53
REVISÃO DA LITERATURA
Clínicos e pesquisadores podem apresentar resultados mais positivos tanto
quanto melhores forem as mensurações das quais estes derivarem, sendo
primordial pensar cuidadosamente sobre a escolha e desenvolvimento das
medidas destinadas às diversas especificidades necessárias. Um grande
avanço será alcançado pelos estudiosos da imagem corporal, tanto nas áreas
médicas
quanto
nas
áreas
relacionadas
ao
exercício,
através
do
desenvolvimento de guias mais padronizados para a seleção de mensurações
para o trabalho de campo.
54
3 - OBJETIVOS E HIPÓTESES
OBJETIVOS E HIPÓTESES
Capítulo 3 – Objetivos e hipóteses
3.1 – Objetivos
Como referimos, é notória a crescente importância que se têm dado a
características estéticas individuais, no entanto é nossa convicção de que tais
características são dependentes da cultura em vigor, tendo em vista que entre
os extremos atlético, magro e obeso, existe uma grande diversidade de tipos
somáticos.
Os objetivos deste estudo são comparar mulheres brasileiras e portuguesas
praticantes de musculação, quanto ao somatótipo, a percepção da imagem
corporal geral, a satisfação com a imagem corporal geral e o ideal estético.
Utilizamos como recurso para tais comparações o somatótipo e um instrumento
de silhuetas adaptado.
3.2 – Hipóteses
Com base nos objetivos apresentados para este estudo temos as seguintes
hipóteses:
H1: As brasileiras apresentam um somatótipo equilibrado entre a endomorfia e
a mesomorfia, com predominância destas duas componentes sobre a
ectomorfia, sendo mesoendomorfas.
H2: A componente endomorfia do somatótipo das portuguesas é dominante
sobre as demais, sendo a mesomorfia maior ou equilibrada à ectomorfia, sendo
Endomorfas equilibradas ou endomorfas mesomorfas.
H3: O nível de distorção da percepção da imagem corporal geral é menor nas
brasileiras do que nas portuguesas.
57
OBJETIVOS E HIPÓTESES
H4: A satisfação com a imagem corporal geral é maior para as brasileiras em
relação as portuguesas.
H5: As brasileiras têm ideais corporais mais mesomórficos do que as
portuguesas.
58
4 - METODOLOGIA
METODOLOGIA
Capítulo 4 – Metodologia
4.1 – Amostra
A amostra deste estudo foi composta por dois grupos do sexo feminino de etnia
caucasiana, praticantes de musculação em Ginásios. O grupo 1 foi constituído
de 46 portuguesas residentes na cidade do Porto e frequentadoras de três
ginásios desta cidade. O grupo 2 foi composto por 46 brasileiras residentes na
cidade de Juiz de Fora do estado de Minas Gerais, frequentadoras de dois
ginásios desta cidade.
No Quadro 1 apresentamos a caracterização da amostra.
Quadro 1 – Caracterização da amostra em seus valores médios e desvios padrão.
Brasileiras
Portuguesas
Idade
27,4 (± 8,4)
26,85 (± 8,4)
Peso
57, 1 (± 6,3)
58,7 (± 7,2)
Altura
163,8 (± 5,3)
162,7 (± 5,7)
4.2 – Critérios para a seleção da amostra
Os indivíduos foram abordados no ambiente de sua prática de atividade
física, sendo convidados a participar de uma pesquisa sobre as percepções
corporais no âmbito do curso de Mestrado em Actividade Física e Saúde da
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. As únicas condições
pretendidas eram: ser praticante de musculação e ser do sexo feminino.
61
METODOLOGIA
4.3 – Instrumento e coleta de dados
4.3.1 – Apresentaçao do instrumento de silhuetas
A escala de silhuetas para mulheres com interesse em emagrecimento e
fortalecimento foi adaptada com base em outros instrumentos do gênero que
até o momento focalizaram somente a linearidade e obesidade, como a escala
de Stunkard, Sorensen e Schulsinger, utilizada em diversos estudos (e.g.
Coelho & Fagundes, 2007; Greenleaf et al., 2004; Matsuo, Velardi, Brandão &
Miranda, 2007). Nosso intuito foi obter um instrumento pelo qual pudéssemos
abarcar, além da linearidade e obesidade, questões relativas a muscularidade,
característica principal da componente mesomorfia, no somatótipo de Carter e
Heath (1990). Esta componente não é evidenciada nos demais instrumentos de
silhuetas femininas desenvolvidos até o momento. O modelo final deste nosso
instrumento foi definido após melhoramentos realizados a partir de uma versão
inicial utilizada em um estudo piloto não publicado, e é apresentada a seguir
(Fig. 1).
Aumento do índice de massa corporal
Figura 1 – Escala de silhuetas para mulheres com interesse em emagrecimento e
fortalecimento.
62
METODOLOGIA
Esta escala de silhuetas (Fig. 1), por nós proposta, pretende abarcar os três
componentes somatotípicos, nomeadamente a endomorfia, a mesomorfia e a
ectomorfia. Construímos então uma linha inicial de três figuras que representa
indivíduos com características predominantemente ectomórficas. Esta linha, ao
diferenciar-se assumindo a forma de um “Y”, representa o aumento da massa
muscular e da gordura corporal em uma linha superior (A) e outra inferior (B),
respectivamente,
para
pessoas
de
características
predominantemente
mesomórficas e endomórficas. Nossa escala apresenta ainda um crescimento
de volume corporal em relação a altura (índice de massa corporal - IMC) da
esquerda para a direita.
4.3.1.1 – Associação dos valores do somatótipo a escala de silhuetas
A partir das dezessete figuras presentes na escala, foram consideradas treze
classificações que inicialmente reportariam as treze condições somatotípicas
(endomorfo
equilibrado,
mesomorfo
endomórfico,
ectomorfo-endomorfo,
mesomorfo
equilibrado,
ectomorfo
equilibrado,
ectomorfo-mesomorfo,
ectomórfico,
endomorfo-ectomorfo,
endomorfo-mesomorfo,
mesomorfo
mesoendomorfo, endomesomorfo e central). Os treze subgrupos de silhuetas
considerados, que se seguem abaixo, foram utilizados como representativos
das mesmas, para as variáveis somatótipo real, somatótipo percebido e
somatótipo ideal, presentes no capítulo cinco (apresentação e discussão dos
resultados).
Silhuetas 1 e 2 – 1;
Silhueta 3 – 2;
Silhuetas 4A e 4B – 3;
Silhueta 5A – 4;
Silhueta 6A – 5;
Silhueta 7A – 6;
Silhueta 8A – 7;
Silhueta 9A e 10A – 8;
63
METODOLOGIA
Silhueta 5B – 9;
Silhueta 6B – 10;
Silhueta 7B – 11;
Silhueta 8B – 12;
Silhueta 9B e 10B – 13;
Nosso próximo passo, foi atribuir valores de somatótipos, orientados em função
da predominância de um entre os outros dois componentes, aos subgrupos de
silhuetas referidos, de forma que pudessem cobrir todo o espectro de
possibilidades definido por Carter e Heath (1990) (1-1-7; 1-7-1; 7-1-1).
No que se seguiu a seguinte classificação:
Silhuetas 1 e 2: indivíduos nos quais a componente ectomórfica é
predominante e os níveis de endomorfia e mesomorfia são menores que 3. A
figura 1 representa indivíduos com valores de endomorfia ou mesomorfia
menores ou igual a 1, enquanto a figura 2 indivíduos com valores maiores que
1 e menores que 3 para as mesmas componentes.
Silhueta 3: indivíduos nos quais a componente ectomórfica é predominante e
os níveis de endomorfia e mesomorfia são maiores que 3.
Silhuetas 4A e 4B: indivíduos com valores de somatótipo equilibrados ou
centrais. Foram reconhecidos como tal, aqueles que apresentavam diferenças
menores que 0,5 entre pelo menos duas componentes do somatótipo, sendo
estas dominantes (maiores que 0,5) em relação a terceira.
Silhueta 5A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é predominante
e apresentavam valores menores ou iguais a 4 para esta componente.
Silhueta 6A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é predominante
e apresentavam valores entre 4,1 e 5 para esta componente.
64
METODOLOGIA
Silhueta 7A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é predominante
e apresentavam valores entre 5,1 e 5,5 para esta componente.
Silhueta 8A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é predominante
e apresentavam valores entre 5,6 e 6 para esta componente.
Silhuetas 9A e 10A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é
predominante e apresentavam valores maiores que 6 para esta componente,
sendo os valores entre 6,1 e 7 para a silhueta 9A e os maiores que 7 para a
10A.
Silhueta 5B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é predominante
e apresentavam valores menores ou iguais a 4 para esta componente.
Silhueta 6B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é predominante
e apresentavam valores entre 4,1 e 5 para esta componente.
Silhueta 7B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é predominante
e apresentavam valores entre 5,1 e 5,5 para esta componente.
Silhueta 8B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é predominante
e apresentavam valores entre 5,6 e 6 para esta componente.
Silhueta 9B e 10B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é
predominante e apresentavam valores maiores que 6 para esta componente,
com valores entre 6,1 e 7 para a silhueta 9B e os maiores que 7 para a 10B.
65
METODOLOGIA
4.3.2 – Definição dos tipos de Somatótipo
Para responder ao principal objectivo da nossa pesquisa, que foi comparar
duas populações distintas em termos de sua distorção da imagem corporal
geral, satisfação com a imagem corporal geral e ideal corporal, utilizamos três
dimensões somatotípicas:
Somatótipo real. Definido pelo método antropométrico de Heath-Carter
(Carter, 1980).
Somatótipo percebido. Representado por uma silhueta a qual era identificada
como a que mais se aproximava da percepção do corpo do sujeito no momento
da avaliação.
Somatótipo ideal. Representado por uma silhueta a qual era identificada como
a que o sujeito mais gostaria de ter, caso estivesse insatisfeito com sua
percepção atual.
4.3.3 – Procedimento para a definição dos somatótipos percebido e ideal
As mulheres foram abordadas no ambiente de prática da musculação, com o
avaliador se apresentando vinculado ao curso de Mestrado em Actividade
Física e Saúde da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, em
pesquisa comparativa sobre a percepção e satisfação com a imagem corporal
entre mulheres brasileiras e portuguesas praticantes de musculação.
Seguidamente lhes era questionada a possibilidade de participar no estudo e
agendada uma data para a recolha de dados, orientando-as para se
apresentarem com suas roupas habituais para o exercício.
66
METODOLOGIA
No momento da avaliação, primeiramente era apresentada a escala de
silhuetas, sendo-lhes referido o seguinte: “Todas estas figuras representam
corpos femininos. Da esquerda para a direita, em ordem progressiva, as figuras
aumentam em volume e em peso corporais. Da primeira até a terceira, não há
contribuições significativas da gordura ou massa muscular para o aumento do
volume e peso corporais. A partir das figuras número quatro, na linha superior,
a massa muscular contribui significativamente para o aumento do volume e
peso; na linha inferior, é a gordura que contribui significativamente para o
aumento do volume e peso”. Uma nova e idêntica explicação era repetida caso
a pessoa não compreendesse de imediato a primeira explicação.
Em seguida eram feitas as seguintes perguntas: “Dentre todas estes figuras,
qual você acha que mais se aproxima da realidade do seu corpo neste
momento”. Logo após a definição da silhueta, a segunda pergunta era
apresentada da seguinte forma: “Caso você não esteja satisfeita com a sua
imagem actual, aponte a que mais corresponde às suas expectativas?”.
Durante a resposta, o avaliador não dava qualquer opinião nem apresentava
qualquer reacção facial ou corporal. Quando o avaliador era questionado a
opinar ou confirmar as escolhas feitas, era dito às mulheres que a escolha
deveria ser só delas, sem a influência de terceiros.
Após a resposta às duas perguntas, se seguia a medição antropométrica, pela
aferição do peso, altura, dobras cutâneas e circunferências.
4.3.4 – Antropometria
O primeiro grupo de variáveis consta de medidas antropométricas e de
composição corporal. Foram realizadas mensurações sobre onze medidas
antropométricas, nomeadamente ao peso, altura, diâmetros ósseos, pregas
adiposas e perímetros corporais.
67
METODOLOGIA
Peso
O peso foi medido com os indivíduos descalços, imóveis e com roupa própria
para a prática da atividade, sem a utilização de acessórios como brincos,
pulseiras ou relógios. Os valores foram registrados com a precisão de uma
casa decimal.
Altura
A altura foi aferida entre o ponto superior da cabeça orientado pelo plano
sagital e o plano de referência do solo, registrada em centímetros com a
precisão de uma casa decimal.
Diâmetro bicôndilo-humeral
Aferido entre o epicôndilo e a epitróclea, com antebraço em supinação e
cotovelo fletido em 90 graus.
Diâmetro bicôncilo-femural
Aferido entre os pontos mais salientes dos côndilos femurais em 90 graus de
flexão do joelho.
Prega supra-ilíaca
Em orientação horizontal sobre a vertical midaxilar acima da crista ilíaca.
Prega tricipital
Em orientação vertical sobre o ponto médio entre o acrômio e o olécrano na
parte posterior do braço.
Prega geminal
Em orientação vertical, sobre a face interna da perna em relação ao nível de
maior perímetro, com o indivíduo sentado e o joelho fletido em 90 graus.
68
METODOLOGIA
Prega subescapular
Em orientação oblíqua para fora e para baixo, abaixo do ângulo inferior da
escápula.
Prega da coxa
Em orientação vertical, no ponto médio entre o trocanter e o epicôndilo femural
medial, na face anterior da coxa.
Perímetro geminal
Com o indivíduo em posição vertical e o pé orientado para frente, ao nível de
maior circunferência da perna.
Perímetro do braço tenso
Com flexão do cotovelo em 90 graus, ao nível da maior circunferência do
bíceps em contração máxima.
4.3.4.1 – Composição corporal
A definição do percentual de gordura corporal foi obtida segundo a orientação
de Siri (1961).
- percentual de gordura corporal = ((4,95 / DC3) - 4,5) x 100
- Densidade Corporal = 1,0994921 - 0,0008267 x (A+B+C) + 0,0000016 x
(A+B+C x A+B+C) - 0,0001392
As letras A, B e C correspondem respectivamente as pregas adiposas da coxa,
tricipital e supra-ilíaca.
A partir do percentual de gordura foram obtidos os valores absolutos da massa
gorda e massa isenta de gordura, expressos em quilogramas.
69
METODOLOGIA
Massa gorda(MG) = peso x %G/100
Massa isenta de gordura = peso – MG
4.3.4.2 – Critérios de classificação do IMC
O IMC (índice de massa corporal) foi classificado de acordo com as
orientações da W.H.O (World Health Organization) do ano de 1997.
4.4 – Avaliação da distorção da percepção da imagem corporal geral, da
satisfação com a imagem corporal geral e do ideal corporal.
A distorção da percepção da imagem corporal geral foi definida pela diferença
entre o somatótipo real e o percebido. Os valores possíveis de serem
encontrados variavam entre -12 (12 negativos) e 12 (12 positivos). O valor 0
(zero) corresponde aos indivíduos que não apresentam percepções distorcidas
da sua imagem. Valores diferentes de 0 correspondem aos indivíduos que
apresentam uma percepção distorcida de sua imagem corporal geral, sendo os
valores positivos atribuídos a subestimativas (percepção de maior linearidade,
menor endomorfia ou mesomorfia que o real) e valores negativos a
superestimativas (percepção de maior endomorfia ou mesomorfia que o real)
em relação ao volume do próprio corpo.
A satisfação geral com a imagem corporal geral foi definida pela diferença entre
a silhueta escolhida como o somatótipo percebido e o ideal. Os valores
possíveis de serem encontrados para a satisfação situam-se entre -12 (12
negativos) e 12 (12 positivos). O valor 0 corresponde aos indivíduos que se
reconhecem como satisfeitos com sua imagem. Valores diferentes de 0
correspondem aos indivíduos insatisfeitos com sua imagem corporal geral,
sendo os valores positivos atribuídos ao desejo de aumento do volume corporal
70
METODOLOGIA
(mesomorfia) e os valores negativos ao desejo de uma diminuição do volume
corporal (endomorfia).
O ideal corporal geral foi definido pela escolha da silhueta correspondente ao
somatótipo ideal dos indivíduos. Seus valores, como descrito anteriormente
(4.3.1.1 – definição do instrumento de silhuetas) podem variar entre 1 e 13: (i)
correspondendo aos valores 1 e 2 estruturas corporais predominantemente
ectomórficas; (ii) 3, para condições medianas ou centrais entre os três
componentes do somatótipo; (iii) de 4 a 8 correspondendo a corpos
predominantemente mesomórficos; e (iv) de 9 a 13 ideais corporais
predomimantemente endomórficos.
4.5 – Variáveis do estudo
As variáveis dependentes utilizadas para o estudo foram os níveis de distorção
da percepção da imagem corporal geral, da satisfação com a imagem corporal
geral e o ideal corporal. A variável independente utilizada foi a nacionalidade.
4.6 – Procedimentos estatísticos
Os dados foram tratados previamente para averiguar a normalidade da
distribuição e a eventual presença de outliers, através do teste de Shapiro Wilk.
Seguidamente, para além das estatísticas descritivas básicas (média e desvio
padrão) utilizamos o teste t de Student para medidas independentes para
averiguar a eventual existência de diferenças com significado estatístico entre
as populações brasileira e portuguesa, para as diversas variáveis observadas.
Tendo em conta a reduzida dimensão amostral em comparações inter e intra
populações, para a comparação de subgrupos foi utilizado o teste não
paramétrico de Mann Witney. Cientes de que o tempo de treino e a frequência
semanal de treino poderia condicionar os resultados, recorremos à covariância
71
METODOLOGIA
para anular o seu efeito. O nível de significância foi mantido em p ≤ 0.05 e o
programa de análise estatística utilizado foi o sofware SPSS versão 15.0.
72
5 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Capítulo 5 – Apresentação e discussão dos resultados
Apresentamos a seguir, no Quadro 2, os resultados referentes à observação
descritiva das variáveis analisadas.
Quadro 2 – Caracterização das componentes do somatótipo para as brasileiras e portuguesas.
Brasileiras
Portuguesas
Endomorfia
4,1 (± 1,3)
4,6 (± 1,3)
Mesomorfia
2,6 (± 0,9)
4 (± 1)
Ectomorfia
2,6 (± 0,9)
2,2 (± 1,2)
Podemos verificar pelo Quadro 2, que as brasileiras apresentam uma
predominância da componente endomorfia, com a mesomorfia e a ectomorfia
equilibradas, o que caracteriza um somatótipo endomorfo equilibrado. Já a
população portuguesa tem um somatótipo endomorfo mesomorfo, pela
componente endomorfia ser predominante sobre a mesomorfia e esta maior
que a ectomorfia.
Verificamos em detrimento de nossos resultados, como descrito na literatura,
que populações não atletas apresentam maior mesomorfia e menor endomorfia
que os indivíduos atletas (Gualdi-Russo & Graziani, 1993; Gualdi-Russo &
Zaccagni, 2001; Silva & Maia, 2003; Queiroga et al., 2005; Pradas de la Fuente
et al., 2007; Zúñiga & De León Fierro, 2007).
Gualdi-Russo e Graziani (1993) encontraram em praticantes italianas de
diversas modalidades desportivas (natação, esqui, track & field, desportos com
bola, ginástica e patinação), um somatótipo mesoendomorfo, diferente das
praticantes de musculação endomorfas equilibradas brasileiras e endomorfas
mesomorfas portuguesas de nosso estudo.
Silva e Maia (2003) verificaram para a população portuguesa, e Viviani e Baldi
(1993) para italiana, que as amadoras participantes em escalões de formação
75
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
de voleibol apresentam o mesmo somatótipo (endomorfo mesomorfo) que as
praticantes de musculação portuguesas de nosso estudo.
Dando sequência na apresentação dos resultados, temos as variáveis
somatótipo percebido, real e ideal, necessárias para a obtenção do nível de
distorção da percepção da imagem corporal geral, satisfação com a imagem
corporal geral e ideal estético, apresentadas no quadro 3, classificadas em
função da nova escala de silhuetas por nós desenvolvida, como descrito
anteriormente (4.3.1.1, pp. 63).
Quadro 3 – Caracterização das variáveis utilizadas para obtenção dos níveis de distorção da
percepção e satisfação com a imagem corporal geral e ideal corporal, para as brasileiras e
portuguesas (média e desvio padrão).
Brasileiras
Portuguesas
Valor de t
Valor de p
Somatótipo real
7,4 ± 4,1
7,5 ± 4,1
-,050
,960
Somatótipo percebido
5,3 ± 2,2
6,3 ± 3,0
-1,728
,087
Somatótipo ideal
5,0 ± 1,6
4,1 ± 1,2
3,201
,002
Observamos pelo Quadro 3 que as populações avaliadas em nosso estudo não
apresentaram diferenças estatisticamente significativas em relação ao seu
somatótipo real e percebido. Já em relação ao somatótipo ideal, a silhueta
representativa
do
ideal
corporal
brasileiro
é
significativamente
mais
mesomórfico do que a das portuguesas.
5.1 – Distorção da Percepção da Imagem Corporal Geral
Após a definição do somatótipo real pelo método antropométrico de HeathCarter, seus valores foram associados as silhuetas de nossa escala (como
descrito em 4.3.1.1). A distorção da percepção da imagem corporal geral foi
avaliada através da obtenção do nível de distorção, representado pela
diferença entre as silhuetas escolhidas como representantes do somatótipo real
e escolhido. Seus valores são apresentados no Quadro 4.
76
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quadro 4 – Caracterização da variável nível de distorção para brasileiras e portuguesas (média
e desvio padrão).
Nível de
Brasileiras
Portuguesas
T
P
2,1 ± 4,2
1,2 ± 4,6
,991
,324
distorção
Como podemos verificar no Quadro 4, não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas em relação à distorção da percepção da imagem
corporal geral, apesar de as brasileiras apresentarem uma distorção
ligeiramente superior. Ressaltamos ainda, que o nível de distorção, expresso
em valores positivos, representa uma subestimativa corporal, correspondente à
percepção
de
maior
linearidade
(menor
mesomorfia
ou
endomorfia)
relativamente ao real.
Madrigal et al. (2000), além de encontrarem em populações mediterrâneas uma
maior tendência para subestimar o tamanho de seus corpos, mais do que em
outros países da união europeia, observaram ainda que a prática regular de
atividade física estava associada a subestimativas das silhuetas corporais.
Em nosso estudo encontramos uma população sul-americana com níveis de
subestimativa corporal superiores aos de uma população mediterrânea,
entretanto, estes resultados vão ao encontro da segunda constatação dos
autores supracitados. A subestimativa da imagem corporal geral foi verificada
em mais de 60% da amostra (Quadro 5).
Quadro 5 – Caracterização do percentual de brasileiras e portuguesas que subestimaram e
sobre-estimaram sua imagem corporal geral.
Brasileiras
Portuguesas
Subestimativa
61,9 %
62,8 %
Sobre-estimativa
38,1 %
37,2 %
O maior nível de distorção da imagem corporal geral para as brasileiras
(Quadro 4), é interpretado pelo fato desta população apresentar níveis de
atividade física mais elevados do que as portuguesas (Quadro 6).
77
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quadro 6 – Caracterização das variáveis frequência de treino semanal e tempo de treino, para
as brasileiras e portuguesas (média, desvio padrão e significância).
Brasileiras
Portuguesas
Valor de t
Valor de p
Frequência de treino
3,8 (± 1,0)
2,4 (± 0,9)
6,798
,000
Tempo de treino
0,2 (± 0,4)
0,67 (± 0,4)
-5,224
,000
Pelo Quadro 6 verificamos que as brasileiras treinam com maior frequência
semanal e a mais tempo (mais de 6 meses versus menos de 6 meses) do que
as portuguesas.
Birtchnell, Dolan e Lacey (2006) afirmam que o nível de distorção da percepção
da imagem corporal é maior, a medida que o peso corporal se distancia dos
valores médios esperados para cada indivíduo. Kakeshita e Almeida (2006)
verificaram a afirmação de Birtchnell et al. (2006), em universitárias brasileiras,
relacionando a obesidade à subestimativa corporal. Situação não verificada em
nosso estudo, já que a subestimativa foi verificada em indivíduos com IMC
predominantemente normais, como podemos ver mais abaixo no Quadro 7.
Também contrária a afirmação de Birtchnell et al. (2006) foi o resultado de
Gardner e Morrell (1991), pelo qual concluíram que os obesos apresentam
maior facilidade e precisão no julgamento de seu tamanho corporal em relação
aos não obesos, e ainda que a precisão é maior quando se observa a imagem
posterior do corpo, o que é interessante por ser a orientação visual menos
familiar para todos nós.
Quadro 7 – Caracterização do percentual do índice de massa corporal e seu valor médio, das
brasileiras e portuguesas.
Índice de massa corporal
Brasileiras
Portuguesas
< 18,5 - Baixo peso
6,5%
6,5%
≥ 18,5 ≤ 24,99 - Peso normal
89,2%
78,3%
≥ 25 ≤ 29,99 - Pré-obesidade
4,3%
13%
≥ 30 ≤ 34,9 Obesidade
0%
2,2%
IMC médio
21,2
22,2
78
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Mussap, McCabe e Ricciardelli (2008) verificaram em estudantes universitárias
australianas que as sobre-estimativas corporais são relacionadas à insatisfação
corporal, fato que também não se verificou em praticantes de musculação de
nosso estudo.
Apesar da discordância da literatura, concordamos com Skrzypek, Wehmeier e
Remschmidt (2001) e Mussap et al. (2008), ao sugerirem que os distúrbios
relativos à percepção da imagem corporal não são derivados de um deficit
perceptivo, mas manifestações das insatisfações sobre a avaliação cognitiva e
preocupações corporais do indivíduo. Apostando também em dificuldades
cognitivas em detrimento das perceptivas, Auchus, Rose e Allen (1993),
declaram que a distorção da percepção da imagem corproal pode também
advir de uma baixa habilidade para se utilizar imagens mentais, através dos
processos cognitivos de representação imagética, não sendo relacionada a
memória visual, que aparentemente não é vital para a formação da imagem
corporal.
Como já referido anteriormente, a precisão da avaliação perceptiva do próprio
corpo pode ser influenciada por insinuações faciais do avaliador, o vestuário da
pessoa avaliada (Collins et al., 1987; Bane & McAuley, 1998; Thompson et al.,
1990), pela fase do período menstrual, pela prática de treino com pesos
(Stewart et al., 2003), por variáveis biopsicosociais, como a influência de
amigos, parentes, mídia, valores antropométricos conhecidos (McCable,
Ricciardelli, Sitaram & Mikhail, 2006), além da internalização, conscientização e
valorização de ideais de magreza (Mautner et al., 2000).
Apesar da diversidade de opiniões verificada na literatura, procuramos
entender nossos resultados referentes à distorção da percepção da imagem
corporal geral, pelo foco da melhoria inerente que se processa nas autopercepções físicas e auto-estima geral individual, em decorrência da prática
regular de atividade física (Scully et al., 1998; Hausenblas & Fallon, 2006;
Russel & Cox, 2003).
79
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Interpretamos as subestimativas encontradas para as mulheres de nossa
amostra como derivadas de percepções e avaliações mais positivas em relação
a si mesmas. Baseamos esta inferência, na associação do treino de força a
melhorias mais significativas para diversos construtos referentes ao bem-estar
físico (auto-conceito, atratividade percebida, satisfação com a imagem corporal,
ansiedade física social e percepção de auto-eficácia) (Depcik & Williams, 2004;
Stein & Motta, 1992; Williams & Cash, 2001), e pelo fato de verificarmos
maiores subestimativas para as brasileiras, as quais treinam significativamente
a mais tempo, com maior frequência semanal, apresentando ainda maior
satisfação com sua imagem corporal geral.
5.2 – Satisfação com a Imagem Corporal Geral
Os níveis de satisfação com a imagem corporal geral são apresentados no
Quadro 8, e foram definidos mediante a subtração do valor obtido pela escolha
das silhuetas representativas do somatótipo percebido e do somatótipo real.
Como referido anteriormente, o 0 (zero) representa a satisfação com a imagem
corporal geral, enquanto os demais valores, positivos ou negativos, quanto
mais distantes deste, representam menores níveis de satisfação com a imagem
corporal geral.
Quadro 8 – Caracterização da variável satisfação com a imagem corporal geral para brasileiras
e portuguesas (média, desvio padrão e significância).
Satisfação com a imagem corporal geral
Brasileiras
Portuguesas
t
p
- 0,26 ± 1,6
- 2,17 ± 1,9
3,227
,002
Os resultados obtidos sugerem que as portuguesas são significativamente
menos satisfeitas que as brasileiras em relação a sua imagem corporal geral.
Importante ressaltar que os valores negativos significam o desejo por uma
maior linearidade.
80
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Como relatado anteriormente, avaliações positivas da imagem corporal
apresentam uma relação inversa com os componentes endomorfia e
mesomorfia e direta com a ectomorfia (Bahran & Shafizadeh, 2006; Eklund &
Crawford, 1994; Stewart et al., 2003). Podemos verificar neste sentido que as
brasileiras, mais satisfeitas, apresentam menores valores de endomorfia e
mesomorfia com diferenças acima de 0,5, embora a ectomorfia não apresente
diferenças deste âmbito (Quadro 2). Se a afirmação dos autores acima pode de
certa forma explicar a diferença no nível de satisfação com a imagem corporal
geral, o mesmo não ocorre com a distorção perceptiva da imagem corporal
geral (Quadro 4).
O fenômeno “descontentamento normativo”, citado em Norton e Olds (2005), é
a caracterização do fato de que as mulheres apresentam quase que em sua
totalidade alguma insatisfação corporal. O percentual de mulheres insatisfeitas
com a imagem corporal geral em nosso estudo foi de 89,1 % para as brasileiras
e 76,1 % para as portuguesas, num total de 82,6 % para a amostra total
(Quadro 9). Vale ressaltar que, enquanto observamos um maior percentual de
portuguesas satisfeitas com sua imagem corporal geral, seu nível de satisfação
é menor do que o das brasileiras (Quadro 8).
Quadro 9 – Caracterização do percentual de mulheres satisfeitas e insatisfeitas com a imagem
corporal geral, para brasileiras e portuguesas.
Brasileiras
Portuguesas
Total
Satisfeitas
10,9%
23,9%
17,4%
Insatisfeitas
89,1%
76,1%
82,6%
Spurgas (2005) afirma que a maior parte das pesquisas relacionadas a imagem
corporal tem demonstrado que as mulheres europeias apresentam piores
avaliações em construtos e variáveis relacionados a imagem corporal, o que
condiz com os resultados deste estudo. Holmqvist et al. (2007), apesar de
verificarem que a satisfação corporal não diferiu significativamente entre
mulheres suecas e argentinas, constatou que a percepção do peso é ligada de
forma mais estreita com a insatisfação corporal para as europeias.
81
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Lee e Lee (2000) e Ruggiero et al. (2000), em concordância com os resultados
de nosso estudo, verificaram que mulheres de regiões de maior modernização
e desenvolvimento econômico apresentam piores níveis de satisfação corporal.
A descendência europeia também foi verificada como relacionada a maiores
insatisfações corporais por Warren et al. (2005), tendo sido a etnicidade
encontrada como fator moderador entre a internalização dos ideais de magreza
e a insatisfação corporal (Cachelin et al., 2006; Warren, 2003).
A diferença significativa no nível de satisfação encontrado para as mulheres
brasileiras quando comparado ao das portuguesas de nosso estudo pode ser
explicada, em parte, como reflexo da escolha de silhuetas percebidas como
reais correspondentes a somatótipos mais próximos de seu ideal (Quadro 3).
A escolha do somatótipo percebido, entre brasileiras e portuguesas, em relação
a diferentes predominâncias somatotípicas, pode ser observada no Quadro 10.
Quadro 10 – percentual de escolha das silhuetas correspondentes a componentes
predominantes do somatótipo.
Brasileiras
Portuguesas
Endomofia (5B a 10B)
21,8%
50,3%
Mesomorfia (5A a 10A)
52,2%
34,7%
Ectomorfia (1 a 3)
0%
4,4%
Central (4A e 4B)
26,1%
19,6%
A maior satisfação das brasileiras pode também derivar do fato destas
treinarem a mais longo prazo (p = 0,000) e com maior frequência semanal (p =
0,000) (Quadro 6). Baseamos esta inferência, na associação do treino de força
a melhorias mais significativas para diversos construtos referentes ao bemestar físico (auto-conceito, atratividade percebida, satisfação com a imagem
corporal, ansiedade física social e percepção de auto-eficácia) (Depcik &
Williams, 2004; Stein & Motta, 1992; Williams & Cash, 2001).
82
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
No sentido de verificarmos a possível influência do tempo de treino e da
frequência de treino semanal, sobre a distorção da percepção da imagem
corporal geral, a satisfação com a imagem corporal geral e o ideal estético
(Quadros 4, 8 e 14), anulamos estatisticamente a sua influência. Os resultados
desta observação encontram-se nos seguintes Quadros, 11 e 12.
Quadro 11 – Caracterização distorção da percepção da imagem corporal geral, satisfação com
a imagem corporal geral e ideal estético, ao se anular a influência do tempo de treino (média e
desvio padrão).
Tempo de treino
Brasileiras
Portuguesas
Valor de f
Valor de p
2,1 (± 4,2)
1,2 (± 4,6)
,000
,998
- 0,26 (± 2,7)
- 2,17 (± 2,9)
4,094
,046
5,0 (± 1,6)
4,1 (± 1,2)
6,984
,010
anulado
Distorção da
percepção
Satisfação
Ideal Corporal
Através do Quadro 11, podemos verificar que não houve alterações ao
anularmos a influência do tempo de treino, mantendo-se a diferença
significativa de uma maior satisfação com a imagem corporal geral e um ideal
corporal mais musculado para as brasileiras em relação às mulheres
portuguesas.
Quadro 12 – Caracterização distorção da percepção da imagem corporal geral, satisfação com
a imagem corporal geral e ideal estético, ao se anular a influência da frequência de treino
semanal (média e desvio padrão).
Frequência de treino
Brasileiras
Portuguesas
Valor de f
Valor de p
2,1 (± 4,2)
1,2 (± 4,6)
,776
,381
- 0,26 (± 1,7)
- 2,17 (± 2,9)
3,442
,067
5,0 (± 1,6)
4,1 (± 1,2)
1,174
,282
anulada
Distorção da percepção
Satisfação
Ideal Corporal
O Quadro 11 nos mostra que quando anulada a influência da frequência de
treino
semanal,
não
foram
encontradas
diferenças
estatisticamente
significativas para nenhuma das variáveis observadas. Isto significa que a
83
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
frequência semanal de treinos realizados pelas mulheres está relacionada com
seus ideais estéticos e níveis de satisfação com a imagem corporal geral.
Voltando ao somatótipo, Stewart et al. (2003) verificaram uma insatisfação com
a imagem corporal mínima relacionada ao valor médio de 3.0-2.5-3.0, que em
nosso estudo, foi de 4.1-2.6-2.6 para o grupo de brasileiras insatisfeitas com a
imagem corporal geral. Já para as mulheres brasileiras e portuguesas
satisfeitas, o somatótipo médio encontrado foi de 4.2-2.9-2.4 e 3.4-3.6-2.8,
respectivamente. No Quadro 13, que se segue abaixo, podemos verificar a
variação
do
somatótipo
em
seus
valores
médios,
em
função
das
nacionalidades em estudo, assim como sobre as condições de satisfação ou
insatisfação com a imagem corporal geral.
Quadro 13 – Caracterização do somatótipo médio geral das mulheres satisfeitas, insatisfeitas e
da população em geral, para brasileiras e portuguesas.
Somatótipo das
satisfeitas
Somatótipo das
insatisfeitas
Somatótipo geral
Brasileiras
Portuguesas
(Nível de satisfação)
(Nível de satisfação)
4,2-2,9-2,6
3,4-3,6-2,8
(0)
(0)
4,1-2,6-2,6
5,0-4,1-2,0
(-0,29)
(-2,86)
4,1-2,6-2,6
4,6-4,0-2,2
(-0,26)
(-2,17)
Estes resultados sugerem que a satisfação com a imagem corporal geral da
amostra em estudo condiz com somatótipos que apresentem certo equilíbrio
entre a mesomorfia e a ectomorfia, apesar da satisfação advinda de uma
linearidade dominante ser bem documentada pela literatura (Garganta, 2000;
Fallon, 1990; Kakeshita e Almeida, 2006; Stewart et al., 2003; Vasconcelos,
1995).
84
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.3 – Ideal Corporal Geral
O ideal corporal geral foi definido pela escolha da silhueta correspondente ao
somatótipo ideal. No Quadro 14 estão descritas as frequências e o percentual
de escolhas correspondentes à referida silhueta ideal, para as brasileiras e
portuguesas.
Quadro 14 – Frequência e percentual de escolha das silhuetas correspondentes ao somatótipo
ideal para as brasileiras e portuguesas.
Silhuetas
Brasileiras
Portuguesas
1 (silhuetas 1 e 2)
2 – 4,3%
1 – 2,2%
2 (silhueta 3)
2 – 4,3%
3 – 6,5%
3 (silhuetas 4A e 4B)
2 – 4,3%
11 – 23,9%
4 (silhueta 5A)
6 – 13%
9 – 19,6%
5 (silhueta 6A)
16 – 34,8%
19 – 41,3%
6 (silhueta 7A)
11 – 23,9%
2 – 4,3%
7 (silhuetas 8A)
4 – 8,7%
1 – 2,2%
8 (silhuetas 9A e 10A)
3 – 6,5%
0 – 0%
Como apresentado no Quadro 3, verificamos que o valor médio do somatótipo
ideal das brasileiras é 5, que corresponde a um somatótipo predominantemente
mesomórfico, representado pela silhueta 6A, enquanto o valor médio do
somatótipo ideal das portuguesas é 4,1, que corresponde a um somatótipo
central, representado pelas silhuetas 4A ou 4B. Entretanto, ao observarmos o
Quadro 14, verificamos que a silhueta de maior frequência na escolha das
portuguesas se iguala a das brasileiras, condizente em nosso estudo, a um
somatótipo predominantemente mesomórfico, com valores da componente
mesomorfia entre 4.1 e 5.
A literatura tem demonstrado exaustivamente que as mulheres apresentam
uma preferência por silhuetas e corpos de predominância ectomórfica
(Garganta, 2000; Kakeshita & Almeida, 2006; Norton & Olds, 2005; Sobral &
Vasconcelos, 1996; Stewart et al., 2003), conclusões divergentes dos
resultados de nosso estudo. A adoção de um ideal predominantemente magro
85
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
é associada às internalizações dos ideais corporais midiáticos (Tiggemann,
2003) e a processos de aculturação e ocidentalização em indivíduos de cultura
oriental (Barnett et al., 2001). Entretanto, apesar de a etnicidade influenciar a
satisfação corporal como relatado anteriormente, o mesmo não se verifica
quanto aos ideais corporais (Cachelin et al., 2002).
Diferentemente de nossos resultados, ao compararem americanas e europeias,
Mautner et al. (2000) não encontraram entre norte-americanas, inglesas e
italianas, diferenças significativas em diversas avaliações utilizadas para se
verificar distúrbios da imagem corporal (e.g. Physical Appearance State and
Trait
Anxiety
Scale
Questionnaire-Physical
-
PASTAS,
Appearance
Multidimensional
Subscale
-
Body-Self
MBSRQ,
Relations
Body
Image
Avoidance Questionnaire - BIAQ e Eating Disorder Inventory - EDI). Os
próprios autores reconhecem como provável explicação para a falta de
diferenças uma influência transcultural dos meios mediáticos, a qual
aproximaria
as
diferenças
existentes
entre
nações
europeias
muito
desenvolvidas da América do Norte em relação a incidência dos distúrbios da
imagem corporal. De fato, McElhone et al. (1999) verificaram que a Itália
encontra-se entre os países europeus que mais apresenta ideais de magreza
excessivos.
Em concordância com o presente estudo, outros autores demonstraram a
necessidade de se introduzir avaliações da musculatura em pesquisas sobre a
imagem corporal, evidenciando o crescimento da insatisfação feminina com a
massa muscular na Noruega (Storvoll et al., 2005) e a presença de ideais
corporais atléticos em mulheres europeias de descendência australiana e
indígenas das Ilhas Fiji (Williams et al., 2006).
86
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.4 – Considerações finais
Fallon (1990) afirma que o conceito de beleza nunca foi estático nas culturas
ocidentais ao longo dos tempos, com a figura ideal nos séculos XIX e XX,
sendo duplamente representada entre a linearidade próxima do anorético e a
sensualidade das curvas e volume corporal. Este mesmo autor destaca que a
partir da década de 80 do último século, um ideal corporal feminino com mais
musculatura, ainda que magro, começa a aparecer.
Peters e Phelps (2001) sugeriram que as mulheres praticantes de musculação
são divididas entre o desejo por um corpo com mais musculatura e uma
silhueta mais magra. Em concordância com este autor, acreditamos que as
mulheres de nosso estudo apresentam ideais conflitantes porque, apesar de
termos observado ideais predominantemente mesomórficos e centrais, verificase o desejo pela linearidade, representado por valores negativos da variável
satisfação com a imagem corporal geral. Interpretamos estes resultados como
a presença de um ideal corporal com características de transição entre a
mesomorfia e a ectomorfia, para as brasileiras e portuguesas observadas neste
estudo.
Neste ínterim, a verdadeira força dos modelos ideais atuais, representados
pelo corpo magro, atlético, jovem, sensual e com boa aparência (Bane &
McAuley, 1998; Harrison, 2003; Stein & Motta, 1992; Marzano, 2001), é a
conexão entre a perfeição estética e a avaliação ética da pessoa, em
interpretantes de sucesso, auto-controle e status sócio-econômico, sendo ainda
o corpo um instrumento para se alcançar o amor, poder, consideração,
popularidade e amigos (Marzano, 2001).
Thompson (2004) relata que o campo da imagem corporal sofreu um tremendo
crescimento nos últimos 50 anos, apresentando um aumento exponencial no
número de revisões e novas medidas de suas múltiplas dimensões. É neste
contexto que Pruzinsky (2004) sugere a necessidade de uma melhoria nas
avaliações da imagem corporal, no que diz respeito à definição e identificação
87
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
do distress associado ou não a alguma patologia, e a especificação do seu
papel nos contextos médicos, o que tornaria os profissionais mais aptos para
definir a natureza exata das preocupações das pessoas, resultando um
refinamento dos indicadores de saúde, derivados de avaliações médicas de
rotina mais integrais.
A execução deste trabalho, no que se refere a revisão da literatura e a
investigação de campo em si, nos possibilitou compreender de forma mais
precisa que o construto da imagem corporal abrange através de suas diversas
variáveis, aspectos das realidades física e psicológica pelos quais o homem se
reconhece como tal. E que o desenvolvimento pleno da personalidade e de
seus valores só se é possível no equilíbrio da percepção acurada de si mesmo,
que não se confina nos limites do corpo.
Podemos perceber, que as concepções de saúde atuais entrelaçam-se de
significados simbólicos e corpóreos que conduzem a interessantes discussões
acerca das práticas e estratégias de inclusão e exclusão social em nossa
sociedade.
As contribuições da estética e da semiótica procuram conscientizar-nos e
esclarecer, sobre as relações do indivíduo em sua experiência com o belo,
tanto pela definição da beleza quanto pela forma como se processa a
percepção e conseguinte interpretação de seus estímulos em nossa mente.
Aprofunda-se a psicologia na discussão da influência da beleza e atratividade
física sob todo potencial libidinal que se movimenta em sua função, abrindo
campo à sociologia, que se debruça sobre o desenvolvimento social do homem
face as relações entre o belo, o indivíduo e suas tão diversas quão complexas
coletividades.
A comunicação social, ancorada no tríplice objetivo de educar, entreter e
informar, assim como o desporto, apresentam também sua parcela de
88
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
contribuição, educando e exemplificando, ambos a sua maneira, o homem
individual para si mesmo e para a sociedade.
Deve-se incentivar cada vez mais debates que possam chamar a atenção de
todos os educadores, sejam eles vinculados a transmissão do conhecimento ou
da informação, às discussões pertinentes ao interesse da construção contínua
de uma sociedade mais saudável e responsável pela autonomia e bem-estar
de seus indivíduos. Todos os profissionais que têm a capacidade de influenciar
sobre a saúde e a educação corporal das coletividades, devem ter em mente,
que oferecer (vender) idealizações efêmeras e sutis, existentes no imaginário
coletivo, associadas a materialidades corporais específicas, pode promover
interpretantes falsos e muitas vezes nocivos à saúde mental e física dos
indivíduos.
A utilização do instrumento de silhuetas adaptado neste estudo, vem fortalecer
os resultados de outras investigações que demonstram atualmente, a
importância dada pelas mulheres, como parte das percepções de si mesmas, à
musculatura.
Além das limitações inerentes aos estudos realizados com escalas de silhuetas
como instrumento de avaliação da imagem corporal, foi considerável a
dificuldade para se relacionar os resultados deste instrumento às tipologias
somatotípicas, tendo em vista a subjetividade própria de cada um destes
métodos.
Ressaltamos portanto, que se deve ter cautela ao comparar os resultados
deste estudo aos demais encontrados na literatura, devido ao fato de termos
nos concentrando em uma população específica de mulheres europeias e sulamericanas, caucasianas e praticantes de musculação.
89
6 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES
CONCLUSÕES
Capítulo 6 – Conclusões e sugestões
6.1 – Conclusões
Em função da avaliação do somatótipo não foi confirmada nossa primeira
hipótese. As brasileiras apresentaram um somatótipo de classificação
endomorfo equilibrado, e não mesoendomorfo como suposto.
Para as portuguesas a hipótese formulada se mostrou verdadeira, tendo sido
verificado um somatótipo endomorfo mesomorfo, pela predominância da
componente endomorfia sobre a mesomorfia, sendo esta última ainda maior
que a ectomorfia.
Quanto a nossa terceira hipótese, esta não foi verificada como verdadeira, pelo
fato de não ter sido encontrada diferença estatisticamente significativa entre
brasileiras e portuguesas quanto ao nível de distorção da percepção da
imagem corporal geral.
Confirmada nossa quarta hipótese, verificamos que as mulheres brasileiras,
apresentaram uma maior satisfação com a imagem corporal geral do que as
portuguesas.
Com um ideal corporal geral predominantemente mesomórfico, as brasileiras
diferenciaram-se significativamente das portuguesas, que idealizam corpos de
constituição central, constituindo-se verdadeira nossa quinta e última hipótese.
93
CONCLUSÕES
6.2 – Sugestões
A fim de aumentar a robustez do instrumento adaptado proposto neste estudo
e verificar a sua boa aceitação em universos amostrais mais amplos,
sugerimos que:
- Possam-se realizar estudos comparativos entre mulheres praticantes de
musculação de outras nacionalidades;
- Fossem também feitos estudos comparativos entre praticantes de diferentes
desportos e níveis de atividade física, passando por indivíduos sedentários,
ativos e atletas de alto rendimento;
- Outros estudos procurassem verificar uma possível existência de relações
entre este instrumento de silhuetas adaptado e outros semelhantes, assim
como aqueles que avaliem aspectos cognitivos e afetivos da imagem corporal.
- Mais pesquisas fossem realizadas sobre o interessante fenômeno do
fisiculturismo, em nível competitivo amador, pois pode desvelar um pouco mais
do como e porque as pessoas agem sobre seus corpos e lidam com as
consequências de atidudes muitas vezes exageradas, com objetivo de
responderem as pressões sociais relativas a aparência física.
94
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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115
8 - ANEXOS
ANEXOS
8 – Anexos
8.1 – Formulário de recolha dos dados
Nome:
Idade:
Peso:
Altura:
Frequência de treino:
Tempo de treino:
Último dia que menstruou:
Silhueta identificada:
Silhueta desejada::
Circunferência coxa:
Circunferência perna:
Perímetro do braço contraído:
Diâmetro cotovelo:
Diâmetro joelho:
Prega adiposa supra ilíaca:
Prega adiposa triciptal:
Prega adiposa coxa:
Prega adiposa perna:
Prega adiposa subscapular:
119
ANEXOS
8.2 – Escala de silhuetas apresentada às mulheres
120

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