Imagem Corporal e Morfologia: Estudo comparativo
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Imagem Corporal e Morfologia: Estudo comparativo
Imagem Corporal e Morfologia: Estudo comparativo entre mulheres brasileiras e portuguesas praticantes de musculação Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de mestre em Ciências do Desporto, área de especialização em Actividade Física e Saúde, conforme Decreto-Lei 216/92, de 13 de Outubro. Orientador: Professor Doutor Rui Manuel Garganta Silva Co-orientadora: Professora Doutora Maria Olga Fernandes Vasconcelos Alessandro Pedretti Porto, Junho de 2008 nº FICHA DE CATALOGAÇÃO Ficha de Catalogação Pedretti, A. (2008). Imagem Corporal e Morfologia: Estudo comparativo entre mulheres brasileiras e portuguesas praticantes de musculação. Porto: Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Palavras-chaves: IMAGEM CORPORAL, SILHUETAS, MUSCULAÇÃO À todos os novos amigos brasileiros e portugueses que fizeram parte desta etapa de minha vida acadêmica; Aos meus pais e irmãos; À Tatiane. Agradecimentos Da sugestão inesperada de uma amiga surgiu o propósito de ir para longe. Da oportunidade de estar em Portugal, surgiram novos amigos, novos horizontes, uma enorme experiência de vida e um aprendizado incomensurável. Este capítulo da minha história não poderia ter sido escrito sem vocês: Aos meus pais, que me apoiaram e possibilitaram este passo importante pela educação e exemplo que sempre dispensados. Aos meus irmãos, por serem exemplo e incentivo ao progresso. À Tatiane, minha esposa, por suportar a saudade de quase dois anos separados e por acreditar em mim, sempre. Aos “mestres” desta minha caminhada, Prof. Doutor Rui Garganta e Profa. Doutora Olga Vasconcelos, pela infinita paciência diante de minhas dificuldades acadêmicas, por todas as orientações e chamados à realidade da investigação científica. À FADE-UP, por todo apoio institucional oferecido, pela amizade com os seguranças e o pessoal da limpeza, e pela seriedade que nos leva ao amadurecimento pessoal. Aos Ginásios B-free e Holme´s Place em Portugal e às Academias Pumping Iron e Olympia no Brasil, pela confiança e total disponibilidade para a realização deste trabalho. À Faculdade de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Juiz de Fora, pela minha formação inicial neste campo infinito de possibilidades. V Índice Agradecimentos ................................................................................................. V Índice ................................................................................................................ VII Índice de Figuras ............................................................................................... IX Índice de quadros .............................................................................................. XI Lista de equações ........................................................................................... XIII Resumo ........................................................................................................... XV Abstract ......................................................................................................... XVII Résumé .......................................................................................................... XIX Lista de abreviaturas ...................................................................................... XXI Capítulo 1 – Introdução ...................................................................................... 3 1.1 – Apresentação do propósito, problema e objetivo do estudo .................. 3 1.2 – Estrutura do estudo................................................................................ 6 Capítulo 2 – Revisão da literatura ...................................................................... 9 2.1 – Imagem Corporal: desenvolvimento histórico do construto e delimitação terminológica .................................................................................................. 9 2.1.1 – Desenvolvimento histórico do construto ......................................... 9 2.1.2 – Delimitação terminológica ............................................................ 13 2.2 – A imagem corporal: tipologia e morfologia corporais ........................... 16 2.3 – A imagem corporal: uma visão multidisciplinar .................................... 21 2.3.1 – Filosofia ........................................................................................ 21 2.3.2 – Psicologia ..................................................................................... 23 2.3.3 – Sociologia ..................................................................................... 25 2.3.4 – Semiótica ...................................................................................... 27 2.3.5 – Comunicação Social ..................................................................... 30 2.4 – Imagem corporal e cultura ................................................................... 33 2.4.1 – Influências e questões sócioculturais associadas a imagem corporal ............................................................................................................ 33 2.4.2 – Agregação do padrão estético atual à idéia de saúde .................. 35 2.4.3 – Comparações culturais ................................................................. 39 2.5 – Imagem corporal na atividade desportiva feminina .............................. 42 2.6 – Definição das componentes da imagem corporal e dificuldades encontradas para a sua avaliação ................................................................ 49 Capítulo 3 – Objetivos e hipóteses ................................................................... 57 3.1 – Objetivos .............................................................................................. 57 3.2 – Hipóteses ............................................................................................. 57 VII Capítulo 4 – Metodologia ................................................................................. 61 4.1 – Amostra ............................................................................................... 61 4.2 – Critérios para a seleção da amostra .................................................... 61 4.3 – Instrumento e coleta de dados ............................................................. 62 4.3.1 – Apresentaçao do instrumento de silhuetas .................................... 62 4.3.1.1 – Associação dos valores do somatótipo a escala de silhuetas 63 4.3.2 – Definição dos tipos de Somatótipo ................................................ 66 4.3.3 – Procedimento para a definição dos somatótipos percebido e ideal66 4.3.4 – Antropometria ................................................................................ 67 4.3.4.1 – Composição corporal ............................................................. 69 4.3.4.2 – Critérios de classificação do IMC .......................................... 70 4.4 – Avaliação da distorção da percepção da imagem corporal geral, da satisfação com a imagem corporal geral e do ideal corporal. ....................... 70 4.5 – Variáveis do estudo ............................................................................. 71 4.6 – Procedimentos estatísticos .................................................................. 71 Capítulo 5 – Apresentação e discussão dos resultados ................................... 75 5.1 – Distorção da Percepção da Imagem Corporal Geral ........................... 76 5.2 – Satisfação com a Imagem Corporal Geral ........................................... 80 5.3 – Ideal Corporal Geral............................................................................. 85 5.4 – Considerações finais............................................................................ 87 Capítulo 6 – Conclusões e sugestões .............................................................. 93 6.1 – Conclusões .......................................................................................... 93 6.2 – Sugestões ............................................................................................ 94 7 – Referências bibliográficas .......................................................................... 97 8 – Anexos ..................................................................................................... 119 8.1 – Formulário de recolha dos dados ...................................................... 119 8.2 – Escala de silhuetas apresentada às mulheres ................................... 120 VIII ÍNDICE DE FIGURAS Índice de Figuras Figura 1 – Escala de silhuetas para mulheres com interesse em emagrecimento e fortalecimento ................................................................................................ 62 IX ÍNDICE DE QUADROS Índice de quadros Quadro 1 – Caracterização da amostra em seus valores médios e desvios padrão. ............................................................................................................. 61 Quadro 2 – Caracterização das componentes do somatótipo para as brasileiras e portuguesas................................................................................................... 75 Quadro 3 – Caracterização das variáveis utilizadas para obtenção dos níveis de distorção da percepção e satisfação com a imagem corporal geral e ideal corporal, para as brasileiras e portuguesas (média e desvio padrão) .............. 76 Quadro 4 – Caracterização da variável nível de distorção para brasileiras e portuguesas (média e desvio padrão) .............................................................. 77 Quadro 5 – Caracterização do percentual de brasileiras e portuguesas que subestimaram e sobre-estimaram sua imagem corporal geral ......................... 77 Quadro 6 – Caracterização das variáveis frequência de treino semanal e tempo de treino, para as brasileiras e portuguesas (média, desvio padrão e significância)..................................................................................................... 78 Quadro 7 – Caracterização do percentual do índice de massa corporal e seu valor médio, das brasileiras e portuguesas. ..................................................... 78 Quadro 8 – Caracterização da variável satisfação com a imagem corporal geral para brasileiras e portuguesas (média, desvio padrão e significância) ............ 80 Quadro 9 – Caracterização do percentual de mulheres satisfeitas e insatisfeitas com a imagem corporal geral, para brasileiras e portuguesas ......................... 81 XI ÍNDICE DE QUADROS Quadro 10 – percentual de escolha das silhuetas correspondentes a componentes predominantes do somatótipo .................................................... 82 Quadro 11 – Caracterização distorção da percepção da imagem corporal geral, satisfação com a imagem corporal geral e ideal estético, ao se anular a influência do tempo de treino (média e desvio padrão) .................................... 83 Quadro 12 – Caracterização distorção da percepção da imagem corporal geral, satisfação com a imagem corporal geral e ideal estético, ao se anular a influência da frequência de treino semanal (média e desvio padrão)............... 83 Quadro 13 – Caracterização do somatótipo médio geral das mulheres satisfeitas, insatisfeitas e da população em geral, para brasileiras e portuguesas...................................................................................................... 84 Quadro 14 – Frequência e percentual de escolha das silhuetas correspondentes ao somatótipo ideal para as brasileiras e portuguesas ......... 85 XII LISTA DE EQUAÇÕES Lista de equações Cálculo do percentual de gordura corporal – ((4,95 / DC3) - 4,5) x 100 Cálculo da densidade corporal – 1,0994921 - 0,0008267 x (A+B+C) + 0,0000016 x (A+B+C x A+B+C) - 0,0001392 XIII RESUMO Resumo A estética do ser humano e sua aparência física por influenciarem o comportamento individual e coletivo, têm sido cada vez mais estudados em diversas áreas de pesquisa. O objetivo de nosso estudo foi identificar e comparar o tipo somático, a percepção da imagem corporal geral, a satisfação com a imagem corporal geral e o ideal estético de mulheres brasileiras e portuguesas praticantes de musculação. Duas nacionalidades que apresentam uma interessante peculiaridade, por conta dos fortes traços culturais portugueses presentes no povo brasileiro devido a colonização de outrora e a inserção de parte da cultura contemporânea brasileira (principalmente a midiática) no povo português. A amostra foi constituída por 46 brasileiras e 46 portuguesas com idades médias de 27,1±8.4 anos de idade. Os instrumentos utilizados foram o somatótipo, de acordo com o método de Cárter e Heath (1990) e um instrumento de silhuetas adaptado de Stunkard, Sorensen e Schulsinger (1983). Utilizamos o teste t de Student para medidas independentes e recorremos à covariância para anular o efeito do tempo de treino e a frequência semanal de treino que poderiam condicionar os resultados. O nível de significância foi mantido em p ≤ 0.05 e o programa de análise estatística utilizado foi o sofware SPSS versão 15.0. Verificamos que: a) o somatótipo das brasileiras é endomorfo equilibrado e o das portuguesas é endomorfo mesomorfo; b) não houve diferenças quanto a distorção da percepção da imagem corporal geral entre as populações (t=0,991 e p=0,324); c) brasileiras demonstraram ter uma satisfação com a imagem corporal geral mais significativa do que as portuguesas (t=3,227 e p=0,002) e; d) o ideal corporal das sul-americanas e europeias deste estudo é, respectivamente, de predominância mesomórfica e central. Palavras-chave: Imagem corporal, silhuetas, musculação XV ABSTRACT Abstract The Human aesthetic and physical appearance are actually studied in many research areas for their influence. The way the person identify, evaluate and idealize itself, and the way how it understand the opinion of others about itself is a topic of general interest, of public health. The objective of our study was identify and compare the physical type, perception of general body image, satisfaction of general body image and aesthetic ideal of brazilian and portuguese woman who practice weight training. These two nations have an interesting peculiarity, due to strong Portuguese cultural characteristics that exist in Brazilian people from the past colonization of Brazil by Portugal and the actual insertion of part of the Brazilian culture (principally by the media) on Portuguese people. Our sample have 46 brazilian and 46 portuguese women with medium ages of 27,1±8.4 years old, who practice weight training. The instruments used were the somatotype from Heath e Carter (1980) method and an adapted instrument of silhouettes from Stunkard, Sorensen e Schulsinger (1983). The t student test was used for independent measures, as the covariance to nullify the effect of time of training and frequency per week of training that could influence the results. The significance was estabilished by p ≤ 0.05 and the statistical program used was software SPSS version 15.0. We verify that: a) the brazilian somatotype is balanced endomorph and the Portuguese one is an endomorph mesomorph somatotype; b) no differences was found due to the distortion of perception of general body image (t=0,991 e p=0,324); c) Brazilian women showed a significative greater satisfaction with general body image than the Portuguese women (t=3,227 e p=0,002) and, d) the aesthetic ideal of South American and European in this study was, respectively, predominantly mesomorph and central. Keywords: Body Image, silhouettes, weight training XVII RÉSUMÉ Résumé L’esthétique humaine et l’apparence physique sont depuis très longtemps des sujets qui font débat en philosophie, et deviennent de plus en plus important dans différents domaines au niveau mondial. L’objectif de notre étude a été d’identifier et de comparer le type somatique, la perception de l’image du corps en général, la satisafaction de ce dernier et l’apparence idéale des femmes brésiliennes et portugaises qui pratiquent la musculation. Ces deux pays ont une particularité intéressante, en raison des fortes caractéristiques culturelles qui existent chez les Brésiliens depuis la colonisation du Brésil par le Portugal et de la réelle insertion d’une partie de la culture brésilienne chez les Portugais (principalement par les médias). Notre échantillon compte 46 femmes de nationalité Brésilienne et 46 de nationalité Portugaise, avec des âges moyens de 27,1±8.4 et qui font de la musculation. Les instruments utilisés ont été le somatotype, conformément à la méthode Health-Carter (1980) et un instrument adapté à l’analyse de la silhouette de Stunkart, Sorensen et Shulsinger (1983). Le test t de l’étudiant a été utilisé pour des mesures indépendantes, comme la covariance pour annuler l’effet du temps d’entrainement et la fréquence hebdomadaire des entrainements qui pourrait influencer les résultats. Le niveau d’importance a été maintenu avec p ≤ 0.05 et le programme stastitique utilisé a été software SPSS version 15.0. nous vérifions que a) Le somatotype des brésiliennes est endomorphe et celui des portugaises est un somatotype endomorphe mésomorphe; b) Aucune différence n’a été trouvé au sujet de la déformation de la perception de l’image générale du corps entre les deux populations (t=0,991 e p=0,324); c) Les femmes brésiliennes ont démontré avoir une satisfaction avec l’image générale du corps, de façon plus significatives que les portugaises (t=3,227 e p=0,002)et; d) L’idéal corporel des Sud-Américaines et des Européennes de cette étude est, respectivement, de prédominance mésomorphe et centrale. Mots-cléfs: l´image du corps, silhouettes, musculation XIX LISTA DE ABREVIATURAS Lista de abreviaturas SDD – Somatotype Dispersion Distance SAD – Somatotype Attítudinal Distance IFBB – International Federation of Bodybuilding & Fitness H1 – Hipótese um H2 – Hipótese dois H3 – Hipótese três H4 – Hipótese quatro H5 – Hipótese cinco Fig. 1 – Figura um IMC – Índice de massa corporal DC – Densidade Corporal %G – Percentual de Gordura A – prega adiposa da coxa B - prega adiposa tricipital C - prega adiposa supra-ilíaca. MG – Massa gorda W.H.O – World Health Organization SPSS – Statistical Package for the Social Sciences PASTAS – Physical Appearance State and Trait Anxiety Scale MBSRQ – Multidimensional Body-Self Relations Questionnaire-Physical Appearance Subscale BIAQ – Body Image Avoidance Questionnaire EDI – Eating Disorder Inventory XXI 1 - INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO Capítulo 1 – Introdução 1.1 – Apresentação do propósito, problema e objetivo do estudo Este estudo pretende ampliar a compreensão sobre os arquétipos ou modelos corporais presentes no imaginário feminino e sua influência nas idealizações da imagem corporal individual. Procuramos através da compreensão da relação entre o imaginário social e suas projeções corporais, conhecer mais profundamente o intercâmbio coletivo entre a consciência individual -a noção do eu- e a forma como se interpretam as inúmeras experiências e vivências corporais de mulheres praticantes de musculação. A aparência física é muito importante para o desenvolvimento humano (Cash, 1990), tendo em vista que cada cultura apresenta sua própria estrutura de identificações e projeções estéticas (Durkheim, 1978; Schilder, 1994), que permite a construção da imagem do próprio corpo, em face a liberdade individual alcançada com as mudanças de comportamento durante o último século. Da evolução da comunicação falada e escrita aos diversos meios existentes (impresso, áudio-visual e hipermídia) atualmente, são veiculadas dentre todo conjunto de mensagens a que se pretendem transmitir, idéias e valores sociais simbolizados corporalmente (Pedretti & Vasconcelos, 2006). Segundo Tiggemann (2003) a mídia pode estimular a projeção de arquétipos corporais associados a valores simbólicos, culturalmente utilizados como instrumentos hierarquizantes dos indivíduos, afirmação esta relevante ao reconhecermos, como Durkhein (1978) e Costa (2000), que organizamos e estruturamos nosso conhecimento e psiquismo através de idéias expressas por representações imagéticas mentais. Ainda que não definido pela literatura, acreditamos que a cultura ocidental vive rumo ao ápice de um ciclo de padrões estéticos que começou a se fazer vigente a menos de meio século. Referindo-se ao nosso imaginário coletivo, inserido no contexto sócio-econômico da atualidade, podemos ver que a 3 INTRODUÇÃO satisfação das necessidades do corpo passou a ser alvo do consumismo como alavanca do mercado, ora com a significância de status e poder, ora de equilíbrio, saúde, paz e etc (Luvisolo, 2000). Entendemos aqui o imaginário, como o imaginário social de Durkheim, reflexo de configurações simbólicas utilizadas pelo homem para representar o mundo e a si mesmo (Durkheim, 1978). Com base nas idéias de Solomom (1991) e Rocha (1995), podemos facilmente identificar que as práticas, valores e representações corporais presentes em nossa cultura estética se correlacionam intimamente com o modelo de sociedade capitalista, transformando o lazer em estilo de vida e este último, em consumo. Schilder (1994) deixa claro que a imagem corporal, como fenômeno social e individual, é ativa, que ocorre, se modifica e se adapta às exigências e características do universo e estruturas das interações sociais. Sendo assim, o interesse pelo desenvolvimento e melhor compreenção dos aspectos e áreas de atuação dos conceitos acerca da estética humana vêm crescendo exponencialmente. De início as relações deste construto com a neurologia envolviam questões patológicas referentes as sensações corporais proprioceptivas e outras questões (Fisher, 1990). O interesse pelas relações de importância e relevância da nossa imagem individual e coletiva, direcionou este campo do saber às inúmeras situações que caracterizam o homem enquanto ser social (Harvey e Sparks, 1991; Turner, 1991). Mais recentemente, como destaca Pruzinsky (2004), outras preocupações surgiram em detrimento do aperfeiçamento e maturação dos conhecimentos acerca da imagem corporal. Enquanto algumas destas preocupações são referentes as recentes teorias e conceitos sobre a operacionalidade dos processos deste contruto na mente humana, outras são advindas de novas necessidades surgidas pelo próprio desenvolvimento e modificação das estruturas sociais ao longo das décadas. 4 INTRODUÇÃO Investigações acerca da influência de uma preocupação individual sobre a imagem corporal em campos médicos, como a recuperação de queimados, pacientes com câncer e patologias que afetam direta ou indiretamente a estética corporal, são emergentes (Thompson, 2004). Assim como o reconhecimento de seu amplo alcance temático, que perpassa sobre as inúmeras condições da prática de atividades físicas nos diversos comportamentos relacionados ao exercício (Hurst, Hale, Smith & Collins, 2000; Marzano, 2001; Tiggemann & Williamson, 2000; Scully, Kremer, Meade, Graham & Dudgeon, 1998). Diante da crescente ebulição de estudos e interesse, pelos diversos campos do saber relacionados de alguma forma aos complexos fenômenos individuais e sociais referidos singularmente pelo termo da imagem corporal, surge a necessidade de se entender os novos paradoxos corporais que respondam as exigências do desenvolvimento de conceitos mais específicos e de novas áreas de estudo. A transdiciplinaridade e congruência de inúmeros campos científicos é atualmente um fato presente nos estudos da imagem corporal, possibilitando o desenvolvimento de novos conceitos e métodos de avaliação (Damani, Button & Reveley, 2001; Fonseca & Fox, 2002; Cash, Jakatdar & Williams, 2004). Derivadas de observações das realidades brasileira e portuguesa, quanto ao “corpus” feminino ideal, surgiram questões referentes à insatisfação corporal e às distorções perceptivas das mulheres, em relação a sua muscularidade e densidade corporal. Nosso objetivo então é verificar os níveis de acuidade perceptiva, satisfação e ideal corporal de mulheres brasileiras e portuguesas praticantes de musculação, procurando identificar nas mesmas, a predominância de uma tendência ao delineamento muscular e maior densidade corporal, além da linearidade clássica. Parece-nos importante que se possa construir debates que visem compreender a exacerbada importância que uma “boa aparência” ou a imagem corporal detém para o Homem. 5 INTRODUÇÃO 1.2 – Estrutura do estudo Procuramos organizar os conteúdos abordados em seis capítulos. O primeiro deles reservou-se a introdução. No segundo capítulo, referente a revisão de literatura, são abordados diferentes temas relacionados a imagem corporal, divididos em cinco sub-capítulos. No primeiro destes desenvolve-se a apresentação de um breve relato sobre o desenvolvimento histórico do construto, seguido de uma delimitação terminológica referente ao tema. No segundo sub-capítulo da revisão de literatura, apresentamos o desenvolvimento das tentativas de se classificar objetivamente as características morfológicas do corpo humano e algumas de suas relações para com a prática desportiva. Na continuidade do trabalho no sub-capítulo três, temos um esboço do amplo campo multidisciplinar que o tema permite abarcar quando observado em suas características subjetivas. Na continuidade do trabalho no sub-capítulo quatro, são discutidas questões como as influências culturais sobre a imagem corporal, algumas considerações acerca do ideal corporal atual em sua associação aos ideais de saúde da atualidade e a apresentação de diversas comparações culturais presentes na literatura, que salientam as divergências e congruências na imagem corporal presentes em diversas coletividades. Em seguida, com o sub-capítulo cinco, observamos o tema através do âmbito esportivo, discorrendo sobre a prática de diversas atividades físicas por indivíduos atletas e não atletas. No sexto subcapítulo, apresentamos uma definição de suas componentes e as dificuldades encontradas para sua avaliação em campos de abordagem objetivos e subjetivos. O terceiro capítulo evolve a delimitação dos objetivos e hipóteses deste estudo. A metodologia, a amostra e os instrumentos de avaliação são descritos no capítulo quatro. No quinto capítulo são apresentados e discutidos nossos resultados, terminando com nossa conclusão final sobre o tema e resultados encontrados no último e sexto capítulo. 6 2 - REVISÃO DA LITERATURA REVISÃO DA LITERATURA Capítulo 2 – Revisão da literatura 2.1 – Imagem Corporal: desenvolvimento histórico do construto e delimitação terminológica 2.1.1 – Desenvolvimento histórico do construto Fisher (1990) afirma que, conceitos como consciência, ansiedade, imagem e esquema corporais, relativos a percepção do próprio corpo, têm sido constantemente aplicados para o entendimento de fenômenos diversos como o uso de drogas, acometimentos patológicos, intervenções cirúrgicas e psicoterápicas, prática de atividades físicas e muitos outros. Normalmente, vertentes de trabalhos de diferentes áreas do conhecimento, como a psicologia, a sociologia e a educação física, lidam com as atitudes e sentimentos corporais como se seus conteúdos fossem desconexos, levados a cabo como se as outras áreas do saber não existissem, raramente apresentando referências interdisciplinares, utilizando os termos acima citados sem nenhum esforço de integração entre eles. Segundo Stewart, Benson, Michanikou, Tsiota e Narli (2003), as primeiras tentativas de se classificar a morfologia humana foram atribuídas a Hipócrates (460-377 A.C.) e seus contemporâneos. Abordagens sistematizadas apareceram somente no século XX com a neurologia, quando se começou a realizar estudos no campo das distorções da percepção corporal advindas de danos cerebrais, das representações internas e conscientes do corpo provenientes de informações proprioceptivas, membros fantasmas, problemas na percepção da lateralidade e outros, levando os neurologistas a verificarem que os modelos “normais” da percepção corporal não são imutáveis e representam processos organizados que se podem desestruturar, dando respaldo científico ao fenômeno que passou a ser reconhecido como tendo um 9 REVISÃO DA LITERATURA esquema central que registra as percepções corporais e as integra (Fisher, 1990). Outros exemplos nos quais conceitos de significância sobre a imagem corporal estavam presentes, mesmo que ainda pouco desenvolvidos, são as discussões de Wundt sobre o campo das sensações cinestésicas na modulação de julgamentos psicofísicos, os estudos de Titchener, que ressaltavam a importância das sensações corporais como modificadoras dos processos perceptivos, as teorias de Erickson, que demonstraram fortes correlações entre as delimitações corporais e outras noções da imagem corporal, além de Reich na área da psicologia, que versou os conflitos individuais e sua expressão em termos do tônus muscular, relacionando-os com experiências sociais e individuais (citados por Fisher, 1990, p.14, 15 e 16). Fisher (1990, p. 16), afirma que o corpo como objeto psicológico começou a despertar interesse para a psicologia, quando ainda contextualizado como um fenômeno perceptivo clássico, sob a influência de dois importantes pesquizadores. O primeiro deles foi Witkin, que em 1954, com auxílio de colaboradores, demonstrou que a habilidade dos julgamentos da posição espacial do corpo e a sua capacidade de se distinguir perceptivamente de objetos distintos, era de alguma forma associada a noção do próprio corpo como uma entidade diferenciada. Por sua vez, Karem Machover em 1949 tornou conhecidos os conceitos sobre imagem corporal na América e na psicologia clínica européia. Wapner e Wernes (citados por Fisher, 1990, p.16) legitimaram os estudos da percepção corporal mostrando que esta se encontra sob o mesmo campo da percepção dos objetos, com investigações sobre a influência das atitudes corporais e fatores externos na percepção do tamanho corporal, na separação e identificação de objetos como pertencentes ao corpo ou ao ambiente, e a relação da percepção com o crescimento maturacional individual. 10 REVISÃO DA LITERATURA A psicanálise, através da teoria libidinal de Freud, influenciou muitos estudos sobre a corporeidade humana em outras áreas do conhecimento, por mostrar como a atenção e o comportamento são mediados por sinais e significados simbólicos associados às partes corporais mais importantes para cada indivíduo (Fisher, 1990). Fisher (1990, p. 13), cita Freud por enfatizar que “o ego é primeiramente e antes de tudo um ego corporal”, destacando também autores como Jung, Fordham, Perry e Rank, que contribuíram para a elaboração da noção de que os indivíduos conceitualizam seus corpos como containers ou como um cerco protetor no qual podem se refugiar e evitar ataques a si próprios. Pesquisas como estas tornaram os psicólogos desenvolvimentistas, interessados neste campo de estudo, familiarizados e convencidos da influência dos comportamentos e atitudes relativos ao corpo sobre diversos aspectos do desenvolvimento dos indivíduos. Pois, até então, pouca ou nenhuma atenção era deferida para questões relacionadas a experiência corporal e a personalidade (Fisher, 1990). Neste sentido, Paul Schilder contribuiu enormemente, redirecionando o interesse acadêmico para uma observação das distorções perceptivas, não somente à luz da fisiologia cerebral, mas também sob um amplo campo psicológico. Schilder (citado por Fisher, 1990, p. 7 e 8), que já em 1914 e 1923 publicava estudos sobre toda uma gama de assuntos gerais relacionados com a imagem corporal, deu possivelmente sua maior contribuição à área em 1935. A compreensão das idéias de Schilder tornou-se indispensável, que através de pontos de vista físico, social e mental, instituiu um caráter multifacetado ao fenômeno, integrando conceitos e tornando multidisciplinar o campo de estudo da aparência física, que passou a envolver elementos tanto das ciências biomédicas quanto das ciências do comportamento ou sociais. De acordo com Fisher (1990), Schilder não se cingiu apenas às distorções associadas a patologias cerebrais orgânicas, mas praticamente a todas as 11 REVISÃO DA LITERATURA situações associadas aos indivíduos “normais”, enfatizando a importância dos sentimentos e atitudes corporais para as explicações do comportamento. Antecipando o pensamento de sua época, Schilder focalizou seus estudos sobre as delimitações e percepções do volume e tamanho do corpo, assim como para a diferença entre percepções do interior e superfície corporais, pontos de imensa importância para os estudos sobre anorexia nervosa, a busca pela aparência, atratividade e beleza, assim como para os efeitos do exercício na percepção corporal. Na continuação do relato de Fisher (1990, p. 16 e 17), são citados outros estudos importantes que contribuíram para o desenvolvimento do construto da imagem corporal, como as pesquisas com lentes oculares para investigar distorções sobre a percepção de si próprio e de objetos externos (e.g. Stratton, Kohler, Harris), os estudos de Piaget sobre aspectos do desenvolvimento da percepção espacial e diferenciações de lateralidade, e os de Koff, Rierdan e Silverstone sobre maturação corporal, além das definições de Kohlberg sobre a sexualidade e de Lerner sobre padrões de atratividade. Os estudos que lidam com o corpo como um objeto psicológico se ramificaram por diversos domínios que foram divididos em nove grandes áreas de acordo com Fisher (1990): i- Percepção e avaliação individual da aparência física; iiPrecisão da percepção individual do tamanho corporal; iii- Precisão da percepção individual das sensações corporais; iv- Habilidade de julgamento da posição espacial do corpo; v- Sentimentos sobre as definições e valores protetores dos limites corporais; vi- Distorções das sensações corporais e experiências associadas a psicopatologias e danos cerebrais; vii- Respostas a danos corporais, perdas de membros e cirurgias; viii- Respostas a vários procedimentos desenvolvidos para camuflar o corpo cosmeticamente ou de alguma forma “melhorá-lo” e; ix- Atitudes e sentimentos pertinentes a identidade sexual corporal individual. 12 REVISÃO DA LITERATURA Atualmente, longe de uma entidade singular, o construto da imagem corporal é reconhecidamente multidimensional, com diversos significados teóricos e empíricos, denominado freqüentemente pelas representações internas e subjetivas da aparência física e da experiência corporal. Sendo assim, os estudos mais produtivos acerca da psicologia da aparência física requerem uma ênfase integrativa tanto no foco subjetivo quanto no objetivo da imagem corporal. 2.1.2 – Delimitação terminológica Ao longo do desenvolvimento e estruturação dos conhecimentos acerca deste construto, alguns pesquisadores defenderam conceitualizações e nomenclaturas distintas para os diferentes aspectos (cognitivos e emocionais) da imagem corporal. Shontz (citado por Cash, 2004, p. 2) sugeria em 1969 o termo esquema corporal para percepções espaciais e posturais, conceito corporal, processos e estruturas somáticas, e o termo valores corporais, para atitudes emotivas e valores relacionados ao corpo. Logo após Freud, Schilder foi um dos primeiros que de forma mais sistematizada e detalhada, introduziu conceitos da psicanálise na teorização sobre a imagem corporal (Cash, 1990). De fato, a extensa definição de Schilder (1994) sobre imagem corporal afirma que: “A imagem do corpo humano significa a figura do próprio corpo que formamos na nossa mente, o que é dizer, o modo como o corpo aparece para nós. Existem sensações que nos são dadas. Nós vemos partes da superfície corporal. Temos impressões tácteis, térmicas e de dor. Existem sensações que vem dos músculos e dos tendões – sensações advindas da enervação muscular – e sensações advindas das vísceras. Tão logo haja uma experiência imediata há a unidade do corpo. Esta unidade é percebida, ainda que seja mais que uma percepção. Nós a chamamos de um esquema do nosso corpo ou 13 REVISÃO DA LITERATURA esquema corporal, ou: ´following head`, que enfatiza a importância do conhecimento da posição do corpo, do modelo postural do corpo. O esquema do corpo é a imagem tridimensional que todos têm de si mesmos. Podemos chamá-lo de imagem corporal” (p. 11). Em um resumo das idéias de Paul Schilder, entende-se por imagem corporal, a figuração tridimensional formada em nossa mente, reflexo da estrutura do corpo, ou ainda, a forma como o percebemos, sendo esta percepção a base das atitudes emocionais relativas a nossa corporeidade, continuamente reestruturada, integrando-se e diferenciando-se, em perpétua autoconstrução. A definição de Schilder abarca elementos conscientes e inconscientes, toda a variedade de sensações corporais e uma “unidade percebida” de caráter gestáltico que vai além da simples percepção. Como veremos em seguida, outros autores, em períodos posteriores, apresentam relações diretas não só entre as variáveis da imagem corporal com as patologias, mas também entre estas e todos os eventos cotidianos da vida. Estes autores ampliaram, assim, as definições e conceitos deste construto. Fisher (1990), corroborando conceitos de Schilder, relata que a imagem corporal tem se tornado um campo altamente complexo, e referências ao seu contexto como aspecto unidimensional são demasiado elementaristas e reducionistas, tendo em vista os dados incontestáveis que a indicam como fenômeno multidimensional. Assim, algumas de suas facetas podem ser observadas e estudadas por se apresentarem “visíveis” sobre a consciência humana, enquanto outras ainda se encontram submersas no pouco desvelado campo da inconsciência e subconsciência. Cash (1990) sugere que a imagem corporal individual inclui a percepção de padrões culturais, a percepção do quanto se é próximo destes padrões, e a percepção da importância relativa deste padrão para os membros de seu grupo social e para os indivíduos em geral. Anui que esta sofre ainda influências de 14 REVISÃO DA LITERATURA nossos desejos, atitudes emocionais e interações sociais, definindo-a de forma ampla como as atitudes relativas ao próprio corpo e em particular à aparência física. Fallon (1990) reconhece que de todas as formas como as pessoas podem pensar sobre si mesmas, nenhuma é tão imediata e central como a imagem de seus próprios corpos. Afirma então, que imagem corporal é o meio como as pessoas percebem a si mesmas e como pensam que os outros as vêem, sendo constantemente mutável pelo crescimento biológico, trauma ou degenerescência, e significativamente influenciada e moldada por diversas circunstâncias – acentuada pelo prazer ou pela dor. Uma maneira útil de conceitualizar a imagem corporal, de acordo com Bane e McAuley (1998), é entendê-la como um guarda-chuva que abarca a precisão das percepções do tamanho e peso corporal, as cognições acerca da satisfação e avaliação da aparência corporal, componentes afetivas relativas a ansiedade e sentimentos derivados da aparência e componentes comportamentais, como atitudes alimentares e de exercício focalizadas corporalmente. Cash e Pruzinsky (citados por Cash, Melnyk & Hrabosky, 2004, p.306) distinguem em 2002, uma imagem corporal perceptiva e outra intencional, dividindo ainda a segunda em dimensões de avaliação e investimento comportamental afetivo e cognitivo. Cash, Melnyk e Hrabosky (2004) diferenciaram posteriormente o construto do investimento estético, em um ponto de vista auto-avaliativo e um ponto de vista motivacional da aparência de si próprio. Pesquisadores e clínicos pensam geralmente sobre a imagem corporal em relação a sua estimativa e satisfação. É essencial discernir entre a satisfação, que reflete o nível da importância psicológica da aparência para o indivíduo, e 15 REVISÃO DA LITERATURA um investimento ou uma preocupação com a aparência, que mostram se os pensamentos e comportamentos giram em torno dela. Pruzinsky (2004) afirma que a complexidade conceitual da imagem corporal pode ser representada por três fatores. Primeiro, a não restrição de sua abrangência à percepção da aparência física, tendo que se considerar as percepções individuais da funcionalidade corporal, níveis de competência, sensações corporais e outras experiências relacionadas ao corpo. Em segundo, a inerente subjetividade de suas experiências, que se refletem em muitas variáveis, como o grau e natureza da importância da aparência para a própria definição do “eu”, consciências e sensibilidades somáticas, resistência individual do construto sobre agentes externos, assim como para fatores do desenvolvimento nos campos físicos, psicológicos e socias. E em terceiro, a compreensão de seu caráter lábil, influenciado por variáveis contextuais e ambientais. Tendo em consideração todas as características e noções transdiciplinares apresentadas por Fischer (1990), Fallon (1990), Cash (1900), Schilder (1994), Vasconcelos (1995) e Bane e McAuley (1998), apresentadas neste estudo, entendemos que, a imagem corporal envolve um intrincado conjunto de fatores perceptivos, cognitivos e afetivos que determinam a forma subjetiva como as pessoas se vêem e vêem os outros. 2.2 – A imagem corporal: tipologia e morfologia corporais Carter e Heath (1990) explicam que diversos autores (e.g. Kretschmer, Sheldon, Jung, Adler) procuraram classificar a diversidade da morfologia humana em tipologias ou traços anatômicos específicos, englobando conceituações que abrangeram desde a componente somática isoladamente, a outras que consideraram o contexto dinâmico-funcional do corpo em relação à estrutura psíquica do indivíduo e aquelas de cunho estritamente psicológico. 16 REVISÃO DA LITERATURA Ao relatarem o desenvolvimento inicial do somatótipo, Carter e Heath (1990) descrevem que o modelo de Kretschmer (1888-1964) delimitou a morfologia humana em quatro tipos, o Leptosômico, com características como a estrutura esquelética e tecido adiposo pouco desenvolvidos, o Pícnico, que apresenta um volume corporal desenvolvido em formas mais redondas e extremidades curtas com tendência para a calvice, o Atlético, sua robustez muscular e esquelética características, tronco desenvolvido com anca estreita e membros fortes, e o Displásico, englobando indivíduos disformes ou casos extremos de outros tipos mistos impossíveis de classificar. A somatotipologia de Sheldon, baseada no desenvolvimento dos três folículos embrionários, em 1940, veio classificar a morfologia humana após Kretschmer, definindo três principais tipos somáticos, ou somatótipos, representados por valores que significam a influência do desenvolvimento da endoderme, mesoderme e ectoderme na constituição física individual (Carter e Heath, 1990). Cada componente varia de 1 a 7 valores, com possíveis combinações entre os valores de 1 a 7 para cada uma das componentes. Sheldon considerava valores entre 0.5 e 2.5 como baixos, de 3 a 5 medianos e, de 5 a 7 altos, sendo ainda estipulados níveis extremos de 711 para a endomorfia pura, o 171 para a mesomorfia pura e o 117 para a ectomorfia pura, devendo seus valores serem considerados como uma unidade e não separadamente. A classificação de Sheldon de 1940 era obtida por observação antroposcópica de fotografias frontais, laterais e posteriores dos indivíduos. Desde então, diversas tentativas foram realizadas a fim de tornar o método de somatótipo mais objetivo. O antropólogo Cureton em 1947 associou o método inspecional com auxílio de fotografias a antropometria (perímetros) e avaliações de força. Um novo método que ampliava o emprego das medições antropométricas para pregas cutâneas, perímetros, diâmetros ósseos, peso e altura, foi desenvolvido por Parnel em 1954, sendo aprensetada uma versão final mais simples e menos dispendiosa em 1990, por Heath e Carter (Carter e Heath, 1990). 17 REVISÃO DA LITERATURA Análises e comparações entre somatótipos podem ser realizadas através do cálculo das distâncias entre os valores de diferentes somatótipos, considerados de forma bidimensonal como propuseram Ross e Wilson (1974) pelo Somatotype Dispersion Distance (SDD), ou de forma tridimensional como o método Somatotype Attítudinal Distance (SAD), de Duquet e Hebbelinck (1977). Em um interessante estudo, Sugerman (citado por Garganta, 2000, p. 175) verificou em relação aos componentes do somatótipo, que a endomorfia era associada à diferentes adjetivos como obesidade, velhice, fraqueza física, preguiça, dependência e desconfiança; a mesomorfia associava-se à força, masculinidade, boa aparência, espírito aventureiro, juventude, maturidade de comportamento e auto-confiança e a ectomorfia reportava-se à elegância, juventude, ambição, tensão, nervosismo, espírito complicado, teimosia e pessimismo. Sheldon (citado por Vasconcelos, 1995, p. 30), em 1942, já sugeria que o comportamento humano é parcialmente influenciado por fatores genéticos e fisiológicos expressos na constituição corporal do indivíduos. Diversos outros autores também associaram ou verificaram qualidades e defeitos relacionando traços de personalidade como auto-confiança e perfeccionismo, comportamentos alimentares e de exercício físico a tipos morfológicos distintos (Bane & McAuley, 1998; Cash, 1990; Stephens, Hill & Hanson, 1994; Tucker, 1983; Vasconcelos, 1995). Segundo Štěpnička (1986), o somatótipo orienta as relações entre a estrututa e a função corporais, tipificando as manifestações motoras do corpo humano, sendo uma predisposição morfológica para a eficiência motora e esportiva, além de uma boa postura corporal. O treinamento pode enfatizar o potencial já apresentado pelo corpo de cada desportista, segundo Broekhoff, Pieter, Taaffe e Nadgir, (1993) e Štěpnička (1986). 18 REVISÃO DA LITERATURA Afirma ainda Štěpnička (1986), que as características somatotípicas dos atletas variam em função dos diferentes modos e técnicas de treinamento, com os indivíduos que se encontram nas classificações de mesomorfo equilibrado, ecto-mesomorfo e mesomorfo ectomorfo, apresentando variáveis morfológicas básicas importantes para o sucesso em grande parte das modalidades esportivas. Logicamente, existem atividades nas quais um perfil morfológico único não limita sua performance, como é o caso dos esportes coletivos (Broekhoff et al., 1993; Maia, 1993; Štěpnička, 1986). Ao observar o somatótipo em caráter desportivo, como destacam Gualdi-Russo e Graziani (1993), verifica-se que indivíduos não atletas são menos mesomórficos e mais endomórficos que atletas, e que a atividade desportiva de alto nível relaciona-se principalmente com os dois primeiros componentes do somatótipo (endomorfia e mesomorfia), apresentando também diferenças entre os níveis de performance dos atletas (Bayios, Bergeles, Apostolidis, Noutsos & Koskolou, 2006; Gualdi-Russo & Graziani, 1993; Gualdi-Russo & Zaccagni, 2001; Monsma & Malina, 2005). Encontramos assim, uma estrutura média mesomorfa endomorfa para jogadoras de tênis de mesa espanholas de alto nível (Pradas de la Fuente, Carrasco Páez, Martínez Pardo, & Herrero Pagán, 2007), uma mesoendomorfia para jogadoras de futsal brasileiras (Queiroga, Ferreira & Romanzini, 2005) e uma mesomorfia equilibrada para jogadores de futebol norte-americanos (Zúñiga & De León Fierro, 2007). Tanto para o futsal quando para o futebol de onze, não foram verificadas diferenciações significativas entre os jogadores de diferentes posições (Queiroga et al., 2005; Zúñiga & De León Fierro, 2007). Diferentemente do verificado para o voleibol italiano, com as ponteiras sendo predominantes em mesomorfia e as centrais em ectomorfia (Gualdi-Russo & Zaccagni, 2001) e para o basquetebol de segunda liga também da Itália, com os armadores menos endomórficos que os defesa, que por sua vez são menos mesomórficos 19 REVISÃO DA LITERATURA que os jogadores das demais posições, tendendo todos para a ectomorfia (Viviani, 1994). Para o voleibol feminino, a alta competição se expressa em valores de somatótipo mais ectomorfos e menos endomorfos, como ressaltam estudos com amadoras (Viviani & Baldin, 1993) e atletas de elite italianas (GualdiRusso & Zaccagni, 2001), verificando Silva e Maia (2003) em atletas portuguesas de escalões de formação uma mesomorfia endomorfia média, em comparação com as amadoras endomorfas mesomorfas. Como diferença entre atletas de elite de duas populações distintas, Bayios et al. (2006) encontrou um somatótipo central para as italianas e uma endomorfia equilibrada para as gregas. Os resultados do estudo de Siders, Lukaski e Bolonchuk (1993) indicam que algumas variáveis da composição corporal (altura, massa magra, peso, percentual de gordura, ectomorfia e mesomorfia), podem ser preditoras da performance em nadadores de curta distância (100 jardas) do sexo feminino, verificando Fernandes, Barbosa e Vilas-Boas (2002) que nadadores de elite apresentam em média um somatótipo ecto-mesomorfo e as nadadoras são centrais ou mesomorfas equilibradas. Gualdi-Russo e Graziani (1993) classificaram a estrutura somatotípica de diversos praticantes desportivos italianos, encontrando para as mulheres valores médios de 3.7-3.8-2.8 para a natação, 3.9-3.9-2.7 para o esqui, 3.5-3.62.9 para atletas de track & field, 3.3-4.0-2.5 para artes marciais, 3.7-3.8-2.7 para desportos com bola, 3.6-3.7-2.9 para ginastas, 3.7-3.9-2.4 para patinação. Monsma e Malina (2005) em patinadoras americanas e canadenses não verificaram diferenças no somatótipo em função do estilo de patinação (livre, dança, dupla) apesar do nível de competitividade diferenciar uma maior linearidade e mesomorfia, menor peso e endomorfia em função do nível da performance dos patinadores. Em relação ao desporto grego de alto nível, 20 REVISÃO DA LITERATURA Bayios et al. (2006) encontraram estruturas mesomorfas-endomorfas para o basquetebol e handebol. Eklund e Crawford (1994), Stewart et al. (2003) e Bahran e Shafizadeh (2006) verificaram uma relação inversa entre avaliações positivas da imagem corporal e os componentes endomorfia e mesomorfia, além de uma relação direta com a ectomorfia. Como relata Garganta (2000), há uma tendência na sociedade atual para idealizações de morfologias mesomórficas para os homens e ectomorficas para as mulheres. Este mesmo autor afirma que, para além da sua relação com a satisfação corporal, o somatótipo é uma variável de estudo em diversos outros tipos de investigações, como a influência do exercício na alteração da composição corporal, a relação da comunicação de massa e a idealização de tipos morfológicos específicos, as auto-percepções físicas dos indivíduos em diversos níveis de modalidades de práticas desportivas, imagem corporal e outros. 2.3 – A imagem corporal: uma visão multidisciplinar 2.3.1 – Filosofia Beardsley e Hospers (1997) definem a estética como o ramo da filosofia que se ocupa em analisar conceitos e discutir os assuntos relativos às experiências e objetos aos quais se possam emitir e elaborar juízos e raciocínios estéticos. Julgar ou viver esteticamente, segundo os mesmos autores, é enfatizar o caráter perceptivo do objeto ou situação, desfrutando a experiência, sem intenção outra que o prazer de percebê-la, sem interesse pela utilidade e relação dos objetos. Filósofos como Homero, Píndaro e Pitágoras, dois séculos antes do período clássico grego, já definiam o belo pela presença de ordem e proporção, o associavam ao agradável à vista, ao útil, à bondade e ao heróico (Beardsley & 21 REVISÃO DA LITERATURA Hospers, 1997; Herrero, 1988). Na antiguidade clássica, as idéias pregressas sobre a beleza foram mantidas pelos pensadores clássicos (e.g. Platão, Sócrates, Aristóteles), com o belo sendo diferenciado ainda em expressivo, sensível e moral, e atrelado à justiça e à harmonia, tendo sido definido seu prazer como de caráter cognitivo e relacionado aos órgãos perceptivos (Beardsley & Hospers, 1997; Cochofel, 1981; Herrero, 1988). No Estoicismo, período filosófico posterior a antiguidade clássica, a beleza continuava dependente de proporção e harmonia e valorizada em seu valor instrínseco ou moral, por filósofos como Cíceron e Plotino (Beardsley & Hospers, 1997; Cochofel, 1981; Herrero, 1988). Enquanto no pensamento acadêmico medieval fortemente influenciado pelo cristianismo (Herrero, 1988), nomes como São Agostinho e São Tomás de Aquino consideravam o belo natural acima do artístico, estando presente nos ideais de inteligência, racionalidade e moralidade do criador supremo, no Renascimento, representado por pensadores como Albertini e da Vinci, o conceito de beleza deixou de ser teocêntrico para ser antropomórfico, auto-suficiente e captado pelas faculdades intelectivas (Beardsley & Hospers, 1997; Herrero, 1988). Os teóricos ingleses influenciaram fortemente os estudos do século XVIII sobre as qualidades da beleza e do sublime além das razões presentes para no juízo estético, através de nomes como Hutcheston, Hume e Burke (Herrero, 1988). A “estética filosófica” alemã do século XVIII, influenciada pelo subjetivismo inglês (Herrero, 1988), com filósofos como Friedrich Schiller, Hegel, Diderot e Nietzsche, tem seu maior representante em Kant (Beardsley & Hospers, 1997), com o tema da beleza definitivamente associado a natureza do julgamento estético, ao subjetivismo, sendo ainda reconhecido como alheio ao Bem e ao conceito de perfeição e de satisfação desinteressada, tencionada à universalidade do sentir comum (Cochofel, 1981). A estética de acordo com Beardsley e Hospers (1997), nunca foi tão ativa e diversamente cultivada como no século XX. Herrero (1988) cita alguns 22 REVISÃO DA LITERATURA pensadores atuais, como Richards, por suas idéias do belo como uma harmonia psíquica, Thomas Munro, pela definição de beleza como sendo muitas coisas diferentes ainda que não tão bem conhecidas, as quais se tem aplicado o nome de beleza e Fontanals, pelos estudos de qualidades análogas a beleza, como a elegância a naturalidade e a graça. A filosofia influenciou enormemente as questões acerca da corporeidade humana (Fisher, 1990), destacando Freud (citado por Schilder, 1994, p. 228) que, “a ciência da estética examina as condições nas quais experimentamos a beleza”, sendo uma das principais funções da filosofia e da psicologia, determinar as relações entre o mundo, o corpo e a personalidade (Schilder, 1994). 2.3.2 – Psicologia Lerner e Jovanovic (1990) relatam que, em teorias da psicologia desenvolvimentista chamadas probabilísticas, para as quais o desenvolvimento individual pode ser influenciado por fatores externos, o corpo evoca em relação as interações sociais individuais, diferentes respostas e reações, se apresentando como ponto fulcral para o desenvolvimento pessoal, sendo a imagem corporal um produto e uma produtora do desenvolvimento psicológico individual. A imagem do corpo é como um modelo, relata Schilder (1994), uma figuração corpórea tridimensional em constante construção, que se faz presente na mente através de nossa própria capacidade auto-perceptiva, tornando-se ainda manancial básico para as atitudes emocionais relativas ao corpo, que contribuirão para a formação da personalidade como um sistema de ações e tendências para a ação, em contato com o mundo externo. Encontramos em Cash (1990) duas vertentes de estudos da aparência física, pelas quais o homem é focalizado em suas relações e percepções 23 REVISÃO DA LITERATURA interpessoais em uma delas, e em suas auto-percepções e experiências individuais na outra. A aparência também pode ser estudada como uma construção gestáltica ou especificamente em seus aspectos estéticos distintos. O termo ou palavra alemã gestalt significa forma, figura, conformação, e é usada para designar a estrutura psíquica básica de funcionamento do ser humano. Cash (1990) refere-se à psicologia da gestalt, que identifica os objetos observados pela ciência, como um todo fenomenológico que apresenta algo além da simples reunião ou somatório de seus elementos, que não se encontra ou deriva das unidades ou da aglomeração passiva de suas partes. Cash (1990) defende que as percepções relativas a aparência afetam significativamente o cotidiano das pessoas. Schilder (1994) ainda ressalta, que nossa vida psíquica se baseia em percepções e imagens parciais, sendo que a maior parte das imagens visuais da maioria das pessoas nunca se tornam conscientes. O modelo postural do corpo é então, de acordo com Schilder (1994), um produto criativo de nossa construção psíquica, orientado de forma contínua, através de processos gestálticos obtidos, criados e produzidos em função de nossas atividades internas e externas. Schilder (1994) influenciado pelas teorias de Freud, afirma que qualquer entendimento mais completo do fenômenos da imagem corporal, deve ter como base um conhecimento mais amplo sobre a estrutura libidinal do nosso corpo, que é a forma ou o direcionamento possível de toda gama energética fluente de nosso centro psíquico, não sendo restrita às energias sexuais. Enfatiza este mesmo autor, que a libido se refere não apenas ao desejo, mas também aos processos corporais, refletindo a mudança das estruturas libidinais focalizada corporalmente sobre o modelo postural do corpo, modificando a função fisiológica das partes as quais é direcionada. Afirma também que a energia libidinal só se manifesta orientada para um objeto, segundo as tendências psicossociais do indivíduo. Importa destacar que, fisicamente, 24 REVISÃO DA LITERATURA nossas necessidades biológicas não são suficientes para definir a imagem corporal, somando-se a percepção do tônus muscular, as impressões visuais e cinestésicas (Schilder, 1994). Schilder (1994) deixa claro que as tendências libidinais são um fenômeno social, e que nossa imagem corporal nunca está isolada, estando ligada com a dos outros em relação a uma distância espacial e emocional, como um campo magnético que irradia energias à sua volta. Concordamos com Schilder na afirmação de que somos um organismo intencional dotado de livre vontade de escolha, podendo nos permitir influenciar pela cultura, amigos e mídia. Por Schilder (1994) compreende-se de forma clara, que os fenômenos em torno deste construto só podem ser entendidos, se levarmos em consideração as relações das imagens corporais de várias pessoas como experiência primária de vida e base de toda função social, relacionando as tendências psíquicas às auto-percepções individuais, pelas quais se expressam as emoções, se estabelecendo os limites com o mundo. 2.3.3 – Sociologia Marzano (2001) afirma que o corpo nunca esteve tão presente nas reflexões cotidianas, como apresentado atualmente pela comunicação de massa e debates médicos. Defende este autor que uma das consequências da ênfase cultural em um corpo estético ideal é devido a perda de identidade dos corpos, incapazes de aceitarem sua real e concreta natureza, passando a idealizar não apenas sua aparência, mas também a força, energia, movimento e autocontrole corporais. Bernard (citado por Marzano, 2001, p. 218), declara que a realidade corporal se origina nas imposições culturais, utilizadas como suporte e instrumento para a sociedade se afirmar corporalmente, pelo que corrobora Douglas (citado por Synnott, 1992, p. 80) ao sugerir que o corpo social limita a percepção do corpo físico. 25 REVISÃO DA LITERATURA Segundo Fox (1998), as leis e tradições sociais pressionam o self a se adequar em relação a aparência, habilidades e características de comportamento, tornando o corpo um objeto de consumo e capital social, base pela qual a atratividade, a confiança e habilidades de um indivíduo são julgadas na sociedade. Esta cultura consumista contemporânea, abastecida por uma fascinação hedonista pelo corpo, produz um conjunto de práticas disciplinares dominantes, que se apresentam difusas em suas formas e significados (Theberge, 1991). O corpo então, como afirma Loy (1991), representa e reproduz as relações sociais, constituindo-se o centro de todas as ações humanas. Turner (1991) nos esclarece que as ciências sociais com excessão da antropologia, não analisavam o corpo como parte central de suas teorias, e que a sociologia voltada à corporeidade, herdou dos estudos antropológicos tradicionais neste campo três proposições fundamentais. Primeiro, a personificação humana cria um conjunto de limitações, apesar do grande potencial para o desenvolvimento sociocultural. Segundo, existem certas contradições entre a sexualidade humana e os requisitos socioculurais. Terceiro, os fatos naturais são experienciados diferentemente de acordo com o gênero. Segundo Turner (1991), o desenvolvimento da teoria social não pode ser entendido sem analisar mudanças sociais que trouxeram notoriedade para o corpo, como o crescimento da cultura do consumismo no período pós guerra, o desenvolvimento das artes na pós modernidade, o movimento feminista, as mudanças demográficas populacionais, o crescimento industrial das sociedades e as crises no campo da saúde. Harvey e Sparks (1991), Turner (1991) e Sparkes (1997), afirmam que teorizações sobre o corpo se fizeram presentes em autores como Foucault, Bourdieu e Schopenhauer, como uma crítica à racionalidade capitalista e ao conceito cristão de repressão moral ou de exploração das relações sexuais numa estrutura familiar patriarcal. Contribuições de autores como Goffman 26 REVISÃO DA LITERATURA (2005) foram significantes para alertar os teóricos sociais sobre o papel da aparência na construção social da pessoa e definição do status social baseado na forma de apresentação dos corpos nos espaços sociais. Scott e Morgan (citados por Sparkes, 1997, p. 88) definem que o ato de construir o corpo é privilegiar certos interpretantes em detrimentos de outros, descrevendo o corpo de certa forma. Isto enfatizá-lo-à socialmente, evidenciando o quanto o corpo individual é interligado ao corpo social. Estes sistemas de significados, como atenta Sparkes (1997), apresentam uma hierarquia de poder, exigindo, segundo Shilling (1993), uma constante preocupação em sua manutenção e gerenciamento, que exprime o reconhecimento do corpo como recurso e símbolo social da própria identidade individual. Esta consciência exacerbada do corpo como valor de troca, inserida na cultura do consumo, cuja ideologia dominante é a do individualismo, atua na formação do eu e da auto-estima, como destacou Sparkes (1997). Este mesmo autor nos atenta ao fato de que os indivíduos que não optam ou não atingem os projetos de auto-controle mais valorizados, são por vezes hostilizados e vistos com indignação, podendo desenvolver sentimentos negativos acerca de sua suposta falta de capacidade de alcançar os ideais corporais sociais, demonstrando que as concepções de saúde e doença são construídas socialmente. 2.3.4 – Semiótica Utilizamos de forma tão natural a língua falada que tendemos a não perceber as outras formas de linguagem presentes no nosso dia-a-dia (Santaella, 1983). Sparkes (1997) afirma que reconhecer o corpo como um sistema sígnico é reconhecê-lo como meio de representar nós mesmos para os outros. 27 REVISÃO DA LITERATURA Joly (2003) defende que as imagens comunicam e transmitem mensagens, que nos vinculam às tradições mais antigas e ricas de nossa cultura, e que todos os dias acabamos sendo levados a utilizá-las, decifrá-las e interpretá-las, caracterizando a cultura contemporânea como uma “civilização da imagem” e nós mesmos como consumidores destas. A imagem para este autor é algo que se assemelha a outra coisa não sendo ela mesma, apresentando a função de evocar características impróprias, utilizando o processo da semelhança, tornando-se sinônimo de “representação visual”. Nesse sentido a imagem de nossos corpos não é verdadeiramente o que somos, é uma representação, servindo também como veículo de mensagens conscientes ou inconscientes que podem ser interpretadas por terceiros. Na busca de uma teoria mais geral que nos permita ultrapassar as categorias funcionais da imagem, a teoria semiótica é a chave que nos permite abordar a complexidade de sua natureza. O propósito semiótico não é decifrar o mundo, mas tentar ver se existem categorias de signos diferentes e se esses diferentes tipos de signos têm uma especificidade e leis próprias de organização e processos de significação particulares, se apresentando como uma filosofia das linguagens, compreendida como o estudo de linguagens particulares (Joly, 2003). Assim, podemos identificar o corpo humano como um destes signos que podem ser estudados pela semiótica em seus processos de linguagem e de produção de significados. Santaella (1983) define o signo, assim como a imagem para Joly (2003), como uma coisa que representa uma outra coisa, estando seu objeto apenas no lugar de uma coisa primeira sem ser ela mesma, não tendo necessariamente de ser uma imagem mental, podendo ser uma ação ou uma experiência, ou mesmo uma mera qualidade de impressão. Nörth (1995), ainda afirma que o signo não é uma classe de objetos, e sim a função de um objeto no processo da representação, existindo na mente do receptor e não no mundo exterior. Joly (2003) anui por base neste raciocínio que tudo pode ser signo, desde que 28 REVISÃO DA LITERATURA exprima idéias ou designe na mente algo que lhe de significação, dependendo ainda de seu contexto de aparecimento e da expectativa de seu receptor. Charles Sanders Pierce é sem dúvida o mais importante dos fundadores da moderna semiótica geral, de acordo com Nörth (1995). O ponto de partida de sua teoria é o axioma de que as cognições, as idéias e até o homem são essencialmente entidades semióticas. Pierce declara que “o fato de que toda idéia é um signo junto ao fato de que a vida é uma série de idéias prova que o homem é um sígno”, sendo que “o mundo está permeado de signos, se é que ele não se componha exclusivamente de signos” (citado por Nörth, 1995, p. 63 e 64). A base do signo na semiótica periciana é uma relação triádica entre elementos, dos quais um deve ser fenômeno da primeiridade, outro da secundidade e o último da terceiridade (Santaella, 1983; Nörth, 1995; Santaella & Nöth, 1997), elementos estes que constituem todas as experiências, sendo as categorias universais do pensamento e da natureza (Santaella, 1983). A primeiridade é a categoria do sentimento sem reflexão ou consciência imediata e presente das coisas, da qualidade pura do ser e do sentir, da imediaticidade, originalidade e espontâneidade (Santaella, 1983; Nörth, 1995), é, segundo Pierce (citado por Nörth, 1995, p. 65), “o modo de ser daquilo que é tal como é, positivamente e sem referência a outra coisa qualquer”. A secundidade começa quando o fenômeno primeiro é relacionado a um segundo fenômeno qualquer (Santaella, 1983; Nörth, 1995), sendo a categoria da comparação, da ação, do fato, da realidade e da experiência no tempo e no espaço (Nörth, 1995). É a qualidade corporificada materialmente, o mundo real e sensual, perceptivo sem ser cognitivo, é a consciência em sua definição mais primeira entre o eu e o não eu (Santaella, 1983). Pierce (citado por Nörth, 1995, p. 66) define a terceiridade como a categoria da mediação, da comunicação, da representação, já Santaella (1983), como a camada de inteligibilidade, do pensamento sígnico, mediadora entre nós e os fenômenos, que se faz para conhecer e compreender as coisas através das quais interpretamos o mundo. Podemos também identificar no corpo humano as 29 REVISÃO DA LITERATURA categorias universais de Pierce, com suas possibilidades e qualidades mais efémeras no campo na primeiridade, o impacto sensível de sua realidade sobre a presença de terceiros como aspecto da secundidade e, as cognições e interpretações que fazemos sobre como experienciamos nossos próprios corpos e os dos outros fazendo parte da terceiridade. Nörth (1995) afirma que as cognições são um elemento constitutivo no processo do signo triádico ou semiose, são nós na rede semiótica e não todo o seu processo. Se todos os fênomenos podem ser explicados e vislumbrados a partir das cognições que elaboramos baseadas nas três categorias do pensamento, não seria diferente com as percepções que temos de nós mesmos, nossa própria auto-leitura, e nossa imagem corporal, a qual Schilder (1994), com muita propriedade, descreve apresentarem uma parte próxima da percepção, e outra das idéias. 2.3.5 – Comunicação Social A forma como atualmemente contemplamos o corpo individual, segue “alimentando a mídia que nos alimenta retroativamente” (Pedretti e Vasconcelos, 2006, p. 3). No campo da imagem corporal existem algumas pesquisas que tentam explicar a forma como a exposição midiática interfere no modo como seus consumidores interpretam suas realidades corporais em termos individuais e coletivos. Apresentamos a seguir, seis teorias aplicadas em estudos sobre a influência das diferentes mídias sobre nossas percepções corporais. Gerbner, Gross, Morgan e Signorielli (citados por Harrison, 2003, p. 257) publicaram em 1994 a Cultivation Theory, uma linha de raciocínio pela qual se afirma que a exposição midiática cultiva crenças, atitudes e ideais acerca do mundo real, tornando-os semelhantes a representação de mundo midiática. Esta teoria defende que as percepções da realidade de grandes consumidores 30 REVISÃO DA LITERATURA midiáticos são convergidas para as leituras da realidade midiática se tornando mais parecidas com estas do que as percepções de pequenos consumidores. Harrison (2003) afirma especificamente, que as imagens femininas de magreza podem se tornar identificadas como normais pelo alto consumo midiático, alterando a concepção da realidade social dos receptores sem necessariamente este processo agir de forma consciente. Suscitando desta forma o desejo das mulheres por uma figura mais magra, com menor tamanho de cintura e quadril, mas não um menor busto, identificada como esteriótipo corporal feminino predominante nas mídias da atualidade. Outras duas teorias significativas foram apresentadas no ano de 1994. A primeira delas, utilizada para compreender como mensagens e imagens discretas podem temporariamente influenciar a percepção dos outros pelo indivíduo, é A Priming Theory, de Jo & Berkowitz (citada por Harrison & Fredrickson, 2003, pp. 218). A segunda, Uses and Gratification Theory, foi desenvolvida por Rubin (citada por Tiggemann, 2003, pp. 420), e aborda a questão corporal defendendo que as pessoas utilizam e consomem a mídia de formas diferentes para obterem gratificações distintas, conceitualizando ainda o receptor como um consumidor midiático ativo, podendo escolher quando, o que, e por quanto tempo assistir televisão ou ler alguma revista. Mais conhecida, a Objectification Theory (Fredrickson & Roberts, 1997), explica a forma como meninas e mulheres são educadas culturalmente a internalizar a perspectiva de um observador “externo” como o primeiro ponto de vista sobre o seu Eu físico. A tendência de se perceber e se descrever de acordo com traços externos perceptíveis ao invés, de traços individuais internos, é característica de uma auto-objetificação. Objetificar o próprio corpo, segundo Marzano (1991), inclui tratá-lo primariamente como um instrumento para a concretização de objetivos, um objeto físico para ser visto, usado e manipulado, uma posse material para ser explorada e comercializada. 31 REVISÃO DA LITERATURA A Objectification Theory relaciona-se com pelo menos outras duas teorias sobre o efeito da utilização mitiática. Com a Cultivation Theory, preconiza que as mensagens midiáticas ensinam seus receptores a adotarem visões objetificadas e esteriotipadas de si mesmo. Com a Priming Theory, facilita a compreensão de como as veiculações midiáticas podem alterar as percepções do Eu através da habilidade de produzir estados objetificados de consciência. A Social Comparison Theory de Festinger (1954) e Goethals (1986) (citados por Bissell & Zhou, 2004, pp. 6), defende que imagens percebidas como reais ou atingíveis, são comparadas com a imagem que se tem de si mesmo e de terceiros, sendo posteriormente internalizadas e utilizadas como ícone de um ideal a se alcançar. A similaridade, conceito chave desta teoria, define que o indivíduo procura moldar-se a outros semelhantes a si mesmo. A prevalência da magreza nas representações midiáticas, levaria a população feminina de forma geral a agir e a se comportar no sentido de atingir ou se aproximar esteticamente destas representações. Halliwell e Dittmar (2005) atentam ao fato de que mais estudos são necessários para se identificar os fatores pelos quais as mulheres são mais influenciadas a escolher seus motivos de comparações sociais com os modelos corporais presentes no cotidiano de suas vidas, e se estes motivos são fatores individuais estáveis ou dependem de outros como o humor, a situação social e o status nutricional. Além do mais, o uso de representações femininas mais reais e condizentes com a realidade nos anúncios publicitários, poderá ajudar a minimizar os impactos negativos da mídia em geral, particularmente para as adolescentes que já passam por conflitos provenientes de suas novas identidades físicas e psicológicas como mulheres (Stephens et al., 1994). 32 REVISÃO DA LITERATURA 2.4 – Imagem corporal e cultura 2.4.1 – Influências e questões sócioculturais associadas a imagem corporal A cultura física é um sistema final de comportamentos relativamente integrados, que procura cuidar do desenvolvimento físico, eficiência motora, saúde, beleza, perfeição física e expressividade do ser humano. Desenvolvendo-se a partir de modelos aceitos em uma dada comunidade, sistema este que frequentemente se faz perceptível instrumentalizando objetivamente as produções culturais e materializando os valores corporais (Krawczyk, 1984). Das duas visões expostas por Fallon (1990) para explicar como o ideal corporal é determinado, a primeira delas define a atratividade e a beleza como advindas da excitação sexual; a segunda, remete à cultura a definição das diferentes identificações de beleza encontradas. Fallon ainda sugere que a genética e a biologia estabelecem a base para a adequação ou inadequação individual, enquanto a cultura determina os padrões e métodos aceitáveis para a alteração corporal, validando o que é considerado desejável e atraente. Segundo Serra (1986), o homem se apresenta ao longo da vida, como um pedaço de barro que se molda na aprendizagem social, desenvolvendo as identidades que ligam o próprio Eu aos sistemas sociais. Bane e McAuley (1998) destacam que a sociedade atual exerce grande pressão para que os indivíduos se apresentem aparentemente atraentes. Fallon (1990) atenta que o ideal corporal só é disponível aos indivíduos de condições econômicas mais elevadas, servindo também como meio de distinção de classes. 33 REVISÃO DA LITERATURA Cash (1990), Lerner e Jovanovic (1990) e Goffman (2005), concordam que as respostas relacionadas as situações sociais são parcialmente determinadas por padrões estéticos, pois a aparência física é normalmente a informação mais prontamente disponível sobre uma pessoa para a formulação de inferências que mediam a atração, empatia e até hostilidade interpessoais, afetanto as atitudes, atribuições e ações sociais. Juhasz (1989) ressalta ainda que o círculo social é relacionado ao próprio conjunto de valores de cada indivíduo, exercendo as pessoas próximas como pais e amigos uma grande influência na percepção dos filhos sobre pressões sociais (Epstein, Botvin & Diaz, 1999; Field, Camargo Jr., Taylor, Berkey, Roberts & Colditz, 2001). Investigações acerca dos esteriótipos estéticos procuram geralmente identificar adjetivos sociais derivados da aparência física. Cash (1990) destaca a existência do esteriótipo “O que é bonito é bom”, pelo qual aos indivíduos considerados atrativos são associadas características de maior sociabilidade, esperteza, felicidade, confiança, habilidades sociais, etc, recebendo mais reforços sociais, maior tolerância quanto ao próprio comportamento, mais confidências pessoais de terceiros e mais auxílio e atitudes no intuito de agradá-los. Já a obesidade é associada a condições sociais estigmatizantes em todas as fases da vida dos indivíduos, podendo ser ainda um estado tanto físico quanto mental, através de uma percepção distorcida do próprio corpo (Cash, 1990; Bane & McAuley, 1998; Stephens et al., 1994). Fallon (1990) e Cash (1990) atentam que a relação entre a beleza e a bondade é mais forte para as mulheres do que para os homens, sendo ainda mais negativamente impactada pelo esteriótipo da beleza em relação a obesidade e êxito profissional, situação na qual suas capacidades podem ser atribuídas a sorte ou a boa aparência. Cash (1990) verificou também a ação dos esteriótipos de beleza sobre as características da personalidade dos indivíduos, com as pessoas consideradas atraentes encontrando maiores suportes e incentivos para o desenvolvimento de competências e confiança, enquanto os indivíduos menos atraentes deparam-se com ambientes sociais de 34 REVISÃO DA LITERATURA rejeição e desinteresse, com poucas possibilidades de desenvolverem habilidades sociais positivas e um auto-conceito favorável. Outras estratégias de controle e orientação da própria imagem como a utilização de cosméticos e escolha do vestuário, foram abordadas por autores como Cash (1990), Vasconcelos (1995), Schilder (1994) e Fallon (1990). Cash (1990) verificou que o uso de cosméticos realmente interfere na percepção da aparência e atratividade, feminilidade e sensualidade, atribuindo caracteres favoráveis à personalidade da mulher, favorecendo ainda um julgamento masculino positivo. Schilder (1994) relata que as roupas são parte da imagem corporal, podendo até apresentarem o mesmo sentido e simbolismo das partes corporais a que são direcionadas. Cash (1990) completa as considerações de Schilder anuindo que o vestuário implica atribuições de gênero ao seu usuário, comunicando mensagens e sendo mais intensificada em seus adornos e detalhes quanto mais importância se der ao evento específico. As definições de beleza apresentam também, segundo Fallon (1990), mudanças gerais que acompanham as mudanças culturais da moda do vestuário, assim como as percepções de bem-estar e satisfação com o próprio corpo são de certa forma relacionadas ao tipo de roupa utilizada (Vasconcelos, 1995). 2.4.2 – Agregação do padrão estético atual à idéia de saúde A forma ou estética corporal sempre foi ponto de referência quando se pensa em saúde (Fallon, 1990). Atualmente, os conhecimentos e práticas de saúde da sociedade interagem ressaltando na estética, valores relacionados ao corpo, que facilmente são introjetados na personalidade e comportamento social do homem (Fox, 1998; Loy, 1991; Marzano, 2001; Schilder, 1994). A importância da compreensão e análise destas relações propicia um melhor entendimento 35 REVISÃO DA LITERATURA sobre os valores culturais dominantes, e suas correlações a distintas práticas de saúde. Nesta nossa sociedade contemporânea capitalista, envolta de representações sígnicas, a busca pela saúde transformou-se em obsessão de todas as parcelas da população, envolvendo suas diferentes idades, gêneros e condições econômicas (Cash, 1990; Fallon, 1990; Lerner e Jovanovic, 1990; Morin, 1997). Luvisolo (2000) ressalta que na atualidade, todo indivíduo deve ter saúde ou manter sua saúde “em forma”, sendo considerado ainda como sujeito ativo do processo. Afirma ainda que, apesar da dominância de uma concepção médica de saúde como ausência de doença, a procura agora vai além desta versão, sendo contextualizada sócio-economicamente. Contudo, este contexto ainda não é suficiente para explicar a pluralidade do universo simbólico da saúde atual, que apresenta segundo Gervilla (1993) e Sparkes (1997), a tendência de nos induzir ao individualismo, a competitividade e o consumismo. Como parte de todas as abordagens, percepções e anseios sobre saúde, a qualidade de vida ganha espaço nas discussões sobre emprego, condições socio-econômicas e psicossociais, além de condições básicas de vida como moradia e alimentação (Luvisolo, 2000). Todos estes assuntos teorizam e simbolizam, sobre a definição do que é saúde. Hoje, uma parcela significante da população apresenta distúrbios psicossociais, relacionados às mudanças em nossos valores culturais, profissionais, sexuais, éticos e nas relações interpessoais, que vêm alterando as formas de sociabilização entre gerações e gêneros (Greenleaf, Starksa, Gomezb, Chamblissc & Martin, 2004; Harrison, 2003; Schilder, 1994). Como conseqüência destas novas reorganizações e afirmações de valores e significados, Luvisolo (2000) identifica quatro concepções de representação da saúde, que dividem o universo social dos praticantes de atividade física. A primeira delas é reconhecida pela busca de um aumento ou “conservação de 36 REVISÃO DA LITERATURA energia” (vitalidade), não identificando como prática de saúde, tudo que se faça em exagero, por freqüência ou intensidade, fugindo do equilíbrio natural. Já a segunda é a da educação física escolar, que abrange, segundo Luvisolo (2000), a iniciação esportiva, o desenvolvimento físico e psicomotor, saúde, recreação, formação moral disciplinadora e crítica, formação do cidadão e até formação cognitiva. A terceira concepção, sob a rotulação de tribo da potência, destaca os atletas e praticantes avançados, que desafiam os limites estabelecidos, elevando-se além da normalidade, difundindo padrões estéticos seja no que tange a plasticidade do movimento humano ou a simples proporcionalidade de suas formas. A quarta concepção nomeada como a da modelagem corporal, apresenta um discurso parecido com o da conservação, mas ancora-se na beleza estética, procurando obter reconhecimento real ou imaginário dos outros. Aliam-se a moda e a indústria da beleza, cultuando o corpo do desportista como modelo projetado, aumentando e delineando músculos e circunferências, visando adquirir formas aceitas com as rigorosas normas estéticas, construindo uma imagem de saúde, associada à beleza, força e juventude. Aliado aos valores já debatidos anteriormente, o consumismo, como marca predominante de nossa sociedade contemporânea, embarcou na crescente moda da associação entre a atividade física e a saúde, propiciando a criação de um novo mundo de desejos e projeções para seu público alvo (Rocha, 1995). É crescente o investimento econômico que visa influenciar a produção e ampliação de um capital simbólico sobre um público cada vez mais abrangente, que identifica o corpo como instrumento potencial para o reconhecimento social e pessoal, seja profissional ou amoroso, utilizando os padrões estéticos como forma de segregação social, trazendo para o cotidiano um comportamento individualista e competitivo (Bane & McAuley, 1998; Cash, 1990; Fallon, 1990; Stephens et al., 1994). Krawczyk (1984) nos chama à reflexão ao questionar se o cultivo consciente do corpo serve como melhoria de seu valor como tal ou se é uma função de 37 REVISÃO DA LITERATURA alcance instrumental para valores externos a ele. Relembra ainda que, enquanto na antiguidade clássica, a relação causal entre a beleza do corpo e do espírito era compreendida como uma norma, um postulado, uma diretriz de atividades e um dever, no presente se tornou um valor em si mesmo e não uma fonte de valores. Goffman (1980) se refere a idéia do corpo como fonte de estigmas na sociedade contemporânea, destacando que este termo já na Grécia antiga se referia a sinais corporais que explicitavam algo incomum ou ruim sobre a moral de um indivíduo. Gabrielli e Hoff (2006) afirmam que na atualidade, o corpo “natural” parece imperfeito demais, estando esta imperfeição associada à doença, necessitando assim de intervenções para se tornar saudável. Nesta lógica, o conhecimento científico construído pela medicina, sugere um poder quase ilimitado sobre o corpo, na possibilidade de superação dos limites físicos impostos pela condição humana, na construção de um novo projeto de corpo. A idéia de construção do corpo (Body building) é ligada a uma perfectibilidade própria de cada época (Góes, 1999). Outros estudos têm demonstrado que as mulheres normalmente experienciam uma insatisfação corporal com desejo particular pela magreza (Harrison, 2000; Harisson & Cantor, 1997; H. D. Prosavac, S. S. Prosavac & E. J. Prosavac, 1998), buscando este ideal por meio de disciplinas rígidas referentes aos seus comportamentos alimentares, prática de exercícios, utilização de medicamentos e cirurgias plásticas, declarando guerra contra seus corpos em nome de ideais cada vez mais extremos e perigosos (Harrison, 2003; Marzano, 2001; Norton & Olds, 2005; Ward, 2005). As relações entre nossa psique e o corpo são muito bem elucidadas por Schilder (1994), ao deixar claro que tanto as doenças orgânicas quando as psicogênicas, se apresentam parcialmente expressas no modelo postural do corpo, através de mudanças reais nos órgãos, em nossos pensamentos e atitudes, apresentando o sofrimento mental uma expressão somática e vice- 38 REVISÃO DA LITERATURA versa, pois parte da imagem corporal está mais próxima da percepção e outra das idéias. E continua afirmando que toda angústia prejudica a experiência de nossa imagem corporal, devido a intercomunicação existente entre nosso modelo postural e nossa energia libidinal, acarretando a passagem de conflitos morais ou libidinais, do centro da personalidade para o modelo postural do corpo e posteriormente para o corpo e seus órgãos. O estresse, a baixa auto-estima, a depressão, a obsessão e a ansiedade, são apenas alguns males que a “nova” sociedade formada a partir destes novos conceitos e valores corporais adquiriu e vem adquirindo, consciente ou inconscientemente e também inconsequentemente (Pedretti & Vasconcelos, 2006). 2.4.3 – Comparações culturais Segundo Spurgas (2005) as mulheres norte-americanas tendem a avaliarem-se em maior grau em relação a outras culturas, por meio de comparações com outras pessoas ou modelos midiáticas, verificando que esta avaliação negativa é um fenômeno que se espalha por diversas etnias, classes, antecedentes culturais e localizações geográficas. Kowner (2002) defende que, devido a diferenças culturais no self, os indivíduos de culturas diversas podem diferir na forma com que se compreendem, apresentando diferentes ideais corporais e sentimentos distintos em relação aos seus corpos. Mautner, Owen e Furnham (2000) ressaltam que, em geral, a internalização dos ideais sociais de beleza é o contributo mais significativo para as desordens relacionadas a imagem corporal. Warren (2003) destaca que as teorias para um modelo sociocultural das desordens alimentares sugerem que a conscientização de um ideal físico magro afeta diretamente a internalização deste ideal, que por sua vez atuará decisivamente sobre a insatisfação com o próprio corpo. Anderson-Fye (2004), neste sentido, destaca que as desordens 39 REVISÃO DA LITERATURA alimentares têm sido associadas a nações desenvolvidas e em desenvolvimento, que apresentam participações cada vez maiores na economia global e consequente ocidentalização de costumes via fenômenos como a globalização, imigração e exposição midiática. Como exemplo disto, Lee e Lee (2000) na China, e Ruggiero, Hannöver, Mantero e Papa (2000) na Itália, verificaram desejos por uma magreza excessiva, insatisfações com a imagem corporal, risco de desenvolvimento de desordens alimentares e internalização dos ideais midiáticos de magreza mais proeminentes em regiões de maior modernização e desenvolvimento sócioeconômico. Outros autores também observaram para populações com maior influência da cultura ocidental, maior preferência pela magreza (Cachelin, Monreal & Juarez, 2006), a influência da etnicidade como moderadora da internalização dos ideais de magreza e a insatisfação com a imagem corporal (Warren, 2003; Warren, Gleaves, Cepeda-Benito, Fernandez & Rodriguez-Ruiz, 2005). Alguns estudos compararam mulheres americanas com populações europeias. Mautner et al. (2000) verificaram diferentes fatores de influência que interferem na distorção da imagem corporal, encontrando a internalização dos ideais de magreza para as norte-americanas, a conscientização destes ideais para as britânicas e a valorização da magreza e comparação social para as italianas. Forbes, Doroszewicz, Card e Adams-Curtis (2004) verificaram que em relação as norte-americanas, as mulheres polonesas apresentam uma menor internalização de ideais socioculturais de magreza e ideais corporais mais volumosos. Holmqvist, Lunde e Frisén (2007) comparando mulheres adolescentes argentinas e suecas, verificaram que, apesar das europeias apresentarem auto-percepções corporais mais negativas do que as sulamericas, como maior insatisfação corporal, tinham tentativas menos frequentes de perder peso e realizar de dietas. 40 REVISÃO DA LITERATURA Em um grande estudo realizado em toda Comunidade Europeia, McElhone, Kearney, Giachetti, Zunft e Martınez (1999), verificaram a escolha de um corpo excessivamente magro por praticamente todas as populações avaliadas, apresentando a Grécia, a Itália e a França os maiores desejos pela magreza em excesso, com somente a Irlanda apresentando um ideal corporal compatível com níveis de peso normais. A Finlândia obteve o menor percentual de mulheres satisfeitas com o próprio peso (29%). Entretando, foi verificado que 58% de todas as mulheres que se declaram satisfeitas com o próprio peso estavam abaixo do peso ideal. Na Noruega, Storvoll, Strandbu e Wichstrom (2005) verificaram que o aumento durante uma década, na preocupação masculina com a muscularidade, foi acompanhado pelo crescimento da insatisfação feminina com esta mesma característica corporal. Em um estudo interessante de Williams, Ricciardelli, McCabe, Waqa e Bavadra (2006), os autores observaram, em mulheres jovens australianas e indígenas das Ilhas Fiji, que atributos associados ao ideal corporal feminino são semelhantes em ambas as culturas, e que apesar das australianas serem mais ocidentalizadas, descrevendo o corpo mais especificamente em relação a ideais de peso, tamanho e formas musculares, ambas as culturas idealizam mulheres de tamanho mediano, curvilíneas e atléticas, evidenciando a necessidade de se introduzir avaliações da musculatura em estudos da imagem corporal. A conscientização e internalização da cultura ocidental também associam-se as auto-percepções e a sintomatologia dos distúrbios alimentares de mulheres asiáticas (Barnett, Keel & Conoscenti 2001; Chan & Owens, 2006; Chen & Jackson, 2005; Gunewardene, Huon, & Zheng, 2001; Stark-Wroblewski, K., Yanico, B. J. & Lupe, 2005). Mulheres de etnia asiática, dentro de culturas ocidentais, podem apresentar uma maior satisfação com a imagem corporal em relação a outras etnias (Cachelin, Rebeck, Chung & Pelayo, 2002; Lake, Staiger & Glowinski, 2000), embora normalmente apresentem níveis mais baixos de auto-estima física, quando comparadas a outras populações, cada 41 REVISÃO DA LITERATURA qual em seus ambientes culturais (Kowner, 2002; Mukai, Kambara & Sasaki, 1998; Sheffield, Tse & Sofronoff, 2005). Em relação aos comportamentos alimentares, auto-estima, insatisfação com a imagem corporal e discrepância entre o corpo percebido e o ideal, Erickson e Gerstle (2007) encontraram conceitualizações diferentes da imagem corporal em adolescentes hispânicas, hispânicas biétnicas e caucasianas, de status sócio-econômico baixo e médio. Por outro lado, Caldwell, Brownell e Wilfley (1997) observaram diferenças não significativas em estudantes afro- americanas e americanas caucasianas de status sócio-econômico alto. De forma geral, podemos verificar que quanto mais desenvolvida ou ocidentalizada for uma cultura, esta tende a apresentar maiores níveis de internalização, conscientização e valorização de ideais excessivamente magros, diminuindo os níveis da satisfação com a imagem corporal e autoestima física. Em relação as diferentes etnias, todas as diferentes populações estudadas apresentavam preocupações em maior ou menor grau, relativas a sua imagem corporal, com as americanas destacando-se negativamente neste sentido, seguidas pelas europeias e pelas asiáticas. A literatura deixa claro, até o momento, que outros fatores relacionados à cultura podem influenciar de forma significativa as experiências e satisfação com a imagem corporal das mulheres, como seus antecedentes étnico-culturais, sua forma de resposta à inserção em ambientes culturais diferentes ao seu, nível sócio econômico e de escolaridade. 2.5 – Imagem corporal na atividade desportiva feminina Há sempre no desporto algo que fascina e que não nos deixa indiferente a ele, quer se goste ou não de seus fenômenos, pois construído à dimensão do homem, é legitimado pela história, cultura e sociedade, em todas as suas virtualidades e excessos (Marques, 1993). O exercício é dentre outras coisas, 42 REVISÃO DA LITERATURA segundo Bane e McAuley (1998) e Eklund e Crawford (1994), um comportamento pelo qual se espera angariar benefícios para a autoapresentação individual, pois tentamos sempre causar boas impressões quanto as nossas atitudes e comportamentos. Schilder (1994) já afirmava que o movimento humano e a percepção de si mesmo pelo próprio indivíduo, sua imagem corporal, são interligados. Esclarece ainda que nossa percepção de massa e densidade corporais são influenciadas pelo tônus muscular que, junto aos reflexos posturais, é a base de construção para nosso modelo postural, sendo muito possível seu desenvolvimento ser, em parte, paralelo ao desenvolvimento sensório-motor. Sendo a aparência do ser humano interligada ao seu movimento, Stolyarov (1984) ressalta a necesidade de uma maior discussão sobre os valores estéticos desportivos e a influência destes sobre os desportistas e espectadores. Marques (1993) corrobora com este ponto de vista ao afirmar que o desporto possui uma dimensão ou potencialidade estética, que precisa ser melhor entendida em sua concepção. Davis (1992) verificou que a preocupação com o peso e insatisfações com a aparência são mais influenciadas por avaliações subjetivas do tamanho corporal, ao invés de objetivas, em mulheres praticantes frequentes de atividade física ou em atletas, comparativamente às não praticantes. Este autor identificou ainda maiores insatisfações com a imagem corporal, prática de dietas e percepções de pressão para a magreza nas atletas. Estes resultados são contrastantes com o estudo de Peterson (2003), que constatou a prática sub-profissional de inúmeras atividades esportivas (basquetebol, mergulho, patinação artística, hóquei, ginástica rítmica e artística, esqui de downhill, nado sincronizado, corridas de velocidade, voleibol, netball, dança, tenis, rowing e natação) como protetora em relação as insatisfações corporais e distúrbios alimentares. 43 REVISÃO DA LITERATURA A incongruência de resultados apresentada anteriormente entre os estudos de Davis (1992) e Peterson (2003) sugere, como destacam Byrne e McLean (2002), que o fato em si de ser atleta não coloca o indivíduo sob o risco de desenvolver desordens alimentares, estando tal acometimento mais associado aos tipos de esporte que enfatizam demasiadamente a importância com o peso e a forma corporal magra. Diante das divergentes opiniões frente as qualidades e potencialidades estéticas do desporto de forma geral, Marques (1993) destaca que os autores os quais defendem uma diferenciação dos desportos em estéticos e não estéticos, baseiam-se na objetividade de sua realização. Os primeiros seriam aqueles os quais a forma de sua realização condiciona o resultado da ação, com componentes subjetivos presentes na avaliação da performance, como o mergulho, as ginásticas e a patinação. Os segundos consequentemente, seriam aqueles cuja resultado da ação não é condicionado pela sua forma de execução, os quais podemos citar os desportos coletivos com bolae os automobilísticos. Os pesquisadores que procuraram verificar possíveis diferenças entre as atletas de esportes estéticos não estéticos, encontraram para o primeiro grupo, maior ansiedade competitiva, insatisfação com a imagem corporal, preocupações com o peso e pressão para serem magras, interesse pela magreza e comportamentos bulímicos (Byrne & McLean, 2002; Kelly, 2004; Peterson, 2003). Indivíduos com grande ansiedade podem apresentar-se reticentes a participar de programas de exercício, por uma avaliação de seus físicos estar envolvida, tornando este um fator de desinteresse e mantendo-os longe dos benefícios inerentes (Lantz, Hardy & Ainsworth, 1997; Spink, 1992). Isto poderá também acarretar um maior risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares (Hausenblas & Mack, 1999). Apresentam também as pessoas com alta ansiedade física, forte tendência à praticar tipos específicos de exercícios 44 REVISÃO DA LITERATURA voltados mais ao fitness do que a desportos individuais ou coletivos (Ecklund & Crawford, 1994; Frederick & Morrison, 1996; Williams e Cash, 2001). Russel e Cox (2003) defendem que a prática regular de exercício pode, a curto prazo, aumentar a auto-estima corporal, agindo sobre variáveis como tônus muscular, resistência aeróbica e redução da gordura e peso corporal. Apesar de a maior parte das teorias desenvolvidas para explicar a relação entre o exercício e a saúde serem baseadas em atividades aeróbicas (Stein & Motta, 1992), diversos outros estudos têm demonstrado tanto o exercício aeróbico quanto o anaeróbico apresentam benefícios inerentes a sua prática (Lantz et al., 1997; Scully et al., 1998; Stein & Motta, 1992), com melhorias em variáveis como a depressão auto-reportada, auto-conceito geral, ansiedade, estados de humor, auto-estima e tensão pré-menstrual. Estudos demonstram que as atividades aeróbicas atuam positivamente sobre a satisfação com o corpo e sobre outros campos como as auto-percepções físicas (atratividade e bem-estar físico) e o stress físico e psicológico (Burges, Grogan & Burwitz, 2006; Scully et al., 1998). Entretanto, o treino de força (Bodybuilding e Weightlifting) isolado ou em conjunto com o aeróbico, demonstrou melhores resultados sobre subescalas do auto-conceito (Physical Self, Personal Self e Social Self), atratividade percebida, satisfação com a imagem corporal, ansiedade física social e percepção de auto-eficácia (Depcik & Williams, 2004; Stein & Motta, 1992; Williams & Cash, 2001). Em uma meta-análise, Hausenblas e Fallon (2006) analisaram 121 estudos publicados e não publicados sobre o impacto do exercício sobre a imagem corporal, identificando que os indivíduos ativos apresentam auto-imagens mais positivas do que os sedentários, em todas as idades e em ambos os gêneros, com os melhores resultados conseguidos pela combinação de atividades aeróbicas e anaeróbicas, com intensidades de moderada a elevada. Scully et al. (1998), ressaltam que manter a prática de qualquer atividade física por longos períodos, apresenta os melhores resultados. 45 REVISÃO DA LITERATURA Góes (1999) afirma que até a invenção da fotografia na metade do séc XIX, a imagem do corpo musculoso só era presente na apreciação de valores da cultura grega e da figura heróica permitida pela doutrina cristã, encontrada apenas nas pinturas e esculturas. A cultura física germânica, a influência das atividades circenses que expunham o corpo, além da crescente importância da fotografia, repercutiram e facilitaram o sucesso da expressão corporal individual como objeto público e construído. A busca pelo desenvolvimento muscular, numa sociedade de consumo e ética trabalhista protestante, que combina o ascetismo e a disciplina, o narcisismo e o hedonismo, fez com que a musculação (atividade que se refere ao bodybuilding ou ao weightlifting) se destacasse na era pós-industrial, aumentando o desejo da democratização do corpo, tornando-o acessível à cultura de massa. Na continuidade de seu relato histórico, Góes (1999) defende que a musculação instaurou um ideal de perfectibilidade corporal e passou a significar a construção da massa muscular, se tornando uma prática comum até a Primeira Guerra Mundial e um esporte olímpico em 1920 com o levantamento de peso, sendo praticado inicialmente somente por atletas e modelos fotográficos até 1930. O desenvolvimento de novos métodos de treino e ênfases na estética direcionada para a fotografia, tornou sua prática mundialmente conhecida na década seguinte, fazendo renascer uma preocupação com a perfeição corporal. Esta é exemplificada pela criação dos concursos “Mr. América”, “Mr. Universo” e “Mr. Olympia” até os anos 60, com o atleta austríaco Arnold Schwarzenegger reinventando o bodybuilding, levandoo à uma exposição como esporte e tornando-o um objeto de consumo midiático em filmes e publicidades de uma forma até então nunca vista. Na década de 80 surge o ideal de uma mulher mais pesada, com mais musculatura, o que fez crescer a aceitação da prática da musculação pelas mulheres. Corliss (citado em Fallon, 1990, pp. 91) exemplifica este fato, destacando a publicação pela revista Time de uma reportagem entitulada New 46 REVISÃO DA LITERATURA Ideal of Beauty, na qual defendia uma nova mulher graciosa e magra, mas mais forte do que as retratadas anteriormente. Brace-Govan (2004) destaca que o Campeonato feminino de weightlifting foi iniciado em 1987, tornando-se um esporte olímpico em 2000. Ressalta também a necessidade de se diferenciar o bodybuilding (fisiculturismo) do weightlifting. Embora ambas as atividades utilizem pesos cada vez maiores para se atingir como resultado músculos cada vez mais poderosos, sua diferença se encontra na ênfase do bodybuilding sobre a estética corporal, enquanto o weightlifting oferece uma visão diferente da mulher para si mesma, sem competições performáticas que exponham o corpo em posturas específicas sobre uma atividade basicamente voyer. Grogan, Evans, Wright e Hunter (2004) ressaltam que no mundo do fisiculturismo os discursos de gênero operam de forma a definir níveis aceitáveis de muscularidade para as mulheres. As competições neste âmbito são divididas em modalidades como fitness, body fitness e culturismo. Segundo o guia de normas e regras para competições internacionais da International Federation of Bodybuilding & Fitness (IFBB) para a época de 2006-2007, na categoria Fitness, os árbitros devem ter em mente que um corpo feminino é que será julgado, buscando um ideal físico feminino, tendo como mais importante aspecto a forma corporal feminina, identificando como negativas as características de muscularidade como vascularização, definição e volume, apresentados no culturismo. A categoria body fitness se encontra a meio termo entre o Fitness e o Culturismo, não devendo o físico ser excessivamente musculado, magro e definido. Já para o Culturismo, é buscado o máximo desenvolvimento em relação ao volume e definição muscular, sendo também de suma importância a simetria e porporcionalidade corporais, assim como uma boa apresentação estética. 47 REVISÃO DA LITERATURA A IFBB (2006-2007) define que a avaliação das atletas é feita da cabeça aos pés, olhando cada parte do físico numa sequência descendente em relação ao volume, simetria e definição corporais, avaliando ainda a estética geral. A avaliação primária é feita por impressões gerais sobre a aparência atlética, devendo-se considerar a beleza facial e do cabelo, o desenvolvimento geral da musculatura, seu equilíbrio e simetria, seguido de uma avaliação da pele que deve ter aspecto macio, saudável e sem celulite, finalizando pela observação da capacidade do atleta de se apresentar com confiança, postura e graça. Hurst et al. (2000) avaliaram mulheres fisiculturistas e levantadoras de peso experientes e não experientes, em relação a ansiedade física social e dependência ao exercício. Verificaram que as mulheres fisiculturistas mais experientes, em relação as menos experientes e as levantadoras de peso, apresentavam menor ansiedade física social, maior dependência ao exercício e maior suporte social em relação a sua prática, havendo ainda uma maior necessidade de controle sobre suas capacidades de treino. Este fato parece sugerir, segundo os autores, a existência de uma relação entre a dependência ao fisiculturismo, sua identidade como tal, o suporte social derivado deste reconhecimento e a ansiedade física social. Ao observar as atletas levantadoras de peso, Brace-Govan (2004) verificou que sua atividade lhes proporcionava sentimentos de domínio e capacidade em desenvolver sua força. Este autor destaca a situação delicada na qual se encontram as mulheres que se aventuram por este estilo de vida, tendo em vista a associação entre a força e a masculinidade, dominação e agressividade, além da presunção de que as mulheres não devem ter corpos musculosos e serem tão fortes quanto os homens, fenômeno que desafia as construções convencionais de gênero e as bases da diferenciação sexual. Segundo Marzano (1991), cada vez mais pessoas hoje em dia são convencidas de que seus corpos são simplesmente objetos para serem construídos, como meio de se atingir o sucesso e obter atenção e amor e, 48 REVISÃO DA LITERATURA finalmente, construir uma identidade masculina através da associação de valores e significados ao corpo musculado. O autor destaca ainda que, treinar regularmente e “malhar”, não são atividades neutras, e sim atividades glamourizadas e sexualizadas, que associam ao corpo musculoso signos culturais de uma correta atitude perante a vida, significando que nos preocupamos conosco mesmos e temos a habilidade de modificar nossas vidas. Na atualidade, a precisão tecnológica para esculpir os corpos utilizada pelos fisiculturistas e levantadores de peso é agora acessível para qualquer um que possa arcar com os custos de uma academia. 2.6 – Definição das componentes da imagem corporal e dificuldades encontradas para a sua avaliação Segundo Bane e McAuley (1998) e Vasconcelos (1995), são várias as designações que se têm atribuído ao termo “imagem corporal”. Destas se podem destacar a percepção do tamanho corporal e avaliações subjetivas da aparência física, além de diversos comportamentos derivados ou associados a questões referentes a percepção da imagem do próprio corpo, como níveis de ansiedade, práticas alimentares e de exercício físico, devendo a comparação entre estudos, neste sentido, ser muito cuidadosa. Em geral dois pontos são mais abordados quando da intenção de se avaliar a imagem corporal, um componente objetivo (perceptivo) e outro subjetivo (cognitivo, afetivo e comportamental) (Bane & McAuley, 1998; Norton & Olds, 2005; Thompson, Penner & Altabe, 1990). As avaliações perceptivas mensuram a precisão das percepções em relação ao tamanho do corpo, com os instrumentos que avaliam os aspectos perceptivos da imagem corporal tendo dominado as primeiras pesquisas da área (Bane & McAyley, 1998). A imprecisão sobre a percepção do tamanho corporal normalmente é referida pelo termo “distorção da imagem corporal” (Thompson et al., 1990, pp. 23), e sua avaliação se divide em duas categorias principais, 49 REVISÃO DA LITERATURA sendo a primeira delas os procedimentos que avaliam a precisão da percepção para partes corporais e a segunda, os que avaliam a distorção da imagem total do corpo (Bane & McAyley, 1998). Importa destacar que a precisão da percepção corporal é conceitual e empiricamente diferente da satisfação com a imagem corporal, com a primeira relacionada a componentes objetivos e a segunda a componentes subjetivos que envolvem este construto (Gardner & Morrell, 1991). Nas avaliações das partes corporais ou procedimentos locais, o indivíduo estima o tamanho de uma parte corporal específica, verificando-se ou não uma distorção individual para o local em questão ao se comparar com medidas objetivas (Bane & McAyley, 1998). Nos procedimentos que avaliam o ajustamento da imagem inteira do corpo, o indivíduo é confrontado com fotografias e ou vídeos de imagens reais ou feedback visual em espelhos com reflexo distorcido, escolhendo então a imagem que, de acordo com ele, reflete seu tamanho corporal (Thompson et al., 1990). A precisão perceptiva é então avaliada pelo grau de discrepância entre a imagem escolhida e o tamanho real do indivíduo. Thompson et al. (1990) ressaltam que o método mais utilizado para determinar uma medida geral da satisfação com o tamanho e o peso corporal é a utilização de figuras ou silhuetas esquemáticas em ordem crescente de diferentes tamanhos corporais, nas quais se contemplam apenas a ectomorfia e a endomorfia. O nível de satisfação é então medido pela discrepância entre as figuras ou silhuetas apontadas como correspondentes ao tamanho corporal atual e o “ideal”. Estes mesmos autores, afirmam que avaliações por questionários normalmente focam uma concepção mais ampla do componente subjetivo, apesar de algumas escalas focalizarem exclusivamente a insatisfação com o peso e tamanho corporal. Os instrumentos cognitivos vêm dominando atualmente a literatura, relativamente às avaliações perceptivas que são raramente utilizadas, e 50 REVISÃO DA LITERATURA mesmo com as diversas limitações neste campo, referentes as dificuldades metodológicas nas avaliações, o conhecimento atual acerca das relações entre o exercício e a imagem corporal foi construído com base em resultados obtidos com instrumentos de cunho subjetivo (Bane & McAuley, 1998). Estudos da imagem corporal focalizada em sua componente afetiva apresentaram grande desenvolvimento na década de 80, com estudos voltados à ansiedade, desconforto e sentimentos negativos relacionados ao próprio corpo, contribuindo enormemente para um melhor entendimento das relações entre o exercício e a imagem corporal, de acordo com Bane e McAuley (1998). Existem diversos detalhes capazes de influenciar as pesquisas que utilizam procedimentos de avaliação perceptiva. A presença de insinuações ou sugestões faciais por parte do avaliador e o tipo de roupa utilizada pelo avaliado podem ser relevantes (Bane & McAuley, 1998; Collins, Beumont, Touyz, Krass, Thompson & Philips, 1987; Thompson et al., 1990). Está descrito ainda que mulheres em fase perimenstrual (pré e durante a menstruação) tendem a superestimar seus tamanhos corporais do que na fase intermenstrual, e que praticantes de fisiculturismo e halterofilismo apresentam melhor precisão ao avaliar seus tamanhos corporais (Stewart et al., 2003). Em específico aos componentes subjetivos, é preferível que se escolha instrumentos que possam abarcar diferentes aspectos da imagem corporal (afetivos, cognitivos e comportamentais), devido ao fato de que detalhes na instrução da avaliação podem direcionar os resultados para níveis de satisfação, interesses, cognições, ansiedade, preocupações e outras componentes relacionadas a aparência (Bane & McAuley, 1998), cabendo ao pesquisador a escolha cuidadosa de um instrumento específico. Para a progressão do campo das avaliações da imagem corporal, deve-se sempre ter atenção quanto ao instrumento que se pretende utilizar, para que este se adeque ao tipo de abordagem (geral ou específica) e característica 51 REVISÃO DA LITERATURA (traço ou estado) da variável que se pretende avaliar (Pruzinsky, 2004; Thompson, 2004). A escolha de avaliações com fiabilidade e validação estabelecidas é outro ponto crucial, não se devendo confiar em fiabilidades definidas para outras populações (Streiner, 2003; Thompson, 2004; Pruzinsky, 2004). Comparar estudos que não tenham utilizado um instrumento em sua forma original de publicação é um assunto delicado, sendo aconselhável, segundo Thompson (2004), adicionar um terceiro instrumento para comparações. Cash (citado por Thompson, 2004, pp. 11) no que se refere a utilização e seleção de medidas para a imagem corporal em contextos médicos, afirma que instrumentos que avaliam a dimensão traço da imagem corporal devem ser os preferidos, certificando-nos que a escolha feita seja capaz de acusar alterações devido a intervenções ou manipulações experimentais (Pruzinsky, 2004; Thompson, 2004). Importa também que se tenha um cuidado adicional ao protocolo de instrução, a fim de se direcionar a avaliação para os aspectos do construto que realmente interessem (Bane & McAuley, 1998; Pruzinsky, 2004; Thompson, 2004; Thompson et al., 1990). Thompson (2004) e Pruzinsky (2004) reforçam a necessidade de se considerar a diversidade das características dos participantes na análise dos dados, devido a claras diferenças existentes de população para população, com diferentes significados adotados para tipos específicos de enfermidades, partes corporais, aparência corporal, funcionalidade sexual e outras tantas que influenciam a qualidade de vida individual. Neste sentido, aconselham uma análise primária e distinta das variáveis individuais das populações que estiverem sendo comparadas, em busca de diferenças basais ou mesmo associações entre as mesmas, sugerindo então uma análise geral em decorrência de uma equivalência relativa entre as características individuais dispostas. 52 REVISÃO DA LITERATURA Stewart et al. (2003) sugerem que, devido a limitações específicas dos componentes objetivos e subjetivos quando avaliados separadamente, se deve utilizar uma abordagem conjunta. Exemplificam esta afirmação, relatando que os questionários não abordam diretamente questões da percepção objetiva, que espelhos de imagem distorcida apresentam respostas de ajustamento incertas e não lineares e imagens televisivas podem geralmente ser alteradas somente nos eixos vertical e horizontal, apresentando ainda as silhuetas ou figuras esquemáticas e fotografias, índices de muscularidade e adiposidade variáveis com uma altura constante, não captando assim as variedades da morfologia humana. Sendo assim, é compreensível a dificuldade e talvez a impossibilidade de se tentar abarcar uma total mensuração das variáveis da imagem corporal (Fisher, 1990). Diversos exemplos e informações sobre quase cinquenta instrumentos e procedimentos desenvolvidos nos diversos campos de avaliação são encontrados em Thompson et al. (1990) e Bane & McAyley (1998). Estes últimos autores relatam ser difícil a orientação de uma bateria de testes e avaliações mais indicada para se utilizar, dada a natureza multidimensional da imagem corporal e a diversidade de objetivos dos estudos. Os autores sugerem ainda que os pesquisadores devem evitar utilizar o termo geral “imagem corporal” e sim especificar quais aspectos do construto que pretendem examinar, se mais de um, para facilitar as comparações entre estudos. Pruzinsky (2004) ressalta que o estabelecimento de padrões e métodos para avaliar e reabilitar pacientes em contextos médicos diversos, depende de um entendimento profundo da imagem corporal, a fim de aplicar e desenvolver novas formas de avaliação, programas de prevenção, reabilitação e tratamento. Entretanto, afirma também que não se tem, no momento, uma quantidade suficiente de informação sobre a natureza da adaptação da imagem corporal às patologias e tratamentos durante o decorrer da vida. 53 REVISÃO DA LITERATURA Clínicos e pesquisadores podem apresentar resultados mais positivos tanto quanto melhores forem as mensurações das quais estes derivarem, sendo primordial pensar cuidadosamente sobre a escolha e desenvolvimento das medidas destinadas às diversas especificidades necessárias. Um grande avanço será alcançado pelos estudiosos da imagem corporal, tanto nas áreas médicas quanto nas áreas relacionadas ao exercício, através do desenvolvimento de guias mais padronizados para a seleção de mensurações para o trabalho de campo. 54 3 - OBJETIVOS E HIPÓTESES OBJETIVOS E HIPÓTESES Capítulo 3 – Objetivos e hipóteses 3.1 – Objetivos Como referimos, é notória a crescente importância que se têm dado a características estéticas individuais, no entanto é nossa convicção de que tais características são dependentes da cultura em vigor, tendo em vista que entre os extremos atlético, magro e obeso, existe uma grande diversidade de tipos somáticos. Os objetivos deste estudo são comparar mulheres brasileiras e portuguesas praticantes de musculação, quanto ao somatótipo, a percepção da imagem corporal geral, a satisfação com a imagem corporal geral e o ideal estético. Utilizamos como recurso para tais comparações o somatótipo e um instrumento de silhuetas adaptado. 3.2 – Hipóteses Com base nos objetivos apresentados para este estudo temos as seguintes hipóteses: H1: As brasileiras apresentam um somatótipo equilibrado entre a endomorfia e a mesomorfia, com predominância destas duas componentes sobre a ectomorfia, sendo mesoendomorfas. H2: A componente endomorfia do somatótipo das portuguesas é dominante sobre as demais, sendo a mesomorfia maior ou equilibrada à ectomorfia, sendo Endomorfas equilibradas ou endomorfas mesomorfas. H3: O nível de distorção da percepção da imagem corporal geral é menor nas brasileiras do que nas portuguesas. 57 OBJETIVOS E HIPÓTESES H4: A satisfação com a imagem corporal geral é maior para as brasileiras em relação as portuguesas. H5: As brasileiras têm ideais corporais mais mesomórficos do que as portuguesas. 58 4 - METODOLOGIA METODOLOGIA Capítulo 4 – Metodologia 4.1 – Amostra A amostra deste estudo foi composta por dois grupos do sexo feminino de etnia caucasiana, praticantes de musculação em Ginásios. O grupo 1 foi constituído de 46 portuguesas residentes na cidade do Porto e frequentadoras de três ginásios desta cidade. O grupo 2 foi composto por 46 brasileiras residentes na cidade de Juiz de Fora do estado de Minas Gerais, frequentadoras de dois ginásios desta cidade. No Quadro 1 apresentamos a caracterização da amostra. Quadro 1 – Caracterização da amostra em seus valores médios e desvios padrão. Brasileiras Portuguesas Idade 27,4 (± 8,4) 26,85 (± 8,4) Peso 57, 1 (± 6,3) 58,7 (± 7,2) Altura 163,8 (± 5,3) 162,7 (± 5,7) 4.2 – Critérios para a seleção da amostra Os indivíduos foram abordados no ambiente de sua prática de atividade física, sendo convidados a participar de uma pesquisa sobre as percepções corporais no âmbito do curso de Mestrado em Actividade Física e Saúde da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. As únicas condições pretendidas eram: ser praticante de musculação e ser do sexo feminino. 61 METODOLOGIA 4.3 – Instrumento e coleta de dados 4.3.1 – Apresentaçao do instrumento de silhuetas A escala de silhuetas para mulheres com interesse em emagrecimento e fortalecimento foi adaptada com base em outros instrumentos do gênero que até o momento focalizaram somente a linearidade e obesidade, como a escala de Stunkard, Sorensen e Schulsinger, utilizada em diversos estudos (e.g. Coelho & Fagundes, 2007; Greenleaf et al., 2004; Matsuo, Velardi, Brandão & Miranda, 2007). Nosso intuito foi obter um instrumento pelo qual pudéssemos abarcar, além da linearidade e obesidade, questões relativas a muscularidade, característica principal da componente mesomorfia, no somatótipo de Carter e Heath (1990). Esta componente não é evidenciada nos demais instrumentos de silhuetas femininas desenvolvidos até o momento. O modelo final deste nosso instrumento foi definido após melhoramentos realizados a partir de uma versão inicial utilizada em um estudo piloto não publicado, e é apresentada a seguir (Fig. 1). Aumento do índice de massa corporal Figura 1 – Escala de silhuetas para mulheres com interesse em emagrecimento e fortalecimento. 62 METODOLOGIA Esta escala de silhuetas (Fig. 1), por nós proposta, pretende abarcar os três componentes somatotípicos, nomeadamente a endomorfia, a mesomorfia e a ectomorfia. Construímos então uma linha inicial de três figuras que representa indivíduos com características predominantemente ectomórficas. Esta linha, ao diferenciar-se assumindo a forma de um “Y”, representa o aumento da massa muscular e da gordura corporal em uma linha superior (A) e outra inferior (B), respectivamente, para pessoas de características predominantemente mesomórficas e endomórficas. Nossa escala apresenta ainda um crescimento de volume corporal em relação a altura (índice de massa corporal - IMC) da esquerda para a direita. 4.3.1.1 – Associação dos valores do somatótipo a escala de silhuetas A partir das dezessete figuras presentes na escala, foram consideradas treze classificações que inicialmente reportariam as treze condições somatotípicas (endomorfo equilibrado, mesomorfo endomórfico, ectomorfo-endomorfo, mesomorfo equilibrado, ectomorfo equilibrado, ectomorfo-mesomorfo, ectomórfico, endomorfo-ectomorfo, endomorfo-mesomorfo, mesomorfo mesoendomorfo, endomesomorfo e central). Os treze subgrupos de silhuetas considerados, que se seguem abaixo, foram utilizados como representativos das mesmas, para as variáveis somatótipo real, somatótipo percebido e somatótipo ideal, presentes no capítulo cinco (apresentação e discussão dos resultados). Silhuetas 1 e 2 – 1; Silhueta 3 – 2; Silhuetas 4A e 4B – 3; Silhueta 5A – 4; Silhueta 6A – 5; Silhueta 7A – 6; Silhueta 8A – 7; Silhueta 9A e 10A – 8; 63 METODOLOGIA Silhueta 5B – 9; Silhueta 6B – 10; Silhueta 7B – 11; Silhueta 8B – 12; Silhueta 9B e 10B – 13; Nosso próximo passo, foi atribuir valores de somatótipos, orientados em função da predominância de um entre os outros dois componentes, aos subgrupos de silhuetas referidos, de forma que pudessem cobrir todo o espectro de possibilidades definido por Carter e Heath (1990) (1-1-7; 1-7-1; 7-1-1). No que se seguiu a seguinte classificação: Silhuetas 1 e 2: indivíduos nos quais a componente ectomórfica é predominante e os níveis de endomorfia e mesomorfia são menores que 3. A figura 1 representa indivíduos com valores de endomorfia ou mesomorfia menores ou igual a 1, enquanto a figura 2 indivíduos com valores maiores que 1 e menores que 3 para as mesmas componentes. Silhueta 3: indivíduos nos quais a componente ectomórfica é predominante e os níveis de endomorfia e mesomorfia são maiores que 3. Silhuetas 4A e 4B: indivíduos com valores de somatótipo equilibrados ou centrais. Foram reconhecidos como tal, aqueles que apresentavam diferenças menores que 0,5 entre pelo menos duas componentes do somatótipo, sendo estas dominantes (maiores que 0,5) em relação a terceira. Silhueta 5A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é predominante e apresentavam valores menores ou iguais a 4 para esta componente. Silhueta 6A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é predominante e apresentavam valores entre 4,1 e 5 para esta componente. 64 METODOLOGIA Silhueta 7A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é predominante e apresentavam valores entre 5,1 e 5,5 para esta componente. Silhueta 8A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é predominante e apresentavam valores entre 5,6 e 6 para esta componente. Silhuetas 9A e 10A: indivíduos nos quais a componente mesomórfica é predominante e apresentavam valores maiores que 6 para esta componente, sendo os valores entre 6,1 e 7 para a silhueta 9A e os maiores que 7 para a 10A. Silhueta 5B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é predominante e apresentavam valores menores ou iguais a 4 para esta componente. Silhueta 6B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é predominante e apresentavam valores entre 4,1 e 5 para esta componente. Silhueta 7B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é predominante e apresentavam valores entre 5,1 e 5,5 para esta componente. Silhueta 8B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é predominante e apresentavam valores entre 5,6 e 6 para esta componente. Silhueta 9B e 10B: indivíduos nos quais a componente endomórfica é predominante e apresentavam valores maiores que 6 para esta componente, com valores entre 6,1 e 7 para a silhueta 9B e os maiores que 7 para a 10B. 65 METODOLOGIA 4.3.2 – Definição dos tipos de Somatótipo Para responder ao principal objectivo da nossa pesquisa, que foi comparar duas populações distintas em termos de sua distorção da imagem corporal geral, satisfação com a imagem corporal geral e ideal corporal, utilizamos três dimensões somatotípicas: Somatótipo real. Definido pelo método antropométrico de Heath-Carter (Carter, 1980). Somatótipo percebido. Representado por uma silhueta a qual era identificada como a que mais se aproximava da percepção do corpo do sujeito no momento da avaliação. Somatótipo ideal. Representado por uma silhueta a qual era identificada como a que o sujeito mais gostaria de ter, caso estivesse insatisfeito com sua percepção atual. 4.3.3 – Procedimento para a definição dos somatótipos percebido e ideal As mulheres foram abordadas no ambiente de prática da musculação, com o avaliador se apresentando vinculado ao curso de Mestrado em Actividade Física e Saúde da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, em pesquisa comparativa sobre a percepção e satisfação com a imagem corporal entre mulheres brasileiras e portuguesas praticantes de musculação. Seguidamente lhes era questionada a possibilidade de participar no estudo e agendada uma data para a recolha de dados, orientando-as para se apresentarem com suas roupas habituais para o exercício. 66 METODOLOGIA No momento da avaliação, primeiramente era apresentada a escala de silhuetas, sendo-lhes referido o seguinte: “Todas estas figuras representam corpos femininos. Da esquerda para a direita, em ordem progressiva, as figuras aumentam em volume e em peso corporais. Da primeira até a terceira, não há contribuições significativas da gordura ou massa muscular para o aumento do volume e peso corporais. A partir das figuras número quatro, na linha superior, a massa muscular contribui significativamente para o aumento do volume e peso; na linha inferior, é a gordura que contribui significativamente para o aumento do volume e peso”. Uma nova e idêntica explicação era repetida caso a pessoa não compreendesse de imediato a primeira explicação. Em seguida eram feitas as seguintes perguntas: “Dentre todas estes figuras, qual você acha que mais se aproxima da realidade do seu corpo neste momento”. Logo após a definição da silhueta, a segunda pergunta era apresentada da seguinte forma: “Caso você não esteja satisfeita com a sua imagem actual, aponte a que mais corresponde às suas expectativas?”. Durante a resposta, o avaliador não dava qualquer opinião nem apresentava qualquer reacção facial ou corporal. Quando o avaliador era questionado a opinar ou confirmar as escolhas feitas, era dito às mulheres que a escolha deveria ser só delas, sem a influência de terceiros. Após a resposta às duas perguntas, se seguia a medição antropométrica, pela aferição do peso, altura, dobras cutâneas e circunferências. 4.3.4 – Antropometria O primeiro grupo de variáveis consta de medidas antropométricas e de composição corporal. Foram realizadas mensurações sobre onze medidas antropométricas, nomeadamente ao peso, altura, diâmetros ósseos, pregas adiposas e perímetros corporais. 67 METODOLOGIA Peso O peso foi medido com os indivíduos descalços, imóveis e com roupa própria para a prática da atividade, sem a utilização de acessórios como brincos, pulseiras ou relógios. Os valores foram registrados com a precisão de uma casa decimal. Altura A altura foi aferida entre o ponto superior da cabeça orientado pelo plano sagital e o plano de referência do solo, registrada em centímetros com a precisão de uma casa decimal. Diâmetro bicôndilo-humeral Aferido entre o epicôndilo e a epitróclea, com antebraço em supinação e cotovelo fletido em 90 graus. Diâmetro bicôncilo-femural Aferido entre os pontos mais salientes dos côndilos femurais em 90 graus de flexão do joelho. Prega supra-ilíaca Em orientação horizontal sobre a vertical midaxilar acima da crista ilíaca. Prega tricipital Em orientação vertical sobre o ponto médio entre o acrômio e o olécrano na parte posterior do braço. Prega geminal Em orientação vertical, sobre a face interna da perna em relação ao nível de maior perímetro, com o indivíduo sentado e o joelho fletido em 90 graus. 68 METODOLOGIA Prega subescapular Em orientação oblíqua para fora e para baixo, abaixo do ângulo inferior da escápula. Prega da coxa Em orientação vertical, no ponto médio entre o trocanter e o epicôndilo femural medial, na face anterior da coxa. Perímetro geminal Com o indivíduo em posição vertical e o pé orientado para frente, ao nível de maior circunferência da perna. Perímetro do braço tenso Com flexão do cotovelo em 90 graus, ao nível da maior circunferência do bíceps em contração máxima. 4.3.4.1 – Composição corporal A definição do percentual de gordura corporal foi obtida segundo a orientação de Siri (1961). - percentual de gordura corporal = ((4,95 / DC3) - 4,5) x 100 - Densidade Corporal = 1,0994921 - 0,0008267 x (A+B+C) + 0,0000016 x (A+B+C x A+B+C) - 0,0001392 As letras A, B e C correspondem respectivamente as pregas adiposas da coxa, tricipital e supra-ilíaca. A partir do percentual de gordura foram obtidos os valores absolutos da massa gorda e massa isenta de gordura, expressos em quilogramas. 69 METODOLOGIA Massa gorda(MG) = peso x %G/100 Massa isenta de gordura = peso – MG 4.3.4.2 – Critérios de classificação do IMC O IMC (índice de massa corporal) foi classificado de acordo com as orientações da W.H.O (World Health Organization) do ano de 1997. 4.4 – Avaliação da distorção da percepção da imagem corporal geral, da satisfação com a imagem corporal geral e do ideal corporal. A distorção da percepção da imagem corporal geral foi definida pela diferença entre o somatótipo real e o percebido. Os valores possíveis de serem encontrados variavam entre -12 (12 negativos) e 12 (12 positivos). O valor 0 (zero) corresponde aos indivíduos que não apresentam percepções distorcidas da sua imagem. Valores diferentes de 0 correspondem aos indivíduos que apresentam uma percepção distorcida de sua imagem corporal geral, sendo os valores positivos atribuídos a subestimativas (percepção de maior linearidade, menor endomorfia ou mesomorfia que o real) e valores negativos a superestimativas (percepção de maior endomorfia ou mesomorfia que o real) em relação ao volume do próprio corpo. A satisfação geral com a imagem corporal geral foi definida pela diferença entre a silhueta escolhida como o somatótipo percebido e o ideal. Os valores possíveis de serem encontrados para a satisfação situam-se entre -12 (12 negativos) e 12 (12 positivos). O valor 0 corresponde aos indivíduos que se reconhecem como satisfeitos com sua imagem. Valores diferentes de 0 correspondem aos indivíduos insatisfeitos com sua imagem corporal geral, sendo os valores positivos atribuídos ao desejo de aumento do volume corporal 70 METODOLOGIA (mesomorfia) e os valores negativos ao desejo de uma diminuição do volume corporal (endomorfia). O ideal corporal geral foi definido pela escolha da silhueta correspondente ao somatótipo ideal dos indivíduos. Seus valores, como descrito anteriormente (4.3.1.1 – definição do instrumento de silhuetas) podem variar entre 1 e 13: (i) correspondendo aos valores 1 e 2 estruturas corporais predominantemente ectomórficas; (ii) 3, para condições medianas ou centrais entre os três componentes do somatótipo; (iii) de 4 a 8 correspondendo a corpos predominantemente mesomórficos; e (iv) de 9 a 13 ideais corporais predomimantemente endomórficos. 4.5 – Variáveis do estudo As variáveis dependentes utilizadas para o estudo foram os níveis de distorção da percepção da imagem corporal geral, da satisfação com a imagem corporal geral e o ideal corporal. A variável independente utilizada foi a nacionalidade. 4.6 – Procedimentos estatísticos Os dados foram tratados previamente para averiguar a normalidade da distribuição e a eventual presença de outliers, através do teste de Shapiro Wilk. Seguidamente, para além das estatísticas descritivas básicas (média e desvio padrão) utilizamos o teste t de Student para medidas independentes para averiguar a eventual existência de diferenças com significado estatístico entre as populações brasileira e portuguesa, para as diversas variáveis observadas. Tendo em conta a reduzida dimensão amostral em comparações inter e intra populações, para a comparação de subgrupos foi utilizado o teste não paramétrico de Mann Witney. Cientes de que o tempo de treino e a frequência semanal de treino poderia condicionar os resultados, recorremos à covariância 71 METODOLOGIA para anular o seu efeito. O nível de significância foi mantido em p ≤ 0.05 e o programa de análise estatística utilizado foi o sofware SPSS versão 15.0. 72 5 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Capítulo 5 – Apresentação e discussão dos resultados Apresentamos a seguir, no Quadro 2, os resultados referentes à observação descritiva das variáveis analisadas. Quadro 2 – Caracterização das componentes do somatótipo para as brasileiras e portuguesas. Brasileiras Portuguesas Endomorfia 4,1 (± 1,3) 4,6 (± 1,3) Mesomorfia 2,6 (± 0,9) 4 (± 1) Ectomorfia 2,6 (± 0,9) 2,2 (± 1,2) Podemos verificar pelo Quadro 2, que as brasileiras apresentam uma predominância da componente endomorfia, com a mesomorfia e a ectomorfia equilibradas, o que caracteriza um somatótipo endomorfo equilibrado. Já a população portuguesa tem um somatótipo endomorfo mesomorfo, pela componente endomorfia ser predominante sobre a mesomorfia e esta maior que a ectomorfia. Verificamos em detrimento de nossos resultados, como descrito na literatura, que populações não atletas apresentam maior mesomorfia e menor endomorfia que os indivíduos atletas (Gualdi-Russo & Graziani, 1993; Gualdi-Russo & Zaccagni, 2001; Silva & Maia, 2003; Queiroga et al., 2005; Pradas de la Fuente et al., 2007; Zúñiga & De León Fierro, 2007). Gualdi-Russo e Graziani (1993) encontraram em praticantes italianas de diversas modalidades desportivas (natação, esqui, track & field, desportos com bola, ginástica e patinação), um somatótipo mesoendomorfo, diferente das praticantes de musculação endomorfas equilibradas brasileiras e endomorfas mesomorfas portuguesas de nosso estudo. Silva e Maia (2003) verificaram para a população portuguesa, e Viviani e Baldi (1993) para italiana, que as amadoras participantes em escalões de formação 75 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS de voleibol apresentam o mesmo somatótipo (endomorfo mesomorfo) que as praticantes de musculação portuguesas de nosso estudo. Dando sequência na apresentação dos resultados, temos as variáveis somatótipo percebido, real e ideal, necessárias para a obtenção do nível de distorção da percepção da imagem corporal geral, satisfação com a imagem corporal geral e ideal estético, apresentadas no quadro 3, classificadas em função da nova escala de silhuetas por nós desenvolvida, como descrito anteriormente (4.3.1.1, pp. 63). Quadro 3 – Caracterização das variáveis utilizadas para obtenção dos níveis de distorção da percepção e satisfação com a imagem corporal geral e ideal corporal, para as brasileiras e portuguesas (média e desvio padrão). Brasileiras Portuguesas Valor de t Valor de p Somatótipo real 7,4 ± 4,1 7,5 ± 4,1 -,050 ,960 Somatótipo percebido 5,3 ± 2,2 6,3 ± 3,0 -1,728 ,087 Somatótipo ideal 5,0 ± 1,6 4,1 ± 1,2 3,201 ,002 Observamos pelo Quadro 3 que as populações avaliadas em nosso estudo não apresentaram diferenças estatisticamente significativas em relação ao seu somatótipo real e percebido. Já em relação ao somatótipo ideal, a silhueta representativa do ideal corporal brasileiro é significativamente mais mesomórfico do que a das portuguesas. 5.1 – Distorção da Percepção da Imagem Corporal Geral Após a definição do somatótipo real pelo método antropométrico de HeathCarter, seus valores foram associados as silhuetas de nossa escala (como descrito em 4.3.1.1). A distorção da percepção da imagem corporal geral foi avaliada através da obtenção do nível de distorção, representado pela diferença entre as silhuetas escolhidas como representantes do somatótipo real e escolhido. Seus valores são apresentados no Quadro 4. 76 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Quadro 4 – Caracterização da variável nível de distorção para brasileiras e portuguesas (média e desvio padrão). Nível de Brasileiras Portuguesas T P 2,1 ± 4,2 1,2 ± 4,6 ,991 ,324 distorção Como podemos verificar no Quadro 4, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em relação à distorção da percepção da imagem corporal geral, apesar de as brasileiras apresentarem uma distorção ligeiramente superior. Ressaltamos ainda, que o nível de distorção, expresso em valores positivos, representa uma subestimativa corporal, correspondente à percepção de maior linearidade (menor mesomorfia ou endomorfia) relativamente ao real. Madrigal et al. (2000), além de encontrarem em populações mediterrâneas uma maior tendência para subestimar o tamanho de seus corpos, mais do que em outros países da união europeia, observaram ainda que a prática regular de atividade física estava associada a subestimativas das silhuetas corporais. Em nosso estudo encontramos uma população sul-americana com níveis de subestimativa corporal superiores aos de uma população mediterrânea, entretanto, estes resultados vão ao encontro da segunda constatação dos autores supracitados. A subestimativa da imagem corporal geral foi verificada em mais de 60% da amostra (Quadro 5). Quadro 5 – Caracterização do percentual de brasileiras e portuguesas que subestimaram e sobre-estimaram sua imagem corporal geral. Brasileiras Portuguesas Subestimativa 61,9 % 62,8 % Sobre-estimativa 38,1 % 37,2 % O maior nível de distorção da imagem corporal geral para as brasileiras (Quadro 4), é interpretado pelo fato desta população apresentar níveis de atividade física mais elevados do que as portuguesas (Quadro 6). 77 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Quadro 6 – Caracterização das variáveis frequência de treino semanal e tempo de treino, para as brasileiras e portuguesas (média, desvio padrão e significância). Brasileiras Portuguesas Valor de t Valor de p Frequência de treino 3,8 (± 1,0) 2,4 (± 0,9) 6,798 ,000 Tempo de treino 0,2 (± 0,4) 0,67 (± 0,4) -5,224 ,000 Pelo Quadro 6 verificamos que as brasileiras treinam com maior frequência semanal e a mais tempo (mais de 6 meses versus menos de 6 meses) do que as portuguesas. Birtchnell, Dolan e Lacey (2006) afirmam que o nível de distorção da percepção da imagem corporal é maior, a medida que o peso corporal se distancia dos valores médios esperados para cada indivíduo. Kakeshita e Almeida (2006) verificaram a afirmação de Birtchnell et al. (2006), em universitárias brasileiras, relacionando a obesidade à subestimativa corporal. Situação não verificada em nosso estudo, já que a subestimativa foi verificada em indivíduos com IMC predominantemente normais, como podemos ver mais abaixo no Quadro 7. Também contrária a afirmação de Birtchnell et al. (2006) foi o resultado de Gardner e Morrell (1991), pelo qual concluíram que os obesos apresentam maior facilidade e precisão no julgamento de seu tamanho corporal em relação aos não obesos, e ainda que a precisão é maior quando se observa a imagem posterior do corpo, o que é interessante por ser a orientação visual menos familiar para todos nós. Quadro 7 – Caracterização do percentual do índice de massa corporal e seu valor médio, das brasileiras e portuguesas. Índice de massa corporal Brasileiras Portuguesas < 18,5 - Baixo peso 6,5% 6,5% ≥ 18,5 ≤ 24,99 - Peso normal 89,2% 78,3% ≥ 25 ≤ 29,99 - Pré-obesidade 4,3% 13% ≥ 30 ≤ 34,9 Obesidade 0% 2,2% IMC médio 21,2 22,2 78 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Mussap, McCabe e Ricciardelli (2008) verificaram em estudantes universitárias australianas que as sobre-estimativas corporais são relacionadas à insatisfação corporal, fato que também não se verificou em praticantes de musculação de nosso estudo. Apesar da discordância da literatura, concordamos com Skrzypek, Wehmeier e Remschmidt (2001) e Mussap et al. (2008), ao sugerirem que os distúrbios relativos à percepção da imagem corporal não são derivados de um deficit perceptivo, mas manifestações das insatisfações sobre a avaliação cognitiva e preocupações corporais do indivíduo. Apostando também em dificuldades cognitivas em detrimento das perceptivas, Auchus, Rose e Allen (1993), declaram que a distorção da percepção da imagem corproal pode também advir de uma baixa habilidade para se utilizar imagens mentais, através dos processos cognitivos de representação imagética, não sendo relacionada a memória visual, que aparentemente não é vital para a formação da imagem corporal. Como já referido anteriormente, a precisão da avaliação perceptiva do próprio corpo pode ser influenciada por insinuações faciais do avaliador, o vestuário da pessoa avaliada (Collins et al., 1987; Bane & McAuley, 1998; Thompson et al., 1990), pela fase do período menstrual, pela prática de treino com pesos (Stewart et al., 2003), por variáveis biopsicosociais, como a influência de amigos, parentes, mídia, valores antropométricos conhecidos (McCable, Ricciardelli, Sitaram & Mikhail, 2006), além da internalização, conscientização e valorização de ideais de magreza (Mautner et al., 2000). Apesar da diversidade de opiniões verificada na literatura, procuramos entender nossos resultados referentes à distorção da percepção da imagem corporal geral, pelo foco da melhoria inerente que se processa nas autopercepções físicas e auto-estima geral individual, em decorrência da prática regular de atividade física (Scully et al., 1998; Hausenblas & Fallon, 2006; Russel & Cox, 2003). 79 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Interpretamos as subestimativas encontradas para as mulheres de nossa amostra como derivadas de percepções e avaliações mais positivas em relação a si mesmas. Baseamos esta inferência, na associação do treino de força a melhorias mais significativas para diversos construtos referentes ao bem-estar físico (auto-conceito, atratividade percebida, satisfação com a imagem corporal, ansiedade física social e percepção de auto-eficácia) (Depcik & Williams, 2004; Stein & Motta, 1992; Williams & Cash, 2001), e pelo fato de verificarmos maiores subestimativas para as brasileiras, as quais treinam significativamente a mais tempo, com maior frequência semanal, apresentando ainda maior satisfação com sua imagem corporal geral. 5.2 – Satisfação com a Imagem Corporal Geral Os níveis de satisfação com a imagem corporal geral são apresentados no Quadro 8, e foram definidos mediante a subtração do valor obtido pela escolha das silhuetas representativas do somatótipo percebido e do somatótipo real. Como referido anteriormente, o 0 (zero) representa a satisfação com a imagem corporal geral, enquanto os demais valores, positivos ou negativos, quanto mais distantes deste, representam menores níveis de satisfação com a imagem corporal geral. Quadro 8 – Caracterização da variável satisfação com a imagem corporal geral para brasileiras e portuguesas (média, desvio padrão e significância). Satisfação com a imagem corporal geral Brasileiras Portuguesas t p - 0,26 ± 1,6 - 2,17 ± 1,9 3,227 ,002 Os resultados obtidos sugerem que as portuguesas são significativamente menos satisfeitas que as brasileiras em relação a sua imagem corporal geral. Importante ressaltar que os valores negativos significam o desejo por uma maior linearidade. 80 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Como relatado anteriormente, avaliações positivas da imagem corporal apresentam uma relação inversa com os componentes endomorfia e mesomorfia e direta com a ectomorfia (Bahran & Shafizadeh, 2006; Eklund & Crawford, 1994; Stewart et al., 2003). Podemos verificar neste sentido que as brasileiras, mais satisfeitas, apresentam menores valores de endomorfia e mesomorfia com diferenças acima de 0,5, embora a ectomorfia não apresente diferenças deste âmbito (Quadro 2). Se a afirmação dos autores acima pode de certa forma explicar a diferença no nível de satisfação com a imagem corporal geral, o mesmo não ocorre com a distorção perceptiva da imagem corporal geral (Quadro 4). O fenômeno “descontentamento normativo”, citado em Norton e Olds (2005), é a caracterização do fato de que as mulheres apresentam quase que em sua totalidade alguma insatisfação corporal. O percentual de mulheres insatisfeitas com a imagem corporal geral em nosso estudo foi de 89,1 % para as brasileiras e 76,1 % para as portuguesas, num total de 82,6 % para a amostra total (Quadro 9). Vale ressaltar que, enquanto observamos um maior percentual de portuguesas satisfeitas com sua imagem corporal geral, seu nível de satisfação é menor do que o das brasileiras (Quadro 8). Quadro 9 – Caracterização do percentual de mulheres satisfeitas e insatisfeitas com a imagem corporal geral, para brasileiras e portuguesas. Brasileiras Portuguesas Total Satisfeitas 10,9% 23,9% 17,4% Insatisfeitas 89,1% 76,1% 82,6% Spurgas (2005) afirma que a maior parte das pesquisas relacionadas a imagem corporal tem demonstrado que as mulheres europeias apresentam piores avaliações em construtos e variáveis relacionados a imagem corporal, o que condiz com os resultados deste estudo. Holmqvist et al. (2007), apesar de verificarem que a satisfação corporal não diferiu significativamente entre mulheres suecas e argentinas, constatou que a percepção do peso é ligada de forma mais estreita com a insatisfação corporal para as europeias. 81 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Lee e Lee (2000) e Ruggiero et al. (2000), em concordância com os resultados de nosso estudo, verificaram que mulheres de regiões de maior modernização e desenvolvimento econômico apresentam piores níveis de satisfação corporal. A descendência europeia também foi verificada como relacionada a maiores insatisfações corporais por Warren et al. (2005), tendo sido a etnicidade encontrada como fator moderador entre a internalização dos ideais de magreza e a insatisfação corporal (Cachelin et al., 2006; Warren, 2003). A diferença significativa no nível de satisfação encontrado para as mulheres brasileiras quando comparado ao das portuguesas de nosso estudo pode ser explicada, em parte, como reflexo da escolha de silhuetas percebidas como reais correspondentes a somatótipos mais próximos de seu ideal (Quadro 3). A escolha do somatótipo percebido, entre brasileiras e portuguesas, em relação a diferentes predominâncias somatotípicas, pode ser observada no Quadro 10. Quadro 10 – percentual de escolha das silhuetas correspondentes a componentes predominantes do somatótipo. Brasileiras Portuguesas Endomofia (5B a 10B) 21,8% 50,3% Mesomorfia (5A a 10A) 52,2% 34,7% Ectomorfia (1 a 3) 0% 4,4% Central (4A e 4B) 26,1% 19,6% A maior satisfação das brasileiras pode também derivar do fato destas treinarem a mais longo prazo (p = 0,000) e com maior frequência semanal (p = 0,000) (Quadro 6). Baseamos esta inferência, na associação do treino de força a melhorias mais significativas para diversos construtos referentes ao bemestar físico (auto-conceito, atratividade percebida, satisfação com a imagem corporal, ansiedade física social e percepção de auto-eficácia) (Depcik & Williams, 2004; Stein & Motta, 1992; Williams & Cash, 2001). 82 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS No sentido de verificarmos a possível influência do tempo de treino e da frequência de treino semanal, sobre a distorção da percepção da imagem corporal geral, a satisfação com a imagem corporal geral e o ideal estético (Quadros 4, 8 e 14), anulamos estatisticamente a sua influência. Os resultados desta observação encontram-se nos seguintes Quadros, 11 e 12. Quadro 11 – Caracterização distorção da percepção da imagem corporal geral, satisfação com a imagem corporal geral e ideal estético, ao se anular a influência do tempo de treino (média e desvio padrão). Tempo de treino Brasileiras Portuguesas Valor de f Valor de p 2,1 (± 4,2) 1,2 (± 4,6) ,000 ,998 - 0,26 (± 2,7) - 2,17 (± 2,9) 4,094 ,046 5,0 (± 1,6) 4,1 (± 1,2) 6,984 ,010 anulado Distorção da percepção Satisfação Ideal Corporal Através do Quadro 11, podemos verificar que não houve alterações ao anularmos a influência do tempo de treino, mantendo-se a diferença significativa de uma maior satisfação com a imagem corporal geral e um ideal corporal mais musculado para as brasileiras em relação às mulheres portuguesas. Quadro 12 – Caracterização distorção da percepção da imagem corporal geral, satisfação com a imagem corporal geral e ideal estético, ao se anular a influência da frequência de treino semanal (média e desvio padrão). Frequência de treino Brasileiras Portuguesas Valor de f Valor de p 2,1 (± 4,2) 1,2 (± 4,6) ,776 ,381 - 0,26 (± 1,7) - 2,17 (± 2,9) 3,442 ,067 5,0 (± 1,6) 4,1 (± 1,2) 1,174 ,282 anulada Distorção da percepção Satisfação Ideal Corporal O Quadro 11 nos mostra que quando anulada a influência da frequência de treino semanal, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas para nenhuma das variáveis observadas. Isto significa que a 83 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS frequência semanal de treinos realizados pelas mulheres está relacionada com seus ideais estéticos e níveis de satisfação com a imagem corporal geral. Voltando ao somatótipo, Stewart et al. (2003) verificaram uma insatisfação com a imagem corporal mínima relacionada ao valor médio de 3.0-2.5-3.0, que em nosso estudo, foi de 4.1-2.6-2.6 para o grupo de brasileiras insatisfeitas com a imagem corporal geral. Já para as mulheres brasileiras e portuguesas satisfeitas, o somatótipo médio encontrado foi de 4.2-2.9-2.4 e 3.4-3.6-2.8, respectivamente. No Quadro 13, que se segue abaixo, podemos verificar a variação do somatótipo em seus valores médios, em função das nacionalidades em estudo, assim como sobre as condições de satisfação ou insatisfação com a imagem corporal geral. Quadro 13 – Caracterização do somatótipo médio geral das mulheres satisfeitas, insatisfeitas e da população em geral, para brasileiras e portuguesas. Somatótipo das satisfeitas Somatótipo das insatisfeitas Somatótipo geral Brasileiras Portuguesas (Nível de satisfação) (Nível de satisfação) 4,2-2,9-2,6 3,4-3,6-2,8 (0) (0) 4,1-2,6-2,6 5,0-4,1-2,0 (-0,29) (-2,86) 4,1-2,6-2,6 4,6-4,0-2,2 (-0,26) (-2,17) Estes resultados sugerem que a satisfação com a imagem corporal geral da amostra em estudo condiz com somatótipos que apresentem certo equilíbrio entre a mesomorfia e a ectomorfia, apesar da satisfação advinda de uma linearidade dominante ser bem documentada pela literatura (Garganta, 2000; Fallon, 1990; Kakeshita e Almeida, 2006; Stewart et al., 2003; Vasconcelos, 1995). 84 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 5.3 – Ideal Corporal Geral O ideal corporal geral foi definido pela escolha da silhueta correspondente ao somatótipo ideal. No Quadro 14 estão descritas as frequências e o percentual de escolhas correspondentes à referida silhueta ideal, para as brasileiras e portuguesas. Quadro 14 – Frequência e percentual de escolha das silhuetas correspondentes ao somatótipo ideal para as brasileiras e portuguesas. Silhuetas Brasileiras Portuguesas 1 (silhuetas 1 e 2) 2 – 4,3% 1 – 2,2% 2 (silhueta 3) 2 – 4,3% 3 – 6,5% 3 (silhuetas 4A e 4B) 2 – 4,3% 11 – 23,9% 4 (silhueta 5A) 6 – 13% 9 – 19,6% 5 (silhueta 6A) 16 – 34,8% 19 – 41,3% 6 (silhueta 7A) 11 – 23,9% 2 – 4,3% 7 (silhuetas 8A) 4 – 8,7% 1 – 2,2% 8 (silhuetas 9A e 10A) 3 – 6,5% 0 – 0% Como apresentado no Quadro 3, verificamos que o valor médio do somatótipo ideal das brasileiras é 5, que corresponde a um somatótipo predominantemente mesomórfico, representado pela silhueta 6A, enquanto o valor médio do somatótipo ideal das portuguesas é 4,1, que corresponde a um somatótipo central, representado pelas silhuetas 4A ou 4B. Entretanto, ao observarmos o Quadro 14, verificamos que a silhueta de maior frequência na escolha das portuguesas se iguala a das brasileiras, condizente em nosso estudo, a um somatótipo predominantemente mesomórfico, com valores da componente mesomorfia entre 4.1 e 5. A literatura tem demonstrado exaustivamente que as mulheres apresentam uma preferência por silhuetas e corpos de predominância ectomórfica (Garganta, 2000; Kakeshita & Almeida, 2006; Norton & Olds, 2005; Sobral & Vasconcelos, 1996; Stewart et al., 2003), conclusões divergentes dos resultados de nosso estudo. A adoção de um ideal predominantemente magro 85 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS é associada às internalizações dos ideais corporais midiáticos (Tiggemann, 2003) e a processos de aculturação e ocidentalização em indivíduos de cultura oriental (Barnett et al., 2001). Entretanto, apesar de a etnicidade influenciar a satisfação corporal como relatado anteriormente, o mesmo não se verifica quanto aos ideais corporais (Cachelin et al., 2002). Diferentemente de nossos resultados, ao compararem americanas e europeias, Mautner et al. (2000) não encontraram entre norte-americanas, inglesas e italianas, diferenças significativas em diversas avaliações utilizadas para se verificar distúrbios da imagem corporal (e.g. Physical Appearance State and Trait Anxiety Scale Questionnaire-Physical - PASTAS, Appearance Multidimensional Subscale - Body-Self MBSRQ, Relations Body Image Avoidance Questionnaire - BIAQ e Eating Disorder Inventory - EDI). Os próprios autores reconhecem como provável explicação para a falta de diferenças uma influência transcultural dos meios mediáticos, a qual aproximaria as diferenças existentes entre nações europeias muito desenvolvidas da América do Norte em relação a incidência dos distúrbios da imagem corporal. De fato, McElhone et al. (1999) verificaram que a Itália encontra-se entre os países europeus que mais apresenta ideais de magreza excessivos. Em concordância com o presente estudo, outros autores demonstraram a necessidade de se introduzir avaliações da musculatura em pesquisas sobre a imagem corporal, evidenciando o crescimento da insatisfação feminina com a massa muscular na Noruega (Storvoll et al., 2005) e a presença de ideais corporais atléticos em mulheres europeias de descendência australiana e indígenas das Ilhas Fiji (Williams et al., 2006). 86 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 5.4 – Considerações finais Fallon (1990) afirma que o conceito de beleza nunca foi estático nas culturas ocidentais ao longo dos tempos, com a figura ideal nos séculos XIX e XX, sendo duplamente representada entre a linearidade próxima do anorético e a sensualidade das curvas e volume corporal. Este mesmo autor destaca que a partir da década de 80 do último século, um ideal corporal feminino com mais musculatura, ainda que magro, começa a aparecer. Peters e Phelps (2001) sugeriram que as mulheres praticantes de musculação são divididas entre o desejo por um corpo com mais musculatura e uma silhueta mais magra. Em concordância com este autor, acreditamos que as mulheres de nosso estudo apresentam ideais conflitantes porque, apesar de termos observado ideais predominantemente mesomórficos e centrais, verificase o desejo pela linearidade, representado por valores negativos da variável satisfação com a imagem corporal geral. Interpretamos estes resultados como a presença de um ideal corporal com características de transição entre a mesomorfia e a ectomorfia, para as brasileiras e portuguesas observadas neste estudo. Neste ínterim, a verdadeira força dos modelos ideais atuais, representados pelo corpo magro, atlético, jovem, sensual e com boa aparência (Bane & McAuley, 1998; Harrison, 2003; Stein & Motta, 1992; Marzano, 2001), é a conexão entre a perfeição estética e a avaliação ética da pessoa, em interpretantes de sucesso, auto-controle e status sócio-econômico, sendo ainda o corpo um instrumento para se alcançar o amor, poder, consideração, popularidade e amigos (Marzano, 2001). Thompson (2004) relata que o campo da imagem corporal sofreu um tremendo crescimento nos últimos 50 anos, apresentando um aumento exponencial no número de revisões e novas medidas de suas múltiplas dimensões. É neste contexto que Pruzinsky (2004) sugere a necessidade de uma melhoria nas avaliações da imagem corporal, no que diz respeito à definição e identificação 87 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS do distress associado ou não a alguma patologia, e a especificação do seu papel nos contextos médicos, o que tornaria os profissionais mais aptos para definir a natureza exata das preocupações das pessoas, resultando um refinamento dos indicadores de saúde, derivados de avaliações médicas de rotina mais integrais. A execução deste trabalho, no que se refere a revisão da literatura e a investigação de campo em si, nos possibilitou compreender de forma mais precisa que o construto da imagem corporal abrange através de suas diversas variáveis, aspectos das realidades física e psicológica pelos quais o homem se reconhece como tal. E que o desenvolvimento pleno da personalidade e de seus valores só se é possível no equilíbrio da percepção acurada de si mesmo, que não se confina nos limites do corpo. Podemos perceber, que as concepções de saúde atuais entrelaçam-se de significados simbólicos e corpóreos que conduzem a interessantes discussões acerca das práticas e estratégias de inclusão e exclusão social em nossa sociedade. As contribuições da estética e da semiótica procuram conscientizar-nos e esclarecer, sobre as relações do indivíduo em sua experiência com o belo, tanto pela definição da beleza quanto pela forma como se processa a percepção e conseguinte interpretação de seus estímulos em nossa mente. Aprofunda-se a psicologia na discussão da influência da beleza e atratividade física sob todo potencial libidinal que se movimenta em sua função, abrindo campo à sociologia, que se debruça sobre o desenvolvimento social do homem face as relações entre o belo, o indivíduo e suas tão diversas quão complexas coletividades. A comunicação social, ancorada no tríplice objetivo de educar, entreter e informar, assim como o desporto, apresentam também sua parcela de 88 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS contribuição, educando e exemplificando, ambos a sua maneira, o homem individual para si mesmo e para a sociedade. Deve-se incentivar cada vez mais debates que possam chamar a atenção de todos os educadores, sejam eles vinculados a transmissão do conhecimento ou da informação, às discussões pertinentes ao interesse da construção contínua de uma sociedade mais saudável e responsável pela autonomia e bem-estar de seus indivíduos. Todos os profissionais que têm a capacidade de influenciar sobre a saúde e a educação corporal das coletividades, devem ter em mente, que oferecer (vender) idealizações efêmeras e sutis, existentes no imaginário coletivo, associadas a materialidades corporais específicas, pode promover interpretantes falsos e muitas vezes nocivos à saúde mental e física dos indivíduos. A utilização do instrumento de silhuetas adaptado neste estudo, vem fortalecer os resultados de outras investigações que demonstram atualmente, a importância dada pelas mulheres, como parte das percepções de si mesmas, à musculatura. Além das limitações inerentes aos estudos realizados com escalas de silhuetas como instrumento de avaliação da imagem corporal, foi considerável a dificuldade para se relacionar os resultados deste instrumento às tipologias somatotípicas, tendo em vista a subjetividade própria de cada um destes métodos. Ressaltamos portanto, que se deve ter cautela ao comparar os resultados deste estudo aos demais encontrados na literatura, devido ao fato de termos nos concentrando em uma população específica de mulheres europeias e sulamericanas, caucasianas e praticantes de musculação. 89 6 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES CONCLUSÕES Capítulo 6 – Conclusões e sugestões 6.1 – Conclusões Em função da avaliação do somatótipo não foi confirmada nossa primeira hipótese. As brasileiras apresentaram um somatótipo de classificação endomorfo equilibrado, e não mesoendomorfo como suposto. Para as portuguesas a hipótese formulada se mostrou verdadeira, tendo sido verificado um somatótipo endomorfo mesomorfo, pela predominância da componente endomorfia sobre a mesomorfia, sendo esta última ainda maior que a ectomorfia. Quanto a nossa terceira hipótese, esta não foi verificada como verdadeira, pelo fato de não ter sido encontrada diferença estatisticamente significativa entre brasileiras e portuguesas quanto ao nível de distorção da percepção da imagem corporal geral. Confirmada nossa quarta hipótese, verificamos que as mulheres brasileiras, apresentaram uma maior satisfação com a imagem corporal geral do que as portuguesas. Com um ideal corporal geral predominantemente mesomórfico, as brasileiras diferenciaram-se significativamente das portuguesas, que idealizam corpos de constituição central, constituindo-se verdadeira nossa quinta e última hipótese. 93 CONCLUSÕES 6.2 – Sugestões A fim de aumentar a robustez do instrumento adaptado proposto neste estudo e verificar a sua boa aceitação em universos amostrais mais amplos, sugerimos que: - Possam-se realizar estudos comparativos entre mulheres praticantes de musculação de outras nacionalidades; - Fossem também feitos estudos comparativos entre praticantes de diferentes desportos e níveis de atividade física, passando por indivíduos sedentários, ativos e atletas de alto rendimento; - Outros estudos procurassem verificar uma possível existência de relações entre este instrumento de silhuetas adaptado e outros semelhantes, assim como aqueles que avaliem aspectos cognitivos e afetivos da imagem corporal. - Mais pesquisas fossem realizadas sobre o interessante fenômeno do fisiculturismo, em nível competitivo amador, pois pode desvelar um pouco mais do como e porque as pessoas agem sobre seus corpos e lidam com as consequências de atidudes muitas vezes exageradas, com objetivo de responderem as pressões sociais relativas a aparência física. 94 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 7 – Referências bibliográficas Anderson-Fye, E. 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