Exercícios de Diálogo Escrito

Transcrição

Exercícios de Diálogo Escrito
Diversidade
Linguística
na Escola Portuguesa
Projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa
(ILTEC)
www.iltec.pt
www.dgidc.min-edu.pt
www.gulbenkian.pt
Exercícios de Diálogo Escrito
Introdução
Apresentamos aqui um conjunto de exercícios e propostas de actividades relacionados com a
elaboração de diálogos escritos. Encontram-se divididos em três grupos:
ƒ
Considerações gerais
ƒ
Para trabalhar aspectos específicos do diálogo escrito
ƒ
Para fazer uso de bandas-desenhadas
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Considerações gerais
Ao propor actividades com diálogos escritos, o professor deve ter em conta a situação individual
de cada aluno, prestando particular atenção aos factores idade e proficiência linguística em
Português. Ficam aqui algumas sugestões que o possam ajudar nesse sentido.
Aproveitar os conhecimentos prévios dos alunos
É importante criar exercícios que se insiram no percurso de aprendizagem dos alunos. No caso
dos alunos de Português língua não materna (PLNM), tal pressupõe conhecer, por um lado, as
aprendizagens que efectuaram na sua língua materna e, por outro, ter uma boa percepção dos
conhecimentos que já adquiriram da língua portuguesa.
O professor pode inspirar-se em histórias que os alunos conheçam da sua língua materna.
Havendo este enquadramento, é provável que os alunos se sintam mais seguros e mais
motivados, permitindo um maior investimento na formulação linguística dos enunciados. O
professor pode também recorrer a histórias universalmente conhecidas, como o Capuchinho
Vermelho, a Gata Borralheira, o Bambi, etc. Pode ainda solicitar que os alunos tragam um livro
escrito na sua língua materna e pedir que traduzam os diálogos para Português ou que imaginem
novos diálogos a partir das imagens.
Sugerimos também que o professor esteja atento às conversas que os alunos já conseguem
manter em Português (na sala de aula, no recreio, com colegas, com outros professores, etc.),
utilizando-as como ponto de partida para a elaboração de diálogos escritos. Procedendo desta
forma, o professor evita que os alunos sejam expostos a tarefas escritas sem terem tido
oportunidade de solidificar as suas competências a nível da oralidade.
Combinar diversas actividades
A elaboração de um diálogo escrito pode ser combinada com outras actividades tornando, ao
mesmo tempo, a aprendizagem mais lúdica e mais dinámica. Acima de tudo, sugerimos que o
professor inclua sempre uma componente oral. Pode, por exemplo, contar uma história e pedir
aos alunos que escrevam um diálogo com base no que ouviram; utilizar uma conversa que tenha
tido com os alunos ou que os alunos tenham tido entre si como ponto de partida para o diálogo
escrito; pedir aos alunos que apresentem oralmente os diálogos que escreveram, seja lendo, seja
representando, etc. Igualmente importante é combinar tarefas de escrita com tarefas de leitura.
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Apenas se pode esperar dos alunos que elaborem bons diálogos se lhes forem fornecidos
exemplos pelos quais se possam guiar.
Condicionar a produção escrita
Haverá alturas em que é oportuna a escrita livre, dando-se liberdade aos alunos para escolherem
um tema, as personagens, o contexto conversacional e ainda para imaginarem um diálogo de
raiz. Trata-se, no entanto, de uma tarefa bastante complexa, para a qual nem todos os alunos
estarão preparados. Nessas situações, será mais apropriado condicionar as produções dos alunos,
permitindo que aprofundem uma ou outra competência em concreto, dando-lhes, em simultâneo,
uma maior sensação de segurança. O professor pode alterar a ordem das falas de um diálogo e
pedir aos alunos para ordenar; especificar o contexto conversacional (tópico, personagens);
fornecer instruções quanto aos aspectos a trabalhar (estrutura, dimensão, vocabulário, sintaxe,
etc.); escrever o início de um diálogo e pedir aos alunos para completarem; recorrer a estímulos
visuais; dar um diálogo com espaços em branco (palavras isoladas ou falas inteiras – por
exemplo, de uma determinada personagem), etc.
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Para trabalhar aspectos específicos do diálogo escrito
Propomos aqui um conjunto de exercícios que permitem treinar:
ƒ
O uso de marcadores conversacionais
ƒ
Sons de animais
ƒ
A organização gráfica
ƒ
O enquadramento das falas
Marcadores conversacionais
O diálogo é pautado por vocábulos e unidades fraseológicas que têm por objectivo “indicar o
início e o fim de cada intervenção, a vontade de cada um deixar o outro falar ou de lhe retirar a
palavra” (Delgado-Martins e Ferreira, 2006) e realçar a dimensão emotiva dos conteúdos
informativos.
Alguns exemplos de marcadores conversacionais são: então, está bem, pois, pois é, deixa lá, vá
lá, diz lá, pronto, assim assim, e tal, e tudo, não sei quê, nem por isso, não dá para querer, não
pode ser, não me digas.
Alguns exemplos de marcadores conversacionais com valor interrogativo são: que tal?, não é?,
não é verdade?, não é assim?, não achas?, como assim?, achas bem?, que te parece?, e tu?,
como assim?, diz quem?.
Alguns exemplos de interjeições são: ah!, oh!, vamos!, viva!, oxalá!, ai!, ó!, hum!, psiu!, olá!,
silêncio!, alto!, valha-me Deus!, raios te partam!.
O professor pode fazer um levantamento de expressões desta natureza juntamente com os
alunos. Pode perguntar, por exemplo: O que vocês dizem quando sentem dor? Quando querem
chamar a atenção de alguém? etc. Pode também introduzir primeiro um conjunto de expressões
e pedir depois aos alunos que definam o seu uso. Por exemplo: Vocês conhecem a expressão
assim assim? O que acham que ela quer dizer? Podem dar-me um exemplo de uma frase que
contenha esta expressão?
Ao abordar as interjeições o professor deve ter o cuidado de explicar que se trata de expressões
próprias do registo oral informal.
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São diversas as actividades que se podem fazer com os alunos. Ficam aqui algumas sugestões:
ƒ
Identificar marcadores conversacionais num texto (oral ou escrito).
ƒ
Ler em voz alta frases com marcadores conversacionais, pedindo aos alunos para
experimentarem diferentes entoações.
ƒ
Escolher o marcador conversacional mais adequado numa determinada situação.
ƒ
Apresentar frases simples e pedir aos alunos para introduzirem marcadores
conversacionais. Eventualmente pode dar-se uma lista de expressões a utilizar. Pode
fazer-se o mesmo tipo de exercício, mas com diálogos completos.
Exemplo:
Observa a imagem:
Quais destas expressões te parecem possíveis? Significam todas o mesmo?
Alto lá, o meu almoço preferido!
Ena pá, o meu almoço preferido!
Uau, o meu almoço preferido!
Ai ai ai, o meu almoço preferido!
Ups, o meu almoço preferido!
Pssst, o meu almoço preferido!
Bolas, o meu almoço preferido!
Fixe, o meu almoço preferido!
Sons de animais
Os sons de animais apenas podem ser utilizados num conjunto muito restrito de contextos.
Ainda assim, podem ser úteis na criação de actividades divertidas, capazes de captar o interesse
das crianças, e/ou para trabalhar com alunos de PLNM com poucos conhecimentos de
Português.
O professor pode apresentar um conjunto de imagens e pedir aos alunos que digam o nome dos
animais. Este exercício, aparentemente básico, pode ser uma boa oportunidade para os alunos
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aprofundarem o seu conhecimento lexical. Após terem identificado os animais, o professor pode
solicitar que digam os sons produzidos por esses animais. Por exemplo:
Que animais vês nestas imagens? Sabes que sons fazem?
Sugerindo algumas actividades, o professor pode
•
procurar, ou elaborar ele próprio, um diálogo entre vários animais e pedir aos alunos
que o representem.
•
Pedir aos alunos para identificarem pares animal – som. Para tal, pode colocar no
quadro duas colunas, uma com nomes de animais e outra com sons e pedir aos alunos
que combinem as diferentes informações.
•
pedir aos alunos para elaborarem um diálogo entre animais.
Nem todas as línguas recorrem às mesmas expressões para exprimir os sons dos animais. Um
boa forma de valorizar a diversidade linguística pode passar por solicitar aos alunos de PLNM
que digam os sons dos animais na sua língua materna.1 Caso haja diferenças em relação ao
Português, pode-se criar um cartaz para afixar na sala com imagens de animais, acompanhadas
dos sons nas diferentes línguas representadas na turma.
Organização gráfica
Saber organizar formalmente um diálogo não constitui uma competência propriamente
linguística. Trata-se, no entanto, de um aspecto a ser treinado com os alunos para que se
apercebam de que o diálogo escrito requer certas informações explícitas. Deve trabalhar-se
1
A propósito das diferenças entre as línguas a esse nível, veja-se por exemplo
http://www.georgetown.edu/faculty/ballc/animals/animals.html.
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sobretudo a identificação dos interlocutores e a delineação gráfica das falas (dois pontos,
quebras de linha, pontuação).
No caso dos alunos de PLNM, o professor pode perguntar se aprenderam aspectos da
organização gráfica na sua língua materna. Se sim, pedir que demonstrem e aproveitar as
semelhanças e/ou as diferenças para ensinar as especificidades do Português.
Algumas actividades:
ƒ
Dar um diálogo e pedir aos alunos para acrescentarem a informação relativa aos
interlocutores. Por exemplo:
Observa a imagem:
Observa o seguinte diálogo entre a Mãe da Ana, o Diogo e o Empregado da Loja. Sabes quem
está a dizer o quê?
………..
:Bom dia, posso ajudar-vos?
………..
: Sim, estes dois meninos querem um gelado.
………..
: Muito bem e qual é o gelado que querem?
………..
: Eu quero um de morango e a Ana quer um de banana.
………..
: Pronto, aqui estão.
………..
: Quanto custam?
………..
: Os dois juntos são três euros.
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………..
ƒ
: Obrigado Dona Luísa, este gelado é mesmo bom.
Dar um diálogo aos alunos sem organização gráfica e pedir-lhes para introduzirem, dois
pontos, quebras de linha, pontuação e letras maiúsculas (dependendo do grau de
dificuldade pretendido pode omitir-se uma destas informações). Por exemplo:
Observa o seguinte diálogo. Consegues organizá-lo melhor? Tens de introduzir letras
maiúsculas, dois pontos e a pontuação em falta.
Empregado boa tarde
Mãe, Diogo e Ana olá senhor Diogo
Empregado posso ajudar-vos
Mãe sim, estes dois meninos querem um gelado.
Empregado muito bem! E qual é o gelado que querem
Ana eu quero um de banana
Diogo eu quero um de cereja
Empregado pronto, aqui estão.
Diogo e Ana muito obrigado e até à próxima
Enquadramento das falas
O enquadramento das falas é feito por meio de verbos como dizer, perguntar, responder,
afirmar, sugerir, gritar, etc. O professor pode fazer um levantamento desses verbos juntamente
com os alunos (oralmente ou a partir de um texto escrito). De seguida, pode apresentar várias
situações e pedir-lhes que escolham o verbo mais adequado. Por exemplo:
O João vai de férias com a irmã e está muito contente. Que frases são mais adequadas nesta
situação? Significam todas o mesmo?
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ƒ
O João disse: Vou de férias!
ƒ
O João sugeriu: Vou de férias!
ƒ
O João cantou: Vou de férias!
ƒ
O João perguntou: Vou de férias!
ƒ
O João gritou: Vou de férias!
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Exercícios que envolvem banda-desenhada
A banda-desenhada é provavelmente o tipo de texto que mais explora o diálogo escrito. Além
disso, é divertida e estimulante para os alunos. É o meio ideal para “aprender, brincando”.
A banda-desenhada pode ser particularmente adequada para trabalhar com alunos de PLNM,
uma vez que recorre a uma linguagem simples e falas curtas. Além disso, a presença das
imagens pode ajudar a compreender a história, quando os alunos têm ainda poucos
conhecimentos da língua portuguesa.
Na selecção de bandas-desenhadas a trabalhar na sala de aula, é importante que o professor se
guie pela idade e a proficiência linguística em Português dos alunos. Sugerimos, ainda, que
procure saber junto dos alunos que bandas-desenhadas mais gostam de ler. Trabalhar histórias e
personagens conhecidas dos alunos pode fazer com que se sintam mais motivados, mais
envolvidos no processo de aprendizagem. No caso dos alunos de PLNM, pode facilitar a
compreensão das histórias e dos diálogos. Além disso, o facto de os alunos estarem
familiarizados com uma determinada banda-desenhada permite ainda fazer diversas actividades
paralelas, como a descrição de personagens, o reconto de outras histórias que os alunos já
tenham lido da mesma série, etc.
Os exercícios aqui apresentados têm por objectivo:
ƒ
Desenvolver a compreensão escrita
ƒ
Desenvolver a produção escrita
ƒ
Valorizar a diversidade linguística
ƒ
Treinar a organização gráfica do diálogo escrito
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Exercícios de compreensão
Antes de se poder aplicar quaisquer actividades ou exercícios que envolvam bandas-desenhadas,
importa pôr os alunos em contacto com os livros. Cabe ao professor estimular o gosto pela
leitura e incentivar, em particular, os alunos de PLNM a lerem banda-desenhada portuguesa.
Com o apoio da escola, pode constituir uma biblioteca que inclua bandas-desenhadas com
diferentes graus de dificuldade e dirigidos a vários públicos-alvo. Ao aplicar um teste
diagnóstico2, o professor pode avaliar que bandas-desenhadas o aluno já consegue compreender
em Português e, de acordo com essa avaliação, aconselhar leituras subsequentes. As leituras
podem ser individuais, integrando por exemplo os trabalhos de casa, mas podem também ser
realizadas aos pares ou em grupo dentro da sala de aula, de forma a promover a troca de saberes
entre falantes nativos e falantes não nativos.
Tendo encontrado uma banda-desenhada adequada aos seus alunos – dependendo dos
conhecimentos linguísticos e da idade, pode ser de uma tira, de uma página ou de várias páginas
– o professor pode criar diversos exercícios de compreensão para acompanhar a leitura das
histórias.
Compreensão global
Os exercícios de compreensão global têm por objectivo verificar se os alunos conseguem
assimilar uma história em termos genéricos, independentemente de dificuldades pontuais que
possam ainda sentir em termos lexicais ou sintácticos. As perguntas de compreensão podem ser
apresentadas antes ou depois da leitura da banda-desenhada em questão. Por exemplo:
2
De acordo com as orientações do Ministério de Educação (www.dgidc.minedu.pt/plnmaterna/lnm_doc.asp), os testes diagnósticos devem ser aplicados no momento de ingresso do
aluno no sistema de ensino nacional e também, de forma regular, ao longo do seu percurso escolar.
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Observa a banda-desenhada, se houver palavras que não compreendes pede a ajuda do professor
ou a um colega.
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Agora, responde às perguntas:
1. O que é que as bruxas mandam a Luísa fazer?
2. Por que está a Luísa com medo que as bruxas fiquem chateadas?
3. Como ficaram as bruxas no final, zangadas ou contentes?
4. Achas que conseguirias comer aquela sopa? Porquê?
Compreensão de vocabulário específico:
A banda-desenhada pode ser aproveitada para aprofundar o conhecimento lexical dos alunos.
Na aplicação de exercícios deste género, o professor deve ter o cuidado de escolher histórias
com apenas uma ou duas palavras difíceis, para que os alunos não deixem de compreender o
significado global da história. Por exemplo:
Observa a banda-desenhada:
© 1958 United Feature Syndicate, Inc. Schulz
Sabes o que é um oftalmologista? Tenta explicar. Se não souberes, pede ajuda ao professor.
Escreve a definição no teu caderno.
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Frequentemente, as bandas-desenhadas adoptam uma linguagem muito proxima da língua
falada, recheada de expressões idiomáticas e de outras construções típicas do registo oral.
Assim sendo, constituem um bom instrumento de apoio ao ensino de tais estruturas linguísticas.
Por exemplo:
Observa a banda-desenhada:
© Universal Press Syndicate, Bill Watterson
1. O que vai o Calvin fazer na última imagem?
2. Porque diz ele “é canja”? Já tinhas ouvido essa expressão? Sabes o que significa?
3. Imagina uma situação em que poderias utilizar a expressão “é canja”.
Exercícios de produção
Utilizar sequências de imagens para desencadear a produção de diálogos escritos pode ser
estimulante para os alunos, dando-lhes oportunidade de participarem activamente na criação de
bandas-desenhadas.
Preencher balões de texto
ƒ
Pode deixar-se em aberto apenas um ou dois balões, para que o aluno imagine uma fala
integrada numa determinada sequência conversacional. Por exemplo:
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Observa a banda-desenhada. O escritor esqueceu-se de preencher o balão na terceira imagem. O
que achas que o Snoopy está a querer dizer?
© 1958 United Feature Syndicate, Inc. Schulz
ƒ
Pode retirar-se todas as falas dos balões de texto, baralhá-las e pedir aos alunos que as
coloquem no sítio adequado. Por exemplo:
Observa a banda-desenhada. Consegues colocar estas falas nos balões de texto adequados?
ƒ
Ele não pode segurá-lo!
ƒ
Mas que ideia foi essa de comprares um gelado para o Snoopy? Como é que ele o vai
comer?
ƒ
Não é preciso segurar com as mãos … planta-se!
ƒ
O que estás a fazer Charlie Brown?
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© 1958 United Feature Syndicate, Inc. Schulz
ƒ
Pode ainda apagar-se simplesmente os balões de texto e solicitar aos alunos que
imaginem um diálogo. Por exemplo:
Observa a banda-desenhada. Imagina um diálogo e preenche os balões.
© 2006 Disney Enterprises Inc., Dist. by Creators Syndicate
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A banda-desenhada como ponto de partida para o diálogo escrito
Pode dar-se um fragmento de uma banda-desenhada aos alunos e pedir-lhes para escreverem um
diálogo que possa vir na sequência das imagens. Por exemplo:
Observa as imagens. Se houver palavras que não compreendes pede a ajuda do professor ou de
um colega.
© Universal Press Syndicate, Bill Watterson
O que achas que vai acontecer a seguir? Escreve um diálogo entre o Calvin e o Moe.
Exercícios para valorizar a diversidade linguística
Muitas bandas-desenhadas são internacionalmente conhecidas. O professor pode aproveitar esse
facto para valorizar a língua materna dos alunos, ajudando-os ao mesmo tempo na
aprendizagem do Português. Ficam aqui algumas sugestões:
ƒ
Pode procurar saber junto dos alunos que bandas-desenhadas existem tanto nos países
de origem como em Portugal. Tendo feito o levantamento, pode pedir aos alunos para
fazerem um cartaz com as imagens das principais personagens, acompanhado dos
nomes nas diferentes línguas representadas na turma.
ƒ
Pode pedir aos alunos para trazerem uma banda-desenhada na sua língua materna. Após
seleccionar uma sequência de imagens, pode juntar os alunos dois a dois, de forma a
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obter pares aluno português / aluno de PLNM, e solicitar-lhes que procurem uma
tradução adequada para a sequência em questão. O aluno de Português L2 explica e
descreve o que se passa em cada quadradinho e o aluno de Português L1 ajuda na
formulação das falas (a título de experiência, esta actividade pode também ser realizada
de forma inversa, isto é, do Português para a língua materna dos alunos).
ƒ
Caso disponha de tempo e dos meios informáticos necessários, o professor pode
aprofundar o exercício acima descrito, e “editar” uma versão portuguesa da bandadesenhada trazida pelo aluno. Para tal, basta digitalizar a banda-desenhada original,
apagar o conteúdo dos balões de texto, trabalhar a tradução em conjunto com os alunos,
inserir o texto português, imprimir e encadernar. O trabalho de tradução pode ser feito
ao longo de várias sessões, como se fosse um projecto a desenvolver pelo aluno de
PLNM. Pode reservar-se, por exemplo, todos os dias alguns minutos para esta
actividade.
ƒ
Caso a escola disponha dos meios financeiros necessários, pode constituir-se uma
biblioteca com bandas-desenhadas em várias línguas e colocá-las à disposição dos
alunos. Exemplo:
© Les Éitions Albert-René / Goscinny-Uderzo
(Imagens retiradas de http://www.asterix-obelix.nl/manylanguages/)
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Exercicios para treinar a organização gráfica do diálogo escrito
Uma das maiores diferenças entre a banda-desenhada e o diálogo escrito que não é
acompanhado de imagens reside na apresentação gráfica das falas e na identificação dos
interlocutores. Enquanto na banda-desenhada as falas são inseridas em balões de texto e os
interlocutores são identificados nas imagens, no diálogo escrito as falas são delineadas por meio
de aspas, dois pontos, travessões e quebras de linha e a identificação dos interlocutores é feita de
forma verbal explícita.
Criar exercícios em que é pedido aos alunos para transformarem uma banda-desenhada num
diálogo escrito permite que pratiquem, em particular, aspectos relacionados com a organização
gráfica. Ficam aqui algumas sugestões:
•
Apresentar um excerto de uma banda-desenhada e solicitar aos alunos que elaborem um
diálogo escrito a partir das informações presentes nos balões de texto. Este exercício
tem a vantagem de os alunos se poderem concentrar exclusivamente na identificação
dos interlocutores, no enquadramento psicológico dos seus actos verbais (ele disse, ele
gritou, ele perguntou) e na delineação gráfica das falas (uso de travessões, aspas,
quebras de linha, etc), estando já disponível toda a restante informação. Por exemplo:
Observa a banda-desenhada. Tenta transformá-la num diálogo escrito.
© Universal Press Syndicate, Bill Watterson
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ƒ
Apresentar uma sequência de imagens sem balões de texto e solicitar aos alunos que
imaginem as falas e as escrevam por baixo das imagens. Por exemplo:
Observa a banda-desenhada. Imagina um diálogo entre o Garfield e o Odie. Escreve as falas por
baixo das imagens.
Garfield: …………………. Odie: …………………….
Odie: ……………………..
Garfield: …………………..
Garfield: ……………………
Caso os alunos tenham já uma certa experiência a nível da organização gráfica, pode-se pedirlhes que elaborem um diálogo escrito a partir de uma sequência de imagens, especificando que
devem ter cuidado na identificação dos interlocutores e na demarcação gráfica das falas. Por
exemplo:
:
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Observa as imagens. Imagina um diálogo entre os dois senhores. Não te esqueças de dizer
sempre quem está a falar.
© Les Éditions Albert-René / Goscinny-Uderzo
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Bibliografia
Cunha, Celso e Luís F. Lindley Cintra (1984). Nova Gramática do Português Contemporâneo.
Lisboa: Edições João Sá da Costa.
Delgado-Martins, Maria Raquel e Hugo Gil Ferreira (2006). Português Corrente – Estilos do
Português no Ensino Secundário. Lisboa: Editorial Caminho.
Fischer, Glória e Maria da Luz Correia (coord.) (2004). Teste Bilingue – Livro de Imagens.
DGIDC. Imagens de Manuela Lourenço.
Schulz, Charles (1983). Volta, Snoopy. Porto: Edinter.
Sounds of the World’s Animals:
http://www.georgetown.edu/faculty/ballc/animals/animals.html.
Consulta de imagens e narrativas em linha:
www.garfield.com
http://www.asterix-obelix.nl/
http://www.cdkomik.com
http://www.gocomics.com/index.phtml
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Ficha Técnica
y
Fausto Caels
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