Biocombustíveis em FOCO

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Biocombustíveis em FOCO
Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Biocombustíveis em
FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
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Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Notícias
Mistura de 4% de biodiesel ao diesel entra em vigor ................................................................ 6
30 de Junho de 2009. Fonte: MME.
Projeto cria fundo para energia solar ....................................................................................... 6
30 de Junho de 2009. Fonte: Diário Online.
Inaugurada primeira usina de diesel de cana-de-açúcar ............................................................ 7
25 de Junho de 2009. Fonte: Canal Rural.
Compromisso trabalhista para a cana-de-açúcar é anunciado com mais de 75% de adesão ....... 7
25 de Junho de 2009. Fonte: UNICA.
Algas estão no futuro ............................................................................................................... 8
23 de Junho de 2009. Fonte: BiodieselBR.
Programa de biodiesel na Paraíba beneficiará 31 municípios .................................................... 8
18 de Junho de 2009. Fonte: Globo Rural.
Gasolina cai, não nas bombas .................................................................................................. 9
09 de Junho de 2009. Fonte: O Globo.
Petrobras deve estrear em etanol este ano .............................................................................. 9
09 de Junho de 2009. Fonte: Valor Econômico.
Brasil precisa provar que etanol é sustentável, diz Bill Clinton ................................................ 10
02 de Junho de 2009. Fonte: O Estado de S. Paulo.
Pesquisadores estudam variedade de cana-de-açúcar tolerante à seca ................................... 10
01 de Junho de 2009. Fonte: Daniela Collares – Embrapa Agroenergia.
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Artigos e Estudos
Situação e Perspectivas para os Trabalhadores da Cana no Brasil ........................................... 12
Artigo elaborado por Renato Carvalho, consultor do IICA no Brasil, em 30 de junho de 2009.
Biodiesel: crescer ou definhar ................................................................................................ 19
Artigo de 28 de junho de 2009, publicado na no portal BiodieselBR, escrito por Luiz Décio
Gazzoni, engenheiro agrônomo e assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República.
O Caminho da Canola............................................................................................................. 21
Artigo de junho de 2009, escrito por Amira Massabki de Curitiba, publicado na revista
BiodieselBR.
Mitigação das emissões de gases de efeito estufa – Uso de etanol da cana-de-açúcar produzido
no Brasil (2ª Edição) ..................................................................................................................... 24
Estudo desenvolvido pela Embrapa Agrobiologia, pelos pesquisadores: Luís Henrique de Barros
Soares, Bruno José Rodrigues Alves, Segundo Urquiaga e Robert Michael Boddey e publicado em abril
de 2009 na Edição Nº 04 Volume 29, da Revista AgroAnalysis da FGV.
Lucro que vem do efeito estufa .............................................................................................. 27
Artigo de fevereiro de 2009 elaborado por Cezar Martins, publicado na Edição Nº 391 –
Jan/Fev 2009 da Revista Problemas Brasileiros do SESC São Paulo.
Estudo de caso: A agricultura familiar no estado do Ceará (Nordeste): o cultivo de mamona .. 30
Análise de julho de 2008, elaborado por John Wilkinson e Selena Herrera e publicado no
estudo: Os agrocombustíveis no Brasil: quais perspectivas para o campo.
Ações e Iniciativas
Pinhão Manso: rentabilidade e sustentabilidade ao seu alcance ............................................. 35
Iniciativa promovida por Mansueto A. Saraiva de Souza, que é produtor rural e trabalha com
agropecuária a mais de 30 anos e atuante pela Fazenda Estrela – inscrição estadual de Produtor Rural
Nº 540/1362.
CEISE BR Comemora 29 anos de Trabalho ao Setor Sucroalcooleiro e Energético .................... 38
Junho de 2009. Organização Responsável: CEISE BR – Centro Nacional das Indústrias do Setor
Sucroalcooleiro e Energético.
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Mistura de 4% de biodiesel ao diesel entra em vigor
30 de Junho de 2009. Fonte: MME.
Começa a vigorar no dia 01/07 a adição de 4% de biodiesel ao diesel comercializado no
Brasil. Para o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a ampliação do uso do biodiesel vai
ampliar a geração de emprego e renda, com um caráter social voltado para a inclusão da
agricultura familiar. “Não é só isso. Haverá também uma maior agregação de valor às
matérias-primas oleaginosas, além do desenvolvimento da indústria nacional de bens e
serviços”, explicou Lobão. Para ele, outro fator importante será a redução da importação de
diesel de petróleo, com efetivos ganhos na Balança Comercial. Em 2008, por exemplo, o uso do biodiesel representou
uma economia de US$ 1 bilhão nas contas externas do País. “O Brasil deixou de importar 1,1 bilhão de litros de diesel.
Com a adição de 4%, a tendência é diminuir ainda mais nossa dependência do diesel importado”, disse. Em janeiro de
2008, entrou em vigor a obrigatoriedade da adição de biodiesel ao diesel, resultado de uma política pública do governo
federal. Neste curto espaço de tempo, a medida fez do Brasil um dos maiores mercados mundiais de biodiesel. Dados da
ANP indicam que, em 2008, a produção de biodiesel no país chegou a 1,16 bilhão de litros. O consumo estimado do
produto no primeiro semestre deste ano, ainda com a mistura B3, é de 615 milhões de litros. Para o período de julho a
dezembro, a previsão é de que a demanda, com a obrigatoriedade do B4, salte para 925 milhões de litros. Já o consumo
anual previsto com a obrigatoriedade do B4 saltará para 1,72 bilhão de litros, o que, na avaliação da ANP, implicará
incremento de demanda de 33% em relação a 1,29 bilhão da mistura B3. A partir de um marco regulatório estável e de 14
leilões promovidos pelo governo federal nos três últimos anos, foi possível organizar a cadeia produtiva de forma a
garantir o atendimento pleno do mercado com a geração de emprego e renda nas diferentes regiões do País. O sucesso
do programa pode ser comprovado pelo aumento da mistura de 2% para 3% (em julho de 2008), e para 4% a partir de
julho de 2009, como forma de absorver o crescimento da produção registrado nos últimos anos. No aspecto ambiental, a
mistura de 4% garante um balanço muito mais sustentável na produção de combustíveis veiculares, por conta da
absorção de gases de efeito estufa na etapa agrícola — o que não ocorre com combustíveis derivados de petróleo. O
programa entra agora na fase de ampliação do mercado e da participação da agricultura familiar na produção das
diferentes oleaginosas cultivadas no Brasil, visando o cumprimento ou mesmo a antecipação das próximas metas de
ampliação da mistura. A intenção do governo federal é antecipar a entrada em vigor do B5, de 2013 para 2010.
Projeto cria fundo para energia solar
30 de Junho de 2009. Fonte: Diário Online.
Foi encaminhado à Assembléia Legislativa um Projeto de Lei que cria o Fundo de
Investimento em Energia Solar (Fies), o primeiro do País, conforme o presidente da
Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), Antonio Balhmann. "O objetivo do
fundo é atrair investidores para que apliquem na geração de energia solar, além de
desenvolver uma cultura de consumo deste tipo de insumo. O Fies pagaria ao
investidor a diferença entre tarifa de referência normal e a da solar, que é mais
cara", explicou. Segundo Balhmann, as indústrias só podem ser atraídas se a nossa
matriz energética for eficiente. "As energias alternativas (eólica e solar) são
grandes vetores. Todas essas fontes e potenciais se localizam nas regiões mais
deprimidas no Estado, no semi-árido". A proposta é constituir planos estratégicos
em prol do desenvolvimento desse insumo que é limpo moderno e renovável — pontuou o presidente da Adece. O
grande impasse a ser superado para consolidar a geração de energia eólica no País esbarra na legislação brasileira que
ainda não dá segurança para o investidor, já que não tem capilaridade para oferecer investimentos a largo prazo —
analisou Balhmann, que abriu no dia 29/06 a quarta edição do Power Future 2009. Para ele, o leilão específico de
comercialização da energia eólica, que acontece em novembro deste ano, é uma grande conquista. "Até dezembro, mais
de 500 megawatts de energia eólica passarão a ser gerados no Ceará — o que tornará o Estado a maior fonte de geração
no País. Com o advento do leilão, a cada ano, o mesmo volume de energia será gerado, durante pelo menos 10 anos",
comentou ele. O presidente da Adece lembrou que o governo estadual tem um programa específico de estímulo aos
investimentos nessa área — o Proeólica. O presidente da Adece informou também que será apresentado durante o
Power Future um manual de orientação para o investidor de energia eólica. "Tem tudo o que ele necessita para aportar
seus recursos no empreendimento: legislação, custos, tarifas, aspectos legais, tributários e fiscais, entre outros fatores".
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Inaugurada primeira usina de diesel de cana-de-açúcar
25 de Junho de 2009. Fonte: Canal Rural.
Mais um passo para o setor de energia renovável no país. O Brasil começou a
produção em escala pré-industrial do diesel de cana-de-áçúcar. A Amyris
Brasil inaugurou no dia 25/06 a primeira fábrica piloto para produção de
combustíveis renováveis, em Campinas (SP). O projeto já despertou interesse
de usinas brasileiras e a estimativa é que em 2014 sejam produzidos um
bilhão de litros de diesel limpo. Atualmente, a cana-de-açúcar se destaca
entre as mais ricas e modernas fontes de energia renovável do mundo. Por
isso, o interesse tão grande pela matéria-prima. Depois da produção de etanol e de plástico verde, a aposta da indústria
é o diesel feito a partir da cana. Há cinco anos, Amyris, com laboratórios nos Estados Unidos e Brasil, começou a
desenvolver a tecnologia na Califórnia e há pouco mais de um ano foram iniciados os investimentos neste laboratório em
Campinas (SP). "Hoje o melhor mercado do mundo para o produto renovável é a cana. E a gente acha que esta é uma
oportunidade melhor para o mundo. E começa aqui no Brasil, a partir da produção toda para o mercado internacional",
afirma o CEO da Amyris Brasil, John Melo. A planta pré-industrial deve produzir 300 litros por dia. A idéia da companhia é
comprar entre um e duas usinas até o fim do ano e começar uma produção de 150 milhões de litros. Outras cinco usinas
estão interessadas na tecnologia de diesel de cana. Em 2011 deve começar a produção em escala comercial. Um detalhe
é que este diesel já foi testado em motores a diesel e o resultado foi o mesmo rendimento energético que o diesel
comum, mas este não polui o meio ambiente. "Ele é zero de enxofre. Se for misturado no diesel normal, ele diminui
muito mais a quantidade de enxofre. E tem um diferencial grande para o país, que é o fato que a gente importa muito
diesel e exporta gasolina. E se a cana for usada para produzir diesel, você vai deixar de importar diesel e isso tem um
impacto importante na balança brasileira também", afirma o integrante do conselho de administração da Amyris,
Fernando Reinach.
Compromisso trabalhista para a cana-de-açúcar é anunciado com mais de
75% de adesão
25 de Junho de 2009. Fonte: UNICA.
O Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na
Cana-de-Açúcar foi lançado oficialmente no dia 25/06, em Brasília, com
mais de 75% de adesão do setor sucroenergético. “É um passo decisivo e
histórico que trata do presente e do futuro e coloca a adoção das melhores
práticas trabalhistas em primeiro plano no setor sucroenergético”, disse o
presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Marcos Jank.
O lançamento contou com a participação de mais de 400 pessoas no Palácio
do Buriti, sede temporária do Executivo Federal, e foi encerrado com
discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua fala, Jank destacou
que a alma do compromisso é a valorização das melhores práticas trabalhistas por meio da criação de instrumentos de
mercado, que as reconheçam como exemplos a serem adotados pelas empresas: “Optamos por elevar os padrões
médios de conduta com ações pró-ativas e transparentes, em vez de ficarmos destacando as exceções, que sempre
existirão em setores desta magnitude”. Jank frisou que o compromisso tem caráter evolutivo, portanto temas que não
foram acolhidos agora entre as melhores práticas do setor podem no futuro ser considerados. O conjunto de práticas já
reconhecidas é fruto dos avanços nas relações capital – trabalho, reconhecidos por todos os agentes envolvidos, seja nas
negociações coletivas, seja na adoção de boas práticas. No total, 303 das quase 400 usinas em atividade no Brasil – 107
delas em São Paulo – confirmaram sua adesão ao compromisso desde o primeiro dia, um número que, segundo Jank,
superou de longe as melhores expectativas do setor. Tudo indica, porém, que o total deve continuar crescendo, na
medida em que todas as usinas tomarem conhecimento do conteúdo do documento. Para as usinas, assinar o termo de
adesão significa cumprir um conjunto de cerca de 30 práticas empresariais exemplares, que em seu conjunto extrapolam
as obrigações estabelecidas na lei. Cada usina participante receberá ainda um certificado de conformidade. Encerrando o
evento, o presidente Lula criticou a tributação imposta ao etanol brasileiro por outros países, segundo ele, para impedir
a penetração e crescimento do biocombustível brasileiro. Ele também cumprimentou os participantes do acordo.
“Empresários e trabalhadores entenderam que, para transmitir o recado do combustível limpo e renovável que reduz
emissões, terão de trabalhar unidos”, afirmou.
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Algas estão no futuro
23 de Junho de 2009. Fonte: BiodieselBR.
É unânime que um futuro mais tranqüilo para o biodiesel dependerá da
descoberta e desenvolvimento de uma matéria-prima que possa produzir biodiesel
com preço competitivo. Estimulando essa busca, usinas têm desenvolvido e
incentivado cultivos de plantas com alguma tecnologia consolidada, como é o caso
da mamona, do girassol, da canola e do dendê. O extrativismo também vem sendo
incentivado, principalmente por pesquisas na região Norte, com o babaçu, inajá e
andiroba. Todas essas opções ainda estão em fase inicial e sua produção ainda é
pequena, mas regionalmente possuem futuro, respeitando as condições
edafoclimáticas e a vocação agrícola de cada local. Mas essas matérias-primas per-dem o brilho quando comparadas com as algas. Com estudos apontando uma produtividade de até 100 mil litros de
óleo por hectare/ano, os quatro mil litros da palma parecem irrisórios. Desconsiderando os problemas, esta seria uma
das muitas vantagens das algas, fazendo destes microorganismos uma opção promissora. Pesquisadores do mundo
inteiro estão empenhados em viabilizar a produção em larga escala. Muitos avanços aconteceram nos últimos anos, mas
até agora nenhuma empresa conseguiu mostrar a viabilidade. Segundo alguns pesquisadores, com as tecnologias
utilizadas hoje, o custo de produção de um litro de biodiesel em larga escala seria cerca de 10 a 20 reais. Apesar de
absolutamente inviável neste momento, o potencial das algas é muito grande para ser desconsiderado e por isso as
pesquisas continuam. Apesar dos esforços e recursos despendidos, dificilmente veremos usinas produzindo biodiesel de
algas comercialmente em menos de sete anos. O desenvolvimento dessa opção de matéria-prima não torna obsoleta a
tecnologia das usinas brasileiras já instaladas, pois o óleo retirado das algas ainda precisa passar pela transesterificação.
No entanto as usinas com esmagadoras integradas podem ter o ganho dessa verticalização reduzido após a maturação
da tecnologia de produção de algas.
Programa de biodiesel na Paraíba beneficiará 31 municípios
18 de Junho de 2009. Fonte: Globo Rural.
A Embrapa Algodão reafirmou no dia 16/06 seu compromisso com as
demais instituições que compõem o grupo de trabalho técnico no PNPB Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. O programa beneficiará
31 municípios nos pólos Borborema e Mata Norte. O agrônomo Napoleão
Beltrão, chefe geral da Embrapa no estado, defendeu a inclusão do algodão
herbáceo para compor com a mamona as opções para o programa no grupo
de oleaginosas a serem cultivadas para a extração de óleo na produção de
biocombustíveis. “A BRS Aroeira é um algodoeiro com alto teor de óleo e
pode se encaixar perfeitamente no programa, além de ser uma cultura bem
menos exigente que o girassol”, justificou Beltrão, defendendo também o
disciplinamento dos cultivos, com utilização de plantio em curvas de nível e
outras técnicas, visando o maior aproveitamento das áreas e a preservação dos solos. A Embrapa deve continuar
colaborando também com o processo de capacitação de produtores de mamona para a multiplicação de sementes
certificadas, como o que já vem ocorrendo na parceria com a Coapib - Cooperativa Agroindustrial do Compartimento da
Borborema, com sede em Pocinhos, que produziu até fevereiro sob encomenda da Embrapa Algodão cerca de 20
toneladas de sementes de mamona das variedades 149 Nordestina e Paraguaçu e possui uma demanda de 140
toneladas para os próximos meses. O PNPB é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário com a gestão
operacional da Obra Kolping do Brasil. O GT conta com a participação de vários órgãos estatais e da sociedade civil.
Segundo Lúcia Maria Canuto Bandeira, consultora da Obra Kolping do Brasil, o programa pretende aumentar em até oito
vezes a produção de oleaginosas na região. Ela explica que a idéia é beneficiar agricultores familiares envolvidos no
processo produtivo, com garantia de compra de toda a produção e de preços mínimos. No pólo Mata Norte os
municípios paraibanos contemplados serão Santa Rita, Cruz do Espírito Santo, Sapé, Sobrado, Riacho do Poço, Mari,
Capim, Cuité de Mamanguape, Mamanguape, Itapororoca, Lucena, Rio Tinto, Marcação, Curral de Cima, Baía da Traição,
Jacaraú e Mataraca. No pólo Borborema, as cidades são Campina Grande, Puxinanã, Lagoa Seca, Massaranduba, Serra
Redonda, Matinhas, Remígio, Algodão de Jandaíra, Serraria, Pilões, Casserengue e Solânea.
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Gasolina cai, não nas bombas
09 de Junho de 2009. Fonte: O Globo.
O governo anunciou em 08/06 uma redução nos preços da gasolina e do diesel nas refinarias.
Às vésperas do início dos trabalhos da CPI da Petrobras, a empresa informou um corte de 4,5%
nos preços da gasolina e de 15% nos do diesel nas refinarias. Porém, o governo também
mudará as alíquotas da Cide – tributo que incide sobre o setor de combustíveis – e, assim, a
redução da gasolina não chegará ao consumidor. O diesel, por sua vez, ficará 9,6% mais barato
nas bombas, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A queda vigorou a partir de
09/06. Já as distribuidoras estimam que a redução nas bombas deverá variar entre 7,6% e
8,8%, em média. A alíquota da Cide para o diesel aumentará em R$ 0,04 por litro e da gasolina,
R$ 0,05 por litro. – O diesel é um combustível importante para a economia brasileira, para o
setor agrícola e para o transporte urbano. Uma redução no seu preço implica queda de custo
para o setor e, conseqüentemente, redução da inflação – justificou Mantega. A última vez que
o governo reduziu os preços da gasolina e diesel foi em abril de 2003. Técnicos do Ministério
da Fazenda esperam que o corte no preço do diesel leve o Banco Central a reduzir mais fortemente os juros esta
semana. O Comitê de Política Monetária (Copom) divulga amanhã a nova taxa básica Selic, atualmente em 10,25% ao
ano. Além de o petróleo estar em queda, o governo precisa recuperar as perdas de arrecadação que sofreu com a crise.
No mercado de distribuição, estima-se que, com a elevação da Cide, o governo vai aumentar em R$ 2,65 bilhões anuais a
arrecadação do governo com o tributo, que atualmente é da ordem de R$ 4,6 bilhões por ano. Segundo os técnicos do
governo, a queda do diesel reduzirá a expectativa de inflação para 2010 de 4,5% para 4% ao ano. A redução do
combustível tem impacto sobre os custos de frete e máquinas. E o diesel responde por 25% do valor das tarifas de
transporte urbano. A Corretora Concórdia estima que, no caso dos Índices Gerais de Preços (IGPs), da Fundação Getulio
Vargas (FGV), haverá impacto direto de 0,23 ponto percentual em 12 meses. O presidente da Petrobras, José Sergio
Gabrielli, negou qualquer relação entre a redução nos preços com o início da CPI da Petrobras. “Não tem nada a ver com
a CPI É uma decisão tomada hoje (ontem) que tem fundamento econômico” disse ele, acrescentando que novas
reduções vão depender dos preços internacionais do petróleo e do comportamento do câmbio.
Petrobras deve estrear em etanol este ano
09 de Junho de 2009. Fonte: Valor Econômico.
Há um mês no comando da Petrobras Biocombustíveis, o cientista social gaúcho Miguel
Rossetto, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, prometeu fazer da subsidiária da estatal
do petróleo uma produtora de etanol ainda este ano. O caminho será mesmo o das
associações minoritárias com usinas já existentes, nas quais a Petrobras exigirá direito a voto
qualificado nos conselhos de administração. Ao mesmo tempo, uma das mais importantes
missões de Rossetto no novo cargo será viabilizar economicamente a utilização da mamona,
menina dos olhos dos programas de agricultura familiar do governo Lula, como insumo para
a produção de biodiesel. Rossetto reconhece que, por enquanto, a mamona é de fato inviável
economicamente na produção do combustível, mas argumenta que se trata de um problema de escala. "As dificuldades
que temos hoje estão vinculadas ao limite físico de oferta e ao preço decorrente disso. A mamona hoje custa na faixa de
R$ 3,00 o quilo, enquanto a soja custa R$ 1,90", disse. Por enquanto, a Petrobras Biocombustíveis vem usando apenas
óleo de soja e de caroço de algodão para produzir biodiesel nas suas três usinas, em Montes Claros (MG), Candeias (BA)
e Quixadá (CE). O executivo garante que a mamona, o girassol e, mais à frente, o pinhão manso, serão paulatinamente
introduzidos na composição das matérias-primas do biodiesel à medida que aumente a produção dessas oleaginosas,
especialmente por parte de produtores familiares nordestinos. No caso da mamona, o máximo de participação na
mistura considerado tecnicamente viável é de 30%. Na área do etanol, a Petrobras pretende chegar a 2013 com uma
produção própria de 3,9 bilhões de litros do combustível, equivalentes a 10% da produção nacional. Para chegar a esse
volume, a empresa está disposta a investir o equivalente a US$ 1,95 bilhão, seja para a compra de participações em
usinas já existentes, seja para se associar ao setor privado na construção de novas plantas. Rossetto não quis fornecer
detalhes, mas afirmou que está analisando várias ofertas de associação com o objetivo de fazer a Petrobras
Biocombustíveis tornar-se produtora de etanol ainda este ano. Ainda de acordo com Rossetto, a presença da Petrobras
no mercado de bioenergia é "rigorosamente estratégica e importante". Ele ressaltou que hoje, 5% do mercado (interno)
na área de motores a diesel já são ocupados pelo biodiesel e que nos motores originalmente a gasolina, 50% do mercado
já são do etanol.
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Brasil precisa provar que etanol é sustentável, diz Bill Clinton
02 de Junho de 2009. Fonte: O Estado de S. Paulo.
Convidado de honra do Ethanol Summit 2009, o ex-presidente dos Estados Unidos Bill
Clinton falou o que ninguém queria ouvir em um evento feito para promover o
combustível no mercado internacional. Na avaliação dele, o Brasil ainda precisa provar
para o mundo que é capaz de produzir combustível renovável de forma sustentável. "Se
o mundo resolver ajudar o Brasil e importar mais etanol para resolver seu problema,
poderemos aumentar a devastação da Amazônia", disse o ex-presidente. Clinton foi
recebido pelo presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank,
que em seu discurso falou sobre as vantagens do etanol e da necessidade de o mundo derrubar as barreiras
protecionistas contra o produto. Em seguida, ele iniciou seu discurso e evitou falar muito sobre as tarifas que seu país
impõe sobre o etanol brasileiro. Por outro lado, bateu bastante na tecla de que o Brasil precisa diminuir o
desmatamento da Amazônia. Segundo Clinton, o País tem de demonstrar que é possível reduzir as emissões de gás
carbônico do mundo sem provocar danos à sua própria natureza. "O Brasil terá de resolver esse problema interno, local,
para depois tentar resolver o problema global", disse o ex-presidente. Ele destacou que 75% da emissão de gases
poluentes causadores do efeito estufa no Brasil decorre da agricultura e do desmatamento - número que coloca o País
em oitavo lugar no ranking de emissões, ao lado de China e Índia. "Se a importação de etanol aumentar, o País terá de
elevar o plantio da cana em áreas de pastagem, o que vai empurrar a soja e o gado para a Amazônia." Apesar da crítica,
Clinton afirmou que o mundo já conhece o potencial do etanol feito da cana-de-açúcar, muito mais eficiente que os
combustíveis feitos de outras fontes primárias, como o milho, nos Estados Unidos. Por isso, ele acredita que o Brasil
precisa tomar algumas medidas que assegurem a sustentabilidade do combustível. O ex-presidente disse ainda que o
Brasil pode ser líder mundial na questão da eficiência energética, assim como fez na produção de energia. "Vocês podem
liderar nosso caminho para um futuro melhor", disse Clinton, que minutos antes havia brincado com a frase do
presidente Lula de que "a crise mundial foi criada por homens de olhos azuis", arrancando risos da platéia. Clinton
cobrou trabalho conjunto entre Brasil e Estados Unidos para o desenvolvimento de um modelo de agricultura
sustentável, que valorize a redução de emissões e o crédito de carbono.
Pesquisadores estudam variedade de cana-de-açúcar tolerante à seca
01 de Junho de 2009. Fonte: Daniela Collares – Embrapa Agroenergia.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Agroenergia, Hugo Molinari, o método de
transformação mediado por biobalística é mais utilizado atualmente na produção de cana
geneticamente melhorada devido à maior simplicidade e praticidade de aplicação.
"Quando se trabalha com transgênicos, é preciso fazer vários estudos para provar que
eles podem ser utilizados e que são equivalentes a uma outra planta que não sofreu a
inserção da característica desejada", salienta Molinari. A introdução de características
para o melhoramento da cana por meio da transgenia deve produzir em alguns anos,
variedades mais resistentes a doenças e capazes de tolerar ambientes marginais com so-los salinizados ou com pouca água disponível. O melhoramento clássico de cana-de-açúcar convencional é um processo
demorado e trabalhoso. Atualmente, com este processo são necessários de 12 a 15 anos para obter uma nova
variedade. Por meio da transgenia é possível a redução do período para sete anos. Este método oferece vantagem de
modificar somente a característica de interesse, no caso da pesquisa em andamento, o aumento da tolerância à seca. A
tecnologia desenvolvida pode ser uma alternativa para o melhor aproveitamento de muda e eficiência de planta, visando
impulsionar a produção de cana-de-açúcar no Brasil para as áreas de expansão. De forma geral, estas áreas têm como
características solos com baixa fertilidade, altas temperaturas e baixa precipitação pulviométrica. Molinari salienta que a
futura variedade geneticamente melhorada, terá características favoráveis para ser cultivadas nestas áreas, o que para o
setor sulcroalcooleiro será um grande avanço. Atualmente, ainda não existe variedade de cana-de-açúcar transgênica
comercial. As pesquisas são desenvolvidas, em parceria, nos laboratórios da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia (Brasília/DF), que possuem todas as características exigidas pelas normas da CTNBio para estudos com
organismos geneticamente modificados. Além desta parceria, a Unidade conta com o apoio da Japan Internacional
Research Center for Agricultural Sciences, Jircas, empresa de pesquisa vinculada ao governo japonês. Esta parceria foi
firmada ainda este ano entre a Embrapa e a Jircas, em projeto de cooperação técnica liderado pelo pesquisador
Alexandre Nepomucemo, da Embrapa Soja.
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Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Biodiesel: crescer ou definhar
Artigo de 28 de junho de 2009, publicado na no portal BiodieselBR, escrito por Luiz Décio Gazzoni, engenheiro agrônomo
e assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
A menos que medidas radicais, ousadas e ambiciosas sejam tomadas de imediato, o uso relativo de biodiesel
produzido a partir de óleos vegetais vai decrescer paulatinamente, na década que se inicia em 2020. Quer dizer que
vamos voltar a consumir óleo diesel adoidadamente? Que vamos acelerar a exaustão das reservas de petróleo? Que
vamos emporcalhar a atmosfera ainda mais? Que vamos matar ainda mais cidadãos, vítimas de problemas cardiorespiratórios decorrentes da emissão de particulados de veículos movidos a petrodiesel?
Calma lá, gente. Eu não disse nada disto. Ao contrário, acho que os combustíveis fósseis, especialmente o
petróleo, perderão market share a partir da década de 20. O problema está, especificamente, no biodiesel produzido de
óleos vegetais (ou gorduras animais), ou mesmo de óleos vegetais para uso direto em motores diesel. Caso sirva de
consolo, este será, também, o problema do etanol produzido de cereais - seja milho, trigo ou cevada - pois, em ambos os
casos, a matéria-prima (oleaginosas ou cereais) ficará progressivamente muito cara, impedindo a expansão do negócio
em todo o seu potencial.
Lembremo-nos que o consumo de petróleo previsto para 2009 alcança 32 bilhões de barris, com valor estimado
de 1,9 trilhão de dólares. Logo, é possível absorver o custo de B5 – eventualmente até B10 – através de políticas públicas
(fiscais ou de subsídios) ou mesmo transferindo a conta para o consumidor. O problema está no B20, B30, B50...
Teoricamente, um país como o Brasil, pelas suas vantagens comparativas, poderia até solucionar o seu problema. Mas, o
Brasil representa apenas um dígito no consumo mundial de energia, e esta equação precisa ser resolvida de forma global,
caso contrário haverá um leilão do biodiesel disponível em escala mundial e o consumidor (ou o Governo) brasileiro não
conseguirão competir com a renda per cápita dos países ricos.
Vamos entender as razões pelas quais corremos este risco. No caso do etanol de cereais, o problema é
facilmente compreensível: trata-se da conjuminação malévola entre a competição direta com a produção de alimentos e
a ineficiência econômica, ambiental e energética de produzir etanol a partir destas matérias primas, que só se sustentam
pelos subsídios e pela falta de conhecimento da opinião pública. Para o biodiesel, a análise é parecida, porém com outros
desdobramentos. Em parte temos uma competição direta com alimentos (soja, canola, girassol). Esta questão poderia ser
contornada produzindo óleo de espécies não édulas, como pinhão manso ou macaúba, porém a disputa por solo
cultivado continuaria.
Entretanto, minha previsão é que o mercado de óleos vegetais continuará aquecido, com taxas de crescimento
da demanda superiores ao crescimento do PIB mundial, pelos próximos 30 anos, sustentado pelas indústrias nutricional e
de química fina. O mercado de energia será marginal na formação de preços de óleos e gorduras, pois trata-se de
commoditie de baixo valor, comparativamente a alimentos, fármacos, cosméticos, próteses e outros produtos industriais.
Para complicar a questão, a maioria das matérias primas utilizadas para produzir biodiesel apresenta densidade
energética muito baixa, produzindo entre 600 e 1.500 kg de óleo por hectare (entre 6 e 15 Mcal/ha), competindo com
etanol de cana, que pode chegar a 120 Mcal/ha. O problema poderia ser parcialmente contornado com o uso de
palmáceas tropicais, cujo paradigma é o dendê. Esta planta produz, hoje, 5 t/ha de óleo, com potencial para o dobro
deste valor, podendo atingir mais de 100 Mcal/ha. Neste caso, a densidade energética seria alta o suficiente para conferir
rentabilidade mercadológica, à margem de políticas públicas fiscais ou subsídios, ou mesmo da compulsoriedade de uso,
que transfere o ônus para o consumidor.
Entrementes, ainda resta a questão de onde produzir quantidades astronômicas de óleo. O sudeste asiático
(Malásia, Tailândia e Indonésia) está investindo fortemente na expansão do plantio de dendê. Porém, o seu limite físico
de expansão será atingido até a década de 20. Países africanos ou latino-americanos, com clima adequado para produzir
dendê, são poucos e com pouca área disponível para expansão, o que ocorre com Nigéria, Equador, Colômbia ou Costa
Rica. Sobrará a grande fronteira da Amazônia brasileira, onde cerca de 30 milhões de hectares já desmatados poderiam
ser utilizados (mesmo que parcialmente) para o plantio de dendê, em sistemas agro-florestais.
Aí vai depender do apetite empresarial, de o Governo brasileiro sair de sua inação e vislumbrar o tamanho da
oportunidade econômica, ambiental e geo-política, de um marco legal adequado, e de as ONGs preferirem que as áreas
desmatadas sejam replantadas, para evitar que mais área de floresta seja desmatada, a manter o modelo de agricultura
itinerante atual – mesmo que a cobertura florestal seja feita com uma planta supostamente exótica (mas que aportou em
Pindorama há 500 anos). Entretanto, mesmo neste caso, teríamos, no limite da área e da produtividade, 30 Mha
produzindo 10 t/ha, redundando em 1,9 bilhão de barris/ano – ou seja, um B6 mundial, se a demanda global de
petrodiesel não se incrementasse!
Mas só plantar oleaginosas não vai resolver, porque o preço do óleo vegetal, que é a matéria prima do biodiesel
vai continuar aumentando. E, como vimos, a menor parcela da culpa pode ser atribuída ao biodiesel. A maior “culpada” é
a inclusão social, promovida pelo grande aumento de renda per cápita de populações miseráveis, como no Sudeste
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Asiático e na África, que, com o consistente crescimento econômico do mundo (e destes países em particular) e a baixa
inflação (o que restringe a concentração de renda e aumenta a renda disponível das famílias), estão podendo comprar
mais alimentos – inclusive mais óleos e gorduras. Veja a evolução do preço dos óleos na figura abaixo.
Na mesma figura é possível observar que, com exceção
de um momento pontual em 2005, em que o óleo de dendê
apresentou cotação levemente inferior ao petróleo, o preço
médio do complexo de óleos vegetais flutua entre 75 e 100%
acima do preço do petróleo. Este é o espaço de equalização que
precisa ser preenchido pelas políticas públicas (gravação
tributária diferencial de petrodiesel/biodiesel, subsídios, etc.) ou
transferência do custo para o consumidor.
Mas, se o mundo exige cada vez mais energia, se a
tendência mundial de substituição de fontes fósseis por
renováveis é um fato inexorável, o que ocupará o vácuo que vier
a ser criado por uma demanda de biodiesel não atendida?
Vislumbro quatro quebras de paradigma tecnológico.
Figura 1: Cotação dos óleos vegetais e do petróleo no
A primeira delas ainda necessita de muito
mercado internacional.
desenvolvimento tecnológico, mas eu acredito na Ciência e acho
que resolveremos os óbices atuais. Falo da produção massal de algas, de alto teor de óleo, permitindo grande produção
de biomassa, em curto espaço de tempo, reposicionando os fatores de formação de preços no mercado de óleos, no
longo prazo, permitindo a redução do preço do biodiesel produzido.
A segunda tem a ver com o dueto matéria prima e processos de transformação. Já a partir da próxima década porém com maior intensidade na década de 20 - a indústria de biocombustíveis vai migrar, parcialmente, para matérias
primas genéricas de relativa abundância e baixo custo, tipo biomassa residual, óleos de fritura usados, cascas, grãos,
lascas ou serragem de madeira, ou mesmo toras de madeira imprestáveis para outros usos, até o aproveitamento de
gorduras de esgoto ou lixo orgânico urbano, associada com processos de pirólise ou gaseificação, para produzir bio-óleo
ou gás de síntese. O bio óleo já é um sucedâneo do diesel. Com o gás de síntese, os químicos vão sintetizar novos
biocombustíveis, adaptados para operar em motores de ciclo diesel, em regime de trabalho pesado.
A terceira inovação é semelhante à anterior, porém lastreada no avanço da biotecnologia. Já estão sendo
testados na etapa pré industrial microrganismos transformados, como o Sacharomyces cerevisiae ou a Escherichia coli,
com genes silenciados, super-expressados ou introduzidos que, a partir de mono, di ou polisacarídios (glicose, sacarose
ou celulose), podem produzir inúmeros biocombustíveis, com propriedades físico-químicas, semelhantes ao petrodiesel.
A quarta inovação aponta para mudanças nos motores, de maneira a permitir o uso de bioetanol de cana,
substituindo parcialmente o petrodiesel. Nem são mudanças muito profundas, trata-se de inovações tecnológicas que
rompem com a forma como se havia tentado usar etanol em motores diesel até hoje, e que nunca “pegaram” por
ineficiência ou alto custo. A Embrapa, em parceria com cientistas autônomos, detém uma patente nesta área que, tenho
certeza, vai revolucionar o setor em escala mundial, criando algo parecido com um motor flex fuel a diesel. Só não será
flex fuel completo, porque sempre será necessária determinada proporção de diesel ou biodiesel (talvez até uns 40%),
necessária para provocar a explosão dos combustíveis na câmara de combustão. Os testes preliminares mostraram
economicidade e desempenho elevados, por vezes superando a operação com diesel puro. E, como bônus adicional,
reduzindo dramaticamente as emissões, com formidáveis ganhos ambientais e de saúde pública. Lembrando, o etanol de
cana é o biocombustível com mais alta densidade energética atual e futura e o de mais baixo custo, portanto reunindo as
condições para ocupar o espaço com rentabilidade empresarial, dispensando políticas públicas de equalização de preços.
É o futuro chegando, quando ultrapassarmos os limites do biodiesel, se este não atender a demanda mundial.
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
O Caminho da Canola
Artigo de junho de 2009, escrito por Amira Massabki de Curitiba, publicado na revista BiodieselBR.
Conhecida como uma das mais saudáveis oleaginosas para o consumo
humano, a canola passou recentemente a ocupar um lugar de destaque nas
políticas de fomento ao biodiesel no Brasil. Seu potencial energético tem
animado produtores, empresários e até mesmo o governo, que vê na matériaprima um futuro promissor, com qualidades para alavancar a produção do
biocombustível.
A canola abre vantagem em relação às demais matérias-primas
utilizadas na produção de energia. É uma boa opção de cultura para a entressafra
de soja – e rende mais que o dobro em volume de óleo se comparada a essa
commodity. Hoje ela ocupa o concorrido terceiro lugar na lista de oleaginosas
mais produzidas do mundo, respondendo por 16%, logo atrás da soja (33%) e do
dendê (34%). Além disso, o óleo de canola é o mais utilizado no mercado
europeu, principalmente para a produção de energia.
Com um conjunto de medidas políticas de incentivo à fabricação de
biodiesel no Brasil, a cultura da canola está aos poucos deixando a marginalidade
para fazer parte da relação de cultivares com garantia de financiamento através
do Zoneamento de Risco Climático, fundamental para a liberação de crédito ao
produtor.
“A canola é a soja do inverno”, comenta Erasmo Carlos Battistella,
diretor da BSBios, empresa localizada em Passo Fundo (RS) que há dois anos
lançou um programa de fomento à cultura no Estado, em parceria com a
Embrapa Trigo, a Emater e a União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio). Em 2007, o programa implantou o cultivo numa área
de 3,5 mil hectares. No ano seguinte foram 7 mil hectares, e a expectativa é também dobrar a área este ano. A aposta da
BSBios é alta: eles pretendem ocupar parte dos 1,5 milhão de hectares ociosos de área produtiva no Estado durante o
inverno. Para se ter uma idéia, isso permitiria produzir óleo de canola suficiente para abastecer a usina durante um ano
inteiro e com metade da área destinada à soja.
“É um campo que pode avançar, e muito”, destaca Battistella. “A garantia de produção de óleos vegetais no
inverno – uma alternativa à produção de soja durante o verão – agrega grande valor socioeconômico à canola”.
No dia 16 de março, a BSBios assinou termo de cooperação com o Banco do Estado do Rio Grande do Sul
(Banrisul) para financiamento de custeio para o plantio. A empresa ficará responsável pela assistência técnica e pela
compra da produção, contratada com cooperativas e produtores rurais.
O Rio Grande do Sul é atualmente a região responsável pela maior parte da produção da oleaginosa no Brasil,
devido ao seu clima frio e estável, com inverno e estação de chuvas bem definidos, permitindo a rotatividade de culturas
em outras estações. Recentemente o governo do Estado ampliou para a canola o benefício de diferimento fiscal válido
para a soja utilizada na produção do biocombustível. Por esse mecanismo, o imposto é recolhido pela indústria, e não na
venda da matéria-prima.
O cultivo em maior escala, no entanto, depende de pesquisas voltadas à tropicalização do grão, típico de países
frios. Pesquisas nesse sentido são desenvolvidas pela Embrapa em Goiás e Minas Gerais. A introdução da cultura em
baixas latitudes é uma experiência pioneira no mundo, realizada em colaboração com empresas que estarão promovendo
o cultivo na região Centro-Oeste a partir de genótipos menos sensíveis a fotoperíodo.
Graças ao melhoramento genético convencional, futuramente o plantio da canola no Brasil poderá ser feito
também na primavera, podendo vir a ser uma boa alternativa para a safrinha de grãos na região central do país. Para que
isso ocorra com garantias, muita tecnologia deve ser empregada para dar tranqüilidade e segurança de investimentos no
cultivo da oleaginosa.
Enquanto aguarda os resultados das pesquisas brasileiras, a BSBios tem importado sementes de híbridos
modernos de canola desenvolvidas na Austrália – que são adaptadas às nossas condições de cultivo e resistentes à
canela-preta, causada por um fungo. Cooperativas como a Cotribá, Cotrijal, Cocamar e empresas como Bunge Alimentos,
Giovelli & Cia Ltda e Celena Alimentos também importam esta variedade genética. A Cocamar, de Maringá (PR), que
refina o óleo bruto para o consumo humano, foi a primeira empresa brasileira a importar as sementes, em 1992. O
objetivo era incentivar os produtores da região norte do Paraná a plantar a oleaginosa durante a safrinha do milho. Mas,
sem condições favoráveis para a lavoura, os agricultores desistiram da idéia.
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Zoneamento
Gradativamente, as pesquisas voltadas ao melhoramento da canola associadas aos estudos do zoneamento têm
colocado a matériaprima em destaque nas políticas de biodiesel. Se até o ano passado o financiamento e o crédito eram
limitados, o cenário a partir de agora é absolutamente animador. Para este ano, os agricultores devem contar com seguro
rural total para cultivar a espécie, criando uma nova alternativa de renda para produtores rurais. Além do Rio Grande do
Sul, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou, no início deste ano, editais garantindo o
plantio da cultura em outros cinco Estados: Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás.
O caminho para se chegar até o seguro rural, no entanto, não foi curto. Foram muitos anos de dedicação ao
estudo de como implantar em um país de clima tropical uma oleaginosa típica de regiões frias. As tentativas para fazer a
cultura vingar foram muitas. Em 2000, por exemplo, a doença canela-preta prejudicou lavouras no Sul do país. Apenas em
2004 o cultivo comercial da canola, em Goiás (GO), teve sua primeira chance. O resultado, embora pequeno, já apontava
para um futuro próspero, com rendimentos de 2.100 a 2.400 quilos de grãos por hectare.
Vantagens
Os produtores contam com vantagens que vão desde o plantio até a venda. “É uma planta que não compete com
a soja e que o governo está incentivando”, destaca Battistella, acrescentando ainda que a cultura passou por cima dos
gargalos ao deixar de ser marginal.
Uma de suas mais vantajosas características agronômicas é a estabilidade no rendimento e a alta tolerância ao
estresse – a planta suporta períodos de longa estiagem. Outro ponto positivo é que a canola utiliza o mesmo maquinário
destinado à soja e outros cereais. A semelhança também existe no transporte e armazenamento, exigindo apenas
precauções típicas de grãos pequenos.
“Podemos dizer que as possíveis vantagens são a opção de cultivo na entressafra da soja, alta produção de óleo e
de alta qualidade, tanto para consumo humano como para biodiesel”, resume Pedro Mário de Araújo, responsável pela
área de Melhoramento e Genética do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Segundo o técnico, a canola é uma “cultura
melindrosa e exigente”, porém com um potencial energético e econômico fabulosos. E os motivos são muitos. Os grãos
produzidos no Brasil possuem em torno de 24 a 27% de proteína e de 38 a 48% de óleo.
De acordo com dados da Embrapa, os custos totais da lavoura de canola giram hoje em torno de R$ 650 por
hectare, com rendimento de 700 a 900 quilos de grãos. Já na fase em que o produtor domina as tecnologias empregadas
no plantio, a colheita tem sido de 1.200 a 1.500 kg/ha. A produtividade pode ultrapassar esses números para os
produtores mais experientes, chegando ao rendimento médio de até 2.500 kg/ha nas melhores lavouras. O lucro é ainda
mais atraente: US$ 220/ha num período que varia de 120 a 160 dias, dependendo da temperatura e se o genótipo é
precoce ou de ciclo longo. O pesquisar Gilberto Omar Tomm, da Embrapa Trigo, acredita em ganhos ainda maiores se
houver aprimoramento tecnológico, uma vez que o potencial genético dos híbridos empregados no Brasil é superior aos
resultados obtidos em lavouras do Uruguai, por exemplo.
Araújo, do Iapar, aconselha observar a época ideal de plantio em cada Estado e fazer um bom preparo de solo. É
exigido ainda o uso de maquinário adequado para semeadura, uma vez que a canola tem uma semente muito pequena.
Isso exige eficiente controle de plantas daninhas antes da implantação da cultura, além de uma boa adubação. A canola é
exigente em nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre e requer cuidados também na suplementação com micronutrientes
como boro e zinco.
Barreiras
Apesar dessas vantagens, o Brasil ainda está muito atrasado em relação a outros países quando o assunto é o
plantio, manejo e produção de óleo de canola. Hoje a importação da oleaginosa no Brasil ainda é grande. O Ministério do
Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (MDIC) não disponibiliza dados de importação específicos sobre a
planta. Por questão de padronização do Mercosul, o volume de importação do óleo de canola é somado com os óleos de
nabo silvestre e mostarda, que no ano passado totalizaram 13,5 mil toneladas.
Hoje o produtor terá que enfrentar problemas comuns de uma cultura em fase inicial de implantação, como a
pouca disponibilidade de cultivares e sementes no mercado, a inexistência de produtos químicos registrados no Mapa
para uso específico na canola, escassez de resultados conclusivos de pesquisas, sensibilidade da cultura a doenças e, além
disso, sua deiscência, ou seja, a maturação e abertura espontânea do fruto, com queda das sementes no solo antes que
estas sejam colhidas.
Mas as barreiras que impedem o crescimento da produção interna estão sendo superadas aos poucos por
alternativas viáveis. Uma saída encontrada pela Embrapa foi investir em um banco genético para garantir produtividade e
retorno da cultura no Brasil, principalmente para a fabricação de biodiesel.
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Mercado
A liquidez de mercado torna a comercialização da canola segura e atrativa, graças ao crescimento do setor de
biodiesel e à demanda por alimentos. Seu óleo é um dos mais saudáveis, pois possui elevada quantidade de Ômega-3 (no
corpo humano, reduz triglicerídeos e controla arteriosclerose), vitamina E (antioxidante que diminui os radicais livres),
gorduras monoinsaturadas e o menor teor de gordura saturada de todos os óleos vegetais, reduzindo o LDL, o mau
colesterol. O elevado percentual de proteínas faz do farelo de canola um excelente suplemento protéico na formulação
de rações para bovinos, suínos, ovinos e aves.
De acordo com Battistella, a cultura da canola é significativamente atraente tanto para as indústrias de biodiesel
como para os agricultores. Em termos práticos, a cultura permite a geração e a diversificação de renda, a criação de
postos de trabalho e, principalmente, a compra garantida de toda a produção em virtude da grande demanda do setor de
biodiesel. Sua expansão pode até mesmo abrir espaço para o mercado internacional, com grande potencial de exportação
para a Europa, um dos principais consumidores do produto.
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Mitigação das emissões de gases de efeito estufa – Uso de etanol da cana-deaçúcar produzido no Brasil (2ª Edição)
Estudo desenvolvido pela Embrapa Agrobiologia, pelos pesquisadores: Luís Henrique de Barros Soares, Bruno José
Rodrigues Alves, Segundo Urquiaga e Robert Michael Boddey e publicado em abril de 2009 na Edição Nº 04 Volume 29, da
Revista AgroAnalysis da FGV.
Matéria publicada em 7 capítulos e divulgada no “Biocombustíveis em FOCO” em 3 edições. A atual edição apresentará os
capítulos destacados abaixo:
1. Introdução
2. Objetivos e passos abordados
3. Aplicação nas condições brasileiras
4. Emissões de gases de efeito estufa (GEE´s) na produção e conversão da cana de açúcar em etanol
5. Mitigação das emissões de GEEs na substituição do diesel ou gasolina convencional por bioetanol da cana
6. O impacto nas emissões de GEEs da mudança da colheita manual de cana queimada para a colheita mecanizada de cana
crua
7. O impacto nas emissões de GEEs da expansão da área da cana-de-açúcar para produzir etanol
4. Emissões de gases de efeito estufa (GEE´s) na produção e conversão da cana de açúcar em etanol
Uma molécula do gás metano (CH4) na atmosfera tem um potencial de efeito-estufa 21 vezes maior do que a de
CO2, enquanto uma molécula de óxido nitroso (N2O) apresenta um potencial 310 vezes maior (IPCC, 2006).
Pequenas emissões de GEEs (CH4, CO2 e N2O)durante a fabricação dos insumos e combustíveis fósseis, utilizados
nas operações agrícolas e de processamento da cana para produzir etanol, podem contribuir significativamente para o
efeito estufa.
Ainda, os resíduos do processamento industrial, como a vinhaça e a queima da palha, podem ser fontes de
emissões significativas de CH4. As emissões mais importantes de N2O são esperadas pela aplicação no solo de
fertilizantes nitrogenados, tortas e outras fontes de nitrogênio.
Metano e óxido nitroso são produzidos em pequenas quantidades na combustão de petróleo, óleo diesel e
outros combustíveis como carvão mineral.
Uma importante fonte de metano é a queima de resíduos agrícolas. Como a maioria da área da cana no País é
ainda conduzida sob queima da palhada para facilitar a colheita manual, esta emissão é muito significativa.
Variedades de cana diferem muito na quantidade de folhas senescentes presente na hora da colheita. Num
estudo conduzido na Embrapa Agrobiologia, encontrou-se que a média:
Anual da palha depositada por oito variedades comerciais de cana durante um ciclo completo (cana-planta mais
socassocas) variou de 10 a 18 toneladas MS por hectare.
Produção da cana (colmos frescos) foi de 72,2 toneladas por hectare.
Utilizando estas médias, concluiu-se que no Brasil são depositados por hectare 16,4 toneladas de palha seca pela
cultura anualmente ou 6,56 toneladas de C por hectare.
Como só 83% da área canavieira nacional é colhida de cada usina a cada ano (cinco colheitas em seis anos) a
média de palha queimada por ano (se toda a colheita nacional for realizada após a queima) é de 13,5 toneladas de palha
ou 5,23 tonelada C por hectare.
Como não existem dados específicos para a queima da cana quanto as emissões de CH4 e N2O, os fatores de
emissão fornecidos pelo IPCC (2006), para a queima de resíduos agrícolas foram utilizados. Estes fatores estabelecem que
para cada tonelada de matéria seca de cana-de-açúcar, queimada com uma eficiência de 80%, são produzidos 2,7 quilos
de metano e 0,07 quilo de N2O.
Outras emissões de N2O têm origem nas fontes de N adicionadas à cana no campo. Inicialmente no plantio,
adiciona-se N presente na torta de filtro, aproximadamente 5,5 gramas de N por kg torta seca. Se 10 toneladas por
hectare da torta de filtro são adicionadas no sulco, isso constitui uma adição de 58 quilos por hectare no plantio, ou 9,2
quilos de N por hectare/ano.
Anualmente, parte do N retorna ao solo na palha (ao redor de 30 kg N por hectare), mas se a palha é queimada,
o N é perdido e ocorre emissão de N2O, conforme mencionado anteriormente. Finalmente, existe a adição do N
fertilizante, estimada em 57 quilos N por hectare por ano.
O fator de emissão do IPCC (2006) indica que 1% do N adicionado ao solo é emitido na forma de N2O. Utilizando
este fator, as emissões de N2O do N adicionado na torta de filtro e fertilizante totalizam 0,66 quilo de N ou 1,04 quilo de
N2O por hectare ano.
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Não existem ainda dados sobre a emissão de CH4 ou N2O da vinhaça. As doses de vinhaça variam de 80 a 150
metros cúbicos por hectare por ano podendo chegar a 200 m3, que carregam consigo significativa quantidade de material
orgânico e nutrientes.
Trabalhos calcularam que 80 m3 de vinhaça continham em quilos: 93 de K, 35 de S, 23 de N, e 8 de P, mas a
composição é muito variável. Como a vinhaça freqüentemente contém ao redor de 1 a 2% de carbono solúvel, e a água
da lavagem da cana também é contaminada com algo de açúcar, isso poderia resultar em emissões de CH4 e N2O.
Toda a vinhaça produzida na usina é distribuída nas lavouras de cana-de-açúcar por fertiirrigação, chegando até
os locais de aplicação por canais abertos.
A temperatura da vinhaça recém-produzida se aproxima dos 100ºC e vai esfriando no canal de distribuição. A
produção de metano pode ocorrer na fase termofílica (mais ou menos 60oC) e na mesofílica (mais ou menos 40oC),
sendo a última mais ativa.
Após a aplicação da vinhaça na lavoura não se espera emissão de CH4 do solo, ao menos que condições
anaeróbicas ocorram por várias horas. Ainda não existem estudos que permitam estimar possíveis emissões de CH4 dos
canais de distribuição, e considerou-se que um valor arbitrário de 0,2% do carbono contido na vinhaça é emitido como
CH4.
Nesse caso, a emissão de CH4 ficou estimada por hectare em 2,56 quilos ou 197,1 quilos de equivalentes em
CO2.
As emissões de N2O foram estimadas com base na metodologia do IPCC (2006), uma vez que não existem dados
disponíveis sobre o processo no Brasil. De acordo com a metodologia, 1% do N aplicado é emitido como N2O.
Considerando-se que aplicam-se 80 m3 de vinhaça no campo, contendo por hectare 20 quilos de N, são perdidos
anualmente 314 gramas de N2O, ou 97,3 quilos de equivalentes CO2.
Recentemente, a equipe da Embrapa Agrobiologia, em cooperação com colegas do Campus Leonel Miranda da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Campos dos Goytacazes, RJ, iniciou um estudo para avaliar as emissões
de N2O após a aplicação da vinhaça no campo.
Apesar da grande freqüência das chuvas na região durante o período do estudo (novembro 2008 a janeiro 2009)
as emissões foram menores do que 1% do N existente na vinhaça. Entretanto, neste documento, o valor utilizado foi de
1% de N na vinhaça.
Para fazer um balanço de todas as emissões dos três GEEs, toda energia utilizada na produção de etanol da cana
(fases agrícola e industrial) foi convertida em emissões equivalentes de CO2 fóssil.
Como a energia utilizada para a produção de herbicidas, inseticidas e toletes vêm de uma grande diversidade de
fontes, foi utilizado a conversão de MJ para CO2 assumindo os fatores de emissão para petróleo (“crude oil”) do IPCC
(2006). A energia embutida nas máquinas agrícolas e da usina foi contabilizada como se fosse a mesma para fabricação de
aço (energia fornecida por carvão mineral). O combustível para tratores foi contabilizado como óleo diesel.
Emissões de CO2 do calcário aplicado na agricultura foram calculadas utilizando o fator de 0,75 (IPCC, 2006).
As emissões em equivalentes de CO2 para a atmosfera na fabricação dos fertilizantes foram calculadas
baseando-se nos fatores recomendados por Kongshaug (1998):
1 quilo de uréia: 0,61
1 quilo de superfosfato simples: 0,17
1 quilo de cloreto de potássio 0,34
As emissões de CO2 derivadas do uso de energia fóssil predominam no plantio da cana, devido à utilização de
máquinas agrícolas para realizar a preparação do solo e abertura de sulcos de plantio e transporte dos insumos.
Durante o crescimento da cultura há emissões significativas de N2O devido às aplicações de N como fertilizante
ou de fontes orgânicas (vinhaça e tortas), constituindo 80% das emissões totais em equivalentes de CO2 nesta fase.
Na colheita, a queima da cana é responsável por grandes emissões de CH4 e N2O, que totalizam 982,3 quilos e
195,3 quilos de equivalentes do CO2, respectivamente, para 60% da área colhida com queima, totalizando 39% de todas
as emissões de GEEs no processo de produção de álcool.
5. Mitigação das emissões de GEEs na substituição do diesel ou gasolina convencional por bioetanol da cana
Recentemente, um estudo francês compilou resultados de três trabalhos independentes que avaliaram os ciclos
de vida e emissões de gases estufa associados às indústrias de combustíveis fósseis baseados no petróleo, e de
biocombustíveis.
Com algumas diferenças pontuais, os três estudos apontaram que, na produção e distribuição de gasolina e óleo
diesel(análise do tipo cradle-to-tank), as emissões de gases de efeito estufa ficam na média de 12 e 10,7 gramas em
equivalentes CO2, respectivamente, para cada MJ de energia contida nestes combustíveis.
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Isso significa que, ao chegar ao posto de combustível e mesmo antes da combustão, 1 litro de gasolina já emitiu
para a atmosfera 507 gramas de CO2. Do mesmo modo, 1 litro de óleo diesel antes de ser totalmente transformado em
energia nos motores já emitiu 510,4 gramas de CO2.
Adicionando o equivalente do CO2 emitido na combustão desses combustíveis, 1 litro de gasolina emite um total
de 3,65 quilos de equivalentes CO2 e 1 litro de diesel a 4,01 quilos de equivalentes CO2.
De forma hipotética, tal fato nos permite realizar uma comparação direta entre dois veículos semelhantes,
produzidos no Brasil pela mesma companhia, equipado com motor:
Diesel: Caminhonete S 10 cabine simples, motor 2.8 Turbo Diesel, 140 cv de potência máxima;
Total flex S 10 cabine simples, motor 2.4, Flexpower 141 cv com gasolina e 147 cv com álcool.
A caminhonete equipada com motor diesel apresenta consumo médio de 13,5 km por litro (ponderada, 55%
cidade e 45% estrada); e a caminhonete com motor total flex percorre 10,4 ou 7,2 quilômetros para cada litro de gasolina
ou álcool, respectivamente.
Utilizando os valores fornecidos pelo próprio fabricante, em uma viagem de 100 quilômetros o veículo a diesel
libera 29,69 quilos de CO2 equivalente para a atmosfera. Isso corresponde aos gases de efeito estufa emitidos pela
indústria na extração, refino, processamento e transporte associados ao combustível, somados a todo o gás carbônico
produzido na queima, no motor. O veículo flex que utilizasse gasolina pura emitiria, no mesmo trajeto, 35,10 quilos de
CO2.
Já para este mesmo veículo flex rodando com etanol, a média de consumo é de 7,2 quilômetros por litro. Assim,
nos mesmos 100 quilômetros percorridos, há o gasto de aproximadamente 13,9 litros de combustível.
Com base nos dados de emissão total de gases de efeito estufa derivados do investimento de energia fóssil para
produção de cana no modelo atual, queimando-se a palha da cultura em aproximadamente 60% da área. Assim, este
automóvel emitiria um total de 6,92 quilos de equivalentes CO2. O número corresponde a 5,1 vezes menos do que se
rodasse com gasolina pura, o que representa uma mitigação de 80% na emissão de gases de efeito estufa.
Nas condições reais, onde se acrescenta até 23% de etanol à gasolina nacional, o veículo emitiria
aproximadamente 28,6 kg de CO2 equivalente. Isto significa que a gasolina no padrão brasileiro emite aproximadamente
18% menos gases de efeito estufa do que a gasolina comercializada em outras partes do mundo onde não há adição de
álcool.
No mesmo percurso, o veículo a álcool emitiu aproximadamente 77% menos CO2 do que o veículo de mesma
potência rodando com óleo diesel, e 76% menos que o veículo com gasolina brasileira (com 23% de etanol).
Também é pertinente e ilustrativo calcular a possibilidade de mitigação de GEEs (emissões evitadas) por 1
hectare plantado com a cana. Considerando-se o rendimento de um carro a gasolina (10,4 quilômetros por litro) e a
álcool (7,2 quilômetros por litro), significa que 6.500 litros de álcool (a produção média nacional por hectare,) faz um
carro andar da mesma forma que 4.500 litros de gasolina, uma distância de 46.800 quilômetros.
Utilizando os valores das emissões estimadas em equivalentes de CO2 mostradas na tabela da página anterior, a
caminhonete consumindo gasolina emite 16.425 quilos de equivalentes CO2 para a atmosfera. Esta mesma caminhonete
andando com etanol de cana para a mesma distância emite somente 3.244 quilos de equivalentes CO2. A diferença entre
os dois valores (13.180 quilos de equivalentes CO2) representa o dioxido do carbono seqüestrado (ou emissão evitada)
por 1 ha de cana utilizada para a produção de etanol, quando é usado em substituição à gasolina convencional (não
misturada com etanol).
Na próxima edição serão apresentados os últimos capítulos:
6. O impacto nas emissões de GEEs da mudança da colheita manual de cana queimada para a colheita mecanizada de cana
crua
7. O impacto nas emissões de GEEs da expansão da área da cana-de-açúcar para produzir etanol
19
Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Lucro que vem do efeito estufa
Artigo de fevereiro de 2009 elaborado por Cezar Martins, publicado na Edição Nº 391 – Jan/Fev 2009 da Revista
Problemas Brasileiros do SESC São Paulo.
Créditos de carbono levam empresas brasileiras a investir em geração de energia limpa.
Combater o aquecimento global, mais do que uma questão de
sobrevivência, tornou-se um grande negócio para algumas empresas brasileiras.
A obrigatoriedade dos países ricos de reduzir suas emissões de gases causadores
do efeito estufa, estabelecida pelo Protocolo de Kyoto, em 1997, abriu
recentemente um mercado lucrativo para companhias que desenvolvem, no
Brasil, projetos que substituem fontes poluentes de geração de energia ou
sequestram carbono da atmosfera. As empresas que investem nos chamados
mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) podem, desde 2004, quando o
acordo entrou em vigor, vender para indústrias estrangeiras suas reduções
Lixão de Marambaia, em Nova
certificadas de emissões, nome técnico dado aos popularmente conhecidos
Iguaçu (RJ): projeto pioneiro / Foto:
créditos de carbono. Desde aterros sanitários que fazem o aproveitamento do
Divulgação.
metano até indústrias sucroalcooleiras que queimam o bagaço da cana-deaçúcar para gerar energia, empresas nacionais de diversos setores estão
conseguindo dinheiro para colocar em prática iniciativas que, em tese, ajudam a diminuir a concentração dos gases que
têm feito a temperatura da Terra subir. Esse tipo de negociação, contudo, está longe de ser visto com simpatia por
cientistas e grupos de ambientalistas.
O funcionamento do "mercado da poluição" é relativamente simples. Os países desenvolvidos que aderiram ao
Protocolo de Kyoto comprometeram-se a reduzir suas emissões de poluentes, no período de 2008 a 2012, em no mínimo
5,2% em relação aos níveis detectados em 1990. A única maneira de essas nações atingirem essa meta é obrigar as
empresas estabelecidas em suas fronteiras a desenvolver mecanismos de produção mais modernos para impedir os gases
causadores do efeito estufa de chegar à atmosfera. Na maioria dos casos, não é possível cumprir esse objetivo
isoladamente, tanto por falta de tecnologia disponível quanto por causa de custos muito elevados. Por isso, o próprio
acordo feito no Japão previu a existência de um mercado no qual os poluidores podem comprar créditos certificados pela
Organização das Nações Unidas (ONU) de instituições baseadas nos países em desenvolvimento, que não precisam
cumprir metas de redução. O Brasil, embora seja o quarto maior emissor mundial de gases do efeito estufa, devido às
queimadas na Amazônia, não tem a mesma obrigatoriedade que Alemanha, França, Japão e outros. Os Estados Unidos,
maior poluidor mundial, não assinaram o Protocolo até hoje e, por ora, também não são obrigados a reduzir suas
emissões. Uma das alegações dos norte-americanos para não aderir ao pacto é que nações como China, Índia e Brasil são
extremamente poluentes e não podem ficar fora do plano de metas. É evidente, no entanto, que por trás dessa recusa
existem interesses econômicos e pressões muito fortes sobre o governo.
Cada crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO2 que deixou de ser lançada na atmosfera, determinada
por meio de cálculos realizados através de uma metodologia específica. Além do dióxido de carbono, existem mais cinco
gases que causam o efeito estufa, de acordo com o Protocolo de Kyoto – metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hexafluoreto
de enxofre (SF6), perfluorcarbono (PFC) e hidrofluorcarbono (HFC). Para efeito de negociação, há também uma fórmula
que converte a emissão desses poluentes em toneladas equivalentes de CO2.
Assim como ocorre no mercado de commodities, a venda desses créditos é, na maioria das vezes, um negócio
fechado com promessa de entrega futura – com todos os riscos inerentes a esse tipo de negociação. Da mesma forma
que um produtor de soja toma dinheiro emprestado para fazer o plantio e a colheita, e depois quita o débito com a venda
da produção se a chuva e a terra ajudarem, as empresas dependem de amplos financiamentos para implementar projetos
de MDL. Existem diversas instituições nacionais e internacionais que disponibilizam recursos para empréstimos com essa
finalidade, buscando assegurar a compra dos créditos por preços mais baixos depois que o programa tiver sido aprovado
pela ONU. Ocorre que o projeto pode ser vetado se sua utilidade para o combate ao efeito estufa não for comprovada, e
os créditos, nesse caso, não serão aceitos para efeito de contabilidade dos países ricos. Isso torna o setor um campo em
que especialistas são muito valorizados. "Existe um risco enorme. Para ser aceito, o projeto precisa provar que, sem a
venda dos créditos, ele não seria viável economicamente. Depois, tem de passar por aprovação em âmbito nacional e
mais tarde pela ONU. É um processo que demora de 12 a 15 meses", afirma Bruno Maier, responsável pelo setor de
Originação de Projetos da EcoSecurities, agência especializada na assessoria a companhias que pretendem entrar no
mercado do carbono.
A empresa de Maier foi parceira na criação do primeiro projeto de MDL aprovado no mundo. Entregue à
administração privada em 2001 por um período de 20 anos, o Lixão de Marambaia, em Nova Iguaçu (RJ), foi equipado
com uma central de tratamento de resíduos capaz de gerar energia a partir do processamento do metano. O sistema foi
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
montado com apoio do Banco Mundial, que adiantou uma parte do dinheiro necessário para a realização do
empreendimento em troca de um contrato que prevê a entrega de créditos de carbono até 2012. Apenas em 2007, a
Novagerar Ecoenergia, empresa que administra o aterro sanitário, recebeu aproximadamente R$ 1 milhão por ter
impedido mais de 70 mil toneladas equivalentes de CO2 de chegar até a atmosfera. "Quando vencemos a licitação, o
escopo do contrato era construir a central de tratamento. Começamos a cogitar a hipótese de trabalhar com os créditos
de carbono, mas o Protocolo de Kyoto ainda não estava ratificado, porque faltava a Rússia assinar, o que só aconteceu em
2004. Mesmo assim, apresentamos o projeto para o Banco Mundial e eles adoraram", afirma Adriana Felipetto, diretora
da companhia.
A energia gerada a partir do lixo tem um custo maior do que a criada por fontes mais impactantes, como a
queima de carvão e usinas hidrelétricas, que alagam extensas áreas. Por isso, a ONU aprovou o projeto no Rio de Janeiro,
já que sem a venda dos créditos seria muito difícil encontrar alguém disposto a financiar a montagem do biodigestor e
demais equipamentos necessários. O sucesso da iniciativa acabou inspirando a prefeitura de São Paulo, que montou um
mecanismo parecido nos aterros Bandeirantes e São João e já realizou dois leilões para a venda dos créditos. No mais
recente, a empresa suíça Mercuria Energy Trading arrematou 713 mil toneladas de CO2 por R$ 37 milhões, que serão
investidos na recuperação ambiental e melhoria de infraestrutura para os moradores do entorno dos lixões, segundo
Stela Goldenstein, secretária adjunta de governo. "Fazer o leilão aumenta a transparência e também nos permite
arrecadar mais dinheiro. São créditos gerados no ano passado e já aprovados pela ONU, e que portanto podem ser
entregues agora. Não há risco para os países que compram e, por isso, eles pagam mais caro", afirma a secretária. Os
leilões foram realizados na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa).
Em nível global, a venda dos créditos também gera valores astronômicos. Em 2007, a movimentação esteve
perto de US$ 30 bilhões, e a expectativa dos analistas era que, até o final de 2008, o número dobrasse. Não é para menos
que até bancos privados, avessos a qualquer tipo de risco, decidiram entrar no negócio. O Banco Real, por exemplo, criou
uma linha de financiamento por meio da qual paga antecipadamente pelos créditos e ajuda indústrias a desenvolver
tecnologias que depois buscarão a aprovação da ONU. "O pagamento é à vista, mas a entrega dos créditos ocorre em
datas combinadas. Usinas de cana-de-açúcar que geram energia com a queima do bagaço têm um potencial grande",
afirma Maurik Jehee, superintendente da área de créditos de carbono do banco. No primeiro negócio realizado com uma
indústria canavieira, localizada na cidade de Catanduva (SP), o Real pagou quase € 2 milhões por 178 mil toneladas que
serão negociadas depois em bolsas europeias, com ágio.
Indulgências ambientais
O mercado criado para negociar licenças que permitem às indústrias emitir carbono por suas chaminés pode até
ter se tornado uma oportunidade valiosa para as empresas compradoras e vendedoras, mas está longe de ser bem aceito
por ambientalistas e pesquisadores. O inglês Kevin Smith, ativista do Transnational Institute, organização criada em 1974
para desenvolver pesquisas e análises sobre temas de interesse mundial, publicou um relatório em 2007 no qual compara
os créditos de carbono às indulgências que a Igreja Católica vendia aos pecadores na Idade Média. O trabalho, cujo título
traduzido para o português é "O Mito do Carbono Neutro – Indulgências para Compensar seus Pecados Climáticos",
critica profundamente a idéia de que é possível combater o aquecimento global apenas cobrando um preço sobre a
poluição das empresas, sem promover mudanças significativas no modo de produção e no consumo das populações
mundiais.
Outros especialistas acreditam que a melhor maneira de obrigar as companhias a diminuir emissões está na
criação de novos impostos e taxas sobre o carbono emitido, um mecanismo mais transparente e com maior capacidade
de resistir ao lobby dos grupos poluidores. "O MDL é interessante, mas, quando esses mercados de carbono vierem a
funcionar muito bem, seu efeito corresponderá a apenas 1% das necessidades de redução das emissões. Então, não se
deve dourar a pílula: a liberação de carbono na atmosfera tem de ficar cara, a fim de que haja estímulo para as pesquisas
científicas e tecnológicas. Se isso não ocorrer, demorará muito mais para que se viabilize o uso do hidrogênio e da energia
eólica", opina José Eli da Veiga, do Núcleo de Economia Socioambiental da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar do discurso de Veiga, reina no Brasil, onde as empresas correm para entrar no mercado do carbono e
fazem previsões otimistas de ganhos, um clima mais conciliador. A maior dúvida que paira aqui é o tamanho da
contribuição que projetos de reflorestamento podem trazer para o combate ao efeito estufa, uma vez que as plantações
podem demorar mais de 20 anos para atingir um nível de maturidade capaz de ter algum impacto relevante na absorção
de gás carbônico. "Se quiséssemos neutralizar todas as emissões do planeta, não existiria espaço para tantas árvores.
Além disso, essa iniciativa não promove a mudança de matriz energética. O raciocínio é: ‘Emito o gás e, no fim do dia,
neutralizo’. É como se a gente estivesse tomando um remédio para dor de cabeça, mas não combatesse a causa. É preciso
buscar alternativas energéticas, novos combustíveis e modos de transporte, de modo a não emitir gases de efeito estufa",
avalia Mario Monzoni, coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas.
Outra crítica pertinente diz respeito à questão das emissões promovidas em solo nacional. Embora seja o
terceiro país com mais projetos de MDL em fase de aprovação na ONU, o Brasil é um dos maiores emissores mundiais de
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
carbono. O Plano Nacional sobre Mudança do Clima, lançado recentemente, foi objeto de diversos comentários
desfavoráveis por considerar dados defasados, de 1994, e não apresentar metas específicas para controle do
desmatamento. "Na melhor das hipóteses, o projeto é uma decepção. Na pior, uma embromação. Os desafios das
mudanças climáticas exigem urgência e maior comprometimento do governo", afirma Marcelo Furtado, diretor executivo
do Greenpeace.
Mercado voluntário
Os créditos oriundos de projetos MDL não são a única opção para empresas que desejam lucrar no mercado do
aquecimento global. Embora os Estados Unidos não tenham aderido ao Protocolo de Kyoto e às metas compulsórias de
redução das emissões, diversas empresas norte-americanas já investem na compra de certificados que dão a elas o
direito de poluir. Esses papéis são vendidos na Chicago Climate Exchange (CCX), uma espécie de bolsa de valores que
negocia os papéis do carbono. Muitas empresas brasileiras não-certificadas pela ONU participam desse mercado
voluntário, paralelo ao Protocolo de Kyoto, vendendo créditos originados principalmente de áreas de reflorestamento. "É
mais uma ação de marketing, relacionada à ação social e ambiental. Créditos comprados na CCX não são contabilizados
pelos países signatários de Kyoto", destaca Bruno Maier.
Criada pelo capitalista norte-americano Richard Sandor em 2003, a CCX adota critérios menos rígidos de
aprovação de projetos que podem emitir os créditos. Por isso, as críticas a seu modelo de funcionamento e as dúvidas
sobre sua eficiência para combater o efeito estufa são constantes. O "Wall Street Journal" publicou, em outubro de 2008,
uma reportagem na qual dizia que os projetos geradores de créditos negociados na bolsa de Sandor não apresentam
critério de adicionalidade, isto é, não representam efetivamente ganho ambiental na comparação com um cenário onde
não existissem.
Apesar das críticas e de pagar um valor inferior ao do mercado de Kyoto pelos créditos de carbono, a CCX tem
atraído muitas empresas nacionais. Indústrias produtoras de papel e celulose, por exemplo, já operam no mercado
voluntário e têm conseguido resultados expressivos, graças às extensas florestas de eucalipto que plantam para garantir
sua produção. A Suzano Papel e Celulose conseguiu, em 2007, cerca de US$ 80 mil na primeira negociação da qual
participou. A Klabin, outra companhia do ramo, ganhou US$ 58 mil por uma venda realizada alguns meses antes.
Projetos florestais como os das duas empresas brasileiras, porém, encontram grande resistência à aprovação na
ONU, principalmente por causa da complexidade do processo de auditoria da capacidade de sequestro de carbono dessas
áreas cultivadas. Os créditos do Protocolo de Kyoto são originados de projetos que têm de passar, inicialmente, pela
avaliação de uma agência acreditada pela própria ONU. Depois, ainda no Brasil, eles precisam ser aprovados pela
Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, órgão presidido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Só então
são liberados para uma última análise, em âmbito internacional, na câmara técnica da ONU, onde ainda existe o risco de
que sejam vetados – o que ocorre com relativa frequência. Por fim, são auditados anualmente para que seja feita
quantificação dos créditos disponíveis e análise do cumprimento das exigências. Essa burocracia é uma das bases em que
se apoia o discurso dos favoráveis aos mercados voluntários.
Futuro incerto
Existem outras experiências de mercado voluntário de carbono em todo o mundo. Para alguns especialistas, sem
elas o sistema de compra e venda previsto por Kyoto não teria tido o relativo sucesso apresentado até hoje. Em todos os
casos, a expectativa é que os ganhos das empresas que oferecem créditos cresçam, acompanhando a elevação da
demanda por parte das que poluem. Em contrapartida, esse cenário denota que a redução das emissões é um objetivo
bem mais difícil de atingir, confirmando o discurso dos céticos. As reclamações não passaram despercebidas por quem
opera na negociação do carbono. De acordo com Bruno Maier, a venda de papéis, isoladamente, está longe de ser a
solução definitiva para o problema do aquecimento global. "Existem críticos muito severos, mas é preciso entender que o
Protocolo de Kyoto é parte da solução do problema, apenas um começo."
Há, ainda, outras incertezas quanto a esse mercado. Em primeiro lugar, o acordo internacional tem validade
apenas até 2012 e outro documento para substituí-lo mal começou a ser negociado. É praticamente um consenso que um
novo pacto global pós-Kyoto, com regras mais rígidas para redução das emissões e a participação dos Estados Unidos,
precisa começar a ser planejada agora, sob risco de que haja um retrocesso fatal daqui a quatro anos. Além disso, ao
mesmo tempo em que pensam como reduzir suas emissões, as indústrias poluentes terão de se preocupar também em
absorver a diminuição do consumo e a maior restrição a crédito que se configura após a crise financeira que explodiu nos
últimos meses do ano passado, outro ingrediente que promete tornar ainda mais acalorado o debate acerca do
aquecimento global.
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Estudo de caso: A agricultura familiar no estado do Ceará (Nordeste): o
cultivo de mamona
Análise de julho de 2008, elaborado por John Wilkinson e Selena Herrera e publicado no estudo: Os agrocombustíveis no
Brasil: quais perspectivas para o campo.
O estado do Ceará, no Nordeste
O Ceará não é o maior produtor de culturas oleaginosas, particularmente da mamona, que são adequadas para o
programa do biodiesel no Nordeste. A Bahia produz cerca de 85% do óleo de mamona produzido na região, além de ser
um produtor em larga escala de algodão e soja. O Ceará se destaca, no entanto, pelo grau de mobilização em torno do
programa do biodiesel e, além disso, tem uma grande concentração de agricultores familiares na região do Semi-Árido.
Portanto, do ponto de vista do públicoalvo e do envolvimento de incentivos públicos e atores privados, ele se presta
muito bem para avaliar o potencial desse programa de oferecer novas oportunidades de renda e emprego para pequenos
produtores rurais e para definir uma base para estratégias de desenvolvimento local. Deve-se enfatizar, no entanto, que o
programa ainda está em um estágio muito inicial, o que torna qualquer avaliação, necessariamente, muito provisória.
Tabela 1: Investimentos no programa do biodiesel no estado do Ceará.
Estágio da cadeia
Objetivo
- Créditos para agricultores familiares:
1) R$ 150/ha para terras nas quais mamona é cultivada até 3 hectares no máximo; e
2) R$ 0,14/kg + preço mínimo do governo (pelo governo estadual).
- Sementes de mamona para agricultores familiares e 50% do calcário usado para corrigir a
Agrícola*
acidez do solo (pela Secretaria de Desenvolvimento Agrícola – SDA).
- R$ 0,50/kg de girassol + créditos para agricultores familiares + 50% do calcário necessário
(pelo governo estadual).
- Município de Quixadá: horas gratuitas de trator para sementes oleaginosas.
R$ 12 milhões para construir 20 mini-usinas de processamento de mamona envolvendo 2 ou 3
Industrial
mil famílias cada (pelo governo federal).
* Os investimentos totalizarão R$ 20,1 milhões até 2010, 88% dos quais virão do governo estadual e o resto da Petrobras. O desafio é chegar a 45 mil
hectares de sementes oleaginosas – 40 de mamona e 5 de girassol – que produzirão 14.400 toneladas de biodiesel de mamona e 3.375 toneladas de
biodiesel de girassol e gerar 14.520 empregos – 0,33 por hectare usado. Até o fim do ano passado, o número de agricultores registrados no estado era
de 21.919, que representam, juntos, 35.445 hectares. Para satisfazer as necessidades da BED, da Petrobras e das outras cinco usinas de biodiesel de
médio porte, seriam necessários pelo menos 300 mil hectares de sementes oleaginosas, segundo a SDA. Esse tamanho de área seria alcançado em pelo
menos três anos, dependendo do sucesso do PNBP. Fonte: www.biodieselbr.com (março de 2008) e HERRERA (2008).
No contexto do Nordeste, e particularmente de sua região semi-árida, o programa do biodiesel é
freqüentemente apresentado como uma possível solução para o colapso da economia tradicional, baseada na pecuária e
na agricultura de subsistência, e no algodão que era uma cultura comercial para o setor da agricultura familiar. Desde
então, no entanto, ocorreram grandes transformações no setor rural. Muitos assentamentos da reforma agrária foram
criados e consolidados. Ao mesmo tempo, ONGs, sindicatos rurais e movimentos sociais têm promovido ativamente
estratégias alternativas para o setor da agricultura familiar. Essas estratégias estão focadas em novas práticas agrícolas
baseadas em princípios agroecológicos e na produção orgânica, freqüentemente articulada com mercados alternativos de
nicho e de qualidade, como os do comércio justo. O programa do biodiesel, portanto, não surgiu de um vácuo e deve
negociar com esses atores, muitos dos quais estão reticentes ou hostis em relação aos seus objetivos. No entanto, o
Ceará ainda traz as marcas de sua estrutura agrária tradicional, com cerca de 470,000 trabalhadores rurais sem terra
sobrevivendo como meeiros em grandes estabelecimentos pecuários.
Essa realidade talvez explique melhor por que a produção de mamona ainda não decolou, a despeito da
implantação precoce da usina da Brasil Ecodiesel em 2005, da inauguração da usina da Petrobras em 2008 e dos
incentivos oferecidos pelo governo do estado. Como sempre, a seca foi um fator crucial, bem como dificuldades para
incorporar a mamona ao sistema de meação (devido à oposição de proprietários de terras em função de riscos para o
gado e à oposição inicial dos organizadores do programa à inclusão do milho no sistema consorciado com mamona). A
vulnerabilidade e a pulverização da produção no sistema de meação foram parcialmente contrabalançadas pela reforma
agrária, que no Ceará envolve cerca de 18.000 famílias em assentamentos federais e em aproximadamente 400
assentamentos sob a responsabilidade do governo estadual. Havia a esperança de que cerca de 40.000 hectares seriam
cultivados com mamona em 2007, mas apenas pouco mais de 5.000 foram plantados com essa espécie. Ficou claro que
incentivos de mercado eram, por si só, insuficientes e que seria necessário construir, sistemicamente, uma nova cadeia de
produção agroindustrial cujas características técnicas, organizacionais, logísticas e de comercialização eram igualmente
decisivas. Para que isso fosse possível, muitos agentes diferentes precisariam ser mobilizados e espaços criados para
garantir uma articulação eficaz entre eles.
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Figura 1: Mapa da distribuição regional de espécies oleaginosas no Brasil.
Fonte: adaptação de Oil World Annual 2004.
Box 1 - Estratégias alternativas para o setor da agricultura familiar
No estado do Ceará, a ONG ESPLAR tem desenvolvido e apoiado projetos de agricultura orgânica para cerca de
500 agricultores familiares há dez anos. A Associação pelo Desenvolvimento Cultural e Educacional (ADEC) de Tauá
processa e comercializa algodão orgânico por meio do movimento pelo Comércio com Justiça, da Alter Eco e da
Justatrama. O preço pago ao produtor rural é mais alto que o do mercado tradicional (R$ 24,90/kg, em vez de R$ 20). A
ActionAid está discutindo o uso da semente do algodão e do gergelim para produzir óleo. Uma outra opção é o girassol,
que produz óleo, sementes e ração para animais e pode ser usado na apicultura. “Para plantar mamona para eles (a
Petrobras) precisamos usar mais pesticidas, que trazem riscos para a nossa saúde e poluem tudo. Você pode cultivar a
mamona organicamente em menor quantidade, mas não é isso que eles querem”, afirmou um produtor de algodão que
trabalha para a ESPLAR na comunidade de Córrego do Meio (CE).
Para superar a dificuldade de oferecer assistência técnica a todos os produtores, a Brasil Ecodiesel (BED) assinou
um acordo público-privado envolvendo o MDA, a Fundação Birmann, a GTZ, o DED e a Contag para desenvolver um
projeto de capacitação coletiva. Intitulado ATER Coletiva (Assistência Técnica e Extensão Rural Coletiva), esse projeto tem
por objetivo prestar uma melhor assistência a agricultores promovendo formas de associação e esquemas de participação
de agricultores familiares para todos os produtores rurais situados em um raio de 6 km com contratos no âmbito do PNBP.
“Quando o trabalho é mais em grupo, tudo funciona melhor, até os conhecimentos das pessoas. Antes, nós só sabíamos
trabalhar sozinhos. Agora sabemos que quem trabalha sozinho não chega em lugar nenhum”, declarou Neto, um produtor
rural que também é o presidente da associação comunitária.
Para que a mamona possa ser incorporada aos sistemas tradicionais de produção da região do Semi-Árido, será
necessário identificar soluções técnicas para os riscos da intoxicação do gado e para problemas relacionados à
produtividade de cultivá-la em consórcio com o milho e à toxicidade envolvida no processo de se descascar a semente da
planta.
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Biocombustíveis em FOCO
Junho de 2009 – Ano I / Nº 06
Segundo a FETRAECE, cerca de 470 mil famílias cearenses vivem em terras que pertencem a outras pessoas. No
esquema agrícola tradicional adotado na região do Semi-Árido, o produtor rural fica com a produção em pequena escala e
a forragem é consumida pelo gado do proprietário. O cultivo da mamona freqüentemente não é autorizado, em função
de sua toxicidade. “Se você quiser plantar milho, feijão e mamona aqui (em Monsenhor Tabosa), o proprietário não se
importa, mas nem pense em plantar apenas feijão e mamona porque ele quer a palha do milho para alimentar seu gado”,
declarou Neto, um produtor de mamona de Monsenhor Tabosa. Além disso, “a palha do milho (para consumo animal)
custa mais de R$ 150/ha”, um incentivo oferecido pelo governo, afirmou Francimar, assessor do Sindicato de
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Chocó (STTR).
Para que novas soluções sejam adotadas e divulgadas, a assistência técnica e os serviços de extensão devem ser
priorizados em um estado no qual o sistema público entrou em colapso. A produtividade agrícola média estava muito
abaixo do ponto de equilíbrio, exigindo o desenvolvimento, a produção e a divulgação de novas sementes. Considerando
o objetivo de oferecer novas oportunidades de renda, gerar empregos e estimular o desenvolvimento local e regional, o
programa precisaria fazer mais do que simplesmente oferecer matérias-primas e desenvolver estratégias agregadoras de
valor. Portanto, além das usinas de biodiesel de grande porte da BED e da Petrobras, seriam necessárias pequenas usinas
para produção e consumo locais e usinas de processamento primário para transformar a semente em óleo cru e suprir as
usinas de biodiesel subsequentemente. Para que isso seja possível, no entanto, seria necessário promover novos níveis
qualitativos de organização e desenvolver novas capacidades de organização e gestão e administração de empresas.
Box 2 – Organização da agricultura familiar
Stephan Görtz, um consultor de biodiesel, acredita que a falta de organização dos agricultores familiares na
produção e comercialização do grão da mamona faz com que técnicas agrícolas de subsistência continuem a predominar.
Além disso, Görtz argumenta que grupos de produção, referindo-se aos grupos criados em função da estratégia do MDA
de criar pólos regionais, aumentam a confiabilidade da produção e reduzem a ação de intermediários. “Sem o
desenvolvimento de cooperativas, o programa do biodiesel não melhorará os meios de vida do pequeno produtor.
Ninguém pode sobreviver sozinho da monocultura em cinco ou dez hectares”, afirmou Carlos Zveibil Neto, diretor da
empresa Ponte di Ferro.
O objetivo desses pólos de produção é reunir diferentes atores da cadeia de valor, de agricultores a empresas de
biodiesel. Às vezes essa interação pode compensar as falhas do serviço público de assistência técnica, a Emater (Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural), graças à assistência compulsória que, segundo o PNBP, deve ser prestada pelas
empresas. “O apoio recebido aqui vem da Brasil Ecodiesel, porque a Ematerce (a Emater do Ceará) não funciona”, disse
Neto, um produtor de mamona de Monsenhor Tabosa, Ceará. Monsenhor Tabosa é um dos seis municípios que mais
produzem mamona no Ceará. “Ele era conhecido como a capital da mamona”, afirmou o produtor. Essa zona rural, no
entanto, ainda não tem energia elétrica, uma demanda que ainda está sendo negociada por sua associação comunitária.
Os desafios são enormes, considerando a precariedade histórica da agricultura familiar no Nordeste; no entanto,
após mais de duas décadas de ações de movimentos sociais rurais, de atividades de ONG e de organização sindical, surgiu
uma nova geração de lideranças rurais, com mulheres desempenhando um papel particularmente predominante, para as
quais os assentamentos da reforma agrária frequentemente constituem a base de apoio. O governo estadual, por sua vez,
estabeleceu um subsídio de R$ 150 por hectare com um limite de até três hectares e R$ 0,14 por kg, além de um preço
público mínimo. Em estreita articulação com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e outros órgãos federais como o
DNOCS, uma organização criada para amenizar os efeitos da seca que atualmente é responsável por projetos públicos de
irrigação no Nordeste, e, obviamente, a Petrobras, com sua usina de biodiesel em Quixadá, que consumirá 160.000 litros
de óleo por dia, uma cadeia de produção foi organizada para a qual a agricultura familiar constitui a principal fonte de
abastecimento.
Algumas das medidas mais importantes que foram adotadas são as seguintes: reativação do serviço de extensão
rural por meio de um acordo com a Petrobras, compra garantida de toda a produção, distribuição gratuita de sementes e
produção de sementes (de ciclo mais curto) por agricultores familiares dentro dos perímetros irrigados do DNOCS,
concessão de crédito e seguro para áreas situadas fora das regiões do zoneamento oficial, permissão para o cultivo de
culturas consorciadas com milho nas quais experimentos justificaram esse sistema, distribuição de equipamentos de
descascamento e implementação de até 20 usinas de processamento primário (já existem cinco).
Uma mobilização desse porte envolve uma articulação entre diversos atores com interesses freqüentemente
muito diferentes e sujeitos a muitas dinâmicas organizacionais diversificadas. Além disso, importantes lideranças de
movimentos sociais, sindicatos rurais e ONGs influentes são céticos ou abertamente hostis em relação ao programa do
biodiesel, que é visto como contrário a estratégias baseadas na agroecologia e em sistemas de produção orgânica e
sustentável. No entanto, um acordo geral foi, em grande medida, logrado envolvendo a Petrobras o Movimento dos SemTerra (MST) e Fóruns foram criados em nível estadual e local (grupos de trabalho) que conseguiram estabelecer os
parâmetros para ações coletivas de amplas bases. Esses grupos de trabalho reforçaram a estratégia de promoção do
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biodiesel na perspectiva de estabelecer pólos de desenvolvimento baseados na adoção da produção de mamona por
parte de uma massa crítica de agricultores familiares. Além de ser um pré-requisito para garantir uma base mínima de
oferta para a usina de biodiesel da Petrobras, a promoção de pólos de desenvolvimento também possibilita a adoção de
estratégias agregadoras de valor para o processamento primário.
A Brasil Ecodiesel (BED) também participa desses fóruns, embora ela pareça ter desenvolvido uma estratégia
paralela baseada em seus próprios serviços de extensão. Atualmente, a mamona comprada pela BED é transportada para
sua usina em Itaquara, Bahia, e não está claro se a usina de Crateús (que por decisão judicial deve ser transferida para
uma distância maior do rio) processará a planta da mamona no futuro ou continuará, como atualmente, a usar óleo de
soja. A BED também plantou cerca de 11.000 hectares com mamona e há outros produtores de médio a grande porte no
estado. Quando novas sementes mais produtivas e adaptadas forem disponibilizadas, outros produtores de médio e
grande porte podem ser atraídos para cultivar mamona.
Figura 2: Um agricultor familiar (à esquerda) que produz óleo de mamona (ao meio). À direita, um exemplo de culturas
consorciadas de mamona, milho e cabaça. As fotografias foram tiradas no estado do Ceará.
Fotos S. Herrera
O Ceará oferece um exemplo impressionante de uma complexa mobilização envolvendo uma ampla gama de
atores heterogêneos que, ainda assim, estabeleceram as condições necessárias para uma ação sistêmica coerente voltada
para a promoção de uma cadeia de produção de biodiesel. Atualmente, o programa é intensamente subsidiado e
dependente de vontade política, que pode mudar antes que seus resultados se consolidem. Embora seus esforços
estejam dirigidos para lograr resultados ambiciosos no curto prazo – por exemplo, aumentar a produção de 5.000 para
50.000 hectares entre 2007 e 2008 –, é provável que muitos anos sejam necessários para consolidá-lo. Além da oposição
ao programa do biodiesel, defender estratégias alternativas para a agricultura familiar no Nordeste, pesquisas recentes
(CARVALHO et al., 2007) questionaram a capacidade do programa de mudar, fundamentalmente, as perspectivas de
renda e emprego dos agricultores, considerando questões relativas à baixa produtividade e às poucas áreas disponíveis
para a agricultura familiar, cujos sistemas de produção são principalmente subordinados a grandes estabelecimentos
pecuários, cujas terras são arrendadas. Atualmente, o maior potencial para uma resposta adequado está sendo
demonstrado por assentamentos da reforma agrária, os quais reforçam a visão de que a estrutura agrária continua sendo
uma barreira fundamental que impede a consolidação de sistemas viáveis de produção agrícola baseados na agricultura
familiar no Semi-Árido brasileiro.
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Pinhão Manso: rentabilidade e sustentabilidade ao seu alcance
Iniciativa promovida por Mansueto A. Saraiva de Souza, que é produtor rural e trabalha com agropecuária a mais de 30
anos e atuante pela Fazenda Estrela – inscrição estadual de Produtor Rural Nº 540/1362.
Contextualização
Ilhados em uma região de Minas Gerais e sobrevivendo a várias
intempéries que rebaixam e desenham do homem do campo. Possuímos
terras riquíssimas, mas estamos encurralados por cartéis, monopólios ou
oligopólios de atravessadores que tentam lavar dinheiro com a agropecuária.
Ha vários anos venho pesquisando uma maneira de sair do olho do
furacão ou das garras destes atravessadores. Comecei estudando vários tipos
de plantas, suas adaptabilidades, seus gargalos, juntamente com a conjuntura
econômica de cada uma delas. Até que me deparei com o cultivo do Pinhão
Manso.
Acompanhei as campanhas do governo sobre os bicombustíveis e as
oleaginosas. A princípio, não acreditei muito na proposta, pensei que fosse
mais uma promessa propagandista, mas depois a idéia foi amadurecendo.
Até que resolvi arriscar a pesquisar e produzir pinhão manso por alguns fatores:
Por ser uma planta perene que vive mais de cinqüenta anos, eliminando a necessidade de tratoristas,
manobristas, motoristas, mecânicos e outros custos logísticos que aumentarão o lucro líquido;
A capinação pode ser feita com animais se a plantação for consorciada;
A planta, por ser caducifólia possui um mecanismo de dormência, com um armazenamento de água, para não
morrer na seca, eliminando o alto custo com irrigação e se for plantada na época e idade certa, não precisa de
irrigação artificial;
A produção se concentra somente em uma determinada época do ano evitando despesas e gastos
desnecessários, podendo ser consorciada com outras espécies de plantas;
Um homem cuida sozinho de mais de 15 hectares;
Existem inúmeras refinarias interessadas no produto havendo maior demanda do que oferta;
O transporte é barato, o pinhão manso pode andar até 400 quilômetros em grãos que fica viável
economicamente. Se ele for prensado e estiver em óleo poderá triplicar a distancia;
O produto que atrai o comprador, hoje já existem refinarias moveis que vão ate as plantações, não ficando preso
as condições estabelecidas por um só comprador;
Mercado flexível, o produtor pode ganhar dinheiro com a casca, o óleo e a poupa do produto, além do promissor
mercado para alimentar as usinas que utilizam biomassa;
Os grãos não são perecíveis, podendo ser armazenados por muito tempo.
O nosso negócio
Depois de descobrir todas as vantagens e possibilidades comerciais do pinhão manso, começou com a prática do
cultivo, me tornando um pequeno produtor, mas enxergo um espaço muito grande para ser preenchido e resolvi oferecer
serviços de consultoria sobre meu trabalho e experiência, pois observava jovens produtores enfrentando os mesmo
entraves e gargalos que eu enfrentei e desistindo de manejar a cultura sem nem ao menos ter começado.
Logo desenvolvi o carro chefe do meu negocio, afiliei-me a Fazenda Estrela, inscrição estadual de Produtor Rural
Nº 540/1362, e juntos oferecemos experiências e conhecimentos para os produtores, empresas e propriedades que
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querem começar ou alcançar maior produtividade com o cultivo de pinhão manso, como acontece com as empreiteiras
de plantio de eucalipto, realizando visita até a área de cultivo e executando as etapas do projeto entregando a área
plantada com todo o processo registrado.
Alem disto, somos autorizados pelo governo a fornecer capacitações, seminários e workshops visando transmitir
informações sobre a cultura, experiências com seu cultivo e como alcançar rentabilidade em sua propriedade com vistas
para a sustentabilidade econômica. Esses cursos e seminários possuem como público-alvo os produtores autônomos,
usinas, investidores ou estudiosos acadêmicos, pois admiramos muito as pesquisas e respeitamos o academicismo
inclusive nosso trabalho é embasado com confiáveis informações técnicas de instituições e universidades parceiras.
Produtos e serviços e suas principais vantagens
Contratando nossos serviços de implementação e cultivo do pinhão
manso em sua propriedade e capacitações, seminários e workshops sobre a
cultura, oferecemos:
Apostilas;
Assessoria;
Cursos e palestras;
Implementos;
Insumos;
Maquinários;
Mudas;
Projetos;
Sementes;
Entre outros produtos e serviços.
Nossos serviços de consultoria para a execução do projeto em sua
propriedade abrangem:
Adubação
Aplicação de defensivos;
Capinação química;
Coveamento;
Eliminação de formigueiros;
Formação de viveiros;
Entre outros tratos culturais.
O grande diferencial de nosso negócio, entre todas as outras
empresas e instituições de mesma natureza é que não obrigamos em
cláusulas contratuais o produtor ou empresa a negociar sua produção
somente conosco, uma vez que concluímos o projeto, o produtor está livre para negociar com quem for mais viável para
ele, inclusive nós até indicamos várias opções de empresas que estão mais próximas para ter menos custos. Um exemplo
semelhante a esse nosso diferencial está nas empresas de celulares que vendem aparelhos desbloqueados sem prender o
cliente enquanto outras praticam o contrário.
Minha justificativa é que todos os produtores devem se tornar autosustentáveis, gerando renda familiar, fixando
o homem no campo e aumentando o conhecimento e área plantada dessa nova e promissora cultura, que tem hoje no
nosso próprio governo o maior comprador de sua produtividade, por estar incentivado o mercado do biodiesel.
Atuação no mercado
Vários produtores têm procurado nossa iniciativa e o processo tem sido muito harmonioso com resultados
alcançados, uns já colhendo frutos, outros ainda em fase de plantação. Já concluímos vários projetos em outras
propriedades, mas minha maior experiência foi do meu próprio cultivo. Hoje estou colhendo os frutos do meu trabalho
com minhas sementes para comercialização, vendendo mudas e serviços.
Atualmente, não existem muitos profissionais ou consultores disponíveis que dominam esta técnica no mercado
ou oferecendo este trabalho. O custo da implantação para quem quer plantar por conta própria sem nenhum auxílio
técnico pode ficar muito caro pelos erros cometidos e por entraves comerciais.
É por isso que estamos no mercado procurando oferecer nossos serviços de amparo para sua propriedade ou sua
empresa plantar e produzir pinhão manso com sucesso visando:
Fugir das garras de cartéis comerciais regionais;
Sustentabilidade e autonomia para produzir e comercializar;
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Conhecimento de manejo para alcançar maior produtividade.
Para quem tem problemas com mão de obra escassa ou são vitimas de isolamento, a nossa abrangência é
nacional podendo implantar o projeto ou ministrar os cursos e seminários em qualquer região do Brasil, dependendo do
tamanho e localização da área de cultivo ou do volume do público. Como parte deste trabalho é terceirizado, podemos
administrá-lo com facilidade em todo o país.
Entre em contato e conheça inteiramente nossa proposta, nossos contatos são:
Praça: Jose Raimundo N. 47 - Centro - Raul Soares - MG - CEP: 35350000
Tel: 033 - 33511183 - 031 - 32234906 / 91025989
Email: [email protected]
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CEISE BR Comemora 29 anos de Trabalho ao Setor Sucroalcooleiro e
Energético
Junho de 2009. Organização Responsável: CEISE BR – Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro e
Energético.
Fundado em 1980 por um grupo de empresários que buscavam criar um organismo de defesa dos interesses da
indústria local, então castigada, por uma série de eventos relacionados a movimentos grevistas e outros percalços, o
CEISE – Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro e Energético chegou para expandir e diversificar suas
atividades e objetivos.
Ao longo destes vinte e nove anos, a entidade continua representativa e hoje com aproximadamente 180
associados dos mais diversos portes e segmentos de atividade, o CEISE BR continua prestando um inestimável serviço não
apenas às empresas filiadas, mas também à comunidade e à sociedade como um todo.
A partir de sua fundação, o CEISE tem servido como um fórum permanente de discussões para as empresas
envolvidas no setor sucroalcooleiro e energético.
Por iniciativa e trabalho de dirigentes do CEISE, foi criado em Sertãozinho a feira Sucroálcool, posteriormente
renomeada como FENASUCRO, que é um evento de repercussão mundial voltado às atividades industriais do mercado
sucroalcooleiro.
Através da FENASUCRO, que a partir de 2005 passou a ser realizada simultaneamente com a AGROCANA – que
envolve a parte agrícola do setor sucroalcooleiro, as empresas atingem mercados e horizontes amplos, levando o nome
de Sertãozinho ao mundo.
Ano após ano, milhares de pessoas circulam pelo recinto de exposições da feira, movimentando a economia
regional e trazendo benefícios diretos aos prestadores de serviços e comerciantes – além de recolherem impostos aos
cofres públicos municipais.
Através do CEISE BR, foram criados importantes fóruns sobre o futuro do álcool, prestigiados por ministros de
estado e outras importantes autoridades sendo que, em 1998, durante a pior crise já vivida pelo setor sucroalcooleiro,
gerou uma pauta de reivindicações que, apoiados por entidades como a ANFAVEA e a organização não governamental
Greenpeace levou os governos: estadual e federal, a uma série de ações que culminaram com a recuperação do setor,
que hoje é responsável direto por grande parte das encomendas obtidas por nossas indústrias.
Nos anos 90, foi decisiva a participação dos empresários industriais ligados ao CEISE – e ao CIESP local – para a
implementação do Centro de Atividades Nelson Abbud João, o CAT do SESI em Sertãozinho, responsável pelo
atendimento social, em educação e saúde a milhares de pessoas, ligadas ou não às indústrias locais.
Foi ainda fundamental a participação destes empresários e da entidade para o Projeto Atleta do Futuro, uma
parceria entre a indústria local, o SESI e a Prefeitura Municipal que efetua um extraordinário papel na formação de jovens
cidadãos, incentivados pela prática desportiva.
Outra importante conquista dos industriais de Sertãozinho foi o Centro de Treinamento do SENAI, recentemente
algado à situação de Escola Senai “Ettore Zanini”. Em poucos anos, o SENAI já credita a capacitação e formação de
centenas de profissionais, em sua maioria já inserida no mercado de trabalho.
No setor social, o CEISE BR é o responsável direto por uma significativa quantia anual dedicada à doações de
recursos que contemplam entidades assistenciais e projetos de patrocínios culturais e educativos.
Em 1998 a entidade organizou um movimento em socorro às vítimas da seca no agreste nordestino, enviando às
populações afligidas pelo problema cerca de 18.000 kg de alimentos não perecíveis, além de medicamentos e peças de
vestuário, em um trabalho que mobilizou toda a cidade em torno deste objetivo comum.
Ainda naquele ano, o CEISE BR implantou o Pacto Social de Sertãozinho que,
unindo empresários, trabalhadores, sindicatos, indústrias, estabelecimentos comerciais e
bancários, além dos poderes públicos, permitiu que fosse atravessada uma das maiores
crises econômicas da história do setor, praticamente sem demissões ou maiores
problemas sociais.
Durante os anos 90, foram realizados importantes esforços, buscando promover
a capacitação de nossas indústrias através de um amplo programa de Qualidade Total
que, a seu término, promoveu – desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de
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Minas Gerais através da equipe do Professor Falconi uma verdadeira revolução nos sistemas de gestão das empresas de
Sertãozinho, preparando-as para a forte competição internacional a que hoje estão submetidas.
O trabalho realizado pelo CEISE ultrapassa as fronteiras de Sertãozinho ganhando importantes prêmios em São
Paulo durante congressos do CIESP estadual, levando troféus em reconhecimento aos trabalhos sociais e econômicos
realizados pela entidade, e pelo retorno proporcionado às indústrias e à comunidade.
Também é resultado do trabalho do CEISE BR a excelente relação capital x trabalho hoje existente em
Sertãozinho, considerada como poucas que consegue reunir numa mesma mesa de trabalho sindicato de trabalhadores
com a entidade, conquistando assim negociações coletivas a um nível de colaboração poucas vezes vista em outros locais.
Ao longo destes anos, o CEISE BR também tem sido forte agente formador de opiniões nas questões de política
industrial e da política partidária, sendo uma organização que efetivamente tem participado dos processos políticos
locais, estaduais e federais.
Atualmente, a entidade tem voltado seus olhos para a questão ambiental realizando trabalhos com grupos
ligados ao CEISE BR. Um desses trabalhos foi convertido em tese de doutorado na Universidade Federal de São Carlos
apontando, de forma inédita, uma solução viável do ponto de vista ambiental e econômico para o gravíssimo problema
de descarte de areias de fundição – problema este que aflige a milhares de fundições em todo o Brasil – transformando,
de maneira inédita, estas areias em matéria prima para a indústria de rodovias.
Projetos como “Sertãozinho Faz” (que visa promover o parque industrial de Sertãozinho em todo o Brasil), como
o da Cooperativa de Crédito Industrial – uma realidade de sucesso também resultado dos esforços dos empreendedores
industriais de Sertãozinho e Região – aliados a ações sociais e de prestação de serviços aos associados, além de uma vasta
história de lutas e conquistas, tornaram o CEISE BR um dos grandes ícones do desenvolvimento sustentável regional e,
por que não, de todo o Brasil.
CEISE deixa de ser regional para atuar nacionalmente
Em 2007 o CEISE deixou de ser regional e se tornou CEISE BR – Centro
Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro e Energético, alavancando seus
trabalhos na busca da qualificação profissional, fechando uma parceria com a
UFSCAR e FEA USP RIBEIRÃO e trazendo para Sertãozinho o MTA – Master of
Technology Administration e MBA – Gestão Empresarial do Setor Sucroalcooleiro,
respectivamente.
Ao encerrar estes 29 anos de atuação, a entidade volta-se agora para o
futuro, com a identificação e preparação de novas lideranças, que venham a fazer
face aos novos desafios que os próximos anos, certamente, trarão em termos
sociais, políticos e econômicos.
Nesses vinte e nove anos, o CEISE foi presidido por vários empresários que participaram desde o início da
entidade e se disponibilizaram a doar um pouco de seu tempo para as indústrias sertanezinas e também da região. Foram
eles:
- 1980 a 1981, Luiz Pereira Barreto Vinhólis
- 1982 a 1983, Carlos Roberto Liboni,
- 1984 a 1985, Carlos Roberto Liboni,
- 1986 a 1987, José Osvaldo Marques Jr,
- 1988 a 1989, João Luis Sverzut,
- 1990 a 1991, Vagner Stefanoni,
- 1991 a 1993, Almir Lazarini.
- 1994 a 1995, Adézio José Marques,
- 1996 a 1997, Almir Lazarini,
- 1998 a 1999, Paulo Roberto Gallo,
- 1999 a 2001, Adézio José Marques,
De 2002 até a presente data a presidência é exercida por Mário Garrefa e seus companheiros José Silvio
Martinelli, Cecília Aparecida Quináglia, Milton Bonifácio da Silva, Antônio Eduardo Toniello Filho, Paulo Saturnino
Lorenzato, Adézio José Marques, João Luiz Sverzut, Maria Aparecida Zeferino Marcolino, Maria Conceição Ferreira Turini,
Antônio Roberto Gomides e Valdir Bombonatti e também com todos os ex-presidentes da entidade.
Projetos realizados pelo CEISE BR
A responsabilidade social é um conceito, segundo o qual, as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir
para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo.
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Com base nesse pressuposto, a gestão das empresas não pode, ou não deve ser norteada apenas para o
cumprimento de interesses dos proprietários das mesmas, mas também pelos de outros, tais como trabalhadores,
comunidades locais, clientes, fornecedores, autoridades públicas, concorrentes e a sociedade em geral.
Dentro deste conceito de responsabilidade social podemos defini-los em dois níveis, o interno: que se relaciona
com os trabalhadores e com todos os envolvidos na empresa, e o externo: que envolve ações.
Nestes vinte e nove anos de atuação, o CEISE BR tem promovido vários tipos de ações, entre elas:
- CAMPANHA DE SOLIDARIEDADE: No início de sua atuação, preocupados com os rumos que
as greves estavam tomando na cidade e analisando as dificuldades enfrentadas pelos
funcionários que estavam sendo demitidos, a diretoria do CEISE propôs que os empresários
participassem de uma campanha de alimentos e remédios, denominada como Campanha de
Solidariedade, para socorrer as famílias dos desempregos e subempregados, a qual foi apoiada
por todos e também pelo comércio local e foi considerado um sucesso. Isso aconteceu em 20
de abril de 1983.
- FENASUCRO: O CEISE BR promove em Sertãozinho a Fenasucro há 10 anos. É a maior feira
mundial do setor industrial sucroalcooleiro, onde é apresentado o que existe de melhor e mais
moderno em produtos, equipamentos e serviços.
- FORIND: Feira de Fornecedores Industriais do Interior de São Paulo realiza as Rodadas de
Negócios colocando numa mesma mesa de negociação micro e pequenos empresários com
grandes compradores.
- PROJETO 100: Que destinava moradia para famílias de baixa renda que envolveu o CEISE, Sindicato dos Trabalhadores
da Indústria de Massas Alimentícias, Sindicato dos Metalúrgicos, Também participaram o diretor de habitação Devanil
José de Souza, o topógrafo Osvaldo Lovato, o engenheiro da Inocoop, Fábio Lenário e José Scanavine da Copec de
Ribeirão Preto.
- PACTO MUNICIPAL: Analisando todas as dificuldades que Sertãozinho enfrentava, principalmente com a falta de
pedidos e o desemprego batendo na porta das empresas, o presidente do CEISE teve a idéia de lançar um Pacto
Municipal, da qual convidou para se reunir numa mesma mesa: lideranças sindicais, empresários, políticos e
representantes do Ministério Público. A reunião ocorreu no Plenário da Câmara Municipal de Sertãozinho, em 17 de
dezembro de 1990.
- SOS NORDESTE: Outra conquista da entidade é que, mesmo diante dos obstáculos enfrentados por Sertãozinho, os
empresários se solidarizaram com o Nordeste e fez uma campanha intitulada SOS Nordeste. Através da organização do
CEISE, em parceria com a Prefeitura Municipal e com a LBV – Legião da Boa Vontade, alguns empresários saíram pelas
ruas arrecadando alimentos que foram destinados aos flagelados da seca no nordeste. A campanha que tinha como meta
arrecadar 15 mil toneladas conseguiu superar as expectativas e arrecadaram 30 mil toneladas de alimentos não perecíveis
enviadas ao Nordeste em maio de 1998.
- PACTO SOCIAL: Sertãozinho estava entrando numa bancarrota. Sobrava álcool nas usinas, os pedidos estavam sumindo
da cidade e o desemprego subindo a cada dia. Diante dessa situação, o presidente do CEISE convocou a todos para o
Pacto Social Emergencial. O encontro aconteceu em 27 de outubro de 1998. Supermercados, postos de gasolina, bancos,
comércio e empresários, se uniram e todos apoiaram o Pacto através de uma ação conjunta inédita no Brasil.
- SOS SANTA CATARINA: No final de 2008 o Estado de Santa Catarina foi atingido pelas enchentes deixando milhares de
famílias desabrigadas. Novamente, o CEISE BR se solidariza e junto com as empresas e com a comunidade sertanezina
arrecadaram quatro carretas lotadas de alimentos, água e roupas.
- PROJETO BANCO DE SANGUE: O CEISE BR, em parceria com as indústrias sertanezinas e o CEASES - Centro de Estudos
das Assistentes Sociais de Empresa de Sertãozinho, estão com um projeto junto ao Banco de Sangue para doação de
sangue.
- CAMPANHA DO AGASALHO: Pelo quinto ano consecutivo o CEISE BR, em parceria com o Fundo Social de Solidariedade,
promove junto às indústrias sertanezinas a Campanha do Agasalho para arrecadar agasalhos e cobertores que são
distribuídas a 3.500 famílias carentes.
- DIA INTERNACIONAL DA MULHER: Através do Evento: Você é Mais que Especial, as mulheres da indústria se divertem e
praticam a solidariedade. A noite é dedicada a elas, mas, a arrecadação do evento é destinada para as entidades
assistenciais.
- PLANTÃO DE NEGÓCIOS: Um Consultor Financeiro é responsável por transmitir todos os aconselhamentos financeiros,
como também efetuar o mapeamento de todos os gastos e receitas na elaboração de diferentes metas de despesas e no
plano de investimentos para os associados do CEISE BR.
- CEISE TRADING: Com o CEISE Trading, os empresários podem promover negócios internacionais das indústrias,
otimizando e customizando a gestão do comércio exterior. Além disso, o CEISE Trading estará oferecendo todo o suporte
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e apoio aos empresários do setor sucroalcooleiro e energético, nos processos de internacionalização, ou seja, desde a
análise do negócio a viabilidade para a importação e exportação do produto.
- DRA: O Departamento de Responsabilidade Ambiental do CEISE BR coordena o projeto EMPRESA PARCEIRA DO MEIO
AMBIENTE, com o objetivo de promover a cidadania e a educação ambiental através de ações como coleta seletiva e,
principalmente, colaborar com a Cooperativa de Recicladores de Sertãozinho – CORSERTA.
"Através dessas ações, conseguimos dar um pouco de nós a quem precisa. É a generosidade do empresário junto com seus
colaboradores", enfatiza Mário Garrefa, presidente do CEISE BR – Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro
e Energético.
E, dessa forma, a responsabilidade social das empresas não se limita apenas na geração de empregos, mas sim,
em garantir o bem estar de toda comunidade. (Adriana Fagundes – MTB 23.060 - Depto. Comunicação CEISE BR).
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COORDENAÇÃO
COMITÊ EDITORIAL
- Carlos Américo Basco
- Renato Felipe Veras de Carvalho
- Renato Felipe Veras de Carvalho
- Marco Antonio Ortega Berenguer
- Roberto Carlos Martínez Ângulo
AGRADECIMENTOS
- Ministérios: MAPA, MCT, MDA e MME
- BiodieselBR
- Brasil@gro
- Brasil Green Energy
- Embrapa
- Ecoflex
- Ethanol Brasil Blog
- UNICA
- Diário Online
- Canal Rural
- Globo Rural
- O Globo
- CEISE BR
- Valor Econômico
- O Estado de S. Paulo
- FGV (Agroanalysis)
- SESC São Paulo
- Luiz Décio Gazzoni
- Amira Massabki
- Pesquisadores: Luís Henrique de Barros Soares,
Bruno José Rodrigues Alves, Segundo Urquiaga e
Robert Michael Boddey
- Cezar Martins
- John Wilkinson e Selena Herrera
- Mansueto A. Saraiva de Souza
- Adriana Fagundes
Biocombustíveis em FOCO é um produto do Instituto Interamericano de Cooperação para agricultura,
um boletim informativo mensal de distribuição virtual gratuita que visa transmitir importantes
notícias, artigos, oportunidades e eventos acerca dos temas: Agroenergia e Biocombustíveis. Os
materiais publicados são recopilados de fontes diversas, com autorização prévia e citação apropriada
em cada artigo ou notícia, respeitando os direitos autorais. O IICA esclarece que as idéias expressadas
no boletim são de opinião de seus respectivos autores, não necessariamente representando as
opiniões do instituto, de outros autores ou organizações. É permitida a reprodução parcial ou total
desse produto, desde que mantido os créditos aos autores de cada artigo. As edições anteriores do
boletim podem ser obtidas no endereço (http://www.iica.org.br/Agronegocio). Para cadastrar emails
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Caixa Postal: 02995, Cep: 71608-972
E-MAIL: [email protected]
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