pastagens forragens - Pastagens e Forragens
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pastagens e forragens Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens 20 Pastagens e Forragens VOLUME 20 1999 S U M Á R I O Páginas Os Vinte Anos da SPPF. José Manuel Abreu, Noémia Farinha A Utilização das Pastagens e Forragens nos Sistemas de Produção de Pequenos Ruminantes de Raças Autóctones. Rui Caldeira III-VII 1-11 Caracterização Quantitativa da Dieta de Cabras Mantidas sob Coberto de Pinhal. Joaquim F. S. Coelho, Virgílio B. I. Bastos, Sofia van Harten 13-20 As Cistáceas nas Pastagens Naturais do Alentejo. I – Efeitos da Ingestão de Cistus salvifolius por Ovinos. Arminda M. Bruno-Soares, J. P. Ferreira, Edite Sousa, J. M. Abreu 21-32 Um Sistema de Produção Caprina Sustentável para Zonas Semiáridas do Sul de Portugal. J. M. Potes, C. B. Profeta 33-38 Criação de Bovinos na Serra da Peneda. Racionalidade do Sistema Alimentar. Manuela M. N. Melo Barros, J. Côrte-Real Santos 39-54 Caracterização de Silagens de Erva no Concelho de Vila do Conde. António Fernandes, José Maia, Nuno Moreira 55-62 Caracterização Morfológica de Linhas de Trifolium subterraneum L. com Base em Análise Multivariada. L. Goulão, Noémia Farinha, M. M. Tavares de Sousa, J. M. N. Martins 63-74 Uso de Cereais com Interesse Forrageiro como Complemento Alimentar na Produção Animal Extensiva. José Coutinho, Benvindo Maçãs, Ana Sofia Dias, Nuno Pinheiro 75-80 Autoécologie et Variabilité de Quelques Legumineuses d’intérét Fourrager et/ou Pastoral. Possibilités de Valorisation en Région méditerranéenne. Aïssa Abdelguerfi, Meriem Laouar 81-112 Methods for growing and using management of alfalfa. I – Influence of the alternative utilization for seed and forage production on the alfalfa forage productivity in the first regrowth. E. Vassilev, R. Chakarov 113-123 Methods for growing and using management of alfalfa. II – influence of the utilization for seed and forage production over the total forage productivity. E. Vassilev, R. Chakarov 125-134 Efeito da Densidade de Sementeira e da Época de Corte sobre o Valor Produtivo da Sula (Hedysarum coronarium L.). M. Teresa V. C. Ponce Dentinho, M. M. Tavares de Sousa, João M. C. R. Ribeiro 135-142 XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, 13 a 16 de Abril de 1999. Pastagens e Forragens em Pecuária Extensiva. Conclusões 143-144 Avaliação de Linhas Avançadas de Trifolium subterraneum L. em Selecção nas Condições de Elvas. Noémia Farinha, António Brito, Luís Goulão, João Paulo Carneiro 145-152 PASTAGENS E FORRAGENS Revista da Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens VOLUME 20 Este número foi subsidiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia Elvas 1999 AVALIADORES CONVIDADOS PARA ESTE VOLUME David Gomes Crespo J. M. Abreu J. M. Neves Martins J. Quelhas dos Santos M. M. Tavares de Sousa Nuno Moreira Valdemar P. Carnide DIRECTORA Noémia Farinha CORPO DE REDACÇÃO Noémia Farinha Eulália Garcez M. M. Tavares de Sousa EDIÇÃO, REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens A/c ENMP Apartado 6 7350-951 ELVAS ISSN 0870-6263 Dep. Legal n.º 12 350/86 Tiragem: 725 exemplares PREÇO DESTE VOLUME 2 250$00 As teorias expostas no presente volume são da inteira responsabilidade dos seus autores. Esta revista é distribuída gratuitamente aos sócios da SPPF, devendo todos os pedidos de aquisição ser feitos directamente para o Editor. Igualmente será objecto de permuta com outras publicações periódicas, nacionais ou estrangeiras, de interesse para esta Sociedade. OS VINTE ANOS DA SPPF* José Manuel Abreu, Noémia Farinha♦ Instituto Superior de Agronomia – Tapada da Ajuda – 1399 LISBOA CODEX ♦ Escola Superior Agrária de Elvas – Apartado 254 – ELVAS Não temos a ambição de, no âmbito desta breve comunicação, podermos fazer a história completa, que já é longa, da Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens (SPPF). Limitar-nos-emos portanto a mencionar alguns factos que marcaram a sua vida, bem como pessoas que assumiram a responsabilidade de a servir em lugares de maior evidência. OS ANTECEDENTES DA SPPF A inspiração primeira para a formação da SPPF deve ser procurada na British Grassland Society, pioneira a nível mundial neste campo e modelo seguido de forma geral por todas as sociedades homólogas dispersas pelo Mundo. Mais próximas de nós, as sociedades francesa e espanhola, que antecederam a nossa, foram mais um estímulo para a sua fundação, como o foi também a constituição da European Grassland Federation. Entre nós, as décadas de quarenta a sessenta foram décadas de entusiasmo na experimentação agrária e de fervor científico nas nossas grandes Estações Experimentais (nomeadamente nos Departamentos de Forragens da Estação Agronómica Nacional - EAN e da Estação de Melhoramento de Plantas de Elvas - EMP). Esse entusiasmo era suportado por importantes dotações em pessoal de investigação e equipamento e enquadrado por políticas bem definidas. Os contactos que então se estabeleciam, regularmente, com as melhores instituições de investigação estrangeiras mais contribuiam para este estado de coisas. * Síntese da comunicação efectuada por ocasião da Reunião de Primavera de 2000. PASTAGENS E FORRAGENS 20 III A CRIAÇÃO DA SPPF Embora a ideia da criação de uma Sociedade dedicada ao estudo das pastagens e forragens estivesse latente, foi o esforço e a clarividência de David Crespo que levaram à sua concretização. Em 1978-79, David Crespo organizou, na já Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, ENMP, um curso sobre pastagens e forragens. Este curso foi frequentado por vinte e dois técnicos designados pelo Ministério da Agricultura, e provenientes de todo o País. Foram quinze destes técnicos que, colaborando com David Crespo, prepararam a escritura de constituição de SPPF e a assinaram, em Maio de 1979, no Cartório Notarial de Elvas. A VIDA DA SPPF Nos quadro 1 a 3 e no gráfico 1 dá-se uma ideia resumida do que foi o desenvolvimento da SPPF nos cerca de vinte anos da sua história. Em 31 de Julho de 1987 foi conferido à SPPF o estatuto de pessoa colectiva de utilidade pública, o que constitui reconhecimento do seu mérito. QUADRO 1 – Presidentes e Secretários de Direcção da SPPF. Presidente/ Secretário Ano David Gomes Crespo/ M. M. Tavares de Sousa André Mendes Dordio / M. M. Tavares de Sousa Francisco Moniz Borba / M. M. Tavares de Sousa José Manuel F. Abreu / M. M. Tavares de Sousa José Francisco Martins Chicau / João Paulo Carneiro Francisco Ramos de Moura / João José R. Carrilho Pedro Cabral da Silveira / M. M. Tavares de Sousa Nuno Tavares Moreira / M. M. Tavares de Sousa David Gomes Crespo / M. M. Tavares de Sousa Valdemar Pedrosa Carnide / M. M. Tavares de Sousa 1979-1982 1982-1984 1984-1986 1986-1988 1988-1990 1990-1992 1992-1994 1994-1996 1996-1998 1998-2000 QUADRO 2 – Reuniões de Primavera da SPPF. Ano n.º 1980 I 1981 1982 Tema Partic Local Reunião Luso-Espanhola de Pastagens e Forragens 300 Elvas/Badajoz II Sistemas de produção e utilização de erva no Noroeste de Portugal 170 Braga III Produção forrageira e pratense na zona do pliocénico. Sistemas de produção agro-pecuária 220 Troia (Continua) IV PASTAGENS E FORRAGENS 20 (Continuação) 1983 IV As pastagens e forragens em particular na região da Beira-Litoral 400 Curia 1984 V As pastagens e forragens no perímetro de rega do Mira e Barlavento Algarvio 250 Alvor 1985 VI Produção e utilização de pastagens e forragens em Trás-os-Montes 210 Vila Real 1986 VII Produção forrageira e pratense e sua utilização por pequenos ruminantes 135 Lisboa 1987 VIII Produção e utilização de pastagens e forragens nas condições do Alentejo 300 Évora 1988 IX Produção e utilização de pastagens e forragens nas condições da Beira Interior 178 Monfortinho 1989 X II Reunião Ibérica de Pastagens e Forragens 350 Elvas/Badajoz 1990 XI Pastagens temporárias e permanentes no Nordeste Transmontano, que futuro? 121 Bragança 1991 XII Pastagens e forragens em zonas semi-áridas do Nordeste Algarvio 200 Monte Gordo 1992 XIII Pastagens, forragens e bovinicultura em zonas de clima temperado marítimo – que perspectivas para os anos 2000? 200 Açores 1993 XIV Estratégias e desenvolvimento da produção do leite em sistemas intensivos e implicações da reforma da PAC 100 Braga 1994 XV As pastagens e forragens em face da macrozonagem no Ribatejo 120 Santarém 1995 XVI Entre o mar e a serra - as pastagens e forragens na Beira Litoral 120 Luso 1996 XVII Estratégias e diversidades da produção de pastagens e forragens em pequenas e médias explorações 220 Vila Real 1997 XVIII As pastagens e forragens no Alentejo 200 Évora 1998 XIX A produção de pastagens e forragens na Beira Interior – Das serras à campina 170 Castelo Branco 1999 XX Produção pratense e forrageira em pecuária extensiva 150 Elvas QUADRO 3 – Reuniões de Outono da SPPF Ano nº Tema Local 1979 I Potencialidades e estrangulamentos para o desenvolvimento das pastagens e forragens nas várias regiões agrícolas do País Elvas As pastagens e as forragens face aos sistemas de utilização do solo Elvas 1980 II (Continua) PASTAGENS E FORRAGENS 20 V (Continuação) * 1981 III Nutrição azotada das leguminosas Elvas 1982 IV Melhoramento e produção de forragens Elvas 1983 V Conservação e valor alimentar das forragens Elvas 1984 VI Produção de sementes de forragens e pastagens Oeiras 1985 VII Produção pratense e forrageira: ajudas da CEE Elvas 1986 VIII Perspectivas da produção de proteaginosas em novos sistemas culturais Elvas 1987 IX Suplementação de animais em pastoreio Elvas 1988 X Comportamento de plantas forrageiras e pratenses em associação Elvas 1989 XI Apoios comunitários no domínio das pastagens, forragens e infra- estruturas relacionadas com a exploração pecuária Elvas 1990 XII Campo das pastagens, forragens e produção animal Campo Maior 1991 XIII Área do projecto de desenvolvimento agro-pecuário PAPCAM Mértola 1992 XIV Perspectivas da agro-pecuária nacional face às novas imposições da PAC Elvas 1993 XV A silvo-pastorícia, a exploração cinegética, a apicultura e a exploração florestal em condições pouco favoráveis Barrancos 1994 XVI Apresentação dos regulamentos e ajudas ao produtor das medidas agro-ambientais da PAC com maior importância para as explorações agro-pecuárias Elvas 1995 XVII Produção na região do maciço calcário Porto de Mós 1996 XVIII Degradação das pastagens, causas e soluções Elvas 1997 XIX Eficiência alimentar das pastagens e forragens Elvas 1998 XX A multiplicação de semente de espécies pratenses e forrageiras Elvas Síntese da comunicação efectuada por ocasião da Reunião de Primavera de 2000. Não podemos deixar de referir a importância que, na prática, teve e tem o apoio técnico, logístico e administrativo que, desde sempre, a ENMP deu à SPPF. A ENMP, para além de alojar a sede da SPPF, contribui significativamente também para a sua estabilidade e prestígio. VI PASTAGENS E FORRAGENS 20 * Têm menos de 3 quotas em atraso. FIGURA 1 – Evolução do número de sócios da SPPF. O FUTURO DA SPPF A adesão de Portugal à Comunidade Europeia, em 1987-88, alterou muito as prioridades atribuídas aos técnicos do Ministério da Agricultura, que de técnicas passaram em muitos casos a administrativas, bem como as orientações do próprio sector agrícola. Na nossa opinião, a SPPF não se ajustou completamente a esta transformação. Numa altura em que a agricultura passou a actividade empresarial organizada em fileiras, a SPPF parece não ter encontrado o seu espaço: não representa sectores, não contribui para a definição das políticas, não constitui movimento de opinião – numa palavra, continua essencialmente um fórum técnico num momento em que deveria talvez ter também um papel de intervenção. Ainda em nossa opinião, a revitalização da SPPF seria favorecida pela nomeação de um Secretário permanente, com disponibilidade de tempo, em princípio integrado nos trabalhos do Departamento de Forragens, Pastagens e Proteaginosas da ENMP; e pela constituição de um Conselho Consultivo, com membros de capacidade e mérito reconhecidos. Pensamos que, a serem cumpridas estas condições, e com o devido apoio dos sócios e da Direcção da SPPF, esta se poderia vir a afirmar como verdadeiro parceiro social, com voz activa na nossa agricultura. PASTAGENS E FORRAGENS 20 VII "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 1–11. A UTILIZAÇÃO DAS PASTAGENS E FORRAGENS NOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE PEQUENOS RUMINANTES DE RAÇAS AUTÓCTONES* Rui Caldeira Centro Interdisciplinar de Investigação em Sanidade Animal – Faculdade de Medicina Veterinária – R. Gomes Freire – 1199 LISBOA CODEX RESUMO A inequívoca falta de aptidão agrícola da maior parte do território nacional confere uma enorme importância à produção de pastagens em Portugal. As características edafoclimáticas e orográficas de grande parte destas regiões apontam para os pequenos ruminantes como as espécies mais vocacionadas para as pastorearem. As crescentes exigências manifestadas pelos consumidores, no que concerne à qualidade nutricional e gastronómica dos produtos e à sua indubitável segurança alimentar, tem conduzido a um aumento muito significativo da procura de produtos originários de animais das raças autóctones e explorados em condições naturais. A pastagem é um componente decisivo na imagem natural, ecológica, do sistema de produção. A sua utilização como alimento exclusivo ou maioritário dos animais é assim um elemento essencial na promoção destes produtos, não esquecendo obviamente o seu baixo custo e óptimo aproveitamento pelos ruminantes. No que respeita aos animais, os receios de afecções transmissíveis ao homem, da utilização na sua alimentação de substâncias potencialmente nocivas para o consumidor e do recurso à engenharia genética com efeitos não totalmente conhecidos, vieram reforçar as opiniões de que as raças locais são mais seguras. A sustentabilidade destes sistemas de produção passa contudo pelo melhoramento de diversos componentes, desde a produtividade dos animais à selecção, produção e manutenção das pastagens e forragens. A utilização do tremoço como suplemento da pastagem, prática tão difundida na Austrália, merece por exemplo uma atenção particular. PALAVRAS-CHAVES: Pastagens; Pequenos ruminantes; Produtos naturais; Sistemas de produção. * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. 1 ABSTRACT The unequivocal lack of agricultural capacity of the main part of our territory confers an enormous importance to the production of pastures in Portugal. The edaphic, climatic and orographic features of great part of these regions indicate that the small ruminants are the species more skilful to graze them. The increasing exigencies of the consumers in what concerns the nutritional and gastronomic quality of the products and to its unquestionably alimentary safety have lead to a very significant increase in the demand of products from the local breeds, exploited in natural conditions. Pasture is a very important component in the natural, ecological picture of the production system. Its use as exclusive or main feed of the animals is thus an essential element in the promotion of these products, not forgetting obviously its low cost and excellent utilization by the ruminants. In what respects the animals, the fear of transmissible diseases to Man, the use in its diets of potentially harmful substances for the consumer and the employment of genetic engineering with not totally known effects, came to strengthen the opinions that local breeds are safer. The viability of these systems of production passes however for the improvement of several components, from the productivity of the animals to the selection, production and maintenance of the pastures and fodder plants. The use of lupin as supplement of pasture, practice so spread out in Australia, deserves for example a particular attention. KEY WORDS: Pastures; Small ruminants; Natural products; Systems of production. 1 – CARACTERÍSTICAS EDAFOCLIMÁTICAS E OROGRÁFICAS QUE FAVORECEM A PRODUÇÃO DE PEQUENOS RUMINANTES Os sistemas de produção baseados na pastagem como alimento principal, e utilizando pequenos ruminantes das raças autóctones, oferecem actualmente vantagens relativas significativas. Diversos factores predisponentes justificam tais vantagens, no que se refere às pastagens e a estas espécies animais: 1 – as características edafoclimáticas do território nacional apontam para a produção de pastagens como um dos principais aproveitamentos dos solos, de referir: a) A ausência de aptidão agrícola da maior parte do território nacional confere enorme importância à produção de floresta e das pastagens e forragens no panorama agrário nacional; b) é de considerar a existência de áreas significativas de pastagens em baldios, pousios e incultos, para além das incluídas com vantagens bem conhecidas nas rotações agrícolas. 2 – As características edafoclimáticas e orográficas de grande parte daquelas regiões indicam que os pequenos ruminantes são, sem dúvida, os mais vocacionados para a optimização destes recursos naturais. 2 PASTAGENS E FORRAGENS 20 a) Deste modo há melhor aproveitamento pelos pequenos ruminantes de: – pastagens de montanha em locais de difícil acesso (nomeadamente pelos caprinos), – plantas de altura reduzida (pelas suas características de preensão dos alimentos), – regiões de escassa produção forrageira, cuja baixa densidade de energia disponível por hectare conduz a uma impossibilidade de sobrevivência de animais maiores – a conjugação de factores como as maiores distâncias a percorrer (com os respectivos acréscimos de gastos energéticos) e uma limitada capacidade de preensão e mastigação da erva (nº de dentadas, cansaço dos músculos da mastigação e da ruminação) levam a que os bovinos nestas situações não atinjam níveis suficientes de ingestão de nutrientes para garantir a sua manutenção; b) as características fisiológicas e comportamentais dos caprinos permitem-lhes retirar os melhores proveitos do tipo de pastoreio de percurso, nomeadamente do estrato arbustivo pelo qual possuem uma conhecida apetência. 2 – IMPORTÂNCIA CRESCENTE DA QUALIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR DOS PRODUTOS PARA OS CONSUMIDORES Outro aspecto extremamente importante a considerar são sem dúvida as crescentes exigências manifestadas pelos consumidores no que concerne à qualidade nutricional e gastronómica dos produtos e à sua indubitável segurança alimentar. O requisito da qualidade do produto provém declaradamente de um nítido aumento da cultura dietética dos consumidores em Portugal e de um maior poder de compra, os quais lhes permitem fazer estas opções. Algumas campanhas promocionais têm também contribuído inegavelmente para esta maior capacidade de escolha do consumidor. Quanto à segurança destes alimentos para a saúde de quem os ingere, diversos factores têm concorrido de uma forma surpreendentemente rápida para a degradação da imagem de alguns dos alimentos de origem animal, a saber; 1 – a utilização por alguns criadores de substâncias, algumas proibidas por lei, que aumentam pressupostamente a eficiência do fenómeno produtivo animal mas que são prejudiciais para o consumidor; PASTAGENS E FORRAGENS 20 3 2 – a persistência de afecções nos animais, transmissíveis ao homem, e o advento de outras cujas vias de contágio ao consumidor não estão ainda completamente esclarecidas; 3 – a manipulação genética dos animais e dos alimentos com consequências não totalmente conhecidas no homem; 4 – alguma carência de meios técnicos e humanos dos mecanismos oficiais de fiscalização da fileira produtiva, desde os animais nas explorações, aos matadouros, aos armazenistas e aos postos de venda ao público, reflectindo-se numa imagem de pouca eficiência destes controlos; 5 – tratamento muito empolado destes assuntos pelos "media", passando uma imagem frequentemente incorrecta do ponto de vista técnico e científico, contribuindo decisivamente para denegrir os produtos aos olhos dos consumidores. Assim, embora se possa afirmar que não há motivos imediatos para alarme, o consumidor passou a adoptar uma atitude mais prudente, preferindo produtos cujo percurso seja transparente e lhe inspire confiança. Naturalmente que esta informação não é fácil de obter, a não ser quando se estabelecem contactos directos com produtores conhecidos. Por outro lado, algumas organizações de criadores ou produtores começaram a promover campanhas de "marketing", enaltecendo as características naturais dos seus produtos, levando os consumidores a preferi-los. Deste modo, foi criada uma imagem de "produto seguro e de qualidade" que o consumidor procura, por vezes exclusivamente, e consequentemente valoriza. Este produto poderia ser definido como o produzido nas condições enunciadas no quadro 1, referindo-se paralelamente que, curiosamente, todas elas são aplicáveis à maior parte dos produtos originários das raças autóctones de pequenos ruminantes. A pastagem é um componente decisivo na imagem natural, ecológica, do sistema de produção, desde o bem-estar dos animais à qualidade do produto confeccionado a partir dela. A sua utilização como alimento exclusivo ou maioritário dos animais é assim um elemento essencial na promoção destes produtos. No que respeita aos animais, os receios de afecções transmissíveis ao homem, da utilização na sua alimentação de substâncias potencialmente nocivas para o consumidor e do recurso à engenharia genética de uma forma não totalmente controlada e, logo, com eventuais riscos para a saúde do consumidor, vieram reforçar as opiniões conservacionistas de que as raças locais são 4 PASTAGENS E FORRAGENS 20 mais seguras. Por outro lado, a percepção generalizada, de que, por exemplo, sistemas mais intensivos de produção de carne originam um produto mais tenro mas com menores qualidades organolépticas, veio de novo focar as atenções nas raças autóctones e nos sistemas de produção tradicionais. O crescimento mais lento destes animais, sustentado por alimentos naturais e diversificados, concorre claramente para estes fenómenos. QUADRO 1 – Condições necessárias para a produção de produtos seguros e de qualidade, na visão do consumidor, sendo assinaladas as que são aplicáveis aos produtos originários das raças autóctones. Raças autóctones Com animais saudáveis não "manipulados geneticamente" em bem-estar 3 3 3 Em sistemas de produção em condições "naturais" menos intensivos com mais tempo para um desenvolvimento e produção harmoniosos (não forçado) 3 3 "naturais": pastagens, forragens com eventuais suplementos constituídos por matérias-primas também produzidos de uma forma natural sem estimuladores da produção não "manipulados geneticamente" 3 Com alimentos Com controlos rigorosos nomeadamente, com certificação (denominação de origem protegida – DOP indicação geográfica protegida – IGP produto específico – ETG) 3 3 3 3 (3) 3 – OUTROS FACTORES QUE FAVORECEM A PRODUÇÃO DE PEQUENOS RUMINANTES DAS RAÇAS AUTÓCTONES EM SISTEMAS BASEADOS NO PASTOREIO Para além dos aspectos já referidos, outros existem que, especialmente nas regiões do interior do País, onde a produção ovina e caprina tem o seu maior peso, assumem evidentemente uma importância muito relevante: 1 – manutenção ou recuperação da fertilidade dos solos pela utilização das pastagens; 2 – conservação do património genético animal (biodiversidade) pela sua importância na cultura local e como reserva genética para o futuro, em especial no que concerne aos genes de adaptação a condições difíceis de exploração e de resistência a afecções e parasitoses; PASTAGENS E FORRAGENS 20 5 3 – actividade fixadora de população, combatendo de uma forma activa a desertificação humana das regiões do interior (ao contrário de outros, este tipo de exploração requer inequivocamente uma presença permanente do homem, levando-o a manter ou estabelecer a sua vida nestes locais); 4 – preservação da diversidade das actividades integrantes do património cultural agrário e manutenção da paisagem rural (estes aspectos são essenciais para a qualidade de vida das populações locais, não esquecendo também as citadinas que procuram estas regiões em períodos de lazer para se libertarem do "stress" urbano e recordar ou mesmo participar em formas de vida mais naturais). Convirá ainda recordar que o efectivo de raças autóctones poderá, com algum desenvolvimento, assegurar o abastecimento do mercado nacional de carne destas espécies animais. Estes aspectos da preservação ambiental e cultural das regiões marginais e do seu desenvolvimento económico são considerados prioritários nos sistemas de apoio financeiro da União Europeia e constam das políticas de desenvolvimento das regiões do interior do País. Já o aumento da produção não é tão fácil dadas as políticas de limitação da Política Agrícola Comum (PAC). Contudo, mesmo mantendo o efectivo animal actual, ele poderá ser mais produtivo ao serem implementadas técnicas modernas. Nestas é de salientar o melhoramento da produção e da qualidade das pastagens como um dos factores sem dúvida mais importantes. No que respeita aos efeitos da utilização exclusiva ou maioritária da pastagem como alimento dos animais é ainda de salientar as suas consequências nas características dos produtos, nomeadamente o aumento da proporção de ácidos gordos poli-insaturados na gordura destes animais, o que traz conhecidas vantagens dietéticas para o homem. As características organolépticas do leite, queijo e mesmo da carne são influenciadas em parte pelos alimentos consumidos pelo ruminante. Contudo, esta relação é complexa e não é ainda totalmente conhecida. Certo é que quanto maior a diversidade da dieta destes animais maior será a possibilidade de obter produtos diferenciados nas suas características gastronómicas. Esta diversidade da dieta será o resultado do pastoreio de diferentes espécies forrageiras e/ou da utilização do pastoreio de percurso, aliados a alguma selectividade dos animais na ingestão, em especial dos caprinos. Esta variabilidade proveniente do factor alimentação poderá assim distinguir os queijos e permitir uma sua melhor definição e valorização. À 6 PASTAGENS E FORRAGENS 20 imagem de outros produtos, poder-se-á talvez, no futuro, ao provar um queijo identificar as características dos alimentos que lhe deram origem e reconhecer a sua zona de origem dentro de uma região demarcada. 4 – BASTARÁ ENTÃO PRODUZIR QUALQUER RAÇA AUTÓCTONE EM QUALQUER PASTAGEM PARA O SUCESSO PRODUTIVO ESTAR ASSEGURADO? Naturalmente que, embora estas raças e os sistemas em que são exploradas apresentem vantagens, eles possuem ainda limitações e deficiências, necessitando de algum desenvolvimento, em alguns casos urgente. Veja-se alguns problemas que importa equacionar e ultrapassar na produção de pequenos ruminantes das raças autóctones em sistemas baseados no pastoreio: 1 – Baixa produtividade dos animais de grande parte destas raças, dados os escassos recursos forrageiros das regiões, as técnicas tradicionais ainda aplicadas na sua exploração e a ausência de um melhoramento genético efectivo na maior parte dos rebanhos. 2 – Desenvolvimento de sistemas de produção diferenciados e adequados consoante as aptidões produtivas de cada uma das raças autóctones, as suas necessidades nutricionais quantitativas e qualitativas e as características das regiões onde são exploradas. Como exemplo pode-se apontar três sistemas de produção bem diferentes e algumas das raças que são neles exploradas (quadro 2). QUADRO 2 – Exemplos de sistemas de produção e de algumas raças ovinas autóctones neles exploradas. Sistemas de produção Raças ovinas exploradas Extensivo – produção de carne Churras (excepto mondegueira), Bordaleira de Entre Douro e Minho, Campaniça Semi-intensivo – produção de carne Merinos Semi-intensivo – produção de leite Serra da Estrela, Saloia Os sistemas de produção deverão ser sempre sustentáveis relativamente às disponibilidades alimentares das diferentes regiões, o potencial produtivo dos animais e a formação técnica dos produtores. Se estes 3 factores apresentarem um nível razoável a bom, então poderão admitir-se sistemas mais sofisticados, de que é exemplo o de 3 partos em 2 anos na produção de carne. Um dos aspectos a considerar poderá ser a transferência de parte da PASTAGENS E FORRAGENS 20 7 produção de carne do Outono/Inverno para a Primavera/Verão, ou seja, fazer coincidir as maiores necessidades dos animais com as maiores disponibilidades de pastagem (menores custos de produção) e apostar mais no mercado do Verão (emigrantes e turistas), época em que o preço é já bastante razoável, podendo assim a margem de lucro ser muito interessante. A aposta na produção ecológica para mercados específicos (turistas, exportação, nichos de mercado) deverá ser pontualmente considerada. 3 – Preço elevado dos produtos, em consequência directa da fraca produtividade e do custo dos factores de produção nessas regiões. O queijo de ovelha é sem dúvida um exemplo paradigmático: tendo atingindo há já alguns anos um preço muito elevado, não tem existido possibilidade real de o aumentar face às condições de mercado, sofrendo desde então a inevitável redução da margem de lucro pelo acréscimo dos custos de produção. Os produtores confrontam-se agora com a necessidade premente de diminuir aqueles custos, através, nomeadamente, do aumento da dimensão dos efectivos e das explorações, ou seja, da optimização dos recursos. No caso da carne, a concorrência de outros países da UE (especialmente a Irlanda) e da Nova Zelândia é bastante feroz, com preços, em alguns períodos do ano, que dificultam muito o escoamento das nossas carcaças. Apenas os borregos mais pequenos, por tradição e mercado específico, conseguem normalmente escoar-se com facilidade e a bom preço. 4 – Escassa diversificação da apresentação do produto, principalmente na carne, dificultando o aumento do consumo. Novos cortes das carcaças, apresentações no talho e formas de confecção são evidentemente necessárias para estimular o consumo. No que respeita ao queijo, o problema não é tão grande, dado o seu escoamento relativamente fácil e a sua já razoável diversidade, interessando contudo começar desde já a preparar novas formas de apresentação. 5 – Melhores pastagens e forragens. Que pastagens e forragens em cada região, em cada exploração? Que acções tomar em cada caso: apenas a correcção de solos, também a fertilização, semear novas espécies? Quais as espécies e cultivares mais bem adaptadas às condições edafoclimáticas locais e nutricionalmente adequadas para satisfazer equilibradamente as necessidades específicas dos animais nos sistemas de produção utilizados, diferenciando a fase mãe da fase filho? 6 – Aplicação de técnicas correctas de manutenção das pastagens, indispensáveis para a longevidade da pastagem e, logo, para a diminuição dos seus custos de produção. 8 PASTAGENS E FORRAGENS 20 7 – Definição correcta das áreas destinadas ao pastoreio e ao corte para conservação. Depende também do sistema de produção instalado: se a época de parição principal for no Outono, a fase de maiores necessidades dos animais não coincidirá com a fase de maior disponibilidade de pastagem (Primavera) e, logo, haverá maiores necessidades de alimentos conservados; pelo contrário, se a época principal de parição for na Primavera, a quantidade necessária de alimento conservado será muito menor. 8 – Implementação de pequenas áreas de regadio. Serão um trunfo estrategicamente muito importante e muitas vezes decisivo, em especial nos sistemas mais sofisticados. 9 – Suplementações (complementações) correctas da pastagem, para melhor aproveitamento da própria pastagem e aumento dos seus resultados produtivos. A evolução da suplementação ou complementação da pastagem à medida que a sua composição se vai alterando e consoante a fase e o potencial produtivos dos animais é um bom exemplo (quadro 3). QUADRO 3 – Evolução da suplementação ou complementação da pastagem à medida que a sua composição se altera e consoante a fase e potencial produtivos dos animais. Fase Evolução da composição da pastagem 1 2 3 4 água + proteína água + proteína + energia digestível proteína + energia digestível + energia menos digestível energia menos digestível Suplemento energia variável* variável* proteína, azoto não proteico, energia * com fase e potencial produtico dos animais. De salientar a importância de uma boa suplementação da pastagem seca para tirar partido das enormes quantidades de matéria seca disponível de baixa qualidade, cuja utilização melhora consideravelmente com um suplemento ou complemento adequado. 10 – Estudo da utilização de novos suplementos. Por exemplo, a utilização do tremoço, prática tão difundida na Austrália, merece certamente ser estudada em Portugal. Na Austrália produzem-se principalmente as variedades para grão: tremoceiro de folhas estreitas (L. angustifolius), tremoceiro branco (L. albus) e tremoceiro das areias (L. consentinii Guss). Portugal é curiosamente o país que maior área destina ao cultivo de cultivares amargas não melhoradas: a tremoçilha (L. luteus). Veja-se a seguir alguns aspectos interessantes desta matéria-prima: PASTAGENS E FORRAGENS 20 9 Composição e valor nutritivo médios do tremoço: • elevados conteúdos em energia (12-13 MJ energia metabolizável) e proteína (30-35% PB), • digestibilidade semelhante à dos grãos de cereais, • teor em fibra elevado mas com alta digestibilidade, • teor baixo em amido; maior parte da energia sob a forma de proteína e óleo. Particularidades do tremoço: • variedades actuais com baixos teores de alcalóides, • composição equilibrada em proteína, energia e fibra digestível, • palatabilidade elevada, • distribuição fácil. Formas de administração do tremoço: • principalmente em grão, • mas também em planta inteira seca (agostadouros de tremoçilha em Portugal). Aplicações mais interessantes: • no "flushing" – aumento da taxa de ovulação (20 a 66%), da prolificidade das ovelhas e da qualidade do sémen dos carneiros, • na suplementação de pastagem seca – melhor aproveitamento da pastagem e melhores resultados produtivos dos animais, • como suplemento único ou em conjunto com um grão de cereal. Restrições de utilização: • vigiar teor em alcalóides e manganês, • lupinose (Phomopsis leptostromiformis) – intoxicação pelas toxinas, diminuição da fertilidade e da prolificidade, • proteína deficiente em ácidos aminados sulfurados (já existem variedades melhoradas com genes do girassol). 5 – CONCLUSÕES Pelas suas características e por uma feliz conjugação de situações, estes sistemas de produção parecem ter boas perspectivas de futuro. Há que aproveitá-las para os desenvolver de uma forma racional e sustentada, redimensionando as explorações, optimizando recursos e diminuindo os seus custos de produção 10 PASTAGENS E FORRAGENS 20 As pastagens têm neles um papel insubstituível, pois são o garante, aos olhos do consumidor, da qualidade e segurança dos produtos e permitem, se bem utilizadas, um baixo custo de produção e, logo, uma maior rendibilidade. Esta imagem de produtos naturais, seguros e saudáveis será cada vez mais valorizada neste mundo que o homem tarda em parar de intoxicar, mal-grado os alarmantes aumentos dos níveis de poluição do ar, de contaminação dos solos e das águas e da consequente incidência de afecções provocadas por essas substâncias. Esta opinião é partilhada por muitos países da Europa. Em 1998, por exemplo, o grupo FAO-CIEHAM sobre a nutrição de ovelhas e cabras, referia nas conclusões de um encontro de técnicos do sector que "maximizar a utilização das forragens e, em particular, da pastagem na exploração dos pequenos ruminantes é cada vez mais uma prioridade pela redução dos custos de produção e pela valorização da imagem dos produtos – qualidade ligada ao carácter natural do produto". De salientar, finalmente, o papel decisivo das Associações de Criadores nestas acções, como elementos aglutinadores e orientadores de esforços e veículos de modernização. Às estruturas oficiais cabe igualmente uma missão fundamental no apoio de todos estes esforços, na experimentação e investigação de novas técnicas, na defesa e promoção dos produtos nacionais e num rigoroso controlo sanitário dos efectivos. AGRADECIMENTOS À Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens pelo convite endereçado à Sociedade Portuguesa de Ovinotecnia e Caprinotecnia (SPOC) para nomear um seu representante para proferir esta palestra por ocasião da XX Reunião de Primavera da SPPF. À SPOC, por me ter indicado como seu representante para proferir esta comunicação. PASTAGENS E FORRAGENS 20 11 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 13–20. CARACTERIZAÇÃO QUANTITATIVA DA DIETA DE CABRAS MANTIDAS SOB COBERTO DE PINHAL* Joaquim F. S. Coelho, Virgílio B. I. Bastos, Sofia van Harten Laboratório de Nutrição. Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar – – Universidade do Porto – Largo de Abel Salazar, 2 – 4099-003 PORTO RESUMO No estudo presente procedeu-se ao levantamento e identificação da vegetação e sua quantificação (método da linha de intersecção) na área de pastagem: perímetro florestal do Estado, no concelho de Viseu. Acompanhou-se um armentio de cabras serranas, mantidas em pastoreio, sob coberto de pinhal. Durante um ano fez-se um estudo quantitativo, mensalmente, do consumo alimentar dos diversos grupos vegetais que as cabras comem, através da contagem do número de bocados ingeridos num lapso de tempo determinado, e do peso médio estimado destes bocados, para cada espécie de planta, obtido por meio de grande número de colheitas, em que o operador, munido de uma tesoura, procurou imitar o comportamento alimentar das cabras. No ecossistema em estudo, as cabras comem de quase todas as espécies de plantas ali existentes. Elas preferem carqueja (Chamaespartium tridentatum) (de 18 a 47%), a espécie mais abundante ao longo do ano. As cabras gostam mais de flores, frutos e folhas novas, pelo que têm uma sucessão de preferências por plantas diversas, ao longo do ano. PALAVRAS-CHAVES: Cabras; Pastoreio; Mato; Dieta. ABSTRACT In the present study one has performed surveying and identification of vegetation and its quantification (by means of an intersection line) in the study area: a State forestry station in the Viseu county, North Midland Portugal. A herd of goats of the Serrana breed was followed, which was kept at pasture, on pinewood undergrowth. During one year a quantitative study of feed consumption of the various plants goats eat, has been done monthly, through counting the number of bites taken during a certain period, and estimating mean weight of those bites for each plant species, by means of weighing a large number of small portions of plants collected by the operator, with an approximate size as the bites he had watched the goats take for a countless number of times. * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. 13 In the ecosystem under study, goats eat from almost all the plant species available. They prefer Chamaespartium tridentatum (18 to 47%), the most abundant plant along the year. Goats prefer flowers, fruits and new leaves; therefore, they have a succession of preferences for various plant species, along the year. KEY WORDS: Goats; Browsing; Diet. 1 – INTRODUÇÃO Dada a importância actual da criação de cabras, mantidas em pastoreio em áreas de mato, considera-se necessária a investigação com o objectivo de analisar os níveis nutricionais (consumo e qualidade) das misturas alimentares escolhidas por elas naquelas condições alimentares. Com essa finalidade, para o presente trabalho realizaram-se estimativas mensais quantitativas do consumo alimentar das várias espécies de plantas. 2 – MATERIAL E MÉTODOS 2.1 – Animais Tem-se observado um rebanho de cabras da raça Serrana, presentemente em número de 50, com idade entre os 2 e os 7 anos. As cabras são levadas a pastar, diariamente, pelo mato, de manhã durante 4 horas, e de tarde passam outro tanto tempo no prado, tanto espontâneo, como semeado, composto predominantemente por gramíneas e, aqui e ali, um pouco de trevo. Como suplemento, é-lhes oferecido feno, durante o Inverno. 2.2 – Levantamento e caracterização da vegetação Procedeu-se à identificação da maior parte das espécies de plantas existentes na área do estudo (152 plantas diferentes entre si, agrupadas em 42 famílias) (quadro 1). Com vista a determinar a estrutura da vegetação, no subcoberto de pinhal, usou-se o método da linha de intersecção, que consiste na utilização de uma fita métrica de 25 metros, para a medição linear da vegetação intersectada, em linha recta. Não se considerou a copa das árvores. O levantamento teve lugar em vários pontos, por toda a área onde as cabras se apascentam, em que o mato foi roçado há poucos anos, e tinha altura média decerca de ½ metro. Efectuaram-se 16 transeptos. 14 PASTAGENS E FORRAGENS 20 QUADRO 1 – Algumas das espécies de plantas identificadas na área do estudo, no concelho de Viseu (mês de Maio). CISTACEAE Cistus monspeliensis, L. Halimium halimifolium, L. Halimium alyssoides Tuberaria guttata, Fourr ERICACEA Calluna vulgaris, L. Erica arborea, L. Erica australis, L. Erica cinerea, L. Erica umbellata, L. FAGACEAE Castanea sativa, Miller Quercus faginea, Lam Quercus robur, L. Quercus suber, L. GRAMINEAE Agrostis curtisii, Kerguélen Agrostis stolonifera, L. Anthoxantum odoratum, L. Avena barbata, Pott Brachypodium distachyon, R & S Bromus hordeaceus Dactylis glomerata, L. Hordeum murinum Poa annua, L. LEGUMINOSEAE Acacia sp. Chamaespartium tridentatum, L. Cytisus multiflorus Cytisus striatus, Hill Genista triancanthos, Brot. Lotus parviflorus, Desf Ornithopus sativus, Brot. Trifolium repens, L. Ulex minor, Roth Vicia nigra, Reich LILIACEAE Hyacinthoides hispanica, Miller Hyacinthoides italica, L. Ornithogalum concinnum, Sal. PINACEAE Larix decidua, Miller Pinus pinaster, Aiton Pinus sylvestris, L. ROSACEAE Rubus sp. Sorbus aucuparia, L. Sorbus latifolia, (Lam) Pers. 2.3 – Observação directa do consumo alimentar Com a finalidade de quantificar a proporção das diversas espécies de plantas escolhidas pelas cabras, a pastar no mato, registou-se o número de bocados tomados de cada espécie de planta e seus órgãos escolhidos. Esta observação foi feita ao longo de um ano, todos os meses, em cinco dias consecutivos, durante 3 horas, 10 minutos em cada hora. Em cada lapso de tempo de 10 minutos observou-se o consumo alimentar de várias cabras adultas. Com vista a tentar quantificar o peso ingerido de cada espécie de planta, o operador colheu, com uma tesoura, em cada mês, 10 amostras de cada planta, do tamanho aproximado dos bocados ingeridos pelas cabras que ele observara a pastar durante vários dias seguidos. 3 – RESULTADOS 3.1 – Levantamento e caracterização da vegetação Conforme se vê na figura 1, a carqueja é a espécie dominante, sendo acompanhada pelas urzes, o sargaço (Halimium), os tojos (Ulex e Genista) e as gramíneas vivazes. Assiste-se a uma certa regeneração do carvalho alvarinho (Quercus robur) e do pinheiro bravo. PASTAGENS E FORRAGENS 20 15 FIGURA 1 – Quantificação das espécies do coberto vegetal (16 transeptos). 3.2 – Estimativa do tamanho dos bocados tomados pelas cabras No quadro 2 mostra-se o cálculo do peso médio estimado dos bocados, tomados pelas cabras, em relação ao sargaço (0,75 g), a título de exemplo, durante o mês de Junho, enquanto que na figura 2 se apresentam os valores correspondentes para as várias espécies de plantas, referentes ao mesmo mês. Observa-se que o tamanho do bocado (em termos de peso) varia consideravelmente entre as várias espécies do mato, em particular os arbustos; diferentemente do que outros autores têm afirmado. Assiste-se, ainda, a uma variação do tamanho do bocado (quando expresso em peso de matéria verde) ao longo do ano (quadro 3 e figura 3), com tendência para a redução à medida que o Verão avança e dá lugar ao Outono, a qual poderia estar relacionada com o endurecimento de folhas e raminhos. QUADRO 2 – Exemplo da determinação mensal do peso médio (g) dos bocados (peso fresco) tomados pelas cabras, por simulação, com tesoura, por parte do operador, de sargaço (Halimium alyssoides) – mês de Junho. Peso dos bocados reproduzidos (g) 16 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0,31 0,63 1,02 0,37 0,49 1,05 0,68 0,93 0,86 1,20 Média 0,75 Erro-padrão 0,10 PASTAGENS E FORRAGENS 20 FIGURA 2 – Peso médio do bocado (g) – mês de Junho. QUADRO 3 – Variação mensal do bocado médio (g) reproduzido pelo operador. Espécie Carqueja Folhas de carvalho Tojo Urze Liliáceas Gramíneas plurianuais Sargaço Silvas Junho Julho Agosto Setembro Outubro 2,13 2,59 2,07 2,17 1,33 0,89 0,75 0,43 1,68 2,61 2,15 2,33 0,51 0,23 1,27 0,73 2,05 2,02 1,79 2,25 1,77 1,37 0,54 1,38 1,41 0,81 0,52 0,88 0,81 0,81 0,31 FIGURA 3 – Evolução mensal do peso médio (g) do bocado colhido pelo operador. PASTAGENS E FORRAGENS 20 17 3.3 – Comportamento alimentar das cabras No quadro 4, mostra-se, como exemplo, e em relação ao mês de Junho, o procedimento usado para a determinação do consumo de cada uma das espécies de plantas do mato, durante o tempo total de contagem dos bocados ingeridos (duas horas e meia). O número de bocados foi de para cima de 2000, e o peso estimado de matéria verde ingerida correspondente rondou os 3900 g. Considerando a variação mensal do consumo de mato em matéria verde no período em apreço (de Maio a Dezembro), durante duas horas e meia em cada mês (quadro 5 e figura 4), observa-se que o nível de consumo mensal, vizinho de 4000 g, referido para Junho, se mantém até Agosto, assistindo-se então a uma quebra para metade, na transição para o Outono, que se mantém durante o Inverno. Observa-se que as cabras comem de todas as plantas mais frequentes entre as ali existentes: elas pastam mormente carqueja, a espécie mais abundante (figura 1). QUADRO 4 – Exemplo da determinação mensal do consumo de cada uma das plantas do mato, durante duas horas e meia* de pastoreiro (mês de Junho). Bocados contados * Peso do bocado (g) (média** de 10 bocados reproduzidos Espécie Número Tojo Carqueja Urze Liliáceas Folhas de carvalho Bétula Silvas Gramíneas plurianuais Sargaço Líquenes na casca de pinheiro Bétula (folhas caídas) Total % 543 510 346 298 116 82 80 63 60 13 5 25,6 24,1 16,3 14,1 5,5 3,9 3,8 3,0 2,8 0,6 0,2 2,1 2,2 2,2 1,3 2,6 0,8 0,4 0,9 0,8 0,1 0,8 Mat. verde ingerida (g) 1 124,8 1 084,1 749,3 396,3 300,2 63,9 34,6 55,8 45,2 1,2 3,9 2 116 % 29,1 28,1 19,4 10,3 7,8 1,7 0,9 1,4 1,2 0,03 0,1 3 859,3 * 5 dias de observações, 3 observações/dia, de 10 minutos cada uma. ** Veja-se o quadro 2. QUADRO 5 – Variação mensal da preferência alimentar quantitativa de cabras em pastoreio no sob coberto de pinhal (matéria verde, g). Espécie Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Carqueja Carvalho Tojo Urze Liliáceas Gramíneas Sargaço Silva Outras pantas 894,9 1 006,5 729,1 684,4 256,7 113,3 95,0 47,5 102,0 1 084,1 300,2 1 124,8 749,3 396,3 55,8 45,2 34,6 69,0 1 876,5 329,4 789,9 744,3 22,3 9,9 172,4 95,8 43,3 1 336,0 345,2 259,3 1 832,7 1 868,8 358,4 70,1 1 169,9 1 591,5 86,9 37,8 338,6 720,2 3,3 8,8 697,5 59,5 1 186,3 29,9 72,9 270,1 20,7 72,6 104,0 230,7 61,4 45,1 Total 3 929,5 3859,3 4 083,8 3 803,1 2 418,2 1 595,1 2 124,5 18 3 540,1 Novembro Dezembro 602,9 PASTAGENS E FORRAGENS 20 FIGURA 4 – Variação mensal da preferência alimentar quantitativa de cabras em pastoreio no sob coberto de pinhal (de Maio a Dezembro) (em percentagem). As cabras gostam mais de comer flores e frutos, e folhas novas. Ora, uma vez que as espécies de plantas do mato florescem e frutificam umas a seguir às outras, estes animais têm uma sucessão de preferências ao longo da estação quente. Assim, no princípio da Primavera, elas apreciam as flores da giesta; depois vêm as flores da urze roxa (a matougueira), que ganham a preferência caprina. A flor da carqueja, a do tojo, a das liliáceas e a do sargaço vão merecendo, sucessivamente, os favores das cabras, à medida que a Primavera avança e o Verão se instala. Entretanto, primeiro as compostas em flor, e depois as espiguetas das gramíneas bravas, vão sendo as eleitas. É preferida, o ano todo, a rama do pinheiro e a sua casca, enquanto que a rama e as bolotas do carvalho, e as folhas de silva têm a preferência das cabras sempre que as há. O consumo de carqueja e de urze mantém-se elevado todo o ano. Dada esta tendência para a rotação das suas preferências alimentares, ao longo do ano, é de prever que as cabras não constituam ameaça ao equilíbrio ecológico da mata, desde que esta esteja estabelecida e que o encabeçamento não seja excessivo. BIBLIOGRAFIA 1 – COELHO, J. F. S.; BASTOS, V. B. I.; CARVALHO, A. Q. – Diet composition of goats browsing on forest undergrowth. 7th International Conference on Goats, Tours, França, Maio 2000. PASTAGENS E FORRAGENS 20 19 2 – COELHO, J. F. S.; HARTEN, Sofia Van; BASTOS, Virgílio B. I. – Studies of diet of goats, browsing under Pinus pinaster ecosystem: Botanical and nutritional characterisation. Proceedings of the International Preliminary Results, Seminar on Land Degradation and Desertification, I. G. U. Regional Conference, 1998. Évora, C. O. A. Coelho, 1999. 3 – GORDON, I. J. – Animal-based techniques for grazing ecology research. "Small Ruminant Research", vol. 16, 1995, p. 203-214. 4 – TUTIN, T. G. et al. – Flora Europea. Vol. 1-5. Cambridge, University Press, 1964. 20 PASTAGENS E FORRAGENS 20 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 21–32. AS CISTÁCEAS NAS PASTAGENS NATURAIS DO ALENTEJO. 1 – EFEITOS DA INGESTÃO DE CISTUS SALVIFOLIUS POR OVINOS* Arminda M. Bruno-Soares, J. P. Ferreira, Edite Sousa, J. M. Abreu Instituto Superior de Agronomia – Tapada da Ajuda – 1399 LISBOA CODEX RESUMO No Alentejo, nos últimos anos e em particular em 1996, ovinos de vários rebanhos manifestaram sintomas de intoxicação e de fotossensibilização. A pesquisa de causas alimentares, eventualmente responsáveis por estas manifestações, conduziu ao estudo do arbusto Cistus salvifolius, por as suas folhas serem consumidas pelos ovinos em períodos de carência alimentar. Utilizaram-se oito pastagens para identificação das espécies presentes e atribuição dos seus índices de cobertura. A maior ocorrência de Compostas (21,5%) relativamente a Gramíneas (19,3%), associada à percentagem de Cistáceas (5%) evidenciam o estado de degradação das pastagens estudadas. Utilizaram-se seis ovinos adultos em gaiolas de metabolismo. Os animais foram agrupados em lotes (A e B) e a dieta do lote A consistiu numa mistura de palha de trigo e alimento concentrado. Os animais do lote B ingeriram uma dieta idêntica à do lote A, à qual foram adicionadas folhas de C. salvifolius em quantidades crescentes até cerca de 30% da matéria seca total da dieta. A matéria seca (MS) e os teores em proteina bruta (PB), fibra neutro-detergente (NDF), fibra ácido-detergente (ADF), lenhina ácido-detergente (ADL) e o teor em saponina bruta das folhas de C. salvifolius apresentaram valores médios da ordem dos 27,7, 14,0, 32,8, 24,0, 12,0 e 8,1%, respectivamente. Não foi detectada presença de alcalóides nem de saponinas esteróides. Os parâmetros sanguíneos dos animais em teste apresentaram valores médios que variaram entre 0,5 e 1,9 mg/dl para a bilirrubina total (BT), 20 e 22,5 UI/l (unidades internacionais enzimáticas por litro) para a alanina aminotransferase (ALT) e 80 e 38 UI/l para a aspartato aminotransferase (AST). PALAVRAS-CHAVES: Pastagens naturais; Cistus salvifolius; Composição química; Ovinos; Fotossensibilização; Toxicidade. * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. Este trabalho foi elaborado no âmbito do projecto PAMAF 3021 – “Estado da Patologia do Sistema Nervoso Central dos Pequenos Ruminantes” e incidiu nas zonas de influência da Direcção Regional de Agricultura do Algarve (DRAAL). 21 ABSTRACT On the last years, particularly in 1996, symptoms of intoxication and photosensitivity have been detected on sheep from different flocks, at Alentejo (South of Portugal). The research for feeding causes eventually responsible for those facts led to the study of natural pastures, including the shrub Cistus spp., as its leaves are ingested by the sheep during periods of feeding shortage. Eight natural pastures were investigated for identification of the species present in those areas, as well as the determination of the correspondent coverage indexes.The higher percentage of Compositeae (21.5%), as compared with the Gramineae (19.3%), associated with the occurrence of Cistaceae (5%) make clear evidence of the natural pastures degradation of this region. Six adult rams were used in metabolic cages and the animals were grouped in two lots . For lot A, the diet included 700 g of the chopped wheat straw and 300 g of concentrate meal. The diet ingested by lot B was identical to the diet of lot A, to which leaves of C. salvifolius were added in increasing quantities at about 30% of the total dry matter of the diet. The dry matter (DM), crude protein (CP), fibre fraction (NDF, ADF, ADL) and crude saponin contents of the C. salvifolius leaves, showed average values of the order of 27.7, 14.0, 32.8, 24.0, 12.0 and 8.1%, respectively. The Cistus leaves did not show steroidal saponins nor alkaloids. The blood parameters of those animals showed average values varying between 0.5 and 1.9 mg/dl for a total bilirubin (BT) 20 and 22.5 UI/l for the alanine aminotransferase (ALT), and 38 and 80 UI/l for the aspartate aminotransferase (AST). KEY WORDS: Natural pastures; Cistus salvifolius; Chemical composition; Sheep; Photosensitivity; Toxicity. 1 – INTRODUÇÃO Em muitas regiões do Alentejo, a exploração de ovinos baseia-se, fundamentalmente, na manutenção dos efectivos reprodutores em pastagens naturais sob coberto de montado. A produção de erva na região é sazonal, distribuindo-se pelos meses de Outubro a Maio com um pico de produção na Primavera, dependendo das condições edafoclimáticas (6, 11, 14). A presença de substâncias prejudiciais e/ou tóxicas nas plantas, designadas genericamente por substâncias antinutricionais, podem estar na origem de alterações metabólicas, de que resultam perdas de produção e, em certos casos, a morte dos animais. Os seus efeitos dependem, entre outros factores, do tipo de substância, da sua concentração na planta, da espécie animal e da duração de exposição (4). Estas substâncias englobam compostos, tais como os alcalóides, as saponinas, os compostos fenólicos e os inibidores de proteases, entre outros. As saponinas, comuns no reino vegetal, pertencem ao grupo dos glicósidos, sendo conhecidas nomeadamente, por: 22 PASTAGENS E FORRAGENS 20 1) conferirem sabor amargo ao alimento; 2) formar espumas estáveis no interior do rúmen, podendo causar timpanismo (9); 3) interferirem na utilização das proteinas; 4) serem tóxicas em determinadas circunstâncias ( 10). As saponinas mais comuns na maioria das espécies forrageiras são do tipo trepenóide, caracterizadas por possuirem elevada toxicidade quando administradas por via endovenosa. Na sua maioria, este tipo de saponinas é degradado pelos microrganismos do rúmen ( 8) sendo a sua acção por via oral bastante reduzida. Pelo contrário, as saponinas do tipo esteróide, existentes no Narthecium ossifragum e Tribulus terrestris, entre outras, têm sido responsáveis por problemas de fotossensibilização hepática observada em ovinos ( 10 ). No Alentejo, nos últimos anos e em particular em 1996, ovinos de vários rebanhos têm manifestado sintomas de intoxicação e de fotossensibilização. A pesquisa de causas alimentares, eventualmente responsáveis por estas manifestações, conduziu ao estudo do arbusto Cistus salvifolius, por as suas folhas serem consumidas pelos ovinos em períodos de carência alimentar. 2 – MATERIAL E MÉTODOS 2.1 – Caracterização da vegetação herbácea e arbustiva Foram utilizadas, para o efeito, pastagens naturais de 8 explorações agro-pecuárias localizadas nos seguintes concelhos: em Évora, Cooperativa do Cabido e Anexos (CAC) e Herdade do Juncal (HJ); em Montemor-o-Novo, Cooperativa do Ciborro (CC); em Ponte de Sôr, Herdade Quinta e Trepada (HQT); em Arronches, Monte Sarnadas (MS); em Ferreira do Alentejo, Herdade da Abroeira (HA); em Santiago do Cacém, Monte dos Alhos (MA); e no concelho de Sines, Monte Castanheiro (MC). O trabalho foi efectuado durante dois anos (1996 e 1997), nos meses de Fevereiro a Junho, realizando-se levantamentos fitoecológicos segundo o método Braun-Blanquet (5 ). As espécies identificadas foram agrupadas por família e tipo biológico, segundo a classificação Raunkjaer. PASTAGENS E FORRAGENS 20 23 Com base na informação existente no herbário do Instituto Superior de Agronomia (ISA) fez-se a distribuição do género Cistus utilizando quadrículas UTM (Universal Transverse Mercator) na escala 10 km × 10 km. 2.2 – Caracterização química e nutritiva de folhas de Cistus salvifolius Nas pastagens com predomínio de C. salvifolius efectuaram-se colheitas de folhas do referido arbusto em diferentes épocas do ano (Fevereiro, Maio, Junho, Setembro, Outubro e Dezembro). As folhas, conservadas pelo frio, foram posteriormente misturadas, antes de serem administradas a ovinos. Por data de colheita constituiram-se amostras compostas que foram liofilizadas e posteriormente moídas em moinho com crivo de malha de 1 mm, para posteriores determinações. Sobre estas amostras incidiram as seguintes determinações: matéria seca (MS), por secagem em estufa a 100-105 ºC durante 4 horas; cinza, por incineração completa a 500 ºC; proteína bruta (PB), calculada a partir do azoto de Kjeldhal, utilizando o factor 6,25. As fracções fibra neutro-detergente (NDF), fibra ácido-detergente (ADF) e lenhina ácido-detergente (ADL) foram determinadas segundo Robertson e Van Soest (13). O teor em saponina bruta (SB) foi determinado segundo Tava et al. (16) e a energia bruta (EB) utilizando bomba calorimétrica (Parr 1261). A pesquisa de alcalóides foi efectuada utilizando o reagente de Dragendorff e análise cromatográfica (cromatografia líquida em camada fina – TLC). A pesquisa de saponinas esteróides foi efectuada recorrendo a cromatografia gasosa juntamente com espectrometria de massa (GC/MS). Utilizaram-se 6 ovinos adultos, de raça Île de France, com peso vivo médio de 70 kg, mantidos em gaiolas de metabolismo. Os animais foram constituídos em lotes ( A e B) e o alimento foi administrado em duas refeições diárias, às 8h 30min e 16h 30min. As quantidades distribuídas, idênticas de manhã e à tarde, foram as suficientes para a cobertura das necessidades energéticas de conservação dos animais. A dieta do lote A consistiu numa mistura de 700 g de palha de trigo (PB = 7,2% e NDF = 69,3%), cortada em troços curtos (1-2 cm), e 300g de alimento concentrado (PB = 16,9% e NDF = 29,1%). Os animais do lote B ingeriram uma dieta idêntica à do lote A, à qual foram adicionadas folhas de C. salvifolius em quantidades crescentes. A percentagem de folhas de Cistus na MS total da dieta variou ao longo dos 6 periodos de ensaio, de acordo com a figura 1. Quinzenalmente, e sempre à mesma hora, procedeu-se à pesagem dos animais. 24 PASTAGENS E FORRAGENS 20 FIGURA 1 – Folhas de Cistus salvifolius (%) na matéria seca total da dieta dos ovinos. Realizaram-se colheitas de sangue, na veia jugular, 4 vezes no lote A e 5 no lote B, para o estudo da cinética dos seguintes parâmetros sanguíneos: bilirrubina total, γ glutamil transferase (GGT), aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), creatinina e ureia, de acordo com os métodos usados em 1997 no Laboratório Professor Braço Forte, da Faculdade de Medicina Veterinária (FMV). Após o período de ensaio os animais foram necropsiados, no Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV), para observações anátomo-patológicas. 2.3 – Análise de dados Os dados obtidos dos levantamentos fitoecológicos foram analisados numa base de dados relacional (Access). Foram realizadas pesquisas selectivas sobre os seguintes parâmetros: família, espécie, tipo fisionómico, família × unidade de exploração, espécie × unidade de exploração, tipo fisionómico × espécie. 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 – Fitoecologia das pastagens Das famílias identificadas, as Compostas, as Gramíneas e as Leguminosas representaram, no seu conjunto, mais de 50% do coberto vegetal dos pastos estudados (figura 2). PASTAGENS E FORRAGENS 20 25 FIGURA 2 – Importância das Compostas, Gramíneas e Leguminosas no coberto vegetal dos pastos estudados. Valores semelhantes aos nossos foram observados por Vacher (17), em pastagens naturais, em condições mediterrânicas. Das restantes famílias e por ordem de importância quantitativa aparecem as Liliáceas (5,8%), as Cistáceas (5,4%), as Geraniáceas (5,1%), as Poligonáceas (4,9%) e as Labiadas (4,2%). Com percentagem inferior a 3% ocorreram entre outras, as Umbelíferas, as Crucíferas, as Cariofiláceas, as Plantagináceas e as Fagáceas. O predomínio de terófitos (48,7%) e de hemicriptófitos (18,5%), observado nas pastagens em estudo, está de acordo com o observado em pastagens mediterrânicas (7 ). Nos fanerófitos, os mais importantes, quantitativamente, são os nanofanerófitos (7,2%), que compreendem os arbustos, principalmente da família das Cistáceas (Cistus spp.). A percentagem de micro e mesofanerófitas é atribuída à família das Fagáceas (Quercus spp.) e justifica-se pelo facto da maioria das pastagens da região se encontrarem sob coberto de Q. suber e Q. rotundifolia. A distribuição das espécies do género Cistus no Alentejo (figura 3), à excepção de C. ladanifer (preferência por solos ácidos), evidencia indiferença edáfica das espécies identificadas. As Cistáceas (Cistus spp.), com ocorrência de cerca de 5% do número total de plantas em todas as pastagens estudadas, englobam fundamentalmente as espécies Cistus salvifolius, C. crispus, C. ladanifer, C. monspeliensis, C. populifolius e C. psilosepalus, por ordem decrescente de abundância no coberto. A presença de espécies do género Cistus está associada a etapas de vegetação degradada (vegetação sob coberto de Quercus suber e Q. 26 PASTAGENS E FORRAGENS 20 rotundifolia). Acresce ainda o facto do C. ladanifer integrar comunidades vegetais que indiciam a última etapa de degradação da vegetação inicial. FIGURA 3 – Distribuição das espécies do género Cistus. PASTAGENS E FORRAGENS 20 27 A maior ocorrência de Compostas relativamente a Gramíneas (22% vs 19%), nos pastos estudados, e a existência de espécies como Dittrichia viscosa, Cynara humilis, Logfia gallica e Galactites tomentosa (15), entre outras, associadas à percentagem de Cistáceas evidenciam o avançado estado de degradação das pastagens naturais estudadas nesta região (12). 3.2 – Caracterização química e nutritiva de folhas de Cistus salvifolius No que respeita à composição química (quadro 1) as folhas de C. salvifolius apresentaram teores médios em PB, paredes celulares (NDF) e saponina bruta (SB) da ordem dos 14, 33 e 8,1%, respectivamente. QUADRO 1 – Valores médios e desvios-padrão (ST) de proteína bruta (%), paredes celulares (%), saponina bruta (%) e energia bruta (MJ kg-1 MS) de folhas de Cistus salvifolius. MS Média ST 27,7 ±5,3 Cinza 6,2 ±0,48 PB 14,0 ±1,79 NDF 32,8 ±3,74 ADF 24,0 ±1,74 ADL 12,0 ±2,43 SB 8,1 ±0,81 EB 18,6 ±0,21 MS – matéria seca; PB – proteína bruta; NDF – fibra neutro-detergente; ADF – fibra ácido-detergente; ADL – lenhina ácido-detergente; SB – saponina bruta; EB – energia bruta. As variáveis da composição química estudadas observaram fraca variação com o tempo, ao contrário do observado na generalidade das forragens verdes estudadas ao longo do seu desenvolvimento vegetativo (3). Os teores de PB, ADF e ADL das folhas de Cistus, no período em estudo, variaram de cerca de quatro unidades percentuais, observando-se os menores valores nas colheitas de Maio e Junho para a PB e ADL (11,0% e 9,7%, respectivamente). Como era de esperar, foi neste período (figura 4) que o teor em paredes (NDF e ADF) observou o valor mais elevado (37,4% e 27%, respectivamente). A EB situou-se na ordem dos 18 MJ kg-1/MS, valor ligeiramente superior ao observado na maioria das forragens verdes (3). A escassez de informação na área da composição química das folhas do C. salvifolius impõe que se apresentem, como termos de referência, valores médios de composição química de forragens conhecidas. Valores de 13,3 e 14% para a PB de 51 e 50,2% para o NDF foram observados em aveias, no ínicio do emborrachamento e em prados de trevo subterrâneo (3.º ciclo, em meados de Abril), respectivamente (2). É de referir o elevado teor em ADL (12% ±2.43) das folhas de C. salvifolius valor que se aproxima dos observados em palhas de leguminosas (1), nomeadamente nas palhas de fava (Vicia faba) e de lentilha (Lens culinaris). 28 PASTAGENS E FORRAGENS 20 FIGURA 4 – Variação dos teores de proteína bruta (PB) e paredes celulares (NDF, ADF e ADL) nas folhas de Cistus salvifolius. A composição em SB (cerca de 8%) das folhas de C. salvifolius apresenta um teor superior ao observado em forragem de luzerna (Medicago sativa) (cerca de 2-3%) (16). A pesquisa realisada nas folhas de Cistus não detectou presença de alcalóides nem de saponinas esteróides. A ingestão, pelos ovinos, de folhas de Cistus até ao nível de inclusão de 30% na MS total da dieta revelou que os animais: 1) manifestaram boa aceitabilidade às folhas de Cistus; 2) não manifestaram alterações de comportamento; 3) não manifestaram pruridos, em especial no focinho (fotossensibilidade primária); 4) não manifestaram alterações notáveis na condição corporal. Os animais, durante o período de ensaio (cerca de 75 dias), não apresentaram diferenças de peso vivo (figura 5). Por sua vez a cinética dos diferentes parâmetros sanguíneos dos animais em teste apresentou valores médios (figura 6) que variaram entre 0,5 e 1,9 mg/dl para a bilirrubina total, 20 e 22,5 UI/l (unidades internacionais enzimáticas/litro) para a alanina aminotransferase, 38 e 80 UI/l para o aspartato aminotransferase, 0,86 e 1,31 mg/dl para a creatinina e 32 e 59 UI/l para a γ glutamil transferase. Os valores encontrados não se afastaram dos observados para os animais-padrão (Lote A) e situaram-se, à excepção da bilirrubina total, dentro dos valores utilizados como referência no Laboratório Professor Braço Forte (Fac. Medicina Veterinária). PASTAGENS E FORRAGENS 20 29 FIGURA 5 – Variação do peso vivo dos ovinos durante o ensaio de ingestão de folhas de Cistus. FIGURA 6 – Variação dos teores de alanina aminotransferase, bilirrubina total, aspartato aminotransferase e creatinina no sangue dos ovinos em teste (dieta com folhas de Cistus) e dos ovinos-padrão (dieta isenta de folhas de Cistus). Os exames anátomo-patológicos e histopatológicos efectuados aos animais não revelaram alterações dignas de registo. 30 PASTAGENS E FORRAGENS 20 5 – CONCLUSÕES Os resultados obtidos sugerem as seguintes conclusões de ordem geral: 1) a predominância de espécies da família das Compostas associada à elevada percentagem de Cistáceas evidenciam o avançado estado de degradação das pastagens estudadas; 2) ausência nas folhas de Cistus salvifolius de alcalóides e de saponinas esteróides; 3) a ingestão de folhas de C. salvifolius até 30% da MS da dieta não provocou alterações dignas de registo nos parâmetros sanguíneos nem nos exames anátomo-patológicos dos animais utilizados. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à equipa do LNIV a realização dos exames anátomo-patológicos aos ovinos, a R. Nash (IGER – UK) o apoio na pesquisa de alcalóides e a A. Tava (ISCF – Itália) e C. Miles (Ruakura – NZ) a colaboração na extracção e identificação das saponinas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 – ABREU, J. M.; SOARES, A. M. Bruno – Characterization and utilization of rice, legume and rape straws. In: "Options méditerranéennes. Exploitation of Mediterranean roughage and by-products". Montpellier, CIHEAM, 1998. (Serie B: Etudes et recherches, n.º 17), p. 39-51. 2 – ABREU, J. M.; SOARES, A. M. Bruno; CALOURO, F. – Intake and nutritive value of mediterranean forages & diets. 20 years of experimental data. (Em publicação na ISAPRESS). 3 – ABREU, J. M.; SOARES, A. M. Bruno; CALOURO, F. – Tabelas de Valor Alimentar – Forragens Mediterrânicas Cultivadas em Portugal. Lisboa, ISA/INIA, 1982. 4 – BIRK, Y. – Antinutritional factors (ANFs) in lupins and in other legume seeds: pros and cons. In: "Advances in lupin research". 7th International Lupin Conference, 1993, p. 424-429. 5 – BRAUN-BLANQUET, J. – Fitosociologia. Bases para el estudio de las comunidades vegetales. Madrid, H. Blume, 1979. 6 – CRESPO, D. G. – A Produção de Pastagens e Forragens para o Desenvolvimento da Bovinicultura. Lisboa, Ministério da Agricultura e Pescas, 1977. 7 – GORDON, M. – Quelques applications de la notion de fréquence en écologie végétale. "Oecol. Plant", vol. 3, 1968, p.185-212. 8 – KLITA, P.T. et al. – Effects of alfalfa root saponins on digestive function in sheep. "Journal of Animal Science", 74 (5 ) 1996, p.1144-1156. PASTAGENS E FORRAGENS 20 31 9 – LANÇA, A. J. C. – Os Tremoceiros Lupinus spp como Forragem na Alimentação de Ruminantes. Tese de Estágio. Lisboa, Faculdade de Medecina Veterinária, 1990. 10 – MILES, C. et al. – Photosensitivity in South Africa. Chemical composition of biliary crystals from a sheep with experimentally induced geeldikkop. "Journal of Veterinary Research", vol. 61, 1994, p. 215-222. 11 – NOIRFALISE, A.; DETHIOUX, M. – Substrat, relief et végétation herbage dans la zone marneuse du Grand Duché de Luxembourg. "Colloques phytosociologiques", vol. 13, 1985, p. 497-506. 12 – RIVAS-MARTINEZ, S. et al.– La vegetación del sur de Portugal (Sado, Alentejo y Algarve). "Itinera Geobotanica", vol. 3, 1990. 13 – ROBERTSON, J. B.; VAN SOEST, P. J. – The detergent system of analysis and its application to human foods. In: "JAMES, W. P. T.; THEANDER, Olof (ed.) – The analysis of dietary fiber in food". New York, Marcel Dekker, 1981, p. 123-158. 14 – SALGUEIRO, T. A. – Comparação entre Pastagens Semeadas e Pastagens Naturais Adubadas. Lisboa, DGA – MAFA, 1984. (Série Técnica n.º 17). 15 – SOARES; A. M. Bruno; SOUSA, E.; ABREU, J. M. – Estudo Preliminar de Pastagens Naturais na Região do Alentejo. Ocorrência de Toxicidade e Fotossensibilidade em Ovinos – Plantas de Risco. "Revista Portuguesa de Zootecnia", 1999. (Em publicação). 16 – TAVA, A. et al. – Alfalfa saponins and sapogenins. "Phytochemical Analysis", vol. 4, 1993, p. 269-274. 17 – VACHER, J. – Les pâturages de la Sierra Norte. Analyse phyto et agro écologique des Dehesas Pastorales de la Sierra Norte. Tese de doutoramento. Montpellier, Universidade de Montpellier, 1984. 32 PASTAGENS E FORRAGENS 20 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 33–38. UM SISTEMA DE PRODUÇÃO CAPRINA SUSTENTÁVEL PARA ZONAS SEMIÁRIDAS DO SUL DE PORTUGAL* J. M. Potes, C. B. Profeta Estação Nacional de Melhoramento de Plantas – Apartado 6 – 7351-951 ELVAS RESUMO Com início em Julho de 1993 instalou-se na Herdade da Laranjeira, em Arraiolos, uma Unidade de Demonstração Caprina, no âmbito de um programa comunitário de ajuda à agricultura portuguesa. Após cinco anos de actividade é oportuno fazer o balanço da situação, baseado nos relatórios anuais de actividade e numa fase em que se considera atingido o ponto de equilíbrio da exploração, em termos de efectivo pecuário e de saneamento agrícola. Apresentam-se e discutem-se alguns indicadores do sistema, nomeadamente a evolução dos parâmetros técnicos respeitantes à produção animal, as suplementações praticadas e posteriormente os indicadores de carácter económico, como sejam os encargos, as receitas e as contas de encargos e receitas. Comprova-se a dependência dos subsídios comunitários e conclui-se da importância do sistema para as zonas a que se destina, independentemente dos estrangulamentos a que se encontra sujeito. PALAVRAS-CHAVES: Sistema extensivo; Produção caprina; Ecossistemas mediterrânicos. ABSTRACT In July 1993 a Goats Demonstration Unit (UNICAPRA), was installed in Laranjeira Farm, near Arraiolos - (Portugal), supported under the European Community Agricultural Program. Five years later it is opportune to study the situation, based on the annual repport of activity. Some parameters of the system, particularly the technical ones, concerning animal production, feeding supplementation or economic data are shown and discussed. It is focused subsidy dependence and it is concluded the important impact of the system in these regions. KEY WORDS: Extensive system; Goat production; Mediterranean ecosystems. * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. 33 1 – INTRODUÇÃO Os sistemas agrossilvopastoris da Europa Ocidental têm sido objecto de estudo e caracterização por diversas instituições (INRA, FAO, CIHEAM) e a investigação desenvolvida, nos aspectos de funcionamento e maneio, foi recentemente compilada (1). Incluído neste estudo está o caso particular dos montados (dehesas) explorados em regime de utilização extensiva na Península Ibérica, onde predominam os solos pobres e as irregularidades climáticas (característica acentuada no clima mediterrânico europeu). Gómez-Gutierrez e Pérez-Fernandez (3) apresentaram a sua problemática específica e revelaram o limite das possibilidades económicas de uma exploração real a preços de 1994. A importância destes sistemas de produção peninsulares ancestrais reside na sua boa adaptação ao meio e por se enquadrarem fortemente na política agrícola europeia virada para a extensificação. Os sistemas de produção caprina em áreas marginais da zona mediterrânica (4), em cujo universo se deve incluir a exploração objecto deste trabalho, são assim motivo de estudo e divulgação. 2 – OBJECTIVOS Pretende-se apresentar e discutir os resultados técnico-económicos obtidos nos primeiros cinco anos de funcionamento de uma Unidade de Demonstração Caprina em regime extensivo, criada no âmbito de apoios comunitários destinados ao desenvolvimento específico da agricultura portuguesa. Através da evolução do efectivo caprino e respectivas produções, dos indicadores de maneio reprodutivo e alimentar e dos resultados económicos, pretende-se revelar a sustentatibilidade do sistema. 3 – CARACTERIZAÇÃO DA EXPLORAÇÃO A Unidade de Demonstração Caprina (UNICAPRA) foi criada em 1993, na Herdade da Laranjeira, em Arraiolos, possui uma área de 258,7 ha de solos litólicos não húmicos de granitos, com capacidade de uso de solo classe D. Exceptuam-se 60 ha que são da classe E, devido ao declive acentuado (até 25%) e aos numerosos afloramentos rochosos. A totalidade da propriedade encontra-se sob coberto de montado de azinho e sobro, tendo-se estabelecido uma rotação do tipo Forragem – Pastagem (4 anos) em cerca de 200 ha de superfície agricola útil (SAU). A cultura forrageira, à 34 PASTAGENS E FORRAGENS 20 base de Triticale × Tremocilha, semeada em Setembro/Outubro, é utilizada para a alimentação animal, além de contribuir para controlar a componente arbustiva. O efectivo caprino é formado por dois núcleos de raças autóctones, Serpentina e Algarvia, exploradas em linha pura. O maneio reprodutivo praticado segue o sistema tradicional de parições em Setembro/Outubro, para comercialização de cabritos pelo Natal, e Janeiro/ Fevereiro, para comercialização de cabritos pela Páscoa. Em consequência, a ordenha é praticada mecanicamente a partir da venda dos cabritos de Dezembro, até Junho/Julho, sendo o leite vendido para a indústria queijeira. O maneio alimentar caracteriza-se pela utilização dos recursos naturais (pastagem, arbutivas e fruto e rama de arbóreas), complementados pela cultura forrageira integralmente utilizada em pastoreio directo nos meses de Dezembro/Janeiro (invernadouro) e Junho/Julho (agostadouro). A suplementação é efectuada através de alimentos grosseiros e concentrados na época de maior escassez alimentar (entre Agosto e Dezembro). As normas sanitárias seguidas são as preconizadas pelos serviços oficiais, nomeadamente em relação a programas de desparasitação, vacinação e rastreio de doenças infecto-contagiosas. A mão-de-obra empregada está fortemente sujeita à oferta, sendo preferencialmente do tipo familiar, com residência devidamente equipada com os requisitos básicos de habitação. 4 – ANÁLISE DOS RESULTADOS A descrição da evolução da exploração está representada no quadro 1. Salienta-se a dificuldade em adquirir um núcleo puro de raça Serpentina em 1993, o que obrigou à aquisição do núcleo Algarvio para formar um efectivo mínimo que permitisse iniciar a exploração. QUADRO 1 – Evolução da produção animal. Ano Efectivo total Fêmeas emparelhadas Chibos nascidos Chibos vendidos Fêmeas em lactação Produção total de leite (l) 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 165 66 49 23 23 3 262 243 146 119 77 94 3 682 260 256 169 144 90 15 059 280 256 251 172 177 22 166 288 289 304 183 196 31 410 PASTAGENS E FORRAGENS 20 35 Ao fim de um período de 5 anos, a UNICAPRA atingiu gradualmente o seu ponto de equilíbrio em termos de encabeçamento (0,2 CN/ha), aproximadamente 300 cabeças (200 da raça Serpentina e 100 da raça Algarvia). Pode ainda verificar-se um aumento gradual no número das fêmeas emparelhadas, por se tratar de uma exploração essencialmente constituída por animais jovens, aumentando paulatinamente as performances produtivas, o que pode comprovar-se também através dos parâmetros técnicos de produtividade (quadro 2). QUADRO 2 – Indicadores técnicos. Ano 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 Taxa de fertilidade (%) Taxa de mortalidade (%) Taxa de reposição (%) Produção de leite por fêmea lactante (l) 32,2 – 10,0 64,4 15,9 9,56 85,2 16,0 15,0 69,1 16,0 15,0 67,8 21,6 17,0 141,83 70,81 16,32 125,23 160,26 Deve referir-se, contudo, que os baixos resultados do ano de 1994/95 se ficaram a dever à ineficácia do sistema de cobrição controlada praticado, à suspeita de um surto de Mycoplasma spp. na época de parição de Outono de 1994 e a dificuldades de mão-de-obra em Janeiro e Fevereiro de 1995. Por outro lado, a partir de 1996, a introdução da prática de ordenha mecânica traduziu-se num aumento significativo da produção leiteira. O maneio alimentar praticado na UNICAPRA encontra-se perfeitamente identificado e adaptado às condições naturais da exploração. O quadro 3 torna claro que a época de suplementação necessária se inicia em Agosto (terço final da gestação) e prolonga-se até Dezembro, sendo mais ou menos acentuada consoante a Outonada (início do ciclo de produção de pastagens) e a produção de bolota. A cultura forrageira anual, por ser produzida na exploração, não figura no quadro 3, embora constitua um complemento no início da ordenha e um enriquecimento da dieta estival. QUADRO 3 – Suplementação (g/cab./dia). Ano Período Feno Concentrado 93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 – a) a) Out/Dez 94 68 335g b) Set/Dez 95 111 206g c) Set/Nov 96 268 456g d) Ago 97/Jan 98 243 276g e) a) Não houve suplementação. b) Concentrado de luzerna + aveia + concentrado comercial. c) Aveia + concentrado comercial. d) Concentrado de luzerna + concentrado comercial. e) Milho + concentrado comercial. 36 PASTAGENS E FORRAGENS 20 A análise dos resultados económicos, apresentados no quadro 4, revela que, após estabilizadas as receitas, o que só se veri ficará quando se atingirem valores próximos dos 100% para fêmeas em produção, as condicionantes para os encargos anuais da exploração verificam-se ao nível dos custos da cultura forrageira e de alternativas menos dispendiosas para os concentrados (5). Efectivamente, a prática da ordenha mecânica não dispensa a sua utilização, mas terão contudo de reduzir-se os seus custos. QUADRO 4 – Indicadores económicos. Ano Encargos fixos Encargos anuais Conta encargos e receitas 93/94 Investimento instalações pecuárias Investimentos e equipamentos 94/95 95/96 415 000$00 2 145 074$00 96/97 97/98 — 125 000$00 163 000$00 — 469 047$00 530 000$00 — Mão-de-obra Despesas com cultura forrageira Despesas com aquisição de concentrados 1 116 846$00 1 317 157$00 704 000$00 840 000$00 1 950 196$00 922 150$00 2 026 391$00 990 490$00 1 985 827$00 670 595$00 71 883$00 228 775$00 620 537$00 826 866$00 Receitas Encargos 603 662$00 1 406 732$00 3 048 015$00 3 275 885$00 2 875 455$00 4 756 058$00 3 319 615$00 5 331 395$00 4 832 702$00 5 181 427$00 Resultado -2 474 353$00 -1 869 153$00 -1 880 603$00 -2 011 784$00 -348 725$00 516 386$00 – O gráfico 1 representa a dependência dos subsídios, generalizável a qualquer exploração agrícola europeia, sendo contudo possível que, no caso presente, a tendência seja a anulação das despesas pelas receitas, ficando o subsídio disponível para o lucro do exercício. GRÁFICO 1 – Evolução dos resultados com subsídio. PASTAGENS E FORRAGENS 20 37 4 – CONCLUSÕES A UNICAPRA assenta numa exploração com as limitações naturais (climáticas, edáficas e topográficas) descritas por Gómez Castro et al. (2). No entanto, as limitações sociais (infraestruturas, acessibilidade, isolamento) igualmente referidas, são aqui minimizadas. Sendo um sistema de exploração ecologicamente adaptado, tecnicamente equilibrado e economicamente viável, poder-se-á assumir como um sistema sustentável para as explorações agrossilvopastoris extensivas do Sudoeste Ibérico no actual quadro de ajudas compensatórias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 – ETIENNE, M. – Research on temperate and tropical silvopastoral systems: a review. In: "ETIENNE, M. (ed.) – Western European silvopastoral systems". Paris, INRA, 1996, p. 5-19. 2 – GÓMEZ CASTRO, A. G. et al. – Animal production as a factor of growth and development in marginal areas of the Mediterranean. In: "The optimal exploitation of marginal Mediterranean areas by extensive ruminant production systems". EAAP, 1996. (Publication n.º 83), p. 315-316. 3 – GÓMEZ-GUTIERREZ, J. M.; PÉREZ-FERNÁNDEZ, M. – The "dehesas", silvopastoral systems in semiarid Mediterranean regions with poor soils, seazonal climate and extensive utilisation. In: "ETIENNE, M. (ed.) – Western European silvopastoral systems". Paris, INRA, 1996, p. 55-70. 4 – SÁNCHEZ-RODRIGUEZ, M. et al. – Goat husbandry systems in marginal areas of the Mediterranean. In: "The optimal exploitation of marginal Mediterranean areas by extensive ruminant production systems". EAAP, 1996. (Publication n.º 83), p. 337-339. 5 – TISSERAND, J. L.; ANTONGIOVANNI, M. – Evaluation of local resources in the Mediterranean region. In: "The optimal exploitation of marginal Mediterranean areas by extensive ruminant production systems". EAAP, 1996. (Publication nº 83), p. 81-96. 38 PASTAGENS E FORRAGENS 20 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 39–54. CRIAÇÃO DE BOVINOS NA SERRA DA PENEDA. RACIONALIDADE DO SISTEMA ALIMENTAR* Manuela M. N. Melo Barros, J. Côrte-Real Santos DRAEDM - Quinta de S. José – S. Pedro de Merelim – 4700 BRAGA RESUMO No âmbito do projecto piloto "Desenvolvimento agrícola sustentável: metodologia e definição de critérios de intervenção em zonas de montanha",** uma das suas componentes é o estudo do sistema alimentar dos bovinos. A área de estudo abarca três freguesias do concelho de Arcos de Valdevez, em plena serra da Peneda, situadas entre os 350 e os 1400 metros de altitude, com cerca de 12 000 hectares de área total. É uma região onde a área de alimentação é constituída por pastagens naturais de baldio (perto de 10 000 hectares) e por alimentos produzidos em terreno privado, como sejam o feno, o grão e palha de milho. Os bovinos pastoreiam 8 a 10 meses por ano (Fevereiro a Novembro) durante 24 horas no baldio, onde os criadores se limitam a fazer a sua vigia em relação ao local onde se encontram os animais e à identificação das vacas que entretanto pariram. Os meses de Inverno são passados na aldeia onde pernoitam nas cortes. Com este trabalho pretende-se analisar a lógica de funcionamento e de decisão do criador na interligação da alimentação no baldio com a alimentação em terreno privado associada à alimentação na manjedoura. PALAVRAS-CHAVES: Sistemas; Pastoreio livre; Montanha; Comportamento. ABSTRACT This study is being carried on in three villages within Peneda’s mountain that is located in Arcos de Valdevez (Northwest of Portugal). The three villages (Lordelo, Padrão e Rouças) are located between 350 and 1,400 meters high with about 12,000 hectares. It is a region where the main feeding area is rangeland (about 10,000 hectares), which means that food offer is mainly natural vegetation and food produced in private land, like hays, grain and maize straw. The bovines free-graze 9 to 10 months per year for 24 hours and farmers only watch them to see where they are and if the cows have newborns. It is intended to analyse the decision-making system of the farmers and its rationality in the links between rangelands and private lands in order to feed the animals. KEY WORDS: Systems; Free-grazing; Mountain; Behavior. * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. ** Financiado pelo PAMAF/ IED/ 1997. 39 1 – INTRODUÇÃO A área de estudo engloba três aldeias (Lordelo, Padrão e Rouças) de três freguesias (Cabreiro, Sistelo e Gavieira) do concelho de Arcos de Valdevez, em plena Serra da Peneda. Uma das componentes do projecto-piloto* é o estudo do sistema alimentar dos bovinos. Nesta região, a oferta alimentar é constituída, principalmente, por pastagens naturais de vegetação espontânea, herbácea e arbustiva e onde os alimentos produzidos em terreno privado, como sejam o feno, o grão e a palha de milho, assumem particular importância como suplemento à manjedoura durante o Inverno. De Fevereiro a Novembro os bovinos pastoreiam livremente, 24 sobre 24 horas no baldio, limitando-se os criadores a fazer a sua vigia em relação ao local onde se encontram e à identificação de quais as vacas que entretanto pariram. Com este trabalho, pretende-se analisar o funcionamento e a lógica de decisão do criador na interligação da alimentação no baldio com a alimentação em terreno privado associada à alimentação na manjedoura. Assim, apresenta-se a forma de utilização da superfície do território ao longo do ano em três explorações-tipo, identificando-se: a natureza da oferta e produção alimentar em função da época do ano, a preferência alimentar do animal e o padrão de actividades comportamentais em função da época do ano, e ainda alguns dos critérios de decisão seguidos pelos criadores. 2 – MATERIAL E MÉTODOS A caracterização da forma de utilização da superfície do território, no tempo e no espaço, foi inspirada em trabalhos desenvolvidos pelo INRA (7, 8, 10) e baseada nos dados registados em inquérito e em conversas informais estabelecidas com os agricultores decorrentes do acompanhamento de estudos levados a cabo nesta zona. Das doze explorações familiares estudadas, três foram objecto de maior acompanhamento e da identificação das parcelas das explorações com o auxílio dos P1, das fotografias aéreas e das cartas militares. As explorações apresentadas pertencem ao tipo E (grandes bovinicultores), segundo a tipologia de Simões (9). * Projecto de Desenvolvimento Agrícola Sustentátel: metodologia e definição dos critérios de intervenção em zonas de montanha. 40 PASTAGENS E FORRAGENS 20 A identificação da natureza da oferta alimentar do baldio foi efectuada através do método designado "pontos quadrados" adaptado, que tem por base a realização de 50 sondagens espaçadas de 40 cm ao longo de uma corda de 20 metros esticada. A determinação da matéria seca das amostras recolhidas foi feita em estufa de circulação de ar forçado, a 65 ºC, durante 36 horas. A preferência alimentar e o padrão de actividades foram obtidos através do método "focal-animal sampling", de acordo com Altmann ( 1 ), por períodos de observação de 24 horas, observações realizadas por equipas de dois elementos em turnos de 6 horas. De salientar a dificuldade da logística para a realização dos períodos de 24 horas de observação para além da dificuldade natural (condições climatéricas adversas) que houve para efectuar os registos das observações. Utilizou-se um cronómetro com precisão às centésimas de segundo para o registo da duração das várias actividades observadas. 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 – Caracterização geral das explorações Da observação dos diagramas 1, 2 e 3 pode-se constatar a pequena dimensão da surperfície agrícola útil (SAU) das explorações: 5,53 ha na de Lordelo, 2,93 ha na de Rouças e 6,72 ha na de Padrão, distribuída por 19, 26 e 53 parcelas, respectivamente. Por sua vez, encontram-se disseminadas em altitude, podendo apresentar diferenças de cota de 220 m em Lordelo, 400 m em Rouças e 650 metros em Padrão. Estas diferenças de cota correspondem a declives de 37,5% em Lordelo, 21,3% em Rouças e 46,2% em Padrão, o que, aliado às más condições dos caminhos ou mesmo ausência de acessos aos campos por tractor ou carro de bois, obriga ao transporte de feno às costas ou à cabeça, o que traduz as condições de trabalho difíceis. A entreajuda é muito importante nesta zona, mas é mais evidente no lugar de Lordelo, o que se deve também ao crescente despovoamento e envelhecimento. Os lugares, Lordelo, Rouças e Padrão, verificam uma quebra na população residente, de 1981 a 1991, de -47,5, -28,4 e -14,1%, respectivamente, e de 1991 a 1997, uma variação de -19,0, -8,2 e -20,0%, respectivamente ( 4 ). Apresentam (em 1997), igualmente, um índice de enve- PASTAGENS E FORRAGENS 20 41 lhecimento* de 1500 em Lordelo, 187,5 em Rouças e 271,4 em Padrão, o que se traduz numa quebra significativa da mão-de-obra ao nível do lugar. 3.2 – Gestão das actividades agrícolas Sobre a análise da gestão das actividades agrícolas, reporta-se à escala plurianual de uma década e meia. Nas três explorações objecto de estudo não se verificou uma quebra da mão-de-obra, houve uma manutenção no caso da exploração de Rouças e um ligeiro aumento nas explorações de Lordelo e Padrão pelo regresso do chefe da exploração até então emigrado. O gado bovino passou a representar a principal e única fonte de receita das explorações; com o surgimento dos prémios e subsídios, reforçou a sua importância, que se traduziu no aumento de efectivo pecuário por exploração (5). Assim, nas três explorações acompanhadas, o aumento de efectivo foi da ordem dos 50% na do lugar de Lordelo, 60 % na do lugar de Rouças e 44 % na exploração do lugar de Padrão. Paralelamente, verificou-se um aumento da área de pastagens permanentes de 49,1 % na exploração de Lordelo, 63,8% na exploração de Rouças e 19,7% na exploração de Padrão. Este aumento de área de pastagens dá-se pelo abandono da cultura do milho das parcelas com menores condições de rega e acessibilidade e também da batata e centeio, mas em menor escala. 3.3 – Forma de utilização da superfície do território ao longo do ano Ao nível da exploração agrícola, a utilização das explorações pode ser vista como o ajustamento, pelo agricultor, das necessidades alimentares do gado e das superfícies da sua exploração. As três explorações, uma vez que pertencem ao mesmo sistema de agricultura, apresentam formas semelhantes de aproveitamento do território. Em todas elas verifica-se existir uma diminuição da intensidade do uso do solo com a altitude. Assim, enquanto que nos lugares se cultiva a consociação milho × feijão, a batata, a horta familiar e as forrageiras de Outono/Inverno, para além das pastagens melhoradas, nas brandas apenas se cultivam pequenas áreas de batata e centeio, a restante área é dedicada às pastagens. O aproveitamento do baldio é feito por pastoreio, assim como as tapadas, embora estas sejam ainda fornecedoras de matos e lenha. * Índice de envelhecimento = (P. 65+/P. 0-14) · 100; com: índice de equilíbrio = 100 e índice de perigo = 150. 42 PASTAGENS E FORRAGENS 20 No período que decorre desde o início de Março, mês a partir do qual é reservada a erva das pastagens para o corte de feno, passando pela instalação da cultura principal, o milho, a colheita do feno e até à desfolha do milho em Outubro, a grande parte dos animais permanecem no baldio onde se alimentam e reproduzem. Verifica-se existir um ajustamento entre o uso agrícola da terra, para a produção de alimentos conservados, e a condução do pastoreio aliada às condições edafoclimáticas. Assim, quando os terrenos privados estão fechados ao pastoreio, o baldio oferece a biomassa das pastagens naturais herbáceas e arbustivas necessárias à dieta alimentar dos animais. Por outro lado, este mesmo período é aquele que apresenta maiores necessidades de trabalho, quer de mão-de-obra, quer de tracção animal ou mecânica, na instalação condução e desfolha do milho e no corte, transporte e armazenamento do feno. Permanecem no lugar, nas tapadas ou baldios próximos, uma ou duas juntas de vacas de canga para auxiliar nos trabalhos. O regime alimentar dos bovinos é distinto ao longo do período de Verão e de Inverno. No Verão alimentam-se exclusivamente das pastagens naturais do baldio. O Inverno pastam meio dia nas pastagens melhoradas privadas (9 às 11 horas) e meio dia nas pastagens naturais do baldio ou das tapadas privadas (11 às 17 horas), sendo suplementados à manjedoura com feno e/ou palha à saída e entrada na corte e grão de milho à recolha dos animais. 3.4 – Natureza da produção e da oferta alimentar 3.4.1 – Área agrícola A área das explorações agrícolas é utilizada, praticamente na sua totalidade, com culturas destinadas à alimentação dos bovinos, com a excepção de pequenas áreas de batata, horta familiar e milho para autoconsumo. Assim, das explorações acompanhadas, 52,3 % da área total são de superfície florestal ou de matos e 47,7 % são de superfície agrícola útil (SAU); desta, 70,5 % são utilizados com pastagens de aproveitamento misto, pastoreio e um corte e 25,0% com a consociação milho × feijão / erva castelhana (Lolium multiflorum) (tabela 1). PASTAGENS E FORRAGENS 20 43 44 Exploração de Lordelo Altitude N.º Área (m) N.º de animais adultos: 30: 16 Cachenas, 15 (260kg PV) 1 (300kg PV); 14 indiferenciadas 10 (308kg PV) e 4 (315kg PV) Culturas 6 2.28 M x F / E C parc. (ha) A LUGAR 2 0.19 Batata /Mi/E M L 380-630 8 1.59 Past. melhor. T 3 1.075 Tapadas I 3 1.47 Past. melhor. PASTAGENS E FORRAGENS 20 T U D BRANDAS E BALDIO JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET ANO OUT NOV DEZ 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. M×F EC EC Batata Erva castelhana Milharada / Erva molar Pastagens naturais 650-700 5 3.72 Tapadas Pastagens naturais Pastag. naturais 27/24 M × F = Milho × feijão EC = Erva castelhana Milh. = Milharada EM = Erva molar Past. melhor. = Pastagens melhoradas Tapadas = Coutadas de mato e pastagens naturais Parc. = parcelas q. = quinzena Pastagens naturais Pastoreio de Verão: Todo o dia (24 horas) Pastoreio de Inverno: 1/2 dia (parte da manhã) Ocupação cultural: Principal Utilização por corte e conservação em feno Secundária 1/2 dia (parte da tarde) DIAGRAMA 1 – Exemplo da forma de ocupação da superfície e da gestão do pastoreio dos bovinos no espaço e no tempo. PASTAGENS E FORRAGENS 20 Exploração de Rouças Altitude N.º Área (m) N.º de animais adultos: 25 indiferenciados, 19 fêmeas (308 kg PV) e 6 machos (315 kg PV) Culturas 7 0.58 M x F / E C parc. (ha) A LUGAR 1 0.15 Batata /Milh./E M L 580-630 7 1.39 Past. melhoradas T 2 0.74 Tapadas I 9 0.63 Past. melhoradas T BRANDAS U 950-1030 D E 1 0.09 Batata / EM FEV MAR ABR BALDIO MAIO AGO SET EC × Erva molar Batata OUT NOV DEZ Erva castelhana Milharada / Erva molar Pastagens naturais Erva molar Batata Erva molar Centeio Centeio Pastagens naturais Pastag. naturais × JUL Milho Feijão EC 3.1 Tapadas 31/28 M F = Milho feijão EC = Erva castelhana Milh. = Milharada EM = Erva molar Past. melhor. = Pastagens melhoradas Tapadas = Coutadas de mato e pastagem Parc. = parcelas q. = quinzena JUN 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1 0.09 Centeio / Batata 3 × JAN ANO Pastagens naturais Pastoreio de Verão: Todo o dia (24 horas) Pastoreio de Inverno: 1/2 dia (parte da manhã) Ocupação cultural: Principal Utilização por corte e conservação em feno Secundária 1/2 dia (parte da tarde) DIAGRAMA 2 – Exemplo da forma de ocupação da superfície e da gestão do pastoreio dos bovinos no espaço e no tempo. 45 46 Exploração de Padrão Altitude N.º Área (m) A LUGAR L 350-500 T Culturas 9 0.93 M x F / E C parc. (ha) 3 0.14 Batata /Milh./E M JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET ANO OUT NOV DEZ 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. 1ª q. 2ª q. EC Milho x Feijão Erva Molar EC Batata Erva castelhana Milharada / Erva molar 21 2.28 Past. melhor. 7 0.95 Tapadas I Pastagens naturais 18 3.35 Past. melhor. T BRANDAS U 700-1000 D E N.º de animais adultos: 23: 11 Barrosãs 10 (460kg PV) e 1 (500kg PV); 12 indiferenciados 11 (308kg PV) e 1 (315kg PV) 1 0.01 Batata / EM Batata 1 0.01 Centeio / Batata Centeio 11 7.05 Tapadas BALDIO Centeio Pastagens naturais Pastag. naturais PASTAGENS E FORRAGENS 20 71/63 M × F = Milho × feijão EC = Erva castelhana Milh. = Milharada EM = Erva molar Past. melhor. = Pastagens melhoradas Tapadas = Coutadas de mato e pastagem Parc. = parcelas q. = quinzena Erva molar Pastagens naturais Pastoreio de Verão: Todo o dia (24 horas) Pastoreio de Inverno: 1/2 dia (parte da manhã) Ocupação cultural: Principal Utilização por corte e conservação em feno Secundária 1/2 dia (parte da tarde) DIAGRAMA 3 – Exemplo da forma de ocupação da superfície e da gestão do pastoreio dos bovinos no espaço e no tempo. TABELA 1 – Distribuição percentual da área das três explorações pelas culturas destinadas à alimentação dos bovinos. SAU Área total Milho / Erva castelhana explorações Palha/grão Erva castelhana ha % 3,79 (3,79) 25,0 Batata/ E M Sup. florestal Centeio Erva molar Pastoreio 0,58 0,1 3,8 0,7 % 47,7 Pastagens melhoradas 10,71 70,5 Feno (10,71) Pastagens naturais (tapadas) 16,64 – 52,3 A área de pastagens de utilização mista, pastoreio e corte, é significativa, assim como a área de erva castelhana que também tem importância na utilização por pastoreio. As espécies dominantes, em termos de produção de matéria seca (MS), nas pastagens permanentes são a Agrostis capillaris, a Dactylis glomerata e a Holcus lanatus, a produção média do feno verificada foi de 4,7 t MS/ha e a produção média do crescimento vegetativo de Outono/Inverno foi de 2,9 t MS/ha. A produção de erva castelhana (Lolium multiflorum), cujo crescimento se concentra no Inverno foi de 2,1 t MS/ha. 3.4.2 – Pastagens naturais do baldio No baldio, a natureza da oferta alimentar é diversificada e a sua composição varia de lugar para lugar. Dos locais mais frequentados pelos bovinos, foram observados seis. Os grupos de espécies com maior relevância são as herbáceas (gramíneas e dicotiledóneas) e as arbustivas (figura 1). As principais espécies constituintes de cada grupo são: herbáceas: Molinea coerulea, Nardus stricta, Festuca ovina, Agrostis stoloniferae, Agrostis truncatula, Danthonia decumbens, Dactylis glomerata, Pseudarrhenatherum longifolium, Agrostis curtisii, Festuca indigesta; Juncus squarrosus, Carex acuta, Leontodon taraxoide; arbustivas: Ulex minor, Erica arborea, Erica umbellata, Ulex europaeus, Cytisus spp., Chamaespartium tridentatum, Genista florida, Calluna vulgaris, Halimium alyssoides (5). Verifica-se que, na Garganta do Eiró, as arbustivas dominam com mais de 90%, o Cruzamento da Junqueira e a Chã do Abade apresentam mais de 40% de arbustivas. As espécies herbáceas (gramíneas e outras) aparecem com 80% na Branda de Real, mais de 60% na Branda do Arieiro e 50% na Chã do Abade e Branda da Lamela, apenas 30% no Cruzamento da Junqueira e PASTAGENS E FORRAGENS 20 47 praticamente nula na Garganta do Eiró (dominada pelas arbustivas). Dentro das espécies herbáceas, as gramíneas são aquelas que mais abundam. A percentagem de solo nu não é significativa, não chegando aos 20% nos lugares com maior significado. FIGURA 1 – Oferta alimentar do baldio. 3.5 – Preferência alimentar dos bovinos Na figura 2 está identificada a preferência alimentar dos bovinos pelas espécies herbáceas, independentemente da época do ano, sendo que as arbustivas assumem um papel mais importante no Inverno. Este mesmo aumento da importância relativa das arbustivas no Inverno foi observado por Papachristou e Nastis (6) em caprinos na Grécia. A razão de ser desta preferência tem várias hipóteses justificativas. Segundo Genin (2), a composição química das espécies vegetais, nomeadamente o teor em matéria orgânica das arbustivas, associada às concentrações em fibras facilmente degradáveis poderá justificar o aumento da importância relativa das arbustivas no Inverno. Este mesmo autor refere, contudo, a necessidade de melhor compreender os aspectos funcionais das relações tróficas animais – vegetação juntamente com as características fisico-químicas da oferta alimentar. É opinião dos autores que a capacidade selectiva dos animais em função do "seu nível de conhecimento" do território – oferta alimentar –, a estratégia alimentar que varia de animal para animal, as condições climatéricas do local – temperatura e vento –, são factores que condicionam a composição da dieta alimentar dos bovinos quando em pastoreio livre. 48 PASTAGENS E FORRAGENS 20 FIGURA 2 – Preferência alimentar quanto à natureza da vegetação. A diferença da duração do pastoreio entre as duas épocas do ano tem a ver com o facto dos bovinos, no Inverno, serem guardados em cortes para pernoitarem. De salientar que este período é muito longo, cerca de 15 horas, o que condiciona sobremaneira a estratégia alimentar dos bovinos. 3.6 – Padrão de actividades comportamentais dos bovinos em pastoreio As actividades comportamentais dos bovinos variam em função da época do ano. Durante o Inverno, com fotoperíodo mais curto, e com regime de estabulação por um longo período de cerca de 15 horas, o comportamento alimentar dos animais está muito condicionado pela condução do criador e pelo fornecimento de suplemento alimentar. Assim, os animais estão estabulados cerca de 62% do dia e pastam cerca de 13% do dia, divididos entre as superfícies privadas e o baldio ou tapadas (figura 3). Durante o período de Verão, de dias longos, os animais ficam entregues a si próprios, as 24 horas do dia no baldio. O comportamento dos animais é livre, sem qualquer condicionante imposta pelo criador. Verifica-se (figura 4) que 50% do tempo diário é passado a pastorear e 16% do dia em deslocação; o período de descanso representa apenas 14%. É de salientar o facto de cerca de 24% (2 horas e 45 minutos) do tempo total de pastoreio, no Verão, ser efectuado durante o período nocturno. PASTAGENS E FORRAGENS 20 49 FIGURA 3 – Padrão de actividades no Inverno de 1998/1999 (período de 24 horas). FIGURA 4 – Padrão de actividades no Verão de 1998 (período de 24 horas). A natureza da vegetação é distinta nos dois períodos. No Inverno é à base de erva castelhana (Lolium multiflorum Lam.) e pastagem melhorada (Agrostis capillaris, Dactylis glomerata, ...) nas superfícies privadas e vegetação herbácea mais rasteira e arbustivas nas pastagens naturais do baldio. A suplementação (tabela 2) é aproveitada na integra pelos animais. No Verão, no baldio, a oferta alimentar das pastagens naturais é composta por herbáceas de porte rasteiro, como Agrostis curtisii, Agrostis truncatula, Agrostis stoloniferae, Nardus stricta, Molinea coerulea e rebentos de vegetação arbustiva (Ulex minor, Chamaespartium tridentatum, Erica umbellata, Cytisus sp., Genista florida). 50 PASTAGENS E FORRAGENS 20 Verifica-se que a actividade ruminação no Verão se distribui pelo dia e noite, enquanto que no Inverno a actividade ruminação durante o dia é insignificante. Ainda que seja necessário efectuar estudos mais específicos sobre este assunto, observações sobre a preferência alimentar dos bovinos pelas arbustivas verificou-se ser maior mais perto do pôr-do-sol, e que este apetite se traduz frequentemente por pequenas bocadas de preensão intercaladas por herbáceas, levando a supor que a sequência cronológica da ingestão dos vários alimentos disponíveis terá uma importância significativa, não só numa digestão mais eficiente e equilibrada do ponto de vista nutritivo mas também na capacidade de ingestão. TABELA 2 – Quantificação da suplementação á manjedoura no Inverno. Tipo de alimento Alimento (kg/vaca/dia) Feno Grão de milho Palha de milho 5,2 1,5 3,6 Total (kg/vaca/dia) 10,3 Teor de MS (%) Alimento (kg MS/vaca/dia) 95,3 86,0 94,4 4,96 1,29 3,40 9,65 3.7 – Critérios de decisão seguidos pelos agricultores 3.7.1 – À escala plurianual de gestão O agricultor, com base no enquadramento socioeconómico do País, nomeadamente devido à alteração da política de preços e subsídios, aumentou o efectivo pecuário no decurso da última década e meia. Em consequência deste e doutros factos (diminuição dos preços dos produtos agrícolas, despovoamento e envelhecimento da população), diminuiu a área de cultivo de milho × feijão e de batata, passando a cultivar apenas o indispensável para autoconsumo e auto-utilização. Aumentou desta forma a área de pastagens, para garantir a conservação de forragem suficiente para os meses de Inverno. 3.7.2 – À escala anual de gestão O ajustamento das necessidades alimentares do seu efectivo e das superfícies da sua exploração faz com que a constituição de reserva forrageira seja ajustada ao efectivo pecuário daquele ano, optando pela compra ou não de feno ou pela venda ou não de animais no início do Inverno. O baldio também pode funcionar como um recurso de reserva, ou seja, quando em casos extremos o efectivo pecuário é superior às reservas forrageiras, os animais podem ser deixados no baldio durante o Inverno. PASTAGENS E FORRAGENS 20 51 3.7.3 – À escala da gestão alimentar diária O agricultor gere ao longo do dia a utilização da vegetação pelos animais, a ingestão em pastoreio e a suplementação alimentar. Durante o Verão, alguns agricultores, por exemplo, do lugar de Padrão, recolhem as vacas, que entretanto pariram, juntamente com os vitelos, para a proximidade da Branda do Alhal, onde alojam os vitelos nas cortes a fim de ficarem protegidos dos ataques do lobo. Este lote de animais é tratado de forma diferente dos restantes, que se alimentam exclusivamente no baldio. Os vitelos permanecem com as mães na corte durante a noite e os maiores são suplementados com milho traçado. As mães são suplementadas com feno antes de saírem da corte e ao fim da tarde no regresso à corte. Durante o dia pastam nos baldios próximos ou nas tapadas. No Inverno, quando todos os animais regressam ao lugar empurrados pelas condições climáticas, vento, temperatura e chuvas, são alojados por grupos de animais mais sociáveis entre si, ou por classes de idades, vacas de canga, machos, novilhas e vacas mais fracas, etc. A colocação nas pastagens obedece também ao mesmo critério. Da parte da manhã pastam nos campos privados: erva castelhana ou pastagens permanentes ou erva molar; à tarde, são conduzidos ao baldio a fim de garantir a gestão da oferta de erva dos campos privados até ao fim do ano. Por outro lado, enquanto que as pastagens privadas são à base de gramíneas, o baldio oferece uma dieta alimentar mais diversificada. A palha de milho é administrada, preferencialmente, às vacas acabadas de parir, com o fim de estimular a expulsão das secundinas, e pode ser administrada uma vez ao dia até que se esgote, mas raramente se administra para além do mês de Janeiro. O centeio é pastoreado duas vezes, uma em Novembro e outra em Janeiro. As pastagens melhoradas podem ser pastoreadas de Agosto (restolhos) a Fevereiro, no lugar apenas pelas vacas de canga, mas as Brandas apenas permitem uma ou duas passagens dos animais, devido às condições edafoclimáticas adversas que encurtam o período favorável de crescimento da erva (temperaturas superiores a 8 ºC). O feno fica disponível após meados de Agosto e é administrado à manjedoura, de Novembro a Fevereiro, uma ou duas vezes ao dia à saída e entrada na corte e ainda durante a restante parte do ano às vacas de trabalho. 52 PASTAGENS E FORRAGENS 20 4 – CONCLUSÕES O aumento das pastagens permanentes de uma forma geral e em particular nas três explorações acompanhadas foi de 49,0 % no lugar de Lordelo, 63,8% em Rouças e 19,7 em Padrão e pode ser considerado como o resultado da conjugação de diferentes factores: Sociais – O crescente despovoamento e índice de envelhecimento. Os lugares, Lordelo, Rouças e Padrão, verificam uma quebra na população residente de 1981 a 1991 de – 47,5, – 28,4 e 14,1% respectivamente (4) e apresentam um índice de envelhecimento de 1500, 187,5 e 271,4, respectivamente, o que traduz uma quebra de mão-de-obra significativa ao nível dos lugares. Económicos – O surgimento dos prémios e subsídios atribuídos aos animais. O gado representa a principal fonte de receita da exploração que, com o surgimento dos prémios e subsídios, reforçou a sua importância, o que se traduziu no aumento do efectivo pecuário por exploração ( 5 ). Nas explorações acompanhadas este aumento foi de 50%, 60% e 44%, respectivamente em Lordelo, Rouças e Padrão. Estruturais – Dispersão da propriedade, impossibilidade de mecanização (ausência de acessos e pequena dimensão das parcelas) e degradação das condutas de água do sistema de regadio tradicional. A razão da área por parcela é da ordem dos 0,29 ha na exploração de Lordelo, 0,11 ha na exploração de Rouças e 0,13 ha na exploração de Padrão, podendo encontrar-se distanciadas entre si cerca de 1000, 2300 e 3200 metros, respectivamente; no entanto, esta distancia linear é confrontada com uma diferença de cotas muito acentuada, da ordem dos 270, 450 e 650 metros, respectivamente. Este conjunto de factores mostra que as condições de trabalho dos agricultores desta zona de montanha são difíceis, que as suas decisões são condicionadas por elas e a própria alimentação dos animais sai fora dos padrões alimentares conhecidos. A alimentação do efectivo só é possível graças à existência de ampla superfície de baldio, rico do ponto de vista da sua variabilidade florística, e à gestão equilibrada que o agricultor faz do uso da propriedade privada e comunal. Ainda que os criadores não utilizem, de uma forma directa, a informação da preferência alimentar e padrão de actividades na gestão da superfície de alimentação, permite, contudo, contribuir para elaborar um plano de melhoramento da oferta alimentar. PASTAGENS E FORRAGENS 20 53 BIBLIOGRAFIA 1 – ALTMANN, J. – Observational study of behaviour: sampling methods. Chicago, Illinois, University of Chicago, Allee Laboratory of Animal Behaviour, 1973. 2 – GENIN, D. – Composition chimique des plantes ingérées et régime saisonnier de caprins sur un parcours aride. "Fourrages", n.º 124, 1990, p. 385-397. 3 – GORDON, I. J. – Animal-based techniques for grazing ecology research. Small ruminant research. London, Elsevier, 1995. 4 – MACHADO, C. – Dinâmica e Estrutura Populacional. "Cadernos da Montanha – Peneda", vol. 1, 2000, p. 40-47. 5 – MELO, M.; XAVIER, D. – As Pastagens na Serra da Peneda – Caracterização, Importância e Evolução. "Cadernos da Montanha – Peneda", vol. 1, 2000, p. 70-87. 6 – PAPACHRISTOU, T. G.; NASTIS, A. S. – Feeding behaviour of goats in relation to shrub density and season of grazing in Greece. In: "41st Annual Meeting of the EAAP", Toulouse, 1990, p. 15. 7 – PIETRO, F. Di; BALENT, G. – Dynamique des pratiques pastorales et des paysages: une approche pluri-échelles appliquée aux Pyrénées ariégeoises (France). "Agronomie", Paris, INRA, 1997, p. 139 - 155. 8 – ROSSI, E. V. – L’enquête pour le diagnostic de la gestion des systèmes fourragers – Elaboration d’une méthode sur le cas des exploitations d’élevages du Couserans (Pyrénées Centrales). Toulouse, INRA, SAD, 1991. 9 – SIMÕES, S. – Aldeia na Serra da Peneda - Sistemas Produtivos e Tipologias das Famílias – Explorações. Faro, Universidade do Algarve, 1999. 10 – THEAU, J. P.; GIBON, A. – Mise au point d’une méthode pour le diagnostic des systèmes fourragers – application aux élevages bovin viande du Couserans. In: "LANDAIS, E. (ed). – Pratiques d’élevage extensif: identifier, modeliser, évaluer". Toulouse, INRA, SAD, 1995. (Project Agreste), p. 323-350. 54 PASTAGENS E FORRAGENS 20 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 55–62. CARACTERIZAÇÃO DE SILAGENS DE ERVA NO CONCELHO DE VILA DO CONDE* António Fernandes, José Maia♦ , Nuno Moreira♦ Estação Regional de Culturas Arvenses Qta. S. José – S. Pedro de Merelim – – 4700 BRAGA ♦ Departamento de Fitotecnia e Eng. Rural – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – – Apartado 202 – 5001 VILA REAL CODEX RESUMO O elevado encabeçamento das explorações de pecuária leiteira [5 a 7 cabeças normais por hectare (CN/ha)], associado a condições climáticas adversas para a produção de feno, têm levado a que a prática da ensilagem de erva assuma cada vez mais uma importância primordial nas explorações leiteiras do litoral Norte do País. Contudo, o domínio da tecnologia da ensilagem de erva está longe de ser o ideal, havendo a consciência generalizada de que a qualidade destas silagens fica aquém das exigências alimentares do potencial genético das vacas leiteiras da região. No presente estudo avaliou-se a qualidade de silagens de erva em 27 explorações leiteiras do concelho de Vila do Conde. O trabalho, realizado em 1998, foi conduzido em duas fases: numa primeira fase, inquiriu-se o agricultor sobre a tecnologia adoptada na produção de silagens e nas culturas utilizadas; na segunda fase, após abertura do silo, recolheram-se amostras e analisou-se a qualidade nutritiva das silagens obtidas. As silagens tiveram origem em forragens verdes à base de azevém consociado com cereais praganosos (85% das amostras) ou azevém estreme (15% das amostras). Em 70% dos casos inquiridos, a cultura foi sujeita a corte único para ensilar, enquanto que nos restantes se tratou de ensilagem do último corte. A cultura de erva deu lugar, em todos os casos, à sucessão de milho forragem. A qualidade nutritiva das silagens apresentou os seguintes valores médios: pH = 4,2; fibra insolúvel em detergente neutro (NDF) = 64,7 [% na matéria seca (MS)]; proteína bruta 12,5 (% na MS); azoto amoniacal 3,6 (% N total) e energia metabolizável de 10,7 MJ por kg MS. Os indicadores do valor nutritivo revelam silagens de mediana qualidade. Este facto está certamente associado ao corte da forragem em estádios avançados de * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. Trabalho elaborado no âmbito do projecto PRAXIS XXI - Ervaleite, PO87-P31B-01/ /98 – Forragens Alternativas para Vacas Leiteiras. 55 maturação (95% ensilado no espigamento), ao recorte grosseiro (85% acima dos 4 cm) e à abertura precoce do silo (45% antes dos 30 dias). Constatou-se que em 33% dos casos inquiridos os agricultores recorreram a aditivos para conservação e que 67% adoptaram uma pré-fenação. Em média, as silagens pré-fenadas apresentaram 32% de MS e as silagens directas 23%. Como conclusão do trabalho, poder-se-á dizer que as silagens de erva no concelho de Vila do Conde são de qualidade mediana, havendo, por isso, ainda um longo caminho a percorrer por parte dos agricultores no sentido de melhorar algumas práticas menos adequadas na tecnologia deste tipo de ensilagem. PALAVRAS-CHAVES: Forragens de Inverno; Silagens de erva; Valor nutritivo; Explorações leiteiras. ABSTRACT The high cattle stocking rate of dairy farms (5-7 LU/ha), associated with the adverse climatic conditions for hay production in the Portuguese Northern Littoral, have conducted to a situation where an increasing practice of grass silage is taking place in most of the farms. However, the practice of this tecnology is known to be still far away of what should be considered the best equilibrium between the silage quality and the genetic potential of the animals used in the region. In this study an attempt was made to evaluate the nutritive quality of the different grass silages in 27 milking farms within the range of Vila do Conde county. This research was carried out during the year of 1998 and followed a two-phases pattern: first, following up an inquiry to the farmers, data about the adopted technology, both in silage and other crops production, was collected; second, imediately after the openings of the silos, samples for nutritive value analyses were taken. The grass silages were composed by green forages based on either a misture of ryegrass and awned cereals (85%) or plain ryegrass (15% of the samples). In 70% of the inquired cases, the crop was submited to a unique cut, while in the remaining cases only the last cut was used for silage. The following mean values were found for the silage nutritive quality: 4.2 for pH, 64.7 for neutral detergent fiber (NDF) [% dry mater (DM)], 12.5 for crude protein (%DM), 3.6 amonia Nitrogen (% of the total N) and metabolised energy (ME) of 10.7 ME for kg DM. Since the indicators of the nutritive value show an overall median quality, it is suggested that this can be due to the mismanagement of three decisive factors: first, the cut is being carried out at advanced stages of maturation (95% collected at the heading stage); second, the poor technology of gross cuttings (85% with particle size larger than 4 cm ) and third, the pre-mature openings of the silos. Besides, it was found that in 33% of the inquired cases, additives for silage conservation were regularly used and that 67% of the farmers used wilting the grass before ensiling. In average, the observed DM content was 32% in the wilted silage and 23% in the direct silages. 56 PASTAGENS E FORRAGENS 20 As a final remark, it is suggested that in order to improve the mean quality of the grass silages produced at the Vila do Conde county, there is the possibility to improve the farmers performance through the adoption of more adequate technologies. KEY WORDS: Winter forages; Grass silage; Nutritive value; Dairy farms. 1 – INTRODUÇÃO O concelho de Vila do Conde contribui com 5,6% (9033 ha) dos 162 704 ha de área semeada com forragens anuais no Entre Douro e Minho (3). Com um efectivo pecuário leiteiro de cerca de 20 700 vacas com mais de 24 meses a Cooperativa Agrícola de Vila do Conde ( 2) produziu, em 1998, mais de 87 milhões de litros de leite contra os 40 milhões de litros produzidos em 1987, o que faz deste concelho o segundo maior em termos de produção de leite na região*. A duplicação da produção, nesta última década, deveu-se não só à melhoria do potencial genético das vacas leiteiras, mas também ao maneio efectuado nas explorações, tal como a utilização de matérias-primas de maior densidade energética e a divulgação dos atrelados-misturadores, vulgarmente conhecidos por "Unifeed", que permitem o fornecimento de alimento composto "silagem + concentrado". A base da produção forrageira destas explorações é o milho silagem, realizando-se uma segunda cultura intercalar de erva na época fria ( 4). A fenação é, ainda hoje, o processo mais comum seguido no concelho para conservar os excedentes de erva na Primavera, mas tem-se assistido, nos últimos anos, ao incremento da prática da ensilagem de erva. Assumindo esta técnica cada vez mais uma importância primordial nas explorações leiteiras do litoral Norte do País, por ser a alternativa mais aconselhável face à irregularidade das condições atmosféricas de Março a Maio. Contudo, o domínio da tecnologia da ensilagem de erva está longe de ser o melhor, havendo a consciência generalizada de que a qualidade destas silagens fica aquém das exigências alimentares do potencial genético das vacas leiteiras da região ( 5). No presente estudo, inquiriram-se 27 explorações leiteiras, no concelho de Vila do Conde, sobre a tecnologia adoptada na produção de silagens de erva e culturas utilizadas, avaliando-se posteriormente a qualidade das silagens obtidas. * Dados fornecidos pelo Dr. António Ventura da Organização de Produtores de Pecuária de Vila do Conde (OPP). PASTAGENS E FORRAGENS 20 57 2 – MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em 1998, tendo sido conduzido em duas fases: a) Na primeira fase, foram inquiridos 27 agricultores que já praticavam a ensilagem de erva, distribuídos por 15 freguesias do concelho de Vila do Conde. Uma caracterização sumária das explorações é apresentada no quadro 1. QUADRO 1 – Caracterização das explorações inquiridas Explorações (nº de ordem) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 Média Desvio-padrão Mínimo Máximo (1) Área (ha) 15 19 15 10 22 11 12,5 12 9 8 40 13,5 6,5 8 13,2 8 26,7 7 12 12 14 5,25 10,4 9,5 12 9,3 13,8 13,1 7,13 5,3 40 Nº parcelas 13 5 37 11 9 6 7 6 13 9 16 12 5 7 11 9 17 5 9 11 32 5 10 7 8 3 12 10,9 7,65 3 37 Efectivo bovino < 1 ano 1 - 2 anos Novilhas 47 82 49 9 20 16 13 24 15 15 120 30 15 24 23 8 90 15 30 7 19 10 6 6 45 22 48 29,9 28,0 6 120 5 22 11 2 6 2 25 1 4 1 7,9 8,8 1 25 32 61 42 17 50 19 26 18 24 6 95 13 5 7 26 11 42 6 20 32 20 7 26 7 32 24 27 25,7 19,8 5 95 Vacas leiteiras(1) 57 102 64 36 80 34 55 44 36 31 198 50 25 33 51 38 63 25 51 63 44 17 40 29 67 38 60 53 34,4 17 198 Inclui vacas em produção e vacas secas. 58 PASTAGENS E FORRAGENS 20 b) Na segunda fase, após a abertura dos silos, recolheram-se amostras e analisou-se a qualidade nutritiva das silagens através dos seguintes parâmetros: matéria seca (MS) em estufa de ar forçado a 60º durante 36 horas; pH segundo o método da Antrona; teor de proteína bruta (N × 6,25) e de azoto amoniacal (N-H3) pelo método de Kjeldhal, fibra insolúvel em detergente neutro (NDF) e energia metabolizável (EM). As diferentes determinações foram feitas segundo a metodologia de análise e de cálculo adoptada pelo laboratório da Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro e Minho (DRAEDM). 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 – Culturas utilizadas e tecnologia adoptada na produção de silagens Como se vê no quadro 2 as silagens obtidas tiveram origem em forragens verdes à base de azevém consociado com cereais praganosos (85% das amostras), incluindo por vezes leguminosas nas misturas, ou azevém estreme (15% das amostras). Constata-se que, em 70% dos casos inquiridos, os produtores fizeram um corte único para ensilar, o que está de acordo com a tendência registada nos últimos anos na redução do "verde" nos regimes alimentares da vaca, facilitando, dessa forma, o uso de estratégias e práticas alimentares na exploração. Do total dos inquiridos, 11% ensilaram directamente a forragem com teores médios de 23% MS; dos restantes, 33% recorreram à aplicação de aditivos (sal, melaços e ácido propiónico) para melhorar a conservação e 67% optaram pela pré-fenação com valores médios de 32% MS. Todavia, a aplicação de aditivos ou o recurso à pré-fenação não colmata, só por si, falhas básicas nas técnicas de ensilagem, tais como as registadas com o corte da forragem em estádios avançados de maturação (95% no espigamento), e o recorte grosseiro (85% acima dos 4 cm). 3.2 – Caracterização do valor nutritivo das silagens A qualidade nutritiva das silagens depende da qualidade da forragem original, fundamentalmente do seu conteúdo energético e proteico, bem como da qualidade da fermentação que tem lugar posteriormente no silo. A observação das figuras 1 a 6 permite constatar as variações dos valores em cada um dos parâmetros estudados. PASTAGENS E FORRAGENS 20 59 QUADRO 2 – Caracterização da forragem e tecnologia utilizada na ensilagem. 1 Data sementeira Setembro Espécie (s) semeada (s) Azevém Nº cortes 2 Data corte Maio Momento do corte Espigamento Tipo Máquina Autocarregante 2 Novembro Azevém 1 Início Maio Início espigamento Ensiladora erva 4a5 60 3 Outubro Azevém 3 Maio Espigamento Autocarregante 50 a 60 48 – – 4 Novembro 1 Abril Espigamento Autocarregante 20 72 - 1 Abril Espigamento Autocarregante 8 Directa – 4 Maio 24 - Maio Ensiladora erva Autocarregante 8 1 12 48 Luprosil 1 Inicío Maio Início espigamento Início espigamento Espigamento 20 Directa - 1 Maio Espigamento 10 Directa - 1 Maio Espigamento 6a8 Directa Sal Espigamento 6 24 - Espigamento 10 168 - 3 Directa Sal 8 24 Luprosil 5 96 Luprosil 5a6 Directa Melaço 5 48 Luprosil 3 Directa Sal 50 a 60 24 Luprosil 5a6 48 4 84 20 Directa Explorações Azevém trevo centeio ervilhaca Novembro Azevém trevo centeio × × 5 6 × × Outubro × Azevém centeio fava aveia × × 7 Outubro × × Azevém trevo centeio × × × 8 × Outubro × ervilhaca fava × Azevém aveia centeio × × × 9 Azevém aveia centeio Azevém aveia Outubro × × × 10 Novembro 11 Novembro × Azevém aveia centeio Azevém trevo aveia × × 1 × × 1 Fim Maio Maio 1 Maio Espigamento 2 Maio Espigamento 1 Início espigamento Espigamento × 12 Novembro × 13 Outubro Azevém serradela aveia × × × 14 Outubro 15 Novembro Azevém trevo aveia Azevém 16 Fevereiro Azevém aveia 1 Fim Maio Junho 17 Outubro Azevém aveia centeio ervilhaca 1 Maio Espigamento 1 Maio Espigamento Azevém trevo aveia ervihaca × 1 Maio Espigamento Azevém aveia ervilhaca × 1 Maio Espigamento Azevém aveia 2 Maio Azevém aveia centeio ervilhaca 1 Início Maio Início espigamento Espigamento Azevém centeio aveia 1 × × × × × × 18 Outubro × Azevém serradela aveia × Outubro × × 20 Outubro × × × × 21 Outubro 22 Outubro × × × 23 Outubro × × × × × 24 Outubro Azevém aveia 1 25 Novembro Azevém triticale aveia ervilhaca 2 × Início Maio Maio 26 Outubro Azevém centeio 1 Início Maio Maio 27 Outubro Azevém triticale centeio 2 Maio × × × × × × × 60 Colhedor de forragens de facas articuladas Ensiladora erva Ensiladora erva Ensiladora erva Colhedor de forragens de facas articuladas Ensiladora erva Ensiladora erva Ensiladora erva Colhedor de forragens de facas articuladas Autocarregante × × 19 Tamanho Pré-fenação Tipo de recorte (cm) (horas) aditivos 20 a 25 36 Sêmea × Ensiladora erva Colhedor de forragens de facas articuladas Colhedor de forragens de facas articuladas Autocarregante Sal / / Melaço Luprosil Início espigamento Colhedor de forragens de facas articuladas Ensiladora erva Ensiladora erva Ensiladora erva Espigamento Autocarregante 12 48 - Início espigamento Autocarregante 5a6 120 Luprosil Espigamento Espigamento Sal / / Luprosi 12 a 15 Directa l Sal / / Luprosil 5 48 - 5 96 - PASTAGENS E FORRAGENS 20 15% 19% 20- 25 25- 30 19% 30- 40 >40 < 3,6 3,6 a 4,0 4% 11% 4,0 a 4,4 4,4 a 4,8 48% 4,8 a 5,2 > 5,2 33% 15% 11% 11% < 20 15% FIGURA 1 – Distribuição to teor de MS (%) nas amostras de silagem por classes. FIGURA 2 – Distribuição de variação do pH nas amostras de silagens por classes. 22% 16% 9 a 11 11% 12 a1 3 29% 13 a 1 4 31% 3% 11 a 1 2 1 a 2 2 a 3 3 a 4 7% 4 a 5 5 a 6 19% 14 a1 5 > 6 19% 27% FIGURA 3 – Distribuição de variação da proteína bruta (% na MS) nas amostras de silagens por classes. 17% 4% 4% < 50 5 0 a 55 25% FIGURA 4 – Distribuição de variação do teor de amoníaco (% N total) nas amostras de silagens por classes. 4% 4% 15% < 9 9 a 10 5 5 a 60 41% 6 0 a 65 6 5 a 70 18% 16% > 70 10 a 11 11 a 12 37% > 12 32% FIGURA 5 – Distribuição de variação do teor de NDF (% na MS) nas amostras de silagens por classes. FIGURA 6 – Distribuição de variação da energia Metabolizável (MJ por kg MS) nas amostras de silagens por classes. Embora não tivesse sido possível avaliar a qualidade do material original, a análise dos indicadores em estudo, nomeadamente proteína bruta e energia metabolizável, reflecte de uma forma geral uma qualidade aceitável das silagens. No entanto, o corte em fase de maturação avançada das forragens (quadro 2) contribuiu para explicar esta qualidade, como foi verificado nos elevados teores em fibra das silagens, em média geral "NDF" = 64,7. Pela análise aos parâmetros da fermentação, o pH (figura 2) e o azoto amoniacal (figura 4), constata-se que em geral estes se situaram dentro dos níveis normais de silagens de boa qualidade. Assim, os valores de pH mais PASTAGENS E FORRAGENS 20 61 frequentes variaram entre os 4,0 a 4,5 e os valores do azoto amoniacal foram em geral inferiores aos 5% do N total ( 1). 4 – CONCLUSÕES Como conclusão deste estudo pode-se dizer que as silagens de erva que se fazem no concelho são de qualidade mediana, ficando o seu valor nutritivo aquém dos indicadores propostos por Chamberlain e Wilkinson para silagens de boa qualidade (1). Os agricultores que já adoptaram a ensilagem de erva nas explorações leiteiras do concelho de Vila do Conde fazem-no, predominantemente, com misturas à base de azevém e cereais praganosos e, maioritariamente, praticam corte único e fazem-no com pré-fenação. A melhoria da qualidade destas silagens passa pela adopção, pelos agricultores das seguintes práticas: ensilagem da forragem em estádios de maturação mais precoces, redução do tamanho das partículas e, no caso de ensilagens directas, a aplicação de conservantes. Também Dias-da-Silva, em trabalhos conduzidos na mesma região, chegou a conclusões semelhantes ( 5). AGRADECIMENTO Os autores agradecem ao colega Henrique Santos, responsável pela ERCA, a colaboração e as sugestões apresentadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 – CHAMBERLAIN, A. T.; WILKINSON, J. M.- Feeding the dairy cow. Kingston, Kent, UK, Chalcombe Publications, 1996. 2 – COOPERATIVA AGRÍCOLA DE VILA DO CONDE (CAVC) – Relatório e Contas de 1998. Vila do Conde, CAVC, 1999. 3 – INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA – Recenseamento Geral Agrícola de 1989. Lisboa, INE, 1990. 4 – MOREIRA, Nuno – Situação e Perspectivas da Produção Forrageira Intensiva no Entre Douro e Minho. "Pastagens e Forragens", Elvas, vol. 14/15, 1993/1994, p. 31-40. 5 – SILVA, Arnaldo Dias da – Utilização de Forragens e Pastagens Conservadas na Produção de Leite. "Comunicação apresentada na XIX Reunião de Outono da SPPF", Elvas, Novembro 1997. 62 PASTAGENS E FORRAGENS 20 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 63–74. CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE LINHAS DE TRIFOLIUM SUBTERRANEUM L. COM BASE EM ANÁLISE MULTIVARIADA* L. Goulão, Noémia Farinha♦, M. M. Tavares de Sousa♦, J. M. N. Martins Instituto Superior de Agronomia – Tapada da Ajuda – 1399 LISBOA CODEX ♦ Estação Nacional de Melhoramento de Plantas – Apartado 6 – 7351 ELVAS CODEX RESUMO Através da quantificação de sessenta e quatro caracteristicas morfológias, foi avaliada a variabilidade existente entre três cultivares australianas e quinze genótipos seleccionados de sete populações de trevo subterrâneo espontâneas na região mediterrânica (Penacova, Crato, D. Sancho, Vinhais, D. Dinis, S. Vincente e Ajuda), pertencentes à Coleccção de Germoplasma da Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, Elvas, Portugal. Através da aplicação de técnicas de análise multivariada, os genótipos foram agrupados com base em relações dissemelhança e, para cada grupo, foi determinado o conjunto de características que melhor o classificava. Os resultados obtidos das análises aglomerativa e em componentes principais revelaram uma clara separação dos genótipos ao nível da subespécie, além de evidenciarem uma maior variabilidade do que intrapopulacional. Os resultados foram idênticos reduzindo o número de características em análise para treze, eleitas em anos anteriores pelo seu maior poder discriminante observado para outro conjunto de genótipos. A elevada correlação cofenética (r = 0,87) observada entre as matrizes de similaridade obtidas, considerando todas as características e as trezes eleitas, indica que estas podem representar uma boa opção para uma caracterização mais simplificada de germoplasma de trevo subterrâneo. PALAVRAS-CHAVES: Trevo subterrâneo; Caracterização; Variabilidade; Taxonomia numérica. ABSTRACT Sixty-four morphological characters were used to estimate the variability among three australian cultivars and fifteen genotypes selected from seven subterranean clover populations spontaneous in the Mediterranean area, and maintained in the Estação Nacional de Melhoramento de Plantas Gene-Bank, Elvas, Portugal. Multivariated analysis allowed to group the genotypes based on calculated distances of dissimilarity and, for each cluster, the best set of characters wa determined. Both cluster and * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. 63 principal components analysis revealed a clear separation of the genotypes according to the subspecie, and a higher interpopulational variability was observed. Characterisation using the more discriminative thirteen characters found in previous years for a different set of genotypes, conducted to similar results. The high cophenetic correlation (r = 0.87) observed between matrices of similarity calculated from all characters and the thirteen selected ones suggests that these characters could be used for an easier characterisation of subclover germplasm. KEY WORDS: Subterranean clover; Characterisation; Variability; Numerical taxonomy. 1 – INTRODUÇÃO As pastagens à base de leguminosas assumem um papel relevante no contexto actual da agricultura portuguesa, já que contribuem para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, traduzindo-se em resultados económicos favoráveis e oferecendo simultaneamente boas perspectivas de protecção do ambiente, através da protecção contra a erosão do solo, contribuição para o seu enriquecimento em azoto e embelezamento da paisagem. David Crespo ( 1 ) estimou uma área potencial para prados permanentes de sequeiro melhorados à base de leguminosas de 1 600 000 ha e de 500 000 ha para prados temporários. De entre as espécies pratenses com interesse, o trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum L.) assume particular importância, já que se trata de uma espécie de ressementeira anual com elevado potencial produtivo, sendo a espécie pratense que tem conduzido a melhores resultados em condições semelhantes às da Península Ibérica. No entanto, as cultivares utilizadas são maioritariamente provenientes da Austrália e em condições mediterrânicas revelam graves problemas de persistência ( 9 ). Este problema levou a que se iniciasse em Portugal um programa de selecção a partir de ecótipos da flora espontânea, quer de Portugal, quer de países com condições climáticas semelhantes, com o objectivo de obter cultivares produtivas e bem adaptadas às condições agro-ecológicas específicas do nosso País. A região mediterrânica é o centro de origem do trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum L.), fonte de uma grande variabilidade genética. O conhecimento da diversidade de ecótipos ecologicamente adaptados ao meio onde se encontram é, para espécies recentemente domesticadas, como é o caso do trevo subterrâneo, a base do seu melhoramento. Os estudos de caracterização de germoplasma são, portanto, requisito prévio para uma correcta utilização das amostras em programas de melhoramento. 64 PASTAGENS E FORRAGENS 20 A aplicação de técnicas de análise multivariada mostra-se particularmente útil na caracterização de germoplasma, uma vez que permite agrupar genótipos com base em relações de dissemelhança calculadas para diversas características morfológicas observadas e, para cada grupo, determinar o conjunto de características que melhor o classificam. Este trabalho teve como objectivo avaliar a variabilidade existente entre quinze genótipos, seleccionados de sete populações de trevo subterrâneo pertencentes à Colecção de Germoplasma da Estação Nacional de Melhoramento de Plantas (ENMP), Elvas. Incluíram-se ainda três cultivares australianas, de uso generalizado em Portugal. Pretendeu-se ainda testar a caracterização destas populações, utilizando apenas treze características, eleitas em anos anteriores pelo seu maior poder discriminante observado para outro conjunto de genótipos, de modo a permitir uma caracterização mais simplificada do germoplasma de trevo subterrâneo. 2 – MATERIAL E MÉTODOS Os dezoito genótipos utilizados e suas proveniências encontram-se listados no quadro 1. QUADRO 1 – Genótipos estudados, populações a que pertencem e proveniência. Genótipo 19 População Penacova Proveniência Portugal Nº na colecção da ENMP 2895 Subespécie subterraneum 356 395 Crato " Portugal " 2011 " brachycalycinum " 493 D. Sancho Argélia 2403 brachycalycinum Vinhais Portugal 2201 brachycalycinum 559 616 627 D. Pedro D. Dinis Israel 2396 " " " Cultivar australiana obtida a partir da população D.Dinis brachycalycinum " brachycalycinum 702 724 725 766 S. Vicente " " " Portugal " " " 1991 " " " brachycalycinum " " " 839 854 855 869 Ajuda " " " Portugal " " " 1955 " " " subterraneum " " " Clare Cultivar australiana Seaton Park Cultivar australiana PASTAGENS E FORRAGENS 20 brachycalycinum subterraneum 65 O ensaio decorreu durante o ano agrícola de 1995-96, na denominada "Folha 6" da ENMP – Elvas. O ensaio foi delineado segundo um modelo de blocos completos, totalmente casualizados, de dezoito níveis (genótipos) com quatro repetições. A cada genótipo fez-se corresponder um conjunto de 12 plantas (10 plantas úteis e 2 de bordadura) separadas na linha de 25 cm e na entrelinha de 1 m. De um modo geral, a caracterização de cada genótipo no campo foi feita com base na observação de 5 plantas por bloco, escolhidas aleatoriamente. No quadro 2 encontram-se descritas as sessenta e quatro observações efectuadas na caracterização dos genótipos, reunidas pelo período em que foram quantificadas. A escolha das características teve como base os trabalhos de Gladstones e Collins (3) e de Farinha (2). Encontram-se assinaladas a itálico no mesmo quadro as treze características que revelaram, em anos anteriores (2), maior poder discriminante. QUADRO 2 – Observações efectuadas para caracterização dos genótipos. I – Características observadas à germinação (no estado de plântula) 1 – Comprimento do limbo da folha cotiledonar – CCOT (mm) 2 – Largura do limbo da folha cotiledonar – LCOT (mm) 3 – Comprimento do pecíolo da folha cotiledonar – PCOT (mm) 4 – Espessura do pecíolo da folha cotiledonar – EPCO (mm) 5 – Área da folha cotiledonar – ACOT (cm2) 6 – Comprimento do limbo do unifólio – CUNI (mm) 7 – Largura do limbo do unifólio – LUNI (mm) 8 – Comprimento do pecíolo do unifólio – PUNI (mm) 9 – Espessura do pecíolo do unifólio – EPUN (mm) 10 – Área do unifólio – AUNI (cm2) 11 – Mancha em crescente do unifólio – MCUN (0-6) 12 – Pilosidade da página superior do unifólio – PPUN (0-9) II – Características observadas da terceira folha trifoliada até ao início da floração 13 – Rotundidade do folíolo – ROTU (1-9) 14 – Chanfro da margem distal do folíolo – CHAN (1-9) 15 – Mancha central do folíolo – MCEN (1-4) 16 – Prolongamento da mancha central do folíolo – PROL (1-4) 17 – Banda uniforme do folíolo – BAND (1-9) 18 – Manchas vermelhas da folha – MVER (0-9) 19 – Intensidade da pigmentação antocianínica da folha – ANTF (0-9) 20 – Padrão da pigmentação antocianínica da folha – PANT (0-6) 21 – Pilosidade da página superior da folha – PILF (0-9) 22 – Cor da folha – CORF (1-9) III – Características observadas no início da floração 23 – Pilosidade do pecíolo – PILP (1-9) 24 – Pigmentação antocianínica da estípula – ESTI (0-9) 25 – Pilosidade do caule – PILC (1-9) 26 – Intensidade da pigmentação antocianínica do caule – ANTC (1-9) 27 – Número do nó da 1ª flor – NO1F 28 – Número de dias da sementeira à 1ª flor – 1FLO 29 – Número de dias da sementeira à floração média – FMED 66 (continua) PASTAGENS E FORRAGENS 20 (continuação quadro 2) IV – Características observadas à floração 30 – Vigor primaveril – VIGP (1-9) 31 – Compacidade – COMP (1-9) 32 – Homogeneidade – HOMG (1-9) 33 – Susceptibilidade a doenças – SDOE (1-9) 34 – Comprimento do folíolo da folha no 1º nó com flor – CF1N (mm) 35 – Largura do folíolo da folha no 1º nó com flor – LF1N (m) 36 – Comprimento do pecíolo da folha no 1º nó com flor – CP1N (mm) 37 – Espessura do pecíolo da folha no 1º nó com flor – EP1N (mm) 38 – Área da folha no 1º nó com flor – AF1N (cm2) 39 – Intensidade da pigmentação do estandarte – PEST (1-4) 40 – Intensidade da pigmentação do cálice – PIGC (0-9) 41 – Pilosidade do pedúnculo da inflorescência – PLPE (1-9) V – Características observadas à maturação 42 – Número de ramificações basais – RBAS 43 – Número de dias da sementeira à maturação final – FMAT 44 – Número de dias da floração média à maturação final – FMMA 45 – Comprimento do entrenó após a 1ª flor – ENT1 (mm) 46 – Espessura do entrenó após a 1ª flor – EEN1 (mm) 47 – Comprimento do pedúnculo da 1ª infrutescência – CP1F (mm) 48 – Espessura do pedúnculo da 1ª infrutescência – EP1F (mm) 49 – Diâmetro máximo do glomérulo no 1º nó floral – DGLO (mm) 50 – Peso da parte aérea da planta – P/PL (g) 51 – Percentagem de glomérulos enterrados – % ENT 52 – Número de sementes por glomérulo enterrado – S/GE 53 – Número de sementes por glomérulo não enterrado – S/GN 54 – Peso de sementes por glomérulo enterrado – PSEE (g) 55 – Peso de sementes por glomérulo não enterrado – PSEN (g) 56 – Número de sementes por glomérulo – NS/G 57 – Peso de semente por glomérulo – PS/G (g) 58 – Peso de 100 sementes enterradas – PCSE (g) 59 – Peso de 100 sementes não enterradas – PCSN (g) 60 – Peso de 100 sementes – HPECS (g) 61 – Peso total de sementes por planta – S/PL (g) 62 – Nº de sementes enterradas/Nº total de sementes – % NSE 63 – Peso de sementes enterradas/Peso total de sementes – % PSE 64 – Percentagem de sementes duras 3 meses após a colheita – % D3M O tratamento dos dados fez-se recorrendo a técnicas de taxonomia numérica. Apenas entraram nos cálculos aquelas características que mostraram diferenças significativas (> 99% confiança) entre genótipos e não correlacionadas acima de 95%. As relações de dissemelhança entre genótipos foram quantificadas através do cálculo da distância euclidiana média, a partir dos dados normalizados. A análise aglomerativa ("cluster analysis") das matrizes de distâncias euclidianas foi efectuada com base no método UPGMA ("unweighted pair-group method using arithmetic averages"). Procedeu-se ainda a análises em componentes principais a partir das matrizes de correlação. PASTAGENS E FORRAGENS 20 67 Os cálculos foram realizados recorrendo aos programas Statgraphics Plus (versão 7.0) para a análise de variância e NTSYS-pc (versão 8.0) (10) para a análise multivariada. 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO Após análise de variância (ANOVA), as observações homogeneidade (HOMG) e intensidade da pigmentação do estandarte (PEST) foram retiradas da análise, uma vez que não revelaram diferenças significativas entre genótipos. As observações área da folha cotiledonar (ACOT), área do unifólio (AUNI), número de dias da sementeira à floração média (FMED), largura do folíolo da folha no 1º nó com flor (LF1N), área da folha no 1º nó com flor (AF1N), número de dias da floração média à maturação final (FMMA), número de sementes por glomérulo não enterrado (S/GN), peso de semente por glomérulo enterrado (PSEE), peso de semente por glomérulo não enterrado (PSEN), peso de 100 sementes não enterradas (PCSN) e nº de sementes enterradas/nº total de sementes (% NSE) foram também retiradas, já que se mostraram altamente correlacionadas (r > 95%) com outras observações de mais fácil determinação. As relações de dissemelhança calculadas com base nas distâncias euclidianas, para as 50 características, conduziram ao agrupamento dos genótipos em 6 classes, representado na figura 1A. FIGURA 1 – Fenograma obtido através do método UPGMA aplicado à matriz das distâncias euclidianas entre os dezoito genótipos estudados, com base nas (A) – cinquenta características iniciais (r = 0,90), (B) – treze características eleitas (r = 0,93). 68 PASTAGENS E FORRAGENS 20 A análise aglomerativa evidencia uma clara distinção entre os genótipos pertencentes às subespécies subterraneum e brachycalycinum. A análise destes grupos sugere ainda uma maior semelhança entre genótipos provenientes da mesma população do que entre genótipos de populações diferentes. Assim, dentro da subespécie subterraneum, o grupo 1 é representado pelo genótipo 19 (população Penacova) e a cultivar Seaton Park, englobando o grupo 2 todos os genótipos pertencentes à população Ajuda (839, 854, 855 e 869). Entre os genótipos pertencentes à subespécie brachycalycinum, o grupo 3 é representado pelos genótipos 356 e 395 (população Crato), sendo o grupo 4 constituído pela cultivar D. Pedro e as populações D. Sancho (493), Vinhais (559) e D. Dinis (616 e 627). O facto da cultivar D. Pedro se encontrar neste grupo não é de estranhar, devido à sua origem. Por último, o grupo 5 é constituído pelos quatro genótipos da população S. Vicente (702, 724, 725 e 766), enquanto que do grupo 6 faz parte apenas a cultivar australiana "Clare". A análise em componentes principais permite projectar os genótipos num espaço bidimensional, e conduz a resultados semelhantes à análise aglomerativa (figura 2). Os vectores próprios calculados indicam que esta representação explica 56,8% da variância normalizada total. O cálculo dos vectores próprios associados a cada variável permite determinar aquelas que mais contribuem para a distinção entre genótipos (quadro 3). FIGURA 2 – Projecção de dezoito genótipos no plano definido pelas componentes principais 1 e 2. PASTAGENS E FORRAGENS 20 69 QUADRO 3 – Correlação entre as características submetidas a análise mutivariada e as três primeiras componentes principais. Componentes principais Características 1 1 – Comprimento do limbo da folha cotiledonar (CCOT) 2 – Largura do limbo da folha cotiledonar (LCOT) 3 – Comp. do pecíolo da folha cotiledonar (PCOT) 4 – Espessura do pecíolo da folha cotiledonar (EPCO) 6 – Comprimento do limbo do unifólio (CUNI) 7 – Largura do limbo do unifólio (LUNI) 8 – Comprimento do pecíolo do unifólio (PUNI) 9 – Espessura do pecíolo do unifólio (EPUN) 11 – Mancha em crescente do unifólio (MCUN) 12 – Pilosidade da página superior do unifólio (PPUN) 13 – Rotundidade do folíolo (ROTU) 14 – Chanfro da margem distal do folíolo (CHAN) 15 – Mancha central do folíolo (MCEN) 16 – Prolongamento da mancha central do folíolo (PROL) 17 – Banda uniforme do folíolo (BAND) 18 – Manchas vermelhas da folha (MVER) 19 – Intensidade da pig. antocianínica da folha (ANTF) 20 – Padrão da pig. antocianínica da folha (PANT) 21 – Pilosidade da página superior da folha (PILF) 22 – Cor da folha (CORF) 23 – Pilosidade do pecíolo (PILP) 24 – Pigmentação antocianínica da estípula (ESTI) 25 – Pilosidade do caule (PILC) 26 – Intensidade da pig. antocianínica do caule (ANTC) 27 – N.º do nó da 1.ª flor (NO1F) 28 – N.º de dias da sementeira à 1.ª flor (1FLO) 30 – Vigor primaveril (VIGP) 31 – Compacidade (COMP) 33 – Susceptibilidade a doenças (SDOE) 34 – Comp. do folíolo da folha no 1º nó com flor (CF1N) 36 – Comp. do pecíolo da folha no 1º nó com flor (CP1N) 37 – Espessura do pecíolo da folha no 1.º nó com flor (EP1N) 40 – Intensidade da pigmentação do cálice (PIGC) 41 – Pilosidade do pedúnculo da inflorescência (PLPE) 42 – N.º de ramificações basais (RBAS) 43 – N.º de dias da sementeira à maturação final (FMAT) 45 – Comprimento do entrenó após a 1.ª flor (ENT1) 46 – Espessura do entrenó após a 1.ª flor (EEN1) 47 – Comp. do pedúnculo da 1.ª infrutescência (CP1F) 48 – Espessura do pedúnculo da 1.ª infrutescência (EP1F) 49 – Diâmetro máximo glomérulo no 1.º nó floral (DGLO) 50 – Peso da parte aérea da planta (P/PL) 52 – N.º de sementes por glomérulo enterrado (S/GE) 56 – N.º de sementes por glomérulo (NS/G) 57 – Peso de sementes por glomérulo (PS/G) 58 – Peso de 100 sementes enterradas (PCSE) 60 – Peso de 100 sementes (PECS) 61 – Peso total de sementes por planta (S/PL) 63 – Peso de sementes enterradas/Peso total de sementes (% PSE) 64 – % de sementes duras 3 meses após a colheita (% D3M) Valor próprio Variação (%) Variação cumulativa (%) 70 2 3 0,737 0,800 0,127 0,617 0,768 0,817 0,740 0,838 -0,752 0,695 0,489 0,628 -0,245 -0,796 0,559 -0,892 -0,845 -0,867 0,808 -0,561 -0,016 0,380 -0,161 0,296 0,607 0,642 0,096 -0,656 0,292 0,900 0,850 0,809 -0,903 0,812 -0,135 -0,117 0,595 0,394 0,595 0,793 0,901 0,663 0,663 0,439 0,700 0,779 0,699 0,777 -0,894 0,015 0,052 0,040 -0,556 0,356 -0,252 -0,296 -0,446 0,061 0,308 -0,027 0,096 -0,505 0,627 0,402 -0,370 0,226 0,452 0,429 -0,373 0,403 -0,327 0,368 -0,242 -0,523 0,409 0,370 0,711 0,390 -0,188 0,179 0,019 0,287 0,222 -0,455 0,182 -0,283 0,492 0,017 0,492 0,325 0,208 0,438 0,446 0,537 0,504 0,376 0,272 0,368 -0,078 0,469 0,387 0,318 0,219 0,194 0,491 0,440 0,368 0,306 0,394 0,340 -0,089 0,096 0,286 0,276 -0,393 -0,034 0,069 0,025 -0,119 0,178 -0,099 -0,356 0,611 0,366 0,010 -0,620 0,381 0,417 -0,388 -0,089 -0,187 -0,285 -0,060 -0,034 -0,393 -0,594 -0,225 0,197 -0,225 -0,292 -0,164 -0,084 -0,008 0,145 0,385 0,414 0,478 -0,038 0,326 -0,413 21,628 43,267 43,267 6,784 13,568 56,825 4,892 9,784 66,609 PASTAGENS E FORRAGENS 20 As variáveis que mais contribuem para a primeira componente principal são, num sentido, o comprimento do folíolo e do pecíolo da folha no primeiro nó com flor (CF1N e CP1N) e o diâmetro máximo do glomérulo no primeiro nó floral (DGLO) e, no sentido contrário, a presença de manchas vermelhas da folha (MVER), o padrão da pigmentação antocianínica da folha (PANT), a intensidade da pigmentação do cálice (PIGC) e a razão peso de semente enterrada/peso total de semente (% PSE). Esta componente opõe, de um modo geral, características relacionadas com dimensões a características referentes a pigmentação. Verifica-se que a primeira componente principal é a responsável pela divisão das subespécies. De facto, algumas das características com maior peso na definição desta componente correspondem àquelas que são referidas na literatura como discriminantes das subespécies subterraneum e brachycalycinum (4, 5, 7). É o caso da intensidade da pigmentação do cálice e da percentagem de enterramento da semente. O maior diâmetro do glomérulo na ssp. brachycalycinum poderá estar relacionado com a maior dimensão da semente produzida por esta subespécie em relação à ssp. subterraneum. A observação de maiores dimensões da folha para a subespécie brachycalycinum não é inédita neste trabalho. Martin et al. (6) obtiveram resultados idênticos na caracterização de linhas de trevo subterrâneo pertencentes à flora espontânea espanhola. Também Muslera Pardo e Ratera Garcia ( 8 ) caracterizam a subespécie subterraneum pela menor dimensão das suas folhas. Para a definição da segunda componente principal é importante a mancha central do folíolo (MCEN), o vigor primaveril (VIGP) e o número de sementes por glomérulo (NS/G), num sentido, e o comprimento do pecíolo da folha cotiledonar (PCOT) e a intensidade da pigmentação antocianínica do caule (ANTC) no sentido inverso. Estas características separam os grupos 1 (19 e Seaton Park) e 5 (população S. Vicente) dos restantes. A terceira componente principal opõe principalmente a pilosidade do caule (PILC) às características referentes ao ciclo vegetativo: número de dias da sementeira à primeira flor (1FLO) e número de dias da sementeira à maturação final (FMAT), opondo as cultivares australianas Clare e Seaton Park aos genótipos de origem mediterrânica. Este aspecto salienta as diferenças de adaptabilidade existentes entre os dois ambientes agro-ecológicos, reforçando a ideia da necessidade de seleccionar genótipos em regiões com condições semelhantes às de Portugal. Para cada grupo foi determinado o conjunto de características que melhor o define (quadro 4). Com base na informação fornecida é possível seleccionar os genótipos mais promissores para integrar programas de melhora- PASTAGENS E FORRAGENS 20 71 mento. Neste caso, o grupo 4 parece agronomicamente mais interessante, já que é caracterizado por uma produção de semente e matéria seca significativamente superior à média. As populações D.Sancho, Vinhais e D. Dinis deverão assim continuar a ser exploradas na procura de genótipos superiores. Quadro 4 – Caracterização dos seis grupos em que foram agrupados os 18 genótipos Característica Média do grupo Média geral CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO 1 1FLO PILC ENT1 CP1F % PSE DGLO 170,025 7,900 51,860 95,901 0,561 8,840 181,786 3,131 78,758 145,426 0,342 11,874 6,900 5,250 4,688 3,500 12,750 1,500 2,593 2,013 3,207 0,000 4,638 6,763 Média geral PANT ANTF LUNI PIGC PLPE MVER 6,000 8,275 8,392 6,125 1,087 5,100 1,578 2,222 11,591 1,928 5,489 1,389 CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO 4 5,339 3,250 3,811 4,944 11,169 4,306 CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO 5 NS/G BAND S/GE MCEN ESTI ANTC Média do grupo CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO 2 CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO 3 ESTI SDOE S/GE CORF NO1F COMP Característica NS/G S/PL S/GE CP1F ENT1 P/PL 4,203 21,776 4,775 175,704 95,127 271,346 3,459 16,238 3,811 145,426 78,758 212,585 CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO 6 3,459 0,947 3,811 1,522 5,339 5,319 PECS PCSE CCOT EPCO NO1F CORF 1,013 1,263 13,325 0,913 13,650 7,000 0,729 0,856 10,663 0,736 11,169 4,944 Por outro lado, os genótipos pertencentes ao grupo 5 (população S. Vicente) destacam-se dos outros por possuírem um escasso número de sementes por glomérulo. Esta característica pode também ser verificada através da análise em componentes principais, já que esta mesma característica é responsável pela formação da 2ª componente principal, que conduz à separação destes genótipos. Este facto retira interesse à população D. Vicente em termos agronómicos, já que um elevado número de sementes por glomérulo é considerado um bom indicador da capacidade de produção total de semente, logo, um critério muito importante na selecção desta espécie ( 8 ). 72 PASTAGENS E FORRAGENS 20 A análise do mesmo material com base nas treze características discriminantes, assinaladas a itálico no quadro 2, conduziu a resultados semelhantes (figura 1B). Comparando a matriz de correlação entre os indivíduos caracterizados pelas cinquenta variáveis iniciais e pelas treze características a testar, obteve-se um elevado coeficiente de correlação cofenética (r = 0,87). A projecção das treze características no plano definido pelas componentes principais 1 e 2 (figura 3) mostra que as mesmas se encontram afastadas do centro dos eixos de inércia. De um modo geral, estas variáveis contribuem também fortemente para a definição das três primeiras componentes principais (quadro 3). Estas características são, portanto, uma boa opção para caracterizar os genótipos. FIGURA 3 – Projecção das treze características discriminantes no plano definido pelas componentes principais 1 e 2. Os pontos sobrepostos são: CP1N sob PLPE e ENT1 sob CP1F. As diferenças verificadas entre fenogramas podem ser resultado de alguma sobrepesagem devida à quantificação de várias características incidentes sobre a mesma parte da planta. 4 – CONCLUSÕES Os resultados obtidos permitem concluir que: – As técnicas de taxonomia numérica revelaram-se ferramentas potentes e de grande utilidade para caracterização de germoplasma do trevo subterrâneo. PASTAGENS E FORRAGENS 20 73 – As populações estudadas revelaram maior variabilidade interpopulacional do que intrapopulacional. – Os genótipos identificados como 493 e 616 revelaram características de elevado interesse agronómico, relacionadas com uma elevada produção de matéria seca e semente e foram posteriormente inscritos no Catálogo Nacional de Variedades, com a designação "Romel" e "Davel", respectivamente. – As treze características eleitas em trabalhos anteriores (2) mostraram-se adequadas para caracterizar este conjunto de genótipos possibilitando, em trabalhos futuros, que um maior número de genótipos possa ser mais facilmente caracterizado e avaliado, contribuindo decisivamente para o sucesso do programa de selecção preconizado para esta espécie. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 – CRESPO, D. G. – O Melhoramento de Pastagens e Forragens em Portugal. 1 – Perspectivas face à Integração Económica Europeia. "Melhoramento", vol. 28, 1994, p. 75-88. 2 – FARINHA, N. C. – Estudo da Variabilidade e das Características Discriminantes em Trifolium subterraneum L., Numa Perspectiva do Melhoramento da Espécie. Tese de Mestrado. Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, 1994. 3 – GLADSTONES, J. S.; COLLINS, W. J. – Naturalized subterranean clover strains of Western Australia. South Perth, Western Australian Department of Agriculture, 1984. (Technical Bulletin, n.º 64). 4 – KATZENELSON, J. – Biological flora of Israel. 5 – The subterranean clovers of Trifolium subsect. Calymorphum Katzn.; Trifolium subterranum L. (sensu latu). "Israel Journal of Botany", vol. 23, 1974, p. 69-108. 5 – KATZNELSON, J. & ZOHARY, D. – Seed dispersal in Trifolium sect. Calymorphum. "Israel Journal of Botany", vol. 19, 1970, p. 114-120. 6 – MARTIN, A. et al – El trébol subterráneo en algunas estaciones de la zona centro de España. Ensayos preliminares sobre la respuesta a la sombra y a las bajas temperaturas. "Pastos", vol. 5, 1970, p. 417-426. 7 – MASSON, P. et al – Essais de trèfle souterrain en Roussillon. Syntèse des résultats fourragers 1986-1991. Perpignan, Université, 1992. 8 – MUSLERA PARDO, E.; RATERA GARCIA, C. – Praderas y forrages – produccion y aprovechamiento. Madrid, Mundi-Prensa, 1991. 9 – QUINLIVAN, B. J. – El trebol subterráneo en el suroeste español. (Problemas de persistencia, selección varietal y producción de semillas). Madrid, INIA, 1978. (Comunicaciones. Serie: Produccion Vegetal, nº19). 10 – ROHLF, F. J. – Numerical Taxonomy and Multivariate Analysis System. Exeter Software. New York, Applied Biostatistics, 1993. 74 PASTAGENS E FORRAGENS 20 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 75–80. USO DE CEREAIS COM INTERESSE FORRAGEIRO COMO COMPLEMENTO ALIMENTAR NA PRODUÇÃO ANIMAL EXTENSIVA* José Coutinho, Benvindo Maçãs, Ana Sofia Dias, Nuno Pinheiro Estação Nacional de Melhoramento de Plantas – Apartado 6 – 7351 ELVAS CODEX RESUMO No Sul de Portugal, os sistemas de agricultura assentam na produção de cereais e na pecuária em regime extensivo. Nestas regiões, de influência marcadamente mediterrânica, a distribuição das chuvas e o perfil térmico condicionam o crescimento e desenvolvimento das plantas, provocando a ocorrência de períodos de carência alimentar para a produção animal em regime extensivo de sequeiro, sendo particularmente evidentes no Verão e no Inverno. Nos últimos dez anos o programa de melhoramento de cereais da Estação Nacional de Melhoramento de Plantas (ENMP) tem procurado desenvolver germoplasma com capacidade para complementar as espécies forrageiras nos períodos referidos. Tem sido possível seleccionar genótipos com crescimento inicial rápido, quando semeados no princípio do Outono, assegurando a cobertura alimentar no período de Inverno e, ao mesmo tempo, com boa capacidade de recrescimento após o pastoreio, para aproveitamento quer de feno quer de grão. Os cereais contribuem decisivamente para a alimentação animal, como forragem, restolho, grão e palha. Neste trabalho analisa-se o comportamento de três tipos distintos de germoplasma de triticale, no que respeita às potencialidades forrageiras – ciclos curtos, ciclos intermédios e ciclos tardios. Os triticales de ciclo intermédio parecem ser os mais apropriados para este tipo de utilização, ao mostrarem um bom crescimento no Inverno, assim como uma boa qualidade da palha e produção de grão. Quando comparado com outros cereais, o triticale apresenta outras vantagens, sobretudo resistência às doenças. A sementeira de campos de demonstração com triticales de dupla aptidão, envolvendo diversos agricultores em locais distintos do Sul do País, tem demonstrado a validade da utilização desta espécie como mais uma opção na alimentação de animais em exploração extensiva. PALAVRAS-CHAVES: Triticale; Dupla aptidão; Alimentação animal; Exploração extensiva. * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. Este trabalho foi elaborado no âmbito do projecto PAMAF 1020 – "Desenvolvimento e Selecção de Cereais com Interesse Forrageiro para Sistemas de Produção Extensiva (Alentejo e Algarve)". 75 ABSTRACT In the south of Portugal agricultural systems are based on cereal crops and livestock. In these regions, under strong mediterranean influence, rainfall and temperature patterns influence growth and development of plants, giving rise to some periods of animal’s feed shortage in rainfed conditions, namely during summer and winter. During the last ten years the cereal breeding program at ENMP developed germplasm with capacity to complement forage crops during those critical periods. As a consequence, it was possible to select genotypes with early growth, when are sown in the beginning of autumn, assuring feeding needs during winter and, at the same time, with good regrowth capacity after grazing, for hay or grain and straw production. Small grain cereals contribute definitively for livestock feeding as forage, stubble, grain and straw. In this paper it is analysed the behaviour of three different types of triticale germplasm on what concern to its forage potentialities: short, intermediate and large cycles. Intermediate triticales seem to be better adapted to this kind of utilisation, by joining a good growth during winter and also straw quality and grain yield. When they are compared with other cereals, triticale has other advantages like excellent resistance to diseases and adaptation to acid soils. The establishment of a network of demonstration trials in different farmers fields, in the south of the country, has shown the validity of this species, when it is used to feed animals directly in the field. KEY WORDS: Triticale; Double purpose; Livestock; Grazing. 1 – INTRODUÇÃO Grande parte dos solos do Alentejo são delgados, com baixos teores de matéria orgânica, apresentando, por isso, baixa produtividade (1 ). A estas circunstâncias acresce o facto de o declive ser, por vezes, acentuado com problemas graves de erosão. Os sistemas de agricultura praticados assentam na produção de cereais e na pecuária em regime extensivo. Na alimentação dos efectivos pecuários (bovinos e ovinos de raças autóctones), fornecida por prados naturais, restolho e palhas, verificam-se períodos de carência, especialmente no Inverno, em que as espécies que constituem os prados apresentam um crescimento lento. Por outro lado, a competitividade do sistema só será conseguida através do abaixamento dos custos de produção. A sementeira de cereais efectuada no cedo, em Outubro, logo após a ocorrência das primeiras chuvas, desde que sejam utilizados materiais convenientemente ajustados ao fim proposto de obtenção de "erva" ainda no Inverno, pode contribuir para a manutenção dessas produções a um nível competitivo assegurando, ao mesmo tempo, a sustentabilidade do sistema. Desde há alguns anos o Departamento de Cereais da Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, acompanhando a evolução do sector dos cereais, tem vindo a realizar estudos privilegiando, nomeadamente, a diversificação dos usos das diferentes espécies. 76 PASTAGENS E FORRAGENS 20 O melhoramento genético, como tecnologia científica, permite aproveitar o conhecimento de outras áreas da ciência, no sentido de criar o germoplasma mais adequado ao ambiente e às utilizações referidas anteriormente. Para o aproveitamento forrageiro preconizado, os genótipos devem possuir elevada capacidade para o crescimento inicial, permitindo o aproveitamento da biomassa produzida no Inverno, período de escassez de outras pratenses, e ao mesmo tempo com capacidade para rebentar a seguir ao pastoreio (2). A manipulação dos genes que comandam a regulação do desenvolvimento, i. e., os genes de vernalização e do fotoperíodo, ao modificar o padrão de desenvolvimento dos genótipos, possibilita a selecção de materiais com crescimento inicial rápido e ao mesmo tempo com capacidade para rebentar a seguir ao corte/pastoreio. 2 – MATERIAL E MÉTODOS No âmbito da execução do projecto PAMAF 1020 têm sido realizados ensaios em Elvas – ENMP, Herdade da Abóbada – Serpa e na Herdade do Paúl – Algarve. Os resultados apresentados foram obtidos nos anos agrícolas de 1997/98 e 1998/99. Os talhões ocuparam uma área de 15 m2 com três repetições. A densidade de sementeira foi de 350 grãos viáveis m-2. Cada ensaio inclui 25 genótipos: 19 triticales, um trigo mole, duas cevadas e três aveias. A sementeira ocorreu em meados de Outubro. Os objectivos específicos deste projecto visam: a) a identificação e selecção de germoplasma adequado a ser utilizado em pastoreio, b) a avaliação qualitativa e quantitativa do germoplasma, c) a demonstração do interesse da introdução destes materiais em campos de agricultores. 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO A vantagem da utilização dos cereais como forragem resulta da capacidade que têm em produzir elevada biomassa no Outono/Inverno, com baixos níveis de azoto. Os cereais para serem competitivos, particularmente o triticale, devem ser capazes de produzir elevada biomassa com custos relativamente mais baixos. Nos quadros 1, 2, 3 e 4, comparam-se os resultados obtidos com triticale, trigo, cevada e aveia. PASTAGENS E FORRAGENS 20 77 QUADRO 1 – Produção de matéria seca (kg/ha) no Inverno nos anos 1997/98 e 1998/99 em Elvas e no Paúl (Algarve). Genótipo ELVAS Espécie Tcl precoce Tcl intermédio Tcl tardio Trigo mole Cevada Aveia PAÚL (Algarve) 1997/98 1998/99 2239 + 269 1972 + 201 1657 + 139 1069 1893 + 354 2332 + 230 4135 + 817 3666 + 398 3076 + 143 3109 4165 + 221 3868 + 294 1997/98 1998/99 745 + 142 660 + 133 493 + 96 480 610 + 74 629 + 180 713 + 47 668 + 88 645 + 32 563 680 + 98 666 + 57 Tcl-Tricale. QUADRO 2 – Valores de proteína e fibra (% MS) no corte de Inverno no ensaio de Elvas em 1997/98 e 1998/99. Genótipo 1997/98 Espécie Tcl precoce Tcl intermédio Tcl tardio Trigo mole Cevada Aveia 1998/99 Proteína Fibra 17,0 + 0,6 18,2 + 0,8 18,8 + 1,4 20,0 16,4 + 0,4 15,4 + 1,2 23,2 + 0,7 22,8 + 0,8 20,6 + 1,9 20,4 22 + 0,07 21,8 + 0,4 Proteína 16,8 + 2,15 18,2 + 1,9 18,1 + 1,3 19,5 17,2 + 2,7 16,3 + 1,0 Fibra 18,7 + 0,9 18,1 + 0,7 16,5 + 0,7 18,8 20,0 + 0,5 18,8 + 0,7 QUADRO 3 – Produção total de biomassa (palha e grão) à maturação (kg/ /ha), avaliada no recrescimento após pastoreio no Paúl (Algarve) em 1997/98. Genótipo Espécie Biomassa à maturação (kg/ha) 2149 + 1017 2311 + 589 2750 + 1076 1587 550 + 127 1268 + 424 Tcl precoce Tcl intermédio Tcl tardio Trigo mole Cevada Aveia QUADRO 4 – Produção de grão e palha (kg/ha) no ensaio de Elvas em 1997/98. Genótipo Espécie Tcl precoce Tcl intermédio Tcl tardio Trigo mole Cevada Aveia 78 Produção de grão (kg/ha) Produção de palha (kg/ha) 2995 + 483 3263 + 568 3242 + 228 535 717 + 6 990 + 110 9559 + 1194 10522 + 854 12915 + 3025 7903 6937 + 649 12561 + 3422 PASTAGENS E FORRAGENS 20 A rapidez de crescimento, na fase inicial de desenvolvimento das diferentes espécies em estudo, foi avaliada, em meados de Dezembro na Herdade do Paúl – Algarve e em final de Janeiro na EMNP – em Elvas, através do corte de 1,25 m 2 em cada um dos talhões. No caso do triticale, porque se dispunha de três tipos diferentes de hábito de crescimento, agruparam-se os genótipos em ciclos curto ou precoce, intermédio e tardio. Os triticales de ciclo curto (seis genótipos) mostraram um bom crescimento inicial no Outono/Inverno, quando comparados com os outros grupos de triticale, trigo e cevada (quadro 1). A aveia (três genótipos) produz maior quantidade de biomassa, mas registam-se, frequentemente, ataques severos de Puccinia coronata e oídio. Ainda em relação aos triticales de ciclo curto, a produção de palha e de grão é mais baixa (quadro 4) quando comparada com os triticales de ciclos intermédio e tardio. De acordo com os resultados obtidos, parece que o hábito de crescimento é um valido critério de selecção, quando se pretende utilizar o triticale como forragem verde no Inverno. O grupo dos triticales de ciclo intermédio (oito genótipos), com pequena necessidade de vernalização, mostra um comportamento equilibrado, ao combinarem um bom vigor inicial com uma boa produção de palha e grão, além de apresentarem uma excelente capacidade de recrescimento após o corte no Inverno (quadro 3). Quanto à qualidade os resultados apontam, mais uma vez, a vantagem do triticale (quadro 2) quando comparado com a cevada e a aveia, espécies que têm sido usadas tradicionalmente como cereais de dupla aptidão. Os triticales de ciclo tardio (cinco genótipos), tal como o trigo, tiveram uma pequena produção de biomassa no Outono/Inverno (quadro 1). A produção de biomassa, nas fases iniciais de desenvolvimento, está ligada geneticamente ao hábito de crescimento dos materiais. Quando se pretende utilizar o triticale como cereal de dupla aptidão, os hábitos intermédios parecem ser os mais promissores. Por isso, esta é uma das características principais que está sendo usada como método de selecção no Departamento de Cereais da ENMP, a par da realização de cruzamentos entre diferentes "pools" genéticos ( 3 ). Complementarmente, "bulks" de material segregante têm sido submetidos a pastoreio por cabras, ovelhas e vacas, não só em propriedades de agricultores na região de Serpa e Serra do Caldeirão, como também nas Herdades do Paúl – S. Bartolomeu de Messines e Abóba- PASTAGENS E FORRAGENS 20 79 da – Vila Nova de S. Bento, no sentido de se seleccionarem plantas com ciclo de crescimento adequado e com capacidade de recrescimento após o pastoreio. 4 – CONCLUSÕES A manipulação de germoplasma através do melhoramento genético tem permitido a selecção de genótipos com adequado ciclo de crescimento, boa produção de biomassa e excelente capacidade de recrescimento. Os triticales de ciclo intermédio, no Sul de Portugal, apresentam o melhor comportamento quando utilizados como forragem. Como resultado deste intenso trabalho, a ENMP inscreveu no Catálogo Nacional de Variedades, em Fevereiro de 1999, o triticale cv. FRONTEIRA, com hábito de crescimento intermédio, destinado a ser utilizado como um cereal de dupla aptidão. Registe-se, ainda, a excelente resistência a doenças (ferrugens e septória) quando comparado com as aveias e outros cereais. O triticale mostra, também, vantagens nos solos ácidos onde o Quercus ilex e o Quercus suber dominam na paisagem e onde milhares de cabeças de gado são mantidas anualmente. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a colaboração das Direcções de Serviços de Agricultura da Direcção Regional de Agricultura do Algarve e do Alentejo que se têm revelado de extrema importância para a prossecução dos trabalhos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 – COUTINHO, J. – A plasticidade para a Data de Sementeira em Trigo Mole (T. aestivum L.) no Ambiente Mediterrânico do Sul de Portugal. Tese apresentada no INIA-ENMP para obtenção da categoria de Investigador Auxiliar. Elvas, J. Coutinho, 1998. 2 – MAÇÃS, B.; COUTINHO, J.; BAGULHO, F. – Forage and pasture potential of triticale growing in marginal environments: the case of semi-arid conditions. In: "JUSKIW, Patricia (ed.) – Proccedings of 4th International Triticale Symposium", Red Deer, Alberta, Canada, 26-31 July 1998, p. 140-152. 3 – MAÇÃS, B. et al. – Behaviour of triticale germplasm selected at ENMP by introgression of winter genes onto spring genotypes. In: "PINTO, H. Guedes; DARWEY, N.; CARNIDE, V. P. (ed.) – Triticale: today and tomorow". Dordrecht, Kluwer Academic Publishers, 1986, p. 285-289. 80 PASTAGENS E FORRAGENS 20 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 81–112. AUTOECOLOGIE ET VARIABILITE DE QUELQUES LEGUMINEUSES D’INTERET FOURRAGER ET/OU PASTORAL. POSSIBILITES DE VALORISATION EN REGION MEDITERRANEENNE* Aïssa Abdelguerfi♦♣, Meriem Laouar♣♠ ♦ ANPRF (Association Nationale pour le Pastoralisme et les Ressources Fourragères) – – INA – El Harrach – 16200 ALGER – ARGÉLIA ♣ CRSTRA – BP 77 – Draria Gouvernorat d’Alger – ARGÉLIA ♠ INRAA – El Harrach – 16200 ALGER – ARGÉLIA RESUME A travers des études de distribution des espèces spontanées de quelques genres de légumineuses d’intérêt fourrager et/ou pastoral, l’adaptation naturelle des espèces est mise en évidence. Selon les genres abordés, la répartition des espèces dépend des facteurs climatiques et/ou édaphiques (pH, texture du sol...). Les résultats mis en évidence permettent une utilisation rationnelle des ressources phytogénétiques en fonction de leur adaptation. Les essais de comportement et d’évaluation des caractéristiques agronomiques, phénologique et biométrique ont mis en évidence les aptitudes des espèces et leur vocation. L’étude de la variabilité des caractères biologiques des populations en relation avec quelques facteurs de leur milieu d’origine a permis de mettre en évidence la précocité des populations provenant des régions sèches et la tardiveté (cycle plus long) des populations des zones pluvieuses. Ces résultats permettent d’orienter les collectes futures en fonction des besoins. Les essais de stress hydrique appliqués à certaines populations de différentes espèces ont mis en évidence des comportements différents d’une espèce à l’autre et aussi à l’intérieur de la même espèce (d’une population à l’autre). L’accent est mis sur les génotypes pouvant avoir un grand intérêt dans l’amélioration de la production fourragère et/ou pastorale en région méditerranéenne. En effet, le Bassin Méditerranéen est constitué d’un ensemble de mosaïques de paysages et de systèmes de cultures et de productions. La diversité des milieux s’est accompagnée d’une diversité des pratiques et d’une diversité de la flore. Pour plusieurs légumineuses d’intérêt fourrager et/ou pastoral, le Bassin Méditerranéen constitue une région de diversification naturelle. * Conferência proferida na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. 81 Pour le moment, le patrimoine phyogénétique méditerranéen a servi beaucoup plus d’autres régions du globe. Les espèces locales utilisées ailleurs ont permis une révolution fourragère et/ou pastorale et certains pays sont devenus des exportateurs de produits animaux grâce à ces espèces végétales. Actuellement, l’une des contraintes à la valorisation du patrimoine phytogénétique méditerranéen d’intérêt fourrager et/ou pastoral est la production de semences. Cependant, les gènes d’adaptation et/ou de résistance aux stress biotiques et abiotiques doivent être préservés et valorisés au profit de tous les peuples du Bassin Méditerranéen. MOTS-CLÉS: Production pastorale; Procdution fourragère; Espèces spontanées; Ressources phytogénétiques; Adaptation. RESUMO Através de estudos de distribuição de espécies espontâneas de alguns géneros de leguminosas, de interesse forrageiro e/ou pratense, põe-se em evidência a adaptação natural das espécies. Dependendo dos géneros estudados, a repartição das espécies depende dos factores climáticos e/ou edáficos (pH, textura do solo,...). Os resultados apresentados permitem uma utilização racional dos recursos fitogenéticos em função da sua adaptação. Os ensaios de comportamento e de avaliação das características agronómicas, fenológicas e biométricas evidenciaram a aptidão das espécies e a sua vocação. O estudo da variabilidade dos caracteres biológicos das populações em relação com alguns factores do meio de origem permitiu pôr em evidência a precocidade das populações provenientes das regiões secas e o carácter tardio (ciclo mais longo) das populações das zonas de maior precipitação. Estes resultados permitem orientar as colheitas futuras em função das necessidades. Os ensaios de stress hídrico aplicado a determinadas populações de diferentes espécies evidenciaram comportamentos diferentes consoante as espécies e também no interior da mesma espécie (em diferentes populações). Destacam-se os genótipos que podem ter grande interesse no melhoramento da produção forrageira e/ou pratense na região mediterrânica. Com efeito, a Bacia Mediterrânica é constituída por mosaicos de paisagens, de sistemas de culturas e de produções. Para muitas leguminosas de interesse forrageiro e/ou pratense, a Bacia Mediterrânica constitui uma região de diversificação natural. Até ao momento, o património fitogenético mediterrânico serviu muitas mais regiões do globo. As espécies locais utilizadas noutras zonas permitiram uma revolução forrageira e/ou pratense e certos países tornaram-se exportadores de produtos animais graças a estas espécies vegetais. Actualmente, uma das restrições à valorização do património fitogenético mediterrânico de interesse forrageiro e/ou pratense é a produção de sementes. No entanto, os genes de adaptação e/ou de resistência aos "stress" bióticos e abióticos devem ser preservados e valorizados em benefício de todos os povos da Bacia Mediterrânica. PALAVRAS-CHAVES: Pratenses; Forragens; Espécies espontâneas; Recursos fitogenéticos; Adaptação. 82 PASTAGENS E FORRAGENS 20 1 – INTRODUCTION Dans les pays du Maghreb et plus particulièrement en Algérie, la production fourragère et pastorale est très limitée et constitue souvent un frein au développement de l’élevage. L’alimentation du cheptel repose sur les productions des parcours, des jachères et des sous-produits de la céréaliculture. Dans les pays du nord de la Méditerranée, l’excès de production (animale et végétale) a amené les décideurs à promouvoir le retour à la jachère et à l’utilisation des terres de façon extensive. Les espèces spontanées d’intérêt fourrager et pastoral, particulièrement les légumineuses, occupent une place importante dans la flore du Bassin Méditerranéen. L’une des voies les mieux indiquées est la valorisation de ces ressources phytogénétiques par leur introduction au niveau des terres réservées aux cultures fourragères ou aux niveaux des jachères, des parcours et steppes. Dans ce sens, plusieurs missions de prospection et de collecte organisées par l’Australie et plus particulièrement l’Australie du Sud, en région méditerranéenne, ont permis la mise au point de plusieurs cultivars de différentes espèces (luzernes annuelles, trèfles, graminées...) et leur valorisation à grande échelle. Afin de valoriser de façon rationnelle ces ressources phytogénétiques, il est indispensable de connaître leur distribution, leur adaptation, leur variabilité et leur potentialité agronomique. C’est dans cette optique qu’en Algérie des travaux de prospection-collecte, d’autoécologie, de comportement et d’évaluation de la variabilité, ont été entrepris depuis près de 25 ans. A travers des travaux menés en Algérie, nous présenterons brièvement les résultats essentiels de distribution, de comportement et de variabilité chez les genres Medicago, Hedysarum, Scorpiurus, Trifolium et Onobrychis. L’accent sera mis sur les espèces ayant des potentialités (adaptation, production...) particulières et pouvant faire l’objet de sélection au niveau du Bassin Méditerranéen. 2 – AUTOECOLOGIE ET DISTRIBUTION Le premier inventaire sur les espèces spontanées d’intérêt fourrager et/ /ou pastoral a été réalisé en 1972 ( 82). Bien que très limité, il a permis de mettre en évidence l’importance et la diversité des espèces spontanées d’intérêt fourrager et/ou pastoral. PASTAGENS E FORRAGENS 20 83 L’autoécologie a été réalisée, dans un premier temps, pour sept espèces de Medicago sur 40 sites (25), dans un second temps, pour dix-sept espèces sur 202 sites (3, 14, 18). Ces travaux d’autoécologie ont été affinés par la suite pour le complexe d’espèces Medicago murex-M. heterocarpa (16), pour les sous-espèces de M. polymorpha, M. truncatula et M. orbicularis (83), et pour le complexe d’espèces Medicago ciliaris-M. intertexta ( 129). Un début de comparaison entre les espèces des genres Medicago, Scorpiurus, Hedysarum et Trifolium a déjà été réalisé (1). Les travaux d’autoécologie ont aussi été réalisés sur neuf espèces du genre Hedysarum (19, 21, 22 ), sur trois espèces du genre Scorpiurus (58, 59, 60), sur vingt-sept espèces du genre Trifolium (175, 176, 177, 178), et sur quatre espèces du genre Onobrychis ( 17). 2.1 – Fréquence et dispersion des espèces Medicago polymorpha, Scorpiurus muricatus subsp. sulcatus, Trifolium scabrum, T. angustifolium et Onobrychis caput-galli sont fréquentes en Algérie, elles sont rencontrées sur plus de 65% des relevés. Certaines espèces sont rares et parfois même très rares telles M. soleirolii, M. arabica, Hedysarum perrauderianum, T. phleoïdes, T. repens et T. squamosum. Scorpiurus sulcatus (49) et M. polymorpha (74, 77) sont les plus fréquentes au Maroc. En Sicile, M. polymorpha et M. orbicularis sont le plus souvent rencontrées (159); la première espèce citée est la plus fréquente en Corse, Sardaigne, Grèce, Espagne et Portugal (80, 96, 161, 163). En Syrie, T. campestre, T. scabrum, M. polymorpha var. vulgaris, M. rigidula, T. stellatum, M. minima, M. polymorpha var. polymorpha et T. argutum sont les plus fréquentes (90). M. polymorpha, M. truncatula, M. orbicularis, H. glomeratum, S. muricatus subsp. sulcatus, T. angustifolium, T. scabrum et O. caput-galli semblent avoir la dispersion la plus large en Algérie. Si pour les genres Medicago, Scorpiurus et Trifolium la répartition des espèces est assez large, il semble y avoir pour certaines espèces du genre Hedysarum une localisation régionale: H. coronarium dans le Nord-Est et H. flexuosum dans le Centre Nord du pays. Chez Onobrychis, il est très rare de rencontrer 2 espèces ensemble (4,8% des sites), ce qui n’est pas le cas pour les autres genres où il est très fréquent de rencontrer plusieurs espèces au niveau d’un même site ou relevé. Chez Scorpiurus, sur 8 relevés seulement (6%), nous avons rencontré les 3 84 PASTAGENS E FORRAGENS 20 espèces ensemble. Chez Hedysarum, sur 17 relevés (15%) nous avons trouvé 2 espèces ensemble, bien qu’il semble très rare de rencontrer plus de 2 espèces sur le même site. Chez Medicago et Trifolium, il est très fréquent de trouver plusieurs espèces sur le même relevé; nous avons trouvé jusqu’à 8 espèces de Medicago et jusqu’à 12 espèces de Trifolium, et parfois plus par site. Pour ces deux derniers genres, il est rare de trouver une seule espèce par site. Au Maroc, Bounejmate et al. (74) ont rencontré jusqu’à 6 espèces de Medicago par site. 2.2 – Pluviométrie H. carnosum pousse dans les oueds sous des pluviométries très réduites (150 mm). M. laciniata, M. polymorpha et S. muricatus subsp. sulcatus peuvent pousser sous des pluviométries assez faibles (200-220 mm). Pour le genre Trifolium, T. scabrum est l’espèce qui pousse sur sous les plus faibles pluviométries (340 mm). La résistance à la sécheresse pourrait être liée en partie à la pilosité des tiges et des feuilles (36). H. flexuosum, H. coronarium, M. arabica, M. soleirolii, M. murex, M. intertexta, S. muricatus subsp. subvillosus, T. isthmocarpum, T. glomeratum, T. striatum, T. nigrescens et T. subterraneum se développent dans les régions les plus arrosées. M. laciniata est signalée dans les régions sèches (117, 152). H. carnosum est mentionnée dans les zones prédésertiques du Constantinois (158). M. arabica et M. soleirolii sont indiquées dans le nord-est de l’Algérie, région la plus humide du pays ( 154). T. campestre ( 95) et T. arvense (153) sont signalés dans les prairies humides. H. coronarium est indiquée sous climat méditerranéen très doux ( 172). Au Maroc, Bounejmate et al. (74, 77) ont rencontré M. intertexta et M. scutellata dans les zones à pluviométrie élevée et M. laciniata, M. littoralis et M. tornata dans les zones à faible pluviométrie. En Sicile, M. arabica, M. minima et M. rigidula sont plus fréquentes quand la pluviométrie augmente (160 ). 2.3 – Altitude et température M. truncatula, M. orbicularis, M. aculeata, M. minima, T. scabrum, T. tomentosum, T. stellatum, T. fragiferum, S. muricatus subsp. sulcatus, O. argentea et O. alba sont plus fréquentes aux fortes altitudes contrairement à M. ciliaris, M. intertexta, M. littoralis, T. angustifolium, T. campestre, S. vermiculatus, S. muricatus subsp. subvillosus, H. coronarium et H. pallidum PASTAGENS E FORRAGENS 20 85 qui se développent à des altitudes variables. Au Maroc, Thami-Alami et Cremer-Bach (171) n’ont trouvé que M. aculeata, sur le site le plus élevé (2270 m d’altitude). H. glomeratum, H. pallidum, H. coronarium et H. naudinianum (22) ainsi qu’O. argentea et O. alba (17) poussent dans des régions à hiver froid à très froid. Chez Medicago et sur 30 sites où les données de températures sont disponibles, M. polymorpha, M. truncatula, M. aculeata et M. orbicularis se rencontrent à des moyennes minimales du mois le plus froid (m) de 0,2 °C, tandis que M. intertexta ne se rencontre qu’au niveau des sites à m supérieur à 5 °C (5). Au Maroc, M. intertexta qui est limitée par les températures minimales du mois le plus froid et les températures maximales du mois le plus chaud, ne se trouve que dans les zones à hiver et été doux, alors que M. laciniata pousse uniquement dans les zones ayant une forte température estivale (77). En Sicile, M. truncatula se rencontre aussi dans les milieux montagnards à hiver très rigoureux; M. ciliaris, M. scutellata et M. intertexta se trouvent dans les zones à hiver chaud (160). En Corse et dans la péninsule ibérique, M. rigidula et M. minima sont associées aux zones méditerranéennes froides d’altitude, alors que M. truncatula ou M. polymorpha sont liées aux zones de plaine plus chaudes (162, 163). 2.4 – Conditions édaphiques Les cinq genres ont des espèces qui se développent sur des sols à pH basique. Seuls des trèfles et quelques medics peuvent pousser sur des sols acides. Les genres Hedysarum et Scorpiurus se développent sur des sols à pH neutre à alcalin, alors qu’Onobrychis ne poussent que sur des sols à pH alcalin. M. murex, M. arabica, M. soleirolii, M. polymorpha, M. ciliaris et M. truncatula ont été rencontrées sur des sols à pH acide à légèrement acide (5,8 à 6,8). T. campestre, T. cherleri, T. glomeratum, T. pallidum, T. squarrosum, T. isthmocarpum et T. nigrescens semblent préférer les sols légèrement acides ou neutres à légèrement basiques (177). H. flexuosum a été rencontré sur un sol à pH égal à 6,4. Il faut préciser cependant, que les sols acides sont assez rares en Algérie. Selon Alvarez et Morey ( 34), T. campestre se localise de préférence sur les sols à pH élevé alors que T. subterraneum est signalé sur les sols à pH neutre ou légèrement acide à acide. Au Maroc, M. tornata et M. murex se rencontrent sur des sols à pH faible, alors que M. laciniata et M. littoralis 86 PASTAGENS E FORRAGENS 20 semblent préférer les sols à pH élevé (77 ). En Sicile, M. arabica préfère les sols à pH acide à neutre, alors que M. ciliaris, M. intertexta et M. scutellata semblent se limiter aux sols à pH alcalin (160). Au Portugal, Carneiro et Serrão (80) mentionnent la présence de M. polymorpha, M. arabica et M. murex sur des sols à pH faible (5,0 à 6,5). Hernandez et al. (116) ont mentionné T. subterraneum, T. dubium, T. cernum, T. campestre, T. arvense, T. striatum et T. glomeratum dans une communauté caractérisée par des sols acides (pH = 5 à 6) et de faibles concentrations en P, Ca, Mg, K et Na dans le centre ouest de l’Espagne. Les genres Medicago et particulièrement Hedysarum, grâce à M. ciliaris, M. scutellata, M. minima et H. carnosum et H. spinosissimum, peuvent aller sur des sols assez salés (à très salés pour Hedysarum). Les Trifolium, les Scorpiurus et les Onobrychis semblent limités sur ce plan. T. campestre fuit les milieux salés (153), alors que H. carnosum pousse sur les terrains gypseux et salés ( 66), et sur les sols argileux et salés en association avec les groupes écologiques halophytes ( 155). Le groupement à Daucus aureus et M. ciliaris appartient aux sols mal drainés et plus ou moins salés (94). Le Houerou (133) a mentionné, dans son étude sur les plantes tolérantes à la salinité et ayant une valeur économique au niveau du Bassin méditerranéen, Melilotus indica (L.) All., Trifolium resupinatium L. et Medicago polymorpha. Maranon et al. ( 131) ont mentionné, dans leur étude sur la tolérance à la salinité des légumineuses du delta de Guadalquivir (sud-ouest de l’Espagne), Melilotus messanensis (L.) All., M. segetalis (Brot.) Ser., M. indica (L.) All., Trifolium resupinatum L., T. tomentosum L., T. squamosum L., T. ornithopodioides L., Medicago polymorpha L. et Scorpiurus vermiculatus L. comme celles présentant un intéressant potentiel de résistance. Moreno et al. (151) ont mis en évidence, dans Las Marisma (Espagne), que la salinité du sol, le régime des inondations, le stress hydrique et le rapport calcium/sodium sont les facteurs déterminants de la distribution et l’abondance des espèces. Dans cette région marécageuse à l’embouchure de Guadalquivir, M. polymorpha présente une certaine tolérance à la salinité alors que T. isthmocarpum est assez sensible. T. resupinatum est très tolérant à la salinité. Rogers et al. (164), sur une solution contenant 0-100 mol NaCl/m 3, ont montré que T. tomentosum, T. squamosum et T. alexandrinum sont plus tolérants à la salinité que T. subterraneum. T. arvense, T. vesiculum, T. angustifolium et T. pratense se sont révélés extrêmement sensibles à la salinité. PASTAGENS E FORRAGENS 20 87 Les cinq genres ont des espèces qui peuvent se développer sur des sols très lourds ou très légers: M. ciliaris, M. intertexta, M. scutellata, M. aculeata, H. coronarium, H. flexuosum, S. vermiculatus, O. argentea et plusieurs espèces de Trifolium poussent sur des sols lourds à très lourds; elles s’opposent à M. soleirolii, M. tornata, M. littoralis, M. laciniata, M. minima, M. arabica et quelques espèces de Trifolium. Andrew et Heley ( 37) ont noté la présence de M. arabica sur sols bien drainés. M. ciliaris et M. intertexta sont signalées sur des sols lourds ( 117, 152 ). S. vermiculatus préfère les sols argileux ( 153). H. coronarium est signalée sur sol limono-argileux ( 172) et sur marnes assez bien drainées ( 91). Selon Jaritz ( 123), T. subterraneum n’est pas très exigeante en texture de sol; selon Masson et Gintzburger ( 141), elle s’adapte aux sols les plus argileux alors que Bounejmate et Jaritz ( 75 ) indiquent qu’elle s’adapte à des textures variables de préférence limono-sableuses. Les genres Medicago, Hedysarum, Scorpiurus et Trifolium ont certaines espèces capables de pousser sur des sols humifères (aucune trace de calcaire) et d’autres sur des sols très riches en calcaire total (jusqu’à 76%). Il en est de même pour les cailloux en surface, la pente et l’exposition. Ehrman et Cocks ( 93) ont montré, dans leur étude sur l’écogéographie et la distribution des légumineuses annuelles en Syrie, que O. crista-galli est alcalophyle et s’oppose à T. glanduliferum qui est neutophile. 3 – ASPECTS DE PHYSIOLOGIE ET DE VIROLOGIE Lors des différentes prospections des collectes de matériel végétal ont été effectuées dans le but de réaliser des études de comportement et d’évaluation de la variabilité mais aussi en vue de constituer des banques de semences. L’autoécologie des espèces donne une idée sur l’adaptation naturelle des espèces et sur leur possibilité d’utilisation en fonction de quelques facteurs du milieu. Afin de mieux connaître les potentialités du matériel végétal, il nous a semblé utile de faire subir à ce matériel certains stress biotiques. En outre, des études sur les aspects se rapportant à la fixation symbiotique, à la dureté des graines et à la virologie ont été aussi entreprises. 88 PASTAGENS E FORRAGENS 20 3.1 – Stress hydriques L’eau est un puissant facteur de production en Algérie. Cet élément est le facteur le plus déterminant dans la production végétale. Mettre en évidence des populations adaptées au manque d’eau est une priorité pour les chercheurs Algériens. Au Maghreb, l’eau constitue le facteur principal de la limitation de la production végétale. Dans ce sens, les premiers travaux sur le stress hydrique ont débuté en 1979. Hammadache ( 114) a montré sur un ensemble d’espèces de Medicago, Scorpiurus, Vicia, Lotus et Melilotus, que Vicia secula est la plus tolérante contrairement à Scorpiurus muricatus. Siakhène (170), Madjoubi (139), Ouiten (157) et Ouchai (156) ont évalué l’effet du stress hydrique sur différents cultivars australiens de medics et sur plusieurs populations locales de Medicago provenant d’anciennes prospections (INA, INA-ITGC). La collection de Medicago de 1988 (réalisée par l’INA, l’ITGC et l’INRA de Montpellier dans le cadre du projet de Sidi Bel Abbès) a commencé à faire l’objet d’étude à partir de 1990/91. Dans ce sens, Hamidi (113) a étudié la production de matière sèche, la surface foliaire, la transpiration et l’efficience d’utilisation de l’eau chez 11 espèces de medics. M. truncatula, M. aculeata et M. scutellata semblent bien valoriser l’eau. M. orbicularis et M. polymorpha ont une position intermédiaire. M. intertexta, M. murex, M. arabica et M. minima sont les moins efficientes. M. laciniata semble présenter la meilleure efficience de l’eau (113). Ces résultats sont à prendre avec prudence, compte tenu du fait que le comportement de chaque espèce est confondu avec la population étudiée. Aboudaoud et Aït Oufella (24) ont étudié la réponse au stress hydrique de quelques populations de medics en vue de mettre en évidence quelques critères de résistance à la sécheresse. M. aculeata (sur la face inférieure) et Serena (sur la face supérieure) présentent la plus forte densité de stomates. Snail présente la plus faible densité sur les deux faces, mais a les plus grandes ouvertures de stomates. M. intertexta, M. orbicularis et M. aculeata ont présenté un grand niveau de turgescence des feuilles, ce qui indique une bonne conservation de l’eau par ces génotypes (24). Sous stress, l’accumulation de proline s’accroît chez toutes les espèces. Cependant, M.truncatula a multiplié par 6,41 fois et M. polymorpha par 4,91 fois leur teneur en proline par rapport au régime humide; alors que la teneur en proline de Serena et de Snail a faiblement augmenté (24). PASTAGENS E FORRAGENS 20 89 Derguine et Hattab (92) ont étudié l’effet du stress hydrique et de la fertilisation phosphatée sur cinq populations de M. truncatula. La population provenant de la région la plus pluvieuse (1300 mm) est la plus affectée par le stress hydrique avec une réduction de plus de 67% de la production totale de matière sèche. Par ailleurs, les deux populations dont la pluviométrie de leur milieu d’origine est la plus faible, 359 mm et 260 mm, sont les moins sensibles au stress hydrique avec une réduction du pourcentage de matière sèche, respectivement, de 51% et 48% ( 92). Plusieurs autres études ont été réalisées sur le stress hydrique. Haddadj (111) a travaillé sur dix populations de M. ciliaris et Mohelbi et Sansal (150 ) ont étudié dix populations de M. aculeata. Abdellaoui et Kadi (23), sur dix populations de M. intertexta, ont étudié l’évolution de la teneur en proline et en sucres solubles sous l’effet du stress hydrique. Bettahar et Bennour (65), sur dix populations de M. ciliaris, ont évalué la teneur en proline, en protéines hydrosolubles et en sucres éthanolosolubles sous stress hydrique. Salem et Zouaoui (166 ) ont montré, à travers des caractères physiologiques et biochimiques, que M. orbicularis et M. truncatula sont plus résistantes au stress hydrique que M. ciliaris et particulièrement M. intertexta. Chebouti (85) a entrepris un travail comparatif sur l’effet du stress hydrique (appliqué au stade végétatif et au stade floraison) sur la production de feuilles, tiges, racines, gousses et graines chez quatre populations de M. aculeata, M. orbicularis et M. truncatula. Le stress hydrique provoque une diminution des poids des racines et des nodules, ainsi que la réduction du nombre total des nodules chez les quatre populations des trois espèces de Medicago (86). 3.2 – Stress salins Les travaux sur les stress salins sont très réduits en Algérie. Cependant, Bekki (50) a étudié le comportement des espèces de luzernes annuelles et de leurs symbiotes dans un environnement salé. Hadadji (110) a évalué l’effet de la salinité sur la croissance de certaines souches de Rhizobium leguminosarum. La souche de Rhizobium ABS7 isolée des sols algériens constitue avec M. ciliaris un couple halotolérant (54). Bekki (53) a évalué l’effet de la salinité sur la fixation d’azote chez l’association Rhizobium-Medicago. La sensibilité du partenaire bactérien à l’état libre et sous forme de microsymbiote a été étudiée. Un essai au champ a été réalisé sur les bordures de la Sebkha de Misserghine à l’ouest de 90 PASTAGENS E FORRAGENS 20 l’Algérie. M. ciliaris pousse à l’état spontané sur les bordures de la Sébkha avec Sueda fructicosa. Bekki (52) a montré qu’au fur et à mesure que la salinité du sol augmente, le nombre de Rhizobium diminue et le Medicago disparaît totalement dans les zones trop salées; le Rhizobium est plus résistant à la salinité que son partenaire végétal et il peut croître sur des milieux de culture contenant des concentrations en NaCl allant jusqu’à 1,1 mol ( 52). Bousbaa (78 ) a isolé des souches locales de Rhizobium, a étudié la symbiose Rhizobium-Hedysarum coronarium et a essayé de fabriquer un inoculum en utilisant des supports locaux. Baha et al. (39), en analysant la diversité au niveau d’une vingtaine de souches de R. meliloti isolées des sols algériens, ont constaté que l’halotolérance est très variable d’une souche à l’autre (optimum de croissance de 1,0 mol à 1,2-1,6 mol de NaCl) mais qu’elle est nettement plus importante que celles des souches de références; l’étude de la résistance à la chaleur a révélé que toutes les souches tolèrent une température de 40 °C et quelques unes tolèrent 43 °C. 3.3 – Dureté des graines La dureté des graines de Légumineuses a été abordée par M’Hammedi Bouzina ( 143) sur différentes espèces des genres Medicago, Scorpiurus, Trifolium, Onobrychis et Lotus. Les espèces de Medicago, de Trifolium et de Scorpiurus ont un fort pourcentage de graines dures (plus de 75 p. cent). Pour lever cette dormance tégumentaire, plusieurs traitements chimiques et physiques ont été essayés et le plus efficace semble celui de l’azote liquide (143). Pour le genre Scorpiurus, les résultats de dureté et de vitesse de germination ont pu être reliés aux conditions du milieu d’origine des populations (144, 145, 146, 147, 148, 149). Belattar (55) a étudié la dureté des téguments en relation avec la morphologie de la graine chez les espèces annuelles de Medicago. 3.4 – Fixation symbiotique L’aspect fixation azotée est un élément important dans le choix des Légumineuses. Saaïdia (165) a mesuré in situ, sous deux étages bioclimatiques différents, l’activité nitrogénasique chez des espèces de trois genres spontanés: Lupinus, Trifolium et Hedysarum. PASTAGENS E FORRAGENS 20 91 Certaines espèces semblent avoir un fort pouvoir fixateur de l’azote atmosphérique. Hacène (109 ) a étudié cet aspect en conditions expérimentales sur entre autres M. truncatula et H. flexuosum. 3.5 – Aspects de virologie Dans le Monde, Wahyuni et Francki (173 ) ont étudié les réponses de quelques légumineuses pastorales à 16 souches du virus de la mosaïque du concombre (CMV). Les symptômes ont été décrits sur différents cultivars australiens de M. polymorpha, M. truncatula, M. rugosa, M. scutellata et M. littoralis. Jones et Nicholas (125) ont abordé l’infection et la persistance du virus de la mosaïque de la luzerne (AMV) et ses effets sur la productivité de M. polymorpha; les infections réduisent de 13 à 35% et de 7 à 35% le rendement en fourrage et en semence respectivement. Jones (124) a précisé les pertes occasionnées aux légumineuses pastorales par trois virus. L’AMV provoque des diminutions de 20 à 49% de la production de fourrage et de racines chez T. subterraneum. Le CMV diminue de 78 à 90% la production de fourrage et de racines chez M. murex et de 56 à 82% chez M. polymorpha. Le virus de la mosaïque jaune du haricot (BYMV) provoque des pertes de production de fourrage et de racines de l’ordre de 38 à 61% chez M. polymorpha. En outre, l’AMV et le BYMV entraînent des diminutions de la taille des graines et du rendement en graines; chez M. polymorpha le CMV provoque une chute de rendement en graines de l’ordre de 94% (124). Pathipanawat et al. (159) ont montré que l’AMV, le CMV et BYMV sont transmis par les semences de luzernes annuelles; par contre seul l’AMV est transmis par le pollen. Les essais ont été menés sur M. murex, M. polymorpha, M. orbicularis, M. rugosa, M. scutellata, M. sphaerocarpus, M. tornata et M. truncatula. En Algérie, les travaux de virologie abordés sur les medics sont menés dans deux sens. Le premier aspect se rapporte à la connaissance des virus qu’il est possible de rencontrer chez les medics et l’évaluation de l’aptitude des différentes espèces vis à vis des souches virales mises en évidence. Le second aspect se rapporte au rôle que peuvent jouer les luzernes annuelles comme réservoir des souches virales dangereuses pour les légumineuses alimentaires (pois chiche, lentille, fève...). Les premiers travaux ont été réalisés par Boualem et Djaballah (67). Lors des différentes sorties sur le terrain et visites des essais, des observa- 92 PASTAGENS E FORRAGENS 20 tions ont été effectuées au niveau de Guelma, El Khroub, Ain Mlila et Sidi Bel Abbès. Les prélèvements d’échantillons ont porté non seulement sur la collection de luzernes annuelles mais aussi sur d’autres légumineuses (pois fourrager, vesce, gesse...). Boualem et Djaballah (67), sur l’ensemble des échantillons prélevés, ont pu soupçonner l’existence du Tobacco Ringspot Virus (TRSV) dans l’isolat Medicago orbicularis 13 et l’Alfalfa Mosaic Virus (AMV) dans l’isolat de Medicago sativa var. Hunterfield. Kadri (126) a réalisé l’étude biologique de l’isolat TRSV de Medicago orbicularis 13. L’ensemble des Medicago (M. orbicularis, M. ciliaris) et des Trifolium (T. incarnatum, T. repens, T. spumosum) ont répondu de manière systématique à l’inoculation et ce par des éclaircissements des nervures, des déformations foliaires, des jaunissements suivis d’un flétrissement du plant. L’étude sérologique a confirmé clairement la présence de TRSV dans l’isolat Medicago orbicularis 13. Kheffache (128) a étudié, l’isolat AMV de Medicago sativa var. Hunterfield et a confirmé son appartenance à l’AMV. Semsar (168) a évalué le comportement de neuf espèces de luzernes, M. arabica, M. aculeata, M. ciliaris, M. intertexta, M. murex, M. orbicularis, M. polymorpha, M. scutellata et M. truncatula, à l’égard de la souche d’AMV mise en évidence. A l’exception de M. orbicularis et de M. cilaris, les autres espèces ont extériorisé des symptômes (éclaircissement des folioles et des nervures, mosaïques, gaufrages, gondolages et nécroses). Les symptômes les plus graves concernent M. arabica, M. murex et M. polymorpha. Les tests ELISA réalisés sur les échantillons récoltés au champ semblent confirmer la tolérance de M. ciliaris et la sensibilité de M. intertexta, M. murex, M. scutellata et M. polymorpha vis à vis de l’AMV (168 ). Bekki (51) a confirmé la présence du virus AMV au sein des luzernes installées à Béni Slimane et à El Harrach; le taux d’infection enregistré serait sensiblement plus élevé à la station de Béni Slimane. Aït Yahia ( 31) puis Hadj Arab (112 ) ont montré que M. sativa var. Moappa et M. intertexta sont des réservoirs naturels du BLRV (Bean Leaf Role Virus). Mazi (142) a répertorié plusieurs virus transmis par les semences chez quelques populations de M. ciliaris. Benyaya et Kaci (62), ont fait une caractérisation assez fine du TRSV (Tabacco Ringspot Virus) isolé à partir de semences de M. ciliaris; un essai de thermothérapie préliminaire, sur graines, a donné des résultats intéressants sur l’incidence de l’infection. Kheffache (127) a évalué les effets l’AMV isolat MSH (Medicago sativa var. Hunterfield) sur le comportement de M. ciliaris et M. truncatula. Durant la phase végétative tous les paramè- PASTAGENS E FORRAGENS 20 93 tres étudiés sont affectés. L’infection affecte la qualité du fourrage et du grain. Le virus est distribué dans les différentes parties de la graine. En conclusion, la résistance aux stress hydriques et/ou aux stress salins des espèces, la fixation azotée, la dureté des graines, ainsi que les aspects de virologie, sont des éléments importants qui se trouvent souvent exprimés de façon globale au niveau de la production et du comportement des espèces. 4 – ASPECTS DE COMPORTEMENT ET DE VARIABILITE Toutes les études autoécologiques ont été accompagnées d’une récolte de gousses et d’infrutescences, afin de valoriser le matériel local. Ceci a permis, d’une part, de rassembler une grande partie de la variabilité génétique locale et, d’autre part, d’étudier cette variabilité afin de la mettre au service des agriculteurs. Ce dernier point est d’autant plus important que les variétés et cultivars introduits sont souvent non adaptés à nos conditions de sols et de microclimats (41, 120). Les premiers travaux de prospection en 1972/73 et 1973/74 ont eu lieu essentiellement dans les hautes plaines et les plaines intérieures. Une récolte de 140 populations de 10 espèces de luzernes annuelles a été réalisée dans un premier temps (81). La collection a été étendue à 440 populations dans un deuxième temps. Après une première sélection, 20 populations de luzernes annuelles ont été essayées à Sétif, Tiaret, Médéa, Béni Slimane et Alger en comparaison avec les cultivars étrangers. Les résultats furent concluants (25, 26, 27, 81). En 1975, 600 nouvelles populations de 17 espèces de Medicago ont été mises en essais à Béni Slimane et leur comportement a été relié aux conditions de leur milieu d’origine (3, 5, 13, 15). Ce genre de travail devait permettre le choix des lieux de récolte du matériel végétal spontané en fonction des caractéristiques agronomiques recherchées. La comparaison entre les espèces a été aussi abordée (2 ). Bensalem (58) a travaillé sur 120 populations de Scorpiurus et a mis en évidence les potentialités de ce genre. L’analyse biométrique de ce matériel a aussi été réalisée (61). Abdelguerfi-Berrekia (19) a caractérisé 113 populations du genre Hedysarum. Certaines espèces telles H. coronarium, H. flexuosum et H. aculeolatum se sont révélées très productives (63). Une étude biométrique en condition expérimen- 94 PASTAGENS E FORRAGENS 20 tale et dans le milieu d’origine des populations a mis en évidence la stabilité de certains caractères chez H. coronarium et H. flexuosum (19, 64). Aguenarous (28) a étudié 102 populations de plusieurs espèces de trèfle et les aptitudes fourragères et pastorales du matériel végétal local ont été précisées (29). Certaines espèces comme T. squarrosum et T. stellatum ont été étudiées de façon approfondie (30, 84, 87, 88, 89) et les descendances issues de croisements libres ou contrôlés ont été suivies (57, 132, 167, 174 ). Hammadache (115) a étudié le comportement et la production fourragère de plusieurs espèces de Trifolium. T. lappaceum, T. squarrosum, T. pallidum, T. spumosum et T. incarnatum ont assuré une masse importante de matière verte. Le genre Onobrychis a été abordé sur le plan biométrique à travers un certain nombre de populations (182, 183). Les aspects de productions (quantitative et qualitative) ont fait l’objet d’étude sur les genres Medicago, Scorpiurus, Hedysarum, Trifolium et Onobrychis ( 35, 97, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108). En Mitidja, la conduite, le comportement ( 32, 131 ), la valeur alimentaire ( 38 ) et la place du T. alexandrinum (Bersim) dans le système fourrager intensif ont été définis (119) et à Fetzara (Annaba) les aptitudes fourragères de certains Lathyrus, Medicago, Trifolium et Vicia ont été précisées (35). Les résultats semblent assez intéressant pour certaines espèces. Les possibilités d’amélioration des productions fourragères et pastorales ont été abordées (7, 8). L’installation et la conduite du système Medicago-Blé ont été définies (12, 137, 180) et les possibilités et les limites du matériel végétal d’introduction ainsi que les aptitudes des écotypes locaux de Medicago ont été largement discutées (179 ). La technique de production de semences a été précisée (20, 69). Il est important de rappeler que dès 1952, certains travaux sur les potentialités fourragères d’Hedysarum coronarium et H. flexuosum ont été entrepris (43) et se sont poursuivis jusqu’en 1956 (44, 45, 46, 47, 48). Les essais entrepris à El Harrach dès 1953-54 sur H. coronarium et H. flexuosum ont donné des résultats encourageants: entre 200 et 700 quintaux de matière verte/ha pour la première et un peu plus de 200 q/ha pour la seconde (46 ); en 1954-55 les rendements étaient respectivement pour les deux espèces de 800 à 1100 q/ha et 500 q/ha avec deux coupes (47). La variabilité de certains caractères se rapportant aux gousses, aux infrutescences et aux graines a été étudiée chez Medicago (6, 10, 11, 79, 134, 135, 169), Scorpiurus (58, 143), Hedysarum ( 19, 56), Trifolium ( 28, 98, 99, 100, 121, 122 ) et Onobrychis ( 182). PASTAGENS E FORRAGENS 20 95 Pour le genre Medicago, les populations précoces proviennent de l’ouest du pays et des régions les moins arrosées (9). La variabilité au niveau des graines et des goussses, pour certains genres, a été analysée en fonction des conditions du milieu d’origine (4, 10, 11, 148, 149). Les résultats confirment ceux de Allard (33) et de Baker ( 40). Notons que la connaissance des caractères se rapportant aux graines, aux gousses et aux infrutescences permet une bonne utilisation et un bon maintien du matériel végétal dans les terres de parcours et les soles fourragères où il sera introduit. Laouar ( 129 ), dans une étude du complexe d’espèces M. ciliaris-M. intertexta, a mis en évidence une population intermédiaire entre les deux taxa. Compte de l’autoécologie, du comportement et de la classification morphologique, il semble que M. ciliaris et M. intertexta subissent une spéciation allopahrique (129). Laouar et al. (130), sur le même complexe d’espèces, ont mis en évidence deux différentes stratégies de développement chez ces taxa. Il apparaît que M. ciliaris soit plus précoce et produit plus de gousse/plant mais à un nombre de grains/gousse faible, contrairement à M. intertexta. Compte tenu du fait que la production de semences conditionne l’utilisation des écotypes locaux, des essais ont été menés en grande parcelles ( 68, 71, 72) et des sursemis ont été réalisés (70). Maatougui (136, 138) a précisé les contraintes et les perspectives du ley farming en Algérie. Zeghida et al. (181 ) ont mené une rotation blé/jachère pâturée classique en comparaison avec blé/Medicago en vue d’une intégration grandes cultures/élevage ovin à El Khroub. Au prélèvement de mars, les légumineuses représentent 50% et 15% de la matière sèche respectivement pour le pâturage à base de Medicago et la jachère. Au prélèvement d’avril, les pourcentages sont 75% pour le pâturage de medics et 15% pour la jachère. 5 – POSSIBILITES DE VALORISATION Les travaux d’autoécologie et de distribution des espèces ont mis en évidence l’adaptation naturelle des populations locales aux conditions de milieu. La large gamme d’adaptation des espèces de Medicago, de Trifolium, d’Hedysarum, de Scorpiurus et d’Onobrychis à différents types de sols et de conditions édaphiques, laisse le choix au chercheur et au producteur d’utiliser le matériel adéquat. 96 PASTAGENS E FORRAGENS 20 Certaines espèces des différents genres se sont montrées très plastiques au point de vue texture du sol, d’autres par contre semblent bien adaptées à des textures très fines ou très grossières. Les sols marneux en pente semblent convenir parfaitement à certaines espèces d’Hedysarum. Sur les sols acides, certaines espèces de Medicago et surtout de Trifolium peuvent répondre favorable. Ce sont Howieson et Ewing (118) qui ont isolé, en région Méditerranéenne, des souches de Rhizobium capables de noduler et de persister en sols moyennement acides; ceci a permis à certains cultivars de medics de coloniser les sols acides (101). L’adaptation de certaines espèces des différents genres au froid permet une utilisation de ce matériel végétal dans la mise en valeur et l’amélioration de la production fourragère et pastorale dans les régions d’altitude. Bounejmate (73) a montré que l’action du gel a entraîné la mort de toutes les plantes des écotypes de M. aculeata et M. truncatula issus des régions à hiver doux. Bounejmate et al. (76) ont mis en évidence une relation entre la tolérance au froid et la température hivernale du site de collecte chez M. aculeata, les génotypes les plus tolérants proviennent des fortes altitudes. La pluviométrie semble un élément assez déterminant sur la distribution des espèces de légumineuses étudiées. Les espèces de Trifolium se limitent, en Algérie, aux régions assez bien arrosées. Par contre, certaines espèces de Scorpiurus et surtout de Medicago peuvent aller dans les régions assez sèches. Selon Balfourier et al. ( 42), chez M. truncatula, les populations françaises et du sud de l’Algérie montrent un faible développement et s’opposent à celles de l’Espagne, de la Crète et de la région côtière algérienne. Il semble que les populations originaires des bordures de la région de distribution, qu’elles soient du nord (France: forte pluviométrie, mais climat froid) ou du sud (région aride de l’Algérie, avec une très faible pluviométrie), contrastent clairement avec les populations des régions favorables, avec une température modérée et suffisamment de pluie. Certaines espèces d’Hedysarum devraient être utilisées d’urgence et sans aucune amélioration dans les soles fourragères et dans la lutte contre l’érosion (sol marneux); d’autant plus que l’aspect production de semences est loin d’être aussi problématique que celui de la vesce par exemple. En Tunisie, Hedysarum coronarium est déjà cultivé seul ou en association à la place de la vesce; en Australie, cette espèce a été introduite par le Service National de l’Eau et de la Conservation du Sol; elle est efficacement utilisée dans ce domaine (malgré son inoculation obligatoire) et dans la production de miel et de fourrage. PASTAGENS E FORRAGENS 20 97 A travers les essais de comportement, beaucoup de populations de différentes espèces de Medicago ou Trifolium se sont révélées nettement plus productives que les cultivars améliorés. Ces populations peuvent être valorisées directement sans aucune amélioration. Par ailleurs, l’étude de variabilité des caractères du matériel spontané, en relation avec les facteurs du milieu d’origine, devrait permettre une sélection "copiée" ou "singée" sur l’adaptation naturelle des espèces. 6 – CONCLUSION Les travaux d’autoécologie et de distribution complétés par quelques essais sur la physiologie des espèces ont mis en évidence la très grande variabilité au niveau des ressources phytogénétiques disponibles. Les essais de comportement et d’évaluation biométrique et phénologique en relation avec les conditions du milieu d’origine ont permis de mettre en évidence l’importance du lieu de collecte et d’orienter ainsi les prospections en fonction des objectifs d’utilisation du matériel. Le Bassin Méditerranéen est constitué d’un ensemble de mosaïques de paysages et de systèmes de cultures et de productions. La diversité des milieux s’est accompagnée d’une diversité des pratiques et d’une diversité de la flore. Pour plusieurs légumineuses d’intérêt fourrager et/ou pastoral, le Bassin Méditerranéen constitue une région de diversification naturelle. C’est pour cela qu’il existe une grande variabilité (écologique, morphologique, phénologique, agronomique...) chez les espèces des genres étudiés. Pour le moment une infime partie de cette variabilité a été valorisée avec succès dans d’autres régions du globe particulièrement en Australie (medics, trèfles, sulla, Rhizobium..). L’élément limitant de la valorisation de ces ressources génétiques adaptées, au niveau du Bassin Méditerranéen et particulièrement dans les pays du sud de la Méditerranée, est la production de semences. Cependant, compte tenu de la Convention sur la Diversité Biologique (sommet de Rio Janeiro, 1992) et de l’avènement des Biotechnologies agressives (transfert de gènes), les ressources génétiques de la région doivent faire l’objet d’une attention particulière en matière de préservation et de conservation en vue d’une valorisation équitable à travers un développement durable au profit de tous les peuples du Bassin Méditerranéen. 98 PASTAGENS E FORRAGENS 20 REFERENCES BIBLIOGRAPHIQUES 1 – ABDELGUERFI, A. – Autoécologie de quelques légumineuses spontanées d’intérêt fourrager et pastoral. In: "Facteurs limitant la fixation symbiotique de l’azote dans le Bassin Mediterranéen", 6-8 avril 1994, Montpellier (France). INRA, Paris, 1995. (Les Colloques, n.° 77), p. 229-238. 2 – ABDELGUERFI, A. – Behaviour of annual medic population from Algeria: comparative study on different species. In: "6th Meeting of the FAO European Sub-Network on Mediterranean Pastures and Fodder Crops", 1990. 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In present article are used the adequately average date of the indexes to the both equally trials except the time of sowing. The design was a randomized complete block arrangement of the trataments in forth replications without irrigation and provided the influence on the seed or forage producing over the forage productivity of alfalfa in the first regrowth on the next year grasses. The stand was with narrow row space – 20 cm with rates of sowing 25 kg ha-1 in pure and mixture stands with (Dactylis glomerata L.) in proportion 1:1 with rate of sowing for grasses – 30 kg ha-1. The cultivares "Obnova 10" and "Dabrava" were used for alfalfa and cooksfoot, respectively. The results showed that the seed technology influenced favourable of alfalfa evaluation in the first regrowth on the next year through increasing of the number of alfalfa’s stems and their weight per m2. This effects was due to increasing of total nonstrutural carbohydrates in the alfalfa crown and roots and supply by this way enough reserve assimilates for fast vigour development of the stems at the start of new vegetation. The forage technology supplied lower concentrate of total non-structural carbohydrates in the crown and roots which were reflected to the reducing of alfalfa’s stem density and of yield of dry matter, respectively. The similar effects were registered in mixture stand according the difficult allelopatic relationships between legumes and grasses. KEY WORDS: Alfalfa; Crown; Total non-structure carbohydrate. RESUMO Apresentam-se neste trabalho os resultados da aplicação de tecnologias para a produção de sementes e produção de forragem num campo de luzerna para forragem, * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. 113 onde se avaliou, além da produção de forragem, a produtividade no primeiro recrescimento após o primeiro ano de instalação, em sementeira pura e em mistura com gramíneas. Os campos experimentais foram instalados na Primavera de 1994 e 1995 e foram conduzidos durante quatro anos, nas proximidades de Pleven (região centro Norte da Bulgária, 44º 23’ N, 25º 83’ E, com uma altitude de 83 m), em solos areno-limosos, chernozems típicos, com um pH de 6,8. No presente estudo foram usadas as mesmas datas médias para as operações culturais, excepto a data da sementeira. O delineamento estatístico foi em blocos completamente casualisados, com quatro repetições, sem rega, onde se avaliou a influência da produção de semente e/ou forragem na produtividade da luzerna no primeiro recrescimento do segundo ano. Os povoamentos foram instalados em linhas espaçadas de 20 cm, com uma dose de sementes de 25 kg ha-1 para a luzerna, tanto em estreme, como em mistura com o Dactylis glomerata L. (30 kg ha-1), na proporção 1:1. As cultivares usadas foram a Obnova 10 de luzerna e a Dabrava de dáctilo. Os resultados mostram que a tecnologia da produção de sementes influencia favoravelmente a luzerna no primeiro recrescimento do 2º ano pelo aumento do número de caules e peso por m2. Este efeito é devido ao aumento do total de hidratos de carbono não estruturais na coroa e raízes da luzerna que, deste modo, dispõem de mais reservas em assimilados que favorecem um desenvolvimento dos caules no início da nova rebentação. A tecnologia da produção de forragem fornece menor concentração de hidratos de carbono não estruturais na coroa, reflectindo-se na diminuição da densidade de caules e na produção de matéria seca. Foram observados efeitos semelhantes na mistura, confirmando as difícies relações alelopáticas entre leguminosas e gramíneas. PALAVRAS-CHAVES: Luzerna; Coroa; Total de hidratos de carbono não estruturais. 1 – INTRODUCTION Alfalfa is the most widely grown forage legume in the plain regions of Bulgaria because it is unrivalled with respect to the protein obtained per unit area with relatively low cost, as well as its adaptation, improving soil property and high yield potential (14). The alfalfa-cocksfoot mixture creates stand with better morphological structure than pure alfalfa (more stems per unit area with better situation in vertical storeys of the stand) and uses more effectively the all non-biotic factors above and under soil surface (temperature, rainfalls, sun radiation, nutritive mineral elements, etc.), (23, 25, 27, 29 ). According to Donchev and Tomov (6) in mixture it was found from 3.5 to 6 times less pest population and 2 times more useful insects than pure stand as well as the weed infestation after the year of establishment is not important (5). These characteristics of the mixture reflect on its productivity which is higher as established by numerous researchers. (1, 20, 28). The manner of stand using is another significant factor influencing the plant development which is reflected on the stand productivity as a whole (1, 114 PASTAGENS E FORRAGENS 20 2, 13). The regime of using determines mainly the moment of harvesting depending on sequence of the regrowth and the year during the period of cropping (30). The alfalfa crown and roots are important morphological structures where the total non-structural carbohydrates are stored (12). Davis et al. (3) reported the carbohydrates as an important energy source for the plant growth after the herbage removal closely connected with the yield and persistence. There are seasonal changes in non-structural carbohydrates in alfalfa crown and roots and the concentration increases three fold from October to November and declines between March and May for new spring regrowth (10). According to Davis et al. (3) alfalfa exhibits cyclic pattern of TNC utilisation and storage in response to herbage removal and regrowth. Hotchkiss et al. (8) suggest that cultivar and management practice could affect the storage of TNC in crown and roots which influence longevity of alfalfa plants. Little information is available regarding the relationships of alfalfa (Medicago sativa L.) with cocksfoot (Dactylis glomerata L.) in mixture under different schedules of alternative using for seed and forage production during the cropping period. The objective of this study was to establish the influence of the seed or forage production technologies in previous year upon the forage productivity in first cut the next year under different order of application of the both technologies during the cropping period in pure alfalfa and mixture. 2 – MATERIAL AND METHODS Field experiments were conducted during 1994-1997 at the second experiment field of FRI – Pleven on a sandy loam typical Chernozem (black) soil (15) with pH 6.8 near Pleven in the Central North Bulgaria (43° 52' N lat). The same trial was duplicated in the spring of 1995 again for 4 years and data in present article consist average from both trials in conformity with the crop age. Factorial treatments were two type stands of alfalfa (Medicago sativa L.) – pure and mixture with cocksfoot (Dactylis glomerata L.). The design was a randomized complete block arrangement of treatments with 4 replications with plot size 2 × 6 m and provided a comparison of the influence on the established technologies for seed and forage production upon the first cut forage productivity (table 1). Plots were seeded by hand at rates of 25 kg ha-1 for the alfalfa and 30 kg ha-1 for the grass crop. Cultivars "Obnova 10" and "Dabrava" were used, respectively, as the component proportion in the mixture was 1:1. Weeds were PASTAGENS E FORRAGENS 20 115 controlled in the pure crop by the herbicide "Pivot" (a.i. Imazetapir, 100 g/l) in adequate doses of applying for young and old (1 l and 0.4 l ha-1, respectively) and hand weeding if necessary. The pests were controlled with suitable insecticides as needed. Observations on botanical component characteristics of the first regrowth were based on fresh samples in 0.25 m2 area in the centre of each treatment plot. These measurements (number of stems, height and weight) were not used to obtain the forage yield per plot, but they characterised the yield components in each treatment. Every autumn all alfalfa plants from 0.25 m2 area situated near to the end of each plot but from non-border rows (to rest full 10 m2) were dug at 20 cm depth (9). Roots were washed and together with crown were separated from the herbage by cutting at the soil surface. Crown diameter of every alfalfa plant was determined by vernier to 0.1 mm, as well as the weight of roots and crown followed by immediate drying in oven at 105 °C for 8 hours. The total nonstructural carbohydrate (TNC) concentration was determined by chemical method (24). The first harvest after the year of establishment in 1994 and 1995 occurred on 11 and 21 May – 2 years old; 14 and 21 May – 3 years old and 14 and 25 May – 4 years old, respectively. The swards were harvested at 5 cm height with small flail mower cutting machine "BCS" – 1.5 as close 10% flowering stage. Before the main ploughing, 300 P2O5 and 250 K2O as well as each spring 80 N were broadcasted. At the start of every vegetation in spring after the first year the seedlings which resulted from seed losses during the harvest process in the previous year were eliminated. Analysis of variance was conducted to determine significant treatment effects. Comparison of the dry matter (DM) from the first regrowth every year among different schedules of using in previous year was made using Fishers LSD at P = 0.05, P = 0.01 and P = 0.001. TABLE 1 – Treatments. Schedules First year S F A B C D Every year was Every year was Seed production Forage production Seed production Forage production S F A B C D 116 Second year Third year Fourth year Pure alfafa stand applied the seed production technology applied the forage production technology Seed production Forage production Forage production Forage production Seed production Seed production Forage production Seed production Forage production Seed production Forage production Seed production Mixture Every year was applied the forage production technology Every year was applied the forage production technology Seed production Seed production Forage production Forage production Forage production Forage production Seed production Seed production Seed production Forage production Seed production Forage production Forage production Seed production Forage production Seed production PASTAGENS E FORRAGENS 20 3 – RESULTS AND DISCUSSION 3.1 – Botanical composition The component morphology (21, 28), seasonal growth rates (7) and their participation in the swards were affected by the manner of the stand using in previous years (16) and stand age (30). The alfalfa stem weight decreased with the advance of stand age (figure 1). This process was stronger in these swards from which only forage production was obtained the previous year. Application of the seed production technology affected alfalfa participation favourably increasing its weight compared to the swards from which only forage production was obtained the previous year. Grass-legume competition in the mixture was also affected by manners of applying forage and seed production technology. The grass participation was contrary to alfalfa component. It increased with the stand crop age advance and the applied forage technology the previous year stimulated cocksfoot. Some weed participation was recorded in pure alfalfa swards which was significantly in the fourth year in the stand only under forage production technology. The mixed stands were practically free of weeds; this result is in conformity with the conclusions of previous investigations (1, 17). FIGURE 1 – Botanical composition of the first cut. PASTAGENS E FORRAGENS 20 117 3. 2 – Total non-structural carbohydrates The alfalfa crown is an important morphological structure closely connected with regrowth, yield and TNC concentration in alfalfa root which was recorded at the end of every vegetation varying according to the stand age, and kind (pure or mixture) and the schedules of using (figure 2). The highest values for both stands were obtained at the end of second vegetation and the lowest with the advance of the stand age – at the end of the third. These results show that there is a biological evolution regarding the change of TNC at the end of the vegetations during the plant life. The concentrations of TNC in roots of pure and mixed stand were different and higher values were recorded in the pure stand. The lower results in mixture were due to the competitive relationships between alfalfa and cocksfoot, which influenced the alfalfa growing up and TNC storage, respectively. FIGURE 2 – TNC concentration in the end of the vegetation in the alfalfa crown and number of stems in the first regrowth of the next year. Schedules of utilization differed consistently in root TNC concentration. The seed production technology (schedules A) affected favourably the alfalfa evolution which provided the highest values of TNC. The application of forage technology decreased the elongation of the inter-cutting period and TNC storage, respectively, and increased the consumption of already stored TNC for new cuts during the vegetation (17). According to Davis et al. (3) between the TNC concentration and the number of the alfalfa stems positive relationship was established. The obtained higher TNC concentration in alfalfa roots by applying seed production technology contributed to obtain more stems in the first cut during the next vegetation. This effect was significantly lower for these stands under the forage production technology. The results for the stands with combined or alternative order of applying of the both technologies varied according to the order of utilization. 118 PASTAGENS E FORRAGENS 20 3. 3 – Dry matter yield The dry matter yields obtained in the second year were higher by 16.9 to 26.7% for pure alfalfa and 4.6 to 9.2% for mixture than yields from third year (table 2). The differences in productivity increased with the advance of years and reached 31.6 to 46.5% for pure alfalfa and 18.5 to 25.4% for mixture the last year. Forage yield decrease according to the stand age in mixture was approximately 4 and 2 times lower than pure stand for third and fourth years, respectively. These differences in the speed of yield decrease in both stands were due to the replacement effect between alfalfa and cocksfoot in the mixture. With advance of the age of the stand alfalfa plants decreased their population and in the mixture all plants were balanced by increase of grass component. In this way alfalfa-cocksfoot mixture showed more stable yields in the first cut during the period of study. TABLE 2 – Dry matter yield from first cut for the last three years (kg ha1). Schedules Second year Third year S F A B C D 7 6 7 6 7 6 381,4 843,9 356,5 831,2 273,7 860,8 *** St1 *** ns *** ns 5 5 5 5 5 5 S F A B C D 8 7 8 7 7 7 116,9 571,8 082,6 570,3 967,8 592,0 *** St2 *** ns *** ns 7 7 7 7 7 7 Pure Stands 801,7 *** 254,3 St1 800,5 *** 250,6 ns 334,5 ns 703,1 ** Mixture 601,7 *** 051,0 St2 584,6 *** 223,6 ns 233,3 *** 522,5 ** Forth year Average 4 3 3 3 4 3 509,5 843,3 937,0 987,5 292,3 932,5 ns St1 ns ns ns ns 5 897.5 5 313.8 5 698.0 5 356.4 5 633.5 5 448.8 *** St1 *** ns ** * 6 5 6 6 6 5 148,5 976,8 029,7 165,6 232,1 938,5 ns St2 ns ns ns ns 7 6 7 6 7 7 ** St2 * ns ns ns 289.0 866.6 232.3 986.5 144.4 017.7 * Significant differences (P<0.05) P ≤ 0,05 % P ≤ 0,01 % P ≤ 0,001 % * ** *** 166.7 228.3 311.1 255.1 349.4 476.1 295.7 504.0 552.0 189.3 259.3 353.3 The dry matter yields were affected by the manner of applying forage and seed production technologies. The lowest yields were obtained in both stands under the forage technology (every year – F p and Fm); these treatments were accepted as standards in the trial – St 1 and St 2 for pure alfalfa and mixture, respectively. The application of seed production technology during the previous year increased DM yields in both swards and the highest PASTAGENS E FORRAGENS 20 119 results were obtained in these stands which were used for seed production every year (S p and S m ). In the group of treatments combining both technologies higher average DM yields were obtained compared to the standards but they were lower than those for seed production. High yields were obtained from the stands of this treatment group with order of application – 1, 2 yr. for seed production; 3, 4 yr. for forage production, and the results exceeded average standard ones with 7.2 and 5.3% for both swards, respectively. The yields of the treatments were a little lower – 1, 3 yr. for seed production; 2, 4 yr. for forage production, as well as alternative combination of using 1, 3 yr. for forage production; 2, 4 yr. for seed production. The lowest results were obtained for the both swards with order of using – 1, 2 yr. for forage production; 3, 4 yr. for seed production and the results were in conformity with botanical composition. The application of the forage technology in first and second years affected alfalfa density and its vigour during the highest productive years – second and third (figures 1 and 2), and this resulted in the lower yields. The exceedings in yields between treatments with different schedules of applications of the seed or forage technology in mixture sward were smaller than those in pure alfalfa. This was due to the replacing effect between alfalfa and cocksfoot – the grass participation increased at the expense of alfalfa. In this way during the individual years the differences were not significant but with their summation to obtain the average for the period DM yield there were significant exceedings. The obtained yields from mixture sward were bigger than those from the pure alfalfa which for the period ranged from 23.6 between the schedule only for seed production to 30.5% for 1, 2 yr. for forage production; 3, 4 yr. for seed production. This exceed of mixture confirmed the results of numerous researchers ( 18, 19, 27 ). 4 – CONCLUSIONS The manner of sward using in previous years (application of the seed or forage production technologies) affected alfalfa’s participation and DM yields in the first regrowth in the next vegetation as well as TNC concentrations in crowns. The seed production technology contributes to increase these parameters so that the average exceedings compared to the obtained ones by the forage technology reached from 3.2% to 4.5%, 9.7 to 4.7% and 12.1 to 27.3% for pure and mixture stands, respectively. 120 PASTAGENS E FORRAGENS 20 Regardless of the lower alfalfa participitation in mixtures and TNC concentrations in their crowns as compared to those from pure stands due to the competitive relationship between both components the mixture produced more DM yield the exceeds of which varied from 9.9 to 30.4% between adequat schedules of using. This result was due to the replacing effect between alfalfa and cocksfoot in the mixture which provide higher and stable yield. REFERENCES 1 – CHAKAROV, R.; VASSILEV, E. – Growing of luzerne for forage in mixtures with grasses. "Eucarpia", Erba Medica, Xa Conferenza Internazionale, Lodi, 15-19 Giugno 1992. 2 – CURRAN, N. A. – Alfalfa companion management. 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Vladimir Vazov str – BULGÁRIA ABSTRACT Little information is available regarding the total forage productivity obtained by the accepted technologies for seed and forage productions of alfalfa (Medicago sativa L.) in pure and mixture stands with grasses. Field experiments were sown in the spring of 1994 and 1995 and had been conducted for 4 years, respectively, near by Pleven (Central North Bulgaria, lat. 44° 23' N, long. 25°83' E, alt. 83 m) on sandy loam typical Chernozem soil with level of pH 6.8. The design was a randomized complete block arrangement of the treatments in forth replications without irrigation. The study have provided comparisons of the traditional established pure alfalfa crop for seed or forage productions (broad row space crop – 50 cm; narrow row space – 20 cm) with rates of sowing 9.5 and 25 kg ha-1 and the alfalfa mixture with grasses (Dactylis glomerata L.) in proportion 1:1 with rate of sowing for grass – 30 kg ha-1. By other hand have used different order of applying in the years of cropping the technologies for seed or forage production. The cultivars "Obnova 10" and "Dabrava" were used for alfalfa and cocksfoot, respectively. The results showed that the method of alfalfa cropping influences substantially over its productivity. The average forage productivity of the mixture was higher than the pure alfalfa crop and ranged from 14.7 to 20.4 % between adequately schedules of using. The productivity of the treatments with combined schedules of using depends of the yields values obtained during the determinate years by the schedule which have formed the average seed and forage productivity for the period. KEY WORDS: Alfalfa; Mixture; Utilization. RESUMO Existe pouca informação disponível sobre a utilização das tecnologias da produção de semente e forragem em luzerna (Medicago sativa L.), simultaneamente em cultura estreme e em associação com gramíneas. Os campos experimentais foram instalados na Primavera de 1994 e 1995 e foram conduzidos durante quatro anos, nas proximidades de Pleven (região centro Norte da Bulgária, 44º 23' N, 25º 83' E, com uma altitude de 83 * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. 125 m), em solos areno-limosos, "chernozems" típicos, com um pH de 6,8. No presente estudo, foram usadas as mesmas datas médias para as operações culturais, excepto a data de sementeira. O delineamento estatístico foi em blocos completamente casualisados, com quatro repetições, sem rega. Este estudo permitiu comparar, por um lado, a instalação tradicional da luzerna estreme para produção de semente ou forragem (com espaçamentos de 20 cm entre linhas) com doses de sementeira de 25 kg ha-1 e na mistura com gramíneas (Dactylis glomerata L.), na proporção 1:1, com doses de sementeira de 30 kg ha-1 para a gramínea. Por outro lado, usaram-se diferentes tratamentos para a produção de semente e forragem. As cultivares usadas foram a Obnova 10 de luzerna e a Dabrava de dáctilo. Os resultados mostram que o modo de condução da luzerna influencia muito a sua produtividade. A média de produção de forragem da mistura foi superior à da luzerna pura e variou de 14,7 a 20,4% nas diferentes datas de corte. A produtividade dos tratamentos com diferentes modos de utilização (semente ou forragem) depende dos valores do rendimento obtido durante os anos de produção de semente e/ou forragem. PALAVRAS-CHAVES: Luzerna; Mistura; Utilização. 1 – INTRODUCTION In Bulgarian plain regions alfalfa is commonly grown in pure stands with exact application of seed or forage production technologies according to the respective cropping purposes (10). The care in pure stands is bigger because the injuries, diseases and weeds increase their population many times more than in the mixture with grasses (1, 2, 6, 17). Recently a lot of studies were conducted about alfalfa grass mixture as an alternative of pure alfalfa cropping in order to avoid these problems (7, 13, 14). Cocksfoot is valuable in mixture because it yields well and is hardy. Its tillers elongate rapidly at the start of the vegetation, especially the reproductive ones in the first cut and contribute significantly to bigger spring yield (5, 12), but the summer regrowths grow up slower. Also cocksfoot creates tall canopy and often suppresses alfalfa in mixture in spring but in next cuts alfalfa predominates fully (13, 19). Little information is available regarding the forage productivity and quality of alfalfa in pure and mixed stands with grasses under application of the both accepted technologies for seed and forage production. The alfalfa (Medicago sativa L.) pure stand and mixture with grasses (Dactylis glomerata L.) were studied to assess the effects of the accepted Bulgarian alfalfa forage and seed production technologies on the forage productivity, seasonal distribution of dry matter (DM) yield, botanical composition and grass-legume competition. 126 PASTAGENS E FORRAGENS 20 2 – MATERIAL AND METHODS Field experiments were conducted during 1994-1998 at the second experiment field of FRI – Pleven (44° 05' N lat) on a sandy loam typical Chernozem (black) soil (11) with pH 6.8 near by Pleven in the Central North Bulgaria. The same trial was duplicated in the spring of 1995 again for 4 years and data in present article consist average from both trials in conformity with the crop age. Factorial treatments were two kinds of alfalfa (Medicago sativa L.) stands – pure and mixture with perennial grass (Dactylis glomerata L.). The design was a randomized complete block arrangement of treatments with 4 replications with plot size – 2 × 6 m and provided a comparison of the influence on the established seed and forage production technologies on the total forage crop productivity. Plots were seeded by hand at rates of 25 kg ha -1. Cocksfoot cultivar "Dabrava" was used in the mixture in ratio 1:1 with seed rate for the grass crop 30 kg ha -1. Weeds were controlled in the pure crop by the herbicide "Pivot" a (a.i. Imazetapir, 100g/l) in adequate doses of applying for young and old (1 l and 0.4 l ha-1, respectively) and hand weeding as necessary. The pests were controlled with suitable insecticides as needed. Observations on botanical component characteristics in adequate cuts as well on nutritive value of the forage were based on cut fresh plant sample from 0.25 m 2 area in the centre of each treatment plot. These measurements (number of stems, height and weight) were not used to derive forage yield per plot, but they characterized the yield components in each treatment. The nutritive values of the forage was determined by Kjeldhal chemical method. The plots were harvested at 5 cm with small flail mower cutting machine BCS – 1.5 at the stage of about 10% flowering for forage production and with small plots combine "Winterstiger" for seed production at the phenological stage of full seed maturity for seed production. In the year of establishment the first cut was used for seed production and during other years – the second cut in the stands with this kind of utilization, and only forage was obtained from the other cuts. In every new vegetation after the first year the seedlings which were the result of the seed losses from the harvest process in the previous year in the stands for seed production were eliminated. Before the main ploughing, 300 P 2 O 5 and 250 K 2O as well as each spring 80 N were broadcasted. Comparison of the total forage crop productivity – dry mater yield (DM) among adequate pure and mixed stands was made using Fishers LSD at P = 0.05. PASTAGENS E FORRAGENS 20 127 3 – RESULT AND DISCUSSION 3.1 – Botanical composition Considering the average annual and cut botanical composition the participation of the components was according to the crop age, sequence of the cut and type of the swards (figura 1). Alfalfa predominated completely during the period in the pure stands as well as in the first two years and first three cuts in the mixed stand excepting the third cut with forage production management. In mixture there was decrease with advance of crop age and the average participation for both stands in the last year was low (13). Its participation in mixture was affected by the cut sequence and manner of using – application of seed or forage production technologies. It was significantly low in the first and last cut as compared to the others as well as in the stands with application of the forage production technology due to the different grass participation in the swards. The biological characteristic feature of the grass component to create no reproductive stems in the first year by spring sowing, and after the first regrowth during the next years determined low participation in adequate cuts in the mixture ( 13, 16). Its participation was affected also by the meteorological conditions during vegetation, and it was higher at the start and the end of every vegetation due to favourable relevantly low temperature and high soil moisture. These factors change their values in the middle vegetation period (high temperature and low moisture in shallow soil levels) which predestines low grass participation (2 and 3 cuts). Considering only the mixed swards about the period dynamics of the grass participation it was established increase with advance of the crop age. The extent of increase in the stand with forage production technology was higher because on the background of strong competitive relationships this manner of using was more unfavourable for legume component and the aggressive grass had bigger participation. More intensive forage utilization gave advantages to the cocksfoot; similar results were obtained by Petrovsky ( 13). In the swards there were more weeds during the first and the last, and less in the other years. The population of weeds was higher in the pure than the mixed stands in spite of the applied herbicide control. The participation of weeds in the mixed stands was slight even practically nul during the last years, which results confirm those reported by Dimitrova (6). 128 PASTAGENS E FORRAGENS 20 FIGURE 1 – Botanical composition. PASTAGENS E FORRAGENS 20 129 3.2 – Chemical composition of the dry matter Average cut nutritive values were calculated as a result of the sequence cut order during the respective years (table 1). It must be appointed that in the establishment year in stands with seed production technology, the first cut was used for seed production and the obtained straw data were included with the others from first forage cuts during next years. The last cuts produced by stands with seed production technology (the third) and the last with forage production technology (the fourth) were harvested at the same time due to the long duration seed production regrowth. TABLE 1 – Chemical composition of the dry matter. Nutrive elements Cuts Schedules CP CF Ca P CP CF Ca P CP CF Ca P CP CF Ca P CP CF Ca P 1 2 3 4 Pure stand Mixture S F S F 15.65 32.22 1.64 0.250 17.66 25.59 1.82 0.264 15.50 30.85 1.29 0.236 16.42 26.55 1.43 0.273 7.75 46.52 0.71 0.106 16.90 20.65 1.63 0.246 8.87 43.85 0.78 0.118 16.81 21.02 1.53 0.247 26.25 16.69 1.96 0.203 19.52 23.21 1.86 0.272 25.87 18.91 1.38 0.368 19.59 23.07 1.83 0.269 16.55 31.81 1.44 0.189 25.85 13.66 2.57 0.183 19.96 20.78 1.97 0.241 16.74 31.20 1.15 0.241 26.01 16.77 1.80 0.338 19.72 21.85 1.64 0.281 The nutritive forage values were affected by the manner of utilization, which predestined the stage of harvesting and component participation (18). The highest crude protein (CP) and less crude fiber (CF) concentrations in forage were recorded in the last cuts, respectively for both technologies but the results were contradictory in the second cut. 130 PASTAGENS E FORRAGENS 20 The forage production application determined higher CP and Ca concentration and less CF because the plant mass was harvested in relatively early stage (8 ). The forage obtained by application of seed production technology in the cut for seeds had low CP values and significantly higher CF because the plant mass was at advanced phenological stage and after seed harvesting process a lot of alfalfa leaves were lost (straw). Comparing chemical composition of the DM obtained from pure stand and mixture there were very similar contents of CP. Grass participation in mixture resulted in more CF and P in DM but less Ca. There were more CP and less CF in mixture DM after seed harvesting (straw), because at this time the grass component was at the aftergrass stage (a lot of leaves and leafy tillers with higher CP and lower CF concentration); these results are adequately reported by Weisbach et al. ( 20). 3.3 – Dry matter yield DM yields varied according to the crop age (number of obtained cuts), type of the stand and the application of technology utilization (table 2). The highest yields were obtained during the second and the third year and the lowest in the sowing year (9). TABLE 2 – Dry matter (kg ha-1). Year Cuts 1 Schedules 1 2 Total 2 1 2 3 4 Total 3 1 2 3 4 Total 4 1 2 3 Total Average Pure stand S 1 812 1 812 7 381 1 840 956 10 177 5 802 2 536 546 8 884 4 510 1 662 6 171 6 761 F 3 147 2 554 5 701 6 844 4 964 2 143 743 14 694 5 125 4 210 2 354 482 12 171 3 843 3 848 1779 9 470 10 509 Mixture S 2 035 2 035 8 117 1 738 1 211 11 066 7 602 2 649 895 11 145 6 149 2 152 8 300 8 137 *** F 3 278 2 628 5 906 7 572 5 571 2 245 866 16 253 7 051 4 396 2 535 633 14 614 5 977 3 863 1 605 11 444 12 054 *** *** Significant differences (P< 0.001). PASTAGENS E FORRAGENS 20 131 The application of the respective technologies affected the obtained number of cuts, DM yields in the first cut and the total annual yields as well as the average for the period. The swards produced one more cut in every year with the application of forage production technology as compared to the seed one which was reflected on the higher annual and average for the period yields. The seed production technology affected favourably the alfalfa development, which predestined vigour and faster growing at the start of sequence vegetation (4, 15). Higher DM yields from the first cut were recorded in the swards with seed production utilization than those obtained by forage production technology in the both types of stands. Mixture productivity was higher than pure stand during all years of the study period in both schedules of utilization – and the exceeding, average for the period, was 12.8% for forage production and 20.5% for seed production technology. 4 – CONCLUSIONS The average nutritive composition in DM obtained from both stands with application of forage production technology is similar regarding CP, but the contents of CF and P were more in mixture DM. The obtained DM after seed production harvest from mixture contains more CP and less CF than pure alfalfa´s one – 1.2 and 1.6%, respectively. The obtained yields from mixture swards were bigger than pure alfalfa which average for the period exceeded from 14.7 to 20.4% for forage and seed production technology. BIBLIOGRAPHY 1 – BLAJEV, V. – Forage losses by fuzarium diseases of alfalfa according the harvest stage. "Plant Science", Sofia, n.º 2, 1989, p. 50-55. 2 – BOCSA, I.; BUGLOS, J.; SZIRAKI, I. – Seed yield and some factors influencing seed setting at the variety level in lucerne. "Zeitschrift fur Pflanzenzughtung", 90 (2) 1983, p. 172-176. 3 – CHAKAROV, R; VASSILEV, E. – Growing of lucerne for forage in mixtures with grasses. "Eucarpia", Erba Medica, Xa Conferenza Internazionale, Lodi, 15-19 Giugno 1992. 4 – CURRAN, N. A. – Alfalfa companion management. "Agronomy Journal", vol. 86, September-October 1993, p. 785-788. 132 PASTAGENS E FORRAGENS 20 5 – DE SANTIS, G.; IANNUCCI, A.; TORTONE, G. – Interspecific interference in fodder plants. Alfalfa-grasses mixtures in Mediterranea environment under irrigous conditions. 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PASTAGENS E FORRAGENS 20 133 20 – WEISBACH, F. et al. – Schötzung der umsetzbar en Energie und der Nettoenergie Laktion von Luzerne und mittels einer Cellulase-Methode. Kongressband., VDLUFA, 1996, p. 187-190. 134 PASTAGENS E FORRAGENS 20 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 135–142. EFEITO DA DENSIDADE DE SEMENTEIRA E DA ÉPOCA DE CORTE SOBRE O VALOR PRODUTIVO DA SULA (HEDYSARUM CORONARIUM L.)* M. Teresa V. C. Ponce Dentinho, M. M. Tavares de Sousa♦, João M. C. R. Ribeiro Estação Zootécnica Nacional – 2000 VALE DE SANTARÉM ♦ Estação Nacional de Melhoramento de Plantas – Apartado 6 – 7351 ELVAS CODEX RESUMO Foi objectivo deste trabalho observar o efeito da densidade de sementeira (10, 16, 22, 28 e 34 kg/ha) e da época de corte sobre a produção de matéria seca (MS) e a disponibilidade de nutrientes da sula (Hedysarum coronarium). A dose de sementes de 28 kg/ha parece ser a mais favorável, obtendo-se produções de MS e de nutrientes superiores às conseguidas com doses de 10, 16 e 22 kg/ha e semelhantes às verificadas com 34 kg/ha. No 1.º ano as quantidades de MS e de proteína bruta (PB) resultantes de três cortes realizados em Maio, Julho e Outubro foram de, respectivamente, 14,2 e 2,5 t/ha. No 2.º ano realizaram-se apenas 2 cortes, em Março e Junho, tendo-se obtido, no total, produções de 13,3 t de MS/ha e 2,6 t de PB/ha. De todos os cortes realizados as maiores produções foram obtidas em Março, no2.º ano (9 t MS/ha e 1,8 t PB/ha), altura em que a maioria das leguminosas forrageiras estão a iniciar a produção de Primavera. Nas nossas condições a sula é uma espécie forrageira de crescimento invernal/ primaveril, apresentando uma elevada produtividade. É sensível ao oídio que aparece no Outono se o último corte antes do Inverno se realizar tardiamente (para além de meados de Outubro). PALAVRAS-CHAVES: Densidade de sementeira; Hedysarum coronarium; Produtividade; Sula. ABSTRACT The main objective of this study was to observe the effect of sowing rates (10, 16, 22, 28 and 34 kg/ha), cutting date on dry matter (DM) and nutrient production of sulla (Hedysarum coronarium). The sowing rate of 28 kg/ha is the most favourable, with much higher DM and nutrient production than those obtained from 10, 16 and 22 kg/ha and similar to those obtained from 34 kg/ha. * Comunicação apresentada na XX Reunião de Primavera da SPPF. Elvas, Abril de 1999. 135 In the first year DM and crude protein (CP) production from three cuts, in May, July and October, with the plants in full bloom stage, was 14.2 ha and 2.5 t/ha, respectively. In the second year there were productions of 13.3 t of DM/ha, and 2.6 t of CP/ha from two cuts, in March and June only . The highest productions (9 t DM/ha and 1.8 t CP/ha) were observed in March of the second year, which is a period that corresponds to the beginning of great spring production for forage legumes. In our conditions sulla is a forage species characterized by a winter/spring growth with high productivity. This species is sensitive to powdery mildew in autumn if the last cut before winter is made too late (after mid autumn). KEY WORDS: Sowing rates; Hedysarum coronarium; Productivity; Sulla. 1 – INTRODUÇÃO A sula (Hedysarum coronarium L.) é uma leguminosa originária da região mediterrânica, bem adaptada a solos neutros ou alcalinos. Encontra-se espontânea e cultivada em vários países: Sul e Oeste da Itália, Sicília, Grécia, Malta, Baleares, Sul de Espanha e Norte de África. Não é hoje utilizada em Portugal, embora haja referências, na Flora Europeia, que indicam a sua presença no nosso País. Produz elevadas quantidades de matéria seca (MS) por hectare (4, 7), é bem consumida pelos animais, apresentando um elevado valor proteico e energético ( 3 ). Não provoca timpanismo, como a grande maioria das leguminosas, e resiste perfeitamente ao pastoreio e pisoteio (13). O corte para conservação sob a forma de feno ou silagem é a melhor maneira de aproveitamento da planta, obtendo-se assim o máximo de produtividade (3, 7, 13 ). Foi objectivo deste trabalho observar o efeito da densidade de sementeira e da época de corte sobre a produção de matéria seca e sobre a disponibilidade de nutrientes da sula. 2 – MATERIAL E MÉTODOS Este estudo realizou-se na Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, em Elvas, nos anos de 1995/1996 e 1996/1997, utilizando-se sula da variedade Grimaldi. A sementeira realizou-se, no dia 30 de Outubro de 1995, em solo pardo mediterrânico, utilizando-se as seguintes doses: 10, 16, 22, 28 e 34 kg/ha. As sementes foram previamente tratadas (500g/100kg de semente) com Derosal (carbendazina 60%) e Pomarsol (tirame 80%) em mistura de partes iguais de produto comercial. Após a sementeira aplicou-se uma mistura 136 PASTAGENS E FORRAGENS 20 de herbicida Igran (3 kg/ha) + Kerb (1 kg/ha). Como delineamento experimental utilizaram-se blocos casualizados com 4 repetições, em que cada parcela se compunha de 10 linhas com 8 metros de comprimento e 0,30 metros de intervalo nas entrelinhas. A área total da parcela foi de 24 m2 (3 × 8 m). As colheitas realizaram-se com as plantas em plena floração em 1996-05-13, 1996-07-09, 1996-10-28, 1997-03-11 e 1997-06-13. 2.1 – Metodologia analítica Para determinação da produção de matéria verde a sula foi cortada na totalidade e pesada por parcela. Para determinação da produção de matéria seca recolheram-se amostras de 5 kg por parcela, as quais foram secas em estufa a 65 ºC, até peso constante. Na Estação Zootécnica Nacional estas amostras foram analisadas para determinação: da matéria seca (MS) a 105 ºC em estufa com circulação de ar até peso constante, do azoto ( 2), da cinza bruta (CB) ( 8 ) e da energia bruta (EB) em bomba calorimétrica adiabática. A matéria orgânica (MO) foi calculada subtraindo o teor de CB à MS. A fracção fibrosa total [(celulose, hemicelulose e lenhina-NDF (fibra neutro-detergente)] e a fracção celulose + lenhina (ADF – fibra ácido-detergente) foram determinadas pelo método de Goering e Van Soest ( 5 ). Na determinação da digestibilidade in vitro da MS e da MO (DMS e DMO) utilizou-se o método de Tilley e Terry ( 11 ) modificado por Alexander e McGowan ( 1 ). 2.2 – Análise estatística Os resultados foram analisados estatisticamente através de análises de variância com o objectivo de determinar possíveis diferenças existentes na produção e na composição química originadas pelas diferentes densidades de sementeira e épocas de corte utilizadas. Quando se observaram diferenças significativas entre tratamentos realizou-se o teste de comparação múltipla das médias segundo o método das médias dos mínimos quadrados (LSM) ( 10 ). 3 – RESULTADOS Os resultados obtidos apresentam-se nos quadros 1 e 2. No quadro 1 pode-se observar que a densidade de sementeira não afectou a composição química da planta em plena floração. PASTAGENS E FORRAGENS 20 137 138 QUADRO 1 – Efeito da densidade de sementeira e da época de corte na composição química e na digestibilidade in vitro da matéria seca (DMS) e da matéria orgânica (DMO) da sula. Densidade (D) kg/ha Corte (C) 1995/1996 Parâmetros 10 MS (%) MO (% MS) PB (% MS) NDF (% MS) PASTAGENS E FORRAGENS 20 ADF (% MS) EB (MJ/ha) DMS (%) DMO (%) 15,6 (0,58) 89,5 (0,41) 18,1 (0,55) 39,3 (1,2) 29,8 (1,1) 1,79c (0,015) 68,5 (1,16) 64,6 (1,40) 16 15,6 (0,58) 88,6 (0,41) 19,2 (0,55) 38,9 (1,2) 30,8 (1,1) 1,77abc (0,015) 68,1 (1,16) 63,7 (1,40) 22 15,3 (0,58) 89,1 (0,42) 18,8 (0,56) 38,5 (1,2) 30,0 (1,1) 1,73a (0,015) 68,2 (1,18) 64,1 (1,43) 28 16,2 (0,58) 89,3 (0,41) 19,0 (0,55) 39,9 (1,2) 31,2 (1,1) 1,74ab (0,015) 68,0 (1,16) 64,1 (1,40) 34 13/5 9/7 28/10 11/3 13/6 D C D*C r2 14,9 (0,58) 89,4 (0,41) 19,0 (0,55) 38,6 (1,2) 30,6 (1,1) 1,78bc (0,015) 68,8 (1,16) 64,8 (1,40) 14,4ab (0,77) 91,5 d (0,5) 13,3a (0,7) 42,0 b (1,6) 30,5 (1,5) 1,79c (0,02) 74,1c (1,5) 72,4c (1,9) 22,5 c (0,77) 88,6 b (0,5) 18,8bc (0,7) 40,3 b (1,6) 29,8 (1,5) 1,76b (0,02) 68,8 b (1,5) 65,0 b (1,9) 12,6a (0,50) 85,5a (0,4) 24,0d (0,5) 35,5a (1,1) 29,3 (0,98) 1,69a (0,01) 71,0bc (1,0) 66,3b (1,2) 12,8a (0,50) 90,7cd (0,4) 19,9c (0,5) 35,6a (1,1) 29,6 (0,95) 1,81c (0,01) 71,0bc (1,0) 67,0 b (1,2) 15,2b (0,50) 89,8d (0,4) 18,0b (0,5) 41,9b (1,1) 33,0 (0,95) 1,75b (0,01) 56,7a (1,0) 50,6a (1,2) ns *** ns 0,67 ns *** ns 0,69 ns *** ns 0,72 ns ns ns 0,16 * *** ns 0,46 ns *** ns 0,73 ns *** ns 0,71 Valores entre parêntesis – erro-padrão da média. ns – médias não significativamente diferentes; a, b, c, d, índices que quando diferem indicam médias significativamente diferentes para P<0,05 (*), P<0,01 (**) e P<0,001(***). PASTAGENS E FORRAGENS 20 QUADRO 2 – Efeito da densidade de sementeira e da época de corte na produção de matéria verde (MV), matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), NDF, ADF, energia bruta (EB), matéria seca digestível (MSD) e matéria orgânica digestível (MOD). Densidade (D) kg/ha Parâmetros 10 MV (kg/ha) 32 380 (7 457) MS (kg/ha) 4 993a (245) MO (kg/ha) 4 524a (215) PB (kg/ha) 866a (63) NDF (kg/ha) 1 949 (141) ADF (kg/ha) 1 487 (117) EB (Mj/ha) 90,4a (4,3) MSD (kg/ha) 3 476a (168) MOD (kg/ha) 2 983a (140) Corte (C) 1995/1996 16 22 28 34 13/5 9/7 28/10 11/3 34 830 (7 457) 5 264a (245) 4 706a (215) 967ab (63) 2 036 (141) 1 616 (117) 94,2ab (4,3) 3 664ab (168) 3 086a (140) 50 420 (7 457) 5 200a (245) 4 651a (220) 970ab (65) 1 979 (144) 1 550 (119) 90,4a (4,4) 3 585a (172) 3 031a (143) 38 970 (7 457) 5 948b (245) 5 335b (215) 1 120bc (63) 2 345 (141) 1 860 (117) 104,4bc (4,3) 4 094bc (168) 3 471b (140) 42 089 (7457) 6 109b (245) 5 475b (215) 1 158c (63) 2 341 (141) 1 877 (117) 108,5c (4,3) 4 237c (168) 3 582b (140) 42 089 (9 865) 7 450c (324) 6 792c (285) 1 051c (84) 3 103c (187) 2 264c (155) 1 32,4c (5,7) 5 419c (223) 4 788c (185) 10 850a (9 865) 2 830a (324) 2 522a (285) 518a (84) 1 101a (187) 816a (155) 50,2a (5,7) 1 999a (223) 1 688a (185) 30 450ab (6 458) 3 892b (212) 3 314b (192) 947c (56) 1 408a (126) 1 180ab (104) 65,7b (3,8) 2 738b (150) 2 187b (124) 81 140c (6 458) 9 119d (324) 8 270d (186) 1818 d (55) 3 241c (122) 2 701d (101) 165,5d (3,7) 6 484d (146) 5 554d (121) 13/6 27 570ab (6 458) 4 224b (324) 3 794b (186) 750b (55) 1 796b (122) 1 423b (101) 74,0c (3,7) 2 415ab (146) 1 935ab (121) D C D*C r2 ns *** ns 0,48 ** *** ns 0,89 ** *** ns 0,90 ** *** ns 0,83 ns *** ns 0,76 ns *** ns 0,76 ** *** ns 0,90 *** *** ns 0,91 *** *** ns 0,92 Valores entre parêntesis – erro-padrão da média. ns – médias não significativamente diferentes; a, b, c, d, índices que quando diferem indicam médias significativamente diferentes para P<0,05 (*), P<0,01 (**) e P<0,001(***). 139 Apenas na EB se observaram diferenças significativas (P<0,05), contendo as plantas obtidas com densidades de sementeira de 22kg/ha e 28kg/ha menores teores de EB. A época de corte influenciou as características químicas e nutritivas da sula (P<0,001), sendo Outubro a época do ano em que as plantas apresentam mais elevados teores de PB (24% na MS), menores teores de compostos parietais (NDF) (35,5% na MS) e uma elevada DMS (71%). No mês de Maio do 1º ano os valores de DMS e DMO são bastante elevados (74,1 e 72,4%, respectivamente) apesar de se terem obtido, nesta época do ano, plantas com os menores teores de PB (13,3%) e os mais elevados teores de compostos parietais (42% na MS). Pelo quadro 2 pode-se observar que as mais elevadas produções de MS e de nutrientes são obtidas com as doses de sementes de 28 e 34 kg/ha. Entre estas duas doses não há diferenças significativas (P> 0,05). Foi em Março do 2º ano que se obtiveram as maiores produções de MS, de nutrientes e de fracção digestível da MS e da MO por hectare, sendo as mais baixas produções observadas em Julho (P<0,05). 4 – DISCUSSÃO E CONCLUSÕES Em face dos resultados obtidos pode-se concluir que a sula contém um elevado teor de PB, de DMS e DMO. Das doses de sementes ensaiadas, a de 28 kg/ha é a mais favorável à produção, uma vez que com ela se obtêm rendimentos de MS, PB, MS digestível e MO digestível significativamente superiores (P<0,05) aos conseguidos com as doses de 10, 16 e 22 kg/ha e semelhantes às obtidas com 34 kg/ha (P>0,05). Utilizando doses de sementes de 20, 40 e 60 kg/ha, Douglas e Foote (4 ) verificaram que com 20 kg de semente/ha obtinham produções de MS e de semente tão boas como com doses mais elevadas. No 1.º ano verificaram-se alguns problemas com a germinação das sementes, as quais germinaram de forma bastante heterogénea, germinando no 1.º ano as repetições I e II e no 2.º ano as repetições III e IV, tendo sido afectada, desta forma, a idade da planta. Esta heterogeneidade na germinação da sula é referida por vários autores como sendo consequência de uma percentagem elevada de sementes duras. Segundo Cavazza* Villax ( 12) e Olea et * Cavazza (1950) citado por Watson, M. J. (13). 140 PASTAGENS E FORRAGENS 20 al. (9) é frequente encontrar na sula 15 a 20% de sementes duras, sendo a imersão das sementes em água quente (65º-75º) durante 1 minuto e a escarificação as melhores formas de as eliminar . No ano de 1996 as chuvas invernais foram abundantes, ficando os talhões das repetições I e II parcialmente submersos. Os talhões III e IV, devido a boas condições de drenagem, não sofreram alagamento. Por este facto, verificou-se uma maior germinação de sementes nos talhões I e II por quebra de dormência provocada pela água, enquanto que nos talhões III e IV a germinação deu-se apenas no Outono seguinte. Apesar de todos os problemas observados durante o 1.º ano, as quantidades de MS e de PB obtidas nos 3 cortes realizados foram elevadas (respectivamente 14,2 e 2,5 t/ha). No 2.º ano pode-se considerar um rendimento superior ao do 1.º, uma vez que apenas em dois cortes realizados (Março e Junho) se obtiveram produções de13,3 t de MS/ha e 2,6t de PB/ha. Douglas e Foote (4) referem produções de 15,4 t MS/ha no 1.º ano e valores inferiores no 2.º ano (12,7 t/ha). As grande produções observadas em Maio do 1.º ano (7,5t MS/ha) e principalmente em Março do 2.º (9,1 t/ha) levam a concluir-se que a sula é uma planta de crescimento intenso no Inverno e na Primavera, o que se torna bastante vantajoso no nosso País, uma vez que, nesta altura, a maior parte das leguminosas forrageiras estão ainda a iniciar o seu desenvolvimento vegetativo. O decréscimo das produções de MS e de nutrientes e a fracção digestível de MS e de MO verificados entre a Primavera e o Verão estão de acordo com as observações de Villax ( 12). Este autor refere que a sula com temperaturas muito elevadas não se desenvolve ou desenvolve-se pouco, mesmo em condições de regadio. A paragem de crescimento durante o Verão, mesmo com rega, é, segundo Ballatore*, consequência da forte intensidade luminosa que se faz sentir e que faz a planta florescer prematuramente, detendo a fase vegetativa de crescimento. Apesar da variedade Grimaldi ser uma das mais resistentes ao oídio, neste ensaio observaram-se ainda, em Outubro, algumas plantas atacadas pelo fungo. Pensa-se que se o corte tivesse sido realizado um pouco mais cedo (início de Outubro ) este problema não se teria verificado. De tudo o que se observou pode-se concluir que a sula é uma espécie forrageira com uma boa distribuição de produção de erva ao longo do ano. A * Ballatore (1963) citado por Gutiérrez Más, J. C. (6). PASTAGENS E FORRAGENS 20 141 sua instalação tem interesse para os solos calcários da região centro (localizados no Ribatejo e no centro e Sul da Beira Litoral) e ainda em pequenas zonas dispersas do Alto Alentejo, Baixo Alentejo e Algarve, principalmente para solos mais pedregosos de baixa, onde as geadas sejam pouco frequentes e a prática de agricultura seja difícil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 – ALEXANDER, R. H.; MCGOWAN, M. – A filtration procedure for the in vitro determination of digestibility of herbage. "J. Brit. Grassl. Soc.", vol.16, 1966, p. 140-147. 2 – ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS – Official Methods of Analysis. Washington DC, AOAC, 1990. 3 – DENTINHO, Maria Teresa Vacas de Carvalho Ponce – Valor Nutritivo da Sula (Hedysarum coronarium L.). Tese de mestrado. Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, 1997. 4 – DOUGLAS, G. B.; FOOTE, A. G. – Dry matter and seed yields of sulla (Hedysarum coronarium L.). "New Zealand J. of Exper. Agric.", vol.13, 1985, p. 97-99. 5 – GOERING, H. K.; VAN SOEST, P. J. – Forage fiber analysis (apparatus, reagents, procedures and some aplications). Washington, United States Departement of Agriculture, 1970. (Agric. Handbook nº 379). 6 – GUTIÉRREZ MÁS, J. C. – Aproximación a la ecología, de la zulla Hedysarum coronarium L. Distribución geográfica de poblaciones naturales en la provincia de Cádiz. Posibilidades de expansión en la Península Ibérica. "Pastos", 16 (1-2) 1986, p. 1-16. 7 – MONTEZ PEREZ, Teodoro – La zulla. Nuevas areas de cultivo, su problematica. "Pastagens e Forragens", vol.14/15, 1993/94, p. 173-187. 8 – NORMA PORTUGUESA, NP-872 – Alimentos para Animais. Determinação do Teor de Cinzas. Lisboa, Direcção-Geral da Qualidade, 1983. 9 – OLEA, L. et al.– Eliminación de la dureza seminal en las leguminosas pratenses anuales autóctones. "Pastagens e Forragens", vol.10, 1989, p. 205-212. 10 – SAS – SAS/STAT User´s Guide. Vol. 2. Cary, NC, SAS Inst., 1989. 11 – TILLEY, J. M. A.; TERRY, R. A. – A two stage technique for the in vitro digestion of forage crops. "J. Br. Grass Soc.", vol. 18, 1963, p. 104-111. 12 – VILLAX, E. J. – La culture des plantes fourragères dans la région méditerranéenne occidentale. Rabat, Institut National de la Recherche Agronomique, 1963. 13 – WATSON, M. J. – Hedysarum coronarium L. – a legume with potencial for soil conservation and forage. "New Zealand J. Agric. Sci.", vol. 16, 1982, p.189-193. 142 PASTAGENS E FORRAGENS 20 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 143–144. XX REUNIÃO DE PRIMAVERA DA SPPF. ELVAS, 13 A 16 DE ABRIL DE 1999 PASTAGENS E FORRAGENS EM PECUÁRIA EXTENSIVA CONCLUSÕES • É fundamental o estudo e a caracterização dos "Sistemas de produção extensiva", aos quais deverão ser aplicadas soluções inovadoras, adequadas e próprias para cada situação, nunca efectuando uma transferência directa de soluções derivadas e "adaptadas" de produção extensiva. • Os estudos a desenvolver em produção extensiva devem abarcar a globalidade dos sistemas e caracterizar e quantificar todos os componentes. Deve-se apostar numa "investigação de sistema", com trabalhos mais completos, mais abrangentes e mais integradores. • É urgente repensar a forma como é feita a transferência de informação e de soluções inovadoras geradas pela investigação. Devem ser encontradas novas formas de veicular os resultados da investigação até aos agricultores. Para tal, deverá ser promovido um maior diálogo entre todos os intervenientes, para detectar as necessidades e traçar os planos de acção que permitam concretizar a aplicação prática dos resultados obtidos. • Deve-se aproveitar a maior apetência actual do consumidor pelos produtos naturais e ecológicos obtidos em sistemas de produção extensiva, para poder cimentar a imagem de qualidade destes produtos, melhorar a sua apresentação e certificação e consagrar as pastagens e forragens como garante da sustentabilidade da produção pecuária extensiva. • Os produtos pecuários com denominação de origem, obtidos em produção extensiva, devem merecer maior atenção no momentos da sua comercialização, pois não basta só saber produzir, é preciso também saber comercializar. 143 • Um aspecto crucial no sucesso da produção pecuária extensiva é o maneio das pastagens e dos animais. Misturas equilibradas, fertilizações atempadas, cargas animais adequadas, maneio reprodutivo controlado e alimentação monitorizada são fundamentais para uma maximização da eficiência do aproveitamento da pastagem e da sua rendibilização. • Determinadas espécies de animais valorizam melhor a pastagem do que outras. No caso dos suinos, por exemplo, o pastoreio nem sempre é suficiente para obter as produções desejadas e, portanto, há sempre que recorrer à suplementação. • Uma produção extensiva pressupõe uma perfeita racionalização do uso dos factores de produção e um incremento da eficiência da sua utilização. O primeiro passo para este tipo de produção deverá ser um aumento da fertilidade do solo, em particular da matéria orgânica, através de técnicas como a mobilização mínima, a sementeira directa e a rotação de culturas em terras aráveis, com o fim de obter um aumento da produtividade das espécies forrageiras e pratenses e um aumento da produtividade dos animais que delas se alimentam. • Os sistemas de produção extensiva apenas se poderão manter se forem sustentáveis, tanto em termos agronómicos como económicos. Para tal, deverão ser encontradas soluções e inovações tecnológicas que possibilitem a manutenção da fertilidade do solo, a redução dos custos de produção, a perservação dos recursos naturais, o aumento da produtividade e eficiência destes sistemas e o aumento e valorização da qualidade dos produtos obtidos. 144 PASTAGENS E FORRAGENS 18 "Pastagens e Forragens", vol. 20, 1999, p. 145–152. AVALIAÇÃO DE LINHAS AVANÇADAS DE TRIFOLIUM SUBTERRANEUM L. EM SELECÇÃO NAS CONDIÇÕES DE ELVAS* Noémia Farinha, António Brito, Luís Goulão♦, João Paulo Carneiro♣ Escola Superior Agrária de Elvas – Apartado 254 – 7350 ELVAS ♦ ♣ Instituto Superior de Agronomia – Tapada da Ajuda – 1399 LISBOA Estação Nacional de Melhoramento de Plantas – Apartado 6 – 7350 ELVAS RESUMO Na sequência dos trabalhos de melhoramento de trevo subterrâneo, a decorrer na Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, com o objectivo de seleccionar cultivares bem adaptadas às condições edafoclimáticas de Portugal, foram testados, em Elvas, treze genótipos de trevo subterrâneo, em fase final de selecção e provenientes das populações Crato, Vinhais, D. Dinis, S. Vicente e Ajuda. Estes genótipos foram comparados com cultivares australianas (Clare, Seaton Park e D. Pedro) e com as cultivares portuguesas já inscritas no Catálogo Nacional de Variedades (Davel e Romel). Os genótipos foram testados em povoamento denso e submetidos a cortes para simular o pastoreio. Paralelamente observaram-se os mesmos genótipos em linhas de plantas individualizadas para efectuar a sua caracterização e avaliar a homogeneidade e estabilidade. As características registadas foram a produção de matéria seca por unidade de área, o ritmo sazonal de crescimento, a produção de sementes, a regeneração, a data de floração e a dureza da semente. Deste trabalho resultou a eleição dos genótipos 627 (proveniente da população D. Dinis), 559 (Vinhais), 855 (Ajuda), e 724 (S. Vicente), para serem testados em condições de pastoreio. Prosseguindo a linha de trabalho que deu origem à eleição das cultivares Davel e Romel, espera-se seleccionar brevemente novas cultivares de trevo subterrâneo. PALAVRAS-CHAVES: Trevo subterrâneo; Selecção; Avaliação agronómica; Cultivares. ABSTRACT In the sequence of the work to improve subterranean clover in the National Plant Breeding Station (ENMP), with the aim to select varieties well adapted to the Portuguese conditions, have been tested, in Elvas, thirteen genotypes of * Comunicação apresentada na XIX Reunião de Primavera da SPPF. Castelo Branco, Maio de 1998. 145 subterranean clover, in final phase of selection and coming from populations Crato, Vinhais, D. Dinis, S. Vicente and Ajuda. These genotypes have been compared with Australian varieties (Clare, Seaton Park and D. Pedro) and with Portuguese varieties already in the National Catalogue of Varieties (Davel and Romel). The genotypes were tested in dense stand and submitted to cuts to simulate the grazing. In parallel, the same genotypes have been observed in individual strings of plants for characterization and to evaluate the homogeneity and stability. The observed features have been producted of dry matter for unit of area, seasonal rhythm of growth, seed production, regeneration, date of flowering and the seed hardness. From this results have been selected the genotypes 627 (proceeding from the population D. Dinis), 559 (Vinhais), 855 (Ajuda), and 724 (S. Vicente), to be tested in similar conditions to ones of practical use. Continuing the work that originated the varieties Davel and Romel, one expects briefly to select new varieties of subterranean clover. KEY WORDS: Subterranean clover; Selection; Agronomic evaluation; Cultivars. 1 – INTRODUÇÃO A selecção de variedades passa pela construção de ideótipos de plantas que possuam características agronómicas desejáveis e que tenham a possibilidade de tirar o melhor partido das condições ambientais em que se pretenda cultivá-las. O trevo subterrâneo tem como zona de distribuição natural a região mediterrânica, incluindo a Europa Ocidental, Canárias e Madeira, indo até ao Mar Cáspio (4, 5, 6, 7, 8). Deste modo, as populações aqui colhidas estarão naturalmente melhor adaptadas a estas condições ambientais do que as cultivares importadas (principalmente da Austrália). É necessário, contudo, testar o valor agronómico das futuras cultivares, além de efectuar uma caracterização adequada, tendo em vista, nomeadamente, os testes de distinção, homogeneidade e estabilidade, a que os genótipos serão submetidos para serem inscritos no Catálogo Nacional de Variedades A Estação Nacional de Melhoramento de Plantas tem, desde a década de 60, feito a avaliação de trevos subterrâneos, tendo partido de combinações genéticas naturais obtidas quer pela colheita de germoplasma em Portugal, quer pela permuta de germoplasma com outros países de clima mediterrânico. A escolha das melhores populações, no que respeita à produção de matéria seca e de sementes (1, 2 ) conduziu à eleição das seguintes populações: Penacova, Crato, D. Sancho, Vinhais, D. Dinis, Ajuda e S. Vicente. A avaliação agronómica de genótipos seleccionados a partir destas populações e de cinco cultivares constitui o estudo base deste trabalho. 146 PASTAGENS E FORRAGENS 20 2 – MATERIAL E MÉTODOS Neste trabalho apresenta-se o estudo efectuado na ENMP, entre 1994/95 e 1996/97, com treze genótipos de trevo subterrâneo em fase avançada de selecção. Foram utilizadas, como testemunhas, três cultivares australianas (Clare, Seaton Park e D. Pedro) e duas cultivares portuguesas (Davel e Romel) seleccionadas na ENMP. As sementes utilizadas foram obtidas a partir de plantas individuais, seleccionadas em anos anteriores e entretanto multiplicadas. Aquelas plantas foram seleccionadas das populações Penacova, Crato, Vinhais, D. Dinis, S. Vicente e Ajuda (quadro 1). Os genótipos foram testados em povoamento denso (densidade de sementeira de 500 sementes.m-2) plurianual, em parcelas de 2 × 2 m, dispostas em 4 blocos casualizados e submetidas a corte para simulação de pastoreio. As variáveis observadas foram a produção de matéria seca em cada corte, com a avaliação numa área de 1 m2 em cada parcela; a produção de sementes, colhendo-se duas amostras de sementes de 0,2 × 0,2 m em cada parcela. QUADRO 1 – Proveniência dos genótipos em estudo. Genótipo N.º colecção na ENMP População original 46 356 395 2985 2011 2011 Penacova Crato Crato subterraneum brachycalycinum brachycalycinum 559 2201 Vinhais brachycalycinum 627 2396 D. Dinis brachycalycinum 702 724 725 766 1991 1991 1991 1991 S. S. S. S. brachycalycinum brachycalycinum brachycalycinum brachycalycinum 839 854 855 869 1955 1955 1955 1955 Ajuda Ajuda Ajuda Ajuda Clare Seaton Park D. Pedro cultivar australiana cultivar austaliana cultivar australiana (1) Davel Romel cultivar portuguesa cultivar portuguesa Vicente Vicente Vicente Vicente Subespécie subterraneum subterraneum subterraneum subterraneum brachycalycinum subterraneum brachycalycminum D. Dinis D. Sancho brachycalycinum brachycalycinum (1) Cultivar seleccionada na Austrália a partir da população portuguesa D. Dinis*. Paralelamente e anualmente estabeleceu-se um ensaio com plantas espaçadas de 1 × 0,25 m em 4 blocos casualizados. Este ensaio destinou-se à * Clive Francis, 1996 (Comunicação pessoal). PASTAGENS E FORRAGENS 20 147 caracterização dos genótipos, apresentando-se apenas os resultados referentes à data de floração (número de dias desde a sementeira até 50% das plantas terem pelo menos uma flor aberta) e ao teor de sementes duras determinado três meses após a colheita, tendo as sementes sido mantidas ao ar livre e à temperatura ambiente. 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO Avaliando a precocidade pela data de floração, observa-se na figura 1 que a quase totalidade dos genótipos em selecção são pouco precoces, tendo como comparação as cultivares australianas Seaton Park (medianamente precoce) e Clare. Apenas os genótipos 855 e 46 são mais precoces do que a cv. Clare. Esta característica deverá estar relacionada com o facto de, no processo de selecção das populações de onde se retiraram estes genótipos, a produção de matéria seca total ter sido um importante critério de selecção (em geral maior produção de matéria seca está associada a floração mais tardia). Dever-se-á ter em consideração que a produção de sementes das cultivares mais tardias estará mais condicionada a ambientes com boas disponibilidade hídricas. FIGURA 1 – Número de dias da sementeira à floração dos genótipos em estudo. A produção de sementes, por ser um dos principais factores que garantem a regeneração da pastagem, é uma das principais características a considerar na selecção de trevo subterrâneo. Verificou-se que havia diferenças altamente significativas quanto à produção de sementes dos genótipos em apreço. Como se pode ver na figura 2, os genótipos 627 e 395 relevaram-se com interesse, tendo em consideração esta característica. Contudo, o genótipo 395 (tal como o genótipo 356) revelou susceptibilidade ao oídio em alguns 148 PASTAGENS E FORRAGENS 20 dos anos de ensaio. É de salientar o bom comportamento, quanto à produção de sementes, das cultivares portuguesas Davel e Romel. FIGURA 2 – Produção de sementes (g/m2) em povoamento denso. O teor de sementes duras constitui, a par com a produção de sementes, um importante critério de selecção, tendo em vista a persistência da pastagem. Como genótipos mais interessantes para esta característica, temos o 869, o 855 e o 724 (figura 3). De notar que o genótipo 627 concilia uma elevada produção de sementes com bom teor de sementes duras, pelo que dá garantias de que, para condições semelhantes às de Elvas, será um genótipo com elevada persistência. FIGURA 3 – Percentagem de sementes duras avaliada três meses após a colheita. Até à data em que foi efectuado colheita), as sementes foram deixadas da temperatura ambiente. Deste modo, térmica observada nos anos de ensaio. PASTAGENS E FORRAGENS 20 o teste de germinação (três meses após a ao ar livre, apenas sujeitas às oscilações a quebra de dureza depende da amplitude Verifica-se que a cultivar Clare apresenta 149 um dos valores de dureza mais baixos, quando comparado com os outros genótipos, sendo este um dos principais inconvenientes desta cultivar (3). A produção total de matéria seca é considerada um critério com menor importância do que os anteriores, mas que valoriza as potenciais cultivares. Neste estudo, observou-se que o genótipos 627, com elevada produção de sementes e com dureza considerável, é o que apresenta o maior potencial produtivo quanto a matéria seca (figura 4). O genótipo 559 e as cultivares Romel e Davel, da ENMP, estão também entre os mais produtivos. FIGURA 4 – Produção total de matéria seca (g/m2/ano) em povoamento denso. A produção de matéria seca no primeiro corte dá uma ideia da capacidade dos genótipos para produzirem numa época de escassez do alimento como o é o período outono-invernal. Verificou-se que a cultivar Davel apresenta o maior valor de produção no 1.º corte (figura 5), superior ao da cultivar Clare, a qual é conhecida pelo sua elevada produção invernal. FIGURA 5 – Produção de matéria seca no primeiro corte (g/m2) em povoamento denso. 150 PASTAGENS E FORRAGENS 20 4 – CONCLUSÕES Para seleccionar novas cultivares de trevo subterrâneo dever-se-ão testar, em condições experimentais mais semelhantes às condições de cultura, os seguintes genótipos, devido às suas características agronómicas: • 627 – tem teor medianamente elevado de sementes duras, elevada produção de sementes, elevada produção de matéria seca (tem para estes dois parâmetros os valores mais elevados, do grupo que se estudou); poderá ter como limitação ser muito tardio; • 559 – tem elevada produção de sementes (valor médio de 1000 kg/ha), teor médio de sementes duras e boa produção de matéria seca; • 855 – é precoce, característica pouco frequente nas populações portuguesas, tem teor elevado de sementes duras, é o genótipo com maior produção de sementes no conjunto dos originários da mesma população; • 724 – tem teor elevado de sementes duras, precocidade média quando comparado com os outros genótipos, e embora não tenha produção de sementes elevada é o genótipo, retirado da população S. Vicente, que está em segundo lugar para este parâmetro. Os genótipos 395 e 356 têm boa produção de sementes, mas não foram escolhidos por serem muito susceptíveis ao oídio. Observou-se bom comportamento das cultivares Davel e Romel, confirmando em particular a cultivar Davel como apresentando um comportamento agronómico interessante nas condições de Elvas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 – CRESPO, D. G. – Some agronomic aspects of selecting subterranean clover (Trifolium subterraneum L.) from portuguese ecotypes. In: "Proceedings of the XI International Grassland Congress". St. Lucia, Australia, University of Queensland Press, 1970, p. 207-210. 2 – CRESPO, D. G.; ROMANO, A. M. – Alguns Resultados do Trabalho de Selecção de Trevo Subterrâneo [Trifolium subterraneum L. (sensu latu)] em Elvas com Particular Referência à Data de Floração. "Melhoramento", vol. 28, 1982, p. 75-88. 3 – FRANCIS, C. M.; RAMOS MONREAL, A.; QUINLIVAN, B. 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