Era uma vez um escritor amado

Transcrição

Era uma vez um escritor amado
# 5 – agosto 2012
Boca no trombone
Era uma vez um escritor amado...
P
oucos brasileiros sintetizaram tão bem
o Brasil quanto Jorge Amado. Suas
obras incorporaram personagens ao
imaginário nacional e sua própria história de
vida seguiu um enredo emblemático, com
intervenções políticas, defesa à liberdade de
culto religioso, influência na intelectualidade
e observação de costumes do povo. Ele, que
queria apenas relatar os causos de uma
região do Nordeste brasileiro, acabou por
retratar e construir a identidade de um país
povoado por negras fogosas, brancas pudicas
e elitistas, políticos, trabalhadores, meninos
de rua, pescadores, bêbados, terreiros e
mães de santo. As histórias de Amado, que
foram escritas num ritmo quase ininterrupto
entre 1931 e 1997, ajudaram a disseminar a
cultura brasileira pelo mundo, impulsionaram
a produção literária nos países africanos de
língua portuguesa e, ainda hoje, contribuem
para um entendimento mais amplo do que é
ser brasileiro.
Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de
1912 na fazenda Auricídia, município de
Itabuna, sul da Bahia. Já em Salvador,
enquanto fazia os estudos secundários,
começou a trabalhar como repórter policial,
publicou o texto “Poema ou prosa” e foi um
dos fundadores da Academia dos Rebeldes,
que pregaba “uma arte moderna sem ser
modernista”.
Sob o pseudônimo Y. Karl publicou em “O
Jornal” a primeira novela, “Lenita” (1929),
escrita em parceria com Edson Carneiro e
Dias da Costa, e logo lançou seu primeiro
livro, o romance “O País do Carnaval” (1931).
Identificou-se com o Movimento de 30, do
qual faziam parte escritores como José
Américo de Almeida, Rachel de Queiroz e
Graciliano Ramos. Filiado ao Partido
Comunista Brasileiro (PCB), livros como
“Cacau” (1933) e “Suor” (1934) foram
apreendidos por “subversivos” e queimados
em praça pública; ele foi perseguido e preso
inúmeras vezes nos anos do Estado Novo
(1937-1945), devendo-se refugiar no Uruguai
e na Argentina, onde publicou as biografias
“ABC de Castro Alves” (1941) e “A vida de
Luís Carlos Prestes”, rebatizada depois de “O
Cavaleiro da Esperança” (1942).
Confinado na Bahia, o que tinha a dizer sobre
a terra e seus homens ganhou força épica e
trágica em “Terras do Sem Fim” (1943) e
“São Jorge dos Ilhéus” (1944). Em 1945 foi
eleito membro da Assembléia Nacional
Constituinte pelo PCB, sendo o deputado
federal mais votado de São Paulo. Foi o autor
da lei (que continua em vigor até hoje) que
assegura o direito à liberdade de culto
religioso. Nesse ano, publicou o guia “Bahia
de Todos os Santos” e passou a viver com
Zélia Gattai, com quem se casou em 1978.
Em 1947, o PCB foi declarado ilegal e seus
membros perseguidos e presos. Jorge se
exilou com a família na França e na
Checoslováquia. De regresso ao Brasil, em
1955, ele foi eleito presidente da Associação
Brasileira de Escritores, se afastou da
militância política e dedicou-se inteiramente
à literatura, aprofundando nos temas da
realidade do cotidiano brasileiro. A nova fase
do escritor trouxe um país mais sensual,
despudorado e místico, em livros como
“Gabriela, cravo e canela” (1958) e “Teresa
Batista cansada de guerra” (1972).
JornalDaCasa é uma publicação de CasaDoBrasil. www.casadobrasil.com.uy
Editor: Leonardo Moreira. Mail: [email protected]
# 5 – agosto 2012
Em 1959 recebeu o título de obá arolu no
Axé Opô Afonjá. Embora fosse um
“materialista
convicto”,
admirava
o
candomblé, que considerava uma religião
“alegre e sem pecado”.
Em 1961 foi eleito por unanimidade para a
cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras
(ABL), que tem por patrono José de Alencar, e
por primeiro ocupante, Machado de Assis, e
publicou em um mesmo volume, “Os velhos
marinheiros ou o capitão de longo curso” e “A
morte e a morte de Quincas Berro D'água”,
considerado por muitos a sua obra-prima.
No mesmo ano, vendeu os direitos de
filmagem de “Gabriela, cravo e canela” para
a Metro-Goldwyn-Mayer, o que lhe permitiu
construir a casa da Rua Alagoinhas, no
boêmio bairro do Rio Vermelho, em Salvador,
onde morou com a família, de 1963 até sua
morte, em 6 de agosto de 2001.
O sincretismo religioso, presente nos terreiros
e nas ruas da Bahia, se tornou ainda mais
representativo com a publicação de
“Pastores da Noite” (1964) e “Tenda dos
milagres” (1969). O doutor em Letras e
professor da ECO-UFRJ, Muniz Sodré, observa
que ao incluir elementos religiosos em sua
narrativa, Jorge complementa o imaginário a
vida dos personagens baianos e afirma sua
obra como espelho da vida da cidade.
“Considero o Jorge um explicador do Brasil.
Ele parecia se perguntar o tempo todo:
‘Quem é o povo brasileiro?’ O império
português nos deu a nação, mas não deu o
povo, que é o grande enigma nacional.
Amado punha a liturgia da fé no centro da
linguagem romanesca”, explica Sodré.
Ao traçar as cores e cheiros do Brasil, Amado
delineou os aspectos de um povo mestiço,
religioso, que sobrevivia em meio à miséria e
contrastava com as figuras idealizadas por
José de Alencar e Gonçalves de Magalhães
na prosa romântica do século XIX. O “jeitinho”
e as manhas expressas nas letras de Amado
podem ser interpretados, segundo o crítico
literário José Castello, como mitos de
fundação do Brasil popular. “Jorge faz parte
de um grupo precioso de poucos e grandes
homens, como Paulo Prado e Gilberto Freyre,
que ajudaram a moldar a ideia moderna que
temos do Brasil. Essa visão pode parecer um
pouco datada porque o país mudou muito,
principalmente nestes dez últimos anos, mas
isso não exclui a grandeza e a riqueza dos
tipos e imagens que ele criou”, explica
Castello.
O escritor João Ubaldo Ribeiro, amigo e
conterrâneo de Amado, concorda com o
crítico. “Jorge Amado não escreveu livros, ele
escreveu um país. Amado expandiu nossos
horizontes, criou e formou leitores e
aproximou-nos de nós mesmos”.
Diferentemente de Ubaldo, Ana Maria
Machado, presidente da ABL e autora de
“Romântico, sedutor e anarquista — Como e
por que ler Jorge Amado”, evita classificá-lo
como descobridor ou inventor do Brasil. Ela
prefere dizer -como Jorge afirmou em muitas
entrevistas- que ele foi um grande contador
de histórias. “Ele levantou problemas sociais,
criou discussões, mas não acho que ele tinha
um projeto de criar um Brasil, o que importa
são as obras dele, e o resultado está aí: um
universo muito rico de histórias”, diz Ana
Maria, que destaca “Jubiabá” (1935) e “Mar
Morto” (1936) como os melhores textos da
primeira fase do autor, marcada por
narrativas políticas.
Incluir elementos de luta política e do
candomblé fez com que a literatura de
Amado fosse lida com grande interesse nos
países africanos de língua portuguesa, como
explica o premiado escritor moçambicano Mia
Couto. “Ele falava de um Brasil que continha
uma África dentro. É fácil identificar as cores
e os cheiros da África nas páginas, nos
personagens negros, mulatos. Ele foi
fundamental para nos darmos conta de nós
mesmos e observarmos as nossas danças,
nosso erotismo, o nosso modo de comer e
beber.”
A obra literária de Jorge Amado foi traduzida
em 49
idiomas,
existindo
também
exemplares em braile e em formato de áudiolivro, e conheceu inúmeras adaptações para
a rádio, o cinema, o teatro e a televisão, além
de ter sido tema de escolas de samba em
várias partes do Brasil.
# 5 – agosto 2012
Amado, na telinha…
-Gabriela, cravo e canela, Tupi (1961) e
Globo, (1975 e 2012*)
-Terras do sem fim, Tupi (1966) e Globo (1981)
-A morte e a morte de Quincas Berro D’água,
Tupi (1968) e Globo (1978)
-Tenda dos milagres, Globo (1985)
-Capitães da areia, Band (1989)
-Tieta, Globo (1979)
-Tereza Batista, Globo (1992)
-Tocaia grande, Manchete (1995)
-Dona Flor e seus dois maridos, Globo (1998)
-Porto dos milagres - adaptação de “Mar
morto” e “A descoberta da América pelos
turcos”- Globo, 2001
… e na telona
-Terra violenta (baseado em “Terras do sem
fim”) – direção: Anselmo Duarte, 1948
-Vendaval maravilhoso (baseado em “ABC de
Castro Alves”) - José Leitão de Barros, 1949
-The sandpit generals (baseado em “Capitães
da areia”) - Hall Bartlett, 1971
-Os pastores da noite - Marcel Camus, 1975
-Dona Flor e seus dois maridos - Bruno
Barreto, 1976
-Tenda dos milagres - Nelson Pereira dos
Santos, 1977
-Jorge Amado no cinema - Glauber Rocha, 1979
-Kiss me goodbye (baseado em “Dona Flor e
seus dois maridos”) - Robert Mulligan, 1982
-Gabriela, cravo e canela – Bruno Barreto, 1983
-Jubiabá - Nelson Pereira dos Santos, 1986
-Tieta do Agreste - Cacá Diegues, 1996
-Quincas Berro d’Água (baseado em “A morte
e a morte de Quincas Berro D’água”) - Sérgio
Machado, 2010
-Capitães da areia - Cecilia Amado, 2011
-As fantásticas aventuras de um capitão
(baseado em “Os velhos marinheiros”) Marcos Jorge, em produção.
* Ver JornalDaCasa #2
Jogos Olímpicos
Brasil bate recorde histórico de medalhas
O
Time Brasil acabou os Jogos Olímpicos
Londres-2012 com 17 medalhas: 3 de
ouro, 5 de prata e 9 de bronze,
superando o número de pódios conquistados
nas edições de Pequim-2008 e Atlanta-1996,
quando faturou 15 medalhas, o seu recorde
até então em uma mesma Olimpíada.
Os bronzes foram para os judocas Felipe
Kitadai (ligeiro, 60kg), Mayra Aguiar (meio
pesado, 78 kg) e Rafael Carlos da Silva
(pesado, mais de 100 kg), o nadador Cesar
Cielo (50 metros livre), a dupla de vela, Bruno
Prada e Robert Scheidt, Juliana Silva e Larisa
Franca em vôlei de praia feminino, os
boxeadores Adriana Araújo (leve, 60 kg) e
Yamaguchi Falcão (meio pesado, 81 kg), e
Yane Marques (pentatlo moderno). As
medalhas prateadas foram ganhas por
Thiago Pereira (natação, 400 metros medley),
a dupla de vôlei de praia masculino, Alison
Cerutti e Emanuel Rego, o boxeador Esquiva
Falcão (médio, 75 kg) e os times de futebol
masculino e vôlei masculino. Já as medalhas
de ouro foram conquistadas pelo ginasta
Arthur Zanetti (argolas), a judoca Sarah
Menezes (ligeiro, 48 kg) o e o time de vôlei
feminino (fotos).
# 5 – agosto 2012
Mão na roda
Casa do Brasil acompanha o teatro
N
os últimos dias, CasaDoBrasil divulgou
e convidou estudantes e amigos para
assistir a duas peças teatrais, que se
apresentaram em Montevidéu.
Nos passados 7 e 8 de agosto, na sala Zavala
Muniz, foi a vez de “Dispare” da companhia
Boto-Vermelho, escrita e dirigida pelo
premiado dramaturgo e ilustrador Roger
Mello (na foto, entre Mayeve Araújo, diretora
de CasaDoBrasil, a produtora Luciana Gaffrée
e o ator Ricardo Schöpke).
Com as atuações de Artur Gedankien,
Ludmila Wischansky, Marcus Pinna e Ricardo
Schöpke, a peça é a história de um eu
partido e múltiple, revelando que no fundo
somos “muitos” e todos somos “outros”, que
falam de nós. Nesse diálogo de múltiplas
vozes, “o conceito de eu é abstração pura e
sofre mudanças no tempo e no espaço”,
afirma o autor, para quem “há uma junção de
nova dramaturgia e filosofia”. De fato, a
própria ideia de “Dispare” se estrutura a
partir do livro “Por uma filosofia da
diferença”, de Regina Schöpke, que com
Mauro
Baladi,
contribuem
com
o
desenvolvimento da companhia.
De estréia em Uruguai, Boto-Vermelho
pretende que este seja apenas o início de um
longo caminho de integração e intercâmbio,
que incluirá até 2016 apresentações de
oficinas, concursos, palestras e espetáculos
com elencos mistos, de ambos os países.
Por outro lado, na Sala Verdi, nos dias 11 e
12 de agosto, foi apresentada “Mi
Muñequita”, uma adaptação da peça do
dramaturgo e diretor uruguaio Gabriel
Calderón, com Álvaro Guarnieri, Lara Matos,
Malcon Bauer, Milena Moraes, Monica Siedler
e Renato Turnes, que também fez a direção.
O tom melodramático, tão comum na estética
latina, é o ponto forte desta obra tragicômica,
que narra a história de uma adolescente que
usa sua boneca preferida, La Huerfanita,
para enfrentar e se libertar da violência
gerada pela própria família, em um perverso
jogo de adultos que inclui traumas e
vinganças. O enredo apresenta situações
grotescas e também muito engraçadas, onde
seus personagens cantam e dançam seus
risos, dores e amores, no ritmo de um humor
quase negro.
“Na adaptação do texto decidimos manter o
nome original em espanhol enfatizando esse
universo latino, de paixões exaltadas e cores
fortes”, conta Turnes. “Imaginei uma família
meio uruguaia meio brasileira, do tipo que
fala dois idiomas e é bem comum no sul do
Brasil. Alguns personagens então mantiveram
pequenos textos em espanhol (um dos atores
é mesmo uruguaio), e as canções da trilha
são hispânicas. Alguns poucos cortes no texto
original abriram espaço para passagens
criadas pela equipe brasileira a partir de
improvisações”.
# 5 – agosto 2012
Presentes
Orlando Senna, de 18 a 27 de julho, em
Teatro Solís
N
o marco do Encuentro Documental de
las Televisoras Latinoamericanas Doc
Montevideo, com representantes de
mais de 300 produtores e realizadores
latinoamericanos,
30
televisoras
internacionais e 15 países de América Latina,
Estados Unidos e Europa, uma das atrações
do Encontro, o Foro de Televisoras
Latinoamericanas, foi moderado pelo baiano
Orlando Senna. Atual presidente da TAL Televisão América Latina, uma rede de
comunicação entre canais educativos,
produtores independentes e instituições
culturais de todo o continente, Orlando é um
dos mais destacados teóricos do cinema
brasileiro.
Nos anos de 1970 foi jornalista do Correio da
Manhã, Última Hora e Jornal do Brasil, e
diretor de filmes como "Imagem da Terra e do
Povo" (produzido por Glauber Rocha),
“Iracema, uma transa amazônica”, "Gitirana"
e "Diamante Bruto". Também foi roteirista de
"O rei da noite", "Coronel Delmiro Gouveia",
"Abrigo Nuclear", "Ópera do Malandro" (com
Chico Buarque) e "Quincas Berro d'água".
Escreveu, entre dezenas de obras, "Xana",
"Ares nunca dantes navegados", "Máquinas
eróticas" e lecionou no curso de cinema no
Instituto Dragão do Mar em Fortaleza. Foi
diretor geral da EICTV de Cuba, Secretário do
Audiovisual do Ministério da Cultura (no
período de 2003 a 2007) e diretor geral da
TV Brasil (2007-2008).
Nelson Pereira dos Santos, 3 de agosto, no
Hotel Argentino de Piriápolis
Para o dia da estréia da 9º edição do festival
internacional de cinema “Piriápolis de
Película”, Nelson Pereira dos Santos foi
homenageado pelo conjunto de sua trajetória
(Prêmio Especial Hotel Argentino) e
apresentou seu último filme, o documentário
“A música segundo Tom Jobim”.
Nascido no bairro do Brás e criado no Bixiga,
em São Paulo, Nelson se formou nos anos de
1950 em Direito, mas já estava apaixonado
pelo cinema. Escolheu então o Rio de Janeiro
para morar e iniciou a trajetória que o
tornaria
um
dos
mais
importantes
precursores do movimento do Cinema Novo.
Foi professor fundador do curso de cinema
da Universidade de Brasília (o primeiro do
Brasil) e em sua filmografia, destacam-se
obras como: “Rio, 40 graus” (1955), “Rio,
Zona Norte (1957), “Como era gostoso o meu
francês” (1971), “Tenda dos milagres”
(1977), “Memórias do cárcere” (1984), “A
terceira margem do rio” (1994), “Raízes do
Brasil” (2004) e “Brasília 18%” (2006).
Considerado um dos mais relevantes
cineastas do país, seu filme “Vidas Secas”
(1963), baseado na obra de Graciliano
Ramos, é um dos filmes brasileiros mais
premiados em todos os tempos, sendo
reconhecido como obra-prima.
# 5 – agosto 2012
comunicAÇÃO
O Globo chega às bancas com cara nova
“Diante do trabalho jornalístico das rádios e
da televisão, principalmente nos 50 e 60,
meu pai começou a entender que o
vespertino ia perder espaço para o telejornal
da noite e foi puxando O Globo para se tornar
matutino”, conta João Roberto Marinho, vicepresidente das Organizações Globo. “Foram
70 anos até a primeira grande reforma
gráfica, em 1995. De lá para cá, são apenas
17 anos e já vamos fazer outra mudança.
Mas entendo que o redesenho não é só
trocar a tipografia. O redesenho é introduzir
uma seção nova, tornar o jornal mais claro,
mais próximo do leitor, acompanhar as
transformações da sociedade, sem perder
sua identidade, sua alma. O nosso
compromisso com o bom jornalismo, com a
verdade, com a correção, com a apuração
rigorosa e meticulosa permanece inalterado”.
N
o dia em que completou 87 anos de
fundação, O Globo lançou novo projeto
gráfico, nova plataforma editorial e
novas torres de impressão para rodar com
cor em todas as páginas. Desenho mais
arrojado,
tipografia
personalizada
e
suplementos mais modernos fazem parte da
reforma gráfica.
O Globo nasceu em 1925, fundado por Irineu
Marinho, após deixar “A Noite”, um jornal já
de muito sucesso no Rio de Janeiro. Ele era
sócio e levou boa parte da equipe para
fundar O Globo, com a filosofia da “Noite”:
um vespertino com muita informação e
ampla cobertura da cidade. Com esse DNA, O
Globo foi evoluindo e se adaptando aos
tempos, até conseguir ser um dos jornais
mais influentes e de maior tiragem do país.
A ousadia gráfica sempre foi característica do
jornal carioca. Prova é a edição de 11 de
fevereiro de 1929, sobre aquele carnaval.
Não há fotos, apenas ilustrações.
# 5 – agosto 2012
A renovação gráfica do Globo inclui uma
família de letras exclusivas e personalizadas.
O criador da nova fonte tipográfica é o
designer australiano Kris Sowersby, quem
logo de três meses de trabalho, define o
resultado final como “simples e sutil”. Kris
que pela primeira vez trabalhou para uma
publicação brasileira; é autor de 247
diferentes fontes. De acordo com o editor de
arte do Globo, Léo Tavejnhansky, a nova letra
dinamizou as páginas e manteve a
personalidade do jornal.
Outra das novidades é o caderno O Globo
Amanhã. Mais do que a simples fusão dos
suplementos Planeta Terra e Razão Social, a
nova publicação vai tratar, todas as terçasfeiras, assuntos que incluem meio ambiente,
economia
e
social,
o
tripé
da
sustentabilidade.
As mudanças nos cadernos incluem ainda o
Prosa & Verso, que estará mais aberto para
debates e ensaios, sem deixar de lado as
notícias sobre o mercado editorial. José
Castello, um dos principais críticos em
atividade no país, continuará a escrever
semanalmente sobre os livros recémlançados. A ele se juntarão dois colunistas
convidados, que falarão de temas distintos
em textos publicados mensalmente. Para os
apreciadores da poesia contemporânea, a
página Risco continuará a mostrar a cada
mês o trabalho de novos poetas brasileiros e
autores estrangeiros pouco ou nada
conhecidos no Brasil. Sob a curadoria do
poeta e crítico Carlito Azevedo, a Risco une
poesia às artes plásticas, com cada edição
ilustrada especialmente por um artista
diferente.
O site do Globo, que estreou seu redesenho
em 13 de novembro do ano passado, vai
mudar ainda mais para reforçar a sua relação
com o impresso. Uma das novidades da web
ficará por conta do destaque dado às
fotografias. Com o objetivo de dar um maior
peso à seleção de imagens da seção
multimídia, elas passarão a ocupar toda a
largura da página.
“Estamos numa cidade que passa por
grandes mudanças e transformações,
principalmente nas áreas de petróleo e gás e
com eventos, como as Olimpíadas, que
acontecerão nos próximos anos. A empresa
tem de acompanhar isso e manter a
plataforma impressa viva”, afirma o diretorgeral da Infoglobo, Marcello Moraes, para
quem “a internet não veio para substituir o
impresso, mas para ampliar nossa
distribuição de conteúdo”.
"O Globo tem sabido, como poucos jornais no
mundo, renovar-se, inovar e acompanhar as
novas demandas do consumidor. Esse é de
fato o único caminho no novo cenário de
pulverização das fontes de informação:
manter-se jovem, rápido, ao mesmo tempo
profundo, completo e jamais recuar um
centímetro na sua credibilidade tão
duramente
construída",
opina
Fabio
Fernandes, presidente e diretor de criação da
F/Nazca, quem fez a campanha publicitária
para promover o novo projeto gráfico do
jornal O Globo e cujo conceito é: "Para um
mundo que não para de mudar, um jornal
que não para de evoluir".
# 5 – agosto 2012
Ao pé da letra
A felicidade
F
eita para o filme de Marcel Camus
“Orfeu do Carnaval”, com música de
Antônio Carlos Jobim e letra de Vinicius
de Moraes, “A Felicidade” consagrou
internacionalmente Agostinho dos Santos, a
voz de Orfeu (cantando) no filme.
Lamentando o caráter passageiro da
felicidade, sua letra ostenta alguns dos mais
belos versos da música popular brasileira. E
como o poema, a melodia é também de alta
qualidade. Estimulada pela expectativa de
sucesso do filme -que afinal aconteceu, com
a premiação da Palma de Ouro em Cannes e
o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em
Hollywood-, a indústria do disco lançou em
1959 nada menos do que 25 gravações dela.
Detalhe pitoresco é que “A Felicidade” foi
praticamente composta numa sucessão de
telefonemas, com Jobim no Rio de Janeiro e
Vinicius em Montevidéu, onde servia na
embaixada brasileira.
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
Discos onde ouvir:
A. dos Santos – O inimitável Agostinho (1959)
Maysa – É Maysa… é Maysa… (1959)
Sylvia Telles – Amor de gente moça (1959)
Vinicius, M. Creuza, Toquinho – La Fusa (1970)
João Gilberto – Live at the 19th Montreux Jazz
Festival (1986)
Nara Leão – Garota de Ipanema (1986)
Gal Costa – Canta Tom Jobim ao vivo (1999)
Maria Bethânia – Que falta você me faz (2005)
Vinicius escreveu uma estrofe que não
chegou a fazer parte do texto final. Menos
conhecida, foi gravada por João Gilberto. Em
gravações mais recentes, alguns intérpretes
incorporaram-na à letra:
A felicidade é uma coisa louca
Mas tão delicada também
Tem flores e amores
De todas as cores
Tem ninhos de passarinhos
Tudo bom ela tem
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu sempre trato dela muito bem

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