Era uma vez um escritor amado
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Era uma vez um escritor amado
# 5 – agosto 2012 Boca no trombone Era uma vez um escritor amado... P oucos brasileiros sintetizaram tão bem o Brasil quanto Jorge Amado. Suas obras incorporaram personagens ao imaginário nacional e sua própria história de vida seguiu um enredo emblemático, com intervenções políticas, defesa à liberdade de culto religioso, influência na intelectualidade e observação de costumes do povo. Ele, que queria apenas relatar os causos de uma região do Nordeste brasileiro, acabou por retratar e construir a identidade de um país povoado por negras fogosas, brancas pudicas e elitistas, políticos, trabalhadores, meninos de rua, pescadores, bêbados, terreiros e mães de santo. As histórias de Amado, que foram escritas num ritmo quase ininterrupto entre 1931 e 1997, ajudaram a disseminar a cultura brasileira pelo mundo, impulsionaram a produção literária nos países africanos de língua portuguesa e, ainda hoje, contribuem para um entendimento mais amplo do que é ser brasileiro. Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912 na fazenda Auricídia, município de Itabuna, sul da Bahia. Já em Salvador, enquanto fazia os estudos secundários, começou a trabalhar como repórter policial, publicou o texto “Poema ou prosa” e foi um dos fundadores da Academia dos Rebeldes, que pregaba “uma arte moderna sem ser modernista”. Sob o pseudônimo Y. Karl publicou em “O Jornal” a primeira novela, “Lenita” (1929), escrita em parceria com Edson Carneiro e Dias da Costa, e logo lançou seu primeiro livro, o romance “O País do Carnaval” (1931). Identificou-se com o Movimento de 30, do qual faziam parte escritores como José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), livros como “Cacau” (1933) e “Suor” (1934) foram apreendidos por “subversivos” e queimados em praça pública; ele foi perseguido e preso inúmeras vezes nos anos do Estado Novo (1937-1945), devendo-se refugiar no Uruguai e na Argentina, onde publicou as biografias “ABC de Castro Alves” (1941) e “A vida de Luís Carlos Prestes”, rebatizada depois de “O Cavaleiro da Esperança” (1942). Confinado na Bahia, o que tinha a dizer sobre a terra e seus homens ganhou força épica e trágica em “Terras do Sem Fim” (1943) e “São Jorge dos Ilhéus” (1944). Em 1945 foi eleito membro da Assembléia Nacional Constituinte pelo PCB, sendo o deputado federal mais votado de São Paulo. Foi o autor da lei (que continua em vigor até hoje) que assegura o direito à liberdade de culto religioso. Nesse ano, publicou o guia “Bahia de Todos os Santos” e passou a viver com Zélia Gattai, com quem se casou em 1978. Em 1947, o PCB foi declarado ilegal e seus membros perseguidos e presos. Jorge se exilou com a família na França e na Checoslováquia. De regresso ao Brasil, em 1955, ele foi eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores, se afastou da militância política e dedicou-se inteiramente à literatura, aprofundando nos temas da realidade do cotidiano brasileiro. A nova fase do escritor trouxe um país mais sensual, despudorado e místico, em livros como “Gabriela, cravo e canela” (1958) e “Teresa Batista cansada de guerra” (1972). JornalDaCasa é uma publicação de CasaDoBrasil. www.casadobrasil.com.uy Editor: Leonardo Moreira. Mail: [email protected] # 5 – agosto 2012 Em 1959 recebeu o título de obá arolu no Axé Opô Afonjá. Embora fosse um “materialista convicto”, admirava o candomblé, que considerava uma religião “alegre e sem pecado”. Em 1961 foi eleito por unanimidade para a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras (ABL), que tem por patrono José de Alencar, e por primeiro ocupante, Machado de Assis, e publicou em um mesmo volume, “Os velhos marinheiros ou o capitão de longo curso” e “A morte e a morte de Quincas Berro D'água”, considerado por muitos a sua obra-prima. No mesmo ano, vendeu os direitos de filmagem de “Gabriela, cravo e canela” para a Metro-Goldwyn-Mayer, o que lhe permitiu construir a casa da Rua Alagoinhas, no boêmio bairro do Rio Vermelho, em Salvador, onde morou com a família, de 1963 até sua morte, em 6 de agosto de 2001. O sincretismo religioso, presente nos terreiros e nas ruas da Bahia, se tornou ainda mais representativo com a publicação de “Pastores da Noite” (1964) e “Tenda dos milagres” (1969). O doutor em Letras e professor da ECO-UFRJ, Muniz Sodré, observa que ao incluir elementos religiosos em sua narrativa, Jorge complementa o imaginário a vida dos personagens baianos e afirma sua obra como espelho da vida da cidade. “Considero o Jorge um explicador do Brasil. Ele parecia se perguntar o tempo todo: ‘Quem é o povo brasileiro?’ O império português nos deu a nação, mas não deu o povo, que é o grande enigma nacional. Amado punha a liturgia da fé no centro da linguagem romanesca”, explica Sodré. Ao traçar as cores e cheiros do Brasil, Amado delineou os aspectos de um povo mestiço, religioso, que sobrevivia em meio à miséria e contrastava com as figuras idealizadas por José de Alencar e Gonçalves de Magalhães na prosa romântica do século XIX. O “jeitinho” e as manhas expressas nas letras de Amado podem ser interpretados, segundo o crítico literário José Castello, como mitos de fundação do Brasil popular. “Jorge faz parte de um grupo precioso de poucos e grandes homens, como Paulo Prado e Gilberto Freyre, que ajudaram a moldar a ideia moderna que temos do Brasil. Essa visão pode parecer um pouco datada porque o país mudou muito, principalmente nestes dez últimos anos, mas isso não exclui a grandeza e a riqueza dos tipos e imagens que ele criou”, explica Castello. O escritor João Ubaldo Ribeiro, amigo e conterrâneo de Amado, concorda com o crítico. “Jorge Amado não escreveu livros, ele escreveu um país. Amado expandiu nossos horizontes, criou e formou leitores e aproximou-nos de nós mesmos”. Diferentemente de Ubaldo, Ana Maria Machado, presidente da ABL e autora de “Romântico, sedutor e anarquista — Como e por que ler Jorge Amado”, evita classificá-lo como descobridor ou inventor do Brasil. Ela prefere dizer -como Jorge afirmou em muitas entrevistas- que ele foi um grande contador de histórias. “Ele levantou problemas sociais, criou discussões, mas não acho que ele tinha um projeto de criar um Brasil, o que importa são as obras dele, e o resultado está aí: um universo muito rico de histórias”, diz Ana Maria, que destaca “Jubiabá” (1935) e “Mar Morto” (1936) como os melhores textos da primeira fase do autor, marcada por narrativas políticas. Incluir elementos de luta política e do candomblé fez com que a literatura de Amado fosse lida com grande interesse nos países africanos de língua portuguesa, como explica o premiado escritor moçambicano Mia Couto. “Ele falava de um Brasil que continha uma África dentro. É fácil identificar as cores e os cheiros da África nas páginas, nos personagens negros, mulatos. Ele foi fundamental para nos darmos conta de nós mesmos e observarmos as nossas danças, nosso erotismo, o nosso modo de comer e beber.” A obra literária de Jorge Amado foi traduzida em 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em formato de áudiolivro, e conheceu inúmeras adaptações para a rádio, o cinema, o teatro e a televisão, além de ter sido tema de escolas de samba em várias partes do Brasil. # 5 – agosto 2012 Amado, na telinha… -Gabriela, cravo e canela, Tupi (1961) e Globo, (1975 e 2012*) -Terras do sem fim, Tupi (1966) e Globo (1981) -A morte e a morte de Quincas Berro D’água, Tupi (1968) e Globo (1978) -Tenda dos milagres, Globo (1985) -Capitães da areia, Band (1989) -Tieta, Globo (1979) -Tereza Batista, Globo (1992) -Tocaia grande, Manchete (1995) -Dona Flor e seus dois maridos, Globo (1998) -Porto dos milagres - adaptação de “Mar morto” e “A descoberta da América pelos turcos”- Globo, 2001 … e na telona -Terra violenta (baseado em “Terras do sem fim”) – direção: Anselmo Duarte, 1948 -Vendaval maravilhoso (baseado em “ABC de Castro Alves”) - José Leitão de Barros, 1949 -The sandpit generals (baseado em “Capitães da areia”) - Hall Bartlett, 1971 -Os pastores da noite - Marcel Camus, 1975 -Dona Flor e seus dois maridos - Bruno Barreto, 1976 -Tenda dos milagres - Nelson Pereira dos Santos, 1977 -Jorge Amado no cinema - Glauber Rocha, 1979 -Kiss me goodbye (baseado em “Dona Flor e seus dois maridos”) - Robert Mulligan, 1982 -Gabriela, cravo e canela – Bruno Barreto, 1983 -Jubiabá - Nelson Pereira dos Santos, 1986 -Tieta do Agreste - Cacá Diegues, 1996 -Quincas Berro d’Água (baseado em “A morte e a morte de Quincas Berro D’água”) - Sérgio Machado, 2010 -Capitães da areia - Cecilia Amado, 2011 -As fantásticas aventuras de um capitão (baseado em “Os velhos marinheiros”) Marcos Jorge, em produção. * Ver JornalDaCasa #2 Jogos Olímpicos Brasil bate recorde histórico de medalhas O Time Brasil acabou os Jogos Olímpicos Londres-2012 com 17 medalhas: 3 de ouro, 5 de prata e 9 de bronze, superando o número de pódios conquistados nas edições de Pequim-2008 e Atlanta-1996, quando faturou 15 medalhas, o seu recorde até então em uma mesma Olimpíada. Os bronzes foram para os judocas Felipe Kitadai (ligeiro, 60kg), Mayra Aguiar (meio pesado, 78 kg) e Rafael Carlos da Silva (pesado, mais de 100 kg), o nadador Cesar Cielo (50 metros livre), a dupla de vela, Bruno Prada e Robert Scheidt, Juliana Silva e Larisa Franca em vôlei de praia feminino, os boxeadores Adriana Araújo (leve, 60 kg) e Yamaguchi Falcão (meio pesado, 81 kg), e Yane Marques (pentatlo moderno). As medalhas prateadas foram ganhas por Thiago Pereira (natação, 400 metros medley), a dupla de vôlei de praia masculino, Alison Cerutti e Emanuel Rego, o boxeador Esquiva Falcão (médio, 75 kg) e os times de futebol masculino e vôlei masculino. Já as medalhas de ouro foram conquistadas pelo ginasta Arthur Zanetti (argolas), a judoca Sarah Menezes (ligeiro, 48 kg) o e o time de vôlei feminino (fotos). # 5 – agosto 2012 Mão na roda Casa do Brasil acompanha o teatro N os últimos dias, CasaDoBrasil divulgou e convidou estudantes e amigos para assistir a duas peças teatrais, que se apresentaram em Montevidéu. Nos passados 7 e 8 de agosto, na sala Zavala Muniz, foi a vez de “Dispare” da companhia Boto-Vermelho, escrita e dirigida pelo premiado dramaturgo e ilustrador Roger Mello (na foto, entre Mayeve Araújo, diretora de CasaDoBrasil, a produtora Luciana Gaffrée e o ator Ricardo Schöpke). Com as atuações de Artur Gedankien, Ludmila Wischansky, Marcus Pinna e Ricardo Schöpke, a peça é a história de um eu partido e múltiple, revelando que no fundo somos “muitos” e todos somos “outros”, que falam de nós. Nesse diálogo de múltiplas vozes, “o conceito de eu é abstração pura e sofre mudanças no tempo e no espaço”, afirma o autor, para quem “há uma junção de nova dramaturgia e filosofia”. De fato, a própria ideia de “Dispare” se estrutura a partir do livro “Por uma filosofia da diferença”, de Regina Schöpke, que com Mauro Baladi, contribuem com o desenvolvimento da companhia. De estréia em Uruguai, Boto-Vermelho pretende que este seja apenas o início de um longo caminho de integração e intercâmbio, que incluirá até 2016 apresentações de oficinas, concursos, palestras e espetáculos com elencos mistos, de ambos os países. Por outro lado, na Sala Verdi, nos dias 11 e 12 de agosto, foi apresentada “Mi Muñequita”, uma adaptação da peça do dramaturgo e diretor uruguaio Gabriel Calderón, com Álvaro Guarnieri, Lara Matos, Malcon Bauer, Milena Moraes, Monica Siedler e Renato Turnes, que também fez a direção. O tom melodramático, tão comum na estética latina, é o ponto forte desta obra tragicômica, que narra a história de uma adolescente que usa sua boneca preferida, La Huerfanita, para enfrentar e se libertar da violência gerada pela própria família, em um perverso jogo de adultos que inclui traumas e vinganças. O enredo apresenta situações grotescas e também muito engraçadas, onde seus personagens cantam e dançam seus risos, dores e amores, no ritmo de um humor quase negro. “Na adaptação do texto decidimos manter o nome original em espanhol enfatizando esse universo latino, de paixões exaltadas e cores fortes”, conta Turnes. “Imaginei uma família meio uruguaia meio brasileira, do tipo que fala dois idiomas e é bem comum no sul do Brasil. Alguns personagens então mantiveram pequenos textos em espanhol (um dos atores é mesmo uruguaio), e as canções da trilha são hispânicas. Alguns poucos cortes no texto original abriram espaço para passagens criadas pela equipe brasileira a partir de improvisações”. # 5 – agosto 2012 Presentes Orlando Senna, de 18 a 27 de julho, em Teatro Solís N o marco do Encuentro Documental de las Televisoras Latinoamericanas Doc Montevideo, com representantes de mais de 300 produtores e realizadores latinoamericanos, 30 televisoras internacionais e 15 países de América Latina, Estados Unidos e Europa, uma das atrações do Encontro, o Foro de Televisoras Latinoamericanas, foi moderado pelo baiano Orlando Senna. Atual presidente da TAL Televisão América Latina, uma rede de comunicação entre canais educativos, produtores independentes e instituições culturais de todo o continente, Orlando é um dos mais destacados teóricos do cinema brasileiro. Nos anos de 1970 foi jornalista do Correio da Manhã, Última Hora e Jornal do Brasil, e diretor de filmes como "Imagem da Terra e do Povo" (produzido por Glauber Rocha), “Iracema, uma transa amazônica”, "Gitirana" e "Diamante Bruto". Também foi roteirista de "O rei da noite", "Coronel Delmiro Gouveia", "Abrigo Nuclear", "Ópera do Malandro" (com Chico Buarque) e "Quincas Berro d'água". Escreveu, entre dezenas de obras, "Xana", "Ares nunca dantes navegados", "Máquinas eróticas" e lecionou no curso de cinema no Instituto Dragão do Mar em Fortaleza. Foi diretor geral da EICTV de Cuba, Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura (no período de 2003 a 2007) e diretor geral da TV Brasil (2007-2008). Nelson Pereira dos Santos, 3 de agosto, no Hotel Argentino de Piriápolis Para o dia da estréia da 9º edição do festival internacional de cinema “Piriápolis de Película”, Nelson Pereira dos Santos foi homenageado pelo conjunto de sua trajetória (Prêmio Especial Hotel Argentino) e apresentou seu último filme, o documentário “A música segundo Tom Jobim”. Nascido no bairro do Brás e criado no Bixiga, em São Paulo, Nelson se formou nos anos de 1950 em Direito, mas já estava apaixonado pelo cinema. Escolheu então o Rio de Janeiro para morar e iniciou a trajetória que o tornaria um dos mais importantes precursores do movimento do Cinema Novo. Foi professor fundador do curso de cinema da Universidade de Brasília (o primeiro do Brasil) e em sua filmografia, destacam-se obras como: “Rio, 40 graus” (1955), “Rio, Zona Norte (1957), “Como era gostoso o meu francês” (1971), “Tenda dos milagres” (1977), “Memórias do cárcere” (1984), “A terceira margem do rio” (1994), “Raízes do Brasil” (2004) e “Brasília 18%” (2006). Considerado um dos mais relevantes cineastas do país, seu filme “Vidas Secas” (1963), baseado na obra de Graciliano Ramos, é um dos filmes brasileiros mais premiados em todos os tempos, sendo reconhecido como obra-prima. # 5 – agosto 2012 comunicAÇÃO O Globo chega às bancas com cara nova “Diante do trabalho jornalístico das rádios e da televisão, principalmente nos 50 e 60, meu pai começou a entender que o vespertino ia perder espaço para o telejornal da noite e foi puxando O Globo para se tornar matutino”, conta João Roberto Marinho, vicepresidente das Organizações Globo. “Foram 70 anos até a primeira grande reforma gráfica, em 1995. De lá para cá, são apenas 17 anos e já vamos fazer outra mudança. Mas entendo que o redesenho não é só trocar a tipografia. O redesenho é introduzir uma seção nova, tornar o jornal mais claro, mais próximo do leitor, acompanhar as transformações da sociedade, sem perder sua identidade, sua alma. O nosso compromisso com o bom jornalismo, com a verdade, com a correção, com a apuração rigorosa e meticulosa permanece inalterado”. N o dia em que completou 87 anos de fundação, O Globo lançou novo projeto gráfico, nova plataforma editorial e novas torres de impressão para rodar com cor em todas as páginas. Desenho mais arrojado, tipografia personalizada e suplementos mais modernos fazem parte da reforma gráfica. O Globo nasceu em 1925, fundado por Irineu Marinho, após deixar “A Noite”, um jornal já de muito sucesso no Rio de Janeiro. Ele era sócio e levou boa parte da equipe para fundar O Globo, com a filosofia da “Noite”: um vespertino com muita informação e ampla cobertura da cidade. Com esse DNA, O Globo foi evoluindo e se adaptando aos tempos, até conseguir ser um dos jornais mais influentes e de maior tiragem do país. A ousadia gráfica sempre foi característica do jornal carioca. Prova é a edição de 11 de fevereiro de 1929, sobre aquele carnaval. Não há fotos, apenas ilustrações. # 5 – agosto 2012 A renovação gráfica do Globo inclui uma família de letras exclusivas e personalizadas. O criador da nova fonte tipográfica é o designer australiano Kris Sowersby, quem logo de três meses de trabalho, define o resultado final como “simples e sutil”. Kris que pela primeira vez trabalhou para uma publicação brasileira; é autor de 247 diferentes fontes. De acordo com o editor de arte do Globo, Léo Tavejnhansky, a nova letra dinamizou as páginas e manteve a personalidade do jornal. Outra das novidades é o caderno O Globo Amanhã. Mais do que a simples fusão dos suplementos Planeta Terra e Razão Social, a nova publicação vai tratar, todas as terçasfeiras, assuntos que incluem meio ambiente, economia e social, o tripé da sustentabilidade. As mudanças nos cadernos incluem ainda o Prosa & Verso, que estará mais aberto para debates e ensaios, sem deixar de lado as notícias sobre o mercado editorial. José Castello, um dos principais críticos em atividade no país, continuará a escrever semanalmente sobre os livros recémlançados. A ele se juntarão dois colunistas convidados, que falarão de temas distintos em textos publicados mensalmente. Para os apreciadores da poesia contemporânea, a página Risco continuará a mostrar a cada mês o trabalho de novos poetas brasileiros e autores estrangeiros pouco ou nada conhecidos no Brasil. Sob a curadoria do poeta e crítico Carlito Azevedo, a Risco une poesia às artes plásticas, com cada edição ilustrada especialmente por um artista diferente. O site do Globo, que estreou seu redesenho em 13 de novembro do ano passado, vai mudar ainda mais para reforçar a sua relação com o impresso. Uma das novidades da web ficará por conta do destaque dado às fotografias. Com o objetivo de dar um maior peso à seleção de imagens da seção multimídia, elas passarão a ocupar toda a largura da página. “Estamos numa cidade que passa por grandes mudanças e transformações, principalmente nas áreas de petróleo e gás e com eventos, como as Olimpíadas, que acontecerão nos próximos anos. A empresa tem de acompanhar isso e manter a plataforma impressa viva”, afirma o diretorgeral da Infoglobo, Marcello Moraes, para quem “a internet não veio para substituir o impresso, mas para ampliar nossa distribuição de conteúdo”. "O Globo tem sabido, como poucos jornais no mundo, renovar-se, inovar e acompanhar as novas demandas do consumidor. Esse é de fato o único caminho no novo cenário de pulverização das fontes de informação: manter-se jovem, rápido, ao mesmo tempo profundo, completo e jamais recuar um centímetro na sua credibilidade tão duramente construída", opina Fabio Fernandes, presidente e diretor de criação da F/Nazca, quem fez a campanha publicitária para promover o novo projeto gráfico do jornal O Globo e cujo conceito é: "Para um mundo que não para de mudar, um jornal que não para de evoluir". # 5 – agosto 2012 Ao pé da letra A felicidade F eita para o filme de Marcel Camus “Orfeu do Carnaval”, com música de Antônio Carlos Jobim e letra de Vinicius de Moraes, “A Felicidade” consagrou internacionalmente Agostinho dos Santos, a voz de Orfeu (cantando) no filme. Lamentando o caráter passageiro da felicidade, sua letra ostenta alguns dos mais belos versos da música popular brasileira. E como o poema, a melodia é também de alta qualidade. Estimulada pela expectativa de sucesso do filme -que afinal aconteceu, com a premiação da Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em Hollywood-, a indústria do disco lançou em 1959 nada menos do que 25 gravações dela. Detalhe pitoresco é que “A Felicidade” foi praticamente composta numa sucessão de telefonemas, com Jobim no Rio de Janeiro e Vinicius em Montevidéu, onde servia na embaixada brasileira. Tristeza não tem fim Felicidade sim A felicidade é como a gota De orvalho numa pétala de flor Brilha tranquila Depois de leve oscila E cai como uma lágrima de amor A felicidade do pobre parece A grande ilusão do carnaval A gente trabalha o ano inteiro Por um momento de sonho Pra fazer a fantasia De rei ou de pirata ou jardineira Pra tudo se acabar na quarta feira Tristeza não tem fim Felicidade sim A felicidade é como a pluma Que o vento vai levando pelo ar Voa tão leve Mas tem a vida breve Precisa que haja vento sem parar A minha felicidade está sonhando Nos olhos da minha namorada É como esta noite Passando, passando Em busca da madrugada Falem baixo, por favor Prá que ela acorde alegre como o dia Oferecendo beijos de amor Tristeza não tem fim Felicidade sim Discos onde ouvir: A. dos Santos – O inimitável Agostinho (1959) Maysa – É Maysa… é Maysa… (1959) Sylvia Telles – Amor de gente moça (1959) Vinicius, M. Creuza, Toquinho – La Fusa (1970) João Gilberto – Live at the 19th Montreux Jazz Festival (1986) Nara Leão – Garota de Ipanema (1986) Gal Costa – Canta Tom Jobim ao vivo (1999) Maria Bethânia – Que falta você me faz (2005) Vinicius escreveu uma estrofe que não chegou a fazer parte do texto final. Menos conhecida, foi gravada por João Gilberto. Em gravações mais recentes, alguns intérpretes incorporaram-na à letra: A felicidade é uma coisa louca Mas tão delicada também Tem flores e amores De todas as cores Tem ninhos de passarinhos Tudo bom ela tem E é por ela ser assim tão delicada Que eu sempre trato dela muito bem