The Princess of Riddles- Portugese 2405_PT_QC

Transcrição

The Princess of Riddles- Portugese 2405_PT_QC
Era uma vez uma linda Princesa chamada Maria que conseguia
responder a todas as adivinhas. A única coisa que era mais óbvia do
que a inteligência e a beleza de Maria era o seu aborrecimento
perante a vida monótona e previsível da corte real.
A capacidade notável da Princesa Maria de responder a adivinhas
tornou-se evidente há dezassete anos atrás, quando era ainda uma
criança pequena. Nessa altura, o bobo da corte entretia muitas
vezes a corte com quebra-cabeças que tinha aprendido durante as
suas viagens com o circo da cidade.
O bobo da corte tinha regressado recentemente de uma dessas
viagens quando apareceu perante a corte com uma história
emocionante. “Tenho para vocês a adivinha mais fantástica e difícil
de sempre”, proclamou o bobo cheio de orgulho nesse dia, “e
ninguém excepto eu foi capaz de a resolver. Trago-a do outro lado
do grande mar, de uma pequena ilha onde vive um velho mendigo.
Este mendigo disse a toda a gente que encontrou que não iria pedir
um tostão, “Responda-me só a isto,” diria ele, “e depressa continuará
o seu caminho.”’
O bobo imitou a voz do velho mendigo com um sorriso na cara
enquanto repetia a adivinha para aqueles que se encontravam na
corte…
“Sou tão grande como um castelo, mas mais leve que o ar
Cem homens e seus cavalos não me conseguem mover
O que sou eu?”
A corte encheu-se de sussurros indistinguíveis, passando lentamente
a meditação.
Até hoje, a adivinha provoca a mesma reacção onde quer que seja
contada. Na ilha onde o mendigo vivia, todos que a ouviam ficavam
tão perplexos que ninguém conseguia sequer imaginar uma
resposta. Quando alguém não conseguia dar uma resposta para a
adivinha, tinha de dar uma moeda ao mendigo. Isto continuou
durante tanto tempo, que o mendigo rapidamente fez uma fortuna e
tornou-se o homem mais rico da ilha. Muitas pessoas consideravam
o mendigo um charlatão, afirmando que o velho tinha escrito uma
adivinha sem resposta para iludir os habitantes da ilha. Mas o bobo
insistia que tinha respondido à adivinha e que era o único que o tinha
conseguido fazer até então.
“O truque para descobrir a resposta à adivinha”, dizia o bobo à corte,
“é não pensar demasiado nela”.
Quando ficou claro que nenhum dos senhores da corte era capaz de
responder à adivinha, o bobo encheu o peito e proclamou, “A
resposta correcta é…”
“A sombra do castelo!” interrompeu a jovem Princesa Maria.
Todos os que se encontravam reunidos na corte nesse dia voltaram
a sua atenção para a Princesa pasmados com admiração. A
pequena Maria continuou a brincar com a sua casa de bonecas,
completamente alheia ao choque que causara. A corte desatou a rir
e a aplaudir e o bobo, bastante chocado por a criança ter encontrado
a resposta a esta adivinha, ficou mais vermelho do que o vestido da
pequena Princesa, abandonando a corte cheio de raiva.
Escusado será dizer que o bobo não ficou grande admirador da
Princesa desde esse dia em diante; ficou ressentido com ela por lhe
ter roubado o seu trunfo e fazê-lo passar por idiota em frente de toda
a corte.
Os rumores dos talentos da Princesa espalhavam-se por todo o
reino até às terras mais distantes, e logo depois, quando a Princesa
comemorava o seu vigésimo aniversário, o Rei estava ansioso para
encontrar um pretendente para a sua filha. E os pretendentes eram
muitos.
O problema era que Maria achava a maioria dos duques, senhores e
nobres bastante aborrecidos na realidade. E, principalmente,
achava-os previsíveis.
Um dia, Maria disse ao seu pai, “Quero casar com alguém que eu
ame de verdade. Só aceitarei casar com um homem que consiga
dizer uma adivinha que eu não saiba responder.”
Maria explicou ao seu pai que um homem assim iria avivar o seu
mundo ao acrescentar o elemento de surpresa e emoção. “Ele
conquistaria de verdade o meu coração com a sua inteligência e a
sua natureza perspicaz”, disse a jovem Princesa.
E assim foi estabelecido o desafio. E tal desafio era para qualquer
pretendente que apresentasse uma adivinha que a Princesa fosse
capaz de responder, já que ficaria preso nas masmorras do castelo.
O Rei era da opinião que tal desafio só iria ser ultrapassado pelo
melhor e mais determinado dos pretendentes.
Com o tempo, a notícia do desafio chegava cada vez mais longe e a
qualquer parte; mesmo a um canto esquecido do Reino onde vivia
um rapaz camponês chamado Manuel.
O jovem camponês interessava-se bastante por desafios, e como a
Princesa sempre o intrigara, decidiu viajar até ao castelo para fazer
uma adivinha e conquistar o seu coração.
O povo da vila achava que Manuel era louco, pois todos sabiam que
as masmorras do Rei estavam já metade cheias de homens ilustres
que não tinham conseguido encontrar uma adivinha que a esperta
Princesa não fosse capaz de responder. Admiravam a sua coragem,
mas todos estavam convencidos de que o jovem rapaz iria acabar
nas masmorras, tal como muitos que lhe precederam.
Manuel não prestou atenção às pessoas da vila. Ele estava mais
interessado em conhecer a bonita Princesa, e estava também
curioso quanto ao seu aborrecimento e não conseguia compreender
como uma pessoa podia ser tão desinteressada quando existia tanta
beleza no mundo. O jovem camponês não estava preocupado por
não ter uma adivinha a fazer à Princesa, simplesmente partiu na sua
viagem, confiante de que iria pensar em algo pelo caminho.
Manuel viajou uma distância tão longa, que o tempo perdeu todo o
seu significado. Embora a jornada tivesse sido árdua, de forma a
poder quebrar até o espírito do homem mais forte, Manuel continuou
o seu percurso alegremente, encontrando beleza e intriga a cada
passo. Ele estava encantado com a sinfonia dos imensos rios, as
cantigas das criaturas do bosque e o vento a assobiar nas árvores
ao redor. Ele brincou às escondidas com os animais com que se
cruzou, e parou sempre para apreciar como cada pôr-do-sol era
diferente do anterior.
Quanto mais perto chegava do castelo, Manuel menos compreendia
a Princesa. Sentia pena de uma pessoa que não conseguia ser
surpreendida pelo mundo, por toda a sua beleza e maravilha. Não
conseguia perceber como alguém podia estar aborrecido num
mundo assim.
O castelo apareceu então no horizonte, e Manuel continuava sem ter
uma adivinha para a Princesa. Mas algo muito estranho aconteceu
nessa noite quando o jovem camponês se sentou para fazer o seu
jantar de javali. Ao abrir a barriga do animal, reparou que estava um
sapo lá dentro! “Os javalis não comem sapos”, pensou Manuel. E
mal tinha ocorrido este pensamento, quando o sapo pulou para fora
da barriga do javali e fugiu a saltar em direcção à floresta. Manuel
achou este episódio bastante engraçado na verdade. Ele riu e riu
para si mesmo, e não parou de rir até que percebeu que podia usar
esta estranha ocorrência para criar uma adivinha para a Princesa.
Depois de chegar ao castelo no dia seguinte, Manuel teve tempo
para comer e descansar. Foram-lhe dadas roupas requintadas para
vestir e levaram-no depois às instalações da Princesa para ser
apresentado. Ela era ainda mais bonita e invulgar do que ele tinha
previsto, e a sua saudação apática mas cativante deixou Manuel
estupefacto. O jovem camponês bravou a todos os céus para que
ela não conseguisse responder à sua adivinha, pois desejava
desesperadamente passar o maior tempo possível com ela, talvez
até casar com ela!
Manuel aproximou-se, reunindo toda a sua confiança, e entregou a
sua adivinha à Princesa Maria…
“Satisfiz a tua fome mas não consegui satisfazer a minha
A ceia desatou a fugir a saltar
Tarde demais para uma barriga coaxar ou gemer
Neste estranho caso
O que sou eu?”
A Princesa Maria ficou sem palavras. Simplesmente não conseguia
entender que o jovem Manuel se estava a referir ao sapo que vira na
noite anterior. A sua mente vagueava por todo o lado. Era a primeira
vez que Maria não conseguia responder a uma adivinha de imediato,
mas ela recusou-se a fazer-se passar por ingénua por este atrevido
simplório, e ainda mais a casar-se com ele!
A Princesa disse a Manuel: “Obrigada pela sua adivinha, gentil
senhor. Permita-me convidá-lo a ficar no nosso castelo durante três
luas para que eu possa reflectir sobre esta excelente questão.”
Manuel não tinha nada contra em usufruir do luxo oferecido pela sua
anfitriã real e aceitou prontamente a oferta, confiante de que
quantidade nenhuma de luas daria à Princesa a resposta quanto à
estranha ocorrência que tinha presenciado na sua viagem.
A Princesa soube de imediato que não iria conseguir responder à
adivinha, e por isso, decidiu que teria de engendrar um plano para
ludibriar Manuel.
Não levou muito tempo até esse plano surgir a Maria. Ela era, afinal
de contas, uma Princesa com um enorme talento.
Maria mandou a sua dama de honor mais bonita ao quarto de
Manuel. O seu nome era Lidia e a sua tarefa era a de fazer com que
Manuel se apaixonasse por ela e lhe conseguisse arrancar a
resposta à sua adivinha. “Dessa forma”, pensava a Princesa Maria,
“não só iria parecer que resolvi a adivinha em apenas três luas, mas
Manuel iria perder o interesse em casar comigo porque estará
demasiado distraído com Lidia.”
Mas apesar dos seus grandes esforços para o agradar, Manuel
pouco se interessou por Lidia. Ele realmente gostava da companhia
dela e do vinho que lhe ofereceu, mas não conseguia deixar de
pensar na Princesa Maria. Não estava ansioso que os dias
passassem, pois estava certo de que ele e a Princesa poderiam
aprender muito um com o outro. De facto, Manuel estava convencido
de que eles fariam mesmo um belo casal.
Quando Lidia voltou sem resposta para a adivinha, Maria ficou
perturbada. Logo na noite seguinte, ela mandou uma segunda dama
de honor, cujo nome era Carmen. E desta vez, enviou também uma
mistura de vinho mais forte. Mas Carmen também regressou sem
resposta para a adivinha.
Na terceira noite, a Princesa decidiu enviar a sua última dama de
honor, Rosa. Mas antes que Rosa chegasse à porta do quarto de
Manuel, o velho bobo apareceu e disse ao jovem rapaz, “És assim
tão ingénuo que não consegues ver que a Princesa te está a tentar
enganar, rapaz? Mesmo indo contra as regras ao teres essas visitas,
a Princesa está a enviar as suas damas de honor para que possam
descobrir a resposta à tua adivinha. Lembra-te, rapaz, a Princesa é
mais astuta do que sábia.”
Embora o inocente Manuel tivesse ficado surpreendido ao ouvir esta
novidade, não mudou a sua atitude e recebeu alegremente a sua
terceira convidada nessa noite.
Rosa trouxe com ela um livro de poesia e um jarro de vinho forte.
Manuel ouviu os poemas e bebeu um pouco de vinho, mas não
estava para ser enganado. Antes de Rosa sair nessa noite, Manuel
deu-lhe uma resposta falsa para a sua adivinha, e também guardou
o pequeno livro de poesia como prova do comportamento enganoso
da Princesa. “Se é assim que ela deseja comportar-se,” pensou
Manuel, “então vencerei a Princesa no seu próprio jogo.”
Na última manhã, a corte reuniu-se para testemunhar outro
pretendente condenado à prisão perpétua nas masmorras do
castelo. Manuel permanecia sozinho no centro da corte e esperou
pela chegada da Princesa.
“A sua questão ocupou os meus pensamentos por três dias já,” disse
a Princesa na sua melhor voz inocente, “e fico-lhe grata por isso. No
entanto, lamento dizer que a resposta à sua adivinha é claramente
esta… que estranhas coisas acontecem na natureza e que nas suas
viagens, deparou-se com uma lebre que tinha comido um
gafanhoto. Assim, a resposta é… Eu sou um gafanhoto!”
Manuel sorriu. “Uma excelente tentativa, Princesa,” disse ele
enquanto retirava o livro de poesia de Rosa do seu bolso. Mas creio
que alguém lhe terá dado a resposta errada.”
As sobrancelhas da Princesa elevaram-se aos céus e Rosa
desmaiou instantaneamente de vergonha, seguida de Lidia e
Carmen, que também desmaiaram. A corte ficou em alvoroço ao
perceber que se tratava de um caso de má fé contra o pobre Manuel.
“A Princesa tentou ludibriar este jovem rapaz?” ecoava uma voz
acusadora da multidão.
“Tem mandado as suas damas de honor para tentar saber a resposta
à adivinha?” gritava outra.
Mas o gentil Manuel logo acalmou a multidão e dirigiu-se à Princesa
mais uma vez. “Não se preocupe, Princesa, não pretendo casar
consigo se esse não for o seu desejo também. Em vez disso, far-lheei outra adivinha. Se responder correctamente, fica acordado que
seguirei o meu caminho e nunca mais a incomodarei. Mas se errar
na resposta à minha segunda adivinha, terá de libertar todos aqueles
que ficaram presos nas masmorras.”
A Princesa Maria ficou vermelha de raiva com o atrevimento do
camponês. Já a tinha envergonhado em frente a toda a corte,
expondo-a como uma trapaceira; o seu único desejo agora era o de
mandar os seus guardas levarem-no. Contudo, não teve alternativa
senão concordar com o desafio de Manuel. E ao mesmo tempo, um
novo sentimento estranho crescia dentro da jovem Princesa, um
sentimento que só poderia ser descrito como admiração, talvez até
mesmo desejo.
O jovem rapaz perguntou: “O que pode ser engolido mas também te
pode engolir a ti?”
A Princesa Maria sabia a resposta a esta adivinha quase de
imediato. A resposta era Orgulho. E o orgulho era exactamente
aquilo que a Princesa estava preparada para engolir.
Maria fingiu que não sabia a resposta. Ela fingiu não saber a
resposta para que Manuel não abandonasse o castelo, e ordenou de
imediato a libertação de todos os seus pretendentes anteriores. De
seguida, disse a Manuel que na realidade partilhava o seu desejo de
casar.
Ao ouvir esta novidade, toda a corte começou a aplaudir, batendo
palmas e celebrando a libertação dos prisioneiros e o casamento
iminente da sua Princesa com um pretendente tão digno.
Como se vê, a Princesa Maria foi suficientemente sábia para
entender que Manuel poderia oferecer-lhe mais admiração e
surpresa do que alguma vez tinha pensado ser possível. E ela sabia
que qualquer homem que fosse capaz de a superar em astúcia era
certamente digno do seu amor.

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