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Transcrição

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corrente contínua
Ano XXXI - Nº 224 - Janeiro/Fevereiro - 2009
A REVISTA DA ELETRONORTE
Sistema Eletrobrás,
o voo da transformação
Eletronorte
sumário
AMAZÔNIA E NÓS
Maranhão, terra das palmeiras de
cantos e encantos, cultura, magia, cores e sabores
Página 48
TECNOLOGIA
ENERGIA ATIVA
Nova Eletrobrás: integração,
rentabilidade e competitividade
no Brasil e no mundo - Página 3
Contra crises, sempre ela: a inovação
GERAÇÃO
Página 54
Nas águas turvas do Curuá-Una,
renasce a primeira hidrelétrica
da Amazônia - Página 40
TRANSMISSÃO
Treze anos depois do linhão, norte
de Mato Grosso vive o fenômeno
do crescimento econômico - Página 33
Página 44
CORREIO CONTÍNUO
FOTOLEGENDA
Página 55
MEIO AMBIENTE
Usina-plataforma,
novo conceito em hidrelétricas
Página 14
CORRENTE ALTERNADA
Fórum Social Mundial: pluralidade
de ideias em Belém - Página 22
CIRCUITO INTERNO
Equipes do Maranhão recuperam
linha em tempo recorde - Página 19
corrente contínua
corrente contínua
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Prêmios 1998/2001/2003
Diretoria Executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone
- Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa – Tito
Cardoso - Coordenação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT
1342-DF) - Arthur Quirino (DRT 778- MA) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron
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Francisco - Rony Ramos - Assessorias de comunicação das unidades regionais - Revisão: Cleide Passos - Arte gráfica: Jorge Ribeiro - Foto da capa: Rony Ramos - Arte da
contracapa: Alexandre Velloso - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral.
Bruna Maria Netto
To hold: n 1 ação de segurar, pegar ou agarrar. 2
forte influência. 3 fortificação, fortaleza.• vt+vi 1 pegar,
agarrar, segurar. 2 reter. 3 manter. 4 defender. 5 manter
sob controle. 6 aderir. 7 suportar, apoiar. 8 presidir. 9
reunir. 10 continuar, permanecer, manter-se a firme. 11
ser válido, vigorar.
Após a sanção da Lei 11.651, de 7 de
abril de 2008, o Sistema Eletrobrás - formado por 12 empresas geradoras, distribuidoras
e transmissoras de energia, 27 mil empregados e patrimônio em torno de R$ 82 bilhões
– encaixa-se mais do que nunca em todas as
denominações acima citadas, com o papel
de superestatal e consolidando-se como uma
holding de fato, já traçando o caminho de suas
ações com a Bolsa de Valores de Nova York.
Não por menos: as 30 usinas hidrelétricas, 15 termelétricas e duas usinas nucleares pertencentes às empresas do Sistema
têm capacidade instalada para produção de
39.753 MW, (incluindo metade da potência
da usina de Itaipu, de sete mil MW) totalizando 39,6% do potencial em operação no
País, que são escoados pelos 56.789 km de
linhas de transmissão, representando mais
de 60% do total nacional. Atualmente, há
quase meio século da sua fundação, o Sistema Eletrobrás se prepara para conseguir não
só a maior integração entre suas subsidiárias
(deixando de competirem entre si) como a
integração do Brasil a outros países no campo energético.
Para ilustrar essa integração, nada melhor do que saber como cada empresa está
se preparando para se integrar ao Sistema.
Com a revista Corrente Contínua não é diferente: nesta matéria, escrita a 14 mãos –
por conta da contribuição dos jornalistas e
assessores de imprensa de Furnas, Chesf,
CGTEE, Eletrosul, Eletronuclear, e Eletrobrás
– cada uma delas mostra como a transformação está mudando o nosso cotidiano de
trabalho. “O que a Eletrobrás pretende é ser
holding, de forma bem clara: uma empresa
voltada para integrar, coordenar e orientar. O
papel dela é este hoje e amanhã”, enfatiza
Luiz Augusto Figueira, coordenador-geral da
Presidência e do Comitê de Gestão da Transformação da Eletrobrás - CGTE.
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ENERGIA ATIVA
Nova Eletrobrás: integração,
rentabilidade e competitividade
no Brasil e no mundo
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Nasce a transformação – Figueira (foto
abaixo), relata que o primeiro diagnóstico sobre as mudanças necessárias para a sobrevivência da Eletrobrás começou a ser feito em
2006, por profissionais da própria empresa. “Constatamos, por
meio de análises dos negócios
de todas as empresas que compõem o Sistema, que estávamos
perdendo a nossa geração de
valor, medida pelo Valor Econômico Agregado (EVA). Foi aí que
nasceram as bases do Plano de
Transformação. No início do ano
passado, quando a nova Diretoria tomou posse, recebeu do Governo Federal as diretrizes para
transformar a Eletrobrás na ‘Petrobras do Setor Elétrico’. Desde então, estão
sendo planejadas e colocadas em prática medidas que fortalecerão o conjunto de nossas
empresas e nos permitirão crescer com mais
lucratividade”.
Com a Lei 11.651, todas as empresas da
Eletrobrás, alinhadas aos preceitos de rentabilidade e competitividade, ganharam poderes de atuar além das fronteiras brasileiras
e participar como sócias em consórcios empresariais. Por conta disso, a holding produziu o Plano de Transformação do Sistema
Eletrobrás, cuja base é formada pelo tripé
integração, rentabilidade e competitividade.
Composto por quatro vetores de atuação –
aperfeiçoamento da governança corporativa,
reorientação dos negócios de distribuição,
reformulação institucional e reorganização
do modelo de gestão empresarial -, o Plano
tem 41 diretrizes específicas, algumas delas
já concluídas.
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As mudanças vêm sendo colocadas em
prática de forma gradativa, fundamentadas,
planejadas e orientadas pelo CGTE, que é
formado por representantes de cada uma
das empresas do Sistema e de cada uma
das diretorias da holding. A ele cabe a definição dos grupos de trabalho, bem como
a aprovação dos planos propostos, o acompanhamento das atividades, as recomendações de correção de rumo, a aprovação dos
resultados apresentados e o encaminhamento para a diretoria das medidas necessárias para o bom andamento e conclusão
do Plano.
São mudanças que vão desde a ideia de
formar um Sistema que terá como um dos
marcos simbólicos um único crachá - ou seja,
a possibilidade de que empregados de qualquer coligada da holding possam ter acesso
às empresas-irmãs utilizando somente um
documento de identificação funcional – até
obter os requisitos para concorrer na Bolsa
de Valores de Nova York. Em relação às mudanças já ocorridas, Luiz Augusto enumera a
criação da Diretoria de Distribuição, cujo diretor, Flavio Decat, é presidente de todas as seis
empresas de distribuição do Sistema, numa
gestão centralizada; e a Superintendência de
Operações no Exterior. “A Eletrobrás agora
pode, efetivamente, analisar, aprovar e decidir por parcerias e participações estratégicas.
As mudanças são sempre no sentido de reduzir despesas operacionais, eliminando gastos desnecessários e, por fim, melhorando o
resultado das empresas”, conta.
Luiz Augusto reforça que “os empregados
do Sistema Eletrobrás podem esperar um
conjunto de empresas integrado, competitivo
e rentável, que possa contribuir ainda mais
para o crescimento da oferta de energia e
o desenvolvimento social e econômico do
Brasil. Trabalhar em uma empresa assim
dá orgulho, tanto pela importância que
ela tem para o País, quanto pela perspectiva de um futuro seguro, já que continuará a crescer de forma sustentável. Somos
todos parte de um mesmo Sistema e vamos passar a vivenciar isso, no cotidiano,
e cada vez mais”.
Para que o Plano fosse colocado em
prática e as empresas tivessem essa integração de fato, o diretor-presidente da
Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes (ver
box) realizou palestras em cada uma delas. O objetivo foi ampliar o envolvimento
dos empregados e incentivar cada vez
Eletronorte - Na Eletronorte, a apresentação do Presidente da Eletrobrás ocorreu
no dia 17 de fevereiro de 2009 (foto maior,
abaixo). Centenas de empregados lotaram o
auditório da Sede, em Brasília, e outros tantos acompanharam a apresentação por meio
de videoconferência. A sessão de perguntas
durou mais de três horas. O diretor-presidente
da Empresa, Jorge Nassar Palmeira (foto ao
lado), enxerga no Plano de Transformação a
possibilidade de a Empresa expandir o seu
mercado, seja de geração ou transmissão, não
apenas no Brasil, mas também no exterior:
“Abrimos uma janela de oportunidades muito
grande no sentido de poder equacionar o perfil
econômico e financeiro da Empresa, que tem
um histórico de prejuízos. Uma série de medidas nesse sentido está sendo tomada no Plano
de Transformação, como é o caso
do marco regulatório dos sistemas isolados. Além disso, as interligações dos sistemas isolados,
as passagens dos ativos inferiores
a 230 kv para as distribuidoras,
o equacionamento da dívida, a
venda das subsidiárias integrais,
entre outras medidas de impacto.
Com isso poderemos, de forma
estrutural, garantir o lucro nos
próximos anos”.
Angelo do Carmo (ao lado), assessor de Planejamento Empresarial e representante da Eletronorte no CGTE, conta que
as primeiras medidas tomadas pela diretoria
foi uma análise sobre as premissas do planeja-
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mais a contribuição de todos para a construção do sistema integrado. São quatro as
empresas de geração e transmissão (Furnas,
Chesf, Eletrosul e Eletronorte); a Companhia
de Geração Térmica de Energia Elétrica CGTEE e Eletronuclear, de geração térmica;
o centro de pesquisas, Cepel; a empresa de
participação, Eletropar; e as concessionárias
de distribuição (Cepisa, Ceal, Eletroacre, Ceron, Boa Vista Energia e Manaus Energia).
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mento e estrutura organizacional: “Já fizemos
algumas mudanças de modo a buscar efetivamente uma metodologia de trabalho no contexto do Sistema Eletrobrás. O planejamento
estratégico 2009-2011, por exemplo, foi elaborado de maneira alinhada com o Plano de
Transformação da Eletrobrás”.
Jorge Palmeira relembra que à medida
que a Empresa se fortalece, obviamente haverá mais disponibilidade para desenvolver
outro viés muito importante, que são os projetos sociais. “A Eletronorte já vem desenvolvendo e intensificando esses projetos ao
longo da sua história. Eu posso citar projetos de sucesso com o Pirtuc, Pirjus, Proset,
os indígenas Parakanã e Waimiri Atroari, e a
questão da reestruturação que promovemos
internamente, fortalecendo a área social com
um planejamento adequado à identificação
das necessidades”.
Na área operacional os frutos já estão sendo colhidos, como o arremate em leilão de
três lotes da maior linha de transmissão do
mundo, a do Complexo Hidrelétrico do Madeira (ver Corrente Contínua ed. 223). Para
Palmeira, isso é prova de que os empregados da Eletronorte são muito comprometidos
com os resultados. “Nós estamos alinhando
processos e fazendo uma avaliação criteriosa
de cada um deles para melhorar ainda mais
a eficiência da Empresa, o que vai ao encontro do Plano de Transformação da Eletrobrás,
que é bom para as empresas, empregados e,
principalmente, para o País”.
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Eletrosul - A Eletrosul recebeu a primeira
apresentação do Plano. Na sede da empresa,
em Florianópolis (SC), e nos auditórios das
regionais, os empregados assistiram à apresentação e fizeram
perguntas. O presidente, Eurides
Mescolotto, relembra que a mudança, além de estar de acordo
com o modelo atual do Setor Elétrico, aprofundado a partir das
diretrizes emanadas pela então
ministra de Minas e Energia,
Dilma Roussef, em 2003, transforma a Eletrobrás numa das
maiores empresas de energia do
mundo.
“Isso tem um significado importante para o País, tanto interna quanto
externamente. Ademais, traz para a Eletrosul
um caminho antes inexistente, porque assim como as demais empresas do Sistema,
a nossa tinha sua área de atuação restrita à
Região Sul. Hoje estamos em todo o Brasil.
A Eletrosul está em Rondônia e, junto com
a Eletronorte, no linhão do Madeira”, afirma
Mescolotto (foto acima). Segundo ele, “as
conseqüências são importantes também para
os empregados, que têm de olhar a empresa
de outra maneira, participando de uma holding e tendo compromissos muito maiores
com o Brasil. Minhas expectativas são as melhores possíveis, pois será um grande trabalho para os dirigentes e técnicos de todas as
empresas do Sistema Eletrobrás”.
Marcos Edward (foto abaixo, à esquerda)
é gerente da Assessoria de Gestão Empresarial da Eletrosul e um de seus representantes
no CGTE. Ele explica que a Eletrosul tem um
aspecto bastante atípico em relação às outras empresas, porque em 1997 foi cindida,
restando-lhe apenas ativos de transmissão à
época. “Agora começamos a participar dos
leilões da Aneel para retornar o segmento de
geração, e hoje temos vários empreendimentos em construção, tanto isoladamente - como
é o caso da Usina Parque São João -, quanto
em parcerias, e uma delas resultou no arremate do leilão de Jirau com outros parceiros,
sendo a Chesf uma delas. O linhão do Madeira, que inclusive entramos no consórcio juntamente com a Eletronorte, ilustra o volume
de investimentos, que praticamente dobrou.
Vamos estabelecer estratégias para atuar daqui para frente, coincidindo com o Plano de
Transformação da Eletrobrás”.
Chesf - Quando a Chesf recebeu a visita da
equipe da Eletrobrás, cerca de 300 emprega-
dos ocuparam o auditório da sede, em Recife
(PE), onde havia um link de videoconferência
para as unidades regionais (foto acima). O diretor-presidente, Dilton da Conti, não lembrou
apenas de quando as concessões eram feitas
de acordo com a área de atuação, mas também da época em que o Brasil teve de aprender a racionalizar energia elétrica: “Conviver
com a situação adversa de racionamento exi-
giu do País uma profunda reflexão, no sentido
de encontrar alternativa para garantia do suprimento de energia elétrica com modicidade
tarifária”.
Dilton lembra que em 2004, com a instituição do modelo atual, as concessões passaram
a ser fruto de leilões públicos, cujo cenário fez
com que a Chesf gerasse energia para outros
estados fora do Nordeste: 20% para o Esta-
Esta é a principal função do Portal da
Transformação do Sistema Eletrobrás, lançado no dia 19 de dezembro de 2008, na
ocasião da apresentação do Plano de Transformação para empregados da Eletrobrás,
Eletropar e Cepel. O Portal objetiva ser uma
das principais ferramentas de comunicação
e de interação entre todos os 27 mil empregados do Sistema acerca das mudanças.
Pensando na disseminação de informações sobre o Plano de Transformação nas
empresas como fator determinante para
o seu sucesso, o Portal torna disponível o
acesso do empregado às informações sobre
os projetos que constituem o Plano, seus objetivos e metas, andamentos dos trabalhos e
prazos associados. As informações sobre o
andamento de cada projeto ficam disponíveis na seção Os Projetos, no menu principal do Portal. Também podem ser acessados documentos para consultas, notícias e a
seção de perguntas mais freqüentes.
Na segunda fase, o Portal da Transformação contará, também, com um fórum de discussões e o Jornal da Transformação. Para
quem não quiser esperar, já está disponível
um canal para dirimir quaisquer dúvidas ou
enviar críticas e sugestões pelo endereço
[email protected], que pode
ser acessado pela página principal da intranet de todas as empresas do Sistema.
Para outras informações mantenha-se
sempre atualizado, acesse:
http://www.eletrobras.com.br/transformacao/.
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Um canal aberto aos empregados da nova holding
7
corrente contínua
do de São Paulo e 10%
para o Paraná e Rio de
Janeiro. “Continuar nossa trajetória de vigoroso
crescimento, escrevendo
novos capítulos de uma
história de sucesso, é o
grande desafio que se
apresenta, e o Plano de
Transformação do Sistema Eletrobrás é o movimento tempestivo de
reposicionamento nesse
novo ambiente do Setor,
suportado na assertiva
holística e sinérgica de
que as partes compõem
o todo e o todo é maior que a soma das partes. Alcançar a maior e necessária integração,
ser mais competitivo e rentável, definir uma
estratégia de atuação convergente, tudo isso
trará expressivo ganho de eficiência empresarial, com consequente benefício às partes e,
por conseguinte, ao todo”, destaca.
Para Conti (acima), considerando que
a holding detém 60% de toda a malha de
transmissão da rede básica nacional e 40%
da capacidade instalada e, ainda, tendo em
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vista o seu potencial de ampliação de negócios em âmbito nacional e internacional, é
evidente que o seu fortalecimento constituirá um polo decisivo para o Brasil. “A Chesf,
absolutamente sintonizada e engajada nesse
processo, encontra no pensamento visionário de Dom Hélder o ensinamento conceitual que deve nortear esse momento histórico:
‘quando sonhamos sozinhos é só um sonho;
mas quando sonhamos juntos é o início de
uma nova realidade’”.
Furnas - Em Furnas o assunto não foi diferente. Duzentos trabalhadores na sede, no
Rio de Janeiro, e mais 40 unidades regionais
conheceram o Plano de Transformação (abaixo). Pa­ra justificar a necessidade premente
da mudança, foram apontados como motivos
básicos a mudança da natureza do mercado,
que passou de cooperativo para competitivo;
e as exigências de alta eficiência econômica e
desempenho.
Carlos Nadalutti Filho (à direita), diretorpresidente de Furnas, destaca que “o Plano
de Transformação faz com que Furnas, e todas as outras integrantes do Sistema, reúnam
suas forças e competências para trabalhar
em sinergia e em total sintonia, potenciali-
um momento decisivo para definir o futuro
dessa Empresa. Além da transformação do
Sistema Eletrobrás, também precisamos
transformar Furnas, sob vários outros aspectos, e é fundamental perceber que essa
transformação já começou e exige o empenho de todos nós”.
E as transformações em Furnas estão a todo
vapor. Já foram implementados os projetos do
Sistema Integrado de Gestão, a adequação à
SOX e o planejamento estratégico, o que significa rever estratégias, aprimorar a gestão e a
governança corporativa e ajustar os processos.
“Estamos transformando para os novos tempos de mercado competitivo, no qual só irão
sobreviver aqueles que souberem administrar
seus custos com eficiência e eficácia. Não será
uma tarefa simples, mas se empregarmos a
mesma coragem, competência, determinação
e, sobretudo, o comprometimento que faz parte das nossas tradições, com certeza seremos
vitoriosos. Mãos à obra, o desafio a ser vencido
é enorme e cabe a nós superá-lo e transformálo em mais uma conquista”.
Eletronuclear - Os empregados da Eletronuclear conheceram o Plano de Transformação em Angra dos Reis (RJ) (abaixo).
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zando o resultado das ações. A nossa trajetória e a de todo o Sistema Eletrobrás é motivo de orgulho, pois de Norte a Sul do Brasil
temos empreendimentos que são prova viva
da capacidade dessas
instituições e da contribuição fundamental
que elas deram para
a estruturação do Setor Elétrico brasileiro,
viabilizando a industrialização e o desenvolvimento do nosso
País nas últimas cinco
décadas”.
Nadalutti ressalta:
“Todos aqueles que
desejarem permanecer vivos e progredir nesse mercado,
que se renovem, se
modernizem e ofereçam soluções cada
vez mais eficazes, competitivas e capazes
de serem propulsoras do desenvolvimento
sustentável. A transformação é necessária e
urgente e, quando digo isso, falo de transformação sob uma forma abrangente. Vivemos
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integração da política e operação da própria
empresa só tem a melhorar. Por exemplo, a
presença do José Antonio Muniz é muito importante, porque nunca houve algo assim, de
ter um alto dirigente predisposto a responder
as perguntas dos empregados. Isso certamente dá mais credibilidade ao processo”.
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O diretor-presidente, Othon Luiz Pinheiro
(acima), comenta: “O processo está sendo
conduzido com muita clareza e o objetivo é
tornar o Sistema Eletrobrás mais competitivo,
contribuindo para a sustentabilidade de cada
uma das empresas. O Plano de Transformação gerará um time, com unidade de linguagem e otimização de recursos. A proposta de
implantar um novo modelo que estimule a
competição entre os agentes setoriais vai incentivar todo o Sistema a operar com mais eficiência na gestão dos custos operacionais”.
Os planos da Eletronuclear já tiveram o primeiro passo: “Será montada uma engenharia
financeira articulada com as oportunidades
do mercado, a exemplo das melhores empresas do setor no âmbito nacional e mundial.
É um desafio que a Eletronuclear
está pronta para enfrentar, com
garra e determinação, eliminando barreiras e colaborando para
criar um novo ambiente institucional. Certamente, será uma
prática que dará a todo o Sistema Eletrobrás uma nova visão de
futuro e resultará na obtenção
de melhores resultados para os
diversos parceiros e públicos estratégicos das empresas”, acredita Othon.
Com foco diferente das demais
empresas do Sistema, a Eletronuclear não participa de leilões, mas será
beneficiada na área operacional. De acordo
com Manuel Magarinos Torres (acima), superintendente de Planejamento e representante da Eletronuclear no CGTE, “essa parte da
Cepel - No Centro de Pesquisas de Energia Elétrica – Cepel, Albert Cordeiro Geber de
Melo (abaixo), diretor-geral, relata que no dia
da apresentação do Plano de Transformação,
teve a oportunidade de
participar de um evento ímpar: “Cerca de
1.600 colegas da Eletrobrás, da Eletropar
e do Cepel, reunidos
para discutir o projeto.
O presidente José Antonio Muniz anunciou
que somente findaria
quando a última pergunta fosse colocada e
respondida. E isso, de
fato, aconteceu”.
Albert relata que a
diretoria do Cepel e
todo o seu corpo de
empregados veem com
muita satisfação e entusiasmo o processo de
transformação da Eletrobrás. “O Cepel considera que o fortalecimento do Sistema Eletrobrás como um todo permitirá a otimização dos
recursos, maior competitividade e rentabilidade para as suas empresas, maximizando ainda
a contribuição para o desenvolvimento sustentável do Brasil”.
Desde 2003, com o apoio da Eletrobrás e
do Ministério de Minas e Energia, o Cepel vem
passando por um processo continuado de revitalização, inclusive da sua infraestrutura laboratorial, dando-lhe condições para que continue
apto a enfrentar os novos desafios demandados
pelo Setor Elétrico brasileiro e, em especial, pelas empresas do Sistema. “Entendemos que o
processo de transformação em curso culminará
na integração do planejamento estratégico, da
gestão, da capacitação de recursos humanos e
do avanço tecnológico continuado. Portanto, o
Cepel também se sente compromissado nesse
processo, com a pesquisa, o desenvolvimento e
a inovação. O Sistema Eletrobrás forte é a Eletrobrás forte, é o Cepel forte, são todas as empresas fortes, é o País melhor”, encerra Albert.
CGTEE - Sereno Chaise (acima, à direita),
diretor-presidente da Companhia de Geração
Térmica de Energia Elétrica – CGTEE, com
sede em Porto Alegre (RS), relata que, com
uma história de quase meio século apostando
em tecnologia, trabalho e experiência, a criação do Sistema Eletrobrás é o salto de qualidade no momento certo, para continuar am-
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“Como nós somos o centro de pesquisa,
tudo aquilo que puder ser feito de forma estruturada e que atenda a todas as empresas
do Sistema será importante”, afirma Eduardo
Serra (ao lado), assistente da Diretoria-Geral e
representante do Cepel
no CGTE. E continua: “É
melhor termos grandes
projetos que atendam
a todas as empresas do
que ter uma atuação
no varejo. Não que eles
inexistirão, porque cada
empresa tem suas necessidades específicas,
mas os grandes projetos,
que atendam ao Sistema como um todo, são
extremamente interessantes e benéficos. Se a
Eletrobrás se fortalece, então todas as empresas do Sistema se fortalecerão. Nós seremos
mais fortes juntos do que divididos”.
11
corrente contínua
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pliando e contribuindo cada vez mais para o
desenvolvimento sustentável e a melhoria da
qualidade de vida da população. “É preciso
ter um compromisso permanente com o futuro. E em um País como o nosso não temos outra opção senão garantir o futuro desta e das
próximas gerações. Por isso, representa muito
a iniciativa do Governo Federal e da direção
da Eletrobrás em estimular cada vez mais o
desenvolvimento da nossa cadeia produtiva,
que é a produção e a geração de energia
em todas as suas mais diferentes formas. O
desenvolvimento e a consolidação do Sistema Eletrobrás dependem da capacidade de
investimentos, da visão estratégica, do planejamento, da sua gestão, mas principalmente
da vontade e de muita determinação de cada
um de nós”.
Halikan Daniel Dias (abaixo), assessor de
Gestão da CGTEE, acredita que o Sistema
Eletrobrás “será uma potência energética no
Brasil e no mundo”. Ele conta que a empresa
já está trabalhando com o planejamento estratégico e as macroorientações com as áreas de tecnologia da informação, logística
de suprimentos, eficiência energética e outras. “Vejo que alguns
processos que estão sendo reestruturados com a transformação
do Sistema Eletrobrás, a CGTEE
já havia implantado e agora passa por um processo de aperfeiçoamento dos métodos de trabalho. Conforme orientação da
Eletrobrás, iremos produzir nosso relatório de sustentabilidade deste ano por
meio do GRI, que é um modelo internacional,
assim como todas as demais empresas”.
Para Halikan, eficiência é a ferramenta
para concorrer no mercado. “As empresas
por si só precisam se desburocratizar, porque o mercado cresce muito rapidamente e
nós concorremos com a iniciativa privada,
por isso devemos ser cada vez mais eficientes. A CGTEE tem 460 MW instalados e está
praticamente dobrando sua produção com a
inauguração da fase C da Usina Termelétrica
Presidente Médici, que entrará em operação em 2010. Pelo nosso planejamento estratégico, até 2015 queremos triplicar nossa
produção e ser referência térmica no grupo
Eletrobrás”.
Retirado de http://michaelis.uol.com.br/
moderno/ingles/index.php?lingua=inglesportugues&palavra=hold
“As empresas do Sistema
A afirmação é do presidente da Eletrobrás, José
Antonio Muniz Lopes, que, nesta entrevista à Corrente Contínua, fala das principais mudanças e
perspectivas de agora em diante.
Pode-se dizer que todos nós
agora trabalhamos na Eletrobrás?
Ou cada empresa manterá seu nome?
Não há expectativa de fusão entre as empresas.
Cada uma manterá seu nome e independência financeira. O que estamos fazendo é organizando a gestão
conjunta de todas as empresas que compõem o Sistema Eletrobrás. A Eletrobrás está se tornando uma
holding de fato. Quanto às marcas, estamos finalizando a contratação de uma consultoria profissional para
avaliação de todas as marcas do Sistema, que são
muitas, mas que precisam ter unidade, formar uma
mesma identidade.
O que essa transformação irá modificar
na prática e em curto e médio
prazos o cotidiano dos empregados?
Em curto prazo, falando de projetos já concluídos,
podemos citar a criação da Diretoria de Distribuição,
que está fazendo uma gestão centralizada das seis
empresas de distribuição do Sistema e já consegue
reverter a trajetória de prejuízos que tínhamos antes.
Podemos citar também, para o fim deste ano, o início
da implementação do Plano Unificado de Carreira e
Remuneração, que terá regras claras de avaliação de
desempenho e valerá para os 27 mil empregados do
Sistema. Temos muitos desafios pela frente, mas os
grupos de trabalho estão empenhados em vencê-los
para tornar o Sistema mais unido e forte.
O que as empresas podem
esperar com essa transformação?
Integração. Vamos fortalecer todas as empresas e
o conjunto delas, tornando-as mais competitivas no
mercado nacional e internacional. Não vamos mais
disputar o espaço no mercado entre nós. Vamos nos
unir para poder comprar mais barato, reduzir despesas operacionais e aumentar a receita, com o objetivo
de melhorar nossos resultados. Com melhores resultados, teremos mais lucros e poderemos garantir o
crescimento de nossas empresas de forma sustentável.
Qual será a principal ferramenta
para que a Eletrobrás se torne
a ‘Petrobras’ do Setor Elétrico?
O Plano de Transformação em seus 41 projetos é
a principal ferramenta para que cheguemos lá. Mas
o pontapé inicial foi a sanção, pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
da Lei 11.651, em abril, um marco
da guinada na governança corporativa do Sistema Eletrobrás. Além
disso, recebemos as diretrizes do
Ministério de Minas e Energia para
essa transformação, que foram traduzidas no Plano.
Quais os benefícios que
serão desfrutados pela
população brasileira?
Um Sistema Eletrobrás integrado, competitivo e rentável poderá
contribuir muito mais para o desenvolvimento do País, podendo oferecer a energia necessária ao crescimento, com sustentabilidade e
modicidade tarifária. O fortalecimento do Sistema é bom
para o Brasil, para as empresas e para os empregados.
Todo mundo ganha. Seremos mais fortes para atuar no
Brasil e no exterior.
De que forma a Eletrobrás e as
empresas da holding estão se preparando
para se tornar mais competitivas?
Todas as diretrizes e ações do Plano de Transformação visam a reduzir as despesas operacionais, eliminando gastos desnecessários, e a aumentar a receita, para,
no final, melhorarmos o resultado de nossas empresas.
E isto está descrito de várias formas no Plano, em todas
as frentes de negócio do Sistema, na flexibilização dos
nossos processos de compras, na centralização da administração das empresas distribuidoras, na adoção das
melhores práticas de governança corporativa, e também
na gestão de pessoas.
Entre as ações estabelecidas para atender
às diretrizes fixadas pelo Ministério de Minas
e Energia, acerca dos projetos sobre governança
corporativa, como será feita a captação
de recursos no Sistema Eletrobrás?
Normalmente, quando se dá início a um processo de
captação, o que se espera é a obtenção das menores
taxas, a fim de potencializar os retornos dos investimentos. Tradicionalmente, a Eletrobrás tem conseguido taxas
competitivas não só no Brasil, mas também no exterior.
Portanto, é razoável que ela conduza os processos de
captação do Sistema. No entanto, nada impede que as
empresas captem diretamente de bancos com linhas
de crédito regionais, com taxas muito atrativas. De todo
modo, de acordo com o estatuto das empresas, a aprova-
ção da captação passa pela aprovação
final do Conselho de Administração da
Eletrobrás.
De que forma a criação
de diretoria única para as
distribuidoras, assim como
os demais processos que envolvem
a unicidade das equipes,
irá melhorar o andamento
dos trabalhos?
As distribuidoras têm, agora, uma
gestão centralizada e profissional, levada à frente por um técnico conhecido no
setor, que é o Flávio Decat. Contamos
com um presidente e uma diretoria única para essas empresas. Assim, temos o
controle de tudo o que se passa e podemos corrigir os desvios que as levavam
ao prejuízo, que se refletia em todo o Sistema. Nesse caso, a
melhor opção foi a centralização, o que não quer dizer que
seja a melhor solução em todos os casos. Vamos trabalhar
juntos, sempre com o objetivo de fortalecer o Sistema.
Com essa nova estruturação, as
empresas não irão mais competir entre si?
Como será feita a concorrência?
As empresas do Sistema Eletrobrás não vão mais competir entre si. Isto é autofagia e nos enfraquecia. Brigávamos
para saber quem ia levar menos. Hoje já agimos de forma
mais integrada: vamos formar consórcios entre nossas empresas e com a iniciativa privada para incentivar a competição inteligente. Vamos oferecer energia limpa com modicidade tarifária e obter resultados cada vez mais positivos.
Como cada empregado poderá ajudar
a Eletrobrás a se fortalecer ainda mais?
Participando ativamente da transformação, contribuindo
com sugestões, trabalhando e incentivando a mudança.
Esse não é um processo que envolve só a Eletrobrás: envolve todas as empresas e, principalmente, todos os empregados do Sistema. As pessoas são o Sistema. Só com a
mudança nas pessoas teremos a mudança verdadeira.
Uma mensagem a todos.
O Sistema Eletrobrás nunca viu um processo como este
que estamos vivendo. A transformação é urgente e fundamental para a sobrevivência das empresas. E ela já está
acontecendo, basta olhar com mais atenção. Por isso, quis
estar com todos os empregados pessoalmente, para demonstrar a importância dessa mudança para todos. Somos
nós que estamos construindo um novo futuro para o conjunto das nossas empresas e a participação de cada um
nesse processo é imprescindível.
corrente contínua
Eletrobrás não vão mais competir entre si”
13
meio ambiente
Usina-plataforma, o novo
conceito em hidrelétricas
corrente contínua
César Fechine
14
Usinas hidrelétricas há de várias categorias – minicentrais, pequenas e grandes centrais – e de diferentes tipos de concepções.
Agora, um novo conceito surge com o objetivo principal de diminuir os impactos ambientais: o de usina-plataforma. Esse conceito
tem como propósito a construção e operação
de uma hidrelétrica com o mínimo impacto
socioambiental e se inspira nas plataformas
de exploração de petróleo em alto mar.
A preparação da obra começa com a intervenção na natureza praticamente reduzida à área
da usina e com pequenos canteiros de obra. Durante a construção, a permanência dos trabalhadores no local é de curto prazo, o que ajuda a
reduzir o impacto ambiental, e evita a atração de
contingentes populacionais e a construção de
cidades no entorno do empreendimento.
“Não haverá vilas permanentes para os
empregados, como aconteceu até hoje. Os
trabalhadores poderão ir de helicóptero para
o local das usinas, trabalhando por turnos,
como acontece nas plataformas de petróleo”,
explica o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes.
Por essa concepção, os operadores e
técnicos vão trabalhar e dormir na usina
plataforma. Após o período de alguns dias
(cerca de três), eles retornarão à cidade
onde moram, sendo substituídos por outros
trabalhadores.
O conceito prevê a instalação da hidrelétrica sem a infraestrutura tradicional, como
estradas e canteiros de obras com alojamentos, que atraem numerosa população
para o entorno do empreendimento. “Dessa forma, além de não se criar um polo de
atração de pessoas próximo às unidades
de preservação, os impactos se restringirão
ao desmatamento ‘cirúrgico’ necessário à
implantação do canteiro de obras e da usina, com as áreas reparadas após o fim da
Tapajós - O Complexo do Rio Tapajós, que
terá potência total de 10.682 MW, deverá ser
o primeiro empreendimento construído no
País segundo esse novo conceito. São números gigantescos que envolvem os cinco
aproveitamentos hidrelétricos previstos no
projeto, com investimentos que alcançam R$
30 bilhões.
O maior aproveitamento é o de São Luiz do
Tapajós, cujo reservatório ocupará uma área
de 722,25 km², cota de 50 metros e potência
instalada de 6.133 MW. O empreendimento
utilizará 31 turbinas kaplan com potência de
198 MW e duas de 109,2 MW.
O segundo maior aproveitamento é o de
Jatobá, com um reservatório de 646,30 km²
de área e potência de 2.338 MW. Os outros
aproveitamentos são: Cachoeira do Caí, com
reservatório de 420 km² e potência de 802
MW; Jamanxim, com área de reservatório de
74,45 km² e potência de 881 MW; e Cachoeira dos Patos, com 116,5 km² de área de
reservatório e 528 MW de potência.
A área total dos reservatórios será de 1.979
km², frente a uma área ambiental protegida de
200.480 km², equivalente à soma dos territó-
rios de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe juntos. “O espelho d’água é praticamente o
espelho dos rios nas grandes cheias”, informa
Muniz Lopes. Além disso, negociações com o
Ministério do Meio Ambiente estão em curso
para garantir a recuperação de áreas muito
pequenas de parques nacionais
e reservas florestais situadas no
entorno do empreendimento, e a
futura conservação por parte de
quem construir as usinas. “Não
vamos deixar vila, canteiro, nem
área degradada. A usina e o reservatório terão acesso só para
chegar e sair. A área desmatada
será apenas a necessária e vai
ser totalmente recuperada depois da construção”, declara Rufato (acima).
O aproveitamento de São Luiz
do Tapajós, por exemplo, está localizado a pouco mais de 40 km da cidade
paraense de Itaituba, podendo ter o rio como
apoio para as operações. “A ideia é tirar o
homem dali. O empregado vai, cumpre o turno de trabalho e volta para a base que deve
ser a cidade mais próxima. Esse conceito é
inovador e foi bem recebido pelo Ibama”, reforça Humberto Gama, gerente de Obras de
Geração.
corrente contínua
construção”, afirma Luiz Fernando Rufato,
superintendente de Expansão da Geração
da Eletronorte.
15
corrente contínua
Reflorestamento – De acordo com o projeto, assim que iniciadas as obras, será feito um
canteiro de produção de mudas para o reflorestamento da área impactada. É o que está
acontecendo, por exemplo, no Aproveitamento Hidrelétrico Dardanelos, em Aripuanã, no
Mato Grosso, uma região de mata fechada.
“Apesar de a usina estar próxima à cidade,
o canteiro será desativado com o término da
obra e a área degradada, recuperada. Esse
tipo de projeto é muito importante para quebrar a resistência ambiental”, diz Rufato.
E o empreendedor que vencer a licitação
16
deverá auxiliar os agentes ambientais no monitoramento e manutenção das áreas de preservação e dar apoio na operação, por exemplo, do Parque Nacional da Amazônia. Rufato
defende que “poderá ser posto como condicionante, por exemplo, que o vencedor faça
a vigilância por satélite das áreas, que constituam brigadas contra incêndio e construa um
centro de recepção de visitantes. O parque
tem que ser usado como parque de fato”.
Após o final de cada etapa das obras dos
aproveitamentos do Complexo Tapajós, serão
retirados completamente o pessoal, as edifi-
Área natural
Implantação canteiro de obras
Construção
Obra finalizada
cações e o maquinário que forem indispensáveis à operação da usina.
Estudos - A Eletronorte e a Camargo Corrêa desenvolveram os estudos de inventário
do Complexo Tapajós, que foram entregues à
Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel
em junho de 2008 (ver box). A previsão é de
que esses estudos serão aprovados ainda no
primeiro trimestre deste ano. As duas empresas também já firmaram um acordo de cooperação técnica para desenvolver os estudos
de viabilidade do aproveitamento.
Na primeira semana de fevereiro, uma série
de reuniões ocorreu na Sede da Eletronorte,
em Brasília, como consequência do acordo
de cooperação assinado pelos presidentes do
Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França,
Nicolas Sarkozy, no início do ano. O acordo
envolve ações na área de energia.
A empresa francesa Électricité de France
– EDF e a Eletrobrás manifestaram interesse em participar da parceria dos estudos de
viabilidade. Essas reuniões visam a ajustar o
termo de compromisso assinado entre a Eletronorte e a Camargo Corrêa para incluir a
EDF e a Eletrobrás, bem como o planejamento da inclusão dos parceiros e a divisão do
escopo dos serviços e das responsabilidades
de cada empresa.
A Eletrobrás trabalha para que o projeto
da primeira usina do Complexo Tapajós esteja pronto para licitação em junho de 2010.
E os números referentes ao empreendimento
não param de crescer. O Complexo vai gerar
50.948.160 MWh/ano, o que equivale à economia anual de R$ 7 bilhões com a queima
de 30.568.896 barris de petróleo. O que vai
também ao encontro das necessidades prementes da sociedade de reduzir a emissão
de poluentes na atmosfera e de controlar o
aquecimento global.
Preparação área de intervenção
corrente contínua
Usina em operação com recuperação de áreas naturais
17
corrente contínua
Unidades de conservação e terras indígenas
são aspectos fundamentais dos estudos
18
O Rio Tapajós, desde sua formação, na junção
dos rios Juruena e Teles Pires, até sua foz na margem direita do Amazonas, possui uma extensão de
825 km. A bacia do Tapajós tem uma extensão no
sentido sul-norte de cerca de 1.500 km e drena
uma área de 492.481 km², abrangendo os estados
de Mato Grosso, Pará, Amazonas e uma pequena
parcela em Rondônia.
Os estudos de inventário hidrelétrico das bacias
dos rios Tapajós e Jamanxim foram elaborados em
conjunto pela Eletronorte e a Construções e Comércio Camargo Corrêa S/A, com respaldo em termo de
compromisso firmado em 24 de janeiro de 2006.
O desenvolvimento desses estudos objetivou
avaliar o potencial hidrelétrico dessas bacias, incorporando um trecho com significativa capacidade
energética, incluindo áreas dos estados do Pará,
Amazonas, Mato Grosso e em menor escala em
Rondônia, num total de 492.481 km².
Os critérios socioeconômicos e ambientais, sobretudo aqueles ligados a áreas legalmente protegidas – unidades de conservação e terras indígenas
– são aspectos fundamentais desses estudos. Hoje,
sob a mesma ótica encontram-se em desenvolvimento pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE,
os estudos de inventário das bacias dos rios Jurue-
na, Trombetas, Jari, Branco, Aripuanã e Sucunduri, apenas para citar as mais importantes situadas
em área amazônica.
Os primeiros estudos da bacia do Rio Tapajós,
com foco no potencial hidrelétrico, foram realizados pela Eletronorte entre 1986 e 1991. Para o desenvolvimento e continuidade dos atuais estudos
foi incorporado o conhecimento então adquirido,
incluindo, sobretudo, a localização e descrição dos
eixos prováveis, os levantamentos topográficos e as
investigações geológico-geotécnicas.
Na fase recente, os estudos demandaram três
anos, definindo-se um potencial inventariado de
14.245 MW, realizável com um conjunto de sete
aproveitamentos em cascata, sendo três no Rio
Tapajós e quatro no Rio Jamanxim. A presença
de importantes limitadores ambientais levou as
instituições intervenientes – Aneel, Ministério de
Minas e Energia, Eletrobrás, Ministério do Meio
Ambiente, Ibama, Funai, ANA, Cepel e Eletronorte a optarem por cinco aproveitamentos. São
eles: São Luiz do Tapajós e Jatobá, no rio Tapajós; e Cachoeira do Caí, Jamanxim e Cachoeira
dos Patos, no rio Jamanxim, considerando-se em
conjunto os fatores técnicos, econômicos e socioambientais.
No Maranhão, a equipe de linha de transmissão, ou de linha viva, como é mais conhecida, bateu o recorde nacional em tempo de
montagem de uma torre. Os ‘guerreiros’ das
divisões de Transmissão de São Luís II, Presidente Dutra e Imperatriz entraram em operação a partir das 20h do dia 8 de janeiro de
2009, quando a torre de número 137, situada
no povoado Rancho Papouco, município de
Bacabeira, sofreu ato de vandalismo, com o
furto das hastes dos cabos, sendo derrubada
pela chuva torrencial acompanhada de fortes
ventos. Nesse trecho, é utilizado no sistema
de transmissão de energia elétrica um tipo de
torre (estaiada) cujos cabos de sustentação
(estais) são fixados numa base presos por terminais metálicos.
Como conseqüência do ato de vandalismo, ocorreu blecaute em todos os municípios
atendidos pela Subestação Miranda do Norte
e na grande São Luís, das 18h40 às 19h04
(hora local). Foi interrompida uma carga de
aproximadamente 349 MW da Cemar, 815
MW da Alumar e 20 MW da Vale, no Maranhão. O ato criminoso já está sendo investigado pela polícia.
Às 18h41, a Eletronorte já havia colocado
o sistema à disposição do ONS para energização. Às 18h45 iniciou-se a energização das
linhas e equipamentos com início da tomada de carga às 18h56, sendo concluída às
19h05. Às 20h foi religada a carga do consumidor especial Vale.
União - Tão logo foi registrada a ocorrência, as equipes mobilizaram-se, iniciando o
planejamento e estudos para a retomada do
sistema com segurança. Após o planejamento
feito por volta das 2h da manhã do dia 9 de janeiro, os primeiros técnicos subiram na torre
para iniciar uma maratona com um só objetivo: colocá-la de pé e energizar a linha.
corrente contínua
CIRCUITO INTERNO
Equipes do Maranhão recuperam
linha em tempo recorde
19
corrente contínua
Ao todo, uma equipe de 40 profissionais,
entre técnicos e engenheiros, e 14 viaturas,
sob a coordenação do engenheiro Djalma Ferreira Campos Filho, participou da recuperação
da torre. Os trabalhos consistiram em desmontar e montar parte de uma estrutura pesando
mais de seis toneladas, com 32 metros de
altura e colocá-la em pé. Segundo dados do
Centro de Informação e Análise da Transmissão, em Brasília, o tempo total para identificação e normalização da linha de transmissão, e
disponibilidade para operação foi de 23 horas
e sete minutos, um recorde nacional.
20
O gerente regional, Mauro Aquino (abaixo),
acompanhou os trabalhos do início ao fim e,
emocionado, fez um agradecimento a todos:
“Percebi a união e a integração entre as equipes. Na hora das dificuldades é que a gente
vê o quanto a união faz a diferença. Fiquei impressionado com o resultado do trabalho. Nós
não vamos nem pagar multa à Aneel, pois
fizemos os trabalhos dentro do prazo determinado pela resolução. Todo mundo tem que
reconhecer isso, vocês estão de parabéns”.
Ministro reconhece esforço - O esforço, o
comprometimento, o empenho e a capacidade técnica da Eletronorte foram reconhecidos
pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em visita ao Centro de Operação Regional do Maranhão. A emoção marcou a solenidade em que o ministro homenageou toda a
força de trabalho da Empresa, por meio dos
trabalhadores que participaram da recuperação da torre 137 (acima). “São servidores modelo, exemplares, e que por isso estão sendo
agraciados. São os únicos nestas condições?
Não. Apenas estão sendo agraciados dessa
vez e outros serão num passo seguinte. O que
quero dizer é que são servidores da melhor
categoria. Eles fazem a segurança e a grandeza da Eletronorte”, declarou Lobão.
O ministro continuou destacando os trabalhos prestados por empregados da Empresa.
“O meu secretário de Energia do ministério é
tiana Silva Santos, representando a equipe da
Divisão de Transmissão de Imperatriz; Ernanes Silva Oliveira, representando a equipe da
Divisão de Transmissão de Presidente Dutra;
Jeferson Charles Moraes Santos, representando a equipe da Divisão de Transmissão de São
Luís II; e Carlos Jorge Damous Neto, representando a equipe de motoristas e operadores
de máquinas.
O diretor-presidente da Eletronorte, Jorge
Palmeira, lembrou dos anos em que trabalhou na operação e manutenção. “Em julho
de 2009 vou fazer 31 anos de Setor Elétrico,
dos quais 22 passei na operação e manutenção. A ocorrência aqui foi à noite, em local
de difícil acesso, no escuro, e vocês mostraram que todas essas adversidades podem ser
contornadas. A equipe toda está de parabéns
pelo tempo, pelo sucesso, pela garra e pela
coragem que dedicaram.”
Obras - Pela manhã, o ministro Edison
Lobão participou de solenidade no Auditório
Fernando Falcão da Assembleia Legislativa
do Maranhão, onde assinou contratos com
a Eletrobrás e a Cemar que possibilitarão o
reforço e a expansão dos sistemas de subtransmissão do estado no valor de R$ 97,6
milhões. Depois visitou as obras da subestação São Luís III. Ainda na Assembleia, o diretor-presidente da Eletronorte, Jorge Palmeira,
apresentou o andamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC
concluídas em 2008 e programadas para o
período 2009/2010, sob responsabilidade da
Eletronorte. O secretário Nacional de Energia
Elétrica, Josias Matos Araújo, também falou
sobre as obras do programa Luz para Todos
no Brasil e no Maranhão.
corrente contínua
da Eletronorte. O chefe do meu gabinete é da
Eletronorte. E tantos outros servidores que trabalham no sistema elétrico e em vários outros
órgãos”, disse.
Na ocasião, foram homenageados com peças trabalhadas em forma de torres de transmissão os seguintes empregados: Valter Diniz
Barros, representando a equipe de segurança
do trabalho da Regional de Transmissão do
Maranhão; Raimundo Antônio Nunes Madeira, representando a equipe de Aquisição; Ka-
21
CORRENTE ALTERNADA
corrente contínua
22
Fórum Social Mundial:
pluralidade de
ideias em Belém
Viajei para Belém dia 27 de janeiro de
2009, às 10h20. Ao chegar no portão de
embarque do aeroporto Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília, muitas pessoas
aguardavam o vôo 3716. Certamente o destino da maioria delas era o 9º Fórum Social
Mundial – FSM. Naquele momento, lembreime do meu primeiro FSM, em 2002, quando
eu e uma turma de colegas da universidade
levamos mais de 48 horas de ônibus da Bahia
a Porto Alegre, local do evento.
Sete anos se passaram e, agora como
profissional, faria a cobertura jornalística do
FSM. De início, a minha pauta estava focada
nas discussões sobre energia elétrica, mas
ao longo dos seis dias, muitas outras histórias
cruzaram o meu caminho. Assim como eu,
4,5 mil jornalistas, profissionais da comunicação e mídias livres estiveram no local. Foram
credenciados 800 jornais de 30 países.
corrente contínua
Érica Neiva
23
corrente contínua
Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana,
Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa. A programação contou com atividades
políticas e culturais. A indígena Moira Millan,
da Frente de Luta Mapuche e Camponesa,
sul da Argentina, enfatizou que o FSM em
Belém foi diferente dos outros: “Neste Fórum deram muito valor aos povos indígenas.
As pessoas têm interesse em saber do nosso
conhecimento, da nossa experiência”, destacou. Cerca de 3,5 mil índios de 200 etnias de
todo o mundo estiveram no FSM.
24
No dia 27 pela manhã, cerca de 1,2 mil
índios do mundo inteiro formaram uma faixa
humana com as palavras “Salve a Amazônia”, chamando a atenção para a necessidade de preservação da região. Em seguida, na
marcha de abertura, cerca de 70 mil pessoas
saíram da escadinha do Cais do Porto - onde
os povos africanos, que receberam a última
edição do Fórum, entregaram o evento aos
indígenas -, e marcharam em direção à Praça
do Operário, no centro de Belém.
Para a estudante paraense de geografia,
Karen Nogueira (acima), que participou pela
primeira vez do FSM, a marcha foi além de
suas expectativas. “É muito boa a energia do
pessoal, a diversidade de pessoas, culturas e
identidades. Um tema que pode caracterizar
bem esta marcha é a unidade na diferença.
Todos juntos na luta por um propósito”, declarou a estudante.
O segundo dia do FSM, ‘O Dia da PanAmazônia’, foi dedicado aos 500 anos de
resistência, conquistas e perspectivas das
populações indígenas, afrodescendentes e
populares dos nove países da Amazônia -
Entendendo o FSM – O Fórum Social Mundial é um espaço aberto de encontro que estimula o debate, a reflexão, a formulação de
propostas e a troca de experiências entre os
povos de todo o mundo. A primeira edição do
evento aconteceu em Porto Alegre, em 2001.
A capital gaúcha ainda foi palco do evento
em 2002, 2003 e 2005. Em 2004, o FSM foi
realizado pela primeira vez fora do Brasil, na
Índia; em 2006, aconteceu de maneira descentralizada em três países:
Mali, na África; Paquistão,
na Ásia; e Venezuela, na
América do Sul . Em 2007,
voltou a acontecer na África,
dessa vez no Quênia.
Para um dos idealizadores, o diretor do Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase,
Cândido Grzybowski, o FSM
surgiu em contraposição ao
Fórum Econômico Mundial
e a globalização neoliberal.
“Decidimos ter um olhar
social sobre a economia e
o poder, por isso a ideia de
um Fórum Social Mundial
em contraposição ao Fórum
Econômico Mundial. Como
Fórum, a nossa proposta é
essencialmente criar uma
nova cultura política. Não
somos uma instituição, não
somos um partido. Até agora conseguimos preservar a
autonomia e pluralidade de
ideias em torno de valores
compartilhados como a nãoviolência, participação, diversidade na igualdade, solidariedade e paz”, destacou.
O Fórum Social Mundial
Participação - A paraense Maria de Fátima
(acima) foi uma dos 135 mil participantes que
acolheram o evento de braços abertos. “O
povo paraense é solidário, independentemente de qualquer coisa. É uma solidariedade que todos abraçam.
Cada um oferece o seu melhor.
Quando ficamos sabendo que o
FSM viria para cá, todos nós preparamos para ajudar. É importante a mobilização de todos na
luta pela Amazônia”, relata.
O holandês Roberto Smit (ao
lado) veio representar a ONG
belga Volens, que fez parte das
5.808 associações de 150 países envolvidas no evento. A ONG
está presente em países da América do Sul, América Central e África. No Brasil são 44 organizações com sede em Recife.
Elas desenvolvem um programa de economia
corrente contínua
é regido por uma Carta, espécie de ‘Constituição’ composta de 14 princípios. Segundo
Cândido Grzybowski (ao lado), “a Carta previne a introdução de questões ideológicas e,
assim, ficamos mais focados nas questões éticas.
Quando elaboramos a
Carta queríamos evitar os
extremismos, a presença
de grupos fundamentalistas e terroristas. Ela se
tornou um instrumento
importante para enfrentar
os que propõem a partidarização do Fórum”, explicou.
O Conselho Internacional do FSM, formado atualmente por 129 organizações, é responsável pela discussão sobre os rumos do evento,
entre eles o local de sua realização. Para
Cândido Grzybowski, Belém foi escolhida
como sede por ser uma das maiores cidades
da Amazônia e possuir grande densidade
de movimentos sociais. “Em termos de movimentos sociais foi uma decisão acertada.
A Amazônia não é apenas fonte de reserva
de carbono como imaginam os países ricos.
Ela é constituída por pessoas, possui uma
perspectiva e nos oferece a possibilidade de
pensarmos numa biocivilização. O Fórum
tem a oportunidade de avançar a passos
largos, juntando o ambiental com a crise do
modelo de desenvolvimento”, reflete.
25
FAL e Fala reúnem autoridades
O VIII Fórum de Autoridades Locais – FAL e o I Fórum
de Autoridades Locais da Amazônia – Fala, foram realizados conjuntamente, nos dias 30 e 31 de janeiro, no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia – Hangar, em
Belém. O FAL faz parte da programação do Fórum Social
Mundial, desde sua primeira edição em 2001. Já o Fala é
a novidade deste ano, implementado a partir da proposta da governadora do Estado do Pará, Ana Júlia Carepa,
durante o Encontro de Governadores da Frente Norte do
Mercosul.
Segundo a Governadora (ao centro, acima), a importância do Fala se dá pela necessidade de se discutir a Amazônia e principalmente ‘olhar’ para a população amazônida.
corrente contínua
solidária com agricultores, camponeses e
grupo de mulheres; e outro com a juventude.
Morando em Olinda (PE) há quatro anos, o
principal motivo que levou Roberto a participar do FSM foi a solidariedade. “Esse movimento global, principalmente, a favor dos
mais pobres é algo que nos toca. São pessoas de várias partes do mundo trabalhando,
suando, trocando experiências e acreditando
num mundo melhor”.
As 2.310 atividades do FSM aconteceram
nas universidades Federal do Pará – UFPA e
Federal Rural da Amazônia – UFRA. Foram
constituídas de oficinas, seminários, painéis,
26
“Temos que lembrar dos povos da Amazônia. As pessoas que aqui vivem têm direito à energia elétrica, água,
saúde. Preservar a Amazônia é uma responsabilidade
do mundo inteiro”, afirmou Ana Júlia.
Ela ressaltou também a importância da integração
regional, a partir da criação de projetos como o Navegapará, em parceria com a Eletronorte, que até final de
2009 atenderá mais de 600 escolas públicas, conectadas à internet por meio dos cabos de fibra ótica das
linhas de transmissão, e permitirá a construção de 13
cidades digitais.
Durante a plenária final do evento foi estabelecido
que o Fala terá um Comitê de Coordenação, com reassembleias, cerimônias e atividades culturais, propostas e executadas por entidades,
redes e organizações. No centro do debate,
as discussões sobre os aspectos econômico,
financeiro, ambiental e alimentar da crise global, com particular atenção à perspectiva dos
povos indígenas.
Foi fundamental a participação de 4.830
voluntários, tradutores e técnicos. A estudante de turismo, Emily Costa (abaixo), foi
uma dessas voluntárias que tornou mais fácil o acesso dos participantes às atividades.
“Inscrevi-me para ganhar experiência, ajudar
e conhecer pessoas. Tive contato com gente
de várias partes do mundo, algo que eu nunca imaginava. Muito interessantes foram os
diferentes idiomas falados durante o evento.
Quando não entendíamos o que as pessoas
falavam sempre dávamos um jeitinho, fornecendo as informações por meio de mímicas.
O importante é a luta de todos por um mundo
possível”, destacou.
Energia - Entre os temas debatidos estavam aqueles relacionados a fontes de energia
renováveis, alternativas, soberania energéti-
presentantes de cada país amazônico. Na ocasião ainda
houve a divulgação da Declaração da Amazônia, documento que condena as políticas capitalistas dominantes
do modelo neoliberal.
ca, discussões sobre as hidrelétricas do Rio
Madeira (RO) e os estudos do Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte (PA). Na UFRA,
diversas tendas foram montadas ao ar livre
para discutir essas temáticas.
A Federação Nacional dos Urbanitários –
FNU/CUT promoveu duas oficinas sobre Belo
Monte. Segundo o diretor-executivo do Sindicato dos Urbanitários do DF, Mauro Martinelli
(à direita), o objetivo foi trazer outro ponto
de vista sobre a questão. “Acreditamos que
o FSM é um ambiente democrático que respeita a diversidade de opiniões. Infelizmente,
existia no FSM uma única visão sobre Belo
Monte que é a visão dos ambientalistas, das
ONGs, que respeitamos, mas discordamos.
Somos favoráveis à construção de Belo Monte, desde que os impactos socioambientais
sejam minimizados e existam ações mitigadoras e compensatórias para garantir qualidade
de vida”, disse Mauro.
É importante destacar que a Resolução nº
6 do Conselho Nacional de Política Energética - CNPE, de 3 de julho de 2008, garante,
com base na avaliação de critérios técnicos,
energéticos, econômicos e ambientais, um
trônico, porque quero tentar levá-la para o XXI Festival do
Camarão em Oeiras do Pará”, contou o vereador de Oeiras
do Pará, Gracimar Vale da Silva.
Cláudia Matos, de Manaus, afirmou que ficou surpresa
ao ver a exposição. “Gostei muito, achei bem diferente, não
esperava encontrar isso no Fórum. É bom porque há pessoas de outros países que terão a oportunidade de conhecer
a diversidade amazônica.
Colaborou Kennya Corrêa, da
Regional de Transmissão do Pará
único aproveitamento no Rio Xingu, situado
a jusante da sede urbana da cidade de Altamira, no Estado do Pará, denominado Aproveitamento Hidrelétrico Belo Monte. Além
disso, de acordo com a revisão dos estudos
de inventário hidrelétrico do Rio Xingu, para
gerar uma potência de 11.181 MW, a área
dos reservatórios foi reduzida
de 18.150 km² para apenas
440 km².
Na oficina “Aproveitamento Hidrelétrico da Usina Belo
Monte e sua Importância na
Matriz Energética Brasileira
e para o Desenvolvimento
Nacional” que aconteceu no
dia 30 de janeiro, na UFRA,
o engenheiro de Planejamento Energético da Eletronorte,
Paulo César Domingues,
destacou que, nos próximos
dez anos, o sistema elétrico
brasileiro deve crescer 4,9% ao ano. “Esse
crescimento requer a construção de novas
usinas no sistema, sejam elas eólicas, térmicas ou hidrelétricas. No entanto, a usina hi-
corrente contínua
Brasil 500 pássaros - A Eletronorte apresentou durante o FAL-Fala a exposição que surgiu como resultado
do estudo feito pelo Museu Paraense Emílio Goeldi na
área de influência onde viria a ser o reservatório da Usina Hidrelétrica Tucuruí, e que é parte integrante do projeto Brasil 500 Pássaros. A exposição (ao lado) surpreendeu o público que compareceu ao Hangar, a exemplo
de Cícero Gomes Feitosa, de Xinguara (PA), que afirmou
nunca ter visto nada igual. “Estou achando muito bonito
e tirando fotos de tudo. É um modo de ver e conservar as
espécies. Esse projeto toca o coração das pessoas para
que elas aprendam a preservar”, afirmou.
“Quando vi o painel não resisti, é muito lindo! E tem
grande variedade de espécies, que a gente nem conhece”, conta Rosângela dos Santos, que mora em Belém,
e estava passeando com a família no Hangar, quando
viu a exposição. O projeto Brasil 500 pássaros nasceu
com o objetivo de levar às pessoas o valor da educação
ambiental, por meio de diferentes peças, livros de arte
ilustrados, permeados por textos explicativos, mitos indígenas e poemas, além de jogos e músicas, que abrangem 500 espécies de pássaros catalogadas. “Adorei a
exposição, tanto que cheguei a pegar o endereço ele-
27
corrente contínua
drelétrica, além de ser uma fonte renovável, é
a mais barata. As condições do local de Belo
Monte, com desnível de 90 metros e a grande vazão do Rio Xingu no período de cheia,
significam um vantajoso aproveitamento do
potencial hidrelétrico, e tornam a usina uma
das fontes de geração de energia mais barata
prevista nos próximos dez anos. Belo Monte pode contribuir com a redução de tarifas,
energia mais limpa e de menor custo”.
Paulo César (à esquerda, na foto acima)
ainda frisou que com a dificuldade de implantação das hidrelétricas, o Ministério de
Minas e Energia prevê a construção, nos
próximos dez anos, de 82 termelétricas, com
capacidade instalada de 20 mil MW. “Nunca
houve um período com tantas termelétricas
como agora. A previsão do próprio governo é
que as emissões de dióxido de carbono tripliquem, ou seja, vão passar de 15 milhões de
28
toneladas para cerca de 40 milhões. Isso é
sujar a nossa matriz energética. O resultado é
a redução, em dez anos, na participação das
usinas hidrelétricas de 86% para 73%”.
Impactos - A oficina “A integração da Usina Hidrelétrica de Belo Monte ao Sistema
Integrado Nacional e aos Sistemas Isolados
da Amazônia, e os Impactos Ambientais e
Sociais” foi ministrada pelo superintendente
de Expansão da Geração da Eletronorte, Luiz
Fernando Rufato, no dia 31 de janeiro, na
UFPA (abaixo). Na ocasião, ele deixou claro
que os estudos ambientais e socioeconômicos de Belo Monte ainda estão em curso. Só
após esses estudos o empreendimento será
declarado viável ou não. “O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – Ibama exige do empreendedor
um termo de referência, onde constam estudos do meio biótico, físico e social. No caso
dos índios, existe um termo de referência da
Fundação Nacional do Índio – Funai, que
determina os fatores etimológicos a serem
estudados. Após essa fase acontecem as
audiências públicas, onde os órgãos oficiais
apresentam à população o resultado dos estudos. Nesse momento, a população pode
aprovar os estudos ou exigir que novas informações sejam levantadas, além de saber as
opções de indenização. Depois do encaminhamento e aprovação dos estudos, o Ibama
e a Funai emitem licença prévia para o empreendimento. O documento vai para leilão e
aquele que apresentar menor preço ganha a
Pontos de vista - No dia 29 de janeiro, a
tenda Os Povos da Floresta discutiu o tema
“Impacto das Hidroelétricas em Terras Indígenas: o caso de Belo Monte”, onde estiveram
representantes do Fórum dos Povos Indígenas do Pará, do Conselho Indigenista Missionário - Cimi, e do Movimento dos Atingidos
por Barragens – MAB. O bispo da Prelazia do
Xingu, Dom Erwin Kräutler, que atua em prol
das causas indígenas, declarou não acreditar
que Belo Monte seja construída: “Somos contra e não temos meia palavra. A energia de
Belo Monte não irá beneficiar o Pará. É um
projeto que vai sacrificar o Rio Xingu e não
trará nada para o nosso povo”.
Já na tenda Afro-Negritude, foi discutida a
soberania energética e alimentar. O secretário
de Petróleo da União Internacional dos Trabalhadores em Energia - UIS Energia, Aldemir
de Carvalho Caetano, participou da mesa de
discussão e destacou a luta de diversos países pela soberania energética, mais especificamente a luta pela nacionalização da energia
– petróleo, gás, recursos naturais, recursos
renováveis e energias alternativas. “Entendemos que a energia é um bem social e, portanto, deve servir ao povo de cada país. Defendemos a nacionalização e, acima de tudo,
a integração dos povos no ramo de energia,
visando ao desenvolvimento com a valorização do trabalho”, frisou Aldemir (acima).
Fim – Na manhã do dia 1° de fevereiro, ao
caminhar no campus da UFRA, enxerguei
os primeiro sinais de que a nona edição do
FSM estava prestes a terminar. Aos poucos,
alguns dos 15 mil jovens que estiveram no
acampamento da juventude, desarmavam
suas barracas. Levavam não apenas as
mochilas nas costas, mas uma bagagem
de aprendizado e troca de experiências.
O último dia do FSM é conhecido como o
“Dia das Alianças”. Pela manhã aconteceram assembléias entre as diversas organizações e movimentos sociais. O período da
tarde foi destinado à socialização dos resultados das assembleias, com a apresentação
dos acordos e alianças construídos. Foram
lidos documentos sobre um conjunto de 22
questões pontuais, que continham desde a
preservação da Amazônia aos problemas enfrentados por migrantes ao redor do mundo,
a demarcação de terras indígenas, a questão
palestina e a crise mundial.
O monge africano Dada Jinanananda (abaixo), que participou de todas as edições do
FSM, destacou que o evento é um instrumento
que visa a criar uma consciência global sobre
as mudanças que precisam ser feitas em nossas vidas, no âmbito social, econômico, político
e cultural. “Os seres humanos precisam viver
com cooperação, compreensão e compaixão.
Todos devem ter espaço e oportunidade para
crescer e ser feliz”.
corrente contínua
concessão. Todos os condicionantes ambientais e sociais devem ser cumpridos”, explica.
Na oficina, Rufato deixou claro que nenhuma terra indígena será inundada. “Há três
terras indígenas que estão muito próximas
do empreendimento – Arara da Volta Grande, Paquiçamba e Jurunas. Deve-se ter um
cuidado com essas etnias, por isso a Funai
está buscando a maneira de minimizar os impactos e garantir que sejam compensados”.
Ele ainda destacou que as 16 mil pessoas de
Altamira que serão afetadas pela construção
da usina deixam seus lares todos os anos durante o período de cheia do Rio Xingu e se
alojam em escolas, estádios e igrejas. “Todas
essas pessoas e mais as 2,8 mil que moram
ao longo do rio terão novas casas. Numa democracia, nenhuma hidrelétrica pequena ou
de grande porte pode ser feita sem a integração de governo e comunidade”, avalia.
29
RESPONSABILIDADE SOCIAL
corrente contínua
30
Cozinhando com energia
No Acre, o fogão que funciona como uma mini-usina térmica
aumenta a qualidade de vida das comunidades isoladas
João Batista Padilha, 30 anos, seringueiro, casado, nasceu e vive até hoje na reserva extrativista Chico Mendes, zona rural do
município de Xapuri (AC), distante 188 km
da capital Rio Branco. Energia elétrica só
conheceu na adolescência, numa viagem à
cidade. O primeiro contato foi algo mágico.
Ele procurava uma explicação sobre a luz que
estava “presa dentro daquele pequeno copo
de vidro fechado”, depois de um tempo descobriu que aquele objeto parecido com um
copo era uma lâmpada.
O sonho de ter energia elétrica em casa era
algo muito distante para a realidade da família
de João. Até então, nenhuma autoridade ou
órgão governamental havia criado um projeto
para sanar o problema das famílias da zona
rural de Xapuri. Com a chegada do fogão gerador de energia, a mudança na rotina da família foi significativa, porque a casa, antes iluminada precariamente pelo lampião, passou a
ter algumas atividades que anteriormente não
existiam. O anoitecer já não é apenas para o
descanso de um dia exaustivo de trabalho,
mas também para o lazer que aos poucos começa a ser uma prática quase constante entre a família e os amigos do seringueiro. São
algumas horas de conversa, jogos de dominó
e baralho, e estudos para as crianças.
O fogão foi desenvolvido em parceria com
a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre
– Funtac, Eletroacre e Universidade Federal
do Acre- Ufac, projeto orçado em R$ 675
mil. Desenvolvido desde dezembro de 2004,
o equipamento possui tecnologia inovadora, concebida pelo inventor Ronaldo Muneo
Sato. Em 2007, a partir dos resultados adquiridos após diversos testes em laboratório, foram montados 27 fogões para ser instalados
em comunidades isoladas.
A partir de reuniões realizadas com as comunidades, foi feito o cadastramento das famílias que vivem em três seringais da Reserva Extrativista Chico Mendes, no município
de Xapuri: Floresta, Boa Vista e Nazaré. O fogão permite atender às famílias dispersas em
áreas de difícil acesso, como seringueiros, ribeirinhos e indígenas. Antes da chegada dos
fogões, as famílias usavam outras fontes para
iluminar suas casas, ouvir o rádio, cozinhar
seus alimentos, como as lamparinas, porongas, lampiões, velas, lanternas, pilhas e fogão
de barro.
Notícias e lazer - “O fogão trouxe grande
melhoria para nós, porque graças à energia
produzida, agora não precisamos mais gastar
com diesel. Além disso, o tempo para o cozimento e a quantidade de lenha para o funcionamento é bem menor que o nosso antigo
fogão a lenha. Outro coisa muito boa que a
energia elétrica trouxe para nós foi a diversão.
Comemoramos a virada do ano do dia 31 até
a segunda noite de 2009 com uma grande
festa”, conta João.
Segundo relato do seringueiro, o seu pai,
Raimundo Padilha, ficou muito feliz com as
primeiras visitas dos técnicos do programa
Luz para Todos e da Funtac, porque teve a
certeza de que seus filhos e netos iriam usufruir da energia elétrica, esse bem tão sonhado e almejado por eles. “Eu não tive a opor(Continua na página 32)
Duas novas linhas de transmissão já iluminam o Acre
O mais recente empreendimento que Arnaldo esteve à
frente foi o linhão das subestações Rio Branco/Sena Madureira, com extensão até Manuel Urbano, e Rio Branco/Epitaciolândia/Brasiléia, com rebaixamento para Assis Brasil. “Participar dessa obra, que irá beneficiar mais de 100 mil habitantes,
é muito gratificante, pois estamos contribuindo diretamente
com o desenvolvimento e crescimento das cidades”, afirma.
Empreendimento - A Eletronorte implantou as duas novas linhas de transmissão e respectivas subestações associadas entre 2005 e 2008. A linha de transmissão Rio
Branco/Epitaciolândia em 138 kV, com 195 quilômetros
de extensão, e a subestação Epitaciolândia; e a linha Rio
Branco-Sena Madureira em 69 kV, com 148 quilômetros,
e a subestação Sena Madureira. Até então, os municípios
de Epitaciolândia e Sena Madureira contavam com o abastecimento de energia a partir da onerosa geração a base de óleo
diesel. Com a construção das linhas de transmissão, a geração
térmica foi paralisada e em breve, com a integração do Acre
ao Sistema Interligado Nacional – SIN, será definitivamente
substituída pela energia limpa, confiável e econômica de origem hidráulica, com benefícios para toda a região. Os investimentos alcançaram a cifra de R$ 101 milhões. A população
beneficiada pelas obras chega a mais de 100 mil habitantes.
corrente contínua
A energia elétrica é um bem fundamental que move
o mundo. A maioria das pessoas, porém, não imagina
que o fornecimento ininterrupto exige que um pequeno
exército de trabalhadores fique pendurado, em linhas de
alta tensão por onde passa energia em potências elevadíssimas, de, por exemplo, 230 mil Volts. Esses trabalhadores fazem parte de um seleto grupo de eletricistas
especializados em reparos nas linhas de transmissão
em operação, ou seja, as que não são desligadas, as
chamadas linhas vivas (acima). Durante os minutos em
que o trabalhador está na linha, em geral entre 30 e
50 metros de altura, ele faz parte do sistema elétrico,
porque passa pelo seu corpo a mesma tensão que passa pela linha. Qualquer falha que faça com que tenha
algum contato com a terra é fatal. O trabalho desses homens garante a toda população a qualidade do serviço
de distribuição de energia elétrica.
Arnaldo Souza Gonçalves (abaixo, com a equipe), 32,
casado, trabalha há sete anos na Eletronorte como eletricista de linha viva. Atualmente ele coordena a equipe de
eletricistas da Regional de Produção do Acre. Feliz por
estar numa atividade dinâmica, ele conta que se sente
uma pessoa realizada, pois o seu trabalho não está restrito a ficar sentado em frente ao computador.
31
corrente contínua
tunidade de ter luz em minha casa, mas fico
satisfeito por saber que meus filhos terão”.
Palavras de Seu Padilha, que faleceu dias
antes da entrega do fogão em sua casa.
Para o seringueiro Robervaldo Ferreira de
Oliveira, casado e pai de cinco filhos, o fogão
é de grande valor para todos, pois a energia
produzida por ele tem o objetivo principal de
informá-los. Agora eles têm notícias, pois antes da eletricidade ele e a família não sabiam
o que estava acontecendo no Acre, no País e
no mundo, porque não tinham como manter
o rádio, que só funciona com oito pilhas pequenas. “Quando estamos em casa, passamos o tempo inteiro ouvindo as notícias dos
jornais e as músicas. É muito bom sentir que
estamos fazendo parte do mundo”, afirma
Robervaldo.
32
Com o avanço do desenvolvimento da tecnologia algumas discussões foram realizadas
com a empresa Damp Elétric Engenharia Torres e Ferragens S.A. para que fosse consolidada no Estado do Acre, o que se concretizou
com a criação de uma nova empresa acreana
denominada Energer Geradores de Energias
Renováveis, que irá industrializar 500 unidades
por mês em Rio Branco e gerar 50 empregos
diretos. O fogão ganhou a marca BMG Lux.
Entender o valor e a importância que tem
o fogão BMG Lux para as famílias de comunidades isoladas, como as duas já mencionadas, só é possível quando se tem a oportunidade de assistir, in loco, a realidade dessas
pessoas que lutam diariamente pela sobrevivência. A renda mensal das famílias não chega a um salário mínimo. Antes da chegada
da inovação tecnológica, para que pudessem
ter iluminação em suas casas, necessitavam
de diesel para acender as lamparinas. Mas
para se ter o diesel é preciso pagar, por dois
litros, R$ 5,00. O valor pode ser considerado
pequeno para a maioria das pessoas, mas
não o é para quem vive na reserva extrativista Chico Mendes, onde o poder aquisitivo é
muito baixo, principalmente pelo fato de as
famílias serem constituídas de, no mínimo,
dez pessoas.
Raimundo de Barros, mais conhecido co­
mo Raimundão, primo em primeiro grau de
Chico Mendes, explica que o fogão ecológico
trouxe à comunidade a esperança de uma
vida melhor, pois muitos dos seringueiros viviam desanimados, não sonhavam com crescimento, mas tudo isso foi transformado. “Até
a visão do cenário político do estado passou a
ser outra, porque agora todos sabem de fato
como tudo está acontecendo. A comunidade
não precisa mais que um visitante, ou até
mesmo um de nós que vai com mais freqüência à cidade, informe sobre os acontecimentos, pois agora todos recebem a notícia direto
da fonte, por meio do noticiário das rádios
acreanas”, disse Raimundão.
Tecnologia - O fogão gerador de energia
é composto por uma bateria, um inversor de
carga, um controlador de carga e materiais periféricos (fios, lâmpadas, interruptores etc). As
luminárias funcionam em corrente contínua
(12 Volts), e o ponto para televisão (tomada)
em corrente alternada (127 Volts). São muitas
as vantagens oferecidas: acender três lâmpadas, simples manejo e pouca manutenção,
componentes nacionais, ambientalmente correto, diminui a produção de fuligem, economiza o consumo de biomassa, permite o acesso
à informação e reduz o nível de fumaça.
O fogão pesa em torno de 140 kg, contém
uma bateria de 20 kg, e funciona com o vapor
de uma pequena caixa d’água aquecida, que
passa para um motor acoplado a um gerador
e transforma a energia mecânica em energia
elétrica, armazenada numa bateria. “Além da
geração de energia elétrica e economia no
consumo de lenha, os usuários não encontram muita dificuldade para manejar o fogão.
Sem contar que não há a emissão de fuligem,
pois é ambientalmente correto e produzido
com componentes nacionais”, ressalta Antônio Lima, técnico da Funtac.
Colaboraram Renata Furtado e
Leandro José Alves, da
Regional de Produção do Acre
Márcia Oliveira
Para uma população de quase 30 municípios do norte de Mato Grosso, a redenção para o progresso, a qualidade de vida
e o avanço civilizatório na década de 1990
foram materializados em torres e cabos de
aço energizados que deveriam ligar Sinop a
Cuiabá, dando acesso ao ‘pedacinho do céu’
proporcionado pela energia elétrica. A história mostra que não erraram no sonho: em
1996, a Eletronorte energizou 446 quilômetros de linha de transmissão em 230 kV que,
tal como uma artéria para o corpo humano,
irrigou a região com a força vital que faltava
para desenvolver seu potencial econômico e
social. Para se ter uma ideia do potencial local, Sinop, o município polo da região, viu sua
população crescer 544% de 1970 a 1980.
Na década seguinte, o fenômeno continuou
e a população dobrou. Depois manteve o índice sempre positivo, porém, no patamar de
crescimento de um dígito.
corrente contínua
TRANSMISSÃO
Treze anos depois
do linhão, norte
de Mato Grosso
vive o fenômeno
do crescimento
econômico
33
corrente contínua
34
Na década de 1970, migrantes do Sul do
País vieram em massa para a região, incentivados pelo Governo Federal, que doou e
vendeu a preços baixos terras tidas como
excelentes para a agricultura e em extensão
suficiente para desenvolver a pecuária. Terra agricultável e extensa na mão de um povo
que, em 1995, somava 397.720 pessoas
com garra, experiência e muita vontade de
vencer na vida. Esses elementos, associados às possibilidades que a energia elétrica
oferece, fizeram com que a região colaborasse hoje com 35% do PIB do estado, de
R$ 52 bilhões.
“A nossa vida pode ser dividida em antes
e depois do funcionamento dessa linha de
transmissão. Antes vivíamos num inferno, e
depois, posso dizer que entramos no céu. Eu
vim para Sinop em 1986 para trabalhar com
madeireira e ficava por dias na mata, no escuro, com luz de lampião. Quando voltávamos
para a cidade era raro um fim de semana que
não tinha blecaute, normalmente de quatro a
cinco por dia. A cidade de Sinop, antes abastecida por geradores a diesel da distribuidora
estatal Cemat, com uma energia de péssima
qualidade, registrava blecaute dia sim, dia
não”, lembra o presidente do Sindicato Rural
de Sinop, Antônio Galvan (acima).
Se o céu é considerado como maior capacidade de sobrevivência, conforto e condições para desenvolver, Galvan está certo,
pois a energia elétrica é fundamental para
instalar hospitais que precisam manter bancos de sangue, vacinas, produtos conservados à temperatura adequada e unidades
intensivas de tratamento (UTIs); energia elétrica é fundamental. Para instalar semáforos,
tratamento de esgoto e atividades industriais,
energia firme e de qualidade é também requisito básico. E foi desse estágio de energia
fraquejando, com transmissão interrompida
ao longo do dia, com uma rede de distribuição quase inexistente e sem condições de
atender à indústria, que a região saiu, a partir de 1996, para uma condição de acesso à
energia firme, constante e de qualidade com
a chegada do linhão. Isso possibilitou que o
crescimento populacional fosse de 18% em
dez anos entre 1995 e 2005, e que chegasse
em 2008 a 543.393, 19% da população do
estado. Alguns municípios, como Feliz Natal
e Carlinda, nem existiam até a chegada do linhão, que funcionou como um incentivo para
que crescessem. Hoje eles somam 22.791
habitantes.
Indústria e consumo - Após a chegada da
energia, a população pôde instalar indústrias
moveleiras, de transformação, de beneficiamento de soja, de carne, usinas de biodiesel,
entre outras, que exigiam continuidade e firmeza de energia. “Para a indústria e o crescimento da atividade econômica, a chegada
da energia foi uma revolução que impactou
no aumento da qualidade das atividades e no
tamanho delas. Saímos das famosas serrarias
para as indústrias de beneficiamento. E passamos a contribuir com as exportações para o
mercado externo. Mas, para a população residencial também foi uma revolução. Só com
essa linha a comunidade pôde entrar na era
do ar condicionado, as escolas puderam ter
aulas à noite e as donas de casa ganharam
em tempo com as máquinas de lavar, encerar, entre outros confortos”, avalia o economista e doutor em Planejamento de Sistemas
Energéticos da Universidade Federal de Mato
Grosso - UFMT, José Manuel Marta (acima).
O crescimento no consumo de energia da
região, composta por 28 municípios, nos dez
anos após a energização da linha Nobres/
Sinop, é um dos indicadores que apontam
o progresso local. Dados da Rede Cemat
a de qualquer outra do País, afirma um dos
primeiros técnicos de operação da Eletronorte em Mato Grosso, Sebastião Pereira Rosa,
com base em análises da Agência Nacional
de Energia Elétrica - Aneel (abaixo).
Ao considerar os municípios que tiveram
maior crescimento de carga, os números
soam como algo estupendo. Em dez anos, o
que teve o maior aumento de carga foi Nova
Mutum, com crescimento de 1.435%. Criado
oficialmente em 1988, segundo a classificação do Pnud está entre as regiões consideradas de alto desenvolvimento humano (Índice
de Desenvolvimento Humano - IDH maior
que 0,8). No período de 1991 a 2000, o
IDH-M (municipal) de Nova Mutum cresceu
12,34%, passando de 0,713 em 1991 para
0,801 em 2000. O Produto Interno Bruto PIB do município foi de R$ 535 milhões em
2006, o 13º maior do estado, de acordo com
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE.
Sinop: sem
blecautes
a economia
não para
de crescer
corrente contínua
mostram o aumento de 370% no consumo
de energia de 1994 para 2004, quando eram
fornecidos para região 18 MW e 74 MW respectivamente. Hoje, a carga que a região recebe por essa linha é de 170 MW. O índice de
crescimento no consumo é um dos mais espantosos, não apenas se comparado a outras
regiões de Mato Grosso, mas também com
35
A base econômica de Nova Mutum é a
agricultura, com o plantio e armazenamento
de soja, arroz e milho. A pecuária a suinocultura e a avicultura são tidas como destaque. Já o município que teve o segundo
maior crescimento de consumo de energia,
Sorriso, é também o que tem o melhor IDH
de Mato Grosso: no período 1991-2000, o
índice cresceu 11,05%, passando de 0,742
em 1991 para 0,824 em 2000. A dimensão
que mais contribuiu para o crescimento foi
a longevidade, com 38,0%, seguida pela
renda, com 32,7%, e pela educação, com
29,4%. Se mantivesse essa taxa de crescimento do IDH-M, o município levaria nove
anos para alcançar São Caetano do Sul (SP),
o município com o melhor IDH-M do Brasil
(0,919).
O PIB de Sorriso é o quinto maior do estado: R$ 1,016 bilhão. O da capital, naquele
ano, foi de R$ 7,1 bilhões e o de Rondonópolis, o segundo maior, de R$ 2,7 bilhões. “O
processo de desenvolvimento pode, sem dúvida nenhuma, ser dividido em antes e depois
da linha de transmissão da Eletronorte. Antes
se queimava diesel para o abastecimento doméstico, o que dizer então para atrair indústrias. Após a linha, veio o desenvolvimento,
que desde então se consolida ano após ano.
Atualmente a região tem frigoríficos, indústrias, processamento de matéria-prima de
origem animal e vegetal. As cidades se con-
corrente contínua
Energia
e produção
agrícola
promovem
PIBs e IDHs
extraordinários
36
solidaram. Tinha cidade que nem existia e
algumas que, antes do linhão, eram apenas
embriões, como Nova Mutum”, avalia o deputado Federal (PR/MT) e ex-presidente da
Federação da Agricultura e Pecuária de Mato
Grosso - Famato, Homero Pereira (ao lado).
José Marta lembra
que no final da década
de 1970, com exceção de Rondonópolis e
alguns municípios da
Baixada Cuiabana, que
abrange a capital de
Mato Grosso e municípios do seu entorno, o
resto do estado era todo
abastecido com energia elétrica produzida
por geradores a diesel. Em cidades como
Pontes e Lacerda, a 442 km de Cuiabá, ele
recorda que a energia era fornecida das
18h até às 22h. “Foi no contexto da crise
do petróleo que o Governo Federal passou
a planejar a construção de usinas hidrelétricas e, consequentemente, dos linhões.
Energia naquela época era um artigo caro
e de luxo, sendo gerada com a queima de
diesel e além de tudo isso, tinha péssima
qualidade. O linhão foi um marco da entrada do estado em outro patamar econômico”, reforça.
A demanda
por energia
na região se
multiplicou
por dez
no que chamavam de nova fronteira agrícola.
Gente que via na falta de energia um entrave para o seu crescimento, e que exigiu essa
ponte com o resto do Brasil. A necessidade de
energia era cada vez mais crescente e a concessionária estadual alegava não ter recursos
para esse tipo de investimento. Foi assim que
o estado pediu ajuda ao Governo Federal, que
por sua vez determinou à Eletronorte a responsabilidade pela obra”, relembra Francisco
Sperandeo, ex-gerente regional e atual coordenador da Representação da Eletronorte em
Mato Grosso .
E foi assim que torres e cabos de alta tensão começaram a fazer o caminho pelo cerrado mato-grossense, seguindo a BR-163.
Cerca de mil homens trabalharam na obra.
corrente contínua
Empreendimento - O gerente da Divisão
de Operação da Regional de Transmissão
de Mato Grosso, José Martins do Prado (ao
lado), corrobora a declaração do estudioso.
Ele afirma que na capital, até 1978, usava-se
grupo gerador diesel. Com a chegada da linha
de 138 kV, de Rio Verde/Rondonópolis e a
continuidade dela até Cuiabá, no final da década de 1970 é que a capital e os municípios
do seu entorno passaram a ter energia gerada
em hidrelétricas. “Naquela época, o fornecimento era apenas das 7h às 22h e na região
central da cidade. Em bairros e nas cidades
do interior usava-se lampião e vela depois das
22h. Depois da chegada dessas linhas é que
a distribuição passou a se estruturar. No norte
do estado a dificuldade era ainda maior, mas
como a migração foi muito intensa, a população começou a pressionar, tendo sido definida a construção da linha”, lembra.
A demanda da região por energia elétrica,
quando a linha Nobres/Sinop começou a operar, era de 15 MW, que percorriam 446 quilômetros de extensão passando pelos municípios
de Nobres, Nova Mutum, Sorriso e Sinop. Na
obra foram investidos R$ 88 milhões, mais de
dois anos de trabalho e, caso fosse avaliada
apenas do ponto de vista mercadológico, não
sairia do papel. “Esse foi um empreendimento
nascido da pressão do povo que à época vivia
37
A distância entre uma torre e outra é de 400
metros e, segundo um dos engenheiros eletricistas que trabalharam na obra, o atual gerente de Obras de Mato Grosso, Hélio Monti
(ao lado), seguir o traçado não foi muito difícil,
porque a área já estava bastante desmatada.
Hélio lembra que construir a linha foi
marcante para todos os membros da equipe, que eram encarados como ‘heróis’ e
recebidos com entusiasmo nas regiões por
onde passavam. “É muito diferente construir
uma linha num lugar onde o abastecimento
de energia é muito esperado. A população
não colocava dificuldades em nos receber e
ajudar. Para se ter uma ideia, quando cheguei em Sinop para marcar a obra da subestação, a imprensa descobriu que estávamos
lá e rádio, tevês e jornais foram logo atrás
das novidades. A linha era um anseio muito
grande da população da região e qualquer
informação virava notícia”.
corrente contínua
Lucas do Rio Verde,
um exemplo
de crescimento
38
Um exemplo do que os gestores de Mato Grosso desejam
para o desenvolvimento do estado nos próximos 20 anos é
encontrado em um dos municípios por onde a linha de transmissão da Eletronorte passa, antes de chegar ao seu destino
final. Lucas do Rio Verde, a 350 quilômetros de Cuiabá, está
no centro-norte do estado, e, junto com outras cinco cidades, concentra o maior PIB per capta estadual: R$ 27,1
mil. Por ter na produção de soja, milho e outros grãos a
principal atividade do agronegócio, ele conseguiu atrair a
maior fábrica da Sadia na América Latina para o seu território, e vive atualmente sua segunda explosão de crescimento.
Na planta da empresa consta um frigorífico de aves, que na
capacidade máxima tem previsão de abater 500 mil frangos
por dia; um frigorífico de suíno; uma fábrica de ração e uma
indústria de derivados, os chamados embutidos (presunto,
salsichas, apresuntados, entre outros). Atualmente o frigorífico abate de 100 mil a 120 mil aves por dia.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico
de Lucas do Rio Verde, Raimundo Dantas Filho, a partir de
2007 o lugar experimentou um crescimento populacional de
20% ao ano e passou a receber outras indústrias, empresas
e serviços. “Tudo mudou depois do linhão. Hoje nossa demanda por escolas é de duas por ano, com vagas para 600
alunos cada. Postos de saúde teremos que fazer na mesma
quantidade. Para a Sadia começar a operar aqui, teve que
contratar 2,5 mil pessoas, o que nos obrigou a construir um
conjunto habitacional com 1,5 mil casas, que devem chegar
a três mil”, relata.
Na avaliação do secretário-adjunto de Planejamento
do Estado de Mato Grosso, Arnaldo Alves de Souza Neto,
nada disso seria possível sem a energia elétrica. “Duas
coisas são fundamentais para verificarmos esse fenômeno que assistimos na região: uma é a energia elétrica de
qualidade, e a outra é a estrutura de escoamento, pois
não adianta nada produzir sem ter como escoar essa
produção. E depois da década de 1990 contamos com
essas duas condições na região”.
Até 2010, a previsão é que a Sadia empregue 6,8 mil
pessoas diretamente e gere 18 mil empregos indiretos.
O gerente de Obras da Eletronorte à época,
Gustavo Reis Vasconcelos, lembra que mesmo durante a instalação das torres, a população ainda duvidava que viraria realidade. “Foi
uma conquista muito grande para eles, afinal,
era uma solicitação de dez anos, com o povo
sofrendo sem energia. Os que podiam mais,
tinham geradores, quem não podia, vivia mesmo à base de velas e lamparinas. E foi uma
obra difícil para viabilizarmos equipamentos.
Trouxemos muito material de Rondônia, de
seis a sete carretas, numa época que logística,
acesso e material eram etapas muito difíceis”.
Mas, com a presença de autoridades e com
a expectativa de toda a população, entrou em
operação no dia oito de dezembro de 1994 a
linha de transmissão de Nobres/Sinop (326
quilômetros), operando no primeiro momento
com tensão de 138 kV. Gustavo Vasconcelos
lembra que para a inauguração veio o presidente Itamar Franco, o ministro das Minas e
Energia, Delcídio do Amaral, o então governador de Mato Grosso, Jaime Campos, e toda
a população de Sinop, que se posicionou na
praça central. “O marco simbólico da ligação
da linha foi uma lâmpada, acesa pelo presidente e comemorada com festa. Dois anos
depois, aconteceu a inauguração de um novo
trecho foi feita, dessa vez com o presidente
Fernando Henrique Cardoso, para mudar a
tensão para 230 kV”, conta.
E por conta da determinação da população
e da Eletronorte, apoiada pela força de vontade
do povo, é que o Mato Grosso é hoje o que é.
Depois que ela se instalou, Lucas do Rio Verde também
passou a ter uma fábrica de biodiesel, uma esmagadora de soja e uma indústria dinamarquesa de produção
de telhas isotérmicas. “Junto disso tudo veio também a
mão-de-obra qualificada, o crescimento dos serviços e
da demanda por serviço público. Para não termos um
crescimento desordenado, já concluímos o nosso Plano
Diretor, documento que nos indicará como crescer de
forma planejada, pois temos que manter a nossa qualidade. Hoje somos a única cidade 100% asfaltada de
Mato Grosso”, relata Arnaldo Alves.
Ele ainda lembra que o estado desenvolveu um documento chamado MT+20, que consiste num plano de desenvolvimento em que um dos itens estabelece como meta
a redução, em 20 anos, de pelo menos 10% da dependência da economia local em relação ao produto primário
do agronegócio. “Queremos que outras cidades vivam o
que Lucas está vivendo hoje, a capacidade de manufaturar
seus produtos primários. Isso agrega valor e traz complexidade para a economia. Podemos chamar o município hoje
de um polo de transformação do produto primário em manufaturado e é isso que buscamos”.
corrente contínua
A cidade e a fábrica: transformação do produto primário
39
GERAÇÃO
Trinta e dois anos depois de construída,
a Usina Hidrelétrica Curuá-Una consegue
licença ambiental, terá potência ampliada e
se prepara para ser referencial de excelência
Michele Silveira
corrente contínua
Há quatro anos a Usina Hidrelétrica
Curuá-Una (PA) vestiu roupa nova. Mais do
que isso, está de alma nova. As paredes de
cor envelhecida deram espaço a um branco
que contrasta com as águas turvas do rio de
mesmo nome, chamado assim porque sua
origem tupi-guarani quer dizer “rio de água
escura” (curuá: rio e una: escuro). Diferente
das demais usinas da Eletronorte, Curuá-Una
não foi construída, mas sim adquirida pela
Empresa. Antes de propriedade da Centrais
Elétricas do Pará – Celpa, a Usina enfrentou
um período de privatização da Companhia e,
em 2006, passou para o comando da Eletronorte como parte do pagamento de dívidas da
concessionária estadual.
De lá pra cá a presença da Eletronorte em
Santarém (PA) tem feito a diferença. Não só
na qualidade da produção e geração de ener-
40
Estrutura revitalizada
gia, como na vida de dezenas de famílias de
empregados diretamente ligados à história de
Curuá-Una. Histórias como a de Mário Pedreiro, que em novembro de 1968 chegava à
região para acompanhar o pai que trabalharia
na Usina. “Tivemos três diferentes momentos aqui: quando éramos do estado, quando
fomos privatizados, e agora, com a Eletronorte. Essa é uma das melhores empresas em
que trabalhei, em que as pessoas valorizam
o ambiente de trabalho, onde há qualidade
da produção; evoluímos bastante em relação
a outros momentos que tivemos em CuruáUna”, afirma.
Era meio de uma tarde de fim de ano
quando Mário entrou na sala da Gerência
de Imprensa da Eletronorte, em Brasília. Era
a primeira vez que esse santareno de coração chegava à Sede da Empresa. Nascido
em Belém, mas apaixonado pela ‘Pérola do
Tapajós’, como é chamada Santarém, trazia
nas mãos um arquivo cheio de fotos e ideias.
De uma conversa sobre a riqueza cultural e a
biodiversidade da região, um ponto comum:
a Usina Hidrelétrica Curuá-Una. Apaixonado
pela obra, Mário guarda as fotos do tempo dos
estudos geológicos e das primeiras máquinas
que chegavam à primeira hidrelétrica da Amazônia. A paixão dele virou nossa pauta.
Concepção - Curuá-Una está situada a
montante da Cachoeira do Palhão, afluente
do Rio Amazonas. Em 1952 a Servix Engenharia Ltda, com sede no Rio de Janeiro,
foi contratada para estudar a viabilidade do
aproveitamento hidrelétrico. Dois anos depois o parecer era favorável. O aproveitamento hidropluviométrico teve início em 1959 e
foi concluído em 1962. Somente em 1965,
quando a responsabilidade do projeto passou
a ser da Celpa, o processo adquiriu forma
concreta. Em 1967, a construtora Mendes
Júnior instalou a infraestrutura do canteiro
de obras e, em 1968, iniciou os serviços de
construção. A construção da Usina Hidrelétrica Curuá-Una foi concluída e inaugurada
para fins comerciais em 19 de agosto de
1977, com a primeira etapa de 20 MW, operando as unidades 01 e 02. A inauguração da
segunda etapa aconteceu em 24 de setembro de 1985, com mais 10,3 MW. Em julho
de 1998, a Centrais Elétricas do Pará S.A foi
adquirida pelo grupo Rede em julho de 1998.
Um ano depois, a linha de transmissão pro-
veniente da Hidrelétrica Tucuruí (Tramo Oeste), começou a operar comercialmente para
Santarém.
A barragem de Curuá-Una é de particular
importância para a engenharia geotécnica
brasileira pelo fato de ter sido construída sobre terreno aluvionar arenoso. Existem poucas
barragens no mundo fundadas em substratos
arenosos, entre elas a de Brats-Ki (Rússia) e
Aswan (Egito). O engenheiro Gilson Machado
da Luz, da Gerência de Segurança de Barragens da Eletronorte, explica que a concepção
de projeto para Curuá-Una foi mesmo um
desafio à engenharia nacional, por ter sido a
primeira barragem construída no Brasil sobre
terreno arenoso. “Em face dessas características atípicas de fundação, a Usina requer
constante monitoramento. Temos trabalhado
muito para executar as atividades de segurança de barragens, manutenção, reforma e
melhoria das instalações de geração e pretendemos, em breve, elaborar a análise de
risco da estrutura e implantar um plano de
ação emergencial”, explica.
Aos poucos, a força da experiência em geração hidráulica levou as marcas da Eletronorte
a essa Usina de médio porte, capaz de gerar,
hoje, 30,3 MW e atender em 75% o abastecimento energético dos quase 300 mil habitantes de Santarém em dias úteis. Toda a estrutura
civil foi revitalizada e suas três unidades geradoras estão sendo revisadas de acordo com o
calendário da manutenção programada.
corrente contínua
Em breve, mais uma nova turbina
41
corrente contínua
Hoje, com o Sistema Interligado Nacional SIN, a Eletronorte planeja a expansão da Usina com uma nova máquina, que vai adicionar
11,6 MW à potência instalada. “Essa ampliação vai significar o incremento da participação da Eletronorte no SIN e um aumento de
receita”, argumenta o diretor de
Planejamento e Engenharia da
Eletronorte, Adhemar Palocci.
Gerando cerca de 43.500 MWh/
ano, a estimativa é que a ampliação de Curuá-Una acrescente
R$ 6,0 milhões ao ano na receita
operacional da Empresa.
42
Mais fortes - Mais do que o incremento na produção de energia, a ampliação de Curuá-Una é
recebida com orgulho por quem
acompanha a sua trajetória. Todos os dias, as equipes saem de Santarém
e percorrem 72 km - hoje asfaltados – até à
Usina. Saem da cidade às 6h30 e chegam
à Usina por volta de 7h50. Nesse momento,
os empregados de todas as áreas se reúnem
para participar de uma reunião na qual discutem assuntos referentes aos serviços que
serão executados durante o dia de trabalho.
Antigamente, os trabalhadores moravam
na Vila Residencial, mas apenas algumas casas hoje estão sendo reformadas pela Eletronorte para garantir estada para os técnicos da
Empresa. “Antes a Vila era muito agradável,
mas depois ficou muito abandonada, a escola
atendia só até a quarta série, então o pessoal
foi morar em Santarém. A Eletronorte já começou algumas reformas, reativou espaços
como a quadra de esportes e o campo de futebol e vai apoiar a reforma da escola para
atender às crianças das famílias do entorno
do reservatório”, conta Mário.
Durante o processo de transição da Celpa para Eletronorte, as discussões sobre a
permanência dos empregados eram árduas.
“Foi um período difícil, pois não sabíamos
o final dessa história”, conta Ronaldo César
Pedreiro, supervisor de operação (à esquerda). A maior parte da mão-de-obra mantevese no quadro e, desde então, tem passado
por treinamentos e cursos de capacitação.
“Hoje nosso maior desafio é alcançarmos
o padrão Eletronorte de qualidade”, afirma
Ronaldo.
Aos poucos, os programas desenvolvidos
pela Eletronorte estão sendo implantados em
Curuá-Una. “Desde a sua aquisição, a Usina
vem sofrendo diversas melhorias, como a reforma da casa de força, troca dos mobiliários
funcionais, compra de computadores novos,
aquisição de ônibus para transporte dos funcionários, construção de novas salas dentro
da usina, entre outras ações. Atualmente
estamos implantando a metodologia TPM e
já vemos resultados expressivos, principalmente no pilar Manutenção Autônoma. Esperamos que até o final do ano o processo já
esteja consolidado nos mesmos padrões que
temos em Tucuruí”, explica Antonio Augusto
Bechara Pardauil, gerente Regional de Produção de Tucuruí, que também administra
Curuá-Una.
Segundo ele, está prevista também a modernização do sistema de controle das unidades geradoras, o que aumentará a confiabilidade operacional da Usina. “O grande
desafio é torná-la referência de excelência
para usinas de porte equivalente, com baixo
custo operacional e alta performance operacional. É preciso ressaltar o alto grau de profissionalismo e competência de nossos colaboradores, que vêm realizando um excelente
trabalho, superando-se cada vez mais”.
Meio Ambiente:
novo capítulo na história de Curuá-Una
nadense Robin C. Best, falecido em 1986. “Originalmente tinha entre seus principais objetivos utilizar o peixe-boi
da Amazônia como um controlador biológico das plantas
aquáticas que proliferaram no lago de Curuá-Una. Após o
represamento de um rio e a consequente formação do lago,
é comum a rápida proliferação de macrófitas aquáticas que
acabam prejudicando a navegabilidade no lago, bem como
a operacionalidade da hidrelétrica”, explica. Adicionalmente, esperava-se também conhecer melhor os movimentos e
deslocamentos dos peixes-boi, bem como algumas características da espécie, tais como comportamento social - por
exemplo, se machos e fêmeas permaneceriam juntos ou
próximos o ano todo, ou se haveria alguma segregação por
sexos na espécie.
Para Fernando, a retomada desse trabalho realmente
teria como primeiro passo a realização de excursões científicas para certificação da frequência de ocorrência da espécie no lago e registro da percepção dos moradores em
relação ao peixe-boi. “É possível que algumas das árvores
utilizadas para tomada de posicionamento dos peixes-boi
na época ainda estejam lá. Na última visita que fiz encontrei uma delas, o que significa que talvez possam ser georreferenciadas. Contudo, seriam necessários tantos recursos financeiros
para a retomada dos trabalhos, quanto
humanos”, afirma.
Eletricista, culinarista, historiador e
turismólogo, Mário Pedreiro (ao lado)
acompanha com atenção as novidades
que chegam à Usina que ele conhece
desde moleque. “Resgatar um programa como esse, levar a educação ambiental para os moradores da região,
tudo isso, junto com a implantação da
qualidade operacional tem feito a diferença em Curuá-Una”.
corrente contínua
Depois de conseguir a licença ambiental para operação da Usina no final do ano passado, a Superintendência de Meio Ambiente da Eletronorte se debruça
agora sobre o atendimento às exigências da Secretaria
de Meio Ambiente do Pará. “Estamos fazendo várias
análises e mapeamento da situação, estudando os programas que serão implementados. Temos as margens
ocupadas, alguns estudos da Celpa que foram feitos há
muitos anos, enfim, são diversos fatores que precisam
ser analisados”, explica o analista ambiental Rubens
Ghilardi Junior.
Com validade até junho de 2009, a autorização de
funcionamento preenche uma lacuna da legislação na
época da construção da Usina, quando não havia exigências de compensação e mitigação dos impactos ao
meio ambiente. Na lista de ações que a Eletronorte vai
desenvolver no entorno da Usina estão: a produção dos
estudos ambientais da região, o monitoramento limnológico do reservatório, levantamento da ictiofauna, identificação dos impactos, condições de ocupação do entorno,
alternativas para diminuir a degradação e os efeitos do
cultivo da soja na região, incluindo o uso de agrotóxicos.
Entre os projetos que serão monitorados
e resgatados pela Eletronorte, um em especial chama a atenção: o Projeto Peixe-Boi.
Em 1979 começaram a aparecer macrófitas
no reservatório. Em julho de 1980, a partir
de um convênio com o Departamento de
Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia -Inpa, foram introduzidos no reservatório 42 peixes–boi da
Amazônia, para o estudo do comportamento desses animais em seu habitat natural.
Um dos participantes iniciais, o pesquisador do Inpa, Fernando Rosas, conta que
o projeto foi idealizado pelo pesquisador ca-
43
TECNOLOGIA
Contra crises, sempre ela:
a inovação
Byron de Quevedo
corrente contínua
Se fosse o Caetano Veloso diria: “A crise é
linda... ou não...”. Já, o cantor Gilberto Gil, acalentaria “Não, não chores mais...”. Crises não
são novidades por aqui. E para enfrentá-las os
brasileiros usam e abusam da criatividade. Um
dos setores que fazem isso muito bem é o da
pesquisa e desenvolvimento de inovações tecnológicas. E nesse campo o Setor Elétrico é um
dos que mais investem no País.
Luis Cláudio Silva Frade (abaixo), chefe do
Departamento de Gestão Tecnológica da Eletrobrás, é um dos que apostam no lado positivo da atual crise econômica mundial: “Deixa
vir, pois ela está aí como uma boa fonte de
oportunidades”. Em meio ao carnaval de pessimismo que muita gente está
pulando, Frade canta um samba-enredo diferente: “A situação
brasileira é peculiar. Acredito
que tudo isto se transformará em
chances para aqueles que veem
a inovação como uma oportunidade diferenciada. A crise estimulará países e empresas a
alavancar o desenvolvimento. Por
exemplo, se por meio de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), aumentarmos a
capacidade de nossas linhas de
transmissão e geração de energia
elétrica, teremos um diferencial na conquista
de novos mercados, atraindo mais recursos,
empregos e desenvolvimento para o País”.
44
Melhorando a harmonia – Segundo Frade, a Eletrobrás está criando uma política de
P&D e inovação para que todas as empresas
do Sistema possam falar uma mesma linguagem e agir conjuntamente, baseando-se nas
grandes metas do Governo Federal para a
área energética: o Plano Nacional de Energia
– PNE, com horizonte de 30 anos; o Plano
Decenal de Energia, também alinhado com
o Plano de Ação do Ministério de Ciência e
Tecnologia – MCT e a Política de Desenvolvimento Produtivo, do Ministério de Indústria e
Comércio - MIC. “Trabalharemos os objetivos
estratégicos para P&D buscando desenvolvimento e inovações tecnológicas e alavancando a criatividade e a modernização das empresas”, afirma Frade.
Somente em 2008 o Sistema Eletrobrás investiu cerca de R$ 340 milhões em mais de
150 projetos e nos últimos sete anos cerca de
R$ 1,66 bilhão em mais de 1.550 projetos. Pela
Lei 9.991 as empresas geradoras, transmissoras e distribuidoras são obrigadas a investir 1%
de sua Receita Operacional Líquida em P&D.
No caso do Sistema Eletrobrás, a Eletrobrás,
Itaipu e a Eletronuclear não são obrigadas a
investir, mas a Eletrobrás investe 0,5% do seu
capital social ao ano, principalmente no Cepel,
o que dá quase 1% da Receita Líquida do Sistema Eletrobrás no total, explica Frade.
O acervo tecnológico esbarra nas questões
das patentes. Segundo Frade ainda não se tem
sistematizada no Setor Elétrico uma política de
propriedade intelectual. “Estamos trabalhando nesse sentido. A tendência é valorizar as
pessoas criativas, premiá-las e definir melhor
a questão dentro do Sistema. Não havia como
compensar financeiramente o pesquisador e
o inventor. Porém, a Lei de Propriedade Intelectual e a Lei de Inovação já preveem que
uma parcela do arrecadado com um produto
desenvolvido no Sistema Eletrobrás se reverta em benefício do inventor. A Eletronorte se
antecipou e já sistematizou as regras: tem 51
pedidos de patentes, inclusive há produtos
seus no mercado, com ganhos de 20% das
receitas revertidas para os inventores, através
de contratos de transferência de tecnologia.
A ideia é trazer essa experiência e padronizála para todo o Sistema Eletrobrás”.
Ensaio geral - Com a tal crise, os investidores estão girando os seus capitais pelo
mundo, testando os mercados, em busca de
boas oportunidades de negócios. Em meio
a esse ensaio financeiro geral, o Setor Elétrico brasileiro vive um grande momento: é o
porta-bandeira do otimismo no novo século,
apontando perspectivas de ganhos reais acima da inflação mundial, hoje em torno de 4%.
Passos no ritmo - Segundo o gerente de
Programas de Pesquisa e Desenvolvimento
Tecnológicos da Eletronorte, Álvaro Raineri,
“a legislação foi modificada em 2006, com a
criação da Lei 10.848, que alterou a distribuição de 1% da ROL, na razão de 0,4% para a
gestão de projetos de P&D da empresa; 0,4%
para o Fundo Nacional de Desenvolvimento de
Ciência e Tecnologia – FNDCT, do MCT; e 0,2%
para a Empresa de Pesquisa Energética - EPE.
Em 2008, a Eletronorte obteve uma ROL de
aproximadamente R$ 3,5 bilhões, portanto R$
15 milhões vão para projetos de P&D, rubrica
na qual já foram investidos, entre valores gastos e os já comprometidos, R$ 90 milhões.
“Sugerimos à Aneel, na ocasião, inserir
outros projetos não contemplados, tais como
protótipos. Isto nos ajudou a resolver problemas bastante específicos. Por exemplo, há
décadas milhares de aves sistematicamente
danificavam nossas subestações. A solução
encontrada por um inventor da Empresa foi
fazer bonecos gigantes de gaviões, cópias
do predador natural dessas aves tão assíduas às nossas instalações, e o problema
foi resolvido. Hoje podemos ter um projeto
de P&D na Aneel, onde apresentamos o
protótipo a um fabricante, que fará a análise de mercado e comercializará o produto.
As modalidades de projetos de P&D abrangem a pesquisa básica, pesquisa aplicada,
desenvolvimento experimental, protótipo,
cabeça de série, que é o protótipo modelo
para a produção industrial; e inserção no
mercado”, explica Álvaro (ao lado).
O FNDCT tem 15 fundos setoriais que trabalham verificando as
características de cada situação.
Há casos em que ninguém domina tal tecnologia, então a própria
empresa a desenvolve. Quando
uma tecnologia pertence a outra
empresa, então adquire-se esse
conhecimento. Álvaro comenta que
há casos em que a empresa domina a técnica, mas considera mais
viável customizá-la. “O estado da
arte é a verificação do ponto em
que estamos em relação a uma
determinada tecnologia e onde
queremos chegar. O estado da arte é, enfim,
um objetivo acima do ponto almejado”.
A Eletronorte já facilitou a execução de 292
projetos de P&D. Destes 164 utilizam os recursos
da Aneel. Dez deles são executados pelo Centro
de Tecnologia de Belém. Outros 35 projetos fazem parte da carteira interna da Eletronorte. Há
ainda 66 projetos gerenciados pelo Cepel, mas
com acesso da Empresa aos produtos. De acordo com Álvaro, dos projetos geridos por nós, 94
já foram concluídos, com 111 produtos: 34 softwares, 55 metodologias novas e 22 protótipos.
Estandarte de ouro – Na Eletronorte inventor ganha prêmio, tal qual a escola de samba que faz um desfile impecável. A Empresa
criou o Prêmio Muiraquitã, cuja quarta edição
acontece este ano e onde vencem as inovações que mais trouxerem resultados reais.
Álvaro esclarece: “Avaliamos o quanto foi investido e os resultados: ganhamos? Deixamos
de gastar? Tivemos custos reduzidos? Evitaram-se perdas com a referida inovação? Então
premia-se aqueles que obtiveram as melhores
relações de investimento versus resultados,
nas categorias Ouro, Prata e Bronze”.
corrente contínua
Ainda segundo Frade, o fundo Capital Semente, que aporta empresas inovadoras de base
tecnológica com capitais do BNDES, Banco do
Brasil, ou de bancos privados, está ajudando
novas empresas a desenvolver suas tecnologias, colocar os seus produtos no mercado e
vendê-los. “Investidores têm nos procurado. O
último deles chegou falando em nome de um
fundo de R$ 100 milhões para investir em produtos de projetos de P&D, para colocá-los no
mercado. Temos projetos sendo finalizados e
gerando produtos. A nossa Divisão de Produtos Tecnológicos está buscando parceiros para
comercializar as tecnologias. Então a crise não
é tão ruim, muito pelo contrário, no Setor Elétrico ela é benéfica. Reunimo-nos sistematicamente com o MME, MCT, com os fundos
setoriais de energia e Finep, trabalhando sob
orientação única, evitando duplicidade de projetos, otimizando recursos, fazendo projetos
cooperativos e integrados. Essa ação servirá
de parâmetro para outros setores”, afirma.
Os recursos advêm de carteiras específicas: empresas, Aneel e Cepel. Há projetos
de interesse próprio, caso da Eletronorte, em
que ela contrata diretamente seus parceiros
tecnológicos e comerciais. “Há também os
projetos financiados pelo Fundo Setorial de
Energia – CT-Energ, que tem convênios com
a Finep e o CNPq. A política de P&D prevê
de onde virão os recursos, inclusive de outros
fundos setoriais e também via incentivo fiscal, pois aqueles que investem em tecnologia
podem ter abatimentos sobre a contribuição,
lucro líquido e o Imposto de Renda”.
45
corrente contínua
Regenerador
óptico: milhões
de economia
e receita
com patente
46
Em virtude da atenção dedicada aos seus
inventores e às equipes de apoio, é que a Eletronorte deverá chegar à marca de 105 pedidos
de registro de patentes, em 2009, um acervo
tecnológico rico para o País, principalmente em
épocas difíceis. Um bom exemplo é o do regenerador óptico, um amplificador do sinal de
fibra óptica, que evita a instalação de estações
repetidoras a cada 300 quilômetros de linha de
transmissão, evitando gastos de até R$ 1 milhão em cada uma delas, fora a mão-de-obra.
Esse amplificador óptico mantém a qualidade
da transmissão em todo o circuito. A Eletronorte o desenvolveu e a Padtec, de Campinas
(SP), ganhou a licitação, e já comercializa o
produto e o exporta para a Rússia, Canadá e
vários países da África. A Eletronorte, por sua
vez, recebe 7% da venda de cada exemplar
vendido. O regenerador também representou
a Empresa na recente publicação ‘101 inovações brasileiras’, do Monitor Group.
Premeditando o breque - Há cerca de dois
anos um surto premonitório assolou o MCT.
Seus técnicos, em parceria
com vários setores do governo, passaram a preparar
uma estrutura de proteção
ao pequeno, médio e grande empresário, um escudo
anticrise. Com o advento do
chamado ‘PAC Tecnológico’,
todos os tipos de empresas
e de empresários puderam
lançar mão de programas
para a estruturação, modernização ou capacitação de
empresa, com ajuda estadual ou federal.
O coordenador-geral de
Inovação Tecnológica do
MCT, Reinaldo Danna, relata que o Ministério trabalha
com quatro secretarias que prestam uma
gama considerável de serviços: divulgação
de tecnologias consolidadas; auxílio a arranjos produtivos regionais; locação tecnológica
e geração de emprego e renda; estudos de
mudanças climáticas; Amazônia; agricultura
e saúde; auxílio a empresas de informática; e
prestadoras de serviços.
“No Plano de Ciência e Tecnologia, lançado em 2007, o governo começou a implantar
os seus PACs, o primeiro deles foi o da Infraestrutura. Para o MCT veio o Plano de Apoio
ao Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia
e a Inovação, um programa para o período
2007 a 2010, com orçamento previsto de R$
40 bilhões. Somam a este valor os recursos
de empresas do setor produtivo dos estados.
A meta é ultrapassar inicialmente 1% do
Produto Interno Bruto brasileiro - PIB, chegando 1,5% até 2010. O Plano foi montado
com quatro áreas estratégicas, denominadas
de eixos: consolidação dos sistemas de inovação, afeto a toda infraestrutura laboratorial, universidades, centros de pesquisa etc;
Mestre sala – Se no espaço de tempo do
financiamento, a empresa contratar, via CLT,
um mestre ou doutor, ela poderá solicitar à
Finep um bônus equivalente a até 50% do
salário pago ao profissional. “Quando se põe
gente capacitada na empresa, ela evolui e
melhora seus produtos. Os empregados se
apegam ao pesquisador pela positividade de
suas ações. E isto reforça a empregabilidade.
Essa ferramenta foi criada para ajudar estudantes das escolas técnicas. Como se vê, temos
antídotos contra a crise.
Estamos falando de empresas normais, mas se
elas se sofisticarem, podem vir a ser um cliente
temático”. Para grandes
empresas há subvenção, com tomadas de
até R$ 150 milhões para áreas temáticas.
“Estamos habilitados para enfrentar qualquer crise. Precisamos investir mais em tecnologia. Temos o sistema bancário mais sofisticado do mundo; as urnas do nosso sistema
de votação, hoje exportadas. São ideias que
saíram das incubadoras de empresas. Há
muita competência empresarial no Brasil,
desde o top tecnológico da biotecnologia e
nanotecnologia até as processadoras artesanais”, conclama Reinaldo.
Agora que o bloco passou, provavelmente quem virá varrendo os confetes será uma
maquininha idealizada por um gari que foi ao
MCT e garantiu seu invento. Nesse caso, a
crise acabou em samba.
Entrevistamos o
coordenador-geral
de Tecnologias
Setoriais do
Ministério de Ciência
e Tecnologia,
Adriano Duarte Filho.
Confira:
Investir em ciência e tecnologia
seria antídoto contra crise?
Ao investir em ciência e tecnologia se planta o futuro. Houve
uma retração de mercado, que diminuiu as compras, por conseguinte as reduziram seus investimentos. O objetivo primeiro
é conseguir manter a demanda de produtos e serviços. Investir em obras, estimular ou facilitar o aumento de demanda é
o primeiro remédio para sanar os efeitos. Ciência e tecnologia
têm resultado em médio prazo, mas se deixarmos de investir
agora, com crise ou sem crise, se perde o bonde lá na frente.
Este ano houve um corte de verbas na proposta orçamentária
no Congresso Nacional, que envolvia projetos nosso. É lamentável que isso ainda aconteça no Brasil.
Quais as consequências dos cortes em
investimentos em P&D neste momento?
Investimentos em P&D não resolvem a crise hoje, vão resolver a capacidade de desenvolver serviços e produtos ao
longo do tempo. Mas o governo tenta repor o corte de verbas
e manter o planejado para o período 2007/2010 e os projetos
continuam sendo desenvolvidos. Por exemplo, a tecnologia
para a economia do hidrogênio. É algo para acontecer em dez
anos, mas o Ministério tem esse programa de desenvolvimento de células a combustíveis para a produção de hidrogênio,
uma tecnologia do futuro e um dos vetores energéticos. O importante é manter e ampliar esta estrutura de conhecimento,
que envolve centros de pesquisas de formação de recursos
humanos, de apoio ao desenvolvimento de pesquisas, criando
esta base de suporte ao País.
Algum outro projeto na área energética?
Sim, e um dos exemplos é o programa do biodiesel. O MCT
tinha linhas genéricas de apoio à pesquisa em energia, em biocombustíveis. Por causa das diretrizes do Governo Federal, se estruturaram redes de pesquisa com objetivos claros e metas definidas, para pesquisar a cadeia produtiva do biodiesel, desde a parte
agrícola, que a gente faz com a Embrapa, e outras universidades,
até teste de motores. E é um sucesso! Outro exemplo: há cerca
de dois anos, já prevendo a demanda energética, vimos que teríamos de construir linhas de transmissão com tensões bem mais
altas. Não havia laboratórios no Brasil capacitados para fazer os
ensaios. Então, em parceria com a Eletrobrás e o MME, capacitamos os laboratórios do Cepel para lidar com a tensão de linhas de
longas distâncias. Somente na área energética, o MCT investiu,
em 2007, R$ 103 milhões, e em 2008, R$ 243 milhões.
corrente contínua
a área de recursos humanos, instrumentos e
programas para empresas; as áreas estratégicas de biocombustíveis, etanol, diesel, energia eólica, petróleo e gás, energia elétrica e
nuclear; e o que cuida da inclusão social”,
relata Reinaldo (abaixo).
Segundo ele, a Finep tem as linhas de financiamentos Juro Zero e Inova Brasil, para
pequenas empresas, com financiamento de
R$ 100 a R$ 600 mil, e prazos de até 100
meses, para desenvolvimento de projetos de
P&D. Os agentes dão garantias de até 50%.
Para projetos acima de R$ 1,0 milhão, a Finep também dispõe de linhas de financiamento com carência de três a sete anos, e
taxa de 5% ao ano, para projetos do Programa de Desenvolvimento Produtivo.
47
AMAZÔNIA E NÓS
Maranhão, terra
das palmeiras, de
cantos e encantos,
cultura, magia,
cores e sabores
corrente contínua
Arthur Quirino
48
Segundo dizia o ex-presidente Jânio Quadros, o Maranhão é um oásis do Nordeste, não
tem chuva demais nem sol demais. O Maranhão é uma terra de cantos e encantos, cores,
poetas, cantores, cantadores e compositores.
Embevecidos pela música ‘Maranhão, meu
tesouro, meu torrão’, do cantador do Boi de
Maracanã, Humberto, interpretada por muitos cantores maranhenses, entre eles a gloriosa Alcione, a ‘Marron’, vamos dar um passeio pelo Maranhão, ou pelo emaranhado da
sua história, suas belezas, sua gente simples
e hospitaleira, sua cultura, lendas e gastronomia. A cada paradinha, vamos cantar uma
estrofe na brisa gostosa das praias de São
Luís até concluirmos nossa jornada.
O Maranhão, cuja capital é São Luís, uma
das três capitais brasileiras localizadas em
ilhas, com uma população de mais de cinco
milhões de habitantes, possui 217 municípios e está localizado no oeste da região Nordeste, tendo como limites o Oceano Atlântico
ao norte, o Piauí a leste, Tocantins ao sul e
sudoeste, e o Pará a oeste.
O nome Maranhão tem diversas versões,
entre tantas, citamos algumas: dizem que era
o antigo nome do Rio Amazonas, dado pelos
nativos da região; outros acreditam que tem
relação com o Rio Marañón no Peru; há ainda
quem ache que sua origem significa ‘grande
mentira’, ‘mexerico’, ‘mar grande’ ou ‘mar
que corre’, e, por último, recebeu esse nome
por ser abundante em caju, no seu litoral, fruta que, em castelhano, é marañon.
No Maranhão, ainda podemos citar outras
grandes cidades como Imperatriz, Açailândia, Timon, Caxias, Presidente Dutra, Codó,
Santa Inês, Bacabal, Balsas, Zé Doca, entre
tantas outras. O estado é um pouco maior
que a Itália e um pouco menor que a Alemanha, com seus mais de 330 mil km². Possui o
segundo maior litoral do Brasil, com 640 km
de extensão, ficando atrás apenas da Bahia,
indo desde o delta do Rio Parnaíba até a foz
do Rio Gurupi. Ao longo de sua extensão, podem ser encontradas diversas praias como
Araçagi, Olho d’Água, Calhau, Caolho, Praia
do Meio, Ponta d’Areia, além de regiões de
manguezais.
São Luís - Ludovicense? Quem nasce em
São Luís é chamado de ludovicense. São Luís,
fundada em 8 de setembro de 1612, é dona
de uma beleza singular: é a única capital brasileira fundada pelos franceses, mas curiosamente é a mais lusitana de todas. Foi cobiçada pelos holandeses e conquistada pelos
portugueses. Localiza-se na Ilha homônima,
no Atlântico Sul, entre as baías de São José
e São Marcos. Seu nome é uma homenagem
ao Rei da França, Luís XIII, o nome original é
Upaon-Açu, que, na língua indígena dos tupinambás quer dizer ‘ilha grande’. Na Ilha de
São Luís existem mais três municípios, Rapo-
corrente contínua
Lendas, mistérios e magias - O Maranhão
é cheio de lendas, mistérios e magias. Entre
elas a ‘Lenda da Serpente da Ilha’: “dizem
que a Ilha de São Luís é circundada por uma
grande serpente que, enquanto dorme camuflada, cresce sem parar, e chegará um dia em
que, de tanto crescer, a cabeça do monstro
encontrará sua própria cauda e ela acordará
produzindo fortes rugidos, soltando labaredas
de fogo pelos olhos e pela boca, aí então dará
um forte abraço na Ilha e a levará consigo
para as profundezas do mar”.
E tem a ‘Lenda do Rei Sebastião, o touro encantado’: “dizem que nas profundezas
das dunas de areia, da Ilha dos Lençóis, no
fundo do mar, que têm muita semelhança
com o campo de Alcácer-Quibir, onde o Rei
Sebastião desapareceu, é o reino encantado
de Dom Sebastião. O rei vive em seu palácio submerso e o seu navio nunca encontra
a rota para Portugal e, às sextas-feiras, costuma aparecer em forma de um touro negro
com uma grande estrela de ouro brilhante na
testa. Segundo a lenda, se alguém conseguir
atingir a estrela ou ferir o touro, o reino se
desencanta e a cidade de São Luís desaparecerá, surgindo no seu lugar uma cidade encantada com os tesouros do rei”. Você teria
coragem de desvendar esse mistério?
49
corrente contínua
Braçadas
nas lagoas
dos lençois
50
sa, Paço do Lumiar e São José de Ribamar.
São Luís possui grande expressão folclórica, como o bumba-meu-boi, o tamborde-crioula, a festa do Divino Espírito Santo,
o carnaval de rua, entre outras. Também é
conhecida carinhosamente como Atenas brasileira, Ilha do Amor, Cidade dos Azulejos,
Ilha Rebelde, Jamaica brasileira, ou ainda
Patrimônio Cultural da Humanidade, título
concedido em 2000 pela Unesco, em reconhecimento ao seu rico acervo arquitetônico.
Está curioso para saber o significado de tantos nomes, não é? Então vamos lá: ‘Atenas
brasileira e Ilha do amor’: o Maranhão é um
berço de cultura, poetas e romancistas que
cantam a Ilha em versos e prosas. Entre eles,
Gonçalves Dias, Aluísio de Azevedo, Arthur
Azevedo, Ferreira Goulart, Maria Firmina dos
Reis, a primeira romancista brasileira, entre
tantos outros nomes ilustres.
‘Cidade dos azulejos’: não existe no mundo nada igual ao acervo cultural e arquitetônico de São Luís. Ao longo do centro histórico
há mais de 3,5 mil edificações que remetem
ao passado, com suas imponentes fachadas
de belos azulejos, que, além de embelezar
as fachadas dos casarões, protege contra as
fortes chuvas e ameniza o calor interno das
residências. Assim, tornou-se uma atração
para turistas do mundo inteiro, que contem-
plam a beleza dos seus casarios. ‘Jamaica
brasileira’: uma alusão ao reggae. É a única
cidade do Brasil onde as pessoas dançam o
reggae agarradinhas, e onde as indumentárias bem coloridas lembram os grandes Bob
Marley, Peter Tosh e Jimmy Cliff. E ‘Ilha rebelde’: povo guerreiro, que não se entrega
aos primeiros tropeços e vai à luta pelos seus
objetivos, jargão que recebeu desde a greve
de 1951.
Agora que você já matou a sua curiosidade, vamos à nossa paradinha? “...Terra do
babaçu/que a natureza cultiva/esta palmeira
nativa/é que me dá inspiração...”
Turismo - Ao visitar o Maranhão, antes de
sair para os encantos dos municípios, faça um
passeio pela capital, visite o centro histórico,
os museus, artesanatos no Ceprama-Centro
de Comercialização de Produtos Artesanais
do Maranhão, a feira da Praia Grande, onde
se pode apreciar licores de frutas típicas e a
famosa cachaça tiquira.
Andando pelos municípios do Maranhão,
podemos nos deparar com as imponentes
palmeiras do babaçu e do buriti. Não é à toa
que o Maranhão é conhecido como a ‘Terra
das Palmeiras’. O babaçu é uma das bases
da economia de muitas famílias maranhenses, como as incansáveis e guerreiras que-
Cultura - Agora vamos ‘bailar’, fazer uma
viagem com um roteiro único no Brasil, que
só existe no Maranhão. Estamos falando do
bumba-meu-boi, do tambor-de-crioula, do
tambor-de-mina, do carnaval de rua, da festa
fotos: setur/ma
do Divino Espírito Santo, do reggae, do cacuriá! Aqui uma pausa para destacar o cacuriá de Dona Teté com suas danças sensuais.
Haja vista a sua riqueza cultural, seria impossível listar aqui todas as manifestações culturais do Maranhão, mas não se pode deixar de
citar um dos maiores berços dessa cultura,
que é o bairro da Madre Deus, no centro de
São Luís, berço da Companhia Barrica, Bicho
Terra, Regional 310 e do Bloco Máquina de
Descascar Alho. Madre Deus é o bairro onde
canta Maria do Socorro da Silva, a ‘Patativa’,
cantora e compositora, com seus 70 e tantos
anos, uma das muitas figuras populares do
bairro e da cidade.
O bumba-meu-boi é o símbolo da cultura
maranhense, é uma festa popular para todas
as classes sociais e idades. A brincadeira,
com uma mistura de traços de três povos europeus, indígenas e afro-negros -, tem vários estilos como o de zabumba, matraca ou
Banho de
cachoeira
na Chapada
das Mesas
corrente contínua
bradeiras de coco, que, com suas cantigas
passam o dia todo quebrando coco com um
porretes e machados afiados.
Outras belezas naturais do estado estão no
Parque dos Lençois Maranhenses, nas cachoeiras de Carolina, na Chapada das Mesas, no
Delta do Parnaíba, na Floresta dos Guarás, sem
falar dos banhos refrescantes nas águas dos
rios Itapecuru, Munim, Gurupi, Pindaré, Turiaçu, Parnaíba, Tocantins, entre tantos outros.
O Parque Nacional dos Lençois é um verdadeiro paraíso ecológico, com 155 mil hectares de dunas, rios, lagoas com águas cristalinas e manguezais. O acesso a esse paraíso
pode ser por Santo Amaro, pela BR-402, que
fica a 172 km de São Luís, de modo bastante rústico percorrendo 38 km de estrada de
terra; ou por Barreirinhas, pela MA-402, que
fica a três horas de carro de São Luís.
Lençois são um raro fenômeno geológico,
formado há milhares de anos pela ação da
natureza. Suas paisagens são deslumbrantes, com imensidões de areias que fazem o
lugar parecer um deserto, mas lá chove, e
muito. São as chuvas que garantem aos Lençois algumas das suas paisagens mais belas.
As águas das chuvas formam lagoas que se
espalham em praticamente toda a área do
Parque, formando uma paisagem única que
só existe lá. Algumas das lagoas são perenes,
como a Azul, da Gaivota e Bonita, famosas
pela beleza e condições de banho.
Segundo o secretário de Estado do Turismo,
João Pereira Martins Neto (abaixo), os Lençois
Maranhenses são consider@ados pela Organização Mundial do Turismo, “a coisa mais singular do mundo”. O Secretário faz um convite
a todos os turistas nacionais e internacionais a
descobrirem verdadeiramente o Maranhão, para
constatar tudo isso de
perto, sentir a emoção
que só vendo para crer.
Segundo ele, “entre 2007
e 2008, o Maranhão foi
o estado nordestino que
teve o maior número de
ocupação hoteleira, com
66,9%”.
51
corrente contínua
O boi,
o tambor,
a matraca:
o que é mais
marcante?
52
sotaque da Ilha, e orquestra. O que os diferenciam são seus diferentes sons (sotaques),
as fantasias e, principalmente, o gingar da
música (toada). Cada um tem a sua característica forte, marcante, como o sotaque de
matraca, duas peças de madeira resistente,
que, ao repenicar uma na outra, produz um
som afinadíssimo e inconfundível. As matracas fazem um contraponto com os pandeirões
(grandes aros de madeira cobertos com couro
de boi ou bode, que são afinados ao calor de
fogueiras).
Segundo a lenda, o enredo do bumbameu-boi conta a história de um casal, ‘Pai
Francisco e Catirina’, onde a mulher grávida
deseja comer a língua do boi mais precioso
e bonito da fazenda, o boi que era o orgulho
do fazendeiro. E Pai Francisco, para satisfazer
o desejo da sua amada, matou o boi e deu a
língua para Catirina comer. O fazendeiro, ao
dar falta do seu boi no terreiro e saber que Pai
Francisco o havia matado, quer o seu boi de
volta. Então Pai Francisco recorre aos pajéscurandeiros, “os cazumbás, uma das personagens da brincadeira, que fazem ressuscitar
o boi do patrão e tudo termina em uma grande festa.
Os personagens da brincadeira, além do
boi (armação oca feita de madeira e coberta
com lindos couros - panos cuidadosamente
bordados manualmente com miçangas, canutilhos e muito brilho -, onde embaixo da
armação fica uma pessoa que é chamada
de miolo, que faz a coreografia e a alegria
da festa), do Pai Francisco e sua esposa Catirina,
tem ainda o amo que é o
dono da fazenda, índios,
cazumbás, músicos e
brincantes.
Segundo o secretário
Estadual da Cultura, João
Batista Ribeiro Filho (ao
lado), ou, como é conhecido em São Luís, Joãozinho Ribeiro, que é bacharel em Direito, poeta,
cantor, compositor, “o Maranhão é possuidor de uma imensa variedade
cultural. É, de longe, culturalmente falando,
o estado mais rico do País. É missão nossa
manter esse quadro e passos importantes
vêm sendo dados. O primeiro foi incorporar a
cultura como questão estratégica na agenda
de desenvolvimento do Maranhão, o que traduz fielmente nossa principal palavra de ordem, que batiza nosso programa de governo
para a área cultural: a imaginação a serviço
da cidadania e do desenvolvimento”. Depois,
trabalhar visando os três ‘Ds’ da cultura: de-
Nosso povo, nossa fé - O Maranhão é um
estado de muita fé, um povo cheio de espiritualidade e energia. Entre as grandes manifestações religiosas estão os festejos de Nossa
Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida e de São José de Ribamar, padroeiro do
estado. O Maranhão é conhecido como o estado dos “Josés de Ribamar ou simplesmente
dos Zés”. No mês de setembro, época dos festejos, a cidade de São José de Ribamar vira um
‘formigueiro de gente’. Peregrinos vão a pé, de
carroças e tem também a romaria dos motoqueiros. Muitas pessoas vão pagar promessas
ao Santo milagreiro, batizar seus Josés de Ribamar, ou ainda levar seus carros para batizarem, uma tradição que existe há décadas.
Outra manifestação religiosa muito marcante no Maranhão é a do Divino Espírito Santo, em Alcântara, cidade de muitas histórias
e casarões em ruínas do tempo do Império,
com suas paredes construídas de pedras com
mais de um metro de largura, ponto turístico
muito visitado. Lá concentra-se um dos maiores quilombos do Maranhão e também está
situada a segunda base de lançamento de foguetes do Brasil.
Vamos à nossa paradinha? “...Sereia canta na proa/na mata o guriatã/terra da pirunga
doce/e tem a gostosa pitombatã/e todo ano, a
grande festa da juçara/no mês de outubro no
Maracanã...”
Culinária - Para abrir o apetite, vamos fazer um drinque com a tiquira, cachaça feita
à base da mandioca e muito apreciada pelos
turistas, por suas cores azuladas ou arroxeadas e um tira-gosto com o delicioso sonho
cor-de-rosa das crianças, o guaraná Jesus,
único no Brasil. Quando se fala em culinária,
o Maranhão é um caldeirão cozinhando em
fogo brando, em um fogão a lenha, com suas
misturas e influências de negros, brancos,
índios, franceses, holandeses, portugueses,
esse emaranhado que deixou uma herança
exótica na culinária farta e saborosa.
As principais iguarias vêm do mar: caldeirada de camarão, camarão ao alho e óleo, sururu ao leite de coco, casquinho de carangue-
jo ou patinha de caranguejo ou, se preferir, a
torta de caranguejo e peixe frito que tem o
seu sabor somado ao tradicionalíssimo arrozde-cuxá (ver box). No interior tem o peixe da
água doce, a galinha caipira com o seu pirão
de parida, arroz-maria-isabel, deliciosas linguiças curadas e a famosa carne-de-sol.
Mas como falar em culinária maranhense
sem falar de Melquíades Dantas de Araujo Filho, natural de Caicó no Rio Grande do Norte.
O chef Dantas (abaixo) conta que sua paixão
pela culinária começou cedo, desde criança,
quando fazia a feira da casa e todas as tardes
era responsável pelo jantar, fazia sopa para
sustentar sua família, composta por sua mãe
e dez irmãos. Segundo Dantas, ele aprendeu
a cozinhar sozinho, já participou de alguns
seminários, diz humildemente que, ao chegar
ao Maranhão, foi aprendendo sobre a culinária maranhense com
suas empregadas. E comenta
com orgulho: “Não fui formado
em nenhuma escola, aprendi na
escola da vida”.
Em cada prato criado pelo
chef Dantas, os ingredientes são
garimpados nas feiras, nos mercados e nos barcos que chegam
do mar. Em suas mãos viram
uma verdadeira obra de arte,
ou melhor, obra gastronômica.
Ele guarda a sete chaves um
segredo sobre a deliciosa e exótica geléia de
pimenta, servida em seus restaurantes e hoje
já difundida em todo o Brasil. Segundo Dantas, a idéia de fazer geléia de pimenta surgiu
de um sonho, pois, sem saber o que fazer
com tanta pimenta, sacos de sessenta quilos
enviados por um dos seus irmãos, ao amanhecer teve a idéia de fazer e geléia. Jogou as
pimentas em um tacho e começou a colocar
ingredientes que ele não conta quais, e daí
surgiu a famosa combinação.
É claro que, depois de uma boa refeição, tem
que ter uma sobremesa à altura, e as frutas,
algumas típicas do Maranhão, complementam
esse cardápio, como o bacuri, o murici, a sapoti, o buriti, a juçara, o cupuaçu, o abacaxi, que
das mãos hábeis das quituteiras ou do próprio
chef Dantas são transformados em deliciosos
sorvetes, doces, cremes e compotas.
Vamos à nossa paradinha? “...No mês de
junho tem o bumba-meu-boi/que é festejado
em louvor a São João/o amo canta e balança
o maracá/a matraca e o pandeiro/ é quem faz
tremer o chão...”
corrente contínua
mocracia, descentralização e diversidade.
É assim que caminhamos rumo à implementação de uma efetiva política pública de
cultura em nosso estado”.
Vamos à nossa paradinha? “...Na praia dos
Lençois/tem um touro encantado/e o reinado/
do Rei Sebastião...”
53
Aprenda a fazer Arroz de Cuxá
Acompanhe a receita do chef Dantas:
Ingredientes:
- 500 gramas de camarão seco (já descascado)
- 250 gramas de gergelim
- 500 gramas de farinha seca (peneirada)
- 20 maços de vinagreira
- 3 pimentas de cheiro
- 2 maços de cheiro verde
- 3 cebolas e sal a gosto
- Arroz cozido, bem solto
Modo de preparar:
Torra-se o gergelim e soca-se. Misturam-se os camarões descascados com a farinha seca, pimentas moídas,
cheiro verde picado, cebola picada e o gergelim socado.
Torna-se a socar.
Põe-se a vinagreira, sem os talos, para cozinhar, tirase a vinagreira da panela e bate-se com a faca, em uma
tábua de carne, bem batidinha. Reserva-se a água da
vinagreira.
Quando a farinha estiver bem socada, mistura-se a vinagreira e a água em que foi cozida (mas antes coloca-se
água fria para não embolar). Prova-se do sal e leva-se ao
fogo, mexendo sempre para não encaroçar.
Se ficar grosso, põe-se um pouco de água e se ficar
ralo, mais um pouco de farinha, tendo o cuidado de sempre molhar a farinha com água fria.
Depois vá acrescentando o arroz já cozido, não esquecendo de que tem que ficar bem verdinho, por conta da
vinagreira.
Por fim é só degustar essa delícia de arroz maranhense.
Vamos à nossa última paradinha? “...Esta herança foi
deixada por nossos avós/hoje cultivada por nós/pra compor tua história, Maranhão”.
correio contínuo
“Prezado Alexandre, parabéns a você e sua
equipe pelo excelente trabalho que vem desempenhando com a revista Corrente Contínua”.
Ricardo de Mello Brandão
- Gerência de Administração de Escritório
- Brasília - DF
“Prezado Alexandre, ano passado assisti à apresentação do Uirapuru Bambu no Memorial dos Povos Indígenas. Fiquei maravilhado com o trabalho
do grupo, que exige força extrema, agilidade e beleza nos movimentos dos acrobatas. Tudo foi perfeito,
o local e as instalações de bambu. Parecia que havia algo de mágico naquele lugar. E mais maravilhado ainda fiquei ao saber que havia o patrocínio da
Eletronorte. Aí sim, fiquei orgulhoso demais! A minha Empresa patrocinava algo digno e maravilhoso
de ser visto. Aliás, foi pequena a divulgação pela
mídia; mas muitos deveriam ter visto. E olha que
a fila era grande. Parabéns à Eletronorte por patrocinar atividades assim. Parabéns também pela revista Corrente Contínua, melhor a cada dia. Tanto
na apresentação gráfica e na qualidade do material
impresso, quanto no conteúdo, com matérias interessantes e que levam conhecimento de quem nós
somos, do que fazemos, como fazemos, das nossas conquistas tecnológicas, das invenções, enfim
um registro das nossas potencialidades”.
Vitor Homem
- Gerência de Assuntos Regulatórios
- Brasília - DF
“Senhores, solicito informações de como receber a revista Corrente Contínua. Tive contato com
número 222, sendo um excelente material sobre o
mercado de energia elétrica e tendências. Desde
já agradeço”.
Rodrigo Silva
- Areva T&D Brasil – São Paulo – SP
“Prezados senhores, na ocasião em que agradecemos o envio da última edição da Corrente
Contínua, a revista da Eletronorte, informamos
que o novo Terceiro Secretário da Mesa Diretora
da Câmara Legislativa do Distrito Federal é o Sr.
deputado Milton Barbosa”.
Pedro Mäder
- Câmara Legislativa do Distrito Federal
- Brasília – DF
corrente contínua
“Prezado Jorge Palmeira, recebi com satisfação
a revista Corrente Contínua, e aproveito a oportunidade para parabenizar pela qualidade das matérias abordadas”.
Senador Adelmir Santana
- Presidente do Sistema Fecomércio
- Brasília - DF
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“Recebemos e agradecemos a doação da obra
Corrente Contínua. Temos certeza de que irá enriquecer sobremaneira nosso acervo, por ser fonte
de informações preciosas para os usuários desta
biblioteca”.
Maria Hilda de Medeiros Gondim
- Biblioteca Central/UFPA – Belém – PA
fotolegenda
Texto: Alexandre Accioly
Foto: Rony Ramos
corrente contínua
Onde piso, tem pedrinhas
É chão encerado, tábua que atravessa o tempo
É poeira perfumada
É andar ensaiado, pisar pesado
Subo com cuidado, ato-me ao ar das alturas
Desço correndo, sem medo de derrubar a sombra
Onde piso deixo impressões sentimentais
Sem desmanchar as mechas
Sem quebrar o capacete
Ando a tempo de me lembrar:
Onde piso tem ferro, cimento e barro
Tem um carinho desconhecido
E passo a passo me envolvo em proteção
E me perco por detrás das unhas pintadas
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