Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
Re v i st a
Re v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
ISSN 16778510
Br asi l e i r a
Fisiologia
do
de
exercício
F i s i o l o g i a
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
d o
e x e rc í c i o
13 anos
CARDIOLOGIA
• Fatores de risco cardiovascular em idosos
ESPORTE
gRanDes nomes nacionais e inteRnacionais com conteúDos inovaDoRes
PaRa atualização De PRofissionais
musculação e personal training, bem-estar, treinamento funcional,
FITNESS E gINáSTIca, acqua FITNESS, ESporTES, FB ScIENcE, NuTrIção, FISIoTErapIa,
carrEIra E NEgócIoS, EScolar E rEcrEação, laZEr E ENTrETENIMENTo
exPo fitness bRasil: mais De 100 exPositoRes
fitness e beacH wear, tênis e artigos esportivos, equipamentos,
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Marca esportiva
Realização
equipaMento
nutrição esportiva
prograMa de fitness
v o lu me 1 1 - nú m er o 01 • Ja n eir o /Ma r ç o 2 01 2
94 cuRsos com os maioRes PalestRantes Do meRcaDo
•
•
•
•
•
Alongamento e força muscular
Intervalo entre séries e treinamento de força
Alterações agudas induzidas por uma prova de triathlon
Qualidade de vida de funcionários após ginástica laboral
Caso do atleta paraolímpico Oscar Pistorius
NUTRIÇÃO
• Suplementação em atletas de natação
FISIOLOGIA
• Cicloergometria e lesão medular
• Mobilização neural na hipotrofia muscular
SAÚDE DA MULHER
• Qualidade de vida em pacientes mastectomizadas
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v o l u m e 1 1 - n ú m e r o 0 1 • J an eiro/ M arç o 2012
Re v i s t a
B r a s i l e i r a
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F i s i olog i a
do
exercício
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 11 número 1 - janeiro/março 2012
Editorial
Pesquisas e resultados, Paulo Farinatti ..................................................................................................................................3
OPINIÃO
Citius, Altius e Fortius: o caso do atleta paraolímpico Óscar Pistorius que disputou
o Campeonato Mundial de Atletismo de 2011, Flávia Porto, Jonas Gurgel...........................................................................4
ARTIGOS ORIGINAIS
Alterações agudas induzidas por uma prova de triathlon longo em diferentes
biomarcadores enzimáticos e da função imune, Faber Sérgio Bastos Martins,
José Augusto Rodrigues dos Santos..........................................................................................................................................7
Prevenção de hipotrofia muscular pelo uso da mobilização neural em modelo
experimental de ciatalgia, Juliana Schmatz Mallmann, Juliana Moesch, Flávia Tomé,
Rogério Fonseca Vituri, Alberito Rodrigo de Carvalho, Gladson Ricardo Flor Bertolini........................................................13
Percepção subjetiva da qualidade de vida de usuários de computadores após
15 sessões de ginástica laboral, Thiago Medeiros da Costa Daniele,
George Lacerda de Souza, Pedro Bezerra Souza Neto.............................................................................................................17
Avaliação dos fatores de risco cardiovascular de idosos participantes de grupo
de convivência da terceira idade do município de São Miguel do Oeste, SC,
Nelí Maziero, Everton Boff, Sandro Claro Pedrozo................................................................................................................21
Efeitos da suplementação de carboidrato em gel sobre o desempenho físico
e a resposta glicêmica em teste de natação de 12 minutos, Jadson Pereira Alves,
André Luís Macalossi, Ramiro Barcos Nunes, Francisco Navarro...........................................................................................26
Treinamento aeróbico em cicloergômetro adaptado para pacientes lesados medulares,
Simone Suzuki Woellner, Antonio Vinicius Soares, Anna Maria Engel,
Paulo Guilherme Lenz, Bruna Zimmermann.........................................................................................................................30
Efeito de diferentes intervalos entre séries, determinados pela relação
esforço-recuperação, no desempenho da força, Diego de Almeida, Lenifran Santos,
Renato Massaferri, Tainah Lima, Walace Monteiro................................................................................................................36
RELATO DE CASO
Avaliação da qualidade de vida em pacientes mastectomizadas pré e pós-reabilitação
fisioterapêutica, Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rosani Mostowski, Karla Jakeline Uller............................................42
REVISões
Atividade cerebral relacionada ao apetite e exercício físico: implicações para
a ingestão alimentar e controle do peso corporal, Rafael Ayres Montenegro,
Alexandre Hideki Okano.......................................................................................................................................................48
Influência de variáveis relacionadas ao protocolo experimental no déficit de força
muscular mediado pelo alongamento, Raquel Gonçalves, André Luiz Demantova Gurjão,
José Cláudio Jambassi-Filho, Luiza Hermínia Gallo, Alexandre Konig Garcia Prado, Sebastião Gobbi..................................55
NORMAS DE PUBLICAÇÃO................................................................................................................................ 60
EVENTOS.................................................................................................................................................................. 62
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
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Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
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Conselho Editorial
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Antonio Carlos Gomes (PR)
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Paulo Sérgio Gomes (RJ)
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Sebastião Gobbi (SP)
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Francisco Martins (PB)
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Luiz Carnevali (SP)
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Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
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Editorial
Pesquisas e resultados
Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx
Iniciando 2012, apresentamos o primeiro número do
volume 11 da RBFEx. A quantidade e qualidade de artigos
aumentam paulatina e consistentemente, bem como o número de instituições que se fazem representar através de seus
pesquisadores. Desse modo, nesta edição encontramos artigos
de quatro regiões do Brasil e um de Portugal, tratando de
assuntos variados, que vão desde biomarcardores em prova de
triátlon até treinamento para lesionados medulares.
A revista abre com trabalho produzido da Universidade
do Porto, descrevendo alterações em marcadores enzimáticos
e função imune em triatletas. Em seguida, contribuição da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná discute modelos de
prevenção de perda de massa muscular através de mobilização
neural. Na área das relações entre saúde e exercício, temos
dois artigos interessantes – grupo da Universidade Federal
do Ceará avalia a percepção subjetiva da qualidade de vida
em pessoas que fazem uso prolongado de computadores após
intervenção com ginástica laboral, enquanto da Universidade
do Oeste de Santa Catarina chegam-nos dados sobre fatores
de risco cardiovascular em idosos que frequentam centro de
convivência da terceira idade. No tocante à prescrição do
exercício visando desempenho, três estudos foram selecionados. Um deles, da Universidade Federal de Ciências da Saúde
de Porto Alegre, investigou os efeitos da suplementação de
carboidrato sob a forma de gel no desempenho em teste de
natação, enquanto pesquisadores da Faculdade Guilherme
Guimbala apresentam dados sobre treinamento aeróbio
para lesionados medulares. Enfim, grupo da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro examinou o efeito de estratégias
diferentes de determinação do intervalo de recuperação no
desempenho em exercício de força.
A revista apresenta, nesta edição, além das tradicionais
revisões, um relato de caso e um artigo de opinião. As revisões
se voltam para problemas relacionados à avaliação da força
em idosos, especialmente o déficit de força após alongamento
(Universidade Estadual Paulista) e para as relações entre atividade cerebral, apetite e exercício físico (Universidade Federal
do Rio Grande do Norte). O interessante relato de caso selecionado para a presente edição discute aspectos da qualidade
de vida em pacientes mastectomizadas que participam de
programa de intervenção fisioterápica. Enfim, artigo de opinião discute com profundidade o caso do atleta paraolímpico
Óscar Pistorius, que, com ambas as pernas amputadas, vem
disputando campeonatos internacionais de atletismo e pleiteia
o direito de disputar vaga nos Jogos Olímpicos de Londres.
Em suma, uma grande variedade de assuntos e abordagens,
que bem reflete a riqueza de nossa área do conhecimento!
Bom proveito a todos!
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
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Opinião
Citius, Altius e Fortius: o caso do atleta
paraolímpico Óscar Pistorius que disputou
o Campeonato Mundial de Atletismo de 2011
Flávia Porto*, Jonas Gurgel**
*Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Exercício e do Esporte Universidade Gama Filho (PPGEF/UGF),
Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (LABSAU/ IEFD/ UERJ), Grupo de Pesquisa em Biomecânica, Instituto de Educação Física, Universidade Federal Fluminense (GPBIO/IEF/UFF), **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/ IEFD/ UERJ), Grupo de Pesquisa em Biomecânica, Instituto de Educação Física,
Universidade Federal Fluminense (GPBIO/IEF/UFF), Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS/UFF)
Introdução
O sul-africano Óscar Pistorius nasceu em Joanesburgo,
em 22 de novembro de 1986. Devido a uma má formação,
nasceu sem as fíbulas, o que fez com que fosse amputado bilateralmente aos 11 meses de idade. Com uma vida dedicada
aos esportes, foi no Atletismo que Pistorius se destacou e vem
se destacando, quebrando recordes e... Regras!
Campeão paraolímpico dos 400 m, Pistorius lutava, desde 2007, para disputar provas olímpicas. Baseado nos seus
próprios recordes e conquistas, via-se em igual condição de
disputar corridas com indivíduos normais (Usou-se o termo
“normais” para se referir a indivíduos não portadores de
necessidades especiais, sem teor pejorativo aos indivíduos
amputados. Refere-se, apenas, a uma questão de normalidade,
de ser mais comum). Assim, após longo processo, em 2011, o
Comitê Técnico da International Amateur Athletic Federation
(IAAF) decidiu por permitir a participação de Pistorius no
13° Campeonato Mundial de Atletismo, ocorrido na Coréia
do Sul, com a condição de que ele fosse o primeiro atleta na
equipe de revezamento, sob a alegação de que suas próteses
poderiam ocasionar acidentes com os outros competidores.
A equipe de Pistorius alcançou o 8° lugar nessa disputa.
Entretanto, é evidente o marco na história do Atletismo, na
qual um atleta paraolímpico participou junto com atletas
olímpicos na competição. Seria essa disputa realizada com
igualdade entre todos os competidores?
Óscar Pistorius fez história no esporte ao se tornar o
primeiro atleta amputado a competir com corredores normais em um Campeonato Mundial de Atletismo. Mas, essa
participação gerou polêmica, principalmente por sua suposta
vantagem mecânica sobre os demais competidores gerada pelo
uso de suas próteses ultraleves.
Com base nesse episódio, este artigo propõe discutir alguns
aspectos biomecânicos sobre as vantagens e desvantagens
que Pistorius apresentaria ao participar de uma competição,
inicialmente, voltada para indivíduos não-amputados.
Sobre as próteses usadas por Pistorius
Regras da IAAF proíbem o “uso de qualquer dispositivo
técnico que incorpore molas, rodas ou qualquer outro ele-
Recebido em 10 de novembro de 2011; aceito em 16 de janeiro de 2012.
Endereço de correspondência: Flávia Porto, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, 8º andar, sala 8121, bloco F, 20550-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
mento que forneça ao usuário uma vantagem sobre outro
atleta que não utiliza tal dispositivo” e o “uso de qualquer
aparelho que tenha o efeito de aumentar a dimensão de
uma peça de equipamento para além do máximo permitido
nas regras ou que forneça ao usuário uma vantagem que ele
não teria obtido usando os equipamentos especificados no
regulamento”. Com base nisso, o pedido de Pistorius para
participar de competições voltadas a indivíduos normais teve
de ser minuciosamente analisado, uma vez que a permissão
poderia ser uma anuência ao ‘favorecimento’ do atleta perante
os demais competidores.
Brüggemann et al. [1], então, conduziram um estudo encomendado pela IAAF para investigar se as próteses Cheetah
poderiam ser consideradas uma espécie de doping mecânico
usado por Pistorius, o que lhe traria vantagens sobre seus pares.
De acordo com a empresa fabricante das próteses usadas
por Pistorius e que tem nele seu garoto-propaganda, a Össur®
[2], o modelo Cheetah Flex-Foot Feet é feito sob medida para
o usuário e desenhado, especificamente, para a prática de
corrida. Indicadas para amputados transtibial e transfemoral,
as próteses têm a forma de J e são projetadas para simular a
ação da junção tornozelo/ pé, permitindo, inclusive, leves movimentos de rotação e torção, protegendo o coto de possíveis
lesões ocasionadas pela rigidez do equipamento. As próteses
são leves (possuem 512g) e feitas de fibras de carbono, o que
permite uma maior flexibilidade e otimização da transferência
de energia entre solo e corpo durante a marcha e corrida.
Aspectos biomecânicos e fisiológicos da corrida
com próteses
Primeiramente, é importante que seja considerado que
qualquer padrão de movimento adotado para a realização da
corrida influirá na fisiologia do indivíduo, seja amputado ou
não, em variáveis como gasto de energia metabólica, processo
de fadiga e risco de lesão [3].
Nessa ocasião, Brüggeman et al. [1] avaliaram e compararam a biomecânica da corrida de Pistorius com a de cinco
corredores normais, cujas características antropométricas e
de desempenho na corrida eram similares. As propriedades
mecânicas das próteses também foram investigadas.
Considerando-se a massa reduzida da prótese Cheetah, que
resulta em uma menor massa corporal do segmento quando
comparado ao membro natural de um indivíduo sadio (cerca
de 50% menor) [1], tal fato representa vantagens biomecânicas, principalmente, relacionadas ao momento de inércia,
ao trabalho mecânico e, consequentemente, à transferência
de energia, pois são variáveis influenciadas por características
inerciais. Assim, o fato de a distribuição de massa da prótese
ser diferente daquela de um membro natural, apresentando
o centro de gravidade mais próximo à articulação do joelho,
pode ser considerado uma vantagem mecânica, porque isso
faz com que haja uma redução no momento de inércia. Se
fossem mantidas as outras variáveis biomecânicas iguais, do
5
ponto de vista cinemático, esse menor momento de inércia
aumentaria a velocidade e a aceleração angulares das articulações do joelho e do quadril durante a fase de balanço da
corrida. No estudo de Brüggemann et al. [1], realmente, foi
verificado um menor momento de inércia de Pistorius na fase
de balanço (swing) da corrida. Essa constatação influenciou
em um menor trabalho muscular durante esta fase.
Ao analisarmos a transferência de energia que ocorre
durante a corrida de um indivíduo amputado e protetizado,
é importante, inicialmente, ser considerada a perda natural
de energia que ocorre pela articulação metatarsofalangeal,
durante a corrida realizada por indivíduos normais, conforme descrito no estudo de Stefanyshyn e Nigg [4]. Mesmo
considerando o uso de sapatilhas de corrida, que avançaram
em relação ao aumento da rigidez do solado médio no terço
anterior do pé, ainda assim, existe uma perda significativa de
energia por essa articulação [5]. Por outro lado, com o uso
de uma prótese do tipo Cheetah, o indivíduo não apresenta
essa perda, o que pode ser considerado vantajoso, tendo-se
em vista que existe uma perda de energia de 19% a 8% na
fase de apoio da corrida. Essa é uma perda significativamente
menor que qualquer indivíduo não-protetizado teria, que é de
aproximadamente 40% [1]. Ao analisar os dados de Pistorius
com corredores saudáveis, Brüggemann et al. [1] constataram
que o atleta paraolímpico realizou quase 100% de trabalho a
mais que seus pares não-amputados, sendo que a maioria desse
trabalho foi realizado pela lâmina da prótese, não havendo,
portanto, participação muscular.
Quanto a isso, dados do fabricante apontam que, durante a
corrida, a prótese Cheetah é comprimida no momento do impacto, armazenando energia e absorvendo altos impactos que
poderiam ser absorvidos pelas demais articulações do corredor,
como tornozelos, joelhos, quadril e região lombar [2]. Ao
investigarem a histerese da prótese de Pistorius, Brüggemann
et al. [1], verificaram que cerca de 5% de energia eram dissipados, o que significa que o atleta teria um retorno de quase
95% da energia. É obvio pensar que isso seria uma vantagem,
inclusive, no que se refere à fadiga muscular. Destaca-se que o
tempo de contato no solo de Pistorius e os outros corredores
foi similar [1]. Entretanto, Pistorius não apresenta torque
ativo na articulação do tornozelo, diferentemente de atletas
normais, que possuem as musculaturas dessa região, o que
pode ser considerado uma desvantagem mecânica significativa. A duração similar da fase de apoio pode ser explicada
por uma maior deformação da prótese, o que representa para
Pistorius um menor impulso durante essa fase.
Do ponto de vista fisiológico, a relação entre as variáveis
mecânicas de trabalho, potência e energia refletem no gasto
energético do indivíduo durante a corrida [3]. No caso de
Pistorius, ainda que tenha havido dúvida se o atleta estava,
de fato, na sua melhor forma física e, portanto, os resultados
obtidos quanto ao consumo de oxigênio durante os testes
não terem sido fidedignos [6] (Pistorius apresentou VO2máx
25% menor que dos demais atletas [1]), somente o fato de
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
ser protetizado já explicaria esse gasto energético menor pela
alteração na biomecânica da sua corrida.
Do ponto de vista cinético, o estudo de Brüggemann et
al. [1] verificou que as forças de reação do solo (FRSs) foram
significativamente menores que nos indivíduos saudáveis.
Essas medidas também são influenciadas pela massa corporal
total e segmentar de Pistorius, mas também podem estar
relacionadas ao menor risco de lesões musculoesqueléticas.
Porém, nos testes aos quais Pistorius foi submetido essa
questão não foi investigada com profundidade. Nesse caso,
o uso de acelerômetros triaxiais em determinadas regiões do
corpo (como quadril e coluna) poderia complementar as
avaliações realizadas pelo grupo de Brüggermann, fornecendo
medidas de impacto (pico de aceleração) e vibração (movimentos oscilatórios), além da relação entre eles (crest factor).
Esses transdutores são bastante úteis na investigação sobre
mecanismos de lesões osteomioarticulares.
Outros parâmetros não investigados na pesquisa conduzida por Brüggemann et al. [1] referem-se ao controle postural
de Pistorius. Nesse sentido, é sabido que o controle postural
e o padrão de deambulação são comprometidos em sujeitos
biamputados [7], exigindo-se uma reorganização do sistema
locomotor do indivíduo para cumprir normalmente tais
funções. Então, será que essa ‘desvantagem biomecânica’ permaneceria durante a corrida de velocidade? Se considerarmos
que as próteses usadas por Pistorius são desenhadas especificamente para a prática da corrida, o equilíbrio é restabelecido
com o aumento da velocidade na corrida. Ou seja, com um
momento de inércia menor, mas com uma velocidade angular
maior proporcionada pela corrida faz com que seu momentum angular também seja maior e ajude a estabilizar o corpo.
Conclusão
Neste artigo de opinião, comparamos o caso de um indivíduo protetizado com outros indivíduos atletas normais, porém
o que pode ser considerado como vantagem ou desvantagem
na biomecânica da corrida de Pistorius, não pode ser inferido
para demais atletas protetizados. Espera-se, contudo, que este
artigo possa servir para enriquecer a discussão do caso do atleta
Pistorius, servindo de estímulo para o continuo aprimoramen-
to de próteses atléticas e não atléticas, melhorando a qualidade
de vida de indivíduos portadores de necessidades especiais.
O lema olímpico Citius, Altius e Fortius (o mais rápido,
o mais alto e o mais forte), proposto pelo Barão Pierre de
Coubertin, usado no título do presente artigo de opinião,
será também usado para o seu encerramento. Durante décadas, o uso de próteses foi considerado desvantajoso e as
pessoas que necessitavam de tais aparatos eram vistas como
indivíduos deficientes. Os atletas sempre buscaram maneiras
de melhorar a performance, seja através de meios lícitos ou
ilícitos. O caso de um atleta protetizado ter competido no
Mundial de Atletismo com atletas não amputados, propiciou
uma reflexão e uma mudança de paradigma do que venha a
ser um atleta deficiente, tendo em vista que um considerável
número de pessoas aponta como uma potencial vantagem o
uso dessas próteses. Tal fato gera para a população um dilema:
as próteses poderão vir a ser melhores que nossas pernas? Até
onde iria um atleta em busca do melhor desempenho?
Referências
1. Brüggemann G-P, Arampatzis A, Emrich F, Potthast W. Biomechanics of double transtibial amputee sprinting using dedicated
sprinting prostheses. Sports Technol 2008;1(4-5):220-7.
2. Össur. Life without limitations. 2011. [citado 2011 Out 20].
Disponível em URL: http://www.ossur.com/
3. Williams KR. A dinâmica da corrida. In: Zatsiorsky VM, ed.
Biomecânica no esporte: performance do desempenho e prevenção de lesão. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004:125-42.
4. Stefanyshyn DJ, Nigg BM. Mechanical energy contribution
of the metatarsophalangeal joint to running and sprinting. J
Biomech 1997;30(11-12):1081-5.
5. Nigg BM, Stefanyshyn D, Cole G, Stergiou P, Miller J. The
effect of material characteristics of shoe soles on muscle
activation and energy aspects during running. J Biomech
2003;36(4):569-75.
6. Zettler PJ. Is it cheating to use cheetahs? The implications of
technologically innovative prostheses for sports values and rules.
BU ILJ 2009;27:367-409.
7. Su PF, Gard SA, Lipschutz RD, Kuiken TA. Gait characteristics
of persons with bilateral transtibial amputations. J Rehabil Res
Dev 2007;44(4):491-501.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
7
Artigo original
Alterações agudas induzidas por uma prova
de triathlon longo em diferentes biomarcadores
enzimáticos e da função imune
Acute changes induced by a long triathlon in different
enzymatic and immune function biomarkers
Faber Sérgio Bastos Martins, D.Sc.*, José Augusto Rodrigues dos Santos, D.Sc.*
*Faculdade de Desporto – Universidade do Porto
Resumo
Objectivo: Analisar as alterações hematológicas agudas induzidas
por uma prova de triathlon longo. Avaliou-se o comportamento de
diversos biomarcadores enzimáticos e da função imune em atletas
portugueses masculinos de triathlon. Material e métodos: 10 atletas
seniores masculinos (31,5 ± 1,2 anos; 69,3 ± 1,9 kg; 177,7 ± 1,4
cm; 22,0 ± 0,8 de IMC e 10,1 ± 2,2 % GC) divididos em grupos
elite e não-elite. Foram recolhidas amostras de sangue venoso periférico antes e imediatamente após as provas. Utilizou-se estatística
descritiva, testes não-paramétricos de Wilcoxon e Mann-Whitney
e coeficiente de correlação de Spearman. Resultados: Verificou-se
o aumento da actividade das enzimas CK e AST (p < 0,05) em
ambos os grupos. O aumento da actividade da enzima GGT (p <
0,05) ocorreu somente no grupo elite. Foi constatado, em ambos os
grupos, um aumento da contagem leucocitária, fundamentalmente
expressa pelo aumento da contagem de neutrófilos (p < 0,05). Após
a prova, registou-se a diminuição da relação CD4/CD8 e aumento
das concentrações dos linfócitos T CD3+CD8+, T CD4+reg e T
CD4+CD69+ nos atletas dos grupos não-elite. Conclusão: Os resultados encontrados sugerem que a intensidade e a duração da prova
de triathlon condicionam as respostas dos diversos biomarcadores
analisados em função do nível de treino dos atletas.
Abstract
Objective: To assess acute hematological changes induced by
a long triathlon. We evaluated the behavior of various enzymatic
and of immune function biomarkers in male Portuguese triathlon
athletes. Methods: 10 male senior athletes (31.5 ± 1.2 years, 69.3 ±
1.9 kg, 177.7 ± 1.4 cm, BMI 22.0 ± 0.8 and BF 10.1 ± 2.2%) were
divided into groups elite and non-elite. Samples were taken from
peripheral venous blood before and immediately after the events.
We used descriptive statistics, nonparametric tests of Wilcoxon and
Mann-Whitney and Spearman correlation coefficient. Results: There
was increased activity of CK and AST (p < 0.05) in both groups.
The increased activity of the enzyme GGT (p < 0.05) occurred
only in the elite group. It was found in both groups, an increase
in leukocyte count, mainly expressed as an increase in neutrophil
count (p < 0.05). After the race, there was a decrease in the CD4/
CD8 ratio and increased concentrations of T lymphocytes CD3+
CD8+, CD4+ T reg and CD4+ CD69+ for athletes from non-elite
groups. Conclusion: The results suggest that the intensity and duration of triathlon affect the responses of several biomarkers analyzed
according to the level of training of athletes.
Key-words: triathlon, training, enzymatic activity, immune system,
lymphocytes.
Palavras-chave: triathlon, treino, actividade enzimática, sistema
imune, linfócitos.
Recebido 10 de novembro de 2011; aceito 16 de novembro de 2011.
Endereço de correspondência: Faber Sérgio Bastos Martins, Instituto de Estudos Superiores de Fafe, Rua Universitária, Apartado 178,
4824-909 Medelo Portugal, E-mail: [email protected]
8
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Introdução
Os sistemas biológicos respondem aos diferentes estímulos
provenientes do exercício físico levando a adaptações que
se traduzem num incremento da capacidade funcional do
atleta. Dentro desta perspectiva, a problemática traduz-se no
nível da agressão sofrida pelo organismo, que embora possa
apresentar-se transitória, é tanto mais expressiva quanto mais
severa for a intensidade do exercício, considerada esta como
intensidade propriamente dita ou como duração de uma
dada intensidade. A prática do triathlon implica a realização
de três diferentes desportos desenvolvidos em regime aeróbio
(natação, ciclismo e corrida), podendo por vezes, prolongar-se por mais de 10 horas e com intensidades superiores a
65% VO2max [1,2]. Estudos têm demonstrado que atletas
de esforços prolongados evidenciam um aumento da actividade de determinadas proteínas como a creatina-quinase
(CK), aspartato-aminotransferase (AST), mioglobina (Mb)
e a presença de fragmentos de cadeia de miosina pesada em
resposta a alteração na permeabilidade da membrana celular,
o que permite, ainda que indirectamente, determinar o grau
de agressão imposto pelo exercício [3-5]. Adicionalmente, o
aumento do volume mitocondrial, a activação lisossómica,
a disrupção e vacuolização sarcoplasmática constituem importantes alterações histológicas musculares induzidas pelos
esforços intensos e prolongados, principalmente aqueles
nos quais se verifica uma elevada incidência de contracções
excêntricas [6-8].
Actualmente, as provas de triathlon têm merecido atenção
relevante no que concerne ao estudo da performance em função das alterações de diversos biomarcadores, principalmente
nas provas do triathlon Ironman (3,8 km/180 km/42,2 km),
de forma a possibilitar uma melhor compreensão da relação
destes indicadores com importantes variações na função
neuromuscular, actividades enzimáticas e respostas hematológicas [9-11]. Diversos estudos têm sugerido uma relação
entre a susceptibilidade aumentada às infecções e a prática
regular de exercícios intensos ou competições exaustivas,
resultando em alterações significativas nos sistemas endócrino, nervoso e imunológico dos atletas [12-14]. Estudos
realizados com nadadores de elite verificaram um aumento
da incidência de infecções nas vias aéreas superiores (IVAS),
tendo sido evidenciados, após as provas, aumentos expressivos da concentração leucocitária, expressos principalmente
pelo aumento de neutrófilos, acompanhados da redução
da concentração de imunoglobulina A (Ig A), para além de
alterações na actividade citotóxica das células natural killer
(NK) [15,16]. Contudo, o comportamento dos indicadores
bioquímicos e imunológicos parece apresentar uma elevada
variabilidade inter-individual em função do nível de treino
dos atletas, estando directamente relacionado a especificidade
da intensidade e duração do esforço realizado.
Perante os pressupostos apresentados, o propósito central
deste estudo foi verificar, em atletas portugueses masculinos
de triathlon de elevado nível competitivo (elite) e praticantes
regulares (não-elite), o efeito de uma prova de triathlon longo
composta por 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21,1
km de corrida, na modulação da resposta aguda de diversos
biomarcadores enzimáticos e da função imune, de modo a
proporcionar uma melhor compreensão dos distúrbios homeostáticos induzidos pelo exercício físico prolongado e intenso
e suas respectivas repercussões sistémicas.
Material e métodos
Amostragem
A amostra foi constituída por 10 atletas masculinos da
Federação Portuguesa de Triathlon, com idade média de
31,5 ± 1,2 anos, massa corporal de 69,3 ± 1,9 kg, estatura
corporal de 177,7 ± 1,4 cm, índice de massa corporal de
22,0 ± 0,8 e percentagem de gordura corporal 10,1 ±
2,2, participantes das provas nacionais e internacionais
na referida distância. Os atletas foram divididos em 2
grupos (elite e não-elite) de acordo com as respectivas
posições no ranking nacional e categoria de inscrição em
competições internacionais pela International Triathlon
Union (ITU).
Procedimentos
Para a avaliação da estatura corporal dos atletas foi
utilizado o estadiômetro (marca Rudolf Martin) e para
a determinação da massa corporal (kg) e percentagem de
gordura corporal (%GC) dos atletas foi realizada a pesagem em balança digital de bioimpedância (marca Tanita
TBF 305). Todos os atletas integrantes da amostra foram
submetidos a duas colheitas sanguíneas, a primeira nos
instantes precedentes a cada uma das provas e a segunda,
imediatamente após o seu término, sendo estas realizadas
através da punção venosa na região cutânea antecubital
anterior, com álcool a 95%, totalizando 60 amostras. Todas
as amostras foram colhidas em tubos ETDA-K3 de 4,5ml
(BD Vacutainer) para a determinação dos parâmetros
bioquímicos e imunológicos.
Análise bioquímica: Para análise dos parâmetros bioquímicos efectuados no soro, foi utilizada a centrifugação a 3000
rpm (centrífuga JOUAN CR3). Foram analisados através do
método turbidimétrico a 340 nm, as actividades séricas das
enzimas creatina-quinase (CK), aspartato-aminotransferase
(AST), alanina-aminotransferase (ALT) e gama-glutamiltransferase (GGT).
Análise imunológica: Os tubos de ensaio de polipropileno
de 5 ml para citómetro de fluxo (IZASA) foram identificados e
os anticorpos com diferentes especificidades, conjugados com
diferentes fluorocromos foram pipetados (pipetas automáticas
de 10 µL) para os respectivos tubos, em conformidade com
o apresentado na Tabela I
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
9
Tabela I - Identificação dos anticorpos monoclonais utilizados na determinação da imunomarcação.
Tubos/
Anticorpos
monoclonais
FL1-FITC
CD8
(IOT; B9.11)
HLA-DR
(IOT; Immu-357)
Caracterização dos Linfócitos T
FL2-PE
FL3-ECD
CD 69
CD45RO
(IOT; TP1.55.3 )
(IOT; UCHL1 )
CD 127
CD4
(IOT;R34.34 )
(IOT; SFCI12T4D11)
FL4-PC5
CD28
(IOT; CD28,2 )
CD25
(IOT;B1,49,9 )
FL5-PC7
CD3 (IOT;UCHT1)
FIT C - Isotiocianato de fluresceina; PE - Ficoeritrina; ECD - Energy Coupled Dye; PC5 – Ficoeritrina-Cy5- Tandem; PC7 – Ficoeritrina Cianina 7.
A cada tubo foram adicionados 100 µL (pipetas automáticas)
de sangue periférico e as amostras foram incubadas durante o
período de 15 minutos, no escuro e a temperatura ambiente. No
final do período de incubação, procedeu-se a líse dos eritrócitos
e a fixação dos leucócitos, utilizando o Lisador automático TQ-Prep (BC) e os reagentes Immunopre Reagent System (BC).
Em seguida, os tubos foram colocados no frigorífico durante 15
minutos, procedendo-se, logo após, à aquisição das amostras no
citómetro de fluxo ( Cytomicas FC500 da Beckman Coulter),
utilizando o programa “CXP Versão 2.0” (Beckman Coulter).
Uma combinação de anticorpos monoclonais conjugados com
isotiocianato de fluresceina (FITC) e ficoeritrina (PE) foram
utilizados para enumerar as subpopulações de linfócitos. A
calibragem do citómetro foi realizada utilizando o FACScomp
software (Immunocytometry system). Do sangue venoso periférico heparinizado, 3 ml foram misturados com o mesmo
volume da solução de fosfato tampão (PBS pH 7.4) nivelado por
4ml de gradiente Ficoll-Paque (Amersham Pharmacia Biotech,
Uppsala, Sweden) a 400g durante 30 minutos a temperatura
ambiente. As respectivas camadas de células mononucleares
foram recolhidas e lavadas duas vezes com solução PBS (10 ml),
sendo posteriormente suspensas em solução FCS-RPMI-1640.
As amostras contendo 1x106 células mononucleares em solução
FCS-RPMI-1640 foram tratadas com 10ml de anticorpos mo-
noclonais conjugados com isotiocianato de fluresceina (FITC)
e ficoeritrina (PE), sendo as seguintes combinações: anti-CD3
(FITC) \ anti-CD4 (PE), anti-CD3 (FITC)\anti-CD8 (PE),
lavadas duas vezes com solução PBS+, e novamente suspensas
em 1 ml de solução 0.5% de paraformaldeido-PBS+, sendo
posteriormente analisadas pelo programa Infinicyt Versão 1.1.1.
Foi utilizado o teste de Wilcoxon para medidas repetidas, e o
teste de Mann-Whitney para amostras independentes. Para
verificar os níveis de associação entre as variáveis investigadas no
estudo, recorreu-se ao coeficiente de correlação de Spearman.
Os níveis de significância foram mantidos em 5% (p < 0.05).
Os procedimentos estatísticos foram analisados nos programas
Excel™2000 e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS™.
Versão 16.0).
Resultados
De acordo com os dados expostos na Tabela II, constata-se,
nos atletas de elite, o aumento das actividades das enzimas
CK (109,3%, p = 0,011), AST (21,1%, p = 0,016) e GGT
(17,3%,p = 0,014). Este comportamento, embora mais
pronunciado nos atletas do grupo não-elite, foi somente verificado na actividade das enzimas CK (307,6%, p = 0,043)
e AST (55,7%, p = 0,014).
Tabela II - Efeito da prova de triathlon longo nas diferentes actividades enzimáticas dos triatletas.
Triatletas elite
(n = 5)
Enzimas
CK (U.L-1)
AST (U.L-1)
ALT (U.L-1)
GGT (U.L-1)
Pré-Prova
268,6±135,4
39,8 ± 9,1
25,4 ± 7,3
18,4 ± 2,1
Pós-Prova
562,4 ± 194,7*
48,2 ± 11,0*
27,2 ± 7,8
21,6 ± 1,2*
Triatletas não-elite
(n = 5)
Pré-Prova
Pós-Prova
190,4 ± 30,0
776,2 ± 458,7*
26,2 ± 2,1
40,8 ± 8,8*
17,4 ± 5,5
20,6 ± 6,1
21,0 ± 6,0
23,6 ± 7,2
Nota: Valores expressos pela média ± desvio-padrão. * p < 0,05, vs Pré-Prova.
Tabela III - Efeito da prova de triathlon longo nas diferentes subpopulações leucocitárias dos tritletas.
Parâmetros Imunológicos
Monócitos (103/µL)
Linfócitos (103/µL)
Neutrófilos(103/µL)
Leucócitos (103/µL)
Triatletas Elite
(n = 5)
Pré-Prova
0,4 ± 0,3
2,2 ± 1,0
3,4 ± 1,7
6,3 ± 1,5
Pós-Prova
0,5 ± 0,2*
1,2 ± 0,6*
14,4 ± 4,7*
16,3 ± 5,0*
Valores expressos pela média ± desvio-padrão. * p < 0.05, vs Pré-Prova.
Triatletas não-Elite
(n = 5)
Pré-Prova
Pós-Prova
0,6 ± 0,4
0,8 ± 0,4*
2,3 ± 1,0
1,3 ± 0,5*
4,0 ± 1,0
15,0 ± 3,6*
6,7 ± 1,4
17,5 ± 4,1*
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
10
O comportamento dos indicadores da função imune
após a prova pode ser observado na Tabela III. Uma análise
dos dados permite-nos verificar um aumento significativo
dos leucócitos totais, em ambos os grupos de atletas, sendo
observado acréscimos de 158,7% (p = 0,003) e 161% (p =
0,001) nos grupos elite e não-elite, respectivamente. Esta
leucocitose reflecte principalmente um aumento dos neutrófilos (neutrofilia) pós-esforço, sendo este mais acentuado nos
atletas do grupo elite (323,5%, p = 0,002) comparativamente
ao grupo não-elite (275%, p = 0,003).
De forma a analisar o efeito crónico das sucessivas cargas
de treino na resposta imune dos atletas presentes neste estudo,
foram comparadas as concentrações leucocitárias intergrupos
nos momentos pré e pós-prova, conforme apresentado na
Figura 1, não tendo sido constatadas diferenças significativas.
Contudo, importa reter que os atletas do grupo não elite,
apresentaram valores basais de leucócitos totais ligeiramente
mais elevados quando comparados com atletas de elite (6,7
± 1,4 vs 6,3 ± 1,5 x 103/µL, p = 0,834).
Figura 2 - Análise comparativa dos grupos de triatletas relativamente ao efeito da prova de triathlon longo na relação dos linfócitos
T CD4+/ T CD8+.
Figura 1 - Análise comparativa dos grupos experimentais de triatletas relativamente a concentração dos leucócitos totais nos momentos
pré e pós-prova de triathlon longo.
O exercício físico intenso e prolongado provoca múltiplas
alterações bioquímicas cuja interpretação pode, por vezes,
conduzir a resultados conflituais, principalmente em atletas com elevado nível de treino. O aumento da actividade
das enzimas séricas indicia alterações na permeabilidade da
membrana celular, e está normalmente correlacionado com
lesão celular consequente ao exercício [5,17]. Os indicadores
bioquímicos CK e AST utilizados no presente estudo constituem marcadores de lesão muscular, dado o facto de serem
proteínas que, quando libertadas para o espaço extracelular,
em resposta ao exercício físico, permitem determinar, ainda
que de forma indirecta, a existência de lesões [3,5]. As enzimas
ALT e GGT encontram-se em maior concentração no fígado
e epitélios dos ductos biliares e renais, respectivamente [18],
o que pode sugerir a possibilidade de lesão hepática, quando
observado um aumento significativo dos níveis séricos destas
enzimas em resposta ao exercício físico [19].
A elevada variabilidade inter-individual pós-prova observada no comportamento da enzima CK, expressa pelos acentuados desvios-padrão, corrobora estudos anteriores realizados
com diferentes atletas de provas de resistência [4,17,20,21].
Esta variabilidade pode ser, em parte, justificada pelo nível de
treino do atleta, uma vez que quanto mais elevado o estado
de treino, maior a possibilidade da realização de esforços
intensos, com melhor tolerância às elevações enzimáticas
relacionadas com focos de lesão muscular [4,22,23]. Neste
contexto, a atenuação da expressão da actividade da enzima
CK pós-prova, evidenciada pelos atletas de elite, reforça o
denominado efeito protector da carga repetida [24], promovendo nestes atletas importantes adaptações metabólicas ao
esforço prolongado exaustivo, reduzindo o nível de agressão
muscular induzida pelo exercício. Esta resposta da actividade
enzimática menos pronunciada por parte dos atletas de elite
lhes confere a classificação de low CK responders [17], na
Leucócitos Totais
(10^3/µl)
25
*
20
*
15
10
5
0
Pos-prova
Pré-prova
elite
não elite
* p < 0,05, vs Pré-prova; • p<0.05, vs Elite.
A relação dos linfócitos T CD4+/CD8+, utilizada como
indicador de imussupressão, foi alterada ao término da prova,
sendo a diminuição observada (1,9 ± 0,8 vs 1,6 ± 0,5; p =
0,042) somente no grupo dos atletas não-elite, de acordo com
o exposto na Figura 2.
Foi encontrada uma diferença intergrupos de 26,3% referente aos valores basais (2,4 ± 0,8 vs 1,9 ± 0,8; p = 0,036) da
relação, sendo também constatada uma diferença de 37,5%
nos valores pós-prova dos grupos de atletas analisados (2,2 ±
0,7 vs 1,6 ± 0,5; p = 0.018).
Ambos os grupos de atletas evidenciaram alterações nos
indicadores de activação do fenótipo linfocitário T CD4+
(Tabela IV), em particular nas células T CD4+ reguladoras,
as quais assumem relevante importância na homeostase da
tolerância periférica.
T CD4+ / CD8+
3.5
3
2.5
2
1.5
1
0.5
0
*
*
Pos-prova
Pré-prova
elite
não elite
* p < 0,05, vs Pré-prova; • p<0.05, vs elite.
Discussão
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
qual se observa uma curva individual dos valores absolutos
pouco acentuada e que pode, de acordo com alguns autores,
ser justificada por diferentes mecanismos, dentre os quais,
a incapacidade de drenagem da enzima CK do interstício
para a circulação sanguínea, através do sistema linfático, em
resposta ao possível aumento da pressão dos fluidos intersticiais [25]. Relativamente aos elevados valores da actividade
da enzima CK apresentados pelos atletas do grupo não-elite,
uma justificativa plausível parece convergir para o efeito modulador da duração do esforço, facto que corrobora estudos
anteriores com atletas de ultra-maratonas e triathlons longos,
onde a dilatação do tempo de esforço é sugerida como factor
determinante na libertação desta proteína para a circulação
[3,26,27]. A semelhança do observado na actividade da CK,
o aumento da actividade da enzima AST, apresentada por
ambos os grupos de atletas, consubstancia no diagnóstico da
ocorrência de lesão no tecido muscular esquelético [21,28].
Contudo, a sua menor expressão pós-prova pode ser justificada
pelas suas elevadas dimensões moleculares, o que resulta numa
dificuldade acrescida da sua remoção, via sistema linfático
[3,27,29]. O aumento significativo da actividade da enzima
GGT, constatada nos atletas de elite, constitui um indicador
sensível de distúrbios hepáticos [30], possuindo também um
importante papel modulador na velocidade das vias glicolítica
e oxidativa [31]. Este aumento da actividade parece estar
relacionado, segundo alguns autores, com a redistribuição
do fluxo sanguíneo e o aumento da temperatura corporal
induzidos pelo exercício físico intenso e prolongado, facto
que poderia resultar em danos hepatocelulares provocados
por uma isquemia [32,33].
O aumento do número de leucócitos circulantes após a
realização de exercícios físicos constitui uma resposta aguda
natural, e está dependente de factores como a intensidade,
a duração e tipo de esforço realizado [14,34,35]. Esta leucocitose pós-esforço é normalmente expressa pelo aumento
de neutrófilos [12-14,36,37], e se mostra mais pronunciada
em esforços prolongados [36,38]. O aumento do número de
leucócitos, evidenciada por ambos os grupos, após a realização
da prova corrobora os resultados de estudos anteriores, e terá
resultado da desmarginação dos neutrófilos, a partir das paredes do endotélio, induzida pelo aumento do débito cardíaco
e alterações dos níveis de cortisol e catecolaminas [31,39,40].
Efectivamente, níveis elevados de adrenalina, induzidos pelo
exercício físico, reduzem a afinidade dos neutrófilos pela parede do endotélio, potenciando um fluxo aumentado destas
células para a circulação sanguínea [41]. Adicionalmente, o
aumento transitório do número monócitos pós-prova, embora
menos acentuado, está relacionado ao processo inicial da
activação dos macrófagos no mecanismo de resposta inflamatória [42]. Relativamente a activação dos linfócitos T CD4+
e T CD8+, Pizza et al. [43] referem que o tipo de exercício
parece exercer uma influência significativa na magnitude do
comportamento dos parâmetros da imunidade celular e humoral. A diminuição significativa da relação dos linfócitos T
11
CD4+/CD8+ no grupo não-elite reflecte, principalmente, um
acréscimo dos linfócitos T CD8+, o qual pode estar associado
a uma situação de imunossupressão evidenciada pela realização
de esforços intensos e prolongados [44,45]. Esta modulação
do sistema imune, caracterizada pelo aumento dos linfócitos T
CD8+ para o compartimento vascular, em resposta ao exercício
físico agudo, parece estar relacionada com a expressão dos
β-receptores presentes nestas células [46]. Contrariamente ao
aumento observado no grupo não-elite, os atletas de elite evidenciaram uma diminuição do fenótipo T CD4+CD69+, que
pode se prender, em parte, aos níveis aumentados de cortisol
em resposta a realização de esforços prolongados e intensos
[47], os quais poderiam provocar a inibição da produção de
interleucina-1 (IL-1) pelos monócitos e, consequentemente,
reduzir a estimulação dos linfócitos T CD4+, com menor
produção de interleucina-2 (IL-2), o que resultaria na inibição
da proliferação dos linfócitos T e diminuição de mediadores
de inflamação e actividade citotóxica [48].
Conclusão
A análise e interpretação dos resultados obtidos neste estudo
permitem-nos extrair as seguintes conclusões: a duração do
esforço parece constituir o factor determinante na expressão
da resposta das proteínas musculares CK e AST, enquanto a
intensidade do esforço exerce um importante efeito modulador
da actividade da enzima hepática GGT. De forma similar aos
indicadores bioquímicos, a resposta dos biomarcadores da função imune parece estar condicionada pela duração e intensidade
do esforço. Assim, verificamos que a intensidade e a duração
das provas de triathlon condicionam as respostas dos diferentes
biomarcadores em função do nível de treino dos atletas.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
13
Artigo original
Prevenção de hipotrofia muscular pelo uso
da mobilização neural em modelo experimental
de ciatalgia
Muscular hypotrophy prevention by using neural mobilization in
experimental sciatica model
Juliana Schmatz Mallmann*, Juliana Moesch*, Flávia Tomé*, Rogério Fonseca Vituri**, Alberito Rodrigo de Carvalho***,
Gladson Ricardo Flor Bertolini, D.Sc.****
*Graduados em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel/PR, **Especialista,
docente do curso de medicina da Unioeste, ***Especialista, docente do curso de fisioterapia da Unioeste, ****Docente do curso de
fisioterapia da Unioeste
Resumo
Introdução: O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia da
mobilização neural na manutenção do trofismo muscular de sóleos
em ratos submetidos a modelo experimental de ciatalgia por neuropraxia. Métodos: Ratos Wistar (n = 10 / 13 ± 2 semanas / 356,80
± 27,76 g) foram divididos aleatoriamente em dois grupos, o GS,
(n = 5) submetido à ciatalgia e tratamento simulacro, e o GMN,
(n = 5) submetido à ciatalgia e tratado com mobilização neural.
O protocolo experimental de ciática por neuropraxia seguiu o
modelo de Bennett e Xie. Os tratamentos por mobilização neural
(GMN) e simulacro (GS) foram realizados nas patas traseiras direitas. O trofismo muscular foi avaliado histomorfometricamente
pelo menor diâmetro das fibras musculares (MDFM). Para análise
estatística usou-se o teste t pareado (α = 0,05). Resultados: No GS
houve diminuição significativa do MDFM à direita em relação à
esquerda (p = 0,0051) e no GMN não foram observadas diferenças.
Conclusão: A mobilização neural foi eficaz na redução da hipotrofia
proveniente de uma neuropraxia nos animais.
Abstract
Introduction: The aim of this study was to assess the effectiveness
of neural mobilization, in the soleus muscle tropism maintenance
in rats with sciatica experimental model by neuropraxia. Methods:
Wistar rats (n = 10 / 13 ± 2 weeks / 356.80 ± 27.76 g) were randomly
divided into two groups, the SG (n = 5) subjected to sham treatment
and sciatica, and NMG, (n = 5) submitted to sciatica and treated
with neural mobilization. The experimental protocol of sciatica by
neuropraxia followed the model of Bennett and Xie. The treatments
for neural mobilization (NMG) and sham (GS) were performed on
right hind limb. The muscle tropism was assessed by histomorphometric of muscle fibers diameter smaller (MFDS). Statistical analysis
used the paired t test (α = 0.05). Results: In SG significant decrease
of MFDS right than left (p = 0.0051) and the NMG no differences
were observed. Conclusion: The neural mobilization was effective in
reducing hypotrophy from a neuropraxia in animals.
Key-words: sciatica, physical therapy modalities, neuralgia.
Palavras-chave: ciática, modalidades de fisioterapia, neuralgia.
Recebido em 18 de novembro de 2011; aceito em 3 de janeiro de 2012.
Endereço de correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 2069, Jd. Universitário, Universidade Estadual do
Oeste do Paraná/Centro de Ciências Biológicas e da Saúde/Laboratório de Estudo das Lesões e Recursos Fisioterapêuticos, Caixa Postal
711, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3157, E-mail: [email protected]
14
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Introdução
A incidência de dor lombar é de aproximadamente 80%
da população mundial, e 35% destes desenvolvem um quadro
de lombociatalgia, que é uma irritação do nervo isquiático,
causando distúrbios sensitivos no trajeto do mesmo. A lombociatalgia constitui um problema de saúde, em todos os
países, com certo grau de desenvolvimento, sendo que a perda
da capacidade laboral e a aposentadoria são consequências
importantes para a sociedade e economia [1].
A causa mais comum da lombociatalgia é a hérnia de disco,
porém, existem outras, como: processos degenerativos, infecções, luxações traumáticas do quadril, anomalias congênitas
[2], síndrome do piriforme [3] e estenose do canal lombar.
Os sintomas incluem a dor lombar, dor ao longo do trajeto
do nervo, distúrbios sensoriais e fraqueza dos músculos do
membro inferior inervados pelo isquiático [4].
Os testes de provocação neural são realizados com objetivo
de auxiliar no diagnóstico de síndromes compressivas nervosas
[5,6], sendo que os mesmos são adaptados para tratamento
destas síndromes, com resultados diversos [7-9].
O princípio da técnica de mobilização neural, que é um
comprometimento da mecânica e ou fisiologia do sistema
nervoso, pode resultar em outras disfunções do sistema nervoso, ou em estruturas musculoesqueléticas que recebam sua
inervação. A mobilização neural é utilizada para restaurar o
movimento e a elasticidade do sistema nervoso, com objetivo
de melhorar a neurodinâmica e restabelecer o fluxo axoplasmático, restabelecendo a homeostasia dos tecidos nervosos [9].
Para Butler [10], a mobilização do sistema nervoso afeta a
dinâmica vascular, os sistemas de transporte axonal e a restauração
da mecânica das fibras nervosas e tecidos conjuntivos. Alteração
das pressões no sistema nervoso, durante o movimento, podem
auxiliar na dispersão de um edema intraneural, com melhora do
suprimento sanguíneo às fibras nervosas em hipóxia. Além disso,
um tratamento vigoroso poderia causar uma pequena lesão no
nervo e estimular a liberação de fatores de crescimento.
Pelo modelo de compressão isquiática, criado por Bennett
e Xie [11], há a reprodução da sintomatologia visualizada em
humanos, com isto, confere-se a possibilidade de avaliar técnicas de tratamento, como a mobilização neural, verificando-se a evolução do reparo nervoso pelo trofismo de músculos
inervados pelo isquiático.
O objetivo deste estudo foi verificar a eficácia da mobilização neural, na manutenção do trofismo muscular de sóleos
em ratos submetidos a modelo experimental de ciatalgia por
neuropraxia.
356,80 ± 27,76 g. Os ratos foram alojados em caixas de
polipropileno, submetidos a ciclo claro/escuro regulado em
12 horas, e receberam água e ração ad libitum durante o
período experimental.
Os animais foram divididos aleatoriamente em 2 grupos:
GS (n = 5) – submetido à ciatalgia e tratamento placebo
(simulacro); GMN (n = 5) – submetido à ciatalgia e tratado
com mobilização neural.
O projeto foi conduzido segundo as normas internacionais
de ética em experimentação animal [12], sendo aprovado pelo
Comitê de Ética na Experimentação Animal e Aulas Práticas
da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
Protocolo de lesão experimental
Os animais foram anestesiados com ketamina (95 mg/
kg) e xilazina (12 mg/kg) intramuscular. Depois de feita
a tricotomia, realizou-se uma incisão paralela às fibras do
músculo bíceps femoral, da coxa direita do animal, expondo
o nervo isquiático. Seguindo o modelo de Bennett e Xie
[11], foi efetuada a compressão ao redor do nervo isquiático
em quatro regiões distintas, com distância aproximada de 1
mm, sendo utilizado fio catgut 4.0 cromado, reproduzindo
dor crônica no trajeto do mesmo, em seguida a sutura foi
realizada por planos.
Protocolos de tratamento
Materiais e métodos
Para a realização do protocolo de tratamento, os animais
eram sedados com éter etílico, e o tratamento procedido no
membro posterior direito, nos dois grupos.
No protocolo utilizado para o GMN, o animal era posicionado em decúbito dorsal, quadril flexionado a aproximadamente 70º, extensão máxima possível de joelho e dorsiflexão
de tornozelo até a sensação de resistência ao movimento,
então o tornozelo era passivamente movimentado em planti e
dorsiflexão, com aproximadamente 30 movimentos, durante
um minuto [13].
No GS o animal também era sedado e posicionado em
decúbito dorsal, porém apenas o quadril era mantido em
flexão de cerca de 70º, sendo deixados livres o joelho e tornozelo dos animais.
O tratamento iniciou no terceiro dia pós-compressão,
sendo realizadas cinco sessões seguidas, sempre no mesmo
horário, em dias subsequentes. No sexto dia, após o início
do tratamento, os animais sofreram eutanásia por meio de
decapitação em guilhotina. Então foi realizada a dissecação
dos músculos sóleos, de forma bilateral, para posterior análise
histomorfométrica.
Grupos experimentais
Análise histomorfométrica
Foram utilizados 10 ratos (Rattus norvergicus), da linhagem Wistar, machos, com idade de 13 ± 2 semanas, com
Após a dissecação e fixação dos sóleos, em formalina
10%, os mesmos foram emblocados em parafina e realizado
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
procedimento para confecção de lâminas histológicas, com
cortes transversais no ventre muscular.
Para realizar a análise dos músculos sóleos, optou-se por
verificar o diâmetro das fibras em sua menor porção, visto
que segundo Brito et al. [14] esta juntamente com a análise
de secção transversa e diâmetro médio são formas adequadas
de avaliar o grau de trofismo muscular. Para tal fim, foram
analisadas 100 fibras por músculo, utilizando-se o programa
Image-Pro-Plus 3.0.
Análise dos resultados
Os resultados foram expressos por meio da estatística
descritiva (média e desvio-padrão) e analisados pela estatística
inferencial, por meio do teste t de Student pareado, sendo
aceito o nível de significância de α = 0,05.
Resultados
Os resultados mostraram que para o grupo simulacro
havia diminuição significativa do menor diâmetro das fibras
musculares dos sóleos direitos comparados aos esquerdos (p
= 0,0051), com hipotrofia à direita (figura 1). Para o GMN
não houve diferença significativa ao comparar os grupos (p
= 0,3433).
Figura 1 - Avaliação das fibras musculares dos sóleos em seu menor
diâmetro, de acordo com os grupos (GS – grupo simulacro; GMN
– grupo mobilização neural) e o lado de análise (D – direito; E –
esquerdo).
40
*
*
30
20
10
0
GC D
GCE
GMNL
GMNL E
* Diferença significativa entre os lados direito e esquerdo.
Discussão
A dor lombar é frequentemente acompanhada de lesões
mielínicas, axonais ou axomielínicas, produzindo bloqueio
parcial na condução em nível radicular como consequência
da reação inflamatória [15]. Segundo Lihong et al. [16], a
dor neuropática, relacionada à lesão nervosa periférica, é
uma questão formidável para tratamento clínico, a qual é
frequentemente acompanhada por regeneração das fibras
15
nervosas lesadas. Além disso, a lesão nervosa periférica produz degeneração das fibras nervosas, produzindo hipotrofia
muscular [17].
Desta forma, no presente estudo objetivou-se avaliar
uma característica de regeneração nervosa do isquiático, que
é a atrofia muscular de fibras de sóleo. Esta síndrome, que
além de ter alta incidência e prevalência, produz alterações
álgicas e funcionais importantes que podem ser combatidas
com o tratamento conservador, numa técnica de mobilização
neural, que tem se mostrado vantajosa para a dor, advinda da
compressão nervosa [18,19].
Oliverira Junior et al. [9] relatam que o número de artigos e publicações a respeito da mobilização neural, ainda
é consideravelmente escasso. Porém, a ideia de aplicar um
tratamento mecânico para o tecido neural não é nova, pois
princípios e métodos de “alongamento nervoso” existiam
desde 1800 e com o tempo se tornaram mais refinados tanto
na teoria quanto na aplicação clínica [20].
Avaliar a técnica de mobilização neural, em um modelo
experimental de ciatalgia, que pela lesão produzida (neuropraxia) gera hipotrofia muscular, apresentou-se como uma
questão de interesse, pois existem para a técnica, na literatura,
indícios de êxito e falhas sobre processos lesivos de nervos
periféricos [7-9].
Segundo Hall et al. [21], como forma terapêutica para
lesões nervosas, indicam-se movimentos oscilatórios gentis
nas estruturas anatômicas envolvidas ao redor dos tecidos
nervosos afetados. Kobayashi et al. [22] avaliando alterações
no fluxo sanguíneo com o teste de elevação da perna retificada,
em 12 pacientes, antes e após microdiscectomia, observaram
que durante o teste havia redução do fluxo. Citam que as
adesões causadas por reações inflamatórias entre a lesão e a
raiz nervosa, poderiam reduzir a mobilidade do nervo durante
o movimento dos membros, direcionando a alterações no
fluxo com subsequente hipóxia, edema e desmielinização.
O que acarretariam em alterações tanto sensitivas quanto
tróficas musculares e do Sistema Nervoso Autônomo. Alterações tróficas musculares foram observadas no modelo de
lesão aqui utilizado, visto que para o grupo controle, havia
diminuição significativa do diâmetro das fibras musculares,
quando comparado com o lado sadio.
Kikukawa et al. [23] investigaram as alterações agudas no
citoesqueleto axonal após alongamento moderado (2 N), por
1 hora, em nervos do plexo braquial de ratos. Relatam que
os microtúbulos eram despolimerizados pelo alongamento,
o que pode levar a implicações no transporte axonal do nervo. Sendo assim, com o fluxo axonal normalizado, a função
nervosa poderia também sê-lo, e sequelas musculares, como
a hipotrofia, poderiam ser debeladas.
No presente estudo, para o grupo mobilização neural,
havia melhora do trofismo muscular, indicado pela comparação entre o membro lesado e o não lesado, quanto ao
menor diâmetro analisado, que é, segundo Brito et al. [14],
uma medida adequada para avaliar trofismo muscular. Para o
16
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
grupo simulacro havia diferença significativa nos diâmetros,
indicando que o modelo de lesão produziu alteração no trofismo muscular ao comparar com o lado sem lesão.
Para Elvey [24], qualquer processo inflamatório, afetando
uma raiz nervosa, pode conduzir ao desenvolvimento de um
tecido fibroso, causando adesões, que resultam em disfunção
de sua mobilidade relativa, além de torná-la intensamente
sensível e dolorida ao movimento. Portanto, este seria o
motivo do nervo ser tratado com movimento passivo, contudo, o efeito terapêutico é explicado apenas em termos de
generalizações, como a prevenção na formação de adesões
ao redor do nervo, na redução de edema e direcionamento
a uma resposta de variações de pressão fisiológica benéfica.
Segundo Cleland et al. [25], especula-se que se a etiologia
dos sintomas forem originados de edema intraneural, as alterações na pressão intraneural, que acompanham a mobilização
neural, podem ser suficientes para dispersar o edema, então
aliviando a hipóxia e reduzindo os sintomas associados.
Salienta-se que os resultados obtidos limitam-se pela falta
de observação de efeitos diretos no ciático e pelo modelo utilizado no estudo (ratos). Porém, visto que o modelo de lesão
utilizado reproduz a sintomatologia de uma neuropraxia [11],
o modelo de avaliação é útil para predizer alterações provindas
de lesão nervosa periférica.
Conclusão
Visto que a terapêutica adaptada para os membros posteriores dos animais foi viável, conclui-se que a mobilização
neural, como forma de terapia, foi eficaz na redução da hipotrofia, provinda de uma neuropraxia nos animais.
Agradecimentos
Ao Hospital Universitário do Oeste (HUOP) do Paraná e
à Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE),
pelo financiamento parcial do projeto.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
17
Artigo original
Percepção subjetiva da qualidade de vida de usuários
de computadores após 12 sessões de ginástica laboral
Subjective perception of quality of life of computer users after 15
sessions of labor gymnastics
Thiago Medeiros da Costa Daniele*, George Lacerda de Souza**, Pedro Bezerra Souza Neto***
*Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará e mestrando em Ciências Médicas pela Universidade Federal
do Ceará (UFC), **Graduado em Educação física pela Universidade Estadual do Ceará e especialista em nutrição esportiva pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE),***Graduado em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)
Resumo
Objetivo: Avaliar a evolução da percepção da qualidade de vida
geral após a aplicação de 12 sessões de ginástica laboral. Material e
métodos: Foram aplicadas quatro sessões de ginástica laboral, duas
vezes por semana, com o intuito de mobilizar os funcionários de
uma empresa em Fortaleza/CE e adaptá-los aos horários. Na quinta
sessão foi aplicado o questionário de qualidade de vida SF-36 em
todos os participantes. Resultados: Foram analisados 16 voluntários,
12 do sexo feminino e 4 do sexo masculino. A idade média dos
funcionários era de 24,8 anos ± 3,4. O tempo médio de trabalho
foi de 14,13 ± 14,65 meses. A capacidade funcional se mostrou
melhor estatisticamente significante após a intervenção (p < 0,05).
Os outros subitens apresentaram tendências positivas, com exceção
da percepção à dor, que houve uma aparente piora comparada com
o início do treino. Conclusão: Podemos comprovar que duas sessões
por semana trouxeram bons resultados aos envolvidos com a prática
regular desses exercícios.
Abstract
Objective: To evaluate the perception of overall quality of life
after 12 sessions of labor gymnastics. Methods: The study was conducted in a computer company in Fortaleza, Ceara. Four sessions of
labor gymnastics, twice a week, were performed aiming to mobilize
the employees and to adequate the schedule. On the fifth session,
we applied the quality of life questionnaire SF-36 in all participants.
Results: We studied 16 volunteers, 12 females and 4 males. The
average age of employees was 24.8 years ± 3.4. The women were
25 ± 1.0 years old and men were 24.25 ± 1.3 years old. The average
working hours was 14.1 ± 14.6 months. Functional capacity showed
statistically significant increase after intervention (P < 0.05). The
other sub-items showed positive trends, except perception of pain,
which there was an apparent worsening compared with the beginning of training. Conclusion: We noticed that participants achieve
good results with two sessions of regular exercises.
Key-words: Ergonomics, labor gymnastics, quality of life.
Palavras-chave: Ergonomia, ginástica laboral, qualidade de vida.
Recebido em 17 de outubro de 2011; aceito em 03 de janeiro de 2012.
Endereço de correspondência: Thiago Medeiros da Costa Daniele, Departamento de Medicina, Universidade Federal do Ceará, Rua
Prof. Costa Mendes, 1608, 4º Andar, 60430-040 Fortaleza CE, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Introdução
As tecnologias de informação trouxeram com o processo
industrial complicações em nível físico e psicológico. Esse
efeito negativo, aliado ao sedentarismo, criou um termo capaz
de expressar o quadro atual das pessoas que sofrem com a modernização: o tecnoestresse, termo primeiramente utilizado,
em 1984, pelo psicoterapeuta e psiquiatra norte americano
Craig Brod. Ele o define como uma enfermidade resultante da
falta de habilidade para trabalhar com as novas tecnologias de
uma forma saudável [1], levando ao estresse ocupacional que
pode estar relacionado com a carga de trabalho [2].
Segundo Santos e Martendal apud Jex [2], este problema é entendido através de três aspectos. O primeiro é
relativo ao estresse ocupacional, sendo o contexto organizacional o responsável pelas exigências adaptativas do
trabalhador, chamado assim de estressor organizacional. O
segundo se relaciona com as respostas psicológicas, comportamentais e fisiológicas dos trabalhadores ao estresse
organizacional. Por fim, há a resposta ao estímulo estressor,
ou seja, o impacto nos trabalhadores causado pelo estresse
organizacional.
Diversas estratégias estão sendo criadas a fim de levar um
maior bem-estar aos trabalhadores, mudando consistentemente seus maus hábitos de vida como: inatividade física,
tabagismo e alimentação inadequada. Segundo a ANVISA
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a ginástica laboral
é realizada por meio de exercícios físicos que, aliados a técnicas de respiração e relaxamento, são capazes de levar a uma
melhora do estado psicológico e fisiológico dos funcionários
que utilizam computadores [7].
Apesar disso, as prevalências de problemas de saúde como
dores músculo-articulares, característicos da profissão, podem
remeter a uma maior vulnerabilidade dessa população a problemas de saúde geral. Um estudo colombiano [8] mostrou
que a inatividade física aumenta a frequência e a duração de
absentismo que tem implicações negativas para o trabalhador,
para a empresa e para a sociedade, e afirma que programas de
promoção da atividade física no trabalho são propostos como
uma opção estratégica em saúde ocupacional.
A partir dessas considerações, realizou-se um estudo
exploratório e prospectivo com um grupo de funcionários
que utilizam prioritariamente o computador como meio de
trabalho, buscando identificar a frequência das variáveis da
percepção da qualidade de vida em geral.
Material e métodos
Trata-se de um estudo descritivo e prospectivo contendo, a
princípio, 20 voluntários. Deste total, quatro foram excluídos
por permanecerem afastados por três sessões consecutivas,
resultando em um conjunto final de 16 funcionários. O
estudo foi realizado em uma empresa localizada na cidade
de Fortaleza, Ceará.
Foram incluídos voluntários de ambos os sexos com idades
entre 20 e 40 anos que permanecem sentados por pelo menos seis horas por dia e que utilizavam o computador como
instrumento de trabalho. Foram excluídos aqueles que não
realizaram cinco sessões consecutivas e que estavam fora da
faixa etária de inclusão.
O procedimento foi realizado em 10 semanas. Na primeira
semana, os funcionários foram instruídos com explicações
sobre lesões por esforços repetitivos, sedentarismo e sobre
a ginástica laboral. Na segunda semana, foram ministradas
sessões de ginástica laboral com o intuito de mobilizar os funcionários e adaptá-los aos horários. Na terceira, foi aplicado
um questionário de qualidade de vida em 20 funcionários,
treze do sexo feminino e sete do sexo masculino. E na décima,
após 12 sessões de ginástica laboral, o mesmo questionário foi
reaplicado. As sessões duraram 20 minutos e foram realizadas
duas vezes por semana
Para análise da percepção de qualidade de vida dos funcionários, utilizou-se o Questionário de Qualidade de Vida
SF-36, por ser de fácil administração e compreensão do
tipo autoaplicável. O SF-36 é uma versão em português do
Medical Outcomes Study 36 – Item Short Form Health Survey,
traduzido e validado por Ciconelli et al. [3]. Estudos realizados
no Brasil mostraram a viabilidade e a confiabilidade desse
questionário [4,5].
Os participantes assinaram um termo de consentimento
para a autorização da utilização dos dados de forma sigilosa com finalidade de pesquisa científica. Este projeto foi
submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Ceará (CEP 031-04-09).
Análise estatística
A eficiência do treinamento foi avaliada pelo teste T de
Student para amostras emparelhadas. O valor de P < 0,05 foi
aceito como significante. Os dados foram apresentados como
média ± desvio padrão e número de participantes com sua
respectiva percentagem. Os dados foram submetidos a um
pacote do programa de estatística SPSS for Windows.
Resultados
Foram analisados 16 voluntários, 12 do sexo feminino
(75%) e 4 do sexo masculino (25%). A idade média dos funcionários era de 24,81 anos ± 3,43. A idade das mulheres foi
de 25 ± 1.0 e dos homens foi de 24,25 ± 1,3. O tempo médio
de trabalho foi de 14,13 ± 14,65 meses. Quatro participantes
foram excluídos do estudo, dois funcionários tiveram férias
e dois deixaram de realizar 3 sessões consecutivas. O tempo
de trabalho variou de três meses, valor mínimo, e 48 meses,
valor máximo. A média foi de 14 meses ± 14,65 executando
a atual função. Os resultados dos subitens do SF-36 estão
apresentados na Tabela I.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Tabela I - Percepção subjetiva dos subitens do SF-36.
Variáveis
Capacidade funcional
Limitações físicas
Dor
Estado geral de saúde
Vitalidade
Aspectos socias
Limitações por aspectos emocionais
Saúde mental
Início
76,56
84,38
67,44
58,71
63,75
72,65
73,24
Final
84,69
82,.81
64,25
63,71
69,37
79,17
72,91
70,00
74,25
P value
< 0,05*
0,73
0,07
0,6
0,3
0,1
0,2
0,4
*P < 0,05.
A Figura I expõe as médias de cada um dos subitens do
SF-36. Todos os itens analisados apresentaram melhoras,
com exceção da percepção à dor, que houve uma aparente
piora comparada com o início do treino. A capacidade funcional se mostrou melhor estatisticamente significante após
a intervenção (P < 0,05). Os outros subitens apresentaram
tendências positivas. As médias variaram entre 63 e 85 pontos,
mostrando que todos os participantes possuíam bons índices
para os subitens da qualidade de vida analisados.
Figura I - Relação entre as médias dos participantes antes e após
a intervenção.
90.00
80.00
70.00
60.00
50.00
40.00
30.00
20.00
10.00
0.00
presente estudo não se preocupou com a intensidade dos exercícios, visto que o objetivo foi o de realizar uma compensação
funcional como a melhora da circulação e do alongamento
nos grandes grupamentos musculares.
A qualidade de vida dos sujeitos melhorou principalmente
a capacidade funcional, que é a capacidade do indivíduo em
realizar as atividades da vida diária [11], mostrando que o dia
a dia pode ser melhorado com a prática regular da ginástica
laboral.
A sociabilização entre os funcionários, analisado pelo
subitem aspectos sociais, mostrou uma tendência positiva (p
= 0,1). Já no que diz respeito aos aspectos emocionais não
foi observada relevância com a ginástica laboral no presente
estudo. Podemos concluir assim que os funcionários puderam
melhor se relacionar após o início das intervenções.
Com relação à saúde mental houve ganho significativo.
Segundo Heloani et al. [12] o trabalho na atualidade e suas
exigências geram pressões que afetam o corpo físico e o
campo mental. Em nosso estudo a população apresentou
melhoras, porém o resultado não foi estatisticamente significante.
A percepção à dor foi o único item que houve redução
no final da intervenção, talvez devido ao número reduzido de
sessões, que foram de duas vezes por semana, em comparação
com a carga horária dos funcionários, que é de oito horas por
dia, seis vezes por semana.
ad
e
Lim fun
cio
ita
na
çõ
l
es
fís
Es
ica
ta
s
do
ge
Do
ra
r
ld
e
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úd
Vi
ta e
As
lid
pe
As
cto ade
pe
cto s so
cia
se
is
m
oc
i
o
Sa
na
úd
is
e
m
en
ta
l
Conclusão
id
ac
ap
C
19
Início
Final
Discussão
A literatura cientifica mostra os benefícios dos exercícios
físicos compensatórios no ambiente de trabalho [9], teoria
esta que foi comprovada pelo nosso trabalho. A incorporação
dos exercícios no dia a dia dos funcionários foi o principal
valor do estudo, pois a grande maioria era sedentária e, a pesar
de todos serem jovens (idade média de 24 anos), a falta de
disponibilidade de tempo para a prática de exercícios fora da
empresa foi de 65% da população.
A pesar de a intensidade ser proporcional aos efeitos tanto
metabólicos como cardiovasculares, como frequência cardíaca
e modulação de quimiorreceptores, a alteração da liberação de
catecolaminas afeta todo o sistema nervoso simpático [10]. O
Os dados deste estudo demonstraram que as sessões de
ginástica laboral aplicada em funcionários com uma carga
horária de 8 horas por dia, 6 vezes na semana, mostrou-se
eficiente na melhora da capacidade funcional.
Demonstrou-se que com a implantação de um programa
de exercícios em empresas os funcionários conseguem melhor se socializar (aspectos sociais positivos) e têm percepção
benéfica de sua saúde geral.
No que diz respeito à saúde mental e à vitalidade, as pontuações dos subitens analisados apresentaram-se benéficas na
população estudada.
Podemos comprovar que duas sessões por semana trouxeram bons resultados aos envolvidos com a prática regular
desses exercícios, porém sugere-se que mais estudos sejam
realizados envolvendo funcionários que realizam pouca ou
nenhuma atividade física no seu trabalho e os seus aspectos
associados.
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y daños físicos de satisfacción laboral. Acta Colom Psicol
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
21
Artigo original
Avaliação dos fatores de risco cardiovascular de idosos
participantes de grupo de convivência da terceira idade
do município de São Miguel do Oeste/SC
Evaluation of cardiovascular risk factors in participants of an elderly
association in São Miguel do Oeste/SC
Nelí Maziero*, Everton Boff, M.Sc.**, Sandro Claro Pedrozo***
*Acadêmica de Biomedicina da Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC, **Professor da Universidade
do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC, ***Professor do curso de Educação Física da Universidade do Oeste de Santa
Catarina, São Miguel do Oeste/SC, Especialista em Educação Física com área de concentração em Treinamento desportivo pela Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC
Resumo
O objetivo deste estudo foi investigar os fatores de risco para
doenças cardiovasculares, relacionados ou não com dislipidemias
e características antropométricas de uma população de idosos do
município de São Miguel do Oeste/SC. A amostra foi composta por
57 indivíduos (≥ 60 anos) de ambos os gêneros. Foram realizadas
avaliações para identificar indicadores de gordura corporal (IMC,
RCQ, CC), verificar o perfil lipídico (colesterol total e triglicerídeos), pressão arterial (PA) e risco coronariano. Para a análise dos
dados, utilizou-se a estatística descritiva e o teste t de student para
amostras independentes. O programa utilizado foi SPSS 13.0 e o
nível de significância foi de P ≤ 0,05. Em relação aos fatores de risco
cardiovascular prevaleceram: sedentarismo (82,4%), seguido por
RCQ altos (64,9%), CC aumentada (56,1%) e hipertensão arterial
sistêmica (49,1%). As mulheres apresentaram maior prevalência de
obesidade (75,0%), RCQ alto (72,9%) e CC aumentada (71,8%).
Também foram identificados, para as mulheres ≥ 70 anos, valores
médios acima dos recomendados nas variáveis IMC (29,37 ± 7,65),
CC (98,50 ± 16,44) e RCQ (0,93 ± 0,08). Ao comparar os gêneros,
foram constatadas diferenças significativas nas variáveis RCQ (P =
0,049) e PA diastólica (70 anos ou mais: P = 0,016). Ao comparar as
idades de < 70 anos e ≥70 anos, os valores médios do perfil lipídico
não extrapolaram os valores de referência, apesar de serem observadas
diferenças significativas (P = 0,008) nos triglicerídeos dos homens.
Conclui-se então, que idosos do sexo feminino estão mais vulneráveis ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares. O controle
de fatores de risco contribui para diminuir a morbimortalidade
em idosos e, consequentemente, melhorar a sua qualidade de vida.
Abstract
The objective of this study was to investigate the risk factors
for cardiovascular disease, related or not with dyslipidemia and
anthropometric characteristics of an elderly population in São
Miguel do Oeste/SC. The sample included 57 individuals (≥ 60
years) of both genders. Evaluations were carried out to identify
indicators of body fat (BMI, WHR, WC), the lipid profile (total
cholesterol and triglycerides), blood pressure (BP) and coronary
risk. For data analysis, we used descriptive statistics and Student’s
t test for independent samples. The software used was SPSS 13.0
and significance level was P ≤ 0.05. In relation to cardiovascular
risk factors prevailed: sedentary (82.4%), followed by high WHR
(64.9%), CC increased (56.1%) and hypertension (49.1%). Women
had a higher prevalence of obesity (75.0%), high WHR (72.9%)
and CC increased (71.8%). Were also identified, for women ≥ 70
years, average values f​​ or the variables above the recommended BMI
(29.37 ± 7.65), CC (98.50 ± 16.44) and WHR (0.93 ± 0.08). When
comparing genders, significant differences were found in variables
WHR (P = 0.049) and diastolic BP (70 years or more: P = 0.016).
By comparing the ages of < 70 and ≥ 70 years, the mean values ​​of
lipid profile is not extrapolated reference values​​, although significant
differences (P = 0.008) in triglycerides of men. Was concluded that
older women are more vulnerable to the development of cardiovascular disease. The control of risk factors contributes to reduce
morbidity and mortality in elderly patients and thereby improve
their quality of life.
Key-words: risk factors, cardiovascular disease, elderly,
anthropometric characteristics.
Palavras-chave: fatores de risco, doenças cardiovasculares,
idosos, características antropométricas.
Recebido em 24 de novembro de 2011; aceito em 12 de janeiro de 2012.
Endereço para correspondência: Nelí Maziero, Linha Santo Expedito, BR 282, SN - 89910-000 Descanso SC, E-mail: nelimaziero@
hotmail.com
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Introdução
Com o fenômeno de envelhecimento populacional observado neste último século, aumenta, cada vez mais, a necessidade
de conhecimento dos fatores que incidem sobre a prevalência
das doenças crônico-degenerativas associadas à idade [1].
Segundo Pereira et al. [2], o envelhecimento reforça a importância de manter a saúde e autonomia. O avançar da idade, por
si só, aumenta o risco de doenças crônicas, com destaque para as
cardiovasculares. Entretanto, o desenvolvimento dessas doenças
acomete diferencialmente os indivíduos, com menor frequência e
gravidade naqueles com trajetória e cotidiano mais saudáveis [2].
Estudos delineados para avaliar a importância de fatores de
risco (FR) para doença coronariana demonstraram que nove
FR corresponderam a mais de 90% do risco atribuível para
infarto do miocárdio. De modo surpreendente, tabagismo e
dislipidemia compreenderam mais de dois terços deste risco
e, obesidade central, diabetes mellitus (DM) e hipertensão
arterial (HAS) estavam significativamente associados, mesmo
com diferenças relativas nas diferentes regiões estudadas [3].
É necessário conhecer a prevalência desses fatores de risco,
isolados ou combinados, pois é através de sua redução, com
programas de prevenção primária e secundária, que objetivaremos a efetividade de qualquer programa de saúde [4].
Em função do aumento da população idosa, da necessidade de estudos com essa população e da possibilidade de
intervenção nos fatores de risco, optou-se pela realização
deste trabalho, que tem por objetivo avaliar os fatores de
risco para doenças cardiovasculares relacionados ou não com
dislipidemias, em uma população de idosos do município de
São Miguel do Oeste, Santa Catarina.
Material e métodos
A população foi constituída por 57 idosos, com idade ≥
60 anos, de ambos os gêneros, participantes do Grupo de
Terceira idade do Bairro Agostini, residentes em São Miguel
do Oeste - Santa Catarina, selecionada de forma intencional
e voluntária.
Este estudo foi submetido à avaliação do Comitê de Ética
em Pesquisa de Joaçaba e aprovado pelo parecer 066/2011
e CAAE: 0067.0.151.000-11, sendo respeitadas as diretrizes
regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos.
Foram analisados os seguintes fatores de risco: HAS, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, obesidade, tabagismo,
sedentarismo, história familiar, circunferência de cintura
(CC), razão cintura-quadril (RCQ), gênero e idade.
As medidas antropométricas foram realizadas no Laboratório de Fisiologia do Esforço e as coletas sanguíneas no
Laboratório de Hematologia Clínica, ambos na UNOESC,
campus de São Miguel do Oeste.
A obesidade foi verificada pelo IMC. De acordo com a
OMS [5], valores de IMC entre 18,5 e 24,9 são considerados
normais, entre 25,0 e 29,9 indicam sobrepeso e valores ≥30 kg/
m2 apontam presença de obesidade. O sedentarismo foi identificado por meio daqueles que não praticavam atividade física
ou praticavam menos que 3X por semana, durante, pelo menos,
30 minutos por dia de forma contínua ou acumulada [6].
A pressão arterial foi verificada três vezes em cada participante, por meio de um esfigmomanômetro aneróide e
um estetoscópio, com intervalos mínimos de três minutos,
sendo que as médias individuais das pressões aferidas foram
utilizadas [6].
Valores de PA ≥ 140/90 mmHg foram considerados positivos para HAS e pessoas com valores de pressão abaixo desses
níveis, mas que referiam uso de drogas anti-hipertensivas,
também foram consideradas hipertensas [6].
Para o procedimento de coleta de sangue os idosos foram
orientados a estar em jejum de 8 a 12 horas. A coleta de sangue foi realizada por punção venosa na veia mediana cubital
em seringas de 10 ml da marca BD® e a agulha utilizada foi
25X7 também da marca BD® e distribuído em um tubo sem
anticoagulante. Lembrando que cada tubo foi identificado
com o nome do paciente e número geral de identificação.
Utilizaram-se kits da marca Labtest Diagnóstica® em protocolos específicos para sua determinação em equipamento
semi-automatizado da marca Bioplus®.
As análises de colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG)
foram realizadas pelo método colorimétrico enzimático. O
HDL-C foi separado pela precipitação de LDL-C, utilizando
o método de precipitação de dextrano e cloreto de magnésio.
O LDL foi estimado pela fórmula de Friedewald (LDL-C =
CT – VLDL – HDL).
A classificação dos valores de referência para CT, TG,
LDL-C e HDL-C correspondeu aos critérios das IV Diretrizes
Brasileiras sobre Dislipidemias (7): CT ≥ 240mg/dl ou HDL-c ≤ 40 mg/dl ou LDL-C ≥ 160 mg/dl ou TG ≥ 200 mg/dl.
A avaliação do risco cardiovascular foi realizada com base
no Escore de Framingham [7], baseado em valores numéricos
de acordo com o risco atribuível aos valores da idade, PA,
colesterol total, HDL-colesterol, tabagismo e diabetes mellitus [8]. Cada escore obtido corresponde a um percentual da
probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular nos
próximos dez anos. Assim, indivíduos de baixo risco teriam
uma probabilidade menor que 10%; médio risco, entre 10%
e 20% e alto risco, igual ou maior que 20% [9].
Para a análise dos dados utilizou-se o programa estatístico
computacional (SPSS) versão 13.0. O procedimento estatístico utilizado foi estatística descritiva (média, desvio padrão
e análise de frequência) e o teste t de student para amostra
independente, no intuito de caracterizar a amostra e comparar
gênero e idade.
Resultados
A população constituinte deste estudo apresentou idade
média de 69,83 ± 5,88 anos, faixa etária predominante de
70-79 anos (48,28%) e do sexo feminino (59,6%).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
O fator de risco mais prevalente foi o sedentarismo
(82,4%), seguido pelas características antropométricas: RCQ
(64,9%) e CC (56,1%) aumentados e HAS (49,1%). A prevalência dos fatores de risco pode ser visualizada na Figura 1.
Figura 1 - Fatores de risco mais prevalentes na amostra estudada.
90,0%
80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
82,4%
64,9%
56,1%
Nosso estudo ainda apresenta resultados estatisticamente
significativos quando comparada PAD de idosos com ≥70
anos em relação ao gênero (p = 0,016). Sendo que para a
variável de PAS não ocorreu significância, embora se notasse
um aumento nos valores das mulheres quando se comparam
os gêneros – Tabela I.
Tabela II - Comparação da média e desvio padrão dos grupos com
idade abaixo de 70 anos e com 70 anos ou mais do gênero masculino.
49,1%
Gênero Masculino
< 70 anos (n
70 anos ou +
= 15)
(n = 09)
Média ± DP
Média ± DP
26,90 ± 4,14
26,54 ± 4,34
28,1%
10,5%
Sedentarismo RCQ
CC
23
HAS Obesidade Dislipidemia
Os resultados apontam que houve maior percentual de
risco em idosos do sexo feminino com 70-79 anos. Em relação
à classificação de CC observou-se índice de alto risco entre
idosos de 70-79 anos (57,1%). Quanto à classificação de
IMC, constatou-se prevalência de obesidade nos idosos com
60-69 anos (37,0%).
Tabela I - Comparação da média e desvio padrão dos grupos do
gênero masculino com 70 anos ou mais.
Grupo 70 anos ou +
Masculino
Feminino
(n = 9)
(n = 18)
Média ± DP
Média ± DP
26,54 ± 4,34
29,37 ± 7,65
P
0,316
IMC (kg/m2)
RCQ (cintura/
0,91 ± 0,06
0,93 ± 0,08
0,049*
quadril)
CC (cm)
94,00 ± 10,02 98,50 ± 16,44 0,169
PAS (mmHg)
138,89 ± 11,67 143,89 ± 19,74 0,492
PAD (mmHg)
74,44 ± 5,27
84,45 ± 10,97 0,016*
Colesterol
180,56 ± 29,67 191,62 ± 30,06 0,374
(mg/dl)
Triglicerídeos
141,22 ± 46,56 127,83 ± 67,65 0,600
(mg/dl)
*P ≤ 0,05
No que concerne à comparação entre os sexos, evidenciou-se que as mulheres apresentaram maior prevalência de obesidade (75,0%), RCQ (72,9%) e de CC (71,8%) com risco
alto, do que os homens.
Na Tabela I podemos observar uma prevalência de sobrepeso no gênero feminino com ≥ 70 anos (29,37 ± 7,65).
Para a CC e RCQ foram identificados valores médios acima
dos recomendados para o gênero feminino, principalmente
para as idosas com ≥70 anos (98,50 ± 16,44 e 0,93 ± 0,08),
enquanto que nos homens os valores médios não extrapolaram os recomendados (94,00 ± 10,02 e 0,91 ± 0,06), com
diferença estatisticamente significativa entre os gêneros para
a variável de RCQ (p = 0,049).
P
0,839
IMC (kg/m2)
RCQ (cintura/
0,92 ± 0,05
0,91 ± 0,06
0,116
quadril)
CC (cm)
95,33 ± 10,29 94,00 ± 10,02 0,228
PAS (mmHg)
127,33 ± 18,69 138,89 ± 11,67 0,111
PAD (mmHg)
76,67 ± 8,99
74,44 ± 5,27
0,509
Colesterol
179,80 ± 38,53 180,56 ± 29,67 0,960
(mg/dl)
Triglicerídeos
94,73 ± 31,72 141,22 ± 46,56 0,008*
(mg/dl)
*P ≤ 0,05
Na avaliação dos parâmetros laboratoriais, os valores
médios do perfil lipídico – CT e TG – não apresentaram
alterações em relação aos referenciais, observando-se, porém,
que para TG houve significância estatística para idosos do
gênero masculino quando comparados em relação à idade <
70 anos e ≥ 70 anos (p = 0,008) (Tabela II).
No que se refere ao questionário de risco coronariano,
houve maior proporção de risco moderado tanto entre as
mulheres (70,5%) quanto entre os homens (65,2%).
Em uma análise sobre o número de FR por idoso, observou-se que a maioria possuía quatro FR, seguida daqueles
que possuíam dois. Dos 57 idosos, 71,9% apresentavam de
dois a quatro. Esses dados estão demonstrados na figura 2.
Figura 2 - Número de fatores de risco (FR) por idoso participante.
30,0%
26,3%
24,5%
25,0%
21,0%
20,0%
14,0%
15,0% 12,2%
10,0%
5,0%
0,0% 1,7%
0,0%
1 FR 2 FR 3 FR 4 FR 5 FR 6 FR 7 FR
Em relação ao gênero, observou-se prevalência de homens,
com até um fator de risco, e de mulheres entre os idosos, com
três ou mais fatores de risco (Figura 3).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
24
Figura 3 - Distribuição dos casos segundo o número de fator de
risco e gênero.
24
25
18
20
14
15
10
5
0
5
7
7 7
2
12
5
7
6
1 FR
2 FR
3 FR
4 FR ou mais
Feminino
Total
Masculino
Em relação à avaliação de risco cardiovascular em dez anos
através do Escore de Framingham, pôde-se observar uma baixa
prevalência DAC nos 57 indivíduos analisados, já que 60,34%
encontravam-se em grupos de baixo risco, 29,31% em médio
risco e apenas 8,62% em alto risco. Entretanto, esse quadro
inicialmente favorável não se confirmou quando relacionado
ao questionário de Avaliação do Risco Coronariano, pois neste
cálculo 29,31% e 67,24% dos pacientes apresentaram risco
médio e moderado para doença cardíaca, respectivamente.
Figura 4 - Percentual de risco para DAC segundo o Escore de
Framingham.
45,6%
38,6%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
7,0%
35,1%
19,3%
15,8%
17,5% 19,3%
1,8%
Risco baixo
Masculino
Risco médio
Feminino
Risco alto
Total
Discussão
O aumento no número de idosos instiga o desenvolvimento de estratégias que possam minimizar os efeitos negativos
do avanço da idade cronológica no organismo.
Demonstrou-se com este estudo que o fator de risco
mais prevalente foi o sedentarismo, seguido de RCQ e CC
aumentados, HAS e obesidade.
Apesar de o critério para se considerar o idoso como
sedentário ter sido bastante complacente, este foi o mais
prevalente dos fatores de risco cardiovascular (82,4%) nessa
população de gerontes. Sendo esse um fator de risco para
doença coronária comparável a hipertensão, hipercolesterolemia, e tabagismo [10].
De forma similar, Gus et al. [4] encontraram resultados
aproximados apontando índice de sedentarismo de 71,3%
na população estudada. Corroborando, Feijó et al. [11]
averiguaram que o sedentarismo também foi o fator de risco
mais prevalente (75%) em estudo com pacientes admitidos
em unidade de hemodinâmica, objetivando rastrear os fatores
de risco para DAC nesses indivíduos.
Quanto aos níveis pressóricos, 49,1% dos idosos (47,8%
masculino e 29,8% feminino) apresentavam PA ≥ 140 x 90
mmHg. Resultado que se assemelha ao encontrado por Taddei et al. [12], apresentando PA elevada em 53% dos casos,
confirmando que a prevalência de hipertensão entre os idosos
é preocupante.
De forma similar, pesquisa realizada por Mendonça et al.
[13] avaliou idosos de um parque de São Paulo, descrevendo
o risco cardiovascular e a condição física, identificando a presença de hipertensão arterial em 52% da população idosa estudada, valor condizente com o encontrado em nosso estudo.
Estima-se que a explicação para o número expressivo de
hipertensos encontrado deve-se a uma média de idade mais
elevada. A isso se soma o elevado percentual de sedentários,
o que contribui substancialmente para o controle inadequado
da PA.
Quando analisamos os dados antropométricos, notamos
uma nítida prevalência de sobrepeso, 38,6% (17,5% masculino e 21,1% feminino) e de obesidade, 28,1% (7,0%
masculino e 21,1% feminino), de acordo com a classificação
da OMS [5] para IMC, conferindo ao grupo feminino uma
maior prevalência deste fator de risco. Essa mesma tendência
foi observada para CC, parâmetro relativo à gordura visceral,
sendo que 40,4% das mulheres e 15,8% dos homens apresentavam CC ≥ 88 e ≥102 cm e, sobretudo, para o RCQ,
em que notamos que 64,9% de todo o grupo apresentava
RCQ alterada e de alto risco, 17,5% dos homens e 47,4%
das mulheres.
Santos et al. [14] também observaram maior proporção de
sobrepeso e de inadequação da distribuição de gordura entre
as mulheres. RCQ e CC das idosas apresentaram aproximadamente o dobro dos escores encontrados entre os homens.
Analisando fatores de risco coronarianos em idosas, Guimarães et al. [15] observaram que 12,5% da amostra apresentou sobrepeso e 29,2% obesidade, resultados semelhantes
aos encontrados em nosso estudo. Nesse mesmo trabalho foi
verificado RCQ de alto risco em 54,2% das idosas indicando
risco muito alto para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O risco cardiovascular, conforme a CC, esteve
presente em 70,8% das idosas, as quais apresentaram risco
muito aumentado, resultados condizentes com o da amostra
atual deste estudo.
Estudo realizado por Pitanga et al. [16] afirma que os
homens com CC elevado e IMC baixo representam um grupo de maior risco propenso ao desenvolvimento patologias
cardiovasculares. Ficando aparente que quanto menor a massa
corporal maior a chance de acúmulo central de gordura na
população estudada.
A prevalência de obesidade encontrada justifica-se pela
relação direta entre obesidade e inatividade física, acarretando maiores riscos para o desenvolvimento e a progressão das
doenças cardiovasculares.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Quanto ao perfil lipídico, na determinação do CT, 3,5% e
7,0% apresentavam níveis elevados (≥ 240 mg/dl); na dosagem
do HDL-C, 12,3% e 5,3% apresentavam níveis abaixo do
recomendado (< 40 mg/dl); na determinação do LDL-C, apenas 5,3% das mulheres apresentavam dosagens aumentadas (≥
160 mg/dl); nos valores de TG, também 5,3% das mulheres
apresentavam níveis aumentados (> 200 mg/dl), todos os
dados acima para homens e mulheres, respectivamente [7].
Estudo realizado recentemente sobre a população do Rio
Grande do Sul obteve os achados de que a dislipidemia representava 5,6% entre os fatores analisados [4]. Na presente
investigação, a avaliação dessa variável foi equivalente, possivelmente em função da obtenção de informações quanto ao
perfil lipídico, através das dosagens de CT e TG por meio de
análise laboratorial, método bastante confiável.
Rosini et al. [3], investigando a prevalência e multiplicidade de fatores de risco em hipertensos e tabagistas de meia
idade, apresentaram em seu estudo os níveis médios de CT
acima do desejável, 230,3 ± 46,8, 223 ± 49,2 e 234,4 ± 45 mg/
dl, respectivamente, para amostra total, homens e mulheres,
com diferença significativa entre os gêneros (p = 0,0407). Os
níveis médios de TG, nesta mesma pesquisa, apresentaram-se
discretamente elevados, a despeito da grande variabilidade
observada, na média total, para homens e mulheres, 159,3 ±
83,9, 168,3 ± 87,3 e 154,5 ± 82,1 mg/dl, respectivamente.
Em uma análise sobre o número de fatores de risco por
idoso, Feijó et al. [11] observaram que a maioria dos participantes possuía três e quatro fatores de risco, respectivamente;
no total 75% apresentavam de três a cinco.
O baixo risco, resultante da avaliação dos pacientes baseada apenas nos critérios de Framingham, não significa que
os mesmos estão isentos de risco cardiovascular, pois podem
apresentar outros fatores não incluídos neste escore de predição clínica. A abordagem de maior respaldo na análise das
evidências disponíveis consiste em estimar o risco cardiovascular não pela elevação de fatores isolados, e sim pela soma
de risco decorrente de múltiplos fatores, estimada pelo risco
absoluto global em cada indivíduo.
Conclusão
Consideramos através desta pesquisa que os idosos do
sexo feminino estão mais vulneráveis ao desenvolvimento
das doenças cardiovasculares. O controle de fatores de risco
contribui para diminuir a morbimortalidade em idosos e,
consequentemente, melhorar a sua qualidade de vida.
Esses dados são importantes dentro do contexto de saúde
pública, pois caracteriza uma população em constante crescimento nos últimos anos, a população idosa, fornecendo, assim, subsídios para uma melhor intervenção nesses indivíduos.
Apoiada na literatura preexistente e baseada nos resultados
produzidos por este estudo pode-se concluir que a melhor
maneira de quantificar o risco cardiovascular é considerar
todos os fatores envolvidos.
25
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
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Artigo original
Efeitos da suplementação de carboidrato em gel
sobre o desempenho físico e a resposta glicêmica
em teste de natação de 12 minutos
Physical performance and glycemic responses in 12-minutes swimming
test: effects of carbohydrate gel supplementation
Jadson Pereira Alves*, André Luís Macalossi**, Ramiro Barcos Nunes***, Francisco Navarro****
*Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre –
UFCSPA, **Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho – UGF, ***Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFCSPA, ****Universidade Federal do Maranhao – UFMA, Departamento de Educação Física
Resumo
Abstract
Palavras-chave: carboidrato em gel, glicose, natação,
desempenho.
Key-words: carbohydrate gel, glucose, swimming, performance.
Introdução
competitivo e o desejo de obter bons resultados [1]. A dieta
tem influencia direta na demanda energética em situações
específicas como, por exemplo, durante a prática de exercício
físico. Dieta e desempenho físico é um tema que tem sido
objeto pesquisa na área do treinamento desportivo [2].
As intervenções dietéticas para aumentar o desempenho físico
são práticas comuns entre atletas. O objetivo deste estudo foi avaliar a
resposta do uso de carboidrato em gel como estratégia ergogênica no
desempenho físico de nadadores. Foram avaliados 9 atletas, saudáveis, do sexo masculino, com idade entre 25 e 35 anos praticantes de
natação competitiva, cada atleta recebeu um suplemento ou placebo
20 min antes do teste de natação de 12 min. Medidas de glicose
sanguínea foram registradas em 4 momentos, 1° glicemia em jejum,
2° normalização glicêmica, 3° pré-teste e 4° pós-teste. Não houve
diferença significativa na distância final do teste quando comparado
o uso de suplemento com o placebo, os níveis de glicemia elevaram-se
significativamente pós-consumo do suplemento e a glicemia final
não se alterou significativamente. O uso de carboidrato em gel não
foi capaz de melhorar o desempenho dos atletas quando comparado
com o placebo, entretanto, mostrou-se eficiente em elevar a glicose
sanguínea pré-teste. Dessa forma, a suplementação parece não ser
necessária em provas de curta duração, uma vez que o organismo
lança mão de recursos próprios para a manutenção da glicemia.
O uso de intervenções dietéticas e de consumo de nutrientes para aumentar o desempenho de atletas são práticas
antigas, o que não surpreende, considerando o meio altamente
The dietary interventions to performance increases are a common praxis among competitive athletes. The aim of this study was
to evaluate the response of the use of carbohydrate gel as an ergogenic way in swimming test. We evaluated 9 male healthy athletes,
aged 25 to 35 years, practitioners of competitive swimming. The
athlete received a carbohydrate gel supplementation or placebo 20
min before the test. The 12-minutes Cooper test was performed to
physical performance and glucose responses evaluates. Blood glucose
measurements were obtained in 4 moments: 1) fasting glucose, 2)
glucose normalization, 3) pre-test and 4) post-test. There was no
significant difference between carbohydrate supplemented or placebo groups distances. Blood glucose levels increase significantly after
carbohydrate intake, however, after test, the blood glucose levels was
not different between groups. The high level of athletes and short
term of test may be a possible response to our results. The use of
carbohydrate gel was unable to improve the performance of athletes.
In this way, this strategy is not necessary to short duration tests, because there is an endogen mechanism to blood glucose maintenance.
Recebido em 24 de novembro de 2011; aceito em 05 de janeiro de 2012.
Endereço para correspondência: Jadson Pereira Alves, Av. Carlos Gomes, 1999/01, 90480-005 Porto Alegre RS, E-mail: alvesjpf@
yahoo.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
O uso de suplementos nutricionais por atletas, objetivando
maior rendimento, é um fenômeno que cresce a cada dia [3].
Esta prática se faz necessária, uma vez que o treinamento de
alta intensidade, com um período de recuperação limitado,
pode resultar em uma redução dos níveis de glicogênio, prejudicando o desempenho e levando a fadiga [4].
O processo da fadiga envolve vários fatores que acabam
reduzindo o desempenho durante o exercício [5]. A fadiga
é definida como uma falha ou incapacidade de gerar força,
estando associada à depleção de substratos energéticos ou
acúmulo de metabólitos [6]. No entanto, o rendimento no
esporte não está apenas associado à adaptação da dieta, mas
também ao uso de suplemento [7].
O suplemento de carboidrato em forma de gel fornece
ajuda nutricional eficaz tornando-se mais uma opção para
minimizar problemas como portabilidade e digestibilidade,
comumente enfrentados durante o treinamento aeróbio de
longa distância e na própria competição [8]. O suplemento
de carboidrato pode ser benéfico visto que a ingestão desse
suplemento durante a prova evita a queda da glicemia, mantendo assim a intensidade do exercício [9].
Para um melhor desempenho físico é indispensável que se
mantenham concentrações ótimas de glicose sanguínea, garantindo os processos de produção de energia durante o esforço,
evitando a fadiga durante a competição [10]. O monitoramento
da resposta glicêmica durante o exercício pode contribuir para
uma melhor organização das variáveis intensidade e duração
do exercício, auxiliando o treinador ou técnico desportivo,
no entendimento das respostas fisiológicas de seus atletas em
relação ao volume e intensidade dos treinamentos [11,12].
O objetivo do presente estudo foi avaliar o uso de suplemento de carboidrato em gel sobre a resposta glicêmica de
nadadores da categoria máster, durante teste de esforço de
natação.
Material e métodos
Amostra
A amostra (n = 9) foi composta por atletas saudáveis, do
sexo masculino, com idade entre 25 e 35 anos, praticantes de
natação competitiva há pelo menos um ano e que treinavam
cinco dias por semana, uma vez por dia. Todos os indivíduos
tinham uma boa regularidade nos treinamentos e experiência
em competições em nível estadual. Os atletas foram informados detalhadamente sobre os procedimentos do estudo e
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Medida de glicose sanguínea, suplementação e
teste de 12 minutos
Os atletas foram orientados a realizar jejum de 8h para o
dia do teste. O instrumento para coleta dos valores da glicose
sanguínea utilizado no presente estudo foi um aparelho glicosi-
27
mêtro (Glucotrend 2 Accu-Chek; Roche) com leitura dos valores
em um tempo de 15 segundos e expressos na unidade de mg/
dL. Foram utilizadas lancetas descartáveis para cada coleta. Após
assepsia do dedo indicador direito com álcool 96%, foi utilizada
lanceta para obter a amostra de sangue necessária para preencher
a tira de teste do glicosímetro. O procedimento para a medida da
glicose sanguínea ocorreu em um tempo máximo de 30 segundos.
A glicose sanguínea de jejum foi mensurada inicialmente
para verificar os valores de base e a homogeneidade da amostra
(glicose 1). Em seguida foi entregue o lanche padrão aos atletas
(2 bananas) e após 30 min, foi verificada a segunda glicose
sanguínea (glicose 2). Foi oferecido aos atletas o suplemento
de carboidrato em gel (GU Energy gel, 32g) ou placebo (gelatina diet) 20 minutos antes do teste. Tanto o suplemento de
carboidrato em gel quanto o placebo foram diluídos em 250 ml
de água e colocados em frascos iguais e sem rótulos. A terceira
medida de glicose sanguínea foi realizada imediatamente antes
do teste (glicose 3) e imediatamente após o teste (glicose 4).
Na semana anterior ao teste, o treinamento foi de caráter
regenerativo, de forma que o volume e a intensidade do treino
não sofreram modificações na sobrecarga.
O estudo foi realizado em piscina semi-olímpica (25 x
12 metros), com temperatura de 27,5 ± 0,5 °C e temperatura ambiente de 15°C. Foi realizado o teste de 12 minutos
de natação descrito por Cooper K [13], que consistiu em
deslocar-se à máxima distância em 12 minutos em ritmo
intenso no estilo crawl.
Os atletas foram cegados e randomizados para grupo
placebo ou suplemento de gel. Uma semana após o teste, os
mesmos atletas participaram novamente do teste, entretanto,
aqueles que haviam recebido o placebo, receberam o suplemento de carboidrato em gel, sem o conhecimento de qual
substância estava sendo ingerida.
Análise estatística
Os valores das variáveis estudadas em cada grupo foram
expressos em media ± DP. Para a medida de distância de nado
entre os grupos foi utilizado o teste t. Para as medidas de
glicemia foi utilizada ANOVA de uma via, seguido de teste
Post-hoc de Student-Newman-keuls. As diferenças foram consideradas significativas quando apresentavam valores de P <
0,05. O programa GraphPad Prism 4 (GraphPad Software, San
Diego, Califórnia, EUA) para Windows, foi utilizado como
ferramenta computacional para análise estatística dos dados
Resultados
Tabela I - Características da amostra.
Características
Sexo
Idade (anos)
Peso (kg)
Altura (m)
(n = 9 )
M
30 ± 5,8
75 ± 8,9
1,77
Valores expressos em media ± desvio padrão; M, masculino.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
40
20
Discussão
Este foi o primeiro estudo a avaliar o desempenho físico e
a resposta glicêmica, em atletas de natação da categoria máster,
submetidos ao teste de 12 minutos adaptado para natação,
utilizando suplementação de carboidrato em gel.
Figura 2 - Distâncias obtidas no teste de 12 minutos.
Distância (metros)
1000
800
600
400
200
0
Suplemento
Placebo
Valores expressos em media ± DP; Teste t para comparação das médias
em relação a distância percorrida durante o teste de 12 minutos.
4P
lic
4S
G
lic
G
lic
3S
G
lic
lic
G
lic
G
do teste de 12 minutos, entre o grupo placebo e o grupo
suplemento (Figura 2).
Os valores de glicose sanguínea, medida após jejum de
8h (glicose 1; Figura 3), foi similar entre os grupos. No entanto, a glicemia medida 30 minutos pós-lanche (glicose 2),
aumentou significativamente quando comparada a glicemia
de jejum, em ambos os grupos (p < 0,05) (figura 3). Após 20
minutos da ingestão do suplemento de carboidrato em gel
ou placebo, foi observado aumento na glicemia (glicose 3)
do grupo suplemento, mas não no grupo placebo (figura 3).
Esse aumento foi significativo inclusive em relação à medida
de glicose 2 de ambos os grupos (p < 0,01). Ao final do teste
de 12 minutos não houve diferença nos valores de glicose
sanguínea (glicose 4) entre os grupos placebo e suplemento.
Entretanto, quando comparados os valores de glicose pré-teste (glicose 3) e pós-teste (glicose 4) do grupo placebo, foi
observado um aumento significativo e bastante expressivo na
glicemia ao final do teste (p < 0,001) (Figura 3).
3P
0
2P
T4
60
G
T3
80
lic
T2
Teste 12 minutos
*
100
1S
T1
20 minutos
*
120
2S
30 minutos
=
140
G
8h/Glicêmia 8:30/Glicêmia 8:50/Glicêmia 9:12/Glicêmia
/Lanche Gel ou Placebo
#
lic
Não houve diferença entre as distâncias obtidas ao final
160
1P
Figura 1 - Coletas e intervenções dietéticas.
Figura 3 - Valores de glicose sanguínea dos grupos placebo e suplemento.
G
Os testes foram aplicados com a diferença de uma semana,
não havendo intercorrências durante o período entre testes, nem
durante a execução do experimento. Os testes foram realizados
de maneira idêntica, respeitando os tempos de coleta de sangue
e intervenções dietéticas, como apresentado abaixo na Figura 1.
Glicemia (mg/dL)
28
Valores expressos em media ± DP. Grupo suplemento tempos 1, 2, 3 e 4;
Grupo placebo tempos 1, 2, 3 e 4. * p<0,05 vs glic 1 S e glic 1 P. # p
< 0,01 vs glic 2 S; glic 2 P e glic 3 P. = p < 0,001 vs glic 3 P. ANOVA
de uma via.
Na literatura podem ser encontrados dados que sugerem a
ingestão de suplemento à base de carboidrato, como bebidas
esportivas, géis ou outras formas de alimento. Esta prática
é utilizada no intuito de evitar a queda da glicemia durante
o esforço, mantendo a intensidade e duração do exercício,
preservando, assim o glicogênio hepático. Esta estratégia
parece ser interessante, uma vez que, o treinamento de alta
intensidade e longa duração pode resultar na redução dos
níveis das reservas de glicogênio, prejudicando o desempenho
e, consequentemente, levando a um quadro de fadiga [9,10].
Os achados do presente estudo revelam que o consumo prévio
de carboidrato em gel, 20 minutos antes do teste físico de alta
intensidade e curta duração (12 minutos), não melhora o desempenho dos atletas quando comparado com o uso da substância
placebo. Este resultado pode ter uma relação direta com o nível de
treinamento dos atletas e tempo de duração do teste, uma vez que
os mesmos estão adaptados a treinamentos de alta intensidade e
maior duração. Tais fatores podem ter levado a uma menor utilização do carboidrato ingerido, uma vez que a captação de glicose
pelos músculos e a glicogenólise aumentam proporcionalmente
com a intensidade e duração do esforço [14,15].
A glicose sanguínea, após os 20 minutos do consumo de carboidrato gel, elevou-se significativamente quando comparado
com o placebo (figura 3), evidenciando assim, a eficiência do
produto para este fim. O mesmo também foi verificado no estudo de Febbraio et al. [16], no qual foi encontrado um aumento
na glicose plasmática após consumo da bebida de carboidrato
nos 10, 20 e 30 minutos após ingestão, concordando também
com o estudo de Sapata, Fahy e Oliveira [17], que também
observou um aumento da glicemia pós consumo da bebida
com carboidrato quando comparado com a bebida placebo.
Os níveis de glicose sanguínea pós-teste não sofreram alterações significativas com o uso do carboidrato gel quando
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
comparado com o placebo. Uma possível explicação para este
resultado pode estar relacionada ao tempo de duração do teste (12
minutos), que pareceu não ter sido suficientemente longo a ponto
de se fazer necessária a utilização de suplemento de carboidrato.
O estudo realizado por Peake et al. [18] mostrou concentrações de glicose plasmática mais alta ao final do teste,
com o uso do carboidrato, quando comparado à substância
placebo. Estes resultados foram encontrados na modalidade
de ciclismo e com tempo superior a 12 min de duração, o
que nos leva a pensar que a duração da atividade proposta
em nosso estudo talvez não tenha sido suficiente para alterar
significativamente a resposta glicêmica. Assim, testes, com um
período de tempo maior, parecem ser mais adequados para
mostrar a eficiência do uso do suplemento de carboidrato
em nadadores. Esta observação parece ser relevante, uma vez
que estudos com o uso de suplemento em forma de gel, em
nadadores, são escassos na literatura até o presente momento.
O efeito do uso de carboidrato em gel, em relação à melhora do desempenho não está bem claro na literatura [8]. Menos
ainda se sabe em relação à natação, pois a grande maioria dos
estudos usa suplementação de carboidratos na forma de bebidas esportivas utilizando outros ergômetros. Entre os poucos
estudos que utilizaram o carboidrato em gel para avaliar sua
contribuição no desempenho físico, está o estudo de Kern,
Helsin e Rezende [19], que comparou o uso de gel vs uva
passa em indivíduos submetidos a teste em cicloergômetro.
Ainda, o estudo de Patterson e Gray [20] comparou o efeito
do consumo de carboidrato em gel ou substância placebo em
um protocolo usando corrida intermitente.
Um achado interessante neste estudo foi a comparação da
glicose 3 do grupo placebo com a glicose 4 do mesmo grupo,
em que os níveis elevaram-se significativamente no final do teste de 12 min. Esta reposta pode ser explicada por um possível
mecanismo do sistema endócrino, uma vez que, para evitar a
hipoglicemia durante o exercício físico, em um primeiro momento, ocorre um ajuste mediado pela diminuição da insulina
e paralelamente um aumento dos hormônios hiperglicemiantes,
glucagon, catecolaminas, hormônio do crescimento e cortisol.
Este mecanismo pode contribuir de forma positiva para a manutenção do exercício, entretanto por um período limitado [21-23].
Conclusão
O presente estudo demonstrou que o consumo de carboidrato na forma de gel 20 minutos, antes da prática do teste de
12 min de natação, não melhorou o desempenho dos atletas,
embora tenha sido efetivo no aumento da glicemia. Este tipo
de suplementação parece não se fazer necessário para a realização de testes de curta duração em atletas bem treinados.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
30
Artigo original
Treinamento aeróbico em cicloergômetro adaptado
para pacientes lesados medulares
Aerobic training on adapted cycle ergometer for paraplegic
patients by spinal cord injury
Simone Suzuki Woellner*, Antonio Vinicius Soares, M.Sc.**, Anna Maria Engel***, Paulo Guilherme Lenz****,
Bruna Zimmermann*****
*Especialista em Fisioterapia Neurológica e Supervisora do Estágio de Neurologia Adulto da Faculdade Guilherme Guimbala,
**Especialista em Cinesioterapia Neuro-sensório-motora, Professor de Anatomia, Neuroanatomia, Cinesiologia e Neurologia da
Faculdade Guilherme Guimbala e IELUSC, ***Graduando em Fisioterapia, ****Graduando em Fisioterapia e Educação Física,
*****Graduando em Fisioterapia
Resumo
Introdução: A inatividade pós-traumatismo raquimedular
(TRM) reduz consideravelmente a massa muscular e a capacidade
aeróbica dos indivíduos, resultando em fadiga e aumento da prevalência de doenças associadas. Objetivo: Avaliar os efeitos da cicloergometria em lesados medulares por TRM. Métodos: Pesquisa quase-experimental, tipo séries de tempo, com 3 pré e 3 pós-testes em dias
alternados. Participaram do estudo dois indivíduos, um paraplégico,
nível neurológico T11, e outro paraparético, nível neurológico T6.
Foram utilizados o protocolo da ASIA, Dinamômetro de Preensão
Manual (DPM), Manovacuometro Digital (MVD) com medidas
de pressão inspiratória máxima e pressão expiratória máxima, e o
Perfil de Saúde de Nottingham (PSN). Para o treinamento aeróbio
foi utilizado um cicloergômetro para os quatro membros (Ciclomaster Embreex®). O programa de treinamento teve frequência de
2 vezes por semana durante 10 semanas (± 15 sessões). Resultados:
Dos resultados encontrados neste estudo, houve uma significativa
melhora nas medidas de PEmáx, no sujeito 1 foi de 43,7% (p <
0,01) e 12,6% (p < 0,05) no sujeito 2, e na análise do Teste do
Pêndulo do sujeito 2 também observou-se redução significativa da
espasticidade. Conclusão: Estes resultados iniciais devem estimular
novas pesquisas com amostras maiores e grupo controle para ampliar
o conhecimento dos potenciais benefícios deste recurso terapêutico.
Abstract
Introduction: The inactivity in spinal cord injury (SCI) significantly reduces the muscle mass and aerobic capacity, resulting in
fatigue and increased prevalence of associated diseases. Objective:
To evaluate the effects of cycle ergometer for SCI patients. Methods:
Quasi-experimental research, time series design, with 3 pre and post
test in alternate days. The study was composed of 2 individuals, a
paraplegic, neurological level T11, and another paraparetic, neurological level T6. The ASIA protocol, the Dynamometer handgrip,
the Digital Manometer with measures of maximal inspiratory
pressure (MIP) and maximal expiratory pressure (MEP), and the
Nottingham Health Profile were used. For aerobic training cycle was
used for the four members (Ciclomaster Embreex®). The training
program was 2 times per week during 10 weeks (± 15 sessions).
Results: The results showed significant improvement in measures of
MEP, in subject 1 was 43.7% (p < 0.01) and 12.6% (p < 0.05) in
subject 2, the analysis of the Pendulum Test Subject 2 also showed
reducing in spasticity. There were no significant changes in other
measures assessed. Conclusion: These initial results should stimulate
further research with larger samples and control group to broaden
the knowledge of the potential benefits of this therapeutic resource.
Key-words: spinal cord injury, paraplegia, aerobic training.
Palavras-chave: traumatismo raqui medular, paraplegia, treino
aeróbico.
Recebido 1 de novembro de 2011; aceito em 12 de janeiro de 2012.
Endereço para correspondência: Simone Suzuki Woellner, Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação, Faculdade de Fisioterapia da
Associação Catarinense de Ensino – ACE, Rua São José, 490, Anita Garibaldi, 89202-010 Joinville SC, E-mail: simones.woellner@
gmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Introdução
O traumatismo raquimedular (TRM) é caracterizado
como injúria à rede neural medular, danificando a condução
de impulsos nervosos sensório-motores e a regulação orgânica
autônoma. Está entre as síndromes que acarretam as mais
graves incapacidades ao ser humano, causando de forma
abrupta déficits de locomoção, sensibilidade e funções autonômicas. As lesões traumáticas da medula espinhal (ME) vêm
aumentando a cada ano, e prevalecem sobre população jovem,
hígida e ativa, trazendo transtornos em diversos aspectos para
o indivíduo e sua família [1,2].
As lesões traumáticas da ME causam uma lesão primária,
que ocorre por destruição mecânica do tecido neural e hemorragia intramedular, e uma lesão secundária, a qual leva a alterações
químicas intracelulares e apoptose. Entre 30 a 60 minutos após
o trauma o indivíduo entra em fase de choque medular, caracterizado por paralisia flácida, portanto toda atividade reflexa
abaixo do nível da lesão permanece ausente [1,3,4].
O TRM pode gerar uma lesão completa ou incompleta na
ME. Nas lesões completas as funções motoras e sensitivas estão
completamente extintas abaixo do nível neurológico da lesão,
nos níveis sacrais inferiores S4 e S5. Em lesões incompletas
é possível obter funções motoras e sensitivas nos segmentos
sacrais, abaixo do nível da lesão [1-3].
Após o trauma a inatividade leva a redução da massa muscular e da capacidade de realização de atividades aeróbicas,
resultando em fadiga, aumentando a prevalência de Diabetes
Mellitus, doenças cardiovasculares, disfunções renais, osteopenia e posteriormente osteoporose, acarretando em considerável redução da expectativa de vida dos indivíduos [1,5-8].
Durante o treinamento aeróbico quanto maior a massa
muscular trabalhada maiores os benefícios como melhora da
força muscular e resistência à fadiga, independência nas atividades de vida diária (AVD’s), diminuição da depressão e do
isolamento social. As adaptações fisiológicas ao treinamento
aeróbico podem ser tanto centrais incluindo aspectos respiratórios, cardíacos e hemodinâmicos, quanto periféricos como
melhora do aporte sanguíneo local e aumento da extração de
oxigênio [1,9-11].
O treinamento aeróbico com exercícios resistidos causa
aumento no consumo máximo de oxigênio, induzindo a
bradicardia e aumentando a capacidade física ao esforço. Influencia também na melhora da FC, débito cardíaco, volume
sistólico, e aumento da capacidade respiratória, resultando em
melhor distribuição de oxigênio a musculatura [12].
A prescrição de treinamentos aeróbicos eficazes e seguros
baseia-se em 3 princípios, tanto para portadores de deficiências quanto para não portadores, sendo eles: frequência,
duração e intensidade do treino. O ideal fica entre 2 e 3 sessões semanais já que o treino com membros superiores gera
maior acúmulo de toxinas necessitando de 24h para serem
absorvidas e indivíduos paraplégicos têm maior facilidade
para fadigarem [1,13-16].
31
Na lesão medular torácica baixa os indivíduos apresentam
comprometimento respiratório pela redução da reserva expiratória [1], devido ao déficit muscular abdominal, sendo as
complicações respiratórias uma das maiores causas de morte
e morbidade no TRM [17]. Músculos fortes e bem condicionados necessitam menor quantidade de oxigênio para realização de trabalho, sendo mais eficazes quando comparados à
musculatura mal condicionada [18].
Sabe-se que paraplégicos não obtêm, somente com a
propulsão da cadeira de rodas e AVD’s, atividade física suficiente para prevenir a perda de força muscular dos membros
superiores (MMSS), resultando em rápida fadiga localizada
[19], e não incrementa índices de taxa cardíaca em extensão
apropriada [7]. O treinamento de MMSS é capaz de reverter
o descondicionamento muscular, mas traz apenas benefícios
periféricos para a musculatura envolvida, ao contrário da
ergometria que envolve MMSS e MMII, capaz de produzir
efeitos cardiopulmonares centrais [9].
Atualmente é escassa a pesquisa na área da saúde com
relação a atividades aeróbicas na paraplegia, visto que a
maioria dos treinos aeróbicos utiliza enfaticamente membros
inferiores, o que impossibilita indivíduos que sofreram TRM
de se beneficiarem dos resultados obtidos com o treinamento
aeróbico. Portanto a presente pesquisa visa avaliar resultados
obtidos através do treino aeróbico em cicloergômetro adaptado para pacientes paraplégicos por TRM.
Material e métodos
A presente pesquisa caracteriza-se como quase experimental
tipo séries de tempo, composta por 15 sessões de treinamento,
com 2 sessões semanais. A amostra foi composta por 2 sujeitos
do sexo masculino, sendo o sujeito 1 com lesão completa,
paraplégico nível neurológico T11, e o sujeito 2, com lesão
incompleta, paraparético nível neurológico T6, sem restrição
de idade. Como parâmetro de análise os sujeitos foram submetidos a 3 pré e 3 pós-testes na semana anterior e posterior aos
treinos, em dias alternados. Para os testes foram utilizados os
seguintes instrumentos: ASIA (exame neurológico que consiste
em exames sensoriais e motores, utilizados para determinar os
níveis neurológicos, assim como a extensão da lesão medular),
Dinamômetro de preensão manual (teste que avalia a força de
preensão manual que consiste em um dinamômetro no qual
é exercida uma força isométrica de preensão através da mão),
Manovacuômetro digital (MVD 300, Global Med®, que permite
a mensuração da PEmáx, PImax, realizando 3 medidas com intervalo de 30 segundos), Perfil de Saúde de Nottingham (PSN,
fornece uma medida simples da saúde física, social e emocional
do indivíduo) e Teste do Pêndulo (utilizado para mensurar o
tônus do músculo quadríceps), mensuração da pressão arterial
(PA), frequência cardíaca (FC) e saturação de oxigênio, e cálculo
da frequência cardíaca máxima (FCmáx) [1,20-24].
A frequência cardíaca máxima é utilizada como determinante da intensidade do exercício, mensurada através do
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
32
cálculo: 220 menos a idade do indivíduo em anos. Sabendo
que a FCmáx é consideravelmente mais baixa em exercícios
realizados com membros superiores recomenda-se subtrair
13 bpm da FCmáx prevista para a idade, tendo assim maior
precisão do limiar da FCmáx [12].
Para o treinamento foi utilizado um cicloergômetro adaptado para membros superiores e membros inferiores (Ciclomaster,
modelo 603, fabricante Embreex®), que possui um sistema de
transmissão entre as manivelas e os pedais e possibilita mobilização simultânea para os quatro membros. Baseado em Greve
et al. [1], e Balady [14], os treinamentos no cicloergômetro
adaptado iniciaram com 5 minutos de aquecimento, sem carga,
com velocidade de 55 rpm, seguindo para o início do treino
aeróbico no qual a cada 5 minutos foram feitos incrementos
de carga, com velocidade mantida constantemente a 55 rpm.
Monitorando durante todo o treinamento a FC e a Escala de
Esforço Percebido de Borg, conforme recomenda Borg [11].
Os critérios de interrupção do treino foram frequência cardíaca correspondente a 90% da frequência cardíaca máxima do
paciente, se esforço percebido pela escala de Borg fosse maior
ou igual a 6, náuseas, tonturas, alteração súbita da frequência
cardíaca, palidez, cianose, dor ou a pedido do paciente. Após
a interrupção do treino aeróbico, inicia-se a volta a calma com
duração de 5 minutos sem carga e com velocidade decrescente,
segundo sugerido por Greve et al. [1]. As mensurações de PA,
FC e saturação de oxigênio foram feitas em repouso ao início
e ao término dos treinos [1,11,14,15,24].
Após a coleta final, os dados foram analisados pela estatística descritiva e submetidos à média, desvio padrão, diferença
percentual e para estabelecer o nível de significância foi utilizado o teste “t” Student (p ≤ 0,05).
Resultados e discussão
Nos gráficos abaixo estão expressos os resultados obtidos
nos pré e pós-testes relativos à pressão expiratória de pico e
teste do pêndulo.
A partir da análise estatística dos dados submetidos à
média, desvio padrão, diferença percentual e teste “t” Student
foi possível verificar que não houve alteração significativa na
PImax; na PEmáx houve melhora significativa de 43,7% (p <
0,01) no sujeito 1 e 12,6% (p < 0,05) no sujeito 2, conforme
Gráficos 1 e 2.
Gráfico 1 - Manovacuometria PEmáx, Sujeito 1.
Manovacuometria (PEmax)
Teste 1
75
81
73
86
80
80
1º dia
2º dia
Teste 2
133
152
121
92
91
3º dia
Teste 3
153
1º dia
Pré-teste (PE max)
114
112
128
2º dia
111
95
121
3º dia
Pós-teste (PE max)
Sujeito 1
Gráfico 2 - Manovacuometria PEmáx, Sujeito 2.
Manovacuometria (PEmax)
Teste 1
Teste 2
70
69
60
78
77
62
91
1º dia
2º dia
3º dia
Teste 3
90
77
89
90
75
77
85
75
82
1º dia
2º dia
3º dia
77
73
Pré-teste (PE max)
Pós-teste (PE max)
Sujeito 2
A melhora das pressões inspiratória e expiratória está relacionada com um aumento da capacidade respiratória. Van
Der Ersch [25], em um estudo com pacientes com espondilite
anquilosante, ressalta que as pressões expiratória e inspiratória
estão significativamente relacionadas com aptidão física.
Diversos estudos têm demonstrado os efeitos positivos do
treinamento físico de MMSS na melhora da aptidão cardiorrespiratória. Através do treinamento aeróbio de MMSS, Silva
et al. [26] encontraram incrementos de resistência à fadiga da
musculatura respiratória em indivíduos com lesão medular
torácica. Já Liaw et al. [27] obtiveram melhora significativa
da PEmáx e PImax após 6 semanas de treinamento específico
da musculatura respiratórias em pacientes com TRM cervical
completo.
Soares et al. [24], em um estudo com 1 paciente paraplégico treinado no cicloergômetro adaptado durante 6
semanas, com 3 sessões semanais, verificaram que a pressão
inspiratória apresentou um aumento estatisticamente significativo, enquanto a PEmáx também apresentou aumento,
porém não foi significativo. A endurance da PImax e PEmáx
também apresentaram aumento, indicando um incremento
da resistência à fadiga da musculatura respiratória.
De acordo com Mateus et al. [28], indivíduos paraplégicos
podem apresentar comprometimentos das pressões inspiratória e expiratória, principalmente os indivíduos com lesões mais
altas, podendo ser normal em indivíduos com lesões baixas,
causando um comprometimento adicional da aptidão física.
No presente estudo, os sujeitos 1 e 2, com lesão medular
torácica, obtiveram expressiva melhora da capacidade respiratória, representada pelo incremento da PEmáx. Resultado
obtido pelo treinamento aeróbio de MMSS e MMII, comprovando os benefícios cardiorrespiratórios provenientes da
cicloergometria.
Os sujeitos participantes do presente estudo, porém, não
apresentaram alterações na pressão inspiratória máxima. Da
mesma forma, Godoy et al. [29] não encontraram alterações
estatisticamente significativas na pressão inspiratória máxima
de indivíduos após 3 meses de prática de ioga ou exercícios
aeróbicos, com 2 sessões semanais, porém os praticantes de
ioga obtiveram aumentos mais expressivos na Pimax quando
comparados aos praticantes de ginástica aeróbica, o que pode-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
ria ser explicado pelo treinamento específico da musculatura
inspiratória durante as sessões de ioga. Kunikoshita et al. [30]
observaram alterações relevantes nas Pimax e PEmáx em um
grupo de pacientes com DPOC que foram submetidos a
sessões de treinamento de força da musculatura respiratória,
em comparação com pacientes com DPOC submetidos a
treinamento físico em esteira móvel, sugerindo que o treinamento específico da musculatura respiratória traz mais
benefícios relacionados a estas variáveis.
Em um estudo realizado por Moro et al. [31], 6 sujeitos
paraplégicos realizaram um programa de treino com ergômetro de cadeira de rodas durante 6 semanas, 3 vezes por semana
durante 30 minutos com carga do aumentando em 5W a cada
dois minutos até à exaustão. Após o treino, verificou-se um
aumento do volume pulmonar com diminuição do consumo
de oxigênio o que traduz um aumento de eficácia ventilatória.
Dicarlo apud Nascimento [7] realizou estudos com cicloergômetro de MMSS para treinos resistidos e observou aumento
do consumo de volume de oxigênio máximo, induzindo a
bradicardia, e a resistência à fadiga durante a propulsão da
cadeira de rodas e AVD’s.
Cardoso et al. [32] compararam parâmetros cardiovasculares e da capacidade entre um indivíduo paraplégico e
outro tetraplégico praticantes de atividade aeróbica. Após
duas semanas de treinamento foi observado melhora do
lactato em repouso, o que demonstra melhora da endurance,
no paraplégico houve diminuição da FC e da estimativa de
trabalho do miocárdio em repouso, indicando incremento
da capacidade cardiovascular central. Em concordância com
este estudo Devillard et al. [33] reportaram melhorias na
ventilação por minuto e na capacidade respiratória em sujeitos com lesões cervicais incompletas após implementação
de programa de exercícios, demonstrando assim redução da
fadiga durante AVD’s.
Lonsdorfer et al. apud Bougenot et al. [34] afirmam que
é possível observar hipertrofia das fibras lentas com um aumento do número de capilares ao redor das fibras, bem como
o aumento do número e tamanho das mitocôndrias, com a
realização de exercício.
Segundo Miles [35], estudos feitos com indivíduos com
limitação motora de MMII demonstraram que treinamento
físico aeróbico de MMSS realizado por várias semanas aumenta a potência muscular.
Haddad [36] ressalta ainda que a melhora qualitativa e
quantitativa da capacidade cardiorrespiratória que ocorre
através do treino com MMSS é a mesma obtida através do
treino com MMII, encorajando o uso esta terapêutica em
indivíduos que apresentam limitações de MMII.
Ao analisar o Teste do Pêndulo o sujeito 1 apresentou diminuição no número de oscilações, no sujeito 2 foi verificada
melhora em 30,3% em membro inferior direito e 40,3% em
membro inferior esquerdo, demonstrado pelo aumento do
número de oscilações da perna resultante da diminuição da
espasticidade [22], conforme os Gráficos 3 e 4.
33
Gráfico 3 - Teste do Pêndulo, Sujeito 1.
Teste do Pêndulo
Teste 1
10
11
Teste 2
10
9 9
8 8
8
Teste 3
9
6
Pré-teste
(MIE)
Pós-teste
(MIE)
Pré-teste
(MID)
6
6
Pós-teste
(MID)
Gráfico 4 - Teste do Pêndulo, Sujeito 2.
Teste do Pêndulo
Teste 1
Teste 2
Teste 3
6
5
4
3
3
2
0 0
0
Pré-teste
(MIE)
0 0
Pós-teste
(MIE)
0
Pré-teste
(MID)
Pós-teste
(MID)
Conforme Pandyan et al. [37], a espasticidade é uma desordem no controle sensório-motor, resultante de uma lesão
do neurônio motor superior, apresentando ativação muscular
involuntária intermitente ou sustentada. Segundo Haas [38],
a quantificação do grau de espasticidade continua sendo um
problema de difícil solução, pelo fato de ser influenciada por
fatores como ansiedade, depressão, fadiga e/ou temperatura
ambiental. Em estudo comparativo Teixeira-Salmela [22],
constatou que resultados obtidos entre 6 e 7 oscilações observadas durante o Teste do Pêndulo caracterizam normotonia.
Apesar de a diminuição do número de oscilações verificado
no Teste do Pêndulo do sujeito 1, provavelmente não se deve
pelo treinamento no cicloergômetro, levando em conta as alterações psicológicas e climáticas ocorridas durante a pesquisa.
Além disso, os valores obtidos no pós-teste correspondem à
normalidade segundo Teixeira-Salmela [22].
Segundo Vodovnik et al. apud Minutoli [39], um teste
de movimento passivo acima de 7 repetições em sujeitos
com lesão medular apresentando hipertonia espástica, pode
induzir o aparecimento de uma condição hipotônica, denominada acomodação, o que sugere que os indivíduos espásticos
menos severos apresentem diferenças no comportamento da
espasticidade. Franzoi et al. [40] relataram que o reflexo de
estiramento é afetado no movimento passivo e na repetição.
Para este autor, a provável redução do reflexo de estiramento
é devido à fadiga por inúmeras repetições. As repetições e
velocidade provocam acomodação nos músculos espásticos,
ou seja, resulta na alteração da resistência ao estiramento, e
34
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
uma esperada menor capacidade de produzir tensão muscular
com a estimulação repetida.
Em estudo dos efeitos da mobilização passiva cíclica sobre a espasticidade, por Soares et al. [41] com um paciente
paraplégico por TRM, foi notável o aumento do número de
oscilações no teste do pêndulo, o que representa uma redução
na espasticidade dos membros inferiores. O aumento no número de oscilações foi de 81,9% no direito e de 80,0% no esquerdo. Porém os efeitos da mobilização passiva cíclica foram
somente agudos, enquanto no presente estudo observou-se
aumento do número de oscilações após vários dias a partir
do fim do treinamento.
O sujeito 2, que apresentava lesão incompleta, apresentou
melhor resultado em comparação com o sujeito 1, sugerindo
um melhor benefício em pacientes paraparéticos, em relação
a espasticidade.
Schmidt et al. [42] ressaltam que a redução da espasticidade durante o movimento repetitivo pode ser devido a 3
fatores: mudanças mecânicas nos tecidos (modificação das
propriedades de diversos tecidos, tanto musculares quanto
articulares), adaptação do reflexo de estiramento e mecanismos centrais neurais (habituação do reflexo de estiramento).
Ao concluir esta pesquisa não houve alteração significativa
na percepção da qualidade de vida, avaliada através do PSN.
Em contrapartida Antonietti et al. [43] observaram maiores
resultados dos desportistas comparados aos sedentários com
lesão medular, nos aspectos físicos, psicológicos e de relações
pessoais, traduzindo em melhor qualidade de vida no grupo
desportista. Salvador e Tarnhovi [44] fizeram estudo comparativo entre pacientes TRM praticantes e não praticantes de
atividade física, demonstrando que os praticantes apresentam
capacidade funcional média de 85% comparado aos sedentários, em atividades físicas diárias apresentam média de 100%
melhor, e 88% a mais de atividades sociais comparados a 45%
dos não praticantes.
Em relação à força de preensão manual, não foram observadas alterações significativas. Uma das limitações do estudo
foi a ausência de um dinamômetro para verificação de outros
grupos musculares.
Conclusão
Os resultados obtidos na pesquisa salientam que houve
benefícios na amostra estudada, devido ao aumento da PEmáx, diminuição da espasticidade, além dos benefícios cardiorrespiratórios, e incremento na musculatura respiratória,
verificados pela PEmáx. A espasticidade em MMII também
apresentou melhora de acordo com o teste do Pêndulo,
evidenciando benefícios principalmente ao sujeito 2, o qual
relatou diminuição da rigidez dos MMII e suspensão do uso
de medicamentos para espasticidade.
A partir destes resultados, evidencia-se a importância da
manutenção da técnica terapêutica através do treinamento
aeróbico no TRM, visto que a interrupção das atividades
poderá acarretar, em longo prazo, a perda dos benefícios
obtidos com os treinamentos em cicloergometria. Sem dúvidas é interessante a participação contínua e aperfeiçoada das
atividades aeróbicas para MMSS e MMII.
Sugerimos a aplicação em amostra maior, e também maior
número de pacientes com TRM incompleto, uma vez que
ocorreu grande diminuição da espasticidade de MMII do
sujeito 2. O uso da dinamometria em MMII seria outro fator
importante para observar resultados mais concretos, e também
em outros grandes grupos musculares também de MMSS,
para verificar a extensão da melhora da força. Sugere-se ainda
verificar nos pacientes com TRM incompleto outras variáveis,
já que estes pacientes apresentam diferentes aspectos físicos
e sensório-motores quando comparados ao TRM completo,
podendo utilizar parâmetros de análise como a velocidade da
marcha, mobilidade funcional e força de MMII.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
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Artigo original
Efeito de diferentes intervalos entre séries,
determinados pela relação esforço-recuperação,
no desempenho da força
Effect of different intervals between sets, determined by the effortrecovery relationship, on the strength performance
Diego de Almeida*, Lenifran Santos**, Renato Massaferri**, Tainah Lima*, Walace Monteiro**
*Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), **Laboratório
de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Programa de Pós-graduação
em Ciências da Atividade Física. Universidade Salgado de Oliveira (PPGCAF/UNIVERSO)
Resumo
O objetivo do presente estudo foi investigar o efeito de diferentes intervalos determinados pelas relações esforço-recuperação no
desempenho da força de homens treinados. A amostra foi composta
por 15 homens (23,2 ± 2,9 anos) experientes no treinamento de
força. Os indivíduos realizaram 4 séries no exercício supino reto, até
a fadiga e a 80% de 1 RM, nas relações esforço-recuperação: 1:4,
1:4 (S1); 1:4:6:8; 1:8, conduzidos em dias separados. Isoladamente,
todos os intervalos denotaram diferenças significativas nos volumes
de treinamento da primeira para as demais séries. Intervalos baseados
na relação esforço-recuperação 1:4 mostraram-se menos eficientes na
recuperação entre séries múltiplas no treinamento de força, quando
comparados aos intervalos progressivo e de relação 1:8. Por fim,
os intervalos progressivo e 1:8 exibiram volumes semelhantes de
trabalho, contudo, maior que os demais. Concluindo, o intervalo
progressivo deve ser preferido aos demais por proporcionar maior
volume de treinamento, considerando o somatório em todas as séries.
Abstract
The aim of this study was to investigate the effect of different
relations effort-recovery performance of the force of trained men.
The sample consisted of 15 men (23.2 ± 2.9 years) experienced in
strength training. The subjects performed four sets in the bench
press exercise, until fatigue and 80% of 1RM, in relations effort-recovery: 1:4, 1:4 (S1), 1:4:6:8, 1:8, conducted in separate days. In
isolation, all intervals denote significant differences in the volumes
of the first training for the other series. Intervals based on the ratio
1:4 effort-recovery were less efficient in recovery between multiple
sets in strength training, intervals when compared to the progressive
ratio 1:8. Finally, the progressive and 1:8 intervals exhibited similar
volumes of work, however, greater than the others. In conclusion,
the progressive interval should be preferred to others by providing
greater training volume, considering the sum of all sets.
Key-words: effort-recovery ratio, intervals between sets, strength
training, multiple sets.
Palavras-chave: relação esforço-recuperação, intervalo entre
séries, treinamento de força, séries múltiplas.
Recebido 13 de dezembro de 2011; aceito em 13 de janeiro de 2012.
Endereço para correspondência: Walace Monteiro, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde. Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, 8º andar, sala 8121, bloco F, 0550-900 Rio de Janeiro, RJ, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Introdução
O treinamento de força tem sido recomendado como
parte integrante de um programa de exercícios direcionado
à promoção da saúde [1-3]. Para que seja eficaz, as diferentes
variáveis de prescrição do treinamento devem ser trabalhadas
de forma adequada. Partindo dessa ideia, é possível que a
adoção da relação esforço-recuperação seja uma estratégia
interessante para determinar os intervalos entre as séries. Com
relação a esse aspecto, geralmente são adotados intervalos fixos
entre séries e exercícios [4,5]. Todavia, dois indivíduos podem
realizar o mesmo número de repetições máximas com uma
mesma carga relativa (% 1RM) em esforços com distintas
durações. Nesse caso, o sistema energético e o acúmulo de
metabólitos pode se diferenciar, afetando de forma distinta a
sustentabilidade das repetições no exercício ao se considerar
o número total de séries [4,6-8].
Para evitar à fadiga, os intervalos devem propiciar uma
recuperação ótima, na qual haja restauração de ATP, CP, bem
como a remoção de metabólitos suficientes à realização de um
novo estímulo, semelhante ou até de maior magnitude ao
anterior [4]. Nesse sentido, estratégias que individualizam o
treinamento podem ser eficazes quando o objetivo da prescrição recai na sustentabilidade das repetições com o decorrer das
séries. Logo, a adoção de intervalos proporcionais ao tempo de
execução entre séries poderiam favorecer um menor decréscimo das repetições, sustentando um maior volume de treinamento [9]. Muito embora intervalos de recuperação curtos
imponham maior estresse metabólico à atividade, intervalos
de longa duração também podem provocar adaptações, ainda
que não significativas [10]. O problema na determinação dos
intervalos entre séries reside na aplicação do tempo ótimo
de intervalo para que a maior sobrecarga seja aplicada com o
maior rendimento em todas as séries.
Stone e Conley [11] sugerem a relação de 1:3 a 1:5 para
esforços com duração entre 20 e 30 segundos. Isso implica
dizer que o período de descanso seria 3 a 5 vezes maior que
o período de esforço. Em termos absolutos, essa relação determina um tempo de recuperação, compreendido de 1 a 2
minutos. Tais valores condizem com a literatura, pois diversos
autores recomendam essa faixa de intervalo de recuperação
a ser adotado entre as séries, quando a prescrição recai, por
exemplo, nos ganhos de força e hipertrofia [3,5,7].
Apesar disso, deve-se atentar para o efeito cumulativo
das séries sobre a fadiga, principalmente ao considerarmos o
número de exercícios por grupamento muscular e, especialmente, o número total de séries por exercício [12]. Geralmente
observamos maior dificuldade ao realizar a última série de
um exercício, quando comparada às anteriores, já que, gradativamente, os substratos energéticos são depletados, assim
como há maior acúmulo de subprodutos com o decorrer das
séries [6,10].
De fato, a literatura tem apontado diversas faixas de intervalo de recuperação entre séries e exercícios [2,3,5,13], sem,
37
no entanto, considerar aspectos como o efeito cumulativo da
fadiga ao longo das séries e os diferentes tempos de tensão
muscular adotados para realização de diferentes exercícios.
É possível que em exercícios com tempos de execução diferenciados, o intervalo de recuperação entre as séries possa
diferenciar-se. Com base nesse princípio, hipotetizamos que
a aplicação de intervalos entre séries, determinados em função da relação esforço recuperação, possa minimizar a fadiga
durante a realização de séries múltiplas no treinamento de
força. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo
investigar o efeito de diferentes relações esforço-recuperação
no desempenho da força de homens treinados, no exercício
supino reto realizado com séries múltiplas.
Material e métodos
Amostra
Participaram do estudo 15 homens com idades entre 20
e 29 anos (23,2 ± 2,9 anos), massa corporal entre 70 e 91 kg
(80,8 ± 5,6 kg) e estatura entre 171 e 184 cm (178,06 ± 3,57
cm), com experiência mínima de um ano em treinamento de
força. Todos praticavam treinamento de força no mínimo três
vezes por semana. Antes da coleta de dados, os voluntários
responderam ao questionário PAR-Q e assinaram um termo
de consentimento pós-informado, conforme resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde. Com isso, foram determinados os seguintes critérios de exclusão: a) ocorrência de
problemas osteomioarticulares, os quais pudessem influenciar
a realização dos exercícios propostos; b) realização de atividade física extenuante nas últimas 24 horas antecedentes às
intervenções; c) utilização de substâncias ergogênicas atuantes
sobre o sistema muscular e cardiovascular; d) apresentação de
PAR-Q negativo.
Coleta de dados
A coleta de dados foi efetuada em seis dias com intervalo
de no mínimo 48 horas. No primeiro dia foi aplicada uma
anamnese, destinada à identificação das atividades físicas realizadas pelos indivíduos, além de um teste de carga máxima
(1 RM). No segundo dia, repetiu-se o teste de 1 RM a fim de
verificar a reprodutibilidade da carga no exercício proposto.
Nos quatro dias restantes, foram aplicadas sessões de treinamento, com intervalos entre séries adotando-se diferentes
relações esforço-recuperação.
Teste de 1 RM
Anteriormente à realização dos testes de repetição máxima, foi aplicado um aquecimento que obedeceu a seguinte
metodologia: inicialmente, foram realizados movimentos
articulares sem adição de carga. Para tanto, executaram-se
15 movimentos de flexão e extensão vertical do ombro, 15
38
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
movimentos de flexão e extensão horizontal do ombro, 15
movimentos de circundução do ombro. Na sequência, foi
conduzida uma parte específica no exercício selecionado. Para
tanto, realizaram-se 15 repetições submáximas com cargas
estabelecidas pelos praticantes. Após o aquecimento, foi dado
intervalo de 3 minutos antes do início do teste.
O teste de 1 RM foi realizado no exercício supino reto no
Smith Machine. Visando reduzir a margem de erro, tanto nos
testes de 1 RM, quanto nos testes de repetições máximas, foram adotadas as estratégias propostas por Monteiro et al. [14]:
a) instruções padronizadas foram fornecidas antes do teste,
de modo que o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que
envolvia a coleta de dados; b) o avaliado foi instruído sobre a
técnica de execução do exercício; c) estímulos verbais foram
realizados a fim de manter alto o nível de estimulação; d) os
pesos adicionais utilizados no estudo foram previamente aferidos em balança de precisão. Os intervalos entre as tentativas
do teste de 1 RM foram fixados em 3 minutos.
No exercício proposto, foram definidas as seguintes
etapas de execução: posição inicial e desenvolvimento. Com
o avaliado em decúbito dorsal, a posição inicial consistiu
em manter os braços elevados, sustentando a barra, com os
joelhos e os quadris semiflexionados, e os pés apoiados sobre
o próprio aparelho (Figura 1). A etapa de desenvolvimento
foi caracterizada a partir da fase excêntrica (90° entre braço
e antebraço), seguida da extensão completa dos cotovelos e
flexão horizontal dos ombros (Figura 2).
Figura 1 - Posição inicial no exercício Supino Reto, no Smith.
Após a obtenção da carga máxima (1 RM), os indivíduos
descansaram 48 horas e foram reavaliados para obtenção da
reprodutibilidade do teste. Considerou-se 1 RM a maior carga
estabelecida entre os dois dias, com diferença menor que 5
%. No caso de diferença maior, os sujeitos deveriam realizar
um novo teste e o cálculo da diferença seria refeito. Em cada
série, além do registro do número de repetições máximas,
foram cronometrados os tempos de execução e de recuperação. Ademais, o volume de treinamento em cada série, nos
diferentes intervalos, foi determinado pelo produto resultante
da carga pelo número de repetições alcançadas.
Sessão de treinamento e relação esforço-recuperação adotadas
Antes da realização das sessões experimentais, cada voluntário realizou um aquecimento composto por uma série de 15
repetições com carga correspondente a 40% de 1 RM. Após o
aquecimento, foi obedecido um intervalo de 3 minutos antes
do início do teste. As sessões de treinamento consistiram em
quatro séries no exercício supino reto até a fadiga, com a utilização de cargas referentes a 80% de 1RM. Conforme o escopo
do presente estudo, formulamos uma relação entre intervalos
visando promover diferentes relações de esforço-recuperação.
Foram adotadas quatro formas de intervalo. A primeira e
segunda formas foram fixadas nas relações de 1:4 e 1:8, respectivamente. Já a terceira forma de intervalo foi progressiva,
utilizando as relações 1:4 – 1:6 – 1:8 entre as séries consecutivas.
Somente na quarta forma adotou-se um tempo fixo de recuperação, baseado na relação 1:4 do primeiro intervalo (entre a
primeira e a segunda série), independentemente dos tempos de
execução nas séries subsequentes. O intervalo de recuperação
entre séries foi determinado individualmente e em cada uma
das relações propostas. Com exceção da quarta forma de intervalo, cujo tempo de recuperação entre séries foi fixo, as demais
formas se basearam na duração do esforço obtido em cada série
precedente. Por fim, a aplicação das diferentes estratégias de
intervalo respeitou a técnica do quadrado latino.
Tratamento estatístico
Figura 2 - Desenvolvimento do exercício Supino Reto, no Smith.
O tratamento dos dados foi realizado através da ANOVA
de dupla entrada (número de séries x estratégia de intervalo)
para medidas repetidas no primeiro fator, acompanhada de
teste post-hoc de Tuckey. O nível de significância adotado foi
de 5% e os dados foram tratados no software Statistica versão
7.0 (Statsoft, Tulsa, USA).
Resultados
O Gráfico 1 ilustra os dados referentes aos volumes de treinamento obtidos mediante aplicação das diferentes estratégias
de intervalo. Quando consideradas isoladamente, em todas as
formas de intervalo foram constatadas diferenças significativas
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
nos volumes de treinamento da primeira para as demais séries.
Também foram verificadas diferenças entre a 2ª, 3ª e 4ª séries
em todas as formas de execução, com exceção do intervalo
progressivo, no qual foram constatadas diferenças apenas entre
a 2ª e a 4ª séries. Quando comparados os volumes obtidos
nas diferentes estratégias de intervalo, em cada série, foram
detectadas diferenças significativas entre a 3ª e 4ª séries nos
intervalos 1:4 e 1:4 (S1). Na 3ª série, foi constatada diferença
nos volumes entre as estratégias de intervalo 1:4 e 1:8. Por
fim, diferenças significativas foram encontradas nos volumes
da 4ª série entre as estratégias de intervalo 1:4 e 1:8 (Gráfico).
Gráfico 1 - Volume de treinamento em cada série realizada para
as diferentes estratégias de intervalos.
Volume (repetições x carga)
1400
*
#
1200
@
1000
&
@
800
600
$
&
$
400
200
0
S1
S2
S3
Séries
1:4 (S1)
1:8
1:4
S4
1:4:6:8
*Diferença de p < 0,001 entre a 1ª série e todas as outras em cada
forma de intervalo; # diferença de p < 0,001 entre a 2ª, 3ª e 4ª series,
em todas as formas de intervalo, exceto na execução com intervalos
progressivos (1:4:6:8), que exibiu diferença de p < 0,001 somente
entre a 2ª e a 4ª séries; & diferença de p < 0,05 entre a 3ª e 4ª series
nas estratégias de intervalo 1:4 e 1:4 (S1); @ diferença de p < 0,05 na
3ª série entre as estratégias de intervalos 1:4 e 1:8; $ diferença de p <
0,05 na 4ª série entre as estratégias de intervalos 1:4 e 1:8.
Volume (repetições x carga)
Gráfico 2 - Somatório do volume de treinamento em todas as séries
realizadas para as diferentes estratégias de intervalos.
4400
3900
3400
#
*
2900
2400
1:4
1:8
1:4:6:8 1:4 (S1)
Estratégia de intervalo
*Diferença de p < 0,05 entre os volumes nas estratégias de intervalo
1:4 e 1:4:6:8 ; # diferença de p < 0,01 entre os volumes nas estratégias de intervalos 1:4 e 1:4(S1) para 1:8.
39
Discussão
O treinamento de força realizado com séries múltiplas
tem demonstrado ser mais efetivo para o desenvolvimento
da força muscular, quando comparado ao trabalho de série
simples, em indivíduos treinados, principalmente em longo
prazo [12,13]. Nesse contexto, uma adequada recuperação
entre os estímulos apresenta-se como aspecto fundamental
no exercício realizado com séries múltiplas. O objetivo do
presente estudo foi investigar o efeito de diferentes estratégias de intervalo de recuperação, determinados a partir da
relação esforço-recuperação, no desempenho da força em
séries múltiplas.
Os principais achados do estudo revelaram influência da
estratégia de intervalo no volume de treinamento. No que
concerne aos dados apresentados isoladamente nas séries, até
a segunda série a estratégia de intervalo não exerceu influência
significativa no volume de trabalho. A partir da terceira série,
as estratégias de intervalo 1:8 e progressiva diferenciaram-se
das demais. No que diz respeito ao somatório das quatro
séries nas diferentes estratégias de intervalo, as relações 1:8
e progressiva não apresentaram diferenças estatísticas. Nesse
caso, a relação progressiva pode oferecer maior sobrecarga do
trabalho por favorecer a sustentação de um mesmo volume
de trabalho com menores intervalos entre séries. Os intervalos de esforço-recuperação 1:4 e 1:4(S1), apresentaram os
menores volumes de trabalho, em comparação aos intervalos
1:8 e progressivo.
Willardson e Burkett [15] apresentaram resultados
similares aos do presente estudo, ao investigar os exercícios
agachamento e supino, com intervalos de 1, 2 e 5 minutos,
resultando em maior volume total de trabalho no protocolo de 5 minutos. Em outra pesquisa, os mesmos autores
compararam os efeitos de três diferentes intervalos (1, 2 e
3 minutos) ao longo de 5 séries no supino, com protocolos
envolvendo 80% de 1RM e 50% de 1RM, o que demonstrou, para ambas as cargas, maior sustentabilidade das
repetições quando aplicado o intervalo de 3 minutos [16].
No presente estudo, foram comparados diferentes intervalos,
determinados a partir da relação esforço-recuperação individual, para verificar se as estratégias de menores intervalos
poderiam se equivaler as demais, oferecendo maiores ou os
mesmos volumes de trabalho, o que resultaria em uma maior
sobrecarga na sessão.
Poucos estudos relatam vantagens para treinamentos
com menor intervalo entre séries. Takarada et al. [20] compararam os efeitos de treinos a 80% e 50% de 1 RM, nos
músculos bíceps braquial e braquial. Todos os protocolos
envolviam três séries, com 1 minuto de intervalo entre elas.
Assim, observou-se maior incremento da secção transversa
no grupo cujo treinamento (incluindo oclusão vascular)
adotou carga mais baixa (50% de 1 RM), com resultado mais
expressivo para o bíceps braquial. Contudo, é importante
destacar que este estudo centrou suas atenções nos efeitos
40
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
crônicos do treinamento. Além disso, uma possível limitação
dos resultados obtidos recai no tempo de intervalo, estabelecido em 1 minuto para ambas as cargas. No protocolo que
envolvia 50% de 1 RM combinada com oclusão vascular,
este período de descanso pode ter sido suficiente, considerando o baixo percentual de carga utilizado. Essa seria uma
forma de intensificar o treino, buscando compensar a baixa
carga com um curto intervalo. Todavia, quando aplicado no
protocolo envolvendo 80% de 1 RM, pode ter significado
um tempo demasiadamente curto para restaurar, de forma
suficiente, as condições metabólicas locais para executar uma
nova série. Logo, para se estabelecer qualquer inferência de
vantagem para o primeiro protocolo citado, seria necessário
compará-lo também a um terceiro protocolo, que envolvesse,
por exemplo, a realização das séries a 80% de 1 RM, mas
entremeadas com maiores intervalos.
Os dados do presente estudo mostraram que no somatório
do volume em todas as séries, valores significativamente maiores foram observados na estratégia de recuperação progressiva
(1:4:6:8), quando comparada a relação esforço-recuperação
1:4. Essa informação ratifica possíveis suposições a favor do
intervalo progressivo, já que apenas no primeiro intervalo
entre séries a relação esforço-recuperação foi igual. Com base
nisso, a estratégia de intervalo progressivo fornece vantagem
na recuperação devido aos maiores tempos de descanso. Na
análise isolada das séries, foram constatadas diferenças significativas nos volumes de treinamento da primeira em relação
às demais séries, em todas as formas de intervalo.
Assim como no presente estudo, Willardson e Burkett
[16] também verificaram reduções significativas no volume
de treinamento da primeira para as demais séries. Isso implica
dizer que, independentemente do intervalo, o volume de
trabalho tende a ser reduzido com a evolução do número de
séries. Muito embora os resultados para cada série tenham
proporcionado uma queda significativa no volume de treinamento, cabe ressaltar que da primeira para a segunda série,
todas as estratégias de intervalos apresentaram resultados
similares. Contudo, a partir da segunda série a escolha do
intervalo desempenha papel decisivo na sustentabilidade das
repetições nas séries subsequentes.
Também é importante destacar que, a partir da segunda
série, o volume observado no intervalo progressivo manteve-se mais próximo de uma estabilização. É possível que essa
estratégia de intervalo tenha sofrido menores consequências
da fadiga por aumentar progressivamente o tempo de recuperação. Apesar de a relação esforço-recuperação ter sido
considerada para delinear a estratégia de intervalo, desde que
o mesmo seja progressivo, tal escolha pode ser interessante
no trabalho direcionado a manutenção da sustentabilidade
ao longo das séries. Contudo, a comparação dos dados aqui
obtidos com os de outros estudos torna-se difícil, pois até o
momento não foram encontradas investigações cujo objetivo
recaiu na análise de estratégias progressivas de intervalo nos
volumes de treinamento.
O presente estudo apresenta algumas limitações. Apesar
da experiência da amostra, não se pode garantir uma total
segurança nas cargas obtidas no teste de 1 RM. Por outro lado,
os voluntários estavam habituados a realizar os exercícios com
as mesmas repetições no equipamento usado na pesquisa, o
que pode ter reduzido a margem de erro nas cargas obtidas.
Em adição, apesar de solicitado aos voluntários para que não
realizassem exercícios entre as sessões de treinamento, não
foi controlado nível habitual de atividade física dos mesmos.
Conclusão
Em função dos dados obtidos e frente às limitações do
estudo, pode-se concluir que, quando o objetivo recair na
manutenção da sustentabilidade ao longo das séries, os intervalos progressivo e de relação 1:8 devem ser utilizados por
manterem maior volume de trabalho, considerando o somatório das séries. Intervalos entre séries determinados a partir
da relação esforço-recuperação podem ser uma opção útil no
controle do descanso entre séries múltiplas no treinamento de
força, quando comparado a intervalos fixos. Contudo, estudos
futuros são necessários para melhor aplicação de intervalos
baseados em relações de esforço-recuperação.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
42
Relato de caso
Avaliação da qualidade de vida em pacientes
mastectomizadas pré e pós-reabilitação
fisioterapêutica
Assessment of quality of life in mastectomized patients before
and after physical therapy in rehabilitation
Alisson Guimbala dos Santos Araujo, M.Sc.*, Rosani Mostowski**, Karla Jakeline Uller**
*Supervisor do Ambulatório de Disfunções Músculo-Esqueléticas da Faculdade Guilherme Guimbala–FGG, Especialista em Ortopedia e Traumatologia-FGG, **Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da Associação Catarinense de Ensino, Faculdade Guilherme
Guimbala-FGG
Resumo
A reabilitação fisioterapêutica de pacientes pós-mastectomia tem
como meta prevenir complicações que possam limitar a amplitude
de movimento, melhorando sua qualidade de vida. O objetivo foi
avaliar a qualidade de vida em pacientes que realizaram cirurgia de
câncer de mama pré e pós-reabilitação fisioterapêutica. A pesquisa
foi descritiva – estudo de caso em 4 pacientes sendo que as avaliações
foram realizadas no período de maio a junho de 2011 no Ambulatório de Disfunções Músculo-Esqueléticas da FGG. Como instrumentos foram elaborados uma ficha de avaliação e o questionário
FACT-B (TOI), os quais se realizaram pré e pós-avaliação através de
autoadministração do questionário em um tempo de 10 minutos.
Os resultados demonstraram melhora da qualidade de vida das
pacientes atendidas, tanto para a relação de porcentagem como para
o índice de desempenho. As melhores variações foram apresentadas
na resposta 0 (35,29%) para o domínio físico, 4 (23,81%) para o
domínio funcional e 0 (114,29%) e 1 (200%) para a subescala da
mama. Conclui-se assim que as pacientes apresentaram melhora da
qualidade de vida após a realização do tratamento proposto para os
domínios estudados.
Abstract
The aim of the physical therapy in rehabilitation of patients
post mastectomy is to prevent further complications which may
limit range of movement; therefore, it improves their quality of
life. The goal was to assess the quality of life in patients who have
undergone breast cancer surgery pre and post physical therapy in
rehabilitation. The research was descriptive – case study in four
patients from May to June 2011 at Outpatient Musculo-Skeletal
Disorders of Faculdade Guilherme Guimbala–FGG. An evaluation
form and the FACT-B (TOI) questionnaire were used pre and post
assessment through self administration questionnaire in a time of
10 minutes. The results showed an improvement in the quality of
life of the patients, both the percentage and performance index. The
best changes were made in the responses 0 (35.29%) for the physical
domain, 4 (23.81%) for the operational and 0 (114.29%) and 1
(200%) for the subscale of the breast. Therefore, it is concluded that
the patients improved quality of life after the treatment proposed
for the areas that were studied.
Key-words: domain, breast neoplasms, quality of life, FACT-B
questionnaire.
Palavras-chave: domínios, neoplasias da mama, qualidade de
vida, questionário FACT-B.
Recebido em 15 de agosto de 2011; aceito em 9 de janeiro de 2012.
Endereço para correspondência: Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rua Paulo Henk, 96, 89216-55 Joinville SC, E-mail: alisson.
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Introdução
O câncer de mama é a neoplasia mais temida pelas mulheres [1]. Segundo dados do ano de 2010 no Brasil foram
diagnosticados 49.240 novos casos de câncer de mama
[2,3], sendo esta a segunda neoplasia de maior incidência
nas mulheres, pois a cada ano 22% de novos casos são
descobertos [4]. Na região Sul do Brasil sua incidência e
mortalidade são altas, chegando ao primeiro lugar no país
em mortalidade, principalmente em mulheres com idade
entre 40 e 69 anos [1]. Com o avanço da prevenção das
taxas de detecção precoce e a melhora no tratamento, 50%
das mulheres acometidas sobreviverão pelo menos 15 anos
ou mais após diagnosticado [5].
Se a cirurgia for muito extensa as chances de morbidade
serão consideradas mais altas [6]. Os fatores de risco podem
ser considerados tais como histórico familiar, obesidade e
gravidez após os 35 anos. Em contrapartida os fatores de
proteção seriam menarca tardia, gravidez entre 20 e 28 anos,
amamentação entre 3 e 12 meses e menopausa precoce [7].
Já os vários tipos de cirurgia da mama podem acarretar
diversos fatores prejudiciais à qualidade de vida da paciente
incidindo sobre sua autoestima. Esses fatores podem ser alterações funcionais, sociais e psicológicas [8-10]. Essa patologia
acaba provocando muitas alterações na vida da paciente causando grande impacto psicológico, pois, além das alterações
fisiológicas, surge também uma série de transformações, tanto
da paciente quanto dos familiares. Além do medo da morte,
existe o preconceito, a ameaça da mutilação da mama, já
que sua função principal é nutrir, alimentar ou, em outras
palavras, proporcionar vida sendo um símbolo importante da
maternidade, feminilidade, sexualidade, estética e afeto [1].
Em decorrência do tratamento, a paciente passa a ter uma
nova realidade do esquema corporal, pois ocorrem inúmeras
complicações como linfedema, fibrose, aderência cicatricial
entre outras que acabam alterando sua maneira de sentir e
vivenciar o corpo. A cirurgia está ligada a essas alterações,
sequelas e complicações em até 70% das pacientes, afetando
assim a qualidade de vida e apresentando dificuldades na
realização de suas atividades de vida diária [1]. O tratamento
fisioterapêutico desempenha um importante papel na qualidade de vida dessas pacientes consequentemente melhorando
as atividades de vida diária [7], pois as complicações físicas
associadas ao tratamento reduzem a qualidade de vida das
mesmas [11].
Estudos em relação à qualidade de vida têm sido extensamente valorizados nos estudos oncológicos [11,12]. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) define qualidade de
vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida,
no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive
em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” [8,13]. Outra definição também aceita de qualidade
de vida seria a relação com a “satisfação geral do indivíduo
com a vida e sua percepção pessoal de bem estar” [12,14].
43
Vários questionários podem ser utilizados para avaliar a
qualidade de vida das mulheres após cirurgia de câncer de
mama, e podem ser divididos em genéricos (avaliam de forma
global aspectos relacionados à qualidade de vida que tem como
domínios aspectos físicos, sociais, psicológicos, emocional e
sexual tendo como exemplos o Medical Outcomes Study 36
item Short-Form Health Survey (SF 36) e o World Health Organization Quality of Life (WHOQOL)). Os específicos (avaliam
de forma específica aspectos da qualidade de vida entre eles
o European Organization for Research and Treatment of Breast
Cancer Specific Quality of Life Questionnaire (EORTC QLQ
BR 23) e o Functional Assessment of Cancer Therapy-Breast
(FACT-B)) [8,14].
Portanto o uso de questionários que avaliam a qualidade
de vida seria a maneira mais fácil de mensurar o problema da
paciente ajudando assim os profissionais da saúde a conhecerem as necessidades funcionais, psicológicas e sociais do
paciente. Além disso, os escores dos questionários avaliam
de maneira paralela a progressão da doença e sua resposta ao
tratamento proposto, sendo ferramenta essencial na escolha
de diferentes condutas permitindo assim melhor sobrevida
para as pacientes [15]. Com o exposto acima através das
informações obtidas em estudos relacionados com o tema
câncer de mama e qualidade de vida, o objetivo da presente
pesquisa foi avaliar a qualidade de vida em pacientes que
realizaram cirurgia de câncer de mama pré e pós-reabilitação
fisioterapêutica.
Material e métodos
A presente pesquisa foi classificada como do tipo descritiva
– estudo de caso. O levantamento de dados foi realizado no
Hospital Municipal São José em Joinville/SC nas pacientes
submetidas à cirurgia de câncer de mama pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no período junho de 2007 a junho de
2010, onde foram coletados os dados através de prontuários
e logo após entrando-se em contato com as pacientes para
a realização da avaliação da qualidade de vida e tratamento
fisioterapêutico.
Os critérios utilizados para a inclusão das pacientes localizadas foram que as mesmas apresentassem limitação na
amplitude de movimento do ombro homolateral a cirurgia
ou alguma outra alteração como encurtamento muscular,
aderência cicatricial entre outros. Para tal, das 10 pacientes
que apresentaram as limitações descritas acima somente 4
aceitaram participar da pesquisa, pois as outras 6 pacientes não
apresentaram condições financeiras para se deslocarem até o
local de atendimento. As pacientes participantes apresentaram
uma faixa etária entre 50 e 66 anos, com média de idade de
59,00 (± 6,12) anos, sendo que a profissão das participantes
eram 3 do lar e 1 aposentada.
Antes do início das avaliações, que foram realizadas no período de maio a junho de 2011 no Ambulatório de Disfunções
Músculo-Esqueléticas da Faculdade Guilherme Guimbala –
44
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
FGG, cada participante assinou o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, aceitando assim participar voluntariamente da presente pesquisa. A pesquisa foi submetida e teve
aprovação do Comitê de Ética do Hospital Municipal São José
(11020) conforme as resoluções nacionais 196/96 e 251/97
relacionadas à pesquisa envolvendo seres humanos.
Como instrumento, foi elaborada uma ficha de avaliação
para a coleta da identificação da paciente a qual continha o
nome da paciente, data da avaliação, idade, data de nascimento, telefone e profissão. Anexou-se à ficha o “Questionário
Functional Assessment of Cancer Therapy-Breast (FACT-B)” um
questionário específico para pacientes com câncer de mama,
apropriado para o uso em ensaios clínicos em oncologia,
assim como na prática clínica, sendo de fácil administração,
confiabilidade, validez e sensibilidade.
O questionário é composto por 36 perguntas divididas em
cinco domínios: bem estar físico (sete questões), bem estar
social da família (sete questões), bem estar emocional (seis
questões), bem estar funcional (sete questões) e subescala de
mama (nove questões). Para responder, as pacientes deveriam
optar por um dos cinco níveis para cada questão: 0 (não), 1
(muito pouco), 2 (pouco), 3 (muito) e 4 (bastante). Porém
para se observar a diferença na qualidade de vida relacionada
especificamente aos aspectos de saúde utilizou-se o FACT-B
Trial Outcome Index (TOI), que se dá pela soma dos domínios:
bem estar físico, funcional e subescala da mama, gerando
assim 23 perguntas.
Realizou-se uma pré e pós-avaliação cujo questionário era
autoadministrado pela paciente, porém se a paciente necessitasse de alguma ajuda durante as respostas era auxiliada pelos
pesquisadores. Após realizada a pré-avaliação pelo questionário, a paciente foi avaliada funcionalmente e tratada durante
10 sessões com cinesioterapia para a melhora da amplitude
de movimento, sendo novamente avaliada pós tratamento
com o mesmo questionário. Cada avaliação do questionário
teve um tempo médio de 10 minutos entre coleta dos dados
e preenchimento do questionário entre outras orientações.
Após a aplicação dos questionários, a tabulação e levantamento estatístico da pesquisa foram realizados, e os resultados
foram digitados em uma planilha eletrônica do programa
Microsoft Office Excel® 2003. Foi utilizada análise descritiva, na qual se calculou a média, desvio padrão, percentual e
índice de desempenho.
Resultados
O Gráfico I demonstra a porcentagem de resposta pré e
pós-aplicação do questionário das 4 pacientes que participaram da pesquisa. Evidencia-se com isso que em relação ao
seu bem estar físico, as pacientes tanto no pré como no pós
apresentaram-se bem devido as porcentagens serem maiores
nas respostas 0 e 1. Observa-se também uma melhora deste
domínio após o tratamento realizado pela elevação da porcentagem na resposta 0.
Gráfico I - Porcentagem do domínio Físico pré e pós-aplicação do
questionário.
100%
80%
60%
82%
Pré
Pós
61%
40%
18%14%
20%
0%
0
1
11%
4%
2
4% 0%
3
7%
0%
4
Fonte: Dados da pesquisa
O Gráfico II esclarece as respostas selecionadas pelas 4
pacientes no pré e pós-aplicação do questionário para o domínio bem estar funcional. Pode-se demonstrar que há melhora
da qualidade de vida tanto no pré como no pós pela maior
concentração de respostas em 3 e 4. Verificou-se também
melhora da qualidade de vida pelo tratamento proposto pela
elevação da porcentagem na resposta 4.
Gráfico II - Porcentagem do domínio Funcional pré e pós-aplicação
do questionário.
100%
93%
Pré
80%
Pós
75%
60%
40%
20%
0%
14%
0% 0%
0
4% 0%
1
0%
2
7% 7%
3
0%
4
Fonte: Dados da pesquisa
O Gráfico III evidencia as respostas no pré e pós-aplicação
do questionário para a subescala da mama das 4 pacientes. O
que se observa no gráfico é um equilíbrio nas respostas tanto
no pré como no pós. Porém o que se pode afirmar após a
análise é que em relação ao pré quanto mais respostas fossem
dadas nas respostas 3 e 4 pior seria o aspecto mama para a
paciente, o que prova que elas não estavam contentes. Após
o tratamento observou-se melhora, pois houve uma inversão
de porcentagem da resposta 3 e 4 para a 0 e 1 melhorando a
aceitação da paciente.
A Tabela I demonstra o índice de desempenho do pré
e pós-questionário nos domínios físico, funcional e subescala de mama. Os desempenhos demonstrados na tabela
corroboram os resultados apresentados nos gráficos, pois as
variações positivas foram expressas na resposta 0 (35,29%)
para o domínio físico, 4 (23,81%) para o domínio funcional e 0 (114,29%) e 1 (200%) para a subescala da mama,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
evidenciando assim a melhora da qualidade de vida após a
realização do tratamento.
Gráfico III - Porcentagem da subescala da mama pré e pós-aplicação
do questionário.
100%
Pré
80%
Pós
60%
40%
20%
0%
51%
42%
33%
20%
8%
3%
0
1
6%
11%
2
20%
6%
3
0%
4
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela I - Índice de desempenho do pré e pós-aplicação do questionário para os domínios físico, funcional e subescala da mama.
Fís
Func
Mam
0
1
2
3
4
35,29% -20,00% -66,67% -100,00% -100,00%
0,00% -100,00% -100,00% 0,00%
23,81%
114,29% 200,00% 100,00% -71,43% -33,33%
Legenda: Fís – físico; Func - funcional; Mam - adicional
Fonte: Dados da pesquisa
Discussão
Após a apresentação dos resultados, pode-se observar
melhora da qualidade de vida das pacientes que realizaram
a reabilitação. Estudos comentam que o efeito do câncer de
mama e de seu tratamento, seja radioterápico, quimioterápico,
cirúrgico ou mesmo de reabilitação sobre a qualidade de vida
das pacientes tem sido bem descrito pela literatura [16,17].
Em relação à técnica cirúrgica utilizada, que pode ser radical ou conservadora, a disseção axilar tem sido um tratamento
padrão. Esse procedimento, quando isolado ou em conjunto
com a radioterapia, pode causar morbidade no membro superior homolateral [18] e problemas como linfedema, dor,
diminuição de força e amplitude de movimento entre outros
[14,18] que se tornam frequentes nas pacientes, merecendo
assim atenção especial na reabilitação, pois podem interferir
na qualidade de vida [18].
Outro fator importante a ser verificado é o estado psicológico da paciente, pois quadros de depressão, ansiedade,
medo (abandono familiar e amigos), recidiva e morte estão
relacionados com a doença e contribuem para uma percepção
negativa da qualidade de vida [14]. O medo pode ser considerado o mais ameaçador em relação à piora da qualidade
de vida, pois pode provocar reações emocionais, que provocarão mudanças no âmbito biológico, mental e social [19].
Exemplos podem ser considerados, tais como dificuldade
econômica, presença de ondas de calor levando a dificuldade
45
na duração do sono, piorando a fadiga e levando a sintomas
depressivos [14].
Velloso et al. [6] esclarecem que não existe homogeneidade em relação aos instrumentos e métodos utilizados para
se avaliar a qualidade de vida nas pesquisas. Em um estudo
que determinou o efeito do exercício na qualidade de vida em
pacientes com câncer de mama foram avaliadas mulheres com
diagnóstico recente e tardio que realizaram um programa de
exercício durante 6 meses. Os resultados demonstraram que
o exercício proposto melhorou a funcionalidade das pacientes
e consequentemente sua qualidade de vida nos dois grupos
estudados [16].
Outro estudo procurou identificar o exercício físico como
a melhor intervenção para a qualidade de vida em mulheres
com câncer de mama. Os resultados comprovaram a melhora através do questionário utilizado FACT-B concluindo
que o exercício é efetivo melhorando a função e o físico das
pacientes [20].
Um terceiro estudo avaliou a aceitabilidade de exercícios
moderados no tratamento do câncer de mama e seu impacto
na presença de linfedema, qualidade de vida entre outros em
dez mulheres. A qualidade de vida foi avaliada pelo FACT-B antes a após um programa de 6 semanas, e os resultados
demonstraram potencial melhora da qualidade de vida [21].
Na pesquisa que determinou os benefícios funcionais e
psicológicos de um programa de 12 semanas de exercício
supervisionados no estágio inicial e após seis meses de acompanhamento em 203 pacientes de câncer de mama, somente
177 completaram os seis meses de acompanhamento. Na
avaliação de qualidade de vida o instrumento utilizado foi o
FACT-B, e também foram avaliados outros aspectos como
a avaliação da mobilidade do ombro, não sendo observado
efeito significativo da melhora da qualidade de vida [22].
No estudo de revisão que examinou o efeito do exercício na
qualidade de vida em mulheres com câncer de mama, foram
selecionados nove trabalhos. Os resultados evidenciaram que
os exercícios podem ser uma estratégia eficaz para a melhora
da qualidade de vida [23].
Diversos questionários podem ser utilizados para a
avaliação da qualidade de vida em pacientes com câncer de
mama. O FACT-B é um deles como foram demonstrados
nos estudos relacionados acima e corroborando o que foi
utilizado na presente pesquisa. Porém, outros questionários
serão relatados, como na pesquisa que relacionou a qualidade de vida à morbidade do membro superior homolateral a
cirurgia, e que demonstrou em seus resultados a relação de
semelhança entre a qualidade de vida com a menor morbidade
através da aplicação de questionários específicos para câncer
de mama (QLQ-C30 e BR23). Considerou-se no estudo que
com o tratamento da doença as pacientes não apresentaram
ansiedade nem declínio em sua qualidade de vida mantendo
a atividade normal do membro homolateral à cirurgia [24].
Leites et al. avaliaram a influência da intervenção fisioterapêutica na qualidade de vida e na evolução clínico funcional
46
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
das pacientes. O estudo foi do tipo quase-experimental (pré
e pós) composto por cinesioterapia (treino de força e flexibilidade) em 10 pacientes com uma duração de oito semanas.
Na avaliação da qualidade de vida o instrumento utilizado foi
o questionário WHOQOL-bref. Observou-se que a aplicação
dos exercícios auxiliou para a melhora dos parâmetros funcionais e também que não houve um declínio na qualidade
de vida das pacientes [11].
A fisioterapia tem sido observada clinicamente para a
melhora do tratamento das pacientes com câncer de mama.
Na pesquisa que investigou a eficácia do tratamento de
fisioterapia na função do ombro, dor e qualidade de vida
em trinta pacientes após cirurgia com esvaziamento axilar,
foram realizadas avaliações no início e após três e seis meses. As pacientes foram divididas em dois grupos: grupo de
tratamento, que recebeu tratamento de fisioterapia durante
três meses; e grupo controle que recebeu um folheto com
conselhos e exercícios. Conclui-se que a fisioterapia reduziu
a dor e melhorou a função do ombro homolateral à cirurgia
melhorando, assim a qualidade de vida [25].
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que
a avaliação da qualidade de vida deve ser orientada com a
finalidade de observar o impacto de fatores que acontecem
no universo psicológico, social, espiritual e físico da paciente
com câncer de mama. Com isso constituindo parâmetros nas
pesquisas realizadas para a melhora de custo/benefício, otimizando os recursos disponíveis para o sistema de saúde [26].
Conclusão
Após a realização do presente estudo, pode-se observar que
as pacientes avaliadas através do FACT-B (TOI) apresentaram
melhora da qualidade de vida pela reabilitação proposta para
os domínios relacionados à melhora do bem estar funcional,
físico e aspectos da mama. Porém o estudo apresentou limitações, como o baixo número de mulheres avaliadas que pode ser
explicada pela dificuldade de encontrar voluntárias dispostas a
participar da pesquisa ou por não dispuserem de condições financeiras para o transporte não se podendo generalizar os dados
encontrados. Salienta-se, no entanto, que se pode observar a
correlação a qual foi procurada no objetivo do estudo de avaliar
a melhora da qualidade de vida pré e pós-reabilitação fisioterapêutica. O estudo contribuiu para dar suporte à evidência de
que se deve ter uma preocupação maior em relação às pacientes
pós-operadas de mama tanto no pós-cirúrgico imediato quanto
no tardio, pois, se a paciente não realizar uma boa reabilitação,
poderá apresentar limitações em suas atividades de vida diária
acarretando assim piora na qualidade de vida.
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48
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
REVISÃO
Atividade cerebral relacionada ao apetite e exercício
físico: implicações para a ingestão alimentar e controle
do peso corporal
Brain activity related to appetite and physical exercise: implications for
food intake and weight control
Rafael Ayres Montenegro*, Alexandre Hideki Okano**
*Grupo de Estudo e Pesquisa em Biologia Integrativa do Exercício – GEPEBIEX, Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU, Universidade do
Estado do Rio de Janeiro – UERJ, ** Grupo de Estudo e Pesquisa em Biologia Integrativa do Exercício – GEPEBIEX, Departamento
de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Resumo
Conhecimentos sobre exercício físico e apetite são importantes
tanto para atletas que almejam aumento do desempenho físico
quanto para aqueles interessados na manutenção do peso corporal
saudável. Componentes tanto homeostáticos quanto hedônicos,
responsáveis pela sensação de prazer e atração pelo alimento controlam sinais de fome e saciedade em vias periféricas e centrais. Os
sinais advindos da periferia fornecem informação sobre o estado
nutricional corporal ao sistema nervoso central. Este último media
e integra os sinais de fome e saciedade e após isto, formula uma
resposta fisiológica que regula o comportamento alimentar do indivíduo. Pessoas obesas têm demonstrado diminuição expressiva da
variabilidade da frequência cardíaca, aumento da atividade do nervo
simpático, alteração do metabolismo hormonal e estimulação gástrica. Além disso, uma anormal atividade hipocampal foi identificada
em resposta aos sinais de saciedade, comprometendo assim, todo
controle da ingestão alimentar de obesos. Esta anormal atividade
neuronal persiste em indivíduos que já foram obesos, fazendo com
que altos riscos ao reganho de peso possa ocorrer. A prática de exercício físico gera manutenção e perda do peso corporal, repercutindo
tanto para melhorias no balanço energético quanto para o sistema
de regulação do apetite. Estes benefícios parecem ser influenciados
pela intensidade e duração do exercício.
Abstract
Knowledge about physical activity and appetite are important
for athletes who aspire to increase exercise performance and for
those interested in maintaining healthy body weight. Both homeostatic and hedonic components, responsible for the sensation of
pleasure and attraction to the food, control signals of hunger and
satiety in peripheral and central pathways. The periphery signals
provide information to central nervous system on the nutritional
body status. The nervous system latter integrates signals of hunger
and satiety, and sends a physiological response that regulates the
feeding behavior. Obese people have shown significant reduction
of heart rate variability due to increased sympathetic nerve activity,
changes in hormone metabolism and gastric stimulation. In addition, an abnormal hippocampal activity was identified in response
to satiety signals, thereby undermining the whole control of food
intake of obese. This abnormal neuronal activity persists in subject
with obesity, causing high risks of weight regain. The exercise generates maintenance and loss of the body weight, reflecting both
improvements in energy balance and for the appetite regulation
system. These benefits appear to be influenced by the intensity and
duration of exercise.
Key-words: exercise-induced anorexia, ghrelin, hunger, satiety,
leptin.
Palavras-chave: anorexia induzida pelo exercício, grelina, fome,
saciedade, leptina.
Recebido em 19 de outubro de 2011; aceito em 18 de novembro de 2011.
Endereço para correspondência: Alexandre Hideki Okano, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Centro de Ciências
da Saúde – CCS, Departamento de Educação Física - DEF, Campus Universitário BR 101, Lagoa Nova, 59072-970 Natal RN, E-mail:
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Introdução
O processo de regulação da ingestão alimentar tanto de
sujeitos normoponderais quanto de obesos, tem suscitado
curiosidade da comunidade científica, em busca da compreensão dos componentes tanto homeostáticos quanto hedônicos,
responsáveis pela sensação de prazer e atração pelo alimento
[1]. Estes componentes controlam sinais de fome e saciedade
em vias periféricas e centrais. Basicamente, os sinais aferentes,
advindos da periferia, fornecem informação sobre o estado
nutricional corporal ao sistema nervoso central. Este último
media e integra os sinais de fome e saciedade e, após isto,
formula uma resposta fisiológica que regula o comportamento
alimentar do indivíduo [2].
Atualmente, outro fator bastante abordado na literatura
é o efeito da prática de exercício físico sobre o processo de
regulação do apetite. Vários são os estudos que se preocuparam
em verificar o efeito do exercício físico sobre a manutenção
e perda do peso corporal total, obtendo resultados positivos
tanto para melhorias no balanço energético [3,4] quanto
para o sistema de regulação do apetite [5,6]. Porém, existem
fortes correntes científicas que acreditam que o exercício físico
promove um gasto energético negativo acompanhado por um
aumento, contrabalanceado da ingestão alimentar, além de
aumentar a sensação de fome no estado de jejum [7].
Em adição aos efeitos atrelados à prática de exercício
físico, sabe-se que o mesmo é responsável pela melhoria e
manutenção da plasticidade cerebral, além de melhorar a oxigenação e vascularização cerebral, processo este denominado
de neurogênese. Todos estes efeitos benéficos ocorrem, mais
especificamente, no hipocampo (região central responsável
pelo controle do apetite, aprendizado e memória), que está
intimamente interligado ao córtex pré-frontal [8]. Estudos
também demonstram que o exercício físico é capaz de promover melhorias no processo de neuroplasticidade, aumentando
a velocidade das transmissões sinápticas, fazendo com que o
cérebro esteja mais bem preparado para codificar informações
importantes, a respeito do estado nutricional do corpo, fornecidas pela periferia corporal e ambiente externo [9].
Sendo assim, esta pesquisa tem como objetivo revisar o
atual conhecimento científico produzido sobre os processos e
mecanismos fisiológicos e centrais, bem como a influência da
prática do exercício físico na regulação da ingestão alimentar
na obesidade.
Aspectos fisiológicos e centrais da obesidade
A obesidade é considerada uma síndrome mundial envolvendo fatores sociais, psicológicos e socioeconômicos em
indivíduos de todas as idades e grupos. O contínuo aumento
nas taxas de incidência de pessoas com excesso de peso nas
últimas décadas fez com que a obesidade atingisse proporções
epidêmicas, a ponto de a Organização Mundial de Saúde [10]
considerar a obesidade uma epidemia global.
49
Neste aspecto, o Brasil tem seguido a mesma tendência
mundial alarmante de índices crescentes de obesidade. Em
2008, de acordo com a mais recente pesquisa realizada pelo
IBGE [11], 33,5% das crianças de 5 a 9 anos estavam acima
do peso, sendo que 16,6% do total de meninos eram obesos
e 11,8% das meninas estavam com sobrepeso. Em adultos
jovens de 20 aos 24 anos do sexo masculino, o sobrepeso
saltou de 18,5% em 1974-1975 para 50,1% em 2008-2009.
No sexo feminino, o aumento foi menor: de 28,7% para 48%.
Por causa desta alta prevalência de excesso de peso corporal
na população mundial, muitas investigações foram conduzidas
levando em consideração aspectos como o balanço energético
e peso corporal deste público. O balanço energético é determinado pela ingestão de macronutrientes, gasto energético
e termogênese dos alimentos. Assim, o balanço energético
positivo, em longo prazo, resulta em ganho de massa corporal na forma de gordura, enquanto que o balanço energético
negativo resulta em perda de peso corporal [12].
Porém, cientistas comprovaram que além do cuidado com
o balanço energético positivo, outros fatores comprometem
o quadro patológico de pessoas com obesidade, fazendo
com que o mesmo não se reverta. Entre estes fatores podem
ser listados: a sociedade e/ou cultura, ambiente, limitada
disponibilidade de alimentos naturais, palatabilidade dos
alimentos industrializados, composição dos nutrientes, entre
outros fatores [13,14].
Pesquisas utilizando como amostra sujeitos obesos têm
demonstrado a relação entre diminuição expressiva da variabilidade da frequência cardíaca (VFC), aumento da atividade
do nervo simpático, alteração do metabolismo hormonal e
estimulação gástrica, tendo efeito sobre a ingestão alimentar e
distensão estomacal. Além disso, indivíduos obesos possuem,
em suas particularidades, uma anormal atividade do hipocampo em resposta aos sinais de saciedade, comprometendo,
assim, toda contribuição na regulação e controle da ingestão
alimentar. Este padrão de atividade neuronal persiste em
indivíduos que já foram obesos, fazendo com pessoas que se
enquadram neste aspecto possam correr altos riscos em relação
ao reganho de peso excessivo [15,16].
Anormalidades metabólicas e hemodinâmicas também são
encontradas em indivíduos com excesso de peso corporal [17].
Atribuí-se a isto, a existência de um descontrole no sistema
nervoso central, mais especificamente, do ramo simpático
que parece ser mais ativado em indivíduos obesos do que em
magros [18]. Porém, há controvérsias na literatura na qual
é sustentada a existência de uma diminuição da atividade
simpática [19]. Com isso, Young e Macdonald [20] realizaram extensa revisão de 40 estudos com humanos conduzidos
antes de 1991 na tentativa de clarificar se a obesidade estava
associada à elevada ou reduzida atividade do sistema nervoso
simpático (SNS). As publicações científicas suportaram ambas
as hipóteses, bem como a possibilidade de não haver diferença
na atividade do SNS entre indivíduos normoponderais e obesos [21]. Entretanto, os autores evidenciam várias limitações
50
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
entre os estudos revisados, principalmente na fragilidade do
método utilizado para avaliação da atividade simpática.
Por outro lado, tem-se observado, em obesos, uma relação
inversamente proporcional entre a VFC e mortalidade por
doenças cardiovasculares, ou seja, uma diminuição da VFC,
que pode ser gerada tanto pela diminuição da atividade parassimpática quanto pelo aumento da atividade simpática, tem
resultado numa alta taxa de mortalidade [22].
Em nível cerebral, estudos utilizando a técnica de imagem
por ressonância magnética funcional (fMRI) demonstram
que, após o consumo de alimentos líquidos até a saciedade,
indivíduos obesos exibiram diminuição do fluxo sanguíneo
na região do hipocampo comparado a indivíduos magros
[16]. Em decorrência do exposto, tem-se especulado que o
córtex pré-frontal e a região hipocampal, para além de desempenharem importante papel nos processos de memória
e aprendizagem, estão intimamente relacionados à regulação
da ingestão alimentar, controle da alimentação e regulação
do apetite [23,24].
Regulação central do apetite: sensações de fome
e saciedade, tamanho da refeição e frequência
alimentar
Importantes fatores envolvidos no controle do apetite
geram distúrbios que acometem a homeostase energética.
Esta última é controlada por dois conjuntos de sinais, os
sinais tônicos e episódicos.
O conjunto de sinais que surge a partir dos estoques dos
tecidos, especialmente do tecido adiposo, e reflete o que é
frequentemente referido como sinalização em longo prazo ou,
um termo alternativo, sinalização tônica [25], é responsável
pela regulação de todo o balanço energético e massa corporal
de gordura sobre dias ou até semanas [26]. Os sinais químicos
provenientes deste processo incluem a leptina, insulina e certas
adipocinas (amilina, visfatina e adiponectina). Em animais,
altas concentrações destes hormônios, principalmente a leptina (adipocitocina responsável pela produção da sensação
de saciedade), diminuem a ingestão alimentar e estimulam o
dispêndio energético [27]. Em contraste, indivíduos obesos,
geralmente, possuem altas concentrações de leptina e insulina,
o que sugere uma possível resistência dos organismos de obesos
aos efeitos destes hormônios, fazendo com que o efeito de
supressão na ingestão alimentar não ocorra [28].
A partir de recentes especulações demonstrando que
baixas concentrações de leptina e insulina podem tanto
aumentar a ingestão alimentar quanto suprimir o dispêndio
energético [29], Hagobian e Braun [26] sugerem que exista
uma relação entre as concentrações de leptina/insulina e
ingestão alimentar, assemelhando-se ao “U invertido”,
em que tanto baixas quanto muito altas concentrações de
leptina/insulina estimulam a ingestão alimentar, porém
níveis moderados circulantes destes hormônios tenham
efeito supressor.
No entanto, os sinais denominados “episódicos” surgem largamente do trato gastrointestinal e são gerados periodicamente
em ritmos sincronizados a partir do ato de se alimentar [30].
Os componentes químicos envolvidos neste processo incluem
a colecistocinina, peptídeo ligado ao glucagon (GLP-1), oxintomodulina, grelina, peptídeo YY (PYY), mais especificamente
o PYY3-36, e possivelmente por outros peptídeos liberados por
células localizadas ao redor do trato gastrointestinal [31], sendo
a grelina acilada considerada o mais importante componente de
estimulação da ingestão energética, tanto em homens quanto
em animais [32,33]. Porém o PYY3-36 vem ganhando atenção,
pois ao infundi-lo, perifericamente, notaram-se supressões na
ingestão alimentar tanto de animais [34] quanto em humanos
[35]. Em suma, toda esta gama de sinais regula o início e o
término da alimentação, consequentemente, também regula a
frequência e tamanho da refeição [26].
A integração dos sinais tônicos e episódicos gera informações ao cérebro quanto ao estado dinâmico atual dos estoques
de energia e os fluxos oscilatórios de nutrientes derivados da
alimentação, quando estes últimos são detectados pela sinalização episódica. Esta integração é instanciada em um conjunto
de vias e receptores neurais que se estendem pelo núcleo do
trato solitário e área postrema do mesencéfalo através de um
discreto núcleo hipotalâmico no prosencéfalo basal [2].
Os sinais episódicos surgem e desaparecem em harmonia
com o padrão alimentar. Um grande grupo destes peptídeos
citados acima fornece sinais responsáveis pela sensação de
saciação, que se constitui no ato do término da refeição, e
saciedade, que se caracteriza pela ação de inibição do ato de
se alimentar após a refeição [30]. Em adição, muitos comportamentos alimentares distinguíveis são controlados por várias
regiões cerebrais e sistemas neuroquímicos que impactam
sobre aspectos da alimentação, incluindo o início, quantidade
e frequência da ingestão alimentar.
Os fatores que contribuem para o início da ingestão
alimentar são considerados não homeostáticos, pois não se
constituem em um processo dependente do déficit energético, porém, ainda não são claramente definidos na literatura
mecanismos fisiológicos atrelados à sinalização em cascata,
circuitos neuronais e neuroquímicos que mediam suas influências biológicas sobre o processo de alimentação [36].
Em contraste, os fundamentos fisiológicos dos fatores
que controlam o término da refeição, assim como os fatores
que controlam a quantidade de alimento ingerido durante a
refeição, têm sido mais extensamente estudados. De acordo
com Smith [37] existem duas categorias de sinais (diretos e
indiretos) que contribuem para o controle da quantidade de
alimentos ingeridos.
Os sinais diretos são aqueles fornecidos pelo canal alimentar em resposta ao contato do alimento ingerido ou
digestão do mesmo. Esta mesma categoria de sinais diretos
é denominada por Grill [36] como sinais de saciação, que
são definidos por sinais sensórios gerados pela interação do
alimento ingerido com o trato gastrointestinal e incluem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
distensão estomacal e hormônios liberados pelo intestino em
resposta ao transporte de nutrientes [38].
Além dos sinais diretos, a quantidade de alimento ingerido em uma refeição é influenciada por outros tipos de
sinais, incluindo sinais metabólicos ou disponibilidade de
energia, tais como os níveis de circulatórios de nutrientes,
como, por exemplo, os níveis de glicose, ácidos graxos livres
e aminoácidos. Já, sinais originados pela adiposidade como a
leptina ou fornecidos pela temperatura ambiente entre outros,
interferem no controle da quantidade de alimentos ingeridos
em uma refeição [37,39].
Os sinais indiretos são definidos por inter-relações entre
os mecanismos gerados pelos sinais diretos e os mecanismos
neurais, construindo, assim, os sinais de saciação, portanto,
o impacto inibitório na ingestão alimentar é considerado
como sinais indiretos.
A fome e a saciedade são sentimentos que são governados
por muitos processos e moléculas em que o cérebro, mais
especificamente o hipotálamo, exerce um importante papel
[40]. De fato, o sentimento de fome leva a um aumento de
ingestão alimentar e, como consequência disto, o sentimento de saciedade deve ser gerado. Porém, a influência destas
sensações, fome e saciedade, sobre a quantidade e frequência
de refeições está intimamente relacionada ao fator hereditariedade [41].
Sabendo que todos estes processos de formação das
sensações de fome e saciedade são controlados através de
hormônios, peptídeos e neurônios, de Krom et al. [42] acreditam que existe uma suscetibilidade genética para o controle
da ingestão alimentar nos genes que codificam os mesmos
hormônios, peptídeos e neurônios envolvidos na formação
destas sensações. Porém o conhecimento da genética sobre os
aspectos do comportamento alimentar ainda é muito limitado. Muitos dos estudos que analisaram os genes envolvidos
nas sensações de fome e saciedade não se preocuparam em
aprofundar as investigações em relação as suas influências
genéticas na formação destas sensações e, sim, objetivaram
analisar os resultados finais de distúrbios relacionados à fome
e saciedade, tais como a obesidade, diabetes do tipo II e composição corporal [42].
Sabe-se que este processo é regulado por ações integradas
de vários feedbacks e outros sinais internos e externos que
finalmente controlam a quantidade de alimento ingerido e a
frequência de cada refeição [39].
Além disso, é sugerido que, em nível central, o hipocampo
é uma importante região envolvida no processo de regulação
energética, que possuem receptores, especialmente no núcleo
arqueado, responsáveis pela detecção de vários neurohormônios com funções de sinalização da fome, saciedade e sinais
de adiposidade [43]. Somando, ainda, a responsabilidade
pelas funções de aprendizagem e memória, que, de acordo
com vários autores, as funções de aprendizagem e memória
possuem importantes papéis no controle da alimentação e do
comportamento alimentar [23,24].
51
Todavia, alocado no tronco encefálico, o núcleo do trato
solitário (NTS) vem sendo destacado por ser um nodo crucial
que recebe inputs diretos dos receptores gustativos e de muitos
sinais de saciedade, geralmente advindos do contato direto dos
nutrientes com o tracto gastrointestinal. Com isso, soluções
foram designadas com o intuito de responder onde e como
informações, fornecidas pelo tronco encefálico e hipotálamo,
estão integradas no controle da ingestão alimentar, particularmente no término da refeição e sensação de saciedade [39].
Como exemplo destas soluções, recentes evidências sugerem
que uma parte desta integração toma lugar nos neurônios do
NTS, que recebem não somente informações do intestino,
mas informações através do sistema melanocortinérgico e
outras projeções do hipotálamo [36].
Influência do exercício físico sobre o controle do
apetite
Os benefícios da prática de atividade física ou engajamento
em programas de exercício físico que acarretam mudanças no
estilo de vida sedentário estão bem documentados, como, por
exemplo, a diminuição dos riscos associados ao desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas ou mortes súbitas, se
constituindo em uma importante intervenção no tratamento
da obesidade [44].
Todavia, a modificação dos padrões ou hábitos alimentares
parece ser consenso na literatura, como medida essencial para
diminuição dos percentuais de gordura corporal. Portanto,
dietas hipocalóricas parece ser a melhor medida adotada para
quem deseja perder peso, no entanto, associação de ingestão
alimentar balanceada a um aumento relevante do dispêndio
energético diário total parece ser ainda mais benéfica [6].
Como consequência disto, verificou-se que a atividade física
tem estreita relação com a ingestão alimentar, pois o trabalho
corporal requer energia fornecida pelos nutrientes para que
haja restauração dos estoques de combustível, com o propósito
da continuidade do funcionamento das funções corporais.
Neste sentido, Mayer et al. [5] executaram estudos com
animais e homens, examinando o efeito do exercício sobre a
massa corporal e ingestão alimentar. Para fornecer um melhor
entendimento entre a relação destas variáveis, os mesmos autores confeccionaram gráficos que são apresentados na Figura 1.
Estes autores dividiram o nível de atividade física em cinco
zonas, onde a zona 1 ilustra o comportamento da ingestão
alimentar e massa corporal de um indivíduo com baixo nível
de atividade física. Em repercussão deste estilo de vida, é
encontrado um aumentado tempo ocioso, tornando-o mais
sedentário. Este tipo de ação não induz a uma redução compensatória na ingestão alimentar do mesmo, levando-o ao
aumento da massa corporal total. Já na zona 2, é ilustrado a
introdução da atividade física no cotidiano do sujeito, tendo
como consequência, uma redução, mesmo que pequena, na
ingestão alimentar, devido à mobilização dos estoques de
energia, levando a diminuição da massa corporal total. Na
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
52
zona 3, denominada de zona sensível, ilustra-se um indivíduo
que agora é praticante regular de atividade física de moderada
à vigorosa intensidade. Este tipo de atitude tem consequências que se diferem se o sujeito for magro, ou seja, a ingestão
alimentar dele é aumentada, porém sua massa corporal total
é mantida. Já, se o indivíduo for obeso não é demonstrado
significantes mudanças na ingestão alimentar, devido ao
excesso de energia estocado.
Figura 1 - Modelo demonstrativo da relação entre nível de atividade
física (NAT), massa corporal e ingestão alimentar.
Massa corporal
Zona de responsividade
1
Ingestão energética
0
2
1.7-1.8
3
4
2.2-2.5
5
4.0-5.0
NAT
Zona de responsividade
1
0
2
1.7-1.8
3
2.2-2.5
4
5
4.0-5.0
NAT
Fonte: Adaptada de Mayer et al. [5].
O nível de atividade física da população em geral possui
um limite em torno de 2.2-2.5 (zona 4), e em indivíduos altamente treinados em torno de 4.0-5.0 (zona 5). Acima destes
valores, o corpo humano não é capaz de compensar o dispêndio energético e, como consequência disto, perde-se massa
corporal total, inclusive massa magra. Com base neste modelo,
Mayer et al. [5] defendem a hipótese de que, imediatamente
após a um significativo aumento no dispêndio energético,
um balanço energético negativo é gerado. De acordo com
este modelo, vários autores corroboram a idéia de que há um
efeito supressor da ingestão alimentar como resposta reativa
às séries agudas de atividades físicas [45,46]. Por outro lado,
em uma vasta revisão da literatura, foi demonstrado que, em
consequência da prática de exercício, em protocolos de curto a
moderado tempo de intervenção (2-5 dias), 19% dos estudos
reportaram aumento, 65% não demonstraram mudanças e
16% demonstraram diminuição da ingestão alimentar após
a sessão de exercício [47,48].
Neste sentido, Whybrow et al. [49] analisaram o efeito de
exercícios em diferentes intensidades: nenhum exercício (grupo controle), exercício moderado e intenso, sobre o apetite,
ingestão alimentar, dispêndio e balanço energético em homens
e mulheres magros. Constataram que o dispêndio energético
gerado pela prática de exercício começa a ser compensado
ou contrabalanceado pela ingestão alimentar, num curso
de uma a duas semanas em homens e mulheres magras. Já,
mais recentemente, King et al. [50] relataram que o efeito do
exercício sobre a regulação do apetite, envolve, pelo menos,
dois processos: I) aumento em todos os sinais orexígenos
e II) um concomitante aumento na eficiência de sinais de
saciedade em refeições fixas. No entanto, os mesmos autores
alegam que estes processos não operam com a mesma força
e eficácia em todos os indivíduos praticantes de exercícios.
Juntas, as forças destes dois processos podem determinar se
indivíduos perderão peso com a prática de exercício, ou se o
peso corporal será mantido através do efeito compensatório
do aumento da ingestão alimentar após a sessão de exercício.
Em relação às respostas compensatórias ao déficit energético gerado pelo exercício, King et al. [7] relataram a importante
influência das respostas compensatórias metabólicas (respostas automáticas ou obrigatórias, como, por exemplo, a taxa
metabólica de repouso e o dispêndio energético gerado por
outras atividades fisiológicas) e comportamentais (respostas
voluntárias ou facultativas, como, por exemplo, ingestão
alimentar), como pontos-chave, no tocante à barreira para
perda de peso induzida pela prática de atividade física. As
respostas compensatórias comportamentais possuem maior
poder influenciador sobre as perturbações feitas ao balanço
energético do que as respostas metabólicas. Portanto, as contribuições para estas perturbações ao balanço energético da
atividade física são menos expressivas do que as contribuições
dadas por meio da ingestão alimentar [14].
Em suma, parece que o efeito de sessões agudas de atividades físicas depende extremamente da intensidade empregada
na atividade. Exercícios com intensidades de moderada a
extenuantes (>60%VO2MAX) parecem ser mais eficazes no
tocante ao efeito supressor do exercício físico em relação à
ingestão alimentar. Isto se deve a uma redistribuição do fluxo
sanguíneo, em específico da circulação esplênica em direção
a musculatura [48].
Nesta mesma ótica, vários estudos especularam que
exercício de baixa intensidade e curta duração parece não
induzir efeito supressor sobre a fome. Somente exercícios
de alta intensidade e longa duração possuem um forte efeito
sobre a ingestão alimentar comparado a exercícios de curta
duração, assim, exercícios extenuantes parecem suprimir o
apetite e induzir a um efeito denominado anorexia induzida
pelo exercício [50].
Conclusão
Em suma, vários estudos sustentam a importância da região hipocampal sobre o gerenciamento da ingestão alimentar
através da decodificação de citocinas que traduzem as sensações de fome e saciedade. Entretanto, o córtex pré-frontal,
cingulado anterior e o núcleo do trato solitário parecem estar
estreitamente interligados para o desempenho destas funções.
Todavia, estudos com o intuito do melhor entendimento dos
mecanismos, reações fisiológicas e hedônicas, que envolvem o
controle central do apetite, ainda não conseguiram, por com-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
pleto, definir a totalidade de variáveis intervenientes que estão
inter-relacionadas no processo da alimentação e do apetite.
Além disso, a regulação do apetite é modulada pela prática
de exercício físico. Porém, as repercussões atenuadoras do
apetite geradas por meio do exercício físico parecem sofrer
dependência da intensidade e duração do estímulo. Entretanto, estudos com um maior cuidado metodológico em relação
à padronização da ingestão alimentar entre grupos e cuidado
na escolha e utilização de variáveis bioquímicas que sejam
mais sensíveis à regulação do apetite devem ser estimulados.
Por exemplo, o peptídeo PYY3-36 parece possuir uma maior
sensibilidade às alterações na regulação do apetite do que o
PYY1-36. A grelina, na forma acilada, é outro ótimo exemplo,
pois somente nesta forma, a mesma consegue ultrapassar a
barreira hematoencefálica.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
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Revisão
Influência de variáveis relacionadas ao protocolo
experimental no déficit de força muscular mediado
pelo alongamento
Influence of variables related to the experimental protocol
in muscle strength deficit mediated by stretching
Raquel Gonçalves*, André Luiz Demantova Gurjão*, José Cláudio Jambassi-Filho*, Luiza Hermínia Gallo*,
Alexandre Konig Garcia Prado*, Sebastião Gobbi, D.Sc.*
*Universidade Estadual Paulista, IB, DEF, Laboratório de Atividade Física e Envelhecimento (LAFE), Rio Claro, São Paulo
Resumo
Um grande número de estudos tem demonstrado que exercícios
de alongamento podem diminuir o desempenho de força muscular, fenômeno descrito como déficit de força muscular mediado
pelo alongamento. De qualquer forma, nenhuma conclusão pode
ser realizada com relação a esse fenômeno, uma vez que variáveis
relacionadas ao protocolo experimental utilizado nos estudos podem influenciar sua magnitude. O presente estudo apresenta uma
revisão sistemática de artigos cujo objetivo foi analisar a influência
de variáveis relacionadas às rotinas de alongamento e ao método
de avaliação da força muscular na magnitude do déficit de força
muscular mediado pelo alongamento. Foi realizada uma busca nos
bancos de dados: Medline; Pubmed; Lilacs e Sport Discus. Após
a busca, foram analisados 15 estudos relacionados ao tema. Com
base nos estudos encontrados, a presente revisão demonstra que
variáveis relacionadas ao protocolo experimental podem ter uma
forte influência na magnitude do déficit de força muscular mediado
pelo alongamento.
Abstract
A large number of studies have shown that stretching exercises
may decrease the performance of muscle strength, a phenomenon
described as muscle strength deficits mediated by stretching. However, no conclusions can be made with respect to this phenomenon,
since variables related to the experimental protocol used in the studies may influence its magnitude. This study presents a systematic
review of articles whose aim was to analyze the influence of variables
related to the stretching routines and to muscle strength evaluation
method in the muscle strength deficits mediated by stretching. A
search was conducted in the databases: Medline; Pubmed; Lilacs e
Sport Discus. After the search, 15 studies related to the topic were
analyzed. Based on the studies found, this review demonstrates that
variables related to the experimental protocol may have influence on
the magnitude of the muscle strength deficits mediated by stretching.
Key-words: stretching, muscular strength, experimental protocol.
Palavras-chave: alongamento, força muscular, protocolo
experimental.
Recebido em 31 de outubro de 2012; aceito em 10 de janeiro de 2011.
Endereço para correspondência: Sebastião Gobbi, Avenida 24A, 1515, 13506-900 Rio Claro SP, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Introdução
O déficit de força muscular induzido por rotinas de alongamento é o termo empregado para descrever a redução transitória no desempenho do sistema neuromuscular observada
após a realização de exercícios de alongamento. Este fenômeno
tem sido sistematicamente demonstrado após o emprego de
diferentes métodos de alongamento e pode apresentar magnitude e duração de respostas bastante variadas [1-3].
A existência de evidências que apontam para o efeito
deletério dos exercícios de alongamento sobre desempenho
neuromuscular levou alguns pesquisadores a sugerir sua retirada das rotinas de aquecimento que precedem a prática de
exercícios físicos [4,5]. Entretanto, alguns trabalhos não têm
demonstrado o efeito negativo dos exercícios de alongamento
sobre as respostas da força muscular [6,7].
Parte dessas contradições observadas pode estar associada
não apenas às variáveis relacionadas às rotinas de alongamento,
como exemplo o volume ou método de alongamento empregado, mas também às variáveis envolvidas no protocolo de
avaliação da força muscular.
Considerando as informações acima, é importante determinar qual a influência das variáveis associadas ao protocolo
experimental utilizados em estudos que buscaram investigar
o déficit de força muscular mediado pelo alongamento na
magnitude desse fenômeno. Dessa forma, conclusões mais
concretas poderão ser realizadas com relação ao emprego de
rotinas de alongamento que precedem a prática de atividade
física.
O objetivo do presente estudo foi: a) revisar a influência
das principais variáveis associadas às rotinas de alongamento
na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo
alongamento; b) revisar a influência das principais variáveis associadas ao método de avaliação da força muscular
na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo
alongamento.
Métodos
A busca eletrônica para a realização deste trabalho foi
efetuada nas seguintes bases de dados: Medline; Pubmed;
Lilacs e Sport Discus. Quando possível, limites de datas
foram acrescentados. Para pesquisa dos estudos, foram utilizadas as seguintes palavras-chaves de forma combinada e/
ou individualmente: flexibility, stretching, dynamic stretching,
static stretching, warm-up, strength, force, vertical jump, power,
performance, joint angle. Para a base de dados Lilacs os termos
citados acima foram utilizados em português. Em adição, a
lista de referências de todas as publicações inclusas na revisão
foi utilizada para busca manual de possíveis estudos relevantes
que não foram encontrados durante a busca eletrônica.
Os seguintes critérios de inclusão foram adotados: a) estudos experimentais cujo objetivo envolvia analisar o déficit
de força muscular mediado pelo alongamento; b) estudos
experimentais cujo objetivo envolvia comparar variáveis
relacionadas às rotinas de alongamento na magnitude do
déficit de força muscular mediado pelo alongamento; c)
estudos experimentais cujo objetivo envolvia comparar variáveis relacionadas ao método de avaliação da força muscular
na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo
alongamento; d) estudos que incluíam diferentes condições
experimentais realizadas de forma aleatória.
Primeiramente os artigos foram selecionados pelo título,
quando continham palavras relacionadas ao tema. Posteriormente fez-se a leitura do resumo e texto completo dos artigos.
A partir desse ponto os estudos foram selecionados quando
englobavam os critérios de inclusão adotados.
Resultados e discussão
As Tabelas I, II, III e IV apresentam as características dos
15 estudos selecionados para análise. As próximas sessões
analisam, separadamente, o efeito de cada uma das variáveis
associadas às rotinas de alongamento (duração e método de
alongamento) e ao protocolo de avaliação da força muscular
(ângulo articular e tipo de exercício) no déficit de força muscular mediado pelo alongamento.
Duração do alongamento
Estudos que relataram efeitos negativos do alongamento
no desempenho de força muscular utilizaram protocolos com
durações de até 30 minutos para o mesmo grupo muscular
[8,9]. Embora seja possível observar que o déficit de força
muscular apresente um comportamento dependente do tempo de alongamento e do grupo muscular alongado, grande
parte dos estudos adotou em seus protocolos experimentais
rotinas com tempos de alongamento não condizentes com
aqueles das rotinas empregadas na prática. Uma possível relação dose – resposta poderia explicar por que alguns estudos
têm reportado que o desempenho de força muscular não é
afetado pelo alongamento. Tem sido sugerido que a ausência
desse efeito pode ser causada pela utilização de um protocolo
de alongamento com menor volume.
Neste sentido, a partir do ano de 2005, é possível verificar
um crescente número de publicações que buscou comparar o
efeito de menores volumes de alongamento sobre o desempenho agudo do sistema neuromuscular.
Ogura et al. [10] compararam o efeito de dois volumes de
alongamento estático (1 x 30 e 1 x 60 segundos) na contração
voluntária máxima (CVM) dos posteriores de coxa. Os autores
reportaram que a CVM foi significativamente menor após a
rotina com duração de 60 segundos quando comparada com o
protocolo de 30 segundos e a condição controle (sem alongamento). De forma similar, Siatras et al. [11] observaram maior
diminuição do pico de torque (PT) após uma rotina de 60
segundos de alongamento estático, quando comparada a 30, 20
e 10 segundos de alongamento. Em contrapartida, Winchester
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
57
Tabela I - Estudos que investigaram a influência da duração do alongamento no déficit de força muscular mediado pelo alongamento.
Referência
Ogura et al. [10]
Siatras et al. [11]
Ryan et al. [13]
Winchester et al. [12]
Rotina de Alongamento
30 ou 60 segundos de alongamento estático
10, 20, 30 ou 60 segundos de alongamento
estático
120, 240 e 480 segundos de alongamento
estático
30, 60, 90, 120, 150 e 180 segundos de
alongamento estático
Tipo de
Ação Muscular
Isométrica
Isométrica
Isométrica
Isométrica
Resultado
>↓ CVM após 60 segundos
>↓ PT após 60 segundos
↓ CVM após 120, 240 e 480 segundos
↓ TDF após 240 e 480 segundos
↓ CVM após 30, 60, 90, 120, 150 e 180
segundos
> = Aumento; ↓ = Diminuição; CVM = Contração Voluntária Máxima; PT = Pico de Torque; TDF = Taxa de Desenvolvimento de Força.
Tabela II - Estudos que investigaram a influência do método de alongamento no déficit de força muscular mediado pelo alongamento.
Referência
Rotina de Alongamento
Herda et al. [27]
540 segundos estático ou dinâmico
Bacurau et al. [26]
1200 segundos de alongamento estático ou
dinâmico
480 segundos de alongamento estático ou
dinâmico
600 segundos de alongamento estático ou
dinâmico
45 segundos de alongamento estático ou
dinâmico
90 segundos de alongamento estático ou
dinâmico
600 segundos de alongamento estático ou
dinâmico
45 segundos de alongamento estático ou
dinâmico
Dalrymple et al. [21]
Curry et al. [22]
Beedle et al. [23]
Samuel et al. [24]
McMilian et al. [28]
Unick et al. [25]
Tipo de
Ação Muscular
Isométrica
Resultado
↓ CVM após estático quando comparada ao
método dinâmico
1RM
↓ 1RM após estático quando comparada ao
método dinâmico
SV
Nenhuma alteração no SV após estático e
dinâmico
SV
Nenhuma alteração no SV após estático e
dinâmico
1RM
Nenhuma alteração em 1RM após estático e
dinâmico
SV
Nenhuma alteração no SV após estático e
dinâmico
5 - step jump ↑ Potência muscular após alongamento
dinâmico quando comparada ao estático
SV
Nenhuma alteração no SV após estático e
dinâmico
↑ = Aumento; ↓ = Diminuição; SV = Salto Vertical; CVM = Contração Voluntária Máxima; 1RM = 1 Repetição Máxima.
Tabela III - Estudos que investigaram a influência do ângulo articular de avaliação da força muscular no déficit de força muscular mediado
pelo alongamento.
Referência
Herda et al. [27]
McHug et al. [30]
Graus Avaliados
41, 61, 81 e 101 graus
80, 65, 50 e 35 graus
Tipo de
Ação Muscular
Isométrica
Isométrica
Resultado
>↓ PT em 81 e 101 graus
>↓ Ângulo-torque em 65 e 80 graus
> = Maior; ↓ = Diminuição; PT = Pico de Torque.
Tabela IV - Estudos que investigaram a influência do tipo de exercício utilizado na avaliação da força muscular no déficit de força muscular
mediado pelo alongamento.
Referência
McBride et al. [31]
Exercícios
Tipo de
Ação Muscular
Monoarticular (Extensão de Joelho) e Multiarti- Isométrica
cular (Agachamento)
↓ = Diminuição; CVM = Contração Voluntária Máxima; TDF = Taxa de Desenvolvimento de Força.
Resultado
↓ CVM durante exercício monoarticular
↓ TDF durante exercício multiarticuar
58
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
et al. [12] observaram que 30 segundos de alongamento estático
foram suficientes para reduzir a força muscular máxima dos
posteriores de coxa. Em grupos musculares menores (flexores
plantares), Ryan et al. [13] analisaram o comportamento da
curva força-tempo (Cf-t) isométrica após 120, 240 e 480 segundos de alongamento estático. Os autores encontraram que
a CVM diminuiu significativamente após todos os protocolos
de alongamento empregados. Para a taxa de desenvolvimento
de força (TDF) foram observadas reduções significativas após
240 e 480 segundos de alongamento.
O tempo total que um músculo é submetido ao alongamento é uma importante variável a ser considerada, uma
vez que estímulos com maiores volumes podem aumentar a
magnitude de decréscimo da força muscular. Nesse sentido,
os estudos citados acima sugerem que pode haver um limiar
mínimo de alongamento, entre 20 e 60 segundos, para que
possa ocorrer o déficit de força muscular.
Métodos de alongamento (dinâmico vs. estático)
Diferentes métodos de alongamento têm sido utilizados na
prática durante sessões de aquecimento e durante programas
de atividade física que visam o desenvolvimento da flexibilidade. Dentre eles, o método estático e o dinâmico são os
mais conhecidos e investigados na literatura.
Especificamente para a potência muscular, estudos têm
demonstrado que o método dinâmico pode não afetar o
desempenho de força, podendo, inclusive, melhorar a capacidade muscular em desenvolver força rapidamente [14-16]. Por
outro lado, um número grande de evidências tem mostrado
que rotinas de alongamento estático podem causar efeitos
negativos na capacidade de força explosiva [17-20].
Estudos que procuraram comparar o efeito do método
dinâmico e estático de alongamento no desempenho de
força muscular têm encontrado resultados controversos.
Alguns autores não observaram diferença significativa entre
os métodos, sendo que tanto o método dinâmico quanto o
método estático não causaram alterações no desempenho do
salto vertical (SV), tempo do pico de força e uma repetição
máxima (1 RM) de membros superiores e inferiores [21-25].
Em contrapartida, dois estudos demonstraram que o alongamento estático diminui significativamente o desempenho
da PT e 1 RM quando comparado ao método dinâmico
[26-27]. Apesar dos estudos demonstrarem redução na força
muscular apenas após o emprego do método estático, ainda
não há um consenso com relação à influência do método de
alongamento empregado na magnitude do déficit de força
muscular mediado pelo alongamento.
Ângulo articular de avaliação da força muscular
O déficit de força mediado pelo alongamento parece ser
mais aparente em amplitudes de movimento nas quais o comprimento da fibra muscular ou do sarcômero corresponda ao
plateau máximo da curva força-comprimento [29]. Com base
nessa observação, alguns autores buscaram analisar o comportamento do déficit de força mediado pelo alongamento
em diversos ângulos de avaliação.
Herda et al. [27] analisaram o efeito agudo do alongamento estático no PT isométrico durante flexão do joelho em
quatro ângulos articulares diferentes (41, 61, 81 e 101 graus
abaixo da extensão total do joelho). Os autores observaram
que o alongamento estático diminuiu significativamente o
PT isométrico dos posteriores de coxa, durante flexão de
joelho, nos ângulos de 101 e 81 graus. Em ângulos menores
de avaliação (41 e 61 graus), o alongamento não alterou o
desempenho de força muscular.
Em adição, McHug et al. [30] avaliaram a relação ângulo-torque durante flexão isométrica de joelho em seis valores
diferentes de ângulo (80, 65, 50, 35, 20 e 5 graus). Assim
como Herda et al. [27], os autores encontraram que o déficit
de força mediado pelo alongamento é mais proeminente em
comprimentos mais curtos da musculatura avaliada (80 e
65 graus), ou seja, durante avaliação da força muscular em
ângulos maiores.
Avaliação da força muscular – tipo de exercício
O déficit de força mediado pelo alongamento tem sido
demonstrado em exercícios monoarticulares, tanto em
ações isométricas quanto dinâmicas. Em contrapartida,
a influência do alongamento durante o desempenho de
força muscular em exercícios multiarticulares tem sido
demonstrada, em sua grande maioria, para o desempenho
dinâmico de força.
McBride et al. [31] procuraram comparar o efeito agudo
do alongamento estático durante esforço muscular isométrico
em exercício monoarticular (extensão de joelho) e multiarticular (agachamento). O protocolo de alongamento consistiu
em três séries de 30 segundos para o quadríceps. Os resultados mostraram que o comportamento da força muscular
isométrica pode sofrer influência do tipo de exercício utilizado
durante avaliação da força. Durante esforço monoarticular
apenas a CVM reduziu significativamente. Já para o esforço
multiarticular houve redução da TDF.
Conclusão
A retirada de rotinas de alongamento que precedem a
prática de atividade física tem sido sugerida por diversos
autores. Porém, nenhuma conclusão concreta com relação
ao déficit de força muscular mediado pelo alongamento pode
ser realizada, uma vez que são observadas diferenças entre os
protocolos experimentais utilizados nos estudos que buscaram
analisar esse fenômeno. Foi observado que protocolos com
maior volume de alongamento podem causar maiores efeitos
deletérios agudos na produção de força, sendo que menores
volumes de alongamento não causam nenhuma alteração no
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
desempenho de força muscular. Ainda com relação à rotina de
alongamento, não há uma conclusão concreta sobre a influência do método utilizado (dinâmico ou estático) no déficit de
força muscular mediado pelo alongamento. O ângulo articular
de avaliação da força muscular é outra importante variável a
ser considerada na análise do efeito do alongamento no desempenho físico. Aparentemente, o déficit de força muscular
mediado pelo alongamento é mais observado quando a força
muscular é avaliada em ângulos articulares acima de 60 graus.
Poucos estudos procuraram comparar o comportamento do
déficit de força muscular mediado pelo alongamento em
diferentes exercícios, sendo que parece ocorrer uma relação
exercício-dependência nesse fenômeno. A presente revisão
mostra uma forte evidência sugerindo que variáveis associadas
às rotinas de alongamento e ao método de avaliação da força
muscular podem influenciar a magnitude do déficit de força
muscular mediado pelo alongamento.
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biceps femoris muscle. J Strength Cond Res 2008; 22:809-17.
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vs. static-stretching warm up: the effect on power and agility
performance. J Strength Cond Res 2006;20:492-99.
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maximal voluntary isometric torque production by acute stretching is joint angle specific. Res Q Exerc Sport 2001;72:68-70.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições
de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
61
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012
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Calendário de eventos
2012
Junho
Março
29 de março a 1 de abril
Goiânia Capital Fitness
Centro de Convenções Goiânia, GO
Informações: www.bsbfitness.com.br
2 a 5 de abril
XIV Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física
dos Países de Língua Portuguesa
Belo Horizonte, MG
Informações: www.casaef.org.br/palops
VII Musculação e Treinamento
Informações: (11) 2714-5678/2714-5695
e-mail: [email protected]
site: www.institutophorte.com.br
14 de abril
I Certificação em Avaliação Funcional, Treinamento
Funcional & Core e Pilates MET
Informações: (11) 2714-5678/2714-5695
e-mail: [email protected]
site: www.institutophorte.com.br
28 de abril a 1 de maio
22º Fitness Brasil Internacional
Santos, SP
Informações: www.fitnessbrasil.com.br
26º JOPEF Brasil
Centro de Convenções, Curitiba, PR
Informações: www.korppus.com.br
26 a 29 de junho
Abril
13 a 15 de abril
7 a 9 de junho
4th International Congress on Cell Membranes and
Oxidative Stress: Focus on Calcium Signaling and TRP Channels
Isparta, Turkey
Informações: www.cmos.org.tr/2012/
Julho
26 a 28 de julho
14º Rio Sports Show
Pier Mauá, Rio de Janeiro, RJ
Informações: www.riosportshow.com.br
Agosto
30 de agosto a 1 de setembro
13th IHRSA Fitness
Latin American Conference Trade Show
São Paulo, SP
Informações: www.fitnessbrasil.com.br
Novembro
9 a 11 de novembro
12º Fitness Brasil Bahia
Salvador, BA
Informações: www.fitnessbrasil.com.br