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ARTIGO ORIGINAL
Estudo comparativo da atividade
eletromiográfica da porção longa do bíceps
braquial em praticantes de musculação
antes e após alongamento passivo
Comparative study of electromyographic activity of the
long head of the brachial biceps in bodybuilders before
and after passive stretching
Danilo Ferreira da Silva*, Diego Felipe Tenório Correia*, Rafael Ferreira Romualdo*,
Geraldo Magella Teixeira, Ft., D.Sc.**
*Acadêmicos de Educação Física da Faculdade Estácio de Alagoas (SESAU), Maceió/AL,
**Orientador, Professor do curso de Educação Física da Universidade Estácio - FAL, Maceió/AL
Resumo
Objetivo: Avaliar comparativamente o efeito imediato da técnica de alongamento passivo na ativação
elétrica da porção longa do bíceps braquial do membro
superior dominante em praticantes de musculação
há pelo menos 1 ano. Material e métodos: Estudo
observacional, do qual participaram 35 indivíduos
do sexo masculino, maiores de 18 anos, praticantes
de musculação há pelo menos 1 ano. Todos foram
avaliados por meio da eletromiografia de superfície
antes e após o alongamento passivo do músculo bíceps
braquial do membro superior dominante. Resultados:
Antes da realização do alongamento passivo, a média
da atividade elétrica muscular do bíceps braquial durante a flexão do cotovelo contra resistência de 1 kg
foi de 175,84 mV e após a aplicação do alongamento
passivo, para a execução da mesma tarefa, a média foi
de 92,38 mV. Conclusão: O estudo sugere que a técnica
de alongamento passivo pode ser eficaz na diminuição
da atividade elétrica muscular em praticantes de musculação durante a execução de exercícios resistidos.
Abstract
Objective: To evaluate comparatively the immediate effect of passive stretching technique in the
electrical stimulation of the long portion of brachial
biceps of dominant upper limb in bodybuilders for at
least one year. Methods: This observational study was
composed of 35 male individuals, over 18 years old,
who performed bodybuilding for at least one year.
All were evaluated using surface electromyography
before and after passive stretching of the brachial biceps muscle of dominant upper limb. Results: Before
performing passive stretching, the average of muscle
electrical activity of the brachial biceps during elbow
flexion against resistance of 1 kg was 175.84mV and
after passive stretching, to perform the same task, the
average was 92.38mV. Conclusion: The study suggests
that the passive stretching technique can be effective
in reducing muscle electrical activity in bodybuilders
during resistance exercises.
Key-words: brachial biceps, passive stretching,
surface electromyography.
Palavras-chave: bíceps braquial, alongamento
passivo, eletromiografia de superfície.
Recebido em 13 de novembro de 2014; aceito em 30 de dezembro de 2014.
Endereço para correspondência: Diego Felipe Tenório Correia, Rua Aurélio Cavalcante, 65 Gruta de
Lourdes 57052-488 Maceió AL, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2015 - volume 14 - número 4
Introdução
De acordo com Weineck [1], a musculação,
historicamente, era atividade privada de uma
determinada categoria de homens que tinham
necessidade de impressionar por meio da imagem
física. Com a cientificização da musculação foi
possível constatar que essa atividade pode, além
de benefícios estéticos, proporcionar bem-estar,
melhoria no desempenho do aparelho locomotor,
além de trazer ganhos cognitivos [2]. Ramos [3],
ao abordar a questão, coloca que praticantes de
musculação que possuem bom recrutamento de
unidades motoras possuem vantagens em relação
à independência funcional quando comparados
com não praticantes.
De acordo com Weineck [1], o processo de
ganho de força pela contração muscular envolve
diversas proteínas celulares e sistemas de produção
de energia e, de acordo com Ferreira [4], a actina
e miosina são as proteínas mais importantes nesse
processo e participam da contração muscular
quando o cálcio citosólico ([Ca2+]i) aumenta,
disparando uma série de eventos moleculares
que levam à interação entre miosina e actina,
ocorrendo o deslizamento desta última sobre os
filamentos grossos e o encurtamento dos sarcômeros em série. Por outro lado, Ramos [3] constata
que o processo de ganho de massa muscular pode
favorecer o encurtamento muscular e que este
encurtamento pode ser influenciado por fatores
endógenos; a saber: gênero e idade e fatores exógenos; tais como: temperatura ambiente e hora
do dia.
Em relação ao gênero, Costa [5] afirma que,
de modo geral, as mulheres, por interferências
hormonais, apresentam maior flexibilidade, uma
vez que estas apresentam elevada taxa de estrógeno
quando comparadas aos homens. Esse mesmo
autor estabelece relação do estrógeno e hidratação
tecidual e maleabilidade tecidual. Zakharov [6]
coaduna com o autor suprarreferido ao confirmar
que a supremacia das mulheres, na mobilidade
muscular, comparada a dos homens é de 20% a
30%, não significando que homens bem treinados
não sejam capazes de possuir elevado nível de
flexibilidade.
Em relação à idade, Achour & Junior [7] afirmam que com o decorrer dos anos a flexibilidade
201
vai se deteriorando. Isso ocorre em função da
diminuição do fornecimento do fluxo sanguíneo
e diminuição da capacidade do músculo em
reter água. A flexibilidade é maior quanto mais
jovem for o sujeito, assim sendo o treinamento
da flexibilidade deve ser proposto desde a infância
[1,8] no sentido de manter a flexibilidade máxima
quando adulto.
No que diz respeito à temperatura e hora do
dia, Contursi [9] afirma que os componentes
articulares e musculares possuem melhor desempenho quando expostos a temperaturas mais
elevadas e para Weineck [2] durante o período
matutino, por causa da baixa temperatura corporal a flexibilidade é menor quando comparado
com o período vespertino.
Segundo Bompa [10], quando realizados de
maneira adequada, os alongamentos são eficazes
no ganho de flexibilidade e trazem benefícios,
tais como: redução das tensões musculares; relaxamento corporal; maior consciência corporal;
fluidez nos movimentos; prevenção de lesões;
preparam o corpo para atividades físicas e ativam
a circulação.
O alongamento passivo ocorre quando o profissional manipula em excentricidade o músculo
do aluno; ainda de acordo com o mesmo autor,
trata-se de um alongamento eficiente, pois permite relaxar com eficiência a musculatura, desde
que realizado por pelo menos 10 segundos [11].
Achour Junior [7] concorda com J. Alter [11] e
afirmam que o alongamento passivo é fundamental para diminuir as possibilidades de lesões e tem
como objetivo a recuperação ou manutenção da
flexibilidade; mas propõe ampliação do tempo
em excentricidade e assume ser necessário, para
obtenção de alongamento eficaz, manter posição
de excentricidade por período que pode variar de
10 segundos até alguns minutos.
A eletromiografia de superfície (EMG-S) é
um método biomecânico não invasivo que permite o estudo em tempo real da função elétrica
muscular pela análise do sinal elétrico emanado
durante a atividade muscular [12]. Essa técnica
possibilita analisar o tempo de ativação muscular
e se há pouca ou muita atividade contrátil do
músculo [13], sendo considerado um instrumento de avaliação muito útil em atividades
musculares [14].
202
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2015 - volume 14 - número 4
Diante do exposto pretendeu-se, com a
presente proposta, averiguar comparativamente
a atividade eletromiografia da porção longa do
bíceps braquial em praticantes de musculação
antes e após o alongamento passivo ao realizarem contração isotônica resistida com carga
de 1 kg.
Material e métodos
Após a aprovação do protocolo de Estudo pelo
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), Universidade
Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, protocolo nº 902/08 foram analisados 35 indivíduos
do sexo masculino, praticantes de musculação há
pelo menos 1 ano, maiores de 18 anos e que não
tinham histórico de queixas álgicas nos membros
superiores.
Após a seleção dos sujeitos foi feita a coleta do
sinal eletromiográfico da porção longa do músculo
bíceps braquial do lado dominante durante a
contração isotônica contra resistência com carga
de 1 kg para uma única repetição. Para a aquisição
do sinal eletromiográfico foi utilizado aparelho
Miotec® de 02 canais e eletrodos de superfície
de cloreto de prata, circulares e pré-geldados
da marca Meditrace®. O modelo utilizado foi
o Miotool 200 USB, com 14 bits de resolução,
ruído < 2 LSB, taxa de aquisição por canal de
2000 amostras/segundo, rejeição de modo comum de 110 decibéis (dB), isolamento de 3000
volts, impedância de entrada de 1010 Ω||2pF e
filtro Butterworth passa alta 1 polo de 0,1 Hz +
Butterworth passa baixa 2 polos de 500 Hz, com
ganho fixo de 100x.
Foi seguido o protocolo recomendado por
Seniam [15], após assepsia da região com álcool
a 70% e abrasão da pele com uma lixa 180 mm,
o primeiro eletrodo foi posicionado no ponto
mediano entre a origem e inserção do músculo
em questão e o segundo eletrodo de referência, no
epicôndilo lateral do úmero do lado dominante.
Foi tomado como ponto de referências da origem
muscular em questão o tubérculo supraglenoidal
e o ponto de referência de inserção a tuberosidade
radial [16].
Na primeira etapa foi solicitado ao participante realizar uma única flexão em toda amplitude de movimento (ADM) do cotovelo do
lado dominante a partir da posição anatômica.
Essa contração foi realizada de forma isotônica
e contra resistência com halter de 1 kg; foi
aplicada uma força manual no ombro do participante no sentido de impedir compensações da
articulação do ombro. O sinal eletromiográfico
obtido passou por um filtro analógico passa-banda de 20-450 Hz [17] e, em seguida, foi
transformado analogicamente em valores RMS
(Root Mean Square), dos quais foi extraído o
valor médio da amplitude do sinal processado,
representado por microvolts (μV). Convém
ressaltar que não houve qualquer interesse em
fazer estudo interindivíduos e sim intraindivíduos, de modo que nenhuma normalização
estatística foi necessária.
A segunda etapa foi realizada por outro pesquisador devidamente treinado e constou dos
seguintes procedimentos: retirada dos eletrodos
e aplicação da técnica de alongamento passivo
do músculo bíceps braquial. Cada exercício foi
realizado com três séries de 30 segundos com
intervalo de 30 segundos entre as séries [7,11].
Os participantes foram instruídos a relatar imediatamente qualquer desconforto surgido durante
a manobra. Os participantes foram instruídos a
permanecerem sentados em uma cadeira, com as
costas bem apoiadas e joelhos fletidos a 90 graus,
o colaborador foi instruído a estender o ombro
dominante, com o cotovelo também estendido e
pronado. O pesquisador exerceu força no sentido
de amplificar a ADM do ombro em extensão e
impedir a flexão do cotovelo e compensação com
o tronco.
Decorridos 5 minutos, período de intervalo,
o participante foi submetido à terceira etapa, que
consistiu em uma nova avaliação, pelo examinador 1, da análise do sinal eletromiográfico do
músculo em questão. Obedecendo aos mesmos
critérios descritos na primeira etapa.
Resultado e discussão
Conforme a tabela abaixo a amostra foi
composta de trinta e cinco indivíduos do sexo
masculino com média de idade de 23,29 ± 2,43
anos, peso médio de 85,04 ± 1,98 kg e média
de altura de 1,79 ± 7,12 cm e IMC médio de
17,12% ± 1,71.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2015 - volume 14 - número 4
Tabela I - Média ± DP das características da população (n = 35).
Características
Idade
Peso (kg)
Altura (m)
IMC
Média
23,29
85,04
1,79
17,12
DP
2,43
1,98
7.12
1,71
Fonte: Autores 2013
Esses resultados estão de acordo com os dados
encontrados por Konsel et al. [18] quando os
autores propuseram estudar o comportamento
eletromiográfico da porção longa do bíceps braquial em diferentes posições do ombro .
Em relação à atividade elétrica do musculo
bíceps braquial antes da atividade de alongamento
passivo, o presente estudo mostrou que a média
da atividade muscular foi de 175,85 mV e apoio
de 92,38 mV com valor da significância de 0,001.
Tais dados podem ser no gráfico abaixo.
Gráfico 1 - Comparação da amplitude da onda
eletromiográfica (recrutamento muscular) em mV do
músculo bíceps braquial dominante contra resistência
antes e após o alongamento passivo (α = 0,001).
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
175,84
92,38
média antes
média pós
Fonte: Autores 2013.
Esses achados estão em desacordo com os
dados encontrados por Gonçalves et al. [19],
pois os autores afirmam que a atividade elétrica
muscular parece não ser influenciada pelo alongamento. Porém vale salientar que nesse estudo,
diferentemente do presente estudo, os autores
supracitados usaram a técnica de alongamento
ativo. Acredita-se que as diferenças encontradas
são decorrentes das diferenças entre as modalidades de alongamento. Já Branco et al. [20]
encontram em estudos dados semelhantes ao
estudos aqui apresentados. Dados semelhantes
203
podem ser encontrados nos estudo propostos por
Cunha et al. [21].
Conclusão
O estudo sugere que técnica de alongamento
passivo pode ser eficaz na diminuição da atividade
muscular do bíceps braquial em praticantes de
musculação.
Referências
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Manole; 2005. 758p.
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