Myanmar, Birmania, Burma

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Myanmar, Birmania, Burma
turismo
Myanmar, Birmania, Burma
Uma viagem ao passado texto e fotos por Vera Kehdi
A
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o chegar em Myanmar, o impacto é tão grande,
a permanência no país por até 4 semanas. Após décadas de
que não há como não se encantar com sua atmosfera, a
estagnação e desordem social, hoje encontramos novos
variedade de aromas, o povo, o colorido das roupas dos
hotéis, restaurantes e lojas, a título de concessão governa-
monges, o dourado dos pagodes; a sensação que se tem,
mental por um prazo determinado. Essas mudanças, que são
é a de fazer parte de um filme dos anos 20. Quanto mais
inevitáveis e irrevogáveis, ocorrem num país onde as pessoas
você se inteira da história de Myanmar, mais você se trans-
ainda vivem sob os princípios da reencarnação e da vida
forma num personagem, que vai tomando forma e força
eterna. Na maior parte do país, as cores são ainda naturais,
para lutar por esse país, ao mesmo tempo tão dramático
os monges se vestem com uma variedade de tons que vão
e tão encantador. Enquanto o país experimenta drásticas
do açafrão ao púrpura; as mulheres usam uma maquiagem
mudanças em sua estrutura política e social, o visitante dá o
natural à base de pasta de sândalo (amarelo-claro) e rou-
primeiro passo para entrar na Burma dos contos de fadas,
pas bem coloridas; as monjas usam rosa-claro e os homens
esquecendo-se da dura realidade da vida de seu povo.
usam o “longyi”, que consiste num tipo de saia que vai da
Seu principal monumento, o Pagode de Shwedagon, é uma
cintura ao tornozelo, usada com uma blusa transparente.
lembrança constante da transcendência de todas as coisas,
Assim, o visitante de Burma é constantemente levado a relem-
um sinal de que o budismo reconhece a condição de sofri-
brar o passado, mesmo através de imagens que nem sabe se
mento do homem. Ele transmite aos devotos, que se acercam
realmente existiram. Isso é um dos motivos que torna o país
de seus halls e pavilhões, de uma maneira muito sutil, uma
tão fascinante, afinal, em que outra capital do mundo, em
graça que pode ser sentida do nascer ao pôr do sol.
pleno século XXI a vida noturna praticamente não existe?
O número de turistas tem aumentado nos últimos anos, graças
Se o turista de hoje acha Myanmar exótico e pitoresco, imagi-
aos novos regulamentos de imigração, que agora permitem
ne como os europeus se sentiram ao chegar lá séculos atrás.
Hospital Sírio-Libanês • Maio/Junho 2009
turismo
Um pouco de sua história
Segundo a história mitológica do país, o primeiro reinado em solo birmanês foi fundado
muito antes de Cristo por imigrantes vindos
da Índia, porém, há controvérsias; outros estudiosos acham que os primeiros habitantes
vieram do noroeste da China.
Conta a lenda, que os Mons (vindos da Ásia Central) foram os responsáveis pela introdução do
budismo em Myanmar, o país mais budista do mundo.
típico. Os monges não podem ser tocados, por isso,
Ao longo dos séculos, esse país foi invadido pelos
obedecendo a tradição, tiramos nossos sapatos e, no
mongóis, pelos siameses e até pelos portugueses.
momento de sua passagem, depositamos nossas ofe-
Cada aldeia sustenta no mínimo um mosteiro,
rendas nos sentindo completamente abençoados!
normalmente ligado à escola. Os monges sempre presentes nas ruas, nos pagodes, estão em
O Passeio de balão
toda parte. Não resistimos e, envolvidos com tan-
Em Bagam, a cidade dos mais de 2200 templos, estu-
ta filosofia e espiritualidade, fomos a um merca-
pas e pagodes, construídos durante o império birma-
do local preparar sacolas com comida para dar aos
nês, dos séculos XI ao XIII fizemos o maravilhoso pas-
monges, que são alimentados pela população que
seio de balão. Fomos acordados às 4:30 da manhã e,
os cerca. Com o dia ainda amanhecendo, eles passam
no hotel nos esperava uma jardineira, absurdamente
em fila, com suas cuias, para que o povo ali deposi-
velha, para nos levar ao local onde o balão se encon-
te suas doações. Isso faz parte de saber ser humilde
trava. Fomos recebidos com um farto café da manhã
para pedir. A maioria das pessoas divide com eles o
e fazia um frio de trincar os ossos. O comandante
que tem para comer, geralmente arroz e um pastel
do balão, um alemão que vive há anos em Myanmar,
nos deu as instruções e lá
fomos nós para um passeio de quase uma hora.
Talvez não exista outro
lugar onde se tenha uma
vista tão fantástica quanto
a da planície às margens
do maior rio do país, coberta por pagodes de tijolos vermelhos, um ao lado
do outro, com eventuais
espirais brancas, que se
elevam em direção ao céu.
Literalmente, uma viagem
a Myanmar é uma viagem
ao túnel do tempo. 
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