1 - introduo - Portal de Educação do Exército Brasileiro

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1 - introduo - Portal de Educação do Exército Brasileiro
O Cerimonial como ferramenta para a consolidação da
imagem institucional dos Grandes Comandos do Exército Brasileiro
HENRIQUE SOARES DE OLIVEIRA
Tenente-Coronel
Oficial da Arma de Engenharia, bacharel em Ciências Militares pela AMAN e aperfeiçoado
pela EsAO. Possui o Curso de Comunicação Social do Centro de Estudos de Pessoal e é
pós-graduado em Gestão da Comunicação e Marketing Institucionais, pela UCB/EB.
Atualmente é adjunto da Assessoria de Comunicação Social do DECEx.
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RESUMO
OLIVEIRA, Henrique Soares. O Cerimonial como ferramenta para a consolidação da
imagem institucional dos Grandes Comandos do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro,
2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-graduação em Comunicação e Marketing
Institucionais), Universidade Castelo Branco, 2010.
O cerimonial no Exército Brasileiro está definido através de legislação própria, que
orienta o assunto, e seu emprego se dá de forma pragmática, tecnicista ou, até mesmo,
mecânica, cumprindo-se fielmente o que rege a documentação de amparo. Este trabalho se
propõe a apresentar os princípios e fundamentos que regem a atividade do cerimonial
público indo além da aplicação prática das suas normas. Busca mostrar que o emprego do
cerimonial nas organizações militares do Exército contribui para a projeção da sua imagem
institucional na sociedade, apresentando a importância que é dispensada para o assunto e
seus reflexos no relacionamento com outros órgãos. Baseia-se na pesquisa qualitativa
realizada nos Grandes Comandos situados no Rio de Janeiro, tomando como referência os
eventos realizados em 2008 e 2009, na busca por conhecer a forma de atuação do
cerimonial desses Comandos, a relevância destinada ao assunto, a estrutura dos eventos
realizados, as autoridades e personalidades participantes, os resultados conquistados e o
retorno obtido. São apresentadas, assim, a importância da identidade institucional e a
projeção da sua imagem para garantir a legitimidade das organizações, os princípios que
regem as normas do cerimonial como ferramenta para projeção da imagem institucional e o
emprego do cerimonial no Exército Brasileiro. Desta forma, fica constatado que o cerimonial
no Exército, aplicado de forma estratégica, permite estreitar e consolidar relacionamentos,
motivar o público-interno, além de difundir valores institucionais.
Palavras-chave: Cerimonial. Exército Brasileiro. Identidade. Imagem Institucional.
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INTRODUÇÃO
A sociedade do novo milênio vivencia o momento em que os avanços tecnológicos
reduziram significativamente o tempo e as distâncias, a produtividade aumentou graças à
mecanização e à automação e os meios de comunicação proliferaram, acelerando o
crescimento do comércio global e a interação entre os povos. Alvin Toffler considera esse
momento de revolução tecnológica como a terceira onda da evolução da civilização e
reforça a ideia da sociedade que emerge “do choque de novos valores e tecnologia, novas
relações geopolíticas, novos estilos de vida e novos modos de comunicação” (TOFFLER,
1980, p. 16).
As organizações públicas e privadas, inseridas nesse contexto de transformações
políticas, sociais, econômicas e ambientais, de rápida evolução tecnológica e de novas
tendências comportamentais, cada vez mais têm a necessidade de reunir-se para trocar
conhecimentos, estreitar relações, realizar acordos e negociações. Roberto Vieira (2004)
reconhece que a atitude dialógica é a base da legitimidade da ordem social e que o sucesso
de uma organização nesse cenário dependerá da capacidade de inter-relação empresa,
sociedade e empregados. Assim, a comunicação eficiente, através do diálogo interativo
entre a instituição e seus públicos, continuará a trazer benefícios para a sobrevivência das
instituições. Baseado em Torquato:
A comunicação, como processo e técnica, fundamenta-se nos conteúdos de
diversas disciplinas do conhecimento humano, intermedia o discurso
organizacional, ajusta interesses, controla os participantes internos e
externos, promove, enfim, maior aceitabilidade da ideologia empresarial.
Como poder expressivo, exerce uma função-meio perante outras funçõesfim da organização. (1987, p.17)
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Esse processo de comunicação, adequado e coerente com as características, o
ambiente social, as necessidades e a realidade das organizações, dá-se por intermédio das
políticas, normas e programas de relações públicas, os quais buscam mecanismos de
aceitação social, de reações confiantes e de credibilidade junto aos públicos com os quais
se relacionam, utilizando técnicas que trabalham a veia racional das pessoas. Desta forma,
a atividade de relações públicas torna-se o exercício do relacionamento das organizações,
tanto no ambiente interno – intra-organização –, quanto no ambiente inter-organizações.
O relacionamento das organizações com os mais diversos públicos se traduz num
incremento de eventos como congressos, conferências, simpósios, sessões solenes,
plenárias, almoços e jantares etc, sempre em benefício dos interesses da própria instituição.
Os eventos são acontecimentos planejados para transmitir mensagens
específicas para os públicos-alvo. Os departamentos de relações públicas
organizam conferências, grandes inaugurações, e patrocínios esportivos
para alcançar o público-alvo com efeitos específicos de comunicação.
(KOTLER, 2000, p. 581)
Surge, então, a necessidade de desenvolver e intensificar o estudo e a aplicabilidade
do cerimonial inerente a esses tipos de reuniões, que pelo grande número de pessoas e sua
diversificação, assim como os seus reflexos para a projeção da imagem institucional na
sociedade, requerem uma perfeita organização. O potencial comunicativo inerente à
atividade de cerimonial e protocolo aumenta, também, a oportunidade de se consolidar um
determinado conceito perante a opinião pública.
A possibilidade de extrair das cerimônias a sua capacidade de estabelecer
relacionamentos entre instituições, grupos e/ou pessoas e a importância do cerimonial são
assim consideradas por Takahashi (2009, p. 9):
Enquanto o homem viver em sociedade e as suas atividades exigirem
padrões de comportamento em cada situação, adequando-se o tempo, o
lugar e as pessoas envolvidas, o cerimonial estará sendo aplicado para
harmonizar essas relações humanas.
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Exatamente para harmonizar essas relações humanas é que determinados
procedimentos são adotados para o bem-estar entre os participantes de eventos,
principalmente em se tratando de pessoas com cargos de relevância na sociedade, seja no
meio público ou privado.
Nas organizações militares (OM) do Exército Brasileiro (EB), torna-se comum o
emprego do cerimonial de forma pragmática, tecnicista ou, até mesmo, mecânica,
cumprindo-se fielmente o que rege a documentação de amparo, sem que sejam observados
os fundamentos teóricos, os aspectos filosóficos, a profundidade de alcance e influência na
sociedade que uma atividade tão antiga quanto a humanidade pode ter.
Este trabalho, então, apresenta os princípios e fundamentos que regem a atividade
do cerimonial público no Exército Brasileiro, indo além da aplicação prática das suas
normas. Busca o entendimento das suas implicações e consequências para o reflexo da
imagem institucional das OM do Exército na sociedade, observados os fundamentos
teóricos, os aspectos filosóficos, a profundidade de alcance e influência que uma atividade
tão antiga quanto a humanidade pode ter.
Ele baseia-se em uma pesquisa de campo realizada nos Grandes Comandos
(GCmdo) situados da região metropolitana do Rio de Janeiro para a obtenção de dados
estatísticos e de informações das cerimônias realizadas e suas repercussões e para
conhecer a forma de atuação do cerimonial desses comando, a relevância destinada ao
assunto, a estrutura dos eventos realizados, as autoridades e personalidades participantes,
os resultados conquistados e o retorno obtido.
Permitirá aos chefes das seções de operações e de comunicação social,
responsáveis pela condução das formaturas e dos eventos nas OM, aplicar as normas do
cerimonial com uma visão mais abrangente, articulando melhor o ordenamento das
autoridades e personalidades, a sequência das ações e a evolução das celebrações de
forma a atingir objetivos futuros no relacionamento com públicos de interesse.
A exploração deste tema poderá contribuir para um novo olhar de como a prática de
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cerimonial vai se constituir de uma ferramenta de relações públicas, que aplicada pelos
Grandes Comandos do Exército Brasileiro, propiciará atrair a atenção de públicos
estratégicos e gerar mudanças de comportamento favoráveis a essas organizações.
Pretende-se mostrar, também, que a aplicação do cerimonial de forma estratégica,
através de uma atuação sem automatismo, permitirá aos públicos envolvidos nos
determinados eventos, a obtenção de valor para tema de conversa que Philip Kotler (2003,
p. 202) define como talk value, ou seja, “a repercussão dos comentários de alguém a
respeito de um determinado produto ou serviço será muito mais convincente”, trazendo
reflexos positivos para a imagem institucional no âmbito do relacionamento dos GCmdo com
outros órgãos, públicos ou privados.
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IMAGEM E IDENTIDADE INSTITUCIONAIS: da personalidade ao imaginário da
instituição.
Toda organização busca, através da comunicação, legitimar sua atuação perante a
opinião pública e, de uma forma mais ampla, pela sociedade. A construção de uma boa
imagem institucional pode garantir esse reconhecimento ou, caso contrário, uma imagem
ruim pode acabar com a organização.
Assim, “as organizações trabalham sistematicamente para construir uma imagem
sólida e positiva na mente do seu público” (KOTLER, 2000, p. 27). Na busca de um maior
reconhecimento, as empresas veiculam anúncios de identidade corporativa, constituídos
pelo seu nome e pela marca dos seus produtos, os maiores patrimônios de uma
organização, apesar da sua intangibilidade.
Além do mais, a imagem institucional ganha importância fundamental na atualidade
uma vez que o seu peso já vem sendo medido através do balanço social das empresas e/ou
mensurado em dólares através de instrumentos como o Top of Mind, revelando a força da
marca, a credibilidade no mercado e a garantia de praticar preços mais elevados e exigir
mais espaço no ponto de vendas.
Apesar de o termo imagem ser emprego com frequência como significado de
identidade, existe um limiar, uma diferença entre os dois termos, que a seguir será
explicitado com base na literatura de alguns autores sobre processo de comunicação
organizacional, de formação de identidade e de imagem institucionais, como Gaudêncio
Torquato, Cees Van Riel, Joan Costa, Margarida Kunsch, entre outros.
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2.1
Construção da identidade institucional
O conceito de identidade da instituição está relacionado à estrutura organizacional da
empresa, seu estatuto legal, sua herança histórica, os padrões de comportamento de seus
integrantes, suas instalações, seu capital e seu patrimônio, assim como todas as suas
atividades produtivas, técnicas e métodos utilizados, linhas de produtos ou serviços,
estrutura de preços e características de distribuição.
Atributos centrais, imateriais, distintivos e relativamente duradouros, como crenças e
valores oriundos da cultura organizacional, os símbolos de identidade e outras formas de
comunicação, também constituem os traços de personalidade que permitem que uma
organização seja reconhecida como sendo ela própria, única, e contribuem para a
construção da identidade corporativa. É o que diferencia uma organização da outra, dandolhe caráter único.
Assim, a identidade institucional reflete o que a empresa é, associado aos
relacionamentos, conflitos e negociações estabelecidos entre o setor de produção, recursos
humanos e o cenário que os envolve. Os elementos desse cenário, de suporte e influência
ao processo dinâmico de construção, desenvolvimento e projeção da identidade, são as
condições de mercado, a relação com os stakeholders (públicos estratégicos de uma
organização) e as grandes tendências socioeconômicas.
Van Riel estabelece quatro tipos de identidade:
identidade percebida, que representa a essência da organização e a
distingue de outras; identidade projetada, a forma como a organização se
mostra e vende suas qualidades aos diversos públicos; identidade
desejada, o que a alta cúpula espera que a organização seja; e identidade
aplicada, que [ ] consiste nos sinais que são transmitidos conscientemente
ou inconscientemente a todos os níveis da organização através do
comportamento de seus membros. (apud COLNAGO, 2006, p. 55)
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Torquato (2002, p. 104) resume a identidade da organização como o “amálgama de
ingredientes que formam sua personalidade e sua composição” e afirma que “a identidade
se projeta na imagem”, como será visto a seguir.
2.2
Formação da imagem institucional
Imagem institucional é a visão subjetiva da realidade objetiva da organização,
representação mental, no imaginário coletivo, de um conjunto de atributos e valores que
funcionam como estereótipo, fruto da soma de experiências, percepções, induções e
deduções, projeções, sensações, emoções e vivências que alguém associa a essa
organização, gerando a representação da realidade sob o ponto de vista do público.
Kotler define imagem institucional como “o conjunto de crenças, idéias e impressões
que uma pessoa tem em relação a um objeto” e que as atitudes e ações dessa pessoa com
relação ao objeto são condicionadas pela imagem dele (2000, p. 572). Complementando a
idéia apresentada, “a imagem representa o que está na cabeça do público a respeito do
comportamento institucional das organizações e dos seus integrantes” (KUNSCH, 2002, p.
171).
Margarida Kunsch considera, também, que a imagem institucional é formada na
mente dos públicos através da integração de todos os inputs emitidos pela organização na
sua relação com os públicos, sendo que esses inputs “constituem uma grande variedade de
manifestações das organizações, por meio dos seus atos e da comunicação” (Ibid, p. 171).
Imagem, portanto, é um bem intangível a ser conquistado pela organização.
Essa relação de experiências do público com a organização para a formação de uma
imagem institucional, positiva ou negativa, ocorrerá mediante um processo de elaboração
que contempla informações advindas oficialmente ou não. O discurso formal construído pela
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organização pode ser extremamente positivo, entretanto o testemunho de integrantes da
instituição ou de públicos insatisfeitos prejudicarão a imagem construída e a instituição
perde sua credibilidade.
Segundo Roland Barthes (apud SOARES; PEREIRA, 2005), imagem tem sua origem
em imitari, ou seja, a imagem é uma imitação, um análogo; é uma representação, uma nova
“presentação” da empresa para o público com o qual ela se relaciona, que assimila e forma
na sua consciência um entendimento sobre a sua identidade.
Para a formação da imagem de uma organização, considera-se a existência de
quatro tipos de elementos:
Os elementos humanos (as pessoas que trabalham numa organização e os
seus comportamentos); os elementos materiais (instalações, equipamentos
etc.); os elementos psicossociológicos, a que nós preferimos chamar
organizacionais (políticas de pessoal, de informação, comerciais, etc.) e
finalmente a qualidade do bem ou do serviço. (RAMALHO, 1982, apud op
cit)
Pode-se perceber que a imagem institucional não é algo independente, mas que
envolve todos os setores da organização para que seja plena. Portanto, para se ter uma boa
imagem institucional é necessário que todos os níveis da organização estejam bem
relacionados com os seus públicos. A imagem se constrói com a participação do todo e não
a partir de iniciativas isoladas de setores da organização.
Em resumo, para compreender e diferenciar identidade e imagem institucional
entende-se que identidade é formada pelos princípios da instituição, seus valores, missão,
visão objetivos, conceitos e sistemas, é a personalidade da empresa, ou seja, aquilo que
realmente ela é. Imagem é o que a organização quer que seja fixado no imaginário de seus
públicos de interesse, aquilo que se percebe da empresa (imagem projetada) e o que a
empresa deseja ser, ou como deseja ser vista (imagem ideal). Identidade e imagem
constituem, assim, duas formas de perceber a organização, que devem ser complementares
e orientadoras do comportamento dos diferentes públicos.
Considerando que as instituições estão sendo cada vez mais cobradas devido ao
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atual
cenário
mercadológico
que
abriga
consumidores
mais
exigentes,
torna-se
imprescindível investir em atividades de comunicação que permitam a solidificação da
imagem da organização. Construir, fortalecer e consolidar uma imagem institucional forte e
positiva requer atividades comunicacionais bem planejadas, um bom relacionamento com os
públicos-alvos, além do comprometimento dos funcionários com a missão, visão e valores
da instituição.
Philip Lesly (1995, p 12) considera que alcançar prestígio é um objetivo a ser atingido
através de atividades de relações públicas, além de significar reputação do nome da
empresa na sociedade, que em última análise representa a imagem institucional da
organização. Ter uma imagem positiva determina o clima de receptividade de todas as
mensagens que a organização transmite e a proeminência de um nome é encarada como
um sinal de sucesso em qualquer instância.
2.3
Conceito e Imagem Institucional do Exército Brasileiro
Para o Exército Brasileiro o conceito da instituição, assim como a sua imagem, são o
maior patrimônio das organizações. Define o conceito da instituição como sendo o registro
da percepção da identidade institucional no imaginário da população fruto da sua trajetória
histórica e a imagem da instituição como uma descrição mental formada pela percepção dos
públicos, que pode sofrer alterações ou influências de eventos circunstanciais, ou seja, uma
fotografia momentânea decorrente das informações e dados que se dispõe da organização
num momento específico.
Considera, ainda, que o conceito é o suporte para a manutenção da boa imagem
institucional e que o conceito positivo do EB, ou a sua reputação, se constrói pelo culto às
tradições, à memória, dos valores morais e culturais, dos eventos históricos, dos princípios e
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da participação no desenvolvimento nacional, dando sustentação ao trabalho diuturno das
OM para a manutenção da imagem associada a uma Instituição sólida, séria e
comprometida com a missão constitucional, como é o Exército Brasileiro.
Portanto, o trabalho do responsável pelo cerimonial das organizações deverá estar
fundamentado nos princípios da identidade e conceito da instituição uma vez que o
cerimonial, como atividade comunicacional, inserido no planejamento estratégico de
comunicação da organização, servirá para estabelecer uma relação de satisfação com
públicos estratégicos que permitirá a construção de uma imagem institucional favorável,
como será visto a seguir.
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CERIMONIAL, PROTOCOLO E PRECEDÊNCIA: coadjuvantes do relacionamento e
da imagem institucional
A palavra cerimonial vem do latim caerimoniale, que, na sua origem, referia-se às
cerimônias religiosas. Teve seu emprego estendido para quaisquer atos solenes e festas
públicas, livro que contém as formalidades desses atos ou festas ou setor administrativo as
quais elas estão afetas.
Das definições apresentadas por diversos autores e constante de dicionários,
entende-se o cerimonial como o conjunto de normas e formalidades preestabelecidas que
devem ser seguidas na organização de determinados eventos, compreendendo o
ordenamento de símbolos, autoridades e personalidades, a sequência das ações, a
evolução das celebrações, além das regras de etiqueta – conjunto de regras que dizem
respeito ao comportamento das pessoas, anfitriões e convidados, num determinado evento.
Jean Serres (apud TAKAHASHI, 2009, p. 15), em Manuel Pratique de Protocole,
amplia a aplicação do cerimonial na esfera do relacionamento entre nações e considera que
“o cerimonial cria o quadro e a atmosfera nas quais as relações pacíficas dos Estados
soberanos devem realizar-se”.
Já o protocolo, que deriva do latim medieval protocollum e grego protókollon, referiase à primeira folha colada aos rolos de papiro e na qual se escrevia o resumo do conteúdo
do manuscrito. Do francês protocole, codifica as regras a serem seguidas, com o propósito
de ordenar e evitar constrangimento entre os participantes de uma cerimônia, dando a cada
um “as prerrogativas, privilégios e imunidades a que têm direito” (Id, apud Ibid, p. 19).
Apesar de existirem autores que consideram os termos “cerimonial” e “protocolo”
indistintos, ou seja, sinônimos, Maria Lúcia Bettega (2006, p.11-12) cita as definições de
Sérgio Paulo Schneider como sendo cerimonial a “rigorosa observância de certas
formalidades em eventos oficiais, entre autoridades nacionais e estrangeiras”, enquanto que
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protocolo “é a ordem hierárquica que determina as regras de conduta aos governos e seus
representantes em ocasiões oficiais e particulares”; e as de Augusto Estellita Lins, para
quem cerimonial “é a técnica de conduzir cerimônias, assim como a seqüência lógica de
programa, recepção, evento etc.” e protocolo é o “conjunto das normas para conduzir atos
oficiais sob as regras da diplomacia tais como a ordem geral de precedência”. No entanto,
há que se concordar com Carlos Takahashi, para quem “tais preceitos – cerimonial e
protocolo – são complementares” (2009, p. 19).
Quanto à precedência, trata-se da ordem pela qual se estabelece a colocação em
que devem estar dispostas as autoridades, personalidades e símbolos durante as
solenidades. Do latim praecedentia, significa o que tem prioridade, que precede ou vai
adiante, ou que está antes em uma ordem determinada. Como base do cerimonial, é
reconhecer a primazia de uma hierarquia sobre a outra. Desta forma, a autoridade de maior
hierarquia precede a de menor; o mais graduado antecede o menor; e o mais antigo segue
primeiro que o mais novo.
Do exposto, tem-se, então, que três fatores marcam a atividade de cerimonial: o
ritual – sequência das ações – e símbolos da autoridade; as regras e normas dos atos; e a
hierarquia e ordem de precedência.
3.1
Origens do cerimonial
O conjunto de formalidades e ritos em atos solenes existe desde as antigas
civilizações, estando sempre ligados à autoridade e ao poder. O uso do vermelho como cor
nobre, por exemplo, até hoje utilizada em tapetes, passadeiras, forros e cortinas, remonta a
antiguidade e está relacionada ao poder de um povo sobre outro. “Segundo alguns
antropólogos, a cor vermelha está associada à cor do sangue derramado nas batalhas e no
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fato dos chefes dos exércitos vencedores caminharem sobre os corpos dos derrotados.”
(TAKAHASHI, 2009, p 16)
No Egito antigo, o cerimonial oficial seguia um ritual religioso sagrado de grande
rigor, em que o poder divino era delegado à pessoa do Faraó, governante e divindade
intocável vivendo entre os mortais, e sua imagem traduzia toda a autoridade de Deus
perante a sociedade. Os rituais abrangiam desde a exaltação ao Deus Sol até as honras
póstumas, de forma que o cerimonial que cercava o Faraó garantia a continuidade do poder.
(...) o Antigo Egito, onde o cerimonial era rigoroso e confundia-se o
cerimonial civil com o religioso, a partir da figura do Faraó, considerado
Deus e autoridade. O banho diário do Faraó, com água considerada
sagrada, simbolizava um novo nascimento e a cerimônia era comandada
por dois sacerdotes, um representando o touro Íbis, outro o falcão Hórus.
Após o banho, o Faraó era revestido dos poderes dessas divindades, e
rompia o lacre da porta do templo de Rá, simbolizando a abertura do céu;
despertava então o Deus Rá, que era paramentado, pintado e recebia
insígnias reais. Terminada a cerimônia, retirava-se, lacrando a porta
novamente e apagando seus passos com folhas de palmeira
(MEIRELLES, 2001, p. 17).
O relacionamento diplomático do Egito com outros povos também possuía o seu
cerimonial. Os representantes do Faraó em funções diplomáticas possuíam prerrogativas,
privilégios e imunidades que eram extensivas aos similares estrangeiros. Takahashi cita que
os ladrilhos de argila, nos muros de Karnak, em Hatusa, registravam o tratado de Ramsés
Mori Amon feito com Kattusi III, governante dos Hititas, em 1279 a.C., em que é reconhecida
a igualdade dos Estados (2009, p. 15).
Os chineses, no século XII a.C., escreveram três obras que retratam as principais
cerimônias da sociedade chinesa e que são praticamente o primeiro registro sistematizado
de regras de cerimonial: o “Livro da Etiqueta Cerimonial” (I-Li), o “Cerimonial da Dinastia
Chou” (Chou Li) e “Notas sobre o Cerimonial” (Li-Chi). Nesses registros constam
comentários sobre o cerimonial da dinastia Hsia, que valorizava a lealdade, da dinastia Yin,
que valorizava a realidade, e da dinastia Chou, que valorizava o ornamento. Além do mais,
traduziam um profundo sentimento ético, o respeito mútuo, a dignidade, a obediência às leis
e costumes, bases para o desenvolvimento da identidade das sociedades.
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O cerimonial também está presente nas civilizações grega e romana, com a idéia do
sagrado, da moral e do direito. No Império Romano, principalmente por ocasião de sua
decadência, as pompas copiadas do oriente atingiram as raias do exagero na tentativa de
transmitir uma imagem de superioridade de poder sobre os povos dominados.
Porém, foi na Idade Média, sob a égide do ideal cristão que edificou uma sociedade
baseada nos princípios do Evangelho, que o cerimonial foi acrescido de grande ostentação
e ganhou muito destaque nas cortes feudais da Itália, Espanha, França e Áustria, de forma a
demonstrar o poder de um reino sobre o outro. A importância do cerimonial era de tamanha
significação para a imagem dos monarcas, que o austríaco Príncipe Felipe, o Bom, não
podendo ser rei, se preocupou em regular as atitudes de todos os membros da corte em seu
palácio.
A herança do cerimonial ocidental na atualidade está em componentes desse
período da história, como por exemplo: o símbolo do governante e da autoridade; a
hierarquia e a ordem de precedência; o cerimonial de poder e de corte em cortejo; as regras
do ritual de hospedagem; a linguagem de saudação, de amizade, de orações e de discurso.
O cerimonial ocidental se estruturou, porém, na Idade Média, quando tanto
os códigos de cavalaria como os rituais de corte e dos soberanos ganharam
expressão numa linguagem que já existia, mas só então se tornou universal.
(Lins, 2002, p. 89)
Na época do Renascimento o cerimonial ocidental sofreu grandes transformações. A
visão teocêntrica cedeu lugar ao antropocentrismo e a reforma protestante rompeu a
tradição medieval católica. No século XIV, Pedro IV de Aragão, o Cerimonioso,
regulamentou por escrito os movimentos de todos na corte austríaca. Esses preceitos
passaram a ser difundidos e consagrados na maioria das cortes européias, sendo adotados
e aprimorados pelas demais monarquias dos séculos XV, XVI e XVII.
Na França, à época da dinastia dos reis Luiz, o cerimonial encontrou seu apogeu,
incorporando as regras da etiqueta, um diferencial na corte francesa. O absolutismo marca o
século XVII e sérios atritos começavam a se fazer sentir entre os nobres, principalmente na
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questão da precedência, pois todos queriam ficar mais próximos do Rei. O problema só
seria resolvido séculos depois, quando o cerimonial foi empregado como instrumento para
minimizar os atritos e ordenar o relacionamento na Convenção de Viena, em 1815,
preconizando a precedência diplomática.
Com o fim da idade moderna, a nobreza perde sua função de liderança política e dá
lugar ao poder da burguesia que abandona a influência da igreja no Estado. Surge a
sociedade do consumo e da competição, onde o critério econômico passou a ser o de maior
valia, inclusive para o ordenamento do cerimonial, com a simplificação de normas e regras
em função, principalmente, da massificação dos conteúdos e do consumo (LINS, 1991, p.
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Novas doutrinas sociais tornam-se responsáveis pela evolução da sociedade, são
criados os organismos internacionais, tanto de caráter universal, como regional ou
específicos, e a revolução tecnológica leva o mundo à globalização com o aumento das
relações institucionais públicas e privadas.
Numerosas oportunidades de relações e a necessidade de encontros frequentes com
autoridades estrangeiras nas áreas econômica, financeira e de assistência técnica levam
governos de Estados e muitos empresários a perder oportunidades de negócios por não
disporem de um adequado assessoramento de cerimonial, principalmente para tratar de
questões de diferenças culturais, as quais precisam ser conhecidas e respeitadas para o
desempenho satisfatório de acordos internacionais.
Assim, o cerimonial, na contemporaneidade, passa a interpretar a linguagem
protocolar internacional, usando os símbolos, costumes e rituais de todos os povos. Cada
pessoa passa a ter as prerrogativas a que tem direito e as formas protocolares criam
solenidade, ordem, beleza, dignidade e perfeição à celebração de cada ato, influenciando as
políticas nacionais e internacionais (SPEERS, 1986).
Vê-se, portanto, que a capacidade de se organizar, de se ordenar em hierarquia e de
dar a cada pessoa as prerrogativas a que tem direito, ou seja, as normas de cerimonial, as
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regras de protocolo e a ordem de precedência, sempre significaram prestígio e poder aos
governantes, homens públicos e personalidades influentes na sociedade, desde a
antiguidade, permeando as civilizações pela idade média e que continua a estar presente no
contexto pós-moderno da era tecnológica.
3.2
Funções do cerimonial
Como já visto, o cerimonial lida com a formalidade, com as regras e com a
observância da ordem hierárquica na elaboração e na execução de eventos, seja em órgãos
públicos ou empresas privadas. É um instrumento indispensável para o relacionamento
entre povos de culturas diferentes, que ordena o mecanismo de sucessão de atos numa
cerimônia, orienta o comportamento nas relações entre os diversos segmentos da
sociedade, orienta os participantes do evento sobre como e quando devem agir, possibilita a
precisão nas necessidades específicas de cada evento e, principalmente, coordena o
disciplinamento das precedências.
O Embaixador Augusto Estellita Lins (1991, p. 30 e 31), classifica da seguinte forma
as funções desempenhadas pelo cerimonial:
a) função ritual - a que traduz os gestos, preceitos, honrarias, privilégios e símbolos
de poder, sendo a mais importante;
b) função semiológica – trata esta da linguagem formal, a linguagem internacional e a
diplomática, a serem utilizadas com suas formas de tratamento e fórmulas de cortesia, além
da redação e expressões oficial, próprias de cada ato;
c) função legislativa - codifica as regras, os costumes e os preceitos em normas
referentes ao protocolo e cerimonial, nos planos interno e externo;
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d) função gratuita - trata do festejo propriamente dito, por ser este lúdico e propiciar
prazer aos envolvidos no ato, notadamente o anfitrião;
e) função pedagógica - comunica e ensina para transmitir valores, formas de etiqueta
e boas maneiras, de acordo com as culturas e civilizações, comunidades ou organizações
públicas ou privadas; aborda os aspectos que se relacionam à cultura de determinado povo.
3.3
Cerimonial: atividade de Relações Públicas
A atividade de relações públicas, desde a Declaração de Princípios de Ivy Lee, em
1906, cuida do relacionamento das empresas e instituições públicas com pessoas, grupos e
outras organizações que constituem os seus públicos de interesse. É prática eminentemente
social, uma vez que lida sobretudo com valores humanos, como reza a definição da
Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP), segundo Speers (1986, p. 60), “[...]
vem a ser a atividade e o esforço deliberado, planificado e contínuo para estabelecer e
manter o entendimento mútuo entre uma instituição pública, ou privada, e os grupos de
pessoas a que esteja direita, ou indiretamente, ligada”.
Através do estabelecimento de uma comunicação de duplo curso, entre a instituição
e seus públicos, as relações públicas objetivam conquistar e manter a credibilidade e a
aceitação da organização junto aos stakeholders, de maneira a assegurar a criação e a
projeção de uma imagem institucional positiva, com o cuidado de não prejudicar o conceito
da mesma, ou seja, sua identidade, sempre levando em conta que suas ações devem
atender e respeitar os interesses do público e da opinião pública.
[...] a imagem organizacional de uma empresa só estará equilibrada e suas
mensagens só serão totalmente eficientes quando [ ] fundamentados em
ações administrativas que estejam orientadas pela filosofia de Relações
Públicas (ZIMMERMANN;BENITES, 2008, p. 110)
20
Ainda, sob a ótica da comunicação organizacional, cabe às relações públicas
administrar, em ação conjugada com outros setores, os trabalhos de comunicação da
organização com vistas a harmonizar os interesses institucionais e dos públicos vinculados,
através de uma comunicação sistematizada, que permita o conhecimento da instituição pela
opinião pública, valendo-se dos meios específicos devidamente selecionados, integrando
todas as atividades comunicacionais. Margarida Kunsch (2002, p. 255-256) considera que
para as organizações sobreviverem, “necessariamente precisam relacionar-se com seus
diversos ambientes, não só influenciando e causando impacto sobre ele, mas, sobretudo,
sendo influenciadas e sofrendo seus impactos”.
Para o alcance dos objetivos de relações públicas, a Confederação Interamericana
de Relações Públicas definiu as funções básicas da atividade: o assessoramento, a
pesquisa, o planejamento, a execução (da comunicação) e a avaliação (ANDRADE, 2003, p.
41). Dessas funções, a de execução abrange, entre outras, as ações de comunicação
dirigida e a realização de eventos e promoções especiais, como organizar congressos,
conferências, simpósios exposição, mostras e encontros empresariais que tenham caráter
informativo para construir imagem como inaugurações, comemorações; organizar e dirigir
visitas às instalações; organizar viagens; redigir discursos e correspondências; manter
contatos pessoais e por outros meios com líderes de opinião, empresários e autoridades de
interesse da empresa. Essas ferramentas de relações públicas permitem uma ação
personalizada, em que os interlocutores são identificados e podem interagir entre si.
No que se refere à utilização do evento como veículo de comunicação dirigida, este é
visto como um instrumento de aproximação e de contiguidade física entre os participantes,
com a otimização da comunicação oral, escrita, visual e interpessoal, ou seja, uma forte
ferramenta estratégica de comunicação que pode contribuir para criar e ampliar a
credibilidade, divulgar e dar conhecimento da organização e fortalecer o seu conceito
perante o público-alvo. Soma-se a isso o fato de que os eventos mobilizam a opinião
pública, geram polêmica, tornam-se acontecimentos, despertam emoções nas pessoas e
21
são elementos de transformação social, de aculturação, de educação, de conscientização e
de mobilização de massas.
Nos eventos das instituições, o cerimonial cuidará, então, da organização dos atos
que fortalecem a aproximação, a integração e a coesão dos diferentes grupos sociais,
simbolizando o elo entre elementos distintos e diferenciados entre si por fatores como
cultura, classe social ou atribuições que possuem. Essa relação de aproximação, integração
e coesão se constituirá, seja no relacionamento nível macroambiente, seja no
relacionamento do ambiente interno, por meio de uma linguagem protocolar, que
possibilitará a participação justa e adequada de cada indivíduo nas relações entre os grupos
que se inter-relacionam, visando um objetivo específico.
O cerimonial, como fonte apaziguadora e organizadora dos atos que torna a
convivência de grupos sociais menos drástica possível, fortalecendo a coesão social, requer
planejamento e sistemas específicos de comunicação. Ele passa a ser, então, uma atividade
estratégica a serviço da construção e consolidação de imagens institucionais, apoiadas na
aceitação social das ações desenvolvidas.
As normas do Cerimonial e as leis protocolares, que transformam um evento em um
acontecimento solene, através da sequência de palavras e gestos realizados em uma
sistemática que fornece uma lógica aos acontecimentos e onde é dado a cada um de seus
participantes as prerrogativas, privilégios e imunidade a que têm direito, permitem trazer em
relevo os costumes e as tradições praticadas e mantidas no seio de uma organização.
Maria Lúcia Bettega considera que “todos os atos importantes, para serem vistos
como realmente importantes, precisam ser ‘cerimoniados’, solenizados” e que os “[...]
acontecimentos [ ] precisam ser enfatizados para que os objetivos fiquem mais explícitos, e
a importância do fato, realmente sentida e avaliada” (2006, p. 9). Apresenta, ainda, as
atividades que merecem ser solenizadas:
- programas de visitas;
- reuniões e assembléias;
22
- programas voltados a clientes e acionistas;
- comemorações de datas específicas, em especial o aniversário da organização;
- participação em feiras e eventos;
- ações de responsabilidade social e corporativas.
Portanto, “solenizar momentos importantes é estabelecer, de fato, a comunicação. É
dar importância às pessoas e às suas atividades, sejam elas exercidas nos setores públicos
ou privado” (2006, p. 9). Com base na autora, entende-se que a partir do momento em que
uma autoridade ou personalidade pode ser vista, reconhecida e destacada em determinado
evento, ela estará dando visibilidade à instituição a que pertence, sendo a representante
legítima da mesma naquela circunstância. Da mesma forma, a distinção do referido evento,
com maior ou menor importância, pode ser dada pela leitura social de quem prestigiou ou
deixou de marcar presença no mesmo.
Lukower (2003) complementa dizendo que o cerimonial rege as relações de
civilidade entre as autoridades constituídas nos âmbitos jurídico, militar, eclesiástico,
diplomático, universitário e privado, em todas as instâncias do Poder Público.
Considerando também que “muitos dos problemas decisivos não estão no mundo
das coisas, mas no mundo das pessoas” e que “o maior fracasso do homem tem sido sua
incapacidade para conseguir cooperação e compreensão dos outros” (HERSEY;
BLANCHARD, 1974), o cumprimento do cerimonial vai facilitar a aproximação entre as
instituições, viabilizar os contatos, abrir espaço para o bom relacionamento e ampliar o
caminho para a comunicação, embasado na moral, na ética, na organização e na
transparência.
Para Nelson Speers (1984, p. 48) “[...] o bom relacionamento entre os grupos é
alcançado pela comunicação, que tem como instrumento a linguagem. Como linguagem, o
cerimonial é passível de transformações e atualizações e encerra, em sua essência, uma
comunicação especifica para públicos distintos”. Vê-se que estes preceitos da atividade do
cerimonial estão intrinsecamente ligados às Relações Públicas, além de que seus estudos
23
contemplam um conjunto de informações nos campos da antropologia, da sociologia e da
psicologia.
Em resumo, o cerimonial tem como atribuições a organização e o planejamento de
cerimônias oficiais e sociais das instituições, atendendo os públicos participantes das
solenidades, respeitando as regras de precedência, civilidade, protocolo e etiqueta,
comunicação dirigida, entre outros (SPEERS, 1984). O cerimonial e as relações públicas
agregam em suas funções a gestão, organização e planejamento da comunicação nas
instituições públicas e privadas, bem como todas as ações de comunicação dirigida para
públicos específicos, sejam eles internos ou externos. O cerimonial é, portanto, responsável
por planejar soluções e executar ações voltadas ao encontro de aspirações políticas que
contribuam na consolidação de cenários institucionais favoráveis, que permeiem
intercâmbios variados ou fortaleçam processos interativos.
24
4
O CERIMONIAL NO EXÉRCITO: instrumento de uma política de comunicação
O Comitê Nacional do Cerimonial Público (CNCP), que “tem por finalidade congregar
e estimular a colaboração, apoio, participação e a integração de todos os profissionais da
área”, faz a seguinte classificação para o cerimonial: governamental, não-governamental,
misto e de conduta (2007).
O cerimonial militar está inserido no cerimonial governamental, que é regulamentado,
no Brasil, pelo Decreto Presidencial nº 70.274, de 9 de março de 1972 – Normas do
Cerimonial Público e a Ordem Geral de Precedência. Essa legislação estabelece o
ordenamento das autoridades nas cerimônias oficiais de caráter federal na Capital da
República, nas cerimônias oficiais, nos Estados da União, com a presença de autoridades
federais e nas cerimônias oficiais de caráter estadual.
No Exército Brasileiro a atividade de cerimonial é realizada de acordo com o que
prevê o Regulamento de Continências, Honras, Sinais de Respeito e Cerimonial Militar das
Forças Armadas, as Instruções Gerais para a aplicação do Regulamento de Continências,
Honras, Sinais de Respeito, o Regulamento de Uniformes do Exército, o Manual de
Inspeções, Revistas e Desfiles, o Manual de Ordem Unida e a coletânea de Vade-mécum de
Cerimonial Militar do Exército.
O responsável, nas organizações militares, pelo cumprimento dessas prescrições é o
Chefe da 3ª Seção e/ou os Chefes das 1ª e 5ª Seções, respectivamente, Seção de
Operações, Seção de Pessoal e Seção de Comunicação Social. Quando essas seções
forem orgânicas de Grandes Comandos são denominadas E3, E1 e E5, assim como os
oficiais que as chefiam.
O militar possui no bojo de sua formação, segundo os preceitos da ética militar
(EXÉRCITO BRASILEIRO, 2002), o rigoroso cumprimento dos deveres e das ordens,
exercendo, com autoridade e eficiência, as funções que lhe couberem em decorrência do
cargo, além de cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos e as instruções referentes
25
às suas atribuições. Isso significa que o militar se sente apto a realizar qualquer tarefa a ele
delegada, tendo para isso a preocupação pela consulta aos documentos que amparam o
exercício da função.
4.1
Fundamentos doutrinários da comunicação social no Exército
No Exército, a Política Militar Terrestre preconiza a comunicação social como
instrumento para a conquista e manutenção dos objetivos macros institucionais e das ações
políticas decorrentes. Desta forma, a comunicação social permeia todas as ações
doutrinárias e concepções político-estratégicas de emprego da Força Terrestre1 (FT), sendo
fundamentada em valores, princípios e conceitos compartilhados por toda a Instituição.
Dos objetivos gerais do Exército, a preservação dos valores morais, tradições e
memória da Instituição, a projeção de poder, o relacionamento com outros Exércitos e o
desenvolvimento da consciência de defesa nacional junto à sociedade brasileira, são os
que,
especificamente,
as
atividades
de
comunicação
social
deverão
contemplar
prioritariamente. Além disso, as ações realizadas têm o foco no fortalecimento da identidade
positiva da Instituição e na preservação da imagem institucional junto à sociedade brasileira.
Para tal, conceitualmente, os campos de atuação da comunicação social na Força
compreendem as Informações Públicas, pelas quais se divulgam os assuntos para o público
externo, a Divulgação Institucional, cuja atividade visa a produzir e disseminar a imagem da
Instituição, e as Relações Públicas, que buscam o ajustamento e a interação entre o
1
Entende-se por Força Terrestre a parte do Exército Brasileiro que constitui o braço operacional da Instituição,
que está presente em todo o território nacional. É dividida em sete comandos militares de área, constituídos por
divisões de exército, brigadas e organizações militares de diversas naturezas responsáveis pelo preparo e
emprego das tropas no cumprimento da sua missão constitucional. A outra parte é constituída pelos Órgãos de
Direção Geral, Setorial e de Apoio, além dos Órgãos de Assessoramento Superior. Entretanto, o termo também é
utilizado como sinônimo para Exército Brasileiro, como um todo, assim como sua forma reduzida, Força.
(CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO, [2007])
26
Exército e seus públicos. Ao conjunto de ações desses três campos de atuação que
potencializam a comunicação social no cotidiano das organizações militares tem-se a
Comunicação Institucional em Situação de Normalidade, cujos trabalhos junto ao público
externo buscam:
- refletir a Instituição, ao difundir informações de interesse público sobre as filosofias,
as políticas, as práticas, os objetivos, os valores, os princípios, a missão, a conduta, a
postura e as atitudes;
- tornar o Exército mais conhecido, acreditado e valorizado como Instituição do
Estado, divulgando ações subsidiárias e complementares em apoio às comunidades e ao
desenvolvimento nacional;
- buscar maior aproximação com os públicos-alvo da Instituição, por meio das
atividades de Relações Públicas;
- enfatizar os valores e peculiaridades da carreira das armas, ressaltando as
vantagens que oferece ao futuro militar; e
- buscar o bom relacionamento com a mídia, tendo em vista o seu potencial de
influência sobre a opinião pública.
Assim como, junto ao público interno, os trabalhos de comunicação institucional em
situação de normalidade buscam:
- fortalecer a confiança e a coesão interna, valorizando as relações entre pares e
subordinados;
- fortalecer a imagem organizacional;
- aumentar o orgulho de integrar a Instituição;
- manter o público bem informado e
- buscar fortalecer os laços de união, camaradagem e integração entre os militares
inativos e a Instituição.
O foco das atividades é direcionado para criar, manter ou influir nas atitudes e
comportamentos dos públicos-alvo, estimulando atitudes favoráveis com relação à fixação
27
da marca e da imagem da Força. As ações são concebidas de forma pró-ativa, integrativa e
estratégica, alicerçadas nas políticas, nos objetivos, nos valores e nos princípios da
Instituição.
A comunicação social do Exército também preconiza a importância das atitudes e
condutas do pessoal militar, através das quais comunicam para o público externo a
identidade da Instituição e causam reflexo na imagem da Força. O Militar representa o
próprio Exército, tem identidade única em qualquer parte do território nacional e é o difusor,
por excelência, dos valores da Instituição e de seu profissionalismo.
4.2
O cerimonial no Exército
Todas as situações da vida diária castrense são revestidas de rituais, simbolismos,
honras e sinais de respeito que constituem o reflexo da disciplina, da educação moral e do
profissionalismo dos integrantes do Exército, fundamentados nos valores, deveres e ética
militares, conceitos indissociáveis, convergentes e que se complementam para a obtenção
dos objetivos institucionais, além de serem os grandes motivadores do cerimonial militar.
“O Cerimonial Militar tem por objetivo dar a maior solenidade possível a
determinados atos na vida militar ou nacional”, além de desenvolver o sentimento de
disciplina e a coesão dos integrantes da OM pela execução em conjunto de movimentos que
exigem energia, precisão e marcialidade, e as “cerimônias militares contribuem para
desenvolver, entre superiores e subordinados, o espírito de corpo, a camaradagem e a
confiança, virtudes castrenses que constituem apanágio dos membros das Forças
Armadas.” (BRASIL, 2009).
Como exposto inicialmente, o cerimonial militar no Exército Brasileiro está bem
definido através de legislação própria, normas e regulamentos, além de outras instruções e
28
publicações que orientam o assunto, sendo de amplo conhecimento em todos os círculos
hierárquicos, desde o de sargentos, até o de oficiais-generais. A Secretaria Geral do
Exército é o órgão que assessora o Comando do Exército nos assuntos referentes ao
cerimonial, medalhística, documentação e acervo cultural.
Para melhor compreensão do que seja o Cerimonial Militar, ele é constituído dos
sinais de respeito, continência e honras militares. As honras militares são uma deferência à
autoridade homenageada e se traduzem por meio de Honras de Recepção e Despedida,
Comissão de Cumprimento e de Pêsames e Preito da Tropa.
As Honras de Recepção e Despedidas são aquelas prestadas às autoridades
quando chegarem ou saírem da OM; a Comissão de Cumprimentos tem o objetivo de
testemunhar pública deferência a certas autoridades; a de Pêsames é a constituída para
acompanhar os restos mortais de militares, além de demonstrar publicamente o sentimento
de pesar; o Preito da Tropa são honras prestadas diretamente pela tropa e exteriorizadas
por meio de Honras de Gala e Honras Fúnebres. As Honras de Gala consistem de Escolta
de Honra, Guarda de Honra, Salvas de Gala e as Honras Fúnebres, que consistem de
Guarda Fúnebre, Escolta Fúnebre e Salvas Fúnebres, são as homenagens póstumas
prestadas diretamente pela tropa aos despojos mortais de uma alta autoridade ou de um
militar da ativa.
Essas especificidades do Cerimonial Militar possuem a definição bem clara de quais
as autoridades tem direito às Honras Militares: o Presidente da República, o Vice-Presidente
da República, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, quando incorporados,
os Ministros de Estado e os Comandantes das Forças Armadas (FA) – Marinha, Exército e
Aeronáutica –, o Superior Tribunal Militar, quando incorporado, os Militares das Forças
Armadas, os Governadores dos Estados, e do Distrito Federal e os Chefes de Missão
Diplomática. Apenas por determinação do Presidente da República, do Ministro de Estado
da Defesa ou de um dos Comandantes das FA serão prestadas Honras Militares a outras
autoridades diferentes do especificado.
29
Entretanto, o cerimonial empregado no Exército não se limita ao militar. É
empregado, também, o cerimonial de conduta nas visitas, nas recepções sociais, nos
eventos, entre outros, de forma a estreitar os relacionamentos da organização militar com
outras instâncias do poder público, instituições e empresas de interesse, tal qual preconiza a
política de comunicação social do Exército. É desta forma, portanto, que será analisado, a
seguir, o emprego do cerimonial nos Grandes Comandos da região metropolitana do Rio de
Janeiro e suas consequências para o relacionamento institucional e para a imagem da
organização.
30
5
A APLICAÇÃO DO CERIMONIAL NOS GRANDES COMANDOS:
um estudo nas unidades do Rio de Janeiro
Grande Comando (G Cmdo) é a denominação genérica dada a qualquer comando de
organização militar da Força Terrestre privativo de oficial-general, podendo ser Região
Militar, Divisão de Exército, Brigada ou Artilharia Divisionária. São constituídas de um
número variável de Unidades, ou seja, organizações militares denominadas Batalhão,
Regimento ou Grupo, em função das suas especificidades de emprego.
Na região metropolitana do Rio de Janeiro, encontram-se instalados os seguintes
GCmdo da FT: o Comando Militar do Leste (CML), a 1ª Região Militar (1ª RM), a 1ª Divisão
de Exército (1ª DE), a 9ª Brigada de Infantaria Motorizada (9ª Bda Inf Mtz) e a Artilharia
Divisionária da 1ª Divisão de Exército (AD/1).
Foi realiza uma pesquisa nesses GCmdo tomando como referência os eventos
realizados ao longo dos anos de 2008 e 2009, identificando-se aqueles em que foram
empregados os princípios do cerimonial e aqueles em que se deixou de aplicá-los, de forma
a entender a relevância que dada a essa atividade. Foram levantados cerca de quarenta e
nove eventos realizados, dos quais em trinta e oito se identifica o cumprimento das regras
do cerimonial, aplicando-se a ordem de precedência e o mestre de cerimônias ditando a
sequência da solenidade. Pelo menos onze situações poderiam ter sido realizadas segundo
as funções desempenhadas pelo cerimonial, perdendo-se, então, a oportunidade de
incrementar relacionamentos e difundir conceitos e ideias.
A seguir serão listados os eventos realizados, especificando a função do cerimonial
em cada um deles:
•
Formatura comemorativa aos 100 anos da Vila Militar e da 1ª DE (2008) – função
ritual e semiológica;
31
•
Solenidade de entrega da Comenda da Ordem do Mérito Militar (2008 e 2009) –
função ritual e semiológica;
•
Solenidade em comemoração ao Dia da Vitória (2008 e 2009) – função ritual e
semiológica;
•
Visita das comitivas do Exército de Israel e Reino Unido e da Escuela de
Perfeccionamiento de Oficiales del Ejército do Paraguai (2008) – função ritual e semiológica;
•
Inauguração da placa em homenagem os atos heróicos dos soldados brasileiros
durante a 2ª Guerra Mundial (2008) – função semiológica e pedagógica;
•
Solenidade de entrega da Medalha do Pacificador (2008 e 2009) – função ritual e
semiológica;
•
Almoços comemorativos em homenagem ao Dia do Soldado, oferecidos pela
Associação Comercial do Rio de Janeiro, Clube dos Diretores Lojistas, Iate Clube do Rio de
Janeiro, Jockey Club do Rio de Janeiro, Museu Conde de Linhares e Rotary Club (2008 e
2009) – função ritual e gratuita;
•
Solenidade em Homenagem ao Dia do Soldado do Clube Militar (2008 e 2009) –
função ritual, semiológica e pedagógica;
•
Troca da Guarda do Monumento Nacional aos Mortos na Segunda Guerra
Mundial (2008 e 2009) – função semiológica e pedagógica;
•
Desfile Cívico-Militar da Independência do Brasil (2008 e 2009) – função ritual,
semiológica e pedagógica;
•
III Salão de Artes do CML (2008) – função gratuita;
•
Homenagem ao aniversário de nascimento do Marechal Cordeiro de Farias
(2008) – função semiológica e pedagógica;
•
Comemoração ao Dia da Bandeira (2008 e 2009) – função semiológica e
pedagógica;
•
Formatura de aniversário da 9ª Bda Inf Mtz (2008 e 2009) – função ritual e
semiológica;
32
•
Comemoração da Tomada de Monte Castelo (2008 e 2009) – função ritual,
semiológica e pedagógica;
•
Abertura do 30º Campeonato Mundial Militar de Voleibol (2009) – função ritual e
semiológica;
•
Solenidade de comemoração dos 60 anos de construção do Pantheon de Caxias
(2009) – função semiológica e pedagógica.
Desta vez, serão citados os eventos que poderiam ter sido realizados segundo as
funções do cerimonial, com presença de autoridades estaduais e municipais, além de
personalidades da sociedade local:
•
Lançamento do Projeto Cimento Social (2008);
•
Lançamento da Ação Cívico Social1 na comunidade da Providência (2008);
•
Desembarque do 8º Contingente da Missão das Nações Unidas para
Estabilização do Haiti (2008);
•
Premiação do Grande Prêmio Duque de Caxias de Jóquei (2008 e 2009);
•
Formatura de Encerramento da Operação Guanabara (2008);
•
Lançamento da Ação Cívico Social na Vila Vintém (2008);
•
Formatura alusiva ao Primeiro Tiro de Artilharia Brasileira na 2ª Guerra Mundial
(2008 e 2009);
•
Comemoração do Aniversário do CML (2008 e 2009).
Percebe-se que 58% dos eventos são realizados sistematicamente todos os anos,
em que as normas para sua realização já estão estabelecidas e o cerimonial é cumprido
sistematicamente, conforme o que preconiza o Vade-Mécum de Prática de Cerimonial e
Protocolo (EXERCITO BRASILEIRO, 2001).
1
Ação Cívico Social – atividade de responsabilidade social realizada por uma organização militar para prestar
assistência à comunidade carente.
33
Entretanto, 23% dos eventos realizados foram inéditos e apenas a metade desses
teve a aplicação das normas do cerimonial, isso pela falta de visão dos benefícios que a
atividade oferece.
Foi verificado que o relacionamento dos GCmdo se dá com autoridades do nível de
Governador de Estado, Cardeal, Ministro de Estado, Prefeito, Ministro de Tribunal de
Justiça, Embaixador, Arcebispo, Reitor, Cônsul, Desembargador e Secretário de Governo.
Situações pontuais contaram com autoridades estrangeiras como o Prefeito de Pistóia, o
Presidente da Província de Pistóia, o Presidente do Conselho da Província de Pistóia e o
Guardião do Monumento Votivo Militar Brasileiro de Pistóia, quando da inauguração da
placa em homenagem os atos heróicos dos soldados brasileiros durante a 2ª Guerra
Mundial. Não é comum, também, dar a precedência a personalidades da sociedade que não
ocupam cargos públicos, como no caso dos descendentes do Marechal Cordeiro de Farias,
quando da Homenagem ao aniversário de seu nascimento.
Outro fato observado dos eventos é que, em geral, as cerimônias são realizadas
para ressaltar um feito conquistado fruto de um relacionamento anterior, como gesto de
retribuição ao que foi conseguido. Porém, deve-se ter o entendimento que é necessário,
também, aproveitar as cerimônias para alcançar objetivos estipulados, provocar novas
situações e criar oportunidades de relacionamentos diretos.
Percebe-se, ainda, que a quantificação dos resultados conquistados e o retorno
obtido são de difícil definição, uma vez que eles são, na maioria das vezes,
extratemporâneos, intangíveis e imensuráveis. Alguns retornos, porém, foram mais objetivos
como a realização de convênios e parcerias que favorecem o público interno e seus
familiares.
O cerimonial, desta forma, assume um papel de extrema relevância ao agregar
distinção, prestígio e poder às relações dos comandantes militares com agentes públicos e
com os segmentos organizados da sociedade, possibilitando legitimar ações, envolver a
participação de terceiros nas questões de interesse do Exército e transmitir valores. A partir
34
da precedência se informa a todos que, naquele evento, encontram-se as mais importantes
autoridades e personalidades, distinguidas através da hierarquia do rito do cerimonial. A
entrega de condecorações traduz o reconhecimento àqueles que tenham prestado serviços
relevantes à instituição.
Por fim, o detalhado cumprimento do cerimonial, do protocolo e da precedência
traduz a organização, o profissionalismo e a disciplina dos integrantes da instituição.
35
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho se propôs a apresentar os princípios e fundamentos que regem a
atividade do cerimonial público, indo além da aplicação prática das suas normas no Exército
Brasileiro. Buscou apresentar as implicações e consequências para o reflexo da imagem
institucional dos Grandes Comandos na sociedade, através da utilização do cerimonial nos
eventos realizados.
Foi visto que o cerimonial como atividade de comunicação dirigida aproximativa
permite estabelecer relações pessoais diretas entre representantes da instituição e de
públicos específicos e estratégicos, de forma programada. Cria-se, portanto, a oportunidade
para que as informações fluam tanto no sentido organização/público de interesse, quanto no
sentido público/organização, otimizando a troca de conhecimentos necessários ao perfeito
entendimento das questões abrangidas e motivadoras do contato mais próximo.
Através do planejamento dos esquemas de precedência e de lugares, padronização
de comportamento e de atitudes pessoais, preparação dos roteiros, providências quanto aos
recursos materiais e humanos, decoração, impressos, definição dos trajes e uso dos
símbolos constrói-se toda a atmosfera de deferência que é devida ao público selecionado,
sem esquecer a atenção às variáveis culturais quando do atendimento a visitantes
estrangeiros.
É na aplicação das regras do cerimonial nos eventos de relacionamento que a
organização evidencia seus valores institucionais, como patriotismo, civismo, amor à
profissão, espírito de corpo e aprimoramento técnico-profissional, no caso específico do
Exército, e também atributos que compõe a identidade institucional, como por exemplo:
organização, disciplina, responsabilidade, sensibilidade, zelo, entre outros. É a oportunidade
de influenciar os diversos públicos nas suas atitudes com respeito à organização, por vezes
36
causando impacto no aculturamento de novos comportamentos, que poderão ser avaliados
por meio de pesquisas o grau de penetração e de aceitação dessa nova cultura.
Acompanhando as tendências de transformações da sociedade e pela necessidade
atual de cada vez mais se reunir para trocar conhecimentos, estreitar relações, realizar
acordos e negociações os GCmdo sediados na região metropolitana do Rio de Janeiro
realizaram pelo menos quarenta e nove cerimônias em suas sedes que envolveram
representantes de empresas privadas, de diversos órgãos do setor público e da sociedade
em geral.
Assim, foi visto que o emprego das normas do cerimonial nos Grandes Comandos do
Exército Brasileiro sediados na região metropolitana do Rio de Janeiro contribui,
efetivamente, para a projeção da imagem institucional dessas organizações militares na
sociedade. Por intermédio da realização das cerimônias, os GCmdo têm conseguido ajustar
interesses, motivar os integrantes das OM e transmitir seus valores.
Por fim, pode-se concluir que a aplicação das normas do cerimonial com uma visão
mais abrangente, articulando melhor o ordenamento das autoridades e das personalidades,
enfatizando o sequenciamento das ações e a evolução das celebrações e adequando o
tempo, o lugar e as pessoas permite aos GCmdo atingirem objetivos futuros no
relacionamento com públicos de interesse que favorecerão a instituição.
37
REFERÊNCIAS
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diferentes públicos. 6. ed. São Paulo: Thomson, 2003.
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