Mac Laren põe à prova o direito à moradia

Transcrição

Mac Laren põe à prova o direito à moradia
Elisângela Leite
Ano III, No
32
Agosto de 2012 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita
Sustentabilidade
Artesanato no Pinheiro
Elisângela Leite
Pág. 4 e 5
Rock and roll!
Mais de 30 famílias continuam vivendo em
situação bastante precária no espaço onde
antes funcionava o estaleiro Mac Laren, entre
o Timbau e a Vila do Pinheiro. A maior parte
das famílias já vivia antes na Maré, mas não
pode acompanhar os aumentos dos aluguéis
praticados no Rio de Janeiro. Os moradores
esperam ser reassentados para viver com
dignidade e, assim, ter o direito à moradia
garantido.
Pág. 8 a 11
Elisângela Leite
Francisco Valdean
Show na Praça da Nova Holanda 25 / 8
Pág. 12 e 13
Mac Laren põe à prova
o direito à moradia
História Real
Moradora vira personagem de teatro
Pág. 15
Elisângela Leite
Artigos abordando o direito à moradia Pág. 11 - Fique de olho na Maré Pág. 5a7
PROGRAME-SE
Centro de
Artes da Maré Pág. 15
Lona Cultural
Herbert Vianna Pág. 14
Maré terá Parada do Orgulho LGBT
O primeiro fim de semana de setembro promete agitar o bairro. Sábado tem programação
LGBT na Lona da Maré, domingo tem feira de saúde de dia e Parada do Orgulho LGBT no
fim da tarde. O objetivo é estimular o respeito à orientação sexual de cada um.
Pág. 3
A reportagem de capa desta edição
– sobre as condições de moradia na
comunidade Mac Laren – traz à tona
um dos problemas mais antigos do
Brasil: o déficit habitacional. Este
termo considera tanto a falta de uma
moradia para cada família quanto
a sua inadequação (conceito da
Fundação João Pinheiro). Domicílios
rústicos ou improvisados, problemas
na questão fundiária e carência de
infraestrutura (abastecimento de
água e luz, sistema de esgotamento
sanitário e coleta de lixo) estão entre
os aspectos considerados para
determinar o déficit habitacional.
Por outro lado, no Brasil a moradia
digna é um direito constitucional,
embora ainda não assegurado para
muitas famílias, como as que vivem
na Mac Laren, como poderá ser lido
a partir da página 8.
Na página 3, o Conexão G propõe
aos leitores uma reflexão sobre
o direito de orientação sexual de
cada um. Esta edição do Maré traz
também uma série de boas notícias,
como a ampliação do número de
espaços para a apresentação de
músicos locais (pág. 12 e 13). A partir
deste número, passamos a divulgar
a programação do Centro de Artes
da Maré (pág. 15), espaço gratuito
de cultura para os moradores.
A todos, uma boa leitura!
Candidatos a prefeito na Maré
Na edição de junho de 2012, o Maré de Notícias
apresentou matéria excelente sobre o coletivo
“A Maré que Queremos”; e como sempre leio o
jornal e divulgo – porque sei da relevância de
participarmos ativamente das questões sociais
que envolvem as nossas vidas –, foi muito válido
o convite ao atual prefeito Eduardo Paes com
o intuito de apresentar/discutir as propostas
contidas no projeto. Realmente é muito bom
saber que mesmo com as especificidades de
cada comunidade, o
conjunto Maré deve
prevalecer, como bem
citou Eliana Sousa Silva:
Um dos objetivos do
grupo é acabar com
as práticas políticas
de
favor. “Somente
organizados podemos
mudar
as
coisas.”
Concordo plenamente
e gostaria de fazer uma
sugestão: que o coletivo
“A Maré que Queremos”
convidasse TODOS os
candidatos à Prefeitura
do RJ para participarem
do projeto e que eles
tivessem as mesmas
oportunidades de apresentar as suas propostas
para os representantes da Maré, com divulgação
no “nosso” jornal.
Instituição Proponente
Redes de Desenvolvimento da Maré
Diretoria
Andréia Martins
Eblin Joseph Farage
Eliana Sousa Silva
Edson Diniz Nóbrega Júnior
Fernanda Gomes da Silva
Helena Edir
Patrícia Sales Vianna
Shyrlei Rosendo
Instituição Parceira
Observatório de Favelas
Apoio
Ação Comunitária do Brasil
Administração
do Piscinão de Ramos
Associação Comunitária
Roquete Pinto
Associação de Moradores e
Amigos do Conjunto
Bento Ribeiro Dantas
Como o nosso Maré de Notícias divulgou na
página 10 (junho/2012),“80% dos municípios do
país não possuem o tamanho da Maré.” E o que
não falta é gente pra votar e reivindicar os seus
direitos... E aí candidatos, vocês vêm ou não vêm
à Maré?!
Parabéns para todo o jornal e para a Nova
Holanda que agora é cinquentona!
Sara Alves, Vila do João
Resposta da Redação
Associação de Moradores
do Conjunto Marcílio Dias
Biblioteca Comunitária Nélida Piñon
Centro de Referência de Mulheres
da Maré - Carminha Rosa
Conexão G
Associação de Moradores
do Conjunto Pinheiros
Conjunto Habitacional Nova Maré
Associação de Moradores
do Morro do Timbau
Conselho de Moradores
da Vila dos Pinheiros
Associação de Moradores
do Parque Ecológico
Luta pela Paz
Associação de Moradores
do Parque Habitacional
da Praia de Ramos
Associação de Moradores
do Parque Maré
União de Defesa e
Melhoramentos do Parque
Proletário da Baixa do Sapateiro
União Esportiva
Vila Olímpica da Maré
Associação de Moradores
do Parque Rubens Vaz
Associação de Moradores
do Parque União
Associação de Moradores
da Vila do João
Associação Pró-Desenvolvimento
da Comunidade de Nova Holanda
Editora executiva e
jornalista responsável
Organizadores do evento, marcado para
o dia 2 de setembro, vão promover a
reflexão sobre o preconceito
Lixo em frente ao Ciep
Estamos muito felizes pelo
fato de nosso trabalho estar
estampando o Maré de Notícias
de Julho/2012. Muito orgulhosos
por saber que estamos no
caminho certo, valorizando e
preservando os valores da Maré.
ão G
/ Conex
Arquivo
Programação
Em tempo: Participamos do
Festival de Música da 4ª CRE
e nos classificamos em 2º lugar e somos
finalistas do Trofeu Rioeduca nas categorias Rio
Sustentável e Rio Cidadania.
Carmen Lucia, diretora do Ciep
Ministro Gustavo Capanema
Excepcionalmente nesta edição não
publicaremos a charge, do André de Lucena
Rosilene Miliotti
Silvana Bahia
(Estagiária)
Redes de Desenvolvimento
da Maré
Projeto gráfico
e diagramação
Rua Sargento Silva Nunes, 1012,
Nova Holanda / Maré
CEP: 21044-242
(21) 3104.3276
(21)3105.5531
www.redesdamare.org.br
[email protected]
Logotipo
Os artigos assinados não
representam a opinião do jornal.
Fotógrafa
Elisângela Leite
Pablo Ramos
Monica Soffiatti
Colaboradores
Anabela Paiva
André de Lucena
Aydano André Mota
Flávia Oliveira
Francisco Valdean
Mariana Cavalcanti
Observatório de Favelas
Rossana Brandão
Silvia Noronha
(Mtb – 14.786/RJ)
Gráfica Jornal do Commércio
Repórteres e redatores
Tiragem
Hélio Euclides
(Mtb – 29919/RJ)
Parada LGBT vai mexer
com a Maré
3
Sara, obrigado pela sugestão
e pelos elogios ao jornal. A
sugestão está sendo avaliada
para a edição de setembro.
Creio que estaríamos concretizando a
democracia e possibilitando a todos os leitores
do Maré de Notícias o acesso ao conhecimento
das propostas de cada candidato. Assim como
devemos valorizar o “conjunto Maré”, devemos
valorizar o “conjunto Eleição/candidatos a
Associação dos Moradores e
Amigos do Conjunto Esperança
Expediente
prefeitura do RJ”.Além do Eduardo Paes (PMDB),
atual prefeito, temos Rodrigo Maia (DEM),
Aspásia Camargo (PV), Marcelo Freixo (PSol),
Fernando Siqueira (PPL), Otávio Leite (PSDB),
Cyro Garcia (PSTU).
DIVERSIDADE
MORADIA
Um direito de todos
car tas
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
EDITORIAL
2
Impressão
40.000 exemplares
Parceiros
Sílvia Noronha
Domingo, 2 de setembro, a Parada do
Orgulho LGBT da Maré promete agitar
a comunidade, saindo da Rua Teixeira
Ribeiro, no Parque Maré, e circulando
pelas ruas do bairro até a chegada ao
Parque União, onde haverá uma festa.
Mas a manifestação não será apenas
farra.
O objetivo principal é sensibilizar moradores,
trabalhadores e visitantes da favela, e
levá-los a refletir sobre diversas formas de
preconceito e sobre a incidência de AIDS
na população. Por isso, uma feira de saúde
acontecerá durante o dia, com diversas
barracas voltadas para qualidade de vida,
direitos, cidadania e cultura. E no sábado, dia
1º, haverá desfile e show na Lona Cultural
da Maré (veja programação completa nesta
página).
Uma das principais questões do movimento
LGBT – sigla que significa lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais – é o
combate à homofobia. Segundo Gilmar
Cunha, coordenador do Conexão G,
organização não governamental da Nova
Holanda que organiza o evento, a Parada
deseja estimular o respeito à orientação
sexual de cada um. “Nós estamos
percebendo ultimamente um aumento no
número de casos de violência contra LGBTs
na Maré. É uma percepção, pois não existe
pesquisa sobre o tema na comunidade. Por
isso, desejamos sensibilizar os moradores”,
explica ele.
O evento acontece em parceria com o Ibase,
Cedaps, Instituto Promundo, CAP 3.1, Luta
Pela Paz, Observatório de Favelas, Redes
de Desenvolvimento da Maré, Raízes em
Movimento e Fase.
O Conexão G desenvolve projetos voltados
à promoção da saúde e qualidade de vida
da população LGBT e busca estimular novas
práticas, inclusive comportamentais, nas
comunidades populares. “Nosso projeto
é de longo prazo. Queremos transformar
as comunidades”, destaca Gilmar, que
desenvolve os projetos AIDS e Pobreza e
Afirmando Vozes e Identidade, entre outros.
Para saber mais:
conexaogdamare.blogspot.com.br
Sábado, dia 01 de setembro:
A partir das 19h na Lona Cultural
Municipal Herbert Vianna (Rua Ivanildo
Alves, s/n - Nova Maré).
Desfile das Meninas Trans da
Comunidade, Barraca da Prevenção,
Show com Kakau de Moraes e show
com as dragg.
Domingo, 02 de Setembro:
Parque Maré - Rua Teixeira Ribeiro
9h - Chegada dos voluntários
10h - Abertura da Feira da Saúde
10h30 - Apresentação Cultural: Jovens
de Periferia
11h30 - Mães Pela Igualdade
12h - Almoço
14h - Desfile das Meninas Trans
14h30 - Grupo de dança Onix
15h - Fala de lideranças comunitárias
16h - Encerramento da Feira, com show
da Kakau Moraes - PrecVida
17h - Saída da Parada do Orgulho
LGBT da Maré (da Teixeira Ribeiro, indo
por dentro da comunidade em direção
ao Parque União)
22h - Festa da Parada do Orgulho
LGBT, no Ciep 326 Professor Cesar
Perneta, no Parque União
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Hélio Euclides
Elisângela Leite
O Projeto Arte e Areia & Cia, na Vila do
Pinheiro,tem como lema a valorização
do trabalho da comunidade, por meio
da reciclagem. Na Via C/12, funciona
o pólo artesanal Maré, onde diversos
moradores aproveitam materiais
para a criação de bandeiras de
clubes de futebol e pesos de porta
em formato de cobra e de boneco.
Além de incentivar a reciclagem, o
projeto permite a complementação
da renda dos moradores.
Tudo começou quando o casal Eduardo
e Cida Fernandes, coordenadores do
projeto, veio para o Rio de Janeiro
para entrega de roteiro de novela e
minissérie para uma rede de televisão.
Como tinham que esperar a resposta,
conversaram com um taxista que os
trouxe até a Maré, bairro que nem
estava nos planos dos dois. “Foi de
paraquedas. Até pensávamos em
iniciar um pólo na cidade, mas era na
Mangueira”, comenta Eduardo.
Isso foi no ano passado, e o casal deu
início aos preparativos até que no último
dia 27 de julho ocorreu a inauguração
oficial, com 35 trabalhadores parceiros.
Projeto incentiva morador a reaproveitar materiais, que são
transformados em pesos de porta e bandeiras de time de futebol
Todos passam por um curso, que também
ensina a gerir o negócio, para quando os
coordenadores deixarem o espaço. O
pólo Maré é o 18º do projeto e o primeiro
do Rio. Os demais funcionam em São
Paulo, vendendo os bonequinhos de
peso de porta. “Costumo abrir e deixar
que a comunidade fique gerindo, mas
compro o material concluído”, conta
Eduardo. Segundo ele, o trabalho deu
tão certo entre os cariocas, que um
segundo pólo já vai surgir na Rocinha.
“Estamos abertos para novas pessoas.
O importante é gostar, e não perder a
coragem”, relata Cida.
Bonecos vendidos em lojas
e bazares
O carro-chefe do projeto são os
bonequinhos. São 55 personagens,
desenvolvidos conforme a época do ano.
No Natal, não pode faltar o papai Noel.
Para o mês de agosto, estava previsto o
lançamento do boneco do Neymar. Ao
preço de R$ 1,99, são produzidas 600
unidades por dia, atualmente vendidas
para as redes Fama e Amigão e para
pequenos lojistas da comunidade. Os
produtos são feitos com a reciclagem de
bolsas, plásticos, pet, tampas de garrafas,
roupas velhas, retalhos e serragens.
Além disso, levam ainda areia, única
matéria-prima não reciclada. Para os
olhos dos bonecos, o material reutilizado
é a garrafa pet; já as tranças são feitas de
qualquer tipo de pano.
NOTAS
Reciclando renda!
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VILA OLÍMPICA DA MARÉ
Piscina prontinha
A piscina grande da Vila Olímpica da Maré (VOM), que ficou interditada quase um ano
e meio, voltou a funcionar após ser reformada pela prefeitura. A interdição foi tema de
carta enviada pelo leitor Everaldo, em janeiro deste ano, denunciando o “descaso” com
o Parque Aquático da VOM. No mês seguinte, a leitora Ana Paula também se manifestou na seção de Cartas. A obra teve início ainda em janeiro, atrasou, mas ficou pronta
e a piscina está sendo novamente utilizada. Telefone da VOM: 3868-7083.
Divulgação
“Já estou aqui há nove meses e estou
bem satisfeita. Se não tivesse aqui estava
desempregada. O dinheiro que ganho
ajuda a sustentar a casa”, afirma a aluna
e moradora do Salsa, Valquiria Marques,
que tem seis filhos. O grupo conta com
pessoas de todas as idades, inclusive
mulheres aposentadas que desejam
melhorar a renda mensal.
A monitora do Programa de Integração
Cidadã, da Vila do João, Ailza Victor,
preparou uma aula campo e levou seus
15 alunos ao pólo. “Eu já trabalho com
material reciclado, e quando vi uma
aluna com uma boneca de areia, resolvi
visitar o projeto. Achei muito legal o local
e vimos pessoas acolhedoras, que nos
mostraram como tudo é feito. Foi uma
sementinha que espalhou”, conclui.
Música internacional de graça
A Vila Olímpica da Maré (VOM) recebe, pela segunda vez, o Rio International
Cello Encounter, encontro de músicos internacionais que tocam violoncelo e os
mais variados instrumentos. A apresentação acontece no dia 16 de agosto, às 9h.
Na edição de 2011, foram três horas de concerto dos músicos internacionais, que
interagiram com os alunos de música da VOM. A dobradinha promete ser repetida
este ano, uma vez que a interação de grupos com realidades distintas é um dos
pontos fortes do evento, que está em sua 18ª edição.
O Cello Encounter foi criado pelo violoncelista inglês David Chew, radicado no
Brasil, em homenagem ao maestro carioca Heitor Villa-Lobos. Chew, aliás, virá a
Maré e tocará Trenzinho Caipira, um dos maiores sucessos de Villa-Lobos.
Confira a programação completa do evento que acontece em vários pontos da
cidade, entre os dias 8 e 19 de agosto, no blog: http://riocello.com.
Taliesin / Morguefile
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Sustentabilidade
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Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
O que acontece e
o que não deixa
de acontecer por aqui
Arquivo Maré Latina
Maré de Sabores Slow food
Maré conquista medalhas no karatê
O projeto Maré de Sabores foi incluído no
guia “100 dicas slow food – Rio de Janeiro”,
que recomenda opções onde se pode saborear alimentos à base de ingredientes de
qualidade, preparados com respeito à natureza e remuneração justa. O movimento
internacional slow food se contrapõe ao
fast food, aquele da comida rápida, pré-pronta, digerida (ou engolida) conforme
a pressa do mundo atual. Já o slow food
(que em tradução literal significa “comer
devagar”) parte de outros princípios e valores, que incluem o prazer de se alimentar.
A logomarca do movimento (um caracol) já
indica a proposta do grupo.
Aline Cristina Ferreira, de 11 anos, e Uriel de Andrade de Aguiar, de 13, conquistaram,
cada um, medalha de bronze na categoria kumite , no Campeonato Brasileiro de Karatê
infantil e mirim, realizado em julho, em Vitória, no Espírito Santo. “Agora quero treinar
mais”, afirma Aline, animada com o resultado. Uriel trouxe sua segunda medalha do Brasileiro. Em 2011, ele também conquistou um Bronze.
O Maré de Sabores, iniciativa da Redes,
ensina gastronomia e empreendedorismo
a mulheres moradoras de diferentes comunidades da Maré, em sua maioria chefes
de família e vítimas de violência. Atualmente, elas têm sido contratadas para preparar
bufês servidos
em eventos. Tel:
3105-6815, para
encomendar refeições ou bufês.
Elisângela Leite
Cerâmica Negra da Maré é premiada
Rosilene Miliotti
A Oficina de Cerâmica Negra da Maré, projeto da Ação Comunitária
do Brasil (ACB/RJ), na Vila do João, é um dos vencedores do prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato no estado do Rio de Janeiro. A
premiação destaca as 100 unidades produtivas mais competitivas do
país, reconhecendo e incentivando o trabalho dos artesãos brasileiros. A solenidade de entrega será no dia 4 de setembro, na Marina
da Glória.
A Cerâmica Negra da Maré existe desde 2002, produzindo peças
artísticas e utilitárias, de referências etnográficas, que constituem
um trabalho de resgate da cerâmica primitiva brasileira. O processo
produtivo é totalmente artesanal. Uma parceria com o Ministério do
Turismo permitirá a produção de uma exposição permanente de produtos no núcleo comunitário da Vila do João, que fica na Rua Onze
- Quadra 58, nº 243.
O grupo de teatro vem se apres
entando aos sábados e
domingos, às 11h, na concha acústica
Mais vazamento de esgoto na Maré
Saneamento adequado é uma das mais frequentes reivindicações dos leitores, que reclamam – com razão
– especialmente do acúmulo de lixo nas ruas e de vazamentos de esgoto. Desta vez, foram os moradores
da Rua B, na Nova Holanda, que entraram em contato com a Redação. Luana Conceição dos Santos (de
vestido preto) e Mary Anjo (de bermuda) dizem que o
vazamento no quarteirão entre as ruas do Canal e a
Bittencourt Sampaio ocorre há cerca de sete meses e,
desde então, só se agrava.
Elisângela Leite
Na Associação de Moradores do Parque Ecológico, na Vila do
Pinheiro, todos os sábados, pela manhã, acontecem aulas do
Projeto Maré Latina de Aprendizado. São cursos gratuitos de
dança, artesanato, reforço escolar, alfabetização e cultura latina,
africana e indígena. Os beneficiários são cerca de 20 crianças,
de três aos 12 anos. O projeto foi idealizado pela moradora da
Maré e professora Aline Melo, que conta com o apoio do marido
e da mãe. “Trabalhei na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) durante dois anos, e o que aprendi trouxe para cá”, conta
Aline.
Um dos destaques é o curso de reforço escolar, que busca uma
evolução no desempenho das crianças no colégio. É o caso de
Mariana de Oliveira, de 11 anos, que se mudou do Nordeste para
o Rio, gerando alteração em suas notas. Com o curso, hoje já se
percebe melhora da menina na escola.
Outro ponto alto é a reciclagem de roupas, jornais e plásticos,
que são transformados e reutilizados. Um exemplo são caixas de
chá que viram porta-retratos. Em outubro, o grupo vai apresentar
os trabalhos em estande no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet).
Participaram da competição 936 atletas de 23 estados do Brasil, sendo 18 alunos da
Academia Kihon-Dai (que significa “grande movimento de ataque e defesa”), localizada
na Rua C/4, da Vila do Pinheiro. “Em condições de competir, nós teríamos 30 alunos, mas
só foram aqueles cujas famílias puderam pagar as despesas. Isso acontece porque não
temos patrocínio”, explica o professor Ronaldo Eugênio Santana, árbitro da Federação de
Karatê do Estado do Rio de Janeiro e campeão carioca, em 2011, do The Best of the Best
(melhor dos melhores), na categoria Master.
Os alunos da academia já participaram de várias competições e, juntos, conquistaram
mais de 200 medalhas. Telefones: 3109-1060 ou 9993-3972.
Projeto no Parque Ecológico
“Isso acontece justo na rua que tem mais criança. Várias crianças aparecem com o pé estourado de ferida”,
afirma Luana. Mary, por sua vez, tratou de colocar cimento na entrada de sua casa, formando uma “ilha” de
proteção.
O problema se repete nas ruas paralelas. Na Rua D,
os moradores Paulo Sergio Rangel e Jandira Santos
de Araújo convivem com o problema há cerca de três
anos. Quando chove, fica ainda pior. Como o esgoto
parece minar por baixo da rua, o local não fica seco
nunca. A Rua das Maravilhas, ao lado, ganhou calçamento alto feito pelos próprios moradores. A elevação
da rua é a saída que muitos encontram para fugir do
convívio direto com o esgoto.
A Cedae Maré já esteve nessas ruas, mas não conseguiu resolver os problemas.
Apesar dos resultados, o projeto não tem patrocínio, e até para
o lanche o dinheiro é retirado do bolso dos três organizadores.
Quem desejar mais informações ou puder colaborar, escreva um
e-mail para [email protected] ou acesse
o blog: http://marelatina.blogspot.com
Silvia Noronha
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Hélio Euclides
Notas
7
Notas
6
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Hélio Euclides
Elisângela Leite
Passado um ano da reportagem no
Maré de Notícias (Edição nº 19, de
julho de 2011) sobre a localidade
batizada de Mac Laren, nada foi feito,
e a precariedade com que vivem os
moradores só aumentou. A ocupação,
há mais de dez anos, de um antigo
estaleiro abandonado, entre a Vila
do Pinheiro e o Morro do Timbau, por
baixo da Linha Amarela, foi feita de
modo improvisado, e, dessa forma, não
há um mínimo de estrutura para as
mais de 30 residências de alvenaria
e madeira.
O local é habitado, em parte, por
moradores da própria Maré que
perderam a capacidade de arcar com
os custos de um aluguel. As dificuldades
financeiras e o alto valor dos imóveis
no Rio de Janeiro, inclusive na Maré,
tornam o sonho de morar com dignidade
mais distante.
“É ruim morar aqui, tem muito rato,
barata e lacraia. Houve casos de
dengue, uma grávida ficou 12 dias
internada. Falam que vão dar casa,
espero sair daqui. A casa nova é um
sonho de todos nós”, comenta Andréa Oliveira da Costa, que mora há
mais de oito anos no local, onde
cria os quatro filhos. Ela revela
que teve de ir para a Mac
Laren após a separação do marido.
Hábitos
que
podem ser
simples
no dia a dia se tornam
problemáticos na Mac
Laren. “Fico pensando como
deve ser tomar um banho decente.
Eu desejo uma casa com chuveiro,
água e sistema de esgoto. Com
consciência ninguém fica aqui”,
reclama Andréa. Ela é uma das que
sofrem com a infestação de insetos;
e à noite, diz ela, os moradores
precisam brigar com os ratos. Andréa
foi mordida por lacraia, e teve que
tomar até vacina.
As dificuldades não são poucas.
Água no banheiro e na cozinha é raridade. A água utilizada por todos vem
por um único cano, onde as pessoas
enchem suas vasilhas ou aproveitam
para lavar utensílios ali mesmo. O sistema de esgoto também é improvisado. Com isso, quando chove, o valão
enche e tudo fica alagado, chegando
a invadir o primeiro andar das casas.
Com o esgoto a céu aberto, as mais
prejudicadas são as crianças, que vivem doentes. “O objetivo de todos é
sair daqui para ter um lugar de criar
os filhos. Nenhuma mãe quer criar
o filho aqui, nós queremos dar um
pouco de conforto para eles. Não temos condição de morar nessa
situação”, expõe a moradora Claudiane Pereira.
Andréa (à dir.) e Claudiane (agachada)
precisam lavar louça de maneira bem
desconfortável
Famílias
querem
ser
reassentadas
A assistente social
da Redes da Maré,
Nubia Alves, informa que
o Centro de Referência da
Assistência Social Nelson
Mandela (Cras) já fez o
cadastramento dos moradores.
Segundo ela, o órgão fez um
relatório de cada família para enviar
à Secretaria Municipal de Habitação
(SMH), mas há um ano o processo está
parado por causa de burocracia.
Moradora do local há dois
anos,
Simone
Conceição dos Santos é
uma das que vive em situação
mais precária. Sua residência é
de madeira. O sofrimento é ainda
maior quando chove e também
quando aparecem ratos, o que é
rotineiro. “Meu marido ficou desempregado e não tínhamos
como pagar aluguel. Hoje
vivemos de biscate”,
explica.
Muitos que
passam pelo
atalho próximo desconhecem a situação dos
moradores. Mariete Pereira de
Lima, que sempre atravessa o caminho, , é exceção. Ela sabe da gravidade
do problema. “É preciso um olhar para
essa situação, uma melhoria. Os moradores são dignos de um lugar melhor”,
opina.
Alessandra Alves, também assistente social
da Redes, acredita que todos precisam ter
a consciência de que o caso é emergencial.
“De fato precisamos ter um olhar mais
crítico sobre esse espaço. A situação em
que vivem é precária. Como profissional,
nos sentimos incomodadas. Não pode
haver arbitrariedade, mas é preciso colocálos em um lugar digno”, ressalta.
Crianças fora da escola
Em visita ao local, uma equipe da Redes
da Maré encontrou nove crianças fora
da escola e uma fora da creche. Todas estão
sendo
enc a m i nhadas
para matrícula.
Direito à moradia
Um lugar para criar nossos filhos
9
Para o presidente
da
Associação de
Moradores
do
Morro do Timbau,
Osmar Paiva Camelo
a moradia da Mac Laren
está no vermelho. “A ocupação existe há mais de 10 anos.
É uma vergonha essa situação próxima a uma via expressa e às vésperas
de uma Olímpiada, em pleno 2012. As
pessoas vêm cobrar na associação, mas
posso assegurar que estamos fazendo o
máximo”, diz Osmar. Segundo ele, a promessa dos órgãos municipais é oferecer
primeiro o aluguel social e depois realocar as famílias. “A Secretaria Municipal de
Assistência Social (SMAS) já fez vários
cadastros, e o número de família vem
crescendo. O último apurou 32 famílias.
Segundo informações do CRAS, eles não
estão mais na alçada do órgão, e sim na
da SMH”, explica.
O Maré de Notícias entrou em contato com
a SMAS e a SMH, mas até o fechamento
dessa edição não obteve retorno.
Leia também “Dias melhores virão” (pág.
10) e dois artigos sobre direito à moradia,
na pág. 11.
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
DIREITO À MORADIA
8
A trajetória de uma das moradoras mais antigas da Mac Laren,
que também acredita em um futuro melhor
“Saio a partir das
três horas da manhã para
catar materiais com meu
marido.
Durante o dia cuido
Dos 50 anos de vida de Tânia Gonçalves, os 12 últimos estão sendo vividos na
das meninas e da casa. Temos
Mac Laren, comunidade localizada entre a Vila do Pinheiro e o Timbau, na Maré.
que completar a renda. Por
Em uma casa de três cômodos, Tânia mora com as duas filhas, Estefani e Raquel
exemplo, agora estamos
Gonçalves, respectivamente de 14 e 12 anos, e o companheiro com quem é casada há
sem gás, estou cozinhando
11. Tem um filho mais velho de 18 anos, que foi criado pelas tias em Realengo e que ela não
com álcool.”
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Silvana Bahia
Elisângela Leite
vê há mais de sete anos.
Tânia Gonçalves
Tânia nasceu em Minas Gerais e veio para o Rio de Janeiro trabalhar na casa de uma senhora que a trouxe
para ser babá de suas netas em Jacarepaguá. Viveu com esta família por 18 anos, até engravidar e buscar a vida
em outro lugar. Antes de viver na Mac Laren, Tânia morou em abrigos da prefeitura, na Praça da Bandeira e na Ilha
do Governador. Depois viveu na Vila do Pinheiro por um tempo e, quando acabou o contrato da casa, sem dinheiro para
pagar o aluguel, foi morar na rua, onde ficou por dois anos.
A casa em que mora atualmente ela ganhou da senhora que ocupava o lugar anteriormente. O sonho de Tânia, como de outros
moradores da Mac Laren, é morar num lugar com melhores condições de vida. “Aqui não é um lugar certo pra viver, principalmente
com crianças pequenas que gostam de andar muito. É um lugar muito sujo, não fica limpo nunca. A gente limpa, mas rapidamente
está sujo. São muitos ratos. Às vezes, a noite é uma dificuldade dormir. É rato pra lá e pra cá, até dentro de casa eles entram. As
mães, muitas vezes, têm que levar as crianças ao médico, porque é fácil demais pegar doença aqui”, desabafa Tânia, que gostaria de
ser indenizada para comprar sua casa onde quiser.
A renda mensal de Tânia é de aproximadamente R$ 250 mensais. Do programa Bolsa Família, do governo federal, recebe R$ 140, que
ela complementa com o trabalho de coleta de materiais recicláveis, como latas e garrafas pet. “Saio a partir das três horas da
manhã para catar materiais com meu marido. Durante o dia cuido das meninas e da casa. Temos que completar a
renda. Por exemplo, agora estamos sem gás, estou cozinhando com álcool”, revela Tânia, que recebe
pelo quilo da lata R$ 2 e pelo da garrafa R$ 1.
Sem lazer, as filhas passam parte do dia na escola e a outra parte dentro
de casa. Tânia tem medo de que as crianças adoeçam e diz que
tem muita confusão do lado de fora da casa. A privacidade
também faz parte de suas reivindicações. “Não temos
lazer e nem liberdade. Quero um lugar onde a
gente tenha privacidade para ficar com a
porta aberta sem ninguém olhando
para dentro da sua casa”,
completa a catadora,
que acredita que dias
melhores virão.
Rossana Brandão
Doutoranda em Urbanismo Prourb/UFRJ
O debate político acerca do direito à
moradia e as mulheres é algo ainda muito
inicial no Brasil. Desde o início do processo
de Conferência das Cidades, a dimensão
das mulheres surge na discussão: (a) sobre
as cotas na representação das cadeiras
dos conselhos das cidades e (b) sobre
regularização fundiária quanto à titularidade, questão já incorporada
em projetos de provisão habitacional do Rio de Janeiro e no programa
do governo federal, Minha Casa, Minha Vida. A invisibilidade da
perspectiva das mulheres e seu cotidiano na vida urbana também não
são centrais nas análises sobre favelas. Surgem questões que estão
no âmbito de seu papel tradicional no espaço doméstico: creches,
escolas, praças para as crianças etc. Mas é o suficiente para garantir
a sua autonomia?
A experiência urbana em muitos fatores se diferencia entre os indivíduos
e grupos sociais, principalmente se olharmos para as desigualdades
sociais, e consequentemente, de gênero. Ao mesmo tempo, estamos nos
referindo a uma realidade urbana bastante marcada pela divisão sexual
do trabalho. Esta discussão ganha maior relevância visto que, segundo o
Censo IBGE 2010, em “aglomerados subnormais”, as mulheres continuam
tendo renda menor que os homens: homens com rendimento de R$ 690
e mulheres R$ 510; mas em muitas áreas são elas as responsáveis pelos
domicílios, realidade que as tornam mais vulneráveis, principalmente de
ocuparem áreas mais precárias das favelas.
Barreiras tanto materiais e simbólicas precisam ser quantificadas e
qualificadas na política urbana e habitacional da cidade. Os programas de
urbanização e de construção de moradia popular precisam dimensionar
estes aspectos, pois podem reforçar lógicas que vão contra ao direito à
moradia.
Se tomarmos como exemplo os processos de remoções, regulado
por decreto, chama a atenção como são tratados os casos de imóveis
alugados: o locatário tem apenas o direito a um auxílio financeiro,
enquanto o titular recebe indenização. Ou seja, no caso de uma casa
onde a mulher é a única responsável que alugou um imóvel, não tem
direito a ser incluída em processo de reassentamento a fim de que seu
direito à morada seja assegurado, principalmente considerando que
estão mais vulneráveis socialmente que os homens, principalmente
em casos em que estão sujeitas a violência doméstica. Só vale o direito
individual de uma pessoa que fez um investimento em uma casa? E o
papel do Estado de garantir o direito à moradia a todos?
Ressaltar a perspectiva das mulheres sempre traz novas formas de tratar
a política urbana em favelas, por isso, a luta por cidades mais justas e
democráticas precisa considerar todas as dimensões das desigualdades
para a garantia plena ao direito à moradia para homens e mulheres.
Cidade para quem?
ARTIGOS
A mulher invisível
Mariana Cavalcanti
Professora e pesquisadora do Centro de
Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil (CPDOC)da
Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ)
O geógrafo David Harvey escreveu
que “o direito à cidade é bem mais
do que a liberdade individual para
acessar os bens urbanos: é um direito
a mudar a nós mesmos ao mudar a
cidade”. Hoje nos defrontamos com
um momento em que a cidade está
em vias de ser refeita em função de megaeventos globais como
a Copa e as Olimpíadas.
Pensar essa conjuntura, tendo em vista o passado recente
das políticas públicas direcionadas às favelas cariocas, implica
reconhecer os avanços em direção à garantia do direito à
moradia no Rio. Até os anos 1970, remoções autoritárias –
tantas vezes antecedidas por incêndios, com os moradores,
junto a seus pertences, sendo removidos para locais distantes
em caminhões de lixo – constituíam o principal modo de lidar
com o “problema favela”. A Maré foi um dos primeiros lugares
em que a urbanização foi realizada pelo Estado, no Projeto
Rio. A abertura política e a Constituição de 1988 trouxeram
instrumentos que consolidaram o direito à moradia.
Nos anos 1990 vieram as grandes políticas de urbanização e
“integração” à cidade dita formal. O Favela Bairro, por exemplo,
seguia a premissa de remover apenas moradias em áreas de
risco. Já as obras do PAC e do Morar Carioca vêm encontrando
justificativas para novas remoções ou “reassentamentos”, às
vezes de comunidades inteiras. A “volta” das remoções traz
novamente a incerteza e a precariedade que antes definiam a
vida na favela. Fica, portanto, a questão: de quem e para quem
é a cidade em construção para os megaeventos?
Mais do que um reconhecimento formal de direitos, nas favelas
cariocas o direito à moradia implica o reconhecimento de
trajetórias comuns a milhares de famílias. As histórias variam,
mas compartilham uma trajetória: tudo começava com um
“barraquinho” de estuque. Tantas vezes construído de noite,
para evitar a vigilância e a possível remoção, pois as favelas
já haviam sido proibidas pelo Código de Obras de 1937. O
“barraquinho” era precário: podia ser removido, podia ser
levado pelas chuvas. Mas lentamente se expandia, aumentava,
melhorava. Ganhava banheiro e cozinha, decorados com
azulejos escolhidos com amor. Nascia um filho, batia-se uma
laje, erguia-se um quarto. Emboço, reboco, cimento. Tudo a
conta-gotas, devagar e sempre. Chega o neto, tudo de novo:
nova laje, novo quarto, nova casa. A casa na favela é uma obra
de décadas, de escolhas e de sacrifícios. De moradores que, ao
construir suas casas, também construíram, de tantos modos, a
cidade tal como a conhecemos.
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Dias melhores virão
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Tema em debate: Direito à moradia
Este termo é adotado pelo IBGE, não utilizado pelo jornal pois o consideramos pejorativo.
PERFIL
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A Maré não só respira música para tod
os os lados, como também produz mú
sica de qualidade.
Aqui no bairro nem tudo termina em sam
ba, porque a diversidade é uma caract
erística local. Além
de grupos de pagode, têm bandas de
forró, funk, MPB, rock. Por falar em rock,
este é um estilo que
muitos moradores curtem, tanto que o
evento mais concorrido da Lona Cultur
al da Maré costuma
ser o Favela Rock, que acontece um
a vez por mês. Entre as
bandas locais deste gênero que já se
tornaram conhecidas na
cidade estão D´Loks, Algoz, Café Frio
e Canto Cego. De um ano
para cá, mais espaços de apresentaçã
o para os músicos locais,
principalmente roqueiros, vêm surgin
do nas comunidades da Maré,
como os bares do Zé Toré, no Timbau,
e o do Leandro, no Parque União.
Dia 25 de agosto, a Praça da Nova Ho
landa promete entrar para este roteiro
musical, com um primeiro evento que ap
resentará covers de Barão Vermelho,
Legião Urbana e Charlie Brown. Entre as
bandas já confirmadas está a D´Loks,
que apresentamos a seguir.
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Francisco Valdean, fotógrafo do Imagens
do Povo e blogueiro
O grupo
O grupo se identifica com o rock alternativo. Já
na sua terceira formação, a banda é composta
por quatros integrantes: Jhony (bateria e vocal),
Fabio Loks (vocal), Dásio (guitarra) e Gustavo
(baixo). Atualmente, eles trabalham na gravação
do primeiro EP e na gravação do clipe que será
disponibilizado em suas redes sociais.
História da banda
A banda D’Loks tem como principal objetivo
levar sua mensagem para fora das fronteiras
mercadológicas. Suas letras abordam temas
e/ou sentimentos comuns do cotidiano, como
frustração, amor, ódio, tédio etc. A banda
começou em 2005, quando Dásio e Jhony
conheceram Fabio, e os três se identificaram
tanto na bagagem de bandas antigas de cada um
quanto nas influências. Daí resolveram começar
uma banda que pudesse produzir um rock atual,
fazendo uma química entre sinceridade e atitude.
Com uma guitarra nervosa, bateria e
backing vocal extremamente técnico, voz
rasgada e baixo alucinante, a D’Loks tem
um mix de influências que aborda uma
grande parte do rock, que vai desde bandas
nacionais como Cazuza, Barão Vermelho,
Legião Urbana, Detonautas, e outras mais
pesadas como Angra, Oficina G3, e as
internacionais Audioslave, Rage Against
The Machine, Soundgarden, entre outras,
até o cenário Heavy Metal, como Ozzy e
Dream Theater.
Inicialmente as letras são compostas
por Dásio e posteriormente trabalhadas
pelos demais integrantes. Segundo Dásio,
não existe uma receita para composição
musical. “A melhor forma de se fazer uma
letra honesta é a verdade; me baseio em
conversas, na minha vida e na dos outros
integrantes da banda. Algumas letras vêm
de comentários que escuto, às vezes tristes,
dramáticos, melancólicos, outros felizes e
motivadores”.
O grupo já se apresentou em diversos festivais,
realizou shows cover, autorais e abriu shows
para as bandas Moptop, Raimundos, Luxúria,
Dr. Silvana, entre outros.
Na Maré
No cenário da música da Maré, a banda
é bastante conhecida, e já se apresentou
na Lona Cultural Herbert Vianna (a Lona
da Maré), no Museu da Maré e nos bares
do Zé Toré e do Leandro.
13
Cultura
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Aument
Processo de criação das letras
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
CULTURA
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PROGRAMAÇÃO
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Cineclube RABIOLA
Todas as sextas, às 16h30
3, 10, 17, 24 e 31 de agosto
14, 21 e 28 de setembro
Cinema de primeira
para nossos pequenos
Programação pelo tel. 3105-6815
Pontinho de cultura
Programação infantil
agora sábados, das 11h às 14h30
Construção de Brinquedos (11 às 12h)
Grafitti (12h às 13h)
Brinquedos Cantados (13h30 às 14h30)
4, 11, 18 e 25 de agosto
01, 08, 15, 22 e 29 de setembro
Brincadeiras, histórias, fabricação de
brinquedos, cinema e muito mais!
Favela Rock
10 de agosto, 20h
14 de setembro, 20h
Banda Levante e Devotta, vídeoclipes e
discoteca nos intervalos.
Biblioteca Popular Jorge Amado
16 de agosto, 10h
Circuito Jovem de leitura na com
Georgina Martins, em homenagem
ao patrono da biblioteca
Kizomba - a festa da raça
17 de agosto, 19h
Musik Eletro Folk com grupo Musik
Fabrik e banda Baiana Qquado
06 de setembro (véspera de
feriado), 20h
MNB (Nova Música Brasileira)
24 de agosto, 19h
O maior festival de música
independente do Rio com Bandas
Algoz, Passarela 10, Mortarium,
Canto Cego, Levante e Café Frio.
Festa LGBT
01 de setembro, bábado, 19h
Leia reportagem na pág. 3
Forró na Lona
21 de setembro, 20h
Homenageando o centenário
de Luiz Gonzaga: cordel,
comidas típicas e bandas ao
vivo.
Festa PLOC! anos 80
28 de setembro, 20h
Banda Grafite, DJ e outras
atrações.
Tardes Culturais:
30 de agosto, quinta, 10h
O universo de Jorge Amado
cantado por Edu Kneip e Thiago
Amud
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO! R. Ivanildo Alves, s/n - Nova Maré - Tels.: 3105-6815 / 78717692
[email protected] FACE: Lona da Maré - ORKUT: Lona Cultural da Maré Twitter: @lonadamare
OFICINAS REGULARES
Capoeira
as
as
Silvana Bahia
Elisângela Leite
3 e 5 - 13 às 15h
Cavaco
2as - 15 às 17h e 3as - 18 às 20h
Artes
Circenses
as
2as e 4 - 14:30 às 16:30h
Percussão
- Ritmos brasileiros
3as e 5as - 9h30 às 11h30
Percussão - Samba
2as e 4as - 9 às 11h
Violão
2as - 15 às 17h e 3as - 18 às 20h
Gastronomia
4as e 5as - 8h30 às 11h30
13h às 16h
Teatro
Sábados - 10h às 12h
(13 a 17 anos)
Dança de salão
Sábados, - 18h às 20h
cultura
Teatro em casa. Essa é a proposta do
novo projeto, intitulado Home Theater,
dirigido por Marcus Faustini, criador e
diretor da Escola Livre de Cinema de
Nova Iguaçu, da Escola Livre de Teatro
de Santa Cruz e da Agência de Redes
para Juventude. Três mulheres, uma de
cada lugar da cidade – Maré e Pavuna
(Zona Norte), e Jardim Botânico (Zona
Sul) – foram escolhidas, neste primeiro
momento, para terem suas vidas
interpretadas pela atriz Regiane Alves
dentro da casa delas para um público
de 20 pessoas.
Sandra Tomé, moradora da Maré, conta que
ficou muito emocionada ao receber o convite.
“A Eliana Sousa Silva (diretora da Redes)
me indicou para o Faustini. Ele disse que
precisava de uma mulher com uma história
legal; me senti honrada com o convite. Sou
moradora da Maré, nascida e criada aqui,
sou da época das palafitas. Na adolescência,
as coisas eram muito difíceis. As pessoas
da minha geração que conseguiam fazer
CULTURA
o ensino médio era como se chegassem à
faculdade. Concluir o ensino médio já era
uma vitória”.
Aos 36 anos, Sandra voltou a estudar.
Terminou o ensino médio e se matriculou
no pré-vestibular que tinha sido aberto na
Maré. Durante três anos tentou ingressar
na universidade para cursar Serviço Social,
até que conquistou a vaga. “Determinei
que ficaria quatro anos na faculdade. Sou
a primeira pessoa da minha família a se
formar numa universidade. Depois de
formada, trabalhei na Redes da Maré. Não
entrei trabalhando na minha área, mas esse
aprendizado foi fundamental. Só depois
de um tempo, quando surgiu uma vaga,
consegui trabalhar na minha área, e lá fiquei
por dois anos e meio”, comenta Sandra, que
atualmente trabalha no Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas (Ibse) como
assistente social.
A história chamou a atenção de Faustini.
O projeto ainda não tem data certa para
acontecer, mas tudo indica que será no
mês de setembro. O laboratório com a atriz
Regiane Alves já começou. Ela esteve na
casa de Sandra para conhecê-la e ouvir as
histórias da boca de quem as vivenciou.
PROGRAMAÇÃO AGOSTO
Oficina Literária de Poesia
OFICINAS REGULARES
2 Dança contemporânea (12-18 anos) 18h30-20h
Com Adriana Kairós, coordenadora do projeto cultural
Dança de rua (Nível avançado) 20h-21h30
Alepa www.literaturapopular.webnode.pt
Cineclube Maré Cine sempre às 17h30
Sábados, 04, 11, 18 e 25 de agosto - de 13h às 17h
as
Espetáculo Adulto Procultura
3as Consciência corporal (a partir de 16 anos) 18h30-20h
Espetáculo Infantil Procultura
4as Introdução ao balé (a partir de 8 anos) 9h30-11h na Redes
Dança - Denise Stultz
Sábado, dia 25, 19h
Teatro - Oh Menino
Domingo, dia 26, 19h
Cineclube Maré Cine
15
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
PROGRAME-SE !
TODA A PROGRAMAÇÃO É GRATUITA !
Sempre às segundas, às 17h30
Dia 20 - Perto Demais se Enxerga de Menos, de Lilyen Vass
Dia 27 - Avenida Um, de Toinho Castro
Os diretores estarão presentes nestas exibições!
ite
Elisângela Le
Herbert Vianna
Moradora inspira diretor de teatro
Cultura
Lona cultural
Rosilene Miliotti
CULTURA
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Percussão (Método O Passo) 20h-21h30
Dança de rua (a partir de 10 anos) 17h-18h30
5as Consciência Corporal (7-12 anos) 18h30-20h
Dança criativa (7-12 anos) 18h30-20h
Dança contemporânea 20h-21h30
6as Introdução ao Balé
(a partir de 8 anos) 17hs-18h30
Dança de salão (a partir de 16 anos) 18h30-20h e 20h-21h30
R. Bitencourt Sampaio,
181 Nova olanda
(21) 3105-7265
Confira a programação no local ou pelo telefone: 3105-7265 (de segunda a sexta, de 14h às 21h30)
ESPAÇO ABERTO
16
POESIA
Feita na Maré, por gente da Maré
pra maré
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n
a
r
Ga
participar do maré
todos os meses! na Associação de da sua
Busque um exemplar
Moradores comunidade!
Maré de Notícias No 32 - Agosto / 2012
Envie sugestões de matéria, opinião, fotos, desenhos, grafite, poesia, crônica, receita...
R. Sargento Silva Nunes, 1.012 Nova Holanda. Tel: 3104-3276 [email protected]
Enviado pelo Diogo, aluno da Escola Municipal Tenente
General Napion, no Parque Roquete Pinto
S.O.S.
Juarez Cantaro
Após expor o caubói e o cigarro
A propaganda agora tem por meta:
Reduzir o carbono de cada carro,
Deslanchando assim a bicicleta
Já vejo numa ciclovia, um atleta
Treinando imune ao pigarro
E festejando isso, o João de barro,
Construirá na mata que ainda resta.
Incontinente a biodiversidade
O rio exilou o katrina
Com águas contaminadas de saudade.
Mas no ideal formatando a rotina:
Ciclistas aspirando à majestade,
Sonharão com o fim da gasolina.
Uma pequena folha seca
Roberta Jaliana (Vila do Pinheiro), aluna
do CPV Redes (unidade Baixa do
Sapateiro)
Uma pequena folha seca
Que ao cair de uma árvore
Não tem outro destino se não
O desprezo...
Assim sou, assim estou.
Como um vento avassalador
Que traz consigo todas as impurezas
Capaz de destroçar até a mais perfeita
das flores
Assim permaneço.
Diogo dos Santos
)
Rindo at o aTar...ta...ru..gas...
tartarugas famintas cruzam o oceano quando avistam uma horta de alface no fundo do mar
(não me perguntem como rs). O líder decide parar mas percebe que eles esqueceram os
talheres, Então manda o mais novo ir buscá-los. este, diz que não, pois o grupo comeria tudo
sem ele. o líder diz que não fariam isso e ordena que ele vá logo. desconfiado, ele vai.
Passam-se cinco anos e nada; dez anos de espera e o grupo não aguenta mais de fome: o mais
novo deve ter morrido, dizem uns. Eles decidem comer, e é quando o mais novo sai de trás
de uma pedra:
A-ha! tá vendo só, Se eu tivesse ido, vocês iam comer tudo sozinhos !!!
Entre um segundo e outro
Eis que ouço meu coração
Nas suas batidas lentas
Cada vez mais angustiado
É um coração ferido,
Que ao despertar de um sonho real,
Sangra.
E na escuridão da noite ao ver a lua
Percebe a paz que eu não vejo.
Nosso Amor
Alex Bomfim F., aluno do Luta Pela Paz
Amor, nosso amor.
Claro, leve amor.
Unidos daremos importância
Ao amor...
Leve, eterno xodó.
Beijos, oásis, minha fêmea
Inefável mulher.

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