View/Open

Transcrição

View/Open
f?io A"e Jane.» vo
Arte signográfica
Mário Pedrosa
Se — na arte. d e h o j e — o e l e m e n t o p l á s t i c o t e n d e a a d o tar aquela q u a l i d a d e e s p e c í f i c a da caligrafia chinesa d e ser
i r r e p a r á v e l e i r r e m e d i á v e l , u m a vez l a n ç a d o s ô b r e o p a p e l
o u a tela, isto significa q u e a l g o c o m o u m signo é o q u e se
p r o c u r a p o r trás d o i m p u l s o c r i a d o r d o artista. A t u a l m e n t e ,
c o m e f e i t o , apesar d o intermezzo
l í r i c o d e c a d e n t e d o "tachism o " , a c o r r e n t e mais p r o f u n d a — e ainda n ã o de t o d o e x p l i citada e c o n s c i e n t e — é de inspiração
gráfica.
Desde Klee
q u e essa n o v a arte de signos a p a r e c e u na p i n t u r a o c i d e n t a l ,
e d e s d e então p e r m a n e c e , c o m altos e b a i x o s , as mais das vezes abafada p e l o b r i l h o e sucesso de m o d a de pintura dita
informal,
U m grande g r á f i c o , q u e n o s d e u alguns signos m a g n í f i c o s
p e l a p r o f u n d i d a d e da e v o c a ç ã o , e, p o r sua f o r ç a expressiva, f o i
H a r t u n g . H o j e , esse m e s m o artista p a r e c e , n u m i m p a s s e , debater-se entre a p u r e z a ancestral d o signo e a n e c e s s i d a d e p o r
assim d i z e r cultural o u social de superá-lo. O u t r o artista d e
n o m e a d a q u e , p r o v i n d o de a l g u m m o d o de H a r t u n g , baseia
sua pintura p e l o m e n o s n u m ritual c o m a l g o d o p r o c e s s o de
c r i a ç ã o d o s i g n o , é Soulages. E x t r e m a m e n t e p r e o c u p a d o , c o n t u d o , e m q u e p e s e m as aparências, c o m p r o b l e m a s de o r d e m
elástica r i g o r o s a e de técnica p i c t ó r i c a , p r i n c i p a l m e n t e a adeq u a ç ã o f u n c i o n a l d o s i n s t r u m e n t o s de t r a b a l h o , p i n c é i s de v á .
rias d i m e n s õ e s e larguras, q u a l i d a d e s d e p ê l o , raspadeiras,
f o r m a s e materiais d i v e r s o s de espátulas etc, n ã o se entrega,
l a r g a d o , ao p r i m e i r o m o v i m e n t o d o b r a ç o o u ao gesto f í s i c o
s ó l t o . C o r r i g e êle, ao c o n t r á r i o , o i m p u l s o i n i c i a l , o r i t m o
d o p r ó p r i o b r a ç o . N ã o a d m i t e c r i a ç ã o p r o d u t o d o acaso, o u
descarga f i s i o l ó g i c a d o g e s t o .
O u t r o p i n t o r d e r e n o m e nessa m e s m a linha é V e d o v a , q u e
é o último rebento, numa linguagem ullramoderna, d o futur i s m o i t a l i a n o . Sua pintura é t ã o s i g n o g r á f i c a q u e quase elim i n a a c o r : N ê l e é a d i n â m i c a f í s i c o - m e n t a l o u espiritual
q u e c o m p õ e o q u a d r o . D a í muitas vêzes t e n d e r a chamá-la
d e p i n t u r a " c e g a " . O m o v i m e n t o n ê l e tem algo d e e p i s c o p a l ,
c o m o u m a b ê n ç ã o . É o seu u m gesto d o p u n h o , mas o artista
se c o l o c a c o m o q u e n o c e n t r o do m u n d o , o u de seu d r a m a ,
de q u a l q u e r m o d o n o p o n t o de c o n f l u ê n c i a s , a f i m de nada
e x c l u i r de seu a l c a n c e . O artista, c o s t u m a êle d i z e r , tem de
ter radar na testa. Para q u ê ? S e g u r a m e n t e , para antever, isto
é , v e r antes da e x p e r i ê n c i a p e r c e p t i v a , e assim traçar na tela
signos d e p o t ê n c i a p r e n u n c i a d o r a . Há u m a e s p é c i e de p r e d i c a
na sua p i n t u r a , e m que o e s p a ç o é cada v e z mais b a r r o c o ,
c o m o n u m teto d e i g r e j a d e B o r r o m i n i .
E m P o l l o c k , a pintura é , d e i n í c i o , u m signo-raio q u e
f e n d e o e s p a ç o : i m p o s s í v e l de ser d e t i d o . E m n e n h u m m o m e n t o êsse s i g n o i r r e p a r á v e l é mais v i s í v e l e e l o q ü e n t e d o
q u e O abismo
( T h e D e e p ) , pintura a d u c o e ó l e o s ô b r e tela.
Já uma v e z c o t e j a m o s êsse signo autêntico c o m o u t r o d e grande c a l í g r a f o j a p o n ê s , T e j i m a , Colapso,
q u e v i m o s na B i e n a l
passada e de n o v o e m T ó q u i o . A m b o s são e x t r e m a m e n t e sign i f i c a t i v o s dessa arte s i g n o g r á f i c a , q u e vai s u r g i n d o p o r trás
d o e m a r a n h a d o de muitas telas " t a c h i s t a s " e r e s p l a n d e c e n o
m e l h o r d o abstracionismo geométrico, c o m o a linguagem mais
u n i v e r s a l d e nossa é p o c a .
A d i f i c u l d a d e c o m os c a j í g r a f o s j a p o n ê s e s é de, ao part i r e m d o i d e o g r a m a n ã o ir a l é m e desfazer-se n o s i m p l e s abs.
trato sensível o u i n f o r m e . E m P o l l o c k , é c l a r o , isso n ã o é
p o s s í v e l , p o i s diante d ê l e o q u e há é o v a z i o e, c o m o b o m
f i l h o d o e x t r e m o - o c i d e n t e , n ã o parte n u n c a de u m a priori
n e m de q u a l q u e r t r a d i ç ã o , mas d o nada para o d e s c o n h e c i d o :
à m e d i d a q u e pinta avança s o b r e as l o n g a s telas, avança e
pára, e r e c o m e ç a , s e m p r e d e b r u ç a d o s ô b r e a s u p e r f í c i e q u e
ataca o u . . . d e c o r a . P o l l o c k cria assim c o m o signo i n i c i a l
u m a t r a m a ; mais d o q u e u m a trama, u m r i t m o , mais d o q u e
u m r i t m o u m b a i l a d o . C o m o rastro d o signo cria u m a b a i l a d o ,
v e r d a d e i r o s í m b o l o d o e m a r a n h a d o d o artista i n e r m e na teia
implacável de uma civilização inumana.
O p e r i g o dessa arte n o O c i d e n t e é o seu h e r m e t i s m o ind i v i d u a l i s t a . Mas êste na sucessão de s i g n o s , e m r i t m o linear
b i d i m e n s i o n a l n u m P o l l o c k , e m r i t m o espacial n u m V e d o v a ,
alcança a u n i v e r s a l i d a d e . N o artista a m e r i c a n o , a universalidade de u m s í m b o l o — o destino trágico d o criador livre e m
nossa é p o c a ; n o i t a l i a n o , a u n i v e r s a l i d a d e d e u m a o p e r a ç ã o
m á g i c a d e d e c a n t a ç ã o o u d e p r o f e c i a , v á l i d a e m t o d o s os m e ridianos.
Noticiário
Revista de arte
O p i n t o r Valdemar Cordeiro,
de São Paulo, pretente lançar
brevemente u m a revista de arte,
para divulgação das experiências
de vanguarda (ia arte brasileira.
A revista reuniria a colaboração
de todos os nomes ligados às
pesquisas mais avançaidas da p i n tura, escultura, poesia, etc.
senho í o i dado o I o p r ê m i o a
Edg^rdo T e n ó r l o e Odila Mestriner (cinco mil cruzeiros, cada).
'remio de
Escultura
de Roma
Paris — C o u b e «. um Joveim
francês, êste ano, o Grande P r ê mio
de Roma. de
Escultura:
Georges Jeanclos, f i l h o de Paris
e discípulo de Jeannlot, Leygues
e
Tencesse.
Georges
Jeanclos
obtlvera ano passado o s e g u n d o
O pintor (e p o e t a ) Willys de grande p r ê m i o . O tema do c o n Jastro, de S
Paulo, f ê z u m a curso dêste a n o f o i u m balxolápida visita a o Rio, t e n d o e n - relevo para a decoração de u m
irado e m c o n t a t o c o m o grupo perlstilo de teatro: "So.b as í o aeoconcreto, de que t a m b é m f a z lhagens do b o s q u e sagrado, s o parte. Willys p a r t i c i p o u do Júri nhaim os poetas « as Musas". —
do ú l t i m o Salão Paulista, tendo ( S I I E F ) .
desenhado para u m certame u m
Willys de
Castro no Rio
belo catálogo, c u j a capa f o i p u bllcada nesta c o l u n a .
..
II Festival de
Arte Moderna
de Macaé
O Júri c o n c e d e u na sessão de
jintura, o I o p r ê m i o (20 m i l c m :eiros) a Benjaimin Silva e o 2»
dez mil cruzeiros) a Leonello
3erti; na sessão de gravura o I o
prêimio (dez mil cruzeiros) c o u be a Adir Botelho e o 2 o para
Hello Alberto Vaz de Melo e M a ria Eiigênia Sampaio (cinco mil
pruüeiros, c a d a ) ; na sess&o de de-
RetrOSpeCtlVa
Yves Jirayer
Nice — Realizou-se nest» c i d a de u m a retrospectiva do pintor
Yves Brayer, c o m p r e e n d e n d o 30
anos de carreira do artista. R e u niu a exposição 50 telas, 20 a q u a relas e " m a q u e t t e s " de cenários
e c o s t u m e s para o teatro e ilustrações de livros. O litoral do
Mediterrâneo f o r m a , sr>b <ertos
aspetos, o traço de ligação de
todas as oibras de Brayer i n s p i radas pelas paisagens da Itália e
da Espanha, e, sobretudo, pelas
da Provença e de Camargue. —
(SIIEF) .