opinião - Revista Rogate
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OPINIÃO OPINIÃO Natal tem que ser assim E stamos vivendo a expectativa de mais um Natal, onde celebraremos Deus-conosco, Emanuel, Jesus que se revela um como nós, o humano no divino e vice-versa. O Tempo do Advento, bem celebrado, com suas quatro semanas, vai criando um clima todo especial. Famílias apressam-se em montar os presépios, alguns antigos, guardados desde o tempo dos avós, ou até dos bisavós, outros mais modernos, recém comprados ou ganhados. O comércio, mais apressado ainda, enfeita seu ambiente interno e externo, com inúmeras luzes coloridas, sem esquecer da figura de um velhinho com barba branca e vestido de vermelho e branco, com roupa de frio (em pleno início de verão). O cenário mexe com os sentimentos de todos: adultos e crianças. Pais e mães recordam o seu tempo de infância, as músicas, as alegrias do encontro familiar, os doces e guloseimas preparados com carinho; as crianças vão descobrindo que é um tempo diferente, prevalecendo o amor entre as pessoas, manifestado geralmente por troca de presentes. É o Natal! E poderia ser diferente? Lembro-me de algumas músicas natalinas (quem não se lembra?), com belas letras e melodias. Há uma, em especial, que todo ano sai dos arquivos (para não dizer da gaveta) e é veiculada na mídia: “Hoje é um novo dia de um novo tempo, que começou nesses novos dias. As alegrias serão de todos, é só querer. Todos os nossos sonhos serão verdade, o futuro já começou. Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier...”. Há Rogate 268 dez/08 uma outra, do meu tempo de criança, que fazia parte de um comercial de uma empresa que nem sei se ainda existe. Crianças cantavam: “Natal tem que ser assim, alegria em todos os corações; Natal tem que ser feliz, muita festa, muitas emoções...”. E, ainda, uma que era cantada pelo coral de minha paróquia, que começava desta forma: “Sim, um anjo proclamou o primeiro Natal a uns pobres pastores ao céu de Belém. Lá nos campos a guardar os rebanhos do mal, numa noite tão fria e escura também...”. Impossível não recordar das músicas natalinas, destas e de tantas outras, contendo belas mensagens. E poderia ser diferente? Afirmar que todo Natal é a mesma coisa tem um fundo de verdade. O clima, o cenário, com suas músicas, presépios e luzes, os sentimentos, as fórmulas e orações litúrgicas... E poderia ser diferente? Sim e não. Natal tem que ser assim, com todos estes ingredientes, alguns mais importantes do que outros, sem dúvida. No entanto, em cada celebração do Natal devemos fazer algo diferente. Precisamos aumentar nossos esforços para, de fato, concretizar o Deus-conosco no dia a dia, isto é, viver cada dia de nossa vida como se fosse o dia de Natal, quando Jesus nasce em Belém, torna-se um humano e revela que somos divinos. Sim, quanto mais humanos, vivendo no amor, buscando a justiça, promovendo a paz, construindo comunidade, mais divinos seremos. É Natal! Deus nasce em nossos corações... Juarez Albino Destro 1 EDITORIAL F NESTA EDIÇÃO eliz Natal e próspero ano novo! Certamente esta será a frase mais ouvida nestes próximos dias, ao nos aproximarmos da festa do nascimento de Jesus. Poderia ser diferente? Na seção inicial da revista há uma reflexão sobre esta pergunta (cf. “Opinião”). Esta edição traz, ainda, uma bela entrevista com o Pe. José Bortolini, religioso da Sociedade de São Paulo, que aborda temas relacionados ao Ano Paulino, iniciado em junho último. Destaca, também, o 25° Encontro Rogate e o lançamento do primeiro desenho animado do Triguito (cf. “Especial”). Por ser a última edição do ano, como já vem fazendo costumeiramente, a Rogate apresenta os seus temas publicados, com a indicação dos títulos, respectivos autores, seções e páginas. Um bom índice que tem por objetivo facilitar possíveis pesquisas. A equipe Rogate agradece a sua companhia e colaboração em mais este ano, desejando um ótimo Natal e um novo ano repleto de realizações, com muito ânimo no serviço vocacional. E espera poder continuar contando com sua parceria em 2009. Poderia ser diferente? Não. Nosso objetivo é continuar servindo da melhor forma possível nesta área vocacional... Entrevista O despertar vocacional de Paulo Estudo Autoridade e obediência Lançada em maio de 1982, a revista Rogate tem registro de matrícula em São Paulo, 01/10/87, no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Registros de Títulos e Documentos, sob o nº 98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da Lei Federal nº 5.250, de 1967. A revista é de propriedade dos Rogacionistas do Coração de Jesus, em colaboração com as revistas: Rogate Ergo e MondoVoc (ltália), Vocations and Prayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas). 2 Os artigos assinados não expressam, necessariamente, a opinião da Revista 10 Especial 25° Encontro Rogate 12 Animação Vocacional Francisco e o leproso 15 Informação 17 Mística da Vocação Há vocação fora da Igreja? 20 Especial Índice Remissivo 2008 21 ENCARTES A Turma do Triguito Celebração Vocacional Epifania e vocação Capa: O nascimento de Jesus, celebrado no Natal e simbolizado por tantos presépios espalhados no mundo inteiro (cf. “Opinião”). DIRETOR DE REDAÇÃO SEDE CENTRAL/CONTATOS Juarez Albino Destro Direção, Editoria, Secretaria e Administração: Tel./Fax: (11) 3932-1434 / 3931-3162 E-mail: [email protected] Http://www.rogate.org.br Rua Comandante Ferreira Carneiro, 99 02926-090 São Paulo SP Brasil EDITOR Ano XXVII - nº 268 Dezembro de 2008 03 Jefferson Silveira COLABORADORES Armando Del Mercato (capa), Geraldo Tadeu Furtado, Osmar Koxne (Triguito), Patrício Sciadini e Vito Domenico Curci CONSELHO EDITORIAL Izabel Bitencourt Pereira, Dárcio Alves da Silva, Dilson Brito Rocha, Maria da Cruz Santos, Cláudio Feres e Therezinha Brito Feres JORNALISTA RESPONSÁVEL Ângelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP IMPRESSÃO Gráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR) ASSINATURA ANUAL Nacional: 40 reais (10 edições ao ano) Exterior: África, Ásia e Oceania - 50 dólares América - 30 dólares Europa - 50 euros Pagamento por Cheque Nominal, Vale Postal (agência 72.300.159-SP) ou Depósito Bancário - Banco Bradesco, agência 117-1, conta número 92.423-7, Centro Rogate do Brasil (CNPJ: 83.660.225/0004-44). Neste caso, enviar o comprovante por fax, correio ou e-mail, com nome e endereço completos. Rogate 268 dez/08 ENTREVISTA ENTREVISTA Fotos: Arquivo pessoal O despertar vocacional de Paulo Em entrevista para a Rogate, Pe. José Bortolini destaca o itinerário percorrido pelo apóstolo Paulo e apresenta diversos ensinamentos deste santo da Igreja, que continuam extremamente atuais D esde criança José Bortolini sonhava em ser padre, médico ou mili tar. Até que pelos idos de 1960, no pequeno distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves (RS), onde nasceu, um jovem sacerdote paulino, Pe. José Dias, visitou a localidade em busca de possíveis vocacionados. A mãe de José Bortolini indicou o nome do filho. No ano seguinte lá estava o Pe. Dias decidido a levá-lo ao seminário da congregação. Bortolini completara 11 anos e poderia ter ingressado no seminário menor da diocese de Caxias do Sul (RS), afinal o vigário de sua paróquia, no primeiro sábado do mês, reunia os meninos que pretendiam ir para o seminário e lhes dava uma pré-formação. Porém, como o próprio Bortolini lembra, “a rede se rompeu e escapamos. Acabei sendo encaminhado aos paulinos, sem conhecê-los”. Hoje, Pe. José Bortolini reconhece: “Sem desmerecer os diocesanos, graças a Deus me senti muito a vontade na congregação e pude exercer meus dotes de escritor e de comunicador”. Aos 56 anos de idade, sendo 35 como reli- Rogate 268 dez/08 gioso e 31 de ministério ordenado, Pe. Bortolini é mestre em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália. Elaborou muitos cursos, escreveu diversos livros e tem inúmeros artigos publicados. É responsável pelas publicações da área bíblica de Edições Paulinas e Paulus. Durante vários anos foi redator da revista Vida Pastoral, e seus roteiros homiléticos continuam a ser fonte de inspiração de muitos ministros ordenados. Pe. Bortolini tem uma dedicação especial pelo estudo do apóstolo Paulo. E é sobre este santo que a Rogate conversou com o religioso. Rogate: Conte-nos sobre o itinerário vocacional que o levou a ingressar na Pia Sociedade de São Paulo... Pe. Bortolini: Penso que nas neblinas da estrada da vida, Deus me conduziu no caminho certo. Foram 14 anos de formação. Não quer dizer que eu não tivesse dúvidas, o que ocorreu até as vésperas da minha ordenação. Isso acontece porque a 3 ENTREVISTA gente confia pouco em Deus e teme muito as próprias limitações. Porém Deus confia nas potencialidades das pessoas e não leva em conta as suas limitações. Deus vê de um modo diferente. Eu dizia: ‘será que consigo, pois sou uma pessoa limitada’. E Deus pensava: ‘ele vai conseguir, apesar dos limites’. É o caminho vocacional de toda pessoa. Os grandes personagens da Bíblia também colocavam em primeiro plano as próprias limitações, casos de Moisés, Isaías, Jeremias. Acho que a certeza de uma vocação vai sendo construída. Rogate: Estamos celebrando o Ano Paulino. Como religioso paulino, qual a importância deste apóstolo em sua vida? Pe. Bortolini: São Paulo é quem dá o nome à nossa congregação e à família paulina, que é um complexo de congregações. Nosso fundador, Pe. Tiago Alberione, afirmava explicitamente que São Paulo é pai, modelo, exemplo, mestre e fundador da família paulina. Por isso não nos chamamos de ‘alberionianos’. A espiritualidade de nossa congregação parte de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6), e, no dizer de Pe. Alberione, Paulo foi o melhor discípulo, pois entendeu isso perfeitamente e o transmitiu. Rogate: Paulo era jovem quando passou a seguir o projeto de Jesus, mas é possível que ele tenha se encontrado pessoalmente com “o messias” antes da morte e ressurreição do Cristo? Pe. Bortolini: Não creio! Entretanto Paulo afirma na Carta aos Gálatas (2,20): ‘Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim’. E na 1ª aos Coríntios (11,1): ‘Sejam meus imitadores como eu imito Cristo’. O fato de conhecer é relativo. E conhecer em que sentido? Físico? Na 2ª 4 aos Coríntios, capítulo 12, Paulo fala de uma experiência mística de Jesus, explicando que foi arrebatado ao terceiro céu, escutou palavras que não são permitidas dizer em linguagem humana, isto é, uma experiência transcendental que ele fez da pessoa de Jesus Cristo. Rogate: É o encontro de Damasco? Pe. Bortolini: Paulo nunca fala da experiência de Damasco, mas são os Atos dos Apóstolos que tocam neste assunto. Há uma questão aberta: ‘será que tudo o que Lucas diz de Paulo é verdadeiro, autêntico, ou se trata de um gênero literário?’ O fundamental é que Paulo fez uma experiência de Jesus Cristo, experiência esta que marcou sua vida. Rogate: Neste caso, qual sua opinião sobre a conversão de Paulo? Pe. Bortolini: Veja que chamamos erradamente, ao meu modo de ver, o episódio de Damasco como sendo a “conversão de Paulo”, quando aquele é um texto vocacional. Rigorosamente ele não é um convertido. O Deus no qual Paulo acredita e que anuncia é sempre o mesmo. O Deus do Antigo Testamento, Javé. O que deve ter acontecido com Paulo foi uma mudança radical no modo de ver Deus, as pessoas e o mundo. A questão fundamental é a passagem do Paulo fariseu para o Paulo cristão. Como fariseu, ele acreditava que poderia manipular Deus pela prática do bem e da justiça. O apóstolo fala, na carta aos Filipenses (Fl 3,5), que do ponto de vista da prática da lei ele era irrepreensível, o estágio mais elevado ao qual um fariseu poderia chegar. E os fariseus pensavam que quando todos fossem irrepreensíveis o Messias viria como prêmio. E o que Paulo descobre? Exatamente o contrário. Em Rogate 268 dez/08 ENTREVISTA Romanos (Rm 5,8) ele diz que o ‘Filho de Deus morreu e se entregou por nós quando ainda éramos pecadores’. Esse é o golpe fatal na espinha dorsal do fariseu, do ponto de vista da sua teologia, da visão de Deus. Pe. Bortolini: Para falar neste aspecto é necessário retomar o episódio, que é contado em três ocasiões nos Atos. Não é um relato de conversão, mas do ponto de vista literário é um relato vocacional, que tem sempre os seguintes elementos: uma aparição transcendente, uma reação de fraRogate: É o fim de Paulo fariseu... queza por parte da pessoa, a visão transPe. Bortolini: Ele descobriu que não cendente conforta, a visão transcendente é o seu amor que obriga Deus a coisa alguconfia uma missão. É possível encontrar ma. É dele que vem o amor primeiro e inisso no relato da vocação de outros persosuperável. ‘Éramos todos penagens bíblicos, como Moicadores, mas Jesus veio e deu sés, Jeremias, Isaías, Maria. a vida por nós, por puro amor Veja o caso de Maria: aparece Será que de Deus’. Isto também é dito o anjo, há uma reação de fratudo o que em Gálatas (Gl 2,20). Houve queza e incompreensão, o Lucas diz uma completa mudança na caanjo explica, conforta e conde Paulo, beça de Paulo. E mais. Como firma. Com Paulo acontece o fariseu, Paulo tinha uma visão mesmo esquema. Há uma luz, nos Atos dos separatista, segregacionista. A Paulo cai, a voz que vem do Apóstolos, palavra fariseu significa sepacéu insiste para levantar e é verdadeiro, rado. Os fariseus se consideentrar na cidade, depois há a autêntico, ravam os puros, enquanto os confirmação de que ele é uma ou se trata de outros eram pecadores, afaspessoa escolhida para uma tados de Deus e merecedores missão específica diante dos um gênero da ira de Deus. É a questão do pagãos, dos judeus e das auliterário? puro e do impuro. O fariseu toridades. São esquemas vovivia preocupado com a avalicacionais. Também devem ter ação do que poderia tocar e marcado este despertar de comer. E Paulo diz que tudo é puro para Paulo a experiência do martírio de Estequem é puro. Penso que essa é a chave da vão e o exemplo cristão de fraternidade e mudança que houve em Paulo, uma a muperdão de Ananias, líder da comunidade de dança de mentalidade sobre Deus, as pesDamasco, que chama de irmão aquele que soas, o mundo e as coisas. O fariseu via o veio matá-lo. mundo como lugar de perdição; Paulo cristão vê o mundo como um campo, uma seRogate: Esse despertar de Paulo contimeadura da palavra de Deus, como uma nua sendo uma lição para nós hoje! lavoura e um lugar para se construir o Pe. Bortolini: Sem dúvida! Penso que Reino de Deus. para sermos missionários e anunciadores da Palavra de Deus temos que ter em priRogate: Podemos afirmar que tenha meiro lugar a experiência de Jesus na próocorrido um belo despertar vocacional em pria vida. Como falar dele se nós não vivePaulo? mos esta comunhão? Rogate 268 dez/08 5 ENTREVISTA Rogate: Há quem diga que Paulo é o fundador do cristianismo. O que acha? Pe. Bortolini: É uma tese, sobretudo, protestante, à qual eu não compartilho. O fundador do cristianismo é Cristo, caso contrário se chamaria paulinismo. O bonito é que Paulo levou a pessoa de Jesus Cristo para fora da cultura e geografia judaica, tentando inculturar a pessoa de Jesus em um mundo cultural distinto, que era o mundo greco-romano. Ao observar a atividade de Jesus, percebe-se que ela se restringia praticamente à Galiléia, que é um espaço geográfico reduzidíssimo. Jesus tinha essencialmente a cultura judaica, enquanto Paulo era judeu, mas se movimentava no mundo greco-romano. Jesus quase sempre se encontrou com judeus, e assim seus discípulos são judeus. Paulo tinha companheiros judeus e não judeus. Por isso, ao meu modo de ver, é errado pensar que Paulo seria o fundador do cristianis- mo. Para mim não há uma separação entre Jesus e Paulo, mas uma seqüência. Rogate: O fato é que o apóstolo Paulo foi fundamental para a expansão do cristianismo... Pe. Bortolini: Graças a Paulo que Jesus foi anunciado fora do território judaico. Se não fosse por ele, o cristianismo talvez continuaria sendo um braço, um ramo do judaísmo. No capítulo 20 dos Atos dos Apóstolos se constata que os cristãos de Jerusalém estavam umbilicalmente unidos ao judaísmo, ao passo que Paulo, por exemplo, nunca pregou para os pagãos a ida ao Templo de Jerusalém para os sacrifícios e as celebrações. Porém, Jesus tem a mesma importância tanto para os judeus de Jerusalém como para os pagãos com os quais Paulo convivia. Tanto que alguns chegam a dizer que Paulo teria traído Jesus ao inculturá-lo no mundo grecoromano. Não se pode duvidar da fé que os cristãos de Jerusalém tinham em Jesus, mas eles continuavam ligados à circuncisão. Paulo nega a necessidade da circuncisão para ser discípulo de Jesus. Esse é o divisor de águas. Rogate: Em seu artigo “Libertar Paulo” (revista Vida Pastoral, maio-junho de 2008), o senhor explica que Jesus viveu em um contexto rural, enquanto Paulo era inserido no contexto urbano. Como essas diferentes culturas influenciaram os primór“É errado pensar que Paulo seria o fundador do cristianismo. Para mim não há uma separação entre Jesus e Paulo, mas uma seqüência” dios da Igreja? 6 Rogate 268 dez/08 ENTREVISTA Pe. Bortolini: É o tema da inculturação. No citado artigo falo dos quadros referenciais do universo simbólico de Jesus, ligados à aldeia, ao campo, com seus valores e paradigmas. Enquanto Paulo era o homem das grandes cidades. Naquela época havia cinco grandes metrópoles no Império Romano: Roma, Corinto, Éfeso, Antioquia (da Síria) e Alexandria (do Egito). Paulo esteve em quatro delas. Pelo que se sabe, o apóstolo só não esteve em Alexandria. A comunidade de Paulo não era em Jerusalém, mas em Antioquia, da Síria, de onde ele partia e retornava de suas viagens. De acordo com o livro dos Atos, capítulos 11 ao 13, esta era uma comunidade aberta, internacional e multicultural. Rogate: Em uma sociedade urbanizada como a atual, Paulo tem muito a nos ensinar. Pe. Bortolini: O desafio hoje é encontrar a linguagem própria para falar de Jesus em uma cultura urbana. Porque há crianças da cidade que não sabem o que é um grão de trigo. Houve casos em que perguntei às crianças de onde vêm os ovos e o leite e elas responderam que vêm da geladeira. Certo amigo não acreditou quando lhe disse que a cebola, a beterraba, a batata nasciam debaixo da terra. Paulo, em sua linguagem e escritos, usava imagens urbanas, ao passo que Jesus usava imagens rurais, como as aves, as sementes, a rede com os peixes, o pastor com suas ovelhas. Como falar na periferia da cidade de São Paulo, por exemplo, sobre o pastor e suas ovelhas? Dificilmente as pessoas vão intuir que se trata de um pequeno proprietário, que possui algumas ovelhas, passa o dia inteiro em pastagens onde elas se alimentam, caminha com elas em busca de fontes para beber e à noite coloca-as em um Rogate 268 dez/08 cercado. É o mundo pastoril. Mesmo a passagem em que Jesus afirma ‘Eu sou a videira e vós sois os ramos’: pouquíssimos sabem o que é uma parreira. Rogate: Em sua opinião, a Igreja católica vive o ensinamento de Paulo quanto a inculturar-se na realidade do povo? Pe. Bortolini: Esse é um desafio, sobretudo para os agentes de pastoral, mas também para os ministros ordenados que atuam nas grandes cidades. A formação dos seminaristas deveria dar mais atenção ao tema. Pergunto-me se este não é um dos fatores responsáveis pela diminuição do número de vocações. As congregações normalmente buscavam vocações na roça, nas pequenas cidades, pois havia uma interação entre a cultura dos evangelhos e a do povo da roça. Será que não existem vocações nas grandes cidades, com uma cultura urbana própria das metrópoles? Talvez nós não saibamos falar com as pessoas da cidade. Rogate: No livro “Os desafios da cidade no século XXI” (editora Paulus), Pe. José Comblin adverte que a sociedade atual é urbana, mas a Igreja ainda está estruturada a partir da realidade rural, tendo a diocese e as paróquias como centros administrativos e da fé. O que o apóstolo Paulo poderia nos dizer em relação a isso? Pe. Bortolini: Paulo tem algo neste sentido. Ao ler com atenção o capítulo 18 de Atos, sobre a fundação da comunidade de Corinto, observa-se que Paulo organizou núcleos domésticos, igrejas domésticas. Paulo não construía paróquias e templos, mas núcleos nas casas. Primeiro na casa de Áquila e Priscila, onde se hospeda. Depois se dirige à casa de ‘um certo Justo’. Também ‘Crispo, chefe da Sinagoga, crê no Senhor’ e forma outro núcleo. O 7 ENTREVISTA novo chefe da Sinagoga, Sóstenes, igualferia e se expandindo para o entorno das mente parece se tornar dirigente de uma grandes cidades. igreja doméstica em sua casa. No capítulo 16 da carta aos Romanos, Paulo saúda a Rogate: Formava-se uma rede. Igreja que se reúne na casa de Prisca e Pe. Bortolini: É uma evangelização em Áquila, saúda os da casa de Aristóbulo, rede. Isso se percebe no início da carta aos também da casa de Narciso e muitos mais. Colossenses. Paulo fala de Epafras, que era Só nesta passagem se descobre que havia seu companheiro. Pelo que se supõe, Pauao menos cinco igrejas domésticas em lo nunca esteve em Colossas. O que deve Roma, na qual as pessoas se conhecem e ter acontecido? Paulo fundou núcleos crisse relacionam melhor. No tempo de Paulo tãos em Éfeso. Epafras esteve em um desestas igrejas domésticas atenses núcleos e foi para Colosdiam inclusive a uma necessas, onde fundou outro núcleo sidade física, porque as casas cristão. E há também em CoE pensar que dos pobres eram de um cômolossas as igrejas domésticas atualmente do. Como reunir 10, 20, 30 de Ninfas e de Arquipo, talvez ainda há casos pessoas? Quem possuía uma filho de Filemon. É importan[...] de padres casa maior, acolhia em sua rete perceber que a estratégia centralizadores, de Paulo não era evangelizar sidência a comunidade para a celebração. Penso que uma inde início toda metrópole, mas que seguram dicação interessante para a criar núcleos que vão se extudo em suas pastoral urbana atual seria a pandindo. mãos, quando criação de igrejas domésticas, o trabalho descentralizadas. Rogate: Qual a importância da utilização das cartas por é mais de Rogate: Essa era a proposparte de Paulo? coordenar... ta de trabalho de Paulo? Pe. Bortolini: No seu Pe. Bortolini: Falemos de tempo Paulo empregou os estratégia pastoral de Paulo. meios mais rápidos e eficazes Ele chegava a uma cidade e criava alguns para a evangelização, que eram as cartas. núcleos cristãos nas casas. Veja Corinto, Primeiro havia a comunicação pessoal, algo por exemplo, cidade de talvez meio milhão indispensável, pois Paulo fundava as comude habitantes naquele tempo. As comuninidades e as acompanhava. Só que, depois, dades de Paulo, de acordo com Atos 18, Paulo servia-se de uma rede de colaborareuniam-se em quatro casas. Quantas pesdores e de caminhos de comunicação para soas então formavam a comunidade dos chegar às comunidades. Na época, o impécristãos de Corinto? Em torno de 100 pesrio romano havia construído boas estradas soas. Só que a estratégia pastoral de Paulo para fins militares e de comunicação. Esera formar pequenos núcleos nas casas, tas estradas serviam para as legiões de que vão crescendo e se espalhando para a ocupação do exército, para o escoamento criação de novos lugares de encontro, que de tributos e para as comunicações. A cada por sua vez crescem e formam outros nú30 km nestas estradas havia um entreposto cleos, multiplicando-se, atingindo a peridos correios com cavalos e cavaleiros. Uma 8 Rogate 268 dez/08 ENTREVISTA carta de Éfeso a Tarso chegava tão rápido como uma carta que hoje vai de avião, pois os mensageiros trabalhavam dia e noite. Rogate: Além da celebração dos dois mil anos de nascimento do apóstolo Paulo, o senhor acredita que o papa Bento XVI instituiu o Ano Paulino para que Igreja se inspire nos ensinamentos do santo? Pe. Bortolini: Penso que sim, pois não existe na história da Igreja pessoa mais envolvida e bem sucedida no processo de evangelização do que Paulo. Ele é bastante atual justamente porque é o homem das grandes cidades, onde vive a maioria da população. Temos muito a aprender dele. E o Ano Paulino suscitou um grande interesse pelo apóstolo. No entanto é preciso ver o que pretendemos: fazer só uma comemoração ou ter o apóstolo como uma espécie de luz e ponto de apoio para uma nova visão da pastoral e da evangelização? Mesmo porque há várias formas de entender o Ano Paulino. Para mim o modo correto é ver em Paulo a pessoa que mais viveu Jesus Cristo e mais o anunciou. Rogate: E o que podemos aprender da prática de Paulo? Pe. Bortolini: Ele nos ensinou o trabalho coordenado. No capítulo 16 da carta aos Romanos o apóstolo cita mais de 30 colaboradores. Rastreando os Atos e as cartas de Paulo podemos chegar a uma centena deles. E pensar que atualmente ainda há casos em paróquias de padres centralizadores, que seguram tudo em suas mãos, quando o trabalho é mais de coordenar, delegar, animar, sustentar, criar novas lideranças... Pode parecer escandaloso, mas é claro que as comunidades de Paulo celebravam a eucaristia. E quem presidia? Eram leigos! Em Filipos, provavelRogate 268 dez/08 mente eram mulheres: Evódia e Síntique, que brigavam entre elas, mas deveriam ser dirigentes e lideranças da comunidade (Fl 4,2). Não havia ministérios ordenados como temos hoje. É como se fosse uma paróquia funcionando sem padre. Somos uma Igreja muito ligada aos sacramentos, que estão dependentes do ministro ordenado. Por que as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) arrefeceram? Justamente porque se insistiu para que ficassem dependentes das paróquias. Rogate: E hoje se constata a presença até de padres jovens com esta mesma visão de poder, de centralização... Paulo se assustaria com esta postura na Igreja? Pe. Bortolini: É triste hoje em dia perceber que há uma parcela do clero que se agarra com unhas e dentes ao poder como forma de auto-afirmação. Acredito que a autoridade quando é boa não se manifesta. Como no futebol: se o juiz é bom ele não aparece, e o jogo corre. Mas se o juiz é estrela, ele estraga o jogo. Em uma paróquia, quando as lideranças têm liberdade e responsabilidade, tudo funciona e o papel do padre é salientado como coordenador, não como alguém que domina e manipula. A concentração de poder infantiliza as pessoas e impede o surgimento de novas lideranças. João Batista dizia ‘é preciso que ele cresça e eu diminua’. O encontro definitivo, e que vale, é o encontro com Jesus Cristo e não com o padre. Rogate: Uma mensagem final. Pe. Bortolini: Que todos amem o apóstolo Paulo como homem de Deus e homem do povo; e que nunca separem as duas coisas. Separá-las seria mutilar o apóstolo Paulo. Homem de Deus: espiritualidade. Homem do povo: missão. 9 ESTUDO ESTUDO Autoridade e obediência - parte 3 - Na conclusão da Instrução elaborada pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica a missão é o tema em destaque N a terceira e última parte da reflexão sobre a Instrução “O Serviço da Autoridade e a Obediência”, verificar-se-á como se articulam a autoridade e a obediência em relação à missão. Desta forma, concluiremos o estudo com a visão completa do triplo serviço da autoridade: a pessoa, para que seja animada a viver a própria consagração (primeira parte); a comunidade, para que seja de fato fraterna (segunda parte); e a missão, em vista da realização do projeto comum (terceira parte). A terceira parte da Instrução tem início com o resgate da imagem de Jesus Cristo, modelo por excelência da vida consagrada, como grande missionário do Pai, enquanto Filho obediente e que vem para realizar a vontade do Pai. Jesus é, em síntese, o paradigma da missão cristã. Por sua vida, ele nos faz compreender a relação íntima e singular que existe entre a missão e a obediência. Cada religioso ou religiosa, consagrado ou consagrada, é convidado a participar dessa missão acolhendo a Jesus e tornando-se espaço de sua presença na história, possibilitando aos outros a chance de encontrá-lo. A missão traz em si exigências tanto à autoridade quanto àqueles que devem obedecer. Estar em missão é assumir as pos10 síveis dificuldades no caminho da vida cristã. É saber enfrentá-las com a graça do Senhor, tendo sempre a consciência de que ele próprio foi quem enviou a cada um e que, por isso mesmo, não os desamparará nas dificuldades. Elas existem tanto para quem obedece quanto para quem exerce a autoridade. Há o risco da autoridade passar por momentos de cansaço e desânimo, por exemplo, podendo levar a atitudes de renúncia ou omissão no exercício da orientação e animação da comunidade. Como a qualquer ser humano, também aos superiores há a possibilidade do erro, do desvio. Contudo é fundamental que se possa recordar a importância da fé como a base necessária para a vivência do voto de obediência. A fé levará à compreensão e superação de qualquer dificuldade que se apresente no exercício da autoridade e obediência. O documento mostra, no entanto, que o exercício da autoridade é imprescindível para o desempenho e a vivência missionária da comunidade. É através da autoridade e de sua liderança que se consegue atingir, na missão, a fidelidade ao próprio carisma. Ela é forte elemento de convergência que guia ao objetivo comunitário. Sob a liderança da autoridade, a convergência só ocorrerá caso a pessoa a Rogate 268 dez/08 ESTUDO quem cabe obedecer se reconheça em jeção da consciência. “Pode acontecer, pormissão e saiba abrir mão dos próprios tanto, que a pessoa consagrada tenha de desejos e aspirações em vista do todo. aprender a obediência também a partir do Desta forma, a comunidade adquire a sofrimento, ou pelo menos de certas situconsciência de ser guiada pelo Espírito do ações particulares e difíceis” (n. 10). Senhor e de ser missionária. É então apresentada, como Foto: web Tanto mais fruto dará a misobediência difícil, a situação são, quanto mais generosa for de religiosos ou religiosas que a resposta da comunidade têm dificuldade em cumprir o que, sabendo trabalhar unida, que lhes é pedido. Nesse ponfor capaz de se doar, colocanto, citando São Francisco de do-se sempre na atitude huAssis, a Instrução resgata a milde do serviço. prática da “obediência caritaNesse aspecto da mútua tiva” ou “obediência perfeita”, colaboração, ganha relevo a onde os religiosos enxergam fraternidade. O texto a trata coisas melhores e mais úteis como uma das fontes capazes para sua alma do que as ordede alimentar a missão comunadas pelo superior, sacrifinitária. Tal e qual a qualidade cam voluntariamente os seus “Quem quiser da unidade entre os religiopontos de vista e cumprem a ser o primeiro sos e religiosas de uma coordem dada, satisfazendo, asentre vós, seja munidade, que se percebe sim, a Deus e ao próximo. vosso servo. missionária, é a qualidade dos A Instrução termina refrutos produzidos como vidas lembrando que a vida do fiel é Pois o Filho do que são oferecidas ao Senhor toda ela uma busca de Deus, Homem não e aos irmãos. logo, um contínuo aprender a veio para ser O texto aponta também os escutar sua voz e cumprir sua servido, mas múltiplos desafios que têm a vontade. Isso, no entanto, prepara servir autoridade e cita algumas tacisa ser realizado com muito refas importantes do seu seresforço. Lembra, também, e dar a vida viço. São elas: encorajar a asque todos vieram à vida por em resgate sumir responsabilidades e as um ato de obediência e que, por muitos” respeitar quando assumidas; por outro lado, concluíremos convidar a enfrentar as difenosso caminho nessa terra (Mt 20,27-28) renças em espírito de comuindo “em direção àquele Pai Instrução, n. 21 nhão; manter o equilíbrio enbom que nos chamará definitre as várias dimensões da tivamente a si” (n. 29). vida consagrada; ter um coraO documento traz, em seu ção misericordioso; ter o sentido da justiúltimo parágrafo, uma prece à Virgem ça; promover a colaboração com os leigos. Maria, na qual apresenta o itinerário da Ao final do documento são abordadas Mãe de Jesus no enfoque da autoridade e as dificuldades na relação entre a obediênda obediência (cf. n. 31). cia e autoridade, bem como o tema da obCarlos André Câmara Rogate 268 dez/08 11 ESPECIAL ESPECIAL 25° Encontro Rogate “Vocação e Corporeidade no evangelho de Lucas” foi o tema do jubileu do Encontro Rogate, assessorado pela Ir. Terezinha Veroneze N A Turma do Triguito: “A competição” (ver box pág. 14). Participaram do evento cerca de 30 pessoas, provenientes de vários estados do País. O início do encontro foi marcado por um momento de espiritualidade, seguido pela acolhida feita por Ir. Antonia Dal Mas, religiosa da Congregação Missionárias da Imaculada, assessora executiva regional da CRB-SP; por Ir. Maria da Cruz da Silva Santos, da Congregação das Filhas de Nossa Senhora da Misericórdia, diretora-presidente do IPV; e Pe. Juarez Albino Destro, religioso da Congregação dos Rogacionistas, diretor do Centro Rogate. Todos destacaram a importância do evento para a formação dos agentes que atuam na aniFotos: Arquivo Rogate os dias 1° e 02 de novembro, na sede da Conferência dos Religiosos do Brasil, Regional São Paulo (CRB-SP), na cidade de São Paulo (SP), foi realizado o 25º Encontro Rogate, para animadores e animadoras vocacionais. Promovido em conjunto pelo Centro Rogate do Brasil, CRB-SP e Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), a 25ª edição do encontro apresentou o tema “Vocação e Corporeidade no evangelho de Lucas; leitura bíblica e sua implicação na juventude atual”. Foi assessorado pela religiosa da Congregação das Irmãs da Providência de Gap, Ir. Terezinha Maria Veroneze. Na tarde de sábado, primeiro dia do encontro, houve também o lançamento do desenho animado de Ao lado, os participantes; acima, a assessora 12 Rogate 268 dez/08 ESPECIAL mação vocacional, e Pe. Juarez ressaltou, ainda, o fato de estar sendo celebrado ali o jubileu: “Em suas 25 edições o encontro fez história, e se atualizou, acompanhando a trajetória do próprio serviço de animação vocacional no Brasil”. Para promover a integração dos participantes, Ir. Terezinha Veroneze começou os trabalhos do dia organizando uma dinâmica com lençóis e bexigas. Depois apresentou a introdução do tema. Inicialmente pediu para que todos relacionassem onde se encontram em nossa sociedade os corpos feridos e, por outro lado, onde estão presentes os sinais de solidariedade. A partir das próprias considerações dos presentes, Ir. Terezinha passou a analisar as compreensões que Igreja e sociedade têm em relação ao corpo, bem como sobre o comércio que envolve esta questão. A violência e a exploração sexual de crianças e adolescentes foi um dos pontos debatidos, e ainda nesta linha foi abordada a temática do medo, que leva ao silêncio. Para ilustrar o assunto, a assessora apresentou parte do filme brasileiro “Anjos do Sol” (de Rudi Lagemann, 2006, 92 min.), que retrata a dramática realidade de meninas adolescentes no Brasil, vendidas para o mercado da prostituição. Na seqüência, Ir. Veroneze fez um resgate histórico, explicando que no judaísmo não havia separação entre corpo e alma, tanto que o Primeiro Testamento (ou Antigo Testamento) concebe o ser humano de forma integral. A religiosa justifica sua tese apresentando um estudo sobre a menorá (castiçal de sete pontas), que representa a árvore da vida. Segundo a assessora, é a filosofia grega quem faz esta distinção, pois a alma para os gregos simbolizava os nobres, enquanto o corpo era associado à escravidão. Terezinha esclareRogate 268 dez/08 ce que apesar de sofrer influência da filosofia grega, o apóstolo Paulo não separava corpo e alma. O evangelista Lucas trabalha a partir da perspectiva paulina e igualmente não faz esta distinção. A partir da Bíblia, e inspirada nos livros “Corpos solidários em tempo de travessia”, publicação da CRB, e “Corpo: território do sagrado”, de autoria de Evaristo Eduardo de Miranda (Loyola), Ir. Terezinha Veroneze levou os participantes do encontro a se aprofundarem no estudo do evangelho de Lucas. Iniciou incentivando a observarem onde o corpo está presente já no princípio deste evangelho, desde a experiência de Zacarias e Isabel, pais de João Batista, passando pela anunciação do anjo a Maria, a encarnação, a gravidez de Maria e de Isabel, o nascimento de João Batista e de Jesus, depois avançando nos capítulos e apresentando os sinais da misericórdia de Deus e de como ele cura os corpos feridos. Após o almoço, houve a cerimônia de lançamento do primeiro filme de A Turma do Triguito. Na seqüência, Ir. Terezinha Veroneze trabalhou a temática do puro e impuro, questão muito presente na Bíblia, em especial porque a purificação dos corpos implicava em recursos financeiros a serem angariados pelos sacerdotes para o Templo. O evangelista Lucas também aborda 13 Lançamento do DVD “A competição” ESPECIAL urante a realização do 25° Encontro Rogate, mais precisamente no dia 1° de novembro, na sede da Conferência dos Religiosos do Brasil, Reginal São Paulo (CRB-SP), foi lançado oficialmente o primeiro desenho animado de “A Turma do Triguito”, com o título: “A competição”. O DVD tem nove minutos e aborda várias temáticas da atualidade, como o meio ambiente e a reciclagem, a ação voluntária em prol de obras sócio-educativas carentes, a dialética justo-injusto ou certo-errado, a conversão e o perdão. Outros aspectos, como o suborno e a corrupção, ou o olhar compassivo que gera transformação, também poderão ser trabalhados junto com as crianças e os adolescentes, público-alvo do filme. “A repercussão foi bastante positiva”, ressaltou o diretor do Centro Rogate do Brasil, Pe. Juarez Destro. “Trata-se do primeiro filme, onde foi abordada a questão da vocação à vida. Cabe-nos responder a este chamado através do cuidado e zelo pela obra da criação, natureza e seres humanos”, completou. Pe. Juarez afirmou, ainda, que o projeto prevê o lançamento de mais cinco filmes, sempre com temáticas vocacionais. este tema em diversas passagens, casos da mulher com o perfume, de Zaqueu, do samaritano, entre outros. Em profunda sintonia com o estudo elaborado pela equipe de reflexão bíblica da CRB, sobre os “Corpos solidários em tempo de travessia”, Ir. Veroneze foi levando os participantes do Encontro Rogate a perceberem como Lucas insiste na necessidade de mudança de mentalidade para que se possa fazer a travessia, isto é, passar de uma cultura de morte para a cultura da vida em plenitude, anunciada por Jesus. Dinâmicas e trabalhos em grupos contribuíram na reflexão. Na manhã de domingo, o 25º Encontro Rogate foi retomado com a oração inicial, seguido do aprofundamento da temática trabalhada no dia anterior. Segundo a assessora, a necessidade de se promover uma mudança de mentalidade, conforme indicado no evangelho de Lucas, é fundamental para o cristão, pois a cultura grega de divisão “corpo/alma” está enraizada na sociedade. Novamente as dinâmicas e os trabalhos em grupo foram utilizados, assegurando uma participação animada dos presentes. No plenário, por exemplo, os grupos apresentaram suas conclusões de forma criativa. Na manhã de domingo houve a celebração eucarística, seguida do almoço festivo em homenagem ao jubileu do Encontro Rogate. O encerramento da 25ª edição do encontro foi marcado pelo clima de confraternização, com direito a champanhe, canto de “parabéns” (para o encontro e para os aniversariantes da semana), além de sorteio de brindes, como a Agenda Vocacional Caminhos 2009 e o DVD “A competição”, recém lançado. A Redação D Pe. Juarez Destro no lançamento do DVD 14 Rogate 268 dez/08 ANIMAÇÃO VOCACIONAL VOCACIONAL Francisco e o leproso “Embora eu seja livre em relação a todos, tornei-me o servo de todos, a fim de ganhar o maior número possível” (1Cor 9,19) C ontam-nos as biografias de Francisco de Assis que o santo tinha grande repulsa em relação ao aspecto físico dos leprosos, reação totalmente natural, mas que em Francisco lentamente se transforma, antes em simpatia, depois até em atração, ao ponto de o próprio santo não hesitar, um belo dia, em abraçar e beijar um deles. A mesma coisa aconteceu com Teresa de Calcutá, uma ex-professora de ricas meninas, que passa por uma rua da cidade e vê um pobre deitado no chão, doente e sozinho, talvez agonizante. Ela se aproxima, abraça-o, aperta-o ao coração, leva-o em casa, assiste-o, cura-o, está ao seu lado até o último respiro. São somente dois, porém há muito mais exemplos de pessoas menos famosas e atos menos grandiosos, e que, todavia, anunciam-nos a mesma sensacional conclusão: o ser humano é livre para provar sensações e atrações nada naturais e espontâneas, fruto de uma lenta educação, mas que lhe consente viver ao máximo a sua humanidade e liberdade. Vejamos um outro exemplo, entretanto em uma diferente vertente da vida. Pensamos no caso de um jovem rico e com infinitas possibilidades para gozar a vida, e que, de fato, procura alegrias após alegrias. Vive realmente alegre e se sente satisfeito, mas depois sonha com algo diferente e se vê Rogate 268 dez/08 novamente em busca de satisfação, numa certa coação a repetir o anterior: mesmo esquema, mesmo desejo, mesma conquista, mesma satisfação e, talvez, também, insatisfação, porque deve sempre recomeçar de novo e os gostos continuam sempre os mesmos, até, enfim, enojar-se. Entre Francisco e este jovem, qual dos dois é o mais livre? Ou entre Teresa e o tipo que anda pela rua e vê o pobre e segue adiante, porque tem outro programa a cumprir? “Livre” de um ponto de vista simplesmente humano, não no sentido de melhor ou mais santo ou heróico. Alguns sinais da pessoa livre Novidade e originalidade Antes de tudo, liberdade é novidade e variedade de vida, de gostos, interesses, atrações. Liberdade é vida, e não existe vida em quem se repete, de forma cansativa, ou em quem está sempre em busca da mesma gratificação e, num certo sentido, se dá por satisfeito em desejar o que todos querem. Copia os outros e faz uma cópia de si mesmo, ou seja, não cresce nunca no coração e na mente, é um velho precoce. Não expressa a sua individualidade e originalidade, nem se dá conta de que o prazer se repete até a diminuição da própria capacidade de sentir prazer. 15 ANIMAÇÃO VOCACIONAL Verdade e humanidade Não é a novidade, enquanto tal, a responsável pela liberdade, mas aquela novidade que permite cumprir a verdade, ou que vai na direção do que é autenticamente humano. A atração de Francisco para com o leproso, por exemplo, diz respeito à dignidade do ser humano, de cada pessoa, independentemente de suas condições físicas. Por isso expressa a liberdade de Francisco, que vive a sua própria verdade enquanto vê e promove a humanidade não contaminada atrás de um rosto deturpado. Ao contrário, não pode ser considerado livre um gesto que ofende a verdade, ou que simplesmente, e de forma obsessiva, gratifica apenas uma parte do próprio eu, que é “verdadeira”, mas no entanto corre o risco de não sê-la mais quando se ignora o todo do qual faz parte. “A verdade não é uma pedra preciosa que se pode colocar no bolso, mas um mar imenso no qual se cai e se fica submerso” (Robert Musil, 1880-1942, escritor austríaco, um dos mais importantes romancistas modernos). Neste conceito de “imenso” está escondido o segredo da liberdade, que é sem limites e, portanto, atinge Deus... Responsabilidade e.fraternidade Há quem diga, pensando ter feito alguma descoberta, que a minha liberdade termina lá onde inicia a sua. Na realidade não pode ser assim. A autêntica liberdade é construída junto: se meu irmão não é livre, eu também não sou. É livre tão somente aquele gesto que é libertador ou que exprime o ato de assumir responsabilidades em 16 relação ao outro. Teresa, que se comove vendo o moribundo abandonado por todos, não manifesta apenas a liberdade de quem pode sair de si mesmo para acolher o outro, mas liberta a pessoa da solidão para que viva, embora somente por um instante, cercado pelo amor e morra em paz e com dignidade, como é direito de todos! Quem pensa apenas na sua liberdade é escravo de si, e é também um pouco idiota, porque não sabe que é a pior escravidão. Ilustração: Osmar Koxne Quem é livre, ao contrário, é criativo, experimenta sensações novas, nem sequer imaginadas, como Francisco, que chega a provar atração por um leproso. Felicidade e alegria de viver Enfim, a liberdade genuína é também gratificante, porque possibilita descobrir as incríveis potencialidades do coração humano e abre horizontes inéditos. Mas, acima de tudo, porque permite colher o gosto daquilo que se faz, como uma atração sempre mais intensa, que facilita o agir e encoraja a fazer também coisas difíceis. É a força da verdade: nada atrai o coração humano mais do que a verdade, uma atração que não se repete (como a do prazer do instinto), todavia que é sempre nova. E é também a força do amor, porque o ser humano é livre justamente por isso, para querer bem. “Viver é um pouco de tempo concedido às nossas liberdades para aprender a amar e se preparar ao eterno encontro com o Eterno Amor” (Abbé Pierre, 19122007, sacerdote francês, fundador do Movimento Emaús). Amedeo Cencini Rogate 268 dez/08 IN FORMAÇÃO IN FORMAÇÃO Reunião ampliada da CMOVC Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada (CMOVC), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reúne-se em Brasília (DF) e define programa até 2010 de 2010. Uma comissão específica para preparar o evento foi nomeada e já estará reunida no início de dezembro, no Centro Rogate do Brasil, em São Paulo (SP). Foto: Arquivo Rogate O encontro foi realizado entre os dias 27 e 30 de outubro, no qual participaram representantes regionais do Serviço de Animação Vocacional (SAV), Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB), Comissão Nacional dos Diáconos (CND) e Comissão Nacional dos Presbíteros (CNP), além dos presidentes da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e da Conferência Nacional dos Institutos Seculares (CNIS). Dentre os assuntos tratados na área das vocações, o destaque é a realização do 3° Congresso Vocacional do Brasil, marcado para setembro O serviço de escuta E dez/08 o Rogate 268 Divulgaçã ditora Santuário lançou a obra “O serviço de escuta; à luz da Palavra de Deus: desafios pastorais”, de autoria da teóloga gaúcha Dione Maria Sachet Teixeira. A partir de sua percepção de como as pessoas nas grandes metrópoles não estão mais conseguindo ouvir e nem serem ouvidas, ela enfrentou o desafio de escrever um livro que buscasse contemplar essa angústia. É preciso ouvir sem julgar, sem rejeição, levando em conta a vivência de cada pessoa, assim como Jesus, que acoFormato: 10,5 x 17,5 cm lhia a todos com amor e sem distinção, afirma Páginas: 120 a autora. O livro segue o método “ver-julgarPreço: R$ 10,50 agir”, trazendo em seu terceiro capítulo a defiPedidos: nição de pastoral da escuta, e na conclusão www.editorasantuario.com.br algumas sugestões para a organização desta Tel.: (12) 3104-2000 pastoral na comunidade paroquial. 17 Encontro Vocacional no Regional Sul 4 IN FORMAÇÃO Fotos: Regional Sul 4 50 anos da OSLAM D e 24 a 26 de outubro de 2008, na cidade catarinense de Lages, realizou-se um encontro de formação para animadores vocacionais do Regional Sul 4 da CNBB (Santa Catarina), com o tema: “Propostas de organização do serviço de animação vocacional”. A assessoria foi do religioso Rogacionista, Pe. Geraldo Tadeu Furtado, responsável pelo setor de formação do Centro Rogate do Brasil, atual secretário do Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), com sede em São Paulo (SP). Participaram 93 pessoas, provenientes das 10 dioceses do Regional (Blumenau, Caçador, Chapecó, Criciúma, Florianópolis, Joaçaba, Joinville, Lages, Rio do Sul e Tubarão). Além da preocupação em fornecer elementos em vista do planejamento vocacional, tanto do ponto de vista da organização em si, quanto dos processos vocacionais, respeitando os itinerários, o encontro possibilitou socializar e partilhar as experiências vocacionais das várias dioceses. No último dia do evento foi aprovado o planejamento para 2009, com destaque para o próximo encontro regional, marcado para os dias 02 a 04 de outubro, também em Lages. Catequese e Vocação será a prioridade em 2009, em sintonia com o Ano Catequético no Brasil. 18 A cidade de Mérida, Yucatán, no México, sediou o encontro da Organização dos Seminários da América Latina e do Caribe (OSLAM), de 13 a 18 de outubro. Participaram do evento 25 delegados provenientes dos 22 países que formam o continente, entre secretários executivos das conferências episcopais para os ministérios ordenados e representantes dos seminários. Do Brasil estiveram presentes o assessor da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, Pe. Reginaldo de Lima, e o vice-presidente da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB), Pe. Olindo Furlanetto. Durante o encontro fez-se memória dos 50 anos da OSLAM. Entre as conclusões, foram aprovadas a continuidade dos encontros de capacitação para os formadores; atualização do cadastro dos seminários; criação de páginas na web da OSLAM para circular material e experiências. No encerramento os delegados escreveram uma mensagem, dirigida a todos os envolvidos no processo de formação. “Aos consagrados e leigos, que partilham o nosso amor, trabalho e preocupação pelas vocações e pela formação, nosso mais sincero agradecimento pela sua proximidade, dedicação e testemunho, o que enriquece com o seu próprio carisma vocacional o seguimento de nossos seminaristas às pegadas de Jesus!”, afirma um trecho da carta. Simpósio de Comunicação De 05 a 08 de dezembro, em Roma, acontece um simpósio com o tema: “Anunciar o Rogate na nova era da comunicação”. O evento, promovido pelos Rogacionistas e pelas Filhas do Divino Zelo, as duas congregações fundadas por Santo Aníbal Maria Di Francia (1851-1927), visa aprofundar Rogate 268 dez/08 IN FORMAÇÃO as novas linguagens da comunicação para difundir e inculturar no mundo o Rogate, carisma específico dos “filhos e filhas espirituais” de Santo Aníbal. O evento celebra, também, o centenário do impresso “Deus e o Próximo”, periódico lançado por Santo Aníbal em 1908, destinado a todos os animadores vocacionais da época (cristãos leigos e leigas, ministros ordenados, pessoas de vida consagrada). Do Brasil participa o diretor de redação da revista Rogate, Pe. Juarez Destro, inclusive colaborando na mesa-redonda sobre “Os Rogacionistas e as Filhas do Divino Zelo no mundo da mídia atual”. Sua exposição aborda a comunicação dos Centros Rogate. Escola Vocacional do IPV De 05 a 17 de janeiro de 2009, em Jundiaí (SP), realiza-se a Escola de Preparação de Animadores e Animadoras Vocacionais (ESPAV), promovida pelo “Centro de Formação Dom Joel Ivo Catapan”, do Instituto de Pastoral Vocacional (IPV). Os quatro módulos da escola ocorrem no período, sendo o primeiro (Antropologia da Vocação) e o terceiro (Itinerário Vocacional) entre os dias 05 e 10; o segundo (Teologia e Eclesiologia da Vocação) e o quarto (Planejamento e Organização do Serviço de Animação Vocacional), realizados de 12 a 17. Informações: Site: www.ipv.org.br Tel.: (11) 3931-5365 Cursos da CRB 2009 Estão abertas as inscrições para alguns cursos de formação promovidos pela Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), em âmbito nacional, destinados a religiosos e religiosas com votos perpétuos. O primeiro programa é chamado de “Cerne” (Centro de Renovação Espiritual) e será realizado em dois lugares diferentes, um em Brasília (DF), de 15 de fevereiro a 27 de março, e outro em Belo Horizonte (MG), de 20 de setembro a 30 de outubro. O segundo programa de formação permanente da CRB é chamado de “Profolider” (Programa de Formação de Lideranças). O curso é ministrado em quatro módulos: pessoa e instituição; realidade; teologia da vida consagrada; espiritualidade e missão. Tem a duração de dois meses, com início em 08 de junho. Será realizado no Centro Cultural Missionário, em Brasília (DF). As inscrições deverão ser feitas até fevereiro de 2009: E-mail: [email protected] Tel.: (61) 3226-5540 Passagens • viagens e excursões • cruzeiros marítimos • hotéis aluguel de carros • promoção e organização de congressos e eventos Diversos planos de pagamento www.cattonitur.com.br - Tel.: (11) 3258-5199 - Fax: (11) 3255-3471 Rogate 268 dez/08 19 MÍSTICA DA VOCAÇÃO MÍSTICA Há vocação fora da Igreja? D eus chama alguém a assumir uma determinada missão, a exercer um carisma que ele mesmo, na sua gratuidade, doa a quem ele quer, quando e como ele deseja. Ao ser humano cabe a responsabilidade de permanecer aberto e dócil a este dom. Mas cabe à Igreja reconhecer a genuidade do carisma. Neste sentido, podemos afirmar que fora da Igreja não há vocação. Veremos que a afirmação está presente no próprio Documento de Aparecida (DA). Não pode ser compatível na Igreja a busca de uma espiritualidade individualista, pessoal, onde o centro não é Deus, mas é o indivíduo (cf. DA 164). Nem tampouco uma vocação que sirva como um meio de se manter economicamente e ter um estilo de vida confortável. Há grupos de “vocações” que se aproveitam mais para poder sustentar uma vida de mordomias do que de doação completa ao serviço de Deus. Cabe à Igreja, que é Mãe, a responsabilidade de discernir a autenticidade do chamado de Deus e acompanhá-lo para que possa se desenvolver, não só dentro do caminho da doutrina da Igreja, mas também com o testemunho de fidelidade e austeridade de vida que esteja em sintonia com o povo de Deus. As vocações individualistas, onde o centro é o ser humano, são destinadas a morrer, mais cedo ou mais tarde, porque não possuem raízes. A idolatria pelo “fundador e fundadora” não é sinal de verdadeiro amor à Igreja. Todas as vocações, desde a vocação ao matrimônio, laical, consagrada ou sacerdotal, devem estar ao serviço do 20 Reino de Deus, cujo centro de tudo é Jesus: Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6). Ninguém, além dele, pode exigir o nosso serviço. É interessante notar isto nas primeiras comunidades cristãs. Paulo se queixa e sofre ao ver que alguns se reúnem ao redor de Pedro, de Apolo e dele próprio. E diz: “Quem, afinal, morreu na cruz para nos salvar? Não foi nem Pedro, nem Apolo e nem Paulo. Foi Jesus Cristo” (cf. 1Cor 1,1213). Esta ousadia paulina de lucidez, afirmando que só Cristo é fonte e meta de todas as vocações, é necessária em todos os momentos de nossa vida. “A vocação ao discipulado missionário é con-vocação à comunhão em sua Igreja. Não há discipulado sem comunhão. [...] A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos conduz à comunhão” (DA 156). Isto significa que uma dimensão constitutiva do acontecimento cristão é o fato de pertencer a uma comunidade concreta, na qual podemos viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão com os sucessores dos apóstolos e com o papa. A diversidade de vocações e carismas é uma maravilhosa primavera na Igreja, mas é necessário distinguir se são todas plantas frutíferas ou se há ervas “daninhas” que não produzem frutos mas empobrecem o próprio terreno da Igreja. Teresa de Ávila, já no alto do monte da contemplação, ouve o Senhor que lhe diz: “Obras, obras quer o Senhor!” E tudo em sintonia com a Igreja; sem a Igreja não há vocações para o Reino de Deus. Patrício Sciadini Rogate 268 dez/08 ESPECIAL ESPECIAL Índice Remissivo 2008 A Rogate apresenta todo o conteúdo deste ano, em suas diversas seções, com indicação de página, facilitando a busca das matérias. Foram mais de 80 títulos, divididos nas suas nove seções, incluindo os dois encartes Ilustrações: Arquivo Rogate ANIMAÇÃO VOCACIONAL • Os verbos da vida. Por Amedeo Cencini* (259, p. 18) • O drama da escolha (260, p. 17) • Resgate histórico da abertura do Ano Vocacional de 1983. Da Redação (260, p. 07) • Vocação e revelação do “eu” (261, p. 17) • Estigmas e autenticidade vocacional (262, p. 17) • O relacionamento, origem e destino da liberdade (263, p. 17) • Escravos de si mesmos (264, p. 17) • Liberdade de escolha ou escolha de ser livre? (265, p. 18) • A auto-condenação de Narciso (266, p. 17) • O dom da liberdade (267, p. 19) • Francisco e o leproso (268, p. 15) * Os artigos não assinados são de Amedeo Cencini ATUALIDADES • A Vida Consagrada é dom divino. Por Bento XVI (259, p. Capa das duas primeiras edições do ano Rogate 268 dez/08 12) • 45º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Por Bento XVI (260, p. 13) • 42º Dia Mundial das Comunicações. Por Bento XVI (261, p. 13) • Reunião debate o serviço da animação vocacional. Da Redação (263, p. 08) 21 ESPECIAL A TURMA DO TRIGUITO • • • • • • • • • • 259: Preparando a Páscoa*; Ovos de Páscoa (HQ)** 260: Vocação e Missão; Inculturação (HQ) 261: Na Escola de Maria; Muito fácil (HQ) 262: Rezando com Jesus; O Dia da Amizade (HQ) 263: Mês das Vocações; Também somos chamados (HQ) 264: Anjos do Senhor; O Empate (HQ) 265: Aparecida, nossa protetora; Dia das Crianças (HQ) 266: Todos os Santos; Cultura (HQ) 267: Preparando o Natal; Surpresa de Natal (HQ) 268: Paz sem limites; Dia Mundial da Paz (HQ) * Título correspondente à seção “Vamos Rezar” ** HQ: História em Quadrinhos CELEBRAÇÃO VOCACIONAL • Via Sacra vocacional. Por Dárcio Alves da Silva (259) • Vocação e missão. Por Juarez Albino Destro (260) • Maria, mãe dos sacerdotes. Por Danilo Silva Bártholo (261) • Rezando pelas vocações com Santo Aníbal. Por Dilson • • • • • • Brito da Rocha (262) Vem e segue-me! Por Dárcio Alves da Silva (263) A Palavra de Deus nos convoca a optar pela vida! Por Juarez Albino Destro (264) Os mistérios da luz na ótica vocacional. Por Daniel Leão (265) Vocação à santidade. Por Édson Júlio Ferreira ( 266) Natal e vocação. Por Francisco Batista Amarante (267) Epifania e vocação. Por Vergílio Moretto Junior (268) ENTREVISTA (p. 03) • “Felizes os que promovem a paz”. Com Ana Elídia Caffer Neves (259) • “Toda vida humana é um chamado de Deus”. Com Rafael Sacco (260) • Psicanálise e vocação. Com Ario Borges Nunes Junior (261) • Em busca da unidade. Com José Bizon (262) 22 Rogate 268 dez/08 ESPECIAL • “Temos que saber lançar as redes”. Com Reginaldo Lima (263) • “Uma história de serviço à Igreja”. Com Ângelo Ademir Mezzari (264) • “Faltam ideais!”. Com Heloísa Helena Campos (265) • “Missão é um estado permanente de vida, serviço e anúncio”. Com Daniel Lagni (266) • O poder da evangelização dos quadrinhos. Com Osmar Koxne (267) • O despertar vocacional de Paulo. Com José Bortolini (268) ESPECIAL • Jubileu do primeiro Ano Vocacional do Brasil. Por Juarez • • • • • • • • • Destro (259, p. 09) A Páscoa é nossa vocação. Por Gilson Luiz Maia (260, p. 09) Os presbíteros em busca da própria identidade. Da Redação (261, p. 09) Trindade e Vocação. Por Helena Rech (262, p. 10) América com Cristo: escuta, aprende e anuncia. Da Redação (263, p. 12) Mês Vocacional reflete e aprofunda chamado à vida e missão. Da Redação (264, p. 14) A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Da Redação (265, p. 14) Declaração final do CAM 3 / COMLA 8. Da Redação (266, p. 10) A vocação de um povo. Da Redação (267, p. 10) 25° Encontro Rogate. Da Redação (268, p. 12) ESTUDO • Deus nos chama à defesa da vida. Por Mário Alves Ban• • • • • Rogate 268 dez/08 deira (259, p. 14) Salvos na Esperança. Por Paulo E. Müller (262, p. 13) Uma vocação à beira do caminho. Por Gilson Luiz Maia (264, p. 10) A vocação na Bíblia. Da Redação (265, p. 10) Autoridade e obediência. Por Carlos André Câmara (266, p. 14; 267, p. 12; 268, p. 10) Estatísticas vocacionais. Da Redação (267, p. 14) 23 ESPECIAL MÍSTICA DA VOCAÇÃO • Em Jesus, a vocação humana se revela. Por Patrício • • • • • • • • • Sciadini* (259, p. 24) A vocação dos leigos missionários (260, p. 24) A vocação, dom original de Deus (261, p. 24) Deus sai de si para nos chamar (262, p. 24) A vida consagrada... grávida de uma nova vida (263, p. 24) Jesus, nosso formador pessoal (264, p. 24) Proibido desanimar (265, p. 24) Sem Igreja não há cristãos (266, p. 24) A pastoral da conversão (267, p. 24) Há vocação fora da Igreja? (268, p. 20) * Todos os artigos são de Patrício Sciadini OPINIÃO (p. 03) • Epifania é a festa da inclusão. Por Jefferson Silveira (259) • Mulheres de ontem e de hoje, gestando e criando vida! Por Maria da Cruz da Silva Santos (260) • Educação a serviço da vida. Por Rogério Darábas (261) • A tão necessária luz do Espírito Santo. Por Juarez Albino • • As capas de novembro e dezembro completam mais um ano de muito conteúdo informativo e formativo da revista Rogate • • • • Destro (262) Santidade... Por Jefferson Silveira e Letícia Liñeira Soares (263) A Transfiguração como vocação ao serviço. Por Carlos André Câmara (264) Caça de votos nas comunidades. Por Cilto José Rosembach (265) No colo da Mãe Aparecida. Por Jefferson Silveira (266) “Ainda não me cansei de ser feliz!”. Por Maria Elizabeth da Trindade (267) Natal tem que ser assim. Por Juarez Albino Destro (268) APE Não perca a temporada 2009 24 NA S R$ 4,00 ao ano para cada criança pedido mínimo de 10 unidades Rogate 268 dez/08