Birthday Eve – O presente perfeito – Andre L. dos Santos

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Birthday Eve – O presente perfeito – Andre L. dos Santos
Birthday Eve – O presente perfeito | Andre L. dos
Santos
Birthday Eve
Capítulo 45
O lar. O amor. O convite.
Yvanne passara horas fazendo toda aquela comida. Eve tentara várias vezes ajudar, mas
foi uma decisão conjunta que a proibira de chegar perto da cozinha, o que a tinha
deixado realmente irritada. Talvez ela tivesse ficado mais brava ainda se tivesse visto
Yvanne deslizar uma nota bem dobradinha de dinheiro para Paul, enquanto guardava
uma oportuna fantasia de leão dourado num armário de difícil acesso. Amelie, Juliet e
Line estavam deitadas de qualquer jeito num tapete felpudo, separando roupas de banho.
Elas haviam decidido que já que não haviam acompanhado o quarteto de amigos na
viagem pela mata, mereciam agora seu descanso. Paul de La Rosa estava jogado numa
rede, lendo um grosso livro, e parecendo totalmente alheio ao mundo ao seu redor.
Tristan e Josh estavam organizando uma competição de uma mistura bizarra de basebol
com maratona. Segundo as regras, que eles discutiam aos berros, a cada rodada um
rebatedor e um atirador eram escolhidos, um de cada time. Quando o rebatedor acertava
a bolinha jogada, era necessário os times correrem até a bolinha, enquanto os dois
tentavam atrapalhar o adversário. A distância da rebatida, quem pegasse a bola e o
número de adversários derrubados contavam pontos a cada rodada. Quando cada
jogador tivesse rebatido e atirado uma vez, o jogo estaria terminado. As meninas,
entediadas e proibidas de ficarem dentro da pousada, foram assistir os rapazes jogarem
o tal Jotatêbol. Riza explicou a elas que os meninos jogavam aquilo desde a terceira
série.
O time com-camisa era composto de: Tristan, o melhor rebatedor; Paul, que parecia
perdido naquela história; Line, estranhamente perigosa num boné branco dos Yankees; e
George. O time sem-camisa contava com Josh, o melhor atirador de Jotatêbol; Amelie,
que parecia não saber exatamente o que estava fazendo ali, mas quisera participar de
qualquer maneira; Juliet e Paul de La Rosa, que finalmente largara o livro, debaixo dos
pedidos de sua irmãzinha. Sarah, Eve e Riza sentaram-se para assistir aquela loucura,
assim como boa parte dos hóspedes da pousada.
Juntaram-se num campo grande, de grama bem verde, e escolheram os limites do
campo. Pelas regras do jogo, Josh lembrou, atirar a bola para fora do campo era falta, e
atirar muito perto também. O segredo, começou Tristan, era saber equilibrar a distância
para que seu time pudesse agarrar a bola, mas também não bater muito fraco, pois o
adversário teria as mesmas chances. Caso o rebatedor não acertasse a bola, o time
perderia pontos, e ele seria colocado de volta na fila dos que iam rebater. Se errasse três
vezes, estaria expulso do jogo.
Riza explicou que boa parte das regras fora ela que inventara, pois o jogo original era
extremamente injusto e de leis muito vagas, dispostas a perdoar quaisquer infrações
graves. Eve esticou as pernas, mordendo um biscoito, enquanto esperava o apito inicial.
O juiz seria Lorran, um rapaz alegre e que parecia ser mais um dos fãs de Josh. Ele tinha
um papel em mãos, com todas as regras e punições do jogo, e anotaria os pontos.
Parecia satisfeito quando apitou rapidamente, dando início ao jogo. Amelie foi a
primeira a atirar, extremamente tímida numa blusinha azul que Sarah lhe emprestara.
Por estar no time dos sem-camisa, mas sendo menina, os garotos haviam “concordado”
que bastava ela usar uma camiseta curta. Riza havia sido bem específica nesse ponto,
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pensando no bem de sua irmãzinha. Paul foi o rebatedor, e eles se posicionaram nas
marcações que Tristan fizera no campo. A menina era fraca, e a bola voou até o rapaz
sem maiores problemas. Paul acertou-a com o taco, e a bolinha descreveu um arco no
ar, antes de pousar no chão, rolar um pouco e parar. Lorran apitou, e os dois times
saíram da demarcação onde seria o “banco de reservas” e dispararam em direção à
bolinha. Paul largou o taco e se atirou de encontro a Josh. Ele voou longe, caindo de
costas na grama, com um sorriso no rosto. Line deu uma cotovelada mortal em Juliet e
sorriu estranhamente para o jovem de La Rosa, e conseguiu agarrar a bola, enquanto o
menino ficava vermelho e parava no meio do campo, sendo atropelado por Tristan e
George. O juiz apitou quando a menina pulou, agitando o braço com a bolinha. Os
pontos foram anotados, e todos voltaram, mais ou menos inteiros, para suas posições.
Line se preparou para lançar, enquanto o irmão mais novo de Riza seria o rebatedor. Ela
atirou a bola com força, e o garoto se atrapalhou, fazendo o taco bater fracamente na
bola, que caiu perto demais. O apito soou e eles correram, mas Juliet pegou a bola na
mesma hora, dançando e cantando, enquanto mostrava a língua para Line.
A oriental atirou a bola para George, que rebateu bem e saiu correndo atrás dos outros.
Amelie estava quase pegando a bola, quando viu o homem disparar em sua direção. Ela
fez uma expressão assustada angelical.
“O senhor vai bater em mim?” Perguntou ela, com lágrimas nos olhos. George freou na
mesma hora, corando e desviando os olhos.
“Eu jamais machucaria uma dama tão encantadora...” Começou ele. A menina sorriu, e
o médico foi soterrado debaixo de Josh, Juliet e Paul. Amelie pegou a bolinha e a
mostrou, soprando um beijinho para o idiota esmagado.
“Ponto para os sem-camisa” Gritou Lorran. Riza escondeu o rosto nas mãos,
exasperada, enquanto Eve e Sarah gargalhavam e gritavam vivas para a menina
espanhola.
O jogo demorou quase uma hora. Amelie errou na hora de rebater e voltou para a fila, e
George atirou a bola errado, fazendo Juliet cair no chão. Os times estavam empatados, e
a torcida parecia cada vez mais empolgada com o que estava acontecendo. Tristan
preparou-se para rebater, e Josh se posicionou na marcação do atirador. O silêncio tenso
caiu sobre os times, machucados e arranhados. Os dois competidores pareciam
desanimados e cansados de toda a correria. Eve levantou-se, nervosa e de punhos
cerrados. Ela respirou fundo, antes de gritar.
“Tristan! Faça essa rebatida por mim!” O rapaz levantou a cabeça e a olhou, corada e
constrangida, mas mesmo assim acenando, o brilho do desafio nos olhos. Sarah
levantou também.
“Josh, é bom você ganhar esse jogo!” Gritou ela, por sua vez, também mortificada de
vergonha, mas sem querer ver seu loiro perdendo. As duas se encararam e o mundo ao
redor pareceu entrar em chamas. Tristan e Josh se encararam também e então voltaramse para suas musas, fazendo sinais com os polegares, e então se preparando, as forças
renovadas. Josh sorriu, girando o corpo, preparando os músculos em potência máxima.
“RAZOR BLADE DEATH BALL!!!” Berrou ele, jogando a bola como um canhão
atirando.
“GATEKEEPER SORROW BAT!!!” Gritou Tristan de volta, acertando a bola com
tanta força que o taco quebrou. A pequena esfera branca voou em direção ao infinito,
como uma estrela ascendente, e então, na velocidade de uma bala, caiu nas cachoeiras.
Os times ficaram parados, esperando. Lorran consultou as regras e pigarreou.
“Er. Empate” Disse ele, e apitou o fim do jogo.
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“MAS QUE MERDA É ESSA???” Berrou Sarah, subindo no banco, em fúria. “É
LÓGICO QUE O JOSH GANHOU, OLHA ESSE LANÇAMENTO!!!”
Eve pulou sobre o banco também, encarando a irmã.
“TRISTAN QUE GANHOU, SUA CEGA!!!” Gritou, possessa. “FOI A MELHOR
REBATIDA QUE JÁ VI EM TODA A MINHA VIDA!!!”
“TÃO BOA QUE A BOLA FOI PARAR NAS CATARATAS, NÃO É MESMO, SUA
RETARDADA?!”
“POIS SE O SEU JOSH NÃO TIVESSE JOGADO AQUELA BOLA COMO UM
MAMUTE DESEMBESTADO, O MEU TRISTAN NÃO TERIA PERDIDO A BOLA,
SUA OXIGENADA CABEÇA DE MELÃO!!!”
“OXIGENADA? EU SOU LOIRA NATURALMENTE, SUA RUIVA RECALCADA”
“RESPEITE A SUA IRMÃ MAIS VELHA, SUA FRANGUINHA LOIRA”
“VOCÊ É TRÊS MESES MAIS VELHA, CABEÇA DE FÓSFORO QUEIMADO”
“REPITA ISSO, SUA...”
Tristan e Josh sentaram-se na grama, dividindo uma garrafa de água imensa, enquanto
assistiam as duas irmãs gritando e se estrangulando. Seria uma longa tarde...
George enfiou a cabeça debaixo de uma torneira e então sacudiu-se todo, como um cão
encharcado, atirando água para todos os lados. Ele tinha arrancado sua camisa e
ofegava, os cabelos molhados fazendo a água escorrer por seu peito e costas, os
músculos retesados, enquanto ele se apoiava na parede, esperando o coração voltar a
bater normalmente, olhos fechados.
Um beijo leve como a carícia de uma rosa soprou-se em sua face direita, e ele abriu os
olhos, encarando a forma pequena de Riza, que sorria timidamente.
“Foi um belo jogo” Disse ela, as mãos as costas, parecendo ligeiramente envergonhada.
Ele sorriu.
“Mas nem ao menos ganhamos” Disse, esperando a reação dela. Riza sorriu mais ainda,
deslizando seu olhar pelo peito musculoso do médico.
“Bem, eu ganhei, pelo menos” Respondeu ela, a malícia de suas palavras em nada
combinando com seu semblante inocente. Ela se aproximou de seu ouvido, seus
sussurros quentes o fazendo estremecer. “Da próxima vez, você joga nos sem-camisa”
Riza começou a afastar-se, mas ele a segurou pelo braço, fazendo-a voltar-se. Ela
parecia ligeiramente surpresa, um pouco satisfeita, a maior parte sem reação, apenas
esperando. George passou a mão nos cabelos molhados, sem palavras de repente. Nunca
fora muito bom com elas.
“Olha, Riza... Eu...”
“Por favor, George” Cortou ela, os olhos cheios de tristeza e decepção. “Eu tive uma
boa tarde, por favor, não estrague tudo agora”
Ela desvencilhou-se dele, e voltou a andar. E naquele instante, naquele único momento,
ele soube que precisava fazer alguma coisa, imediatamente. E fez. Sem pensar, sem se
preocupar, sem grandes planos ou mirabolantes desculpas, George colocou a mão no
ombro de Riza e a girou no lugar, antes de roubar os lábios dela num beijo que durou
até a eternidade.
E ela correspondeu, no mesmo instante, na mesma força e fome. Eles se entrelaçaram,
num toque de carne e línguas, de vontades e certezas. E se separaram, devagar, ainda
respirando o ar que compartilhavam, sabendo que palavras apenas destruiriam o
momento.
“Eu te amo” Disse ele, baixinho, devagar.
“Eu te amo também, idiota” Resmungou ela, sorrindo, enquanto voltava a beijá-lo. E
mais uma vez se separaram, e ela olhou em seus olhos.
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“Você vai falar algo idiota sobre ser mais velho ou estar me desvirtuando, e vai embora
e me deixar triste de novo?” Perguntou ela. Ele beijou seu pescoço, devagar, enquanto a
morena acarinhava seus cabelos molhados.
“Não” Disse ele, com uma certeza e violência que a assustaram. “Nunca mais. Eu... Eu
sei que isso é errado e estou sendo egoísta mas... Eu não sei mais... Viver sem você”
Riza sentiu sua garganta se apertar, mas se controlou. Ela queria respostas agora, e
certezas.
“Você me machucou” Disse ela. “Quando tentou fugir. Se eu não tivesse te encontrado
naquela estrada eu...”
“Me desculpa. Eu tentei... Ir embora. Não consegui. Eu só conseguia pensar em você, e
sonhar com você, e queria tanto, tanto... Que você estivesse comigo.”
Ela o abraçou, apertado, deixando que todos os sentimentos dele encontrassem lugar em
seu coração. George afundou o rosto em seu peito, sentindo os braços quentes da moça
ao seu redor. Ele fungou.
“Meu irmão morreu, Riza”
Ela o apertou com mais força.
“Eu sei”
E finalmente George conseguiu chorar.
Era uma festa de despedida. Comida, bebida, doces à vontade, tudo se empilhava nas
grandes mesas que foram colocadas no jardim da pousada. As cataratas ao fundo
pareciam querer que eles guardassem aquele som com eles. Juliet parecia triste com a
partida, e Line estava estranhamente silenciosa. Amelie estava quieta em seu canto,
assim como seu irmão, e Paul brincava com a salada, sem muita animação. Logo seria
segunda-feira, e as férias estavam terminando. E o que era mais assustador, era saber
que nada seria como antes.
Durante a tarde, Melissa, Hellen e Lucia haviam ligado para seus filhos, com excelentes
notícias. Josh, Tristan e Riza haviam entrado na faculdade. Ao que parecia, mesmo com
todas as atribulações e dificuldades, os três haviam tirados ótimas notas e podiam
escolher a faculdade que quisessem. Quando agosto chegasse, Tristan iria estudar
Engenharia da Computação, e aperfeiçoar seus conhecimentos. Os trabalhos que ele
fizera para a Academia Melody lhe garantiram vários convites para ingressar nas mais
diversas universidades. O rapaz estava em dúvida ainda entre três das Universidades
que haviam na região. Queria estar perto dos amigos, e não ter de ir morar em outra
cidade. Josh, que ainda estava em dúvida entre dois cursos, decidira que iria para onde o
amigo fosse, mesmo que suas não eram tão altas quanto as do castanho. O que quer que
escolhesse, qualquer um podia ver que ele seria excelente naquilo. E Riza iria fazer sua
tão sonhada Engenharia Mecânica. Só de imaginar que poderia estudar tudo sobre
carros e motos, aprender a construir e a melhorar seus próprios motores e veículos era
um sonho. Ela também recebera sua cota de convites, já que muitos de seus trabalhos
foram expostos por Melody.
Eve e Sarah, por outro lado, ainda tinham mais pela frente na Academia. A ruiva
entraria no terceiro ano, e pela primeira vez não teria o trio de amigos com ela. Claro,
Line, Juliet e Paul estariam ao seu lado, mas era estranho imaginar uma escola sem os
gritos e as bagunças dos três, Riza correndo atrás de Josh aos berros, Tristan rindo com
eles, ou então falando sem parar sobre novas bibliotecas de compilação, equações
lineares e derivadas, junto dos outros nerds de plantão da classe. Seria, de certa maneira,
solitário sem eles.
E Sarah estaria sem Clarisse. Seria difícil sentar na última carteira da classe sem a loira
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ao seu lado. Ela também já não estaria mais planejando uma forma violenta de matar a
irmã ou de roubar o namorado dela, nem estaria fingindo ser uma boa garota para todos
ao seu redor. Era apavorante saber que agora ela teria de ser ela mesma, para bem ou
para mal. Por outro lado, seria um alívio também. E justo naquele dia, bem de
mansinho, Eve lhe passara um envelope que estava em sua bagagem. O Clube de Artes
daria aulas de canto para a loira naquele semestre, como um favor que Eve ainda não
havia utilizado.
Agosto seria mudança, perceberam eles. E tudo começou quando, algumas horas antes,
Eve anunciou que estaria deixando a casa de Riza. Mesmo sob os protestos da garota, a
ruiva decidira que já era hora de viver por si mesma. Durante as férias, ela estaria
procurando um apartamento para alugar. Sarah iria mudar-se com ela, e mesmo com
todas as dificuldades que isso podia trazer, havia um raio de esperança que as coisas
poderiam dar certo, finalmente. A loira arranjaria um emprego de meio período, e Eve
ia se efetivar como funcionária do Museu de Artes da cidade. Com o dinheiro que
Yvanne pagara por seus serviços, e que precisou forçar nas mãos da ruiva teimosa,
praticamente, elas poderiam começar. Sarah também ficou surpresa ao descobrir que
receberia uma parte do dinheiro de Clarisse. Ao que parecia, a amiga lhe deixava um
último presente.
E por todas essas mudanças e transformações, a mesa estava silenciosa naquela última
noite. Na manhã seguinte, um ônibus os levaria até a cidade, onde poderiam começar.
Havia muito o que fazer, empacotar, pesquisar. Apartamentos, faculdades, cursos,
empregos, móveis... Era coisa demais para tão poucos dias. Eles rogavam para que o
tempo parasse naquela noite, e pudessem descansar mais um tanto, antes de precisarem
encarar aquela vida novamente.
Yvanne levantou-se, e as poucas conversar que haviam silenciaram de todo. Ela
levantou seu copo, e sorriu para eles.
“Eu só queria dizer que... Em todos esses anos, essa foi a melhor temporada que já
passei em minha vida. E vocês foram os melhores hóspedes que já tive a honra de
servir. Por isso, eu faço um brinde à Eve Bell a todos os seus amigos”
Os copos se tocaram com um som baixo e cristalino, e então, como se as palavras de
Yvanne tivessem algum tipo de magia, o clima gelado se quebrou, e as conversas
brotaram. Primeiro eram elogios à comida deliciosa da mulher, que viraram piadinhas
com Eve, que passaram à descoberta que Sarah havia feito a torta de limão e que esta
estava, assustadoramente, deliciosa. Então logo começaram os comentários sobre o jogo
da tarde, e finalmente, de forma absolutamente constrangida, George e Riza anunciaram
que estavam namorando, o que fez boa parte da mesa se engasgar, e Eve receber quinze
pratas de uma Sarah carrancuda.
Diante dos olhares de todos, a ruiva deu de ombros.
“Intuição feminina” Disse ela, guardando o dinheiro na saia, o que provocou
gargalhadas e brincadeiras, fazendo Riza e George afundarem em seus lugares,
completamente corados.
A noite passou num sopro, e então os pratos estavam vazios, a música soava baixa, as
borboletas da noite voavam rente à mesa, e Eve estava debruçada perto das cataratas,
vendo a água cair, bebericando de seu copo. Alguém se debruçou ao seu lado, também
com um copo nas mãos.
“Aqui é o lugar mais lindo que já vi em toda a minha vida” Comentou ela, observando a
lua cheia que iluminava a noite como um farol prateado. Tristan sorriu,
sonhadoramente.
“Linda”
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Eve corou, e então voltou seu olhar para ele.
“Tristan, sobre o que aconteceu na mata, eu...”
Ela calou-se, sem palavras. Nem sabia por que invocara aquele assunto, mas ele apenas
esperava.
“Eu... Me desculpe” Terminou ela, decepcionada consigo mesma.
E ele apenas a encarou, sem palavras, sem expressões, apenas olhos castanhos que
pareciam despir todas as suas mentiras e tortuosas enganações. Eve sentia-se
estranhamente desprotegida diante deles, pois era difícil demais negar que amava
Tristan quando ele a encarava assim.
“Eu te amo” Disse ele, simplesmente, e o coração dela pareceu parar no peito. Eve
desviou os olhos, e deu um passo para trás.
“Você... Sarah...” Tentou ela, o veneno que queria lançar perdendo-se em suas palavras
desencontradas e sem sentido, mas Tristan encolheu-se mesmo assim.
“Eu... Eu não sabia o que estava fazendo, mas sei que isso não é uma desculpa. Eve, se
eu pudesse mudar o que aconteceu, eu mudaria. Mas... Eu não posso. Então só posso
pedir... Perdão pelo que aconteceu.”
Ela negou com a cabeça, mas não era o seu pedido que recusava. Ela nem sabia o que
tentava negar, talvez fossem as palavras dele, ou seu próprio coração, ou sua teimosia e
orgulho que insistiam em se enfiarem ali no meio, indesejados e apenas atrapalhando
tudo.
“Eve, algum dia você poderá perdoar o que eu fiz?”
A ruiva ficou em silêncio, e então o olhou nos olhos.
“Eu já perdoei tudo. Mas... Mas ainda...”
“Eve, eu jamais vou te decepcionar de novo. Jamais vou te machucar. Eu daria a minha
vida por você. Será que você pode... Mais uma vez... Confiar em mim? Eu sei que não
posso pedir isso, que não tenho nenhum motivo especial para que você acredite no que
estou dizendo, mas... Por favor, você pode confiar em mim novamente?”
Ela abriu a boca para responder, e algo pulou nela. Algo leve e ligeiro, que bateu em seu
ombro e caiu no chão, rapidamente desaparecendo. A garota gritou, e abraçou Tristan,
assustada, fazendo ele se desequilibrar com o movimento repentino. Eles giraram, e Eve
estava prensada contra a grade de segurança, Tristan sobre ela, enchendo toda a sua
visão. Estavam tão perto que nem um fio de cabelo passaria pelo espaço que havia entre
seus lábios. E os olhos dele eram da cor do mel mais profundo, correntezas que ela
sempre acabava se perdendo. E os olhos esmeraldas dela eram mares misteriosos, que
Tristan sabia que podia se afogar.
“Sempre” Disse ela, num susssurro, hipnotizada pelos olhos dele.
“Hum?”
“Eu sempre vou confiar em você, Tristan. Eu também te amo” Eles ficaram em silêncio
por um instante, e ela não aguentou mais. “Me beija. De verdade. Pra sempre”
E Tristan, mais uma vez, não a decepcionou.
Não tão longe, escondidos pela mata, os amigos comemoraram, bem baixinho, se
abraçando e jogando arroz para o alto. Line abaixou e entregou uma cenoura enorme à
um pequeno coelho cinzento que estava no colo de Sarah.
“Bom trabalho, amiguinho!” Disse ela, sorrindo. O coelho, satisfeito, se pôs a comer.
O ônibus parou devagar, em frente à casa de Josh, e Tristan, Eve, Sarah e George
desceram. Os irmãos da morena vieram em seguida, devagar, carregando suas malas. Os
outros já haviam descido em frente a casa de Paul, e os últimos acenaram para o
motorista, que fechou as portas do ônibus azulado e sumiu ao virar a esquina. Eles
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prepararam-se para se dividirem, mas Josh destrancou a porta.
“Venham, tenho um carrinho aqui, vai ficar mais fácil de levar a bagagem” Ofereceu
ele. E depois de quatro horas de viagem, sua sugestão foi aceita com muito prazer. Ele
abriu a porta e entrou, tropeçando na correspondência que estava no chão, acumulandose desde que haviam saído. O rapaz abaixou e apanhou o pacote, as cartas e envelopes,
além dos vários panfletos. Parou na mesa da cozinha, e jogou tudo sobre ela. Estava
prestes a ir buscar seu carrinho quando reparou em algo.
Ele segurou as várias cartas iguais, todas endereçadas em seu nome. Tristan olhou para
o amigo, confuso, prestes a reclamar da demora, quando percebeu o selo que fechava
cada envelope branco. Um triângulo que parecia pintado a mão, um triângulo negro,
ainda incompleto. Algo surgiu em sua cabeça, uma lembrança não tão distante. Eve e
Sarah espiaram o que Josh estava fazendo, e seus olhos se arregalaram.
“NÃO” Gritou o castanho, segurando a ruiva com força, impedindo-a de voar sobre
Josh. George, sem pensar, agarrou Sarah pela cintura, e a segurou enquanto ela se
debatia. Riza encarou os amigos, assustada, e Josh quase derrubou as cartas.
“O que...?”
“Abra a carta!” Disparou Tristan. “As minhas a Eve rasgou, mas eu também recebi elas.
Seis cartas, todas iguais, todas com o triângulo. Abra, Josh, rápido!”
“NÃO ABRA!!!” Gritaram as irmãs Bell, agitadas, aterrorizadas. “NÃO!!!”
Josh engoliu em seco, olhou para o rosto mortificado da loira, e então quebrou o selo,
abrindo a carta. Ele começou a ler em voz alta, e as duas garotas perfeitas congelaram
em seus lugares, como se reagindo às palavras.
Senhor Jozua Malber,
O senhor está convidado para um jantar, em minha casa, na Ilha Parakuceruso, às 20
horas e 30 minutos, no décimo terceiro dia de Agosto. Um jato virá buscá-lo no dia
anterior, no mesmo horário, no lugar de sua preferência. É necessária a apresentação
deste convite, e o senhor pode trazer mais cinco amigos. Por favor, responda o mais
rápido possível.
Johannes Lean.
Ps. Traga sua garota perfeita
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