conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo

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conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
CONDUTA TERAPÊUTICA - AJUSTE OCLUSAL
POR DESGASTE SELETIVO
O ajuste oclusal é a conduta
terapêutica que propõe modificações nas
superfícies dos dentes, restaurações ou
próteses, através de desgaste seletivo ou
acréscimo de materiais restauradores,
buscando
harmonizar
os
aspectos
funcionais maxilomandibulares na oclusão
em relação cêntrica e nos movimentos
excêntricos.
O objetivo é melhorar as relações
funcionais da dentição para que,
juntamente com o periodonto de
sustentação recebam estímulos uniformes e
funcionais, propiciando as condições
necessárias para a saúde do sistema
neuromuscular
e
das
articulações
temporomandibulares.
As indicações do ajuste oclusal são
as seguintes:
9
Presença de sinais e sintomas de
oclusão traumática e quando as
relações
oclusais
podem
ser
melhoradas por meio de ajuste, nas
seguintes situações:
•
discrepância oclusal em relação
cêntrica;
•
tensão muscular anormal (ocorrendo
conseqüente desconforto e dor
resultante
de
hábitos,
como
apertamento ou bruxismo);
•
presença
de
disfunção
neuromuscular;
•
previamente
a
procedimentos
restauradores
extensos
para
estabelecer um padrão oclusal ótimo;
•
estabilização dos resultados obtidos
pelo tratamento ortodôntico e pela
cirurgia buco-maxilo-facial;
•
coadjuvante
no
tratamento
periodontal,
nos
casos
com
mobilidade dental.
O ajuste oclusal é contra-indicado
nas seguintes condições:
9 profilaticamente (sem que o paciente
apresente sinais e sintomas de oclusão
traumática),
9 sem diagnóstico da causa do distúrbio,
9 desconhecimento da técnica correta de
como fazê-lo, o mau ajuste piora o
quadro.
A oclusão traumática foi definida por
STILLMAN e McCALL em 1922, como
um estresse oclusal anormal, capaz de
produzir (ou que tenha produzido) injúrias
aos dentes, periodonto, ou sistema
neuromuscular.
Apresenta como sinais clínicos
mobilidade dental; migração dental;
padrão anormal de desgaste oclusal
(facetas);
abcessos
periodontais
(especialmente em áreas de bifurcação);
hipertonicidade
dos
músculos
da
mastigação; sensibilidade à pressão, som
seco à percussão, ocasionalmente atrofia
ou recessão gengival, disseminação da
inflamação e proliferação epitelial;
profundidade
desigual
das
bolsas
periodontais e bolsas intra-ósseas.
Como sinais radiográficos apresenta
perda da continuidade da lâmina dura;
espaço periodontal alargado; reabsorção
radicular
externa;
hipercementose,
osteosclerose; reabsorção interna dos
dentes; calcificação pulpar, reabsorção
óssea do tipo vertical e necrose pulpar de
dentes hígidos.
São considerados sintomas de
oclusão traumática a sensibilidade das
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
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estruturas periodontais; hipersensibilidade
pulpar e dentinária, desconforto regional
vago e dor muscular ou da articulação
temporomandibular.
Deve-se indicar o ajuste oclusal
somente após correto diagnóstico da
necessidade do paciente.
Os princípios do ajuste oclusal são:
9 eliminar os contatos que defletem a
mandíbula da posição de relação
cêntrica para a máxima intercuspidação
habitual;
9 dirigir os vetores de força para o longo
eixo dos dentes;
9 evitar. sempre que possível, qualquer
redução na altura das cúspides de
contenção cêntrica;
9 estreitar a mesa oclusal;
9 obter a estabilidade em relação
cêntrica, e a partir dai não alterar mais
as cúspides de contenção cêntrica.
A execução do ajuste oclusal deve
ser precedida de um meticuloso
planejamento, devendo-se considerar:
9 revisão da literatura especializada
pertinente;
9 revisão da fisiologia do aparelho
estomatognático;
9 enceramento das superfícies oclusais;
9 montagem dos modelos de estudo do
paciente em articulador semi-ajustável,
em relação cêntrica;
9 análise funcional da oclusão nos
modelos
de
estudo
montados,
aplicando-se as regras de orientação
para o ajuste preconizadas por Guichet;
9 ajuste da oclusão do paciente;
As regras para orientar o ajuste
oclusal por desgaste seletivo foram
concebidas didaticamente na seguinte
seqüência:
A - Ajuste oclusal em relação cêntrica:
• com deslize em direção à linha média,
• com deslize em direção contrária à linha
média,
• com deslize em direção anterior,
• sem deslize.
B - Ajuste oclusal em lateralidade:
• movimento de trabalho,
• movimento de balanceio.
C - Ajuste oclusal em protrusão
O local do desgaste na superfície
oclusal deve-se restringir única e tão
somente à área demarcada pela fita
marcadora. Para o desgaste utiliza-se uma
broca diamantada ou de aço tipo 12
lâminas em alta rotação cuja forma melhor
se adapte à face do dente a ser ajustada.
A - Ajuste em Relação Cêntrica
O ajuste oclusal é sempre realizado
em relação cêntrica (RC), visto que o que
se busca é o restabelecimento da oclusão
em relação cêntrica (ORC).
No quadro seguinte, observam-se
três posições distintas do relacionamento
oclusal antes e após o ajuste:
9 Máxima
intercuspidação
habitual
(MIH), posição adquirida em que se
tem estabilidade oclusal independente
da
estabilidade
condilar
(RC),
resultando em máxima intercuspidação
(MI) diferente da RC antes do ajuste;
9 Relação cêntrica (RC) posição de
estabilidade condilar independente da
estabilidade oclusal (MI);
9 Oclusão em relação cêntrica (ORC),
posição em que se tem estabilidade
condilar (RC) coincidente com
estabilidade oclusal (MI), resultando
na posição almejada ao concluir o
ajuste.
O ajuste será considerado concluído
quando for obtida a estabilidade condilar
(RC), sua contenção pelo maior número
possível de contatos oclusais bilaterais
(MI), e ausência de contato nos dentes
anteriores (se estes ocorrerem, devem ser
simultâneos aos contatos dos dentes
posteriores), o que caracteriza a obtenção
da oclusão em relação cêntrica (ORC).
Com deslize em direção à linha média
Ocorrerá sempre que houver um
contato deflectivo entre uma cúspide
137
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
funcional (CF) (contenção cêntrica) e uma
não Funcional (CNF) (não contenção
cêntrica).
a) Local do contato:
Vertente lisa da cúspide funcional
(vestibular inferior, palatina superior ou
ambas) versus vertente triturante da
cúspide não funcional (vestibular superior,
lingual inferior ou ambas), figura 01.
ç
L M
E
D
L
V
RC
Contato
deflectivo
(cúpide de
contenção
cêntrica X
cúspide de não
contenção)
Desgaste a
Desgaste a
vertente lisa da
vertente
cúspide
triturante
cêntrica até
oposta até que a
obter um
ponta de
contato de
cúspide cêntrica
ponta
contate a fossa
Fig. 1B - Deslize para linha média, cúspides
linguais.
Com deslize em direção contrária à linha
média
L
V
MIH
Fig. 01 - Desenho esquemático da localização dos
contatos deflectivos no deslize em direção à linha
média.
b) Local de desgaste:
Em todas as situações de contato
entre CF e CNF, este, ocorrerá em vertente
lisa versus vertente triturante, estruturas de
diferentes importâncias funcionais, em
razão do que se opta prioritariamente pelo
desgaste na vertente lisa até que o contato
ocorra na ponta da cúspide funcional. Em
seguida desgasta-se o contato na vertente
triturante da cúspide não funcional, figuras
1A e 1B.
Contato
deflectivo
(cúpide de
contenção
cêntrica X
cúspide de não
contenção)
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Desgaste a
vertente lisa da
cúspide cêntrica
até obter um
contato de ponta
Desgaste a
vertente
triturante
oposta até o
contato da
cúspide cêntrica
com a fossa
Fig. 1A - Deslize para linha média, cúspides
vestibulares.
Ocorrerá sempre que houver um
contato deflectivo entre duas CFs
antagonistas.
a) Local do contato:
Vertente triturante de uma cúspide
funcional versus vertente triturante de uma
cúspide funcional antagonista, figura 02.
Localização dos contatos
L M
E
D
L
V
L
V
MIH
RC
Fig. 02 - Desenho esquemático da localização dos
contatos deflectivos no deslize em direção contrária
à linha média
b) Local de desgaste:
Por se tratar de estruturas de mesma
importância funcional, desgasta-se o
contato que se localizar mais próximo da
ponta da cúspide. Assim que conseguir o
contato na ponta da cúspide, desgasta-se a
vertente triturante antagonista. Quando os
dois contatos se localizarem à mesma
distância da ponta da cúspide, desgasta-se
no dente em posição mais desfavorável,
figura 2A. Na figura 2B observam-se as
três posições distintas do relacionamento
oclusal antes e após o ajuste.
138
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
Desgaste a
vertente
triturante da
cúspide cêntrica
até obter um
contato de
ponta
Contato
deflectivo
(cúpide de
contenção
cêntrica X
cúspide de
contenção)
Desgaste a
vertente
triturante
oposta até que a
ponta de
cúspide cêntrica
contate a fossa
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PFO/UFU
Fig. 2A - Deslize contrário à linha média.
Fig. 04 - Trauma anterior.
Máxima
intercuspidação
habitual
Relação
cêntrica
b) Local de desgaste:
Observar a posição dos dentes na
arcada, se estiverem em boa posição
desgasta-se justamente o ponto demarcado
nas vertentes e arestas em ambos os
dentes, caso contrário, desgasta-se o dente
em posição mais desfavorável, figura 05.
Relação
cêntrica
de oclusão
Fig 2B - Deslize contrário à linha média.
Deslize em direção anterior:
Ocorrerá sempre que houver um
contato deflectivo entre duas CFs
antagonistas.
a) Local do contato:
Vertente
triturante
ou
aresta
longitudinal mesial da cúspide funcional
superior versus vertente triturante ou aresta
longitudinal distal da cúspide funcional
inferior, figura 03.
Pm
C
M
Pm
C
D
M
Desgaste: o
plano inclinado
distal da
de cêntrica
inferior a um
contato de ponto
a superfície
Fig. 05 - Deslize para anterior.
Na figura 06, observam-se três
posições distintas do relacionamento
oclusal antes e após o ajuste.
p
Distal
Pm
Pm
RC
MIH
Desgaste: o
plan
nado oposto
até obter a
estabilidade
oclusal
Mesial
PFO
/ UFU
D
Contat
deflectiv
Fig. 03 - Desenho esquemático da localização dos
contatos deflectivos no deslize em direção anterior
Quando o contato deflectivo ocorre
nos dentes posteriores causa deslocamento
anterior da mandíbula e subseqüente
trauma anterior, figura 04.
Intercuspidação
habitual
Relação
cêntrica
Relação
cêntrica
de oclusão
Fig. 06 - Deslize para anterior.
Sem deslize:
Ocorrerá sempre que houver um
contato prematuro entre uma CF e sua
139
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
respectiva fossa antagonista.
a) Local do contato:
Ponta de cúspide funcional versus
fossa do dente antagonista ou ponta de
cúspide funcional versus faceta ou platô da
vertente triturante de uma das cúspides
antagonistas. Esta situação ocorre em
casos onde existem facetas de desgaste ou
após os ajustes em relação com o desvio,
figura 07.
ç
L
PFO/UF
Fig. 7B - Contato prematuro em cêntrica.
Ajuste oclusal em lateralidade
Considerando que a posição inicial
de todos os movimentos mandibulares é a
ORC, para iniciar o ajuste dos movimentos
excêntricos é indispensável que o paciente
já se encontre em tal posição.
L M
V
Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
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L
V
Movimento de trabalho:
Fig. 07 - Desenho esquemático da localização do
contato prematuro, sem deslize.
b) Local de desgaste:
Consultar os movimentos de
lateralidade:
• Se durante o movimento de trabalho
a cúspide funcional tocar na vertente
triturante e/ou na ponta de cúspide não
funcional, e/ou durante o movimento de
balanceio as cúspides funcionais tocarem,
desgasta-se na ponta da cúspide de
contenção, figura 07A.
No ajuste do movimento de trabalho,
há que se considerar o padrão de
desoclusão do paciente, guia canina ou
função em grupo.
• Desoclusão pela guia canina
Durante o movimento para o lado de
trabalho, os únicos dentes a contatarem são
os caninos deste lado, não devendo
apresentar nenhum outro contato entre os
demais dentes anteriores e posteriores,
figura 08.
Guia canina
PFO/UFU
Lado de trabalho
PFO/UFU
Lado de balanceio
Fig. 08 - Desenho esquemático da guia canina
Interferência
em trabalho
Interferência
em balanceio
Fig. 7A - Contato prematuro em cêntrica.
• Se durante os movimentos de
lateralidade a cúspide funcional não tocar
no dente antagonista, desgasta-se a fossa,
faceta ou platô, figura 7B.
a) Local do contato:
Ponta de cúspide ou vertente lisa de
uma cúspide funcional versus ponta de
cúspide ou vertente triturante de uma
cúspide não funcional, figura 09.
140
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
z ç
T
B
L M
L
ROC
T
V
L
V
em grupo.
PFO/UFU
L
V
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B
L
V
ROC
Fig. 09 - Desenho esquemático da localização da
interferência oclusal, no movimento de trabalho.
b) Local de desgaste:
Deve-se evitar desgastar a ponta de
cúspide funcional e após o ajuste do lado
de trabalho, deve-se também verificar a
ocorrência de contatos no movimento de
balanceio.
• Desoclusão pela função em grupo
Neste padrão de desoclusão, durante
o movimento de trabalho, ocorrem
contatos contínuos de deslocamento entre
a superfície incisal do canino inferior e a
fossa lingual do canino superior e entre as
vertentes lisas ou pontas das cúspides
vestibulares inferiores e as vertentes
triturantes das cúspides vestibulares
superiores de todos os dentes deste lado,
figura 10.
Fig. 11 - Desenho esquemático da função em grupo
incompleta.
Movimento de balanceio:
No ajuste do movimento de
balanceio, busca-se remover todas e
quaisquer interferências oclusais que
ocorreram entre os dentes deste lado.
a) Local do contato:
Ponta de cúspide ou vertente
triturante de uma cúspide funcionais
versus ponta de cúspide ou vertente
triturante da outra cúspide funcional
antagonista, figura 12.
z ç
T
B
L M
D
E
L
V
L
V
T
ROC
L
L
V
V
B
ROC
Fig. 12 - Desenho esquemático da localização da
interferência oclusal, no movimento de balanceio.
PFO/UFU
Lado de trabalho
Lado de balanceio
Fig. 10 - Desenho esquemático da função em
grupo.
b) Local de desgaste:
Quando as interferências forem em
apenas alguns dentes posteriores, (figura
11) desgasta-se as vertentes lisas das
cúspides
vestibulares
inferiores
(funcionais) até contatar a ponta da
cúspide. Se o desgaste não for suficiente,
desgasta-se nas vertentes triturantes das
cúspides vestibulares superiores dos dentes
contatantes até harmonizar a desoclusão
b) Local de desgaste:
Por se tratar de interferências
oclusais entre estruturas dentárias de
mesma importância funcional, deve-se
desgastar a interferência que se localizar
mais próxima da ponta da cúspide e após
conseguir a interferência na ponta da
cúspide desgasta-se a vertente triturante
antagonista. Quando as duas interferências
se localizarem à mesma distância da ponta
da cúspide, desgasta-se no dente em
posição mais desfavorável. Se a
interferência for entre as pontas das
cúspides desgasta-se no dente em posição
mais desfavorável em oclusão em relação
cêntrica - ORC, figura 13.
141
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
PFO/UFU
Desgaste:
Sem contato
Fig. 13 - Desenho esquemático, do local do
desgaste nas cúspides funcionais.
Ajuste oclusal em Protrusão
Tal como nos movimentos de
lateralidade, a posição inicial do
movimento de protrusão é a ORC,
observando-se o contato contínuo da guia
anterior (pelo menos em dois dentes
incisivos inferiores) e a total desoclusão
dos dentes posteriores, figura 14.
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que todos os dentes anteriores apresentem
contatos simultaneamente. Quando, neste
movimento ou posição, somente um dente
apresentar contato após os ajustes, deve-se
desgastar a face lingual ou incisal do
superior. Isto, quando os incisivos
inferiores estiverem alinhados. Caso
comprometa a estética, recomenda-se
desgastá-los, figura 16.
sem contato na ROC
contatos simultâneos
contatos simultâneos
(permite a passagem
na concavidade no
na posição topo-a-topo
de uma tira de papel
movimento protrusivo
celofane)
D
t
f
i i ld ( )i f i ( )
Fig. 16 - Desenho esquemático do ajuste em
protrusão.
¾
PFO/UF
Fig. 14 - Desenho esquemático do movimento
protrusivo, a partir da ORC, todos os dentes
posteriores devem desocluir.
No movimento de protrusão, pode
ocorrer interferência em diferentes
situações:
¾
1ª Situação: Dentes anteriores:
Local de contato:
Os incisivos inferiores apresentam
contatos com os incisivos superiores na
posição de ORC, porém no movimento de
protrusão e na posição topo-a-topo apenas
um dente mantém contato, figura 15.
contato único na
posição topo-a-topo
contato único no
movimento protrusivo
2ª Situação: Dentes anteriores:
Local de contato:
Os dentes inferiores apresentam
contatos em ORC, no movimento de
protrusão e na posição de topo-a-topo com
a mesma intensidade nos superiores, figura
17.
contatos simultâneos contatos simultâneos
no movimento
na posição topo-a-topo
protrusivo
com contato na
ROC
Fig. 17 - Desenho esquemático do contato dos
dentes anteriores em ORC, no movimento de
protrusão e na posição de topo-a-topo.
Local do desgaste:
Na
concavidade
lingual
dos
superiores, no contato em ORC, figura 18.
contato na
R.O.C.
Fig. 15 - Desenho esquemático do contato de
apenas um dente anterior em protrusão.
b) Local de desgaste:
No movimento de protrusão e na
posição de topo-a-topo não é necessário
contatos simultâneos contatos simultâneos sem contato na ROC
na posição topo-a-topo (permite a passagem
no movimento
de uma tira de papel
protrusivo
celofane)
Fig. 18 - Desenho esquemático do ajuste em
protrusão.
142
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
143
¾
3ª Situação: Dentes posteriores:
Esta interferência ocorrerá sempre
que houver contato entre uma CF e uma
CNF, no movimento protrusivo.
a) Local do contato:
•
Ponta de cúspide ou vertente lisa
mesial ou aresta longitudinal mesial
da cúspide vestibular inferior versus
ponta de cúspide ou vertente
triturante distal ou aresta longitudinal
distal da cúspide vestibular superior,
figura 19.
•
Ponta de cúspide ou vertente
triturante
mesial
ou
aresta
longitudinal mesial da cúspide lingual
inferior versus ponta de cúspide ou
vertente lisa distal ou aresta
longitudinal distal da cúspide lingual
superior.
v
M
v
D
v
posição topo-a-topo
V
v
plano sagital
nc
c
c
L
nc
plano frontal
Fig. 19 - Desenho esquemático do contato de dente
posterior em protrusão
Local do desgaste:
Sempre nas cúspides não funcionais
e no local exato demarcado pela fita
marcadora.
A figura 20 ilustra a situação normal
de desoclusão dos dentes posteriores no
movimento protrusivo até a posição de
topo-a-topo. Se houver qualquer contato
posterior, o contato de topo-a-topo estará
comprometido.
v
v
M
v
posição topo-a-topo
v
plano sagital
D
V
nc
c
c L
nc
plano frontal
Fig. 20 - desenho esquemático da desoclusão dos
dentes posteriores no movimento protrusivo, após o
ajuste oclusal.
Fases do tratamento
- Análise funcional da oclusão
- Mapeamento do desgaste seletivo
- Ajuste oclusal clínico
Análise funcional da oclusão
É o procedimento pelo qual se
detecta as prematuridades que o paciente
apresenta em RC e partindo desta os
direcionamentos dos desvios mandibulares
até atingir a MIH, realizado por meio da
análise dos modelos de estudo montados
em articulador semi-ajustável em RC.
Mapeamento do desgaste seletivo
Os modelos de estudo montados na
posição de RC devem apresentar o
primeiro contato cêntrico coincidente com
o primeiro contato observado na boca do
paciente quando em RC.
Uma maneira de verificar se os
modelos realmente foram montados
corretamente na posição de RC é colocar
uma tira de papel celofane (largura de um
dente) entre o primeiro contato dos dentes
nos modelos (o celofane deve ficar preso
nesta posição) e proceder de maneira
semelhante na boca do paciente,
utilizando-se a manipulação frontal ou
bilateral
da
mandíbula,
para
posicionamento em RC.
Após a confirmação de que os
modelos estão na posição correta, partindo
da prematuridade deve-se forçar o
fechamento do articulador até que os
modelos atinjam a posição de M.I.H. e
novamente, com o papel celofane, verificar
todos os contatos dentários e sua
semelhança com os contatos dos dentes do
paciente na mesma posição.Se os contatos
não apresentarem coincidência (modelos x
paciente), é sinal que os modelos estão
incorretamente montados.
¾ Material e instrumental para o ajuste
nos modelos
- pinça de Miller
143
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
¾
fita marcadora
tiras de papel celofane
instrumento cortante
lápis preto nº 2 com ponta fina
borracha
Ajuste oclusal em relação cêntrica
A – Coloca-se a tira de papel
celofane presa por uma pinça de Miller
(porta agulha) entre os dentes que
apresentam
o
contato
cêntrico,
verificando-se através de tração e presa da
fita se realmente este é o 1º contato
cêntrico.
B – Prender a fita marcadora na
pinça de Miller e levar na posição do
contato cêntrico. De acordo com a
localização das marcas da fita nos dentes,
pode-se determinar se não há desvio
(contato cêntrico sem desvio – contato
prematuro) ou se este promove um
deslizamento
(contato
deflectivo),
promovendo desvio em direção à linha
média, desvio contrário à linha média e ou
desvio para anterior.
Após essa análise, fazer o
mapeamento deste primeiro contato na
ficha apropriada (utilizar a ficha que se
encontra no final deste capítulo). Para
facilitar o mapeamento, preencher a ficha
abreviando os componentes anatômicos da
superfície oclusal (Exemplos: Vertente
Triturante Mesial da Cúspide MésioPalatina do 1º Molar versus Vertente Lisa
da Cúspide Vestibular Inferior do 1º PréMolar (V.T.M. C.M.P.- 1º M) X
(V.L.C.V.I.- 1º Pré)).
C – Realizada a anotação do 1º
contato na folha própria para o
mapeamento, utilizando as regras de
orientação para o ajuste, com um
instrumento cortante realiza-se o ajuste
necessário no 1º contato, sempre com o
cuidado de não remover estrutura dentária
em excesso.
D - A seguir, verificar se o 2º contato
encontrado e assim sucessivamente, até
que, ao forçar o fechamento do articulador
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144
não mais se observe discrepância entre a
RC e a MIH, tendo obtido assim a ORC,
ou seja, o máximo de contatos cêntricos
posteriores e uma guia anterior efetiva (o
celofane prende nos dentes posteriores e
passa raspando de canino a canino). Todos
os contatos antes de serem ajustados
devem ser registrados na ficha de
mapeamento.
OBS.: No caso em que já se obteve
uma guia anterior correta em ORC e não se
conseguiu um número favorável de
contatos nos dentes posteriores, a oclusão
deve ser restabelecida nos dentes em
questão
por
meio
de
materiais
restauradores.
No caso em que já se obtiveram os
contatos ideais nos dentes posteriores e
não se conseguiu uma guia anterior
favorável, é necessário uma análise mais
criteriosa do caso, pois a guia anterior é
fundamental,
devendo-se
analisar
corretamente a possibilidade do caso ficar
sem guia na posição de ORC.
¾
Ajuste oclusal em lateralidade
Para verificar os movimentos
excêntricos da mandíbula, inicia-se pelo
movimento de trabalho.
Movimento de Trabalho
Fazer com que o ramo superior do
articulador se movimente para o lado de
trabalho. O canino superior, através da
concavidade lingual, serve de guia para o
canino inferior no movimento de
lateralidade (desoclusão pelo canino); o
que deve promover a desoclusão dos
dentes posteriores tanto no lado de
trabalho como no lado de balanceio. No
final do movimento, os caninos devem
permanecer na posição topo-a-topo e a
desoclusão dos dentes posteriores deve ser
mínima para que haja harmonia entre o
movimento mandibular e o aparelho
estomatognático.
Movimento de Balanceio
144
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
145
Qualquer contato no lado de
balanceio
induzirá
a
articulação
temporomandibular a tomar posições fora
dos padrões normais, pois não haverá a
desoclusão dos dentes posteriores pela
guia canina ou função em grupo. Tal fato
acarreta a alteração do tipo de alavanca
que atua nos movimentos mandibulares,
tornando-se traumática ao periodonto de
sustentação do dente em questão (contato
em balanceio), às ATMs e ao sistema
neuromuscular.
Em razão disto, todo e qualquer
contato em balanceio deve ser removido, a
menos que quando o profissional, ao
realizar uma análise clinica, detectar
possível deficiência ou ausência da
desoclusão do lado de trabalho (guia
canina ou função grupo). Neste caso,
deverá ser analisada a possibilidade ou não
de restabelecê-la. Em caso afirmativo para
o ajuste, marca-se com a fita vermelha a
localização do contato em balanceio, fazse a anotação na ficha de mapeamento e
realiza-se o ajuste até obter a desoclusão
pelo canino ou função em grupo do lado
oposto (trabalho). É importante verificar
que o ajuste é realizado em toda a excursão
onde ocorrer áreas de contato e na direção
deste, sem desgastar o contato cêntrico
(marcado em preto).
A seguir, verifica-se novamente com
a fita vermelha o possível contato do lado
de trabalho, fazendo-se as anotações na
ficha de mapeamento de maneira
semelhante à anterior, desgastando-se de
acordo com as regras estabelecidas para
esta finalidade, até a obtenção de uma guia
canina efetiva. Se o estilo de articulação
for a função em grupo, deve-se procurar
obter melhor harmonia entre as vertentes
lisas das cúspides vestibulares dos dentes
inferiores e as vertentes triturantes das
cúspides
vestibulares
dos
dentes
superiores, de canino até 2º ou 3º molar.
Esta harmonia deve permanecer em todo o
movimento até a posição topo-a-topo.
Movimento Protrusivo
Para realizar o movimento protrusivo
no articulador, o ramo superior deve ser
deslocado para posterior de acordo com a
guia dos dentes anteriores (concavidade
lingual e posição topo-a-topo). O ideal é
que os dentes anteriores desocluam os
dentes posteriores durante o movimento e
no final deste, ou seja, na posição topo-atopo.
Os contatos traumáticos nos dentes
anteriores devem ser verificados com a fita
vermelha e, após a anotação na ficha de
mapeamento, desgasta-se de acordo com
as regras estabelecidas para esta finalidade,
até se obter uma guia anterior efetiva.
Da mesma maneira, qualquer contato
em dente posterior durante o movimento
protrusivo deixará o paciente sem guia
anterior e por isso deverá ser ajustado.
Localizam-se os contatos, faz-se o
mapeamento e desgasta-se de acordo com
as regras estabelecidas para este fim, até se
obter uma guia anterior efetiva.
Ajuste oclusal clínico
Terminado o ajuste, o profissional
deve verificar qual foi o resultado obtido
nos modelos de estudo, dando então o
diagnóstico e prognóstico do caso, ou seja,
se é realmente válido realizar o ajuste no
paciente. Em caso afirmativo procede-se o
ajuste oclusal clínico.
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146
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
148
Plano de tratamento
1.Ajuste Oclusal:_________________________________________________
2. Placa Interoclusal:______________________________________________
3. Outros:_______________________________________________________
ANÁLISE FUNCIONAL DA OCLUSÃO
AJUSTE OCLUSAL
MAPEAMENTO DO DESGASTE SELETIVO
AJUSTE EM RELAÇÃO CÊNTRICA
Seqüência
dos contatos Dentes Cúspides
Estruturas
Deslize
para
148
Conduta terapêutica - ajuste oclusal por desgaste seletivo
Fernandes Neto, A.J., et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2004
149
AJUSTE NAS RELAÇÕES EXCÊNTRICAS
Seqüência
dos contatos
Dentes
Cúspides
Estruturas
Ajuste em lateralidade trabalho direita
Ajuste em lateralidade balanceio direita:
Ajuste em lateralidade trabalho esquerda
Ajuste em lateralidade balanceio esquerda:
Protrusão
Cirurgião Dentista: ________________________________________________
Acadêmico: ______________________________________________________
Assinatura: __________________________ Visto do Docente: ______________
149

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