Almanaque Sonoro de Química

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Almanaque Sonoro de Química
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades
Universidade de São Paulo
São Paulo, SP – 15 a 16 de maio de 2014.
O “Almanaque Sonoro de Química” como Ferramenta Semiótica
para Divulgação Científica na Sala de Aula
The “Sound Almanac of Chemistry” as a Semiotic Tool for Science
Popularization in Classroom
Renata Barbosa Dionysio1* (FM), Luis Gustavo Magro Dionysio2 (PG), Waldmir Araujo
Neto3 (PQ) * [email protected]
1
2
Instituto São João Baptista – Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências 3
PROPEC - IFRJ, Instituto de Química da UFRJ
Palavras-Chave: Áudio, Semiótica, Ensino Médio
Resumo
O trabalho apresenta um relato de experiência realizada com alunos da 1ª série do Ensino
Médio na produção de vídeos a partir da escuta de 6 dos 72 objetos de aprendizagem que
compõem o Almanaque Sonoro de Química. Esses objetos contêm potencialidades semióticas
que oportunizam releituras e a tessitura de saberes. A atividade pedagógica realizada permitiu
identificar os entes sonoros como elementos capazes de atuar na divulgação científica em sala
de aula.
Introdução:
A utilização de ferramentas mediais nas aulas de Química no Ensino Médio não são
novidades nas pesquisas em Educação em Química. Diversos autores da área relatam
experiências e também seus ensaios teóricos sobre a utilização das Tecnologias da Informação
e Comunicação (TIC) nos espaços formais de ensino aprendizagem. Giordan (2005) destaca
que tais ferramentas podem auxiliar o docente na prática, mas exigem dele uma postura
diferenciada uma vez que essas ferramentas modificam a relação medial na sala de aula.
Muitos incentivos governamentais fomentam a produção e a utilização de objetos virtuais de
aprendizagem na Educação Básica. O presente estudo trabalha com o Almanaque Sonoro de
Química, que é produto de uma Chamada Pública do Ministério da Educação para a produção
de objetos educacionais em diversos meios, denominado CONDIGITAL1. Esse objeto de
aprendizagem foi produzido por um grupo heterogêneo de profissionais de maneira
colaborativa, vinculados à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC - RJ),
dentre eles professores do ensino superior e professores da educação básica.
O Almanaque Sonoro de Química é um objeto de aprendizagem de matriz sonora exclusiva,
ou seja, é composto somente por objetos de áudio. Os 72 áudios de aproximadamente 5
minutos são distribuídos em 11 temas de acordo com as diretrizes do MEC.
1
Disponível em :< http://www.capes.gov.br/images/stories/download/bolsas/Edital_2007_MCT-MDICMEC.pdf>
Simpósio sobre Divulgação Científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades
Universidade de São Paulo
São Paulo, SP – 15 a 16 de maio de 2014.
Esses entes sonoros (DIONYSIO e ARAUJO-NETO, 2012) foram construídos com o objetivo
de apresentar o tema em formato de almanaque, ou seja, através de diversos modos, tais
como: quiz, entrevista, festival musical, entre outros. Além disso, o tema é apresentado de
forma contextualizada e com uma grande preocupação de lidar com tópicos de maneira a
permitir debates sobre questões sociais na perspectiva da inclusão e da cidadania.
A função do ensino de química deve ser a de desenvolver a capacidade de
tomada de decisão, o que implica a necessidade de vinculação do conteúdo
trabalhado com o contexto social em que o aluno está inserido. (SANTOS ,
SCHNETZLER, 1996, p.28)
Os objetos de áudio contemplam a regionalidade brasileira através de nomes de cidades,
costumes locais e ritmos musicais. A naturalidade na qual esses elementos estão inseridos no
ente sonoro não causa estranheza a quem ouve devido ao seu design harmônico.
A carga semiótica mais complexa do áudio é devido a restrições visuais e fazem com que o
ouvinte crie uma paisagem sonora (RODRIGUEZ, 2006) e reúna elementos cheios de
significado. A atividade proposta aos alunos de primeira série do Ensino Médio foi de criar
um vídeo a partir dessa escuta desses entes sonoros.
Metodologia
Realizamos um estudo exploratório e qualitativo (SEVERINO, 2007) nos 72 áudios
isoladamente como também na percepção da organização e estrutura do objeto de
aprendizagem. Esses áudios estão disponíveis de forma isolada em alguns repositórios de
objetos educacionais, tais como Portal do Professor2 e Banco Internacional de Objetos
Educacionais3, mas encontram-se no site do Almanaque Sonoro de Química4 integrados e
com alguns dispositivos, como ícones de download, que facilitam a utilização.
Os áudios apresentam formas variadas, cada programa pode ser utilizado isoladamente ou de
maneira integrada com os quadros de cada tema. Eles atendem aos três níveis de indexação do
ente acústico: escuta, identificação e compreensão, desenvolvido por Dionysio e Araujo Neto
(2012b). Essa classificação revela que esses objetos de aprendizagem possuem
potencialidades semióticas que atendem a diversos usos que o professor faça em sala de aula.
Por exemplo, o nível de escuta indica que existem elementos no áudio que despertam a
percepção do ouvinte, poderíamos utilizá-los para a introdução do tema a ser trabalhado.
A atividade foi realizada com 32 alunos da primeira série do Ensino Médio de uma escola
particular da Zona Norte do Rio de Janeiro. Como o conteúdo curricular trabalhado naquela
circunstância era óxidos, selecionamos os temas Poluição Atmosférica. Esse tema é composto
por 6 quadros a saber, Radio 88 Notícias e Fórmula do Sucesso, Duelo dos Elementos, Faça
sua Parte!, Quem sabe, sabe!, Ligação TV e Festival Musical de Química.
Realizamos uma escuta coletiva dos 6 objetos de áudio utilizando somente o computador e
uma caixa de som ativa (50W), na sala de aula. A seguir, foi proposta a atividade de
construção de um vídeo, em grupo, baseados na escuta realizada. Os alunos poderiam utilizar
recursos de imagem e som e deveriam apresentá-lo num prazo de uma semana.
2
Disponível em:< http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html>
Disponível em :< http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/>
4
Disponível em:< http://www.almanaquesonoro.com/quimica/>
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Universidade de São Paulo
São Paulo, SP – 15 a 16 de maio de 2014.
Resultados e Discussões
Durante as atividades de escuta coletiva dos áudios os alunos mostraram-se interessados e
fizeram várias colocações referentes tanto ao formato do ente sonoro quanto as informações
transmitidas.
Os trabalhos produzidos por eles superaram as expectativas visto que muitos produziram a
partir do áudio novas leituras. E mesmo aqueles que se basearam somente no áudio
trabalhado, criaram vídeos com recursos diversos, como massinhas, imagens prontas e
imagens inéditas.
Acreditamos que o objetivo da atividade foi atendido, uma vez que os alunos abordaram o
tema de forma criativa e realizando conexões entre os conceitos estudados nas aulas e suas
leituras de mundo. Os vídeos foram analisados de forma livre e contém elementos capazes de
atuar na divulgação da química, reunindo elementos icônicos e simbólicos do contexto social
e cidadania.
Considerações Finais
O Almanaque Sonoro de Química reúne áudios que podem ser utilizados como elementos de
divulgação científica em sala de aula, uma vez que seu conteúdo oferece complexidade
semiótica suficiente para posicionar o ouvinte em uma atmosfera de aprendizagem e
criatividade, em acordo inclusive com estratégias similares na literatura (CURWOOD, 2012).
Defendemos a proposta de utilizar ferramentas mediais de matriz sonora exclusiva na
educação em química, de modo a posicionar os alunos como produtores, cria redes de
conhecimento que são construídas a cada produção realizada e comentário feito.
Referências
CURWOOD, J. S. Cultural Shifts, Multimodal Representations, and Assessment Practices: A
Case Study. E-Learning and Digital Media, v. 9, n. 2, p. 232-244, 2012.
DIONYSIO, R. B. ARAUJO NETO, W. N. Tipificação de Ferramentas Mediais na
Educação em Química: aspectos teóricos e metodológicos, 35ª Reunião Anual da
Sociedade Brasileira de Química, Águas de Lindóia, 2012a.
DIONYSIO, R. B. ARAUJO NETO, W. N. Entes Sonoros e seus usos na Educação em
Química: um olhar sobre os objetos de aprendizagem de matriz sonora Anais do
23º Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (SBIE 2012), Rio de Janeiro, 2630 de Novembro de 2012. 2012b.
GIORDAN, M. O Computador na educação em Ciências: breve revisão crítica acerca de
algumas formas de utilização. Ciência e Educação, v.11, n.2, p.279-304, 2005.
RODRÍGUEZ, A. A dimensão sonora da linguagem audiovisual. São Paulo: Editora Senac, 2006.
SANTOS, W. L. P. SCHNETZLER, R.P. Função Social; o que significa ensino de química para
formar o cidadão? Revista Química Nova na Escola, n.4, novembro 1996, p.28-34.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 23 ed. São Paulo, Cortez, 2007.

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