Experiência N º11 Recristalização e determinação da pureza de

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Experiência N º11 Recristalização e determinação da pureza de
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QMC 5119 – II Semestre de 2014
Experiência N º11
Recristalização e determinação da pureza de sólidos
1. Introdução
O método mais utilizado para a purificação de sólidos é a recristalização. Nesse
método, um composto impuro é dissolvido em um solvente e deixado cristalizar. À medida
que se formam cristais, moléculas de outros compostos dissolvidos (consideradas
impurezas) na solução são excluídas da estrutura cristalina e o composto de interesse
pode ser obtido na forma pura.
O processo de recristalização tem por base a propriedade que muitos compostos
variam a solubilidade em função da temperatura, ou seja, geralmente aumentando-se a
temperatura da solução, a solubilidade do sólido também aumenta.
Por exemplo, uma maior quantidade de açúcar de cana (sacarose) pode ser
dissolvida em água quente em comparação à temperatura ambiente. O que você poderia
esperar se uma solução concentrada de açúcar, em água quente, for colocada na
geladeira? À medida que a temperatura da solução diminui a solubilidade do açúcar na
água também decresce e certa quantidade desse sólido começa a cristalizar.
♦ Sobre solubilidade, cristalização, recristalização e purificação de sólidos.
A dissolução de um soluto em um solvente é acompanhada pela liberação ou
absorção de calor.
Quando a dissolução de um soluto em um dado solvente libera calor, o ∆Hsolução é
menor do que zero, a solubilidade do soluto nesse solvente decresce com o aumento da
temperatura. Ao contrário, isto é, quando o processo absorve calor , o ∆Hsolução é positivo
e a solubilidade do soluto nesse solvente aumentará com o aumento da temperatura.
A dependência da solubilidade de um soluto em um solvente com a temperatura é
representada por gráficos construídos a partir de dados experimentais, como
exemplificamos a seguir.
A Figura abaixo representa um tipo comum de curva de solubilidade. Cada ponto
na curva de solubilidade (região 2) nos indica solução saturada de KNO3 em água. Isso
significa que o soluto, a cada temperatura representada no gráfico, está no limite de
solubilidade nesse solvente. A região 3 (abaixo da curva) representa a concentração da
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solução não saturada (insaturada) e qualquer ponto da região 1 (acima da curva) indica
solução supersaturada. Portanto, podemos alterar a solubilidade de um soluto em um
determinado solvente, mediante a alteração da temperatura do experimento.
Solubilidade de KNO3 (g em 100g de água)
KNO3
120
110
100
90
2
80
1
3
70
60
50
40
30
20
10
10
20
30 40
50
60
70
80
90 100
Temperatura, oC
Observe na figura a seguir que outros solutos apresentam diferentes curvas de
solubilidade.
Cristais podem ser obtidos a partir de soluções, mediante a evaporação do
solvente ou da diminuição da temperatura da solução.
NaNO3
Solubilidade de sais (g em 100g de água)
KNO3
120
110
100
90
80
70
60
KCl
50
40
NaCl
30
20
10
10
20
30 40
50
60
70
80
90 100
Temperatura, oC
A curva de solubilidade de cada soluto indicará a temperatura que a solução
deverá ser resfriada para se iniciar a cristalização do composto. Por exemplo, através de
um resfriamento irá cristalizar KNO3 a partir de sua solução aquosa, pois a sua
solubilidade em água decresce com a redução da temperatura. Por outro lado, a
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diminuição da temperatura de uma solução aquosa de NaCl não seria um método
adequado para a cristalização, pois a solubilidade desse sal, conforme mostrado na figura
é praticamente independente da temperatura.
As curvas de solubilidades são úteis para nos indicar se seria possível ou não a
purificação de um sólido de suas impurezas. Suponha que temos NaNO3 contaminado
com KNO3. As curvas de solubilidades desses dois compostos indicam que a 10oC, por
exemplo, NaNO3 é muito mais solúvel em relação a KNO3. Assim, se dissolvermos 100g
de KNO3 misturado com NaNO3 em 100g de água quente e em seguida resfriamos a
solução a 10oC, podemos prever que KNO3 irá cristalizar separado do NaNO3 que ficará
em solução. Esse processo de purificação de um composto por recristalização é
normalmente utilizado em laboratórios e na indústria química.
Devemos diferenciar entre os processos de cristalização e de precipitação de um
sólido. Na cristalização, ocorre uma lenta e seletiva formação de cristais, o que resulta no
composto puro, enquanto que na precipitação, um sólido amorfo (sem forma cristalina) é
formado rapidamente da solução, misturado com impurezas e por isso deve ser
cristalizado. Por esta razão, normalmente conseguimos um sólido, a partir de uma
solução, que em seguida deve ser cristalizado e recristalizado, no processo de
purificação.
▪ Etapas para a recristalização de um composto:
a) Encontre, mediante ensaios (em tubos de ensaio), um solvente ou uma mistura de
solventes, adequado para a recristalização;
b) Dissolva o sólido impuro em um volume mínimo do solvente quente (antes do seu
ponto de ebulição);
c) Realize uma filtração, para eliminar impurezas insolúveis e recolha o filtrado;
d) Deixe a solução em repouso, até atingir a temperatura ambiente para cristalizar o
composto desejado;
e) Filtre os cristais ou os micro-cristais, conforme o caso para em seguida realizar a
recristalização.
▪ A escolha do solvente
Existem quatro importantes propriedades do solvente que você deverá levar em conta,
para a recristalização:
1. O composto deve ser muito solúvel a quente e pouco solúvel à temperatura
ambiente. Esta diferença de solubilidade, em função da temperatura, será
essencial para o processo de recristalização. Por exemplo, água é excelente para a
recristalização do ácido benzóico. A 10oC, somente 2,1 g desse ácido se dissolve
em um litro de água, mas a 95oC a solubilidade aumenta para 68 g/L;
2. As impurezas devem ser solúveis à temperatura ambiente e insolúvel à quente e
assim podem ser removidas por filtração. Desse modo, após a solução ser
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esfriada, alguma impureza remanescente ficará dissolvida e o filtrado será
descartado;
3. O solvente não deverá reagir com o composto de interesse, pois esse composto
seria perdido durante a recristalização;
4. O solvente deve ser volátil, para facilitar a cristalização e evitar que moléculas do
solvente se incorporem na rede cristalina do composto.
Portanto, para um novo composto, deve-se pesquisar, através de ensaios (envolvendo
tentativas que envolvem erros, acertos e certo fator “sorte”) para se encontrar o solvente
ou a mistura de solventes adequados para a recristalização. Primeiro deve-se realizar
testes de solubilidade (em tubos de ensaio), com diferentes solventes (água, metanol,
etanol, acetato de etila, hexano, etc.) à temperatura ambiente. Se o composto dissolver à
temperatura ambiente, então esse solvente não serve para a recristalização. Quando o
composto é insolúvel à temperatura ambiente, a mistura deverá ser aquecida, para se
observar se o sólido sofre dissolução a temperatura mais elevada. Em seguida a solução
deve ser resfriada até a temperatura ambiente, seguida de repouso em geladeira (se
precisar) para se observar o aparecimento de cristais.
▪ Dissolvendo o sólido
Uma vez selecionado o solvente, adicione o sólido impuro em um erlenmeyer ou em um
béquer e adicione um pequeno volume do solvente quente.
Atenção: Nesta prática você não irá utilizar metanol, por ser muito tóxico e inflamável
(com chama invisível), mas se você utilizar esse solvente não esqueça que metanol não
pode ser aquecido, em recipiente aberto (como em um béquer), diretamente em chapa de
aquecimento ou na chama de Bunsen, devendo ser aquecido em banho maria.
Mantenha a solução em leve aquecimento (banho maria ou chapa de aquecimento)
e adicione pequenos volumes do solvente quente, sob agitação, até dissolver todo o
sólido. Se outras adições do solvente quente não dissolver algum sólido remanescente,
isso seria uma indicação de impurezas insolúveis. Então fique atento e observe se
existem impurezas insolúveis, mesmo à temperatura mais elevadas e nesse caso filtre a
solução, desprezando as impurezas retidas no papel de filtro e aproveitando o filtrado.
▪ Cristalizando o sólido
Após as impurezas terem sido removidas, feche o recipiente (béquer, por exemplo) com
um vidro de relógio ou com papel alumínio e nesse caso, faça pequenos furos para o
escape do solvente. Deixe a solução quente em repouso (sem tocar, nem agitar) para
esfriar até a temperatura ambiente e se for o caso coloque-a na geladeira, para cristalizar.
Nunca provoque um esfriamento rápido, antes de atingir a temperatura ambiente, pois
você estaria favorecendo o aparecimento de um precipitado impuro, misturado aos
cristais.
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Muitas vezes, durante o resfriamento em um banho de gelo, por exemplo, o
composto dissolvido falha na formação de cristais. Quando isso ocorre e o seu objetivo é
o de obter cristais, então friccione, por algum tempo, o interior do recipiente com um
bastão de vidro. Desse modo, surgem pequenas partículas de vidro que induzirá a
nucleação dos cristais e rapidamente você iria observar uma grande massa de cristais
serem formados. Essa técnica foi utilizada durante o experimento para a obtenção do
alúmen de alumínio e potássio (Experiência 09). Outras vezes podemos adicionar um
cristal do composto desejado à solução, para atuar como “semente”, para induzir a
cristalização. Se ambas as tentativas falharem, provavelmente o composto foi dissolvido
em muito solvente quente. Se você concluir que isso estaria ocorrendo, então, reaqueça a
solução até a ebulição (para diminuir o volume) e repita o processo, isto é, permita que a
solução atinja novamente a temperatura ambiente para se iniciar a cristalização e
posterior filtração para a separação dos cristais. Não podemos lhe garantir sucesso total
em uma cristalização, pois “cada caso é um caso”, mas essas são as orientações básicas
para você iniciar a sua formação em técnicas de cristalização/recristalização/purificação
de sólidos.
2. Procedimento experimental
Nesta experiência você irá realizar purificações de um sólido e para decidir o grau
de pureza da substância escolhida, você irá realizar a determinação da temperatura
de fusão (pelo método de Thiele), do composto impuro (antes da cristalização) e
purificado (após a recristalização). Utilize a substância alúmen de alumínio e
potássio, que foi sintetizado na Experiência 09. Tendo como referência o valor do
ponto de fusão publicado na literatura, e na faixa de fusão observada, você decidirá
quantas recristalizações serão necessárias para obter o melhor grau possível de
pureza desse composto. Ao final do processo, você deverá calcular o rendimento
do processo. Portanto, não se esqueça de pesar a substância (antes e após a
recristalização)!
Prepare uma tabela para a anotação dos dados sobre os pontos de fusão.
3. Questionário
1- Procure na literatura a fórmula química e o valor do ponto de fusão para alúmen de
alumínio e potássio.
2- O que significa recristalização e qual a sua utilidade?
3- O que significa dizer que um determinado composto é amorfo?
4- Apresente uma propriedade do solvente que se deve levar em conta para uma
recristalização.
5- Porque metanol não deve ser aquecido diretamente em uma chapa de aquecimento?
6- Apresente dois procedimentos experimentais para se induzir a formação de cristais.
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7- Apresente a tabela com os dados de pontos de fusão do composto utilizado (antes e
após as purificações) e com as respectivas massas dos cristais. Discuta os resultados
e apresente os cálculos dos rendimentos nos processos de purificação do sólido neste
experimento.
8- Conclua sobre a eficiência do processo de purificação do composto utilizado.

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