O colapso da mensuração de risco dos mercadosx
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O colapso da mensuração de risco dos mercadosx
O colapso da mensuração de risco dos mercados A presente crise financeira internacional evidencia a lacuna conceitual deixada pelas tradicionais hipóteses de avaliação de risco, que fundamentaram o "mainstream" do pensamento econômico da economia nos últimos cinquenta anos, embora colhessem sucessivos fracassos nas suas tentativas de previsão do futuro. Apesar dessa predominância de pensamento no campo teórico daquilo que se denomina como a Moderna Teoria das Carteiras, as evidências empíricas manifestadas pelo comportamento das séries históricas de preços, coligidas em múltiplos mercados e em distintas escalas de tempo, teimaram em frustrar as predições dos analistas que se basearam em modelos desse corpo teórico e conceitual. É possível assinalar uma série de aspectos que fragilizam as hipóteses que fundamentam essa teoria. Em primeiro lugar, deve ser questionada a ideia de equilíbrio. Esse pressuposto assume que, na ausência de influências exógenas, o sistema deve permanecer em equilíbrio. Se fatores externos perturbarem o equilíbrio, o sistema se afasta dele, mas, assim que cessam essas influências, reverte para uma nova condição de equilíbrio. Um segundo problema é o tratamento do tempo. O tempo é ignorado, ou ao menos é tratado como uma variável qualquer. O mercado e a economia não possuiriam memória, ou teriam apenas limitada memória com relação ao passado. Se supusermos que dez anos transcorreram num ambiente de mercado, então as variáveis que podem afetar as taxas de juros podem ser identificadas por seus valores correntes e assim também poderia ser obtido o valor corrente das taxas de juros. Nessa visão, a combinação de eventos que podem ocorrer durante esse intervalo de tempo é irrelevante. Os modelos em geral não expressam os aspectos qualitativos presentes nos processos de tomada de decisão humanos. Os agentes são influenciados pelos acontecimentos. Suas expectativas acerca do futuro são moldadas pelas experiências recentes. Os denominados "efeitos de feedback", ou seja, a influência do passado sobre o presente e do presente sobre o futuro, são uma questão largamente ignorada pela teoria dos Mercados Financeiros.O problema reside no fato de que praticamente todo o arsenal de instrumentos disponíveis para o enfrentamento do risco está baseado na suposição de que estes modelos teóricos são capazes de explicar a realidade. Desde Basileia I os modelos de risco que assumem que os preços seguem um passeio aleatório e possuem distribuição normal explicam a maior parte das medidas de requisitos de capital mínimo das instituições financeiras. O recorrente uso do "Value at Risk" (Var), como critério de estabelecimento da perda máxima num horizonte de tempo, bem como modelos mais sofisticados, como os ARCH e GARCH, constituía a quintessência da gestão de riscos até o colapso de agosto de 2007, que se aprofundou ao longo de todo o ano de 2008. Nesse sentido, George Soros demonstrou que o sistema financeiro global foi construído com base em premissas falsas. Tal proposição é aparentemente chocante, conforme diz Soros, mas ela é inerente a todos os constructos humanos. Essa análise está fundamentada no fato de que a compreensão que o homem possui acerca do universo é imperfeita, pelo fato de que ele é parte desse mesmo universo que tenta compreender. Todo fenômeno deixa de se constituir exclusivamente de fatos e também passa a incorporar as intenções e expectativas sobre o futuro. O passado é passível de determinação, mas o futuro vai depender das expectativas dos atores envolvidos no contexto. Assim, esses agentes não são capazes de basear suas decisões no conhecimento, pois devem lidar com dados do presente e do passado e ainda com possibilidades que dizem respeito ao futuro. Soros designou essa interferência de dupla via como sendo o fenômeno da reflexividade. As situações reflexivas são caracterizadas pela ausência de correspondência entre as visões dos participantes acerca da realidade e o real estado da natureza. Por este motivo, os gestores de risco devem mudar radicalmente seus paradigmas, pois ainda não está disponível um instrumento capaz de substituir suas antigas premissas, de forma que o risco a que estamos expostos provavelmente é maior do que supomos que seja. Carlos J.G. Cova - Professor de Finanças Públicas da Universidade Federal Fluminense . Artigo publicado no jornal Gazeta Mercantil em 19/05/09.