A Defining Moment pt

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A Defining Moment pt
UM MOMENTO
DECISIVO
UMA RIVALIDADE HISTÓRICA ENTRE DOIS FUTUROS CAMPEÕES DO MUNDO DE FÓRMULA 1 NASCEU PRECISAMENTE
AQUI, EM MACAU, HÁ VINTE ANOS, NO FIMDESEMANA DO GRANDE PRÉMIO. POR JONATHAN NOBLE
Os dois futuros campeões de F1 são só sorrisos antes da corrida (www.sutton-images.com)
Q
uando Michael Schumacher fala das
rivalidades favoritas na sua carreira,
Mika Hakkinen tem sempre uma
menção especial.
O heptacampeão e o ‘finlandês voador’
travaram muitas batalhas na sua luta para
a glória na F1 e disputa da liderança dos
campeonatos do mundo, entre finais de 1990
e início de 2000.
Mas, enquanto muitos fãs retêm na memória as
colisões entre os dois pilotos na F1, incluindo a
famosa disputa no Grande Prémio da Bélgica
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em 2000, foi aqui, em Macau, exactamente há
vinte anos, que o mundo pôde testemunhar
a primeira amostra da emoção que aquele
par seria capaz de proporcionar. E, tal como
aconteceu muitas vezes em F1, com um pouco
de controvérsia à mistura.
Hakkinen chegou a Macau, em 1990, como
o mais claro favorito à vitória. Depois de
uma grande época no campeonato
britânico de F3 a correr para a equipa da
Theodore/West Surrey Racing, o evento
Macau não era, certamente, uma oportunidade
a desperdiçar.
Schumacher, por sua vez, era então uma estrela
em ascensão, ainda sem se saber até onde
poderia ir. Apesar do título de campeão de
F3, conquistado nesse ano na Alemanha para
a equipa de Willi Weber, não ia além de um
candidato desconhecido ao sucesso, tendo em
conta o nível dos seus opositores: Eddie Irvine,
Mika Salo, Alex Zanardi, Heinz-Harald Frentzen
e Olivier Panis.
E, na realidade, pouco ou nada aconteceu
durante as sessões de treino e qualificação e a
primeira manga para negar que o evento ia ser à
medida de Hakkinen. O finlandês foi facilmente
O finlandês Hakkinen ganha a primeira manga e
parece em grande forma para uma vitória em Macau
(www.sutton-images.com)
o homem mais rápido, conquistando a pole com
o melhor tempo volta de 2m20,88s e a liderança
da prova, logo à abertura da primeira manga.
se encontravam um pouco mais avançadas do
que actualmente, Schumacher ultrapassou e
tomou a dianteira da corrida.
De facto, se Hakkinen decidiu concentrar-se na
fuga aos adversários, Schumacker tinha mais
com que se preocupar, depois de uma partida
sofrível da linha da frente e perda de alguns
lugares, na recta para a primeira curva.
Todavia, com o défice de tempo na geral
em relação a Hakkinen, ainda nada estava
decidido e Schumacher sabia perfeitamente
que, para triunfar, tinha de alargar a vantagem
sobre o adversário.·
Enquanto Hakkinen parecia voar directamente
para uma merecida vitória, Schumacher
esforçava-se por reparar o erro inicial, apesar de
ter conseguido recuperar as posições perdidas
para Mika Salo e Eddie Irvine.
Hakkinen podia, por isso, ter continuado na
retaguarda, à sombra de Schumacher, para
garantir uma vitória na geral. Contudo, o
finlandês, com toda a confiança de uma época
dominante em F3 e desejoso de provar que era o
melhor piloto em prova – não baixou os braços.
Facilmente, conseguiu manter-se colado a
Schumacher. Mas, isso não chegava: ele queria
ser o primeiro a cortar a linha de chegada.
Na última volta, à saída da derradeira curva,
achou que era o momento certo e decidiu
tentar a ultrapassagem na recta para o Lisboa.
No final, Schumacher cortou a meta alguns
segundos atrás de Hakkinen, ou seja, era preciso
uma vitória confortável na segunda manga
para ter alguma hipótese de chegar ao topo da
lista do agregado do tempo das duas mangas.
Hakkinen teve uma partida limpa da pole
da segunda manga, mas Schumacher, que
não desistira do que parecia ser uma missão
impossível, colou-se ao finlandês acossando-o
à mais pequena oportunidade.
No fim da primeira volta, Hakkinen cometeu um
pequeno erro à saída de Curva ‘R’, espalhando a
gravilha, mas foi o suficiente para Schumacher.
Quando seguiam em direcção ao Lisboa e
depois da passagem pelas pits, que nessa época
Schumacher a caminho da memorável vitória no Grande Prémio de Macau (www.sutton-images.com)
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Ao enfiar para a direita, Schumacher bloqueou-o
no mesmo instante. Hakkinen não esperava
certamente uma defesa tão agressiva e o par
fez contacto.
A asa da rectaguarda da máquina de
Schumacher partiu, no toque com Hakkinen,
mas o finlandês saiu muito pior do incidente.
O carro despistou-se e embateu nas barreiras
ficando irremediavelmente danificado do lado
esquerdo, sem possibilidades de prosseguir.
Quando o carro se imobilizou no lado direito da
pista, a linguagem corporal de Hakkinen dizia
tudo. Ele nem queria acreditar no que tinha
acontecido. As duas mãos no ar traduziam
bem a incredulidade do piloto de que perdera
a sua grande oportunidade. Depois, ao saltar
para fora do carro, num gesto de desespero e
desgosto, atirou as luvas ao chão.
Schumacher celebra depois da vitória em Macau (www.sutton-images.com)
SCHUMACHER, POR SUA VEZ, ERA ENTÃO UMA ESTRELA EM ASCENSÃO, AINDA SEM SE SABER
ATÉ ONDE PODERIA IR. APESAR DO TÍTULO DE CAMPEÃO DE F3, CONQUISTADO NESSE ANO NA
ALEMANHA PARA A EQUIPA DE WILLI WEBER, NÃO IA ALÉM DE UM CANDIDATO DESCONHECIDO
AO SUCESSO, TENDO EM CONTA O NÍVEL DOS SEUS OPOSITORES: EDDIE IRVINE, MIKA SALO,
ALEX ZANARDI, HEINZ-HARALD FRENTZEN E OLIVIER PANIS.
Schumacher, por sua vez, apesar dos danos na
asa direita do carro, conseguiu manter-se em
prova, pese embora o tempo perdido para alguns
adversários. Mas, mesmo mais lento devido aos
danos sofridos, o alemão logrou cortar a bandeira
de xadrez e conquistar uma vitória notável.
Na ocasião, a colisão Schumacher/Hakkinen foi
muito badalada mas, rapidamente, foi caindo
no esquecimento até se tornar uma nota à
margem da história do evento de Macau que,
ao longo dos anos, tem proporcionado muitos
momentos espectaculares.
No entanto, quando Schumacher e Hakkinen
passaram para a Fórmula 1, e se tornaram
Um Hakkinen desanimado
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grandes rivais nas lutas pelos títulos, a memória
do sucedido em Macau ressurgiu várias vezes.
Com Hakkinen agora reformado e Schumacher
a gozar o regresso à F1, a intensa rivalidade da
relação entre os dois pilotos deu lugar à amizade
e admiração. Hoje, ambos sentem mais ternura
do que frustração quando pensam no que se
passou em Macau.
Schumacher, em particular, quando se fala
de Macau, fica com os olhos a brilhar. Não só
por significar mais um grande triunfo na sua
fantástica carreira, mas também pelo que ele
representou e o adversário acabou por ser um
dos homens que mais viria a respeitar na F1.
“Agora estamos a falar de coisas totalmente
diferentes”, diz Schumacher sobre o modo
como a sua carreira evoluiu em relação a
Hakkinen, depois da batalha de Macau.
“Tenho excelentes recordações dessa corrida
– especialmente com Mika, que veio a
ser uma pessoa muito importante na minha
carreira. Passámos muito tempo juntos,
na luta pelos campeonatos. Mas, foi
fantástico fazer a última volta com a asa do
carro partido.”
E, foi mesmo fantástico, também, para quem
pôde assistir a um momento tão decisivo!
Um grande pódio, com Schumacher, Eddie Irvine e Mika Salo

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