Revista O Brasil Feito à Mão- no. 11

Transcrição

Revista O Brasil Feito à Mão- no. 11
Editorial / Editorial 2
Artigo / Article 3
Mercado externo / Foreign market 6
O mapa da arte / The map of art 10
Artesanato: matéria prima / Handicraft: raw material 18
Projetos / Projects 30
Entrevista / Interview 37
Eu faço / I make 41
Feiras e eventos / Fairs and events 42
Onde encontrar / Where to find 44
CENTRO CAPE MINAS GER AIS
Rua Grão Mogol, 662 - Sion
Edição e projeto editorial / Ediction and editorial project
Instituto Centro Cape e Central Mãos de Minas
Editor / Editor
Anne Paiva
Colaboradores / Colaborators
Carlos Júnio
Guyanne Araújo
Karina Motta
Maristella Medeiros
Natália Mara
Tatiana Coutinho
Fotografia / Photography
Walmir Monteiro
Revisão / Revision
Danívia Matozzo
Tradução de textos / Translation
Luiz Augusto Ferreira Araújo / Supernova SCI
Diagramação e arte / Diagramming and graphic arts
Thiago Coelho
Gráfica / Printing company
Difusora Editora Gráfica
Tiragem / Drawing
10.000 exemplares
Distribuição gratuita / Costless Distribution
Foto da capa:Walmir Monteiro
CEP 30310-010 - Belo Horizonte - MG
Tel. 55 31 3282 8313 Fax 55 31 3282 8301
CENTRO CAPE DISTRITO FEDER AL
SCN, Quadra 5, Bloco A, sala 212
Ed. Brasília Shopping
CEP 70710-500 - Brasília - DF
Tel. 55 61 3328 0621 Fax 55 61 3328 5802
SHOW ROOM ESTADOS UNIDOS
7 West 34th Street Suíte 725.1001
New York City – NY – Phone 917 282 5838
[email protected]
SHOW ROOM PORTUGAL
Parque Industrial Meramar IV
R. das Amendoeiras, / ZIP Code: 2645 097
Phone: 351 96 707 2538
[email protected]
www.centrocape.org.br
[email protected]
55 31 3281 6820
Editorial
A exportação é um mercado dos sonhos para
muitos artesãos. Mas para mostrar competitividade é de extrema
importância que o produto artesanal seja bem trabalhado e
tenha diferencial para que, ao alcançar outros países, consiga
manter-se em destaque. A adequação de um produto para o
mercado externo ainda é um fator que leva muitos artesãos a
desistirem de exportar.
Nós do Centro Cape buscamos ampliar os horizontes
para esses artesãos por meio do Programa de Certificação da
Produção Artesanal (PCPA) - Instituto de Qualidade Sustentável
(IQS), que confere um selo que atesta o cenário de produção
economicamente viável, ambientalmente correta e socialmente
justa. Mas não basta apenas que o artesão tenha um selo em seu
produto para garantir a exportação do mesmo. É primordial que
ele realmente siga esses processos na atividade artesanal, além
de atender à demanda mundial pelo ambientalmente correto.
Hoje, a demanda por produtos artesanais no país segue
uma tendência de crescimento, e o artesão que está afinado com
esses tópicos pode conseguir realizar bons negócios mantendo
uma produção adequada a diversos mercados. O comprador
internacional preza muito por beleza, qualidade e diferencial
nos produtos que negocia. Por isso, não adianta o artesão pensar
que com o passar do tempo não será necessário incrementar seus
produtos, uma vez que a demanda vai variando de acordo com
as necessidades do momento.
Obter o selo de qualidade do IQS não é tarefa fácil
para o artesão. Afinal, organização e cuidados com os
métodos de trabalho aplicados não podem deixar de ser
levados em consideração. É por essa razão
que o instituto busca sempre, em visitas
de manutenção, manter os participantes
atualizados, seguindo os processos à risca. O
projeto busca constantemente aprimorar os
processos, afinal as exigências do mercado
não diminuem em momento algum, pelo
contrário, até aumentam com o passar do
tempo.
Exportations present a dream market for many
artisans. However, in order to be competitive, the handicraft
product must be well executed and differentiated so it can reach
other countries and remain in evidence.Adjusting products for
the external market is still a significant factor which makes
artisans give up on exporting.
We at Centro Cape seek to expand theses artisans’ horizons
through the PCPA (Programa de Certificação da Produção
Artesanal, Handicraft Production Certification Program), by
IQS (Instituto de Qualidade Sustentável, Sustainable Quality
Institute), providing them with a quality label that certifies
their economically viable, environmentally adequate and
socially correct production. However, having a label isn’t, by
itself, enough to guarantee that the artisans’ products will be
exported.The artisans must also incorporate these processes, in
practice, into their handicraft activities, besides meeting the
worldwide demand for environmental correctness.
The current demand for handicraft products throughout
the country is following an increasing growth tendency, and
artisans who manage to be in tune with these matters can face
great business opportunities by suiting their production to
several markets. International buyers value beauty, quality and
differentiating factors when negotiating products. Therefore,
artisans must not think that their products won’t need
improvements over time, given that demands vary according
the each moment’s needs.
Attaining the IQL quality label isn’t an easy task for
artisans. After all, their work-related organization and care
towards their methods must be considered
and evaluated. For this reason, the
institute always strives to maintain
all participants up to date through
maintenance visits, enforcing process
alignment and precision. The project
continuously seeks process improvements,
given that market demands never
decrease, on the contrary, they even
increase over time.
Beatriz Santana
Coordenadora do IQS / Coordinator of IQS
O turismo
FEITO À MÃO
HANDICRAFT AND EXPORTATION
Estrada Real oferece ao viajante cultura, história e respeito ao meio ambiente
Estrada Real offers its travelers culture, history and respect for the environment
BAQUES SANNA
Diretor-geral do Instituto Estrada Real / Director of the Instituto Estrada Real
O Instituto Estrada Real (IER) foi criado
The Instituto Estrada Real (IER) was
em 1999 pela Federação das Indústrias do Estado de Minas
Gerais (Fiemg) para fomentar o turismo nos municípios por
onde passa a Estrada Real. Caminhos marcados por uma
história de mais de 300 anos, por viagens de colonizadores,
bandeirantes, tropeiros, escravos e comerciantes foram
transformados em um destino turístico completo, que conta
com o envolvimento das comunidades e de empresários
locais. Hoje, a Estrada Real
tem 1.630 Km de extensão
e mais de 80 mil Km² de área
de abrangência, englobando
199 municípios.
A primeira missão do
IER foi conhecer todo o
destino. Para estruturál o e a p re s e n t á - l o a o
empresariado e aos turistas,
era preciso saber de todos
os seus atrativos. Claro
que a escolha da Estrada
Real, pela Fiemg, não se
deu por acaso. Ela abrange
grande parte do território
de Minas Gerais, além
de passar por municípios
paulistas e fluminenses, ligando as minas ao mar. A Câmara
de Turismo da Federação sabia que encontraria na Estrada
Real um importante destino turístico que, se estimulado,
demandaria produtos e serviços de mais de 50 setores
industriais.
Não foi surpresa que, com alguns anos de trabalho, se
uniram ao IER e à Fiemg grandes parceiros privados, além
do governo de Minas Gerais e do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID). O grande potencial do destino
created in 1999 by Fiemg (Federação das Indústrias de
Minas Gerais, Industry Federation of the Minas Gerais
State) in order to promote tourism in municipalities crossed
by the Estrada Real (Royal Road). These paths, marked
by more than 300 years of history, crossed by colonizers,
bandeirantes (Portuguese scouts from the colonial Brazil
period), muleteers, slaves, and traders, are now solid tourist
destinations, supported
by local communities and
businessmen.Today, Estrada
Real covers 1.630 Km and
spreads along an 80 thousand
Km² area, reaching 199
municipalities.
The first mission of
IER was to scout the entire
destination. In order to
develop and present it to
the business industry and
the tourists, it was necessary
to assess all of its potential
touristic attractiveness.
Obviously, Fiemg did not
select Estrada Real by
chance. The road covers
most of the Minas Gerais territory and also passes through
many municipalities in the São Paulo and Rio de Janeiro
States, which connect Minas Gerais to the sea. The
Federation’s Chamber of Tourism (Câmara de Turismo da
Federação) was aware of how Estrada Real could become
an important tourist attraction, and how it would demand
products and services from around 50 industrial sectors if
encouraged.
Not surprisingly, after a few years of work, large private
BRAZIL MADE BY HAND
artigo / article 3
Estrada Real já estava claro.
Surpreendentes são os atrativos da Estrada Real. Os
encantos do destino ainda não estavam todos escancarados
para os empresários e viajantes. Com o passar do tempo,
pesquisas do IER foram revelando verdadeiros tesouros,
joias a serem lapidadas e oferecidas, de forma sustentável,
à cadeia produtiva do turismo. É o caso do artesanato em
dezenas de municípios da Estrada Real.
Podemos falar de pequenos lugarejos, como Bichinho,
em Prados. A experiência desse município com o artesanato
e o turismo é exemplar. Passear pelas ruas do distrito é viajar
pela cultura local de forma intensa. Em cada quarteirão é
possível encontrar casinhas com as obras dos artesãos locais
colocadas nas janelas e nas varandas. O que se vê é uma
verdadeira exposição a céu aberto.
O envolvimento da comunidade é claro e óbvio. As
casas que não expõem e comercializam obras dos artesãos
têm moradores aptos a falarem da história do lugar e a
mostrarem onde é possível ver o resultado do trabalho, em
papel, madeira, ferro ou palha. A imaginação do artista é
somada ao respeito ao meio ambiente. O reaproveitamento
de materiais e o uso de matéria-prima reciclada são marcas
da produção de artesanato em Bichinho.
Com o trabalho da comunidade, somado à divulgação
do destino Estrada Real, feita pelo IER em conjunto com o
governo de Minas, Bichinho passou a receber milhares de
turistas que apreciam o artesanato local. Hoje, é possível
encontrar lá um distrito que sabe explorar, de forma
sustentável, o potencial que tem para quem vem de fora. As
casinhas do local não são mais somente pontos de exposição
e de venda do artesanato. Muitas delas são ateliês abertos à
visitação. Outro tanto abriga cursos rápidos em que o turista
aprende a manipular alguns materiais e volta para casa com
uma peça fabricada por suas próprias mãos.
Esse exemplo de Bichinho mostra a valorização da
comunidade pelo turismo, seja de compras ou o vivencial,
quando o viajante participa da criação de uma peça de
artesanato.
Outro belíssimo exemplo na Estrada Real é a cidade de
Maria da Fé. O lugar é figurinha repetida nas previsões do
tempo, justificando a fama de município mais frio de Minas
Gerais. Mas o charme de se proteger de forma aconchegante
das baixas temperaturas não é o único atrativo encontrado
no município. Lá também foi descoberto um tesouro da
Estrada Real. Hoje, lapidado, é vendido inclusive para
outros estados brasileiros.
Maria da Fé possui uma associação de artesãos
que produzem trabalhos notáveis pelo design e pela
inventividade. Eles produzem peças distintas; é quase
4 artigo / article
partners joined IER and Fiemg, along with the Minas
Gerais State government and BID (Banco Interamericano
de Desenvolvimento, Interamerican Development Bank).
The strong potential of Estrada Real was clear.
The attractions of Estrada Real are amazing. Some of its
charms were yet to be discovered by the businessmen and
travelers.With time, IER researches revealed real treasures,
jewels waiting to be refined and offered, in a sustainable way,
to the tourism commodity chain. One example resides on
the handicraft made throughout the several municipalities
along Estrada Real.
One could mention the small village of Bichinho,
district of another small town called Prados. This
municipality’s experience with handicraft and tourism is
exemplary. A walk along this district’s streets provides
an intense voyage through the local culture. Small houses
on each of the city’s blocks have works by local artisans
exhibited on their windows and balconies. It is a real open
air exposition.
The community’s involvement is clear and visible. In
houses that neither exhibit nor trade handicraft, the owners
are available to talk about local history and show where
works with paper, wood, iron or straw can be found. Here,
artistic imagination combines with the respect for the
environment. Reusing materials and recycling raw material
are trademarks of Bichinho’s handicraft production.
As a result of the community’s work, combined with
Estrada Real’s marketing by IER and the Minas Gerais
State government, Bichinho started receiving thousands
of tourists interested in the local handicraft. Today, the
district has learned how to explore its own potential, in a
sustainable way, for the outside consumer.The small houses
have evolved from being simple stands for exhibiting and
trading handicraft. Many have turned into studios, which
are open for visitation. Others offer quick courses in which
tourists learn how to handle the materials, taking a piece
of their own handicraft as souvenirs.
Bichinho’s example shows how the community values
tourism; either by trading or promoting an experience,
while letting visitors take part in handicraft creation.
Maria da Fé is another great example in Estrada Real.
This small town always appears in weather forecast news,
famous for being the coldest municipality of Minas Gerais.
But the charm of cozy housing in low temperatures is not
the only attraction in the municipality. There, lies another
Estrada Real treasure. Currently, after refined, it is even
sold to other Brazilian States.
Maria da Fé has an artisan association that makes notable
and inventive works.The produced pieces are so distinct that
BRASIL FEITO A MÃO
impossível encontrar uma marca que defina o artesanato
da cidade, tamanha a criatividade de desenhos e materiais.
A exemplo de Bichinho, a cidade chama turistas tanto pelo
roteiro de compras como pelo vivencial.
O artesanato de Maria da Fé conta ainda com o
atrativo do uso de materiais vegetais, coletados de forma
sustentável. É comum encontrar peças de design com fibra
de bananeira ou com cipó.
O trabalho do IER revela que bons exemplos de
tesouros como Bichinho e Maria da Fé são uma constante
na Estrada Real. A cultura latente das comunidades da
Estrada Real é resultado de séculos de história, em que
foram mescladas tradições indígenas, europeias e africanas,
criando um estilo novo, pulsante e próprio de artesanato.
É possível citar dezenas de outros municípios onde
artesãos se unem à ideia da Estrada Real para fazer do
turismo uma forma de desenvolvimento sustentável dessas
localidades. Muitas vezes, organizações governamentais
também se envolvem no trabalho, como em Santana
do Riacho, com a ONG Consciência do Cerrado. Lá,
produtos cosméticos são feitos com vegetais da região, com
responsabilidade socioambiental.
Transformar essas experiências em produtos turísticos,
com o envolvimento das comunidades locais, é um dos
papeis do IER. Assumimos essa responsabilidade junto
com a cadeia produtiva do turismo e com nossos parceiros.
O fomento ao turismo na Estrada Real, realizado pelo
IER ao longo dos últimos 11 anos, permitiu o aumento do
número de viajantes no destino histórico. Esse trabalho, de
divulgação do roteiro e de envolvimento do empresariado
e das comunidades locais é, sem dúvida, importante para
a criação de novas oportunidades de negócios e para o
crescimento sadio e sustentável de centenas de empresas
e milhares de pessoas.
O artesanato, que destaquei neste artigo, é somado à
história, à cultura, à gastronomia, aos atrativos naturais,
como parques nacionais e estaduais, e ao turismo de
aventura e de negócios. São inúmeras as opções de viagem
na Estrada Real. Em todas elas, o IER enxerga bons negócios
e potencial para experiências positivas e inesquecíveis para
os viajantes.
Hoje, com o destino Estrada Real consolidado no Brasil
e até fora do país, entendemos que, como um bom artesão,
o IER esculpiu e deu forma a um destino completo. Para
conhecê-lo, basta procurar um agente de viagem ou acessar
o site www.estradareal.org.br. O convite está feito. Boa
viagem!
BRAZIL MADE BY HAND
it is almost impossible to define a trademark for the city’s
handicraft, due to the creativity of drawings and materials.
Much like Bichinho, the city draws the tourists’ attention
due to its shopping and cultural experiences.
Maria da Fé’s handicraft is also noticeable for using
vegetable materials, all collected in a sustainable fashion.
Pieces using banana tree fibers or liana are common.
IER’s work shows that treasures such as Bichinho and
Maria da Fé are frequent in Estrada Real.The latent culture
of Estrada Real’s communities is a result of centuries
of history, which merges native, European and African
traditions and results in a new, radiating and unique form
of handicraft.
One could mention dozens of other municipalities in
which artisans have joined the Estrada Real ideal of making
sustainable tourism. Non-governmental organizations
frequently join the work, as in Santana do Riacho, where
the Consciência do Cerrado NGO is active. There,
cosmetic products are made using regional vegetables,
always with socio-environmental responsibility.
Transforming these experiences into touristic
products, involving the local communities, is one of IER’s
roles. We take this responsibility along with the tourism
commodity chain and our partners.
For the last 11 years, IER has been encouraging tourism
in Estrada Real, leading to an increasing number of visitors.
The marketing, business industry involvement and local
communities’ involvement are all key in the creation of new
business opportunities, healthy and sustainable growth for
hundreds of companies and thousands of people.
This handicraft is linked to history, culture, gastronomy,
natural attractions, such as national and State parks, as well
as to adventure and business tourism. There are several
destination options in Estrada Real. In all of them, IER
sees opportunities for good business and unforgettable
experiences for travelers.
Today, as Estrada Real consolidates itself in Brazil and
abroad, we understand that, resembling a skilled artisan,
IER has crafted and molded a solid, complete destination.
In order to visit Estrada Real, please contact a travel agency
or access our website; www.estradareal.org.br. You’re
invited to come over. Have a nice trip!
artigo / article 5
Sacos de cimento viram
esculturas nas mãos da artesã
Cement bags turned into sculptures by the
hands of an artisan
Matéria-prima utilizada por Alice Mascarenhas é encontrada nos lixos da capital mineira
Alice Mascarenhas’ raw materials: gathered among the garbage of Belo Horizonte
POR / BY Carlos
Junio FOTOS / PHOTOS Walmir Monteiro
Quando nos deparamos com as catastróficas
notícias sobre emissão de CO2, degelo na Antártida, ou
ainda com reportagens sobre sermos ecologicamente
corretos, nos vemos longe desses contextos e indiferentes a
tais discussões. Contudo, ao conhecer o trabalho de pessoas
como Alice, percebemos que ações individuais, ainda que
simples e isoladas, além de nos darem um bom exemplo
de cidadania, transformando obrigações e deveres em
atividades lúdicas, podem fazer toda a diferença e estimular
outras pessoas a terem o mesmo pensamento.
Alice Mascarenhas Ribeiro de Paula, 51, é mineira
da pequena cidade de Entre Rios de Minas, localizada na
região das Vertentes, a 115 km de Belo Horizonte, mas
há alguns anos mora na capital do estado. Ela é artesã e
When facing news about CO2 emissions,
Antarctic ice melting, or even journalistic features about
being ecologically correct, we feel out of context and
indifferent to these discussions. However, after knowing
about works such as those performed by Alice, we realize
that individual actions, although simple and isolated, not
only give us a good example of citizensh ip, transforming
obligations and duties into playful activities, but can also
make all the difference and stimulate others to think alike.
Alice Mascarenhas Ribeiro de Paula, 51, was
born in the small city of Entre Rios de Minas, located in
the Vertentes region, 115 km from Belo Horizonte, but
she has been living in the State’s capital for a few years
now. She is an artisan and demonstrates her trade to be
more than a source of income, a practical demonstration
of Lavoisier’s law of conservation: “In nature, nothing is
6 mercado externo / foreign market
BRASIL FEITO A MÃO
faz de seu ofício muito mais que uma fonte de renda, uma
demonstração prática da Lei de Lavoisier: “na natureza
nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Alice faz
esculturas com formas humanas. Ela trabalha com material
reciclável, saco de cimento, isopor, espeto de churrasco,
jornal e saco de pão, sendo que destes, apenas o espeto
é comprado, os demais são encontrados na rua, mais
precisamente em lixos.
No início, para a fabricação do artesanato, Alice
usava papel kraft, que era comprado, mas foi a partir de
um curso que fez no Sebrae, em que foi questionada sobre
qual o tipo de material que usava para fazer suas peças, que
aprendeu a importância social de se utilizar material que
seria desperdiçado, sendo instigada a usá-lo. Antes ela já
havia usado sacos de cimento para fazer papel reciclável e por
esse motivo escolheu o mesmo material para trabalhar, pois
sabia da sua resistência e beleza quando bem tratado, além
BRAZIL MADE BY HAND
created, nothing is destroyed, everything is transformed.”
Alice makes sculptures with human forms. She works with
recyclable materials, cement bags, styrofoam, barbecue
spits, newspapers, and paper bags. Among these materials,
only the barbecue spits are bought, the others are found on
the streets, more precisely in the garbage.
In the beginning, Alice used to buy kraft paper
for her handicraft, but during a course at Sebrae she was
questioned about the type of material used in her pieces.
That’s when she learned about the social importance of
using waste material, and was instigated to use it. She had
used cement bags before to make recyclable paper, so she
started working on said material again, as she knew of its
resistance and beauty when well treated, in addition to her
awareness towards their being highly pollutant.
Since childhood, this artisan already demonstrated
to be skillful with her hands. She started making clay dolls,
mercado externo / foreign market 7
de ter a consciência de que eles são considerados altamente
poluentes.
Desde a mais tenra idade a artesã demonstrava
habilidade com as mãos. Começou fazendo bonecos com
massa de modelar e argila e, a partir dos oito anos, deu novos
rumos à criação manual, fazendo trabalhos com coquinhos
de açaí. Com eles ela fazia rostinhos de bonecos e usava as
folhas da fruta para fazer os cabelos.Também fazia trabalhos
com podas de árvore, com os galhos criava casinhas em
miniatura. Alice sempre gostou de usar objetos que seriam
jogados fora. “Queria dar continuidade aos objetos bonitos
que seriam desperdiçados, aproveitando coisas da natureza
para dar uma finalidade”, disse.
Casada e mãe de três filhos, Alice acredita estar no
apoio familiar o segredo do sucesso.Todos os filhos ajudam,
especialmente Gabriel Mascarenhas de Paula, 21. O marido,
Rogério Freitas de Paula, 55, nas horas de folga se diverte
enrolando canudos de folha de jornal. “O maior apoio
que damos é o incentivo”, afirmou o marido. A ajuda não
é apenas na fabricação, mas também no recolhimento da
matéria-prima utilizada em suas esculturas. O papel de
pão é mais fácil. Além dos que sua família consome, os
vizinhos também guardam para ela e até uma cunhada que
mora em Brasília criou o hábito de guardar papéis de pão
e trazer quando vem a Belo Horizonte. Quanto aos sacos
de cimento, Alice fica de olho em construções. Ela contou
que certa vez passava pela região Sul da capital quando se
deparou com vários sacos jogados numa caçamba. Não
pensou duas vezes, desceu do carro e recolheu todos. “Há
uma obra perto de casa, já estou vendo a hora de descer e
pegar os sacos”, acrescentou.
O processo de construção
Alice usa os papéis recicláveis para esculpir formas
humanas. Com muita graça ela consegue dar expressão aos
rostos modelados com papel de pão, contornos gestuais aos
corpos de jornal e bastante veracidade às roupas de sacos
de cimento.
Para a construção dos bonecos, Alice começa
enrolando dois canudos de folha de jornal; deles são feitas
as pernas, os braços e o tronco. Logo depois ela coloca, no
meio dos canudos, a cabecinha, que é feita de papel de pão
e isopor. Não há desenho de rosto nas cabeças dos bonecos.
Elas são, de fato, esculpidas. Os sacos de cimento são
lavados, e deles são feitas as roupas. Os detalhes são incríveis,
o papel parece tomar formas e texturas de vestuário.
8 mercado externo / foreign market
and, as an eight year old, took new directions towards
handcrafting, using Açaí coconuts. She would make doll faces
with them and use the plant’s leaves to make the hair. She
would also work with trimmed wood, using their branches
to make miniature houses. Alice has always liked using
objects that would otherwise be thrown away. “I wanted to
give continuity to beautiful objects that would be wasted,
giving a purpose to natural things”, she says.
Married and mother of three, Alice believes her
secret recipe is family support. All of her children help,
especially Gabriel Mascarenhas de Paula, 21. Her husband,
Rogério Freitas de Paula, 55, enjoy their spare time curling
newspapers into tube shapes. “Our biggest support is to
encourage each other”, states the husband. They not only
help during manufacturing, but also help gathering all raw
material used in the sculptures. Paper bags are the easiest.
Besides those consumed by the family, neighbors also save
them for her; even a sister-in-law who lives in Brasília created
the habit of storing paper bags, bringing them with her when
coming to Belo Horizonte. Concerning cement bags, Alice
keeps an eye on construction sites. She remembers once
having found several bags in the back of a truck, while passing
through the capital’s southern region. She didn’t think twice,
stepped out of the car and gathered them all. “There is a
construction site near my house, I’m getting ready to go
down there and pick up some bags anytime now”, she adds.
Production process
Alice uses recyclable paper to sculpt human forms.
Very delicately, she creates facial expressions with paper
bags, gestural body contours with newspapers and realistic
cement bag clothes.
When manufacturing the dolls, Alice starts by
curling two newspaper tubes; making the legs, arms and the
trunk out of them. She then places their small head, made
of paper bags and styrofoam, amidst the tubes. No facial
drawings are made on the dolls.They’re integrally sculpted.
The cement bags are washed and used in the making of
clothes. The details are incredible; the paper seems to take
realistic clothing shapes and textures.
The artisan says that after finishing each piece,
she applies a mixture on them so the objects won’t end up
eaten by moths and other insects. Finally, the sculptures are
painted with frosted varnish, which gives them a metallic
look, much similar to bronze sculptures.
BRASIL FEITO A MÃO
A artesã disse que, após terminar a construção
de suas obras, ela passa um preparado para evitar que os
seus objetos virem alimentos de traças ou outros insetos.
Para finalizar, as esculturas são pintadas com verniz fosco,
o que lhes confere uma aparência de objetos metalizados,
lembrando bastante esculturas feitas de bronze.
Cape’s help, the artisan is able to issue receipts and get
orientations concerning bureaucratic issues, besides having
her product exhibited in other countries. Her pieces have
already been sent to the United States and Spain, all thanks
to the institute. Through direct sales to consumers, she has
already sent products to Italy, Portugal, Greece and Argentina.
Made in Brazil
More than just money
A parceria com o Instituto Centro Cape começou
quando ainda residia em Entre Rios de Minas. Na época,
Alice trabalhava em uma cooperativa. Hoje seus produtos
são vendidos com o incentivo e apoio do Centro Cape. Por
meio dele a artesã emite notas ficais e tem orientações para
quaisquer questões burocráticas, além de ter sua mercadoria
exposta para outros países. Estados Unidos e Espanha já
foram rota para suas peças, isso por intermédio do instituto.
Com venda direta ao consumidor, ela já conseguiu que seus
produtos chegassem a Itália, Portugal, Grécia e Argentina.
Each piece’s commercial value varies according to
their size.The average size would be 40 cm, costing R$80.00
(~US$47.00). Her main customers are shopkeepers. She
receives orders from several States around the country –
from Alagoas, northeastern Brazil, to Rio Grande do Sul,
southernmost Brazil.
However,Alice Mascarenhas’ greatest encouragement
doesn’t come from money, but from the pleasure of creating.
To her, this is pure fun. “My greatest pleasure is being able to
closely emulate the human being using useless material; it’s
very satisfying to be able to make contours and shapes out of
materials people see as garbage”, says Alice.
She proudly talks about the fairs and exhibitions she
has attended. According to her, one of the biggest proofs
of recognition was seeing her name next to plastic artist’s
Yara Tupinambá, at a São Paulo exhibition, last year. In Belo
Horizonte, her pieces are exhibited at the Palácio das Artes,
besides, of course, in all fairs she attends.
Muito mais que o dinheiro
O valor comercial das peças varia de acordo com o
tamanho. A média, que seria de aproximadamente 40 cm,
é de R$ 80. Seus principais clientes são lojistas. Ela recebe
encomenda de vários estados do Brasil – de Alagoas ao Rio
Grande do Sul.
Contudo, o que estimula Alice Mascarenhas não é o
dinheiro, mas o prazer da criação. Para ela é uma diversão.
“O mais prazeroso é aproximar-se do ser humano usando
material inaproveitável; os contornos que crio com o que as
pessoas acham que é lixo me dão satisfação”, afirmou.
Com orgulho ela relata as feiras e exposições das
quais participou. Segundo ela, uma das maiores provas de
reconhecimento foi ver o seu nome ao lado do nome da
artista plástica Yara Tupinambá, numa mostra que ocorreu
ano passado em São Paulo. Em Belo Horizonte é possível
ver suas peças expostas no Palácio das Artes, além, é claro,
das feiras que participa.
Made in Brazil
The partnership with Instituto Centro Cape started
when she still lived in Entre Rios de Minas. At the time,
Alice worked in a cooperative. Today, her product sales are
encouraged and supported by Centro Cape. With Centro
BRAZIL MADE BY HAND
mercado externo / foreign market 9
ACESSÓRIOS DE PAPEL
Paper accessories
Revistas velhas são transformadas em colares, brincos, anéis e bolsas
Old magazines transformed into collars, earrings, rings and purses
POR / BY Natália
Mara
Servindo um suco de tamarindo em sua casa.
Foi assim que a aposentada Lenice Góes, 69 anos, começou
a conversa sobre o gosto por trabalhos manuais. Desde
menina ela leva jeito para o artesanato. Aos nove anos,
fez um sapatinho de tricô, utilizando agulha de bambu.
“Tinha uma senhora vizinha da minha casa que pendurava
os sapatinhos para vender, e eu queria fazer a mesma coisa”,
conta, lembrando da infância vivida na cidade de Água
Boa, interior de Minas Gerais. Foi assim que Lenice teve
inspiração para expor seus sapatinhos na venda de seu pai.
“Quando vendia, era uma alegria imensa.”
Hoje Lenice é casada, mãe de quatro filhos, avó de
seis netos e continua fazendo trabalhos manuais, mas
agora a matéria-prima é outra: papel de revistas. Há cerca
de 30 anos a artesã começou a trabalhar com o material
reciclável. “Assinava as revistas Veja e Isto É e acumulava
um monte de lixo, mas não sabia o que fazer, aí inventei
uma cortina”, conta orgulhosa. A cortina, que foi feita para
separar a cozinha da sala, foi produzida com encartes de
supermercado e durou 12 anos. Lenice levou um ano para
fazer a peça que agradou a todos que visitaram sua casa.
“Todo mundo que chegava aqui em casa ficava encantado
com a cortina. Eu me arrependo de não ter guardado de
lembrança”, diz com um pouco de nostalgia.
Da primeira peça, sobraram vários canutilhos, que
Lenice guardou e só utilizou tempos depois para produzir
alguns descansos de travessa. Esse trabalho resultou na
participação de Lenice em feiras de artesanato. Durante uma
FOTOS / PHOTOS Walmir
Monteiro
who lived by the house next to mine, and used to hang the
shoes for sale. I wanted do the same”, she says, recalling her
childhood in Água Boa, in the Minas Gerais countryside.
That’s how Lenice was inspired to sell little shoes at her
father’s store. “Whenever I sold one, I got extremely happy.”
Today, Lenice is married, mother of four, grandmother
of six and still makes handicraft, although she’s changed
her raw material: magazine paper. The artisan has been
working with recyclable materials for about 30 years. “I
had subscriptions to the Veja and Isto É magazines, and
accumulated a lot of garbage; not knowing what to do with
it, I invented a paper curtain”, she proudly says.The curtain,
used for separating the kitchen and the living room, was
made out of supermarket booklets and lasted for 12 years.
It took Lenice a year to finish the piece, which pleased
everyone who visited her house. “Everyone who came here
was fascinated by the curtain. I regret not keeping it”, says
the artisan, nostalgically.
Among the remains of this first piece, several beads
were kept and later used by Lenice to make pan pads. This
work resulted in Lenice’s participation in handicraft fairs. At
She was serving tamarind juice at home. That’s
how Lenice Góes, 69, retired, started talking about her
taste for handcrafting. She had shown handicraft skills since
she was a little girl. At the age of nine, she knitted small
shoes, using a bamboo needle. “There was this old woman
10 o mapa da arte / the map of art
BRASIL FEITO A MÃO
dessas feiras, a artesã recebeu de uma conhecida o desafio de
fazer uma bolsa utilizando os mesmos materiais. “Pensei que
não era capaz, mas a moça disse que o mais difícil eu já tinha
feito, que era a trama”, explicou. A partir desse incentivo,
a aposentada começou a fazer bolsas, balaios e baús. “Para
esconder o ímã do baú, fiz uma rodinha de papel e com isso
pensei: porque não criar bijuterias?”.
No início, a artesã não valorizava muito o seu trabalho
no que diz respeito ao preço das peças. “O papel é de graça
e o quilo da miçanga é muito barato”, explica. Lenice só foi
repensar os valores quando um cliente deixou escapar que
o preço das bijuterias estava muito baixo. A mão de obra
da artesã não era levada em consideração para calcular o
preço final. Hoje, o que mais valoriza o seu trabalho é sua
habilidade e a persistência para produzir. Alguns produtos
ela chega a ficar 12 horas confeccionando.
O que era uma distração para Lenice virou negócio. Os
trabalhos da aposentada já foram para outros países, como
França, Itália e Portugal. “A filha de uma amiga foi para a
Inglaterra e levou uma bolsa que fiz. Chegando lá, a bolsa
fez o maior sucesso e recebi encomendas”, diz orgulhosa.
Ela exporta há cinco anos, e toda a exportação é feita pelo
BRAZIL MADE BY HAND
one of these fairs, the artisan was challenged by a friend to
make a purse using the same materials. “I thought I couldn’t
do it, but she said I had done the most difficult part, the
weft”, she explains. After that encouragement, she started
making purses, hampers and chests. “In order to hide the
chest magnets, I had to make a small paper wheel, then I
thought: why not make imitation jewelry?”
At first, the artisan didn’t value her work too much,
in what regards the pieces’ prices. “The paper is free and a
kilogram of beads is very cheap”, she explains. Lenice only
reevaluated the values when a customer unintentionally
mentioned that the price of her imitation jewelry was too
low. The artisan’s labor wasn’t being taken into account in
the final price. Today, her work is most valued for her skills
and creative persistence. Some products require up to 12
hours of work.
What once was a distraction became Lenice’s business.
This pensioner’s works have already reached other countries,
such as France, Italy and Portugal. “The daughter of a friend
of mine went to England and took one of my purses. The
purse became a huge success there, and I received a few
requests”, she proudly says. She’s been exporting for five
years now, and all her exportations are made through
o mapa da arte / the map of art
11
Centro Cape/Mãos de Minas. “Não posso me queixar do
trabalho, porque dá para melhorar o rendimento no final
do mês.”
A construção das peças
É num pequeno quarto, em sua casa, na região do
bairro Sagrada Família em Belo Horizonte (MG) que Lenice
trabalha durante horas. “Alguns dias paro só para almoçar.
Meu marido traz um suco e uma fruta. Coloco muito amor
naquilo que faço”, diz.
Em seu ateliê, todo o material é guardado de forma
muito organizada. As revistas ficam empilhadas em uma
prateleira, as rodinhas dentro de caixas, de acordo com o
tamanho, e os canudinhos dentro de garrafas pets. “Sempre
que tenho um tempinho, estou fazendo canudinhos”,
conta. Algumas ferramentas da artesã são feitas na base
do improviso. Ela conta que no início machucava as unhas
fazendo o acabamento das peças. “Meu marido pegou um
fio de cobre e colocou dois alfinetes de costura. Pronto.
Não precisava mais usar a unha”, explica. Também utiliza
um cano de antena para que as rodinhas fiquem do mesmo
tamanho. “Uso materiais recicláveis em todo o processo”,
acrescenta. Máquina de costura e furadeira também auxiliam
no trabalho de Lenice.
Centro Cape/Mãos de Minas. “I can’t complain about my
work, because it gives me an extra income by the end of
the month.”
Manufacturing the pieces
In a small room, at home, in the Sagrada Família
neighborhood in Belo Horizonte (MG), Lenice works for
several hours. “Some days I only take lunch breaks. My
husband brings me some juice and a fruit. I put a lot of love
into my work”, she says.
In her studio, all materials are kept very neatly
organized. The magazines are piled on a shelf, wheels are
stored inside boxes, sorted by size, and straws kept inside
PET bottles. “Whenever I have some spare time, I spent it
making straws”, she tells. Some of the tools are improvised
by the artisan herself. She tells that, in the beginning, she
would hurt her nails while finishing the pieces. “Then
my husband combined a copper wire with two pins. And
that was it. I didn’t need to use my nails anymore”, she
12 o mapa da arte / the map of art
BRASIL FEITO A MÃO
Todo o processo é feito manualmente. O trabalho
consiste em dobrar as folhas de revistas cuidadosamente,
cortar as tiras com uma faca bem amolada, criar os
canudinhos com uma agulha de tricô, fazer as rodas e, por
último, passar a resina. Depois disso é só montar os colares,
os anéis, os brincos, as pulseiras e as bolsas. O acabamento
com a resina facilita o uso dos acessórios, pois faz com o
que o papel não desmanche e dure mais tempo.
Lenice conta com a ajuda de mais duas pessoas, que
fazem os canudinhos e as rodinhas em casa. Mas, para
chegar ao resultado esperado pela artesã, ela ensinou
detalhadamente a forma de se fazer. “Gosto de ajudar os
outros, é gratificante ver o que o artesanato proporciona.”
O papel
O papel que leva no mínimo três meses para se
decompor no meio ambiente, nas mãos de Lenice se
transformam em acessórios que duram muitos anos. Além
do papel, a artesã usa miçangas de madeira e ossos. “Acho
que esses materiais combinam com o papel”, conta.
O trabalho com as revistas começou como uma forma
de dar um destino melhor ao volume de lixo provocado
pelo papel. Para Lenice, trabalhar utilizando o papel como
matéria-prima é uma maneira de ajudar um pouco o planeta.
“Quando fiz a primeira peça, naquela época não havia
consciência ecológica. Hoje as pessoas estão mais envolvidas
com essas questões”, conta.
A preocupação de Lenice quanto ao destino do
amontoado de revistas é tão grande que até mesmo as
embalagens das peças são feitas de papel. “Faço sacolinhas
e embrulhos usando as folhas de revistas. Passo na máquina
de costura e fica muito delicado”, relata. No início, a
aposentada usava muito material de plástico junto com o
papel. “Agora valorizo o que vem da terra, porque o papel
é da terra, são árvores que devemos preservar.”
A artesã conta que uma vez uma cliente pediu que
fizesse várias peças com determinas cores, mas para isso
Lenice teria que comprar papel. “Se for para comprar o
papel não faço. A intenção maior é tirar o papel do lixo”,
explica. Comprar papel ao invés de tirá-lo do lixo é ir contra
seus ideais. Lenice diz que é apaixonada pelo artesanato e
gosta muito do que faz. “Sempre que termino uma peça,
coloco em mim, olho no espelho e digo: como ficou bonito”,
conta sorrindo.
BRAZIL MADE BY HAND
explains. She also uses an antenna pipe in order to make
wheels with equal sizes. “I use recyclable materials during
the entire process”, she adds. Lenice also uses a sewing
machine and a drill.
The entire process is handmade. The process consists
of carefully folding the pages of a magazine, cutting strips
with a very sharp knife, creating straws using a knitting
needle, making wheels, and, finally, applying resin. After
that, I only need to assemble the collars, rings, earrings,
bracelets and purses. Finishing the pieces with resin makes
the accessories more usable, since it keeps the paper from
breaking apart, increasing durability.
Lenice is helped by two people, who also make
straws and wheels at their homes. However, she had to
meticulously teach them how to make them in order to
achieve the expected results. “I like helping others; it is
gratifying to see what handicraft can do.”
The paper
Paper takes at least three months to decompose in
the environment, but in Lenice’s hands they turn into
accessories that last for many years. Besides paper, the
artisan uses beads made of wood and bones. “I think these
materials are a great match with paper”, she says.
Her work with magazines started as a way of better
employing paper garbage. For Lenice, by working with
paper as a raw material, one can help the world. “When I
made my first piece, there wasn’t so much environmental
awareness going around. Nowadays, people are more
involved with these issues”, she says.
Lenice’s preoccupation about the destination of the
magazines is so huge that even the pieces’ packages are
made out of paper. “I make bags and packages out of
magazine pages.Then I use the sewing machine and it gets
really delicate”, she says. At first, she used a lot of plastic
within the paper pieces. “Now, I value what comes from the
earth, and paper does, they’re trees that we must preserve.”
The artisan tells that a customer once asked her to
make several pieces with specific colors, but, in order to
do so, she would have to buy paper. “If I have to buy paper,
I won’t do it. My biggest purpose is taking the paper out of
the trash”, she explains. Buying paper instead of picking it
up from the garbage goes against her ideals. Lenice says she
loves handicraft and enjoys what she does. “When I finish a
piece, I wear it, look at the mirror and say to myself: how
beautiful it looks!”, says the artisan, smiling.
o mapa da arte / the map of art 13
FLORES DE GARR AFA PET CATIVAM
CONSUMIDORES E PRESERVAM O
MEIO AMBIENTE
Flowers made of PET bottles fascinate
customers and preserve the environment
POR / BY Karina
Motta
FOTOS / PHOTOS Walmir
Monteiro
A forte consciência ecológica aliada ao
Thaís Tavares Macedo’s strong ecological
olhar perfeccionista de Thaís Valadares Macedo fazem com
que a artesã transforme garrafas PET em lindas e delicadas
flores que são aplicadas em artigos de decoração e bijuterias.
O trabalho começou como uma válvula de escape para o
estresse.Thaís Macedo aprendeu a técnica em 1999, quando
voltou da Alemanha depois de ter passado seis anos no país
para estudar. Sua mãe estava doente, em estado terminal,
e Thaís resolveu se dedicar ao artesanato como distração.
“Foi a forma de terapia que encontrei”, conta.
Thaís destaca que a consciência ecológica na Alemanha
é muito forte. “Creio que seja a maior de toda a Europa. Há
um zelo com produtos ecologicamente corretos, artesanato.
Eles se preocupam com a saúde, em oferecer alimentos
sem agrotóxico e promovem uma ordenação do lixo muito
bacana, com os contêineres de coleta seletiva na porta de
cada residência. A cidade é toda limpa. Estão bem à frente
do Brasil, e isso me contagiou”.
A artesã morou seis anos na Alemanha e um ano na
Índia. Ao comparar os três países,Thaís relata que percebeu
uma enorme diferença. “Um é o oposto do outro. A Índia
é muito carente. Pude ver que, em termos de consciência
ecológica, o Brasil está no meio do caminho. Não tão ruim,
nem tão bom”, afirma.
Estudante de Artes Plásticas, a artesã se forma no final
de 2011. Para ela, o curso e a experiência de ter vivido no
exterior refinaram seu olhar para uma série de coisas. “No
trabalho artesanal que faço, a modelagem à mão é muito
minuciosa e o acabamento, delicado. Sou muito elogiada
por isso.Talvez seja mesmo fruto do olhar de artista plástica,
da cultura do exterior em que se faz tudo muito benfeito
e também do meu olhar perfeccionista”, diz.
awareness and perfectionism is what makes this artisan turn
PET bottles into beautiful, delicate flowers used in decor
articles and imitation jewelry.
The work started as an escape valve for stress. Thaís
Macedo learned the technique in 1999, when returning
from Germany after studying there for six years. Her
mother was going though a terminal illness, soThaís decided
to dedicate herself to handicraft as a distraction. “It was a
form of therapy for me”, she tells.
Thaís highlights that ecological awareness in Germany is
very strong. “I believe it is the highest in all Europe there is a
preference for ecologically correct products and handicraft.
They worry about health, about having non-toxic food
and promote an advanced garbage selection, with specific
containers by the door of each house.The city is completely
clean. They are way ahead of Brazil, and that inspired me”.
The artisan lived six years in Germany and one year in
India.When comparing these three countries,Thaís says she
realized a big difference. “One is the opposite of the other.
India is a very lacking country. I realized that, regarding
ecological awareness, Brazil is in the middle. It isn’t bad
or good”, she states.
Being a Visual Arts student, the artisan will graduate
by the end of 2011. To her, the course and the experience
of living abroad refined her vision towards several things.
“My handicraft requires meticulous hand modeling and
delicate finishing. I receive a lot of compliments for that.
Perhaps it is indeed fruit of my vision as a plastic artist, the
foreign culture of doing things well, and my perfectionism”,
she says.
14 o mapa da arte / the map of art
BRASIL FEITO A MÃO
Corte
Depois de muita pesquisa em busca de uma forma mais
fácil de cortar e modelar a PET, Thaís conseguiu desenvolver
um equipamento de corte, que já patenteou. Agora, ela
pretende disseminar o know-how desse equipamento para
empresas e pessoas interessadas.
Mensagem Educativa
Todas as peças produzidas por Thaís possuem um
elemento educativo. Elas são acompanhadas de uma tag –
pequena etiqueta com texto explicativo sobre a procedência
do material, que é a PET, e o tempo que a garrafa leva para
ser biodegradada pela terra, ou seja, 500 anos.
Exportação
Com o apoio do Projeto Brazil Handicraft, do Centro
Cape, os artigos de decoração e bijuterias feitos com garrafa
PET já foram exportados para a Áustria, Estados Unidos,
França, Inglaterra, Espanha, Portugal, Suíça, Canadá e
Alemanha. Hoje, mantém a exportação para a Áustria.
De acordo com a artesã, as vendas para o exterior
apresentam melhores condições de pagamento, e a
aceitação dos produtos é boa. “O valor agregado é maior.
Eles consomem com a cabeça voltada para a consciência
ecológica. No Brasil, isso normalmente não é relevante”,
afirma.
Thaís Macedo participou, ainda, das duas edições do
Salão do Artesanato, que é promovido pelo Centro Cape,
com apoio da Apex-Brasil. “O Salão do ano passado foi
muito bom. Conquistei um excelente cliente em Berlim, na
Alemanha. E esse ano ele já entrou em contato novamente.”
As bijuterias têm mais saída para o exterior pela questão
do transporte, já que o volume é bem menor em relação
Cutting
After extensively researching for an easier way to cut
and mould PETs,Thaís developed a cutting tool, which she
patented. Now, she wants to disseminate this tool’s knowhow for interested companies and people.
Educational Message
All pieces produced by Thaís share an educational
element. They come with tags about the material’s origin
and the time it takes for the bottle to biodegrade, which
is 500 years.
Exportation
Supported by the Brazil Handicrafit Project, by Centro
Cape, the decor articles and imitation jewelry made with
PET have been exported to Austria, the United States,
France, England, Spain, Portugal, Switzerland, Canada
and Germany. Currently, she is still exporting to Austria.
According to the artisan, selling abroad has better
payment conditions and good product acceptance. “The
aggregate value is higher. They consume with ecological
awareness in mind. In Brazil, it usually isn’t relevant”, she
says.
Thaís Macedo attended two editions of the Salão do
Artesanato, promoted by Centro Cape and supported by
Apex-Brasil (Brazilian Trade and Investment Promotion
Agency). “Last year’s Salão do Artesanato was very good.
BRAZIL MADE BY HAND
o mapa da arte / the map of art 15
aos objetos de decoração.
No Brasil, as peças produzidas pela artesã podem ser
encontradas na loja da Mãos de Minas, em Belo Horizonte.
Os produtos também já foram vendidos para Rio de Janeiro,
São Paulo e Manaus. “O meu negócio é voltado para o
atacado”, diz.
Trabalho
Atualmente,Thaís dá aulas de alemão e possui um ateliê
para desenvolver seu trabalho com a PET. Há 10 anos a artesã
trabalha com o material reciclável. Segundo ela, a área de
brindes também é interessante.
Cerca de 1.000 peças são produzidas mensalmente. Os
preços das bijuterias variam de R$ 4,00 a R$ 38,00. São
anéis, brincos, colares, pulseiras, cintos, prendedores de
cabelo e broches. Thaís confessa que também gosta muito
de fazer terços. “É preciso diversificar. Agora, vou investir
16 o mapa da arte / the map of art
I’ve found an excellent customer from Berlin. He has
already contacted me again this year.”
The imitation jewelry sells better for the foreign
market because of transportation, since the volume is very
small in comparison to decor objects.
In Brazil, the artisan’s pieces can be found at the Mãos
de Minas store, in Belo Horizonte. The products have also
been sold in Rio de Janeiro, São Paulo and Manaus. “I’m
focused on wholesale”, she says.
Work
Currently, Thaís teaches German and has a studio in
which she develops her PET work. The artisan has been
working with recyclable material for 10 years. According
to her, the gift market is also very interesting.
She produces around 1,000 pieces monthly.The prices
for imitation jewelry vary from R$4.00 (~US$2.35)
BRASIL FEITO A MÃO
em uma linha mais fina e pretendo investir em acessórios
para noivas”, revela.
Thaís conta hoje com a ajuda de quatro pessoas para
desenvolver o trabalho. A remuneração deles é feita de
acordo com o volume produzido. Geralmente, recebem
entre meio e um salário mínimo por mês.
“Aonde puder aplicar flores, que é o formato
predominante, eu aplico.” A artesã trabalha com diversos
formatos de flor e produz rosas, margaridas e orquídeas.
A primeira peça produzida foi uma florzinha de cabelo.
Atualmente, com o dinheiro proveniente da venda das
peças, Thaís consegue pagar apenas os materiais e gastos
fixos, como o aluguel do ateliê e as pessoas que a ajudam.
“Reinvisto em material como metais de bijuteria, miçangas,
tecidos, tinta, solvente e também na manutenção do
maquinário. O custo da produção de peças com material
reciclado não é zero como muitos pensam”, afirma.
Para adquirir a matéria-prima de seu trabalho, Thaís
firmou parceria com catadores da região onde fica seu
ateliê. Cerca de 500 garrafas são adquiridas por mês pela
artesã. Por meio dessa parceria e da mensagem educativa
em suas peças e, ainda, contribuindo para a preservação do
meio ambiente ao reciclar as PET, a artesã Thaís Macedo
agrega valor às peças que produz. “Meu trabalho possui
uma penetração social muito grande e percorre todo um
caminho que o faz se tornar especial”, conclui.
BRAZIL MADE BY HAND
to R$38.00 (~US$22.35). There are rings, earrings,
necklaces, bracelets, belts, hair clamps and pins. Thaís
confesses that she also loves to make rosaries. “Diversifying
is mandatory. Now I’m investing in a more refined line and
I intend to work with bridal accessories”, she reveals.
Currently, Thaís counts on four people to help her in
product development. Their remuneration is calculated
according to their production. They usually earn between
half and one Brazilian minimum wage a month.
“Wherever I can put flowers, I do, since it is the
predominant shape.” The artisan works with several shapes
of flowers and produces roses, daisies and orchids. Her first
piece was a little flower-shaped hairpin.
Today, with the income from her work, Thaís can
only pay material expenses, fixed expenditure and
other expenses, such as studio rent and the assistants’
remuneration. “I reinvest in materials, such as metals for
imitation jewelry, beads, tissue, ink, solvents, as well as in
tool maintenance. The production costs for pieces made of
recycled material isn’t zero as many would think”, she states.
In order to gather raw material, Thaís established a
partnership with “garbage pickers” from the studio’s region.
The artisan acquires about 500 bottles per month.Through
this partnership, the educational message in her pieces
and her contributions for environmental preservation, the
artisan adds value to her pieces. “My work has great social
acceptance and its path makes it something special”, she
concludes.
o mapa da arte / the map of art 17
REUTILIZANDO
A FIBR A DA BANANEIR A
Reusing banana tree fibers
Reciclagem começa usando o caule da planta que já deu fruto
Starting the recycling process by using stems from post-mature plants
POR / BY
Guyanne Araújo
FOTOS / PHOTOS Divulgação
Sol, mar, plantações, pousadas e apenas um
mercado compõem o cenário de uma vila tranquila onde
moram 700 pessoas no litoral sul da Bahia. Foi no povoado
denominado Santo André, distante 706 km de Salvador,
capital da Bahia, que a mineira Leila deTassis Andrade Paixão
se instalou e virou artesã. Reciclando o tronco da bananeira,
Leila transforma as fibras em papéis e posteriormente em
luminárias, cadernos, agendas e demais produtos há 11 anos.
Hoje, a artesã, que mora em uma pousada com seu marido,
trabalha no seu próprio ateliê vendendo seus produtos para
várias cidades do país em lojas e feiras.
Apesar da tranquilidade do povoado, Leila define
que sua vida é extremamente agitada. “Vinte e quatro horas
é pouco para mim. O trabalho me absorve e me completa.
No ateliê eu sinto como se estivesse em um lugar para
Sun, sea, vegetation, inns, and a single market
make the scenery of a peaceful village with 700 inhabitants
on the southern coast of Bahia. In this settlement, named
Santo André, 706 km from Salvador, the Bahia State capital,
the mineira (native Minas Gerais State citizen) Leila de
Tassis Andrade Paixão settled in and became an artisan.
By recycling banana tree trunks, Leila has been turning
fibers into paper and then into light fixtures, notebooks,
diaries, organizers and other products for 11 years. Today,
the artisan lives in an inn with her husband, works at her
own studio and sells her products across the country at
stores and fairs.
Despite the settlement’s tranquility, Leila defines
her life as being extremely non-stop. “Twenty four hours are
not enough for me. I feel consumed and completed by my
18 artesanato: matéria prima / handicraft: raw material
BRASIL FEITO A MÃO
relaxar; m o trabalho para mim não é pesado. Gosto muito
da cidade, do meu trabalho, da minha vida”, destaca. Ela
conta que, às vezes, quando sonha com uma luminária nova,
acorda e desenha a criação para assim poder colocar em
prática. De ideia em ideia nasceram mais de 50 produtos,
todos confeccionados a partir do papel da fibra de bananeira.
O processo da reciclagem começa com o corte da
bananeira, mas Leila destaca que é imprescindível esperar
a planta dar o fruto primeiro, por dois motivos: o primeiro
é por causa do próprio fruto em si, e o segundo é porque
o caule tem que estar pronto, “maduro”, para a realização
do processo de feitura do papel. Caso contrário, o papel
vira uma borra e não encontra o ponto correto. “É um
trabalho ecologicamente correto. Esperamos dar o cacho
primeiro para depois cortar o tronco, mesmo porque a
planta só dá um cacho e depois não é mais aproveitada, pois é
BRAZIL MADE BY HAND
work. In the studio I feel like I’m relaxing, working doesn’t
feel like a weight on my back. I love the city, my work, and
my life”, she points out. She states that, sometimes, when
dreaming of a new light fixture, she wakes up and sketches
its design, so she can put it into practice. This chain of ideas
resulted in more than 50 products, all made of paper from
banana tree fibers.
The recycling process starts by cutting down a
banana tree, although Leila highlights that it is indispensable
to wait for the plant to produce fruits, for two reasons: First,
because of the fruit itself. Second, because the stem has to
be ready, “grown”, for manufacturing paper. Otherwise,
the paper turns into sludge and doesn’t end up right. “It is
an eco-friendly work. First, we wait for the bunch to grow
and then cut down the trunk, because the bunch only grows
once and after that the plant has no use, since we need to
artesanato: matéria prima / handicraft: raw material 19
preciso replantar a muda para continuar o ciclo”, comenta.
“Damos outra finalidade ao produto que poderia ser lixo
e abrigar cobras e escorpiões. Reaproveitamos, recriamos
e reciclamos”, acrescenta.
Após o corte, pode-se esperar até no máximo
três dias para se começar o tratamento com o caule em
pé, para que ele não entre em processo de decomposição.
Leila conta que é retirada a primeira casca, então o tronco
é picado e triturado e deixado de molho por dois dias. Após
essa primeira parte, passa por um cozimento e é lavado;
passa pelo clareamento e é lavado novamente, até chegar
na parte de pigmentação antes de se fazer o papel, passando
por uma última lavagem.
As fibras são colocadas em um tanque de água
e quando a tela sobe forma-se o papel; espera-se apenas
a secagem para então se poder manusear e constituir os
produtos. “Todas as vezes que é retirada uma folha de papel,
meço o PH da água para deixá-la neutra novamente e evitar
o mofo nos produtos. Nenhuma folha minha mofou em
quase 12 anos de trabalho”, garante a artesã.
Leila conta que a matéria-prima é encontrada
na própria região. Isso porque, como há muita plantação
de cacau que cresce sob sombra, as bananeiras são
plant the seedling again in order to maintain the cycle”,
she comments. “We give a purpose to a product that would
become garbage, sheltering snakes and scorpions. We
readapt, recreate and recycle”, the artisan adds.
After cutting it down, it might take up to three
days to treat the stem, which must be still standing, so it
won’t decompose. Leila says that the shell is removed first,
and then the trunk is shredded, crushed, and soaked for
two days. After this first stage, it is boiled and washed; then
bleached and washed again.The process goes over and over
until it is ready for pigmentation, and, before making the
paper, the trunk is washed one last time.
The fibers are placed in a water tank and, when the
deckle rises, the paper is formed; after the drying period,
it can be handled in order to make products. “Every time
a sheet of paper is removed, I measure the water pH in
order to keep it neutral and avoid mold. Not a single paper
I’ve made has gotten mold in almost 12 years of work”,
guarantees the artisan.
Leila says the raw material can be found around
the region. The reason is that many cocoa tree species
grow under the shade, so banana trees are grown
together in order to provide the necessary shade for
20 artesanato: matéria prima / handicraft: raw
BRASIL FEITO A MÃO
plantadas juntas, formando a sombra necessária para o
desenvolvimento da outra fruta. Assim, em todo o povoado,
quando as pessoas que cultivam o produto vão cortar o
pé após colher o cacho da banana perguntam se Leila se
interessa em comprar. “A cada x troncos, pago um valor.
É como se eles cuidassem da matéria-prima para mim. Há
essa cumplicidade, e, com a gratificação da contribuição que
dou a eles, eles podem fazer uma feira; e o que ia ser lixo,
transforma-se em comida para essas pessoas”, diz.
Ao longo do ano Leila se dedica ao trabalho manual
e divide seu tempo entre vindas a Belo Horizonte para
divulgar o trabalho em feiras e bazares e a pousada. “Vou a
Belo Horizonte todo mês a trabalho e também visito casas
de clientes que pedem para fazer a decoração”, alega. “Não
posso esperar acontecer, divido os meses melhores entre as
duas cidades. Na pousada, o movimento maior é ao final do
ano, ao contrário de BH. Como tenho minhas contas para
pagar, encho meu carro de produtos e ando 1.200 km até
a capital mineira”, completa. Outras cidades como Natal,
Búzios e Salvador também vendem os artesanatos de Leila
em algumas lojas, além de seus clientes particulares e os
hóspedes da pousada.
Quando sua filha vai visitá-la no recesso da
faculdade, ela aproveita e traz para Belo Horizonte algumas
encomendas também. “Sempre quando vou a BH passo na
loja da Mãos de Minas para dar uma assistência.Vejo se está
faltando algum produto”, comenta. Além das lojas, toda vez
que pode participar de feiras e bazares vai em frente. “Vejo
o valor do estande, quando dá para participar, sempre vou”,
diz. “Só em novembro vou participar de duas”, acrescenta.
A mudança
The change
Leila Tassis se formou em 1989 em Terapia
Ocupacional na Faculdade de Ciências Médicas de Belo
Horizonte e por um ano e meio trabalhou na profissão
escolhida. Tudo mudou quando sua irmã que trabalhava
no Banco do Brasil foi transferida para a cidade de Porto
Seguro, e Leila decidiu ir junto para ajudá-la a se estabelecer.
“Na época, ela tinha uma criança de dois anos e eu aproveitei
minhas férias para dar uma força para ela se estabilizar até
encontrar uma empregada de confiança”, conta. Elas, então,
ficaram morando em Arraial d’Ajuda, que fica a 30 km de
Porto Seguro.
Quando Leila estava pensando em voltar, conheceu
seu atual marido e acabou ficando por lá. “Fui para ajudar
minha irmã e fiquei porque me casei”, destaca. Seu
marido tinha a ideia de construir uma pousada em Santo
BRAZIL MADE BY HAND
cocoa development. Thus, all around the settlement, the
cultivators harvest their fruits and, before cutting down the
trees, they ask Leila if she is interested in buying them. “We
settle on a price for every x trunks. It works as if they took
care of the raw material for me.There’s a true involvement,
and with the reward I give them for their contribution, they
can buy food; and what would otherwise become garbage
turns into meals for them”, she says.
Over the year, Leila dedicates herself to handicraft
and divides her time between traveling to Belo Horizonte,
showing her work at fairs and bazaars, and managing the inn.
“I go to Belo Horizonte every month to work, and clients
also ask me to decorate their houses”, she states. “I can’t
just wait for things to happen, I pick each city’s best months
and divide my time between them. At the inn, most of the
activity happens at the end of the year, which is opposite to
Belo Horizonte. Since I have bills to pay, I fill the car with
products and drive 1,200 km to Belo Horizonte”, adds the
artisan. Other cities, such as Natal, Búzios and Salvador also
sell Leila’s handicraft in stores, besides some preferential
customers and guests from the inn.
When her daughter visits her during college recess,
she takes the opportunity to deliver some requests from
Belo Horizonte. “Every time I go to BH I visit the Mãos de
Minas store and give them some assistance. I check if they
are in need of products”, she comments. Beside the stores,
she takes every opportunity of participating in fairs and
bazaars. “I check the stand price, and when I can, I always
go for it”, she says. “In November I’m going to participate
in two”, she adds.
Leila Tassis graduated in the Occupational Therapy
class of 1989, at the Medical Sciences University of
Belo Horizonte (Faculdade de Ciências Médicas de Belo
Horizonte), and for a year and half worked in her chosen
profession. Everything changed when her sister, who
worked at Banco do Brasil, was transferred to Porto Seguro
and Leila went along to help her settling in. “At that time,
she had a two-year-old and I used my vacation to support
her while reestablishing herself, until she could find a
trustworthy housekeeper”, she tells. They finally settled in
Arraial d’Ajuda, 30 km from Porto Seguro.
When Leila thought about coming back, she met
her current husband and ended up staying. “I left to help
my sister and stayed to get married”, she points out. Her
husband had the idea of building an inn in Santo André, a
artesanato: matéria prima / handicraft: raw material 21
André, local próximo, e logo a colocou em prática. Após os
apartamentos construídos, Leila e o marido passaram a cuidar
da pousada. Foi assim por quase 10 anos. E então ampliaram
as acomodações com a construção de chalés, que também
fazem parte da pousada. Foi nessa época que a atual artesã
quis deixar os novos chalés mais charmosos e disse: “Deixa
que eu faço as luminárias“, conta.
Leila formou sua família e teve dois filhos, que
atualmente fazem faculdade em Belo Horizonte e que,
como sua irmã, também não moram mais na Bahia. “Minha
irmã se aposentou e voltou para perto de Belo Horizonte,
Divinópolis. Ela completou o ciclo dela aqui e voltou porque
sua filha já estava com a idade de fazer faculdade e minha
irmã resolveu acompanhá-la”, conta.
O artesanato
Assim como a produção, o lucro também não é
contabilizado por Leila, porque há meses do ano em que
vende muito, como no período das férias, mas há outros em
que vende pouco. “No final do ano, as seis pessoas que me
ajudam ficam comigo direto, mas há meses em que tenho de
dispensá-las e fico sozinha”, alega.
close location, and soon he put it into practice. After building
the apartments, Leila and her husband started managing the
inn. This was their life for almost 10 years. They expanded
the accommodations by building cottages, which were also
part of the inn. That’s when the future artisan decided to
charm up theirs brand new cottages, saying: “Let me do the
light fixtures”, she tells.
Leila constituted a family and had two children,
who are now college students in Belo Horizonte and, like
her sister, don’t live in Bahia anymore. “My sister retired and
returned to Divinópolis, near Belo Horizonte. She finished
her cycle here, and returned because her daughter was old
enough to start college, so my sister decided to follow her”,
she tells.
Handicraft
Leila doesn’t calculate production or profits, because
she sells a lot during certain months, such as holidays, but
doesn’t sell much on other months. “At the end of the year,
my six helpers stay with me all the time, but during certain
months I need to dismiss them and work alone”, she states.
22 artesanato: matéria prima / handicraft: raw material
BRASIL FEITO A MÃO
Leila afirma que em nenhum momento se
arrependeu de trocar de profissão. “Tive muitos presentes.
Encontrei o amor da minha vida e meu trabalho e tenho um
retorno financeiro. Tive meus filhos e trabalho com o que
eu gosto”, diz. Ela garante que não tem do que reclamar:
“poderia fazer algo diferente para melhorar o que já fiz,
mas não para não fazer”, completa. A artesã sente hoje que
fez o curso de Terapia Ocupacional e ele a ajuda trazendo
benefícios para ela e para as pessoas que a ajudam no ateliê.
“Tenho seis pessoas que me ajudam, e elas fazem terapia
com elas mesmas”, acrescenta.
Ela fica radiante ao transformar o que está em sua
volta. “Dou minha parte de contribuição para um planeta
melhor. Para mim o artesanato é um presente de Deus. A
reciclagem preenche meu dia e passo isso para as pessoas que
trabalham comigo. A arte é uma chance na vida. Sobrevivo
do meu trabalho e ajudo outras pessoas ensinando também”,
revela.
Além de toda a produção, a artesã conta que o
papel de fibra de bananeira é um trabalho infinito e que,
se der asas à imaginação, cada dia cria novos produtos. “Já
revesti paredes com o papel colorido”, conta. O fato a
que a artesã se refere foi em 2007, durante a Casa Cor do
Rio de Janeiro. “Trabalhava com a empresa Tudo em Casa
quando o pessoal da organização estava procurando um
revestimento para quarto de menina e, como eu vendia os
papéis de bananeira para lá, eles me descobriram. As cores
usadas no quarto foram verde limão, lilás e branco. Então
eu fui lá e orientei a colagem”, lembra. Ela ressalta que foi
muito bom saber que fez parte do projeto daquele ano.
BRAZIL MADE BY HAND
Leila claims that she has never regretted changing
her profession. “I’ve been blessed many times. I’ve met the
love of my life, discovered my life’s work and managed to
generate income. I’ve had my children and I work with
what I like”, she says. She guarantees that there is nothing
to complain about: “I could change some things in order
to improve what I’ve done, but I wouldn’t avoid doing
something again”, she adds. The artisan feels like her
Occupational Therapy degree still helps nowadays, bringing
benefits to her and the people who help at the studio.
“There are six people who help me and they are their own
therapists”, she adds.
She glows when transforming the things that
surround her. “I’m giving my share for a better world. For
me, handicraft is a gift from God. Recycling fills my day
and I transfer that to the people who working with me. Art
is a gift of life. I live off my own work and help others by
teaching them”, Leila reveals.
Besides the production, the artisan says that making
paper from banana tree fibers is a never-ending work,
which, if lead by imagination, creates a new product every
single day. “I’ve covered walls with colored paper”, she tells.
The artisan refers to an episode in 2007, during the Casa
Cor event, in Rio de Janeiro. “I used to work for the Tudo
em Casa company and the organization crew was looking
for coatings for a girl’s bedroom; since I used to sell banana
tree paper for them, they found me.The colors were lemon
green, lilac and white. So, I went there and inspected the
collage”, she remembers. Leila highlights how good it was
to take part in the project that year.
artesanato: matéria prima / handicraft: raw material 23
MÓVEIS ECOLÓGICOS
ENCANTAM À PRIMEIR A VISTA
Ecological furniture that fascinates
at first sight
PneusVelhos são usados com muita criatividade pelas artesãs
Artisans combine old tires and great creativity
POR / BY
Maristella Medeiros
FOTOS / PHOTOS Walmir
Monteiro
Talento, criatividade e consciência ecológica.
Talent, creativit y and environmental
Esta combinação fez com que as irmãs Lúcia e Luciana
Rosalina criassem uma linha de produtos diferenciados,
que conquistaram o mercado instantaneamente: móveis à
base de pneus e fibra de taboa.
A relação das duas com o artesanato começou cerca de
três décadas atrás, quando se mudaram de Belo Horizonte
para um sítio na cidade mineira de Piedade das Gerais, a
pedido do pai, que buscava um lugar mais tranquilo para
morar. A partir daí, o artesanato passou a fazer parte de
suas vidas, inicialmente como uma alternativa de trabalho
e renda na pequena cidade que não oferecia muitas opções,
awareness. This combination led sisters Lúcia and Luciana
Rosalina to create a line of differentiated products, which
conquered the market instantaneously: furniture made
from tires and bulrush fiber.
Their relation with handicraft started about three
decades ago, when they left Belo Horizonte and went
to a ranch in the peaceful city of Piedade das Gerais, as
requested by their father, who wanted a quieter place to
live. From then on, handicraft entered their lives, first as
an alternative of work and income, as the small city didn’t
present many options; with time, it became a passion.
BRAZIL MADE BY HAND
artesanato: matéria prima / handicraft: raw material
25
mas, com o tempo, se transformou em uma paixão.
Há aproximadamente 10 anos elas se dedicam
exclusivamente ao artesanato e vivem da venda dos móveis
ecológicos que produzem.
O talento já estava nas veias, uma vez que na família
várias pessoas se dedicavam ao artesanato e às artes em
geral. Até hoje, elas se mantêm fiéis aos produtos que
escolheram no início da trajetória profissional, os móveis. Já
as matérias-primas foram se modificando com o passar dos
anos. No início, eram feitos móveis com madeira, bambu
e cipó. Porém, o manuseio do cipó era difícil, o trabalho
era muito desgastante e machucava as mãos, conta Lúcia,
que, por essa razão, passou a procurar uma matéria-prima
alternativa que pudesse substituí-lo.
A fibra da bananeira foi a solução encontrada na época,
mas junto com esse problema, havia ainda por parte das
artesãs uma consciência ecológica e uma vontade de
contribuir, de alguma forma, com o meio-ambiente. Elas
queriam criar algo que fizesse diferença, que ajudasse na
qualidade do meio ambiente.
Movidas por essa vontade e com muita criatividade,
surgiram os móveis ecológicos feitos com pneus e fibra de
bananeira e, com este material, os produtos se tornaram
conhecidos. Entretanto, essa ainda não era a solução
definitiva, já que a bananeira não era abundante na região
em que moram.
A partir daí, surgiu a ideia de trabalharem com a
fibra da taboa, uma planta aquática comum em brejos,
várzeas e manguezais, abundante no pântano próximo ao
sítio onde moram. O resultado? Poltronas, pufes e mesas
supercharmosos que rapidamente conquistaram o mercado
com sua proposta, seu design diferenciado e a excelência na
qualidade, característica marcante do trabalho das artesãs
desde que iniciaram a produção de móveis. São produzidos
tendo os pneus como base e com uma cobertura feita com
as fibras trançadas. O trançado tem variações que conferem
aos móveis um aspecto de obra de arte; e o acabamento
é impecável. Vale ressaltar que esse foi o segredo para
conquistarem rapidamente um lugar no mercado, enfatiza
a artesã.
As duas irmãs sempre trabalharam juntas e nunca
fizeram nenhum curso prático. A criatividade na elaboração
das peças e a destreza para lidar com o artesanato são
puramente instintivos. Lúcia cuida da criação e do
acabamento, enquanto a produção fica a cargo de Luciana.
Mas não é um trabalho individualizado: ambas fazem
questão de participar de todo o processo e, ainda, de ouvir
For about 10 years they have been exclusively dedicated
to handicraft, earning their living by selling their ecological
furniture.
The talent has always been running in their veins, since
many relatives were dedicated to handicraft and arts in
general. They’ve always kept faithful to the products they
chose at the beginning of their career – furniture. However,
their raw material has changed throughout the years. At the
beginning, the furniture was made of wood, bamboo and
liana. However, liana was hard to handle, the work was too
wearing and hurtful for the hands, says Lucia, who then
started searching for an alternative raw material.
Banana tree fiber was the solution they found at the
time, but not only interested in solving the problem, the
artisans also had ecological awareness, and the will to
contribute, somehow, to the environment.They wanted to
create something that would make a difference, contributing
for environmental welfare.
Driven by will and lots of creativity, they created
ecological furniture made of tires and banana tree fibers,
materials that would make their products known. However,
this was not the final solution yet, since banana trees weren’t
abundant in the region they lived.
That’s when they thought of working with bulrush fiber,
an aquatic plant commonly found in marshes, floodplains
and mangroves, abundant in the swamps surrounding
their ranch. The result? Charming armchairs, beanbags
and tables, which quickly conquered the market through
their proposal, singular design and excellent quality; a
signature characteristic of the artisans since they started
manufacturing furniture. They are produced using tires as
their base and covers made with braided fibers. The braid
has variations that give the furniture an aspect of a piece of
art; and the finishing is impeccable. It is worth mentioning
that this was the secret for conquering a space in the market,
emphasizes the artisan.
Both sisters have always worked together and never
have undergone any technical training. Their creativity in
the elaboration of pieces and dexterity to handle handicraft
are purely instinctive. Lucia handles creation and finishing,
and production is Luciana’s responsibility. But this is not
an individual work: they insist on taking part in the entire
process, also hearing their remaining brothers’ opinions.
This partnership went so well that, in 2007, they received
the Planeta Casa award, promoted by Casa Cláudia
magazine, for their tire and bulrush fiber beanbag.
26 artesanato: matéria prima / handicraft: raw material
BRASIL FEITO A MÃO
as opiniões dos demais irmãos. Essa parceria deu tão certo
que, em 2007, elas conquistaram o prêmio Planeta Casa,
promovido pela revista Casa Cláudia, com o pufe de pneu
e taboa.
Entre os ingredientes dessa receita de sucesso se
destacam também a escolha correta das matérias-primas,
o envolvimento de toda a família e a grande dedicação ao
trabalho, percebida nos móveis cuidadosamente elaborados
e acabados. Mas o toque final fica mesmo por conta da
proposta ecológica.
Além de beleza e qualidade, o artesanato
inclui responsabilidade ambiental e
social
O processo de produção das cerca de 30 pecas por mês
começa com a colheita da taboa. Nesta etapa, elas contam
com a ajuda dos dois irmãos.Toda a família teve que aprender
a lidar com o beneficiamento e manuseio da fibra. Podam
cerca de 10 cm e colocam por oito dias embaixo de uma lona;
depois, retiram as fibras e deixam secar à sombra por mais
alguns dias. As podas podem ser feitas a cada dois meses, e
BRAZIL MADE BY HAND
Among the ingredients of this recipe for success,
the choice for the correct raw material was of particular
importance, as well as the involvement of the entire family
and their great dedication, which is noticeable in the
carefully elaborated and finished furniture. But the finishing
touch is definitely the ecological proposal.
Besides beauty and quality, handicraft
inclu des so c ial an d e nvirome nt
responsibilty
The production process, which yields around 30 pieces
per month, starts with harvesting bulrush. At this stage,
they are helped by their two brothers. The entire family
had to learn how to deal with processing and handling
the fiber. They trim about 10 cm and store for eight days
under a canvas; then, they take the fibers and put them to
dry under the shade for a few more days. The trims can be
made every two months, and the drying process is necessary
in order to obtain the desired color, a pinkish straw tone.
According to Lúcia, when they started using bulrush, they
didn’t know much about processing and the fibers used to
artesanato: matéria prima / handicraft: raw material 27
todo esse processo de secagem é necessário para se obter a
coloração desejada, um tom de palha meio rosado. Segundo
Lúcia, no início da utilização da taboa, quando ainda não
tinham um grande conhecimento sobre o processo de
beneficiamento, as fibras ficavam com tom esverdeado.
Já os pneus são conseguidos através da parceria com
uma borracharia da cidade de Contagem, também em
Minas Gerais, que faz as doações. O trabalho das duas
artesãs garante uma destinação a pneus que não são mais
apropriados para o uso e auxilia na retirada desse material
do meio ambiente, engrossando os esforços do governo e
de entidades para diminuírem o impacto ambiental causado
pelos pneus abandonados nas cidades brasileiras. Só para se
ter uma noção, calcula-se que o Brasil possua cerca de 100
milhões de pneus velhos espalhados em aterros, terrenos
baldios, rios e lagos, causando transtornos à população.
Sua degradação leva aproximadamente 600 anos e uma das
formas de se minimizar o problema é a reciclagem.
Além do meio ambiente, Lúcia e Luciana se preocupam
com as questões sociais e favorecem pessoas de baixa renda
de sua região, empregando-as na produção das peças. Em
geral, têm o auxílio de três pessoas, treinadas pelas irmãs
para a função com a qual se identificarem melhor; elas
integram a equipe e têm, dessa forma, a possibilidade de
aumentar a renda familiar. Para dar conta da demanda
atual, além de contar com o apoio dos ajudantes, as irmãs
trabalham cerca de 10 horas por dia, exclusivamente na
produção das poltronas, pufes e mesas de pneus e taboa.
Segundo a artesã, antes elas trabalhavam também com
produtos feitos à base de garrafas PET, mas hoje não há
tempo disponível para se dedicar a outras peças.
A satisfação das artistas não se deve apenas ao sucesso
nas vendas. Para elas, é importante e gratificante saber que
fazem parte dos esforços por um país sustentável e que
seus móveis estão dentro das casas, enfeitando e, de certa
forma, levando o conceito de sustentabilidade para mais
pessoas. “Sou apaixonada pelo que faço e quero me dedicar
ao artesanato por toda a minha vida”, declara Lúcia.
Quanto à comercialização, elas nunca tiveram que
se preocupar, pois a originalidade e a alta qualidade das
peças garantiram a aceitação no mercado e facilitaram sua
comercialização. No início, os móveis eram vendidos em
uma banca mantida por seu pai em Belo Horizonte, com
ajuda da prefeitura da cidade. O local se chamava Direto
da Roça e vendia também produtos alimentícios. Logo
get a green tone.
The tires are donated by a partner, a tire repair shop
in Contagem, Minas Gerais. The work of the artisans
gives purpose to otherwise useless tires, removing them
from the environment and helping the government’s and
other entities’ efforts towards reducing the environmental
impact caused by abandoned tires. It has been estimated
that there are about 100 million tires scattered around
landfills, wastelands, rivers and lakes throughout Brazil,
which cause several problems for the population. Tire
degradation takes approximately 600 years, so one way to
minimize this problem is recycling.
Besides caring about the environment, Lúcia and
Luciana also worry about social issues and support local
people with low incomes, hiring them for piece production.
Generally, they are aided by three people who have been
trained to execute the functions each likes the most.These
people have become part of the team, earning a chance to
improve their wage. In order to deal with current demands,
besides counting on their assistants’ support, the sisters
work about 10 hours a day, producing armchairs, beanbags
and tables made of tires and bulrush. According to the
artisan, they’ve also worked with PET bottles before, but,
currently, there is no time to dedicate to other pieces.
The artists’ satisfaction is not only rooted in their sales
success. To them, it is important and gratifying to know
that they take part on the effort of building a sustainable
country, and that their furniture pieces are present in
several houses, not only decorating, but also, in a way,
presenting the concept of sustainability to more people
each day. “I’m in love with my work and I want to dedicate
my entire life to handicraft”, says Lúcia.
Concerning commercialization, they’ve never had
to worry about it, since their pieces’ originality and high
standards ensure market acceptance and make the products
easy to sell. In the beginning, the furniture was sold in a
shop owned by their father, in Belo Horizonte, aided by the
City Hall. The place was called Direto da Roça (Straight
from the farm, in a free translation) and also sold food
products. Soon after, they had the chance to participate,
along with the Associação Cultural de Piedade das Gerais, in
the Feira Nacional de Artesanato (National Handicraft Fair)
that takes place once in a year in Belo Horizonte. During
this event, the pieces caught people’s attention, and the
sisters received an unusual proposal: an exclusivity contract
28 artesanato: matéria prima / handicraft: raw material
BRASIL FEITO A MÃO
depois, surgiu a oportunidade de participar, junto com a
Associação Cultural de Piedade das Gerais, da Feira Nacional
de Artesanato, que acontece anualmente em Belo Horizonte.
Durante o evento, as peças chamaram a atenção, e as irmãs
acabaram recebendo uma proposta inusitada: um contrato
de exclusividade com uma empresa de design de móveis. O
contrato durou quatro anos, mas os negócios com a empresa
se mantêm até hoje.
Após o término do período de exclusividade, a antiga
parceria com o Mãos de Minas foi retomada. Através
da instituição, que anteriormente vendia seus produtos
inclusive para o mercado externo, os móveis ecológicos
voltaram a ter ampla divulgação e comercialização.
A divulgação também não fica a cargo das artesãs,
que deixam essa função por conta das parceiras que
comercializam as peças. No sítio onde moram, recebem
ocasionalmente clientes interessados em conhecer o trabalho
e adquirir o mobiliário diferenciado. Essa procura se deve
a referências feitas na internet ou em matérias, como a que
divulgou o trabalho de Lucia e Luciana no programa de TV
Terra de Minas.
Outra oportunidade reconquistada através da parceria
com o Centro Cape foi a de voltar a participar das feiras e
expor as peças dentro do estande da própria entidade. As
feiras são uma ótima vitrine e geram bons negócios para os
artesãos, mas são também uma excelente oportunidade para
o público, que poderá ver de perto, ou até mesmo adquirir,
o belo e ecologicamente correto mobiliário.
Fairs are a great display window and provide good
business for artisans, as well as an excellent occasion
for the public, who will be able to closely experience or
even acquire the fine and ecologically correct furniture.
with a furniture design company. The contract lasted for
four years, but their business with this company continues.
When the exclusivity agreement ended, the old
partnership with Mãos de Minas was restored.Through this
institution, which previously had even sold products to the
foreign market, their ecological furniture was once again
extensively marketed and commercialized.
The artisans also let partners take care of marketing.
They occasionally receive customers in their ranch,
interested to know their work and acquire singular, exclusive
furniture.This demand occurs due to on internet references,
news columns and TV appearances, such as when Lucia
and Luciana showed their work on the TV program Terra
de Minas.
Another opportunity, restored through the Centro
Cape partnership, concerned their return to fairs and the
possibility to exhibit their products at the Institute’s booth.
BRAZIL MADE BY HAND
artesanato: matéria prima / handicraft: raw material 29
PEÇAS FEITAS COM BAGAÇO DE CANA
MODIFICAM REALIDADE DE ARTESÃOS NA
PEQUENA CIDADE DE LIMEIR A DO OESTE
Pieces made of sugarcane bagasse change the reality of
artisans in the small town of Limeira do Oeste
POR / BY
Tatiana Coutinho
“Hoje somos então libertados pela força da
nossa união.”A frase é parte do hino do pequeno município
de Limeira do Oeste, no Triângulo Mineiro, e resume
bem o histórico da população. Com pouco mais de 6
mil habitantes, Limeira do Oeste alcançou a maioridade
agora, quando completou 18 anos de emancipação. E é
lá que nasceu um grupo de mulheres que transformou
o conhecimento daquilo que aprendeu no campo em
trabalho, renda e arte.
Hoje, 12 mulheres deixam diariamente suas casas, a
maioria na zona rural, e, com um ônibus escolar, chegam
a um galpão, sede do Grupo Lineart. É lá que são feitas
as gamelas, fruteiras, porta-cartões e outra infinidade de
produtos. Cada peça é feita a 24 mãos. Todas as artesãs se
30 projetos / projects
FOTOS / PHOTOS:Divulgação
“Today we are freed by the strength of our union.”
This sentence is taken from the anthem of Limeira do Oeste,
a small municipality in the Triângulo Mineiro (a region
within the Minas Gerais State), and efficiently summarizes
the population’s history. Having approximately 6 thousand
inhabitants, Limeira do Oeste has recently reached
adulthood, after completing 18 years of emancipation.
The town saw a group of women transform their practical
knowledge into work, income and art.
Currently, 12 women, most from the rural area,
leave their homes on a daily basis and take a school bus
to the Lineart Group headquarters, located in a hangar.
There, they make troughs, fruit bowls, card holders and
BRASIL FEITO A MÃO
ocupam de uma das etapas para transformar o bagaço da
cana, matéria-prima utilizada pelo grupo, em peças únicas
e originais. “Pegamos o bagaço da cana e misturamos com
o papel machê e cola. Daí se faz uma massa, que parece de
pão. Depois a gente modela. Algumas de nós têm habilidade
para fazer a massa, outras para pintar”, explica Meires
Ramos, 39 anos, uma das integrantes do Lineart. “Antes,
eram 100 peças feitas por 40 mulheres a 80 mãos”, conta
ela, sobre o início do trabalho do grupo.
A economia da cidade, até 2005, girava em torno do
setor agropecuário. Quase metade da população vivia
na zona rural, trabalhando com animais e no plantio,
principalmente, da cana-de-açúcar e do abacaxi. A ocupação
de muitas mulheres estava concentrada nas fazendas. Mas
o manuseio das mãos não era só voltado para a terra. O
bordado e o crochê eram práticas comuns, passadas de
mãe para filho. Em busca de renda e de uma atividade
que permitisse a socialização, foi formada a Associação de
Artesãos de Limeira do Oeste. Em alguns dias da semana,
as mulheres deixavam o campo e seguiam para a escola
pública, local onde o grupo se reunia para bordar e tecer.
“Nunca trabalhei fora, mas sempre em casa, onde fazia
meus bordados. Era uma forma de ocupar o tempo. Mas
queríamos uma renda. A ideia veio de algumas mulheres
com o apoio da prefeitura. No início eram umas 40. Duas
ou três vezes por semana nos encontrávamos à tarde na
escola”, conta Silvana Campos, 35 anos, uma das artesãs
mais antigas do grupo, sobre o início da atividade na região.
Natureza viva
Apesar da cana-de-açúcar ocupar a primeira posição na
produção da cidade, foi somente com a chegada da usina de
Coruripe que a matéria-prima foi incorporada ao trabalho
do grupo. Com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o grupo aprendeu a
manusear o bagaço. “No início era muito complicado para
conseguir 1 Kg”, conta Silvana. Daí procuraram a usina,
que se dispôs a oferecer o material. Aquelas que gostaram
da técnica e preferiram só trabalhar com a cana formaram
o Grupo Lineart, que ainda está incorporado à associação.
Desde então, a sustentabilidade tomou forma e se tornou
foco para as artesãs que, sozinhas, criaram diversos modos
para incorporar o meio ambiente ao trabalho com as mãos.
Segundo Silvana, a maior parte dos pigmentos vem da
própria terra. “Cavamos um buraco de 1 m de profundidade
e tiramos a terra e a deixamos secar. Depois colocamos no
BRAZIL MADE BY HAND
several other products. Every piece passes through their
24 hands. All artisans take part in the transformation of
sugarcane bagasse, their raw material, into unique pieces.
“We mix sugarcane bagasse with paper mâché and glue.
Then, we make this bread-like dough and mould it. Some
of us are skilled for the dough-making process and others
for painting, for example”, explains Meires Ramos, 39, a
member of Lineart. “Our production used to be 100 pieces,
all handmade by 40 women, 80 hands”, she tells, referring
to when the group was founded.
Until 2005, the city’s economy revolved around
agriculture. About half of the population lived in the
rural zone, working with animals and plantations, mostly
composed by sugarcane and pineapple. Several women
had farming as their main occupation. However, they
applied their manual crafting abilities beyond soil work.
Embroidering and crochet were very common practices
among them, passed down from mothers to daughters.
Seeking income and social activities, they founded the
Artisan Association of Limeira do Oeste (Associação de
Artesãos de Limeira do Oeste). In certain days of the week,
these women would leave the fields and head to a public
school, where they assembled for embroidering and weaving.
“I’ve never worked out of my home, where I used to make
my embroidery. Embroidering was a form of occupying
time. But we sought income. The idea came from a few of
us, supported by city hall. In the beginning, we had around
40 people. We would meet at the school in the evening,
twice or three times”, says Silvana Campos, 35, one of the
first artisans of the group, concerning how the activities
started in the region.
Storring life
Although sugarcane has always been the city’s major
product, it was only incorporated by the group as a raw
material after the arrival of the Coruripe factory. Supported
by Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas, Brazilian Service of Support to Micro and Small
Businesses) the group learned how to handle the bagasse.
“At first it was very complicated to acquire 1 Kg”, tells
Silvana. Then, we contacted the factory staff, which was
able to offer the material. Those who liked the technique
and preferred to focus their work on sugarcane founded
the Lineart Group, which is still linked to the association.
Since then, sustainability took shape and became the focus
projetos / projects 31
pilão. Já fininha, ela é coada no tecido. Aquilo que passar já
é a tinta”, explica. Com esse método, elas extraem as cores
vermelho, laranja, amarelo, preto e branco. Até mesmo o
pó de café é reutilizado pelas mulheres, que o usam depois
de seco também para tingir as peças. A criatividade não para
por aí. As folhas de árvores são usadas para dar cor e vida
aos produtos. “Há folhas de árvores que soltam tinta. Aí
pegamos essas folhas e colocamos no álcool”, diz a artesã,
que completa: “o natural fica com cor de natureza”.
Mas a destreza dessas mulheres vai além. A presidente
do grupo, Carmelita Cruz, 43 anos, explica que o
Lineart pretende imprimir mais técnicas aos trabalhos
somando criatividade ao reaproveitamento. Segundo ela,
com o apoio da usina, as artesãs deram início a um novo
aprendizado, em que começam a utilizar o saco de cimento
junto com bagaço da cana para confeccionar diferentes
peças, de cartonagem a luminárias. A utilização do saco
reforça ainda mais o objetivo de produzir artigos originais
agregando valor ao material reciclado. “O saco de cimento
é um dos papéis mais nobres que é descartado na natureza
sem reaproveitamento”, explica Tânia de Souza, consultora
que trabalha a técnica com o grupo e conclui: “Queremos
agregar folhas, sementes e outras coisas da vida das artesãs
às peças”.
A iniciativa do Lineart em favor da sustentabilidade
chama a atenção. O grupo foi premiado pela Empresa de
32 projetos / projects
of the artisans, who created, on their own, several ways
of linking the environment and handicraft. According to
Silvana, most pigments come from the soil itself. “We dig
a hole with 1 m in height, take the earth out and let it dry.
Then we put it into the pestle. When it gets very thin, we
strain it through a tissue. Whatever crosses can be used as
ink”, she explains. Using this method, they extract the red,
orange, yellow, black and white colors. Even ground coffee
is recycled by these women, who use it, once dry, to dye
the pieces.That’s not the end of their creativity.Tree leaves
are used to color and bring life to the products. “Certain
tree leaves release ink. So, we collect these leaves and put
them in alcohol”, says the artisan, who adds: “the natural
gets inked with nature’s color”.
However, their dexterity goes beyond that.The group’s
president, Carmelita Cruz, 43, explains how Lineart
intends to put more technique into the work by mixing
creativity and recycling. According to her, with factory
support, the artisans started a new procedure, using cement
bags along with sugarcane bagasse to elaborate several
pieces, from carton items to light fixtures. The use of bags
highlights their goal, which is to make original pieces and
aggregate value to recycled materials. “The cement bag is
one of the noblest kinds of waste paper”, explains Tânia de
Souza, an advisor who works with the group, focused on
their techniques. She concludes: “We want to use leaves,
BRASIL FEITO A MÃO
Assistência Técnica e Extensão Rural do estado de Minas
Gerais (Emater) na Olimpíada Mineira de Artesanato, em
Araxá, “pelo benefício ao meio ambiente”, como explica a
presidente Carmelita Cruz. Segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), a utilização de material
reciclável vem aumentando a cada ano no Brasil e representa
19,5% da matéria-prima usada no país. Cerca de 16,5%
dos artesãos também utilizam fibras vegetais.
Pé na estrada
“Nem sonhava que isso iria acontecer.” O depoimento
é de uma das artesãs, Meires Ramos. Até 2005, ela só
conhecia Maceió, cidade onde morava. Naquele ano, o
marido foi contratado para trabalhar como caldereiro na
usina de Coruripe, e, por isso, a família se transferiu para
Limeira do Oeste, Minas Gerais. Desde jovem, Meires
já fazia artesanato e vendia bonecas, sandálias e panos de
prato na capital de Alagoas. Quando chegou ao município
mineiro, integrou-se ao Lineart, que há pouco havia sido
formado. Até então, Meires só procurava fazer amigos e
BRAZIL MADE BY HAND
seeds, and other things from these artisans’ daily lives and
aggregate them into the pieces”.
Lineart’s initiative towards sustainability has brought
much attention. The group was awarded by Emater
(Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do
estado de Minas Gerais, Technical Assistance and Rural
Extension Company of the Minas Gerais State) during
the Minas Gerais Handicraft Olympics (Olimpíada
Mineira de Artesanato), in Araxá, “for their benefits to the
environment”, as explained by president Carmelita Cruz.
According to IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, Brazilian Institute for Geography and Statistics),
the use of recyclable material in Brazil has been increasing
every year, representing 19.5% of all raw materials used
in the country. About 16.5% of the artisans also use
vegetable fibers.
On the road
“I’d never even dreamed of this.” This is a testimony
by one of the artisans, Meires Ramos. Until 2005, she
projetos / projects 33
ganhar uma renda e não imaginava que o trabalho feito ali
ultrapassaria os limites da cidade. Por causa das peças, Meires
já saiu diversas vezes da região para mostrar o artesanato em
feiras. “Depois que cheguei aqui, já conheci Belo Horizonte,
Uberaba, Tiradentes, Palmas, São Paulo, Rio de Janeiro e
Brasília. Em Uberaba, Aécio Neves (na época governador de
Minas Gerais e, hoje, senador da República) esteve no nosso
estande e levou uma peça da gente. Ele ficou abismado sem
entender como conseguíamos dar conta de fazer”, conta a
artesã.
As mulheres do Grupo Lineart saíram das fazendas para
ganhar o país com o trabalho. Mas as peças ultrapassam
fronteiras e agora também estão em um dos pontos mais
nobres de Nova Iorque, nos Estados Unidos. O artesanato
feito em Limeira do Oeste está no “coração de Manhattan”,
como diz Aurélio Faria, do Departamento de Exportação do
Instituto Centro Cape. De bolsas a fruteiras, tudo feito com o
bagaço da cana, pode-se encontrar no showroom da Ecoarts,
empresa que é resultado da união de várias entidades, como
Centro Cape, Central Mãos de Minas e Agência Brasileira
de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex).
Todas as peças da Ecoarts são apresentadas ao mercado
norte-americano pela originalidade e pela importância da
sustentabilidade ambiental.
Para o grupo, deixar a cidade já é difícil. Segundo
Silvana Campos, a prefeitura da cidade dá apoio às artesãs
fornecendo transporte até o município vizinho de Iturama,
local onde fica a rodoviária mais próxima e que funciona
como porta de saída para as peças alcançarem o país
em feiras. Mas a venda no mercado internacional ainda
surpreende as mulheres. “Ficamos admiradas de as peças
irem tão longe”, diz Meires Ramos. Além do showroom
nos Estados Unidos, há produtos feitos pelo Lineart que
também foram levados para a New York Gift Fair, um dos
maiores eventos de decoração e presentes do mundo. As
peças, selecionadas pelo Centro Cape, estavam no estande
da Ecoarts, representando o Brasil junto a outros 85 países
em um evento que contou com a presença de 35 mil pessoas.
“A gente perde a fala”, diz a artesã Meires. Podem faltar
palavras ao grupo para descrever essa trajetória, mas o que
não faltam são mãos habilidosas capazes de romper fronteiras
e alcançar mercados.
34 projetos / projects
had never left Maceió, the city where she lived. During
that year, her husband was hired to work at the Coruripe
factory, so the family moved to Limeira do Oeste, Minas
Gerais. Since she was young, Meires had been making
handicraft and selling dolls, sandals and dishcloths in the
Alagoas State capital. After arriving in said Minas Gerais
municipality, she joined in Lineart, which had been recently
founded. Up to then, Meires only sought to make friends
and earn an extra income, and she would never imagine that
her work would reach beyond the city’s outskirts. Thanks
to the pieces, Meires has traveled several times outside the
region, in order to exhibit the handicraft at fairs. “After I
arrived here, I’ve already been to Belo Horizonte, Uberaba,
Tiradentes, Palmas, São Paulo, Rio de Janeiro and Brasília.
In Uberaba, Aécio Neves (Governor of Minas Gerais at the
time and currently senator) came by our stand and bought a
piece. He was astonished at how we could manage to create
it”, tells the artisan.
The Lineart Group women left the farms to conquer
the country with their work. But the pieces crossed borders
and now they are also present in one of the noblest points in
New York, United States. This Limeira do Oeste handicraft
is in the “heart of Manhattan”, as said by Aurélio Faria, from
the Centro Cape Exportation Department. From purses to
fruit bowls, all made of sugarcane bagasse, the products are
available at the Ecoarts showroom.This company originated
from the union of several entities, such as Centro Cape,
Central Mãos de Minas and Apex (Brazilian Trade and
Investment Promotion Agency). All Ecoarts pieces are
introduced in the American market for their originality and
importance concerning environmental sustainability.
For the group, leaving the city is difficult. According
to Silvana Campos, the city hall supports the artisans by
transporting them to the neighbor municipality of Iturama,
where the closest bus station is located, being the only
exit route towards fairs around the country. However, the
international market sales still surprise these women. “We
get amazed about how far the pieces go”, says Meires Ramos.
Besides the showroom in the United States, certain Lineart
products were also taken to the New York Gift Fair, one of
the world’s largest events concerning decoration and gifts.
The pieces, selected by Centro Cape, were exhibited in
the Ecoarts stand, representing Brazil along with 85 other
countries in an event which received 35 thousand visitors.
“We don’t know what to say”, says Meires.
The group might lack words to describe their trajectory,
but they certainly don’t lack craftsmanship to cross borders
and reach markets.
BRASIL FEITO A MÃO
Existe uma ferramenta fundamental no
caminho da matéria-prima ao produto final:
mãos que transformam.
There’s an essential tool on the way
from raw material to final product:
hands that transform.
Pública
Arte é transformação. É enxergar um universo de possibilidades. É tirar da
forma bruta milhares de outras formas. Na Usiminas, é assim: a partir do
minério de ferro, é moldado o aço que dá vida a carros, pontes, navios, casas,
prédios, geladeiras e diversos outros produtos que fazem parte do dia a dia
das cidades e das pessoas. Tudo feito de forma sustentável, com respeito
às comunidades, ao meio ambiente e às pessoas envolvidas no processo
de produção. Um capricho de artesão que domina a técnica e busca a
perfeição em cada peça.
Sensibilidade para evoluir
www.usiminas.com
Art is transformation. It’s to envisage a universe of possibilities.
It’s to extract from the raw mold thousands of other molds. That’s
what happens at Usiminas: iron ore is molded into steel, which
gives life to cars, bridges, ships, houses, buildings, refrigerators
and many other products that are an integral part of people’s
and cities’ daily life. And everything made in a sustainable way,
with respect for the communities, the environment and the
people involved in the production process. The meticulousness
of an artisan who masters the technique and struggles for
perfection in every single piece.
Para saber mais, acesse www.fiemg.com.br/sesi
Cursos do SESI. Seus funcionários crescem,
sua empresa também.
O SESI oferece as melhores soluções para empresas
que buscam crescer, investindo na capacitação de seus
funcionários.
• Certificação de escolaridade básica: ensinos
fundamental e médio.
• Cursos de curta duração, customizados de acordo
com a necessidade da sua empresa.
Quando voCê InvEStE na EduCação
doS funCIonarIoS, Sua EmprESa CrESCE.
Entrevista / Interview
Tânia Machado
Presidente do Instituto Centro Cape
President of Instituto Centro Cape
Completando três anos de vida, a revista O Brasil Feito à Mão está atingindo seus objetivos com os compradores
internacionais. Nesta edição, a presidente do Instituto Centro CAPE, Tânia Machado, avalia esse período e comenta
como o instituto ajudou vários lojistas internacionais a terem contato com novos produtos artesanais brasileiros.
Além disso, a dirigente destaca que este produto auxilia e reforça o marketing de vendas com o público internacional.
On its third anniversary, the O Brasil Feito à Mão (Handmade Brazil) magazine is reaching its objectives concerning
international buyers. In this edition, Tânia Machado, president of Instituto Centro CAPE, evaluates this period and
comments on how the institute has helped several international retailers in obtaining access to Brazilian handicraft
products. In addition, she highlights that these products help and reinforce sales marketing towards the international
public.
A revista O Brasil Feito à Mão faz agora três anos.
Como você avalia o projeto da revista?
Tânia - Na realidade, a revista foi criada para atender
uma necessidade do lojista internacional de conhecer
a história de cada artesão e de seu respectivo produto.
Isto faz parte do marketing de venda, pois, apesar de
seu desejo de conhecimento, esse lojista não tem tempo
durante os eventos de ficar escutando as nossas explicações.
The O Brasil Feito à Mão (Handmade Brazil)
magazine is on its third anniversary. How do you
evaluate the magazine’s project?
Mrs Machado - Actually, this magazine was created
in order to address international retailers’ needs towards
getting to know the history behind each artisan and their
work. This is part of sales marketing, given that, despite
their need to acquire knowledge about the artisans, these
BRAZIL MADE BY HAND
entrevista / interview
37
Assim, criamos a revista para que, com calma, depois, o
lojista possa saber um pouco mais dos nossos artesãos
exportadores.
Agora, a revista tem sido esperada por todos que,
quando não a recebem na data marcada (abril, agosto e
novembro), já ligam preocupados para saber se foram
excluídos do mailing e pedem para que não os deixemos
de fora.
Pelo interesse desse público em receber a revista,
acreditamos que estamos atingindo nosso objetivo.
O projeto de exportação de artesanato deu um salto
de crescimento de mais de 3.000% nos últimos oito
anos. Como você explica isso?
retailers don’t have time to spare during events in order
to listen to our explanations. Therefore, we created this
magazine so that retailers are able to learn a little more
about our exporting artisans on their own time.
Nowadays, everyone waits for the new issues in
anticipation, and if people don’t receive them within the
regular dates (April, August and November), they worry
and call us to ask if they’ve been excluded from our mailing
list, also asking not to be left out.
Given the target audience’s interest in receiving the
magazine, we believe we’re reaching our objective.
The handicraft exportation project has experienced
a growth leap of over 3,000% along the past eight
years. How do you explain this?
Tânia - Primeiro, temos que lembrar que em 2002 a
exportação de U$ 10.000 não significava nada e, naquela
época, estávamos começando. Até então, não existia esforço
de vendas, e o produto era simplesmente comprado quando
o lojista chegava na feira ou tinha acesso a algum artesão. O
importante para nós era encontrar essa demanda reprimida
e aumentar o interesse do comprador pelo produto.
O segmento artesanal mundial infelizmente era tido
como um setor irresponsável, pois a maioria dos projetos
mundiais de apoio aos artesãos eram subsidiados pelos
governos e acabavam não tendo continuidade. Com isso, o
comprador adquiria o produto uma vez e, quando recebia
(e se recebia), não tinha como comprar mais uma vez do
artesão. Outra questão era a qualidade, pois comprava um
produto e acabava recebendo outro.
No Brasil, com os projetos sendo apoiados pela
Apex-Brasil e com a participação do artesão nos
custos, a perseverança na participação nos eventos e o
profissionalismo cada vez maior do artesão e de seus
parceiros têm chamado a atenção do mundo para algo
diferente acontecendo aqui. Os compradores internacionais
estão vendo com bons olhos a internacionalização do
artesão brasileiro, que cada vez mais se conscientiza da sua
responsabilidade como fornecedor.
Assim, esse crescimento nada mais é que o
reconhecimento internacional da responsabilidade do
artesão de nossas terras.
Mrs Machado - First, we must recall that, in 2002,
exporting US$10,000 had no significance and that we were
only starting back then. Until then, there had been no prior
sales efforts and the products were simply bought when
retailers went to fairs or had direct contact with an artisan.
Our focus was to locate this repressed demand and increase
the buyers’ interest for the product.
Unfortunately, the global handicraft segment was
perceived as an irresponsible sector, given that most global
projects focused on supporting artisans were governmentfunded and eventually discontinued. Thus, buyers would
acquire products once but, after receiving them (if receiving
them), weren’t able contact the same artisan again. Another
issue concerned quality, because they would buy one
product and receive another.
In Brazil, due to projects supported by Apex-Brasil,
as well as the artisans’ and their partners’ participation
in costs, their increasing professionalism, perseverance
and presence in events, the world has been noticing that
something different is happening here. International buyers
have been looking with good eyes at the internationalization
of Brazilian handicraft, which is becoming more and more
aware of its supplier responsibilities.
Hence, this growth represents nothing more than
international acknowledgement towards our artisans’
increased responsibility.
Foi criada agora uma instituição nacional de
exportação de artesanato. Por quê? Qual a vantagem
de se ter um programa nacional?
A national handicraft exportation institution has been
recently created.Why?What are the benefits of having
a national program?
38 pentrevista / interview
BRASIL FEITO A MÃO
Tânia - Criamos no início de novembro a Associação
Brasileira de Exportação de Artesanato, cuja Diretoria Geral
ficou a cargo do Instituto Centro Cape, representado por
mim. Acreditamos que essa entidade vem para fortalecer
a marca Brasil de exportação, pois com a otimização de
recursos visando à realização de ações em bloco, respeitando
a individualidade de cada um, vamos mostrar para o mundo
que o caminho da exportação de artesanato não tem volta
e seguirá sempre em frente.
O fato de o comprador internacional ter um interlocutor
no Brasil, apesar de seu tamanho continental, irá facilitar
muito a consolidação de cargas e a localização de nichos
artesanais. Hoje, caso estivéssemos sozinhos, nunca
conseguiríamos atingir o mercado internacional sem formar
um grupo com objetivos comuns.
A divisão de tarefas com outros estados, tais como São
Paulo (o Fazer Brasil ficou responsável pela área de novos
projetos), Fortaleza (o ICA, responsável pela comunicação)
e Paraná (a Artest, respondendo pelo setor administrativofinanceiro), demonstra que a união em prol do artesanato
ganha força no país. Dentro desse contexto, Minas Gerais
ficou com a direção geral, por ser o projeto mais antigo e
com mais ações realizadas no exterior.
Os projetos, apesar de sua localização geográfica,
também poderão atender outros estados, como é feito hoje
quando Minas Gerais atende São Paulo, Paraná, Paraíba,
Amazonas, Bahia e Alagoas.
Acredito que agora ficará muito mais fácil trabalhar.
Quais serão as prioridades da nova instituição?
Tânia - Serão quatro os eixos a serem trabalhados:
Inteligência e estratégia – prospecção de mercados e
posicionamento das empresas de exportação, concentrando
os esforços relacionados à coleta, tratamento e análise de
informações relevantes para a definição de orientações
estratégicas.
Desenvolvimento e aprendizagem – aprendizagem
técnica, regulatória, ambiental e de gestão, concentrando as
ações de qualificação e preparação que devem ser realizadas
para que artesãos, comunidades e empresas de artesanato
obtenham o melhor aproveitamento do mercado.
Promoção de negócios – promoção, imagem e
negociação comercial, com participação em feiras na
Alemanha, França, Espanha, em Portugal e nos Estados
Unidos. Além do projeto Vendedor Itinerante em toda a
Europa, ações com pontos de venda diretos nos principais
BRAZIL MADE BY HAND
Mrs Machado - In the beginning of November, we
created the Brazilian Handicraft Exportation Association
(Associação Brasileira de Exportação de Artesanato) and its
General Direction was bestowed to Instituto Centro Cape,
which I represent. We believe that this entity is emerging
in order to strengthen the Brazil exportation brand, given
that, by optimizing resources aiming to execute collective
actions, always respecting each person’s individuality, we
can show the world that handicraft exportation is a one-way
path which will keep moving forward.
Establishing and interlocutor for the international buyer
in Brazil, despite its continental size, will greatly facilitate
cargo consolidations and the localization of artisanal niches.
If we were alone today, we would never be able to reach
the international market without assembling a group with
common objectives.
Shared tasks with other States and capitals, such as São
Paulo (Fazer Brasil is responsible for new projects), Fortaleza
(ICA is responsible for communications) and Paraná
(Artest is responsible for the administrative-financial area),
demonstrate a strengthened union in favor of handicraft
throughout the country. Within this context, Minas Gerais
is responsible for the general direction due to its project
seniority and greater number of actions abroad.
The projects, despite their geographic locations, will
also be able to include other States, mirroring Minas Gerais’
current collaborations with São Paulo, Paraná, Paraíba,
Amazonas, Bahia and Alagoas.
I think our work will be much easier from now on.
What are the new institution’s priorities?
Mrs Machado - There are four focus areas:
Intelligence and strategy – market prospecting and
exportation company positioning, concentrated on the
collection, treatment and analysis of relevant information
regarding strategic guidance definitions.
Development and learning – technical, regulatory,
environmental and management learning courses,
concentrated on qualification and preparation actions
enabling artisans, communities and companies to optimize
their market results.
Business promotion – promotion, image management
and commercial negotiations, including fairs in Germany,
France, Spain, Portugal and the United States. In addition to
the Itinerant Salesman Project (Projeto Vendedor Itinerante)
throughout Europe, direct point-of-sales actions in key
entrevista / interview
39
mercados, que são os países-alvo para os próximos dois
anos.
Gestão setorial de exportação – monitoramento e
controle com avaliação constante dos resultados obtidos,
analisando oportunidades de melhoria e estabelecimento
de medidas de correção.
markets, representing our target countries over the next
two years.
Sectorial exportation management – monitoring
and control, constantly assessing results and analyzing
improvement opportunities, as well as establishing
corrective measures.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas
Gerais (Fiemg), está agora apoiando mais de perto o
segmento artesanal. Por que essa mudança de postura?
The handicraft segment has been more closely
supported by Fiemg (Federação das Indústrias de
Minas Gerais, Industry Federation of the Minas Gerais
State).What has caused this change?
Tânia - Não é que a Fiemg não apoiasse, muito pelo
contrário, desde a gestão de Stefan Salej e na gestão do
Robson Andrade, o artesanato sempre foi valorizado e
apoiado.
Mas agora, queremos fazer parte da Fiemg, afinal
o artesanato é a pré-indústria. Tudo na vida começa
artesanalmente. O primeiro carro, o primeiro computador,
o primeiro foguete e assim por diante. Há uma pesquisa
que a Vox Populi faz para nós desde 2004 que mostra onde
o artesão busca a sua matéria-prima, e a resposta é que os
seis primeiros lugares são indústria têxtil, de acabamento,
metal, madeira, vidro, pedras. A natureza aparece apenas
no sétimo lugar. Sendo assim, o artesão, além de possível
ou futuro empresário, é um dos grandes consumidores da
indústria e, se projetarmos para ele um faturamento anual
de mais de R$ 60 bilhões, apenas da indústria ele comprará
mais de R$ 15 bilhões a cada ano.
Assim, como futuro filiado ou como um grande cliente,
queremos fazer parte da federação, não apenas com o
intuito de ter apoio, mas de obter profissionalização e
aprendizado, para que amanhã, quando grandes, tenhamos
uma visão muito melhor do mundo dos negócios.
Mrs Machado - It’s not that Fiemg hasn’t provided
support in the past, on the contrary, it has always valued
and supported handicraft since the Stefan Salej and Robson
Andrade administrations.
However, we now want to be part of Fiemg, after all,
handicraft represents the pre-industry. Everything in life
starts in an artisanal manner.The first car, the first computer,
the first rocket and so forth.Vox Populi has been researching
for us, since 2004, where artisans seek their raw materials;
this research has demonstrated that the top six sources
are the textile, finishing, metal, lumber, glass and stone
industries. Nature is only the seventh source. Therefore,
artisans are, in addition to possible or future businessmen,
among the leading industry consumers and, if we project
their annual revenues over R$60 billion, they will acquire,
from the industry alone, over R$15 billion every year.
Thus, either as a future affiliate or as a major client, we
want to be a part of the federation, not only aiming to obtain
support, but also to reach professional levels and knowledge
which will enable us, in the future, to have a better vision
towards the business world.
Tânia, o que você poderia dizer para o artesão que
quer começar a exportar?
Tânia, what would you say to an artisan who wants
to start exporting his work?
Tânia - Perseverança! Exportar não é como vender
no mercado interno em que, num primeiro contato, o
lojista já faz o pedido. Exportar é como os casamentos de
antigamente. Primeiro há o flerte, quando o comprador
olha os produtos. Depois, vem o namoro propriamente
dito, quando ele pede amostras e testa a qualidade. Em
seguida, o noivado, quando ele sugere adequações do
produto, solicita certificados, verifica barreiras técnicas,
embalagem etc. Somente alguns meses depois que ele por
fim fecha o negócio e marca “o casamento”. Mas, se der
certo, é casamento dos antigos, que dura uma eternidade.
Mrs Machado - Perseverance! Exporting isn’t like
selling within the internal market, in which retailers place
orders on their first contact. Exporting is similar to old
fashioned marriages. First comes flirting, when the buyer
looks at the products. Then comes dating, when he asks for
samples and tests the work’s quality. Next, an engagement
is made, when he suggests product adjustments, requests
certificates, verifies technical restrictions, packaging, etc.
Only after a few months, he’ll finally close the deal and
schedule “the wedding”. However, once it works, it’ll be
an old fashioned, long-lasting marriage.
40 pentrevista / interview
BRASIL FEITO A MÃO
Eu Faço / I Make
Sarahy
Fernandes
Coelho Diniz
A arte e a ajuda ao próximo sempre foram
paixões na vida da psicóloga Sarahy Fernandes Coelho
Diniz, 44. Há um ano, ela conseguiu fazer do artesanato
uma forma de resgatar, em pessoas com sofrimento mental,
a autoestima e o convívio social, melhorando a qualidade
de vida delas.
A escolha pelo artesanato não poderia ter sido outra,
já que Sarahy é artesã há 20 anos e nasceu em uma família
tradicional de bordadeiras, na cidade de Entre Rios de
Minas, a 110 km da capital mineira. “O artesanato é um
caminho muito interessante de trabalhar. Através dele
a gente resgata histórias, valores e pode contribuir para
questões ambientais”, disse referindo-se às peças produzidas
pelo grupo com materiais recicláveis.
É no grupo Quintas das Artes, que as 12 pessoas
que participam do projeto têm a oportunidade de um
tratamento diferenciado. “Normalmente as pessoas que
chegam aqui são muito solitárias e quando vêm para o grupo
têm o momento de falar, de ser ouvidas, têm a oportunidade
de encontrar com outras pessoas”, garante a psicóloga.
Hoje o grupo gera, embora em pouca quantidade, uma
renda para os novos artesãos. Os trabalhos feitos pelos
alunos são vendidos no espaço cedido pelo Instituto Maria
Helena Andrés, e o lucro é dividido entre os gastos com
materiais e o pagamento dos alunos, já que as oficinas são
ministradas gratuitamente pelos professores.
Sarahy, que é casada com um biólogo atuante em
questões ambientais e tem três filhos, vê no trabalho
voluntário uma forma mais gratificante que no remunerado.
“O trabalho voluntário me traz um retorno emocional
muito diferente do remunerado. O brilho no olhar das
pessoas, o sorriso e a gratidão me trazem uma alegria
muito grande”, diz. “Ainda mais quando você vê que a
pessoa conseguiu superar seus desafios e traumas. É muito
bom”, completa.
BRAZIL MADE BY HAND
Making art and helping others have
always been in the heart of psychologist Sarahy Fernandes
Coelho Diniz, 44. It has been one year since she started
to use handicraft for aiding people with mental suffering,
reestablishing their self-esteem and social circle, improving
their lives.
She couldn’t have made a better choice, since Sarahy has
been an artisan for 20 years and was born in a traditional
embroiderer family, in the city of Entre Rios de Minas, 110
km from the Minas Gerais State capital. “Handicraft is a very
interesting way to work. It enables us retrieve stories, values
and contribute in environmental issues”, she says, referring
to pieces produced by the group using recyclable materials.
The group is called Quintas das Artes, and its 12
members share the opportunity of having a singular
treatment. “Usually, those who come here are very solitary
people who find in the group a space for speaking, being
heard, and meeting others”, states the psychologist.
Nowadays the group generates a low but meaningful
income for the new artisans.The students’ works are sold in
a space ceded by the Instituto Maria Helena Andrés, and the
profit is split between material expenses and the artisans’
payments, since workshops are ministered for free.
Sarahy, who is married to an environmental biologist
and has three children, considers voluntary work more
gratifying than remunerated work. “Voluntary work gives
me an emotional feedback which is very different from
remunerated work. The glow on people’s eyes, their
smile and their gratitude fill me with enormous joy”, she
says. “Especially when you see that someone managed to
overcome their challenges and traumas. It is very good”,
Sarahy adds.
entrevista / interview
41
Feiras e Eventos
16ª Feira Internacional de Artesanato
GIFT FAIR
21 a 30 de janeiro de 2011
Artesanato em madeira, cerâmica, bijuterias, bombons artesanais,
bolsas, tapetes e outros. Com cerca de 1600 expositores será
aberto(a) ao público, das 15h às 22h nos dias 21 a 27 de janeiro,
e das 15h às 23h nos dias 28 a 30 de janeiro.
Promoção:V & J Turismo e Eventos Ltda.
Local: Pavilhão das Dunas do Centro de Convenções - Natal - RN
Site do evento: www.espacialeventos.com.br
E-mail do evento: [email protected]
42º Feira Internacional de Presentes e Utilidades Domésticas
14 a 17 de março de 2011
Utilidades domésticas, mesa posta, artigos de copa e cozinha.
Com cerca de 700 expositores será aberto(a) a empresários das
10h às 19h nos dias 14 a 16 de março e das 10h às 16h no
dia 17 de março
Promoção: Laço Ltda.
Local: Expo Center Norte - São Paulo - SP
Site do evento: www.giftfair.com.br
E-mail do evento: [email protected]
ART MUNDI – Edição Santos
UNILAR – Zona da Mata
8ª Feira Mundial de Artesanato
02 de fevereiro a 11 de setembro de 2011
Peças de artesanato, decoração, vestuário, utilidades domésticas,
tapetes, acessórios e complementos de moda, comidas típicas, etc.
Com cerca de 170 expositores será aberto(a) ao público, das 14h
às 22h de segunda a sábado, e das 14h às 21h aos domingos.
Promoção: Diretriz Feiras e Eventos Ltda.
Local: Mendes Convention Center - Santos - SP
Site do evento: www.artmundisp.com.br
E-mail do evento: [email protected]
14º Salão Internacional de Decoração, Artesanato
e Design
Decoração de interiores, design. Com cerca de 700 expositores será
aberto(a) a empresários das 10h às 19h de 14 a 16 de março,
e das 10h às 16h no dia 17 de março.
Promoção: Laço Ltda.
Local: Expo Center Norte - São Paulo - SP
Site do evento: www.feiradad.com.br
E-mail do evento: [email protected]
42 feiras e eventos / fairs and events
2ª Feira de Móveis, Decoração e Artigos para o Lar
17 a 20 de março de 2011
Móveis, decoração, arquitetura, artesanato, banho, piscina e
sauna, cama, mesa e banho, construção, reforma e acabamento,
eletrodomésticos, eletroeletrônicos, gastronomia, iluminação,
paisagismo, presentes e adornos, utilidades domésticas. Com
cerca de 100 expositores será aberto(a) ao público, das 15h
às 23h na quinta e na sexta-feira, e das 10h às 22h no fim
de semana
Promoção:Tecnitur Feiras, Congressos e Eventos Ltda.
Local: Expominas Juiz de Fora - Juiz de Fora - MG
Site do evento: www.unilar.com.br
E-mail do evento: [email protected]
FEIART – Edição Rio Grande do Sul
26ª Feira Internacional de Artesanato
25 de março a 03 de abril de 2011
Peças de artesanato, roupas, objetos de decoração e comidas
típicas. Com cerca de 220 expositores será aberto(a) ao público,
das 13h às 21h.
Promoção: Diretriz Feiras e Eventos Ltda.
Local: Centro de Exposições FIERGS - Porto Alegre - RS
Site do evento: www.feiarters.com.br
E-mail do evento: [email protected]
BRASIL FEITO A MÃO
Fairs and Events
16th International Handicraft Fair
GIFT FAIR
Wood handicraft, ceramics, imitation jewelry, artisanal
chocolate, purses, rugs and others. Displaying about 1600
exhibitors, it will be open to the general public from 3 PM to
10 PM on January 21st to 27th, and from 3 AM to 11 PM on
January 28th to 30th.
Sponsorship:V & J Turismo e Eventos Ltda.
Location: Pavilhão das Dunas do Centro de Convenções (Dunas
Convention Center Pavilion) – Natal – Rio Grande do Norte
State
Event website: www.espacialeventos.com.br
Event e-mail address: [email protected]
42nd International Gifts and Domestic Utensils Fair
March 14th-17th, 2011
House utensils, set table, kitchen and pantry articles. Displaying
about 700 exhibitors, it will be open to businessmen from 10
AM to 7 PM on March 14th-16th, and from 10 AM to 4 PM
on March 17th.
Sponsorship: Laço Ltda.
Location: Expo Center Norte - São Paulo – São Paulo State
Event website: www.giftfair.com.br
Event e-mail address: [email protected]
UNILAR – Zona da Mata
ART MUNDI – Santos Edition
8thWorld Handicraft Fair
February 02nd to September 11th, 2011
Handicraft, décor, clothing, house utensils, rugs, fashion
complements and accessories, typical food, etc. Displaying
about 170 exhibitors, it will be open to the general public
from 2 PM to 10 PM on Mondays-Saturdays, and from 2 PM
to 9 PM on Sundays.
Sponsorship: Diretriz Feiras e Eventos Ltda.
Location: Mendes Convention Center - Santos – São Paulo State
Event website: www.artmundisp.com.br
Event e-mail address: [email protected]
14th International Décor, Handicraft and
Design Exposition
Interior decoration, design. Displaying about 700 exhibitors,
it will be open to businessmen from 10 AM to 7 PM on March
14th-16th, and from 10 AM to 4 PM on March 17th.
Sponsorship: Laço Ltda.
Location: Expo Center Norte - São Paulo – São Paulo State
Event website: www.feiradad.com.br
Event e-mail address: [email protected]
BRAZIL MADE BY HAND
2nd Furniture, Décor and House Articles Fair
March 17th-20th, 2011
Furniture, décor, architecture, handicraft, pool and sauna, kitchen,
bed and bath, construction, renovations and repair, appliances,
electronics, gastronomy, illumination, landscaping, gifts and
furnishings, domestic utilities. Displaying about 100 exhibitors,
it will be open to the general public from 3 PM to 11 PM on
Thursday and Friday, and from 10 AM to 10 PM on the weekend.
Sponsorship:Tecnitur Feiras, Congressos e Eventos Ltda.
Location: Expominas Juiz de Fora - Juiz de Fora – Minas Gerais
State
Event website: www.unilar.com.br
Event e-mail address: [email protected]
FEIART – Rio Grande do Sul State Edition
26th International Handicraft Fair
From March 25th to April 3rd, 2011
Handicraft, clothing, décor objects, and typical food. Displaying
about 220 exhibitors, it will be open to the general public from
1 PM to 9 PM.
Sponsorship: Diretriz Feiras e Eventos Ltda.
Location: Centro de Exposições FIERGS (FIERGS Exposition
Center) - Porto Alegre – Rio Grande do Sul State
Event website: www.feiarters.com.br
Event e-mail address: [email protected]
feiras e eventos / fairs and events 43
Onde Encontrar
Where to find
Alice Mascarenhas
(Página 6 / Page 6)
Belo Horizonte – Minas Gerais
Tel. 55 31 3234-3725 / 9637-3725
Flicker: www.flickr.com/photos/alicemascarenhas
E-mail: [email protected]
Lenice Góes
(Página 10 / Page 10)
Belo Horizonte – Minas Gerais
Tel. 55 31 3461-1949 / 9618-7273
E-mail:[email protected]
Thais Valadares Macedo
(Página 14 / Page 14)
Belo Horizonte – Minas Gerais
Tel. 55 31 8624-3239
Blog:bijouteriasdepet.blogspot.com
E-mail:[email protected]
Atelier Leila Tassis – Leila Tassis
(Página 18 / Page 18)
Santo André – Bahia
Tel. 55 73 3671-4031 / 55 73 3671-4027 / 55 31 9974-3344
Site : www.stoandre.com.br/atelier
E-mail : [email protected]
Lúcia e Luciana Rosalina
(Página 25 / Page 25)
Piedade dos Gerais – Minas Gerais
Tel. 55 31 9626-4772
E-mail: [email protected]
Grupo Lineart
(Página 30 / Page 30)
Limeira do Oeste – Minas Gerais
Tel. 55 34 9995-1614
E-mail: [email protected]

Documentos relacionados