projeto urbano e alternativas paisagísticas sustentáveis - PEU
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projeto urbano e alternativas paisagísticas sustentáveis - PEU
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA DANIELE BENTO RUAS PROJETO URBANO E ALTERNATIVAS PAISAGÍSTICAS SUSTENTÁVEIS: FORMAS DE CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ESPACIAL SUSTENTÁVEL Rio de Janeiro 2009 DANIELE BENTO RUAS PROJETO URBANO E ALTERNATIVAS PAISAGÍSTICAS SUSTENTÁVEIS: FORMAS DE CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ESPACIAL SUSTENTÁVEL Trabalho de Conclusão apresentado ao CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista em Engenharia Urbana. Rio de Janeiro 2009 FRENTE (APAGAR ISSO) Daniele Bento Ruas Projeto Urbano e Alternativas Paisagísticas Sustentáveis: Formas de contribuição para o desenvolvimento sócio-espacial sustentável Volume único. Monografia (Pós-Graduação em Engenharia Urbana) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Especialização em Engenharia Urbana Orientadora Elaine Garrido Vasquez. Co-orientadora: Sylvia Meimaridou Rola. Rio de Janeiro: COPPE / UFRJ, 2009. VERSO (APAGAR ISSO) Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sistema de Bibliotecas e Informação Projeto Urbano e Alternativas Paisagísticas Sustentáveis: Formas de contribuição para o desenvolvimento sócio-espacial sustentável / Daniele Bento Ruas – Rio de Janeiro: COPPE / UFRJ, 2009. 69 p. Monografia (Pós-Graduação em Engenharia Urbana) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Especialização em Engenharia Urbana Inclui bibliografia. 1. Arquitetura Paisagística. 2. Desenvolvimento Sustentável. 3.Planejamento Urbano 4.Meio ambiente I. Título II. Série Daniele Bento Ruas PROJETO URBANO E ALTERNATIVAS PAISAGÍSTICAS SUSTENTÁVEIS: FORMAS DE CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ESPACIAL SUSTENTÁVEL Monografia (Pós-Graduação em Engenharia Urbana) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Especialização em Engenharia Urbana Data da aprovação: ___________________________ Aprovada por: ___________________________________________________________ Elaine Garrido Vasquez, D. Sc., COPPE / UFRJ ___________________________________________________________ Sylvia Meimaridou Rola, D. Sc., COPPE / UFRJ ___________________________________________________________ Rosane Martins Alves, D.Sc., COPPE / UFRJ ___________________________________________________________ (nome, titulação e instituição a que pertence) ___________________________________________________________ (nome, titulação e instituição a que pertence) RIO DE JANEIRO, RJ / BRASIL ABRIL 2009 AGRADECIMENTOS A Francesco Nizzardelli por ser este homem maravilhoso, pelo porto seguro, dedicação, carinho, compreensão e auxílio em todas as minhas solicitações de ontem e de hoje. A Mônica da Silva pela guerreira é e que me passou seus brios, pelo carinho, cuidado, apoio, disponibilidade e auxílio com toda burocracia que a via me impõe. A Maria Severina da Silva pelo carinho e pelos primeiros passos na vida e na direção segura em trilhar os caminhos do conhecimento e das artes. A Letícia Spada pelo apoio, pela perseverança no uso de palavras sempre amigas de foco e incentivo neste trabalho e na vida, e por sua amizade e tudo o mais que isso traz embutido. A Elaine Garrido e a Sylvia Rola pela orientação, incentivo, compreensão e disponibilidade para todas as emergências. A Luiz Rocha Neto pelo maravilhoso profissional que é, pela disponibilidade e auxílio inicial nas indicações de casos e leituras, pela abertura de mente, amizade e linda forma de ver o mundo que me incentiva sempre a caminhar. Aos amigos do coração. A minha família querida. “O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você”. Mario Quintana RESUMO Esta monografia visa contribuir para a melhoria da qualidade de vida apoiada no desenvolvimento sócio-espacial sustentável a partir do estudo de caso do projeto Sueco, Hammarby Stöjad. Localizado na cidade de Estocolmo é considerado uma “eco-cidade” e está em fase final de implantação. A partir da desta análise, verificase a aplicabilidade de suas estratégias de planejamento e projeto urbano e arquitetura paisagística sustentáveis no território brasileiro. ABSTRACT This monograph aims to contribute to improving life-quality based on the sustainable socio-spatial development from a case study of Swedish design, Stöjad Hammarby. Located in the city of Stockholm is considered an "eco-city" and is in final stage of deployment. From this analysis, there is the applicability of their strategies for planning and urban design and landscape architecture sustainable in Brazil. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO – Cenários e conceitos .................................................. 8 1.1. OBJETIVO DO TRABALHO................................................................ 11 1.2. HIPÓTESES......................................................................................... 11 1.3. JUSTIFICATIVA................................................................................... 12 1.4. METODOLOGIA DE TRABALHO.................................................................. 12 1.5. CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA....................................................................... 13 1.6. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS.......................................................... 13 1.7. LIMITAÇÕES DA PESQUISA................................................................ 14 2. PAISAGISMO e SUSTENTABILIDADE...................................................... 15 3. ESTUDOS DE CASO – HAMMARBY SJÖSTAD........................................ 18 3.1. Resumo do projeto.................................................................................. 19 3.2. Antecedentes........................................................................................... 22 3.3. Ações e metas do projeto Hammarby..................................................... 24 3.3.1. Planejamento integrado com enfoque ecológico.......................... 24 3.3.2. Ecologia e sustentabilidade.......................................................... 24 3.3.2.1. Uso do terreno.................................................................... 26 3.3.2.2. Mobilidade.......................................................................... 28 3.3.2.3. Comunidade e saúde......................................................... 30 3.3.2.4. Recursos............................................................................ 31 3.3.2.5. Rede de comunicação....................................................... 46 3.3.3. Considerações sobre o projeto Hammarby................................. 53 3.3.3.1. Pontos fortes...................................................................... 53 3.3.3.2. Pontos fracos ou não esclarecidos................................... 54 3.3.3.3. Avaliação pela população residente................................. 54 3.3.3.4. Considerações finais sobre o projeto Hammarby............ 57 4. ENUMERAÇÃO DE ESTRATÉGIAS PAISAGÍSTICAS E SUSTENTÁVEIS E FORMAS DE ATUAÇÃO DOS DIFERENTES SETORES 5. 58 APLICABILIDADE NACIONAL................................................................ 60 6. CONCLUSÃO............................................................................................. 67 REFERÊNCIAS................................................................................................ 68 8 1. INTRODUÇÃO Cenário e conceitos: Há alguns anos para alguns países e há menos tempo para outros se iniciou um processo de conscientização global e muitos avanços aconteceram em relação ao modo de ver os valores e acontecimentos referentes às formas de ocupação e utilização do nosso planeta. Muitos desses vêm caminhando para interdisciplinaridade e estão se agregando ao campo do Urbanismo, em relações com Desenho e Planejamento Urbano, dando origem a novas formas de avaliação e Projeto ou Desenho Urbano é entendido aqui como a materialização de um Plano Urbanístico ou Planejamento Urbano, apoiado em normas legais, articulação das esferas pública, privada e comunitária, e formas de gestão. “Em um sentido amplo, planejamento é um método de aplicação contínuo e permanente, destinado a resolver racionalmente, os problemas que afetam uma sociedade situada em determinado espaço, em determinada época, através de uma previsão ordenada capaz de antecipar suas ulteriores conseqüências.”1 (Carta dos Andes appud Ferrari, 1979). Os conceitos de urbano (urbs2) e cidade (civitas2), inseridos no trabalho serão importantes para afirmar e restringir o escopo da pesquisa. Estes conceitos foram apresentados pelo espanhol Idelfonso Cerdá e posteriormente adaptados e 1 Carta dos Andes, 1958 (Bogotá, Colômbia) – Seminário de Técnicos e Funcionários de Planejamento Urbano promovido pelo CINVA – Centro Interamericano de Vivenda e Planejamento: “planejamento é o processo de ordenamento e previsão para conseguir, mediante a fixação de objetivos e por meio de ação racional, a utilização ótima dos recursos de uma sociedade em uma época determinada” 2 Na antigüidade, o povo romano indicava a experiência de cidade com dois diferentes étimos: 1) urbs, urbis; 2) civitas, civitatis. O termo urbs, do latim terra, cidade, indicava, antes de tudo, o espaço geográfico diferente do rus, rural, campo. Já a palavra civitas, civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego na palavra politikos – aquele que habita na cidade, deu origem ao termo português cidade, indicava, ao contrário, o espaço da possibilidade da convivência humana sob um mesmo principio. Assim, a palavra cidade na sua origem nunca indicou conjunto de prédios, mas aquele princípio comum capaz de reunir e libertar o homem para a sua identidade e seu autoconhecimento. 9 utilizados por Richard Sennett (SENNET, 1991 e 2003). Eles se referem a urbs como pedra e civitas como carne. O conceito urbs refere-se ao componente material da cidade, a parte propriamente física, com seu traçado urbano das ruas, suas casas, praças, edificações, o equipamento urbano; enquanto civitas representa a vida social, política e imaginária dos habitantes da cidade. A palavra civitas é apropriada para designar os habitantes da urbs, os cidadãos. Estratégias paisagísticas são aquelas que oferecem diferentes formas de intervenção na paisagem. Paisagem está ligada ao conceito de espaço, “cada paisagem contém espaços, lugares onde vivem comunidades inteiras, podendo conter partes ou todo de ecossistemas diversos.” (MACEDO, 1999). Já o conceito de Paisagismo é dado no Brasil de forma ampla e genérica, referindo-se a qualquer atividade ligada à paisagem, como estudo, plantio de espécies vegetais até desenvolvimento de projetos complexos para áreas externas. “O conceito de arquitetura paisagística corresponde a uma ação de projeto específica, que passa por um processo de criação a partir de um programa dado, visando atender à solicitação de resolução de uma demanda social requerida por um interlocutor específico, seja ele o Estado, um incorporador imobiliário, uma família.” (MACEDO, 1999). Neste trabalho trataremos Paisagismo como sinônimo de Arquitetura da Paisagem, ou Arquitetura Paisagística, representados tanto pela arte e técnica de planejamento e projeto, quanto da gestão e preservação de espaços livres, em micro e macro-paisagens. 10 O Relatório Brundtland3 expressa desenvolvimento sustentável como “um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras e envolve também aspectos sócio-espaciais e econômicos extraterritoriais”. Estas necessidades futuras não são possíveis de se prever, e com isso a idéia de sistema urbano sustentável fica diferenciada para quem a analisa. Alguns pensam que cidades pequenas anteriores a revolução industrial ou vilas préhistóricas seriam modelos sustentáveis, porém ambos se baseavam no paradigma de extração de recursos e conseqüente produção e descarte de resíduos. Muitas vezes prevalece a falsa idéia de sistemas menores parecem sustentáveis, pois os danos ao meio ambiente são menores. “Os processos ambientais e sócio-econômicos reproduzem-se dentro de cidades no contexto de sistemas complexos e dinâmicos, promovendo uma configuração atual, na qual mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas e mais de 90% do crescimento futuro da população concentrar-se-á em cidades de países em desenvolvimento, a qual será, na sua maioria, pobre”. (ROLA, 2008). “As cidades são as principais causadoras da destruição ecológica do global, fica claro então que os problemas meio-ambientais devam ser abordados intensamente nas cidades. (…) Entretanto o termo está sendo banalizado quando é usado por políticos, tomadores de decisão e formadores de decisão para garantir que tudo continue como está e reclamar uma correção ecológica que é falsa.” (RUANO, 1999). Nesse trabalho sustentabilidade será analisada em cenários específicos, local, em projetos contemporâneos que refletem para um contexto mundial. “O conceito de desenvolvimento sustentável chega como um marco referencial para a humanidade por manter a qualidade de vida, garantindo o acesso contínuo aos recursos naturais e evitando a continuidade aos danos ambientais.” (RUANO, appud Our Common Inheritace, DOE, HMSO, Londres, 1990). 3 Relatório Bundtland, conhecido como Nosso Futuro Comum, produzido pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, para fundamentar a elaboração de propostas com vistas à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. ONU, 1992. 11 1.1. OBJETIVO DO TRABALHO O objetivo geral deste trabalho é analisar alcances e limites da implementação de projeto urbano sustentável em cidade internacional, com foco no desenvolvimento sócio-espacial sustentável advindo do planejamento, desenho urbano e arquitetura paisagística, com as estratégias sustentáveis adotadas. Os objetivos específicos são analisar como foi implementado o projeto, verificar se houve aceitação e participação da população (contribuições espontâneas – participação de audiências ou reuniões públicas; manutenção; ações de preservação e manutenção do projeto executado), verificar a participação e funções exercidas pelo setor público, privado e comunitário, fazer um apanhado das estratégias que foram mais bem sucedidas, destacar mecanismos de gestão facilitadores da interação e participação dos poderes analisados na aplicação das estratégias e finalmente, guardando as diferenças regionais, trazer para o contexto nacional a possibilidade de implantar ou adaptar as estratégias estudadas. 1.2 . HIPÓTESES Este trabalho se valerá da hipótese de que não existem elementos facilitadores para implementação de projetos urbanos e de arquitetura paisagística sustentáveis, bem como elementos de gestão de pós-ocupação, assim estes são mal empregados e não obtêm os resultados esperados, desvalorizando a resposta positiva que trariam. Para validar tal hipótese será analisado programa e projeto implementado em cidade internacional, e nesta análise caberá verificar a existência de divulgação suficiente das estratégias urbanas e paisagísticas sustentáveis, como meio de disseminação ao seu uso, sendo estas suficientes e bem elaboradas. Será visto se a 12 sustentabilidade é contemplada para o desenvolvimento sócio-espacial e enfim analisada a eficiência da participação dos setores público, privado e comunitário. 1.3. JUSTIFICATIVA Como o desenho urbano e a arquitetura paisagística contribuem para o desenvolvimento sócio-espacial sustentável? Considerando os níveis de poluição, de escassez de água potável e de energia, de condições subumanas que muitos vivem, do cenário de intensa exploração dos recursos naturais e destruição de fauna e flora, vemos muitos modos de se fazer cidades como responsáveis por grande parte da má qualidade de desenvolvimento e de impacto ambiental negativo gerado no mundo. Portanto, a arquitetura e o urbanismo devem mudar este paradigma tornando-se sustentáveis como atividades renovadoras, reparadoras e restauradoras do meio ambiente urbano. 1.4. METODOLOGIA DE TRABALHO Este trabalho será desenvolvido através de uma pesquisa exploratória do tipo estudo de casos, valendo-se da análise de cidades internacionais e do estudo nacional em âmbito geral, por meio de pesquisa de publicações de órgãos públicos e privados, pesquisa em periódicos e revistas especializadas (impressas e digitais), pesquisa em monografias e livros que tratam do tema geral ou especificamente e contato com os autores dos projetos. 13 1.5. CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA Como alternativa para o crescimento ordenado das cidades este trabalho visa contribuir a partir da análise e estudo de estratégias estrangeiras e aplicabilidade de algumas em sistemas urbanos brasileiros para a melhoria da qualidade de vida apoiada no desenvolvimento sustentável. 1.6. DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS O capítulo 1, a partir de um breve histórico, mostrou que interdisciplinaridade está se agregando ao campo do urbanismo, em relação com Planejamento, Desenho Urbano e Arquitetura Paisagística, dando origem a novas formas de avaliação e intervenção nas cidades e verificando a sustentabilidade como elo e principio estratégico para a melhoria da qualidade de vida. O segundo capítulo apresentou estudo de caso do projeto Hammarby Sjöstad, em Estocolmo, Suécia, enumerando suas ações e metas. Enumerou os pontos fortes de projeto, os pontos não esclarecidos, opinião dos residentes e finalizou com as considerações gerais sobre o projeto. O capítulo 3 enumerou as principais estratégias paisagísticas do estudo de caso e a atuação dos diferentes setores no desenvolvimento sócio-espacial sustentável. O capítulo 4 mostrou como as boas estratégias adotadas podem ter formas de implementação nas cidades brasileiras. O quinto capítulo apresentou a conclusão. 14 1.7. LIMITAÇÕES DA PESQUISA A pesquisa será restrita a cidades fora do contexto brasileiro que desenvolveram e implementaram projetos de desenho urbano e estratégias paisagísticas sustentáveis. Não serão estudados outros tipos de cidades, projetos não implementados e projetos paisagísticos não sustentáveis. 15 2- PAISAGISMO e SUSTENTABILIDADE “De forma cumulativa ou sistêmica, as mudanças ambientais globais afetam a Terra integralmente. Alterações como as mudanças climáticas, mudanças da química atmosférica e dos ciclos biogeoquímicos; mudanças no uso e cobertura da terra; a poluição química global e as alterações do ciclo hidrológico, todos estes fenômenos do ecossistema global incorrem em impactos, os quais já podem ser sentidos nos mais inusitados recantos do globo terrestre.” (Rola, 2008). “Os problemas ambientais são muitos e a ”Agenda 21” é o documento oficial que propõe ações prioritárias em nível global para erradicar a pobreza, proteger a atmosfera e os bosques, deter os avanços da desertificação, proteger os oceanos e resguardar a água fresca. Em função desta agenda, a produção arquitetônica nas mega-cidades, por sua vez, deve ser responsável por criar alternativas estrategicamente eficientes para tornar auto-suficientes suas edificações quanto aos requisitos de um bom e adequado desenvolvimento das atividades do humano.” (Rola, 2008). O explosivo crescimento das cidades no pós-guerra trouxe mudanças radicais à percepção humana de terra, meio ambiente e seus recursos. Até então vastas partes das cidades tornaram-se improdutivas. Enormes quantidades de água, energia e nutrientes eram desperdiçados em drenagem distribuição de esgotos e outros processos urbanos. Valores estéticos e das doutrinas formais sobre parques e espaços livres urbanos apresentavam pouca conexão com a dinâmica dos processos naturais. Recreação e amenidade eram vistas como prioritárias em Parques Urbanos. Assim como memória de velhas tradições culturais e jardinísticas, excluindo-se daí a ecologia, determinam o conceito de elaboração e manutenção das áreas verdes. Diante da energia barata e tecnologia com metas ainda hoje mais econômicas que ambientais ou sociais, processos naturais que contribuem para a forma física das cidades eram esquecidos. Foi após diversos casos de graves desastres ambientais, no final da década de 1960, que tomadas de consciência sobre a necessidade de trazer os valores ambientais para o uso do solo e o manejo dos recursos naturais ficam evidentes. Trabalhos, dentre outros, de McHarg e Halprin, que abarcaram a visão ecológica de 16 inter-relacionaram vários processos presentes na biosfera terrestre. Com isso iniciase a visão de desenvolvimento interconectado dos processos físicos de vida na terra, do clima, água, plantas e animais e a contínua transformação e reciclagem dos materiais vivos e não-vivos (bióticos e abióticos) que mantém a própria perpetuidade da biosfera, que sustenta a vida na Terra e a qual dá origem à paisagem física. Segundo FRANCO (1997), as doutrinas de desenho, como "Form follows function”, que serviram de inspiração para o meio ambiente construído desde a Bauhaus da década de 1920 não se puderam manter por muito tempo. A aplicação da filosofia do "Design with nature" torna-se cada vez mais aceita pelas práticas de planejamento visando ao manejo dos recursos e ao desenvolvimento sustentado. Isso ocorre especialmente nos ambientes onde os objetivos humanos estão presentes ou potencialmente em confrontação com os processos naturais. Entretanto algumas contradições ainda perduram, o mesmo mundo que está preocupado com as mudanças climáticas e os decorrentes problemas ambientais, ainda tende a enxergar a cidade, a paisagem urbana, sem preceitos ecológicos, ou mesmo com pequena relevância de desenho e forma, levando a degradação ambiental. A visão ecossistêmica reconhece a diversidade ecológica e é socialmente necessária para a saúde e qualidade de vida urbana. “(...) o paisagismo pretenderá transcender seu foco na jardinagem e sua atuação restrita ao jardim público ou privado para se repensar como planejamento paisagístico e assim refundar-se como contribuição necessária ao pensamento urbano moderno. Amplia seu campo, sem abandonar seus conhecimentos específicos: a lide com as espécies vegetais, como fato biológico e como potencial formal compositivo, a busca de equilíbrio entre formas e cores, o desenho manifestando-se tanto no espaço como no tempo, a unidade na variedade das estações e dos percursos. Esses e outros recursos inerentes ao projeto de jardins não perdem a validade nos novos âmbitos almejados; em acréscimo ambiciona-se ocupar também este outro aparente vazio de reflexão e de ação, certamente da maior importância: a cidade como jardim total, como paisagem recriada, natureza desenhada, habitat humano equilibrado ou, ao menos ponderado.” (ROSA KLIASS – Desenhando paisagens, moldando uma profissão / Rosa Grena Kliass; texto de Ruth Verde Zein – São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2006) 17 Neste contexto a Engenharia Urbana nos remete a uma atividade integradora de áreas distintas de conhecimento e experiência, e não só junto às áreas do planejamento e da arquitetura, mas também como atividade de comunicação e diálogo entre aquelas e as demais do conhecimento e com o meio cultural no qual vivemos. Sendo uma dessas ramificações, e baseada no mesmo enfoque, a Arquitetura Paisagística pretende transcender a jardinagem e atuação restrita ao jardim público ou privado para se repensar como planejamento paisagístico e atingir as metas necessárias do novo pensamento urbano. 18 3. ESTUDO DE CASO - HAMMARBY SJÖSTAD Localização: Estocolmo, Suécia Área: 200 hectares Equipe de projeto: Principais parceiros: Exploateringskontoret Stockholm Stad e 20 diferentes proprietários Developer: Exploateringskontoret in em cooperação com mais de 30 diferentes desenvolvedores Masterplanner: Stadsbyggnadskontoret Architect: Stadsbyggnadskontoret em cooperação com mais de 30 arquitetos diferentes Imagem delimitando Hammarby Sjöstad. Sem escala. Fonte: Google Earth, adaptada pela autora. 19 3.1. Resumo do projeto O distrito de Hammarby Sjöstad fica localizado na Suécia, na cidade de Estocolmo. Estocolmo é constituída de quatorze ilhas em torno de um dos maiores mais bem conservados centros de cidade medieval da Europa, a capital sueca é soberbamente posicionada onde o lago Mälaren se abre no Mar Báltico e tem reputação mundial de boas práticas ambientais e habitacionais. Recentemente, a cidade foi nomeada a primeira capital ambiental da Europa e tem grandes ambições para a redução do impacto climático. Tem o objetivo de reduzir as emissões de gases estufa da cidade para 25 por cento até 2015. Hammarby Sjöstad foi implantado em uma antiga área de uso industrial, Brownfield, a 5,3km do centro de Estocolmo, e foi inicialmente concebido como um local para as Olimpíadas de 2004. Seu projeto teve início em 1990 e é um dos maiores projetos de desenvolvimento urbano de Estocolmo. Imagem mostrando os 5,3km de percurso Hammarby Sjöstad - Centro de Estocolmo. Imagem sem escala. Fonte: Google Earth, adaptada pela autora. 20 Fica situado, mais especificamente, ao redor do Lago Hammarby Sjö, que inspira tanto projeto quanto nome, que significa “a cidade ao redor do lago Hammarby Sjö”. A idéia era mostrar uma oportunidade única - a expansão do centro da cidade, com o foco sobre a água, ao converter uma antiga área industrial e portuária em um bairro moderno. Assim, a partir do centro de Estocolmo, Hammarby acontece como expansão natural, contribuindo para a nova formação da infra-estrutura, planejamento e concepção dos edifícios. Essa expansão tem envolvido reconstruções extensas de infra-estrutura, com remoção de obstáculos de tráfego e de antigas áreas de terminais e industriais, eliminadas gradualmente, concentradas ou com modificação de uso. As dimensões das ruas, comprimento e altura dos blocos de edifício, densidade e uso misto foram concebidos para tirar partido das visadas de água, parques e aproveitamento de luz solar. As profundidades restringidas dos edifícios, fundos, varandas e terraços, as grandes áreas envidraçadas e os telhados verdes são apenas algumas das características necessárias para cumprir o programa para o ambiente de Hammarby Sjöstad, com o objetivo de se concentrar sobre as fontes renováveis de energia, redução dos resíduos, materiais de construção ecológicos, e opções de transportes alternativos nas fases de planejamento e implementação. Hammarby Sjöstad é uma área bem planejada com seu próprio modelo de reciclagem e local de tratamento de esgoto. A energia é produzida na estação de aquecimento urbano e esta é baseada em combustíveis renováveis. Resíduos de combustíveis também são reciclados gerando calor. Este modelo integrado para energia, resíduos e gestão de água e esgoto é conhecido como “Modelo Hammarby”. 21 O projeto está sendo implantado em fases. As áreas em torno de Sickla Udde, Sickla Kaj e Sickla Kanal estão totalmente implantadas. As próximas fases envolvem Hammarby Gård (1.000 apartamentos), Redaren e Sjöfarten (500 apartamentos), Lugnet (650 apartamentos), Henriksdalshamnen (850 apartamentos) e Sjöstadsporten (260 apartamentos com 15.000 m2 de espaço para escritórios e 15.250 m2 para hotéis). Todas estas áreas oferecem diferentes tipos de zoneamento. Quando finalizada a construção, Hammarby Sjöstad terá 11.000 unidades residenciais para pouco mais de 25.000 pessoas e um total de aproximadamente 35.000 pessoas irá viver e trabalhar numa área de 200 hectares ao Sul de Estocolmo. Imagem sem escala mostra simplificadamente algumas as áreas das fases de construção. Fonte: Google Earth, adaptada pela autora. Hammarby Sjöstad será totalmente construída até 2016 e sua expansão está diretamente ligada ao desenvolvimento do território municipal e dos serviços comerciais, com maior investimento em transporte público. 22 3.2. Antecedentes A área circundante ao Hammarby Sjö, a sul de Estocolmo mudou drasticamente muitas vezes. Em 1800, Sickla era um destino popular para excursões pelos habitantes da Södermalm, distrito do sul de Estocolmo, e foi conhecido popularmente como ”Eastern Söder’s Pearl”. Sickla Udde, ”Eastern Söder’s Pearl”,foi o primeiro parque temperado de Estocolmo, com uma pista de dança e um pavilhão de música. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se Autor: Stockholm City Museum. Vista de Barnängen em direção a Sickla Udde e Sickla Kaj. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se Autor: Stockholm City Museum. A área foi parcialmente destruída quando o traçado da rodovia Hammarby foi construído, e o fundo marinho da baía Lugnet foi preenchido com terra, pedras e lixo escavados, como parte do projeto de zona portuária. Os planos, porém, não levaram a nada e os terrenos foram disponibilizados para uso industrial e de armazéns. Mas nenhuma grande empresa ou indústria estabeleceu-se na área, ao invés disso, áreas que na década de 1920 eram descritas como “pacíficas e idílicas cenas da natureza” precisaram de apenas algumas décadas para chegar a um aspecto de ‘favela’ em aço corrugado, com uma zona industrial de pequena escala. 23 Área favelizada antes da implementação do projeto. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se, adaptada pela autora. Ameaças constantes de demolição dos edifícios mostravam que a área era de natureza temporária. Em grande parte constituída por uma gama de barracos de aço corrugado durou até 1998, quando foi demolida para abrir caminho para Hammarby Sjöstad renascer, no novo milênio, como a expansão moderna e ambientalmente preocupada do centro da cidade de Estocolmo. Aérea de Hammarby em construção, 2001. Fonte: http://www.panoramio.com. Autor: David Thyberg Hammarby com leste do distrito ao fundo. Fonte: http://www.panoramio.com. Autor: Von Weissnudel 24 3.3. Ações e metas do projeto Hammarby 3.3.1. Planejamento integrado com enfoque ecológico A verdadeira chave para o sucesso do bairro é o planejamento integrado de trabalho que foi realizado antes da área estar desenvolvida. Todas as diversas autoridades e as administrações que, normalmente, envolvem-se nas várias fases do processo reuniram-se e elaboraram o plano para a nova abordagem conceitual que resultaria na Hammarby Sjöstad. O trabalho de planejamento integrado realizado desde o início foi inovador e único para a cidade e possivelmente para o mundo. E os resultados são visíveis em Hammarby Sjöstad. O objetivo foi criar um ambiente residencial com base em uso sustentável dos recursos, onde o consumo de energia e produção de resíduos são minimizados, e economia de recursos e reciclagem são maximizadas simultaneamente. Sjöstad é o reduto de novas soluções técnicas para o suprimento e consumo de energia, de uma estação piloto de instalações de tratamento de efluentes, onde serão testadas novas tecnologias, e de um prático sistema automatizado para eliminação e gestão de resíduos. 3.3.2. Ecologia e sustentabilidade Desde o início, a cidade impôs rigorosas exigências ambientais para edificações, instalações técnicas e tráfego. O objetivo de todo o programa ambiental é reduzir pela metade o impacto ambiental total em comparação com áreas construídas no início dos anos 1990. Outra maneira de se colocar é dizendo que os edifícios na Hammarby Sjöstad serão duas vezes mais ecológicos que edifícios normais. A arquitetura é atual, com foco em materiais sustentáveis como vidro, madeira, aço e pedra, o solo foi completamente descontaminado antes da obra 25 começar e um pesado investimento em espaços verdes públicos, com planos de manutenção de floresta, como a de carvalho, uma ampla avenida, e vários parques grandes. Atraentes formas de transportes públicos também são oferecidas, tais como Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), barcas e acesso a um sistema de caronas. Área após da implementação do projeto, 1997. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se, adaptada pela autora. As ações e metas da vertente ecológica geral se subdividem em ações e metas específicas para cada área de atuação, como é verificado a seguir. 26 Metas ambientais em ecologia e sustentabilidade Reabilitação sanitária, reutilização e transformação dos antigos terrenos industriais abandonados em atraentes zonas residenciais com belos parques e espaços verdes públicos. Transportes públicos rápidos e atraentes, combinado com caronas e belas ciclovias, a fim de reduzir a utilização de automóveis particulares. Oferecer oportunidades de exercício físico, esporte e cultura. Uso do terreno Mobilidade Social Recursos Materiais de Ambientalmente certificado com uso racional e enxuto. construção Combustíveis renováveis, produtos de biogás e Energia reutilização de resíduos de calor juntamente com o consumo eficiente de energia nos edifícios. Tão limpa e eficiente quanto possível - tanto de entrada Água e esgoto quanto de saída - com a ajuda das novas tecnologias para economizar água e de tratamento de efluentes. Cuidadosamente ordenadas em sistemas práticos, com Resíduos material de reciclagem e de energia maximizado, sempre que possível. Rede de comunicação O centro de informações ambientais, GlashausEtt, serve como demonstração do ambiente e centro de aprendizagem para os residentes e visitantes. 3.3.2.1. Uso do terreno A - Descontaminação do solo A antiga área industrial deixou inúmeros poluentes no ambiente, principalmente no solo. Só em Sickla Udde, a terra escavada continha 130 toneladas de óleos e gorduras, e 180 toneladas de metais pesados. De modo a garantir que ninguém esteja sujeito a quaisquer riscos, na execução de trabalhos futuros, por exemplo, reparação de canalizações, ou plantio de árvores, a Administração Ambiental e de Saúde da Cidade de Estocolmo está acompanhando todo o trabalho de descontaminação do solo de Hammarby Sjöstad, garantindo que as normas 27 necessárias sejam cumpridas para evitar prejuízos tanto ao ambiente quanto à saúde das pessoas. B - Espaços Verdes Públicos: Preservar a natureza e a criação de novos espaços verdes públicos Uma avenida que liga novos espaços verdes públicos do município e forma corredores verdes percorre todo o caminho até a parte sul de Hammarby Sjöstad. Os parques ao sul do Lago Hammarby estão todos ligados aos grandes espaços verdes públicos da reserva natural de Nacka e a floresta de Årsta, e formam cunhas verdes no coração de Hammarby Sjöstad. A reserva natural de Nacka está ligada à área da cidade por meio de ecodutos (viadutos plantados) sobre a rodovia Södra Länken. Novos parques, no norte de Hammarby Sjöstad estão sendo ligados aos parques Vitaberg ao Stora Blecktorn. C - Vegetação existente salva e mantida O ambiente natural ao longo das margens do Sickla Udde foi recriado utilizando novas árvores e forrações com cana. A floresta de carvalhos Sickla Udde estava desbastada, os carvalhos sobreviventes e árvores mortas foram deixados no local em conjunto formando ambientes atraentes para muitas espécies de insetos e aves. Os parques são destinados a serem ambientes atraentes e servirem como caminhos para as pessoas. Também se destinam a servir como zonas de dispersão e ambiente de moradia para animais e plantas. D - Metas para uso de terrenos • Padronizar as aberturas de espaços: Devem ser de pelo menos 15m ² do espaço de pátio e um total de 25 a 30m ² de espaço de pátio e área de parque com 28 300m dentro de cada apartamento (equivalente a 100m ² BTA). • Ao menos 15% do espaço do pátio será iluminado, no mínimo de 4 a 5 horas nos equinócios, Primavera e Outono. • A urbanização de espaços verdes públicos não urbanizados deve ser indenizada por sob a forma de biótopos que beneficiam a diversidade biológica na área imediata. • Áreas naturais de especial valor devem ser protegidas. 3.3.2.2. Mobilidade Exemplos de transportes implementados. Na ordem: VLT, barca e sistema de caronas. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se A - Redução o uso de carro O transporte baseado em carros é responsável por grandes problemas urbanos em um distrito densamente construído. Como parte do esforço para se criar um ambiente urbano sustentável têm sido feitos investimentos substanciais nos transportes públicos para reduzir a utilização carro. Além das ciclovias e ônibus, Sjöstaden oferece linhas de VLT, barcas e um sistema de caronas como alternativas atraentes à utilização de automóveis particulares. O objectivo é que 80% dos 29 residentes e dos trabalhadores façam viagens em transportes públicos, a pé ou de bicicleta até ao ano 2010. B - Linhas de VLT e ônibus Grandes investimentos têm sido feitos no setor dos transportes públicos na forma de uma nova linha de VLTs "Tvärbanan" e de tráfego de ônibus. A linha de VLT metropolitano faz um percurso central com quatro paradas ao longo da principal avenida que atravessa Hammarby Sjöstad. C - Barcas Sjöstaden tem linhas de barcas que tráfegam o Lago Hammarby entre os lados sul e norte. O sistema é dirigido pela cidade de Estocolmo e é gratuito. As barcas funcionam 365 dias do ano a partir de manhã cedo até tarde da noite. D – Caronas Foi lançado um sistema de caronas aberto para residentes e pessoas que trabalham na área. Cerca de 10% das famílias aderiram às caronas até à data, existindo entre 25 e 35 carros de carona estacionados na área, com o número variável de acordo com a demanda. Cerca de 75% dos carros são biocombustíveis. E - Metas para mobilidade • 80% dos residentes e dos trabalhadores devem fazer viagens em transportes públicos, a pé ou de bicicleta até ao ano 2010. • Pelo menos 15% das famílias na Hammarby Sjöstad deve ter aderido ao sistema de caronas em 2010. 30 • Pelo menos 5% da área de trabalho deve ser atendida pelas caronas até 2010. • 100% do transporte pesado deve ser feito por veículos que respondem às atuais exigências das zonas ambientais. 3.3.2.3. Social Um dos objetivos do Hammarby Sjöstad é do distrito torna-se um lugar saudável para as pessoas viverem, um lugar que estimula o corpo e a alma e, conseqüentemente, este lugar deve oferecer oportunidades de exercício físico, esportes e cultura. A - Exercício e desporto Sjöstaden tem uma série de exercícios e instalações desportivas, tais como Hammarbybacken, uma pista de esquis em declive com incríveis vistas. As instalações desportivas em Hammarbyhöjden, perto da margem Sul do Hammarbybacken são um trunfo importante para atender a escola de jovens e suas atividades desportivas. O pé do talude também abriga a valiosa reserva natural de Nacka. Uma sala de desporto com grande facilidade de equipamentos de exercícios foi construída em Sjöstaden, e esta característica positiva ecoou nos Jogos anuais de Sjöstad realizados no Dia Nacional da Suécia, sob a administração da associação desportiva Hammarby IF. Sjöstaden possui inúmeras trilhas e pistas para bicicletas ao longo dos canais, assim como muitos caminhos atrativos para passear através de uma variedade de espaços verdes públicos no distrito. Existem também pistas para bicicletas ao longo da estrada principal Sjöstaden. 31 Pista de esquis Hammarbybacken. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se Parque de esporte e lazer. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se B - Cultura O acesso a diferentes tipos de atividades culturais também é considerado importante em termos de saúde em geral. Lojas culturais em Hammarby incluem o centro cultural e social Fryshuset, e Kulturama, que oferece aulas em uma vasta gama de disciplinas para estudantes de todas as idades, com uma biblioteca e um centro cultural que estava para ser aberto. 3.3.2.4. Recursos (materiais de construção, energia, água e esgoto, e resíduos): As soluções ambientais integradas dos recursos são entendidas através do eco-ciclo que se tornou conhecido como o “Modelo Hammarby”. O eco-ciclo controla energia, resíduos, água e esgoto para a habitação, escritórios e outras atividades comerciais na Hammarby Sjöstad. O eco-ciclo é também concebido para atuar como um modelo para o desenvolvimento de sistemas tecnológicos equivalentes em grandes cidades. 32 Energia, Água e Esgoto e Resíduos = ECO-CICLO = MODELO HAMMARBY. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se 33 Materiais de construção organicamente sustentáveis e eco-inspeções: O uso de materiais sustentáveis se aplica tanto nas fachadas e no terreno, bem como nas partes internas dos edifícios - nos reservatórios, instalações e equipamentos. O princípio norteador tem sido a utilização de materiais já 'tentados e testados', são materiais sustentáveis e produtos ecocertificados, a fim de evitar qualquer utilização de produtos químicos ou construção com materiais que contenham substâncias perigosas. As águas das chuvas não devem ser contaminadas com metais ou óleos na rota do Lago Hammarby, razão pela qual os materiais de fachadas e coberturas que possam liberar metais pesados ou outras substâncias perigosas têm sido evitados, e por isso materiais como óleo ecológico tem sido utilizado para passeios ao longo do Canal Sickla e aço inoxidável na circulação da ponte. Outro ponto importante é o acompanhamento e fiscalização. Todos os que se constroem em Hammarby Sjöstad devem verificar e declarar os seus produtos químicos e materiais de construção antes do trabalho em seu projeto começar, e eco-inspeções são realizadas regularmente durante todo o processo de construção. A - Metas para materiais de construção • Rotinas devem ser elaboradas para escolher os melhores materiais a partir de recursos relacionados dos pontos de vista ambiental e de proteção da saúde, antes do início dos trabalhos de planejamento. • Madeiras prensadas de construção não devem ser utilizadas. 34 • Cobre não pode ser utilizado como material condutor em encanamentos horizontais ou verticais, troncos de água do sistema de torneira, seja interno quanto externo. Isto não se aplica para quartos e suas conexões dentro o apartamento. • Materiais galvanizados para uso externo devem ter superfície tratada. • O uso de cascalho e areia recém-extraídos deve ser minimizado. • Materiais reciclados devem ser sempre utilizados por serem a melhor opção para o ambiente e por razões de saúde, desde que seu uso seja técnica e economicamente viável. Energia: A - Energia sustentável e energias renováveis A cidade de Estocolmo sempre esteve bem à frente do seu tempo quando se trata de encontrar novas fontes de energia renovável para torná-la um lugar melhor para se viver. Por várias décadas, Estocolmo mudou o modo de utilizar aquecimento para edifícios. Hammarby Sjöstad, chegou um passo à frente na instalação de vários tipos de abastecimento de energia, novas tecnologias estão sendo usadas como parte de projetos de desenvolvimento na Hammarby Sjöstad, como por exemplo células de combustível, células solares e painéis solares. O objetivo é, em parte para testar a nova tecnologia e em parte para demonstrar os métodos de construção de uma cidade sustentável. Quando as obras de construção Hammarby Sjöstad estiverem concluídas, a área de metade dos habitantes vai produzir toda a energia de que necessitam. Eles vão fazer isso, utilizando a energia presente em águas residuais tratadas e da energia encontrada nas fontes classificadas de resíduos combustíveis. 35 B - O aquecimento urbano A estação de força Högdalen tem produção combinada de calor, usa ordenadamente resíduos combustíveis como uma fonte de energia (combustível) para produzir eletricidade e aquecimento. Fontes renováveis de energia são utilizadas sempre que possível, a fim de pouparem o ambiente. Outro exemplo de fornecimento de calor sustentável é a estação de calor de Hammarby que extrai calor a partir de águas residuais tratadas da estação Henriksdal de tratamento de águas residuais. C - O resfriamento urbano Estocolmo concentra-se na produção centralizada do aquecimento de distrito e o resfriamento de distrito faz da cidade um líder mundial neste campo. O resfriamento do distrito em Estocolmo desenvolveu-se em mais de uma década no maior sistema do mundo da sua espécie. Das águas de esgoto tratadas e resfriadas que deixam as bombas de calor da estação Hammarby, o calor é transformado em resfriamento na água que circula na rede de resfriamento do distrito de Hammarby Sjöstad. O resfriamento é, em outras palavras, pura e simplesmente um produto residual da produção do aquecimento do distrito. D - Aquecimento e energia solar Uma variedade de diferentes tipos de energia está sendo experimentada. Hammarby Sjöstad tem várias instalações de células solares que capturam a energia da luz do sol e a convertem em energia elétrica. Foram instaladas células solares em várias fachadas e coberturas de Sjöstaden. Quanto mais eficazes as células solares e maior a área de cobertura, mais eficaz é a instalação. Até 2006, 36 células solares foram essencialmente implantadas como teste a partir de projetos pontuais em ambientes urbanos. Dois dos edifícios em Sickla Kanalgata, por exemplo, foram equipados com células solares que estão contribuindo com abastecimento energético, proporcionando a energia necessária para as suas áreas públicas. Os painéis solares também foram montados no telhado de um dos maiores blocos de apartamentos da Sjöstaden. Células solares captam a energia luminosa do sol e as converte em energia elétrica. A energia de 1m² gerada a partir de um módulo de célula solar fornece cerca de 100 kWh / ano, o que corresponde à exigência de eletricidade doméstica 3m² de área de piso residencial. 390m² de painéis solares de fachada sul, foram instalados no telhado do bloco Viken. Estes painéis captam os quentes raios do sol e utilizá-los para aquecer a água dos edifícios. Os painéis solares mostrados na imagem a seguir produzem metade da energia necessária para cumprir a exigência anual de água quente. Bloco Viken com painéis solares e detalhe de painel a direita abaixo. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se 37 E - Metas de energia As metas referem-se à soma de toda a energia comprada para aquecer os edifícios e mantê-los operante a cada ano. Eletricidade doméstica não está incluída. •Conexão do aquecimento urbano com sistemas de ar: 100, dos quais 20 kWh de eletricidade / m² UFA • Ligação do aquecimento urbano com os sistemas de extração de calor: 80, dos quais 25 kWh de eletricidade / m² UFA • O conjunto de fornecimento de aquecimento deve ser baseado em resíduos energéticos ou fontes de energia renováveis. • Eletricidade deverá ser "Boa Escolha Ambiental" - rotulada, ou equivalente. Água e esgoto: A - Menor consumo de água e esgoto limpo Um dos objetivos de Hammarby era reduzir o consumo de água para 200 litros/ pessoa/ dia, ou seja, em 50% do que é normalmente utilizado em Estocolmo, mas este objetivo se aprimorou em reduzir este número para 100 litros/ pessoa/ dia. Graças as instalações ecológicas (energia classe A: máquinas de lavar roupa e louça, descargas de banheiros e misturadores de ar nas torneiras), os níveis de consumo são atualmente está em cerca de 150 litros/ pessoa /dia. É ainda mais importante reduzir a quantidade de metais pesados e substâncias químicas não biodegradáveis presentes em águas residuais, porque isso vai resultar em menos contaminantes sendo dispersos no arquipélago de Estocolmo via águas residuais tratadas, e também resultará num produto residual 38 melhor, conhecido como lama ou biossólido, que pode ser reutilizados em terras agrícolas. A estratégia para trabalhar sistematicamente com seus clientes e com a sociedade para reduzir a quantidade de substâncias químicas liberadas no sistema de águas residuais é chamada abordagem Upstream. Atualmente essa abordagem é apoiada por muitas companhias de águas residuais em toda a Europa como sendo parte integrante de seus negócios principais. Através do monitoramento das águas residuais, podemos ver se campanhas nesta área têm qualquer efeito sobre a qualidade das águas residuais. Na Primavera de 2005, por exemplo, uma campanha para reduzir o uso do bactericida Triclosan foi realizada. Triclosan é uma substância perigosa ao ambiente presente em certos dentífricos e que não há necessidade de consumidores comuns a usarem. As análises das águas residuais, antes e depois da campanha mostram que as quantidades de Triclosan presentes tinham caído. Uma nova estação teste de tratamento de águas residuais, Sjöstadsverket, foi construída para avaliar a nova tecnologia na área. A primeira fase do tratamento tem quatro linhas separadas de águas residuais a partir do equivalente a 600 pessoas em Hammarby Sjöstad. As diferentes linhas estão sendo avaliadas e serão uma base para a tomada de decisões para a fase dois - que poderá ser uma unidade de tratamento de água para toda Hammarby Sjöstad - também serão gerados. As linhas de tratamento no âmbito da avaliação contêm químicos, físicos e biológicos que são geridas de forma tão eficiente quanto possível. O objetivo é não só para tratar as águas residuais e para a reciclagem de recursos provenientes das águas residuais com tão pouca entrada de recursos externos, tais como energia elétrica e produtos químicos, o que for possível. 39 B - Limpador de biossólidos e reciclagem de nutrientes Como já foi visto, os edifícios e a infra-estrutura de Hammarby foram planejados e construídos com muito cuidado no que se trata da escolha do tipo de construção e de seus materiais. Ao evitar a utilização de certos metais e plásticos nos edifícios, assegurando que a chuva e neve são drenados e tratados separadamente, e fornecendo informações aos moradores, por exemplo, a importância do rótulo ecológico em agregados químicos, pode-se garantir que as águas residuais são relativamente limpas. O esgoto que vai para o local de tratamento de águas residuais trata unicamente das habitações na área, e não se junta às águas de chuvas e de indústrias. Isto significa que, desde o início, a água residuária contém um mínimo de contaminantes, o que torna extremamente mais fácil o tratamento e a recuperação dos nutrientes, esperando-se ainda que seja reutilizável em terras agrícolas. O objetivo ambiental é que 95% do fósforo deve ser separado e reciclado no uso agrícola, e para o nível de metais pesados e outras substâncias perigosas, uma redução de 50%. O tratamento de esgoto tem de cumprir excepcionalmente elevados padrões de qualidade. C - Biogás e Biosólidos No tratamento de águas residuais a matéria orgânica é separada na forma de lamas. O lodo é carregado para grandes tanques de digestão onde é digerido. O biogás, que é ambientalmente a forma mais ecológica de combustível disponível atualmente, é produzido durante o processo digestivo. O biogás produzido é utilizado principalmente como combustível, por exemplo, no interior da cidade em ônibus, caminhões de lixo e táxis. Além disso, o biogás também é utilizado em cerca de mil fogões a gás em Hammarby Sjöstad. 40 D - Biossólidos como fertilizantes Uma vez que o processo de digestão é completado, o lama - o biossólido pode ser utilizado como eficiente fertilizante. O biossólido é nutricionalmente rico, com um elevado teor de fósforo, e é ideal para utilização como adubo. Pode ser usado em terrenos agrícolas e na produção de condicionadores de solo. A água de Estocolmo envia biossólidos ao Norte da Suécia, onde são utilizados como material de enchimento de minas que foram desativadas. E - Soluções arquitetônicas para águas de chuvas e tempestades Todos as águas de tempestade, águas pluviais, e da neve derretida são tratadas localmente de várias formas. O sistema é referido coletivamente como LOD (o acrônimo sueco para “the local storm water treatment”, tratamento local da águas de tempestade). Águas de chuva das áreas urbanizadas são infiltradas no solo ou drenadas para o Canal Sickla, Canal Hammarby ou Canal Danvik. Um canal de águas pluviais atravessa o parque Sjöstadsparterren (o Sjöstaden platéia). A água corre ao redor de edifícios e pátios através de numerosas e pequenas sarjetas e é então transportada para o Lago Hammarby através de uma escada d'água desenhada pelo artista, Dag BIRKELAND. F - Telhados verdes Os telhados verdes vistos em alguns edifícios em Sjöstaden são outra ligação no tratamento local da água (LOD) corrente. Sua tarefa é coletar água da chuva, ele a retem e demora em evaporar-la. Ao mesmo tempo, a pequena e densa planta forma áreas verdes de vivência na cidade. 41 G - Água pluvial das ruas tratada localmente Águas de chuva, de derretimento da neve e das ruas são recolhidas e tratadas de diferentes formas em Sjöstaden. A forma mais comum envolve a drenagem da água em bacias especiais, e Sjöstaden possui dois tanques regularizadores tampados. A água pode permanecer nas cisternas por várias horas, para permitir que os contaminantes desçam até o fundo (regularizadores), e então é drenada para fora dos canais. Mårtensdal mantem uma bacia hidrográfica de águas de chuva descoberta, onde a superfície da água pode ser vista. Nela o solo e as plantas na área podem controlar os contaminantes da água suja quando se afundam. Tratamento de águas pluviais local aliada ao projeto proporciona belas paisagens. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se e e http://en.wikipedia.org/wiki/Hammarby_Sj%C3%B6stad H - Metas para a água e esgoto • Consumo de água deve ser reduzido para 100 litros por pessoa por dia. • 95% do fósforo nas águas residuais devem ser reutilizáveis em terras agrícolas. 42 • A quantidade de metais pesados e outras substâncias nocivas do ambiente deve ser 50% menor na água residual da área do que no das águas residuais provenientes do resto de Estocolmo. • Análises de Ciclo de Vida (ACV), serão realizadas para determinar a adequação, a partir de uma perspectiva energética e das emissões de nitrogênio retornando para terras agrícolas e de utilizar a energia química presente nas águas residuais. • Drenagem da água deve ser ligada à rede de água da chuva / tempestade e não à rede de águas residuais. • Águas de tempestades / chuvas devem ser prioritariamente tratadas localmente. • O teor de nitrogênio das águas residuais depuradas, não deve exceder 6 mg / litro e do teor de fósforo não deve exceder 0,15 mg / litro. • Águas de tempestades / chuvas em ruas com mais de 8.000 veículos circulando por dia devem ser tratadas. Resíduos: Resíduos devem ser reduzidos e reciclados. Com a separação dos resíduos se garante que substâncias perigosas não sejam incineradas juntamente com o resto dos sacos e a extração de matérias-primas virgens está sendo reduzida, quando os materiais reciclados são utilizados em seu lugar. Isso torna os resíduos um recurso que pode ser utilizado para os materiais de reciclagem e valorização energética. 43 A - Três níveis de gestão de resíduos Em Hammarby Sjöstad, os resíduos são separados na fonte e reciclados ou utilizadas para produzir calor e eletricidade. E existem três diferentes níveis de gestão de resíduos: nível de construção, nível de bloco, e do nível de área. O nível de construção separa na fonte. O mais pesado e volumoso resíduo é separado em frações e depositados em diferentes calhas de lixo adjacentes aos edifícios. Os resíduos combustíveis (materiais de plástico, papel e outras formas de nãoembalados) são colocados em sacos plásticos normais. Os resíduos de alimentos são colocados em sacolas feitas de amido de milho, que, ao contrário de sacos plásticos, são biodegradáveis. Jornais, catálogos e outros tipos de papel são deixados soltos, não embalados e não vão para o sistema móvel automatizado de eliminação dos resíduos. Os resíduos que não pertencem ao tipo nível de construção podem ser deixados em salas de reciclagem, são de nível de blocos. São divididos em vidro, papel, plástico e embalagens metálicas; resíduos volumosos, como mobiliário antigo; resíduos elétricos e eletrônicos. Itens que exigem uma tomada elétrica ou baterias para funcionar, bem como lâmpadas, lâmpadas fluorescentes e lâmpadas de baixa energia; e algumas das salas também têm recipientes de reciclagem para os têxteis. Existe ainda um espaço de recolhimento de resíduos perigosos para as pessoas e meio ambiente. Materiais tais como tintas, vernizes e colas resíduos, esmalte para unhas, solventes ou agentes de limpeza, produtos químicos e baterias não devem nunca ser colocados no lixo doméstico ou despejados no ralo devem ser entregues em separado no ponto de recolhimento de resíduos perigosos em GlashusEtt, a área do centro de informação ambiental. 44 B - Destino dos resíduos • Resíduos combustíveis são transportados para a estação Högdalenverket no sul de Estocolmo onde é incinerado e reciclados como aquecimento e eletricidade. • Resíduos de alimentação são transportados para Sofielund em Huddinge onde é compostado e transformado em solo. O último fim é para os resíduos de alimentos serem convertidos em biogás e bio-adubos. • Os jornais são entregues para empresas de reciclagem papel e, em seguida, enviados para fábricas de papel onde são transformados em novos papéis. • Embalagem de papel, metal, vidro e embalagens de plástico são reciclados como embalagens novas ou a outros produtos. • Resíduos volumosos: Metal é reciclado e resíduos combustíveis volumosos são incinerados e reciclados, como aquecimento e eletricidade. Resíduos nãocombustíveis são eliminados em aterros sanitários. • os resíduos elétricos e eletrônicos são desmontados e os materiais são reciclados. Restos de material são depositados em aterros sanitários. • Os resíduos perigosos são incinerados ou reciclados. C - A automação do sistema de despejo de resíduos Os resíduos recolhidos no sistema móvel automatizado de eliminação acabam em tanques subterrâneos que são esvaziados por um veículo de recolhimento de lixo equipado com sistema de sucção a vácuo. Existem tanques separados para cada fração: resíduos combustíveis domésticos e resíduos 45 alimentares. O veículo de recolha de lixo pára em pontos onde tanques de resíduos de vários edifícios são esvaziados em simultaneamente, mas apenas uma fração é coletada por vez. D - Sistema fixo automatizado de eliminação dos resíduos Todos os resíduos das calhas são ligados por tubos subterrâneos para uma estação de recolhimento central para a qual são transportados por vácuo sucção. A estação abriga um avançado sistema de controle que envia as diferentes frações para o recipiente correto. Existe um grande recipiente para cada fracção: combustíveis residuais domésticas, resíduos alimentares e jornais. O sistema reduz o transporte na área, o que significa que o ar é mais limpo de quando da recolha de lixo tradicional. Além disso, o ambiente de trabalho dos recolhedores de lixo foi melhorado por evitar os resíduos pesados. Sistema de recolhimento de lixo automatizado. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se 46 E - Metas para os resíduos • A energia deve ser extraída a partir de 99% dos resíduos domésticos a partir do qual a energia pode ser recuperada em 2010. Reutilização ou reciclagem deve, no entanto, ser uma prioridade. • A quantidade de resíduos domésticos gerados será reduzida em pelo menos 15%, em peso, entre 2005 e 2010. • A quantidade de resíduos domésticos volumosos eliminados em aterros deve ser reduzida para 10%, em peso, entre 2005 e 2010. • A quantidade de resíduos perigosos gerados será reduzida em 50%, em peso, entre 2005 e 2010. • Em 2010, 80% dos resíduos alimentares, em peso, deve ser entregue para o tratamento biológico, em que utiliza a sua componente nutricional cultivo de plantas e também utiliza o seu conteúdo energético. • Um máximo de 60% (veículos km) de transporte de resíduos e transporte de materiais reciclados dentro da área, deve envolver a utilização de veículos pesados, em comparação com a quantidade transportada utilizando gestão convencional de transporte de resíduos. • Um máximo de 10%, em peso, do total de resíduos gerados durante a fase de construção deverá ser composto de resíduos que são depositados em aterros. 3.3.2.5. Rede de comunicação Hammarby possui um centro de informações ambientais, o GlashusEtt. Projetado com design e arquitetura atuais, foi desenvolvido para se tornar um ponto 47 focal natural de suas atividades e demonstrar a ligação entre alta tecnologia e o meio ambiente. O centro tem exibições e demonstrações do Modelo Hammarby e da sua nova tecnologia ecológica e sustentável. Recebe visitantes Nacionais e internacionais para ver não só a forma como a cidade de Estocolmo tem planejado o novo município, mas também como a abordagem de pensamento ecológico tem caracterizado Sjöstaden em todo o processo de planejamento que torna a cidade sustentável. Também é usado para ensino de diferentes cursos sobre planejamento urbano e ambiental, reuniões públicas, reuniões políticas e encontros de clientes. GlashusEtt Fonte: www.tengbomgruppen.se 48 GlashusEtt também desempenha papel importante em exportar tecnologia ambiental. Uma estreita cooperação acontece com uma série de autoridades encarregadas de promover as exportações ambientais, tais como Região de Negócio de Estocolmo, o Ministério Sueco de Negócios Estrangeiros e do Conselho de Comércio Sueco. Em apenas um curto período de tempo, Hammarby Sjöstad tornou-se um dos grandes exemplos do mundo de desenvolvimento urbano sustentável e é mencionado em publicações especializadas em todo o mundo. Sjöstaden é visitado por mais de 10.000 representantes da indústria e os decisores a cada ano. Significativos projetos urbanos, em Toronto, Londres, Paris e várias cidades na China têm sido influenciados pela experiência e tecnologia que constitui a base do sucesso do projeto. O centro também é responsável por sua própria página na internet - http://www.hammarbysjostad.se. Vista do lago a partir de uma das pontes. Fonte: http://www.panoramio.com. Autor: Alexander Teglund 49 Imagem das passarelas verdes que ligam Hammarby ao parque natural Nacka. Fonte: Google Earth. Adaptada pela autora. Vista do lago de Hammarby Sjöstad a partir do deck. Fonte: http://www.panoramio.com. Autor: Anders Adermark 50 Planta baixa do distrito em 2007, parte 01. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se 51 Planta baixa do distrito em 2007, parte 02. Fonte: http://www.hammarbysjostad.se 52 Perspectiva mostrando o ciclo sustentável nos diversos níveis de atuação. 53 3.3.3. Considerações sobre o projeto Hammarby 3.3.3.1. Pontos fortes: A. Masterplan com alta qualidade na concepção e manutenção dos princípios. B. Diversidade de usos (habitacional, serviços, comércios, etc.) interagindo. C. Divisão em sub-áreas, ao invés de recortar, levou diversidade de arquitetura e detalhes mantendo sua unidade na concepção. D. Conceito de implantação dos blocos, maximizando pontos de vista da água e a incidência de luz solar gerou caráter distinto de lugar e senso de pertencimento da população residente. E. Ciclo de sustentabilidade envolve e acontece com participação da população. F. Setor público com liderança ótima. G. Transporte público com alta acessibilidade. H. Ruas e espaços públicos de ótima qualidade e beleza. I. Acessibilidade com desenho universal garantida. J. Forte rede de espaços verdes e parques garante melhoria ambiental, beneficia a saúde e torna a área atrativa aos residentes. K. Paisagem natural usada efetivamente para conceito do espaço público, especialmente nas áreas voltadas para água. L. Alto nível de sustentabilidade ambiental. M. Boa divulgação das informações sobre o projeto. N. Ruas seguras bem iluminadas. O. Priorização do pedestre na maioria das vias. P. Níveis de ruídos e poluição minimizados com passagem rodoviária secundária abaixo da rua. G. Manejo constante do planejamento atendendo a demanda, exemplo da espera por residentes idosos, e adequação com creches e escolas para atender as jovens famílias. 54 3.3.3.2. Pontos fracos ou não esclarecidos: Alguns dos blocos de apartamentos construídos nas primeiras fases do desenvolvimento foram inovadores na sua utilização de concepção ecológica. Esse mesmo risco não foi evidente em alguns dos blocos construídos em fases posteriores, apesar da alta ênfase colocada sobre o desempenho ambiental para o projeto como um todo. Alguns poucos pontos ficaram com pouco esclarecimento nas pesquisas realizadas. Dentre eles a questão da fauna e flora tanto nativa quanto adaptada. Não foi encontrada informação sobre qual estado estavam antes e depois da implementação do projeto. Também sobre alimentação e conseqüentemente sua produção e fornecimento. Entende-se que a sustentabilidade em todas as áreas ainda hoje é objetivo difícil de ser alcançado, que demanda mais esforços e que, comumente, o foco dos projetos fica direcionado a algumas áreas específicas. Entretanto Hammarby, que tem impressionantes ações globais, deixa as relações com o entorno não imediato, como com o restante da cidade e o país, também não muito claras nas apresentações do projeto. 3.3.3.3. Avaliação pela população residente Pesquisa com 805 residentes, feita em 2005 pela Commission for Architecture and the Built Environment (CABE): * A maioria dos residentes entrevistados estava muito satisfeita com Hammarby Sjöstad. * Dois terços de todas as viagens são feitas através de transportes públicos, de bicicleta ou a pé e um terço das viagens são auto-suportados. * A barca é usada como um link para um quarto de todas as viagens. 55 * A barca é um link direto para o centro de Estocolmo e de uma extensão do elétrico diretamente no centro da cidade foram consideradas prioritárias. * Cerca de 66% das famílias tem carro próprio, que é semelhante à média do centro da cidade. * Mais de metade de todos os carros estão estacionados em uma garagem privada, o restante na rua. * 8% dos habitantes são membros do carro-carona, que é utilizado principalmente para viagens de compras. * A biblioteca foi o mais freqüentemente utilizado serviço na área, seguida pelos cabeleireiros e lavanderia. Prioridades para a prestação de serviços adicionais incluem outra mercearia / supermercado, serviços de farmácia e correio, um banco, um pub e um centro de saúde. Alguns residentes de Hammarby Sjöstad têm opiniões diferentes sobre o papel que desempenha a sustentabilidade em sua vida diária, como pode ser visto nas entrevistas feitas por Anna Sandelin em 27 de junho de 2008 (http://www.sweden.se/eng/Home/Work-live/Sustainability/Reading/HammarbySjostad---living-green-in-central-Stockholm/): Um quarto em um apartamento recém-construído no Hammarby Sjöstad custa a partir de 6.600 coroas suecas (US $ 1.100) por mês. Foto por: Anna Sandelin 56 Não tem que custar mais para se viver num local sustentável, de acordo com residentes Joakim von Porat: "Se você olhar para o tamanho desses apartamentos, é mais barato para se viver aqui do que no centro da cidade", diz ele. Christine von Porat acha que o engajamento ambiental tem diminuído ultimamente. "No início, muitas pessoas venderam seus carros entraram para o sistema de caronas e assim por diante", diz ela. "Agora, isto desapareceu um pouco." Outro residente local, Richard Broberg, alega que ele não percebe muita preocupação com a ecologia em tudo, a não ser na triagem dos resíduos. Urbano Nyström, por outro lado, considera que "você começa realmente a ser ecológicos por viver aqui." Erik Freudenthal fica sobre o telhado de seu trabalho, GlashusEtt, onde tem ensinado sobre os visitantes sobre o lado sustentável do Hammarby Sjöstad desde 2002. Foto: Anna Sandelin Freudenthal acredita que em Hammarby Sjöstad a coisa excepcional é o processo de planejamento integrado. "Todas as unidades envolvidas no projeto centram-se no ambiente antes mesmo desenho da primeira linha. É um conceito holístico ". 57 3.3.3.4. Considerações finais sobre o projeto Hammarby Segundo avaliação de equipe de projetistas da Commission for Architecture and the Built Environment (CABE - http://www.cabe.org.uk), feita através de visita detalhada ao local e com entrevistas com os planejadores, gerenciadores de projeto e residentes locais, Hammarby Sjöstad é um êxito no conceito sustentável de novo bairro urbano e que combina alta qualidade na concepção de área pública com um leque diversificado de lojas, serviços e instalações. O mais recente relatório citado nas pesquisas abrange algumas grandes partes de Hammarby Sjöstad e diz que está 30 a 40 por cento mais sustentável do que as habitações normais das áreas. Assim, em mais de 10 anos no projeto os progressos têm sido alcançados, mas há ainda um caminho a percorrer. 75 por cento da sustentabilidade na Hammarby Sjöstad está integrada em edifícios e infra-estrutura e os 25 por cento restantes terão que vir das contribuições dos próprios moradores. Alguns ainda são acreditam que as pessoas não estão interessadas me cooperar com a sustentabilidade, diminuindo o aquecimento de seus lares, por exemplo, porém gostam da idéia de que se trata de um projeto de sustentabilidade. A administração de Planejamento da Cidade previu que muitos dos residentes da Sjöstad Hammarby seriam as pessoas mais velhas voltando a viver na cidade, sendo que aconteceu o inverso, a maioria das pessoas que se deslocam foram de jovens famílias. A administração foi capaz de responder a esta situação, reforçando o plano para escolas locais e instalações de creches. O desenvolvimento não conseguiu cumprir sua meta para o automóvel. No entanto, quase 80 por cento das viagens são feitas através de transportes públicos, 58 de bicicleta ou a pé. Alguns dos profissionais envolvidos no projeto sentiram que poderiam ter sido mais bem sucedidos se concentrassem na redução do uso do carro ao invés da propriedade. Mesmo com opiniões diversas sobre sustentabilidade, a pesquisa da CABE mostra que os moradores de Hammarby Sjöstad parecem estar mais do que felizes e os resultados dos investimentos tem saldo muito positivo que pode também ser reafirmado pelo "Modelo Hammarby" ter sido exportado - para Rússia, Reino Unido e China, onde a cidade Hohhot ganhou inspiração de Hammarby Sjöstad. 4. ENUMERAÇÃO DE ESTRATÉGIAS PAISAGÍSTICAS E SUSTENTÁVEIS E FORMAS DE ATUAÇÃO DOS DIFERENTES SETORES: 4.1. Telhado verde 4.2. Energia Solar 4.3. Reuso das águas de chuva e residuais 4.3.1. Tratamento e reuso para irrigação de jardins e área agrícola Materiais ambientalmente certificados com uso racional 4.1.5. Ajudam na manutenção do equilíbrio ecossistêmico assim como se evitando o uso de não reciclados e de produtos poluentes de serem carregados pelas chuvas sendo nocivos ao ambiente, assim como a retirada de cascalho e areia deve ser minimizada. 4.4. Jardins produtivos somados a estética. 4.4.1. Os jardins retiram os poluentes e auxiliam no reuso das águas 4.4.2. Conseguem manter a estética trazendo experiência com a água, conhecimento e valorização da área. 4.5. Gramados com espécies nativas ou adaptadas 4.5.1. Não há uso indiscriminado de extensas áreas gramadas, e sim o uso consciente de espécies nativas ou já adaptadas como as “reeds”, 59 canas, se fazendo somente do manejo do solo e enriquecendo a biodiversidade. 4.6. Manutenção dos trechos restantes de florestas nativas 4.6.1. Contribui para atração da fauna nativa e para a propagação dessas espécies. Para Estocolmo é o importante para a biodiversidade é proteger e desenvolver as zonas úmidas, florestas antigas, velhos carvalhos, praias e prados. 4.7. Ligação aos parques 4.7.1. Os parques têm diversas ligações com as avenidas e ruas do bairro, a exemplo o parque natural de Nacka, com passarelas verdes, além de contribuir para a manutenção do parque devido a valorização do mesmo, ajuda na infiltração das águas pluviais e no microclima. 4.8. Incentivo e abertura na participação ambiental 4.8.1. Além dos diversos exemplos são dados na descrição do projeto, temos o site de Estocolmo que incentiva de forma simples e atrativa os moradores a conhecer sua fauna e flora e ainda contribuir com o reconhecimento dessas através do banco de espécies disponibilizado. 4.9. Reabilitação sanitária do terreno 4.9.1. Descontaminação total do solo permite seu uso sem causar danos as pessoas e ao ambiente 4.9.2. Reutilização e transformação dos antigos terrenos industriais abandonados em atraentes zonas residenciais com belos parques e espaços verdes públicos. 4.10. Centro de educação ambiental - GlassEtt (ou Casa de vidro) 60 4.10.1 Construído para educar e incentivar os moradores a fazer pleno uso de todas as características ambientais da área. Identificação da paisagem sustentável com senso de lugar. 4.11. Exercício de cidadania incentivado se estabelecendo contacto com os residentes. 4.11.1. Diferentes métodos têm sido utilizados a fim de chegar a moradores e empresas, incluindo exposições, um site e um boletim informativo. De longe a mais bem sucedida forma de divulgação tem sido o site, que recebe uma média de 9.000 visitas diárias. 5. APLICABILIDADE NACIONAL “O Brasil tem condições objetivas – território, recursos naturais, população, base produtiva, etc. – de se transformar num dos países mais desenvolvidos do planeta (sem, porém, repetir certos erros cometidos pelos países capitalistas avançados, como a predação do meio ambiente)”. José Chacon de Assis. O Brasil é um país de proporções continentais e, assim, é consagrado com diferentes relevos, hidrografias, clima, dentre outros fatores ambientais e sócioespaciais. Mesmo assim, podendo ter locais semelhantes social e ambientalmente com Estocolmo, e Hammarby, nenhum projeto deve ser pura e simplesmente repetido. Há de se fazer uma avaliação do sítio e seu entorno, ter conhecimento aprofundado do problema levantado, da cultura do local, do período de tempo e da velocidade de resposta requerida, e, além disso, uma mudança de mentalidade, para início de qualquer projeto. Assim este trabalho não tem intenção de gerar fórmulas ou modelos pré-concebidos, e sim de mostrar diretrizes assertivas, estratégias que podem ser adaptadas, a fim de obter sucesso em sua implantação em diferentes sítios. 61 Um bom exemplo são os telhados verdes. São ótimas soluções para clima, infiltração de águas pluviais, dentre outros fatores. Podem ser utilizados tanto em países ao norte do globo terrestre quanto nos situados à linha do Equador, tendo que adequar diferentes técnicas de implementação, espécies de plantio e obtendo resultados positivos, porém não idênticos em cada local. Seguindo essa linha de interpretação todos as alternativas enumeradas no capítulo 4 podem ser adaptadas com ótimos resultados no Brasil. Como Hammarby é um projeto de reabilitação e expansão urbana e levando em consideração o funcionamento distinto da sua municipalidade, o projeto de infraestrutura pôde ser implementado sem problemas graves. No Brasil, áreas existentes de mesmas características iniciais, solo contaminado e terreno sub utilizado, teriam espaço para esta prática, porém deveriam ser revistas as normas urbanísticas e a municipalidade deveria criar parâmetros que possibilitassem a implantação desta prática em áreas de expansão urbana. Já os modelos não estruturais como telhados verdes, painéis solares, e até mesmo de reaproveitamento de águas pluviais, seriam de grande aplicabilidade inclusive nas áreas já consolidadas, pois poderiam minimizar problemas de microclima, déficit energético, de cheias urbanas, que são sentidos em diversas cidades principalmente pela falta infra-estrutura ou por sua colocação posterior as edificações, causa de inexistência de planejamento ou não aplicação desses. As áreas públicas no Brasil têm de ser revistas conforme o modelo Hammarby principalmente se revendo a ligação funcional com a estética. Mais uma vez a questão do planejamento e suas formas de aplicação são fundamentais. 62 Deve-se também ressaltar, além das características ambientais, diferenças contextuais entre o Brasil e a Suécia na forma de governo, presidencialista e outro imperial, que traz consigo diferenças estruturais na forma administrativa, como, por exemplo, da Suécia não ter um sistema de habitação social. As famílias e indivíduos com necessidades recebem apoio financeiro diretamente do Estado e, logo estão livres para alugar acomodações da mesma forma que os outros fazem. A sociedade brasileira e a sueca funcionam de maneiras diferentes quando se trata da abordagem governamental e de trabalho com as comunidades. Contudo, existem algumas lições do desenvolvimento do Hammarby Sjöstad são relevantes para o Brasil: As autoridades da cidade foram proativas em seus esforços para prever o aumento da população, em Estocolmo, e assim foram capazes de propiciar moradia de alta qualidade no mercado, na proporção em que a procura foi aumentando. As autoridades municipais foram capazes de utilizar uma abordagem forte e confiante para conduzir o projeto, especialmente, quando a aposta nas Olimpíadas falhou. E esta continuou sendo usada mesmo quando partidos políticos diferentes foram a maioria legislando na cidade. Todo o desenvolvimento na Hammarby Sjöstad foi concebido como um projeto de infra-estruturas, das quais apenas uma parte foi habitação. O aquecimento, transporte e sistemas de recolha de resíduos foram destinados ao trabalho em conjunto, entre si, para reduzir a quantidade de energia e de recursos necessários à sua manutenção a longo prazo. O projeto atende padrões ambientais elevados em comparação com muitos desenvolvimentos no Brasil. 63 Todos as aplicações de planejamento em Estocolmo são baseados na análise do custo do ciclo de vida e, portanto, é mais fácil para justificar maiores investimentos iniciais em melhores desempenhos. Metade das propriedades também foram construídas por seus desenvolvedores, para alugar a longo prazo, mais uma vez contribuindo para justificar gastos iniciais maiores. Um minucioso Planejamento (Masterplan) assegura elevados padrões tanto no design e qualidade quanto no desempenho ambiental dos edifícios. Incluir pequenos ‘retalhos’ (espaços vazios para aluguel nos edifício habitacionais, tornando-os mistos) em diversos blocos de apartamentos se revelou uma estratégia bem sucedida. Todas as unidades de ‘retalho’ foram alugadas e agora existem cafés, restaurantes e lojas em desenvolvimento. As autoridades municipais foram capazes de utilizar a competição entre os 40 empreiteiros envolvidos no projeto para aumentar os padrões em todo o desenvolvimento. Diversos setores estão envolvidos desde o início do processo de planejamento 75 por cento da sustentabilidade na Hammarby Sjöstad está integrada em edifícios e infra-estrutura, assim a mudança para o comportamento pró-ambiental veio através da concepção. Por isso, foi importante para projetistas, arquitetos e empreiteiros tornar o comportamento ecológico a escolha óbvia para os residentes, através do fornecimento e concepção do desenvolvimento da infra-estrutura 64 25 por cento restantes terão que vir das contribuições dos próprios moradores, com escolha individual, que pode ser guiada através de projetos educativos. Importante também foi que os indivíduos receberam incentivos para reduzir seu impacto ambiental, sendo cobrados por seus serviços públicos, na proporção da sua utilização. As autoridades municipais definiram metas altas e usaram esses projetos para animar seus parceiros de projeto. Eles tomaram uma posição forte na supervisão do projeto desde a concepção até à construção. Assim a maior parte dos objetivos foram cumpridos, e mesmo os que ficaram aquém, não geraram uma cultura de culpa ou de fracasso do projeto como um todo. Também com foco na arquitetura paisagística e sua aplicabilidade para o Brasil, o projeto Hammarby tem um programa que direciona os estilos de arquitetura que estabele que a implantação deverá incluir a preservação do ambiente natural, sempre que possível, e utilizá-lo como inspiração, em vez de movimentos de terra, como nivelamento para desenvolvimento, bem como a luz, pontos de vista, o acesso a espaços verdes, coberturas planas, linhas limpas e cores claras. Mas estas diretrizes devem ser combinadas com a densidade e a hierarquia dos espaços tradicionais prevalentes no interior da cidade e a arquitetura deve ser específica de cada local e responder ao seu ambiente. Há também uma ênfase no uso misto, em vez de separação de utilizações. Focando a arquitetura paisagística na flora e fauna, foi dito que não se encontraram informações suficientes no projeto Hammarby. Quanto a situação brasileira é sabido que existe variedade quanto ao tema, temos tanto projetos muito bem elaborados e implementados direcionados ao paisagismo produtivo somado a 65 estética, ressaltando-se muitos que privilegiam a produtividade ligada não só ao reuso de resíduos, quanto os que focam na produção de alimentos, quanto aqueles que privilegiam a estética em detrimento da funcionalidade, descaracterizando qualquer forma sustentável de jardim. Sendo que este último é o mais utilizado. Um jardim sustentável ideal seria aquele em que depois de atingir um grau de maturidade não necessitasse de qualquer tipo de manutenção. Estes jardins existem no Brasil, nos jardins de Burle Marx, já existia a preocupação com o uso de espécies nativas, adaptadas à condição de clima de cada região e também à valorização da paisagem natural existente. Eles podem ser observados cada vez mais na realização de expoentes paisagistas como Fernando Chacel e Rosa Kliass, bem como em diversos outros projetos com foco sustentável, porém não tão divulgados. O que mais impede a constância desses projetos no meio urbano são: o desinteresse do setor privado, muitos preocupados com investimentos iniciais maiores, bem como a especulação imobiliária, a falta de ações e de controle do setor público e a cultura da população urbana. Ainda hoje grande parcela da sociedade brasileira urbana encontra-se a margem dos novos valores ambientais e das conexões da cultura com o suporte biofísico que a sustenta. A tecnologia produzida na cidade chega aos locais mais remotos, a exemplo, a “Sopa de Plásticos do Pacífico”, onde uma tampa de garrafa que achamos abandonada em nossas ruas pode ser encontrada flutuando com inúmeros outras mais, formando uma mancha, que se aproxima a extensão do Amazonas, nos mares do Pacífico. 66 Imagens da “Sopa de Plásticos do Pacífico” e de tartaruga deformada por aro plástico. Fonte: http://www.sedentario.org/colunas/teoria-da-conspiracao/um-continente-de-plastico-10631 Comprovadamente os valores que moldaram a paisagem de nossas cidades têm contribuído muito pouco para a saúde destas ou mesmo para seu progresso civilizatório. Há de se atentar a nova base paradigmática para a arquitetura e para o planejamento, tendo como base a questão ambiental. A morfologia urbana, que está dentre os determinantes da sustentabilidade urbana, deve ser direcionada para melhoria da qualidade dos espaços urbanos e no conforto bioclimático dos indivíduos. Para tal é necessário implementar planos e projetos preocupados em obter relações ótimas entre o ambiente construído, o clima, a cultura do lugar, com questões energéticas, meio ambiente, preservação e conservação de recursos naturais, mantendo a visão ecossistêmica cíclica e contínua. Leis e decretos são inúteis se não há o envolvimento dos vários agentes sociais, Estado, setor privado e da população como um todo. Qualquer que seja a ação é ineficiente se não estiver ligada a uma estratégia maior de planejamento. A extração e conservação dos recursos é impraticável sem um equilíbrio entre fatores sócio-econômicos e as fontes de recursos naturais. 67 6- CONCLUSÃO O trabalho analisou alcances e limites da implementação de projeto urbano sustentável na cidade de Estocolmo, com foco no desenvolvimento sócio-espacial sustentável advindo do planejamento, projeto urbano e arquitetura paisagística. O projeto de Hammarby Sjöstad é apresentado como boa prática na sustentabilidade ambiental. A razão do sucesso é a continuidade e integração do trabalho de planejamento com as metas ambientais desde o início do processo, que busca em seu desenvolvimento a troca de experiências para aprimoramento, alcance e manutenção de seus objetivos. A sustentabilidade e ecologia entram no resgate de uma área degradada, e assim suas metas estão intrinsecamente ligadas, formando o ciclo contínuo. E dentro desta visão de projeto urbano, arquitetura paisagística, formas de gestão e atuação dos diferentes setores a que este trabalho se propõe são analisados para nosso contexto nacional. Verificou-se que os facilitadores para implementação dos projetos urbanos e de arquitetura paisagística sustentáveis, bem como elementos de gestão de pósocupação, estão diretamente ligados aos setores públicos e suas formas de gestão que podem sim, ou não, viabilizar e garantir as formas de participação e ação em conjunto com setores privados e comunitários, bem como os resultados pretendidos com o projeto. A gestão deve integrar os diversos setores, ser firme em seus conceitos e continuada, tendo o planejamento como processo cíclico e prático das determinações do plano, havendo uma constante realimentação de situações, propostas, resultados e soluções, lhe conferindo assim dinamismo, baseado na multidisciplinaridade e interatividade, num processo contínuo de tomada de decisões. 68 REFERÊNCIAS: ASSIS, José Chacon de. Revista do CREA, capítulos IX e X do livro Brasil, 21 – Uma nova Ética para o Desenvolvimento. Rio de Janeiro: CREA, 2001. CHACEL, Fernando. Paisagismo e ecogênese. Rio de Janeiro: Fraiha, 2004. FERRARI, Célson. Curso de Planejamento Municipal Integrado. São Paulo: Pioneira, 1979. FRANCO, Maria Assunção Ribeiro. Desenho Ambiental: Uma introdução à Arquitetura da Paisagem com o Paradigma Ecológico. São Paulo: Annablume, 2000. HIGUERAS, Ester. Urbanismo bioclimático. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2006. ROLA, Sylvia M. 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