- Polícia Nacional
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POR CARMO NETO editorial 1 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 D epois de momentos difíceis que condicionaram a regularidade trimestral da Revista oficial da Polícia Nacional, a 12.ª edição de Tranquilidade chega finalmente às mãos dos leitores. Numa perspectiva de 4 edições no ano, esta é a única que saí, pelo que os leitores poderão observar um conjunto de textos que cruzam todo 2010, de Janeiro a Dezembro, em representação do somatório dos vários textos que foram sendo agrupados, pensando-se sempre na sua edição oportuna. Entre os vários factores que condicionaram a saída regular da Tranquilidade, assinalamos a necessidade que foi pensada numa reviravolta do seu layout. Então, o leitor vai ter em mãos não só a única Revista Tranquilidade publicada em 2010 mas também a primeira com uma nova cara, em que procuramos destacar a imagem e textos curtos, O grande destaque é mesmo as várias vertentes do combate à criminalidade, condensado num Dossier, mas também abordados um pouco por todos os outros textos. A escolha deste tema se deve ao crescimento do índice de criminalidade com páginas mais arejadas, para facilitar ainda mais a comunicação e, consequentemente, a leitura. Não variando muito em termos de conteúdos, o grande destaque é mesmo às várias vertentes do combate à criminalidade, condensado num Dossier, mas também abordados um pouco por todos os outros textos. A escolha deste tema se deve ao crescimento do índice de criminalidade que tem merecido a tenção da corporação. E frequentemente, na sociedade, temos vindo a discutir, cada um a seu nível, sobre a tal tendência. São vários os ângulos de abordagem, que circulam pelas causas, métodos policiais de abordagem da criminalidade, consequências e até soluções para se pôr termo a este fenómeno que muitos males tem provocado às comunidades. Relativamente ao Dossier, um dos textos que o abre é o da intervenção do comandante geral da Polícia Nacional, Comissário Geral Ambrósio de Lemos Freire dos Santos. Na ocasião, e como recomendação explícita, Ambrósio de Lemos afirmou que não haveria tréguas para os transgressores, fundamentalmente àqueles que recorrem às armas de fogo no cometimento de crimes. Este Dossier traz várias contribuições de entidades diversas e dos mais distintos ramos do conhecimento, dentre as quais uma entrevista concedida exclusivamente para o Dossier, dada pelo malogrado Frei João Domingos ainda no início de 2010. A título póstumo, publicamo-la para homenagear esse “filho” de Angola que muito defendeu o resgate dos valores morais, um caminho viável para o combate à delinquência juvenil, razão múltipla da criminalidade. Na conversa com o nosso repórter, reconheceu que a Polícia tem uma tarefa extremamente ingrata neste momento, porque há uma responsabilidade que muitos têm e não cumprem. O leitor poderá ainda deliciar-se com as entrevistas concedidas pelo psiquiatra Rui Pires que, entre outros aspectos, afirma que muitos crimes são cometidos em Angola por pessoas mentalmente perturbadas, e a do sociólogo José Lencastre, defendendo que 80 por cento dos criminosos presos são jovens. Quem também » editorial 2 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 N de impunidade do violador. Isso nos levou a apresentar ao leitor um conjunto de conselhos e recomendações às potenciais vítimas e respectivas famílias. Pela actualidade, Tranquilidade conserva os registos das alterações que aconteceram a nível do Ministério, agora dirigido pelo comissário-chefe Sebastião António Martins, em substituição do general Roberto Leal Ramos Monteiro “Ngongo”, e a nível do Comando Geral da Polícia com a nomeação de novos comandante provinciais e directores nacionais. No espaço dedicado às notícias, o leitor poderá acompanhar alguns passos que marcaram a vida da PN, como a intensa jornada de campo nos municípios do Cazenga e Viana do Comissário Geral Ambrósio de Lemos, o desmantelamento de uma rede de falsificadores de documentos, na vulgarmente conhecida zona do “Pau Grande”, no Cazenga, e algumas acções de formação em benefício de efectivos dos distintos órgãos da Polícia. Também destacamos nesta edição aspectos relativos ao seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel. Na sua já habitual viagem pelas províncias do país, Tranquilidade esteve no Bié e no Moxico para fotografar as acções policiais de manutenção da ordem e tranquilidade públicas. a sua já habitual viagem pelas províncias do país, Tranquilidade esteve no Bié e no Moxico para fotografar as acções policiais de manutenção da ordem e tranquilidade públicas. » deixou o seu comentário foi o então director dos Serviços Prisionais, actualmente director do Gabinete de Estudos, Informação e Análise do Ministério do Interior, Jorge Mendonça, tendo afirmado que todo o detido em Angola tem acesso ao sistema de ensino. Ainda no percurso do combate à criminalidade, trazemos algumas informações sobre violação sexual de menores, em que a Polícia pede maior envolvimento da sociedade pois, com frequência, o crime ocorre no seio familiar, escolar ou religioso, levando alguns dos seus membros a acobertar o crime por alegada protecção do bom nome da instituição, mas provocando o aumento do sofrimento da vítima e o aumenta do sentido No Internacional, conduzimos uma entrevista com o segundo comandante da Polícia da República de Moçambique (PRM), o comissário Jaime Basílio Monteiro. Promovido no segundo semestre deste ano a Primeiro Adjunto do Comissário da Polícia no escalão de Oficiais Generais, Jaime Basílio, actualmente Director Nacional da Ordem e Segurança Pública da PRM, disse que também em Moçambique se apregoa que o combate à criminalidade não é um problema exclusivo da Polícia. No espaço de cultura, visitamos a Casa Museu Óscar Ribas e os Museus de Escravatura e o Nacional de História Militar, situado na Fortaleza de São Miguel, onde o último roubo aconteceu em 1992, cujo material roubado foi fundido mesmo cá no país e, depois, comercializado na vizinha República da Namíbia. Mas não ficamos por Angola. Numa viagem por Cabo Verde, fomos ao ex-campo de concentração de Tarrafal, lugar onde muitos nacionalistas angolanos acabaram desterrados por defenderem o fim da colonização de Angola por parte do Portugal Fascista. Para espairecer, o leitor poderá apreciar outros textos sobre este período doirado do Inter Clube de Angola, que se sagrou campeão africano de basquetebol a nível sénior feminino, campeão nacional de Futebol e campeão nacional de andebol em sénior masculino. Esperando sempre que o cidadão exerça os seus direitos e deveres pela manutenção da sua própria segurança e da sua comunidade, Tranquilidade deseja-lhe boa leitura e um ano 2011 cheio de prosperidade. Notícias Dossier SEBASTIÃO MARTINS Novo ministro do Interior quer ver reforçado o sentimento de segurança dos cidadãos e pede mais fiscalização às unidades e efectivos policiais 12 Comandante geral da Polícia Nacional Comissário geral Ambrósio de Lemos avalia prontidão da tropa 08 COMISSÁRIO-CHEFE Províncias 24 Tranquilidade esteve em reportagem pelo Moxico e Bié e testemunhou como andam a ordem e tranquilidade públicas. 42 Criminalidade A quem compete combater a criminalidade e como cada um de nós pode contribuir para que o crime não vinque nas nossas comunidades? 50Dias antes da sua morte, Frei João Domingos falou à Tranquilidade sobre a “solução ideal” para o combate a criminalidade. Homenagem 56 Sandra Marisa Mariano, a agente reguladora de trânsito trucidada por taxista que conduzia desencartado tem aqui o nosso reconhecimento Viva Com Tranquilidade 58 COMBATE À VIOLAÇÃO SEXUAL DE MENORES Polícia pede maior envolvimento da sociedade e Interpol entra na jogada Internacional 64 Polícia moçambicana redobra esforços para estancar a criminalidade Cultura 66 Tranquilidade radiografa segurança nos museus da Escravatura, o Central das Forças Armadas e a Casa Museu Óscar Ribas, no Museu da Escravatura. 68 Ex-casa de reclusão 35 ANOS DE EXISTÊNCIA 76 CAMPEÃO Interclube vence Girabola mais competitivo de sempre 78 INTERCLUBE CAMPEÃO AFRICANO FEMININO DE BASQUETEBOL Bizerte coloca África aos pés de Angola 80 ANDEBOL MASCULINO Interclube conquista Taça de Angola Perfil do Agente 84 João António, oficial das Transgressões Tranquilidade 74 INTERCLUBE CELEBRA Orgão de Informação e de Cultura do Comando Geral da Polícia Nacional Desporto índice em Cabo Verde: Há um Tarrafal que poucos angolanos conhecem! 12 REVISTA TRANQUILIDADE Publicação do Comando Geral da Polícia Nacional. Ano 9 – N.º 12, de Fevereiro de 2011 CONSELHO EDITORIAL: Comandante Geral da Polícia Nacional, Comissário Geral Ambrósio de Lemos, Segundo Comandante Geral para a Ordem Pública, Comissário Chefe Paulo de Almeida, Comissário Paulo Francisco, Comissário Maurício Alexandre, Comissário Carmo Neto, Subcomissário Arnaldo Carlos. Director Geral Comissário Carmo Neto Chefe de redacção: António Quino Redacção: Albertina Eduardo, Jorge Lemos, Hélio Kanda, Yolanda Dias. Colaboradores permanentes: Nhuca Júnior, Adelino Paím, Carlos Miranda, Gaspar Francisco, Manuel Feio, Celestino Andrade. Fotografia: António Pedro, José Roberto, João Barata, Quintiliano dos Santos e João Manuel Administração e secretariado: Filomena Sanches Projecto gráfico e Edição de Arte: Carlos Roque Sede: Bairro da Polícia, Luanda. Telefone: +244-222-010-600 Propriedade: Comando Geral da Polícia Nacional Registo n.º MCS/374/B/2004 Tiragem: 10.000 exemplares Impressão e acabamento: DAMER, S.A, Luanda Sul, edifício DAMER 24 A Direcção Provincial de Viação e Trânsito no Kwanza-Sul vai destacar 300 agentes para trabalharem em acções de prevenção rodoviária durante a quadra festiva, anunciou, no dia 11 de Dezembro, o segundo comandante para a Ordem Pública, Mário Luís. 6 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Quadrilhas desmanteladas em Cabinda A operação “Restauro-II”, realizada, na segunda quinzena de Novembro de 2010, em Cabinda, pela Polícia Nacional culminou com o desmantelamento de duas quadrilhas que actuavam, com armas de fogo, nos bairros periféricos, anunciou a corporação. Uma nota do Gabinete de Informação e Análise do Comando Provincial de Cabinda da Polícia, citada pela Angop, refere que estão presos elementos dos grupos “PM” e “Puto da Banda”. A Polícia estacionada em Cabinda prendeu também indivíduos acusados de crime contra a segurança de Estado e instigação à desobediência colectiva. A operação “Restauro-II” permitiu igualmente identificar quatro locais de venda de estupefacientes e desmantelar grupos ligados ao auxílio à imigração clandestina e falsificadores de documentos, como assentos de nascimento, cédulas e Bilhetes de Identidade. A Polícia deteve vários cidadãos oeste africanos, sendo dois nigerianos, um ivoiriense, dois camaroneses e dois malianos que aguardam o repatriamento. on stop semáforo semáforo Viação e Trânsito e a quadra festiva armas de diversos calibres, 1.189 munições, 68 carregadores e 17 explosivos foram recepcionados, no Moxico, no âmbito do processo de desarmamento voluntário da população civil. Durante 2009 foram descobertos três esconderijos que continham granadas M-962, minas anti-pessoal, munições tipo B-10, um míssil e projécteis de RPG-7. 75% de crimes esclarecidos e detidos mais de 25 mil indivíduos indiciados como autores ou suspeitos da sua prática. Recuperados 600 telemóveis roubados, elevadas quantidades de droga no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro e grandes somas de valores em dinheiro a cidadãos estrangeiros e nacionais que pretendiam fazê-las sair do país. É resultado do esforço da PN, segundo Ambrósio de Lemos. nde&quando 7 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 notíciaspn stop! .. . Na mira da fiscalização Os comerciantes apanhados a especular preços de produtos alimentares durante a quadra festiva vão ser punidos com prisão até dois anos e multa, alertou Cristiano Francisco, da inspecção da Polícia Económica, que criou 70 brigadas distribuídas pelo país, A fiscalização abrange taxistas, que encurtam rotas ou cobrem preços além do estabelecido e postos de venda de combustíveis e lubrificantes. Divisão do Cazenga desmantela rede de falsificadores durante a “Cazenga Balumuca” Atenção: violência sexual contra menores ocorre no seio familiar, escolar ou religioso 24/25 de Dez 2010: 98 acidentes, 21 mortos, 101 feridos e prejuízos de Kz. 7.925.500. 8 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 onde&quando notíciaspn Ministério do Interior tem um novo titular O comissário-chefe Sebastião Martins, de 49 anos e natural de Luanda, é o novo ministro do Interior, em substituição a Roberto Leal Monteiro “Ngongo”. Nomeado por decreto presidencial no dia 4 de Outubro, o novo ministro recebeu no mesmo mês as pastas do Ministério do Interior, numa cerimónia que ficou marcada pela transferência de poder e assistida por altos funcionários do Ministério do Interior. O novo ministro do Interior disse, na ocasião, ser imperioso reforçar o sentimento de segurança dos cidadãos, enfrentando e reprimindo com eficácia o crime. Para Sebastião Martins, é necessário avaliar e melhorar o conceito e acção ligada ao policiamento de proximidade. O novo titular da pasta do Interior garantiu que vai afastar todos aqueles que não se identifiquem com a causa da corporação e que manchem ou obstaculizem os objectivos do Ministério do Interior. RESPONSÁVEIS DO INTERI Ministro pede mais fiscalização às unidades e efectivos policiais: Sebasti O ministro do Interior, comissário-chefe Sebastião Martins, defendeu, em Luanda, a fiscalização sistemática e sem aviso prévio das unidades e esquadras policiais, estruturas dos Serviços de Migração e Estrangeiros (SME) e dos Serviços Prisionais, de modo a aferir a qualidade do atendimento ao cidadão. Usando da palavra na cerimónia de tomada de posse dos novos respon- sáveis do Ministério do Interior, realizada no dia 1 de Novembro, o titular da pasta defendeu a avaliação permanente da actividade policial e uma maior atenção do comportamento ético e deontológico dos efectivos. Em relação ao Serviço de Migração e Estrangeiros, Sebastião Martins defendeu um combate cerrado à imigração ilegal e ao comportamento promíscuo de alguns funcionários desse órgão. “A situação é preocupante” disse, acres- centando que “não se pode aceitar, nem entender que um asiático atravesse dois continentes para se instalar em Angola, abrir um negócio de tirar fotocópias e fotografias e, com toda a naturalidade, aproveite esse negócio de fachada para praticar ilícitos, como a falsificação de documentos. Não entendemos e muito menos podemos aceitar que um cidadão que na Europa cometeu fraudes, indiciado ou foragido por práticas criminosas, apareça 9 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Da esquerda para a direita: Ambrósio de Lemos, Eugénio Laborinho, Ângelo Tavares, Sebastião Martins, Bamukina Zau e Margarida Jordão aqui como investidor reclamando privilégios e atenção. Não entendemos nem podemos aceitar que um cidadão africano, alegando que o seu país está com problemas e necessita de apoio às zonas diamantíferas para se dedicarem ao garimpo e ao tráfico de diamantes. Denunciou ainda a existência no país de um grupo de estrangeiros IOR TOMARAM POSSE ião Martins defende eficácia máxima das forças da ordem ou asilo, atravesse cinco ou mais países, passe por todas essas fronteiras atravessando praticamente todo o continente e só em Angola encontre segurança e se fixe”. Argumentou que, de um dia para o outro, esses estrangeiros têm cinco ou dez mil dólares para abrir cantinas ou outros negócios de proximidade, que deveriam estar reservados aos angolanos, tendo referido também aqueles que se deslocam que, sob capa de vendedores de peças de automóveis, se dedicam ao tráfico de drogas. Sebastião Martins disse que os desafios são grandes e defendeu o empenho de todos no cumprimento das suas missões. “Não nos deixemos influenciar por incompreensões ou críticas infundadas, porque a única razão que nos guia e nos move é servir a sociedade e a pátria”, rematou. Desafios O ministro do Interior lembrou que a sociedade clama por uma presença mais visível e eficaz das forças da ordem interna, particularmente das policiais que, com a sua capacidade de reacção pró-activa, assumam de facto um papel preventivo, capaz de garantir ou sustentar um verdadeiro sentimento de segurança aos cidadãos”, disse. Adiantou que a sociedade clama, também, por um sistema penitenciário que, ao executar as medidas de privação de liberdade aos cidadãos em conflito com a lei, se assuma essencialmente como um sistema modelo pela sua capacidade de ressocializar e formar um homem novo. “A sociedade clama por um serviço de bombeiros e protecção civil que, dotado de estruturas de protecção e socorros adequados, seja capaz de 10 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 onde&quando notíciaspn reagir com prontidão e eficácia à ocorrência de qualquer incidente e actue com eficiência no campo da prevenção de sinistros e não de estruturas que se esgotem em acções de charme”. Sebastião Martins defendeu o profissionalismo, o espírito de missão e o sentido de cidadania dos agentes da autoridade, obedecendo aos princípios éticos e deontológicos. Tomada de posse O ministro conferiu posse ao general Fernando Torres Vaz da Conceição “Mussolo” no cargo de inspector-geral, enquanto o comissário Domingos Ferreira de Andrade é o novo director dos Serviços Prisionais. O comissário António Vicente Gimbe tomou posse como comandante dos Serviços de Bombeiros e Protecção Civil, enquanto João Maria de Freitas Neto é o novo director dos Serviços de Migração e Estrangeiros, SME. Foram ainda empossados Jorge Mendonça, no cargo de director do Gabinete de Estudos, Informação e Análise, enquanto o superintendente chefe Paulo Alexandre da Costa foi investido no cargo de director de Planeamento e Finanças. Joaquim Maciel tomou posse como “ Não nos deixemos influenciar por incompreensões ou críticas infundadas, porque a única razão que nos guia e nos move é servir a sociedade e a pátria” director de Logística e Hermenegildo José Félix é o inspector-geral adjunto para Área de Finanças. Mário António Rodrigues da Silva Neto foi investido no cargo de director do gabinete do ministro, ao passo que João Lopes de Sousa tomou posse como consultor do titular da pasta e Carlos Alberto Gonçalves como assessor de imprensa. O ministro do Interior considerou crítico o quadro que se vive nos Serviços Prisionais, devido à superlotação dos estabelecimentos penitenciários. Sustentou que os investimentos feitos não são suficientes e, do ponto de vista da estratégia funcional, o desafio é criar condições para a rápida expansão do parque carcerário. Argumentou que a solução não é simplesmente construir mais cadeias, mas integrar os reclusos em processos produtivos bem estruturados, com áreas de artes e ofícios, ensino regular e técnicoprofissional. O processo de reestruturação foi extensivo ao Comando Geral da Polícia Nacional, em que se primou pela adequação do grau policial à função. Nessa perspectiva, foram promovidos aos graus de comissário-chefe, Salvador Rodrigues “Dodó”, Inspector do Comando-Geral da Polícia Nacional, e Alberto Jorge Antunes “Jojó”, comandante Nacional da Polícia de Guarda Fronteira de Angola. Portanto, juntando-se aos comissário-chefes Sebastião Martins, ministro do Interior, Paulo de Almeida, 2.º comandante geral para a Ordem Pública, Oficiais comissários passam a existir na Polícia Nacional quada Polícia tro oficiais comissário renovam com tal grau. votos de Foram igualmente fidelidade promovidos outros ofià Pátria ciais aos graus de comissário da Polícia Nacional, tais como Inocêncio de Brito, Director Nacional de Viação e Trânsito, João Diazayakene Lello, comandante da Esquadra de Helicóptero da Polícia Nacional, Carlos Salgueiro, conselheiro do Comandante-geral da Polícia Nacional, Elizabety Ranque Franque, segundo comandante provincial de Luanda, Leitão Ribeiro, segundo comandante provincial de Luanda, e Maria Madalena Gambôa, comandante da Polícia Fiscal, António José Bernardo, chefe do Posto Comando Central da Polícia Nacional, Alfredo Quintino Lourenço “Nilo”, comandante da Polícia de Intervenção Rápida, Rui Gomes, responsável dos Transportes da Polícia Nacional, António Vicente Gimbe, que deixa o comando provincial da Lunda-sul para o Serviço de Bombeiros, e António do Carmo Neto, porta-voz da Polícia Nacional. Renovação na continuidade O Comando geral da Polícia Nacional não ficou alheio às remodelações verificadas no Ministério do Interior. Sendo um processo normal a nível da estrutura policial, Ambrósio de Lemos referiu que a presente remodelação tem a ver com a necessidade de melhorar e inovar a prestação O ministro do Interior considerou crítico o quadro que se vive nos Serviços Prisionais, devido à superlotação dos estabelecimentos penitenciários. dos serviços da Policia Nacional, tendo em conta os novos desafios da corporação. Por seu lado, o ministro do Interior, Sebastião Marins disse que a nomeação, graduação e promoção dos oficiais comissários da Polícia Nacional, assim como a rotatividade de quadros representa um momento importante para cada um dos oficiais. “Esperamos também, em relação a esta matéria, que signifique a afirmação de um percurso que se requer de permanente dedicação à corporação, aos seus objectivos, à sua missão e particularmente ao valor que esta farda e patente encerram para vocês e para a corporação”, afirmou. Foi assim que o comandante-geral conferiu posse aos novos comandantes provinciais das Lundas-Norte e Sul, e segundos comandantes para o Cunene e o Bengo, nomeadamente os subcomissários Abel Baptista, até então comandante da Brigada Especial de Trânsito (BET), e Gil Famoso da Silva, vindo da Direcção Nacional de Informação e Analise. Vale referir que, nesta altura, são os dois únicos comandante provinciais a ostentar a patente de subcomissário, contra os demais que estão um grau acima (comissário). Para o Cunene e o Bengo foram nomeados os sub-comissários Miguel Adão Francisco e José Alberto, respectivamente. Com a saída do agora subcomissário Abel Baptista da BET, quem passa a comandar aquela força especial é o subcomissário Francisco Abel Hilário, que até à sua nomeação exercia a função de 2º comandante da Unidade Anti-Terror. Por outro lado, o subcomissário Arnaldo Manuel Carlos deixa de coadjuvar a Direcção Nacional de Ordem Pública e passa a director do Gabinete de Estudo, Informação e Análise do Comando Geral da Polícia Nacional. Mas se de um lado houve os que ascenderam ao posto de comandante provincial, a nível dos que já neste escalão se encontravam existiu também reestruturação. Assim, O comissário António Pedro “Kandela”, deixando Cabinda, foi nomeado para o cargo de comandante provincial do Namibe, sendo substituído (em Cabinda) pelo comissário Eusébio Domingos Costa. O comissário Eduardo Fernandes Cerqueira sai da DNIC e assume o comando provincial do Bié. Na mesma linha, os comissários Filipe Barros Espanhol (comandante provincial no Moxico), Elias Livulo (comandante provincial do Huambo), Valmir da Cruz Verdades (comandante provincial do Kuanza-Sul), Francisco Ferreira Paiva (comandante provincial da Polícia Nacional do Bengo), Os subcomissários António de Jesus Miranda Guedes, Lino Jacinto Pedro, Alberto Sebastião Mendes e André Kiala “Gato” foram nomeados respectivamente para os cargos de comandantes da Unidade Aeroportuária, da Unidade Portuária da Polícia Nacional, do Instituto Médio de Ciências Policiais e segundo comandante provincial do Moxico, bem como o superintendente chefe José Alberto Chiama, como segundo comandante provincial do Moxico, e o superintendente chefe Carlos Alberto Ferraz, segundo comandante provincial do Kuanza-Sul. Compromisso de honra em nome da ordem e tranquilidade públicas 12 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 onde&quando notíciaspn de Lemos passa em revista unidades policiais. prontidão agradou O comandante geral da Polícia Nacional, comissário geral Ambrósio de Lemos Freire dos Santos, desenvolveu, entre os dias 17 e 18.11, uma intensa jornada de campo nos municípios do Cazenga e Viana, no âmbito das actividades de acompanhamento ao desempenho policial dos órgãos afectos ao Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional (PN). A António Quino companhado de oficiais comissário do Comando geral da PN e da comandante provincial interina, comissário Elisabeth Rank Frank, as visitas visaram especificamente auscultar e baixar orientações de planificação operativo-policial no sentido de melhorar a assistência aos munícipes em termos de segurança pública. No primeiro dia, o comissário geral Ambrósio de Lemos já havia estado de visita à Divisão de Polícia do Cazenga, em companhia do administrador daquele município da capital do país, Victor Nataniel Narciso, tendo passado em revista e constatado o estado de prontidão das forças, dos meios móveis e imóveis. Do que pôde apurar, a Divisão de Polícia do Cazenga comporta 7 esquadras, 10 postos policiais e igual número de esquadras móveis, para atender perto de 39 km² e cerca de 2 milhões de habitantes, pelo que o comandante considerou haver incompatibilidade entre o efectivo policial e a densidade populacional naquele território. Durante as cerca de duas horas que durou a visita, o comandante geral da PN pôde constatar que os índices de criminalidade baixaram, mas que ainda é necessário o apetrechamento das esquadras com mais efectivo e meios para aumentar a cobertura e a mobilidade policial no Cazenga. O comandante geral da PN também observou que algumas unidades policiais no município do Cazenga devem fechar por não oferecerem condições que dignificam o trabalho policial e que, em sua substituição, se deve er- 13 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 guer estruturas mais sólidas e devidamente equipadas com meios humanos e técnicos. Nessa passagem do comissário geral pelo Cazenga, quem também manifestou a sua satisfação é o Administrador municipal, que endereçou palavras de apreço pelo apoio recebido do comando geral da PN. Victor Nataniel Narciso disse na ocasião que, ao contrário do que se diz às vezes, o Cazenga tem um alto índice de segurança pública graças a um esforço conjugado entre Polícia Nacional e Administração Municipal que, com fundos próprios, construiu duas esquadras, uma fixa de raiz e outra móvel. O administrador do Cazenga fez questão de realçar que a questão da segurança pública não é só tarefa da Polícia, pelo que todos devemos trabalhar no sentido de tornarmos a nossa circunscrição o mais seguro possível. Já no território de Viana, o comandante geral da PN visitou a Divisão de Polícia daquele município, que é composta por 9 esquadras, 14 postos, 5 esquadras móveis e 3 destacamentos policiais, visando atender um território com cerca de 1340 km² e com mais de 2 milhões de habitantes. Na sua visita de perto de seis horas à Viana, com realce ao Calumbo, Zangos 1, 2 e 3, Capalanga e Vila, o comissário Geral constatou uma redução substancial do índice de criminalidade, num município cuja aflição consistia sobretudo no fogo posto em viaturas e onde se realçou o registo de homicídios nos estaleiros das empresas de construção ali situadas, fundamentalmente por inobservância dos procedimentos relativos à segurança básica no local de trabalho por parte dos empregados. Contam-se entre os crimes mais assinaláveis a morte por afogamento no rio Kwanza e ofensas corporais simples praticado por pessoas próximas às vítimas. Além disso, o comissário geral Ambrósio de Lemos frisou que o crescimento desordenado das zonas habitacionais tem contribuído significativamente para o aumento da cri- D urante as cerca de duas horas que durou a visita, o comandante geral da PN pôde constatar que os índices de criminalidade baixaram minalidade, pelo que considerou necessário a população cooperar com as autoridades no sentido de se inverter essa tendência. Juntou a isso a urgência duma maior desburocratização em relação à legalização ou não dos detidos, para acompanhar o projecto do Comando geral da PN que pretende aumentar a celeridade no patrulhamento com mais meios rolantes. Em Viana, a Divisão de Polícia tem apurado também o cometimento de crimes de violação sexual contra menores e cujos perpetradores são familiares e vizinhos das vítimas, impossibilitando a acção policial por os mesmos ocorrerem no interior das residências onde habitam as menores. Daí o apelo do comandante geral no sentido de a comunidade denunciar este tipo de actos e, concomitantemente os transgressores. Outro assunto observado é o do roubo constante de viaturas, mas frequentemente nas portas de restaurantes, notando-se uma clara impru- dência dos proprietários das viaturas e dos restaurantes que não criam as condições inerentes a segurança privada para impedir tais actos. Relativamente à acalmia nos bairros do município, observou-se que se deve a uma estreita colaboração entre a Polícia e a Administração Municipal, as autoridades tradicionais e religiosas, em particular no Calumbo. Pelas palavras da administradora adjunta de Viana, Eugenia Silva, que acompanhou a visita, a Administração Municipal tem apoiado a PN e citou como exemplo a cedência de mais espaços para erguer esquadras, prevendo-se, assim, para breve a construção do edifício aonde funcionará a Divisão de Polícia de Viana. Eugenia Silva falou do ambicioso programa de combate a pobreza, um elemento bastante valioso para se aumentar os níveis de segurança pública. O comandante geral da PN, ao despedir-se do efectivo que garante a segurança da população naquele município, aconselhou-os a tirar maior proveito do Pólo Universitário do Capolo 1, a fim de melhor desenvolverem as suas funções profissionais com mais ciência e práticas e atitudes mais modernas. Encontro de balanço da visita, vendo-se ao fundo o administrador municipal do Cazenga, Tani Narciso, à direita do Comandante Geral da PN 14 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 onde&quando notíciaspn Efectivos da Polícia Fiscal concluem curso de superação destinado a oficiais Um grupo de 24 efectivos da Polícia Fiscal concluiu, no dia 16 de Novembro de 2010, em Luanda, o quarto curso de superação para chefes e oficiais, ministrado por especialistas cubanos. A André dos Anjos formação, que durou seis meses, enquadra-se nas relações de cooperação existente entre os ministérios do Interior de Angola e Cuba. Os formandos receberam aulas sobre táctica de enfrentamento, navegação, fiscalização marítima e trabalho operativo. O chefe do posto do Comando-Geral da Polícia Nacional, comissário António José Bernardo, declarou que a formação dos efectivos reveste-se de grande importância numa altura em que se assiste no país um grande esforço do Executivo para potenciar os órgãos de Defesa e Segurança. A alta patente da Polícia Nacional realçou que o Executivo pretende aumentar a capacidade de defesa da soberania e garantia dos direitos 15 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 CONHECIDA POR “PAU GRANDE” Polícia Nacional desmantela rede de falsificadores de documentos André da Costa ma rede de falsificadores de documentos, vulgarmente conhecida por “Pau Grande”, foi desmantelada, em Março, pela Divisão do Cazenga, no decurso da operação policial “Cazenga Balumuca”. Ao todo, foram presos 17 indivíduos, incluindo o líder do grupo, identificado por Alberto Francisco Gaspar, também conhecido por Man-Beto, de 46 anos e director de uma escola. O comandante da Divisão do Cazenga, subcomissário Filipe Massala, referiu que a Polícia apreendeu, da rede de falsificadores, 266 documentos falsos, entre cédulas pessoais, bilhete de identidade, atestados médicos, certidões de nascimento, certificados de habilitações literárias e profissionais. O subcomissário Filipe Massala disse, por outro lado, que a Polícia tem apreendido medicamentos comercializados na via pública ao longo do município do Cazenga. A Polícia Nacional deteve, igualmente, quatro cidadãos por crime de venda e posse de droga. Durante a operação, a Polícia desmantelou três grupos de marginais que se dedicavam a assaltos à mão armada e roubos por esticão. A corporação recuperou 28 armas de fogo de diversos calibres, 10 carregadores, três televisores, uma ventoinha, 62 DVD, 1400 discos piratas, 352 carregadores de baterias, 452 disquetes e 12 bidões de gasolina de 20 litros. Cerca de três toneladas de medicamentos diversos, que estavam a ser comercializados em locais impróprios, foram destruídos, segundo o subcomissário Filipe Massala. U A ntónio José Bernardo declarou que a formação dos efectivos reveste-se de grande importância numa altura em que se assiste no país um grande esforço do Executivo para potenciar os órgãos de Defesa e Segurança. e liberdade dos angolanos e sublinhou que a Polícia Fiscal é um órgão especializado no controlo de trânsito de mercadoria, prevenção, investigação e repreensão dos delitos e transgressões fiscais e aduaneiras. Na vertente marítima, de acordo com o comissário António José Bernardo, este órgão tem como objectivo combater o contrabando de mercadorias, actos de terrorismo e proteger o comércio internacional marítimo e os navios que aportam nas águas territoriais e portos do país. “É nesta finalidade que a direcção do Comando da Polícia Fiscal tem vindo a habilitar os seus efectivos de conhecimentos técnicos e operacionais para melhor executarem as tarefas ligadas ao combate ao tráfico ilegal de mercadorias, entre outras actividades ilícitas”, sublinhou. De acordo com o comissário, o curso vai permitir que os efectivos venham a cumprir as missões com elevado espírito de missão, honestidade e coragem. Por sua vez, o chefe de Repartição de Formação do Comando Nacional da Polícia Fiscal, inspector-chefe João Carlos Belo, que considerou positivo o curso, disse que, com esta formação, os chefes e oficiais das esquadras marítimas e das unidades de superfície estão capazes de organizar e dirigir o sistema de descobrimento e enfrentamento na fronteira marítima, combater com mais acuidade o tráfico ilegal de mercadorias e a imigração ilegal na fronteira marítima. Na cerimónia foram entregues certificados aos recém-formados e feita demonstração de exercícios tácticos. Assistiram ao encerramento do quarto curso de superação para chefes e oficiais a comandante nacional da Polícia Fiscal, a comissária Maria Madalena Gambôa, e altas entidades da corporação. 16 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 onde&quando notíciaspn Descentralização dos serviços de VIAÇÃO E TRÂNSITO chega ao município de Cacuaco Os Serviços de Inspecção de Veículos no município de Cacuaco, localizado a cerca de 30 quilómetros da zona urbana de Luanda, existem desde o dia 27 de Fevereiro de 2010, altura em que foi inaugurada uma estrutura municipal da Direcção Nacional de Viação e Trânsito. O Yolanda Dias objectivo fundamental da instalação da estrutura em Cacuaco é a descentralização da actividade dos serviços da Direcção Nacional de Viação e Trânsito. “Os munícipes de Cacuaco já não têm necessidades de se deslocar à Baixa de Luanda, onde se encontra a sede da direcção, quando quiserem tratar de algum assunto relacionado com os serviços de Viação e Trânsito”, comentou, em declarações à Revista Tranquilidade, o inspector-chefe Manuel Adriano “Nelito”, Director da estrutura montada em Cacuaco pela Direcção Nacional de Viação e Trânsito, Manuel Adriano disse que, além de Cacuaco, os municípios do Cazenga, Viana e Samba também já têm os mesmos serviços descentralizados. “A presença desses serviços nos municípios de Luanda provocou um grande desafogamento ao trabalho desenvolvido pela direcção central”, reconheceu o inspector-chefe Manuel Adriano. “Diariamente, são inspeccionados em Cacuaco entre 45 e 50 viaturas, das quais 25 a 35 são aprovadas”, informou a alta patente da Polícia Nacional. Para que um veículo seja inspeccionado, de acordo com o director dos serviços de Viação e Trânsito em Cacuaco, tem de estar em bom estado técnico e deve fazer-se acompanhar dos acessórios de segurança como, por exemplo, o triângulo, pneu de socorro, a chave de rodas, extintor de incêndio e macaco. Para além da inspecção de veículos, os serviços de Viação e Trânsito em Cacuaco executam outros trabalhos como renovação de cartas e troca de cartas estrangeiras levantamento de cartas e livretes apreendidos naquela área de jurisdição, O inspector-chefe Manuel Adriano frisou que a inspecção dos veículos é obrigatória para que sejam identificadas as suas características que vão determinar o registo que resultará na obtenção do livrete. “Quando as condições da viatura não permitem a sua aprovação, informamos o proprietário sobre o que deve ser feito para voltar a apresentar a viatura para ser outra vez inspeccionada”, acentuou. O alto funcionário da Direcção Nacional de Viação e Trânsito afirmou que “algumas viaturas são chumbadas porque reparamos que os seus proprietários não compreendem o que é um bom estado técnico de um carro, que é propriamente o bom estado dos pneus, dos piscas, do limpa para-brisas, do stop, da chaparia, da pintura. Enfim, a conservação da viatura em todos os aspectos”. Manuel Adriano salientou ainda que a média de veículos inspeccionados por dia é aceitável, em função da área onde são inspeccionados. “Viana, por exemplo, por ser uma zona industrial, com um índice populacional mais elevado, o número de veículos inspec- cionados ultrapassa as nossas estatítiscas”, sublinhou o inspector-chefe Manuel Adriano. Samuel Marcos, proprietário de um veículo que estava a ser inspeccionado quando a equipa de reportagem da Revista Tranquilidade esteve no local, reconheceu a importância da inspecção, por dar garantias ao condutor que o seu automóvel pode circular sem causar danos a ninguém. “Às vezes, por negligência, podemos provocar um grande acidente na via pelo mau funcionamento dos piscas, situação que se pode evitar se inspeccionarmos com regularidade as nossas viaturas”, reconheceu o avisado cidadão. “A viatura em causa é nova, mostrou estar em bom estado técnico e se faz acompanhar dos acessórios, apesar de que falta o extintor. Vamos aprová-la, não porque o extintor seja menos importante, mas porque, desde a aprovação do Código de Estrada, muitas questões ainda estão a ser regulamentadas e, para casos como este, aconselhamos o proprietário a adquirir o acessório em falta durante os próximos dias”, explicou o inspector-chefe Manuel Adriano, referindo-se à viatura pertencente a Samuel Marcos. Para além da inspecção de veículos, os serviços de Viação e Trânsito em Cacuaco executam outros trabalhos como renovação de cartas, troca de cartas estrangeiras, levantamento de cartas e livretes apreendidos naquela área de jurisdição, resultante da aplicação de multas, e a realização de exames de condução para candidatos que pretendam obter pela primeira vez a carta. 17 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Chegou o seguro obrigatório automóvel Na véspera e nos dias subsequentes ao 11 de Fevereiro de 2010, altura em que entrou em vigor, no país, o seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel, os meios de comunicação social fizeram da matéria tema das mais diversas abordagens. Aliás, o assunto ganhou dimensões de um “debate nacional”. O seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel deveria, afinal, entrar em vigor em Angola há oito anos. Está previsto no artigo 10.º da Lei n.º 20/03. O Decreto 35/09 surge, apenas, para regular este segmento de seguro, na medida em que fixa as regras e procedimentos a observar pelos vários intervenientes, com vista à sua implementação dentro dos limites legais, afirma a chefe do Gabinete Jurídico do Instituto de Supervisão de Seguros, Luzia Tadeu Major. A jurista socorre-se do preâmbulo do Decreto 35/09 para mostrar as motivações que levaram as autoridades a tornar obrigatório o seguro de responsabilidade civil. “Numa linha de tomada de consciência mais forte dos valores da pessoa humana e da protecção das vítimas, urge assegurar que todos aqueles cujos interesses forem lesados pela conduta de outrem, tenham garantia de efectiva reparação, sem estarem dependentes da capacidade financeira do causador”, cita. Luzia Major lembra que assegurar é, acima de tudo, transferir um ou vários riscos para uma seguradora. Recorda que “o exercício de condu- As viaturas pertencentes ao Estado estão isentas da obrigatoriedade do seguro de responsabilidade civil automóvel, desde que não sejam atribuídas para uso pessoal, permanente e regular. ção encerra riscos que vão desde o atropelamento de peões à colisão entre veículos”. No fundo, o fim primeiro e último que o seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel persegue, é o de fazer com que os proprietários de veículos a motor transfiram para as seguradoras os riscos contra terceiros da circulação desses meios na via pública, sublinha. A jurista considera infundados os rumores, segundo os quais o “negócio” do seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel é uma forma velada encontrada pelas autoridades, para reduzir a presença de agentes privados no mercado de transportes colectivos, nos grandes centros urbanos. Inspecção, fiscalização e penalização O Decreto 35/09 reserva para a Direcção Nacional de Viação e Trânsito um papel preliminar à celebração do contrato de seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel: A inspecção das viaturas. As seguradoras estão obrigadas, por lei, a exigirem o certificado de inspecção do veículo emitido por aquele órgão do Ministério do Interior, quer na decorrência do contrato, quer no momento da sua renovação. À Polícia de Viação e Trânsito cabe, nos termos da lei, a fiscalização do cumprimento do Decreto 35/09 e penalização dos automobilistas que forem apanhados em transgressão. As medidas de penalização vão desde a retirada da circulação de viaturas desprovidas do seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel, até à aplicação de multas, cujos valores são repartidos entre a conta única do Tesouro, o Fundo Rodoviário e a Direcção Nacional de Viação e Trânsito. As viaturas pertencentes ao Estado estão isentas da obrigatoriedade do seguro de responsabilidade civil automóvel, desde que não sejam atribuídas para uso pessoal, permanente e regular. 18 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 onde&quando notíciaspn Combate à criminalidade violenta em Angola é prioridade da Polícia de Intervenção Rápida A Hélio Canda Polícia de Intervenção Rápida (PIR) é um órgão de reserva do Comando-Geral da Polícia Nacional e foi criada numa época de decisivas transformações políticas do nosso país. A PIR tem como incumbência prevenir e combater a criminalidade violenta, distúrbios e o terrorismo nas suas diversas vertentes. Desde a sua fundação, a PIR desenvolveu uma série de acções tendentes a combater o banditismo armado e manifestação não autorizadas pelos órgãos de soberania do país. Entre essas acções destaca-se a segurança do Papa João Paulo II, durante a visita efectuada ao país em 1992. Esta é a apreciação feita pelo comandante da Polícia de Intervenção Rápida, comissário Alfredo Quintino Lourenço “Nilo”, por ocasião do décimo sétimo aniversário do órgão, que decorreu sob o lema “PIR, firme forme na prevenção e combate à criminalidade violenta”. Na ocasião, o subcomissário “Nilo” disse que foram concretiza- dos muitas realizações, com destaque para o início do programa de reequipamento e apetrechamento em meios técnicos e o aumento do nível académico e profissional dos efectivos da PIR a nível nacional. Dos feitos alcançados consta, igualmente, o início do processo de rejuvenescimento das forças. Estas acções, segundo explicou, foram factores que contribuíram para o êxito de todas as missões atribuídas ao órgão, motivo de orgulho e sentimento de dever cumprido. “Queremos reafirmar a nossa firme determinação e prontidão para o cumprimento das novas missões, exortando os efectivos a manterem bem alto os níveis de disciplina, treinamento e preparação para darmos resposta às eventuais situações de distúrbios públicos e outros delitos que possam ocorrer”, frisou o comandante. Alfredo Lourenço assumiu o compromisso de cuidar, com dedicação e profissionalismo, dos equipamentos e meios adquiridos por representarem uma mais-valia no mudo de actuação das forças, sua articulação, rapidez e manobra. 20 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 onde&quando notíciaspn Polícia Nacional reforça valores morais e cívicos o comportamento disciplinar, moral e cívico dos efectivos e a sua influência no cumprimento das orientações policiais estiveram em análise. ciedade” afirmou o comissário Zé Manuel. Foram analisados ao longo do encontro o comportamento disciplinar, moral e cívico dos efectivos e a sua influência no cumprimento das orientações policiais. Cconselheiro do Comandante-Geral para a aréa do Trânsito, o comissário Zé Manuel disse esperar que, depois desse encontro, os efectivos da Polícia reforcem a postura digna durante a missão de garantir a tranquilidade e ordem públicas em todo o país. A alta patente da Polícia Nacional desejou que os delegados provenientes de todas as provincias consigam pôr em prática as recomendações saídas do encontro para que a educação dos efectivos, na vertente moral e cívica, esteja cada vez mais cimentada na corporação. Redução das infracções O Etelvina Costa Departamento Nacional de Educação Moral e Cívica da Polícia Nacional realizou, no segundo semestre de 2010, no Instituto Médio de Ciências Policiais “Osvaldo Serra Van-Dúnem”, a segunda reunião metodológica, com o objectivo de analisar o estado psicológico das forças policiais. Ao presidir à sessão de encerramento, o comissário Zé Manuel, em representação do Comandante-Geral da Polícia Nacional, disse que a realidade política, ecónomica e social angolana é ainda fortemente condicionada pelo passado recente Comissário Maurício Alexandre, responsável pela área de moral e cívica da PN da guerra e desencontro ético moral. “Esta realidade faz de nós, Polícia Nacional, o alvo de todas as críticas e raparos por parte da so- A cerimónia de abertura da segunda reunião metodógica foi presidida pelo inspector-geral da Polícia Nacional, comissário Salvador Rodrigues “Dodó”. Segundo o inspector-geral, no domínio da situação psico-emocional e disciplinar das forças policiais verificou-se, no primeiro semestre de 2010, uma redução do número de infracções disciplinares e criminais praticadas por alguns membros da corporação. “É necessário que sejam analisados, de forma pormenorizada, as questões de ética e dentologia polícial e o civismo dos nossos efectivos no desempenho das suas tarefas, com destaque para os da manutenção da ordem e tranquilidade públicas”, afirmou o comissário Salvador Rodrigues. Acções de fiscalização do trânsito de motociclos, ciclomotores e de velocípedes com motor vão aumentar Angola é o terceiro país do mundo em SINISTRALIDADE RODOVIÁRIA Somos o terceiro país do mundo que mais acidentes e mortes regista pelo mau uso das estradas O facto foi revelado em Luanda, pelo comandante-geral da Polícia Nacional, comissário geral Ambrósio de Lemos, quando participava num encontro sobre a sinistralidade rodoviária em Angola. Os dois primeiros países com a mais alta taxa de acidentes e mortes nas estradas são a Serra Leoa e o Irão. Ambrósio de Lemos afirmou que “as infra-estruturas rodoviárias têm sido usadas por muitos automobilistas de pouca consciência e responsabilidade para levarem o luto e muito sofrimento a inúmeras famílias”. A Polícia Nacional, disse, tem estado a redobrar esforços com vista à redução dos acidentes e as suas consequências. “Estas acções não são suficientes, pelo que se torna urgente um esforço conjugado de outros organismos na elaboração e execução de programas de educação rodoviária”, acentuou Ambrósio de Lemos. O comandante-geral da Polícia Nacional sublinhou que os temas abordados ontem no encontro sobre a sinistralidade rodoviária em Angola vão contribuir para que a corporação e a sociedade tracem estratégias no domínio da prevenção de acidentes. Causas dos acidentes O chefe do Gabinete de Comunicação e Imagem da Direcção Nacional de Viação e Trânsito, Angelino Sarrote, informou, na ocasião, que os acidentes em Angola têm como causas fundamentais o excesso de velocidade, o consumo de bebidas alcoólicas, as ultrapassagens irregulares, o excesso de lotação e o transporte de pessoas em veículos de mercadorias. Angelino Sarrote sublinhou que foi traçado um Plano Estratégico Nacional de Prevenção Rodoviária, que determina as bases para fazer descer drasticamente os índices de sinistralidade rodoviária. Vão estar envolvidos no plano os ministérios da Saúde, dos Transportes e do Ambiente, de acordo com Angelino Sarrote. “O Ministério da Saúde vai intervir pelo facto de prestar socorro a sinistrados, o Ministério dos Transportes entra no projecto por causa dos veículos de transporte de passageiros, o Ministério do Ambiente por causa da poluição sonora, e o Serviço Nacional dos Bombeiros vai intervir porque socorre permanentemente os sinistrados no local do acidente”. O Plano Estratégico Nacional sobre Prevenção Rodoviária, disse, começa a vigorar em 2011 e termina em 2013. “Esperamos que este modelo de prevenção possa diminuir consideravelmente os acidentes de viação e o número de mortes”, sublinhou Angelino Serrote. Até ao terceiro trimestre foram registados em Angola, de acordo com Angelino Sarrote, 10.529 acidentes, que causaram a morte a 2.493 pessoas e ferimento a 9.915 outras. 21 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 viaturas de duas rodas mais fiscalizadas infracções constantes dos condutores preocupam as forças policiais O comandante-geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, deu orientações, através de uma circular, aos comandos provinciais para incrementarem acções de fiscalização do trânsito de motociclos, ciclomotores e de velocípedes com motor. O documento indica que no acto de programação das acções de fiscalização, os agentes da Polícia devem exigir aos utentes de motociclos, ciclomotores e velocípedes com motor documentos de identificação pessoal (carta de condução ou licença de condução) e os documentos do meio de circulação, aferindo-se da sua autenticidade e validade. A circular, datada de 18 de Novembro, refere ainda que, nas situações em que se constatem indícios de contrafacção ou viciação fraudulenta dos títulos de condução, expiração do prazo de validade e mau estado de conservação, os documentos devem ser apreendidos. Nos termos do artigo 162º do Código de Estrada, devem ser aprendidos os motociclos, ciclomotores e velocípedes com motor que circulem na via pública com números de matrículas que não tenham sido legalmente atribuídos e os que transitem sem chapas de matrículas ou não se encontre matriculados, salvo nos casos permitidos por lei. Os motociclos, ciclomotores e velocípedes com motor aprendidos pelas autoridades policiais, lê-se no documento, só podem permanecer nas unidades ou noutros locais sob custódia da Polícia durante um período máximo de 90 dias. Os processos de motociclos, ciclomotores e velocípedes que, devido a negligência dos proprietários, permaneçam nas unidades policiais ou noutros locais sob custódia da Polícia Nacional, por um período superior a 90 dias, devem ser remetidos aos governos provinciais, que são os organismos competentes para promoverem a venda em hasta pública de bens móveis O risco de morte é seis vezes maior para os que não usam o cinto, comparado com os que usam 22 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 lendo&aprendendo Uso do cinto de segurança Quebrando um pouco a linha que tem orientado este espaço, hoje vamos falar de um acessório de uso obrigatório de acordo com o Código de Estrada em vigor no nosso país. Referimo-nos ao cinto de segurança, recorrendo a uma peça produzida por Lauro Cesar Pedot, 1° sargento da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, comandante do Grupamento Rodoviário duma Brigada Militar. Usado pela primeira vez na corrida Paris-Marseille em 1896, patenteado pelo francês Gustave Dèsirè Lebeau, o cinto de segurança dos veículos automotores tornou-se popular e admirado pela maioria da população. Ele protege com eficácia os ocupantes dos veículos em caso de acidente, pois evita que choquem contra as superfícies duras do interior do veículo e que sejam arremessados para fora. Alguns dados para reflectir sobre o assunto: w Em média, 75% das pessoas projectadas para fora do veículo, morrem; w O risco de morte é seis vezes maior para os que não usam o cinto, comparado com os que usam; w Num choque a 50 km/h, o choque imposto a uma criança solta dentro do veículo equivale ao de uma queda do terceiro andar de um prédio; w Aproximadamente 84% dos acidentes ocorrem numa distância bem próxima da casa do acidentado, portanto devemos utilizá-lo sempre; w O não uso do cinto no banco de trás aumenta em cinco vezes o risco de vida dos ocupantes dos bancos dianteiros. Alguns mitos sobre o assunto: w “O cinto é perigoso nos casos de acidente em que ocorre incêndio ou quando o veículo cai na água”. Este mito não tem sustentação científica, pois ocorre incêndio ou submersão em 0,04% dos acidentes de trânsito e mesmo neles é importante o uso, pois diminui a possibilidade dos ocupantes de veículo perderem a consciência, o que é importantíssimo para sair do veículo; w “O cinto pode prejudicar as gestantes”. Não é verdade, pois a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), orienta que as gestantes utilizem o cinto colocando a faixa abdominal o mais baixo possível no abdómen (“barriga”); w “No banco traseiro não é obrigatório o cinto”. Mais um equívoco, ele é obrigatório e evita que o passageiro seja projectado sobre os ocupantes dos bancos dianteiros ou para fora do veículo, imagine um adulto chocando-se, cabeça com cabeça, com outro passageiro, alguém sobreviverá? w “O cinto pode enforcar”. Outro erro, pois se usado correctamente com a folga máxima de dois centímetros entre o corpo e a faixa e com o encosto na vertical não haverá enforcamento – o banco original que tem uma elevação na frente, ajuda a evitar que o corpo deslize para frente por baixo do cinto, no caso de colisão frontal. O cinto deve receber manutenção e cuidados assim como todos os acessórios e componentes do veículo. O uso é obrigatório na maioria esmagadora dos países do mundo, prevê (na Itália, por exemplo) a obrigatoriedade e estabelece para o incumprimento mais de Kz. 30 mil de multa, mais cinco pontos na carta de condução. Veja o programa televisivo Vanguarda Policial todas as quartas-feiras, após o Ecos e Factos no Canal 1, e quintas-feiras, a partir das 18H55, no Canal 2 24 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 províncias Bié O Bié está localizado exactamente no centro do país. É o coração, a senhora e dona do rio Kwanza, que sempre transmitiu a certeza de uma esperança na conquista de novos rumos no desenvolvimento agro-industrial do país. Exemplos do passado reforçam esperança no presente 25 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 P Carlos Miranda ara que a história registe, com certa amargura e uma mescla de heroicidade e nobreza da sua população, a província do Bié é considerada um território em que praticamente os adversários do MPLA iniciaram um ciclo de derrotas que culminou com a conquista da paz em 2002. Ainda que não se queira, não se pode ignorar este capítulo dramático da sua história. Basta sabermos que não restou pedra sobre pedra, e olharmos para o que se reergueu nesta província que, aos olhos do mundo, começa a passar o testemunho da perseverança de um povo disposto a trilhar o seu caminho com os exemplos do passado, mas vivendo um presente carregado de esperança, trabalho e muita fé na reviravolta para o desenvolvimento tão ar- dentemente desejado por aqueles que conquistaram a paz. A sua cidade capital, o Kuito, hoje, está radicalmente transformada, mas aqui e ali nota-se ainda um quadro ridículo do que a guerra foi capaz de fazer num tempo em que milhares de pessoas estiveram sitiadas, sem qualquer tipo de abastecimento para uma sobrevivência normal. São traços de um tempo que jamais devem ser apagados para que as intolerâncias não repitam a história. Ainda existem painéis que apenas com um simples olhar fazem-nos abrir as páginas mais negras do calendário da existência de uma das cidades mais belas do país. Mas, no meio de alguns cenários carregados de drama e traumas do passado, uma população se ergue, caminha e sor- O ri com a paz conquistada pelos seus próprios filhos, muitos dos quais deram a sua vida e repousam num imenso cemitério, onde as peregrinações dos que ficaram para contar a história se sucedem, recordando os seus feitos, o seu heroísmo, a sua tenacidade e vontade de viver para que a província conquiste o seu espaço no amplo programa de desenvolvimento iniciado pelo Governo. O Kuito acordou logo depois da guerra ter terminado. Há sete anos, estivemos no Kuito e foi o que se viu. A maior parte das pontes estavam destruídas; os escombros da guerra eram bem visíveis. Em cada esquina, estrada ou numa simples rua não era raro notar-se o clima de terror. Mutilados, viam-se muitos mutilados e jovens com um olhar vazio, à procura de empregos, escolas e centros de saúde. E quem pudesse, refugiava-se na sua capacidade de sobreviver agarrado a um passado triste, mas heróico, por ter dado o melhor de si para defender a sua terra, ou pura e simplesmente batia em retirada em direcção a Luanda, Huambo ou Benguela. Hoje, preferem ficar. Já existem escolas, institutos médios e hospitais reabilitados ou construídos de raiz. A juventude sabe que a mudança de clima chegou e, apesar dos seus parcos recursos, embrenha-se pelo território bieno em todas as direcções em busca de uma nova vida, um negócio aqui e ali, ou algumas paredes nuas, mudas e surdas para puderem construir um lar. As célebres trotinetes e bicicletas artesanais que serviram para transportar material de guerra, transformaram-se, de novo, em meios para carregar uma enormidade de produtos agrícolas do campo para a cidade. A isso, chama-se VIDA. Com toda esta mudança radical, é importante que se diga que, afinal, os tempos são outros, a mentalidade vai-se transformando, e com ela nasce uma nova geração de homens e mulheres que podem dizer que, sim, vale a pena aguentar o coração do país com ou sem armas na mão. Kuito acordou logo depois da guerra ter terminado. Há oito anos 26 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 províncias Bié Postal capitalizado nos negócios (im)possíveis Como centro do país, todos os caminhos vão dar ao Bié, mas é exactamente no município de Camacupa onde se encontra o marco geográfico que traça as linhas que distanciam na mesma dimensão o Norte do Sul e o Oeste do Leste. A província do Bié é composta pelos municípios do Andulo, Katabola, Chinguar, Chitembo, Kamacupa, Kuemba, Nharea, Kunhinga e Kuito (a capital) distribuídos numa área de aproximadamente 80 mil quilómetros quadrados. Como centro do país, todos os caminhos vão dar ao Bié, mas é exactamente no município de Camacupa onde se encontra o marco geográfico que traça as linhas que distanciam na mesma dimensão o Norte do Sul e o Oeste do Leste. Num passado muito recente cogitava-se da existência de um enorme filão de ouro e de jazidas de diamantes, facto que originou uma corrida desenfreada de centenas de garimpeiros provenientes de todos os pontos do país e do exterior. Para além de se ter constituido num dos maiores cenários de guerra, em certa altura ganharia fama com o estatuto de se estar diante da segunda província mais rica do país, uma vez que, já no tempo da outra senhora, foi considerada como “celeiro do arroz e do milho”. Com declaração quase que insensata passaria a ser a província mineira mais virgem (sic) do país. Então, montaram-se as tendas da ilegalidade e ali frequentaram, por alguns tempos, muitos garimpeiros febris. Hoje, estes factos podem ser dados como simples “estórias da carochinha” ou boatos lançados logo depois da guerra, mas a verdade é que, ela Como centro do país, todos os caminhos vão dar ao Bié, mas é exactamente no município de Camacupa onde se encontra o marco geográfico que traça as linhas que distanciam na mesma dimensão o Norte do Sul e o Oeste do Leste. tem, sim, diamantes por explorar em grande escala, mas isso não é para quem quer. Existem leis e regras a cumprir e o Estado meteu um freio na corrida e... as autoridades angolanas competentes “atacaram o mal pela raiz”, correndo com os garimpeiros ilegais, quer fossem estrangeiros ou angolanos, que, na altura, conseguiram estabelecer-se com dragas em algumas áreas. Fruto da operação “Brilhante”, hoje, garante a Polícia, a situação está controlada. Sendo uma província que faz fronteira terrestre com as do Moxico (a leste), Kuando-Kubango (sul), Huíla (sudoeste), Kwanza-Sul (noroeste), Malanje (a norte), Lunda Sul (a nordeste) e Huambo (o oeste), o Bié tem um extenso mercado interno e externo para montar uma importante fonte de desenvolvimento agro-industrial a serviço do país. Isso nota-se na grande movimentação de camionistas que, no seu território, actualmente circulam em estradas completamente reabilitadas ou construídas em tempo recorde. Viajámos do Bié para Luanda (em passo de um cágado muito preguiçoso) por essas vias e registámos que, em nove horas, sem pressa, percorremos mais de setecentos quilómetros, passando pelo Huambo, Kwanza-Sul, Kwanza-Norte e Bengo. Mas há quem diga que se pode fazer em pouco mais de cinco horas se nos embrenhássemos pelas estradas do Huambo, Benguela e Bengo. Enfim, o diabo que escolha, mas a verdade é que, acima de tudo, é bom que se diga: chega-se 27 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Os inspectores de Camacupa N A s autoridades angolanas competentes “atacaram o mal pela raiz”, correndo com os garimpeiros ilegais, quer fossem estrangeiros ou angolanos, que, na altura, conseguiram estabelecerse com dragas em algumas áreas. ao Bié sem qualquer problema e que a paz seja eterna !!! A população predominante é de etnia ovimbundu, e sem contar com as migrações pode-se contar sem receio de cálculos errados, que já são cerca de três milhões os bienos que lá vivem, na sua maioria camponeses de origem kioco, ngangela e ovimbundu. Em 2009, segundo dados oficiais cedidos pela Polícia local, soube-se que por essas bandas não só do campo vive o homem. As escolas, paulatinamente, vão sendo erguidas ou reparadas onde é possível. Fruto deste esforço do Governo e de várias instituições não-governamentais, cerca de oitocentos e cinquenta mil alunos frequentaram o primeiro nível, mais de oitocentos o segundo, cerca de dois mil o terceiro nível e o ensino médio, contando com a prestação efectiva de cerca de quinhentos técnicos médios formados em várias sectores de actividade, para além da existência do ensino superior, que espera por melhores dias. São factos que jamais se imaginariam antes de 2002… asceu no Bié e agora sente o peso da responsabilidade de conter a vaga de crimes em casa própria como se fosse predestinado a fazê-lo no papel de um dos heróis de banda desenhada do género. Mas considera que está muito longe disso, pois sabe mais do que ninguém que do imaginário aos factos concretos vai uma longa distância. Por isso, Alfredo Sandala, trinta anos de idade, nascido em Camacupa, encarou o seu trabalho, em l996, como uma tarefa algo complicada, devido à situação pós-guerra. Não conseguiu atingir a patente que desejava, mas acha que pode contar com o maior recurso da sua carreira: os seus colegas, como o agente João Machado que continua a cumprir as ordens superiores a preceito. O nível de criminalidade no município de Camacupa não é alarmante, mas todo o cuidado é pouco, diz Alfredo Sandala, que, diariamente, incentiva os colegas para que estudem mais. “ Há tempo para tudo, temos de cumprir com o que nos mandam, mas o futuro a nós pertence”, sugere o jovem a João Machado que, por seu turno, tem uma outra previsão sobre a sua carreira: “ Quero ser comandante provincial do Bié da Polícia Nacional. Esta é a minha verdade”, afirma, num português meio enguiçado. Eles são unânimes em declarar que a criminalidade em Camacupa “está a diminuir” e o inspector Amauro, chefe de secção de investigação criminal na localidade há dois anos, não tem dúvidas. O município não se pode comparar a outras áreas muito mais desenvolvidas e habitadas do país, pois por ali a situação ser “estável”, e argumenta: “ Os vários tipos de cri- minalidade que temos vindo a registar são os furtos simples, ofensas corporais e, uma vez ou outra, alguns homicídios; crimes que são rapidamente instruídos, controlados e encaminhados a tempo às autoridades competentes”. Para si, os crimes mais comuns acontecem entre as populações que regressaram das matas devido à guerra, ou ao baixo nível de conhecimento da lei, pois acham que podem continuar a fazer justiça por mãos próprias, na medida em que nos locais onde viviam não existia a mão da autoridade do Estado. “Apesar de não termos meios à altura para resolver determinados tipos de situações nas aldeias mais recônditas, temos feito das tripas coração para chegarmos lá onde seja necessário impor a lei, dentro das regras e procedimentos que conformam o nosso estatuto como investigadores criminais numa região com cerca de cento e vinte mil habitantes”, afirma, acrescentando que, por várias vezes, têm como recurso alguns motociclos para viajar a localidades que distam da comuna-sede (Camacupa) pouco mais de cem quilómetros para resolver um problema aparentemente simples, como, por exemplo, de acusação de feitiçaria: “uma maka de sanzala, que as autoridades tradicionais poderiam intervir e ultrapassar”, salienta. “ Tudo leva a crer que daqui a pouco tempo vejamos melhorias no nosso trabalho com a chegada de mais meios de transporte”, declara o inspector, que tem “sonhado muito alto” em termos de carreira: quer frequentar a universidade, onde e quando for possível, sem esquecer de colocar na ordem do dia a sua actividade como inspector. 28 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 províncias Bié Polícia nacional controla as áreas diamantíferas “Os garimpeiros desapareceram ou ficaram pobres”. Garante Filomeno Araújo, segundo comandante provincial do Bié da Polícia Nacional N asceu na província do Bié, fez-se homem em diferentes regiões, abraçou a carreira militar numa fase crucial do período pós-independência, em que os actos de bravura da forte corrente militar se impunha como uma necessidade incontornável para que a soberania do país não se soçobrasse aos desígnios daqueles que teimavam em não acompanhar os rumos da paz; uma paz que apenas veio a ser conquistada quando ele e outros milhares de combatentes preferiram abandonar as escolas, os lares e os campos verdes de esperança do Bié, para defender o seu pedaço de terra. Palmo a palmo, o agora superintendente-chefe Filomeno António Figueiredo Araújo, quarenta e sete anos de idade, olha para o passado, não recordando apenas as coisas tristes da guerra, mas um outro cenário menos nostálgico que, aliás, constituiu o começo de uma carreira, de uma vida vivida com muita responsabilidade junto dos chefes e subordinados. Araújo fez história no Kuito e noutras paragens da província mais ao centro do país. Quem esteve ao seu lado reconhece a sua atitude perante o dever de servir a Pátria. Lançou a sua semente e os frutos começam a ser colhidos num outro cenário em que as armas se calaram. Hoje, por mérito próprio, é o segundo comandante provincial do Bié da Polícia Nacional. Já em 1993, assumiu o cargo como o maior desafio da sua vida, numa altura em que a própria corporação sofria transformações profundas. Participou nessa fase com a mesma atitude de sempre: servir o país da melhor forma possível, “ ainda que estivéssemos completamente sitiados pelo inimigo”. Enfim, tempos que já lá vão, mas que a história deve registar como um dos momentos cruciais da existência de uma região que viu os seus filhos a lutarem por ela. A maior parte permaneceu ou regressou à terra para dar o seu contributo, em vários ramos de actividade, nesta fase de consolidação da paz. Filomeno Araújo é apenas um entre milhares e milhares de anónimos. A revista Tranquilidade esteve com ele e não foi difícil manter um diálogo para confirmarmos que, de facto, existe a tranquilidade, a ordem necessária, a tal paz de espírito desejável numa província onde tudo se fez para que ela volte a transformar-se no maior celeiro do país; para que ela volte a rever os seus imensos arrozais, os grémios, as lavras e o comércio a partir das suas múltiplas linhas fronteiriças. E a Polícia Nacional, em todas as suas vertentes, está presente, garante o segundo comandante provincial, Filomeno Araújo. O senhor foi indicado para assumir o cargo de segundo comandante, numa altura bastante crítica, no meio de tiros e bombardeamentos. Aliás, disse-nos que a cidade do Kuito estava inclusive sitiada. Como é que se sentiu na altura, uma vez que era bastante jovem? Para mim, foi um grande desafio. Talvez o desafio da minha vida, mas eu já tinha alguma experiência de direcção nas Forças Armadas. Portanto, encarei o desafio com naturalidade, sobretudo, com humildade. Na altura, tinha sido indicado para segundo comandante para a área de apoio e asseguramento. Conheço a região, porque nasci no Kuito e já desde 1982 exercia vários cargos de responsabilidade no Ministério da Segurança do Estado (MINSE), quer como chefe provincial da Direcção de Emigração e Fronteiras de Angola (DEFA), hoje Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), quer nas operações, onde fui chefe de uma secção. Em 1986, fui nomeado chefe de sector dos serviços de segurança pessoal, cuja unidade foi criada e consolidada por mim, aqui no Bié, até 1993. Comandante, de um tempo a esta parte ouve-se falar de uma legião enorme de garimpeiros que tem estado a aportar à província e que tem, sobremaneira, preocupado o Governo. Até que ponto isso corresponde à verdade e como é que as autoridades policiais encaram este quadro? 29 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Estamos a falar de garimpo de diamantes... Depois de termos realizado uma operação a que chamámos de “Operação Crise”, os poucos garimpeiros que existiam principalmente no município de Nharea, que dista cerca de cento e setenta e cinco quilómetros da cidade do Kuito, desapareceram. Posso assegurar que tudo está sob controlo, uma vez que fazemos regularmente uma fiscalização rigorosa a regiões suspeitas da existência dessa gente. As áreas em que se sentiu a febre da procura de diamantes eram praticamente zonas onde a UNITA E explorou. O garimpo tradicional, em que as pessoas utilizavam meios rudimentares como peneiras, pás e enxadas, praticamente é inexistente, pois a população daquelas áreas está avisada. Agora, no rio Kwanza, que nas- stamos a usufruir dos frutos da paz conquistada por nós mesmos, e vamos melhorar a todos os níveis. A situação está estável e nada indica que voltemos ao passado. Nunca mais. ce aqui no município do Chitembo, há alguns anos surgiram muitas dragas e, sobretudo, a concentração de muitos cidadãos, situação que, de imediato, começou por nós a ser inviabilizada mediante a manutenção, nas áreas de risco, de uma boa dose de forças especiais nossas. Então, o caso era mesmo sério e não foi por acaso que as pessoas falavam muito sobre a febre do rio Kwanza. Mas, comandante, de onde era proveniente a tal concentração de estrangeiros, que, aliás, vinha com tudo para explorar diamantes nessa região? A maior parte vem ou tem como passagem as Lundas Norte, Sul, e Malanje. Mas, os que vieram com maquinaria pesada como dragas vêm, na sua maior parte, da Lunda Norte e da Lunda Sul. Qual foi a maior operação que, até ao momento, foi feita, especificamente contra os garimpeiros ? Foi a operação “Brilhante”, em 2004. Tratou-se de uma operação conjunta entre as Forças Armadas Angolanas e a Polícia Nacional, envolvendo todos os seus organismos, como o Serviço de Migração e Estrangeiros, a Polícia Fiscal, etc. A partir daí, os garimpeiros desapareceram, apreenderam-se todos os seus meios, entre os quais as tais dragas que são compradas no exterior do país. Foi um grande transtorno para os seus donos. Nós tivemos a oportunidade de conversar com certos garimpeiros, em territórios periféricos, e notámos que nem sequer têm dinheiro para regressar às suas origens. Vieram convencidos de que era só chegar aqui, cavar e tirar. Depois de estarem no terreno, viram que a situação não era aquela com que se pintava na altura. A “montanha pariu um rato!”, dizemos nós. Qual é a situação actual da província do Bié, nomeadamente da sua cidade capital e das áreas periféricas, sabendo-se que houve aqui uma guerra, com o envolvimento de armas de todos os calibres? Digo-lhe apenas que a nossa província já não é a que era há cinco anos. Estamos a usufruir dos frutos da paz conquistada por nós mesmos, e vamos melhorar a todos os níveis. A situação está estável e nada indica que voltemos ao passado. Nunca mais. Terminada a guerra, a cidade do Kuito foi a primeira localidade do país que teve uma passagem de ano sem nenhum tiro. Nas passagens de ano de 2000 a 2003, nós tivemos a possibilidade de contactar os outros comandos provinciais da Polícia Nacional e confirmaram-nos esta realidade. Nós sabíamos onde estavam as armas e a quem foram entregues para defender a cidade e a população. As armas estavam controladas a partir da defesa civil que foi mobilizada para nos defendermos dos ataques dos nossos adversários na altura. Temos o controlo das armas, mas devo dizer que continuam a aparecer armas que vão sendo desenterradas nas áreas de profundidade, onde os nossos adversários tinham um certo domínio territorial. Algumas, hoje sem qualquer utilidade, vão surgindo porque, quando foram batendo em retirada ou se dirigindo para as áreas de acantonamento, iam enterrando. Mas, graças ao apoio dos populares, elas têm-nos chegado sem grandes sobressaltos e sem necessidade de se fazer alarido. Acrescento ainda que, quanto à desminagem, estamos no bom caminho, pois as brigadas já passaram por quase todas as estradas da província e, neste momento, estão nos caminhos de ferro, já nos trilhos do Leste, nomeadamente no Moxico. É um trabalho que continua o seu curso, uma vez que, como toda a gente sabe, esta região foi um grande palco de confrontações militares.Por exemplo, no Andulo, em Camacupa e no Cuemba ainda temos muitas zonas por desminar. 30 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 províncias Moxico A província do Moxico, situa-se no extremo leste do país, limitando-se a norte com a província da Luanda Sul, a leste com as Repúblicas do Congo Democrático e da Zâmbia, a sul com a província do Kuando Kubango e a este com a província do Bié. Possui uma extensão geográfica de 223.023 quilómetros quadrados, e uma população estimada em 800.820 habitantes, correspondendo a uma densidade populacional de 3,5 habitantes por quilómetro quadrado. Possui ainda nove municípios, 21 comunas e uma faixa fronteiriça de 1.077 km, sendo 170 fluviais e 907 terrestres, dos quais 330 km com a RDC, e 747 com a República da Zâmbia. ENQUANTO O CRIMINOSO MADRUGA, A POLÍCIA NÃO DORME Texto: Celestino Andrade Fotos José Roberto or várias vezes, ouvi- terras das chanas do Leste. Na programação da TAAG para mos pessoas a afirmar que viajar por ar ou por os voos domésticos, a cidade de estrada à província do Luena era a primeira a receber Moxico, nem sempre é fácil. Por- um 737-200 nesse dia. Partimos quê? Será isto um mito ou verda- as 06h30 e uma hora depois, com de? Questionávamos. As únicas muita turbulência atmosférica, a respostas que conseguimos ob- aeromoça anuncia a chegada… ter delas eram as de que as estra- «Estimados passageiros, estadas encontram-se em péssimas mos a descer para a cidade de condições. E de avião? Voltamos Luena, por favor, apertem os cina questionar mas, desta vez, não tos e levantem as mesas sobre as cadeiras, obrigada». ouvimos mais nada… A ansiedade é cada vez maior, Foi assim que amadurecemos a ideia, e, na penúltima semana de tanto para quem viaja pela priDezembro decidimos tirar isso a meira vez a esta província como limpo. Fizemos as malas e ruma- para os nativos que regressavam mos para as também conhecidas de Luanda. Do alto só se conse- P 31 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 guia enxergar nuvens negras, mas os passageiros mantinham esperanças de pisar o solo luenense. Dez minutos depois a mesma aeromoça volta a fazer um novo anúncio, desta vez, o QRF: “por razões alheia à nossa vontade não será possível aterrarmos no aeroporto de Luena. Está mau tempo, voltaremos para Luanda”. Desespero total para todos que em uníssono exclamaram: oh! oh! oh! oh! oh! oh! Na manhã do dia seguinte, apesar de sairmos quatro horas depois que da primeira vez, fizemos um voo mais calmo, sem turbulência. Do alto já se conseguiam contemplar as árvores que serpenteavam as estradas calamitosas que vão dar à cidade de Luena, o vislumbrar das aldeias, e foi assim até aterrarmos. Antes mesmo que a aeronave se imobilizasse, “São Pedro” decidiu abrir as torneiras lá de cima para nos desejar boas vindas, mas era uma chuva daquelas que se fosse em Luanda… Uma hora mais tarde a chuva observou uma pausa e o pessoal começou a descer. Já na sala de desembarque, à espera das bagagens, com sorrisos nos rostos, as pessoas em jeito de desabafo disseram “ enfim! Desta vez conseguimos chegar bem”. 32 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 províncias Moxico Polícia de Trânsito A Polícia de Trânsito tem como objectivos principais: regular o trânsito e facilitar maior fluidez no tráfego rodoviário, bem como disciplinar e fiscalizar as normas de conduta dos automobilistas. Para que tal seja possível, são necessários homens e meios mas, isso, segundo o director provincial do Moxico de Viação e Trânsito, intendente Luís Kanganjo, é o que não falta. O parque automóvel da província do Moxico aumentou consideravelmente, a circulação de pessoas e bens é um facto, daí, a preocupação da Polícia de Trânsito em reforçar e expandir os seus serviços, uma vez que, dos nove municípios que compõem a província, apenas a cidade de Luena conta com uma Unidade de Trânsito. Para expandir os serviços dos homens das “luvas brancas”aos demais municípios, a Direcção Provincial de Viação e Trânsito pensa já na criação de novos pólos, de forma a descentralizar a actividade e facilitar a vida dos automobilistas que se encontram naquelas paragens. «Achamos que é muito trabalhoso para um automobilista que se desloque a uma distância de 500 quilómetros para vir à cidade tratar de um verbete provisório ou algo parecido». Outro assunto que também preocupa os especialistas do trânsito automóvel tem a ver com lenta a adaptação do Código de Estrada actualizado. De acordo com o balanço referente a 2009, apresentado pelo director provincial de Viação e Trânsito, intendente Luís Kanganjo, o número de acidentes aumentou consideravelmente, ou seja, no ano transacto ocorreram na província do Moxico um total de 386 acidentes de natureza diversa, mais 186 em relação ao período anterior, que resultaram na morte de 49 pessoas, 230 feridos graves, 103 ligeiros e danos materiais avaliados em mais de dois milhões de kwanzas. Como sempre, o excesso de velocidade aliado à apetência do lucro fácil (para os kupapatas e taxistas), D os nove municípios que compõem a província, apenas a cidade de luena conta com uma unidade de trânsito. «Achamos que é muito trabalhoso para um automobilista que se desloque a uma distância de 500 quilómetros para vir à cidade tratar de um verbete provisório ou algo parecido» ultrapassagens irregulares, mau estado das vias, imprudência por parte dos automobilistas e peões e condução em presumível estado de embriaguez concorreram para o aumento do número de acidentes. Os atropelamentos lideram a lista com 124 casos, seguidos pelos choques entre veículos automóveis e motociclos, com 72 casos. Ainda no decurso do ano transacto, a Polícia de Trânsito realizou na cidade de Luena várias operações que resultaram na aplicação de mil 494 multas por diversas infracções inerentes ao Código de Estrada, tendo arrecadado para os cofres do Estado mais de 11 milhões de kwanzas. Face à proposta de desconcentração da Unidade de Trânsito, o intendente Luís Kanganjo perspectiva, para o presente ano, o aumento do número de efectivos capacitados do órgão com vista a responder às exigências de trabalho à luz do Código de Estrada actualizado, melhoramento das condições laborais, principalmente das instalações (actualmente funciona no edifício “dos 5”, muito apertado, com cinco direcções da PN), meios materiais e de consumo corrente, bem como a ampliação e melhoramento das condições da sala de exame, adequá-la em meios técnicos e modernos. escute o programa de rádio Vanguarda Policial No canal A da Rádio Nacional de Angola, todas as terças e quintas-feiras, às 5H30 e aos sábados a partir das 18h em FM 93,5, e todas as segundas-feiras, na Rádio Escola, FM 88.5 ao meio-dia 34 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 províncias Moxico Ordem Pública Polícia Fiscal O A chefe do Departamento de Controlo das Empresas Privadas e Sistema de Auto Protecção, intendente João Chissende “Bravo”, que também responde perla Ordem Pública, considerou que o Moxico é uma das cidades mais calmas em termos de cometimento de delitos. Segundo ele, a polícia regista em média três crimes por dia. A natureza desses crimes é a do foro comum. «Registámos mais furtos, desavenças familiares, fruto de ingestão excessiva de bebidas alcoólicas. Outro caso que também tem merecido muita atenção da nossa parte, é o facto de nos últimos dias termos registado alguns casos de suicídio. De resto, consideramos que a situação é bastante calma. Julgamos que esses crimes não deixam de preocupar a corporação apesar de serem considerados de menor relevância». O intendente João Chissende deu, como exemplo, o facto de, na prática desses crimes, não se observar o uso de arma de fogo: «é preciso recordar que nós dirigimos as guerras aqui. Após o alcance da paz, foi uma das preocupações do comando provincial realizar acções de recolha coerciva de armas em posse da população. A nova lei sobre o desarmamento da população civil só veio reforçar aquilo que nós já vínhamos fazendo, por isso, são raros os crimes protagonizados com o recurso a armas de fogo». Aquele responsável fez saber que a redução dos crimes deveu-se aos esforços conjugados de vários órgãos do Ministério do Interior e à colaboração da própria população, que tem contribuído na denúncia dos transgressores. No capítulo de enfrentamento, as forças de manutenção da Ordem Pública desenvolveram várias actividades de contenção Polícia Fiscal é um órgão especializado que se rege pela segurança das mercadorias que entram, transitam e saem do país. Metodologicamente ela depende das alfândegas, que integra todo o sistema de actividade. Operativamente, é tutelada pelo Comando Geral da Polícia Nacional. De acordo com o comandante deste órgão, o superintendente Lourenço Sacambela, durante o ano transacto a Polícia Fiscal arrecadou para os cofres do Estado mais de 11 milhões de kwanzas, facto que o levou a fazer um balanço positivo. «A arrecadação desses valores foi feita através de pequenos volumes». Questionado sobre se há ou não a redução dos crimes deveuse aos esforços conjugados de vários órgãos do Ministério do Interior e à colaboração da própria população, que tem contribuído na denúncia dos transgressores e combate à criminalidade, que resultaram no desmantelamento de nove grupos de marginais que atormentavam as populações nos bairros periféricos da cidade de Luena. Ao terminar, o chefe do Departamento de Controlo das Empresas de Segurança Privada e Sistema de Auto Protecção deixou um recado aos órgãos centrais: «Nós somos uma direcção e, como tal, merecemos mais atenção no que concerne às condições de trabalho. Como vêem, para além de trabalharmos em espaços apertadís- A nova lei sobre o desarmamento da população civil só veio reforçar aquilo que nós já vínhamos fazendo, por isso, são raros os crimes protagonizados com o recurso a armas de fogo». simos, como oficiais superiores, muitas das vezes, mesmo em serviço andamos de moto-taxi para acudir a esta ou aquela situação». Lamenta registo de contrabando, Lourenço Sacambela respondeu peremptoriamente: «não há contrabando» - e justifica: «porque as vias de comunicação ainda não são das melhores, que nós colocamos os nossos efectivos em locais considerados estratégicos, de forma a se evitar contrabando de mercadorias nas zonas fronteiriças. Todos os importadores que com muito sacrifício entram para o nosso território por estrada, normalmente cumprem com as suas obrigações fiscais». Durante o ano transacto a Polícia Fiscal registou apenas duas infracções. 36 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 províncias Moxico Polícia Económica S e nos atermos ao número de livros didácticos (de economia) que encontramos no gabinete do comandante provincial do Moxico da Polícia Económica, superintendente José Culenga Muata, podemos concluir, sem medo de errar, que estávamos diante de uma pequena biblioteca. O hábito da leitura fez dele um expert em matéria de economia, daí a propriedade com que fala quando o assunto é de natureza económica. Para começar a conversa, o superintendente José Culenga Muata apresentou-nos os quatro municípios onde a presença da Polícia Económica, nomeadamente: Moxico, Luau, Alto Zambeze e nos Bundas. São localidades que, aos poucos, se vai fazendo sentir o movimento económico. Em termos de infracções, a Polícia Económica na província do Moxico não tem muito com que se preocu- par, já que os crimes que chegam ao seu conhecimento não passam de contrafacção discográfica, especulação de preços dos principais produtos básicos, exercício ilegal da actividade farmacêutica e infracções contravencionais como a falta de uso de indumentária. Em média a Polícia regista três a quatro crimes dia. O superintendente José Culenga Muata fez também saber que os medicamentos e os discos contrafeitos são provenientes de Luanda e comercializados por menores de idade. «Essas crianças que se dedicam à venda desses produtos, deviam estar na escola ou a praticar desporto. O comércio vicia a criança, nós estamos atrás dessas mesmas crianças para as chamar à razão, dizendo-lhes que o seu lugar é na escola. Infelizmente, o nosso povo não tem a cultura de denunciar esse tipo de prática, por isso, aconselhamos os pais a prevenirem-se porque a Polícia não vai tolerar». Às acções desenvolvidas pela Polícia Económica permitiram arrecadar para os cofres do Estado cerca de dois milhões de kwanzas 37 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 DPIC N O superintendente José Culenga Muata fez também saber que os medicamentos e os discos contrafeitos são provenientes de Luanda e comercializados por menores de idade. Em suma, são esses crimes que, segundo o superintendente José Culenga Muata, estão sob alçada da nossa corporação. Às acções desenvolvidas pela Polícia Económica permitiram arrecadar para os cofres do Estado cerca de dois milhões de kwanzas. Apesar de se tratar de infracções de menor relevância, seja como for, crime é sempre crime; e por isso é que ela está aí bem atenta para o que der e vier. ão se pode falar em combate à delinquência sem fazer menção à Polícia de Investigação Criminal. É este órgão que, para além de outras atribuições, tem também a missão de desvendar a mística dos crimes. No último Conselho Consultivo da Direcção Nacional de Investigação Criminal, a província do Moxico destacou-se pela redução do número de crimes, daí a razão de o seu director, o superintendente-chefe Manuel Júnior “Gindungo”, ter afirmado peremptoriamente que «por incrível que pareça, com os meios humanos e técnicos que temos, nos últimos seis meses chegamos mesmo a ter uma cobertura a 100 por cento. Portanto, temos estado à altura de enfrentar uma luta cerrada contra todos aqueles que tentam, com todos os meios, alterar a ordem e a tranquilidade públicas dos cidadãos». Gaba-se. Do ponto de vista humano e técnico, a Direcção Provincial do Moxico de Investigação Criminal passa por várias dificuldades de índole conjuntural, que vai desde as infra-estruturas ao número de pessoal especialista. A DPIC conta com 150 efectivos destacados em todos os municípios e esquadras policiais, desses, apenas 40 por cento são especialistas, apesar de o quadro orgânico exigir 250 homens para servir a província no seu todo. A Tranquilidade constatou no terreno que a componente técnica é também outra preocupação já que, das três viaturas apenas duas se encontram em funcionamento. A DPIC está também desprovida de meios de especialidade para a remoção de cadáveres. «No cômputo das necessidades gerais estamos muito aquém da realidade, mas os órgãos competentes já foram notificados, vamos continuar a manter o nível de operatividade que temos neste momento, e julgamos que brevemente isso será ultrapassado. Ainda este ano, vamos receber um reforço de homens que estão a concluir o curso de especialidade no Capolo». A DPIC prende diariamente entre 25 a 35 elementos. Segundo o director “Gindungo”, quer a nível de instrução processual quer a nível de esclareci- T emos estado à altura de enfrentar uma luta cerrada contra todos aqueles que tentam, com todos os meios, alterar a ordem e a tranquilidade públicas dos cidadãos mento de crimes com autoria desconhecida, o seu órgão tem uma cobertura de à volta dos 35 por cento. Entre os crimes mais frequentes figuram as ofensas corporais, furtos domésticos, acidentes de viação com culpa grave, e com menor incidência estão os crimes contra a tranquilidade pública, uso e plantação de estupefaciente bem como o abuso de confiança. Manuel Júnior “Gindungo” descartou a hipótese de haver na província registo ou rumores que apontem o Moxico como porta de entrada ou de saída de traficantes de drogas pesadas. «Nós registámos três a dez casos de uso de estupefaciente por dia, não há drogas pesadas, nós temos um chefe de Departamento de Controlo e Combate às Drogas bastante experiente neste capitulo, repito, não há registo de drogas pesadas no Moxico, a não ser, o uso ou plantação em pequena escala de estupefaciente. Mas também temos estado a neutralizar esta actividade». 38 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 províncias Moxico Dragão! Caro leitor, este nome diz-lhe alguma coisa? Pois, é assim que é chamado o superintendente-chefe Luís Manuel António, comandante provincial interino do Moxico da Polícia Nacional. Em termos de seguran e tranquilidade públicas o Moxico está bem servido segurança blicas servido 39 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 T ido como um exímio conhecedor da província em que se encontra há dois anos, é um homem que goza de boa robustez física, de trato fácil, «super» simpático e muito rigoroso quando a palavra de ordem é trabalho. Pelo menos é assim que os colegas de diferentes escalões e áreas o descreveram aquando da nossa estadia nas terras das chanas do Leste. Aliás, a nossa equipa de reportagem testemunhou o encarceramento de um agente que, dias antes, para além de desobedecer às ordens do seu superior hierárquico, faltou à verdade. O também 2º comandante provincial para a Ordem Pública e coordenador da Subcomissão Técnica para o Desarmamento da População Civil disse, à Tranquilidade, que em termos de segurança e tranquilidade públicas, a população do Moxico está bem servida. Acompanhe a conversa. Senhor comandante, como visitantes que somos, como é que nos pode apresentar a província do Moxico? Quero antes agradecer à direcção da revista Tranquilidade por esta atenção prestada à nossa província e felicitar-vos por terem vindo até aqui, em véspera da quadra festiva, para constatar a nossa realidade. A província do Moxico situa-se no extremo Leste do país, limitando-se a norte com a província da Luanda Sul, a leste com as Repúblicas do Congo Democrático e da Zâmbia, a sul com a província do Kuando Kubango e a este com a província do Bié. Possui uma extensão geográfica de 223.023 quilómetros quadrados, e uma população estimada em 800.820 habitantes, correspondendo a uma densidade populacional de 3,5 habitantes por quilómetro quadrado. Possui ainda nove municípios, 21 comunas e uma faixa fronteiriça de 1.077 km, sendo 170 fluviais e 907 terrestres, dos quais 330 km com a RDC, e 747 com a República da Zâmbia. Desde que chegamos, «patrulhamos», e deparamo-nos com gente bastante acolhedora e calma, não registamos nem ouvimos sequer, rumores de brigas de rua. Será esta a realidade da província ou é impressão nossa? Penso que é impressão vossa, se é que fizeram rondas, penso que não entraram muito na periferia. Na verdade, a população é calma e acolhedora mas, se nos atermos à situação delituosa, aí a conversa é outra, embora em menor escala. Afinal, qual é o quadro delituoso da província? O comando provincial conheceu o registo de 1.109 crimes de natureza diversa, mais cinco em relação ao período anterior., Foram detidos 937 indivíduos implicados como presumíveis autores, tendo sido esclarecidos 1082, o que corresponde à cifra de 97,5 por cento. Como vêem, nós apertamos o cerco e, com a ajuda da população, os delinquentes não têm tido muito espaço de manobra. Estes crimes foram todos pratica- N o Luena não existe a lei dos mais fortes; aqui, quem comete deve cumprir. dos no subúrbio? Não! E nem tão pouco só por pessoas desocupadas como parece. Crime é crime e a lei é para todos. Aqui no Moxico, à semelhança do que acontece em muitas províncias do nosso país, não existe a lei dos mais fortes… se cometer deve cumprir. Lei dos mais fortes? Como assim? Sim…No Luena não existe a lei dos mais fortes; aqui, quem comete deve cumprir. O quê que quer dizer com isso? Para só te dar um exemplo, dos crimes a que fiz referência, estão implicados 55 membros das Forças Armadas Angolanas, 19 do Ministério do Interior, três dos Serviços de Informação (Sinfo) e 860 desocupados. Importa também referir que, dos casos acima reportados, destacam-se 12 casos de violações, dos quais sete de menores de idade. Senhor comandante, no seu entender, o quê que está na origem desses casos? Entre as principais causas figuram o desentendimento familiar, muitas vezes motivado por fraco poder eco 40 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 nómico, e aí surgem as questões passionais, justiça por mãos próprias, superstição, feitiçaria e embriaguez. Parece-me que a província do Moxico ainda não atingiu o auge em termos de criminalidade, como noutras províncias onde já começa a haver grupos organizados… Aqui já existem também grupos organizados. As nossas forças de manutenção da Ordem Pública desenvolveram várias actividades de contenção e combate à criminalidade, que culminou com o desmantelamento de nove grupos de marginais e a detenção de 46 indivíduos por crime de roubo e ofensas corporais. São crimes de maior ou menor relevância… Nós já tivemos o registo de maior relevância, mas foi sol de pouca dura devido às acções de giro e patrulhamento reforçado. Hoje, os crimes que registámos são de menor relevância, como roubo de telemóvel, ofensas corporais, acusações de prática de feitiçaria que muitas das vezes resultam em morte. Isso não deixa de nos preocupar. Quais são as áreas que representam maior preocupação para a corporação? Em principio todos os municípios têm merecido a atenção das nossas forças, mas, a maior incidência recai mesmo no município sede, Luena, que durante o ano de 2009 registou um total de 985 delitos; a seguir vem o Alto- Zambeze com 25, no município dos Bundas registámos 19 casos, no Kamanongue 18, no município do Lumeje Cameia registámos 16, no Luau registamos 15, 14 no Luacano e cinco nos Luchazes. Como coordenador da Subcomissão Técnica do Desarmamento da População Civil, que avaliação faz da entrega voluntaria de armas? No âmbito do processo de desarmamento da população civil para entrega voluntária de armas em sua posse, foram recepcionadas 247 armas de diversos calibres, 1.189 munições, 68 carregadores e 17 explosivos. De realçar que durante o ano de 2009 foram descobertos e desactivados três esconderijos que continham granadas do tipo M-962, minas anti-pessoal e de canhão do tipo B-10, um míssil e projécteis de RPG-7. províncias Moxico >Perfil Nome: Luís Manuel António Data de nascimento: 13.09.1958 Local: Província de Malanje Estado Civil: Solteiro (vive em comunhão de bens) Filhos: Seis (três meninas e três rapazes) Habilitações Literárias: 2º ano de Psicologia, Universidade Agostinho Neto Função Actual: 2º comandante do Moxico da PN/coordenador da Subcomissão Técnica para o Desarmamento da População Civil. Patente: Superintendente - chefe Hobbies: Leitura, ouvir música e frequentar o ginásio Prato: Funje com peixe bagre, kizaka e feijão de óleo de palma. Bebida: Vinho (às refeições) Sonho: Terminar a formação e ver o país desenvolvido no contexto das nações. 41 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 A província do Moxico partilha uma vasta fronteira com as Repúblicas Democrática do Congo e da Zâmbia. Em termos de cobertura, qual é a situação actual? Ao longo do ano de 2009, a nossa fronteira foi considerada calma. Em termos de cobertura, nós contamos com três subunidades, 17 postos de Guarda Fronteira que garantem a inviolabilidade e a segurança da mesma, considerando-se ainda vulnerável dadas as características geográficas do terreno e a inexistência de meios técnicos convencionais, dificuldade agravada das vias de acesso, principalmente em épocas chuvosas. Portanto, fruto da persistência das forças policiais, apesar das dificuldades enumeradas, a situação é considerada calma. Quer dizer que ao longo deste período não houve violações no nosso espaço fronteiriço? Não, não é isso. Neste período, constatou-se o registo de 47 violações, tendo sido capturados imigrantes ilegais, dos quais 59 nacionais, 23 zambianos, 45 congoleses (Congo Democrático) e 02 do Congo Brazaville. Todos os estrangeiros ilegais foram entregues aos Serviços de Migração e Estrangeiros, que efectuaram o competente repatriamento administrativo, enquanto os angolanos foram postos em liberdade após medidas profiláticas. Fale-nos de roubo ou contrabando de gado na orla fronteiriça Nós não registámos roubos ou contrabando ao longo da fronteira por um motivo muito simples. Do jeito em que se encontram as vias, se não tiveres um jeep Land Cruiser novinho, podes fazer um mês ou mais para chegar à fronteira; nesta época de chuva pior ainda, há camiões avariados que esbarraram nas vias e a solução é esperar até que seja superada a avaria. Penso que não há comerciante ou gatuno que vá arriscar a vida, enfrentando bando de onças ou leões nas matas para chegar rápido ou fugir com duas ou três cabeças de gado. É que se tentar arriscar, nem ele, nem o cabrito ou boi vai chegar ao local de destino. Nos últimos dias, ouvimos, através de órgãos de comunicação social, vários relatos de suicídio motiva- D dos por questões passionais e supostas práticas de feitiçaria. Esses relatos também chegaram ao conhecimento da Polícia? Chegaram sim. O Comando Provincial do Moxico da Polícia Nacional registou a ocorrência de 16 casos de suicídio por enforcamento, dois suicídios por afogamento, três casos por ingestão de substâncias nocivas à saúde (envenenamento), dois suicídios com arma de fogo e dois por intoxicação alcoólica. Na maior parte dos casos, as vítimas encontram neste tipo de práticas a única via de verem resolvidos os problemas que as aflige. Porém, relatos os apontam como sendo práticas costumeiras típicas da região Leste, em que indivíduos confrontados com problemas que consideram de difícil solução, recorrem ao suicídio como forma de limpar a honra ou mesmo de evitar represálias futuras, inocentando-se de problemas. Quais são as dificuldades que o Comando Provincial do Moxico da Polícia Nacional enfrenta no dia-dia? Nós enfrentamos dificuldades de âmbito conjuntural, como a formação de quadros de especialidade, aumento de efectivos em alguns quadros orgânicos e a questão das infra-estruturas. Todas essas dificuldades que acabei de enumerar estão a merecer respostas, tanto a nível do comando provincial como a nível dos órgãos centrais. No que concerne à componente humana, neste momento temos em Luanda cerca de 400 homens em formação em várias especialidades, na Escola Nacional de Polícia no “Kikuxi”, que vão enriquecer vários órgãos que compõem o comando provincial. Estamos a construir um novo edifício onde passará a funcionar o comando provincial, de forma a desconcentrar certos órgãos e garantir melhores condições de trabalho, enfim… Aos poucos vamos suprindo todas essas dificuldades. urante o ano de 2009 foram descobertos e desactivados três esconderijos que continham granadas do tipo M-962, minas anti-pessoal e de canhão do tipo B-10, um míssil e projécteis de RPG-7 A trajectória de Luís Manuel António “Dragão” I ngressou nas Forças Armadas de Libertação de Angola (FAPLA), na ex. base Kalunga dos guerrilheiros do MPLA – movimento, no Congo Brazaville, em Outubro de 1974. Em 1975 veio a Angola com a 1ª delegação do MPLA, tendo integrado o esquadrão “Mayombe” no C. O. L do MPLA – movimento, na Vila-Alice. Já em Novembro de 1975, Luís Manuel António foi seleccionado para frequentar um curso no Instituto Superior de Inteligência na República Federativa da Juguslávia. Regressou a Angola no ano de 1976, tendo sido indicado para fazer parte da escolta presidencial do Dr. António Agostinho Neto. Três meses depois, foi nomeado para o cargo de chefe de armamento da segurança pessoal da Presidência da República, e patenteado em 2º tenente. Em 1982, depois de frequentar o 2º curso de inteligência militar na escola Comandante Gika, foi nomeado chefe de educação política e propaganda da 5ª Região Militar da Polícia de Guarda Fronteiras no Cunene que agrupava as províncias da Huíla, Namibe e Kunado Kubango. Quatro anos depois (1989), é nomeado para o cargo de chefe do Departamento Provincial de Protecção Física e Segredo Estatal do Ministério das Pescas. Em 1991, com o mesmo cargo, é transferido para o ministério da Educação e um ano a seguir foi promovido ao grau de tenente-coronel e transferido para o Comando Geral da Polícia Nacional em comissão de serviço. Em 1982 é nomeado para o cargo de 2º comandante provincial do Kuando Kubango e, em 2003, transferido para o Gabinete Técnico do MPLA e nomeado para o cargo de director de operações da empresa Socorro, lda. Em 2005 foi-lhe outorgada a medalha de ouro e diploma de mérito, em jeito de reconhecimento de 30 anos de serviço. Em 2008 foi promovido ao grau de superintendente-chefe e nomeado para o cargo de 2º comandante provincial para a Ordem Pública do Moxico da Polícia Nacional. crimininalidade O fenómeno transversal 42 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 dossier criminalidade O crescimento do índice de criminalidade tende para proporções verdadeiramente alarmantes. E frequentemente, na sociedade, temos vindo a discutir, cada um a seu nível, sobre a tal tendência. São vários os ângulos de abordagem, que circulam pelas causas, métodos policiais de abordagem da criminalidade, consequências e até soluções para se pôr termo a este fenómeno que muitos males tem provocado às comunidades. Na presente edição, a Revista Tranquilidade obedece um pouco esse princípio da transversalidade da criminalidade 43 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 transversal do qual ninguém está isento abordagem da criminalidade, num Dossier com várias contribuições de entidades diversas e dos mais distintos ramos do conhecimento, dentre as quais uma entrevista concedida exclusivamente para o Dossier, dada pelo malogrado Frei João Domingos. A título póstumo, pretendemos recuperar a mesma para homenagear esse “filho” de Angola que muito defendeu os resgates dos valores morais, um caminho viável para o combate à delinquência juvenil, razão múltipla da criminalidade. Das contribuições colhidas, o leitor poderá tomar contacto com pronun- ciamentos segundo os quais cerca de 80% dos criminosos são jovens e que muitos crimes são cometidos por pessoas mentalmente perturbadas, além do facto de a delinquência juvenil estar ligada ao meio social. Mas também a Polícia fala sobre o seu papel no combate à criminalidade, em conjunção a ideia do sociólogo José Lencastre sobre a necessidade de o Estado angolano continuar a envidar esforços para a criação de condições favoráveis à reintegração, na sociedade, dos jovens que saem das cadeias do país, para se evitar que os mesmos venham a cometer novos crimes. Depois da leitura do Dossier, desafiamos o leitor a responder a três perguntas: 1 2 Acha que está livre de ser vítima da criminalidade? Tem colaborado no combate ao crime na sua comunidade? 3 Que fazer para reduzir os índices de criminalidade na sua comunidade? crimininalidade dossier 44 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Não haverá tréguas no acto de juramento de mais de quatrocentos novos polícias para o O António Quino recurso a armas de fogo no cometimento de crimes, apesar de, nos últimos anos, se registar uma diminuição, não deixa de ser uma preocupação para a Polícia Nacional e, como tal, dar-se-á continuidade ao processo de desarmamento da população civil, uma acção que até aqui já registou a recolha de mais de 73 mil armas de fogo de diversos calibres. Esta informação foi prestada pelo comandante-geral da Polícia Nacional, comissário- geral Ambrósio de Lemos Freire dos Santos, quando falava, na 4ª Unidade da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), localizada na cidade do Huambo, durante o acto central alusivo ao 34.º aniversário da corporação policial, assinalado a 28 de Fevereiro. Ao fazer uma breve referência a alguns resultados alcançados pela Polícia Nacional durante o ano 2009, Ambrósio de Lemos reconheceu que houve um ligeiro aumento de um por cento do índice de criminalidade em geral, fundamentalmente quanto à violência na prática de crimes contra pessoas e contra a propriedade, tais como os homicídios, ofensas corporais graves, roubos em residências e de viaturas. “O combate [a esses crimes] ainda não atingiu os resultados desejados, mas de acordo com orientações baixadas e acções a desenvolver para a substancial redução destes e doutros crimes, não haverá tréguas”, disse. Segundo Ambrósio de Lemos, as principais causas que influenciam a criminalidade residem em aspectos socioeconómicos e culturais, com principal realce para a degradação dos valores da família como núcleo fundamental da sociedade, o uso de drogas, abuso de bebidas alcoólicas, crença no feiticismo e o conflito entre os valores tradicionais e o direito positivo. Aquele oficial comissário realçou também o crescimento dos crimes financeiro-bancários e de drogas, que guas para os transgressores toma contornos de crime organizado, tendo em conta os métodos e o volume de operações que são ensaiados pelos autores. Outra questão que mereceu reflexão no discurso de Ambrósio de Lemos é a imigração ilegal e a criminalidade conexa. “A Polícia Nacional está atenta e, em função disso, várias acções são levadas a cabo pelos comandos a distintos níveis, introduzindo variáveis de medidas operativas para dar resposta positiva aos justos anseios dos cidadãos e se contrapor a acção dos marginais”. De acordo com o comandante-geral da Polícia, as referidas medidas permitiram o esclarecimento de crimes na ordem dos 75 por cento, a detenção de mais de 25 mil indivíduos indiciados como autores ou suspeitos da prática de crimes, a recuperação de mais de mil viaturas e de 600 telemóveis roubados, a apreensão de elevadas quantidades de droga no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro (dissimuladas em mercadorias e até no corpo humano), a apreensão de grandes somas de valores em dólares americanos e noutras moedas a cidadãos estrangeiros e nacionais que pretendiam fazê-las sair do país. “Quanto aos acidentes de viação, apesar das medidas de prevenção rodoviária, continua a preocupar o elevado número de vítimas mortais e com ferimentos graves, motivados pela irresponsabilidade de alguns automobilistas e motociclistas, por inobservância das normas elementares do Código de Estrada, pela condução em estado de embriaguez, a não utilização dos acessórios de segurança, o exceder da lotação do veículo e da velocidade recomendada”, adiantou Ambrósio de Lemos no seu discurso. Para o presente ano, o comandante-geral da Polícia referiu que a principal atenção continuará voltada para a redução substancial das taxas de criminalidade e de sinistralidade rodoviária, através de um policiamento eficaz e efectivo, com prioridade para as acções de prevenção, no O Comandante-geral da Polícia referiu que a principal atenção continuará voltada para a redução substancial das taxas de criminalidade e de sinistralidade rodoviária sentido de aumentar o sentimento de segurança das populações, realçar a segurança de cada cidadão, das instituições e adequar a acção policial às necessidades e expectativas da comunidade. “Para alcançar este desiderato, continuaremos a apostar na elevação do nível de formação técnico-profissional e cultural do pessoal, desenvolver indicadores internos de avaliação de desempenho e melhorar a política de gestão de recursos humanos de forma a corresponder às necessidades da corporação”. Conforme fez saber, para que isso se efective, será necessário continuar a melhorar as condições de trabalho e de vida dos efectivos, potenciando a instituição em infra-estruturas e meios suficientes e capazes à complexidade da actividade policial, bem como implementar uma estrutura orgânica, dinâmica e orientada, que permita prestar um serviço de qualidade, manter elevados níveis de integridade, profissionalismo, eficiência 45 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 o Bié, Ambrósio de Lemos falou sobre tolerância zero na Polícia Nacional e implantar no seio dos efectivos os atributos de carácter, sentido do dever, honra, lealdade e culto da ordem e da disciplina. “Devemos entender que a orientação do Governo sobre a tolerância zero, para nós, Polícia, deve significar a preservação da disciplina, do moral, do civismo e da ética, actuando com ponderação, respeitando sempre os princípios estatuídos na Constituição e em particular o respeito pelos direitos e liberdades dos cidadãos, apanágio de um Estado de direito e democrático, onde cada cidadão deve respeitar e colaborar com as autoridades instituídas e no caso presente a Polícia”, avançou Ambrósio de Lemos durante o acto alusivo ao 34.º aniversário da Polícia Nacional. O acto foi também marcado com o juramento de Bandeira de quatrocentos e trinta e dois efectivos da Polícia Nacional, que frequentaram o segundo curso básico de Polícia em Ordem Pública no centro de instrução no Huambo, o primeiro após a aprovação da nova constituição. Iniciado em Junho de 2009 e terminado em Fevereiro participaram no 2.º curso básico 432 efectivos, sendo 50 do sexo feminino. Foram 690 horas de aulas teóricas e práticas, o que corresponde a 160 dias úteis de formação deste grupo de agentes que doravante deverão reforçar o comando provincial do Bié. 46 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 ‘Muitos crimes são cometidos em Angola por pessoas mentalmente perturbadas’ Segundo Rui Pires, a Psiquiatria forense no país ainda é pouco estudada com rigor A Domingos dos Santos psiquiatria forense é uma subespecialidade da psiquiatria que, a pedido da Justiça, avalia a capacidade, por exemplo, de um indivíduo enfrentar um julgamento ou redigir um testamento, baseando-se no seu estado mental, segundo o psiquiatra angolano Rui Pires, que concedeu uma entrevista à revista Tranquilidade sobre a criminalidade em Angola. De acordo com Rui Pires, a psiquiatria forense actua nos casos em que haja dúvidas sobre a integridade ou a saúde mental dos indivíduos, em qualquer área do Direito, esclarecendo à Justiça se há ou não a presença de um transtorno ou enfermidade mental e quais as implicações da existência ou não de um diagnóstico psiquiátrico. “É uma subespecialidade tanto da psiquiatria como da medicina legal”, sublinhou o psiquiatra, para quem a psiquiatria forense é, em larga medida, desconhecida dos psiquiatras, que, geralmente, não entendem de leis, e dos juristas, que, quase sempre, ignoram a psiquiatria. Rui Pires, um psiquiatra formado na Bulgária, acrescentou que a psiquiatria forense ainda hoje é muito “Ainda que a pessoa não seja propriamente um doente mental, mas tenha um grave transtorno de conduta (como a pedofilia, por exemplo), a sua responsabilidade deverá ser avaliada pela psiquiatria forense”, disse Rui Pires. pouco estudada em Angola com rigor e metodologia científica. “O psiquiatra forense tem uma relação muito estreita com os órgãos de polícia e de justiça, porque muitos crimes são cometidos por pessoas que estão mentalmente perturbadas, acometidas de uma ou outra perturbação mental susceptível de interferir na compreensão do indivíduo em relação aos actos por si praticados”, sustenta, referindo que o psiquiatra forense é um elemento extremamente importante, porque é ele que vai definir se a pessoa que cometeu o delito sofre ou não de perturbação mental e daí definir o grau de imputabilidade ou de inimputabilidade da pessoa em causa. “Sabemos que muitos doentes psicóticos, com esquizofrenia, com transtornos bipolares, cometem uma série de delitos, como homicídios, agressões físicas e verbais, roubos, entre outros. Portanto, esses indivíduos entram frequentemente em choque com os órgãos de justiça”, explicou, acrescentando que, neste momento, a enfermaria-prisão de São Paulo, em Luanda, tem muitos indivíduos nesta condição. Rui Pires adiantou que se está a trabalhar para fazer a perícia e, depois, informar os órgãos de justiça sobre quais os indivíduos que devem responder criminalmente pelos actos praticados e aqueles que não o devem e, consequentemente, serem submetidos a tratamento psiquiátrico. “Quando essas pessoas cometeram os crimes estavam perturbadas, mas as pessoas que as detiveram não estavam munidas de instrumentos para avaliar o grau de perturbação que apresentavam. Esses indivíduos continuam presos, daí que, nesta fase mais avançada da instrução processual, nós fizemos perícias e conseguimos provar que essas pessoas na altura em que cometeram os delitos estavam perturbadas. Es- tando perturbadas, são inimputáveis, não podem ser julgadas e condenadas”. O único psiquiatra forense em Angola explica que, para determinar que um criminoso sofre de perturbação mental, são feitas entrevistas ao mesmo, além da realização de um estudo sobre o seu estado actual, com o objectivo de se fazer uma história clínica para se saber se o indivíduo tem antecedentes de perturbação ou se, na sua família, tem pessoas com doença mental. Um outro passo é a realização de entrevistas a pessoas que estiveram directa ou indirectamente, relacionadas com o delito. “Depois de juntar todos os factos, o psiquiatra forense informa os órgãos de justiça sobre o estado mental do indivíduo”, explicou Rui Pires. “Há um caso de uma senhora que foi condenada por ter morto dois filhos na província do Kwanza-Sul. A senhora veio transferida para Luanda, porque estava perturbada, segundo as pessoas da cadeia, que se aperceberam de que havia alterações de comportamento, que não eram normais, mas sim típicas de uma pessoa com perturbação mental”. Já na cadeia de São Paulo, segundo Rui Pires, constatou-se que havia alterações de comportamento. “Conversámos com os pais, com os tios e com a própria presa, e chegámos á conclusão de que, quando matou os dois filhos, a senhora estava perturbada”. As pessoas que cometem delitos - crimes ou contravenções - são responsabilizadas perante a Justiça por tais actos, e recebem a devida punição. No entanto, explica, se forem consideradas doentes mentais, não receberão punição, mas terão um encaminhamento judicial diferente. “Ainda que a pessoa não seja propriamente um doente mental, mas tenha um grave transtorno de conduta (como a pedofilia, por exemplo), a sua responsabilidade deverá ser avaliada pela psiquiatria forense”, disse Rui Pires. crimininalidade dossier 47 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Delinquência juvenil está ligada ao meio social Vilma Martins, Assistente social defende trabalho comunitário para delinquentes juvenis V Ruy Manuel ilma Martins, licenciada em assistência social, pelo Instituto Superior João Paulo II, manifestou o seu desacordo com a tese de que os actos de delinquência juvenil estejam ligados a questões de natureza hereditária. Convidada pela Revista Tranquilidade, para dar subsídios à volta da criminalidade em Angola, Vilma Martins afirmou que, antes de tudo mais, a delinquência juvenil está intimamente ligada ao meio social, ou seja, à área ou espaço de convivência social. Sem evasivas, a entrevistada lembrou-se do seguinte ditado: ”Diz-me com quem tu andas, eu direi quem tu és”. A assistente social afirmou que não há regra sem excepção, mas é importante saber que, se um menor conhecer indivíduos ligados a um grupo de marginais, é muito provável que, com o tempo, adira à criminalidade. A lógica: Será que um menor que ouça relatos das emoções vividas em actos de delinquência, como consumo de libanga e outras drogas, roubos, sem que os mesmos sejam apanhados, não vá querer experimentar essa vivência? Os filmes que as nossas televisões passam também incitam à violência, afirmou Vilma Martins. Para ela, uma das formas de tirar a criança desse meio ambiente ruim é ocupá-la com actividades úteis. A inserção no ambiente escolar, segundo As difíceis condições de vida, a que muitas famílias estão sujeitas, marcam, também, essa desestruturação do lar Vilma Martins, é muito importante, apesar de que muitos trazem esses hábitos mesmo a partir das escolas. É necessário que haja permanentemente diálogo entre pais e filhos, sugeriu a assistente social. Famílias desestruturadas O conceito de família desestruturada não representa só aquela em que se regista a separação dos cônjuges. Desestruturação é, também, ou ainda mais, no caso em que há muito pouca atenção dos pais em relação ao menor. As difíceis condições de vida, a que muitas famílias estão sujeitas, marcam, também, essa desestruturação do lar. Os casos mais apontados são aqueles em que numa família o pai presta serviço de guarnição, muitas vezes nocturno, e a mãe é vendedora ambulante ou kinguila, vendedora de notas estrangeiras em hasta pública. Para esses casos, Vilma Martins se questiona: Que atenção terão eles em relação aos filhos, muitos dos quais menores de idade, que, ao invés de frequentarem as aulas, são obrigados a ficar em casa para cuidarem dos irmãos menores? Por fim, a interlocutora da Revista Tranquilidade falou do trabalho do educador social. “É uma tarefa dura, mas gratificante. É bom saber que um menor que esteve a contas com a justiça, por ter cometido um crime, pode já ser inserido na vida normal. Há vezes que nos defrontamos com situações muito difíceis”. Casos existem em que um menor a contas com a justiça não possui sequer uma documentação. “Aí há a nossa intervenção, que começa com contactos com a família e com estruturas como o Julgado de Menores, para sabermos das causas que motivaram o crime”. Vilma Martins defendeu a criação de centros específicos, à diferença do Julgado de Menores, em que a criança seria ali enquadrada, para receber uma formação. O objectivo é garantir uma formação profissional ao menor delinquente para garantir o seu futuro. Trabalhos comunitários para um delinquente juvenil são uma actividade importante e confortante, à semelhança do que se faz noutros países, para cumprimento de uma pena. crimininalidade dossier 48 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Governo deve criar condiçõ a reintegração de jovens criminosos Sociólogo José Lencastre afirma que 80 por cento dos criminosos presos O Augusto Cuteta sociólogo José Lencastre defendeu a necessidade de o Estado angolano continuar a envidar esforços, que visem a criação de condições favoráveis à reintegração, na sociedade, dos jovens que saem das cadeias do país, para se evitar que os mesmos cometam novos crimes. Segundo o professor universitário, é imperioso que as condições que propiciem a reinserção, como formação técnica e profissional, sejam dadas durante o tempo em que os prisioneiros estejam a cumprir as penas, assim como devem ser criadas oportunidades para o (re)enquadramento após conseguirem a liberdade. “É preciso que, ao saírem da cadeia, os jovens encontrem um ambiente favorável para os acolher, assim como deveriam ser melhor aproveitadas as suas potencialidades, enquanto reclusos, na frequência de cursos técnicos e profissionais”, salientou José Lencastre. “Se os marginais saem da cadeia sem nenhuma formação ou com uma reeducação fictícia, dias depois, de certeza, que voltarão a cometer crimes, por ser a única coisa que sabem fazer”, salientou o professor universitário. Disse, por exemplo, que cerca de oitenta por cento dos criminosos que se encontram a cumprir penas ou detidos (prisão preventiva) nos estabelecimentos prisionais do país são jovens. Isto, para o sociólogo e pro- fessor universitário José Lencastre, leva a afirmar que a maioria dos crimes ocorridos na sociedade angolana são praticados por jovens. Tendo em conta este dado, o docente defende que a prisão não deve servir como um lugar para punir os ocupantes das unidades penitenciárias, mas de lugar para a sua reeducação. Desta forma, dizia, tirar-se-iam das cadeias homens novos, que estariam em condições de contribuir para o desenvolvimento do país. Boa parte desses jovens voltam a praticar os mesmos e outros crimes dias depois de serem soltos das cadeias, por não encontrarem, fora dos centros prisionais, oportunidades que favoreçam a melhoria das suas condições de vida. Por isso, partem para o crime para resolver os seus problemas básicos, como comer e vestir. Entretanto, o professor universitário é de opinião que se deve moralizar a sociedade para que, doravante, o país possa contar, na sua luta para o desenvolvimento, com a ajuda dos jovens e adolescentes que, actualmente, são delinquentes. Este esforço, de acordo com José Lencastre, merece o envolvimento de toda a sociedade, sendo a família um dos elementos fundamentais para proporcionar tal ambiente e motivar que os mesmos abandonem a marginalidade. José Lencastre manifestou-se ainda preocupado com as grandes consequências da criminalidade, quer para a sociedade, quer para os que envere- dam por essa prática. Para ele, a insegurança das pessoas, a falta de confiança, a diminuição do sentimento de solidariedade para com os outros são só alguns exemplos do que acontece hoje na sociedade angolana por causa da criminalidade. “Actualmente, podemos encontrar pessoas a necessitar de ajuda, como de uma boleia, alguém atropelado ou caído no chão por doença, mas que, por medo de sermos vítimas de estratégias macabras, acabamos por deixá-las sem ajuda, quando, na verdade, essas pessoas precisavam dela”, exemplificou. Para os que praticam crimes, as consequências podem ser o afastamento da família, a privação da liberdade ou a morte, em boa parte dos casos. “Nós conhecemos casos de pessoas que morreram porque a vítima reagiu, atirando mortalmente contra o delinquente”, exemplificou Lencastre, para ressaltar que este é o mais grave resultado da delinquência. As sequelas da guerra Ao caracterizar a sociedade angolana, José Lencastre disse que ela enfrenta, ainda, as grandes sequelas da guerra que afectou o país por mais de 27 anos. Este problema tem um peso enorme sobre o comportamento actual da população. O sociólogo pegou no exemplo dos Estados Unidos da América para explicar que, parte dos jovens que tinham regressado da guerra do Vietname, sofreram grandes perturbações porque, depois da vida militar, nunca tinham presos são jovens “ Se os marginais saem da cadeia sem nenhuma formação ou com uma reeducação fictícia, dias depois, de certeza, que voltarão a cometer crimes, por ser a única coisa que sabem fazer” conseguido uma formação ou emprego, casa ou família. “Nós, aqui, também tivemos casos parecidos, em que ex-militares, fruto de tais frustrações, revoltaram-se contra a sociedade, caindo na marginalidade como a única forma que encontraram para sobreviver, segundo eles próprios”, salientou o docente universitário. Entretanto, ele defende que a sociedade nunca deve rejeitar esses praticantes de crimes. Essas pessoas devem ser reinseridas na sociedade, através de programas que visem a sua formação técnica e profissional, bem como devem encontrar oportunidades de emprego. “Desta forma, nós podemos diminuir a criminalidade no país, pois é quase que impossível acabar com este fenómeno”. Factores que levam ao crime José Lencastre disse que o desem- prego e a falta de ocupação são dois factores que, associados aos traumas da recente guerra que assolou o país, propiciam o cometimento de crimes. “Os que não trabalham, não estudam e nem possuem qualquer ocupação são mais facilmente levados ao cometimento de crimes, influenciados directamente ou indirectamente por delinquentes antigos”, exemplificou. Questionado sobre a situação de jovens pertencentes a famílias economicamente estáveis, que costumam regularmente cometer crimes, como roubo de telemóveis, de bijutarias, entre outros objectos, o professor Lencastre disse que esta é uma problemática que a própria ciência continua a encontrar dificuldades para explicar. Os psicólogos têm feito pesquisas para entender este fenómeno. Os sociólogos, por sua vez, dizem que a sociedade está em crise, pois o país saiu de uma guerra e entrou para uma economia de mercado, onde as pessoas correm atrás da boa vida, dos grandes empregos, dos bons salários. Para consegui-los, as pessoas acabam por se envolver de tal forma que se esquecem das suas obrigações como pais e encarregados de educação, deixando os filhos sem o carinho que precisam de receber. “Esses filhos buscam, às vezes, na rua, a afirmação como indivíduos, adoptando comportamentos negativos, por influências de vizinhos, amigos e colegas”, acentuou o professor universitário. “Esses filhos têm tudo, mas, no fundo, nada têm, porque lhes falta o amor, o carinho dos pais, a felicidade total que tanto queriam. Os bens materiais nem sempre significam satisfação, eles podem ser o contrário disso, às vezes”, alertou. Por isso, o docente universitário aconselha os pais a darem mais atenção aos filhos, dialogando regularmente com eles para que possam adoptar comportamentos saudáveis. Estes comportamentos negativos por parte de filhos de famílias economicamente estáveis dá-se igualmente em países desenvolvidos, afirmou José Lencastre, para quem as pesquisas indicam que “quando esses levam armas para a escola ou cometem outras borradas é devido à falta de amor e carinho dos pais”. Os crimes mais comuns Na sociedade angolana, os crimes mais comuns são as violações domésticas e contra menores, as acusações de feitiçaria, o consumo de drogas ilícitas, os roubos e assaltos à mão armada a residências, a peões, a automobilistas e, ultimamente, os abusos sexuais. Mas, há, igualmente, a “delinquência das elites”, que são aqueles crimes praticados por pessoas que ocupam altos cargos públicos. “Essas desviam fundos do Estado para benefício próprio”, disse José Lencastre. Quem é criminoso? “Actualmente, podemos encontrar pessoas a necessitar de ajuda, como de uma boleia, alguém atropelado ou caído no chão por doença, mas que, por medo de sermos vítimas de estratégias macabras, acabamos por deixá-las sem ajuda, quando, na verdade, essas pessoas precisavam dela” A criminalidade, do ponto de vista sociológico, é um conjunto de aspectos anormais de comportamentos. É quando as pessoas se desviam das normas de convivência estabelecidas pela sociedade. Por isso, estas pessoas podem ser consideradas anormais, desviantes, marginais. Aliás, para o seu melhor funcionamento, a sociedade estabeleceu barreiras para os seus membros e aqueles que não respeitarem tais normas acabam por entrar em choque com outros elementos da comunidade e com as suas regras. A acontecer assim, está-se diante de um desvio comportamental e de uma violação da lei. “Sem leis, as sociedades vivem numa autêntica desordem, daí que os Estados criem regras para que as pessoas saibam como conviver com outros e quais as suas limitações dentro de cada sociedade”, salientou José Lencastre. Normalmente, acrescentou, os que não conseguem conviver à base destas normas acabam por as violar. Estes, a partir deste momento, passam a estar fora das normas por recorrem ao crime, que é uma prática condenada pelos membros da sociedade. Os praticantes deste tipo de acções são chamados de criminosos. Estes cometem vários tipos de crimes. Os mais comuns na sociedade angolana acontecem durante a noite ou em zonas isoladas para que os seus actores não sejam identificados com facilidade. Muitos desses criminosos são influenciados pela comunicação social. As telenovelas, os filmes e vídeo clips são exemplos de quanto as pessoas recebem de influência dos media, daí que José Lencastre defenda que os meios de comunicação social deveriam passar a mensagem de que “nem sempre o que se assiste nos seus canais é pura realidade”. 49 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 ões para criminosos crimininalidade dossier 50 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Combate ao crime nas favelas do Rio de Janeiro A questão da segurança pública no Brasil é muitas vezes posta em causa em função de situações vivenciadas, fundamentalmente, em morros do Rio de Janeiro, como o da Providência, Pedra Lisa, Vila Portuária, Rua do Monte e Ladeira do Livramento, onde a violência, o terror e a “lei do traficante” configuram as suas histórias. Mas com a implementação do policiamento comunitário, este quadro tende a mudar. E António Quino* ntre as características de marca dos morros mais problemáticos do Estado do Rio de Janeiro da República Federativa do Brasil constam a de serem zonas tendencialmente autónomas aos poderes constitucionalmente instituídos, com meliantes controlando as “bocas de fumo”, indivíduos fortemente armados com armas de fogo impondo a sua regra, circulação de pessoas à procura de drogas e moradores confundindo-se com infractores. É claro que esta realidade inibe o policiamento sem uma forte retaguarda bélica. Caricatamente, muitos relatos mostram que o receio da população cresce com essa intervenção bélica da Polícia, pois a seguir à actuação policial surge a retaliação dos traficantes contra os moradores do morro. Além disso, muitos moradores acabam baleados no fogo cruzado entre polícias e bandidos ou mesmo molestados ou atingidos por polícias quando confundidos com bandidos, um ambiente causador de muitos constrangimentos e desentendimentos entre a Polícia e a comunidade. Daí, a Polícia começou a pensar então nas estratégias para combater o crime e conquistar a empatia dos moradores. No caso concreto do morro da Providência, localizado no Centro comercial do Rio de Janeiro e ao lado da Central do Brasil e por onde afluem milhares de pessoas diariamente em direção aos seus locais de trabalho, as autoridades policiais decidiram, primeiramente, instalar duas bases dentro do morro, uma no ponto mais alto e outra perto desta, na Praça Américo Brum. A situada no pico mais alto, um Des- Policiamento de ocupação No entanto, o desalojar dos meliantes do morro exigia um permanente policiamento para desaconselhar o seu regresso. Neste caso surge a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), especificamente criada para o efeito. Aliás, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMREJ) deu um passo gigantesco em direção ao fortalecimento da civilidade no Estado Democrático de Direito, através da parceria entre polícia e comunidade, com a criação, em 2008, de um Centro de Capacitação de Programas De Prevenção (CCPP). O referido centro consiste num núcleo que integra programas desenvolvidos pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, nomeadamente PROCEDIH (Programa de Capacitação e Educação em Direitos Humanos) e PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas). O PROCEDIH foi criado pela Coorde- Então, reconheceuse a necessidade de o Comando trabalhar junto à comunidade, sentindo e vivendo os seus problemas e ainda buscando uma forma de aproximação dos cidadãos, que eram tão receosos da actividade policial, levando-os a partilhar espaços comuns nação de Direitos Humanos da PMERJ e tem por finalidade a qualificação e capacitação continuada dos polícias militares, fazendo com que estes actuem com mais segurança profissional, de uma maneira ética e conveniente, sempre pautados por princípios da legalidade, necessidade e proporcionalidade, promovendo e protegendo o direito à vida, à integridade física e à dignidade da pessoa humana. Quanto à PROERD, consiste num esforço cooperativo da Polícia Militar, Escola e Família, visando, através de actividades educacionais em sala de aula, prevenir o abuso de drogas e a prática de actos de violência entre estudantes do Ensino Fundamental no país (o nosso correspondente ao ensino de base). Um outro passo sigiificativo dado pela Polícia brasileira no policiamento comunitário é o da inaguração da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em algumas comunidades, como no Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, implantada na Zona Sul do Rio de Janeiro, ao lado da UPP Santa Marta e da UPP Babilônia/Chapéu Mangueira. Juntas, as três UPP’s passaram a formar um novo corredor de segurança ao longo da orla, do Leme à praia de Ipanema. As duas comunidades (Pavão-Pavãozinho/Cantagalo) se localizam no ponto mais nobre do Rio de Janeiro, entre os bairros de Ipanema e Copacabana. Nelas, moram cerca de nove mil e 500 pessoas. Com um efectivo de 195 homens, a UPP Pavão-Pavãozinho/Cantagalo é comandada por um capitão, oficial com formação humanista, especializado em percussão latina. Na referida comunidade, já está a ser realizado o primeiro projecto social, uma escola de futebol de salão para crianças e adolescentes. O projecto conta com mais de 50 inscritos e polícias militares formados em Educação Física ministram as aulas. Os vários modelos de policiamento comunitário, ou de proximidade, têm servido para demonstrar que não só ajuda a combater o crime como fornece instrumentos valiosos para o resgate das comunidades, qualificando-as, trazendo dignidade ambiental e física, resgatando a confiança na Polícia, inspirando para a juventude novos modelos a seguir e facilitando, através de programas de inclusão laboral e reestruturação familiar, a integração social. * com www.policiamilitar.rj.gov.br/gpae5bpm/ 51 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 tacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) é uma fracção de tropa que executa uma forma de policiamento ostensivo visando a segurança de instalações físicas que, por sua relevância estratégica e operacional, indica a necessidade de constante policiamento irradiado do posto policial. Já a segunda base, foi instalada num dos pontos mais inacessíveis da localidade, com vários quebra-molas na chegada e forte contenção armada com armamento de grosso calibre. Mas isso era insuficiente: estancava-se o movimento dos criminosos, mas a relação com a comunidade continuava distanciada. Então, reconheceu-se a necessidade de o Comando trabalhar junto à comunidade, sentindo e vivendo os seus problemas e ainda buscando uma forma de aproximação dos cidadãos, que eram tão receosos da actividade policial, levando-os a partilhar espaços comuns. Na verdade, era preciso encontrar um local de convergência entre a Polícia e a comunidade para a implementação de projectos, executados por polícias, que desmistificassem e reflectissem novas posturas policiais através do trabalho de inteligência policial que, a partir de então, primariam pela aproximação, identificação de vulnerabilidades, respeito, ganhando a confiança e identificando todos os moradores por suas rotinas e hábitos e neste cometimento até mesmo os possíveis envolvidos com o crime. Porém, não havia uma edificação à altura de tal empreendimento, pois era essencial à segurança um espaço para a instalação de toda a administração. Quando se encontrou o local e se transferiu a sede do Grupamento para Policiamento em Áreas Estratégicas (GPAE) para o morro, onde passou a funcionar toda a administração e ainda, em razão da parceria, um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da Prefeitura local, a aproximação se afinou e passou-se a atender toda a comunidade local e a identificar vulnerabilidades. É claro que esta mudança não aconteceu de forma pacífica, pois os meliantes não admitiam ter perdido um ponto excelente de acesso ao morro, que agora estava totalmente ocupado pela Polícia Militar e pela Prefeitura. Houve ataques, conflitos armados até que, finalmente, e em função das baixas humanas e materiais sofridas durante os confrontos com a Polícia, os criminosos decidiram abandonar a área. 52 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Laboratório de Criminalística quer estar na primeira linha “O problema sério que existe é da interligação do Laboratório com outros órgãos de Polícia” diz o director, o subcomissário Carvalho sobrinho O André da Costa Laboratório Central de Criminalística (LCC), um órgão sob dependência da Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), tem como missão contribuir para o esclarecimento de crimes de natureza diversa que ocorrem no país. Actualmente, o Laboratório, cujas instalações estão localizadas no município do Kilamba Kiaxi, junto ao Cemitério de Santa Ana, está a ser apetrechado com material de ponta, no quadro da cooperação com Israel, que enviou a Angola técnicos que vão fazer com que se torne uma verdadeira polícia científica. O optimismo é do seu director, subcomissário Carvalho Sobrinho, que se mostrou esperançado no funcionamento eficaz do LCC, que é considerado, segundo a fonte, uma das estruturas mais importantes da corporação. O LCC, disse, contribui para o esclarecimento de muitos crimes e casos de acidentes de viação. “O automobilista que se desloca ao LCC é submetido a exames que podem ou não comprovar a sua culpabilidade”, sublinhou o subcomissário. As viaturas acidentadas, de acordo com Carvalho Sobrinho, podem, igualmente, ser examinadas pelo Laboratório para se determinar o seu estado técnico. Adiantou que o LCC está preparado para o combate à criminalidade, dispondo inclusive de meios à altura para combater o crime nacional e transnacional. “O problema sério que existe é o da interligação do Laboratório com outros órgãos de Polícia”, explicou a alta patente da Polícia, para quem “o Laboratório deve ser tido como um órgão de combate ao crime de primeira linha e não um órgão de recurso”. Este órgão da DNIC comporta ainda laboratórios de identificação de voz, de sinais e marcas, áudio e vídeo e de explosões e incêndios “O que acontece é que, quando ocorre um crime, outros órgãos da Polícia que se deslocam ao local não tomam as providências necessárias, que é a preservação do local”, acentuou Carvalho Sobrinho. Resultado: “Alteram por completo o local do crime e só depois é que solicitam a intervenção do Laboratório, que, chegado ao local, encontra os vestígios do crime alterados”. O director do LCC, um homem experiente na análise de indícios criminais, afirmou, categoricamente, que o Laboratório é a base de uma investigação e, concomitantemente, o complemento da investigação. Carvalho Sobrinho chamou a atenção para a observância do artigo 174 do Código de Processo Penal que diz que a confissão do arguido, quando é desacompanhada de elementos de prova, não vale como corpo de delito. Quer dizer que o crime deve ser provado e demonstrado com provas científicas irrefutáveis e essa actividade compete ao Laboratório Central de Criminalística. O subcomissário Domingos Francisco Carvalho Sobrinho, perito em criminalística, explicou que, desde que se encontra à frente do LCC, há sete anos, empreendeu, com o seu grupo de tra- O Programa de Modernização e Desenvolvimento da Polícia Nacional, segundo o subcomissário Carvalho Sobrinho, deu uma lufada de ar fresco ao Laboratório Central de Criminalística, já que permitiu a sua reabilitação e apetrechamento, um processo que já está na segunda fase dos quatro previstas. Actualmente, com gabinetes de trabalho apetrechados com mobiliário de escritório que conferem dignidade ao LCC, e outros equipamentos instalados, hoje a realidade é bem diferente. Carvalho Sobrinho, visivelmente satisfeito, afirmou, sem receios de errar, que, quando os trabalhos estiverem concluídos, o LCC será um dos mais sofisticados de África. Na sequência da sua reabilitação, o LCC passa a ter várias áreas de serviço, entre as quais as de genética, que vai poder identificar alguém através de um fio de cabelo, da saliva, urina ou ainda determinar a paternidade em caso de dúvidas. Este órgão da DNIC comporta ainda laboratórios de identificação de voz, de sinais e marcas, áudio e vídeo e de explosões e incêndios. As áreas de Balística e de Pesquisa e Desenvolvimento serão revitalizadas, ainda de acordo com Carvalho Sobrinho, que defendeu a necessidade de o Laboratório estar certificado a nível internacional. Para o alcance deste objectivo, estão a ser reunidas as condições necessárias, informou Carvalho Sobrinho. O Laboratório Central de Criminalística é um órgão especializado de Polícia Cientifica de apoio à investigação e à instrução criminal. 53 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 A era da modernização crimininalidade dossier balho, muito esforço para que o Laboratório fosse apetrechado com meios técnicos de ponta para o melhoramento, cada vez mais, do seu trabalho. O subcomissário Carvalho Sobrinho conta que, naquela altura, o Laboratório carecia de equipamentos modernos, mas ainda assim conseguia dar resposta aos casos que chegavam às suas mãos. Os casos mais complexos, de acordo com Carvalho Sobrinho, eram resolvidos através do recurso a laboratórios do Instituto Médio Industrial de Luanda, da Saúde Pública e da Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto. ‘Os detidos têm acesso ao sistema de ensino’ O então director nacional dos Serviços Prisionais, Jorge Mendonça, disse à nossa reportagem que todo o detido em Angola tem acesso ao sistema de ensino. O alto funcionário do Ministério do Interior acentuou que o sistema de ensino só não chega àqueles estabelecimentos que não reúnam internamente condições que permitam a realização de aulas. Os reclusos com um nível de formação aceitável ensinam outros presos com baixo nível de escolaridade, explicou o director dos Serviços Prisionais. Jorge Mendonça explicou que os Serviços Prisionais estão a criar condições para que o preso que entra analfabeto saia da cadeia alfabetizado. O até então director Jorge Mendonça manifestou o seu desejo de que, em cada estabelecimento prisional, haja cursos profissionalizantes de artes e ofícios destinados à população penal. Na qualidade de director dos Serviços Prisionais, explicou que a intenção é fazer com que os níveis de reincidência nas cadeias diminuam consideravelmente. “Os Serviços Prisionais têm conhecimento de casos de antigos presos que, depois de libertados do estabelecimento prisional de Viana, torna- ram-se trabalhadores de uma empresa, parceira do Ministério do Interior, que está a desenvolver o parque industrial de Viana”, informou Jorge Mendonça. — È apenas um exemplo de uma realidade que se verifica um pouco por todo o país, acentuou o entrevistado. “Há detidos que, depois de cumpridas as suas penas, têm acesso aos concursos públicos e tornam-se funcionários de empresas públicas e privadas”. Os Serviços Prisionais controlavam, até ao mês de Fevereiro último, 17.724 reclusos, instalados nas unidades prisionais das 18 províncias do país, revelou Jorge Mendonça. Luanda, com sete mil presos, é a província com a maior população penal, quando a sua capacidade instalada é de apenas três mil reclusos. O agora director do Gabinete de Estudos, Informação e Análise do MININT afirmou que, devido à superlotação, ainda se dá o caso de indivíduos considerados altamente perigosos partilharem a mesma cela com outros que cometeram crimes de pouca monta. SUBCOMISSÁRIO CARVALHO SOBRINHO crimininalidade dossier 54 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 ‘A solução ideal é a educação na família’ “A Polícia tem uma tarefa extremamente ingrata neste momento, porque há uma responsabilidade que muitos têm e não cumprem”. A afirmação é do malogrado frei dominicano João Domingos, falecido em agosto, em Lisboa, vítima de doença E Manuel Júnior m entrevista à Tranquilidade, o clérigo afirma que os centros de reabilitação para criminosos são “um mal menor” para a solução do problema e aponta a educação na família como “solução ideal”. “A solução ideal é a educação na família, na escola. Aí é que está a solução. Temos de ser capazes de educar os nossos jovens, para que sejam bem formados”. Eis a súmula da entrevista, durante a qual o frei chamou a atenção para a necessidade de a sociedade conjugar esforços para o combate à criminalidade. Qual é a visão da Igreja sobre a criminalidade em Angola? A criminalidade é uma prática anti-social, que envolve pessoas que não se integraram na sociedade, por não se sentirem felizes e realizadas. Daí sentirem-se à margem. A criminalidade nasce do desajuste de pessoas que não se integram na sociedade, quer a nível de emprego, quer de estudo, de habitação e de meios para viverem de uma maneira digna. De que forma a Igreja contribui para inverter esta situação? Nós temos trabalhado, sobretudo, a dois níveis: por um lado, através da pregação, da catequese. Sempre que temos encontros, tentamos desenvolver a consciência dos direitos humanos, da igualdade entre as pessoas, da necessidade de sermos irmãos, de sermos uma fraternidade, da necessidade de parar com toda a violência, apelando até para a nossa experiência de guerra, que nos mostrou que o caminho da violência só mata e destrói. Por outro lado, estamos a apelar às famílias, às escolas, às igrejas, para trabalharem mais numa linha de formação da pessoa humana – formação moral e ética. Nós temos muitas universidades, muitos colégios, muitas escolas, onde realmente se ensina a ler, a escrever e a contar, onde se ensinam algumas profissões. Mas tudo isso é pouco, porque essas instituições não se preocupam com a formação fundamental da pessoa humana – a sua consciência, a sua responsabilidade, os seus direitos, mas também os seus deveres. Aí é que está o centro da educação. Se uma pessoa não é educada a respeitar os valores da vida, a respeitar os outros como irmãos iguais, a justiça e a coerência, a ser trabalhador honesto e sério, evitando a corrupção, por exemplo, se a pessoa não é trabalhada, não é educada a esse nível, o ter um curso superior só lhe dá mais instrumentos para ser depois um trafulha, para ter mais meios de corrupção, para enganar e enriquecer mais. Quer dizer que a educação é fundamental para evitar que as pessoas caiam nas malhas da delinquência? Tudo passa por aí. Nós não pode- mos deixar de formar humanamente todos os nossos alunos, sejam eles de que cursos forem – economia, direito, medicina. Todos têm de ter uma formação humana, moral e ética, onde aprendam a respeitar os valores humanos, da dignidade das pessoas, da igualdade e da justiça social entre elas. Além da solução dos problemas sociais, como encontrar trabalho para todos os jovens, para todos os nossos cidadãos, temos de formar e educar os jovens, primeiro na família, depois nas escolas e nas igrejas. Depois, a sociedade tem de encontrar maneira de os ocupar. Nós precisamos, também, do desporto. Eu acho que é uma pena os grandes clubes não desenvolverem centros desportivos, onde receberiam muitos adolescentes para os treinos e daí surgirem muitos bons jogadores a todos os níveis. O Ministério da Juventude e Desportos tem de investir para formar jovens a nível de desportistas profissionais. Acha que a delinquência radica na pobreza? As pessoas pobres são as mais propensas para o crime? Não. Até porque eu conheci gente do interior muito séria, muito honesta. A minha experiência não me diz que é assim. Claro que a pobreza pode criar insatisfação, mas não é, necessariamente, um factor causal de crime. É mais a falta de educação. Se a família não toma conta, se as escolas não tomam conta, quem vai pegar nesses casos é a Polícia, cuja missão é manter a ordem e a disciplina. Então, a Polícia vai ser tentada a fazer isto à força. E à força vai dar maka, porque esses problemas deviam ser resolvidos em casa, na escola, nas igrejas, ou pelo Estado. Mas se nós todos nos abdicarmos das nossas responsabilidades, não resolvemos nada, depois quem fica com o problema é a Polícia. O Ministério da Juventude e Desportos também tem muita responsabilidade: educar a juventude a partir dos problemas que ela tem e tentar encontrar soluções, evitando a prática da delinquência. Mas temos de trabalhar unidos. As famílias têm de saber educar os seus filhos, moldar o seu carácter. Para a Igreja, como estão as famílias angolanas do ponto de vista da sua estrutura? Está estragada. A falta de fidelidade entre marido e mulher é acentuada. A criminalidade é uma prática anti-social, que envolve pessoas que não se integraram na sociedade, por não se sentirem felizes e realizadas. mãos, reconhecer que estamos mal e começar, cada um no seu sector, a ser responsável. A família em primeiro lugar. A redução da idade relativa à inimputabilidade em Angola, como defendem alguns especialistas em Direito, seria uma das soluções a ter em conta? Eu acho que, também, é bom fazer isso. Os centros de reabilitação para criminosos são uma solução para o problema? É um mal menor. Quer dizer que não é a solução ideal. A solução ideal é a educação na família, na escola. Aí é que está a solução. Temos de ser capazes de educar os nossos jovens, de ter pessoas bem formadas. O “Tribunal de Menores” tem ajudado? Eu acho que é necessário. Parece que tem feito um bom trabalho, mas não é ainda suficiente. Precisa de ser estar apoiado pelas famílias, pela sociedade, pelas escolas. Não podemos pensar que o Tribunal de Menores resolve tudo. Nós temos de dar apoio. Os jovens têm de ser integrados na sociedade. Nós próprios, estamos a produzir delinquentes, pela forma como estamos a viver, com violência, alcoolismo, enfim. É preciso atacar o mal, as causas da delinquência: a falta de educação e a má educação, o alcoolismo, o desregramento dos jovens. Como acha que se vai repercutir este fenómeno no futuro do país? Lembro-me muitas vezes do Brasil. É um país rico. Está a desenvolver-se do ponto de vista económico e financeiro, mas com problemas humanos e sociais muito graves. Como é que um país tão rico, tão desenvolvido, não é capaz de resolver os seus problemas? Enquanto houver muitos pobres e uma classe pequena de ricos, falta de justiça social, falta de honestidade, os problemas vão persistir. Tenho medo que Angola esteja no mesmo caminho que estamos a ver, hoje, no Brasil. “Todas as sociedades têm os delinquentes que merecem”. Angola tem os delinquentes que merece? Já o disse. Nós estamos a produzir os nossos delinquentes. Não podemos queixar-nos muito da juventude, porque nós é que estamos a produzi-los. 55 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Às vezes, há até mesmo rebelião. Daí haver violência doméstica. Portanto, a criança é educada aí, na violência e no egoísmo. Cada um salva-se como pode. Por isso é que o primeiro elemento, extremamente importante, é a família. Em segundo lugar, a educação. Temos de exigir que as escolas, os colégios, as universidades, não dêem só formação, cursos técnico-profissionais. Que formem a pessoa humana, nos valores da honestidade, da seriedade, da fraternidade, da igualdade, da justiça, do respeito pelos direitos humanos. Tem de haver uma verdadeira formação da pessoa nessa linha. Que seja uma juventude com carácter, com coerência, com consciência, com honestidade. Tudo tem de partir daí. Acha que as medidas de combate à delinquência adoptadas pela Polícia são as mais eficazes? Eu sei que a Polícia tem uma grande tarefa, que é deixada por todos nós. Nós colocamos esse problema nas mãos da Polícia e queremos que ela o resolva. A Polícia manda para os tribunais, mas os tribunais não resolvem. Soltam as pessoas e elas voltam novamente para a Polícia, que, também, acaba por perder a paciência e começa a agir de maneira brutal. Qual é a apreciação que faz do nosso sistema de justiça? Eu conheço juízes e advogados muito bons. Mas, infelizmente, não são todos, nem talvez a maior parte. Temos muita gente que se cansou de aprender a ética de ser juiz, a ética de ser advogado. Estão mais imbuídos em ganhar dinheiro. Alguns já se corrompem, já se vendem, tal e qual como se vendem os outros negócios. Quando os juízes, quando os advogados perdem a sua dignidade, a sociedade está perdida. E mais uma vez a Polícia vai ficar com mais um problema que os tribunais deviam resolver e não resolvem, que as prisões deviam resolver e não resolvem. E, por causa da corrupção, tudo volta para as mãos da Polícia. A Polícia tem uma tarefa extremamente ingrata neste momento, porque há uma responsabilidade que muitos têm e não cumprem. E por isso temos depois estas situações. Que trabalho deve ser feito para a reabilitação dos criminosos? Nós temos de ter esperança no futuro acima de tudo. Temos de dar as HOMENAGEM 56 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 AGENTE REGULADORA DE TRÂNSITO TRUCIDADA POR TAXISTA QUE CONDUZIA DESENCARTADO A cidade de Luanda parou, na manhã do dia 27 de Janeiro de 2010, para render homenagem à agente reguladora da Brigada Especial de Transito (BET), Sandra Marisa Mariano, que perdeu a vida num acidente de viação. Os restos mortais de Sandra Marisa Mariano foram a enterrar no Cemitério de Santa Ana, em Luanda. A agente reguladora de trânsito foi atropelada pelo taxista António Teca, às 17:30 do dia 22, quando estava em serviço na Avenida Pedro de Castro Van-duném “Loy”, junto ao Hospital Sanatório. Sandra Marisa fez sinal para que o taxista, de 27 anos, parasse por falar ao telefone enquanto conduzia, uma infracção constante no novo Código de Estrada, que entrou em vigor em Abril de 2009. O taxista fingiu parar o carro e quando a agente passava à frente da viatura para se aproximar da janela do lado do condutor, ele arrancou em alta velocidade, acabando por arrastá-la cerca de um quilómetro. Mais tarde o motorista disse que fugiu porque não tinha carta. A agente, que deixa quatro filhos órfãos, ficou com as pernas fracturadas e ferimentos graves que deixaram à vista órgãos internos. Sandra Marisa Mariano, que tinha a patente de agente de segunda classe, foi promovida, a título póstumo, a sub-inspectora. No interior do cemitério, o segundo secretário do Comité Provincial de Luanda do MPLA, Jesuíno Silva, em declarações à imprensa, repudiou a violenta atitude do taxista que causou a morte da agente Sandra Mariano. Jesuíno Silva apelou à direcção da Associação dos Taxistas de Luanda para que tenha a coragem de convocar os seus associados e em conjunto reflictam sobre este acto condenável para que situações do género não voltem a acontecer. O dirigente do MPLA em Luanda chamou também a atenção ao Comando Geral da Polícia Nacional e à sociedade civil para que unam esforços a fim de se prestar apoio à família da malograda, sobretudo aos filhos, que perderam a mãe enquanto exercia as suas funções para manter a ordem e a tranquilidade públicas. O segundo secretário do Comité Provincial do MPLA acentuou que os agentes da Polícia Nacional têm de ser respeitados, principalmente quando estão em pleno exercício das suas funções. A cerimónia fúnebre foi testemunhada por membros do Governo, comandantes e agentes da Polícia Nacional e membros da sociedade cível. Era visível o semblante de tristeza dos presentes enquanto decorria a cerimónia fúnebre, realizada na Liga Nacional Africana, de onde saiu o cortejo até ao cemitério de Santa Ana, na Estrada de Catete. leia a revista Tranquilidade online www.tranquilidade.angoladigital.net www.angoladigital.net vivacomTranquilidade violação sexual de menores Polícia O pede maior envolvimento da sociedade Frequentemente, a violência sexual ocorre no seio familiar, escolar ou religioso, levando alguns dos seus membros a acobertar o crime por alegada protecção do bom nome da instituição, mas provocando o aumento do sofrimento da vítima e o aumento do sentido de impunidade do violador. Factos como estes levaram a Polícia Nacional a desencadear uma campanha junto da comunidade no sentido de dinamizar o combate à violência sexual como uma obrigação de toda a sociedade. António Quino s casos de violação sexual registados em todo país no último triénio atingiram números preocupantes, fundamentalmente aqueles cujas lesadas são menores de 12 anos de idade, que representaram 24% das vítimas de violações. Conforme estatísticas do crime de violação registados durante os anos 2008, 2009 e I trimestre de 2010, a média diária de violações sexuais foi de 3,3 casos, em que as principais vítimas são cidadãs entre 16 e 25 anos de idade, a mesma faixa etária predominante entre os autores. Vale destacar que a maior parte das violações ocorreram no período nocturno, entre as 18H00 e 0H00 e entre as 0H00 e 06H00, sendo que mais de 50% dos casos se verificaram nas residências das vítimas e outra não menos significativa percentagem na via pública. As estatísticas mostram que, ocorrendo dentro de casa, e vítimas de pessoas que a princípio deveriam protege-las, as crianças violentadas sexualmente acabam duplamente vulneráveis, 59 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 pois são frequentes as vezes em que a ocorrência não é tornada pública ou comunicada às autoridades, como disse Conceição Nhanga, chefe de repartição de combate à violência contra a mulher e á criança da Direcção Nacional de Investigação Criminal, durante um debate radiofónico emitido pela Luanda Antena Comercial. Daí que, segundo a mesma fonte, muitas vezes as vítimas desistem do processo, provavelmente por se notar alguma morosidade na instrução processual, que transmite alguma sensação de impunidade, aliado ao facto desse tipo de crime ser estigmatizante e deixar sequelas psicológicas entre as vítimas e seus familiares. Conceição Nhanga justificou que a instrução de um processo como o da violação sexual exige muita cautela, ponderação e peculiaridade, pelo que pode se tornar moroso. “Mas devo afirmar que este tipo de crime prescreve a detenção imediata do violador ou suposto violador, até a transição do processo para o Tribunal”, disse. No informe da Polícia Nacional levanta-se como hipótese para a reversão do O aumento de casos de violação de menores, dentro e fora de casa, praticado por pessoas conhecidas da vítima, demonstra que há muito deixou de ser um caso só de polícia. A sociedade deve-se envolver-se mais! quadro, a necessidade urgente de se rever a legislação para este tipo de crime, por forma a tornar mais desencorajador e oferecer maior garantia aos direitos das crianças e mulheres. No referido informe que temos vindo a citar há também alusão à necessidade de conduzir a sociedade para uma reflexão sobre a educação na família, na escola, na comunidade e na religião. Confirmando isso mesmo, o psicólogo Abel Chico Joaquim referiu à Angop que nos últimos anos tornaram-se frequentes os casos de violação sexual, principalmente cometidos contra menores de idade. “É, portanto, necessário encon- trar as causas e soluções, envolvendo a sociedade no combate a este tipo de crime”, ajuntou o igualmente docente do Instituto Superior de Ciências de Educação de Luanda (ISCED), tendo apelado para a tomada de medidas urgentes por parte dos assistentes sociais, psicólogos e sociólogos, no sentido de unirem esforços para “determinar os motivos deste tipo de delitos e, junto das famílias, abordar sobre estes actos de abusos sexuais a menores, que Angola tem vivido nos últimos anos, causando traumas profundos aos petizes”. Num programa interactivo promovido pela Luanda Antena Comercial para se falar da violação sexual de menores, a jurista Conceição Nhanga falou da necessidade de se olhar para esse fenómeno não como um assunto meramente de polícia. “É necessário que outros agentes da sociedade intervenham para que possamos reverter o quadro, pois o aumento de casos de violação de menores, dentro e fora de casa, praticado por pessoas conhecidas da vítima, demonstra que há muito deixou de ser um caso só de polícia. A sociedade deve-se envolver-se mais!”. No mesmo diapasão, Sandra Macedo, docente do Instituto Normal de Educação (INE – Garcia Neto), disse à Angop que as famílias, as escolas, os psicólogos sociais e outros devem analisar com seriedade o assunto (violação sexual), não deixando apenas as autoridades policiais ou outros organismos afectos ao governo tomarem medidas em relação ao assunto”. Reflectindo a opinião dos dois interlocutores, outros actores sociais devem conjugar esforços para proteger as crianças, como sugere o ancião Manuel Fernandes. Falando à única agência de notícias do país, Manuel Fernandes referiu que a sociedade angolana tem perdido muito dos seus valores culturais e, por isso, deve-se ainda criar linhas mestras que devem ser implementadas desde as famílias até às escolas. Um ouvinte que interveio no debate radiofónico do programa da LAC disse que a sociedade pode intervir de muitas formas, como trabalhar na destigmatização que pesa sobre os lesados (pessoas violentadas sexualmente e seus familiares), sensibilizar, informar e educar toda a comunidade sobre os perigos e actos preventivos contra o crime de violação, ou ainda criar serviços de apoio às vítimas. vivacomTranquilidade violação sexual de menores Vozes 1 de vítimas Entre as sequelas que ficam marcadas na menor vítima de violência sexual, contabilizamse a autoculpabilização, a vergonha, o receio da exposição pública e a consequente rotulagem social, perda da autoconfiança e até a introversão. Numa viagem à Internet, fomos recolhendo uma série de testemunhos de pessoas anónimas violentadas sexualmente. Seleccionamos algumas e, em síntese, podese dizer que nem sempre em casa, na escola, na igreja ou mesmo na rua as crianças estão verdadeiramente protegidas dos potenciais violadores, pelo que cada membro da sociedade deve sempre estar atento em nome da saúde, paz e harmonia social da própria sociedade. Pela pertinência das mensagens, seleccionamos dez delas que aqui reproduzimos: Quando eu era uma criança sofri o abuso sexual, e infelizmente isto afectou todos os aspectos da minha vida - emocional, relacional e espiritual. Alguns dos meus abusadores eram homens “respeitáveis” na igreja. Por mais de trinta anos sofri como vítima mental daquelas memórias - estava zangada com todos e não conseguia confiar em ninguém. Construía barreiras para evitar qualquer relacionamento de amor. A vergonha e a culpa acompanhavam-me sempre, e convenci-me que era eu própria que tinha encorajado os avanços dos meus violadores. Evitava que as pessoas se aproximassem de mim para que não descobrissem os meus segredos. Fui violada durante muitos anos pelo meu pai, e sinto uma enorme injustiça, pois a minha família nunca acreditou a 100% no que o meu pai me fez. Só Deus sabe o que eu sofri e continuo a sofrer cada vez que tenho que me relembrar desta situação complicada da minha vida. Por mais que eu tente esquecer, nunca o vou conseguir. É fácil a minha família me criticar por não ter denunciado o meu pai, mas eu tinha medo, pensava que eu é que estava a fazer o que não era certo. Fui abusada, pelo meu padrasto, dos 8 aos 16 anos, dentro de casa, onde era suposto me sentir protegida. Me sinto um lixo, não tenho ânimo para nada. Hoje fico com esse peso, tenho vergonha de sair de casa, de olhar para a minha família. Sou mal falada no bairro onde eu moro, minha vontade é desaparecer da minha cidade. Estou procurando ajuda psicológica, ainda não comecei. Espero que resolva porque não aguento mais isso. Fui violada por quatro rapazes quando saía da escola. Penso que eles me seguiram, porque saí com uns colegas e quando eles se separaram de mim, os bandidos aproveitaram. Apontaram-me uma faca e me obrigaram a entrar numa rua escura. Até hoje não paro de lembrar o que eles me fizeram. Tenho nojo de mim, do meu corpo, dos homens. Mesmo gritando ninguém veio em meu socorro. Penso nisso todas as noites. Não durmo, mas não aguento ficar acordada sem 2 3 4 dormir. Não aguento as lembranças do meu passado. Eu fui violada vários anos por um familiar. Como se ultrapassa este momento terrível? Uma mulher nunca consegue esquecer este momento que nos marca para toda a vida. Mas eu, ao longo dos anos, fui tentando passar para trás das costas... tentando olhar em frente e não olhar para trás, porque a vida continua...E a partir do momento que encontramos a pessoa certa, que nos saiba compreender e amar torna-se tudo mais fácil. Fui abusada por dois primos e um tio, dos meus 8 anos aos meus 12 anos, e nunca falei disso com ninguém. Mas sei bem o que é o sentimento de culpa, e o nojo e a repugna que sentimos de nós mesmas e, depois, os males que traz. Muitas vezes, ainda hoje, me auto-mutilo, Tenho marcas pelo corpo, nos braços, tenho conseguido esconder porque não o faço sempre. Só quando estou sob grande pressão, ou tensão nervosa. Sei o que é alguém tomar conta do nosso corpo, sem pedir, como se fossemos uma boneca de trapos. Quem primeiro me violou foi o meu avô que me tomava conta quando os meus pais fossem trabalhar. Depois foi um tio, a seguir um vizinho que ameaçou queixar o meu tio se ele não lhe desse também uma oportunidade. Eu só tinha 13 anos e ameaçaram que se eu contasse iriam matar os meus pais. Com 17 anos apanhei uma depressão crónica e com 21 tentei suicidar-me 3 vezes. Só agora é que decidi procurar ajuda, porque houve uma pessoa que trabalha comigo que me viu e tornou-se a minha melhor amiga. Mas mesmo assim continuo a achar que não preciso de psicólogo nenhum e que o alívio da minha dor está no suicídio. Eu sou a Margarida e tenho 7 anos. Um senhor do parque levantou-me a saia. Eu estava a brincar com ele, mas depois não gostei. O senhor mexeu-me nas pernas e disse-me que eu era linda. E começou a dizer palavrões feios. Tive medo do senhor, mas ele disse que me dava um chupa-chupa. Disse que era segredo. A minha tia chamou-me e eu fui a correr. O senhor disse-me adeus e disse que me queria ver outra vez. 5 6 7 8 Eu contei à minha tia e à mamã e ao papá. Foram à Polícia comigo por causa de eu ter ouvido os palavrões feios. Às vezes sonho que ando a brincar no parque com o senhor e acordo com medo. Eu tenho nove anos. O meu tio quis fazer coisas comigo. Não gostei da maneira como ele me tocou. O meu tio e eu estávamos a ver televisão. E ele despiu-se, disse que estava com calor. Disse para eu fazer o mesmo e começou a mexer-me na boca. Disse-me que tinha de guardar segredo, porque aquele era só um jogo. Depois, deu-me dinheiro para eu comprar um DVD. Cada vez era mais difícil estar sozinha com o meu tio. Contei à minha professora de inglês o que se passava, disse que andava com o meu tio e que lhe dava beijos e outras coisas. A minha professora disse que ia ajudar-me. Contou aos meus pais e eles acreditaram. Às vezes tenho sonhos e tenho vergonha. Penso que sou diferente das outras raparigas. Tenho dezassete anos. Sobrevivi a uma tentativa de violação. Tudo aconteceu muito depressa e ainda me sinto muito confusa. No início, pensei que ele só queria roubar-me a mochila, mas me agarrou pela cintura e pelo pescoço. Disse que se eu estivesse ‘caladinha’ não me acontecia nada. Fiquei tão assustada que não conseguia sequer mexer-me. Tive medo de morrer e comecei a ser arrastada para um jardim. Era já escuro, quase de noite. Felizmente, os donos da casa ouviram o cão a ladrar de uma forma anormal. Foram ver o que se passava. Pensaram que éramos namorados e que estávamos ali para curtir. Depressa viram que não, porque o homem fugiu e eu fiquei. Desatei a chorar e a tremer. Pedi para chamarem a Polícia. Ele foi detido dias depois, pois tentou fazer o mesmo a outra rapariga. A minha família e os meus amigos ajudam-me todos os dias a ultrapassar o medo, a insegurança, os sentimentos de culpa. Sinto-me culpada por não ter conseguido fazer nada, nem sequer gritar, mas foi bom ter chamado a Polícia, pois permitiu que a Polícia soubesse que ele andava por ali. 9 10 61 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 como evitar a violação Em caso de violação: HÁ três motivos pelos quais as mulheres são alvos fáceis para actos de violência e/ou abuso sexual, nomeadamente a falta de atenção, a linguagem corporal e o lugar e hora onde tais actos acontecem. Vamos, de forma pedagógica, descrever estes três aspectos: 1 Falta de atenção. Você tem que estar consciente de onde está e do que está a acontecer a sua volta. As mulheres têm a tendência de entrar em seus carros depois de fazerem compras, refeições, e se sentarem no carro (fazendo anotações, ajustar a maquilhagem, ou ainda conferindo o ticket de compra). Não faça isso! O meliante aproveita esta distracção para actuar, sendo essa a oportunidade perfeita para ele entrar pelo lado do passageiro, colocar uma arma na sua cabeça, e dizer a você onde ir. Por isso, no momento em que você entrar no seu carro, tranque as portas e vá embora, não fique ajeitando o cabelo, passando batom, etc. 2 Linguagem corporal. Mantenha sua cabeça erguida e permaneça em posição erecta, para indiciar segurança e auto-controlo. Mesmo que tenha medo ou esteja em algum lugar ou situação que atraia o medo, tenta manter uma postura de segurança. Jamais tenha uma postura “frágil”, pois os meliantes aproveitam muitas vezes aquelas raparigas que se revelam frágeis ou “assustadas”. A forma de vestir também atrai e pode facilitar as intenções dos potenciais violadores. Por isso, opte por roupas pouco vistosas. 3 Lugar errado, hora errada. NÃO ande sozinha em ruas estreitas, nem em bairros mal-afamados à noite. Ao sair ou dirigir-se à escola, festa, discoteca ou outro local durante a noite, procure sempre andar em grupo e não muito distante da berma da estrada e em locais com movimento de transeuntes. Deve, sempre que possível, evitar andar em locais desconhecidos, fazer-se acompanhar de desconhecidos e em horas e locais de pouco movimento. 4 Não abuse da sorte e procure pernoitar no local (no caso de festas, discotecas, etc.) até o amanhecer do dia. Mas, duma forma geral, há um conjunto de conselhos que se dá às pessoas para se reduzir o número de vítimas de violação e abuso sexual: •Não aceite boleia e bebida de desconhecidos. •Não entre num táxi sem passageiros ou onde só estejam rapazes, e ao entrar num táxi fixe discretamente a matrícula e o motorista e cobrador. •Em festas ou entre amigos, não beba em demasia e não ingira substâncias que desconhece. •Enquanto estiver a comer ou a beber, não perca de vista o prato ou copo e se estiver para ir dançar, consuma primeiro o conteúdo. A forma de vestir trai e pode facilitar as intenções dos potenciais violadores. Optar por roupas pouco vistosas reduz o risco de violação Mantenha a calma e tente fixar o maior número de indicadores que lhe permitam descrever o agressor: cor e corte do cabelo; cor dos olhos; cicatrizes; sotaque; altura, possíveis tatuagens, outras características, quer do agressor, quer do veículo, se existir, como, marca, cor, matrícula, o caminho por onde seguem, etc... Não faça uma higiene profunda, a nível ginecológico, sem ser vista/o antes por um médico ou perito. Preserve todas as peças de roupa que vestia na altura da violação, sem as lavar. Preserve qualquer objecto que lhe pareça ser pertença do agressor. Dirija-se à esquadra da Polícia mais próxima ou a qualquer instituição do Estado que houver nas proximidades e o mais rapidamente possível. As peças de roupa e os objectos, referidos anteriormente, são para entregar na altura da apresentação da queixa. Mesmo que não queira se expor, NUNCA DEIXE DE APRESENTAR QUEIXA. Caso a vítima seja criança (ao encarregado de educação): Esteja atento aos sinais exteriores manifestados pelas crianças, que podem revelar situações de abuso sexual. Se a criança verbalizar os factos, não dramatize, pelo menos na sua presença. A criança verbaliza de forma natural e sem ter a noção da gravidade do problema. Não duvide do que a criança conta. Geralmente as crianças não inventam nem têm fantasias sexuais, pelo menos até à fase da pré-adolescência. Procure ajuda de especialista nos serviços de urgência dos hospitais pediátricos. Participe os factos aos órgãos de polícia ou às instituições que velam pelos direitos das crianças. 62 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 internacional Interpol Abuso sexual de menores na alçada da Interpol A Interpol deu o primeiro passo para instituir o seu gabinete Anti-Corrupçao de capacidade operativa para a recuperação dos artigos a nível internacional. O recente atentado frustrado vivido no voo transatlântico nos recorda com tristeza de que nada nem nenhum país devem baixar a guarda perante a ameaça terrorista e que a cooperação entre todas as regiões do mundo é essencial, declarou o Secretario Geral da Interpol, Ronald Noble. “Sendo a Interpol a maior organização policial do mundo, não devem esquecer que todos os crimes têm também alcance local, e o trabalho empreendido durante este ano (2009) em colaboração com os nossos países membros manifestaram o nosso compromisso de prestar apoio as polícias de bases e aos cidadãos de toda a comunidade” afirmou, Ronald Noble. Actualmente, estão conectados à base de dados internacional da Interpol sobre a exploração sexual de menores cerca de 60 operadores pertencentes a 12 países, o que permitiu, até aqui, a identificação de mil e 453 menores vítimas de abusos sexuais em todo mundo. O ano de 2009 representou um grande avanço na vida desta segunda maior organização mundial, só superada pela ONU em termos de associados. À reunião ministerial organizada pela Interpol e as Nações Unidas participaram mais de 60 ministros, traçou-se um plano daquilo que consideram ser o reforço da acção policial nas operações de manuten- ção e consolidação da paz como actividade prioritária para a segurança internacional. A abertura oficial do Gabinete do Representante Especial da Interpol junto da União Europeia e a Criação do Gabinete Regional da Interpol em Yaoundé são outros dos grandes acontecimentos que a maior Organi- A primeira operação policial realizada pela Interpol de combate aos crimes abusos de menores na África Ocidental, designado BIA, foi realizada com êxito, culminando com o resgate de mais de 50 crianças forçadas a trabalhar e detidas as pessoas implicadas na contratação ilegal de menores. zação Policial do mundo conheceu em 2009. Nesse ano insistiu-se também na inovação, com a criação do passaporte da Interpol e a organização reforçou o compromisso de apoiar os 188 países membros no combate a criminalidade transnacional oferecendo as suas bases de dados, instrumentos e serviços que podem ser acedidos pelos funcionários encarregados da aplicação de lei nos vários pontos geográficos. As unidades de gestão de crises de apoio aos grandes eventos enviadas em diversos lugares do planeta para ajudarem os países membros a fazerem frente a diversos acontecimentos, entre eles a identificação de 51 pessoas vítimas do recente acidente de viação da companhia área Air France AF447, no mês de Junho de 2009, na costa do Brasil. A pedido do presidente dos Camarões, a Interpol enviou a este país africano uma unidade para ajudar os investigadores na identificação e devolução e de um grande volume de artigos roubados em outros países, o que constitui um primeiro passo para instituir o gabinete da Interpol Anti-Corrupçao de capacidade operativa para a recuperação dos artigos a nível internacional. Igualmente, esta em marcha a rede IBIN da Interpol, que proporciona aos países membros uma plataforma na partilha e comparação a nível internacional dos dados sobre balística. 63 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Interpol vira-se contra a pirataria E m Setembro de 2009 realizou-se a primeira reunião do grupo de trabalho da Interpol sobre a pirataria marítima no corno de África. Ainda ao longo do ano, cerca de 3.000 funcionários das forças da ordem do mundo participaram no curso de especialização ao combate no aumento de crimes, bem como se apresentou, oficialmente, um programa da Interpol sobre crimes contra o meio ambiente. Em Novembro, o representante do secretariado geral da Interpol convenção sobre comércio internacional das espécies ame- Pirtatas Somalis ainda são ameaça real Ao longo ano findo, levou-se a cabo nove milhões de buscas na base de dado da Interpol sobre roubos de viaturas (que contêm mais 6.200.000 viaturas), um número quase três vezes superior ao de 2008. Mas, há mais: a base de dados da organização sobre impressões decatilares superou mais de 100.000 registos. Em Agosto de 2009 foi criada uma linha de acesso directo na base de dados da Interpol sobre obras de artes roubadas que permitirá aos utilizadores autorizados comprovarem imediatamente se determinado objecto faz parte dos 34.000 registados na referida base de dados. Entre outros ganhos há a assinalar o facto de terem sido publicados mais de 4.500 anúncios vermelhos da Interpol sobre pessoas procuradas a nível internacional, a primeira operação infra-vermelha (virada aos prófugos a nível internacionais anúncios vermelhos), dirigida contra os prófugos e levado acabo em coordenação com os países membros, que logrou com a localização e detenção de 45 pessoas em todo planeta. Igualmente no âmbito do progra- ma OASÍS (que tem como objectivo a prestação de apoio operativo, serviços e em matéria de infra-estruturas) para África, financiando pela Alemanha, foram executados uma serie de operações precedidas da importação in sito de recursos preparatório correspondentes entre eles os denominados OMOJA III e GBANDA III dirigido ao roubo de viaturas, Costa, maior operação transnacional realizada em África para o combate aos crime contra a fauna e a flora e Zambezi, contra o tráfico de medicamento falsificado. A primeira operação policial realizada pela Interpol de combate aos crimes abusos de menores na África Ocidental, designado BIA, foi realizada com êxito, culminando com o resgate de mais de 50 crianças forçadas a trabalhar e detidas as pessoas implicadas na contratação ilegal de menores. Além disso, uma série de buscas foram efectuadas em diversos países da América do Sul, o que marcou a operação JUPITER, tendo sido apreendidos artigos de pirataria e falsificados avaliados em mais de USD 130.000.000. açadas da fauna e flora CITES, o gabinete das Nações Unidas contra a droga e o crime (UNODC), e a Organização Mundial Aduaneira (0NA), realizaram em Viena a sua primeira reunião conjunta para traçar estratégias viradas a prevenção e combate do comercio ilícito de espécies da fauna e flora. Após a criação dos passaportes da Interpol, o Paquistão, Ucrânia, Camarões e a Republica Democrática do Congo figuram entre os primeiros países que acederam e não exigem vistos aos funcionários da Interpol que viajam em nome da organização. Já em Dezembro, a Interpol, em respostas a uma solicitação da FIFA, contribuiu para a criação de um grupo especial internacional encarregue de combater as apostas ilegais no futebol. Entre os êxitos que mais se destacaram em 2009 destacam-se o facto de Samoa se ter tornado o 188º país membro da Interpol, o de o secretariado-geral, situado em Lyon (França), ter intermédio mais de 12 milhões de mensagem aos gabinetes centrais e nacionais e de se ter realizado, em todo mundo, mais de 300 milhões de buscas nas bases de dados da Interpol sobre documentos de viagem roubados e extraviados, que contem cerca de 20 milhões de registos. 64 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 internacional Moçambique Polícia moçambicana redobra esforços para o estancamento da criminalidade Numa curta entrevista concedida à Revista Tranquilidade, o então segundo comandante da Polícia moçambicana, comissário Jaime Basílio Monteiro, que efectuou, no ano passado, uma visita a Angola, afirmou que a Polícia redobra esforços para que a criminalidade não venha a crescer significativamente em Moçambique. 65 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 “O Yolanda Dias combate à criminalidade não é um problema exclusivo da Polícia. As próprias comunidades também trabalham para que o fenómeno, que ameaça a ordem pública, deixe de existir ou diminua consideravelmente”, sublinhou o comandante Jaime Basílio Monteiro. À leitura. Como a criminalidade tem sido encarada em Moçambique? Como qualquer país, Moçambique também vive de trocas comerciais praticadas não só por nacionais, como também por imigrantes. Como o tráfico de drogas, a prostituição e o tráfico de seres humanos podem ser desenvolvidos neste círculo, a Polícia moçambicana redobra esforços para que esses fenómenos não venham a crescer significativamente. A sociedade moçambicana ganhou consciência de que a criminalidade é um fenómeno que envolve toda a sociedade. O nível de solidariedade para com a Polícia, no que toca ao assunto, cresceu, o que leva a população a não hesitar na denúncia de actos criminosos. Também foram criados milhares de conselhos de policiamento comunitário e esta é uma realidade que estimula, encoraja e desperta, dentro da própria comunidade, o interesse de lutar contra este mal. Será que o combate à criminalidade é um problema exclusivo da Polícia? O combate à criminalidade não é um problema exclusivo da Polícia. As próprias comunidades também trabalham para que o fenómeno, que ameaça a ordem pública, deixe de existir ou diminua consideravelmente. Como é feito o recrutamento do pessoal que é integrado na Polícia em Moçambique? As formas de recrutamento acabam por ser as mesmas, uma vez que os níveis de exigência são os mesmos. Acabamos de ouvir que Angola combina a formação profissional com a académica, uma vantagem bastante apreciada na perspectiva de se eliminar as lacunas da formação académica e de se ajustar às exigências da corporação. Nós também já tivemos essa experiência e hoje temos estado a recrutar pessoas com um nível académico já aceitável para a qualidade profissional que se deseja do polícia. Que experiências Angola pode beber de Moçambique, que já tem uma academia de polícia, enquanto a Polícia angolana está ainda na criação de condições para ter uma instituição académica similar? O reitor da nossa academia há já algum tempo que tem estado a manter contactos com a Polícia angolana para a troca de experiências. Também temos vindo a encorajar a Polícia angolana para a concretização do projecto. “O combate à criminalidade não é um problema exclusivo da Polícia. As próprias comunidades também trabalham para que o fenómeno, que ameaça a ordem pública, deixe de existir ou diminua consideravelmente.” Até que ponto os oficiais superiores, que saem da academia, têm contribuído para a eficácia do trabalho da Polícia de Moçambique? Actualmente, estamos na era das tecnologias de informação. O polícia formado em 1975 não teve a sorte de contar com essa ferramenta de trabalho. Os novos já sabem lidar com essa ferramenta a fim de melhorar a nossa prestação. O balanço que fazemos é animador. De que maneira é feito o enquadramento dos técnicos superiores que saem da academia? Quando saem, trabalham, primeiro, durante um período de tempo, em missões rigorosamente operativas. Depois desse período passam para funções de direcção, ainda a nível de base, e daí vão crescendo para outros níveis, médios e centrais. É importante que bebam da base algum saber de enfrentamento directo com bandos de criminosos e saibam como operacionalizar as relações com as comunidades, quer nacionais, quer estrangeiras. Também devem traduzir na prática aquilo que receberam teoricamente, por forma a que, quando chegarem a outros níveis, estejam em condições de compreender os diferentes fenómenos no terreno. A patente e o local onde vai trabalhar o polícia saído da academia são assuntos tratados pela mesma? A academia trabalha com o Comando-Geral para definir a orientação efectiva desses oficiais. Que balanço faz da sua visita a Angola? Conseguimos atingir a totalidade dos nossos objectivos, como ter disponibilidade de espaço para os nossos agentes interagirem com os da Polícia de Angola durante a realização do Campeonato Africano das Nações, experiência que nos será muito proveitosa para os Jogos Panafricanos, que se vão realizar em Moçambique. Também aproveitamos para reforçar a cooperação entre Moçambique e Angola, assim como para trocar experiências, tudo de forma a actualizar as nossas relações. Resumindo, o balanço é positivo, extraordinário. 66 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 cultura Luanda É Rui Manuel se registaram não só os roubos, mas, também, actos de vandalismo. lógico pensar-se que um Mas, apesar do roubo, o museu cidadão comum não se ainda guarda, nas suas instalações, atreve em tomar de assalto mais de três mil peças, entre as quais uma instituição militar para se apocanhões, que podem ser vistos logo derar dos haveres aí existentes. à entrada, várias estátuas de figuras Porém, esse pensamento é merada era colonial, armas ligeiras, depomente ilusório. O então Museu Central das Forças Armadas, situado na Fortaleza de São Miguel, fundado em 1576, por Paulo Dias de Novais, primeiro governador português em Angola, já foi alvo da acção de meliantes. A revista Tranquilidade fez uma incursão a vários museus da cidade de Luanda, para saber do seu asseguramento e da manutenção do seu acervo. O último roubo ocorrido no agora baptizado Museu Nacional de História Militar, em obras há mais de um ano, a cargo do Gabinete de Obras Especiais, O último roubo ocorrido no agora baptizado Museu Nacional de História aconteceu em 1992. Uma fonte ligada à ins- Militar, em obras há mais de um ano, a tituição museológica cargo do Gabinete de Obras Especiais, explicou que os ladrões aconteceu em 1992. levaram consigo vários artigos, entre os quais cinco canhões de artilharia, que pesam, cada um, cerca de 200 quilos, várias armas ligeiras e até fardamento militar. “É um material de importante valor comercial, por ser feito de bronze, de alta qualidade, cuja produção data de há mais de 500 anos. Importantes álbuns de fotografias também foram alvos de actos de vandalismo”, adiantou ainda a mesma fonte. O material roubado foi fundido mesmo cá no país e, depois, comercializado na vizinha República da Namíbia, acrescentou a fonte, que deplorou o acto. Disse acreditar que o roubo só aconteceu porque, na altura, a Fortaleza estava quase que votada ao abandono e desguarnecida, na sequência do conflito armado registado na cidade de Luanda, depois da realização das eleições. Assim, foram ali instaladas várias instituições militares, devido a então situação, e foi naquele período que Fortaleza de São Miguel já sofreu assaltos sitadas em dois contentores, e outros objectos de interesse histórico. O espólio é, maioritariamente, constituído por equipamento capturado aos exércitos sul-africano, zairense, português e, também, por material de guerra usado pelos então movimentos de libertação de Angola. O museu guarda ainda o primeiro Bilhete de Identidade emitido na Angola independente, cujo titular foi o Presidente António Agostinho Neto, que proclamou a independência do país no dia 11 de Novembro de 1975. É opinião de muitos entendidos na matéria que o mais importante espólio são as instalações do museu, ou seja, a Fortaleza de São Miguel, um monumento histórico-militar, construído com o objectivo de defesa da Ilha, do porto e da própria cidade. A sua localização geográfica atrai inúmeros turistas estrangeiros, que, ao chegarem à entrada da Ilha do 67 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Cabo, ficam maravilhados com a obra deixada pela administração colonial portuguesa. Brasileiros e franceses estão entre o rol de turistas estrangeiros que mais visitaram o museu até à altura do seu encerramento, há mais de um ano, para obras de reabilitação. Uma média diária de 100 pessoas, entre nacionais e estrangeiras, visitavam o museu. Quanto ao asseguramento, a fonte diz que existe, actualmente, um corpo de guarnição constituído por seis elementos, mas todos eles civis. Projecta-se uma equipa de pelos menos 10 homens, no caso militares, pois, como justificou, um elemento fardado, e para o tipo de serviço que se pretende, impõe mais respeito. Em estudo está a questão de se os mesmos poderão ou não ser portadores de armas ligeiras, ou simplesmente de porretes, disse a fonte. Casa Museu Óscar Ribas bem protegida B em no centro da cidade de Luanda está localizada a Casa Museu Óscar Ribas, uma das maiores referências culturais angolanas. Edifício construído há mais de cinco décadas, a instalação foi doada à extinta Secretaria de Estado da Cultura, em 1983, pelo escritor e etnólogo angolano Óscar Ribas, nascido aos 17 de Agosto de 1909, em Luanda, e falecido aos 19 de Junho de 2004, em Portugal. Possui nove salas, distribuídas por três pisos, encontrando-se, no primeiro, a recepção e sala de trabalhos, o depósito legal e a sala de estudos. No segundo, encontra-se a sala onde o escritor recebia os convidados, a sala de jantar e a sala de estar, en- quanto o terceiro destina-se ao depósito de jornais, todos eles encadernados, livros em braille e outros objectos, que não se encontram em exposição. De uma maneira geral, o espólio da instituição é composto por artigos e haveres que pertenceram ao escritor. Na visita ao museu, e no intuito de se saber da protecção e manutenção do seu acervo, foi-nos dito que o mesmo está intacto, ou seja, nunca houve saque, nem tentativa de roubo. A confirmar, um funcionário de longa data ligado aos museus foi peremptório em dizer que, “estou no museu há três anos e nunca tivemos relatos de assaltos ou roubos”. “Como vê, a instituição está bem protegida”, disse, referindo-se à estrutura metálica que protege, quase na totalidade, o edifício, onde um guarda em serviço é visto constantemente. Actos de vandalismo no Museu da Escravatura A revista Tranquilidade foi informada de que a segurança no Museu da Escravatura é quase total, e que actos de vandalismo ali registados são consubstanciados na deposição de garrafas de refrigerante e de cerveja no local, por parte de alguns visitantes. Outra atitude menos correcta é a inscrição de alguns dizeres nas paredes do museu. Marcas de mãos são notórias nas paredes brancas do museu, um edifício construído no século XVIII e que pertenceu ao fidalgo português Álvaro de Carvalho Matoso. Entretanto, as mais de 100 peças, maioritariamente utilizadas na época do tráfico de escravos, estão seguras e bem protegidas. Correntes metálicas, algemas e outros meios usados para a segurança dos escravos não são do interesse de meliantes. Pinturas que retratam a escravatura e uma pequena capela no seu interior para baptismo dos escravos são, ainda, parte do acervo histórico-cultural do museu, criado no dia sete de Dezembro de 1977. 68 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 cultura Tarrafal História duma luta gravada no cárcere Pelo hábito de ouvirmos dizer que quando se conta um conto, um ponto se acrescenta, provavelmente podemos ser levados a pensar que são exagerados os pontos juntados à história do campo de concentração de Tarrafal, ligados aos horrores vividos nas suas celas por pessoas que mais não faziam senão apregoar o direito à igualdade e à liberdade de outros homens. Mas não, pois quem por lá for passar vai perceber que a realidade superaria qualquer ficção! L António Quino ogo à entrada, no seu vasto pátio, sentimos, na parte de fora do antigo campo de concentração do Tarrafal, criado pelo regime fascista de Salazar, aquela sensação de estarmos a visitar o passado. Longos e compridos muros, não muito altos, mas o suficiente para encobrir a vista e resguardar o seu interior como uma virgem protegendo as suas virtudes. Paredes caiadas, frias, com um ar aconchegante beijado pelo verde da vegetação, contrapondo a cena que os tempos de centro de reclusão conferiam à casa. Ainda no exterior do campo, no lado esquerdo, está instalado uma estrutura parecida às “casas” de contentores, onde funciona a administração do “museu” do Tarrafal, que trata da conservação do seu acervo, uma questão surradamente debatida durante o Simpósio Internacional sobre o Tarrafal, realizado entre Abril e Maio de 2009. Foi nesse recanto onde li a história daquele inseparável “chapeuzinho” que o kota Mendes de Carvalho usa: “Conheci muitos deles [guineenses]. Quando saí da cadeia fui lá. Um deles é que me ofereceu a sumbia, que eu guardei para não despertar a atenção dos responsáveis da cadeia [Tarrafal]. Mas depois de sair da cadeia passei a usar a sumbia até hoje”, lê-se no testemunho que o kota legou. Mas a curiosidade em descobrir o que havia para lá dos muros aligeirou a minha passada. Então, entrei. Passei pelo portão e vi um corredor em céu aberto, com algumas árvores no lado esquerdo e no fundo uma casa amarela, que mais adiante merecerá uma devida descrição. Dos dois lados havia portões que davam acesso aos lugares de reclusão propriamente dito. Mas avançamos para a do lado direito, onde a história de muitos nacionalistas africanos ficou inscrita nas várias celas, na câmara de tortura “frigideira”, etc. A dureza que ali havia pode ser encontrada no testemunho de Joel Pessoa, recluso em Tarrafal entre 1970 e 1974: “O Tarrafal era uma prisão para o resto da vida. Se não fosse o 25 de 69 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Abril, nós iríamos morrer todos lá. Se não fosse o 25 de Abril nós não éramos nada”. Havia os maus-tratos de toda a fortuna, nomeadamente “sem possibilidade de ferver a água inquinada, sem mosquiteiros, sem medicamentos, com má alimentação, trabalhos forçados, espancamentos, semanas na «frigideira»” e psicológicos. Na senda dos maus-tratos, Armando Ferreira da Conceição conta, no seu testemunho, que, num certo dia, lhe mandaram tirar a roupa, pelo que ele retrucou: “Senhor director, desculpe, mas aquele velho ali é meu pai. Tenho pudor e respeito em não me despir diante dele”. O responsável da cadeia, sem meias palavras, terá respondido: “Não quero saber e não quero ouvir mais nada. Trate de tirar a roupa”. Havia ainda a “Holandinha”, um local onde quem lá fosse parar só tinha direito a pão e água. Era uma câmara pequena, com cerca de 2 metros de comprimento, um de largura, 1,80 metros de altura, uma porta pequena e uma fresta de ferro, situada no interior da cozinha principal do campo. Pelo testemunho do cabo-verdiano Gil Querido Varela, “puseram um angolano lá e como tínhamos mobilizado um dos polícias, através dele, na hora da refeição, deixávamos um prato para esse polícia levar ao preso angolano”, algo corroborado pelo nacionalista angolano Augusto Kiala Bengue. Se para alguns Tarrafal era uma espécie de certificado de morte, para outros não foi tanto assim. Jaime Cohen (1970/73) conta que saiu de Tarrafal um pouco antes de 1974 porque a sua família e outras conseguiram um “habeas corpus” através de uns advogados progressistas portugueses. “O Juca Valente saiu primeiro. Eu, Bernardo Teixeira e o Gilberto de Carvalho fomos retirados de Tarrafal para Lisboa e ficamos em Caxias e depois enviados para o Campo de Concentração de São Nicolau, a sul de Angola, onde as condições prisionais eram bem piores que no Tarrafal. Certamente a ideia transmitida pelo testemunho de um outro nacionalista angolano, Vicente Pinto de Andrade, em Tarrafal entre 1970 e 1974, sendo mais conciso é também muito elucidativa: “A ideia principal era: vim para aqui e não sei se sairei daqui”. Quis o momento que a 17 de Junho 1961 reabrisse o campo de concentração de Tarrafal com o nome de campo de trabalho de chão bom, outrora destinado a presos políticos portugueses. A data de 25 e 28 de Fevereiro de 1962 tem o seu grau de importância para os angolanos porque foi nesse período que chegaram os primeiros 31 presos angolanos, entre eles José Diogo Ventura (1962/69), Agostinho Mendes de Carvalho “Uanhenga Xitu”, (1962/70), Carlos Alberto Van-Dúnem “Beto Van-Dúnem” (62/67), João Fialho da Costa (62/65), Manuel Bernardo de Sousa (62/69), André Franco de Sousa (62/63) e muitos outros, os irmãos Justino e Vicente Pinto de Andrade (1970/74), António Jacinto do Amaral Martins (1960/72). A 4 de Setembro de 1962 embarcam os primeiros presos guineenses. Entre 1969 e 70 construiu-se as muralhas e torres de vigia. Existia já uma cela exclusiva para angolanos, embora hou- Havia os maus-tratos de toda a fortuna, nomeadamente “sem possibilidade de ferver a água inquinada, sem mosquiteiros, sem medicamentos, com má alimentação, trabalhos forçados, espancamentos, semanas na «frigideira»” e psicológicos vesse lá alguns prisioneiros da Guiné-Bissau, como Manuel Neves trindade. A “cela” destinada aos angolanos é uma nave comprida, com cerca de 45 metros de comprimento e 20 de largura, tendo ao fundo um lavado e os urinóis. Colada a si está a cela dos guineenses. O poeta e jornalista angolano, José Luís Mendonça, escreveu sobre o assunto, numa “crónica de Tarrafal”: Eu sempre pensei que o escritor Wanhenga Xitu e o Luandino Vieira dormissem cada um na sua cela, onde escreveram as suas obras, quando estiveram no Tarrafal. Mas quando […] entrei nas celas onde os nossos nacionalistas viveram mais de uma década das suas vidas e escreveram os mais belos contos e novelas da nossa terra, fiquei embrutecido. Aquilo era uma caserna militar onde enlataram os nossos irmãos em beliches, ao pé de amplas janelas por onde entrava o vento frio nas noites do Harmatão africano. Lá encontrei também uma designada Cela disciplinar, uma espécie de solitária onde colocavam os prisioneiros na solitária a pão e água. É um conjunto de quatro celas pequenas e no fundo do corredor há um quarto de banho comum. Muitos bons filhos dos hoje estados membros dos Palop estiveram detidos no Tarrafal, como os angolanos José Luandino Vieira (1964/ 72), Lopes Sanguia (70/74), Lopes Sachiquenda (70/74), Augusto Kiala Bengue (70/74), os Guineenses Constantino Lopes 70 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 cultura Tarrafal da Costa, Cândido Joaquim da Costa, Carlos Sambú, Mário Soares, os cabo-verdianos Gil Querido Varela, Arlindo Reis Borges, António Pedro da Rosa, Fernando dos reis Tavares, Alberto Sanches Semedo, Ananias Gomes Cabral, Carlos Dantas Tavares, Luís Furtado Mendonça, etc. Descrevendo o modo como eram tratados à chegada, Justino Pinto de Andrade conta: “Fomos encostados a um sítio, todos em fila, revistados depois levados para o campo. O director do campo, Eduardo Santos, foi ter connosco e apresentou-se. Era um indivíduo com uma educação meio marcial. Tinha feito o curso de administração colonial e tinha sido administrador em Angola, claro deu-nos as boas vindas e disse quais eram os nossos direitos e deveres e a isso juntou um pouco do seu carácter diplomático, que tinha também”. Já que fora das cercanias do campo, os pântanos, mosquitos e paludismo cuidavam dos reclusos, várias estruturas dentro do campo serviam para dar corpo aos intentos do regime colonial português, tais como o posto de socorro e casa mortuária, a frigideira e o poço do chambão, colónia penal que incluía casernas e oficinas, etc. O posto de socorro e casa mortuária (a tal casa amarela a que nos referimos parágrafos atrás), que era suposto ser um local de tratamento dos enfermos, reflectia, no fundo, a ideia do regime colonial, muito por culpa dum senhor chamado Esmeraldo P. Prata, nomeado médico do campo de concentração de Tarrafal em finais 1966, e que só em Abril de 1967 se fez presente. Talheira foi a alcunha com que ficou conhecido no campo. Num testemunho de José Barata Júnior, inscrito no espaço físico onde no passado funcionou o posto de socorro e casa mortuária do campo, pode ler-se: “O posto de socorro e casa mortuária, entre os pavilhões B e C, em frente ao portão principal do campo, ao fundo há uma construção diferente de todas as outras, um pequeno pavilhão de quatro paredes caiadas, acre, janelas e porta em madeira, e A cantaria vermelha, dividido em duas pequenas salas, uma era a sala de espera dos presos doentes e outra para o consultório médico, que também servia de casa mortuária, o que estava frequentemente de acordo com o médico de campo, que mais gostava de assinar certidões de óbito do que tratar dos doentes. (…). A dor dos doentes deixava-lhe [o médico do campo, Esmeraldo Prata] indiferente e a meio da noite ai assistir aos espancamentos. O muito ódio que nutria por nós, era frio e usava a medicina como arma coçaria. Como médico, podia atingir-nos de várias formas. Além de médico do campo era delegado de saúde e administrador do conselho de Tarrafal”. Havia também a chamada frigideira. Como se pôde ler no Dossier Tarrafal (Vários Autores, Colecção Resistência, Edições Avante, editado em Outubro de 2006, www.pcp.pt/index.php, “A frigideira era uma caixa de cimento, construída perto do aquartelamento dos soldados angolanos. Tinha uma forma rectangular. O tecto era uma Um dos aspectos espessa placa de betão. Uma parede que também feria o direito à liberdade dividia-a interiormente em duas celas de muitos reclusos quase quadradas. Tinha cada uma deestá no facto de, no las a sua porta de ferro, perfurada em Campo do Tarrafal, baixo com cinco orifícios onde mal se podia enfiar um dedo. Por cima, junto muitos dos presos ao tecto, havia um postigo gradeado não terem sido em forma de meia-lua com menos de julgados ou de cinquenta centímetros de largura por há muito terem uns trinta de altura. Estava exposta cumprido ao sol de manhã à noite. Lá dentro a sua pena era um forno. Aquela prisão merecia o nome que os presos lhe davam: a frigideira. O sol batia na porta de ferro e o calor ia-se tornando sempre mais difícil de suportar. Íamos tirando a roupa, mas o suor corria incessantemente. A frigideira teria capacidade para dois ou três presos por cela. Chegámos a ser doze numa área de nove metros quadrados. A luz e o ar entravam com muita dificuldade pelos buracos na porta e em cima pela abertura junto ao tecto. Quatro passos era o percurso de uma parede a outra. Dentro havia uma constante penumbra”. As condições em que a água para consumo chegava do poço do chambão aos reclusos também mereceram referência nos testemunhos dos ex-presidiários. “No Campo do Tarrafal, a água que nos estava destinada vinha de um poço, situado a uns setecentos metros. Ali se juntavam mulheres e crianças. frigideira teria capacidade para dois ou três presos por cela. Chegámos a ser doze numa área de nove metros quadrados. 71 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Vinham de bem longe com as suas vasilhas. Carregavam-nas à cabeça e seguiam para suas casas. Era esta a água que bebíamos. Estava contaminada com excrementos de cabras e burros lazarentos que ali iam beber todos os dias. Pelo tempo das chuvas, raras mas torrenciais, as enxurradas que desabavam das montanhas arrastavam consigo burros, cães, aves mortas. O poço ficava no caminho das torrentes e com a sua água bebíamos também a outra, a das chuvadas que corriam para o oceano. Ficava o poço a uns duzentos metros do mar que se infiltrava e tornava integralmente salobra a água que bebíamos. Pelas marés vivas mais salgada era ainda”. Um dos aspectos que também feria o direito à liberdade de muitos reclusos está no facto de, no Campo do Tarrafal, muitos dos presos não terem sido julgados ou de há muito terem cumprido a sua pena. Erga-se, ó Tarrafal… O campo de concentração do Tarrafal não nasceu assim à toa, não. Em 1926, a maré reaccionária que alastrava na Europa chegou a Portugal. A 28 de Maio um golpe de Estado militar instaura a ditadura. Começava, para o povo português, um período negro de repressão, obscurantismo, miséria e opressão, que se prolongou por quase meio século. Esse golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 fez Portugal um país sob ocupação militar e policial, num regime de opressão, repressão e exploração – a que chamaram «Estado Novo». Claro que um regime assim só poderia fazer mártires e muitos portugueses se sublevaram, protestando contra as sevícias praticadas pelo regime. Mas Salazar e pares não estavam para oferecer flores a estes contestatários. E tal como o Hitler criara os campos de concentração exclusivo para judeus, o Estado Novo de Salazar investiu nos campos de reclusão para disciplinar os que teimavam em desafiá-lo. A Colónia Penal do Tarrafal, situada no lugar de Chão Bom do concelho do Tarrafal, na ilha de Santiago (Cabo Verde), foi criada pelo Governo português do Estado Novo a 23 de Abril de 1936, com o objectivo claro de desterrar “aqueles que, internados em outros estabelecimentos prisionais, se mostram refractários à disciplina e ainda os elementos perniciosos para outros reclusos”. Só seis meses depois é que recebeu os primeiros 152 detidos, entre os quais se contavam participantes do 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande e marinheiros que se tinham amotinado a bordo de um navio de guerra no Tejo. Como se pode ler no wikipédia, o Campo do Tarrafal, ou Campo de Concentração do Tarrafal, como ficou conhecido, começou a funcionar em 29 de Outubro de 1936, com a chegada dos primeiros prisioneiros. “O Estado Novo, sob a capa da reorganização dos estabelecimentos O nome Tarrafal provém do facto de na região abundar plantação de tarrafes, planta do género tamarix, nativa de áreas mais áridas da Europa, Ásia e África, havendo entre elas algumas que crescem em solos salinos prisionais, ao criar este campo pretende atingir dois objectivos ligados entre si: afastar da metrópole presos problemáticos, e, através das deliberadas más condições de encarceramento, enviar um sinal de que a repressão dos contestatários será levada ao extremo”. O nome Tarrafal provém certamente do facto de na região abundar plantação de tarrafes, uma planta do género tamarix, nativa de áreas mais áridas da Europa, Ásia e África, havendo entre elas algumas que crescem em solos salinos. As suas folhas assemelham-se a escamas, de 1 a 5 mm de comprimento, sobrepondo-se umas às outras ao longo do ramo. Desde 1945 que as manifestações públicas contra a manutenção do campo de concentração de Tarrafal passou a ser mais visível e acutilante. Quando a 26 de Janeiro de 1946 embarcam com destino a Portugal os presos «amnistiados» do Campo de Concentração do Tarrafal marcou o primeiro passo para que entre 1952-1953 a luta pela amnistia se tornasse uma das importantes frentes de acção e unidade das forças democráticas portuguesas, até que a 26 de Janeiro de 1954 é encerrado o Campo de Concentração do Tarrafal. No entanto, em 1961, o governo de Salazar reabre o Campo de Concentração do Tarrafal, sob a denominação de Campo do Chão Bom, desta feita destinado aos cidadãos 72 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 cultura Tarrafal EU PENSO, LOGO DELIRO dos mo vimentos de libertação das colónias portuguesas. A Agência lusitana, na cidade da Praia, Ilha de Santiago, noticiava que foram postos em liberdade todos os presos de Cabo verde, Angola e Guiné, que se encontravam detidos no estabelecimento prisional na Ilha de Santiago. Foi emocionante o momento de libertação dos presos e o seu encontro com os familiares, amigos e muito povo que os aguardava. A libertação foi promovida por uma comissão que integrava o major Valdês dos Santos, consultor jurídico Dr. Simões e os advogados Arlindo Vicente, Horton Almada e Vieira Lopes, sendo os três últimos naturais de Cabo Verde. Num testemunho de Justino Pinto de Andrade, lê-se: “No dia 1 de Maio de 1974, ouvimos muito barulho vindo da parte de fora do campo. Eram palavras de ordem que aumentavam a cada momento: viva o PAIGC, viva o MPLA, viva a FRELIMO. Libertem os presos. Viva Amílcar Cabral. Viva Guiné e Cabo Verde. Viva Angola. Viva Moçambique. Abaixo o colonialismo. Morte ao fascismo. Viva a liberdade Hoje, a estrutura aonde se alojara o campo de concentração de Tarrafal foi transformado em Museu da Resistência, integrado no projecto de preservação e musealização do ex-Campo de Concentração do Tarrafal, com o objectivo, a longo prazo, da sua declaração como Património da Humanidade. N um testemunho de Justino Pinto de Andrade, lê-se: “No dia 1 de Maio de 1974, ouvimos muito barulho vindo da parte de fora do campo. Eram palavras de ordem que aumentavam a cada momento: viva o PAIGC, viva o MPLA, viva a FRELIMO. Libertem os presos. Viva Amílcar Cabral. Viva Guiné e Cabo Verde. Viva Angola. Viva Moçambique. Abaixo o colonialismo. Morte ao fascismo. Viva a liberdade Nos bons tempos da escola e quando se tocasse na questão da luta pela independência das ex-colónias portuguesas, sempre ouvi falar da cadeia de Tarrafal, ao lado da de Caxias, as denominadas São Nicolau e outras, aonde nacionalistas eram encarcerados e torturados. Confesso hoje que descompreendia aquilo que diziam nos manuais com reforço dos professores das minhas primária e secundária. Na verdade, não tinha o pingo de ideia das sevícias por que passavam aqueles heróis, muitos deles hoje anónimos sobreviventes e incógnitos defuntos. Foi preciso ir a Cabo Verde descomprimir a incompreensão. E do Pico da Antónia, o mais alto do arquipélago, gravei no disco duro da retina a imagem da elevação do enorme torrão de rocha penetrando por entre nuvens meio densas, fugindo do nevoeiro que recomenda prudência aos automobilistas que queiram sair ou chegar a, entre outros locais, Tarrafal, que não é só sinónimo de reclusão, pois se banha de belas paisagens, praias, restaurantes e pitéus. Numa curta passagem pela ilha de Santiago, levado a participar na II.ª Bienal do ensino da matemática, tecnologias e língua portuguesa, na cidade da Praia, pude chegar até ao antigo campo de concentração de Tarrafal. Havia pássaros a cantar, árvores que desconhecem a verticalidade, um verdejar invejável para o mundo do betão armado, delícias que terão convivido com a ausência da liberdade dos homens que sonhavam com a liberdade dos seus povos. Pássaros cantavam e voavam livremente, ao lado de “fidjos” que se encontravam na condição de prisioneiros por defenderem a liberdade dos seus. E vi Tarrafal. E revivi a história de Tarrafal, pelos testemunhos ilustrados nas paredes robustas que seguravam a valentia dos teimosos nacionalistas. E percebi que, tocando a sensibilidade humana, todo o homem deveria visitar casas ou projectos similares ao que Tarrafal representou no passado, para percebermos melhor a importância do respeito pela diferença e pelo próximo. Pelo amor ao próximo! Há acções que os estados deveriam promover e que seriam de seguimento obrigatório, como levar os seus cidadãos, até uma certa idade, em visitas guiadas a determinados lugares sócio-histórico determinantes na afirmação do nacionalismo, “para que Angola e os outros países africanos que lá viveram a reivindicação política dos seus presos resgatem condignamente a memória dessa luta travada a pão e água, a cavar pedras e a suar sal dentro dos muros do Tarrafal”, como se adiantou José Luís Mendonça. Provavelmente funcionaria como bálsamo ao orgulho nacionalista e ajudaria as pessoas a serem bem melhores em relação ao seu comportamento, hábitos e atitudes para com o país. Para com a sociedade. Para com o próximo. E para si mesmos. Talvez eu esteja apenas a delirar. Talvez, quem sabe… Ruy Aleixo conto 73 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 A lvoroço total. A criançada em divertimento incontido, “ Incêndio, incendioééé” – que alvoroço! Três casas de madeira sucumbiam à fervorosa e envolvente quentura das chamas. Era no muceque Golfe, atrás da casa de um famoso cantor da ribeirinha aldeia do N´guinbe, no Icolo e Bengo. A maioria do populacho desfazia-se em inquietações cúmplices pois, suas casas eram avizinhadas às sinistradas. Os bombeiros, três improvisados, representavam a esperança aquática daqueles moradores do largo da “Nga Lemba”, onde o Madaleno João era o mais rico, aparentemente. Afinal, o mais endinheirado, pelas posses de terrenos nos tempos em que trabalhou na Administração Municipal, era o Minguito; tinha até prédio, o sacana – de um andar. Gabava-se, o gajo. Gabava-se do coração p´ra dentro. Gabava-se. O Largo. Era uma extensão de quarenta por trinta e cinco metros quadrados, cujo centro era apontado num chafariz, aí implantado desde o tempo colonial. Dizem, os moradores, já carecas e carregados de cataratas, que um colono açoriano, o sô Machado, foi quem forçou à sua construção. Defronte da casa de pau-a-pique de Nga Lemba rebocada de espreitadelas medrosas (pois diziam que ela era quimbandeira do mal), existiu a casa - taberna do tal insular. Exceptuando esta, que era de tijolos e pintada de verde maduro, todas as outras habitações eram só de madeira ou pau-a-pique, sempre assobiadas pela brisa dos muxixeiros e de um embondeiro exótico onde os miúdos iam, à calada da noite, embater os seus falos com propósitos musculosamente masculinos. O areal era quente, voraz à respiração e aos poros. Porém, todos ali se aglomeravam; no sunguilo, tertúlias carnavalescas e nas partidas de futebol e de bilha ou buraca, além de ser o centro de trocas de juras de amores e combinações de infidelidades. - Mas como é que isto aconteceu, então? A pergunta fora atirada a um rapagão alto, estreito e muito afilado. Suas palavras em resposta pecaram pela distância, contrastaram com a sua altura e altivez; - Num sei – foram as duas únicas palavras soltas pelo interlocutor do mais velho Acácio. - Mas Don- Dom, você num é testemunha desde o princípio? - Num sei, ti Acácio. - Porra! Do nada surgiu um quarentão fardado a rigor. Envergava um uniforme da Marinha. Tinha galões avermelhados tal como as labaredas que se reflectiam nos olhos dos presentes. Anoitecia então… - Don- Dom, chegou o chefe dos bombeiros, bombeiros! Foi daí que um rapaz esquelético, muito cortês e voz pausada, Caimesse – assim se chamava -, resolveu dar uma aula sobre os ramos das forças armadas. Ele estudava no Liceu João Crisóstomo. Falava: “ … e a Força Aérea cuida da inviolabilidade do espaço aéreo. A Marinha, a Armada como também chamam, ocupa-se da protecção das águas marítimas e também fluviais de um determinado território”. - Então esse incêndio vai ser apagado por um marinheiro. Aquela observação do Don – Dom requalificou a retirada do oficial que afinal era capitão do Porto e Caminhos de Ferro de Luanda; cabisbaixo. Mas, apesar dos vai e vem de baldes, alguidares e panelas com água, as labaredas continuavam a fazer a sua história sinistra e envolvente: atacavam a quarta casa a partir do quarto do mais velho Kimuinba - Que azar! Até que enfim. Chegaram duas apetrechadas viaturas dos Bombeiros Voluntários de Luanda, audaciosamente comandadas pelo comandante Manuel Tito. Um homenzarrão com apenas… um metro e sessenta de altura. Tudo feito. No final, o fogo foi extinto e, então, procedeu-se ao registo das perdas e vítimas. Só uma, entretanto. Nga Lemba julgando-se imune às chamas, tentara salvar o garrafão onde o Kimuinba guardava o seu dinheiro das adivinhações. E como resultado as chamas deram-lhe umas apalpadelas nas nádegas e teve, segundo o doutor Cândido do Hospital Maria Pia, queimaduras de segundo grau. Triste mulher. Palmas para os bombeiros e o chilreio da ambulância que levou a Nga Lemba. E foi quando o Minguito falou à boca do ouvido de Don-Dom, “Nunca mais põe petróleo num gato vivo em chamas, ele se escorraça nas paredes, ouviu? - Nga Lemba, bunda ya té túbia – gritavam, gritavam. Hoje só dizem, talvez porque a tradição oral esteja a perder a memória do acontecimento infausto aqui, que foi no largo da Nga Lemba… e assim ficou denominado pelo povo, até os dias de hoje. E foi mais uma do Don-Dom. É de mais. Fogo posto pelo Don-Dom 74 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 desporto futebol T Pedro da Ressurreição rinta e cinco anos depois da sua fundação, o Grupo Desportivo Interclube é uma agremiação preparada para amealhar sucessos. Mais sucessos do que tem vindo a angariar ao longo dos anos, desde que a 28 de Fevereiro de 1976 foi criado com a designação de CPA. Com uma presença activa em diversas modalidades ao longo deste tempo, o Interclube foi-se afirmando na arena nacional, atingindo nos dias que correm uma referência nesta actividade social. As modalidades de luta, nomeadamente o boxe (o Interclube é o clube que forjou o primeiro angolano campeão do mundo, Manuel Gomes), o atletismo, o basquetebol e, sobretudo, o futebol constituem referências no grémio azul e branco. Contudo, uma instituição desportiva é tanto mais completa quando mais harmoniza as diversas envolventes da prática desportiva. O Interclube, hoje, aos 35 anos, pode afirmar que integra o grupo muito restrito das agremiações desportivas de Angola. O clube da Polícia, com uma imponente sede social erguida no bairro Rocha Pinto, que engloba um centro de estágio e demais áreas de apoio à pratica desportiva, tem como a “menina dos seus olhos” o Estádio 22 de Junho, um dos recintos mais referenciados do país, sobretudo pela sua relva. Aliado a isso, nas instalações dos bombeiros, no centro da cidade, está a quadra de basquetebol 28 INTERCLUBE CELEBRA 35 ANOS DE EXISTÊNCIA Uma agremiação desportiva que é modelo em Angola A criação da referida agremiação visava colmatar o vazio existente no âmbito desportivo e recreativo no seio das forças policiais de Fevereiro, que permite ao clube realizar as suas partidas como visitado em casa própria. Este recinto, apesar de não dispor de grande espaço para a assistência, reúne condições necessárias para a prática do basquetebol conforme as regras. O estádio de futebol e a quadra de basquetebol representam um feito que muito poucos clubes do Nove presidentes, um mesmo objectivo Nos seus 34 anos de existência, o Interclube teve já nove presidentes e cada um marcou o clube. contudo, algo de comum em todos foi a preocupação em manter o espírito associativo e ajudar no crescimento desportivo nacional: 1976-1978: Santana André Pitra “Petroff” 1978-1980: Manuel Alexandre Rodrigues “Kito” 1980-1981: Francisco Magalhães Paiva “Nvunda” 1981-1982: Mariano Puku 1982-1985: Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” 1985-1994: António Wime Nunes “Mona” 1994-1998: José Maria Alves de Castro “Gegé” 1998-2009: Fernando Alves Simões 2009-actual: José Martinez António país se podem vangloriar de terem alcançado. A construção desta infra-estrutura (ainda não está concluída), sobretudo com um orçamento muito reduzido para o que é comum, foi a resposta que a direcção do clube deu àqueles que parece quererem reduzir a imagem que o clube já granjeou. Além disso, há a crescente preocupação com a formação e os escalões de formação. Este cenário auspicia altos voos no plano competitivo, que conta já com dois troféus do Girabola, duas taças de Angola, três supertaças e uma final africana. Mas os frutos do trabalho do Interclube ficaram reflectidos já por ocasião do CAN2010, quando os Palancas Negras elegeram o 22 de Junho como quartel-general e foi lá onde receberam a visita do Chefe de Estado angolano, por altura de um treino. O INÍCIO Por ordem do então comandante-geral da Polícia Nacional, Santana 75 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 André Pitra “Petroff”, foi fundado, em 28 de Fevereiro de 1976, o Grupo Desportivo e Recreativo do Corpo da Polícia de Angola (CPA), designação então coincidente com a da Polícia Nacional após a Independência A criação da referida agremiação visava colmatar o vazio existente no âmbito desportivo e recreativo no seio das forças policiais e com o objectivo de diferenciar a actuação da polícia colonial da da então República Popular de Angola. As primeiras modalidades que a novel formação desenvolveu foram futebol, atletismo e basquetebol. Para tal, realce para a dedicação de um grupo de carolas e especialistas do desporto, sob liderança do presidente do clube, Santana André Pitra “Petroff”, tais como João Saraiva de Carvalho “Tetembwa, Armindo do Espírito Santo, Luís da Silveira Pegado, José de Gouveia Leite, Jesus Victor Santos, entre outros. Há que referenciar também os nomes de Fernando “Cazumbi”, o primeiro treinador de futebol do clube, Tio Silva, Calei (basquetebol), Marcos Catito (atletismo) e dos atletas João António André “Cuca” (primeiro capitão da equipa), Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, Napoleão Brandão, Van-Dúnem, Correia, Caxote, Manico, Santana Carlos, Paixão, Mendes João, Rodrigues Júnior “Di Pai”, Piedade, Caricungu, etc. etc. Também colocaram a sua pedra nos primórdios do que hoje é o Grupo Desportivo do Interclube, pelo atletismo, Catito, Severino Cunha, José Augusto, Maria Trajano, Sandra, Jeny, Elizabeth Ranque “Bety”, Diogo Cunha, enquanto no basquetebol Espírito Santo, Calei, Antónia, entre outros. O clube conheceu várias designações até chegar à actual, como Grupo Desportivo do CPA; Grupo Desportivo do CPPA; Grupo Desportivo Interclube de Luanda e Grupo Desportivo Interclube de Angola. É uma associação de utilidade pública vocacionada para as actividades desportivas e culturais, agregando forças vivas de todos os quadrantes e em especial os membros do Ministério do Interior, como sponsor principal. Desenvolve as modalidades de futebol, basquetebol, boxe, judo, andebol, tiro e atletismo. Túnel apertado do Girabola Um campeão do mundo entre os seus rebentos C Quase duas dezenas de títulos conquistados podiam por si só definir a força do boxe do Interclube. Mas o ponto de referência nesta modalidade acaba sendo o campeão do mundo da versão TWBA, Manuel Gomes. Gomes, 44 anos de idade e da categoria dos 58 quilogramas, que conserva a coroa de campeão mundial da TWBA por quase 12 anos, é um dos muitos rebentos deste clube. omo desporto-rei, o futebol acaba sempre por absorver a atenção dos adeptos e dar projecção a um clube. Ao túnel apertado do Girabola, em que só pode passar um de cada vez, o Interclube conseguiu chegar em 2007, depois de longos anos, e agora em 2010. Antes porém, a história do clube foi marcada pelo seu futebol envolvente, animado, na base do contra-ataque e muito competitivo. Com esta prestação só não chegou mais cedo ao túnel por manifesta falta de sorte. Em três ocasiões foi segundo classificado. Treinadores como Severino Miranda Cardoso, Joka Santinho, Veselin Vesco e Oliveira Gonçalves, entre outros, moldaram o conjunto com que o defesa brasileiro Carlos Mozer chegaria ao primeiro título em 2007, numa altura em que já outros aspectos fundamentais para o desenvolvimento desportivo estavam criados no clube. Duas taças de Angola (1986 e 2003) enriquecem o palmarés do Interclube que tem no seu ponto mais alto uma presença na final da Taça de África dos Clubes Vencedores das Taças, onde o técnico angolano Oliveira Gonçalves levou o conjunto a discutir o jogo até ao fim, apesar da derrota por escasso 0-1, depois de empate em Luanda a um golo, frente aos sul-africanos do Kaiser Chiefs. Nas competições continentais, o Interclube ainda detém uma das maiores vitórias (8-0) na Taça das Taças frente ao Olympique do Bamako, em 2001. No seu palmarés constam ainda três supertaças: em 1985, com Joka Santinho, voltando a erguer a taça em 2001, com Julusic Veselin “Vesco” e, em 2008, com Carlos Mozer. Na actualidade, fruto de um conjunto de indicadores, a formação da Polícia é apontada como uma das candidatas ao título do Girabola de 2011. Ao mesmo tempo, a população do bairro onde se localiza a sua sede e estádio tem à sua disposição mais uma forma de ocupar os tempos livres e seguir bons exemplos. O Interclube proporciona isso. História feita com grandes nomes O percurso deste clube foi feito por muitos homens e mulheres angolanos, que se viriam a destacar na vida política; aqui, particular realce para o vice-presidente da República, Fernando da Piedade Dias dos Santos, que integrou o “onze” inicial do plantel desta formação nos seus primórdios, nomeadamente no torneio “Experimental”: Nomes que fizeram o trilho do clube: Equipa do Torneio 2º Aniversário das FAPLA (1976): Napoleão, Piedade, Mendes, Santana, Silva II, Silva I, Cuca, Roque, Van-Dúnem, Manuel João, e Victor. (Suplentes: Luís, Pica, Karicungú, José Augusto, Pedro e Evaristo) Taça Valódia (1976) - CPPA : Napoleão, Piedade, Mendes, Santana e Pica, Victor, Cuca, Manuel João, José Augusto, Van-Dúnem e Esquedinho. Torneio “Experimental” (1977) – CPPA: Caixote, Pica, Manico, Mendes e Silva II, Nandó, Germano e Victor, José Augusto, Diniz e Paixão; alinharam ainda Carikungú e Cafuringa. Torneio Primeiro Congresso do MPLA (1977) – equipa do CPPA: Napoleão, Zé Augusto, Mendes, Roque e Manico, Nandó, Cuca, Manuel João, VanDúnem, Diniz e Cafuringa. Equipa do CPPA no torneio de Agricultura (1978): Caixote, Mbengui, Pika, Correia, Kaló, Cuca, Morais, Lucombo, Paixão, Massoxi, Joãozinho e Neto. Girabola: Lelo, Messo, Paciência, Pedro Afonso, Careca, Correia, Mendinho, Eurípedes e Zino, Lourenço, Bela Bela, Armando, Gomes, Raul e Kinito. Girabola: Simão, Mangane, Armando, Carlitos, Gomes, Pedro Afonso, Raul, Paciência, Kinito, Mendinho, Mingo, Lourenço, Pirocas. Taça de Angola (1986): Salvador, Carlitos, Feliciano, Paciência, Lourenço, Pirocas, Jesus (Mingo), Mendinho, Raul, Túbia e Aguião. Supertaça (2008): Mário, Yuri, Wetshi, Joel, Kito, Nunas, Nuno, Lucas, Dione, Mingo, gildo, Minguito, e Pedro Henriques. Final da Taça das Taças Africanas (2001): Tokala, Miranda, Zequinha, Gito, e Kikas, Nelsinho, Miloy (Artur), Dady (André), Mussumari (Potché), Patrick, Papy. 76 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 desporto futebol Campeão da regularidade, humildade e trabalho Interclube mostra forma e vence Girabola mais competitivo de sempre O Grupo Desportivo Interclube, que, erradamente, também é designado “Interclube de Angola”, escreveu em 2010 uma página marcante na sua história como agremiação desportiva, ao juntar na sua galeria mais um troféu. Não foi um qualquer troféu mas sim o mais importante do futebol em Angola. A formação da polícia conquistou pela segunda vez o título do Girabola, depois da estreia em 2007. Esta conquista, tal como a anterior, foi carac- terizada pela persistência, trabalho e humildade, o que permitiu assegurar uma regularidade superior à concorrência. Se em 2007, o clube do Rocha Pinto fez o espantoso percurso da quinta jornada até ao fim (26) sem perder, desta vez, mostrou competência na edição mais longa e (quase) por consenso considerada a mais competitiva da história da prova que começou a ser disputada em 1979. Esta conquista é valorizada pelo fac- to de ocorrer no ano em que a Federação aumentou de 14 para 16 equipas na prova, o que a torna na mais longa de sempre. Isso também dá realce ao triunfo da turma de Álvaro Magalhães. Outro factor que leva a considerar singular o Girabola2010 é a alta competitividade e equilíbrio reinante, na medida em que apenas na última jornada houve campeão nacional, e ainda assim com os mesmos pontos do segundo classificado. Com um plantel que, nem de longe 77 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 nem de perto, era considerado dos mais fortes da prova, quando comparado ao do Petro de Luanda, 1º de Agosto, Recreativo do Libolo, mas onde a coesão do grupo – sobretudo nos momentos menos bons – sobressaiu, o Interclube mostrou que, mais do que uma equipa de futebol, está a formar um clube de facto. A harmonia, já reinante na era Alves Simões, prossegue hoje com José Martinez, e com as infra-estruturas que mais nenhum clube do país tem (um estádio de futebol e um pavilhão) juntou-se uma filosofia de trabalho onde não contam nem despontam “estrelas” mas espírito de grupo. O Interclube ganhou o campeonato no Estádio 22 de Junho, ou seja, nos jogos em casa, onde angariou 10 das 17 vitórias conseguidas (57 por cento de aproveitamento). Mesmo assim, consentiu quatro derrotas no seu reduto e um empate, o que valoriza mais a conquista. Embora os números desde logo impeçam de pensar que foi uma vitória fácil, o percurso dos campeões nacionais encarrega-se de deixar isso muito bem claro. No início, as vitórias fora frente ao FC Cabinda e no seu reduto, ante o Benfica de Luanda, auguravam um regresso à ribalta, mas à passagem da sexta jornada já se tinha esfumado este entusiasmo, pois o Inter já somava duas derrotas e um empate em seis jogos, ou seja, tinha perdido sete pontos no primeiro quinto do campeonato. Ainda faltavam quatro quintos, ou seja 24 jogos. Na segunda etapa da prova porém foi possível “corrigir o tiro” e nos seis encontros seguintes, apenas consentiu uma derrota e obteve a primeira e muito motivadora goleada por 6-2 sobre o Benfica do Lubango. Veio então o momento agridoce da turma da polícia, com três vitórias sucessivas, dentre elas duas goleadas (5-0 sobre o Desportivo da Huíla e 4-1 em casa do Benfica de Luanda). Mas quando tudo indicava o encarreirar, sobreveio o pior momento do conjunto azul-e-branco, que encaixou quatro derrotas seguidas! Já se escrevia e comentava que o Interlcube estava fora da corrida, mas a turma do português Álvaro Magalhães realizou a proeza que asseguraria o título: a oito jornadas do fim somou seis vitórias seguidas. De facto, esta pedalada final com seis triunfos seguidos deixaram o Inter numa posição confortável, e os adversários directos muito pressionados e dependentes. De tal forma que, naquela que se esperava fosse a consagração, no seu feudo, diante do arquirival Petro de Luanda, o Interclube “deu-se ao luxo” de perder, transferindo para a derradeira ronda a coroação. Bem merecida e meritória como fazem fé os números. Protagonista de algumas das mais alargadas goleadas da prova, o Interlcube viu a sua apetência pelo golo premiada no final, visto que, tendo terminado em igualdade pontual com o segundo colocado, teve de ser accionado o sistema de desempate o qual dá primazia à produção daquelas que são chamadas as “vitaminas dos jogos”. Foi a equipa mais realizadora e também a menos batida. Foi também a que mais vitórias obteve e menos derrotas sofreu. Nesta época, esteve à beira da “dobradinha” ao perder a final da Taça de Angola, aos penaltis, diante do ASA. Mas está assegurada a presença nas preliminares da liga dos campeões africanos, em que se espera que faça muito melhor que a terceira eliminatória do primeiro título do Girabola (2007). Títulos Girabola: 2 2007 e 2010 Taça de Angola: 2 1986, 2003 Supertaça: 2 2001, 2008 Participações nas competições CAF Liga dos Campeões: 2008 - Terceira Eliminatória Taça da Confederação: 4 participações 2004 - Primeira Eliminatória 2005 - Primeira Eliminatória 2006 - Fase de Grupos 2007 - Primeira Eliminatória 2008 - Fase de Grupos Taça dos vencedores das Taças: 2 participações 1987 - Primeira Eliminatória 2001 – Finalista CONSTITUIÇÃO DO PLANTEL CAMPEÃO: Hipólito Damião “Mário” 24 anos guarda-redes Bolongo Ebengui “Tsherri” 32 guarda-Redes Domingos Ferraz “Avozinho” 18 guarda-Redes Paulo Quental Fuxe “Paulito” 31 defesa direito Mateus Bravo Francisco “Pingo” 25 defesa Direito Paca Alberto Álvaro “Fissi” 22 defesa esquerdo Francisco da Rocha “Kito” 25 defesa esquerdo FABRICIO Mafuta 22 defesa central Francisco Assis “Kikas” 29 defesa central JOEL Pedro Mpongo 34 defesa central Yahenda Fernandes “Dias Caires” 32 defesa central ZIMBA Samuel 19 defesa central João Sanda Pedro “Yéyé” 20 defesa central Odimir Breganha “Bebé” 24 médio defensivo José Augusto Gomes “Zé Augusto” 25 médio ofensivo Braulio Olim Diniz “Nari” 22 médio defensivo Nkotto DANIEL 20 médio defensivo Hermenegildo João “Gildo” 27 médio direito Jorge Alexandre Boaz “Gaúcho” 19 médio direito Osvaldo António Ngola “Mingo” 27 médio esquerdo Domingos Fernandes “Minguito” 26 médio esquerdo AMÂNCIO José Forte 19 médio esquerdo João Fernando Finda “Mandinho” 23 médio Esquerdo KANU Mbiyavanga 26 médio ofensivo António Justo “Paty” 19 médio ofensivo Georges Mbinda MESSI 29 médio ofensivo João Hernani Barros “Manucho” 24 avançado João CALEMBA 25 avançado Emanuel Paulo João “Capuco” 24 avançado PEDRO HENRIQUES 27 avançado Bruno Batista Fernando “Moco” 20 avançado Zeferino Jacob Mandi “Hinô” 19 avançado David Carlos Veloso “Bala” 21 avançado Presidente de direcção: José Martinez Equipa técnica: Álvaro Monteiro Magalhães (Técnico principal) João Paulo Ribeiro “Túbia” (técnico adjunto) Orlando Manuel Fernandes (técnico adjunto) Pedro Martins Pereira (técnico de guarda-redes) Jorge Ramiro Marques (preparador físico) Jeremias José Jeremias (médico) André Francisco Mandela (massagista) Agostinho Almeida (seccionista) 78 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 desporto basquetebol Interclube campeão africano feminino de basquetebol Bizerte coloca África aos pés de Angola em femininos U m título inédito para o clube e o segundo da história de Angola em 16 edições, uma distinção como a jogadora mais valiosa da prova (MVP) e a integração de duas atletas entre as cinco melhores do campeonato são a colheita do Interclube, na sua passagem por Bizerte para a taça dos clubes campeões sénior em femininos. Quando a turma de Apolinário Paquete seguiu para a competição na cidade tunisina de Bizerte tinha consciência de que os mais variados factores lhe permitiam fazer uma boa prova, mas nunca lhes ocorreu que a sua força lhes permitiria regressar com o troféu inédito na história do Interclube. O Interclube conquistou na cidade da décima sexta edição da taça de África dos clubes campeões em femininos, disputada de 19 a 27 de Novembro, na cidade de Bizerte (Tunísia), juntando-se assim ao 1º de Agosto como as equipas angolanas que já ergueram o troféu mais importante do basquetebol feminino do continente. Este êxito foi conseguido após um reconhecido trabalho de reorganização e reforço feito pela estrutura administrativa e técnica da agremiação adstrita à Polícia nacional. Os gestores do Interclube conseguiram reunir as condições adequadas, desde a selecção dos reforços e do técnico muito experiente, a uma preparação condigna antes de entrar para a competição. Portanto, foi este plantel motiva- O ministro do Interior, Sebastião Martins, considerou a conquista do título continental um feito revestido de substancial júbilo e mérito 79 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 do e devidamente harmonizado, com o técnico Apolinário Paquete, que já havia sido vice-campeão africano por duas ocasiões, por conseguinte, muito experimentado nestas lides. Também um grupo que congregava a veterania da grande capitã Irene Guerreiro, um exemplo a seguir em África, bem como a experiência de Ângela Cardoso, Ngiendula Cardoso, Astrida Vicente e a juventude e obstinação de Nadir Graciete Manuel e Danielle Green, entre outras. Depois do triunfo em 2006 do 1º de Agosto, este foi mais um grito enviado da quadra para os gestores da classe feminina no país, pois a competição interna continua a cair e a restringir-se. Mas a persistência da mulher angolana insiste lá fora para seguir o trilho dos masculinos. De resto, esta luta não começou hoje. Embora só agora tenha chegado ao título continental, o Interclube é uma das tradicionais equipas da modalidade na era pós-independência nacional, pois desde os anos idos foi referência com jogadoras como Trajano, Vininha, Manu, entre outras, cada uma na sua época, honraram esta camisola desde o campo dos Bombeiros ao pavilhão 28 de Fevereiro, tendo sob orientação, dentre outros, o treinador Raul Duarte. Na prova de Bizerte, o Interclube acabou sem qualquer derrota, e com margens que não deixam dúvidas. Começou por bater os anfitriões do CSFB por 84-53, seguiu-se a vitória por mais de 40 pontos sobre o BBCM (98-53). Contra os Ivoirenses do CSA o resultado foi de 21 pontos (82-61). Antes de esmagar o Arc en Ciel por 68-30. Nos quartos de final, nova “goleada” por 77-27 diante das camaronesas do INJS. Nas meias-finais, frente ao papão ABC da Cote Ivoire, as meninas de Paquete não se intimidaram e venceram por 6447, chegando à sua primeira final. A final foi falada em português, diante de uma formação que já tinha dois títulos africanos e cuja referência era uma antiga integrante da WNBA. Foi finalmente a desforra diante do Desportivo de Maputo (77-63), que já tirou do caminho a formação angolana do 1º de Agosto. Ministro do Interior destaca espírito de missão da equipa O ministro do Interior, Sebastião Martins, considerou a conquista do título continental um feito revestido de substancial júbilo e mérito. Em mensagem endereçada às jogadoras e corpo técnico, ressaltou que a proeza foi alcançada num conjunto de dificuldades ultrapassadas graças ao elevado espírito de missão de que estavam imbuídas as atletas e corpo técnico. A mensagem refere ainda que este título representa também o esforço que o Ministério do Interior tem desenvolvido na promoção do desporto, pelo que se torna numa vitória de todo o efectivo. “Em meu nome e de todos os trabalhadores do Ministério, felicito, de forma efusiva, todas as atletas, augurando mais sucessos no futuro”, lê-se na nota. APOLINÁRIO PAQUETE ‘Vitória do sacrifício’ No momento de glória, o persistente e experimentado treinador Apolinário Paquete deu primazia a Deus, a quem atribuiu em primeira instância o triunfo. Ele que por duas ocasiões, mas noutra formação, viu escapar este título continental, hoje saboreia, finalmente, a coroação africana. Apolinário Paquete apontou o trabalho e a dedicação como principais trunfos para a conquista, mas sobretudo o grupo de jogadoras que executou fielmente a estratégia montada. Depois de reconhecer o sacrifício por que passaram as atletas na rota da consagração, o técnico chamou a atenção para a inexistência no país de condições ideais para a prática de desporto de alto rendimento. “Por esta razão tivemos muitas dificulda- des. Mas felizmente conseguimos ultrapassá-las. Muitas vezes as nossas atletas tiveram de consentir muitos sacrifícios para que pudéssemos realizar os nossos treinos”. “Há que parabenizar as meninas, porque, afinal, todos os sacrifícios valeram a pena uma vez que a tão almejada taça foi conquistada”, disse. Para frente, o técnico que já foi vice-campeão de África pelo 1º de Agosto só vê mais trabalho a fim de manter o título, ao mesmo tempo que espera ver ultrapassadas as insuficiências existentes. PALMARéS Ano 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2003 2001 1999 1997 1995 Local Bizerte (Tunísia) Cotonou (Benin) Nairobi (Quénia) Maputo (Moçambique) Libreville (Gabão) Bamako (Mali) Maputo (Moçambique) Abidjan (Cote d’ivoire) Dakar (Senegal) Dakar (Senegal) Tunisia Stade Vencedor Interclube (Angola) First Bank (Nigéria) Desportivo (Moçambique) Desportivo (Moçambique) 1º de Agosto (Angola) Djoliba (Mali) First bank (Nigéria) Académica (Moçambique) Dakar University Club (Senegal) Dakar University Club (Senegal) Tunisien (Tunisie) 2º lugar Desportivo (Moçambique) Abidjan Basket Club (Cote d’ivoire) 1º de Agosto (Angola) 1º de Agosto (Angola) Ferroviário (Moçambique) 1º de Agosto (Angola) 1º de Agosto (Angola) 1º de Agosto (Angola) Djoliba (Mali) Djoliba (Mali) Dakar University Club (Senegal) 80 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 desporto andebol ANDEBOL MASCULINO: Interclube conquista Taça de Angola a formação sénior do Interclube arrebatou a sua primeira Taça de Angola O mês de Novembro de 2010 vai ficar na história da formação da Polícia, não só pelo título africano de basquetebol feminino, e o segundo troféu do Girabola, mas também pelo importante sinal de vitalidade do andebol da agremiação, apesar de estar em fase de ressurgimento. Efectivamente, a formação sénior masculina do Interclube arrebatou a sua primeira Taça de Angola em Andebol, superando um tradicional e potencial da modalidade, o 1º de Agosto, tendo-o superado na final por três golos (23-20), na final da segunda competição nacional, que se realizou no pavilhão da Cidadela, em Luanda. Esta não foi a primeira vez que os “polícias” suplantaram o histórico clube do Rio Seco, indiscutivelmente a maior formação do andebol nacional, por onde passaram Paulo Bunze, Costa, Godinho, Óscar, Cardoso, entre outros. Já no campeonato nacional, o 1º de Agosto foi vencido de maneira categórica por 12 golos, o que prenuncia a chegada de uma nova “Nova Ordem Andebolística Nacional” Este triunfo encerra da melhor maneira uma temporada de todo auspiciosa, onde se destaca ainda a presença na final do campeonato nacional, jogado no Moxico e vencido pelo Kabuscorp do Palanca. Este feito deu lugar a disputa do africano de clubes, no qual, embora com classificação fora das expectativas, foi a melhor representação angolana, ficando em sétimo lugar. Tudo isso premeia o investimento feito esta época pela direcção da agremiação, não só nesta modalidade mas no desporto em geral. Também remete esta agremiação à busca dos seus momentos áureos neste sector, nos anos 80. Estão no caminho certo, é só seguir em frente, trabalhando com organização e humildade que parecem ser divisas nos “azuis-e-brancos”. CONSTITUIÇÃO DO PLANTEL VENCEDOR DA TAÇA Fábio Costa, Edson Faustino, Yuri Fernandes, Eugénio Carlos, André Kassapi, André Fonseca, Alfredo Gongo, Mauro Ângelo, Edivaldo Pombal, Nelson Varela, Gaspar Cahinda, Sérgio Lopes, Jeroslav Aguiar, Alterio Matias, Elias António e Adelino Pestana. Treinador: António Costa Veja o programa televisivo Vanguarda Policial todas as quartas-feiras, após o Ecos e Factos no Canal 1, e quintas-feiras, a partir das 18H55, no Canal 2 PASSATEM talveznãosaib Um menino de 2 anos morreu no Chile por causa de uma surra dada pelo seu pai por ter urinado nas calças. O garoto chegou ao hospital em coma. Segundo o promotor Víctor Ávila, responsável pela investigação do caso, o pai da criança, um boliviano sem residência legal no Chile, “sacudiu o menino repetidamente, bateu nele com um tubo de PVC e depois o jogou no chão”. O crime ocorreu na cidade de Apamilca, na municipalidade de Pozo Almonte, no norte do Chile. O menino ficou inconsciente, teve fraturas múltiplas e lesões internas, acrescentou Ávila. De acordo com o promotor, no momento da detenção, o pai disse que “estava educando” seu filho. A agressão foi denunciada por vizinhos. O menino recebeu um primeiro atendimento no consultório médico de Apamilca, mas, devido à gravidade, foi levado ao hospital de Iquique. Ávila disse que a companheira do pai do menino, que não é sua mãe, também foi detida porque pode ter tido participação no crime. Uma escocesa ficou horrorizada ao ver o seu vizinho a pular na cama elástica, todo nú e a masturbar-se. Segundo a senhora, o seu vizinho passou todo nú no seu quintal – ela mora num pequeno conjunto de quatro apartamentos em Falkirk, na Escócia – pouco depois das cinco horas da manhã. Ele estava nú e foi na direção da cama elástica. James Burden, de 55 anos, não tem mais aquela firmeza nos tecidos, de modo que o seu corpo nu, pulando na cama elástica, não produziu um dos espetáculos mais bonitos de se ver. Para piorar as coisas, Burden se masturbava enquanto pulava. A vizinha ligou para a Polícia e, quando os agentes chegaram, pegaram Burden com a mão na massa e o interrogaram para saber por que diabos ele estava fazendo aquilo. - Eu fiz só pela diversão. Eu não era capaz de imaginar que alguém poderia estar me olhando. Burden foi preso e se admitiu culpado por exposição indecente do corpo. A justiça ainda não determinou a sentença. semáforo Uma sueca de 41 anos de idade foi indiciada por falsificação e fraude em Norrköping, na Suécia, depois de conseguir um empréstimo de cerca de USD 63 mil no nome de sua melhor amiga e usar parte do dinheiro para colocar silicone nos seios. Segundo o jornal “Folkbladet”, a amiga pensou que ela precisava usar sua conta bancária para depositar o dinheiro que ela não queria declarar. A mulher retirou USD 49 mil da conta, mas a amiga não sabia que o dinheiro tinha sido pego emprestado em seu nome. A acusada também mudou o endereço de sua amiga para que ela não recebesse cartas e, portanto, não tomasse conhecimento sobre os empréstimos. Ela ainda fraudou sua amiga em mais USD 15 mil, usando seu cartão de crédito. De acordo com o jornal sueco, a mulher, que tinha empresas falidas no exterior, usou o dinheiro para viajar para a Tailândia várias vezes. No país asiático, ela usou USD 7 mil numa cirurgia para aumentar o tamanho dos seios. baque... Um chifre nasceu no lado esquerdo da testa de uma velhinha de 101 anos. E agora teme que outro galho cresça no lado direito. Zhang Ruifang vive em Linlou, na parte central da China. A idosa notou que uma pequena verruga estava aparecendo em sua testa, no ano passado. Só que agora, o que era um calombinho virou um chifre que seis centímetros. Pior, uma outra verruga surgiu do outro lado da testa. Segundo o filho mais novo da velhinha, Zhang Guozheng, 60 anos, o chifre é feito de pele dura e grossa. “Não demos muita importância no começo. Mas o chifre não para de crescer. E agora tem algo estranho a crescer do outro lado da testa”. A velhinha tem sete filhos e vários netos. Vivem na área rural da cidade e não têm dinheiro para mandar a idosa ao hospital. Ela afirma que o chifre não dói e não atrapalha sua vida tranquila de interior. 83 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 charadas MPO Dois alentejanos: - Atão compadre, nã quêra lá ver que hoje de manhã fui dar com dois caracóis no mê quintali! - Ah sim !? E atão o que é que você fez? - Ah compadre! Um ainda o apanhei mas o outro ... conseguiu fugir!! 1 Qual é o animal que come com a cauda? 2 Por que o elefante não consegue tirar carta de condução? 3 O que é que quanto mais seca, mais molhada fica? 4 5 O que há no meio do coração? Na televisão cobre um país; no futebol, atrai a bola; em casa incentiva o lazer. O que é? 6 Mantém sempre o mesmo tamanho, não importa o peso? 7 8 O que é que cai de pé e corre deitado? O que é o que é, tem chapéu, mas não tem cabeça, tem boca mas não fala, tem asa mas não voa? Respostas: 1 - Todos, porque eles não podem tirar a cauda para comer, 2 - porque ele só dá trombada, 3 - toalha, 4 - letra “a”, 5 – rede, 6 - balança, 7 - gotas da chuva, 8 - bule QUEM RI PRIMEIRO DIVERTE-SE MAIS Um cidadão ia aflitinho no comboio de Viana até que fez lá mesmo as necessidades, então o senhor que recolhia os bilhetes disse: - Vou dar parte ao chefe. E o cidadão como se não fosse nada com ele diz: - Por mim pode dá-lo todo que eu não quero nenhum. Tomás Queta texto José Roberto foto perfildoagente 84 tranquilidade #12 DEZ 2010 › FEV 2011 Um futuro gestor dentro da Polícia Nacional H á seis anos, João António decidiu ingressar na Polícia Nacional, situação que fez com que suspendesse, por algum tempo, a vida académica. O jovem estava integrado num grupo de técnicos médios e superiores que encontraram a oportunidade na Polícia para entrarem, pela primeira vez, para o mercado de trabalho. Actualmente, João António, que nasceu no dia 29 de Maio de 1981, está colocado na Unidade de Trânsito de Luanda, ocupando a função de oficial das Transgressões. Natural de Malange e filho de António de Sousa e de Maria Felipe, ambos malanginos, o agente da Polícia está a finalizar o curso superior de Gestão pela Universidade Independente de Angola. Aliás, o jovem agente da Polícia angolana sempre manifestou o desejo de se tornar um gestor dentro da corporação, por força da sua formação académica. Tão logo termine a licenciatura, João António não pensa em dar uma pausa à vida académica, porque acha que “um bom polícia deve estar em formação contínua” para que possa estar à altura das exigências impostas à Polícia em Angola. João António acredita que, para que a Polícia consiga ter sempre êxitos na sua actividade, os seus agentes devem ser cada vez mais disciplinados, perseverantes e, acima de tudo, estudiosos. O jovem polícia não pactua com a imagem do “chefe autocrático”, defendendo mesmo que “não devemos ter líderes autocráticos”, que submetem os subordinados a uma situação de submissão cega. O agente guarda grandes memórias desde a sua entrada nas fileiras da Polícia Nacional, recordando, com alguma nostalgia, o período de recrutamento e a cerimónia de juramento à bandeira. “Foram momentos marcantes”, diz João António, que foi seleccionado a partir da Escola Kapolo II e, logo depois, encaminhado ao Centro do Kikuxi, onde fez o recrutamento. De segunda a sexta-feira, por razões profissionais, está sempre uniformizado. Fora da actividade laboral, gosta de vestir roupa social, embora não tenha preferências por alguma marca. Quanto a perfume, o da marca 1012 está entre os favoritos. O sumo é a sua bebida de eleição, assim como os livros sobre Gestão.