II Encontro Regional NE - RELATÓIRIO

Transcrição

II Encontro Regional NE - RELATÓIRIO
II ENCONTRO DE
CAPACITAÇÃO E
FORMAÇÃO DE
AGENTES
REGIONAL NORDESTE
Pastoral Nacional do Povo da Rua
Recife 23 a 25 de novembro de 2012
Pastoral Nacional do Povo da Rua - PNPR
Rua Além Paraíba, 208 – Belo Horizonte MG
CEP 31.210-120 - Tel. 31-32938366
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I - Introdução
A Pastoral Nacional do Povo da Rua - PNPR realizou entre os dias 23 e 25 de novembro
o II Encontro Regional Nordeste, em Recife. Participaram do Encontro 43 agentes de pastoral
vindos de dez cidades de seis estados do Nordeste: Recife e Paudalho – PE; Fortaleza e Russas –
CE; Picos e Teresina – PI; Salvador e Feira de Santana – BA; Maceió - AL e João Pessoa - PB.
Além dos agentes, participaram cinco representantes da população em situação de rua e
catadores de material reciclável que contribuíram bastante para as discussões realizadas.
Também participou a Equipe de Coordenação da PNPR que conta com agentes de Curitiba – PR;
São Paulo – SP; Rio de Janeiro – RJ; Belo Horizonte – MG; Recife – PE e Fortaleza – CE. Dom
José Luiz Ferreira Salles, CSsR, Bispo de Pesqueira – PE e referência da Pastoral junto à CNBB
também esteve presente e ressaltou a importância do Encontro para o avanço da articulação da
ação pastoral no Nordeste.
O Encontro foi idealizado pela Equipe de Coordenação da Pastoral e realizado em
parceria com a Coordenadoria Ecumênica de Serviço - CESE, Misereor e Arquidiocese de
Olinda e Recife. A principal motivação do Encontro foi avançar na articulação das equipes de
pastoral do Nordeste, sobretudo em função do aumento constante dos casos de violação dos
direitos das pessoas em situação de rua – PSR e catadores de material reciclável – CMR. Esse
cenário tende a ficar ainda mais violento diante da proximidade dos grandes eventos esportivos
que serão realizados nas principais cidades do país.
O objetivo geral do Encontro do Nordeste foi a capacitação e formação dos agentes de
pastoral. Nos últimos anos e, sobretudo a partir da Assembleia da Pastoral realizada em março de
2012 a Pastoral conseguiu ampliar os contatos com equipes que atuam com PSR e CMR nessa
região. No sentido de difundir metodologia própria que visa à transformação da realidade de
exclusão, aposta no protagonismo dessas pessoas e luta pela implementação de políticas públicas
que as atenda.
No Encontro houve vários momentos de mística e de oração, além de um período
específico dedicado à reflexão da espiritualidade, com a assessoria do Pe. Agnaldo Júnior, sj.
Também foi realizado painel específico sobre o contexto no qual os agentes estão inseridos que
trouxeram presente a realidade do povo da rua. Foi possível aprofundar na metodologia
específica da Pastoral, sobretudo a partir da apresentação das experiências de atuação da Pastoral
e de debate e trabalhos em grupo sobre o tema. Durante a avaliação os participantes, de uma
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forma geral, destacaram, sobretudo, a contribuição da capacitação para o desenvolvimento das
ações, a importância dos momentos de oração e reflexão e da fundamental possibilidade de
intercâmbio e troca de experiência entre as diferentes equipes. No sábado a equipe de Pastoral da
Arquidiocese de Olinda e Recife preparou uma noite cultural. Foi um momento de integração
que propiciou o convívio fraterno entre os participantes. Houve apresentação de grupo de
maracatu e de dupla cantando música popular brasileira
Como principal encaminhamento do encontro foi definido um grupo de representantes,
formado por uma pessoa de cada Regional1 do Nordeste, que ficará responsável por estimular e
apoiar a articulação das equipes de agentes da Pastoral na região.
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II – Conteúdo
Os participantes do II Encontro de Formação e Capacitação de Agentes do Nordeste
foram convidados a confeccionarem os crachás que usariam durante o Encontro. Foram
dispostos numa mesa vários materiais que estimulou um primeiro momento de intercâmbio e de
socialização dos participantes. A programação do Encontro teve início logo após o jantar com
acolhida e com a realização da Roda do bem conviver. Essas três atividades iniciais propiciaram
a integração e apresentação dos participantes além de garantir uma calorosa acolhida.
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Regionais da CNBB
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01 – Painel da Realidade: Apresentação da vida do povo - testemunhos e vivências
O primeiro painel foi realizado a partir do depoimento dos catadores de material
reciclável e pessoas em situação de rua. A realidade apresentada por esses dois grupos
populacionais urbanos foram fundamentais para o Encontro. As falas, além de emocionarem por
trazerem a dura realidade vivida nas ruas e na catação, subisidiaram as discussões realizadas.
“Eu não cato lixo, o que a gente cata serve pra fazer alguma coisa
e lixo é o que não serve pra nada. Meu trabalho é digno.”
Representando os catadores e as catadoras de material reciclável na mesa do I Peinel
estavam Iaraci (Fortaleza – CE), Sebastiana (Feira Nova – PE) e Gilberto (Contagem – MG).
Foram apresentados vários aspectos da realidade da catação tanto nas ruas quanto nos lixões.
Destacou-se que existem muitos desafios em função da insalubridade do trabalho, o preconceito
que existe com relação a quem cata resíduos sólidos.
Também foi destacada a importancia dos/as catadores/as se organizarem socialmente e de
se buscar parcerias para apoiar esse processo organizativo. Para defender a atividade exercida
pelos catadores é importante que a catação seja encarada como atividade digna e merecedora de
respeito e de reconhecimento do poder público. No cenário atual existem várias ameaças às
conquistas que o Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável – MNCR. A
principal delas é o interesse do capital pelos resíduos sólidos para a incineração, que poluem o
meio ambiente e tiram do catador a possibilidade de sobrevivência. As parcerias público
privadas - PPP também são uma ameaça real pois vai representar o investimento de recursos
públicos para que grandes empresas gerenciem os resíduos sólidos nos centros urbanos.
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“Eu fui uma boa aluna nas ruas, eu aprendo rápido,
aprendi a transformar meu ódio em força pra sobreviver nas ruas.”
Participaram da mesa, representando a população em situação de rua, Marcos Antônio
(Fortaleza – CE) e Lúcia (Salvador – BA). As falas destacaram a história de cada um nas ruas
onde apreceram vários casos de violência e de agressão. O povo da rua é massacrado por todos
os cantos dos país, são muito comuns os crimes bárbaros contra a PSR e os CMR. Esse momento
do painel foi especialmente emocionante por causa da profundidade dos depoimentos feitos:
“Nós somos, muitas vezes, vítima de instituições que foram criadas para nos proteger e não o
fazem”. Ressaltou-se também a solidariedade que existe nas ruas, e que nos relatos de vida
apresentados sempre houve muitos momentos de apoio e proteção entre as pessoas.
No debate, após os depoimentos, a diferença no processo organizativo da CMR e PSR foi
destacada. Debateu-se também que muitas pessoas mudaram muito suas vidas e a importância da
parceria com a Pastoral nesse processo de organização.
02 - Espiritualidade: A escuta de Deus no clamor do povo
O painel da Espiritualidade contou com a assessoria do Pe. Agnaldo Oliveira Junior, sj. Ele
começou sua fala descrevendo o seu histórico de atuação com a PSR e de quanto isso foi
importante no processo de formação e no seu sacerdócio. Em seguida, foi discutida a
diferenciação e o enlace entre três termos: Religiosidade – Religião – Fé, sendo a fé o elemento
central.
A Revelação se dá, levando-se em conta duas realidades: a realidade de Deus, o qual se
revela por amor, e a realidade humana, a qual é destinatária dessa revelação e a ela dá o seu
assentimento pela fé. Nesse sentido, pode-se compreender a fé como resposta do homem a Deus
que tomou a iniciativa de se revelar. Ao mesmo tempo, essa fé é dom de Deus ao homem, pois o
ser humano dá tal assentimento movido interiormente pela graça divina. Portanto, a fé é dom de
Deus e resposta do homem.
Em seguida os participantes foram estimulados a fazer uma escuta pessoal:
a) Quem sou (qual a minha identidade, de onde venho, qual é a minha raiz)?;
b) Como estou? (diante dos desafios, das demandas, das correrias...);
c) Nesse momento da minha vida, com o que eu me pareço (objeto, coisa, situação)?;
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Aperesentou o cenário vivido pelo povo da rua (CMR e PSR), enfatizando os estados do
Noredeste: uma realidade de violência e assinato. Em seguida os participantes foram divididos
em grupos e, a partir de textos bíblicos foram convidados a pensar essa realidade. Na
apresentação dos grupos destacam-se os seguintes elementos:
Crescimento da rede, articulação do trabalho a nível nacional, trocando experiências,
difundindo possibilidades de contato com essa realidade;
Crescimento das equipes locais, busca de parcerias etc;
Humanizar esse mundo a partir de nossas relações.
Para encerrar o painel de Espiritualidade foi feita a dinâmica da aliança (anel de tucum).
A aliança que Deus fez conosco é uma aliança eterna. Dessa forma, a aliança que hoje somos
convidados a fazer com o povo da rua deve ser uma aliança de compromisso, definitiva e sólida.
03 - Cenário de Conquistas e Desafios - Intercâmbio de ação com apresentação das
experiências de Recife e de Fortaleza
As equipes de Fortaleza e Recife fizeram a descrição da atução que desenvolvem.
Durante o debate foi destacada a importancia de uma atução que conheça e respeite a realidade
da PSR e dos CMR e que vise a promoção social dos dois grupos através da luta por plíticas
públicas. Segue em anexo a apresentação feita pela equipe da Pastoral do Povo da Rua da
Arquidiocese de Fortaleza.
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04 – Debate orientado: apontamentos e síntese metodológica
À luz do que já havia sido debatido e vivenciado no Encontro, desde seu início, foi aberta
a discussão sobre a metodoliga de ação. Foram apresentadas algumas conceituações do termo
metodologia e que sua essencia está no “como fazer” e foram discutidas alguns pressupostos
metodolóticos da ação:
Refere-se aos fundamentos e pressupostos que orientam uma ação e aos procedimentos
utilizados para se chegar aos objetivos;
Possibilita estruturar metas, objetivos, indicadores de resultados;
Existem diferentes metodologias no trabalho social.
Foi destacada que a atuação da Pastoral é pautada numa metodologia participativa,
embasada no protagonismo dos sujeitos. Para ilustrar um modelo de ação a partir de metodologia
participativa foi aprsentado o Arco de Maguerez, conforme ilustração abaixo:
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05 - Grupos: Reflexão sobre a realidade e estratégias de ação
Nos grupos de discussão os participantes do Enctontro refletiram sobre duas questões:
a) A partir dos painéis e de todas as vivências do Encontro, quais ações pastorais com
pessoas em situação de rua e catadores de material reciclável vocês propõem?
Realizar momentos de formação com o povo da rua nos moldes do Método Paulo
Freire;
Consolidação das ações coletivas com o povo da rua;
Promover intercâmbio da população em situação de rua;
Fazer mapeamento dos locais de concentração da população em situação de rua,
realizar abordagem nas ruas, promover escuta diferenciada e criar vínculos com povo
da rua;
Apoiar a articulação do Movimento Nacional da População de Rua –MNPR e do
Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável - MNCR;
Desenvolver parcerias e articulação com o poder público e outros setores da
sociedade para desenvolvimento das ações;
Capacitação de agentes de pastoral com formação sobre Política Nacional para a
População em situação de rua2;
Fortalecer as equipes de pastoral com metodologia específica da Pastoral Nacional;
Promover a realização de um seminário nacional.
b) Com vista à ação pastoral qual articulação para o Nordeste vocês propõem?
Firmar o compromisso de implantação da pastoral no NE
Criar eixos que unifiquem as ações e priorizar a criação de canais de
comunicação;
Divulgar a ação e sensibilizar sobre a Pastoral nas (Arqui)dioceses priorizando os
centros urbanos onde há concentração de população em situação de rua e
catadores de material reciclável;
Colocar a temática da ação pastoral nos regionais da CNBB;
Criar uma Equipe de Articulação da Pastoral no NE, com representação de cada
regional da CNBB;
Criar um Fórum de População em Situação de Rua e de Catadores de Material
Reciclável no NE;
Promover outros encontros de formação e capacitação de agentes.
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Decreto presidencial 7.053 de 23 de dezembro de 2009.
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Na discussão em plenária foi estabelecido que tanto as propostas para a ação pastoral,
quanto as direcionadas à articulação para o NE devem ser considerados os prazos,
encaminhamentos, mobilização e articulação local necessários para a implantação de cada uma
delas. Sendo assim, algumas delas devem ser implantadas de imediato, outras a médio e outras
ainda em longo prazo.
Durante o debate também foram discutidas as dimensões que uma pastoral social
HUMANA: Reconhecimento e respeito da dignidade da pessoa humana;
SOCIAL: Metodologia que resgata o protagonismo, defende os direitos constitucionais e
promove a tansformação social através de projetos de inclusão
POLITICA: Denúncia dos mecanismos de exclusão e morte; anuncia a vida e participa
na elaboração e proposição de políticas públicas;
ECLESIAL: Interlocução e sensibilização da Igreja com a realidade vivida nas ruas;
abertura de espaço para vivência da mística cristã do povo da rua.
O Encontro de Formação e Capacitação de Agentes foi encerrado com uma celebração
eucarística na qual foi feito o envio dos agentes, no sentido de dar continuidade as ações
desenvolvidas, ampliar a articulação e garantir a constante capacitação.
III – Encaminhamento e avaliação
O principal encaminhamento foi a definição dos nomes para compor a Equipe de
Articulação da Pastoral no NE, de acordo com os regionais da CNBB:
Nordeste 01 - Ir. Tânia (Fortaleza - CE)
Nordeste 02 - Frei Marcos (Olinda - PE)
Nordeste 03 - Edvânia (Salvador - BA)
Nordeste 04 - Marta (Teresina - PI)
Ficou determinado que a Equipe deve se manter em contato com as equipes locais e em
constante articulação com a Coordenação da Pastoral Nacional do Povo da Rua para garantir o
avanço das ações e a continuidade dos processos em andamento.
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A avaliação do Encontro foi feita de duas formas, através de manifestação dos presentes
durante o encerramento e através de preenchimento de fichas de avaliação. De acordo com a
avaliação escrita, 65% considerou o Encontro ótimo; 30% considerou bom e 4% regular. Com
relação ao conteúdo apresentado em painéis os resultados são aqueles que aparecem no quadro
abaixo:
CONTEÚDO/PAINEL
Apresentação da vida do povo
Espiritualidade
Conquistas de desafios
Metodologia
Cenário CMR e PSR
AVALIAÇÃO DOS PARTICIPANTE (%)
ÓTIMO
BOM
REGULAR
RUIM
NR3
39,0
04,0
0
0
56,0
56,0
39,0
04,0
0
0
26,0
52,0
13,0
0
09,0
34,8
47,8
08,7
0
08,7
34,8
26,1
08,7
0
30,4
Quando perguntados sobre qual tema gostariam que fossem mais aprofundados noutro
momento de formação e capacitação o resultado foi aquele que apresenta o gráfico que segue:
Levando-se em conta a tabulação dos questionários de avaliação individual preenchidos
pelos participantes e aquela oral, considera-se que o Encontro foi exitoso, sobretudo no debate
dos temas propostos.
A Pastoral Nacional do Povo da rua aposta na continuidade da articulação das equipes de
pastoral do Nordeste e acredita que essa articulação garantirá frutos da constituição de políticas
públicas e na garantia de direitos para a população em situação de rua e catadores de material
reciclável.
3
Não respondeu.
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