O tratamento oncológico tem sido revolucionado pela translação
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O tratamento oncológico tem sido revolucionado pela translação
RTKS AND MAPK PATHWAY ALTERATIONS IN SOLID TUMORS: DISSECTING PROGNOSTIC AND THERAPEUTIC BIOMARKERS RESUMO O tratamento oncológico tem sido revolucionado pela translação dos conhecimentos da biologia tumoral no desenvolvimento de novos fármacos que actuam através do reconhecimento molecular. A descoberta de alterações em receptores tirosina cinase (RTK) e em vias de sinalização celular, como a via das proteínas cinases activadas por mitógeneos (MAPK), tem possibilitado o desenvolvimento de terapias moleculares dirigidas de sucesso em cancro. No entanto, a complexa heterogeneidade genética dos tumores humanos pode constituir uma limitação para a aplicação deste tipo de terapias. Para ultrapassar este problema é necessária a identificação de alterações em alvos moleculares terapêuticos em cada tipo tumoral específico. Assim sendo, o principal objectivo desta tese foi contribuir para um melhor conhecimento das alterações moleculares em RTKs e via de sinalização MAPK em tumores estromais gastrointestinais (GIST), tumores do colo uterino e em gliomas. Os GISTs, caracterizados pela presença de mutações oncogénicas nos genes KIT e PDGFRA, representam actualmente o paradigma de como as terapias moleculares dirigidas podem ter um impacto importante na sobrevida dos doentes. Doentes com mutações específicas nestes dois oncogenes são tratados com sucesso com imatinib (Gleevec®, Novartis), um fármaco inibidor específico de KIT e PDGFRA. No entanto, existem doentes cujos tumores são wild-type para KIT e PDGFRA e o conhecimento de outras alterações moleculares nestes doentes é escassa. A desregulação da via das MAPK em tumores ocorre principalmente devido à presença de mutações activantes nos oncogenes RAS e BRAF, e como descrito mais recentemente, pela perda de expressão da proteína RKIP. No presente trabalho, verificámos que a via das MAPK pode estar activa neste subtipo de doentes, pela presença de mecanismos autócrinos/parácrinos entre KIT e o seu ligando SCF, ou pela presença de mutações no gene BRAF, e não através de alterações nas proteínas RAS e RKIP. Adicionalmente, numa série maior de casos -incluindo mutantes para KIT e PDGFRA- encontrámos que a ausência de expressão da RKIP está associada com mau prognóstico em doentes com GIST. O sucesso da presença de mutações nos genes KIT e PDGFRA na predição da resposta ao tratamento com imatinib em GISTs, tem incitado ao rastreio de outros tumores que possuam as mesmas alterações, e que possam assim, beneficiar de uma mesma terapia eficaz. Adicionalmente, o papel emergente da proteína RKIP na predição do prognóstico de pacientes oncológicos tem destacado a importância da pesquisa de tumores com expressão alterada de RKIP. Neste sentido, investigamos a presença de alterações em KIT e PDGFRA e avaliamos o impacto biológico e clínico da proteína RKIP em outros dois importantes tipos tumorais: tumores do colo uterino e gliomas. Em relação ao cancro do colo do útero, estudámos as alterações moleculares na proteína KIT num subtipo específico de tumores, os carcinomas adenoescamosos, que são menos frequentes, mas que possuem um comportamento bastante agressivo. Verificámos que a proteína KIT pode estar activa através de mecanismos autócrinos/parácrinos com o ligando SCF num subgrupo de tumores, apesar da ausência de alterações moleculares como mutações ou amplificação génica. Relatámos ainda que a expressão da proteína RKIP é significativamente diminuída em carcinomas do colo uterino e verificámos in vitro e in vivo que a ausência da proteína RKIP está associada a um aumento da viabilidade, migração e crescimento celular independente de ancoragem e ainda com indução de angiogénse em tumores do colo uterino. Relativamente aos gliomas, descrevemos a co-expressão de PDGFA e PDGFRA e sugerimos que a amplificação do gene PDGFRA, ao invés de mutação, pode ser o mecanismo genético subjacente à sobre-expressão de PDGFRA nestes tumores. Estes resultados levaram-nos a pesquisar a eficácia in vitro de terapias anti-PDGFRA nestes tumores. Num painel de linhas celulares de glioma verificámos que o cediranib (Rencentin®, Astrazeneca), quando comparado a outros inibidores como o imatinib ou sunitinib (Sutent®, Pfizer), constitui uma opção eficaz para o tratamento destes doentes. Adicionalmente, mostrámos que em gliomas os fármacos cediranib e sunitinib actuam em alvos distintos dos que estão descritos. Finalmente, e de acordo com os achados em GISTs e colo-uterino, observámos que a proteína RKIP está sob- expressa em gliomas e a sua ausência associada a um fenótipo maligno, constituindo ainda um marcador independente de prognóstico em doentes com glioma. Em conclusão, esta tese sugere que o rastreio de alterações em RTKs e na via das MAPKs deve ser feita para cada tipo de tumoral específico. A descoberta de novos alvos para os fármacos cediranib e sunitinib em gliomas constitui uma esperança para a identificação de novos potenciais biomarcadores preditivos da resposta a este tipo de terapias. Assim, mesmo sabendo que há ainda um longo caminho a percorrer, os resultados apresentados nesta tese poderão ajudar no desenho de terapias moleculares dirigidas para estes doentes. Candidata: Olga Catarina Lopes Martinho Orientador: Rui Manuel Vieira Reis Data: 28 Novembro 2011