Leia toda a aventura

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Leia toda a aventura
EXPEDIÇÃO AMIGOS RUMO A FERNANDO DE NORONHA 2015
Um grupo de apaixonados aviadores, em um dia qualquer já no final de 2015,
lamentava-se sobre a falta de voos e viagens deste ano, até que um
Comandante/Médico-cardiologista, decidido, lança a ideia que acrescentaria uma
marca importante à história de nossas jornadas aéreas: voar de Brasília a Ilha de
Fernando de Noronha ainda no mês de novembro.
Com determinação, sem que qualquer proposta de alteração de cronograma dos
demais participantes, coisa rara nesse grupo, fosse vitoriosa, a data foi definida e o
projeto estava formatado: seriam 03 aeronaves, partindo de Brasília (Aeródromo
Botelho – SIQE), com destino a Fernando de Noronha, com o seguinte roteiro: Brasília
- Valença-BA (SNVB), Maceió-AL (SBMO), Natal-RN (SBSG) e daí rumo ao oceano
Atlântico em voo para a paradisíaca Ilha de Fernando de Noronha (SBFN).
Nos 30 dias que antecederam a partida, cuidamos do planejamento, reservas de Hotel,
na Ilha e nas escalas com pernoite, contratação de Vans para o grupo, aluguel de
Buggys para Ilha, contratação também de passeios de barco, mergulho etc.
Capítulo especial dessas tarefas preparatórias foi dedicado à obtenção de coletes e
Balsas salva-vidas e também à burocracia relativa à autorização de pouso na ilha que
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é necessário ser obtida com antecedência, junto à administração do aeródromo,
através de correspondência (e-mail) e confirmação 48hs antes da chegada.
Então, às 7 horas de uma nublada manhã do dia 27 de novembro/2015, lá estavam as
nossas três aeronaves, abastecidas e carregadas com um ligeiro excesso de peso graças
a uma carga extra de bons vinhos, espumantes e até cachaças especiais, que iriam
irrigar as belas noites que nos esperavam nessa jornada.
Alinharam na pista 14 de SIQE os Cirrus SR-22, PR-GCB e PR-SOJ e o RV-10 – PR-ZBM,
todos levando neste primeiro trecho até Valença-SNVB os amigos Claudio Roberto,
Carlos Henrique (Caíca), Daniel, Edimar, Gerard, José Rios, Mauricio Beze, Romeu Jr.,
Walter e Wilson. Em Maceió embarcaria o 11° integrante, Flavio Koenigkan.
Após a decolagem, alguns problemas de contato com o Controle Brasília (bastante
congestionado) atrasaram o início da subida, mas superado este obstáculo, em pouco
tempo toda esquadrilha estava voando entre os níveis 090 e 130 em um céu
parcialmente nublado, que se tornou totalmente nublado a partir da metade final do
trecho até Valença. Como estávamos todos voando sob regras de voo por instrumento
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(IFR), prosseguimos nesta rota tantas vezes voada por esta turma em memoráveis
viagens para Morro de São Paulo.
À medida que nos aproximávamos do destino, começamos a torcer para que as
condições na chegada estivessem de acordo com as previsões do TAF (Terminal
Aerodrome Forecast) e permitisse o nosso pouso em condições visuais, uma vez que o
aeródromo de destino não opera IFR.
Já próximos de iniciar a descida, obtivemos a informação que o teto na região de
Valença estava superior a 1.500 pés. Então, com intervalos em torno de 5 minutos as
aeronaves iniciaram as descidas totalmente guardadas em uma densa camada de
nuvens até a altitude de tráfego do aeródromo, que estava operando em condições
visuais.
Já no solo em SNVB, após um voo de 3 horas e 35 minutos, procedemos ao
reabastecimento das aeronaves e lanche para a turma. Interessante recomendar esta
localidade como opção para os aviadores que necessitarem fazer escala técnica na
região de Salvador. A pista é boa, o atendimento do pessoal de terra é excelente,
economiza-se nas tarifas aeroportuárias, além de evitar as complicações e demoras de
SBSV.
Durante o tempo no solo aproveitamos para "brifar" o próximo trecho, que teria um
tempo estimado de voo de aproximadamente 02 horas e seria realizado a 1.500 pés
AGL, sob regras de voo visual, voando rumo norte na vertical da orla até a cidade de
Maceió – SBMO. O clima no litoral estava melhorando, o que prenunciava um lindo
voo acompanhando o litoral nordestino, vislumbrando suas belas praias e o azul do
oceano atlântico.
Após decolagens em sequência, com intervalos de dois a três minutos entre cada
aeronave, seguindo as instruções do controle Salvador, ingressamos no corredor Axé
a 1.500 pés sobre o mar; logo após passarmos o través da Ilha de Itaparica, entramos
na baia de Salvador contornando pelo setor oeste (W) a capital baiana. Ficamos apenas
alguns poucos minutos nesta rota, pois após livrar o través de SBSV, fomos liberados
para voltar à linha do litoral e mais uma vez voarmos sobre o mar.
Esta etapa de nossa viagem ocorreu como um passeio! O visual era lindo, o clima
excelente, em todo o trecho tínhamos contato visual entre as aeronaves
companheiras, tiramos um número incrível de fotos e filmagens da paisagem, inclusive
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com direito ao sobrevoo da foz do Rio São Francisco. Não tínhamos pressa, voávamos
em velocidade de cruzeiro econômica, o importante nesta etapa era observar e curtir
a paisagem.
As localidades litorâneas e as TMA’s vizinhas sucediam-se neste voo sempre
controlado, que cobre todo o litoral nordestino de Salvador a Natal, tornando esta
etapa segura e muito agradável.
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Já chegando em Maceió, ao entrar em contato com o Controle local, ouviu-se o
seguinte diálogo com uma de nossas aeronaves:
Aeronave: Controle Maceió é o PR-???, mantendo 1.500 pés, mais 12 minutos para o
destino;
Controle: Afirmativo, reporte quando visual com o aeródromo;
Aeronave: (Imediatamente na sequência a resposta) Controle Maceió o PR-??? - Está
visual com o Aeródromo;
Controle: (enfático) Jááááááá!!!!!! - Vocês estão 23 milhas afastados;
Aeronave: Confirmo visual com o aeródromo;
Controle: Ok, mas mesmo assim, mantenham a minha escuta e reportem 3 minutos
fora para transferência para Torre Maceió;
Até hoje a tripulação de “olhos de águia” desta aeronave jura que viu o aeródromo e
eu tenho certeza que eles viram, conheço os caras e acredito neles.
Em Maceió, completamos a segunda etapa da jornada. Depois de 2 horas e 10 minutos
de um divertido voo sobrevoando a terra e o mar, todas as aeronaves estavam
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pousadas. Um dos objetivos desta escala era embarcar o amigo Flavio, que nos
acompanharia no restante da viagem e também aproveitarmos as belezas dessa cidade
que iria servir de "esquenta" para o último trecho rumo a Fernando de Noronha, com
direito a praia, passeios de Barco, cervejas, vinhos etc.
No aeroporto a Van contratada já nos esperava para levar ao hotel, dando mostra que
até aqui o planejamento funcionou 100%. O almoço, no meio da tarde, foi na beira do
mar, na praia de Pajuçara.
Depois de “algumas muitas cervejas demais”, dois parceiros de viagem não
observaram que em uma praia tão bonita, quase não tinha ninguém na água, que a
maioria utilizava um chuveiro em frente à Barraca, mesmo assim empreenderam
mergulhos e muitas cambalhotas em uma água com índices de balneabilidade bem
duvidosos, mas como estavam esterilizados pelo álcool, nada de mais aconteceu.
No dia seguinte a nossa chegada, o planejamento previa um passeio de lancha, daí,
logo pela manhã a turma já estava pronta na van para diversão e mais cerveja,
percorrendo a Lagoa de Mundaú em direção à Prainha e Praia do Saco.
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Do Motonáutica Lagoa Clube a lancha partiu com todos seguindo fielmente as
orientações de uma jovem habitante local, que nos indicou os caminhos em busca de
uma famosa patttttinha de caranguejo. Foi realmente um belo passeio, pegamos
alguns jacarés nas ondas da praia do Saco, com direito a caixote e olho roxo de um dos
integrantes da turma, bem enferrujado nesta atividade.
O 29/11/2015 raiou majestoso e com certa carga de ansiedade. Era o dia de
alcançarmos o nosso objetivo principal e bem cedo já estávamos no aeroporto
envolvidos com os preparativos das aeronaves para a jornada até Fernando de
Noronha. O plano previa um voo pelo litoral de Maceió até Natal, aonde pousaríamos
no novo aeroporto de São Gonçalo do Amarante (SBSG) para reabastecermos e
partirmos rumo a Ilha.
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No entanto, devido a atrasos diversos no transporte e abastecimento das aeronaves,
tornou-se necessário acelerar a chegada em Natal. Então, ao contrário do trecho
anterior este voo foi realizado pelo continente, em ritmo de cruzeiro rápido, em torno
de 5.000 pés de altitude. Foi um voo tranquilo para as três aeronaves de ponta a ponta,
percorrendo as 226 milhas em 01 hora e 30 minutos. O único inconveniente desta
etapa ocorreu após o pouso em Natal, quando mais uma vez constatamos como a
utilização destes grandes aeroportos é complicada para a aviação geral,
principalmente tratando-se de aeronaves leves.
Estes grandes aeroportos são planejados para a aviação comercial, não há qualquer
rotina ou estrutura de apoio para nosso tipo de operação, os pátios de estacionamento
são muito afastados, o serviço de abastecimento muito demorado, a circulação dos
tripulantes é restrita e depende da eventual disponibilidade e boa vontade dos fiscais
de pista em nos transportar, sem esquecermos a burocracia excessiva e as taxas
desproporcionais ao pouco serviço que nos oferecem, isso tudo gera transtornos e
demoras imensas em uma simples escala técnica.
Com a experiência de muitas viagens que já realizamos, podemos afirmar que se
houver outra opção na localidade escolhida para uma escala, busque sempre um
aeródromo menor, não tenha dúvida que esta será a melhor escolha, bem mais
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simples e agradável. Só lamentamos que em nosso País, com a expulsão generalizada
dos pequenos aeródromos das grandes cidades, cada dia que passa estas opções estão
menores.
Voltando à nossa viagem, chegou a hora. Aeronaves abastecidas e checadas, coletes
salva vidas vestidos, balsa inflável posicionada, procedimentos de abandono em caso
de amerissagem repassados, e lá vamos nós para o ponto de espera da pista 12 de
SBSG (Natal), ansiosos pela decolagem rumo ao oceano.
Aproximava-se das 11 horas quando nossas três aeronaves iniciaram a decolagem em
busca da proa 076° para iniciar uma jornada com previsão de 1 hora e 25 minutos de
voo, sob e sobre uma paisagem totalmente azul, pontuada por pequenos flocos de
nuvens brancas invasoras, que quebravam a monotonia daquela bela e esperada visão
azul para estes sortudos aviadores.
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A rota entre Natal e Fernando Noronha é de 210 milhas náuticas (397 km) e neste
nosso voo as únicas opções possíveis de pouso, eram os aeródromos de partida ou de
destino, mas tal preocupação é rapidamente superada logo após a decolagem, pela
novidade e emoção de você estar voando sobre o oceano Atlântico em pequenas
aeronaves separadas por poucas milhas de distância.
Voando nos níveis 090 e 110 em
permanente contato com os
órgãos de controle aéreo,
primeiramente o Controle Natal,
posteriormente o Centro Recife e
por último a Rádio Noronha, este
monitoramento
permanente
aumenta bastante a sensação de
segurança e vai atenuando a
ansiedade até a visão da Ilha.
Tudo estava tranquilo e com 1 hora e 10 minutos de voo, ainda sem estar com a Ilha a
vista, iniciamos a descida para altitudes em torno de 3.000 pés; durante a descida
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chamamos a rádio Noronha e a simples resposta do controlador local aumentava a
euforia pela chegada. Ultrapassamos uma leve camada de nuvens que cobria o terço
final da viagem e ao longe avistamos o relevo acidentado daquela ilha vulcânica,
cercada de inúmeras e belas praias que era o nosso principal objetivo nesta jornada.
À medida que nos aproximávamos, a vista ficava mais bonita e, na chegada,
autorizados pela rádio Noronha, as aeronaves de nossa turma iniciaram o sobrevoo, a
1.000 pés, circundando o arquipélago e vislumbrando aquela bela paisagem de um
ângulo privilegiado que os aviadores sempre podem aproveitar.
Uma a uma as aeronaves de nossa esquadrilha alinharam na final da pista 12 de SBFN,
tocando o solo da ilha e fechando a etapa mais importante de nossa jornada.
No pátio a alegria da turma era enorme e todos ajudavam na tentativa de arrumar as
aeronaves o mais rápido possível, visando aproveitar ao máximo a estadia.
É sempre bom lembrar que
no Aeroporto de Fernando
de Noronha, existe um
serviço de handling operado
por uma empresa privada,
que desde o momento do
pouso da aeronave tenta de
todas as formas “impor” a
prestação dos seus serviços,
cujo valor é extremamente
elevado. Importante alertar
aos futuros viajantes que o
aeródromo de Fernando de
Noronha é público e sujeito,
portanto, apenas ao preço
público, legalmente fixado, sem
qualquer obrigatoriedade de se
contratar o serviço de qualquer
empresa para ter direito a lugar
no pátio, permanência ou
guarda da aeronave, a não ser
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que seja de seu interesse contar com uma sala de recepção e serviço de carregadores
de bagagens.
Anote-se que o ingresso em Fernando de Noronha é controlado e só é permitido para
as pessoas que estão com a hospedagem devidamente contratada e a taxa
correspondente ao período de permanência paga.
Asssim, com as aeronaves amarradas e
cobertas, partimos para a área de
“imigração”, na recepção do aeroporto,
para o pagamento da taxa de ingresso
na ilha e pegar os Buggys que alugamos
para circular pela ilha.
Quase todos os serviços de aluguel de
carros Fernando de Noronha são
simples e extremamente informais,
praticamente tudo é combinado por
email e a entrega e devolução dos carros rápida e descomplicada, no próprio
aeroporto.
Mas com tanta simplicidade às vezes algumas coisas são esquecidas como, por
exemplo: os carros são entregues com o mínimo de combustível, no caso o suficiente
para você ir até o único posto de abastecimento da ilha e reabastecer.
É pouco combustível mesmo, um de nossos Buggys, pilotado pelo Capitão Bob, teve
que ser resgatado após rodar pouco mais de 5 km, ou seja, um trecho entre o
aeroporto e a pousada e mais uma tentativa de volta ao aeroporto. O resgate deste
companheiro tornou-se uma prioridade devido ao carregamento de vinho que estava
com o mesmo.
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Falando em pousada, Fernando de Noronha é um caso à parte. Esqueçam toda relação
lógica de preço/qualidade, pois todas são muito caras e a maioria delas é simples com
pouquíssimos itens de conforto, o serviço
é simpático, mas precário, ou seja, você
tem duas opções: pagar muito caro por
uma pousada simples com um serviço
precário ou deixar o avião na ilha como
pagamento de uma pousada “luxuosa”
(existem poucas).
Os visitantes devem lembrar-se que estão em uma ilha a mais de 200nm do continente.
Tudo que chega lá vem de navio ou avião, com custos bem altos de transporte, sem
contar as elevadas taxas oficiais, cobradas pela administração local para liberar os
alvarás e autorizações de serviços e instalações comerciais, portanto, não esperem
muito pelo que estão pagando, o turismo na
ilha é caro, o negócio é relaxar e aproveitar o
que interessa: as praias, mergulhos e as belas
paisagens.
Logo após o almoço da chegada, circulamos
pelas praias e pontos turísticos da Ilha, alguns
já aproveitaram para pegar uns jacarés em
algumas praias e aproveitamos para
fecharmos uma saída de mergulho para a turma no dia seguinte, quando muitos iriam
pela primeira vez empreender uma aventura submarina, tinha marmanjo com medo
até de tartaruga.
À noite, após o jantar, a turma foi para um boteco legal com muita música boa e cerveja
gelada, um bom momento de descontração para esses amigos que transformam
qualquer simples evento em acontecimento, com muitas conversas e risadas que só as
boas companhias trazem.
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No dia seguinte, Praia do Sancho (paraíso
dos surfistas) pela manhã e à tarde o
esperado mergulho autônomo nas aguas
do parque marinho de Fernando de
Noronha, aonde muitos dos nossos amigos
tiveram a primeira experiência de passear
a mais de 10 metros de profundidade em
contato com a flora e fauna marinha.
Alguns receosos no início, mas eufóricos ao
fim desta nova experiência. A exceção ficou
por conta de um colega que pagou 400 pratas por um mergulho e ficou meia hora a
um palmo de profundidade sem conseguir afundar. Não viu nada, mas pagou assim
mesmo!
Quando se viaja com pessoas com
muita afinidade, não interessa para
aonde se vai porque a diversão e bom
papo serão sempre uma certeza. Na
pousada em que ficamos, em pouco
tempo a maioria se tornou amigo dos
demais
hóspedes
promovendo
divertidas rodas de papo e churrascos,
que entravam pela madrugada a
dentro, sempre regados com muita
cerveja, vinhos, whisky, etc, etc, etc.......... ufa!!!!!!
Não podemos deixar de registrar que apesar da idade avançada da maioria dos
integrantes desta expedição, promovemos uma autêntica batalha esportiva na praia
da Conceição, com uma histórica partida de Volleyball, aonde após uma luta épica do
time dos mais velhos contra os menos velhos, a experiência falou mais alto e o time
dos longevos aviadores sagrou-se campeão após 5 sets de pura emoção.
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Por falar nisso, em uma destas madrugadas festivas, dois coitados que tentavam
dormir, foram violentamente acordados por uma turma interessada em prolongar a
farra, promovendo um campeonato absurdo de canto de “galopeira” que só alguém
que ultrapassou (e muito) a quota limite de um bafômetro conseguiria aguentar, haja
folego e paciência.
Mas acabou a farra, era hora de iniciarmos a
volta. Era hora de mais uma vez colocarmos
os pássaros no ar sobre o oceano atlântico
de volta para o continente.
Na manhã do dia 02 de dezembro de 2015,
acordamos cedo e iniciamos os preparativos
para mais uma vez cruzarmos o oceano,
desta vez rumo ao continente.
Foi uma faina geral recolher a tralha toda, levar as bagagens para o aeroporto e
devolver os Buggys, juntar a turma para não perdermos muito tempo e podermos
aproveitar o resto do dia em João Pessoa. Desta vez iríamos voar bem mais leves,
porque o carregamento de vinhos e destilados foi integralmente consumido na festiva
estada na Ilha.
Tudo resolvido, aeronaves prontas, decolamos em pequenos intervalos e mais uma
vez juntos sobre o mar. Planejamos uma perna mais longa pois inicialmente iríamos na
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direção de Natal-SBSG, antes de aproarmos o destino final para este dia: a cidade de
João Pessoa-SBJP.
Optamos por bloquear Natal antes de seguirmos para o destino por questão de
segurança, com o objetivo de diminuirmos o tempo de voo sobre a água, mas também
para aproveitarmos a oportunidade de percorrer esse trecho de litoral que não
havíamos sobrevoado na ida.
O voo de volta transcorreu mais uma vez em um belo clima, pouquíssimas nuvens no
ar, vento calmo e sem turbulência. Ao contrário de nosso voo de ida, a ansiedade era
bem menor; como toda volta, não existia mais a novidade: a missão havia sido
cumprida, agora era só empreender o retorno para casa.
Vento calmo de cauda e após 01 hora e 22 minutos de voo entre o nível 080 e 100,
bloqueamos o litoral potiguar e iniciamos nossa descida rumo sul, mais uma vez
voando na vertical da orla a 1.500 pés.
Após mais 30 minutos de voo apreciando o
litoral, pousamos em João Pessoa (SBJP),
aonde mais uma vez o planejamento
funcionou e a Van que nos transportaria
para o Hotel já aguardava. Esta era outra
escala em que a turma iria continuar as
férias em mais dois dias com passeios e
praia.
Para evitar os transtornos enfrentados em Maceió, já deixamos as aeronaves
devidamente abastecidas, pois decolaríamos cedo rumo a Brasília, dois dias depois.
A capital paraibana vem experimentando um crescimento urbano bastante acelerado
nos últimos anos, é possível vislumbrarmos inúmeros empreendimentos imobiliários
novos em bairros recém-formados, grande parte deles no litoral.
Um bom programa foi o passeio de lancha até a ilha de Areia Vermelha, que na verdade
é um banco de areia temporário, a uns 20 minutos de lancha mar a dentro. Com sua
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bela vista das cidades de João Pessoa e Cabedelo, tornou-se ponto de badalação e
concentra o maior programa da frota de jet skis e de barcos do litoral paraibano.
No final do dia o plano era apreciar o pôr do Sol na frente da Praia do Jacaré, às margens
do Rio Paraíba, para ouvir o famoso Jurandy do Sax tocando o Bolero de Ravel, uma das
mais interessantes atrações turísticas da Paraíba, que se repete diariamente (sem falhas)
desde o ano 2000.
Pois não é que este espetáculo quase foi interrompido, quiçá arruinado, pelo desequilíbrio
etílico de um de nossos companheiros, que conseguiu cair da lancha durante a passagem
da embarcação do festejado músico! Não podemos dizer que a queda foi espetacular, mas
foi estrondosa o suficiente para quase adernar a frágil canoa que conduzia o responsável
pelo espetáculo assistido diariamente por uma multidão de turistas há mais de 15 anos.
Pior é que na tentativa de subir de volta ao barco o atordoado cidadão conseguiu a façanha
de cair de novo. Impressionante!!!!!!
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O Dia seguinte seria o último de nossa jornada. Decolaríamos de João Pessoa para Brasília,
com escala em Lençóis-SBLE, na Bahia, bela cidade encravada Chapada Diamantina.
Seriam 930 milhas com um estimado de mais de 6 horas de voo pela frente, voando sobre
o sertão nordestino, ao final de uma grande seca em um dia muito quente, com
expectativa de muita turbulência.
Visando aproveitar ao máximo o dia, marcamos a decolagem para as 7 horas da manhã,
horário este que, como na maioria das vezes, não foi cumprido, por motivos diversos,
inclusive por atrasos do controle local que não localizou o plano de voo de uma de nossas
aeronaves.
As três aeronaves estavam com plano IFR, que depende de aprovação do Centro Recife. A
Sala AIS de João Pessoa confirmava a passagem do Plano, mas não a autorização de Recife
para uma delas. Para agilizar a solução do problema e conseguir autorização da
decolagem, o comandante pediu a alteração do Plano para visual e, enfim, foi autorizado
a decolar.
Após a decolagem, cumprimos as orientações do controle para subida e buscamos acelerar
ao máximo a ascensão visando atingir o nível de voo programado, no caso o FL 100. O dia
já começava a esquentar, quanto mais alto voássemos menor seria a turbulência, comum
na região do sertão, principalmente em dias quentes.
Faltando 25 minutos para o pouso em Lençóis (SBLE) iniciamos a descida e já na frequência
da rádio local, ouvíamos o frenético movimento de aeronaves do corpo de bombeiros que
lutavam para debelar um incêndio na Chapada Diamantina, que há vários dias consumia
grande parte daquele belo e importante parque natural.
Foram 3 horas e 20 minutos de voo sem intercorrências, mas após o pouso nos deparamos
com uma sucessão de problemas típicos da falta de estrutura e compromisso da maioria
das entidades que prestam serviço à sofrida aviação geral brasileira: de cara fomos
informados que o abastecimento não estava funcionando (apesar de constar no ROTAER
que a operação seria de 07 às 18 horas de segunda a sexta) e termos feito contato prévio
com o responsável pelo abastecimento, informando o horário aproximado de chegada,
motivo: funcionário estava ausente – solução: esperar a chegada do mesmo, porque
ninguém mais no aeródromo tinha autonomia para solucionar o caso.
Não bastasse a longa espera de mais de uma hora pelo zeloso funcionário do serviço de
abastecimento, nos deparamos mais uma vez com o problema crônico dos órgãos de
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controle nacionais em extraviar planos voo feitos com a devida e correta antecedência. A
frequência com que isso vem acontecendo é preocupante, apesar da boa vontade de
todos em resolver, a solução nunca é satisfatória para os usuários, pois o tempo que se
perde buscando tais soluções é enorme.
Então, após mais de 2 horas no solo em uma parada programada para apenas 30 minutos,
decolamos rumo a nossa querida Brasília finalizando essa bela jornada. Na saída em
Lençóis, como esperado, enfrentamos forte turbulência e muita dificuldade em
cumprirmos a subida programada; o calor era infernal e os imensos incêndios na região
enchiam o ar com uma densa névoa. Foi uma subida bem desconfortável.
Nivelados em rota, apesar da altitude, ainda encontrávamos alguma turbulência, mas à
medida que deixávamos a Bahia e aproximávamos de Brasília, o ambiente foi se
transformando, saímos da secura e do calor abrasador para irmos aos poucos entrando
em uma área repleta de formações pesadas prenunciando muita chuva na região.
Mas, com alguns desvios, após 03 horas e 05 minutos de voo, todas as aeronaves de nossa
turma estavam no solo e foram recepcionadas, após o pouso, com um dos maiores
temporais do ano na cidade, que nos prendeu dentro dos hangares por um bom tempo.
Mas, como bons conversadores que somos, naquele instante mesmo começamos a
recordar os bons momentos em que esta turma esteve junta, o voo foi maravilhoso com
certeza, as paisagens inesquecíveis e a experiência adquirida incalculável, mas a
convivência de bons companheiros e o fortalecimento de importantes laços de amizade
são o resultado mais importante que trazemos destas jornadas! Valeu turma, vamos para
a próxima.
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ROTEIRO GERAL DA VIAGEM - RV-10 (PR-ZBM)
DATA
DE
PARA
27/11/2015
Brasília - SIQE
Valença - SNVB
27/11/2015
Valença - SNVB
Maceió - SBMO
29/11/2015
Maceió - SBMO
Natal - SBSG
29/11/2015
Natal - SBSG
F. de Noronha - SBFN
02/12/2015 F. de Noronha - SBFN João Pessoa - SBJP
04/12/2015 João Pessoa - SBJP
Lençóis - SBLE
04/12/2015
Lençóis - SBLE
Brasília - SIQE
DISTANCIA
NM
TEMPO VOO
CONSUMO LTS
531
298
226
210
296
493
429
03:35
02:10
01:30
01:25
02:05
03:20
03:05
161
94
70
65
91
161
144
2483
17:10
786
Dinheiro não traz felicidade, mas paga horas de voo, o que é quase a mesma coisa
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